Economia Brasileira O Desafio da Estabilidade e do Crescimento Sustentado 1 O PLANO REAL O Real, lançado oficialmente em 1994 foi o plano que obteve o melhor resultado nas últimas duas décadas.Foi uma combinação de política de renda, fiscal, monetária e cambial adequadas que conseguiu estabilizar os preços e criar condições para um desenvolvimento econômico sustentado. A estabilização de preços foi percebida pelos brasileiros como o objetivo de política econômica mais importante nas últimas décadas. O fim da inflação foi visto como um pré-requisito para a retomada do desenvolvimento. Muitas tentativas de estabilização ocorreram antes de 1994, mas nenhuma foi tão bem-sucedida como o Plano Real 2 O Plano Real Possui Três Objetivos: • A inflação em trajetória declinante • O crescimento sustentado a longo prazo do PIB, dos investimentos, emprego e produtividade. • A redução dos desequilíbrios sociais de maneira importante. 3 A NECESSIDADE DE ESTABILIZAÇÃO A inflação provoca fortes distorções na atividade econômica, as quais emperram o crescimento da economia. O distúrbio mais importante é que os preços variam de forma imprevisível, dificultando qualquer planejamento. Além disso, também impacta na distribuição de renda, deixando os pobres cada vez mais pobres, devido à queda do poder aquisitivo da moeda. Brasil: Inflação anual acumulada ANO 1990 1991 1992 1993 1994 1994 1996 1997 Inflaçã o% 2737 416 969 1996 2240 77 17 8 4 Lançado em primeiro de julho de 1994, o Plano Real foi o mais bem sucedido no controle da inflação. Inflação Mensal (%) 100,00 C Collor 1 80,00 60,00 Real Verão 40,00 20,00 Bresser Color 2 Cruzado 0,00 -20,00 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 IGP-DI mensal de Jan/85 à Abril/97 5 AS FASES DO PLANO Três economistas são considerados os arquitetos mais importantes do plano: André Lara Resende, Edmar Bacha e Pérsio Arida. Os três conceberam o Plano Real em três fases: a fase anterior à URV; a fase URV; e a fase do real. 6 A FASE ANTERIOR À URV A fase anterior à URV iniciou-se em maio de 1993. Essa primeira fase tinha o objetivo de criar condições institucionais para uma política fiscal e monetária mais efetiva, visando restabelecer a confiança do mercado no Banco Central brasileiro e no comprometimento do Brasil com sua economia. Foram duas mudanças importantes: -A primeira medida ficou conhecida como Abertura da Caixa Preta, e constituiu em dar uma maior transparência às contas do Banco Central, transferindo à dívida externa acumulada ao Tesouro Nacional. - A segunda medida foi a aprovação do Fundo Social de Emergência, que desvinculava parte das receitas da União e possibilitava a geração de um superávit fiscal primário, aumentando o caixa do governo para intervenções no mercado. 7 A FASE DA URV A fase da URV – Unidade Referencial de Valor durou quatro meses. Iniciou-se em 1º de março de 1994 e terminou em 30 de junho do mesmo ano. Nessa fase, todos os preços em cruzeiros reais foram atrelados à URV, que variava diariamente.O objetivo era fazer com que quase todos os preços variassem sincronizadamente. Após quatro meses, quase todos os preços e contratos estavam atrelados à URV. A terceira fase iniciou-se com a transformação de todos os valores em cruzeiros reais em reais. Como quase todos os preços estavam atrelados à URV, a mudança para o real no mesmo instante para todos os agentes implicou que os preços relativos permanecessem os mesmos e, dessa forma, não houvesse uma pressão inflacionária na nova moeda, o real. Restabelecendo assim, a confiança do mercado e da população em geral. 8 A FASE DO REAL A fase do Real iniciou-se em 1º de julho de 1994. A partir desse momento, o real tornou-se a moeda nacional. O Brasil teve, nos anos seguintes, índices de inflação muito baixos, consistentes com um crescimento econômico expressivo. O país finalmente voltou a crescer. A fase do Real foi marcada por muitos fatos: uma euforia de consumo logo no início, uma crise de inadimplência em 1995 e alguns choques externos ao longo do tempo. Os choques foram importantes na medida em que reforçaram a credibilidade do plano em momentos de crise. Choques externos até 1998: Crise Mexicana (1994); Crise asiática (1997); Crise Russa (1998). 9 A COMBINAÇÃO DE POLÍTICAS ECONÔMICAS (POLICY MIX – Inicial do Plano Real) Política fiscal Política Cambial Política Monetária Política de rendas Apertada com um controle efetivo dos gastos (superávit fiscal) Câmbio flexível Juros reais altos para conter o consumo excessivo. Criação da URV para reestabelecer o poder de compra e a confiança. 10 RESULTADOS O Plano Real apresenta resultados ambíguos. Por um lado, foi um grande sucesso em estabilizar preços e desindexar a economia (conter a inflação inercial). O consumo interno aumentou e houve uma transferência de renda para as camadas mais pobres. Por outro lado, o desempenho fiscal e externo foi fraco e o país cresceu pouco, comparado à outros países após a estabilização econômica, como a Argentina, que cresceu 32%, enquanto o Brasil cresceu apenas16%. Além disso, o país tornou-se mais dependente do resto do mundo e mais vulnerável aos fluxos de investimentos externos. Em todo caso, o Plano Real já promoveu uma transformação estrutural irreversível na economia brasileira. Os horizontes de investimento se ampliaram, houve ganho de eficiência em todos os setores e a economia se abriu mais para o resto do mundo, dando ao Brasil todas as condições para retomar um desenvolvimento sustentado e acabar de uma vez por todas com a memória inflacionária do brasileiro. 11 Programa de Privatizações: Resultados Setoriais (US$ milhões) Setor Receitas Dívidas Transferidas Total Sider/mineração 8695 6726 15421 Petroquímico 2698 1003 3701 Fertilisantes 418 75 493 Energia 2716 588 3304 Ferroviário Outros 1250 746 268 1250 1014 Total 16523 8660 25183 Fonte: BNDES 12 Os investimentos estrangeiros diretos aumentaram rapidamente nos últimos anos, atingindo níveis sem precedente. Os mesmos financiaram cerca de 40% do déficit em conta corrente em 1996. Investimentos Estrangeiros Diretos Fluxos Acumulados em 12 meses (US$ bilhões) 14 12,1 12 9,4 10 8 6 3,9 4 2,2 2 0,7 1,3 0,9 0 1991 Fonte: Banco Central 1992 1993 1994 1995 1996 A br/97 13 Com o Plano Real, as condições de vida da população em geral melhorou. Percentual de Residências com: Água Potável Saneamento Básico Coleta de Lixo Energia Elétrica Telefone Fogão a Gás Geladeira Congelador Lava-Roupa Rádio Televisão Fonte: IBGE 1993 75,0 58,7 69,9 90,0 19,8 95,5 71,7 12,9 24,3 85,1 75,8 1995 76,2 59,9 72,0 91,7 22,3 96,4 74,8 15,4 26,6 88,8 81,0 14 Com a forte queda da inflação e a retomada do crescimento econômico, a renda média real das pessoas ocupadas aumentou cerca de 30% desde 1993. Rendimento Médio Real das Pessoas Ocupadas Dessazonalizado Dez/93 = 100 130,00 120,00 110,00 100,00 90,00 Jan Nov Set Jul Mai Mar Jan/96 Nov Set Jul Mai Mar Jan/95 Dez/93 80,00 Fo nte: B acen/IB GE 15