CADERNO DE FÍSICA DA UEFS, 03 (01): 61-79, 2004 MISSÕES INTERPLANETÁRIAS Durval Eusíquio de Miranda Motta Departamento de Física - UEFS 1 INTRODUÇÃO As missões interplanetárias são realizadas por sondas automáticas que viajam a partir da Terra até o planeta em estudo ou sua vizinhança. Para o planejamento da viagem, são elementos importantes: a órbita de estacionamento ou órbita de partida ou órbita de espera e a conseqüente velocidade orbital, a velocidade de escape, a velocidade hiperbólica, a esfera de influência da Terra e do planeta em questão, bem como uma órbita elíptica e seus elementos importantes. Muitos cálculos dependerão de algumas constantes importantes, a saber: 1) a constante universal de −11 2 2 gravitação: G = 6,67× 10 N m / kg e 2) a massa do Sol: 1,99 x 1030 kg. Além disso, muitos termos da área serão usados e, portanto, apresentamos algumas definições, a seguir: Terra em torno do Sol. O plano das órbitas dos demais planetas estão inclinados em relação à eclíptica. Exemplos: Vênus: 3,4o; Marte: 1,85o; Mercúrio: 7,0o ; Júpiter: 1,3o Esfera de influência: é a região em torno de um astro em que a atração gravitacional dele o é predominante sobre os demais astros. Raio da esfera de influência de um planeta: ⎛M ⎞ rp ≈ rS p ⎜⎜ p ⎟⎟ ⎝ MS ⎠ 2 5 (1) sendo rP = raio da esfera de influência do planeta rSP = raio orbital médio do planeta MP = massa do planeta MS = massa do sol Apoastro, apocentro ou apofoco: é o ponto mais distante de um corpo em órbita em torno de outro. No caso dos planetas em torno do Sol, o apoastro é denominado afélio. O afélio da Terra dista 1,521 x 1011 m do Sol. No caso de um satélite da Terra ele é chamado apogeu. Órbita de estacionamento, orbita de espera ou órbita de partida: é uma órbita baixa, por exemplo, uma órbita de cerca de 450km acima da superfície da Terra, aproximadamente circular. Seja vc a velocidade do satélite em órbita circular. Sabe-se que, Periastro: é o ponto mais próximo de um corpo em órbita em torno de outro. No caso dos planetas, o periastro é denominado de periélio. O periélio da Terra dista l,47l x 1011 m do Sol. No caso de um satélite da Terra o periastro é denominado de perigeu. vc = GM R+h (2) onde vc= velocidade circular Eclíptica: é o plano determinado pela órbita da 61 do satélite na órbita Missões Interplanetárias Durval Eusíquio de Miranda Motta G = constante universal de gravitação M = massa da Terra R = raio médio da Terra h = altitude acima da superfície da Terra Portanto, esta velocidade para 450 km de altitude vc = 7,6 km/s (aproximadamente 27.505 km/h) DADOS PLANETÁRIOS GRANDEZA PLANETA Mercúrio Massa (em 1024 kg) Raio Raio médio da médio da esfera de Velocidad Tempo de Raio órbita influência Excentrici e orbital revolução equatoria (em dade da (em média em torno l (em 106 milhões milhares (em órbita do Sol m) de Km/s) de quilômetr quilômetr os) os) 0,315 2,44 57,91 0,2056 87,97 dias 112 4,88 6,056 108,21 0,00678 35,02 224,7dias 615 Terra 5,977 6,378 149,60 0,0167 29,79 365,256 dias 925 Marte 0,645 3,395 227,94 0,0934 24,13 686,98 dias 579 Júpiter 1.900 70,4 777,8 0,0484 1305 11,86 anos 48.100 581 59,65 1.427 0,5556 9,65 29,46 anos 54.600 Urano 87,8 27,9 2.869 0,04726 6,8 84 anos 52.000 Netuno 103 25 4.497 0,008587 5,43 164,8 anos 86.900 5.900 4,74 248,5 anos 3.200 Vênus Saturno Plutão 0,012 ? 62 0,248 47,87 CADERNO DE FÍSICA DA UEFS, 03 (01): 61-79, 2004 onde o índice “i”, refere-se a esfera de influência. O raio rT é o raio da esfera de influência da terra. A velocidade hiperbólica (vh) é qualquer velocidade superior à velocidade de escape. É também chamada de velocidade de escape hiperbólico. A Figura 2, ilustra o movimento de um corpo a esta velocidade, A velocidade de escape ou velocidade parabólica pode ser calculada da seguinte maneira: ve = 2G M 2G M = r R+h (3) ve = vc 2 (4) sendo G = constante universal de gravitação M = massa da Terra R = raio médio da Terra h = altura acima da superfície da Terra r = distância ao centro da Terra Para uma altitude de 450 km, o valor da velocidade de escape é Ve = 10,8 km/s. Então uma nave em órbita circular a 450 km de altitude deve aumentar sua velocidade em 3,2 km/s para atingir a velocidade de escape da Terra. A Figura 1 mostra uma órbita circular e a trajetória parabólica. Figura 2. Velocidade hiperbólica Devemos agora fazer referência às equações do movimento de um foguete. 1.1 Movimento de um Foguete no Espaço Vazio e Gravidade Desprezível A velocidade alcançada pelo foguete ao esgotar o combustível é dada por: v = vo + u ln (5) onde v = velocidade atingida pelo foguete vo = velocidade inicial do foguete u = velocidade de ejeção dos gases expelidos pelo motor do foguete Mo = massa inicial do foguete M = massa final do foguete (reator + tanque vazio + carga útil) Figura 1. Velocidade parabólica Velocidade parabólica ao sair da esfera de influência da Terra é calculada da seguinte maneira: v p i = ve i = Mo M 2G M = 929 m / s ≈ 0,9 km / s rT A relação entre a massa inicial do foguete e a massa final é: 63 Missões Interplanetárias ⎛ v − vo ⎞ M O = M exp ⎜ ⎟ ⎝ u ⎠ Durval Eusíquio de Miranda Motta elíptica coincida com a passagem do planeta alvo pela vizinhança desse ponto. A viagem econômica de uma espaçonave a partir da Terra a um planeta alvo segue os seguintes principais: a) colocação da espaçonave com foguetes propulsores em órbita de estacionamento em torno da Terra, sendo a órbita inclinada de 23o 27′ em relação ao equador, num instante em que se situa no mesmo plano da órbita da Terra em torno do Sol (plano da eclíptica). b) em ocasião ótima (janela de lançamento) disparo de foguete dando à espaçonave velocidade de escape hiperbólico ou excepcionalmente velocidade parabólica. c) saída da esfera de influência da Terra, passando a espaçonave a ter trajetória elíptica em torno do Sol no mesmo plano da órbita terrestre. d) mudança do plano de órbita da espaçonave, passando do plano da órbita da Terra para o plano da órbita do planeta alvo. e) entrada da espaçonave na esfera de influência do planeta alvo. f) realização da operação de captura, fazendo a espaçonave entrar na órbita planejada em torno do planeta alvo. g) eventual descida de uma cápsula à superfície do planeta. A mudança do plano de órbita da trajetória da espaçonave se dá quando a mesma atinge a vizinhança da interseção dos planos das órbitas da Terra e do planeta alvo, mediante uma manobra de mudança de atitude (direção apontada pela espaçonave) em direção apropriada, seguida de disparo de foguete ocasionando uma mudança de velocidade com conservação do módulo, conforme ilustra o diagrama abaixo: (6) (Conhecida como fórmula de Tsiolkovski) Os dados inseridos nas fórmulas devem estar em unidades do Sistema Internacional de Unidades (SI). Exemplos: massa em quilograma (kg); distância em metro (m); velocidade em metro por segundo (m/s). Exprimimos os resultados de velocidade na unidade prática km/s. Se o leitor quiser saber o correspondente em km/h, basta multiplicar por 3.600 (número de segundos de uma hora). Para colocar um satélite numa órbita circular a 450 km acima da superfície da Terra, pode ser usado um foguete de dois estágios utilizando hidrogênio e oxigênio líquidos, cuja queima proporciona velocidade de ejeção dos gases entre 3.200 m/s na baixa atmosfera até mais uns 15% no espaço exterior. Analisando os dados referentes ao foguete Saturno V e ao shuttle, concluímos que o foguete proposto acima dá uma relação de massa (massa total do foguete pela carga útil posta em órbita) de cerca de 20. Isto é, para colocar um satélite de 1 ton na órbita especificada, a massa total do foguete no lançamento deve ser aproximadamente 20 ton. 2 Viagem da Terra a um Planeta A espaçonave sai da esfera de influência da Terra com velocidade tangente à velocidade orbital da mesma, entrando naturalmente na trajetória elíptica em torno do Sol no ponto onde a elipse toca o semi-eixo maior (um vértice da elipse). A viagem econômica deve ser iniciada numa ocasião tal em que a passagem da espaçonave pela posição oposta do semi-eixo maior da trajetória 64 CADERNO DE FÍSICA DA UEFS, 03 (01): 61-79, 2004 O período de revolução de um corpo de massa m em torno de outro de massa M onde M>>m é: Up α ⎛ (q q ) ⎞ ⎟ T = 2π ⎜ ⎜ qG M ⎟ ⎝ ⎠ ΔV 1 UT + 12 3 2 [13] Figura 3. Mudança de plano de órbita] Δv = 2 v sen (α/2) Onde M é a massa do corpo central. (7) 2.1 Relação de Massa sendo, No lançamento da espaçonave em velocidade de escape hiperbólico, a partir da órbita de estacionamento, é utilizado foguete propelido a hidrogênio e oxigênio líquidos. Como o foguete já está no espaço exterior, a velocidade de ejeção dos gases é de cerca de 3.700 m/s. Considerando que a carcaça do estágio anterior à carga útil represente 0,26 da massa da carga útil para uma relação de massa entre o total de massa (carga útil + segundo estágio carregado de propelentes) e carga útil + carcaça do segundo estágio, aproximadamente 3,4, conforme observamos nos dados referentes ao foguete Saturno V, admitindo que cada estágio tem a forma cilíndrica e aplicando a fórmula (6), podemos avaliar a relação de massa entre o foguete na órbita de estacionamento de 450 km de altitude em torno da Terra e a sua entrada numa órbita elíptica heliocêntrica. Nas manobras realizadas a grandes distâncias da Terra são usados foguetes a propelentes sólidos. Os estágios, geralmente, são constituídos de baterias de foguetes. Cada foguete como um todo é o motor, que deve ter parede reforçada. Os elementos de uma bateria, com tempos de combustão diferenciados, são descartados após a queima, o que determina maior eficiência no aumento de v = UT = U p (módulos das velocidades) No planejamento da viagem interplanetária é essencial termos o valor da velocidade no periélio e no afélio, as quais são obtidas pelas fórmulas abaixo: Velocidade no periélio: ⎛ v P = ⎜⎜ GM ⎝ 12 ⎛ 2 1 ⎞⎞ ⎜⎜ − ⎟⎟ ⎟⎟ ⎝ q1 a ⎠ ⎠ (8) Velocidade no afélio: ⎛ v A = ⎜⎜ GM ⎝ (9) 12 ⎛ 2 1 ⎞⎞ ⎜⎜ − ⎟⎟ ⎟⎟ q ⎝ 2 a ⎠⎠ sendo, M = massa do Sol q1 = distância no perélio q2 = distância no afélio a = semi-eixo maior da órbita eliptica a= q1 + q 2 (10) 2 Velocidade em um ponto da órbita: rP VP r r V= A V A r V= (11) (12) 65 Missões Interplanetárias Durval Eusíquio de Miranda Motta velocidade. Na ausência de dados, para efeito de cálculo da relação de massa, vamos admitir o conceito de estágio equivalente para cada bateria, com o mesmo índice entre carcaça do estágio anterior à carga útil e a carga útil. Considerando os dados relativos ao shuttle e por estar o foguete funcionando no vazio do espaço, tomamos para velocidade de ejeção dos gases 3.100 m/s.. Inicialmente observemos que a órbita de Vênus é sensivelmente circular. Por este fato e por não termos dados referentes às posições relativas das órbitas da Terra e de Vênus, não usamos nos cálculos o valor do periélio e do afélio do planeta, apenas sua distância média ao Sol (acarretando um erro pequeno). Aplicando a fórmula (9) para a Terra no afélio e no periélio, verificamos que a velocidade orbital da espaçonave no seu afélio (saída da esfera de influência da Terra) está entre 26,9 e 27,7 km/s relativa ao Sol e –2,4 km/s (para a Terra no afélio) e –2,6 km/s (para a Terra no periélio) relativa à Terra. Como a velocidade de escape no limite da esfera de influência da Terra é 0,9 km/s,, deduzimos que a magnitude da velocidade de partida da órbita de estacionamento de 450 km de altitude, deve ser de escape hiperbólico entre 4,7 e 4,9 km/s acima da velocidade orbital na referida órbita. Cerca de uma semana da partida da órbita de estacionamento, a espaçonave chega à “superfície” da esfera de influência da Terra 3 Viagem da Terra a Vênus Nesta seção vamos examinar a viagem de um veículo espacial da Terra a Vênus. 3.1 Até Passagem da Sonda com Velocidade Hiperbólica pela Esfera de Influencia de Vênus A Trajetória em órbita elíptica em torno do Sol com afélio na órbita da Terra e periélio na órbita de Vênus, tem a configuração da Figura 4. A espaçonave é lançada a partir da órbita de estacionamento num instante apropriado (janela de lançamento). TERRA 3.2 Mudança de Plano de Órbita Os planos de órbita da Terra e de Vênus em torno do Sol, como vimos, estão inclinados de 3,4o. A depender da posição da Terra no momento da saída da espaçonave da sua esfera de influencia, com a conseqüente entrada na trajetória elíptica em torno do Sol, a manobra de mudança da espaçonave do plano de órbita da Terra para o plano de órbita de Vênus, implicará em mudança de velocidade entre 1,6 e 1,9 km/s. SOL VÊNUS 3.3 O Encontro com Vênus Aplicando a fórmula (8) verificamos que a velocidade no periélio (passagem por Vênus) está entre 37,6 e 37,9 km/s Figura 4. Viagem econômica a Vênus 66 CADERNO DE FÍSICA DA UEFS, 03 (01): 61-79, 2004 relativa ao Sol e 2,6 a 2,9 km/s relativa a Vênus. Observando que a trajetória da espaçonave é metade de uma elipse, aplicando a fórmula (13), concluímos que a viagem da espaçonave entre as esferas de influência dos dois planetas é realizada de 145 a 148 dias. A partir do lançamento da órbita de estacionamento: 152 a 155 dias. A relação de massa para fazer passar uma espaçonave pela esfera de influência de Vênus a partir da órbita de estacionamento a 450 km acima da superfície da Terra está entre 9,5 (Terra no afélio quando a espaçonave sai da esfera de influência) e 10,2 (Terra no periélio quando a espaçonave sai da esfera de influência). A partir da saída da superfície da Terra, considerando a massa total do foguete, entre 180 e 204. Significa que para fazer uma sonda de 500 kg passar pelas proximidades de Vênus, a massa total do foguete partindo da superfície da Terra deve estar entre 90 e 102 ton. A configuração entre os dois planetas, que permite a viagem econômica, se repete em intervalos de 1 ano e 7 meses. Nas viagens não econômicas, o periélio da órbita elíptica da espaçonave está abaixo da órbita de Vênus. Quanto mais baixo, mais dispendiosa a viagem. A título de exemplo, numa órbita de periélio 10 milhões de quilômetros abaixo de Vênus, a relação de massa aumenta de cerca de 200 para 250. Neste tipo de órbita, o encontro com o planeta, de acordo com o planejamento da viagem, se dará antes ou depois do periélio, conforme está ilustrado na Figura 5. No encontro antes do periélio (viagem mais rápida) a espaçonave realiza um trajeto de tipo TV1. No encontro depois do periélio o trajeto da espaçonave é do tipo TV2. As viagens realizadas pelas sondas soviéticas da série Venera, entre 1961 e 1983, foram todas do tipo TV1, com o tempo de viagem variando de 104 a 136 dias. As sondas americanas Mariner 2 e Mariner 3, gastaram 109 e 129 dias, respectivamente. Realizaram, portanto, trajetos do tipo TV1. Órbita da Terra Órbita da Sond a V2 V1 ita de Ór bita rb Ó da Son da SOL Vê nu s TERRA Saída da Terra Figura 5. Viagem não econômica a Vênus. 3.4 Sonda em Órbita em Torno de Vênus, em Missão Econômica A sonda entra na esfera de influência do planeta Vênus com velocidade hiperbólica. Com o uso dos foguetes é feita a operação de captura, entrando numa órbita em torno do planeta com um gasto pequeno de combustível, o suficiente para um apoastro distante do planeta, o permitido para manter a sonda livre de perturbação 67 Missões Interplanetárias Durval Eusíquio de Miranda Motta mecânica, deduzimos que a sonda chega ao ponto mais próximo do planeta com a velocidade entre 2,8 e 3,1 km/s. Como a velocidade na órbita aludida neste ponto deve ser 0,2 km/s, concluímos que os foguetes devem ser acionados para uma variação de velocidade de 2,6 a 2,9 km/s. Admitindo que o último estágio é o que faz a operação de captura (colocação do satélite em órbita) e usando a fórmula (6), chegamos a relação de massa total entre 555 e 580. Significa que um foguete de 200 ton a partir da Terra, é capaz de por na referida órbita uma carga útil de aproximadamente 345 a 360 kg. SOL VÊNUS 3.5 Descida de uma Superfície do Planeta Cápsula à A cápsula é liberada da sonda e estará com ela na mesma órbita. Para descer a superfície do planeta deve passar para outra órbita elíptica de mesmo apoastro (300.000 km do centro do planeta) e periastro mais ou menos ao nível da superfície do planeta, contando com a atmosfera para a freada. A passagem para a nova órbita é conseguida com uma diminuição de velocidade de alguns metros por segundo (com grande precisão) no apoastro. A cápsula deve atingir a atmosfera do planeta com um ângulo de ataque exato, evitando ser recocheteada ou ser destruída pelo calor de um atrito excessivo. Não temos condições de fazer estimativas numéricas. Figura 6. Sonda satélite de Vênus gravitacional do Sol, cerca de 300.000 km do centro do planeta e um periastro suficientemente próximo do centro do planeta com órbita estável, por exemplo, 500 km acima das nuvens, o que está representado na Figura 6, embora fora de escala. O período de revolução do satélite é de 7 d 16 h, como podemos verificar pela fórmula (13). Aplicando a fórmula (9), com M representando a massa de Vênus, achamos que a velocidade do satélite no apoastro é de aproximadamente 0,2 km/s. Aplicando a fórmula (8) verificamos que a velocidade no periastro é 9,8 km/s. Já vimos que a sonda entra na esfera de influência de Vênus com a velocidade entre 2,6 e 2,9 km/s. Existe, então, um ângulo de incidência na esfera de influência para o qual a sonda chega a uma aproximação máxima do centro do planeta igual a 300.000 km. Usando o principio da conservação da energia 4 Viagem da Terra a Marte 4.1 Passagem de uma Vizinhança de Marte 68 Sonda pela CADERNO DE FÍSICA DA UEFS, 03 (01): 61-79, 2004 Numa viagem econômica a espaçonave sai da esfera de influência da Terra com velocidade entre 2,3 e 3,6 km/s relativa a Terra, a depender da configuração orbital dos dois planetas, 1,4 a 2,7 km/s além da velocidade parabólica. Considerando que a velocidade na órbita de estacionamento a 450 km de altitude é 7,6 km/s, que a velocidade de escape a nível desta órbita é 10,8 km/s, a espaçonave deve sofrer, então, um acréscimo de velocidade de 4,6 a 5,9 km/s acima da velocidade na órbita de estacionamento. Para mudança do plano de órbita da Terra para o plano de órbita de Marte, a espaçonave experimenta uma variação de velocidade de 0,8 km/s. A espaçonave chega a esfera de influência de Marte com velocidade em relação ao planeta entre 2,0 km/s no afélio de Marte e 3,4 km/s no periélio. Seguindo as considerações sobre o cálculo da relação de massa e usando a fórmula (6), achamos que a relação de massa da missão entre a órbita de estacionamento a 450 km acima da superfície da Terra até a chegada à esfera de influência de Marte, está entre 6,5 e 10. A relação de massa total, portanto, está entre 130 e 200. Do exposto concluise que para fazer passar pela esfera de influência de Marte uma sonda de 500 kg, a massa total do foguete a ser lançado da Terra estará entre 65 e 100 ton. Um foguete de 200 ton no lançamento é capaz de fazer passar pela esfera de influência de Marte uma espaçonave de 1.000 a 1.500 kg, a depender da posição dos dois planetass na ocasião do lançamento. Usando a fórmula (13) e observando que o trajeto da espaçonave é a metade de uma elípse, o tempo de viagem entre as esferas de influência varia de 236 a 281 dias. Levando em conta o tempo de vôo para sair da MARTE SOL TERRA Saída da Terra Figura 7. Viagem econômica a Marte As órbitas da Terra e de Marte estão numa disposição tal, que quando Marte está no afélio (248 milhões de quilômetros distante do Sol) a Terra está a 148 milhões de quilômetros (o periélio da Terra dista 147 milhões de quilômetros do Sol). Consequentemente, quando Marte está no periélio (a 207 milhões de quilômetros do Sol) a Terra está a 151 milhões de quilômetros (o afélio da Terra está a 152 milhões de quilômetros). Vê-se aí que existe uma distância máxima: 100 milhões de quilômetros e uma distância mínima de 56 milhões de quilômetros entre os planetas em conjunção heliocêntrica, isto é, Marte em oposição geocêntrica. Veja a Figura 7. Quando uma espaçonave sai da Terra em órbita econômica, com a Terra próxima do periélio, chegará a Marte quando o mesmo se encontra próximo do periélio. A mesma correspondência se dá quanto ao afélio. 69 Missões Interplanetárias Durval Eusíquio de Miranda Motta Chegada a Marte M1 Chegada a Marte M2 SOL TERRA Saída da Terra Figura 8. Viagem não econômica a Marte As órbitas cruzaram a órbita de Marte em dois pontos. As sondas que gastaram menos tempo, passaram ou chegaram a Marte no primeiro cruzamento de órbitas. Fizeram um trajeto do tipo TM1, ilustrado na Figura 8. As outras (as Viking) fizeram o trajeto de tipo TM2. esfera de influência da Terra, o tempo total decorrido entre o lançamento da órbita de estacionamento em torno da Terra e a chegada à esfera de influência de Marte, 243 a 288 dias. A configuração entre os dois planetas, que permite a viagem econômica, se repete em intervalos de 2 anos e 2 meses. 4.2 Espaçonave em Órbita em Torno de Marte Verificando os registros do tempo de viagem de várias sondas a Marte, constatamos que as Mariner 4, 5, 6 e 7, lançadas entre 1964 e 1971, fizeram a viagem entre 167 e 170 dias. As soviéticas Marte 4, 5, 6 e 7, lançadas em 1973, gastaram de 204 a 218 dias. As Viking 1 e2, lançadas em agosto e setembro de 1975, gastaram respectivamente 303 e 332 dias. Conclusão: um grupo de espaçonaves fizeram a viagem em menos tempo e outro em mais tempo que o intervalo de 243 a 288 dias, o que mostra terem feito trajetos não econômicos. O afélio das órbitas de tais espaçonaves, está além da órbita de Marte. Como o raio médio da esfera de influência de Marte é ligeiramente menor que o de Vênus, podemos considerar a órbita (econômica e segura) da espaçonave em torno de Marte com as seguintes características: apoastro: 300.000 km do centro do planeta; periastro: 3.900 km (505 km acima da superfície do planeta). Seguindo a mesma linha de raciocínio para o caso de Vênus, concluímos que a velocidade no periastro é de 4,7 km/s aproximadamente e no apoastro é 0,06 km/s, acarretando na operação de captura uma variação de 70 CADERNO DE FÍSICA DA UEFS, 03 (01): 61-79, 2004 foguete lançador na saída da superfície da Terra, deve ser de 600 a 1.560 ton. É uma missão dispendiosa. velocidade produzida por foguete entre 0,6 km/s, com Marte no afélio e 3,3 km/s, com Marte no peliélio. O período orbital é 20 d 18,5 h, conforme a fórmula (13). Admitindo o uso de um estágio para esta operação, podemos concluir que a relação de massa entre a saída da órbita de estacionamento na Terra e a espaçonave capturada na referida órbita em Marte está entre 13,5 no afélio do planeta e 23 no periélio. A relação de massa total (entre o foguete no lançamento na superfície da Terra e a espaçonave colocada em órbita em torno de Marte) varia de 270 a 460. Significa que um foguete de 200 ton no lançamento na Terra é capaz de por na referida órbita em torno de Marte uma carga útil de 430 a 740 kg. 6 Viagem da Terra à Vizinhança de Júpiter O periélio da órbita de Júpiter está a 740 milhões de quilômetros do Sol. E o afélio a 816 milhões. Considerando também o periélio e o afélio da Terra, temos um valor mínimo e um valor máximo para a relação de massa. No mínimo 760 e no máximo 1.000. Para fazer passar pelas proximidades de Júpiter uma sonda de 500 kg, o foguete lançador na superfície da Terra deve ter, a depender da ocasião, no mínimo 380 e no máximo 500 ton. Um foguete de 200 ton, com os referidos propelentes, terá no máximo capacidade de levar às proximidades de Júpiter uma carga útil de 263 kg. 5 Viagem da Terra à Vizinhança de Mercúrio A velocidade da espaçonave no afélio (inicio da trajetória heliocêntrica) em relação à Terra está entre 7,1 e 8,1 km/s (a depender da posição da Terra em sua órbita). Os planos das órbitas da Terra e Mercúrio fazem um ângulo de 7o. Na operação de mudança de plano de órbita, a variação de velocidade está entre 2,7 e 4,4 km/s. Usando dois estágios propelidos a hidrogênio e oxigênio líquidos, para imprimir a velocidade de escape hiperbólico e um estágio a propelente sólido para mudança de plano de órbita, a relação de massa referente a saída da órbita de estacionamento, a depender da posição da Terra em sua órbita na ocasião do lançamento, varia de 60 a 156. Relativamente à saída do foguete de 4 estágios da superfície da Terra está entre 1.200 e 3.120. Se a sonda em tal missão tiver a massa de 500 kg, a massa total do 7 Manobras Assistidas Gravitacionalmente Uma manobra gravitacionalmente assistida ou swing-by consiste na passagem de uma espaçonave pela esfera de influência de um planeta, com a finalidade de produzir uma variação planejada de sua velocidade. Quando uma espaçonave atravessa a esfera de influência de um planeta, o vetor velocidade da espaçonave, com respeito ao planeta, é girado, e o vetor velocidade relativo ao Sol tem o seu módulo mudado. É uma manobra muito usada, porque acarreta uma grande economia de combustível da espaçonave, tornando possível missões consideradas inexeqüíveis com o uso exclusivo de foguetes. 71 Missões Interplanetárias Durval Eusíquio de Miranda Motta SOL αa β β Es pa ço v na e Vpa β PLANETA φ ΔV V sa V pd αd β Vp /s d Vs γ φ Vpa β φ ΔV V pd β Figura 9. Swing-by com acréscimo de velocidade As Figuras 9 e 10 mostram a manobra, em coordenadas centradas no planeta e centradas no Sol, projetadas para uma passagem interior, isto é, entre o planeta e o Sol. A passagem é por um planeta interior ao planeta de onde proveio a espaçonave. Na Figura 9 há um aumento da velocidade da espaçonave com a manobra e na Figura 10 há uma queda. A referida passagem foi projetada para acontecer pouco depois do primeiro cruzamento orbital. Se fosse depois do segundo cruzamento a passagem seria naturalmente exterior. 72 CADERNO DE FÍSICA DA UEFS, 03 (01): 61-79, 2004 β β ΔV Vp a β γ Vs β SO L αa V pd a φ s Vp/ αd Figura 10. Swing-by com decréscimo de velocidade planeta; Em coordenadas centradas no planeta, temos: δ = ângulo através do qual o vetor velocidade da espaçonave será girado (180o - 2β); βr = ângulo assintótico hiperbólico; V pa = velocidade da espaçonave na chegada à esfera de influência do planeta; r = velocidade no infinito na V pa ≈ V∞ a chegada assintótica: r V p d = velocidade da espaçonave na saída da esfera de influência do r r V pd ≈ V ∞d = velocidade no infinito na partida assintótica; O efeito de um encontro planetário r é adicionar r o vetor ΔV à velocidade rde chegada V pa. O módulo do vetor ΔV é dado por: ΔV = 2 V∞cos β ou ΔV = 2 Vpa cos β (15) Este efeito é chamado de efeito flyby. O vetor velocidade da espaçonave 73 Missões Interplanetárias Durval Eusíquio de Miranda Motta velocidade (VSd,αd) na partida da esfera de influência do planeta da manobra. αd é o ângulo entre a velocidade da espaçonave e a velocidade do planeta. Assim, em relação ao planeta é girado de um ângulo δ pelo efeito gravitacional do planeta, contudo o seu módulo VN/p não muda. Em relação ao Sol, porém, o vetor velocidade da espaçonave tem sua magnitude mudada. Em coordenadas centradas no Sol, temos: r r VSd = V p/S r + Vpd A lei dos cossenos dá o ângulo αd. Além disso, Vpd = Vpa, r r r Vpd − Vpa = ΔV que depende da hipérbole dor fly-by. r r r V s a = Velocidade da espaçonave ao chegar na esfera de influência do planeta; r Vs d = velocidade da espaçonave na partida da esfera de influência do planeta; r Vp / s = velocidade do planeta em relação ao Vpd = VSa − Vp / S r VSa = está implícito no formato da órbita Sol; de transferência. = (VaS, αa). A Figura 11 detalha a trajetória da espaçonave na manobra, em coordenadas centradas no Sol. A Figura 12 mostra a passagem interior de uma espaçonave por um planeta exterior ao planeta de onde proveio a mesma. Observe que a magnitude da velocidade da espaçonave r relativa ao Sol ( VSa ) é menor que r a magnitude da velocidade do planeta VP / S . Observe, também, que a espaçonave entra na esfera de influência do planeta com velocidade praticamente retrógrada e sai no sentido direto. A porção média da hipérbole do fly-by é quase perpendicular à direção da velocidade do planeta. Conforme a finalidade da manobra, por exemplo, atingir um planeta interior, a passagem deveria ser exterior. O ângulo αa entre a velocidade do planeta e a velocidade da espaçonave é determinado pelo formato da órbita de transferência. Os ângulos δ e β são definidos pelo formato da hipérbole (excentricidade) do fly-by, que está relacionado com a distância mínima ao centro planeta da assíntota da hipérbole, da massa do planeta e do raio da esfera de influência. Seja (Vp/s, 0) a expressão polar de r Vp / s . Isto significa que vamos representar os vetores velocidade envolvidos na manobra, em relação r a um eixo polar de mesmo sentido que Vp / s . O objetivo, quase exclusivo, da manobra gravitacionalmente assistida é conseguir um formato de trajetória elíptica heliocêntrica que leve ao planeta alvo da missão, o que exige vetor 74 CADERNO DE FÍSICA DA UEFS, 03 (01): 61-79, 2004 E sfera d e influên Per curso do p la neta d ura do obr a αo≈ αa Trajetória da espaçonave no fly-by Ór bi t a Órbita da espaçonave (órbita de tranferência) Vértice da órbita de transferência da espaçonave não atingido pela mesma do pla ne ta Cruzamento das órbitas SOL Figura 11. Manobra com coordenadas centradas no Sol SOL β a a bit Ór ma n eta pla n PLANETA Espaçonave Vsa γ φ αd Vp/s Figura 12. Swing-by num planeta exterior 75 δ β V sd αa β δ β bit Ór e er g em e da nte ave çon s pa cia nte a Missões Interplanetárias Durval Eusíquio de Miranda Motta Observando os gráficos de composição dos vetores velocidade, vemos que a variação da magnitude da velocidade da espaçonave depende diretamente da r r r magnitude de r Vpa = VSa − Vp / S r consequentemente de VSa − Vp / S e de αa. Para uma determinada variação de r r magnitude da velocidade, se VSa − Vp / S é pequeno, αa deve ser suficientemente grande. Um αa mais significativo exige, por exemplo, na passagem por um planeta interior, um maior abaixamento do periélio da órbita de transferência. Fazendo a representação dos vetores velocidades em coordenadas polares, com o eixo polar na direção de r Vp / s e transformando a expressão polar para expressão cartesiana, chegamos à fórmula que permite calcular a magnitude r de Vpa . Vpa = Vsa2 + Vp2/ s − 2Vsa Vp / s cos α a 1 2 (18) ( 10,15 km/s. É evidente que a espaçonave não atinge o periélio da órbita. Não temos condições de fazer os cálculos relativos à determinação da hipérbole do fly-by, porém conjecturamos que a espaçonave sai da esfera de influência com a velocidade de 29,6 km/s (5,4 km/s com relação ao planeta) e num ângulo αd tal, que a faça atingir na nova órbita elíptica heliocêntrica com um afélio situado a 7 milhões de quilômetros acima da órbita de Vênus, ocasião em que sua velocidade é de 27,8 km/s (por uma das fórmulas(11) ou (12). Na nova órbita a espaçonave passará em seu periélio na vizinhança de Mercúrio, com a velocidade de 55,2 km/s relativa ao Sol (usando a fórmula (8))e 7,3 km/s em relação a Mercúrio. A grande vantagem desta manobra foi reduzir a relação de massa de uma viagem dirigida diretamente à vizinhança de Mercúrio a partir da Terra (cerca de 1.400) para uma relação de massa 270, permitindo que um foguete de 135 ton no lançamento na superfície da Terra, faça passar pelas proximidades de Mercúrio uma sonda de 500 kg. A primeira manobra gravitacionalmente assistida teve Mercúrio como planeta alvo. A sonda Mariner 10, lançada em 3 de novembro de 1973, por um foguete Atlas-Centaur, em 5 de fevereiro de 1974 sobrevoou Vênus acerca de 5.700 km de distância e em 5 de março do mesmo ano passou a 700 km de Mercúrio. A sonda tinha a massa de 503 kg, o foguete Atlas-Centaur tinha no lançamento cerca de 160 ton. Vê-se aí que houve uma relação de massa de aproximadamente 320. O estágio Centaur era propelido a hidrogênio e oxigênio líquido. Não sabemos qual o combustível do Atlas. ) 7.1 Passagem de uma Espaçonave pela Vizinhança de Mercúrio, Através de um Swing-By em Vênus Seja um exemplo em que a espaçonave sai da esfera de influência da Terra, entrando numa órbita elíptica heliocêntrica (órbita de transferência) com periélio a 10 milhões de quilômetros abaixo da órbita de Vênus, ilustrada na Figura 13. De acordo com as fórmulas (8), (9), (11) ou (12), a espaçonave sai da esfera de influência da Terra (a Terra situada longe dos vértices de sua órbita) com a velocidade de 26,4 km/s relativa ao Sol e entra na esfera de influência de Vênus, após o primeiro cruzamento de órbitas, com a velocidade de 36,8 km/s e ângulo αa = 16o (medido na figura que está em escala) o que dá uma velocidade relativa a Vênus com magnitude (Vpa) de 76 CADERNO DE FÍSICA DA UEFS, 03 (01): 61-79, 2004 Ó rb da ita Ó rb it a T da erra Vênu s Ór bit a n te ge da Son da ta de Merc Órbi úri o em er SOL Swing-by em Vênus Ór b i ta de tran sfer ê ncia d a sonda Passagem pela vizinhança de Mercúrio Saída da Terra Figura 13. Viagem a Mercúrio com Swing-by em Vênus espaçonave deve ter, a partir da referida órbita de estacionamento, um acréscimo de velocidade de 14,6 km/s aproximadamente. Considerando um foguete com 3 estágios propelidos a hidrogênio e oxigênio líquidos, obtém-se uma relação de massa de 105. Em relação ao foguete original, lançado da superfície da Terra, com 5 estágios e mesmos propelentes, a relação de massa é 2.100 – uma operação muito dispendiosa. Neste caso, a alternativa é fazer uma série de manobras gravitacionalmente assistidas, sendo a última, no caso mais simples, em Júpiter. Observemos que para um planeta, a velocidade de escape do sistema solar O tempo de viagem foi: 3 meses até Vênus e 28 dias de Vênus a Mercúrio. 7.2 Saída do Sistema Solar A diferença entre a velocidade de escape do sistema solar, relativa ao Sol, ao nível superior, relativo ao Sol, do limite da esfera de influência da Terra e a velocidade orbital da Terra, varia entre 12,1 km/s no periélio e 12,4 km/s no afélio. Como a velocidade de escape em relação à Terra, ao nível da órbita de estacionamento de 450 km de altitude é 3,2 km/s acima da velocidade orbital em relação à Terra e como a velocidade de escape relativa à Terra no limite da esfera de influência da mesma é 0,9 km/s, a 77 Missões Interplanetárias Durval Eusíquio de Miranda Motta Júpiter desde 1996, foi lançada no final de 1989 com destino a Vênus, cujo campo gravitacional mudou o seu curso, trazendo-a de volta às proximidades da Terra, 14 meses depois da partida, sendo então impelida em direção a Marte, cuja gravidade a fez retornar novamente a vizinhança da Terra, sofrendo, então, o último swing-by, que a levou à órbita de Júpiter. Entre Marte e Júpiter passou perto dos asteroides Gaspra e Ida. A espaçonave Ulisses, lançada pouco tempo depois da Galileu, chegou às proximidades de Júpiter, cujo campo gravitacional a projetou numa órbita em plano quase perpendicular a eclíptica, permitindo que a mesma sobrevoasse os pólos do Sol. relativa ao Sol é cerca de 41,5% superior à velocidade do planeta (veja fórmula 4). Para os planetas interiores esta diferença é muito grande. Para Júpiter o objetivo é facilitado pela relativamente baixa velocidade do planeta (13 km/s) e à grande magnitude de sua massa. O primeiro veículo espacial que atingiu velocidade hiperbólica do sistema solar foi o Pioner 10, lançado pelos EEUU em março de 1972. Ele passou na esfera de influência de Júpiter em dezembro de 1973. O segundo foi o Pioner 11, lançado em abril de 1973, passou a 43.000 km de Júpiter em dezembro de 1974, quando adquiriu velocidade de escape hiperbólico do sistema solar. Em setembro de 1979 passou por Saturno, onde recebeu mais acréscimo de velocidade. Os seguintes foram as sondas Voyager 1 e Voyager 2, lançadas pelos EEUU em setembro de 1977 e agosto do mesmo ano, respectivamente. A Voyager 1 passou em março de 1979 a 286.000 km de Júpiter e em novembro de 1980 a 124.000 km do pólo Sul de Saturno, seguindo adiante com sua velocidade de escape hiperbólico do sistema solar. A Voyager 2, em julho de 1979 passou a cerca de 400.000 km de Júpiter, em agosto de 1981 a 38.000 km de Saturno, em janeiro de 1986 por Urano e em agosto de 1989 por Netuno, obtendo em todas as passagens acréscimos de velocidade, atingindo os confins do sistema solar com alta velocidade de escape hiperbólico. Algumas outras espaçonaves passaram pela manobra gravitacional e tiveram seu objetivo no interior do sistema solar. Em 1984, a URRS lançou duas sondas: Vega 1 e Vega 2, que passaram pela esfera de influência de Vênus, de onde foram direcionadas para o cometa Halley sobrevoado em março de 1986. A espaçonave Galileu, em órbita de Referências [1] ARGENTIERE, R., A Astronáutica, Edições “Pincar”, São Paulo, 1957. [2] HOYLE, F. Iniciación a la Astronomia, Hermann Blume, Madrid, 1979. [3] KINDLE, J. H., Geometria Analítica, Coleção Schaum, Ao Livro Técnico, Rio de Janeiro, 1959. [4] JESUS, A. D. C. Curso de Mecânica Celeste, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2001. [5] MARION, J. B. e THORNTON, S. T. Classical Dynamics, International Edition, Harcourt Brace Jovanovich College Publishers, United States Of America, 1988. [6] MOURÃO, R. R. de F. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Editora Nova Fronteira S. A., Rio de Janeiro, 1987. [7] NUSSEZVEIG, H. M. Curso de Física Básica 1Mecânica, Editora Edgard Blucher Ltda., São Paulo, 1985. [8] PAIVA, J. O. Dicionário de Astronomia e Astronáutica. Revista Continente Editorial, Rio de Janeiro, 1979. [9] 78 ROY, A. E. 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