Parques Científicos e Tecnológicos: empreendedorismo e inovação
Viviane Sartori1
Adelson de Paula Silva2
Araci Hack Catapan3
Juliano Schimiguel4
Resumo:
Na dimensão socioeconômica do cenário brasileiro, os Parques Científicos e Tecnológicos
(PqTs) vêm se tornando um espaço privilegiado de inovação, requerendo atuações
empreendedoras cada vez mais criativas e efetivas. Os PqTs têm como missão comum o
desenvolvimento econômico e social da região e, especialmente, o do seu entorno, tendo
como matéria fundamental a economia baseada no conhecimento. Neste sentido, este estudo
tem por objetivo investigar a contribuição dos PqTs como entidade promotora e
potencializadora do espírito empreendedor e inovador nas organizações, e o reflexo destas
ações na comunidade de seu entorno.
Palavras-chave: Empreendedorismo. Inovação. Parques Científicos e Tecnológicos. Leitura
de entorno. Espírito empreendedor.
Technology Science Parks: enterprising and innovation.
Abstract:
On the scope of Brazilian socioeconomic, the Science and Technology Park (In Portuguese
PqTs) have been turning into a privileged space of innovation, requiring enterprising acts to
be even more effective and creative. The PqTs have has a common goal the socioeconomic
development of its region and, specially, around it, having as founding matter the economy
based on knowledge. In this sense, this study as the objective of investigating the contribution
of PqTs as an entity that promotes and potentialises the innovation and enterprising spirit on
organizations and the reflex of those actions on the community around them.
Keywords: Enterprising. Innovation. Science and Technology Park. Readings of its
surroundings. Enterprising spirit.
[1] Mestre, Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário – Florianópolis – SC, (48) 9911-5663, [email protected]
[2] Mestre, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – Av. Amazonas, 7675 – Belo Horizonte – MG, (31) 9973-1025,
[email protected]
[3] Doutora, Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário – Florianópolis - SC, (48) 9963-0396, [email protected]
[4] Doutor, Universidade Cruzeiro do Sul, Rua Galvão Bueno, 868 – São Paulo – SP, (11) 3385-3000, [email protected]
1. Introdução
Os Parques Científicos e Tecnológicos (PqTs), habitats de inovação, têm sido foco de
interesses e investimentos dos governos nas últimas três décadas, devido a sua importância
como desenvolvimento no setor socioeconômico e inovação.
Este estudo apresenta resultados de uma revisão sistêmica, com viés de análise
qualitativa, produções científicas da base de dados SCOPUS em relação às ações dos PqTs
como entidade promotora e potencializadora do espírito empreendedor inovador dos membros
da comunidade do seu entorno, confrontando com as propostas de ações dos PqTs em fase de
operação no Brasil, a partir de informações coletadas em seus sites.
Propõe-se identificar ações dos PqTs como habitats para desenvolver o espírito
empreendedor inovador. Os procedimentos técnicos configuram-se como bibliográfico, pois
tem como objetivo “recolher, selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas já
existentes sobre” (MATTAR, 1999).
Como resultado, este estudo propõe uma reflexão a respeito de como vem sendo
tratada a questão do desenvolvimento do espírito empreendedor e inovador pelas organizações
que integram os PqTs e as proposições destas endereçadas ao seu entorno.
1. Parques Científicos e Tecnológicos – habitats de inovação
Os PqTs destacam-se na inovação devido à missão inerente de promover a
inteligência, a infraestrutura e os serviços para o crescimento e desenvolvimento de
organizações intensivas em tecnologia. São entidades que consolidam esses tipos de
empreendimentos inovadores, que contribuem para a transformação econômica, social e
cultural através da inovação, empreendedorismo e transferência de conhecimento e tecnologia
(ANPROTEC, 2014).
São experiências consideradas novas, que vêm se desenvolvendo nas últimas três
décadas (ZOUAIN, 2003; MCTI, 2013), com o intuito de promover o desenvolvimento
local/regional e estimular a Pesquisa, o Desenvolvimento e a Inovação (PD&I), através do
compartilhamento do conhecimento entre instituições, como universidades, institutos de
pesquisa e organizações (AZEVEDO, FALVO, 2013, p. 1).
Para confrontar a literatura, buscou-se identificar nos ambientes virtuais dos 25 PqTs
brasileiros em operação, a partir da informações coletadas nos itens missão, da visão ou,
ainda, algum discurso que descrevesse as intenções e metas de cada um dos
empreendimentos. Foi possível encontrar informações de 18 PqTs, dos quais 100% destes
estão focados em ideias inovadoras, ao espírito empreendedor, em empreender a partir do
conhecimento desenvolvido nas pesquisas, com a colaboração de organizações, academia e
governo.
Nos textos analisados, ressalta-se a importância em promover o empreendedorismo
com foco na inovação como mola propulsora na geração de conhecimento, trabalho, renda e
melhoria, na qualidade de vida da população. Mostra-se que é preciso que haja a indução da
sinergia entre organizações, governo, academia, visando o estímulo à criação, à inovação, à
geração de novas organizações, para poder criar valor, gerar lucros, crescer constantemente,
gerando competitividade e sustentabilidade, tanto das organizações, quanto do seu entorno.
Os PqTs pesquisados defendem também a importância de criar um ambiente de
cooperação entre as organizações empreendedoras, a comunidade, o governos e as instituições
de pesquisa e desenvolvimento, podendo, assim, fertilizar ideias inovadoras e proporcionar o
desenvolvimento e a disseminação do conhecimento, ampliar a oferta de novas tecnologias e
alavancar o entorno ou a região no qual se localiza.
2. Empreendedorismo e inovação
Para a Comisión de las Comunidades Europeas (2003), o empreendedorismo demanda
atitudes mentais e processos de criar e desenvolver atividades econômicas juntamente com a
elevação de riscos, com criatividade e gerando inovação.
Para empreender é preciso ser capaz de traçar metas, atualizar conhecimentos, ser
inteligente do ponto de vista emocional, conhecer teorias de administração, qualidade e
gestão. Precisa ser capaz de detectar oportunidades e criar um negócio, de capitalizar e de
assumir riscos calculados (DORNELAS, 2005, p.29; IRELAND, HITT, SIRMON, 2003;
STUART, SORENSON, 2003).
O ambiente de um PqT propicia conexão, envolvimento entre organizações, academia
e pessoas, com objetivos em comum, com infraestrutura e foco na inovação e
desenvolvimento. O empreendedor tem a sua disposição recursos que um sistema de inovação
pode propiciar como ambiente fértil para a criação ou melhoria de produtos por ter acesso a
laboratórios avançados, pesquisadores ligados a universidades, apoio institucional com
financiamento, assessoria, consultoria e apoio técnico (GARCIA, 2009).
De acordo com a OCDE (2005), o termo inovação pode ter diferentes significados em
diferentes contextos e a escolha vai depender dos objetivos particulares da análise ou
mensuração que se pretende realizar.
Os conceitos de inovação têm evoluído ao longo do tempo em relação ao
entendimento do que seja inovar e dos atores que fazem parte desta engrenagem. Um dos
atores de relevância inquestionável são os PqTs, que se constituem como importante e valioso
habitat de inovação.
3. Parques Científicos e Tecnológicos: habitat do empreendedorismo inovador
Os PqTs tornaram-se empreendimentos de grande importância na esfera produtiva
mundial. Esses habitats, de base científico-tecnológica, congregam organizações com
produção em pesquisa tecnológica, desenvolvida nos centros de P&D, campus universitários,
incubadoras e/ou condomínios empresariais, tendo por objetivo o desenvolvimento e a
transformação econômica, social e cultural do País (FIATES, PIRES, 2002, p. 80;
ANPROTEC, 2014; FIGLIOLI, PORTO, 2012, p. 290; ZOUAIN, 2003).
Através do compartilhamento do conhecimento entre as organizações, os PqTs contam
com elementos importantes para fomentar espírito empreendedor inovador e, assim, de
promover o desenvolvimento local/regional e estimular PD&I (LENZI, 2013; ZOUAIN,
2003; MCTI, 2013; AZEVEDO, FALVO, 2013, p. 1).
O PqT facilita o fluxo desses novos conhecimentos e de novas ideias que pode ser
adaptado em diversos contextos (PAZOS, BABIO, 2012). Dessa forma, novos conhecimentos
e novas ideias surgem, formando um ciclo de desenvolvimento sustentável, elevando o
potencial da aprendizagem, a geração de ideias inovadoras e a solução de problemas,
motivando a competitividade e sustentabilidade, tanto das organizações, quanto do seu
entorno (LIU et al., 2011; PIETROVSKI et al., 2010).
Estimular o espirito empreendedor torna as organizações competitivas e influencia no
desempenho da inovação, que reflete diretamente no desenvolvimento do entorno onde se
localiza. Dessa forma, a implantação de um PqT objetiva estimular a região nos setores
sociais, econômicos e culturais, através do desenvolvimento das tecnologias e do apoio
estrutural e da sinergia entre os atores envolvidos (LIU et al., 2011).
É preciso avançar diante desses elementos já identificados, em grande parte da
literatura sobre empreendedorismo e inovação, com ações efetivas, para estimular tais
qualidades ao fomentar novos empreendimentos, a fim de atender à demanda social e
econômica e cultural que hoje se apresenta (TESTA, LUCIANO, 2011).
4.
Conclusão
Os PqTs tem por objetivo maior fomentar ideias inovadoras e proporcionar o
desenvolvimento e a disseminação do conhecimento, ampliar a oferta de novas tecnologias e
alavancar o entorno ou a região no qual se localiza.
Para que possa concretizar esses objetivos, necessita-se de capital humano disposto a
empreender de forma inovadora com pessoas e processo, transformando ideias em
oportunidades. Demanda a participação de pessoas com atitudes mentais positivas diante dos
riscos e dificuldades, que saibam aproveitar as oportunidades, sejam motivados e motivadores
e que possam criar e desenvolver atividades.
Ao congregar esses três importantes temas, empreendedorismo, inovação e PqT tornase perceptível a sinergia que envolve esta integração. Um ciclo onde os PqTs, mecanismos de
vital importância na promoção e suporte à inovação, tem o papel fundamental de aproximação
física entre organizações e empreendedores que buscam inovar produtos e processo com
vistas ao desenvolvimento social, econômico e cultural do seu entorno, de uma região ou do
país.
A partir das informações coletadas e analisadas, foi permitido observar que há uma
interligação profunda nos temas propostos, visto que estes possuem uma completa sinergia e
ratificam a importância dos PqTs como empreendimentos propulsores de organizações
inovadoras, e desenvolvimento do espírito inovador entre os elementos que o compõe. Porém,
não se percebeu, nestes relatos, impactos relevantes no entrono direto dos Parques, como se
esperava. Conclui-se este artigo, remetendo esta questão para estudos mais aprofundados, pois
a leitura inicial indica que interferir no entorno é um dos objetivos dos PqTs.
Referências
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