FICÇÃO CONTEMPORÂNEA I
(1945 – 1970)
FICÇÃO CONTEMPORÂNEA I
A FICÇÃO DE TEMÁTICA RURAL
ARIANO SUASSUNA (1927)
ARIANO SUASSUNA (1927)

Principais obras: Romance:
Romance d`a pedra do reino
(1971) – Teatro: Auto da
Compadecida (1959); A farsa da
boa preguiça (1960); O santo e a
porca (1964).
A pedra do reino


Monumento literário que se vincula à cultura
sertaneja nordestina, muito marcada pelas
tradições do mundo ibérico (Portugal e
Espanha), trazidas pelos primeiros
colonizadores europeus e transformadas ao
longo dos séculos.
Apresenta, em linhas gerais, o memorial –
em 1ª pessoa – de D. Dinis Ferreira Quaderna que, preso em Taperoá, ...
A pedra do reino


... faz sua própria defesa perante o corregedor
e, para tanto, conta a história de sua família,
bem como as desavenças, lutas e controvérsias
políticas, literárias e filosóficas em que se vira
envolvido.
Na obra de Ariano podem ser percebidas “duas
distintas tradições a informarem a concepção
de mundo do herói: a tradição mítico-sertaneja
e a tradição erudita”.
João Ubaldo Ribeiro (1941)
João Ubaldo Ribeiro (1941)

Principais obras: Sargento
Getúlio (1971); Vila Real
(1979); Viva o povo
brasileiro (1984); O
sorriso do lagarto (1989);
A casa dos Budas ditosos
(1999).
Sargento Getúlio

É uma narrativa de estrutura complexa
construída como um longo monólogo
(interrompido por alguns diálogos) de um
sargento da Polícia Militar de Sergipe, Getúlio
Santos Bezerra. Sua linguagem é a “variante
caboclo-sertaneja”, da qual já se valera
Guimarães Rosa, mas acrescida de inúmeros
vocábulos da norma culta do idioma, não raro
modificados pelo protagonista-narrador.
Sargento Getúlio

Getúlio é jagunço (“cabo eleitoral”) de um
importante chefe político de Aracaju, Acrísio
Antunes, para quem já fizera “vinte trabalhos”
(mortes). Quando cogita se aposentar, recebe
sua última incumbência: prender um
adversário político de Acrísio, no interior de
Sergipe, e levá-lo para Aracaju. Getúlio narra
então – não se sabe exatamente a quem – as
peripécias da viagem, sua vida e até sua
morte (através de longos fluxos de
consciência).
Outros Autores
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José Cândido de Carvalho (1914-1989) =
principal obra: O coronel e o lobisomen (1964)
Mário Palmério (1916-1996) = principal
obra: Chapadão do Bugre (1965).
Benito Barreto (1929) = principal obra = Os
Guaianãs (1962-1970).
FICCÇÃO CONTEMPORÂNEA I
A FICÇÃO DE TEMÁTICA URBANA
FERNANDO SABINO (1923)
FERNANDO SABINO (1923)

Principais obras: Novelas e romances: A vida
real (1952); O encontro marcado (1956); O
grande mentecapto (1979); O menino no
espelho (1982); Martini seco (2000) Crônicas:
A cidade vazia (1950); O homem nu (1960); A
mulher do vizinho (1962); Companheira de
viagem (1965); A inglesa deslumbrada (1967).
FERNANDO SABINO (1923)


Consagrado como um cronistas de ótima
qualidade (O homem nu), também revelouse como um ótimo romancista (O encontro
marcado).
O encontro marcado = romance de formação
= desenvolvimento espiritual + desabrochar
sentimental + aprendizagem humana = o
conhecimento de si mesmo = dilaceramentos
íntimos = “a náusea de Sartre”.
Lygia Fagundes Telles (1923)
Lygia Fagundes Telles (1923)

Principais obras: Contos: História do
desencontro (1968); Antes do baile verde
(1970); Seminário dos ratos (1977); Venha ver
o pôr do sol (1987); Invenção e memória
(2000). Romances: Ciranda de pedra (1954);
Verão no aquário (1963); As meninas (1973);
As horas nuas (1989).
Lygia Fagundes Telles (1923)

Herdeira de Clarice Lispector, como adepta da
ficção introspectiva, Lygia revela, em sua obra,
o gosto pela análise psicológica e pela criação
de personagens femininas, normalmente
apresentadas em narrativas em primeira
pessoa. Com originalidade a autora realiza
uma síntese entre uma arguta visão da
interioridade feminina e a convincente
construção de um mundo objetivo.
Lygia Fagundes Telles (1923)

Exímia contista, Lygia trabalha tanto com o
conto de atmosfera quanto com o conto
anedótico, de desfecho inesperado. Sua
matéria-prima são crianças em situação de
angústia existencial, pais e filhos em conflito e
uma infinita galeria de mulheres de todas as
idades vivendo situações de tensão amorosa,
solidão e sofrimento. Geralmente, a escritora
focaliza um momento particular da vida...
Lygia Fagundes Telles (1923)


... desses personagens, quando uma
dramática percepção da realidade ou densas
revelações subjetivas se impõe bruscamente à
consciência, arrastando-os à dor e à lucidez.
As meninas é o seu melhor romance =
refinada análise psicológica + desintegração
do romance tradicional realista + painel de
época (Ditadura de 60) + monólogos
interiores = “jogo de espelhos que retoma e
repete a realidade vivida”.
Carlos Heitor Cony (1926)
Carlos Heitor Cony (1926)

Principais obras: Romances: O ventre (1958);
A verdade de cada dia (1959); Informação ao
crucificado (1961); Matéria de memória
(1962); Antes, o verão (1964); Balé branco
(1965); Pessach: a travessia (1967); Pilatos
(1973); Quase memória (1995); A casa do
poeta trágico (1997). Contos e crônicas: O ato
e o fato (1964); Sobre todas as coisas (1968).
Carlos Heitor Cony (1926)

A ficção de Cony, pelo menos em seus
primeiros títulos, filia-se à tradição narrativa
carioca, expressa, entre outros, pelos
romances de Manuel Antônio de Almeida,
Lima Barreto e Marques Rebelo. De fato, o
gosto pelo registro dos costumes do Rio de
Janeiro, o realismo de superfície e a prosa
simples e coloquial, que caracterizam seus
primeiros relatos (1950), parecem confirmar
essa ascendência ilustre.
Carlos Heitor Cony (1926)

No entanto, há também nesses romances algo
que transcende à mera fixação de costumes. É
visível neles uma tendência à problematização
da existência e ao aprofundamento
psicológico. Portanto, mais do que expressão
de um neo-realismo tardio, essas obras
apresentam personagens em situações de
angústia, solidão e tédio, criando uma
atmosfera que lembra alguns romances de
Sartre e Camus.
Dalton Trevisan (1925)
Dalton Trevisan (1925)

Principais obras: Contos: Novelas nada
exemplares (1959); Cemitério de elefantes
(1964); O vampiro de Curitiba (1965);
Desastres do amor (1968); A guerra conjugal
(1969); O rei da terra (1972); A faca no
coração (1975); Crimes de paixão (1978);
Virgem louca, loucos beijos (1979); Essas
malditas mulheres (1982). Romance: A
polaquinha (1985).
Dalton Trevisan (1925)

Dalton Trevisan é um grande mestre do conto.
Por seu humor sutil e corrosivo, pelo
despojamento da linguagem e pela visão
desencantada sobre a natureza humana, ele
vem sendo comparado a Machado de Assis.
Outros lembram a semelhança com Gabriel
García Márquez porque, assim como o
escritor colombiano transformou a inexpressiva
Macondo em uma cidade mágica, também...
Dalton Trevisan (1925)


... Dalton fixou artisticamente a então
desinteressante Curitiba, dando-lhe tal sopro
de vida e imaginação que ela acabou entrando
para o mapa literário mundial.
Os contos de Dalton giram em torno de um
assunto quase único: os conflitos de amor.
O próprio autor definiu seus relatos como uma
“Ilíada conjugal” = Guerra entre homens e
mulheres = crueldade e mansidão de ambos
os sexos.
MURILO RUBIÃO (1916-1991)
MURILO RUBIÃO (1916-1991)

Principais obras: O ex-mágico (1947);
O pirotécnico Zacarias (1974);
O convidado (1974).
MURILO RUBIÃO (1916-1991)

Quando Murilo estreou com O ex-mágico, um
crítico apontou a semelhança dos contos que
compunham o livro com certas obras de
Franz Kafka, especialmente A metamorfose.
Embora o autor mineiro não conhecesse, na
ocasião, o escritor tcheco, há de fato em suas
obras alguns traços comuns que permitiriam
incluí-los em uma mesma família estética, a
da literatura fantástica.
MURILO RUBIÃO (1916-1991)

Literatura fantástica (ou realismo
fantástico) é a obra de ficção em que
ocorrem fatos inconcebíveis, inexplicáveis ou
sobrenaturais que produzem uma grande
sensação de estranhamento no leitor.
Normalmente, essa atmosfera de irrealidade
tem uma dimensão alegórica, isto é, faz
alusão, por meio do absurdo e do inverossímil,
à realidade concreta da existência, cabendo ao
leitor escolher um sentido realista para os
eventos absurdos ou inexplicáveis.
MURILO RUBIÃO (1916-1991)

Todos os contos de Murilo contêm essa
perspectiva, que invalida a lógica e a
racionalidade. Todavia, o absurdo das situações
é apenas um artifício do autor para questionar
a realidade. Alguns de seus contos mais
conhecidos apresentam – sob a forma de
fantasias surrealistas – uma visão
desencantada do homem. O absurdo de suas
histórias é apenas uma metáfora do
absurdo da condição humana.
JOSÉ J. VEIGA (1915-1999)
JOSÉ J. VEIGA (1915-1999)

Principais obras: Contos: Os
cavalinhos do Platiplanto (1959); A
máquina extraviada (1968); A casca
da serpente (1989). Novelas: A hora
dos ruminantes (1966); Sombra de
reis barbudos (1972); Os pecados da
tribo (1976).
JOSÉ J. VEIGA (1915-1999)

A obra de José J. Veiga – desde sua estréia
com Os cavalinhos do Platiplanto – incorporou
à ficção brasileira um mundo relativamente
estranho e espacialmente descontextualizado.
A ação da maioria de suas novelas, e mesmo
de alguns contos, se passa em pequenas
cidades do interior, pequenos vilarejos
caracterizados pelo marasmo e nos quais reina
a tranqüilidade, até que, subtamente,
forasteiros se instalam nas imediações e uma
série de acontecimentos extraordinários...
JOSÉ J. VEIGA (1915-1999)

... passa a ocorrer, destruindo a paz e a
harmonia. Assim, as principais obras do autor
se enquadram nos parâmetros da chamada
literatura fantástica, cujo iniciador no Brasil
foi Murilo Rubião. Durante o último período
autoritário (1964-1984), houve uma tendência
que considerou a obra do autor como uma
crítica velada ao arbítrio e ao poder implacável
do regime ditatorial.
JOSÉ J. VEIGA (1915-1999)

Dessa forma, o desfecho semelhante de suas
novelas (a volta dos lugarejos à normalidade)
traduzia a expectativa dos setores
democráticos do país em relação ao colapso
da ditadura. Assim, o próprio autor afirmou
que a opressão vivida pelos moradores
daquelas pequenas cidades tinha um sentido
universal, simbolizando as inúmeras formas de
opressão que degradam a existência dos
indivíduos no mundo contemporâneo.
ANTONIO CALLADO (1917-1997)
ANTONIO CALLADO (1917-1997)

Principais obras: Assunção de
Salviano (1954); A Madona de
cedro (1957); Quarup (1967); Bar
Don Juan (1971); Reflexos do
baile (1976); Sempreviva (1981);
A expedição de Montaigne (1982).
ANTONIO CALLADO (1917-1997)

Atuando sempre como jornalista e ficcionista,
Callado procurou sempre, em suas obras mais
importantes, aproveitar o material de sua
vasta experiência como repórter. No clima da
época (polarização política, enfrentamento
entre setores da sociedade civil e o regime
autoritário) a publicação de Quarup (1967)
garantiu à obra do autor extraordinária
ressonância.
OUTROS AUTORES
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Lúcio Cardoso (1913-1968) = principal obra =
Crônica da casa assassinada (1959).
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Hermilo Borba Filho (1917-1976).
Adonias Filho (1915-1990).
Bernardo Élis (1915-1997).
Campos de Carvalho (1910-1998).
Autran Dourado (1926).
FICCÇÃO CONTEMPORÂNEA II
(1970 aos dias atuais)
RUBEM FONSECA (1925)
RUBEM FONSECA (1925)

Principais obras: Contos: Os prisioneiros (1963); A
coleira do cão (1965); Lúcia McCartney (1970); Feliz
ano novo (1975); O cobrador (1980); Buraco na
parede (1993); A confraria dos espadas (1998);
Secreções, excreções e desatinos (2001); Pequenas
criaturas (2002). Romances: O caso Morel (1973); A
grande arte (1983); Buffo e Spalanzanni (1985);
Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (1988);
Agosto (1990); Diário de um fescenino (2003).
Novela: Do meio do mundo prostituto, só amores
guardei ao meu charuto (1997).
RUBEM FONSECA (1925)

Desde sua estréia, produziu narrativas
despojadas, ásperas, na linha da ficção norteamericana contemporânea, representada
especialmente por Hemingway, Raymond
Chandler e Dashiel Hammet. Como
nenhum outro ficcionista brasileiro das últimas
décadas do séc. XX, Rubem consegue registrar
a vida urbana moderna naquilo que ela tem de
inesperado, pungente (doloroso) e assustador.
RUBEM FONSECA (1925)

Rubem é capaz de escrever, com a mesma
verossimilhança, sobre halterofilistas e
executivos, marginais e financistas, delegados
de polícia e assassinos profissionais, garotas de
programa e pobres-diabos que vagam sem
destino pelas ruas do Rio de Janeiro. Tem, pois,
como matéria-prima os dois extremos da
nação: os que vivem à margem e os que
constituem o núcleo privilegiado do sistema.
RUBEM FONSECA (1925)

Várias de suas histórias (em especial, os romances)
possuem a estrutura de uma narrativa policial.
Há um crime ou um mistério a ser desvendado. Por
isso, muitos dos personagens principais em sua obra
são delegados, inspetores, detetives particulares ou,
ainda, advogados criminalistas. Para o autor, mais do
que deslindar o ato criminoso, interessa registrar o
cotidiano terrível das grandes cidades e pôr a nu os
dramas humanos desencadeados pelas ações que
rompem a lei e a ordem.
MOACYR SCLIAR (1937)
MOACYR SCLIAR (1937)

Principais obras: Contos: O carnaval dos animais
(1968); A balada do falso Messias (1976); O anão no
televisor (1979); O olho enigmático (1986); A orelha
de Van Gogh (1988); Novelas e romances: A guerra
no Bom Fim (1972); O exército de um homem só
(1973); Os deuses de Raquel (1975); Os voluntários
(1979); O centauro no jardim (1980); Max e os
felinos (1981); A estranha nação de Rafael Mendes
(1983); Sonhos tropicais (1992); A Majestade do
Xingu (1997); A mulher que escreveu a Bíblia (1999).
MOACYR SCLIAR (1937)


Os contos, novelas e romances de Scliar
articulam-se em torno de alguns elementos
comuns:
Forte presença de temas da chamada
“literatura fantástica”, em que os
acontecimentos, improváveis do ponto de
vista da racionalidade, apresentam sempre
uma dimensão alegórica, na trilha de A
metamorfose de Kafka.
MOACYR SCLIAR (1937)


Em alguns relatos, as situações surreais
podem ser atribuídas a sonhos (ou
pesadelos) dos protagonistas.
Mesmo em suas obras de feição realista,
Scliar surpreende no cotidiano o enigmático e
o insólito. Contribui para isso seu estilo seco,
despojado e, muitas vezes, elíptico (oculto).
A exemplo de Kafka, os referenciais
concretos que delimitam os personagens...
MOACYR SCLIAR (1937)


... (vida familiar, grupo social, espaço físico,
tempo histórico) são freqüentemente omitidos,
ou apenas sugeridos. Daí nasce a sensação de
estranhamento que seus contos e suas
narrativas mais longas causam no leitor.
Preponderância de personagens judeus,
integrantes de um processo migratório que
teve seu apogeu nas primeiras décadas do
século XX.
MOACYR SCLIAR (1937)

Os personagens de Scliar estão sempre em
atrito com o meio social. Um crítico observou
que, além de judeus, há nos relatos do autor a
predominância de loucos, doentes, profetas,
profissionais cujas ocupações estão em desuso,
etc., isto é, seres desajustados em relação aos
valores vigentes na ordem social
contemporânea. Outro crítico vê nessas obras a
representação não somente dos dilemas da
comunidade judaica, mas também dos de...
MOACYR SCLIAR (1937)


... toda a classe média do país, a qual viveu, na
década de 1970, a mesma duplicidade. As
oportunidades extraordinárias de ascensão
social geradas pelo “milagre econômico”
coexistiam com o arbítrio, a censura e a
violência.
Na quase totalidade de sua obra, Scliar vale-se
de um humor que ele mesmo define como
melancólico (visão cética da existência).
OUTROS AUTORES
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A) CONTO:
Caio Fernando Abreu (1948-1996);
Deonísio da Silva (1948);
João Antônio (1937-1996);
Luiz Vilela (1942);
Sergio Faraco (1940);
Sergio Sant`Ana (1941).
OUTROS AUTORES
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B) ROMANCE:
Antônio Tôrres (1940);
Francisco Buarque de Holanda (1944);
Ignácio de Loyola Brandão (1936);
João Gilberto Noll (1946);
Josué Guimarães (1921-1986);
Lya Luft (1938);
Luiz Antonio de Assis Brasil (1945);
OUTROS AUTORES
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B) ROMANCE:
Márcio Souza (1946);
Nélida Piñon (1937);
Osman Lins (1924-1978);
Raduan Nassar (1935).
CRÔNICA CONTEMPORÂNEA
RUBEM BRAGA (1913-1990)
RUBEM BRAGA (1913-1990)

Principais obras: Um pé de milho
(1948); O homem rouco (1949);
A borboleta amarela (1956); A
cidade e a roça (1957); Ai de ti,
Copacabana! (1960); A traição
das elegantes (1967).
RUBEM BRAGA (1913-1990)

De todos os cronistas brasileiros, Braga foi o
que deixou a obra mais singular e, talvez, a
mais permanente. Partindo – a exemplo dos
demais praticantes do gênero – de fatos
triviais do cotidiano, ele conseguiu ultrapassar
os limites formais da crônica (compromisso
excessivo com acontecimentos quase sempre
corriqueiros e linguagem pouco elaborada) e
alcançou um patamar artístico apreciável.
RUBEM BRAGA (1913-1990)


Dois fatores parecem explicar essa superação do
caráter circunstancial da crônica: sua forma de
encarar a realidade e o seu estilo
(elevado+coloquial)
Visão lírica e melancólica = captação do inesperado
poético que brota de pequenas cenas do cotidiano.
Descobre o sentido profundo daquilo que é
aparentemente irrelevante, intui o lírico na
banalidade e ouve dentro de seu próprio coração as
ressonâncias do mundo objetivo. Compreende,
assim, que tudo na vida é transitório. Daí a
percepção melancólica da existência.
Luis Fernando Verissimo (1936)
Luis Fernando Verissimo (1936)

Principais obras: O popular (1973); As
cobras (1975); Ed Mort (1979); O analista
de Bagé (1981); O gigolô das palavras
(1982); A velhinha de Taubaté (1983);
Comédias da vida privada (1996); Comédias
para se ler na escola (2001); As mentiras
que os homens contam às mulheres (2001).
Luis Fernando Verissimo (1936)

Espetacular fenômeno editorial
contemporâneo, com milhões de exemplares
vendidos, a obra de Verissimo é certamente
um dos pontos culminantes da crônica
brasileira. Uma das razões desse êxito nasce
da capacidade do autor em lidar com as
possibilidades do gênero: do comentário lírico
ao comentário irônico, da criação de atmosfera
ao relato anedótico, passando pela sofisticada
análise sócio-cultural do país...
Luis Fernando Verissimo (1936)

... e do mundo, em todas essas manifestações
avulta seu talento mediante uma forma
original de expressão. Senhor de uma
linguagem ao mesmo tempo coloquial e
elegante, enriquecida por tiradas
engraçadíssimas e alusões inteligentes a
respeito da cultura de massas, Verissimo
possui um estilo pessoal de comentar ou
narrar a vida.
Luis Fernando Verissimo (1936)

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
Um dos recursos primordiais da crônica de
Verissimo é a criação de personagens que,
com duas ou três características, representam
satiricamente aspectos da realidade brasileira:
O analista de Bagé: ironia à psicanálise e ao
bairrismo sul-rio-grandense.
Ed Mort: paródia aos detetives americanos.
A velhinha de Taubaté: a credulidade absoluta
nas proclamações oficiais.
Nelson Rodrigues (1912-1980)
Nelson Rodrigues (1912-1980)

Principais obras: O óbvio
ululante (1969); A cabra
vadia (1970); O reacionário
(1977).
Nelson Rodrigues (1912-1980)

Apesar das maiores realizações artísticas de
Nelson Rodrigues estarem na dramaturgia, é
notória sua importância para a crônica
brasileira, tanto por seu estilo personalíssimo,
marcado por uma quase inesgotável
capacidade de criar frases de efeito, quanto
pela veia iconoclasta (destruidora de imagens)
com que retratou os costumes urbanos
brasileiros entre 1940 e 1970.
Nelson Rodrigues (1912-1980)
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
Famosas frases surpreendentes, provocantes e
até agressivas de Nelson:
“Num adultério, há homens que preferem ser
o marido traído, não o amante. Os homens
adoram ser traídos.”
“Toda mulher gosta de apanhar.”
“No Brasil, quem não é canalha na véspera é
canalha no dia seguinte.”
“Toda unanimidade é burra.”
Nelson Rodrigues (1912-1980)
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

Outra peculiaridade de suas crônicas é a
mescla de personagens ficcionais e seres reais
que coexistem e dialogam entre si ou com o
próprio autor.
Personagens criados: Palhares, o canalha; a
estagiária de calcanhar sujo; a freira de
minissaia; a cabra vadia, etc.
Personalidades concretas: Otto Lara Rezende,
Carlos Heitor Cony, Alceu Amoroso Lima, etc.
Nelson Rodrigues (1912-1980)

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
Didaticamente, podem-se dividir as crônicas
do autor em três categorias temáticas:
Crônicas esportivas;
Crônicas sociais e comportamentais;
Crônicas memorialistas.
TEATRO CONTEMPORÂNEO
TEATRO CONTEMPORÂNEO

A partir da encenação de Vestido de noiva
(1943), de Nelson Rodrigues, é que se
estabelece em nosso país uma dramaturgia
moderna. Construindo um universo dramático
absolutamente original e irrepetível, coube a
ele apontar caminhos de vanguarda para o
teatro brasileiro. Com efeito suas peças são
uma verdadeira suma de novidades: elas
mostram brutalmente a realidade familiar, seja
sob a forma naturalista, seja sob a forma...
TEATRO CONTEMPORÂNEO

... expressionista, desvendam de forma quase
psicanalítica a interioridade mais profunda dos
personagens, apresentam os enredos
mediante sofisticados jogos temporais e
possibilitam encenações de grande ousadia.
Há nelas, principalmente, um uso sistemático
do português coloquial nos diálogos, que, por
isso mesmo, são sempre vivos e ricos.
Nelson Rodrigues (1912-1980)
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
Divisão das peças:
Peças Psicológicas: A mulher sem pecado
(1941); Vestido de noiva (1943); Valsa nº 6
(1951); Viúva porém honesta (1957); AntiNelson Rodrigues (1973).
Peças Míticas: Álbum de família (1945); Anjo
Negro (1947); Senhora dos afogados (1947);
Dorotéia (1949).
Nelson Rodrigues (1912-1980)

Tragédias cariocas: A falecida (1953);
Perdoa-me por me traíres (1957); Os sete
gatinhos (1958); Boca de ouro (1959);
Beijo no asfalto (1960); Otto Lara
Rezende ou Bonitinha mas ordinária
(1962); Toda a nudez será castigada
(1965); A serpente (1978).
Nelson Rodrigues (1912-1980)

O traço marcante de todas essas obras é a
tentativa de desvelar a interioridade mais
recôndita dos personagens. Além da análise
psicológica tradicional, Nelson procura, sob
influência freudiana (que ele sempre negou),
aproximar-se dos abismos do inconsciente e
do subconsciente, além de criar uma galeria
de personagens arquétipos.
Nelson Rodrigues (1912-1980)

Jamais houve no teatro brasileiro um
mergulho tão profundo na psique humana. O
resultado dessa investigação artística é
assustador. Destruídos os bloqueios morais
impostos pela civilização, o que aparece é um
mundo infernal de desejos proibidos,
crueldade, amoralismo e “nostalgia da lama”.
Os instintos arrastam os personagens – dentro
do próprio quadro familiar – ao incesto, à
perversão e ao crime, ...
Nelson Rodrigues (1912-1980)


... ao mesmo tempo em que o sonho de uma
pureza impossível segue atormentando-os.
A obsessão pelo sexo na obra de Nelson
Rodrigues parece resultar tanto da derrocada
dos pilares patriarcais e católicos presentes
em sua formação quanto de seu conhecimento
de teorias psicanalíticas. É um erro grave,
contudo, julgá-lo um autor pornográfico.
Nelson Rodrigues (1912-1980)

Nelson Rodrigues, na verdade, é um moralista.
Sua concepção de mundo mostra os seres
como vítimas de paixões selvagens e ruinosas.
Os instintos (sobretudo o sexual) são
abomináveis. Essa complexa visão do
dramaturgo a respeito da natureza humana
faz com que suas peças sejam de difícil
encenação.
Nelson Rodrigues (1912-1980)

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

Elementos marcantes de sua obra:
O comportamento obsessivo e paranóico dos
personagens;
O clima mórbido, que embaralha as noções do
normal e do doentio;
O diálogo enxuto, direito, com o ritmo e o
sabor da fala carioca;
A trama folhetinesca, tornada complexa pelos
dilemas morais e ambigüidades
comportamentais dos personagens.
ARIANO SUASSUNA (1927)


Peças: Auto da compadecida (1957); O santo
e a porca (1964); Farsa da boa preguiça
(1973).
Auto da compadecida = modelo = Gil Vicente
= comédia de substrato religioso = Todos os
mortos são submetidos ao julgamento divino.
Sob a interferência da Compadecida, João
Grilo (o herói picaresco) tem a permissão de
voltar para a vida terrena e reencontrar seu
amigo Chicó.
O AUTO DA COMPADECIDA
OUTROS AUTORES

Plínio Marcos (1935-1999) = Peças: Dois
perdidos numa noite suja (1965), Navalha na
carne (1966); O abajur lilás (1975); Quando
as máquinas param (1978) = o submundo dos

tipos que vivem à margem do sistema.
Dias Gomes (1922-1999) = Peças: O pagador
de promessas; O berço do herói; Odorico, o
Bem Amado (1960) = Igreja+Estado+Políticos
= contra os anseios populares.
O TROPICALISMO
O TROPICALISMO
GRUPO INOVADOR: CAETANO VELOSO,
GILBERTO GIL, O GRUPO OS MUTANTES,
TOM ZÉ, TORQUATO NETO, CAPINAM E O
MAESTRO ROGÉRIO DUPRAT.
O TROPICALISMO
O TROPICALISMO FOI O ÚLTIMO
IMPORTANTE MOVIMENTO CULTURAL
OCORRIDO NO BRASIL ATÉ O FINAL DO
SÉCULO XX.

O TROPICALISMO
PONTO DE PARTIDA: III FESTIVAL DE MPB
DA TV RECORD, REALIZADO EM 1967, DO
QUAL GILBERTO GIL E CAETANO VELOSO
PARTICIPARAM, RESPECTIVAMENTE COM
AS CANÇÕES “DOMINGO NO PARQUE” E
“ALEGRIA, ALEGRIA”.

O TROPICALISMO

OS TROPICALISTAS PARTIAM DAS INOVAÇÕES
MUSICAIS INTRODUZIDAS PELA BOSSA NOVA E
IDEOLOGICAMENTE SE INSPIRARAM NAS IDÉIAS
DA ANTROPOFAGIA DE OSWALD DE ANDRADE,
BUSCANDO UMA MÚSICA QUE “DEGLUTISSE” AO
MESMO TEMPO OS BEATLES COM SUAS
GUITARRAS ELÉTRICAS, A BOSSA NOVA DE JOÃO
GILBERTO, VINÍCIUS DE MORAIS E TOM JOBIM E O
REGIONALISMO DE LUÍS GONZAGA.
O TROPICALISMO
RECUPERANDO CERTAS PROPOSTAS
LANÇADAS PELOS MODERNISTAS DE
1922,
TAIS
COMO
A
TÉCNICA
CINEMATOGRÁFICA, A FRAGNMENTAÇÃO
E
A
ENUNCIAÇÃO
CAÓTICA,
O
MOVIMENTO TROPICALISTA APROXIMAVA-SE EM PARTE DO CONCRETISMO.

O TROPICALISMO
OBSERVE A CANÇÃO DE CAETANO,
CONSIDERADA UMA ESOPÉCIE DE
PLATAFORMA
DO
MOVIMENTO
TROPICALISTA:

TROPICÁLIA (1968)
sobre a cabeça os aviões
sob os meus pés os caminhões
aponta contra os chapadões
meu nariz
eu organizo o movimento
eu oriento o carnaval
eu inauguro o monumento
no planalto central
do país
TROPICÁLIA (1968)
viva a bossa sa sa
viva a palhoça ça ça ça ça
o monumento é de papel crepom e prata
os olhos verdes da mulata
a cabeleira esconde atrás da verde mata
o luar
do sertão
TROPICÁLIA (1968)
o monumento não tem porta
a entrada é uma rua antiga estreita e torta
e no joelho uma criança sorridente feia e
morta
estende a mão
viva a mata ta ta
viva a mulata ta ta ta ta
TROPICÁLIA (1968)
no pátio interno há uma piscina
com água azul de amaralina
coqueiro fala e brisa nordestina
e faróis
na mão direita tem uma roseira
autenticando eterna primavera
e nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira
entre os girassóis
TROPICÁLIA (1968)
viva maria iá iá
viva a bahia iá iá iá iá
no pulso esquerdo o bang-bang
em suas veias corre muito pouco sangue
mas se coração balança ao som
de um taborim
TROPICÁLIA (1968)
emite acordes dissonantes
pelos cinco mil alto-falantes
senhoras e senhores ele põe os olhos
grandes
sobre mim
viva iracema ma ma
viva ipanema ma ma ma ma
TROPICÁLIA (1968)
domingo é o fino da bossa
segunda-feira vai à roça
porém
o monumento é bem moderno
não disse nada do modelo do meu terno
que tudo mais vá pro inferno
meu bem
TROPICÁLIA (1968)
viva a banda da da
carmen miranda da da da da
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Ficção Contemporânea