CENTRO UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO ATUAÇÃO DE MULHERES E HOMENS EMPREENDEDORES SEDIADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO NA INDUSTRIA E NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS CIBELE BARSALINI MARTINS SÃO PAULO 2005 12 CIBELE BARSALINI MARTINS ATUAÇÃO DE MULHERES E HOMENS EMPREENDEDORES SEDIADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO NA INDUSTRIA E NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração do Centro Universitário Nove de Julho, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração. Prof. Dr. Celso Augusto Rímoli - Orientador SÃO PAULO 2005 13 ATUAÇÃO DE MULHERES E HOMENS EMPREENDEDORES SEDIADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO NA INDUSTRIA E NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Por CIBELE BARSALINI MARTINS Dissertação apresentada ao Centro Universitário Nove de Julho, Programa de Pós-graduação em Administração, para obtenção do grau de Mestre em Administração, pela banca examinadora formada por: Presidente: ________________________________________________ Prof. Dr. Celso Augusto Rímoli – Orientador, UNINOVE Membro: ________________________________________________ Prof.. Dra. Ana Cristina Limongi França, FEA/USP Membro: ________________________________________________ Prof. Dr. Leonel Cezar Rodrigues, UNINOVE São Paulo, 30 de agosto de 2005. 14 Dedico deste trabalho ao meu marido Sérgio Bomfim Martins, pela preciosa ajuda, dedicação, encorajamento e companheirismo. Sem ele este trabalho jamais teria sido feito. 15 AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, a Deus por ter iluminado meu caminho até aqui e ter dado o equilíbrio necessário nas horas de maior dificuldade. Ao Prof. Dr. Celso Augusto Rímoli, pelo seu empenho, dedicação, persistência e perfeccionismo que me levaram ao extremo da minha capacidade, fazendo-me evoluir nos raciocínios propostos. Aos professores do mestrado, pelo seu interesse em contribuir na evolução intelectual e acadêmica; e aos membros da minha banca pelas contribuições e, acima de tudo, comportamento amigo frente às sugestões propostas. Aos meus amigos de mestrado que contribuíram com seus pontos de vista diversos para um melhor entendimento de questões complexas. Aos empreendedores das empresas escolhidas, pela compreensão da importância deste trabalho para a construção de novos conhecimentos que possibilitam ações práticas de desenvolvimento empresarial. Ao Prof. Milton de Abreu Campanário, coordenador do curso de Mestrado Profissional em Administração, pela confiança, apoio e incentivo que recebi durante o curso. A equipe administrativa, pela presteza e comprometimento dos serviços prestados durante todo o curso. Agradeço também a todas as pessoas − e não foram poucas − que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização deste trabalho. 16 ATUAÇÃO DE MULHERES E HOMENS EMPREENDEDORES SEDIADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO NA INDÚSTRIA E NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS RESUMO As atividades empreendedoras no mundo dos negócios, exercidas por mulheres e homens nos mais diversos setores industriais vêm ganhando reconhecimento tanto nas economias desenvolvidas quanto nas em desenvolvimento, sendo que no Brasil os estudos relativos a esse tema são escassos. Em função desse contexto mais geral, esta dissertação teve por finalidade observar e descrever comparativamente a atuação de mulheres e homens empreendedores no mercado. Para alcançar esse objetivo, foi realizado um estudo de oito casos múltiplos de empreendedores, sendo quatro homens e quatro mulheres reconhecidos pelo sucesso e que atuam nos setores industrial e prestação de serviços. Os principais resultados encontrados indicam que as empreendedoras e os empreendedores entrevistados apresentam desempenhos, limitações e aspirações semelhantes, ou seja, ambos buscam o sucesso profissional. Os diferenciais significativos entre mulheres e homens empreendedores encontram-se em outras esferas, a exemplo de formação, histórico profissional e experiências individuais. Palavras-chave: gênero, empreendedorismo, empreendedoras, competência 17 PERFORMANCE OF WOMEN AND MEN ENTREPRENEURS OF INDUSTRIAL AND SERVICE FIRMS AT PAULO STATE ABSTRACT Entrepreneurial activities by men and women in several industries sectors have been achieved recognition in developed economies and developing economies, though in Brazil research in this field is very scarce. With the general context in mind, this dissertation aims at observing and comparatively describing the performance of men and women entrepreneurs in the market. To reach this objective, a study of eight multiple cases of entrepreneurs, half of them men and half women, who were acknowledged for their success and who work in industrial and service sectors. Results suggest that men and women entrepreneurs interviewed present similar performances, limitations and aspirations, that is, both search for professional success. The relevant differentials between men and women entrepreneurs lie in contexts such as educational and professional background, and individual experiences. Keywords: gender, entrepreneur, entrepreneurship, competence 18 LISTA DE TABELAS E FIGURAS Tabela 1. Distribuição das Empresas Industriais, Comerciais e de Serviços por Porte e Setor / Brasil - 1998......................................................................................... 23 Figura 1. Processo Criativo na Atividade Empreendedora.......................................... 26 Tabela 2. Empreendedorismo e Gênero no Reino Unido 1990 — 1999..................... 46 19 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Áreas de competências / oportunidade....................................................... 29 Quadro 2. Áreas de competências / relacionamento.................................................... 30 Quadro 3. Áreas de competências / conceitual............................................................ 31 Quadro 4. Áreas de competências / administrativa...................................................... 32 Quadro 5. Áreas de competências / estratégica........................................................... 33 Quadro 6. Áreas de competências / comprometimento e equilíbrio trabalho/vida pessoal........................................................................................................................... 34 Quadro 7. Nível de atividade empreendedora (em %)................................................. 38 Quadro 8. Pessoas iniciando novos empreendimentos................................................. 38 Quadro 9. Características dos empreendedores entrevistados e suas empresas .......... 56 Quadro 10. Resultado da análise dos parâmetros Confiabilidade x Instabilidade ....... 65 Quadro 11. Resultado da análise dos parâmetros Extroversão x Introversão .............. 66 Quadro 12. Resultado da análise dos parâmetros Impulsividade x Cautela ................ 67 Quadro 13. Resultado da análise dos parâmetros Orientação para a Equipe x Interesse Próprio .......................................................................................................... 68 Quadro 14. Resultado da análise dos parâmetros Praticidade x Originalidade........... 69 20 LISTA DE SIGLAS ENANPAD – Encontro Anual da Associação dos Programas de Pós-graduação em Administração GEM – Global Entrepreneurship Monitor IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBPQ – Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade JUCESP – Junta Comercial do Estado de São Paulo SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas TAE – Taxa de Atividade Empreendedora 21 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 22 1.1. PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................. 23 1.1.1 Um novo modelo de atuação profissional ................................................................................................ 23 1.2 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 28 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 28 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 30 2. 1. EMPREENDEDORISMO................................................................................... 30 2. 1. 1 Histórico e Fundamentos Teóricos ........................................................................................................ 30 2. 1. 2 A dimensão da competência .................................................................................................................. 41 2. 1. 3 Comportamento do empreendedor......................................................................................................... 52 2. 1. 4 GEM: perspectivas para empreendedorismo e gênero ........................................................................... 55 2. 2. MULHERES E HOMENS EM ATIVIDADE EMPREENDEDORA ..................... 60 2. 2.1 Realidade e mitos .................................................................................................................................... 60 2. 2. 2 Incentivos a atividade empreendedora ................................................................................................... 63 2. 2. 3 Identidade feminina e empreendedorismo ............................................................................................. 67 2. 2. 4 Big Five Personality Model (Modelo Big-Five) .................................................................................... 68 2. 2. 4.1 Origens do Modelo Big-Five .............................................................................................................. 68 2. 2. 4.2 O Modelo Big Five hoje ..................................................................................................................... 69 3. METODOLOGIA ................................................................................................... 72 3.1 Tipo de pesquisa ......................................................................................................................................... 72 3.2 Estratégia de pesquisa ................................................................................................................................. 72 3.3 Projeto de pesquisa e unidade de análise .................................................................................................... 73 3.4 Coleta de dados e trabalho de campo .......................................................................................................... 74 3.5 Análise dos dados ....................................................................................................................................... 75 4. RESULTADOS ...................................................................................................... 76 4.1. CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDEDORES ENTREVISTADOS E SUAS EMPRESAS .............................................................................................................. 77 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÔES ............................................................... 98 5.1. CONCLUSÕES .................................................................................................. 98 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 103 7. ANEXOS ............................................................................................................... 14 ANEXO 1 – ROTEIRO DE PESQUISA ..................................................................... 14 ANEXO II – QUESTIONÁRIO DO MODELO BIG FIVE ............................................ 16 22 1. INTRODUÇÃO Um movimento de mudança cada vez mais intenso vem sendo percebido na sociedade contemporânea: nos últimos anos – e particularmente a partir dos anos 90 –, as mulheres vêm aumentando sua participação no mercado de trabalho, e esta nova realidade também pode ser confirmada no que diz respeito à atuação empreendedora das mulheres, uma vez que, no ano de 2003, em um universo de 14 milhões de pessoas que se dedicaram a algum tipo de atividade empreendedora, nada menos que 6,5 milhões deste total era constituído por mulheres (CANAL EXECUTIVO, 2004). Isso revela uma tendência de participação cada vez mais eqüitativa de homens e mulheres no mundo empresarial. Conforme ficará mais evidente ao longo deste trabalho, as razões deste fenômeno são bastante complexas, tendo em vista que a discussão em torno da questão de gênero, particularmente no mundo do trabalho, pode adotar inúmeras perspectivas. O foco na problemática de gênero exige a abordagem, ainda que breve, de alguns estudos recentes dedicados a explicar as mudanças observadas no papel da mulher – particularmente no que diz respeito ao deslocamento social/profissional da mulher da condição clássica de ‘rainha do lar’ para o de empreendedora (capaz de assumir riscos, semear iniciativas em todas as áreas de atividade e, conseqüentemente, participar de forma significativa na geração de renda, empregos e riqueza de um modo geral). Além disso, não se pode esquecer dos impactos que tais mudanças têm representado no modelo clássico de trabalho empreendedor – marcado predominantemente pela atuação masculina. É pertinente observar, ainda, que a crescente participação das mulheres, na área de empreendedorismo, possibilita vislumbrar um futuro em que ambos os sexos venham a atuar nesta área em situação de equilíbrio. A realização desta possibilidade, considerando o cenário econômico brasileiro vislumbrado para os próximos anos, representaria mais do que uma perspectiva particularmente otimista, mas um acontecimento necessário, tendo em vista a exigência de crescimento da economia brasileira que, conforme aponta Pastore (2003) – especialista em relações do trabalho e desenvolvimento institucional – precisa criar algo em torno de 1,5 milhão de novos postos de trabalho/ano. Tem-se como pressuposto, então, que as mulheres atuantes neste setor – a exemplo de seus colegas do sexo masculino – reconhecem no investimento, que compreende, via de regra, além do aspecto financeiro, a (intensa) dedicação, com relação aos aspectos de tempo e empenho pessoal, em um empreendimento (independentemente do porte ou mercado em que 23 concorrem) a opção de vida mais promissora, no que diz respeito à busca por crescimento profissional e realização pessoal. 1.1. PROBLEMA DE PESQUISA A leitura de periódicos e publicações especializadas (GRZYBOVSKI, BOSCARIM e MIGOTT, 2002; LIM, SMITH e BOTTOMLEY, 2003), bem como de estudos dedicados à questão da mulher no mundo do trabalho (BESSE, 1999; MAERKER, 2000; PRIORE, 1997; ROSALDO, 1979) – além da própria experiência cotidiana –, contribuem para que se perceba a importância do sexo feminino na construção da dinâmica corporativa/empreendedora do futuro. Mais especificamente, como já é perceptível no dia-a-dia de muitas empresas, as atitudes e disposições identificadas como ‘femininas’, conforme aponta Maerker, a exemplo da reconhecida melhor capacidade das mulheres em lidar com as emoções, vem se tornando um diferencial competitivo – contrariando análises mais conservadoras, que concebem um mundo do trabalho marcado pela crescente tecnicidade e, portanto, com menos espaço para componentes ‘intuitivos’, vindo a ser marcadamente ‘racionais’ as áreas de atuação mais promissoras das próximas décadas (MAERKER, 2000, p. 81). Considerando particularmente o universo do empreendedorismo, o problema de pesquisa levantado aponta a existência de poucos estudos relativos à atuação de homens e mulheres empreendedores no mercado brasileiro e, assim, pretende-se buscar a ampliação dos conhecimentos sistematizados sobre as relações entre gênero e empreendedorismo. 1.1.1 Um novo modelo de atuação profissional De acordo com Maerker (2000), o ‘admirável mundo novo’ que se anuncia (marcado pela crescente presença das mulheres e, conseqüentemente, de características ‘femininas’, como a intuição e o afeto) já estaria apresentando diversos sinais de sua efetiva existência, uma vez que muitas profissionais têm conseguido obter posições de destaque em atividades tradicionalmente dominadas pelos homens – como fica patente nos números que comprovam uma notável ampliação dos casos de empresas (bem-sucedidas) fundadas por mulheres, como destaca Machado (2001, s. p.): 24 A abertura de pequenas empresas por parte de mulheres tem atingido taxas muitas vezes maiores que a por parte dos homens. A inserção delas na atividade empreendedora e gerencial é abordada em estudos (MOORE, 1997; ADLER e IZRAELI, 1994; ALLEN e TRUMAN, 1993; RICHARD e BURKE, 2000) que salientam, dentre outros aspectos, as diferenças culturais e os problemas enfrentados no exercício do papel de pequenas empresárias. Como a participação feminina nos pequenos negócios atinge, até o momento, percentuais relativos a 30 ou 40% das micro e pequenas empresas em países como Estados Unidos, Canadá, Finlândia e Austrália, a atenção com esse segmento se justifica pela sua proporção sócio-econômica. No caso brasileiro esse percentual situa-se aproximadamente em 25%. Conforme Antunes (2000), o mundo do trabalho estaria, portanto, assistindo o surgimento de um ‘estilo empreendedor feminino’, fenômeno que evidenciaria, inclusive, um posicionamento inédito da mulher no universo do trabalho: contrariamente ao ocorrido durante os primeiros passos destas no sentido de sua emancipação profissional, as novas empreendedoras estariam ‘reagindo’ a uma suposta necessidade de ‘imitar’ os homens. Esta ‘reação’ das mulheres poderia, então, ser observada através do estabelecimento de novas regras e modos de agir – a exemplo de um maior respeito e preocupação com as pessoas envolvidas nas atividades cotidianas, maior atenção aos aspectos éticos das atividades profissionais, dentre outras características (ANTUNES, 2000, p.113). Todas estas observações introdutórias podem ser resumidas como uma inédita modificação no mundo do trabalho – geradas pela crescente participação das mulheres em todos os setores de atividade –, mas também é importante observar que a exigência dos prérequisitos profissionais ‘tradicionais’ (diploma, especializações, conhecimento de línguas etc.) continuará sendo altamente relevante enquanto diferencial competitivo, tanto para os homens quanto para as mulheres. No entanto, com relação ao universo do empreendedorismo, estes pré-requisitos já consagrados talvez deixem de ser percebidos como uma garantia de sucesso, ao menos no que diz respeito à conquista do cliente, e por duas razões. Primeira, o aumento constante da competição e, segunda, o aumento do nível de exigência dos próprios consumidores – que exigirá um empreendedor, mulher ou homem, cada vez mais criativo, preparado para enfrentar obstáculos, e disposto a se aperfeiçoar constantemente. Uma argumentação desta natureza pode significar – no caso da relação entre gênero e empreendedorismo aqui analisada –, que o futuro proprietário de um negócio próprio, muito provavelmente, terá que demonstrar, além das aptidões comumente associadas aos homens (racionalidade, capacidade de decisão, agressividade na condução dos negócios, liderança, etc.), qualidades outras que as mulheres, particularmente, aperfeiçoaram ao longo do tempo – 25 a exemplo da capacidade de adaptação às situações de controle e pressão social intensos ou, ainda, a habilidade para agregar pessoas e produzir resultados, como é observável no caso da administração do cotidiano doméstico (SCORZAFAVE , 2001). Assim, este trabalho tem como motivações fundamentais algumas indagações de crescente pertinência no mundo moderno: qual(is) o(s) significado(s) dessas novas relações de trabalho que se vislumbram, considerando o mundo do trabalho em um sentido amplo e, em particular, a crescente participação mais eqüitativa de homens e mulheres no papel de empreendedora? Como homens e mulheres brasileiras, especialmente, estariam respondendo a estes novos fatos? Indagações desta natureza são levantadas neste trabalho, que irá abordar empreendedores e empreendedoras atuantes em dois setores econômicos distintos. Um ponto de partida para a problematização desta pesquisa é a percepção segundo a qual a dinâmica estabelecida nas relações profissionais contemporâneas vem adquirindo uma nova feição, a partir do maior engajamento das mulheres no universo do trabalho – e, particularmente, nas atividades empreendedoras. Sustentar a afirmação acima corresponde a reconhecer a ampliação do ambiente competitivo com referência às problemáticas específicas de gênero, uma vez que os espaços no mercado de trabalho passam a ser disputados, de modo crescente, entre profissionais de ambos os sexos, independentemente do setor de atividade. E, ao mesmo tempo, faz-se imperativo avaliar com cuidado as contribuições já sistematizadas na área do empreendedorismo, antes de se estabelecer possíveis distinções entre homens e mulheres, no que diz respeito às diferentes formas de atuação no mundo dos negócios. Portanto, antes de se avançar no exercício específico da análise de gênero, é pertinente apresentar aspectos econômicos e de gestão, que também devem ser levados em consideração no desenvolvimento da presente argumentação – a exemplo de fatores condicionantes da realidade sócio-econômica brasileira (como o PIB, que apresentou uma variação negativa de 0,2% em 2003, conforme publicação do IBGE em 2004) e dados relativos ao desempenho das atividades empreendedoras, disponibilizados pelo SEBRAE (2001), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo. O SEBRAE (2001, p. 2) aponta um altíssimo índice de mortalidade dos empreendimentos abertos no Estado de São Paulo ao longo da segunda metade da década de 90 – mais precisamente, 71% das Firmas Individuais e Sociedades Limitadas que adquiriram registro na JUCESP (Junta Comercial do Estado de São Paulo) no período compreendido entre 1995 e 1999 tiveram suas atividades encerradas antes de alcançar a marca de cinco anos 26 de atividade. E o estudo complementa estes dados pouco estimulantes com o seguinte prognóstico: Projetando os índices de mortalidade obtidos sobre a série histórica do número de empresas abertas na JUCESP, chegou-se a uma estimativa de 1 milhão de empresas fechadas, entre 1990 e 2000, contra um total de 1,5 milhão de registros de novas empresas no mesmo período. Mas deve-se ter em conta que, dentre os motivos enumerados pela pesquisa da entidade para explicar a razão de tão expressiva mortalidade das atividades de empreendedorismo, nenhum possui relação com problemáticas de gênero – como fica evidente nos fatores abaixo relacionados (SEBRAE, 2001, p. 10-11): - pouca qualidade e tempo dedicados ao planejamento do negócio antes de sua efetiva abertura para o mercado; - dedicação insuficiente ao empreendimento em seu primeiro ano de existência; - despreparo técnico-gerencial, particularmente no aspecto de administração do fluxo de caixa; - falta de sintonia com o público-alvo; - desatenção à necessidade de contínuo aperfeiçoamento do produto/serviço em que o empreendedor está envolvido; - a comumente desfavorável conjuntura econômica do Brasil. Infere-se, deste modo, que as mulheres empreendedoras, muito provavelmente, também enfrentam as dificuldades acima descritas. Portanto, de que modo poderiam ser observadas eventuais diferenças entre as ações empreendedoras de homens e mulheres? Uma afirmação de Filion (1999, p. 12) talvez seja útil para contribuir de modo mais consistente no raciocínio que se pretende aqui desenvolver: Para os indivíduos interessados no estudo da criação de novos empreendimentos, os melhores elementos para prever o sucesso de um empreendedor são o valor, a diversidade e a profundidade da experiência e das qualificações adquiridas por ele no setor em que pretende operar. Esta qualificação do empreendedor desenvolvida por Filion, contudo, também não parece colocar, ao menos em uma primeira análise, parâmetros de distinção entre capacidades empreendedoras de homens e mulheres. 27 Para contribuir na reflexão voltada especificamente aos distintos papéis atribuídos a mulheres e homens, é pertinente destacar a avaliação de que “a categoria analítica ‘gênero’ possibilita a busca dos significados das representações tanto do feminino quanto do masculino, inserindo-as nos seus contextos sociais e históricos. A análise das relações de gênero também implica a análise das relações de poder” (SEGNINI apud ANTUNES, 2000, p. 109). Assim, tem-se mais um elemento a confirmar a importância da abordagem de gênero, em vista das relações sociais apresentarem nítidas condicionantes vinculadas às distinções de sexo, conforme Machado (2001, p. 379) deixa evidente: As razões que levam mulheres a iniciar empresas são variadas. Algumas abrem empresas por realização pessoal, por dificuldade de ascensão na carreira nas empresas onde trabalhavam, para ter mais tempo livre para a família, preocupação com o futuro dos filhos e necessidade de complementar a renda familiar. A citação acima mostra que situações vivenciadas pelas mulheres – a exemplo do papel atribuído a elas enquanto (ainda) únicas responsáveis pela administração do cotidiano doméstico, ou, ainda, a experiência da maternidade – condicionam fortemente a opção pela atividade empreendedora. Como é evidente, homens e mulheres também apresentam razões em comum para assumir, individualmente, uma atividade empreendedora, sendo a necessidade de realização pessoal o motivo mais recorrente, não apenas no Brasil, mas no mundo. Além deste aspecto mais conhecido, cabe destacar também que muitos homens estão buscando guiar suas vidas profissionais de modo a permanecer mais próximos de suas famílias – o que veio a tornar-se uma possibilidade concreta em função da tecnologia, que possibilita ao profissional atuar de modo eficiente e produtivo sem estar restringido, necessariamente, às instalações físicas comuns de um escritório. Os chamados home offices – além das tecnologias wireless (sem fio), cada vez mais presentes nos ambientes corporativos – permitem a muitos profissionais a composição de um ambiente de trabalho mais próximo de seu ambiente doméstico, estreitando e enriquecendo assim suas relações pessoais e, ao mesmo tempo, mantendo a capacidade operativa exigida no mercado de trabalho atual. Mas, particularmente no caso brasileiro, há que se agregar um aspecto importante (e comum a outros países em desenvolvimento): muitos profissionais tem no empreendedorismo um caminho para sua manutenção no mercado de trabalho e, no limite, para sua 28 sobrevivência, tendo em vista a drástica redução da oferta de trabalho, decorrente dos baixos índices de crescimento observados no país ao longo das décadas de 1980 e 90. Assim, com base na argumentação anterior, este trabalho procura lançar luzes sobre a questão da atuação profissional de homens e mulheres empreendedores, por meio da seguinte questão de pesquisa: “Como mulheres e homens brasileiros empreendedores atuam a frente de seus negócios?” Essa questão de pesquisa procura abranger as idéias desenvolvidas e será respondida pelo estabelecimento dos objetivos que seguem. 1.2 OBJETIVO GERAL Investigar a atuação profissional de homens e mulheres empreendedores brasileiros a frente de seus negócios. 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Os objetivos específicos do trabalho são: - Identificar as principais características pessoais de empreendedoras e empreendedores relacionados à sua origem, trajetória educacional, experiência profissional anterior e vida pessoal; - Observar possíveis distinções de aspecto comportamental entre empreendedoras e empreendedores relativas às seguintes dimensões: confiabilidade X instabilidade; extroversão X introversão; impulsividade X cautela; orientação para equipe X interesse próprio; e praticidade X originalidade; - Descrever a experiência executiva dos empreendedores (as), levando em conta características, facilitadores e barreiras relacionados ao exercício da atividade empreendedora. 29 30 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2. 1. EMPREENDEDORISMO 2. 1. 1 Histórico e Fundamentos Teóricos Um dos aspectos a ser observado nesta dissertação diz respeito ao atual estágio de desenvolvimento do empreendedorismo, uma vez que esta atividade vem ganhando importância cada vez maior no contexto das economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Neste sentido, são observadas de modo mais detido, as contribuições teóricas que mapeiam não apenas a situação da mulher empreendedora e de seus colegas do sexo masculino, uma vez que, como parece ser evidente, ambos compartilham não apenas de um objetivo comum – a busca do sucesso profissional – mas também da necessidade cotidiana de superar obstáculos muitas vezes, comuns aos empreendedores de ambos os sexos. Naturalmente, a entrada em larga escala das mulheres no mundo do trabalho – e particularmente no universo do empreendedorismo, como já observado – trouxe mudanças significativas nos modos de se conceber as relações profissionais, bem como nos modos de se perceber os clientes, no que diz respeitos às suas demandas e aspirações. No entanto, antes de se aprofundar nas questões específicas de gênero é necessário ter uma maior clareza sobre o sentido atual das atividades empreendedoras: qual o futuro do empreendedorismo? e, com relação ao presente, qual sua real contribuição para as economias dos países? Em primeiro lugar, deve-se colocar o fato de que o dinamismo das atividades empreendedoras de uma nação está vinculado diretamente à capacidade dos agentes econômicos desta produzirem riqueza. Exemplo claro disso está no caso norte-americano, 31 uma vez que neste país, como destaca Drucker (1986, p. 15), o fenômeno do empreendedorismo corresponderia ao “acontecimento mais significativo e promissor ocorrido na história econômico-social recente”. É oportuno destacar, conforme indica Baumol (1993, p. 11), que a palavra empreendedor – em inglês, entrepreneur – é de origem francesa, e começou a ser usada ainda no início do século XVIII. No entanto, sua adoção pela língua inglesa veio a ocorrer apenas em meados do século XIX, tendo sido popularizada pelo economista J. B. Say, que usou o termo para distinguir aquele profissional que poderia ter sua atividade caracterizada “...entre o trabalho do cientista e o do operário” (BAUMOL, 1993, p. 12) Drucker (1986, p. 16), ao avaliar a percepção do senso comum sobre o empreendedorismo, pondera que esta atividade, muitas vezes, ainda é relacionada a uma genialidade individual ou alguma espécie de dádiva quando o mais importante é, sem dúvida, o aspecto do trabalho árduo e sistemático dos profissionais empreendedores – este sim o verdadeiro responsável pelas iniciativas de sucesso. Neste sentido, deve-se destacar os cinco mitos apontados por Farrel (1993, p. 167168), que, comumente, são atribuídos àqueles que têm na atividade empreendedora, a sua profissão. Naturalmente, tais características se manifestam com maior ou menor intensidade e/ou freqüência, em função do amadurecimento da sociedade e da economia observado em cada país: a) Empreendedores nascem feitos ou, em outras palavras, seriam indivíduos predestinados a assumir este papel, em vista de uma suposta ‘genialidade’; b) A meta principal de todo empreendedor é a acumulação de dinheiro; c) Os aspectos éticos não existem, ou teriam pouca importância para o empreendedor; 32 d) O empreendedor está sempre disposto a se arriscar perigosamente; e) O excesso de empreendedores pode trazer resultados nocivos para a economia. É importante ressaltar, contudo, que alguns (ou a maior parte) destes apontamentos não sejam necessariamente recorrentes em todos os lugares onde existam atividades empreendedoras. No entanto, para os objetivos deste trabalho os mitos destacados por Farrel (1993) podem trazer uma importante contribuição, uma vez que, antes de se adentrar em uma investigação sobre como as mulheres e os homens exercem este tipo de atividade no Brasil, é importante conhecer a visão geral sobre a atividade empreendedora. Existiria uma percepção positiva, negativa ou, simplesmente, não há ainda uma avaliação definida? Refletir sobre essas questões é oportuno porque elas podem influenciar, as análises e os resultados obtidos por meio dos empreendedores investigados. Neste sentido, seria pertinente agregar aos mitos acima enumerados por Farrel alguns apontamentos levantados por Timmons (1994), mostrando que a percepção de ambos autores é bastante semelhante, no que diz respeito aos preconceitos comumente relacionados às atividades empreendedoras: - Empreendedores nascem feitos, não podem ser criados; - Qualquer pessoa pode iniciar um negócio; - Empreendedores são jogadores; - Empreendedores querem tudo para si próprios; - Empreendedores são seus próprios chefes, sendo completamente independentes; - Empreendedores experimentam alto nível de stress e pagam alto preço; 33 - Empreendedores devem ser jovens e enérgicos; - Se um(a) empreendedor(a) possui capital inicial suficiente, ele ou ela não podem perder a oportunidade; - Se o empreendedor é talentoso, o sucesso virá em um ano ou dois. Os pontos levantados por Timmons (1994) são, basicamente, desdobramentos dos apontamentos de Farrel (1993, p. 167-168) e, neste sentido, é pertinente apresentar as respostas deste autor para os mitos anteriormente destacados: a) Os empreendedores não são necessariamente gênios. Ao contrário, seriam pessoas comuns, com educação e QI medianos, que apresentam capacitação profissional adquirida através de muitos anos de trabalho em empresas de pequeno, médio e/ou grande porte; b) A característica principal de um verdadeiro empreendedor poderia ser identificada como a realização das metas que este projetou com relação aos fatores cliente e produto/serviço, ainda que esta realização não signifique, necessariamente, um retorno financeiro extraordinário; c) Os empreendedores têm tanta consideração pelos aspectos éticos quanto os profissionais de qualquer outra área, não havendo fatos que indiquem maior incidência dos primeiros no sentido de utilizar recursos ilegítimos para a obtenção de seus objetivos. De fato, o uso deste tipo de recurso é uma ocorrência observável no 34 conjunto da população de qualquer país, mas, felizmente, ainda caracterizável como exceção, em todos os ramos de atividade; d) A disposição para assumir riscos, no caso do empreendedor, a exemplo do item anterior, tem limites que podem ser igualmente observados em profissionais de outras áreas, ou seja, o fator risco inerente a qualquer empreendimento não poderia caracterizar aquele que está a sua frente, como pouco cauteloso ou até mesmo irresponsável, visto que este profissional, via de regra, atua com recursos próprios e/ou responde individualmente pelos resultados de suas ações, o que não ocorre, necessariamente, por exemplo, com funcionários de uma grande empresa; e) Não se trata de afirmar que um mundo com uma maioria de empreendedores seria necessariamente melhor, mas é possível sugerir que mesmo as empresas já estabelecidas (mais especificamente, seus funcionários, de todos os escalões) poderiam avançar de modo significativo, caso algumas práticas típicas do empreendedorismo, como a busca incessante por maior competitividade, fossem adotadas. É importante ressaltar que o desconhecimento e/ou possíveis avaliações preconceituosas da sociedade, no que diz respeito à real dimensão das atividades desenvolvidas por empreendedores e empreendedoras – bem como de sua importância para o resultado geral da economia – corresponde, mais precisamente, a um notório paradoxo que merece ser destacado, uma vez que a atividade empreendedora desempenha um papel cada vez mais relevante para a economia, como indicam Amaro e Paiva (2002), a partir de dados 35 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referentes à distribuição das empresas segundo os critérios de porte e setor, no ano de 1998: 36 Tabela 1. Distribuição das Empresas Industriais, Comerciais e de Serviços por Porte e Setor / Brasil - 1998 PORTE EMPRESARIAL SETOR DE COMP. MPE* MDE* GE* Total ATIVIDADE (%) Nº % Nº % Nº % Nº % INDÚSTRIA 14,4 COMÉRCIO 505.991 98,2 7.826 1,5 1.601 0,3 515.418 100,0 50,4 1.801.159 99,6 4.279 0,2 2.764 0,2 1.808.202 SERVIÇO 35,3 1.241.782 98,1 9.634 0,8 13.885 1,1 1.265.301 TOTAL 100,0 3.548.932 98,8 21.739 0,6 18.250 0,5 3.588.921 100,0 100,0 100,0 Fonte: AMARO, Meiriane Nunes; PAIVA, Silvia Maria Caldeira. Situação das micro e pequenas empresas. 2002. Disponível em: <www2.senado.gov.br/conleg/ artigos/economicas/SituacaodasMicro.pdf>. Acesso em 21 jun 2004, p. 2. *MPE: microempresa e pequena empresa (na indústria até 99 empregados e no comércio/serviços até 49) *MDE: média empresa (na indústria de 100 a 499 empregados e no comércio/serviços de 50 a 99) *GE: grande empresa (na indústria acima de 499 empregados e no comércio/serviços mais de 99) O quadro é um indicador significativo da importância econômica do empreendedor para a sócio-economia brasileira, uma vez que, no final da década passada, nada menos que 98,8% das empresas brasileiras regularmente cadastradas eram classificadas, quanto ao porte, como micro ou pequena. Se for considerado o período 1996-2001, também segundo dados do IBGE (apud FAVILLA, 2004), a quantidade total de micro e pequenas empresas (MPE) saltou de 3,1 milhões para 4,6 milhões, o que representa, em percentuais, um aumento da participação destas de 98,9% para 99,2% do total de empresas do país. Este aumento da participação das MPE na economia brasileira, do ponto de vista do emprego, também é muito expressiva: no mesmo período, foram criados por estas empresas 37 3,5 milhões de novos postos de trabalho, contra apenas 686 mil novas vagas criadas pelas empresas de médio e grande porte. Os dados do IBGE relativos ao início da década de 2000 mostram que as MPE já eram responsáveis (ano de 2001) por mais que a metade dos empregos formais existentes no país 56,1% - ou, em números absolutos, 14,5 milhões de postos de trabalho. Considerando estes dados, é possível inferir a qual contradição fez-se referência anteriormente, pois dentre os inúmeros efeitos do crescimento tímido da economia brasileira nos últimos anos, deve-se apontar um que está relacionado, mesmo que de forma indireta, ao tema desta dissertação: os empreendedores, homens ou mulheres têm sido responsáveis pelo aspecto dinâmico da economia do país, ainda que seu trabalho possa ser considerado, de uma certa forma, desconhecido. E desconhecimento poderia resultar na construção de uma percepção distorcida da realidade do empreendedor (a), uma vez que se costuma caracterizar o empreendedor como alguém privilegiado – avaliação esta que se estende a qualquer pessoa que se disponha a iniciar uma atividade empreendedora, mesmo que notoriamente modesta. Em função disso, alguns aspectos históricos serão resgatados, para que seja possível visualizar com mais clareza essa situação. E, o ponto de partida será os Estados Unidos, país que lidera este tipo de atividade no mundo. Drucker (1986, p. 18) indica que, dentre os grandes economistas modernos, apenas Joseph Schumpeter dedicou sua atenção à atividade empreendedora e seus efeitos sobre o resultado geral da economia de uma nação. Isto teria ocorrido porque os economistas, de um modo geral, reconhecem a importância da atividade empreendedora para o crescimento da riqueza de um país, mas a natureza do fenômeno empreendedor não seria, a rigor, um problema da economia, por envolver aspectos como valores, atitudes, percepções etc. 38 No entanto, Drucker (1986, p. 20) aponta que “O que viabilizou o aparecimento da economia empreendedora nos Estados Unidos são as novas aplicações da Administração”. Neste ponto, o empreendedorismo começa a se aproximar dessa área do conhecimento, o que possibilita focar com mais precisão o objeto de estudo desta dissertação, mas, de imediato, deve-se identificar a que novas aplicações se refere o autor (é importante destacar que os aspectos por ele relacionados dizem respeito ao universo corporativo norte-americano, em meados da década de 1980): - A partir deste período, os novos empreendimentos começaram a adotar as ferramentas próprias da administração, as quais eram utilizadas, até então, apenas por empresas já estabelecidas; - Os recursos propiciados pelas tecnologias próprias do universo da administração passaram a ser adotados por pequenos empreendedores, rompendo com a mentalidade segundo a qual apenas as grandes empresas poderiam adotar este tipo de recurso; - Empreendimentos com perfis diversificados, e não estritamente comerciais (educação, serviços de saúde etc.) também aderiram às ferramentas propiciadas pela administração, ampliando o universo de usuários, antes restrito às empresas no sentido tradicional; - Busca de inovação, visando satisfazer a (infinita) demanda dos seres humanos por produtos e serviços; 39 Com relação, especificamente, a este último item é possível identificar o que se poderia chamar de “mentalidade empresarial” – que, no desenvolvimento dos negócios, acaba por se estruturar como uma ‘organização empreendedora’, conforme apontam Cornwall e Perlman (1990, p. 8): “Uma organização que cria um ambiente interno é o que se define como organização empreendedora”. (tradução livre) Estudar o empreendedor (ou a empreendedora) corresponderia, deste modo, a observar as características daquele profissional que tem como missão atuar como agente transformador, considerando os mais diversos ambientes corporativos, desde um pequeno e incipiente negócio até uma empresa já estabelecida, e que se move constantemente no sentido de conquistar mais espaços no mercado em que atua. E que características distintivas poderiam ser identificadas neste profissional, além de aspectos como liderança e iniciativa? Ou, de modo específico, em que aspectos se materializam as ações dos empreendedores? Neste sentido, deve-se atribuir a um empreendedor a capacidade criativa, que se manifestaria, dentre outras maneiras, na criação de novas formas de gerenciamento, que considerem a dinâmica e as especificidades do(s) mercado(s) em que este atua – invariavelmente marcados pelo fator mudança. A figura a seguir, adaptada de Kuratko e Hodgetts, mostra a dimensão do processo criativo vinculado à atividade empreendedora: 40 Figura 1. Processo Criativo na atividade empreendedora. INCUBAÇÃO COMPETÊNCIAS PROCESSO CRIATIVO IDÉIAS AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO Fonte: transcrição. KURATKO, Donald F.; HODGHETTS, Richard M. Entrepreneurship: a contemporary aproach. The Dryden Press, Fort Worth, 1989, p. 41 Os mesmos autores também destacam a diferença entre o gênio – sempre um caso de exceção – e a pessoa criativa, uma vez que este segundo tipo de pessoa corresponderia à maioria dos indivíduos atuantes como empreendedores (proporcionalmente ao que se observa no conjunto da sociedade). Portanto, seria possível identificar no indivíduo comum – independentemente do fator gênero – potencialidades específicas, as quais poderiam ser desenvolvidas com vistas ao alcance de um objetivo: o sucesso em uma atividade empreendedora. 41 E como também fica evidente na Figura 1, além do aspecto da criatividade, outra dimensão que não pode deixar de ser observada, quando se pretende avaliar a atuação de empreendedores – sejam eles homens ou mulheres – é a questão da competência, que será abordada no tópico seguinte. 2. 1. 2 A dimensão da competência Ao ser abordada a questão de gênero no empreendedorismo, esta, inevitavelmente, acaba por estar vinculada a diversos outros aspectos que compõem a dimensão da atividade empreendedora, sendo a questão da competência, talvez, o elemento central quando se tenta pensar a atividade de um profissional. Em outras palavras, falar de mulheres e homens empreendedores implica, necessariamente, em falar de suas competências. No entanto, esta variável pode ser descrita de inúmeras maneiras: um profissional pode ser designado como incompetente quando não tem capacitação técnica satisfatória ou, talvez, no caso de apresentar uma postura ética duvidosa – o que demonstra existir, na verdade, um imenso campo para a livre interpretação do que poderia ser caracterizado como competência. Mas, no caso da presente dissertação, deve-se buscar alguma clareza com relação ao que poderia ser chamado de competência empreendedora. O que faz um empreendedor ou uma empreendedora competente? O minucioso estudo de Paiva Júnior, Leão e Mello (2003), apresentado no XXVII Enampad, aponta que as dimensões da personalidade, habilidades e conhecimentos de um empreendedor – em suas infinitas possibilidades de manifestação – compreenderiam, quando avaliadas no âmbito de uma atividade empreendedora, uma série de características que poderiam ser designadas como competências. Assim, conceber um empreendedor competente nos dias atuais pressupõe identificar um indivíduo, homem ou mulher, capaz de realizar sua vocação profissional no contexto da 42 chamada ‘sociedade do conhecimento’, ou seja, o empreendedor/empreendedora que atua no século XXI não poderia ser analisado a partir de conceitos que eram válidos, por exemplo, ao tempo do fordismo. O empreendedor deve aprender com as experiências daqueles que o precederam, porém, uma vez que o mundo encontra-se em constante transformação, exigindo que os profissionais de um modo geral – e não apenas os empreendedores –, como afirma Demo (1994), sejam capazes de ‘aprender a aprender’, para sobreviver em um ambiente de crescente competitividade. Assim, o sentido da competência pode ser vinculado, no caso da atividade empreendedora, à capacidade de resposta a uma série de novas exigências no mundo dos negócios – ou, como aponta, Paiva Júnior, Leão e Mello (2003), o empreendedor (a) deve possuir: a) Senso de identificação de oportunidades; b) Capacidade de relacionamento em rede; c) Habilidades conceituais; d) Capacidade de gestão; e) Percepção ágil das mudanças de cenário; f) Posicionamento em conjunturas adversas; g) Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Os itens acima, portanto, podem ser utilizados como indicadores de competência observável em um(a) empreendedor(a). Mas seria pertinente, neste momento, levantar uma questão: Seria possível relacionar uma hierarquia de competências? Para se pensar com mais subsídios esta questão, deve-se avançar um pouco mais na argumentação. 43 A partir de Enriquez (1997), pode-se afirmar que as competências mais importantes para o sucesso de um empreendimento são desenvolvidas, via de regra, através da experiência profissional do indivíduo ao longo dos anos. Portanto, seria um erro conceber, por exemplo, a dimensão da criatividade nos negócios a partir de um referencial abstrato/genérico, uma vez que esta competência é observada (ou não) na atuação do empreendedor. O autor indica, portanto, que uma competência como a criatividade não é algo que possa ser aprendido, a exemplo de uma técnica gerencial qualquer, apesar desta característica ser cada vez mais necessária. É evidente que os indivíduos têm potencialidades que podem ser mais ou menos exploradas, mais ou menos desenvolvidas – daí a importância da educação permanente –, mas não se pode negar a evidência de que existem empreendedores(as) mais ou menos competentes. E é neste ponto que reside a complexidade de se estudar gênero no âmbito do empreendedorismo: além de quaisquer possíveis generalizações, surveys ou qualquer outra abordagem quantitativa, sempre há o indivíduo, com seu talento, ambição, trajetória e formação únicos. Mas deve-se reforçar que a competência é um fator a ser trabalhado e desenvolvido pelos empreendedores, não se tratando de uma espécie de ‘dom’ ou ‘genialidade’, como afirmam Paiva Júnior, Leão e Mello (2003, p. 6): O estudo realizado por Storey (2002) junto a dirigentes de médias empresas da Inglaterra constata que as atitudes e práticas voltadas para a educação, treinamento e desenvolvimento, numa concepção mais ampla de aprendizagem, demonstram correlação com a melhoria do desempenho organizacional. Desta afirmação se infere que as chamadas competências, não obstante sua materialização singular observada em cada empreendedor, podem ser analisadas e, conseqüentemente, desenvolvidas através de educação e treinamento. Assim, o empreendedor realiza suas ações estratégicas de modo único, mas a partir de condicionantes que podem ser generalizadas e estudadas de modo sistemático. A seguir a descrição e breve análise das sete competências citadas anteriormente por Paiva Júnior, Leão e Mello (2003) – competências de oportunidade, relacionamento, conceituais, administrativas, estratégicas, de comprometimento e de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. 44 a) Competências de oportunidade Esta primeira competência, de acordo com Paiva Júnior, Leão e Mello (2003), pode ser subdividida em três categorias menores: identificação, avaliação e busca de oportunidade de mercado. A partir destas referências, os autores apontam que o empreendedor competente deve ser capaz, portanto, de identificar cenários favoráveis a seus objetivos estratégicos e realizar ações que transformem estas potencialidades em fatos positivos, do ponto de vista do negócio em questão. De acordo com Hills e LaForge (1996), esta competência corresponde, precisamente, à percepção para novos lucros, que se faz presente através da estruturação e/ou aperfeiçoamento de um empreendimento. Stevenson e Gumpert (1985) lembram que, para reconhecer a competência de oportunidade em um empreendedor, deve-se atentar para um aspecto complicador da análise: quando o(a) empreendedor(a) possui a percepção acima referida, este deverá ater-se, por um lado, a fatores mensuráveis ou controláveis (seleção e gerenciamento da equipe de trabalho, estudos técnicos de risco etc.) e, de outro, a fatores que estão fora de seu controle (elementos culturais, conjuntura social e econômica etc.). Na ilustração 1, Paiva Jr., Leão e Mello (2003) apresentam um resumo das possibilidades vinculadas a esta primeira competência: Quadro 1. Áreas de competências / oportunidade Dimensão da competência Definição a. oportunidade Identificar lacunas de mercado não Identificar as oportunidades de negócios atendidas, por meio de relacionamentos, a partir de experiências prévias operações de negócios e mudanças ambientais. Avaliar os espaços de mercado não Avaliar tendências e mudanças de atendidos mercado e da concorrência. Desenvolver pesquisas de mercado e Pesquisar oportunidades por meio dos sistemas de inteligência de marketing esforços de marketing para detectar oportunidades. Identificar otimização de esforços com Identificar sinergia com parceiros parceiros. Fonte: PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C. Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003. 45 b) Competências de relacionamento A competência de relacionamento, elementar para o sucesso de um negócio em qualquer área, demanda do(a) empreendedor(a), segundo Paiva Jr, Leão e Mello (2003), a capacidade de criar e fortalecer uma imagem que transmita, ao mesmo tempo, confiança profissional, compromisso na relação com clientes e parceiros, conduta transparente, reputação impecável e, finalmente, capacitação técnica específica em sua área de atuação. Esta capacidade é, de fato, indispensável à medida que o empreendedor sempre necessita atrair novos clientes e recursos para seu negócio – e, não por acaso, o chamado networking (rede de relacionamento), que, como destaca Minarelli (2001), expandiu seu sentido original (relacionado aos contatos pessoais dos profissionais), pode hoje ser entendido como uma nova prática cotidiana, que adota o ‘saber-fazer relacional’ como recurso de sobrevivência básico no mundo dos negócios, ou netliving. Abaixo, um resumo das possibilidades relacionadas às competências de relacionamento: Quadro 2. Áreas de competências / relacionamento Dimensão da competência Definição b. relacionamento Construir e manter relacionamentos de Construir e manter redes de confiança e credibilidade junto a relacionamentos com stakeholders clientes, fornecedores, intermediários, colaboradores internos e acionistas. Utilizar-se das redes para adquirir e Utilizar-se das redes de relacionamentos fortalecer as oportunidades e para obter construídas com stakeholders recursos e capacidades. Jogar de forma “ganha-ganha” para Negociar com os parceiros de negócios fortalecer a confiança e credibilidade na rede. Recorrer a pessoas e grupos de Recorrer às relações pessoais referencia oriundos do cotidiano secular a favor da prática profissional. Fonte: PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C. Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003 c) Competências conceituais 46 Man e Lau (2000) descrevem a competência conceitual através da capacidade do empreendedor em perceber com clareza tanto as oportunidades externas quanto a dinâmica interna de seu negócio, o que faz com este profissional, comumente, avance sobre processos decisórios e analíticos (às vezes demorados), adotando medidas e ações apenas com base em seu conhecimento empírico da realidade, somado ao que se costuma chamar de intuição. Além destas características, o empreendedor ‘conceitualmente competente’, seria capaz de enxergar ao menos um aspecto positivo em qualquer circunstância, daí sua capacidade de analisar riscos, promover ações e encaminhar soluções. As competências conceituais foram resumidas por Paiva Jr, Leão e Mello (2003) na ilustração que segue: Quadro 3. Áreas de competências / conceitual Dimensão da competência Definição c. conceituais Observar, analisar e avaliar de forma subjetiva. Analisar os caminhos alternativos e Ver por um ângulo diferente alcançar melhores soluções. Diferenciar-se em mercados, produtos e Inovar tecnologias. Avaliar riscos Avaliar situações duvidosas. Assumir riscos Tomar decisão em situação de incerteza. Demonstrar características Ter vocação empreendedoras. Agir de forma livre de modo a manter o Ter autonomia autocontrole. Ter sensibilidade e vontade de aprender Teorizar a prática cotidiana. Pensar intuitivamente Fonte: adaptado de PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C. Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003. d) Competências administrativas Como se pode deduzir, a chamada ‘competência administrativa’ está diretamente vinculada à capacidade do empreendedor de realizar com sucesso a (invariavelmente complexa) tarefa de alocar recursos materiais, humanos, tecnológicos e financeiros – atividade que, como apontam Man e Lau (2000), está diretamente ligada ao talento para planejar, organizar, motivar, delegar e controlar. 47 As possibilidades relacionadas às competências administrativas formam um conjunto de elementos particularmente importantes para o universo do empreendedorismo, como pode ser observado a seguir: 48 Quadro 4. Áreas de competências / administrativa Dimensão da competência Definição d. administrativas Planejar Elaborar ordenadamente as ações futuras Distribuir os recursos de forma racional Alocar recursos eficientemente e criativa. Utilizar recursos e capacidades que Alcançar eficácia satisfatória com os gerem resultados recursos e capacidades disponíveis. Diligência na satisfação de necessidades Atender prontamente ao cliente do cliente. Ser ágil em tomada de decisão Tomar decisões rápidas e criativas. Conduzir os colaboradores internos Ter liderança sobre a equipe eficazmente. Alinhar interesses funcionais Gerenciar conflitos entre os empregados antagônicos. Promover o consenso entre os parceiros Orquestrar a atuação dos parceiros no processo de tomada de decisão conforme os objetivos estratégicos Gerar estímulos que dinamizem o Motivar a equipe empenho dos talentos internos. Descentralizar e monitorar Delegar tarefas responsabilidades para colaboradores capacitados. Normatizar, estabelecer recompensas e Controlar sanções e monitorar as desviações. Comunicar-se eficazmente interna e Transmitir mensagens curtas e externamente informativas. Incrementar a imagem publicitária da Expor-se com habilidade junto à mídia empresa sem ônus financeiro. Alcançar receitas financeiras por meio Vender eficazmente da comercialização dos serviços. Avaliar os atributos do produto de forma Atribuir valor ao seu produto/negócio eficiente. Fonte: PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C. Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003. e) Competências estratégicas Estas competências, que dizem respeito à capacidade de análise e implementação das estratégias em longo prazo a um determinado negócio, caracterizam o empreendedor capaz de enxergar os destinos da organização e, também, de atuar com objetivos de curto e médio prazos – para Kets de Vries (1995) o empreendedor competente, necessariamente, destacase como o indivíduo mais hábil para gerenciar a complexidade de um negócio. No quadro a 49 seguinte é possível visualizar as possibilidades estratégicas enumeradas por Paiva Júnior, Leão e Mello (2003): Quadro 5. Áreas de competências / estratégica Dimensão da competência Definição e. estratégicas Planejar estrategicamente Ter visão abrangente Estabelecer e avaliar objetivos Ter intencionalidade para a ação Definir e avaliar posicionamento Estabelecer o posicionamento Gerar uma identidade corporativa a partir de suas características Ter agressividade competitiva Realizar mudanças estratégicas em ambientes adversos Executar metas estabelecidas Utilizar táticas Orçar a implementação da estratégia Controlar os resultados das estratégias Ter compreensão de cenários ampla e de longo prazo. Estabelecer objetivos realísticos e viáveis. Predisposição para atuação empreendedora. Identificar e avaliar a posição competitiva da imagem de marca junto ao público-alvo. Saber adequar estratégias de posicionamento adequadas. Desenvolver estratégias de identidade corporativa com base nos valores e crenças pessoais. Viabilizar posição vantajosa da empresa frente aos rivais. Gerar respostas estratégicas a mudanças ambientais e condições hostis de mercado. Capacidade de implementar ações programadas e não-programadas em função das metas. Usar táticas frente a clientes e concorrentes. Estimar a viabilidade financeira da implementação da estratégia. Monitorar os resultados da implementação da estratégia. Fonte: PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C. Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003. f) Competências de comprometimento e equilíbrio trabalho/vida pessoal As competências de comprometimento correspondem à capacidade do empreendedor em se manter satisfatoriamente conectado a seu negócio, particularmente nos momentos 50 difíceis e de maior instabilidade – o que inclui, como sublinham Man e Lau (2000), a energia necessária para recomeçar, no caso de um eventual fracasso. Esta competência está ligada, muitas vezes, ao sentimento de responsabilidade para com os outros profissionais com quem o empreendedor atua, além de aspectos como valores e crenças. Já a competência equilíbrio trabalho/vida pessoal diz respeito a um apontamento de Friedman et al. (1998), que mostra que cada vez mais profissionais buscam atuar tendo em consideração a busca deste equilíbrio, uma vez que este seria importante para o desempenho profissional e o crescimento pessoal. O quadro a seguir esclarece a dimensão das chamadas ‘competências de comprometimento e equilíbrio trabalho/vida pessoal’: Quadro 6. Áreas de competências / comprometimento e equilíbrio trabalho/vida pessoal Dimensão da competência Definição f. comprometimento 1. Comprometimento com o negócio Manter o comprometimento em relação Manter o compromisso com o negócio ao negócio mesmo em situações de crise. Manter o compromisso com objetivos de Comprometer-se com os objetivos de longo prazo mais que com os de curto longo prazo prazo. Dedicar-se ao trabalho Trabalhar arduamente pela empresa. Ser responsável pela atuação dos Comprometer-se com a equipe empregados. Compreender a rotina das atividades de Ter uma compreensão lúdica/prazerosa forma bem humorada e como sendo um do trabalho jogo desafiante. 2. Comprometimento pessoal. Comprometer-se com o cumprimento de Comprometer-se com suas crenças e ações compatíveis com as crenças e valores valores pessoais. Comprometer-se com os próprios Comprometer-se com objetivos pessoais. interesses em termos de vida pessoal. Disposição para reiniciar a atividade Recomeçar após fracassos mesmo após situações de insucesso. Desenvolver atividades alheias ao Dar vazão ao estresse cotidiano da empresa. Fonte: adaptado PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C. Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003. 51 Os quadros de competência acima reproduzidos apresentam um resumo das possibilidades analíticas que podem ser adotadas em um exercício de comparação entre empreendedores e empreendedoras. Naturalmente, apenas alguns destes aspectos serão efetivamente abordados na presente dissertação, mas o estudo de Paiva Júnior, Leão e Mello (2003) deixa claro que o empreendedorismo é uma área de crescente complexidade e, por este motivo, o foco na questão de gênero pode trazer uma maior compreensão da situação destes profissionais em nossa contemporaneidade. 52 2. 1. 3 Comportamento do empreendedor Se forem tomados como referência analítica alguns dos aspectos comportamentais comuns à maioria dos empreendedores, é possível destacar, de imediato, ao menos um elemento recorrente, como indica Gardner (1996): a criatividade. Afirma o autor também que, ainda que seja possível apontar uma heterogeneidade comportamental significativa entre os empreendedores, estes profissionais apresentariam, via de regra, um comportamento que poderia ser classificado como de ‘rebeldia criativa’, no que diz respeito à perseguição sistemática de objetivos relacionados a um empreendimento. De acordo com McClelland (1987), um fator essencial a ser destacado corresponde à necessidade de realização, a qual representaria uma motivação social fundamental no esforço de superação dos empreendedores, que apresentariam, neste sentido, peculiaridades importantes em seu cotidiano profissional: - a responsabilidade pessoal nos processos de tomada de decisões; - o estabelecimento de objetivos, bem como a realização destes, através da atuação marcada pelo esforço contínuo e sistemático; e - a necessidade constante de obtenção do retorno (feedback) relativo às decisões tomadas e ações empreendidas. Estas características estariam diretamente relacionadas ao fato dos empreendedores, comumente, apresentarem um perfil otimista, bem como sua conhecida aversão aos trabalhos repetitivos e rotineiros. De modo complementar, McClelland (1987) enumerou mais três 53 aspetos de ordem comportamental, que poderiam ser observados, regularmente, nos empreendedores bem-sucedidos: - a orientação no sentido da proatividade (iniciativa, assertividade etc.); - personalidade realizadora (sensibilidade para detectar novas oportunidades, apreço pelas ações de planejamento sistemático, avaliação constante de resultados etc.); e - valorização do trabalho dos profissionais com quem atua/convive, bem como o cultivo de boas relações com estes. Para Baron (1998) o engajamento dos empreendedores no trabalho resulta em experiências afetivas ligadas ao trabalho de maior intensidade, sendo que estes tenderiam a superar com maior facilidade as frustrações passadas, concentrando-se fundamentalmente na realização dos eventos futuros. Por outro lado, aponta o autor, os empreendedores, muitas vezes, apresentariam características como excesso de confiança e ilusão de controle absoluto da realidade. Tais características poderiam, deste modo, ser associadas ao fator ‘desejo de independência’, uma vez que os empreendedores imprimem sua personalidade naquilo que realizam, determinando o ritmo e a intensidade que as ações vinculadas ao empreendimento são realizadas. Neste sentido, Sexton e Bowman (1985) enumeram uma série de tendências que poderiam ser observadas nos empreendedores: - A tolerância a situações críticas/ambíguas; - Busca constante de autonomia; - Resistência à conformidade; 54 - Atração pelo risco; - Adaptabilidade a mudanças; - Baixa necessidade de apoio. A partir da observação das características acima os autores inferem a existência de uma predisposição dos empreendedores ao estresse e à solidão, tendo em conta o grande esforço e energia despendidos por esses profissionais em seu cotidiano – invariavelmente uma árdua jornada de trabalho. Finalmente, tomando como referência a literatura consultada (PAIVA JÚNIOR, LEÃO e MELLO, 2003; BARON, 1998; MCCLELLAND, 1987; CARLAND e CARLAND, 1988; SEXTON E BOWMAN-UPTON, 1990) – tanto nacional quanto estrangeira – é possível encontrar, de um modo geral, as seguintes características entre os empreendedores: - Necessidade de reconhecimento social/profissional; - Busca de independência; - Busca de segurança; - Atenção ao fator inovação; - Poder de persuasão; - Auto-confiança; - Perseverança; - Disposição para o risco. 55 No que diz respeito à maior ou menor incidência destas características, no caso da distinção por gênero, o estudo empreendido por Sexton e Bowman-Upton (1990) aponta que há mais semelhanças do que diferenças. Por sua vez, Carland e Carland (1988), ao analisarem três variáveis do comportamento empreendedor em homens e mulheres empreendedores – necessidade de realização, propensão ao risco e preferência por inovação – não encontraram diferenças significativas, não obstante os resultados relativos às mulheres terem sido ligeiramente inferiores aos dos homens. 2. 1. 4 GEM: perspectivas para empreendedorismo e gênero Os estudos sobre a questão de gênero em empreendedorismo, é pertinente destacar um estudo quem sendo realizado desde 1999, o projeto Global Entrepreneurship Monitor (GEM), uma pesquisa coordenada pela London Business School (Inglaterra) e pela Babson School (EUA), com a finalidade de avaliar a capacidade empreendedora dos países, sendo de responsabilidade do SEBRAE sua publicação no Brasil. Um primeiro dado importante é que, em 2000, o Brasil conseguiu ficar em primeiro lugar, com 16 pontos, no ranking constituído por 21 países, elaborado pelo GEM (que no Brasil foi realizado através do IBPQ / SEBRAE), tendo apresentado a maior taxa de atividade empreendedora (TAE) total – (20,4%). A TAE corresponde, mais precisamente, a um índice que mede a proporção de empreendedores na população adulta de um país. Na prática, este percentual indica que, em cada oito brasileiros, ao menos um está investindo na abertura de uma atividade empreendedora, o que não é pouco para o caso de um país em desenvolvimento – como pode ser observado na ilustração 8, a seguir, a Argentina, por exemplo, apresenta a relação de um empreendedor em cada 16 pessoas. 56 O GEM aponta que um dos fatores que contribui para o destaque do Brasil em 2000 foi o desenvolvimento do setor agropecuário. Mas um aspecto que merece ser destacado é que a Argentina, apesar de estar abaixo do Brasil no ranking, possui uma tradição empreendedora bastante forte (considerando o conjunto dos países latino-americanos), reforçada pelas seguintes características: população com mais anos de escolaridade, industria diversificada e setor agrícola dedicado à exportação. É notório que a situação macroeconômica deste país se deteriorou visivelmente nos últimos anos, mas em função de políticas econômicas que nada tem a ver com a capacidade empreendedora de sua população, observação que pode ser igualmente atribuída ao Brasil. O dois quadros a seguir contribuem para uma visualização mais abrangente da situação dos principais países que participaram da pesquisa realizada pelo GEM no ano 2000: Quadro 7. Nível de atividade empreendedora (em %) BRASIL 16 CORÉIA 13,6 ESTADOS UNIDOS 12,6 AUSTRÁLIA 10,9 CANADÁ 7,9 NORUEGA 7,9 ARGENTINA 7,6 ÍNDIA 6,3 ITÁLIA 5,6 REINO UNIDO 5,1 ALEMANHA 4,7 ESPANHA 4,5 Fonte: REYNOLDS, Paul D.; BYGRAVE, William D.; AUTIO, Erkko. GEM – Global Entrepreneurship Monitor. Executive Report 2.003: Babson College e London Business School, 15/03/2004. 57 Quadro 8. Pessoas iniciando novos empreendimentos BRASIL 1 em cada 8 ESTADOS UNIDOS 1 em cada 10 AUSTRÁLIA 1 em cada 12 ARGENTINA 1 em cada 16 ALEMANHA 1 em cada 25 REINO UNIDO 1 em cada 33 IRLANDA / JAPÃO 1 em cada 100 Fonte: REYNOLDS, Paul D.; BYGRAVE, William D.; AUTIO, Erkko. GEM – Global Entrepreneurship Monitor. Executive Report 2.003: Babson College e London Business School, 15/03/2004. O estudo realizado pelo GEM indica que a maior ou menor força da atividade empreendedora, observada nos diferentes países, está diretamente relacionada ao desempenho macroeconômico destes. No caso dos países que faziam parte do ranking elaborado pelo GEM no ano 2000, e que apresentavam um alto nível de atividade empreendedora, de acordo com a pesquisa, todos mostravam índices de crescimento econômico satisfatórios – sendo que a pesquisa apontava apenas uma exceção, a Irlanda, que apresentou uma taxa baixa de atividade empreendedora acompanhada de um nível de crescimento econômico alto. No ano seguinte, 2001, em função da desaceleração econômica então observada no Brasil, A TAE medida no país alcançou o percentual de 14,2%, mas, ainda assim, manteve-se entre os países de ponta no aspecto atividade empreendedora – o país destacou-se em meio a um ranking muito maior naquele ano (37 países), sendo 19 da Europa, 9 da Ásia, 4 da América Latina, 2 da América do Norte, 2 da Oceania e 1 da África. Além do destaque internacional, uma versão da pesquisa do GEM realizada apenas no Estado do Paraná, com o titulo Sempre Viva (2004). Participação feminina na abertura de empreendimentos é cada vez maior – também em parceria com o IBQP/PR – mostrou que, especificamente pelo que diz respeito ao desempenho das empreendedoras, o país também vem mostrando resultados cada vez mais expressivos no sentido de equilibrar a participação de homens e mulheres estudo concluiu que, no ano de 2001, nada menos que 38% das atividades empreendedoras formalmente praticadas naquele Estado estavam sob o comando de mulheres – um percentual altíssimo, apesar de ainda distante dos números encontrados, por exemplo, na Itália, onde o índice de participação das mulheres chega a alcançar 50%. A análise conduziu à conclusão de que, no caso brasileiro, os homens não estariam mais conseguindo prover sozinhos o sustento da família, daí a quantidade cada vez mais expressiva de mulheres que mantém sua família exclusivamente através da atividade 58 empreendedora. Finalmente, um terceiro motivo que se destacou na pesquisa, ainda no que diz respeito à participação crescente da mulher no universo empreendedor, foi a inexistência de um sistema público de seguridade social capaz de atender as demandas das pessoas com renda mais baixa. É pertinente notar que esta pesquisa do GEM no Brasil usou como parâmetro comparativo alguns dados do instituto norte-americano Korn/Ferry International – que avalia sistematicamente o perfil das mulheres empreendedoras americanas –, o que contribuiu para evidenciar algumas das características acima mencionadas: nos Estados Unidos, as mulheres empreendedoras, por exemplo, tem maior instrução que a média das brasileiras – fato igualmente observável no caso dos homens empreendedores. A pesquisa termina por recomendar um maior incentivo institucional para as mulheres que buscam no empreendedorismo não apenas uma alternativa de sobrevivência, mas uma oportunidade concreta de desenvolvimento profissional. Naturalmente, estes dados são importantes para se pensar a atividade da mulher empreendedora no Brasil, mas deve-se ter em mente que os dados obtidos em um estudo realizado apenas em um Estado (no caso, o Paraná), não necessariamente podem ser amplificados para o resto do país – ainda que seja possível inferir que estes resultados coincidam não apenas com a situação observável em outros Estados brasileiros como também no que diz respeito às demandas dos empreendedores do sexo masculino. A pesquisa mundial realizada pelo GEM em 2002 mostrou que o Brasil caiu algumas posições em seu ranking, ficando em sétimo lugar – o que mantém o país entre aqueles que comportam um expressivo número de empreendedores em atividade. A TAE medida no Brasil naquele ano alcançou o índice de 13,5%, ou seja, declinou em relação aos dois anos anteriores (fenômeno que pode ser explicado pelo aumento de países no ranking do instituto que realiza a pesquisa). Também é importante destacar um aspecto da pesquisa anual realizada pelo GEM: os dados dos países estudados são divididos em dois grandes blocos, os relativos aos países que praticam o ‘Empreendedorismo por Necessidade’ e aqueles que caracterizam o ‘Empreendedorismo por Oportunidade’. O Brasil, no caso da pesquisa de 2002, comparece em primeiro lugar dentre os países que praticam o ‘Empreendedorismo por Necessidade’, com o índice de 7,5% - sendo que apenas três países apresentaram um índice de ‘necessidade’ maior que o índice por ‘oportunidade’: Brasil, Argentina e China. A França ficou com o menor índice de ‘necessidade’ (0,1%), além de este ter correspondido a menos de 2% em 26 dos 37 países que entraram no ranking – e como é 59 previsível, a maior ocorrência do índice de ‘necessidade’ foi observada nos países em desenvolvimento. Outro parâmetro que merece ser destacado na pesquisa do GEM corresponde à divisão das atividades empreendedoras em dois tipos: os empreendimentos nascentes (com menos de três meses de existência) e os novos empreendimentos (com até 42 meses). O Brasil, no ano de 2002, aparece com um contingente correspondente a 5,7% de empreendimentos nascentes 8,5% de novos empreendimentos. Apesar dos dados relativos aos anos de 2000 e 2001 terem sido relativamente otimistas – e tendo ocorrido, como visto, uma pequena retração em 2002 –, a pesquisa internacional GEM realizada no ano passado mostra que a situação do Brasil permanece muito distante do que poderia ser considerado ‘ideal’. A pesquisa GEM realizada em 2003 (Correio Braziliense, 2003) mostrou que o país, apesar de continuar bem posicionado no ranking – quarto lugar, numa avaliação que já abrange 40 países –, ainda não oferece aos empreendedores e empreendedoras brasileiros o devido apoio institucional/governamental, apesar da reconhecida importância destes profissionais para a criação de empregos e a dinamização da economia. Os números indicam que 22 milhões de pessoas atuaram como empreendedores no Brasil, em 2003 – atrás apenas dos gigantes China, Índia e Estados Unidos –, sendo que, deste contingente, 65% dos empreendedores encontram-se na faixa etária compreendida entre 25 e 44 anos (ficando aqueles acima de 45 anos com 17% do total de empreendimentos). Outro dado importante, que deve ser destacado, é que a TAE medida no Brasil no ano passado apontou os empreendedores com mais de 11 anos de estudo como os mais destacados, com 19%. Este dado contrasta fortemente com o histórico da participação empreendedora brasileira por ‘necessidade’. E, além disso, no que diz respeito à renda dos empreendedores o GEM mostrou que, em 2003, 70% dos empreendimentos criados foram administrados por indivíduos com renda equivalente a até seis salários mínimos mensais; 40% declararam renda de até três salários, e 21% dos empreendedores possuíam renda entre seis e 15 salários, o que mostra uma melhora do perfil sócio-econômico destes profissionais. Novamente, o estudo GEM relativo ao ano de 2003 tornou evidente a importância estratégica da atividade empreendedora – e, igualmente, do ‘senso empreendedor’ – para o avanço econômico e social das nações, sejam elas desenvolvidas ou em desenvolvimento. E, via de regra, as do segundo grupo parecem ter governantes menos atentos a este fato, como é caso do Brasil, que não tem programas em larga escala, capazes de fornecer crédito barato e 60 apoio técnico/logístico aos empreendedores, que acabam não suportando a carga tributária crescente, além da burocracia e irracionalidade já conhecidas do Estado brasileiro. No que diz respeito particularmente a gênero, a pesquisa 2003 do GEM destacou que o aumento do número de famílias sustentadas exclusivamente por mulheres explicaria o recente impulso da atividade empreendedora feminina – no ano 2000, as mulheres respondiam por 29% do total da população empreendedora, enquanto que no ano passado este contingente já havia sido ampliado para nada menos que 46% do total. Se for levada em consideração apenas a taxa de atividade empreendedora, as mulheres alcançaram um índice de 11,7% (uma diferença de 2,5 pontos a menos com relação aos homens) no ano passado, sendo que as maiores diferenças entre homens e mulheres, neste quesito, foram observadas na Itália, Chile, África do Sul e China. 2. 2. MULHERES E HOMENS EM ATIVIDADE EMPREENDEDORA Neste tópico são abordados alguns aspectos enfrentados por homens e mulheres em suas atividades empreendedoras, que influenciam diretamente nos resultados de seus trabalhos. 2. 2.1 Realidade e mitos Dentre as inúmeras descobertas e questionamentos, levantados ao longo do processo de revisão bibliográfica (2003 a 2005), destaca-se a questão do discurso de igualdade existente entre mulheres e homens atuantes em algumas circunstâncias profissionais específicas, a exemplo dos cargos executivos de alto escalão ou dos profissionais que atuam como empreendedores, sendo este segundo caso evocativo da problemática discutida na pesquisa. O referido discurso, cabe ressaltar, não pode ser qualificado precisamente como preponderante, mas tem se mostrado cada vez mais influente em alguns meios. (GRECCO, 2002) No entanto, deve-se ter em mente que a situação das empreendedoras ainda encontra-se muito distante de ser considerada confortável, uma vez que somente a partir da década de 1980 irá ocorrer a seguinte mudança (SCORZAFAVE, 2001, p 45): 61 Difundem-se novas proposições que reafirmam o princípio de equidade entre os sexos e são debatidas modificações na ordem cultural e jurídica. Nesse percurso, às vezes tortuoso, aparecem com maior clareza os limites daquilo que seria próprio das mulheres, daquilo que lhes seria reconhecido, permitido ou atribuído como característica de sua ‘natureza social’. Por comparação, pode-se também compreender o que seria próprio da ‘natureza social do homem’. Mais ainda! Chega-se à consciência de que qualquer definição dos papéis, da imagem, da identidade e dos códigos de comportamento da mulher, é instável e transitória, já que tais concepções culturais são o resultado do confronto entre os valores dominantes e os anseios de mudança. O confronto referido, como é possível supor, corresponde a uma problemática de difícil equacionamento e, conforme aponta a descrição, não se apresenta de modo retilíneo, mas através de idas e vindas, com exigências que se alteram ao longo do tempo, e que afetam as mulheres das mais diversas maneiras. Neste sentido, é importante destacar o fato de que este ‘diferencial ético’ das mulheres aplicado ao mundo do trabalho já era motivo de discussões no princípio do século XX, de acordo com Besse (1999, p. 150): “Os defensores do emprego feminino afirmavam ademais que as trabalhadoras contribuiriam para redimir o mundo corrupto dos negócios e do governo, impregnando-o de alto senso de moralidade”. O aspecto ético faz parte, mais precisamente, do objetivo mais amplo de identificar e analisar as distinções que caracterizariam a mulher empreendedora hoje atuante, em comparação aos homens que compartilham da mesma atividade profissional. Sob o aspecto histórico, uma das observações relativas à condição empreendedora atual também tem sua origem na observação de mudanças já perceptíveis há muitas décadas, conforme destaca Besse (1999, p. 162-163): As mudanças mais significativas no padrão de emprego feminino ocorreram no setor de serviços. O desenvolvimento de novas tecnologias e a expansão de órgãos do governo, empresas comerciais, serviços financeiros e comunicações proporcionaram um número crescente de cargos de escritório de bom nível para mulheres com instrução, da classe média e da classe baixa ascendente. 62 Pode-se inferir que, novamente, o setor de serviços está ligado diretamente à possibilidade de geração de mudanças para as mulheres, o que poderá ser confirmado (ou não) na leitura da pesquisa. Cabe a ressalva, no entanto, de que muitas mudanças têm afetado mulheres e homens de modo indistinto, como já comentado anteriormente, reforçando a necessidade de se atentar para o fato de que os processos de diferenciação entre os sexos são produzidos pela sociedade, e não apenas fruto da vontade de indivíduos. Mas, por outro lado, no contexto da realidade cotidiana dos negócios, é preciso ter em mente que, dentre os elementos básicos que condicionam o sucesso de um empreendimento, a questão da capacidade individual é evidente, pois, conforme define Porter (1996, p. 36), um profissional talentoso é aquele “que apresenta uma visão global de seus negócios e que a partir das transformações do macroambiente, tais como regulamentações, mudanças tecnológicas e demanda de mercado, responde a tempo para se manter competitivo”. Esta colocação de Porter afirma a necessidade de observar a empreendedora – a exemplo do que ocorreria no caso de uma análise dos empreendedores em geral – considerando múltiplos aspectos, a saber: histórico de vida, formação intelectual e talento específico para a atividade empreendedora, dentre inúmeros outros. 63 2. 2. 2 Incentivos a atividade empreendedora Dentre os aspectos anteriormente citados, cabe destacar um particularmente controverso, e que já tem sido discutido com alguma intensidade em países mais desenvolvidos neste campo: as mulheres teriam maiores dificuldades que os homens para iniciar uma atividade empreendedora, em função de preconceitos arraigados na sociedade, e, em vista desta circunstância, dependeriam de apoio (institucional, governamental etc.) para participar do universo do empreendedorismo em uma situação de maior igualdade. Esta afirmação, de Lim, Smith e Bottomley (2003), encontra-se em uma pesquisa realizada com empreendedoras (bem-sucedidas) na Escócia, no ano de 2002. Nesta pesquisa, as autoras afirmam que os resultados das atividades realizadas pelas empreendedoras poderiam ser medidos em função das políticas governamentais dedicadas à questão como, por exemplo, na Escócia, em 1993/4 a reorganização dos mecanismos de suporte aos negócios passou a visar finalidades diversas. Conseqüentemente, as empreendedoras foram colocadas em segundo plano pelas políticas, reduzindo suas atividades. Apenas recentemente esta situação tem-se revertido. (LIM, SMITH e BOTTOMLEY, 2003, s.p): Particularmente no caso desta pesquisa, as autoras observaram a atividade de mulheres jovens e graduadas, sendo que no período estudado, a década de 90, houve um aumento de oportunidades para as mulheres escocesas apenas no setor industrial. Segundo Machado (2001), se forem observados outros exemplos ao redor do mundo, pode-se afirmar que não apenas os países da Europa (destacadamente a Alemanha, Grécia e Irlanda), mas também da Ásia (especialmente o Japão) vêm-se preocupando cada vez mais com a questão específica da mulher empreendedora. Na prática esta preocupação se traduz em programas de treinamento, subsídios governamentais e créditos diversos para pequenos negócios. Machado também destaca a criação na Europa, em 1991, da NOW (New Opportunities for Women), entidade que surgiu com o objetivo de: 64 - Atuar no sentido de democratizar o acesso das mulheres ao mercado de trabalho (ainda dominado pelos homens); - Promover a conciliação entre trabalho e família, um dos maiores obstáculos observados na carreira das mulheres empreendedoras; - Promover o acesso das mulheres à educação e à qualificação profissional; - Estimular o empreendedorismo; - Incentivar a criação de empregos, a partir das próprias mulheres. É importante notar que, neste caso, a questão do empreendedorismo encontra-se intimamente ligada a outros aspectos, de ordem política e social, que tornam a discussão em torno do papel da mulher empreendedora muito mais complexo – não por acaso, no ano 2000, a NOW selecionou 21 projetos, objetivando estimular as mulheres a enfrentarem os ainda imensos desafios que têm a superar, se quiserem obter êxito nos processos de criação, consolidação e desenvolvimento de seus empreendimentos. A Nova Zelândia, também é observada por Machado no período em que este país teve uma Primeira Ministra (na segunda metade da década de 1990), uma vez que o governo adotou, a partir de 1996, políticas públicas específicas para as mulheres, não apenas no campo do empreendedorismo, mas também ampliando a questão de gênero para diversos programas governamentais – nesta ocasião, a questão elementar dos processos decisórios, historicamente conduzidos por indivíduos do sexo masculino, foi colocada em pauta, o que contribuiu de modo particularmente positivo no sentido de estimular as mulheres a buscar seus próprios caminhos profissionais. Além disso, Machado destaca um movimento semelhante na Austrália, no mesmo período, em que o governo local promoveu parcerias com a iniciativa privada, com vistas a estimular as jovens a abraçar carreiras empreendedoras. Uma pesquisa de grande amplitude, realizada por Carter, Anderson e Shaw (2001) no Reino Unido mapeou a situação da mulher empreendedora ao longo de toda a década de 90. É uma rica fonte de informações, que contribui para pensar o empreendedorismo no Brasil, uma vez que a Grã-Bretanha possui uma das mais antigas e sólidas tradições empreendedoras do mundo – bastando lembrar a obra de um economista como Adam Smith, que escreveu em 1776, ‘A Riqueza das Nações’, baseado apenas na realidade por ele observada naquele país. Era ainda o século XVIII, mas o Reino Unido já estava marcado pela determinação de muitos de seus cidadãos empreendedores, que viam na possibilidade de produzir e realizar trocas comerciais o caminho mais seguro para o desenvolvimento de sua condição social. 65 A tabela seguir, reproduzida de Carter, Anderson e Shaw (2001), compara a participação de homens e mulheres empreendedores no Reino Unido – separados e de forma agregada – ao longo da década passada: 66 Tabela 2. Empreendedorismo e Gênero no Reino Unido 1990 — 1999 ANO Total Alteração1 H. Empr. Alteração1 M. Empr. Alteração1 H/M 1990 3571887 2714637 857250 1991 3415842 -156045 2598635 -116002 817207 -40043 1992 3226889 -188953 2438316 -160319 788573 -28634 1993 3184474 -42415 2384175 -54141 800300 +11727 1994 3300535 +116061 2480490 +96315 820046 +19746 1995 3361262 +60727 2548620 +68130 812643 -7403 1996 3299806 -61456 2470236 -78384 829570 +16927 1997 3351285 +51479 2486474 +16238 864811 +35241 1998 3280174 -71111 2410818 -75656 869356 +4545 1999 3202371 -77803 2377712 -33106 824659 -44697 Fonte: CARTER, Sara; ANDERSON, Susan; SHAW, Eleanor. Women’s business ownership: a review of the academic, popular and internet literature. Department of Marketing. University of Strathclyde / Glasgow. August 2001. Disponível em < http://business.king.ac.uk/research/kbssbs/womsbus.pdf. >. Acesso em: 14 jul 2004. Notas: Ano base = 1990. 1 Mudanças calculadas como + / - em relação ao ano anterior. Carter, Anderson e Shaw (2001), apontam que em 1999 havia 3,7 milhões de pequenos negócios no Reino Unido, mas destacam que as estatísticas disponíveis no país, de um modo geral, não informam a situação das mulheres empreendedoras – que podem receber esta qualificação quando são proprietárias de um pequeno empreendimento, gerentes do negócio ou donas em sociedade com outro(s) homem(ns). De fato, este tipo de precariedade nas informações estatísticas é comum na maioria dos países. No entanto, para a realização deste trabalho, as autoras usaram a única fonte de informações que se dedica a mapear, de modo sistemático e abrangente, a situação dos empreendedores no Reino Unido, a LFS, Labour Force Survey, que gerou as informações da tabela acima. A observação desta indica que houve um decréscimo de 10,34% das atividades empreendedoras ao longo da década – incluídos homens e mulheres. No entanto, a participação (share) das mulheres se manteve praticamente inalterada, ocorrendo, inclusive, um pequeno aumento: em 1990 era de 24%, e em 1999, estava em 25,8%. No caso dos homens – que tem uma representatividade significativamente maior em números absolutos – sua participação declinou ligeiramente ao longo da década de 1990, como mostra a tabela acima. 67 Fica evidente, a partir destes dados, que a observação da realidade da mulher empreendedora exige uma aproximação qualitativa, que possibilite distinguir esta profissional das gerentes, sócias etc. Neste sentido, o próximo tópico aborda a questão da identidade, fundamental para o avanço desta dissertação. 2. 2. 3 Identidade feminina e empreendedorismo A questão da identidade feminina no âmbito do empreendedorismo, conforme apontam Carter, Anderson e Shaw (2001), é uma das questões-chave para se pensar o problema de pesquisa desenvolvido nesta dissertação e, na verdade, perpassa a maioria dos aspectos já analisados anteriormente – a começar pelas drásticas alterações nas relações de trabalho observadas na última década: com entrada em massa da mulher no mercado de trabalho, e particularmente no mundo dos negócios, tornou-se evidente que uma nova configuração das relações profissionais, mais complexa e ainda não satisfatoriamente desvendada, instalou-se nos ambientes de trabalho. Esta novidade se revela, numa primeira observação, principalmente através do surgimento de um ambiente competitivo que não distingue – ou distingue cada vez menos – homens ou mulheres. Profissionais, empreendedores ou não, disputam espaço e/ou mercado, emergindo com intensidade a busca por competência. E as mulheres, nesse embate, necessitam enfrentar – num processo de permanente desconstrução e reconstrução – muitos lugares-comuns e preconceitos que ainda se fazem presentes na sociedade contemporânea: e é neste contexto que Cramer, Cappelle e Silva (2001) observam que se faz necessário reconhecer, em meio ao conturbado cotidiano das profissionais, a existência de um processo por elas vivenciado que sugere a construção de uma possível nova identidade feminina – necessária, na medida em que preconceitos seculares (sociais, comportamentais, etc.) resistem, apesar da já bastante evidente força do processo de participação das mulheres nos mundo trabalho. Conforme aponta Belle (1993), este processo de construção de identidade feminina seria estruturado a partir de dois elementos: por um lado, uma concepção de feminilidade que seria interiorizada através da educação e, de outro, as próprias normas de comportamentos existentes no mundo do trabalho. Em outras palavras, este processo corresponderia a um imenso desafio, no qual a mulher se colocaria no mundo do trabalho de modo reafirmar suas características femininas intrínsecas e, ao mesmo, absorveria elementos já caracterizados como masculinos. Numa análise rápida, fica evidente que esta passagem acima descrita 68 coloca a mulher em uma situação ambígua, desconfortável, uma vez que, na prática, trata-se de conciliar percepções e atitudes perante o mundo francamente oposto – por exemplo, frieza (normalmente atribuída ao sexo masculino) e sensibilidade. E, como se este desafio não fosse suficiente, Cramer, Cappelle e Silva (2001) destacam que as mulheres muitas vezes não conseguiriam superar o que as autoras classificam como um ‘sentimento de culpa’ – alimentado pela família e por elas próprias –, em virtude das exigências profissionais acabarem por consumir tempo que seria utilizado pela mulher no cumprimento de outros papéis sociais, como de esposa ou mãe. Assim, para se pensar no papel da empreendedora nos tempos atuais seria necessário o enfrentamento de uma complexa tarefa: pensar esta profissional em meio ao multifacetado campo das representações sociais, como indicam Cramer, Cappelle e Silva (2001), uma vez que, a partir deste elemento, seria possível interpretar o que poderia ser classificado como a ‘realidade’ vivenciada pelas mulheres no âmbito do trabalho. É importante salientar que as mesmas autoras definem representações sociais como “formas de conhecimento que procuram englobar o caráter intersubjetivo de conceitos, atitudes e opiniões, abordando os aspectos simbólicos e subjetivos dos comportamentos humanos e suas relações com o meio social”. 2. 2. 4 Big Five Personality Model (Modelo Big-Five) No último tópico desta seção, é apresentado o Big-five Personality Model, uma ferramenta para identificação de características comportamentais das pessoas, já difundida nos Estados Unidos, a ser referida doravante como Modelo Big-Five. Durante a pesquisa bibliográfica observou-se a aplicação do modelo em diversos artigos acadêmicos cujo tema envolvia empreendedorismo. Por essa razão, foi utilizado na pesquisa de campo para atender ao segundo objetivo específico deste trabalho e é descrito na seqüência. 2. 2. 4.1 Origens do Modelo Big-Five O modelo teve como origem os estudos da linguagem natural realizados com vistas a encontrar traços característicos de personalidade. Ainda no início dos anos 1930, McDougall, nos EUA, sugeriu analisar a personalidade a partir de cinco aspectos (intelecto, caráter, temperamento, disposição, e humor), como destacam Hutz et al. (1998). No mesmo período, estudos semelhantes foram realizados também na Alemanha. Também destacada como origem do modelo Big-Five o sistema de Cattell para descrição da personalidade humana, baseado em análises fatoriais de descrições de características de personalidade obtidas 69 mediante entrevistas, questionários etc. A metodologia inerente a esse sistema permitiu agrupar centenas de descrições de traços de personalidade, originando o modelo. Mas apenas no final da década de 1970 retornaria o interesse pela área de avaliação psicológica em geral e, desse modo, modelos estruturais de personalidade, como o Big-Five, tornaram-se populares de novo. E nos últimos dez anos tem crescido o consenso entre pesquisadores quanto à solidez dos cinco fatores do Big-Five – cada vez mais considerados como o melhor modelo estrutural para a descrição de personalidades e comportamentos. De acordo com McAdams (apud Hutz et al., 1998), os cinco fatores do modelo se referem a uma série de informações fundamentais que, via de regra, se quer obter de pessoas com quem um indivíduo vai interagir, por exemplo, em situações de trabalho ou que envolvem negociação. Ou seja, os cinco fatores sugerem uma preocupação no sentido de se conseguir um determinado conjunto de informações sobre uma pessoa. Hutz et al. (1998), mostram que as pessoas, comumente, desejariam saber, a respeito de um indivíduo eventualmente observado, os seguintes aspectos, que correspondem aos fatores analíticos do Modelo Big-Five: - ativo/dominante ou passivo/submisso; - agradável/amistoso ou desagradável/frio/distante; - responsável ou negligente; - imprevisível ou "normal"; e - esperto ou tolo; 2. 2. 4.2 O Modelo Big Five hoje Além da aplicação a muitos artigos acadêmicos (Bradstätter, 1997; Digman, 1990; Salgado, 1997; Collins e Gleaves, 1998; Smith, Smits e Hoy, 1992), entre outros, existe atualmente um esforço sistemático de teste e aperfeiçoamento do modelo, com acompanhamento de pesquisadores localizados em universidades americanas, como se pode constatar no site http://www.outofservice.com.bigfive. O modelo compreende, conforme foi descrito anteriormente, cinco aspectos diferentes da personalidade, mensurados por escalas. Apesar de Hutz et al. (1998) haverem traduzido o nome e as dimensões analisadas no modelo, preferiu-se nesta dissertação traduzir novamente os cinco aspectos de personalidade analisados diretamente do trabalho de Envick e Langford (2003), por se considerar a 70 nomenclatura por elas utilizada adequada ao tema empreendedorismo e também porque esse artigo que trouxe referências importantes para a dissertação. Fundamentalmente, as autoras empregaram o modelo Big-Five para estabelecer diferenças entre empreendedoras e empreendedores, no contexto dos Estados Unidos. Segue a explicação das dimensões ou aspectos analisados no modelo conforme tradução da autora da dissertação, mais próxima do original, que explicitam a variação de cada aspecto entre dois extremos e do modo como foram utilizados no trabalho de campo: - capacidade de adaptação, variando entre a autoconfiança e a insegurança; - sociabilidade, variando desde extroversão até a introversão; - autocontrole, compreendendo em um extremo a dimensão da impulsividade e, no outro, a da cautela; - estilo de liderança/atuação, que divide os empreendedores em dispostos a trabalhar em equipes ou mais voltados para si; individualistas; e - a tendência intelectual que compreende, por um lado, os empreendedores mais práticos e, de outro, aqueles que tem a originalidade como marca. Os resultados da pesquisa reportada no trabalho de Envick e Langford (2003) indicaram que, no âmbito do empreendedorismo norte-americano, as mulheres se mostraram mais ‘abertas’ do que os homens, ou seja, apresentaram maior disposição para enfrentar os desafios desta atividade usando o trabalho em equipe como estratégia fundamental. Além disso, as empreendedoras apresentaram maior sociabilidade, adaptabilidade e espírito de cooperação. Os homens, por sua vez, apresentaram maior cautela e originalidade na condução de seus negócios. Em outro estudo, realizado por Lippa (1995), os fatores socialização, extroversão e vontade mostraram diferenças pequenas a favor das mulheres e, com relação aos outros fatores, não foram identificadas diferenças significativas. Esses resultados referem-se ao ambiente norte-americano e não devem ser transportados para a realidade brasileira. No entanto, o modelo mostrou-se adequado para atender o segundo objetivo específico do trabalho, que foi adaptado a ele, como se pode observar na introdução do trabalho. Assim, os termos utilizados para medir possíveis distinções comportamentais entre homens e mulheres, conforme explicação anterior foram os seguintes: - confiabilidade x instabilidade; - extroversão x introversão; 71 - impulsividade x cautela; - orientação para equipe x interesse próprio; - praticidade x originalidade. 72 3. METODOLOGIA Para que os objetivos estabelecidos fossem satisfatoriamente alcançados, o procedimento metodológico adotado foi a uma abordagem exploratório-descritiva, que utilizou um estudo de casos múltiplos como estratégia de pesquisa. 3.1 Tipo de pesquisa De acordo com Collis e Hussey (2005) a pesquisa exploratória é realizada quando há poucos ou nenhum estudo ou informações sobre a questão ou problema em estudo. É adequada à busca e formulação de padrões, idéias ou hipóteses, em vez do teste de hipóteses. Na percepção de Richardson (1999), tem como finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas à formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis em estudos posteriores, sendo que, comumente, envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Já a pesquisa descritiva, de acordo com Richardson (1999), tem como finalidade observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos – sem manipular variáveis. Também busca descobrir a freqüência com que um fenômeno ocorre, bem como sua relação e conexão com outros fenômenos, sua natureza e características. A pesquisa descritiva, em suas diversas formas, trabalha sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade, sendo que os principais instrumentos de coleta de dados são a observação, a entrevista e o questionário. O autor observa ainda outras características: este tipo de pesquisa abrange aspectos gerais e amplos de um contexto, e descreve relações de causa e efeito. Devese destacar também que a pesquisa descritiva não interfere na realidade, apenas interpreta fatos que influenciam os fenômenos estudados, estabelecendo correlações entre as variáveis e, necessariamente, deve ter fundamentação teórica e prática. Collis e Hussey (2005) afirmam que a pesquisa descritiva vai além da pesquisa exploratória, pois avalia e descreve características das questões pertinentes. A opção por este encaminhamento da pesquisa (exploratório-descritiva) tem como principal argumento a possibilidade de aprofundar os conhecimentos relativos às atuações empreendedoras de mulheres e homens, para, em estudos futuros, ser possível a realização de pesquisas com enfoques mais direcionados. 3.2 Estratégia de pesquisa O texto que segue descreve a estratégia de pesquisa utilizada (estudo de oito casos múltiplos), 73 escolhida em função de sua adequação aos questionamentos e objetivos do trabalho e se apóia principalmente na obra de Yin (2005), o principal pesquisador nessa área metodológica. Esse autor afirma que a escolha de uma estratégia de pesquisa deve se dar em função de três condições: a) o tipo de questão de pesquisa proposta; b) a extensão de controle que o pesquisador tem sobre os eventos pesquisados e c) quanto a pesquisa está focada em eventos contemporâneos ou históricos. Para caracterizar um estudo de caso é necessário que se trate de um trabalho empírico que investiga um fenômeno atual dentro de seu contexto da vida real, com questões do tipo ‘como’ e ‘por que’, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão bem definidos. A questão desta pesquisa, do tipo ‘como’ foi formulada na Introdução do seguinte modo: “Como mulheres e homens brasileiros empreendedores atuam no mercado?”, além de ser adequada a estudos exploratórios e descritivos, indica que o estudo atende também às outras duas condições, respectivamente ser um evento contemporâneo e não haver limites claros entre o fenômeno estudado (atuação de mulheres e homens empreendedores) e seu contexto (ambiente econômico-empresarial). Outro argumento que pode ser utilizado a favor da opção pelo estudo de caso é a existência de uma quantidade expressiva de pesquisas na área de administração com resultados satisfatórios do ponto de vista acadêmico, como torna evidente o estudo de Silva (2002). Além disso, Yin (2005) destaca a possibilidade do estudo de caso apresentar-se como poderoso instrumento de pesquisa, uma vez que a opção por uma metodologia ocorre fundamentalmente em função do objeto de pesquisa, que, via de regra, demanda uma estratégia de pesquisa mais apropriada – considerando variáveis diversas, a exemplo da necessidade de maior ou menor controle sobre o fenômeno ou objeto observado – sendo papel do pesquisador discernir com cuidado entre uma série de possibilidades e estratégias, que incluem, dentre outras, a experimentação e a pesquisa histórica. 3.3 Projeto de pesquisa e unidade de análise Quanto ao projeto de estudo de caso, Yin (2005) enfatiza quatro tipos, classificados dois a dois: os casos únicos, com apenas uma ou com várias unidades de análise (estas últimas chamadas de unidades incorporadas); e os casos múltiplos, do mesmo modo, com uma ou com várias unidades de análise. Cada um dos quatro tipos serve a um propósito diferente e 74 específico a ser estudado, conforme características dos objetivos da pesquisa e da necessidade e possibilidade de replicação. As unidades de análise definem o foco do estudo a ser realizado e podem corresponder a uma pessoa, a grupos de pessoas, a organizações, ou ainda a coisas menos concretas, como idéias ou processos organizacionais. O presente estudo caracteriza-se como um projeto de casos múltiplos – em número de oito, conforme colocado anteriormente – com uma única unidade de análise: a pessoa do empreendedor. Esse tipo de projeto foi considerado o mais adequado para atender à questão e aos objetivos de pesquisa que, em sua forma geral visam investigar a atuação profissional de homens e mulheres empreendedores brasileiros em seus mercados. Assim, o conjunto de oito casos escolhido corresponde a quatro empreendedoras e quatro empreendedores, atuantes em dois segmentos econômicos distintos (serviços e indústria) com no mínimo cinco anos de existência no mercado em que atua e independentemente da quantidade de sócios. O tipo de replicação presente no trabalho é de caráter linear e visa confirmar as proposições colocadas na Introdução, fortalecendo os argumentos nelas contidos e também referendando, com maior intensidade, o estudo de casos múltiplos realizado. 3.4 Coleta de dados e trabalho de campo A primeira etapa da coleta de dados correspondeu à revisão bibliográfica – voltada ao levantamento e fichamento de material bibliográfico referente ao objeto da pesquisa, o que consiste, mais especificamente, na averiguação da existência de dissertações, teses, livros, periódicos e bibliografia eletrônica (CD-ROMS, Internet etc.) dedicados ao tema, ou seja, a seleção de material já publicado - no Brasil e no exterior -, com vistas a estruturar o arcabouço teórico / conceitual a ser utilizado na análise dos dados. O instrumento de coleta foi moldado como um detalhamento dos objetivos específicos em função de resultados de pesquisas anteriores encontrados na fase de revisão bibliográfica, de forma a captar aspectos relativos: às características pessoais dos empreendedores (origem, educação, experiência profissional e vida pessoal); distinções de aspecto comportamental; e experiência executiva dos empreendedores (ver Anexo I). Durante o trabalho de campo foi observado um procedimento básico na realização deste tipo de pesquisa: explicitar aos entrevistados que suas declarações serão utilizadas com finalidades estritamente acadêmicas, tendo o estudo a compromisso de não utilizar/divulgar quaisquer 75 dados que violem a privacidade dos empreendedores que venham a colaborar com a pesquisa. Como fontes de evidência adicional, foram utilizadas as técnicas observação direta e, em menor intensidade, exame, de artefatos físicos, como produtos fabricados. 3.5 Análise dos dados A orientação básica para analisar os dados coletados se baseou em duas abordagens: uma ‘vertical’ e outra ‘horizontal’. A abordagem vertical corresponde à apresentação dos dados coletados em campo pela apresentação e descrição de cada empreendedor através do roteiro de pesquisa. Assim, foram descritas as características pessoais, comportamentais e a atuação executiva de cada um dos oito empreendedores separadamente. Exprimindo essa idéia de uma outra forma, a abordagem vertical descreve os casos estudados um após o outro. Em seguida, utilizou-se a abordagem denominada horizontal, que consistiu na comparação das respostas fornecidas por todos os empreendedores entrevistados a cada questão a eles formulada. Esses procedimentos conduziram ao alcance de grande riqueza e profundidade de análise, permitindo a produção de comparações que permitiram agrupar os empreendedores segundo determinadas categorias e características. 76 4. RESULTADOS A pesquisa de campo foi realizada junto aos donos e/ou sócios das empresas escolhidas, no período de 29/06/2005 a 08/07/2005. Estas pessoas foram escolhidas devido à maneira personalizada de administração que cada uma adota em suas empresas. Conforme já descrito este trabalho tem como objetivo geral estudar a atuação profissional de homens e mulheres empreendedores. Justificando assim a escolha destas empresas, que como já dito, seus sócios procuram administrá-las de maneira muito pessoal, diferenciando-se de outras empresas no mesmo ramo de atuação. Inicialmente é apresentada a descrição de cada empreendedor e sua empresa, conforme a seqüência do roteiro mostrado no anexo 1. Essa abordagem foi chamada de “vertical”, por caracterizar cada empreendedor através das questões do roteiro de pesquisa. Contemplando assim o primeiro objetivo específico que é o de conhecer as características pessoais de empreendedoras e empreendedores relacionados à sua origem, trajetória educacional, experiência profissional anterior e vida pessoal. 77 4.1. CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDEDORES ENTREVISTADOS E SUAS EMPRESAS Quadro 9 – Perfis dos empreendedores entrevistados e Características de suas empresas Perfil do Entrevistado 1 2 3 4 Nome Aparecida Alexandrino dos Santos Antonio Salvador Morante Pedro Aparecido Bovolenta Sandra Regina Marques de Barros Martins Idade: 38 anos 60 anos 45 anos 35 anos Sexo: Feminino Masculino Masculino Feminino Grau de Instrução: 2º grau Doutor Superior Incompleto especialista Domínio de idiomas estrangeiros: Nenhum Inglês e Espanhol Inglês Básico Inglês Técnico Atividades desempenhadas na empresa: Administrativo, financeiro, relacionamento com o cliente. Todas. Financeiro, operacional, comercial, administrativo, sempre em conjunto com o gerente da área, contato com clientes. Proprietário, gerente, relações públicas, “meio de campo”, mecânico, técnico e conselheiro. Planejamento, diretriz, treinamento, administração, contato com clientes, ajuda no desenvolvimento de partes de sistemas. Características da Empresa 1 2 3 4 Ramo de atividade: Prestadora de Serviços de Mecânica Prestadora de Serviços de Segurança e Limpeza Prestadora de Serviços de Mecânica Prestadora de Serviços de Informática Número de empregados: 12 150 15 6 Número de sócios: 1 2 1 2 Nome da Empresa: Automecânica Gaivota do Lago Grupo FB Ltda Centro Automotivo Aidê Ltda. Barros Martins Consultoria e Treinamento em Informática Ltda. Anos de existência: 7 anos 25 anos 25 anos 6 anos Produtos/Serviços: Conserto, funilaria e pintura de autos nacionais e importados. Limpeza e Segurança Conserto, funilaria e pintura de autos nacionais e importados. Consultoria, treinamento e desenvolvimento de software 78 Perfil do Entrevistado 5 6 7 8 Nome Jeanlis Brito Zanatta Marielza Pinto de Carvalho Milani Paulo Sérgio Nogueira Lopes Rosely M Boschini Idade: 30 anos 58 anos 41 anos 49 anos Sexo: Masculino Feminino Masculino Feminino Grau de Instrução: Graduado Graduado Especialista Especialista Domínio de idiomas estrangeiros: Nenhum Nenhum Inglês Inglês, Alemão. Atividades desempenhadas na empresa: Desenvolvimento de produtos, comercial, comércio exterior, financeiro, RH, projetos, busca de novos mercados financeiro, comercial e produção. Marketing Marketing, Planejamento, comercialização, contato com autores. Características da Empresa 5 6 7 8 Ramo de atividade: Indústria – Fabricação de Respiro, pinos e buchas Indústria / Confecção de tecidos Indústria – Confecção de vestuário Indústria: Editora Número de empregados: 13 40 104 diretos, 500 indiretos 40 Número de sócios: 1 2 3 2 Nome da Empresa: Ventistamp Metalúrgica Ltda Lerma Indústria e Comércio Ltda. Temfit Comércio e Vestuário Ltda Editora Gente Ltda Anos de existência: 9 anos 39 anos 16 anos 21 anos Produtos/Serviços: Respiros e acessório para fundição Tecelagem para decoração Vestuário para surf Editoração de Livros de desenvolvimento humano e de gestão. 79 - Entrevistado e Empresa 1 A primeira entrevistada chama-se Aparecida Alexandrino dos Santos, tem 38 anos de idade, é divorciada e mãe de um filho. Grau de instrução: segundo grau completo. Esta foi sua primeira e única experiência como empreendedora. O principal motivo para a empreendedora iniciar sua atividade foi a necessidade de recuperar o investimento feito pelo ex-marido em um negócio próprio – aproximadamente 40 dias após abrir a oficina mecânica, o então novo pequeno empresário estava propenso a fechar o negócio, por falta de habilidade em comunicação. Mas após três anos de funcionamento da empresa, a sociedade e o casamento foram desfeitos, sendo que atualmente apenas Aparecida administra toda a oficina. A empresa já possui 7 (sete) anos de existência, e atua na prestação de serviços automotivos – contando, em 04 de julho de 2005, com 12 (doze) empregados. Todos são profissionais já formados e especializados em suas áreas de atuação, e com ampla experiência no mercado – o que acabou gerando um quadro de funcionário com uma faixa etária mais avançada do que a média que se costuma encontrar no mercado brasileiro. Ou seja, nesta empresa dá-se preferência a profissionais acima de 40 anos de idade, pelo fato da proprietária acreditar que os resultados dos trabalhos são executados de maneira mais rápida, eficiente e com menos custos. A escolha desta empreendedora para a pesquisa – assim como a entrevistada Sandra Regina – deve-se ao fato de sua atuação ocorrer em um ramo com pouca presença feminina, onde, segundo o próprio depoimento da entrevistada, ainda há muitos preconceitos: ...ainda tem muito preconceito. Têm homens que dizem: “mas a senhora vai fazer o orçamento?” Eles chegam procurando o funileiro, e eu pergunto: “funileiro pra quê?”. As pessoas que eu atendo pela primeira vez, sempre têm um impacto. Elas pedem alguém para fazer orçamento e eu digo que sou a orçamentista e posso fazer isso. Muitas vezes eles fazem o orçamento e não voltam, porque eles não acreditam na gente, não têm confiança. Têm muitos que, se é a primeira vez e vêm sem indicação, nem deixam o carro para fazer o serviço, mas também têm muitos que deixam o carro, dão um voto de confiança e muitos homens e também mulheres elogiam o meu serviço. 80 - Entrevistado e Empresa 2 O segundo entrevistado foi o Prof. Antonio Salvador Morante, 60 anos de idade, casado, três filhos, doutor e mestre em Ciências Contábeis (e graduado em Administração, Contábeis e Economia). Além de desenvolver a atividade empreendedora também é professor universitário da Universidade Paulista (UNIP), onde coordena os cursos de Administração de Empresas e Comércio Exterior. Em 2005 a empresa em que é sócio completou 25 anos de atuação, porém o entrevistado ingressou posteriormente a sua fundação – o empreendedor foi convidado por um de seus atuais sócios a participar da empresa. A escolha deste empreendedor para a pesquisa ocorreu em função de suas novas idéias na empresa – que possuía um perfil retrogrado e foi totalmente modificada –, com contratações de pessoas qualificadas, além do alto investimento em treinamento e o incentivo ao ingresso de funcionários em cursos superiores, principalmente na área do Direito. A filosofia da empresa tem como prioridade estimular a autonomia de ação para todos que desempenham a função de gerentes – os quais, conforme o entrevistado destacou, têm liberdade para agir como proprietários da empresa. Com todas essas mudanças implantadas, a empresa passou a ser vista por seus clientes, parceiros e fornecedores como ágil e eficiente. Além disso, a empresa vem sendo adotada como laboratório de pesquisas para alunos dos cursos de Administração e COMEX. Ou seja, as modificações adotadas na empresa – e que muitos empresários não enxergam com bons olhos – mostrou-se positiva na prática cotidiana. O Grupo FB Ltda teve inicio em 1980, e trata-se de uma empresa especializada na prestação de serviços de Limpeza e Segurança. Em 24 de junho de 2005, possuía 150 (cento e cinqüenta) empregados, e está alocada na Av. Corifeu de Azevedo Marques, 443 -São Paulo/SP. - Entrevistado e Empresa 3 Para dar melhor sustentação empírica à pesquisa, foi procurado um empreendedor atuante no mesmo ramo de negócio que a entrevistada Aparecida, resultando na escolha do empreendedor Pedro Aparecido Bovolenta, proprietário do Centro Automotivo Aidê. O entrevistado tem 45 anos de idade, é casado, tem uma filha e cursou até o 2º ano de Engenharia, além de ter participado de vários cursos na área de injeção eletrônica, bem como de cursos profissionalizantes para conserto de automóveis nacionais e importados. 81 Pedro também só teve experiência como empreendedor neste negócio, atuando anteriormente como empregado do ramo de mecânica durante sua adolescência (dos 10 até os 17 anos). Em seguida abriu sua oficina mecânica, que já existe há 25 anos. O negócio foi aberto com várias dificuldades, inclusive porque o entrevistado trocou um emprego de muitos anos pelo desafio do negócio próprio. E, por falta de experiência, seu empreendimento em princípio estava reduzido à busca de sobrevivência no mercado. A empresa é constituída sob a forma Limitada, pois desde o início Pedro é seu único proprietário. Em 04 de julho de 2005 contavam-se 15 (quinze) empregados. - Entrevistado e Empresa 4 Sandra Regina Marques de Barros Martins, é sócia e proprietária da empresa Barros Martins Consultoria e Treinamento em Informática Ltda., tem 35 anos de idade, é casada e possui um filho. É formada em Pedagogia e fez pós-graduação em Administração Escolar. A escolha desta empreendedora para participar da pesquisa ocorreu devido ao fato da maioria dos seus clientes serem empresas governamentais, exigindo assim, que ela passasse sempre por processos de licitação – ramo dominado por homens mas, como demonstrado na entrevista, que pode ser muito bem desenvolvido por mulheres competentes. A primeira fase da empresa foi marcada por serviços de treinamento e atualmente presta-se consultorias a diversas empresas em todo o território nacional, a exemplo da Companhia do Metropolitano de São Paulo, CDQD (Centro de Campinas), SPTrans, EMTU, Faculdade Trevisan e Prefeitura de Itatiba. As atividades da empresa iniciaram-se no ano de 1999, e seu ramo é a consultoria na área de informática – sua atuação compreende todo o território brasileiro, e seu ponto forte são os treinamentos in loco nas empresas. Sua principal atuação é na área de Open Office, que, de acordo com o depoimento da entrevistada, vem ganhando muito espaço no mercado brasileiro, principalmente nas empresas governamentais, pelo fato destas não pagarem licenças para uso do Office. A empresa possui personalidade jurídica limitada, composta pelos sócios Sandra Regina Marques de Barros Martins (entrevistada) e Renato Bomfim Martins. Em 26 de junho de 2005, contava com um total de 06 (seis) empregados, e seu mercado de atuação encontrase, em sua totalidade, dentro do território brasileiro. 82 Todos os quatro casos apresentados são pertencentes ao ramo de prestação de serviços. Porém, do quinto ao oitavo entrevistados – apresentados nas próximas páginas – o ramo de atuação é o industrial. - Entrevistado e Empresa 5 O quinto entrevistado foi o Sr Jeanlis Brito Zanatta, da empresa Ventistamp Metalúrgica Ltda, localizada em Louveira, interior do Estado de São Paulo. Jeanlis tem 30 anos de idade, é solteiro, pai de uma filha, e seu grau de instrução é superior completo em Matemática. Também cursou, mas não concluiu, as faculdades de Filosofia, Ciências Sociais e Economia, além de ter iniciado um curso de especialização em engenharia industrial e um mestrado – ambos igualmente não concluídos. A finalidade de iniciar suas atividades empreendedoras foi ajudar o pai – que já fazia peças no processo de fabricação de usinados. Mas com o aparecimento dos alemães neste setor, estes trouxeram para o país inovações técnicas que acabaram conquistando todo o mercado. O negócio original de seu pai foi baseado em um sonho empreendedor, sem um plano de negócio ou qualquer ferramenta de gestão de negócios. Porém, existia uma boa idéia, que foi desenvolvida ao longo de dois anos – foi estabelecido um processo de produção, além da primeira linha de respiro de produtos. Superada esta primeira fase, muito problemática devido à falta de conhecimento técnico, a linha original – pouco satisfatória tecnicamente –, após mais seis meses estudo e aprimoramento das peças, foi substituída por outra linha de produtos, que começaram ser comercializados no mercado. Seu ramo de atividade é a fabricação de respiros, pinos e buchas, e registra atualmente 9 (nove) anos de existência. Em 08 de julho de 2005 contavam 13 (treze) empregados, tendo como único proprietário o Sr. Jeanlis Brito Zanatta. Atualmente seu pai trabalha como funcionário da empresa. - Entrevistado e Empresa 6 A 6ª entrevistada foi a Sra. Marielza Pinto de Carvalho Milani, 58 anos de idade, casada, 2 filhos, graduada em Engenharia Química. Também cursou até o terceiro ano de Direito e possui pós-graduação em Administração. 83 Além de suas atividades na empresa a entrevistada participa da diretoria de alguns conselhos de classe – representantes do seu ramo de atuação –, o que amplia significativamente seus relacionamentos com concorrentes e fornecedores, além de contribuir para os resultados positivos de sua atuação como empreendedora. Sua empresa iniciou atividades no ano de 1966. Em 05/07/2005 constavam em seu quadro de funcionários 40 (quarenta) empregados. Uma das características do seu quadro de funcionários – a exemplo do observado com a entrevistada Aparecida – é a presença de muitos empregados na faixa de 40 anos de idade, o que facilita, na visão da empreendedora, todo o processo produtivo da fábrica. - Entrevistado e Empresa 7 O sétimo entrevistado foi o Sr. Paulo Sérgio Nogueira Lopes, um dos proprietários da Empresa de Confecção Antiqueda. Paulo tem 41 anos de idade, é casado, possui uma filha, é Engenheiro e Administrador de Empresas por formação e possui pós-graduação em Marketing e Matemática Financeira. Sua empresa já possui atuação fora do País (Espanha, Portugal, Itália e Japão), fazendo com que ele viaje pelo menos três vezes ao ano para o exterior. No Brasil possui 600 pontos de vendas. Paulo identificou essa oportunidade de negócio ainda adolescente, quando teve que começar a cumprir estágios na área de engenharia. Percebendo que não se identificava com a profissão, iniciou – paralelamente ao estágio – a venda de roupas para surfistas. Uma vez que ficou satisfeito com os resultados iniciais, decidiu investir mais nessa atividade. Este empreendimento teve o início de suas atividades registrado no ano de 1989. É uma empresa especializada na fabricação de vestiário para surf, e possui 3 (três) sócios, sendo o Sr. Paulo Sérgio Nogueira Lopes – o entrevistado – responsável pelo Marketing da empresa. Em 24 de junho de 2005, possuía 104 (cento e quatro) empregados, e mais de 500 indiretos. A empresa está localizada na cidade de Santos/SP. - Entrevistado e Empresa 8 A última entrevistada é da Sra. Rosely M. Boschini. Casada, 49 anos de idade, 3 filhos, mestre em Administração e pós-graduada em Marketing, também é graduada em 84 Arquitetura e possui fluência nos idiomas Inglês e Alemão. Atualmente é sócia-proprietária da Editora Gente Ltda. Antes de se tornar sócia da empresa sua experiência profissional foi no ramo da construção civil. Rosely foi então foi convidada por seu irmão, fundador da editora, a ajudá-lo a administrar a empresa. Mesmo sem entender do negócio enfrentou todos os desafios, buscando ajuda inclusive entre seus concorrentes – muitos dos quais, conforme ela afirma, são contatos próximos e atuam de modo exemplarmente ético (uma distinção própria do mercado editorial, de acordo com a entrevistada). Sua decisão em entrar para esse ramo de atuação não ocorreu por motivos financeiros, mas por realização profissional, pois iria coordenar uma empresa e colocar em prática todos os seus projetos. Além de suas atividades na empresa é atualmente vice-presidente da Associação Brasileira do Livro, tendo que se ausentar por diversas vezes do país para representar a instituição em entidades e eventos internacionais. A Editora Gente Ltda. iniciou suas atividades no ano de 1984, estando, portanto, com 21 anos de atividade. Tem como ramo de atividade a Editoração de Livros e contava com 40 (quarenta) pessoas em seu quadro de funcionários em 04/07/2005. É uma empresa constituída sob a forma limitada e possui 2 sócios – a sra. Rosely M. Boschini e Roberto Shinyashiki. No que diz respeito, especificamente, ao primeiro objetivo, “Conhecer as características pessoais de empreendedoras e empreendedores relacionados à sua origem, trajetória educacional, experiência profissional anterior e vida pessoal”, é pertinente destacar algumas respostas obtidas nos diversos relatos: Jeanlis: A minha experiência profissional é toda na empresa. estou aqui desde os 20 anos. Aparecida: Antes eu era empregada, trabalhava com confecção, era vendedora. (...) hoje eu administro, faço orçamentos, compro material, eu trato com o público, a responsabilidade toda é minha. Marielza: Eu trabalhei na Rhodia durante quase 16 anos, atuando na área de qualidade, pesquisa, financeira, comercial. Depois fui convidada para trabalhar na Lerma. Como diretora superintendente, trabalhei durante 12 anos como diretora, depois me ofereceram se eu queria comprar a Lerma, pagando com o lucro que ela gerava. Topei o desafio e já estou há 9 anos. Paulo: Fui gerente de uma confecção por 05 anos, hoje tenho uma empresa, uma confecção, há 16 anos, estamos com 600 pontos de venda no Brasil, exportamos para a Espanha, Portugal, Itália e Japão. 85 Pedro: Trabalhei como empregado nesse ramo de mecânica dos 10 até os 17 anos no mesmo lugar. Depois abri o meu próprio negócio onde estou até hoje. Antonio: Eu tive três empregos anteriores, um eu cheguei a assistente da diretoria o outro eu cheguei a superintendente e um outro a controller Rosely: Antes da empresa trabalhei na construção civil por 10 anos, trabalhava na frente de obras, com os piões. Sandra: Antes da empresa trabalhei no Bradesco – Cidade de Deus – onde tinha o centro de informática, e foi quando começou surgiu o meu interesse pela área. A partir daí, comecei a procurar outra empresa onde pudesse trabalhar com Informática. trabalhei como operadora de sistemas, como desenvolvedora, até chegar num limite onde eu disse: “Agora eu quero buscar o meu caminho”. Foi aí que tentei começar a montar a minha empresa, começar com treinamentos e chegamos onde estamos hoje. Com relação ao segundo objetivo delimitado, “Observar possíveis distinções de aspecto comportamental entre empreendedoras e empreendedores...”, foram obtidos os seguintes resultados, a partir da análise realizada segundo os padrões estabelecidos pelo “Big Five”: 86 Quadro 10: Resultado da análise dos parâmetros Confiabilidade x Instabilidade Confiabilidade x Instabilidade Pessoas com pontuações altas tendem a ser de confiança, bem organizadas, disciplinadas, cuidadosas; pontuações baixas são caracterizadas a pessoas desorganizadas, em que não se podem confiar, negligentes. Nome Percentual Descrição Aparecid a 47% Não é organizado nem desorganizado. Antonio 97% Muito bem organizado / alguém que se possa contar. Pedro 79% Bem organizado e de confiança. Sandra 69% Bem organizado e de confiança. Jeanlis 58% Não é organizado nem desorganizado. Marielza 47% Não é organizado nem desorganizado. Paulo 30% Tende a ser desorganizado. Rosely 86% Muito bem organizado / alguém que possa se contar. Jeanlis/Aparecida/Marielza: Não são organizados nem desorganizados. Sandra/Pedro: São bem organizados e de confiança. Paulo: Tende a ser desorganizado. Antonio/Rosely: São muito bem organizados / pessoas com quem se pode contar. No item organização somente um homem apresentou tendência à desorganização. Duas mulheres e um homem mostraram meio termo – não tendendo nem para uma pessoa organizada e nem uma pessoa desorganizada. Já os demais, que representam metade da amostra, estão na posição de pessoas com tendência à organização. Resultando assim, quanto à questão de gênero, numa situação de equilibro entre os entrevistados. Analisando a partir das áreas de atuação (serviços e indústria) verifica-se que os empreendedores atuantes na prestação de serviços apresentam um percentual mais elevado no critério Confiança, ficando somente um deles abaixo da média. Nos empreendedores atuantes na área da industrial observa-se que dois ficaram abaixo da média. 87 Quadro 11: Resultado da análise dos parâmetros Extroversão x Introversão Extroversão x Introversão Pontuações altas são características de pessoas sociáveis, amigáveis, que gostam de se divertir e que gostam de falar muito; pessoas com baixa pontuação tendem a serem introvertidas, reservadas, inibidas, caladas. Nome Percentual Descrição Aparecida 91% Muito extrovertido, sociável e dinâmico. Antonio 09% Provavelmente acha melhor ficar em casa sozinho. Pedro 74% Relativamente sociável e gosta da companhia de outras pessoas. Relativamente sociável e gosta da companhia de outras 79% pessoas. Sandra Jeanlis 59% Não é nem muito social nem muito reservado. Marielza 86% Muito extrovertido, sociável e dinâmico. Paulo 89% Muito extrovertido, sociável e dinâmico. Rosely 89% Muito extrovertido, sociável e dinâmico. Jeanlis: Não é nem muito social nem muito reservado; Sandra/Pedro: Relativamente sociáveis e gostam da companhia de outras pessoas; Paulo/Aparecida/Rosely/Marielza: São muito extrovertidos, sociáveis e dinâmicos; Antonio: Provavelmente gosta de ficar em casa sozinho. No item extroversão, observa-se uma tendência das mulheres a serem extrovertidas, uma vez que o resultado apontou três das quatro mulheres entrevistadas como vinculadas a esta característica. Já no caso dos homens a tendência foi a de serem pessoas mais reservadas. Na análise por ramo de atuação verifica-se que o maior nível de socialização está nas pessoas atuantes na indústria, na comparação com as pessoas que atuam nas empresas prestadoras de serviços. 88 Quadro 12: Resultado da análise dos parâmetros Impulsividade x Cautela Impulsividade x Cautela Pontuações altas são características de pessoas que tendem a serem nervosas, tensas, inseguras, que se preocupam muito; pessoas com baixa pontuação tendem a serem calmas, seguras de si mesmas, emocionalmente estáveis. Nome Percentual Descrição Aparecida 66% Tende a ser ansioso ou nervoso. Antonio 55% Não é nervoso nem calmo. Pedro 32% É geralmente calmo. Sandra 22% É geralmente calmo. Jeanlis 03% Marielza Provavelmente mantém a calma, mesmo em situações tensas. Provavelmente mantém a calma, mesmo em situações 11% tensas. Paulo 43% Não é nervoso nem calmo. Rosely 22% É geralmente calmo. Jeanlis/Marielza: Provavelmente mantém a calma, mesmo em situações tensas; Rosely/Pedro/Sandra: Geralmente calmos; Paulo/Antonio: Não são nervosos nem calmos; Aparecida: Tende a ser ansioso ou nervoso. Conforme a análise deixou clara, em sua grande maioria os empreendedores tendem a ser pessoas calmas – deste modo, potencialmente abertas ao diálogo e capazes de administrar conflitos e situações estressantes (sempre presentes no cotidiano das atividades profissionais do empreendedor), demonstrando que, com relação à questão de gênero, é possível afirmar que não há diferenças significativas dentro característica Analisando o ramo de atuação percebe-se que os empreendedores atuantes na indústria possuem uma pontuação menor que os empreendedores na área de prestadores de serviços – atingindo o índice de pessoas mais equilibradas, mesmo em situações tensas. 89 Quadro 13: Resultado da análise dos parâmetros Orientação para a equipe x interesse próprio Orientação para a equipe x interesse próprio Pontuações altas são características de pessoas que tendem a serem boas, simpáticas, complacentes, corteses; pessoas com baixa pontuação tendem a serem críticas, arrogantes, insensíveis e frias. Nome Percentual Descrição Aparecida 79% Tende a considerar os sentimentos dos outros. Antonio 38% Facilmente expressa irritação com outras pessoas. Pedro 69% Tende a considerar os sentimentos dos outros. Sandra 63% Tende a considerar os sentimentos dos outros. Jeanlis 83% Pessoa generosa, cortês e auxiliadora. Marielza 83% Pessoa generosa, cortês e auxiliadora. Paulo 63% Você tende a considerar os sentimentos dos outros. Rosely 74% Tende a considerar os sentimentos dos outros. Jeanlis/Marielza: Pessoas generosas, cortêses e auxiliadoras. Sandra/Paulo/Aparecida/Rosely/Pedro: Tendem a considerar os sentimentos dos outros. Antonio: Facilmente expressa irritação com outras pessoas. A análise destaca, portanto, que cinco (3 mulheres e 2 homens) dos empreendedores entrevistados tendem a considerar com atenção os sentimentos dos outros. Dois são consideradas pessoas generosas, cortêses e auxiliadoras, demonstrando que os empreendedores não são pessoas egoístas e que só visam seu próprio crescimento - como apontado nos mitos de Farrel. Somente um dos empreendedores demonstrou que se irrita facilmente com outras pessoas. Com relação às áreas de atuação, tanto os empreendedores que atuam na prestação de serviços como na indústria ficaram com pontuação acima da média, sendo que somente um – na área de prestação de serviços – não possui a característica de uma pessoa generosa, cortês e preocupada com os sentimentos dos outros (desviando-se, assim, dos outros entrevistados). Mas pode-se concluir que, independente da área de atuação, os empreendedores entrevistados são pessoas preocupadas com a satisfação das outras pessoas em suas atuação profissionais. 90 A comparação dos resultados obtidos nas análises das características Impulsividade x Cautela e Orientação para a equipe x Interesse próprio, remete ao estudo apontado no tópico 1.1.1 de Scorzafave (2001) – no qual afirma-se que os empreendedores, muito provavelmente, terão que demonstrar, além das aptidões comumente associadas aos homens (racionalidade, capacidade de decisão, agressividade na condução dos negócios, liderança, etc.) outras características importantes (e historicamente ligadas às atividades femininas, particularmente na administração do cotidiano doméstico). Ou seja, estes homens terão que demonstrar capacidade de adaptação às situações de controle e pressão social intensos ou, ainda, a habilidade para agregar pessoas e produzir resultados. Quadro 14: Resultado da análise dos parâmetros Praticidade x Originalidade Praticidade x Originalidade Pessoas com pontuações altas tendem a serem originais, criativas, curiosas e complexas. Pessoas com pontuações baixas são características de pessoas convencionais, simples, com interesses não muito variados e pouco criativos. Nome Percentual Descrição Aparecida 65% Relativamente aberto a novas experiências. Antonio 47% Geralmente não procura por novas experiências. Pedro 41% Geralmente não procura por novas experiências. Sandra 90% Aproveita novas experiências e consegue enxergar novas coisas com diferentes perspectivas. Aproveita novas experiências e consegue enxergar 80% novas coisas com diferentes perspectivas. Jeanlis Marielza 41% Geralmente não procura por novas experiências. Paulo 47% Geralmente não procura por novas experiências. Rosely 88% Aproveita novas experiências e consegue enxergar novas coisas com diferentes perspectivas. Sandra/Rosely/Jeanlis: Aproveitam novas experiências e conseguem enxergar novas coisas com diferentes perspectivas; Paulo/Pedro/Antonio/Marielza: Geralmente não procuram novas experiências; Aparecida: É relativamente aberta a novas experiências. 91 Considerando a análise dos quatro homens entrevistados, três possuem uma nítida tendência a não buscar novas experiências. E um é relativamente aberto a novas experiências. E entre as quatro mulheres, duas aproveitam novas experiências e conseguem enxergar novas coisas com diferentes perspectivas. Uma é relativamente aberta a novas experiências, e somente uma possui uma forte tendência a não procurar novas experiências. Considerando o ramo de atuação observa-se um empate, com dois empreendedores de cada ramo abaixo da média esperada e dois acima. Com relação ao terceiro objetivo específico - Descrever a experiência executiva dos empreendedores (as), levando em conta características, facilitadores e barreiras relacionados ao exercício da atividade empreendedora, para tanto, procedeu-se a uma abordagem “horizontal”, ou seja, foi examinado o mérito das questões passando por todos os empreendedores, cabendo o destaque de alguns relatos: Sobre as competências de relacionamento apontadas por Paiva Júnior, Leão e Mello (2003): Aparecida: Eu decido sempre sozinha, dificilmente eu pergunto para alguém, porque às vezes, se eu perguntar, acabo ficando ainda mais confusa. Eu sei do que eu preciso, do quanto que eu gasto e posso investir na minha empresa, dos custos que tenho que cortar. Eu não tenho sócio, não tenho ninguém, então sou só eu para tomar decisões. Antonio: Normalmente sou muito rápido, devido à experiência. Eu ensino o pessoal a ser rápido, porque diversas oportunidades têm que ser decididas com velocidade, mas eu faço planejamento, principalmente financeiro, olho o mercado, pergunto, pois não tenho medo de perguntar. Hoje mesmo, nós temos uma locadora, que é um negócio muito pequenininho pra nós, do qual nós quase não conhecemos nada, e eu liguei para uma locadora de onde eu conhecia uma pessoa e fui pedir informação de como ela fazia seguro, e um dos meus gerentes ficou assistindo como é que faz, se é melhor fazer seguro para dez carros que estamos comprando, pra alugar dia a dia, ou se a gente arrisca e não faz seguro. Vimos o que o mercado tem de estatística, e nós íamos fazer seguro e gastar R$20.000,00, e ele acabou falando para não gastar esse dinheiro. Ela disse: “você arrisca, que daqui a um ano você vai perder um carro talvez, ou meio carro”. Essa é a estatística. Uma coisa inacreditável. Por isso que, quando não se sabe, devemos perguntar para os outros. Quando não sabe, pergunta e ensina. Pedro: A gente sempre assume riscos e não tem como não assumir, porque hoje, vem de repente um segmento novo e quando percebemos, o carro está dentro da oficina e você tem que tomar a decisão. Ou faz ou passa para o concorrente. Então existe o risco. 92 Sandra: Antes eu fazia tudo. Quando eu tive que sair de licença, essa foi uma grande lição para mim, porque então eu comecei a dividir, ou seja, cada um faz uma coisa, e hoje eu administro as coisas que os outros fazem. Hoje me cabe à parte de estrutura de treinamento, organizo, fecho o retorno dos treinamentos. Como eu sou formada em Pedagogia, sou eu que analiso todas as avaliações, dou o retorno para a empresa que contratou, fazendo o relatório final. Hoje, então, eu administro tudo, e só faço alguma coisa se alguém está com problemas para resolver. Procuro delegar tudo o que é possível, porque não adianta você querer abraçar o mundo, senão você não dá oportunidade para o seu funcionário crescer. Eu só faço alguma coisa quando eles sentem que não podem resolver e precisam me consultar, mas normalmente eles lideram numa boa. Jeanlis: Na verdade eu trabalho praticamente sozinho. Eu estou numa fase de transição pra conseguir formar as equipes. Como a empresa é pequena, agora é que eu estou iniciando esse processo, estou formalizando esse procedimento, desenvolvimento, reuniões, filosofia. Mas isso é coisa de um ano mais ou menos. Marielza: Ninguém faz nada sozinho. Na realidade, isso eu aprendi quando era empregada, com uma pessoa que foi presidente internacional de compra da Rhodia que, além de ter uma inteligência fabulosa, sempre soube criar equipes excelentes, e no fundo, você nunca faz nada sozinha. primeiro você precisa saber que não é dona do mundo e que no dia seguinte você pode faltar, então o negócio não pode depender só de você, porque no dia seguinte o negócio tem que estar funcionando. O negócio não é só seu, é de todos os que estão trabalhando com você. No nome ele pode ser seu, mas a firma é de todos os que estão dentro dela. Ou você cria uma equipe muito boa e de confiança, ou você não consegue ir adiante, e mesmo a firma sendo minha, eu atuo como uma executiva e não com uma dona. O posicionamento a gente percebe que é diferente. As fortunas particulares dos proprietários de empresas, muitas vezes são muito grandes em relação à própria indústria, e nós aqui pensamos diferente, pois achamos que a indústria é de todos os que trabalham aqui dentro Paulo: Eu cuido das áreas de produção, do comercial e também do marketing. Em todas as três áreas que eu cuido, tenho pessoas-chave, bons gerentes, com boas cabeças e que discutem juntos, porque eu acho que sozinho ninguém chega a lugar nenhum. Muito pelo contrário, pois o segredo de um bom administrador é se cercar de pessoas brilhantes e deixar que andem sozinhas e nunca ter medo delas, nunca tentar evitar o crescimento delas. Rosely: Trabalho sempre em equipe, hoje aqui nesta unidade de negócio temos 40 funcionários, e tenho 4 deles que são meus “conselheiros”, antes de qualquer decisão conversamos muito sobre o assunto A reprodução destes relatos contribui para identificar a forma de gestão destes empreendedores. Verifica-se que, independente do sexo ou ramo de atuação, eles possuem formas diferenciadas de colocá-la em prática – mas uma característica que pode ser observada 93 em uma analise mais profunda, como é o caso deste trabalho, observasse que quanto mais baixo for o grau de instrução do empreendedor, maior é a propensão deste tonar-se um empreendedor centralizador em suas decisões. Outro ponto interessante: ao se comparar o trecho do depoimento do entrevistado Antonio com o resultado do modelo Big-five, observa-se que existe uma contradição, uma vez que nas características sociabilidade e orientação para a equipe suas pontuações foram muito aquém do desejado, para uma pessoa que trabalha sempre em conjunto com outros profissionais (conforme está relatado em seu depoimento). Quanto às experiências profissionais de todos os entrevistados, pode-se destacar que, com exceção da empreendedora Rosely, que antes mantinha uma empresa de consultoria na área da construção civil, todos estão em seu primeiro empreendimento. E cabe destacar também – como previsto no terceiro objetivo específico – a trajetória profissional destes empreendedores enquanto meio de percepção do perfil empreendedor inerente aos entrevistados. Estes apresentam um currículo anterior e experiência como profissionais em áreas específicas de atuação, no entanto, ao assumirem o empreendedorismo como projeto de vida, acabam assumindo um desafio imenso, o qual parece estimulá-los e não o contrário. O empreendedor, homem ou mulher, luta para superar suas limitações – técnicas, econômicas etc – e busca, obstinadamente, vencer e mostrar à sociedade sua capacidade de gerir, com competência, um negócio próprio. Conforme foi destacado na exposição teórica, ambos empreendedores (tanto homens quanto mulheres) compartilham de um objetivo comum – alcançar o sucesso profissional. No entanto, os motivos que os fizeram optar por este caminho, bem como os obstáculos por eles enfrentados no cotidiano, nem sempre coincidem. Assim – como apontado no tópico 1.1.1, que destaca os estudos de Sexton e Bowman (1985) – tais características poderiam ser associadas ao fator ‘desejo de independência’, uma vez que os empreendedores imprimem sua personalidade naquilo que realizam, determinando o ritmo e a intensidade que as ações vinculadas ao empreendimento são realizadas. 94 Para uma observação mais cuidadosa dessa realidade será tomando como parâmetro analítico os cinco mitos destacados por Farrel (1993, p. 167-168), sendo que o primeiro deles afirma: 1. Empreendedores nascem feitos ou, em outras palavras, seriam indivíduos predestinados a assumir este papel, em vista de uma suposta ‘genialidade’. Os entrevistados, tanto homens quanto mulheres, apontaram razões diversas para explicar o motivo que os fez optar pelo caminho do empreendedorismo. E todos confirmam a asserção acima como apenas um mito. No entanto, se a palavra genialidade de fato não condiz com a realidade dos empreendedores entrevistados, o fator talento, por outro lado, tem um peso realmente significativo. No caso de Jeanlis, seu negócio foi iniciado a partir de uma estrutura já existente – a empresa de seu pai. Mas é a partir da iniciativa e talento do empreendedor que o negócio começa a tomar forma e se desenvolver: Passei dois anos desenvolvendo o processo e também a primeira linha de respiro, de produtos. (Jeanlis) A dimensão da vocação também fica evidente, uma vez que apenas o talento não seria suficiente para fazer com que o empreendedor insistisse. Ou seja, ainda que este novo empreendedor tivesse consigo uma boa idéia, isto não seria suficiente para desenvolver um negócio – é necessária uma imensa obstinação, que tem como motor a vontade de fazer do empreendedorismo um caminho de vida: 95 tivemos que reavaliar toda a nossa estrutura, pois não dava para produzir com determinadas vigas e materiais, e aí passamos mais uns seis meses aprimorando, lançamos uma outra linha de produto e começamos a desenvolver comercialmente no mercado. Isso representa uns 3 anos de trabalho, de sofrimento, na verdade. Mas não é apenas a vocação ou o talento que estimulam um empreendedor a iniciar suas atividades. Muitas vezes a necessidade mais imediata pode levar a este caminho. No entanto, uma circunstância pouco favorável pode trazer à tona qualidades empreendedoras antes insuspeitadas, como no caso de Aparecida, empreendedora que começou a atuar para tentar salvar o pequeno negócio (uma oficina mecânica) que o marido havia iniciado: Meu ex-marido começou com a oficina e 30 ou 40 dias depois ele disse que iria fechar, pois não tinha jeito para lidar com o público, com as pessoas, não sabia como administrar e estava todo confuso. (...) Então fiz um acordo na empresa em que eu trabalhava e fui trabalhar com ele. Com 30 dias que eu estava dentro da oficina, com ele fazendo os orçamentos enquanto eu cotava peças, aprendi o que devia ser feito e falei que ele não precisava mais fazer orçamento, pois eu iria fazer isso e, se eu tivesse alguma dúvida em relação a peças ou mão de obra, pediria auxílio a ele. Foi aí que comecei a tocar o negócio. Mas apesar de apresentar um histórico de sucesso a empreendedora afirma claramente que seu estímulo inicial estava restrito a um aspecto objetivo, tentar salvar um capital investido: quando você é casada, tem que tentar levar adiante, não pode abandonar depois do investimento feito. Então eu procurei salvar esse capital, pois a minha atividade também não estava muito boa na época, não estava muito rentável, então eu preferi garantir o meu negócio. 96 No entanto há casos de empreendedores em que a realização pessoal tem um peso maior, enquanto motivo para iniciar a atividade. E como poderá ser observado, a maior parte dos entrevistados encontra-se dentro desta situação, como ocorreu com Marielza, engenheira que tem em seu histórico o fato de ter sido a primeira engenheira a atuar na empresa Rhodia: Para mim foi mais uma realização pessoal. Eu sempre fui muito a primeira nas coisas. Eu fui a primeira mulher engenheira na Rhodia, fui a primeira a ir discutir com chefias, porque em um grupo de homens eu era a única mulher. E a vocação empreendedora também se mostra evidente nos casos em que a opção pela realização profissional nem sempre tem relação com resultados financeiros satisfatórios: eu acredito que meu maior objetivo era profissional, porque pela parte financeira, eu estava melhor como empregada do que como patrão. Mas os empreendedores entrevistados, apesar de falarem constantemente em realização profissional como principal motivação, também demonstram notória aptidão e sensibilidade para realizar bons negócios, ainda que nenhum deles possa ser caracterizado como gênio do empreendedorismo – no sentido de serem pessoas com capacidade de transformar idéias em negócios milionários. O que se quer destacar aqui é a visão do empreendedor, que é muito distinta, peculiar: Foi por acaso que eu identifiquei. Eu gostava de surfar, e o esporte que eu fazia era surf. Como engenheiro eu não me realizava, sentia que aquilo tudo era muito chato.(...) Eu, pra ganhar um dinheiro a mais, vendia umas roupas de“surfware SURFWEAR” na praia meio de sacoleiro e esse negócio me dava mais dinheiro do que ser engenheiro. Eu sempre gostei de dinheiro! Aí eu pensei: eu vendo essas pecinhas aqui e em 3 ou 4 dias eu tiro o que eu ganho no mês como engenheiro (Paulo) Ocorre também da vocação empreendedora se revelar como evolução natural na carreira do indivíduo, como no caso de Pedro: 97 Eu trabalhei por muito tempo no meu ramo, do qual eu gostava. Quando eu saí da empresa em que trabalhava e era pouco valorizado, surgiu essa oportunidade. Na casa em que eu morava, havia um terreno onde abri a oficina. Eu não tinha dinheiro nem recursos, o terreno era da minha mãe e ela me deu força para iniciar o negócio e eu comecei com a cara e a coragem. Eu tinha algumas ferramentas e comecei com muita dificuldade, mas fui arrumando um carro, alguns carros de amigos que me procuravam e não precisei nem fazer propaganda, porque um amigo indicava outro amigo. Assim fui fazendo a clientela, fui melhorando, começando com uma oficina pequena que não tinha nem teto. Eu só tinha o chão e as ferramentas, que com o tempo foi melhorando, arrumei o piso, fiz uma estrutura, comecei a comprar o ferramental, a clientela foi crescendo, crescendo até o ponto que é hoje. Comprei o terreno da família, e muitos outros que havia ao lado, transformando a oficina naquilo que é hoje. Cabe destacar que muitas das afirmações acima reproduzidas corroboram o posicionamento apontado na abordagem teórica – de que na realidade cotidiana dos negócios, dentre os elementos que condicionam o sucesso de um negócio, a questão da capacidade individual é de imensa importância (PORTER, 1996). 98 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÔES 5.1. CONCLUSÕES O estudo aqui realizado proporcionou a confirmação de algumas proposições inicialmente levantadas e, por outro, possibilitou que dados novos e importantes pudessem ser explicitados. E, considerando que, dentre os principais pontos comumente citados em discussões de gênero está a questão da desigualdade, é pertinente observar que no caso das atividades empreendedoras, as dificuldades parecem não escolher sexo. Profissionais – homens e mulheres – mostraram em seus depoimentos que os obstáculos sempre são inúmeros e, muitas vezes, aparentemente insolúveis. No entanto, todos os empreendedores entrevistados mostraram uma marca comum: a determinação para perseguir objetivos, alcançar metas e superar dificuldades. Seria incorreto neste caso, portanto, afirmar que as mulheres enfrentariam maiores dificuldades ao realizarem seu papel enquanto empreendedores. Por outro lado é inegável que a vida particular dos empreendedores é afetada de modo diferenciado, ainda que o fator gênero nem sempre apresente o peso mais significativo. Em outras palavras, ficou nítido que outros aspectos – a exemplo dos históricos profissionais anteriores à opção pelo empreendedorismo – apresentaram peso mais significativo nas histórias individuais. Também é oportuno observar que questões econômicas e sociais de maior amplitude apresentam um peso de grande importância, a exemplo da empreendedora que iniciou suas atividades apenas para recuperar um capital investido por seu marido. Fica evidente neste caso que a atitude empreendedora não é condicionada pelo fator gênero. Mas cabe ressaltar que – conforme visto na revisão bibliográfica produzida para este estudo – a situação dos empreendedores ainda se encontra distante de poder ser avaliada como confortável, mesmo que sua disposição para enfrentar desafios se mostre, muitas vezes, aparentemente inesgotável. E também é indispensável comentar a dimensão ética para os empreendedores. Ao contrário do que foi postulado na primeira parte do trabalho, o capital ético destes profissionais não seria monopolizado pelas mulheres, uma vez que os profissionais de ambos os sexos mostram preocupações semelhantes com relação à questão. Ou, melhor dizendo, ambos se posicionam de modo assemelhado, ao se esforçarem para mostrar que o 99 trabalho e a dedicação é o aspecto mais importante de suas atividades – o que contradiz possíveis perspectivas menos otimistas com relação ao empreendedorismo. E também ficou patente o nível de profissionalização alcançado por estas pessoas, ainda que ao custo de anos de prática da conhecida dinâmica erro-acerto. Tanto homens quanto mulheres apresentaram alto nível de conhecimento de seu negócio e, principalmente, disposição para crescer profissionalmente, ainda que existam inúmeras limitações, próprias do contexto brasileiro. Ao ser retomado o objetivo geral do trabalho – relativo à investigação dos modos de atuação profissional de homens e mulheres empreendedores brasileiros em seus mercados – fica evidente que o universo do empreendedorismo, considerando especificamente a realidade brasileira, é bastante rico e diversificado, como também é observado em países mais avançados. E há pontos em comum entre os empreendedores, a exemplo dos inúmeros obstáculos que surgem ao longo do caminho – particularmente nos momentos iniciais, em que o negócio ainda está em fase de consolidação.. Mas as limitações de ordem técnica, econômica e estrutural jamais representam motivo de desistência para os empreendedores que foram entrevistados neste trabalho. Ao contrário. Estas são percebidas como pedras no caminho de qualquer empreendedor, e devem ser superadas, pois é a superação dos limites o grande motivo de orgulho para estes profissionais. Foi recorrente nas entrevistas a descrição das inúmeras dificuldades, bem como os modos de superação. Relatos que revelaram profissionais – homens ou mulheres – obstinados, determinados a cumprir suas metas profissionais e pessoais. No que diz respeito particularmente aos objetivos específicos, coube observar as características pessoais de empreendedoras e empreendedores, em relação a sua origem, trajetória educacional, experiência profissional anterior e vida pessoal. E, conforme pôde ser verificado, os empreendedores entrevistados apresentaram trajetórias nitidamente distintas, níveis de escolaridade igualmente diversos, além de suas vidas particulares mostrarem inúmeros e singulares perfis. Contudo a trajetória do empreendedor mostra sempre o aspecto da superação de limites e a determinação em se construir o novo. Estes profissionais têm em comum o perfil inovador, inquieto, que sempre busca construir o futuro, e jamais espera que este aconteça por si. 100 Além disso, com relação ao chamado Modelo Big Five, foram identificados algumas distinções importantes com relação ao fator gênero. No item organização apenas um homem apresentou tendência à desorganização, enquanto duas mulheres e um homem se mostraram razoavelmente organizados. Os demais apresentaram tendência à organização, o que resultou numa situação de equilibro entre os diferentes gêneros. Com relação ao termo Confiabilidade, também utilizado para medir possíveis distinções comportamentais entre homens e mulheres, considerando as áreas de atuação (serviços e indústria) verificou-se que os empreendedores da área de serviços apresentaram um percentual elevado, ficando somente um deles abaixo da média. No que diz respeito à extroversão, observou-se uma tendência mais evidente das mulheres neste sentido. Já no caso dos homens a tendência foi a de se mostrarem mais reservados. E Na análise por ramo de atuação verificou-se que o maior nível de socialização está nas pessoas que desenvolvem atividades na indústria. Em grande parte, considerando o perfil predominante dos entrevistados, os empreendedores tendem a ser pessoas auto-confiantes e com bom auto-controle – potencialmente abertas ao diálogo e capazes de administrar conflitos e situações presentes no cotidiano. Ficou evidente que, com relação à questão de gênero, é possível afirmar que não há diferenças significativas dentro característica. A análise destacou também que os empreendedores entrevistados tendem a considerar com atenção os sentimentos dos outros. Dois foram considerados profissionais generosos, deixando a entender que os empreendedores não seriam pessoas egoístas, que apenas visam seu próprio crescimento. Os resultados das análises das características Impulsividade/Cautela e Orientação para a equipe/Interesse próprio mostraram que os empreendedores do sexo masculino em particular, cada vez mais, terão que demonstrar capacidade de adaptação a situações de pressão social, bem como agregar pessoas e produzir resultados. E, não por acaso, três dos quatro homens entrevistados mostraram uma tendência a não buscar novas experiências, enquanto entre as mulheres duas conseguiam enxergar novos projetos e perspectivas. Finalmente, com relação às proposições, constatou-se que, de fato, não há diferenças importantes no grau de iniciativa como empreendedores entre mulheres e homens. O que condiciona esta iniciativa, na verdade, são outros fatores (vocação, formação etc.). Com 101 relação ao aspecto da conjuntura econômica brasileira – os homens e mulheres atuantes na condição de empreendedores adotam uma postura pouco solidária com relação aos seus colegas de atividade – também ficou perceptível, ao menos entre os entrevistados, um sentido de solidariedade ou, ao menos, não foi explicitada uma atitude no sentido contrário. Enfim, com relação à proposição “Conciliar atividade empreendedora e vida particular é um desafio mais relevante para as mulheres do que para os homens”, ficou destacado que este fator ainda pesa sobremaneira para as mulheres, particularmente no que diz respeito ao convívio e educação dos filhos. Este trabalho apresenta limitações que impedem derivações das conclusões aqui apresentadas para universos mais amplos, ou seja, ainda que as entrevistas contribuam para um maior conhecimento do empreendedorismo, os resultados aqui apresentados não poderiam ser tomados como universais. Mas o esforço aqui empreendido pode ser uma base importante para trabalhos futuros, que podem adotar métodos quantitativos capazes de iluminar novos aspectos das questões aqui analisadas. Seria também pertinente recomendar novos estudos comparativos, que tragam informações relacionadas a inúmeras outras questões próprias do universo do empreendedorismo, e que não foram aqui abordadas. Alguns aspectos deste trabalho merecem uma maior investigação e consequentemente são apresentados como sugestão para estudos futuros: 1 - Utilizar os resultados da pesquisa para a elaboração de um modelo de capacitação de empreendedores, pautado em suas reais características; 2 - Utilizar o modelo para o estudo de comportamentos específicos, como por exemplo, tendência criativa, podendo considerar os estudos sobre comportamento como fonte de novas formas de compreensão do ser humano em seu processo de criação de riquezas e de realização pessoal, visando maximizar os índices de conscientização da sociedade sobre a importância de conhecer mais profundamente os empreendedores para o seu desenvolvimento. 102 103 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARO, Meiriane Nunes; PAIVA, Silvia Maria Caldeira. Situação das micro e pequenas empresas. 2002. Disponível em: <www2.senado.gov.br/conleg/ artigos/economicas/SituacaodasMicro.pdf>. Acesso em 21 jun 2004. ANTUNES, Ricardo. 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Objetivos específicos Conhecer as características pessoais de empreendedoras e empreendedores relacionados à sua origem, trajetória educacional, experiência profissional anterior e vida pessoal 1 – Dados pessoais (sexo, idade, estado civil, nº de filhos, renda, etc.) 2 – Trajetória educacional (formação superior, línguas, informática, cursos para iniciar/capacitar o negócio, etc.) 3 – Experiência profissional anterior (o que fez e em quantos anos, se trabalhou como empregado, se apenas como empreendedor, 4 – Países conhecidos (quais países visitou, visita profissional ou a passeio, relacionada ou não com a empresa). 5 – Conciliação vida profissional X vida pessoal (tempo é suficiente para ambas; existe interferência entre ambas; há ajuda de cônjuge ou da família; possui empregadas/babás; se separado, recebe/dá pensão; etc.) Observar possíveis distinções de aspecto comportamental entre empreendedoras e empreendedores relativas às seguintes dimensões: confiabilidade X instabilidade; extroversão X introversão; impulsividade X cautela; orientação para equipe X interesse próprio; e praticidade X originalidade Aplicação do teste do modelo Big-Five Descrever a experiência executiva dos empreendedores (as), levando em conta características, facilitadores e barreiras relacionados ao exercício da atividade empreendedora. Competências A 6 – Como identificou a oportunidade de seu negócio (analisa o mercado, está ele saturado, como visualizou o nicho)? 7 – Você se espelhou em alguém para tomar a iniciativa deste negócio? 8 – Qual o principal objetivo que o motivou a iniciar o negócio (financeiro, pessoal, social)? Competências B 9 – Como você trabalha no desenvolvimento de suas atividades (sozinho, com sócios, com parceiros; qtos empregados possui)? 10 – Como é seu relacionamento com fornecedores? Qual seu grau de integração com eles? 11 – Idem, para clientes 12 – Idem, para instituições de apoio (associações de classe, Sebrae, institutos de pesquisa, etc.) 13 – Idem, para concorrentes (há cooperação, há concorrência ética)? 15 Competências C 14 – Você toma decisões principalmente com base em intuição ou análise e planejamento? Há diferenças nesse aspecto no início do negócio e hoje? 15 – Em questões importantes, geralmente você assume mais riscos e decide antes ou só faz isso depois de recolher muitas informações? Competências D e E Na parte estratégica e administrativa, como você se posiciona (utiliza muito, pouco, acha importante ou não, qual é mais importante, etc.) em relação a: 16 – Planejamento (fixar objetivos, alocar recursos, elaborar estratégias e programas de ação, implementar e controlar) 17 – Gerenciamento de pessoas: (motivar funcionários, delegar funções (muito ou pouco), liderança (participativa, centralizada, carismática)). 18 – Relacionamento com clientes ( atendimento propriamente dito, assistência técnica, exposição à mídia, etc) 19 – Compatibilização de curto e longo prazo (fácil, clara, difícil, etc.) 20 – Tem idéia de como empresa estará em 5 e em 10 anos? 21 – Lança produtos antes dos concorrentes ou segue o mercado? 22 – Cumpre sempre objetivos e metas? (sempre, às vezes, ultrapassa, fica aquém, etc.) Competências F 23 – Qual é sua ambição profissional no momento? 24 – Já cogitou mudar de ramo de negócio? 25 – Tem facilidade em recomeçar após um fracasso (ele mais frustra ou ensina)? 16 ANEXO II – Questionário do modelo Big Five Este é um teste psicológico extraído do site: http://www.outofservice.com/bigfive/ em 22/01/2005 e traduzido para a língua portuguesa para descobrir sua personalidade! Conforme o site este teste mede aquilo que muitos psicólogos consideram ser as cinco dimensões fundamentais da personalidade. Ele funciona da seguinte maneira: Da mesma forma que você se auto-avalia, você é encorajado a avaliar outra pessoa. Ou seja, nas questões abaixo, você irá avaliar na primeira fileira você e na segunda uma outra pessoa a sua escolha. Pois conforme este método, por avaliar outra pessoa você tenderá a realizar uma avaliação mais exata da sua própria personalidade. Além de você conseguir um perfil da personalidade da pessoa que você avaliou, que permitirá comparar a si próprio em relação a esta pessoa em cada uma das cinco dimensões básicas de personalidade. Para tanto sugere-se que você escolha alguém que você conheça bem, como um amigo próximo, colega de trabalho, marido ou outro membro da família. Para sua maior tranqüilidade neste método não existe resposta "certa" ou "errada", mas perceberá que você não obterá resultados significativos se não responder as perguntas seriamente. Lembramos que estes resultados estão sendo usados em pesquisa científica, portanto, por favor, tente dar respostas mais precisas. Suas respostas serão submetidas no site citado acima para a apuração dos resultados. As seguintes questões dizem respeito a sua autopercepção dentro de várias situações. Sua tarefa é indicar a força de acordo com cada questão, utilizando uma escala em que 1 denota fortemente em desacordo e 5 denota fortemente de acordo, e 2, 3, e 4 representam julgamentos intermediários. Nas caixas depois de cada questão, marque no número de 1 a 5 conforme a seguinte escala: 1 Fortemente em desacordo 2 Discorda 3 Nem discorda nem concorda 4 Concorda 5) Fortemente de acordo Atenção: Não existe resposta "certa" ou "errada", então selecione o número que mais próximo reflita você em cada questão. Invista seu tempo considerando cada questão com cuidado. 17 Eu me vejo (ou outra pessoa) como alguém: 1. ... comunicativo Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 2. ... que costuma criticar outras pessoas Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 3. ... competente Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 4. ... depressivo, triste Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 5. ... original, que gosta de inovar Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 6. ... reservado Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 18 7. ... solidário e generoso Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 8. ... (ocasionalmente) um pouco negligente Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 9. ... que lida bem com situações de stress Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 10. ... interessado por diversos assuntos Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 11. ... cheio de energia Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 12. ... que costuma alimentar rixas / iniciar disputas Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 13. ... que pode ser considerado um profissional exemplar Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 14. ... que pode se tornar tenso 19 Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 15. ... engenhoso, muito inteligente Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 16. ... que costuma proporcionar muito entusiasmo Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 17. ... de índole bondosa Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 18. ... que tende a ser desorganizado Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 19. ... muito ansioso / aflito Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 20. ... com imaginação ativa Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 21. ... que tende a ser quieto Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 20 Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 22. ... geralmente confiante Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 23. ... que tende a ser preguiçoso Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 24. ... emocionalmente estável, que dificilmente se descontrola Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 25. ... inventivo Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 26. ... de personalidade assertiva (afirmativa) Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 21 27. ... que pode ser frio e indiferente Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 28. ... que persevera até concluir uma tarefa Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 29. ... que pode tornar-se mal-humorado / melancólico Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 30. ... que valoriza experiências artísticas / estéticas Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 31. ... às vezes tímido / inibido Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 32. ... considerado atencioso / gentil pela maioria Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 33. ... eficiente Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 34. ... que permanece calmo em situações tensas 22 Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 35. ... que prefere trabalhos rotineiros Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 36. ... extrovertido / sociável Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 37. ... às vezes rude com outros Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 38. ... que faz planos e os coloca em prática Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 39. ... que fica nervoso facilmente Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 40. ... que gosta de refletir Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 41. ... que tem poucos interesses artísticos 23 Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 42. ... que gosta de cooperar Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 43. ... que se distrai facilmente Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 44. ... sofisticado com relação às artes, música e/ou literatura Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 45. ... que possui auto-estima elevada Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 46. ... muito religioso Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 24 47. ... liberal (politicamente) Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo 48. ... que comumente está envolvido em situações ruins com terceiros Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo