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3 SOM, TELENOVELA E RECEPTOR: HIPÓTESES
O objetivo central desta pesquisa, como já anotamos, é um estudo da relação
entre o som da telenovela e a audição desse som por parte do receptor. A
telenovela insere-se dentro do vasto universo audiovisual como um produto
específico da televisão. No Brasil, a audiência diária de um capítulo da telenovela
das oito da Rede Globo pode superar os 60 milhões de telespectadores, o que
significa que quase a metade da população do País está ligada ao aparelho de TV
acompanhando um mesmo produto audiovisual. Dentro do universo televisivo, a
telenovela estrutura o som de forma particular. Falas, sons, músicas e silêncios
são combinados na trilha sonora que junto com a imagem apresentam uma
história, uma narração. O receptor ouve essa trilha ao assistir para poder
acompanhar a história; sem ela, talvez, a compreensão do que é contado seria
impossível. Mas a questão central do trabalho é justamente detectar qual o lugar
do som na telenovela e qual sua relação com o receptor. Perguntamo-nos, então,
como se apresetam os elementos sonoros e como esses elementos são ouvidos,
interpretados, reelaborados e usados pelo receptor. Apontar respostas para estes
questionamentos serve-nos como ponto de orientação na pesquisa.
3.1 A Telenovela
A telenovela, na forma que a conhecemos hoje, nasce, no Brasil, em julho de
1963, no Rio de Janeiro e em São Paulo, quando começa a ser transmitida a
primeira novela diária da televisão brasileira, seu título 2-5499 ocupado. Antes
desta, foram realizadas centenas de telenovelas que não eram, porém,
apresentadas diariamente. A primeira telenovela, Sua vida me pertence, 1951 (TV
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Tupi de São Paulo), era apresentada ao vivo, com dois capítulos por semana e
teve uma duração de dois meses.
O estilo narrativo da telenovela foi uma herança do folhetim do século XIX,
no qual história de ficção era contada em capítulos diários, publicados na parte
inferior das páginas dos jornais. O jornalista francês Émile de Girardin teve esta
idéia na década de 1830, ao imaginar uma forma de aumentar a venda de seu
jornal, La Presse. A partir daí, o estilo de narração fragmentada foi passando de
um meio para outro até chegar à TV. O cinema teve seus "folhetins"
cinematográficos, mas foi no rádio, a partir de 1930, nos Estados Unidos, que o
estilo tomou dimensão na cultura de massas através das soap-operas,as quais
eram folhetins adaptados para o rádio. O gênero passou então para Cuba e
irradiou-se para toda a América Latina.
Quando a TV se inicia no Brasil nos anos 50, o folhetim começa também a
ser adaptado ao novo meio, passa aos teleteatros e às novelas com dois ou três
capítulos por semana, até atingirem hoje o chamado "padrão Globo de produção"
de telenovelas, o qual não só é sustentado por uma infra-estrutura técnica,
tecnológica e econômica, mas também por uma estrutura de realização depurada
através de anos, contando com uma equipe técnica e artística de alto desempenho
profissional. Na atualidade, uma telenovela tem uma duração média total de seis
meses no ar, com seis capítulos por semana, de segunda a sábado, contando com
aproximadamente 180 capítulos, cada um durando de 50 a 60 minutos, divididos,
por sua vez, em 4 ou 5 blocos de 10 a 15 minutos, separados por intervalos
comerciais.
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Durante seis meses um grupo de 40 ou mais personagens vivem histórias de
amor, ódio, poder, glória, riqueza, pobreza, encontros e desencontros. A história
tem um grupo de cinco a dez personagens pricipais que comandam as tramas
básicas. As outras personagens ao mesmo tempo que participam das tramas
básicas ganham pequenas tramas que enriquecem a história e oferecem para o
autor um sem número de possibilidades para encurtar ou esticar a narração. O
roteirista Aguinaldo Silva (autor das duas telenovela que vamos trabalhar adiante)
desvenda a técnica geral de criação dessas histórias: "Então sempre acontece
aquele momento em que você, o autor, descobre que a novela acabou. E esse
momento é justamente o capítulo 80. Então, a saída, o segredo, é fazer duas
novelas. Existe a hitória que acaba no capítulo 80 e, a partir desse capítulo,
começa outra novela. Se não for assim, do 80 ao 130 você vai ter de ficar
repetindo e enchendo lingüiça. Então veja como a coisa funciona: no capítulo 80 a
novela acaba, você descobre todos os segredos, os personagens mudam todos de
posição, quem é amigo vira inimigo e quem é inimigo vira amigo. E aí começa
tudo de novo" (Silva, 1992: 25).
As telenovelas ocupam um lugar privilegiado no horário nobre da televisão
brasileira (das 18 às 22 horas). Na atualidade, junho de 1994, em São Paulo
podem ser assistidas seis telenovelas diferentes nesse horário: no SBT, Éramos
Seis, às 19h45 com reapresentação às 21h45; na Globo, Tropicaliente às 18h00, A
Viagem às 18h50 e Fera Ferida às 20h30; na Record, A Revanche (telenovela
venezuelana) às 20h30, e na Manchete, 74.5 - Uma Onda no Ar às 21h30. O
intruso quase que exclusivo deste horário na programação destas emissoras são os
telejornais noturnos. O que indica, por um lado, uma imposição televisiva do
formato telenovela por parte das emissoras e, por outro lado, uma preferência de
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audiência por parte dos receptores. É um caminho de mão dupla que, como já
observamos, não se restringe ao poder autoritario do meio, nem a uma
"passividade alienada" do receptor, há um jogo de circularidade comunicacional
entre emissor-receptor que permeia o fenômeno televisivo da telenovela.
O interesse específico deste trabalho é o som dessas telenovelas: como ele se
apresenta diariamente no aparelho de TV; como se configura pelas falas, sons,
músicas e silêncios; quais as relações do som com a imagem e com a história. Já
anteriormente, em nosso trabalho de mestrado, observamos como, em termos
gerais no contexto televisivo, a telenovela apresentava uma grande quantidade de
ocorrências de falas e músicas, quando os sons e/ou efeitos sonoros eram
utilizados, bem como o pouco uso do silêncio. Tomando como base esse trabalho,
aliada com nossa própria experiência empírica de receptor, consideramos
fundamental a verificação do possível desequilíbrio dos elementos sonoros da
telenovela.
3.2 O receptor
Ao falar de 60 milhões de telespectadores diários, uma hipótese geral aponta
o possível sucesso irrefutável da telenovela, ou seja, ela satisfaz de maneira fácil e
concreta a um dos prazeres mais antigos do homem: o prazer de ouvir, ver, ler
narrativas, o prazer de conhecer histórias reais ou irreais da vida alheia. Este
prazer dota de sentido os milhões de romances escritos, os milhares de filmes
realizados e grande parte das informações jornalísticas. O narrador, como afirma
Walter Benjamin, dilui-se em múltiplos formatos no mundo hoje. A telenovela
configura-se, assim, como uma forma depurada do universo audiovisual da arte de
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narrar, da arte do "você sabe o que aconteceu com...". A telenovela oferece a
possibilidade de acompanhar diariamente uma longa história ou, em uma
terminologia mais popular, diríamos que se trata de acompanhar um grande
"causo" ou uma divertida "fofoca". A telenovela é uma grande narração na qual o
receptor não tem nenhum compromisso aparente. São histórias que parecem não
afetar de forma direta a vida de quem as assiste.
Porém, o prazer de assistir uma telenovela abrange no seu âmbito todo o
universo vivido de cada receptor. Como já anotamos, os mitos, o passado, as
leituras diferenciadas a partir da vida cotidiana do receptor perpassam cada
narração. "É indubitável que o estudo da recepção, no sentido em que estamos
discutindo, quer resgatar é a vida, a iniciativa , a criatividadde dos sujeitos; quer
resgatar a complexidade da vida cotidiana como espaço de produção de sentido;
quer resgatar o caráter lúdico de relação com os meios; quer romper com aquele
racionalismo que pensa a relação com os meios somente em termos de
conhecimento ou de desconhecimento, termos ideológicos; quer resgatar além do
caráter lúdico, o caráter libidinal, desejoso, da relação com os meios" (MartínBarbero, 1991). Nesta perspectiva de análise, o receptor de telenovela dota de
significado a história que assiste a partir de sua apropriação e reelaboração nos
usos e nas mediações.
O som da telenovela, contudo, é um elemento participante deste processo.
Na prática cotidiana de assistir telenovela, o receptor é um ser que ouve (e vê). E
essa audição confunde-se dentro da própria cotidianidade já que a telenovela faz
parte das atividades diárias do receptor. O som da telenovela deve conviver com o
som do espaço onde está o aparelho de TV, configurando-se como um som a mais
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na paisagem sonora. Assim, cabe perguntar até que ponto esse som participa das
práticas de recepção. E, já que ele desempenha um papel fundamental nos
audiovisuais, então o que o som da telenovela oferece ao receptor e o que o
receptor oferece ao som, qual sua mediação? "Las mediaciones son pues ese
'lugar' desde donde es posible comprender la interacción entre el espacio de la
producción y el de la recepción: lo que se produce en la televisión no responde
únicamente a requerimientos del sistema industrial y a estratagemas comerciales
sino también a existencias que vienen de la trama cultural y los modos de ver"
(Martín-Barbero, 1992: 20).
No âmbito da vida cotidiana do receptor, o som da telenovela deve
representar um papel importante tanto ao interior da história contada quanto à
própria vida do receptor. Devemos indagar então as práticas de assistência, seus
usos cotidianos, para poder entender a audição de uma telenovela, tendo como
parâmetro as relações entre a audição focalizada e a audição periférica, já que se o
som da televisão pertence a uma paisagem maior, devem existir algumas trocas de
focalização do ouvido no ato de assistir, sem deixar de lado a própria
complexidade interna da trilha sonora que obriga a um novo exercício de
focalização. Neste ponto torna-se importante ressaltar uma regra popular entre os
realizadores de trilhas sonoras: os sons e as músicas não devem ser ouvidos. O
que significa que sua presença num audiovisual deve ser tão discreta que somente
a audição periférica deve percebê-la. Ao traduzir isto para o ato de assistir, o som
da telenovela joga entre o nebuloso espaço entre a razão e a emoção, entre aquilo
que é ouvido atentamente (focalizado) e aquilo que é ouvido distraidamente
(periférico).
61
3.3 As hipóteses
Da mesma forma que é importante localizar uma fonte sonora, faz-se
necessário também conferir uma resposta provisória aos questionamentos acima
sugeridos. Encontrar um lugar para o som na telenovela e no âmbito da recepção,
nos leva a propor uma hipótese geral que orienta a pesquisa:
O som da telenovela mais se apresenta como mediação básica na
explicação do processo de recepção à telenovela, quanto mais ele
se coloca como articulador de sentidos para o receptor.
Sem o intuito de confirmar ou negar quantitativamente esta afirmação,
devemos propor, também, algumas respostas de caráter específico para as
inquietações acima aventadas, tais como: qual o papel dos elementos sonoros da
telenovela e qual são suas relações de desequilíbrio; como e o que o receptor
ouve na telenovela e o que ele coloca de sua vida para ouvir e dotar de sentido o
que é ali assistido. Isto nos leva a propor as seguintes hipóteses específicas:
- Os sons da telenovela não oferecem dificuldade ao receptor na
identificação e reconhecimento da fonte sonora.
- No som da telenovela privilegiam-se as ocorrências das falas e das
músicas em detrimento da utilização de sons e/ou efeitos sonoros.
- O receptor vivencia um ouvir-desatento com relação ao som da telenovela
(um ouvir-distraído, um ouvir-irrefletido, um ouvir-descuidado, um ouvirperiférico), mas não um ouvir-rejeição ou ouvir-ignorância do som.
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- O que o receptor ouve na telenovela é sempre apropriado e reelaborado
nos usos cotidianos, portanto, passa pelo crivo da cultura onde se inserem
os receptores.
- Para o receptor, o som da telenovela guarda uma profunda relação com os
sons vividos, a cada ocorrência sonora um efeito acumulativo projeta o
passado para o presente e para o futuro no possível desenrolar da história
na telenovela e na vida do receptor.
63
4 O SOM, O CAMINHO DA PESQUISA
Dois caminhos foram trilhados na realização da pesquisa: um, referente à
análise do som na telenovela e, outro, ao estudo da relação do som da telenovela
com o receptor. Aparentemente os dois caminhos foram trabalhados de forma
independente, mas sempre buscou-se uma inter-relação entre os dois com o intuito
atingir os objetivos. Na análise do som da telenovela foi utilizado como pano de
fundo os capítulos correspondentes a três semanas de emissão de Pedra sobre
Pedra e uma semana de Fera Ferida, telenovelas das "oito" apresentadas pela
Rede Globo de Televisão; no estudo detalhado trabalhou-se com dois capítulos,
um de cada telenovela, e com os fragmentos das telenovelas utilizados nas
entrevistas com os receptores. O estudo da relação som/receptor foi elaborado
através de entrevistas individuais com 16 (dezesseis) pessoas, as quais
denominamos de receptores.
4.1 As telenovelas em questão
Optou-se por trabalhar com telenovelas do horário das 20h30 da Rede
Globo, denominadas popularmente como "novelas das oito", por ser esta a faixa e
a rede de televisão que registra os mais altos índices de audiência da televisão
brasileira. Segundo o DataIbope, Pedra sobre Pedra começou com uma audiência
de 50%, na grande São Paulo, em sua primeira semana (de 06 a 11 de janeiro de
1992), terminando com 63,3% na última semana (de 27 a 31 de julho de 1992)
(Folha de S.Paulo, 31/07/92: 4-1); por sua vez, Fera Ferida mantém o primeiro
lugar de audiência, tendo registrado índices de 57%, nas duas primeiras semanas
de maio de 1994 (Tv Folha, 12/06/94: 4; 19/06/94: 4).
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A escolha destas duas telenovelas seguiu critérios aleatórios. No final de
1991, optou-se pela análise de uma telenovela completa, portanto, determinamos
que a próxima a ir ao ar seria a escolhida. No dia 06 de janeiro de 1992 teve início
Pedra sobre Pedra (a qual passaremos a chamar de PP), de Aguinaldo Silva, que
tendo uma duração de 179 capítulos, terminou no dia 31 de julho do mesmo ano.
A história desenvolve-se na Chapada Diamantina, sertão do Estado da Bahia, na
pequena cidade imaginária de Resplendor. A trama gira entorno dos encontros e
desencontros de amor e ódio de Murilo Pontes e Pilar Batista, patriarcas de duas
famílias rivais e donas da região (v. Anexo: resumo e ficha técnica).
Para a análise do som, determinou-se gravar os capítulos correspondentes às
semanas inicial e final e aos de uma semana intermediária, visando com isto
englobar a apresentação, manutenção e desfecho das principais tramas da história.
Escolheu-se, ainda, o primeiro capítulo para um estudo mais detalhado, já que
normalmente é nesse capítulo que são apresentadas as principais tramas e
personagens. A primeira semana foi ao ar de 06 a 11 de janeiro (capítulos de 01 a
06), a semana intermediária foi de 11 a 16 de maio (cap. de 109 a 114), e a
semana final, de 27 a 31 de julho (cap. de 176 a 179).
Fera Ferida (a qual passaremos a denominar FF), segunda telenovela
utilizada no trabalho, foi escolhida de forma circunstancial atendendo às
demandas apresentadas pela banca do Exame Geral de Qualificação, defendido
em dezembro de 1993. Devido à distância temporal de um ano e meio do término
de Pedra sobre Pedra, nos foi sugerida a utilização da telenovela que estava no ar
naquele momento para atualizar e estabelecer uma comparação na análise. Na
época, como veremos adiante, já tínhamos realizado oito entrevistas utilizando o
65
material de Pedra sobre Pedra e a proposta era realizar mais oito entrevistas para
completar a pesquisa. Assim, a banca considerou importante que, durante as
novas entrevistas, utilizássemos também material colhido da telenovela que
estivesse no ar, combinando material atual e do passado. Considerando estas
sugestões, começamos a trabalhar com Fera Ferida que já havia iniciado sua
emissão no mês de novembro de 1993.
Pela mesma circustancialidade, ambas as telenovelas apresentam o mesmo
autor, Aguinaldo Silva. Fera Ferida conta a história de uma vingança, em que,
após quinze anos, Feliciano Júnior, utilizando a identidade falsa de Raimundo
Flamel, volta à pequena Tubiacanga para vingar a morte de seu pai, provocada
pelos "poderosos" da cidade. A saga teve seu primeiro capítulo no dia 15 de
novembro de 1993 e seu término previsto para o dia 15 de julho de 1994,
totalizando 209 capítulos (na conclusão deste trabalho, Fera Ferida ainda estava
sendo apresentada; v. Anexo: resumo e ficha técnica)*.
Considerando que com PP realizaríamos uma análise global de uma
telenovela, optamos por trabalhar unicamente com uma semana intermediária de
FF. A semana escolhida também de forma aleatória, corresponde aos dias de 17 a
22 de janeiro de 1994 (cap. de 55 a 60), e determinamos o capítulo da quartafeira, correspondente ao meio da semana, para o estudo detalhado.
66
4.2 Os receptores e as entrevistas
Desde o início, o interesse desta pesquisa é realizar um trabalho qualitativo,
assim as entrevistas com os receptores foram em número limitado. Isto permitiu
entrevistas individualizadas e com um tempo suficiente para deter-se nos detalhes
de maior valor para o trabalho. As entrevistas foram direcionadas a dois grupos de
pessoas: um grupo residente em alguma pequena cidade do interior do Estado de
São Paulo, cuja característica principal da cidade do interior é que ainda possua
um contato direto com atividades rurais, e outro grupo residente em um bairro de
classe média da cidade de São Paulo. Pretendedíamos obter com isto um contraste
entre a visão de pessoas de uma pequena cidade urbano/rural e pessoas residentes
em um grande centro urbano. Determinamos também que os entrevistados
estivessem numa faixa etárea superior aos 15 anos. Os entrevistados, então, já
teriam passado pela infância e já acumulariam experiências para sua história de
vida na adolescência. Esta escolha foi respaldada pelas pesquisas sobre recepção
antes citadas, nas quais conclui-se que um dos fatores primordiais da audiência de
uma telenovela são as articulações entre passado/história de vida/memória do
receptor e o apresentado na telenovela.
O objetivo fundamental das entrevistas era testar as hipóteses sobre
recepção. Assim nas entrevistas procurou-se estudar como se dava a percepção
seletiva do ouvido na telenovela, verificando se as pessoas prestavam atenção no
som ou se existia um ouvir-desatento. Observando o que era trazido a público de
forma espontânea sobre o som e qual o motivo dessa publicização. Da mesma
forma tentava-se corroborar o reconhecimento das fontes sonoras, a valoração de
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gosto do som, as condições de uso e as articulações do som com a vida do
entrevistados.
Para atigir este objetivo elaborou-se uma entrevista estruturada em dois
momentos: no primeiro momento, o som não apareceria como parte esssencial da
entrevista, procurando buscá-los como referências espontâneas das pessoas com
relação ao som. No segundo momento, o som era destacado e reiterado como
elemento essencial de análise, procurando a conscientização das pessoas sobre ele
tanto na telenovela quanto na vida de cada um. Nos dois momentos utilizamos o
mesmo procedimento, isto é, era apresentado um fragmento de telenovela e
posteriormente realizava-se uma série de perguntas referentes ao que fora
assistido. Os diferentes fragmentos utilizados nas entrevistas foram selecionados
tendo em conta sua representatividade no conjunto da telenovela e a participação
essencial da trilha sonora.
As oito primeiras entrevistas foram realizadas no mês de setembro de 1993,
somente com fragmentos de PP, no distrito de Canas, município de Lorena
(interior do Estado de São Paulo). As outras oito entrevistas foram realizadas com
fragmentos das duas telenovelas em março e abril de 1994 na cidade de São
Paulo, bairro de Sacomã, paróquia de Santa Edwiges, sendo que além do critério
da idade, o único utilizado foi a disponibilidade das pessoas em responder à
entrevista. O procedimento dos dois conjuntos de entrevistas foi o mesmo: 1) as
pessoas eram informadas em termos gerais que se tratava de um pesquisa sobre
recepção de telenovela, que assistiriam a seguir alguns fragmentos das telenovelas
e posteriormente realizariam comentários respondendo a algumas perguntas; 2)
eram apresentados os fragmentos nos quais não era chamada a atenção para os
68
elementos sonoros, e 3) eram apresentados os fragmentos nos quais solicitava-se
ao entrevistado que prestasse atenção nos elementos sonoros e que os comenta-se.
Na sua particularidade, contudo, cada grupo de entrevistas evidenciou suas
especificidades.
4.2.1 Entrevistas em Canas
Contando com a colaboração de pessoas conhecidas em Lorena, efetuamos
em Canas uma série de oito (8) entrevistas. Canas está localizado a nordeste do
Estado de São Paulo, cortado pela rodovia Presidente Dutra, na altura do
quilômetro 200; conta com uma população aproximada de 5.000 habitantes e tem
como principal fonte econômica a cultura do arroz. O povoado surgiu em 1885
com a chegada de imigrantes europeus, basicamente italianos, para trabalhar no
plantio de cana-de-açúcar, razão do seu nome. Atualmente o distrito de Canas está
com o processo de emancipação bastante adiantado na Assembléia Legislativa do
Estado.
Cada entrevista foi realizada de forma individual, começando com a
apresentação geral da pesquisa e a explicação do procedimento de exibição de
fragmentos com perguntas posteriores. Dado o prazo de mais de um ano do final
de exibição de PP com relação a data da entrevista, contava-se para as pessoas um
resumo dessa telenovela. Realizava-se depois a primeira parte da entrevista, em
que a pessoa assistia sem ter sido alertada para o som.
Exibia-se, então, um primeiro bloco com
quatro
fragmentos: nº 1, a
abertura (ou vinheta) de PP que tem no som o tema "Pedras que Caem"; nº 2,
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Murilo Pontes cavalgando na Chapada Diamantina com o som de vento e água
correndo nos rios e cachoeiras seguido do tema "Entre a Serpente e a Estrela", ao
final escuta-se em voz-off o começo de diálogo de Gioconda com Hilda (do cap.
01); nº 3, encontro entre Murilo e Pilar onde falam sobre o futuro de seus filhos e
de seu neto que iria nascer, com o som de algumas notas da melodia de "Entre a
Serpente e a Estrela" tocadas em um xilofone e com um arranjo infantil (do cap.
167) e, nº 4, encontro final de Murilo e Pilar no altar-mor da igreja onde os dois
realizam uma declaração de eterno amor e odio com o som da melodia de "Entre a
Serpente e a Estrela" interpretada numa gaita com um ar melancólico (do cap.
179) (v. Anexo ?? decupagem de todos os fragmentos utilizados nas entrevistas).
Após a exibição deste bloco o entrevistado era indagado com perguntas
génericas sobre o que tinha gostado, o que chamava sua atenção, o que
considerava mais importante (v. Anexo: roteiro da entrevista). O objetivo destes
primeiros fragmentos era deixar que as pessoas falassem espontaneamente,
verificando o que se comentava sobre os elementos sonoros. Destacam-se no som
deste bloco: a música tema da telenovela, "Entre a Serpente e a Estrela", que tem
ocorrências também nos fragmentos nºs 2, 3 e 4, os sons do nº 2 e os diálogos nos
nºs 3 e 4. Esperava-se, então, nas respostas que as pessoas comentassem ou não
estes sons e que direção davam a esses comentários.
A seguir, exibia-se o fragmento nº 5, no qual Cândido Alegria na frente das
personagens mais importantes da história revela que tem um pacto com o diabo e
explode uma dinamite em sua mão, transformando-se em uma estátua de pedra
(do cap. 179). O destaque do som nesta seqüência é a voz-off cavernosa do diabo
ouvida por Cândido Alegria, onde tanto a voz do diabo quanto a fala de Cândido
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repetem uma lista de 22 denominações populares do diabo. Após o barulho da
explosão e no momento em que a personagem vira pedra, toca-se a música "Regra
do Jogo". Terminada a exibição, seguia-se o mesmo roteiro do primeiro bloco,
considerando a posibilidade das pessoas comentarem a marcante ocorrência da
voz-off do diabo.
No segundo momento da entrevista, no qual chamava-se a atenção do
entrevistado para os elementos do som, apresentava-se o fragmento nº 6, em que o
retratista Jorge Tadeu está fotografando Susana Frota, ouvem-se os sons da
câmara tirando as fotos e os barulhos em off de objetos de metal caindo, os sons
dos saltos de Susana ao subir as escadas e a ocorrência de dois arranjos
instrumentais da música "Cabecinha no Ombro", o primeiro com um ar leve e
romântico e o segundo com um tom jocoso e burlesco.
Os entrevistados eram perguntados sobre o sotaque das personagens, o tipo
de sons ouvidos, o motivo dos sons, quantas músicas haviam tocado, se
reconheciam as músicas, se era a mesma música que tocava etc. O objetivo deste e
do seguinte fragmento era verificar até que ponto as pessoas reconheciam os
diferentes elementos sonoros e se sabiam a função destes no âmbito da telenovela.
Neste momento aproveitava-se para perguntar
sobre quando e como os
entrevistados assistiam televisão e sobre os som da vida pessoal de cada um deles.
O último fragmento apresentado, o nº 7, mostra dois diálogos, um entre o
prefeito Kleber e dona Francisquinha e outro de Kleber com Sérgio Cabeleira, no
qual Sérgio sofre um leve desmaio por estar se aproximando a primeira noite de
lua cheia. No som temos a música "Resplendor" que, no momento do desmaio,
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sofre um efeito de desaceleração, seguido por silvos misteriosos. Após a exibição,
repetia-se o roteiro de perguntas do fragmento anterior.
Os dados básicos das oito pessoas entrevistadas em Canas são os seguintes
(os nomes aqui utilizados foram alterados para preservar a identidade dos
entrevistados):
- João, 51 anos, neto de italianos, casado há 26 anos, três filhos, 1º grau
completo, dono de um bar, TV no bar ligada basicamente na TV Globo, rádio
sintonizado nas emissoras de FM da região e que tocam música sertaneja,
acompanha pouco as telenovela devido ao horário de trabalho, mas lembrava das
tramas de PP;
- Rita, 20 anos, descendente de italianos, casada há quatro anos, uma filha
de três anos, 1º grau completo, dona de casa, TV ligada o dia inteiro na TV Globo
e na TV Cultura (programa de ginástica e programas infantis para a filha), assiste
telenovela às vezes fazendo outras atividades de casa;
- Luiz, 49 anos, casado há 28 anos, quatro filhos, quarta série do 1º grau,
trabalha na lavoura, gosta de música sertaneja e de samba, assiste pouca TV, mas
acompanha as telenovelas das oito na Rede Globo;
- Mariana, 25 anos, quatro anos de casada, uma filha de três anos, grávida,
1º grau completo, trabalha numa loja de tecidos, dona de casa, é de família do sul
de Minas Gerais, TV em casa ligada o dia todo, de manhã no SBT e depois na TV
Globo, gosta mais das telenovelas quando estão nos últimos capítulos;
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- Carlos, 29 anos, solteiro, 2º grau completo, técnico em mecânica, pedreiro,
coordenador de pastoral na paróquia de Canas, assiste pouca TV e somente à
tarde, acompanha algumas telenovelas (entre elas acompanhou PP), gosta de
música popular brasileira;
- Julio, 30 anos, três anos de casado, uma filha, 2º grau completo em
contabilidade, desempregado, assiste telejornais e esportes na TV e telenovelas
para acompanhar a esposa, não acompanhou PP;
- Sonia, 34 anos, treze anos de casada, dois filhos, professora de pré-escolar,
casada com o vereador de Canas, gosta de música sertaneja e samba, proprietária
de uma loja de variedades em um posto de gasolina na beira da Dutra, na loja o
rádio e a TV estão ligados o dia todo, na loja ou em casa acompanha telenovelas;
- Ana, 36 anos, 16 anos de casada, dois filhos, 2º grau completo técnico em
secretariado, trabalha no aluguel de vestidos de noiva, gosta de música romântica,
na TV assiste notícias e reportagens, não gosta de telenovelas, prefere ler, não
acompanhou PP.
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4.2.2 Entrevistas em Santa Edwiges
Por intermédio de alguns conhecidos da paróquia de Santa Edwiges
contatamos as oito pessoas que foram entrevistadas. Localizada no bairro de
Sacomã, região sudeste da cidade de São Paulo, Santa Edwiges configura-se
numa área residencial de classe média e baixa.
As oito entrevistas ali realizadas tiveram procedimento similar às de Canas:
uma parte sem evidenciar o som e outra chamando atenção para ele. A partir das
sugestões do Exame Geral de Qualificação, contudo, a entrevista foi reformulada.
Primeiro, retiraram-se alguns fragmentos de Pedra sobre Pedra e incluiram-se
fragmentos de Fera Ferida. Segundo, na tentativa de melhorar a primeira parte da
entrevista, onde o entrevistado ainda não sabia que a pesquisa era sobre som, dois
fragmentos de Fera Ferida passaram por uma modificação da trilha sonora: em
um foi retirada a música, deixando um longo silêncio no seu lugar e, no outro, a
música original foi substituída pela música "Cabecinha no Ombro" pertencente à
trilha de Pedra sobre Pedra. O intuito aqui era verificar até que ponto as pessoas
percebiam e comentavam espontaneamente mudanças tão fortes no som. Outra
diferença deu-se no momento de apresentar a entrevista; agora a pessoa não era
informada sobre quais as telenovelas de origem dos 14 fragmentos que iria
assistir, procurando com isto observar a lembrança de PP, que nesse momento já
houvera transcorrido dois anos de sua emissão.
Os dois primeiros fragmentos exibidos foram: o nº 8, onde Murilo Pontes
está cavalgando na Chapada Diamantina (fragmento nº 2 da entrevista em
Canas) e, o nº 9, onde Cândido Alegria denuncia seu pacto com o diabo e
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transforma-se me pedra (o nº 5 em Canas). Para estes dois fragmentos seguiu-se o
esquema da primeira entrevista, após a apresentação de cada um realizavam-se
perguntas genéricas acrescentando a pergunta se a pessoa lembrava de que
telenovela eram os fragmentos.
O fragmento nº 10 (do cap. 59), seguinte a ser exibido, mostra o professor
Praxedes e sua mulher Querubina falando sobre a herança da sobrinha Camila;
quando eles saem de cena, a imagem vai para o quarto de Camila que esta em
atitude pensativa, terminando com um breve diálogo de Frida com dona
Margarida, na casa desta última. A música original da cena de Camila é o tema
"Pálida", porém, nesta cena realizamos a primeira modificação ao retirar o som
dessa música deixando em silêncio essa parte do fragmento. Na entrevista
procurava-se observar a reação a este silêncio incomun em uma cena de
telenovela. Procurava-se observar até que ponto as pessas notavam e comentavam
essa ocorrência sonora.
A segunda modificação do som foi realizada no fragmento nº 11 (cap. 57),
neste vemos Flamel enxugando-se com uma toalha no momento em que relembra
algumas passagens de amor dele com Linda Inês, as lembranças entram através de
imagens. Nesta seqüência a música original é o tema "Fera Ferida", mas no lugar
deste, colocamos a música "Cabecinha no Ombro". Após as lembranças ainda
pode-se ouvir as batidas na porta quando Linda vai entregar algumas roupas para
Flamel, logo há uma pequena discussão entre os dois e finalmente um efeito de
pontuação sonora, quando Flamel abre a porta novamente descobrindo Linda
tentando-o observar pelo buraco da fechadura. Assim como no fragmento
anterior, o intuito era verificar a reação diante de uma mudança drástica no som.
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Esperava-se provocar um contraste maior que o do silêncio, já que "Cabecinha no
ombro" é uma antiga música popular que ficou de novo em evidência durante PP.
Assim, o entrevistado deveria estranhar, ou não, tanto a utilização de um tema de
outra novela, como a utilização de uma música que não apresentara nenhuma
ocorrência em FF.
A partir do fragmento nº 12, o entrevistado era orientado para assistir os
fragmentos prestando atenção ao som. Este fragmento apresenta a cena em que
Jorge Tadeu está fotografando Susana Frota (o nº 6 em Canas). Neste momento
repetiam-se as mesmas perguntas, com os mesmos objetivos das entrevistas em
Canas. A única diferença poderia se apresentar se o entrevistado realizasse,
espontanemante, alguma relação entre as músicas deste fragmento com a do
anterior, já que é a mesma "Cabecinha no ombro".
O fragmento nº 13 (do cap. 56), por sua vez, tem no som um diálogo entre as
irmãs Salustiana e Ilka, e um efeito sonoro de chocalho, quando Salustiana sacode
Ilka provocando um movimento forte da cabeça. Neste momento aproveitava-se
para perguntar tanto sobre os barulhos de telenovela em geral, como os barulhos
que fazem parte da vida do entrevistado. Pergunta-se, a seguir, sobre a voz das
personagens, dos atores e a voz das pessoas. E volta-se a falar dos sons e as falas
dos fragmentos já assistidos. Neste fragmento e no seguinte, são testadas de forma
explicita as hipóteses da pesquisa com relação ao som e receptor. Perguntando
como, onde, o que etc. ouvem os entrevistados, os fragmentos são utilizados como
referência para a entrevista.
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O último fragmento nº 14 (do cap. 57), acontece na tecelagem e apresenta
uma seqüência de discussão, briga, momento de amor e surpresa envolvendo
Linda Inês e Flamel e no final surge o prefeito Demóstenes. Nesta cena, os
diálogos de Linda e Flamel passam de briga a sedução e finalmente para a
sensualidade, sendo cortados pela voz de Demóstenes. Os sons combinam um
fundo de passarinhos com passos fortes, sons de objetos caindo violentamente e o
chacoalhar da água e das tintas quando as personagens rolam dentro delas.
Finalmente, ouve-se a ocorrência da música "Fera Ferida" duas vezes, um toque
curto de tensão e a música "Sangue Latino" uma vez e uma pontuação musical de
surpresa. Como pode-se notar, esta seqüência possui uma quantidade considerável
de nuances sonoras.
As perguntas sobre este fragmento centravam-se no começo sobre as
músicas: perguntava-se sobre quantas eram, se foram reconhecidas, qual a função
daquela música na telenovela etc. Abordava-se também a música dos fragmentos
anteriores e perguntava-se sobre o silêncio de Camila (no nº 10) e a "Cabecinha
no ombro" de Flamel (no nº 11), bem como sobre as músicas na vida do
entrevistado. Os sons e as falas também eram lembrados, terminando com
perguntas sobre como a pessoa assistia telenovela diariamente.
Os dados básicos dos oito entrevistados em Santa Edwiges são os seguintes
(o mesmo procedimento e justificativa para a alteração dos nomes adotado
anteriormente, vale também para estes entrevistados):
- Cláudia, 16 anos, natural de São Paulo, solteira, cursando 2º ano do 2º
grau, ouve muito rádio, emissoras de FM de música rock e pop, na televisão gosta
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da programação para jovens como Programa Livre (no SBT), acompanha as
telenovelas das oito, mas atualmente prefere assitir a das sete Olho no Olho, na
Rede Globo.
- Mário, 16 anos, natural de Teresina - PI, veio para São Paulo aos nove
anos, solteiro, cursa a oitava série, estuda música há três anos e gosta de MPB e
rap, a TV fica ligada em casa o dia inteiro, mas ele só a assiste ao meio dia e um
pouco a noite, acompanha as telenovelas das oito.
- Helena, 43 anos, natural de Piracicaba - SP, veio para São Paulo com três
anos, casada há 19 anos, dois filhos (de 16 e nove anos), 2º grau completo,
trabalhou como secrétaria mas há dez anos dedica-se exclusivamente ao trabalho
doméstico de sua casa, gosta muito de ler e assiste filmes na TV ou em vídeo à
tarde e acompanha as telenovelas.
- André, 16 anos, natural de São Paulo, solteiro, cursa o 3º ano do 2º grau,
gosta rock e de música clásica, prefere fazer lição e estudar "com o barulho da
TV", acompanha a telenovela das oito.
- Kátia, 48 anos, natural de Duartina - SP, dos dois aos 17 anos morou em
Lucélia - SP, quando veio para São Paulo; casada, dois filhos (16 e 13 anos),
terminou o 1º grau e já adulta fez um supletivo do 2º grau, trabalha como
telefonista, assiste TV somente à noite e acompanha a telenovela das oito.
- Simone, 24 anos, natural de São Paulo, solteira, 2º grau completo com
curso técnico em patologia clínica, trabalha como secretária, gosta de ouvir
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emissoras de FM de rock , pop e MPB, assiste TV à tarde e à noite, acompanha as
telenovelas.
- Ricardo, 52 anos, natural de São Paulo, casado, duas filhas (27 e 24 anos)
e um filho (20 anos), aposentado, trabalhou como metalúrgico (auto- peças), gosta
de ouvir notícias na rádio AM e se diz um analfabeto em música, assiste TV à
noite e acompanha a telenovela das oito.
- Adriana, 37 anos, natural de São Paulo, casada, um filho de oito anos,
dona de casa, gosta de música instrumental, assiste TV quase sempre desde a
manhã até a noite, acompanha a telenovela das oito.
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55 3 SOM, TELENOVELA E RECEPTOR: HIPÓTESES