Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
_____________________________________________
Publicado em: http://blogs.mediapart.fr/blog/philippe-ries/100113/scandale-bancaire-portugais-les-vacances-rio-dedias-loureiro
Tradução do francês de PAT
Colocado em linha em: 2013/02/10
Escândalo bancário português: as
férias no Rio de Dias Loureiro
Philippe Riès *
10 de janeiro de 2013
O Presidente da República portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, decidiu remeter para o
Tribunal Constitucional - é uma de suas prerrogativas – algumas disposições de um
orçamento de austeridade agravada para 2013, porque tem "dúvidas" sobre a equidade dos
esforços impostos à população de um país que vai entrar no seu terceiro ano consecutivo
de recessão, uma situação inédita desde a Revolução dos Cravos de 1974. Dúvidas...?
No momento em que este Chefe de Estado, com a reputação pessoal mais do que
manchada, desenvolvia esta manobra perfeitamente demagógica, soube-se que uma das
principais figuras do “cavaquismo”, Manuel Dias Loureiro, passou as festas de fim de ano
no Copacabana Palace, do Rio de Janeiro, onde um quarto individual custa uns 600 euros
por noite. Ou seja, mais do que o salário mínimo mensal do país. Eis o que deveria bastar
para levantar "dúvidas" ao ocupante do palácio presidencial de Belém.
Detentor de importantes pastas ministeriais nos governos do PSD, de que Cavaco Silva foi
o chefe, ex-membro do Conselho de Estado, este santo dos santos da casta política
portuguesa, Dias Loureiro, "protegido" de Cavaco, é uma figura central do que deveria ser
um enorme escândalo europeu, um assunto de Estado, a falência do banco BPN. Esta
falência fraudulenta pode custar ao contribuinte português - o mesmo que aperta o cinto
ano após ano -, até sete mil milhões de euros, ou seja, cerca de um décimo da assistência
financeira internacional que o país teve de solicitar, em 2011, que teve como contrapartida
o programa de reordenamento das finanças públicas vigiado pela "troika" UE-BCE-FMI.
A principal atividade dos dirigentes deste banco do "bloco central" (os partidos do centroesquerda e do centro-direita que se alternam no poder desde a queda da ditadura de
Salazar) consistia em conceder dezenas ou centenas de milhões de euros de empréstimos
aos seus amigos, parentes, clientes ... e a si próprios. Num relatório notável, o jornalista da
televisão SIC, Pedro Coelho, revelou, por exemplo, que uma empresa de cimento da galáxia
de Dias Loureiro tinha recebido do BPN um empréstimo de 90 milhões de euros. Outra
personalidade do "cavaquismo", como Duarte Lima, ex-líder parlamentar do PSD, preso
em Lisboa e suspeito de um assassinato pela polícia brasileira, desviou 49 milhões de
euros. Cavaco, ele mesmo, beneficiou, em circunstâncias suspeitas, de uma atribuição a um
1
preço estabelecido pelo patrão do BPN, José Oliveira Costa, um dos seus ex-secretários de
Estado, de ações da SLN, holding do banco, que pôde revender com um ganho de 140%.
Em suma, o escândalo do BPN é, em grande medida, o escândalo do "cavaquismo". E tem
esta personagem "dúvidas" sobre a equidade da política de austeridade?
Estes milhares de milhões de euros são considerados como definitivamente perdidos ...
mas não para todos. Quando o escândalo rebentou, em 2009, a imprensa portuguesa
revelou que Dias Loureiro, administrador da SLN, tinha organizado cuidadosamente a sua
insolvência pessoal, através da transferência dos seus ativos para membros da sua família
ou para empresas offshore. Será o suficiente, sem dúvida, para pagar o quarto ao
Copacabana Palace?
E, de facto, quem encontrou Dias Loureiro para as festas neste hotel de sonho, outrora
favorito das estrelas de Hollywood? Nada mais nada menos do que Miguel Relvas, pilar do
atual governo PSD, amigo próximo e "pai José" do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.
Relvas, cuja manutenção no governo é, só por si, um escândalo, depois de ter sido
conhecido que obteve fraudulentamente um diploma universitário, a fim de poder utilizar
o título de "doutor", que a burguesia do Estado lusitano tão ridiculamente aprecia.
Como Armando Vara, um amigo íntimo do ex-primeiro-ministro "socialista" José
Sócrates, que colocou Portugal sob a tutela da "troika", Dias Loureiro e os “cavaquistas"
do BPN são a ilustração de que a política profissional é claramente, em algumas
"democracias" europeias, o caminho mais seguro para o rápido enriquecimento pessoal de
uma classe de aventureiros – na Grécia, na Irlanda, em Espanha, em Portugal. E na
França?
Esta é a primeira lição. A segunda é a de que as graves disfuncionalidades dos sistemas
judiciários, eles próprios gangrenados pela corrupção e redes de influência, permitem que
tais indivíduos gozem, em completa impunidade, dos ganhos ilícitos. É notável que os
responsáveis diretos dos desastres bancários que estão diretamente na origem da crise
financeira global tenham gozado até agora, tanto nos Estados Unidos como na Europa,
com raras exceções, de uma total impunidade civil e criminal.
Por fim, a cereja no topo do bolo, a supervisão bancária agora confiada, na zona euro, ao
Banco Central Europeu, estará sob a responsabilidade do Vice-Presidente Vítor
Constâncio, o hierarca socialista português e governador do Banco de Portugal, o regulador
bancário quando os "cavaquistas" do BPN se entregavam aos seus truques sujos. Feche-se
a proclamação!
* Philippe Riès: jornalista depois de 1976, esteve 26 anos na AFP, designadamente como
responsável do Departamento Económico dos escritórios de Tóquio e Bruxelas. Entre
outros livros, publicou “Cette crise qui vient d'Asie" e "Le jour où la France a fait
faillite".
2
Download

as férias no Rio de Dias Loureiro