Departamento Cultural do Clube Naval - Círculo Literário - Mare Nostrum - Ano XIV - Nº 59 - Março 2013
22 DE ABRIL DE 1500
DESCOBRIMENTO DO BRASIL
Felicíssimo
Oscar
Angela Guerra
Sérgio Vianna
Cleber Ribeiro
Vejo correr meu tempo e algo tento fazer
Com muito amor e carinho
Num abraço mais que apertado
A amizade sempre nos preservará da mesmice!
Sou simplesmente uma alma de ti completa.
1
Clube Naval
Presidente
Vice-Almirante
Ricardo Antonio da Veiga Cabral
Diretor Cultural
Vice-Almirante
José Eduardo Pimentel de Oliveira
Assessor do Diretor Cultural
CMG (T-RM1)
Adão Chagas de Rezende
Departamento Cultural
Tel.: 2112-2418
Tel/Fax.: (21) 2262-1873
site:www.clubenaval.org.br
Av. Rio Branco, 180 - Centro - RJ
CEP 20040-003
[email protected]
Coordenador
CMG (CA-Ref) Egberto Raymundo da Silva Filho
Conselho Editorial
CMG (CA-Ref) Egberto Raymundo da Silva Filho
CMG (EN-Ref) Felicissimo J. da Silva Fº
CF (CA-RM1) Gilberto Rodrigues Machado
Coordenadora de Eventos Especiais
Sra. Myriam Guanaes Rego
Sócios Fundadores
CMG (CA-Ref) Colbert Demaria Boiteux
CMG (IM-Ref) Nelio Ronchini Lima
CMG (CA-RM1)Agnaldo Xavier Furtado
CMG (CA-Ref) CarlosA. de A. Pereira da Silva
Ilustrações
CMG (CA-Ref) Júlio Sérgio Vidal Pessôa
(In memoriam)
CMG (IM-Ref)Vinício Ruiz
EDITORIAL
Aos sócios e colaboradores do
Mare Nostrum ressalto a importância
cada vez maior de suas participações em nosso
tabloide. A crescente demanda no envio de textos
em verso e prosa tem permitido o aumento
da diversidade de assuntos e seleção
da qualidade do conteúdo editorial.
Cada edição impressa do Mare
Nostrum possibilita a formação de um arquivo,
trimestralmente atualizado, onde a produção
literária de cada autor é disponibilizada para a
posteridade. Ao pesquisar um passado ainda
recente, iniciado em 1999 com a primeira
edição, encontramos textos de Membros
Fundadores do Círculo Literário que, mesmo
já tendo partido de nosso convívio, deixaram
exemplos de seus pensamentos poéticos e
literários que perdurarão em horizonte
temporal significativo para seus familiares,
amigos e para o Clube Naval.
O Departamento Cultural faz publicar
um veículo impresso possuidor de tiragem
elevada, graficamente moderno e com
distribuição regular. Para participar basta que você
queira se expressar utilizando e fortalecendo a
Literatura Brasileira, unindo-se aos autores sócios
e colaboradores do Mare Nostrum. Envie-nos seu
texto em prosa ou verso para o endereço eletrônico
declarado ao final da última página desta edição.
Editor Executivo
CMG (CA-RM1)Agnaldo Xavier Furtado
Jornalista Responsável
Prof. Antonio de Oliveira Pereira RJ13609JP
Atenção:
A responsabilidade pelo conteúdo das
matérias é exclusiva dos autores, que declaram, por
escrito, ao final delas, a cessão de seus Direitos
Autorais.
As colaborações enviadas serão publicadas
após aprovação do Conselho Editorial e não serão
devolvidas.
Nossa Capa
22 de abril de 1500 Descobrimento do Brasil
2
Vice-Almirante
José Eduardo Pimentel de Oliveira
CMG (CA - Ref) Egberto R. da Silva Filho
A vida é um barco que navega no mar do tempo.
Este barco está à mercê de um mar revolto,
De tempestades mas, também, de tempo bom e mar tranquilo.
O indivíduo que está no comando deste seu barco,
mesmo o conduzindo com pulso forte e usando todos os recursos
Para uma boa navegação não consegue,
Por vezes, evitar um acidente que o obriga a arribar
À procura de um porto seguro, para os reparos necessários
Para novamente se fazer ao mar
E continuar a sua viagem.
Que estranho é este barco que nem sempre obedece ao seu comandante
E se desvia da derrota por ele traçada.
Durante a sua travessia, assiste ao embarque
De um novo tripulante e também a seu contragosto
Vê desembarcar um tripulante querido.
A sua vida é como você conduz o seu barco.
O seu futuro sempre dependerá da necessidade
De esquecer um acidente do passado que lhe tenha machucado
E deixado avariado o seu barco.
A vida não se conta pelas singraduras tranquilas
Mas por aquelas que deixaram você sem respiração
E exigiram braço firme no timão,
Para manter o barco no rumo certo.
E assim, de travessia em travessia,
Enfrentando tempestades ou bom tempo,
Vamos conduzindo nosso barco aproado
Sempre no objetivo maior de levá-lo
A uma navegação segura
Que possibilite longas travessias
E o conduza a um porto seguro.
3
Farol
ao longe...
Ricardo Palheiros
Farol ao longe
e a bússola do velho timoneiro
guiando-o mar afora...
Caminhos e rumos a percorrer
E com a sabedoria de um monge
sigo um trajeto, ligeiro
como quem se importasse com a hora
que fosse necessário morrer...
Tempo, cruel e inexorável
com o seu vai-e-vem
sem se quer se importar
com o que foi ou com que será
com que trouxe e com o que irá levar
Tempo, vilão, curador e mestre!
Irreparáveis são os seus efeitos,
sem sequer nos dar uma segunda chance
Únicos e preciosos são os seus momentos
ainda que sejam de tormentos,
alegrias ou cairem apenas no esquecimento
eles nunca serão o mesmo
ELE não se permite intervalo, não para de ser "tempo"!
4
CF(RM1) Gilberto R. Machado
Fico triste quando meus olhos descobrem indigentes
Misturados ao lixo que o ser humano produziu...
Fico triste quando ouço o pedido por dinheiro
De crianças que se drogam
E que jazem abandonadas nas calçadas das cidades...
Fico triste quando percebo as maldades dos seres humanos
A atentarem contra a vida que doei e cultivei com tanto amor...
Fico triste pela estupidez de motoristas arrogantes e alcoolizados,
Que matam os que ousam atravessar o seu caminho...
Fico triste pelos que, pela ganância de bens materiais,
Enriquecem a custa do empobrecimento da população...
Fico triste pelas minhas criaturas vítimas dos latrocínios
Que, por causa de dinheiro, perdem a vida...
Fico triste pela falta de ética e de honestidade
Na política dos países, que jogam à vida indigna
Grande parte da população mundial...
Fico triste pelos pais que agridem os seus filhos
Por descontrole emocional...
Fico triste pelas crianças que são
Alvo fácil dos pedófilos e dos perversos
Sobretudo, nas redes sociais...
Fico triste pelas mulheres que sofrem
Violência e que, muitas vezes, são assassinadas...
Fico triste pelos que se entregam ao cigarro e à bebida
E destroem o corpo que lhes dei...
Fico triste pelas nações que, sob o manto da falsa democracia,
Escravizam os seus povos...
Fico triste pelas guerras entre as nações
Pois nada justifica essas agressões...
Fico triste pelos atentados à bomba
Praticados sob a mentirosa desculpa
De que são feitos «em nome de Deus»...
Fico triste pela destruição deste «lar» planetário
Pelo desmatamento institucionalizado,
Poluição do ar, dos rios e dos mares
Que os fiz puros para o homem viver de forma saudável...
Fico triste, enfim, porque o que criei com amor e, por amor,
Aos cuidados do homem entreguei, em confiança,
Mas que, na sua «cegueira», ele ainda não o enxergou...
5
CMG (IM-Ref) Antonio Tangari Filho
(Inspirado em Antonio de CASTRO ALVES,
no poema «A mãe do Cativo», da obra «Os Escravos»)
Mães, que nos educam, contam histórias,
Que sofrem quando parecemos derrotados.
Mas, sorriem partilhando nossas vitórias,
Silentes em seus lares, de amor iluminados.
Castro Alves em versos cantou essa figura heroica,
Que triste preferiu fiar na choça de palha, com empenho,
Não a mortalha, mas a manta do seu rebento. Mulher estoica!
Mesmo sabendo que escravo seria dos senhores de engenho.
Agora outras Mães também vivem tais dilemas,
Vendo seus filhos rendidos aos senhores das armas.
Mas, doce e igualmente os ama e cuida, sem problemas.
Carregando tempo afora o peso de semelhantes carmas.
Mães, de todos os filhos, sem qualquer distinção,
No seu dia recebam nosso beijo e a nossa oração
Ao Bom Deus. Pela dádiva de termos seu carinho
Junto a nós, com flores ou espinhos no caminho!
6
CMG (EN-Ref.) Felicíssimo J. da Silva Fº
Vejo correr meu tempo e algo tento fazer
Para estancar o que perco, mas não consigo,
Pois o que perco não é tempo de lazer,
É o de escolher qual direção, que nem sigo.
É dessa hesitação, desse apuro incessante,
Cada dia e hora, que todo tempo vai embora
E que mesmo ciente, eu padeço vagante,
Repetindo o erro, o qual mais meu tempo devora.
Por esse tempo que perco, tão duvidoso,
Nessa opção de um viver, que eu nunca me alinho,
Devia ir de qualquer jeito e não ser zeloso,
Com esmero em estrada, onde hoje ando, sozinho.
Buscando rumo irei, ainda cauteloso,
Lamentando o tempo ido, até que eu ache o caminho.
7
A ESQUINA
Aurea Stela
Há muito tempo eu não passo por esta esquina.
Enquanto aguardo para atravessar, lembro quantas vezes
por aqui passei em outras épocas remotas, de tantas outras
histórias. Agora a história é outra, diferente daqueles tempos
em que andava por estas esquinas. Hoje sou outra pessoa,
com questões e direções diferentes.
É estranho ser outra pessoa no mesmo lugar. Dá uma
sensação de tentativa de reconhecimento do que parece nunca
ter existido, apesar de tudo estar aqui, na minha frente,
exatamente como sempre foi. Hoje, tenho outro olhar, mas
apesar disso, a esquina me parece a mesma, igualzinha àquela
pela qual eu caminhava em outros tempos. Agora também os
tempos são outros e serão outros ainda daqui a um tempo.
Mas a esquina será sempre a mesma com a marca dos meus
pés de ontem e de hoje e talvez com a marca dos meus pés
de amanhã, e também com as marcas de tantos outros pés.
Tantas vezes esta esquina cruzou os meus caminhos
em outras ocasiões. Tem um pouco de mim aqui, um pouco
da minha presença, do meu pensamento, um pouco do que
eu deixei de ser.
Enquanto estou aqui parada nesta esquina, transportome e encontro-me com o que já não sou. Tento fazer algumas
perguntas, mas as respostas que dou a mim mesma parecem
ininteligíveis. É uma tentativa de conversa entre dois mundos
que subsistem no mesmo lugar, na mesma esquina. O sinal já
8
abriu e fechou várias vezes e eu continuo aqui esperando as
respostas que eu não consigo dar a mim mesma e procurando
fazer descobertas sobre o que um dia fui. Persisto nas
perguntas, mas os mundos subsistentes têm características
e linguagens peculiares a cada um. Por isso tanta estranheza
diante do que deixei de ser e tanta ansiedade pelas respostas
que não consigo obter.
É imensurável a distância existente entre dois pontos
que se localizam exatamente no mesmo lugar. Lugar este que
testemunha impassível a tentativa de diálogo entre dois seres
de mundos diversos.
Parece-me egoísta querer que a esquina se mostre
diferente diante da minha tentativa de diálogo com o que já
não existe. Há tantas outras marcas aqui, além das minhas.
Há tantas outras vozes, as quais, possivelmente, causem ruído
na minha tentativa de diálogo. Há tantas outras pessoas à
minha volta agora, todas elas diferentes das que me cercavam
nesta mesma esquina em outros tempos. É possível que elas,
como eu, esbarrem em suas próprias presenças e nem
percebam, porque seguem em frente indiferentes aproveitando
o sinal aberto. Mas eu não. Eu estou aqui parada, diante do
sinal aberto, diante do sinal fechado, esbarrando no que, há
muito, deixou de existir e tentando fazer alguma descoberta
sobre mim mesma.
Alte Oscar Moreira da Silva
Triste e infeliz
Quem nunca beijou,
Passou pela vida
E o melhor não provou.
O primeiro beijo
Nunca se esquece
E também aquele
Que mais apetece.
Lembro-me muito bem
Nosso beijo roubado.
Minha memória retém
Seu olhar assustado.
Nosso beijo de amor
Pleno de muita afeição,
Com cheiro de rosa flor
Carregado de paixão.
Na famosa opereta
Que Shakespeare escreveu:
Da sacada, Julieta
Se despede de Romeu,
Que com uma longa xeta
Agradece o amor que é seu.
De todos o mais terno,
Que dura além da vida,
É o beijo materno
Da nossa mãe querida.
Não podemos esquecer
Do beijo bem fraterno,
Entre irmãos e amigos,
Que também são eternos.
Não há limite pro beijo:
Na mão, na face, na testa ..
Desde que haja desejo
É recebido com festa.
Um beijo estalado
Com suspiros de amor,
Muito bem empregado
No negro quarto sem cor.
O mais ousado dos beijos,
O louco beijo de língua,
Que exacerba os desejos
E não padece à mingua.
Na hora da despedida,
Longo beijo de saudade,
Que será retribuída
Na volta àquela cidade,
Com muito amor e carinho
E dobro de felicidade.
Mas, quando o tempo é chegado,
Do reencontro aguardado,
O envelope do abraço,
Com longo beijo é selado,
E colado com aço.
Há beijos sem expressão,
Indiferentes e frios.
Beijos de ocasião
Com fortes calafrios.
O pior beijo dado
É o beijo forçado,
Que não é desejado
E até rejeitado.
Há beijos doces
Com gosto de mel;
Há beijos amargos
Repletos de fel.
Judas ofereceu
O beijo da traição
E Cristo o recebeu
Com toda compaixão.
Ao abandono da sorte
Recebemos a visita,
Mórbido beijo da morte,
Que nos leva desta vida.
BEIJE BASTANTE!
BEIJE GOSTOSO!
NAO PERCA O INSTANTE
DO SUPREMO GOZO!
9
CMG (Ref) Paulo Roberto Gotaç
«Eu era alegre como um rio,
um bicho, um bando de pardais;
Como um galo, quando havia...
quando havia galos, noites e quintais.»
Versos de Belchior, talentoso compositor da MPB.
Sempre que os ouve, Adamastor lembra da infância. Órfão
aos seis anos - os pais, vítimas fatais de desastre aéreo - foi
criado por tios em cidade do interior. Após a dor da perda,
rápida e confusa, como a de todas as crianças, iniciou a mais
deliciosa fase de sua vida. Mais ou menos como o menino de
José Lins do Rego, também órfão. O nome? Imposição do
pai, fascinado e apaixonado pela ode
épica de Camões. Adamastor,
monstro síntese do mar tenebroso
enfrentado pelos navegantes
portugueses do século XV. O
contraste não podia ser maior. Adinho,
- forma abreviada - magro, um pouco
mais baixo que a média dos colegas.
Mas "alegre como um rio, um bicho,
um bando de pardais", imagem do
poeta. Os rios, alegres na pequena
cidade. Conhecia cada um. Águas
sempre em movimento, convidavam
à diversão, nos remansos. Era como
se eles próprios, os rios, se divertissem também. Os bichos,
felizes, companheiros naturais, cachorros, marimbondos,
lesmas, caracóis. Galos, donos do pedaço, cantos alta
madrugada, percebidos quando, por uma febre, não
conseguia dormir. As noites, densas, sem ruído, inundavam
a cidadezinha mal iluminada.
Mas, os quintais! Ah! Os quintais. Infinitos, nos fundos
das residências. A maioria, sem fronteiras visíveis. Hordas
de meninos, correndo de um para outro. Conversas em baixo
das árvores. Uma descoberta por dia. E as frutas? Algumas
Adinho nunca mais veria na natureza. Umbu, carambola,
tamarindo, pitanga, cajá, siriguela.
10
Num dos quintais, um pequeno barraco. Adinho sabia
que ali morava um velho.
- Não perturbem o velho! - Enfática e frequente
advertência do proprietário aos meninos. Quem era? De onde
vinha? Ninguém sabia.
O barraco, pequeno, de madeira, telhado de zinco, sem
janelas e sem energia elétrica. Possuía uma porta estreita,
corpo negro de Planck. Adinho e os meninos, a caminho das
aventuras pelos quintais sempre passavam ao largo, curiosos.
Raramente o morador era visto e quando o era, só por alguns
minutos, após o que, furtivamente, entrava. Magrinho,
moreno, com calças cinzas,
desigualmente arregaçadas,
sempre descalço, uma camisa
branca, certamente a única, já
encardida, chapéu preto, surrado.
O rosto, de longe, impossível
distinguir os traços, só adivinhálos.
A curiosidade corroia mais a
Adinho que aos outros meninos.
Às vezes ousava, aproximava-se
do corpo negro. Certa vez quase
entrou. No último momento,
recuou, ao lembrar-se da enérgica
recomendação do dono do terreno.
Anos passando, infância esvaindo-se, as aparições
rápidas do velho, rareando. E a curiosidade aumentando. Um
dia, após muito tempo sem vê-lo, Adinho não resistiu e
adentrou pelo corpo negro. Tenso, tateou na penumbra e,
para sua surpresa, ninguém no interior. Alguns objetos
espalhados pelo chão de terra. Um chamou-lhe a atenção.
Retrato antigo, já amarelado, moldura elíptica, vidro protetor.
Uma família. O homem, moreno, baixo, ainda jovem, terno e
gravata, a mulher, bonita, vestido comprido, cabelo para trás,
preso, e um casal de filhos, o menino com oito anos
presumíveis, a menina, uns seis. Sem saber porque, levou-o.
Após alguns dias, preocupado com a ausência, procurou o
proprietário com o retrato, temendo uma reprimenda. Para
sua surpresa, viu um sorriso triste.
- O velho faleceu.
"Tão despercebida como suas entradas e saídas do
barracão, foi sua saída da vida", pensou Adinho, entre
surpreso e meio assustado.
Vendo a curiosidade palpitar no rosto do menino,
prosseguiu:: - Morreu há poucos dias. Corpo removido à
noite, enterrado no cemitério da cidade. Chamava-se Januário,
amigo do pai do antigo proprietário. Possuía uma família
maravilhosa, essa da foto. Tinha um pequeno negócio aqui
na cidade que não ia muito bem. Um dia, para surpresa de
todos resolveu vender tudo e embarcar para o Rio de Janeiro,
tentar melhor sorte. 1942, o mundo em guerra, Brasil ainda
neutro. Embarcou no Recife com tralhas e família no Baependi.
Na altura do litoral da Bahia, o torpedeamento. 270 mortos,
somente 36 sobreviventes. Um deles, Januário, sem a família.
Não se sabe como, conseguiu salvar o retrato. Desnorteado,
indigente, foi achado pelo ex dono desta casa. Ofereceramlhe ajuda e abrigo, recusados várias vezes. Após muita
insistência, concordou vir para cá desde que fora da casa,
em casebre por ele construído, o barraco, convivendo,
isolado, com sua dor. Quando comprei a casa, prometi não
importuná- lo, até que partisse. Morreu dormindo.
Adinho, emocionado, agradeceu e, preparando-se para
sair, fez
menção de entregar o retrato.
- Fique com ele. É seu...
Adinho agradeceu de novo e retirou-se.
Hoje, o Dr. Adamastor Figueira Ortiz, é um dos
executivos mais importantes de poderosa multinacional de
petróleo. Próximo à sua imensa mesa, sala decorada com
extremo bom gosto, o retrato da família de Januário, sempre
no visual. Olha-o sempre, lembrando sua infância maravilhosa.
Nessas ocasiões, reflete também sobre a fragilidade e
descontinuidade da vida.
Angela Guerra
Avistei-o, escondidinho,
lá no canteiro do meio,
pequenino e recolhido.
entre todas as formosas,
já desabrochadas rosas.
que seus efêmeros dotes
exibiam, tão charmosas...
Hermeticamente fechado,
seu segredo, protegido,
não pronto a ser revelado...
Suas pétalas unidas,
num abraço mais que apertado.
ao certo, nem indicavam
que cor desabrocharia
naquele jardim multicor,
encantado e encantador...
Com a brisa, um minueto,
ele e seus pares dançavam,
mas sempre nenhum destaque,
o tímido botão ousava...
O tempo foi caminhando,
e ele, desabrochando...
O seu mistério, porém,
a sete chaves trancado,
só mesmo, na primavera,
viria a ser desvendado...
11
*
Xavier Marques (1861 - 1942)
Longe, bem longe a terra, qual miragem
Do frio norte, em névoas se encobrindo,
Múrmura chuva, em bátegas caindo
Deliu as cores vivas da paisagem
Através das nuvens indistinta imagem
De alguma árvore ou monte esvai-se. Findo
Parece o dia; as vagas indo e vindo,
Contra o batel em convulsão reagem.
No horizonte, rompendo as densas brumas,
Graça ligeira bate as alvas plumas...
A terra, à fronte, ao ninho onde emplumara.
Assim regressa o coração descrito,
Nas tormentas da vida mal ferido,
As afeições do lar que abandonara.
* O poema, em tela, está publicado na nova ortografia.
12
PÉRGOLA
NO SÉTIMO ANDAR
TERRAÇO DO CLUBE NAVAL
CMG Agnaldo Xavier Furtado
Primeiro PÉRGOLA Carioca. Genial!
No Clube Naval, penso eu... Central!
Espaço único no Universo
Sobre o terraço! És Nobre!
Sobre as ondas plácidas!
Sobre o ar pujante! À Vista.
Sobre a vista, nossos olhos!
Do RIO! Branco, na avenida.
Espaço que vem do Número Um, és Mauá!
Espaço Retinida do Mar, ao Mar, no Asfalto!
Espaço que veio e vai no Tempo, és Futuro!
Espaço que passa Cinema, és Cinelândia!
Vai à Vista nesta Vista, vendo a sacra Imagem,
Espaço que deslumbra o Teatro, és Municipal.
Espaço onde leio olhares, Biblioteca Nacional,
Belas Artes com Justiça Cultural, és um Edital.
Defronte o Monumento, são os Pracinhas Marchantes,
A Torre de Cimento corte aos Céus, Postes em Luzes!
Longe passa Bondinho, lado a lado o Pão de Açúcar!
Sauna Seca, Sauna a Vapor, tudo conspirando ao Prazer!
Panorâmica, uma Visão Romana, Vista pelos Gregos, és poema!
Exuberante Obra sobre Teto; Foi Cabral, o nosso Veiga; é Magistral
Que tanto no tempo passado esperou e no tempo presente apareceu!
Foi Pedro II que apareceu no dia... Afinal ele aqui nasceu.
A Praça Nossa, PÉRGOLA no sétimo, sobre seis andares cresceu!
Alexandra, Leo, Antônio, Neto e Agnaldo, com Ruiz na banheira, foto Central!
Quadrado num Quadrado, na forma sobre forma, vi bem ilustrada, bem afinal!
Tudo com chuva ou sol, de dia ou de noite, com ou sem lua compensada, o LUAL!
Futuro, Presente, Passado de Rio, de Janeiro a Dezembro, vejo no PÉRGOLA!
Neste Honroso, deslumbrante, antigo, moderno Espaço, criado no Clube Naval.
13
Beto Cunha
Rafael de Leoni
Vida, minha querida vida
porque insiste em me testar?
Não compreendo o que você quer me mostrar.
É pancada pra cá,
confusão pra lá,
estou cansado de balançar.
Quando faço o certo
parece que estou fazendo o errado
afinal, estarei eu acabado?
Um olhar terno, penetrante
Uma boca doce, sublime tocar
Um sorriso aberto, convidativo
Um abraço envolvente
Ela deixou saudade
Em todos os lados
No quarto, na sala
em todos os cantos
Provocou até um pranto
No sorriso do poeta
E bagunçou seu lado criativo
Seus versos escorreram pelo ralo
Ficou recluso, contrariado
Diante de tanta desilusão
Perdeu o compasso do passo
Um vazio, um dissabor
Uma angústia, uma dor
Perdeu seu lado bonito
Correu pela rua aos gritos
Querendo se reinventar
Você persiste em me quebrar,
para que tudo isso?
Eu não vou me derrotar!
Quer que eu desista?
Que eu me dê por vencido?
Não, não irei
Não irei sucumbir aos seus obstáculos
aos seus temores.
Eu vou mesmo é dar espetáculos!
CF(FN-RRm) Sylvio Ferreira da Silva
Fico a pensar nesses homens sofridos
Sem condições pra poder enfrentar,
Os mais temíveis de seus inimigos:
O desemprego e a fome no lar
Vai-se a saúde qual pedra no rio,
Vão-se os neurônios dos filhos pro ar.
Perda de tempo e futuro sombrio,
Uma esperança! A merenda escolar...
Que povo é esse, sem nada pra crer,
Fraco, cansado de obedecer,
Sem ter direito de um sonho afmal?
Pras injustiças que o mundo lhe traz,
No futebol a vibrar se compraz,
Sambando alegre em pleno Carnaval...
14
Sérgio Vianna
A amizade sempre nos preservará da mesmice!
Ela nos coloca em estado de graça e de delicadeza
numa atemporalidade sem obrigações ou promessas a manter.
É o retrato silencioso
de um espelho de identidades e diferenças
que se somam através de anos
de crescimento e conhecimento.
Como a lembrança é o paraíso do qual nunca se é expulso
há que se encostar o ouvido na concha da vida
e ajustar o olhar através da janela da alma...
Ouvir e observar fatos e detalhes da longa convivência
em tempos de confiança e inocência, maturidade e colheita.
Amigos são pessoas tão especiais...
Que Deus os mantenha sob seu olhar amoroso...
Para sempre!
Inah Villela
Para poder lhe agradar,
preciso aprender a recitar.
Declamarei Luiz de Camões
ou qualquer um verbo
da primeira conjugação,
usando apenas quatro letras,
soará como uma canção.
Remexendo o passado,
firmarei o presente,
que é parente do futuro,
para dizer simplesmente,
que lhe amarei para sempre.
15
Celi Luz
Quando céu derrama-se em mar
Deus Urano a ejacular.
Nascem espumas
de paixão.
Vênus atiça os sentidos
macho atraído.
Nascem feras
sem razão.
Dra. Nilza Pinheiro de Athayde Lieh
Reunidos em missão
De preservar o Planeta
Senhores de toda a Terra
Procuram a solução
Reúnem-se os países
Propostas, novas diretrizes.
Todos buscando mais fontes
Para a Terra em transe, em crise.
Quando Urano uniu-se a Gaia
vieram os não só humanos.
Nascem deuses
os Titãs.
Dos Titãs, outros deuses
e os deuses amam os humanos
Nascem os heróis
e as glórias.
Notáveis promessas feitas
Relatórios conclusões
Planos de novas colheitas
No equilíbrio das ações.
Faz sentido prometer
Num fórum internacional
Faz mais sentido ainda crer
Um dia na evolução
o homem e o coração.
Nasce o amor
e a ilusão.
E trabalhar, por querer.
Amor selvagem
se eleva em alto plano.
Nasce o humano
e o amor.
Não se torne descartável,
Poema da Mitologia, inspirado na escultura O MAR EM NÓS, em
exposição no Museu Naval no RJ, em outubro/2012. Escultura do
Suboficial (ES) José AMALRI do Nascimento, atualmente servindo
no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ).
16
Meio ambiente saudável
Onde o homem, ser notável
Desequilíbrio total.
A natureza é sábia e bela
E não se engana no embate
Recompor o meio ambiente
É lida do bom combate.
CF(T) Cleber Ribeiro da Silva
Sou a fonte cristalina que presta
Sou o improvável que interessa
Sou o incólume que resta
Sou o amor às avessas
Sou a vida vista pela fresta
Sou a parte do todo que resta
Sou aquele que te quer em festa
Sou o tal que se empresta
Sou a vida sem sentido que resta
Sou você que você detesta
Sou o amor escrito na testa
Sou o sentimento puro que resta
Sou do entardecer a sesta
Sou do que restou a réstia
Sou o último dos guerreiros que resta
Sou a esperança de amor de ti repleta
Sou a esfera... sou a circunferência
Sou a aresta
CMG (M-Ref) Djalma Mendonça
Protagonista de nossas idéias
Que emerge do nosso ser ao nascer
Prolifera o quanto se pode
Nesse Universo sempre à crescer
E nesse contexto sigo as idéias
Sem o raciocínio que a mídia requer.
Inconstante, ante a fúria a obedecer
Dos valores do modo de ser.
As poesias, os poemas e fantasias
Correspondem aos instintos do meu ser
Meus anseios, minhas lutas, meus amores
Daquilo que gosto de fazer
E elas nascem e crescem
Muitas vezes sem sequer me obedecer
Sem compreender, em momentos o porquê
Outras vezes, algo me encanta
E logo se expande delirante
A mover meu instinto, a pintar ou escrever
Ao rabiscar traços, uma pintura se faz nascer
Sou o que de maior se pode sentir
Sou simplesmente uma alma de ti completa.
17
Aluizio da Cunha Garcia
Algum dia e longe de ti.
Longe do mundo e de mim mesmo.
Estarei em caminhos jamais percorridos,
Onde não haja luz nem trevas e,
Lá sem cores e nem formas,
Sem passado, presente ou futuro e,
Então tudo repousará na paz
Na verdade
No desconhecido
Na Eternidade
Jornalista Antonio de Oliveira Pereira
Caminhar em conjunto
é ato de construção,
em cada tempo da jornada
forja-se a união.
A solidariedade fortalece o passo,
são transpostos os sismos,
no compasso fraternal da união
forjam-se pontes de otimismo.
O homem alcança o horizonte distante
caminhando sempre adiante.
Conquistando a liberdade da paz,
confiante, perseverante.
Não importa cada passo, feliz ou dorido,
importa o compasso do andante que crê,
frente ao desconhecido não esmorece,
amparado na fé, sentindo o afago de Deus.
Obedecendo ao desígnio do destino,
segue adiante o peregrino, amparado na divina lei
dita pelo Senhor aos filhos seus:
- Faça por ti, e Eu te ajudarei.
18
CF (IM-Ref) Osmar Boavista
Victória tem quinze anos.
Linda. Doçura infinita.
Não só rosto, alma bonita.
Juventude que se agita,
E também comete enganos.
Forte, livre, inteligente.
Elegante, consciente.
Às vezes um pouco aflita
Com receios quase insanos.
Por vezes compreensiva,
Por vezes contestação.
Argumenta e até grita,
Perde a calma, busca a liça,
Luta em busca da justiça,
E impõe sua razão.
Essa bela flor castiça
Que pro mundo é uma princesa,
Para a vida é alegria,
Para nós, toda a riqueza.
Todo sonho e fantasia.
E, se recostas a cabeça loura
sobre meu peito de ilusões vazio,
Vê-se um raio de sol fulvo que doira,
um pedaço de terra êrmo e sombrio.
Quando tu te debruças nos meus ombros,
fitando-me a sorrir, anjo adorado,
recordas uma flor entre os escombros
de um velho e triste muro abandonado.
Se o pescoço me prendes nos teus braços
semelhas cipó verde cheiroso
que vai subindo pelo tronco sinuoso,
revestindo- o de flores e laços.
*Poesia, de autor desconhecido, dedicada por Laura Ferreira da Silva
Quintella, esposa do Cap.Tte. Oswald Norton de Murat Quintella, Oficial de
armamento, a seu filho, George Norton de Murat Quintela. Publicação solicitada
por Laura Ferreira da Silva Quintela, esposa do CMG Tuxaua Plínio B. de Linhares.
Falas.... e a tua fala se desata,
sonora da garganta feito um hino,
ou doce como arroio cristalino
por entre os verdes tinhorões da mata.
Choras.... das roseas pálpebras destilam
as níveas pérolas de sentido pranto.
Assim nos galhos visíveis oscilam
do orvalho as gotas nas manhãs de encanto.
E quando pelas débeis mãos te agarro,
lembram elas nas minhas duas rosas alvíssimas,
dobradas e cheirosas
dentro de um vaso rústico de barro.
19
Ó Deus
Roberto Continentino
I
DEUS, VÓS QUE SOIS SENHOR DE TANTOS FIRMAMENTOS
ONIPOTENTE AMO, DESSA OBRA PORTENTOSA
CHEGA-ME, Ó PAI PERDÃO, AO VIÉS DO PENSAMENTO,
VELHO VÃO, QUE À ALMA TANGE, EM VIA TORTUOSA
II
DE QUE MASSA, AFINAL, SE COMPÕE O SER HUMANO?
DAS CRIAÇÕES DE VOSSA LAVRA, A IMBATÍVEL
À QUAL PERTENÇO E, MUITA VEZ DISSO, ME UFANO,
LEDO ENGANO, DE OUTRA É CRUEL E DESPREZÍVEL
III
ESCLARECEI-ME ENFIM, Ó REI DAS MÃOS PERFEITAS,
PERDÃO PELA OUSADIA E FALTA DE HUMILDADE,
NÃO QUE ESTEJA EM MIM, A CLARA FÉ EM VÓS, DESFEITA
MAS, DE QUE ALQUIMIA É COMPOSTA A HUMANIDADE?
IV
SE DE UM LADO, A RAZÃO, DOM CRIATIVO IMENSO
DO OUTRO, A BARBÁRIE E SOBERBA DESATADA
TERÍEIS VÓS CANSADO NO CAMINHO EXTENSO?
OU ERRADO, EM BOA FÉ, NA DOSE ELABORADA?
V
MERCÊ VOSSA VONTADE, ILUMINADO, EU PENSO
A VOZ QUE NÃO SE CALA, IMPLORA POR MILAGRE:
QUE SE TORNE O AMOR FECUNDO EM COMPREENSÃO,
BOM SENSO
E AO REVÉS DO SABRE, A BONDADE SE CONSAGRE
20
Agostinho Fortes
Esta praça
É cheia de graça.
Tem aviões de papel.
Parece que vêm do céu
E gaivotas no ar.
Pés e mãos enlameados,
Papagaios empinados,
Garrafão e amarelinha.
Bolhas feitas de sabão,
Cama de gato e pião,
Tem pera, uva e maçã.
Bolas de gude e petecas,
E bambolês e bonecas,
Esconde-esconde e queimada.
Passa anel e cabracega,
Mãe da rua e pega-pega
E chicotinho queimado.
Tem balanço e tem totó
E tem escravos de Jó
E também pular carniça.
Tem ioiô e tem gibi,
Tem pardal e colibrí
E estilingues malvados.
Tem patins e patinetes,
Bicicletas e raquetes
E soldadinho de chumbo.
Tem também fruta gostosa,
Cajá-manga e manga rosa
E tem jaca lambusada.
E tem também ler a mão,
Passa passa gavião
E telefone sem fio.
Tem sorvete e Coca-cola
E vários jogos de bola
E tem "mamãe posso ir ?"
E tem roda com cantiga,
Também tem choro, tem briga
E tem rolar pelo chão.
Chocolate, capilé,
Balas, doces, picolé
E tem carrinhos de pau.
Nesta praça
o tempo não passa ...
Só quem passou fui eu.
21
Logo um deles respondia:
- é melhor não arriscar...
- mesmo não tendo mãe d’água
candiru não vai faltar;
naquele furo do rio
a gente já conhecia
na beira do igarapé,
quem diria, o próprio rabo,
pra ser por ela fisgado!...
Depois puxava depressa
aquele anzol às avessas
gritando feito um danado!...
a fama do vil peixinho:
qualquer corrente vencia,
em qualquer buraco entrava...
Todos então concordavam
que até xixi pela borda
era coisa perigosa...
Mas de todas as lembranças
da encantada pescaria,
que guardei no rico escrínio
de uma doce nostalgia,
aquela que é mais ditosa,
só agora, de mansinho,
N o meio da pescaria
e dos sustos que rondavam
a nossa grande aventura,
só faltava uma figura
sair de dentro da moita
pra também nos assustar...
nestes versos se insinua:
já na hora de voltar,
as cunhãzinhas sem roupa,
que nadavam numa boa
no remanso da gamboa,
curiosas, nos olhavam...
A pérfida criatura
- o tal cabeça-de-cuia
decerto nos espreitava,
pois de sete em sete anos
um garoto devorava
e o prazo já terminara...
ficamos alvoroçados
treze anos eu teria,
elas também por aí,
mas era tudo mulher...
- Não tem perigo nenhum
pode pular que dá pé!...
Outros seres mais amenos
o manguezal habitavam,
desde pássaros canoros
ao jabotí tão sereno
e às araras que gritavam
sem perturbar a preguiça
Ali onde dava pé
a água mal encobria
tesouros muito sonhados,
porém jamais alcançados,
que minhas mãos ansiosas
em vão tentavam tocar...
Do igarapé mais sombrio,
os meninos do lugar
a canoa desviavam,
temerosos do feitiço
da enganadora mãe - d’ água
que diziam viver lá...
este, um bizarro animal,
que escalava devagar
a copa de qualquer pau,
mas, lá no alto chegando,
de repente se largava
pra no chão se esborrachar!...
Entre risos, caçoadas,
do meu abraço fugia
a curvilínea magia
da cunhãnzinha desnuda
que eu, afoito, perseguia,
almejando o paraíso...
A gente, perto da proa,
no banco dos visitantes,
falava: - que medo à-toa!
Essa tal cobra gigante
jamais por alguém foi vista,
duvidamos que ela exista!...
E havia o macaquinho
pescador de caranguejo!...
Era um bicho muito andejo
que seguia mil caminhos,
enfiando em cada toca,
onde a presa se maloca,
No auge da brincadeira
aos poucos nos afastamos
do resto da meninada...
naquele doce remanso
da acolhedora enseada
de repente nos amamos!...
CMG João Mário Baptista
(In memoriam)
Antes de chegar no mar
o caudal se dividia:
era o delta em que fluía,
lutando contra a maré,
água doce a penetrar
no verde espaço do mar.
Pescaria de canoa
adentrando o manguezal,
oh meu Deus que coisa boa,
eu nunca vi nada igual!
Que mundo de fantasia,
que beleza tão real!
O peixe desatinado
só queria ser pescado!...
Ali não tinha puçá
que n’água rápido entrasse
e depressa não voltasse
cheinho pelas beiradas!...
22
CMG Sylvio de Araújo Sampaio
(In memoriam)
CMG Nelio Ronchini Lima
(In memoriam)
Olho a paisagem, arquivo do passado,
Lembranças evoluem pela mente
Mistura de libélula e serpente
Em belo e tão nostálgico bailado
Saudade... quem te quer por sua companheira?
E porque vens vestida com tanta tristeza...
Luz do passado fostes na memória acesa,
Iluminando sombras de uma vida inteira.
Tento abrir esse cofre diferente,
Tão leve, conteúdo tão pesado...
Há de lembrar segredo bem guardado
E usar a chave mestra do presente
Mas por que te disfarças em pote de mel?
Perversa deusa, branda fada, ou deusa amiga,
Ao mesmo tempo dizes de doçura e fel,
A tua esmola para minha alma mendiga.
Falta dizer, também, palavra senha
Que agente tantas vezes desdenha
Mero receio dela ser verdade
Óbolo amargo e esmola do passado
Não mata nunca a sede cruel que me mata,
De voltar ao caminho que já foi pisado...
São sete letras de poder tão forte
Move mantanhas, torna em vida a morte
...Olho a paisagem... vou dizer: Saudade
A tua esmola foi de eterno pão maldito,
E, muitas vezes foi de bálsamo bendito...
Tu és saudade, ouro puro... ou falsa prata!
23
CF (RM1) Gilberto R. Machado
É com entusiasmo que o MARE NOSTRUM presta homenagem à Poesia.
E nada mais adequado, lembrar da importância da Poesia, como uma das mais
singelas manifestações da arte literária. Porque ela tem raiz, no mais das vezes,
na profundeza da alma tendo, por isto, participação na vida do poeta, a ponto
de sugerir caminhos a seguir e marcar, de forma indelével o seu destino. É este
o sentido que nos parece ter dado às suas palavras o saudoso poeta Mario
Quintana. Ele, a respeito, diz: " Minha vida está nos meus poemas; meus poemas
são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão" (JB - 20/6/1994 - in "Mario Quintana deixou-nos...,
de Gilberto Souza Gomes Job). E o poeta, em breve matéria publicada também no JB, no dia 1º de setembro de 1973, dá
ênfase ao fazer poético, através de palavras que incentivam o cultivo da arte literária em versos: "Acho que todos deveriam
fazer ve rsos. Ainda que saiam maus, não tem importância. É preferível, para a alma humana, fazer maus versos a não fazer
nenhum. O exercício da arte poética é sempre um esforço de auto-superação. E é de fato consabido que o refinamento do
estilo acaba trazendo o refinamento da alma. Sim, todos devem fazer versos. Contando que não me venham mostrar-me. E
mesmo para os simples leitores de poema, que são todos eles uns poetas inéditos, a poesia é a unica novidade possível. Pois
tudo já está nas enciclopédias, que só repetem estupidamente, como robôs, o que lhes foi incutido. Ou embutido. Ah, mas um
poema é outra coisa... 'O poema é um objeto súbito: os outros objetos já existiam' ".
Em 02 de abril é comemorado o Dia Internacional do
Livro Infantojuvenil. E nada mais oportuno do que citar o
que nos deixou registrado o inesquecível Castro Alves, em
"O Livro e a América", para nos transmitir o valor do livro
para o povo de um país. E nós, da equipe do Mare Nostrum,
aplicamos as palavras do poeta à relevância da formação de
leitores, a partir dos jovens que são lembrados como alvo
preferencial dessa modalidade de literatura. Então, desfrutemos
do privilégio de ouvir palavras de invulgar sabedoria desse
inspirado bardo:
"Oh! Bendito o que semeia
Livros... livro à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germem - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar."
Acesse o Mare Nostrum, na internet, pelo site: www.clubenaval.org.br
24
Download

C:\Users\Antonio Pereira\Deskto