UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – CAMPUS SANTA ROSA DACEC – PEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM GESTÃO DE COOPERATIVAS MAGNUS RODRIGO SCHRÖETTER A AGRICULTURA FAMILIAR E O CONSUMO DE ALIMENTOS NA MERENDA ESCOLAR - O CASO DA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE SANTA ROSA 2011 AGRICULTURA FAMILIAR E O CONSUMO DE ALIMENTOS NA MERENDA ESCOLAR: DESAFIOS DA PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO NO ÂMBITO DA FRONTEIRA NOROESTE 1 Magnus Rodrigo Schroetter2 Pedro Luís Büttenbender3 RESUMO Este artigo discute, a partir de um estudo de caso, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) está sendo utilizado para reconstruir as relações de produção e consumo. Seu objetivo consiste em refletir sobre uma experiência de construção de cadeias alimentares curtas na região Fronteira Noroeste, Rio Grande do Sul/Brasil. Através deste trabalho buscouse entender como ocorre a consolidação de sistemas diferenciados de produção e consumo de alimentos. Para isso, almeja-se evidenciar como ele vem sendo utilizado no Brasil em relação à aquisição de gêneros alimentícios de agricultores familiares para a alimentação escolar. As dificuldades e barreiras enfrentadas, as formas encontradas para superação, os efeitos e contribuições quando da efetivação dessa prática. Para tanto, após a classificação do estudo, realizou-se o mapeamento da potencialidade de produção de alimentos pelas cooperativas da agricultura familiar direcionadas à merenda escolar. Na seqüência, foram levantadas as características do território em estudo, através de informações coletadas junto a nutricionistas, secretários municipais envolvidos no projeto, onde se identificou a quantidade de escolas e alunos atingidos pelo benefício, através de coleta de dados com as Secretarias Municipais de Educação e passamos ao diagnóstico da demanda, volume de gêneros alimentícios consumidos na merenda escolar de cada município que compõe a Fronteira Noroeste, bem como a média de preços praticados. Os exemplos dos municípios descritos demonstram a importância da coesão e da interação social através das cooperativas. Observou-se como resultados aparentes, uma modificação no nível do consumo quanto à aceitação de alimentos mais saudáveis e adequados por parte dos alunos, uma revitalização com novas perspectivas de mercado para a agricultura familiar e o fomento de práticas de produção menos nocivas ao ambiente. Palavras chave: Agricultura Familiar, Alimentação Escolar, Cooperativismo, Região Fronteira Noroeste. 1. Introdução Com a aprovação da Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, e da Resolução FNDE nº 38, de 16 de julho de 2009, as escolas das redes públicas de educação passaram a usar produtos da agricultura familiar nas refeições oferecidas aos seus alunos. Agora, no mínimo 30% do valor enviado a estados, municípios e Distrito Federal pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) 1 Artigo final do Curso de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas, oferecido pelo Departamento de Estudos da Administração da UNIJUI. Ano 2011. 2 Pós-graduando do Curso de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas, DEAD/UNIJUI. Formado em Administração (URI-2003): E-mail: [email protected] Telefone 55-9947-9768. 3 Mestre em Gestão Empresarial (FGV-EBAPE/2001) e Doutorando em Administração (UNaM). Professor e pesquisador do Departamento de Estudos da Administração da UNIJUI. Orientador do Estudo. Email [email protected] Telefone: 55-9962-1318. 2 devem ser utilizados obrigatoriamente na aquisição de gêneros alimentícios provenientes da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural com dispensa de licitação. Para Pretto, 2005, p.27, o conceito de agricultor familiar surge na década de 1990 em substituição ao conceito de “colonos”, “trabalhadores rurais” ou “pequenos agricultores”. Historicamente estes agricultores que possuem pouca extensão de terras, também denominado camponês, têm sido excluídos das políticas públicas do estado. De posse dessas informações, partiu-se para o mapeamento da região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, composto por vinte municípios, basicamente estruturados numa região de solo acidentado, com características que propiciam a agricultura de pequeno porte, cujo objeto de estudo, se baseia no levantamento da potencialidade de produção de alimentos pelas cooperativas da agricultura familiar. No intuito de melhor entender o tema, buscou-se identificar o número de escolas municipais e estaduais, bem como a quantidade de alunos matriculados, potenciais consumidores da merenda escolar para, a partir daí, diagnosticar o volume de gêneros alimentícios consumidos em cada município que compõe a região em estudo. Para quem produz alimentos, a iniciativa contribui para que a agricultura familiar se organize e qualifique suas ações comerciais. Com o cumprimento da lei, a importância do estudo consiste na melhora da distribuição de renda e aumenta o lucro, uma vez que o produtor passa a negociar suas vendas sem a intermediação de terceiros, evitando sua migração para cidade e fortalecendo o pequeno agricultor e a economia local. A aquisição desses produtos, além de qualificar a alimentação servida na merenda escolar, viabiliza a manutenção e apropriação de hábitos alimentares saudáveis, respeitando a cultura, às tradições e ainda amplia o desenvolvimento de forma sustentável. Portanto, a relevância do estudo demonstra a valorização da agricultura familiar e, mais do que isto, incentiva a família rural a sair do anonimato através da organização em associações cooperativas, agregando valor ao produto, seja pela qualificação da apresentação através de embalagem adequada, ou seja, na busca novos mercados. No decorrer do desenvolvimento deste artigo, observou-se que há dois modelos distintos de repasse dos recursos financeiros aos municípios: a centralizada e/ou escolarizada. A centralização ocorre quando as secretarias estaduais de educação ou prefeituras executam o Programa em todas as suas fases, ou seja, recebem, administram e prestam contas do recurso federal, são responsáveis pela aquisição e distribuição dos alimentos e também pela elaboração dos cardápios. Na modalidade chamada de escolarização, as secretarias estaduais de educação ou as prefeituras transferem os recursos diretamente para as creches e escolas pertencentes à sua rede, que passam a ser responsáveis pela execução do Programa. Neste caso, é importante salientar que aquisição de gêneros alimentícios deve ser realizada sempre que possível no município do domicílio das escolas. Quando o fornecimento não for possível localmente, as escolas poderão complementar a demanda entre agricultores da mesma região territorial, estado e país. Nesta ordem de prioridade, a elaboração dos cardápios é de competência dos estados e municípios que, na avaliação do volume de gêneros alimentícios consumidos na merenda escolar de cada município, demonstram pouca afinidade entre os cardápios. Pois, mesmo com hábitos alimentares parecidos, a discrepância de consumo de vários itens listados entre um município e outro é muito acentuada. Mas, com o novo espaço que se abre no mercado de produtos para a alimentação escolar, a agricultura familiar tem mais uma importante oportunidade de comercialização rentável. Para isto, é preciso organização, uma vez que as políticas públicas para o setor priorizam os agricultores e agricultoras familiares organizados em associações e cooperativas. Para tanto, o desenvolvimento da estrutura deste artigo baseia-se basicamente em cima de quatro pilares: o referencial teórico, os procedimentos metodológicos, a pesquisa e análise de dados, todos sistematicamente desenvolvidos de acordo com o tema proposto. 3 2. Referencial Teórico 2.1. Agricultura Familiar A Agricultura Familiar brasileira vem assumindo um papel importantíssimo na geração de emprego e renda, segurança alimentar, preservação ambiental e conseqüentemente no desenvolvimento socioeconômico do país. A chamada agricultura familiar constituída por pequenos e médios produtores representa a imensa maioria de produtores rurais no Brasil. Os agricultores familiares são definidos, segundo o Manual Operacional do Crédito Rural Pronaf (2002), como sendo os produtores rurais que atendem aos seguintes requisitos: • Sejam proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros ou concessionários da Reforma Agrária; • Residam na propriedade ou em local próximo; • Detenham, sob qualquer forma, no máximo 04 (quatro) módulos fiscais de terra, quantificados conforme a legislação em vigor; • No mínimo 70% (setenta por cento) da renda bruta familiar devem ser provenientes da exploração agropecuária ou não agropecuária do estabelecimento; A base da exploração do estabelecimento deve ser o trabalho familiar. Quando se estuda a agricultura familiar, é possível identificar a existência de diversos tipos de produtores que se diferenciam por suas condições socioeconômicas, por suas tomadas de decisão e pela maneira que empregam suas práticas agrícolas. (SIVALDO RAMOS DOS SANTOS, 2010) A partir dos anos 90 vem se observando um crescente interesse pela agricultura familiar no Brasil. Este interesse se materializou em políticas públicas, como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e na criação do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário), além do revigoramento da Reforma Agrária. O modelo familiar teria como característica a relação íntima entre trabalho e gestão. A direção do processo produtivo conduzido pelos proprietários, da ênfase na diversificação produtiva e na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida, a utilização do trabalho assalariado em caráter complementar e a tomada de decisões imediatas, ligadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo (FAO/INCRA, 1994). Assim, o meio rural sempre visto como fonte de problemas, hoje aparece também como: portador de soluções vinculadas à melhoria do emprego e da qualidade de vida. (WANDERLEY, 2001). Além disso, a agricultura familiar está associada à dimensão espacial do desenvolvimento, por permitir uma distribuição populacional mais equilibrada no território, em relação à agricultura patronal, normalmente associada à monocultura. Estas idéias devem ser contextualizadas no debate sobre a construção do desenvolvimento sustentável. Em síntese, há consenso sobre a necessidade de construir uma agricultura mais sustentável que considere os aspectos sociais e ambientais, além dos aspectos econômicos, e sobre a importância dos agricultores familiares na construção desse novo modelo, mas ainda há divergências sobre os modelos mais apropriados para que a agricultura familiar atinja esses objetivos. Há uma linha que defende maior competitividade e integração nos mercados e o enfoque agro ecológico que se fundamenta numa profunda mudança no modelo tecnológico, na organização da produção e até mesmo numa mudança de valores e na própria organização da sociedade. • 4 A Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul caracteriza-se por possuir aptidão para o setor produtivo primário, com integração para frente e para trás, com atividades voltadas para a agricultura e a pecuária. O setor agropecuário da região se caracteriza por propriedades rurais de pequeno porte, com que mais de 70% delas possuindo área inferior a 20 hectares e aproximadamente 45% menos de 10 hectares. Apenas 1,29% das propriedades agrícolas possuem área superior a 100 hectares, segundo dados do IBGE (2001). Portanto, a estrutura fundiária da região é de pequenos produtores rurais. Caracteriza-se por possuir uma agricultura diversificada e modernizada, centrada na produção de soja, trigo, milho, suínos e leite. As características sociais, econômicas, políticas e culturais estão profundamente marcadas pelo processo de colonização da região a partir dos descendentes de europeus não ibéricos, no início do século XX. A estrutura fundiária está assentada na pequena propriedade familiar, o que confere à Região um elevado índice de população rural (em torno de 35% da população), quando se comparada às demais regiões do Rio Grande do Sul (RS) e do país. A dinâmica econômica garante um PIB per capita anual de R$ 11.692,00 e um PIB pm de R$ 2.454.347,00, para dados de 2005 (FEE, 2008). A principal perspectiva para a agricultura familiar e que também está fortemente presente na história do desenvolvimento da Região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul é o fortalecimento da auto-organização cooperativa dos pequenos agricultores, englobando tanto a produção como a industrialização e comercialização de alimentos para atender a demanda da merenda escolar. 2.2. Merenda Escolar O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é o mais antigo programa social do Governo Federal na área de educação e é o maior programa de alimentação em atividade no Brasil. Diariamente são servidas cerca de 37 milhões de refeições com repasses de recursos do Governo Federal, em 2003, de R$ 954 milhões. Somados a esse montante, as prefeituras e os governos de estado acrescentam outra grande quantidade de recursos. (FNDE, 2011) Desenvolvido a partir de 1954, com o estabelecimento da Campanha da Merenda Escolar (CME), o Programa atendia algumas escolas de estados do Nordeste. Esta política foi ganhando abrangência nacional e sua operacionalização durante todos esses anos, se deu sob diferentes denominações. Em 1988, a alimentação escolar passou a ser direito constitucional. Em 1994 foi instituída a descentralização do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Lei 8913). Com a descentralização, a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), órgão vinculado ao Ministério da Educação e Cultura e responsável pelo PNAE, estabeleceu convênios com estados e municípios para o repasse de recursos financeiros. Ficaria a cargo dos estados e municípios elaborar o cardápio, adquirir alimentos, realizar o controle de qualidade, contratar os recursos humanos necessários (merendeiras, nutricionistas) e a infraestrutura física adequada (equipamentos e utensílios de cozinha). Os recursos repassados pela FAE eram destinados exclusivamente à aquisição de alimentos, ficando as demais despesas como contrapartida de estados e municípios. A administração da alimentação escolar de forma descentralizada foi um dos grandes avanços ocorridos neste Programa, pois permitiu racionalizar a logística e os custos de distribuição dos produtos, além de viabilizar o oferecimento de uma alimentação escolar condizente com o hábito alimentar da população nas diferentes localidades do país. As compras institucionais descentralizadas 5 também abriram a possibilidade de inserção do pequeno produtor agrícola e da pecuária local neste mercado institucional. Desde 1997 o Programa Nacional de Alimentação Escolar vem sendo gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao Ministério da Educação, em substituição a Fundação de Assistência ao Estudante. Em 1998, a alimentação escolar passou a ser direito constitucional. O objetivo do Programa é suprir no mínimo 15% das necessidades nutricionais diárias dos alunos, contribuir para a redução da evasão escolar e favorecer a formação de bons hábitos alimentares em crianças e adolescentes do país, tudo isso dentro do espírito de uma política de Segurança Alimentar e Nutricional. O orçamento do programa para 2011 é de R$ 3,1 bilhões, para beneficiar 45,6 milhões de estudantes da educação básica de jovens e adultos. Com a Lei nº 11.947, de 16/6/2009, 30% desse valor – ou seja, R$ 930 milhões – devem ser investidos na compra direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimula o desenvolvimento econômico das comunidades. Vale referir que não há dados oficiais nacionais nem mesmo estaduais sobre o tipo de abastecimento alimentar realizado nos municípios brasileiros em relação à alimentação escolar. Porém, dos dados existentes sobre o perfil dos municípios brasileiros em relação à compra de agricultores familiares, o Boletim de Desempenho elaborado pela ONG Fome Zero em 2007 e suas edições anteriores trazem um panorama, mesmo que superficial, da situação em relação ao tema que, juntamente com dados informais dão conta da pouca adesão dos municípios e estados à compra de gêneros da agricultura familiar para abastecer as escolas. (FNDE, 2011) Para promover a compra da agricultura familiar para a alimentação escolar, o MDA tem participado de articulações entre os atores de nível federal: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA), Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), Conselho Nacional de Educação (CONSED), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e organizações da Agricultura Familiar. Porém, há articulações mais locais, na qual todos podem se envolver. Nos estados são: Delegacias Federais do Desenvolvimento Agrário, articuladores e conselheiros dos Territórios Rurais, Superintendências Estaduais do INCRA, EMATER, articuladores estaduais da Rede de Comercialização, Universidades, Centro Colaborador em alimentação e nutrição do escolar (CECANE) e organizações da agricultura familiar. As articulações municipais devem ocorrer com as Secretarias Municipais de Educação e de Agricultura, Conselhos Municipais (CAE, COMSEA, CMDRS), nutricionistas, merendeiros, escritórios locais das Empresas Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), representações das organizações da agricultura familiar. O projeto de venda de gêneros alimentícios da agricultura familiar para a alimentação escolar consiste em um projeto de sucesso, pois incentiva o aumento qualitativo e quantitativo da produção rural. Para ocorrer este processo, é necessário que os participantes sigam algumas normas. Participantes do processo de compra: são secretarias estaduais de educação, prefeituras, escolas e unidades executoras. Devem elaborar orçamento, cardápio, pesquisa de preço, chamada pública, elaboração do projeto de venda, recebimento do projeto de venda, amostra para controle de qualidade, seleção dos projetos de venda, contrato de compra e termo de recebimento. Os participantes do processo de venda dividem-se em grupo formal que são as cooperativas e associações de agricultores familiares, e em grupo informal que são grupos de agricultores familiares. 6 2.3 Cooperativismo O cooperativismo representa a união entre pessoas voltadas para um mesmo objetivo. Através da cooperação, busca-se satisfazer as necessidades humanas e resolver os problemas comuns. O fim maior é o homem, não o lucro. Uma organização dessa natureza caracteriza-se por ser gerida de forma democrática e participativa, de acordo com aquilo que pretendem seus associados. Remontando no tempo, vamos encontrar em 1610, com a fundação das primeiras reduções jesuíticas no Brasil, o início da construção de uma espécie de estado cooperativo em bases integrais. Por mais de 150 anos, esse modelo deu exemplo de sociedade solidária, fundamentada no trabalho coletivo, onde o bem-estar do indivíduo e da família se sobrepunha ao interesse econômico da produção. A ação dos padres jesuítas se baseou na persuasão, movida pelo amor cristão e no princípio do auxílio mútuo (mutirão), prática encontrada entre os indígenas brasileiros e em quase todos os povos primitivos, desde os primeiros tempos da humanidade. (MASY, 1992). Porém, é em 1847 que situamos o início do movimento cooperativista no Brasil. Foi quando o médico francês Jean Maurice Faivre, adepto das idéias reformadoras de Charles Fourier, fundou, com um grupo de europeus, nos sertões do Paraná, a colônia Tereza Cristina, organizada em bases cooperativas. Essa organização, apesar de sua breve existência, contribuiu na memória coletiva como elemento formador do cooperativismo brasileiro. Contudo, para aprofundar-nos no desenvolvimento histórico do cooperativismo no Brasil, é necessário fazê-lo por ramos, ou seja, tipos de cooperativas, já que cada um teve a sua própria história, com dificuldades e sucessos distintos, dependendo, quase sempre, das facilidades ou obstáculos oferecidos pelo Governo. (COOP-SP, 2011). Os princípios cooperativos são as linhas orientadoras através das quais as cooperativas levam a prática os seus valores. Em sua mais recente formulação, em 1995, pela Aliança Cooperativa Internacional – ACI, os princípios cooperativistas passaram a ter a seguinte redação: (BÜTTENBENDER, 2008). I - Adesão voluntária e livre – as cooperativas são organizações voluntárias, adeptas a todas as pessoas aptas e utilizar os seus serviços, e dispostas a assumir as responsabilidades como membros, sem discriminação de sexo, sociais, raciais, políticas ou religiosas; II - Gestão democrática pelos membros – as cooperativas são organizações democráticas controladas pelos seus membros, que participa, ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos outros membros são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); III - Participação econômica dos membros – os membros contribuem eqüitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Pelo menos parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, e se a houver, uma remuneração limitada ao capital subscrito como condição da sua adesão. Os membros afetam os excedentes a um ou mais dos seguintes objetivos: desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da criação de reservas, parte das quais, pelo menos, será indivisível; benefício dos membros na proporção das suas transações com a cooperativa; apoio a outras atividades aprovadas pelos membros; IV - Autonomia e independência – as cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se estas firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem ao capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia das cooperativas; 7 V - Educação, formação e informação – as cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos, dos dirigentes e dos trabalhadores de forma a que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral sobre a natureza e as vantagens da cooperação; VI – Inter cooperação – as cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais; VII - Interesse pela comunidade – as cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros. Através desta relação, entre agricultura familiar, merenda escolar e cooperativismo, os atores envolvidos, sejam estaduais ou municipais, também passem a utilizar parte do seu orçamento destinado à alimentação escolar na aquisição de produtos dos agricultores e dos empreendedores familiares rurais, aumentando com isso o valor investido na produção agrícola familiar e estimulando a economia local. Os agricultores vêem no fornecimento da produção de alimentos, a possibilidade de expansão do mercado, com aumento da produção, da comercialização e do número de empregos. O jovem agricultor terá motivo para não sair do meio rural, o mercado será expandido em conseqüência da maior procura pelos produtos, além da geração de renda ser incrementada. 3. Procedimentos Metodológicos O presente estudo caracteriza-se como estudo de caso e uma pesquisa exploratória, pois foi realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. De acordo com Oliveira (1997) quanto à pesquisa exploratória, ênfase dada à descoberta de práticas ou diretrizes que precisam modificar-se e na elaboração de alternativas que possam ser substituídas. Constitui pesquisa descritiva, expor características de determinada população ou de determinado fenômeno, pode também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza. Não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação. De acordo com os meios esta investigação se classifica como um estudo de caso, pois está circunscrita a uma ou poucas unidades, entendidas. (VERGARA, 2000 p. 7) Para Yin (2001), estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que busca examinar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto. O autor, também afirma que o estudo de caso representa uma maneira de se investigar um tópico empírico seguindo-se um conjunto de procedimentos pré-especificados, como experimentos, levantamentos e análise de informações. Ainda conforme Yin (2001), o estudo de caso é uma estratégia comum na pesquisa da administração e outras áreas. Permite uma averiguação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real, tais como processos organizacionais e administrativos. Em outras palavras, o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que envolve um método que abrange tudo, com a lógica de planejamento incorporando abordagens específicas à coleta de dados e análise de resultados. Para atender aos objetivos do estudo, a coleta de dados foi baseada em entrevista semi-estruturada e no anexo 2, um questionário enviado aos secretários e líderes dos municípios da região. 8 3.1. Definição do Objeto Metodológico de Estudo Para a investigação dessa temática iniciada em março do corrente ano, empregou-se o estudo de caso com abordagem quantitativa dos produtos agrícolas provenientes diretamente da agricultura familiar e/ou através de suas cooperativas constituídas. Também foram utilizados dados bibliográficos, documentos oficiais e legislações vigentes para contextualizar o panorama alimentar e as políticas públicas relativas à segurança alimentar e nutricional. Em relação aos instrumentos e critérios a serem utilizados, buscou-se informações com nutricionistas, secretários municipais envolvidos no projeto. Conselhos de alimentação escolar, etc. contabilizando todas estas fontes de informações, que culminaram nas tabelas conforme figuras 02 e 03. Neste sentido, é importante destacar a contribuição do orientador do estudo. Primeiro: pelo conhecimento nesta área e pela forma de transmitir segurança, com sugestões de novas fontes de pesquisa. Segundo: por provocar nossa capacidade, instigando a busca de maior aperfeiçoamento e qualidade na arte final deste artigo. 4. Apresentação e Análise de Dados O Território da Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, (figura 01) composto pelos 20 (vinte) municípios como segue: Alecrim, Alegria, Boa Vista do Buricá, Campina das Missões, Cândido Godói, Doutor Maurício Cardoso, Horizontina, Independência, Nova Candelária, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Santo Cristo, São José do Inhacorá, Senador Salgado Filho, Três de Maio, Tucunduva e Tuparendi). Estes municípios abrangem, no total, uma área de 4.639 km², apresentando uma estimativa de população de 204.634 habitantes, sendo que 137.754 habitantes vivem na área urbana (67,32%) e 66.880 habitantes na rural (32,68%). Figura 1 – Mapa da Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul Fonte: PTDRS; CODETER, Planejamento Participativo, 2009. 9 4.1. Localização A região denominada “Fronteira Noroeste” localiza-se ao noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Figura 01), fazendo limites com o país Argentina, através do Rio Uruguai, que banha os municípios de Dr. Maurício Cardoso, Novo Machado, Porto Mauá, Alecrim, Porto Vera Cruz e Porto Lucena. A região Fronteira Noroeste foi a “última região a ser incorporada ao desenvolvimento do Estado”. Vários municípios da região eram pertencentes à Santa Rosa (criada em 1931), que foi um desmembramento de Santo Ângelo, que no período de sua criação (1873), era considerado o maior município do Estado do Rio Grande do Sul. 4.2. Caracterização das Escolas e Estudantes nos Municípios da Região Fronteira Noroeste O presente estudo tem como objetivo realizar levantamento de dados sobre o consumo da merenda escolar na região da Fronteira Noroeste, a fim de identificar o montante do consumo/ano, com o propósito de contribuir na organização da produção e aos agricultores para o fornecimento de alimentos em tempo integral para a merenda escolar. Para o alcance dos objetivos, foi realizado o levantamento das escolas estaduais e municipais, bem como do número de alunos, a variedade e a quantidade de alimentos consumidos. De acordo com a pesquisa realizada (fig. 02), detectou-se que a quantidade de escolas municipais é bem superior às das escolas estaduais, perfazendo a representação de 64,21% e 35,79% respectivamente. Porém, analisando-se o número de estudantes, curiosamente obtevese uma inversão no índice de alunos nas escolas municipais na razão de 43,40% contra 56,60% nas escolas estaduais. Embora este artigo se baseie no estudo quantitativo em relação ao consumo de produtos da pequena agricultura e a merenda escolar, percebe-se nesta ótica, que há estrutura física ociosa na rede estadual de ensino, ou seja, com possibilidade de implementação de mais turnos e, conseqüentemente, espaço para o crescimento de consumo. Figura 02 – Planilha de escolas e alunos das redes de ensino municipal e estadual em 2010. 10 As Escolas particulares e federais não estão contabilizadas no quadro anterior em virtude de as mesmas não integrarem o programa Nacional de Merenda Escolar (PNAE). 4.3. Produtos Consumidos na Merenda Escolar em 2010 Esta pesquisa foi desenvolvida mediante a aplicação de uma planilha pré-elaborada com a finalidade de captação dos principais produtos consumidos nos municípios que abrangem a região Fronteira Noroeste. A entrevista, de modo geral se deu de forma direta e semidireta, através do envio da planilha via fax símile ou email para as secretarias municipais da Educação e Agricultura dos segmentos contemplados com o objeto em estudo, e posterior análise do volume de gêneros alimentícios consumidos na merenda escolar de cada município, bem como, da relação de consumo e a média dos preços praticados. Figura 03 – Planilha de produtos consumidos na merenda escolar. (Ampliado anexo 3) Quanto ao volume dos gêneros alimentícios consumidos na merenda escolar de cada município, conforme figura 03, observou-se que o maior consumidor de produtos por quilo em 2010 foi o município de Sen. Salgado Filho, com 11,71Kg/aluno e o menor consumidor por peso o município de Três de Maio, com apenas 1,04Kg/aluno. Porém, neste quesito cabe uma explicação adicional, uma vez que Três de Maio consumiu 200Kg de fígado bovino, 400Kg de brócolis e 200Kg de queijo colonial não constantes na planilha pesquisada. No que tange ao leite e bebidas lácteas, observou-se que o campeão de consumo foi o município de Horizontina, com 11,51 litros/aluno e o menor consumo o município de Dr. Maurício Cardoso, com 0,65lt/aluno, desconsiderando-se que o município de Três de Maio figura sem consumo neste item, em razão de prestigiar a indústria láctea recentemente instalada naquele município, não adquire leite diretamente da agricultura familiar, nem de suas cooperativas. 11 Já no consumo de ovos o município de Três de Maio subiu ao topo do ranking, com 16,98 dúzias/aluno e Sen. Salgado Filho como menor consumidor, na razão de uma dúzia/aluno. Interessante observar que o consumo de farinha naquele município foi considerável, (2,02Kg) em comparação com os ovos consumidos. Para Kotler e Armstrong (1995), a cultura é de grande importância no comportamento de uma pessoa. “A cultura tem efeito profundo em porque as pessoas consomem. A cultura afeta os produtos específicos que as pessoas compram, assim com a estrutura de consumo, a tomada de decisão individual e comunicação numa sociedade”. (ENGEL et al., 2000, p. 397). Observa-se, portanto, que as variantes culturais entre o menor e o maior consumo, de modo geral, são bastante elevados para uma região cujas raças predominantes e costumes alimentares são parecidos. Mas esta observação tende a melhorar com a implantação de empreendimentos agroindustriais de pequeno e médio porte, como forma de promover a industrialização rural e a verticalização do setor primário, é geralmente considerada uma das mais eficientes alternativas de política de desenvolvimento rural e regional de um país. 4.3.1. Média de Preços A avaliação dos resultados foi desenvolvida através do cálculo do preço médio de cada produto que compõe a planilha pesquisada. Utilizou-se para tanto, a composição dos dados coletados junto às prefeituras para análise e posterior confecção do gráfico tipo torre 3D, conforme figura 04. Figura 04 – Preço médio dos produtos consumidos na merenda escolar Fonte: Secretarias Municipais 2010 – Organização Própria O gráfico representa de forma ascendente, o preço médio praticado pelos agricultores familiares e suas cooperativas. Em análise superficial, observou-se que mesmo com os custos mais elevados, os produtos hortícolas mantêm os preços similares aos praticados no mercado e sua aceitação justifica o crescimento do consumo. 12 Quando ocorrem investimentos no segmento de agroindústria familiar, faz gerar mais renda para as famílias rurais, ampliando os direitos de cidadania dos agricultores envolvidos no processo, os quais serão irradiados para o perímetro urbano. Ao contrário da modernização assistida na década de 60, onde imperava o discurso da produtividade, da mecanização e do consumo de massa, o que hoje assistimos, é o discurso da qualidade de vida, da qualificação e da participação da mão-de-obra e da competitividade, ou seja, à disputa de mercados específicos e internacionais. (FONTOURA, 2002, p. 33). O cenário acima, hoje promissor, ainda contraria estudos realizados no sul do país de que a partir de 1990 os estabelecimentos familiares estão perdendo os sucessores com a saída dos jovens do meio rural e o abandono das unidades de produção. Felizmente, essa pesquisa aponta um tímido princípio de reversão das causas para este esvaziamento de transição demográfica, a masculinização e o envelhecimento no campo, o intenso processo migratório, as maiores possibilidades de escolarização, maior integração cidade-campo, a insatisfação dos ganhos obtidos na agricultura; a penosidade e a imagem negativa do trabalho agrícola. Este discurso valorizando a qualidade de vida, culminando na busca de produtos sem agrotóxicos, abre uma importante janela e desperta um novo horizonte para a agricultura familiar e sua estrutura cooperativa. Estende também a estes, uma perspectiva de permanência ou o retorno do jovem ao campo que, com a integração de novas técnicas e a possibilidade da aposentadoria rural, potencializa melhor qualidade para este setor. 4.4. A Demanda da Merenda Escolar e as Possibilidades de Produção Ao analisar os dados frente ao contexto territorial da região fronteira noroeste, verificou-se que o volume de gêneros alimentícios consumidos na merenda escolar em 2010, corresponde ao montante de 170.538,00Kg de açúcar mascavo, carnes, farinha, feijão, etc., além de uma variedade de legumes vendidos por peso. O leite e a bebida láctea somam 117.678,00 litros, enquanto que o consumo anual de ovos supera 8.500,00 dúzias e, os produtos vendidos por unidade, tais como: alface, couve-flor, repolho e outros totalizam 28.261 unidades. Quanto às possibilidades de produção há espaço para crescimento e, principalmente, na especialização e estruturação para o fornecimento nos períodos da entre safra. Neste sentido, buscamos informações no link HTTP://www.agrolink.com.br/notícias/governadordo-rs-conhece-prioridade-da-agricultura-familiar.html acesso em 12 de abril de 2011, cuja pesquisa cita que a agricultura familiar está afirmando-se cada vez mais como sujeito social e econômico, e ainda, reforçando sua importância na sociedade brasileira, especialmente na produção de alimentos a região sul é responsável pela produção de 80% do leite, 69% de produtos suínos, 80% de feijão, 65% do milho, 49% de trigo, 89% de mandioca, 83% da banana, 81% da uva, 92% da cebola e 77% da produção de laranja. 4.5. Proposição de iniciativas A principal preocupação na proposição de iniciativas que visem ampliar a produção e oferta deve ser a forma de produção de alimentos que atenda as necessidades nutricionais da população e garanta a reprodução social e econômica dos agricultores familiares, a partir de formas alternativas de produção e comercialização de alimentos. 13 Uma alternativa é estreitar as relações entre produção e consumo através da criação de redes alternativas de alimentos, por meio das chamadas “cadeias curtas” de produção e comercialização. Estas cadeias curtas de alimentos criam novas conexões que podem aproximar a relação entre produtores e consumidores. Entendem-se como cadeias curtas de alimentos: • Os mercados “face a face”, como a venda direta da produção entre quem produz e quem consome. (ex. feiras de hortifrutigranjeiros); • Os mercados de proximidade, através da produção dirigida para os mercados institucionais alimentação das escolas públicas, creches, hospitais, etc.; • Os mercados expandidos, como a venda de produtos certificados que são consumidos fora da região de produção. As cadeias curtas de alimentos, conforme explicitado acima, ampliar as possibilidades de inclusão social dos agricultores familiares, sua diversificação e a redução da dependência, pois valorizam as características como a confiança, a qualidade, os hábitos alimentares e a cultura local, permitindo a inserção dos produtos da agricultura familiar em mercados diferenciados. Portanto, a organização da agricultura familiar para a construção de cadeias curtas de alimentos favorece tanto os próprios agricultores como toda a sociedade, por possibilitar o acesso a alimentos saudáveis e de qualidade para a população, garantindo sua segurança alimentar e por oportunizar a venda direta de alimentos produzidos pelos agricultores do município ou região, fortalecendo e movimentando a economia local. O acesso e a construção de mercados diferenciados de comercialização dos produtos da agricultura familiar podem ser potencializados na medida em que os agricultores se organizarem em associações e possibilitando aos agricultores alcançarem objetivos que individualmente não conseguiriam. É através de associações e cooperação que os agricultores se fortalecem e em conseqüência fortalecem também suas comunidades de forma solidária com inclusão social e desenvolvimento local. Para tanto, elencamos a seguir algumas experiências pessoais, fatores que julgamos de relevância para a consolidação e o fortalecimento da agricultura familiar: a) Em relação às Agriculturas Familiares e Cooperativas: • Apoio à organização da agricultura familiar para a comercialização e, em especial, para o abastecimento da alimentação escolar. Destinação de recurso financeiro para pessoal que atue junto aos grupos da agricultura familiar (formais e informais) através, de editais públicos; • Apoio ao modelo de pequenas cooperativas, pela sua administração simplificada e pela gestão mais próxima à cultura das famílias de agricultores; • Implementação de programa de governo objetivando a de educação ambiental e alimentar como eixo transversal nas escolas, diretamente relacionado à alimentação escolar, abordando os alimentos provenientes da agricultura familiar nas atividades curriculares; • Fomento à formação de cardápios por nutricionistas a partir de produtos da agricultura familiar e orientação às merendeiras das escolas públicas sobre esses alimentos, incluindo formas diversificadas de preparo a fim de garantir maior aceitação pelos alunos; b) Em relação às Agroindústrias: • Maior esclarecimento dos procedimentos necessários à regularização das agroindústrias familiares, bem como maior diálogo entre os setores responsáveis por esta no poder público (sanitário, fiscal, tributário e ambiental); • Construção de legislação sanitária específica ou adequação da legislação sanitária atual às características da agricultura familiar, respeitando e valorizando formas de 14 saberes e fazeres local, garantindo a segurança, qualidade e diversidade dos produtos, nesse sentido priorizando as Boas Práticas de Fabricação em relação às exigências de estrutura/edificação; • Revitalização de edificações de agroindústrias já construídas e desativadas na região da Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul e apoio à construção de projetos para novas edificações, formação para gestão, qualificação de produtos, dentre outros; • Revisão dos critérios de enquadramento das agroindústrias familiares no Programa das Agroindústrias Familiares, considerando a inclusão da mão-de-obra familiar como parte dos recursos provenientes da propriedade; • Garantia de políticas públicas para formar alternativas de produção familiar orgânica e ecológica bem como do processamento de alimentos de forma artesanal e familiar; • Garantia de apoio quanto a linhas de crédito e assessoria para custeio das despesas de regularização da agroindústria, licenciamento ambiental, registros fiscal e sanitário; • Equipar os municípios para o licenciamento ambiental, o sistema de inspeção municipal e o registro de agroindústrias que processam produtos de origem vegetal, criando nas prefeituras equipes que possam atuar de forma conjunta na análise de cada pedido de regularização de agroindústria familiar, intensificando o apoio técnico ao setor e promovendo a adequação às normas de acordo com a realidade local; b) Plasticultura e retorno do jovem ao campo: • A cultura em estufas (plasticultura) é também uma importante proposição para garantir o suprimento da necessidade de produção em tempo integral, (entre safras), bem como de proteção das intempéries do tempo; • Melhorar a política de custeio existente como incentivo à permanência e/ou o retorno do jovem ao campo. Que estas políticas sejam direcionadas também aos jovens emancipados que ainda não possuem seu próprio pedaço de chão, trabalhando em propriedades dos pais, detentores da propriedade familiar, como um bem de toda a família. Por fim, ressaltamos a necessidade da continuidade do trabalho de organização e apoio à agricultura e a agroindústria familiar, destacando que a viabilidade dos empreendimentos familiares e o fortalecimento da compra dos produtos ‘in natura’ ou industrializados diretamente da agricultura familiar ou de suas cooperativas para a alimentação escolar, em muito dependem de ações concretas dos governos municipais e estadual para avançarem. 5. CONCLUSÃO Observou-se durante o presente estudo que a agricultura familiar na Região Fronteira Noroeste está bastante desenvolvida se comparado a outras regiões do Estado, em função da maioria das propriedades serem de minifúndios. Este desenvolvimento talvez se justifique pela presença da Escola Estadual Técnica “Fronteira Noroeste” e pelo Instituto Federal Farroupilha recentemente instalado, especializadas na formação de técnicos agrícolas e outras atividades afins. Mas ainda há dificuldades quanto à falta de mão-de-obra, produtividade relativamente baixa, acessar financiamentos com juros compensadores, melhoria na assistência técnica, qualidade e comercialização dos produtos e qualificação administrativa para algumas agroindústrias existentes. Quanto à mão-de-obra escassa, o que se nota é a falta de capacitação dos agricultores para imprimir qualidade e competitividade aos seus produtos, visando renda necessária na qualidade de vida no campo. Os jovens do meio rural anseiam não somente pela qualificação, 15 mas pela valorização e reconhecimento de sua profissão, como responsáveis pela produção de alimentos e pela preservação do meio ambiente. Com o advento da Lei nº 11.947 promulgada em 2009, que proporcionou a inclusão da agricultura familiar no mercado através do estabelecimento de, no mínimo, 30% do consumo da merenda escolar como fonte de estabilização econômica e melhora da qualidade de vida rural, estabeleceu-se um fato novo no horizonte. Diante disso, os agricultores se viram pressionados a desenvolver culturas e empregar estratégias cada vez mais focadas na melhoria da produtividade e qualificação profissional, estabelecendo um ritmo competitivo capaz de garantir sua própria sobrevivência, bem como a produção para essa demanda. De outra parte, os municípios como principais gestores dos recursos do FNDE, buscam identificar o perfil dos fornecedores, suas expectativas, seu comportamento quanto à segurança de produção, os atributos que influenciam na escolha de fornecedores com estas características, adicionadas ao potencial de produtividade e garantia de fornecimento capaz de alcançar um grau de satisfação para ambos. A escolha deste tema justifica-se pela inclusão do setor da agricultura familiar, contingente que há anos vêm definhando pela falta de mão-de-obra familiar em razão do êxodo dos jovens para as cidades, ocasionado pela supressão das escolas rurais além de outros fatores. Já no meio urbano, há uma compreensão errônea muito forte em relação à expressão: “que ser do interior é sinônimo de ser atrasado”. Então, muitos dos que têm um pouco mais de condições estabelecem a sua moradia na cidade e continuam cultivando a terra, e quando lhes é perguntado onde moram: logo se identificam como moradores urbanos e desprezam a sua identidade rural. Para a família, a permanência do filho na pequena propriedade é vista como empecilho de crescimento profissional, já que no interior tem pouco acesso à informação, a cultura, e a capacidade financeira do recurso mensal que a cidade oferta. Este fenômeno tem ocorrido na maior parte do mundo e está alterando também a sociedade brasileira através de um crescimento desproporcional nas cidades em detrimento ao segmento agrícola. Por outro lado, a capacidade de trabalho coletivo, com a implantação de agroindústrias familiares para ofertar produtos industrializados da propriedade para merenda escolar, além de agregar valor, proporciona mais solidez ao programa. Neste sentido, pode-se afirmar a relevância desta pesquisa para o setor e suas cooperativas entendidas como associações de indivíduos que buscam de forma solidária, a obtenção de resultados econômicos que permitam a melhoria do nível de vida de cada um e, principalmente, de todos que exercem suas funções no âmbito da pequena agricultura, denominada de “Agricultura Familiar”, na organização de redes de captação, de transformação e de comercialização dos produtos agropecuários na Fronteira Noroeste do estado do Rio Grande do Sul. A presença das cooperativas permite identificar uma organização social e produtiva num território que se tornou expressão de um conjunto de relações sociais materializadas nos resultados da cooperação e que, a partir dessas relações, criou espaço para a definição de competências e estratégias para o seu próprio desenvolvimento, bem como do desenvolvimento regional. A produção social do espaço agrícola no noroeste do estado é a expressão da relação do homem com o seu meio, materializado através de antigas práticas culturais dos movimentos rurais, hoje aderindo às ondas modernizantes através da implantação de processos tecnológicos direcionados à universalização da cultura e do nível gerencial, considerada de grande relevância para os gestores em razão da variedade e complexidade de estocagem dos produtos, levando em consideração o reduzido prazo de validade destes. Finalmente, os objetivos apresentados neste artigo foram atingidos e, através de um focus group, também foi possível identificar as variáveis a serem utilizados na estruturação 16 deste estudo, cujos dados da pesquisa na região noroeste mostraram ainda, que quando se compara itens consumidos pelas escolas, percebem-se altos e baixos em determinado período, e em diferentes municípios pesquisados. Esta variação também foi confirmada na composição da tabela de preços médios. Contudo, pode-se afirmar que na região noroeste, os jovens com maior educação formal e normalmente um pouco mais envelhecidos, mais preparados e maduros para enfrentarem os desafios que encontrarem pela frente tende a permanecer no meio rural. Mas, a baixa rentabilidade do setor agrícola pode interferir na decisão do jovem continuar ou não no meio rural. Portanto, é preciso que sejam desenvolvidos programas públicos e que estes sejam capazes de proporcionar melhoria de renda aos agricultores, facilitando a produção, a comercialização dos produtos rurais e a integração dos jovens rurais no processo. 6. Referências Bibliográficas Alimentação escolar. Disponível em <http://www.fnde.gov.br/index.php/programasalimentacao-escolar >. Acesso em 12 de abr. 2011 OLALDE, Alícia Ruiz. Agricultura http://www.ceplac.gov.br/artigo3.htm Familiar e desenvolvimento Sustentável. Agricultura Familiar no Brasil http://www.webartigos.com/articles/.html COOP-SP, 2011. Cartilha: Alimentação escolar e agricultura familiar. Coordenação de Agricultura Familiar do Programa Nacional de Alimentação Escolar (FNDE, 2011). Dallabrida & Büttenbender, 2006, pág. 6 e Famurs, 2009. ENGEL, James F.; BLACKWELL, Roger D.; MINIARD, Paul W. Comportamento do Consumidor. 8 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. FAO/INCRA Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável. Brasília, Versão resumida do Relatório Final do Projeto UTF/BRA/036, março, 1994. FONTOURA, Luiz Fernando Mazzini. Novos Contextos Urbanos-industriais. In: Anais do XXII Encontro Estadual de Geografia. Educs, 2002. IBGE, 2001. Lei 11.947 de 16 de junho de 2009 e Resolução FNDE nº 38, de 16 de julho de 2009. Manual Operacional de Crédito Rural PRONAF (2002). MASY, 1992, Cooperativismo no Brasil. http://vs2.agropar.coop.br/o-cooperativismo-nobrasil.html > Acesso em 29 de março de 2011. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis: LED/UFSC, 2000. VERGARA, 4. ed. São Paulo: Atlas, 2000. OLIVEIRA, Silvio Luiz de, Tratado de Metodologia Cientifica. São Paulo: Pioneira, 1997. PRETTO, N. D. L. Educações e culturas: em busca de aproximações. Rio de Janeiro: DP&A, 2005, p. 133-148. PTDRS; CODETER, Planejamento Participativo, 2009. 17 RAMOS DOS SANTOS, Sivaldo. Agricultura Familiar. Extensionista Rural da EMATER – PB, 12/01/2010. SCHROETTER, M. R. Plano de trabalho dos técnicos das bases de comercialização dos produtos da agricultura familiar e da economia solidária (bsc’s). Santa Rosa. 2010. WANDERLEY, N. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: TEDESCO (Org.) Agricultura familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo- RS: UPF, 2001, 405 p. YIN, Robert K. Estudo de Caso, planejamento e métodos. 2.ed. S. Paulo: Bookman, 2001. Agricultura Familiar no Brasil www.webartigos.com/artigos/agricultura-familiar-no-brasil/ 31006/ 12 jan. 2010 18 ANEXO 01 Siglas ACI – Aliança Cooperativa Internacional ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária CAE - Conselho de Alimentação Escolar CECANE – Cento Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar CME – Campanha da Merenda Escolar CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional EMATER – Empresa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural FAE – Fundação de Assistência ao Estudante FAO – (Food and Agriculture Organization) ou Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação FEE – Fundação de Economia e Estatística FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário MDS – Ministério do Desenvolvimento Social MPA – Ministério da Pesca e Agricultura ONG – Organização Não Governamental PAE – Programa de Alimentação Escolar PENAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar PIB – Produto Interno Bruto PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 19 ANEXO 02 Planilha encaminhada aos municípios: PRODUTOS CONSUMIDOS? AÇÚCAR MASCAVO ALFACE ALHO BATATA DOCE BEBIDA LÁCTEA BETERRABA BISCOITO - COCO BISCOITO - MANTEIGA CARNE BOVINA MOIDA CARNE BOVINA SEM OSSO CARNE SUÍNA CARNE FRANGO CENOURA COUVE-FLOR FARINHA MILHO FARINHA TRIGO FEIJÃO LEITE MANDIOCA MACARRÃO CASEIRO MEL MELADO MELÃO MORANGA OVOS REPOLHO TEMPERO VERDE TOMATE QUANTIDADE(ANO2010) 20 ANEXO 03