O ENSINO DE CIÊNCIAS NO ENSINO FUNDAMENTAL O PCN DE CIÊNCIAS
NATURAIS E A ATUAÇÃO EM SALA DE AULA UMA PRÁXIS POSSÍVEL
1
LEITE, Anna Carolina Silva
2
ARCHILHA, Rebeca Lopes
3
Orientação: CARNEIRO, Ana Luzia Magalhães
Centro Universitário São Camilo
RESUMO
O cenário escolar brasileiro sempre teve a presença marcante da abordagem
pedagógica tradicional, a qual contribuiu para que o ensino de ciências fosse visto
como um processo de transmissão de verdades científicas, não havendo
possibilidade de discussões sobre as contradições e os posicionamentos ideológicos
existentes no processo de produção científica. Com o surgimento da escola nova
nascem novos pensamentos, como a valorização da participação do aluno a fim de
favorecer uma aprendizagem significativa, de forma que os conteúdos vistos como
informativos deram lugar aos conteúdos formativos. Mesmo com estas mudanças,
muitas escolas e professores não trabalham o tema desta maneira. O presente
trabalho objetiva relatar uma experiência em que o ensino de ciências ocorre de
acordo com as orientações didáticas sugeridas nos Parâmetros Curriculares
Nacionais de Ciências Naturais (MEC, 1997). A metodologia aborda o ensino e a
aprendizagem de ciências, descrevendo as principais orientações didáticas
apresentadas no PCN (problematização, observação, experimentação e
sistematização do conhecimento), em paralelo com a descrição das aulas aplicadas
por um professor de 6º ano de uma escola particular da região sul de São Paulo,
presenciadas pela pesquisadora. A análise realizada indica para a práxis possível no
ensino de ciências, sendo possível e gratificante atuar de acordo com as orientações
didáticas do PCN. A coerência e sintonia entre teoria e prática tornam o aprendizado
do aluno contextualizado, significativo e crítico.
Palavras-chave: ensino de Ciências. Propostas didáticas. Aprendizagem
significativa.
1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história da educação, é observado que o ensino de ciências foi
de caráter obrigatório somente para as séries ginasiais a partir do ano de 1971. Por
meio da Lei nº 5.692 a disciplina tornou-se obrigatória para as oitos séries do antigo
primeiro grau: os atuais nove anos do ensino fundamental.
Apesar da existência da obrigação, desde 1971, muitas escolas e professores
não trabalham o tema em pleno século XXI. Os motivos são variados desde a falta
1
Graduada em psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduada em pedagogia pelo Centro
Universitário São Camilo. Professora auxiliar da escola Mobile.
2
Graduada em pedagogia pelo Centro Universitário São Camilo. Pós-graduanda em psicopedagogia pela
Universidade Anhembi Morumbi. Coordenadora de projeto social da Associação Aliança de Misericórdia. 3
Professora do Centro Universitário São Camilo nos cursos de Pedagogia e Licenciatura em Biologia. Doutora e
mestre em Educação: currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
de recursos e conhecimento até a crença de que este não é importante. Sendo
elaborado como complemento da disciplina Ciências: Conteúdos e Didáticas II do
curso de pedagogia do Centro Universitário São Camilo, Campus Ipiranga II, o
presente artigo irá apresentar uma experiência bem sucedida na área de ciências
naturais.
Antigamente o cenário escolar era norteado pelo ensino tradicional, de forma
que o ensino de ciências era visto como verdade científica, não havendo nenhuma
contradição a este bem como nenhuma possibilidade de interferências.
Com o surgimento da escola nova nascem novos pensamentos, como por
exemplo, a valorização da participação do aluno a fim de favorecer uma
aprendizagem significativa. Desta forma os conteúdos vistos como informativos
deram lugar aos conteúdos formativos. Com este novo pensar, as atividades
práticas tornaram-se recursos facilitadores para a compreensão do ensino de
ciências.
“Tenta-se colocar em prática essas prescrições legais por meio de políticas
centralizadas no MEC e que são detalhadas e especificadas em documentos
oficiais, distribuídos com os nomes de “parâmetros” (KRASILCHIK, 2000, p. 87).
Conforme apontamentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências
Naturais (PCN) é de suma importância superar a postura “cientificista” que o ensino
de ciências apresentou por muito tempo. O surgimento dos movimentos
“Alfabetização Científica” e “Ciência Para Todos” auxiliaram neste processo. Com o
intuito de fornecer “escola para todos”, passou-se a relacionar os conteúdos do
ensino de ciências à vida diária e à experiência do aluno que exigiu novas
compreensões do mundo, suas relações e demandas sociais (KRASILCHIK, 2000).
Assim, a aprendizagem torna-se contextualizada e consequentemente
significativa. Visto que a sociedade atual convive diariamente com o crescimento e
as influências das tecnologias em conjunto com a valorização do saber científico é
inviável pensar na formação crítica de um indivíduo que está à margem do
conhecimento científico. Salientando a afirmação anterior, o PCN enfatiza que:
O objetivo fundamental do ensino de Ciências passou a ser o de dar
condições para o aluno identificar problemas a partir de observações sobre
um fato, levantar hipóteses, testá-las, refutá-las e abandoná-las quando
fosse o caso, trabalhando de forma a tirar conclusões sozinho. O aluno
deveria ser capaz de “redescobrir” o já conhecido pela ciência, apropriandose da sua forma de trabalho, compreendida então como “o método
científico”: uma seqüência rígida de etapas preestabelecidas. É com essa
perspectiva que se buscava, naquela ocasião, a democratização do
conhecimento científico, reconhecendo-se a importância da vivência
científica não apenas para eventuais futuros cientistas, mas também para o
cidadão comum. (Brasil, 1997, p.18)
Assim, o artigo aborda o ensino e a aprendizagem de ciências descrevendo
algumas orientações didáticas, apresentadas no PCN, aplicadas por um professor
de 6º ano de uma escola particular da região sul de São Paulo. Durante o ano letivo
de 2012 uma das autoras trabalhou, como assistente deste professor, vivenciando
as aulas de ciências com o objetivo de auxiliá-lo e garantir o aprendizado dos
alunos. A autora esteve em frequente contato com as produções dos alunos a fim de
garantir a qualidade e a assertividade destes. Além disso, a autora contribuiu com a
construção de intervenções para garantir que todos os alunos estivessem
acompanhando o desenvolvimento dos conteúdos e agindo de maneira adequada
2 para um ambiente de estudo. As experiências relatadas foram vivenciadas, pela
autora, durante este trabalho. Após o relato as duas autoras compararam a proposta
do professor com a do PCN. Neste relato denominaremos a escola de “Construção”
e o profissional como “professor Joaquim”. A escola observada é localizada em um
bairro nobre da região sul de São Paulo, portanto os alunos que frequentam esta
possuem um nível sociocultural elevado e a mensalidade paga pelas famílias é de
alto valor. Os pais destes alunos são bem formados culturalmente e intelectualmente
e, dessa maneira, cobram da direção e do corpo docente apoio e acompanhamento
qualificado para seus filhos. Sendo esta uma instituição com boa infraestrutura, nas
quais as informações são difundidas, e com adequada formação da equipe os
docentes quase não sofrem barreiras para a realização de sua prática.
2. APRENDER E ENSINAR CIÊNCIAS: DIDÁTICAS SIGNIFICATIVAS
Como explicitado anteriormente, é importante analisar o processo histórico de
ensino e aprendizagem do aluno para melhor entendê-lo e reestruturá-lo. Desta
forma, utilizaremos algumas vivencias das didáticas das aulas de ciências de um
professor que se apropriou das orientações propostas pelo PCN de Ciências
Naturais. O “professor Joaquim” leciona para os alunos de 6º e 7º anos do ensino
fundamental II da escola “Construção”. Com o intuito de conhecer todo o processo
de aprendizagem do aluno dentro desta área, além de garantir uma continuidade no
processo de ensino aprendizagem, o “professor Joaquim” oferece assessoria
pedagógica aos professores do ensino fundamental I. Desta forma o plano de ensino
da área de ciências, assim como as didáticas de aula, é construído coletivamente
(professores do 2º ao 5º ano, “professor Joaquim” e coordenadores pedagógicos)
para que os alunos possam chegar ao 6º ano com o conhecimento prévio necessário
para os estudos do ciclo II. Além disso, uma vez por mês, ““professor Joaquim”” faz
reuniões de formação onde discute com os professores os conteúdos que estes
devem ensinar fazendo com que os professores tenham domínio do conteúdo que
irão ensinar. Desta forma, garante a contextualização sugerida nos PCN.
Conforme contribuições do PCN (1997), para que o ensino e aprendizagem
sejam realizados de forma significativa faz-se necessário considerar os
conhecimentos do aluno, do professor e da Ciência. Desta maneira, são valorizados
os conhecimentos prévios dos alunos, sua vivência, sua cultura e o senso comum.
Também são valorizados os conhecimentos científicos do professor e sua didática
atrelada com as concepções do campo de conhecimento científico em conjunto com
as teorias científicas da Ciência.
Os alunos possuem indagações e hipóteses para responder questões a
respeito da compreensão do mundo e o PCN (1997) enfatiza que um conhecimento
novo deve ser introduzido a partir destas problemáticas. “Uma questão só é
problema quando os alunos podem ganhar consciência de que seu modelo não é
suficiente para explicá-lo” (Brasil, 1997, p.119). Cabe ao professor proporcionar
curiosidades e indagações adequadas às possibilidades cognitivas do grupo a fim de
que os alunos possam buscar informações para reconstruir ou ampliar seus
conhecimentos. Desta forma há a elaboração de um novo modelo.
“Professor Joaquim”, na primeira aula do ano, iniciou seu trabalho em ciências
naturais, com os alunos do 6º ano, solicitando que estes procurassem reportagens a
respeito dos problemas ambientais que a sociedade moderna vivencia. Com as
3 reportagens em mãos, os alunos as apresentaram de forma breve. A cada
apresentação o professor perguntava aos alunos qual problema ambiental estava
sendo retratado. Assim, mediados pelo professor, produziram uma lista com as
questões ambientais vivenciadas pela sociedade moderna. Entre os problemas
levantados estavam: desmatamento, poluição, crescimento acelerado da população,
excesso de lixo, hábitos consumistas, extinção de espécies entre outros.
Como proposto pelo PCN os problemas devem ser acompanhados de hipóteses,
portanto para a aula seguinte “professor Joaquim” convidou os alunos a elaborarem
suas hipóteses para solucionar tal problemática. Na aula seguinte, a problemática e
suas hipóteses foram discutidas. A maioria dos alunos trouxe a ideia da reciclagem e
da reutilização. “Professor Joaquim” mostrou que estas soluções e outras também
usadas para evitar poluição não são suficientes para uma problemática grave como
a que vivenciamos na cidade grande. Os alunos perceberam que para resolver é
preciso olhar para todo o ambiente pensando em como manter o equilíbrio da
natureza. Assim, foram convocados para junto com o professor construírem novos
conhecimentos científicos que responderam as problemáticas estudadas. Como era
início do semestre, o professor, com estas atividades demonstrou quais eram os
objetivos de sua disciplina para aquele ano: conhecer o mundo em que vivemos,
compreender seu modo de funcionar e ser capaz de agir para modificar as
condições ruins que a sociedade moderna tem vivenciado. Por fim, estabelecer um
novo modelo de relação entre os seres humanos e a natureza.
Além de seguir as propostas do PCN a temática trabalhada também está de
acordo com os conteúdos e objetivos daquele para o ensino de ciências: o aluno
deve compreender o mundo, consciente de seu papel, como indivíduo participativo e
parte integrante do universo. Ao entender como a vida na cidade grande influencia o
equilíbrio ambiental o aluno será capaz de construir novos hábitos, transformando a
realidade.
Faz-se necessário, porém, que a maneira com que se abordam as teorias
científicas seja alcançável à realidade do aluno que está em formação. Sendo assim,
as metodologias criadas para a busca de informações são fundamentais para a
aprendizagem ser significativa. Os modos de obter as informações são diversos
dentre eles destacam-se a observação, a experimentação, a leitura, a entrevista e a
excursão ou estudo do meio. Ao buscar informações e confrontar ideias diferentes o
aluno constrói o conhecimento científico (Brasil, 1997).
A experimentação é uma atividade rica para a obtenção de informações
científicas, pois por meio desta há a realização de um fenômeno natural. O aluno
tem a possibilidade de acompanhar e investigar tal fenômeno e suas transformações
(Brasil, 1997). Sendo assim o experimento torna-se significativo e permite que o
aluno construa seu conhecimento (conceitos científicos) para confirmar ou refutar
suas hipóteses.
“Professor Joaquim” iniciou a investigação usando um de seus alunos para
realizar um experimento. Utilizando-se do princípio da ação e reação e das
necessidades básicas do ser humano para sobrevivência, mostrou fenômenos que
ocorrem no desenvolvimento de uma criança para garantir sua vida (por exemplo:
respiração) o que a diferenciam de um ser não vivo. “Joaquim” chamou um aluno
para ficar a frente da turma, com cuidado, puxou os braços, pisou no pé e bateu nas
costas do aluno. O aluno disse que sentiu dores e teve vontade de fazer o mesmo
com o professor. Assim, a primeira hipótese estava formada os seres vivos têm
sentimentos e reagem aos estímulos. O mesmo foi feito com uma mochila e
4 percebeu-se que a mochila nada sentiu. Os alunos conseguiram construir com isso o
primeiro conceito.
A observação é um recurso de busca de informação simples, possível em
qualquer realidade, mas enriquecedor. De acordo com o PCN esta permite a
investigação do que se vê por meio de registros, desenhos ou socializações
objetivando-se encontrar novas variantes. Este processo é guiado pelo professor
que proporciona desafios ao mediar o olhar do aluno-observador.
O “professor Joaquim” na semana seguinte levou seus alunos para observar e
registrar o habitat de um aquário. Em pequenos grupos, no laboratório de ciências,
cada aluno deveria buscar agir como um cientista seguindo os princípios de
precisão, clareza e fidelidade que norteiam os registros de pesquisa científica.
Enquanto desenhavam o que observavam, “professor Joaquim” instigava os alunos
a procurar detalhes e reconhecer o modo de funcionamento deste. A observação
precisa fez os alunos perceberem a existência de um ambiente em equilíbrio dentro
do aquário. Como se este fosse uma miniatura de nosso ecossistema. Onde existem
relações de predadores e presas, produtores e consumidores, seres vivos e não
vivos que formam uma cadeia alimentar. Durante esta atividade os alunos, como
proposto pelo PCN, encontravam novas informações a respeito do equilíbrio
necessário para o bom funcionamento do ambiente. Informações que em momento
posterior serviram para entender o que ocorre de forma diferenciada na sociedade
moderna, provocando os problemas ambientais enfrentados (problemática a ser
respondida). Com este exercício os alunos começam a entender e vivenciar uma
pesquisa científica.
O PCN sugere dois tipos de observações. O primeiro estabelece contato
direto com o objeto estudado, por exemplo, a atividade descrita à cima. Outro bom
exemplo do contato direto é o trabalho em estudo do meio.
O segundo modo estabelece “observações” por meio de recursos técnicos.
Observe as fotos a baixo. Qual sensação desperta no observador?
“Professor Joaquim” como todo biólogo é apaixonado pela natureza e suas
peculiaridades. Como forma de imortalizar as observações que realiza e trazer para
a sala de aula uma natureza que os alunos não podem observar junto com ele, tirou
5 as fotos observadas acima e muitas outras. Essas imagens despertam no aluno a
sensação de estar em contato com o ambiente e não com a representação
fotográfica deste. Tais fotos podem servir como fonte de investigação, ampliação de
repertório de conhecimento dos seres vivos ou jogos educativos. Todos estes
objetivos seguem a investigação central para encontrar uma resposta à problemática
levantada. Esta rica experiência trabalhada com os alunos, é possível de ser
trabalhada em qualquer realidade e permite o exercício da investigação por meio da
observação como propõe o PCN. Para dar continuidade a esta atividade o professor
poderia levar os alunos para fotografar a natureza presente nos espaços da escola.
Aulas e trabalhos por meio de projetos, que visam apresentar os fenômenos
naturais em conjunto com a busca de transformações no meio, favorecem a
aprendizagem global e tornam-se contextualizados com a realidade dos alunos.
(Brasil, 1997).
Contribuindo com a investigação do funcionamento do habitat “Joaquim” criou
o baralho de seres vivos. Após apreenderem a diferença entre seres vivos e não
vivos os próprios alunos constroem as cartas desenhando seres do habitat
observado no aquário. Cada aluno faz seis cartas em folha sulfite branca (uma folha
foi dividida igualmente em 6 partes formando as 6 cartas que cada aluno construiu).
Após a criação das cartas, o jogo é realizado por meio da montagem de cadeias
alimentares. Estas devem ser reais e completas (iniciar com um ser produtor e
terminar com um ser decompositor). Cada ser vivo pode se ligar com inúmeros
outros seres vivos no papel de alimento ou de consumidor. Esta construção é
realizada em uma cartolina branca produzindo uma grande teia alimentar. Após a
construção, os cartazes ficam expostos na sala para posteriores consultas e
investigações. Este projeto permitiu que os alunos construíssem uma nova hipótese:
a necessidade do equilíbrio em um habitat onde a sobrevivência de um ser vivo
depende do outro, iniciando nos seres produtores (plantas) e terminando nos
decompositores (fungos). Ao entender a necessidade da sobrevivência de um ser
para alimentar outro o aluno compreende um outro fator necessário para o equilíbrio
e é capaz de entender o que causa a extinção (um dos problemas ambientais
levantados no início do curso).
Com o intuito de favorecer aos alunos o reconhecimento do fenômeno natural
da decomposição “Joaquim” entregou aos alunos o protocolo para a realização de
uma experimentação. Esta consistia na preparação e observação da decomposição
de um pão de forma. Os alunos realizaram o experimento em suas casas,
observaram dia-a-dia e anotaram a evolução. Estes deveriam molhar uma fatia de
pão de forma, colocá-la em um saco plástico fechado e deixar guardada em um local
escuro (por exemplo, dentro do armário). Após um mês, levaram o experimento (pão
mofado) para a escola onde em uma atividade em grupo compararam suas
evoluções e resultados com os dos colegas chegando a conclusões para os
fenômenos ocorridos. O desafio dos alunos era compreender porque um mesmo
experimento produziu diferentes resultados (cada aluno trouxe o pão de uma forma
e com diferentes fungos). Como sugere o PCN, os alunos deveriam compreender o
protocolo, elaborar o experimento e produzir um relatório sobre o fenômeno
observado. A hipótese dos alunos foi de que locais diferentes proporcionam
diferentes desenvolvimentos para os fungos (seres decompositores). A partir desta
observação, juntos, “professor Joaquim” e seus alunos chegaram à conclusão que o
desenvolvimento dos seres vivos é diferente dependendo do ambiente em que estão
inseridos. Voltando ao crescimento acelerado da população, uma das problemáticas
6 iniciais levantadas, todos perceberam que o excesso de pessoas modifica o
ambiente.
Estas experiências ampliaram a compreensão da necessidade do equilíbrio
de uma cadeia alimentar para manter o ambiente funcionando sem problemas,
ressaltando que um indivíduo eliminado da cadeia alimentar não pode ser
substituído por outro.
Segundo o PCN textos científicos também são fontes de informações. Além
do livro didático, outros portadores são significativos como jornais, revistas, artigos,
folhetos informativos, enciclopédias e sites confiáveis. Estes portadores além de
auxiliar na ampliação da leitura, escrita e universo cultural possibilitam a análise
crítica e contextualizada com a vivência dos alunos (Brasil, 1997).
Alguns temas como a fotossíntese, realizada pelos seres vivos produtores
(plantas) são trabalhadas por meio de textos informativos. A fotossíntese é outro
conceito criado para a compreensão do equilíbrio existente em um habitat,
compreensão fundamental para responder a problemática inicial.
Durante o processo os alunos adquirem novos conhecimentos a partir da
problematização inicial e ao final, devem ser organizados por meio de uma
sistematização. As atividades de sistematizações de conhecimentos podem ser
organizadas por meio de textos, dramatizações, maquetes, relatórios, textossínteses, textos explicativos e outros (Brasil, 1997).
Ao final de cada descoberta “professor Joaquim” instrui seus alunos a lerem o
texto informativo do livro didático a respeito do tema descoberto. Esta leitura auxilia
os alunos na sistematização do conhecimento, pois estes descobrem que as
investigações realizadas os permitiram construir e apreender um conceito científico a
ser estudado. Assim como os cientistas os alunos construíram o conhecimento e
deram significado ao trabalho realizado. A finalização da sistematização é realizada
por meio da construção de um mapa conceitual a partir do texto do livro didático.
Para esta construção o professor ensinou os alunos como conectar conceitos e
construir mapas. No início, os mapas conceituais eram produzidos coletivamente
depois, os alunos passaram a produzi-los sozinhos.
Ao final do primeiro semestre, acompanhados de alguns professores, os
alunos do 6º ano realizaram uma viagem a fim de investigar o habitat de um
determinado ambiente para coletar mais informações para a construção do novo
saber científico. Para dar continuidade ao estudo do equilíbrio ambiental, os alunos
investigaram os diferentes tipos de solos, suas utilidades e funções para a
sociedade. Compreender como os solos agem para a garantia de um equilíbrio
ambiental permite a compreensão do surgimento de muitos dos problemas
ambientais vivenciados pela sociedade moderna. Este estudo é caracterizado pelo
PCN como outro modo de observação o estudo do meio.
Temas como, história das Ciências, das ideias científicas, relação do
indivíduo com o seu corpo, com a sociedade, com a natureza e com os recursos
naturais são de grande relevância no ensino fundamental e conforme apontamentos
dos PCN podem-se também abordar a história das ideias científicas nos anos finais
do ensino fundamental. Ao trabalhar com as questões ambientais “Joaquim”
responde a esta expectativa do PCN trazendo para a sala de aula o questionamento
sobre a relação do aluno com o ambiente no qual este vive, algo presente no
cotidiano do aluno e repleto de significado. Além disto, enquanto o aluno questionase sobre sua relação com o ambiente torna-se consciente e crítico da situação
ambiental em que a sociedade moderna vive.
7 Portanto, são metodologias essenciais aquelas que proporcionam a
experimentação, observação, comunicação, comparação, investigação, relação
entre os fenômenos, fatos e ideias contextualizadas com a vivência do aluno por
meio de leitura, escrita, desenhos, organização de tabelas ou gráficos entre outros.
Proporcionando, desta forma, a construção da autonomia e a aprendizagem
significativa.
“Professor Joaquim” continuou investigando, junto com seus alunos, soluções
para as problemáticas propostas. Destacamos algumas das investigações realizadas
durante o primeiro bimestre do ano letivo de 2012. Tais investigações fazem parte
da exploração do bloco temático meio ambiente proposto pelo PCN. No decorrer do
ano os outros blocos temáticos foram investigados por meio de outras didáticas
significativas.
Ao final do ano letivo, com o objetivo de apresentar a solução encontrada
para a problemática os alunos, em pequenos grupos, produzem um vídeo com
planos de ação para a melhoria das condições de vida no planeta. Durante algumas
aulas Joaquim ensinou os alunos a usarem programas de edição de vídeo como o
Windows Movie Maker. Em horários livres, os alunos deveriam reunir-se nos grupos,
e filmar as ações com o uso de celulares ou maquinas fotográficas digitais. A equipe
de TI da escola, assim como o professor e a assistente ficaram a disposição para
auxiliar quando fosse preciso. Os vídeos foram apresentados no auditório da escola
no evento de encerramento do ano letivo para os alunos do 6º ano.
Além do filme, os alunos produziram um texto relatando “O planeta em que
desejo viver no século XXI”. Em ambos os trabalhos finais os alunos revelaram ter
assimilado a complexidade da questão ambiental além de conseguirem conectar
todos os conceitos para responder a problemática inicial. Para acabarmos com os
problemas ambientais a ocupação do ambiente feita pelo homem e o modo como o
homem se relaciona com este deve ser realizada de forma a preservar o equilíbrio.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do ano, a assistente percebeu crescentes mudanças nas produções
escritas e nas reflexões desenvolvidas pelos alunos. Existindo a construção de um
novo modo de pensar, o científico. Os alunos passaram a ser capaz de sozinhos
produzirem textos e elaborar hipóteses para novas problemáticas.
Em alguns momentos, no decorrer do percurso, os alunos trouxeram para o
professor objetos produzidos pela iniciativa de preservar o ambiente (por exemplo,
camiseta produzida de garrafa pet) e reportagens com informações e reflexões
ambientais. Esta postura mostra o envolvimento dos alunos com o trabalho proposto
e a conquista da mais importante postura científica o despertar da curiosidade e do
prazer por estudar.
Ao final do ano, a assistente e o professor, observaram os alunos modificarem
suas ações como objetivo de preservar o equilíbrio ambiental. Alguns alunos
deixaram de fazer consumos excessivos, desperdiçar papel, preocuparam-se em
fazer a coleta seletiva, não poluir entre outras ações. Além de modificarem suas
ações passaram a chamar seus familiares para agirem da mesma forma.
Além desta mudança de ação, a descoberta da resposta para a problemática
como citado acima, os alunos conseguiram relacionar o estudo de ciências com o de
geografia que trabalhou a transformação de paisagens. Estes descobriram que a
8 transformação das paisagens, geralmente prejudicial para o equilíbrio ambiental,
ocorreu devido à má forma com que o homem se relacionou com o ambiente.
Estas ações dos alunos mostram que o professor atingiu o objetivo de seu
curso: estabelecer um novo modelo de relação entre os seres humanos e a
natureza.
A experiência de “professor Joaquim” mostra que atuar de acordo com as
orientações do PCN é possível e gratificante. A coerência e sintonia entre teoria e
prática tornam o aprendizado do aluno contextualizado, significativo e crítico.
Sabemos que a escola observada pertence a uma pequena parcela da população,
porém acreditamos que a experiência de poucos deve servir de exemplo para que
muitos tenham acesso ao ensino de qualidade conforme propõe o PCN.
4. REFERÊNCIAS
BRASIL.
Secretaria
de
Educação
Fundamental.
Parâmetros
curriculares
nacionais: Ciências naturais. Brasília: MEC/SEF, 1997. 137 p.
KRASILCHIK, Myriam. Reformas e realidade o caso do ensino das ciências. São
Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 85-93, 2000.
9 
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