Sedentarismo e padrão alimentar de crianças e adolescentes escolares
Sedentarism and food pattern to school children and adolescents
El sedentarismo y los hábitos alimentarios de los niños y adolescentes estudiantes
RESUMO
Os maus hábitos alimentares e o sedentarismo ocasionam altos índices de obesidade na população,
principalmente em crianças e adolescentes. Assim, objetivou-se identificar a situação do sedentarismo e
do padrão alimentar em crianças e adolescentes escolares e associá-los aos aspectos sociodemográficos e
clínicos. Estudo transversal, realizado com 374 alunos matriculados, na faixa etária de 7 a 17 anos, em
escolas públicas estaduais do Nordeste do Brasil, durante os meses de agosto de 2013 a maio de 2014,
através da anamnese e exame físico. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de ética da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, sob o protocolo 347.902, e desenvolvido por enfermeiros e estudantes
de enfermagem. Os resultados mostraram que prevalência de participantes sedentários foi de 44,9% e
com padrão alimentar inadequado de 73,5%. Houve associação estatisticamente significativa entre as
variáveis sexo e sedentarismo. Conclui-se que as crianças e adolescentes escolares eram sedentárias e
com o padrão alimentar inadequado. O conhecimento desse perfil é importante para os profissionais de
saúde, especialmente o enfermeiro, traçarem intervenções para a promoção da saúde do escolar.
Descritores: Enfermagem; Estilo de vida sedentário; Comportamento alimentar.
ABSTRACT
Poor diet and sedentarism cause high rates of obesity in the population, especially in children and
adolescents. Then, the objective was to identify the situation of sedentarism and standard food in school
children and adolescents and associate them to the sociodemographic e clinical aspects. Cross-sectional
study with 374 children and adolescents between 7 and 17 years, in public schools of in Northeast Brazil,
during the months of August 2013 to May 2014, through the history and physical examination. This study
was approved by the Ethics Committee of the Federal University of Rio Grande do Norte, under protocol
347.902, and developed by nurses and nursing students. The results showed that prevalence of sedentary
participants was 44.9% and with inadequate standard food of 73.5%. There was a statistically significant
association between gender and sedentarism. It is concluded that children and adolescent students were
sedentary and inadequate standard food. Knowledge of this profile is important for health professionals,
especially nurses, to trace interventions to promote school health.
Key words: Nursing; Sedentary lifestyle; Feeding behavior
RESUMEN
La mala alimentación y la inactividad física provocan altos índices de obesidad en la población,
especialmente en niños y adolescentes. El objetivo fue identificar la situación de la vida sedentaria y los
hábitos alimentarios en niños y adolescentes escolarizados y asociarlos a los aspectos sociodemográficos
y clínicos. Estudio transversal con 374 alumnos matriculados, a la edad de 7-17 años en las escuelas
públicas en el noreste de Brasil, en los meses de agosto 2013 hasta mayo 2014, a través de la historia y el
examen físico. Este estudio fue aprobado por el Comité de Ética de la Universidad Federal de Río Grande
do Norte, en el marco del protocolo de 347 902, y desarrollado por enfermeras y estudiantes de
enfermería. Los resultados mostraron que la prevalencia de los participantes sedentarios fue de 44,9% y
con patrón de dieta inadecuada de 73,5%. Hubo una asociación estadísticamente significativa entre el
género y la inactividad física. Se concluye que los niños y adolescentes estudiantes eran sedentarios y el
patrón de dieta inadecuada. El conocimiento de este perfil es importante para los profesionales de la
salud, sobre todo enfermeras, para rastrear las intervenciones para promover la salud de la escuela.
Palabras clave: Enfermería; Estilo de vida sedentario; El comportamiento de alimentación.
INTRODUÇÃO
O sedentarismo e a obesidade são duas das cinco principais causas de
mortalidade na sociedade atual. A mudança do perfil sociodemográfico acarretou uma
modificação do padrão de crescimento, envelhecimento e de adoecimento da população.
Com isso, a desnutrição, principal preocupação nutricional do passado, deixou de sê-la e
a obesidade e os hábitos alimentares globalizados se tornaram mais evidentes (BRASIL,
2014).
O hábito alimentar é estabelecido nos primeiros anos de vida e repercute nas
práticas alimentares, no estado de saúde e nutrição ao longo da vida (SILVA et al.,
2013). O consumo de dieta inadequada pode influir desfavoravelmente no crescimento
somático e maturação, podendo levar ao risco imediato ou, na idade adulta, de doenças
crônicas como a hipertensão, doença arterial coronariana, dislipidemias, obesidade,
diabetes e osteoporose. Uma alimentação saudável compreende o consumo de alimentos
variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares
próprios, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento corporal (BORTOLINI;
GUBERT; SANTOS, 2012).
Não obstante a todas as implicações descritas, a obesidade é considerada o
agravo de maior crescimento em todo o mundo. No Brasil, entre 1974 e 2009, o excesso
ponderal entre os adultos quase triplicou resultando em 49% de indivíduos com
sobrepeso e 14,6% com obesidade. A prevalência em crianças (47,8%) e adolescentes
(21,5%) é fato alarmante, os quais apresentaram incrementos percentuais de três e
quatro vezes ao longo do mesmo intervalo de tempo (LEAL et al., 2012).
Aliado a isso, o constante progresso tecnológico e o aumento da insegurança dos
espaços livres urbanos das últimas décadas acarretaram em um estilo de vida mais
sedentário, predominando atividades como assistir televisão, jogar vídeos-game e
permanecer por horas em frente ao computador (GRACIOSA et al., 2013).
O sedentarismo pode ser conceituado como ausência ou grande redução de
atividade física. Sua prevalência é muito elevada, tanto em países desenvolvidos quanto
naqueles de baixa renda, tendo como consequência um declínio na aptidão física,
medida pela resistência cardiorrespiratória. O baixo nível de condicionamento físico e a
inatividade física têm sido considerados fatores de risco para mortalidade prematura, tão
importante quanto fumo, hipertensão arterial e dislipidemia. Além disso, com o desuso
dos sistemas funcionais, o aparelho locomotor e os demais órgãos têm suas funções
essenciais interrompidas ou comprometidas, seja por fatores endógenos ou exógenos.
Os sistemas requeridos durante as diferentes formas de atividade física entram em um
processo de regressão funcional, culminando no comprometimento de diversos órgãos
(ORTI; CARRARA, 2012; FERREIRA; CASTIEL; CARDOSO, 2012).
Modificações nos hábitos alimentares concomitantemente ao estilo de vida
sedentário, usualmente presentes na rotina diária, assumem importante papel na
determinação da obesidade. Vale destacar que o nível social e econômico pode interferir
de forma direta ou inversa no estado nutricional, uma vez que, nos países em
desenvolvimento, como o Brasil, famílias de melhor poder aquisitivo têm mais chances
de apresentar sobrepeso, quando comparadas às menos abastadas (LEAL, 2012).
O crescimento dos índices de sobrepeso e obesidade infantil é um problema de
saúde pública, visto que suas consequências afetam a qualidade de vida destes
indivíduos de forma global (GRACIOSA et al., 2013). Nesse contexto, destaca-se a
relevância da educação em saúde, sendo o enfermeiro importante ator deste processo,
sobretudo na atenção básica. O profissional de enfermagem tem o papel de contribuir
para o desenvolvimento de políticas locais que assegurem e fortaleçam ambientes
escolares saudáveis e que considerem a oferta de alimentação saudável e adequada além
de estimular atividades físicas e esportivas.
Portanto, objetivou-se nesse estudo identificar o sedentarismo e o padrão
alimentar em crianças e adolescentes escolares e associá-los aos aspectos
sociodemográficos e clínicos.
MÉTODO
Estudo do tipo transversal, realizado com crianças e adolescentes matriculados
em escolas públicas estaduais de uma cidade do Nordeste do Brasil. O cálculo amostral
foi construído a partir da fórmula para população infinita, onde foram considerados
como parâmetros: nível de confiança do estudo de 95% (Zα = 1,96); erro amostral de
5%; e quanto à prevalência do evento, foi considerado o valor conservador de 50%,
totalizando uma amostra de 373 crianças e adolescentes com faixa etária entre 7 e 17
anos.
A amostragem se deu de forma aleatória, através de sorteio, em que oito escolas
estaduais foram selecionadas. Para realização dessa etapa foram separadas quatro
caixas, as quais corresponderiam às quatro zonas do município (norte, sul, leste e oeste)
e depositado em cada uma o nome e o endereço de todas as escolas públicas estaduais
da capital. Por fim, de cada caixa, foram sorteadas duas escolas para cada uma das
quatro zonas da cidade.
Os dados foram coletados entre agosto de 2013 e maio de 2014, através de um
formulário estruturado por dados sociodemográficos; histórico familiar; medidas
antropométricas; padrão alimentar; hábitos de estilo de vida e valores da pressão arterial
e frequência cardíaca. Os dados eram coletados por estudantes de enfermagem e
enfermeiros. Os coletadores foram previamente treinados através de um curso de 4
horas sobre fatores de risco cardiovasculares e exame físico em crianças e adolescentes,
coordenado por três enfermeiros.
A avaliação das crianças e adolescentes, quanto ao IMC por idade, foi realizada
com base nos percentis de IMC. (Organização Mundial de Saúde - OMS, 2012) Para
tanto, os indivíduos da pesquisa foram classificados da seguinte maneira: Eutróficos,
aqueles cujo percentil variava de ≥ 3 e < 85; baixo peso para aqueles com percentil < 3;
sobrepeso para aqueles com percentil ≥ 85 e < 97; e obesos para aqueles com percentil ≥
97 (World Health Organization - WHO, 2015).
A avaliação do padrão alimentar se deu por meio da presença ou ausência de
uma dieta adequada. O estudo identifica como alimentação adequada a ingestão de
cinco a seis refeições diárias com distribuição variada de alimentos, com presença de
frutas, verduras e leguminosas. E como alimentação inadequada, alguns aspectos foram
considerados, como: um quantitativo de quatro ou menos refeições, ingestão de excesso
de refrigerantes, sucos artificiais e bebidas à base de soja, alimentos ricos em gordura,
sal e açúcar, tais como comidas rápidas, salgadinhos, bolachas, produtos panificados
que contêm gorduras trans e saturadas, enlatados, embutidos e condimentos
industrializados (Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP, 2012).
No que diz respeito à realização de atividade física, considerou-se como presente
ou ausente, a atividade realizada através de qualquer forma de movimentação que
envolva o corpo e seja capaz de levar ao gasto energético e metabólico. Diante disso,
considerou-se como atividade física as ações esportivas ou que envolvam exercícios
físicos por no mínimo três vezes na semana. Já com relação aos hábitos de lazer ativo,
foram considerados a realização de exercícios que levem ao gasto metabólico e
energético (SBP, 2012). Para tanto, o que não se enquadrava em atividade física e lazer
ativo dizia respeito à qualificação de sedentarismo.
Considerou-se, segundo o Decreto 6135 de 2007, uma família de baixa renda
quando a renda familiar per capita é de até meio salário mínimo ou a renda familiar
mensal é de até três salários mínimos.
Após a obtenção dos dados, estes foram compilados no programa Excel e a
análise foi realizada através do programa estatístico IBM SPSS Statistic versão 19.0 for
Windows, onde foram geradas as estatísticas descritivas. Foi considerado o valor p para
o teste Qui-quadrado para verificar possíveis associações estatísticas entre as variáveis:
sexo; idade; IMC infantil, atividade física e lazer ativo. O nível de significância adotado
foi de 5% (p <0,05).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição
responsável
pela
pesquisa,
com
protocolo
número
347.902
e
CAAE:
18703213.7.0000.5537. Quanto à permissão para participação das crianças e
adolescentes nesse estudo, os pais ou responsáveis dos mesmos assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordando com os ditames da resolução
que disciplina sobre pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 2013).
RESULTADOS
As crianças e adolescentes participantes do estudo representam 374 sujeitos,
com mediana de idade de 13 anos, variando de 7 a 17 anos de idade. Em relação ao
gênero, 61,2% eram do sexo feminino, 38,8% do sexo masculino e, quanto à renda
familiar, 47,3% foram considerados de baixa renda. Salienta-se que 37,4%
desconheciam a renda familiar.
Quanto ao índice de massa corporal, usado como parâmetro para avaliação do
peso dos escolares, levando em consideração além de peso e altura, a idade e o sexo,
70,6% da amostra foi considerada como eutrófica; 15,8% apresentava-se com
sobrepeso; 10,4% apresentava-se obesa e, finalmente, 3,2% foi considerada com baixo
peso.
Relativo ao padrão alimentar, 73,5% da amostra das crianças e adolescentes
apresentaram padrão alimentar inadequado. Do total de meninos, apenas 21% possuíam
um padrão alimentar adequado, dentre as meninas 29% apresentaram esse padrão.
Acerca do padrão de atividade de vida diária dos alunos, 44,9% não praticavam
atividade física e 87,7% não possuíam atividade de lazer ativo. Diante disso, foram
consideradas sedentárias aquelas crianças e adolescentes que não realizavam nenhuma
das atividades mencionadas - lazer ativo e prática de atividade física. Para tanto, 40,1%
dos estudantes foram classificados como sedentários, sendo 31,8% do sexo feminino e
8,3 do sexo masculino.
Quanto aos seus antecedentes familiares, 26,5% dos escolares referiram que seus
pais apresentavam hipertensão arterial; 14%, obesidade; 9,9%, dislipidemias; 8,6%,
diabetes; e 4,5%, doença cardíaca. Relativo ao uso de álcool e tabaco, 33,9% dos
escolares afirmaram fazer uso de álcool e 6,8% referiram ter fumado pelo menos uma
vez na vida.
As associações entre as variáveis Padrão alimentar e dados sociodemográficos e
clínicos estão apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 – Análise da associação entre padrão alimentar de crianças e adolescentes e os
dados sociodemográficos e clínicos. Natal- RN, Brasil, 2014.
Alimentação
Padrão alimentar
1
Dados sociodemográficos e clínicos
P valor1
Sexo
0,058
Alcoolismo
0,653
Tabagismo
0,305
Histórico de obesidade
0,182
P valor para o Teste de Qui-quadrado, p<0,05
O padrão alimentar e as variáveis: sexo, alcoolismo, tabagismo e história
familiar de obesidade foram cruzados a fim de verificar a associação estatística entre os
mesmos, entretanto, conforme pode ser visualizado na tabela 1, tal associação não foi
significativa, P valor maior que 0,05.
Porém, é válido salientar alguns aspectos sobre os dados acima: das 126 crianças
e adolescentes alcoolistas, 91 apresentaram padrão alimentar inadequado; das 23
tabagistas, 19 apresentaram padrão alimentar inadequado; e das 53 que mencionaram
haver histórico de obesidade na família, 35 tinham padrão alimentar inadequado.
As associações entre as variáveis Sedentarismo e dados sociodemográficos e
clínicos estão apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2 – Análise da associação entre sedentarismo de crianças e adolescentes e os
dados sociodemográficos e clínicos. Natal- RN, Brasil, 2014.
Sedentarismo
Dados sociodemográficos e clínicos
P valor1
Sedentarismo
1
Alcoolismo
0,000*
Tabagismo
0,395
Histórico de obesidade
0,602
Histórico de obesidade
0,495
P valor para o Teste de Qui-quadrado, p<0,05. *Associação estatística significativa
para o teste Qui-quadrado.
O sedentarismo e as variáveis: sexo, alcoolismo, tabagismo e história familiar de
obesidade também foram cruzados a fim de verificar a associação estatística entre os
mesmos, e a associação estatística foi significativa entre o sedentarismo e o sexo (p =
0,000*). Evidencia-se o fato de que dos 150 alunos sedentários, 119 eram meninas.
Destaca-se que das 150 crianças e adolescentes sedentárias, 47 eram alcoolistas;
8 eram tabagistas e 19 tinham histórico familiar de obesidade.
As variáveis Padrão alimentar e Sedentarismo também foram cruzadas para
verificar associação estatística, porém não se verificou significância estatística entre as
mesmas. É válido ressaltar nesse aspecto que das 150 crianças e adolescentes que se
apresentaram sedentárias, 113 apresentavam padrão alimentar inadequado e, mesmo não
havendo associação estatística, esse dado é clinicamente relevante.
DISCUSSÃO
Com o processo de industrialização, ocorreu um aumento de pessoas inativas
fisicamente em todas as faixas etárias, apesar do conhecimento a respeito dos benefícios
da atividade física à saúde estar bem difundido. Níveis insuficientes de atividade física
têm sido frequentemente associados a doenças coronarianas, obesidade, diabetes
mellitus, osteoporose e algumas formas de câncer. Embora essas doenças associadas à
inatividade física sejam manifestas na idade adulta, é cada vez mais evidente que o seu
desenvolvimento se inicia ainda durante a infância e adolescência (FERRARI et al.,
2013).
Observou-se na clientela em estudo que a maioria dos estudantes pertence a
famílias de classe social de baixa renda, visto que pertenciam a escolas da rede pública
nas quais estão concentradas a maior parte das pessoas menos favorecidas
financeiramente. Tal dado corrobora com um estudo que analisou o nível
socioeconômico dos alunos da educação básica, em que foi notado que os alunos das
escolas estaduais estão no grupo classificado como baixa renda (ALVES; SOARES;
XAVIER, 2013).
Observando o índice de massa corporal, verificou-se que a maioria dos jovens
deste estudo encontrava-se em eutrofia. Fazendo uma relação entre este índice e o
padrão alimentar de cada estudante, visualizou-se que dentre aqueles que possuíam um
padrão alimentar inadequado (73,5%), 17,1% estavam com sobrepeso e 11,27% foram
considerados obesos.
Em estudo semelhante, 15,2% dos jovens pesquisados apresentaram excesso de
peso (ALVES; SOARES; XAVIER, 2013). Em outro estudo, 11,2% apresentavam
sobrepeso e apenas 2,0% estavam obesos (ENES; SLATER, 2010). Entretanto deve-se
ter uma avaliação cautelosa com relação a estes dados, sabendo que meninos e meninas
possuem pesos que podem levar a uma conclusão precipitada, já que a massa corporal
elevada pode fazer pensar em um possível excesso de peso, e não, necessariamente, isto
ocorre, vendo que quando ajustados à altura verifica-se um IMC dentro dos padrões
adequados, como fica evidente na classificação da maioria dos participantes deste
estudo como eutróficos (ALVES; SOARES; XAVIER, 2013; ENES; SLATER, 2010).
Apesar da ausência da associação estatística significativa, apresentada como
resultado deste estudo para as associações feitas com o padrão alimentar, acredita-se
que o padrão alimentar inadequado tem conexão de alguma maneira com os dados
coletados. O que se observou neste estudo foi que dentre todos os escolares
pesquisados, apenas 26,5% estavam dentre os que possuíam um hábito alimentar dentro
dos padrões adequados de acordo com a SBP.
As preferências alimentares de cada um são formuladas desde a infância através
de sensações e experimentos que são oferecidos à criança por meio do tato, olfato e
paladar. Tais preferências vão construindo significados de representações físicas,
sociais, psicológicas e culturais que irão moldar o comportamento alimentar de toda
uma vida (SILVA; TEIXEIRA; FERREIRA, 2012).
No período da adolescência, além das transformações fisiológicas, o indivíduo
sofre importantes mudanças psicossociais, o que contribui para a vulnerabilidade
característica desse grupo populacional. Os adolescentes podem ser considerados um
grupo de risco nutricional, devido à inadequação de sua dieta decorrente do aumento das
necessidades energéticas e de nutrientes para atender à demanda do crescimento.
(ENES; SLATER, 2010; BRASIL, 1990)
Com políticas públicas e implementação de programas e ações, o Brasil tem
investido na busca pela segurança alimentar com promoção da alimentação saudável na
infância, com vistas a combater os distúrbios nutricionais comuns nesse grupo. As
atuais diretrizes políticas apontam para a necessidade de garantir a qualidade dos
alimentos disponíveis, promover práticas alimentares saudáveis, prevenir e controlar os
distúrbios nutricionais e estimular ações intersetoriais para um efetivo acesso aos
alimentos (CHUPROSKI et al., 2012).
Na população estudada, evidenciou-se um maior quantitativo de meninas
sedentárias e com padrão alimentar inadequado, além de associação estatisticamente
significativa entre sedentarismo e sexo. O que se observa nos estudos é que o público
masculino está entre aqueles que mais gastam parte de seu tempo na prática de
atividades físicas. Isso corrobora com um estudo realizado em Pernambuco, onde é
relatada a prevalência da pouca realização de exercícios físicos e ao comportamento
sedentário, além do fato de que este estudo mostra que a não participação nas aulas de
educação física é um dos fatores associados ao nível da prática de exercícios físicos e ao
comportamento sedentário (BRITO et al., 2012; GUEDES, 2010).
Quanto ao consumo de álcool e tabaco verificado nos resultados da pesquisa, o
primeiro interfere na nutrição adequada, pois concorre com os nutrientes desde sua
ingestão até sua absorção e utilização. O consumo de álcool na dieta diminui a
densidade e qualidade alimentação. Já o tabagismo é considerado um importante
problema de saúde relacionado ao padrão alimentar inadequado, pois causa alterações
resultantes de um aumento da taxa metabólica concomitante a uma supressão do apetite
(SENGER et al., 2011).
Observa-se que muitos destes jovens possuem um histórico familiar de doenças
crônicas não transmissíveis como a hipertensão, o diabetes, as dislipidemias, as doenças
cardíacas e obesidade. Tais doenças podem estar intimamente associadas ao excesso de
peso e/ou ao estilo de vida sedentário desses familiares, concordando com a ideia de
estudo recente, que mostra que o ambiente familiar influencia nos hábitos alimentares
desenvolvidos pelos jovens (TENORIO et al., 2010).
Em acréscimo a isso, estudos destacam o fato de que apenas a alimentação não é
responsável pela obesidade crescente observada em crianças e adolescentes, o
sedentarismo, reflexo de um estilo de vida cada vez menos ativo, tem lugar importante e
co-responsabilidade na atual situação dessas crianças e adolescentes (BARBIERI;
MELLO, 2012; LOUREIRO et al., 2012) Nesse sentido, sabe-se que quanto mais ativo
é o “estilo de vida” de uma pessoa, menor é a probabilidade desta se tornar um sujeito
obeso. E quanto mais rica é a alimentação de um sujeito em açúcares, lipídeos e
alimentos industrializados, também são maiores as chances deste sujeito tornar-se obeso
(LOUREIRO et al., 2012).
CONCLUSÃO
Considerando os resultados obtidos no estudo, conclui-se que a maioria dos
entrevistados foram classificados com padrão alimentar inadequado e sedentários.
Quanto aos aspectos socioedemográficos e clínicos, apenas as variáveis sedentarismo e
sexo apresentaram associação estatística significativa.
A infância e a adolescência permitem novas oportunidades na educação em
saúde, visto que nessa fase da vida o consumo alimentar implica em várias
consequências na fase adulta. Os resultados da pesquisa corroboram com outros estudos
nos permitindo inferir que a alimentação e atividade física são realizadas de forma
inadequada, comparada àquela atualmente recomendada pelas instituições normativas
de saúde, contribuindo para a obesidade e consequentemente tornando-se adultos com
problemas de saúde.
Dessa forma, torna-se imperativo o desenvolvimento de mais estudos acerca do
tema para a obtenção de um maior conhecimento de realidade da criança e do
adolescente. Sugere-se ainda pesquisa que envolvam o enfermeiro como protagonista
nesta problemática, visto que, como educador, tem papel essencial, podendo atuar junto
a criança e ao adolescente através do diálogo, da valorização de seus conhecimentos,
favorecendo um processo mútuo de aprendizagem. Além disso, ressalta-se a
importância da educação em saúde, da família e da comunidade a fim de torná-los mais
críticos e capazes de fazerem melhores escolhas quanto a sua própria alimentação e à
prática de atividade física.
Algumas dificuldades tiveram influência na realização desse estudo, como a
greve das escolas, bem como a imprevisibilidade do calendário escolar, diminuindo a
disponibilidade dos alunos. Além disso, nota-se a escassez de publicações atuais sobre
este tema, principalmente aliados ao profissional enfermeiro, evidenciando a
necessidade de novas pesquisas.
Conclui-se que a metodologia do estudo teve aplicabilidade satisfatória,
possibilitando o conhecimento detalhado dos hábitos alimentares e do cotidiano de cada
criança e adolescente. A partir disso, espera-se que este estudo sirva de alicerce para a
realização de pesquisas futuras relacionadas ao tema, destacando a importância do
enfermeiro no campo da saúde coletiva.
AGRADECIMENTOS
Destaca-se que o presente artigo é produto de um projeto maior intitulado
“Saúde cardiovascular de crianças e adolescentes na escola: ensinando a viver bem”, o
qual buscou avaliar a saúde cardiovascular de crianças e adolescentes escolares. Tal
projeto recebeu financiamento da PROEX/UFRN nos anos de 2013 e 2014.
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Sedentarismo e padrão alimentar de crianças e adolescentes