Gestão de Passivos Ambientais na Mineração Plano de Ação para Sustentabilidade do Setor de Rochas Ornamentais Ardósia Papagaios Projeto Associado 4174 Relatório Final Abril de 2010 feam FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Fundação Estadual do Meio Ambiente Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico às Atividades Minerárias Gestão de Passivos Ambientais na Mineração Plano de Ação para Sustentabilidade do Setor de Rochas Ornamentais Ardósia Papagaios Projeto Associado 4174 Relatório Final - Abril de 2010 Belo Horizonte 2010 Publicado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente/Minas Gerais Secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável José Carlos Carvalho Presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente José Cláudio Junqueira Ribeiro Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento Paulo Eduardo Fernandes de Almeida Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico às Atividades Minerárias Caio Marcio de Benicio Rocha Ficha Catalográfica elaborada pelo Núcleo de Documentação Ambiental do Sisema Fundação Estadual do Meio Ambiente. F981g P Gestão de passivos ambientais na mineração: plano de ação para a sustentabilidade do setor de rochas ornamentais – ardósia Papagaios / Fundação Estadual do Meio Ambiente. --- Belo Horizonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente, 2010. 83p. : il. Projeto Associado 4174 1. Mineração. 2. Rochas ornamentais. 3. Passivo ambiental. I. Título CDU: 622:504.05 Cidade Administrativa do Estado de Minas Gerais - Prédio Minas - 1º Andar Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n - Bairro Serra Verde - Belo Horizonte - Minas Gerais CEP 31630-900 – Tel.: (31) 39151442 Projeto Associado: Plano de Ação para Sustentabilidade do Setor de Rochas Ornamentais – Ardósia Papagaios Dados do Projeto Código: 4174 – Gestão de Passivos Ambientais na Mineração Coordenador e Ordenador de Despesas: Paulo Eduardo Fernandes de Almeida (Diretor DPED) Gerente do Projeto: Caio Márcio de Benício Rocha (Gerente GEDAM) Equipe: Andréia Cristina Barroso Almeida – Analista Ambiental Daniele Tonidandel Pereira Ribeiro – Analista Ambiental Eloi Azalini Máximo – Analista Ambiental João Antônio Lisardo Dias – Analista Ambiental Rosa Carolina Amaral – Analista Ambiental Laís Ferreira Jales – Estagiária Pedro Henrique Souza de Miranda – Estagiário Cid Chiodi Filho – Geólogo (consultoria externa) Denize Kistemann Chiodi – Geóloga (consultoria externa) Início do projeto: 01/03/2008 Término: 30/03/2010 Agradecimentos A equipe técnica do Projeto Associado Ardósia expressa seus agradecimentos à Prefeitura Municipal de Papagaios, na pessoa do Prefeito Mario Reis, à AMAR – Associação dos Mineradores e Beneficiadores de Ardósia de Minas Gerais e a CooperArdósia - Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província da Ardósia. “O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.” Albert Einstein LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 - Área de extração minerária, com presença de numerosas pilhas de estéril/rejeito ............................................................................................................................................... 15 FIGURA 2 - Vista parcial da área urbana de Papagaios .................................................................. 16 FIGURA 3 - Pequena serraria localizada na área urbana, sem nenhum controle ambiental .. 17 FIGURA 4 - Uma das principais vias de acesso ao município, com intensa presença de serrarias........................................................................................................................................................ 18 FIGURA 5 - Depósito de rejeito utilizado pelas serrarias (sem regularização ambiental) ........... 18 FIGURA 6 - Bacia de decantação contendo material fino proveniente das serrarias .............. 19 FIGURA 7 - Formação de depósito ao longo da estrada de acesso ............................................. 19 FIGURA 8 - Estandes da FENAR – Feira Nacional da Ardósia ........................................................... 24 FIGURA 9 - Palestra da Diretora de Fiscalização, durante o evento .............................................. 24 FIGURA 10 - Platéia, durante palestras ministradas no evento ........................................................ 25 FIGURA 11 - Lavra localizada no Alto da Boa Vista, área licenciada............................................ 25 FIGURA 12 - Frente de lavra com armazenamento de rejeito e água de chuva estocada para utilização no corte da rocha e taludes da lavra ..................................................................... 26 FIGURA 13 - Depósito clandestino de rejeito, localizado a aproximadamente 5 Km do município de Papagaios, utilizados pelas serrarias há aproximadamente 30 anos ............................... 27 FIGURA 14 - Imagem de satélite da área urbana do município de Papagaios .......................... 27 FIGURA 15 - Localização do município de Papagaios ..................................................................... 29 FIGURA 16 - Acesso ao município de Papagaios ............................................................................... 30 FIGURA 17 - Estação de Tratamento de Esgoto - ETE ........................................................................ 34 FIGURA 18 - Lagoa de estabilização da ETE ........................................................................................ 35 FIGURA 19 - Usina de Tratamento de lixo urbano ............................................................................... 35 FIGURA 20 - Papa-pilhas, localizado no saguão principal da Prefeitura Municipal.................... 36 FIGURA 21 - Localização da área proposta para a implantação do Centro Industrial ............ 42 FIGURA 22 - Mapa Geológico Esquemático da Província de Ardósia de Minas Gerais ........... 45 FIGURA 23 - Região do Córrego das Pedras, maior concentração de mineração de ardósia na região .................................................................................................................................................... 47 FIGURA 24 - Região de Olhos d’Água .................................................................................................. 48 FIGURA 25 - Região de Alto da Boa Vista ............................................................................................ 48 FIGURA 26 - Detalhe do capeamento da lavra ................................................................................. 49 FIGURA 27 - Detalhe do “carrinho paraopeba”, composto de discos diamantados sobre rodas, utilizados no corte vertical da rocha ........................................................................................ 50 FIGURA 28 - Detalhe do disco diamantado utilizado no carrinho paraopeba ........................... 51 FIGURA 29 - Operários utilizando remos para desplacamento do material ................................. 51 FIGURA 30 - Empilhadeira sendo utilizada na remoção de lajões.................................................. 52 FIGURA 31 - Caminhão carregado com lajões .................................................................................. 52 FIGURA 32 - No piso da lavra, trabalhos de limpeza com o carregamento do rejeito em caminhões, para transporte até as pilhas ........................................................................................... 53 FIGURA 33 - Seqüenciamento das operações de lavra de ardósia .............................................. 53 FIGURA 34 - Detalhe do trabalho manual de delaminação de lajotas ........................................ 54 FIGURA 35 - Mesa com serras de disco diamantado para corte, esquadrejamento em dimensões pré-estabelecidas pelo mercado ..................................................................................... 55 FIGURA 36 - Furadeiras de bancada utilizadas na preparação de peças para mobiliários, bancadas ou outros artefatos................................................................................................................ 55 FIGURA 37 - Carpintaria, para confecção de pallet ......................................................................... 56 FIGURA 38 - Pallets prontos para comercialização ............................................................................ 57 FIGURA 39 - Seqüenciamento das operações de beneficiamento de ardósia .......................... 57 FIGURA 40 - Fluxograma das atividades do setor como um todo, inclusive a relação entre pequenas e grandes empresas ............................................................................................................. 58 FIGURA 41 - Levantamento das empresas beneficiadoras de ardósia em Papagaios ............. 64 FIGURA 42 - Objetos confeccionados a partir do beneficiamento da ardósia .......................... 67 FIGURA 43 - Exemplo de artesanato produzido com ardósia ......................................................... 68 FIGURA 44 - Localização proposta para o Centro Industrial, delimitada em vermelho, e em amarelo área destinada ao britador da CooperArdósia ................................................................ 68 FIGURA 45 - Bacia de contenção da empresa Ardósia Veredas ................................................... 69 FIGURA 46 - Placa de sinalização proibindo o tráfego de caminhões na área urbana do município .................................................................................................................................................... 71 GRÁFICO 1 - Evolução da CFEM ........................................................................................................... 30 GRÁFICO 2 - Evolução populacional do município de Papagaios ............................................... 33 GRÁFICO 3 - Perfil da Produção Brasileira por Tipo de Rocha ........................................................ 61 GRÁFICO 4 - Produção brasileira de ardósia no período de 1994 a 1998 .................................... 65 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Situação dos Empreendimentos Minerários situados em Papagaios regularizados ambientalmente ....................................................................................................................................... 39 Tabela 2 - Situação das empresas de beneficiamento de ardósia localizadas no município de Papagaios ............................................................................................................................................ 40 Tabela 3 - Composição Mineralógica Modal das Ardósias ............................................................. 46 Tabela 4 - Exportação de ardósia entre os anos de 2001 a 2008 ................................................... 66 LISTA DE SIGLAS AAF Autorização Ambiental de Funcionamento AMAR Associação dos Mineradores e Beneficiadores de Ardósia de Minas Gerais APA Área de Proteção Ambiental APEF Autorização para Exploração Florestal APL Arranjo Produtivo Local APP Áreas de Proteção Permanente CMRR Centro Mineiro de Referência em Resíduos CODEMA Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente CooperArdósia Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província da Ardósia COPAM Conselho Estadual de Política Ambiental DESA Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral DPED Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento FEAM Fundação Estadual do Meio Ambiente GCFAI Grupo Coordenador da Fiscalização Ambiental Integrada GEDAM Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico às Atividades Minerárias IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IEF Instituto Estadual de Florestas IEL-MG Instituto Euvaldo Lodi – Núcleo de Minas Gerais IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas LO Licença de Operação LOC Licença de Operação Corretiva REVLO Revalidação de Licença de Operação SEMAD Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável SISEMA Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos SUPRAM Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável TAC Termo de Ajustamento de Conduta UFMG Universidade Federal de Minas Gerais SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...................................................................................................................................13 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15 1.1 Objetivos e Justificativas ....................................................................................................... 20 2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .......................................................................................................... 23 3. DADOS GERAIS SOBRE O MUNICÍPIO DE PAPAGAIOS ............................................................... 29 4. HISTÓRICO DA ATIVIDADE PRODUTIVA DE ARDÓSIA NO MUNICÍPIO DE PAPAGAIOS ........ 37 5. A PRESENÇA DA FEAM EM PAPAGAIOS ....................................................................................... 39 6. O PROCESSO PRODUTIVO DA ARDÓSIA ....................................................................................... 43 6.1 Introdução ............................................................................................................................... 43 6.2 A Província de Ardósia de Minas Gerais ........................................................................... 43 6.2.1 Características Gerais ....................................................................................................... 43 6.2.2 Aspectos Geológicos ........................................................................................................ 45 6.3 Lavra ......................................................................................................................................... 47 6.4 Beneficiamento ...................................................................................................................... 54 6.5 Responsabilidade dos empreendedores na disposição adequada dos rejeitos e resíduos – Legislação Estadual e Federal ................................................................................. 58 7. PRODUÇÃO DE LAVRA E GERAÇÃO DE REJEITOS DE ARDÓSIA NO MUNICÍPIO DE PAPAGAIOS ................................................................................................................................................ 61 7.1 Estimativa da Produção de Ardósia Comercializável (Ano Base 2007 e 2008) ........ 61 7.1.1 Geração de Rejeitos de Lavra no Brasil.......................................................................... 62 7.1.2 Geração de Resíduos do Beneficiamento no Brasil ..................................................... 62 7.1.3 Geração de Rejeitos e Resíduos em Papagaios ........................................................... 62 7.1.4 Geração de Pó de Ardósia (Finos da Serrada) ............................................................. 63 7.2 Levantamentos sobre Rejeito do Beneficiamento em Papagaios .............................. 63 7.2.1 Estimativa da geração de rejeitos de ardósia acumulados........................................ 64 8. CONSIDERAÇÕES SOBRE O APROVEITAMENTO DE REJEITOS DA LAVRA E DO BENEFICIAMENTO DA ARDÓSIA .............................................................................................................. 67 9. CONCLUSÕES ..................................................................................................................................... 71 10. AÇÕES COMPLEMENTARES – RECOMENDAÇÕES ...................................................................... 73 REFERÊNCIAS........................................................................................................................................75 ANEXOS.................................................................................................................................................79 feam 13 APRESENTAÇÃO O Projeto Associado 4174 – Plano de Ação para Sustentabilidade no Setor de Rochas Ornamentais, teve como foco as atividades extrativas de quartzito no município de São Thomé das Letras e de ardósia no município de Papagaios, situados respectivamente nas regiões Sul e Central do Estado de Minas Gerais. O Projeto foi realizado pela FEAM – Fundação Estadual do Meio Ambiente, através da sua Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico às Atividades Minerárias, tendo como coordenadora e ordenadora de despesas a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento – DPED. A equipe técnica responsável pela abordagem das ardósias de Papagaios foi integrada pela bióloga Rosa Carolina Amaral, pela geóloga Daniele Tonidandel Pereira Ribeiro, pelo engº de minas João Antônio Lisardo Dias e pelos engº civis Eloi Azalini Máximo e Andréia Cristina Barroso Almeida, analistas ambientais da FEAM, lotados na GEDAM – Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico à Atividade Mineraria e pelos geól. Cid Chiodi Filho e Denize Kistemann Chiodi, consultores externos da Kistemann & Chiodi Assessoria e Projetos, que passaram a integrar a equipe em fevereiro de 2009. Este relatório apresenta as atividades desenvolvidas, resultados obtidos, plano de metas e diretrizes estabelecidas especificamente para o Projeto Associado Ardósia Papagaios, realizado no período de 01/03/2008 a 30/01/2010. feam 15 1. INTRODUÇÃO A província de Ardósia de Minas Gerais compreende total ou parcialmente os municípios de Papagaios, Pompéu, Felixlândia, Caetanópolis, Pitangui, Martinho Campos, Paraopeba, Leandro Ferreira e Curvelo. Esta região tem uma área de aproximadamente 7.000 km², constituindo a maior reserva geológica mundial, atualmente conhecida e explorada. O município de Papagaios destaca-se por ser o principal foco de extração e beneficiamento de ardósias, com cerca de 80% da produção total em Minas Gerais, tornando-se responsável por metade da produção nacional. Desde os anos 80, as atividades de extração e beneficiamento de ardósia ocorriam de forma desordenada em Papagaios, tornando-se a principal fonte de renda, mas também o principal problema ambiental do município. Entretanto, a partir do final da década de 90, face à presença das equipes da FEAM na região, observou-se um grande avanço no controle da lavra e nas serrarias associadas às grandes mineradoras, persistindo, ainda, a desorganização e significativo impacto ambiental causado pelas pequenas serrarias localizadas no centro urbano. FIGURA 1 - Área de extração minerária, com presença de numerosas pilhas de estéril/rejeito Fonte: APL, 2006. feam 16 A maior concentração das empresas de mineração está inserida na zona do baixo curso do Rio Paraopeba, que nasce no município de Cristiano Otoni, situado a mais de 200 km deste e deságua na represa de Três Marias. Este rio corta diversas áreas de mineração no Quadrilátero Ferrífero, além de municípios com alta taxa de ocupação urbana, sobretudo na região metropolitana de Belo Horizonte. As áreas de lavra estão inseridas em regiões ocupadas pela agropecuária e cultura de subsistência, ocupando grandes extensões necessárias para abertura das cavas e implantação de grandes depósitos de rejeitos, além das áreas destinadas ao beneficiamento, no caso das grandes empresas (FIG. 1). FIGURA 2 - Vista parcial da área urbana de Papagaios Fonte: FEAM, 2009. Nota: Pode-se observar a coexistência entre residências e pequenas serrarias. Em relação às pequenas serrarias, as mesmas já se encontram integradas à mancha urbana, não possuindo sequer barreiras físicas que as separem da área residencial. Os principais impactos estão relacionados à geração de ruídos, efluentes líquidos e rejeitos, bem como a emissão de particulados em suspensão (FIG. 2, 3 e 4). Segundo levantamento realizado pela prefeitura municipal, entre os meses de abril e junho de 2007, foram identificadas 135 indústrias de beneficiamento de ardósia, divididas entre pequenas serrarias e empresas de médio porte voltadas à exportação da rocha feam 17 ornamental. Estima-se que são descartados cerca de 60% do material extraído, entre aparas e peças fraturadas. O rejeito gerado pelas serrarias vem sendo depositado há mais de 30 anos em depósito que margeia uma estrada vicinal, distante cerca de 5km da sede do município. O serviço de transporte é realizado por “caçambeiros” terceirizados (FIG. 5). Além desta área já impactada, pode-se observar no entorno do município, o surgimento de pequenos depósitos que, se não forem contidos, também irão compor a paisagem local (FIG. 6 e 7). FIGURA 3 - Pequena serraria localizada na área urbana, sem nenhum controle ambiental Fonte: FEAM, 2008. feam 18 FIGURA 4 - Uma das principais vias de acesso ao município, com intensa presença de serrarias Fonte: FEAM, 2008. FIGURA 5 - Depósito de rejeito utilizado pelas serrarias (sem regularização ambiental) Fonte: FEAM, 2008. feam 19 FIGURA 6 - Bacia de decantação contendo material fino proveniente das serrarias Fonte: FEAM, 2009. FIGURA 7 - Formação de depósito ao longo da estrada de acesso Fonte: FEAM, 2009. feam 1.1 20 Objetivos e Justificativas No âmbito dos projetos ligados ao enfoque Gestão de Passivos Ambientais na Mineração, ora realizados pela FEAM, o Plano de Ação para sustentabilidade do setor de Ardósias em Papagaios teve como principal objetivo propor medidas de controle ambiental e ordenamento do setor produtivo da ardósia, visando assegurar o desenvolvimento sustentável. É importante destacar a importância deste segmento para o Estado de Minas Gerais e em especial para o município de Papagaios, principalmente na geração de emprego e renda, considerando que a mão de obra local não é suficiente para atender a demanda dos setores minerário e industrial. O Projeto procurou estabelecer uma interlocução direta entre os órgãos do poder público estadual e o local, o setor produtivo e suas entidades representativas. As bases metodológicas do trabalho envolveram: Levantamento detalhado da situação dos empreendimentos extratores e beneficiadores de ardósia quanto à regularização ambiental, visando identificar e avaliar o desempenho dos mesmos; Levantamento da situação das pequenas serrarias, localizadas na área urbana do município; Identificação de novos depósitos clandestinos, com o uso de imagem de satélite. Justifica-se ainda à realização do presente trabalho, a importância sócio econômica e ambiental atribuída ao setor, objeto de vários estudos e intervenções realizadas pelo Estado, a saber: O Diagnóstico do Setor de Rochas Ornamentais e de Revestimento no Estado de Minas Gerais, realizado pela Geoexplore Consultoria para a então Cia. Mineradora de Minas Gerais – COMIG, em 1998; O Projeto Identificação, Caracterização e Classificação de Arranjos Produtivos de Base Mineral e de Demanda Mineral Significativa no Brasil, realizado pela FIEMG, feam 21 através do Instituto Metas para o Centro de Gestão de Estudos Estratégicos – CGEE / Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT, concluído em 2002; O Projeto Rochas de Minas: Estudo de Competitividade do Setor de Rochas Ornamentais e de Revestimento do Estado de Minas Gerais, elaborado pelo Instituto Euvaldo Lodi – IEL-MG para o Sindicato Intermunicipal de Mármores e Granitos – SINROCHAS-MG, em 2003; O Projeto Detalhamento de Arranjos Produtivos de Base Mineral; APL Ardósia – Papagaios/MG, realizado pelo Instituto Euvaldo Lodi – IEL-MG para o Ministério de Ciência e Tecnologia, em 2005-06; O Termo de Referência para Elaboração do RCA e PCA da Atividade de Lavra de Rochas Ornamentais e de Revestimento, de Processamento Simples, do Tipo Quartzitos Foliados (Pedra São Tomé e Similares), elaborado pela Kistemann & Chiodi Assessoria e Projetos para a FEAM em 2005; Panorama do Setor de Ardósias do Estado de Minas Gerais. Produzido pela Companhia Mineradora de Minas Gerais – COMIG. Coordenação: João Henrique Grossi Sad. Execução: Cid Hiodi Filho, João Henrique Grossi Sad, Denize Kisteman Chiod. Operação Paraopeba, promovida pela SUPRAM Central Metropolitana, com o objetivo de convocar os empreendimentos à regularização ambiental, 2008. feam 23 2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS As atividades desenvolvidas no Projeto Associado Ardósia iniciaram-se através dos levantamentos efetuados, envolvendo uma ampla pesquisa junto ao SIAM – Sistema de Informações Ambientais da SEMAD e ao DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral, dos processos relativos aos empreendimentos minerários localizados no município. Quanto às indústrias de beneficiamento e as serrarias, localizadas na área urbana, tomou-se como base o levantamento realizado pela Prefeitura nos meses de abril e maio de 2007, parte integrante do relatório da CooperArdósia – Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província de Ardósia (2007). Além destes levantamentos, foram realizadas visitas técnicas aos empreendimentos, para que fossem observados os aspectos ambientais e a influência da atividade na comunidade. Visando promover um diálogo entre os agentes responsáveis pela elaboração do Plano de Ação – Ardósia Papagaios foi estabelecida agenda de reuniões entre o SISEMA, prefeitura municipal e representantes do setor produtivo. Estas reuniões, nas quais participaram representantes da FEAM, mineradores e entidades representativas, responsáveis técnicos e consultores contratados para o projeto, ocorreram na sede da AMAR – Associação dos Mineradores de Ardósia de Minas Gerais e na Prefeitura de Papagaios, culminando na realização do Seminário “Mineração de Ardósia em Papagaios e Região: O Desafio da Sustentabilidade”. O evento aconteceu no dia 27 de julho de 2008, concomitante à VI FENAR – Feira Internacional da Ardósia, contando com o apoio da AMAR, CooperArdósia - Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província da Ardósia e a Prefeitura Municipal de Papagaios, com a participação de aproximadamente 100 pessoas de diversos órgãos, consultores, representantes do poder público municipal e população local (FIG. 8, 9 e 10), tendo como objetivos principais: Informar aos representantes das mineradoras e indústrias locais, as políticas de fiscalização e licenciamento adotadas pelo SISEMA na região; Abordar e discutir temas vinculados a extração de ardósia. feam 24 FIGURA 8 - Estandes da FENAR – Feira Nacional da Ardósia Fonte: FEAM, 2008. FIGURA 9 - Palestra da Diretora de Fiscalização, durante o evento Fonte: FEAM, 2008. Durante o evento, representantes da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), Instituto Estadual de Florestas (IEF), do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), da AMAR, da Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província da Ardósia (CooperArdósia), do Ministério Público Estadual, e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) discutiram a situação da mineração na região, alternativas para aproveitamento de resíduos e financiamento para a micros, pequenas e médias empresas. feam 25 FIGURA 10 - Platéia, durante palestras ministradas no evento Fonte: FEAM, 2008. FIGURA 11 - Lavra localizada no Alto da Boa Vista, área licenciada Fonte: FEAM, 2008. Além das ações já citadas, o Projeto Associado Ardósia também desenvolveu as seguintes atividades: Trabalhos de campo, com documentação fotográfica dos impactos ambientais existentes e suas fontes geradoras em empreendimentos minerários (FIG. 11 e 12), no feam 26 grande depósito clandestino de estéril (FIG. 13), nas indústrias e serrarias (FIG.14), na área de disposição do lixo urbano (controlada e licenciada) e na estação de tratamento de esgotos (licenciada); FIGURA 12 - Frente de lavra com armazenamento de rejeito e água de chuva estocada para utilização no corte da rocha e taludes da lavra Fonte: FEAM, 2008. Análise de fotos aéreas e imagens de satélite disponíveis, para identificação e localização das áreas de direitos minerários e empreendimentos existentes; Troca de informações com dirigentes da AMAR, discutindo-se os gargalos operacionais e soluções em perspectiva para o setor; Reuniões com o Prefeito de Papagaios para avaliar os projetos municipais de alcance ambiental; Reuniões com dirigentes do CMRR – Centro Mineiro de Referência em Resíduos para proposição de seminário sobre o aproveitamento de rejeitos mínero-industriais no Estado de Minas Gerais. feam 27 FIGURA 13 - Depósito clandestino de rejeito, localizado a aproximadamente 5 Km do município de Papagaios, utilizados pelas serrarias há aproximadamente 30 anos Fonte: FEAM, 2008. FIGURA 14 - Imagem de satélite da área urbana do município de Papagaios Fonte: FEAM, 2009. Nota: Delimitado em vermelho estão as indústrias e pequenas serrarias, que ocupam aproximadamente 15 % da área total da malha urbana. feam 29 3. DADOS GERAIS SOBRE O MUNICÍPIO DE PAPAGAIOS O município de Papagaios localiza-se na Região Centro Oeste de Minas Gerais e limita-se com os municípios de Pompeu, Pitangui, Maravilhas, Inhaúma, Paraopeba e Curvelo (FIG. 15), distante cerca de 151 km de Belo Horizonte, 580 km do Rio de Janeiro e 685 km de São Paulo. FIGURA 15 - Localização do município de Papagaios Fonte: APL, 2006. O acesso por asfalto pode ser feito pela rodovia BR 040, até o trevo de Sete Lagoas, tomando o sentido de Fortuna de Minas ou pela rodovia BR 262 até Pará de Minas, seguindo o sentido de Maravilhas (FIG. 16). feam 30 Acesso Distância rodoviária (km) Município Distância Belo Horizonte 151 Brasília 745 Rio de Janeiro 580 São Paulo 685 Vitória 690 • Rodovias que dão acesso a Belo Horizonte: BR-060, BR-262, BR-381 e BR-431. • Rodovias que dão acesso ao município: BR-262 e BR-352. Fonte: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais – DER/MG FIGURA 16 - Acesso ao município de Papagaios Fonte: CHID CHIODD, 2005. Segundo dados do IBGE (2009), o município de Papagaios apresenta uma área de 553 km² com 15.384 habitantes e renda per capta do PIB de R$ 8.394, destacando que o setor mineração possui significativa contribuição, pois é a atividade mais desenvolvida. Se compararmos o PIB do município de Papagaios (entre os anos de 2002 e 2006) no setor agropecuário houve uma estabilização no patamar de R$ 14.000,00, enquanto a indústria passou de R$ 26.000,00 para R$ 43.000,00, ou seja, incremento de 65 %. 300 250 244,7 234,0 244,2 216,8 232,4 R$ 1.000 200 150 100 32,0 50 0 2004 2005 2006 GRÁFICO 1 - Evolução da CFEM Fonte: DNPM, 2009. 2007 2008 2009* feam 31 O GRAF. 1 apresenta a evolução da arrecadação da CFEM – Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais no município de Papagaios. Pode-se observar que, a partir de 2004, o valor vem se mantendo num patamar entre R$ 230 e R$ 245 mil, com leve queda em 2007 (R$ 216 mil). No ano de 2009, até o mês abril, a arrecadação foi de R$ 32 mil. Por extrapolação, a arrecadação anual será de R$ 128 mil, compatível com a queda na produção em função da crise mundial e conseqüente queda nas exportações da ardósia. Em relação à localização, as lavras de ardósia no Município de Papagaios estão concentradas a uma altitude média de 720 m, em três regiões conhecidas por Córrego das Pedras, Olhos d’água e Alto da Boa Vista, próximas ao Rio Paraopeba. O relevo da região mostra superfícies tabulares e/ou superfícies de aplainamento, que são, predominantemente, planas ou suavemente onduladas. Na região onde Papagaios está inserido predominam os solos classificados como latossolos vermelhos escuros distróficos, com horizonte “A” moderado e textura argilosa. Secundariamente, aparecem os cambissolos distróficos, de horizonte “A” fraco e textura argilosa. Estes solos tiveram sua origem principalmente devido ao clima zonal, que provocou a laterização de rochas pré-existentes do Paleozóico. Localmente, observa-se um solo textural de rochas do grupo Bambuí, apresentando horizonte “A” com poucos centímetros de espessura, composição silto-argilosa, praticamente destituído de matéria orgânica e horizonte “B” estruturalmente acamado (camadas definidas pelos estratos da rocha alterada “in situ”). De uma maneira geral, os solos mostram-se naturalmente propensos à ocorrência de processos erosivos, agravados principalmente pelo desmatamento, queimadas e pastoreio. Quanto à hidrografia, o município de Papagaios está inserido nas bacias dos rios Pará e Paraopeba que são afluentes diretos do Rio São Francisco. Localmente, a área tem como afluentes locais o Córrego Taquaral ou Capivara e o Ribeirão do Cedro. Esses córregos deságuam na margem direita do Rio Paraopeba. De acordo com Souza (1993, apud Lavrar Mineração, 2007) a região apresenta uma boa disponibilidade hídrica superficial, com “variação intra-anual pouco intensa, com cheias e recessões pouco pronunciadas”. Esta publicação descreve, ainda, que a pluviosidade varia de 1000 a 1500 mm/ano e que o rendimento específico médio mensal varia de 5 a 30 l/s*km², correspondentes às contribuições unitárias mínimas e máximas com 10 anos de recorrência. Dados da estação pluviométrica mais próxima (Santa Cruz, localizada próxima feam 32 ao Rio Paraopeba) indicam deflúvios mensais máximos no mês de fevereiro e mínimos no mês de agosto. Quanto aos estudos hidrogeológicos, predominam na região em questão, aqüíferos do tipo fraturado (em ardósias, calcários e ortognaisses) e cárstico (em calcários), onde a circulação e armazenamento de água estão associados à porosidade secundária, por falhas e fraturas/diáclases. Esses aqüíferos têm vazão limitada e distribuição heterogênea. Informações extraídas do Projeto Alto São Francisco (CETEC, 1984) demonstram que os aqüíferos fraturados apresentam níveis d’água geralmente entre 5 a 20 m; capacidade específica média variando de 0,3 a 1,4 l/s*m para as rochas pelíticas e de 0,047 a 1,3 l/s*m para as rochas carbonáticas; transmissividade de 3,55 x 10 -5 m²/s nos calcários e 2,7 x 10-5 m²/s nos metapelitos; águas bicarbonatadas cálcicas magnesianas nos calcários, com dureza média de 250 mg/l de CaCO3, pH de 6,1 a 8,3 e condutividade elétrica variando de 70 a 1.300 μS/cm; águas bicarbonatadas cálcicas nos metapelitos, com salinidade baixa e pH variando de 5,1 a 8,2. Localmente, os poços tubulares apresentam vazões que variam de 2.000 l/h a 30.000 l/h e captam águas, respectivamente, em ardósias e calcários. Nas ardósias, o nível freático encontra-se em profundidades superiores a 20 m, sendo que nos períodos chuvosos aparecem pequenas percolações d’água nos contatos solo/ardósia decomposta/ardósia sã, responsável pelo surgimento de pequenas nascentes intermitentes. Na recarga das unidades aqüíferas predomina a alimentação através da drenagem superficial, controlada por fraturamento e fluxo vertical descendente, proveniente de níveis freáticos superficiais associados ao manto de intemperismo. As infiltrações diretas são dificultadas pelo fato das fraturas serem descontínuas e estarem preenchidas por argila. As ardósias do Supergrupo Bambuí constituem rochas com permeabilidade secundária pouco desenvolvida, devido ao fato de quando alteradas, dão origem a argilas, que poderão colmatar possíveis fraturas abertas pré-existentes, diminuindo a capacidade de armazenamento de água. Já os calcários também presentes na região podem, por outro lado, desenvolver importante sistema aqüífero, quando existe significativa diferença de cota entre a área de recarga e o nível de base regional. No caso da região de Papagaios, a maior parte do calcário encontra-se encoberto por ardósias, e o nível de base regional, que é o Rio Paraopeba, encontra-se em cotas próximas das altitudes máximas locais. Desta forma, as condições de infiltração e percolação não são feam 33 propícias para solubilizar a rocha carbonática e conseqüentemente não há formação de aqüífero cárstico importante na região. Quanto à vegetação, a região em estudo é caracterizada por fragmentos remanescentes de Cerrado, Campo-Cerrado, Mata de Galeria e por formações resultantes das alterações antrópicas, sendo as pastagens e culturas temporárias. A vegetação predominante é representada por espécies arbóreas de porte variável, geralmente inclinadas, tortuosas e com ramificações irregulares e retorcidas. Quanto às espécies existentes na região, a biodiversidade é alta. É importante destacar que na região, há ocorrência de espécies em extinção como a aroeira e o Gonçalo-alves. O Zoneamento Econômico Ecológico definiu como alta a prioridade para a recuperação da região, enquanto a prioridade para a preservação é baixa. GRÁFICO 2 - Evolução populacional do município de Papagaios Fonte: IBGE, 2009. Conforme o GRAF. 2, o município de Papagaios possui uma população de 15.384 habitantes, sendo que aproximadamente 75% correspondem às pessoas residentes na área urbana, considerando que o setor industrial, particularmente as atividades de extração e beneficiamento de ardósia, são as que mais empregam. Outras atividades são desenvolvidas, como criação de gado leiteiro e de corte, bem como extração de madeira para o setor de ferro-gusa. feam 34 A região é classificada como Metalúrgica, sendo que o rendimento mensal da maioria da população é de 3,23 salários mínimos. A minoria, ou seja, apenas 2% recebem acima de 20 salários mínimos. No setor educacional, 60% da população têm ensino fundamental e apenas 1% tem ensino superior. A infra-estrutura de saneamento do município é composta por uma ETA – Estação de Tratamento de Água e uma ETE – Estação de Tratamento de Esgoto, ambas construídas e operadas pela Prefeitura (FIG. 15 e 16). FIGURA 17 - Estação de Tratamento de Esgoto - ETE Fonte: FEAM, 2009. Além destas estações, a prefeitura implantou 10 coletores de pilhas e baterias (papa-pilhas) e um local destinado a receber pneus, denominado ecoponto pneumático (FIG. 17 e 18). feam 35 FIGURA 18 - Lagoa de estabilização da ETE Fonte: FEAM, 2009. FIGURA 19 - Usina de Tratamento de lixo urbano Fonte: FEAM, 2009. feam 36 FIGURA 20 - Papa-pilhas, localizado no saguão principal da Prefeitura Municipal Fonte: FEAM, 2009. feam 37 4. HISTÓRICO DA ATIVIDADE PRODUTIVA DE ARDÓSIA NO MUNICÍPIO DE PAPAGAIOS De acordo com informações obtidas na base de dados do IBGE (2009), a ocupação do município de Papagaios iniciou-se por volta de 1.800 com a construção da Fazenda Morrinhos, assim denominada porque era rodeada por cinco pequenos morros, a saber: Malhadinha, Anta, Boa Vista, do Urubu e do Chapéu. A Fazenda Morrinhos foi doada pelo imperador D. Pedro I a um amigo caçador chamado João Fraga. Posteriormente, essas terras foram ocupadas pelo casal Manuel e Catarina Gonçalves Fraga, sendo esta, filha do Sr. João. Após a morte do casal, a fazenda ficou sem donos, pois as terras não foram requisitadas. Presume-se, portanto, que eles não deixaram descendentes. Dentro de poucos anos, a fazenda transformou-se em um povoado, mudando o nome de Morrinhos para Papagaios. Destaca-se que até 1911, o povoado de Papagaios pertencia ao município de Maravilhas. Em 13/08/1911, através da Lei Municipal nº 556, o povoado desmembrou-se de Maravilhas, passando a ser um distrito de Pitangui. Somente em 12/12/1953, através da Lei Estadual nº 1.039, foi elevado à categoria de município e em 20/01/1954 houve a instalação oficial . A atividade mineraria teve seu inicio no final da década de 70, e de acordo com relatório da Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província de Ardósia - CooperArdósia (2007): Em apenas 29 anos de atividade no setor de Ardósia, o Brasil já se coloca como o segundo maior produtor (atrás da Espanha), segundo maior consumidor (atrás da França) e segundo maior exportador mundial (atrás da Espanha). A província de ardósia, no Estado de Minas Gerais, responde por 98% da produção de matéria prima e 95% do processamento de lajotas, chapas, telhas, tampos de bilhar, mobiliário e artesanato, processando também a totalidade das exportações brasileiras. Nosso produto é encaminhado para o mercado internacional todo beneficiado. feam 39 5. A PRESENÇA DA FEAM EM PAPAGAIOS A presença da FEAM na região, através de suas equipes, iniciou-se em meados do ano de 1992, consolidando-se de forma sistemática e efetiva a partir da realização da Operação Ardósia, ocorrida em 1996, com a participação da Polícia Ambiental e os técnicos da FEAM, cujo objetivo inicial foi o levantamento dos prováveis impactos da atividade na qualidade das águas do Rio Paraopeba. Nesta operação verificou-se que das 15 (quinze) empresas vistoriadas, apenas 1 (uma) era licenciada. As demais, portanto, foram convocadas ao licenciamento ambiental. Desde então, a equipe técnica da FEAM fiscaliza a região periodicamente, resultando num cenário de empresas devidamente licenciadas. Segundo dados do SIAM (2009), 16 empresas mineradoras que apresentam processos ativos junto ao DNPM, possuem licença ambiental ou AAF – Autorização Ambiental de Funcionamento válidas. Na TAB. 1 a seguir estão listados os principais empreendimentos minerários da região, em processo de regularização ambiental, com os respectivos prazos de validade. Tabela 1 - Situação dos Empreendimentos Minerários situados em Papagaios regularizados ambientalmente Processo DNPM nº Processo COPAM nº Licença Ambiental Validade Licença ANTÔNIO ALVES FILGUEIRAS CAMPOS - F.I. 836.808/1994 00069/01/02/07 REVLO 31/08/2017 ARDÓSIA REIS LTDA 831.007/2000 00661/01/03/05 AAF 06/04/2010 ARDOSIA VEREDA LTDA 830.018/1994 00389/97/05/07 LO 28/04/2012 HEBE MARIA REIS MINERAÇÃO LTDA 832.098/1989 00794/03/03/05 AAF 19/12/2009 HEBE MARIA REIS MINERAÇÃO LTDA 830.248/2001 00794/03/04/06 AAF 07/12/2010 HÉLIO FIGUEIRAS MINERAÇÃO LTDA 834.282/1996 00378/90/06/08 LOC 20/072013 LAVRAR MINERAÇÃO 832.127/1983 03354/05/01/07 LO 24/08/2010 832.206/1987 00421/95/04/06 LO 14/12/2012 830.666/1983 00421/95/05/06 REVLO EM ANÁLISE 831.050/1990 00340/90/05/02 LO 30/01/2012 MINERAÇÃO ALTO DAS PEDRAS LTDA 833.674/1993 00087/02/04/09 LO 22/12/2014 MINERAÇÃO BAIA E FILHOS LTDA 830.811/1990 00439/00/03/04 LO 15/05/2012 RHÉA SILVIA VALADARES BAHIA 831.436/1985 08572/05/02/10 LO EM ANÁLISE PECUÁRIA MORRINHOS LTDA 830.515/2001 00598/01/04/08 LO 09/12/2014 PECUÁRIA MORRINHOS LTDA 837.208/1993 23243/05/01/07 AAF 03/04/2011 PONTAL PECUÁRIA LTDA 834.283/1996 00211/97/02/01 LO 15/03/2010 Empresas MARIA LETÍCIA VALADARES DE VASCONCELOS / LINCAR PEDRAS DE ARDÓSIA LTDA MARIA LETÍCIA VALADARES DE VASCONCELOS MIN. DE PEDRAS ARDÓSIA CAMPOS MACIEL LTDA feam 40 Em relação a regularização ambiental das serrarias de placas de ardósia, ressalta-se que segundo levantamento efetuado pela Prefeitura (CooperArdósia, 2007), os empreendimentos localizados na área urbana totalizam à 135, distribuídos entre indústrias e pequenas serrarias, quase sempre sem regularização ambiental, conforme comprovado na TAB. 2, que lista somente 44 empresas com processo de licenciamento ambiental (SIAM, 2009). Tabela 2 - Situação das empresas de beneficiamento de ardósia localizadas no município de Papagaios (Continua) Licenças Negadas/Ano de Formalização Licenças Concedidas/Ano de Formalização A. C. MINAS LTDA LOC 2002 AAF/ 2008 AGENOR XAVIER MACHADO LOC 2002 AAF /2006 - LO 2005 Empresas AILTON GONCALVES DA SILVA ALTIVO PEDRAS LTDA AAF 2008 ARDOSIA DIAS LTDA AAF 2006 ARDOSIA IRMAOS MACIEL LTDA LOC/2003 AAF/2008 ARDOSIA MINAS BRASIL LTDA ARDOSIA NOVO MUNDO INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA AAF/2008 LO/2001 ARDOSIA OLIVEIROS INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA AAF/2008 AUREO DOS SANTOS CORDEIRO AAF/2007 BC STONE INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ARDÓSIA LTDA AAF/2009 BENEFICIAMENTO ARDOSIA LO/2002 BERENICE FERREEIRA DE ABREU AAF/2007 ECB - ARDOSIAS LTDA LOC/2003 EDNA APARECIDA DE FREITAS BARCELOS AAF/2008 ELMO PEDRAS LTDA AAF/2008 GERALDO MARCOS VALADARES BAHIA AAF/2008 GILMAR VILAÇA DUARTE LOC/2003 AAF/2005 ISAMAR PEDRAS DE ARDOSIAS LTDA LOC/2002 AAF/2008 J R M PEDRAS DECORATIVAS LTDA LOC/2004 J.H PEDRAS LTDA LOC/2003 LAUDECI CARVALHO DA COSTA AAF/2006 LINCAR PEDRAS DE ARDOSIA LTDA LO/2002 LO/2005 LRS STONE INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PEDRAS LTDA AAF/2008 LUCIANO DE PAULA BARCELOS AAF/2007 LUIZ CARLOS FERREIRA MACIEL MARIA ALZIRA CHAVES LOC/2003 AAF/2008 MARIA FRANCISCA RIBEIRO DINIZ MARIA IMACULADA SILVA AAF/2009 feam 41 Licenças Negadas/Ano de Formalização Empresas Licenças Concedidas/Ano de Formalização MAURO GERALDO DE FARIA AAF/2008 MAURO GONÇALVES DE BARCELOS AAF/2008 MINAS MUNDO COMÉRCIO IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO LTDA AAF/2007 MINERAÇÃO ROCHA DAS PEDRAS LTDA AAF/2008 PEDRAL COMÉRCIO DE PEDRA ARDÓSIA LTDA AAF/2009 PEVEX PEDRAS NATURAIS LTDA LOC/2002 LO/2005 LP/2003 AAF/2006 PLANA COMERCIO E INDÚSTRIA LTDA RINALDO CORREIA DA SILVA AAF/2008 RICARDO CORREA DA SILVA AAF/2009 RODRIGO CAMPOS DUARTE AAF/2006 RONALDO REZENDE DE CAMPOS AAF/2007 LOC/2003 SC PEDRAS LTDA AAF/2005 SONIA DAS GRACAS BARCELOS AAF/2008 W.S. ARDOSIA LTDA AAF/2006 ZPP COMERCIO E EXPORTAÇÃO DE MINERIOS LTDA LOC/2002 O panorama apresentado pela TAB. 2 explicita o alto número de serrarias instaladas no centro urbano do município. Este quadro tende a ser revertido com a criação do “Centro Industrial” (FIG. 21), que se encontra em processo de licenciamento junto à SUPRAM Central. Além da implantação das pequenas CooperArdósia, um britador coletivo serrarias, será instalado, por com capacidade para processar iniciativa da todo o rejeito produzido. Trata-se, portanto, de uma importante medida que resultará no melhor ordenamento desta atividade e, conseqüentemente, menos impactos à população da área urbana do município feam 42 FIGURA 21 - Localização da área proposta para a implantação do Centro Industrial Fonte: FEAM, 2009. Deve-se, no entanto, reconhecer que as ações da FEAM, desenvolvidas desde a segunda metade da década de 1990, não tiveram caráter meramente fiscalizatório. Essas ações procuram fortalecer as bases de sustentabilidade da atividade produtiva, promovendo melhorias técnicas na lavra, bem como incentivando a processo de regularização ambiental deste segmento produtivo. Nestes termos, e dentro de sua área de responsabilidade, o trabalho desenvolvido pela equipe técnica da FEAM em Papagaios, constitui o que mais se aproxima de uma política pública de desenvolvimento míneroindustrial. feam 43 6. O PROCESSO PRODUTIVO DA ARDÓSIA 6.1 Introdução As propriedades físicas das ardósias (clivagem preferencial, dureza média, baixa porosidade, alta resistência mecânica e minerais resistentes ao intemperismo) permitem sua ampla utilização como revestimento. As ardósias constituem assim, um recurso mineral mundialmente conhecido e de largo emprego para edificações, como pisos e telhados, por exemplo, inclusive em países que aplicam rígidos padrões técnicos e ambientais na lavra e beneficiamento. Além dos padrões cromáticos variados, proporcionados tanto por faces polidas quanto naturais, as ardósias se destacam sendo utilizadas em revestimentos internos devido a sua grande afinidade estética com madeiras, metais e tapeçarias. Somam-se a tais atributos estéticos, a durabilidade dos revestimentos confeccionados em ardósia, bem como a facilidade de sua manutenção e limpeza, o que lhes assegura grande confiabilidade no mercado da construção civil. 6.2 A Província de Ardósia de Minas Gerais 6.2.1 Características Gerais Conhecida como “Província de Ardósia de Minas Gerais” apresenta-se uma importante seqüência de rochas sedimentares, de baixo grau metamórfico e de idade Pré-Cambriana Superior, que encerra depósitos locais de ardósias de alta qualidade, ocorrendo numa área de cerca de 7.000 km². A Província de Ardósia de Minas Gerais insere-se em área poligonal, abrangendo total ou parcialmente os municípios de Papagaios, Curvelo, Pompéu, Paraopeba, Caetanópolis, Felixlândia, Leandro Ferreira e Martinho Campos. As ardósias estão contidas na Formação Santa Helena, do Supergrupo Bambuí. O principal foco de extração e beneficiamento de ardósias é o município de Papagaios com 80% da produção total, em sua maioria ardósias cinzentas. As jazidas são lavradas a céu aberto, a meia encosta e em cava fechadas, apresentando piso regular e plano feam 44 (devido a rompimentos regulares e horizontais, também conhecidos por “clivagem ardosiana”). As principais variedades comerciais são denominadas pela cor e os principais produtos beneficiados são ladrilhos/lajotas padronizados, para revestimento de piso. O restante origina tampos de mesa, pias, bilhares, revestimento de paredes, mobiliário, telhas, mosaicos e lousas. Os principais impactos ambientais causados pela atividade de extração de ardósia são: Alteração do relevo, provocado pelo decapeamento do corpo mineral, abertura de estradas, praças e outras obras civis, deposição das pilhas de estéril/rejeito. Esta movimentação de material pode provocar erosões devido à remoção das camadas superficiais e da vegetação. Este conjunto de operações leva a alteração da paisagem local provocando impacto visual; Poluição das águas superficiais pelo carreamento de material terroso da área lavrada, contaminação com óleos e graxas do maquinário utilizado e com o lixo doméstico; Alteração da qualidade do ar devido a poeiras geradas pelo tráfego de equipamentos na abertura da cava. Soma-se ainda a emissão de gases devido ao uso de explosivos e maquinário movido a óleo diesel; Poluição sonora e vibrações provocando ruídos durante as etapas de extração mineral, com circulação de veículos, corte do piso com disco diamantado e pelo uso de explosivos; Interferência no uso da terra, uma vez que grande parte das terras predomina a criação de gado passa a ser utilizada pela mineração; Impactos sociais e econômicos com geração de empregos, aumento da renda da população e maior arrecadação de impostos para o município de Papagaio. Em suma, a instalação da lavra de ardósia causa alterações no meio ambiente, principalmente à modificação do relevo e da paisagem local, induzindo modificações na flora e fauna local existente, na qualidade da água e do ar. feam 6.2.2 45 Aspectos Geológicos A seqüência metassedimentar do Grupo Bambuí, que contém as ardósias da região, apresentando limite bem definido por feições tectonogeológicas, é datada do Proterozóico Superior (600-500 milhões de anos) e tem desenvolvimento associado ao Ciclo Tectônico Brasiliano, conforme descrito nos trabalhos de (AMARAL; KAWASHITA, 1967; THOMAZ FILHO et al., 1998 ; DARDENE, 2000 apud APL, 2006. FIGURA 22 - Mapa Geológico Esquemático da Província de Ardósia de Minas Gerais Fonte: GROSSI-SAD et al., 2001. Segundo Grossi-Sad & Quade, 1985; Costa & Grossi-Sad , 1987; Grossi-Sad et al., 1998 apud APL, 2006, a seqüência estratigráfica referente ao Grupo Bambuí no âmbito da denominada “Província de Ardósia de Minas Gerais” é representada do topo para a base: Formação Três Marias; Subgrupo Paraopeba, constituído pelas Formações Lagoa do Jacaré (siltitoscalcários anquimetamórficos) e Santa Helena (principal responsável pelo fornecimento de ardósias) e Formação Sete Lagoas, assentada sobre o Complexo Basal (FIG. 22). feam 46 Quanto à tectônica da região em questão, o aspecto mais interessante que afetou o Grupo Bambuí, no Ciclo Brasiliano é o desenvolvimento da clivagem horizontal/subhorizontal e subparalela ao acamamento das rochas, na porção não dobrada da bacia sedimentar. Acredita-se que esforços tangenciais podem ter se propagado através desta zona estável, a partir das faixas móveis pericratônicas (Faixa Brasília a oeste ou Faixa Espinhaço a leste), determinando este arranjo peculiar da “clivagem ardosiana” (por cisalhamento ou deslizamento tangencial). Entretanto, segundo Grossi-Sad et al. (1998), uma explicação mais plausível para o paralelismo da clivagem com a estratificação parece envolver a perda de água, a compactação e o soterramento profundo de rochas sedimentares síltico-argilosas, ao invés de compressão tectônica e forças tangenciais. Segundo Grossi-Sad et al. (1998 apud APL, 2006) as ardósias do Bambuí são rochas terrígenas de granulação fina (pelíticas), apresentando-se em cores verdes, roxas, cinza, grafite, negras e ferrugem. Mais de 50% dos grãos constituintes têm tamanho superior a 0,06 mm, com 30% a 60% na dimensão de argila, são fracamente metamorfizadas e desenvolvem planos preferenciais de partição, também conhecida como “clivagem ardosiana”. Devido a esta última propriedade, blocos/placas de ardósia podem ser “abertos” em leitos muito finos (de poucos milímetros de espessura), de muitos decímetros quadrados (até metros quadrados) e com superfície plana contínua (BARBOSA, 1974 apud APL, 2006). Segundo este mesmo autor, a composição mineralógica modal (% em volume) das ardósias da Província Ardosiana de Papagaios é descrita na TAB. 3 a seguir: Tabela 3 - Composição Mineralógica Modal das Ardósias Minerais (%) Ardósia Negra Ardósia Cinza Ardósia Verde Quartzo 24 – 26 26 – 30 30 - 32 Mica Branca 31 – 33 32 - 34 34 - 36 Clorita 20 – 23 18 – 20 18 - 20 Feldspato 12 – 15 12 - 15 14 - 15 Carbonato 3–5 3–5 0,5 - 1 Óxido de Ferro 2–3 2–3 2-3 0,5 – 1 0,2 - 0,6 < 0,1 Material Carbonoso Fonte: GROSSI-SAD et al., 1998. feam 6.3 47 Lavra As atividades de lavra de ardósia, no município de Papagaios, têm três focos principais: Córrego das Pedras (FIG. 23), Olhos d’água (FIG. 24) e Alto da Boa Vista (FIG. 25). FIGURA 23 - Região do Córrego das Pedras, maior concentração de mineração de ardósia na região Fonte: FEAM, 2009. Em 1996, no início das fiscalizações tanto o emboque da lavra, quanto a deposição de estéril e rejeito, eram iniciados a meia encosta e próximos às drenagens, uma vez que a rocha encontrava-se ali semi aflorante. Hoje, após várias campanhas de fiscalizações, bem como a conscientização dos empresários, esta conduta foi modificada. feam 48 FIGURA 24 - Região de Olhos d’Água Fonte: FEAM, 2009. FIGURA 25 - Região de Alto da Boa Vista Fonte: FEAM, 2009. Nota: Indústria de grande porte no alto da foto. feam 49 O método de lavra utilizado é a céu aberto, com bancadas em circuito fechado. O sistema de drenagem direciona as águas pluviais para o interior da cava, para futura utilização no corte da rocha. Tal procedimento faz-se necessário uma vez que, segundo medições realizadas no município de Papagaios, constatou-se que para produzir 1 m3 de ardósia beneficiada, consome-se 3.800 litros de água. 1 2 3 4 FIGURA 26 - Detalhe do capeamento da lavra Fonte: Feam, 2009. Nota: 1 – Camada de solo; 2 - Toá (rochas intemperizadas); 3 – Rocha alterada, onde podemos notar perfuração e colocação de explosivos para desmonte; 4 – Rocha sã, onde vemos o desenvolvimento da lavra, 2008. O desenvolvimento da lavra é realizado com emboque a meia encosta, em áreas com topografia ligeiramente inclinada, sendo precedido pela retirada do capeamento, que na região varia de 30 a 40 m, composto por aproximadamente 1 m de solo e o restante de toá (designação local para as rochas intemperizadas) e rocha alterada (FIG. 26). A retirada do capeamento é realizada em três etapas descritas a seguir: Primeiramente é retirada a camada de solo, com espessura variando de alguns centímetros até alguns metros, com utilização de retro escavadeiras e pás carregadeiras, para decapeamento e posterior carregamento. O material é carregado em caminhões, para ser transportado até as pilhas de estéril; feam 50 Em seguida, a camada de toá é desmontada com a utilização de retro escavadeiras, podendo ser utilizados explosivos, sendo posteriormente carregada em caminhões basculantes e enviada até as pilhas de estéril; Por fim, a camada de rocha alterada é desmontada, com utilização de explosivos, carregados e enviados às pilhas. O índice de recuperação da ardósia é considerado bastante baixo, aproximadamente 15%, se considerada toda a atividade (abertura das cavas, lavra e beneficiamento). No entanto, se contabilizarmos somente na lavra (após ser atingida a rocha sã) esta encontra-se na faixa de 30 a 40%. Para se ter idéia do volume de estéril gerado, recorremos ao exemplo da APL de Ardósia Papagaios: “Para uma ampliação de 5.000 m2 (100 m x 50 m), com 40 m de capeamento, deverão ser removidos 200.000 m3 de estéril, com peso correspondente a cerca de 400.000 t (base duas t/m3)”. A lavra, após se atingir o material comercializável, é realizada em “degraus”, conforme seqüência a seguir: FIGURA 27 - Detalhe do “carrinho paraopeba”, composto de discos diamantados sobre rodas, utilizados no corte vertical da rocha Fonte: APL, 2006. feam 51 Cortes verticais, com profundidade entre 15 e 25 centímetros, realizados com discos diamantados acoplados em carrinhos, localmente chamados “paraopeba”. Os materiais provenientes destes cortes são chamados de lajões, quando possuem formas retangulares complexas e dimensões aproximadas de (2,30 x 1,40) m, ou lajinhas; quando devido a fraturas possuem formas irregulares e apresentam maiores perdas (FIG. 27 e 28); FIGURA 28 - Detalhe do disco diamantado utilizado no carrinho paraopeba Fonte: FEAM, 2008. Desplacamento dos lajões e lajinhas, com utilização de alavancas em forma de cunhas, localmente designados de remos (FIG. 29); FIGURA 29 - Operários utilizando remos para desplacamento do material Fonte: APL Papagaios, 2006. feam 52 Carregamento do material em caminhões para envio às indústrias, com utilização de empilhadeiras (FIG. 30 e 31); FIGURA 30 - Empilhadeira sendo utilizada na remoção de lajões Fonte: APL Papagaios, 2006. FIGURA 31 - Caminhão carregado com lajões Fonte: APL Papagaios, 2006. feam 53 Carregamento com utilização de pá carregadeira, em caminhões basculantes, dos rejeitos gerados na lavra, para posterior envio às pilhas de rejeito (FIG. 32). FIGURA 32 - No piso da lavra, trabalhos de limpeza com o carregamento do rejeito em caminhões, para transporte até as pilhas Fonte: APL Papagaios, 2006. Em resumo, o fluxograma a seguir (FIG. 33), apresenta todo o processo de lavra e transporte até a etapa de beneficiamento: Atividade de lavra Remoção do capeamento Lavra da ardósia com potencial comercial Utilização de retro e pás carregadeiras, desmonte com explosivos e utilização de caminhões no transporte. Utilização do “carrinho Paraopeba”, água, remos, carregadeiras e caminhões Lajões e lajinhas encaminhadas às Industrias localizadas dentro do polígono ou na área urbana. Encaminhamento do solo, toá, rocha alterada para as pilhas de estéril e rejeitos rejeitos Encaminhamento das águas utilizadas no corte da rocha, para decantação e retorno ao processo. Industria localizada dentro do polígono, rejeitos encaminhados às pilhas FIGURA 33 - Seqüenciamento das operações de lavra de ardósia feam 6.4 54 Beneficiamento Após a lavra, os lajões e as lajinhas são encaminhados às indústrias para o beneficiamento, podendo atender tanto o mercado interno como o mercado externo. Os principais produtos, que consomem aproximadamente 70% das chapas beneficiadas, são ladrilhos/lajotas padronizados, utilizados, sobretudo, para revestimento de pisos. O restante da produção é destinado à elaboração de chapas, para peças padronizadas, para tampos de mesa, pia e bilhares, revestimento de paredes e pisos, divisórias, mobiliário, telhas, mosaicos telados, lousas (quadros negros) e artesanato. No caso do mercado interno, este beneficiamento é realizado por pequenas serrarias localizadas na área urbana, podendo ser considerado como “grosseiro”, uma vez que as peças não sofrem polimento, calibração ou acabamentos laterais, sendo comercializadas com faces naturais. Os principais produtos são os pisos. No município de Papagaios foram levantadas aproximadamente 135 destas pequenas empresas, que fazem o beneficiamento na seguinte seqüência: Delaminação, que consiste na abertura de chapas de menores espessuras, com utilização de cunha e marreta (FIG. 34); FIGURA 34 - Detalhe do trabalho manual de delaminação de lajotas Fonte: FEAM, 2008. Nota: Esse trabalho é muitas vezes efetuado por arrendatários ou terceirizados, que operam por produção e não por produtividade. feam 55 Corte e esquadrejamento, com utilização de serras de discos diamantados, em dimensões pré-estabelecidas pelo mercado (FIG. 35); FIGURA 35 - Mesa com serras de disco diamantado para corte, esquadrejamento em dimensões pré-estabelecidas pelo mercado Fonte: APL Papagaios, 2006. No caso de fabricação de mobiliários, bancadas ou outros artefatos, são incorporadas furadeiras, politrizes manuais, etc. (FIG. 36). FIGURA 36 - Furadeiras de bancada utilizadas na preparação de peças para mobiliários, bancadas ou outros artefatos Fonte: APL Papagaios, 2006. feam 56 Para o atendimento do mercado externo são exigidas estruturas industriais mais complexas, que proporcionem melhor dimensionamento e acabamento dos produtos. Essas estruturas envolvem linhas automáticas para preparação de ladrilhos e chapas, incorporando cortadeiras de chapas do tipo serra - ponte, politrizes multicabeça, içadores de chapas, calibradoras, fresas para sulcos (“groove”), encabeçadeiras e furadeiras, sempre mais atualizados tecnologicamente. Essa tecnologia está disponível para as empresas, na forma de máquinas, equipamentos e materiais de consumo, tanto nacionais quanto, sobretudo, importados. As principais operações de beneficiamento envolvem esquadrejamento (recorte de peças), acabamento de superfícies (levigamento, polimento, fresamento/sulcamento), acabamento de canto (bisotado, boleado, etc.), regularização de espessura (calibração), cortes curvos e perfurações. O primeiro passo e mais importante, refere-se, no entanto, à delaminação (abertura) das placas mais espessas derivadas da lavra, com uso de martelo e talhadeira. O processo mais recente de beneficiamento de face é o acabamento escovado. Estas empresas fornecedoras do mercado externo costumam ainda terceirizar o que poderíamos chamar de beneficiamento primário (delaminação, corte e esquadrejamento), realizados pelas pequenas serrarias para posterior acabamento. O material é devidamente embalado em pallets, sendo que estas empresas possuem carpintarias onde estes são confeccionados (FIG. 37 e 38). FIGURA 37 - Carpintaria, para confecção de pallet Fonte: FEAM, 2008. feam 57 FIGURA 38 - Pallets prontos para comercialização Fonte: FEAM, 2008. Em resumo, o fluxograma a seguir (FIG. 39), apresenta todo o processo de beneficiamento até sua comercialização: Beneficiamento Lajões Empresa de Mineração Lajinhas Pequenas serrarias, em áreas urbana, delaminação, corte e esquadrejamento e confecção de mobiliário Grandes indústrias, com linhas automáticas de ladrilhos e chapas, incorporando cortadeiras de chapas do tipo serra ponte, politrizes multicabeça, içadores de chapas, calibradoras, fresas para sulcos (“groove”), encabeçadeiras e furadeiras. Produto Produto Rejeitos Produto Depósito de rejeitos, a 5 Km do município. Produção comercializada no mercado interno Rejeitos Britagem Comercialização, estradas Mercado externo, principalmente EUA, Mercado Comum Europeu FIGURA 39 - Seqüenciamento das operações de beneficiamento de ardósia feam 58 A FIG. 40 apresenta o fluxograma da destinação da ardósia para o caso de pequenas e grandes empresas: FIGURA 40 - Fluxograma das atividades do setor como um todo, inclusive a relação entre pequenas e grandes empresas Fonte: APL Ardósia, 2006. 6.5 Responsabilidade dos empreendedores na disposição adequada dos rejeitos e resíduos – Legislação Estadual e Federal A lei estadual 18.031/2009 que dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos em Minas Gerais classifica-os quanto à natureza e à origem, com vistas a atribuir responsabilidades e dar-lhes a adequada destinação. No artigo 14, a Lei se refere aos geradores de resíduos de atividades minerarias e industriais, atribuindo a eles (empreendedores), a responsabilidade pelo seu gerenciamento, desde a sua geração até a destinação final, incluindo: I - a separação e a coleta interna de resíduos de acordo com suas classes e características; II - o acondicionamento, a identificação e o transporte interno, quando for o caso; III - a manutenção de áreas para a sua operação e armazenagem; IV - a apresentação de resíduos para coleta externa, quando for o caso, de acordo com as normas pertinentes e na forma exigida pelas autoridades competentes; V - o transporte, o tratamento e a destinação final dos resíduos, na forma exigida pela legislação pertinente. feam 59 Na esfera federal existe apenas um Projeto de Lei nº 1.991/2007 em tramite. No caso da atividade mineraria, a geração do material estéril e sua adequada disposição são os maiores desafios enfrentados pelo minerador, já que são necessárias grandes áreas para a referida disposição deste material. No caso das mineradoras de Papagaios, a maioria destas, realiza a disposição do material estéril ou de rejeito em pilhas situadas dentro dos limites de suas poligonais. A adequada formação destas estruturas implica na execução de projetos de engenharia, contemplando sistemas de drenagem, além de estudos de estabilidade das mesmas. Atualmente, devido à presença das equipes da Feam na região a partir de 1996, um grande avanço se observou no que tange a construção e revegetação das pilhas. Evidentemente, a operação, manutenção e segurança destas estruturas são de responsabilidade do empreendedor. Os demais resíduos sólidos e líquidos gerados pelas empresas mineradoras, desde que devidamente licenciadas, possuem sistemas de coleta e tratamento dos mesmos. feam 61 7. PRODUÇÃO DE LAVRA E GERAÇÃO DE REJEITOS DE ARDÓSIA NO MUNICÍPIO DE PAPAGAIOS 7.1 Estimativa da Produção de Ardósia Comercializável (Ano Base 2007 e 2008) GRÁFICO 3 - Perfil da Produção Brasileira por Tipo de Rocha Fonte: CHIODI FILHO, 2007. Segundo o GRAF. 3 (Chiodi Filho, 2007), a produção brasileira de ardósia no ano de 2007 foi de 900.000 mil toneladas, referente a todo material extraído e encaminhado para o beneficiamento,enquanto que para 2008, a ABIROCHAS estimou uma produção nacional de 800 mil toneladas. Segundo o consultor Cid Chiod, todos os dados disponíveis sobre a produção brasileira e mineira de ardósias foram estimados, o que também é válido para a geração de rejeitos da lavra e resíduos do beneficiamento. De acordo com o APL (2006), o Estado de Minas Gerais é responsável por 94% da produção nacional de ardósia, sendo que Papagaios produz 80% do total do Estado. Como base de cálculo para a estimativa da geração de rejeitos de lavra e resíduos do beneficiamento, pode-se assumir que a recuperação média da lavra de ardósias seja de 30% e que a recuperação média do beneficiamento seja de 40%. Tomando-se como ponto de partida as 800 mil toneladas produzidas em 2008, que representem a matéria-prima retirada das pedreiras para beneficiamento, ou seja, a produção bruta de lavra de ardósia pode-se estimar os seguintes quantitativos: feam 7.1.1 62 Geração de Rejeitos de Lavra no Brasil O capeamento dos bancos de ardósia comercial, formado por solo e toá (rocha alterada), pode ser considerado como estéril da lavra. A perda registrada nos próprios bancos de ardósia fresca ou comercial (cerca de 70%) constitui mais especificamente como rejeito da lavra. Assim, as 800 mil t retiradas das pedreiras geraram um rejeito de 1,87 milhões toneladas [(800 mil t ÷ 0,3) – 800 mil t] de ardósia fresca acumulada nas pilhas de bota-fora das pedreiras. Deve-se ainda considerar que o volume físico de solo e toá retirados para o decapeamento dos bancos de ardósia comercial equivalem, em média, ao dobro do volume desses bancos. Assim, mesmo com densidade pouco inferior à das ardósias frescas, pode-se estimar que em 2008 teriam sido gerados cerca de 5 milhões t de material estéril (toá e solo) nas pedreiras brasileiras de ardósia [(800 mil t ÷ 0,3) x 2]. 7.1.2 Geração de Resíduos do Beneficiamento no Brasil Com uma recuperação média de 40% no beneficiamento, as 800 mil t de ardósia produzidas em 2008 geraram, por sua vez, 480 mil t de resíduos (800 mil t x 0,6), na forma de cacos, cavacos e lama de corte, acumulados nos bota-foras das serrarias. Sendo assim, para o ano de 2008, o índice de aproveitamento dos processos de lavra e beneficiamento de ardósia foi de 13,6%, que representa a relação entre a produção total após o beneficiamento (800 mil t x 0,4) e o total de rejeitos/resíduos produzidos (1,87 milhões t + 480 mil t). 7.1.3 Geração de Rejeitos e Resíduos em Papagaios Como apresentado anteriormente, a atividade extrativa de ardósia no Brasil gerou, no ano base de 2008, 1,87 milhões t de rejeitos na lavra e 480 mil t de resíduos no beneficiamento. Considerando que Minas Gerais é responsável por 94% da produção brasileira de ardósia e Papagaios por 80% da produção total de Minas Gerais, a geração de rejeitos de lavra e resíduos de beneficiamento, em Papagaios, teria sido de aproximadamente 1,77 milhões t {[(1,87 milhões t + 480 mil t) x 0,94] x 0,80} e teriam sido acumulados nos bota-foras das pedreiras cerca de 3,76 milhões t de solo e toá [(5 milhões x 0,94) x 0,8]. feam 7.1.4 63 Geração de Pó de Ardósia (Finos da Serrada) Se admitirmos que cerca de 20% do “rejeito” do beneficiamento refere-se a pó de serrada, temos uma geração de cerca de 100 mil t anuais de pó de ardósia no Brasil (480 mil t x 0,2). Com as mesmas bases de cálculo anteriormente referidas, o volume de pó de ardósia gerado em Papagaios, no ano 2008, seria de aproximadamente 75 mil t [(100 mil t x 0,94) x 0,80]. 7.2 Levantamentos sobre Rejeito do Beneficiamento em Papagaios Dos levantamentos que quantificam os rejeitos gerados nas indústrias e pequenas serrarias, localizadas na área urbana de Papagaios, podem-se extrair os seguintes dados: O primeiro remete-se à APL Papagaios “... Apenas na área de acumulação dos rejeitos das empresas de beneficiamento instaladas na zona urbana de Papagaio, estariam sendo colocadas 250 mil toneladas/ano de cacos, cavacos, aparas e material fino (este depósito de rejeitos localiza-se às margens da rodovia que liga Papagaio a Caetanópolis)...”. O segundo se refere ao levantamento realizado pela Prefeitura local, no ano de 2007, que apresenta como resultados 264.000 t/ano de rejeitos e 7.128 t/ano de pó de ardósia. A metodologia empregada pela prefeitura consistiu na aplicação de questionário, respondido pelos proprietários de cada uma das 135 empresas levantadas, apresentando na Figura 9. Ao avaliarmos os dois levantamentos, constatamos uma convergência de resultados, apesar de termos aproximadamente 2 anos de diferença entre eles. feam 64 FIGURA 41 - Levantamento das empresas beneficiadoras de ardósia em Papagaios Fonte: Relatório CooperArdósia, 2007. 7.2.1 Estimativa da geração de rejeitos de ardósia acumulados Para o cálculo do volume de rejeitos acumulados nas pilhas existentes no município de Papagaios, tomaremos como base as exportações Brasileiras apresentadas no gráfico abaixo: Segundo dados da COMIG, 1998, no “Panorama do Setor de Rochas Ornamentais e de revestimento de MG”, as exportações na década de 1980 até 1993 foram de 5.000 t/ano, totalizando no final desses 13 anos uma produção de 65.000 t; Com base na Fig. 10, a produção total entre os anos de 1994 a 1998 foi de 122.059 t; feam 65 Tomando-se como base a taxa de crescimento da exportação (16%) entre os anos de 1997 e 1998 e extrapolando este valor para os anos de 1999 e 2000, as exportações seriam 39.121 t (1999) e 45.380 t (2000); No período de 2001 a 2008, conforme TAB. 4, a exportação brasileira foi de 1.399.589t; Assim, somando-se todos os valores temos um total de exportações Brasileiras, no período de 1980 a 2008, de 1.606.149 t; Considerando que Minas Gerais representa 94% da produção brasileira e Papagaios representa 80% de toda produção mineira, Papagaios exportou, desde o início dos anos 80, aproximadamente 1.207.824 t de ardósia; Como o índice histórico das exportações brasileiras representa 35% da produção total e tomando-se a estimativa de 1.207.824 t de ardósia exportada em Papagaios, a produção total no município foi de 3.450.926 t de ardósia; Considerando ainda que o índice de aproveitamento é de 15%, teríamos aproximadamente 19.555.247 t de estéril e rejeito estocado no município de 122.059.814 Papagaios. Valor (US$ FOB) 1994 1995 1996 1997 1998 54.749.389 33.725.549 14.699.177 29.089.975 12.684.541 20.527.453 9.736.682 21.124.441 9.793.616 17.592.396 Quantidade (kg liq.) 7.835.373 Total GRÁFICO 4 - Produção brasileira de ardósia no período de 1994 a 1998 Fonte: Panorama do Setor de Rochas Ornamentais e de revestimento de MG – COMIG, 1998. feam 66 Tabela 4 - Exportação de ardósia entre os anos de 2001 a 2008 Ano Brasil MG Ano Brasil MG Ano Brasil MG 2001 US$FOB Peso (kg) 30.021.250 84.284.096 28.582.005 80.090.882 2002 US$FOB Peso (kg) 34.991.782 105.770.688 32.394.763 97.948.230 2003 US$FOB Peso (kg) 42.216.274 130.852.395 39.037.335 121.139.072 2004 US$FOB Peso (kg) 60.562.565 189.555.351 56.622.022 175.830.407 2005 US$FOB Peso (kg) 68.760.478 202.934.756 63.233.490 184.830.475 2006 US$FOB Peso (kg) 84.597.789 226.167.879 79.848.233 212.174.998 2007 US$FOB Peso (kg) 98.356.431 240.028.786 92.943.791 225.291.131 2008 US$FOB Peso (kg) 101.091.287 219.995.291 96.175.139 208.800.910 Fonte: SMM/SEDE – 04/03/2009 US$FOB ----- 2009 Peso (kg) ----- feam 67 8. CONSIDERAÇÕES SOBRE O APROVEITAMENTO DE REJEITOS DA LAVRA E DO BENEFICIAMENTO DA ARDÓSIA No setor produtivo da ardósia, além da geração de rejeito, ainda são gerados grande volume de estéril, solo e toá, para os quais não existem estudos sobre seu reaproveitamento. A sustentabilidade da atividade produtiva da ardósia, tanto econômica quanto ambiental, é cada vez mais dependente do melhor aproveitamento da matéria-prima, ou seja, da redução do volume final de rejeitos da lavra e beneficiamento. Existem duas alternativas para a redução dos rejeitos: Diversificação dos produtos comercializados; Reaproveitamento para usos diversos como na indústria, construção civil e agropecuária. Na linha da diversificação dos produtos, algumas atividades podem ser desenvolvidas, como o caso da utilização na indústria moveleira, na fabricação de mesas, bancadas, bancos, entre outros. O artesanato também está presente com a confecção de mosaicos telados, etc. (FIG. 42 e 43). FIGURA 42 - Objetos confeccionados a partir do beneficiamento da ardósia Fonte: FEAM, 2009. feam 68 FIGURA 43 - Exemplo de artesanato produzido com ardósia Fonte: FEAM, 2009. Uma das propostas apresentada em 2005 pela Prefeitura Municipal de Papagaios, visando o reaproveitamento dos rejeitos da ardósia, é a iniciativa da implantação do Centro Industrial para onde será transferida grande parte das serrarias, situadas na área urbana do município. FIGURA 44 - Localização proposta para o Centro Industrial, delimitada em vermelho, e em amarelo área destinada ao britador da CooperArdósia Fonte: FEAM, 2009. feam 69 Com a concentração das mesmas, teremos também o acúmulo da geração dos rejeitos e do pó de ardósia. Sendo assim, justifica-se a implantação de uma planta de britagem e uma bacia de contenção de finos. Esta planta, projetada pela CooperArdósia, poderá viabilizar o reaproveitamento de aproximadamente 260.000 t/mês de rejeitos (geração referente às indústrias localizadas em área urbana), bem como 7.200 t/mês de pó gerado (FIG. 44 e 45). FIGURA 45 - Bacia de contenção da empresa Ardósia Veredas Fonte: FEAM, 2009. Quanto ao reaproveitamento dos rejeitos das ardósias, o Anexo I apresenta uma série de artigos referentes às alternativas de utilização (APL Papagaios, 2006). Entretanto, apesar das diversas alternativas para a devida utilização do rejeito, atualmente, sua principal destinação continua sendo os botas-fora, situados próximos a cidade. feam 71 9. CONCLUSÕES As questões ambientais mais relevantes no município de Papagaios estão ligadas às atividades do setor produtivo da ardósia, tanto da extração, como das serrarias localizadas na área urbana. Apesar dos grandes impactos ambientais gerados pelas serrarias como geração de pó de ardósia e ruídos, há ainda uma tolerância por parte da comunidade com as empresas, devido principalmente à importância do setor na geração de empregos e renda. FIGURA 46 - Placa de sinalização proibindo o tráfego de caminhões na área urbana do município Fonte: FEAM, 2008. Entretanto, ao longo dos anos, o município vem procurando desenvolver uma melhor política ambiental, considerando que já se encontram em operação: (1) Estação de Tratamento de Esgoto – ETE, (2) Aterro sanitário e (3) coleta seletiva do lixo urbano, que teve início com a implantação de pontos de entrega voluntária de pilhas e baterias (PEV’s) e um Ecoponto Pneumático, local destinado a recolhimento de pneus. O município de Papagaios aprovou a lei que proibiu o trânsito de caminhões em sua área central, carregados de lajões e lajinhas, resultando em uma diminuição de poeira, devido ao pó proveniente das carrocerias carregadas de lajes de ardósia (FIG. 46). Com relação às serrarias localizadas na área urbana, estas causam impacto visual e auditivo, pois algumas foram implantadas sem medidas de controle ambiental relacionado feam à proximidade com as residências. 72 Com a transferência para o Centro Industrial, os impactos causados pelas serrarias tenderão a desaparecer. Dentre os impactos positivos, podemos citar a grande geração de empregos, conforme já comprovado pelo Produto Interno Bruto (PIB), já que a arrecadação do setor industrial é 3 vezes maior que o da agricultura e próximo ao setor de serviços. Entendemos ainda, que a recuperação dos passivos ambientais gerados pela atividade mineraria, bem como a mitigação dos impactos que afetam o município de Papagaios, não serão simplesmente obtidos por ações isoladas de fiscalização nas mineradoras. Para o melhor ordenamento da atividade mineraria são necessárias ações integradas e articuladas de diversos órgãos do governo estadual, como o Sisema e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, visando o crescimento ordenado e sustentável das atividades de lavra e beneficiamento de ardósia. Uma alternativa econômica e ambiental bastante interessante é a adoção de uma política de governo visando atrair empresas para utilizar o rejeito como matéria prima na fabricação de seus produtos, principalmente no setor da construção civil, tais como cimenteiras, cerâmicas e de pavimentação. feam 73 10. AÇÕES COMPLEMENTARES – RECOMENDAÇÕES No desenvolvimento do “Projeto Associado Ardósia – Papagaios” ficou evidente a importância de uma ação continuada e sistemática por parte da Supram Central em Papagaios, no que se refere ao licenciamento ambiental e implantação do Centro Industrial. Problemas ambientais históricos na região relacionados à deposição irregular dos rejeitos, assoreamento de cursos d’água e supressão de vegetação devem ser resolvidos com o aproveitamento destes resíduos, trabalhos de revegetação e também com a implantação de sistemas de controle de carreamento de sedimentos, tais como sistema de drenagem de pilhas, canaletas e tanques escavados no próprio solo, desde que operações de manutenção sejam efetuadas periodicamente. Compatível às novas atribuições da FEAM, uma ação/projeto que poderia ser desenvolvida seria o acompanhamento da transferência das serrarias para o Centro Industrial, visando a análise comparativa dos valores dos consumos de energia e água antes e após a implantação do Centro Industrial. A respeito do aproveitamento de rejeitos, já se discutiu e preliminarmente estruturou, junto com o CMRR, a realização do 1º SEMINÁRIO MINEIRO SOBRE O APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS MÍNERO-INDUSTRIAIS. O Seminário seria o ponto de partida para um trabalho mais amplo, que se designa como “simbiose industrial”, através do qual avalia-se o mercado potencial para as matérias-primas minerais afins aos rejeitos enfocados, visando promover a aproximação de consumidores e fornecedores. É importante que se promova a regularização do recolhimento da CFEM, conforme exposto pelo DNPM no Seminário realizado em Papagaios, o que poderia ser encaminhado e viabilizado através de uma ação articulada entre o FEAM, Prefeitura, DNPM, Secretaria Estadual da Fazenda e AMAR. Para as empresas produtoras de ardósia que comprovadamente se destacassem com técnicas de maior aproveitamento dos resíduos gerados poderia instituir a aplicação de um selo de mérito ambiental. Assim, As empresas contempladas fariam jus a algum tipo de premiação, como por exemplo, incentivos fiscais e tributários e/ou linhas de crédito facilitadas para o desenvolvimento de projetos industriais. feam 75 REFERÊNCIAS AMARAL, G.; KAWASHITA, K. Determinação da idade do Grupo Bambuí pelo método Rb/Sr. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 21, 1967, Curitiba. Anais... Curitiba: Sociedade Brasileira de Geologia, 1967, p. 214-217 apud ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS – APL. Detalhamento de arranjos produtivos local de base mineral: APL ardósia papagaio/MG. Realização MCT; FIEMG/IEL. 2006. 226 p. ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS – APL. Detalhamento de arranjos produtivos local de base mineral: APL ardósia papagaio/MG. Realização MCT; FIEMG/IEL. 2006. 226 p. BARBOSA, A. L. M. Curso de Petrologia - I. Minerais Petrográficos, II. Petrografia Macroscópica. Ouro Preto: Escola de Minas e Metalurgia - UFOP, 1974. 248 p apud ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS – APL. Detalhamento de arranjos produtivos local de base mineral: APL ardósia papagaio/MG. Realização MCT; FIEMG/IEL. 2006. 226 p. BRASIL. DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL - DNPM. Arrecadação do Estado de MG – ano 2009. Disponível em: <https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/arrecadacao_cfem_muni.aspx ?ano=2009&uf=MG>. Acesso em: 04 mar. 2010. CARVALHO, G. et al. Obtenção de compostos de resíduos de ardósia e poliprolipeleno de polímeros – Minas Gerais. 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Tal estudo, intitulado Caracterização e Pesquisa de Aplicações de Resíduos e Aparas de Ardósia, centrou seu enfoque em resíduos sólidos e efluentes líquidos resultantes das atividades de extração, beneficiamento e industrialização de ardósias. Nessa pesquisa, coordenada pelo Prof. Wilfrid Keller Schwabe, foram realizadas análises granulométricas, mineralógicas, químicas, termo-diferenciais, termo-gravimétricas e alguns testes cerâmicos, analisando-se o pó de ardósia e aparas de tamanho variável. As análises permitiram caracterizar o pó de ardósia como um material fino, sílico-aluminoso, que tem plasticidade e alto teor em óxidos de ferro e álcalis (Na2O e K2O). Sua composição é semelhante à de uma argila utilizada em olaria. O pó pode ser misturado na proporção de até 50% com argila para cerâmica vermelha. O teor de óxido de ferro aprofunda a cor vermelha e o teor de álcalis pode baixar o ponto de fusão, facilitando a sinterização e diminuindo o consumo de energia na queima. A pesquisa concluiu que o rejeito sólido da ardósia, transformado em pó ou brita, tem alta potencialidade para aplicação em agregados, agregado leve, cargas (principalmente para massa asfáltica), blendagem com cimento e material cerâmico. A pesquisa também concluiu que, com trabalhos mais aprofundados, poderia ser caracterizada a possibilidade de uso dos rejeitos de ardósia na fabricação de telhas e tijolos, impermeabilização em reservatórios e aterros, corretivo de solos, produção de solocimento, pozolana e na recuperação de áreas degradadas. APLICAÇÃO EM ESTRADAS – A EXPERIÊNCIA DA CONSTRUTORA EGESA Foi utilizada brita de ardósia no asfalto a quente, usinado, realizado com sucesso pela construtora EGESA na BR-040 num trecho de 10 km que liga os municípios de Pompéu e Felixlândia, como antes mencionado. Foram consumidas 7.000 toneladas de brita de ardósia. Um dos engenheiros responsáveis pela obra (engº. José Carlos Ribeiro), referiu que torna-se necessário dispor de equipamento adequado para atender às normas do DNIT – Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes, que substituiu o antigo DNER. Ainda segundo o engenheiro, existem diversas utilizações possíveis dos resíduos da ardósia no asfaltamento das estradas, além da brita na camada inferior e na pista de rolamento, feam 80 como o pó para a mistura com outro mineral e no concreto (até os cacos podem ser utilizados). Destaca-se que os rejeitos da ardósia também poderiam ser aproveitados para o capeamento e asfaltamento de ruas, avenidas e praças, tanto nos municípios produtores da Província da Ardósia quanto daqueles próximos a eles, observando-se os custos de transporte e desde que sejam respeitadas as especificações e as condições de sua utilização. UTILIZAÇÃO EM REFLORESTAMENTO – A EXPERIÊNCIA DOS EMPRESÁRIOS Empresários do segmento da ardósia confiam na possibilidade de uso do pó da ardósia como fertilizante e corretivo de solo. No caso de projetos de reflorestamento, o pó da ardósia seria aplicado no plantio de mudas de eucalipto. O embasamento para esta utilização consiste no sucesso dos resultados experimentais com a revegetação nas pilhas de ardósia, realizado pela pesquisadora Valéria Freitas (FREITAS et. al., 2005), do CETEC, admitindo-se um princípio similar ao da rochagem para produção de fertilizantes alternativos. Isto porque a ardósia possui concentrações expressivas de carbonato de cálcio e potássio, capazes de tanto corrigir a acidez dos solos quanto melhorar a sua fertilidade (refere-se que as concentrações de K2O são significativamente mais elevados nas ardósias verdes e vinho, com teores até superiores a 5%). Cabe destacar a proximidade de grandes projetos de reflorestamento da Província da Ardósia, especialmente de indústrias siderúrgicas, inclusive de grande porte, como a Belgo Mineira e a Valourec & Mannesmann. Existem também empreendimentos expressivos como o da Plantar e de outras empresas na região, assim como próximo a Curvelo – grande porta de entrada do carvão proveniente de plantios de eucalipto de outras áreas do estado, como o Jequitinhonha, o Norte de Minas, o Noroeste e de outros estados. Um outro fato positivo para esta opção de reflorestamento, é a proximidade com siderúrgicas e metalúrgicas, que utilizam carvão vegetal, em diversos municípios próximos, como Sete Lagoas, Divinópolis, Itaúna, Pará de Mimas, Claúdio e Pitangui. INSUMO PARA CERÂMICA VERMELHA Dissertação de Mestrado de Maria Cristina de A. OLIVEIRA (2001). Estudo de Aproveitamento de Rejeitos da Mineração de Ardósia visando Aplicações Tecnológicas em Cerâmica. No estudo de referência de Oliveira (2001), são apresentadas as seguintes conclusões e considerações sobre a aplicação dos rejeitos da ardósia na indústria cerâmica. Os rejeitos de ardósia, seja na forma de pó de ardósia obtido a partir da moagem dos rejeitos sólidos ou na forma de lama oriunda do processo de beneficiamento, apresentam propriedades feam 81 cerâmicas promissoras, quando estudados em escala laboratorial. Após queima, o pó de ardósia desenvolve cor vermelha, característica que restringe sua aplicação aos produtos de cerâmica vermelha estrutural (tijolos, telhas, etc.) e às placas cerâmicas para revestimento de base vermelha, não podendo ser utilizado em massas de cor clara. Como o pó de ardósia não apresenta plasticidade, não pode ser utilizado como única matéria prima para cerâmica, pois devido ao seu baixo poder de coesão, não é possível conformar um corpo com resistência mecânica à verde suficiente para permitir o seu manuseio ao longo do processo de fabricação. Logo, deverá ser adicionado a argilas com alto poder de agregação; neste caso o pó de ardósia agirá como um material desplastificante. Nas misturas destinadas à produção de cerâmica vermelha foi possível introduzir até 40% de pó de ardósia (abaixo de peneira 32 mesh), mantendo-se a absorção d’água do material dentro do limite especificado pelas normas ABNT (NBR 7171; NBR 7172; NBR 9601; NBR 13582) para os produtos de cerâmica vermelha estrutural (blocos cerâmicos para alvenaria e telhas) e com boas condições de conformação por extrusão. Esse valor máximo para a adição de pó de ardósia é válido para a mistura estudada que utilizou argila do tipo taguá vermelho como base; porém, deve variar em função da plasticidade e do poder de aglomeração de outras argilas sobre as quais o pó de ardósia seja misturado. Sobre a massa de revestimento cerâmico foi possível adicionar até 20% de pó de ardósia, mantendo-se a especificação para placas cerâmicas para revestimento – grupo de absorção BIIb prensado (conforme ABNT NBR 13818) quanto aos valores de absorção d’água e carga de ruptura. Adições superiores a 20 % resultaram em misturas cujo valor da absorção d’água excede o limite especificado para essa classe de produtos. Também o valor da carga de ruptura mostrou-se aquém da especificação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Durante as visitas técnicas realizadas em indústrias cerâmicas localizadas em cidades num raio de 80 Km ao redor de Papagaio – MG, procedeu-se ao levantamento das principais necessidades e dificuldades atualmente enfrentadas por elas, diante do desafio de otimizar o processo produtivo e melhor qualificar os produtos. Destacam-se: a. As argilas utilizadas na fabricação de produtos de cerâmica vermelha estrutural apresentam cor de queima vermelho claro. Sabe-se que o consumidor geralmente exige produtos com coloração vermelha mais acentuada. b. A temperatura de queima das argilas empregadas é alta (cerca de 1150ºC), elevando o custo de produção. c. A matéria prima é trazida de longas distâncias, o que encarece o custo do frete. As reservas das argilas utilizadas na região começaram a escassear, gerando a necessidade de desenvolver novas matérias primas para uso industrial. Os resultados obtidos neste trabalho demonstraram que a adição de pó de ardósia em misturas para cerâmica vermelha estrutural, proporcionará uma série de vantagens técnico-econômicas que, feam 82 certamente, contribuirão para a solução de grande parte dos problemas relatados pelas empresas locais. Algumas dessas vantagens são: · Intensificação da cor de queima vermelha; · Diminuição da retração linear, o que acarreta uma redução na quantidade de material requerida por peça produzida; · Redução da quantidade de argila, aumentando a permeabilidade do material e conseqüentemente, facilitando a saída da água de amassamento no momento da secagem. Ressalta-se, finalmente, que para viabilizar o uso industrial do pó de ardósia em misturas cerâmicas é fundamental que se proceda à adequação do processo de moagem em larga escala e também à determinação do percentual de pó a ser adicionado, em função das características das argilas com as quais o pó de ardósia comporá a mistura (OLIVEIRA, 2001). INSUMO PARA CIMENTO Dissertação de Mestrado de Evandro CARRUSCA Oliveira (2001): Aproveitamento Industrial de Resíduos de Ardósia como Insumo Mineral na Fabricação de Cimento. Esta pesquisa de mestrado (CARRUSCA, 2001) foi implementada na fábrica de cimento da Holdercin Brasil S/A / Unidade Ciminas, com desenvolvimento de testes que objetivaram avaliar o aproveitamento de resíduos de ardósia, em substituição à argila convencionalmente utilizada, na composição primária da farinha para fabricação do clínquer e conseqüente produção de cimento. Ensaios laboratoriais foram realizados na Holdercin e na Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP, comparando-se os parâmetros técnicos da farinha tradicional, contendo argila, e da farinha em desenvolvimento com os finos de ardósia (85% de calcário e 15% de ardósia). Os resultados dos ensaios consideraram as propriedades químicas e granulométricas dos resíduos de ardósia semelhantes às propriedades da argila empregada na fabricação do cimento. Esses resultados também foram comprovados nas análises da farinha de cru, matéria-prima que origina o clínquer. Comprovou-se, além disso, através dos resultados dos testes de moagem e ensaios granulométricos um maior rendimento na cominuição da farinha contendo ardósia. Os estudos de Carrusca (2001) concluíram que a fase de testes de laboratório apresentou resultados positivos, confirmando a possibilidade de se empregar as aparas de ardósia, na forma de brita fina, como constituinte da farinha de cru, em substituição à argila. feam 83 ATIVIDADE POZOLÂNICA11 DA ARDÓSIA EXPANDIDA Tese de Doutorado de Maria Eugênia Monteiro de Castro SILVA (2004): Caracterização de Produtos Gerados no Processo de Expansão Térmica de Rejeitos de Ardósia. O estudo de Silva (2004) envolveu a realização de ensaios de expansão térmica das diferentes variedades de ardósia produzidas em Papagaio e região, objetivando avaliação dos produtos na indústria cimenteira. A ardósia natural não apresentou propriedades pozolânicas para argamassa de cimento, quando avaliada pelos métodos químico e físico. Por outro lado, os resultados obtidos para a ardósia expandida confirmaram a pozolanicidade, segundo os ambos os métodos. A expansão das ardósias ocorreu no sentido perpendicular à clivagem, sendo as ardósias pretas e grafite as que apresentaram maior grau de expansão, seguidas, em ordem decrescente, das ardósias cinzas, ferrugem, matacão, vinho e verde. “Materiais pozolânicos são materiais silicosos ou sílico-aluminosos que, por si só, possuem pouca ou nenhuma atividade aglomerante, mas quando finamente moídos e na presença de água, reagem com hidróxido de cálcio à temperatura ambiente, formando compostos com propriedades aglomerantes” (LEA apud SILVA, 2004, p. 56). Após a expansão térmica, a composição química das ardósias apresentou variações pouco significativas. Para a massa específica, os valores foram inferiores, o que ocorreu também com a resistência mecânica. Os valores de absorção de água dos produtos de expansão foram mais altos, com exceção das ardósias vinho e verde, bem como da ardósia preta, que não apresentou alteração. Apesar da variação, pode-se considerar que os valores estão abaixo dos índices de absorção de água necessários para materiais pozolânicos. Concluiu-se que o tratamento dos rejeitos de ardósia, pelo processo de expansão térmica, promove o desenvolvimento das atividades pozolânicas do material. Devido ao caráter pozolânico conferido aos produtos da expansão térmica das ardósias, como adição mineral substituindo parcialmente o clínquer do cimento Portland, esses produtos apresentam-se portanto como alternativa tecnicamente viável de aproveitamento dos rejeitos da lavra e do beneficiamento. Segundo a ABCP, os ensaios realizados demonstram melhora na qualidade do cimento, demandando-se estudos em escala industrial para definição da economicidade do processo. Silva (2004) ressalta que na concepção do projeto previu-se a realização de estudos de expansão térmica de rejeitos de ardósia visando à geração de agregados leves para o uso na construção civil, porém a escala de laboratório inviabilizou a pesquisa, o que certamente, segundo a autora, apresenta-se como uma alternativa de significativa relevância técnica e econômica.