UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
PÓS-GRADUAÇÃO ENSINO DA ARTE
BRANCA ESTHER TONON
A CONSTRUÇÃO DA CULTURA ATRAVÉS
DO PAPEL ARTESANAL
CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2006
1
BRANCA ESTHER TONON
A CONSTRUÇÃO DA CULTURA ATRAVÉS
DO PAPEL ARTESANAL
Monografia apresentada ao curso de Especialização
Latu-sensu do Ensino da Arte da Universidade do
Extremo Sul Catarinense, como requisito parcial
para obtenção do título de Especialização em Arte.
Orientadora: Prof. Dra. Elizabeth Milititsky Aguiar
CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2006
2
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos, primeiramente a Deus e a todos que com paciência e
dedicação colaboraram para a construção de minha monografia. A minha
orientadora Dra. Elizabeth M. Aguiar, fundamental na organização do conteúdo
implícito e pela sua disponibilidade, sempre muito atenciosa em atender-me.
A Jamile Freitas, por ter me auxiliado na digitação, em um momento em que ainda
não era possível fazê-la.
A Pro Job Informática, por ter me cedido espaço e utilização de seus computadores,
juntamente com Márcio Benedet e Deise P. Dalponte, que me auxiliaram na parte
técnica de meu trabalho.
Enfim, a todos aqueles que direta e indiretamente foram indispensáveis para que eu
pudesse concretizá-la.
3
RESUMO
TONON, Branca Esther. A construção da cultura através do papel artesanal. 94
fls. Monografia de Pós-Graduação do Ensino da Arte da Universidade do Extremo
Sul Catarinense, UNESC, Criciúma.
O trabalho trata da questão do “Papel Artesanal”, inevitavelmente atrelada ao meio
ambiente, envolvendo o aspecto cultura em dois âmbitos, no que diz respeito à
construção criativa da cultura, arte, artesanato; e todo hábito, educação relacionado
que se refere a vida, dentro de um enfoque ecológico.
Apresenta toda história do papel, abrangendo inclusive referências da História da
Indústria, ao lado da História do Papel Artesanal no Brasil; a reciclagem, a partir do
papel e de fibras vegetais, dentro do aprendizado de Diva Elena Buss, como um dos
modelos da produção de papel, uma artesã que tem um percurso na história do
papel artesanal no Brasil; aborda a cultura da banana e do arroz, significativas no
Estado de Santa Catarina, como exemplo de fibras possíveis na confecção do papel
artesanal em nosso Estado, servindo no incentivo da produção artesanal de papel
com possibilidades reais de gerar renda, enriquecer o artesanato, abrangendo a arte
e o design, além de outras formas de produção do papel artesanal a partir da
reciclagem, como boas possibilidades da multiplicação do trabalho.
Concluindo, todo um aspecto que circunda o “Construir Cultura”, partindo desta
grande possibilidade que é a pesquisa das fibras vegetais e a reciclagem. Um
trabalho que aproxima a Natureza da Arte, com a possibilidade de unir natureza e
arte, havendo uma troca real concomitantemente, no que diz respeito à preservação
e ao mesmo tempo a produção da arte, dentro do que a natureza nos permite e os
artistas e artesãos são capazes de criar!!!
Artistas significativos no seu envolvimento com a ecologia através de sua arte,
aparecem no decorrer do trabalho: Otávio Roth, expoente no Brasil na produção de
papel, é relevantemente abordado ao lado do artista polonês Frans Krajcberg, que
com suas brilhantes esculturas ecológicas, engrandeceu o movimento Arte-Ecologia.
O trabalho aborda a estética dentro do processo Arte e Artesanato
Palavras-chaves: Papel Artesanal. Cultura. Reciclagem. Fibras Vegetais.
4
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Washington Santana .......................................................................................... 08
Figura 2: Karin Lambrecht – Kiosk.................................................................................... 09
Figura 3: Jorge Barrão – Instalação.................................................................................. 11
Figura 4: Manfredo de Souzaneto pigmentos naturais e resina acrílica s/ juta ......... 11
Figura 5: Ricardo Ribenboim – Bólides Marinhos .......................................................... 12
Figura 6: Frans Krajcberg ................................................................................................... 15
Figura 7: Frans Krajcberg ................................................................................................... 15
Figura 8: Siron Franco – Instalação – O fim das florestas ............................................ 17
Figura 9: Siron Franco – Atlântica..................................................................................... 17
Figura 10: Antonio Dias....................................................................................................... 18
Figura 11: Antonio Dias ...................................................................................................... 18
Figura 12: Sônia Ballão....................................................................................................... 18
Figura 13: Bené Fonteles.................................................................................................... 20
Figura 14: Bené Fonteles ................................................................................................... 20
Figura 15: Otavio Roth ........................................................................................................ 47
Figura 16: Circe Saldanha .................................................................................................. 53
5
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Materiais recicláveis e não-recicláveis............................................................ 26
Tabela 2: Coleta de recursos naturais economizados através da coleta seletiva e
triagem dentro da comunidade UNESC............................................................................ 28
Tabela 3: Taxa de recuperação de papéis recicláveis por tipo de geração ............... 32
Tabela 4: Evolução na taxa de recuperação de papéis recicláveis ............................. 33
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 08
1. ARTE SÉCULO XX... HERANÇAS... IDÉIAS... DESDOBRAMENTOS ................ 11
2. ARTE, ECOLOGIA, MEIO AMBIENTE ENTRELAÇANDO-SE ................................ 12
3. ECOLOGIA E RECICLAGEM......................................................................................... 22
3.1 Papel e Papelão ............................................................................................................. 31
3.2 Fibras Virgens x Fibras secundárias........................................................................... 34
4. PENSANDO PAPEL: O QUE É O PAPEL?................................................................. 36
4.1 A história do papel.......................................................................................................... 38
4.2 Os proto-papéis .............................................................................................................. 38
4.3 O papel no Oriente ......................................................................................................... 40
4.4 O papel no Ocidente ...................................................................................................... 41
4.5 Papel industrial no Brasil............................................................................................... 43
4.6 Papel artesanal no Brasil .............................................................................................. 44
4.7 Uma importante referência brasileira: Otavio Roth .................................................. 47
5. FIBRAS NATURAIS, RESÍDUOS E PAPEL ................................................................ 51
5.1 Banana X Papel.............................................................................................................. 51
5.2 Arroz X Papel.................................................................................................................. 53
5.3 Amoreira X Papel ........................................................................................................... 54
6. RECEITAS PARA FAZER PAPEL................................................................................. 56
6.1 Receitas de Diva Elena Buss ....................................................................................... 56
6.2 Receitas de Silvana Fehn Bastianello ........................................................................ 73
6.3 Receita com base no Programa de Educação e Gestão Ambiental – PEGA /
Gestão de Resíduos Sólidos (UNESC)............................................................................. 76
7
6.4 Saiba como fazer papel reciclado... Outra dica!... .................................................... 78
CONCLUSÃO........................................................................................................................ 81
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 87
ANEXO................................................................................................................................... 91
8
INTRODUÇÃO
Usar materiais e produtos prontos, recontextualizar objetos, são
procedimentos presentes na produção da arte desde o início do século XX.
Podemos citar como exemplos Duchamp e Picasso, que paralelamente a
contemporaneidade, se encontram identificados no que se chama “L’ Objet Trouvé,
objeto encontrado, aquele objeto por vezes sem valor que, ao ser eleito pelo artista,
passa a ter status de obra de arte. Ambos, expoentes fundamentais da Arte
Moderna, em outro tempo fizeram emergir o objeto, valorizando-o num conceito
supra-artístico. Atualmente o Objeto Trouvé como categoria artística nos é
apresentado claramente na obra de Washington Santana, quando junta objetos que
vasculha no lixo, transformando-os em uma Obra de Arte.
Figura 1: Washington Santana, s/d.
Santana trabalha com os detritos urbanos (restos) para fazer esculturas e
acredita que através deste trabalho, a escultura venha avançar de forma mais
significativa no Brasil. Utilizar materiais acumulados nos lixões, transformando-os em
Obra de Arte, é uma forma de reaproveitamento “Ecologicamente Cultural”. Ainda na
contemporaneidade podemos apontar a gaúcha Karin Lambrecht e Barrão que
marcaram os emergentes anos 80, prosseguindo cada qual com suas próprias
linguagens, permanecendo no Cenário das Artes Plásticas. Mais recentemente,
9
preocupações relativas ao âmbito social e político centralizaram a atenção e os
temas da produção artística.
Figura 2: Karin Lambrecht
Kiosk, 1992.
Siron Franco, Frans Krajcberg, Antônio Dias, Otávio Roth, Bené Fonteles,
Ralph Gehre, Sônia Ballão, entre outros, são exemplos da ênfase, da preocupação
com o meio ambiente e o equilíbrio ecológico como temas e propostas de suas
produções em arte.
Inserindo-se nesta temática, este trabalho busca focalizar as técnicas de
produção de papel. Mais ainda, compreender a produção de papel artesanal como
processo de criação e construção cultural, apropriada e significativa em nosso lugar.
Reciclando consciências não só do ponto de vista ecológico, mas no criar que daí
nasce, possibilitando ainda a reintegração do artesanato, da arte e da sociedade
com a natureza e entre si, com um tema que acaba por envolver a cultura como um
todo. Através da arte e do artesanato evidencia-se uma força bastante específica e
particular, que diz respeito a “Arte Pela Natureza” e a “Arte Pela Própria Arte”.
“O Fazer Papel” é processo criativo e integra aspectos culturais
abrangentes, envolvendo a preservação do meio ambiente, já que este fazer está
diretamente ligado com o aspecto ecológico, significando a redução do corte de
10
milhares de árvores, redução do volume do lixo, economia de milhares de litros de
água e energia, finalmente, simplificando a poluição do ar e dos rios.
O “Fazer Papel” está intrinsecamente ligado ao processo de criação, no
que diz respeito a sua própria confecção com suas inúmeras possibilidades,
transformando-se em um material propriamente artístico, já que dentro da
contemporaneidade a arte faz uso dele envolvendo diversas técnicas.
Este trabalho apresenta algumas possibilidades que se referem às
técnicas e processos de produção de papel a partir de aparas e fibras vegetais,
fundamentado em um levantamento realizado, também fazendo referência à cultura
da banana e do arroz, ambas representativas no Estado De Santa Catari na, bem
como das amoreiras, cada qual propícia a produção de papel artesanal.
.
11
1. ARTE SÉCULO XX... HERANÇAS... IDÉIAS... DESDOBRAMENTOS...
O início do Século XX, nas Artes Plásticas, traz a marca do uso de
materiais e produtos prontos em um contexto diferente dos tempos atuais. No Brasil,
mas precisamente na década de 80, houve uma explosão no que diz respeito ao uso
de novos materiais e da própria reutilização de objetos prontos, como é o caso de
Barrão.
Figura 3: Jorge Barrão,
Instalação, 1995.
Figura 4: Manfredo de Souzaneto
pigmentos naturais e resina
acrílica s/ juta.
Manfredo de Souzaneto utilizou pigmentos do solo mineiro para pintar
seus formatos geométricos, tal qual nos primórdios, quando no sentido concreto a
arte teve sua origem, nas relações do homem com seu ambiente natural, já que as
mais antigas obras de arte que chegaram até nós são as pinturas paleolíticas das
cavernas, bastante numerosas e umas poucas estatuetas de osso ou marfim do
mesmo período.
12
2. ARTE, ECOLOGIA, MEIO AMBIENTE ENTRELAÇANDO-SE...
A questão ecologia/meio ambiente, invariavelmente está ligada a nossa
sobrevivência no planeta. Neste percurso que se refere à degradação da biosfera
pelo próprio homem, houve uma mobilização mundial pela preservação do meio
ambiente, especialmente do Brasil, parte da América do Sul e Central, onde se
situam as maiores reservas florestais, aliadas ao potencial de água potável superior
a 40% do disponível no mundo.
Na década de noventa, com o acontecimento da ECO 92, no Rio de
Janeiro, a consciência sobre o meio-ambiente é chacoalhada, incluindo a arte e os
artistas em geral. Ricardo Ribenboim realiza diversas intervenções urbanas no Brasil
e no exterior, destacando-se o trabalho Bólides Marinhos, na praia de Ipanema,
durante a ECO-92. Atira no mar cerca de 1200 Bólides Marinhos (objetos infláveis
com inscrições), que são levados aos banhistas pelas ondas. Também em 1992,
apresenta os Bólides Marinhos na Retrospectiva da ECO-92, no Museu da Imagem
e do Som, São Paulo, SP.
Figura 5: Ricardo Ribenboim
Bólides Marinhos, 1992.
13
Já no ano de 1986, havia participado da fundação, em São Paulo, do
Museu Brasileiro do Papel, inaugurado com a exposição “O Papel do Papel”.Em
1993 realiza intervenção urbana durante a inauguração do museu de papel de Porto
Rico. Instala fragmento de papel artesanal na escadaria da igreja matriz, discutindo a
preservação do patrimônio histórico San German, Porto Rico1.
RICARDO RIBENBOIM atua em 2001 na formação do Museu de FRANS
KRAJCBERG, artista de importância incomparável na história da Arte voltada para a
ecologia.
Frans
Krajcberg
é
artista
plástico
referencial
no
elo
arte-
ecologia/ecologia-arte. Como afirma Maria Emília Alencar, “acima de tudo um
homem da terra, uma espécie de mago da natureza, Frans consegue transformar
troncos de árvores queimados em obras de arte” 2. Combatente do exército soviético
durante a Segunda Guerra Mundial, viveu algum tempo na Alemanha depois do
conflito, tendo estudado em 1945 e 1947 na Academia de Belas Artes de Stuttgart
como aluno do célebre Willy Baumeister. Emigrando em 1948 para o Brasil, fixou-se
inicialmente em São Paulo, onde foi ajudante da primeira Bienal de São Paulo em
1951. Nos primeiros tempos de Brasil fazia uma pintura influenciada pelo Cubismo e
Entre 1996 e 1997, dirige o Paço das Artes de São Paulo e, em janeiro 1997, assume a direção do Instituto Itaú Cultural
até maio de 2002. Realiza o projeto de pintura do KinoTrem, que transporta o público entre Estação da Luz e as Indústrias
Matarazzo, passando pelo Moinho Central, durante o evento Arte Cidade 3: a cidade e suas histórias. Projeto apresentado n
3ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, SP – 1997.Ainda em 1997 integra como artista convidado, o projeto Brasmitte, no
qual tem como meta realizar intervenções urbanas nos bairros do Brás, São Paulo, SP e do Mitte, Berlim – Alemanha.
Em 1998, realiza a primeira Curadoria Internacional do módulo WEB-Art, na 24ª Bienal Internacional de São Paulo.
Concepção e Curadoria da mostra Por que Duchamp? , no Paço das Artes, São Paulo, SP, em 1999; e uma série de
exposições individuais de 1999 a 2003, incluindo São Paulo, SP; Rio de Janeiro, RJ; P. S. 1 Contemporary Art Center do
MOMA, Nova York, USA; FESTIVAL FLABRA/FLÓRIDA-BRASIL, Museum of Contemporary Art (MOCA), Miami, USA;
Berlim, Alemanha; JARDIM DE ESCULTURAS (instalação de obra), Museu de Arte Contemporânea/USP, São Paulo, SP;
Paço das Artes, São Paulo, SP; Martinez Gallery, Nova York, USA; ATITUDES, Galeria Anna Maria Niemeyer, Rio de
Janeiro, RJ, sem esquecer da exposição TROCA DE PELE em São Paulo e no Rio de Janeiro, na Galeria Nara Roesler e
no Paço Imperial.
2 www.rfi.fr/actubr/articles/063/article10.asp -– Artigo publicado em 10/03/2005, captado em agosto, 2006.
1
14
pelo Expressionismo, apoiada num desenho sintético e numa paleta baixa, na qual
predominavam cinzas e terras.
Suas figuras e naturezas-mortas davam prova de um despojamento
vizinho da pobreza, característica compreensível, talvez pela dura realidade do
imediato pós-guerra. Efetuou sua primeira individual no museu de Arte Moderna em
1952, último ano em que permaneceu em São Paulo. Logo em seguida muda-se
para o interior do Paraná, onde viveu até 1956. Foi um tempo de afastamento do
circuito da Arte, no qual Krajcberg perde o convívio com os artistas mais atuantes.
Em 1956 e 1957 surgiram-lhe a série Florestas e Árvores, tão caracteristicamente
expressionistas, fruto desse mergulho no interior paranaense. Um dos expoentes do
expressionismo abstrato, se tivesse continuado nos puros limites da pintura, ainda
assim seria de significativa importância no cenário artístico nacional. Em 1957
conquista o prêmio de Melhor Pintor Nacional na 4ª Bienal de São Paulo 3.
Foi a partir de uma primeira experiência em 1962, com as terras naturais
de Ibiza, que o artista sentiria a crescente necessidade de alargar seus horizontes,
deixando a estrutura bidimensional da pintura. A intenção era substituída pelo
tridimensionalismo do relevo ou da escultura. Aí então, foi gradativamente
reformulando a própria idéia de representação ou de interpretação da natureza, pela
sua apropriação.
Logo após ter conquistado na 32ª Bienal de Veneza o prêmio cidade de
Veneza, com seus quadros de Terras e Pedras, ainda em 1964, numa de suas
www.pitoresco.com.br/brasil/krajcberg/krajcberg.htm - Captado em agosto, 2006.
CD-Rom : 500 Anos da Pintura Brasileira.
3
15
vindas ao Brasil, visitou Itabirito, concretizando então aquele que seria o passo
decisivo de sua carreira artística. A partir daí pode-se dizer ter atingido sua
maturidade como artista, produzindo admiráveis gravuras em relevo e esculturas
pintadas, nas quais utiliza pedras, árvores, raízes e os mais diferentes materiais de
origem mineral e vegetal. Como ele mesmo afirma, “não procuro a paisagem mais o
material. Não copio a Natureza. Sinto que hoje a gente foge cada vez mais da
natureza. Estamos cada dia mais afastados dela, por causa da mecanização.”
Vivendo entre o Brasil e França há cinco décadas, em Nova Viçosa, sul
da Bahia, ele recolhe nos cerrados e mangues “restos mortais” da natureza que ele
transforma em esculturas monumentais; em Paris conversa sobre Arte com velhos
amigos e encontra uma tribuna internacional para seu combate incansável contra a
destruição do meio ambiente.
Inquestionavelmente, dentre os artistas brasileiros da atualidade, um dos
raros que trouxeram uma contribuição pessoal ao desenvolvimento da Arte
Contemporânea.
Figura 6: Frans Krajcberg, s/d.
Figura 7: Frans Krajcberg
Setembro, 2005.
Da defesa das matas o pintor Siron Franco tira proveito, dando ênfase a
Proteção Ecológica, acentuando a riqueza e a importância dos bichos no
16
ecossistema, já levantando uma crítica ao aspecto capitalista do homem que acaba
por sobrepor a própria existência.
O pintor goiano Siron Franco, hoje reconhecido internacionalmente, é
considerado pela crítica como um dos grandes nomes da pintura latino-americana.
Com várias exposições no exterior, obras espalhadas por coleções e acervos de
museus na Europa e nas Américas, este artista nos mostra, através de sua pintura onde aparecem figuras que se mesclam de maneira impressionante, seres humanos
e animais-macacos, antas, tamanduás, onças ou serpentes justapostos - em sua
linguagem singular, uma denúncia que chama a nossa atenção para a crueldade do
ser humano em suas relações de poder com seus semelhantes e com a própria
natureza. Faz-se assim um artista significativo em todos os segmentos de Arte
ligados à questão preservacionista, trazendo em seus quadros e instalações
acusações sobre a destruição das florestas e sobre a matança de animais e a
exterminação criminosa das espécies, marcada pela ignorância gananciosa do ser
humano. Como evidencia a antecipatória série intitulada “Peles”, iniciada em 1992,
onde denuncia a matança de bichos para serem transformados em casacos de peles
de socialites.
A arte de Siron Franco está inextricavelmente ligada à vida, ou seja, ao
que se passa ao redor e dentro do artista. Declara que seu trabalho não é
politicamente engajado, mas expressa indignação pessoal frente a problemas
sociais e ecológicos.
17
Figura 8: Siron Franco
Instalação
O fim das florestas, s/d.
Figura 9: Siron Franco
Atlântica, s/d.
Antônio Dias sem dúvidas tem seu elo de consciência com a questão da
preservação no que se refere a integridade da natureza e todo contexto que a
envolve, inclusive na forma em que a arte pode participar de tal contexto,
colaborando na sua preservação, tanto quanto enaltecendo o seu próprio valor.
Artista plástico nascido em Campina Grande no ano de 1944, de grande significado
no seu percurso plástico, onde os elementos que compõe a sua obra sempre
conotaram um caráter de provocação, seja através da contundência das cores, seja
através de despudoradas instalações. De acordo com especialistas, o artista
interage de forma marcante com a vertente pop, minimalista e conceitual, com a
história da arte brasileira e mundial. Foi no Rio de Janeiro que teve o primeiro
contato com as artes. Sua trajetória, morando no Brasil e Europa, envolve trabalhos
em xilogravura, filme super-8, foto digital, pintura, instalação, escultura; papel
artesanal; foi para Índia, ao Tibet e ao Nepal e, em Barabishe-Tatopani, um campo
de trabalho nas imediações da fronteira entre o Tibet e o Nepal, estuda as técnicas
de Produção Artesanal de Papel com as tribos Sherpa, Tamange e Newari. Com
tapeceiros Tibetanos, aprende as técnicas de coloração vegetal através de
pigmentos. Aprofundando-se, enfim, em procedimentos milenares, escondidos no
mais íntimo dos mistérios da Ásia, resgata inevitavelmente a consciência ecológica
que permeia o fazer papel e a possibilidade da arte vinculada a natureza.
18
Figura 10 Antonio Dias,
Figura 11: Antonio Dias,
s/d.
1994.
Com um caminho que a leva ao seu interesse em fazer papel, Sônia
Ballão4, artista plástica nascida em Curitiba-PR, atualmente radicada em São Paulo,
faz oficina de papel artesanal com o artista Kamori – União Cultural Brasil Japão –
1998/19995, entre outros cursos, oficinas e workshops que fizeram parte de seu
processo de formação como artista plástica.
Suas pinturas de acrílica sobre papel artesanal incluem a fibra de
bananeira, papel soqueira de arroz, papel artesanal de kozo, de fibra de milho e
papel reciclado de aparas. Além da confecção do próprio papel artesanal, sua arte
exala as várias possibilidades de sua produção, na diversidade de fibras que utiliza
para compor sua obra; deixando claro sua defesa pela natureza e o vínculo inerente
a arte e a ecologia.
Figura 12: Sônia Ballão, s/d.
No que se refere ao papel realiza no ano de 1996, “Arte em papel e madeira” e “Arte em papel reciclado” no Galpão das
Artes, São Paulo-SP; “A filosofia do papel”, Espaço Cultural Fundação Japão, São Paulo-SP – 2000 e “Expo Bienal A
Filosofia do Papel”, Fundação Mokiti Okada, São Paulo-SP; Em 2002, III Bienal “A Filosofia do Papel” – Fundação Mokiti
Okada, São Paulo-SP.
4
5
Vide entrevista, anexo 1, com o artista plástico e professor KAMORI.
19
Artista redundante na defesa pela natureza e na grandiosidade da Arte
com a mesma, fez a arte pela ecologia, assim como deixou transparecer a riqueza
da ecologia na arte, transformando seu trabalho num resultado simbiótico onde a
arte e a natureza silenciosamente e dentro de toda a sua beleza denunciam a
destruição avassaladora de nossas riquezas.
Bené Fonteles (José Benedito Fonteles) nasceu em 1953 na cidade de
Bragança, Pará. Jornalista, editor de arte, artista de diversas expressões, incluindo
artes plásticas, música e poesia. Começou a desenvolver suas obras misturando a
tecnologia com o artesanato e se dedicou principalmente à reprografia, utilizando
para compor seus trabalhos, fotografias e recortes de jornais e revistas. Trabalhou
também com vídeos, slides, elementos da natureza como pedras, penas, artefatos
indígenas e areia.
Começou a expor em 1971, participando de inúmeras exposições
coletivas e individuais. Coordenador do “Movimento Artistas pela Natureza”, um
artista enfático na consciência Homem-Arte-Ecologia. Fez uso do papel artesanal em
sua obra como artista plástico, utilizando elementos indígenas que interagem em
perfeito equilíbrio.
Lutou em defesa dos índios e pela transformação da Chapada dos
Guimarães em Parque Ecológico.
20
Figura 13: Bené Fonteles, s/d.
Figura 14: Bené Fonteles, s/d.
Bené Fonteles e Ralph Gehre tiveram um vínculo estreito no que diz
respeito à consciência no âmbito ecológico. Ainda que a bandeira que Bené levante
em tal sentido seja mais abrangente, ocupando um espaço maior, ambos fizeram
uso em suas obras do “Papel Artesanal”, em um determinado momento, o que já traz
implícito a questão da reciclagem, junto com o despertar sobre a importância eos
problemas do meio ambiente.
Raph Gehre 6, artista plástico nascido em Mato Grosso do Sul, 1952,
radicado em Brasília-DF, tem por formação básica a arquitetura. Com uma obra que
inclui o desenho, pintura e instalações, começou a expor regularmente no ano de
1980, participando de diversas exposições individuais e coletivas, com participação
em salões. Colabora em projetos teatrais e gráficos. Utilizou papel artesanal em sua
obra, desenhando, pintando e valorizando o papel enquanto trabalho criativo,
6
Algumas exposições: Des Enhos, Referência Galeria de Arte, Brasília-DF, 2004; Coletiva Gentil Reversão: Versão
Castelo, Castelinho do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, 2003; Coletiva Eixo Brasília, Galeria Ecco, Brasília e ArtFrankfurt,
Alemanha, 2003; Coletiva Gentil Reversão, CCBB-Brasília,2001; Individual Ralph Gehre Caixa 2000, Galeria do Conjunto
Cultural da Caixa, Brasília, DF, 2000; Coletiva uma Pintura, com Dominic Dennis, The British Council, Galeria Mezanino da
Sala Villa-Lobos do TNCS-BSB, 1999.
21
proveniente da sua consciência ecológica e de seu reconhecimento da capacidade
de enriquecimento que o mesmo tem na Obra de Arte 7.
7
www.museuimperial.gov.br/serracerrado_ralph.htm - Captado em maio, 2006.
22
3. ECOLOGIA E RECICLAGEM
O mundo vem mudando numa velocidade nunca vista em outro tempo.
Nesse processo galopante de alta tecnologia e industrialização, penso ser
fundamental revermos sempre as origens, para evitarmos ainda mais que a
sobreposição da evolução apague o sentido primeiro dela própria e a sensibilidade
se transforme numa profunda alienação, onde o ser humano se perca no labirinto de
sua própria existência. O desenvolvimento e o progresso acabam por nos trazer
muitas vantagens, refletindo no contexto sócio-político-cultural. Contrapondo-se,
inevitavelmente aparecem alguns problemas, como a ocupação desordenada dos
espaços naturais, devastação e desequilíbrio ecológico, produção maior do que
consumo, desigualdade sócio-econômicas em grande escala, massificação, falta de
individualidade entre tantos outros.
A sociedade contemporânea vem passando por um dos momentos mais
cruciais da sua história, em função dos surpreendentes avanços técnico-científicos.
Na verdade, estamos sendo regidos por processos de educação baseados em
reprodução de valores, sobretudo pela globalização que se insere no cotidiano dos
meios de comunicação de massa, com fundamento no lucro, causando prejuízos à
natureza. Vivemos num tempo em que os valores materiais, o consumo em massa,
acaba omitindo uma realidade que está ligada a nossa própria sobrevivência e
qualidade de vida. Isso tudo invariavelmente acaba provocando uma inversão de
valores e um sistema que, voltado para o capitalismo e conseqüentemente para o
desenvolvimento industrial e tecnológico, acaba dando prioridade para o lucro.
Deixa-se em segundo plano um desenvolvimento sustentável real e necessário,
onde haja uma estabilidade relacionada com as riquezas naturais, garantindo um
futuro com qualidade de vida e mantendo um progresso onde a Biosfera e todo
23
Ecossistema ocupem seu verdadeiro lugar, no que se refere a manter o equilíbrio
necessário para a vida do Planeta e no Planeta, garantindo a continuidade da
existência. Usufruir as benfeitorias possíveis, que de fato são inúmeras, porém
dentro de um contexto de Desenvolvimento aliado ao Sustentável e não para uma
falsa direção que só tende a acarretar malefícios para o próprio desenvolvimento,
tanto no hoje, quanto no amanhã, é uma preocupação emergente.
Quando falamos em desenvolvimento sustentável (DS) o equilíbrio entre o
homem e o meio ambiente é o primeiro conceito que vem à cabeça. Sabemos que
os recursos naturais são finitos, conseqüentemente pensar em desenvolvimento
econômico sem levar em consideração a conservação da natureza é uma idéia sem
sentido. Desenvolvimento Sustentável não se restringe apenas às questões
ambientais, a não cortar árvores, por exemplo... não se resume a não degradar o
meio ambiente, vai muito além.
O diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da
Universidade de Brasília, Marcel Burstyn, usa como analogia para explicar o tema,
“poupar a galinha dos ovos de ouro”. “Se comermos hoje a galinha dos ovos de
ouro, amanhã ela não bota mais ovo, e não teremos mais a riqueza.
Desenvolvimento Sustentável é aquele que assegura às gerações futuras o direito
de usufruir as mesmas oportunidades de desenvolvimento das gerações presentes”.
O DS busca atender às necessidades do presente sem comprometer a
sobrevivência das futuras gerações. ”É impossível produzir riquezas sem se valer da
natureza, mas é preciso saber se apropriar desses recursos sem extrapolar. Se a
pessoa não sabe o impacto de uma ação, não o faça, afirma”.
24
O Desenvolvimento Sustentável tem por base satisfazer as necessidades
básicas da população (educação, saúde, alimentação, lazer, etc.), distribuindo de
forma justa as riquezas existentes e preservando os recursos naturais. Para alcançar
o Desenvolvimento Sustentável é preciso planejamento das ações humanas e
reconhecimento de que os recursos naturais são finitos.
Desde que houve um movimento no sentido da consciência do planeta
para a nossa sobrevivência e dele próprio, abrangendo toda natureza, o homem e
demais organismos vivos; apesar da dificuldade de avanços que contemplem
necessidades fundamentais na qualidade de vida do ser humano, já existe uma
mobilização maior e significativa na preservação do meio ambiente.
A quantidade de lixo produzida diariamente por um ser humano é de
aproximadamente 5 kg. Quando se soma toda produção mundial, os números são
bárbaros. Cerca de 35% do lixo que vai para os aterros é composto por materiais
que poderiam ser reciclados ou reutilizados. Quando não temos mesmo mais
possibilidades de reaproveitar um produto, a alternativa é reaproveitar a matériaprima que o constitui e fazer uma reciclagem. A reciclagem consiste na fabricação
de novos produtos, idênticos ou não ao que lhes deu origem, através do
aproveitamento dos resíduos.
Quando se utilizam processos de transformação não muito sofisticados
designa-se reciclagem artesanal, e industrial quando estes processos são
mecanizados e capazes de fabricar produtos em larga escala. Na reciclagem
25
artesanal os resíduos passam por poucas modificações, podendo também ser vista
como uma forma de reutilização.
Desde que surgiu, a reciclagem é vista como uma forma de solução para
a diminuição de lixo no ambiente. Muitos dos problemas causados pela disposição
inadequada de lixo e pela grande quantidade gerada vieram a ser solucionados com
a reciclagem. Apesar de que o principal objetivo a ser atingido na busca de soluções
para o problema do lixo deva ser o da conscientização da população, a arte acaba
inúmeras vezes por se apropriar desta possibilidade.
Com a mudança de pensamento e atitudes em relação aos resíduos, o
mercado poderá ser continuamente ampliado, se o público reivindicar de forma mais
intensa a mudança de atitudes por parte das autoridades e contribuir melhor com
programas já existentes, a possibilidade da reciclagem ser mais atingida aumentará.
26
Na tabela 1, encontram-se listados os materiais recicláveis e nãorecicláveis:
Tabela 1: Materiais recicláveis e não-recicláveis
Material Reciclável
Material Não-Reciclável
Papel: jornais, folhas de caderno, formulários de Papel: etiqueta adesiva, papel carbono,
computador, caixas em geral, fotocópias, provas, fita crepe, papéis sanitários, papéis
envelopes, papel de fax, cartazes, rascunhos, metalizados,
aparas de papel.
papéis
papéis
plastificados,
guardanapos,
parafinados,
papéis
tocos
de
sujos,
cigarro,
fotografias.
Metal: lata de óleo, leite em pó, lata de alumínio, Metal: clips, grampos, esponjas de aço,
outras sucatas de reforma.
canos.
Vidro: recipientes em geral, garrafas e copos.
Vidro:
espelhos,
vidros
planos,
lâmpadas, cerâmica, porcelana, tubos
de tv.
Plásticos: embalagem de refrigerante, embalagem Plásticos: cabo de panela, tomadas,
de produtos de limpeza, copinhos descartáveis, embalagem de biscoito, mistura de
embalagem de margarina, canos e tubos, sacos papel, plásticos e metais.
plásticos em geral.
Fonte: www.atibaia.com.br/sucata/importan.htm
A Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC – Criciúma/SC,
focaliza o meio ambiente e a sua preservação através do antigo Programa de
Educação e Gestão Ambiental-PEGA, atualmente ligado ao Departamento de
Gestão de Resíduos Sólidos e também através do curso de graduação de
Engenharia Ambiental.
27
A Gestão de Resíduos Sólidos/PEGA 8 objetiva uma proposta de ação
comprometida com a natureza e a sua preservação, através da prática do 3R’s
(reduzir, reutilizar e reciclar), voltando-se para o bem estar e melhoria da qualidade
de vida da população. É de grande preocupação o fato de que diversos recicláveis
secos (vidro, metal e plástico), quando descartados na natureza ou dispostos em
aterros ou em lixões, levarão séculos para se decomporem. O plástico pode levar de
100 a 400 anos, o alumínio até 1000 anos, um tempo de decomposição considerado
infinito.
No período de setembro/2001 a dezembro/2005, uma pesquisa realizada
pela Gestão de Resíduos Sólidos/PEGA, traz um resultado sobre recursos naturais
economizados através de coleta seletiva e triagem dentro da comunidade UNESC,
apresentados na tabela 2:
8
Fonte: (www.setoreciclagem.com.br) acessado em 2003.
28
Tabela 2: Coleta de recursos naturais economizados através da coleta seletiva e
triagem dentro da comunidade UNESC
Material
Papel e Papelão
Coleta Seletiva
Economia de Recursos
E Triagem
Naturais com o PEGA
73480,6 Kg
Evitou-se o corte de 1.469,6 árvores.
23571 kg
Evitou-se a extração de 3064,23 kg de
(1 tonelada = a 20 árvores)
Plástico
(1 tonelada = a 130 kg de
Petróleo.
petróleo)
Alumínio
361,5 Kg
(1 tonelada = 5 toneladas de
Evitou-se a extração de 1.807,5 Kg do
minério de bauxita.
bauxita)
Lata de aço
805,6 kg
(1 tonelada = a 1,5 toneladas
Evitou-se a extração de 1.208,4 kg do
minério de ferro.
de ferro)
Vidro
1188,2 Kg
Evitou-se a extração de 1.544,66 kg
(1 tonelada = a 1,3 toneladas
matéria prima (Sílica, calcário, areia).
de areia)
Economia de 2,5% de energia.
Fonte: PEGA – Gestão de Resíduos Sólidos – UNESC, 2005.
Eixos de atuação do projeto Gestão de Resíduos Sólidos/PEGA:
?? Oficinas de Educação Ambiental
?? Brinquedoteca
?? Compostagem de Resíduos Orgânicos
?? Minimização de Resíduos Sólidos
?? Envolvimento da Comunidade da UNESC com a Coleta Seletiva
29
Além da reciclagem atualmente ser um dos fatores mais importantes para
a redução de lixo nas grandes cidades, acaba por resultar em uma ótima
oportunidade de novos empregos e outras fontes de renda. Podemos citar aí a
reciclagem do papel, seja ela no âmbito artesanal ou industrial, que constitui um
procedimento em prol da conservação ambiental, se fundamentando em questões
da natureza essencialmente econômicas, transformando o lixo, uma matéria que só
tem custo, em um produto de valor agregado, contribuindo para a diminuição do lixo
nos aterros. Reduzindo o gasto de energia e água, o processamento do lixo
reciclável contribui para a redução destes insumos.
É importante lembrar ta mbém, que para cada 1000 kg de papel reciclado,
são poupadas 17 árvores e são consumidas 50% a menos de energia elétrica e
água, substituindo o plantio de até 350 m2 de monocultura de eucalipto para cada
tonelada de papel reciclado.
A reciclagem do papel não exige processos químicos para obtenção da
pasta de celulose, evitando também com isso a poluição do ar e rios.
No Brasil, ao redor de 80% do total de pasta celulósica produzida provém
da madeira, sendo os 20% restantes obtidos de outras matérias primas fibrosas,
inclusive das aparas de papel. As fibras de madeira no país são obtidas de quatro
áreas reflorestadas que se mantém sempre produtivas e cultivadas especificamente
para a produção de celulose. A mata nativa brasileira, pela diversidade de sua
composição é inadequada à produção de papel e celulose 9.
9
Fonte: www.inmol.com.br, acessado em 2004.
30
A reciclagem de papéis é uma atividade que ao longo dos anos vem
alcançando importância mundial. A problemática de descarte de resíduos e a
necessidade de utilizar matérias-primas alternativas e mais baratas, acabou por
intensificar o uso de matérias recicláveis.
A
reciclagem
de
papel
no
Brasil
começou
praticamente
concomitantemente com a fabricação do próprio papel (final do século XIX). Não
havendo produção nacional de celulose, as primeiras fábricas de papel eram
obrigadas a utilizar papéis descartados para a produção de materiais novos. Nessa
época, as indústrias brasileiras de papel importavam papéis de outros países.
Subseqüentemente usavam matérias-primas virgens importadas, em especial a
celulose de fibras longas.10
A maioria dos papéis são recicláveis, com algumas exceções:
?? papel vegetal ou “glassine”;
?? papel impregnado com substâncias impermeáveis à umidade (resinas
sintéticas, betume, etc.);
?? papel carbono;
?? papel sanitário usado, tais como, papel higiênico, papel toalha, guardanapos
e lenços de papel;
?? papel e cartões revestidos com substâncias impermeáveis à umidade
(parafina, filmes plásticos ou metálicos, silicone etc.)
Existe, porém, tecnologias disponíveis, em alguns países, para reciclagem
deste material-papel sujo, engordurado ou contaminados com produtos químicos
10
Fonte: Revista Meio Ambiente, 2002.
31
nocivos à saúde. É conveniente lembrar que existem papéis que não estão
disponíveis para a reciclagem, como os de livros e documentos.
3.1 Papel e Papelão
Segundo dados da Associação Brasileira de Celulose e Papel/Bracelpa,
em 2004, o setor de reciclagem recuperou 3.360,2 mil toneladas de papel, 11,82% a
mais do que no ano de 2003. Desse total, 64,2% são caixas de papelão ondulado.
Atualmente, há no país 135 fabricantes recicladores – a maioria atua nos estados de
São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Paraná. Conforme estimativas da
Associação Nacional dos Aparistas de Papel/ANAP, somente nas regiões Sul e
Sudeste, mais de 1 milhão de empregos estão direta ou indiretamente ligados ao
setor.
32
A tabela 3 apresenta a taxa de recuperação de papéis recicláveis em
2004, por tipo de geração:
Tabela 3: Taxa de recuperação de papéis recicláveis por tipo de geração (em 2004)
Discriminação
Consumo aparente Papéis recicláveis
Taxa de
de papel (mil t)
Imprensa
recuperados (mil t) recuperação (%)
482
225,6
46,8
1.853
512,0
27,6
482
260,9
54,1
2.730
2.157,4
79
* embalagem geral
285
21,9
7,7
Papel cartão
480
158,7
33,1
Sanitários
685
-
-
232
23,7
10,2
104
-
-
7.333
3.360,2
45,8
Imprimir e escrever
Embalagem
* Kraft
* papel para ondulado
Outros
* cartolinas, papelão
e polpa moldada
* papéis especiais
Total / 2004
Fonte: Bracelpa (www.cempre.org.br/fichas_tecnicas_microcenarios.php)
Com esse desempenho, o Brasil continua figurando entre as dez nações
com maior taxa de reciclagem de papel no mundo. Na preliminar de 2004 da revista
PPI – Pulp & Paper International, o país aparece com 45,8% e mantém a 9ª posição
no ranking mundial desde 2001.
33
Na tabela 4, referências sobre a evolução na taxa de recuperação de
papéis recicláveis entre o período de 2000 a 2004:
Tabela 4: Evolução na taxa de recuperação de papéis recicláveis – de 2000 a 2004
Ano Consumo aparente de papel Recuperação papéis
Taxa de
de todos os tipos (mil t)
recicláveis (mil t)
recuperação (%)
2000
6.814
2.612
38,3
2001
6.702
2.777
41,4
2002
6.879
3.017
43,9
2003
6.716
3.005
44,7
2004
7.333
3.360,2
45,8
Fonte: Bracelpa (www.cempre.org.br/fichas_tecnicas_microcenarios.php)
Tipos de papel classificados de acordo com sua finalidade:
?? para impressão;
?? para escrever;
?? para embalagem;
?? para fins sanitários;
?? cartões e cartolinas;
?? especiais.
Uma propriedade muito importante do papel é a sua gramatura, que é a
massa em gramas de uma área de um metro de papel. Dependendo desta o papel
pode receber denominações como cartão e papelão.
Reciclar papel é fazer papel empregando como matéria-prima papéis
usados ou não, tais como:
34
?? Rebarbas de papéis, cartões, cartolinas e papelões gerados durante os
processos de fabricação destes materiais, ou de sua conversão em artefatos,
ou ainda gerados em gráficas;
?? Papéis, cartões, cartolinas e papelões, assim como os seus artefatos, usados
ou não, que foram descartados.
Papéis impressos ou de revistas não são recomendáveis pela tinta que
contêm, sendo preferíveis os não impressos, mas ocasionalmente também poderão
ser usados.
Aparas de papel é a denominação genérica para essas matérias-primas.
Quanto mais limpa e selecionada for a apara, mais valiosa ela é, e melhor será o
papel obtido de sua reciclagem. Portanto cuidado para manter as aparas o mais
limpo possível.
3.2 Fibras Virgens X Fibras Secundárias
Fibras celulósicas virgens são aquelas que ainda não foram utilizadas
para fazer papel. Fibras celulósicas secundárias são aquelas que já passaram, pelo
menos uma vez, por uma máquina de papel. Portanto, um papel reciclado contém
fibras secundárias.
Entretanto, deve ser lembrado que a fibra secundária não substitui
totalmente a fibra virgem. Para determinados tipos de papel, só podem ser usadas
fibras virgens, pois as secundárias não oferecem produtos com as características
35
desejadas. Uma fibra celulósica pode ser reciclada, em média, 5 a 6 vezes, após o
que perde suas características de resistência.
Papel jornal deve ser separado dos outros tipos de papéis, pois possui
menor resistência e é melhor ser usado apenas para fazer jornal.
Impossível desvincular o reciclar papel da questão ecológica – meio
ambiente, já que a consciência surge a partir daí; mas impossível também negar que
este reciclar tenha nos trazido alguns desdobramentos e tenha caído na sutileza da
arte. Me refiro não só a confecção do próprio papel reciclado, seja ele artesanal ou
não, como a aplicação dos papéis em objetos criativos, transformando-se em arte ou
artesanato.
36
4. PENSANDO PAPEL: O QUE É O PAPEL?
O papel é composto basicamente de fibras celulósicas. Estas fibras
provêm comumente da madeira, mas outras matérias-primas fibrosas podem ser
usadas.
São exemplos de fibras vegetais comumente usadas para a fabricação de
papel no Brasil:
?? Bagaço de cana: Por ser resistente uma das mais importantes fibras, serve
para todos os tipos de papel, abundante e acessível principalmente no Brasil
e na maioria dos países.
?? Bananeira (banana prata ou d’água, nanica ou maçã): Estas duas últimas são
denominações regionais da banana d’água. É uma fibra bastante usada no
Brasil.
?? Sisal, agave ou pita: São fibras de alta resistência, todas da mesma espécie e
família, com algumas diferenças regionais. O Brasil aparece como um dos
maiores produtores e exportadores dessas fibras.
?? Bambu: Requer um tratamento especial por ser uma gramínea de tronco duro,
é necessário esmagar seu talo com martelo. Isto ajuda a ação dos agentes
químicos durante o cozimento.
?? Palha de cereais: Ao grupo de gramíneas pertencem o trigo, aveia, arroz,
centeio, cevada e milho. Como matéria-prima para produção de papel são
usados caules e folhas.
A fibra mais utilizada para produção de papel no Brasil é proveniente da
celulose de eucalipto. Inúmeras fábricas de papel possuem plantações de eucalipto,
37
que é colhido em apenas sete anos, quando alcança a produtividade máxima,
permitindo novas rebrotas.
O papel é um composto orgânico a base de fibras celulósicas que tem por
finalidade ser suporte para escrita, registro, anotações ou invólucro, dentre outros
fins. Pastor (2002, p. 20) define papel como “uma folha física resultante da união de
materiais fibrosos”.
O Acervo Difusão do Papel Artesanal, da Papeloteca Otávio Roth,
apresenta as seguintes definições de papel:
“É um conjunto de muitas fibras vegetais entrelaçadas entre si, como se
tratasse de um feltro. (Ricardo Crivelli, papeleiro e artista plástico argentino, autor do
livro Notas Sobre Papel Hecho a Mano).
“É uma substância feita na forma de uma folha delgada ou lâmina de
trapos, cascas, palha, madeira ou outro material fibroso, para vários usos”. (Dard
Hunter, mestre papeleiro americano, pioneiro nos Estados Unidos e realizador de
inúmeros tratados sobre papel feito a mão).
“O papel é uma folha delgada e contínua, obtida unindo intimamente,
comprimindo e secando materiais fibrosos, principalmente de celulose, previamente
hidratadas, misturadas ou não com outras substâncias”. (Eng. Costa Coll,
especialista papeleiro espanhol).
“Papel não é apenas a superfície, mas também a estrutura. Papel
verdadeiro e definido por seu processo de manufatura. O processo básico de fibras
batidas suspensas em água, vertidas sobre uma superfície porosa, drenada e seca
38
para formar uma folha de papel não mudou desde a primeira folha.” (Torben Bo
Halbrik, gravurista dinamarquês, que ditou curso de papel na Usina do Papel-Porto
Alegre/RS-1998).
“Pasta de matéria fibrosa de origem vegetal, refinada e quando
necessária branqueada, contendo cola, carga e, às vezes, corantes, a qual se reduz
manual ou mecanicamente a folhas secas, finas e flexíveis, bobinadas ou resmada,
usadas para escrever, imprimir, desenhar, embrulhar, limpar e construir.” (Aurélio
Buarque de Hollanda Ferreira).
4.1 A História do Papel
Na história da humanidade, o papel ocupa espaço significativo.
Sua
evolução traduz-se nas múltiplas formas de produzi-lo, nos diferentes lugares, sem
contar que vários suportes de escrita foram utilizados antes da invenção do próprio
papel.
4.2 Os Proto-Papéis
Alguns vegetais foram usados como suporte de escrita. Tiras de bambu e
folhas de palmeira eram usados no oriente. Os polinésios e havaianos, assim como
os chineses, desde a pré-história usavam uma entrecasca de árvore que ficou
conhecida como Tapa.
Os índios Ticuna preparam no Brasil usando a entrecasca de árvores do
tipo Fícus, o Tururi, que é muito parecido com o Tapa. Cortando o tronco da árvore e
39
golpeando com macetas de madeira, a entrecasca se separa. Ela é lavada e
cortada. Artefatos utilitários e roupas rituais são preparadas com ela pelos Ticunas.
Hoje fazem produção para turistas.
Os maias faziam um material de entrecasca com o qual eles escreviam e
construíam códices. Este conhecimento sobrevive hoje através dos índios Otomi, no
México. Este material se chama Amati e é o material com as pinturas típicas
mexicanas.
O papiro é o mais famoso e importante dos suportes vegetais antes do
papel. Foi inventado pelos egípcios e os exemplares mais antigos tem 3500 anos.
Lâminas do junco que crescia nas margens do Rio Nilo eram usadas, o Cyperus
Papyrus. Hoje o rio já não produz estes belos exemplares de mais de cinco metros.
As lâminas eram justapostas no sentido vertical e horizontal. Eram polidas após
golpeadas e prensadas até o início da nossa era, o papiro serviu de suporte de
escrita para os textos gregos e latinos, quando foi substituído pelo pergaminho.
Feito de couro de animais-ovelhas, carneiros, cabras, vacas e outros – o
pergaminho é um suporte de escrita que diz-se foi desenvolvido na cidade de
Pérgamo, levando-lhe o nome, duzentos anos antes de Cristo, mas em forma mais
rudimentar já existia mil anos antes. Quando o couro de fetos de animais é utilizado
dá-se o nome de velino, com consistência mais suave e flexível. Matava-se 300
carneiros para editar uma bíblia. Toda cultura medieval foi escrita sobre pergaminho.
40
4.3 O Papel no Oriente
Encontrada em um túmulo na província de Shansi, a amostra mais antiga
de papel data de 200 anos antes do nascimento de Cristo, sendo que o papel foi
inventado na “China”. Ts’ai Lun o introduziu na corte imperial em 105 d.C., motivo
pelo qual é reverenciado até hoje como seu inventor. Os chineses usavam seda,
uma espécie de papel feito com restos de casulos, lâminas de bambu e folhas de
palmeira, como suporte de escrita. Conheciam o Tapa e o feltro. Suas experiências
com restos de redes, cânhamo, amoreira, bambu e outras fibras, resultou no material
que chamamos de papel.
Da China, o papel foi para a Coréia, sendo difundido no Japão nos anos
600 de nossa era através de Monges Budistas. Três plantas tradicionais são
utilizadas no método japonês de fabricação: o Gampi, o Kozo e o Mitsumata. As
fibras são cozidas, limpas, maceradas com martelos de madeira ou varas e diluídas
em um tanque no qual se acrescenta uma mucilagem extraída do hibisco, o neri. Os
moldes são flexíveis e feitos com finíssimas varetas de bambu e fios de seda. Em
múltiplas camadas sobrepostas, as folhas são formadas e postas a secar sobre
tábuas quentes ou ao sol. Este tipo de papel é chamado de washi. Das vilas
papeleiras do início do século no Japão, sobrevivem não mais que setecentas, das
60.000 que existiam. A Vila de kurotani ao norte de Kioto, mantém a tradição.
No método nepalês as folhas são feitas por derramamento em forma. É
utilizada a fibra de uma planta chamada Dafne que cresce a 4000 metros, no
Himalaia. Com esteiras de bambu, a folha também pode ser retirada de tanques
cavados no chão, ao modo japonês. Posta sobre um saco de algodão no chão ou na
41
própria forma é levada ao sol para secar, depois é calandrado com uma bola de
vidro. O tingimento é feito com corantes vegetais. Característica comum ao papel
oriental, o resultado é uma folha muito fina e sedosa, pois o papel tinha o propósito
de imitar a seda e era escrito com pincel. O trabalho artesanal de papel no Nepal
recebe ajuda da UNICEF.
4.4 O Papel no Ocidente
Foram os árabes que difundiram o papel no ocidente. Interessados neste
material barato para poder divulgar os ensinamentos de Maomé, foram responsáveis
pela construção de importantes bibliotecas. Inovaram também na produção de
papel, dando-lhe a aparência e resistência similar a do pergaminho. Restos de
trapos e de fibras de linho principalmente eram usados, método que foi adotado pela
Europa sob seu domínio nos anos 1100, iniciando em Xátiva, na Espanha.
Transformados em fábrica de papel, foram os moinhos de trigo
abandonados. Eram transportados para os moinhos que ficavam ao longo dos rios
os trapos coletados pelas trapeiras nas cidades. Lá eram separados, postos para
apodrecer e triturados pelos macetes de madeira, movidos pela força transmitida
pelas rodas d’água. A polpa de trapos era coada em moldes rígidos com malha de
fio de cobre, invenção ocidental. Eram postos para secar depois de prensados e
encolados com cartilagem animal, polidos e empacotados.
Um sistema de intervenção na folha de papel chamado de Marca D’água
foi desenvolvido pelos papeleiros italianos na idade média, ele permitia identificar o
fabricante da folha depois de pronta.
42
Em 1455, as inovações de Gutenberg no campo da impressão, foram
uma grande revolução. Foram impressos 35.000 títulos nos 50 anos seguintes. Com
a impressão da bíblia em papel, acabaram as fronteiras para o uso deste material
que passou a substituir o pergaminho em tudo. A demanda aumentou intensamente.
Várias pesquisas e invenções foram feitas com o sentido de buscar novas
tecnologias e matérias-primas, entre os anos de 1750 a 1850. Em 1860 a invenção
de uma máquina de refino de pasta celulósica anuncia novos tempos. Em função de
seu país de origem a máquina era chamada de HOLANDESA, ela substitui com
maior produtividade os moinhos tradicionais, simplificando etapas e processo de
produção.
A máquina contínua foi inventada por um operário francês chamado
Nicholas-Louis Robert em 1798, então fim do século XVIII. Os irmãos Henry e Sealy
Fourdrinier a patenteiam e a aperfeiçoam, comprando esta invenção. Mesmo que
tenham perdido uma fortuna, seus nomes ficaram eternizados na indústria do papel,
que ainda hoje chama assim a máquina que faz papel.
Um notável avanço na fabricação de papel foi o que esta invenção
significou, exigindo maior quantidade de matéria-prima para um incremento
considerável de produção. Ocorre uma intensa busca de novas fontes fibrosas,
devido a insuficiência de trapos, para fazer frente a esse novo ritmo de consumo.
A recente invenção de Joseph Bramah começa a ser utilizada em
moinhos ingleses em 1800: a Prensa Hidráulica (1790).Também em 1800, Mathias
43
Koops, residindo em Londres, iniciou seus experimentos no uso da madeira para
fazer papel. A maioria do que conhecemos como indústria de papel nos nossos dias
começou a partir do trabalho pioneiro de Koops. A máquina de moer madeira
patenteada por Friedrich Gottlob Keller, em 1840, na Alemanha, é um exemplo.
4.5 Papel Industrial no Brasil
Muitos países reclamam a competência da produção de papel. Uma
fábrica com notáveis aperfeiçoamentos industriais e com um laboratório onde se
devia trabalhar já dentro de um plano de investigação científica foi fundada por
Moreira de Sá em 1802. Em 1808 a fábrica foi arrasada pela invasão francesa.
Com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil em 1809 e no
mesmo ano, é construída no Brasil nossa primeira fábrica. A fábrica foi instalada em
Andaraí Pequeno, no Rio de Janeiro por Henrique Nunes Cardoso e Joaquim da
Silva, industriais portugueses transferidos para o Brasil. Pretendiam trabalhar com
fibras vegetais. Supõe-se que deva ter começado a funcionar em 1810 e 1811.
Por volta de 1820 e 1821, tem-se notícia de uma outra fábrica no Rio de
Janeiro. No Rio temos também a fábrica de André Gaillard em 1837 e a de Zeferino
Ferraz, na Freguesia do Engenho Velho, em 1841. Utilizando fibras vegetais, neste
mesmo ano temos a fábrica de Conceição da Bahia.
A fábrica de Orianda atingiu excepcional índice de perfeição técnica. Foi
instalada em 1952, no meio da serra de Petrópolis – RJ, por Guilherme Schuch, o
44
Barão de Capanema. O Diário do Rio de Janeiro, Correio da Tarde e Correio
Mercantil, eram jornais que nela se abasteciam, assim como O Tesouro Nacional,
que utilizou papel selado de sua fabricação. Devido a inúmeras dificuldades, mais de
uma vez foi socorrida por D. Pedro II. Faltava o trapo, ou seja, a matéria-prima, o
que obrigava a importação da Europa, pois não havia aqui no Brasil, a indústria
organizada de trapeiros, como ele mesmo reclamava. Atingindo todo o seu
operariado, outro golpe sofrido pela fábrica foi a peste Bubônica em 1855. Mas,
apesar dos reveses, continuou a produzir papel até 1874, data em que foi decretada
a sua falência. Duas novas fábricas são abertas em Petrópolis e uma outra no Rio
de Janeiro, dez anos mais tarde.
Com a fundação da Fábrica de Papel Paulista em Salto do Itú, temos São
Paulo no cenário papeleiro em 1889. Esta fábrica de papel existe até hoje e é a
primeira bem sucedida no Brasil. Em 1890, a indústria de papel da Companhia
Melhoramentos de São Paulo da cidade de Caieiras, também abre as portas de um
novo século.
4.6 Papel Artesanal no Brasil
Com exceção feita aos trabalhos de Frei Veloso no começo do século
passado, o papel artesanal no Brasil inicia em Minas Gerais, São Paulo e Brasília
quase que simultaneamente com pesquisas de Zuleica Medeiros em materiais
artísticos alternativos, gerando o LEME, em Brasília.
45
A cultura do papel artesanal no Brasil, com tamanha falta de tradição, só
foi retomada com as pesquisas da professora Zuleica Medeiros na Universidade de
Brasília-UNB, por volta da década de 1980 e que incluíam: O papel suporte para a
Educação Artística, a reciclagem para a Educação Ambiental e a Atividade de
Extensão para Geração do Trabalho e Renda, junto aos núcleos sociais do Distrito
Federal. Implantado para os “Meninos de Rua” da cidade satélite de Ceilândia foi o
primeiro núcleo de produção. Em seguida, para os artesãos e idosos do Núcleo
Bandeirante. O repasse tecnológico da construção dos materiais foi permitido por um
convênio entre a UNB e a Fundação Educacional do Distrito Federal, para os
professores da rede e conseqüentemente foram constituídos 90 Laboratórios de
Pesquisa e Produção de Papéis, tintas, pincéis e outros materiais junto às escolas e
para os alunos da fundação. Apresentando os resultados das pesquisas dos
materiais em Congressos Nacionais e Internacionais, cursos foram ministrados com
o objetivo principal de fomentar núcleos de pesquisa dos materiais em vários
estados brasileiros. No ano de 1989 acontece a transferência para Florianópolis-SC,
germinando as atividades eco-empreendedoras, objetivando a Formação da Cultura
do Papel Feito à Mão no Brasil. Ainda na UNB implantou o LEME – Laboratório de
Materiais Expressivos, atuando até hoje com a Coordenação da Professora Thérèse
Hofmann Gatti.
Retornando da Inglaterra em 1979, Otávio Roth implantou em São Paulo
a 1ª Oficina de Handmade Paper, onde iniciou suas pesquisas com a Interpretação
Criativa da Fabricação como Nova Forma de Expressão Visual. Com a iniciativa de
Marlene Trindade, em Minas, então professora na Escola de Belas Artes da UFMG,
em um desdobramento do curso de Artes da Fibra, em 1980, Nícia Mafra e Diva
46
Elena Buss fazem parte deste primeiro grupo de alunas, sendo que Diva realiza a
primeira exposição individual de papel artesanal no Brasil, na Galeria Otto Cime no
ano seguinte. Juntamente com os cursos que Diva realiza pelo Brasil, seguem-se
cursos no Festival de Inverno da UFMG em Diamantina, que farão a difusão do
papel artesanal como expressão artística. Na cidade de Porto Alegre, Maria Leda
Macedo e Bárbara Benz também seguem esta vertente.
Deste resgatar do papel artesanal no Brasil, marcado pela década de 80 e
por figuras marcantes, que amaram e reconheceram profundamente a riqueza
implícita na “Arte do Fazer Papel”, apostando em projetos de grande sensibilidade e
possibilitando despertar a criação através do “Fazer Papel”, outros seguidores,
herdeiros também dessa paixão, vem também desenvolvendo projetos ligados ao
fazer papel, ao âmbito ecológico de uma forma mais abrangente e até mesmo na
produção teórica sobre papel.
Servindo de referência para a criação da Usina do Papel da Prefeitura de
Porto Alegre no ano de 1992, o trabalho de Maria Leda que frutificou na Oficina de
Papel da Vila Cristo Rei, em Cachoeira do Sul, em 1988, foi o expoente. Esta
iniciativa de Celina Cabrales contou com o apoio técnico de Bárbara Benz, que
juntou ao projeto também sua trajetória ecológica. Desde então Celina Cabrales e
Josmeri Pergher Puhl têm desenvolvido o trabalho neste espaço permanente de
produção material de papel e conceitual sobre o mesmo.
47
A Papeloteca Otávio Roth, criada em 2004, se dedica a pesquisa, acervo
e difusão deste patrimônio da humanidade que é a magia de fazer papel11.
4.7 Uma importante referência brasileira: Otavio Roth
Otávio Roth é o nome mais expressivo de São Paulo, com contribuição na
publicação de livros sobre o assunto, assim como a criação da Oficina das Artes do
Livro e inúmeros projetos de âmbito internacional, que continuaram após seu
falecimento em 1993. Além de sua obra pessoal, como papeleiro e gravurista,
ministrou cursos pelo Brasil.
Artista plástico brasileiro internacional consagrado e muitas vezes
premiado, com pioneirismo na arte em papel no Brasil e na educação da
sensibilidade para este material expressivo: “Lembro-me do medo que tinha do papel
em branco... um dia aprendi a fazê-lo com as próprias mãos. Foi uma revolução.
Hoje somos amigos inseparáveis” 12.
Figura 15: Otavio Roth, s/d.
Otavio Roth nasceu em São Paulo, onde cursou o primeiro ano da
Escola de Engenharia Mauá, em 1970, viajando em seguida para Jerusalém com
11
12
A respeito da Papelota, consultar: www.papeloteca.org.br
Fonte: Gente de Fibra, SESC Pompéia, São Paulo/Panorama Papel; MAM, São Paulo:1990.
48
uma bolsa de estudos do governo israelense. O artista plástico Márcio Doctors o
inicia na carreira artística. Abandona o curso de engenharia em 1972, quando
retorna ao Brasil e ingressa na escola superior de propaganda. Na década de 70
participa de algumas exposições, como no Museu de Arte Contemporânea de São
Paulo, com “O Fotógrafo Desconhecido”; A Bienal de Artes Plásticas e o Salão
CCBEU, em Santos; e “7 Jovens Artistas” na Galeria Eucatexpo, em São Paulo e
Curitiba.
Gradua -se em Art and design pela Hornsey College of Art de Londres,
onde se instalou em março de 1974, permanecendo aí até o término do curso.
Estuda gravura com Paul Pitch, de quem recebe profunda influência. Quando
termina os estudos, muda-se para a Noruega, trabalhando por dois anos como
designer na firma Anisdah/Christensen de Oslo. Durante os longos invernos
escandinavos, Otávio realiza uma série de gravuras baseadas nos artigos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Surge o interesse por papel feito a mão
e dá início as primeiras pesquisas. Os originais dos direitos humanos são expostos
no Informasjonsenteret em dezembro de 78 para comemorar o 30°aniversário da
Declaração. A seguir, a mostra é levada para o Pallais de Chaillot em Paris. A
convite da editora CJS Graphics, Otávio vai a Nova York acompanhar a publicação
de seu trabalho, distribuído internacionalmente por várias organizações de Defesa
dos Direitos Humanos.
Volta ao Brasil em 1979 e funda a Handmade oficina de papel, a primeira
fábrica de papel artesanal do país. No mesmo ano, em dezembro, expõe suas
gravuras sobre papel feito a mão no Instituto dos Arquitetos do Brasil. Recebe o
prêmio de melhor gravador do ano pela pesquisa realizada, concedido pela
49
Associação Paulista de Críticos de Arte. Participa da exposição dos melhores do ano
no Macksoud Plaza e na Fundação das Artes de São Caetano, com nomes
significativos no cenário das ARTES nacional e internacional, como, Tomie Ohtake,
Maria Bonomi e Ivald Granato. Como artista convidado do Museu de Arte Moderna
de São Paulo, expõe no Panorama de Arte Brasileira em 1980. Em seguida retorna
a Nova York. Visita fabricantes de papel artesanal em todo país e trabalha na Dieu
Ronne Press and Paper, com Joe Wilfer. Ministra curso de seis semanas sobre
fabricação de papel a mão no Center For the Book Arts, em Manhattan expõe
individualmente na Automation House em Nova York.
O então secretário geral da ONU, Senhor Kurt Waldheim, oferece a sede
da organização para exposição de suas gravuras sobre os direitos humanos. A
exposição é aberta simultaneamente no dia dez de dezembro na sede da ONU em
Nova York, no Pallais Des Nations em Genebra e na Internacional Center em Viena.
Pelo sucesso obtido, a Onu adquire todos os direitos para ser acervo em exposição
permanente nas três sedes. A World Federation of United Nations Association
escolhe Otávio para realizar as gravuras da edição comemorativa de selos sobre
Preservação
da
Natureza,
a
serem
lançados
em
dezembro
de
1982.
Concomitantemente, uma edição de mil gravuras sobre papel feito a mão com
pétalas
de
flores,
e
encomendada
pela
organização,
será
distribuída
internacionalmente.
Retorna a São Paulo em maio para montar a exposição “Criando Papéis”,
a convite do professor P. M. Bardi no museu de Arte de São Paulo. A Funarte
50
oferece o Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro para acolher a mesma
exposição.
Otávio Roth desenvolveu suas pesquisas sobre papel artesanal para fins
artísticos no Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP, com uma bolsa do CNPq,
escreveu o livro “O Que é Papel”, para a Editora Brasiliense de São Paulo; “Criando
Papéis”: o processo Artesanal como linguagem, entre outros. Foi membro da
Associação Internacional dos Historiadores do Papel, da Basiléia, e professor
convidado do Center for de Book Arts de No va York.
Otávio Roth, invariavelmente significou de uma forma extremamente
densa, todo resgate necessário no tamanho do “Fazer Papel” de uma forma
artesanal, expandindo e permitindo o criar com a fonte da natureza e acendendo o
verdadeiro valor do papel. “O Papel é Mágico”. Os papéis são inúmeras
possibilidades. Papel é Artesanato... Papel é Arte.
51
5. FIBRAS NATURAIS, RESÍDUOS E PAPEL
5.1 Banana X Papel
Fibra de bananeira para produzir papel... sua origem e dispersão. Não se
pode indicar com precisão a sua origem, pois ela se perde na mitologia grega e
indiana. A banana é originária do sul da Ásia, Índia e Indonésia, segundo diversas
fontes. Fala-se ser a mais antiga fruta de que se tem notícia, sendo citada em textos
budistas de até 500 AC. Sua dispersão aconteceu com as navegações portuguesas,
supõe-se que através de suas viagens, os grandes navegadores conheceram esta
fruta e começaram a cultivá-la onde passavam.
No Brasil há muita banana e reconhecemos em registros antigos sua
importância na nossa alimentação. Antes do descobrimento, as bananeiras já
existiam no Brasil. Quando Cabral aqui aportou, encontrou os índios comendo in
natura um cultivar que supõe-se tratar-se de banana “branca” e outro que antes do
consumo precisava cozinhar chamado de “Pacoba”, que deve ser o cultivar Pacova.
De origem africana a palavra também é conhecida como banano, plátano,
gruneo, e camburé. Seu plantio na América Central foi subvencionado pelos Estados
Unidos na segunda guerra mundial.
A produção mundial da banana é de aproximadamente 64,6 milhões de t/
ano. No Brasil produzimos atualmente 6,3 milhões t/ano. Os principais estados
produtores no Brasil são Pará, São Paulo, Bahia, Amazonas, Minas Gerais e Santa
52
Catarina. Há também o cultivo no Rio Grande do Sul, com menor produção nos
municípios de Três Cachoeiras, Torres, Maquiné e Santo Antônio da Patrulha. Desta
produção 90% destinam-se para o consumo interno.
Típico das regiões tropicais úmidas a bananeira é um vegetal Herbáceo
completo, que possui raiz, caule subte rrâneo ou rizoma (pseudocaule), folhas, flores,
frutos e sementes. O pseudocaule é formado por bainhas foliares sobrepostas,
tendo em seu interior o palmito. No prolongamento das bainhas foliares encontramse as folhas. O cacho é composto pelo engaço, ráquis, pencas de bananas e botão
floral ou coração. No caule ocorre a formação das raízes, das folhas, da
inflorescência e a geração de novos rebentos ou filhotes.
Após a colheita da fruta, a bananeira produz resíduos. Ela dá um cacho
só e deve, após se podada, mais ou menos a um metro do tronco, em diagonal,
servir para armazenar a seiva para o filhote ou nova muda.
Sabe-se através de referências que depois do descarte do pseudocaule
em grande quantidade, caso não haja um bom manejo destes resíduos, poderá
haver aumento da umidade no local e conseqüentemente proliferação de fungos.
Pode ser observado o difícil apodrecimento de suas fibras, por serem resistentes, se
colocado na compostagem. O engaço é tirado em ambiente de climatização para
posterior comercialização da banana. É o processo de separação das pencas, sendo
colocado no lixo. Quando cultivado de maneira convencional, um bananal fornece
200 t/ha/ ano de resíduos.
53
Todo
este
material
tem
grande
potencial
fibroso,
abrangendo
pseudocaule, folha e engaço. O comprimento da fibra varia de 2 mm a 8 mm.
Circe Saldanha, artista plástica de Porto Alegre, realizou importantes
trabalhos de gravura a partir da observação de bananeiras no fundo de seu quintal.
Figura 16: Circe Saldanha,
artista plástica de Porto
Alegre.
5.2 Arroz X Papel
O arroz é uma planta herbácea pertencente à família das gramíneas, cuja
espécie cultivada é Oryza Sativa, empregada na alimentação humana. Existem dos
tipos básicos de arroz: o de “sequeiro”, cultivado em terras altas ou um tanto
enxutas; e o irrigado, cultivado em áreas que são alagadas após a semeadura.
A cultura de arroz é representativa no estado por sua área plantada.
Mesmo sendo uma cultura anual, com ciclo de apenas 100 a 150 dias (Arroz
Irrigado, 1997), conseqüentemente produtora de reduzida massa verde, sua área
plantada justifica uma abordagem do uso de seus resíduos, sobretudo, por
apresentar até duas colheitas, sendo que o agricultor fica ocioso e sem renda nos
demais meses do ano.
54
O cultivo do arroz irrigado presente em todas as regiões brasileiras,
destaca-se na região sul que é responsável, atualmente, por 60% da produção total
deste cereal. Nas demais regiões as produções de arroz irrigado não são
significativas 13.
Os resíduos são deixados no solo pela colheitadeira, contribuindo para o
condicionamento físico do solo e reposição de nutrientes. A cultura do arroz irrigado
característico de anaerobiose dos solos complica o processo de decomposição,
diminuindo os benefícios da palha na bioestrutura do solo, assim como impede o
aproveitamento do nitrogênio devido à sua redução. (Santos, 2000 apud Silvana
Bastianello). O que significa que sua utilidade deve e pode ter outros fins... o uso de
seus resíduos na produção de papel inclusive.
5.3 Amoreira X Papel
As amoreiras são originárias da Ásia e foram introduzidas na Europa em
torno do século XII. Feito de amoreira e vindo da Coréia foi o primeiro papel
introduzido no Japão. Utilizada para a fabricação do tapa, a entrecasca da amoreira
chinesa plantada no Hawai, hoje proto -papel praticamente extinto.
Pertence a ordem Urticales Família Moraceae Gênero Morus Espécie
Morus Alba, Lineu.
13
Fonte: www.sistemadeproducao.cnptia.embrapa.Br/fonteshtml/arrozirrigadodobrasil/cap01.htm
55
Com a entrecasca dos galhos da amoreira, com ou sem casca, fazemos
papel. Suas fibras são longas, brancas e resistentes. As longas fibras do Kozo
(Broussonetia Kazinoki Sieb, a mais famosa representante das moráceas do mundo
do papel) fornecem papéis resistentes e translúcidos, produzidos no Japão de forma
tradicional com intensidade e atualmente também com a participação da indústria.
56
6. RECEITAS PARA FAZER PAPEL
6.1 Receitas de Diva Elena Buss
Diva Elena Buss fez a primeira tese sobre papel artesanal no Brasil –
1991, com boa conceituação e conseqüentemente, recebendo aprovação, defendida
na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Para ela, “o
papel artesanal é uma arte milenar que atualmente tem sido muito utilizada, haja
visto o problema mundial do lixo. Esta arte constitui um novo veículo que desperta o
potencial criador em todas as idades”.
Por ser de caráter bastante didático e claro sua forma de orientação sobre
como fazer papel artesanal, tanto a partir da reciclagem, quanto a partir de fibras
vegetais, a escolhi como uma das diretrizes na propagação do fazer papel. Segue
abaixo descrição dos dois processos trazidos pela autora:
a) Processo de produção de papel a partir da reciclagem
Lista de Equipamentos Básicos dos dois Processos de Produção de
Papel Artesanal:
1.
Cesta de pedacinhos de papel;
2.
Baldes de plásticos;
3.
Tina de plástico, de preferência retangular, com cerca de 20 cm de altura
(do tipo usadas em açougue). O tamanho de tina vai depender das dimensões do
molde;
57
4.
Liquidificador;
5.
Moldes de tamanhos variados. Comece com o tamanho postal;
6.
Peneiras de plástico, circulares e planas;
7.
Esponja de plástico ou pedaço de pano;
8.
Rolo para abrir massas ou para entintar gravuras;
9.
Prensa manual;
10.
Toalhas e jornais velhos.
11.
Ferro elétrico (do tipo usado para passar roupas);
12.
Prancha de compensado de 1 m de altura por 80 cm de largura
(dimensões que podem variar);
13.
Feixe de fibras naturais;
14.
Martelo de madeira;
15.
Cepo (secção de um tronco de árvore), ou tábua grossa;
16.
Feltro, pano ou papel mata-borrão;
17.
Flor de hibisco e quiabo;
18.
Vidro com cola (C.M.C.).
Reciclando papéis, usados ou não, eles se transformam num novo papel
com outra roupagem. Objetivamente falando, esse processo consiste em desfazer
esses papéis em um liquidificador doméstico ou industrial, soltando as fibrilas e
separando-as umas das outras, produzindo uma polpa de fibrilas, que serão depois
novamente reunidas e com as quais faremos novas folhas de papel. A reunião das
fibrilas é facilitada pela cola existente em todo papel industrializado, não sendo
necessário novo encolamento, a não ser excepcionalmente.
58
Todo papel reciclado tem semelhança com o que se reciclou, possuindo
as mesmas características. Eventualmente pode-se melhora-lo acrescentando-se à
polpa papéis de melhor qualidade ou mesmo fibras naturais. Podemos usar a nossa
criatividade ao preparar a polpa, pois as possibilidades são infinitas, considerando o
resultado pretendido e a finalidade do papel a ser produzido.
Pela tinta que contêm, papéis impressos ou de revistas não são
recomendáveis, sendo preferíveis os não impressos, porém ocasionalmente poderão
ser usados.
Procedimentos para fazer a polpa reciclando o papel - o liquidificador
deve ficar sobre uma pia com água corrente e tomada, pois será muito usado.
Preferencialmente deve-se ter um copo sobressalente para que o copo de uso
doméstico não seja usado. Sobre uma mesa ou prancha colocam-se jornais velhos
empilhados, aproximadamente até 4 cm e sobre eles toalhas de banho velhas
dobradas, evitando assim que a água que escorre do molde se espalhe sobre a
mesa ou molhe o chão. Coloca-se a tina de plástico ao lado das toalhas, próximo ao
liquidificador. Na frente ficam as peneiras, os moldes, a esponja, uma toalhinha de
mão e panos ou feltros, um pouco maiores que o molde e rodelas de papel-jornal ou
de pano, para papéis circulares feito com peneiras.
Tome um punhado de papel cortado em pequenos pedaços e
previamente de molho por no mínimo 24 horas, esprema-os levemente, coloque no
copo do liquidificador, acrescente água até três dedos antes da borda do copo,
feche-o bem e bata cerca de dois minutos. Assim que os papéis tomarem a
consistência de mingau homogêneo, eles já estarão bem triturados. Despeja-se essa
59
polpa na tina, repetindo todo o processo até atingir a metade da tina. Coloca-se
então água até cerca de 15 cm, sem atingir a borda. Caso a polpa fique muito
espessa, retira-se uma parte, guarda-se num recipiente e adiciona-se mais água.
O principiante deve começar utilizando uma peneirinha circular de cozinha
para que possa treinar os movimentos necessários mais facilmente e os papéis
circulares são úteis para catalogar os vários tipos que podem ser criados.
Para a retirada da folha de papel, segura-se a peneira ou o molde com
uma mão de cada lado, os dedos na borda externa e os polegares para dentro.
Sobre a tina com a polpa, estendem-se os braços para frente e desce-se a peneira,
mergulhando-a até sua metade para não colher poupa em excesso, obtendo uma
folha muito grossa, tipo papelão. Levante-a horizontalmente, evitando também que a
polpa e a água escorram para um lado, tornando o papel aí mais grosso. A lâmina
de polpa na peneira, ainda com água, segure-a firmemente e balance-a para frente e
para trás, para direita e para a esquerda, passando uma das mãos por baixo para
retirar o resto da água. O balanço da peneira faz com que as fibras se acomodem
enquanto a água sai, resultando em uma trama bem resistente, pois sem ela as
fibrilas apenas se empilham dando um papel mais fraco.
No processo da peneirinha, logo após retirá-la com um pano, de
preferência de algodão, leve a folha a um compensado, onde ela aderirá
imediatamente e então prense-a bem com um rolo, retirando o pano, e terá o papel
bem estendido e plano. Coloque a prancha ao sol e as folhas secarão rapidamente.
Depois de secas deixe-as aí por um dia antes de retirá-las, afim de que a celulose
60
retraia uniformemente. Caso não seja feito isso, poderão surgir ondulações
indesejáveis e às vezes irreversíveis, mesmo sendo prensadas.
Retirando as folhas após secas e as possibilidades de prensá-las
Para retirar as folhas use uma espátula de ponta fina ou mesmo uma
faca, soltando um dos cantos e levantando-as suavemente. Tendo várias folhas do
mesmo tamanho, use duas pranchas de madeira, colocando-as entre elas com um
peso encima, até que elas se assentem completamente, procedimento mais seguro
do que deixa-las soltas. Caso as folhas sejam pequenas, modelo postal, você pode
usar uma lista telefônica, colocando-as entre suas páginas separadamente e
finalmente um peso sobre a lista. Deixe-as aí durante alguns dias. Não se esqueça
que uma pequena prensa ou prelo também são úteis para isso.
Ainda com a peneira, outra possibilidade... formada a folha, a peneira é
colocada sobre a toalha, que absorverá mais água, pondo-se então uma rodela de
papel-jornal não impresso sobre a lâmina de papel, ideal por não conter cola, e com
a esponja ou uma toalhinha, comprime-se levemente contra a toalha, retirando mais
água. Viramos então a peneira e batendo na tela com a mão a folha se desprenderá.
Colocamos sobre a folha outra rodela de papel-jornal ou pano e com o ferro elétrico
morno secamos o papel. A folha de papel deve ser protegida com rodelas de papeljornal dos dois lados. Passa-se o ferro levemente pressionando-o, levantando e
repetindo várias vezes para que toda água evapore. Se preferir transfira a folha para
um compensado, e leve-a a secar ao sol.
61
Nunca esqueça que só depois de escorrida a água a folha estará pronta
para ser retirada com um pano maior que a folha e então transferida para o
compensado. Apenas a moldura com tela não deve ser usada, pois dificulta a
retirada da folha, cujas bordas rompem-se facilmente, a menos que a folha seque no
molde. Existem também telas de arame galvanizado ou de cobre, porém de custo
elevado.
A madeira do molde deve ser resistente, indeformável, nem muito porosa,
para que não absorva muita água e fique pesada, podendo ser evitado
impermeabilizando-a com cera de abelha. O tamanho do molde deve ser sempre
proporcional ao da tina, que deve ser bem maior para facilitar o mergulho do molde.
A folha de papel é feita com polpa em suspensão na água que quando
fica parada decanta-se e deve ser agitada, antes da produção de nova folha. O
tempo que a polpa pode permanecer na água é de dois dias, depois começa a se
decompor. Para sua conservação devemos espremer toda água, colocando-a em
sacos plásticos, na geladeira, durante alguns dias, sendo porém preferível seca-la
ao sol, o que aumenta a sua durabilidade.
Obs.: Todo equipamento deverá ser lavado cuidadosamente e seco após o uso.
62
b) Processo de Produção de Papel a partir de Fibras Vegetais
Ainda segundo Diva Elena Buss 14 o papel de fibras naturais é
caracteristícamente transparente, quando as folhas são bem finas, sugerindo
criações intermináveis como a inclusão de flores secas ou penas de aves, entre
duas folhas de papel, ainda molhadas, que poderá secar ao sol ou com o ferro de
passar. Estes trabalhos são bonitos quando vistos contra a luz, servindo até mesmo
para a confecção de cúpulas de abajur.
Basicamente igual ao processo de produção a partir da reciclagem. As
diferenças principais situam-se nos procedimentos que antecedem a produção da
folha, no equipamento básico necessário e no uso de produtos químicos. É
fundamental um bom conhecimento de plantas. Estas devem possuir tecidos bem
fibrosos.
Nem todos vegetais servem para a produção de papel, apesar da celulose
ser seu elemento fundamental. Quando visto ao microscópio, o papel feito com
essas fibras de celulose assemelha -se a um tecido cujos fios formam uma trama em
todas as direções, e as fibrilas têm o aspecto de tubos ou fitas, medindo entre 1,25 e
25 mm.
Equipamento Básico:
1. Balde de aço inoxidável ou de ágata (comece com um de dez litros);
2. Peneira ou molde para formação da folha;
14
www.comofazerpapel.com.br/assets/comofazerpapel.pdf - Captado em junho, 2006.
63
3. Peneira côncava para lavagem das fibras;
4. Colher de pau com cabo longo;
5. Conc ha de molusco, grande e dura ou faca sem corte;
6. Martelo de madeira;
7. Cepo (secção de um tronco de árvore) ou tábua grossa;
8. Luvas de borracha;
9. Fogão.
Obs.: Exemplo: peneira reta redonda ou molde madeira, tamanho ofício com tela e
mais uma tela vazada no mesmo tamanho.
Limpando as Fibras
Casca de troncos de árvores, caules diversos, galhos, folhas, raízes,
frutos, cipós, etc..., ou seja, qualquer parte da planta pode ser usada para fazer
papel artesanal. Para fazer papel não é necessário depredar a natureza, pois
encontramos árvores derrubadas por temporais, podas de jardins, e até restos de
feiras.
No local onde o tronco foi cortado e quebrado, realiza-se um teste inicial,
tentando soltar a casca. A casca soltando-se facilmente em tiras, trata-se de uma
fibra que provavelmente será boa para a produção de papel. Ela produzirá pouca
polpa, caso solte-se em pequenos pedaços e então o trabalho não compensará.
Depois da limpeza que deve ser feita, as fibras ficarão muito reduzidas, o
que significa que precisaremos sempre de bastante casca para a produção de
64
papéis. Para a limpeza da casca ela deve ser raspada com a concha ou com uma
faca sem corte, pois faca muito afiada retalha muito as fibras. As tiras de cascas são
cortadas em pedaços de 15 cm, depois de limpas e lavadas, dependendo
naturalmente do seu comprimento.
Galhos bem grossos, de árvores ou arbustos devem ser escolhidos,
cortados em pedaços de cerca de 30 cm para facilitar a limpeza, com estilete ou faca
são retirados os nós se houver, e raspamos com a concha ou a faca. Tudo que não
interessar à produção de papel deve ser retirado da planta.
Existem vários tipos de folhas propícias, como as longas, mas geralmente
contêm cera ou uma camada externa fina de tecido que precisam ser raspadas, o
que se vê na folha de Iúca ou de Linho da Nova Zelândia. Espinhos das bordas das
folhas, como as de gravatá, abacaxi e pita, devem ser retirados com um estilete. As
folhas de capim dispensam limpeza, assim como as bainhas das folhas do Lírio-doBrejo, das bananeiras ou das Helicônias, devendo-se apenas corta -las em tiras e em
pedaços de 10 cm.
Raízes como as axiais, que se introduzem verticalmente na terra; as
ramificadas, apenas horizontais; as adventícias, que saem da base dos caules ou as
aéreas, que saem dos caules ou dos galhos são tipos de raízes próprios para
produção de papel.
A maioria deve ser bem lavada e levemente raspada quando tiver casca.
Bons exemplos são raízes de Amoreira, da Seringueira, do Pândano ou do Imbé.
65
Um exemplo possível para a produção de papel é o Côco-da-Baía.
Retira-se a casca externa e a camada interna comestível, quando ainda verde e todo
resto pode ser usado. Aproveitamos os fios que envolvem as sementes no caso do
algodão e da paina.
Alguns elementos das plantas são indesejáveis aos nossos fins por
causarem a degeneração, envelhecimento e aparecimento de fungos nos papéis,
como açúcares, amido, lignina e outros. A lignina, substância que cimenta, ligando
as fibrilas, dando-lhes sustentação, causa o amarelecimento e enfraquecimento do
papel, fazendo-se prejudicial.
Amolecimento das Fibras
Faz-se através do cozimento das fibras, adicionando simultaneamente
produtos químicos para que os elementos indesejáveis mencionados sejam
eliminados. A quantidade que será cozida deverá ser adequada à sua realização em
casa, em um fogão comum, podendo ser modificada segundo as necessidades e
possibilidades.
Para evitar corrosão pela soda, colocamos 7 litros de água e uma porção
de fibras que possa ser toda submergida em um balde de 10 litros, de aço inoxidável
ou de ágata. Dependendo do tipo de fibra e da quantidade de soda colocada, deixase cozinhar em média de duas a cinco horas.
66
Este processo se faz diferente do primeiro no uso de um dispersante para
separação das fibrilas, que pode ser o Quiabo ou a flor do Hibisco, que como o
Tororo-aoi, também são malváceas, usado pelos japoneses.
Preparando o Dispersante
Usamos meia dúzia de quiabos, ou flores de hibisco, preparados no dia
anterior, para uma bacia com 10 litros de água e polpa. Depois de batidos com o
martelo e colocados num vidro de 500 gramas com água, agitamos bem com uma
colher, deixando descansar durante 24 horas para que fique bem mucilaginoso,
sendo que depois desse tempo começa a fermentar e perde o efeito. Despejamos o
conteúdo todo do vidro em um coador de pano de algodão e os esprememos sobre
uma vasilha. Logo após, colocamos novamente dentro do vidro o líquido coado.
Caso não formos usá-las imediatamente, devemos retirar a água, seca-las
bem ao sol e guarda-las em sacos plásticos etiquetados para evitar serem
confundidas mais tarde devido à sua semelhança. Se dermos prosseguimento ao
trabalho, passamos ao batimento das fibras.
Batendo as Fibras
Para que as fibras sejam utilizadas para fazer papel é necessário que as
fibrilas sejam separadas umas das outras o máximo possível. Para que isso
aconteça usamos um processo milenar, bastante simples, que consiste em colocar
as fibras sobre um cepo de madeira, preferencialmente pois não racha com
67
facilidade, ou uma tábua grossa, batendo-as com um martelo de madeira, sempre no
centro e ajuntando as fibras que se espalham.
Obs.: Exigindo tempo e paciência, para o batimento a pessoa deverá
estar bem acomodada por não ser um trabalho simples. O cepo deverá estar sobre
uma mesa ou um banco e a uma altura que não exija o levantamento de todo o
braço, mas apenas o do pulso. Sentar em uma cadeira com encosto reto, evitando
bater durante muito tempo, interrompendo de vez em quando e depois retomando.
Não é preciso bater até que a fibra atinja um ponto certo num único dia, sendo
possível continuar no dia seguinte, guardando as fibras em um saco de plástico.
Conforme o tipo de fibra e da produção pretendida, para completar o serviço
necessitaremos de vários dias.
Processos mecânicos também são usados para o batimento das fibras,
utilizando-se um moinho -de-bolas, do tipo usado na trituração de pigmentos, ou
ainda o batedor holandês. O primeiro é possível encontrar em firmas especializadas;
o segundo não se encontra à venda no mercado brasileiro. Certo que estes
aparelhos facilitam o processo de batimento, no entanto o custo será relativamente
elevado.
Com uma vareta agitamos bem a polpa na bacia ou tina, para que ela
fique bem misturada e então despejamos a mucilagem de quiabo ou de hibisco com
bastante cuidado e devagar, pois sendo um líquido escorregadio poderá cair de uma
só vez. Quando a água der a sensação de clara de ovos, estará certo o ponto,
escorrendo como um fio longo e estará mais pesada sentindo-a com a mão.
68
As fibras quando secas saltam para o chão ficando difícil reavê-las, por
isso tenha sempre perto um copo com água para molhá-las. As batidas deverão ser
secas e enérgicas, provocando o atrito da fibra entre o martelo e o cepo, pois
batidas leves apenas espalharão as fibras, não acontecendo a separação das
fibrilas.
Usando duas colheres de sopa de soda cáustica, a fibra de amoreira
estará cozida em duas horas, em escamas. Por ser mais resistente o bagaço de
cana leva 5 horas, com quatro colheres de soda. Para a bainha da folha da
bananeira, 3 horas e 3 colheres de soda.
Para que saibamos o tempo e as quantidades de soda, é necessário
experimentar e anotar. É interessante retirar uma pequena porção da fibra que está
sendo cozida, lavando-a e batendo-a com um martelo de madeira, em uma tábua de
bater carne e, se ela se desmanchar com facilidade, se transformando em uma
massa homogênea, estará pronta e, caso as fibras estiverem longas e
emaranhadas, não. Ao sentirmos as fibras nas mãos, com o tempo saberemos se
elas estarão cozidas ou não. Em tal fase devemos usar luvas de borrachas e uma
colher de pau de cabo longo para mexer a fibra dentro do balde.
Lavando as Fibras
Antes de escorrer a água, deixa-se o balde esfriar em um tanque ou outro
lugar, passando-a através de uma peneira côncava, para que as fibras que por
acaso venham com a água sejam retidas. Repete-se a operação aproximadamente
69
três vezes, enchendo o balde e escorrendo a água. Por fim todas as fibras são
despejadas na peneira que está sendo usada e, sempre de luvas, comprimimos a
massa, molhando-a novamente e assim sucessivamente até que desapareça o
cheiro da soda.
Caso a cor das fibras não agradar pode-se alveja-las com água sanitária
durante algum tempo. A ação do cloro puro é mais rápida, porém enfraquece as
fibras. Com o alvejamento das fibras é necessário lava-las várias vezes novamente.
Quando as fibrilas estiverem curtas e a fibra ao ser comprimida der a
sensação de massa que pode ser moldada, ela está pronta. Ficando suja a fibra,
colocamos em uma peneira côncava e lavamos, tomando cuidado para que as
malhas da peneira sejam bem fechadas, impedindo que as fibras escapem.
Tingimento de Papel
Para que papéis coloridos sejam obtidos utilizam-se tintas solúveis em
água, adicionadas no copo do liquidificador, no momento da trituração, para que o
pigmento deixe as fibrilas bem impregnadas. Os mesmos resultados não são
alcançados quando a tinta é colocada diretamente na polpa, pois é difícil distribuí-la
uniformemente sem manchar o papel. A tinta em polpa branca resulta em tom pastel.
Para intensificarmos mais a cor colocamos mais pigmento. Você poderá testar a cor
com uma folha pequena, feita com um coador plástico de chá, pelo processo rápido
da peneira e ferro elétrico, verificando-se assim a tonalidade obtida.
70
Obs.: O ferro elétrico é mais usado para experiências ou quando se tem
urgência.
Para que o papel não fique excessivamente poroso, usamos um pouco
de pó de caolim
na polpa, ele preenche os espaços vazios entre as fibrilas e
também as irregularidades da superfície, dando maior opacidade e diminuindo a
rigidez de alguns papéis. Além de colorirem o papel, os pigmentos minerais têm a
mesma propriedade. Antes de se começar a produzir as folhas, a quantidade de
pigmento deverá ser testada em função do que se deseja obter, evitando perda de
material.
Aplicando um aglutinante químico, extraído da celulose, conhecido pela
sigla C.M.C. (Carboxy-Methyl-Cellulose), torna -se possível impermeabilizar o papel,
protegendo o papel contra fungos e lhe dando maior resistência.
Um preparo simples: Coloca-se lentamente em um vidro de 500 gramas,
não totalmente cheio de água, uma colher de sobremesa de C.M.C. O pó aumenta
de volume, porém não se deve agitar a solução e sim deixa-la parada, durante cerca
de três horas e então poderá ser agitada levemente com uma espátula. A solução é
durável e pode ser aplicada às colheradas, de acordo com o grau de
impermeabilidade que desejamos e sempre testando os resultados.
71
Outros aspectos da produção de papel artesanal
Para que formemos uma folha de papel artesanal, nos dois processos
citados, mergulhamos a peneira ou o molde na tina com água e fibras, levantando
uma lâmina de polpa, na qual será a futura folha de papel. O método do mergulho
descrito não é o único. Menciono o método do depósito como outra forma de formar
uma folha de papel e que consiste em despejar a polpa sobre a tela, não
necessitando mergulhar o molde na bacia. No fundo de uma bacia rasa, coloca-se o
molde diretamente, para onde água escorrerá, mas caso a quantidade de polpa e de
água sejam muito grandes, então coloca-se um suporte sob o molde para que ele
fique mais alto, evitando que o trabalho que está sendo realizado seja atingido pela
água que escorre para a bacia. Não havendo uma bacia de tamanho adequado
coloque o molde diretamente no chão, próximo a um ralo, possibilitando que a água
escorra para lá.
Separando a polpa em diversas bacias, ela poderá ser tingida de várias
cores, devendo ser previamente coada para que fique densa. Usando uma pequena
caneca de plástico com bico, ou ainda de forma mais prática, um copinho
descartável para café, um para cada cor, recolhendo da bacia uma cor qualquer,
formamos um bico no copinho, comprimindo a sua borda, o que facilitará o
escoamento da polpa e seu controle.
Com gestos livres vamos desenhando com a polpa tingida, tal qual fosse
um pincel e obtendo resultados surpreendentes.
72
Uma polpa branca reciclada de línter de algodão, pode ser tingida com
aquarela, formando uma paisagem e podemos acentuar os tons com um pincel após
a secagem, de acordo com a nossa criatividade.
Para que se obtenha uma superfície bem lisa e apropriada ao desenho e
à escrita é feito um polimento (calandragem) à moda antiga, com pedras ovóides de
quartzo ou de ágata, pedras ideais, ou então com uma colher de metal bem
resistente.
Alisa-se a face do papel no sentido vertical e horizontal, de forma
contínua e igual e de uma borda a outra.
Lembrando o molde...
Usamos peneiras planas como as de cozinha para folhas circulares.
Desde que sejam planas, peneiras de bambu, taquara ou outro tipo de cestaria,
também poderão ser usadas. O trançado da peneira fará uma textura específica,
deixando uma marca especial no papel e trazendo mais beleza à folha de papel.
É possível que se faça moldes de formas variadas, retangulares,
quadrados, triangulares, ou ainda em forma de losango. O tradicional é retangular,
tamanho papel-ofício, constituído de duas molduras de sarrafos com 3 cm de
largura. Com tachinhas ou com grampeador, em uma delas prendemos uma tela de
náilon, tipo mosquiteiro, ou outras telas com malhas maiores. A outra moldura do
73
mesmo tamanho é colocada sobre a primeira, servindo para delimitar o espaço que
vai conter a polpa.
6.2 Receitas de Silvana Fehn Bastianello
Segundo Silvana Fehn Bastianello, que desenvolveu Dissertação de
Mestrado, Joinville, 2005, sobre o Desenvolvimento de Embalagens a partir de Papel
Reciclado reforçado com Fibras Naturais, para o fabrico de papel no sistema
artesanal, são necessários além do espaço físico, alguns equipamentos básicos
como : 1 (uma) fonte de água; 1 (uma) ventilação; 1 (uma) zona de água com
escoamento; 1 (uma) prensa; 1(um) tanque, tina e recipientes (plásticos) com no
mínimo 20 litros; 1 (um) ventilador, secador, varal (10m); 5 (cinco) moldes, molduras
em diversos formatos; 20 (vinte) feltros, tnt (formato A3); 3 (três) tabuleiros, mesas
ou cavaletes;
20Kg (vinte) de aparas, fibras para a pasta, corantes e cola.
Imprescindívelmente um liquidificador pequeno, industrial ou doméstico. Um método
voltado a sua proposta especificamente, no entanto com características básicas
inerentes aos métodos comuns de confeccionar papel artesanal.
Matéria-prima, preparação e refinamento da polpa
A preparação e refinamento da polpa usando como matéria-prima resíduos
agrícolas: fibras vegetais de bananeiras e arroz, utilizando também aparas de papel.
74
Preparação da fibra de bananeira e da palha de arroz
Exemplo: desinfeta -se 100g de aparas de papel (pedaços de aproximadamente 2 x 2
cm) em um litro de água de torneira, contendo 30ml de água sanitária durante o
período de uma hora. Em seguida, lava -se o material por três vezes, utilizando um
litro de água para cada lavagem. Após a desinfecção, inicia-se a etapa de cozimento
ou cocção com um litro de água e 5g de soda cáustica. Deixa -se esfriar e repete-se
o processo de lavagem por três vezes. A etapa seguinte, a polpação, é realizada em
um liquidificador. Nesta etapa, para cada 100g de polpa utiliza-se um litro de água
por 30 segundos. Posteriormente, o material é coado e a polpa separada. (Pastor,
2002 apud Silvana Bastianello,2005, p. 92, 93).
Para o refinamento da polpa, adiciona-se à polpa 1,5litros de água e 2,5g de dímero
de
alquil
ceteno
(AKD- Agente
de
Colagem
Interna)
diluído
em
água,
homogeneizados com auxílio de batedeira por cerca de cinco minutos.
Na preparação das fibras de bananeira, as camadas do pseudocaule são soltas com
o auxílio das mãos e de facas sem pontas, sendo as extremidades eliminadas. As
fibras recebem cortes em sentido longitudinal com largura máxima de 5 centímetros.
O passo seguinte é o processo de martelação para quebrar paredes parenquianas e
separar os sais minerais existentes. Em seguida, as fibras são pesadas e cortadas
com tesouras em pedaços menores. Considerando ainda a proporção de 100g de
fibras para a etapa de maceração, estas são acondicionadas em um recipiente com
1,5litros de água pelo período mínimo de 48horas (quanto maior este período, mais
clara se torna a fibra). Depois de coadas, as fibras então são cozidas em 1litro de
75
água e 5g de soda cáustica durante 1h e 30 min. Após este processamento, deixase esfriar, coa-se e lava-se três vezes utilizando para cada lavagem 1litro de água.
Por fim, mistura-se em liquidificador, para cada 100g de polpa, 1litro de água, sendo
coado novamente.
Para a preparação da palha de arroz, após uma pré-seleção (onde foram eliminados
grãos e pequenas impurezas), as palhas de arroz são cortadas em tamanhos
aproximados de 5 cm, pesadas e hidratadas em água por, no mínimo, 30minutos.
Em seguida, é fervida durante 30 min. com água o suficiente para cobrir as palhas e
1% de soda, lavada por três vezes com 1litro de água cada, liquidificada e coada.
Por apresentar um percentual baixo de sais minerais, o tempo de cocção é menor.
Confecção da folha de papel
Antes da confecção das folhas de papel, o feltro utilizado para o suporte da folha é
submerso em água por 20 min. e a água em excesso é retirada em prensa sobre
pressão de duas toneladas para até 10 feltros.
Para a confecção da folha, trabalha-se com recipiente adequado ao tamanho das
telas
para
facilitar
o
manuseio.
O
nível
de
água
no
recipiente
é
de,
aproximadamente, a metade da altura da tela, sendo reposto durante o processo,
bem como a quantidade de polpa de papel e fibra. Estas duas últimas determinam a
gramatura e, evidentemente, o tempo de secagem do papel.
76
No recipiente com água são acrescentadas as quantidades de polpa e fibras em
proporção de 10, 20, 30% de fibra de bananeira e palha de arroz, respectivamente
na devida ordem do maior para o menor para realizar o experimento sem troca de
recipiente e água até a mudança de fibra para a palha e parar o AKD.
Para a formação da folha de papel, a tela é mergulhada no recipiente e retirada na
posição horizontal com movimentos em vários sentidos. Para não ocorrer
concentração de polpa em apenas uma das partes da tela, pressiona-se a tela sobre
feltros seguidos de carpetes. O próximo passo é prensar a folha duas vezes. Na
primeira, recebendo 10 toneladas e na segunda, 6 toneladas, sendo empilhados os
conjuntos de feltros/folha na quantidade desejada. Finalmente, com o auxílio da
pinça, o papel é retirado e colocado para secar em temperatura ambiente.
6.3 Receita com base no Programa de Educação e Gestão Ambiental – Pega /
Gestão de Resíduos Sólidos (UNESC)
Etapas para a confecção de papel reciclado artesanal com base no
Programa de Educação e Gestão Ambiental – PEGA, atualmente ligado a Gestão de
Resíduos Sólidos:
Seleção: Selecionar o papel, sem fitas adesivas, restos de cola, grampos e outros.
Selecionar também pela espessura e cor do papel.
Picar bem o papel: Quanto menor for o papel mais fácil será para triturá-lo no
liquidificador doméstico.
77
Deixar de molho: Colocar o papel picado em um balde com água e deixar de
molho por 24 horas, quanto mais tempo melhor para o papel soltar bem as fibras e
assim obter um papel reciclado de boa qualidade.
Liquidificador: Por no liquidificador um punhado de papel para um pouco acima da
metade do copo do liquidificador de água. Bater aproximadamente por um minuto
até formar uma polpa.
Trabalhar com a polpa: Colocar a polpa em uma bacia grande ou tina, acrescentar
mais um pouco de água para que a polpa não fique tão grossa e depois mergulhar
na bacia ou tina uma tela esticada na moldura com outra moldura vazada em cima,
afim de que a polpa fique bem definida no espaço e após a retirada da tela com a
folha formada e a água bem escorrida, vem a etapa secagem.
Secagem: Colocar a tela ao sol na horizontal para secar, retirando a moldura
vazada. Depois de algum tempo inclinar para concluir a secagem. Estará pronto
assim que o papel desprender da tela. Caso o papel não desprenda com facilidade,
use uma espátula para ajudar no desprendimento.
Obs.: Não necessariamente precisa-se fazer uso de prensa, o que acaba deixando o
papel com uma característica mais artesanal ainda, e a gramatura (grossura) das
folhas, varia de acordo com a quantidade de polpa absorvida, passando a ser uma
seleção natural.
78
6.4 Saiba como fazer papel reciclado... Outra Dica!
O que você precisa:
?? Papel e água
?? Bacias: rasa e funda
?? balde
?? moldura de madeira com tela de nylon ou peneira reta
?? moldura de madeira vazada (sem tela)
?? liquidificador
?? jornal ou feltro
?? pano (ex.: morim)
?? esponjas ou trapos
?? varal e pregadores
?? prensa ou duas tábuas de madeira
?? peneira côncava (com “barriga”)
?? mesa
Roteiro:
a) Preparando a polpa: Pique o papel e deixe de molho durante um dia ou uma
noite na bacia rasa, para amolecer. Coloque água e papel no liquidificador, na
proporção de três partes de água para uma de papel. Bata por dez segundos e
desligue. Espere um minuto e bata novamente por mais dez segundos. A polpa está
pronta.
79
b) Fazendo o papel:
1. Despeje a polpa numa bacia grande, maior que a moldura.
2. Coloque a moldura vazada sobre a moldura com tela. Mergulhe a moldura
verticalmente e deite-a no fundo da bacia.
3. Suspenda-as ainda na posição horizontal, bem devagar, de modo que a polpa
fique depositada na tela. Espere o excesso de água escorrer para dentro da
bacia e retire cuidadosamente a moldura vazada.
4. Vire a moldura com a polpa para baixo, sobre um jornal ou pano.
5. Tire o excesso de água com uma esponja.
6. Levante a moldura, deixando a folha de papel artesanal ainda úmida sobre o
jornal ou morim.
c) Prensando as folhas: Para que suas folhas de papel artesanal sequem mais
rápido e o entrelaçamento das fibras seja mais firme, faça pilhas com o jornal da
seguinte forma:
?? Empilhe três folhas do jornal com papel artesanal. Intercale com seis folhas
de jornal ou um pedaço de feltro e coloque mais três folhas do jornal com
papel. Continue até formar uma pilha de doze folhas de papel artesanal.
?? Coloque a pilha de folhas na prensa por 15 minutos. Se não tiver prensa,
ponha a pilha de folhas no chão e pressione com um pedaço de madeira.
?? Pendure as folhas de jornal com o papel artesanal no varal até que sequem
completamente. Retire cada folha de papel do jornal ou morim e faça uma
80
pilha com elas. Coloque esta pilha na prensa por 8 horas ou dentro de um
livro pesado por uma semana.
Efeitos Decorativos: Misture à polpa: linha, gaze, fio de lã, casca de cebola ou
casca de alho, chá em saquinho, pétalas de flores e outras fibras.
81
CONCLUSÃO
Confeccionar papel é um movimento estético, muito claro dentro do
processo artesanal, no qual permite um processo de criação onde o artista ou
artesão estão permanentemente envolvidos com as etapas de produção.
O artista, e também o artesão, assimila, apropria e transforma a realidade
em “objeto estético”. O artesão, que também não deixa de ser artista no seu
processo de criação, cria o seu “objeto estético” e mesmo dentro de um processo,
digamos repetitivo, as nuances são diversas, basta que abramos as portas de nossa
percepção e sensibilidade.
Assim como a obra de arte em si, antes de sua apreensão, permanece
como possibilidade, esperando que um pensamento, uma reflexão, uma opinião,
venham vivificá-la, toda produção ligada à natureza, seja ela arte ou artesanato,
também está imbuída de tal pensamento.
Pensando no aspecto da interdisciplinaridade na escola, concluo que
construir cultura através do fazer papel artesanal é um projeto a ser desenvolvido a
partir de fundamentos de todas as disciplinas, envolvendo a arte e a criatividade,
juntamente com a consciência ecológica – meio ambiente, tão necessária para o
nosso desenvolvimento.
É preciso que toda disciplina caminhe sem esquecer o ponto de vista
cultural, seja ele no âmbito artístico ou dentro do que significa a experiência de cada
82
um na sua própria história e vivência. A escola tem papel importante na formação o
aluno, ela sedimenta os seus valores, o seu conhecimento, é de fundamental
importância na amplidão da cultura. “A História da Arte” e o seu prosseguimento, o
Artesanato e toda manifestação artística devem integrar o conhecimento humano,
aguçando sua percepção e o tornando um ser mais sensível diante da criação.
A noção de cultura, do ponto de vista antropológico, foi sendo construída
a partir do século XIX, por meio de diferentes enfoques (Velho e Castro 1978;
Carvalho 1989; Thomaz s/d). Em um conceito já clássico do século XIX, a cultura é
vista como civilização, como um todo complexo que inclui conhecimento, crenças,
arte, leis, tecnologia, costumes, parentesco, religião, magia, e muitas outras
capacidades e habilidades adquiridas pelos seres humanos como membros da
sociedade. A partir do início do século XX altera-se o conceito, “a idéia de civilização
perde seu sentido de processo e passa a definir um estado – A sociedade ocidental
– que deve ser atingido pelos ainda não civilizados”(VELHO E CASTRO, 1978, p.5 ).
Essa visão etnocêntrica, no entanto, foi sendo revisada, e passou-se a considerar
que sociedades diferentes da sociedade ocidental, antes consideradas primitivas ou
exóticas,
também
possuíam
uma
lógica
interna,
com
outras
formas
de
representação, outras idealidades, outras formas de vida social, e que muitas vezes
“souberam resolver melhor que nós certas contradições e dificuldades da
organização da família, da educação, da sexualidade, da vida econômica e da vida
simbólica em geral” (CARVALHO, 1989, p. 20). Ao olhar para outras culturas,
também se altera e renova a própria visão do mundo e das coisas.
83
Atualmente, a cultura vem sendo entendida como um código simbólico,
que possui dinâmica e coerência interna, “trazendo dentro de si as contradições
existentes ao nível da sociedade propriamente dita” (VELHO E CASTRO 1978, p. 7).
Ainda segundo Thomaz (s/d, p. 427), “fenômeno unicamente humano, a
cultura se refere à capacidade que os seres humanos têm de dar significado às suas
ações e ao mundo que os rodeia”. A cultura é compartilhada pelos indivíduos de um
determinado grupo, não se referindo, pois, a um fenômeno individual; por outro lado
cada grupo de seres humanos, em diferentes épocas e lugares, dá diferentes
significados as coisas e passagens da vida aparentemente semelhantes. As culturas
mudam, seja em função de sua dinâmica interna, seja em função de diferentes tipos
de pressão exterior. (...) A cultura é, pois, “um processo dinâmico de reinvenção
contínua de tradições e significados”. (THOMAZ s/d, p. 427).
Conforme Candau apud Richter (2003, p. 18):
Ao analisarmos as diferentes dimensões da cultura em que estamos
imersos tomamos consciência de que se trata de um universo diversificado
e provocativo. Talvez possa ser concebido como caleidoscópio. Nele estão
presentes expressões de diferentes universos culturais, assim como
manifestações das culturas populares e eruditas, da arte e da ciência, do
artesanato e da micro-eletrônica e das distintas formas de comunicação de
massa. Alguns falam de um verdadeiro labirinto em que se dão formas
originais de produção cultural (RICHTER, 2003, p.18).
O fazer papel artesanal é a proposta que atinge toda diversidade cultural,
em um sentido multicultural que encontra uma forma de cultura possível de ser
comum à todos, transpondo toda e qualquer característica única que limite ou
impeça outra forma de criar. É a interculturalidade significando a reciprocidade entre
culturas, dentro de uma consciência arte – ecologia, permitindo que além da
84
confecção do papel artesanal, possa emergir outras expressões significativas da
arte, abrangendo a pintura, o desenho e a escultura; considerando ainda o design
que possibilita a criação de vários objetos e ainda, o artesanato que compreende um
mundo infindável de representações, envolvendo toda questão regional inerente a
cultura de cada estado.
Diria que isto é construir cultura em um sentido amplo e expansivo, já que
através da consciência do meio ambiente e sua preservação, o ser e o artista podem
se permitir a criar, dentro de um pensamento universal, o que os torna mais
próximos dentro de sua própria sensibilidade.
Criar significa permitir-se liberar o seu potencial criador, se despojar de
todo e qualquer preconceito, alcançando o instante em que a expressão, seja ela
através da música, do desenho, da pintura ou do teatro, etc., se transforme no ato
de criação. Na verdade, a criação não está desvinculada do fator história e
vivênciasfamiliar-social correspondente a cada ser, o que o faz incluído num
contexto histórico-familiar-social, capaz inclusive de gerar repressões que acabam
por dificultar o próprio “expressar-se”, enquanto ser que existe e pode criar. Embora
a infância não permita a plena consciência dos fatos, a emoção e sensibilidade são
capazes de se alterar na falta de incentivo para a expressão.
Embora a criatividade seja um processo humano universal, tem sido
severamente inibida por obstáculos de natureza emocional e social. A sua expressão
não depende apenas de esforços do próprio indivíduo, mas também do contexto
85
social onde o mesmo se acha inserido. Por outro lado, forças sociais diversas atuam
desde os primeiros anos, dificultando o desenvolvimento do potencial criador.
(Ângela M. R. Virgolim/ Eunice M. L. Soriano de Alencar – Criatividade – expressão
e desenvolvimento – organizadoras. Introdução, p.17).
Stein lembra que “uma sociedade favorece a criatividade na medida em
que valoriza a originalidade e a mudança, que promove oportunidades para o
desenvolvimento das potencialidades de cada pessoa e que encoraja e reconhece a
produção criativa de seus cidadões”( STEIN, 1974, p.17). Através do aprendizado
do “Fazer Papel”, é ppossível estimular a criatividade e conseqüentemente o ato de
criação, construindo cultura.
“A Construção da Cultura através do Papel Artesanal” é uma idéia repleta
de um pensamento caracterizado muito pelo nosso tempo, apesar de que
milenarmente já existisse uma realidade na qual circundava todo o “Fazer Papel” no
sentido artesanal. Em um tempo mais recente podemos citar o método japonês de
fabricação, citado no capítulo “A História do Papel – O Papel no Oriente e
lembrarmos que, das 60.000 Vilas Papeleiras do início do século no Japão, hoje
sobrevivem não mais que 700. A Vila de Kurotani, ao norte de Kioto, mantém a
tradição. O fato é que existiu uma cultura forte em torno do papel, num tempo mais
remoto e ainda hoje a tradição persiste.
Atualmente, mediante todo desastre ecológico, uma consciência emergiu
e diversos artistas se mobilizaram na defesa pela natureza através de sua arte. A
natureza abrange todo aspecto ecológico, procurando manter o equilíbrio de todo o
meio ambiente. Bichos, árvores, vegetais, ar, águas, poluição, exploração capitalista
86
e manipulação de valores, trabalhando o Desenvolvimento sem um fundamento
Sustentável que garanta uma qualidade de vida para as gerações futuras.
Arte é manifestação, é expressão, é um patrimônio a ser preservado e
incentivado na aglutinação da cultura, acendendo toda sensibilidade e senso
estético.
O Artesanato, a arte do artesão, está implícita no confeccionar papel de
forma artesanal. Reciclando as fibras que já viraram papel e utilizando as diversas
fibras vegetais que nos são disponíveis, nós podemos através de um trabalho de
consciência, envolvendo inclusive o “olhar”, propagar núcleos, trabalhar a proposta
com mais persistência e assiduidade no âmbito Interdisciplinar, valorizar tal trabalho
enquanto cultura, permitindo a expressão, o ato de criar, dentro de um conceito de
percepção, sensibilidade e beleza. A estética. E desta construção, onde o papel já
existe por si só, exalando a sutileza da arte, ele é a possibilidade da expressão
como um todo.
87
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91
ANEXO
92
ANEXO: Entrevista feita ao Professor Kamori – Arte e papel artesanal por
Márcia Oshiro, São Paulo, 02/04/2004.
P.: “Kamori é hoje um nome muito conhecido no meio artesanal, pelas importantes
inovações técnicas para elaboração de papel (“Método Kamori”) e no meio artístico,
pois como artista plástico, suas obras se caracterizam pela relação com o papel
artesanal. Kamori é seu nome artístico?
R.: Sim. Meu nome é Katsutoshi Mori, e Kamori significa “força da floresta”, o que
também é interessante, pois em meu trabalho eu lido muito com plantas.
P.: O “Método Kamori” compreende uma técnica de reciclagem de papéis. Como vê
a consciência da necessidade de reciclagem no Brasil?
R.: Essa consciência é um ponto importante, que eu procuro formar em meus
alunos. Há, entre outras a necessidade de reaproveitar matérias-primas, de todos os
materiais usados e evitar a extração. Essa consciência de reciclagem está
começando no Brasil, um marco importante foi a ECO – 92.
P.: O senhor tem desenvolvido técnicas inovadoras de papel artesanal e reciclagem,
valendo-se tanto de matéria-prima tradicional como de outros produtos. Quais as
possibilidades de criação artística que se abrem com esses materiais?
R.: A possibilidade de criação com esses materiais é infinita, foi o que descobri em
minhas pesquisas. O meu interesse em papel artesanal – tanto o reciclado como o
93
de fibras vegetais – foi porque se poderia fazer a obra de arte no ato de confecção
do papel; é o que designamos por “incorporação”.
Já se fazia um trabalho de papel artesanal a partir de fibras vegetais, mas a
qualidade não estava à altura do nível necessário para a arte e por isso eu comecei
a pesquisar, para – utilizando um material bem brasileiro, como a cana-de-açúcar e
a bananeira - , poder produzir um papel adequado para a arte.
P.: Já temos kozo no Brasil?
R.: O kozo (Broussonetia Kazinoki) é uma planta nativa japonesa e muito
tradicionalmente utilizada para produzir papel. O kozo foi trazido para o Brasil pelo
Sr. Koiti Matsuda, que inclusive lançou um livro, no qual eu também colaborei. Foi
uma grande oportunidade, e agradeço a esse Senhor, por ele ter trazido essas
mudas de kozo – já há uns vinte ou vinte e cinco anos – para o Brasil. Com base no
conhecimento desse Senhor, eu fiz uma pesquisa de como se cultiva o kozo e tenho
tido sucesso nas mudas que plantei em meu sítio: cinqüenta pés muito bem tratados.
A qualidade do papel de kozo é a melhor do mundo. E, quando integra uma
mixagem (entrando, digamos, em porcentagem de 20%), ele melhora a qualidade
dos vegetais brasileiros, como a cana-de-açúcar ou da bananeira. Com a mistura do
kozo, obtemos papéis de alta qualidade; o kozo melhora a maciez, melhora a
resistência, melhora também o processo de confecção. Para o uso generalizado na
arte, o mais indicado é o misto de kozo.
O kozo é muito procurado também para trabalhos de restauro, pois ele permite
produzir um papel de cinco gramas/metro quadrado. Um papel finíssimo e
transparente, excelente para restauro, pois ele não cobre as letras. Além do mais,
94
sendo o kozo um vegetal alcalino por natureza – o próprio local de plantio exige que
seja alcalino – fornece uma fibra para papel fácil de alcalinizar.
P.: E o washi?
R.: Washi significa feito no Japão. Como este nome é muito antigo, na época
identificava-se com o papel artesanal; hoje, há uma certa confusão, porque há papel
industrial que também estão chamando de washi. Mas washi de verdade é artesanal.
Washi artesanal, que, aqui no Brasil, eu estou tentando que seja chamado de “papel
fibra de kozo”.
P.: Sua arte está baseada em aspectos rigorosamente técnicos (como estudos
geométricos) e, por outro lado, numa fina sensibilidade e intuição artísticas. Como o
artista lida com esses dois lados?
R.: Talvez por eu
ser filho de orientais eu tenha facilidade em trabalhar os
hemisférios direito e esquerdo. Seja como for, a geometria é, afinal, orgânica; tudo
que há no planeta é em formas geométricas e a geometria pode se conjugar com a
criatividade artística, com a sensibilidade...
harmonizando com a imaginação, que
entra com as cores.
P.: Como tem sido sua experiência como professor?
R.: Essa experiência foi propiciada pela direção da Aliança Cultural Brasil – Japão
(São Paulo), que me convidou para lecionar. Iniciei com cursos de fibra de kozo,
95
depois introduzi cursos de reciclagem, cana, bananeira, mix de kozo com cana, kozo
com bananeira, com reciclado... hoje dou um curso anual de 96 horas (compreende
seis módulos) e também cursos avulsos, de módulos com carga horária de 24 a 30
horas. Nestes oito anos de Aliança tive aproximadamente 400 alunos e acredito que
esses alunos estejam transmitindo esses conhecimentos e essa consciência,
atingindo umas cinco mil pessoas no Brasil.
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