REVISTA CAMBIASSU
Publicação Científica do Departamento de Comunicação
Social da Universidade Federal do Maranhão - UFMA - ISSN 0102-3853
São Luís - MA, Ano XVIII, Nº 4 - Janeiro a Dezembro de 2008
José Antonio Pereira Júnior:
YOU TUBE: RECRIAÇÃO OU DESCARACTERIZAÇÃO
DA LINGUAGEM DO VIDEOCLIPE?
Graduado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela
Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e especialista em Jornalismo
Cultural na Contemporaneidade pela mesma instituição. Trabalhou como repórter
cultural do caderno Alternativo (Jornal O Estado do Maranhão). Foi membro da
equipe de jornalismo de "O Imparcial" (Diários Associados - MA), chegando ao
cargo de editor do caderno cultural Ímpar. Além disso, também foi assessor de
comunicação da Prefeitura de São Luís. www.youtube.com
RESUMO: O videoclipe conjuga, em uma só linguagem, imagem e som. Em meados
dos anos 80, este jeito de se produzir música tomou conta dos veículos de comunicação,
especialmente após o surgimento da MTV. Concebe-se, assim, videoclipe como produto
da indústria cultural contemporânea. Com o avanço das novas tecnologias, surgiram
diferentes espaços, como o site Youtube, para divulgação de videoclipes. Nesse
contexto, discute-se até que ponto esse novo espaço recria ou descaracteriza a
linguagem videoclíptica.
PALAVRAS-CHAVE: Youtube. Videoclipe. Semiologia.
ABSTRACT: A video clip combines, in a single language, image and sound. By the
80’s, this way to produce music has conquered space in the communication vehicles,
especially after MTV. Therefore, it is conceived video clip as a cultural industry
product. Along with the new technologies, there has been developed new spaces for
promoting video clips such as Youtube. In this means, it is discussed the influences of
those new spaces for recreating or decharacterize the video clip language.
KEY WORDS: Youtube. Video clip. Semiology.
1-INTRODUÇÃO
Na década de 1980, e como conseqüência do poder da televisão, a indústria
fonográfica investiu numa mídia específica para aglutinar um elemento de visualidade à
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música. Como resultado, surgiu, então, o videoclipe, que se colocou como uma
modalidade de expressão comunicacional dentro da televisão, firmando-se, ao longo do
tempo, como uma importante peça para promoção e divulgação de um artista e de sua
música. Sua linguagem abrangente, somada ao poder de alcance da televisão, faz com
que o público, cada vez mais, sinta-se fascinado pelo novo meio que se apresenta de
maneira eficaz à distribuição em massa de produtos culturais.
Foi graças ao videoclipe, também, que a música pop pôde ser divulgada e
apreciada em todo o mundo. Neste trabalho, analisaremos o videoclipe como um
produto da indústria cultural, já que está presente em toda parte, seja no cinema, nas
telenovelas, no videogame, no telejornalismo, na publicidade, nos desenhos animados
ou onde há telas. Após isso, faremos uma análise de como o site You tube, surgido no
início do século XXI e que revolucionou a internet, que tem como foco os vídeos – seja
caseiros ou profissionais – e transformou essa linguagem tão presente no cotidiano, seja
divulgando ou recriando a linguagem do videoclipe.
2 DA TELEVISÃO, NASCE O VIDEOCLIPE
De acordo com José Milton Pinto, “são poucos os casos em que o único sistema
semiótico presente em um texto é o imagético; o mais comum na cultura midiática
contemporânea são os textos mistos, que reúnem texto verbal e imagens, ou texto verbal e
sistemas sonoros” (PINTO, 1999, p. 33). A televisão é o melhor exemplo disso. Com o seu
advento, houve uma transformação nos hábitos e efeitos psicológicos das pessoas, já que a
narrativa foi, aos poucos, dando lugar à descrição, gerando uma fragmentação do discurso.
O modo de ver o mundo e a utilização de linguagens passaram por mudanças bastante
significativas. Todos os dias, mais e mais elementos foram sendo associados à imagem.
Cada gesto, cena, palavra ganhou um novo significado. Para Thompson:
Dia a dia, semana a semana, jornais, estações de rádio e televisão nos apresentam
um fluxo contínuo de palavras e imagens, informação e idéias, a respeito dos
acontecimentos que têm lugar para além de nosso ambiente social imediato. Os
personagens que se apresentam nos filmes e nos programas de televisão se tornam
pontos de referências comuns para milhões de indivíduos que podem nunca
interagir um com o outro, mas que partilham, em virtude de sua participação numa
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cultura mediada, de uma experiência comum e de uma memória coletiva
(THOMPSON, 1995, p. 219).
Convém acrescentar que a televisão, criada originalmente como um
dispositivo para transmitir imagens e sons através de ondas eletromagnéticas, sofreu
grandes transformações ao longo de sua história em função do progresso na área
tecnológica. Como tudo era feito ao vivo – não existia o videoteipe117 –, as
transmissões eram marcadas pelo improviso, “pelo jogo com o aleatório, a
contaminação do produto com os acidentes do acaso” (MACHADO, 1995, p. 157).
Ainda para Machado, era difícil garantir o controle e a assepsia significante da
mensagem. A partir de 1956, quando a empresa Ampex lançou no mercado o primeiro
gravador de videoteipe, a televisão passou por outra transformação: tornou-se mais ágil,
com produção mais elaborada e uma linguagem mais direta e compreensível. Na década
de 70, acontece outra mudança importante quando a televisão passa a ser mais
informatizada e as então novas descobertas começam a fazer parte do processamento das
imagens, cada vez mais manipuladas, com cortes e montagens. É possível inserir elementos
visuais dentro do quadro, por exemplo. Isso provocou uma grande revolução no casamento
texto-palavra com o texto-imagem. O cinema também teve papel relevante nessa
transformação, pois a imagem em movimento proporcionava a oportunidade de construções
mais expressivas que se aproximavam da realidade cotidiana, dando movimento ao diálogo
palavra/imagem.
Com todas essas transformações, como a introdução da televisão usando
elementos cinematográficos dentro do campo musical, a indústria fonográfica,
percebendo o enorme poder televisivo, investe numa mídia para aglutinar o elemento
visual à música. Assim nascia o videoclipe, que serviu de marketing para a indústria
fonográfica, dando à música maior importância mercadológica. Há mais de 20 anos, o
videoclipe se consolidou como uma nova forma de expressão, como explica Machado.
117
De acordo com Samira Youssef Campedelli, videoteipe é um recurso eletrônico de repetição de
imagem fundamental na técnica televisual.
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[...] O videoclipe se impôs como uma nova forma de expressão dentro do
universo do vídeo e rapidamente ganhou espaço dentro e fora da televisão,
conquistando amplo contingente de adeptos e provocando uma pequena
revolução no interior das indústrias do vídeo e do disco [...] a verdade é que
se torna cada vez mais difícil fingir ignora-los ou supor que se trata apenas de
um fenômeno de moda (MACHADO, 1995, p. 169).
Jeder Janotti compartilha da opinião de Machado. Para ele, em 25 anos, o videoclipe
se consolidou como “uma nova modalidade de expressão comunicacional dentro do aparato
televisivo, provocando uma modulação nas formas e produções de sentido do imaginário
contemporâneo, além, é claro, de toda a refuncionalização do mercado fonográfico”
(JANOTTI, 1997, p. 15). Em poucas palavras, o videoclipe poderia ser definido como a
versão ilustrada de uma canção. Na verdade, o videoclipe é um híbrido entre o rádio e a
televisão, pois aglutina as características mais importantes de cada veículo: o som e a
imagem. No início, houve uma certa resistência contra essa nova modalidade; muitos
acharam que o videoclipe não teria continuidade, que não ganharia força, pois limitava a
capacidade de imaginação dos ouvintes. Com o tempo, ao contrário do pensamento de
muitos, o videoclipe teve um impulso muito grande, ganhando admiradores no mundo
inteiro.
Mesmo antes do surgimento do videoclipe, o cinema já aproximava o público do
artista. Era comum, por volta dos anos 30, serem apresentadas filmagens em estúdio que
tinham entre três e oito minutos, apresentações de artistas nos cinemas americanos junto
com os desenhos animados, as notícias e os trailers que antecediam o longa-metragem.
Alguns desses short films – como eram chamados – eram realizados como mini-narrativas,
que conseguiam ter temas mais bem desenvolvidos do que os próprios filmes. Essa função
foi superada e, ao mesmo tempo, usurpada pelo videoclipe.
A televisão teve papel relevante na produção dos primeiros videoclipes. Nos
anos 1950, programas e redes de TV já apresentavam os artistas relacionando imagens e
sons, mas, ainda assim, a presença ao vivo era mais valorizada. Nos anos 60, os Beatles
deram o passo inicial nesse processo, quando buscaram retratar em imagens as suas
músicas. Foram quatro vídeos, no total: A Hard Day’s Night, de 1964; Help e Magical
Mystery Tour, de 1967; e o desenho animado Yellow Submarine, de 1968. Nos anos 70,
ainda nos programas televisivos – inclusive aqui no Brasil, como no caso do Fantástico,
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transmitido pela Rede Globo – as associações de imagens às letras das músicas
apareciam de acordo com os limites tecnológicos da época. Foi, porém, na Inglaterra,
em 1979, que estreou o primeiro programa semanal de exibição de videoclipes, The
Kenny Everett Video Show. Desde os anos 80, o videoclipe se consolidou como um
instrumento de moda e de cultura jovem, e fez desenvolver áreas como a publicidade, a
televisão e o cinema, que cederam vários de seus procedimentos para a organização da
natureza do novo meio.
3 CARACTERÍSTICAS DOS VIDEOCLIPES
O videoclipe possui a capacidade de invadir a linguagem cotidiana, inserindo-se
no campo da experiência estética. É a forma de divulgação comercial ou não de um
trabalho, cuja intenção é repercutir no público conceitos como arte, moda, costumes e
indústrias de bens culturais. Como o videoclipe é um veículo enxuto, de curta duração
de três a cinco minutos, é possível para o artista mostrar a sua “cara”, a sua música, o
seu estilo, as suas idéias, os seus pensamentos e suas mensagens. Mesmo cantores ou
grupos de grandes popularidade, e ligados a grandes gravadoras, não abrem mão desse
casamento som-imagem como mais uma possibilidade de expressão.
Uma característica bastante marcante do videoclipe é que não há necessidade da
narração de uma história; ao contrário da televisão, por exemplo. Sem obedecer a uma
lógica própria (começo, meio e fim) as imagens do videoclipe, transmitidas de forma
aleatória, provocam essa revolução. O seu público está preparado para receber as
imagens de forma desorganizada, sem qualquer denotação direta ou discurso pronto. Ele
está, por sua natureza singular, aberto às várias interpretações e leituras que são
disponibilizadas. O que importa é o casamento perfeito entre imagem e som.
“O videoclipe, entretanto, pode dispensar inteiramente o suporte narrativo e o seu
público já está preparado para aceitar as imagens sem nenhum significado imediato,
sem qualquer denotação direta, sem referência alguma no sentido fotográfico do
termo, desde que o seu movimento seja harmônico com o da música (MACHADO,
1995, p. 170).
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Além de difundir idéias, imagens e canções, o videoclipe também é um meio que
possibilita a criação artística permanente, através dos elementos visuais, sonoros e
narrativos que interagem ao mesmo tempo na construção da sua linguagem. Algumas
produções são bastante marcantes e deixam os espectadores maravilhados, atraindo a
sua atenção, possibilitando a valorização da música, mesmo que esta tenha qualidade
questionável. É preciso, portanto, que o videoclipe possua uma estrutura muito bem
construída para que o espectador mantenha-se interessado mesmo depois de exposições
repetidas. Para Walter Salles Júnior:
O videoclipe é uma forma não-narrativa, não-linear, que ganhou o título [...]
imagens dissociadas. O que importa é menos a intenção de se contar uma
história e mais o desejo de se passar uma overdose de sensações, através de
informações não-relacionadas, acompanhando sons – ritmo das imagens
(SALLES, 1985 apud MACHADO, 1995, p. 170).
No videoclipe, as imagens, sempre associadas ao som, fascinam cada vez mais
as pessoas, principalmente as mais jovens, que buscam no imagético algo que possa
acrescentar à música, ou vice-versa. Exemplos como o lançamento de um CD, não
podem ser planejados hoje em dia somente com os produtores, músicos, compositores e
técnicos de estúdio, mas também com profissionais da televisão ou do cinema que
transformam a música em imagens. Não é difícil um lançamento de um CD estar
associado a uma fita VHS ou a um DVD, onde uma história é narrada em imagens, do
disco, dos bastidores da gravação e/ou dos videoclipes. Mesmo num CD, é comum um
clipe vir como uma faixa multimídia. O videoclipe passou a ser um artigo de primeira
necessidade para um artista que quer ter reconhecimento público. Os consumidores já
incorporaram em definitivo os recursos visuais.
O tempo em que o videoclipe era apenas uma peça publicitária para a
televisão, realizada a posteriori em relação ao trabalho musical, já está
definitivamente superado. Agora, muitos álbuns de rock são lançados
simultaneamente em disco de vinil e fita de vídeo (o exemplo pioneiro foi o
Eat to the Beat, do grupo Blondie, ainda nos idos de 1979) (MACHADO,
1995, p. 174).
A linguagem do videoclipe possui uma característica bastante peculiar: a
intertextualidade, a associação das linguagens verbal, imagética e sonora que, juntas,
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viabilizam a compreensão, a assimilação e a denotação da mensagem emitida. Cada
uma dessas linguagens possui a sua importância, não sendo uma mais importante do que
a outra. Cada uma, à sua maneira, contribui para que a mensagem seja compreendida.
Mas, para que seja entendido, o videoclipe precisa ser “lido” sob todos os seus aspectos,
aglutinando todos os códigos e signos que estão contidos para, assim, desvendar-se a
intencionalidade que o pontua.
Costuma-se afirmar que nos programas geralmente designados como ‘pósmodernos’ – videoclipes da MTV, Miami Vice, Max Headroom, anúncios high
tech, etc. – há um visual e um novo tipo de sentimento: o significante foi
liberado, e a imagem tem precedência sobre a narração; visto que certas imagens
estéticas contundentes, de grande artificialidade, se afastam da diegese televisiva
e se transformam em centro de fascinação, de prazer sedutor, de uma intensa,
porém fragmentária e transitória experiência estética (KELLNER, 1995, p. 301).
Baseado nisso, pode-se inferir que o espectador de um videoclipe é um receptor
diferenciado e não passivo, contrariando a teoria hipodérmica118 da comunicação e a escola de
Frankfurt119, nas quais, embora com pressupostos teóricos e metodológicos diferentes, crê-se que os
meios de comunicação impossibilitam qualquer reação do público, qualquer recepção crítica. Para
Adorno, “o sistema da indústria cultural reorienta as massas, não permite quase a evasão e impõe
sem cessar os esquemas de seu comportamento” (ADORNO, 1987, p.). Adorno e Horkheimer
afirmam ainda que “a indústria cultural desenvolveu-se com o predomínio do efeito”, e isso
realmente acontece no videoclipe, mas o espectador é diferenciado; ele assiste e, ao mesmo tempo,
interpreta todo o jogo de imagens, suas nuances, não sendo um mero espectador, mas um produtor
tão importante na relação como quem pensou originalmente o vídeo.
O papel do espectador, na recepção do videoclipe, é primordial, pois ele é capaz de
concretizar o processo iniciado pelo autor e/ou diretor. Os sentidos são construídos e reconstruídos
de forma ininterrupta. “De nada vale um objeto considerado ‘artístico’ se não houver, da parte do
receptor, uma real compreensão do que está em jogo, para dele extrair sentido” (DIEGUEZ, 1997, p.
²Paradigma segundo o qual cada elemento do público é pessoal e diretamente atingindo pela mensagem.
Contextualizada no período entre as duas guerras mundiais, esta teoria é baseada no behaviorismo, corrente
psicológica que se fundamenta na dicotomia estímulo-resposta.
119
O Institut für Sozialforschung, de Frankfurt, foi fundado em 1923, na Alemanha. Na época do Nazismo,
os participantes do Instituto, também conhecido como Escola de Frankfurt, tiveram que continuar seus
estudos primeiro em Paris, e depois nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova York.
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25). Kellner reforça: que “o videoclipe cria uma estrutura inovadora, expressa a visão do artista e
exige um leitor atento para decodificar a possível gama de significados” (KELLNER, 1995, p. 349).
Assim, o videoclipe é um produto da indústria cultural, mas sua estrutura, muitas
vezes, aleatória e polissêmica, permite ao leitor um leque de leituras e compreensões,
variando de acordo com a sua percepção, contextualização e seleção. Portanto, a
seqüência do videoclipe é rica em denotações devido às suas imagens, personagens,
signos, espaços, textos e sons e joga com uma overdose de tomadas dissociadas, cenas
que não têm linearidade, e com cortes secos, sem razão aparente, mas que são
estruturadas de modo coerente pelo produtor inicial para cada receptor possa construir a
sua própria leitura da realidade.
Os videoclipes abrem ainda a possibilidade de observar comportamentos que
não são percebidos no dia-a-dia. A dança, podemos citar, ganha um caráter
completamente novo, uma nova dimensão, combinada com o jogo de câmeras que
dialogam com os gestos e movimentos do corpo. O corpo, por sua vez, passa a ser mais
valorizado, ganhando atenção, pois cada gesto, cada passo ganha um novo caráter, uma
forma de expressão. É a maneira que o artista encontra para passar aquilo que pensa, em
que acredita, como se vê, como vê os outros, como num jogo de espelhos. É também
uma forma que encontra para vender a sua música, relacionando-a a uma idéia ou
pensamento, a uma postura ética, ambiental ou cultural.
O uso de efeito especial e técnico de animações é cada vez mais comum no
processo de criação de um videoclipe. Na atualidade, muitos videoclipes são feitos sem a
presença do artista ou grupo, deixando de ser somente um retrato animado dos astros. Esses
efeitos dão uma outra importância a esses artistas, mostrando ao espectador mais uma de
suas habilidades, enfocando a multiplicidade de seus talentos. É difícil definir um formato
para os videoclipes devido ao seu número cada vez maior, sua variedade e suas diversas
categorias. Mas Carlsson (1999, p. 4) arriscou classificá-los, limitando-os a quatro
categorias, sendo três delas bem definidas: os videoclipes de performance, os de arte, os
narrativos e o que ele chama de clipes padrão, em que não há um diferencial; aquele feito de
forma aleatória.
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Nos videoclipes narrativos, o artista ou banda conta uma história para dar valor à
música, mas não necessariamente tem a ver com a história da música; seria um filme
curto. Nos de performance são mostradas apresentações musicais ou coreográficas do
artista, numa valorização de alguma de suas habilidades, podendo ser, por exemplo,
uma dança. Nesta categoria, o cenário não importa muito, já que a produção pode ser
realizada em estúdio, ao ar livre ou num cenário inusitado. Poderiam ser incluídos nessa
categoria os videoclipes tirados de apresentações ao vivo dos artistas e das bandas,
enquanto os videoclipes de arte não trazem uma narrativa visual perceptível, não há um
critério de emissão de signos e, muito menos, preocupação em contar uma história; o
que importa é o visual.
Barthes fala que “as unidades que têm entre si algo de comum associam-se na
memória e assim se formam grupos em que reinam diversas relações” (BARTHES, 1964, p.
63). Este fenômeno é chamado de constância de signos, cujas associações são um ponto
bastante marcante dos videoclipes. Por se tratar de uma seqüência de imagens, por isso, de
difícil assimilação por parte do espectador, a repetição se faz necessária. Dependendo da
idéia que se queira passar, uma seqüência lógica de imagens é mostrada, a fim de despertar
interpretações no espectador.
4 YOU TUBE: DEMOCRATIZAÇÃO DO VIDEOCLIPE?
Com as profundas transformações tecnológicas pelas quais o mundo está
passando, principalmente no que tange aos processos comunicacionais, graças à
globalização, novos espaços têm surgido para que as pessoas possam expor seus traços
culturais, principalmente na internet. Um deles seria o site You Tube, no qual o usuário,
após se cadastrar com alguns dados, pode publicar qualquer vídeo, seja de sua autoria
ou não, que tenha uma duração máxima de 10 minutos e um tamanho de arquivo de, no
máximo, 100 Mb. Pelo tamanho do vídeo, podemos perceber que não é preciso grandes
recursos – com apenas uma simples máquina fotográfica digital ou até de um celular – é
possível produzir um trabalho e inseri-lo na rede mundial de computadores por meio do
You Tube.
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Ao contrário do que aconteceu com o cinema em décadas passadas, quando era
preciso investir em alta tecnologia para ver seu vídeo difundido, atualmente não é
preciso muito recurso para que se consiga produzir um videoclipe e torna-lo público;
basta apenas um celular, por exemplo, para que o trabalho ganhe o mundo. O You Tube,
um novo ciberespaço que serve de consumo cultural, tem sido escolhido o site escolhido
pelos usuários onde são disponibilizados vídeos para exibição gratuita.
O You Tube foi criado em 2005 por Chad Hurley e Steve Chen e tem sido
considerado uma das grandes revoluções na internet dos últimos tempos. Para ter uma
idéia do alcance do site, em maio de 2006, o site atingiu a marca de 40 milhões de
vídeos exibidos. Em junho do mesmo ano, o site alcançou a média de 100 milhões de
exibições/dia, com o total de 2,5 bilhões de vídeos exibidos, com um média de 65 mil
novos vídeos sendo enviados diariamente, segundo Fortes (2006: 34). Entre janeiro e
junho de 2008, em Portugal, a expressão You Tube foi a mais pesquisada na internet,
por 784 mil portugueses que navegaram na internet a partir de suas casas, um valor que
representa 25.9% dos internautas nacionais. Esses números representaram um revolução
no mercado audiovisual, funcionando como um espaço alternativo, de caráter massivo e
democrático.
Nesse contexto, com o grande alcance do site, videoclipes produzidos pelas
gravadoras, feitos com todos os recursos possíveis e muito bem trabalhados, foram parar
no You Tube. É possível encontrar toda a videografia de um artista ou banda no site.
Além dos videclipes propriamente dito, também podemos assistir trechos de shows e
apresentações que fazem parte da carreira do artista. O You Tube, como um espaço
democrático que se tornou, também serviu para que bandas e artistas iniciantes, que não
dispõem de recursos para produzir trabalhos de alta tecnologia e com grande aparato,
divulgassem o seu trabalho artístico. O endereço é ainda um espaço para experimentar
linguagens audiovisuais; basta acessá-lo para que encontremos os mais diversos tipos de
videoclipes: seja contando uma história, apresentação de um trecho de show ou até
simples jogos de imagem, com ou sem critérios, mas que, de alguma forma, transmitem
uma mensagem da banda ou artista. A intenção não está só na mensagem, mas,
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principalmente, tornar o artista conhecido, mesmo que entre os usuários da internet que
hoje chegam a patamares cada vez maiores.
Por meio do You Tube, bandas e artistas tornaram-se mais famosos divulgando o
seu trabalho através de videoclipes produzidos de forma simples e até artesanal. Os
critérios usados tem sempre uma relação com as grandes produções, mas, por conta da
falta de recursos, não podem competir com os produzidos pelas gravadoras. Além disso,
os artistas também encontraram no You Tube um meio de divulgar ainda mais o seu
trabalho; não basta somente estar na televisão, nas revistas, no rádio, nos sites – é
preciso também estar no You Tube. Certos artistas, como Madonna, por exemplo,
gravou recentemente um vídeo falando dos bastidores de um videoclipe especialmente
para o site. Isso prova o alcance que o endereço ganhou no mundo moderno. Com isso,
várias vozes, sejam elas conhecidas ou não, ganham destaque e força em todo o
processo comunicacional.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não há dúvidas de que o videoclipe significou um grande avanço para o
audiovisual. Unir imagem à música tornou-se condição necessária para que o mercado
absorvesse melhor o produto musical. A linguagem múltipla apresentada fascina cada
vez mais o público, com seu jogo de imagens e se consolidou como uma nova forma de
expressão, como uma maneira de ver o produto de um determinado artista ou banda.
Graças ao videoclipe, a música pôde ser divulgada em mais um relevante meio: a
televisão. Por meio dele, um veículo enxuto e rápido, porém com um ou vários
significados, dependendo da intenção do diretor ou artista, possibilitando que o público
busque tais interpretações a partir do seu próprio ponto de vista, não sendo um mero
espectador do que está sendo mostrado.
Com o tempo, a televisão tornou-se um espaço limitado para o videoclipe. Com
o advento da internet, o produto ganhou os computadores e foi parar em sites voltados
aos vídeos. Esse é o caso do You Tube, criado em 2005, e que hoje é referência no
mundo virtual e que revolucionou os vídeos existentes na web. Com isso, os videoclipes
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ganharam mais um meio de divulgação, seja pelos grandes artistas, como pelas bandas
que lutam por um espaço no mercado musical. O You Tube não só serve de divulgação,
mas também apresentou mudanças no modo de fazer: com apenas um câmera digital ou
um celular é possível gravar um vídeo disponibiliza-lo no endereço. O alcance é
inquestionável. Além disso, mostra uma revolução no modo de fazer, funcionando
como um espaço de experimentação para o audiovisual. No You Tube, o videoclipe e o
suporte em que ele se apresenta confundem-se, graças aos recursos de multimidialidade
e hiperinteratividade de que o hipertexto dispõe. A linguagem audiovisual não se esgota
- ao contrário, renova-se a cada instante, a cada revolução dos media. E que venha a
próxima!
BIBLIOGRAFIA
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Jorge Zahar, 1987.
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JANOTTI JÚNIOR, Jeder. Afeto, autenticidade e sociabilidade: uma abordagem do
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PINTO, Milton José. Comunicação e discurso: introdução à análise de discursos. São
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THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
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