CENTRO UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
ATUAÇÃO DE MULHERES E HOMENS EMPREENDEDORES SEDIADOS NO
ESTADO DE SÃO PAULO NA INDUSTRIA E NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
CIBELE BARSALINI MARTINS
SÃO PAULO
2005
12
CIBELE BARSALINI MARTINS
ATUAÇÃO DE MULHERES E HOMENS EMPREENDEDORES SEDIADOS NO
ESTADO DE SÃO PAULO NA INDUSTRIA E NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração do Centro
Universitário Nove de Julho, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestre em
Administração.
Prof. Dr. Celso Augusto Rímoli - Orientador
SÃO PAULO
2005
13
ATUAÇÃO DE MULHERES E HOMENS EMPREENDEDORES SEDIADOS NO
ESTADO DE SÃO PAULO NA INDUSTRIA E NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
Por
CIBELE BARSALINI MARTINS
Dissertação apresentada ao Centro Universitário
Nove de Julho, Programa de Pós-graduação em
Administração, para obtenção do grau de Mestre
em Administração, pela banca examinadora
formada por:
Presidente:
________________________________________________
Prof. Dr. Celso Augusto Rímoli – Orientador, UNINOVE
Membro:
________________________________________________
Prof.. Dra. Ana Cristina Limongi França, FEA/USP
Membro:
________________________________________________
Prof. Dr. Leonel Cezar Rodrigues, UNINOVE
São Paulo, 30 de agosto de 2005.
14
Dedico deste trabalho ao meu marido Sérgio
Bomfim Martins, pela preciosa ajuda, dedicação,
encorajamento e companheirismo. Sem ele este
trabalho jamais teria sido feito.
15
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus por ter iluminado meu caminho até aqui e ter
dado o equilíbrio necessário nas horas de maior dificuldade.
Ao Prof. Dr. Celso Augusto Rímoli, pelo seu empenho, dedicação, persistência e
perfeccionismo que me levaram ao extremo da minha capacidade, fazendo-me evoluir nos
raciocínios propostos.
Aos professores do mestrado, pelo seu interesse em contribuir na evolução intelectual
e acadêmica; e aos membros da minha banca pelas contribuições e, acima de tudo,
comportamento amigo frente às sugestões propostas.
Aos meus amigos de mestrado que contribuíram com seus pontos de vista diversos
para um melhor entendimento de questões complexas.
Aos empreendedores das empresas escolhidas, pela compreensão da importância deste
trabalho para a construção de novos conhecimentos que possibilitam ações práticas de
desenvolvimento empresarial.
Ao Prof. Milton de Abreu Campanário, coordenador do curso de Mestrado
Profissional em Administração, pela confiança, apoio e incentivo que recebi durante o curso.
A equipe administrativa, pela presteza e comprometimento dos serviços prestados
durante todo o curso.
Agradeço também a todas as pessoas − e não foram poucas − que de forma direta ou
indireta contribuíram para a realização deste trabalho.
16
ATUAÇÃO DE MULHERES E HOMENS EMPREENDEDORES SEDIADOS NO
ESTADO DE SÃO PAULO NA INDÚSTRIA E NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
RESUMO
As atividades empreendedoras no mundo dos negócios, exercidas por mulheres e homens nos
mais diversos setores industriais vêm ganhando reconhecimento tanto nas economias
desenvolvidas quanto nas em desenvolvimento, sendo que no Brasil os estudos relativos a
esse tema são escassos. Em função desse contexto mais geral, esta dissertação teve por
finalidade observar e descrever comparativamente a atuação de mulheres e homens
empreendedores no mercado. Para alcançar esse objetivo, foi realizado um estudo de oito
casos múltiplos de empreendedores, sendo quatro homens e quatro mulheres reconhecidos
pelo sucesso e que atuam nos setores industrial e prestação de serviços. Os principais
resultados encontrados indicam que as empreendedoras e os empreendedores entrevistados
apresentam desempenhos, limitações e aspirações semelhantes, ou seja, ambos buscam o
sucesso profissional. Os diferenciais significativos entre mulheres e homens empreendedores
encontram-se em outras esferas, a exemplo de formação, histórico profissional e experiências
individuais.
Palavras-chave: gênero, empreendedorismo, empreendedoras, competência
17
PERFORMANCE OF WOMEN AND MEN ENTREPRENEURS OF INDUSTRIAL
AND SERVICE FIRMS AT PAULO STATE
ABSTRACT
Entrepreneurial activities by men and women in several industries sectors have been achieved
recognition in developed economies and developing economies, though in Brazil research in
this field is very scarce. With the general context in mind, this dissertation aims at observing
and comparatively describing the performance of men and women entrepreneurs in the
market. To reach this objective, a study of eight multiple cases of entrepreneurs, half of them
men and half women, who were acknowledged for their success and who work in industrial
and service sectors. Results suggest that men and women entrepreneurs interviewed present
similar performances, limitations and aspirations, that is, both search for professional success.
The relevant differentials between men and women entrepreneurs lie in contexts such as
educational and professional background, and individual experiences.
Keywords: gender, entrepreneur, entrepreneurship, competence
18
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
Tabela 1. Distribuição das Empresas Industriais, Comerciais e de Serviços por
Porte e Setor / Brasil - 1998.........................................................................................
23
Figura 1. Processo Criativo na Atividade Empreendedora..........................................
26
Tabela 2. Empreendedorismo e Gênero no Reino Unido 1990 — 1999.....................
46
19
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Áreas de competências / oportunidade.......................................................
29
Quadro 2. Áreas de competências / relacionamento....................................................
30
Quadro 3. Áreas de competências / conceitual............................................................
31
Quadro 4. Áreas de competências / administrativa......................................................
32
Quadro 5. Áreas de competências / estratégica...........................................................
33
Quadro 6. Áreas de competências / comprometimento e equilíbrio trabalho/vida
pessoal...........................................................................................................................
34
Quadro 7. Nível de atividade empreendedora (em %).................................................
38
Quadro 8. Pessoas iniciando novos empreendimentos.................................................
38
Quadro 9. Características dos empreendedores entrevistados e suas empresas ..........
56
Quadro 10. Resultado da análise dos parâmetros Confiabilidade x Instabilidade .......
65
Quadro 11. Resultado da análise dos parâmetros Extroversão x Introversão ..............
66
Quadro 12. Resultado da análise dos parâmetros Impulsividade x Cautela ................
67
Quadro 13. Resultado da análise dos parâmetros Orientação para a Equipe x
Interesse Próprio ..........................................................................................................
68
Quadro 14. Resultado da análise dos parâmetros Praticidade x Originalidade...........
69
20
LISTA DE SIGLAS
ENANPAD – Encontro Anual da Associação dos Programas de Pós-graduação em
Administração
GEM – Global Entrepreneurship Monitor
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBPQ – Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade
JUCESP – Junta Comercial do Estado de São Paulo
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
TAE – Taxa de Atividade Empreendedora
21
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 22
1.1. PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................. 23
1.1.1 Um novo modelo de atuação profissional ................................................................................................ 23
1.2 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 28
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 28
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 30
2. 1. EMPREENDEDORISMO................................................................................... 30
2. 1. 1 Histórico e Fundamentos Teóricos ........................................................................................................ 30
2. 1. 2 A dimensão da competência .................................................................................................................. 41
2. 1. 3 Comportamento do empreendedor......................................................................................................... 52
2. 1. 4 GEM: perspectivas para empreendedorismo e gênero ........................................................................... 55
2. 2. MULHERES E HOMENS EM ATIVIDADE EMPREENDEDORA ..................... 60
2. 2.1 Realidade e mitos .................................................................................................................................... 60
2. 2. 2 Incentivos a atividade empreendedora ................................................................................................... 63
2. 2. 3 Identidade feminina e empreendedorismo ............................................................................................. 67
2. 2. 4 Big Five Personality Model (Modelo Big-Five) .................................................................................... 68
2. 2. 4.1 Origens do Modelo Big-Five .............................................................................................................. 68
2. 2. 4.2 O Modelo Big Five hoje ..................................................................................................................... 69
3. METODOLOGIA ................................................................................................... 72
3.1 Tipo de pesquisa ......................................................................................................................................... 72
3.2 Estratégia de pesquisa ................................................................................................................................. 72
3.3 Projeto de pesquisa e unidade de análise .................................................................................................... 73
3.4 Coleta de dados e trabalho de campo .......................................................................................................... 74
3.5 Análise dos dados ....................................................................................................................................... 75
4. RESULTADOS ...................................................................................................... 76
4.1. CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDEDORES ENTREVISTADOS E SUAS
EMPRESAS .............................................................................................................. 77
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÔES ............................................................... 98
5.1. CONCLUSÕES .................................................................................................. 98
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 103
7. ANEXOS ............................................................................................................... 14
ANEXO 1 – ROTEIRO DE PESQUISA ..................................................................... 14
ANEXO II – QUESTIONÁRIO DO MODELO BIG FIVE ............................................ 16
22
1. INTRODUÇÃO
Um movimento de mudança cada vez mais intenso vem sendo percebido na sociedade
contemporânea: nos últimos anos – e particularmente a partir dos anos 90 –, as mulheres vêm
aumentando sua participação no mercado de trabalho, e esta nova realidade também pode ser
confirmada no que diz respeito à atuação empreendedora das mulheres, uma vez que, no ano
de 2003, em um universo de 14 milhões de pessoas que se dedicaram a algum tipo de
atividade empreendedora, nada menos que 6,5 milhões deste total era constituído por
mulheres (CANAL EXECUTIVO, 2004). Isso revela uma tendência de participação cada vez
mais eqüitativa de homens e mulheres no mundo empresarial.
Conforme ficará mais evidente ao longo deste trabalho, as razões deste fenômeno são
bastante complexas, tendo em vista que a discussão em torno da questão de gênero,
particularmente no mundo do trabalho, pode adotar inúmeras perspectivas. O foco na
problemática de gênero exige a abordagem, ainda que breve, de alguns estudos recentes
dedicados a explicar as mudanças observadas no papel da mulher – particularmente no que
diz respeito ao deslocamento social/profissional da mulher da condição clássica de ‘rainha do
lar’ para o de empreendedora (capaz de assumir riscos, semear iniciativas em todas as áreas
de atividade e, conseqüentemente, participar de forma significativa na geração de renda,
empregos e riqueza de um modo geral). Além disso, não se pode esquecer dos impactos que
tais mudanças têm representado no modelo clássico de trabalho empreendedor – marcado
predominantemente pela atuação masculina.
É pertinente observar, ainda, que a crescente participação das mulheres, na área de
empreendedorismo, possibilita vislumbrar um futuro em que ambos os sexos venham a atuar
nesta área em situação de equilíbrio. A realização desta possibilidade, considerando o cenário
econômico brasileiro vislumbrado para os próximos anos, representaria mais do que uma
perspectiva particularmente otimista, mas um acontecimento necessário, tendo em vista a
exigência de crescimento da economia brasileira que, conforme aponta Pastore (2003) –
especialista em relações do trabalho e desenvolvimento institucional – precisa criar algo em
torno de 1,5 milhão de novos postos de trabalho/ano.
Tem-se como pressuposto, então, que as mulheres atuantes neste setor – a exemplo de
seus colegas do sexo masculino – reconhecem no investimento, que compreende, via de regra,
além do aspecto financeiro, a (intensa) dedicação, com relação aos aspectos de tempo e
empenho pessoal, em um empreendimento (independentemente do porte ou mercado em que
23
concorrem) a opção de vida mais promissora, no que diz respeito à busca por crescimento
profissional e realização pessoal.
1.1. PROBLEMA DE PESQUISA
A leitura de periódicos e publicações especializadas (GRZYBOVSKI, BOSCARIM e
MIGOTT, 2002; LIM, SMITH e BOTTOMLEY, 2003), bem como de estudos dedicados à
questão da mulher no mundo do trabalho (BESSE, 1999; MAERKER, 2000; PRIORE, 1997;
ROSALDO, 1979) – além da própria experiência cotidiana –, contribuem para que se perceba
a importância do sexo feminino na construção da dinâmica corporativa/empreendedora do
futuro.
Mais especificamente, como já é perceptível no dia-a-dia de muitas empresas, as
atitudes e disposições identificadas como ‘femininas’, conforme aponta Maerker, a exemplo
da reconhecida melhor capacidade das mulheres em lidar com as emoções, vem se tornando
um diferencial competitivo – contrariando análises mais conservadoras, que concebem um
mundo do trabalho marcado pela crescente tecnicidade e, portanto, com menos espaço para
componentes ‘intuitivos’, vindo a ser marcadamente ‘racionais’ as áreas de atuação mais
promissoras das próximas décadas (MAERKER, 2000, p. 81).
Considerando particularmente o universo do empreendedorismo, o problema de
pesquisa levantado aponta a existência de poucos estudos relativos à atuação de homens e
mulheres empreendedores no mercado brasileiro e, assim, pretende-se buscar a ampliação dos
conhecimentos sistematizados sobre as relações entre gênero e empreendedorismo.
1.1.1 Um novo modelo de atuação profissional
De acordo com Maerker (2000), o ‘admirável mundo novo’ que se anuncia (marcado
pela crescente presença das mulheres e, conseqüentemente, de características ‘femininas’,
como a intuição e o afeto) já estaria apresentando diversos sinais de sua efetiva existência,
uma vez que muitas profissionais têm conseguido obter posições de destaque em atividades
tradicionalmente dominadas pelos homens – como fica patente nos números que comprovam
uma notável ampliação dos casos de empresas (bem-sucedidas) fundadas por mulheres, como
destaca Machado (2001, s. p.):
24
A abertura de pequenas empresas por parte de mulheres tem atingido
taxas muitas vezes maiores que a por parte dos homens. A inserção delas
na atividade empreendedora e gerencial é abordada em estudos
(MOORE, 1997; ADLER e IZRAELI, 1994; ALLEN e TRUMAN, 1993;
RICHARD e BURKE, 2000) que salientam, dentre outros aspectos, as
diferenças culturais e os problemas enfrentados no exercício do papel de
pequenas empresárias. Como a participação feminina nos pequenos
negócios atinge, até o momento, percentuais relativos a 30 ou 40% das
micro e pequenas empresas em países como Estados Unidos, Canadá,
Finlândia e Austrália, a atenção com esse segmento se justifica pela sua
proporção sócio-econômica. No caso brasileiro esse percentual situa-se
aproximadamente em 25%.
Conforme Antunes (2000), o mundo do trabalho estaria, portanto, assistindo o
surgimento de um ‘estilo empreendedor feminino’, fenômeno que evidenciaria, inclusive, um
posicionamento inédito da mulher no universo do trabalho: contrariamente ao ocorrido
durante os primeiros passos destas no sentido de sua emancipação profissional, as novas
empreendedoras estariam ‘reagindo’ a uma suposta necessidade de ‘imitar’ os homens.
Esta ‘reação’ das mulheres poderia, então, ser observada através do estabelecimento de
novas regras e modos de agir – a exemplo de um maior respeito e preocupação com as
pessoas envolvidas nas atividades cotidianas, maior atenção aos aspectos éticos das atividades
profissionais, dentre outras características (ANTUNES, 2000, p.113).
Todas estas observações introdutórias podem ser resumidas como uma inédita
modificação no mundo do trabalho – geradas pela crescente participação das mulheres em
todos os setores de atividade –, mas também é importante observar que a exigência dos prérequisitos profissionais ‘tradicionais’ (diploma, especializações, conhecimento de línguas etc.)
continuará sendo altamente relevante enquanto diferencial competitivo, tanto para os homens
quanto para as mulheres.
No entanto, com relação ao universo do empreendedorismo, estes pré-requisitos já
consagrados talvez deixem de ser percebidos como uma garantia de sucesso, ao menos no que
diz respeito à conquista do cliente, e por duas razões. Primeira, o aumento constante da
competição e, segunda, o aumento do nível de exigência dos próprios consumidores – que
exigirá um empreendedor, mulher ou homem, cada vez mais criativo, preparado para
enfrentar obstáculos, e disposto a se aperfeiçoar constantemente.
Uma argumentação desta natureza pode significar – no caso da relação entre gênero e
empreendedorismo aqui analisada –, que o futuro proprietário de um negócio próprio, muito
provavelmente, terá que demonstrar, além das aptidões comumente associadas aos homens
(racionalidade, capacidade de decisão, agressividade na condução dos negócios, liderança,
etc.), qualidades outras que as mulheres, particularmente, aperfeiçoaram ao longo do tempo –
25
a exemplo da capacidade de adaptação às situações de controle e pressão social intensos ou,
ainda, a habilidade para agregar pessoas e produzir resultados, como é observável no caso da
administração do cotidiano doméstico (SCORZAFAVE , 2001).
Assim, este trabalho tem como motivações fundamentais algumas indagações de
crescente pertinência no mundo moderno: qual(is) o(s) significado(s) dessas novas relações de
trabalho que se vislumbram, considerando o mundo do trabalho em um sentido amplo e, em
particular, a crescente participação mais eqüitativa de homens e mulheres no papel de
empreendedora? Como homens e mulheres brasileiras, especialmente, estariam respondendo a
estes novos fatos?
Indagações desta natureza são levantadas neste trabalho, que irá abordar
empreendedores e empreendedoras atuantes em dois setores econômicos distintos.
Um ponto de partida para a problematização desta pesquisa é a percepção segundo a
qual a dinâmica estabelecida nas relações profissionais contemporâneas vem adquirindo uma
nova feição, a partir do maior engajamento das mulheres no universo do trabalho – e,
particularmente, nas atividades empreendedoras.
Sustentar a afirmação acima corresponde a reconhecer a ampliação do ambiente
competitivo com referência às problemáticas específicas de gênero, uma vez que os espaços
no mercado de trabalho passam a ser disputados, de modo crescente, entre profissionais de
ambos os sexos, independentemente do setor de atividade. E, ao mesmo tempo, faz-se
imperativo avaliar com cuidado as contribuições já sistematizadas na área do
empreendedorismo, antes de se estabelecer possíveis distinções entre homens e mulheres, no
que diz respeito às diferentes formas de atuação no mundo dos negócios.
Portanto, antes de se avançar no exercício específico da análise de gênero, é pertinente
apresentar aspectos econômicos e de gestão, que também devem ser levados em consideração
no desenvolvimento da presente argumentação – a exemplo de fatores condicionantes da
realidade sócio-econômica brasileira (como o PIB, que apresentou uma variação negativa de
0,2% em 2003, conforme publicação do IBGE em 2004) e dados relativos ao desempenho das
atividades empreendedoras, disponibilizados pelo SEBRAE (2001), Serviço de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas de São Paulo.
O SEBRAE (2001, p. 2) aponta um altíssimo índice de mortalidade dos
empreendimentos abertos no Estado de São Paulo ao longo da segunda metade da década de
90 – mais precisamente, 71% das Firmas Individuais e Sociedades Limitadas que adquiriram
registro na JUCESP (Junta Comercial do Estado de São Paulo) no período compreendido
entre 1995 e 1999 tiveram suas atividades encerradas antes de alcançar a marca de cinco anos
26
de atividade. E o estudo complementa estes dados pouco estimulantes com o seguinte
prognóstico:
Projetando os índices de mortalidade obtidos sobre a série histórica do
número de empresas abertas na JUCESP, chegou-se a uma estimativa de
1 milhão de empresas fechadas, entre 1990 e 2000, contra um total de 1,5
milhão de registros de novas empresas no mesmo período.
Mas deve-se ter em conta que, dentre os motivos enumerados pela pesquisa da
entidade para explicar a razão de tão expressiva mortalidade das atividades de
empreendedorismo, nenhum possui relação com problemáticas de gênero – como fica
evidente nos fatores abaixo relacionados (SEBRAE, 2001, p. 10-11):
- pouca qualidade e tempo dedicados ao planejamento do negócio antes de sua efetiva
abertura para o mercado;
- dedicação insuficiente ao empreendimento em seu primeiro ano de existência;
- despreparo técnico-gerencial, particularmente no aspecto de administração do fluxo
de caixa;
- falta de sintonia com o público-alvo;
- desatenção à necessidade de contínuo aperfeiçoamento do produto/serviço em que o
empreendedor está envolvido;
- a comumente desfavorável conjuntura econômica do Brasil.
Infere-se, deste modo, que as mulheres empreendedoras, muito provavelmente,
também enfrentam as dificuldades acima descritas. Portanto, de que modo poderiam ser
observadas eventuais diferenças entre as ações empreendedoras de homens e mulheres?
Uma afirmação de Filion (1999, p. 12) talvez seja útil para contribuir de modo mais
consistente no raciocínio que se pretende aqui desenvolver:
Para os indivíduos interessados no estudo da criação de novos
empreendimentos, os melhores elementos para prever o sucesso de um
empreendedor são o valor, a diversidade e a profundidade da experiência
e das qualificações adquiridas por ele no setor em que pretende operar.
Esta qualificação do empreendedor desenvolvida por Filion, contudo, também não
parece colocar, ao menos em uma primeira análise, parâmetros de distinção entre capacidades
empreendedoras de homens e mulheres.
27
Para contribuir na reflexão voltada especificamente aos distintos papéis atribuídos a
mulheres e homens, é pertinente destacar a avaliação de que “a categoria analítica ‘gênero’
possibilita a busca dos significados das representações tanto do feminino quanto do
masculino, inserindo-as nos seus contextos sociais e históricos. A análise das relações de
gênero também implica a análise das relações de poder” (SEGNINI apud ANTUNES, 2000,
p. 109).
Assim, tem-se mais um elemento a confirmar a importância da abordagem de gênero,
em vista das relações sociais apresentarem nítidas condicionantes vinculadas às distinções de
sexo, conforme Machado (2001, p. 379) deixa evidente:
As razões que levam mulheres a iniciar empresas são variadas. Algumas
abrem empresas por realização pessoal, por dificuldade de ascensão na
carreira nas empresas onde trabalhavam, para ter mais tempo livre para a
família, preocupação com o futuro dos filhos e necessidade de
complementar a renda familiar.
A citação acima mostra que situações vivenciadas pelas mulheres – a exemplo do
papel atribuído a elas enquanto (ainda) únicas responsáveis pela administração do cotidiano
doméstico, ou, ainda, a experiência da maternidade – condicionam fortemente a opção pela
atividade empreendedora.
Como é evidente, homens e mulheres também apresentam razões em comum para
assumir, individualmente, uma atividade empreendedora, sendo a necessidade de realização
pessoal o motivo mais recorrente, não apenas no Brasil, mas no mundo. Além deste aspecto
mais conhecido, cabe destacar também que muitos homens estão buscando guiar suas vidas
profissionais de modo a permanecer mais próximos de suas famílias – o que veio a tornar-se
uma possibilidade concreta em função da tecnologia, que possibilita ao profissional atuar de
modo eficiente e produtivo sem estar restringido, necessariamente, às instalações físicas
comuns de um escritório.
Os chamados home offices – além das tecnologias wireless (sem fio), cada vez mais
presentes nos ambientes corporativos – permitem a muitos profissionais a composição de um
ambiente de trabalho mais próximo de seu ambiente doméstico, estreitando e enriquecendo
assim suas relações pessoais e, ao mesmo tempo, mantendo a capacidade operativa exigida no
mercado de trabalho atual.
Mas, particularmente no caso brasileiro, há que se agregar um aspecto importante (e
comum a outros países em desenvolvimento): muitos profissionais tem no empreendedorismo
um caminho para sua manutenção no mercado de trabalho e, no limite, para sua
28
sobrevivência, tendo em vista a drástica redução da oferta de trabalho, decorrente dos baixos
índices de crescimento observados no país ao longo das décadas de 1980 e 90.
Assim, com base na argumentação anterior, este trabalho procura lançar luzes sobre a
questão da atuação profissional de homens e mulheres empreendedores, por meio da
seguinte questão de pesquisa:
“Como mulheres e homens brasileiros empreendedores atuam a frente de seus negócios?”
Essa questão de pesquisa procura abranger as idéias desenvolvidas e será respondida pelo
estabelecimento dos objetivos que seguem.
1.2 OBJETIVO GERAL
Investigar a atuação profissional de homens e mulheres empreendedores brasileiros a
frente de seus negócios.
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Os objetivos específicos do trabalho são:
-
Identificar
as
principais
características
pessoais
de
empreendedoras
e
empreendedores relacionados à sua origem, trajetória educacional, experiência profissional
anterior e vida pessoal;
- Observar possíveis distinções de aspecto comportamental entre empreendedoras e
empreendedores relativas às seguintes dimensões: confiabilidade X instabilidade; extroversão
X introversão; impulsividade X cautela; orientação para equipe X interesse próprio; e
praticidade X originalidade;
- Descrever a experiência executiva dos empreendedores (as), levando em conta
características, facilitadores e barreiras relacionados ao exercício da atividade empreendedora.
29
30
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2. 1. EMPREENDEDORISMO
2. 1. 1 Histórico e Fundamentos Teóricos
Um dos aspectos a ser observado nesta dissertação diz respeito ao atual estágio de
desenvolvimento do empreendedorismo, uma vez que esta atividade vem ganhando
importância cada vez maior no contexto das economias desenvolvidas e em desenvolvimento.
Neste sentido, são observadas de modo mais detido, as contribuições teóricas que mapeiam
não apenas a situação da mulher empreendedora e de seus colegas do sexo masculino, uma
vez que, como parece ser evidente, ambos compartilham não apenas de um objetivo comum –
a busca do sucesso profissional – mas também da necessidade cotidiana de superar obstáculos
muitas vezes, comuns aos empreendedores de ambos os sexos.
Naturalmente, a entrada em larga escala das mulheres no mundo do trabalho – e
particularmente no universo do empreendedorismo, como já observado – trouxe mudanças
significativas nos modos de se conceber as relações profissionais, bem como nos modos de se
perceber os clientes, no que diz respeitos às suas demandas e aspirações. No entanto, antes de
se aprofundar nas questões específicas de gênero é necessário ter uma maior clareza sobre o
sentido atual das atividades empreendedoras: qual o futuro do empreendedorismo? e, com
relação ao presente, qual sua real contribuição para as economias dos países?
Em primeiro lugar, deve-se colocar o fato de que o dinamismo das atividades
empreendedoras de uma nação está vinculado diretamente à capacidade dos agentes
econômicos desta produzirem riqueza. Exemplo claro disso está no caso norte-americano,
31
uma vez que neste país, como destaca Drucker (1986, p. 15), o fenômeno do
empreendedorismo corresponderia ao “acontecimento mais significativo e promissor ocorrido
na história econômico-social recente”.
É oportuno destacar, conforme indica Baumol (1993, p. 11), que a palavra
empreendedor – em inglês, entrepreneur – é de origem francesa, e começou a ser usada ainda
no início do século XVIII. No entanto, sua adoção pela língua inglesa veio a ocorrer apenas
em meados do século XIX, tendo sido popularizada pelo economista J. B. Say, que usou o
termo para distinguir aquele profissional que poderia ter sua atividade caracterizada “...entre
o trabalho do cientista e o do operário” (BAUMOL, 1993, p. 12)
Drucker (1986, p. 16), ao avaliar a percepção do senso comum sobre o
empreendedorismo, pondera que esta atividade, muitas vezes, ainda é relacionada a uma
genialidade individual ou alguma espécie de dádiva quando o mais importante é, sem dúvida,
o aspecto do trabalho árduo e sistemático dos profissionais empreendedores – este sim o
verdadeiro responsável pelas iniciativas de sucesso.
Neste sentido, deve-se destacar os cinco mitos apontados por Farrel (1993, p. 167168), que, comumente, são atribuídos àqueles que têm na atividade empreendedora, a sua
profissão. Naturalmente, tais características se manifestam com maior ou menor intensidade
e/ou freqüência, em função do amadurecimento da sociedade e da economia observado em
cada país:
a) Empreendedores nascem feitos ou, em outras palavras, seriam indivíduos
predestinados a assumir este papel, em vista de uma suposta ‘genialidade’;
b) A meta principal de todo empreendedor é a acumulação de dinheiro;
c) Os aspectos éticos não existem, ou teriam pouca importância para o empreendedor;
32
d) O empreendedor está sempre disposto a se arriscar perigosamente;
e) O excesso de empreendedores pode trazer resultados nocivos para a economia.
É importante ressaltar, contudo, que alguns (ou a maior parte) destes apontamentos
não sejam necessariamente recorrentes em todos os lugares onde existam atividades
empreendedoras.
No entanto, para os objetivos deste trabalho os mitos destacados por Farrel (1993)
podem trazer uma importante contribuição, uma vez que, antes de se adentrar em uma
investigação sobre como as mulheres e os homens exercem este tipo de atividade no Brasil, é
importante conhecer a visão geral sobre a atividade empreendedora. Existiria uma percepção
positiva, negativa ou, simplesmente, não há ainda uma avaliação definida? Refletir sobre
essas questões é oportuno porque elas podem influenciar, as análises e os resultados obtidos
por meio dos empreendedores investigados.
Neste sentido, seria pertinente agregar aos mitos acima enumerados por Farrel alguns
apontamentos levantados por Timmons (1994), mostrando que a percepção de ambos autores
é bastante semelhante, no que diz respeito aos preconceitos comumente relacionados às
atividades empreendedoras:
- Empreendedores nascem feitos, não podem ser criados;
- Qualquer pessoa pode iniciar um negócio;
- Empreendedores são jogadores;
- Empreendedores querem tudo para si próprios;
- Empreendedores são seus próprios chefes, sendo completamente independentes;
- Empreendedores experimentam alto nível de stress e pagam alto preço;
33
- Empreendedores devem ser jovens e enérgicos;
- Se um(a) empreendedor(a) possui capital inicial suficiente, ele ou ela não podem
perder a oportunidade;
- Se o empreendedor é talentoso, o sucesso virá em um ano ou dois.
Os pontos levantados por Timmons (1994) são, basicamente, desdobramentos dos
apontamentos de Farrel (1993, p. 167-168) e, neste sentido, é pertinente apresentar as
respostas deste autor para os mitos anteriormente destacados:
a) Os empreendedores não são necessariamente gênios. Ao contrário, seriam pessoas
comuns, com educação e QI medianos, que apresentam capacitação profissional
adquirida através de muitos anos de trabalho em empresas de pequeno, médio e/ou
grande porte;
b) A característica principal de um verdadeiro empreendedor poderia ser identificada
como a realização das metas que este projetou com relação aos fatores cliente e
produto/serviço, ainda que esta realização não signifique, necessariamente, um retorno
financeiro extraordinário;
c) Os empreendedores têm tanta consideração pelos aspectos éticos quanto os
profissionais de qualquer outra área, não havendo fatos que indiquem maior incidência
dos primeiros no sentido de utilizar recursos ilegítimos para a obtenção de seus
objetivos. De fato, o uso deste tipo de recurso é uma ocorrência observável no
34
conjunto da população de qualquer país, mas, felizmente, ainda caracterizável como
exceção, em todos os ramos de atividade;
d) A disposição para assumir riscos, no caso do empreendedor, a exemplo do item
anterior, tem limites que podem ser igualmente observados em profissionais de outras
áreas, ou seja, o fator risco inerente a qualquer empreendimento não poderia
caracterizar aquele que está a sua frente, como pouco cauteloso ou até mesmo
irresponsável, visto que este profissional, via de regra, atua com recursos próprios e/ou
responde individualmente pelos resultados de suas ações, o que não ocorre,
necessariamente, por exemplo, com funcionários de uma grande empresa;
e) Não se trata de afirmar que um mundo com uma maioria de empreendedores seria
necessariamente melhor, mas é possível sugerir que mesmo as empresas já
estabelecidas (mais especificamente, seus funcionários, de todos os escalões)
poderiam avançar de modo significativo, caso algumas práticas típicas do
empreendedorismo, como a busca incessante por maior competitividade, fossem
adotadas.
É importante ressaltar que o desconhecimento e/ou possíveis avaliações
preconceituosas da sociedade, no que diz respeito à real dimensão das atividades
desenvolvidas por empreendedores e empreendedoras – bem como de sua importância para o
resultado geral da economia – corresponde, mais precisamente, a um notório paradoxo que
merece ser destacado, uma vez que a atividade empreendedora desempenha um papel cada
vez mais relevante para a economia, como indicam Amaro e Paiva (2002), a partir de dados
35
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referentes à distribuição das
empresas segundo os critérios de porte e setor, no ano de 1998:
36
Tabela 1. Distribuição das Empresas Industriais, Comerciais e de Serviços por Porte e Setor /
Brasil - 1998
PORTE EMPRESARIAL
SETOR DE COMP.
MPE*
MDE*
GE*
Total
ATIVIDADE (%)
Nº
%
Nº
%
Nº
%
Nº
%
INDÚSTRIA
14,4
COMÉRCIO
505.991
98,2 7.826
1,5
1.601 0,3
515.418 100,0
50,4
1.801.159 99,6 4.279
0,2
2.764 0,2 1.808.202
SERVIÇO
35,3
1.241.782 98,1 9.634
0,8 13.885 1,1 1.265.301
TOTAL
100,0
3.548.932 98,8 21.739 0,6 18.250 0,5 3.588.921
100,0
100,0
100,0
Fonte: AMARO, Meiriane Nunes; PAIVA, Silvia Maria Caldeira. Situação das micro e pequenas empresas. 2002.
Disponível em: <www2.senado.gov.br/conleg/ artigos/economicas/SituacaodasMicro.pdf>. Acesso em 21 jun 2004, p.
2.
*MPE: microempresa e pequena empresa (na indústria até 99 empregados e no comércio/serviços até 49)
*MDE: média empresa (na indústria de 100 a 499 empregados e no comércio/serviços de 50 a 99)
*GE: grande empresa (na indústria acima de 499 empregados e no comércio/serviços mais de 99)
O quadro é um indicador significativo da importância econômica do empreendedor
para a sócio-economia brasileira, uma vez que, no final da década passada, nada menos que
98,8% das empresas brasileiras regularmente cadastradas eram classificadas, quanto ao porte,
como micro ou pequena.
Se for considerado o período 1996-2001, também segundo dados do IBGE (apud
FAVILLA, 2004), a quantidade total de micro e pequenas empresas (MPE) saltou de 3,1
milhões para 4,6 milhões, o que representa, em percentuais, um aumento da participação
destas de 98,9% para 99,2% do total de empresas do país.
Este aumento da participação das MPE na economia brasileira, do ponto de vista do
emprego, também é muito expressiva: no mesmo período, foram criados por estas empresas
37
3,5 milhões de novos postos de trabalho, contra apenas 686 mil novas vagas criadas pelas
empresas de médio e grande porte.
Os dados do IBGE relativos ao início da década de 2000 mostram que as MPE já eram
responsáveis (ano de 2001) por mais que a metade dos empregos formais existentes no país 56,1% - ou, em números absolutos, 14,5 milhões de postos de trabalho.
Considerando estes dados, é possível inferir a qual contradição fez-se referência
anteriormente, pois dentre os inúmeros efeitos do crescimento tímido da economia brasileira
nos últimos anos, deve-se apontar um que está relacionado, mesmo que de forma indireta, ao
tema desta dissertação: os empreendedores, homens ou mulheres têm sido responsáveis pelo
aspecto dinâmico da economia do país, ainda que seu trabalho possa ser considerado, de uma
certa forma, desconhecido.
E desconhecimento poderia resultar na construção de uma percepção distorcida da
realidade do empreendedor (a), uma vez que se costuma caracterizar o empreendedor como
alguém privilegiado – avaliação esta que se estende a qualquer pessoa que se disponha a
iniciar uma atividade empreendedora, mesmo que notoriamente modesta.
Em função disso, alguns aspectos históricos serão resgatados, para que seja possível
visualizar com mais clareza essa situação. E, o ponto de partida será os Estados Unidos, país
que lidera este tipo de atividade no mundo.
Drucker (1986, p. 18) indica que, dentre os grandes economistas modernos, apenas
Joseph Schumpeter dedicou sua atenção à atividade empreendedora e seus efeitos sobre o
resultado geral da economia de uma nação. Isto teria ocorrido porque os economistas, de um
modo geral, reconhecem a importância da atividade empreendedora para o crescimento da
riqueza de um país, mas a natureza do fenômeno empreendedor não seria, a rigor, um
problema da economia, por envolver aspectos como valores, atitudes, percepções etc.
38
No entanto, Drucker (1986, p. 20) aponta que “O que viabilizou o aparecimento da
economia empreendedora nos Estados Unidos são as novas aplicações da Administração”.
Neste ponto, o empreendedorismo começa a se aproximar dessa área do conhecimento, o que
possibilita focar com mais precisão o objeto de estudo desta dissertação, mas, de imediato,
deve-se identificar a que novas aplicações se refere o autor (é importante destacar que os
aspectos por ele relacionados dizem respeito ao universo corporativo norte-americano, em
meados da década de 1980):
- A partir deste período, os novos empreendimentos começaram a adotar as
ferramentas próprias da administração, as quais eram utilizadas, até então, apenas por
empresas já estabelecidas;
- Os recursos propiciados pelas tecnologias próprias do universo da administração
passaram a ser adotados por pequenos empreendedores, rompendo com a mentalidade
segundo a qual apenas as grandes empresas poderiam adotar este tipo de recurso;
- Empreendimentos com perfis diversificados, e não estritamente comerciais
(educação, serviços de saúde etc.) também aderiram às ferramentas propiciadas pela
administração, ampliando o universo de usuários, antes restrito às empresas no sentido
tradicional;
- Busca de inovação, visando satisfazer a (infinita) demanda dos seres humanos por
produtos e serviços;
39
Com relação, especificamente, a este último item é possível identificar o que se
poderia chamar de “mentalidade empresarial” – que, no desenvolvimento dos negócios, acaba
por se estruturar como uma ‘organização empreendedora’, conforme apontam Cornwall e
Perlman (1990, p. 8): “Uma organização que cria um ambiente interno é o que se define
como organização empreendedora”. (tradução livre)
Estudar o empreendedor (ou a empreendedora) corresponderia, deste modo, a observar
as características daquele profissional que tem como missão atuar como agente transformador,
considerando os mais diversos ambientes corporativos, desde um pequeno e incipiente
negócio até uma empresa já estabelecida, e que se move constantemente no sentido de
conquistar mais espaços no mercado em que atua.
E que características distintivas poderiam ser identificadas neste profissional, além de
aspectos como liderança e iniciativa? Ou, de modo específico, em que aspectos se
materializam as ações dos empreendedores?
Neste sentido, deve-se atribuir a um empreendedor a capacidade criativa, que se
manifestaria, dentre outras maneiras, na criação de novas formas de gerenciamento, que
considerem a dinâmica e as especificidades do(s) mercado(s) em que este atua –
invariavelmente marcados pelo fator mudança.
A figura a seguir, adaptada de Kuratko e Hodgetts, mostra a dimensão do processo
criativo vinculado à atividade empreendedora:
40
Figura 1. Processo Criativo na atividade empreendedora.
INCUBAÇÃO
COMPETÊNCIAS
PROCESSO
CRIATIVO
IDÉIAS
AVALIAÇÃO E
IMPLEMENTAÇÃO
Fonte: transcrição. KURATKO, Donald F.; HODGHETTS, Richard M. Entrepreneurship: a contemporary aproach.
The Dryden Press, Fort Worth, 1989, p. 41
Os mesmos autores também destacam a diferença entre o gênio – sempre um caso de
exceção – e a pessoa criativa, uma vez que este segundo tipo de pessoa corresponderia à
maioria dos indivíduos atuantes como empreendedores (proporcionalmente ao que se observa
no conjunto da sociedade). Portanto, seria possível identificar no indivíduo comum –
independentemente do fator gênero – potencialidades específicas, as quais poderiam ser
desenvolvidas com vistas ao alcance de um objetivo: o sucesso em uma atividade
empreendedora.
41
E como também fica evidente na Figura 1, além do aspecto da criatividade, outra
dimensão que não pode deixar de ser observada, quando se pretende avaliar a atuação de
empreendedores – sejam eles homens ou mulheres – é a questão da competência, que será
abordada no tópico seguinte.
2. 1. 2 A dimensão da competência
Ao ser abordada a questão de gênero no empreendedorismo, esta, inevitavelmente,
acaba por estar vinculada a diversos outros aspectos que compõem a dimensão da atividade
empreendedora, sendo a questão da competência, talvez, o elemento central quando se tenta
pensar a atividade de um profissional. Em outras palavras, falar de mulheres e homens
empreendedores implica, necessariamente, em falar de suas competências.
No entanto, esta variável pode ser descrita de inúmeras maneiras: um profissional
pode ser designado como incompetente quando não tem capacitação técnica satisfatória ou,
talvez, no caso de apresentar uma postura ética duvidosa – o que demonstra existir, na
verdade, um imenso campo para a livre interpretação do que poderia ser caracterizado como
competência.
Mas, no caso da presente dissertação, deve-se buscar alguma clareza com relação ao
que poderia ser chamado de competência empreendedora. O que faz um empreendedor ou
uma empreendedora competente? O minucioso estudo de Paiva Júnior, Leão e Mello (2003),
apresentado no XXVII Enampad, aponta que as dimensões da personalidade, habilidades e
conhecimentos de um empreendedor – em suas infinitas possibilidades de manifestação –
compreenderiam, quando avaliadas no âmbito de uma atividade empreendedora, uma série de
características que poderiam ser designadas como competências.
Assim, conceber um empreendedor competente nos dias atuais pressupõe identificar
um indivíduo, homem ou mulher, capaz de realizar sua vocação profissional no contexto da
42
chamada ‘sociedade do conhecimento’, ou seja, o empreendedor/empreendedora que atua no
século XXI não poderia ser analisado a partir de conceitos que eram válidos, por exemplo, ao
tempo do fordismo.
O empreendedor deve aprender com as experiências daqueles que o precederam,
porém, uma vez que o mundo encontra-se em constante transformação, exigindo que os
profissionais de um modo geral – e não apenas os empreendedores –, como afirma Demo
(1994), sejam capazes de ‘aprender a aprender’, para sobreviver em um ambiente de crescente
competitividade. Assim, o sentido da competência pode ser vinculado, no caso da atividade
empreendedora, à capacidade de resposta a uma série de novas exigências no mundo dos
negócios – ou, como aponta, Paiva Júnior, Leão e Mello (2003), o empreendedor (a) deve
possuir:
a) Senso de identificação de oportunidades;
b) Capacidade de relacionamento em rede;
c) Habilidades conceituais;
d) Capacidade de gestão;
e) Percepção ágil das mudanças de cenário;
f) Posicionamento em conjunturas adversas;
g) Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Os itens acima, portanto, podem ser utilizados como indicadores de competência
observável em um(a) empreendedor(a). Mas seria pertinente, neste momento, levantar uma
questão: Seria possível relacionar uma hierarquia de competências? Para se pensar com
mais subsídios esta questão, deve-se avançar um pouco mais na argumentação.
43
A partir de Enriquez (1997), pode-se afirmar que as competências mais importantes para o
sucesso de um empreendimento são desenvolvidas, via de regra, através da experiência
profissional do indivíduo ao longo dos anos. Portanto, seria um erro conceber, por
exemplo, a dimensão da criatividade nos negócios a partir de um referencial
abstrato/genérico, uma vez que esta competência é observada (ou não) na atuação do
empreendedor. O autor indica, portanto, que uma competência como a criatividade não é
algo que possa ser aprendido, a exemplo de uma técnica gerencial qualquer, apesar desta
característica ser cada vez mais necessária.
É evidente que os indivíduos têm potencialidades que podem ser mais ou menos
exploradas, mais ou menos desenvolvidas – daí a importância da educação permanente –,
mas não se pode negar a evidência de que existem empreendedores(as) mais ou menos
competentes. E é neste ponto que reside a complexidade de se estudar gênero no âmbito do
empreendedorismo: além de quaisquer possíveis generalizações, surveys ou qualquer outra
abordagem quantitativa, sempre há o indivíduo, com seu talento, ambição, trajetória e
formação únicos.
Mas deve-se reforçar que a competência é um fator a ser trabalhado e desenvolvido pelos
empreendedores, não se tratando de uma espécie de ‘dom’ ou ‘genialidade’, como afirmam
Paiva Júnior, Leão e Mello (2003, p. 6):
O estudo realizado por Storey (2002) junto a dirigentes de médias empresas da
Inglaterra constata que as atitudes e práticas voltadas para a educação,
treinamento e desenvolvimento, numa concepção mais ampla de aprendizagem,
demonstram correlação com a melhoria do desempenho organizacional.
Desta afirmação se infere que as chamadas competências, não obstante sua materialização
singular observada em cada empreendedor, podem ser analisadas e, conseqüentemente,
desenvolvidas através de educação e treinamento. Assim, o empreendedor realiza suas
ações estratégicas de modo único, mas a partir de condicionantes que podem ser
generalizadas e estudadas de modo sistemático.
A seguir a descrição e breve análise das sete competências citadas anteriormente por Paiva
Júnior, Leão e Mello (2003) – competências de oportunidade, relacionamento, conceituais,
administrativas, estratégicas, de comprometimento e de equilíbrio entre trabalho e vida
pessoal.
44
a) Competências de oportunidade
Esta primeira competência, de acordo com Paiva Júnior, Leão e Mello (2003), pode
ser subdividida em três categorias menores: identificação, avaliação e busca de
oportunidade de mercado. A partir destas referências, os autores apontam que o
empreendedor competente deve ser capaz, portanto, de identificar cenários favoráveis a
seus objetivos estratégicos e realizar ações que transformem estas potencialidades em fatos
positivos, do ponto de vista do negócio em questão. De acordo com Hills e LaForge
(1996), esta competência corresponde, precisamente, à percepção para novos lucros, que se
faz presente através da estruturação e/ou aperfeiçoamento de um empreendimento.
Stevenson e Gumpert (1985) lembram que, para reconhecer a competência de oportunidade
em um empreendedor, deve-se atentar para um aspecto complicador da análise: quando
o(a) empreendedor(a) possui a percepção acima referida, este deverá ater-se, por um lado,
a fatores mensuráveis ou controláveis (seleção e gerenciamento da equipe de trabalho,
estudos técnicos de risco etc.) e, de outro, a fatores que estão fora de seu controle
(elementos culturais, conjuntura social e econômica etc.).
Na ilustração 1, Paiva Jr., Leão e Mello (2003) apresentam um resumo das possibilidades
vinculadas a esta primeira competência:
Quadro 1. Áreas de competências / oportunidade
Dimensão da competência
Definição
a. oportunidade
Identificar lacunas de mercado não
Identificar as oportunidades de negócios atendidas, por meio de relacionamentos,
a partir de experiências prévias
operações de negócios e mudanças
ambientais.
Avaliar os espaços de mercado não
Avaliar tendências e mudanças de
atendidos
mercado e da concorrência.
Desenvolver pesquisas de mercado e
Pesquisar oportunidades por meio dos
sistemas de inteligência de marketing
esforços de marketing
para detectar oportunidades.
Identificar otimização de esforços com
Identificar sinergia com parceiros
parceiros.
Fonte: PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C.
Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente
reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003.
45
b) Competências de relacionamento
A competência de relacionamento, elementar para o sucesso de um negócio em qualquer
área, demanda do(a) empreendedor(a), segundo Paiva Jr, Leão e Mello (2003), a
capacidade de criar e fortalecer uma imagem que transmita, ao mesmo tempo, confiança
profissional, compromisso na relação com clientes e parceiros, conduta transparente,
reputação impecável e, finalmente, capacitação técnica específica em sua área de atuação.
Esta capacidade é, de fato, indispensável à medida que o empreendedor sempre necessita
atrair novos clientes e recursos para seu negócio – e, não por acaso, o chamado networking
(rede de relacionamento), que, como destaca Minarelli (2001), expandiu seu sentido
original (relacionado aos contatos pessoais dos profissionais), pode hoje ser entendido
como uma nova prática cotidiana, que adota o ‘saber-fazer relacional’ como recurso de
sobrevivência básico no mundo dos negócios, ou netliving.
Abaixo, um resumo das possibilidades relacionadas às competências de relacionamento:
Quadro 2. Áreas de competências / relacionamento
Dimensão da competência
Definição
b. relacionamento
Construir e manter relacionamentos de
Construir e manter redes de
confiança e credibilidade junto a
relacionamentos com stakeholders
clientes, fornecedores, intermediários,
colaboradores internos e acionistas.
Utilizar-se das redes para adquirir e
Utilizar-se das redes de relacionamentos
fortalecer as oportunidades e para obter
construídas com stakeholders
recursos e capacidades.
Jogar de forma “ganha-ganha” para
Negociar com os parceiros de negócios fortalecer a confiança e credibilidade na
rede.
Recorrer a pessoas e grupos de
Recorrer às relações pessoais
referencia oriundos do cotidiano secular
a favor da prática profissional.
Fonte: PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C.
Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente
reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003
c) Competências conceituais
46
Man e Lau (2000) descrevem a competência conceitual através da capacidade do
empreendedor em perceber com clareza tanto as oportunidades externas quanto a dinâmica
interna de seu negócio, o que faz com este profissional, comumente, avance sobre
processos decisórios e analíticos (às vezes demorados), adotando medidas e ações apenas
com base em seu conhecimento empírico da realidade, somado ao que se costuma chamar
de intuição. Além destas características, o empreendedor ‘conceitualmente competente’,
seria capaz de enxergar ao menos um aspecto positivo em qualquer circunstância, daí sua
capacidade de analisar riscos, promover ações e encaminhar soluções.
As competências conceituais foram resumidas por Paiva Jr, Leão e Mello (2003) na
ilustração que segue:
Quadro 3. Áreas de competências / conceitual
Dimensão da competência
Definição
c. conceituais
Observar, analisar e avaliar de forma
subjetiva.
Analisar os caminhos alternativos e
Ver por um ângulo diferente
alcançar melhores soluções.
Diferenciar-se em mercados, produtos e
Inovar
tecnologias.
Avaliar riscos
Avaliar situações duvidosas.
Assumir riscos
Tomar decisão em situação de incerteza.
Demonstrar características
Ter vocação
empreendedoras.
Agir de forma livre de modo a manter o
Ter autonomia
autocontrole.
Ter sensibilidade e vontade de aprender Teorizar a prática cotidiana.
Pensar intuitivamente
Fonte: adaptado de PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO,
Sérgio C. Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente
reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003.
d) Competências administrativas
Como se pode deduzir, a chamada ‘competência administrativa’ está diretamente vinculada
à capacidade do empreendedor de realizar com sucesso a (invariavelmente complexa)
tarefa de alocar recursos materiais, humanos, tecnológicos e financeiros – atividade que,
como apontam Man e Lau (2000), está diretamente ligada ao talento para planejar,
organizar, motivar, delegar e controlar.
47
As possibilidades relacionadas às competências administrativas formam um conjunto de
elementos particularmente importantes para o universo do empreendedorismo, como pode
ser observado a seguir:
48
Quadro 4. Áreas de competências / administrativa
Dimensão da competência
Definição
d. administrativas
Planejar
Elaborar ordenadamente as ações futuras
Distribuir os recursos de forma racional
Alocar recursos eficientemente
e criativa.
Utilizar recursos e capacidades que
Alcançar eficácia satisfatória com os
gerem resultados
recursos e capacidades disponíveis.
Diligência na satisfação de necessidades
Atender prontamente ao cliente
do cliente.
Ser ágil em tomada de decisão
Tomar decisões rápidas e criativas.
Conduzir os colaboradores internos
Ter liderança sobre a equipe
eficazmente.
Alinhar interesses funcionais
Gerenciar conflitos entre os empregados
antagônicos.
Promover o consenso entre os parceiros Orquestrar a atuação dos parceiros
no processo de tomada de decisão
conforme os objetivos estratégicos
Gerar estímulos que dinamizem o
Motivar a equipe
empenho dos talentos internos.
Descentralizar e monitorar
Delegar tarefas
responsabilidades para colaboradores
capacitados.
Normatizar, estabelecer recompensas e
Controlar
sanções e monitorar as desviações.
Comunicar-se eficazmente interna e
Transmitir mensagens curtas e
externamente
informativas.
Incrementar a imagem publicitária da
Expor-se com habilidade junto à mídia
empresa sem ônus financeiro.
Alcançar receitas financeiras por meio
Vender eficazmente
da comercialização dos serviços.
Avaliar os atributos do produto de forma
Atribuir valor ao seu produto/negócio
eficiente.
Fonte: PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C.
Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente
reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003.
e) Competências estratégicas
Estas competências, que dizem respeito à capacidade de análise e implementação das
estratégias em longo prazo a um determinado negócio, caracterizam o empreendedor capaz
de enxergar os destinos da organização e, também, de atuar com objetivos de curto e médio
prazos – para Kets de Vries (1995) o empreendedor competente, necessariamente, destacase como o indivíduo mais hábil para gerenciar a complexidade de um negócio. No quadro a
49
seguinte é possível visualizar as possibilidades estratégicas enumeradas por Paiva Júnior,
Leão e Mello (2003):
Quadro 5. Áreas de competências / estratégica
Dimensão da competência
Definição
e. estratégicas
Planejar estrategicamente
Ter visão abrangente
Estabelecer e avaliar objetivos
Ter intencionalidade para a ação
Definir e avaliar posicionamento
Estabelecer o posicionamento
Gerar uma identidade corporativa a
partir de suas características
Ter agressividade competitiva
Realizar mudanças estratégicas em
ambientes adversos
Executar metas estabelecidas
Utilizar táticas
Orçar a implementação da estratégia
Controlar os resultados das estratégias
Ter compreensão de cenários ampla e de
longo prazo.
Estabelecer objetivos realísticos e
viáveis.
Predisposição para atuação
empreendedora.
Identificar e avaliar a posição
competitiva da imagem de marca junto
ao público-alvo.
Saber adequar estratégias de
posicionamento adequadas.
Desenvolver estratégias de identidade
corporativa com base nos valores e
crenças pessoais.
Viabilizar posição vantajosa da empresa
frente aos rivais.
Gerar respostas estratégicas a mudanças
ambientais e condições hostis de
mercado.
Capacidade de implementar ações
programadas e não-programadas em
função das metas.
Usar táticas frente a clientes e
concorrentes.
Estimar a viabilidade financeira da
implementação da estratégia.
Monitorar os resultados da
implementação da estratégia.
Fonte: PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio C.
Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente
reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003.
f) Competências de comprometimento e equilíbrio trabalho/vida pessoal
As competências de comprometimento correspondem à capacidade do empreendedor em
se manter satisfatoriamente conectado a seu negócio, particularmente nos momentos
50
difíceis e de maior instabilidade – o que inclui, como sublinham Man e Lau (2000), a
energia necessária para recomeçar, no caso de um eventual fracasso. Esta competência está
ligada, muitas vezes, ao sentimento de responsabilidade para com os outros profissionais
com quem o empreendedor atua, além de aspectos como valores e crenças.
Já a competência equilíbrio trabalho/vida pessoal diz respeito a um apontamento de
Friedman et al. (1998), que mostra que cada vez mais profissionais buscam atuar tendo em
consideração a busca deste equilíbrio, uma vez que este seria importante para o
desempenho profissional e o crescimento pessoal.
O quadro a seguir esclarece a dimensão das chamadas ‘competências de comprometimento
e equilíbrio trabalho/vida pessoal’:
Quadro 6. Áreas de competências / comprometimento e equilíbrio trabalho/vida pessoal
Dimensão da competência
Definição
f. comprometimento
1. Comprometimento com o negócio
Manter o comprometimento em relação Manter o compromisso com o negócio
ao negócio
mesmo em situações de crise.
Manter o compromisso com objetivos de
Comprometer-se com os objetivos de
longo prazo mais que com os de curto
longo prazo
prazo.
Dedicar-se ao trabalho
Trabalhar arduamente pela empresa.
Ser responsável pela atuação dos
Comprometer-se com a equipe
empregados.
Compreender a rotina das atividades de
Ter uma compreensão lúdica/prazerosa
forma bem humorada e como sendo um
do trabalho
jogo desafiante.
2. Comprometimento pessoal.
Comprometer-se com o cumprimento de
Comprometer-se com suas crenças e
ações compatíveis com as crenças e
valores
valores pessoais.
Comprometer-se com os próprios
Comprometer-se com objetivos pessoais.
interesses em termos de vida pessoal.
Disposição para reiniciar a atividade
Recomeçar após fracassos
mesmo após situações de insucesso.
Desenvolver atividades alheias ao
Dar vazão ao estresse
cotidiano da empresa.
Fonte: adaptado PAIVA JÚNIOR, Fernando Gomes de; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza; MELLO, Sérgio
C. Benício de. Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente
reconhecido. XXVII Enampad. Atibaia/SP, 2003.
51
Os quadros de competência acima reproduzidos apresentam um resumo das
possibilidades analíticas que podem ser adotadas em um exercício de comparação entre
empreendedores e empreendedoras. Naturalmente, apenas alguns destes aspectos serão
efetivamente abordados na presente dissertação, mas o estudo de Paiva Júnior, Leão e Mello
(2003) deixa claro que o empreendedorismo é uma área de crescente complexidade e, por este
motivo, o foco na questão de gênero pode trazer uma maior compreensão da situação destes
profissionais em nossa contemporaneidade.
52
2. 1. 3 Comportamento do empreendedor
Se forem tomados como referência analítica alguns dos aspectos comportamentais
comuns à maioria dos empreendedores, é possível destacar, de imediato, ao menos um
elemento recorrente, como indica Gardner (1996): a criatividade. Afirma o autor também que,
ainda que seja possível apontar uma heterogeneidade comportamental significativa entre os
empreendedores, estes profissionais apresentariam, via de regra, um comportamento que
poderia ser classificado como de ‘rebeldia criativa’, no que diz respeito à perseguição
sistemática de objetivos relacionados a um empreendimento.
De acordo com McClelland (1987), um fator essencial a ser destacado corresponde à
necessidade de realização, a qual representaria uma motivação social fundamental no esforço
de superação dos empreendedores, que apresentariam, neste sentido, peculiaridades
importantes em seu cotidiano profissional:
- a responsabilidade pessoal nos processos de tomada de decisões;
- o estabelecimento de objetivos, bem como a realização destes, através da atuação
marcada pelo esforço contínuo e sistemático; e
- a necessidade constante de obtenção do retorno (feedback) relativo às decisões
tomadas e ações empreendidas.
Estas características estariam diretamente relacionadas ao fato dos empreendedores,
comumente, apresentarem um perfil otimista, bem como sua conhecida aversão aos trabalhos
repetitivos e rotineiros. De modo complementar, McClelland (1987) enumerou mais três
53
aspetos de ordem comportamental, que poderiam ser observados, regularmente, nos
empreendedores bem-sucedidos:
- a orientação no sentido da proatividade (iniciativa, assertividade etc.);
- personalidade realizadora (sensibilidade para detectar novas oportunidades, apreço
pelas ações de planejamento sistemático, avaliação constante de resultados etc.); e
- valorização do trabalho dos profissionais com quem atua/convive, bem como o
cultivo de boas relações com estes.
Para Baron (1998) o engajamento dos empreendedores no trabalho resulta em
experiências afetivas ligadas ao trabalho de maior intensidade, sendo que estes tenderiam a
superar com maior facilidade as frustrações passadas, concentrando-se fundamentalmente na
realização dos eventos futuros. Por outro lado, aponta o autor, os empreendedores, muitas
vezes, apresentariam características como excesso de confiança e ilusão de controle absoluto
da realidade.
Tais características poderiam, deste modo, ser associadas ao fator ‘desejo de
independência’, uma vez que os empreendedores imprimem sua personalidade naquilo que
realizam, determinando o ritmo e a intensidade que as ações vinculadas ao empreendimento
são realizadas. Neste sentido, Sexton e Bowman (1985) enumeram uma série de tendências
que poderiam ser observadas nos empreendedores:
- A tolerância a situações críticas/ambíguas;
- Busca constante de autonomia;
- Resistência à conformidade;
54
- Atração pelo risco;
- Adaptabilidade a mudanças;
- Baixa necessidade de apoio.
A partir da observação das características acima os autores inferem a existência de
uma predisposição dos empreendedores ao estresse e à solidão, tendo em conta o grande
esforço e energia despendidos por esses profissionais em seu cotidiano – invariavelmente uma
árdua jornada de trabalho.
Finalmente, tomando como referência a literatura consultada (PAIVA JÚNIOR, LEÃO e
MELLO, 2003; BARON, 1998; MCCLELLAND, 1987; CARLAND e CARLAND, 1988;
SEXTON E BOWMAN-UPTON, 1990) – tanto nacional quanto estrangeira – é possível
encontrar, de um modo geral, as seguintes características entre os empreendedores:
- Necessidade de reconhecimento social/profissional;
- Busca de independência;
- Busca de segurança;
- Atenção ao fator inovação;
- Poder de persuasão;
- Auto-confiança;
- Perseverança;
- Disposição para o risco.
55
No que diz respeito à maior ou menor incidência destas características, no caso da
distinção por gênero, o estudo empreendido por Sexton e Bowman-Upton (1990) aponta que
há mais semelhanças do que diferenças. Por sua vez, Carland e Carland (1988), ao analisarem
três variáveis do comportamento empreendedor em homens e mulheres empreendedores –
necessidade de realização, propensão ao risco e preferência por inovação – não encontraram
diferenças significativas, não obstante os resultados relativos às mulheres terem sido
ligeiramente inferiores aos dos homens.
2. 1. 4 GEM: perspectivas para empreendedorismo e gênero
Os estudos sobre a questão de gênero em empreendedorismo, é pertinente destacar um
estudo quem sendo realizado desde 1999, o projeto Global Entrepreneurship Monitor (GEM),
uma pesquisa coordenada pela London Business School (Inglaterra) e pela Babson School
(EUA), com a finalidade de avaliar a capacidade empreendedora dos países, sendo de
responsabilidade do SEBRAE sua publicação no Brasil.
Um primeiro dado importante é que, em 2000, o Brasil conseguiu ficar em primeiro
lugar, com 16 pontos, no ranking constituído por 21 países, elaborado pelo GEM (que no
Brasil foi realizado através do IBPQ / SEBRAE), tendo apresentado a maior taxa de atividade
empreendedora (TAE) total – (20,4%). A TAE corresponde, mais precisamente, a um índice
que mede a proporção de empreendedores na população adulta de um país.
Na prática, este percentual indica que, em cada oito brasileiros, ao menos um está
investindo na abertura de uma atividade empreendedora, o que não é pouco para o caso de um
país em desenvolvimento – como pode ser observado na ilustração 8, a seguir, a Argentina,
por exemplo, apresenta a relação de um empreendedor em cada 16 pessoas.
56
O GEM aponta que um dos fatores que contribui para o destaque do Brasil em 2000
foi o desenvolvimento do setor agropecuário. Mas um aspecto que merece ser destacado é que
a Argentina, apesar de estar abaixo do Brasil no ranking, possui uma tradição empreendedora
bastante forte (considerando o conjunto dos países latino-americanos), reforçada pelas
seguintes características: população com mais anos de escolaridade, industria diversificada e
setor agrícola dedicado à exportação.
É notório que a situação macroeconômica deste país se deteriorou visivelmente nos
últimos anos, mas em função de políticas econômicas que nada tem a ver com a capacidade
empreendedora de sua população, observação que pode ser igualmente atribuída ao Brasil.
O dois quadros a seguir contribuem para uma visualização mais abrangente da
situação dos principais países que participaram da pesquisa realizada pelo GEM no ano 2000:
Quadro 7. Nível de atividade empreendedora (em %)
BRASIL
16
CORÉIA
13,6
ESTADOS UNIDOS
12,6
AUSTRÁLIA
10,9
CANADÁ
7,9
NORUEGA
7,9
ARGENTINA
7,6
ÍNDIA
6,3
ITÁLIA
5,6
REINO UNIDO
5,1
ALEMANHA
4,7
ESPANHA
4,5
Fonte: REYNOLDS, Paul D.; BYGRAVE, William D.; AUTIO, Erkko. GEM – Global Entrepreneurship
Monitor. Executive Report 2.003: Babson College e London Business School, 15/03/2004.
57
Quadro 8. Pessoas iniciando novos empreendimentos
BRASIL
1 em cada 8
ESTADOS UNIDOS
1 em cada 10
AUSTRÁLIA
1 em cada 12
ARGENTINA
1 em cada 16
ALEMANHA
1 em cada 25
REINO UNIDO
1 em cada 33
IRLANDA / JAPÃO
1 em cada 100
Fonte: REYNOLDS, Paul D.; BYGRAVE, William D.; AUTIO, Erkko. GEM – Global Entrepreneurship
Monitor. Executive Report 2.003: Babson College e London Business School, 15/03/2004.
O estudo realizado pelo GEM indica que a maior ou menor força da atividade
empreendedora, observada nos diferentes países, está diretamente relacionada ao desempenho
macroeconômico destes. No caso dos países que faziam parte do ranking elaborado pelo GEM
no ano 2000, e que apresentavam um alto nível de atividade empreendedora, de acordo com a
pesquisa, todos mostravam índices de crescimento econômico satisfatórios – sendo que a
pesquisa apontava apenas uma exceção, a Irlanda, que apresentou uma taxa baixa de atividade
empreendedora acompanhada de um nível de crescimento econômico alto.
No ano seguinte, 2001, em função da desaceleração econômica então observada no
Brasil, A TAE medida no país alcançou o percentual de 14,2%, mas, ainda assim, manteve-se
entre os países de ponta no aspecto atividade empreendedora – o país destacou-se em meio a
um ranking muito maior naquele ano (37 países), sendo 19 da Europa, 9 da Ásia, 4 da
América Latina, 2 da América do Norte, 2 da Oceania e 1 da África.
Além do destaque internacional, uma versão da pesquisa do GEM realizada apenas no
Estado do Paraná, com o titulo Sempre Viva (2004). Participação feminina na abertura de
empreendimentos é cada vez maior – também em parceria com o IBQP/PR – mostrou que,
especificamente pelo que diz respeito ao desempenho das empreendedoras, o país também
vem mostrando resultados cada vez mais expressivos no sentido de equilibrar a participação
de homens e mulheres estudo concluiu que, no ano de 2001, nada menos que 38% das
atividades empreendedoras formalmente praticadas naquele Estado estavam sob o comando
de mulheres – um percentual altíssimo, apesar de ainda distante dos números encontrados, por
exemplo, na Itália, onde o índice de participação das mulheres chega a alcançar 50%.
A análise conduziu à conclusão de que, no caso brasileiro, os homens não estariam
mais conseguindo prover sozinhos o sustento da família, daí a quantidade cada vez mais
expressiva de mulheres que mantém sua família exclusivamente através da atividade
58
empreendedora. Finalmente, um terceiro motivo que se destacou na pesquisa, ainda no que
diz respeito à participação crescente da mulher no universo empreendedor, foi a inexistência
de um sistema público de seguridade social capaz de atender as demandas das pessoas com
renda mais baixa.
É pertinente notar que esta pesquisa do GEM no Brasil usou como parâmetro
comparativo alguns dados do instituto norte-americano Korn/Ferry International – que avalia
sistematicamente o perfil das mulheres empreendedoras americanas –, o que contribuiu para
evidenciar algumas das características acima mencionadas: nos Estados Unidos, as mulheres
empreendedoras, por exemplo, tem maior instrução que a média das brasileiras – fato
igualmente observável no caso dos homens empreendedores.
A pesquisa termina por recomendar um maior incentivo institucional para as mulheres
que buscam no empreendedorismo não apenas uma alternativa de sobrevivência, mas uma
oportunidade concreta de desenvolvimento profissional. Naturalmente, estes dados são
importantes para se pensar a atividade da mulher empreendedora no Brasil, mas deve-se ter
em mente que os dados obtidos em um estudo realizado apenas em um Estado (no caso, o
Paraná), não necessariamente podem ser amplificados para o resto do país – ainda que seja
possível inferir que estes resultados coincidam não apenas com a situação observável em
outros Estados brasileiros como também no que diz respeito às demandas dos
empreendedores do sexo masculino.
A pesquisa mundial realizada pelo GEM em 2002 mostrou que o Brasil caiu algumas
posições em seu ranking, ficando em sétimo lugar – o que mantém o país entre aqueles que
comportam um expressivo número de empreendedores em atividade. A TAE medida no Brasil
naquele ano alcançou o índice de 13,5%, ou seja, declinou em relação aos dois anos anteriores
(fenômeno que pode ser explicado pelo aumento de países no ranking do instituto que realiza
a pesquisa).
Também é importante destacar um aspecto da pesquisa anual realizada pelo GEM: os
dados dos países estudados são divididos em dois grandes blocos, os relativos aos países que
praticam o ‘Empreendedorismo por Necessidade’ e aqueles que caracterizam o
‘Empreendedorismo por Oportunidade’. O Brasil, no caso da pesquisa de 2002, comparece
em primeiro lugar dentre os países que praticam o ‘Empreendedorismo por Necessidade’, com
o índice de 7,5% - sendo que apenas três países apresentaram um índice de ‘necessidade’
maior que o índice por ‘oportunidade’: Brasil, Argentina e China.
A França ficou com o menor índice de ‘necessidade’ (0,1%), além de este ter
correspondido a menos de 2% em 26 dos 37 países que entraram no ranking – e como é
59
previsível, a maior ocorrência do índice de ‘necessidade’ foi observada nos países em
desenvolvimento.
Outro parâmetro que merece ser destacado na pesquisa do GEM corresponde à
divisão das atividades empreendedoras em dois tipos: os empreendimentos nascentes (com
menos de três meses de existência) e os novos empreendimentos (com até 42 meses). O
Brasil, no ano de 2002, aparece com um contingente correspondente a 5,7% de
empreendimentos nascentes 8,5% de novos empreendimentos.
Apesar dos dados relativos aos anos de 2000 e 2001 terem sido relativamente otimistas
– e tendo ocorrido, como visto, uma pequena retração em 2002 –, a pesquisa internacional
GEM realizada no ano passado mostra que a situação do Brasil permanece muito distante do
que poderia ser considerado ‘ideal’.
A pesquisa GEM realizada em 2003 (Correio Braziliense, 2003) mostrou que o país,
apesar de continuar bem posicionado no ranking – quarto lugar, numa avaliação que já
abrange 40 países –, ainda não oferece aos empreendedores e empreendedoras brasileiros o
devido apoio institucional/governamental, apesar da reconhecida importância destes
profissionais para a criação de empregos e a dinamização da economia.
Os números indicam que 22 milhões de pessoas atuaram como empreendedores no
Brasil, em 2003 – atrás apenas dos gigantes China, Índia e Estados Unidos –, sendo que, deste
contingente, 65% dos empreendedores encontram-se na faixa etária compreendida entre 25 e
44 anos (ficando aqueles acima de 45 anos com 17% do total de empreendimentos). Outro
dado importante, que deve ser destacado, é que a TAE medida no Brasil no ano passado
apontou os empreendedores com mais de 11 anos de estudo como os mais destacados, com
19%. Este dado contrasta fortemente com o histórico da participação empreendedora
brasileira por ‘necessidade’. E, além disso, no que diz respeito à renda dos empreendedores o
GEM mostrou que, em 2003, 70% dos empreendimentos criados foram administrados por
indivíduos com renda equivalente a até seis salários mínimos mensais; 40% declararam renda
de até três salários, e 21% dos empreendedores possuíam renda entre seis e 15 salários, o que
mostra uma melhora do perfil sócio-econômico destes profissionais.
Novamente, o estudo GEM relativo ao ano de 2003 tornou evidente a importância
estratégica da atividade empreendedora – e, igualmente, do ‘senso empreendedor’ – para o
avanço econômico e social das nações, sejam elas desenvolvidas ou em desenvolvimento. E,
via de regra, as do segundo grupo parecem ter governantes menos atentos a este fato, como é
caso do Brasil, que não tem programas em larga escala, capazes de fornecer crédito barato e
60
apoio técnico/logístico aos empreendedores, que acabam não suportando a carga tributária
crescente, além da burocracia e irracionalidade já conhecidas do Estado brasileiro.
No que diz respeito particularmente a gênero, a pesquisa 2003 do GEM destacou que o
aumento do número de famílias sustentadas exclusivamente por mulheres explicaria o recente
impulso da atividade empreendedora feminina – no ano 2000, as mulheres respondiam por
29% do total da população empreendedora, enquanto que no ano passado este contingente já
havia sido ampliado para nada menos que 46% do total.
Se for levada em consideração apenas a taxa de atividade empreendedora, as mulheres
alcançaram um índice de 11,7% (uma diferença de 2,5 pontos a menos com relação aos
homens) no ano passado, sendo que as maiores diferenças entre homens e mulheres, neste
quesito, foram observadas na Itália, Chile, África do Sul e China.
2. 2. MULHERES E HOMENS EM ATIVIDADE EMPREENDEDORA
Neste tópico são abordados alguns aspectos enfrentados por homens e mulheres em
suas atividades empreendedoras, que influenciam diretamente nos resultados de seus
trabalhos.
2. 2.1 Realidade e mitos
Dentre as inúmeras descobertas e questionamentos, levantados ao longo do processo de
revisão bibliográfica (2003 a 2005), destaca-se a questão do discurso de igualdade
existente entre mulheres e homens atuantes em algumas circunstâncias profissionais
específicas, a exemplo dos cargos executivos de alto escalão ou dos profissionais que
atuam como empreendedores, sendo este segundo caso evocativo da problemática
discutida na pesquisa. O referido discurso, cabe ressaltar, não pode ser qualificado
precisamente como preponderante, mas tem se mostrado cada vez mais influente em
alguns meios. (GRECCO, 2002)
No entanto, deve-se ter em mente que a situação das empreendedoras ainda encontra-se
muito distante de ser considerada confortável, uma vez que somente a partir da década de
1980 irá ocorrer a seguinte mudança (SCORZAFAVE, 2001, p 45):
61
Difundem-se novas proposições que reafirmam o princípio de equidade
entre os sexos e são debatidas modificações na ordem cultural e jurídica.
Nesse percurso, às vezes tortuoso, aparecem com maior clareza os limites
daquilo que seria próprio das mulheres, daquilo que lhes seria
reconhecido, permitido ou atribuído como característica de sua ‘natureza
social’. Por comparação, pode-se também compreender o que seria
próprio da ‘natureza social do homem’. Mais ainda! Chega-se à
consciência de que qualquer definição dos papéis, da imagem, da
identidade e dos códigos de comportamento da mulher, é instável e
transitória, já que tais concepções culturais são o resultado do confronto
entre os valores dominantes e os anseios de mudança.
O confronto referido, como é possível supor, corresponde a uma problemática de
difícil equacionamento e, conforme aponta a descrição, não se apresenta de modo retilíneo,
mas através de idas e vindas, com exigências que se alteram ao longo do tempo, e que afetam
as mulheres das mais diversas maneiras.
Neste sentido, é importante destacar o fato de que este ‘diferencial ético’ das mulheres
aplicado ao mundo do trabalho já era motivo de discussões no princípio do século XX, de
acordo com Besse (1999, p. 150): “Os defensores do emprego feminino afirmavam ademais
que as trabalhadoras contribuiriam para redimir o mundo corrupto dos negócios e do governo,
impregnando-o de alto senso de moralidade”. O aspecto ético faz parte, mais precisamente, do
objetivo mais amplo de identificar e analisar as distinções que caracterizariam a mulher
empreendedora hoje atuante, em comparação aos homens que compartilham da mesma
atividade profissional.
Sob o aspecto histórico, uma das observações relativas à condição empreendedora
atual também tem sua origem na observação de mudanças já perceptíveis há muitas décadas,
conforme destaca Besse (1999, p. 162-163):
As mudanças mais significativas no padrão de emprego feminino
ocorreram no setor de serviços. O desenvolvimento de novas tecnologias
e a expansão de órgãos do governo, empresas comerciais, serviços
financeiros e comunicações proporcionaram um número crescente de
cargos de escritório de bom nível para mulheres com instrução, da classe
média e da classe baixa ascendente.
62
Pode-se inferir que, novamente, o setor de serviços está ligado diretamente à
possibilidade de geração de mudanças para as mulheres, o que poderá ser confirmado (ou não)
na leitura da pesquisa.
Cabe a ressalva, no entanto, de que muitas mudanças têm afetado mulheres e homens
de modo indistinto, como já comentado anteriormente, reforçando a necessidade de se atentar
para o fato de que os processos de diferenciação entre os sexos são produzidos pela sociedade,
e não apenas fruto da vontade de indivíduos.
Mas, por outro lado, no contexto da realidade cotidiana dos negócios, é preciso ter em
mente que, dentre os elementos básicos que condicionam o sucesso de um empreendimento, a
questão da capacidade individual é evidente, pois, conforme define Porter (1996, p. 36), um
profissional talentoso é aquele “que apresenta uma visão global de seus negócios e que a
partir das transformações do macroambiente, tais como regulamentações, mudanças
tecnológicas e demanda de mercado, responde a tempo para se manter competitivo”.
Esta colocação de Porter afirma a necessidade de observar a empreendedora – a
exemplo do que ocorreria no caso de uma análise dos empreendedores em geral –
considerando múltiplos aspectos, a saber: histórico de vida, formação intelectual e talento
específico para a atividade empreendedora, dentre inúmeros outros.
63
2. 2. 2 Incentivos a atividade empreendedora
Dentre os aspectos anteriormente citados, cabe destacar um particularmente
controverso, e que já tem sido discutido com alguma intensidade em países mais
desenvolvidos neste campo: as mulheres teriam maiores dificuldades que os homens para
iniciar uma atividade empreendedora, em função de preconceitos arraigados na sociedade, e,
em vista desta circunstância, dependeriam de apoio (institucional, governamental etc.) para
participar do universo do empreendedorismo em uma situação de maior igualdade. Esta
afirmação, de Lim, Smith e Bottomley (2003), encontra-se em uma pesquisa realizada com
empreendedoras (bem-sucedidas) na Escócia, no ano de 2002. Nesta pesquisa, as autoras
afirmam que os resultados das atividades realizadas pelas empreendedoras poderiam ser
medidos em função das políticas governamentais dedicadas à questão como, por exemplo, na
Escócia, em 1993/4 a reorganização dos mecanismos de suporte aos negócios passou a visar
finalidades diversas. Conseqüentemente, as empreendedoras foram colocadas em segundo
plano pelas políticas, reduzindo suas atividades. Apenas recentemente esta situação tem-se
revertido. (LIM, SMITH e BOTTOMLEY, 2003, s.p):
Particularmente no caso desta pesquisa, as autoras observaram a atividade de mulheres
jovens e graduadas, sendo que no período estudado, a década de 90, houve um aumento de
oportunidades para as mulheres escocesas apenas no setor industrial.
Segundo Machado (2001), se forem observados outros exemplos ao redor do mundo,
pode-se afirmar que não apenas os países da Europa (destacadamente a Alemanha, Grécia e
Irlanda), mas também da Ásia (especialmente o Japão) vêm-se preocupando cada vez mais
com a questão específica da mulher empreendedora. Na prática esta preocupação se traduz em
programas de treinamento, subsídios governamentais e créditos diversos para pequenos
negócios.
Machado também destaca a criação na Europa, em 1991, da NOW (New Opportunities
for Women), entidade que surgiu com o objetivo de:
64
- Atuar no sentido de democratizar o acesso das mulheres ao mercado de trabalho
(ainda dominado pelos homens);
- Promover a conciliação entre trabalho e família, um dos maiores obstáculos
observados na carreira das mulheres empreendedoras;
- Promover o acesso das mulheres à educação e à qualificação profissional;
- Estimular o empreendedorismo;
- Incentivar a criação de empregos, a partir das próprias mulheres.
É importante notar que, neste caso, a questão do empreendedorismo encontra-se
intimamente ligada a outros aspectos, de ordem política e social, que tornam a discussão em
torno do papel da mulher empreendedora muito mais complexo – não por acaso, no ano 2000,
a NOW selecionou 21 projetos, objetivando estimular as mulheres a enfrentarem os ainda
imensos desafios que têm a superar, se quiserem obter êxito nos processos de criação,
consolidação e desenvolvimento de seus empreendimentos.
A Nova Zelândia, também é observada por Machado no período em que este país teve
uma Primeira Ministra (na segunda metade da década de 1990), uma vez que o governo
adotou, a partir de 1996, políticas públicas específicas para as mulheres, não apenas no campo
do empreendedorismo, mas também ampliando a questão de gênero para diversos programas
governamentais – nesta ocasião, a questão elementar dos processos decisórios, historicamente
conduzidos por indivíduos do sexo masculino, foi colocada em pauta, o que contribuiu de
modo particularmente positivo no sentido de estimular as mulheres a buscar seus próprios
caminhos profissionais.
Além disso, Machado destaca um movimento semelhante na Austrália, no mesmo
período, em que o governo local promoveu parcerias com a iniciativa privada, com vistas a
estimular as jovens a abraçar carreiras empreendedoras.
Uma pesquisa de grande amplitude, realizada por Carter, Anderson e Shaw (2001) no
Reino Unido mapeou a situação da mulher empreendedora ao longo de toda a década de 90. É
uma rica fonte de informações, que contribui para pensar o empreendedorismo no Brasil, uma
vez que a Grã-Bretanha possui uma das mais antigas e sólidas tradições empreendedoras do
mundo – bastando lembrar a obra de um economista como Adam Smith, que escreveu em
1776, ‘A Riqueza das Nações’, baseado apenas na realidade por ele observada naquele país.
Era ainda o século XVIII, mas o Reino Unido já estava marcado pela determinação de muitos
de seus cidadãos empreendedores, que viam na possibilidade de produzir e realizar trocas
comerciais o caminho mais seguro para o desenvolvimento de sua condição social.
65
A tabela seguir, reproduzida de Carter, Anderson e Shaw (2001), compara a
participação de homens e mulheres empreendedores no Reino Unido – separados e de forma
agregada – ao longo da década passada:
66
Tabela 2. Empreendedorismo e Gênero no Reino Unido 1990 — 1999
ANO
Total
Alteração1
H. Empr.
Alteração1
M. Empr.
Alteração1
H/M
1990 3571887
2714637
857250
1991 3415842
-156045
2598635
-116002
817207
-40043
1992 3226889
-188953
2438316
-160319
788573
-28634
1993 3184474
-42415
2384175
-54141
800300
+11727
1994 3300535
+116061
2480490
+96315
820046
+19746
1995 3361262
+60727
2548620
+68130
812643
-7403
1996 3299806
-61456
2470236
-78384
829570
+16927
1997 3351285
+51479
2486474
+16238
864811
+35241
1998 3280174
-71111
2410818
-75656
869356
+4545
1999 3202371
-77803
2377712
-33106
824659
-44697
Fonte: CARTER, Sara; ANDERSON, Susan; SHAW, Eleanor. Women’s business ownership: a review of the
academic, popular and internet literature. Department of Marketing. University of Strathclyde / Glasgow. August 2001.
Disponível em < http://business.king.ac.uk/research/kbssbs/womsbus.pdf. >. Acesso em: 14 jul 2004.
Notas: Ano base = 1990.
1
Mudanças calculadas como + / - em relação ao ano anterior.
Carter, Anderson e Shaw (2001), apontam que em 1999 havia 3,7 milhões de
pequenos negócios no Reino Unido, mas destacam que as estatísticas disponíveis no país, de
um modo geral, não informam a situação das mulheres empreendedoras – que podem receber
esta qualificação quando são proprietárias de um pequeno empreendimento, gerentes do
negócio ou donas em sociedade com outro(s) homem(ns). De fato, este tipo de precariedade
nas informações estatísticas é comum na maioria dos países.
No entanto, para a realização deste trabalho, as autoras usaram a única fonte de
informações que se dedica a mapear, de modo sistemático e abrangente, a situação dos
empreendedores no Reino Unido, a LFS, Labour Force Survey, que gerou as informações da
tabela acima. A observação desta indica que houve um decréscimo de 10,34% das atividades
empreendedoras ao longo da década – incluídos homens e mulheres. No entanto, a
participação (share) das mulheres se manteve praticamente inalterada, ocorrendo, inclusive,
um pequeno aumento: em 1990 era de 24%, e em 1999, estava em 25,8%. No caso dos
homens – que tem uma representatividade significativamente maior em números absolutos –
sua participação declinou ligeiramente ao longo da década de 1990, como mostra a tabela
acima.
67
Fica evidente, a partir destes dados, que a observação da realidade da mulher
empreendedora exige uma aproximação qualitativa, que possibilite distinguir esta profissional
das gerentes, sócias etc. Neste sentido, o próximo tópico aborda a questão da identidade,
fundamental para o avanço desta dissertação.
2. 2. 3 Identidade feminina e empreendedorismo
A questão da identidade feminina no âmbito do empreendedorismo, conforme
apontam Carter, Anderson e Shaw (2001), é uma das questões-chave para se pensar o
problema de pesquisa desenvolvido nesta dissertação e, na verdade, perpassa a maioria dos
aspectos já analisados anteriormente – a começar pelas drásticas alterações nas relações de
trabalho observadas na última década: com entrada em massa da mulher no mercado de
trabalho, e particularmente no mundo dos negócios, tornou-se evidente que uma nova
configuração das relações profissionais, mais complexa e ainda não satisfatoriamente
desvendada, instalou-se nos ambientes de trabalho. Esta novidade se revela, numa primeira
observação, principalmente através do surgimento de um ambiente competitivo que não
distingue – ou distingue cada vez menos – homens ou mulheres. Profissionais,
empreendedores ou não, disputam espaço e/ou mercado, emergindo com intensidade a busca
por competência.
E as mulheres, nesse embate, necessitam enfrentar – num processo de permanente
desconstrução e reconstrução – muitos lugares-comuns e preconceitos que ainda se fazem
presentes na sociedade contemporânea: e é neste contexto que Cramer, Cappelle e Silva
(2001) observam que se faz necessário reconhecer, em meio ao conturbado cotidiano das
profissionais, a existência de um processo por elas vivenciado que sugere a construção de uma
possível nova identidade feminina – necessária, na medida em que preconceitos seculares
(sociais, comportamentais, etc.) resistem, apesar da já bastante evidente força do processo de
participação das mulheres nos mundo trabalho.
Conforme aponta Belle (1993), este processo de construção de identidade feminina
seria estruturado a partir de dois elementos: por um lado, uma concepção de feminilidade que
seria interiorizada através da educação e, de outro, as próprias normas de comportamentos
existentes no mundo do trabalho. Em outras palavras, este processo corresponderia a um
imenso desafio, no qual a mulher se colocaria no mundo do trabalho de modo reafirmar suas
características femininas intrínsecas e, ao mesmo, absorveria elementos já caracterizados
como masculinos. Numa análise rápida, fica evidente que esta passagem acima descrita
68
coloca a mulher em uma situação ambígua, desconfortável, uma vez que, na prática, trata-se
de conciliar percepções e atitudes perante o mundo francamente oposto – por exemplo, frieza
(normalmente atribuída ao sexo masculino) e sensibilidade.
E, como se este desafio não fosse suficiente, Cramer, Cappelle e Silva (2001)
destacam que as mulheres muitas vezes não conseguiriam superar o que as autoras classificam
como um ‘sentimento de culpa’ – alimentado pela família e por elas próprias –, em virtude
das exigências profissionais acabarem por consumir tempo que seria utilizado pela mulher no
cumprimento de outros papéis sociais, como de esposa ou mãe.
Assim, para se pensar no papel da empreendedora nos tempos atuais seria necessário o
enfrentamento de uma complexa tarefa: pensar esta profissional em meio ao multifacetado
campo das representações sociais, como indicam Cramer, Cappelle e Silva (2001), uma vez
que, a partir deste elemento, seria possível interpretar o que poderia ser classificado como a
‘realidade’ vivenciada pelas mulheres no âmbito do trabalho.
É importante salientar que as mesmas autoras definem representações sociais como
“formas de conhecimento que procuram englobar o caráter intersubjetivo de conceitos,
atitudes e opiniões, abordando os aspectos simbólicos e subjetivos dos comportamentos
humanos e suas relações com o meio social”.
2. 2. 4 Big Five Personality Model (Modelo Big-Five)
No último tópico desta seção, é apresentado o Big-five Personality Model, uma ferramenta
para identificação de características comportamentais das pessoas, já difundida nos Estados
Unidos, a ser referida doravante como Modelo Big-Five. Durante a pesquisa bibliográfica
observou-se a aplicação do modelo em diversos artigos acadêmicos cujo tema envolvia
empreendedorismo. Por essa razão, foi utilizado na pesquisa de campo para atender ao
segundo objetivo específico deste trabalho e é descrito na seqüência.
2. 2. 4.1 Origens do Modelo Big-Five
O modelo teve como origem os estudos da linguagem natural realizados com vistas a
encontrar traços característicos de personalidade. Ainda no início dos anos 1930, McDougall,
nos EUA, sugeriu analisar a personalidade a partir de cinco aspectos (intelecto, caráter,
temperamento, disposição, e humor), como destacam Hutz et al. (1998). No mesmo período,
estudos semelhantes foram realizados também na Alemanha. Também destacada como
origem do modelo Big-Five o sistema de Cattell para descrição da personalidade humana,
baseado em análises fatoriais de descrições de características de personalidade obtidas
69
mediante entrevistas, questionários etc. A metodologia inerente a esse sistema permitiu
agrupar centenas de descrições de traços de personalidade, originando o modelo.
Mas apenas no final da década de 1970 retornaria o interesse pela área de avaliação
psicológica em geral e, desse modo, modelos estruturais de personalidade, como o Big-Five,
tornaram-se populares de novo. E nos últimos dez anos tem crescido o consenso entre
pesquisadores quanto à solidez dos cinco fatores do Big-Five – cada vez mais considerados
como o melhor modelo estrutural para a descrição de personalidades e comportamentos. De
acordo com McAdams (apud Hutz et al., 1998), os cinco fatores do modelo se referem a uma
série de informações fundamentais que, via de regra, se quer obter de pessoas com quem um
indivíduo vai interagir, por exemplo, em situações de trabalho ou que envolvem negociação.
Ou seja, os cinco fatores sugerem uma preocupação no sentido de se conseguir um
determinado conjunto de informações sobre uma pessoa.
Hutz et al. (1998), mostram que as pessoas, comumente, desejariam saber, a respeito de um
indivíduo eventualmente observado, os seguintes aspectos, que correspondem aos fatores
analíticos do Modelo Big-Five:
- ativo/dominante ou passivo/submisso;
- agradável/amistoso ou desagradável/frio/distante;
- responsável ou negligente;
- imprevisível ou "normal"; e
- esperto ou tolo;
2. 2. 4.2 O Modelo Big Five hoje
Além da aplicação a muitos artigos acadêmicos (Bradstätter, 1997; Digman, 1990; Salgado,
1997; Collins e Gleaves, 1998; Smith, Smits e Hoy, 1992), entre outros, existe atualmente um
esforço sistemático de teste e aperfeiçoamento do modelo, com acompanhamento de
pesquisadores localizados em universidades americanas, como se pode constatar no site
http://www.outofservice.com.bigfive. O modelo compreende, conforme foi descrito
anteriormente, cinco aspectos diferentes da personalidade, mensurados por escalas.
Apesar de Hutz et al. (1998) haverem traduzido o nome e as dimensões analisadas no modelo,
preferiu-se nesta dissertação traduzir novamente os cinco aspectos de personalidade
analisados diretamente do trabalho de Envick e Langford (2003), por se considerar a
70
nomenclatura por elas utilizada adequada ao tema empreendedorismo e também porque esse
artigo que trouxe referências importantes para a dissertação. Fundamentalmente, as autoras
empregaram o modelo Big-Five para estabelecer diferenças entre empreendedoras e
empreendedores, no contexto dos Estados Unidos. Segue a explicação das dimensões ou
aspectos analisados no modelo conforme tradução da autora da dissertação, mais próxima do
original, que explicitam a variação de cada aspecto entre dois extremos e do modo como
foram utilizados no trabalho de campo:
- capacidade de adaptação, variando entre a autoconfiança e a insegurança;
- sociabilidade, variando desde extroversão até a introversão;
- autocontrole, compreendendo em um extremo a dimensão da impulsividade e, no
outro, a da cautela;
- estilo de liderança/atuação, que divide os empreendedores em dispostos a trabalhar
em equipes ou mais voltados para si; individualistas; e
- a tendência intelectual que compreende, por um lado, os empreendedores mais
práticos e, de outro, aqueles que tem a originalidade como marca.
Os resultados da pesquisa reportada no trabalho de Envick e Langford (2003) indicaram que,
no âmbito do empreendedorismo norte-americano, as mulheres se mostraram mais ‘abertas’
do que os homens, ou seja, apresentaram maior disposição para enfrentar os desafios desta
atividade usando o trabalho em equipe como estratégia fundamental. Além disso, as
empreendedoras apresentaram maior sociabilidade, adaptabilidade e espírito de cooperação.
Os homens, por sua vez, apresentaram maior cautela e originalidade na condução de seus
negócios. Em outro estudo, realizado por Lippa (1995), os fatores socialização, extroversão e
vontade mostraram diferenças pequenas a favor das mulheres e, com relação aos outros
fatores, não foram identificadas diferenças significativas.
Esses resultados referem-se ao ambiente norte-americano e não devem ser transportados para
a realidade brasileira. No entanto, o modelo mostrou-se adequado para atender o segundo
objetivo específico do trabalho, que foi adaptado a ele, como se pode observar na introdução
do trabalho. Assim, os termos utilizados para medir possíveis distinções comportamentais
entre homens e mulheres, conforme explicação anterior foram os seguintes:
- confiabilidade x instabilidade;
- extroversão x introversão;
71
- impulsividade x cautela;
- orientação para equipe x interesse próprio;
- praticidade x originalidade.
72
3. METODOLOGIA
Para que os objetivos estabelecidos fossem satisfatoriamente alcançados, o procedimento
metodológico adotado foi a uma abordagem exploratório-descritiva, que utilizou um estudo
de casos múltiplos como estratégia de pesquisa.
3.1 Tipo de pesquisa
De acordo com Collis e Hussey (2005) a pesquisa exploratória é realizada quando há poucos
ou nenhum estudo ou informações sobre a questão ou problema em estudo. É adequada à
busca e formulação de padrões, idéias ou hipóteses, em vez do teste de hipóteses. Na
percepção de Richardson (1999), tem como finalidade desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e idéias, com vistas à formulação de problemas mais precisos ou hipóteses
pesquisáveis em estudos posteriores, sendo que, comumente, envolvem levantamento
bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Já a pesquisa
descritiva, de acordo com Richardson (1999), tem como finalidade observar, registrar,
analisar e correlacionar fatos ou fenômenos – sem manipular variáveis. Também busca
descobrir a freqüência com que um fenômeno ocorre, bem como sua relação e conexão com
outros fenômenos, sua natureza e características.
A pesquisa descritiva, em suas diversas formas, trabalha sobre dados ou fatos colhidos da
própria realidade, sendo que os principais instrumentos de coleta de dados são a observação, a
entrevista e o questionário. O autor observa ainda outras características: este tipo de pesquisa
abrange aspectos gerais e amplos de um contexto, e descreve relações de causa e efeito. Devese destacar também que a pesquisa descritiva não interfere na realidade, apenas interpreta
fatos que influenciam os fenômenos estudados, estabelecendo correlações entre as variáveis e,
necessariamente, deve ter fundamentação teórica e prática. Collis e Hussey (2005) afirmam
que a pesquisa descritiva vai além da pesquisa exploratória, pois avalia e descreve
características das questões pertinentes. A opção por este encaminhamento da pesquisa
(exploratório-descritiva) tem como principal argumento a possibilidade de aprofundar os
conhecimentos relativos às atuações empreendedoras de mulheres e homens, para, em estudos
futuros, ser possível a realização de pesquisas com enfoques mais direcionados.
3.2 Estratégia de pesquisa
O texto que segue descreve a estratégia de pesquisa utilizada (estudo de oito casos múltiplos),
73
escolhida em função de sua adequação aos questionamentos e objetivos do trabalho e se apóia
principalmente na obra de Yin (2005), o principal pesquisador nessa área metodológica.
Esse autor afirma que a escolha de uma estratégia de pesquisa deve se dar em função de três
condições: a) o tipo de questão de pesquisa proposta; b) a extensão de controle que o
pesquisador tem sobre os eventos pesquisados e c) quanto a pesquisa está focada em eventos
contemporâneos ou históricos. Para caracterizar um estudo de caso é necessário que se trate
de um trabalho empírico que investiga um fenômeno atual dentro de seu contexto da vida real,
com questões do tipo ‘como’ e ‘por que’, especialmente quando os limites entre o fenômeno e
o contexto não estão bem definidos.
A questão desta pesquisa, do tipo ‘como’ foi formulada na Introdução do seguinte modo:
“Como mulheres e homens brasileiros empreendedores atuam no mercado?”, além de ser
adequada a estudos exploratórios e descritivos, indica que o estudo atende também às outras
duas condições, respectivamente ser um evento contemporâneo e não haver limites claros
entre o fenômeno estudado (atuação de mulheres e homens empreendedores) e seu contexto
(ambiente econômico-empresarial).
Outro argumento que pode ser utilizado a favor da opção pelo estudo de caso é a existência de
uma quantidade expressiva de pesquisas na área de administração com resultados satisfatórios
do ponto de vista acadêmico, como torna evidente o estudo de Silva (2002). Além disso, Yin
(2005) destaca a possibilidade do estudo de caso apresentar-se como poderoso instrumento de
pesquisa, uma vez que a opção por uma metodologia ocorre fundamentalmente em função do
objeto de pesquisa, que, via de regra, demanda uma estratégia de pesquisa mais apropriada –
considerando variáveis diversas, a exemplo da necessidade de maior ou menor controle sobre
o fenômeno ou objeto observado – sendo papel do pesquisador discernir com cuidado entre
uma série de possibilidades e estratégias, que incluem, dentre outras, a experimentação e a
pesquisa histórica.
3.3 Projeto de pesquisa e unidade de análise
Quanto ao projeto de estudo de caso, Yin (2005) enfatiza quatro tipos, classificados dois a
dois: os casos únicos, com apenas uma ou com várias unidades de análise (estas últimas
chamadas de unidades incorporadas); e os casos múltiplos, do mesmo modo, com uma ou
com várias unidades de análise. Cada um dos quatro tipos serve a um propósito diferente e
74
específico a ser estudado, conforme características dos objetivos da pesquisa e da necessidade
e possibilidade de replicação.
As unidades de análise definem o foco do estudo a ser realizado e podem corresponder a uma
pessoa, a grupos de pessoas, a organizações, ou ainda a coisas menos concretas, como idéias
ou processos organizacionais. O presente estudo caracteriza-se como um projeto de casos
múltiplos – em número de oito, conforme colocado anteriormente – com uma única unidade
de análise: a pessoa do empreendedor. Esse tipo de projeto foi considerado o mais adequado
para atender à questão e aos objetivos de pesquisa que, em sua forma geral visam investigar a
atuação profissional de homens e mulheres empreendedores brasileiros em seus mercados.
Assim, o conjunto de oito casos escolhido corresponde a quatro empreendedoras e quatro
empreendedores, atuantes em dois segmentos econômicos distintos (serviços e indústria) com
no mínimo cinco anos de existência no mercado em que atua e independentemente da
quantidade de sócios. O tipo de replicação presente no trabalho é de caráter linear e visa
confirmar as proposições colocadas na Introdução, fortalecendo os argumentos nelas contidos
e também referendando, com maior intensidade, o estudo de casos múltiplos realizado.
3.4 Coleta de dados e trabalho de campo
A primeira etapa da coleta de dados correspondeu à revisão bibliográfica – voltada ao
levantamento e fichamento de material bibliográfico referente ao objeto da pesquisa, o que
consiste, mais especificamente, na averiguação da existência de dissertações, teses, livros,
periódicos e bibliografia eletrônica (CD-ROMS, Internet etc.) dedicados ao tema, ou seja, a
seleção de material já publicado - no Brasil e no exterior -, com vistas a estruturar o
arcabouço teórico / conceitual a ser utilizado na análise dos dados.
O instrumento de coleta foi moldado como um detalhamento dos objetivos específicos em
função de resultados de pesquisas anteriores encontrados na fase de revisão bibliográfica, de
forma a captar aspectos relativos: às características pessoais dos empreendedores (origem,
educação, experiência profissional e vida pessoal); distinções de aspecto comportamental; e
experiência executiva dos empreendedores (ver Anexo I).
Durante o trabalho de campo foi observado um procedimento básico na realização deste tipo
de pesquisa: explicitar aos entrevistados que suas declarações serão utilizadas com finalidades
estritamente acadêmicas, tendo o estudo a compromisso de não utilizar/divulgar quaisquer
75
dados que violem a privacidade dos empreendedores que venham a colaborar com a pesquisa.
Como fontes de evidência adicional, foram utilizadas as técnicas observação direta e, em
menor intensidade, exame, de artefatos físicos, como produtos fabricados.
3.5 Análise dos dados
A orientação básica para analisar os dados coletados se baseou em duas abordagens: uma
‘vertical’ e outra ‘horizontal’. A abordagem vertical corresponde à apresentação dos dados
coletados em campo pela apresentação e descrição de cada empreendedor através do roteiro
de pesquisa. Assim, foram descritas as características pessoais, comportamentais e a atuação
executiva de cada um dos oito empreendedores separadamente. Exprimindo essa idéia de uma
outra forma, a abordagem vertical descreve os casos estudados um após o outro.
Em seguida, utilizou-se a abordagem denominada horizontal, que consistiu na comparação
das respostas fornecidas por todos os empreendedores entrevistados a cada questão a eles
formulada. Esses procedimentos conduziram ao alcance de grande riqueza e profundidade de
análise, permitindo a produção de comparações que permitiram agrupar os empreendedores
segundo determinadas categorias e características.
76
4. RESULTADOS
A pesquisa de campo foi realizada junto aos donos e/ou sócios das empresas
escolhidas, no período de 29/06/2005 a 08/07/2005. Estas pessoas foram escolhidas devido à
maneira personalizada de administração que cada uma adota em suas empresas.
Conforme já descrito este trabalho tem como objetivo geral estudar a atuação
profissional de homens e mulheres empreendedores. Justificando assim a escolha destas
empresas, que como já dito, seus sócios procuram administrá-las de maneira muito pessoal,
diferenciando-se de outras empresas no mesmo ramo de atuação.
Inicialmente é apresentada a descrição de cada empreendedor e sua empresa, conforme
a seqüência do roteiro mostrado no anexo 1. Essa abordagem foi chamada de “vertical”, por
caracterizar cada empreendedor através das questões do roteiro de pesquisa. Contemplando
assim o primeiro objetivo específico que é o de conhecer as características pessoais de
empreendedoras e empreendedores relacionados à sua origem, trajetória educacional,
experiência profissional anterior e vida pessoal.
77
4.1. CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDEDORES ENTREVISTADOS E SUAS EMPRESAS
Quadro 9 – Perfis dos empreendedores entrevistados e Características de suas empresas
Perfil do
Entrevistado
1
2
3
4
Nome
Aparecida Alexandrino dos Santos
Antonio Salvador Morante
Pedro Aparecido Bovolenta
Sandra Regina Marques de Barros
Martins
Idade:
38 anos
60 anos
45 anos
35 anos
Sexo:
Feminino
Masculino
Masculino
Feminino
Grau de Instrução:
2º grau
Doutor
Superior Incompleto
especialista
Domínio de idiomas
estrangeiros:
Nenhum
Inglês e Espanhol
Inglês Básico
Inglês Técnico
Atividades
desempenhadas na
empresa:
Administrativo, financeiro,
relacionamento com o cliente.
Todas. Financeiro, operacional,
comercial, administrativo, sempre em
conjunto com o gerente da área, contato
com clientes.
Proprietário, gerente, relações públicas,
“meio de campo”, mecânico, técnico e
conselheiro.
Planejamento, diretriz, treinamento,
administração, contato com clientes,
ajuda no desenvolvimento de partes
de sistemas.
Características da
Empresa
1
2
3
4
Ramo de atividade:
Prestadora de Serviços de Mecânica
Prestadora de Serviços de Segurança e
Limpeza
Prestadora de Serviços de Mecânica
Prestadora de Serviços de Informática
Número de empregados:
12
150
15
6
Número de sócios:
1
2
1
2
Nome da Empresa:
Automecânica Gaivota do Lago
Grupo FB Ltda
Centro Automotivo Aidê Ltda.
Barros Martins Consultoria e
Treinamento em Informática Ltda.
Anos de existência:
7 anos
25 anos
25 anos
6 anos
Produtos/Serviços:
Conserto, funilaria e pintura de autos
nacionais e importados.
Limpeza e Segurança
Conserto, funilaria e pintura de autos
nacionais e importados.
Consultoria, treinamento e
desenvolvimento de software
78
Perfil do
Entrevistado
5
6
7
8
Nome
Jeanlis Brito Zanatta
Marielza Pinto de Carvalho Milani
Paulo Sérgio Nogueira Lopes
Rosely M Boschini
Idade:
30 anos
58 anos
41 anos
49 anos
Sexo:
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Grau de Instrução:
Graduado
Graduado
Especialista
Especialista
Domínio de idiomas
estrangeiros:
Nenhum
Nenhum
Inglês
Inglês, Alemão.
Atividades
desempenhadas na
empresa:
Desenvolvimento de produtos,
comercial, comércio exterior,
financeiro, RH, projetos, busca de
novos mercados
financeiro, comercial e produção.
Marketing
Marketing, Planejamento,
comercialização, contato com autores.
Características da
Empresa
5
6
7
8
Ramo de atividade:
Indústria – Fabricação de Respiro,
pinos e buchas
Indústria / Confecção de tecidos
Indústria – Confecção de vestuário
Indústria: Editora
Número de empregados:
13
40
104 diretos,
500 indiretos
40
Número de sócios:
1
2
3
2
Nome da Empresa:
Ventistamp Metalúrgica Ltda
Lerma Indústria e Comércio Ltda.
Temfit Comércio e Vestuário Ltda
Editora Gente Ltda
Anos de existência:
9 anos
39 anos
16 anos
21 anos
Produtos/Serviços:
Respiros e acessório para fundição
Tecelagem para decoração
Vestuário para surf
Editoração de Livros de
desenvolvimento humano e de gestão.
79
- Entrevistado e Empresa 1
A primeira entrevistada chama-se Aparecida Alexandrino dos Santos, tem 38 anos de
idade, é divorciada e mãe de um filho. Grau de instrução: segundo grau completo.
Esta foi sua primeira e única experiência como empreendedora. O principal motivo
para a empreendedora iniciar sua atividade foi a necessidade de recuperar o investimento feito
pelo ex-marido em um negócio próprio – aproximadamente 40 dias após abrir a oficina
mecânica, o então novo pequeno empresário estava propenso a fechar o negócio, por falta de
habilidade em comunicação.
Mas após três anos de funcionamento da empresa, a sociedade e o casamento foram
desfeitos, sendo que atualmente apenas Aparecida administra toda a oficina.
A empresa já possui 7 (sete) anos de existência, e atua na prestação de serviços
automotivos – contando, em 04 de julho de 2005, com 12 (doze) empregados. Todos são
profissionais já formados e especializados em suas áreas de atuação, e com ampla experiência
no mercado – o que acabou gerando um quadro de funcionário com uma faixa etária mais
avançada do que a média que se costuma encontrar no mercado brasileiro. Ou seja, nesta
empresa dá-se preferência a profissionais acima de 40 anos de idade, pelo fato da proprietária
acreditar que os resultados dos trabalhos são executados de maneira mais rápida, eficiente e
com menos custos.
A escolha desta empreendedora para a pesquisa – assim como a entrevistada Sandra
Regina – deve-se ao fato de sua atuação ocorrer em um ramo com pouca presença feminina,
onde, segundo o próprio depoimento da entrevistada, ainda há muitos preconceitos:
...ainda tem muito preconceito. Têm homens que dizem: “mas a senhora vai fazer o
orçamento?” Eles chegam procurando o funileiro, e eu pergunto: “funileiro pra quê?”. As
pessoas que eu atendo pela primeira vez, sempre têm um impacto. Elas pedem alguém para
fazer orçamento e eu digo que sou a orçamentista e posso fazer isso. Muitas vezes eles fazem
o orçamento e não voltam, porque eles não acreditam na gente, não têm confiança. Têm
muitos que, se é a primeira vez e vêm sem indicação, nem deixam o carro para fazer o
serviço, mas também têm muitos que deixam o carro, dão um voto de confiança e muitos
homens e também mulheres elogiam o meu serviço.
80
- Entrevistado e Empresa 2
O segundo entrevistado foi o Prof. Antonio Salvador Morante, 60 anos de idade,
casado, três filhos, doutor e mestre em Ciências Contábeis (e graduado em Administração,
Contábeis e Economia). Além de desenvolver a atividade empreendedora também é professor
universitário da Universidade Paulista (UNIP), onde coordena os cursos de Administração de
Empresas e Comércio Exterior.
Em 2005 a empresa em que é sócio completou 25 anos de atuação, porém o
entrevistado ingressou posteriormente a sua fundação – o empreendedor foi convidado por um
de seus atuais sócios a participar da empresa.
A escolha deste empreendedor para a pesquisa ocorreu em função de suas novas idéias
na empresa – que possuía um perfil retrogrado e foi totalmente modificada –, com
contratações de pessoas qualificadas, além do alto investimento em treinamento e o incentivo
ao ingresso de funcionários em cursos superiores, principalmente na área do Direito.
A filosofia da empresa tem como prioridade estimular a autonomia de ação para todos
que desempenham a função de gerentes – os quais, conforme o entrevistado destacou, têm
liberdade para agir como proprietários da empresa. Com todas essas mudanças implantadas, a
empresa passou a ser vista por seus clientes, parceiros e fornecedores como ágil e eficiente.
Além disso, a empresa vem sendo adotada como laboratório de pesquisas para alunos dos
cursos de Administração e COMEX. Ou seja, as modificações adotadas na empresa – e que
muitos empresários não enxergam com bons olhos – mostrou-se positiva na prática cotidiana.
O Grupo FB Ltda teve inicio em 1980, e trata-se de uma empresa especializada na
prestação de serviços de Limpeza e Segurança. Em 24 de junho de 2005, possuía 150 (cento e
cinqüenta) empregados, e está alocada na Av. Corifeu de Azevedo Marques, 443 -São
Paulo/SP.
- Entrevistado e Empresa 3
Para dar melhor sustentação empírica à pesquisa, foi procurado um empreendedor
atuante no mesmo ramo de negócio que a entrevistada Aparecida, resultando na escolha do
empreendedor Pedro Aparecido Bovolenta, proprietário do Centro Automotivo Aidê. O
entrevistado tem 45 anos de idade, é casado, tem uma filha e cursou até o 2º ano de
Engenharia, além de ter participado de vários cursos na área de injeção eletrônica, bem como
de cursos profissionalizantes para conserto de automóveis nacionais e importados.
81
Pedro também só teve experiência como empreendedor neste negócio, atuando
anteriormente como empregado do ramo de mecânica durante sua adolescência (dos 10 até os
17 anos). Em seguida abriu sua oficina mecânica, que já existe há 25 anos.
O negócio foi aberto com várias dificuldades, inclusive porque o entrevistado trocou
um emprego de muitos anos pelo desafio do negócio próprio. E, por falta de experiência, seu
empreendimento em princípio estava reduzido à busca de sobrevivência no mercado.
A empresa é constituída sob a forma Limitada, pois desde o início Pedro é seu único
proprietário. Em 04 de julho de 2005 contavam-se 15 (quinze) empregados.
- Entrevistado e Empresa 4
Sandra Regina Marques de Barros Martins, é sócia e proprietária da empresa Barros
Martins Consultoria e Treinamento em Informática Ltda., tem 35 anos de idade, é casada e
possui um filho. É formada em Pedagogia e fez pós-graduação em Administração Escolar.
A escolha desta empreendedora para participar da pesquisa ocorreu devido ao fato da
maioria dos seus clientes serem empresas governamentais, exigindo assim, que ela passasse
sempre por processos de licitação – ramo dominado por homens mas, como demonstrado na
entrevista, que pode ser muito bem desenvolvido por mulheres competentes. A primeira fase
da empresa foi marcada por serviços de treinamento e atualmente presta-se consultorias a
diversas empresas em todo o território nacional, a exemplo da Companhia do Metropolitano
de São Paulo, CDQD (Centro de Campinas), SPTrans, EMTU, Faculdade Trevisan e
Prefeitura de Itatiba.
As atividades da empresa iniciaram-se no ano de 1999, e seu ramo é a consultoria na
área de informática – sua atuação compreende todo o território brasileiro, e seu ponto forte
são os treinamentos in loco nas empresas. Sua principal atuação é na área de Open Office,
que, de acordo com o depoimento da entrevistada, vem ganhando muito espaço no mercado
brasileiro, principalmente nas empresas governamentais, pelo fato destas não pagarem
licenças para uso do Office.
A empresa possui personalidade jurídica limitada, composta pelos sócios Sandra
Regina Marques de Barros Martins (entrevistada) e Renato Bomfim Martins. Em 26 de junho
de 2005, contava com um total de 06 (seis) empregados, e seu mercado de atuação encontrase, em sua totalidade, dentro do território brasileiro.
82
Todos os quatro casos apresentados são pertencentes ao ramo de prestação de serviços.
Porém, do quinto ao oitavo entrevistados – apresentados nas próximas páginas – o ramo de
atuação é o industrial.
- Entrevistado e Empresa 5
O quinto entrevistado foi o Sr Jeanlis Brito Zanatta, da empresa Ventistamp
Metalúrgica Ltda, localizada em Louveira, interior do Estado de São Paulo. Jeanlis tem 30
anos de idade, é solteiro, pai de uma filha, e seu grau de instrução é superior completo em
Matemática. Também cursou, mas não concluiu, as faculdades de Filosofia, Ciências Sociais
e Economia, além de ter iniciado um curso de especialização em engenharia industrial e um
mestrado – ambos igualmente não concluídos.
A finalidade de iniciar suas atividades empreendedoras foi ajudar o pai – que já fazia
peças no processo de fabricação de usinados. Mas com o aparecimento dos alemães neste
setor, estes trouxeram para o país inovações técnicas que acabaram conquistando todo o
mercado.
O negócio original de seu pai foi baseado em um sonho empreendedor, sem um plano
de negócio ou qualquer ferramenta de gestão de negócios. Porém, existia uma boa idéia, que
foi desenvolvida ao longo de dois anos – foi estabelecido um processo de produção, além da
primeira linha de respiro de produtos.
Superada esta primeira fase, muito problemática devido à falta de conhecimento
técnico, a linha original – pouco satisfatória tecnicamente –, após mais seis meses estudo e
aprimoramento das peças, foi substituída por outra linha de produtos, que começaram ser
comercializados no mercado.
Seu ramo de atividade é a fabricação de respiros, pinos e buchas, e registra atualmente
9 (nove) anos de existência. Em 08 de julho de 2005 contavam 13 (treze) empregados, tendo
como único proprietário o Sr. Jeanlis Brito Zanatta. Atualmente seu pai trabalha como
funcionário da empresa.
- Entrevistado e Empresa 6
A 6ª entrevistada foi a Sra. Marielza Pinto de Carvalho Milani, 58 anos de idade,
casada, 2 filhos, graduada em Engenharia Química. Também cursou até o terceiro ano de
Direito e possui pós-graduação em Administração.
83
Além de suas atividades na empresa a entrevistada participa da diretoria de alguns
conselhos de classe – representantes do seu ramo de atuação –, o que amplia
significativamente seus relacionamentos com concorrentes e fornecedores, além de contribuir
para os resultados positivos de sua atuação como empreendedora.
Sua empresa iniciou atividades no ano de 1966. Em 05/07/2005 constavam em seu
quadro de funcionários 40 (quarenta) empregados. Uma das características do seu quadro de
funcionários – a exemplo do observado com a entrevistada Aparecida – é a presença de
muitos empregados na faixa de 40 anos de idade, o que facilita, na visão da empreendedora,
todo o processo produtivo da fábrica.
- Entrevistado e Empresa 7
O sétimo entrevistado foi o Sr. Paulo Sérgio Nogueira Lopes, um dos proprietários da
Empresa de Confecção Antiqueda. Paulo tem 41 anos de idade, é casado, possui uma filha, é
Engenheiro e Administrador de Empresas por formação e possui pós-graduação em Marketing
e Matemática Financeira.
Sua empresa já possui atuação fora do País (Espanha, Portugal, Itália e Japão), fazendo
com que ele viaje pelo menos três vezes ao ano para o exterior. No Brasil possui 600 pontos
de vendas.
Paulo identificou essa oportunidade de negócio ainda adolescente, quando teve que
começar a cumprir estágios na área de engenharia. Percebendo que não se identificava com a
profissão, iniciou – paralelamente ao estágio – a venda de roupas para surfistas. Uma vez que
ficou satisfeito com os resultados iniciais, decidiu investir mais nessa atividade.
Este empreendimento teve o início de suas atividades registrado no ano de 1989. É
uma empresa especializada na fabricação de vestiário para surf, e possui 3 (três) sócios, sendo
o Sr. Paulo Sérgio Nogueira Lopes – o entrevistado – responsável pelo Marketing da empresa.
Em 24 de junho de 2005, possuía 104 (cento e quatro) empregados, e mais de 500
indiretos. A empresa está localizada na cidade de Santos/SP.
- Entrevistado e Empresa 8
A última entrevistada é da Sra. Rosely M. Boschini. Casada, 49 anos de idade, 3
filhos, mestre em Administração e pós-graduada em Marketing, também é graduada em
84
Arquitetura e possui fluência nos idiomas Inglês e Alemão. Atualmente é sócia-proprietária da
Editora Gente Ltda.
Antes de se tornar sócia da empresa sua experiência profissional foi no ramo da
construção civil. Rosely foi então foi convidada por seu irmão, fundador da editora, a ajudá-lo
a administrar a empresa. Mesmo sem entender do negócio enfrentou todos os desafios,
buscando ajuda inclusive entre seus concorrentes – muitos dos quais, conforme ela afirma, são
contatos próximos e atuam de modo exemplarmente ético (uma distinção própria do mercado
editorial, de acordo com a entrevistada).
Sua decisão em entrar para esse ramo de atuação não ocorreu por motivos financeiros,
mas por realização profissional, pois iria coordenar uma empresa e colocar em prática todos
os seus projetos. Além de suas atividades na empresa é atualmente vice-presidente da
Associação Brasileira do Livro, tendo que se ausentar por diversas vezes do país para
representar a instituição em entidades e eventos internacionais.
A Editora Gente Ltda. iniciou suas atividades no ano de 1984, estando, portanto, com
21 anos de atividade. Tem como ramo de atividade a Editoração de Livros e contava com 40
(quarenta) pessoas em seu quadro de funcionários em 04/07/2005. É uma empresa constituída
sob a forma limitada e possui 2 sócios – a sra. Rosely M. Boschini e Roberto Shinyashiki.
No que diz respeito, especificamente, ao primeiro objetivo, “Conhecer as
características pessoais de empreendedoras e empreendedores relacionados à sua origem,
trajetória educacional, experiência profissional anterior e vida pessoal”, é pertinente destacar
algumas respostas obtidas nos diversos relatos:
Jeanlis: A minha experiência profissional é toda na empresa. estou aqui
desde os 20 anos.
Aparecida: Antes eu era empregada, trabalhava com confecção, era
vendedora. (...) hoje eu administro, faço orçamentos, compro material,
eu trato com o público, a responsabilidade toda é minha.
Marielza: Eu trabalhei na Rhodia durante quase 16 anos, atuando na
área de qualidade, pesquisa, financeira, comercial. Depois fui convidada
para trabalhar na Lerma. Como diretora superintendente, trabalhei
durante 12 anos como diretora, depois me ofereceram se eu queria
comprar a Lerma, pagando com o lucro que ela gerava. Topei o desafio
e já estou há 9 anos.
Paulo: Fui gerente de uma confecção por 05 anos, hoje tenho uma
empresa, uma confecção, há 16 anos, estamos com 600 pontos de venda
no Brasil, exportamos para a Espanha, Portugal, Itália e Japão.
85
Pedro: Trabalhei como empregado nesse ramo de mecânica dos 10 até
os 17 anos no mesmo lugar. Depois abri o meu próprio negócio onde
estou até hoje.
Antonio: Eu tive três empregos anteriores, um eu cheguei a assistente da
diretoria o outro eu cheguei a superintendente e um outro a controller
Rosely: Antes da empresa trabalhei na construção civil por 10 anos,
trabalhava na frente de obras, com os piões.
Sandra: Antes da empresa trabalhei no Bradesco – Cidade de Deus –
onde tinha o centro de informática, e foi quando começou surgiu o meu
interesse pela área. A partir daí, comecei a procurar outra empresa onde
pudesse trabalhar com Informática. trabalhei como operadora de
sistemas, como desenvolvedora, até chegar num limite onde eu disse:
“Agora eu quero buscar o meu caminho”. Foi aí que tentei começar a
montar a minha empresa, começar com treinamentos e chegamos onde
estamos hoje.
Com relação ao segundo objetivo delimitado, “Observar possíveis distinções de
aspecto comportamental entre empreendedoras e empreendedores...”, foram obtidos os
seguintes resultados, a partir da análise realizada segundo os padrões estabelecidos pelo “Big
Five”:
86
Quadro 10: Resultado da análise dos parâmetros Confiabilidade x Instabilidade
Confiabilidade x Instabilidade
Pessoas com pontuações altas tendem a ser de confiança, bem organizadas, disciplinadas,
cuidadosas; pontuações baixas são caracterizadas a pessoas desorganizadas, em que não se
podem confiar, negligentes.
Nome
Percentual
Descrição
Aparecid
a
47% Não é organizado nem desorganizado.
Antonio
97% Muito bem organizado / alguém que se possa contar.
Pedro
79% Bem organizado e de confiança.
Sandra
69% Bem organizado e de confiança.
Jeanlis
58% Não é organizado nem desorganizado.
Marielza
47% Não é organizado nem desorganizado.
Paulo
30% Tende a ser desorganizado.
Rosely
86% Muito bem organizado / alguém que possa se contar.
Jeanlis/Aparecida/Marielza: Não são organizados nem desorganizados.
Sandra/Pedro: São bem organizados e de confiança.
Paulo: Tende a ser desorganizado.
Antonio/Rosely: São muito bem organizados / pessoas com quem se pode contar.
No item organização somente um homem apresentou tendência à desorganização.
Duas mulheres e um homem mostraram meio termo – não tendendo nem para uma pessoa
organizada e nem uma pessoa desorganizada. Já os demais, que representam metade da
amostra, estão na posição de pessoas com tendência à organização. Resultando assim, quanto
à questão de gênero, numa situação de equilibro entre os entrevistados.
Analisando a partir das áreas de atuação (serviços e indústria) verifica-se que os
empreendedores atuantes na prestação de serviços apresentam um percentual mais elevado no
critério Confiança, ficando somente um deles abaixo da média. Nos empreendedores atuantes
na área da industrial observa-se que dois ficaram abaixo da média.
87
Quadro 11: Resultado da análise dos parâmetros Extroversão x Introversão
Extroversão x Introversão
Pontuações altas são características de pessoas sociáveis, amigáveis, que gostam de se divertir
e que gostam de falar muito; pessoas com baixa pontuação tendem a serem introvertidas,
reservadas, inibidas, caladas.
Nome
Percentual
Descrição
Aparecida
91% Muito extrovertido, sociável e dinâmico.
Antonio
09% Provavelmente acha melhor ficar em casa sozinho.
Pedro
74%
Relativamente sociável e gosta da companhia de outras
pessoas.
Relativamente sociável e gosta da companhia de outras
79%
pessoas.
Sandra
Jeanlis
59% Não é nem muito social nem muito reservado.
Marielza
86% Muito extrovertido, sociável e dinâmico.
Paulo
89% Muito extrovertido, sociável e dinâmico.
Rosely
89% Muito extrovertido, sociável e dinâmico.
Jeanlis: Não é nem muito social nem muito reservado;
Sandra/Pedro: Relativamente sociáveis e gostam da companhia de outras pessoas;
Paulo/Aparecida/Rosely/Marielza: São muito extrovertidos, sociáveis e dinâmicos;
Antonio: Provavelmente gosta de ficar em casa sozinho.
No item extroversão, observa-se uma tendência das mulheres a serem extrovertidas,
uma vez que o resultado apontou três das quatro mulheres entrevistadas como vinculadas a
esta característica. Já no caso dos homens a tendência foi a de serem pessoas mais reservadas.
Na análise por ramo de atuação verifica-se que o maior nível de socialização está nas
pessoas atuantes na indústria, na comparação com as pessoas que atuam nas empresas
prestadoras de serviços.
88
Quadro 12: Resultado da análise dos parâmetros Impulsividade x Cautela
Impulsividade x Cautela
Pontuações altas são características de pessoas que tendem a serem nervosas, tensas,
inseguras, que se preocupam muito; pessoas com baixa pontuação tendem a serem calmas,
seguras de si mesmas, emocionalmente estáveis.
Nome
Percentual
Descrição
Aparecida
66% Tende a ser ansioso ou nervoso.
Antonio
55% Não é nervoso nem calmo.
Pedro
32% É geralmente calmo.
Sandra
22% É geralmente calmo.
Jeanlis
03%
Marielza
Provavelmente mantém a calma, mesmo em situações
tensas.
Provavelmente mantém a calma, mesmo em situações
11%
tensas.
Paulo
43% Não é nervoso nem calmo.
Rosely
22% É geralmente calmo.
Jeanlis/Marielza: Provavelmente mantém a calma, mesmo em situações tensas;
Rosely/Pedro/Sandra: Geralmente calmos;
Paulo/Antonio: Não são nervosos nem calmos;
Aparecida: Tende a ser ansioso ou nervoso.
Conforme a análise deixou clara, em sua grande maioria os empreendedores tendem a
ser pessoas calmas – deste modo, potencialmente abertas ao diálogo e capazes de administrar
conflitos e situações estressantes (sempre presentes no cotidiano das atividades profissionais
do empreendedor), demonstrando que, com relação à questão de gênero, é possível afirmar
que não há diferenças significativas dentro característica
Analisando o ramo de atuação percebe-se que os empreendedores atuantes na indústria
possuem uma pontuação menor que os empreendedores na área de prestadores de serviços –
atingindo o índice de pessoas mais equilibradas, mesmo em situações tensas.
89
Quadro 13: Resultado da análise dos parâmetros Orientação para a equipe x interesse
próprio
Orientação para a equipe x interesse próprio
Pontuações altas são características de pessoas que tendem a serem boas, simpáticas,
complacentes, corteses; pessoas com baixa pontuação tendem a serem críticas, arrogantes,
insensíveis e frias.
Nome
Percentual
Descrição
Aparecida
79% Tende a considerar os sentimentos dos outros.
Antonio
38% Facilmente expressa irritação com outras pessoas.
Pedro
69% Tende a considerar os sentimentos dos outros.
Sandra
63% Tende a considerar os sentimentos dos outros.
Jeanlis
83% Pessoa generosa, cortês e auxiliadora.
Marielza
83% Pessoa generosa, cortês e auxiliadora.
Paulo
63% Você tende a considerar os sentimentos dos outros.
Rosely
74% Tende a considerar os sentimentos dos outros.
Jeanlis/Marielza: Pessoas generosas, cortêses e auxiliadoras.
Sandra/Paulo/Aparecida/Rosely/Pedro: Tendem a considerar os sentimentos dos
outros.
Antonio: Facilmente expressa irritação com outras pessoas.
A análise destaca, portanto, que cinco (3 mulheres e 2 homens) dos empreendedores
entrevistados tendem a considerar com atenção os sentimentos dos outros. Dois são
consideradas
pessoas
generosas,
cortêses
e
auxiliadoras,
demonstrando
que
os
empreendedores não são pessoas egoístas e que só visam seu próprio crescimento - como
apontado nos mitos de Farrel. Somente um dos empreendedores demonstrou que se irrita
facilmente com outras pessoas.
Com relação às áreas de atuação, tanto os empreendedores que atuam na prestação de
serviços como na indústria ficaram com pontuação acima da média, sendo que somente um –
na área de prestação de serviços – não possui a característica de uma pessoa generosa, cortês e
preocupada com os sentimentos dos outros (desviando-se, assim, dos outros entrevistados).
Mas pode-se concluir que, independente da área de atuação, os empreendedores entrevistados
são pessoas preocupadas com a satisfação das outras pessoas em suas atuação profissionais.
90
A comparação dos resultados obtidos nas análises das características Impulsividade x
Cautela e Orientação para a equipe x Interesse próprio, remete ao estudo apontado no tópico
1.1.1 de Scorzafave (2001) – no qual afirma-se que os empreendedores, muito provavelmente,
terão que demonstrar, além das aptidões comumente associadas aos homens (racionalidade,
capacidade de decisão, agressividade na condução dos negócios, liderança, etc.) outras
características importantes (e historicamente ligadas às atividades femininas, particularmente
na administração do cotidiano doméstico). Ou seja, estes homens terão que demonstrar
capacidade de adaptação às situações de controle e pressão social intensos ou, ainda, a
habilidade para agregar pessoas e produzir resultados.
Quadro 14: Resultado da análise dos parâmetros Praticidade x Originalidade
Praticidade x Originalidade
Pessoas com pontuações altas tendem a serem originais, criativas, curiosas e complexas.
Pessoas com pontuações baixas são características de pessoas convencionais, simples, com
interesses não muito variados e pouco criativos.
Nome
Percentual
Descrição
Aparecida
65% Relativamente aberto a novas experiências.
Antonio
47% Geralmente não procura por novas experiências.
Pedro
41% Geralmente não procura por novas experiências.
Sandra
90%
Aproveita novas experiências e consegue enxergar
novas coisas com diferentes perspectivas.
Aproveita novas experiências e consegue enxergar
80%
novas coisas com diferentes perspectivas.
Jeanlis
Marielza
41% Geralmente não procura por novas experiências.
Paulo
47% Geralmente não procura por novas experiências.
Rosely
88%
Aproveita novas experiências e consegue enxergar
novas coisas com diferentes perspectivas.
Sandra/Rosely/Jeanlis: Aproveitam novas experiências e conseguem enxergar novas
coisas com diferentes perspectivas;
Paulo/Pedro/Antonio/Marielza: Geralmente não procuram novas experiências;
Aparecida: É relativamente aberta a novas experiências.
91
Considerando a análise dos quatro homens entrevistados, três possuem uma nítida
tendência a não buscar novas experiências. E um é relativamente aberto a novas experiências.
E entre as quatro mulheres, duas aproveitam novas experiências e conseguem enxergar
novas coisas com diferentes perspectivas. Uma é relativamente aberta a novas experiências, e
somente uma possui uma forte tendência a não procurar novas experiências.
Considerando o ramo de atuação observa-se um empate, com dois empreendedores de
cada ramo abaixo da média esperada e dois acima.
Com relação ao terceiro objetivo específico - Descrever a experiência executiva dos
empreendedores (as), levando em conta características, facilitadores e barreiras relacionados
ao exercício da atividade empreendedora, para tanto, procedeu-se a uma abordagem
“horizontal”, ou seja, foi examinado o mérito das questões passando por todos os
empreendedores, cabendo o destaque de alguns relatos:
Sobre as competências de relacionamento apontadas por Paiva Júnior, Leão e Mello
(2003):
Aparecida: Eu decido sempre sozinha, dificilmente eu pergunto para
alguém, porque às vezes, se eu perguntar, acabo ficando ainda mais
confusa. Eu sei do que eu preciso, do quanto que eu gasto e posso
investir na minha empresa, dos custos que tenho que cortar. Eu não
tenho sócio, não tenho ninguém, então sou só eu para tomar decisões.
Antonio: Normalmente sou muito rápido, devido à experiência. Eu ensino
o pessoal a ser rápido, porque diversas oportunidades têm que ser
decididas com velocidade, mas eu faço planejamento, principalmente
financeiro, olho o mercado, pergunto, pois não tenho medo de perguntar.
Hoje mesmo, nós temos uma locadora, que é um negócio muito
pequenininho pra nós, do qual nós quase não conhecemos nada, e eu
liguei para uma locadora de onde eu conhecia uma pessoa e fui pedir
informação de como ela fazia seguro, e um dos meus gerentes ficou
assistindo como é que faz, se é melhor fazer seguro para dez carros que
estamos comprando, pra alugar dia a dia, ou se a gente arrisca e não faz
seguro. Vimos o que o mercado tem de estatística, e nós íamos fazer
seguro e gastar R$20.000,00, e ele acabou falando para não gastar esse
dinheiro. Ela disse: “você arrisca, que daqui a um ano você vai perder
um carro talvez, ou meio carro”. Essa é a estatística. Uma coisa
inacreditável. Por isso que, quando não se sabe, devemos perguntar para
os outros. Quando não sabe, pergunta e ensina.
Pedro: A gente sempre assume riscos e não tem como não assumir,
porque hoje, vem de repente um segmento novo e quando percebemos, o
carro está dentro da oficina e você tem que tomar a decisão. Ou faz ou
passa para o concorrente. Então existe o risco.
92
Sandra: Antes eu fazia tudo. Quando eu tive que sair de licença, essa foi
uma grande lição para mim, porque então eu comecei a dividir, ou seja,
cada um faz uma coisa, e hoje eu administro as coisas que os outros
fazem. Hoje me cabe à parte de estrutura de treinamento, organizo, fecho
o retorno dos treinamentos. Como eu sou formada em Pedagogia, sou eu
que analiso todas as avaliações, dou o retorno para a empresa que
contratou, fazendo o relatório final. Hoje, então, eu administro tudo, e só
faço alguma coisa se alguém está com problemas para resolver. Procuro
delegar tudo o que é possível, porque não adianta você querer abraçar o
mundo, senão você não dá oportunidade para o seu funcionário crescer.
Eu só faço alguma coisa quando eles sentem que não podem resolver e
precisam me consultar, mas normalmente eles lideram numa boa.
Jeanlis: Na verdade eu trabalho praticamente sozinho. Eu estou numa
fase de transição pra conseguir formar as equipes. Como a empresa é
pequena, agora é que eu estou iniciando esse processo, estou
formalizando esse procedimento, desenvolvimento, reuniões, filosofia.
Mas isso é coisa de um ano mais ou menos.
Marielza: Ninguém faz nada sozinho. Na realidade, isso eu aprendi
quando era empregada, com uma pessoa que foi presidente internacional
de compra da Rhodia que, além de ter uma inteligência fabulosa, sempre
soube criar equipes excelentes, e no fundo, você nunca faz nada sozinha.
primeiro você precisa saber que não é dona do mundo e que no dia
seguinte você pode faltar, então o negócio não pode depender só de você,
porque no dia seguinte o negócio tem que estar funcionando. O negócio
não é só seu, é de todos os que estão trabalhando com você. No nome ele
pode ser seu, mas a firma é de todos os que estão dentro dela. Ou você
cria uma equipe muito boa e de confiança, ou você não consegue ir
adiante, e mesmo a firma sendo minha, eu atuo como uma executiva e
não com uma dona. O posicionamento a gente percebe que é diferente.
As fortunas particulares dos proprietários de empresas, muitas vezes são
muito grandes em relação à própria indústria, e nós aqui pensamos
diferente, pois achamos que a indústria é de todos os que trabalham aqui
dentro
Paulo: Eu cuido das áreas de produção, do comercial e também do
marketing. Em todas as três áreas que eu cuido, tenho pessoas-chave,
bons gerentes, com boas cabeças e que discutem juntos, porque eu acho
que sozinho ninguém chega a lugar nenhum. Muito pelo contrário, pois o
segredo de um bom administrador é se cercar de pessoas brilhantes e
deixar que andem sozinhas e nunca ter medo delas, nunca tentar evitar o
crescimento delas.
Rosely: Trabalho sempre em equipe, hoje aqui nesta unidade de negócio
temos 40 funcionários, e tenho 4 deles que são meus “conselheiros”,
antes de qualquer decisão conversamos muito sobre o assunto
A reprodução destes relatos contribui para identificar a forma de gestão destes
empreendedores. Verifica-se que, independente do sexo ou ramo de atuação, eles possuem
formas diferenciadas de colocá-la em prática – mas uma característica que pode ser observada
93
em uma analise mais profunda, como é o caso deste trabalho, observasse que quanto mais
baixo for o grau de instrução do empreendedor, maior é a propensão deste tonar-se um
empreendedor centralizador em suas decisões.
Outro ponto interessante: ao se comparar o trecho do depoimento do entrevistado
Antonio com o resultado do modelo Big-five, observa-se que existe uma contradição, uma vez
que nas características sociabilidade e orientação para a equipe suas pontuações foram muito
aquém do desejado, para uma pessoa que trabalha sempre em conjunto com outros
profissionais (conforme está relatado em seu depoimento).
Quanto às experiências profissionais de todos os entrevistados, pode-se destacar que,
com exceção da empreendedora Rosely, que antes mantinha uma empresa de consultoria na
área da construção civil, todos estão em seu primeiro empreendimento. E cabe destacar
também – como previsto no terceiro objetivo específico – a trajetória profissional destes
empreendedores enquanto meio de percepção do perfil empreendedor inerente aos
entrevistados. Estes apresentam um currículo anterior e experiência como profissionais em
áreas específicas de atuação, no entanto, ao assumirem o empreendedorismo como projeto de
vida, acabam assumindo um desafio imenso, o qual parece estimulá-los e não o contrário. O
empreendedor, homem ou mulher, luta para superar suas limitações – técnicas, econômicas
etc – e busca, obstinadamente, vencer e mostrar à sociedade sua capacidade de gerir, com
competência, um negócio próprio.
Conforme foi destacado na exposição teórica, ambos empreendedores (tanto homens
quanto mulheres) compartilham de um objetivo comum – alcançar o sucesso profissional. No
entanto, os motivos que os fizeram optar por este caminho, bem como os obstáculos por eles
enfrentados no cotidiano, nem sempre coincidem.
Assim – como apontado no tópico 1.1.1, que destaca os estudos de Sexton e Bowman
(1985) – tais características poderiam ser associadas ao fator ‘desejo de independência’, uma
vez que os empreendedores imprimem sua personalidade naquilo que realizam, determinando
o ritmo e a intensidade que as ações vinculadas ao empreendimento são realizadas.
94
Para uma observação mais cuidadosa dessa realidade será tomando como parâmetro
analítico os cinco mitos destacados por Farrel (1993, p. 167-168), sendo que o primeiro deles
afirma:
1. Empreendedores nascem feitos ou, em outras palavras, seriam indivíduos
predestinados a assumir este papel, em vista de uma suposta ‘genialidade’.
Os entrevistados, tanto homens quanto mulheres, apontaram razões diversas para
explicar o motivo que os fez optar pelo caminho do empreendedorismo. E todos confirmam a
asserção acima como apenas um mito. No entanto, se a palavra genialidade de fato não condiz
com a realidade dos empreendedores entrevistados, o fator talento, por outro lado, tem um
peso realmente significativo.
No caso de Jeanlis, seu negócio foi iniciado a partir de uma estrutura já existente – a
empresa de seu pai. Mas é a partir da iniciativa e talento do empreendedor que o negócio
começa a tomar forma e se desenvolver:
Passei dois anos desenvolvendo o processo e também a primeira linha de
respiro, de produtos. (Jeanlis)
A dimensão da vocação também fica evidente, uma vez que apenas o talento não seria
suficiente para fazer com que o empreendedor insistisse. Ou seja, ainda que este novo
empreendedor tivesse consigo uma boa idéia, isto não seria suficiente para desenvolver um
negócio – é necessária uma imensa obstinação, que tem como motor a vontade de fazer do
empreendedorismo um caminho de vida:
95
tivemos que reavaliar toda a nossa estrutura, pois não dava para
produzir com determinadas vigas e materiais, e aí passamos mais uns
seis meses aprimorando, lançamos uma outra linha de produto e
começamos a desenvolver comercialmente no mercado. Isso representa
uns 3 anos de trabalho, de sofrimento, na verdade.
Mas não é apenas a vocação ou o talento que estimulam um empreendedor a iniciar
suas atividades. Muitas vezes a necessidade mais imediata pode levar a este caminho. No
entanto, uma circunstância pouco favorável pode trazer à tona qualidades empreendedoras
antes insuspeitadas, como no caso de Aparecida, empreendedora que começou a atuar para
tentar salvar o pequeno negócio (uma oficina mecânica) que o marido havia iniciado:
Meu ex-marido começou com a oficina e 30 ou 40 dias depois ele disse
que iria fechar, pois não tinha jeito para lidar com o público, com as
pessoas, não sabia como administrar e estava todo confuso. (...) Então fiz
um acordo na empresa em que eu trabalhava e fui trabalhar com ele.
Com 30 dias que eu estava dentro da oficina, com ele fazendo os
orçamentos enquanto eu cotava peças, aprendi o que devia ser feito e
falei que ele não precisava mais fazer orçamento, pois eu iria fazer isso
e, se eu tivesse alguma dúvida em relação a peças ou mão de obra,
pediria auxílio a ele. Foi aí que comecei a tocar o negócio.
Mas apesar de apresentar um histórico de sucesso a empreendedora afirma claramente
que seu estímulo inicial estava restrito a um aspecto objetivo, tentar salvar um capital
investido:
quando você é casada, tem que tentar levar adiante, não pode abandonar
depois do investimento feito. Então eu procurei salvar esse capital, pois a
minha atividade também não estava muito boa na época, não estava
muito rentável, então eu preferi garantir o meu negócio.
96
No entanto há casos de empreendedores em que a realização pessoal tem um peso
maior, enquanto motivo para iniciar a atividade. E como poderá ser observado, a maior parte
dos entrevistados encontra-se dentro desta situação, como ocorreu com Marielza, engenheira
que tem em seu histórico o fato de ter sido a primeira engenheira a atuar na empresa Rhodia:
Para mim foi mais uma realização pessoal. Eu sempre fui muito a
primeira nas coisas. Eu fui a primeira mulher engenheira na Rhodia, fui
a primeira a ir discutir com chefias, porque em um grupo de homens eu
era a única mulher.
E a vocação empreendedora também se mostra evidente nos casos em que a opção
pela realização profissional nem sempre tem relação com resultados financeiros satisfatórios:
eu acredito que meu maior objetivo era profissional, porque pela parte
financeira, eu estava melhor como empregada do que como patrão.
Mas os empreendedores entrevistados, apesar de falarem constantemente em
realização profissional como principal motivação, também demonstram notória aptidão e
sensibilidade para realizar bons negócios, ainda que nenhum deles possa ser caracterizado
como gênio do empreendedorismo – no sentido de serem pessoas com capacidade de
transformar idéias em negócios milionários. O que se quer destacar aqui é a visão do
empreendedor, que é muito distinta, peculiar:
Foi por acaso que eu identifiquei. Eu gostava de surfar, e o esporte que
eu fazia era surf. Como engenheiro eu não me realizava, sentia que
aquilo tudo era muito chato.(...) Eu, pra ganhar um dinheiro a mais,
vendia umas roupas de“surfware SURFWEAR” na praia meio de
sacoleiro e esse negócio me dava mais dinheiro do que ser engenheiro.
Eu sempre gostei de dinheiro! Aí eu pensei: eu vendo essas pecinhas aqui
e em 3 ou 4 dias eu tiro o que eu ganho no mês como engenheiro (Paulo)
Ocorre também da vocação empreendedora se revelar como evolução natural na
carreira do indivíduo, como no caso de Pedro:
97
Eu trabalhei por muito tempo no meu ramo, do qual eu gostava. Quando
eu saí da empresa em que trabalhava e era pouco valorizado, surgiu essa
oportunidade. Na casa em que eu morava, havia um terreno onde abri a
oficina. Eu não tinha dinheiro nem recursos, o terreno era da minha mãe
e ela me deu força para iniciar o negócio e eu comecei com a cara e a
coragem. Eu tinha algumas ferramentas e comecei com muita
dificuldade, mas fui arrumando um carro, alguns carros de amigos que
me procuravam e não precisei nem fazer propaganda, porque um amigo
indicava outro amigo. Assim fui fazendo a clientela, fui melhorando,
começando com uma oficina pequena que não tinha nem teto. Eu só tinha
o chão e as ferramentas, que com o tempo foi melhorando, arrumei o
piso, fiz uma estrutura, comecei a comprar o ferramental, a clientela foi
crescendo, crescendo até o ponto que é hoje. Comprei o terreno da
família, e muitos outros que havia ao lado, transformando a oficina
naquilo que é hoje.
Cabe destacar que muitas das afirmações acima reproduzidas corroboram o
posicionamento apontado na abordagem teórica – de que na realidade cotidiana dos negócios,
dentre os elementos que condicionam o sucesso de um negócio, a questão da capacidade
individual é de imensa importância (PORTER, 1996).
98
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÔES
5.1. CONCLUSÕES
O estudo aqui realizado proporcionou a confirmação de algumas proposições inicialmente
levantadas e, por outro, possibilitou que dados novos e importantes pudessem ser
explicitados. E, considerando que, dentre os principais pontos comumente citados em
discussões de gênero está a questão da desigualdade, é pertinente observar que no caso das
atividades empreendedoras, as dificuldades parecem não escolher sexo. Profissionais –
homens e mulheres – mostraram em seus depoimentos que os obstáculos sempre são
inúmeros e, muitas vezes, aparentemente insolúveis. No entanto, todos os empreendedores
entrevistados mostraram uma marca comum: a determinação para perseguir objetivos,
alcançar metas e superar dificuldades. Seria incorreto neste caso, portanto, afirmar que as
mulheres enfrentariam maiores dificuldades ao realizarem seu papel enquanto
empreendedores.
Por outro lado é inegável que a vida particular dos empreendedores é afetada de modo
diferenciado, ainda que o fator gênero nem sempre apresente o peso mais significativo. Em
outras palavras, ficou nítido que outros aspectos – a exemplo dos históricos profissionais
anteriores à opção pelo empreendedorismo – apresentaram peso mais significativo nas
histórias individuais. Também é oportuno observar que questões econômicas e sociais de
maior amplitude apresentam um peso de grande importância, a exemplo da empreendedora
que iniciou suas atividades apenas para recuperar um capital investido por seu marido. Fica
evidente neste caso que a atitude empreendedora não é condicionada pelo fator gênero.
Mas cabe ressaltar que – conforme visto na revisão bibliográfica produzida para este
estudo – a situação dos empreendedores ainda se encontra distante de poder ser avaliada
como confortável, mesmo que sua disposição para enfrentar desafios se mostre, muitas
vezes, aparentemente inesgotável.
E também é indispensável comentar a dimensão ética para os empreendedores. Ao
contrário do que foi postulado na primeira parte do trabalho, o capital ético destes
profissionais não seria monopolizado pelas mulheres, uma vez que os profissionais de
ambos os sexos mostram preocupações semelhantes com relação à questão. Ou, melhor
dizendo, ambos se posicionam de modo assemelhado, ao se esforçarem para mostrar que o
99
trabalho e a dedicação é o aspecto mais importante de suas atividades – o que contradiz
possíveis perspectivas menos otimistas com relação ao empreendedorismo.
E também ficou patente o nível de profissionalização alcançado por estas pessoas, ainda
que ao custo de anos de prática da conhecida dinâmica erro-acerto. Tanto homens quanto
mulheres apresentaram alto nível de conhecimento de seu negócio e, principalmente,
disposição para crescer profissionalmente, ainda que existam inúmeras limitações, próprias
do contexto brasileiro.
Ao ser retomado o objetivo geral do trabalho – relativo à investigação dos modos de
atuação profissional de homens e mulheres empreendedores brasileiros em seus mercados
– fica evidente que o universo do empreendedorismo, considerando especificamente a
realidade brasileira, é bastante rico e diversificado, como também é observado em países
mais avançados. E há pontos em comum entre os empreendedores, a exemplo dos
inúmeros obstáculos que surgem ao longo do caminho – particularmente nos momentos
iniciais, em que o negócio ainda está em fase de consolidação..
Mas as limitações de ordem técnica, econômica e estrutural jamais representam motivo de
desistência para os empreendedores que foram entrevistados neste trabalho. Ao contrário.
Estas são percebidas como pedras no caminho de qualquer empreendedor, e devem ser
superadas, pois é a superação dos limites o grande motivo de orgulho para estes
profissionais.
Foi recorrente nas entrevistas a descrição das inúmeras dificuldades, bem como os modos
de superação. Relatos que revelaram profissionais – homens ou mulheres – obstinados,
determinados a cumprir suas metas profissionais e pessoais.
No que diz respeito particularmente aos objetivos específicos, coube observar as
características pessoais de empreendedoras e empreendedores, em relação a sua origem,
trajetória educacional, experiência profissional anterior e vida pessoal.
E, conforme pôde ser verificado, os empreendedores entrevistados apresentaram trajetórias
nitidamente distintas, níveis de escolaridade igualmente diversos, além de suas vidas
particulares mostrarem inúmeros e singulares perfis. Contudo a trajetória do empreendedor
mostra sempre o aspecto da superação de limites e a determinação em se construir o novo.
Estes profissionais têm em comum o perfil inovador, inquieto, que sempre busca construir
o futuro, e jamais espera que este aconteça por si.
100
Além disso, com relação ao chamado Modelo Big Five, foram identificados algumas
distinções importantes com relação ao fator gênero. No item organização apenas um
homem apresentou tendência à desorganização, enquanto duas mulheres e um homem se
mostraram razoavelmente organizados. Os demais apresentaram tendência à organização, o
que resultou numa situação de equilibro entre os diferentes gêneros.
Com relação ao termo Confiabilidade, também utilizado para medir possíveis
distinções comportamentais entre homens e mulheres, considerando as áreas de atuação
(serviços e indústria) verificou-se que os empreendedores da área de serviços apresentaram
um percentual elevado, ficando somente um deles abaixo da média.
No que diz respeito à extroversão, observou-se uma tendência mais evidente das mulheres
neste sentido. Já no caso dos homens a tendência foi a de se mostrarem mais reservados. E
Na análise por ramo de atuação verificou-se que o maior nível de socialização está nas
pessoas que desenvolvem atividades na indústria.
Em grande parte, considerando o perfil predominante dos entrevistados, os
empreendedores tendem a ser pessoas auto-confiantes e com bom auto-controle –
potencialmente abertas ao diálogo e capazes de administrar conflitos e situações presentes no
cotidiano. Ficou evidente que, com relação à questão de gênero, é possível afirmar que não há
diferenças significativas dentro característica.
A análise destacou também que os empreendedores entrevistados tendem a considerar
com atenção os sentimentos dos outros. Dois foram considerados profissionais generosos,
deixando a entender que os empreendedores não seriam pessoas egoístas, que apenas visam
seu próprio crescimento.
Os resultados das análises das características Impulsividade/Cautela e Orientação para
a equipe/Interesse próprio mostraram que os empreendedores do sexo masculino em
particular, cada vez mais, terão que demonstrar capacidade de adaptação a situações de
pressão social, bem como agregar pessoas e produzir resultados. E, não por acaso, três dos
quatro homens entrevistados mostraram uma tendência a não buscar novas experiências,
enquanto entre as mulheres duas conseguiam enxergar novos projetos e perspectivas.
Finalmente, com relação às proposições, constatou-se que, de fato, não há diferenças
importantes no grau de iniciativa como empreendedores entre mulheres e homens. O que
condiciona esta iniciativa, na verdade, são outros fatores (vocação, formação etc.). Com
101
relação ao aspecto da conjuntura econômica brasileira – os homens e mulheres atuantes na
condição de empreendedores adotam uma postura pouco solidária com relação aos seus
colegas de atividade – também ficou perceptível, ao menos entre os entrevistados, um sentido
de solidariedade ou, ao menos, não foi explicitada uma atitude no sentido contrário.
Enfim, com relação à proposição “Conciliar atividade empreendedora e vida particular
é um desafio mais relevante para as mulheres do que para os homens”, ficou destacado que
este fator ainda pesa sobremaneira para as mulheres, particularmente no que diz respeito ao
convívio e educação dos filhos.
Este trabalho apresenta limitações que impedem derivações das conclusões aqui
apresentadas para universos mais amplos, ou seja, ainda que as entrevistas contribuam para
um maior conhecimento do empreendedorismo, os resultados aqui apresentados não poderiam
ser tomados como universais.
Mas o esforço aqui empreendido pode ser uma base importante para trabalhos futuros,
que podem adotar métodos quantitativos capazes de iluminar novos aspectos das questões
aqui analisadas. Seria também pertinente recomendar novos estudos comparativos, que
tragam informações relacionadas a inúmeras outras questões próprias do universo do
empreendedorismo, e que não foram aqui abordadas. Alguns aspectos deste trabalho merecem
uma maior investigação e consequentemente são apresentados como sugestão para estudos
futuros: 1 - Utilizar os resultados da pesquisa para a elaboração de um modelo de capacitação
de empreendedores, pautado em suas reais características; 2 - Utilizar o modelo para o estudo
de comportamentos específicos, como por exemplo, tendência criativa, podendo considerar os
estudos sobre comportamento como fonte de novas formas de compreensão do ser humano
em seu processo de criação de riquezas e de realização pessoal, visando maximizar os índices
de conscientização da sociedade sobre a importância de conhecer mais profundamente os
empreendedores para o seu desenvolvimento.
102
103
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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14
7. ANEXOS
ANEXO 1 – Roteiro de Pesquisa
Objetivo geral
Investigar as semelhanças e diferenças na atuação profissional de homens e mulheres
empreendedores brasileiros em relação ao conhecimento coletado dentro e fora do país.
Objetivos específicos
Conhecer as características pessoais de empreendedoras e empreendedores relacionados à sua
origem, trajetória educacional, experiência profissional anterior e vida pessoal
1 – Dados pessoais (sexo, idade, estado civil, nº de filhos, renda, etc.)
2 – Trajetória educacional (formação superior, línguas, informática, cursos para
iniciar/capacitar o negócio, etc.)
3 – Experiência profissional anterior (o que fez e em quantos anos, se trabalhou como
empregado, se apenas como empreendedor,
4 – Países conhecidos (quais países visitou, visita profissional ou a passeio, relacionada ou
não com a empresa).
5 – Conciliação vida profissional X vida pessoal (tempo é suficiente para ambas; existe
interferência entre ambas; há ajuda de cônjuge ou da família; possui empregadas/babás; se
separado, recebe/dá pensão; etc.)
Observar possíveis distinções de aspecto comportamental entre empreendedoras e
empreendedores relativas às seguintes dimensões: confiabilidade X instabilidade; extroversão
X introversão; impulsividade X cautela; orientação para equipe X interesse próprio; e
praticidade X originalidade
Aplicação do teste do modelo Big-Five
Descrever a experiência executiva dos empreendedores (as), levando em conta características,
facilitadores e barreiras relacionados ao exercício da atividade empreendedora.
Competências A
6 – Como identificou a oportunidade de seu negócio (analisa o mercado, está ele saturado,
como visualizou o nicho)?
7 – Você se espelhou em alguém para tomar a iniciativa deste negócio?
8 – Qual o principal objetivo que o motivou a iniciar o negócio (financeiro, pessoal, social)?
Competências B
9 – Como você trabalha no desenvolvimento de suas atividades (sozinho, com sócios, com
parceiros; qtos empregados possui)?
10 – Como é seu relacionamento com fornecedores? Qual seu grau de integração com eles?
11 – Idem, para clientes
12 – Idem, para instituições de apoio (associações de classe, Sebrae, institutos de pesquisa,
etc.)
13 – Idem, para concorrentes (há cooperação, há concorrência ética)?
15
Competências C
14 – Você toma decisões principalmente com base em intuição ou análise e planejamento? Há
diferenças nesse aspecto no início do negócio e hoje?
15 – Em questões importantes, geralmente você assume mais riscos e decide antes ou só faz
isso depois de recolher muitas informações?
Competências D e E
Na parte estratégica e administrativa, como você se posiciona (utiliza muito, pouco, acha
importante ou não, qual é mais importante, etc.) em relação a:
16 – Planejamento (fixar objetivos, alocar recursos, elaborar estratégias e programas de ação,
implementar e controlar)
17 – Gerenciamento de pessoas: (motivar funcionários, delegar funções (muito ou pouco),
liderança (participativa, centralizada, carismática)).
18 – Relacionamento com clientes ( atendimento propriamente dito, assistência técnica,
exposição à mídia, etc)
19 – Compatibilização de curto e longo prazo (fácil, clara, difícil, etc.)
20 – Tem idéia de como empresa estará em 5 e em 10 anos?
21 – Lança produtos antes dos concorrentes ou segue o mercado?
22 – Cumpre sempre objetivos e metas? (sempre, às vezes, ultrapassa, fica aquém, etc.)
Competências F
23 – Qual é sua ambição profissional no momento?
24 – Já cogitou mudar de ramo de negócio?
25 – Tem facilidade em recomeçar após um fracasso (ele mais frustra ou ensina)?
16
ANEXO II – Questionário do modelo Big Five
Este é um teste psicológico extraído do site: http://www.outofservice.com/bigfive/ em
22/01/2005 e traduzido para a língua portuguesa para descobrir sua personalidade! Conforme
o site este teste mede aquilo que muitos psicólogos consideram ser as cinco dimensões
fundamentais da personalidade.
Ele funciona da seguinte maneira:
Da mesma forma que você se auto-avalia, você é encorajado a avaliar outra pessoa. Ou seja,
nas questões abaixo, você irá avaliar na primeira fileira você e na segunda uma outra pessoa a
sua escolha. Pois conforme este método, por avaliar outra pessoa você tenderá a realizar uma
avaliação mais exata da sua própria personalidade. Além de você conseguir um perfil da
personalidade da pessoa que você avaliou, que permitirá comparar a si próprio em relação a
esta pessoa em cada uma das cinco dimensões básicas de personalidade. Para tanto sugere-se
que você escolha alguém que você conheça bem, como um amigo próximo, colega de
trabalho, marido ou outro membro da família.
Para sua maior tranqüilidade neste método não existe resposta "certa" ou "errada", mas
perceberá que você não obterá resultados significativos se não responder as perguntas
seriamente.
Lembramos que estes resultados estão sendo usados em pesquisa científica, portanto, por
favor, tente dar respostas mais precisas.
Suas respostas serão submetidas no site citado acima para a apuração dos resultados.
As seguintes questões dizem respeito a sua autopercepção dentro de várias situações. Sua
tarefa é indicar a força de acordo com cada questão, utilizando uma escala em que 1 denota
fortemente em desacordo e 5 denota fortemente de acordo, e 2, 3, e 4 representam
julgamentos intermediários. Nas caixas depois de cada questão, marque no número de 1 a 5
conforme a seguinte escala:
1 Fortemente em desacordo
2 Discorda
3 Nem discorda nem concorda
4 Concorda
5) Fortemente de acordo
Atenção: Não existe resposta "certa" ou "errada", então selecione o número que mais
próximo reflita você em cada questão. Invista seu tempo considerando cada questão com
cuidado.
17
Eu me vejo (ou outra pessoa) como alguém:
1. ... comunicativo
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
2. ... que costuma criticar outras pessoas
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
3. ... competente
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
4. ... depressivo, triste
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
5. ... original, que gosta de inovar
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
6. ... reservado
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
18
7. ... solidário e generoso
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
8. ... (ocasionalmente) um pouco negligente
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
9. ... que lida bem com situações de stress
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
10. ... interessado por diversos assuntos
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
11. ... cheio de energia
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
12. ... que costuma alimentar rixas / iniciar disputas
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
13. ... que pode ser considerado um profissional exemplar
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
14. ... que pode se tornar tenso
19
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
15. ... engenhoso, muito inteligente
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
16. ... que costuma proporcionar muito entusiasmo
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
17. ... de índole bondosa
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
18. ... que tende a ser desorganizado
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
19. ... muito ansioso / aflito
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
20. ... com imaginação ativa
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
21. ... que tende a ser quieto
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
20
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
22. ... geralmente confiante
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
23. ... que tende a ser preguiçoso
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
24. ... emocionalmente estável, que dificilmente se descontrola
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
25. ... inventivo
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
26. ... de personalidade assertiva (afirmativa)
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
21
27. ... que pode ser frio e indiferente
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
28. ... que persevera até concluir uma tarefa
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
29. ... que pode tornar-se mal-humorado / melancólico
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
30. ... que valoriza experiências artísticas / estéticas
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
31. ... às vezes tímido / inibido
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
32. ... considerado atencioso / gentil pela maioria
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
33. ... eficiente
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
34. ... que permanece calmo em situações tensas
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Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
35. ... que prefere trabalhos rotineiros
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
36. ... extrovertido / sociável
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
37. ... às vezes rude com outros
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
38. ... que faz planos e os coloca em prática
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
39. ... que fica nervoso facilmente
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
40. ... que gosta de refletir
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
41. ... que tem poucos interesses artísticos
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Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
42. ... que gosta de cooperar
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
43. ... que se distrai facilmente
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
44. ... sofisticado com relação às artes, música e/ou literatura
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
45. ... que possui auto-estima elevada
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
46. ... muito religioso
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
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47. ... liberal (politicamente)
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
48. ... que comumente está envolvido em situações ruins com terceiros
Eu: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
Outra pessoa: Fortemente em desacordo 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) Fortemente de acordo
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