Olá.
Eu sou Tio Jarbinhas, pelo menos é assim que todos
me chamam, e hoje vou contar a vocês uma história
tão antiga que só a Pedra-do-Lagarto, a fiel guardiã
das histórias e dos acontecimentos importantes do
bosque, conhece. Por isso, meninos e meninas, muita
atenção que a história vai começar.
O sol voltava sempre ao bosque. Vestido de laranja
ou de uma mistura apetitosa de tons, o grande círculo rodopiava, rodopiava, rodopiava até ficar tonto,
enquanto cumprimentava os amigos. Abria generosamente seus raios espreguiçando-se devagarzinho e
inundava o bosque de luz, fazendo cócegas quentinhas
em tudo que tocava.
De manhãzinha é sempre uma bagunça no bosque.
Os coelhos fazem caretas engraçadas quando o sol
se esfrega em suas compridas orelhas, e os esquilos
correm atrás dos agitados pontos de luz que insistem
em correr pra lá e pra cá, confundindo-os. Quando
desistem, envergonhados e de língua de fora, escondem
o focinho na cauda peluda. No rio, pintado de um
transparente azulado, os peixes cumprimentam o sol
espalhando bolinhas na água que se desfazem em
círculos cada vez maiores, ondulando um olá gigante
na superfície. Os passarinhos saúdam o nascimento
do novo dia com cantos afinados, disputando a
atenção do sol que, muito orgulhoso e concentrado,
comanda o ruidoso concerto das aves. As plantas,
esticando-se na ponta dos pés, espreguiçam-se para
receber os carinhos do amável beija-flor. Neste
mundo em tons de verde e castanho, mesmo com
as partidas brincalhonas do sol, todos desejam seus
calorosos bons-dias.
Apesar da aparente confusão, o Bosque-sem-Fim
parece um relógio suíço sempre muito certinho. Em
seu ritmo, cada um cumpre suas tarefas, e, por isso,
tudo funciona. As plantas estendem suas raízes tentando beber a água que se esconde na terra profunda;
as abelhas farejam o pólen nas flores que se agitam ao
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sabor do vento; as esforçadas formigas, tostadas pelo
sol, carregam sem distrações os alimentos recolhidos
para sua despensa subterrânea. Os pássaros saboreiam frutos deixando cair alguns, que outros, embaixo, sorrateiramente aproveitam. Os peixes de cores
brilhantes nadam alegres ao longo do rio, deliciandose com o que a água lhes serve generosamente; os ursos esfregam as costas nas gordas e rugosas árvores
enquanto se preparam para, sem dar na vista, recolher uma mão cheia de mel da colmeia das abelhas...
Todos estão a serviço de todos. Juntos, ajudam-se;
juntos, fazem maravilhas. Aprenderam isso há muito,
muito tempo e não estão dispostos a mudar.
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