Mídia e Etnia - figurações do índio e do negro na imprensa brasileira: construção de identidades étnicas Alexandre S. Ferrari Soares [email protected] Introdução às Ciências da Linguagem (ORLANDI, Eni & LAGAZZI-RODRIGUES, Suzy (orgs). Discurso e textualidade. Campinas, Pontes, 2006. A análise do discurso (AD) se faz entre a linguística e as ciência naturais, interrogando a linguística que pensa a linguagem mas exclui o que é histórico-social e interrogando as ciências sociais na medida em que estas não consideram a linguagem em sua materialidade. Ela vai mostra que para respondê-las é necessário deslocar-se de terreno constituindo outra região teórica em que o sócio-histórico e o linguístico se relacionem de maneira constitutiva e não periférica. linguística, psicanálise e marxismo Com a linguística ficamos sabendo que a língua não é transparente; ela tem sua ordem marcada por sua materialidade que lhe é própria. Com o marxismo ficamos sabendo que a história tem sua materialidade: o homem faz a história, mas ela não lhe é transparente. Finalmente, com a psicanálise é o sujeito que se coloca como tendo sua opacidade: ele não é transparente nem para si mesmo. Língua e fala, língua e discurso A AD desloca a dicotomia entre língua e fala e propõe uma relação não dicotômica entre língua e discurso, porque ao se separar língua e fala, separa-se ao mesmo tempo o que é social e o que é histórico. O que é discurso • Fazendo a crítica ao esquema elementar da comunicação, M. Pêcheux (1969) vai dizer que o discurso mais do que transmissão de informação (mensagem) é efeito de sentido entre interlocutores. • Isso significa deslocar a AD do terreno da linguagem como instrumento de comunicação. Além disso significa, em termos do esquema elementar da comunicação, sair do comportamentalismo que preside a relação entre locutores como relação de estímulo e resposta em que alguém toma a palavra e transmite uma mensagem a propósito de um referente e baseando-se em um código que seria a língua, o outro responde e teríamos aí o circuito da comunicação. Condições de Produção • As condições de produção incluem pois sujeito e a situação. A situação, por sua vez, pode ser pensada em seu sentido estrito e em sentido lato. • O sentido estrito: o aqui e o agora do dizer, o contexto imediato. • O sentido lato: a situação compreende o contexto sócio-histórico, ideológico, mais amplo. • Na prática não podemos dissociar um do outro, ou seja, em toda situação de linguagem esses contextos funcionam conjuntamente. • O sentido mais amplo (lato) compreende o contexto sócio-histórico, ideológico, isto é, o fato de que em uma sociedade como a nossa o saber é distribuído por uma rede institucional, hierarquizada em que o saber relaciona-se ao poder. Assim, o que acontece em sala de aula não está desvinculado do contexto mais amplo e é assim que adquire sentido. O Sujeito da AD • O sujeito da AD não é o sujeito empírico, mas a posição sujeito projetada no discurso. E isso se dá no jogo das chamadas formações imaginárias que presidem todo discurso: a imagem que o sujeito faz dele mesmo, a imagem que ele faz de seu interlocutor, a imagem que ele faz do objeto do discurso. Assim como também tem a imagem que o interlocutor tem de si mesmo, de quem lhe fala, e do objeto do discurso. Sobre as Formações Imaginárias (FI) • Em relação a esse imaginário, o que conta é a projeção da posição social do discurso. Desse modo, não é do operário que estamos falando, por exemplo, mas da imagem que nossa sociedade faz do operário. Ou do pai, ou do professor, ou do presidente etc. por aí podemos refletir sobre o quanto o nosso discurso é en-formado pelo imaginário. A análise, o texto, o discurso • A AD tem como unidade o texto. O texto não visto como na análise do conteúdo, em que se o atravessa para encontrar atrás dele um sentido, mas discursivamente, enquanto o texto que o constitui discurso, sua materialidade. Isto é, como o texto produz sentido em seu funcionamento. O percurso da análise: • Em um primeiro passo da análise ele, o analista, toma o material bruto linguístico (o corpus, os textos) e por primeiro lance da análise ele procederá à desuperficialização desse material. Obterá assim o que chamamos o objeto discursivo. • O objeto discursivo corresponde ao material analisado, mas já resulta de um passo de análise. Nele já começamos a pressentir o desenho das Formações Discursivas que presidem a organização do material. • Em um segundo passo da análise ele trabalha o objeto discursivo procurando determinar que relação este estabelece com as formações ideológicas. Chegando assim ao processo discursivo. • Quando conhecemos o processo discursivo podemos dispensar o material de análise inicial, pois estaremos de posse do funcionamento discursivo que pode ser generalizado para outros conjuntos de materiais, outros texto. • O processo discursivo é definido por M. Pêcheux (1975) como o sistema de relações de substituição, paráfrases, sinonímias etc. que funcionam entre elementos linguísticos – significantes – em uma Formação Discursiva (FD) dada. Formação Discursiva e Interdiscurso • O sentido de uma palavra ou expressão, de uma proposição etc., não existe em si mesmo (isto é, em uma relação transparente com a literalidade) mas ao contrário é determinado pela posições ideológicas que estão no jogo no processo sócio-histórico no qual as palavras, expressões, proposições são produzidas (isto é, reproduzidas). Formação Discursiva e Ideológica • As Formação Discursivas são a projeção, na linguagem, das formações ideológicas. As palavras, expressões, proposições adquirem seu sentido em referência à posições dos que as empregam, isto é, em referência à formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem. Formação Discursiva (FD) • Chamamos de FD aquilo que, numa Formação Ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determina o que pode e deve ser dito. Portanto, as palavras, proposições, expressões recebem seu sentido da FD na qual são produzidas. O indivíduo interpelado em sujeito • Segundo Pêcheux, os indivíduos são interpelados em sujeitos-falantes (em sujeito do seu discurso) pelas Formações Discursivas que lhes são correspondentes. É assim que não podemos pensar o sentido e o sujeito sem pensar na ideologia. E não podemos pensar na ideologia sem pensarmos na linguagem. • O discurso é a materialidade específica da ideologia e a língua a materialidade específica do discurso. Desse modo temos a relação entre língua e ideologia afetando a constituição do sujeito e do discurso. Resta dizer que sujeito e sentido se constituem ao mesmo tempo. É pelo fato mesmo de dizer que o sujeito se diz, se constitui. • A palavra “salário” pode significar de modos distintos se referida à formação discursiva do patrão ou do empregado. Do mesmo modo a palavra “liberdade” se referida a FD do pai ou do filho etc. • Não há uma essência do sentido. Ele é sempre uma relação que tem a ver com o conjunto de Formações Discursivas. Formação Discursiva e Interdiscurso O conjunto de Formações Discursivas, por sua vez, forma um complexo com dominante. Esse complexo com dominante das FD´s é o que chamamos Interdiscurso, que também está afetado pelo complexo de Formações Ideológicas. O Interdiscurso determina a Formação Discursiva. • O Interdiscurso é irrepresentável. Ele é constituído de todo dizer já-dito. Ele é o saber, a memória discursiva. • O Interdiscurso é o que fornece a cada sujeito sua realidade enquanto sistema de evidências e de significações percebidas, experimentadas • E é pelo funcionamento do Interdiscurso que o sujeito não pode reconhecer sua subordinaçãoassujeitamento ao Outro, pois, pelo efeito de transparência, esse assujeitamento se apresenta sob a forma da autonomia. O Outro aí é o Interdiscurso. • Para que uma palavra tenha sentido é preciso que ela já faça sentido (efeito do já-dito, do interdiscurso, do Outro). A isso é que chamamos de historicidade na AD. Chamamos de efeito de pré-construído, a impressão do sentido lá que deriva do jádito, do interdiscurso e que faz com que ao dizer já haja um efeito de já-dito sustentando todo o dizer. SUJEITO • Segundo Althusser (1973), todo indivíduo humano, isto é, social só pode ser agente de uma prática se se revestir da forma-sujeito. • A forma-sujeito é a forma de existência histórica de qualquer indivíduo, agente das práticas sociais. • O sujeito, por sua vez, se constitui pelo esquecimento do que o determina, pois é do funcionamento da ideologia em geral que resulta a interpelação dos indivíduos em sujeitos, fornecendo a cada um a sua “realidade” enquanto sistema de evidências e de significações percebidas. O teatro da consciência • Não podemos pensar o sujeito como origem de si. Aí se estabelece o teatro da consciência segundo o qual o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia, pelo simbólico. • Dessa interpelação resulta uma forma-sujeito histórica, que sofre um processo de individualização pelo Estado e aí reencontramos o indivíduo agora não mais bio e psico, mas social, resultado de processos institucionais de individualização. • Devemos ainda acrescentar que a interpelação do indivíduo em sujeito de seu discurso se efetua pela identificação do sujeito com a FD que o domina. • Os elementos do Interdiscurso que o constituem, os traços daquilo que o determina, são re-inscritos no discurso do próprio sujeito. Daí dizer que a ideologia não tem exterioridade. • A ideologia interpela o indivíduo em sujeito e este submete-se à língua significando-se pelo simbólico na história. • Não se quantifica o assujeitamento: se é sujeito pelo assujeitamento à língua na história. Não se pode dizer senão afetado pelo simbólico, pelo sistema significante. Não há nem sentido nem sujeito se não houver assujeitamento à língua. • Acentuando-se então a necessidade de se pensar o funcionamento, supõe-se uma articulação entre ideologia e inconsciente em que se pode observar que “o caráter comum das estruturas-funcionamentos designadas respectivamente como ideologia e inconsciente é o de dissimular sua própria existência no interior de seu funcionamento, produzindo um tecido de evidências subjetivas, devendo-se entender este último adjetivo não como “que afetam o sujeito” mas “nas quais se constitui o sujeito.” • A ideologia é um ritual com falhas e a língua não funciona fechada sobre si mesma: abre para o equívoco. Por seu lado, a história é história porque os fatos reclamam sentidos (P.Henry, 1994) perante um sujeito que está condenado a interpretar (significar). • Equívoco: marca de resistência que afeta a regularidade do sistema da língua, este conceito surge da forma como a língua é concebida na AD (enquanto materialidade do discurso, sistema não-homogêneo e aberto). Algumas de suas manifestações são as falhas, lapsos, deslizamentos, mal-entendidos, ambiguidades, que fazem parte da língua e representam uma marca de resistência e uma diferenciação em relação ao sistema. • Materializar novo/outros lugares, outras posições é o que significa a determinação histórica dos sujeitos e dos sentidos: nem fixados ad aternum, nem desligados como se pudessem ser quaisquer uns. Porque é histórico é que muda e é porque é histórico que se mantém. • Entre o possível e o historicamente determinado é que trabalha a análise de discurso. A determinação não é uma fatalidade mecânica, ela é histórica. • Há uma determinação histórica na constituição dos sentidos e dos sujeitos que tem uma forma material concreta distinta nas diferentes formas sociais. • No sujeito medieval a interpelação se dá de fora para dentro e é religiosa, a interpelação do sujeito capitalista faz intervir o direito, a lógica, a identificação. Nela não há separação entre exterioridade e interioridade, ainda que, para o sujeito, essa separação continue a ser uma evidência sobre a qual ele constrói, duplamente sua ilusão: a de que ele é a origem do seu dizer (logo, ele diz o que quer) e da literalidade (aquilo que ele diz só pode ser aquilo) como se houvesse uma relação termo a termo entre linguagem, pensamento e mundo. O sujeito moderno é ao mesmo tempo livre e submisso, determinado pela exterioridade e determinador do que diz: essa é a condição de sua responsabilidade (sujeito jurídico, sujeito a direitos e deveres) e de sua coerência (não contradição) que lhe garantem, em conjunto, sua impressão de unidade e controle de sua vontade, não só dos outros mas até de si mesmo, bastando para isso ter poder ou consciência. Essa é sua ilusão. O que chamamos ilusão subjetiva do sujeito e que se acompanha da ilusão referencial (sobre a evidência do sentido). ESQUECIMENTOS • Na AD temos duas formas de esquecimento: o esquecimento número 1 e o número 2. • O esquecimento nº. 1 é o que dá conta do fato de que o sujeito falante não pode, por definição, se encontrar no exterior da formação discursiva que o domina. Ou seja, o sujeito se constitui pelo esquecimento do que o determina. Ele se constitui pela sua inscrição na Formação Discursiva. Pelo esquecimento nº.1 é que tem a ilusão de ser a origem do que diz. • O esquecimento nº. 2 é da ordem da formulação. O sujeito esquece que há outros sentidos possíveis. Ao longo de seu dizer vão-se formando famílias parafrásticas de tudo aquilo que ele podia dizer, mas não disse. Esse esquecimento não é da ordem do inconsciente e muitas vezes o sujeito até recorre a essas margens de seu dizer para precisar o que está dizendo. Por exemplo “estou dizendo sujeito e não indivíduo” etc. Esse esquecimento é chamado esquecimento enunciativo. Ele produz a impressão da realidade do pensamento, como se houvesse uma relação termo a termo entre o que digo, o que penso e a realidade a que me refiro. Memória Discursiva • A memória discursiva é trabalhada pelo noção de Interdiscurso: “algo fala antes, em outro lugar e independentemente”. Trata-se do que chamamos saber discursivo. É o já-dito que constitui o todo dizer. Família Não sabemos nem dizer o número de vezes que a palavra família foi dita em diferentes circunstâncias no contexto histórico da cultura ocidental, por exemplo. A cada vez, ocorreu em condições de produção específicas que a fizeram significar de maneira particular. Pois bem, é todo esse conjunto de enunciações que constitui a memória da palavra família. Mas nós mesmo já esquecemos o como essa palavra significou em cada uma dessas enunciações. Por isso, quando dizemos família, essa palavra significa não apenas o que temos intenção de dizer, mas também pela memória de que ela está impregnada e que, muitas vezes, desconhecemos. Interdiscurso • Conjunto de enunciações já-ditas e esquecidas e que são irrepresentáveis . TEXTO E DISCURSO • O TEXTO É UMA UNIDADE SIGNIFICATIVA: para ser texto é preciso ter textualidade. • A textualidade por sua vez é função da relação do texto consigo mesmo e com a exterioridade. É pensando a relação do texto com sua exterioridade que podemos pensar não a função do texto mas seu funcionamento. • Não são as palavras que significam mas o texto. Quando uma palavra significa é porque ela tem textualidade, ou seja, é porque sua interpretação deriva de um discurso que a sustenta, que a provê de realidade significativa. A palavra que significa é uma palavra textualizada. • Certamente há uma ligação entre a história lá fora e a historicidade do texto, a trama dos sentidos nela, mas ela não é nem direta, nem automática, nem de causa e efeito, e nem se dá termo a termo. Essa relação complexa e que necessita, para ser trabalhada, que se compreenda o funcionamento do texto. • Pela análise da historicidade do texto, isto é, de seu modo de produzir sentidos, podemos falar que um texto pode ser – e na maioria das vezes efetivamente o é – atravessado por várias Formações Discursiva. É a isto que chamo de heterogeneidade do discurso. Discursivamente, portanto, um texto não é homogêneo. Essas diferentes formações que o atravessam correspondem a diferentes posições sujeitos no discurso que aí se representam. Isto nos leva a pensar a relação texto/discurso e sujeito/autor. A FUNÇÃO DISCURSIVA AUTOR • Se temos um sujeito no discurso, no texto temos é um autor. Essas relações têm a ver com a ligação entre unidade e dispersão. De um lado, a dispersão do discurso e do sujeito, de outro, a unidade imaginária do texto e do autor. • Para nós, a função autor se realiza toda vez que o produtor de linguagem se representa na origem, produzindo um texto com unidade, coerência, progressão, não contradição e fim. • A nosso ver, a função de autor é tocada de modo particular pela história: o autor consegue formular, no interior do formulável, e se constituir, com seu enunciado, numa história de formulação. O que significa que, embora ele se constitua pela repetição, esta é parte da história e não mero exercício mnemônico. O autor embora não instaure discursividade (como o autor original de Foucault) produz, no entanto, um lugar de interpretação no meio de outros. Esta é sua particularidade. O sujeito só se faz autor se o que ele produz for interpretável. Ele inscreve sua formulação no interdiscurso, ele historiciza seu dizer. Porque assume sua posição de autor, ele produz um evento interpretativo. O que só repete (exercício mnemônico) não o faz. • A) repetição empírica: exercício mnemônico que não se historiciza (efeito papagaio); • B) repetição formal: técnica de produzir frases, exercício gramatical que também não se historiciza; • C) repetição histórica: a que se inscreve o dizer no repetível (interpretável) enquanto memória constitutiva (Interdiscurso). Esta, a memória, rede de filiações, faz a língua significar. É assim que sentido, memória do dizer e história se intricam na noção de Interdiscurso. INTERPRETAÇÃO • Na AD a interpretação tem a ver com a ideologia. Podemos considerá-la em duas instâncias: • A) como parte da atividade do analista e • B) como parte da atividade do sujeito. • Na AD há um batimento entre descrição e interpretação. Como a linguagem não é transparente e interpretar não é atribuir sentido, mas expor-se à opacidade do texto, ou seja, é explicar como um objeto simbólico produz sentidos. • Dar sentido é construir sítios de significação, é tornar possíveis gestos de interpretação. A ideologia não é um conteúdo “x” mas o mecanismo de produzir “x”: o que quer dizer, que ela é percebida como o processo de produção de um imaginário, produção de uma interpretação particular que apareceria como a interpretação necessária e que atribui sentidos fixos às palavras em um contexto histórico dado. Quando um sujeito fala, ele está em plena atividade de interpretação, está atribuindo sentido às suas próprias palavras em condições específicas. Mas ele o faz como se o sentido estivesse nas palavras – e não na descrição das palavras em FD´s – apagando-se assim suas condições de produção, desaparecendo o modo pelo qual a exterioridade o constitui. DISPOSITIVO DA INTERPRETAÇÃO • O dispositivo teórico é constituído pelas noções e conceitos que constituem os princípios da AD: a noção de discurso como efeito de sentido, a noção de formação discursiva, a de formação ideológica, o interdiscurso etc. O dispositivo teórico vai determinar o dispositivo analítico. • Na realidade, todo sujeito interpreta a partir de um dispositivo ideológico que o faz interpretar de uma maneira e não de outra. • Pelo processo de identificação, o sujeito se inscreve em uma formação discursiva para que suas palavras tenham sentido. E isto lhe parece como natural, como o sentido lá, transparente. Ele não reconhece o movimento da interpretação, ao contrário, ele se reconhece nele. Ele se reconhece nos sentidos que produz. • Não estamos pretendendo uma posição neutra do analista em relação aos sentidos. Não só ele está sempre afetado pela interpretação como um dispositivo analítico marca uma posição em relação a outras. • O que estamos afirmando é que o dispositivo analítico é capaz de deslocar a posição do sujeito, trabalhando a opacidade da linguagem, a sua não evidência e, com isso, relativizando a relação do sujeito com a interpretação. Ele poderá assim fazer uma leitura o menos subjetiva possível, mediado pela teoria e pelos mecanismos analíticos. EFEITO METAFÓRICO • A noção de funcionamento, estendida da linguística para a AD, faz com que não trabalhemos apenas com o que as partes significam, mas que procuremos quis são as regras que tornam possível qualquer parte. Isso introduz a AD no campo das ciências da linguagem. • A proposta é então explicitar os mecanismos de funcionamento do discurso. • O trabalho do analista de discurso é mostrar como funciona um objeto simbólico, como os processos de significação trabalham um texto, qualquer texto. FINALIZANDO • A AD trabalha com as relações de poder simbolizadas. Não há dizer que não seja político. • Todo dizer está sustentando pela tensão existente entre a paráfrase e a polissemia (o diferente), estamos sempre nos deslocando, no dizer, entre a repetição e a diferença, sem que possamos estabelecer exatamente os limites entre ambos pois esta é uma relação contraditória que preside o dizer. • Cabe ao analista, com seus dispositivos, examinar, na prática da linguagem, quais são mais prováveis, quais se realizam e quais restam como possíveis. Sem fechar o círculo pois sabemos que o discurso é caracterizado pela incompletude dos sentidos e dos sujeitos.