UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL NOS TRÓPICOS ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A ABORDAGEM MEDIANA VENTRAL E LATERAL DIREITA PARA OVARIOSALPINGOHISTERECTOMIA EM CADELAS PRÉ-PÚBERES E ADULTAS ANA RAQUEL DE ARAÚJO FERREIRA SALVADOR – BAHIA FEVEREIRO – 2014 i UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL NOS TRÓPICOS ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A ABORDAGEM MEDIANA VENTRAL E LATERAL DIREITA PARA OVARIOSALPINGOHISTERECTOMIA EM CADELAS PRÉ-PÚBERES E ADULTAS ANA RAQUEL DE ARAÚJO FERREIRA Medicina Veterinária SALVADOR – BAHIA FEVEREIRO – 2014 ii ANA RAQUEL DE ARAÚJO FERREIRA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A ABORDAGEM MEDIANA VENTRAL E LATERAL DIREITA PARA OVARIOSALPINGOHISTERECTOMIA EM CADELAS PRÉ-PÚBERES E ADULTAS Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciência Animal nos Trópicos, da Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciência Animal nos Trópicos. Orientador: Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto Co-orientador: Prof. Dr. José Eugênio Guimarães SALVADOR-BA FEVEREIRO/2014 iii ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A ABORDAGEM MEDIANA VENTRAL E LATERAL DIREITA PARA OVARIOSALPINGOHISTERECTOMIA EM CADELAS PRÉ-PÚBERES E ADULTAS ANA RAQUEL DE ARAÚJO FERREIRA Dissertação defendida e aprovada pela Comissão Examinadora, para a obtenção do grau de Mestre em Ciência Animal nos Trópicos. Salvador, 25 de fevereiro de 2014. Comissão Examinadora: _____________________________________________ Profª. Drª. Andrea Pacheco Batista Borges ______________________________________________ Prof. Dr. Marcos Chaloub Coelho Lima _______________________________________________ Profª. Drª. Vivian Fernanda Barbosa _______________________________________________ Profª. Drª Arianne Pontes Oriá iv DADOS CURRICULARES DO AUTOR ANA RAQUEL DE ARAÚJO FERREIRA – é filha de Zilma Carvalho de Araújo Ferreira (in memorium) e Benedito Genésio Ferreira, nasceu na cidade de Fortaleza, estado do Ceará, no dia 06 de dezembro de 1983. É Médica Veterinária graduada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em agosto de 2008. Atuou como médica veterinária autônoma até março de 2010, momento em que ingressou no Programa de Pós-Graduação sob a forma de Residência em Clínica Cirúrgica e Cirurgia de carnívoros domésticos, da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. Em março de 2012 concluiu a Residência e iniciou o Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal nos Trópicos pela Universidade Federal da Bahia, sob orientação do professor Dr. João Moreira da Costa Neto, defendendo a dissertação em 25 de fevereiro de 2014. v DEDICATÓRIA “... nós só podemos ver perfeitamente com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” Antoine de Saint-Exupéry Dedico ao meu pai Benedito Genésio Ferreira, mãe Zilma Carvalho de Araújo Ferreira, e as minhas irmãs Cecília Maria de Araújo Ferreira e Leonília Maria de Araújo Ferreira (in memorium). vi AGRADECIMENTOS A Deus, fonte de vida e força. A minha mãe, Zilma Carvalho de Araújo Ferreira; ao meu pai, Benedito Genésio Ferreira, a minha irmã, Cecília Maria de Araújo Ferreira e a minha tia, Maria Zilna Carvalho de Araújo, pelo constante estímulo, apoio incondicional e confiança depositada durante toda a minha jornada. Ao Professor Dr. João Moreira da Costa Neto, pelo incentivo e orientação, sem os quais não teria conseguido este êxito. Ao Professor José Eugênio Guimarães, pela co-orientação e apoio nas avaliações laboratoriais. Ao Professor Carlos Humberto Almeida Ribeiro Filho pelo apoio e disponibilização das dependências do HOSPMEV para a realização do experimento. Á Professora Maria Consuêlo Caribé Ayres pela disponibilização das instalações e equipamentos do Setor de Hematologia e Bioquímica Clinica/LDPA para a realização das avaliações laboratoriais. A Bruno Bastos pela imensa colaboração na dosagem da haptoglobina e nas avaliações estatísticas. A Walnilson Mota da Silva e Leandro Ziemer pelo apoio e parceria na realização do experimento. A Emanuel Ferreira Martins Filho pelo apoio e incentivo para a realização da dissertação. Aos Residentes e ex-residentes, Barbra Gabriela Oliveira Faria , Jorsan de Araújo Bina, Marilia da Silva Carneiro de Araújo e Roberta Rigaud Short pelo apoio na realização do experimento. Aos colegas Iris Daniela Menezes, Marina Santana Rossi Peixoto e Vitor Santiago de Carvalho pelo apoio, paciência e ensinamentos. Aos colegas Elisete Alves e Vera Avila Ribeiro pelo apoio e colaboração. Aos Professores Roberto Meyer e Ricardo Wagner Dias Portela do Laboratório de Imunologia do ICS/UFBA pela disponibilização das instalações e ao colega de mestrado José Tadeu Raynal Rocha Filho, pelo apoio para a realização das dosagens da Haptoglobina. vii Aos professores Mara Spinola Miranda, Ricardo David Couto, assim como ao técnico Lázaro Júnior FFAR/UFBA, pela disponibilização das instalações laboratoriais e enorme ajuda nas dosagens da ceruloplasmina e proteína c-reativa. As estagiárias: Wanessa Morais e Tayla P. de Miranda Cruz pelo apoio e colaboração. A Mary’Anne Rodrigues de Souza pela amizade, paciência e companheirismo; agradeço pelas palavras de estímulo e confiança, que me ajudaram a tornar os momentos difíceis e de indecisão mais facilmente superáveis. A todos os colegas do HOSPMEV que direto ou indiretamente contribuíram para a concretização deste trabalho. À CAPES por ser beneficiário financeiro. E finalmente, a todos os proprietários que confiaram em mim e permitiram a participação de seus animais no experimento. viii LISTA DE FIGURAS Capítulo 1 - Comparação entre as abordagens lateral direita e mediana ventral em cadelas adultas e pré-púberes submetidas a ovariosalpingohisterectomia Página Figura 1 Figura 2 Figura 3 Posicionamento e local da incisão para ovariosalpingohisterectomia em cadelas através da abordagem lateral direita. (A) Posicionamento em decúbito lateral esquerdo; (B) local da incisão, situada no ponto caudal entre a última costela e a tuberosidade ilíaca (tracejado); (C) incisão no sentido longitudinal; (D) divulsão do músculo abdominal externo; (E) divulsão do músculo abdominal interno; (F) visibilização do músculo abdominal transverso após divulsão do músculo abdominal interno; (G) divulsão do músculo abdominal transverso e acesso a cavidade abdominal; (H) visibilização do ovário direito logo abaixo da incisão; (I) exposição do ovário direito................................................................................................ 46 Ovariosalpingohisterectomia em cadela adulta por abordagem lateral direita. (A) identificação e ruptura do ligamento suspensor do ovário; (B) ligadura do pedículo ovariano direito; (C) duplo pinçamento com pinças hemostáticas de Crile cranial a ligadura do pedículo ovariano direito; (D) secção entre as pinças hemostáticas; (E) liberação do ovário e corno uterino direito com visibilização da bifurcação uterina; (F) utilização da bifurcação uterina como guia para identificação e exposição do ovário esquerdo; (G) triplo pinçamento do corno uterino cranial a cérvix e secção entre as pinças proximal e intermediária; (H) ligadura do útero abaixo da pinça hemostática próxima; (I) verificação da hemostasia após ligadura do corpo uterino................................................................................................ 48 Síntese da parede abdominal após abordagem lateral direita para ovariosalpingohisterectomia em cadela. (A e B) sutura abrangendo os músculos abdominal externo, interno e transverso; (C) sutura em “X” em uma única camada abrangendo os músculos abdominal externo, interno e transverso; (D e E) dermorrafia com sutura de Wolf, sem necessidade de sutura intradérmica; (F) aparência macroscópica do local de incisão na abordagem lateral direita........ 49 ix Página Figura 4 Momentos cirúrgicos de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia . Intervalos de tempo: I ̶ E: início da incisão da pele até a entrada na cavidade peritoneal , E ̶ LOD : entrada na cavidade peritoneal até a localização do ovário direito , LOD ̶ LID : localização do ovário direito até a conclusão da ligadura do ovário direito , LID ̶ LOE : conclusão da ligadura do ovário direito até a localização do ovário esquerdo , LOE ̶ LIE : localização do ovário esquerdo até a conclusão da ligadura do ovário esquerdo , LIE ̶ LOC : conclusão da ligadura do ovário esquerdo até a localização da cérvix , LOC ̶ LIC : localização da cérvix até a conclusão da ligadura da cérvix , LIC ̶ S : conclusão da ligadura da cérvix até a conclusão da síntese de pele ................ 50 Capítulo 2 - Influencia da abordagem cirúrgica na resposta inflamatória de cadelas submetidas à ovariosalpingohisterectomia Página Figura 1 Figura 2 Concentração sérica da Ceruloplasmina (Cp) de cadelas submetidas à ovariosalpingohisterectomia eletiva, através da abordagem mediana ventral (AMV) e abordagem lateral direita (ALD). Tempos: (0) pré-operatório imediato; (1) pós-operatório imediato; (2) 12h após a cirurgia; (3) 24h após a cirurgia; (4) 48h após a cirurgia; (5) 96h após a cirurgia; (6) 160h após a cirurgia; (7) 240h após a cirurgia. (a) Diferença estatisticamente significativa comparando com o valor do tempo inicial (p≤0,01) ... 70 Concentração sérica da Haptoglobina (Hp) de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia eletiva, através da abordagem mediana ventral (AMV) e abordagem lateral direita (ALD). Tempos: (0) pré-operatório imediato; (1) pós-operatório imediato; (2) 12h após a cirurgia; (3) 24h após a cirurgia; (4) 48h após a cirurgia; (5) 96h após a cirurgia; (6) 160h após a cirurgia; (7) 240h após a cirurgia. (a) Diferença estatisticamente significativa comparando com o valor do tempo inicial (p≤0,05). (b) Diferença estatisticamente significativa comparando com o valor do tempo inicial (p≤0,05) ................................................................................. 71 x Figura 3 Figura 4 Concentração sérica da Proteína C-Reativa (PCR) de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia eletiva, através da abordagem mediana ventral (AMV) e abordagem lateral direita (ALD). Tempos: (0) pré-operatório imediato; (1) pós-operatório imediato; (2) 12h após a cirurgia; (3) 24h após a cirurgia; (4) 48h após a cirurgia; (5) 96h após a cirurgia; (6) 160h após a cirurgia; (7) 240h após a cirurgia .................................................................... 72 Concentração sérica da Albumina de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia eletiva, através da abordagem mediana ventral (AMV) e abordagem lateral direita (ALD). Tempos: (0) pré-operatório imediato; (1) pós-operatório imediato; (2) 12h após a cirurgia; (3) 24h após a cirurgia; (4) 48h após a cirurgia; (5) 96h após a cirurgia; (6) 160h após a cirurgia; (7) 240h após a cirurgia .................................................................................. 73 xi LISTA DE TABELAS Capítulo 1 - Comparação entre a abordagem lateral direita e mediana ventral em cadelas submetidas à ovariosalpingohisterectomia Página Tabela 1 Médias e desvios padrão dos intervalos de tempo de cadelas submetidas á ovariosalpingohisterectomia eletiva, através da abordagem mediana ventral ou lateral direita ..................................... 53 Capítulo 2 - Influencia da abordagem cirúrgica na resposta inflamatória de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia Página Tabela 1 Tabela 2 Média (±desvio padrão) da concentração sérica plasmática da PCR (mg/l), Cp (U/l), Hp (mg/dl) e albumina (g/dl) de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia eletiva através da abordagem mediana ventral e lateral direita, no pré-operatório imediato e ao longo de 10 dias após a cirurgia ................................. 74 Média (±desvio padrão) da contagem de leucócitos totais (Leuc.), linfócitos (Linf.), monócitos (Mon.), polimorfonucleares (PMN), bastonetes (Bast.) e eosinófilos (Eos.) de cadelas submetidas à ovariosalpingohisterectomia eletiva através da abordagem mediana ventral e lateral direita, no pré-operatório imediato e ao longo de 10 dias após a cirurgia ...................................................................... 76 xii LISTA DE SIGLAS ALT Alanina Amino Transferase ASA American Society of Anesthesiologists CAVO Complexo arteriovenoso ovariano CEUA Comitê de Ética e Experimentação Animal Cp Ceruloplasmina dL Decilitro EDTA Ácido Etileno Diamino Tetracético EMEVZ Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia FA Fosfatase Alcalina G Gramas HOSPMEV Hospital de Medicina Veterinária Hp Haptoglobina IL Interleucina Kg Quilograma L Litro ALD Abordagem lateral direita AMV Abordagem mediana ventral mg Miligrama mL Mililitro ºC Graus Celsius OSH Ovariosalpingohisterectomia PCR Proteína C-reativa PFA Proteína de Fase Aguda pH Potencial hidrogenação PT Proteínas totais RFA Resposta de fase aguda TNF α Fator de necrose tumoral alfa UFBA Universidade Federal da Bahia UI Unidade Internacional μL Microlitro ISC Infecção do Sítio Cirúrgico xiii SUMÁRIO Estudo comparativo entre a abordagem mediana ventral e lateral direita para Página ovariosalpingohisterectomia em cadelas pré-púberes e adultas Resumo geral .................................................................................................... 16 Introdução geral ................................................................................................ 17 Revisão de literatura geral ................................................................................ Anatomia do aparelho reprodutivo da cadela ............................................... 20 20 Ovariosalpingohisterectomia em cadelas: indicações e possíveis complicações ................................................................................................. 21 Abordagens para ovariosalpingohisterectomia em cadelas: lateral direita x linha mediana ventral ................................................................................... 23 Ovariosalpingohisterectomia precoce em cadelas ......................................... 25 Resposta de fase aguda................................................................................... 28 Objetivos ........................................................................................................... 33 Hipóteses ............................................................................................................ 33 Referências ......................................................................................................... 35 xiv Capítulo 1 Comparação entre a abordagem lateral direita e mediana ventral em cadelas submetidas á ovariosalpingohisterectomia Página Resumo .............................................................................................................. 42 Abstract .............................................................................................................. 43 Introdução .......................................................................................................... 44 Material e métodos ............................................................................................. 45 Resultados .......................................................................................................... 51 Discussão ........................................................................................................... 54 Conclusão ........................................................................................................... 58 Referencias bibliográficas .................................................................................. 59 Capítulo 2 Influencia da abordagem cirúrgica na resposta inflamatória de cadelas submetidas á ovariosalpingohisterectomia Página Resumo .............................................................................................................. 63 Abstract .............................................................................................................. 64 Introdução .......................................................................................................... 65 Material e métodos ............................................................................................. 66 Resultados .......................................................................................................... 69 Discussão ........................................................................................................... 77 Conclusão ........................................................................................................... 80 Referencias bibliográficas .................................................................................. 80 Considerações finais .......................................................................................... 84 xv Estudo comparativo entre a abordagem mediana ventral e lateral direita para ovariosalpingohisterectomia em cadelas pré-púberes e adultas RESUMO Com este trabalho objetivou-se definir, entre a abordagem pela linha mediana ventral e pela lateral direita, a mais indicada para a realização da ovariosalpingohisterectomia (OSH) em cadelas pré-púberes e adultas. Para este fim, considerando-se as faixas etárias, avaliou-se o tempo cirúrgico em cada abordagem, bem como mensurou-se a resposta inflamatória decorrente do trauma cirúrgico, por meio da dosagem das proteínas de fase aguda, especificamente, proteína c-reativa (PCR), haptoglobina (Hp), ceruloplasmina (Cp) e albumina, e do leucograma. Para isso foram utilizadas 28 cadelas hígidas, distribuídas em dois grupos experimentais de igual número: grupo Abordagem Mediana Ventral (AMV) e grupo Abordagem Lateral Direita (ALD), com sete animais adultos e sete animais pré-púberes em cada grupo. O acesso à cavidade abdominal foi realizado mediante incisão na linha alba no grupo AMV e no flanco direito no grupo ALD. Para a determinação do tempo cirúrgico, o procedimento foi dividido em nove manobras cirúrgicas, referentes a oito intervalos de tempo, que foram individualmente cronometrados. Para as análises laboratoriais, as amostras de sangue foram coletadas imediatamente antes e imediatamente após a cirurgia, e 12, 24, 48, 96, 168 e 240 horas de pós-operatório. O tempo para entrar na cavidade peritoneal foi menor nos animais do grupo AMV (p≤0,001), enquanto nos animais do grupo ALD o útero foi mais rapidamente identificado e exposto (p≤0,001). O tempo cirúrgico total foi menor nas cadelas submetidas à técnica lateral (p≤0,001). O processo inflamatório, mensurado por meio da análise das proteínas de fase aguda e do leucograma revelou concentrações máximas entre 12 e 96 horas após a OSH, retornando aos valores observados antes da cirurgia ao final de 240 horas após a castração, o que demonstrou a resolução do trauma tecidual e finalização do processo inflamatório. As duas abordagens cirúrgicas induziram elevações semelhantes nos níveis das proteínas de fase aguda e do leucograma. Assim, a abordagem lateral direita foi considerada a melhor abordagem, uma vez que, facilitou a identificação uterina e reduziu o tempo cirúrgico total, além de gerar danos teciduais semelhantes à abordagem ventral. Palavras-chave: canino, laparotomia, proteína de fase aguda, reação inflamatória. 16 Comparative Study between the ventral median and right lateral approach for ovariosalpingohysterectomy in pre-pubertal and adult female dogs ABSTRACT This work aimed to define, between the ventral midline approach and the right side, the most suitable for the realization of ovariosalpingohisterectomy (OSH) in prepubertal and adult female dogs. For this objective, considering the age groups evaluated the surgical time for each approach, and measured up the inflammatory response resulting from surgical trauma, through the measurement of acute phase proteins, specifically, C-reactive protein (CRP), haptoglobin (Hp), ceruloplasmin (Cp), and albumin and Leucocyte count.For thiswere used 28 healthyfemale dogs, divided into two groups ofequal number: Ventral Median Approach Group (VMA) andRight Side Approach group (RSA), with seven adult animals and seven pre-pubertal animals in each group.The abdominal cavity was performed through an incision in the lineaalba in the VMA group and the right flank in the RSA group.For determining the operating time, the procedure was divided into nine surgical maneuvers, referring to eight time slots that are individually clocked.For laboratory analyzes, blood samples were collected immediately before and immediately after surgery, and 12, 24, 48, 96, 168 and 240 hours postoperatively.The time to enter the peritoneal cavity was lower in the VMA animals (p ≤ 0.001), while the animals in the RSA group the uterus was quickly identified and exposed (p ≤ 0.001).The total surgical time was shorter in female dogs undergoing lateral technique (p ≤ 0.001).The inflammatory process, measured by the analysis of acute phase proteins and the leukocyte count showed peak concentrations between 12 and 96 hours after OSH, returning to values observed before surgery at the end of 240 hours after castration, which demonstrated the resolution tissue trauma and finalization of the inflammatory process. Both surgical approaches induced similar elevations in the levels of acute phase proteins and the Leucocyte count.Thus, the right-side approach was considered the best approach since it facilitated the identification uterine and reduced total surgical time, and generatessimilar tissue damage to the ventral approach. Keywords: canine, laparotomy, acute phase protein, inflammatory reaction. 17 INTRODUÇÃO A ovariosalpingohisterectomia (OSH) é o procedimento cirúrgico mais freqüentemente realizado em programas de saúde pública e instituições de ensino, com o especial intuito de promover o controle populacional de cadelas e gatas, e conseqüente controle de zoonoses, constituindo o método de contracepção mais adequado para animais que não são destinados a reprodução (HOWE, 2006; VAN GOETHEM et al., 2006; STONE, 2007). É igualmente recomendada para o tratamento e prevenção de patologias reprodutivas, estabilização de doenças sistêmicas, e redução da incidência de neoplasias mamárias (HEDLUND, 2008; MARINHO, et al., 2012; SILVEIRA et al., 2013). O acesso abdominal retroumbilical pela linha mediana ventral é a abordagem tradicionalmente utilizada, contudo são descritas variações nas manobras cirúrgicas relacionadas ao acesso abdominal, identificação e exposição dos órgãos. Todas, em sua maioria, visando reduzir o tempo cirúrgico e minimizar o trauma tecidual (MCGRATH et al., 2004; STONE, 2007; QUESSADA et al., 2009). Neste sentido, a abordagem lateral é alternativa à tradicional, pela linha mediana ventral (QUESSADA, et al., 2001; HOWE, 2006). Esta abordagem foi preconizada por Miguez et al. (2005), com melhor desempenho quando feita no flanco direito, por este oferecer melhor acesso ao ovário direito que é mais cranial, e também pela presença do baço e do recobrimento omental da víscera do lado esquerdo, que podem dificultar sua localização. A abordagem lateral apresenta as vantagens de possibilitar a observação da ferida cirúrgica à distância e reduzir a ocorrência de deiscência de sutura. A evisceração por abertura espontânea da incisão cirúrgica também tem menor probabilidade de ocorrer, uma vez que a força gravitacional exercida na incisão lateral é inferior a da linha média ventral. A sobreposição dos músculos oblíquos abdominais no momento da sutura dos planos internos colabora ainda na manutenção da integridade da parede abdominal (DORN, 1975; JANSSENS e JANSSENS, 1991). A incisão da pele, na abordagem lateral, deve ser ligeiramente oblíqua em sentido dorsoventral, iniciando caudal ao ponto médio entre a última costela e a tuberosidade ilíaca (MCGRATH et al., 2004). Tal localização situa o ovário direito 18 abaixo da incisão, possibilitando sua fácil identificação e rápida exposição através do acesso cirúrgico lateral. Esta manobra pode reduzir parte do tempo requerido na localização do ovário na abordagem ventral pela linha mediana (MIGUEZ et al., 2005), principalmente em cadelas pré-púberes que possuem os órgãos reprodutivos pouco desenvolvidos. A esterilização de cadelas e gatas pré-púberes aumenta a eficácia dos programas de controle populacional, uma vez que elimina completamente a possibilidade de reprodução, de forma efetiva e racional, além de prevenir patologias relacionadas aos órgãos reprodutivos, e facilitar o processo de adoção. A gonadectomia precoce, contudo, ainda gera opiniões contraditórias entre médicos veterinários e pesquisadores, e questões referentes á doenças infecciosas, desenvolvimento retardado, incontinência urinária e obesidade, ainda são amplamente discutidos (HOWE, 1997; HOWE et al., 2001; SPAIN et al., 2004; HOWE, 2006). A castração em cães, no entanto, quando realizada após os cinco meses de idade não esteve relacionada com aumento na incidência de parvovirose nem no surgimento de distúrbios esqueléticos, como displasia coxofemoral e fraturas fisárias (HOWE et al., 2001; SPAIN et al., 2004). A taxa de crescimento não foi afetada pela esterilização, mas o prolongamento do período de crescimento resultou em um maior comprimento radial e ulnar em cães (machos e fêmeas) castrados antes dos três meses de idade (SALMERI et al., 1991). A redução da idade no momento da OSH também foi associada a um aumento na incidência de incontinência urinária em cadelas castradas antes dos três meses de idade, o mesmo não ocorrendo em cadelas esterilizadas após este período (SPAIN et al., 2004). Apesar de a OSH ser um procedimento cirúrgico relativamente simples, qualquer intervenção cirúrgica promove lesão tecidual e, como conseqüência a uma injúria, trauma ou inflamação de um tecido, desenvolve-se no indivíduo uma série complexa de reações que tem como finalidade eliminar o agente agressor e auxiliar no reparo tecidual. Este conjunto de alterações que contribui para o organismo restaurar a homeostasia e remover a causa do distúrbio é denominado de resposta de fase aguda (ECKERSALL, 2000; ULUTAS et al., 2007; CRAY et al., 2009). A resposta de fase aguda faz parte do sistema de defesa inato dos animais, protegendo-o contra trauma, infecção e inflamação. Durante este processo há liberação 19 de amplo espectro de mediadores por parte dos macrófagos teciduais e monócitos sanguíneos, dos quais as citocinas, especialmente o Fator de Necrose Tumoral (TNF-α) e as Interleucinas IL-1 e IL-6, são as principais indutoras na síntese das proteínas de fase aguda (PFA) (MURATA et al., 2004; CRAY et al., 2009). Estas proteínas são na maioria glicoproteínas sintetizadas pelos hepatócitos em resposta a uma variedade de condições patológicas, alterando em concentração no plasma de animais submetidos a desafios, como infecções, inflamações, traumas cirúrgicos e stress (MARTINEZ-SUBIELA et al., 2002; KOGIKA et al., 2003; KOCATURK et al., 2010; SERIN e ULUTAS, 2010), mas também em situações fisiológicas, como na gestação (ULUTAS et al., 2009). Diferenças significativas têm sido observadas entre as espécies na expressão das PFA, sendo que nos cães as proteínas mais efetivas para o acompanhamento de distúrbios orgânicos, são a proteína c reativa (PCR), amilóide A sérica, haptoglobina (Hp), ceruloplasmina (Cp) e a alfa 1 glicoproteína ácida (MURATA et al., 2004; CRAY et al., 2009). As PFA são consideradas ótimas indicadoras da resposta sistêmica frente aos processos inflamatórios e infecciosos, quando comparadas a outras variáveis, tais como febre, aumento na taxa de hemossedimentação e/ou presença de leucocitose associadas à neutrofilia (JAIN, 1989). A dosagem da concentração circulante destas proteínas tem demonstrado ser de grande relevância e de importante aplicação prática não só na monitoração do tratamento de numerosos processos patológicos e fisiológicos que afetam as diferentes espécies (ULUTAS et al., 2007; ULUTAS et al., 2009), como também no acompanhamento da recuperação de procedimentos cirúrgicos, permitindo precoce detecção de anormalidades e rápida restauração da homeostasia, particularmente naqueles casos onde os sinais clínicos ainda permanecem inaparentes (KOGIKA et al., 2003; CARVALHO et al., 2008; DABROWSKI et al., 2009). A concentração circulante das PFA está relacionada com a severidade da injúria e com a extensão do dano tecidual que afeta o animal (ECKERSALL, 2000; MURATA et al., 2004). Sabe-se que procedimentos cirúrgicos geram lesão e inflamação tecidual, com posterior alteração nos níveis sanguíneos dessas proteínas. Embora alguma informação esteja disponível sobre a mensuração das PFA no acompanhamento do período pós-operatório de cadelas submetidas à ovariosalpingohisterectomia (DABROWSKI et al., 2007; SERIN e ULUTAS, 2010), 20 nenhum estudo foi encontrado na literatura consultada utilizando-as como marcadores de inflamação na comparação dos graus de lesão tecidual infligidos pela abordagem lateral e linha mediana ventral, em cadelas adultas e pré-púberes, submetidas á ovariosalpingohisterectomia eletiva. REVISÃO DE LITERATURA Anatomia do aparelho reprodutivo da cadela O aparelho reprodutivo da cadela é constituído por ovário, tuba uterina, útero, vagina, vulva e clitóris. As glândulas mamárias, em número de 10, dispostas em duas cadeias da região torácica até a região inguinal complementam o aparelho reprodutivo (ELLENPORT, 1986). Na cadela os ovários estão localizados há cerca de dois centímetros caudalmente ao polo caudal do rim correspondente; são de contornos alongados, ovais e achatados com comprimento médio de dois centímetros, envoltos pela bursa ovariana que se estende caudalmente até o corno uterino constituindo o mesossalpinge e o ligamento próprio do ovário, ficando o ovário aderido à região dorsolateral da parede abdominal pelo mesovário, através do qual correm os vasos sanguíneos ovarianos. Cranialmente o mesovário tem continuidade com o ligamento suspensor do ovário, que prende o ovário à fascia transversal, medial a última costela, e caudalmente com o mesométrio (ELLENPORT, 1986; STONE, 2007 ). A artéria ovariana é um ramo da aorta. A veia ovariana direita drena para a veia cava caudal, e a veia ovariana esquerda desemboca na veia renal esquerda (FINGLAND, 1996; FOSSUM et al., 2005) As tubas uterinas correm pela parede da bursa ovariana e possuem em média 5 a 9 cm de comprimento na cadela, constando de uma extremidade ovariana em forma de funil, o infundíbulo, que possui uma pequena abertura abdominal, e outra que se abre para dentro do corno no óstio uterino, sendo sua irrigação realizada via artérias ovariana e uterina e a drenagem por meio das veias satélite (STONE, 2007). 21 O útero é constituído de cérvix, corpo e dois cornos uterinos. A cérvix corresponde à porção caudal do útero com cerca de um centímetro de comprimento; à palpação apresenta-se mais espessa que a vagina e o corpo do útero (FOSSUM et al., 2005). O corpo do útero situado-se na cavidade pélvica entre o cólon descendente e a bexiga. Os cornos uterinos estão situados inteiramente dentro do abdômen, se estendendo do corpo do útero cranialmente no sentido de cada rim em forma de “V”, sendo de diâmetros uniformes e quase retos (ELLENPORT , 1986). Os ligamentos mesovário, mesosalpinge e mesométrio que constituem o ligamento largo, fixam os ovários, tubas uterinas e útero às paredes dorsolaterais da cavidade abdominal e à parede lateral da cavidade pélvica. O ligamento redondo do útero é uma continuidade do ligamento próprio, e se estende da extremidade cranial do corno uterino; caudal e ventralmente ao ligamento largo, passa pelo canal inguinal, e termina entre a região inguinal e a vulva (FINGLAND, 1996; STONE, 2007). As artérias ovariana e uterina fornecem suprimento sanguíneo para o útero. O ramo uterino da artéria ovariana supre a porção cranial dos cornos uterinos. A artéria uterina irriga a parte caudal do útero, cérvix e parte da vagina. As veias uterinas seguem o trajeto das artérias, exceto a veia ovariana esquerda, que desemboca na veia renal esquerda (STONE, 2007). Ovariosalpingohisterectomia em cadelas: indicações e possíveis complicações A esterilização cirúrgica em cadelas, por meio da ovariosalpingohisterectomia (OSH) é um procedimento cirúrgico frequentemente realizado em estabelecimentos privados e instituições de ensino, com especial intuito de promover o controle populacional e, consequente controle de zoonoses (HOWE, 2006; VAN GOETHEM et al., 2006). A principal vantagem do método cirúrgico de esterilização é o fato de ser realizado em um único procedimento, resultando na perda irreversível da capacidade reprodutiva (JOHNSTON, 1991). Além de ser frequentemente recomendada como meio de esterilização eletiva, a OSH é igualmente indicada no tratamento e/ou prevenção de patologias do sistema reprodutivo, tais como, piometra, hiperplasia endometrial cística, torção e prolápso uterino, prolápso vaginal e, neoplasias uterinas e ovarianas (MARINHO et al., 2012; 22 SILVEIRA et al., 2013). Contribui ainda no tratamento da involução dos sítios placentários não responsivos ao tratamento medicamentoso, prevenção de hiperplasia vaginal recorrente, doenças endócrinas como diabetes mellitus e na eliminação da transmissão de doenças hereditárias como a demodiciose generalizada (HEDLUND, 2008). A OSH possui reconhecido papel na redução da incidência de neoplasias mamárias; quando realizada antes do primeiro ciclo estral, a esterilização reduz a incidência do tumor de mama para 0,5%, e após o primeiro ou segundo estro, o risco aumenta para 8% e 26% respectivamente. Após este período, os efeitos benéficos da castração não são completamente conhecidos (VAN GOETHEM et al., 2006; HEDLUND, 2008). Apesar de a ovariosalpingohisterectomia ser considerada um procedimento cirúrgico tecnicamente simples, com baixas taxas de mortalidade, pode ocorrer complicações no trans-operatório, pós-operatório imediato e tardio. A incidência de tais complicações varia com a experiência do cirurgião e com fatores de risco do paciente, como idade; doenças reprodutivas concomitantes, como piometra, e doenças não reprodutivas, como diabetes mellitus, falência cardíaca congestiva e defeitos de coagulação (JOHNSTON, 1991). Algumas dessas complicações são facilmente tratáveis, porém, outras podem promover seqüelas importantes que comprometem o bem estar do animal ou mesmo induzem ao óbito (SANTOS et al., 2009). A hemorragia é a complicação trans-operatória mais frequente, e em sua maioria, resulta da manipulação ou ligadura inadequada dos pedículos ovarianos, vasos uterinos ou parede uterina. Hemorragia abundante também pode ocorrer quando o procedimento cirúrgico é realizado no estro, uma vez que o trato genital encontra-se mais vascularizado e túrgido durante este período (SANTOS et al., 2009; HOWE, 2006). As complicações pós-operatórias relacionadas à OSH frequentemente relatadas são, hemorragia, ligadura ou trauma acidental do ureter promovendo hidronefrose ou hidroureter, incontinência urinária responsiva ao estrógeno, formação de tratos fistulosos e granulomas geralmente relacionados ao uso de matérias de sutura multifilamentar não absorvível nas ligaduras dos pedículos ovarianos ou corpo do útero que permitem aderência bacteriana, síndrome do ovário remanescente, piometra de coto, 23 síndrome eunucoide, e problemas relacionados à celiotomia, como inflamação, seroma e deiscência de sutura (SANTOS et al., 2009; ADIM, 2011). Tais complicações decorrentes da esterilização cirúrgica de cadelas são na maioria das vezes relacionadas com procedimentos técnicos inadequados. Os cuidados com a assepsia, anti-sepsia, manipulação delicada dos tecidos, utilização de material de sutura não reativo, e em especial, o conhecimento anatômico adequado do trato geniturinário são imprescindíveis na prevenção de tais complicações (SANTOS et al., 2009). Abordagens para ovariosalpingohisterectomia em cadelas: lateral direita x linha mediana ventral A ovariosalpingohisterectomia consiste na remoção cirúrgica dos ovários, tubas uterinas e útero, sendo a abordagem mediana ventral a técnica tradicionalmente realizada em cadelas e gatas (STONE, 2007). Entretanto, descreve-se na literatura variações nas manobras cirúrgicas relacionadas ao acesso abdominal, e a identificação e exposição dos órgãos (QUESSADA, et al., 2001; COE, et al., 2006; HOWE, 2006). Todas, na maioria das vezes, visam minimizar o trauma tecidual e reduzir o tempo cirúrgico total (MCGRATH et al., 2004; QUESSADA et al., 2009). A técnica de OSH considerada padrão para cadelas e gatas, consiste em acesso mediano ventral retro-umbilical, cranial nas cadelas adultas e medial nas gatas e cadelas pré-púberes; identificação e exteriorização dos cornos uterinos; oclusão vascular dos pedículos ovarianos através do tríplice pinçamento hemostático com posterior confecção de ligadura com fio absorvível e pinçamento triplo do corpo do útero. Oclusão vascular individualizada dos vasos uterinos por ligadura sob tecido e secção do mesmo cranialmente à cérvix; oclusão luminal por transfixação de Hasted, empregandose fios absorvíveis. A omentopexia do coto uterino pode ser realizada antes de seu reposicionamento na cavidade abdominal. A síntese da parede abdominal é realizada empregando-se padrões de sutura separados para a musculatura, sutura subcutânea para redução do espaço morto e sutura separada para síntese dérmica (FINGLAND, 1996; FOSSUM et al.,2005). 24 A abordagem lateral é alternativa à tradicional, pela linha mediana ventral, para realização de ovariosalpingohisterectomia em cadelas e gatas, particularmente em programas de esterilização cirúrgica (QUESSADA, et al., 2001; COE, et al., 2006; HOWE, 2006). A abordagem pelo flanco foi preconizada por Miguez et al. (2005), com melhor desempenho quando feita no flanco direito, por este oferecer melhor acesso ao ovário direito que é mais cranial, e também pela presença do baço e do recobrimento omental da víscera do lado esquerdo, que podem dificultar sua localização. Além de procedimento eletivo, o acesso lateral também é indicado em casos de desenvolvimento excessivo das glândulas mamárias devido lactação ou hiperplasia. Nestas condições o acesso lateral evita as possíveis complicações associadas á abordagem ventral pela linha média, como hemorragia excessiva da epiderme e do tecido subcutâneo, provável inflamação ou infecção da ferida, além de drenagem de leite para a região incisionada. A técnica lateral, contudo, é contra-indiciada nos casos de distensão uterina como, gestação, piometra ou neoplasia, pois estas alterações requerem maior exposição da cavidade, e um aumento da incisão lateral pode resultar em maior trauma nos músculos da região, com hemorragia adicional (MCGRATH et al., 2004). Para abordagem abdominal pela técnica lateral, a incisão da pele deve ser ligeiramente oblíqua em sentido dorsoventral, iniciando-se caudal ao ponto médio entre a última costela e a tuberosidade ilíaca (MCGRATH et al., 2004). Após incisão do tecido subcutâneo, as fibras dos músculos oblíquo abdominal externo, obliquo abdominal interno e músculo transverso do abdômen são dissecadas até o acesso á cavidade abdominal; isso resulta em trauma cirúrgico mínimo, já que os músculos não são incisados (DORN, 1975; MIGUEZ et al., 2005). A incisão das camadas musculares deve ser evitada, pois pode resultar em hemorragia adicional e comprometer o campo de visão (DORN, 1975). Quando a ovariosalpingohisterectomia é realizada através da abordagem lateral direita, o ovário direito localiza-se logo abaixo da incisão cirúrgica, possibilitando fácil identificação e exposição (COE et al., 2006). Esta manobra pode reduzir parte do tempo requerido na localização do ovário na abordagem ventral pela linha mediana com conseqüente redução do tempo cirúrgico e anestésico, principalmente em cadelas pré- 25 púberes que possuem os órgãos reprodutivos pouco desenvolvidos (MIGUEZ et al., 2005). Após a abertura da cavidade abdominal, os procedimentos técnicos para ambos os acessos são semelhantes em relação às ligaduras dos pedículos ovarianos e do coto uterino; o fechamento da cavidade abdominal difere na dependência do acesso utilizado. Na técnica lateral, a parede abdominal deve ser suturada em dois planos diferentes; o primeiro plano inclui o músculo transverso do abdome e o obliquo abdominal interno e o segundo plano inclui o músculo oblíquo abdominal externo (MIGUEZ et al., 2005). A síntese da parede abdominal na abordagem ventral é realizada empregando-se padrões de sutura separados para a musculatura, sutura subcutânea para redução do espaço morto; sutura separada para síntese dérmica é realizada em ambos os acessos (FINGLAND, 1996; FOSSUM et al., 2005). A possibilidade de observar a ferida cirúrgica à distância e a redução da ocorrência de deiscência de sutura, são as duas principais vantagens da abordagem lateral. A evisceração por abertura espontânea da incisão cirúrgica tem menor probabilidade de ocorrer, uma vez que a força gravitacional exercida na incisão lateral é inferior à da linha média. Além do que, a sobreposição dos músculos oblíquos abdominais no momento da sutura dos planos internos também colabora na manutenção da integridade da parede abdominal (DORN, 1975; JANSSENS e JANSSENS, 1991). Ovariosalpingohisterectomia precoce em cadelas A esterilização de cadelas e gatas pré-púberes aumenta a eficácia dos programas de controle populacional, uma vez que elimina completamente a possibilidade de reprodução, de forma efetiva e racional, além de prevenir patologias relacionadas aos órgãos reprodutivos, e facilitar o processo de adoção. Contudo, a gonadectomia precoce ainda gera opiniões contraditórias entre médicos veterinários. Questões referentes à realização da gonadectomia em cadelas antes do primeiro ciclo estral incluem a possibilidade de doenças infecciosas, desenvolvimento retardado, incontinência urinária, obesidade, e complicações cirúrgicas e anestésicas (HOWE, 1997; HOWE et al., 2001; SPAIN et al., 2004; HOWE, 2006). 26 Com o intuito de elucidar tais questões, pesquisas vêm sendo realizadas para verificar os possíveis efeitos da gonadectomia precoce no desenvolvimento esquelético, físico e comportamental dos animais (SALMIERI et al., 1991). Os estudos buscam avaliar os riscos a longo prazo e os possíveis benefícios da gonadectomia realizada em idade precoce, em relação à gonadectomia em idade convencional (HOWE et al., 2001; SPAIN et al., 2004). Ainda não há um consenso se a castração precoce estaria ou não relacionada a um maior risco na ocorrência de doenças infecciosas. Um estudo conduzido com 1988 animais, envolvendo cães e gatos, castrados antes de 12 semanas ou após 24 semanas de idade, revelou que apenas 0,6% dos animais morreram ou foram eutanasiados em virtude de doença infecciosa do trato respiratório ou por parvovirose, e o número de óbitos foi similar entre as faixas etárias (HOWE, 1997). Outros estudos mais recentes demonstraram que a gonadectomia realizada antes dos cinco meses e meio de idade esteve associada a uma maior incidência de enterite por parvovírus, em relação aos animais castrados após este período. A ocorrência da parvovirose foi relacionada à maior susceptibilidade dos filhotes e a sua exposição ao vírus antes mesmo do procedimento cirúrgico, não estando associado com imunossupressão em longo prazo (HOWE et al., 2001; SPAIN et al., 2004). O efeito da castração precoce no desenvolvimento esquelético foi investigado em cães sem raça definida, esterilizados com sete semanas de vida, sete meses de vida, ou não esterilizados. O fechamento da placa de crescimento foi atrasado em todos os cães castrados, quando comparados aos cães não castrados; aqueles animais castrados com sete semanas de idade apresentaram um atraso ainda maior no fechamento da placa de crescimento em relação aos animais castrados com sete meses de vida. Contudo, a taxa de crescimento não foi afetada pela esterilização, mas o prolongamento do período de crescimento resultou em um maior comprimento radial e ulnar em todos os cães castrados com sete semanas de vida (SALMERI et al., 1991). O significado clínico do fechamento tardio das placas de crescimento não está totalmente esclarecido, mas não parece tornar as placas de crescimento mais susceptíveis a lesões (HOWE, 2006). Em um estudo envolvendo 269 cães, não foi verificado diferenças na incidência de problemas musculoesqueléticos entre os animais castrados precocemente (antes de 24 semanas de idade), daqueles castrados na idade 27 tradicional (acima de 24 semanas de idade) (HOWE et al., 2001). Em outro estudo conduzido com 1842 cães e 1660 gatos, a idade do animal no momento da esterilização também não foi associada a um aumento na frequência de fratura de ossos longos (SPAIN et al., 2004). Nestes trabalhos, a ocorrência de fraturas de ossos longos foi rara, sugerindo que as fraturas fisárias não são um problema comum em cães e gatos castrados. A associação da ocorrência de displasia coxofemoral em animais castrados precocemente também foi analisada. Howe et al. (2001) não encontraram nenhuma relação entre a idade do animal no momento da gonadectomia e a ocorrência de displasia coxofemoral. No entanto, em outro estudo, mais recente e envolvendo um maior número de animais, está associação foi identificada. Nele, 6,7% dos animais esterilizados antes dos cinco meses e meio de idade desenvolveram displasia coxofemoral, enquanto apenas 4,7% dos animais castrados após este período desenvolveram tal condição. Contudo, a displasia coxofemoral dos animais castrados precocemente foi menos severa que aquela dos animais castrados após os cinco meses e meio de idade (SPAIN et al., 2004). A incontinência urinária, originada pela falta de estrógeno no organismo da fêmea, ocorre com maior frequência em cadelas castradas com peso superior a 20 kg, com maior prevalência em algumas raças, como Boxer e Mastife (REICHLER et al., 2006). A incontinência urinária é de origem multifatorial e pode estar também associada a fatores ligados ao sexo, como o diâmetro e o comprimento da uretra, e a posição da bexiga, se intrapélvica ou intra-abdominal (SALMERI et al., 1991). A idade do animal no momento da esterilização também é uma preocupação em relação à incidência de incontinência urinária, principalmente em animais castrados precocemente. A redução da idade no momento da ovariosalpingohisterectomia foi associada a um aumento na incidência de incontinência urinária em cadelas castradas antes dos três meses de idade, o mesmo não ocorrendo em cadelas esterilizadas após este período. Desta forma, a ovariosalpingohisterectomia em cadelas não é recomendada até que as mesmas atinjam três meses de idade (SPAIN et al., 2004). Embora a obesidade possa ocorrer tanto em animais castrados ou intactos, e seja influenciada por uma série de fatores como raça, idade, alimentação e nível de atividade física, o fator de risco ainda frequentemente relatado para ganho de peso é a 28 esterilização (LUND et al., 2006). A diminuição nos níveis dos hormônios sexuais após a gonadectomia explica o ganho de peso, pois tais hormônios atuam diretamente nos centros cerebrais que controlam a saciedade, ou indiretamente, alteram o metabolismo celular (SALMERI et al., 1991). Em gatos é reconhecido que a castração reduz a taxa metabólica (FETTMAN et al., 1997); em cães, no entanto, esta relação entre gonadectomia e obesidade, permanece pouco esclarecida. Salmeri et al. (1991) não identificaram diferenças na ingestão de alimento, ganho de peso ou quantidade de gordura corporal entre cães castrados e intactos durante um período de 15 meses após a esterilização. Outro estudo, também afirmou que a gonadectomia realizada em animais pré-puberes não esteve associada a aumento na incidência de obesidade (HOWE et al., 2001). A menor ocorrência de obesidade foi verificada ainda, em cães castrados antes dos cinco meses e meio de idade quando comparados àqueles castrados após este período (SPAIN et al., 2004). Resposta de fase aguda A resposta de fase aguda refere-se a uma reação complexa e inespecífica do organismo animal, que se desenvolve rapidamente após qualquer injúria tecidual. A origem desta resposta pode ser atribuída a causas infecciosas, imunológicas, neoplásicas, traumáticas, ou outras, cujo propósito é restaurar a homeostasia e remover a causa do desequilíbrio (CERÓN et al., 2005). Como consequência deste processo ocorre diferentes efeitos sistêmicos que incluem febre, leucocitose, aumento do cortisol sanguíneo, diminuição nas concentrações de tiroxina, mudanças metabólicas (lipólise, glicogenólise, catabolismo muscular) e redução nas concentrações séricas de ferro e zinco. A resposta também inclui variações nas concentrações de proteínas plasmáticas, conhecidas como proteínas de fase aguda (PFA) (ECKERSALL, 2000). A resposta de fase aguda é muito rápida e faz parte do sistema imune inato; desenvolve-se antes da resposta imune específica e, em muitos casos, antes do início dos sinais clínicos e surgimento da leucocitose (CERÓN et al., 2005). Neste processo há liberação de amplo espectro de mediadores por parte dos macrófagos teciduais e monócitos sanguíneos, dos quais as citocinas, especialmente o Fator de Necrose Tumoral (TNF-α) e as Interleucinas IL-1 e IL-6, são as principais mediadoras da síntese 29 das PFA (KOGIKA et al., 2003). Pesquisas também demonstram que leucócitos migram para o local de início da infecção e contribuem para a transcrição destas proteínas in loco (THIELEN et al., 2005), sendo sintetizadas durante a diferenciação dos granulócitos, armazenadas em grânulos específicos e liberadas por neutrófilos em resposta à sua ativação (THEILGAARD-MONCH et al., 2006). A maioria dessas proteínas é formada por glicoprotéinas sintetizadas pelos hepatócitos, e são encontradas na corrente sanguínea poucas horas após a injúria tecidual, sendo considerados marcadores precoces de qualquer processo patológico (KOGIKA et al., 2003). Dependendo da espécie animal, as PFA são consideradas ótimas indicadoras da resposta sistêmica frente aos processos inflamatórios e infecciosos, quando comparadas a outras variáveis, tais como febre, aumento na taxa de hemossedimentação e/ou presença de leucocitose associadas à neutrofilia (JAIN, 1989). A concentração circulante das PFA está diretamente relacionada com a severidade da injúria e com a extensão do dano tecidual que afeta o animal. A alteração em seus níveis sanguíneos auxilia no diagnóstico de processos inflamatórios em animais com supressão ou depressão medular, e são úteis no acompanhamento da resolução tecidual de traumas ou inflamação (ECKERSALL, 2000). Em cães, o nível destas proteínas aumenta em várias condições inflamatórias e infecciosas, tais como trauma cirúrgico, poliartrite, neoplasia, babesiose, erlichiose, leishmaniose e parvovirose (ULUTAS et al., 2007; KOCATURK et al., 2010); podendo também ocorrer elevação em situações fisiológicas, como na gestação. Durante as variadas fases do ciclo estral de cadelas não foram observadas alterações significativas na concentração sérica dessas proteínas (ULUTAS et al., 2009). As PFA podem apresentar níveis sanguíneos elevados ou reduzidos frente a uma infinidade de injúrias teciduais, e desta forma são classificadas em proteínas “positivas” ou “negativas”. As PFA negativas incluem a albumina e a transferrina, enquanto a Cp, Hp, PCR, amilóide A sérica, fibrinogênio e α-1 glicoproteína ácida são proteínas positivas. (MARTÍNEZ-SUBIELA et al., 2001; CRAY et al., 2009). As PFA positivas estão presentes em baixas concentrações no soro de animais saudáveis, mas quando submetidos a desafios podem apresentar aumento significativo dos seus valores basais (ECKERSALL e BELL, 2010). Conforme a magnitude da resposta frente ao estímulo, às proteínas de fase aguda positiva podem ainda ser 30 classificadas como PFA “de alta elevação” quando aumentam até 100 vezes o seu valor basal, atingindo o pico de concentração até 48 horas; PFA de moderada elevação, com aumento de 5 a 10 vezes e pico após 48 a 72 horas, e PFA de baixa elevação, com aumento de 50% do seu valor basal e pico em 48 a 72 horas (CERON et al., 2005; CRAY et al., 2009). Diferenças significativas têm sido observadas entre as espécies na expressão das PFA (GABAY e HEALTH, 2001). Neste contexto, a PCR, amilóide A sérica, Hp, Cp e a alfa 1 glicoproteína ácida são proteínas mais significativas para a espécie canina (MURATA et al., 2004; CRAY et al., 2009). A PCR é uma proteína de fase aguda muito relevante em cães; possui peso molecular de 100 kD, é composta por cinco subunidades idênticas unidas por ligações não covalentes, que desempenha importante papel na proteção contra infecções, remoção de danos teciduais e regulação da resposta inflamatória (MARTÍNEZSUBIELA et al., 2001; MURATA et al., 2004). A produção da proteína c reativa é induzida no momento do estímulo inflamatório, sendo o pico e a magnitude de sua produção dependente do tipo e duração deste estímulo (CERÓN et al., 2005; ULUTAS et al., 2007). Alterações dos níveis da PCR já foram demonstradas em cadelas gestantes, associado ao momento da implantação embrionária (ULUTAS et al., 2009), e em enfermidades como piometra (DABROWSKI et al., 2007; CARVALHO et al., 2008), erlichiose (RIKIHISA et al., 1994), pancreatite (HOLM et al., 2004), tumor mamário (PLANELLAS et al., 2009), neoplasia linfática (MISCHKE et al., 2007) e leishmaniose (MARTÍNEZ-SUBIELA et al., 2002). Após trauma cirúrgico, em cães submetidos à OSH, também foi observado elevação dos níveis da PCR, com magnitude de 14 a 37 vezes seu valor basal, e pico de concentração 24 horas após o ato cirúrgico (DABROWSKI et al., 2007; SERIN e ULUTAS, 2010). A Hp é uma α-glicoproteína plasmática tetramérica, positiva, constituída por duas subunidades α e duas subunidades β; com habilidade de se ligar a hemoglobina livre tóxica proveniente da destruição dos eritrócitos no interior dos vasos, prevenindo a excreção renal de ferro e reduzindo danos oxidativos associados à hemólise (PETERSEN et al., 2004). Por este motivo acredita-se que a atividade bacteriostática 31 desta proteína ocorra através da restrição do ferro necessário ao crescimento bacteriano (EATON et al., 1982). A Hp apresenta ainda atividade imunomoduladora, uma vez que possui a capacidade de regular a secreção das citocinas IL-10, IL-12 e TNF-α, e de proteger o hospedeiro contra os efeitos da exposição aos lipopolissacarídeos de bactérias Gram negativas (ARREDOUANI et al., 2005). Em cães, a Hp é considerada uma proteína de fase aguda moderada, e mesmo não sendo considerada a proteína de eleição para a avaliação de enfermidades na espécie canina, alguns estudos demonstraram elevação em seus níveis plasmáticos em cães com neoplasia linfática (TECLES et al., 2005; MISCHKE et al., 2007), enterite por parvovírus (KOCATURK et al., 2010) e leishmaniose (MARTÍNEZ-SUBIELA et al., 2011). Em cães sob tratamento medicamentoso com corticosteróides ou naqueles portadores de hiperadrenocorticismo também foi verificado elevação na concentração dessa PFA (MARTÍNEZ-SUBIELA et al., 2004). A presença de baixos níveis de Hp está freqüentemente relacionada com hemólise intravascular recente, já que a Hp circulante se une a hemoglobina formando complexos que são retirados imediatamente da circulação pelo sistema monocítico fagocitário; desta forma, sua concentração sérica diminui, mesmo na presença de doenças infecciosas aguda. Sua total ausência pode estar associada com lesão hepática grave (MARTÍNEZ-SUBIELA et al., 2001). Serin e Ulutas (2010) ao avaliarem a resposta inflamatória em cadelas hígidas após OSH eletiva, observaram elevações nos níveis de Hp 24 horas após a cirurgia, porém o pico de concentração ocorreu apenas 48 horas após o procedimento, com aumento de mais de três vezes os valores das concentrações observadas no préoperatório, enquanto Dambrowiski, et al., (2009) em procedimentos de OSH terapêutica em cadelas com piometra encontraram picos com 96 horas e intensidade também de três vezes o valor do pré-operatório. Alteração nos níveis plasmáticos da Hp em diferentes fases da gestação e do ciclo estral de cadelas não foi observado (ULUTAS et al. 2009). A Cp é uma α-2 glicoproteina com atividade oxidásica associada ao transporte do cobre sanguíneo e ao metabolismo do ferro; caracterizada como uma ferroxidase, já que atua na oxidação do metal ferroso tóxico para a sua forma férrica não tóxica. Isto promove a proteção dos tecidos corporais contra danos provocados por radicais livres ferro-mediados (MURATA et al., 2004; CERON et al., 2005). O decréscimo na 32 concentração da Cp sérica é observado ao nascimento, desnutrição, deficiência na absorção de nutrientes, nefrose e moléstias hepáticas associadas à intoxicação por cobre (JAIN, 1993). Elevações nos níveis da Cp já foram verificadas em cães com gastroenterite hemorrágica por parvovírus (KOCATURK et al., 2010), anemia hemolítica imunomediada (TECLES et al., 2005), babesiose, leishmaniose, neoplasia (ULUTAS et al., 2007; MARTÍNEZ-SUBIELA et al., 2011) e durante as diferentes fases da gestação (ULUTAS et al., 2009). Ulutas e Serin (2010) também demonstraram elevações nos níveis da Cp, de duas vezes o valor basal, com picos de concentração 72 horas após OSH eletiva em cadelas. 33 OBJETIVO GERAL Definir, entre a abordagem abdominal pela linha mediana ventral e lateral direita, qual a técnica mais indicada para a realização da ovariosalpingohisterectomia em cadelas pré-púberes e adultas. OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Comparar o tempo trans-operatório das cadelas submetidas à OSH pelas abordagens cirúrgicas através da linha mediana ventral e lateral direita. - Mensurar o potencial de dano tecidual dos dois acessos cirúrgicos, por meio do leucograma e da dosagem da concentração plasmática das proteínas de fase aguda, especificamente haptoglobina, ceruloplasmina, proteína c reativa e albumina. - Propor a melhor abordagem para realização da ovariosalpingohisterectomia, entre os dois acessos cirúrgicos propostos, para cadelas pré-púberes e adultas, baseando-se nos tempos trans-cirúrgicos e nas concentrações das proteínas de fase aguda supracitadas. HIPÓTESES - A utilização da abordagem lateral direita em cadelas submetidas à ovariosalpingohisterectomia eletiva reduz o tempo cirúrgico e facilita a identificação uterina. - A abordagem lateral direita induz menor lesão tecidual, indiretamente marcada pela menor indução na produção de proteínas de fase aguda. 34 REFERENCIAS ADIN, C. 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O acesso á cavidade abdominal foi realizado mediante incisão na linha alba no grupo AMV, e no flanco direito no grupo ALD. O procedimento cirúrgico foi dividido em nove manobras cirúrgicas distintas, e o tempo necessário para conclusão de cada uma delas, suas facilidades e dificuldades, assim como o tempo cirúrgico total, foram determinados. O tempo desde o inicio da incisão da pele até a entrada na cavidade peritoneal foi menor nas cadelas adultas (p≤0,001) e pré-púberes (p≤0,001) do grupo AMV, mas o tempo para identificação uterina foi menor nas cadelas pré-púberes (p≤0,001) do grupo ALD. O tempo cirúrgico total foi menor utilizando-se a abordagem lateral direita (grupo ALD) nas cadelas adultas (p≤0,001) e pré-púberes (p≤0,001). Desta forma, a abordagem lateral direita demonstrou ser uma alternativa segura em cadelas adultas e pré-púberes submetidas à OSH eletiva. Seu uso não se relacionou com complicações cirúrgicas, e facilitou a identificação uterina, possibilitando redução no tempo cirúrgico total. Palavras-chave: cão, castração, cirurgia, tempo cirúrgico 42 Comparison between the right lateral and ventral median approach in bitch undergoing ovariosalpinghysterectomy ABSTRACT In order to compare the performance of the abdominal approach the ventral midline and right lateral undergoing ovariohysterectomy in pre-pubertal and adult female dogs, we used28 otherwise healthy dogs, divided into two experimental groups ofequal number: Ventral Median Approach Group (VMA) and Right Side Approach Group (RSA), with seven adult animals and seven pre-pubertal animals in each group.The access to the abdominal cavity was performed through an incision in the lineaalba VAM group, and the right flank in the RSA group.The surgical procedure was divided into nine different surgical maneuvers, and time required for completion of each of them, their strengths and difficulties, as well as the total surgical time were determined.The time from the start of the skin incision to the entrance into the peritoneal cavity was lower in adult female dogs (p ≤ 0.001) and pre-pubertal (p ≤ 0.001) of the VAM group, but the time for uterine identification was lower in pre-pubertal female dogs (p ≤ 0.001) of the RSA group.The total surgical time was shorter using the right lateral approach (RSA group) in adult female dogs (p ≤ 0.001) and pre-pubertal (p ≤ 0.001).Thus, the right-side approach has proved to be a safe alternative in adult dogs and pre-pubertal undergoing elective OSH.Its use was not associated with surgical complications, and uterine facilitated identification, allowing a reduction in the total surgical time. Keywords:dog, spaying, surgery, surgical t ime 43 INTRODUÇÃO A ovariosalpingohisterectomia (OSH) é o método de contracepção mais adequado para cadelas e gatas não destinadas a reprodução. O acesso abdominal retroumbilical pela linha mediana ventral é a abordagem cirúrgica tradicionalmente utilizada (HOWE, 2006; SILVEIRA et al., 2013), no entanto, existem variações nas manobras cirúrgicas relacionadas ao acesso abdominal, identificação e exposição dos órgãos reprodutivos. Todas, em sua maioria, com o intuito de facilitar as manobras cirúrgicas e reduzir o tempo cirúrgico (MCGRATH et al., 2004; STONE, 2007; QUESSADA et al., 2009). Neste sentido, a abordagem lateral, ainda pouco utilizada em animais de companhia, mostra-se como uma importante alternativa à abordagem tradicional, pela linha mediana ventral (HOWE, 2006). A possibilidade de observar a ferida cirúrgica à distância e a redução na ocorrência de deiscência de sutura são as duas principais vantagens da abordagem lateral. Ademais, a evisceração por abertura espontânea da incisão cirúrgica tem menor probabilidade de ocorrer com esta técnica, já que a força gravitacional exercida na linha de incisão lateral é inferior à da linha média ventral (DORN, 1975; MINGUÉZ et al., 2005). A localização do ovário abaixo da incisão lateral possibilita ainda, sua rápida identificação e fácil exposição, o que pode reduzir parte do tempo cirúrgico requerido na identificação dessa estrutura pela abordagem mediana ventral. Fato especialmente importante em cadelas pré-púberes que possuem órgãos reprodutivos pouco desenvolvidos (MIGUÉZ et al., 2005). Apesar da abordagem lateral apresentar essas reconhecidas vantagens em relação a abordagem mediana ventral e representar uma opção para realização da OSH em cadelas, seu uso permanece pouco difundido entre os cirurgiões veterinários; fato justificado pela limitada informação a cerca das peculiaridades dessa técnica. Trabalhos descrevendo a abordagem lateral já foram feitos (MCGRATH et al., 2004, COE et al., 2006), mas um estudo experimental comparando as duas abordagens ainda não havia sido realizado em cadelas. Assim, investigou-se o desempenho da abordagem mediana ventral e lateral direita em cadelas adultas e pré-púberes submetidas à ovariosalpingohisterectomia 44 eletiva, mediante descrição das facilidades e dificuldades de cada manobra cirúrgica, e da determinação do tempo individual necessário para conclusão de cada uma delas. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo ocorreu dentro das normas de uso e experimentação animal, com aprovação do Comitê de Ética e Experimentação Animal (CEUA) da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMEVZ) da Universidade Federal da Bahia (UFBa), sob protocolo de n. 09/2013. Foram utilizadas 28 cadelas hígidas sem raça definida e peso entre 5,0 e 15,0 kg, provenientes da rotina cirúrgica do Hospital de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (HOSP-MEV/UFBA). Os animais foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos experimentais de igual número, denominados: Grupo Abordagem Mediana Ventral (AMV) e Grupo Abordagem Lateral Direita (ALD). Cada grupo foi composto por sete animais pré-púberes (a partir de cinco meses de idade até antes do primeiro estro) e sete animais adultos (a partir do primeiro estro até cinco anos de idade). Os animais foram submetidos à internação hospitalar 24 horas antes da cirurgia, período em que passaram por jejum alimentar prévio de 8 horas para as cadelas adultas e de 4 horas para as cadelas pré-púberes. O protocolo anestésico constou de Cloridrato de Petidina a 5% na dosagem de 3 mg/kg via intramuscular, seguido após 15 minutos por Cloridrato de Clorpromazina a 0,5% na dosagem de 0,5 mg/kg via intravenosa, como medicações pré-anestésicas. A indução anestésica foi feita com propofol a 1% na dosagem de 4 mg/kg via endovenosa, e mantida com isofurano em circuito circular valvular com absorvedor. Foi aplicado antibiótico profilático, a base da associação de penicilinas e estreptomicina (Pentabiótico Veterinário – Fort Dodge - São Paulo) 24.000 UI/kg via intramuscular, 30 minutos antes da cirurgia. Após preparados para cirurgia asséptica, os animais foram posicionados em decúbito dorsal ou lateral esquerdo na dependência da abordagem cirúrgica utilizada, mediana ventral ou lateral direita, respectivamente. 45 Na abordagem lateral foi feita uma incisão horizontal, no sentido craniocaudal, iniciando caudal ao ponto médio entre a última costela e a tuberosidade ilíaca. Após seccão da pele, os músculos oblíquo abdominal externo, obliquo abdominal interno e transverso do abdômen foram individualmente divulsionados, longitudinal ao sentido de suas fibras, e o peritônio foi posteriormente seccionado, tendo-se o acesso á cavidade abdominal. O ovário direito identificado abaixo da incisão foi exteriorizado com auxílio de uma pinça anatômica (Figura 1). Figura 1 - Abordagem lateral direita para realização da ovariosalpingohisterectomia em cadela. (A) Posicionamento em decúbito lateral esquerdo e local da incisão (tracejado); (B) local da incisão, situada no ponto caudal entre a última costela e a tuberosidade ilíaca (tracejado); (C) incisão da pele no sentido horizontal; (D) divulsão do músculo oblíquo abdominal externo; (E) divulsão do músculo oblíquo abdominal interno; (F) visibilização do músculo abdominal transverso após divulsão do músculo oblíquo abdominal interno; (G) divulsão do músculo abdominal transverso e secção do peritônio para acesso a cavidade abdominal; (H) visibilização do ovário direito logo abaixo da incisão; (I) exposição do ovário direito. 46 Com o ligamento suspensor distendido, e com a bursa ovárica e o CAVO identificados, procedeu-se a ruptura do ligamento suspensor e do ligamento largo na região do mesovário. Uma ligadura com fio mononáilon n. 0 foi confeccionada, e cranialmente a esta, foram colocadas duas pinças hemostáticas de Crile, para posterior secção entre as mesmas. Com o corno uterino direito retrofletido, procedeu-se a retirada da pinça distal, e após constatação da hemostasia e secção dos cabos dos fios da ligadura, o pedículo ovariano foi reintroduzido na cavidade abdominal. As mesmas manobras foram realizadas no ovário esquerdo. Com o útero exposto, procedeu-se a obliteração vascular e luminal do corpo do útero, empregando-se a técnica hemostática das três pinças (FOSSUM, 2005), e ligadura com fio de mononáilon n. 0. Após exérese dos órgãos e constatação da hemostasia, o coto uterino foi reintroduzido à cavidade abdominal. 47 Figura 2 -Ovariosalpingohisterectomia em cadela adulta por abordagem lateral direita. (A) identificação e ruptura do ligamento suspensor do ovário; (B) ligadura do pedículo ovariano direito com fio mononylon n.0; (C) duplo pinçamento com pinças hemostáticas de Crile cranial a ligadura do pedículo ovariano direito; (D) secção entre as pinças hemostáticas; (E) liberação do ovário e corno uterino direito com visualização da bifurcação uterina; (F) utilização da bifurcação uterina como guia para identificação e exposição do ovário esquerdo; (G) triplo pinçamento do corno uterino cranial a cérxix e, secção entre as pinças proximal e intermediária; (H) ligadura do útero abaixo da pinça hemostática proximal; (I) verificação da hemostasia após ligadura do corpo uterino. As camadas musculares internas e externas foram suturadas em conjunto com fio mononáilon n. 0 através de um único ponto de sultan. A redução do espaço morto não foi realizada e a dermorrafia foi feita com fio mononáilon n. 2-0 em padrão de sutura Wolf interrompido (Figura 3). 48 Figura 3 - Sintese da parede abdominal após abordagem lateral direita para ovariosalpingohisterectomia em cadela. (A e B) sutura abrangendo os músculos abdominal externo, interno e transverso; (C) sutura em “X” em uma única camada abrandendo os músculos abdominal externo, interno e transverso; (D e E) dermorrafia com sutura de Wolf, sem necessidade de sutura intradérmica; (F) aparência macroscópica do local de incisão na abordagem lateral direita. Nos animais do grupo AMV, a celiotomia foi feita por meio de uma incisão mediana ventral retroumbilical, iniciada na cicatriz umbilical nas cadelas adultas, e a dois centímetros desta nas cadelas pré-púberes. O corpo do útero foi identificado com auxílio do dedo indicador, guiado pela sua localização dorsal à bexiga e ventral ao colón. Ao seguir a direção cranial, os cornos uterinos direito e esquerdo foram identificados. As manobras cirúrgicas para ligadura e secção dos pedículos ovarianos e corpo do útero foram semelhantes às realizadas no grupo ALD. A síntese da cavidade abdominal foi feita com fio mononáilon n. 0 em padrão de sutura simples separado. A redução do espaço morto subcutâneo foi feita com categute cromado n. 2-0 em sutura simples separada e a dermorrafia foi feita com fio mononáilon n. 2-0 em padrão de sutura Wolf interrompido. Após a cirurgia os animais permaneceram internados por mais 10 dias. Os cuidados pós-operatórios constaram de analgesia à base de Cloridrato de Tramadol a 5%, na dose de 3 mg/kg via subcutânea, a cada 8 horas, por três dias, e curativo local diário com solução alcoólica de clorexidina 0,5%. Como método de restrição, utilizou- 49 se roupa pós-cirúrgica até a retirada dos pontos de pele, que ocorreu no 10º dias após a cirurgia. Para registro do tempo cirúrgico, a cirurgia foi dividida em nove manobras cirurgicas distintas, de acordo com a sequencia do ato operatório. A subtração do tempo para realização da manobra precedente pela antecedente, equivale ao seu respectivo intervalo de tempo. A duração de cada intervalo foi cronometrada em minutos (Figura 4). Figura 4- Momentos cirúrgicos de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia . Intervalos de tempo: I ̶ E: início da incisão da pele até a entrada na cavidade peritoneal , E ̶ LOD : entrada na cavidade peritoneal até a localização do ovário direito LID: localização do ovário direito até a conclusão da ligadura do ovário direito , LOD ̶ , LID ̶ LOE: conclusão da ligadura do ovário direito até a localização do ovário esquerdo, LOE ̶ LIE : localização do ovário esquerdo até a conclusão da ligadura do ovário esquerdo, LIE ̶ LOC : conclusão da ligadura do ovário esquerdo até a localização da cérvix, LOC ̶ LIC: localização da cérvix até a conclusão da ligadura da cérvix , LIC ̶ S: conclusão da ligadura da cérvix até a conclusão da síntese de pele. Todos os procedimentos cirúrgicos foram executados pela mesma equipe cirúrgica, composta por cirurgião, auxiliar e anestesista. Três meses após a cirurgia, foi feito contato telefônico com os proprietários dos animais do grupo ALD, a fim de verificar se houve alteração dos pêlos no local onde foi feita a incisão lateral. Os resultados obtidos foram analisados através do programa estatístico IBMSPSS versão 20. Para a detecção de diferenças estatísticas significantes (p<0,05) dos intervalos de tempos entre os grupos experimentais, utilizou-se o teste T de Studart, para comparação de médias de amostras independentes. Os resultados foram expressos através de gráficos de barras de erro, nos quais estão expressos a média e o desvio-padrão das variáveis estudadas. 50 RESULTADOS As médias e os desvios padrão dos intervalos de tempo dos grupos AMV e ALD estão descritos na tabela 1. O tempo desde o início da incisão da pele até a entrada á cavidade peritoneal (intervalo I – E) foi menor nos animais do grupo AMV tanto para as cadelas adultas (p≤0,001) quanto para as pré-púberes (p≤0,001). Nas duas abordagens o tempo de acesso à cavidade foi maior para as cadelas pré-púberes, com diferença estatisticamente significativa entre as faixas etárias somente no grupo AMV (p≤0,001). O tempo médio desde a entrada na cavidade peritoneal até a localização do ovário direito (intervalo E – LOD) foi menor pela abordagem lateral nas cadelas prépúberes (p≤0,001). Não houve diferença estatística entre as abordagens para as adultas (p≥0,05). Para localização do ovário esquerdo (intervalo LID – LOE) houve inversão nos tempos em relação à localização do ovário direito. A identificação do ovário esquerdo foi mais rápida nas cadelas adultas (p≤0,001) e pré-púberes (p≤0,001) do grupo AMV. O tempo para a localização do ovário esquerdo foi sempre maior nas cadelas pré-púberes, tanto no grupo ALD (p≤0,001) quanto no grupo AMV (p≤0,001). Os tempos médios para ligadura do ovário direito (intervalo LOD ̶ LID) e ligadura doovário esquerdo (intervalo LOE ̶ LIE ) foram menores no grupo ALD, tanto para as cadelas adultas (p≤0,001) quanto para as pré-púberes (p≤0,001), com o tempo médio para as ligaduras sendo estatisticamente maior nas cadelas pré-púberes, em ambas as abordagens. A localização da cérvix (intervalo LIE - LOC) foi mais rápida no grupo AMV nas cadelas adultas (p≤0,001) e pré-púberes (p≤0,001), com o tempo médio para localização dessa estrutura sendo sempre maior nas cadelas pré-púberes, tanto no grupo AMV (p≤0,001) quanto no grupo ALD (p≤0,001). O tempo médio paraligadura da cérvix(intervalo LOC ̶ LIC) foi menor nas cadelas pré-púberes (p≤0,001) do grupo AMV, e nas cadelas adultas (p≤0,001) do grupo ALD. 51 A síntese da parede abdominal (intervalo LIC ̶ S) foi mais rápida nas cadelas do grupo ALD (p≤0,001), com o tempo médio para realização dessa manobra sendo sempre superior nas cadelas adultas, tanto nas do grupo AMV (p≤0,001) quanto nas do grupo ALD (p≤0,001) O tempo cirúrgico total foi menor utilizando-se a abordagem lateral direita (grupo ALD) nas cadelas adultas (p≤0,001) e nas cadelas pré-púberes (p≤0,001), com o tempo médio para execução da cirurgia sendo sempre superior nas cadelas prépúberes do grupo AMV (p≤0,05) e do grupo ALD (p≤0,001). O comprimento da incisão diferiu entre os grupos experimentais. No grupo ALD o comprimento da incisão abdominal foi de três centímetros, enquanto no grupo AMV foi de quatro centímetros. Nos animais do grupo ALD, não houve alteração na coloração dos pêlos após o seu crescimento no local da incisão lateral. Não houve complicações trans-cirúrgicas nem pós-cirurgicas em nenhum animal do estudo. 52 Tabela 1. Médias e desvios padrão dos intervalos de tempo em minutos de cadelas submetidas à ovariosalpingohisterectomia por meio de abordagem mediana ventral (AMV) e abordagem lateral direita (ALD). Abordagens Cirúrgicas LMV ALD aA 1,03(±0,14) 1,52(±0,26)aB P I–E E – LOD LID – LOE LOE – LIE LIE – LOC LOC – LIC LIC – S Tempo total 1,48(±0,19)aB A 3,46(±2,68)aA 1,14(±0,66)aB P 1,18(±0,86)bA 1,29(±0,93)aA A 2,34(±0,69)aA 1,30(±0,25)aB P 2,06(±0,40)bA 1,15(±0,21)bB A 0,42(±0,26)aA 2,99(±3,52)aB P 0,13(±0,05)bA 0,47(±0,23)bB A 2,04(±0,38)aA 1,64(±0,40)aB P 1,87(±0,54)bA 1,19(±0,38)bB A 0,50(±0,47)aA 0,93(±0,64)aB P 0,16(±0,13)bA 0,51(±0,28)bB A 1,78(±0,28)aA 2,27(±1,00)aB P 3,04(±0,99)bA 1,36(±0,53)bB A 5,39(±0,81)aA 2,82(±0,62)aB P 6,26(±0,85)bA 3,47(±0,46)bB A 16,96(±4,50)aA 14,62(±2,65)aB P 15,62(±2,56)bA 10,92(±0,94)bB A GRUPOS ETÁRIOS INTERVALOS DE TEMPO LOD – LID 0,92(±0,11)bA Idade: P (pré-púbere), A (adulto) Intervalos de tempo : I ̶E : início da incisão da pele até a entrada na cavidade peritoneal , E ̶ LOD : entrada na cavidade peritoneal até a localização do ovário direito , LOD ̶ LID : localização do ovário direito até a conclusão da ligadura do ovário direito, LID ̶ LOE : conclusão da ligadura do ovário direito até a localização do ovário esquerdo , LOE ̶ LIE : localização do ovário esquerdo até a conclusão da ligadura do ovário esquerdo , LIE ̶ LOC : conclusão da ligadura do ovário esquerdo até a localização da cérvix , LOC ̶ LIC: localização da cérvix até a conclusão da ligadura da cérvix , LIC ̶ S : conclusão da ligadura da cérvix até a conclusão da síntese de pele. Letras maiúsculas diferentes indicam diferenças significativas entre as abordagens cirúrgicas (colunas) (P<0,05). Letras minúsculas diferentes indicam diferenças significativas entre os grupos etários (linhas) (P<0,05). 53 DISCUSSÃO A ovariosalpingohisterectomia como método contraceptivo pode ser empregada em idade precoce ou na fase adulta (HOWE, 1997; HOWE et al., 2001). Em geral é realizada através de incisão na linha mediana ventral, contudo a abordagem á cavidade abdominal pelo flano mostra-se uma alternativa viável ao acesso tradicional (HOWE, 2006; STONE, 2007). A menor possibilidade de deiscência de sutura e a maior facilidade na identificação dos órgãos reprodutivos são duas das principais vantagens da abordagem lateral (DORN, 1975; MINGUÉZ et al., 2005). Na abordagem mediana ventral a localização da incisão retroumbilical variou de acordo com os subgrupos trabalhados. Nas cadelas pré-púberes o acesso foi realizado no terço médio do abdome caudal, cerca de 2 cm caudais à cicatriz umbilical, enquanto nas cadelas adultas foi iniciada imediatamente após a cicatriz umbilical, no terço cranial do abdome caudal, conforme recomendo por Hedlund (2008), facilitando a identificação uterina nas diferentes faixas etárias. Para a abordagem lateral, segundo Miguéz et al. (2005), os animais podem recostar-se no flanco direito ou esquerdo. Neste estudo, a abordagem lateral utilizada foi a direita, de acordo como preconizado por Dorn (1975), uma vez que o decúbito lateral esquerdo oferece melhor acesso ao ovário direito que é mais cranial, e também pela presença do baço e do recobrimento omental da víscera do lado esquerdo, que podem predispor a hemorragias e dificultar sua localização, respectivamente. De fato, a entrada na cavidade abdominal, através do flanco direito, mostrou-se efetiva, uma vez que facilitou a identificação e exposição dos órgãos por meio da incisão lateral, colaborando com a redução do tempo cirúrgico total nos animais do grupo ALD. Na abordagem lateral, Macgrath et al. (2004) indicaram que a incisão da pele fosse realizada ligeiramente oblíqua no sentido dorsoventral, começando em um ponto médio entre a última costela e a tuberosidade ilíaca. Tais referências anatômicas foram utilizadas para situar o local da incisão, no entanto, nos animais deste estudo optou-se em realizar a incisão horizontal no sentido craniocaudal. Esta opção, mesmo indo contra o sentido das fibras musculares, não dificultou a 54 identificação e exposição dos órgãos reprodutivos e não resultou em hemorragias adicionais. Os três blocos musculares que compõem a parede abdominal lateral, especificamente, músculo oblíquo abdominal externo, músculo oblíquo abdominal interno e músculo transverso do abdome, foram individualmente divulsionados, respeitando o sentido longitudinal de suas fibras musculares, conforme indicado por Janssens e Janssens (1991) e Macgrath et al. (2004), manobra que resultou em trauma cirúrgico mínimo. Ademais, a incisão das camadas musculares, segundo Dorn (1975), deve ser evitada, uma vez que, pode resultar em hemorragia adicional e comprometer a visão do campo cirúrgico. De fato, a hemorragia resultante das manobras para acessar a cavidade abdominal na abordagem lateral foi praticamente inexistente, resultado da técnica empregada: divulsão e não incisão muscular. O tempo para entrar na cavidade abdominal (intervalo I ̶ E ) foi maior nos animais do grupo ALD. Isso ocorreu porque identificar e divulsionar individualmente as fibras dos músculos que compõem a parede abdominal lateral demandou mais tempo que identificar e incisionar a linha alba na abordagem ventral; achado igualmente verificado por Coe et al. (2006) quando realizou OSH eletiva em gatas através das mesmas abordagens abdominais utilizadas neste estudo. A incisão na abordagem lateral direita situou-se acima do ovário direito, conforme relatado por Miguéz et al. (2005), o que possibilitou rápida identificação e exposição desta estrutura (intervalo E ̶ LOD ) nos animais do grupo ALD, especialmente nas cadelas pré-púberes. Nesses animais, o pouco desenvolvimento dos órgãos reprodutivos dificultou a localização e atrasou a identificação desta estrutura na abordagem mediana ventral. Para as cadelas adultas, contudo, não houve diferença entre os acessos cirúrgicos, no que concerne a localização do ovário direito. O atraso na localização do ovário esquerdo (intervalo LID ̶ LOE ) nas cadelas do grupo ALD ocorreu devido à limitada exposição do ovário contralateral inerente a esta abordagem, conforme relatado por Dorn (1975). Nas cadelas prépúberes este atraso foi especialmente importante, pois além da maior dificuldade para localização do ovário contralateral, o corpo uterino que é utilizado como guia 55 para alcançar o ovário esquerdo, também é naturalmente mais caudal nesses animais (MIGUÉZ et al., 2005; STONE, 2007). A proximidade entre a incisão lateral e o ovário direito reduziu o tempo para ligadura desta estrutura (intervalo LOD ̶ LID ) nos animais do grupo ALD. O contrário foi observado nos animais do grupo AMV, nos quais foi necessária maior tração para exposição do ovário direito através da incisão ventral, resultando em maior tempo para ligadura desta estrutura. Tal fato foi principalmente observado nas cadelas pré-púberes que possuem órgãos reprodutivos pouco desenvolvidos necessitando de tração adicional para sua exposição, com conseqüente aumento no tempo para execução das ligaduras. O ovário esquerdo também teve seu tempo de ligadura reduzido (intervalo LOE ̶ LIE ) nos animais do grupo ALD, semelhante ao que ocorreu com o ovário direito, discordando de Coe et al. (2006), que relataram maior dificuldade para ligadura dos ovários na abordagem lateral direita, em relação a abordagem mediana ventral. O tempo para a localização da cérvix (intervalo LIE ̶ LOC ) foi maior nas cadelas do grupo ALD, uma vez que esta estrutura esta localizada mais caudal em relação ao acesso lateral (STONE, 2007). Desta forma, para a exposição da cérvix, foi necessária uma maior tração da parede abdominal lateral no sentido caudal, enquanto os cornos uterinos foram tracionados no sentido cranial. Tais manobras, por serem mais complexas do que aquelas realizadas na abordagem ventral demandaram maior tempo para sua execução, o que justificou o atraso na localização da cérvix nas cadelas submetidas à abordagem lateral direita. Ademais, o corpo do útero mais caudal nas cadelas pré-púberes, conforme relatado por Miguéz et al., (2005), justificou o maior tempo despendido para localização da cérvix desses animais nas duas abordagens cirúrgicas estudadas. A celiorrafia lateral (intervalo LIC ̶ S ) foi feita em plano único, abrangendo o peritônio e os três músculos que compõem a parede abdominal lateral, semelhante ao realizado por Quessada et al.(2001), mas diferiu do adotado por Janssens e Janssens (1991) e Miguéz et al. (2005) que indicaram que a síntese na técnica lateral seja feita em dois planos de sutura. O fechamento da incisão lateral deu-se por meio de um único ponto sultan sem realização de sutura subcutânea. Tais manobras 56 reduziram o tempo de laparorrafia nos animais do grupo ALD em relação aos do grupo AMV, e não resultou em nenhum problema na ferida cirúrgica. Apesar da maior dificuldade para a exposição do corpo do útero no acesso lateral, conforme relatado por Stone (2007), não foi necessário ampliar a incisão em nenhum animal submetido a esta abordagem, como ocorreu no trabalho de Janssens e Janssens (1991). Nesse sentido, a extensão da incisão foi de aproximadamente três centímetros nos animais com abordagem lateral e de quatro centímetros naqueles com abordagem ventral. O menor comprimento da incisão lateral também descrito por Coe et al. (2006) foi possível pela maior proximidade do útero em relação ao acesso lateral, possibilitando, apesar do espaço reduzido, acessar o útero de forma mais efetiva. Na abordagem ventral os órgãos reprodutivos estão mais distantes do local de acesso, necessitando de uma incisão maior para uma exposição uterina segura. Diferente do relatado por Coe et al. (2006), os animais do grupo ALD exibiram tempo cirúrgico total estatisticamente menor em relação aos animais do grupo AMV, pois o acesso lateral evitou a perda de tempo que ocorre na abordagem ventral para localização do útero, já que a incisão é realizada imediatamente acima do ovário direito. O menor tempo de laparorrafia nos animais do grupo ALD também auxiliou na redução do tempo cirúrgico total, e mesmo o acesso ao ovário esquerdo e cérvix tendo sido mais trabalhosos através da abordagem lateral, conforme relatado por Macgrath et al. (2004), isso não se refletiu em atraso no tempo cirúrgico total. Foi verificado ainda que nas duas abordagens, o tempo cirúrgico total foi maior nas cadelas pré-púberes em relação às cadelas adultas. Isso ocorreu por que os órgãos reprodutivos menos desenvolvidos nos animais pré-púberes e a menor elasticidade dos seus ligamentos dificultaram a exposição e ligadura dessas estruturas através dos acessos cirúrgicos utilizados. Em nenhum animal do estudo ocorreu deiscência de sutura, nem infecção da ferida cirúrgica, diferente do relatado por Coe et al. (2006), que verificaram problemas com a ferida cirúrgica em 39% dos animais castrados, sendo a incidência de infecção significativamente maior naqueles esterilizados pela abordagem lateral. O uso inadequado da terapia antimicrobiana foi apontado por Arias et al. (2013) e 57 Braga (2008) como um importante fator de risco para a ocorrência de ISC em cirurgias consideradas limpas. Mesmo não sendo indicado o uso de terapia antimicrobiana em cirurgias consideradas limpas (FOSSUM, 2008), no presente estudo foi administrado antibiótico profilático, em dose única, 30 minutos antes da cirurgia. Tal conduta foi adotada por se tratar de um experimento, onde nem sempre é possível limitar o número e movimentação de pessoas dentro da sala cirúrgica, que são considerados importantes fatores de risco para ISC (SANTSCHI, 2006). Rodrigues (2013) sugeriu que quanto maior a ASA e mais longa for a duração da cirurgia, maior a ocorrência de ISC. O fato de todos os animais deste estudo ter sido cadelas jovens, saudáveis (ASA I) e em bom estado físico, bem como o tempo cirúrgico total, incluindo a indução anestésica, não ter ultrapassado 30 minutos de duração, ajudou a evitar a ISC nos grupos experimentais estudados. A interferência do paciente na ferida cirúrgica foi ainda, segundo Braga (2008), uma evidência confirmada de ISC. O método de restrição, através do uso de roupa pós-cirúrgica, empregado em todas as cadelas desta pesquisa, mostrou-se eficaz, anulando assim o contato do animal com a ferida cirúrgica, e ajudando a evitar a ISC. A descoloração ou escurecimento dos pêlos no local da incisão lateral, evidenciado por Gorelick (1974), e Janssens e Janssens (1991) representa uma desvantagem da abordagem lateral, especialmente em animais de exposição. Tal fato, contudo, não ocorreu nas cadelas desse estudo, pois todos os animais do grupo ALD permaneceram com os pêlos no local da cirurgia idênticos aos do resto do corpo após repilação. CONCLUSÕES A utilização da abordagem lateral para realização de OSH em cadelas adultas e pré-púberes não relacionou-se com nenhuma complicação trans-cirúrgica nem póscirúrgica; reduziu o tempo cirúrgico total e facilitou a identificação uterina, 58 especialmente nos animais pré-púberes, demonstrando ser uma opção factível e segura para realização da OSH eletiva em cadelas. REFERÊNCIAS ARIAS, M.V. B., AIELLO, G., BATTAGLIA, L. A., FREITAS, J. C. Estudo da ocorrência de infecção hospitalar em cães e gatos em um centro cirúrgico veterinário universitário. 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Os animais foram divididos em dois grupos experimentais de igual número, de acordo com o local da incisão abdominal utilizada, em grupo Abordagem Mediana Ventral (AMV) e grupo Abordagem Lateral Direita (ALD). Nos animais do grupo AMV a incisão abdominal foi realizada na linha alba e nos animais do grupo ALD no flanco direito. Amostras de sangue foram coletadas imediatamente antes e imediatamente após a cirurgia, e 12, 24, 48, 96, 168 e 240 horas após o procedimento. Nos dois grupos experimentais, os níveis séricos da ceruloplasmina (p≤0,01), haptoglobina (p≤0,01) e proteína c reativa elevaram-se após a cirurgia, assim como os valores dos leucócitos totais (p≤0,001), neutrófilos (p≤0,001) e bastonetes (p≤0,05). Ao final do experimento, no décimo dia após a ovariosalpingohisterectomia, todos os valores haviam retornado aos níveis observados antes do procedimento, refletindo a resolução do processo inflamatório e a completa recuperação pós-cirúrgica dos animais. As duas abordagens cirúrgicas geraram danos teciduais semelhantes, indiretamente marcados pela mesma indução na resposta de fase aguda. Palavras-chave: cirurgia, resposta de fase aguda, leucograma 63 Influence of surgical approach in the inflammatory response of female dogs undergoing elective ovariosalpingohysterectomy ABSTRACT The lateral approach is an alternative to the traditional approach ventral midline in dogs undergoing elective ovariosalpingohysterectomy.In order to verify that the change at the incision site resulting in different inflammatory responses, concentrations of acute phase proteins, specifically, C-reactive protein, ceruloplasmin, haptoglobin, albumin, and leukocyte counts were measured in 28 dogs undergoing elective castration .The animals were divided into two groups of equal numbers, according to the site of the abdominal incision used in group Ventral Median Approach (VMA) and Right Side Approach Group (RSA).In the animals of VMA group the abdominal incision was made in the lineaalba and the animals of the RSA group on the right flank.Blood samples were collected immediately before and immediately after surgery, and 12, 24, 48, 96, 168 and 240 hours after the procedure.In both experimental groups, serum ceruloplasmin (p ≤ 0.01), haptoglobin (p ≤ 0.01) and c-reactive protein rose after surgery, as well as the values of total leukocytes (p ≤ 0.001), neutrophils (p ≤ 0.001) and rods (p ≤ 0.05).At the end of the experiment, on the tenth day after ovariosalpingohysterectomy, all values had returned to levels seen before the procedure, reflecting the resolution of the inflammatory process and complete postoperative recovery of animals.The two surgical approaches produced similar tissue damage, indirectly marked by the same induction in acute phase response. Keywords: surgery, acute phase response, leucocyte count 64 INTRODUÇÃO A resposta de fase aguda faz parte do sistema de defesa inato dos animais, protegendo-os contra trauma, infecção e inflamação. A finalidade dessa resposta é limitar a inflamação, eliminar o agente agressor e restaurar a homeostasia (ECKERSALL, 2000; MURATA et al., 2004). Assim, em locais invadidos por microorganismos e em tecidos lesionados, macrófagos e monócitos liberam citosinas pró-inflamatórias, das quais o Fator de Necrose Tumoral (TNF-α), e as Interleucinas IL-1 e IL-6, são as principais indutoras da síntese de proteínas de fase aguda (PFA) (CÉRON et al., 2005; CRAY et al., 2009). As PFAs são consideradas melhores indicadores da resposta sistêmica frente aos processos inflamatórios e infecciosos, quando comparadas a outras variáveis como febre, leucocitose e neutrofilia (JAIN, 1989). Desta forma, a concentração circulante dessas proteínas tem demonstrado ser de grande relevância e de importante aplicação prática na monitoração do tratamento de numerosos processos patológicos e fisiológicos (KOGIKA et al., 2003; TECLES et al., 2005; ULUTAS et al., 2007; ULUTAS et al., 2009; KOCATURK et al., 2010) , e no acompanhamento da recuperação de procedimentos cirúrgicos (SERIN e ULUTAS, 2010; CARVALHO et al., 2008; DABROWSKI et al., 2009). A ovariosalpingohisterectomia (OSH) é a cirurgia mais freqüentemente realizada em cadelas e gatas, e constitui o método de contracepção mais adequado para animais que não são destinados a reprodução (HEDLUND, 2008; STONE, 2007; HOWE, 2006; VAN GOETHEM et al., 2006). O acesso abdominal retroumbilical pela linha mediana ventral é a abordagem tradicionalmente utilizada para esse fim, contudo variações relacionadas ao acesso abdominal, identificação e exposição dos órgãos, estão sendo descritas, com o intuito de reduzir o tempo cirúrgico e minimizar o trauma tecidual (MCGRATH et al., 2004; STONE, 2007; QUESSADA et al., 2009). Nesse sentido, a abordagem lateral mostra-se como uma importante alternativa à tradicional, pela linha mediana ventral (COE et al., 2006; HOWE, 2006), apresentando como principais vantagens, a possibilidade de observar a ferida cirúrgica à distância e a redução na ocorrência de deiscência de sutura. A incisão 65 lateral facilita ainda a identificação uterina, uma vez que é feita acima do ovário direto, o que pode reduzir parte do tempo cirúrgico requerido na localização dessa estrutura na abordagem mediana ventral. (MIGUÉZ et al., 2005). Apesar de a OSH ser um procedimento relativamente simples, a prevenção de complicações pós-operatórias, depende em grande parte de um adequado acompanhamento dos animais após a cirurgia (DABROWSKI et al., 2007). Assim, as concentrações séricas das PFAs podem ser utilizadas para mensurar a gravidade da inflamação, permitindo precoce detecção e rápida restauração da homeostasia.. Embora alguma informação esteja disponível sobre a determinação das PFA no acompanhamento do período pós-operatório de cadelas submetidas à ovariosalpingohisterectomia (DABROWSKI et al., 2007; DABROWSKI et al., 2009; SERIN e ULUTAS, 2010), nenhum estudo foi realizado utilizando-as como marcadores inflamatórios na comparação dos graus de lesão tecidual infligidos por diferentes abordagens abdominais. Desta forma, com o intuito de verificar se a alteração no local de abordagem abdominal induziria respostas inflamatórias diferentes em cadelas submetidas à OSH eletiva, as concentrações das PFAs, especificamente, proteína c reativa, haptoglobina, ceruloplasmina e albumina, bem como o leucograma, foram mensurados nos animais submetidos á OSH pela abordagem mediana ventral e lateral direita. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo ocorreu dentro das normas de uso e experimentação animal, com aprovação do Comitê de Ética e Experimentação Animal (CEUA) da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMEVZ) da Universidade Federal da Bahia (UFBa), sob protocolo de n. 09/2013. Utilizaram-se cadelas hígidas sem raça definida e peso entre 5,0 e 15,0 kg, selecionadas mediante exame clínico geral, hemograma e bioquímica sérica (ALT, FA, uréia e creatinina) afim certificar a higidez. Todos os animais selecionados 66 foram submetidos á OSH para inibição do ciclo estral, diferindo apenas a abordagem abdominal adotada. Foram utilizadas 28 cadelas com idade entre cinco meses e cinco anos, divididas em dois grupos, com 14 animais submetidos à OSH pela abordagem lateral direita (grupo ALD) e 14 animais submetidos à OSH pela abordagem mediana ventral (grupo AMV). Os animais foram internados 24 horas antes da cirurgia no Canil do Hospital de Medicina Veterinária Professor Renato de Medeiros Neto - UFBA (HOSPMEV/UFBA), período em que passaram por jejum alimentar prévio de 8 horas. O protocolo anestésico adotado foi cloridrato de petidina a 5% na dosagem de 3 mg/kg, por via intramuscular, seguido após 15 minutos por cloridrato de clorpromazina a 0,5% na dosagem de 0,5 mg/kg, por via intravenosa, como medicações préanestésicas. A indução anestésica foi feita com propofol a 1% na dosagem de 4 mg/kg via endovenosa, e mantida com isofurano em circuito circular valvular com absorvedor. Foi aplicado antibiótico profilático, a base da associação de penicilinas e estreptomicina (Pentabiótico Veterinário – Fort Dodge - São Paulo) 24.000 UI/kg via intramuscular, trinta minutos antes do procedimento cirúrgico. Os animais do grupo ALD foram posicionados na mesa cirúrgica em decúbito lateral esquerdo. A incisão da pele feita de forma horizontal no sentido crâniocaudal, iniciou caudal ao ponto médio entre a última costela e a tuberosidade ilíaca. Após seccão da pele e gordura subcutânea, as fibras dos músculos oblíquo abdominal externo, obliquo abdominal interno e transverso do abdômen foram individualmente divulsionadas respeitando o sentido das fibras, para posterior secção do peritônio e acesso á cavidade abdominal. O ovário direito identificado abaixo da incisão foi preso e exteriorizado com auxílio de uma pinça anatômica. O pedículo ovariano foi ligado com fio mononáilon n. 0. Duas pinças hemostáticas de Crile foram posicionadas craniais ao local da ligadura com posterior secção do pedículo entre as pinças, que foi liberado após inspeção da hemostasia. A bifurcação dos cornos uterinos foi identificada e utilizada como guia para localizar e expor o corno e ovário esquerdos. As mesmas manobras foram realizadas no pedículo ovariano contralateral. O corpo uterino foi triplamente pinçado imediatamente cranial à cérvix 67 e seccionado entre as pinças distal e intermediária. A pinça proximal foi removida e o útero foi ligado com fio mononáilon n.0 no local do sulco deixado pela pinça. As camadas musculares internas e externas foram suturadas em conjunto com fio mononáilon n. 0 em padrão de sutura interrompido utilizando um único ponto em “X”. A sutura intradérmica não foi necessária e a dermorrafia com pontos em Wolf interrompidos foi feita com fio mononáilon n. 2-0. Os animais do grupo AMV foram posicionados na mesa cirúrgica em decúbito dorsal. A celiotomia foi feita por meio de incisão mediana ventral retroumbilical. As manobras cirúrgicas para ligadura e secção dos pedículos ovarianos e corpo do útero foram semelhantes às realizadas no grupo ALD. A celiorrafia foi confeccionada de acordo com métodos rotineiros (STONE, 2007). Todos os procedimentos cirúrgicos foram executados pela mesma equipe cirúrgica, composta por cirurgião, auxiliar e anestesista, devidamente capacitados e experientes. Após a cirurgia os animais foram internados por 10 dias no Canil do HOSPMEV/UFBA. Os cuidados pós-operatórios constaram de analgesia à base de cloridrato de tramadol a 5% 3 mg/kg via subcutânea, cada 8 horas, por três dias, e curativo local diário com clorexidina 0,5% . Amostras de 5,0 mL de sangue foram colhidas por venopunção da jugular externa, com seringa e agulhas hipodérmicas, acondicionadas em tubos sem e com anticoagulante EDTA (etilenodiaminotetraacetato de sódio – 1 mg/mL de sangue) para realização da dosagem das proteínas de fase aguda, especificamente proteína creativa, haptoglobina, ceruloplasmina e albumina, e do leucograma, respectivamente. As coletas de sangue foram realizadas imediatamente antes da pré-anestesia (Tempo 0), imediatamente após o término da cirurgia (Tempo 1), 12 h (Tempo 2), 24 h (Tempo 3), 48 h (Tempo 4), 96 h (Tempo 5), 168 h (Tempo 6) e 240 h (Tempo 7) após cirurgia . As amostras de sangue contendo anticoagulante foram processadas logo após a coleta. O soro foi obtido mediante centrifugação a 3000RPM (1500G), durante 10 minutos (centrífuga modelo Kubota 2100 - Japão), acondicionado em tubos tipo ependorfes e mantido a -20o C até a realização das análises das proteínas. A contagem dos leucócitos totais foi realizada em contador de células automatizado, 68 modelo POCH – 100iV Diff, e o esfregaço sanguíneo foi corado pelo método Panóptico Rápido®, para posterior contagem diferencial. As concentrações séricas da proteína c-reativa foram determinadas pelo método ultra-sensível turbidimétrico, com Kit comercial Biotécnica, em Multianalisador Bioquímico (Lab Max 240 Labtest – Minas Gerais). As concentrações de haptoglobina foram quantificadas pela técnica do Guaiacol (JONES e MOULD, 1984), realizada em placas de microtitulação, com posterior leitura em leitor de Elisa (Bio-Rad imark Microplate Reader – Estados Unidos). A atividade oxidásica da ceruloplasmina foi determinada pelo método desenvolvido por Schosinsky et al. (1974), e as leituras finais foram efetuadas em espectrofotômetro (Biospectro, modelo SP 220), em comprimento de onda igual a 540 nm. As concentrações da albumina foram determinadas pelo método do verde bromocresol, através de kits bioquímicos comerciais (Doles – Goiânia, GO). As amostras foram processadas em analisador bioquímico semi-automático (Bio 2000 Bioplus – São Paulo). Os resultados obtidos foram analisados através do programa estatístico IBMSPSS versão 20. Foram calculadas as médias e desvios-padrão para as variáveis em cada grupo experimental e em cada tempo de coleta. As diferenças entre os resultados dos grupos experimentais (cada abordagem cirúrgica) em cada tempo amostral foram comparadas através de Análise de Variância (ANOVA), com nível de significância estabelecido em p<0,05. Objetivando-se estabelecer a cinética das variáveis estudadas ao longo do período de estudo, utilizou-se a ANOVA, seguida do teste post hoc de Bonferroni, para a detecção de diferenças significantes (p<0,05) entre os resultados em momentos antes e após o procedimento cirúrgico. RESULTADOS A duração de cada procedimento, incluindo a indução anestésica, não excedeu 30 minutos. Não houve complicações anestésicas, nem cirúrgicas em nenhum animal do estudo. As manobras cirúrgicas, referentes à identificação, ligadura e 69 excisão dos ovários e útero, foram semelhantes nas duas abordagens. O comprimento da incisão abdominal foi de aproximadamente 3,0 cm em ambos os grupos experimentais. Os valores médios da Cp estão expressos na figura 1 e tabela 1. A concentração média da Cp antes da cirurgia nos animais dos grupos AMV e ALD foi de (3,88±1,93U/l) e (4,18±1,79U/l), respectivamente. Estes valores aumentaram significativamente (p≤0,01) 48 horas após o procedimento em ambos os grupos experimentais, momento em que atingiu o pico máximo de concentração de (8,23±3,95) e (6,61±1,56), respectivamente. No décimo dia após a cirurgia o nível médio da Cp retornou a valores semelhantes aos observados antes da castração. Figura 1- Concentração sérica da Ceruloplasmina (Cp) de cadelas submetidas à ovariosalpingohisterectomia eletiva, através da abordagem mediana ventral (AMV) e abordagem lateral direita (ALD). Tempos: (0) pré-operatório imediato; (1) pós-operatório imediato; (2) 12h após a cirurgia; (3) 24h após a cirurgia; (4) 48h após a cirurgia; (5) 96h após a cirurgia; (6) 160h após a cirurgia; (7) 240h após a cirurgia. (a) Diferença estatisticamente significativa comparando com o valor do tempo inicial (p≤0,01) 70 A figura 2 e tabela 1 demonstram as mudanças nos níveis séricos da Hp. No período pré-operatório, os animais do grupo AMV exibiram o valor médio de (134,7±24,03mg/dl) aumentando para (171,83±29,69mg/dl) (p≤0,05) 48h após a cirurgia. O valor máximo da Hp (179,65±25,91mg/dl) (p≤0,01) foi atingido 96h após o procedimento. No grupo ALD a concentração média da Hp foi de (116,42±18,70mg/dl) no período pré-operatório, elevando-se para (154,62±32,29mg/dl) (p≤0,01) após 24h; o pico de concentração da Hp (160,35±26,02) (p≤0,01) também foi atingido com 96h de cirurgia. A partir daí, em ambos os grupos, ocorreu redução na concentração média da Hp, voltando a exibir, após 10 dias do procedimento, valores semelhantes àqueles observados antes da cirurgia. Figura 2- Concentração sérica da Haptoglobina (Hp) de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia eletiva, através da abordagem mediana ventral (AMV) e abordagem lateral direita (ALD). Tempos: (0) pré-operatório imediato; (1) pós-operatório imediato; (2) 12h após a cirurgia; (3) 24h após a cirurgia; (4) 48h após a cirurgia; (5) 96h após a cirurgia; (6) 160h após a cirurgia; (7) 240h após a cirurgia. (a) Diferença estatisticamente significativa comparando com o valor do tempo inicial (p≤0,05). (b) Diferença estatisticamente significativa comparando com o valor do tempo inicial (p≤0,01). 71 Os níveis séricos da PCR estão expressos na figura 3 e tabela 1. A PCR atingiu sua concentração máxima 12h e 24h após a cirurgia nos animais dos grupos AMV e ALD respectivamente. Essa elevação, entretanto, não foi estatisticamente significativa em relação aos valores observados no pré-operatório. Figura 3- Concentração sérica da Proteína C-Reativa (PCR) de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia eletiva, através da abordagem mediana ventral (AMV) e abordagem lateral direita (ALD). Tempos: (0) pré-operatório imediato; (1) pós-operatório imediato; (2) 12h após a cirurgia; (3) 24h após a cirurgia; (4) 48h após a cirurgia; (5) 96h após a cirurgia; (6) 160h após a cirurgia; (7) 240h após a cirurgia. 72 Na figura 4 e tabela 1 estão expressas as alterações nos níveis da albumina. No pós-operatório imediato os animais dos grupos AMV e ALD apresentaram redução na concentração média da albumina, mas sem significado estatístico. Após 12 horas da cirurgia seus níveis retornaram aos valores observados antes da cirurgia, permanecendo assim até o final do experimento. Figura 4- Concentração sérica da Albumina de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia eletiva, através da abordagem mediana ventral (AMV) e abordagem lateral direita (ALD). Tempos: (0) préoperatório imediato; (1) pós-operatório imediato; (2) 12h após a cirurgia; (3) 24h após a cirurgia; (4) 48h após a cirurgia; (5) 96h após a cirurgia; (6) 160h após a cirurgia; (7) 240h após a cirurgia. 73 Tabela 1. Média (±desvio padrão) da concentração sérica plasmática da proteína c reativa (mg/l), Ceruloplasmina (U/l), Haptoglobina (mg/dl) e albumina (g/dl) de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia eletiva através da abordagem mediana ventral e lateral direita, no pré-operatório imediato e ao longo de 10 dias após a cirurgia. Tempos de determinação e amostras Grupo Pré-op Pós-op 12h 24h 48h 96h 168h 240h PCR Cp Hp Albumina AMV 0,36(±0,53) 0,42(±0,50) 1,1(±0,91) 1,11(±0,77) 0,92(±0,69) 0,91(±0,87) 0,47(±0,46) 0,36(±0,46) ALD 0,32(±0,28) 0,32(±0,29) 0,41(±0,29) 0,61(±0,19) 0,59(±0,43) AMV 3,89(±1,93) 4,02(±2,69) 5,81(±3,0) 4,46(±1,17) 5,94(±1,85) 5,67(±1,58) 0,40(±0,29) 0,29(±0,30) 0,15(±0,12) b 6,7(±4,32) 5,0(±1,53) 3,97(±1,69) b 5,80(±1,46) 4,78(±2,38) 4,08(±1,83) 8,23(±3,95) ALD 4,18(±1,79) 3,79(±1,33) 6,61(±1,56) AMV 134,7(±24,04) 123,38(±26,87) 158,52(±28,39) 168,29(±26,89) ALD 116,42(±18,7) 105,29(±23,0) 142,73(±28,07) 154,62(±32,30)b 157,96(±31,94)b 160,35(±26,02)b 146,36(±31,49) 133,14(±24,95) AMV 2,75(±0,72) 2,29(±0,59) 2,61(±0,56) 2,52(±0,61) 2,57(±0,75) 2,58(±0,68) 2,44(±0,48) 2,50(±0,52) ALD 2,52(±0,34) 2,17(±0,33) 2,47(±0,34) 2,40(±0,34) 2,39(±0,27) 2,37(±0,31) 2,40(±0,27) 2,52(±0,25) 171,84(±29,70)a 179,65(±25,91)b 163,81(±19,61) 153,70(±26,23) AMV: Abordagem Mediana Ventral/ ALD: Abordagem Lateral Direita a Diferença estatisticamente significativa comparando com o valor do tempo inicial, através do Teste de comparação de Bonferoni (p≤0,05) b Diferença estatisticamente significativa comparando com o valor do tempo inicial, através do Teste de comparação de Bonferoni (p≤0,01) 74 Os valores do leucograma estão expressos na tabela 2. No grupo AMV e ALD os leucócitos totais e neutrófilos segmentados apresentaram redução logo após a cirurgia, elevando-se significativamente (p≤0,001) após 12h de cirurgia, momento em que atingiu o nível máximo, decaindo em seguida até atingir os valores observados no pré-operatório. Os bastonetes dos animais do grupo AMV (p≤0,001) e ALD (p≤0,05) atingiram o valor máximo 12h após a cirurgia, retornando aos valores de normalidade 240h após a cirurgia. Os linfócitos do grupo ALD (p≤0,001) apresentaram redução nos seus valores logo após a cirurgia, assim permanecendo até 12 horas após o procedimento, e retornando aos valores de normalidade nas primeiras 24 horas do pósoperatório. 75 Tabela 2. Média (±desvio padrão) da contagem de leucócitos totais (Leuc.), linfócitos (Linf.), monócitos (Mon.), polimorfonucleares (PMN), bastonetes (Bast.) e eosinófilos (Eos.) de cadelas submetidas a ovariosalpingohisterectomia eletiva através da abordagem mediana ventral e lateral direita, no préoperatório imediato e ao longo de 10 dias após a cirurgia. Tempos de determinação e amostras Grupo Pré-op Pós-op 12h 24h 48h 96h 168h 240h Leuc/µl Linf/µl Mon/µl PMN/µl Bast/µl Eos/µl AMV 11.864(±2.408) 10.828(±11.111) 21.350(±4.944)a 19.571(±4.859)a 13.614(±5.757) 10.964(±4.216) 11.285(±2.266) 11.071(±2.334) ALD 11.185(±3.180) 8.257(±3.274) 18.792(±7.091)a 17.600(±4.657)a 13.207(±3.415) 10.892(±2.540) 11.000(±3.362) 10.592(±3.172) AMV 3.257(±1.103) 2.110(±839) 2.092(±794) a a 3.888(±1.439) 3.340(±749) 4.160(±4.658) 4.100(±1.470) 4.493(±1.492) ALD 3.565(±943) 1.963(±711) 1.536(±673) 2.837(±942) 3.476(±1.493) 3.731(±1.138) 3.525(±1.268) 4.230(±1.297) AMV 408(±295) 245(±223) 630(±495) 546(±491) 501(±420) 521(±459) 338(±363) 434(±288) ALD 519(±364) 345(±310) 924(±391) 952(±844) 894(±469) 556(±486) 333(±248) 435(±286) AMV 7.567(±1.815) 5.023(±1.430) 18.245(±5.024)a 14.547(±4.840)a 9.039(±3.285) 6.869(±3.781) 6.148(±1.110) 5.454(±2.115) ALD 6.020(±2.659) 5.619(±2.964) a 17.493(±5.013) a a 13.246(±3.773) 8.201(±2.701) 5.876(±2.066) 7.187(±2.514) 6.016(±1.561) AMV 24(±48) 25(±43) 228(±219) 67(±120) 51(±74) 15(±39) 14(±37) 50(±80) ALD 36(±64) 79(±94) 229(±192)a 182(±223) 42(±59) 122(±177) 81(±67) 30(±63) AMV 601(±414) 291(±201) 147(±169) 520(±406) 681(±540) 683(±468) 647(±395) 670(±472) ALD 370(±488) 246(±263) 88(±171) 299(±454) 453(±535) 543(±629) 581(±580) 585(±569) AMV: Abordagem Mediana Ventral/ ALD: Abordagem Lateral Direita a Diferença estatisticamente significativa comparando com o valor do tempo inicial, através do Teste de comparação de Bonferoni (p≤0,01) 76 DISCUSSÃO O método contraceptivo mais realizado em cadelas e gatas é a ovariosalpingohisterectomia (HOWE, 2006; STONE, 2007). Mesmo sendo um procedimento cirúrgico relativamente simples e com poucas intercorrências, a prevenção de complicações pós-operatórias, depende em grande parte, de um adequado acompanhamento dos animais após a cirurgia (DABROWSKI et al., 2007). Tal cuidado foi tomado neste experimento, o que resultou em um pós-operatório sem intercorrências clínicas e com boa recuperação dos animais. A resposta de fase aguda é uma reação inespecífica e complexa que ocorre logo após qualquer lesão tecidual e tem como conseqüência a elevação plasmática das proteínas de fase aguda (PFAs) (MURATA et al., 2004; CRAY et al., 2009). A concentração sérica destas proteínas reflete a severidade da inflamação, permitindo uma precoce detecção e uma rápida restauração da homeostasia (KOGIKA et al., 2003; KOCATURK et al., 2010). As PFAs são também importantes marcadores inflamatórios, utilizados no período pós-cirúrgico, refletindo o tempo de recuperação necessário (CERÓN et al., 2005; CARVALHO, et al., 2008). De acordo com estas afirmações, no estudo em questão, observou-se elevação das PFAs após a cirurgia, demonstrando que a OSH representa um processo inflamatório agudo, embora transitório, já que os valores retornaram rapidamente aos níveis observados antes do ato cirúrgico. Isto refletiu-se no fato de que os animais do experimento não apresentaram complicações pós operatórias. Através da mensuração das proteínas de fase aguda, especificamente proteína c reativa, ceruloplasmina, haptoglobina e albumina, e leucograma, imediatamente antes e durante 10 dias após o procedimento cirúrgico, foi possível verificar a cinética dessas proteínas e dos leucócitos ao longo desse período, bem como comparar o efeito das abordagens cirúrgicas em relação à concentração plasmática das variáveis. A proteína c reativa é a proteína de fase aguda mais relevante na espécie canina (MARTÍNEZ-SUBIELA et al., 2002; MURATA et al., 2004), e de acordo com CERÓN et al. (2005), o estímulo á produção da PCR é induzido logo após o insulto inflamatório, com o pico de concentração sendo atingido já nas 24 horas após procedimentos cirúrgicos. Tal fato se confirmou nos animais do grupo ALD, nos quais 77 os níveis máximos da PCR também foram atingidos 24 horas após a castração, semelhante ao relatado por Dabrowski et al. (2007) e Serin e Ulutas (2010) quando trabalharam com cadelas castradas pela abordagem mediana ventral. Nas cadelas do grupo AMV, entretanto, o pico de concentração ocorreu logo nas primeiras 12 primeiras após a cirurgia. As diferenças entre os grupos em relação ao tempo para a PCR atingir sua concentração máxima pode ser o resultado da menor lesão tecidual infligida pela abordagem lateral direita em relação à mediana ventral. Assim, considerando-se a PCR, a abordagem lateral direita mostrou-se superior à abordagem mediana ventral. As células mesoteliais do peritônio regulam processos inflamatórios na cavidade peritoneal e são uma importante fonte de mediadores inflamatórios, tais como a IL-1 e IL-6 (MACIEJCZYK-PENCULA et al., 2005). De acordo Welsch et al. (2007), essas citocinas tem sua produção aumentada em resposta à descontinuidade tecidual e a inflamação local causada pelo trauma cirúrgico, que leva a um aumento nos níveis da PCR. Segundo Cerón et al. (2005), a magnitude da produção depende do tipo e duração deste estímulo, com o nível plasmático da PCR podendo elevar-se até 95 vezes o valor basal após traumas cirúrgicos. No presente experimento, após a cirurgia, houve aumento na concentração da PCR de três vezes o valor basal nos animais do grupo AMV e de duas vezes o valor basal nos animais do grupo ALD, sem, contudo, essa elevação apresentar significado estatístico. A ceruloplasmina apresenta elevações moderadas nos cães em resposta a processos inflamatórios; exibe aumento em seus níveis 24 horas após cirurgias e atinge a concentração máxima somente quatro dias após o procedimento (MURATA et al., 2004; CÉRON et al., 2005). Nos animais desse estudo, entretanto, já nas primeiras 12 horas após a OSH houve elevação nos níveis da Cp, com o pico de concentração ocorrendo 48 horas após a cirurgia (p≤0,01). Nos animais do grupo AMV o nível máximo da Cp foi mais de duas vezes o valor observado antes da cirurgia, enquanto nos animais do grupo ALD esta elevação foi de apenas 1,5 vezes. Esta menor elevação da Cp nos animais do grupo ALD pode ser reflexo da menor lesão tecidual infligida pela abordagem lateral em relação à mediana ventral. Desta forma, concordando com Serin e Ulutas (2010), a ceruloplasmina apesar de ser uma PFA moderada, pode ser utilizada como um bom marcador inflamatório, na mensuração da lesão tecidual, bem 78 como na identificação de complicações e no acompanhamento da recuperação pósoperatória de cães. Ademais, no décimo dia após a cirurgia, o nível da Cp já havia retornado ao valor observado no pré-operatório, demonstrado resolução do processo inflamatório em ambos os grupos experimentais. A Hp é a PFA mais importante em bovinos; em condições fisiológicas é indetectável nesta espécie, porém aumenta seus níveis em até 100 vezes na presença de um processo inflamatório (MARTÍNEZ-SUBIELA et al., 2002). Em cães, no entanto, é uma PFA moderada, com elevação de duas a três vezes o seu valor basal após trauma cirúrgico, conforme relatado por Cerón et al. (2005). Dabrowski et al. (2007), e Serin e Ulutas (2010) também verificaram tais elevações em cadelas após OSH eletiva. Nos animais dos grupos AMV e ALD, entretanto, o pico de concentração não foi nem uma vez superior aos valores observados antes da cirurgia. Tal fato pode ser reflexo de um tempo cirúrgico curto, que resultou em menor estímulo á produção desta proteína. Os níveis séricos da Hp apresentaram elevações significativas 24h e 48h após a cirurgia, nos animais dos grupos ALD e AMV, respectivamente. O momento do pico de concentração não variou entre os grupos experimentais, ocorrendo 96 horas após a OSH em todos os animais do estudo, semelhante ao encontrado por Dabrowski et al. (2007). Nos animais dos dois grupos experimentais os valores da Hp antes da cirurgia estavam dentro dos limites de normalidade propostos por Céron et al. (2005) e retornaram a estes valores ao final de 10 dias da cirurgia, semelhante ao ocorrido com a Cp. Desta forma, pode-se inferir que 10 dias foi o tempo necessário para resolução do trauma tecidual e finalização do processo inflamatório; ou seja, o tempo necessário para recuperação cirúrgica, uma vez que não houve complicações pós-operatórias. Tal afirmativa foi também fortalecida mediante determinação do leucograma, que demonstrou valores máximos 12h e 24h após a cirurgia, para leucócitos totais e neutrófilos segmentados, nos dois grupos experimentais, semelhante ao observado por LACERDA et al. (2010), demonstrando resposta inflamatória ao estresse cirúrgico. Os leucócitos, assim como as PFAs, retornaram aos valores observados antes da cirurgia, estando no décimo dia de pós-operatório dentro dos valores de normalidade, ratificando a resolução do processo inflamatório. A albumina é uma PFA de fase aguda negativa, ou seja, exibe redução nos seus níveis séricos após injurias inflamatórias, enquanto auxilia na elevação da Cp, Hp 79 e PCR, que são PFAs positivas (MURATA et al., 2004; CERÓN et al., 2005). No presente estudo, a redução da albumina, ocorreu imediatamente após a OSH, mas não apresentou significado estatístico. Possivelmente, a elevação exibida pelas PFAs positivas neste experimento não tenha sido suficiente para alterar negativamente os níveis da albumina. CONCLUSÃO Comparando-se as abordagens cirúrgicas pôde-se verificar que a abordagem lateral direita induziu elevações semelhantes nos níveis das proteínas de fase aguda e do leucograma quando comparada com a abordagem mediana ventral. Conclui-se, desta forma, que as duas abordagens abdominais estudadas geraram danos teciduais semelhantes, indiretamente marcados pela mesma indução na resposta de fase aguda. Adicionalmente, o declínio após o pico de concentração, nos níveis das proteínas de fase aguda e do leucograma, também semelhantes nos dois grupos experimentais, demonstrou que o tempo de recuperação necessário foi semelhante nas duas abordagens cirúrgicas. REFERÊNCIAS CARVALHO, C. C. D., RÊGO, E. W., QUEQUE, M., SOARES, P. C. Avaliação da proteína C reativa, fibrinogênio e leucograma em cadelas com e sem piometra. Medicina Veterinária, v. 2, n. 2, p. 3-10, 2008. COE, R. J., GRINT, N. J., TIVERS, M. S., HOTSTON MOORE, A., HOLT, P. E. Comparison of flank and midline approaches to the ovariohysterectomy of cats. Veterinary Records, v. 159, n. 2, p. 309-313, 2006. CRAY, C.; ZAIAS, J.; ALTMAN, N.H. Acute Phase Response in Animals: A Review. Comparative medicine, v. 59, n. 6 , p. 517–26, 2009. 80 CERÓN, J.J.; ECKERSALL, P.D.; MARTÍNEZ-SUBIELA, S. Acute phase proteins in dogs and cats: current knowledge and future perspectives. Veterinary Clinical Pathology, v.34, n. 2, p. 85–99, 2005. 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Desta forma, a abordagem lateral direita foi considerada o melhor acesso para realização da OSH eletiva em cadelas, pois além de facilitar a identificação uterina e reduzir o tempo cirúrgico total, também gerou danos teciduais semelhantes à abordagem ventral, demonstrado pela mesma indução na resposta de fase aguda. 84