CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS SOBRE O ENSINO DE GEOMETRIA Ádna Elba Oliveira1 Gilda Lisbôa Guimarães2 RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo investigar quais concepções respaldam a prática dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental sobre a prática do ensino de geometria, bem como seu domínio conceitual e possíveis implicações para a aprendizagem dos alunos. Realizamos esta pesquisa em 4 escolas da Rede Municipal de Ensino do Recife. Em cada escola foram entrevistados 1 professor do 2° ano e 1 do 5° ano, totalizando 8 professores. O critério de escolha dos professores foi que os mesmos utilizassem a coleção de livro didático com o maior percentual de escolha entre as escolas da Rede municipal. Os resultados demonstram uma ênfase no trabalho com formas geométricas regulares planas e sólidas e sua comparação com objetos do cotidiano em detrimento ao trabalho sobre a exploração, localização e representação do espaço. Consideramos de suma importância que haja um maior investimento na formação continuada dos professores, na área do ensino de geometria, por possibilitar momentos de reflexão e ressignificação de suas concepções. Palavras-chave: Ensino de Geometria – Concepções - Professores dos anos iniciais. O ensino de Geometria tem sido foco de diversos estudos (CRESCNETI, 2005; ALMOULOUD, MANRIQUE, SILVA E CAMPOS, 2004; MANRIQUE, 2003). Contudo, de acordo com pesquisa realizada por Andrade e Nacarato (2004), mesmo com um percentual significativo de trabalhos publicados nos Encontros de Educação Matemática (ENEMs), na área de Geometria, “(...) pesquisas continuam apontando para o fato de que a geometria ainda está bastante ausente das salas de aula, principalmente na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental” (p.69). Um dos fatores que justificam esta ausência, segundo Guimarães e Borba (1996) é que em muitos currículos de cursos para formação de professores, a Geometria é abordada superficialmente e “(...) dessa forma, o conhecimento apropriado por estes 1 Graduanda do curso de Pedagogia – Centro de Educação UFPE. [email protected]. Profª Drª do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino - Centro de Educação - UFPE. [email protected] 2 2 é limitado. Como o conhecimento que o professor detém determina como ele vai trabalhar com o aluno, cria-se um ciclo vicioso que precisa ser rompido” (p.2). Estudos como os de Guimarães e Dantas (2006), Silva (2006), Hiratsuka (2005), Almouloud et al (2004) e Manrique (2003), ressaltam a importância da formação continuada do professor que esta em sala de aula, pois esses momentos podem ser significativos para o desenvolvimento de competências, atitudes e ressignificação de suas concepções, uma vez que possibilitam a reflexão sobre a prática dos mesmos. Contudo, de acordo com Almouloud et al (2004), os cursos de formação continuada ainda não atendem aos objetivos em relação à abordagem do ensino de geometria. Segundo Mello (2002): (...) ninguém facilita o desenvolvimento daquilo que não teve oportunidade de desenvolver em si mesmo. Ninguém promove a aprendizagem de conteúdos que não domina nem a constituição de significados que não possui ou a autonomia que não teve oportunidade de construir. (p. 8-9). Ainda, de acordo com os PCN’s de matemática (1997) “parte dos problemas referentes ao ensino de matemática estão relacionados ao processo de formação... tanto em relação à formação inicial como à formação continuada” (p.24). As conseqüências desse problema são refletidas na prática do professor em sala de aula. Segundo Bizerril, Muniz e Lunes (2006) “discutir a aprendizagem e o ensino de geometria no curso de formação de professores impõem uma série de desafios”. Eles ressaltam que um dos entraves para a superação desses desafios está na formação inicial dos futuros professores, pois ao longo da escolaridade “acabamos por desenvolver uma representação dessa importante área de conhecimento como sendo de difícil aprendizagem, com conceitos excessivamente complexos” e são essas concepções que acabam por influenciar, diretamente, à prática de ensino do professor.(p.257), Em estudo realizado por Thompson (1992), o termo concepção engloba “crenças, conceitos, significados, regras, imagens mentais e preferências, conscientes ou inconscientes” (p.132). Sendo assim, nas concepções está implícito o que os professores realmente acreditam ser importante. Barrantes e Blanco (2004) realizaram uma pesquisa sobre recordações, expectativas e concepções de professores em formação que ainda não tinham 3 recebido qualquer tipo instrução sobre o ensino de geometria nos anos iniciais. Os autores ressaltam que esses professores trazem consigo “influências de conhecimentos e experiências que os faz conceber que a geometria do plano é mais fácil do que a geometria do espaço, portanto, é mais importante e o seu ensino é fundamental”. Entretanto, os professorandos afirmaram não ter a pretensão de reproduzir seus professores, pois “intuem que existe uma cultura de ensinoaprendizagem distinta, que pode ser aplicada, ainda que pouco a conheçam e nem a ela tenham sido submetidos”. Contudo, por não terem o devido conhecimento prático e conceitual, suas recordações assumem uma influência maior do que suas expectativas podendo determinar práticas futuras em sala de aula. (p.35-36). Ainda, segundo Silva (2006), Crescenti (2005), Barrantes e Blanco (2004), os saberes constituídos pelo professor estão intrinsecamente relacionados às suas concepções adquiridas ao longo do percurso de formação. Tais concepções interferem diretamente na ação docente, na medida em que esses saberes representam um alicerce para a sua prática pedagógica, sustentando tudo aquilo que consideram com sendo verdadeiro. Para Tardif (2005): (...) os saberes são elementos constitutivos da prática docente. Em suma, o professor ideal é alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da educação e à Pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos. (p.39) Nessa perspectiva o professor necessita desenvolver uma ação contínua de reflexão sobre o porquê e o como ensinar, pois de acordo com Tardif (2005) “conhecer bem a matéria que se deve ensinar é apenas uma condição necessária e não uma condição suficiente do trabalho pedagógico” (p.120). O autor ainda reitera dizendo que os conteúdos, abordados pelo professor em sala de aula são desenvolvidos a partir dos significados que os mesmos lhes atribuem. Partindo desse mesmo pressuposto Manrique (2003) afirma que: (...) a identificação de crenças, concepções de ensino bem como representações do professor é vital para uma estratégia de transformação da prática docente, pois a identificação do pensamento do professor pode contribuir tanto para a determinação das ações formativas pelos agentes da formação, quanto para uma tomada de consciência da necessidade de mudanças pelo próprio professor. (p.15) 4 Para que o ensino, de determinado conteúdo, se dê de forma integral é necessário que os professores, durante sua formação inicial ou continuada, construam esse conhecimento, referente aos procedimentos da produção da Matemática (Pavanelo, 2004). De acordo com a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (PCN’s, 1997) o ensino de Geometria tem como objetivos, desenvolver a compreensão do mundo em que vive, aprender a descrevê-lo, representá-lo e localizar-se nele, estimulando a observação, percepção de semelhanças e diferenças, identificação de regularidades, compreensão de conceitos métricos, possibilitando, também, o estabelecimento de conexões entre outros conteúdos da matemática, como por exemplo, números e grandezas e medidas e na articulação com outra áreas do conhecimento como a Geografia e Artes. Pavanelo (2004) adverte sobre a importância de se atentar para a necessidade de um trabalho escolar com a Geometria, afirmando que “no mundo moderno, a imagem é extremamente utilizada como instrumento de informação, o que torna indispensável à capacidade de observar o espaço tridimensional e de se elaborar modos de se comunicar a respeito do mesmo” (p.129). Além desse fator, outra questão diz respeito às atividades desenvolvidas no âmbito escolar como a leitura e a escrita, que requerem dos alunos habilidades relacionadas à percepção espacial necessárias também para uma leitura significativa do mundo a sua volta. (PAVANELO, 2004; MANRIQUE, 2003). Crescenti (2005), também argumenta que a Geometria é um conteúdo da matemática que está muito presente no cotidiano, pois: (...) é uma área do conhecimento que reúne um vasto campo de relações, regras e coerências, despertando a curiosidade e estimulando o desenvolvimento de capacidades como generalizar, projetar, prever e abstrair. Favorece a estruturação do pensamento e o desenvolvimento do raciocínio lógico (...) estimula a criatividade e pode contribuir para desenvolver habilidades como resolução de problemas, investigação, capacidade de análise e síntese, iniciativa flexibilidade de pensamento, argumentação (...). (p.36) Considerando a prerrogativa anterior, estudos de Silva (2006) e Pavanelo (2004), acrescentam que o ensino de geometria não pode se restringir ao reconhecimento de figuras geométricas regulares planas e sólidas recorrentes no 5 cotidiano ou na aplicação de fórmulas para cálculo de áreas das mesmas. O aprendizado da Matemática, bem como dos conceitos da Geometria, se dá de forma processual e é preciso que o aluno tenha oportunidade de participar da produção do conhecimento matemático, em situações tais como “comparar, procurar regularidades, conjecturar, intuir, representar, estimar, simular, matematizar, modelar, propor e resolver problemas” (Gonzalez, 1997, p.25). Não basta apenas oportunizar aos alunos momentos nos quais eles observem, sintam, comparem, vejam, mas, tão significativo quanto essas ações é o desenvolvimento de capacidades como deduzir, abstrair, prever, projetar e argumentar, ou seja, conduzir o processo de ensino-aprendizagem de forma à possibilitar, também, a transição de uma Geometria observável para uma Geometria conceitual e abstrata. Nessa perspectiva, a Geometria é constituída de todos esses aspectos, ou seja, o intuitivo, o concreto e a união destes transpostos à realidade cotidiana (CRESCENTI, 2005; PAVANELO, 2004; MANRIQUE, 2003; SILVA, 2006). Segundo Bizerril et al (2006), para uma melhor compreensão de como se dá o processo de construção da conceitualização geométrica, podemos representá-lo em três níveis distintos: “da percepção (nível sensorial), da representação mental (nível simbólico) e a concepção (nível conceitual).” (p.662). Na primeira fase, concebida como um nível perceptivo estão atreladas às ações físicas e sensoriais, como movimentos, olhares, etc., realizadas por nós. Nesta fase nível há uma interdependência entre os conceitos geométricos e o sistema sensorial do aluno: (...) desde bem cedo, a criança, agindo sobre contextos reais e próximos a ela, realiza experiências, levanta hipóteses, planeja ações, avalia resultados e prevê posições consideradas importantes na construção dos primeiros conceitos geométricos (...) o conceito geométrico, no nível perceptivo, tem fundamental importância no processo de construção do conhecimento matemático e, por conseqüência, deve ser valorizado e respeitado no processo de aprendizagem escolar da geometria (...) (p.262-263) De acordo com Bizerril et al (2006), o segundo estágio, o qual esta diretamente relacionada às experiências, corresponde às representações mentais, ou seja: (...) o que o sujeito constrói mentalmente a partir das ações bem ou mal sucedias. Essas ações têm a ver como o sujeito concebe mentalmente suas experiências, como se dá a interiorização do espaço nas estruturas mentais (...) as formas geométricas são exemplo disso, que aparecem como forma de 6 representações do mundo e dos objetos a eles pertencentes. Uma vez concebidos no sistema nervoso central, são por ele utilizada par assimilar e representar o espaço (...) (p.263). É através do desenho, como uma das dimensões da geometria, que esse processo de representação se desenvolve, cabendo ao professor atentar para este aspecto na formação do pensamento geométrico do aluno (BIZERRIL ET AL, 2006). Segundo Vigotsky apud Smole (1996): O desenho faz com que o aluno adquira uma nova linguagem que amplia seu horizonte, exprime seus sentimentos e lhe permite expressar imagens que de alguma forma puderam chegar a sua consciência, ou seja, enquanto desenha a criança pensa no objeto e sua imaginação como se estivesse falando do mesmo. (p.87). É no terceiro estágio de acordo com Bizerril et al (2006), que se á a construção conceitual por parte do aluno: “é na ação efetiva, refletindo e representando-a que construímos nossos conceitos geométricos”. Assim, podemos considerar que o ensino-aprendizado de geometria se alicerça nessa tríade “que se constrói no processo de interação entre o sujeito e o mundo que o cerca: o que percebe, o que representa e o que concebe da experiência” (p.265). Crescenti (2005), afirma que muitas dessas questões ainda estão ausentes das salas de aula e uma das causas pode ser o fato da maioria dos professores não terem o devido acesso a tais informações, sendo necessário, neste caso, haver uma ponte entre essas pesquisas e o professor, oportunizando, assim, momentos de reflexão nos quais se discuta a possibilidade de transpor os conhecimentos referidos para a prática do ensino de Geometria nos anos iniciais. O desconhecimento destes fatores, pelo professor, terá como conseqüência um grande prejuízo para o ensinoaprendizagem deste eixo da matemática nos anos iniciais, pois este nível se constitui na base para o aprendizado de conceitos mais complexos do conteúdo da Geometria (NACARATO, 2007; ALMOULOUD ET Al, 2004). Um instrumento considerado significativo para a prática docente é o livro didático, uma vez que o mesmo pode ser um orientador sobre conteúdos e abordagens didáticas que podem ser desenvolvidas em sala de aula, como é afirmado pelo Plano Nacional do Livro Didático de matemática (PNLD, 2007) e por Oliveira e Calsa (2006). Exatamente por seu papel significativo na prática docente, é 7 que os PCN's de matemática (1997) ressaltam que o livro didático deve ser observado com atenção quanto à qualidade, à coerência e à restrição que eventualmente possa apresentar em relação a conteúdos e objetivos educacionais propostos, pois de acordo com diversos estudos dentre os quais o realizado por Silva (2006), em muitos casos o livro didático se constitui no único recurso utilizado pelo professore em sala de aula. Atualmente, segundo o PNLD de Matemática (2007), tem havido uma crescente preocupação nas coleções de livros didáticos em propiciar o desenvolvimento simultâneo de várias habilidades cognitivas como: memorização, síntese, análise, generalização, indução, estabelecimento de hipóteses e conjecturas, validação de estratégias e resultados. Nota-se um esforço genuíno de contextualização, uma preocupação com a inserção da Matemática no dia-a-dia dos alunos e uma tentativa de integrar os quatro eixos da Matemática no Ensino Fundamental. Dessa forma, é indispensável ao professor conhecer o livro didático que adota em todos os seus aspectos, abordagens, objetivos e pertinência das atividades propostas para ser capaz de intervir quando necessário como afirmam Queiroz e Guimarães (2006). Finalmente, esses autores ressaltam a importância de outros estudos sobre a prática do ensino de geometria na educação básica. Nesse sentido, esta pesquisa teve como objetivo investigar quais as concepções que respaldam a prática dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental no ensino de geometria, bem como seu domínio conceitual e possíveis implicações para a aprendizagem dos alunos. Metodologia Nossa pesquisa foi realizada em 4 escolas da Rede Municipal do Recife. Em cada escola foram entrevistados 1 professor do 2º ano e 1 professor do 5º ano, totalizando 8 professores. Escolhemos realizar esta pesquisa no 2° e 5° anos, pois acreditamos que, investigar esses anos da escolarização nos possibilitará colher dados significativos para analisarmos com esta sendo a prática do ensino de geometria anos iniciais do Ensino Fundamental. Para essa coleta de dados realizamos entrevistas semi-estruturadas, pois essas conferem à flexibilidade necessária à investigação a qual nos propusemos 8 realizar. As entrevistas foram áudio-gravadas. A entrevista era composta de três etapas. A primeira etapa buscava caracterizar o perfil dos professores. A segunda etapa buscava saber quais conceitos de geometria os professores entrevistados consideravam importantes de serem trabalhados nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A terceira etapa buscava investigar o domínio conceitual dos professores a partir da análise de atividades propostas nos livros didáticos utilizados por eles. A Secretaria de Educação da cidade do Recife fez um levantamento das coleções de livros didáticos escolhidos em cada escola e, a partir desse levantamento, selecionamos a coleção didática que apresentava o maior percentual. Em primeiro lugar com 30% de preferência, aparece a coleção de matemática “Porta Aberta”. Resolvemos, então, entrevistar professores que afirmaram utilizar o livro didático em escolas que tinham adotado essa coleção. Para a apresentação dessas atividades a serem analisadas pelos professores, realizamos uma análise dos volumes 1 e 4 buscando mapear os conceitos de geometria trabalhados nesta coleção. A partir desta análise foram previamente selecionadas atividades que explorassem diferentes conceitos geométricos. Caracterização do perfil dos professores A idade dos professores investigados foi bastante variável (de 27 a 59 anos), assim como o tempo de formação. Entretanto, observamos que existe uma correspondência para todos os professores entre tempo de formação e experiência na docência, indicando que os mesmos começam a trabalhar quando finalizam seus cursos. A maioria (6 professores) dos professores entrevistados por nós tem formação em Pedagogia. Uma professora tem apenas magistério e uma tem curso superior, porém não da área de educação. Acrescentamos, ainda, que a maioria dos professores disse ter experiência em todos os anos do Ensino Fundamental e apenas 1 disse ter experiência apenas em turmas do 4° e 5° anos. A formação do professor e a prática do ensino-aprendizagem de geometria Como tem sido defendida que a formação continuada é de fundamental importância para os professores, pois, dentre outros fatores, possibilita mudanças efetivas a partir de uma ação reflexiva sobre suas práticas (SILVA, 2006; 9 GUIMARÃES E DANTAS, 2006; HIRATSUKA, 2005; ALMOULOUD ET AL, 2004; MANRIQUE, 2003), iniciamos nossa entrevista perguntando se eles tinham participado de algum curso de formação continuada relacionada ao ensino de geometria nos últimos anos e observamos que apenas 3 professores responderam que não haviam participado. Assim, buscamos investigar o que havia sido desenvolvido nesses processos. Os professores afirmaram que os encontros são para trocas de experiências sobre a prática do ensino deste conteúdo em sala de aula e/ou são propostas atividades que os mesmos podem desenvolver em suas salas, tais como: simetria, nomenclatura e a construção de sólidos e comparação entre objetos do espaço físico e formas geométricas. Observa-se que, pelo menos o que foi lembrado por eles, está longe de abarcar todo o espectro do ensino de geometria para os anos iniciais proposto pelos PCN’s de matemática(1997). Quando perguntamos em qual ano eles achavam que deveria ser iniciado o ensino de geometria apenas 2 professores disseram que poderia começar desde a Educação Infantil, pois “ ela vai se habilitando a geometria como algo que faz parte da vida. Fica mais fácil a compreensão”. Os demais disseram que esse conteúdo deve ser iniciado nas séries iniciais com o argumento de que “nas primeiras séries é à base dos alunos”. Em seguida perguntamos como era o trabalho deles em relação ao ensino de geometria na sala de aula. Seis professores afirmaram desenvolver um trabalho contextualizado com objetos do cotidiano, como nos exemplos a seguir: “Esse ano eu procurei fazer com eles essa comparação: vamos tentar identificar aqui na sala de aula onde é que tem um círculo”. “A gente foi olhar primeiro na sala o que tinha com essas formas. Eu tento articular o que tem no cotidiano com o que a gente vive na prática”. “Identificação das formas geométricas onde elas aparecem”. Essa concepção dos professores nos possibilita perceber uma modificação no ensino, pois diversos estudos, dentre os quais Crescenti (2005) e Barrantes e Blanco (2004), relatam que o estudo da geometria no ensino Fundamental se restringia a uma “geometria calculista” e sem utilidade prática. Entretanto, hoje percebe-se que há uma valorização de aspectos empíricos em detrimento a outros valores formativos, como por exemplo, a organização dedutiva, desenvolvida a partir 10 de atividades que explorem conceitos referente ao estudo do “espaço”. Esta negligencia poderá ter como conseqüência a formação de alunos com grande dificuldade em raciocinar geometricamente (BÚRIGO E PONCE ,2008). Ao serem questionados sobre as dificuldades do professor no ensino de geometria foram levantados vários fatores, dentre os quais a falta de recursos para planejar uma aula mais “prática e lúdica” ou a falta de formação especifica para que soubessem como “transmitir” esse conteúdo. Com relação às dificuldades de aprendizagem dos alunos, alguns professores relacionaram-nas à fatores como condição econômica ou até mesmo à capacidade cognitiva como apresentado nas falas abaixo: “Olha, na verdade esses meninos moram em periferia né. Aquelas casinhas, coitados! Não tem nem certos conhecimentos de muitas coisas (...) o dia deles é tão restrito, né, pra ver as coisas.” “Para conhecer as formas eles conhecem. Com relação aos sólidos eles têm muita dificuldade. Eles tendem a confundir círculo e bola. Eles não entendem que ali é uma circunferência e o círculo é só aquele contorno. Pra eles é tudo círculo ou pra eles é tudo circunferência”. Esses extratos evidenciam uma visão preconceituosa sobre os alunos, pois afirmar que “... o dia deles é tão restrito...” é desconsiderar que o mundo é constituído de formas tridimensionais as quais todos convivem desde o nascimento, independente da condição sócio-econômica. Outra questão preocupante, apresentada também em outros estudos como os realizados por Morais, Gomes e Borba (2006), é o fato de que o trabalho com atividades que explorem noções de localização e modos de representação do espaço, ainda são pouco reconhecidas, pelos professores, como sendo parte dos conhecimentos geométricos. Percebemos, na coleção analisada, que são poucas as atividades que abordam tais conceitos. Do total de 220 atividades, encontramos menos de 5% trabalham conceitos como: localização, representação e construção de itinerários. O desenvolvimento de tais conceitos em sala de aula pode ser praticado com a utilização de diversas representações como a oralidade, o desenho, charges e caricaturas, colagens, construção de brinquedos, leituras de mapas, roteiros, etc., e não apenas se restringir às atividades do livro didático, pois assim haverá uma ampliação da rede de significados do aluno contribuindo também para uma aprendizagem significativa (GUIMARÃES E BORBA, 2007; BEZERRIL ET AL, 11 2006). De acordo com Bizerril et al (2006), a ausência do ensino do conceito de localização e representação compromete o aprendizado dos alunos e os mesmos podem apresentar dificuldade em descrever ambientes diversos e até mesmo transmitir informações corriqueiras, como a explicação de um itinerário ou de um endereço, pode representar uma tarefa difícil. Os professores afirmaram, ainda, que participaram da escolha do livro didático adotado, e disseram ainda que foram atendidos na escolha da coleção. Anteriormente essa escolha se dava de acordo com o percentual da coleção mais votada entre todas as escolas da Rede Municipal de Ensino. Para os professores entrevistados, o fato de terem autonomia para esta escolha representa uma conquista de fundamental importância, pois assim eles podem trabalhar com as coleções que acreditam atender as necessidades de aprendizado dos alunos. Finalmente perguntamos se eles utilizavam as orientações apresentadas no manual do professor que consta do livro didático e apenas 3 professores afirmaram pesquisar as informações apresentadas no manual do professor. Dois professores mostraram inclusive desconhecimento sobre essas orientações. Esse tipo de resultado explicita como os professores nem sempre conhecem os livros que utilizam. Em seguida disponibilizamos o livro didático e solicitamos que apresentassem algumas atividades que haviam trabalhado, em sala de aula, em relação à geometria. Poucos foram os exemplos. Uma dessas atividades estava no capítulo relacionado aos números e operações. Figura 1 – atividade do volume 1 – p.17 Segundo o professor “A”, do 2° ano, “os meus alunos têm mais compreensão, mais facilidade com as figuras geométricas, assim as formas não sólidas (...) eles têm mais compreensão de quadrado, retângulo e círculo não a forma espacial é somente o contorno da figura, né”. Percebemos, nesta declaração, o que estudos 12 anteriores (SILVA, 2006; CRESCENTE, 2005; BARRANTES E BLANCO, 2004) já vêm alertando sobre a influência dos saberes constituídos durante o percurso de formação dos professores e sua interferência na prática do ensino, fazendo-os ter, muitas vezes, uma interpretação equivocada sobre o processo de ensinoaprendizagem de geometria. A maioria dos professores admitiu estar dando mais ênfase a aritmética, pois segundo eles “essas crianças não podem sair da escola sem ao menos saber as quatro operações” ou “tô dando uma introdução, uma comparação”, deixando o ensino de Geometria em segundo plano. Os professores que afirmaram estar trabalhando a geometria em sala de aula enfatizaram a contextualização das atividades com o cotidiano e o trabalho com a nomenclatura das formas geométricas, como já descrevemos anteriormente. Estudos anteriores, como de Queiroz e Guimarães (2007), afirmam que os professores apresentam dificuldades em selecionar atividades dos livros didáticos quando são solicitados a tal. Partindo dessas constatações é que optamos, desde o início, em selecionar algumas atividades dos livros utilizados pelos professores entrevistados e solicitar que eles dissessem o objetivo e o conteúdo abordado nas mesmas. Domínio conceitual dos professores Para a seleção das atividades realizamos uma análise dos dois volumes em questão (volumes 1 e 4) buscando comparar com os objetivos levantados pelos PCN’s. Encontramos aproximadamente 80 atividades no volume 2 e 140 no volume 4. Nesta coleção há capítulos específicos sobre o conteúdo de geometria, bem como apresenta atividades no decorrer do livro, sendo a maior incidência, nos capítulos não específicos, de atividades que aborda o conceito de simetria de figuras planas. Na Tabela 1, abaixo, apresentamos os conceitos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (PCN’s, 1997), para o ensino de geometria nos anos iniciais do Ensino Fundamental. No sistema de ciclos, adotado pela Rede Municipal de Ensino do Recife, o ciclo I corresponde aos anos 1, 2 e 3, e o ciclo II aos anos 4 e 5 do Ensino Fundamental. Tabela 1 – Conceitos de Geometria propostos pelo PCN’s de matemática e abordados nos volumes 1 e 4 da coleção adotada pelos professores entrevistados Conceitos propostos pelos PCNs de Matemática o 1 ciclo Conceitos trabalhados no livro o 2 ciclo Conceitos trabalhados no livro 13 didático do 2° ano Localização de pessoas ou objetos no espaço, com base em diferentes pontos de referencia e algumas indicações de posição. Movimentação de pessoas ou objetos no espaço, com base em diferentes pontos de referencia e algumas indicações de direção e sentido. Descrição da localização e movimentação de pessoas ou objetos no espaço, usando sua própria terminologia. Dimensionamento de espaços, percebendo relações de tamanho e forma. Interpretação e representação de posição e de movimentação no espaço a partir da analise de maquetes, esboços, croquis e itinerários. Observação de formas geométricas presentes em elementos naturais e nos objetos criados pelo homem e de suas características: arredondadas ou não, simétricas ou não, etc. Estabelecimento de comparações entre objetos do espaço físico e objetos geométricos esféricos, cilíndricos, cônicos, cúbicos, piramidais, piramidais - sem uso obrigatório de nomenclatura. Percepção de semelhanças e diferenças entre cubos e quadrados, paralelepípedos e retângulos, pirâmides e triângulos, esferas e círculos. Construção e representação de formas geométricas. Composição e decomposição de figuras tridimensionais, identificando diferentes possibilidades Identificação da simetria em figuras planas Identificação da simetria em figuras tridimensionais. Exploração das planificações de algumas figuras tridimensionais. didático do 5° ano X X X ---------- X ----------- X X X ----------- X X X ----------- X ----------- X X X X X X X X X X X X X X X -------- X X ---------- X X X X X ----------- X --------- X X X X X ---------- A partir desse levantamento selecionamos sete atividades no volume 1, as quais abordavam diferentes conceitos que devem ser trabalhados nesse nível de ensino. A primeira atividade solicitava que os alunos fizessem um desenho da sala de aula deles e se localizassem no mesmo. Esse tipo de atividade explora o conceito de transposição do plano tridimensional para o plano bidimensional bem como o de localização e representação espacial. Dos 4 professores, 2 identificaram o conceito de localização espacial e os demais enfatizaram apenas aspectos relacionados a correspondência com o cotidiano “eu acho que só a questão de relacionar o ambiente de trabalho com as formas geométricas mesmo”. Sobre esta questão, os PCN’s de matemática (1997), diz que a idéia do que 14 seja “cotidiano” é muitas vezes mal interpretada, e, como conseqüência, apenas se trabalha com questões que, supõe-se serem do dia-a-dia dos alunos, quando na realidade a abordagem de uma geometria conceitual e abstrata, a qual não se vê uma aplicação imediata, é de extrema importância para o desenvolvimento de capacidades como deduzir, abstrair, prever, projetar e argumentar, dentre outras. A segunda atividade (Figura 2) tinha como objetivo o reconhecimento visual apresentado em um plano bidimensional de figuras regulares sólidas. Os professores identificaram o conceito e disseram ter a possibilidade de trabalhar também com nomenclatura. Figura 2 – atividade do volume 1 – p. 61 A terceira atividade (Figura 3) trabalha o conceito de comparação entre sólidos geométricos a partir de características citadas pelos alunos. Os professores destacaram o trabalho com a identificação dessas duas figuras em diferentes espaços e a nomenclatura, sendo que um deles acredita que é difícil para os alunos afirmando: “Esse aqui não, paralelepípedo não. Eu posso ensinar cubo a eles por causa do dadozinho.”. Figura 3– atividade do volume 1 – p. 62 15 Na quarta atividade os alunos teriam que montar um cubo a partir de um modelo apresentado numa figura plana, ou seja, uma transposição do plano bidimensional para o tridimensional (p. 129). Um professor disse tratar-se de uma “construção”. Outros dois enfatizaram que se tratava de um trabalho com manipulação de formas geométricas e o quarto professor não soube definir que conceito é abordado nessa atividade com a justificativa de que “ainda não cheguei aí”. A quinta atividade (Figura 4) trabalhava com a relação entre o desenho de figuras geométricas sólidas e sua nomenclatura. Todos os professores reconheceram o objetivo da mesma, como a argumentação de uma deles que diz: ”se eles têm que dizer quantas figuras tem de cada uma, eles têm que saber dar nome a elas, identificar cada uma”. De acordo com Búrigo e Ponce (2008), é corriqueiro que a prática de ensino de geometria nas escolas considere a nomenclatura como objeto de estudo, quando na verdade o vocabulário representa “uma ferramenta” no processo de aprendizado. É importante que os alunos conheçam e utilizem a nomenclatura correta, contudo é fundamental que se trabalhe com as propriedades dos objetos geométricos e não apenas a nomenclatura. Figura 4 – atividade do volume 1 – p. 68 Na sexta atividade (Figura 5) era solicitado que o aluno montasse um quebracabeça (p.129). Esse tipo de proposição é bem interessante, pois exige uma reflexão minuciosa dos alunos sobre a composição das formas de maneira lúdica. Observamos que as respostas foram variadas: um disse que era uma brincadeira (sem relacionar com geometria), outro disse que não sabia e outros dois afirmaram que era para trabalhar outros quadriláteros. Assim, integrar o lúdico com a observação das formas geométricas ou o conceito de composição de figuras não foram ressaltado por nenhum dos professores. 16 Figura 5 – atividade do volume 1 – p. 129 Na ultima atividade (Figura 6) apresentada aos professores do 2º ano, era trabalhado o conceito de simetria de figuras planas. Novamente apenas dois professores identificaram o conceito abordado nesta da atividade. Um professor afirmou que o objetivo era “Metade não é? Isso aqui dá pra trabalhar sem estresse, dá pra trabalhar. Eles aprendem o que é metade, o que é inteiro, parte inteira e parte metade, parte fracionária. Ai dá pra trabalhar até fração” e o outro disse apenas “é muito interessante. Ela trabalha a questão da forma. Até porque ela chama bastante atenção pelo colorido”. Figura 6– atividade do volume 1 – p. 116 Assim, a Tabela 2 abaixo apresenta a freqüência de acerto para cada conceito. A partir dessas respostas, pudemos observar que apesar das questões selecionadas abordarem conceitos geométricos diferentes, os professores do 2° ano acabaram afirmando que todas elas se relacionavam a aprendizagem de nomenclatura e identificação de propriedades de figuras sólidas e planas no cotidiano. Essas respostas evidenciam suas crenças de quais conceitos consideram importantes de serem trabalhados. Tais crenças acabam se refletindo nas escolhas dos livros didáticos adotados e nos recursos utilizados na prática do ensino de geometria. Assim, o desconhecimento deles compromete o aprendizado do aluno e, conseqüentemente, prejudica o desenvolvimento de estratégias necessárias ao dia- 17 a-dia, como por exemplo, a capacidade de indicar uma trajetória ou interpretar comandos. Tabela 2 – Freqüência de acerto dos objetivos de cada atividade apresentada Conceitos abordados no livro didático Localização e representação em uma planta baixa (transposição bi-tri) Identificação de formas geométricas Semelhanças de figuras regulares sólidas Transformação de figura sólida (do plano bidimensional para o tridimensional) Nomenclatura Composição de figura no plano bidimensional (quebra-cabeça) Simetria Freq. 2 3 0 0 4 0 1 Analisando o volume 4, foram selecionadas 9 atividades que envolviam diferentes conceitos geométricos que devem ser explorados no 5º ano. A primeira atividade envolvia o conceito de simetria no plano bidimensional (Figura 7). Nos dois volumes dessa coleção analisados, não observamos, como propõe os PCN’s de matemática (1997), atividades com a identificação de simetria em figuras tridimensionais. Dois professores identificaram que a atividade envolvia o conceito de simetria e os demais remeteram esta atividade ao trabalho com figuras do cotidiano e artes. Figura 7 – atividade do volume 4 – p. 18 A segunda atividade proposta para o grupo de professores do 5º ano analisarem, refería-se a características de figuras regulares sólidas (Figura 8). Nessa atividade a maioria dos professores destacou o trabalho com sólidos geométricos sem mencionar a abordagem sobre a caracterização das figuras, que demanda uma atitude de mais reflexão por parte do aluno. Novamente houve uma ênfase no 18 trabalho com manipulação das formas geométricas, a relação desses sólidos com objetos do cotidiano dos alunos e a nomenclatura. Figura 8 – atividade do volume 4 – p. 52 Na terceira atividade (Figura 9) dois professores do 5° ano conseguiram identificar os conceitos trabalhados, ou seja, que a atividade envolvia a composição e/ou planificação. Os outros dois ficaram calados, o que indica no mínimo muita dúvida sobre o objetivo da mesma. Figura 9 – atividade do volume 4 – p. 56 A quarta atividade (Figura 10) envolvia a comparação de figuras regulares com objetos do cotidiano. Como já era de se esperar, nessa atividade todos os professores identificaram o objetivo da mesma. Figura 10 – atividade do volume 4 – p. 61 A quinta atividade (Figura 11) envolvia a construção de um itinerário o que trabalha com movimentação e representação no espaço. Nesta atividade dois professores não souberam responder, pois ainda não tinham trabalhado esse conteúdo. Mesmo quando perguntamos se eles já tinham trabalhado com atividades semelhantes em outras turmas, os mesmos mantiveram a posição inicial. Um professor disse que envolvia fração e apenas um professor fez menção ao trabalho 19 com o conceito de espaço fazendo o seguinte comentário; “Aí é a parte de espaço, eles começam a ter essa noção de espaço e respeitar o outro (...) até na sala de aula em grupos pode ser feita (...) até no dia-a-dia com brincadeiras)”. Figura 11 – atividade do volume 4 – p. 208 A sexta atividade (Figura 12) trabalha a identificação de semelhanças e diferenças em figuras regulares planas. Dois professores não souberam dizer e os outros dois, disseram trabalhar com a nomenclatura dos quadriláteros, que era o título da atividade. O próprio livro do professor apresenta sugestão de como conduzir a atividade, entretanto, nenhum professor sequer buscou ler o que estava escrito. Figura 12 – atividade do volume 4 – p. 225 A sétima atividade envolvia medidas de ângulos (Figura 13). Entretanto, 3 professores consideraram que o objetivo era trabalhar com “composição de triângulos e destacar os vértices”. 20 Figura 13 – atividade do volume 4 – p. 224 Na oitava atividade, observamos que apesar do enunciado pedir para fazer a ampliação da figura, o foco desta tarefa e o trabalho com o conceito de seguimento de reta. Dois professores ficam folheando o livro, mudam de assunto ou afirmam que trabalham mais com aritmética. Uma disse que não trabalha com papel quadriculado e, apenas um conseguiu identificar afirmando: “Aqui dá pra trabalhar o conceito de linha, você trabalha com seguimento de reta e a redução e ampliação esta embutido nesses conceitos”. Figura 15 – atividade do volume 4 – p. 200 Na última atividade apresentada aos professores do 5º ano (Figura 16), o objetivo era trabalhar com área e perímetro. Dois professores identificam o conceito abordado, mas um achou ser complexo para trabalhar nesse nível de ensino. O outro disse: “Aí entra a parte de área de centímetro quadrado (...) basta mostrar a sala, medir (...) aí contextualiza também com a parte de geografia a parte de plantas (...)”. Os demais observaram a atividade e disseram tratar-se de cálculo de área e perímetro. 21 Figura 14 – atividade do volume 4 – p. 238 Na Tabela 3 abaixo, a qual apresenta a freqüência de identificação correta do objetivo das atividades selecionadas e apresentadas aos professores, observa-se que apenas o reconhecimento de objetos geométricos e sua nomenclatura foi identificado por todos. As atividades que buscam discutir as características das figuras regulares são interpretadas como uma buscar apenas reconhecer visualmente as mesmas e nomeá-las. Os demais objetivos foram percebidos por uns e não por outros. Assim, dentre esses professores observamos diferenças. Dois deles demonstraram maior domínio conceitual em relação a conceitos geométricos que devem ser trabalhados. Tabela 3 – Freqüência de acerto dos objetivos de cada atividade apresentada Conceitos abordados no livro didático e identificados pelos 5º ano professores Simetria 2 Características de figuras sólidas 0 Transposição do plano tridimensional para o bidimensional 2 Objetos geométricos e mundo 4 Movimentação 1 Características de figuras regulares planas 0 Medida de ângulo 0 Segmento de reta / Ampliação 1 Área e Perímetro 2 Observamos também que apesar do livro didático apresentar outros conceitos, os professores não conseguem identifica-los. O maior quantitativo de acertos, entre os professores foi com relação às atividades que abordam os conceitos de identificação de figuras geométricas sólidas e planas no cotidiano e sua nomenclatura. 22 Os resultados das respostas dos professores do 5º apresentaram uma pequena variação, pois dois deles demonstraram maior domínio conceitual sobre os objetivos das atividades apresentadas. Os conceitos sobre o reconhecimento de objetos geométricos e sua nomenclatura foram identificados por todos. As atividades que buscam discutir as características das figuras regulares são interpretadas como buscar apenas reconhecer visualmente as mesmas e nomeá-las. Estudos realizados por Barrantes e Blanco (2004) já vinham alertando quanto às lacunas existentes sobre o conhecimento do ensino de geometria que os professores, em processo de formação, trazem consigo da formação básica e que, em geral, se restringem aos conceitos sobre a geometria plana e sua nomenclatura. Constatamos, através das falas dos professores, que tais concepções ainda estão presentes mesmo entre aqueles professores que já tem largo tempo de experiência de ensino. Dessa forma, seus saberes se constituem no alicerce que respaldam a prática de ensino na sala de aula, contribuindo para o aumente da defasagem deste eixo da matemática na educação básica. Percebe-se assim, que as escolhas desses professores sobre quais conceitos de geometria devem ser trabalhados podem está relacionado tanto ao que eles concebem como sendo importante quanto ao seu domínio conceitual. Os resultados demonstram a necessidade de buscarmos novos meios que possibilitem aos docentes rever a forma como concebem o ensino de Geometria no espaço escolar. Considerações Finais Os resultados demonstram que os professores acreditam que o trabalho de geometria deve apenas relacionar-se ao trabalho com formas geométricas regulares planas e sólidas e sua comparação com objetos do cotidiano. Apesar dos livros analisados apresentarem outros conceitos relacionados à geometria, os professores em geral identificam nas atividades sempre situações concernentes à apropriação de reconhecimento de figuras regulares no cotidiano e a nomenclatura das mesmas. Esses resultados demonstram a necessidade de buscarmos novos meios que possibilitem aos docentes rever a forma como concebem o ensino de Geometria no espaço escolar. Investir na formação continuada parece-nos o primeiro passo a dar. Percebemos o quanto se faz necessário atentarmos para tais necessidades e as 23 pesquisas nessa área se constituem em um instrumento significativo para alcançarmos esse intento. Esperamos que este estudo possa contribuir para a proposição de novas pesquisas nessa área que auxiliem ao professor nessa ressignificação das suas concepções sobre o ensino de Geometria nos anos iniciais do ensino fundamental. Referências ALMOULOUD, S. A.; MANRIQUE, A. L.; SILVA, M. J. F. da.; CAMPOS, T. M. M. A Geometria no Ensino Fundamental: reflexões sobre uma experiência de formação envolvendo professores e alunos. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, Set./Out./Nov./Dez., 2004. Nº. 24.p. 92-108. ANDRADE, J. A.; NACARATO, A. M. 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Se não, por qual (is) motivo(s)? 12. Em qual série você acredita que o ensino de Geometria pode ser introduzido? Por quê? 13. Como você trabalha o conteúdo de Geometria? 14. Você relaciona a Geometria a outro conteúdo/disciplina? Se sim, qual (is) e por quê? Se não, por quê? 15. Com relação, especificamente, ao conteúdo de Geometria abordado no livro didático de 1º série adotado, você está satisfeita? Por quê? 16. Você se lembra de quais são os conteúdos de Geometria propostos no livro utilizado por você? Ø Disponibilizar o livro e pedir para ela mostrar atividades com geometria solicitando que ela diga qual é o conteúdo e objetivo de cada uma que ela mostrar. Ø Caso ela não mostre pelo menos uma atividade de todos os conteúdos que devem ser trabalhados ir apresentando atividades (previamente selecionadas) pedindo para que ela fale os objetivos propostos nas mesmas; 17. Você já leu o caderno do professor anexado ao livro com sugestões de atividades? Você costuma utilizá-lo? 18. Em sua opinião, qual a importância deste recurso para a prática do professor no ensino da Geometria? 19. Você utiliza outras fontes para auxiliá-la nas aulas de Geometria? Se sim, quais e por quê? Se não, por quê? 20. Em sua opinião, os alunos têm dificuldades no aprendizado de Geometria, nas séries inicias? Se sim, a qual (is) fator (es) você atribui esta dificuldade? 21. E com relação à prática do ensino de Geometria pelos professores das séries inicias, existem dificuldades? Em sua opinião qual (is) é (são) a(s) mais recorrente(s)? 22. Você teria algum comentário ou sugestão a dar sobre a prática do ensinoaprendizagem de geometria?