A perícia psicológica forense em casos de abuso sexual de crianças: desafios, controvérsias e formas de intervenção Ana Isabel Sani Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, UFP (Porto, Portugal) Avaliação psicológica forense Grandes desafios: • a multi-experienciação pelas vítimas dos abusos • o trauma influenciado pelo contexto individual e sistémico • etapa desenvolvimental da criança Avaliação psicológica forense - COMO? • Uma boa avaliação deve reflectir um processo integrativo, que resulta da capacidade de integrarmos informação dispersa, tornando-nos capazes de compreender os vários aspectos da vida do sujeito que avaliamos e transmitindo-os apropriadamente Avaliação psicológica forense - OBJECTIVO? • Os dados resultantes de uma avaliação psicológica a uma criança sexualmente abusada são obtidos com vista a execução de um relatório para tribunal. Os papéis de psicólogo clínico e forense são diferentes e devemos saber mantê-los separados Avaliação psicológica forense – PAPEL PERITO? • No papel de perito forense tem este a informar acerca do processo de avaliação e actuar de forma ética. Esta mesma ética deve estar presente desde a recolha, a interpretação e a apresentação dos dados resultantes da nossa avaliação Avaliação psicológica forense – RESULTADO? • Os dados de uma avaliação forense podem ser confirmatórios (há ou não abuso) ou contraditórios. Uma avaliação não válida é certamente aquela que valida o abuso a partir de alguns dados (e.g., de uma entrevista, um desenho). Avaliação psicológica forense – RIGOR? • Importância de protocolos flexíveis (cf. Machado &Antunes, 2005) e, nestes, a realização de entrevistas sensíveis às diferenças individuais . Saber como entrevistar (Morgan, 1995) e como documentar o nosso processo de entrevista (e.g., Validity Statement Assessment). Avaliação psicológica forense – TAREFAS? • A avaliação da capacidade para testemunhar é importante, mas também o é decidir se faz sentido que uma criança de 4 ou 5 anos vá testemunhar. A avaliação desta não pode reflectir só a competência no sentido puramente legal, mas relacionada com o nível desenvolvimental da criança. Avaliação psicológica forense – TAREFAS? • A avaliação do ajustamento psicossocial é também outras das tarefas difíceis. O recurso a outros informantes constitui um ponto importante, mas temos que saber ponderar o valor e o contributo de cada um para a avaliação. Avaliação psicológica forense - TESTEMUNHAR? • O testemunho em tribunal pode implicar discutir inúmeros factores, muitas vezes, são difíceis de explicar Esta é uma tarefa séria que requer da parte do perito uma postura objectiva e fundamentada na literatura. Este é mais um campo para o profissional debater as suas competências. Áreas de acordo entre peritos em investigações do abuso sexual da criança • O perito deve estar consciente das suas próprias emoções e do seu possível viés; • A condução de uma avaliação pericial deve ser levada a cabo por um perito com formação e experiência; • Uma narrativa livre da criança permite a obtenção de declarações mais fidedignas; Áreas de acordo entre peritos em investigações do abuso sexual da criança (cont.) • A gravação das entrevistas (vídeo, áudio) é um procedimento recomendável; • As crianças em idade pré-escolar são mais passíveis de sugestionabilidade e a confundirem a fantasia com a realidade - Conhecimento das diferenças desenvolvimentais; • Deve haver algum grau de estruturação contido na técnica de entrevista selecionada e familiarização no seu uso por parte do perito; Áreas de acordo entre peritos em investigações do abuso sexual da criança (cont.) • O teste à capacidade da criança para distinguir a verdade da mentira é uma condição essencial; • Deve ser usado um critério estruturado (e.g., CBCA) na análise de depoimentos; • Os detalhes periféricos enquadrados logicamente num contexto rico são mais prováveis representar uma ocorrência verdadeira; de Áreas de acordo entre peritos em investigações do abuso sexual da criança (cont.) • Os comportamentos que simulam atividade sexual são frequentemente observados em crianças abusadas mais do que em não abusadas, embora estas também os possam reproduzir; • Os exames médico-legais quando realizados devem sê-lo o mais cedo possível após a alegação, por um especialista altamente treinado que use múltiplas técnicas e o equipamento sofisticado. A intervenção terapêutica com a família romper com a ideia de caso único; ajudar os pais a compreenderem o impacto do abuso e a interpretarem corretamente os problemas da criança; lidar com fantasias sobre o impacto, evitar a catastrofização lidar com a procura de explicações; lidar com a culpabilidade parental e com a culpabilização da criança explicar à família e à criança os procedimentos legais e médicos necessários; A intervenção terapêutica com a família evitar o silenciamento ou a pressão para esquecer ou perdoar; evitar tentativas de "fazer justiça pelas próprias mãos"; sensibilizar os pais para a importância do suporte à criança; promover a supervisão parental estabilizar rotinas para a criança e evitar a hiper-proteção parental; ajudar os pais a lidarem com as perguntas da criança; com os comportamentos disfuncionais da criança; promover a esperança na recuperação. A intervenção individual com a criança Estabelecer a realidade do abuso e a responsabilidade do ofensor Lidar com o acting-out agressivo ou sexual Lidar com a ansiedade e as memórias do abuso Lidar com a sexualidade Prevenir a re-vitimação Trabalhar a expressão de sentimentos Trabalhar os relacionamentos sociais Reconstruir o sentido do self CONCLUSÃO • Considerando algumas orientações gerais para a avaliação psicológica em casos de abuso sexual de crianças, assim como aquelas que são as principais áreas de acordo dos investigadores poderemos ter reunidos alguns dos pontos importantes para a condução de uma boa peritagem psicológica forense. Assim… é possível que a participação da criança no sistema judicial, além de justa, garanta o menor dano psicológico. A perícia psicológica forense em casos de abuso sexual de crianças: desafios, controvérsias e formas de intervenção Ana Isabel Sani Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, UFP (Porto, Portugal)