HUMANO-PÓS-HUMANO 2 Fundação Biblioteca Nacional Humano-pós-humano / Suzete Venturelli, organizadora. - Brasília: Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes, 2005. 80 p.: il. ISBN 85-89698-09-2 1. Arte contemporânea I.Venturelli, Suzete. HUMANO PÓS HUMANO Centro Cultural Banco do Brasil HUMANO-PÓS-HUMANO 4 O Centro Cultural Banco do Brasil tem o prazer de apresentar a mostra Humano-pós-Humano, que reúne pesquisadores de arte da Universidade de Brasília, do Espaço Cultural 508 Sul e da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, cuja produção aborda as fronteiras do corpo, enfatizando a discussão sobre conceito, obra e suporte no olhar contemporâneo. Ao sintetizar processos de representação, apresentação e simulação do humano, sempre estimulados pela incorporação de tecnologias e pela interdisciplinaridade, os artistas da capital apresentam trabalhos realizados em técnicas tradicionais, como a pintura, a escultura e a fotografia, e em mídias contemporâneas, como o vídeo e o computador. O resultado, que pressupõe os paradoxos culturais da pós-modernidade, traduz-se em poéticas visuais diferenciadas, que convidam o espectador a refletir sobre a arte, a ética e as relações humanas, tal como se apresentam em nosso tempo. Essa contribuição de artistas da cidade ao panorama da arte contemporânea brasileira afirma a estatura da produção local que o Centro Cultural Banco do Brasil divulga ao público de Brasília, entre as significativas produções de arte e cultura da atualidade. Centro Cultural Banco do Brasil 6 HUMANO-PÓS-HUMANO sumário 11 apresentação 13 curadoria 15 museografia 17 programa educativo 21 crítica de arte 22 Sem título > Miguel Simão 24 Transposições no Huysmans > Nelson Maravalhas 26 Língua > Pedro Alvim 28 Animais mortos nas estradas > Illana Koling 30 Todas as cidades > Sílvio Zamboni 32 Ponto cílios > Bia Medeiros e Corpos Informáticos 34 Série vermelha > Terezinha Losada 36 Cerrado > Cíntia Falkenbach 38 Pisces Notius > Elder Rocha 40 Instrumentos para aferir vulnerabilidades: órbitas keplerianas > Gê Orthof 42 S.Q.S. 105 > Vicente Martinez 44 Educação de Lúcifer > Sérgio Rizo 46 Backlight caboclo > Elyeser Szturm 48 Homenagem à rosácea > Lygia Saboia 50 Simulacro do corpo > Clarissa Borges 52 Homem na janela, mulher no fogão e velho > Luiza Venturelli 54 Sem título > Andréa Campos de Sá e Walter Menon 56 Eco-urbe 1 > Maria Luiza Fragoso 58 Lição de anatomia > Miguel Ferreira 60 Contato > Mario Maciel, Rafael Galvão, Ricardo Queiroz e Suzete Venturelli 62 Corpo > Alexandre Félix Bipedes > Alexandre Luz, Roni Ribeiro e William Kosmo Proestéticos > Eduardo Lopes String > Rafael Carlucci 64 ROHL robô > Geovany Borges, Christus Nóbrega, Leandro Lima, Heijy Inuzuka 66 Problemarket.com > Davide Grassi 68 versão em inglês 78 créditos TÉRREO Sílvio Zamboni Illana Koling Sérgio Rizo Pedro Alvim Bia Medeiros e Corpos Informáticos Nelson Maravalhas HUMANO-PÓS-HUMANO 8 Gê Orthof Elder Rocha Terezinha Losada Vicente Martinez Miguel Simão Cíntia Falkenbach SUBSOLO Luiza Venturelli Andréa Campos de Sá Walter Menon Clarissa Borges Maria Luiza Fragoso Geovany Borges Christus Nóbrega Leandro Lima Heijy Inuzuka Elyeser Szturm Roni Ribeiro Alexandre Luz William Kosmo Suzete Venturelli Mario Maciel Rafael Galvão Ricardo Queiroz Rafael Carlucci Miguel Ferreira Eduardo Lopes Alexandre Félix Lygia Saboia HUMANO-PÓS-HUMANO 10 obras inéditas, que foram realizadas especialmente para o tema, reunindo um grupo de artistas do Distrito Federal que são também pesquisadores e professores. A seleção desses artistas pesquisadores corresponde ao significado da arte como pesquisa, pensamento e conhecimento. Situando a arte como pesquisa, inventando e podendo hibridizar diferentes processos de criação, o artista se tornou ainda mais suscetível às metamorfoses do humano, seu corpo, sua mente e seu espaço construído. O conceito pós-humano aqui significa identificar uma era exacerbada pelo desenvolvimento tecnológico que, para alguns autores, passou a fazer parte da evolução da espécie se tornando, portanto, a tecnologia algo irremediavelmente necessário para a democratização da educação, da cultura e, de certo modo, indispensável para a condição humana e a sobrevivência de todas as espécies do planeta. As artes visuais, musicais, cênicas, entre outras, não são somente coisas estéticas, são escolas da vida onde se aprende a ver o outro, a si mesmo enquanto são construídos os novos conceitos de humanidade. APRESENTAÇÃO Humano-pós-Humano apresenta HUMANO-PÓS-HUMANO 12 A imagem realística do corpo humano, no início de século 20, foi questionada em função das invenções da fotografia e do cinema. O artista livre da função de representação da realidade encontrou outros caminhos que o aproximaram de questões filosóficas, científicas, tecnológicas, perceptivas, psicológicas, cognitivas, sociais, emocionais, cotidianas, políticas, ecológicas, midiáticas, entre outras. O diálogo da arte com a imagem do corpo persiste na maioria dos movimentos artísticos, como podemos observar na história da arte, ora remodelado, imaginado, relacionado com o corpo do espectador, ou mesmo, com o próprio corpo do artista nos diferentes aspectos multissensoriais. A exposição é temática e, portanto, as imagens apresentadas independem do suporte utilizado. Nesse sentido, alguns dos artistas selecionados usam técnicas tradicionais como a pintura, a escultura, a fotografia enquanto outros utilizam suportes e meios mais contemporâneos como o vídeo e o computador. A exposição faz, de certo modo, uma comparação dos trabalhos realizados nesse início do século com as imagens produzidas no início do século passado, cujo momento também passava por mudanças revolucionárias no contexto social e tecnológico, apresentando o imaginário cultural de uma era onde a informação passou a ser um dos aspectos fundamentais, inclusive para a arte. Um outro aspecto importante é que a museografia da exposição, proposta por Elisa Martinez, doutora e professora da linha de pesquisa teoria e história da arte do mestrado em arte, do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília, foi elaborada em função de aproximações conceituais que se estabeleceram entre os artistas participantes. Foram selecionados artistas já consagrados e, outros, estudantes de arte da Universidade de Brasília, Faculdade Dulcina e Espaço Cultural 508 Sul, que representam uma parte importante do ensino e pesquisa artística em Brasília. A organização da exposição foi realizada por professores e colaboradores do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Nesse sentido, a crítica e análise dos trabalhos dos artistas foram de Grace Maria Machado de Freitas, doutora e professora da linha de pesquisa em teoria e história da arte da pós-graduação em Arte da Universidade de Brasília. É uma das primeiras teóricas a elaborar textos críticos sobre a produção artística da cidade, procurando sempre, em suas reflexões estéticas, mostrar ou detectar os rumos pelos quais se enveredam as produções contemporâneas locais. Seus textos consideram, além da história da arte, aspectos oriundos da psicanálise e da semiótica como fundamentos para interpretar as poéticas visuais que analisa. CURADORIA A exposição de arte Humano-pós-Humano busca mostrar como as revoluções e os novos paradigmas ético-estéticos nos campos do engineering biológico, da informática, da robótica, da filosofia, da arte se refletem no imaginário artístico. Ou seja, como os artistas contemporâneos da cidade imaginam, atualmente, o humano na representação, apresentação e simulação do corpo, do pensamento, da ação, da sensibilidade, do ambiente em que vive, e da relação que se estabeleceu entre razão e emoção, objetividade e subjetividade. O material impresso, registro em vídeo e fotografia, coordenado por Mario Maciel, arquiteto, mestre em arte, professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal e do Departamento de Artes Visuais, da Universidade de Brasília, se fixou nas relações existentes na transição entre o humano e o pós-humano, conceitos compreendidos nas discussões teóricas e também nas reflexões artísticas sobre o tema. A produção de montagem foi realizada pelo artista e professor Miguel Simão, chefe do Departamento de Artes Visuais. O projeto educativo foi coordenado Terezinha Losada, doutora e professora da licenciatura e bacharelado em artes plásticas, atuando também no Departamento de Artes Visuais. Sua proposta ampliou a discussão inicial do tema da exposição Humano-pós-humano, trazendo os prefixos pré e anti, entre outros, como subsídio para ampliar novas discussões, no contexto interdisciplinar, pelos professores de arte do ensino fundamental e médio das escolas de Brasília. HUMANO-PÓS-HUMANO 14 Os artistas foram selecionados em função do tema pois já se destacavam, para a curadoria, por recorrerem a alguns conceitos relativos ao tema Humano-pós-humano, no desenvolvimento de seus trabalhos. Assim, Elder Rocha, Nelson Maravalhas, Sergio Rizzo, Pedro Alvim, Illana Koning e Terezinha Losada se caracterizam por apresentar nas suas obras os aspectos humanos mais psicológicos. A escultura de Miguel Simão valoriza o humano, seu corpo e sexualidade. Miguel Ferreira realiza experimentações que estabelecem diferenças entre o humano, o mecânico e o cibernéico. Vicente Martinez mostra como o humano tem necessidade de se apropriar de espaços para modificá-lo e reinventá-lo. A gravadora Cinthia Falkenbach apresenta imagens do cotidiano humano local. Os artistas Andréa de Sá e Walter Menon, Clarissa Borges, Luiza Venturelli e Sílvio Zamboni têm em comum a fotografia como técnica, entretanto apresentam diferentes preocupações como a relação entre a arte e o seu meio ambiente, a modificação do corpo pela ciência e a tecnologia e a influência dos meios tecnológico na veiculação da imagem do corpo. Elyeser Szturm, Geraldo Orthof, Bia Medeiros, grupo Corpos Informáticos, Lygia Sabóia, Maria Luiza Fragoso, Mario Maciel, Ricardo Queiroz, Rafael Galvão e Suzete Venturelli apresentam obras que questionam o uso da tecnologia ora criticando ora apresentando idéias utópicas sobre a era da informação, da cibernética e da globalização que modificaram o humano e sua sociedade como jamais visto anteriormente. Foram selecionados, ainda, trabalhos realizados por alunos do Espaço Cultural 508 Sul e alunos da disciplina animação da Universidade de Brasília. A exposição se caracteriza, também, por apresentar obras inéditas de todos os artistas. A exposição contou ainda com a participação dos produtores culturais Henrique Oswaldo e Guilherme Reis. Para que a exposição proporcionasse ao público um maior contato com os artistas foi organizado um programa de visitas guiadas com cada um dos artistas em diferentes momentos, na qual cada um mostra mais profundamente sua trajetória na arte. O lançamento do catálogo, previsto para após a abertura da exposição, foi assim pensado para que fosse possível registrar as obras já expostas no espaço. Assim a memória da exposição se torna mais fiel ao momento do seu acontecimento, marcando uma história da arte local. O lançamento coincide com uma mesa redonda composta com os artista participantes da exposição e coordenadores do Centro Cultural Banco do Brasil. Suzete Venturelli Curadora A instalação de uma exposição temática, como é Humano-pós-humano, oferece-nos uma série de opções museográficas a serem consideradas, que têm origem na pergunta: como dar visibilidade a cada um e a todos ao mesmo tempo? A resposta materializada na expografia do evento, poderia ter sido precavida e, com esta finalidade, construiríamos nichos para resguardar autonomias e prevenir contaminações. Poderíamos também ter considerado que a heterogeneidade do conjunto seja um campo no qual devem ser introduzidas algumas marcas para que o visitante seja orientado para uma leitura correta e impossibilitado de dispersar-se. Se acaso fosse essa a nossa perspectiva, estaríamos construindo uma nova modalidade de procedimento curatorial e o conjunto de obras expostas em vez de proporcionar uma configuração porosa, a ser penetrada por variados procedimentos de codificação interpretativa, seria organizado de um modo excessivamente coercitivo. Desde o início, pareceu-nos possível a construção de uma rede de relações espaciais na Galeria 1 do CCBB que não se sobrepusessem com demasiada autoridade sobre a concepção da curadoria primordial com a qual buscamos construir um espaço aberto à leitura fluida e não-linear. Em nosso entendimento, a exposição não tem subtítulo. Humano-pós-humano é uma reiteração da humanidade em duas instâncias, uma de origem e outra de qualificação, por meio do juízo artístico, das obras expostas. Vemos na circularidade grafada do título um eco da circularidade de cada um dos dois ambientes da galeria interligados. Assim, a partícula articuladora – pós – localizada entre humano e humano implica no retorno a uma condição inexorável. Essa articulação, em nossa perspectiva, não poderia ser segmentada em individualidades ou autorias, sob a forma de territórios compartimentalizados nos quais a visão dos espaços entre as obras perderia sentido. O resultado pode parecer extremamente formalista, na medida em que evitamos o uso de adornos pedagógicos. Entretanto, a opção por uma conversa transparente entre as obras e – por que não? – com seus respectivos autores tem o objetivo de proporcionar uma experiência de visitação tão pedagógica quanto uma exposição temática pode proporcionar. Deste modo, as obras são distribuídas nas galerias para facilitar a compreensão de proximidades e confrontos entre modos de abordagem do tema central e sua complexidade, tendo em consideração as diferentes qualidades plásticas que têm origem em diferentes meios e processos artísticos. Trata-se de valorizar, antes de outros processos perceptivos, o olhar. Por esta razão, MUSEOGRAFIA O arquitexto e o intra-humano: reflexões sobre a museografia o percurso sensível e cognitivo do visitante tem seus pilares no olhar que é surpreendido a cada aproximação a uma obra e a correspondente localização no espaço do percurso deste, que se expande e sobrepõe, como uma malha de coordenadas, no espaço da galeria e seus ambientes. HUMANO-PÓS-HUMANO 16 Nesse percurso do olhar, as obras estão relacionadas em suas qualidades perceptíveis: possuem matérias e configurações. Poderíamos, a partir desta constatação, ter agrupado as obras segundo suas semelhanças processuais ou figurativas. No primeiro caso, dividiríamos o grupo em dois conforme o grau de adesão, maior ou menor, de cada artista ao uso de tecnologias digitais. A outra opção seria considerar a distinção de dois grupos segundo o grau de maior ou menor iconicidade. Poderíamos ainda ter optado por uma separação segundo o uso de variedades cromáticas: obras monocrômicas com áreas brancas, obras de aparência predominantemente monocromática e obras policromáticas. Talvez, neste caso, o resultado pudesse ter sido divertido e produzido certa lógica organizacional. Entretanto, a previsibilidade que reduz a percepção a um jogo quantificador de áreas e intensidades cromáticas foi descartada. Caso o tematítulo da exposição tivesse sido tomado de modo literal, haveria a possibilidade de dividir o conjunto de obras em grupos segundo seu grau de aderência ao humano, cuja figuratividade fosse restrita à anatomia do corpo do homo sapiens. Daí talvez fosse possível criar uma taxionomia das configurações do humano nas artes visuais. De certo modo, não ortodoxo, esta também pode ser uma avaliação do conjunto exposto, caso tenhamos a preocupação de estabelecer uma regra de precedência para a relação formaconteúdo na exposição. O tema proposto aos artistas gerou um repertório de possibilidades de interpretação dado ao tema pelos expositores, visível na variedade de técnicas e estilos empregados. Por essa razão, evitaremos qualquer tipo de segmentação com a distribuição das obras no espaço que pudesse conduzir à sobrevalorização de uma categoria particular: técnica, autoria, tamanho, uso ou não de figuras, uso da linguagem verbal, modo de interação com o público, procedência geográfica dos autores, cronologia, entre tantas outras. Um hábito nos faz ler Humano e pós-Humano como dois termos antitéticos, mas não consideramos que esta seja a relação proposta pela exposição. A articulação – pós – localiza-se no espaço entre humanos. Consequentemente, se o conjunto de obras contém a totalidade da relação proposta pelo tema-título distribuída em um espaço expositivo, cada elemento-obra é um órgão que contribui para a unidade do texto-exposição. Esse texto-organismo resulta, portanto, das relações intra-humanas que se produzem no campo das artes visuais. A percepção do texto-corpo que é a exposição montada com uma seleção e uma combinação de procedimentos expográficos, requer o reconhecimento de sua polifonia interna. De fato, um critério relacional poderia ter sido sobreposto com tal veemência – lançando mão de recursos cenográficos que nos fariam perder as obras de vista, como se estas não fossem suficientemente significativas – que sobrepusesse uma voz única – autoritária – por meio da qual a heterogeneidade do conjunto seria apaziguada. Assim, as peculiaridades nos modos de revelar, em cada obra exposta, um fazer enunciativo seriam encobertas por uma monofonia artificial, que pode ser uma solução para modular a experiência perceptiva diante de um conjunto de obras variado. E, ainda que os aspectos de seqüencialidade e sucessão tenham sido previstos no projeto museográfico que realizamos, não há intenção de progressividade, em sentido utópico, ou de valorização de uma construção narrativa em que seriam opostas as ações mais humanas às mais pós-humanas como se estas possuíssem uma missão arqui-humana. Portanto, a configuração final do projeto museográfico surge do desafio de realizar escolhas que potencializem as limitações do espaço expositivo para abrigar todas as obras expostas como se todas estas tivessem, em um uma espécie de acordo pré-nupcial, sido executadas especialmente para compartilhar o mesmo local. Nosso trabalho consistiu em adequar um elenco de possibilidades expográficas sensíveis aos sinais de realização das obras na medida em que estes eram disponibilizados pelos artistas. Pretende-se, portanto, compartilhar com o visitante esse processo de configuração do conjunto: em que medida cada trabalho ocorre em relação ao tema-título, ao espaço-galeria e às demais obras. No organismo, sinais de disritmia são diagnosticados em seus componentes como manifestações de integridade não corrompida por uma unidade monocórdia. É preciso, finalmente, lembrar que a existência de uma situação de exposição não é capaz de mascarar as temporalidades específicas de cada processo artístico. E, assim como um organismo, identificar e compreender as interações entre o funcionamento de seus órgãos será, para todos os envolvidos, uma grande oportunidade de construção de situações de interação, humana. Elisa de Souza Martinez museografia Elisa Martinez – doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Participou de congressos e eventos, tais como: 27º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação; 13º. Encontro nacional da Anpap; 9º Colóquio do Centro de Pesquisas Sociossemióticas; 8ème Congrès de l’Association Internationale de Sémiotique, Lyon; Les Signes du Monde, Lyon, entre outros. Segundo a Teoria da Informação, as coisas muito familiares, ou sobre as quais nada sabemos, deixam de ser percebidas por nós devido à absoluta falta de interesse. É característica da arte tanto a criação do novo, quanto à re-contextualização dos aspectos mais triviais da vida. Por essa razão, sua apreensão e interpretação são por vezes tão difíceis. Portanto, a principal tarefa das visitas guiadas a exposições é estimular a capacidade interpretativa dos alunos, ampliando os limites de suas referências culturais. Venho desenvolvendo pesquisas no sentido de levantar instrumentos teóricos e abordagens didáticas que permitam estimular a interpretação da imagem no ensino de arte. A estratégia que tenho adotado é muito simples. Ao invés de fornecer aos alunos as interpretações realizadas pelos teóricos, trabalho inicialmente apenas com os conceitos estruturais de seu discurso. Familiarizado com tais conceitos, o aluno é convidado a identificar sua manifestação ou não em diferentes obras, por meio de sucessivas análises comparativas. Ao longo desse processo, são introduzidos os textos interpretativos dos críticos e historiadores da arte. É claro que autores marcadamente estruturalistas favorecem esse tipo de abordagem. No entanto, todo texto crítico tem os seus critérios, mesmo que elaborados desconstrutivamente. É certo, também, que o orgulho dos alunos ao verem que suas interpretações não diferem muito das dos autores é de certa forma induzido. Mas, parafraseando as considerações de Gombrich sobre a arte, deve-se considerar que a crítica também se desenvolve a partir de “predecessores e modelos”. Tenho trabalhado de modo conjugado com dois tipos de textos. O caráter estrutural das teorias da linguagem fornece conceitos-chave que permitem analisar toda sorte de imagem, tal como elas são percebidas pelo aluno no presente. Os conceitos da história da arte, por outro lado, informam sobre as contingências de produção da obra. No primeiro caso, é estimulado o olhar sincrônico, tendo como eixo o alunoreceptor. No segundo, via o olhar diacrônico, é analisado o contexto do artista-emissor. A elaboração do programa educativo da exposição Humano-pós-humano exigiu o enfrentamento de várias dificuldades para a elaboração de suas referências teóricas. Em primeiro lugar, o grande número de artistas, apresentando trabalhos em várias técnicas: gravura, desenho, pintura, escultura, instalação, performance, fotografia, vídeo, web arte, animação eletrônica. Somava-se ainda o caráter inédito das obras a PROGRAMA EDUCATIVO A apreciação das obras de arte por meio de visitas a museus e galerias tornouse um componente requisitado no ensino de arte atual. Esse contato com a arte e os bens culturais é importante porque permite o desenvolvimento do senso estético e crítico do aluno, como também sua capacidade comunicativa. Sabe-se, hoje, que para interpretar ou produzir “textos” - seja na linguagem verbal, visual, ou qualquer outra o estudante precisa ter acesso a diferentes códigos de representação, construindo um repertório de possibilidades sintáticas e semânticas da linguagem. serem expostas, muitas ainda em fase de preparação durante o período de treinamento dos monitores e, por fim, a escassez de referências críticas sobre os artistas. Quanto a essa última questão foi muito importante a visita durante nosso trabalho de planejamento da curadora Suzete Venturelli e da crítica de arte Grace de Freitas, além dos depoimentos dos artistas. Com essas colaborações, decidi articular as referências sobre as obras juntamente com os alunos-monitores, a partir de suas próprias interpretações. Dois conjuntos de conceitos estruturantes foram utilizados nesse processo: a classificação das funções da linguagem de Jakobson e um jogo de categorias elaboradas sobre do eixo temático da exposição, qual seja, o humano e sua virtual superação (pós-humano) no mundo contemporâneo, mediado pelas tecnologias. Na classificação de Jakobson, o sentido ou função da mensagem é identificado observando-se o modo como são enfatizados os diversos elementos constitutivos do processo comunicativo: emissor, receptor, referencial, código, canal e a própria mensagem. Tendo em vista que toda obra de arte enfatiza a função poética, ou seja, o modo como a mensagem é elaborada, então, as demais categorias funcionam como chaves conceituais que permitem investigar como o discurso poético de cada artista se articula. HUMANO-PÓS-HUMANO 18 Ao destacar a importância do canal no processo comunicativo, Jakobson foi um dos primeiros teóricos a discutir como os diferentes suportes ou meios de comunicação afetam a qualidade das mensagens. Decerto, McLuhan, seu contemporâneo, explorou esse aspecto com maior profundidade, antevendo, apenas a partir do advento da televisão, como as mídias se tornariam extensões de nosso corpo e palco da experiência humana. Sem dúvida, a diversidade das mídias é a característica mais evidente da exposição Humano-pós-humano. Nela estão envolvidas as técnicas artísticas tradicionais, a produção tecnológica de imagens e, também, a apropriação de objetos do cotidiano, aspecto marcante nas instalações apresentadas. Entretanto, não pretendia segregar os trabalhos como sendo vinculado aos conceitos de “humano” ou “póshumano” exclusivamente pelo critério da função fática de Jakobson, que trata dos suportes e canais. Assim, a partir das demais categorias teóricas de Jakobson, foram analisadas outras dimensões das obras, alinhavando relações entre elas. Em relação ao código, discutiu-se as remissões que cada obra fazia a outros artistas e tendências, do presente e do passado. A ênfase no emissor é identificada pela marca subjetiva ou pelo caráter confessional, de registro das experiências pessoais do artista, traço que se torna visível particularmente nos trabalhos fotográficos da exposição. Já o pólo do receptor permite a análise do tipo de relação com o público que a arte estabelece. A interação direta com o espectador, tornando-o co-autor das obras, é uma aspiração da arte perseguida desde as vanguardas. As novas tecnologias potencializam essa interlocução, redimensionando os conceitos de tempo e espaço, conforme sinalizam as propostas de arte eletrônica e web arte apresentadas na exposição. Mas essa interação também ocorre de modo indireto, via contemplação, quando a obra instiga o receptor devido seu caráter lúdico, enigmático, dramático, insólito, lógico, erótico, lírico etc. Por fim, a função referencial investiga os possíveis nexos entre arte e realidade, nesse caso, o humano e o pós-humano. Para abordar esse eixo temático, proposto pela curadora, foram articuladas quatro categorias que visavam discutir os limites do conceito de humano, sintetizados como: o pré- humano, o humano, o pós-humano e o anti-humano. Evidentemente, toda obra artística é uma manifestação humana. No entanto, buscou-se com esses conceitos investigar que tipo de relação referencial cada artista estabelecia com seu mundo, particularmente sobre a representação do “corpo” e do “território”, conceitos fixados por Grace de Freitas. O pré-humano diz respeito ao “estado de natureza”, citado por Rosseau. Àquilo que os humanos guardam em comum com os animais, seus instintos, a fisicalidade do corpo e a interação com o ambiente natural, sem territórios. O humano é o universo da cultura. Não se refere à natureza, mas ao mundo criado pela inventividade humana. Desde seus primórdios, a humanidade é definida pela sua habilidade instrumental de produzir ferramentas (tecnologias) e a capacidade simbólica de representar sua experiência por meio da linguagem. O pós-humano é a maximização da inventividade humana, qual seja, poder criar ou destruir sua própria natureza. Derivada do superdesenvolvimento da tecnologia e da linguagem (informação) esta nova dimensão ou estágio da humanidade é marcado pelas pesquisas atômicas, genéticas, a expansão da robótica, da inteligência artificial e dos ambientes virtuais de interação. O anti-humano é, portanto, a baliza desse poder inventivo do ser humano. É o terreno da política e da ética. Posto que tudo pode com nossa ilimitada inteligência, então, devemos perguntar: o que queremos? Sabemos que não cabe a arte definir o verdadeiro ou falso - tarefa da ciência. Nem tampouco o certo ou errado - tarefa da ética. Porém, na sua perspectiva poética, a arte sempre mediou todos esses campos, conforme sinalizam o tema e as obras da presente exposição. A partir da estrutura eminentemente sintática dos conceitos de Jakobson e do caráter mais semântico dos conceitos apresentados acima, eu e meus alunos-monitores passamos a discutir as obras da exposição. Por meio desse exercício crítico, cheio de improvisações, construímos fichas sobre as diversas obras, descrevendo suas características particulares e seus nexos com outros trabalhos. Essas fichas continuam sendo alimentadas pelos monitores com novos dados colhidos com os artistas, com o público e seus próprios insights interpretativos, informações que são discutidas em nossas reuniões de avaliação. Buscando garantir esse mesmo processo com os alunos que visitariam a exposição, nenhum dos conceitos foi ilustrado com as obras dos artistas no material gráfico do programa educativo. Ao contrário, o folder foi produzido como um álbum de figurinhas, cabendo ao visitante destacar e colar as imagens que ele próprio relacionasse com cada conceito. Em suma, relacionando as características sintáticas das obras a essa malha de possibilidades semânticas, o programa educativo visa estimular os visitantes a construírem suas próprias interpretações sobre a arte e sobre o mundo contemporâneo. Terezinha Losada Coordenadora do programa educativo HUMANO-PÓS-HUMANO 20 Embora não se trate de uma mostra de arte coletiva, há pelo menos duas práticas comuns que a nutrem: a convivência profissional diuturna com a arte e o exercício continuado de seu ensino, posto que são obras de artistas-professores, alunos ou graduados que estão aqui apresentadas. Numa relação dinâmica, a sistematização do pensamento alimenta a ação que, por sua vez, fornece os dados para o estudo e a reflexão, engendrando uma articulação de conceitos que permitirá o registro da experiência humana ligado ao questionamento da arte e de suas próprias condições de produção.Para isso, práticas diferentes e, ao mesmo tempo, convergentes, (evidentes em um percurso dentro do Departamento de Artes Visuais, onde se frequenta tanto ateliês com “cheiro de terebentina” quanto laboratórios “inodoros” de arte computacional e salas de aula teórica), sinalizam que não há um estilo nas tentativas de construir um universo estético, mas uma necessidade formal própria na fabricação de novas realidades, pela expressão do gesto artístico de cada um. Nessa exposição, independentemente das obras apresentadas demonstrarem um alinhamento a linguagens e suportes tradicionais, como o desenho, a pintura, a gravura ou a escultura, ou aquelas, produtos de instalação ou performance, ou ainda, aquelas que são frutos da tecnociência, em obras interativas, elas são as expressões de modo real, poético, virtual e muitas vezes, visionário que fabricam novas realidades e se propõem à troca de experiência estética, idéias e reflexões com o público. Grace Maria Machado de Freitas - doutora em Artes pela Universidade de São Paulo, pós-doutora pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, EHESS, França. Exdiretora do Instituto de Artes, atua como professora no Departamento de Artes Visuais da UnB. Assim, o observador poderá percorrer um desenho nessa mostra Humano-Pós Humano, em duas linhas que se complementam e se entrelaçam, esboçando tantas outras que podem delas derivar, traçando, principalmente, a corporiedade e a territorialidade, o corpo inscrito em uma superfície e em um espaço-tempo determinados. Nesse traçado, são as obras que colocam questões - respondidas por elas mesmas -, pelas idéias singulares e diversas com as quais são criadas. Em suas matérias e formas, elas informam. Por um lado, mostram e apontam para a necessidade de compreender o que acontece com o corpo humano – e seu potencial pós-humano –, estilhaçado pela globalização ou desumanizado pelo recurso à bio-tecnologia-, à sua redefinição, fragmentação, animalização, maquinização, sensorialidade, sexualidade, dissolução e morte. Por outro lado, o território onde esse corpo se inscreve, move, habita, contata e penetra os espaços da paisagem, real ou imaginária, do urbano ou arquitetônico ou mesmo o da subjetividade, ou até aos territórios que se estendem pela amplitude virtual ou por um continuum cósmico. Esse é o desenho de algumas das linhas discursivas expostas à percepção desejante, capazes de inovar a nossa faculdade de imaginar os múltiplos modos de vivenciar o encontro com uma experiência estética que cria novas emoções e sentidos através das obras que estes artistas oferecem à Brasília. Grace Maria Machado de Freitas crítica de arte CRÍTICA DE ARTE Esta exposição aproxima o universo da arte de algumas das reflexões que se imagina serem mais pertinentes aos campos das ciências e das tecnologias. Não fosse a arte capaz de penetrar e ultrapassar barreiras, avançar, infiltrar-se e subverter as destinações mais insondáveis de outros campos do conhecimento, quando não aqueles provocados por ela própria – conforme vem demonstrando ao longo de sua história –, a sua capacidade de se antecipar, espacializando e tornando visíveis elaborações fulcrais para a humanidade, só posteriormente concretizadas, já tornaria essa questão de pertinência por sí só, inadequada. Trata-se aqui, no Centro Cultural Banco do Brasil, de provocar, através da experiência estética instaurada pela produção artística – material e imaterial –, ora apresentada, diferentes modos de se perceber a contemporaneidade e o papel do indivíduo com relação a questões específicas da arte e da vida atuais, ricas de reflexão e prazer. É com esse propósito que o Instituto de Artes da Universidade de Brasília reúne artistas de diferentes formações em torno de técnicas e linguagens autônomas, para expor suas idéias sobre temas que atravessam, inquietam e perturbam a vida no século 21. CORPO HUMANO-PÓS-HUMANO 22 – Miguel Simão Sem Título pedra granitada em talha direta Miguel Simão trabalha materiais tradicionais da escultura como a pedra, o barro, a madeira e o ferro, além da espuma e outros elementos, tais como suas próprias ferramentas, em construções metalinguísticas. Forjando e cinzelando esse material, percorreu questões pertinentes à modernidade, modelando uma linguagem sustentada em contrastes – duro/macio, cheio/vazio, peso/leveza, quietude/movimento -, traduzidas em dimensões ora quase monumentais, ora em pequena escala, demonstrando uma visão das qualidades estruturais da escultura e de seus pressupostos. De imersões em viés, no surrealismo e no minimal art, retirou algumas das questões que sustentam seu trabalho escultórico. Colunas e a série Sapatos, nas quais evidencia representações fálicas e fetichistas, resultaram em propostas com as quais o escultor reflete sobre sua criação. Para esta exposição o artista elaborou uma escultura em pedra granitada – que guarda surpresas de sua própria conformação, descobertas durante o processo de seu ato escultórico - , homenageando, em parte, o Balzac, de Rodin, em seu volume brutal. Em sua configuração externa, estabelece tensões entre superfícies lisas, acolhedoras ao tato e ásperas, ao mesmo tempo em que sobrepõe à forma geométrica uma forma orgânica, estabelecendo uma relação em seu funcionamento. Contornando e tocando o seu volume fechado e encurvado, o espectador descobre um pequeno volume produzido pela própria escavação na pedra, de outra coloração e brilho na parte frontal e lisa da escultura, cujo aspecto o compele a uma atitude de voyeur e de toque, na medida em que ela se mostra nas entranhas do material esculpido. Quem espia, vê e toca uma forma que alude ao sexo feminino, provocando uma outra tensão no interior da escultura, entre o brilhante e o opaco. Pedaços fragmentados do corpo humano, masculino e feminino, um e outro ou, um no outro, deixam-se ver, abrem e denotam a passagem de uma identidade à uma outra, afirmando-a, negando-a, deslocando-a ou conjugando-a. Assim, essas formas adquirem valor de metáfora que se remete à dessacralização da sexualidade, objeto recorrente da arte atual, transferindo-se para a ordem do social, na perda de sua estatura arquetípica. Ao espectador, provocado pela força explícita do trabalho que o artista propõe, cabe a escolha entre a atração, a repulsa ou a inquietante estranheza que dela transparece. Miguel Simão – artista e professor de escultura no Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília, foi Coordenador de Artes Plásticas da Casa de Cultura da América Latina de Brasília. Participou de diferentes exposições, tais como: 3 Artistas 3 Praxis, escultura, no Centro Cultural Brasil Espanha; Coletores, no Centro Cultural do Banco Central, entre outras. CORPO Nelson Maravalhas Transposições no Huysmans O Porco Uiva para o Sol Pintura a óleo A pintura de Nelson Maravalhas traz um caráter de constância em toda a sua trajetória de artista plástico: a sua expressão hipnagógica. Trata-se de visões que são capturadas durante o estado de vigília, situado entre o sono leve e o sono profundo e que podem ser conduzidas e elaboradas até a sua definição. Não são sonhos, conforme o surrealismo trouxe para a pintura, abordando a emergência do inconsciente. Nesse caso, são os efeitos físicos e sob controle que estabelecem imagens em relação àquilo que o cérebro concebe. Dessa maneira, o artista desenvolve pinturas com as quais estabelece uma relação particular de estranheza. HUMANO-PÓS-HUMANO 24 Para esta mostra, Nelson Maravalhas expõe um díptico, trabalhado durante alguns anos, onde evidencia esse caráter. Em ondas que fluem e refluem, descreve as transposições textuais em transposições pictóricas, traduzidas em uma literalidade cheia de dubiedades e, como em todas as traduções, comete traições – onde se lêem substituições e deslocamentos -, para aí se inscrever e propor a sua própria poética. De um lado do díptico, uma escritura sobre a tela pautada e previamente preparada com tons de um velho caderno, descreve a situação de uma personagem angustiada de um texto de 1884, de Joris-Karl Huysmans em uma narrativa de sentidos exacerbados que, repelindo a arte contemporânea, adquire uma obra-prima que lhe proporciona inesgotável prazer. Essa obra-prima é esta, no lugar da outra, de Nelson Maravalhax, a pintura intitulada Um Porco Uivando para o Sol. Essa trama simbolista, traduzida desde o holandês para o alemão e inglês é, finalmente, o jogo de um quase palimpsesto incorporado pelo artista que a transpõe, substituindo lugares e obra-prima em português e a seu universo pictórico, de onde pretende devolver para o escritor um lugar que nunca teve na família – holandesa: o de pintor, onde todos eram pintores. Do outro lado do díptico, Nelson Maravalhax assume suas visões compartilhadas de pesadelos complicados, nos quais, sustentado em um referencial que aborda, além do transposto A Rebors (Dorian Gray, Gustave Moreau e Salomé), George Orwell e 1984, um século depois da data assinalada nessa pintura, engendra um poderoso complexo de traduções: da animalidade condensada pelo fragmento do corpo masculino, um órgão sexual assimilado ao porco, às sinalizações de todos os outros elementos da composição – árvore e jarro, simulações do feminino, em um lugar não-familiar -, fazem emergir um delírio de literalidades eróticas transpostas de fantasias eruditas e sinistras visões, apontadas diretamente para o sistema nervoso do espectador remetendo-o, conforme desejo explicitado por ambos os textos, o literário e o pictórico, a raptos de prazer. O artista traz para o futuro a reciclagem obsessiva do passado, em um momento aparentemente interminável de nostalgia, no retorno a uma época de mestria: o ontem no reino imaginário do presente. Nelson Maravalhas – PhD em Teoria e História da Arte pela University of Kent at Canter-bury,Inglaterra. Professor do Departamento de Artes Visuais da UnB. Como teórico de arte sua tese de doutorado intitulada Hypnagogic Imagery and Psychotic Outsider Art – A Study of Form-Constant and Visual Properties, focalizou a arte marginal dos psicóticos sob a óptica das imagens mentais, particularmente das hipnagogicas. Como artista plástico participou de inúmeras exposições, tais como Onde está você, geração 80? TERRITÓRIO HUMANO-PÓS-HUMANO 26 Pedro Alvim Língua técnica mista O artista Pedro Alvim traz para a sua linguagem pictórica preocupações relacionadas à sua dupla formação, em filosofia e artes plásticas, no desdobramento de sua atividade profissional em uma prática pictórica e na teoria que lhe é concernente. Desenvolvendo propostas que, por vezes, apontam para uma certa nostalgia de apagamento de um passado metafórico, primitivo, estende-as em função de algumas hipóteses que se aplicam em diferentes níveis de seu trabalho. Entretanto, isso não significa que sua pintura, de efeito único e irredutível a outras linguagens, seja elaborada em termos da história da arte mas, sim a partir da interioridade contida na própria disciplina. Essa postura se evidencia em sua produção pictórica na qual o artista dispõe ao espectador leituras plurais através de combinatórias formais e cromáticas aí instauradas. Nesta exposição, o artista Pedro Alvim mostra uma pintura singular trazendo em sua espessura os dois aspectos do suporte: o verso e o reverso, bem como uma tensão bi-polar entre a posição vertical e a horizontal. Estabelecendo uma relação espaço-temporal específica, trabalha ambas as superfícies com procedimentos inabituais. Apropriandose de trabalhos anteriores, de pequenas dimensões, acrescenta papel craft e letras, espalha-os e os aplica em colagens sobre o suporte, sobrepondo-as à pintura feita no fundo, resultando em camadas que mostram os vestígios daquilo que foi bloqueado e o que transparece a partir de seu reverso. Do agenciamento, encontros e combinações que Pedro Alvim institui em sua pintura, surgem a conjugação, a oposição e a contradição de forças que vêm da reunião de todos esses elementos. Dessa maneira, o artista multiplica a sua intensidade, provocada pela saturação de dispositivos ora temáticos – natureza-morta, paisagem, figuras -, ora abstratos e caligráficos. Integrados, contaminam-se na superfície do avesso e do direito, produzindo um terceiro aspecto causado pela translucidez, ou seja, o atravessamento, pelo pictórico, daquilo que é revelado pela luminosidade na espessura entre verso e reverso. Pedro Alvin – Doutor em História da Arte pela Universidade Paris I Pantheon-Sorbonne, Paris, França. Professor do Departamento de Artes Visuais da UnB. Tem participado de exposições e congressos na área, tais como: Exposição Contemporânea Brasília, Galeria Arte Futura; Exposição Millenium, Galeria Debret, Paris; Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, entre outros. CORPO HUMANO-PÓS-HUMANO 28 Illana Koling Animais Mortos nas Estradas técnica mista A artista Illana Koling fez a sua escolha pela linguagem da pintura e nela faz transparecer a sua passagem através de questões básicas colocadas pela modernidade. Absorvendo uma ampla escala cromática, trabalhou conceitos da abstração e da figuração, plano e espaço, colagem e montagem, assim como experimentou na vídeoarte, novas formas de expressão. Rebatendo sua paleta, encontrou na monocromia e na oposição do preto e do branco um meio de enfatizar as suas representações. Para essas, os fatores que suscitam seu interesse são das mais variadas origens – a subcultura, a cultura trivial, a ecologia, o reino animal- ou os modelos da história da arte. Sua pintura se torna ao mesmo tempo, expressão de uma reflexão que aborda uma temática de amplo espectro e a crítica da análise de suas possibilidades artísticas e sociais. Animais Mortos na Estrada é parte de uma série desenvolvida pela artista. Nesta exposição Illana Koling mostra um tríptico e uma pintura com relevo, com os quais elabora o seu pensamento pictórico com relação ao espetáculo macabro vivenciado em suas freqüentes viagens pelo Centro-Oeste. Com a polarização do preto e do branco constrói uma narrativa dramática subjetivando sua reação diante de tal massacre que é, ao mesmo tempo, freqüente e indiferente para os viajantes. Durante um lapso de tempo, a artista flagrou animais atropelados, em imagens de vídeo e fotografia, trabalhando-os em linguagens diversas. Essas pinturas mostram em seqüência, pontos cegos - produtos tanto da intensa luminosidade da região quanto da própria cegueira dos passantes -, trabalhados em relevos brancos que emergem em respingos diagonais de restos e sangue, margeados por tom negro em movimentos ondulantes, pastosos e eloqüentes. A pintura lateral, sobre a superfície em preto, traz um relevo de pêlo sintético, junto ao branco da sinalização rodoviária na representação, reforçando a idéia da extinção da fauna produzida pela industrialização e pelo progresso. Dessa maneira, a artista Illana Koling demonstra que a abstração, longe de seu uso corrente ou autoreferencial, pode fazer valer, em sua articulação quase monocromática, discursos outros, que só a arte pode provocar. Illana Koling – bacharel em Artes Plásticas pelo Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília. Atualmente trabalha em Paris, França. TERRITÓRIO Sílvio Zamboni Todas as Cidades instalação, fotografia digital Sílvio Zamboni instaura uma reflexão sobre a arquitetura de cidades brasileiras, que funcionam como cenas da história, memória ou utopia, cidades essas que são simulacros recorrentes de uma iconografia barroca ou imperial. Essa iconografia é trabalhada em ângulos fragmentários e luz criteriosa em imagens digitais captadas pelo artista que, como um flâneur, passeia, registra e sublinha com sua ótica, a marca da passagem do humano, sua linguagem arquitetônica e restos de vida em espaços artificialmente construídos. O seu foco é a sua relação com a cidade e a maneira pela qual se deixa afetar, ora pela configuração de edificações, ora por traços e ações que a presença humana provoca, atraindo o visor da sua câmera. Nesta instalação, convida o espectador para que, a partir da imagem iluminada em backlight de um Marco Zero, Km 0, para “Todas as Cidades”, participe de seu olhar, sob pontos de vista diversificados - do chão, rodapé, soleiras, portas e janelas, muros e calçadas até cumeeiras e torres - e estabeleça seu próprio percurso. HUMANO-PÓS-HUMANO 30 Nesse retalho de cidade espetáculo que é extraído pelo olhar do artista, emerge a questão de sua visibilidade e figuração nos detalhes, recortados de seu espaço e tempo, sempre apreendidos do lado externo, da rua, lugar do passante. Imagens de memórias vivas atravessam muros e pedras, como os musgos e vegetações que crescem através de suas fendas e fissuras, insinuam-se pelo braço apoiado na janela, pelo exercício de ofícios banais, pelo transformador da rede elétrica que acende e ilumina os lapsos e ofuscam os esquecimentos. Cidade como realidade, imagem e símbolo para seus habitantes e para os passageiros, depositária de uma memória ou de uma utopia, presentes no imaginário brasileiro, é o que o artista Sílvio Zamboni coloca como reflexão para os passantes que viagem pela sua instalação. Sílvio Zamboni – doutor pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Professor do Departamento de Artes Visuais da UnB. Foi presidente da Associação Nacional de Artistas Plásticos. Publicou os livros A Pesquisa em Arte - Um Paralelo Entre Arte e Ciência; Poesia Visual e Pirenópolis: Pedras Janelas Quintais. Expôs em eventos, tais como Maior ou Igual a 4D, no Centro Cultural Banco do Brasil; Foto Arte, em Brasília, entre outros. Ex-presidente da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. CORPO Corpos Informáticos Ponto Cílios Vídeoarte (performance em telepresença) O objeto focado pela pesquisa da artista Bia Medeiros é o corpo. Junto aos sucessivos grupos por ela constituídos, sempre preservando o núcleo original, situao no universo de uma comunicação efetiva, principalmente em performance, possibilitada tanto pela telepresença quanto na produção de performances para vídeo, além da prática de outras linguagens da arte propiciadas pela tecnologia, como a vídeoarte, a vídeo instalação e a fotografia, assim como a exploração da Internet como campo artístico. Como grupo “Corpos Informáticos” atua na expansão da noção de subjetividade – o nós -, tornando-a interdependente, abrindo-se tanto à participação do público quanto à sua inserção em outros grupos, principalmente quando se trata de performance em telepresença. Nesta mostra, o espectador poderá experimentar a representação de uma de suas propostas, intitulada Ponto Cílios, através do vídeoarte realizado a partir dessa performance. O ambiente fechado de uma sala que se prolonga em um jardim, previamente determinado em um software de sala, com endereço e tela com janelas, transforma-se em um ambiente planetário, onde convidados on-line são instados a co- participar da ação proposta, marcada para acontecer a tal dia e a tal hora, levando-se em conta o fuso horário. HUMANO-PÓS-HUMANO 32 Uma outra dimensão, de tempo-espaço-movimento e sensações interativas, decorre daí, com fronteiras difíceis de se estabelecer, às vezes, ilimitadas. Uma ação se inicia. O corpo de uma performer é desenhado em relevo, com linhas configuradas por cílios recortados em papel, sobrepostos à sua pele em vários sentidos, investindo-lhe de um caráter de animalidade. A partir de seus movimentos ondulantes, retorcidos e contorcidos, faz-se contaminar por um tornar-se animal com pele, pêlos, couraça e instinto, identificando-se com as forças telúricas desse reino. Diálogos de sons e imagens são enviados e recebidos. Cada participante produz a sua própria poética e tem controle sobre a sua própria tela. Então, a partir daí, quem sabe o rumo das naus errantes? Bia Medeiros – doutora pela Universidade Paris I - Pantheon-Sorbonne, Paris, França. Realizou pós-doutorado no College International de Philosophie, CIPH, França. Professora do Departamento de Artes Visuais da UnB. Pesquisadora do CNPq. Publicou o livro Aisthesis: estética, educação e comunidades. Tem participado de exposições e congressos, tais como: II e V Bienal do Mercosul; Cinético_Digital no Itaú Cultural; Maior ou Igual a 4D, entre outros. Foi premiada no Salão Piracicaba, prêmio aquisição; bolsa Virtuose do Ministério da Cultura. Ex-presidente da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. É coordenadora do grupo Corpos Informáticos. TERRITÓRIO Terezinha Losada Série Vermelha lápis de cera sobre papel A artista Terezinha Losada explora os espaços de Brasília e os submete a um tratamento pictórico sobre superfícies diversas. Suas pinturas sobre tela ou cartão, em cores contrastantes ou na utilização de gamas que vão dos brancos aos cinzas, trazem a relação que se estabelece entre o habitante da cidade, o espaço urbano, vias, tesourinhas e eixos e a arquitetura de morar, seus interiores, cantos e ambientes. Constrói suas pinturas com a cor, em gestos largos que reorganizam a superfície, ora em contrastes, ora harmonizando as tonalidades, reproduzindo ruídos e velocidade em frações de tempo e em recortes de espaço. A série de desenhos, em contraste com suas pinturas, trazem um grafismo com traço contínuo, quase que riscado com uma só respiração, imprimindo o percurso de sua mão livre que se deixa perceber ora com precisão, ora transmitindo a sensação de titubeante ou indecisa sobre a direção a seguir pela qual o espectador percebe que nada ali vai ao acaso. HUMANO-PÓS-HUMANO 34 Em seu rastro, tratando-se de transmitir um efeito, marcar um contorno, revelar um sentido ou modelo de uma operação, a linha, trabalhada em giz branco sobre suporte vermelho, ilumina os efeitos distorcidos ou anamórficos de detalhes fora de escala, retirados de algum tratado de uma geometria empírica e pessoal, incorporada pela experiência de conviver no espaço arquitetônico e urbanístico brasiliense. Contornos são delimitados, contingenciando o espaço interno da superfície, desenhados sob o reflexo da luz artificial. Para essa série, essas fotografias, produtos da mão e da percepção da artista, Terezinha Losada afirma: “neste trabalho apresento a luz, reduzida a elemento gráfico, como único habitante de uma ilusória arquitetura de interiores”, colocando o espectador diante da ambigüidade da proposta apresentada. Terezinha Losada – doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicação e Artes de São Paulo e Roehampton University em Londres, Inglaterra. Publicou o livro O artífice, o artista e o cientista: uma análise sobre a arte e o artista de vanguarda. É professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília. Atua em projetos educativos para exposições de arte e tem participado de eventos e congressos, tais como: Congressos anuais da Associação Brasileira de Artes Plásticas; exposição Como vai você geração 80, realizada no Parque Laje, Rio de Janeiro; Living e Via BsB, em Brasília, entre outros. TERRITÓRIO Cíntia Falkenbach Cerrado gravura em metal, água-forte e ponta seca O ato de incidir em superfícies é a prática artística ancestral que sobrevive na história da humanidade e, contemporaneamente, o fato de conviver com impressões geradas por alta tecnologia ou suportes outros que não o papel, não significa que a gravura, tal como surgiu, tenha perdido espaço. Ao contrário, a sua produção, sobretudo no Brasil, vem aumentando e se disseminando. Cíntia Falkenbach é gravadora e trabalha com esse legado - em xilogravura e em metal - com a percepção da importância de se olhar, na atualidade das produções artísticas, a representação do elemento não atual, onde muitas temporalidades se juntam, anacronicamente. Nesse sentido, demonstra, também, que não somente a gravura seja sobrevivente nessa história, mas que a representação da paisagem, gênero da história da arte, séculos após a sua invenção é um objeto a ser usufruído, tanto pelo artista, quanto pelo espectador. Da mesma maneira, como motivo para a arte, a natureza é fonte inesgotável e, quando tomada como tema, pode responder a nossas próprias necessidades para estabelecer uma relação com ela e conosco mesmos. Para esta mostra, a gravadora Cíntia Falkenbach expõe uma série de gravuras em ponta seca e água tinta, onde explora e perscruta a natureza do cerrado. Nessas, a artista trabalha a matriz de metal, in loco, elaborando um continuo espacial com unidade orgânica própria, retirando da paisagem seus elementos constitutivos: documenta-os, descrevendo-os e retratando-os. HUMANO-PÓS-HUMANO 36 Vistas em plongé mostram a vegetação espinhosa que ela traduz de maneira cortante em seu traço, relevos e pedras que adquirem um valor de massa suavizada, bem como vestígios do humano que se deixam entrever em construções, ao longe. A artista reproduz uma visão que carrega a memória de um lugar e de um momento ainda pouco domesticado pelas atividades invasoras de empreendimentos turísticos trazendo, com a força sutil de suas gravuras, a beleza da paisagem onde ela se inscreve, inscrevendo-nos. Cintia Falkenbach – mestre em Arte pela Universidade de Brasília é professora do Departamento de Artes Visuais onde leciona as disciplinas de Introdução à Gravura e Calcogravura. Tem trabalhado com documentação artística do cerrado há vários anos, além de desenvolver pesquisa em questões ligadas à memória, à imagem, à escrita e ao livro no âmbito da História da Gravura. Participou do Encontro Internacional da Associação Nacional de Artistas Plásticos, Impressões Brasilienses, na Aliança Francesa de Brasília e Galeria Arte em Papel, entre outros eventos. TERRITÓRIO Elder Rocha Pisces Notius pintura-instalação Elder Rocha constrói seu caminho nas artes plásticas - na pintura, mais especificamente -, sem temer os desafios aos quais se propõe, enfrenta e domina. Dialoga com o passado e com a contemporaneidade, experimenta e se arrisca em seu território pictórico, na concepção de uma obra pessoal. Utiliza-se de múltiplos suportes e de uma ampla escala cromática para elaborar combinatórias que são expandidas em séries. Estabelece sentidos, sempre polivalentes, na provocação que produz para o encontro que marca com o espectador e suas propostas pictóricas, através de um apelo ao olho, à imaginação e à memória. Pisces Notius é o título instigante que o artista dá a este seu trabalho, nesta mostra. Trata-se do nome de uma constelação, obtida de um antigo livro de astronomia. Reunindo materiais heterodoxos, trabalha com objetos apropriados de um universo que se relaciona a seu interesse pictural, tais como tacos de madeira, bonequinhos de borracha, bolhas de acrílico, retalhos de tecido xadrez ou listrado, pintados a óleo e silicone, remetendo-se a propostas legada pela pintura modernista. Com esses elementos, transformados pelo seu gesto, o artista formata um grupo estelar em figuração e movimento nada convencionais, apresentando um espectro de luz e brilho espaciais, em oposição às superfícies opacas, construindo uma materialidade pictórica. HUMANO-PÓS-HUMANO 38 A partir daí, o espectador é acolhido em um território ambíguo, pleno de paradoxos, no deciframento de códigos opostos e articulados que vão desde uma situação terrena, doméstica, evocada pelos tacos e retalhos de tecidos – piso e toalha de mesa xadrez, com manchas abstratas -, até a memória infantil guardada nos brinquedinhos nada inocentes, à contemplação das galáxias e corpos celestes que se abrem à imensidão de significados que só a obra de arte pode engendrar: “Ora, direis, ouvir estrelas!”. Elder Rocha - mestre em pintura pelo Chelsea College of Art and Design, Londres. Professor do Departamento de Artes Visuais da UnB. Tem realizado várias exposições individuais e coletivas, destacando as seguintes: Heterodoxia, MUMA, Curitiba; Salão Nacional de Arte de Goiás; 5º Prêmio Flamboyant, sendo um dos cinco artistas premiados; 9º Salão da Bahia MAM/BA; Rio Arte Contemporânea MAM/RJ; Des(re)conhecer ECCO Brasília, Gentil Reversão CCBB / Brasília, Prêmio Brasília de Artes Visuais, Fundação Cultural do Distrito Federal, entre outras. CORPO HUMANO-PÓS-HUMANO 40 Gê Orthof Instrumentos para aferir vulnerabilidades: órbitas keplerianas Instalação Por meio de instalações e de ações performáticas, o artista Gê Orthof vem propondo diálogos nos quais o espectador é instado a entrar em um universo sensorial e conceitual onde ele se percebe capturado, em dificuldade para sair. No entanto, se ele fica de fora, só olhando, curioso, a diversidade de dispositivos agenciados, poderá admirar o mero aspecto do trabalho mas, imprevisivelmente, será seduzido por armadilhas. Tratando temas tão diversos quanto os da vida contemporânea - sociedade, utopia e barbárie, ética e estética, público e privado, vida/arte/arte/vida, o artista Gê Orthof cria narrativas que contêm, ardilosamente, elementos de contos infantis, tais como o maravilhoso, as astúcias, os assombros e encantamentos. Essas assumem tal poder de envolvimento que, para o fruidor, torna-se impossível vivenciálas sem incorporar alguns códigos de valores constantes e de valores variáveis que são trabalhados em suas instalações, dissimulados por estratégias lúdicas. Instrumentos Para Aferir Vulnerabilidades: Órbitas Keplerianas é a obra exposta nesta mostra. Trata-se da configuração de valores que delimitam três espaços: um é preenchido por pratos trancados com cadeados, outro por caixa com invólucro retangular de acrílico contendo elementos coloridos, um livro e cartões com anotações, um outro, ainda, circunscrito por um carrinho de mão com caixas, livro, bolsa, fones e objetos-escultura de metal e borracha, ganchos, luvas, além de uma roupa de pele de cordeiro espetada por pequenos tubos, recheada de calombos coloridos acrescida de um órgão sexual, metade anéis de cascavel, metade pênis, exposto. A pluralidade de signos que aí entram em jogo funciona tanto entre eles mesmos quanto no relacionamento que aí se dá, quando entram em rotação pela performance, in progress, que o artista desenvolve ao longo desta temporada. Investido de seu parangolé singular, Gê Orthof assume o aferimento de vulnerabilidades para sí próprio e para o público, circulando com o carrinho, tocando o espectador com as pontas de seus instrumentos escultóricos - extensões do próprio corpo -, tensos e moles, para depois, deitado dentro da caixa, mostrar-se ouvindo, lendo, escrevendo ou desenhando com sua respiração. Dos movimentos e deslocamentos dos instrumentos, variações e remanejamentos se produzem. Na associação que o artista propõe de dois pensadores, Kepler e Freud, que instituíram cortes radicais no pensamento referente à crença na solidez inabalável seja da física ou do humano. Nessa instalação, por meio tanto de sua performance hiperbólica ou elíptica, quanto pelo livro que lê – A Vida Amorosa de Rodolfo Valentino –, assim como o fone com sua própria fala, barrada para outros que só ele ouve, Gê Orthof enreda o espectador em um mundo de fantasias, sexuais ou não, que podem conduzí-lo à múltiplas sensações. Dos valores constantes aos variáveis, em função de novas combinatórias, Gê Orthof instaura uma experiência estética que pode levar o espectador à descobertas e gozos através daquilo de vulnerável que o artista apresenta e da vulnerabilidade do público que o profana em sua intimidade, olhando-o e sendo olhado. Geraldo Orthof – Doutorado em Visual Arts & Art Education in College Teaching pela Columbia University, New York, EUA. Realizou Pós-Doutorado na Tufts Uniuversity, School of The Museum of Fine Arts, TUFTS/SMFA, Estados Unidos. Professor do Departamento de Artes Visuais da UnB. Principais prêmios: Prêmio Ibero-Americano à Excelência Educativa, indicação, Consejo Iberoamericano en Honor a la Calidad Educativa, Peru; bolsa de Viagem ao Exterior, CAPES; Cinco Melhores Exposições do Ano, curadoria, Jornal Correio Braziliense; Visiting artist/ scholar award, Penn State University, EUA, entre outros. Participou da exposição Gentil Reversão, Centro Cultural Banco do Brasil, entre outras. TERRITÓRIO HUMANO-PÓS-HUMANO 42 Vicente Martinez S.Q.S. 105 Instalação Algumas idéias circulam na obra do artista Vicente Martinez de um modo quase intermitente, mesmo na diversidade de sua concretização. Trata-se de sua relação com a sociedade, a autonomia da arte e a autoridade, desenvolvida durante o período da ditadura, quando, junto ao grupo ex-cultura, fazia intervenções na cidade de Brasília e seus monumentos, ou elaborava desenhos com forte cromatismos, em figuração narrativa de proximidade com a pop art , expressando seu mundo de subversão ou êxtase. Dialogando com outros movimentos modernos, sua pesquisa o conduz a um trabalho no qual, assumindo questões apropriadas do minimal art, estabelece outras relações com o espaço, a luminosidade e a experiência aí vivenciada pelo espectador, extraindo da linha, articulada pelas possibilidades da película de fita durex, um amplo repertório de propostas in situ. Assumindo o ready-made com a película-tubo-de-tinta, o artista se insere no território da liberdade aí implícito, filiando-se às propriedades pictóricas, conceituadas dentro das propostas duchampianas. Sua instalação, SQS 105, reúne várias questões que sintetizam o percurso feito pelo artista, que se classifica de moderno. Trabalhado na horizontalidade, um xadrez em paviflex se sobrepõe, através de descontinuidade, a um subsolo semi-aberto, sinalizando para um jogo de exposição e ocultação - aquilo que é mostrado e aquilo que se esconde -, cabendo ao espectador optar pela visibilidade ou pela evidência sensível. Sobre o tabuleiro, Vicente Martinez agencia as suas peças: balões de cores primárias e secundárias, como o ready-made tubo de tinta em formas orgânicas e sensoriais, um livro, Cem anos de solidão, movimentado por um ventilador, neons coloridos e spots que iluminam e colorem o solo e o subsolo, cacos de pratos, um prato com pigmentos e joguinhos de montar. Produtos de uma escolha, esses objetos têm uma presença que obedece a determinações mais imediatamente simbólicas ou convencionais, pitorescas ou alusivas. Humor e ironia entram aí, em parceria, através de conjugações lúdicas. Se o espectador se furta de fazer ou descobrir citações para constatar que a alegria desses achados é fugaz e insuficiente, descobrirá que no jogo proposto, a experiência é estética e, por isso, mais urgente e relativa do que a reavaliação de suas referências. Aqui, como o artista propõe, é a espécie contemporânea de conversa íntima e universal que pode ser arrematada com um xeque-mate, entre Vicente Martinez e jogadores, livres de qualquer autoridade, nessa instalação. Vicente Martinez – doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor do Departamento de Artes Visuais da UnB. Recebeu os seguintes prêmios: Menção Honrosa, V Salón de Arte Joven, Universidade Jorge Tadeo Lozano, Cartagena de Indias, Colombia; Premio Aquisição, 8º Salão Nacional de Artes Plásticas / Fundação Nacional de Arte (Funarte), Rio Janeiro, entre outros. Tem participado de exposições e eventos, tais como: Armadilhas para poeira e luz, Centro Universitario Maria Antonia, São Paulo; Arte Latinoamericana, Memorial da América Latina, São Paulo. É coordenador de Artes Plásticas da Casa de Cultura da América Latina de Brasília. CORPO Sérgio Rizo Educação de Lúcifer técnica mista O alicerce sobre o qual o artista Sergio Rizo constrói sua carreira consiste em um sólido aprendizado. Nesse, afirma a prática de uma linguagem tão difícil como a da pintura, constantemente assumindo o desenho como meio de trabalhar idéias ou como finalidade em si, incorporando conceitos que a modernidade transmite como legado. Em imersões tanto na abstração quanto na figuração, elabora uma obra pessoal e forte, tratando de questões singulares, atuando com os códigos da cor e da textura em suas pinturas gestuais, ou estabelecendo imagens orgânicas, mecânicas e anatômicas em seu trabalho mais recente. HUMANO-PÓS-HUMANO 44 O monumental tríptico Educação de Lúcifer que o artista Sérgio Rizo expõe nesta mostra, traz uma estrutura narrativa que pode funcionar autonomamente, em cada unidade, ou no próprio conjunto. Esse, revela uma coreografia atormentada onde a figura quase humana de uma espécie de anjo cibernético – um humanóide -, é apreendida e flagrada em movimentos pesados que apontam para uma precipitação atraída pela força da gravidade terrestre. Um estranho maquinário com mecanismos anatômicos, como ossos de costelas e músculos, são acoplados e incorporados à figura, homenageando Moebius, em um ambiente de limbo, lugar suspenso em um mundo sem fronteiras ou limite, saturado em um ar enevoado, nem claro, nem escuro, nem passado, nem presente. Colocando a estética clássica fora de si, na medida que a subverte em tonalidades rebatidas, trabalhadas com rodo e espátula, as figuras recebem um tratamento de contornos definidos por uma técnica particular de desenho em carvão com cola, e todo o tríptico conduz o olhar do espectador, vertiginosamente, para baixo, onde o ponto de fuga de uma perspectiva recompõe sua unidade, aparando a sua própria queda. Expressão dos baixos instintos humanos, o centauro (aqui em representação feminina), figura uma mulher meio-animal-meio-humana que galopa com seus cabelos-crinas em movimento e solta os demônios; uma figura em posição fetal, fracionada pelo movimento, língua solta, prenuncia o início e o reinicio dos tempos. Depois da queda, a educação propagada por Lúcifer é a da trajetória que se faz em vida, do humano-instinto-animal ao humano-máquina-racional, em zig-zag, dentro e fora, no avesso e no direito, como em uma fita do outro Moebius. Dissimulando outros nós de imagens que podem ser desveladas no intricamento das figuras principais, uma por uma, como armadilhas e seduções para o olhar, o artista insinua que, para o humano, sobre a terra e respirando o ar, com seus instintos voltados para o alto e para o baixo, para o nobre e o ignóbil, esse é o traçado que lhe é dado a percorrer, per omnia secula seculorum. Sérgio Rizo – doutor em História pela Universidade de Brasília. Foi selecionado para a mostra do Salão Nacional de 1990, em Brasília e, também, para representar o Pratt Institute na exposição anual dos mestrandos das universidades de New York, no mesmo ano, em New York, USA. CORPO Elyeser Szturm Backlight Caboclo Objeto O artista consolida uma obra instigante e singular em sua trajetória. Sustentado por uma materialidade que não perde de vista os seus próprios horizontes, sua paisagem natural ou construída, sua formação em filosofia e artes plásticas, elabora uma sólida síntese para fazer aí convergir a sua poética. Nesse sentido, intervém, retira ou se apropria de elementos da natureza e da cultura do interior goiano, propondo novas e audaciosas relações entre eles. Intervenções que cravam pregos em cupinzeiros, in situ, mantas de silicone que extraem formas de uma arquitetura colonial, fogo que irrompe em duratex, fios que se destecem de telas para se recomporem em linhas, cobertores retorcidos que se associam a cipós, gamelas, bacias, gaiolas e outros materiais que, muitas vezes associados à linguagem da vídeo instalação, apontam para a diversidade de meios utilizados na unidade que seu trabalho apresenta. A obra que o artista mostra nesta exposição se alinha à sua prática como parte integrante daquilo que ele denomina de sua poética cabocla. HUMANO-PÓS-HUMANO 46 Trata-se da apropriação de uma caixa de secar carne de uso corrente em açougues de cidades do interior, trabalhada com fotos coloridas de carne, focadas do lado de fora da caixa, acrescida de um espelho na parte inferior e um cacho de lâmpadas de fraca luminosidade dependuradas em um emaranhado de fios vindos de uma gambiarra. Estabelecendo uma relação metonímica e metafórica nesse agenciamento, Elyeser Szturm instaura um diálogo irônico com a tecnologia, na medida em que as fotos trazem traços de uma possibilidade de composição computacional, através da tela que é vista em primeiro plano e lhe confere uma textura digital. Através das cores, dos contrastes claro-escuro e reflexos, o artista aponta para a dramaticidade que domina esta instalação. Atravessado pelas luzes rebatidas no espelho, um discurso sensível e emocionante extravasa pelos rasgos nas telas laterais da caixa que deixam entrever a imagem da carne que um dia foi um animal, passou pelo matadouro, foi retalhada e sangrou. Antes de sua decomposição, passa pelo processo de secagem para a delícia de seus consumidores ou para o horror de seus protetores. Reflexos dialéticos emergem com toda a força contida nessa obra, evocando o poder de fogo que a arte possui para aqueles que nela ousam penetrar. Elyeser Szturm – doutor em Esthétique Sciences et Technologie des Arts, Université Paris VIII, U.P. VIII, França. Realizou pós-doutorado na Universidade de São Paulo, USP. Professor do Departamento de Artes Visuais da UnB. Pesquisador do CNPq. Recebeu os seguintes prêmios: Mérito Cultural, medalha Gustav Ritter, Prêmio Conselho de Cultura do Estado de Goiás; Prêmio VII Salão da Bahia, MAM Bahia; Prêmio XVI Salão Nacional de Artes plásticas, Funarte; Rencontre de deux mondes, Menção Especial, Espace latino-américain, Paris, entre outros. Publicou em co-autoria com Fernando Cochiaralli o livro Elyeser Szturm, Arte XXI. TERRITÓRIO Lygia Saboia Homenagem à Rosácea impressão em acetato O percurso feito pela artista Lygia Saboia na arte vem de uma perspectiva objetivada por um projeto longo e diversificado. Oriunda de um campo no qual os números são o elemento fundante (a Economia), a passagem para o campo artístico transformou-se no espaço onde a arte, resultado de um pensamento tão abstrato quanto o da matemática, sintetizasse a expressão de sua experiência. Gravadora por opção, aprofundou e dinamizou a linguagem da litogravura e da serigrafia – da matriz a seu múltiplo -, elaborando em séries propostas nas quais, a partir da observação de cenas, personagens, retratos antigos e situações diversas, construiu uma gramática própria. Simultaneamente, trabalhando aquarelas na observação da paisagem do cerrado, desenvolveu um código cromático e formal com os quais estabeleceu as bases de sua criação. Na junção de todos esses elementos, ou seja, números, matrizes, múltiplos, cromatismos e impressões, a artista imergiu no universo da arte computacional, explorando padrões e simetrias, os seus 17 tipos e suas translações, elaborando belas instalações. Nesta mostra, Lygia Saboia expõe uma série de grandes impressões em acetato, reportandose à utilização de equações para a construção de rodôneas. HUMANO-PÓS-HUMANO 48 Homenagem à Rosácea que se remete a Albers e a seu quadrado, apresenta um grupo com rosáceas diferentes, equacionando mais um grupo delas para compor uma imagem.À maneira de uma prova de estado de gravura, a artista faz e refaz a imagem até encontrar a solução mais prazerosa. Estabelecendo relações plurais, apoiandose em um programa criado para essa finalidade, reinventa combinatórias no plano e no espaço. Recortadas ou inscritas umas nas outras, as linhas e as cores demonstram a lógica de seus traçados e a sua projeção na superfície. Colocando as possibilidades que a sua razão poética pode retirar da curva Rodônea de 12 pétalas, através de equações usadas para a sua construção, ou da curva algébrica de alto grau, a artista instiga o espectador a penetrar no território da beleza que o numérico pode oferecer, para seu próprio gozo mental e estético . Lygia Saboia – doutora em Multimeios pelo Departamento de Multimeios da Unicamp. Professora do Departamento de Artes Visuais, UnB. Participou de várias exposições e congressos na área de arte e tecnologia, tais como: Cinético_Digital, Itaú Cultural de São Paulo; Maior ou Igual a 4D: arte computacional interativa; Congresso Internacional de Gráfica Digital Unissinos, Porto Alegre; Congresso Internacional de Arte e Tecnologia, UnB, entre outros. CORPO Clarissa Borges Simulacro do Corpo fotografia digital manipulada A linguagem fotográfica foi a escolha que Clarissa Borges fez em seu percurso nas artes plásticas, seduzida por uma forma de arte mais diretamente ligada à realidade - arte realista, por sua própria natureza -, com a qual pode perceber a complexidade de relações que com ela se estabelecem . Utilizando-se de uma câmera digital e programa Photoshop, desenvolve um trabalho que traz diversas questões que ora são tratadas com ambigüidade, ora com ironia. Refiro-me a trabalhos realizados com o corpo, sua fragmentação e sua recomposição dissimulada ou, como as vistas de cartões postais que perdem sua característica de vistas com a interposição de barras que as cegam. HUMANO-PÓS-HUMANO 50 Da mesma forma, captou imagens de seu próprio corpo em performances solitárias, vendo-se pelo visor da câmera, recortando pedaços para manipulá-los digitalmente, construindo outras combinatórias, ou ainda, no registro de performances de outros personagens, embaralhando pontos de vista para configurar outros, assim como, em um questionamento sobre as convivências rotineiras de casais, utilizando-se de troca de olhos, na crença que há no senso comum de que esta possibilidade seja inerente a uma situação de compartilhamento de vida. Nesta exposição, mostra o resultado de uma composição, operando a combinatória de três imagens enquadradas em conjunto, intitulada Simulacro do Corpo, em preto e branco, imagens fragmentadas de um corpo nu, masculino, deixa-se definir através de uma operação de montagem e colagem, fontes do trabalho da artista. O resultado coloca em jogo ausências que revelam a natureza da representação que aí se torna simulacro, aparência, redução e signo, fragmentando a própria realidade da fragmentação. Dobras, articulações, texturas de pêlos, pele e carne pertencem à trama que informa sobre a imagem orgânica pela interferência distinta da ação de sombras e luzes, expressando uma concepção de forma e volume que ressoam em voláteis evocações visuais. Suprimindo a unidade do corpo e filtrando detalhes, Clarissa Borges propicia a sua transformação, sua mutação e sua conseqüente abstração, propondo novos sentidos para o espectador. Clarissa Borges – mestre em Arte pelo Departamento de Artes Visuais da UnB. Professora da Faculdade de Arte Dulcina de Moraes. Realizou mostras individuais e coletivas, tais como: Murais do corpo, na Casa da Cultura da América Latina; Com os olhos do outro, no Espaço Cultural Contemporâneo; Simulacros do corpo, na Galeria do Teatro Dulcina; Deslocamentos do corpo, no Itaú Cultural de Campinas e no Paço das Artes, na USP, São Paulo, entre outras. CORPO Luiza Venturelli Homem na Janela, Mulher no Fogão e Velho fotografia A fotógrafa Luiza Venturelli vem de uma linhagem de artistas plásticas que se deixam seduzir pelos meios de reprodutibilidade técnica. Seu olhar, forjado em ateliês de Belas Artes, abriu–lhe possibilidades peculiares que só à uma artista, diferentemente de uma fotógrafa documental ou de uma publicitária, são dadas a ver. Enquadramentos de conjuntos ou detalhes, pessoas ou gestos, grandes planos ou closes, lugares ou espaços, flagrantes ou poses, tudo pode se tornar motivo, tema ou suporte para seu foco estético. Esse, retirado de conceitos tais como originalidade, expressividade e singularidade, mesmo que pareçam contraditórios quando se trata de fotografia, que tem no múltiplo a sua característica principal, podem se aplicar a seu trabalho, porque aqui, trata-se do saber do olhar. As três grandes fotos impressas que Luiza Venturelli mostra nesta exposição, trazem situações, personagens, idéias e ambientes que são descritos e estimulam, no espectador, a faculdade de imaginar os diversos modos de habitar o mundo e se emocionar, a partir do que entra no visor de sua câmera. HUMANO-PÓS-HUMANO 52 Essa escolha ocorre, como a fotógrafa afirma, “no fluxo dos acontecimentos, um momento é paralisado e vem testemunhar o rigor de uma percepção e a relação de formas na construção de um momento rico em sentidos”. Reflexos e texturas ou claros e escuros são partes das categorias formais utilizados pela fotógrafa e dão suporte a uma realidade tangível com a qual Luiza Venturelli decripta, com minúcia, o gesto de uma pessoa, um hábito ou uma sensação, pintada de humanidade. Luiza Venturelli – mestre pela Universidade Pantheon Sorbonne Paris 1, França. Professora aposentada da Faculdade de Comunicação da UnB. Foi curadora da mostra Anderson Schneider realizada no evento Foto Arte de Brasília. Participou como fotógrafa convidada do livro Brasil 500 Anos. CORPO HUMANO-PÓS-HUMANO 54 Andréa Campos de Sá e Walter Menon Sem Título fotos sobre mármore e vídeo Os dois artistas, Andréa Campos de Sá e Walter Menon mantêm uma carreira solo, com propostas diferentes. Entretanto, o interesse pelas questões contemporâneas da arte, sua prática e sua teoria, os leva, ocasionalmente, a empreenderem uma forma especial de co-autoria: engajam-se em idéias que são estabelecidas em linhas gerais e, sob segredo, cada um elabora a sua parte para, in loco , completar ou complementar a execução conjunta daquilo que foi pensado Interrelacionando os objetos fotográficos de Andréa com os desenhos, apropriações ou vídeos de Walter Menon, os artistas assumem uma identidade singular no engendramento de formas para a construção de novos sentidos em propostas de instalações. Para Andréa Campos de Sá o século 19, desde a invenção da fotografia, oferece uma plêiade de manifestações bizarras e descobertas, à luz da teatralidade, tais como a iconografia fotográfica da Salpetrière, as fotos dos espíritos - práticas com o espectro luminoso -, na esfera natural e equivalente na esfera dos espíritos, assim como fotografias post-mortem (copiadas com as cinzas do morto). Essas imagens, ao mesmo tempo em que passam uma idéia de realidade objetiva, são realidades projetadas ou simulacros. É através dessa categoria que a artista inventa uma posição identitária, remetendo-se tanto às fotografias cenográficas das histéricas, de Charcot, quanto às reflexões e fantasias referentes aos espíritos, elaborando auto-retratos explorados em fotos, no campo da representação narrativa. Inserindo-se e atravessando fronteiras, limites e passagens entre a vida e a morte, personifica uma freira, no travestimento emblemático pertencente à Terezinha de Lisieux, registrado em fotos de sua época e divulgado pela cultura religiosa de massas, através de santinhos. A partir dessas propostas, o espectador é convidado a penetrar em um mundo de simulacro, onde é possível distinguir a realidade da fantasia, que oscila, ora para uma metáfora cristã, ora para uma paródia crítica de personificações. Em algumas das instalações feitas em co-autoria, Walter Menon provoca um efeito de dessacralização e de materialidade profana, na medida em que, com a utilização de grafismos e caligrafias, interpenetra os espaços delimitados com figuras pertinentes a erotismos oníricos, íncubos e súcubos, saídos de algum bestiário humano. Para esta instalação, Andréa Campos de Sá e Walter Menon trabalharam um sistema iconográfico na junção com a fotografia do século 19, com a História da Arte, através da pintura sacra de repercussão no imaginário das massas, e com o manifesto cyborg, de Donna Haraway, de 1993. Por um lado, a artista trabalha um sistema iconográfico originado em uma linhagem de pinturas que vêm desde a imagem medieval que representa o Bom Pastor até às interpretações simbolistas e divulgação na cultura religiosa. Andréa Campos de Sá – mestre em Arte, área de concentração Arte Contemporânea, pela Universidade de Brasília. Vem atuando como artista em Brasília, onde realizou várias exposições individuais e coletivas, tais como: Xilogravuras, no projeto Prima Obra da Funarte; Situações Brasília, no Centro Cultural da Caixa Econômica; Centro Ex-Centro, no Centro Cultural Banco do Brasil, entre outras. No caso específico, reversão de gênero – a pastora-freira –, cuidando das ovelhas, em cenários indefinidos. Produzidas pela simulação e signos, estas fotos, tomadas com altos contrastes de luz e sombra, são impressas sobre uma pedra lapidar – mármore branco, oval –, conferindo brilho à textura. Por esse meio, quase como o que ocorre com o negativo, essas fotos se apresentam como peças únicas, confe-rindo-lhes um valor de aura, em dupla sensação: mistério e estranheza. Em uma seqüência narrativa, a personagem passeia com seu rebanho, pelas cenas, representando uma iconografia cristã, transparente a uma realidade original. Ao lado, o artista Walter Menon mostra um vídeo, onde esquadrinha cada pedaço de seu desenho filmado, liga e faz a síntese da proposta, tanto a dos artistas quanto a desta exposição, Humano-pós-humano, remetendo a imagem à seqüência fotográfica e ao manifesto cyborg – Lisa-Foo na frase grafada que estabelece a barra – surge como mito precisamente onde a fronteira do humano e animal é transgredida, onde essas transgressões são vistas como fusões poderosas, devendo ignorar o Jardim do Éden: ele não é feito de lama e não pode sonhar com o retorno ao pó. Ao espectador, o efeito do real que se substitui ao real e a função do efeito de realidade simulada que essa proposta engendra. Walter Menon - mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília. Recebeu o Prêmio Brasília de Artes Plásticas, do Governo do Distrito Federal. Participa regularmente de exposições, tais como: Situações Brasília, no Centro Cultural da Caixa Econômica; Centro-ExCentro, no Centro Cultural Banco do Brasil, entre outras. TERRITÓRIO Maria Luiza Fragoso Eco-Urbe 1 projeto multimídia para intervenção urbana Brasil: este é o objeto amoroso sobre o qual a artista transita, coleta experiências, vivências e sentidos com os quais elabora seu trabalho. Por rotas e estradas, prosseguiu viagens até lá onde a sua “Tracajá” a conduziu, nos confins do país, por vilas e vilarejos, aldeias e cidades, monitorada por satélite e extraindo imagens digitalizadas, de ponto a ponto. Desse percurso, resultou um banco de imagens, sempre em expansão e mapas registrados em global position system (GPS). A artista trabalha então, com duas perspectivas diferentes: a sua própria, pelo visor da câmera, e o olho do satélite, que penetra na profundidade do campo escaneado. Dessa maneira, captura e se apropria de imagens com as quais estabelece um “diário de bordo”, transpõe realidades, instituindo sua materialidade artística. HUMANO-PÓS-HUMANO 56 Para esta mostra Maria Luiza Fragoso propõe ao espectador um jogo que, abstraído de sua finalidade e de seu sentido lógico, transforma-se em uma descoberta prazerosa sobre a multiplicidade de discursos brasileiros. Trata-se de um acoplamento de vistas aéreas de satélites e vistas de aparelhamentos urbanos, tais como mercado, ponto de taxi, padaria, farol ou outros, sobrepostas ao desenho gráfico dos mapas, sobre painéis transparentes, permitindo a visualização de cada uma das camadas. Subvertendo a ordem, a artista expõe imagens reais de duas cidades – Brasília e Morro de São Paulo –, que são opostas desde a topologia – planalto e relevo -, até às suas funções, senão em seus traçados e origens. Seguir o roteiro mapeado, parar em cada ponto, ao acaso, descobrir afinidades e contradições, abrir caminhos, contornar obstáculos e tornar as imagens oferecidas pontos de partida para uma viagem de onde se retira o contexto original para se avistar outros tantos, na percepção, na reflexão e na imaginação. Até lá, no território dos confins onde a arte, através do olhar com o qual a artista conduz o espectador pode seguir e ir além. Maria Luiza Fragoso – doutora em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professora do Departamento de Artes Visuais da UnB. Organizou o Livro Maior ou igual a 4D: arte computacional no Brasil. Participou de eventos e exposições, tais como: Emoção Art.Ficial 2.0: divergências tecnológicas; Cinético_Digital, no Itaú Cultura de São Paulo; Accessibility and Mobility: Two Paradigms of Web-based Contemporay Artistic Environments, Medi@terra 2000, Atenas; XII Encontro Nacional da ANPAP, Brasília, entre outros. CORPO Miguel Ferreira Lição de Anatomia objeto cinético Um artista que experimenta as possibilidades de várias linguagens: de uma banda de rock’n’roll, onde exercita as potências vibratórias de sonoridades à criação de esculturas pós-cinéticas e outros experimentos. Na associação de inventos escultóricos com imagens eletrônicas em movimento, afirma uma inserção singular nessa vertente da arte contemporânea. Refletindo sobre a questão-objeto desta exposição, Humano-pós-humano, criou um conjunto de nove esferas de acrílico transparente, intitulado Lição de Anatomia. Produzidas com um mecanismo simples em seu interior, entram em circulação, quando acionadas. Transitando pelo espaço, absorvem e refletem luzes, cores estridentes, formas e espectadores que aí se tornam anamórficos, direcionadas pelo contra-peso que as conduzem, sem rumo. Tomando como ponto de partida o pré-humano para essa criação, o artista trabalha com a forma esférica como forma básica, primordial. HUMANO-PÓS-HUMANO 58 Do humano, pensa em uma representação pictórica, contida no título, em referência a Rembrandt, com a qual Miguel Ferreira traça um paralelo bem-humorado com a sua proposta, tanto nas expressões de espanto e surpresa assumidas pelos personagens da pintura em relação aos espectadores dessa lição, quanto com a própria dissecação que ali ocorre, relacionando-a ao funcionamento do mecanismo transparente de suas esferas, deixando-se ver, diferenciando-as, escultura e pintura, naquilo que elas contêm de vida e movimento. Evidenciando o pós-humano, é na junção de todos os elementos que as compõem, seja pela superfície fechada ou pelas suas entranhas, que uma outra esfera se forma e se remete ao saber e ao talento. Nessa, o espectador poderá perceber o meio pelo qual o raio de ação ou influência desta “lição de anatomia” poderá agir, produzindo efeitos com raios indeterminados, tendo por centro o olhar. Miguel Ferreira – bacharel em Artes Plásticas pelo Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília. Recebeu o 7° prêmio de Arte Contemporânea do Iate Clube de Brasília e o Prêmio de Linguagem Visual: incentivo à produção artística, da Casa de Cultura da América Latina de Brasília. Participou de exposições individuais e coletivas, tais como: Rebeldes e Submissas, na Galeria Referência, Brasília; Mirações, ocorrida no Centro Cultural Brasil Espanha de Brasília; entre outras. CORPO Mario Maciel, Rafael Galvão, Ricardo Queiroz e Suzete Venturelli Contato arte computacional O trabalho Contato realizado pelos pesquisadores Mario Maciel, Rafael Galvão, Ricardo Queiroz e Suzete Venturelli reúne conhecimentos que envolvem áreas de arte e tecnologia, a partir de uma das linhas de pesquisa do Laboratório de Pesquisa em Arte e Realidade Virtual, do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília, que desenvolve a criação de interfaces naturais entre humanos e máquinas, ou seja, interfaces que possibilitem a interação e a imersão com mundos e ambientes virtuais através, por exemplo, de voz e de gestos. Mario Maciel tem trabalhado com linguagens de programação para desenvolver espaços ilusórios a partir da tecnologia de realidade virtual. Sua poética tem origem nas histórias em quadrinhos, nos desenhos animados e, principalmente, na arquitetura dos jogos eletrônicos. Os temas propostos geralmente propagam a idéia da não competição e sim da colaboração entre indivíduos. Ricardo Queiroz tem doutorado em engenharia e atualmente tem se interessado pela arte computacional, enquanto pesquisa e desenvolve, com o engenheiro Rafael Galvão, interfaces visuais de interação como dispositivos de captura de imagem tais como câmeras digitais. HUMANO-PÓS-HUMANO 60 A poética da instalação Contato, apresentada nesta exposição, traz a idéia de fusão entre o real e o virtual no contato estabelecido entre a imagem tridimensional virtual e o gesto feito pelo interator que é percebido por uma câmera digital onde a informação é convertida em sinais que provocam rotação e deslocamentos numa animação de partículas e água projetadas numa tela. Suzete Venturelli Mario Maciel – arquiteto pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e mestre em Arte pelo Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília. É professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal e do Departamento de Artes Visuais da UnB. Tem participado de vários congressos e exposições de arte e tecnologia nacionais e internacionais, tais como: Emoção Art.Ficial 2.0: divergências tecnológicas e Cinético_Digital, organizadas pelo Itaú Cultural de São Paulo; Corpos Virtuais: exposição de Arte e Tecnologia, no Museu da Telemar, Rio de Janeiro, entre outros. Ricardo Lopes de Queiroz – Ph.D pela University of Texas, Arlington, Estados Unidos da América. É professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB, onde realiza pesquisas com processamento de sinais, imagens e vídeo, imageamento a cores, compressão de imagens e vídeo. Rafael Galvão – é bacharel em Engenharia Elétrica pela Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Suzete Venturelli – doutora em Artes e Ciências de da Arte, pela Universidade Paris I, Pantheon-Sorbonne, Paris, França. Atua como professora do Departamento de Artes Visuais da UnB. Pesquisadora nível 1C pelo CNPq. Escreveu o livro Arte: espaço_tempo_imagem. Em co-autoria com Diana Domingues, organizou o livro Criação e poéticas digitais. Com Monica Tavares foi curadora da exposição Cinético_Digital, realizada no Itaú Cultural de São Paulo. Participou da exposição Corpos Virtuais: Arte e Tecnologia, no Museu da Telemar, Rio de Janeiro, entre outros. Prêmio destaque no Festival MAD03, para arte digital interativa, Madri, Espanha. Suzete Venturelli é pioneira em arte e tecnologia e atualmente coordena o Laboratório de Pesquisa em Arte e Realidade Virtual, do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília CORPO animações Alexandre Félix - Corpo Alexandre Luz, Roni Ribeiro e William Kosmo - Bipedes Eduardo Lopes – Proestéticos Rafael Carlucci - String Individualmente ou em grupo estudantes de arte, sejam do Departamento de Artes Visuais ou do Espaço Cultural 508 Sul, se aproximam do universo da informática para a realização de suas propostas artísticas. Alunos de Suzete Venturelli, do Instituto de Artes e de Mário Maciel, da Secretaria da Educação do Distrito Federal, desenvolvem trabalhos orientados para linguagens com as quais podem situar suas experiências em relação a questões que permeiam a contemporaneidade. Dessas linguagens, a apropriação dos meios eletrônicos será utilizada tanto para propor um passeio no espaço cibernético quanto para a descoberta de imagens da realidade virtual, tratando da inserção tanto deles próprios quanto a do usuário no incessante fluxo de informações digitais que se apresentam a nossos olhos, abrindo um vasto campo de possibilidades. Nesta mostra, o espectador poderá se inteirar dos resultados das pesquisas já desenvolvidas. Alexandre Félix produziu um auto-retrato montado em várias animações combinadas entre si, com o olho em dígitos que se ampliam e caem em imagens mínimas, autoreferenciais, corpos sem órgãos, fragmentados. HUMANO-PÓS-HUMANO 62 Eduardo Lopes mostra Proestético que é uma animação elaborada a partir de fotos que representam a imagem de corpos se deformando enquanto ganham a aparência de outros estranhos e distorcidos corpos virtuais. Rafael Carlucci remonta numéricamente uma animação cujo ponto de partida é uma imagem pornô capturada na rede Internet. Roni Ribeiro, Alexandre Luz e William Kosmo realizaram uma animação interativa. Subjetiva na forma na qual grupos humanos são observados a partir de um modelo algorítmico que simula movimentos, produzindo perturbações no comportamento de grupos humanos, reações e condutas “inteligentes” de corpos que nunca se esbarram. É um trabalho onde o espectador é partícipe da interatividade, logo, poderá usufruir de um universo virtual estabelecido pela tecnologia digital que provoca tanto a ilusão de uma permanência temporal quanto da velocidade e compressão do tempo, ampliando a percepção estética, projetando-o em uma situação nova na qual autores e coautores partilham do mesmo espaço em tempo real. Mario Maciel Alexandre Félix - graduando em licenciatura no Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília. Alexandre Luz - estudante de Artes Plásticas na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Roni Ribeiro e William Kosmo são estudantes de desenho no Espaço Cultural 508 Sul. Eduardo Lopes - bacharel em Artes Plásticas, pelo Departamento de Artes Visuais da UnB. Rafael Carlucci - cursa Artes Plásticas no Departamento de Artes Visuais da UnB. Participou da exposição Cinético_Digital, Itaú Cultural de São Paulo. CORPO Geovany Borges, Christus Nóbrega, Leandro Lima, Heijy Inuzuka ROHL: o robô Arte e mecatrônica Rohl é um robô foi projetado para ser autônomo como as máquinas que respondem de forma inteligente a estímulos externos, por exemplo, aqueles provocados pela presença de humanos. Rohl é, no contexto da exposição Humano-pós-humano, uma dessas referências onde podemos vislumbrar a aproximação de nossa espécie com máquinas inteligentes e, naturalmente, mais humanizadas. A performance de Rohl e do humano Christus Nóbrega, durante a abertura da exposição, buscou contestar as insistentes reações de medo e aversão das pessoas, transmitidas pelas histórias narradas na ficção científica cinematográficas, que se originaram na literatura, em relação aos robôs inteligentes. Ao contrário, Rohl quando sente a presença de humanos, se afasta e grita com medo: Help me! Aqui é a máquina que tem medo da espécie humana. Rohl é um robô sensível a luz, ele consegue ver, não como um humano, pois sua visão é de síntese. Mario Maciel HUMANO-PÓS-HUMANO 64 Geovany Araujo Borges – doutor em robótica pela Université Montpellier II, Montpellier, França. Atua como professor da Universidade de Brasília, no curso de Mecatrônica. Seus interesses de pesquisa estão relacionados à robótica móvel, visão computacional, filtragem estocástica e identificação de sistemas. Recebeu o prêmio de melhor tese defendida no período pela instituição Club EEA, na França. Christus Nóbrega – bacharel em Design pela Universidade Federal da Paraíba. Atualmente é mestrando em Arte, linha de pesquisa Arte e Tecnologia, pela Universidade de Brasília. Foi professor da Universidade Federal da Paraíba no curso de Design, Arte e Mídia. Recebeu o primeiro lugar na premiação anual do Museu da Casa Brasileira para desenvolver um robô afetivo, em pesquisa arte e robótica. Leandro Lima e Heijy Inuzuka são alunos da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Desenvolvem pesquisa no curso de Mecatrônica do Departamento de Engenharia Elétrica criando robôs autônomos. TERRITÓRIO HUMANO-PÓS-HUMANO 66 Davide Grassi Problemarket.com Performance-web-art O artista Davide Grassi realizou uma performance onde critica a facilidade com que surgem e desaparecem empresas multinacionais ancoradas na rede mundial de computadores. Essas pseudo-empresas estendem seus domínios pela cibersociedade. Pessoas conectadas, em tempo real, repassam milhões de euros e dólares em informações e produtos de consumo com garantia de uma vida melhor. A Problemarket é uma empresa, por exemplo, que compra e vende problemas na bolsa de valores. Isto é, se você tem um problema venda-o. O público assiste a apresentação imaginando que tudo que é dito e mostrado pode estar realmente acontecendo. Davide Grassi, vestindo um elegante terno de Georgio Armani, intercala imagens de vídeo onde aparece com personalidades da atualidade como George Bush e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Representando fielmente esse papel de um bem sucedido empresário, ele denuncia, através de mentiras, o poder da mídia digital em modificar imagens reais, criando uma falsa realidade. O resultado é um grande poder de persuasão, pois ao final de cada apresentação geralmente sempre tem alguém que pergunta se essa empresa de comércio de problemas existe mesmo. Mario Maciel Davide Grassi, desde 1995 tem vivido e trabalhado em Ljubljana, Slovenia, onde tem colaborado com artistas e instituições de arte. Seu trabalho tem enorme conotação social e se caracteriza por uma aproximação inter-media. É autor de videos, performances, instalações, documentarios e outros trabalhos conhecidos por new media. Davide Grassi tem exposto seu trabalho em festivais e exposições como a Manifesta 4, Frankfurt, Germany; ZKM – Zentrums für Kunst und Medien-technologie, Karlsruhe, Germany; ARCO - the International Fair of Contemporary Art, Madrid, Spain; ISEA 2002 – 11th Interna-tional Symposium of Electronic Art, Nagoya, Japan; the Biennial of Buenos Aires, Museo Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires, Argentina; Art.ficial Emotion 2.0 – Technological Divergences, Itaú Cultural, Sao Paulo, Brazil; Bell Gallery, List Art Center, Brown University, Providence, U.S.A.; IASPIS, Stockholm, Sweden; Moderna galerija – the Slovene Museum of Contemporary Arts, Ljubljana, Slovenia; MNAC – National Museum of Contemporary Art, Bucharest, Romania. More: http://www.aksioma.org/facts.html ENGLISH VERSION The Centro Cultural Banco do Brasil is pleased to present the Humano-pós-humano exhibition. It brings together art researchers from the Universidade de Brasilia, Espaço Cultural 508 Sul as well as the Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, whose works deal with the body’s limits, emphasizing the discussion about the concept and support, which characterize the contemporary view. In synthesizing the processes of representation, presentation and simulation of the human being, always stimulated by the incorporation of technologies and by interdisciplinarity, Brasilia´s artists present works created in traditional technics, such as painting, sculpture and photography, as well as in contemporary media, such as video and the computer. The result, which presupposes cultural paradoxes of post-modernity, translates itself into varied visual poems, which invite the spectator to reflect about art, ethics as well as human relations, as they are presented in our time. This contribution from Brasilia´s artists to the panorama of Brazilian contemporary art affirms the quality of local production which the Centro Cultural Banco do Brasil presents to the public of Brasília, among significant art and cultural productions of present. Centro Cultural Banco do Brasil about what it means to be a human being from Brasília, a Brazilian, within an Earthly identity, presently living in a globalized, with multiple references, computerized and turned to a complex society by conflicts as well as political, economical and social differences, where the individual faces with surprise the recent ascension which he or she has got from the right to have a notion of humanity and finds him/herself surrounded at the same time by the individualization, objectivity and subjectivity. Seing art as research, inventing and having the possibility of hybridizing different processes of creation, the artist became even more susceptible to the metamorphosis of the human being, his body, his mind, his set space. The post human concept has been used to identify an era overfilled with technological development which became part of our species evolution for some authors, thus transforming technology into something irreparably necessary to the democratization of education and culture as well as something somehow indispensable for the reflection on the human condition and the survival of all the planet’s species. The visual, musical, scenic, literary arts are not only esthetic things, they are schools of life where one learns to see others, himself as well as the imersion of the concept of humanity. Humano-pós-humano in contemporary philosophy Humano-pós-humano HUMANO-PÓS-HUMANO 68 The Humano-pós-humano exibition presents unseen works, specially created for the suggested theme. This exibition brings together for the first time at CCBB a group of artists from the city of Brasília who are art researchers, doctors and masters, professors from the Departamento de Artes Visuais of the Universidade de Brasília. Other selected artists are students, ex-students as well as probable future art students. Artist professors and students from the Faculdade de Artes Dulcina de Moraes and Espaço Cultural da 508 Sul were also selected. The selection of artist researchers corresponds to a thread of the artistic curator which presents art as research, thought and knowledge. The curator defends the idea that university teaching causes nearing to art, science and technology. The university environment inserts art, together with other areas of knowledge in the center of discussions as well as reflections about several interests and present matters. Matters such as the world, Earth, life, humanity, body, identity, among others, are natural references for the thought, that is, references which are present even before we become professionals. Such references have promoted the formation of groups of interests in society which are connected to the so called culture of humanities. What does it mean to be human? This is the question that scientists, philosophers as well as artists are seeking to answer through processes of research and refleciton which lead to discoveries, inventions and imaginable things. These processes are, very often, even in opposition, found in the center of passions, since they back up the human being and give him the word. This exibition which defends the totality of passions presents the artist’s view In contemporary philosophy, the human being is what he himself can and desires to become. For this reason, he is constantly a problem to himself as well as a solution to this problem. The human being continually projects his way of being or living and, very often, this project becomes his actual way of being or living. The present philosophical thought finds support in biological theories, and viceversa, for which the human being is a self-poetic system which continually creates and specifies its own organization and its own limits. Many contemporary thoughts and theories converge on the sense of improving the understanding of our species. In this sense, the Human/post-human art exibition attempts to show how the revolutions and new ethic-esthetic paradigms in the fields of biological engineering, computing, robotics, philosophy, and art reflect themselves in the artistic imaginary world. In other words, it attempts to show how the city’s contemporary artists presently imagine the human being in their representation, presentation, interaction as well as simulation of the body, thought, action, sensitiveness, dwelling environment, as well as the relation which has been stablished between reason and emotion, objectivity and subjectivity. In the beginning of the 20th century, the realistic image of the human body was questioned due to the invention of photography and cinema. The artist free from the function of representing reality as well as religious, political and social ideological restrictions, found other ways which drew him closer to philosophical, scientific, technological, perceptive, psychological, cognitive, emotional, daily, ecological, media, among other issues. On the other hand, the diaolgue between art and the image of the human being persists in most artistic movements, as can be observed in art history, now remodeled, imagined, and related to the spectator’s body, and with the artist’s own body in multisensorial aspects. In this wise, the human presence, at times was conserved, while in others was celebrated, invoked, critisized as well as virtualized, in other words, it was distributed through connections belonging to telematic culture. Some people say that we are, in greater or smaller levels, becoming Homus Telematicus – telebionic creatures. In order to show the importance of these issues, a thematic exhibition was suggested in which each artist presents his or her view of the theme using different material and support. In this context, the works presented can be analyzed without technique but, at the same time, tried to show how much they depend on it. Some artists use plastic art techniques such as painting, drawing and sculpture, while others use support and more contemporary technological means, such as photography, video and the computer, others, still carry out a hybrid creation process of techniques and new or more traditional technologies. We agree with the Italian theoretician, Mario Costa¹ when he says that every artistic vision registers itself in a necessary order connected by intrinsic logic, to the materials and techniques, where each technique transforms similar preexisting techniques in various ways, inserting them in a new time-space, by which they modify themselves. In other words, every new technique permits different procedural ways of work, explored exhaustively by the artists. Thus, it is emphasized that cultural messages are derived from the techniques invented in each era. Another aspect refers to the possible comparison that the exhibition may provoke among the thoughts produced at present in the artistic field as well as the questions raised by the artists in the beginning of the 20th century, a moment of revolutionary changes as well, in a social and technological context. Finally, the exhibition made it possible for research professors, of the Departament of Visual Arts, of the University of Brasília to apply their knowledge at the Centro Cultural Banco do Brasil, a top spot in the city, evaluating, in a way, the variety of theories about expography, art criticism, visual programming, cultural production, among other interesting topics involved in artistic research presentation. Thus, the expography proposed by Elisa Martinez, a Phd. and professor of the line of research, Theory and History of Art, Master of art, of the Department of Visual Arts of the University of Brasília, was elaborated as a result of concept approximations established among artists. In a similar line of research, the criticism and analysis of the artists works were carried out by Grace Maria Machado de Freitas, a Phd. and lecturer of Theory and History of Art. One of the first theoreticians to elaborate critical texts about the city´s artistic production, she tried, in her critical reflections, to show and detect the paths through which local contemporary productions are validated. Her texts consider, apart from the History of Art, aspects originating from psychoanalysis as a basis for interpreting visual poems which analyse. The visual programming and architechural project, coordenated by Mario Maciel, master of Arts, professor of the Secretariat of Education of the Federal District as well as the Department of Visual Arts, based themselves on the existing transition relationship between the human and the post-human, concepts that are part of the theoretical discussions and in artistic reflections. The stage production was done by the artist and professor, Miguel Simão, head of the Visual Arts Department. The educative project was coordinated by Terezinha Losada, Phd and professor of the Undergraduate course in Plastic Arts, also active in the Visual Arts Department. His proposal widened the initial discussion of the exhibition theme, introducing prefixes such as pre and anti-human, among others, as a subsidy to widen new connections with other areas of knowledge, that can be imagined in the learning of art through didatic material produced exclusively for distribution to teachers and pupils of schools in Brasília during the event. The artists were chosen according to the themes, as they had already been selected by the curator, for representing some concepts related to human/post-human themes, in developing their works. This way, some artists are interested in the possibility of creation originating from individual experience, interior, personal, subjective and in the tradition of plastic arts. As a characteristic we highlight the multiplicity of attitudes and approaches, such as consequences resulting from the liberty to search for ideas everywhere. Their works carry different meanings and for that reason can be seen as if representing something, like the expression of gestures, the body, scenery or other realities. The use of images and media serves as a paradigm of the eclectic nature of some works which have photography as a common technique. Moreover, they present different concerns such as the relationship between art and its environment, the modification of the body by science and technology and the influence of technological means in transmitting the body´s image. Some artists, still present works that question the use of technology, at times criticizing, while others presenting utopic ideas about the era of information, cybernetics, globalization, which have modified the human and its society as never seen previously. Some works refer to kinetic and cybernetic stetic models, that generate interactive systems which provided a kind of stetic communication between the public and the computer program (software). A kind of game which is given by the instalation of works involving machine systems, projections and other means. On similar lines, i.e. a post-human context, an art and robotics research was selected to be carried out at the opening ceremony of the exhibition a performance involving the human and the machine, which questions possible relations that can originate from this exposure, such as sentiments of tranquility, fear, anger, joy. Works done by students of the Espaço Cultural 508 Sul were also selected, and the animation subject, of the Visual Arts department, of the University of Brasília. They are examples of artistic works which reflect the post-human concept according to the close relationship established between art and technology in the processing of information using computer tools. These works possess the necessary potential to seek a symbiose between rational thought and stetic creation, as they approximate art of technology. Consequentely, in relating with the technoscience world, serve as stetic elements practically excluded from the field of plastic arts in general, for being considered incoherent, and is similar to those related or generated from mathematical thoughts, science or Engineering. In order for the exhibition to permit a greater contact between the public and the artists, a programme of guided visits with each of the artists, at different momments, was organized, in which each one would show in more depth his or her trajectory in art. A trajectory that passes through the learning institutions of different countries and Brazilian universities, that permit the qualification of artists, teachers doctors of art, participants in this local event The launching of the catalogue after the opening of the exhibition was planned that way in order for the registration of the works on display to be made possible. This way the memory of the exhibition will be faithful to the momment of its occurance, registering a history of local art. The launching coincides with a roundtable meeting comprising of participants of the exhibition as well as the coordinators of the Centro Cultural Banco do Brasil. Suzete Venturelli Curator ¹ COSTA, Mario. Por uma estética das redes. In: Parente, André (org.). Tramas da rede. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005 Humano-pós-humano: educative program The appreciation of art works through visits to museums and galeries became a demanding component in present art teaching. This contact with art and cultural goods is important because it allows the development of the student´s esthetic critical sense, as well as his/her capacity to communicate. Nowadays it is known that in order to understand or produce “texts” – being either verbal, visual or in any other languange – the student needs to have access to different codes of representation, thus building up a repertoire of language syntactic and semantic possibilities. According to the Information Theory, very familiar things, or things which we do not know anything about, are not realized by us due to our absolute lack of interest. The creation of the new, as a recontextualization of the most trivial aspects of life, is an art characteristic. For this reason, capturing and understanding it is often very difficult. Therefore, the main duty of those who guide students in exhibition visits is to stimulate their capacity to understand, amplifying the limits of their cultural references. I have been doing researches which the aim of listing theoretical tools and didactic approaches that allow the stimulation to understand image in art teaching. The strategy which I have adopted is very simple. Instead of providing the students with interpretation done by scholars, I first work only with the structural concepts of their discourse. Once familiar with these concepts, the student is invited to identify the scholars’ opinion or no opinion about different works through successive comparative analyses. Along with this process, texts are introduced bringing the interpretation of these critics and historians or art. Obviously authors who are remarkably structuralist make favourable this kind of approach. However, every critical text has its criteria, even if it is written in a unconstructive way. It is also certain that the pride of the students when they see that their interpretation does not differ very much from that of the authors is somehow induced. However, paraphrasing Gombrich’s considerations about art, one must consider that the criticism is also developed from “predecessors and models”. I have worked with two kinds of texts. The structural character of the language theories provide key concepts which allow us to analyse all sorts of images as they are realized by the student at present. The concepts of art history, on the other hand, inform us about the contingencies of the work production. In the first case, the synchronic view is stimulated, having as its core the student-receptor. In the second, we saw the diachronic view which the context of the artist-sender is analysed. The elaboration of the educative program of the Humanpost-human exhibition forced me to face several difficulties to set its theoretical references. First, there are a great number of artists presenting works in several techniques: picture, drawing, painting, sculpture, installation, performance, photography, vídeo, web art, eletronic animation. Added to this there is yet the fact that the works to be presented are unseen, and many are still being prepared as the instructors are being trained. Finally, there are few critical references about the artists. As for this later issue, the visit of curator Suzete Venturelli and the art critic Grace de Freitas, as well as the artists statements during the planning of our work was very important. After this cooperation I decided to design the references about the works together with the studentsinstructors from their own interpretation. Two groups of structuring concepts were used in this process: Jakobson’s classification of functions of language and a set of elaborated categories about the thematic mainline of the exhibition which is the human being and his virtual overcoming (post-human) in the contemporary world mediated by the technologies. In Jakobson’s classification, the sense or function of the message is identified through the observation of the way the several constitutive elements of the communicative processes are emphasized: sender, receptor, referral, code, channel and the message itself. Considering that the art work emphasizes the poetic function, in other words, the way the message is elaborated, so, the other categories function as conceptual keys which allow the investigation of how the poetic discourse of each artist is developed. By pointing out the importance of the channel in the communicative process, Jakobson was one of the first scholars to discuss how the different supports or means of communication affect the quality of the messages. For sure, McLuhan, his contemporary, dealt with this aspect more deeply, foreseeing, from simply the advent of the television, how the media would become an extension of our bodies as well as the stage of human experience. Undoubtedly, the diversity of the media is a more evident characteristic of the human-post-human exhibition. In it, traditional artistic techniques, technological production of images as well as the appropriation of daily objects, remarkable aspect in the art installations presented, are involved. However, there was no intention to segregate the works as being connected to the concepts of “human” or “post-human” exclusively by Jakobson’s criterion of factic function, which deals with the supports and channels. This compared to other Jakobson’s theoretical categories and other dimensions of the works were analysed in relation to each other. In relation to the code, the remissions that each work made to other artists and trends, present and past, have been discussed. The emphasis on the sender is identified by the subjective mark or the confessional aspect of registering the artists personal experience, a characteristic which becomes very visible particularly in the photographic works of the exhibition. The receptor pole itself allows the analysis of the kind of relation art has established with the public. The direct interaction with the spectator, transforming him/her into a co-author of the works is an aspiration pursued by art since early times. The new technologies potentialize this conversation, redimensioning the concepts of time and space, as highlighted by the proposals of eletronic and web art presented in the exhibition. However, this interaction also happens in an indirect way, via contemplation, when the work induces the receptor due to its ludic, enigmatic, dramatic, logic, erotic and lyric aspects. Finally, the referral function investigates the possible sense existing between art and reality, in this case, the human and the post-human. In order to deal with this thematic mainstream, suggested by the curator, four categories were developed which aimed at discussing the limits of the human concept, synthetized as: pre-human, human, post-human and anti-human. HUMANO-PÓS-HUMANO 70 Evidently, all artistic work is a human manifestation. However, it was sought by these concepts to investigate what kind of referral relation each artist was stablishing with his/her world, specially about his/her representation of the “body” and “territory”, concepts defined by Grace Machado de Freitas. The pre-human concept is concerning the “state of nature” quoted by Rosseau, what human beings have in common with animals, their instinct, body physical abilities and interaction with the natural environment, without territories. The human is the universe of culture. That does not refer to nature, but to the world created by human inventiveness. Since early times, humanity has been defined by its instrumental ability to produce tools (technologies) as well as the symbolic capacity of representing its experience through language. The post-human is the maximization of human inventiveness, which is, the ability to create or destroy its own nature. Derived from the superdevelopment of technology and language (information) this new dimension or stage of humanity is marked by atomic researches, genetics, the expansion of robotics, artificial intelligence as well as virtual environments of interaction. The anti-human is therefore the mark of this inventive power of the human being. It is the ground of politics and ethics. Considering that we can do everything with our unlimited intelligence, then we should ask: what do we want? We know that it is not up to art to define what is true or false – the task of science. Neither what is right or wrong – the task of ethics. Nevertheless, in its poetic perspective, art has always mediated all these fields as highlighted by the theme and works of the present exhibition. From the eminently syntactic structure of Jakobson’s concept and the more semantic aspect of the above mentioned concepts, my student-instructors and I started discussing the works of the exhibition. By this critical exercise, full of improvisations, we developed labels about the art works, describing their unique characteristics and their nexus with other art works. These labels are still been fed by the instructors with new data collected from the artists, the public and the interpretative insights of the instrutors themselves, information which os discussed in our evaluation meetings. Seeking to guarantee this same process with the students who would visit the exhibition, none of the concepts was illustrated with the works of the artists in the graphic material of the educative program. On the contrary, the folder was produced in the form of an album of stickers, permiting the visitor to detach and stick the images that he/she matches to each concept. Finally, comparing the syntactic characteristics of the works to this network of semantic possibilities, the educative program aims at stimulating the visitors to construct their own interpretations about art and about the contemporary world. Terezinha Losada Educative Program Coordinator This exibition draws the art universe nearer to some of the reflections which are thought to belong more to fields of science and technology. Had not art been able to penetrate and surpass barriers, move foward, infiltrate itself and subvert the most unverifiable destinations of other areas of knowledge, not the ones provoked by art istself- as it has been evidenced throughout art history - , the capacity it has to antecipate itself, gaining space and making visible grounding elaborations for humanity, which were only made concrete after, that alone would make this issue of belonging inadequate. In this case, at Centro Cultural Banco do Brasil, we seek to provoke, through the esthetics experience set by artistic production – material and nonmaterial – presented here different ways of realizing contemporaneity as well as the role of the individual in relation to specific matters of present art and life, rich of reflection na pleasure. It is with this purpose that the Instituto de Artes of the Universidade de Brasilia brings together artists of different qualification, with autonomous tecniques and languages, to exibit their ideas about themes which cross, take away the peace and disturb life in the 20th century. Although this is not a colective art exibition, there are at least two common practices which feed it: professional day living with art and the continual exercise of its teaching, since the works presented here belong to artist teachers, students or graduate students. In a dynamic relationship, the systematization of thought feeds the action which provides data for study and reflection, producing an articulation of concepts which will allow us to register human experience connected to the questioning of art and its own production conditions. For this, practices which are different and convergent at the same time ( evidently seen in a walk through the Department of Visual Arts, where one may attend studios “smelling turpentine” as well as “inodorous” laboratories of computer art and classrooms for theoretic classes) signalize that there is not a style in the attempts to build an esthetic universe, but a formal necessity of its own in the making of new realities by the expression of the artistic gesture of each one. In this exibition, independent on the fact that the works presented are in line with traditional languages and supports, such as drawing, painting, picture and sculpture, or those, resultant from instalations or performance, or even those which are a result from technoscience in interactive works, they are expressions in a real, poetic, virtual and very often visionary way which make new realities as well as invite the public to the exchanging of esthetic experiences, ideas and reflections. Thus the observer will be able to go through a drawing in this Human-post-human exibition following two lines which complete and entwine themselves, showing many others which may come from the two, drawing, specially, body and territory limits, the body written in a surface and in an established space-time. In this drawing, it is the works that bring questions – answered by themselves- by unique and several ideas with which they are created. In its matters and forms, they inform. On the other hand, they demonstrate and point out the necessity to understand what happens with the human body – as well as the post-human potential – broken up in pieces by globalization or dehumanized by the possibility of using bio-technology resources, redefinition, fragmentization, animalization, machinazation, sensority, dissolution and death. In opposition to this, the territory where this body is written, moves, dwells, contacts and penetrates the spaces of the scenario, either real or imaginary, urban or arquitected or even subjective, or as far as the territories which extend themselves through virtual amplitude or through an endless cosmos. This is the drawing of some of the discursive lines exposed to the perception, willing, capable of inovating our ability to imagine the multiple ways of living this meeting with an esthetic experience which creates new emotions and senses from the works which these artists offer Brasilia. Grace Maria Machado de Freitas art critic The architext and the intra-human: reflections about museography The installation of a thematic exhibition such as the Humanpost-human, offers us a series of museographic options to be considered, which originate from the question: how does one give visibility to everyone at the same time? The answer materialized in the expography of the event, could have been avoided and , with this objective, we would create niches to protect autonomies and prevent contamination. We should also have considered that the dissimilarity of the set be a field in which some brands should be introduced in order that the visitor be guided through a correct reading, without the possiblity of breaking up. If by chance, this was our perspective, we would be creating a new modality of curatorial procedure ans the set of art works displayed, instead of providing a porous configuration, to be penetrated by various interpretative codification procedures, would be organized in an excessively compulsive. Since the beginning, it seemed possible for us to build up a network of spacial relations in Galery 1 at CCBB which did not overlap with great authority the concept of the prime curator with which we seek to build an open space to flowing and non-linear reading. According to our understanding the exhibition does not have a subtitle. Human-post-human is a reiteration of humanity in two instances, one about its origin and another one about its qualification, by means of artistic judgement of the exhibited works. We see in the written circularity of the title an echo of the circularity of each of the two environments of the galery which are interconnected. Thus, the articulating particle – post – found between human and human implies the return to an unyielding condition. This articulation, in our perspective, could not be segmented in individualities or authorships, under compartmentalized territory form in which the vision of space among the works would not make sense. The result may appear extremely formalist, as we avoid the use of pedagogic titles. Nevertheless, the option of na open dialogue among the art works and – why not? – with its respective authors, has the goal of offering a visiting experience as pedagogic as that offered by a thematic exhibition. In this wise, the art works are distributed in galleries to facilitate the understanding of proximities and comparisons between forms of approach of the main theme and its complexity, taking into consideration the different plastic qualities which originate from different means and artistic processes. This is about valuing the look before other perseptive processes. For this reason, the sensitive and cognitive journey of the visitor is based upon the look that is taken by surprise as each work is approached and the corresponding localization in space of this journey, which expands and overlaps itself, like a network of coordinates, in the gallery space as well as its environment. In this journey of the look, the art works are related according to their perceptive qualities: they possess material and configurations. We could have, based on this finding, grouped the art works according to their process or figurative similarities. In the first case, we would have divided the group into two according to the level of adhesion, more or less, of each artist in his or her use of digital technologies. The other option would be to consider the distinction of two groups based on their level of iconicity. We could also have opted for a separation based upon the use of chromatic varieties: monochromic works with White áreas, works for display predominantly monochromatic and polychromatic art works. Perhaps, in this case, the result could have been fun and produced a certain organizational logic. Nonetheless, the predictability which reduces perception to a mere quantifying game of areas and chromatic intensities was discarded. In case the title-theme of the exhibition was considered in a literal sense, there would be the possibility of dividing the set of art works into groups according to the level of adhesion to the human, whose figurativeness was limited to the anatomy of homo sapiens. Perhaps then it would be possible of creating a taxonomy of the configurations of the human in the visual arts. In a certain way, non-orthodox, this can also be na e of the set displayed, in case we are concerned about establishing a rule of precedence for the form-content relation at the exhibition. The theme which was proposed to the artist generated a repertoire of possibilities of data interpretation to the theme by the exhibitors, visible in the variety of techniques and styles used. For this reason, we will avoid any kind of segmentation with the distribution of the art works in the space which could lead to an over evaluation of a particular category: technique, authorship, size, use or not of pictures, use of verbal language , way of intereaction with the public, geographic origin of the authors, cronology among many others. A habit makes us understand the Human and post-human like two antithetic terms, but we do not consider that this is the relation suggested by the exhibition. The post-articulation finds itself in the space among human beings. Consequently, if the set of artworks has the totality of the relation proposed by the title-theme distributed in an exhibiting space, each element-artwork is an organ which contributes to the unity of the text-exhibition. This text-organism results, therefore, from the intra-human relations which are produced in the field of visual arts. The perception of the text-body which is the exhibiton set up with a selection as well as a combination of expographic procedures, demands the acknoledgement of its interanl polyphony. In fact, a criteria of relations could have been overlaped with such vehemence – using scenographic resourses which would make us lose sight of the artworks, as if these were not significant enough – one single voice overlapped – authoritative – by means of which the heterogeneity of the set would be pacified. Thus, the peculiarities in the ways of reveling an enunciative making, in each exhibited artwork, would be covered by a artificial monophony, which may be a solution to modulate the perceptive experience in the face of a set of varied artworks. And even though the aspects of sequencing and succession have been foreseen in the museographic project we made, there is no intention of progressivity, in the utopic sense, or of valorization of a narrative construction in which they would be opposed to the more human than post-human actions as if they possess an arqui-human. That way, the final configuration of the museographic project arises from the challenge of making choices which potentialize the limitations of the exhibiting space to shelter all the exhibited artwork as if all these have, in a kind of prenuptial agreement, been created especially to share the same place. Our work involves capacitating a team of expographic possibilities sensitive to the creation signs of the artworks as these were brought up by the artists. It is intended, therefore, to share this process of configuration of the set with the visitor: in which measure each work occurs in relation to the title-theme, the galery-space as well as the other artworks. In the organism, signs of disordered rythm are identified in their components as manifestations of integrity that is uncorrupt by a monotonous unit. Finally, it is important to remember that the existence of an exhibition does not mask the specific temporalities of each artistic process. And, just like an organism, identifying and understanding the interactions among the functioning of its organs will be, for everyone involved, a great opportunity to create human interaction situations. Elisa de Souza Martinez museography Maria Luiza Fragoso Eco-Urbe 1 project multimedia for urban intervention HUMANO-PÓS-HUMANO 72 The loving object in which the artist transits is Brazil. She elaborates works with experiences, existences and the senses by routes and highways, she traveled up to where her Tracajá led her, in the country boundaries, through towns and villas, villages and cities, monitored by satellite and extracting scanner images, of point by point. From this route, resulted an data images bank always in expansion and maps registered in G.P.S. The artist works then, with two different perspectives: her own, by the camera visor, and the satellite is eye, that penetrates in the field scanning depth. This way she captures and appropriates images with which she establishes a “logbook”, transposes realities, instituting her artistic materiality. For this exposition, Maria Luiza Fragoso proposes to the spectator a game that, abstracted from her purpose and her logical sense, turns into a joyful discovery about the multiplicity of Brazilian discourses. It is a joining satellite of aerial views and views of urban apparatuses, such as a market, taxi point, bakery headlight or other thinks, overset on the graphic drawing of the maps, over transparent panels, allowing the visualization of each one of the layers. Subverting the order, the artist exposes real images of two cities, -Brasília and Morro de São Paulo-, which one opposites starting with their topology, -Plateau and Relief-, even in their functions, or else in their outline and origins. Follow the itinerary, stopping at each point, at random, discovering affinities and contradictions, opening pathways, contouring obstacles and to turning the offered images into starting points for a travels from where the original contexts are with drawn to see so many others in the perception, in the reflection and in the imagination. Up to that point, in the territory of the boundaries where art, through the look with which the artist conducts the spectator can follow and to go beyond. Sílvio Zamboni All the cities Instalation art, digital photography Sílvio Zamboni establishes a reflection on the architecture of Brazilian cities, that act like history scenes, memory or utopia, cities that are recurring simulations of a baroque or imperial iconography. This iconography is worked in fragmentary angles and discerning light in digital images captivated by the artist that, like a flâneur, strolls, registers and underlines with his optics, the mark of human passage, his architectural language and, traces of life in artificially built spaces. His focus is the relationship with the city and the way which it lets affect one sometimes by the configuration of buildings, sometimes by traces and actions that the human presence provokes, attracting the visor of his camera. In this installation, he invites the spectator so that, from the illuminated image in backlight of a Marco Zero, Km. 0, for “All the Cities”, one takes part in his look, under diversified points of view - of the ground, skirting board, steps doors and windows, and sidewalks up to roofs and towers - and one established one own route. In this piece of city-show that is extracted by the artist’s look, emerges the question of his visibility and figuration in the details, cut out of his space and time, always apprehended the external side, of the street, passer-by place. Images of live memories cross walls and stones, like the mosses and vegetations that grow through their rifts and fissures, they insinuate by the arm resting in the window, by the exercise of banal crafts, by the transformer of the electric network that lights and illuminates the lapses and confuses the forgetfulnesses. City as reality, image and symbol for his inhabitants and for the passengers, trustee of a memory or of a utopia, present in the Brazilian imaginary, is what the artist Sílvio Zamboni places as reflection for the passers-by that travel by his installation. Cíntia Falkenbach Cerrado Engraving in metal, water-strong and tip drought The act of happening in surfaces is the ancestral artistic practice that survives in humanity’s history and, contemporarily, the fact of cohabiting with impressions generated by high technology or supports other that not the paper, does not mean that engraving, just as it developed has lost space.. On the contrary, this production, above all in Brazil, increasing and disseminating, Cíntia Falkenberg is an engraver and works with wood carving and engraving in metal, where she keeps the importance of looking, at the present time of artistic productions, the representation of the not current element, where many times anachronically join. In this sense, not only the engraving is surviving in this history, but the landscape representation, art history gender, centuries after its invention is an object to be used as much by the artist, as by the spectator. In the same way, as motive for art, nature is an inexhaustible source and, when taken as motive, can answer our own needs to establish a relationship with her and with ourselves. For this exposition, Cínthia Falkenbach presents a series of engravings in tip drought and waterink, where she explores and examine in detail the nature of the cerrado. The artist works the metal matrix, in loco, elaborating one continued space with its own organic unit, taking from the landscape its constitutive elements: it documents them, describing them and shows them. Bird’s eye views show the spiny vegetation that she translates cutting in its trace, reliefs and stones that acquire a value of softened mass, as well as human’s vestiges that can be glimpsed in constructions, in the distance. The artist reproduces a vision that loads the memory of a place and of a moment still little domesticated by the invasive activities of her enterprises bringing, with the subtle force of their engravings, the landscape beauty where she inscribes herself and inscribes us. Terezinha Losada Série Vermelha Wax pencil over paper The artist Terezinha Losada explores Brasília’s spaces and submits them to a pictorial treatment over several surfaces. Her paintings on canvas or carton paper, in contrasting colors or in the use of gamma that go from whites to the greys, bring the relationship that is established between city inhabitant, the urban space, voads, tesourinhas and axyes and the architecture of living, its interiors, corners and environments. She builds her paintings with color, in wide gestures that reorganize the surface, sometimes in contrasts, sometimes harmonizing the tonalities, reproducing noises and speed in time fractions and in space settings. The series of drawings on shows, in contrast with her paintings, bring a graphism of writing words with a continuous trace, almost scratched with one single breath, printing the passage of her free hand that is exposed sometimes with precision, sometimes transmitting the sensation of hesitation or undecidedness about the direction to follow through which the spectator receives that nothing there goes by chance. In her trace, trying to transmit an effect, mark borders, reveal a sense or model of an operation, the line, worked in white chalk over a red support, illuminates the distorted or anamorphics effects of details out of scale, taken out of some empirical and personal geometry treat, incorporated by the experience of cohabiting in the architectural and urbanistic space of Brasilia. Outlines are defined, uncertain by to the internal space of the surface, drawn under the reflex of artificial light. For this series, these pictures, hand products and of the artist perception, Terezinha Losada says: “In this work present the light, reduced for graphic element, as only inhabitant of an interiors illusory architecture”, placing the spectator in front of the ambiguity of the presented proposal. Elder Rocha Pisces Notius Painting-installation Elder Rocha builds his way in the fine arts - in painting, more specifically -, without fearing the challenges to which he proposes to face and dominate. He talks with the past and with the contemporaneous, he experiments and takes risks in his pictorial territory, in the conception of a personal work. He uses multiple supports and a wide chromatic scale to elaborate combinations that are expanded in series. He establishes senses, always polyvalent, in the provocation that he produces for the meeting that he arranges with the spectator and his pictorial proposals, through an appeal to the eye, to the imagination and to the memory. Pisces Notius is the title that the artist gives to his own work, in this exposition. It is name of a constellation, from an old astronomy book.. Gathering heterodox materials, he works with objects appropriated from a universe that is related to his pictorial interest, such as pieces of wood, rubber dolls, bubbles of acrylic, cloth chess or striped cut, oil and silicone painted, pointing to proposals delegated by modernist painting. With these elements, transformed by his gesture, the artist formats a stellar group in figuration and movements which one not conventional, presenting a light spectrum and space brightness, in opposition to the opaque surfaces, building a pictorial materiality. From there onwards, the spectator is welcomed in an ambiguous territory that goes from a terrestrial, domestic situation up to children’s memory kept in toys which are anything but innocent, to the contemplation of galaxies and celestial bodies that opened up to an immensity of meanings that only the work of art can produce: “Sometimes, you will say, hear stars!”. Miguel Simão Sem título Stone sculpture Miguel Simão works traditional materials of the sculpture such as stone, mud, wood and iron, besides foam and other elements, such as his own tools, in metalinguistic constructions. Forging that material, he examinees through pertinent questions modernity, modeling a language sustained in contrasts – hard / soft, filled / empty, weight / lightness, quietude / movement -, translated in dimensions sometimes almost monumental, sometimes on small scale, demonstrating a sculptured structural qualities vision of his presuppositiens. Transversal immersions in surrealism and in minimal art, took out some questions. Columns and the series Shoes, in which evidences phallus and fetishism representations, resulted in proposals with which the sculptor reflects on his creation. For this exposition he elaborated a sculpture in granite stone – that holds surprise of his own conformation, discovered during the process of his sculptural act -, homage to Balzac and Rodin in his brutal volume. In his external configuration, he establishes tensions between flat surfaces pleasing to the touch and rough one at the same time in which it his external configuration, at the same time in which he superimposes geometric form on organic form, establishing a relation in his operation. Going around and touching its closed and bent volume, the spectator discovers a small volume produced by the excavation in the stone, of a different coloration and shine in the frontal part of the sculpture, whose aspect compels on to a voyeur attitude and one of tact, in as far as she is show in the bowels of the sculpted material. Who spies sees and touches a form that alludes to the feminine sex, provoking another tension inside the sculpture, between bright and opaque. Fragmented pieces of the human, male and female body, one and another or, one in the another appear open and denote a passage from one identity to another, affirming it, denying it, dislocating it or conjugating it. These forms acquire metaphoric values which point to the dessacralisation of sexuality, a recurring object of present-day art, transferred to the order of the social, in the loss of its archetype stature. To the spectator, provoked by the explicit force of work that the artist proposes, remains the choice between attraction, the repulsion or the disturbing strangeness that transpires from it. Clarissa Borges Simulação do corpo Manipulated digital picture The photographic language was the choice that Clarissa Borges made. She was seduced by an art more directly linked to the reality - realistic art, by her own nature -, with which the complexity of the relations that she establish can be perceived . Using a digital camera and Photoshop program, she develops a work that brings several questions that one sometimes treated with ambiguity, sometimes ironically. I refer to works accomplished with the body, its fragmentation and its dissimulated recomposition or, like postcards sights that lose their characteristic of sights with the interposition of bars that blind them. In the same way, she captured images of her own body in sole performances, seen her self through the camera visor, cutting out pieces to manipulates them digitally, building other composition, or yet, in the registration of performances by other characters, shuffling points of view to configure others, as well as, in a questioning of couples’ routine companies, using exchanging of eyes, in the belief that there exists in the common sense of which this possibility is inherent to a life situation. In this exposition, she shows the result of a photographic image, operating the composition of three images, entitled Simulacro do Corpo in black and white and fragmented images of a nude male body. They are defined in an assembly and collage process by the artist. The result is a game that is hidden revealing the nature of representation, reduction and sign. Folds, articulations, hair textures, skin and meat belong to a plot which reports on the organic image by the distinct interference from the shadows and lights action, expressing a conception and volume form that resounds in volatile visual evocations. Suppressing the unit of the body and filtering details, Clarissa Borges propitiates her transformation, her mutation and her consequent abstraction, proposing new meanings for the spectator. Bia Medeiros e Corpos Informáticos Ponto Cílios video art (Performance in telepresence) The research goal of the artist Bia Medeiros is the body. Close to the successive groups which she constituted, always preserving the original nucleus, she situates it in the universe of an effective communication, mostly in performance, made possible as much by telepresence as by video performance production, as well as the practice of other art languages propitiated by technology, like video art, video installation and the photography, as well as Internet exploration as an artistic field. Like a group, the Corpos Informáticos acts in the expansion of the notion of subjectivity – the we -, turning it interdependent, opening as much to the public’s participation as to its insert in other groups, mostly in dealing with performance in telepresence. In this exposition, the spectator will be able to experience the representation of one of her proposals, entitled Dot Cílios, through video art undertaken from this performance. The closed environment of a room that is prolonged in a garden, previously determined in a software, with address and windows, is transformed into an planetarium environment, where online guests are urged to participated in the proposed action, set to happen on such day and on such hour. Another time-spacemovement’s dimension and interactive sensations result thence, with borders that are difficult to establish, sometimes, limitless. An action starts. The body of an actor is drawn in relief, with lines configured by eyelashes cut out in paper, put over her skin in several directions, giving an animality character. From waving, twisted and contorted movements, she is contaminate by becoming animal with skin, hair, breastplate and instinct, identifying herself with the telluric forces of this kingdom. Sounds and images dialogs are sent and received. Every participant produces his own poetic and has control over his own screen. Then, from there onwards, who knows the direction of the wandering ships? Nelson Maravalhas Transposições no Huysmans O Porco Uiva para o Sol Canvas The painting of Nelson Maravalhas brings a character of constancy in all his trajectory as a plastic artist: This hipnagogic expression. His work is made up of visions captured during the vigil state, situated between shallow and deep sleep and can be followed and elaborated up tp its definition. They are not dreams, as surrealism brought to art, approaching the emergence of the unconscious. In this case, they are the physical effects which one under control that establish images in relation to what the brain conceives. The artist created paintings with the which he establishes a particular relation of strangeness. For this exposition, Nelson Maravalhas presents a diptych, worked over some years. In waves that flow and flow back, it describes the textual transpositions in pictorial transpositions, translated in a literality, which is dubious and as in all translations, commits betrayals to register and propose his own poetic. On one side of the diptych, a text on canvas describes the situation of a distressed character of a text of 1884, Joris-Karl Huysmans in a narrative of exacerbated meanings which, repelling contemporary art, acquires a masterpiece that provides inexhaustible pleasure. This masterpiece is this one, in place of another, of Nelson Maravalhax, the painting entitled Um Porco Uivando para o Sol. This symbolist plot, translated from Dutch to German and English is, finally, the game of an almost palimpsesto incorporated by the artist who transposes it, replacing places and masterpiece in Portuguese and his pictorial universe, from where he intends to return to the writer a place that he never had in the Dutch family: that of the painter, where all of them were painters. From other side of the dipythic, Nelson Maravalhax takes over his shared visions of complicated nightmares, in which, sustained in a referencial that approaches, besides the transposed A Rebors (Dorian Gray, Gustave Moreau and Salomé), George Orwell and 1984, (a century after the date signed on this canvas), creating a powerful complex of translations: of the condensed animality by the fragment of the male body, a sexual organ assimilated to the pig, to the signaling of all the other elements of the composition – tree and jar simulations of the feminine, in a not-familiar place -, make appear a delirium of erotic literalities transposed from erudite fantasies and sinister visions, pointed directly at the spectator’s nervous system remitting him, like a wish by both texts, the literary and the pictorial, to a kidnappings of pleasure. The artist brings to the future the obsessive recycling of the past, in an apparently endless moment of nostalgia, in the return to a time of master: Yesterday in the imaginary kingdom of the present. on the contrary and in right, as in a ribbon from another Moebius. Dissimulating other knots of images that can be unveiled in the details of the principal illustrations, one by one, like traps and seductions for the look, the artist insinuates that, for the human, above the earth and breathing air, with their instincts geared to high and low, for the noble and the ignoble, this is the tracing that is given him to pass through, per omnia secula seculorum. Rafael Carlucci shows an animation String, whose starting point is a pornography image captured from other sites, seen by numbers. Roni Ribeiro, Alexandre Luz and William Kosmo bring an interactive animation subjective form in which human groups are observed as in Flock’s biological model which simulates animal behaviors, producing perturbations in the behavior of human groups, reactions and intelligent conducts of bodies that never hit each other. In all of these works, the spectator and participant of the inter-activity can experience a virtual universe established by digital technology that provokes as much the erosion of a temporal permanence as regarding speed and time compression, enlarging the aesthetic perception, projecting it in a new situation in which authors and co-authors share the same space in real time. Sérgio Rizo Educação de Lúcifer Mixed technique Lygia Saboia Homenagem à Rosácea Plottage HUMANO-PÓS-HUMANO 74 The foundation on which the artist Sergio Rizo builds his career consists of a solid learning. In this, he affirms the practice of a language as difficult as that of painting, constantly taking over drawing as a middle from working ideas or as a purpose in itself, incorporating concepts that modernity transmits as legacy. In immersions as much in abstraction as in figuration, he elaborates a personal and strong work, caring for singular questions, acting with the color and textures codes in his gestual paintings, or establishing organic, mechanical and anatomical images in his more recent work. The monumental tripythics Educação de Lúcifer which the artist Sérgio Rizo presents in this exposition, brings a narrative structure that can work autonomously, in each unit, or together. That reveals a tormented choreography where as almost human figure of a kind of cybernetic angel – a humanoid -, is apprehended and caught in heavy movements which point to a precipitation attracted by the force of terrestrial gravity. A strange machine with anatomical mechanisms, like ribs bones and muscles, are coupled and incorporated to the figure, praising Moebius, in a limbo environment, a place suspended in a world without borders or limit, saturated in a damp air, neither clear, non obscure neither past, non present. Putting the classical aesthetics out of itself, in as far as it subverts in rebutted tonalities, worked with rake and spatula, the figures receive a treatment in contours by a particular technique of drawing in charcoal with glue, and the whole trypythics leads the spectator’s look, vertiginously, downwards, where the escape point of a perspective recomposes its unit, trimming its own fall. Expression of the low human instincts, the centaur (here in female representation), figures a woman half-animalhalf-human that gallop with her hairs-manes in movement and lets loose the demons; a figure in fetal position, fractionated by the movement, tongue loose, presages the beginning and beginning again of times. After the fall, the education propagated by Lúcifer is that of the trajectory that is done in life, of the human-instinct-animal to the human-machine-rational, in zig-zag, inside and outside, Animations Alexandre Félix – Corpo Alexandre Luz, Roni Ribeiro and William Kosmo – Bipedes Eduardo Lopes – Proestéticos Rafael Carlucci – String Individually or in group, art students from the Departamento de Artes Visuais or from the Centro Cultural da 508 Sul, approach the universe of computer science to undertake their artistic proposals. Students of Suzete Venturelli, of the Instituto de Artes and of Mário Maciel, of the Secretaria de Educação do Distrito Federal, develop works guided to languages with which the can situate their experiences regarding questions that permeate the contemporaneity. The appropriation of the electronic media will be used as much to propose a ride in the cybernetic space as to discovers images of virtual reality, dealing with the insertion as much as themselves as the user in the incessant flow of digital information that is presented to our eyes, opening vast fields of possibilites. In this exposition, the spectator can enter the results of research developed by Alexandre Félix, who produced a self-portrait in animation, with the eye in digits which are enlarge and fall into minimum images, self-references, bodies without organs, fragmented. In animation, the work of Eduardo Lopes shows Protéticos, elaborated from a photo, brings the image of perfect bodies that become deformed and transform in to virtual bodies. The way taken by artist Lygia Saboia in art comes from a perspective which has been objectified by a long and varied project. Coming from a field in which numbers are the founding elements (economy), the passage to the artistic field become the space where art synthesized the expression of her experience. Engraver by option, she dynamized litography and silkscreen language – from the matrix to multiple -, elaborating in series proposals in which, from the observation of scenes, characters, old pictures and various situations, and built her own grammar. Simultaneously, working which watercolors in observation of the landscape of the cerrado, she developed a chromatic and formal code with which she established the bases of her creation. In the junction of all of these elements, that is numbers, matrices, multiples, chromatisms and impressions, the artist immersed in the universe of computational art, exploring standards and symmetries, her 17 types and her translations, elaborating beautiful instalations. In this exposition, Lygia Saboia presents a series of large impressions in acetate reporting to the use of equations to construct rodôneas. Homenagem à Rosáceas reminds one of Joshef Albers and his square works, presenting a group with different Rosáceas, putting in equation one more group to compose an image. The artist remakes the image until she finds the most joyful solution. Establishing plural relationships, using a software created for this purpose, she reinvents different plans and spaces. Separated or inscribed one in another, the lines and the colors demonstrate the logic of their outlines and surface projection. Presenting the possibilities that her poetic reason can take out of the Rodônea curve of 12 petals, through equations used for their construction, as algebraic curve of high degree, the artist Lygia Saboia instigates the spectator to penetrate in the territory of beauty which nunbers can offer, for your own mental and aesthetic joy . Elyeser Szturm Caboclo Backlight Object The artist Elyeser Szturm consolidates a singular and instigante work in his trajectory. Sustained by a materiality that does not lose sight of this own horizons, his natural or construct landscape, his formation in philosophy and fine arts, he elaborates a solid synthesis to make his poetics converge. In this sense, he intervenes, removes or appropriates elements of nature and culture of the country side of Goiás, proposing new and audacious relationships between them. Interventions that put nails into termite mounds, in situ, silicone blankets which extract shapes of a colonial architecture, fire that breaks out in duratex, threads which unsew from canvases to recompose in lines, twisted blankets associated with lianas, wash-basins, cages and other material that, often associated to the language of video installation, point to the diversity of medium used in the unit that his work presents. His work in this exposition is in line with what he called cabocla poetics. His work is an appropriation of a meat drying box used in Goiás butchers, worked with colored photos of meat, focussed outside of the box, added to a mirror at the bottom and a bunch of lamps of weak luminosity hanging in a tangle of wires coming from an electric detour. Establishing a metonymical and metaphoric relation ship in this agency, Elyeser Szturm establishes an ironic dialog we with technology, as far as the photos bring traces of a possibility of computational composition, through the screen which is seen in the foreground and gives it a checks you a digital texture. Through the colors, the clear-dark contrasts and reflexes, the artist points to the drama-tization that dominates this installation. Crossed by the lights reflected in the mirror, a sensitive touching speech overflows through the rips on canvas side of the box that let glimpse the meat image that one day was an animal, passed by the slaughterhouse, was shred and bleeded. Before its decomposition, its goes through the drying process to the delight of its consumers or to the horror of its protectors. Dialectic reflexes emerge with all the force contained in this work, evoking the fire power that art has for those that dare penetrate it. Illana Koling Animais Mortos nas Estradas Mixed technique Illana Koling made the choice of the language of painting and through it reveals her passage through the basic questions of modernity. Absorbing a wide chromatic she worked concept of abstraction and figuration, plan and space, collage and mounting, as well as vídeoarte, new form of expression. She found in monochromic painting her representations. The factors which raise her interest are of a variety of sources – subculture, trivial culture, ecology, the animal kingdom - or art history models. her painting that the same time an expression of a reflection about wide thematic spectrum and a criticism of the analysis of artistic and social possibilities. Animais Mortos na Estrada is a series of painting developed by her. In this exhibition Illana Koling shows a triptych and relief painting, with which she elaborates her pictorial thought with regard to the macabre show in her travels in Center-west Brazil. With black and white she builds a dramatic narrative in front of such a massacre, which at the same time, is frequent and indifferent for travelers during a lapse of time, she caught animals run over in video and picture images, working them several languages. These paintings show blind spots - effects of the intense brightness of the region and of the blindness of the passers-by -, worked in white reliefs which emerge in diagonal squirts of remains and blood, margined by black tone in waving, pasty and eloquent movements. The lateral painting, over a black surface, brings a relief of synthetic hair, close to white road sign in the representation, strengthening her idea of the extinction of fauna produced by mechanized agriculture. In this way, Illana Koling demonstrates that abstraction, far from the current use can be used positively in can almost monochrome articulation, other discourses, that only art can provoke. Pedro Alvim Língua Mixed technique The artist Pedro Alvin has double formation, in philosophy and fine arts, that we unfolding in pictorial practice and theory. He develops proposed nostalgic of a metaphoric primitive past that apply in his different levels work. However, this not signify his paint be elaborated in terms of art history. That posture evidences in his pictorial production in which disposes to the spectator plural readings established through mixed formal and chromatic. Pedro Alvim shows in this exposition a singular painting with two support characteristics: verse and reverse, and two tension between vertical and horizontal position. Establishing a specific space-temporal relation, he works both the surfaces with unusual procedures. Appropriating of previous jobs, of small dimensions, adds craft paper and words, he spreads them and applies on the support collages, superimposing them to made background paintings, resulting in layers to show the vestiges of that revealed block starting from reverse. Pedro Alvim presents in his painting conjugation, opposition and contradiction forces. On this way, he multiplies the intensity thematic: still life, landscape, illustrations, abstract and calligraphic. Integrated, the painter is contaminate in both surfaces producing a third aspect caused by translucency, in other words, pictorial trespass, revealed by the brightness in the thickness between verse and reverse. Vicente Martinez S.Q.S. 105 Instalation Some ideas circulate in an almost intermittent way in the of the worked artist Vicente Martinez, even in the diversity of its concretization. His relationship with society, the autonomy of art and authoritarian relations developed during the dictatorship period, when with the ex-cultura group he did interventions in the city of Brasília and its monuments, or elaborated drawings with strong colors, in a figuration narrative close to pop-art, expressing his world of subversion or ecstasy. Dialoguing with other modern movements, his research leads him to a work in which he takes on questions of minimal art, establishes other space relations, brightness and the experience lived by the spectator, extracting from the line, articulated by the possibilities of pellicle tape, a wide repertoire of proposals . Taking over ready-made with pellicle-tube-ofink, he inserts the territory of freedom with the pictorial properties of Duchamp’s art. His SQS 105 installation synthesizes several questions of the trajectory of the artist who classifies himself as modern. Worked on the horizontal, a chess board design overlaps a half-open basement, signaling a game of exposition and occultation - that which is shown and that which is hidden -, leaving the spectator to opt by visibility or by sensitive evidence. Over the board, Vicente Martinez agencies his pieces: balloons of primary and secondary colors, like the readymade ink tube in organic and sensory moulds, a book, Cem anos de solidão, whose pages are tourned over by a fan, colored neons and spots illuminate and color the around and basements pieces of broken plates a dish with pigments and mounting games. The objects have a symbolic, conventional presence, picturesque or allusive. Humor and irony together through ludic conjugations. The spectator will discover the aesthetics and relative experience. In this installation, Vicente Martinez and players are free of the any authority. Andréa Campos de Sá and Walter Menon No Title Pictures over marble and video HUMANO-PÓS-HUMANO 76 The two artists, Andréa Campos de Sá and Walter Menon have maintained a solo carreer, with different aims. Nevertheless, the interest on art contemporary issues, its practice and theory, led them, occasionally to start an especial form of co-authorship: they commit themselves to ideas which are stablished in general lines and each elaborates secretely his/her part in order to, in loco, complete or complement the joint creation of what was thought. Inter-relating the Andréa Campos de Sa’s photographic objects with the Walter Menon’s drawings, approppriations and vídeos the artists takes up a singular identity in the creation of forms to build new senses in the installations proposed. For Andréa Campos de Sa, the 19th century, from the invention of photography, offers a pleiad of bizarre manifestations and discoveries in the light of theaterality, such as Salpetrière’s Photographic Iconography, the pictures of the spirits – practices with luminous spectrum -, in the natural sphere and similar to the spirit realm, just like post-mortem photographies (copied using the ashes of the dead). These images are projected reality or simulacra at the same time they sell an idea of obejective reality. It is through this category that the artist creates an identifying position, referring to Charcot’s scenographic photographs of the histeric, as well as the reflections and fantasies of the spirits, making self-portraits explored by pictures, in the field of narrative representation. Inserting herself and crossing frontiers, limits and passages between death and life, she personifies a nun, in the emblematic disguising which belongs to Terezinha de Lisieux, recorded in pictures of her time and made public by the religious culture of the masses, through little printed images of the saints. From these proposals, the spectator is invited to penetrate a world of simulacrum where it is possible to distinguish reality from fantasy, which oscilates sometimes to a cristian methafore, sometimes to a critical parody of personi-fications. In some installations made with co-authorship, Walter Menon causes an effect of desicration and profane materialization as he interpenetrates the spaces demarcated with pictures from oneiric, incubus and succubous erotism, extracted from some human bestiaries using graphisms and calligraphies. For this installation, Andréa Campos de Sá and Walter Menon created an iconographic system joining the 19th century photography, Art History, by sacred painting of repercussion in the masses’ imaginary world, and Cyborg manifest, by Donna Haraway, 1993. On the other hand, the artist creates an iconographic system originated from a line of paintings coming all the way from medieval pictures which represent the Good Shepherd until the symbolist interpretations and spreading in religious culture. In this especific case, gender reversion – the shepherd – a nun – taking care of the sheep in obscure scenaries. Produced by simulation and signs, these pictures, taken with high contrasts of light and shade, are printed on a lapidated stone – white, oval marble-, giving brilliance to the texture. By this means, almost as it happens to the negative of the photograph, these pictures are presented as single pieces, giving them an aura value, in double sensation: mystery and strangeness. In a narrative sequence, the character walks with her flock through the scenes representing a cristian iconography, tranparent to an original reality. Beside it, the artist Walter Menon shows a vídeo in which he scans each piece of his recorded drawing, connecting and synthesizing the proposal, both the artists’ and the Human-post-human exhibition’s, sending the image to the photographic sequence to Cyborg manifet – in Lisa-Foo’s statement which stablishes the boarder: it appears as a myth precisely where the human and animal frontier is transgressed, where these transgressions are seen as powerful fusions, ignoring the Garden of Éden: he is not made of mud and cannot dream of returning to dust. For the spectator the effect of the real that is substituted with the real and the function of the effect of a simulated reality created by this proposal. Miguel Ferreira Lesson of Anatomy Kinetic object Miguel Ferreira is an artist who tries the possibilities of several languages: from a rocknroll band, where he exercises the vibratory powers of sonority to the creation of post-kinetic sculptures and other experiments. Associating sculptural inventions with moving eletronic images, he afirms a singular insertion in this slope of the contemporary art. Refleting on the object-issue of this exhibition, Human-post-human, he created a set of nine transparent acrylic spheres, named Lesson of Anatomy. They were made using a simple mechanism inside and start to move in circles when put into action. Transiting through space, they absolve and reflect light, strident colors, forms and spectators which become anamorphic then, directed by the counterweight which lead them adrift. Taken as a beginning point, the pre-human for this creation, the artist works with the circular form as the basic, prime form. From the human being, he thinks about a pictorial representation, part of the title, as referred by Rembrandt, and with which Miguel Ferreira draws a good-humoured parallel with his proposal, both in the expressions of astonishment and surprise taken by the characters of the painting in relation to the spectators of this lesson and his own dissection that happens there, relating it to the working of the transparent mechanism of his spheres, allowing them to be seen, making them different, sculpture and painting, into what they have as life and movement. Making evident the post-human, it is in the junction of all elements which compose them, whether the closed surface or their entrails, that another sphere is formed and sent to the knowledge and talent. In this one the spectator will be able to act, producing the effect with endless rays, having the sight as the centre. Gê Orthof Instrumentos para aferir vulnerabilidades: orbitas keplerianas Installation Gê Orthof through installation and performance actions comes proposing dialogs in which the spectator is invited to participated of a sensory and conceptual universe where he stay captured, in difficulty leaving. However, if the spectator stays outside, only looking curious, the diversity of negotiated devices will be able to admire aspect of the work but, unexpectedly he, will be seduced by traps. He work on several themes such as contemporary life - society, utopia and barbarism, ethics and aesthetics, public and private, life/art/art/life-, Gê Orthof creates narratives certfully, with elements of children, such as the wonderful, cunning, amazement and enchantment. For spectator it becomes impossible to not incorporate some constant and variable codes of values that are thematised in his installations, dissimulated by ludical strategies. Instrumentos para Aferir Vulnerabilidades: Órbitas Keplerianas is the work his presents in this presents exposition. His work has three spaces: the first contains plates locked with padlocks, the second has a rectangular acrylic box with colored elements, and the third has a wheelbarrow with boxes, book, purse, phons and metal objects-sculpture, rubber, hooks, gloves, besides a lamb skin clothes pierced by small tubes, stuffed colored sacks with a sexual organ, half rattlesnake’s rings, half penis. The plurality of signs used between them and in the relations they enter at rotation by the performance developed by the work, in progress. Invested of singular parangolé, Gê Orthof takes up vulnerabilities for himself and the public, circulating with the wheel barrow, touching the spectator with the tips of his sculptural instruments extensions of the body -, tense and soft, to afterwards, lying down inside the box, appears hearing, reading, writing or drawing with his breath. Of the actions and displacements, of instruments variations and modifications are produced. In his work Gê Orthof suggest an association with Kepler and Freud who made radical changes in thought both in physics and to modern human science. In this installation, Gê Orthof involves the spectator in a world of sexual fantasies and non-sexual fantasies which lead him to multiple sensations. Gê Orthof establishes an aesthetic experience that can lead the spectator to discover through the which is vulnerable presenting the public vulnerability who profane his intimacy, looking at him and being lookedat. Geovany Borges, Christus Nóbrega, Leandro Lima, Heijy Inuzuka Davide Grassi Problemarket.com The Problem Stock Exchange Web art performance ROHL o Robô Arte e Mecatrônica Rohl is a robot which was projected to be autonomous. Machine autonomy is, very often, related to its capacity to respond intelligently to external stimulation, for exemple those provoked by human presence. Rohl is, in the context of Human-post-human exhibition, the main reference that we can see that draws us closer to the future of our species. The performance of Rohl the robot and the human being Christus Nobrega, during the openning of the expo sought to contest the persistent reactions to fear and aversion of people, transmited by narrated histories such as science ficcion, which had their origin in literature, in relation to the creation of intelligent robots. Rohl is a light sensitive robot, who is able to see, not like a human, he has a synthesis vision. When he feels human presence, he runs away and shouts with fear: Help me! Here is a machine that is afraid of the human species. Rafael Galvão, Ricardo Queiroz, Mario Maciel, Suzete Venturelli Contato Computer Art The work Contact accomplished by the researchers Mario Maciel, Rafael Galvão, Ricardo Queiroz and Suzete Venturelli, congregates knowledges of art and technology. Suzete Venturelli is a pioneering artist of the art and technology and nowadays she is a coordinator research of Laboratório de pesquisa em arte e realidade virtual do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Her research about creation of natural interfaces humanmachine, in other words, that enables the interaction and immersion with worlds and virtual environments, through the voice and of gestures. Mario Maciel, architect and master in arts, worked with animated drawing, graphic arts and now has programming language to develop virtual worlds and virtual reality technology. His poetic has origin in cartoons and electronic games. His characters, propagate the idea of collaboration between humans and machines. Ricardo Queiroz is PhD in engineering and artist. Research and has developing visual interfaces of interaction with image capture devices, like the digital cameras. Rafael Galvão, engineer, made the source code for Contact installation, presented in this exhibition. The idea is the contact established between virtual three-dimensional image and the gesture done by visitors with the interaction realized by converted signals informations of a digital camera. Man at the window, Woman by the cooker and Old Man Luiza Venturelli photography “A problem is a challenge wrongly considered” GK Chesterton (1874-1936). Problemarket.com is a jointstock company on which shares of several different companies dealing with problems are floated. It is responsible for organizing and managing the international Problem Stock Exchange, formally created at the beginning of 2000 and operational since November 16, 2001. More: www.problemarket.com Davide Grassi, since 1995 has worked and lived in Ljubljana, Slovenia, where he intensively collaborates with several artists and institutions. His artistic work has a strong social connotation and is characterized by an intermedia approach. He is the author of numerous videos, performances, installations, documentaries and new media works. He is a member of the controversial BAST Collective and of SC-N project. He leads Aksioma – Institute for Contemporary Arts, a non-profit cultural institution based in Ljubljana, Slovenia, which is interested in projects that take advantage of the new technologies in order to investigate and discuss the structures of modern society. It concentrates on artistic production that explores social, political, aesthetic and ethical concerns, and uses the Internet as a creative laboratory for the exchange and distribution of ideas and knowledge. Davide Grassi has presented his work worldwide in several exhibitions, festivals and lectures among them, Manifesta 4, Frankfurt, Germany; ZKM – Zentrums für Kunst und Medien-technologie, Karlsruhe, Germany; ARCO - the International Fair of Contemporary Art, Madrid, Spain; ISEA 2002 – 11th International Symposium of Electronic Art, Nagoya, Japan; the Biennial of Buenos Aires, Museo Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires, Argentina; Art.ficial Emotion 2.0 – Technological Divergences, Itaú Cultural, Sao Paulo, Brazil; Bell Gallery, List Art Center, Brown University, Providence, U.S.A.; IASPIS, Stockholm, Sweden; Moderna galerija – the Slovene Museum of Contemporary Arts, Ljubljana, Slovenia; MNAC – National Museum of Contemporary Art, Bucharest, Romania. More: http://www.aksioma.org/facts.html The photographer Luiza Venturelli comes from a line of plastic artists who are seduced by the means of technical reproduction. Her view, forged in Fine Arts studios gave her peculiar possibilities which could be used only to an artist, who is different from a documental photographer or a publicist. Scanning in sets or details, people or gestures, big screens or closes, places or spaces, snapshots or poses, everything that can be a reason, theme or support to her sthetic focus. These, taken from concepts such as originality, expressiveness and singularity, eventhough they may seem contradictory when we are dealing with photograph, may be applicable to her work because in this case it means how to look. The three great printed pannels which Luiza Venturelli shows in this exhibition bring situations, characters, ideas and environments which are described and stimulate the spectator to imagine the several ways to dwell in the world and to be touched, from the lenghs of her camera. This choice happens, as the photographer states, “in the flowing of the events, a moment is frozen and testifies the rigidness of the perception and the relation of the forms in the construction of a rich moment of senses.” Reflections and textures or brightness and darkness are part of the formal categories used by the photographer and give support to a tangible reality with which Luiza Venturelli decode with detail the gesture of a person, a habit or a sensation, painted as humanity. HUMANO-PÓS-HUMANO 78 patrocínio e realização Centro Cultural Banco do Brasil exposição Humano-pós-Humano curadoria Suzete Venturelli crítica de arte Grace Maria Machado de Freitas museografia Elisa Martinez arquitetura e impressos Mário Maciel montagem Miguel Simão projeto educativo Terezinha Losada consultoria Henrique Oswaldo produção Cena Promoções Culturais secretária de produção Cláudia Gomes assistente de produção Ana Carolina Viana tradução Stephen G. Baines Maria Angélica Costa Philip Maha assessoria de imprensa Objetosim iluminação Dalton Camargos videografia Elza Ramalho fotografia Elvio Gasparoto impressão Acqua Digital monitores Carolina de Andrade Darlin Carvalho Matos Emerson Leandro de Lima Eva Maria Foloni Santoro Gláucia Coelho Hugo Cabral Carneiro Juliana Veloso Sá Luiza Xavier Márcio Hofmann Mota Pablo Maury Braz Paula Sallas Priscilla Marcial Renata Barboza Lindoso Rosângela Vieira Vinícius Jabur pós visitas guiadas GRUPO 1 > 26 de julho às 14h Geraldo Orthof, Illana Koling, Mario Maciel, Miguel Simão, Nelson Maravalhas e Suzete Venturelli. GRUPO 2 > 9 de agosto às 14h Cintia Falkenbach, Elder Rocha, Miguel Ferreira, Sergio Rizo, Silvio Zamboni e Vicente Martinez, GRUPO 3 > 23 de agosto às 14h Bia Medeiros e Corpos Informáticos, Clarissa Borges, Elyeser Szturm, Pedro Alvim. GRUPO 4 > 6 de setembro às 14h Andréa Sá, Luiza Venturelli, Lygia Saboia, Maria Luiza Fragoso, Terezinha Losada e Walter Menon, agenda arte e educação as visitas orientadas para a exposição são agendadas pelos telefones (061) 3310 7420 ou 3310 7480, de segunda a sexta, das 10 às 18h acesso O CCBB disponibiliza ônibus gratuito, identificado com a logomarca do Banco do Brasil. O transporte funciona de terça a domingo, saindo do CCBB a partir das 12h. O roteiro acontece de hora em hora: CCBB – 12h às 20h Teatro Nacional – 12h15 às 20h15 Manhattan Flat – 12h20 às 20h20 Hotel Nacional – 12h25 às 20h25 Galeria dos Estados – 12h30 às 20h30 Praça dos Três Poderes – 12h40 às 20h40. As linhas 103 e 103-2, (Plano Piloto / Avenida das Nações), ônibus do Transporte Coletivo de Brasília, servem o Setor. estacionamento Gratuito com vigilância 24 horas. HUMANO-PÓS-HUMANO 80 Apoio: Universidade de Brasília Centro Cultural Banco do Brasil, Setor de Clubes Esportivos Sul, trecho 2, conjunto 22, CEP 70200-002, Brasília, Distrito Federal, telefone (061) 3310 7087, bb.com.br/cultura Patrocínio e Realização