Consultoria Interna de RH em uma Empresa de Pequeno Porte Autoria: Bárbara Beatriz Freitag, Dante Girardi RESUMO As Micro e Pequenas Empresas - MPEs no Brasil são responsáveis por mais de 50% dos empregos formais, por mais de 90% dos estabelecimentos formais e possuem uma estrutura física e de pessoal enxuta. Mesmo tendo um quadro de pessoal mínimo, no setor de Recursos Humanos - RH essas empresas têm que lidar com as obrigações legais trabalhistas que exigem tempo e atenção e, além disso, tentar desenvolver os processos de gestão de RH com todo o contingente de funcionários. Nesse sentido, esta pesquisa teve como objetivo verificar de que forma a consultoria interna de recursos humanos, que é uma técnica moderna de RH aplicada em empresas de médio e grande porte, poderia ser aplicada em uma empresa de pequeno porte, com uma estrutura enxuta de pessoal, com a finalidade de otimizar as atividades de gestão de pessoas naquele cenário. E, mais especificamente, a pesquisa realizada objetivou contextualizar as MPEs no país e em Santa Catarina, apresentar o estudo de campo da empresa Tipo A, relatar a experiência da consultoria interna de RH na empresa estudada e efetuar recomendações. Por meio de estudo de campo e observação não-participante, foi possível verificar a experiência de implantação do processo de consultoria interna de RH na empresa de pequeno porte Tipo A, em que o setor de RH atuou em parceria com os Gerentes de Linha e obteve resultados positivos. Essa experiência resultou em uma inovação para o estudo de RH, visto que provou ser possível a aplicação de uma técnica, antes dirigida a empresas de médio e grande porte, em uma pequena empresa. 1. INTRODUÇÃO As Micro e Pequenas Empresas - MPEs no Brasil, em 2002, segundo SEBRAE (2008), responderam por 99,2% do número total de empresas formais e por 57,2% dos empregos formais do país. Sendo de pequeno porte a empresa apresenta um quadro de funcionários enxuto e exige alta produtividade dele para ter os resultados esperados. Mesmo com uma estrutura enxuta as MPEs têm, além dos processos de Recursos Humanos - RH, as obrigações legais que elas têm que seguir e que exigem tempo e atenção da pessoa responsável pelo setor, nesse caso ao se tratar do setor de RH da empresa, refere-se às obrigações legais trabalhistas. De acordo com Teixeira, Junior e Banganga (1998), em pesquisa realizadas com empresas de pequeno porte em Sergipe, em pouco mais de 40% delas existe apenas uma pessoa como responsável pela condução de todas as atividades do setor de RH. Nesse sentido, o que se observa é que, dada a necessidade de manter em dia, as obrigações legais trabalhistas são priorizadas em detrimento dos processos de RH e o atendimento aos funcionários devido à demanda de tempo e dedicação que os assuntos legais requerem. É diante dessa situação, que se começou a refletir sobre a necessidade de se otimizar as atividades do setor de RH nas MPEs para que, mesmo em empresas de porte menor, seja possível desenvolver os processos de RH sem que seja necessário aumentar o quadro de empregados e sem que as outras atividades do setor sejam prejudicadas, ou seja, trabalhando com a estrutura enxuta típica das MPEs. Para tanto, conhecer as bases formadoras da gestão de pessoas que orientaram a evolução do RH é fundamental para compreender o momento atual e as tendências desse 1 setor. Então, neste estudo, a gestão de pessoas foi analisada quanto à sua inserção na empresa moderna e quanto à evolução de suas práticas até chegar na experiência da consultoria interna de RH sendo aplicada em uma empresa de pequeno porte. Buscando uma experiência e uma forma de gestão de pessoas que possa conciliar tanto a estrutura da pequena empresa quanto a necessidade das pessoas que nela trabalham é que se propôs estudar de que forma a consultoria interna de recursos humanos pode ser aplicada na empresa de pequeno porte Tipo A com a finalidade de otimizar as atividades inerentes ao setor de RH? Especificando-se o campo de estudo, a pesquisa realizada objetivou contextualizar as MPEs no país e em Santa Catarina, apresentar o estudo de campo da empresa Tipo A, relatar a experiência de aplicação da consultoria interna de RH na empresa estudada e efetuar recomendações. 2. METODOLOGIA Inicialmente, fez-se um levantamento de informações teóricas sobre RH e MPEs em artigos e livros sobre os temas, caracterizando uma pesquisa bibliográfica. Segundo Lakatos (1991), a pesquisa bibliográfica é realizada em fontes secundárias abrangendo toda a bibliografia já tornada pública relacionada com o tema estudado. O estudo foi classificado quanto ao seu objetivo como pesquisa descritiva por meio da qual foi descrita a organização e a estrutura existente na tentativa de identificar características de recursos humanos e consultoria interna de RH em seu funcionamento. De acordo com Gil (2002), esse tipo de pesquisa tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno, servindo, inclusive, para proporcionar uma nova visão do problema. O delineamento dessa pesquisa assumiu a forma de Estudo de Campo, visto que foi realizada na sede da empresa objeto desse estudo. Tal estudo, segundo Gil (2002) é, basicamente, desenvolvido por meio da observação direta das atividades do grupo estudado. Para Vergara (2007), esse meio de pesquisa trata de uma investigação empírica que se efetua no local onde ocorre ou ocorreu o fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Para a coleta de dados foi utilizado o método da observação não-participante que, segundo Marconi e Lakatos (1990), ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos observados não têm consciência, mas que orientam seu comportamento. Nesse caso, o pesquisador toma contato com a realidade estudada, mas não se integra a ela e presencia o fato, mas não participa dele. A empresa objeto desse estudo foi denominada como Tipo A para preservar a identidade da mesma. A coleta de dados para esse estudo de campo foi desenvolvida entre janeiro e dezembro de 2008. 3. PERSPECTIVA HISTÓRICA DE RECURSOS HUMANOS A função gerencial de gestão de pessoas, conforme Gil (2001), visa à cooperação das pessoas que atuam nas organizações para o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais. Trata-se, a rigor, da evolução das áreas designadas antigamente como Administração de Pessoal, Relações Industriais e Administração de Recursos Humanos. 2 O trabalho e a gestão com pessoas existem desde a antiguidade, mas somente no final do século passado é que essa questão começa a passar por um processo de sistematização dos conhecimentos acumulados até então de acordo com Dutra (2002). Nesse sentido, verifica-se na Inglaterra a preocupação com a gestão de pessoas desde a Revolução Industrial e nos EUA ocorrida por pressões dos sindicatos e do parlamento e por receio da organização dos trabalhadores, respectivamente. A partir disso, foi que se criaram os secretários do bem-estar que existiam para atender às necessidades dos trabalhadores e impedir que eles formassem sindicatos. Este novo posto de trabalho marcou o surgimento da administração especializada de RH na Inglaterra. Nos EUA, a gestão de pessoas é sistematizada no movimento de Administração Científica (Dutra, 2002). A Escola de Administração Científica condiciona a gestão de pessoas durante todo o século XX aos paradigmas de gestão criados por esse movimento na história da administração conforme Dutra (2002). Teve origem com as experiências de Frederick W. Taylor (18561915), nos Estados Unidos, e Henri Fayol (1841-1925), na França. Gil (2001), afirma que esse movimento tinha como objetivo fundamental fundamentar cientificamente as atividades administrativas, substituindo a improvisação e o empirismo. Essa teoria mostrou ao mundo que o estudo sistemático e científico do trabalho podia levar à melhor eficiência nas organizações. Entretanto, esse modo de organização do trabalho foi criticado por tornar o trabalho humilhante e degradante e por não permitir um processo de desenvolvimento das pessoas por si mesmas. Em busca da valorização das relações humanas no trabalho surgiu a constatação da necessidade de considerar a relevância dos fatores psicológicos e sociais na produtividade, cuja base foram dadas pelos estudos desenvolvidos pelo psicólogo americano Elton Mayo (1890-1949). De acordo com Gil (2001), este desenvolveu uma experiência pioneira no campo do comportamento humano no trabalho, cujo resultados demonstraram que os fatores psicológicos e sociais influenciam no produto final do trabalho, embora esse não tivesse sido o objetivo inicial da pesquisa dele. A partir dessa pesquisa, outras foram realizadas e, como conseqüência, informou Gil (2001) que se passou a valorizar as relações humanas no trabalho. Dessa forma, a comunicação, a motivação, a liderança e os tipos de supervisão passaram a ser, também, considerados na Administração de Pessoal. Após a II Guerra Mundial, afirma Gil (2001), que ocorreram mudanças significativas na administração de pessoal das empresas, cujas atividades se continham às rotinas de pessoal sob o enfoque legal e disciplinar. Tais mudanças começaram a ocorrer nos Estados Unidos devido ao crescimento do poder dos sindicatos dos trabalhadores. Em virtude disso, as empresas passaram a prestar a atenção nas condições de trabalho, a conceder benefícios a seus empregados e, também, a sentir a necessidade de negociar com as entidades representativas dos trabalhadores. Para tanto, foram alteradas as estruturas voltadas à administração de pessoal. E, segundo Gil (2001), nesse momento a seção de pessoal deu origem ao departamento de relações industriais e alterou o perfil requerido de seus dirigentes. Na década de 60, os termos Administração de Pessoal e Relações Industriais começaram a ser substituídos pela expressão Administração de Recursos Humanos (Gil, 2001). Nessa época, segundo Dutra (2002) começaram a serem percebidas as primeiras fraquezas nos modelos de gestão de pessoas centrados no paradigma de Administração Científica, porém foi na década de 70 que críticas melhor fundamentadas e provocaram uma ruptura no modelo até então seguido no que tange à gestão de pessoas. 3 Na década de 80, Gil (2001) afirma que se passou por um período de crise de referenciais tanto teóricos quanto técnicos em que não se aceitava o que se tinha e não se tinha um modelo novo pronto, dessa forma, as empresas foram sendo levadas aos desafios que surgiam como: a globalização da economia, a evolução das comunicações, o desenvolvimento tecnológico, a competitividade, etc. Sem fundamentação, nem todas as empresas conseguiram se ajustar ao ambiente e as que os superaram passaram pelas experiências da reengenharia, terceirização e downsizing. Nesse contexto, surgiu a Administração de Recursos Humanos, cuja origem deve-se à introdução de conceitos originários da Teoria Geral de Sistemas à gestão de pessoal. Entretanto, muitas vezes, segundo Gil (2001), as empresas adotam a expressão de Departamento de RH com o intuito de conferir ares de modernidade à empresa, quando, na verdade, exercem apenas as atividades de pessoal restritas às rotinas trabalhistas e disciplinares. No Brasil, conforme Dutra (2002), O processo de evolução da gestão de pessoas foi marcado por características legais e pelo referencial taylorista. Atualmente, a maioria das empresas brasileiras mantém departamentos de recursos humanos, porém a adoção dessa designação parece estar relacionada ao interesse em apresentar uma característica de modernidade, pois segundo pesquisa comentada por Gil (2001), 53% dos gestores brasileiros priorizam mais o cumprimento de normas e procedimentos que a prática de inovações. Criticando esses movimentos, a partir da década de 90, começaram a surgir pensamentos questionando a forma como vinha sendo desenvolvida a Administração de RH nas organizações, principalmente pelo fato de tratar as pessoas pela nomenclatura de “recursos” e propondo que as pessoas começassem a serem tratadas como parceiras da organização não seu patrimônio (Gil, 2001). Essas críticas mostram que se continua evoluindo nas discussões, por enquanto, no meio acadêmico, sobre uma nova forma de gestão de recursos humanos, que seguindo o que foi criticado começa a assumir o nome de Gestão de Pessoas ou Gestão de Talentos, Gestão de Parceiros, Gestão do Capital Humano, etc. Além disso, a tendência é que esse setor assuma lugar estratégico nas organizações. Em relação ao Gerente de RH na atualidade, Bohlander, Snell e Sherman (2003) afirmam que as principais atividades pelas quais ele é responsável são: orientação e aconselhamento, serviços, formulação e implementação de políticas e defesa do funcionário. Ressalta-se que no processo de gerenciar recursos humanos, a atenção dada às necessidades pessoais dos indivíduos tem crescido. E, segundo Gil (2001) os papéis mais requeridos do profissional de Recursos Humanos são: comunicador, selecionador, treinador, avaliador de desempenho, analista de cargos, motivador, líder, negociador, gestor de qualidade e coach. No âmbito da gestão de pessoas, os sistemas do setor podem ser assim classificados, conforme Gil (2001): suprimento, aplicação, manutenção e desenvolvimento e controle. No sistema de Suprimento há as seguintes atividades: identificação das necessidades de pessoal, pesquisa de mercado de recursos humanos, recrutamento e seleção. No de Aplicação faz-se as atividades de: análise e descrição de cargos, planejamento e alocação interna de recursos humanos. As atividades de salários, benefícios, carreiras, higiene, segurança no trabalho e relações com sindicatos são desenvolvidas no sistema de Manutenção. No de Desenvolvimento faz-se as de: treinamento e desenvolvimento de pessoal, desenvolvimento e mudança organizacional. E no de Controle tem-se as atividades de: avaliação de desempenho, banco de dados, sistemas de informações gerenciais e auditoria de recursos humanos. (Gil, 2001). Em se falando de melhoria das condições de tratamento, de trabalho e de aperfeiçoamento da gestão de pessoas, conforme Leite (2005), um recurso de gestão moderno 4 que vêm sendo adotado nas empresas de grande porte para contribuir nessa melhoria da qualidade de vida no trabalho é a Consultoria Interna de RH. 3.1 CONSULTORIA INTERNA DE RH Entende-se por Consultoria de Organização (CO) a atividade que visa a investigação, identificação, estudo e solução de problemas gerais ou parciais, atinentes à estrutura, ao funcionamento e à administração de empresas e entidades privadas ou estatais. Compreende a indicação dos métodos e soluções a serem adotados e a criação de condições para sua implantação nas organizações assessoradas (IBCO, 2008). Segundo Leite (2005), pode-se trabalhar em consultoria interna ou externa à organização, sendo que a primeira é realizada para clientes da própria empresa onde trabalha o consultor e a externa é realizadas para outras empresas sem que o consultor tenha vínculo empregatício com alguma delas. Quanto ao setor da empresa em que se vá trabalhar com consultoria, Leite (2005) afirma que a área de RH é uma provedora de serviços de consultoria interna em gestão de pessoas nas organizações. Isso se deve ao redesenho das estruturas e das funções gerenciais que está transferindo as operações de RH para a linha de frente. Diz, também, que se criou um modelo de consultoria interna em que funções especializadas são centralizadas e o apoio à linha é feito por generalistas pertencentes à estrutura de RH, visto que os conhecimentos especializados não estavam disponíveis gestores e é necessário garantir a disseminação das políticas e práticas corporativas. "Este desenho, de certa forma, traduz uma mudança de papel da área de RH, que passa a se definir como parceira estratégica e não apenas processadora de normas e rotinas”.(LEITE, 2005, p.62). Um dos principais objetivos da implantação de um projeto de Consultoria Interna de Recursos Humanos é prover a organização de informações descentralizadas e a inovação na empresa, conforme afirma Orlickas (1999). Para implantar um processo de consultoria interna de RH, Orlickas (1999) aponta os seguintes passos: executar benchmark, conscientizar a todos na organização, desburocratizar e racionalizar, políticas de RH definidas, Job rotation, sustentação administrativa e funcional, capacitação de cada profissional de RH, definição do papel do consultor interno, profundo comprometimento da alta direção, gerentes de linha como gestores de seus recursos humanos, tornar a área de RH em uma unidade de negócios, acompanhamento constante, adequação de perfis, valorização do background e da competência individual, revisões e avaliações, administração dos dificultadores e coragem. Conforme Orlickas (1999), o consultor interno, geralmente, ocupa um cargo de nível técnico ou gerencial na empresa como funcionário. Ele tem um perfil generalista de sua área de atuação e faz a interface entre o cliente interno e a gerência ou direção da área, ou seja, ele é um facilitador. Além disso, ele elabora diagnósticos, sugere, opina, critica e busca soluções para os problemas que lhes são apresentados. Entretanto, poucas empresas adotam a nomenclatura de consultor interno para esse profissional que, acaba assumindo as denominações de analista, assistente e supervisor. 5 A arquitetura do conhecimento e a experiência que alicerçam o referencial do consultor interno devem abranger conteúdos multidimensionais com enfoques estratégico, técnico e sócio-cultural. A interação desses elementos fortalece a filosofia de atuação e catalisa aceitação do consultor no ambiente em que está inserido, provendo-o de autoridade e inspiração. Quanto maior a amplitude desse referencial, maior facilidade terá em criar e apontar soluções alternativas, persuadir o gerenciador da necessidade de mudança e contribuir para os processos de melhoria contínua junto à área-cliente. (ELTZ, 1999, p.29). Orlickas (1999) defende que o papel do Consultor Interno deve ser definido e esclarecido logo no ínicio do processo para diminuir as possibilidades de distorções no futuro e contribuir para o sucesso do processo. Nesse sentido, Eltz (1999) relata que o Consultor Interno de RH assume diferentes papéis na organização como, por exemplo: negociador, comunicador e líder. Dessa forma, a descrição da função do Consultor Interno de RH deve ser feita considerando-se que seu papel é de assessoramento estratégico aos clientes internos, cujas responsabilidades são colaborar, acompanhar a solução de problemas, participar em projetos de seu cliente, acompanhar as tendências de RH, assessorar as áreas no levantamento de necessidades de treinamento, colaborar na identificação de novos talentos, oferecer suporte na execução de programas específicos de cargos, salários, benefícios, etc (Orlickas, 1999). Diante da consultoria interna de RH, a condução dos processos do setor fica assim dividida, segundo ORLICKAS (1999, p.55): “[...] o Consultor Interno orienta e instrui, e todas as demais etapas (recrutamento, seleção, treinamento, etc) são executadas pelos Gerentes de Linha, com políticas e diretrizes oferecidas pelo RH corporativo. Trata-se de um trabalho compartilhado, conduzido a quatro mãos”. É importante, na definição da estrutura de consultoria interna de RH, definir quem serão os clientes internos, visto que há uma variedade de arranjos possíveis conforme Orlickas (1999), onde há empresas em que, apenas, o Gerente de Linha é considerado o cliente interno e somente ele mantém proximidade com o Consultor Interno, sendo o elo entre os funcionários e o respectivo departamento. Contudo, há outras em que o conceito de cliente interno é mais amplo e considerado para todos os funcionários da organização. Do profissional que assumir o cargo de Consultor Interno de RH, conforme Orlickas (1999), espera-se a multifuncionalidade, a interação com o cliente, que consiga reconhecer RH como um todo, mas não necessariamente em profundidade e que entenda do negócio de seu cliente, pois o conhecendo ele poderá orientá-lo com maior eficácia quanto ao melhor instrumento de avaliação e poderá negociar melhor junto ao RH corporativo. Essas características partiram da necessidade de se exterminarem as soluções isoladas e departamentalizadas nas organizações. Dentro dessa realidade empresarial, surge a tendência de que os demais executivos, além de exercerem suas competências profissionais de forma mais atuante, possam também se tornar gestores de sua equipe, selecionando, demitindo, promovendo, avaliando, propondo treinamento, etc. É com essa forma compartilhada de gestão que Orlickas (1999) afirma que todos os gestores caminharão em prol de um interesse comum: o crescimento da empresa. 6 3.1.1 A parceria entre gerentes de linha e o departamento de RH Apesar do papel de RH, gerenciar pessoas depende de supervisores e gerentes de linha efetivos. Como afirmou um executivo da Merck: “Os recursos humanos são importantes demais para serem deixados a cargo do departamento de pessoal”. Embora os gerentes de RH tenham a responsabilidade de coordenar programas e políticas pertinentes a questões relacionadas a pessoas, os gerentes e os próprios funcionários são os responsáveis pelo desempenho dessas funções. (BOHLANDER, SNELL E SHERMAN, 2003, p.23). Nesse momento, os gerentes de linha começam a atuar como gestores de seus recursos humanos e serão os responsáveis pela administração de faltas, atrasos, admissões e demissões. Segundo Orlickas (1999), essa fase requer uma mudança muito profunda no estilo de gestão, pois até então os gerentes lidavam apenas com ocasiões positivas como admissão, aumento e promoção. Com isso, é determinante que se proporcione a esses profissionais a capacitação para gerenciar esses processos e principalmente as situações de conflito. Para Bohlander, Snell e Sherman (2003), as empresas de sucesso são as que atribuem o gerenciamento das pessoas como tarefa para todo gerente, combinando a experiência dos gerentes de linha com o conhecimento específico de especialista de RH para desenvolver e utilizar ao máximo os seus talentos. Por isso, os gerentes de Rh têm trabalhado lado a lado com os gerentes de linha para tratar das questões de pessoal. Cabe ressaltar, que há resistências nesse processo e que, embora, esse relacionamento ainda não tenha atingido o ponto ideal, tem melhorado rapidamente. Por meio dessa parceria entre os gerentes de linha e os de RH, esses últimos estão conseguindo assumir um papel estratégico na organização, participando do planejamento e das tomadas de decisão da alta gerência o que é uma contribuição importante para o sucesso da organização e acordo com Bohlander, Snell e Sherman (2003). Nesse sentido, Orlickas (1999) concorda ao defender que é com a finalidade de oportunizar maior disponibilidade de ação ao Consultor Interno que surgiu a necessidade de tornar cada gerente de linha em um gestor de sua equipe. E que, dessa forma, enquanto o gerente de linha está mais próximo de seu funcionário, ouvindo suas necessidades, o Consultor Interno consegue dedicar-se à estratégia, ao estudo e ao planejamento de novos produtos de RH. Entretanto, para o sucesso dessa estratégia é determinante que se realize a racionalização dos processos de administração de pessoal, informatizando as funções burocráticas para que nem o Consultor Interno e nem mesmo o Gerente de Linha se tornem executores dessas tarefas (Orlickas, 1999). O objetivo é que, gradativamente, os gerentes saibam gerir seus funcionários e os Consultores entendam do negócio da empresa o suficiente para que, cada um em seu papel, consiga se desenvolver melhor e agregar valor à empresa. 3.2 O SETOR DE RH NA MPE No Brasil, o número de microempresas formais em 2002 é de 4.605.607, o que corresponde a 93,6% do total de empresas do país, estas empresas empregam 9.967.201 pessoas, o equivalente a 36,2% do total de pessoas ocupadas no país. A respeito das pequenas empresas, sabe-se que em 2002 correspondem ao total de 274.009 empresas formais que mantêm um total de 5.789.875 pessoas ocupadas, tendo uma participação percentual no total 7 de empregos de 21%. Juntas, as MPEs representaram em 2002, 99,2% do total de estabelecimentos e 52,8% dos empregos formais (SEBRAE, 2008). No estado de Sergipe, segundo Teixeira, Junior e Banganga (1998), 43,7% das empresas de pequeno porte têm uma estrutura de gestão de RH simplificada, possuindo apenas uma pessoa como responsável pela condução das atividades do setor. Na pesquisa realizada por Teixeira, Junior e Banganga (1998, p.14), constatou-se que: [...] as PME’s se limitam a fazer o controle burocrático das atividades de pessoal e que além de não se modernizarem nas suas rotinas de gerenciamento estão pouco atentas às modificações que vem ocorrendo na área de RH. Continuam, portanto, se utilizando de práticas gerenciais tradicionais na administração dos seus Recursos Humanos e praticamente não têm incorporado novas técnicas e atitudes que fazem parte das atuais preocupações de RH. Em Santa Catarina, Batalha (1990) defende que as características sócio-econômicas do Estado foram definidas pelas MPEs devido à ausência de grandes metrópoles industriais. O processo de formação dessas empresas catarinenses explicam o fato do Estado ter um parque industrial diversificado, cuja estrutura familiar que deu origem a essas empresas proporcionou que fosse gerado um modelo industrial homogêneo, mas bem delineado por características regionais. Entretanto, o autor ressaltar que essas empresas apresentam problemas de organização interna, em parte devido à excessiva informalidade na estrutura organizacional, nos sistemas de informação e na ausência de sistemas de custeio eficientes. Quando à estrutura das empresas industriais de pequeno porte de Santa Catarina, podese afirmar que elas funcionam como postos de treinamento de mão-de-obra visto que os empregados são mais solicitados, então eles têm maior oportunidade de se desenvolver profissionalmente e de maneira mais diversificada segundo Batalha (1990). As microempresas são caracterizadas, conforme o Sebrae (2008), segundo o número de empregados na indústria por ter até 19 pessoas ocupadas e no comércio e serviço por ter até 09 pessoas ocupadas. Analogamente, as empresas de pequeno porte na indústria são as que ocupam de 20 a 99 pessoas e no comércio e serviço, as que ocupam de 10 a 49 pessoas. Efetivamente, a maioria destas empresas não possui um organograma definido. Quando ocorre a existência deste organograma, na maioria das vezes ele encontra-se alheio à realidade ou então não é cumprido. O modelo assumido na prática apresenta a maioria das pequenas indústrias com o poder administrativo centralizado no proprietário e a existência de um encarregado técnico pela produção. O encarregado técnico, não obstante sua razoável independência quanto às decisões operacionais da produção, também se reporta diretamente ao empresário quando se defronta com a necessidade de decisão que vá alterar o ciclo normal da produção. (BATALHA, 1990, p.52) Batalha (1990), revela que na área administrativa dessas empresas estão concentradas as suas maiores debilidades e que isso se deve ao excesso de centralização na tomada de decisão que está concentrada nas mãos do proprietário ou de seus descendentes diretos, à ausência de estrutura organizacional bem definida e ao despreparo administrativo dos empresários e ao seu estilo gerencial ultrapassado que desconhece as vantagens da implantação de técnicas modernas de gestão. Com isso, todo o investimento em maquinário e desenvolvimento fabril, podem se tornar ineficazes se o sistema de gestão não acompanhar adequadamente esta evolução. A característica das empresas de pequeno porte catarinense é originária, conforme Batalha (1990), devido ao fato de que tiveram origem em estruturas familiares de produção e que é comum entre esses empresários a experiência de após terem conquistado uma razoável estabilidade econômico-financeira proporcionarem a seus descendentes diretos a oportunidade 8 de terem uma formação superior e que, quando estes retornam para as atividades na empresa há uma disputa entre o novo e o velho. E, portanto, os empresários com medo de perderem o controle e o poder sobre sua organização, devido à implantação de técnicas modernas que eles não compreendem, ocorre um processo de radicalização e arraigamento das práticas tradicionais. O autor ressalta, que é fundamental, que o empresariado tenha a compreensão de que o melhor conhecimento do todo de sua empresa ajuda a criar condições para o crescimento racional e seguro dos negócios. Quanto ao setor de RH das empresas de pequeno porte de Santa Catarina, Batalha (1990) afirma que os problemas mais comuns são referentes à ausência de planejamento eficiente, à inexistência de um quadro de cargos e salários e de planos de carreira. Sendo que, na opinião do autor citado, a rotatividade alta de pessoal nesse tipo de empresas deve-se a essa falta de perspectiva de crescimento dentro da empresa. E, devido à falta de formalização de processos e de rotatividade de pessoal nas atividades, é comum encontrar tarefas em que somente uma pessoa da empresa detém a forma de desempenhar e que em caso de sua ausência a empresa pode parar o que é um sinal de fragilidade de gestão da empresa. Diante disso, conforme Batalha (1990), há que se desenvolver e propor para as MPEs catarinenses ferramentas de gestão adaptadas às suas culturas para que possam auxiliar de maneira efetiva na sua gestão. 4. ESTUDO CAMPO O estudo realizado na organização foi aqui apresentado a partir da contextualização histórica e atual da organização escolhida, pelas descrições do setor de RH da empresa e pela observação da experiência de implantação da Consultoria Interna de RH nela. Para efeitos desse estudo a empresa estudada assumiu a denominação de “Tipo A”. 4.1 A EMPRESA A Tipo A é uma fábrica de bijuterias, foi fundada em 1995, fica localizada em São José no estado de Santa Catarina e é dirigida pela sócia-proprietária. A fábrica tem como atividade a criação e montagem de peças de acessórios para moda feminina baseados no diferencial das peças. A empresa surgiu devido ao fato da proprietária ter experiência no ramo de confecções e pelo gosto por bijuterias que a acompanhava desde a adolescência. A proprietária veio de uma família de pai empresário local. Descendente de alemães aprendeu com o pai, dono de confecção, que quem tem que dar o exemplo primeiro é o dono e sua família, sendo que quando trabalhavam na confecção, obrigatoriamente, era a primeira a chegar, antes de qualquer funcionário. Prática essa, que aplica a sua filha, que está passando por todos os departamentos da empresa, para conhecê-la, segundo a proprietária “Para conhecer, saber como funciona, e dar valor de onde vem o dinheiro”. Sua administração é baseada na humildade e “pés no chão”, tanto que sempre assume que seu negócio é sua paixão “é criar bijuterias”, passando a administração para um profissional da área, sempre é claro com o acompanhamento e os olhos atentos da proprietária. O empreendimento começou em sua residência, mais precisamente entre “uma troca de fraldas e outra”, começou confeccionando uma gargantilha para ir a um casamento, como o sucesso foi grande, virou passatempo para uso pessoal, rapidamente indo para o pronto 9 atendimento de amigas que queriam “as peças da Tipo A”. O caminho natural da empreendedora foi ir aumentando a produção, até ter que atender um pedido de uma loja de trinta peças. Uma das etapas decisivas da empresa, ou melhor, de seu amadurecimento, foi três anos após a primeira gargantilha, pegar o faturamento com as bijuterias feitas em casa, e comprar uma passagem aérea com destino a Porto Alegre, mais precisamente em visita a uma rede de lojas para apresentar sua coleção de peças. Coleção aprovada, pedido feito de oitocentas peças, pequena quantidade para a loja, um teste certamente, mas para a empresária um desafio, tanto na quantidade de peças quanto no prazo fornecido, quinze dias. Em seguida, a proprietária viajou a São Paulo, na conhecida Rua 25 de Março, que é considerada o coração das matérias-primas para comprar peças mais baratas para suprir a encomenda. Voltando para Florianópolis contratou uma assistente para lhe ajudar na montagem e para assim conseguir entregar o pedido no prazo determinado, entretanto sem nenhum lucro financeiro e por pouco não obteve prejuízo. Durante um ano os pedidos foram chegando, aumentando as quantidades paulatinamente, porém ainda não proporcionavam a lucratividade. A proprietária tinha os mesmos norteadores do seu início, acreditava no diferencial de suas peças, e esperava o aumento da demanda e a fidelização do cliente. A perseverança e obstinação aplicadas tiveram resultado, a partir de determinado momento dois fatores foram cruciais para uma nova fase da empresa: a quantidade encomendada por aquela rede de lojas, que permitiu adquirir algumas matérias-primas diretamente da indústria; e o reajuste de preços que elevou o valor das bijuterias a um patamar compatível com o custo do produto. Inicialmente 70% da produção eram destinados para a rede de lojas do Rio Grande do Sul, sendo que 30% para butiques em Santa Catarina e Paraná. Em 1999 a empresa conquistou um novo cliente, outra rede de lojas que atuam na moda jovem, também do Rio Grande do Sul. Outros e não menos importantes clientes renderam-se as “peças da Tipo A”, dessa vez, redes de lojas de São Paulo. O espaço físico da fábrica começou na casa da proprietária, em seguida ela alugou uma sala de 40m² e, atualmente, possui uma área de mais de 300m², cuja estrutura física e produtiva está pautada para a produção de acordo com os pedidos recebidos dos clientes. Em 2002 a empresa firmou parceria com o presídio de Florianópolis, onde foi ensinada a técnica da montagem de bijuterias a uma média de 500 presos, na sua maioria com baixo grau de escolaridade. Os mesmos recebem pagamento pelas peças, que é encaminhado para seus familiares, e uma redução na pena, um dia de perdão de pena a cada três dias trabalhados. O crescimento da fábrica foi a “passos lentos”, em 1996 a produção de peças anual era de 4.908, e em 2002 de 67.135, em 2007 fica num patamar de 80.000 peças mensal. Um dos principais desafios da empresa é aumentar sua capacidade de produção e gerir as pessoas diante das mudanças oriundas do processo de descentralização em que a empresa se encontra. A empresa Tipo A possui um número de funcionários que varia durante o ano entre 50 e 70 pessoas de acordo com o volume de pedidos a serem entregues. A empresa não possui um organograma formal, mas possui três níveis hierárquicos constituídos pela Direção, Gerência e Coordenação. A direção é exercida pela sócia-proprietária, há o Gerente Administrativo-Financeiro, o de Compras, o Operacional e o de Produção. E os setores são coordenados pelos Coordenadores de Modelagem, Curso, Criação, Estoque, Planejamento e Controle da Produção - PCP, Qualidade, Produção e Pack. Além disso, a empresa está dividida por centros de custo, a saber: Administrativo, Curso, Produção, Operacional e Loja. Os setores existentes são: Administrativo, Compras, Curso, Modelagem, Detalhamento, Criação, Estoque, PCP, Produção, Qualidade e Pack. 10 O Gerente Administrativo-Financeiro é responsável pelo centro de custo Administrativo, Curso e Loja, que engloba os setores de mesmo nome. O Gerente de Compras é responsável pelo unicamente pelo setor de Compras. Ao Gerente Operacional cabem os setores de Criação, Modelagem, Detalhamento, Estoque e PCP. E ao Gerente de Produção cabem os setores de qualidade, produção e Pack. 4.1.1 Recursos humanos na Tipo A O setor de RH está vinculado ao setor Administrativo, suas atividades são exercidas por um Assistente de Recursos Humanos sob o comando do Gerente AdministrativoFinanceiro. As responsabilidades atribuídas ao responsável pelo setor de RH na empresa são: gestão de benefícios, controle de freqüência de funcionários, captação e tratamento de dados para folha de pagamento, recrutamento, seleção, admissão, recepção de funcionários novos, rescisão, homologação, estágios, arquivamento de documentos, convênio médico, comunicações internas, normatização e atendimento a funcionários. No ano de 2007 foi que a empresa passou a ter a divisão por centros de custos e setores mais definida devido à intenção da direção e da gerência administrativo-financeira de começar a descentralizar os processos que, até o momento, eram todos coordenados e monitorados pela direção. Seguindo a tendência citada acima, em janeiro de 2008 deu-se início ao processo de descentralização do setor de RH, pois devido ao acúmulo de tarefas e ao quadro enxuto de pessoal no setor, algumas atividades estavam sendo realizadas com menor qualidade do que se esperava, pois, por exemplo, priorizava-se manter as questões legais trabalhistas sempre em dia em detrimento de atender os funcionários pessoalmente e prontamente. Considerando que a possibilidade de contratar mais uma pessoa para o setor de RH estava descartada, observou-se que o Gerente Administrativo-Financeiro e o Assistente de RH experimentaram a tentativa de agendar o atendimento aos funcionários. Entretanto, ocorreram reclamações dos empregados devido à necessidade que eles têm de se dirigir ao setor de RH e ser atendido prontamente. Diante disso, ainda com o objetivo de descentralizar o setor de RH e otimizar os resultados do setor que tinha apenas uma pessoa em seu quadro, a gerência administrativofinanceira tentou retirar a maior parte dos atendimentos aos funcionários das funções do Assistente de RH e repassá-los aos Gerentes da empresa, deixando-o somente como consultor dos Gerentes para os assuntos que fossem abordados. Para que fosse possível realizar a descentralização do setor de RH, o Gerente Administrativo-Financeiro solicitou o apoio dos demais gerentes e propôs que algumas atividades, principalmente, as de atendimento a funcionários fossem realizadas por eles. Nesse processo, os Gerentes após efetuarem o atendimento ao funcionário deveriam se dirigir ao Assistente de RH em caso de dúvidas ou para informar a decisão ou ação que foi acordada. Dessa forma, contou-se com o apoio e parceria dos Gerentes dos setores que, coincidentemente, já vinham com experiência anterior de RH em outras empresas o que facilitou a satisfação das expectativas de apoio de RH que os funcionários tinham. Foram delegadas aos Gerentes as seguintes atividades: atendimento a funcionários, aviso de demissão, aviso de admissão (abertura de vaga e seleção), solicitação de treinamento e de férias, coleta de assinaturas de documentos e entrega de benefícios. Os Gerentes, por sua vez, também delegavam algumas dessas atividades aos seus Coordenadores. O atendimento e as atividades citadas eram realizados junto aos funcionários pelos Gerentes e Coordenadores, 11 entretanto, o setor de RH fazia toda a preparação do material, arquivamento, análise e prestava toda a assessoria necessária aos Gerentes para que as atividades fossem realizadas. No momento de entrada de um funcionário novo na empresa, ao chegar no setor de RH ele era informado de que todo o contato dele seria via Coordenadores e Gerentes, apenas é claro que se ele tivesse passando por algum problema com estas pessoas é que ele se dirigiria diretamente ao setor de RH. Embora, estivesse ocorrendo um processo de descentralização de atividades na empresa, ainda, era fácil de se observar a forte presença e influência da Diretora da empresa desde as decisões mais operacionais e simples até as mais complexas. Durante os meses de janeiro, fevereiro, março e abril observou-se no setor um espaço de adaptação desse novo método pelo Assistente de RH e os Gerentes. Em maio daquele ano, o processo de descentralização por meio da parceria realizada entre os Gerentes e o Assistente de RH já estava em funcionamento a mais de um trimestre e já era possível verificar visualmente uma melhor organização física do setor de RH, a diminuição das paradas do Assistente para atendimento a funcionários e maior integração entre os Gerentes, Coordenadores e os membros de suas equipes. Entre maio e agosto, observou-se que foi possível ao funcionário do setor de RH realizar toda a organização de arquivos de documentos trabalhistas da empresa, tanto o de funcionários demitidos, quanto o de funcionários ativos, bem como a criação de pastas devidamente identificadas por atividade e a revisão dos arquivos virtuais do setor, em que foram eliminados os que não eram utilizados e atualizados os que eram utilizados freqüentemente. O Assistente de RH, também, escreveu junto com o Gerente AdministrativoFinanceiro os processos de Recrutamento e de Seleção de Pessoal que passariam a serem exercidos pelo próprio setor com auxílio dos Gerentes em 2009. A partir de setembro, foi possível verificar a otimização do controle de freqüência de funcionários por meio da implantação do “ponto digital” e a automatização da planilha de envio de dados da Folha de Pagamento, via programação simples de Excel pelo Assistente de RH. Essas duas ações agilizaram o processo de montagem dessa tabela geral passando de sete dias para três dias de preparação e elaboração. No período de maio a dezembro, observou-se uma diminuição da procura dos funcionários ao setor de RH, verificou-se via depoimentos da gerência que os funcionários estavam efetivamente se relacionando mais com os gerentes e coordenadores de seus setores, visto que a comunicação era mais direta e rápida, pois além de estarem trabalhando juntos, os Gerentes tinham autonomia junto à Direção da empresa de já poder dar certas respostas aos funcionários imediatamente à sua pergunta. Entretanto, observou-se que a direção da empresa não estava satisfeita pelo fato de que o RH da empresa não atendia diretamente aos funcionários e, por isso, iniciou a demonstrar resistência a esse novo processo por meio de conversas com os Gerentes. Em novembro e dezembro, iniciou-se o processo de elaborar planilhas eletrônicas para a coleta de dados com o objetivo de geração de indicadores do setor e de se iniciar a trabalhar com os processos de RH mais complexos, como descrição de cargos, motivação de pessoal, recrutamento e seleção. Porém, devido à resistência da direção da empresa e ao encerramento do período proposto de observação desse estudo, não se sabe, ainda, quais foram os próximos passos desse setor na empresa. 12 5. ANÁLISE A empresa Tipo A possui um número de funcionários que varia durante o ano entre 50 e 70 pessoas de acordo com o volume de pedidos a serem entregues. Portanto, de acordo com o número de funcionários, ela se enquadra na classificação do SEBRAE (2008) como indústria de pequeno porte. Quanto à estrutura de RH da empresa, foi possível identificar a falta de formalização de processos e a alta rotatividade de pessoal, a ausência de organograma definido, a existência dos encarregados que eram os Gerentes e Coordenadores que tinham uma independência razoável e, por fim, uma presença marcante da direção da empresa nas decisões simples e complexas da empresa. Tais itens são as características de quadro enxuto de pessoal descritas por Batalha (1990). Verificou-se que o processo de implantação da consultoria interna de RH na empresa não foi formalizado e nem consciente, pois foi identificado como um processo de descentralização de RH, tanto que não recebeu o nome de Consultoria Interna de RH. Contudo, essa descentralização do setor de RH via parceria com os Gerentes foi realizada com o intuito de melhor atender ao funcionário e de proporcionar melhores resultados ao setor utilizando o quadro funcional existente. Nesse sentido, observando o que é afirmado por Leite (2005) a respeito de um recurso de gestão moderno que vêm sendo adotado nas empresas de grande porte para contribuir nessa melhoria da qualidade de vida no trabalho é a Consultoria Interna de RH e analisando a suas características pode-se inferir que foi aplicada na Tipo A o processo de Consultoria Interna de RH. Diante disso, pode-se, também, inferir que houve uma inovação na empresa ao implantar esse estilo de gestão de RH, que é característico de empresas maiores, em uma de pequeno porte. Segundo Orlickas (1999), um dos principais objetivos da implantação de um projeto de Consultoria Interna de Recursos Humanos é prover a organização de informações descentralizadas e a inovação na empresa. Na Tipo A o que se conseguiu observar foi que de janeiro a dezembro de 2008, foi possível organizar, no setor de RH, todo os arquivos físicos e virtuais do setor, automatizar os processos, descrever alguns processos novos e começar a medir os resultados a partir de indicadores. Esses resultados foram conseguidos sem aumentar o quadro de funcionários do setor. Embora, se tenha conseguido alguns resultados positivos com a implantação da Consultoria Interna de RH na Tipo A, verificou-se, que devido ao fato da não formalização e conhecimento do processo, algumas fases de sua implantação indicadas por Orlickas (1999) não foram realizadas, como por exemplo: executar benchmark, conscientizar a todos na organização, políticas de RH definidas, Job rotation, capacitação de cada profissional de RH, definição do papel do consultor interno, profundo comprometimento da alta direção, tornar a área de RH em uma unidade de negócios e adequação de perfis. Contudo, valorizou-se o conhecimento e a experiência anterior dos Gerentes que já haviam trabalhado com RH em outras empresas, tomando-os como gestores de seus recursos humanos. O setor de RH estava prestando todo o apoio material e informativo aos Gerentes a todo o momento. E verificou-se que o fato de não ter havido uma formalização do processo e conscientização do mesmo, talvez tenha provocado com que a direção da empresa tenha iniciado a demonstrar resistência ao processo. Entretanto, observou-se que os atendimentos diretos a funcionários no setor de RH diminuíram e que eles estavam, efetivamente, procurando e resolvendo seus problemas com os seus Gerentes e Coordenadores, foi nesse momento que se observou fatos teorizados por 13 Orlickas (1999) em que os gerentes de linha começaram a atuar como gestores de seus recursos humanos e se tornaram os responsáveis pela administração de faltas, atrasos, admissões e demissões destes. Juntamente a isso, foi possível verificar que a empresa adotou no processo de Consultoria Interna de RH os Gerentes de linha como seus clientes internos, visto que conforme Orlickas (1999), somente eles tinham proximidade com o Consultor Interno que era o Assistente de RH, exercendo a função de elo entre os funcionários e o setor de RH. Ao serem relatados os resultados positivos dessa descentralização no setor de RH, ou melhor, da implantação da Consultoria de RH na empresa Tipo A, verificou-se a constatação do que é defendido por Orlickas (1999) de que, a partir desse processo, o Consultor Interno consegue ter maior disponibilidade de ação, enquanto os Gerentes – Clientes Internos – estão próximos e ouvindo as necessidades dos funcionários. O Consultor ou Assistente de RH passou a dedicar-se à estratégia do setor para transformá-lo em um setor estratégico, automatizando os sistemas, descrevendo processos, criando indicadores e planejando novas ações de RH. Com esta estrutura de Consultoria Interna de RH, o papel do setor deixou de ser apenas de processador de normas e rotinas para ser um parceiro estratégico da empresa conforme teorizado por Leite (2005). 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse estudo, buscou-se, principalmente, verificar de que forma a consultoria interna de recursos humanos poderia ser aplicada na empresa de pequeno porte Tipo A com a finalidade de otimizar suas atividades de RH em 2008, contextualizando as MPEs no país e em Santa Catarina, apresentando um estudo de campo e relatando a experiência de aplicação da consultoria interna de RH na empresa Tipo A. Quanto ao cenário nacional de MPEs verificou-se que em 2002 elas já eram responsáveis por 99,2% do total de estabelecimentos e 52,8% dos empregos formais, segundo dados do SEBRAE (2008). Além disso, em Santa Catarina, verificou-se que as MPEs possuem uma estrutura enxuta de RH, que em sua maioria são de origem familiar, cujo processo de decisão é centralizado e que exercem, principalmente, atividades de normas e rotinas de pessoal em seus departamentos de RH. Foi realizado um estudo de campo na empresa Tipo A, por meio de observação nãoparticipante. Esta empresa produz acessórios femininos para redes de lojas brasileiras, possui entre 50 e 70 funcionários, cujo quadro varia conforme a demanda de pedidos. E que, por isso, é classificada como uma empresa de pequeno porte conforme critérios de classificação do SEBRAE (2008). Seguindo o objetivo principal dessa pesquisa, observou-se que é possível aplicar a Consultoria Interna de RH em uma empresa de pequeno porte da seguinte forma: tomando o responsável pelo setor como Consultor Interno, tendo como clientes internos os Gerentes dos demais setores e delegando a eles atividades de atendimento a funcionários, assinatura de documentos, aviso de demissão e anúncio de promoção por exemplo. Como resultados principais, observou-se que, no setor de RH, não foi necessário contratar mais um funcionário, ou seja, alterar a estrutura de pessoal da empresa. Também, foi possível realizar a organização de todo o arquivo físico e virtual do setor, a automatização dos processos, a criação dos processos de recrutamento e seleção, bem como o desenvolvimento de planilhas eletrônicas para a coleta de dados para a medição de resultados por meio de indicadores e a elevação do setor deixando de ser, apenas, um processador de normas e rotinas 14 para iniciar os passos para ser parceiro estratégico da empresa conforme teorizado por Leite (2005). Entretanto, observou-se que todo esse processo deu-se com a denominação de descentralização do setor de RH e, como a implantação dele não foi formalizada, algumas etapas que são sugeridas para o processo de Consultoria Interna de RH conforme Orlickas (1999) não foram realizadas, como por exemplo: executar benchmark, conscientizar a todos na organização, políticas de RH definidas, Job rotation, capacitação de cada profissional de RH, definição do papel do consultor interno, profundo comprometimento da alta direção, tornar a área de RH em uma unidade de negócios e adequação de perfis. Diante disso, verificou-se a resistência da direção da empresa ao novo estilo de gestão de RH. Nesse sentido, o que se recomenda à empresa é que seja realizado um esforço de adesão da direção da empresa por meio da apresentação dos resultados positivos alcançados, que seja realizada a formalização da Consultoria Interna de RH em sua estrutura, primeiramente fomentando a adesão e conscientização da direção da empresa, passando pela definição dos processos do Consultor Interno e dos Clientes Internos e pela conscientização de todos na empresa. Além disso, sugere-se que a empresa faça a formalização de todos os seus processos, a descrição de seus cargos e a racionalização de seus sistemas. Por fim, seguindo a afirmativa de Batalha (1990), de que há que se desenvolver e propor para as MPEs catarinenses ferramentas de gestão adaptadas às suas culturas para que possam auxiliar de maneira efetiva na sua gestão, cabe analisar a contribuição da experiência desenvolvida na empresa Tipo A para o estudo da gestão de RH, pois se tratou de uma inovação a implantação do processo de Consultoria Interna de RH em uma empresa de pequeno porte, principalmente, pelo fato de que essa experiência mostrou que é possível a aplicação desse processo na MPE frente aos resultados apresentados. REFERÊNCIAS BATALHA, M. O. A pequena e média indústria em Santa Catarina. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1990. BOHLANDER, G. W.; SNELL, S.; SHERMAN, A. Administração de recursos humanos. Tradução Maria Lúcia G. Leite Rosa; revisão técnica Flávio Bressan. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. DUTRA, J. S. Gestão de pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2002. ELTZ, F. 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