PERCEPÇÃO AMBIENTAL DO BOSQUE SANTA MARTA, SÃO CARLOS- SP. Marina Valente REGI¹; Luisa Garcia SANDO² e Marília Trevisan OKAMOTO³. ¹ Universidade Federal de São Carlos, São Carlos-SP. [email protected] ² Universidade Federal de São Carlos, São Carlos-SP. [email protected] ³ Universidade Federal de São Carlos, São Carlos-SP. [email protected] O meio ambiente é uma das maiores preocupações do homem nos dias atuais. Essa preocupação se deve não só pelas consequências das ações antrópicas, como pelas respostas advindas da natureza. Além disso, já é um fato que o meio ambiente está passando por uma crise, contudo, ainda não se entrou em um consenso com relação a melhor forma de minimizá-la ou solucioná-la. Um dos principais fatores que contribuem para as dúvidas com relação aos melhores modos de se combaterem a atual crise ambiental seria o fato de que cada pessoa percebe e responde de maneiras diferentes ao meio ambiente no qual está inserido. Deste modo, as diferentes posturas ou visões frente à problemática ambiental acabam por gerar inúmeras formas de se compreender a temática ambiental. Sendo assim, estudos de percepção ambiental vêm crescendo ao longo dos anos e são de extrema importância para o entendimento da compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente. A percepção ambiental pode ser definida como uma tomada de consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se está inserido, aprendendo a cuidar e proteger o mesmo. O presente estudo tem como objetivo geral analisar a percepção ambiental da população usuária do entorno do bosque Santa Marta, localizado no município de São Carlos, onde o mesmo é classificado, dentre as grandes formações vegetais existentes no Estado de São Paulo, como Floresta Estacional Semidecidual, a qual está submetida a uma série de fatores climáticos que a caracterizam Além disso, busca como objetivos específicos a identificar os possíveis conflitos e as potencialidades do bosque Santa Marta; compreender a inter-relação do Homem com o ambiente em que está inserido; e, por fim, identificar as entidades, órgãos públicos ou pessoas que têm influência sobre o bosque. A falta de manutenção da área acarretou em sérias preocupações com segurança por parte dos moradores e, somado a isso, surge a questão da grande valorização do bairro. Para que os objetivos propostos pelo presente trabalho pudessem ser alcançados realizou-se, primeiramente, um levantamento bibliográfico referente à área de estudo, bem como conversas com pessoas que possuem influências e tenham conhecimento a respeito dos problemas enfrentados pelo bosque Santa Marta, como o professor Benjamim Mattiazzi. A partir daí, foi possível o conhecimento do histórico do bairro e, também, a realização da caracterização da área. Em sequência, elaborou-se um questionário socioambiental, estruturado com base nos objetivos e nos entrevistados, com o intuito de identificar e compreender as diferentes formas com que os moradores percebem o bosque Santa Marta. Ele inclui questões como, por exemplo, o tempo em que a pessoa entrevistada vive no bairro, uma vez que se acredita que aqueles que vivem lá há mais tempo, possuem uma diferente visão e preocupação com o bosque; possíveis problemas existentes e quais seriam os mais importantes; por fim, os conflitos relacionados ao cercamento do bosque. Para facilitação do trabalho, o vigia do bairro disponibilizou uma relação de 30 moradores que estariam dispostos a responder o questionário. Porém, pelo fato de grande parte deles fazerem parte da Associação de Moradores, optou-se por fazer as visitas nas casas aleatoriamente, para que o resultado dos questionários não fosse tendencioso. Deste modo, a aplicação dos questionários foi feita durante alguns eventos realizados no bosque e por meio de visitas. Os resultados do trabalho irão basear-se, principalmente, nas respostas do questionário e em diálogos informais com os moradores, e, também, na percepção dos autores com relação aos anseios da população. Um dos primeiros questionamentos era relacionado com o tempo em que o entrevistado residia no bairro, sendo que a maioria deles mora a mais de 10 anos. Essa questão foi considerada importante, pois se acreditava que aqueles que vivessem a mais tempo no bairro teriam uma relação e uma percepção diferente do bosque Santa Marta. Com relação à frequência com que os entrevistados visitavam o bosque, grande parte alegou que o visita às vezes ou nunca o frequenta. Essa pergunta pode ser relacionada com a anterior, uma vez que aqueles que residem a mais tempo no bairro, alegaram que costumavam visitá-lo, contudo, atualmente, não o frequentam mais. Tratando-se do significado do bosque para os moradores, a maioria dos entrevistados diz que o vê como, primeiramente, como uma área de conservação e, depois como uma área de lazer. Alguns outros foram mencionados como área de beleza cênica, preservação de espécies, aprendizagem e, até mesmo, de perigo. Ao questionados sobre o bosque ser um dos últimos fragmentos de Mata Atlântica do perímetro urbano de São Carlos, apenas 20% dos entrevistados tinham esse conhecimento. Foi possível observar que eram apenas as pessoas engajadas em assuntos ambientais ou membros da Associação de Moradores. Após serem informados de tal fato, os 80% restantes responderam qual a importância dessa área. A grande maioria (90%) atribuiu muita importância; 7% média importância e 3% alegaram indiferença na tal informação. Ao se observar os entrevistados que já haviam tido contato com algum animal advindo do bosque, é possível destacar que, mais da metade dos moradores que responderam o questionário nunca tinham tido contato com algum animal. Todavia, os animais mais vistos pelos que responderam sim a esta questão seriam lebres, pássaros e cobras. Quando questionados sobre quais benefícios o bosque poderia trazer às suas vidas, nota-se que 8 moradores afirmam melhorias na qualidade do ar; 7 acham que melhora a qualidade de vida e 5 alegam que é um lugar de lazer para as crianças do bairro. É possível observar que pouquíssimos moradores levaram em consideração as questões ambientais, como a preservação de espécies, por exemplo. Ao perguntar aos moradores o que eles consideravam que faltava na infraestrutra do bosque, o que mais foi apontado foi a falta de lixeira seguido pela segurança e em seguida por iluminação e área de lazer. Alguns problemas na infraestrutura foram apontados apenas por um morador como controle de formigas e quiosque. Posteriormente a pergunta do que faltava na infraestrutra, foi perguntado se caso os pontos na infraestrutura que eles haviam considerado que faltava fossem implementados no bosque, se eles passariam a visitá-lo mais vezes. Dos 30 entrevistados, 28 responderam que aumentariam positivamente. Como a segurança vem sendo uma questão que tem levantado bastante discussão no bairro com relação ao bosque foi perguntado se os moradores conheciam casos de violência relacionados ao mesmo. A grande maioria respondeu que negativamente e os outros restantes, citaram principalmente casos de assalto em casas na frente do bosque, onde os assaltantes fugiram pelo mesmo. Quanto ao cercamento da área em questão, a maioria se mostrou a favor. Porém, muitos entrevistados inicialmente se colocaram como contra o cercamento, mas ao saber que o bosque continuaria aberto em horário comercial, mudaram de opinião e se colocaram a favor. Em pequenos fragmentos de mata, como é o caso do bosque Santa Marta, caminhar por todo o local trás prejuízos ao processo de sucessão natural de espécies. Deste modo, uma proposta para a área de estudo, seria a introdução de uma Trilha de Interpretação da Natureza, cuja finalidade é a observação dos aspectos ecológicos, evitar o pisoteamento e a compactação do solo. Além disso, ela pode vir a proporcionar um espaço facilitador e enriquecedor para o desenvolvimento de programas de educação ambiental. A trilha deve ser limitada por pontaletes de eucalipto tratado na cor natural, parcialmente enterrados, mas com a ponta superior pintada com material impermeabilizante. A largura do caminho da trilha deve ser de, aproximadamente, 2m e os pontaletes devem ser colocados intercaladamente de 3 em 3m. O bosque ainda conta com placas informativas de algumas das espécies encontradas na área. A partir do presente estudo e de referências literárias, pode-se concluir que o cercamento no Bosque Santa Marta é necessário para conservação do mesmo, a fim de garantir que este permaneça com os características mais próximas do original possível. A área apresenta uma alta riqueza de espécies nativas características da flora regional, possuindo maior valor que muitos fragmentos de floresta semi-decídua do interior. Com isso, tem-se outros benefícios como o aumento de segurança e diminuição do receio dos moradores para com essa questão. Desta maneira, há uma diminuição de conflitos entre as pessoas que buscam a conservação do bosque e aquelas que buscam maior proteção. Os moradores possuem uma inter relação conflituosa com o ambiente no qual estão inseridos, isto se dá pelo fato de que consideram o bosque como uma área de conservação, contudo, ao serem questionados a respeito do cercamento colocaram a sua segurança acima da conservação. Considera-se de extrema importância a existência de um funcionário responsável pela manutenção do local, ou seja, uma pessoa para evitar extração de componentes, eliminar o despejo incorreto de resíduos sólidos, diminuir a presença de usuários de drogas e controlar espécies invasoras. Vale enfatizar a importância da implementação das lixeiras para garantir esta manutenção, porém um grande obstáculo é a falta de investimento do poder público. Outro ponto a ser abordado seria a criação de um plano de manejo para a área, visando objetivos de sustentabilidade e conservação ambiental. Concluise que a Trilha de Interpretação da Natureza é uma alternativa viável, de fácil implantação e baixo custo. Ela pode ser considerada como um novo meio de contato com a natureza possibilitando o desenvolvimento de atividades de educação ambiental e permite também a apreciação dos componentes naturais. Palavras chaves: percepção ambiental; bosque; Parque Santa Marta.