Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação MAL-ENTENDIDOS: arte contemporânea, vida cotidiana e experiência estética MISUNDERSTANDINGS: contemporary art, everyday life and aesthetic experience 1 Eduardo Antônio de Jesus Resumo: O texto toma as obras de Rivane Neuenschwander para refletir sobre as experiências estéticas que se dão no trânsito entre os espaços institucionalizados da arte e a vida cotidiana. Aproximamos as obras da artista da noção de “literatura menor” desenvolvida por Deleuze e Guattari em torno da produção literária de Franz Kafka. Para os autores, Kafka produziu uma “literatura menor” que aciona aspectos políticos e revolucionários. Ao construirmos essa aproximacão nos interessa ver como as obras de Rivane produzem desterritorializações que nos permitem perceber a vida cotidiana como território de intensas experiências estéticas. Esse trânsito reverbera de forma política como um forte processo de resistência aos modos como o capitalismo cognitivo, através dos diversos sistemas midiáticos, assedia nossa produção de subjetividade, encaminhando-a para formas padronizadas e controladas de se inserir no mundo Palavra chave: Experiência estética. Arte contemporânea. Vida cotidiana. Abstract: The text takes the Rivane Neuenschwander´s works to reflect on aesthetic experiences that occur in transit between the institutionalized spaces of art and everyday life. We approach the artist´s work to the minor literature notion developed by Deleuze and Guattari around the literary production of Franz Kafka. For the authors, Kafka produced a " minor literature" that triggers political and revolutionary aspects. In building this approach we are interested to see how the works of Rivane produce deterritorializations that allow us to perceive everyday life as an area of intense aesthetic experiences. This influence reverberates in a political way as a strong process of resistance to the ways in cognitive capitalism through the various media systems, harasses our production of subjectivity, forwarding it to standardized forms and controlled to enter the world. Keywords: Aesthetic experiences. contemporary art. Everyday life. Listas de supermercado escritas a mão em diversos tipos de papel, as vezes bem pequenos, outros grandes, rasgados ou recortados grosseiramente ao acaso. Nestes pedaços de papel são utilizadas canetas com traços, cores e tipos diferentes. Esfereográfica ordinária que se encontra em qualquer lugar, de traço mais grosso ou mais fino. Canetinha quase sem tinta. As caligrafias distintas, os vestígios no papel e os produtos listados. Recolhidas de diversos supermercados em Londres entre junho de 2013 e maio de 2014, estas listas de compras, organizadas em torno das estações do ano, compõem a obra “Colheita” de Rivane Neuenschwander, que integrava a exposição “mal-entendidos”. www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 1 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação Retomo as obras de Rivane Neuenschwander provocado por essa exposição e por outros 2 trabalhos da artista apresentados na exposição coletiva “Do objeto ao mundo” . Tomo, mais uma vez, o caminho quase tortusoso que tenta aproximar experiências estéticas e vida cotidiana, começando na arte contemporânea, nos espaços institucionais da arte, para chegar ao domínio da vida ordinária. Anteriormente, a questão despertada por algumas obras, entre elas as de Rivane, era perceber como a arte poderia nos reconduzir ao domínio da vida cotidiana, mas com uma percepção alargada das potentes experiências estéticas do mundo ordinário. Sem epifanias e acionando uma resistência silenciosa ao grande alarido típico dos meios de comunicação – sintonizados no tom espetacular típico da vida contemporânea – essas obras parecem nos remeter do espaco expositivo à vida cotidiana, mas compreendendo-a como espaço de intensas experiências estéticas e resistência. Era essa a formulação na qual me detive durante um certo tempo e que graças a um potente 2 conjunto de formulações e comentário desdobrou-se em novas direções. A intensidade do diálogo e a visita as duas exposições me fizeram retomar a reflexão para circunscrevê-la em relação a noção de “literatura menor”, extrapolando-a para um conceito mais aberto de “arte menor”. Essa nova direção mantém a questão inicial: a relação entre experiência estética, arte contemporânea e vida cotidiana, como um processo de resistência diante das formas espetaculares que assediam as subjetividades. Anteriormente havíamos tomado, de forma ainda superficial, as reflexões de Deleuze & Guattari (2014) em torno da noção de literatura menor que, derivada e expandida, tornase agora o principal vetor para a construção da noção de arte menor, que acreditamos caracterizar algumas obras de Rivane. Naquele momento, a noção apareceu somente mais ao final do texto, num lampejo do que agora se torna a articulação mais central “para pensar essas experiências estéticas que se dão nos contextos e espaços institucionalizados da arte, mas nos conduzem para fora em direção aos espaços cotidianos da vida ordinária”. Assim, acreditamos que as experiências estéticas acionadas por algumas obras nos permitem ativar outras possibilidades de inserção no mundo, nos abre para a invenção de possíveis, como afirma Suely Rolnik: A especificidade da arte enquanto modo de expressão e, portanto, de produção de linguagem e de pensamento é a invenção de possíveis – esses ganham corpo e se apresentam ao vivo na obra. Daí o poder de contágio e de transformação de que é portadora a ação artística. É o mundo que está em obra por meio dessa ação. (ROLNIK, 2008, p. 27) Gerando outras formas de inserção no mundo e ativando novos possíveis a produção www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 2 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação artística acaba por criar uma espécie de resistência a certa “padronização dos possíveis”. No 3 território das “mundos-imagens” do consumo as saídas parecem sempre nos enviar para um mesmo lugar cercado pelo espetáculo midiático tanto em suas formulações ligadas aos meios de comunicação de massa e de traço mais Debordiano, quanto as horizontais (mass self communication , como afirma Manuel Castells), essas que alimentamos com nossas imagens nas redes sociais, bem como em seus cruzamentos. Naturalmente que sabemos de toda a potência existente nas apropriações, contratos e passagens entre os processos de subjetivação ativados na recepção dessas imagens e a vida social. Coletiva e individualmente essas imagens-mundo, sem dúvida servem a difusão do consumo e dos apaziguamentos de todas as contradições contemporâneas, mas apesar disso, sempre há algo que escapa, que pela intensidade dos sentidos em jogo na recepção, reverbera de outro modo. Não há caminho único na contemporaneidade, as relações entre esses significados se colocam em termos de multiplicidades e agenciamentos expandidos nos dinamismos da vida social. 1. mal-entendidos Esse era o nome da exposição panorâmica de Rivane Neuenschwander no MAM-SP realizada entre setembro e dezembro de 2014. O nome deriva de uma das obras expostas: um copo cheio de água, no qual flutua um ovo. Devido a refração, a parte de baixo, imersa na água, fica imensa enquanto a de cima continua no mesmo tamanho, provocando um desencontro entre ambas as partes. Para além do simples truque ótico, “Mal-entendido” (2000) exposto em uma pequena prateleira no espaço expositivo, aponta para outras questões bem mais complexas. Trata-se de “uma demonstração de que mesmo materiais aparentemente transparentes como o vidro e a água podem distorcer nossa boa percepção da realidade. A pergunta é: existe, de fato, uma boa percepção e representação da realidade?” (PEDROSA, 2014). A questão apontada pelo curador Adriano Pedrosa atravessa a exposição e constrói um potente tensionamento entre sistemas de linguagem e formas de representação apontando falhas e lacunas que tornam os processos de significação abertos ao Outro e ao acaso. Tudo parece pulsar numa vitalidade silenciosa, aproximando os códigos de linguagem, organizados de forma mais www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 3 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação rígida e geométrica, do erro, da falha e do mal-entendido. Paira a dúvida e a instabilidade de sentidos dos códigos da linguagem minados pelas forças do afeto, da vida, do acaso e do orgânico. Mesmo porque o Outro, convocado a participar da própria elaboração da obra, coloca em jogo seu próprio desejo, como em “Primeiro amor”. Nesta obra o “visitante é convidado a descrever seu primeiro amor para um desenhista da polícia especialista em retrato-falado” (NEUENSCHWANDER, 2010, p. 150). Tal qual a música (“meu primeiro amor tão cedo acabou e só a dor deixou nesse peito meu”), as imagens nebulosas e fugidias do primeiro amor, na traição da memória e de nossas próprias construções, vai ganhando forma no desenho e nas sucessivas perguntas e descrições, um jogo entre vivido e imaginado, entre a experiência e o trabalho dos dias, entre fabulação e realidade. Lisete Lagnado comenta essa implicação do Outro nas obras de Rivane: A maioria das obras depende da implicação pessoal de colaboradores que Rivane consegue mobilizar sem nenhum outro capital que a motivação gerada por seu trabalho. (…) Parte do serviço dela consiste em coordenar indivíduos que lhe emprestam de sua energia vital, um eufemismo da ciência biológica para não nomear diretamente o desejo. Subordinados a suas instruções, os cooperantes colocam suas competências à disposição e assim o trabalho de um vai nutrindo o do outro. (LAGNADO, 2011, p. 14). Esse compartilhamento cúmplice entre sujeitos e obras atua de forma intensa na construção dos sentidos e sobretudo nas sensíveis reverberações que provocam nos processos de subjetivação, especialmente por tornarem os sistemas de linguagem ainda mais falhos e lacunares. Em “Esculturas involuntárias (atos de fala)” (2001-2010) o que vemos são pequenos objetos “feitos por diversas pessoas durante conversas em bares e restaurantes” (NEUENSCHWANDER, 2010, p. 140). Esses pequenos vestígios também funcionam como mapas afetivos construídos nos momentos de distração, na fluidez do espaço amistoso dos encontros e conversas. Paulo Herkenrhhoff comenta a obra e destaca seu lugar na articulação das falhas da linguagem: A falta de destino social desses objetos-situação parece ter sido corrigida por Neuenschwander ao trazê-los para a arena da arte. Ali enfrentariam a conclusão de Maurice Blanchot de que “a palavra sempre já fracassou em capturar o que nomeia. (HERKENHOFF, 2010, p.76) Talvez a construção dos sentidos passe mais pelo sensível, pelo envolvimento direto na obra sabendo que não há sistema de linguagem que consiga abordar a totalidade do que somos e sentimos, como mostrou Herkenhoff ao citar Blanchot. Tudo aberto ao encontro com o Outro e com seus processos de subjetivação, sempre ativando o sensível. Assim os “atos de fala” e outros sistemas de linguagem surgem na exposição como os alfabetos, organizados rigidamente em linhas, www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 4 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação mas feitos com temperos, de Açafrão a Zattar em “Alfabeto comestível” (2002). As linhas de tempero que compõem cada um dos 26 paineis podem nos permitir escrever um outro texto, muito mais lacunar e aberto para as mais diversas narrativas e paladares. O alfabeto também é o ponto de partida para “Palavras cruzadas” (2001) que dividia a sala com os quadros de temperos e condimentos. Em pequenas caixas de papelão no chão, como construções labirínticas, pousam limões e laranjas desidratados com letras do alfabeto esculpidas. São quatro conjuntos de letras do jogo palavras cruzadas (Scrabble) que permitem aos visitantes comporem palavras com as letraslaranja. As duas obras que ocupavam a primeira sala da exposição apontam para lacunas e falhas nos sistemas de linguagem. Como escrever com os temperos? Como usar esse alfabeto? É preciso acionar os sentidos (olfato, visão e tato) para se expressar nesse sistema. As laranjas e limões, por outro lado, nos permitem – nas rígidas composições geométricas e labirínticas onde estão dispostos – escrever e expressar livremente. Essa dimensão ativa da participação do Outro seja um visitante, os autores de obras que são incorporadas a exposição ou um funcionário do museu, ativa as obras levando-as para o território do afeto e da vida. Quando olhamos para as listas de compra de “Colheita” ou os pequenos volumes de papel retorcidos em “Esculturas involuntárias (atos de fala)” parece que vemos uma cartografia do Outro. Os pontos são os possíveis momentos compartilhados e a própria vida. Fabulação do Outro na vida cotidiana possibilitado pela arte como um mapa aberto da história de cada um de nós e de nossos afetos. Sempre incompleta, é em torno dessa construção repleta de possíveis erros e falhas, lacunar por excelência, que nos perguntamos sobre as potências da experiência estética na vida cotidiana. 5 A vida faz parte das obras e ampliam o sentido dos encontros acionando a memória de outras experiências para que as obras sejam sensivelmente percebidas e experimentadas. O jogo entre as experiências – aquelas vindas da arte e de seus espaços institucionais e as mais ordinárias e cotidianas – atuam na construção dos sentidos da obra, trata-se de uma desterritorialização. Não estamos exclusivamente no território da arte, mas numa linha de fuga. Nesse contexto o sensível tem uma centralidade na constução dos sentidos das obras, como nos mostra Jean-Luc Moriceau e Isabela Paes ao comentarem sobre as relações entre o sensível e o sentido: Nosso contato com o sentido, ou o nosso trabalho de construção de sentido, nasce a partir de nossa abertura ao mundo, nossa sensibilidade, nossa capacidade de sermos afetados, se origina e toma forma ao tocar de nossas sensações, mas ainda mais no universo do sensível. (MORICEAU e PAES, 2014, p. 110). www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 5 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação A questão central nessas obras de Rivane Neuenschwander está justamente nessa capacidade de sermos afetados. É o modo como as obras nos solicitam ver que, por exemplo, cada uma das listas de compra traz consigo fragmentos de muitas vidas revelando a nossa própria e a potência que essa banal lista de compras pode trazer para revelar momentos da vida, contextos, experiências e subjetividades. Um caminho de volta da galeria ou museu aos, supostamente, insignificantes momentos da vida cotidiana, onde, silenciosamente, nada parece significar ou acontecer. Assim nos deslocamos do mais programado e conseguimos sensivelmente perceber que é justo na lisura do cotidiano que efetivamente damos sentido a vida e produzimos uma subjetividade descolada dos meandros, quase deterministas, do mercado e do capital. Aqui também alçamos uma linha de fuga e escapamos dos esquematismos de uma produção de subjetividade programada e fechada para termos outras formas de inserção no mundo. Experimentar as obras de Rivane é adentrar-se nesse território no qual a linguagem escapa, tornando-se falha e lacunar, e onde nossos desejos são implicados como vetor sensível para a produção de sentidos e de encontros. 2. a arte menor A imagem dialética à qual nos convida Benjamin consiste em fazer surgirem os momentos inestimáveis que sobrevivem, que resistem a uma organização de valores que empobrece a experiência, fazendo-a explodir em momentos de surpresa. (DidiHuberman, 2011, p.126). A produção artística contemporânea traz em suas abordagens, estratégias e procedimentos as questões e tensionamentos do mundo. Como afirma Suely Rolnik: “não há então porque estranhar que a arte se indague sobre o presente e participe das mudanças que se operam na atualidade” (ROLNIK, 2008, p. 27,). Tomando a produção artística podemos esboçar sensações, sentidos e significados típicos de nosso tempo, minado, desde os anos 70, pelas formas sofisticadas do capitalismo cognitivo ou cultural que se alimenta da criação, do conhecimento e das políticas de subjetivação. Nesse conexto, algumas vezes uma obra pode manejar pulsações de vida com tamanha intensidade que faz com que se torne uma singular forma de perceber a arte como eminente desterritorialização, experiência que para ativar sua potência precisa nos deslocar, gerar vetores de saída e linhas de fuga. As obras de Rivane Neuenschwander solicitam a implicação direta dos sujeitos em sua construção, algumas vezes no momento da exibição, como em “Primeiro amor” e em outras no www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 6 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação processo construtivo como “Esculturas involuntárias (atos de fala)”. O Outro, com o seu desejo e singularidade, bem como as complexas relações que desprende de sua presença habitam as multiplicidades acionadas nas obras. Por isso, sempre há uma tensão entre a organização formal geométrica e o que vem do erro e do acaso desestabilzando sistemas de linguagem que alterados, nos permitem colocar a linguagem em outra voltagem, mais aberta a ação do Outro, como afirma Pedrosa: Tudo parece emergir de uma crise da representação e seus códigos, da linguagem e seus alfabetos, e de um desejo de desenvolver alternativas que, ainda que não descartem a grade (seja ela geométrica, arquitetônica, científica ou linguística), passem também pelo erro, o orgânico, o acaso, o afeto, a vida. (PEDROSA, 2014, s.p.). O deslocamento e o tensionamento provocado pela presença do Outro redimensiona os processos de construção de sentido da linguagem fazendo-os se abrirem para o mundo perdendo com isso certa precisão e o desejo totalizante de tudo representar. Aqui o fracasso habita a linguagem e a recoloca em contato conosco, para juntos duvidarmos das “boas representações da realidade”. Esse gesto que recoloca a linguagem em uma situação de imprecisão e risco, presente nas obras de Rivane, pode nos levar a pensá-las como manifestações de uma arte menor, derivando, mais uma vez, das reflexões de Deleuze e Guattari (2014). Mas o que seria uma arte menor? Será que o conceito desenvolvido pelos autores para dar conta dos rizomas e multiplicidades que caracterizam a obra de Kafka podem nos servir para caracterizar obras contemporâneas, como as de Rivane? Será mesmo que essa arte menor pode se tornar uma linha de resistência em relação ao modo como as políticas e os poderes, expressos sobretudo no domínio das imagens, assediam nossas subjetividades? Para empreendermos essa aproximação, é importante retomarmos as reflexões originais dos autores em torno da obra de Franz Kafka. Originalmente lançado em 1975, o pequeno livro sobre literatura se situa entre duas importantes obras de Deleuze e Guattari e funciona como campo de experimentação e de desenvolvimento de conceitos que seriam centrais para as obras posteriores. Assim entre “O antiÉdipo” (1972) e “Mil platôs” (1980) os autores lançam “Kafka: por uma literatura menor”. Conceitos centrais na obra dos autores como rizoma – que aparece pela primeira vez logo no início de “Kafka” (“como entrar na obra de Kafka? É um rizoma, uma cova.”) – e agenciamento (que dá nome a um dos capítulos do livro) fazem com que esse livro assuma um lugar de destaque nas www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 7 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação obras da dupla. Mas não apenas por isso, mas sobretudo pela passagem de uma “postura crítica, denunciativa, que é a de ´O anti-Édipo´ em face da psicanálise, para uma posição afirmativa, a de seu próprio procedimento, singular, testando-a no confronto com uma grande obra literária” (DOSSE, 2010, p. 202). As características da obra de Kafka em suas multiplicidades e tensionamentos, para além do texto propriamente dito, é a matéria pela qual Deleuze e Guattari refletem sobre a relação entre teoria e literatura. Como nos mostra Schollhammer, a questão que se coloca diz respeito a uma abordagem mais experimental tanto da literatura quanto da teoria literária: (…) poderíamos dizer que não se trata, para Deleuze e Guattari, de compreender os textos literários nem de interpretá-los e procurar o que significam, mas de descobrir como funcionam, o que podem fazer, assim como se descobre o funcionamento de uma máquina, desmontando-a para logo remontá-la teoricamente, evidenciando sua real performance. (SCHOLLHAMMER, 2002, p. 60) Esse traço da obra de Deleuze e Guattari (2014) nos interessa bastante por ativar uma espécie de protocolo experimental na abordagem da literatura de Kafka trazendo para o primeiro plano o funcionamento da “máquina” e rompendo com os “cânones consagrados pela tradição, opondo a ela a força criativa de uma literatura dita menor” (DOSSE, 2010, p. 203). O protocolo experimental desenvolvido por Deleuze e Guattari em Kafka torna-se um horizonte a ser perseguido para a abordagem de obras de arte no contexto contemporâneo. O que estrutura o livro de Deleuze e Guattari, além da postura mais ampla de abordagem da máquina Kafka ligada a um protocolo experimental (“não acreditamos a não ser em um experimentação de Kafka, sem interpretação nem significância, mas somente protocolos de experiência”) é a construção da noção de literatura menor. Na obra são destacadas as três principais características das literaturas menores, tomando as obras de Franz Kafka. Listamos e comentamos essas características a seguir, para vermos como poderemos aproximar esse complexo rizoma conceitual do domínio da arte contemporânea. Primeiramente os autores tratam da desterritorialização abordando a literatura judia em Varsóvia ou em Praga. Para Deleuze e Guattari, “uma literatura menor não é a de uma língua menor, mas antes a que uma minoria faz em uma língua maior. Mas a primeira característica, de toda maneira, é que, nela, a língua é afetada de um forte coeficiente de desterritorialização” (DELEUZE e GUATTARI, 2014, p. 35). Nas proposições maquínicas ou teoremas de desterritorialização, os autores apontam no primeiro teorema que “jamais nos desterritorializamos sozinhos, mas no mínimo com dois termos: www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 8 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação mão-objeto de uso, boca-seio, rosto-paisagem. E cada um dos dois termos se reterritorializa sobre o outro” (DELEUZE e GUATTARI, 2012, p. 45). Schollhammer nos mostra como os autores caracterizam a desterritorialização na obra de Kafka: Mas como entender esta prática motivada por “um forte coeficiente de desterritorialização”? No caso histórico de Kafka, trata-se de um escritor que escreve em alemão como parte de uma minoria judia em Praga e, portanto, é desterritorializado triplamente. Não escreve em tcheco, a língua da sua pátria, não escreve em iídiche, a língua da sua comunidade, mas escreve num alemão deficitário, deslocado da língua maior. Assim, a desterritorialização da língua de Kafka expressa a ruptura do seu compromisso nato com as ideologias de uma língua materna, estofo da consciência nacional e conteúdo de uma identidade orgânica que naturalmente representa. (SCHOLLHAMMER, 2002, p. 63) A desterritorialização aqui ativa esse completo impasse que faz da literatura de Kafka “algo de impossível: impossibilidade de não escrever, impossibilidade de escrever em alemão, impossibilidade de escrever de outro modo” (DELEUZE e GUATTARI, 2014, p. 35). Assim compreender essa primeira característica da literatura menor, esse “alto coeficiente de desterritorialização” é perceber que a língua, a linguagem e seus usos produzem um modo específico de estar no mundo, um modo de experimentar as linhas de fuga desta desterritorialização, para reterritorializar novamente. Se “(…) cada um dos dois termos se reterritorializa sobre o outro”, desdobrando a reflexão de Deleuze e Guattari no primeiro teorema, dois possíveis termos em Kafka poderiam ser: língua-pátria, como percebemos em Schollhammer. Esses dois podem se abrir para todo um sistema de “reterritorializações horizontais e complementares” entre língua e pátria ampliando sensivelmente os modos de abordagem graças as reterritorializações ocorridas. Tudo em movimento. De certa forma podemos perceber o mesmo gesto em algumas obras de Neuenschwander. Distante dos processos formais de elaboração fechados em si e ligados a tradição da arte, excessivamente centrada na autoria, as obras da artista parecem precisar do Outro e de seu desejo para se construírem. Trata-se de uma língua incompleta, menor, deslocada do domínio principal da arte, porque precisa intensamente do envolvimento do Outro e de seus processos de subjetivação para ativar suas potências. Existe um enorme coeficiente de desterritorialização nesses processos de formalização das obras, que deslocam para o Outro um importante atributo na própria existência da obra, como por exemplo em “Primeiro amor”, que descrevemos anteriormente. A obra parece existir para criar um processo de desterritorialização entre o real vivido e o fabulado, ampliando www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 9 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação sensivelmente o território da arte que, de forma sutil, tangencia a própria vida, criando uma potente desterritorialização da própria arte e de sua linguagem para as tramas subjetivas de nossa existência. Retomando as reflexões de Deleuze e Guattari em torno da literatura menor, a segunda característica apontada pelos autores é “que nelas tudo é político” (DELEUZE e GUATTARI, 2014, p. 36). Para os autores “o que nas grandes literaturas permance oculto e obtuso, na literatura menor torna-se operação em plena luz, mostrando o que pode ser dito e o que não pode” (DELEUZE e GUATTARI, 2014, p. 37). Todo um entrelaçamento entre individual e coletivo se constrói nesse momento ativando as questões políticas da literatura menor. Trata-se, como afirmam os autores ao comentarem a obra de Kafka, de um programa político “que faz com que cada caso individual seja imediatamente ligado à política” (DELEUZE e GUATTARI, 2014, p. 37). Nas obras de Rivane não há explicitamete, numa primeira visada, um traço político ou engajado especialmente se confrontamos com os atuais rótulos de “arte política” que animam os circuitos das grandes exposições. O que percebemos em suas obras é muito mais “políticas de subjetivação” (ROLNIK, 2008, p.29), ou mesmo uma política da resistência que ao desterritorializar as obras, aproximam-se de nossas inquietações diante da vida. Não há traço espetacular nas obras e tampouco nos materias usados. Tudo oscila entre uma intrigante simplicidade e a potência ativada quando experimentamos as obras, que se desdobram em nossos processos de subjetivação e nos aproximam ou nos reenviam, de forma intensa, para a vida cotidiana, mas transformados. Ao contrário de nos ligarmos nas sensações mercantis padronizadas e controladas que o capitalismo cognitivo nos oferece – com seus mundos de referência para que nos filiemos a eles através de suas imagens sensacionais – nos retiramos para a vida cotidiana, e em tom mais baixo, vemos que ali, distante das epifanias programadas do sistema midiático, ativamos experiências estéticas transformadoras que pelas sua características individuais nos encaminham para o coletivo. As políticas de subjetivação, como afirma Suely Rolnik, “mudam com as transformações históricas, pois cada regime depende de uma forma específica de subjetividade para sua viabilização no cotidiano de todos e de cada um”, reforçando assim, como Deleuze e Guattari na abordagem de Kafka, a passagem do individual ao coletivo, traço eminentemente político. A terceira característica desdobra-se da segunda, trata-se do agenciamento coletivo de enunciação e nos mostra que “tudo toma um valor coletivo (...) o que o escritor sozinho diz já www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 10 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação constitui uma ação comum, e o que ele diz ou faz é necessariamente político, mesmo que os outros não estejam de acordo.” (DELEUZE e GUATTARI, 2014, p. 39). Para os autores “menor não qualifica mais certas literaturas, mas as condições revolucionárias de toda literatura no seio daquela que se chama grande (ou estabelecida)”. O complexo conceito de agenciamento desenvolvido por Deleuze e Guattari aponta para uma certa junção entre um conjunto de relações materiais e um regime de signos. O agenciamento, pode assim ser compreendido, pela expressão (agenciamento coletivo de enunciação) e pelo conteúdo (agenciamento maquínico). Podemos citar como exemplos de agenciamentos coletivos de enunciação, entre outros, os agenciamentos midiáticos, familiar, judicial e escolar. Em “Primeiro amor”, “Colheita” ou “Esculturas involuntárias (atos de fala)”, obras de Rivane Neuenschwander que abordamos anteriormente, a passagem do individual ao coletivo e o manejo dos agenciamentos coletivos de enunciação é bastante nítido. Todos nós nos lembramos, mesmo que vagamente, do primeiro amor, mas ao confrontar o agenciamento judicial do policial especialista em retratos falados que, de dentro do espaço expositivo, diante de toda a audiência presente dá forma aos vestígios de nossa memória, toda a forma individual abre-se para o coletivo. De alguma forma, o mesmo ocorre em “Colheita”. Só conseguiremos perceber a cartografia do Outro que as listas desenham se nos voltarmos para as nossas próprias listas de compras ou para o sentido que uma lista de compras pode ter ao pensarmos sobre as dinâmicas da vida cotidiana. As “Esculturas involuntárias (atos de fala)” também orbitam nesta mesma passagem do indivual ao coletivo. Os pequenos volumes de papel, os canudinhos ou tampas de garrafa retorcidos, bem como as dobraduras de papel entre outras peças nos conduzem imediatamente para conversas despretenciosas em bares, encontros com amigos, momentos que todos nós, de alguma forma, já experimentamos. Mais uma vez o agenciamento coletivo de enunciação assume o lugar do sujeito e aponta para o coletivo, para aquilo que somos em conjunto. 3. resistências e políticas O aspecto imediatamente político da literatura menor não tem nada a ver com seu conteúdo ideológico, mas com sua performance enquanto uma multiplicidade de atos de fala que forma uma máquina expressiva. (SCHOLLHAMMER, 2001, p. 64) Construir a noção de arte menor – desdobrando as reflexões de Deleuze e Guattari em torno das obras de Kafka e de sua “literatura menor” – talvez seja um empreendimento teórico www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 11 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação grande demais para o exíguo espaço deste ensaio, mas trata-se de um gesto de aproximação, ainda tímido que vem se desdobrando e ganhando precisão e densidade. O que nos interessa sobremaneira, antes de qualquer coisa, é assumir o mesmo gesto de Deleuze e Guattari na abordagem de Kafka, escapando dos cânones e dos significantes, para perceber a potência da máquina expressiva e construir um protocolo experimental na abordagem das obras. Aqui nos interessa centralmente esse caminho que nos tira do cubo branco e nos faz, inevitavelmente, ancorar o sentido das obras nas multiplicidades da vida cotidiana. A lista de compras, os pequenos volumes “escultóricos” feitos de canudinhos ou as estranhas imagens do primeiro amor apontam para uma uma máquina, potente o suficiente, para fazer ecoar a voz do Outro na arte contemporânea. A arte menor, em nossa construção ainda precária e inicial, é essa potência que nos desloca dos cânones da arte para fazer instaurar em nós outras formas mais abertas de se inserir no mundo, como se fosse uma espécie de “solidariedade ativa” (DG, 37) que nos permite produzir formas de subjeitividade mais libertárias e resistentes aos apelos do capital. A proximidade com a vida cotidiana ou mesmo sua inserção em torno das formas de perceber e experimentar as obras nos fazem construir outros universos de referência menos espetaculares e menos midiatizados. O traço de uma experiência estética que para ser acionada pela arte precisa inevitavelmente de ter um lastro nas experiências cotidianas e ordinárias. Uma não opera sem a outra, a máquina expressiva típica de algumas obras de Rivane traz esses estilhaços da vida cotidiana e a ela nos conduz novamente. Agora pensamos que todas as nossas listas de compras são, na verdade, retratos dos momentos que vivemos e dos encontros que, de alguma forma, dão sentido a nossa existência. Para Martin Seel as experiências estéticas ativadas pela arte e aquelas da vida cotidiana estão intimamente tramadas: A experiência da arte vive da experiência fora da arte – e, com referência a essa última, vive de experiências estéticas nos espaços da cidade e do campo, estas sendo experiências em que as coordenadas do savoir-vivre e confiança no mundo estão embaralhadas. Assim, quando é uma questão do âmbito da experiência estética, do seu alcance, não podemos parar nas artes como se fossem a verdadeira realização da experiência estética. A experiência estética não conhece realização canônica verdadeira. Ela encontra realização em sermos atraídos para as possibilidades de percepção e compreensão, dentro e fora da arte, e descobre que estas possibilidades não podem ser esgotadas, controladas ou determinadas. (SEEL, 2014, p. 36) Talvez essa seja a passagem que as obras de Rivane nos mostram: da arte para fora dela e vice-versa. Território da arte, mas repleto de intensas linhas de fuga operando potentes www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 12 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação tensionamentos e desterritorializações nos modos como percebemos a arte e a relacionamos com nosso entorno e nossa vida. Nesse trânsito entre arte e vida cotidiana, entre os espaços da arte e os da vida ordinária, também residem as formas políticas que apontam para processos de resistência aos apelos mercantis do grande circuito midiático. As obras reforçam a singularidade dos processos de subjetivação, apontam, como Kafka, para essa comunidade porvir, essa que parece se colocar, cada vez mais, “em condição de exprimir uma outra comunidade potencial, de forjar os meios de uma outra consciência e de um outra sensibilidade” (DELEUZE e GUATTARI, 2014, p. 37). Essa outra consciência, certamente, percebe que as experiências estéticas, em seu trânsito entre arte e vida cotidiana, pode assumir contornos mais políticos e tão revolucionários quanto a literatura menor de Kafka, vista por Deleuze e Guattari. A arte menor se coloca como uma noção que nos permite construir abordagens da arte contemporânea, seguindo os caminhos abertos por Deleuze e Guattari, para além de sua língua própria e de seu repertório específico, para construir um protocolo experimental que veja a arte e as experiências estéticas em deslocamento como uma potência da própria vida ou como afirmava o artista francês Robert Filliou: a arte é o que faz a vida ser mais interessante que a arte. 1 Doutor, Professor do Programa de Pós Graduação em Comunicação Social da PUC Minas, [email protected] 2 Exposição realizada no Palácio das Artes em Belo Horizonte, Minas Gerais, entre 12 de dezembro de 2014 a 08 de março de 2015. 3O relato extremamente detalhado e bem cuidado apresentado na último XVIII Encontro da Compós produzido pela Professora Ângela Cristina Salgueiro Marques e seus orientandos Thales Vilela Lelo e Ana Karina de Carvalho Oliveira foi a principal motivação para retomada da questão. 4Retomamos aqui a expressão de Suely Rolnik presente em seu texto Geopolítica da cafetinagem. “(...) é exatamente por causa de nossa crença no mito religioso do neoliberalismo que os mundos-imagens que esse regime produz se tornam realidade concreta em nossas próprias existências” (ROLNIK, 2008, p. 33). 5 “De repente, atentados pipocam por todos os lados: indivíduos se apóiam na parede que exibe fitas adesivas horizontais; tropeços acabam dispersando os montículos de pimenta-do-reino que pontuavam o espaço (Attachment); bacias e copos s o f r e m esbarros, derramando seus líquidos (Continente). Dirijo-me a cada pessoa, explicando a natureza da obra e exigindo mais cautela. Ninguém me dá ouvidos. A situação escapa de meu controle; a exposição desaba. Levo o relato dessa falta de tino do público em relação ao trabalho da artista e eis a resposta que me chega: “É assim mesmo. A vida faz parte. Esta é a medida do trabalho”. E Rivane continua conversando tranqüilamente com seus convidados” (LAGNADO, 2011, p. 09) Referências DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Belo Horizonte: www.compos.org.br - nº do documento: CE694535-FD91-400D-8F98-3FD5D3250882 Page 13 Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação Autêntica Editora, 2014. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2012. DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2011. DOSSE, François. Gilles Deleuze e Felix Guattari: biografia cruzada. Porto Alegre: Artmed, 2010. HERKENHOFF, Paulo. Rivane Neuenschwander: as coisas e as palavras. IN: NEUENSCHWANDER, Rivane. Um dia como outro qualquer. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2010 MORICEAU, Jean-Luc e PAES, Isabela. Performances acadêmicas e experiência estética: um lugar ao sensível na construção de sentido. IN: PICADO, Benjamin; MENDONÇA; Carlos Magno Camargos e FILHO, Jorge Cardoso. Experiência estética e performance. Salvador: EDUFBA, 2014. NEUENSCHWANDER, Rivane. Um dia como outro qualquer. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2010 PEDROSA, Adriano. Rivane Neuenschwander: mal-entendidos. Disponível em http://mam.org.br/exposicao/rivane-neuenschwander/. Acessado em 15 de setembro de 2014. ROLNIK, Suely. Geopolítica da Cafetinagem. IN: FURTADO, Beatriz e LINS, Daniel. Fazendo Rizoma. São Paulo: Hedra, 2008 SCHOLLHAMMER, Karl Erk. As práticas de uma língua menor: reflexões sobre um tema de Deleuze e Guattari. IN: Ipotesi (UFJF), Rio de Janeiro, v. 5, n.2, p. 59-70, 2002. SEEL, Martin. No escopo da experiência estética. 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