DEGRADAÇÃO RUMINAL DE COMPOSTOS FIBROSOS E NITROGENADOS EM GRAMÍNEAS TROPICAIS RENATA COGO CLIPES UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ ABRIL - 2007 DEGRADAÇÃO RUMINAL DE COMPOSTOS FIBROSOS E NITROGENADOS EM GRAMÍNEAS TROPICAIS RENATA COGO CLIPES Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal. Orientador: Ph.D. JOSÉ FERNANDO COELHO DA SILVA CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ Abril - 2007 2 DEGRADAÇÃO RUMINAL DE COMPOSTOS FIBROSOS E NITROGENADOS EM GRAMÍNEAS TROPICAIS RENATA COGO CLIPES Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal. Aprovada em 02 de abril de 2007 Comissão Examinadora: Prof. Pedro Antônio Muniz Malafaia (Doutor, Zootecnia) - UFRRJ Prof. Hernán Maldonado Vásquez (Doutor, Zootecnia) - UENF Prof. Edenio Detmann (Doutor, Zootecnia) – UFV Prof. José Fernando Coelho da Silva (PhD, Nutrição de Ruminantes) - UENF (Orientador) i A Deus, pela existência e luz; Aos meus pais, Brás e Terezinha pelo amor; Aos meus irmãos, Cássia e Alex pela paciência e compreensão; Aos meus lindos sobrinhos, Allan e Melyna; Ao meu cunhado Adolfo, pela amizade e carinho; Aos professores José Fernando Coelho da Silva e Edenio Detmann; Aos amigos Eva e Itaicy; A todos os amigos. DEDICO ii AGRADECIMENTOS A Deus por sempre estar à minha frente, protegendo-me e guiando-me; Ao professor José Fernando Coelho da Silva pelo grande exemplo que foi, pela valiosa orientação, inestimáveis ensinamentos e dedicação com que me acompanhou durante todo tempo; Ao professor Edenio Detmann, pela amizade, pela importância fundamental para a realização deste trabalho, pela confiança e paciência, desde o início; Ao professor Hernán Maldonado Vásquez pelo apoio e esclarecimentos prestados, pela amizade e ensinamentos durante o curso; Ao professor Pedro Malafaia, pela amizade e participação nas bancas de qualificação e defesa tese; Aos amigos Lara, Ismail, Fábio e Érika pelas amostras concedidas para a realização deste trabalho, além da amizade, convivência e atenção; Aos professores do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal pela contribuição na minha formação específica; À Universidade Estadual do Norte Fluminense que, através do CCTA, me concedeu apoio acadêmico e, pela concessão da bolsa de estudos; Ao amigo Cláudio Lombardi, técnico do LZNA, pela atenção e amizade; Aos funcionários Detony, Sérgio e Antônio pela atenção e auxílios prestados nos procedimentos de incubação; A Etiene Marques Ambrósio e Jovana Campos secretárias do curso de pósgraduação, pela inestimável atenção e informações prestadas; Às amigas Geni, Sílvia, Neuma, Alessandra, Mariana, Patrícia e Luciene, que estiveram ao meu lado, escutando-me, muitas vezes por telefone; Aos bolsistas Drieli Rossi e Tiago Rocha pela colaboração nas análises laboratoriais ; iii A todos os amigos e colegas do LZNA e da UENF pela agradável convivência; A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste trabalho; A todas as mães que são obrigadas a nos suportar, às vezes como um “saco de pancadas”, mas mãezinhas, no final tudo dá certo. Para a minha, deixo um recado; Mãe amiga, mãe irmã Mãe-pai: duas vezes mãe Mãe lutadora e companheira Mãe educadora, mãe mestra Mãe analfabeta, sábia mãe Mãe do silêncio, mãe comunicação Mãe de quem magoou e de quem perdoou Mãe rica, mãe pobre Mãe dos guerreiros e dos guerreados Mãe que sorri, mãe que chora Mãe que abraça e afaga Mãe presente, mãe ausente MÃE, simplesmente MÃE! Continue forte, guerreira e positiva, nos ensinando a cada dia, como levar a vida numa boa. Muito obrigada a todos. iv BIOGRAF IA RENATA COGO CLIPES, filha de Brás Martins Clipes e Terezinha de Jesus Cogo Clipes, nasceu em 2 de setembro de 1977, em Castelo-ES. Concluiu o Curso de Graduação em Zootecnia em abril de 2000, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica – RJ. Concluiu o Curso de Pós-Graduação em Produção Animal, em nível de mestrado, na área de Nutrição de Ruminantes, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), em Campos dos Goytacazes – RJ, obtendo o título de Mestre no dia 2 de abril de 2003. Em março de 2003, iniciou seu doutoramento em Produção Animal nesta mesma instituição, submetendo-se à defesa de tese em 2 de abril de 2007. v CONTEÚDO Página RESUMO …………………………………………………………………………………...viii ABSTRACT ………………………………………………………………………………… x 1. INTRODUÇÃO GERAL ………………………………………………………………... 1 2. REVISÃO DE LITERATURA …………………………………………………….……. 4 2.1. Fibra em Detergente Neutro…......……………………………………….... 4 2.2. Lignina..............................……………………………………………..……. 6 2.3. Fibra em Detergente Neutro Indigestível……………………………..….... 7 2.4. Sistema In Vitro de Produção Cumulativa de Gases..............................10 2.5. Degradação Ruminal dos Compostos Nitrogenados.............…….........11 3. REFERÊNCIAS BIBLIO GRÁFICAS …………………………………………….….. .13 4. TRABALHOS………………………………………………………………………….....18 TRABALHO 1. Predição da Fração Indegradável da Fibra em Detergente Neutro em Forragens Tropicais a partir da Concentração de Lignina Resumo …………………..…………………………………........................…...19 Abstract ……….…………..……………………………………………......…......20 Introdução …………………………………………………………………….......21 Material e Métodos ……………………………………………………………....22 Resultados e Discussão …………………………………………………….......26 Conclusões ………………………………………………………………………..33 Referências Bibliográficas …………………………………………………........33 vi TRABALHO 2. Avaliação da Proteína Insolúvel em Detergente Ácido como Estimador da Fração Protéica Indegradável no Rúmen em Forragens Tropicais Resumo …………………..…………………………………………………….....37 Abstract….…….…………..…………………………………………………........38 Introdução ………………………………………………………………………....38 Material e Métodos ……………………………………………………….….......39 Resultados e Discussão ………………………………………………..…….....42 Conclusões ………………………………………………………………..….......50 Referências Bibliográficas ……………………………………………………....50 TRABALHO 3. Associações entre a cinética da degradação ruminal e os constituintes da parede celular vegetal de quatro gramíneas tropicais em diferentes idades de corte e doses de adubação nitrogenada Resumo …………………..…………………………………………………….....54 Abstract ………..…………..……………………………………………………...55 Introdução ………………………………………………………………………....56 Material e Métodos ……………………………………………………………....57 Resultados e Discussão ………………………………………………………....60 Conclusões ……………………………………………………….……………....67 Referências Bibliográficas ……………………………………………………....67 CONCLUSÕES GERAIS ………………………………………………………………....69 vii RESUMO CLIPES, Renata C., Universidade Estadual do Norte Fluminense; abril de 2007; Degradação Ruminal de Compostos Fibrosos e Nitrogenados em Gramíneas Tropicais; Professor Orientador: José Fernando Coelho da Silva. Professores Conselheiros: Edenio Detmann e Hérnan Maldonado Vásquez. Objetivou-se validar a indigestibilidade potencial da fibra em detergente neutro (FDN) predita por intermédio das equações adotadas pelos sistemas nutricionais CNCPS e o NRC-2001, sendo este último com (NRCII) ou sem o fator de correção empírico 0,85; avaliar as estimativas da fração nitrogenada indegradável no rúmen (PIIDN) obtidas a partir dos compostos nitrogenados insolúveis em detergente ácido (PIDA). Foram utilizadas 540 amostras obtidas através de simulação manual do pastejo e extrusa esofágica, de fenos e de gramíneas tropicais submetidas a diferentes níveis de adubação e épocas de corte, cultivadas no município de Campos dos Goytacazes-RJ. Foi também avaliada a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e cinética da degradação ruminal dos compostos fibrosos das gramíneas (capim-setária (Setaria anceps Stapf), capim-hemarthria (Hemarthria altissima [Poir] Stapf. & Hubbard), capim-angola (Brachiaria purpurascens [Raddi] Henr.) e capim-acroceres (Acroceras macrum Stapf.)) adubadas com 0, 100, 200, 300 e 400 kg de N/ha e colhidos aos 28, 42, 56 e 70 dias de idade. A avaliação comparativa com relação à eficiência de predição entre modelos foi realizada por intermédio da avaliação e partição do quadrado médio dos erros de predição; por outro lado a comparação entre valores preditos (PIDA) e observados (PIIDN) foi realizada por intermédio do ajustamento de equação de regressão linear simples e viii os resultados referentes a digestibilidade e cinética da degradação ruminal das quatro gramíneas submetidas a diferentes níveis de adubação e períodos de corte foram avaliados por intermédio de análise de fatores. Dentre os modelos nutricionais utilizados, os estudos revelaram que o NRC-2001 corrigido apresentou melhores resultados em simulação, tanto quando se utilizou a LAS e também ao se utilizar LPER. Por outro lado, os resultados entre os valores preditos e observados da fração nitrogenada indegradável no rúmen permitiram evidenciar não-equivalência (P<0,01) e total falta de associação (P<0,05), sugerindo dessa forma que a PIDA não seja adotada como estimador da fração protéica indegradável, a qual deve ser estimada por intermédio de métodos biológicos, indicando a utilização dos protocolos adotados para obtenção das concentrações de PIIDN. A avaliação da digestibilidade e cinética da degradação ruminal para as quatro gramíneas permitiu verificar destaque do capim-hemarthria aos 42 dias de idade de corte quando comparado às demais gramíneas, por apresentar maior DIVMS (69,39%) e maior teor de fibra em detergente neutro potencialmente degradável (57,89%) e menor volume de gás oriundo da fibra potencialmente degradável (0,186 mL/mg) conferindo dessa forma, boas características de degradação e digestibilidade para esta gramínea aos 42 dias de idade de corte. Palavras-chave: gramíneas, lignina, fibra em detergente neutro indigestível, digestibilidade in vitro da matéria seca, compostos nitrogenados ix ABSTRACT CLIPES, Renata C., Universidade Estadual do Norte Fluminense; april 2007; Potential Degradation of Fibrous and Nitrogenous Compounds in Tropical Grasses; Advisor: José Fernando Coelho da Silva. Committee Members: Edenio Detmann and Hernán Maldonado Vásquez. The potential indigestibility of NDF predicted through the equations adopted by the nutritional systems CNCPS and NRC-2001, were validated. The equation recommended by NRC-2001 was used with (NRCII) or without the empiric correction factor 0.85. It was also studied the estimates of the ruminal undegradable nitrogenous fraction (RUDP) obtained through acid detergent insoluble protein (ADIP). A total of 540 samples were used, obtained from manual grazing simulation and esophageal extrusa, from hays and from tropical grasses submitted to different fertilizing levels and cutting ages, cultivated in Campos dos Goytacazes-RJ, Brazil. The in vitro dry matter digestibility (IVDMD) and kinetics of the ruminal degradation of the fibrous components of the grasses (setária (Setaria anceps, Stapf), hemarthria (Hemarthria altissima, [Poir] Stapf. & Hubbard), angola (Brachiaria purpurascens, [Raddi] Henr.) and acroceres (Acroceras macrum, Stapf.)) fertilized with 0, 100, 200, 300 and 400 kg of N/ha and in the cutting ages of 28, 42, 56 and 70 days, were also evaluated. The comparative evaluation regarding the prediction efficiency among the nutritional models was done through the evaluation and partition of the mean square errors; on the other hand the comparison among predicted and observed values of ADIP was done through the adjustment of simple linear regression equation and the results regarding digestibility and kinetics of ruminal fiber degradation of the grasses submitted to different levels of fertilizer and cut periods were evaluated through the factors analysis. The results showed that among the nutritional models examined, the x studies revealed that corrected NRC-2001 presented better results in simulation, independent of using LAS or LPER. On the other hand, the results among the predicted and observed values of the RUDP fraction allowed to evidence noequivalence (P <0.01) and total absence of association (P<0.05), suggesting in that way that RUDP is not an estimator of the rumen undegradable protein fraction. This fraction should be estimated through biological methods, like the protocols adopted for obtaining the concentrations of NDFi. In the study of IVDMD and kinetics of ruminal fiber degradation of the four tropical grasses it was found that the hemarthria grass at 42 days old, when compared to the other grasses, presented higher values for IVDMD (69.39%) and neutral detergent fiber potentially degradable (57.89%) and, smaller production of gas volume from potentially degradable fiber (0,186 mL/mg), therefore good degradation and digestibility characteristics for this grass 42 days old. Key word: grass, lignin, indigestible neutral detergent fiber, in vitro dry mater digestibility, nitrogenous compounds xi 1. INTRODUÇÃO GERAL A quantificação do valor nutricional dos alimentos utilizados para animais ruminantes envolve estudos que avaliam, em conjunto, o consumo, a digestibilidade e o metabolismo animal. Contudo, sendo o consumo fortemente influenciado por inúmeros fatores alheios àqueles que caracterizam o alimento (MERTENS, 1994), a avaliação da digestibilidade torna-se alvo principal de estudos em que se buscam determinar as características inerentes ao alimento (CABRAL et al., 2004). Dentre as diferentes formas para avaliação da digestibilidade dos componentes fibrosos dos alimentos, vantagens têm sido apontadas sobre métodos baseados em sistemas in vitro, em comparação a ambientes in situ ou in vivo. (OBA e ALLEN, 1999). No entanto, em estudos recentes em regiões tropicais demonstraram-se vícios substanciais em procedimentos de estimação da degradação fibrosa de forragens tropicais em sistemas in vitro (VIEIRA et al., 2000; DETMANN, 2002). De forma alternativa aos métodos biológicos, a utilização da composição química dos alimentos como método de predição da digestão em ruminantes tem sido sugerida por diversos autores (CONRAD et al, 1984; WEISS et al., 1992; VAN SOEST, 1994; WEISS, 1994; e ROCHA Jr. et al., 2003). Como ponto inicial aos principais métodos, destaca-se a estimação do potencial de degradação da fibra em detergente neutro (FDN), expressa complementarmente com sua fração indigestível, ou FDNi. Embora tal porção seja empregada como base na estimação da digestão efetiva dos componentes fibrosos, seu estudo isolado mostra-se preponderante ao entendimento dos efeitos de repleção física no ambiente ruminal (WALDO et al., 1 1972; VIEIRA et al., 1997), sendo de elevada importância para o entendimento do controle do consumo voluntário em ruminantes manejados em condições tropicais (DETMANN et al., 2003a). A lignina é geralmente aceita como a entidade primária responsável pela limitação da digestão das forragens (SMITH et al., 1972; TRAXLER et al., 1998; VAN SOEST, 1994), sendo adotada como base para a estimação do teor de FDNi por dois dos principais sistemas nutricionais da atualidade: o Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS) (SNIFFEN et al., 1992) e o National Research Council (NRC, 2001). No entanto, embora havendo propostas de avaliação das equações estabelecidas por estes sistemas em condições nacionais (MALAFAIA et al., 1998; VIEIRA et al., 2000; ROCHA Jr. et al., 2003; e DETMANN et al., 2004a), pouco se conhece acerca do potencial preditivo de tais equações para gramíneas produzidas em regiões tropicais. Assim como os compostos fibrosos, que contribuem primariamente ao metabolismo energético microbiano e animal, a avaliação da disponibilidade potencial dos compostos nitrogenados dos alimentos tem recebido atenção especial por parte dos pesquisadores e sistemas nutricionais. A fração dos compostos nitrogenados ligada à porção insolúvel em detergente ácido da parede celular (PIDA) tem sido empregada como preditor ou estimador do potencial de aproveitamento protéico por alguns dos principais sistemas nutricionais, como o sistema britânico (AFRC, 1993) e o sistema CNCPS (SNIFFEN et al., 1992), no sentido de, embora formado em parte por componentes aminoacídicos (MUSCATO et al., 1983), não apresentar disponibilidade aos microrganismos ruminais ou digestibilidade intestinal (SNIFFEN et al., 1992). Por outro lado, diversos estudos têm apontado controvérsias sobre a disponibilidade do PIDA ao longo do trato gastrintestinal dos ruminantes, o qual tem apresentado estimativas de digestibilidade substancialmente desviadas da nulidade (WATERS et al. 1992; VAN SOEST, 1994; BRODERICK, 1995; NRC, 2001; DETMANN et al. 2003b). Desta forma, na ausência de um modelo de predição que possa considerar ao menos os fatores de maior influência sobre a dimensão real da fração protéica indegradável, DETMANN et al. (2004a) sugeriram a utilização de métodos biológicos para a estimação da fração indegradável dos compostos nitrogenados. No entanto, 2 tais informações são ainda escassas e carecendo verificações e validações em condições tropicais (DETMANN et al., 2003b). Dentro do contexto apresentado, definem-se como principais objetivos deste trabalho: 1. valiar e validar a fração indigestível da fibra em detergente neutro de gramíneas tropicais, predita por intermédio das equações adotadas pelos sistemas nutricionais Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS) (SNIFFEN et al., 1992) e National Research Council (2001), com ou sem o fator de correção empírico proposto por DETMANN et al. (2004a) a partir dos teores de lignina em permanganato de potássio e em ácido sulfúrico; 2. verificar a validade dos compostos nitrogenados insolúveis em detergente ácido como preditores do potencial de degradação ruminal da proteína bruta; 3. avaliar e quantificar as relações entre os teores de lignina e proteína, a DIVMS, a fração indegradável da FDN e as taxas fracionais de degradação dos carboidratos fibrosos obtidas por intermédio de sistema de produção cumulativa de gás in vitro. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 - Fibra em Detergente Neutro Há muitas décadas a fibra vem sendo utilizada para caracterizar os alimentos (VAN SOEST, 1994) e para estabelecer limites máximos de ingredientes nas rações (MERTENS, 1992). Pode ser definida como o componente estrutural das plantas, a fração do alimento que não é digerida por enzimas de mamíferos, fração menos digestível dos alimentos ou a fração do alimento que promove a ruminação e o bom funcionamento do rúmen (WEISS, 1993). Em essência, a fibra corresponde a um termo meramente nutricional e sua definição está vinculada ao método analítico empregado na sua quantificação, sendo quimicamente um agregado de compostos e não uma entidade distinta. Dessa forma, sua composição química é dependente da fonte e a forma como foi medida (MERTENS, 1992) e, o método de obtenção deve estar de acordo com os princípios biológicos ou com sua utilidade empírica. Em adição, a fibra representa a fração dos carboidratos dos alimentos de digestão lenta ou indigestível e, dependendo de sua concentração e digestibilidade, impõe limitações sobre o consumo de matéria seca e energia. De acordo com MERTENS (1992), a fibra afeta características dos alimentos que são importantes na nutrição animal, como a relação da digestibilidade com seus valores energéticos, a fermentação ruminal; podendo também estar envolvida no controle da ingestão de alimentos. 4 O principal método para a quantificação da fibra e seus componentes está baseado no uso de detergentes aniônicos e catiônicos, em que a solubilidade da solução é influenciada pelo tipo de detergente e espécie iônica (VAN SOEST e ROBERTSON, 1985). Estes autores relataram que alguns complexos de sais e proteínas são insolúveis em detergente, e tais interferências devem ser evitadas. Dessa forma, a fibra em detergente neutro (FDN) é considerada a melhor representação da fração do alimento de lenta digestão ou indigestível e que ocupa espaço no trato digestivo (MERTENS, 1997) sendo o seu teor normalmente utilizado para cálculo do consumo de forragens (WALDO, 1986). A fração dos alimentos solúvel em detergente neutro é constituída de pectina, açúcares simples, amido, lipídios e parte de compostos nitrogenados e dos minerais, enquanto a fração insolúvel em detergente neutro engloba a celulose, a hemicelulose, a lignina e parte dos compostos nitrogenados e os minerais associados a estes polímeros (VAN SOEST, 1994). O procedimento original para estimação do teor de FDN de um alimento foi desenvolvido na década de 60, com a referência clássica publicada por GOERING e VAN SOEST (1975) em que, soluções tampões a base de borato e fosfato tem por finalidade, manter o pH próximo de 7,0 buscando-se evitar a solubilização da hemicelulose e lignina; o sulfito de sódio, que visa remover as proteínas e resíduos de queratina; o sal etilenodiaminotetracético (EDTA) que tem como função, quelatar o cálcio e auxiliar na solubilização das proteínas e pectinas e, na utilização do sulfato láurico de sódio (detergente). Várias modificações foram realizadas com o passar dos anos (VAN SOEST et al., 1991; MERTENS, 2002) resultando em diferentes procedimentos de estimação dos teores de FDN, os quais dependem do método empregado e do alimento analisado. A contaminação com minerais pode variar de 0 a 4% na composição de FDN (WEISS, 1993), sendo recomendado que esta seja quantificada livre de cinzas (VAN SOEST et al., 1991; MERTENS, 2002). Na estimação do teor de FDN, parte dos compostos nitrogenados é solubilizado, entretanto, uma outra porção permanece como constituintes da mesma. No entanto, alguns autores mencionam que esta contaminação por nitrogênio deve ser corrigida (VAN SOEST et al., 1991; WEISS et al., 1992; MERTENS, 2002). Outros compostos como a sílica, cutinas e taninos, estão presentes na parede celular, associados ou não aos polissacarídeos estruturais. Embora presentes em 5 pequenas quantidades, estes compostos influenciam nas características físicoquímicas da parede celular e podem ter efeitos significativos nos processos de digestão e absorção (VAN SOEST, 1994). 2.2 – Lignina A lignina é um componente não-carboidrato da parede celular dos vegetais de estrutura não totalmente conhecida. Composta de monômeros fenólicos, normalmente é considerada como um dos principais componentes responsáveis pela queda da digestibilidade dos nutrientes das plantas forrageiras (VAN SOEST, 1994). Sua composição, estrutura e quantidade variam de acordo com o tecido, a origem botânica, os órgãos, a idade da planta e os fatores ambientais (AKIN, 1989). As proporções relativas dos componentes da parede celular, em especial, o teor de lignina e suas interações (químicas e estruturais) com celulose e hemicelulose, são responsáveis pela porção da fibra que potencialmente pode fornecer energia ao animal. O principal mecanismo de inibição da lignina seria como uma barreira mecânica aos microrganismos ruminais (VAN SOEST, 1994). Dessa forma, a estimação da concentração de lignina na parede celular de plantas forrageiras torna-se essencial no estabelecimento do valor nutritivo destas. Métodos analíticos como lignina em ácido sulfúrico a 72% (p/p) (LAS) e a lignina permanganato de potássio (LPER) são amplamente empregados para a mensuração do teor de lignina em plantas forrageiras, onde a amostra é previamente tratada com solução de detergente ácido, resultando em fibra ou resíduo insolúvel em detergente ácido (FDA). O método LAS é baseado no princípio de que a lignina é insolúvel na solução de ácido sulfúrico (72% p/p), enquanto que outros componentes celulares são removidos pelos pré-tratamentos ou então hidrolisados pela solução ácida, no entanto este método apresenta alguns inconvenientes, como mensurar em conjunto cutina, uma vez que esta é resistente à hidrólise pelo ácido sulfúrico (GOERING e VAN SOEST, 1975). Além disso, as amostras de LAS podem estar contaminadas com artefatos de Maillard (JOHNSON, 1963) e parte da lignina é potencialmente solúvel na solução de ácido sulfúrico (HATFIELD et al., 1994). A LPER é estimada a partir de solução concentrada de permanganato de potássio, que visa à oxidação da lignina, restando resíduo constituído de celulose, 6 cutina e cinzas, sendo a diferença em peso contabilizada como lignina (GOERING e VAN SOEST, 1975). Porém, esta técnica também tem sido alvo de algumas críticas, pois não trata uniformemente as partículas de tamanhos diversos (GOERING e VAN SOEST, 1975); em gramíneas imaturas, a celulose pode ser, em parte, solubilizada (VAN SOEST e WINE, 1968). Avaliações comparativas do conteúdo de lignina em alimentos apresentaram resultados de maior magnitude para o método do LPER (VAN SOEST, 1994) quando comparada à técnica de LAS. Teores médios de 5,6 e 6,3%, como percentagem da matéria seca para LAS e LPER, respectivamente, foram verificados por CLIPES et al. (2004) em gramíneas tropicais, acrescentando que a razão média entre as concentrações obtidas se aproximaram de relatos citados por VAN SOEST (1994). Diferenças entre teores de lignina de espécies diferentes, de plantas jovens ou de avançado estágio vegetativo decorrem de modificações nas suas estruturas, principalmente à medida que a planta se desenvolve. A lignina presente em leguminosas, geralmente é mais condensada e se encontra em maior quantidade para um mesmo estádio de maturidade, do que as encontradas em gramíneas (VAN SOEST, 1994). Os teores de FDA e lignina têm sido muito utilizados para cálculo da digestibilidade dos alimentos volumosos, principalmente de gramíneas (HARLAN, 1991). Contudo, o uso da FDA para cálculo da digestibilidade de alimentos, não possui base teórica, mas somente associação estatística (VAN SOEST, 1994). Dessa forma, deve-se considerar que qualquer estimador de digestibilidade precisa ser avaliado quimicamente com níveis aceitáveis de precisão e exatidão. 2.3 - Fibra em Detergente Neutro Indigestível Um simples esquema para predizer o consumo seria aquele que identificasse o fator mais limitante do consumo e usasse uma medida quantitativa desse fator para se fazer predições. A diminuição na digestibilidade da fibra pode reduzir o consumo de fibra quando o enchimento ruminal é o fator limitante. Além disso, com o aumento do estádio de maturidade da forrageira, a repleção ruminal é aumentada linearmente, principalmente devido ao aumento da fração indigestível da FDN (VIEIRA et al., 1997). A repleção ruminal é a expressão do tempo que o alimento permanece no 7 rúmen sofrendo os efeitos físicos de passagem, decorrentes da mastigação durante a ruminação e da digestão pelos microrganismos do rúmen (WALDO et al., 1971). WALDO (1986) sugeriu que o limite físico do rúmen é variável, tornando-se maior com a deficiência no atendimento das necessidades metabólicas. Em caso de forrageiras de baixa qualidade, verifica-se menor taxa de passagem de partículas do rúmen, acarretando redução do consumo de matéria seca (VAN SOEST, 1994). Alguns pesquisadores, ao detectar que, após sete dias de incubação, parte da celulose permanecia indegradável no rúmen, subdividiram-na em duas frações; uma potencialmente degradável e outra indegradável, relacionando as taxas de degradação e taxas de passagem desses componentes com o efeito de enchimento ruminal (WALDO et al., 1972). Neste contexto, fatores como FDN indigestível, interação com o limite do consumo e a taxa de degradação dos carboidratos, tornam-se importantes no esclarecimento dos componentes fibrosos como fonte de energia para ruminantes. Em adição, a taxa na qual a FDN potencialmente disponível é degradada é outro fator que afeta a utilização da fibra (VARGA et al., 1998). Dentro de um tipo de forragem existe uma boa relação entre conteúdo de fibra e a fração indigestível desta, entretanto, entre forragens ocorrem grandes diferenças (TAMMINGA et al., 1990). No que se refere a digestibilidade ruminal da fibra de volumosos, esta pode variar de forma muito ampla, de 13,5 a 78%. Estes mesmos autores relataram que em menor tempo de retenção ruminal, as leguminosas podem ter maior digestibilidade da matéria seca por apresentar conteúdo de FDN menor, entretanto, menor digestibilidade da FDN pode ser detectada quando comparada com as gramíneas (VARGA et al., 1998). A concentração de lignina, com freqüência é usada como parâmetro para avaliação da disponibilidade de fibra para ruminantes. O CNCPS utiliza a concentração de lignina para calcular a disponibilidade de fibra, considerando que a fração indisponível pode ser calculada como porcentagem de lignina x 2,4 (SNIFFEN et al. 1992). Tal proposição foi construída empiricamente através de observações da relação entre a massa residual de FDN após 120 dias de fermentação e a concentração de lignina no alimento anteriormente à incubação, em experimento conduzido por Chandler (1980), citado por TRAXLER et al. (1998). Estimativas do teor de FDNi podem ser também obtidas pela equação adotada pelo sistema NRC (2001) às quais baseiam-se nas proposições 8 teoricamente embasadas por CONRAD et al. (1984) e WEISS et al. (1992), construídas segundo a Lei de Superfície. Segundo este princípio geométrico, a superfície de qualquer objeto é igual ao quadrado da média de suas dimensões lineares ou a sua massa elevada à potência de 2/3 (KLEIBER, 1975; CONRAD et al., 1984). Desta forma, o suporte teórico apresentado por CONRAD et al. (1984) pressupõe que o espaço de superfície digestível e disponível aos microrganismos ruminais é determinado pelo fato de os tecidos da parede vegetal e a lignina estarem localizados fisicamente superfície à superfície. Assim, a porção da FDN indisponível aos microrganismos é proporcional à área superficial da massa de lignina e inversamente proporcional à área superficial da massa de FDN. Neste contexto, ROCHA Jr. et al. (2003), ao procederem à validação da equação proposta por WEISS et al. (1992), e adotada pelo sistema nutricional NRC (2001), para estimação da digestibilidade da FDN em animais ruminantes, verificaram subestimação dos valores de digestibilidade em comparação a um banco de dados constituído por observações realizadas in vivo. DETMANN et al. (2004b) procederam à validação das equações adotadas pelos sistemas CNCPS (SNIFFEN et al., 1992) e NRC (2001) para predição do teor de FDNi em gramíneas tropicais, encontrando vícios substanciais no processo de estimação por ambos os modelos. Estes autores sugeriram, em adição, um fator de correção empírico sobre a equação adotada pelo sistema NRC (2001) o qual ampliou a acurácia do processo preditivo, afirmando, no entanto, que mais estudos se fazem necessários para avaliação da verdadeira relação entre lignina e a fração indigestível da FDN em gramíneas tropicais. Em recente estudo, NUNES et al. (2004a) ao conduzir a validação do teor de FDNi sugerida pelo CNCPS em gramíneas tropicais, observaram quadro de falta de ajustamento com sub e superestimação dos teores de FDNi para as concentrações de lignina, inferiores e superiores a 10,3% da FDN, respectivamente, sugerindo que este comportamento evidencia inadequação do modelo em descrever o fenômeno estudado, e que tal comportamento pode estar comprometido pela não-consideração de um parâmetro associado a relações curvilíneas como o principal elemento de deficiência preditiva desta equação. NUNES et al. (2004b) ao estimar os teores de FDNi utilizando os métodos de lignina em ácido sulfúrico (LAS) e em permanganato (LPER) conforme o sistema NRC (2001) observaram predições viesadas positivamente dos teores de FDNi, 9 ressaltando ainda, que a substituição empírica do fator 0,667 por 0,85 sugerida por DETMANN et al. (2004a) permitiu a obtenção de estimativas similares aos valores observados para lignina em LAS e LPER. 2.4 - Sistema In Vitro de Produção Cumulativa de Gases Os atuais sistemas de exigências nutricionais requerem estimativas confiáveis das taxas de degradação dos alimentos (PELL et al., 1994). Dessa forma, a busca de um método simples, acurado e rápido para estimar a qualidade de forrageiras, com base em sua digestibilidade, tem sido o objetivo de muitos estudos. Ensaios de digestão in situ e in vitro são amplamente utilizados. O primeiro permite o contato íntimo do alimento avaliado com o ambiente ruminal, sendo a melhor forma de simulação deste meio, embora o alimento não esteja sujeito a todos os eventos digestivos, como a ruminação, a mastigação e a taxa de passagem (VAN SOEST, 1994). No entanto, segundo VAN SOEST (1994) existem problemas relacionados com a porosidade das bolsas, o tempo de incubação, o tamanho de partículas e a contaminação bacteriana. A avaliação do produto final a partir de técnicas metabólicas permite a quantificação das taxas de degradação dos carboidratos, estimando de forma mais aprimorada os parâmetros cinéticos. A técnica in vitro de produção cumulativa de gases vem sendo utilizada há alguns anos a fim de detectar o comportamento da degradação da fibra em função do gás produzido durante a incubação do alimento a ser testado, acrescido de líquido de rúmen e meio de cultura tamponado, em frascos hermeticamente fechados, medindo-se a pressão por meio de sensores conectados aos frascos, monitorando-se as leituras ao longo do tempo de incubação. A relação entre o desaparecimento de FDN incubada e a produção de gás, variáveis independentes e dependentes, respectivamente, indica que a técnica pode ser utilizada para a estimação da taxa de degradação do substrato, como sugerido por PELL e SCHOFIELD (1993). Dessa forma, vantagens na utilização da técnica baseiam-se na uniformidade físico-química do microambiente de fermentação, rapidez e, a não destruição da amostra em cada tempo, o que torna a técnica menos laboriosa, não necessitando de grandes quantidades de amostras. 10 A significância biológica dos valores de predição de gás obtido fica confirmada pela alta correlação linear encontrada entre o gás produzido pela fermentação de diferentes amostras de forragens, e o correspondente ao desaparecimento de matéria seca, dentro de cada período de fermentação (CABRAL et al., 2000). 2.5 - Degradação Ruminal dos Compostos Nitrogenados A degradação ruminal dos compostos nitrogenados fornece subsidio aos sistemas de exigências nutricionais quanto ao balanceamento da dieta para os animais ruminantes. O controle da degradação da proteína no ambiente ruminal pode ser utilizado na tentativa de sincronizar a liberação de amônia e peptídeos com a disponibilidade de esqueletos de carbono e energia, obtendo-se a máxima eficiência de síntese microbiana (RUSSELL et al., 1992). Os métodos empregados para estimar as taxas de degradação das proteínas possuem determinadas limitações que restringem sua utilização como rotina laboratorial (BRODERICK, 1995). Os métodos tradicionais como o AFRC (1993) classificam os compostos nitrogenados em três frações: A, representada pela fração solúvel; B, que compreende a fração insolúvel, potencialmente degradável; e C, representada pelo nitrogênio indisponível no trato gastrintestinal. Dessa forma, tornase importante à quantificação acurada destas frações, assim como suas taxas de degradação, para que se consiga maximizar a eficiência de utilização dos compostos nitrogenados pelos microrganismos e pelo próprio animal, reduzindo as perdas nitrogenadas acarretadas pela fermentação ruminal. Em adição, a extensão da degradação dos compostos nitrogenados depende da fração indigestível e da relação entre a taxa de degradação, que em conjunto, determinará o potencial do alimento para a produção animal. O Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS) caracteriza os compostos nitrogenados insolúveis em detergente ácido (PIDA), como fração C ou fração indigestível durante sua permanência no trato gastrintestinal (SNIFFEN et al., 1992). Inicialmente, sua quantificação segue os mesmos protocolos para a obtenção da fibra em detergente ácido (FDA) descritos por GOERING e VAN SOEST (1975), 11 onde após a obtenção da FDA, segue-se os mesmos protocolos para a quantificação do nitrogênio total (AOAC, 1990). Embora considerado como indigestível durante sua permanência no trato gastrintestinal dos ruminantes, sua disponibilidade tem apresentado estimativas de digestibilidade substancialmente desviadas da nulidade, sendo este comportamento ressaltado em alimentos ricos em taninos (WATERS et al., 1992) ou que sofreram danos por calor (VAN SOEST, 1994), implicando no fato de esta fração poder apresentar, em parte, potencialmente digestível (BRODERICK, 1995; DETMANN et al., 2003b). Este comportamento indica que o PIDA, embora sendo um indicador do teor total de compostos nitrogenados não-utilizáveis pelo animal, não possa ser empregado para estimação da digestibilidade potencial dos compostos nitrogenados (NRC, 2001). As análises laboratoriais de plantas forrageiras são necessárias para estimar a qualidade nutritiva e, conseqüentemente, predizer a extensão da degradação biológica; entretanto, a fração indegradável dos componentes protéicos carece considerações quanto aos efeitos químicos, fisiológicos, anatômicos e ambientais, os quais interagem de forma a limitar potencialmente o acesso microbiano, impedindo sua degradação (DETMANN et al., 2004b). Estes mesmos autores ressaltaram que, na ausência de um modelo de predição que possa considerar ao menos os fatores de maior influência sobre a dimensão real da fração protéica indegradável, a utilização de métodos biológicos produziriam estimativas mais acuradas. 12 3 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL - AFRC. (1993). Energy and protein requirements of ruminants. Cambridge: CAB International. 159p. AKIN, D.E. (1989) Histological and physical factors affecting digestibility of forages. J. Agron., v.81, p.17-25. 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O processamento das amostras e as análises laboratoriais foram realizados no Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal da Universidade Estadual do Norte Fluminense. As amostras foram submetidas à quantificação dos teores de matéria seca, de FDN, de lignina em ácido sulfúrico (LAS), de lignina em permanganato de potássio (LPER), de FDN indisponível (FDNi) sendo este último, realizado por intermédio de procedimentos de incubação in situ. O procedimento estatístico utilizado para a avaliação comparativa com relação à eficiência de predição entre modelos, foi a partição do quadrado médio dos erros de predição. Dentre os modelos nutricionais utilizados, os estudos mostraram que o NRC-2001 corrigido apresentou melhores resultados em simulação, tanto quando se utilizou a LAS e também ao se utilizar a LPER. Recomenda-se utilizar os métodos biológicos de avaliação de componentes indigestíveis visando obter resultados mais verossímeis. Palavras-chave: gramíneas tropicais, lignina, fibra em detergente neutro indigestível, sistemas nutricionais 19 Estimation of the undegradable fraction of neutral detergent fiber tropical forages from lignin concentration ABSTRACT The potential NDF indigestibility of tropical grasses predicted through the equations adopted by the nutritional systems CNCPS and NRC-2001, were validated. The equation recommended by NRC-2001 was used with (NRCII) or without the empiric correction factor proposed by Detmann et al. (2004). A total of 540 samples were used, obtained from manual grazing simulation and esophageal extrusa, from hays and from tropical grasses submitted to different fertilizing levels and cutting ages, cultivated in Campos dos Goytacazes-RJ, Brazil. The samples were analyzed for dry mater, LAS, LPER, FDNi, the last one was done by rumen in situ incubation of the samples for 240 hours. The data were analyzed by the Pearson’s linear correlation method, while, the comparative evaluation regarding the prediction efficiency among the nutritional models was done through the evaluation and partition of the mean square errors. Among the examined nutritional models, it shown that corrected NRC2001 presented better results in the simulation, independent of using LAS or LPER. This suggest the fact that gravimetric estimates of lignin levels present in the feed don't allow to predict potentially with accuracy the dimension of the fraction digestible or indigestible of the neutral detergent fiber. Key word: tropical grass, lignin, indigestible neutral detergent fiber 20 INTRODUÇÃO Os carboidratos constituem a principal fonte de energia disponível para os microrganismos do rúmen, os quais, depois de fermentados, disponibilizam ácidos graxos voláteis para o metabolismo energético do animal ruminante. Entre estes compostos, destacam-se em termos quantitativos, notadamente em condições tropicais, aqueles de origem fibrosa, os quais se apresentam concentrados na parede celular vegetal. Contudo, elevada heterogeneidade química é verificada nos compostos formadores da parede celular vegetal (Van Soest, 1994). Este comportamento justifica o fato de que modelos acurados de predição do potencial e/ou da efetividade de disponibilização energética devam suportar-se em associações concretamente estabelecidas e entendidas entre os diferentes componentes da parede celular de plantas forrageiras. Com isso, a utilização da composição química dos alimentos como método de predição da digestão em ruminantes tem sido sugerida por diversos autores (Conrad et al., 1984; Van Soest, 1994). Entre os principais parâmetros estimados com este embasamento destaca-se o potencial de degradação da fibra em detergente neutro (FDN), expresso complementarmente como sua fração indegradável, ou FDNi. Tal porção é empregada como base indireta para a estimação da degradação efetiva dos componentes fibrosos, sendo, no entanto, seu estudo isolado preponderante ao entendimento dos efeitos de repleção física ao ambiente ruminal. A lignina é geralmente aceita como a entidade primária responsável pela limitação da degradação ruminal das forragens, por ser considerada indegradável e agir na redução da fração fibrosa potencialmente degradável da parede celular (Van Soest, 1994), sendo adotada como base para a estimação do teor de FDNi pelos principais sistemas nutricionais da atualidade, entre estes o Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS) (Sniffen et al., 1992) e o National Research Council (NRC), em sua versão direcionada a bovinos leiteiros (NRC, 2001). O primeiro sistema utiliza a concentração de lignina para calcular a disponibilidade de fibra considerando que a fração indisponível pode ser calculada como porcentagem de lignina x 2,4 (Sniffen et al., 1992). Tal proposição foi construída empiricamente através de observações da relação entre a massa residual de FDN após 120 dias de fermentação e a concentração de lignina no alimento anteriormente à incubação, em experimento conduzido por Chandler (1980), citado por Traxler et al. (1998). 21 No segundo sistema admite-se como base para o processo de estimação que a ação dos compostos fenólicos da matriz orgânica da parede celular em inibir a degradação ruminal obedeça à “lei geométrica de superfície”. Neste contexto, a superfície protegida da degradação da parede celular seria considerada proporcional à massa total de lignina elevada à potência de 2/3 (Conrad et al., 1984). Contudo, em recente trabalho demonstrou-se ser este princípio possivelmente inadequado a forragens cultivadas em condições tropicais, sugerindose possíveis correções empíricas para o processo de estimação (Detmann et al., 2004). Dessa forma, objetivou-se validar a fração indigestível da fibra em detergente neutro predita por intermédio das equações adotadas pelos sistemas nutricionais CNCPS (Sniffen et al., 1992) e o NRC (2001), sendo este último com ou sem o fator de correção empírico proposto por Detmann et al. (2004) a partir dos teores de LAS e LPER em gramíneas tropicais cultivadas na Região Norte Fluminense. MATERIAL E MÉTODOS O banco de dados avaliado foi constituído por amostras de gramíneas tropicais empregadas na alimentação de animais ruminantes implantadas na região de Campos dos Goytacazes-RJ, oriundas dos estudos conduzidos por Clipes (2003), Lista (2003), Ornelas (2003), Henriques (2004), Haddade (2004), totalizando 540 amostras. As informações obtidas a partir do estudo de Henriques (2004) basearam-se em amostras originadas de parcelas cultivadas com as gramíneas capim-acroceres (Acroceras macrum Stpf.), capim-angola (Brachiaria purpurascens), capim-hemarthria (Hermathria altíssima) e capim-setária (Setaria anceps, Stapf. Ex. Massey), sob diferentes níves de adubação nitrogenada (0, 100, 200, 300 e 400 kg/ha) coletadas por intermédio de cortes a 15 cm do solo realizados aos 28, 42, 56 e 72 dias após corte de uniformização das culturas, totalizando-se 240 amostras. As amostras pr ovenientes de Ornelas (2003) foram originárias de forragem verde, do feno sem armazenamento e do feno com 28, 56 e 84 dias de armazenamento das gramíneas capim-acroceres (Acroceras macrum), capim-angola (Brachiaria purpurascens), capim- 22 hemarthria (Hemarthria altíssima) e capim-setaria (Setaria anceps cv. Kazungula), com 35 dias de rebroção, perfazendo um total de 60 amostras. Por sua vez, as amostras oriundas de estudos de Haddade (2004) foram provenientes de experimento conduzido para a avaliação de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum) dos cultivares Napier e Cameroon, e clones CNPGL–91–F 27–1 (cv. Pioneiro) e CNPGL–91–F 27–5, manejados em função de três sistemas de produção: convencional sem o uso da irrigação, irrigado com o uso de adubação em cobertura manual, e irrigado, com adubações em cobertura via água de irrigação aos 20, 40, 60 e 80 dias pós-unifor mização, cortadas a 30 cm do solo, totalizando-se 144 amostras. As amostras obtidas por Clipes (2003) e Lista (2003) constituíram coletas realizadas em sistemas de produção animal sob pastejo rotacionado com as gramíneas capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum. cv. Napier) e capim-mombaça (Pannicum maximum cv. Mombaça), sendo tomadas em diferentes piquetes e em diferentes dias de ocupação animal por intermédio de amostras de extrusa esofágica e simulação manual de pastejo, totalizando 96 amostras. O processamento das amostras e as análises laboratoriais foram realizados no Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal da Universidade Estadual do Norte Fluminense. As amostras encontravam-se congeladas (-200C), sendo submetidas a pré-secagem em estufa de ventilação forçada (60ºC – 72 horas) e processadas em moinho de facas (2 mm), sendo acondicionadas e armazenadas em frascos de polietileno à temperatura ambiente. As amostras foram submetidas à quantificação dos teores de matéria seca (AOAC, 1990); de fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, lignina em ácido sulfúrico 72% (LAS) e lignina em permanganato (LPER), adaptando-se os protocolos de Goering e Van Soest, (1975), Van Soest et al. (1991) e Mertens (2002), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), conforme recomendações de Licitra et al. (1996). Os teores de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) foram obtidos por intermédio de procedimentos de incubação in situ , em adaptação aos procedimentos descritos por Detmann et al. (2001). As amostras foram acondicionadas em duplicata em sacos de náilon com porosidade de 50 µm e dimensões 3,5 x 5,0 cm na proporção de 25 mg/cm² de superfície, sendo incubadas no rúmen de um bovino alimentado com dieta contendo alimento volumoso (feno de gramínea) e concentrado, na proporção de 70:30, com base na matéria seca. Após 240 horas, os sacos foram retirados, lavados em água corrente até o total clareamento da água, 23 submetidos ao tratamento com detergente neutro (Mertens, 2002), na proporção de 50 mL/saco, secos em estufa de ventilação forçada (60°C – 72 horas) e posteriormente, colocados em estufa 105° durante quinze minutos, sendo colocados em dessecador até que atingissem a temperatura ambiente e em seguida pesados. O teor de FDNi estimado a partir dos teores de LAS e LPER foi obtido por intermédio das equações adotadas pelos sistemas CNCPS (Sniffen et al., 1992) e NRC (2001), sendo a esta última incorporada à avaliação de uma variação com fator de correção empírico buscando adaptação a gramíneas produzidas em regiões tropicais, conforme sugestão de Detmann et al. (2004). Para o primeiro caso, a estimação da fração indegradável foi baseada nos protocolos descritos por Sniffen et al. (1992), sendo adotada como equação preditiva para o potencial de degradação da FDN em alimentos para bovinos pelos sistemas CNCPS (Sniffen et al., 1992): FDNi % FDN = 2,4 × Lignina% FDN (1); As estimativas do teor de FDNi obtidas pela equação adotada pelo sistema NRC (2001) basearam-se nas proposições teoricamente embasadas sumarizadas por Conrad et al. (1984) e Weiss et al. (1992), as quais foram construídas segundo a Lei de Superfície. Em função do método originalmente proposto fornecer estimativas do potencial de degradação da FDN, alguns artifícios matemáticos foram empregados para possibilitar a estimação direta da fração indegradável dos componentes fibrosos da parede celular. Segundo a equação originalmente proposta: FDNd % MS = ( FDN '% MS − LIG % MS ) × [1 − ( LIG % MS / FDN '% MS ) 0 , 667 ] (2); em que: FDNd = fibra em detergente neutro potencialmente digestível; LIG = teor de lignina; e FDN’ = fibra em detergente neutro corrigida para nitrogênio, sendo: FDN '% MS = FDN % MS − PIDN % MS (3); em que: PIDN = proteína bruta insolúvel em detergente neutro. Sendo complementares os teores de FDNd e FDNi, fez-se: FDNi % MS = FDN % MS − FDNd % MS (4); FDNi % MS = FDN % MS − ( FDN '% MS − LIG % MS ) × [1 − ( LIG % MS / FDN '% MS ) 0, 667 ] (5); Convertendo-se os teores da fração indigestível como percentual da fibra em detergente neutro total, faz-se: FDNi % FDN = 100 − {( FDN ' % MS − LIG % MS ) × [1 − ( LIG% MS / FDN '% MS ) 0, 667 ]} ( FDN % MS / 100 ) 24 (6); Segundo relatos de Detmann et al. (2004), o fator exponencial 0,667 estruturado à equação anterior não permite boa estimação dos teores de FDNi em gramíneas tropicais. Sendo assim, estes autores propuseram a correção empírica deste fator, tornando a equação (4) diferenciada para gramíneas tropicais e, portanto, população-dependente. Tal equação, a qual será empregada em adição àquelas descritas anteriormente para estimação do teor de FDNi, assume a forma: FDNi% FDN {( FDN '% MS − LIG% MS ) × [1 − ( LIG% MS / FDN '% MS ) 0, 85 ]} = 100 − ( FDN % MS / 100 ) (7); A avaliação comparativa com relação à eficiência de predição entre modelos foi realizada por intermédio da avaliação e partição do quadrado médio dos erros de predição (QMEP), segundo protocolos descritos por Kobayashi e Salam (2000), conforme as equações: QMEP = QV + MaF + MoF = 1 ? (xi - yi)2 (8); n i=1 2 QV = ( ¯x - y¯) (9); MaF = ( Sx - S y ) (10); MoF = 2sxsy (1-r) (11). em que: x = valores preditos; y = valores observados; QMEP = quadrado médio dos erros de predição; QV = quadrado do vício; MaF = componente relativo à magnitude de flutuação aleatória; MoF = componente relativo ao modelo de flutuação aleatória; S x e S y = desviospadrão para valores preditos e observados, respectivamente; e r = correlação linear de Pearson entre valores preditos e observados. Por se tratar de avaliação de erro de predição, para todos os cálculos de variâncias empregou-se como divisor o total de observações (n). As demais análises foram realizadas por intermédio de técnicas de estatística descritiva, de análise de correla ção linear e regressão linear (Myers, 1990). Para todos os procedimentos estatísticos fixou-se em 0,05 o nível crítico de probabilidade para o erro tipo I e todos os procedimentos estatísticos descritos foram realizados por intermédio do programa SAS (Statistical Analysis System). 25 RESULTADOS E DISCUSSÃO As estatísticas descritivas para os teores observados e preditos e as informações acerca da avaliação e decomposição do quadrado médio do erro de predição para as diferentes equações ava liadas são mostradas nas Tab. 1, 2 e 3. As médias mais próximas ao teor de FDNi observado (27,70%) foi obtida a partir do modelo do NRC (II) equivalente a 26,69 e 26,45% a partir da LAS e LPER, respectivamente. Tabela 1 - Estatísticas descritivas para os teores de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) (% da fibra em detergente neutro) observados (OBS) e preditos pelos modelos CNCPS, NRC (2001) e NRC (2001) com a modificação de Detmann et al. (2004) a partir dos teores de lignina em ácido sulfúrico (LAS) ou em permanganato de potássio (LPER) LÃS LPER Estatística OBS CNCPS NRC(I) NRC(II) CNCPS NRC(I) NRC(II) Média 23,70 18,60 32,40 26,69 18,09 32,12 26,45 Mediana 23,53 18,21 32,02 26,01 17,19 32,09 26,39 Máximo 37,74 36,43 51,55 45,26 37,55 51,29 45,53 Mínimo 11,04 6,14 16,16 12,04 6,24 16,13 12,09 Desvio-padrão¹ 4,91 5,79 7,02 6,80 5,44 6,93 6,73 N 540 540 540 540 540 540 540 ¹/ Desvio-padrão ponderado em função do total de observações. ²/ Coeficiente de correlação linear de Pearson entre valores preditos e observados. Verificou-se boa capacidade de predição do modelo linear adotado pelo NRC (II) a partir dos teores de LAS para o banco de amostras avaliado (Tab. 2 e Fig. 1), cujo erro médio de predição foi de +3,04 pontos percentuais. Observou-se também, melhor distribuição acumulada dos erros de predição, quando comparado aos demais modelos. Menor contribuição do MaF ao QMEP também pode ser observado para o modelo NRC (II) utilizando a LAS, demonstrando menor afastamento de uma observação a partir da média aritmética de todas as observações (Kobaiashy e Salam, 2000), indicando melhor eficiência do modelo em simulação. De acordo com Vieira et al. (2000) e Detmann et al. (2004), a aplicação de uma relação linear simples para predição do teor de FDNi a partir das concentrações de compostos fenólicos na parede celular vegetal seria inconveniente, pois se assumiria que diferenças associadas a espécies e condições de crescimento das forrageiras não exerceriam influência sobre a dimensão da porção indigestível da FDN. No entanto, tais colocações parecem 26 constituir influência significativa em termos de avaliação comparativa frente aos dados apresentados neste trabalho (Tab. 1, 2 e 3). Tabela 2 - Erro médio de predição (EMP), quadrado médio do erro de predição (QMEP), quadrado do vício (QV), componentes relativos à magnitude de flutuação aleatória (MaF) e modelo de flutuação aleatória (MoF) e distribuição dos erros de predição para os valores preditos de fibra em detergente neutro indigestível (% da fibra em detergente neutro) a partir dos teores de lignina em ácido sulfúrico (n = 540) de acordo com os modelos CNCPS, NRC (2001) (NRC-I) e NRC (2001) com modificações (NRC-II) propostas por Detmann et al. (2004) Modelos Item CNCPS NRC-I NRC-II EMP (MPE) -5,04 8,76 3,04 QMEP (MSPE) 71,99 122,66 56,53 QV (SB) 25,37 76,72 9,26 MaF 0,79 4,45 3,55 MoF 50,52 49,48 47,41 Distribuição Acumulada dos Erros de Predição (%)¹ 42,69 14,60 49,41 ≤1s 71,74 53,15 78,35 ≤2s 90,51 76,82 89,57 ≤3s 97,83 89,96 94,09 ≤4s ¹/ Distribuição calculada com base no desvio-padrão para os valores observados. Por outro lado, a inspeção detalhada dos erros de predição obtidos pelo modelo NRC (2001) permite evidenciar a tendência de superestimação dos teores de FDNi (Fig. 2), enquanto que, a Fig. 3 mostra a dispersão dos erros de predição em função dos teores observados de FDNi para o modelo CNCPS utilizando-se LAS, verificando-se total falta de similaridade, além de uma tendência de subestimação para com os teores de FDNi observados. Embora os métodos baseados na extração por ácido sulfúrico e permanganato de potássio sejam comumente relatados na literatura como opções para avaliação dos teores de lignina em alimentos para animais (Van Soest e Robertson, 1985; Van Soest, 1994), o método do ácido sulfúrico tem sido recomendado como padrão em diferentes sistemas e publicações relacionados à avaliação de alimentos para animais ruminantes (Weiss et al., 1992; Van Soest, 1994; e NRC, 2001), o que reflete, possivelmente, suas vantagens no tocante a rapidez, menor custo e menores danos ambientais a partir dos resíduos químicos obtidos. 27 10 8 Erro de predição relativo 6 4 2 0 0 10 20 30 40 -2 -4 -6 -8 -10 FDNi observada (% da FDN) Figura 1 - Dispersão dos erros de predição relativos (em unidades de desvio-padrão para valores observados) para o modelo NRC (2001) corrigido aplicado à lignina em ácido sulfúrico em função dos teores observados de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi). 10 8 Erro de predição relativo 6 4 2 0 0 10 20 30 40 -2 -4 -6 -8 -10 FDNi observada (% da FDN) Figura 2 - Dispersão dos erros de predição relativos (em unidades de desvio-padrão para valores observados) para o modelo NRC (2001) aplicado à lignina em ácido sulfúrico em função dos teores observados de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi). 28 10 8 Erro de predição relativo 6 4 2 0 0 10 20 30 40 -2 -4 -6 -8 -10 FDNi observada (% da FDN) Figura 3 - Dispersão dos erros de predição relativos (em unidades de desvio-padrão para valores observados) para o modelo CNCPS aplicado à lignina em ácido sulfúrico em função dos teores observados de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi). Em primeira instância, embora a recomendação mútua possa parecer conveniência à disponibilidade de recursos ou outros elementos logísticos, deve-se ressaltar que a base química dos modelos supracitados são distintas (Van Soest, 1994), podendo, desta forma, interferir diretamente sobre as estimativas de FDNi obtidas. A ação do ácido sulfúrico, em função de sua concentração e, em menor plano, das condições ambientais da análise, reside sobre a solubilização dos componentes celulósicos da parede celular vegetal após prévia extração com detergente ácido (Van Soest e Robertson, 1985), mantendo os componentes fenólicos como resíduo, enquanto que, a ação do permanganato de potássio se baseia na solubilização dos compostos fenólicos da parede celular vegetal, também após tratamento prévio com detergente ácido, produzindo resíduo no qual se concentram os compostos celulósicos. Embora, em uma visão simples de conceito, os métodos possam parecer perfeitamente complementares, problemas residem sobre a definição exata do limite de ação de cada um dos reagentes (Van Soest, 2004), fazendo com que as estimativas dos teores de lignina obtidas por ambos os métodos não sejam similares (Van Soest, 1994; Clipes et al., 2004). A maior diferença entre a ação do ácido sulfúrico e do permanganato de potássio parece ser percebida nas regiões-limites entre os compostos celulósicos e fenólicos, região esta na qual se espera que haja maior ação inibitória da lignina sobre a degradação microbiana no ambiente ruminal. 29 Desta forma, especula -se que a ação diferenciada dos reagentes supracitados possa levar a diferenciações qualitativas associadas às estimativas gravimétricas dos teores de lignina dos alimentos. Ou seja, a ação inibitória associada aos compostos fenólicos retidos como lignina, e suas particularidades de extração nas regiões limítrofes com os carboidratos da parede celular, poderiam apresentar diferentes associações com a fração indegradável da FDN. Utilizando-se a LPER, verificou-se para o modelo corrigido (NRC II) grande contribuição do modelo de flutuação aleatória (Mof) ao quadrado médio do erro de predição (QMEP) (Tab. 3 e Fig. 4), destacando-se similaridade para com os teores de FDNi observados. Foi verificado erro médio de predição de + 2,75 pontos percentuais para o modelo NRC (II) e + 8,42 para o modelo NRC (I) (Tab. 3 e Fig. 5). Este comportamento relaciona-se à tentativa do modelo em simular a direção do afastamento de uma observação a partir da média aritmética de todas as observações do conjunto de dados avaliados (Kobayashi e Salam, 2000), apresentando-se maior eficiência para o modelo corrigido. Por outro lado, a Fig. 6 mostra a dispersão dos erros de predição em função dos teores observados de FDNi para o modelo CNCPS utilizando-se LPER, verificando-se total falta de similaridade, além de uma tendência de subestimação para com os teores de FDNi observados. Tabela 3 - Erro médio de predição (EMP), quadrado médio do erro de predição (QMEP), quadrado do vício (QV), componentes relativos à magnitude de flutuação aleatória (MaF) e modelo de flutuação aleatória (MoF) e distribuição dos erros de predição para os valores preditos de fibra em detergente neutro indigestível (% da fibra em detergente neutro) a partir dos teores de lignina em permanganato de potássio (n = 540) de acordo com os modelos CNCPS, NRC (2001) e NRC (2001) com modificações propostas por Detmann et al. (2004) Modelos Item CNCPS NRC(I) NRC(II) EMP (MPE) -5,61 8,42 2,75 QMEP (MSPE) 72,78 120,77 55,36 QV (SB) 31,50 70,94 7,54 MaF 0,28 4,06 3,30 MoF 41,01 45,77 44,51 Distribuição Acumulada dos Erros de Predição (%)¹ 38,3 32,6 53,1 ≤1s 71,7 66,9 81,7 ≤2s 93,7 83,0 93,5 ≤3s 99,4 92,2 98,7 ≤4s ¹/ Distribuição calculada com base no desvio-padrão para os valores observados. 30 A adoção de uma associação exponencial, conforme verificado no modelo adotado pelo NRC (2001), implica no fato de uma unidade de lignina causar maior refração à degradação em forragens com grau reduzido de lignificação quando em comparação àquelas com elevada concentração de lignina (Detmann et al., 2004). Neste contexto, segundo Detmann et al. (2004) a correção empírica permite evidenciar o fato de a proteção causada pela presença de compostos fenólicos na parede celular de forrageiras tropicais ser menos intensa que aquelas inicialmente proposta pela adoção da Lei de Superfície, base para o modelo adotado pelo NRC (2001) (Conrad et al., 1984; Weiss et al., 1992). Em outras palavras, a taxa de proteção da lignina, representada pela derivação do teor de FDNi em função da concentração de lignina (d(FDNi)/d(Lignina)), é de menor dimensão em forrageiras tropicais do que aquela regida de forma pura pela Lei de Superfície. 10 8 Erro de predição relativo 6 4 2 0 0 10 20 30 40 -2 -4 -6 -8 -10 FDNi observada (% da FDN) Figura 4 - Dispersão dos erros de predição relativos (em unidades de desvio-padrão para valores observados) para o modelo NRC (2001) corrigido aplicado à lignina em permanganato de potássio em função dos teores observados de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi). Por outro lado, o grau de interação ou imposição de indigestibilidade da lignina sobre a parede celular depende primariamente de interação química dos compostos fenólicos e glicosídicos. Segundo Jung e Deetz (1993), tal interação seria amplamente afetada pela razão entre precursores guaracil:siringil no estabelecimento da cadeia polifenólica do complexo lignina. Neste contexto, as ligações cruzadas observadas com as moléculas derivadas de guaiacil (não observadas em siringil) incrementariam o efeito deletério da lignina sobre a 31 degradabilidade dos componentes fibrosos (Van Soest, 1994). Sendo a composição básica do complexo lignina amplamente afetada por fatores edafo-climáticos e pela espécie forrageira, a adoção do fator empírico e correção sugerido por Detmann et al. (2004) parece realmente atribuir maior verossimilhança à adoção do modelo exponencial implementado pelo sistema NRC (2001) em condições tropicais, principalmente, quando se utilizou o método gravimétrico LPER. Segundo Traxler et al. (1998), melhores estimativas da fração indigestível da FDN são obtidas a partir dos teores de LPER. No entanto, Detmann et al. (2004), ao inferirem que modelos de natureza não-linear produzem estimativas menos tendenciosas dos teores de FDNi a partir das concentrações de lignina, o fizeram também com base no método de extração baseado em permanganato de potássio. 10 8 Erro de predição relativo 6 4 2 0 0 10 20 30 40 -2 -4 -6 -8 -10 FDNi observada (% da FDN) Figura 5 - Dispersão dos erros de predição relativos (em unidades de desvio-padrão para valores observados) para o modelo NRC (I) aplicado à lignina em permanganato de potássio em função dos teores observados de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi). De forma comum a todas as equações avaliadas, a decomposição do quadrado médio do erro de predição permite evidenciar participação e limitação similar entre estes no tocante ao comportamento relativo ao MoF. Tal comportamento indica diretamente a deficiência de modelos em simular a direção do afastamento de um valor simulado tendo como base a média aritmética do conjunto de valores observados empregado no processo de validação (Kobayashi e Salam, 2000). Em outras palavras, tal limitação reside sobre a fraca associação 32 (ou correlação) entre as variáveis independentes do modelo e a variável resposta a ser predita ou simulada. 10 8 Erro de predição relativo 6 4 2 0 0 10 20 30 40 -2 -4 -6 -8 -10 FDNi observada (% da FDN) Figura 6 - Dispersão dos erros de predição relativos (em unidades de desvio-padrão para valores observados) para o modelo CNCPS aplicado à lignina em permanganato de potássio em função dos teores observados de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi). CONCLUSÃO Dentre os modelos dos sistemas nutricionais preditos, o NRC-2001 corrigido apresentou melhores resultados em simulação quando se utilizou a LAS e a LPER na predição da FDNi. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY – AOAC. Official methods of analysis. 15th. (ed.) Arlington, 1990. 1117p. 33 CLIPES, R.C. Métodos de amostragem qualitativa e composição químico-bromatológica de forrageiras tropicais sob pastejo rotacionado. 2003. 69f. Tese (Mestrado em Produção Animal) - Campos dos Goytacazes, RJ, Universidade Estadual do Norte Fluminense. CLIPES, R.C., SILVA, J.F.C., DETMANN E. et al. (2004) Comparação de dois métodos para estimação do teor de lignina em gramíneas tropicais. 9° Encontro de Iniciação Científica, 2ª Mostra de Extensão e 4ª Mostra de Pós-Graduação, Anais... Campos dos GoytacazesRJ (CD-ROM). CONRAD, H.R., WEISS, W.P., ODWONGO, W.O. et al. Estimating net energy lactation from components of cell solubles and cell walls. J. Dairy Sci., v. 67, p.427-436, 1984. DETMANN, E., PAULINO, M.F., ZERVOUDAKIS, J.T. et al. (2001). 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As amostras foram submetidas à quantificação dos teores de matéria seca, de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), lignina em permanganato (LPER), proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) e proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA). A fração protéica indegradável no rúmen foi obtida por intermédio de incubação ruminal das amostras por 240 horas, seguida de tratamento em detergente neutro e posteriormente foi realizada a quantificação do teor de nitrogênio no resíduo após incubação, sendo denominada proteína indegradável insolúvel em detergente neutro (PIIDN). A comparação entre valores preditos e observados foi realizada por intermédio do ajustamento de equação de regressão linear simples de valores preditos (PIDA) sobre valores observados (PIIDN). Os resultados permitiram evidenciar não-equivalência (P<0,01) e total falta de associação (P>0,05) entre os valores preditos e observados da fração protéica indegradável. Sugere-se que a PIDA não seja adotada como estimador da fração protéica indegradável, a qual deve ser estimada por intermédio de métodos biológicos, conforme os protocolos adotados para obtenção das concentrações de PIIDN. Desta forma, como nem sempre é possível obter os teores de PIIDN sugere-se uma equação que permite a conversão dos teores de PIDA em teores de PIIDN assumindo a forma PIIDN = 1,1557 + 0,0255 × PIDA 2, 3388 . Palavras-chave: composto nitrogenado, degradação de proteína, gramíneas tropicais, proteína insolúvel. 37 Evaluation of Acid Detergent Insoluble Protein as Estimator of Rumen Undegradable Protein in Tropical Forages ABSTRACT The rumen undegradable protein fraction estimated from neutral detergent insoluble protein (NDIP) was studied. A total of 540 samples were used, obtained from manual grazing simulation and esophageal extrusa, from hays and from tropical grasses submitted to different fertilizing levels and cutting ages, cultivated in Campos dos Goytacazes-RJ, Brazil. The samples were analyzed for dry mater, lignin in sulfuric acid (LAS), lignin permanganate (LPER), neutral detergent insoluble protein (NDIP) and acid detergent insoluble protein (ADIP). The rumen undegradable nitrogenous fraction was done by incubating the samples for 240 hours in the rumen, followed by the treatment with neutral detergent and finally the nitrogen in the residue was quantified to get undegradable protein insoluble in neutral detergent (UPIND). The results allowed to evidence no-equivalence (P <0.01) and total absence of association (P>0.05), between predicted and observed values of the undegradable protein fraction. It is suggested that ADIP may not be used as an estimator of undegraded protein fraction; this fraction should be estimated by biological methods like the protocol adopted to get the concentrations of UPIND. Since it is not very ease to get values for UPIND it is suggested the following equation to convert ADIP to UPIND: UPIND = 1,1557 + 0,0255 × ADIP 2 ,3388 . Key Words: insoluble protein, protein degradation, tropical grass, nitrogenous compound 38 INTRODUÇÃO A fração dos compostos nitrogenados ligados à porção insolúvel em detergente ácido da parede celular (PIDA) tem sido empregada como preditor ou estimador do potencial de aproveitamento protéico por alguns dos principais sistemas nutricionais, como o sistema britânico (Agricultural and Food Research Council - AFRC, 1993) e o sistema americano Cornell Net Carbohydrate and Protein System - CNCPS (Sniffen et al., 1992), no sentido de, embora formado em parte por componentes aminoacídicos (Muscato et al., 1983), não apresentar disponibilidade aos microrganismos ruminais ou digestibilidade intestinal (Sniffen et al., 1992). Por outro lado, em diversos estudos têm-se apontado controvérsias sobre a disponibilidade do NIDA ao longo do trato gastrintestinal dos ruminantes, o qual tem apresentado estimativas de digestibilidade substancialmente desviadas da nulidade (Waters et al., 1992; Van Soest, 1994; Broderick, 1995; NRC, 2001; Detmann et al., 2003). Detmann et al. (2004a) relataram não haver verossimilhança suficiente que suporte a adoção dos compostos nitrogenados insolúveis em detergente ácido como estimadores da fração protéica indegradável no rúmen, sugerindo que a fração indegradável dos componentes protéicos de um alimento deve ser considerada, em essência, um conceito biológico, no qual efeitos químicos, fisiológicos, anatômicos e ambientais interagem de forma a limitar potencialmente o acesso microbiano, impedindo o processo de degradação. Neste contexto, torna-se impossível utilizá-los como preditores simples e diretos de um conceito biológico sujeito a todas as interações descritas anteriormente, as quais deveriam ser consideradas para que se aproxime ao máximo do conceito de exatidão. Desta forma, na ausência de um modelo de predição que possa considerar ao menos os fatores de maior influência sobre a dimensão real da fração protéica indegradável, estes mesmos pesquisadores sugeriram a utilização de métodos biológicos para a estimação da fração indegradável dos compostos nitrogenados. No entanto, tais informações são ainda escassas e carecendo verificações e validações em condições tropicais (Detmann et al., 2004a). Dentro do contexto apresentado, define-se como objetivo deste trabalho verificar a validade dos compostos nitrogenados insolúveis em detergente ácido como preditores do potencial de degradação ruminal da proteína bruta. 39 MATERIAL E MÉTODOS O banco de dados foi constituído por amostras de gramíneas tropicais empregadas na alimentação de animais ruminantes referentes a estudos conduzidos por Clipes (2003), Lista (2003), Ornelas (2003), Henriques (2004), Haddade (2004), os quais foram implantados na região de Campos dos Goytacazes, RJ. As informações obtidas a partir do estudo de Henriques (2004) foram obtidas de amostras originadas de parcelas cultivadas com as gramíneas capim-acroceres (Acroceras macrum Stpf.), capim-angola (Brachiaria purpurascens), capim-hermathria (Hemathria altíssima) e campim-setária (Setaria anceps, Stapf. Ex. Massey), sob diferentes níveis de adubação nitrogenada (0, 100, 200, 300 e 400 kg/ha) coletadas por intermédio de cortes a 15 cm do solo realizados aos 28, 42, 56 e 70 dias após corte de uniformização das culturas, totalizando 240 amostras. As amostras provenientes de Ornelas (2003) foram originárias de forragem verde, do feno sem armazenamento e do feno com 28, 56 e 84 dias de armazenamento das gramíneas capim-acroceres (Acroceras macrum), capim-angola (Brachiaria purpurascens), capimhemartria (Hemarthria altíssima) e capim-setaria (Setaria anceps cv. Kazungula), com idade de corte aos 35 dias, perfazendo um total de 60 amostras. As amostras oriundas de estudos de Haddade (2004) foram provenientes de experimento conduzido para a avaliação de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum) dos cultivares Napier e Cameroon, e clones CNPGL–91–F 27–1 (cv. Pioneiro) e CNPGL–91– F 27–5, manejados em função de três sistemas de produção: convencional sem o uso da irrigação, irrigado com o uso de adubação em cobertura manual, e irrigado, com adubações em cobertura via água de irrigação aos 20, 40, 60 e 80 dias pós-uniformização, cortadas 30 cm ao nível do solo, totalizando-se 144 amostras. As amostras obtidas por Clipes (2003) e Lista (2003) constituíram coletas realizadas em sistemas de produção animal sob pastejo rotacionado com as gramíneas capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum. cv. Napier) e capim-mombaça (Pannicum maximum cv. Mombaça), sendo tomadas em diferentes piquetes e em diferentes dias de ocupação animal por intermédio de amostras de extrusa esofágica e simulação manual de pastejo, totalizando 48 amostras por estudo. Todas as amostras (n=540) foram processadas e analisadas no Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Estas foram 40 congeladas (-20ºC), posteriormente submetidas à pré-secagem em estufa de ventilação forçada (60ºC – 72 horas), sendo processadas em moinho com peneira de 2mm, acondicionadas e armazenadas em frascos de polietileno à temperatura ambiente. As amostras foram submetidas à quantificação dos teores de matéria seca (AOAC, 1990); de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), lignina em permanganato (LPER), adaptando-se os protocolos de Goering e Van Soest (1975), Van Soest et al. (1991) e Mertens (2002) e quantificou-se também, a proteína bruta (PB), a proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) e insolúvel em detergente ácido (PIDA), conforme recomendações de Licitra et al. (1996). As estatísticas descritivas para os teores de PB, FDN e lignina como porcentagem da matéria seca encontram-se na Tab. 1. Tabela 1 - Estatísticas descritivas para os teores (% da matéria seca) de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (LIG) Estatística Média Moda Mediana Máximo Mínimo Desvio-padrão N Variável FDN 68,98 69,68 69,07 83,26 52,08 5,60 540 PB 12,98 10,67 12,33 26,25 7,48 3,22 540 LIG 5,19 3,49 4,89 11,08 1,94 1,61 540 Os teores de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) foram obtidos por intermédio de procedimentos de incubação in situ , em adaptação aos procedimentos descritos por Detmann et al. (2001) e Clipes et al. (2006). As amostras foram acondicionadas em duplicatas em sacos de nylon com porosidade de 50 µm e dimensões 3,5 x 5,0 cm na proporção de 25 mg/cm² de superfície, sendo incubadas no rúmen de um bovino alimentado com dieta contendo alimento volumoso (feno de gramínea) e concentrado, na proporção de 70:30, com base na matéria seca. Após 240 horas, os sacos foram retirados, lavados em água corrente até o total clareamento da água, submetidos ao tratamento com detergente neutro (Mertens, 2002), na proporção de 50 mL/saco, secos em estufa de ventilação forçada (65°C – 72 horas) em seguida, colocados em estufa a 105° e após em dessecador por 15 minutos até que atingisse a temperatura ambiente e depois pesados. 41 Posteriormente, parte do resíduo obtido (FDNi) foi avaliado pelo método de Kjeldahl (AOAC, 1990) para quantificação do teor de nitrogênio, o qual foi considerado como o teor de compostos nitrogenados indegradáveis no rúmen. O teor obtido, multiplicado pelo fator 6,25, foi denominado de proteína indegradável insolúvel em detergente neutro (PIIDN), sendo considerada como a fração protéica indegradável observada ou real. A avaliação da efetividade do teor de nitrogênio insolúvel em detergente ácido como preditor do potencial de degradação protéico foi conduzido por intermédio do ajustamento de equação de regressão linear simples, considerando os teores de PIDA como variável dependente e os teores de PIIDN como variável independente, conforme Mayer et al. (1990) sendo avaliadas as hipóteses (Equação 1): H0:β0 = 0 e β1 =1 vs. Ha : não H0 (1) A não-rejeição das hipóteses de nulidade indica similaridade entre valores preditos e observados, ao passo que a não-aceitação implica dissimilaridade entre tais valores. Foi realizado um teste para a obtenção do tempo crítico (tc), tempo necessário para que as estimativas dos resíduos indigestíveis da PIIDN sejam obtidas, onde foram utilizadas cinco amostras obtidas aleatoriamente a partir do banco de amostras (n=540), objetivando-se descrever o perfil do resíduo não-degradado em função dos tempos de permanência no ambiente ruminal (0, 48, 72, 96, 128, 144, 192, 240). As amostras foram incubadas seguindo os mesmos procedimentos de incubação e laboratoriais descritos anteriormente para a obtenção do PIIDN, porém com tempos determinados. O tempo necessário para se obter a estimativa adequada do resíduo indigerível, tc foi estimado por intermédio das propriedades dos intervalos de confiança assintóticos para o parâmetro I (Equação 2), sendo os perfis residuais interpretados segundo o modelo (Van Milgen et al., 1991): Rt = B.(1+k.t)*exp(-k.t)+I em que: (2) Rt = resíduo não-digerido de PIIDN (%); B = fração insolúvel potencialmente degradável da PIIDN (%); I = fração indegradável (%), a qual representa os teores de PIIDN; k = taxa relativa à dinâmica de degradação ruminal da fração solúvel potencialmente degradável (h-1); e t = tempo de permanência no ambiente ruminal (h). As demais análises foram realizadas por intermédio de correlação e regressão linear (Myers, 1990) e regressão não-linear (Souza, 1998). Para todos os procedimentos estatísticos fixou-se em 0,05 o nível crítico de probabilidade para o erro tipo I. Todos os procedimentos estatísticos descritos foram realizados por intermédio do programa SAS (Statistical Analysis System). 42 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Fig. 1 pode-se observar o perfil ajustado para a descrição do resíduo nãodegradado da PIIDN em função do tempo estimado, obtido a partir da equação Rt = 72,67(1+0,0173t)exp(-0,0173t)+27,33 (R2 = 0,9490), indicando tc de 140,05 horas. 100 Resíduo Não-degradado (% PIDN) Resíduo Não-degradado Limite Superior IC 80 Assíntota 60 40 20 0 0 50 100 150 200 250 300 Tempo (h) Figura 1 – Perfil ajustado para a descrição do resíduo não-degradado em função do tempo. Dessa forma, ressalta-se que, a utilização de tempos de incubação de 240 horas obtém estimativas próximas das frações indigestíveis, conforme sugestão de Detmann et al. (2004b). A utilização de tempo de incubação de 240 horas de acordo com estes autores é baseada no pressuposto de que a fração protéica residual após este tempo de submissão à degradação ruminal aproxime-se com grande intensidade da verdadeira fração indegradável constituindo um conceito assintótico, sendo a fração protéica residual mensurada, em termos teóricos, em uma escala infinita de tempo. A estimação do t c foi obtida por procedimentos iterativos, sendo consideradas equivalentes ao tempo em que a estimativa do resíduo não-degradado torna-se numericamente idêntica ao limite superior do intervalo de confiança assintótico (1-∝ = 95) para o parâmetro I (Equação 2). 43 De acordo com Mertens (1993) a fração indigestível constitui um conceito assintótico, ou seja, constitui a fração incapaz de ser aproveitada pelos sistemas enzimáticos microbiano e animal em situação em que não há limitação em tempo de exposição à ação destes sistemas. Contudo, os procedimentos in situ são baseados em escalas finitas de tempo, assumindo-se intervalo temporal relativamente elevado de forma que as estimativas obtidas (resíduo indigerido) aproximem-se com grande intensidade do conceito assintótico (resíduo indigestível) (Casali, 2006). Clipes et al. (2006) ao estudarem a fração indegradável dos compostos nitrogenados associados à parede celular em gramíneas tropicais, sugeriram tempos de incubação in situ de 240 horas como medida da maior aproximação da fração não-degradada ao seu real valor. Segundo Casali (2006) a adoção de tempo único para todas as amostras obtidas em um experimento propiciará maior padronização dos protocolos e melhores comparações dos valores obtidos em diferentes experimentos. Este mesmo autor reforça ainda a utilização de tempos de incubação de 240 horas para que se obtenham estimativas exatas da fração indegradável da FDN. Na Tab. 2 são expressas as estatísticas descritivas para as concentrações de PIDA e PIIDN, com base na matéria seca (MS) e proteína bruta (PB), respectivamente. Observaramse médias de 1,98 e 1,76 para os teores de PIDA e PIIDN, respectivamente, para as amostras do banco de dados em estudo (Tab. 2), enquanto que, como porcentagem de PB, verificaramse 15,43 e 13,93, respectivamente (Tab. 3). A discrepância entre as médias aritméticas de PIDA e PIIDN (Tab. 2 e 3) de ambas concentrações permite, já de forma inicial, pressupor possível ausência de similaridade entre valores preditos e observados para os compostos nitrogenados indegradáveis no ambiente ruminal. A PIDA embora considerada indigestível durante sua permanência no trato gastrintestinal dos ruminantes, tem apresentado estimativas de digestibilidade substancialmente desviadas da nulidade, sendo este comportamento ressaltado em alimentos ricos em taninos (Waters et al., 1992) ou que sofreram danos por calor (Van Soest, 1994), implicando no fato de esta fração poder ser subdividida em duas subfrações distintas, sendo uma potencialmente digestível e outra indigestível (Broderick, 1995; Detmann et al., 2003). 44 Tabela 2 - Estatísticas descritivas para os teores (% da matéria seca) de proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN), proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA) e proteína indegradável em detergente neutro (PIIDN) Estatística Média Moda Mediana Máximo Mínimo Desvio-padrão N Variável PIDA 1,98 --2,03 4,04 0,39 0,88 540 PIDN 6,08 4,84 5,25 14,10 1,88 2,80 540 PIIDN 1,76 --1,68 4,29 0,29 0,67 540 Tal fato pode ser mais concretamente verificado pela elevada dispersão dos pares ordenados nos gráficos que descrevem a relação entre PIDA e PIIDN (Fig. 2 e 3), o que confirma a prévia avaliação exploratória das estatísticas descritivas mostradas nas Tab. 2 e 3. Tabela 3 - Estatísticas descritivas para os teores (% da proteína bruta) de proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA) e proteína indegradável em detergente neutro (PIIDN) Variável Estatística Média Moda Mediana Máximo Mínimo Desvio-padrão N PIDA 15,43 --15,69 32,31 3,24 6,41 540 PIIDN 13,92 --13,41 35,18 2,74 5,18 540 Segundo Van Soest (1994) a utilização do resíduo em detergente ácido como preditor da digestibilidade não está fundamentada sobre qualquer base teórica sólida, mas somente sobre eventuais associações estatísticas, as quais podem ser amplamente influenciadas por fatores ambientais. Sendo a PIDA componente do resíduo em detergente ácido, sua utilização como estimador da fração protéica indegradável suportar-se-ia somente em evidências observacionais, sem necessariamente estabelecerem-se relações casuísticas de seus componentes com aqueles inacessíveis aos microrganismos ruminais. Deve-se ressaltar que o resíduo em detergente ácido deve ser considerado apenas como passo preparatório para a avaliação de alguns componentes da parede celular, não devendo ser considerado como um 45 conceito biologicamente válido de fibra dietética (Van Soest, 1994), reiterando que predições de digestibilidade a partir deste não são adequadas. A fração indegradável dos componentes protéicos de um alimento deve ser considerada, em essência, um conceito biológico, no qual efeitos químicos, fisiológicos, anatômicos e ambientais interagem de forma a limitar potencialmente o acesso microbiano, impedindo sua degradação (Detmann et al., 2004b). 5 Y=X PIDA (% da matéria seca) 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 PIIDN (% da matéria seca) Figura 2 - Relação entre teores de proteína indegradável insolúvel em detergente neutro (PIIDN) e proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA), com base na matéria seca (a linha tracejada corresponde à reta de quadrados mínimos). Desta forma, à semelhança do resíduo em detergente ácido, a PIDA não representa um conceito biológico, mas apenas uma aproximação química da definição de inacessibilidade microbiana. Neste contexto, torna-se impossível utilizá-lo como preditor simples e direto de um conceito biológico sujeito a todas as relações de interação descritas anteriormente, as quais deveriam ser consideradas para que se aproxime ao máximo do conceito de exatidão. Na ausência de um modelo de predição que possa considerar ao menos os fatores de maior influência sobre a dimensão real da fração protéica indegradável, sugere-se a utilização de métodos biológicos para a estimação da mesma. O método utilizado neste trabalho baseiase no pressuposto de que a fração protéica residual após 240 horas de submissão à degradação 46 ruminal aproxime-se com grande intensidade da verdadeira fração indegradável, a qual constitui um conceito assintótico. 40 PIDA (% da proteína bruta) Y=X 30 20 10 0 0 10 20 30 40 PIIDN (% da proteína bruta) Figura 3 - Relação entre teores de proteína indegradável insolúvel em detergente neutro (PIIDN) e proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA), com base na proteína bruta (a linha tracejada corresponde à reta de quadrados mínimos). O tratamento com detergente neutro posteriormente à incubação ruminal visa tão somente a retirada de restos microbianos aderidos aos componentes fibrosos, os quais poderiam levar à superestimação da fração protéica residual. Dados oriundos de estudos com indicadores permitem evidenciar que as concentrações do resíduo fibroso em alimentos resultante de tempos longos de incubação ruminal são superiores com o tratamento com detergente neutro em relação ao tratamento com detergente ácido (Detmann et al., 2007); no entanto, em ambos os tratamentos os resíduos são ditos indigestíveis. Desta forma, ao optar-se pelo tratamento com detergente ácido sobre o resíduo pós-incubação poder-se-ia estar descartando parte indegradável dos compostos nitrogenados solúveis em baixo pH, podendo levar à subestimação da fração indegradável total. Tais possibilidades justificam a utilização do tratamento em detergente neutro nos protocolos pós-incubação sugeridos e adotados neste trabalho para a estimação da fração protéica indegradável em forragens tropicais. A falta de um padrão definido entre os valores de PIDA e PIIDN, pode ser confirmada também pela “fraca” estimativa da correlação linear de Pearson (r=0,3892), embora significativa (P<0,05) (Tab. 4). Apesar de atingir patamares biologicamente 47 incondizentes para um processo de estimação e acurado, os teores de PIDA apresentam correlação relativamente mais forte com os teores de PIIDN em comparação a outros compostos indegradáveis da parede celular vegetal (Tab. 4). Tabela 4 - Correlações parciais entre os teores (% da matéria seca) de lignina (LIG), fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA) e proteína indegradável insolúvel em detergente neutro (PIIDN) Variável¹ Variável LIG 1,0000 - FDNi 0,2502 <0,0001 1,0000 - PIDA 0,0995 0,0208 0,0949 0,0275 1,0000 - PIIDN -0,0535 LIG 0,2144 0,3991 FDNi <0,0001 0,3892 PIDA <0,0001 1,0000 PIIDN ¹/ Os valores subscritos correspondem aos níveis críticos de probabilidade para o erro tipo I associados à hipótese de nulidade: H0 : ρ = 0. A relação entre PIIDN e PIDA confirma essa deficiência de similaridade entre valores preditos e observados podendo ser confirmado pela não-aceitação da hipótese de nulidade inicialmente proposta (P<0,05) (Tab. 5). A equação apresentada na Tab. 5 reforça a falta de associação biológica entre PIDA e PIIDN, pois mesmo se a PIDA for igual a zero, haverá PIIDN. A soma de tais fatos suporta os argumentos apresentados por Detmann et al. (2004a), que evidenciaram o fato de não haver verossimilhança suficiente que suporte a adoção dos compostos nitrogenados insolúveis em detergente ácido como estimadores da fração protéica indegradável no rúmen em gramíneas tropicais. Contudo, sendo a PIDA não coincidente com a verdadeira fração indegradável dos compostos nitrogenados, maiores esforços deveriam ser destinados ao entendimento da real composição do PIIDN e sua relação com os diferentes componentes nitrogenados dispostos na parede celular vegeta l como pode ser observado em estudos conduzidos por Henriques et al. (2007). Estes autores ao quantificar as frações indegradáveis dos compostos nitrogenados associados aos componentes da parede celular de algumas forragens tropicais verificaram que parte de todos os compostos é potencialmente degradável no rúmen, como frações da celulose e lignina, contrariando dessa forma, os pressupostos que a PIDA não apresentaria disponibilidade ruminal. Os mesmos sugerem a consideração dos teores de lignina corrigidos para os compostos nitrogenados, uma vez que esta última, caso corrigida, concentraria com 48 maior intensidade os componentes com efeitos deletérios sobre a degradação ruminal dos carboidratos fibrosos, auxiliando dessa forma no incremento das correlações entre FDNi e lignina. Tabela 5 - Estimativas de parâmetros de regressão e nível descritivo de probabilidade para o erro tipo para a relação entre proteína indegradável insolúvel em detergente neutro (PIIDN – variável independente) e proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA variável dependente) (n= 540) Base Matéria Seca Proteína Bruta ¹/ H0: β0 = 0 e β1 = 1. Estimativas de Parâmetros de Regressão Intercepto Coef. de Inclinação 0,8765 0,6292 8,9711 0,4642 Valor-P¹ <0,0001 <0,0001 Para que os procedimentos corretos de predição sejam realizados sugere-se a adoção de métodos biológicos em detrimento da utilização simples de componentes quimicamente avaliados, o que pode ser obtido a partir do conceito de PIIDN (Detmann et al., 2004a). Desta forma, como nem sempre é possível obter os teores de PIIDN, por intermédio de aproximações não-lineares constituiu-se equação que permite a conversão dos teores de PIDA em teores de PIIDN (com base na matéria seca), a qual assume a forma: PIIDN = 1,1557 + 0,0255 × PIDA 2, 3388 A relação entre os teores de PIDA e PIIDN expressos pela equação sugerida pode ser verificada na Fig. 4. Ressalta-se que a transformação raiz quadrada aplicada sobre os teores de PIIDN visou tão somente a estabilização da variação aleatória, a qual comprometeria diretamente o estabelecimento de relações funcionais confiáveis entre estas variáveis (Fig. 2). 49 Raíz Quadradra PIIDN (% da matéria seca) 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 1 2 3 4 5 PIDA (% da matéria seca) Figura 4 - Comportamento descritivo e reta indicadora de valores preditos pela equação (X) para a raiz quadrada dos teores de proteína indegradável insolúvel em detergente neutro (PIIDN) como função dos teores de proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA). CONCLUSÃO A fração protéica indegradável no rúmen não é corretamente predita a partir dos compostos nitrogenados insolúveis em detergente ácido. Sugere-se a adoção de métodos biológicos para que procedimentos mais acurados de predição sejam realizados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL - AFRC. (1993). Energy and protein requirements of ruminants. 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Associações entre parâmetros da cinética de degradação ruminal e os constituintes da parede celular de quatro gramíneas tropicais em diferentes períodos de rebrotação e doses de adubação nitrogenada RESUMO Objetivou-se avaliar a associação entre constituintes digestíveis e indigestíveis da parede celular, a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e, a taxa de digestão (Kd), latência (L) e volume relativo de gás produzido a partir da fibra em detergente neutro potencialmente digestível (VRG) de amostras obtidas de capins setária (Setaria anceps Stapf), hemarthria (Hemarthria altissima [Poir] Stapf. & Hubbard), angola (Brachiaria purpurascens [Raddi] Henr.) e acroceres (Acroceras macrum Stapf.) adubados com 0, 100, 200, 300 e 400 kg de N/ha e colhidos aos 28, 42, 56 e 70 dias de idade, implantados no setor de Forragicultura da Universidade Estadual do Norte Fluminense, em Campos dos Goytacazes – RJ. Os resultados foram avaliados por intermédio de análise de fatores. Após redução e avaliação da variação conjunta total das variáveis, optou-se pela adoção de três fatores, os quais englobaram 73,81% da variação total, onde, o primeiro fator (Fator 1) associou-se intimamente com a DIVMS, com a fibra em detergente neutro potencialmente digestível (FDNpd), com a L e com o VRG; o segundo fator (Fator 2), associou-se com a fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) e com a Kd; o terceiro fator (Fator 3), por sua vez, associou-se à lignina (LIG). A FDNpd apresentou correlação positiva (0,5294) com a DIVMS (P<0,01), o que pode ser verificado para o capim-hemarthria aos 42 dias de idade de corte, o qual se destacou neste experimento quando comparado às demais gramíneas, por apresentar maior DIVMS (69,39%) e maior teor de FDNpd (57,89%) e, por outro lado, verificou-se também menor VRG (0,186 mL/mg) onde, quanto menor o volume de gás, pode-se inferir em melhor característica de fermentação e utilização dos carbonos para produção de energia e, conseqüentemente menores perdas destes na forma de gases, conferindo dessa forma, boas características de degradação e digestibilidade para esta gramínea aos 42 dias de idade de corte. Palavras -chave: capim-setária, capim-acroceres, capim-angola, capim-hemarthria, taxa de degradação, produção de gás 54 Association between kinetics of ruminal degradation parameters and cell wall constituents of four tropical grasses in different growth stages and levels of nitrogenous fertilization ABSTRACT The association of digestible and indigestible cell wall contents, the in vitro dry mater digestibility (IVDMD), the digestion rate (Kd), lag phase (L) and the relative gas volume produced from neutral detergent fiber potentially digestible (RGV) were evaluated in tropical grasses samples. The samples were from setaria grass (Setaria anceps, Stapf), hemarthria grass (Hemarthria altissima, [Poir] Stapf. & Hubbard), angola grass (Brachiaria purpurascens, [Raddi] Henr.) and acroceres grass (Acroceras macrum, Stapf.) fertilized with 0, 100, 200, 300 and 400 kg of N/ha and in the cutting ages of 28, 42, 56 and 70 days. The experiment was carried out in the Forage Section of the Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Campos dos Goytacazes-RJ, Brazil. The results were submitted to a factor analysis. After reduction and evaluation of the combined variation from the total variables it was opted toward the adoption of three factors comprising 73,81% % of the total variation, where, the first factor (Factor 1) was strongly associated with the in vitro dry matter digestibility (IVDMD), neutral detergent fiber potentially digestible (NDFpd), L and with RGV; the second factor (Factor 2), was connected to the indigestible neutral detergent fiber (NDFi) and with Kd; the third factor (Factor 3) was related to lignin. The NDFpd showed positive correlation (0.5294) with IVDMD (P<0.01), for hermarthria grass at 42 days old. This grass showed better results when compared to the other grasses, it presented higher values for IVDMD (69.39%) and NDFpd (57.89%) and, smaller production of RGV (0,186 mL/mg), that means better fermentation characteristics and utilization of carbon for energy production, therefore less gas lost that results in good degradation and digestibility characteristics for this grass at 42 days old. Key Words : setaria grass, california grass, limpo grass, nilo grass, degradation rate, gas production 55 INTRODUÇÃO As gramíneas tropicais são plantas extremamente eficientes no processo fotossintético, acumulando grandes quantidades de biomassa, de forma muito rápida; entretanto, esse crescimento vem acompanhado de rápida maturação, com queda precoce no valor nutritivo da forragem produzida. Além disso, estas gramíneas apresentam elevado conteúdo de constituintes de parede celular associado a aspectos de natureza anatômica das espécies em razão da alta proporção de tecido vascular característico das plantas C4 (Van Soest, 1994). As pastagens constituem a base da dieta dos ruminantes na grande maioria dos sistemas de produção em regiões tropicais, representando a forma mais prática e econômica de sustentação da bovinocultura no Brasil. Portanto, faz-se necessário estudar o estabelecimento das mesmas e seus componentes estruturais juntamente com o comportamento fermentativo do ambiente ruminal, visando elucidar características relacionadas ao consumo das mesmas. O processo digestivo das forrageiras consumidas pelos ruminantes é inicializado pela retenção no rúmen. Neste processo, os componentes solúveis são rapidamente fermentados pelos microrganismos; entretanto, os componentes estruturais dos alimentos que ali permanecem representam barreira física para que o animal volte a se alimentar. Os processos de digestão e conseqüentemente a absorção dos produtos derivados, resultam na remoção das partículas alimentares do rúmen. Em adição, é sabido que os atuais sistemas de exigências nutricionais requerem estimativas confiáveis sobre as taxas de degradação dos alimentos (Pell et al., 1994; Van Soest, 1994). Dessa forma, os ensaios que visam avaliar os parâmetros cinéticos de degradação dos alimentos além de serem realizados através de técnicas como a digestibilidade in vitro e in situ, podem também ser realizados através da técnica de produção cumulativa de gases (Pell et al., 1994; Malafaia et. al., 1997). Essa técnica vem sendo utilizada há alguns anos a fim de detectar o comportamento da degradação da fibra em função do gás produzido durante incubação in vitro, monitorando-se as leituras ao longo do tempo de incubação. Estes processos de digestão e passagem podem ser descritos por modelos matemáticos (Van Soest, 1994), dessa forma, através de associações destes com os constituintes da parede celular vegetal, poderão constituir ferramenta na elaboração de práticas de consumo de forrageirais. 56 Neste contexto, objetivou-se avaliar a associação entre os constituintes digestíveis e indigestíveis da parede celular, a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e, a taxa de digestão (Kd), latência (L) e volume relativo de gás (VRG) produzido a partir da fibra em detergente neutro potencialmente digestível observados em gramíneas tropicais com diferentes níveis de adubação e idades de corte. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal (LZNA) no Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), e no setor de Forragicultura localizado nas dependências da Escola Estadual Agrícola Antônio Sarlo, ambos pertencentes à Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Campos dos Goytacazes-RJ, entre outubro de 2000 e junho de 2001. Foram utilizados os capins setária (Setaria anceps Stapf), hemarthria (Hemarthria altissima [Poir] Stapf. & Hubbard), angola (Brachiaria purpurascens [Raddi] Henr.) e acroceres (Acroceras macrum Stapf.) adubados com 0, 100, 200, 300 e 400 kg de N/ha na forma de sulfato de amônio, e colhidos aos 28, 42, 56 e 72 dias de rebrotação. O estabelecimento do experimento foi em área de baixada, no total de 2100 m2 , onde as parcelas mediam 150 m2 com 1,00 m de espaçamento entre essas, as subparcelas 3 m2 e as sub-subparcelas 6 m2. Efetuou-se adubação de correção do solo em outubro de 2000, antes do plantio das gramíneas, conforme resultado de análise de solo, sendo corrigida a acidez por efeito de calagem baseada na elevação de saturação de bases a 50%, de acordo com recomendações de Werner et al. (1986). O plantio das gramíneas foi realizado em dezembro de 2000 com mudas enraizadas dispostas em sulco, com 0,50 m de espaçamento entre sulcos e 0,5 m entre plantas. Nos sulcos efetuou-se adubação de 100 kg/ha de P2O5 e 30 kg de K2O, na forma de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. Em março de 2001 foi realizado o corte de uniformização, na altura de 20 cm do solo para o capim-setária e 10 cm para as demais espécies. Após o corte de uniformização, a cada 14 dias foram aplicados em cobertura, 20% da dose total do adubo nitrogenado na forma de sulfato de amônio, nos cinco níveis, que corresponderam a 0, 100, 200, 300 e 400 kg de N/ha, e a adubação potássica que também foi 57 fracionada da mesma forma consistiu de 60 kg de K2O/ha. As gramíneas foram irrigadas e os tratos culturais feitos mecanicamente sempre que se fez necessário. O experimento foi instalado segundo um delineamento em blocos casualizados (3 blocos), em esquema de parcela sub-subdivididas, sendo as gramíneas alocadas às parcelas, a adubação nitrogenada às subparcelas e os períodos de rebrotação às sub-subparcelas, segundo o modelo: Y ijkl = µ + Gi + B j + e ij + Nk + GN ik + Eijk + Cl + GC il + NC kl + GNCikl + ε ijkl ; em que: Y ijkl = observação geral relativa gramínea i, bloco j, nível de adubação k e idade l; µ = constante geral; Gi = efeito da gramínea i, sendo i =1, 2, 3 e 4; B j = efeito do bloco j, sendo j = 1, 2 e 3; e ij = efeito residual das parcelas; N k = efeito do nível de adubação k, sendo k = 1, 2, 3, 4 e 5; GNij = efeito da interação da gramínea i e o nível de adubação k; Eijk = efeito residual das subparcelas; Cl = efeito do período de rebrotação l, sendo l = 1, 2, 3 e 4; GCil = efeito da interação da gramínea i e a idade de corte l; NCkl = efeito da interação do nível de adubação k e a idade de corte l; GNCikl = efeito da interação da gramínea i, o nível de adubação k e a idade de corte l; ε ijkl = erro aleatório, associado a cada observação, pressuposto NID (0; σ2). Os cortes para coleta das amostras foram feitos a 20 e 10 cm do solo para o capimsetária e as demais gramíneas, respectivamente. Após o corte, as amostras foram pré-secas em estufa de ventilação forçada (60±5oC - 72 horas) e moídas em moinho de faca com peneira de malha de 2 mm. No decorrer do experimento, cinco amostras foram perdidas. As amostras foram quantificadas quanto aos teores de proteína bruta (PB) e lignina em permanganato de potássio (LIG) segundo métodos descritos por Silva e Queiroz (2004). As avaliações da fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) seguiram os protocolos de Van Soest e Robertson (1985) e Van Soest et al. (1991). Os teores de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) foram obtidos por intermédio de procedimentos de incubação in situ , em adaptação aos procedimentos descritos por Detmann et al. (2001) e Clipes et al. (2006). As amostras foram acondicionadas em sacos de nylon com porosidade de 50 µm e dimensões 3,5 x 5,0 cm na proporção de 25 mg/cm² de superfície, sendo incubadas no rúmen de um bovino alimentado com dieta contendo alimento volumoso (feno de gramínea) e concentrado, na proporção de 70:30, com base na matéria seca. Após 240 horas, os sacos eram retirados, lavados em água corrente até o total clareamento da água, submetidos ao tratamento com detergente neutro (Mertens, 2002), na proporção de 50 mL/saco, secos em estufa de ventilação forçada (60±5 oC – 72 horas), em 58 seguida, colocados em estufa a 105° e após em dessecador por 15 minutos até que atingisse a temperatura ambiente e depois pesados. Os teores de fibra em detergente neutro potencialmente degradável (FDNpd) foram obtidos a partir da fórmula: FDN (%MS) - FDNi (%MS), enquanto que, a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) foi determinada após incubação por 48 horas com inóculo ruminal, conforme Tilley e Terry (1963). As taxas de digestão (Kd), latência (L) e volume relativo de gás produzido a partir da FDNpd (VRG – Ml/mg) foram estimadas pela técnica de produção cumulativa de gases, conforme Pell e Schofield (1993). As amostras foram incubadas em frascos com capacidade de 50 mL, onde foram pesados, aproximadamente, 100 mg de substrato, aos quais, foram adicionados 8 mL de solução tampão de McDougall (pH 6,9-7,0) e 2 mL de inóculo ruminal, e mantidas sob condições anaeróbicas a 39oC. Os frascos foram fechados hermeticamente, sendo os gases que se acumularam entre a tampa e a superfície do meio de cultura, mensurados por intermédio de um transdutor acoplado a um multímetro. A pressão formada pelo acúmulo dos gases, que inicialmente foi medida em unidades elétricas (mV), foi convertida posteriormente em volume de gás (mL), de acordo com procedimento descrito por Pell e Schofield (1993). As leituras de pressão foram realizadas nos seguintes tempos: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 10, 12, 18, 24, 30, 36, 48, 60, 72, 96, 120 e 144 horas. A cinética da produção cumulativa de gases foi analisada empregando-se o modelo logístico bicompartimental (Schofield et al., 1994): Vt = Vf 1 {1 + exp[ 2 + 4 µm1 µm (L − t )]}−1 + Vf 2{1 + exp[ 2 + 4 2 (L − t )]}−1 Vf 1 Vf 2 em que: Vt = volume acumulado do tempo t (mL); Vf, = volume total de gases produzido em t ? 8 (mL); µm = taxa máxima de produção de gases (mL. h-1); L = a latência (h); t = o tempo após o início da incubação (h); e "1" e "2" (sub-escritos) = indicadores referentes à cinética de produção de gases a partir de CF e CNF, respectivamente. A razão µm/Vf representa a taxa específica de digestão (k) do substrato (Schofield et al., 1994). Após as análises químicas e biológicas, os resultados foram reduzidos às médias de tratamentos (combinações dos níveis dos fatores alocados às parcelas, subparcelas e subsubparcelas), sendo analisados por intermédio de análise de fatores (“factor analysis”), empregando-se o método Varimax de rotação e ortogonalização de fatores. Adotaram-se como critérios de seleção de fatores as cargas fatoriais e a fração retida da variação total (comunalidade) (Johson e Wichern, 1994). 59 RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas Tab. 1, 2 e 3 são apresentados os teores médios de proteína bruta (PB), de fibra em detergente neutro (FDN), de fibra em detergente neutro potencialmente digestível (FDNpd), de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), lignina (LIG) e a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS - %), a taxa de digestão (Kd – h-1), de latência (L - h) e o volume relativo de gás produzido a partir da FDNpd (VRG – mL/mg) observados nas gramíneas em função dos diferentes níveis de adubação (kg N/ha) e períodos de rebrotação (dias). Tabela 1 - Teores médios de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro potencialmente digestível (FDNpd), fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), lignina (LIG), em % da MS, observados nos capim-setária e capim-hemarthria em função dos diferentes níveis de adubação (kg N/ha) e períodos de rebrotação (dias) Nível Capim-setária FDN FDNpd FDNi LIG PB 13,75 15,02 18,75 21,32 25,24 18,82 61,99 61,43 61,76 58,84 53,96 59,60 49,99 48,92 50,28 47,81 43,75 48,15 12,00 12,52 11,48 11,03 10,20 11,45 4,90 5,72 4,34 3,82 4,10 4,57 10,66 12,13 11,48 17,40 18,17 63,41 67,09 64,60 62,98 68,03 49,82 53,63 50,48 51,13 53,90 13,59 13,47 14,12 11,85 14,13 Média 13,97 65,22 51,79 PB Capim-hemarthria FDN FDNpd FDNi LIG 13,44 14,30 13,95 15,91 17,09 14,94 71,31 70,45 76,13 71,08 71,09 72,01 54,68 54,90 58,32 54,06 53,89 55,17 16,63 15,56 17,81 17,02 17,20 16,85 6,37 8,01 8,36 5,30 7,26 7,06 6,08 6,37 7,09 5,46 6,05 9,82 10,09 11,19 10,68 73,99 75,65 74,42 72,16 73,99 59,37 59,58 56,51 56,10 14,62 16,07 17,91 16,06 7,25 6,08 6,45 5,44 13,43 6,21 10,45 74,06 57,89 16,17 6,30 28 dias 0 100 200 300 400 Média 42 dias 0 100 200 300 400 56dias 0 100 200 300 400 Média 10,48 12,08 11,82 16,02 17,08 13,50 65,22 63,17 61,22 60,27 61,57 62,29 50,46 48,26 47,70 47,77 47,98 48,43 14,75 14,91 13,52 12,50 13,59 13,86 3,53 2,99 4,25 3,35 3,69 3,56 10,95 10,27 12,33 10,53 11,75 11,17 71,93 71,06 72,79 74,06 71,54 72,28 49,45 49,62 51,30 54,87 51,31 51,31 22,47 21,43 21,49 19,19 20,23 20,96 5,04 5,46 5,02 4,87 5,52 5,18 10,68 12,49 11,89 17,94 16,87 71,27 69,15 65,48 66,24 67,79 53,61 52,35 49,76 49,30 51,36 17,66 16,79 15,72 16,94 16,43 4,41 3,68 3,55 3,85 3,57 10,75 11,84 13,09 12,61 13,22 77,22 73,88 73,96 69,64 70,42 55,27 51,52 52,48 48,60 50,04 21,95 22,36 21,48 21,04 20,38 5,24 5,55 5,23 6,32 5,80 Média 13,97 67,98 51,28 16,71 3,81 12,30 69,71 51,58 21,44 5,63 72dias 0 100 200 300 400 60 Tabela 2 - Teores médios de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro potencialmente digestível (FDNpd), fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), lignina (LIG), em % da MS, observados nos capim-angola e capim-acroceres em função dos diferentes níveis de adubação (kg N/ha) e períodos de rebrotação (dias) Nível Capim-angola Capim-acroceres PB FDN FDNpd FDNi LIG PB FDN FDNpd FDNi LIG 16,97 17,56 20,60 21,74 21,28 66,18 63,67 63,76 64,99 61,06 49,96 47,09 46,41 48,50 45,91 16,22 16,58 17,35 16,48 15,15 5,07 4,06 4,61 3,69 4,92 16,33 18,34 19,74 20,40 66,57 64,84 67,35 61,52 48,52 46,59 45,98 43,47 18,05 18,25 21,37 18,05 6,27 6,33 7,06 6,48 19,63 63,63 47,57 16,36 4,47 18,70 65,07 46,14 18,93 6,54 10,39 12,58 12,70 13,13 14,09 12,58 69,36 68,46 68,18 65,07 67,12 67,64 50,95 49,67 48,83 47,50 48,92 49,18 18,40 18,78 19,35 17,57 18,19 18,46 4,98 5,72 7,35 6,92 8,07 6,61 12,95 15,30 15,70 14,65 69,31 70,22 68,39 69,31 53,95 52,19 52,05 52,73 15,36 18,03 16,34 16,58 5,90 5,20 5,98 5,70 13,27 13,95 15,98 17,64 63,79 64,30 62,91 62,03 44,47 45,78 43,91 43,69 19,32 18,52 19,01 18,34 4,80 5,58 4,61 4,17 13,15 16,45 18,09 18,40 18,09 65,54 64,49 65,15 64,57 70,59 47,21 45,10 47,72 45,57 47,67 18,33 19,39 17,43 19,01 22,92 4,38 3,72 4,64 4,39 4,64 Média 16,84 66,07 44,46 18,80 4,79 16,84 66,07 46,65 19,41 4,36 46,15 44,94 44,12 45,56 47,14 45,58 19,17 19,52 19,00 20,61 19,18 19,50 4,52 4,82 7,05 7,29 7,60 6,26 12,66 14,59 16,88 16,46 19,06 15,93 65,10 65,40 64,35 66,62 66,71 65,63 44,18 44,79 44,74 44,04 44,64 44,48 20,91 20,62 19,61 22,57 22,07 21,16 4,81 5,56 6,41 5,09 4,49 5,27 28 0 100 200 300 400 Média 42 0 100 200 300 400 Média 56dia 0 100 200 300 400 72 0 100 200 300 400 Média 12,61 13,59 17,21 16,21 17,70 15,46 65,32 64,47 63,12 66,17 66,32 65,08 61 Tabela 3 - Digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS - %), taxa de digestão (Kd – h-1), latência (L - h) e volume relativo de gás produzido a partir da FDNpd (VRG – mL/mg) observados nas gramíneas em função dos diferentes níveis de adubação (kg N/ha) e períodos de rebrotação (dias) Nível Capim-setária DIVMS Kd L VRG Capim-hemarthria DIVMS Kd L Capim-angola VRG DIVMS Kd L VRG Capim-acroceres DIVMS Kd L VRG 28 dias 0 62,49 0,0126 10,70 0,252 100 57,52 0,0149 6,45 0,256 59,57 0,0146 7,34 60,42 0,0154 6,91 0,194 0,220 61,14 0,0094 10,20 0,259 55,50 0,0108 9,59 0,254 57,48 0,0130 57,34 0,0119 14,06 14,93 0,323 0,328 200 60,92 0,0129 9,97 300 57,51 0,0139 7,91 400 59,42 0,0129 8,02 0,243 0,264 0,288 56,71 0,0140 7,45 53,95 0,0137 7,14 52,01 0,0129 7,14 0,172 0,194 0,203 53,70 0,0098 54,08 0,0098 54,04 0,0105 6,19 0,252 8,16 0,214 8,49 0,257 53,36 0,0128 55,35 0,0125 14,69 13,93 0,352 0,265 Média 59,57 0,0134 8,61 0,261 59,57 0,0141 7,19 0,197 55,69 0,0101 8,52 0,247 55,88 0,0126 14,40 0,317 42 dias 0 100 200 300 400 66,12 61,89 61,96 64,23 63,55 0,0152 0,0179 0,0171 0,0177 0,0154 6,19 5,61 6,12 6,25 6,90 0,224 0,217 0,221 0,227 0,186 70,28 67,32 67,98 71,97 0,0135 0,0118 0,0127 0,0138 6,18 4,75 6,10 5,82 0,190 0,187 0,186 0,182 62,26 54,12 60,43 63,17 56,68 0,0142 0,0132 0,0125 0,0131 0,0120 5,15 5,72 7,45 3,76 5,87 0,238 0,188 0,189 0,242 0,188 65,06 0,0131 10,66 60,73 0,0128 9,68 60,80 0,0131 10,47 0,342 0,255 0,257 Média 63,55 0,0167 6,21 0,215 69,39 0,0130 5,71 0,186 59,33 0,0130 5,59 0,209 62,20 0,0130 10,27 0,285 56 dias 0 64,99 0,0163 6,97 100 62,38 0,0158 7,21 200 59,85 0,0158 7,55 0,232 0,239 0,240 63,64 0,0109 9,89 0,219 59,85 0,0089 8,79 0,187 63,40 0,0095 10,20 0,181 57,06 0,0116 10,20 0,279 55,72 0,0140 8,89 0,245 55,02 0,0117 11,29 0,265 55,27 0,0131 15,17 56,91 0,0129 12,12 57,31 0,0131 11,62 0,306 0,317 0,314 300 61,22 0,0164 7,66 400 59,31 0,0145 8,33 0,234 0,230 65,66 0,0099 10,04 0,161 58,91 0,0096 7,18 0,191 52,00 0,0102 10,44 0,269 54,94 0,0131 13,74 55,72 0,0126 13,66 0,300 0,282 Média 61,55 0,0158 7,54 0,235 62,29 0,0098 9,22 54,96 0,0119 10,20 0,265 56,03 0,0130 13,26 0,304 48,71 46,62 44,85 47,44 50,73 12,80 11,75 12,35 12,30 10,86 0,391 0,322 0,359 0,313 0,239 47,67 0,0123 12,01 0,325 0,188 72 dias 0 100 200 300 400 51,61 51,19 53,32 54,15 54,37 0,0154 0,0157 0,0154 0,0148 0,0143 7,36 6,61 7,02 6,31 6,97 0,270 0,271 0,253 0,270 0,245 56,97 57,04 59,96 57,66 59,57 0,0130 0,0114 0,0102 0,0105 0,0094 8,12 8,61 9,87 8,43 8,43 0,244 0,205 0,195 0,223 0,193 47,43 50,06 47,73 51,87 61,14 0,0116 0,0131 0,0129 0,0127 0,0138 9,71 14,83 11,38 14,03 10,14 0,301 0,368 0,372 0,325 0,334 Média 52,93 0,0151 6,85 0,262 58,24 0,0109 8,69 0,212 51,65 0,0128 12,02 0,340 0,0133 0,0128 0,0133 0,0120 0,0103 Após avaliação da variação conjunta total das variáveis, optou-se pela adoção de três fatores, os quais englobaram 73,81% da variação total (Tab. 4). Deste modo, como pode ser observado na Tabela 4, o primeiro fator correlacionou-se de forma negativa com a DIVMS e com a fibra em detergente potencialmente degradável (FDNpd), enquanto que, para a latência (L) e volume relativo de gás produzido a partir da FDNpd (VRG) a associação foi positiva, portanto, convencionou-se que esse fator refletiria para o “desproveito no padrão de degradação” (Fator 1-DPD); o segundo fator correlacionou-se fortemente de forma negativa com a fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) e positivamente com a taxa de degradação da FDNpd (Kd) indicando que este fator estaria associado à “taxa e extensão de degradação” (Fator 2-TED); quanto ao terceiro fator, pela sua elevada correlação positiva com 62 a lignina (LIG), este foi denominado fator “lignificação” (Fator 3-L), conforme demonstram suas cargas fatoriais (Tab. 4). Tabela 4 - Escores fatoriais para os fatores associados aos teores de proteína bruta (PB), de fibra em detergente neutro (FDN), de fibra em detergente neutro potencialmente digestível (FDNpd), de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) e de lignina (LIG), e a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS - %), a taxa de digestão (Kd – h-1), latência (L - h) e volume relativo de gás produzido a partir da FDNpd (VRG – mL/mg) das gramíneas nos diferentes níveis de adubação (kg N/ha) e idades de corte (dias) Nível Capim-setária Capim-hemarthria Capim-angola Fator 1a Fator 2b Fator 3c Fator 1a Fator 2b Fator 3c 0 100 200 300 400 -0,3047 0,5596 0,0053 1,4797 -0,1601 0,8343 -0,6569 -0,0492 -1,4682 -0,7803 -0,4499 -0,7888 0,5654 1,2066 0,3333 0,8615 1,8366 2,1831 0,2757 1,3908 0,6989 1,3766 -1,9893 -2,5500 -0,5016 -0,1389 0,2657 0,2125 -0,0214 0,9967 Média 0,1030 1,1282 -1,3427 -0,5319 0,5167 1,1713 Fator 1a Capim-acroceres Fator 2b Fator 3c Fator 1a Fator 2b Fator 3c -0,2657 0,1655 0,1150 -0,8670 -0,5468 -0,6836 -0,9087 -1,4288 -1,5881 -0,1534 0,4582 -0,7912 -0,2018 -2,2608 -1,4842 1,2881 1,4168 1,8352 - 0,0457 -0,3019 -0,3279 - 0,8675 0,4984 1,2109 - 1,2159 -0,2253 0,0470 0,0639 -0,6181 -1,5341 1,4390 -0,2023 0,6559 -0,9039 -0,5691 -0,6005 -0,6322 -0,4581 0,2048 -0,1994 -0,4912 0,2579 -0,2856 0,2330 0,3110 1,1211 0,6808 1,2746 0,6097 - 0,6327 - 0,9834 - -0,2474 -0,1402 -0,0370 0,2389 0,0015 0,3641 -0,6328 -0,1027 0,7241 0,1084 0,2438 0,4497 0,4074 0,3438 0,6681 - -0,7590 0,1068 -0,7157 - -0,3262 0,2566 -0,6999 - 0,7295 1,0488 0,9074 -0,3347 -0,3219 0,1674 -0,1039 -0,8226 -0,4855 0,5117 -0,9971 -1,4068 1,1036 0,9917 -0,2458 -0,9974 -0,6237 -0,1061 0,4827 -0,5913 -0,5441 0,9562 -0,3465 -0,4284 28 dias 42 dias 0 100 200 300 400 Média -0,9063 -0,6805 -0,4516 -0,4145 -0,8212 1,1812 0,4633 2,1152 1,0767 1,7773 1,3785 2,3455 -0,2269 1,2452 -0,0234 -0,6548 1,7329 0,5336 -1,9622 0,5310 -2,1736 -0,1905 - 1,3967 0,5768 - -1,7512 -0,2419 -2,0553 0,2496 0,8340 0,1584 -1,9856 0,7415 0,0870 56 dias 0 100 200 300 400 -0,9137 1,1492 -0,5875 0,9896 -0,2814 1,2773 -0,6820 -1,2365 -0,5427 -0,7930 -1,6653 -1,0629 -2,1235 -1,1705 -2,0218 0,1165 0,0172 -0,3009 -0,2450 1,6236 -0,1728 0,9192 -1,5085 -1,5093 -1,7384 -1,6585 -1,3465 -1,6090 -0,2843 -0,1140 Média -0,4401 1,1918 -1,0958 -1,2222 -1,8156 -0,1131 70 dias 0 100 200 300 400 Média 0,0007 0,0659 -0,0663 0,2445 -0,1174 0,7254 0,9706 0,9032 0,8074 0,5895 0,4943 -0,2181 -0,5846 -0,9609 -1,0896 -0,6759 -0,6181 -0,7057 -0,4837 -0,7542 -0,7155 -1,3754 -1,6708 -1,3401 -1,6629 0,8972 0,5335 0,0607 0,5378 -0,0052 0,6420 2,0721 2,0578 1,9938 1,5624 -0,6345 -0,1913 0,2335 -0,3336 0,4689 -0,2045 0,5419 1,2507 1,6500 1,6144 1,7082 1,1354 1,8120 1,2906 0,5595 -0,2374 -0,4267 0,1060 -0,9889 -1,5674 0,5970 0,5038 0,9716 0,0992 -1,0262 0,0255 0,7992 -0,4718 -0,6475 -1,3529 0,4048 1,6656 -0,0914 0,9705 1,3012 -0,6229 0,2291 Cargas Fatoriais Fator 1 a Fator 2 b Fator 3 c Comunalidade DIVMS LIG FDNi FDNpd PB Kd L VRG Variância explicada por cada fator -0,7596 -0,0421 0,2314 -0,7757 0,5643 -0,0086 0,7586 0,9109 2,9578 0,1262 -0,0097 -0,8259 0,1630 0,1004 0,9067 -0,3757 0,0762 1,7038 0,0146 0,8558 0,3481 0,3541 -0,4767 0,1870 0,0280 0,0272 1,2430 0,5932 0,7343 0,8570 0,7536 0,5558 0,8572 0,7174 0,8364 a Desproveito no Padrão de Degradação (DIVMS, FDNpd, L, VRG) Taxa e Extensão de Degradação (FDNi, Kd) c Lignificação (LIG) b 63 Os escores médios relacionados às quatro gramíneas, aos diferentes níveis de adubação (kg N/ha) e idades de corte (dias) encontram-se na Tab. 5. Ao analisar o comportamento dos escores fatoriais dentro dos fatores na avaliação das diferentes gramíneas em estudo, observou-se que o maior escore para o Fator 1-DPD foi verificado para o capim-acroceres indicando pior qualidade de fermentação, uma vez que as DIVMS foram menores, com maiores VRG (Tab. 3). Esta última característica indica maior produção de gases por unidade de massa de FDNpd em função da qualidade inferior da referida gramínea, apresentando maior perda de carbono na forma de metano e gás carbônico, o qual deixa de ser utilizado na síntese microbiana e na produção de energia. Além disso, menor digestibilidade aumenta o tempo de ruminação e tempo de permanência do alimento no rúmen o que, conseqüentemente, devido ao efeito de repleção ruminal, podendo acarretar redução na ingestão de alimento. Por outro lado, o capim-hemartria ao apresentar menor escore fatorial para o Fator 1-DPD (Tab. 5), demonstrou maior eficiência no padrão de degradação, uma vez que apresentou maiores DIVMS e menores VRG (Tab. 3), acarretando desta forma, em menores perdas de carbono em função da menor produção de gases por unidade de massa de FDNpd. Avaliando-se o Fator 2-TED, verificou-se para o capim-setária melhor comportamento, uma vez que foram observados menores teores de FDNi e LIG (Tab.1) e maiores Kd (Tab.3), o que conseqüentemente, favorece maior taxa e maior extensão de degradação no ambiente ruminal. Enquanto isso, as demais gramíneas apresentaram escores fatoriais inferiores para o Fator 2-TED (Tab.5). Quanto ao fator referente à lignificação maior escore foi verificado para o capimhemarthria, enquanto que, menor escore foi observado para o capim-setária (Tab. 5). Em contra partida, pode-se considerar que este último ao apresentar menores teores de lignina (Tab. 1), por outro lado, apresentou melhor TED que corresponde ao Fator 2, enquanto que, o capim-hemarthria apresentou maiores teores de lignina (Tab. 1) e pior escore para o Fator 2TED, o que pode indicar que a lignina é uma barreira na degradação ruminal, influenciando diretamente na taxa de passagem da forragem pelo rúmen. Em adição, segundo Van Soest (1994) o principal mecanismo de inibição da lignina seria como uma barreira mecânica aos microrganismos ruminais. Com relação aos escores fatoriais médios relacionados aos níveis de adubação, verificou-se para o Fator 1-DPD, melhor escore fatorial em doses de 200 kg de N/ha e pior quando se utilizou dose zero de adubação nitrogenada (Tab.5). Enquanto que, para o fator 2TED, que reflete na extensão e taxa de degradação, pior escore foi verificado em doses 64 maiores de adubação (400 kg de N/ha) como pode ser observado na Tab. 5. Quanto ao Fator 3-L verifica-se uma diminuição dos escores fatoriais (Tab. 5) à medida que as doses de N aumentaram. Este último comportamento se associa com o processo de formação da lignina que deve ser acelerado quando se tem disponibilidade menor de nitrogênio. Tabela 5 - Escores fatoriais médios relacionados às diferentes gramíneas, aos diferentes níveis de adubação (kg N/ha) e idades de corte (dias) Fator a b 1 2 Gramínea Capim-setária -0,2416 1,2130 Capim-hemarthria -1,0500 -0,6795 Capim-angola 0,3902 -0,3382 Capim-acroceres 1,0216 -0,2897 Adubação (kg/há) 0 -0,1325 0,0238 100 0,0075 0,0794 200 0,2265 -0,0199 300 -0,0899 0,0679 400 -0,0401 -0,2415 Idade de Corte (dias) 28 0,2332 0,2884 42 -0,8268 0,5430 56 -0,0842 -0,3798 72 0,5862 -0,3170 a Desproveito no Padrão de Degradação (DIVMS, FDNpd, L, VRG) b Taxa e Extensão de Degradação (FDNi, Kd) c Lignificação (LIG) 3c -0,5942 0,5411 -0,0723 0,1751 0,2518 0,1598 0,1790 -0,2909 -0,1540 -0,2775 0,6237 -0,5454 0,2831 Ao se relacionar às idades de corte, verificou-se maior escore fatorial (Fator 1-DPD) aos 72 dias (Tab. 5), indicando pior qualidade de fermentação para esta idade, o que pode ser comprovado pela menor DIVMS (Tab.4). Em adição, para o Fator 2-TED, observou-se aos 42 dias de idade de corte, menores teores de FDNi (Tab. 4) verificando-se um acréscimo a estes teores, para as idades acima de 56 dias. Os resultados obtidos anteriormente reforçam relatos de Vieira et al. (1997), os quais concluíram que o aumento do estádio de maturidade da forrageira aumenta linearmente a repleção ruminal, principalmente devido ao aumento da fração indigestível da FDN. O Fator 3-L referente à lignificação demonstrou elevados escores aos 42 e 72 dias e menores aos 28 e 56 dias (Tab. 5) apresentando, dessa forma, certa irregularidade em seu comportamento, não seguindo um padrão definido, com o desenvolvimento das gramíneas avaliadas. Segundo Akin (1989) a composição da lignina, sua estrutura e quantidade variam 65 de acordo com o tecido, a origem botânica, os órgãos, a idade da planta e os fatores ambientais. Dessa for ma, ressalta-se ainda que o comportamento observado no Fator-L pode estar associado com relatos de Van Soest (2004), o qual destacou os efeitos ambientais como preponderantes no maior ou menor acúmulo dos compostos fenólicos na planta. A síntese dos compostos fenólicos precursores na formação da lignina encontra-se associada à rota do ácido chiquímico (Taiz e Zeiger, 2004). Com isso, a classe mais abundante de compostos fenólicos em plantas é derivada da fenilalanina através da eliminação de uma molécula de amônia na formação do ácido cinâmico (composto precursor dos fenilpropanóides constituintes da lignina). Esta última reação é acelerada por fatores ambientais, como luz e temperatura, formando maiores quantidades de precursores intermediários na síntese da lignina. Com isso, a formação da lignina, assim como sua associação aos constituintes da parede celular, talvez tenha maior influência a mudanças ambientais do que com o desenvolvimento da forragem. As correlações parciais entre a DIVMS e os teores de LIG, de FDNpd, de PB, e Kd, L e VRG são apresentadas na Tab. 6. Tabela 6 - Correlações parciais entre digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS), os teores de lignina (LIG), fibra em detergente neutro potencialmente digerível (FDNpd), proteína bruta (PB), e as taxas de digestão (Kd), a latência (L) e volume de gás da fibra potencialmente digerível (VRG) Variável DIVMS LIG FDNi FDNpd PB Kd L Variável FDNpd PB 0,5294 -0,4130 LIG 0,0893 FDNi -0,3240 0,4464 0,0046 <0,0001 - 0,1746 0,2811 0,1341 - - - Kd 0,1141 L -0,4168 VRG -0,5792 0,0002 0,3297 0,0002 <0,0001 -0,1493 0,0031 -0,0538 -0,1151 0,0146 0,2012 0,9786 0,6467 0,3256 -0,2018 -0,1962 -0,5618 0,4415 0,1596 0,0824 0,0916 <0,0001 <0,0001 0,1713 - -0,5156 0,1979 -0,5649 -0,6544 <0,0001 0,0888 <0,0001 <0,0001 - -0,1386 0,3394 0,3682 0,2356 0,0029 0,0012 - -0,3156 0,0641 0,0058 0,5848 - - - - - - 0,6987 <0,0001 Observou-se correlação significativa (P<0,01) para a DIVMS com o teor de FDNi (0,3240), com a latência (-0,4168) e com o VRG (-0,5792), todas negativas (Tab. 6), corroborando no entendimento de realmente haver um aumento da eficiência da degradação 66 ruminal. Em adição, o teor de FDNpd apresentou correlação significativa (P<0,01) com o VRG (-0,6544), onde se pode deduzir que o decréscimo no volume de gás, propicia melhor característica de fermentação e utilização dos carbonos para produção de energia e, conseqüentemente menores perdas destes na forma de gases. Por outro lado, o teor de FDNpd também apresentou correlação significativa com a DIVMS (P<0,01), porém positiva (0,5294), indicando que à medida que a DIVMS aumenta, é aumentada também a FDNpd, o que pode ser observado para o capim-hemarthria aos 42 dias de idade de corte, o qual se destacou neste experimento quando comparado às demais gramíneas, por apresentar maior DIVMS (69,39%) e maior teor de FDNpd (57,89%) e, menor VRG (0,186 mL/mg) (Tab. 1) conferindo dessa forma, boas características de degradação e digestibilidade para esta gramínea aos 42 dias de idade de corte. CONCLUSÃO Em adição, o capim-hemarthria neste estudo se destacou aos 42 dias de idade de corte por apresentar melhores características de cinética de degradação e maior digestibilidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKIN, D.E. Histological and physical factors affecting digestibility of forages. J. Agron., v.81, p.17-25, 1989. CLIPES, R.C., DETMANN E., COELHO DA SILVA, J.F. et al. Evaluation of acid detergent insoluble protein as estimator of rúmen non-degradable protein in tropical grass forages. Arquivo Brasileliro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.58, p.694-697, 2006. DETMANN, E., PAULINO, M.F., ZERVOUDAKIS, J.T. et al. Cromo e indicadores internos na determinação do consumo de novilhos mestiços, suplementados, a pasto. R. Bras. Zootec., v.30, n.5, p.1600-1609, 2001. JOHNSON, R.A.; WICHERN, D.W. Applied multivariate statistical analysis. 4th ed. New Jersey: Prentice-Hall. 1998. 816p. 67 MALAFAIA, P.A.M., VALADARES FILHO, S.C., VIEIRA, R.A.M. et al. 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A fração protéica indegradável no rúmen não é corretamente predita a partir dos compostos nitrogenados insolúveis em detergente ácido. Para que os procedimentos corretos de predição sejam realizados sugere-se a adoção de métodos biológicos em detrimento à utilização simples de componentes quimicamente avaliados, ou mesmo, a utilização de propostas de equações de conversão a partir de estudos com PIIDN para os alimentos nas condições de Brasil, com intuito de converter os teores de PIDA, uma vez que, nem sempre é possível a obtenção de PIIDN. A degradação ruminal dos componentes fibrosos e a digestibilidade são imprescindíveis no estabelecimento de forrageiras tropicais e seu consumo na alimentação de animais ruminantes. Dessa forma, modelos matemáticos que simulam a dinâmica dos nutrientes no trato gastrintestinal dos ruminantes, utilizando dados de cinética de digestão e absorção de nutrientes, necessitam de informações que associam parâmetros que limitam a degradação e digestibilidade, buscando estabelecer sistemas nutricionais e forrageiras mais adequados. No presente trabalho, o capim-hemarthria se destacou aos 42 dias de idade de corte por apresentar melhores características de cinética de degradação e maior digestibilidade. 69