Departamento Cultural do Clube Naval - Círculo Literário - Mare Nostrum - Ano XIV - Nº 59 - Março 2013 22 DE ABRIL DE 1500 DESCOBRIMENTO DO BRASIL Felicíssimo Oscar Angela Guerra Sérgio Vianna Cleber Ribeiro Vejo correr meu tempo e algo tento fazer Com muito amor e carinho Num abraço mais que apertado A amizade sempre nos preservará da mesmice! Sou simplesmente uma alma de ti completa. 1 Clube Naval Presidente Vice-Almirante Ricardo Antonio da Veiga Cabral Diretor Cultural Vice-Almirante José Eduardo Pimentel de Oliveira Assessor do Diretor Cultural CMG (T-RM1) Adão Chagas de Rezende Departamento Cultural Tel.: 2112-2418 Tel/Fax.: (21) 2262-1873 site:www.clubenaval.org.br Av. Rio Branco, 180 - Centro - RJ CEP 20040-003 [email protected] Coordenador CMG (CA-Ref) Egberto Raymundo da Silva Filho Conselho Editorial CMG (CA-Ref) Egberto Raymundo da Silva Filho CMG (EN-Ref) Felicissimo J. da Silva Fº CF (CA-RM1) Gilberto Rodrigues Machado Coordenadora de Eventos Especiais Sra. Myriam Guanaes Rego Sócios Fundadores CMG (CA-Ref) Colbert Demaria Boiteux CMG (IM-Ref) Nelio Ronchini Lima CMG (CA-RM1)Agnaldo Xavier Furtado CMG (CA-Ref) CarlosA. de A. Pereira da Silva Ilustrações CMG (CA-Ref) Júlio Sérgio Vidal Pessôa (In memoriam) CMG (IM-Ref)Vinício Ruiz EDITORIAL Aos sócios e colaboradores do Mare Nostrum ressalto a importância cada vez maior de suas participações em nosso tabloide. A crescente demanda no envio de textos em verso e prosa tem permitido o aumento da diversidade de assuntos e seleção da qualidade do conteúdo editorial. Cada edição impressa do Mare Nostrum possibilita a formação de um arquivo, trimestralmente atualizado, onde a produção literária de cada autor é disponibilizada para a posteridade. Ao pesquisar um passado ainda recente, iniciado em 1999 com a primeira edição, encontramos textos de Membros Fundadores do Círculo Literário que, mesmo já tendo partido de nosso convívio, deixaram exemplos de seus pensamentos poéticos e literários que perdurarão em horizonte temporal significativo para seus familiares, amigos e para o Clube Naval. O Departamento Cultural faz publicar um veículo impresso possuidor de tiragem elevada, graficamente moderno e com distribuição regular. Para participar basta que você queira se expressar utilizando e fortalecendo a Literatura Brasileira, unindo-se aos autores sócios e colaboradores do Mare Nostrum. Envie-nos seu texto em prosa ou verso para o endereço eletrônico declarado ao final da última página desta edição. Editor Executivo CMG (CA-RM1)Agnaldo Xavier Furtado Jornalista Responsável Prof. Antonio de Oliveira Pereira RJ13609JP Atenção: A responsabilidade pelo conteúdo das matérias é exclusiva dos autores, que declaram, por escrito, ao final delas, a cessão de seus Direitos Autorais. As colaborações enviadas serão publicadas após aprovação do Conselho Editorial e não serão devolvidas. Nossa Capa 22 de abril de 1500 Descobrimento do Brasil 2 Vice-Almirante José Eduardo Pimentel de Oliveira CMG (CA - Ref) Egberto R. da Silva Filho A vida é um barco que navega no mar do tempo. Este barco está à mercê de um mar revolto, De tempestades mas, também, de tempo bom e mar tranquilo. O indivíduo que está no comando deste seu barco, mesmo o conduzindo com pulso forte e usando todos os recursos Para uma boa navegação não consegue, Por vezes, evitar um acidente que o obriga a arribar À procura de um porto seguro, para os reparos necessários Para novamente se fazer ao mar E continuar a sua viagem. Que estranho é este barco que nem sempre obedece ao seu comandante E se desvia da derrota por ele traçada. Durante a sua travessia, assiste ao embarque De um novo tripulante e também a seu contragosto Vê desembarcar um tripulante querido. A sua vida é como você conduz o seu barco. O seu futuro sempre dependerá da necessidade De esquecer um acidente do passado que lhe tenha machucado E deixado avariado o seu barco. A vida não se conta pelas singraduras tranquilas Mas por aquelas que deixaram você sem respiração E exigiram braço firme no timão, Para manter o barco no rumo certo. E assim, de travessia em travessia, Enfrentando tempestades ou bom tempo, Vamos conduzindo nosso barco aproado Sempre no objetivo maior de levá-lo A uma navegação segura Que possibilite longas travessias E o conduza a um porto seguro. 3 Farol ao longe... Ricardo Palheiros Farol ao longe e a bússola do velho timoneiro guiando-o mar afora... Caminhos e rumos a percorrer E com a sabedoria de um monge sigo um trajeto, ligeiro como quem se importasse com a hora que fosse necessário morrer... Tempo, cruel e inexorável com o seu vai-e-vem sem se quer se importar com o que foi ou com que será com que trouxe e com o que irá levar Tempo, vilão, curador e mestre! Irreparáveis são os seus efeitos, sem sequer nos dar uma segunda chance Únicos e preciosos são os seus momentos ainda que sejam de tormentos, alegrias ou cairem apenas no esquecimento eles nunca serão o mesmo ELE não se permite intervalo, não para de ser "tempo"! 4 CF(RM1) Gilberto R. Machado Fico triste quando meus olhos descobrem indigentes Misturados ao lixo que o ser humano produziu... Fico triste quando ouço o pedido por dinheiro De crianças que se drogam E que jazem abandonadas nas calçadas das cidades... Fico triste quando percebo as maldades dos seres humanos A atentarem contra a vida que doei e cultivei com tanto amor... Fico triste pela estupidez de motoristas arrogantes e alcoolizados, Que matam os que ousam atravessar o seu caminho... Fico triste pelos que, pela ganância de bens materiais, Enriquecem a custa do empobrecimento da população... Fico triste pelas minhas criaturas vítimas dos latrocínios Que, por causa de dinheiro, perdem a vida... Fico triste pela falta de ética e de honestidade Na política dos países, que jogam à vida indigna Grande parte da população mundial... Fico triste pelos pais que agridem os seus filhos Por descontrole emocional... Fico triste pelas crianças que são Alvo fácil dos pedófilos e dos perversos Sobretudo, nas redes sociais... Fico triste pelas mulheres que sofrem Violência e que, muitas vezes, são assassinadas... Fico triste pelos que se entregam ao cigarro e à bebida E destroem o corpo que lhes dei... Fico triste pelas nações que, sob o manto da falsa democracia, Escravizam os seus povos... Fico triste pelas guerras entre as nações Pois nada justifica essas agressões... Fico triste pelos atentados à bomba Praticados sob a mentirosa desculpa De que são feitos «em nome de Deus»... Fico triste pela destruição deste «lar» planetário Pelo desmatamento institucionalizado, Poluição do ar, dos rios e dos mares Que os fiz puros para o homem viver de forma saudável... Fico triste, enfim, porque o que criei com amor e, por amor, Aos cuidados do homem entreguei, em confiança, Mas que, na sua «cegueira», ele ainda não o enxergou... 5 CMG (IM-Ref) Antonio Tangari Filho (Inspirado em Antonio de CASTRO ALVES, no poema «A mãe do Cativo», da obra «Os Escravos») Mães, que nos educam, contam histórias, Que sofrem quando parecemos derrotados. Mas, sorriem partilhando nossas vitórias, Silentes em seus lares, de amor iluminados. Castro Alves em versos cantou essa figura heroica, Que triste preferiu fiar na choça de palha, com empenho, Não a mortalha, mas a manta do seu rebento. Mulher estoica! Mesmo sabendo que escravo seria dos senhores de engenho. Agora outras Mães também vivem tais dilemas, Vendo seus filhos rendidos aos senhores das armas. Mas, doce e igualmente os ama e cuida, sem problemas. Carregando tempo afora o peso de semelhantes carmas. Mães, de todos os filhos, sem qualquer distinção, No seu dia recebam nosso beijo e a nossa oração Ao Bom Deus. Pela dádiva de termos seu carinho Junto a nós, com flores ou espinhos no caminho! 6 CMG (EN-Ref.) Felicíssimo J. da Silva Fº Vejo correr meu tempo e algo tento fazer Para estancar o que perco, mas não consigo, Pois o que perco não é tempo de lazer, É o de escolher qual direção, que nem sigo. É dessa hesitação, desse apuro incessante, Cada dia e hora, que todo tempo vai embora E que mesmo ciente, eu padeço vagante, Repetindo o erro, o qual mais meu tempo devora. Por esse tempo que perco, tão duvidoso, Nessa opção de um viver, que eu nunca me alinho, Devia ir de qualquer jeito e não ser zeloso, Com esmero em estrada, onde hoje ando, sozinho. Buscando rumo irei, ainda cauteloso, Lamentando o tempo ido, até que eu ache o caminho. 7 A ESQUINA Aurea Stela Há muito tempo eu não passo por esta esquina. Enquanto aguardo para atravessar, lembro quantas vezes por aqui passei em outras épocas remotas, de tantas outras histórias. Agora a história é outra, diferente daqueles tempos em que andava por estas esquinas. Hoje sou outra pessoa, com questões e direções diferentes. É estranho ser outra pessoa no mesmo lugar. Dá uma sensação de tentativa de reconhecimento do que parece nunca ter existido, apesar de tudo estar aqui, na minha frente, exatamente como sempre foi. Hoje, tenho outro olhar, mas apesar disso, a esquina me parece a mesma, igualzinha àquela pela qual eu caminhava em outros tempos. Agora também os tempos são outros e serão outros ainda daqui a um tempo. Mas a esquina será sempre a mesma com a marca dos meus pés de ontem e de hoje e talvez com a marca dos meus pés de amanhã, e também com as marcas de tantos outros pés. Tantas vezes esta esquina cruzou os meus caminhos em outras ocasiões. Tem um pouco de mim aqui, um pouco da minha presença, do meu pensamento, um pouco do que eu deixei de ser. Enquanto estou aqui parada nesta esquina, transportome e encontro-me com o que já não sou. Tento fazer algumas perguntas, mas as respostas que dou a mim mesma parecem ininteligíveis. É uma tentativa de conversa entre dois mundos que subsistem no mesmo lugar, na mesma esquina. O sinal já 8 abriu e fechou várias vezes e eu continuo aqui esperando as respostas que eu não consigo dar a mim mesma e procurando fazer descobertas sobre o que um dia fui. Persisto nas perguntas, mas os mundos subsistentes têm características e linguagens peculiares a cada um. Por isso tanta estranheza diante do que deixei de ser e tanta ansiedade pelas respostas que não consigo obter. É imensurável a distância existente entre dois pontos que se localizam exatamente no mesmo lugar. Lugar este que testemunha impassível a tentativa de diálogo entre dois seres de mundos diversos. Parece-me egoísta querer que a esquina se mostre diferente diante da minha tentativa de diálogo com o que já não existe. Há tantas outras marcas aqui, além das minhas. Há tantas outras vozes, as quais, possivelmente, causem ruído na minha tentativa de diálogo. Há tantas outras pessoas à minha volta agora, todas elas diferentes das que me cercavam nesta mesma esquina em outros tempos. É possível que elas, como eu, esbarrem em suas próprias presenças e nem percebam, porque seguem em frente indiferentes aproveitando o sinal aberto. Mas eu não. Eu estou aqui parada, diante do sinal aberto, diante do sinal fechado, esbarrando no que, há muito, deixou de existir e tentando fazer alguma descoberta sobre mim mesma. Alte Oscar Moreira da Silva Triste e infeliz Quem nunca beijou, Passou pela vida E o melhor não provou. O primeiro beijo Nunca se esquece E também aquele Que mais apetece. Lembro-me muito bem Nosso beijo roubado. Minha memória retém Seu olhar assustado. Nosso beijo de amor Pleno de muita afeição, Com cheiro de rosa flor Carregado de paixão. Na famosa opereta Que Shakespeare escreveu: Da sacada, Julieta Se despede de Romeu, Que com uma longa xeta Agradece o amor que é seu. De todos o mais terno, Que dura além da vida, É o beijo materno Da nossa mãe querida. Não podemos esquecer Do beijo bem fraterno, Entre irmãos e amigos, Que também são eternos. Não há limite pro beijo: Na mão, na face, na testa .. Desde que haja desejo É recebido com festa. Um beijo estalado Com suspiros de amor, Muito bem empregado No negro quarto sem cor. O mais ousado dos beijos, O louco beijo de língua, Que exacerba os desejos E não padece à mingua. Na hora da despedida, Longo beijo de saudade, Que será retribuída Na volta àquela cidade, Com muito amor e carinho E dobro de felicidade. Mas, quando o tempo é chegado, Do reencontro aguardado, O envelope do abraço, Com longo beijo é selado, E colado com aço. Há beijos sem expressão, Indiferentes e frios. Beijos de ocasião Com fortes calafrios. O pior beijo dado É o beijo forçado, Que não é desejado E até rejeitado. Há beijos doces Com gosto de mel; Há beijos amargos Repletos de fel. Judas ofereceu O beijo da traição E Cristo o recebeu Com toda compaixão. Ao abandono da sorte Recebemos a visita, Mórbido beijo da morte, Que nos leva desta vida. BEIJE BASTANTE! BEIJE GOSTOSO! NAO PERCA O INSTANTE DO SUPREMO GOZO! 9 CMG (Ref) Paulo Roberto Gotaç «Eu era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais; Como um galo, quando havia... quando havia galos, noites e quintais.» Versos de Belchior, talentoso compositor da MPB. Sempre que os ouve, Adamastor lembra da infância. Órfão aos seis anos - os pais, vítimas fatais de desastre aéreo - foi criado por tios em cidade do interior. Após a dor da perda, rápida e confusa, como a de todas as crianças, iniciou a mais deliciosa fase de sua vida. Mais ou menos como o menino de José Lins do Rego, também órfão. O nome? Imposição do pai, fascinado e apaixonado pela ode épica de Camões. Adamastor, monstro síntese do mar tenebroso enfrentado pelos navegantes portugueses do século XV. O contraste não podia ser maior. Adinho, - forma abreviada - magro, um pouco mais baixo que a média dos colegas. Mas "alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais", imagem do poeta. Os rios, alegres na pequena cidade. Conhecia cada um. Águas sempre em movimento, convidavam à diversão, nos remansos. Era como se eles próprios, os rios, se divertissem também. Os bichos, felizes, companheiros naturais, cachorros, marimbondos, lesmas, caracóis. Galos, donos do pedaço, cantos alta madrugada, percebidos quando, por uma febre, não conseguia dormir. As noites, densas, sem ruído, inundavam a cidadezinha mal iluminada. Mas, os quintais! Ah! Os quintais. Infinitos, nos fundos das residências. A maioria, sem fronteiras visíveis. Hordas de meninos, correndo de um para outro. Conversas em baixo das árvores. Uma descoberta por dia. E as frutas? Algumas Adinho nunca mais veria na natureza. Umbu, carambola, tamarindo, pitanga, cajá, siriguela. 10 Num dos quintais, um pequeno barraco. Adinho sabia que ali morava um velho. - Não perturbem o velho! - Enfática e frequente advertência do proprietário aos meninos. Quem era? De onde vinha? Ninguém sabia. O barraco, pequeno, de madeira, telhado de zinco, sem janelas e sem energia elétrica. Possuía uma porta estreita, corpo negro de Planck. Adinho e os meninos, a caminho das aventuras pelos quintais sempre passavam ao largo, curiosos. Raramente o morador era visto e quando o era, só por alguns minutos, após o que, furtivamente, entrava. Magrinho, moreno, com calças cinzas, desigualmente arregaçadas, sempre descalço, uma camisa branca, certamente a única, já encardida, chapéu preto, surrado. O rosto, de longe, impossível distinguir os traços, só adivinhálos. A curiosidade corroia mais a Adinho que aos outros meninos. Às vezes ousava, aproximava-se do corpo negro. Certa vez quase entrou. No último momento, recuou, ao lembrar-se da enérgica recomendação do dono do terreno. Anos passando, infância esvaindo-se, as aparições rápidas do velho, rareando. E a curiosidade aumentando. Um dia, após muito tempo sem vê-lo, Adinho não resistiu e adentrou pelo corpo negro. Tenso, tateou na penumbra e, para sua surpresa, ninguém no interior. Alguns objetos espalhados pelo chão de terra. Um chamou-lhe a atenção. Retrato antigo, já amarelado, moldura elíptica, vidro protetor. Uma família. O homem, moreno, baixo, ainda jovem, terno e gravata, a mulher, bonita, vestido comprido, cabelo para trás, preso, e um casal de filhos, o menino com oito anos presumíveis, a menina, uns seis. Sem saber porque, levou-o. Após alguns dias, preocupado com a ausência, procurou o proprietário com o retrato, temendo uma reprimenda. Para sua surpresa, viu um sorriso triste. - O velho faleceu. "Tão despercebida como suas entradas e saídas do barracão, foi sua saída da vida", pensou Adinho, entre surpreso e meio assustado. Vendo a curiosidade palpitar no rosto do menino, prosseguiu:: - Morreu há poucos dias. Corpo removido à noite, enterrado no cemitério da cidade. Chamava-se Januário, amigo do pai do antigo proprietário. Possuía uma família maravilhosa, essa da foto. Tinha um pequeno negócio aqui na cidade que não ia muito bem. Um dia, para surpresa de todos resolveu vender tudo e embarcar para o Rio de Janeiro, tentar melhor sorte. 1942, o mundo em guerra, Brasil ainda neutro. Embarcou no Recife com tralhas e família no Baependi. Na altura do litoral da Bahia, o torpedeamento. 270 mortos, somente 36 sobreviventes. Um deles, Januário, sem a família. Não se sabe como, conseguiu salvar o retrato. Desnorteado, indigente, foi achado pelo ex dono desta casa. Ofereceramlhe ajuda e abrigo, recusados várias vezes. Após muita insistência, concordou vir para cá desde que fora da casa, em casebre por ele construído, o barraco, convivendo, isolado, com sua dor. Quando comprei a casa, prometi não importuná- lo, até que partisse. Morreu dormindo. Adinho, emocionado, agradeceu e, preparando-se para sair, fez menção de entregar o retrato. - Fique com ele. É seu... Adinho agradeceu de novo e retirou-se. Hoje, o Dr. Adamastor Figueira Ortiz, é um dos executivos mais importantes de poderosa multinacional de petróleo. Próximo à sua imensa mesa, sala decorada com extremo bom gosto, o retrato da família de Januário, sempre no visual. Olha-o sempre, lembrando sua infância maravilhosa. Nessas ocasiões, reflete também sobre a fragilidade e descontinuidade da vida. Angela Guerra Avistei-o, escondidinho, lá no canteiro do meio, pequenino e recolhido. entre todas as formosas, já desabrochadas rosas. que seus efêmeros dotes exibiam, tão charmosas... Hermeticamente fechado, seu segredo, protegido, não pronto a ser revelado... Suas pétalas unidas, num abraço mais que apertado. ao certo, nem indicavam que cor desabrocharia naquele jardim multicor, encantado e encantador... Com a brisa, um minueto, ele e seus pares dançavam, mas sempre nenhum destaque, o tímido botão ousava... O tempo foi caminhando, e ele, desabrochando... O seu mistério, porém, a sete chaves trancado, só mesmo, na primavera, viria a ser desvendado... 11 * Xavier Marques (1861 - 1942) Longe, bem longe a terra, qual miragem Do frio norte, em névoas se encobrindo, Múrmura chuva, em bátegas caindo Deliu as cores vivas da paisagem Através das nuvens indistinta imagem De alguma árvore ou monte esvai-se. Findo Parece o dia; as vagas indo e vindo, Contra o batel em convulsão reagem. No horizonte, rompendo as densas brumas, Graça ligeira bate as alvas plumas... A terra, à fronte, ao ninho onde emplumara. Assim regressa o coração descrito, Nas tormentas da vida mal ferido, As afeições do lar que abandonara. * O poema, em tela, está publicado na nova ortografia. 12 PÉRGOLA NO SÉTIMO ANDAR TERRAÇO DO CLUBE NAVAL CMG Agnaldo Xavier Furtado Primeiro PÉRGOLA Carioca. Genial! No Clube Naval, penso eu... Central! Espaço único no Universo Sobre o terraço! És Nobre! Sobre as ondas plácidas! Sobre o ar pujante! À Vista. Sobre a vista, nossos olhos! Do RIO! Branco, na avenida. Espaço que vem do Número Um, és Mauá! Espaço Retinida do Mar, ao Mar, no Asfalto! Espaço que veio e vai no Tempo, és Futuro! Espaço que passa Cinema, és Cinelândia! Vai à Vista nesta Vista, vendo a sacra Imagem, Espaço que deslumbra o Teatro, és Municipal. Espaço onde leio olhares, Biblioteca Nacional, Belas Artes com Justiça Cultural, és um Edital. Defronte o Monumento, são os Pracinhas Marchantes, A Torre de Cimento corte aos Céus, Postes em Luzes! Longe passa Bondinho, lado a lado o Pão de Açúcar! Sauna Seca, Sauna a Vapor, tudo conspirando ao Prazer! Panorâmica, uma Visão Romana, Vista pelos Gregos, és poema! Exuberante Obra sobre Teto; Foi Cabral, o nosso Veiga; é Magistral Que tanto no tempo passado esperou e no tempo presente apareceu! Foi Pedro II que apareceu no dia... Afinal ele aqui nasceu. A Praça Nossa, PÉRGOLA no sétimo, sobre seis andares cresceu! Alexandra, Leo, Antônio, Neto e Agnaldo, com Ruiz na banheira, foto Central! Quadrado num Quadrado, na forma sobre forma, vi bem ilustrada, bem afinal! Tudo com chuva ou sol, de dia ou de noite, com ou sem lua compensada, o LUAL! Futuro, Presente, Passado de Rio, de Janeiro a Dezembro, vejo no PÉRGOLA! Neste Honroso, deslumbrante, antigo, moderno Espaço, criado no Clube Naval. 13 Beto Cunha Rafael de Leoni Vida, minha querida vida porque insiste em me testar? Não compreendo o que você quer me mostrar. É pancada pra cá, confusão pra lá, estou cansado de balançar. Quando faço o certo parece que estou fazendo o errado afinal, estarei eu acabado? Um olhar terno, penetrante Uma boca doce, sublime tocar Um sorriso aberto, convidativo Um abraço envolvente Ela deixou saudade Em todos os lados No quarto, na sala em todos os cantos Provocou até um pranto No sorriso do poeta E bagunçou seu lado criativo Seus versos escorreram pelo ralo Ficou recluso, contrariado Diante de tanta desilusão Perdeu o compasso do passo Um vazio, um dissabor Uma angústia, uma dor Perdeu seu lado bonito Correu pela rua aos gritos Querendo se reinventar Você persiste em me quebrar, para que tudo isso? Eu não vou me derrotar! Quer que eu desista? Que eu me dê por vencido? Não, não irei Não irei sucumbir aos seus obstáculos aos seus temores. Eu vou mesmo é dar espetáculos! CF(FN-RRm) Sylvio Ferreira da Silva Fico a pensar nesses homens sofridos Sem condições pra poder enfrentar, Os mais temíveis de seus inimigos: O desemprego e a fome no lar Vai-se a saúde qual pedra no rio, Vão-se os neurônios dos filhos pro ar. Perda de tempo e futuro sombrio, Uma esperança! A merenda escolar... Que povo é esse, sem nada pra crer, Fraco, cansado de obedecer, Sem ter direito de um sonho afmal? Pras injustiças que o mundo lhe traz, No futebol a vibrar se compraz, Sambando alegre em pleno Carnaval... 14 Sérgio Vianna A amizade sempre nos preservará da mesmice! Ela nos coloca em estado de graça e de delicadeza numa atemporalidade sem obrigações ou promessas a manter. É o retrato silencioso de um espelho de identidades e diferenças que se somam através de anos de crescimento e conhecimento. Como a lembrança é o paraíso do qual nunca se é expulso há que se encostar o ouvido na concha da vida e ajustar o olhar através da janela da alma... Ouvir e observar fatos e detalhes da longa convivência em tempos de confiança e inocência, maturidade e colheita. Amigos são pessoas tão especiais... Que Deus os mantenha sob seu olhar amoroso... Para sempre! Inah Villela Para poder lhe agradar, preciso aprender a recitar. Declamarei Luiz de Camões ou qualquer um verbo da primeira conjugação, usando apenas quatro letras, soará como uma canção. Remexendo o passado, firmarei o presente, que é parente do futuro, para dizer simplesmente, que lhe amarei para sempre. 15 Celi Luz Quando céu derrama-se em mar Deus Urano a ejacular. Nascem espumas de paixão. Vênus atiça os sentidos macho atraído. Nascem feras sem razão. Dra. Nilza Pinheiro de Athayde Lieh Reunidos em missão De preservar o Planeta Senhores de toda a Terra Procuram a solução Reúnem-se os países Propostas, novas diretrizes. Todos buscando mais fontes Para a Terra em transe, em crise. Quando Urano uniu-se a Gaia vieram os não só humanos. Nascem deuses os Titãs. Dos Titãs, outros deuses e os deuses amam os humanos Nascem os heróis e as glórias. Notáveis promessas feitas Relatórios conclusões Planos de novas colheitas No equilíbrio das ações. Faz sentido prometer Num fórum internacional Faz mais sentido ainda crer Um dia na evolução o homem e o coração. Nasce o amor e a ilusão. E trabalhar, por querer. Amor selvagem se eleva em alto plano. Nasce o humano e o amor. Não se torne descartável, Poema da Mitologia, inspirado na escultura O MAR EM NÓS, em exposição no Museu Naval no RJ, em outubro/2012. Escultura do Suboficial (ES) José AMALRI do Nascimento, atualmente servindo no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). 16 Meio ambiente saudável Onde o homem, ser notável Desequilíbrio total. A natureza é sábia e bela E não se engana no embate Recompor o meio ambiente É lida do bom combate. CF(T) Cleber Ribeiro da Silva Sou a fonte cristalina que presta Sou o improvável que interessa Sou o incólume que resta Sou o amor às avessas Sou a vida vista pela fresta Sou a parte do todo que resta Sou aquele que te quer em festa Sou o tal que se empresta Sou a vida sem sentido que resta Sou você que você detesta Sou o amor escrito na testa Sou o sentimento puro que resta Sou do entardecer a sesta Sou do que restou a réstia Sou o último dos guerreiros que resta Sou a esperança de amor de ti repleta Sou a esfera... sou a circunferência Sou a aresta CMG (M-Ref) Djalma Mendonça Protagonista de nossas idéias Que emerge do nosso ser ao nascer Prolifera o quanto se pode Nesse Universo sempre à crescer E nesse contexto sigo as idéias Sem o raciocínio que a mídia requer. Inconstante, ante a fúria a obedecer Dos valores do modo de ser. As poesias, os poemas e fantasias Correspondem aos instintos do meu ser Meus anseios, minhas lutas, meus amores Daquilo que gosto de fazer E elas nascem e crescem Muitas vezes sem sequer me obedecer Sem compreender, em momentos o porquê Outras vezes, algo me encanta E logo se expande delirante A mover meu instinto, a pintar ou escrever Ao rabiscar traços, uma pintura se faz nascer Sou o que de maior se pode sentir Sou simplesmente uma alma de ti completa. 17 Aluizio da Cunha Garcia Algum dia e longe de ti. Longe do mundo e de mim mesmo. Estarei em caminhos jamais percorridos, Onde não haja luz nem trevas e, Lá sem cores e nem formas, Sem passado, presente ou futuro e, Então tudo repousará na paz Na verdade No desconhecido Na Eternidade Jornalista Antonio de Oliveira Pereira Caminhar em conjunto é ato de construção, em cada tempo da jornada forja-se a união. A solidariedade fortalece o passo, são transpostos os sismos, no compasso fraternal da união forjam-se pontes de otimismo. O homem alcança o horizonte distante caminhando sempre adiante. Conquistando a liberdade da paz, confiante, perseverante. Não importa cada passo, feliz ou dorido, importa o compasso do andante que crê, frente ao desconhecido não esmorece, amparado na fé, sentindo o afago de Deus. Obedecendo ao desígnio do destino, segue adiante o peregrino, amparado na divina lei dita pelo Senhor aos filhos seus: - Faça por ti, e Eu te ajudarei. 18 CF (IM-Ref) Osmar Boavista Victória tem quinze anos. Linda. Doçura infinita. Não só rosto, alma bonita. Juventude que se agita, E também comete enganos. Forte, livre, inteligente. Elegante, consciente. Às vezes um pouco aflita Com receios quase insanos. Por vezes compreensiva, Por vezes contestação. Argumenta e até grita, Perde a calma, busca a liça, Luta em busca da justiça, E impõe sua razão. Essa bela flor castiça Que pro mundo é uma princesa, Para a vida é alegria, Para nós, toda a riqueza. Todo sonho e fantasia. E, se recostas a cabeça loura sobre meu peito de ilusões vazio, Vê-se um raio de sol fulvo que doira, um pedaço de terra êrmo e sombrio. Quando tu te debruças nos meus ombros, fitando-me a sorrir, anjo adorado, recordas uma flor entre os escombros de um velho e triste muro abandonado. Se o pescoço me prendes nos teus braços semelhas cipó verde cheiroso que vai subindo pelo tronco sinuoso, revestindo- o de flores e laços. *Poesia, de autor desconhecido, dedicada por Laura Ferreira da Silva Quintella, esposa do Cap.Tte. Oswald Norton de Murat Quintella, Oficial de armamento, a seu filho, George Norton de Murat Quintela. Publicação solicitada por Laura Ferreira da Silva Quintela, esposa do CMG Tuxaua Plínio B. de Linhares. Falas.... e a tua fala se desata, sonora da garganta feito um hino, ou doce como arroio cristalino por entre os verdes tinhorões da mata. Choras.... das roseas pálpebras destilam as níveas pérolas de sentido pranto. Assim nos galhos visíveis oscilam do orvalho as gotas nas manhãs de encanto. E quando pelas débeis mãos te agarro, lembram elas nas minhas duas rosas alvíssimas, dobradas e cheirosas dentro de um vaso rústico de barro. 19 Ó Deus Roberto Continentino I DEUS, VÓS QUE SOIS SENHOR DE TANTOS FIRMAMENTOS ONIPOTENTE AMO, DESSA OBRA PORTENTOSA CHEGA-ME, Ó PAI PERDÃO, AO VIÉS DO PENSAMENTO, VELHO VÃO, QUE À ALMA TANGE, EM VIA TORTUOSA II DE QUE MASSA, AFINAL, SE COMPÕE O SER HUMANO? DAS CRIAÇÕES DE VOSSA LAVRA, A IMBATÍVEL À QUAL PERTENÇO E, MUITA VEZ DISSO, ME UFANO, LEDO ENGANO, DE OUTRA É CRUEL E DESPREZÍVEL III ESCLARECEI-ME ENFIM, Ó REI DAS MÃOS PERFEITAS, PERDÃO PELA OUSADIA E FALTA DE HUMILDADE, NÃO QUE ESTEJA EM MIM, A CLARA FÉ EM VÓS, DESFEITA MAS, DE QUE ALQUIMIA É COMPOSTA A HUMANIDADE? IV SE DE UM LADO, A RAZÃO, DOM CRIATIVO IMENSO DO OUTRO, A BARBÁRIE E SOBERBA DESATADA TERÍEIS VÓS CANSADO NO CAMINHO EXTENSO? OU ERRADO, EM BOA FÉ, NA DOSE ELABORADA? V MERCÊ VOSSA VONTADE, ILUMINADO, EU PENSO A VOZ QUE NÃO SE CALA, IMPLORA POR MILAGRE: QUE SE TORNE O AMOR FECUNDO EM COMPREENSÃO, BOM SENSO E AO REVÉS DO SABRE, A BONDADE SE CONSAGRE 20 Agostinho Fortes Esta praça É cheia de graça. Tem aviões de papel. Parece que vêm do céu E gaivotas no ar. Pés e mãos enlameados, Papagaios empinados, Garrafão e amarelinha. Bolhas feitas de sabão, Cama de gato e pião, Tem pera, uva e maçã. Bolas de gude e petecas, E bambolês e bonecas, Esconde-esconde e queimada. Passa anel e cabracega, Mãe da rua e pega-pega E chicotinho queimado. Tem balanço e tem totó E tem escravos de Jó E também pular carniça. Tem ioiô e tem gibi, Tem pardal e colibrí E estilingues malvados. Tem patins e patinetes, Bicicletas e raquetes E soldadinho de chumbo. Tem também fruta gostosa, Cajá-manga e manga rosa E tem jaca lambusada. E tem também ler a mão, Passa passa gavião E telefone sem fio. Tem sorvete e Coca-cola E vários jogos de bola E tem "mamãe posso ir ?" E tem roda com cantiga, Também tem choro, tem briga E tem rolar pelo chão. Chocolate, capilé, Balas, doces, picolé E tem carrinhos de pau. Nesta praça o tempo não passa ... Só quem passou fui eu. 21 Logo um deles respondia: - é melhor não arriscar... - mesmo não tendo mãe d’água candiru não vai faltar; naquele furo do rio a gente já conhecia na beira do igarapé, quem diria, o próprio rabo, pra ser por ela fisgado!... Depois puxava depressa aquele anzol às avessas gritando feito um danado!... a fama do vil peixinho: qualquer corrente vencia, em qualquer buraco entrava... Todos então concordavam que até xixi pela borda era coisa perigosa... Mas de todas as lembranças da encantada pescaria, que guardei no rico escrínio de uma doce nostalgia, aquela que é mais ditosa, só agora, de mansinho, N o meio da pescaria e dos sustos que rondavam a nossa grande aventura, só faltava uma figura sair de dentro da moita pra também nos assustar... nestes versos se insinua: já na hora de voltar, as cunhãzinhas sem roupa, que nadavam numa boa no remanso da gamboa, curiosas, nos olhavam... A pérfida criatura - o tal cabeça-de-cuia decerto nos espreitava, pois de sete em sete anos um garoto devorava e o prazo já terminara... ficamos alvoroçados treze anos eu teria, elas também por aí, mas era tudo mulher... - Não tem perigo nenhum pode pular que dá pé!... Outros seres mais amenos o manguezal habitavam, desde pássaros canoros ao jabotí tão sereno e às araras que gritavam sem perturbar a preguiça Ali onde dava pé a água mal encobria tesouros muito sonhados, porém jamais alcançados, que minhas mãos ansiosas em vão tentavam tocar... Do igarapé mais sombrio, os meninos do lugar a canoa desviavam, temerosos do feitiço da enganadora mãe - d’ água que diziam viver lá... este, um bizarro animal, que escalava devagar a copa de qualquer pau, mas, lá no alto chegando, de repente se largava pra no chão se esborrachar!... Entre risos, caçoadas, do meu abraço fugia a curvilínea magia da cunhãnzinha desnuda que eu, afoito, perseguia, almejando o paraíso... A gente, perto da proa, no banco dos visitantes, falava: - que medo à-toa! Essa tal cobra gigante jamais por alguém foi vista, duvidamos que ela exista!... E havia o macaquinho pescador de caranguejo!... Era um bicho muito andejo que seguia mil caminhos, enfiando em cada toca, onde a presa se maloca, No auge da brincadeira aos poucos nos afastamos do resto da meninada... naquele doce remanso da acolhedora enseada de repente nos amamos!... CMG João Mário Baptista (In memoriam) Antes de chegar no mar o caudal se dividia: era o delta em que fluía, lutando contra a maré, água doce a penetrar no verde espaço do mar. Pescaria de canoa adentrando o manguezal, oh meu Deus que coisa boa, eu nunca vi nada igual! Que mundo de fantasia, que beleza tão real! O peixe desatinado só queria ser pescado!... Ali não tinha puçá que n’água rápido entrasse e depressa não voltasse cheinho pelas beiradas!... 22 CMG Sylvio de Araújo Sampaio (In memoriam) CMG Nelio Ronchini Lima (In memoriam) Olho a paisagem, arquivo do passado, Lembranças evoluem pela mente Mistura de libélula e serpente Em belo e tão nostálgico bailado Saudade... quem te quer por sua companheira? E porque vens vestida com tanta tristeza... Luz do passado fostes na memória acesa, Iluminando sombras de uma vida inteira. Tento abrir esse cofre diferente, Tão leve, conteúdo tão pesado... Há de lembrar segredo bem guardado E usar a chave mestra do presente Mas por que te disfarças em pote de mel? Perversa deusa, branda fada, ou deusa amiga, Ao mesmo tempo dizes de doçura e fel, A tua esmola para minha alma mendiga. Falta dizer, também, palavra senha Que agente tantas vezes desdenha Mero receio dela ser verdade Óbolo amargo e esmola do passado Não mata nunca a sede cruel que me mata, De voltar ao caminho que já foi pisado... São sete letras de poder tão forte Move mantanhas, torna em vida a morte ...Olho a paisagem... vou dizer: Saudade A tua esmola foi de eterno pão maldito, E, muitas vezes foi de bálsamo bendito... Tu és saudade, ouro puro... ou falsa prata! 23 CF (RM1) Gilberto R. Machado É com entusiasmo que o MARE NOSTRUM presta homenagem à Poesia. E nada mais adequado, lembrar da importância da Poesia, como uma das mais singelas manifestações da arte literária. Porque ela tem raiz, no mais das vezes, na profundeza da alma tendo, por isto, participação na vida do poeta, a ponto de sugerir caminhos a seguir e marcar, de forma indelével o seu destino. É este o sentido que nos parece ter dado às suas palavras o saudoso poeta Mario Quintana. Ele, a respeito, diz: " Minha vida está nos meus poemas; meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão" (JB - 20/6/1994 - in "Mario Quintana deixou-nos..., de Gilberto Souza Gomes Job). E o poeta, em breve matéria publicada também no JB, no dia 1º de setembro de 1973, dá ênfase ao fazer poético, através de palavras que incentivam o cultivo da arte literária em versos: "Acho que todos deveriam fazer ve rsos. Ainda que saiam maus, não tem importância. É preferível, para a alma humana, fazer maus versos a não fazer nenhum. O exercício da arte poética é sempre um esforço de auto-superação. E é de fato consabido que o refinamento do estilo acaba trazendo o refinamento da alma. Sim, todos devem fazer versos. Contando que não me venham mostrar-me. E mesmo para os simples leitores de poema, que são todos eles uns poetas inéditos, a poesia é a unica novidade possível. Pois tudo já está nas enciclopédias, que só repetem estupidamente, como robôs, o que lhes foi incutido. Ou embutido. Ah, mas um poema é outra coisa... 'O poema é um objeto súbito: os outros objetos já existiam' ". Em 02 de abril é comemorado o Dia Internacional do Livro Infantojuvenil. E nada mais oportuno do que citar o que nos deixou registrado o inesquecível Castro Alves, em "O Livro e a América", para nos transmitir o valor do livro para o povo de um país. E nós, da equipe do Mare Nostrum, aplicamos as palavras do poeta à relevância da formação de leitores, a partir dos jovens que são lembrados como alvo preferencial dessa modalidade de literatura. Então, desfrutemos do privilégio de ouvir palavras de invulgar sabedoria desse inspirado bardo: "Oh! Bendito o que semeia Livros... livro à mão cheia... E manda o povo pensar! O livro caindo n'alma É germem - que faz a palma, É chuva - que faz o mar." Acesse o Mare Nostrum, na internet, pelo site: www.clubenaval.org.br 24