415 Parapercepções durante o Tsunami de 2004 no Oceano Índico Johnny C Godowski Certamente grande número de pessoas assistiu ao filme Mar Aberto, exibido nos feriados de Natal de 2004. Eu o assisti na noite anterior ao Tsunami Asiático de 2004 (dia 26 de dezembro, aniversário de casamento dos meus pais). Algum tempo depois, tomei conhecimento que o casal de atores do filme também estavam na cena do desastre naquele dia. Mar Aberto é um filme comovente sobre a trágica morte de pessoas esquecidas acidentalmente no mar por um grupo de mergulho recreativo. Parece “ironia do destino” o fato de os atores do filme estarem na cena do desastre onde tantas pessoas encontraram a morte. Estou certo que dentre aqueles que alugaram o filme, havia alguns que usavam camisetas. Entre eles, poderia haver alguns vestindo camisetas de surf – e que entre estes, alguns que vestiam uma camiseta que, de alguma forma, trazia um desenho temático do tsunami. A minha camiseta era toda verde – sem qualquer tipo de desenho – apenas uma listra em xilogravura desenhada no alto do ombro esquerdo. Somente depois de ter comprado a camiseta percebi que o desenho trazia o nome TSUNAMI, em letras maiúsculas (Fotografia 1). Fotografia 1 416 Journal of Conscientiology, Vol. 11, No. 44 Na manhã de 24 de dezembro de 2004, logo depois das nove da manhã, eu estava sozinho na sala de estar esperando pela família da casa onde me hospedava para tomar o café da manhã. De repente, comecei a me sentir intranquilo, agitado, angustiado... A sensação era de que algo estava muito, muito errado. Levantei-me, sentindo que tinha algo a fazer, e tentei ver em qual direção eu me sentiria mais seguro, apesar de não haver nenhum perigo iminente – nem eu nem a família estávamos em perigo, mas, ainda assim, sentia uma sensação indescritível de choque, terror, como se algo violento fosse nos atingir e as pessoas morreriam sem possibilidade de salvar-se, de maneira inevitável. Sem saber o que fazer, tentando entender o que acontecia, procurei nas minhas coisas “algo” para me vestir. De alguma forma eu sabia que a resposta estaria lá. Sem nada específico em mente, freneticamente vasculhava e rejeitava todas as minhas outras camisetas até que me percebi escolhendo aquela camiseta. Ao pegar aquela camiseta, tive certeza que havia encontrado a camiseta que precisava usar, então eu a vesti. Aquilo não cessou meu desassossego – porém me proporcionou entendimento imediato. Lembro-me de ter ficado profundamente atordoado ao vestir a camiseta – mais do que o desassossego anterior, uma amplificação, um repentino, inexplicável e prolongado sobressalto provocado por uma energia negativa, ao modo como se sente quando um amigo próximo lhe dá más notícias. A sensação não vinha da camiseta em si, mas da fonte de desassossego que me levou a escolher a camiseta... Assim que me dei conta disso, fui compelido a olhar para meu ombro esquerdo onde figurava a palavra TSUNAMI (fotografia 1). Então me dei conta! E me senti muito desconfortável! Não pude me esquecer daquela sensação! Quando eu escolhi vestir aquela camiseta, era como se alguém me dissesse: “por que você escolheu vestir justo esta camiseta? Justo hoje? Justo hoje?” Foi quando percebi que o que havia sentido deveria estar conectado de alguma forma com o tsunami pelo qual aquele dia seria conhecido e lembrado. Um tsunami acontecendo naquele dia. Eu não havia escolhido vestir aquela camiseta devido a algum sentimento mórbido ou algo parecido, mas a escolha ocorreu como resposta àquelas sensações inconfundíveis que de alguma forma chegaram até mim no momento em que tentei compreender o que acontecia. Eu sinto que compreendi o tsunami daquele dia como uma grande perda de vidas sem nenhum tipo de alerta prévio. Estremeci e fiquei Relatos 417 imaginando o que poderia fazer. Eu não desejei ou causei aquilo tudo. Decidi usar aquela camiseta o dia todo, acontecesse o que acontecesse, a fim de honrar o sentimento e a experiência que acabei de descrever. Um tsunami é uma poderosa força da natureza e um objeto de estudo para mim, mas eu nunca desejaria ocasionar esse desastre ou machucar alguém. Como eu não conseguia me desconectar da negatividade do impacto, continuei com a camiseta como forma de manter a racionalidade e tentar colocar o incidente em segundo plano na minha mente a fim de continuar o meu dia. Eu até vesti uma camiseta listrada verde em cima da outra para não deixar a palavra à mostra... Estou certo de que não fui o único a vestir aquela camiseta naquele dia. O que mais me chama a atenção é a forma inconfundível como tudo começa: sensação repentina, desagradável, e sobressalto reflexo, do mesmo modo que se tem ao ouvir um som inesperado ou ter uma surpresa qualquer, e ao olhar a palavra, e reconfirmar a sensação desagradável e a noção de devastação que tsunamis podem causar, junto à tentativa de me desvencilhar daquela sensação. Eu já havia sentido essa sensação forte de desassossego algumas vezes, na época dos acontecimentos de 11 de setembro e no desastre com a Challenger. Reafirmo que mantive o posicionamento pessoal de inteira racionalidade e disponibilidade de ajudar para que acontecesse o melhor para todos em todas as ocasiões. Para isso, é importante registrar da forma mais honesta possível todas as coisas relacionadas aos eventos – até mesmo informações que não fazem sentido de acordo com as noções preexistentes. Elas devem ser posteriormente corroboradas de forma que não se selecione os dados. Porém, coisas inexplicáveis – anomalias e coisas correlatas, na minha experiência – acabam por prender minha atenção, fazendo com que eu conte a um amigo, de forma a deixar algum tipo de registro. É possível que outras pessoas tenham experiências parecidas. Nos lugares apropriados, deveria haver algum tipo de validação sobre a onda “assassina” – um nome inapropriado, já que a onda em si não teria matado ninguém caso houvesse tido o aviso ou alerta apropriado. Quanto a mim, vejo que é chegada a hora de manter um diário, talvez com algum tipo de marcação de hora digital. Os pensamentos mórbidos não são nada agradáveis. Eu tento tirar esses pensamentos da minha mente consciente sempre que eles vêm até mim, a fim de 418 Journal of Conscientiology, Vol. 11, No. 44 não manter pensamentos que não são positivos, pois eles me afligem e angustiam. Eu prefiro conviver e gastar meu espaço mental com coisas positivas. Entretanto, se eu mantiver um registro desses eventos por algum tempo pode ser proveitoso. Seja o que for que esteja acontecendo, terá a minha atenção. Logo após minhas impressões sobre o tusnami, escrevi um e-mail para um amigo. Penso que escrever no momento e documentar os acontecimentos dessa forma podem ser úteis, a fim de prevenir erros e evidenciar padrões com o passar do tempo. Entretanto, o impacto desconcertante da experiência foi mais forte do que pude descrever. Atingiu-me como um soco, provocando uma dor intensa. Quase como uma repreensão – como se eu tivesse muito “mal gosto” por vestir algo como aquela camiseta naquele dia. O que me preocupava não era nada relacionado ao meu gosto ou à moda, mas à noção de que HAVERIA UM TSUNAMI HOJE! Não! Não! Não, não não! O que me feria era a angústia da morte e a protelação do trauma – algo que poderia ser prevenido – a repreensão era merecida por pessoas que não preveniram ou nem ao menos tentaram fazer um alerta... A repreensão não era direcionada a mim – mas estou tentando descrever é o modo como me senti. Senti o horror do evento antes de ter qualquer meio racional de ficar sabendo sobre ele. Assim o leitor pode perceber porque naquela hora eu tentei tirar aquilo da minha mente e insistir na racionalidade e positividade. Eu NUNCA pensei em correr para ver as notícias; ou procurar por um grande terremoto recente e calcular onde o tsunami iria acontecer – e checar se havia algum lugar que tivesse ficado sem alerta ou tentar ligar para lá e fazer alguma coisa. Quem pensaria em algo como isso? Eu nem ao menos liguei a TV. Rejeitei esse pensamento! Eu nunca quis causar mal para ninguém! Porque eu deveria ficar tão impactado naquele momento com o pensamento de que poderia existir algo como uma onda gigantesca, um Tsunami acontecendo naquele dia! Eu olhei as horas, já passava das 9 da manhã. Mais tarde, descobri que a primeira grande onda atingiu a Indonésia às 9 horas da manhã de lá. Era aproximadamente 9h25 quando finalmente saímos de casa. Tomei o café com a mãe dos meus colegas e família em um restaurante Grego no Crystal River, Flórida, e notei uma pintura de uma ilha vulcânica grega [Thera] que havia entrado em erupção Relatos 419 violentamente na época antiga, causando ondas que destruíram cidades por milhares de quilômetros de distância. Ninguém quis conversar sobre esse assunto. Eu até mesmo tinha trazido comigo um livro, de Charles Pellegrino, sobre aquele velho vulcão em particular no Mediterrâneo e os antigos tsunamis devastadores que ele causou. É claro, não havia como eu saber, quando eu trouxe o livro comigo, que iríamos a um restaurante grego com um mural na parede justamente daquele mesmo lugar descrito no livro, a ilha vulcânica que explodiu, causando o que pode ter sido o maior tsunami do mundo antigo. Havia planejado trazer o livro de qualquer forma, visto que o estava lendo e mesmo depois da experiência da camiseta naquela manhã, decidi trazê-lo de qualquer forma. Havia trazido o livro pensando que talvez fosse interessante, até mesmo comentei, ao chegarmos ao restaurante, sobre os antigos tsunamis na ilha vulcânica e a coincidência de termos ido àquele lugar naquela manhã. Eu falava sobre a coincidência de ter trazido o livro sobre Thera e de termos ido a um restaurante com um mural daquele mesmo lugar na parede – mas, na realidade, eu pensava sobre os tsunamis, e sobre a misteriosa coincidência que chamava minha atenção. Sob circunstâncias normais, com meu amigo e sua família, o assunto teria derivado para uma conversa interessante sobre coincidências e grandes acontecimentos da história antiga que cunharam nossas lendas e até mesmo ideias religiosas e científicas... ao invés disso, o café da manhã foi atipicamente quieto. Ninguém queria conversar sobre absolutamente nada. Mais tarde, em casa, quando ouvimos as notícias, eu me vi usando as letras na camiseta para mostrar para a mãe do meu amigo como soletrar a palavra. Ela escutava a palavra pela primeira vez na TV e não sabia como pronunciá-la ou o que esta significava. Eu puxei a camiseta listrada até meu ombro esquerdo e soletrei a palavra, apontando para cada uma das letras. Ela já estava sentada do meu lado esquerdo, onde estavam a impressão na minha camiseta. Foi interessante perceber seu olhar de perplexidade. Eu tenho certeza que ela aprendera ali aquela palavra e como soletrá-la. Eu não tinha tido tempo de trocar de camiseta desde que chegamos do restaurante. Nós estávamos vendo as notícias sobre o tsunami pela primeira vez, portanto, não teria como eu ter colocado a camiseta em resposta ao noticiário. Certamente deve ter parecido estranho eu estar usando aquela camiseta naquele dia, antes do noticiário trazer a notícia ou ao menos 420 Journal of Conscientiology, Vol. 11, No. 44 antes de nós sabemos sobre ela, com o livro de Pellegrino na mão – e ainda termos ido àquele lugar, e de ter acabado de assistir ao filme na noite anterior. T S U N A M I, eu mostrei com o meu dedo indicador direito, dizendo cada letra em voz alta enquanto apontava cada letra escrita no meu ombro esquerdo, assim ela podia ver a palavra e como soletrá-la enquanto assistia ao noticiário. Expliquei que ela significava “onda de maré”, tecnicamente “onda oceânica sísmica”, ou do japonês colonial “onda do porto”. A cobertura do noticiário disse as mesmas coisas. Eu pude ver na sua fisionomia que ela pensava compenetradamente – ambos continuamos assistindo em silêncio, apenas absorvendo a informação. Eu não havia falado sobre aquele momento até então, pelo menos não com ela. Ela, por gentileza eu suponho, agora pensando sobre isso, nunca nem uma vez me questionou, até mesmo algum tempo depois, como aconteceu de eu estar usando aquela camiseta naquele dia. Ainda de forma mais surpreendente, eu também notei que a camiseta era produzida na Tailândia (Fotografia 2). Como eu deveria me sentir? Sentia-me de mãos atadas. Como compreender e lidar com a pré-cognição? Ou foi uma simulcognição? Telecognição? Retrocognição? É importante lembrar, se estou certo sobre isso, que estávamos em lados opostos do mundo, separados por 12 horas, de forma que os relógios mostravam a mesma hora. O que você faria nesse tipo de situação? Eu fico em lágrimas e triste pelas pessoas feridas, o perigo e a falta de alerta, e por não saber como lidar com o “presságio”. Apenas lágrimas. Fotografia 2. Etiqueta da camiseta do tsunami Relatos 421 Mais tarde, vi um relógio quebrado parado às 9h25 – aproximadamente a hora que saímos de casa. Consultei um mapa global para confirmar que a área do terremoto e tsunami era antípoda. Suponho que a hora que experimentei o desassossego era a mesma hora em que as ondas atingiam várias costas litorâneas Mais tarde, ouvi relatórios de poços na Virgínia jorrando e arremessando água descontroladamente e grande flutuação dos seus níveis de água. Adverti um mergulhador de caverna para que não mergulhasse perto da lua cheia ou da lua nova e para que ele compreendesse o que as ondas sísmicas podem fazer com a água em espaços subterrâneos confinados, mesmo se elas convergirem de um terremoto do outro lado do mundo. O que eu aprendi a partir desse tipo de experiência? Creio que até o momento ela valeu a pena, quando você passa por sentimentos que parecem pouco usuais ou sem explicação, e age de forma responsável, tentando coletar informações ao invés de simplesmente esquecê-las. Faça algum tipo de anotação ou registro que você possa acessar quando necessário. Pode ser que tudo o que estava acontecendo venha a ser conhecido por você, ajudando a calibrar melhor suas experiências a fim de compreender melhor o que se passa ao seu redor, e até mesmo a grandes distâncias. Uma vez que se consiga proceder assim, as coisas podem começar a ficar mais claras, apesar de não necessariamente mais fáceis. Uma noção positiva de tudo isso é que, se você perceber que é sensível a coisas como essa, então poderá ajudar mais quando os problemas ocorrerem, ou até mesmo colaborar em que não aconteçam. Outro aspecto importante é que você pode ajudar as pessoas que experimentam isso pela primeira vez a lidar com o evento de maneira mais positiva. Certamente os animais que fugiram antes do tsunami também eram sensíveis, mas de alguma forma tiveram mais êxito. Até mesmo as tribos nativas deixaram de ser atingidas pelas mesmas ondas que devastaram todo o resto. Creio que todas as pessoas são capazes de ter essa mesma consciência que salvou os nativos e os animais – a mesma consciência, penso, que fez com que eu sentisse o acontecimento antes de ter tido qualquer notícia do mesmo pelos meios de comunicação. Essa mesma consciência é comum aos nativos aos animais e a nós, se nós nos sintonizarmos ao fato e não nos desligarmos dele – é o tipo de percepção capaz de salvar vidas, possível a todos nós. Seria bom se pudéssemos aprender com eles e uns 422 Journal of Conscientiology, Vol. 11, No. 44 com os outros, e construir um sistema de alerta de tsunamis e programas educacionais. Acredito ainda que também é importante estudar entre outros, os aspectos psicológicos da lucidez paranormal sobre o ambiente, tanto de pessoas como de animais, quanto aos aspectos relacionados a fenômenos eletromagnéticos que geralmente acontecem em distúrbios atmosféricos, terremotos, raios solares e outros raios eletromagnéticos e cósmicos geradores de distúrbios. A pesquisa de Manchester provou que algumas pessoas têm um senso magnético capaz de ser medido em uma RNM. Talvez pesquisas futuras venham a mostrar que algumas pessoas são sensíveis a flutuações eletromagnéticas ou outros estímulos relevantes observados nos eventos paranormais. O conhecimento sobre tais parâmetros poderia expandir nossa habilidade de construir equipamentos que ajudem no estudo e alerta prematuro de desastres inesperados e algumas mudanças catastróficas a fim de construir um mundo mais pacífico e habitável. Johnny C Godowski Bacharel em Engenharia Elétrica Pensacola, Flórida, EUA Traduzido por Cathia Caporali Revisado por Ana Paula Lage