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SAÚDE MENTAL NAS ESCOLAS: REPENSANDO O ATO DE EDUCAR POR MEIO DO
AMOR TRANSFERENCIAL
NOME E ENDEREÇO COMPLETO DOS AUTORES:
Diego Alonso Soares Dias
Rua Pouso Alegre, 2442, apto 601, Bairro Santa Tereza, Belo Horizonte - CEP: 31010-514
Tel: (31) 35869865
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Alexandre da Silva Bispo
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e-mail: [email protected]
BREVE NOTA CURRICULAR DOS AUTORES:
Diego Alonso Soares Dias.
Graduação em psicologia. Psicólogo da infância integrante da equipe de Saúde Mental da
Prefeitura de Esmeraldas-MG.
Alexandre de Silva Bispo.
Graduação em psicologia. Referência Técnica de Saúde Mental do município de EsmeraldasMG.
SUMÁRIO
Este trabalho organiza-se a partir da perspectiva da “intersetoriedade”. Busca-se a
articulação de um trabalho em rede entre a Saúde Mental e as escolas do município de
Esmeraldas-MG. O elevado número de encaminhamentos de alunos ao serviço de Saúde
Mental Infanto-juvenil permitiu que constatássemos um “embaraço” por parte dos
profissionais frente às dificuldades que permeiam o ensino na atualidade. Dessa forma,
começamos a realizar visitas mensais às escolas, em que reproblematizamos o ato de educar
na situação de trabalho. Nesse sentido, abordamos a idéia de que o educar vincula-se a uma
relação transferencial entre criança e professor. Tal relação, que pode se mostrar em diversos
momentos amorosa, é um elemento fundamental que interfere no aprendizado e na decisão de
se encaminhar os alunos ao serviço de saúde. Além disso, discutimos manifestações das
particularidades dos alunos, o que é importante para se repensar a estruturação escolar. Nossa
orientação teórica baseia-se na psicanálise.
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VERSÃO COMPLETA DO TRABALHO
As discussões em torno do ato de ensinar não são recentes. Desde as mais remotas
épocas, o processo de ensino-aprendizagem é algo que ocupa um importante lugar em
diversas sociedades, seja ele realizado por meio de uma relação direta entre mestre-aprendiz
ou mesmo entre professor-aluno. Nesse sentido, o que se percebe é que o ensino sempre
esteve vinculado a diversas peculiaridades, próprias de cada organização social.
A educação que encontramos hoje encontra-se estreitamente relacionado à
reestruturação da escola no início da Revolução Francesa. Tal reestruturação tinha como
intuito primordial formar cidadãos aptos a afirmarem e a reproduzirem o modelo capitalista.
Nesse sentido, é possível dizermos que até mesmo o termo infância como conhecemos
atualmente é oriundo desse período (séculos XVI-XVII). A infância vincula-se a um modelo
educativo que se estrutura na época (Tendlarz, 1997), sendo que o discurso pedagógico se
torna um importante dispositivo que age sobre as crianças.
É importante considerarmos é que escola e infância possuem uma relação visceral. De
certa forma, uma se ancora na outra para a sua própria definição. De acordo com Akerman
(1998), a escola é compreendida como o local onde as crianças devem estar. Lá são
transmitidos os valores morais indispensáveis a formação de um cidadão. Ao mesmo tempo,
legislações especiais como o Estatuto da Criança e do Adolescente (2001) reforçam esta
postura, ao afirmarem que as crianças encontram-se em fase de desenvolvimento físico, social
e mental, e que a escola é um dispositivo de importância única para que esse desenvolvimento
ocorra de fato. Exemplo disso está na ênfase que o ECA coloca na freqüência escolar das
crianças e adolescentes.
De qualquer maneira, o ato de educar na atualidade tem se configurado como algo
extremamente desafiante. Alunos se tornam cada vez mais desobedientes e desafiadores. A
lista de queixas é imensa. Como resultado de tantas dificuldades, as situações normalmente
culminam em um encaminhamento psicológico. A única saída é pressupor a existência de um
distúrbio na criança, o que leva a uma suposta necessidade de tratamento. Foi com uma
situação semelhante com que nos deparamos no município de Esmeraldas.
Esmeraldas se localiza na Região Metropolitana de Belo Horizonte-MG, a
aproximadamente 60 km da capital. Possui cerca de 65.000 habitantes e oito escolas,
distribuídas em diversos bairros da cidade. Nesse município, se torna significativo o elevado
número de encaminhamentos realizados pelas escolas ao serviço de psicologia. A cada cinco
encaminhamentos que chegam, três são oriundos das escolas da região. As queixas são
diversas, variando desde baixo rendimento escolar à apatia ou agitação.
Com tais dados em mente, e averiguando a inadequação de diversos encaminhamentos
em relação aquilo que é preconizado pelo serviço de saúde mental (casos de neurose grave,
psicoses, autismo e tentativas de auto-extermínio), começamos a trabalhar diretamente no
local onde os encaminhamentos eram feitos: as escolas.
O trabalho nas escolas organizou-se por meio de um projeto piloto, em que três
escolas foram selecionadas de maneira aleatória e visitadas mensalmente pelos profissionais
de saúde mental. Durante a reunião, os professores abordavam suas dificuldades e problemas
que permeavam seu trabalho. Ao mesmo tempo, separavam algumas situações consideradas
mais complexas para discussão em grupo. A partir daí, novas estratégias eram pensadas frente
aos problemas apresentados.
É importante ressaltar também que os encontros não se caracterizavam por serem uma
palestra de caráter simplesmente informativo. Os profissionais eram chamados a se
posicionarem diante das situações que os incomodavam, criando suas próprias maneiras de
lidar com as questões que os acometiam. Assim sendo, as mais diversas situações começaram
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a ser trabalhadas, variando desde a problemas institucionais às questões relativas a relação
entre professores e alunos. A última, a relação professor-aluno, é especialmente significativa,
posto que ela influencia de forma predominante no ato de encaminhar os alunos. Nesse
sentido, é importante mencionar a natureza transferencial de tal vínculo, que interfere
diretamente na suposição da existência ou não de algum distúrbio na criança. Julgar que uma
criança possui um distúrbio psíquico que necessita de tratamento nesses casos remete, em
última instância, a pressupor a existência de um distúrbio que têm o amor (transferencial)
como pano de fundo. Esse amor leva a um transtorno.
No entanto, que tipo de amor seria esse? De acordo com Freud (1996), em sua
concepção clássica, o amor (transferencial) remete a determinadas relações ocorridas na tenra
infância. Tais relações forneceriam modelos que serviriam de base para relações futuras,
agindo ativamente na escolha de diversos objetos amorosos. O mecanismo de identificação
opera de maneira determinante no estabelecimento de diversas relações interpessoais. Em um
contexto educacional, um fenômeno dessa natureza ocorre a todo momento, visto que os
traços tanto de alunos quanto de professores fornecem subsídios para o estabelecimento de
uma relação transferencial. O processo de aprender vincula-se diretamente a qualidade dessa
relação.
Ainda assim, na instituição escolar é preciso que conteúdos e matérias sejam passados
aos alunos. É justamente nesse ponto que se encontra um impasse próprio dos professores em
relação aos seus alunos. Os professores, encarnando o papel de educadores, projetam diversas
expectativas em seus alunos. Tais expectativas vinculam-se intrinsecamente à postura
disciplinar da instituição pedagógica, lugar por excelência moral. Aos professores cabe o
exercício de uma posição de autoridade, a transmissão de um saber incontestável e
naturalizado, e o papel de disciplinadores, que zelam pelo bom funcionamento da escola. Às
crianças, já é reservada o lugar de obediência, respeito e estudo (Akerman, 1998). Em
diversos casos, a identificação a esses lugares é um indício (embora não seja o único) de uma
boa relação entre professor e aluno. Por outro lado, a resposta do sujeito fora desse lugar leva
ao juízo da existência de um ato patológico, passível de tratamento. O tratamento estaria
vinculado a uma proposta de domesticação do sujeito na escola.
A relação transferencial amorosa na escola, portanto, aproxima-se bastante do apego
comum a um mesmo ideal: o ideal moral. Tal idéia também encontra respaldo em Freud, ao
estudar as relações e vínculos grupais (FREUD, 1996). É isso que justifica todo um processo
de identificação entre professores e alunos em prol de algo em comum. Um mal-entendido
nesse equilíbrio leva a uma tentativa de correção, o encaminhamento. Encontra-se aqui o foco
de nosso trabalho nas escolas: ele procura abalar essa dita harmonia, para que o diferente
também possa ser abarcado no processo educacional, por meio de novas posturas e
posicionamentos. Faz-se necessário também que os professores se abram a essa nova
perspectiva, enxergando para além de uma relação “viciada” entre professores e alunos. Uma
relação em que o ideal se opõe de maneira extrema ao que é possível, ditando a forma de
posicionamento de toda uma instituição escolar. Mas como fazer isso? Os próprios
professores é que dizem, quando se abrem ao diferente e ao que é possível de ser feito.
Referências
AKERMAN, Jacques. Estratégias de segregação na infância e adolescência: problemas e
impasses do encaminhamento para tratamento em instituições de saúde mental. 1998. 175 f.
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, FAFICH. Programa de pósGraduação em Psicologia.
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BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. 10. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2001. 211p.
(Manuais de legislação Atlas)
FREUD, Sigmund. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud: volume 12 : o caso de Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalhos.
Rio de Janeiro: Imago, 1996. 406 p.
FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos. In:
FREUD, Sigmund. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 18 (79-153)
TENDLARZ, Sílvia Helena. De que sofrem as crianças? A psicose na infância. Rio de
Janeiro: Sette Letras, 1997. 127 p.
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DECLARAÇÃO DE CESSÃO DOS DIREITOS AUTORAIS
Belo Horizonte, 30 de Julho de 2010
Nós, Diego Alonso Soares Dias e Alexandre da Silva Bispo, autores do trabalho intitulado
“SAÚDE MENTAL NAS ESCOLAS: REPENSANDO O ATO DE EDUCAR POR MEIO
DO AMOR TRANSFERENCIAL”, o qual submetemos à apreciação da Comissão
Organizadora do IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e X Congresso
Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, concordamos que os direitos autorais a eles
referentes se tornem propriedade exclusiva da Associação Universitária de Pesquisa em
Psicopatologia Fundamental – AUPPF, sendo vedada qualquer reprodução total ou parcial,
em qualquer outra parte ou meio de divulgação impressa ou virtual sem que a prévia e
necessária autorização seja solicitada por escrito e obtida junto à AUPPF.
Atenciosamente,
Diego Alonso Soares Dias
Psicólogo da Infância e Adolescência.
Alexandre da Silva Bispo
Referência Técnica de Saúde Mental do município de Esmeraldas-MG.
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