Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.
Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=520>.
Diazepam, acepromazina e quetamina nas afecções periodontais de cães
(Canis familiares, Lin.).
Ruth Helena Falesi Palha de Moraes Bittencourt1, Moacir Cerqueira Silva1, Vania
Maria Trajano da Silva Moreira1, Fernando Elias Rodrigues Silva1, Paulo Henrique
Sá Maia2, Ingride de Sousa Costa3
1
Professores na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) – Belém – Pará.
2
Médico Veterinário – Clínica Veterinária OdontoPet
3
Acadêmica de Medicina Veterinária - UFRA
RESUMO
A doença periodontal acomete cães e gatos, sendo necessária a utilização de
anestesia para que o tratamento desta afecção seja realizado. O presente
trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia da utilização do diazepam na dose
de 0,5 mg/kg, precedendo a associação de maleato de acepromazina na dose de
1mg/kg e quetamina na dose de 10mg/kg em 49 cães de várias raças e com
idade variando entre 12 e 180 meses submetidos a tratamentos de afecções
periodontal. A anestesia em dois animais foi complementada com a anestesia do
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
nervo infraorbitário e do mentoniano. A anestesia com diazepam, acepromazina e
quetamina, nas doses utilizadas, promoveu anestesia eficaz para a realização de
intervenções dentárias em cães, por aproximadamente 42,78 ± 15,36 minutos,
sem que tenha sido observada alterações significativas sobre a freqüência
cardíaca, entretanto deve-se considerar o aparecimento de tremores, vocalização
e deambulação durante o período de recuperação dos animais. A associação não
promove analgesia suficiente para extrações dentárias, devendo ser empregada
anestesia regional complementar.
Palavras-chave: diazepam+acepromazina+quetamina; afecções periodontais;
cães.
Diazepam, acepromazine and ketamine in the periodontal disease of dogs
(Canis familiares, Lin.).
ABSTRACT
The disease periodontal attacks dogs and cats and so that the treatment of this
disease is accomplished becomes necessary the anesthesia use. The present work
had as objective evaluates the effectiveness of the use of the diazepam in the
dose of 0,5 mg/kg, preceding the association of acepromazine maleato in the
dose of 1mg/kg and ketamine in the dose of 10mg/kg in 49 dogs of several races
and with age varying between 12 and 180 months submitted to treatments of
periodontal disease. The anesthesia in two animals was complemented with the
anesthesia of the nerve infraorbitario and of the mentoniano. The anesthesia with
diazepam, acepromazine and ketamine, in the used doses, promoted effective
anesthesia
for
the
accomplishment
of
dental
interventions
in
dogs,
for
approximately 42,78 ± 15,36 minutes, without it has been observed significant
alterations on the heart frequency, however he/she should be considered the
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
emergence of tremors, vocalization and to have been staggering during the
period of recovery of the animals. The association does not promote enough
analgesia
for
dental
extractions,
should
be
used
complemental
regional
anesthesia.
Keyword: diazepam+acepromazine+ketamine; periodontal disease; dogs.
1 INTRODUÇÃO
Procedimentos odontológicos em cães e gatos tornaram-se rotina na
clínica-cirúrgica de pequenos animais, entretanto, o tratamento das periodontites
ou doenças periodontais como endodontia e exodontia requer analgesia, sendo o
uso de agentes com ação analgésica requisitado, associado ou não a anestesia
regional.
Para que o médico veterinário possa intervir na cavidade oral dos
animais domésticos, se faz necessário que os pacientes estejam anestesiados,
possibilitando uma ação segura do profissional, que para isso, devem utilizar
protocolos anestésicos que permitam a manipulação da cavidade bucal dos cães
sem que eles manifestem reações ao estímulo doloroso.
A anestesiologia veterinária desde o fim do século passado se
desenvolveu de forma célere, tanto na utilização de anestesia geral quanto
dissociativa em suas diversas associações, tornando essas anestesias mais
técnicas e éticas e ainda uma opção à anestesia geral. O emprego de associações
anestésicas visa acentuar os efeitos favoráveis, abolindo ou atenuando os
desfavoráveis produzidos por seus componentes isoladamente, resultando em
recurso anestésico seguro.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a utilização da associação do
maleato de acepromazina e quetamina em cães pré-anestesiados com o
diazepam, complementada ou não por técnicas anestésicas regionais do nervo
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
infra-orbitário e mentoniano nos tratamentos de afecções periodontais que
acometem cães, considerando tempo hábil anestésico, comportamento da
freqüência cardíaca e aparecimento de efeitos adversos promovidos pelos
fármacos utilizados.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 DOENÇAS PERIODONTAIS
Alterações mórbidas da cavidade oral dos animais têm sido abordadas
visando à melhoria da qualidade e aumento da expectativa de vida dos animais
de companhia e trabalho, bem como a eliminação do incômodo que tais
patologias ocasionam a eles e seus proprietários
38
.
O tratamento da doença periodontal (tartarectomia) seguro e bem feito
necessita de apoio anestésico, mesmo os cães acometidos de problemas
cardíacos têm sido submetidos a esta remoção mediante anestesia volátil, após
serem devidamente medicados por seus veterinários cardiologistas, pois o risco
de ficarem à mercê das bactérias orais é maior do que se submeterem a
anestesia
42
.
A doença periodontal se caracteriza pela destruição do sistema de
sustentação do dente levando à perda do mesmo, infecção local ou ainda à lesões
de órgãos internos, onde bactérias presentes em lesões na cavidade oral podem
penetrar à corrente sangüínea e se acumular em outros órgãos, principalmente
nos rins, fígado e coração, causando lesões (anacorese – Figura 1)
12; 27
.
Como síndrome clínica, a doença periodontal parece ser uma progressão
dos processos denominados gengivite (processo inflamatório que acomete a
gengiva) e periodontite (quando envolve a unidade gengival e se estende, após
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
invadir a junção dento gengival, os ligamentos periodontais, osso alveolar e
cemento) (Figura 2)
3; 5; 9; 10; 14; 16; 27
.
Fig. 2 – Evolução da doença periodontal
Fonte: Ramos28
Fig. 1 – Anacorese
Fonte: Odontologia42
2.2 ANESTESIA
Os procedimentos dentários somente serão seguros se realizados sob
anestesia geral, uma vez que na utilização dessa técnica os movimentos
voluntários ou involuntários da mandíbula serão abolidos
13
.
Desde os primórdios da anestesiologia, tem-se tentado associar
diversos fármacos para se obter anestesia adequada ao procedimento cirúrgico
proposto, aliada à segurança e praticidade em seu emprego. Com o advento de
novas técnicas e a introdução de agentes anestésicos dotados de diferentes
características, o arsenal de que o profissional dispõe oferece ao anestesista uma
ampla gama de opções
25
.
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
2.2.1 Diazepam
O diazepam é o benzodiazepínico mais amplamente utilizado na
medicina canina, que abranda o medo e a ansiedade sem causar sedação
15
. Esse
agente pouco altera os parâmetros, sendo indicado por agir no sistema límbico,
causando miorrelaxamento e discreta analgesia
21
.
Apresenta efeitos aditivos ou sinérgicos com outros fármacos usados
para produzir anestesia geral
24
. De acordo com Roza31 os benzodiazepínicos
podem ser usados para reduzir os efeitos psicodislépticos produzidos pela
quetamina. O diazepam é considerado como um sedativo pré-operatório
relativamente seguro em pacientes com comprometimentos cardíacos ou doenças
metabólicas devido seus efeitos cardiopulmonares mínimos 8.
Thurmon, Tranquilli e Benson40, recomendaram, para cães sadios,
doses de diazepam, como medicação pré-anestésica entre 0,1 e 0,5mg/kg, já
Muir e Hubbell24 e Greene13 indicaram doses variando de 0,2mg/kg a 0,4mg/kg,
enquanto Massone21 indicou doses de 1 a 2mg/kg. Roza31 relatou doses de
diazepam variando de 0,2 a 1mg/kg para minimizar os efeitos indesejáveis da
quetamina.
2.2.2 Acepromazina
O maleato de acepromazina é o agente fenotiazínico mais comumente
utilizado na medicação pré-anestésica Veterinária, promovendo tranquilização
leve, sem que ocorra “desligamento” do meio ambiente 7, produz sonolência e
hipotonia muscular com diminuição dos reflexos motores
30
, além de potencializar
a ação de agentes anestésicos dentre os quais os dissociativos
33
.
Sobre a atividade cardiovascular, os agentes fenotiazínicos determinam
bloqueio α-adrenérgico, dependente da dose, com diminuição da regulação
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
vasomotora, levando a hipotensão
características arrítmicas
não
se
alteram
33
26
e taquicardia reflexa, possuindo, entretanto,
. Segundo Gleed11, o débito e a freqüência cardíaca
significativamente
após
doses
clínicas
do
maleato
de
acepromazina, entretanto, Stepiens et al.37, observaram redução no débito
cardíaco e volume sistólico sem alteração da freqüência cardíaca em cães.
Archibald1 citou doses de 0,10 mg/kg a 0,25 mg/kg IM, até a dose total
de 7,5 mg/kg para utilização em cães, enquanto que Short32 recomendou doses
de 0,5 mg/kg IV e de 1,0 mg/kg pela via IM, já Soma34 referiu que para cães,
doses do maleato de acepromazina de 0,05 mg/kg quando administrado através
da via venosa (IV).
Hall15 citou a dose de 0,025 a 0,1 mg/kg de acepromazina como sendo
adequada para a pré-medicação além de ressaltar que uma dose de 0,05 mg/kg é
adequada para todos os propósitos práticos. Segundo Fantoni e Cortopassi7 a
dose de acepromazina normalmente empregada em pequenos animais, varia de
0,05 a 0,1 mg/kg quando administrada pela via IV, não sendo recomendado
ultrapassar a dose total de 3 mg nos cães.
Thibaut, Rivera e Ahumada39 referiram doses de acepromazina variando
entre 0,5 e 1,5 mg/kg para serem administradas tanto pela via intravenosa como
intramuscular e oral. Massone21 recomendou a utilização de acepromazina na
concentração de 0,2% para cães nas doses de 0,1 a 0,2 mg/kg administradas
pelas vias IV, IM e SC, já Roza31 referiu doses desse fármaco, nesta espécie,
variando de 0,03 a 0,1 mg/kg, sendo a dose máxima de 3 mg independente do
peso do paciente e Greene13 recomendou doses de 0,02 a 0,1 mg/kg IM para
serem utilizadas em cães.
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
2.2.3 Quetamina
O cloridrato de quetamina é um derivado do cloridrato de fenciclidina
(phencyclidine hydrochloride – PCP)
22
, sintetizado por Stevens em 1965, tendo
como principal uso a anestesia em humanos e animais
40
. É referido na literatura
como anestésico dissociativo, devido à perda sensorial marcante e analgesia,
assim como amnésia e paralisia do movimento, sem perda real da consciência,
ocorrendo intensa sensação de dissociação do meio
23; 29
.
Fantoni e Cortopassi7 relataram a duração da anestesia com quetamina
administrada através da via intravenosa sendo de aproximadamente 30 a 40
minutos,
dependendo
do
tipo
de
medicação
pré-anestésica
empregada.
Massone21 referiu o tempo hábil anestésico promovido pela quetamina, por
injeção intravenosa, entre 30 a 45 minutos e Thurmon, Tranquilli e Benson40
referiram a anestesia perdurando entre 10 a 20 minutos após administração do
agente por essa via de administração.
De acordo com Beck4 a quetamina produz anestesia cataleptóide, de
efeito rápido e profunda analgesia. De acordo com Souza et al.35, a quetamina é o
agente dissociativo mais comumente usado para anestesia em cães.
No contexto geral, tem-se que a quetamina eleva a freqüência cardíaca,
aumenta a pressão arterial, e a pressão na artéria pulmonar, da mesma forma
que aumenta a resistência vascular periférica e as pressões intracraniana e intraocular6;
17; 18; 19; 36
. Em relação ao sistema cardiovascular, a quetamina provoca
elevação na pressão arterial, freqüência cardíaca e débito cardíaco6; 35.
A principal desvantagem desse agente é a ocorrência de delírios e
comportamentos irracionais durante a recuperação, por isso seu uso é indicado
em conjunção com um benzodiazepínico2.
Thurmon, Tranquilli e Benson40 indicaram doses de quetamina variando
entre 2mg/kg a 10mg/kg IV ou IM para uso em cães, entretanto, ressaltaram,
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
que o agente não deve ser utilizado isoladamente nessa espécie e sugeriram
associações com diazepam na dose de 0,28 mg/kg IV com 5,5 mg/kg IV de
quetamina ou de acepromazina na dose de 0,2 mg/kg com 10 mg/kg de
quetamina IV.
Muir e Hubbell24 sugeriram a associação 0,2 mg/kg IV de diazepam com
5 mg/kg IV de quetamina para anestesiar cães. Fantoni e Cortopassi7 citaram,
para utilização em cães, associações de acepromazina na dose de 0,5 mg/kg IM e
10 mg/kg IV de quetamina ou 0,25 a 0,75 mg/kg IV de diazepam com 2,5 a 7,5
mg/kg IV de quetamina para indução da anestesia e Massone21 recomendou para
utilização em cães, doses de 10 a 15mg/kg administradas através da via
intramuscular e de 2 a 6mg/kg quando administrada por via intravenosa.
3 METODOLOGIA
Quarenta e nove cães (Canis familiaris), de raças, idades variadas e
ambos os sexos, foram anestesiados no setor cirúrgico da Clínica Veterinária
Odonto Pet para tratamento de doenças periodontais.
Os animais foram anestesiados com a associação de acepromazina e
cloridrato de quetamina precedido pelo diazepam. Nos casos em que maior
analgesia
foi
requerida,
anestesia
regional
dos
nervos
infra-orbitário
e
mentoniano foi realizada.
Os animais após anamnese, avaliação clínica e restrição hídrica e
alimentar de 6 horas, foram pesados e pré-anestesiados com diazepam nas doses
de 0,5 mg/kg, após aproximadamente um minuto receberam o maleato de
acepromazina nas doses de 0,1 mg/kg associado ao cloridrato de quetamina na
dose de 10 mg/kg. Os medicamentos foram administrados através da via venosa,
na veia cefálica, a qual foi mantida com solução salina de cloreto de sódio a 0,9%
na dose de 4 mL/kg/h. Quando se fez necessário aprofundar o plano anestésico
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
administrou-se cloridrato de quetamina associado ao maleato de acepromazina
nas doses de 5 mg/kg e 0,05 mg/kg, respectivamente.
Para
promoção
dos
bloqueios
anestésicos
regionais
dos
nervos
infraorbitário e mentoniano, utilizou-se o cloridrato de lidocaína a 2% na dose de
0,5mL. O nervo infraorbitário foi bloqueado, conforme descrito por Fantoni e
Cortopassi7, enquanto que o nervo mentoniano foi anestesiado através da técnica
do botão anestésico, onde o anestésico era depositado sobre o nervo,
rostralmente ao meio do forame mentoniano ao nível do segundo dente prémolar.
As freqüências cardíacas (FC) dos animais foram aferidas antes da
administração dos fármacos (tempo zero) e a cada 10 minutos após a anestesia.
O período hábil anestésico foi avaliado como iniciando no momento em que os
animais apresentaram relaxamento mandibular e muscular e “desligamento” e
encerrado no momento em que os animais manifestavam resposta ao reflexo
interdigital em um dos membros posteriores.
Os resultados foram analisados estatisticamente através da Análise
Descritiva, considerando o nível de confiabilidade para a média de 95%.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As médias das FCs avaliadas no tempo zero (0), sem medicação, e a
cada 10 minutos da administração do Diazepam+Acepromazina+Quetamina,
encontram-se referidas na Tabela 1.
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
Tabela 1 – Apresentação das médias e desvios-padrão (DP) das
freqüências cardíacas (FCs) nos tempos avaliados.
NÚMERO DE
MÉDIAS ± DP
TEMPOS AVALIADOS
ANIMAIS
FCs (bpm)
Tempo Zero (sem medicação)
49
126 ± 21
Durante
49
141 ± 20
Aos 20 minutos
49
132 ± 20
Aos 30 minutos
47
131 ± 19
Aos 40 minutos
40
132 ± 19
Aos 50 minutos
32
129 ± 16
Aos 60 minutos
23
127 ± 31
Aos 70 minutos
19
133 ± 18
Aos 80 minutos
9
122 ± 16
Aos 90 minutos
6
118 ± 14
Aos 100 minutos
4
126 ± 25
Aos 110 minutos
1
128
Aos 120 minutos
1
132
os
10
minutos
iniciais
Pode-se observar na Tabela 1 que após 10 minutos da anestesia, a FC
se mostrou elevada quando comparada aquela no tempo zero onde os animais
ainda
não
tinham
sido
submetidos
a
qualquer
procedimento
anestésico,
mantendo-se elevada até, aproximadamente, 40 minutos de anestesia. Doenicke,
Kugler e Mayer6 e Souza35, referiram a quetamina promovendo elevação na FC e,
considerando que a duração da anestesia com quetamina é de aproximadamente
30 a 40 minutos, dependendo do tipo de medicação pré-anestésica utilizada,
como referido por Fantoni e Cortopassi7, pode-se inferir à quetamina o aumento
na FC.
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
A Tabela 2 mostra os períodos anestésicos hábeis obtidos com a
associação anestésica utilizada, considerando que doses complementares foram
realizadas em alguns casos. O período hábil anestésico avaliado foi aquele
iniciado com a observação de relaxamento mandibular e muscular e o
“desligamento” dos animais, e encerrando-se no momento em que os pacientes
apresentavam resposta ao reflexo interdigital em um dos membros posteriores.
Tabela 2 – Demonstrativo das médias e respectivos desvios-padrão do
período anestésico
Período
Período
Período
Período Anestésico
Anestésico
Anestésico
anestésico
Após a 3ª dose
Sem reforço
Após a 1ª dose
Após a 2ª dose
de reforço
(minutos)
de reforço
de reforço
(minutos)
Média ± DP
(minutos)
(minutos)
Média ± DP
Média ± DP
Média ± DP
24,56 ± 9,55
46,82 ± 14,71
42,78 ± 15,36
75,0 ± 42,43
Como pode ser observado na Tabela 2, o período hábil anestésico, sem
doses complementares, foi em média de 42,78 ± 15,36 minutos, período
anestésico semelhante aqueles descritos por Fantoni e Cortopassi7 que relataram
que a anestesia com quetamina pode perdurar por aproximadamente 30 a 40
minutos dependendo do tipo de medicação pré-anestésica empregada, e
Massone21 que referiu o tempo hábil anestésico promovido pela quetamina
atingindo de 30 a 45 minutos. Sendo contrário, entretanto ao aludido por
Thurmon, Tranquilli e Benson40 que referiram a duração da anestesia promovida
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
pela quetamina entre 10 e 20 minutos após administração do agente através da
via intravenosa.
Anestesias regionais no nervo infraorbitário e no nervo mentoniano,
complementaram a anestesia com quetamina+acepromazina e diazepam em dois
animais, visto que extrações dentárias se fizeram necessárias e por ora da
tentativa do procedimento, verificou-se que os animais sentiam dor.
Tremores musculares, deambulação e vocalização foram observados
durante o período de recuperação dos animais, o que pode ser explicado pela
ativação simpática causada pela quetamina, conforme referiram Luna et al.20 ao
observarem animais anestesiados com esse agente anestésico que apresentaram
as mesmas manifestações.
5 CONCLUSÕES
A utilização de 0,5mg/kg de diazepam com 0,1 mg/kg de acepromazina
e 10mg/kg de quetamina promovem anestesia eficaz para a realização de
intervenções
para
o
tratamento
de
doenças
periodontais
em
cães,
por
aproximadamente 42,78 ± 15,36 minutos, sem que seja observada alterações
significativas sobre a freqüência cardíaca, entretanto deve-se considerar o
aparecimento de tremores, vocalização e deambulação durante o período de
recuperação dos animais;
A
associação
não
promove
analgesia
suficiente
para
dentárias, devendo ser empregado anestesia regional complementar.
extrações
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- ARCHIBALD, J.. Canine surgery. 2ed., Santa Bárbara, California: American Veterinary
Publication, 1974. 1172p.
2 - BARASH, P. G.; CULLEN, B.G.; STOELLING, R. K. Manual de Anestesiologia Clínica.
Barueri: Manole, 1991. 325p.
3 - BEARD, G. B.; BEARD, D. M.. Geriatric dentistry. Veterinary clinical of North American.
v.19, n.1, jan., p. 49-74. 1989.
4 - BECK, C. C. Answers to some commom questions about vetalar (ketamine HCL). Vet. Med.
Small Anim. Clin. Bonner Spring, v.71, n.7, p.905-908, 1976.
5 - DILLON, R.. A cavidade oral. In: KIRK, R. W. Atualização terapêutica veterinária:
pequenos animais. 7ed., São Paulo: Manole, 1984. p.952-975.
6 - DOENICKE, A.; KUGLER, J.; MAYER, M. et al - Ketamine racemate or S(+)-ketamine and
midazolam. The effect on vigilance, efficacy and subjective findings. Anaesthesist., n.41, p.610618, 1992.
7 - FANTONI, D. T.; CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2002.
389p.
8
FORNEY,
B.
Diazepam
for
veterinary
use.
<www.wedgewoodpharmacy.com/diazepam.asp.>.Acesso em: 23/12/2006.
Disponível
em:
9 - FROST, R.; WILLIANS, C. A.. Feline dental disease. Veterinary clinics of North America,
v.16, n.5, p.851-874, 1986.
10 -GIOSO, M. A.. Odontologia veterinária: pequenos animais. 2ed., São Paulo: editora,
1993. p.45.
11 - GLEED, R. D. Tranquilizers and sedatives. In: SHORT, C. E. Principles & pratice in
veterinary anesthesia. Baltimore: Willian & Wilkins, 1987. p.16-27.
12 - GOLDSTEIN, G. S.. Geriatrics dentistry in dogs. Comp. Cont. Pract. Vet., v.12, p.951-960,
1990.
13 - GREENE, S. Segredos em anestesia veterinária e manejo da dor. Porto Alegre: Artmed,
2004. 448p.
14 - GROVE, T. K.. Periodontal disease. In: HARVEY, C. E. Veterinary dentistry. Philadelphia:
W. B. Sauderes, 1990. p.59-66.
15 - HALL, L.W.; Reader em anestesia comparada. Cães e gatos, n.6, p. 20-26. 1986.
16 - HARVEY, C. E.; EMILY, P. P.. Small animal dentistry. St. Louis: Mosby Year Book, 1993.
413p.
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
17 -HASKINS, S.C.; FAVER, T. B.; PATZ, J.D. Ketamine in dogs. Am. J Vet Res; v. 46, n.9,
p.1855-1860. 1985.
18 - ILKIW, J. Injectable Anesthesia in Dogs - Part 1: Solutions, Doses and
Administration In: Recent Advances in Veterinary Anesthesia and Analgesia: Companion
Animals, R. D. Gleed and J. W.Ludders (Eds.) Publisher: International Veterinary Information
Service (www.ivis.org), Ithaca, New York, USA.( 18-Jul-2002 ).
19 - KUMAR, N.; KUMAR, A.; BHARAT, S. Clinical and physiological affects of ketamine with and
without diazepan or meperidine premedication in dogs. Am. J. Vet. Res., v.67, n.3, p. 242-6,
1990.
20 - LUNA, S. P. L.; NOGUEIRA, C.; S.; CRUZ, M. L.; MASSONE, F.; CASTRO, G. B. Romifidine or
xylazine combined with ketamine in dogs premedicated with methotrimeprazine. Braz. J. Vet.
Res.
Anim.
Sci.,
v.37,
n.2,
2000.
Disponível
em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141395962000000200001&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20/02/07.
21 - MASSONE, F. Anestesiologia Veterinária: farmacologia e técnicas. 4ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003. 326p.
22 - MICALLEF, J.; TARDIEU, S.; GENTILE, S. Et al. Évaluation psychocomportementale de
l’administration de faible dose de kétamine chez le sujet sain. Neurophysiologie Clinique, n.33,
p.138-147, 2003.
23 - MORGAN, C. J. A.; MOFFEZ, A. ; BRANDNER, B. et al. Acute effects of ketamine on memory
systems and psycotic symptoms in healthy volunteers. Neuropsycopharmacology, n.29, p.208218, 2004.
24 - MUIR, W.W.; HUBBELL, J. A. E. Manual de anestesia veterinária. 3.ed. Porto Alegre:
Artmed, 2001. 36p.
25 - NUNES, N.; MASSONE, F.; POMPERMAYER, L. G.; PIROLO, J.; CAMACHO, A. A.. Atividade
antiarritmogênica da levomepromazina em cães submetidos à anestesia pela quetamina. Ciência
Rural, Santa Maria, v.29, n.2, p.291-295, 1999.
26 -NUNES, N.; POMPERMAYER, L. G.; PIROLO, J. et al. Emprego do metaraminol no bloqueio da
hipotensão produzida pela levomepromazina em cães. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., v.32, n.3,
p.120-124, 1995.
27 - PENMAN, S.. Dental conditions in the dog and cat. Vet. Ann., p.223-232, 1990.
28 - RAMOS, M.. Odontologia veterinária – Periodontia,
<www.odontologiavet.tripod.com/id10.htm.>. Acesso em 13/06/2008.
2006.
Disponível
em:
29 - RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M. Farmacologia. 5ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
920p.
Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e
quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3,
N. 8, Art#520, Mar1, 2009.
30 - REZENDE, M. L.; FARIAS, A.; BOLZAN, A. A.; FERREIRA, W. L.; LÉGA, E.; NUNES, N.
Levomepromazina e acepromazina no bloqueio da arritmia induzida pela adrenalina em cães
anestesiados pelo halotano. Ciência Rural, Santa Maria, v.32, n.3, p.433-438, 2002.
31 - ROZA, M. R. Odontologia em Pequenos Animais. Rio de Janeiro: L. F. Livros de
Veterinária Ltda, 2004. p. 40-68.
32 - SHORT, C. E.. Clinical Veterinary Anesthesia: a guide for the practioner. Saint Louis:
The C. V. Mosby Company. 1974. 237p.
33 - _______. Principles & practice in veterinary anesthesia. Baltimore: Willian & Wilkins,
1987. 669p.
34 - SOMA, R.. Textbook of veterinary anesthesia. Baltimore: Willians & WilliansCompany,
1976. 612p.
35 - SOUZA, A. P.; CARARETO, R.; NUNES, N.; LEITE, A. V.; PAULA, D. P. Eletrocardiografia em
cães anestesiados com cetamina-s ou cetamina. Ciência Rural, v.32, n.5, p. 787-791 Santa
Maria, Set/out. 2002.
36 - SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S. L.; BERNARDI, M. M. Farmacologia aplicada à Medicina
Veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 752p.
37 - STEPIEN, R. L.; BONAGURA, J. D.; BEDNARSKI, R. M. et al. Cardiorespiratory effects of
acepromazine maleate and buprenorphine hydrochloride in clinically normal dogs. American
journal of veterinary research, v.56, n.1, p.78-84, 1995.
38 - TELHADO, J.; MAGANIN. Jr., A.; DIELE, C. A.; MARINHO, M. S.. Incidência de cálculo
dentário e doença periodontal em cães da raça Pastor Alemão. Ciência Animal Brasileira, v.5,
n.2, p.99-104, abr/jun., 2004.
39 - THIBAUT, J.; RIVERA, T.; AHUMADA, F. Anestesia endovenosa en perros mediante el uso de
propofol en dosis unica, premedicado con acepromazina-atropina y xilazina-atropina. Arch. Med.
Vet., v.34, n.1, p.25-35, 2002.
40 - THURMON, J. C.; TRANQUILLI, W. J.; BENSON, C. J. Essentials of small animal
anesthesia & analgesia. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins. 1999. 580p.
41 - VASCONCELOS, S. M. M. ANDRADE, M. M.; SOARES, P. M.; CHAVES, B. G.; PATROCÍNIO, M.
A. C.; SOUSA, F. C. F.; MACÊDO, D. S. Cetamina: aspectos gerais e relação com a esquizofrenia.
Revista
de
psiquiatria
clínica.
Disponível
em:<http://www.usp.br/ipq/revista/vol32/n1/10html> Acesso em: 23/12/2006.
42 - YOULE, C.. Odontologia - Periodontopatias (ou doenças causadas pelo tártaro).
Disponível em: <www.vira-lata.org/doc11.shtml>. Acesso em 28/11/2006.
42
ODONTOLOGIA:
A
saúde
começa
pela
boca.
Disponível
<www.hospitalveterinariopompeia.com.br/odontol...>. Acesso em: 14/06/2008
em:
Download

Diazepam, acepromazina e quetamina nas afecções