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25. Analista acha que é cedo para avaliar riscos
09/01/2008 Folha de S. Paulo SP Jornal Insper B5
Analista acha que é cedo para avaliar riscos
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A preocupação de matar o doente com uma dose alta de remédio surge no final das enfermidades, mas há dúvidas se este
momento já chegou, segundo economistas ouvidos pela Folha. No caso, o remédio seria o dinheiro injetado pelos BCs e a
doença, a crise internacional, cujo sintoma é a falta de liquidez que trava os negócios.
Para o ex-diretor do Banco Central, Alkimar Moura, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), é prematura a
preocupação de que um excesso de liquidez poderia levar à formação de bolhas porque o tamanho da crise é desconhecido.
"O problema do "subprime" [a crise dos créditos imobiliários ruins nos EUA] é que ninguém sabe realmente a sua extensão.
Ninguém sabe o tamanho das quebras, falências e prejuízos que terão de ser assumidos. Os BCs estão provendo liquidez.
O que é muito se eu não sei o tamanho do problema?"
Já Alexandre Jorge Chaia, do Ibmec-SP, vê risco de que um excesso de liquidez leve a um aumento de demanda
generalizado, como adverte o Banco Mundial. "Vejo risco de que um excesso de dinheiro jogue para baixo taxas de juros e
[avaliação de] riscos. As pessoas acabariam consumindo, manteria preço de commodities e isso geraria um processo
inflacionário", disse.
Marcio Holland, da FGV, acredita que o maior risco para o Brasil venha de uma eventual recessão nos EUA. "Há um quadro
de recessão nos EUA bem mais forte dos que muitos previam. Entramos em 2008, e a frase mais comum é: "não se sabe o
tamanho da crise" ou se teremos recessão nos EUA."
Outro risco é o chamado "moral hazard", o "risco moral" de "salvar" investidores e instituições que se arriscaram em
excesso. "Gera a sensação de que se você quebrar alguém vai lhe salvar. Se o BC salva, incentiva a continuar tomando
risco, como emergentes", disse Chaia.
Bird vê risco de "bolha" em emergentes
Data de geração: 21/07/2010 Página 42
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Banco Mundial diz que corte excessivo de juros por BCs de países ricos pode acabar "superestimulando" economias
Organismo prevê que crescimento de países em desenvolvimento deve impedir maior desaceleração da economia mundial
DA REDAÇÃO
O crescimento ainda vigoroso dos países em desenvolvimento deve impedir uma maior desaceleração da economia global
neste ano, diz o Banco Mundial. Mas a instituição alerta, em relatório divulgado ontem, para os riscos de os bancos centrais
dos países ricos reagirem "exageradamente" à atual crise financeira, cortando juros e "superestimulando" a economia.
Para o organismo, esse cenário seria "particularmente perigoso" aos próprios emergentes, como o Brasil. Segundo o Bird, a
maior liquidez decorrente do corte da taxa de juros nos países desenvolvidos pode acabar deslocando alto volume de
recursos para as regiões emergentes de alto crescimento, criando as mesmas condições de excesso de investimento que
inflam preços e que acabaram levando à quebradeira no mercado imobiliário norte-americano, epicentro da crise atual.
"Os mercados de commodities podem ficar mais comprimidos, vão crescer as pressões inflacionárias e os desequilíbrios
financeiros irão aumentar, em vez de diminuir. Esse cenário plantaria as sementes de uma desaceleração muito mais aguda
no médio prazo e mostra o desafio atual das autoridades monetárias de países ricos e em desenvolvimento", afirma o
documento "Perspectivas Econômicas Globais 2008", do Banco Mundial, que aponta o leste da Ásia (região de China,
Tailândia e Vietnã) como um dos possíveis afetados pela crise.
O organismo diz ainda que um corte excessivo na taxa de juros pelas autoridades monetárias dos EUA -ou mesmo a
recessão da economia americana- pode provocar uma desvalorização ainda maior do dólar. Isso beneficiaria "pelo menos
temporariamente" os países cujas moedas estão atreladas à americana, mas prejudicaria as exportações de empresas para
os Estados Unidos.
Mas o "principal impacto" da queda do dólar, diz o Bird, seria o aumento de incertezas e da volatilidade dos mercados
financeiros, o que resultaria em queda nas exportações e no crescimento do investimento em toda a economia global.
O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) reduziu a taxa de juros básica nas suas últimas três reuniões, em um
corte total de 1 ponto percentual, para 4,25%. E analistas já apostam em um corte de até 0,50 ponto percentual no encontro
do final deste mês.
De acordo com o Bird, a economia mundial crescerá 3,3% neste ano -ante 3,6% no ano passado-, devido ao menor avanço
do PIB dos países mais ricos, que deve se desacelerar de 2,6%, em 2007, para 2,2%. O impacto seria ainda maior, explica a
instituição, se não fosse a expansão dos países emergentes, que devem continuar crescendo acima de 7% neste ano,
puxada especialmente por China e Índia.
Para o Brasil, a previsão é a de que o país crescerá 4,5% neste ano e no próximo, o que deixará o país mais uma vez
abaixo da média dos emergentes, cujos avanços devem ficar em 7,1% e 7%, respectivamente. No ano passado, o PIB do
país se expandiu em 4,8%, segundo estimativa do Bird.
Mesmo excluindo a China e a Índia (colegas do Brasil nos Brics, grupo que também inclui a Rússia), o Brasil continua
crescendo menos que a média dos países em desenvolvimento, que devem se expandir em 5,3% em 2008 e em 5,2% no
ano que vem.
A boa notícia é que o Banco Mundial prevê que o avanço do PIB brasileiro será igual ao o da média da América Latina e
Caribe neste ano, o que não acontece desde 2002, ainda no governo FHC, quando a economia do país se expandiu em
2,7%, mas a da região se desacelerou em 0,5%, segundo dados da Cepal. Ainda assim, o crescimento brasileiro será
apenas o 15º maior entre os 26 países da região. Para o ano que vem, a situação não é muito diferente, com o Brasil
crescendo mais que a região, mas ficando com apenas o 12º maior avanço.
Data de geração: 21/07/2010 Página 43
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