FICÇÃO CONTEMPORÂNEA I (1945 – 1970) FICÇÃO CONTEMPORÂNEA I A FICÇÃO DE TEMÁTICA RURAL ARIANO SUASSUNA (1927) ARIANO SUASSUNA (1927) Principais obras: Romance: Romance d`a pedra do reino (1971) – Teatro: Auto da Compadecida (1959); A farsa da boa preguiça (1960); O santo e a porca (1964). A pedra do reino Monumento literário que se vincula à cultura sertaneja nordestina, muito marcada pelas tradições do mundo ibérico (Portugal e Espanha), trazidas pelos primeiros colonizadores europeus e transformadas ao longo dos séculos. Apresenta, em linhas gerais, o memorial – em 1ª pessoa – de D. Dinis Ferreira Quaderna que, preso em Taperoá, ... A pedra do reino ... faz sua própria defesa perante o corregedor e, para tanto, conta a história de sua família, bem como as desavenças, lutas e controvérsias políticas, literárias e filosóficas em que se vira envolvido. Na obra de Ariano podem ser percebidas “duas distintas tradições a informarem a concepção de mundo do herói: a tradição mítico-sertaneja e a tradição erudita”. João Ubaldo Ribeiro (1941) João Ubaldo Ribeiro (1941) Principais obras: Sargento Getúlio (1971); Vila Real (1979); Viva o povo brasileiro (1984); O sorriso do lagarto (1989); A casa dos Budas ditosos (1999). Sargento Getúlio É uma narrativa de estrutura complexa construída como um longo monólogo (interrompido por alguns diálogos) de um sargento da Polícia Militar de Sergipe, Getúlio Santos Bezerra. Sua linguagem é a “variante caboclo-sertaneja”, da qual já se valera Guimarães Rosa, mas acrescida de inúmeros vocábulos da norma culta do idioma, não raro modificados pelo protagonista-narrador. Sargento Getúlio Getúlio é jagunço (“cabo eleitoral”) de um importante chefe político de Aracaju, Acrísio Antunes, para quem já fizera “vinte trabalhos” (mortes). Quando cogita se aposentar, recebe sua última incumbência: prender um adversário político de Acrísio, no interior de Sergipe, e levá-lo para Aracaju. Getúlio narra então – não se sabe exatamente a quem – as peripécias da viagem, sua vida e até sua morte (através de longos fluxos de consciência). Outros Autores José Cândido de Carvalho (1914-1989) = principal obra: O coronel e o lobisomen (1964) Mário Palmério (1916-1996) = principal obra: Chapadão do Bugre (1965). Benito Barreto (1929) = principal obra = Os Guaianãs (1962-1970). FICCÇÃO CONTEMPORÂNEA I A FICÇÃO DE TEMÁTICA URBANA FERNANDO SABINO (1923) FERNANDO SABINO (1923) Principais obras: Novelas e romances: A vida real (1952); O encontro marcado (1956); O grande mentecapto (1979); O menino no espelho (1982); Martini seco (2000) Crônicas: A cidade vazia (1950); O homem nu (1960); A mulher do vizinho (1962); Companheira de viagem (1965); A inglesa deslumbrada (1967). FERNANDO SABINO (1923) Consagrado como um cronistas de ótima qualidade (O homem nu), também revelouse como um ótimo romancista (O encontro marcado). O encontro marcado = romance de formação = desenvolvimento espiritual + desabrochar sentimental + aprendizagem humana = o conhecimento de si mesmo = dilaceramentos íntimos = “a náusea de Sartre”. Lygia Fagundes Telles (1923) Lygia Fagundes Telles (1923) Principais obras: Contos: História do desencontro (1968); Antes do baile verde (1970); Seminário dos ratos (1977); Venha ver o pôr do sol (1987); Invenção e memória (2000). Romances: Ciranda de pedra (1954); Verão no aquário (1963); As meninas (1973); As horas nuas (1989). Lygia Fagundes Telles (1923) Herdeira de Clarice Lispector, como adepta da ficção introspectiva, Lygia revela, em sua obra, o gosto pela análise psicológica e pela criação de personagens femininas, normalmente apresentadas em narrativas em primeira pessoa. Com originalidade a autora realiza uma síntese entre uma arguta visão da interioridade feminina e a convincente construção de um mundo objetivo. Lygia Fagundes Telles (1923) Exímia contista, Lygia trabalha tanto com o conto de atmosfera quanto com o conto anedótico, de desfecho inesperado. Sua matéria-prima são crianças em situação de angústia existencial, pais e filhos em conflito e uma infinita galeria de mulheres de todas as idades vivendo situações de tensão amorosa, solidão e sofrimento. Geralmente, a escritora focaliza um momento particular da vida... Lygia Fagundes Telles (1923) ... desses personagens, quando uma dramática percepção da realidade ou densas revelações subjetivas se impõe bruscamente à consciência, arrastando-os à dor e à lucidez. As meninas é o seu melhor romance = refinada análise psicológica + desintegração do romance tradicional realista + painel de época (Ditadura de 60) + monólogos interiores = “jogo de espelhos que retoma e repete a realidade vivida”. Carlos Heitor Cony (1926) Carlos Heitor Cony (1926) Principais obras: Romances: O ventre (1958); A verdade de cada dia (1959); Informação ao crucificado (1961); Matéria de memória (1962); Antes, o verão (1964); Balé branco (1965); Pessach: a travessia (1967); Pilatos (1973); Quase memória (1995); A casa do poeta trágico (1997). Contos e crônicas: O ato e o fato (1964); Sobre todas as coisas (1968). Carlos Heitor Cony (1926) A ficção de Cony, pelo menos em seus primeiros títulos, filia-se à tradição narrativa carioca, expressa, entre outros, pelos romances de Manuel Antônio de Almeida, Lima Barreto e Marques Rebelo. De fato, o gosto pelo registro dos costumes do Rio de Janeiro, o realismo de superfície e a prosa simples e coloquial, que caracterizam seus primeiros relatos (1950), parecem confirmar essa ascendência ilustre. Carlos Heitor Cony (1926) No entanto, há também nesses romances algo que transcende à mera fixação de costumes. É visível neles uma tendência à problematização da existência e ao aprofundamento psicológico. Portanto, mais do que expressão de um neo-realismo tardio, essas obras apresentam personagens em situações de angústia, solidão e tédio, criando uma atmosfera que lembra alguns romances de Sartre e Camus. Dalton Trevisan (1925) Dalton Trevisan (1925) Principais obras: Contos: Novelas nada exemplares (1959); Cemitério de elefantes (1964); O vampiro de Curitiba (1965); Desastres do amor (1968); A guerra conjugal (1969); O rei da terra (1972); A faca no coração (1975); Crimes de paixão (1978); Virgem louca, loucos beijos (1979); Essas malditas mulheres (1982). Romance: A polaquinha (1985). Dalton Trevisan (1925) Dalton Trevisan é um grande mestre do conto. Por seu humor sutil e corrosivo, pelo despojamento da linguagem e pela visão desencantada sobre a natureza humana, ele vem sendo comparado a Machado de Assis. Outros lembram a semelhança com Gabriel García Márquez porque, assim como o escritor colombiano transformou a inexpressiva Macondo em uma cidade mágica, também... Dalton Trevisan (1925) ... Dalton fixou artisticamente a então desinteressante Curitiba, dando-lhe tal sopro de vida e imaginação que ela acabou entrando para o mapa literário mundial. Os contos de Dalton giram em torno de um assunto quase único: os conflitos de amor. O próprio autor definiu seus relatos como uma “Ilíada conjugal” = Guerra entre homens e mulheres = crueldade e mansidão de ambos os sexos. MURILO RUBIÃO (1916-1991) MURILO RUBIÃO (1916-1991) Principais obras: O ex-mágico (1947); O pirotécnico Zacarias (1974); O convidado (1974). MURILO RUBIÃO (1916-1991) Quando Murilo estreou com O ex-mágico, um crítico apontou a semelhança dos contos que compunham o livro com certas obras de Franz Kafka, especialmente A metamorfose. Embora o autor mineiro não conhecesse, na ocasião, o escritor tcheco, há de fato em suas obras alguns traços comuns que permitiriam incluí-los em uma mesma família estética, a da literatura fantástica. MURILO RUBIÃO (1916-1991) Literatura fantástica (ou realismo fantástico) é a obra de ficção em que ocorrem fatos inconcebíveis, inexplicáveis ou sobrenaturais que produzem uma grande sensação de estranhamento no leitor. Normalmente, essa atmosfera de irrealidade tem uma dimensão alegórica, isto é, faz alusão, por meio do absurdo e do inverossímil, à realidade concreta da existência, cabendo ao leitor escolher um sentido realista para os eventos absurdos ou inexplicáveis. MURILO RUBIÃO (1916-1991) Todos os contos de Murilo contêm essa perspectiva, que invalida a lógica e a racionalidade. Todavia, o absurdo das situações é apenas um artifício do autor para questionar a realidade. Alguns de seus contos mais conhecidos apresentam – sob a forma de fantasias surrealistas – uma visão desencantada do homem. O absurdo de suas histórias é apenas uma metáfora do absurdo da condição humana. JOSÉ J. VEIGA (1915-1999) JOSÉ J. VEIGA (1915-1999) Principais obras: Contos: Os cavalinhos do Platiplanto (1959); A máquina extraviada (1968); A casca da serpente (1989). Novelas: A hora dos ruminantes (1966); Sombra de reis barbudos (1972); Os pecados da tribo (1976). JOSÉ J. VEIGA (1915-1999) A obra de José J. Veiga – desde sua estréia com Os cavalinhos do Platiplanto – incorporou à ficção brasileira um mundo relativamente estranho e espacialmente descontextualizado. A ação da maioria de suas novelas, e mesmo de alguns contos, se passa em pequenas cidades do interior, pequenos vilarejos caracterizados pelo marasmo e nos quais reina a tranqüilidade, até que, subtamente, forasteiros se instalam nas imediações e uma série de acontecimentos extraordinários... JOSÉ J. VEIGA (1915-1999) ... passa a ocorrer, destruindo a paz e a harmonia. Assim, as principais obras do autor se enquadram nos parâmetros da chamada literatura fantástica, cujo iniciador no Brasil foi Murilo Rubião. Durante o último período autoritário (1964-1984), houve uma tendência que considerou a obra do autor como uma crítica velada ao arbítrio e ao poder implacável do regime ditatorial. JOSÉ J. VEIGA (1915-1999) Dessa forma, o desfecho semelhante de suas novelas (a volta dos lugarejos à normalidade) traduzia a expectativa dos setores democráticos do país em relação ao colapso da ditadura. Assim, o próprio autor afirmou que a opressão vivida pelos moradores daquelas pequenas cidades tinha um sentido universal, simbolizando as inúmeras formas de opressão que degradam a existência dos indivíduos no mundo contemporâneo. ANTONIO CALLADO (1917-1997) ANTONIO CALLADO (1917-1997) Principais obras: Assunção de Salviano (1954); A Madona de cedro (1957); Quarup (1967); Bar Don Juan (1971); Reflexos do baile (1976); Sempreviva (1981); A expedição de Montaigne (1982). ANTONIO CALLADO (1917-1997) Atuando sempre como jornalista e ficcionista, Callado procurou sempre, em suas obras mais importantes, aproveitar o material de sua vasta experiência como repórter. No clima da época (polarização política, enfrentamento entre setores da sociedade civil e o regime autoritário) a publicação de Quarup (1967) garantiu à obra do autor extraordinária ressonância. OUTROS AUTORES Lúcio Cardoso (1913-1968) = principal obra = Crônica da casa assassinada (1959). Hermilo Borba Filho (1917-1976). Adonias Filho (1915-1990). Bernardo Élis (1915-1997). Campos de Carvalho (1910-1998). Autran Dourado (1926). FICCÇÃO CONTEMPORÂNEA II (1970 aos dias atuais) RUBEM FONSECA (1925) RUBEM FONSECA (1925) Principais obras: Contos: Os prisioneiros (1963); A coleira do cão (1965); Lúcia McCartney (1970); Feliz ano novo (1975); O cobrador (1980); Buraco na parede (1993); A confraria dos espadas (1998); Secreções, excreções e desatinos (2001); Pequenas criaturas (2002). Romances: O caso Morel (1973); A grande arte (1983); Buffo e Spalanzanni (1985); Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (1988); Agosto (1990); Diário de um fescenino (2003). Novela: Do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto (1997). RUBEM FONSECA (1925) Desde sua estréia, produziu narrativas despojadas, ásperas, na linha da ficção norteamericana contemporânea, representada especialmente por Hemingway, Raymond Chandler e Dashiel Hammet. Como nenhum outro ficcionista brasileiro das últimas décadas do séc. XX, Rubem consegue registrar a vida urbana moderna naquilo que ela tem de inesperado, pungente (doloroso) e assustador. RUBEM FONSECA (1925) Rubem é capaz de escrever, com a mesma verossimilhança, sobre halterofilistas e executivos, marginais e financistas, delegados de polícia e assassinos profissionais, garotas de programa e pobres-diabos que vagam sem destino pelas ruas do Rio de Janeiro. Tem, pois, como matéria-prima os dois extremos da nação: os que vivem à margem e os que constituem o núcleo privilegiado do sistema. RUBEM FONSECA (1925) Várias de suas histórias (em especial, os romances) possuem a estrutura de uma narrativa policial. Há um crime ou um mistério a ser desvendado. Por isso, muitos dos personagens principais em sua obra são delegados, inspetores, detetives particulares ou, ainda, advogados criminalistas. Para o autor, mais do que deslindar o ato criminoso, interessa registrar o cotidiano terrível das grandes cidades e pôr a nu os dramas humanos desencadeados pelas ações que rompem a lei e a ordem. MOACYR SCLIAR (1937) MOACYR SCLIAR (1937) Principais obras: Contos: O carnaval dos animais (1968); A balada do falso Messias (1976); O anão no televisor (1979); O olho enigmático (1986); A orelha de Van Gogh (1988); Novelas e romances: A guerra no Bom Fim (1972); O exército de um homem só (1973); Os deuses de Raquel (1975); Os voluntários (1979); O centauro no jardim (1980); Max e os felinos (1981); A estranha nação de Rafael Mendes (1983); Sonhos tropicais (1992); A Majestade do Xingu (1997); A mulher que escreveu a Bíblia (1999). MOACYR SCLIAR (1937) Os contos, novelas e romances de Scliar articulam-se em torno de alguns elementos comuns: Forte presença de temas da chamada “literatura fantástica”, em que os acontecimentos, improváveis do ponto de vista da racionalidade, apresentam sempre uma dimensão alegórica, na trilha de A metamorfose de Kafka. MOACYR SCLIAR (1937) Em alguns relatos, as situações surreais podem ser atribuídas a sonhos (ou pesadelos) dos protagonistas. Mesmo em suas obras de feição realista, Scliar surpreende no cotidiano o enigmático e o insólito. Contribui para isso seu estilo seco, despojado e, muitas vezes, elíptico (oculto). A exemplo de Kafka, os referenciais concretos que delimitam os personagens... MOACYR SCLIAR (1937) ... (vida familiar, grupo social, espaço físico, tempo histórico) são freqüentemente omitidos, ou apenas sugeridos. Daí nasce a sensação de estranhamento que seus contos e suas narrativas mais longas causam no leitor. Preponderância de personagens judeus, integrantes de um processo migratório que teve seu apogeu nas primeiras décadas do século XX. MOACYR SCLIAR (1937) Os personagens de Scliar estão sempre em atrito com o meio social. Um crítico observou que, além de judeus, há nos relatos do autor a predominância de loucos, doentes, profetas, profissionais cujas ocupações estão em desuso, etc., isto é, seres desajustados em relação aos valores vigentes na ordem social contemporânea. Outro crítico vê nessas obras a representação não somente dos dilemas da comunidade judaica, mas também dos de... MOACYR SCLIAR (1937) ... toda a classe média do país, a qual viveu, na década de 1970, a mesma duplicidade. As oportunidades extraordinárias de ascensão social geradas pelo “milagre econômico” coexistiam com o arbítrio, a censura e a violência. Na quase totalidade de sua obra, Scliar vale-se de um humor que ele mesmo define como melancólico (visão cética da existência). OUTROS AUTORES A) CONTO: Caio Fernando Abreu (1948-1996); Deonísio da Silva (1948); João Antônio (1937-1996); Luiz Vilela (1942); Sergio Faraco (1940); Sergio Sant`Ana (1941). OUTROS AUTORES B) ROMANCE: Antônio Tôrres (1940); Francisco Buarque de Holanda (1944); Ignácio de Loyola Brandão (1936); João Gilberto Noll (1946); Josué Guimarães (1921-1986); Lya Luft (1938); Luiz Antonio de Assis Brasil (1945); OUTROS AUTORES B) ROMANCE: Márcio Souza (1946); Nélida Piñon (1937); Osman Lins (1924-1978); Raduan Nassar (1935). CRÔNICA CONTEMPORÂNEA RUBEM BRAGA (1913-1990) RUBEM BRAGA (1913-1990) Principais obras: Um pé de milho (1948); O homem rouco (1949); A borboleta amarela (1956); A cidade e a roça (1957); Ai de ti, Copacabana! (1960); A traição das elegantes (1967). RUBEM BRAGA (1913-1990) De todos os cronistas brasileiros, Braga foi o que deixou a obra mais singular e, talvez, a mais permanente. Partindo – a exemplo dos demais praticantes do gênero – de fatos triviais do cotidiano, ele conseguiu ultrapassar os limites formais da crônica (compromisso excessivo com acontecimentos quase sempre corriqueiros e linguagem pouco elaborada) e alcançou um patamar artístico apreciável. RUBEM BRAGA (1913-1990) Dois fatores parecem explicar essa superação do caráter circunstancial da crônica: sua forma de encarar a realidade e o seu estilo (elevado+coloquial) Visão lírica e melancólica = captação do inesperado poético que brota de pequenas cenas do cotidiano. Descobre o sentido profundo daquilo que é aparentemente irrelevante, intui o lírico na banalidade e ouve dentro de seu próprio coração as ressonâncias do mundo objetivo. Compreende, assim, que tudo na vida é transitório. Daí a percepção melancólica da existência. Luis Fernando Verissimo (1936) Luis Fernando Verissimo (1936) Principais obras: O popular (1973); As cobras (1975); Ed Mort (1979); O analista de Bagé (1981); O gigolô das palavras (1982); A velhinha de Taubaté (1983); Comédias da vida privada (1996); Comédias para se ler na escola (2001); As mentiras que os homens contam às mulheres (2001). Luis Fernando Verissimo (1936) Espetacular fenômeno editorial contemporâneo, com milhões de exemplares vendidos, a obra de Verissimo é certamente um dos pontos culminantes da crônica brasileira. Uma das razões desse êxito nasce da capacidade do autor em lidar com as possibilidades do gênero: do comentário lírico ao comentário irônico, da criação de atmosfera ao relato anedótico, passando pela sofisticada análise sócio-cultural do país... Luis Fernando Verissimo (1936) ... e do mundo, em todas essas manifestações avulta seu talento mediante uma forma original de expressão. Senhor de uma linguagem ao mesmo tempo coloquial e elegante, enriquecida por tiradas engraçadíssimas e alusões inteligentes a respeito da cultura de massas, Verissimo possui um estilo pessoal de comentar ou narrar a vida. Luis Fernando Verissimo (1936) Um dos recursos primordiais da crônica de Verissimo é a criação de personagens que, com duas ou três características, representam satiricamente aspectos da realidade brasileira: O analista de Bagé: ironia à psicanálise e ao bairrismo sul-rio-grandense. Ed Mort: paródia aos detetives americanos. A velhinha de Taubaté: a credulidade absoluta nas proclamações oficiais. Nelson Rodrigues (1912-1980) Nelson Rodrigues (1912-1980) Principais obras: O óbvio ululante (1969); A cabra vadia (1970); O reacionário (1977). Nelson Rodrigues (1912-1980) Apesar das maiores realizações artísticas de Nelson Rodrigues estarem na dramaturgia, é notória sua importância para a crônica brasileira, tanto por seu estilo personalíssimo, marcado por uma quase inesgotável capacidade de criar frases de efeito, quanto pela veia iconoclasta (destruidora de imagens) com que retratou os costumes urbanos brasileiros entre 1940 e 1970. Nelson Rodrigues (1912-1980) Famosas frases surpreendentes, provocantes e até agressivas de Nelson: “Num adultério, há homens que preferem ser o marido traído, não o amante. Os homens adoram ser traídos.” “Toda mulher gosta de apanhar.” “No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.” “Toda unanimidade é burra.” Nelson Rodrigues (1912-1980) Outra peculiaridade de suas crônicas é a mescla de personagens ficcionais e seres reais que coexistem e dialogam entre si ou com o próprio autor. Personagens criados: Palhares, o canalha; a estagiária de calcanhar sujo; a freira de minissaia; a cabra vadia, etc. Personalidades concretas: Otto Lara Rezende, Carlos Heitor Cony, Alceu Amoroso Lima, etc. Nelson Rodrigues (1912-1980) Didaticamente, podem-se dividir as crônicas do autor em três categorias temáticas: Crônicas esportivas; Crônicas sociais e comportamentais; Crônicas memorialistas. TEATRO CONTEMPORÂNEO TEATRO CONTEMPORÂNEO A partir da encenação de Vestido de noiva (1943), de Nelson Rodrigues, é que se estabelece em nosso país uma dramaturgia moderna. Construindo um universo dramático absolutamente original e irrepetível, coube a ele apontar caminhos de vanguarda para o teatro brasileiro. Com efeito suas peças são uma verdadeira suma de novidades: elas mostram brutalmente a realidade familiar, seja sob a forma naturalista, seja sob a forma... TEATRO CONTEMPORÂNEO ... expressionista, desvendam de forma quase psicanalítica a interioridade mais profunda dos personagens, apresentam os enredos mediante sofisticados jogos temporais e possibilitam encenações de grande ousadia. Há nelas, principalmente, um uso sistemático do português coloquial nos diálogos, que, por isso mesmo, são sempre vivos e ricos. Nelson Rodrigues (1912-1980) Divisão das peças: Peças Psicológicas: A mulher sem pecado (1941); Vestido de noiva (1943); Valsa nº 6 (1951); Viúva porém honesta (1957); AntiNelson Rodrigues (1973). Peças Míticas: Álbum de família (1945); Anjo Negro (1947); Senhora dos afogados (1947); Dorotéia (1949). Nelson Rodrigues (1912-1980) Tragédias cariocas: A falecida (1953); Perdoa-me por me traíres (1957); Os sete gatinhos (1958); Boca de ouro (1959); Beijo no asfalto (1960); Otto Lara Rezende ou Bonitinha mas ordinária (1962); Toda a nudez será castigada (1965); A serpente (1978). Nelson Rodrigues (1912-1980) O traço marcante de todas essas obras é a tentativa de desvelar a interioridade mais recôndita dos personagens. Além da análise psicológica tradicional, Nelson procura, sob influência freudiana (que ele sempre negou), aproximar-se dos abismos do inconsciente e do subconsciente, além de criar uma galeria de personagens arquétipos. Nelson Rodrigues (1912-1980) Jamais houve no teatro brasileiro um mergulho tão profundo na psique humana. O resultado dessa investigação artística é assustador. Destruídos os bloqueios morais impostos pela civilização, o que aparece é um mundo infernal de desejos proibidos, crueldade, amoralismo e “nostalgia da lama”. Os instintos arrastam os personagens – dentro do próprio quadro familiar – ao incesto, à perversão e ao crime, ... Nelson Rodrigues (1912-1980) ... ao mesmo tempo em que o sonho de uma pureza impossível segue atormentando-os. A obsessão pelo sexo na obra de Nelson Rodrigues parece resultar tanto da derrocada dos pilares patriarcais e católicos presentes em sua formação quanto de seu conhecimento de teorias psicanalíticas. É um erro grave, contudo, julgá-lo um autor pornográfico. Nelson Rodrigues (1912-1980) Nelson Rodrigues, na verdade, é um moralista. Sua concepção de mundo mostra os seres como vítimas de paixões selvagens e ruinosas. Os instintos (sobretudo o sexual) são abomináveis. Essa complexa visão do dramaturgo a respeito da natureza humana faz com que suas peças sejam de difícil encenação. Nelson Rodrigues (1912-1980) Elementos marcantes de sua obra: O comportamento obsessivo e paranóico dos personagens; O clima mórbido, que embaralha as noções do normal e do doentio; O diálogo enxuto, direito, com o ritmo e o sabor da fala carioca; A trama folhetinesca, tornada complexa pelos dilemas morais e ambigüidades comportamentais dos personagens. ARIANO SUASSUNA (1927) Peças: Auto da compadecida (1957); O santo e a porca (1964); Farsa da boa preguiça (1973). Auto da compadecida = modelo = Gil Vicente = comédia de substrato religioso = Todos os mortos são submetidos ao julgamento divino. Sob a interferência da Compadecida, João Grilo (o herói picaresco) tem a permissão de voltar para a vida terrena e reencontrar seu amigo Chicó. O AUTO DA COMPADECIDA OUTROS AUTORES Plínio Marcos (1935-1999) = Peças: Dois perdidos numa noite suja (1965), Navalha na carne (1966); O abajur lilás (1975); Quando as máquinas param (1978) = o submundo dos tipos que vivem à margem do sistema. Dias Gomes (1922-1999) = Peças: O pagador de promessas; O berço do herói; Odorico, o Bem Amado (1960) = Igreja+Estado+Políticos = contra os anseios populares. O TROPICALISMO O TROPICALISMO GRUPO INOVADOR: CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL, O GRUPO OS MUTANTES, TOM ZÉ, TORQUATO NETO, CAPINAM E O MAESTRO ROGÉRIO DUPRAT. O TROPICALISMO O TROPICALISMO FOI O ÚLTIMO IMPORTANTE MOVIMENTO CULTURAL OCORRIDO NO BRASIL ATÉ O FINAL DO SÉCULO XX. O TROPICALISMO PONTO DE PARTIDA: III FESTIVAL DE MPB DA TV RECORD, REALIZADO EM 1967, DO QUAL GILBERTO GIL E CAETANO VELOSO PARTICIPARAM, RESPECTIVAMENTE COM AS CANÇÕES “DOMINGO NO PARQUE” E “ALEGRIA, ALEGRIA”. O TROPICALISMO OS TROPICALISTAS PARTIAM DAS INOVAÇÕES MUSICAIS INTRODUZIDAS PELA BOSSA NOVA E IDEOLOGICAMENTE SE INSPIRARAM NAS IDÉIAS DA ANTROPOFAGIA DE OSWALD DE ANDRADE, BUSCANDO UMA MÚSICA QUE “DEGLUTISSE” AO MESMO TEMPO OS BEATLES COM SUAS GUITARRAS ELÉTRICAS, A BOSSA NOVA DE JOÃO GILBERTO, VINÍCIUS DE MORAIS E TOM JOBIM E O REGIONALISMO DE LUÍS GONZAGA. O TROPICALISMO RECUPERANDO CERTAS PROPOSTAS LANÇADAS PELOS MODERNISTAS DE 1922, TAIS COMO A TÉCNICA CINEMATOGRÁFICA, A FRAGNMENTAÇÃO E A ENUNCIAÇÃO CAÓTICA, O MOVIMENTO TROPICALISTA APROXIMAVA-SE EM PARTE DO CONCRETISMO. O TROPICALISMO OBSERVE A CANÇÃO DE CAETANO, CONSIDERADA UMA ESOPÉCIE DE PLATAFORMA DO MOVIMENTO TROPICALISTA: TROPICÁLIA (1968) sobre a cabeça os aviões sob os meus pés os caminhões aponta contra os chapadões meu nariz eu organizo o movimento eu oriento o carnaval eu inauguro o monumento no planalto central do país TROPICÁLIA (1968) viva a bossa sa sa viva a palhoça ça ça ça ça o monumento é de papel crepom e prata os olhos verdes da mulata a cabeleira esconde atrás da verde mata o luar do sertão TROPICÁLIA (1968) o monumento não tem porta a entrada é uma rua antiga estreita e torta e no joelho uma criança sorridente feia e morta estende a mão viva a mata ta ta viva a mulata ta ta ta ta TROPICÁLIA (1968) no pátio interno há uma piscina com água azul de amaralina coqueiro fala e brisa nordestina e faróis na mão direita tem uma roseira autenticando eterna primavera e nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis TROPICÁLIA (1968) viva maria iá iá viva a bahia iá iá iá iá no pulso esquerdo o bang-bang em suas veias corre muito pouco sangue mas se coração balança ao som de um taborim TROPICÁLIA (1968) emite acordes dissonantes pelos cinco mil alto-falantes senhoras e senhores ele põe os olhos grandes sobre mim viva iracema ma ma viva ipanema ma ma ma ma TROPICÁLIA (1968) domingo é o fino da bossa segunda-feira vai à roça porém o monumento é bem moderno não disse nada do modelo do meu terno que tudo mais vá pro inferno meu bem TROPICÁLIA (1968) viva a banda da da carmen miranda da da da da