UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMILIA MARCOS ANTÔNIO DE OLIVEIRA MORTALIDADE MATERNA EM CAPITAL DO NORDESTE DO BRASIL: 2008-2012 FORTALEZA - CE 2014 MARCOS ANTÔNIO DE OLIVEIRA MORTALIDADE MATERNA EM CAPITAL DO NORDESTE DO BRASIL: 20082012 Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Saúde da Família, da Fundação Oswaldo Cruz, nucleadora Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para o título de Mestre. Orientadora: Profª. Drª. Ana Valeska Siebra e Silva FORTALEZA - CE 2014 Aos meus pais, in memoriam, pelo exemplo digno de vida que nos legaram, às vezes carregada de sofrimento, mas que, mesmo diante da pouca oportunidade para o estudo que lhes foi dado, sempre nos incentivou a investir na formação intelectual e moral como uma forma de elevação do espírito humano e superação das dores do mundo. AGRADECIMENTOS À minha esposa Naiara e filhos por terem dado o apoio que necessitei para levar adiante esse desafio, entendendo as minhas necessárias ausências nesse processo. Sem eles, nada disso faria sentido. Agradecimento especial à profa. Drª. Ana Valeska Siebra e silva pela paciência em me mostrar o caminho das pedras durante os nossos encontros de orientação, caminho por vezes árduo, cheio de percalços, mas que ela soube conduzir o seu papel de guia até o fim dessa jornada. À profa. Drª. Cristiana Ferreira da silva pela prontidão com que aceitou participar da banca e cujas dicas durante a qualificação do projeto de pesquisa foram fundamentais para a dissertação. Ao colega de formatura e amigo Dr. Antônio lima e sua equipe de trabalho e ao Dr. Sílvio Carlos pela gentileza com que disponibilizaram os arquivos que propiciaram a coleta das informações necessárias para a conclusão dessa pesquisa. À coordenadora do mestrado profissional em saúde da família Dra. Ana patrícia pereira morais cujos conselhos e ensinamentos carregarei comigo onde estiver. Aos professores do mestrado, em especial a Dr. José Maria Ximenes e Dra. Annatália Menezes de Amorim, que propiciaram aos alunos do mestrado o privilégio de compartilhar de brilhantes discussões e exposições nas suas aulas sempre instigantes, e certamente fruto da vivência que, de forma direta ou indireta, tiveram na trajetória profissional pela estratégia saúde da família. Á prof.ª. Drª. Maria irisar Almeida pelo zelo e desprendimento que demonstrou ao compartilhar do seu material didático em prol da aprendizagem coletiva e, in memoriam, para a brava prof.ª. Drª. Maria Lúcia Barreto pela energia positiva que nos transmitiu desde os primeiros encontros e, que, mesmo diante da dor e sofrimento que enfrentou, nunca perdeu a alegria de viver intensamente o seu ofício de educadora. A todos os colegas do mestrado a quem tive a honra de compartilhar momentos inesquecíveis de histórias não só do trabalho como da vida pessoal, em encontros quinzenais impregnados de forte carga emotiva e provocadores de reflexão sobre a nossa prática diária e que, acima de tudo, amarrou laços de amizade que nem o tempo ou à distância conseguirão desatá-los. Existem muitas hipóteses em Ciência que estão erradas. Isso é perfeitamente aceitável, Eles são a abertura para achar As que estão certas. Carl Sagan RESUMO O estudo do perfil das gestantes que foram a óbito é um dos caminhos que subsidia o planejamento de estratégias eficazes no combate à mortalidade materna. Esse processo é capaz de gerar ações resolutivas e impactantes uma vez conhecido os fatores condicionantes e determinantes destes óbitos. Foi objetivo do trabalho descrever a situação da mortalidade materna em Fortaleza, Ceará, no período de 2008 a 2012, bem como os aspectos socioeconômicos e demográficos e indicadores selecionados de saúde materna de modo a configurar o perfil clínico epidemiológico dos óbitos. Procurou-se, também, avaliar a assistência do pré-natal destinado às grávidas que evoluíram para o óbito, utilizando o índice de Kotelchuck modificado, como uma forma de refletir sobre a qualidade do atendimento prioritariamente ofertado pela atenção básica. Constituiu-se de um estudo descritivo de abordagem quantitativa e retrospectiva envolvendo 136 prontuários arquivados no comitê de mortalidade materna de fortaleza. Os resultados do estudo mostraram que Fortaleza apresenta ainda altas taxas de mortalidade materna, ultrapassando em três vezes o valor considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2012. O perfil sociodemográfico encontrado mostrou uma elevada prevalência de mulheres não brancas, solteiras, com baixa escolaridade, e, em geral, habitando bairros pobres da capital. Destaque para a DHEG com 19 % do total, como causas obstétricas diretas. Além disso, aproximadamente 10 % dos óbitos, em média, ocorreram fora do hospital, o que indica por si só, barreiras no acesso à assistência médica. Pelo IKM, o pré-natal foi classificado como inadequado em quase 40 % das vezes, havendo um longo percurso para alcançar a redução dos óbitos maternos nos moldes propostos pelo quinto objetivo do milênio. Palavras-chave: Mortalidade Materna, Epidemiologia Descritiva. Pré-natal ABSTRACT The study of the profile of the women who died is one of the ways that subsidizes planning effective strategies to combat maternal mortality. This process is capable of generating and resolving impactful actions known once the conditioning factors and determinants of these deaths. This work aimed to describe the situation of maternal mortality in Fortaleza, Ciara, in the period 2008-2012, as well as socioeconomic and demographic factors and selected maternal health indicators in order to determine the epidemiological profile of clinical death. We tried to also assess care prenatal intended for pregnant women who died: using the modified Kotelchuck index as a way to reflect on the quality of care offered by primary care priority. Consisted of a descriptive study of retrospective and quantitative approach involving 136 archived files in the maternal mortality committee of Fortaleza. The study results showed that fortaleza has yet high rates of maternal mortality, exceeding three times the amount considered acceptable by who in 2012 found the demographic profile showed a high prevalence of non-white women, unmarried, low education, and overall, inhabiting the slums of the capital. Highlight for preeclampsia with 19% of the total, as direct obstetric causes. In addition, approximately 10% of deaths, on average, occurred outside the hospital, which indicates itself, barriers in access to health care. At IKM, prenatal was classified as inadequate in almost 40% of the time, with a long way to achieve the reduction of maternal deaths in the manner proposed by the fifth millennium development goal. Keywords: maternal mortality, descriptive epidemiology, prenatal care SIGLAS E ABREVIATURAS CMM Comitê de mortalidade materna DATASUS Departamento de informática do sus/ms ESF Estratégia saúde da família IKM Índice de Kotelchuck modificado MM Mortalidade materna NUVEPI Núcleo de vigilância epidemiológica NV Nascido vivo ODM Objetivos do milênio OMS Organização mundial de saúde ONU Organização das nações unidas PACS Programa agentes comunitários de saúde PAISM Programa de assistência integral à saúde da mulher PHPN Programa de humanização do pré-natal e nascimento PROVAB Programa de atenção básica PN Pré-natal PSF Programa de saúde da família RMM Razâo de mortalidade materna SER Secretaria regional de saúde SIM Sistema de informação sobre mortalidade SUS Sistema único de saúde valorização e melhoria do acesso à LISTA DE TABELAS TABELA 1 – distribuição dos dados acerca do perfil epidemiológico das mulheres que faleceram no período de 2008 – 2012 em fortaleza ...........................................32 TABELA 2 – distribuição do percentual de óbitos entre 2008-2012, segundo local de ocorrência.............................................................................................................35 TABELA 3 – situação das gestantes que faleceram entre 2008-2012, em relação ao número de gestações e o intervalo entre a gravidez que resultou em óbito materno e a gestação anterior...................................................................................36 TABELA 4 – situação do pré-natal das gestantes que faleceram entre 2008-2012, em relação ao número de consultas, notificação de intercorrências e a adequabilidade de acordo com parecer do CMM de fortaleza ..................................38 TABELA 5 – número de óbitos entre 2008-2012, segundo a classificação por capítulo do CID 10 baseado na causa básica selecionada .......................................39 TABELA 6 – distribuição dos óbitos entre 2008-2012, segundo a classificação pelo tipo de ocorrência ..............................................................................................40 TABELA 7 – número de partos entre as gestantes que faleceram entre 20082012, de acordo com o momento de sua ocorrência e a via de resolução do parto .40 TABELA 8 – cálculo da RMM em fortaleza entre 2008 e 2012.................................41 TABELA 9 – grau de evitabilidade dos óbitos ocorridos entre 2008-2012 segundo julgamento do CMM ..................................................................................................43 TABELA 10 – cruzamento de dados entre as características clínicas das gestantes que foram a óbito e o julgamento do CMM quanto à sua evitabilidade.....44 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - distribuição dos óbitos entre 2008-2012, segundo a regional de residência ..................................................................................................................34 GRÁFICO 2 - distribuição dos óbito entre 2008-2012, segundo a época de início do PN ........................................................................................................................37 GRÁFICO 3 - distribuição dos óbitos maternos que receberam atendimento hospitalar entre 2008-2012........................................................................................42 GRÁFICO 4 - classificação da adequabilidade do PN ofertada às gestantes que foram a óbito entre 2008-2012, de acordo com o índice de Kotelchuck modificado .43 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................13 2 2.1 2.2 OBJETIVOS ...................................................................................................17 Objetivo Geral ...............................................................................................17 Objetivos Específicos...................................................................................17 3 3.1 REVISÃO DE LITERATURA ..........................................................................18 Breve histórico da mortalidade materna: da fatalidade a se tornar um problema de saúde pública ..........................................................................18 Visibilidade do óbito materno no Brasil e a conquista do direito à saúde .............................................................................................................22 3.2 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.5.1 4.5.2 4.5.3 4.5.4 4.6 METODOLOGIA .............................................................................................26 Tipo de estudo ..............................................................................................26 Cenário do estudo ........................................................................................26 Amostra do estudo .......................................................................................27 Instrumento e coleta dos dados ..................................................................27 Análise dos dados ........................................................................................27 Dados socioeconômicos e demográficos........................................................27 Dados clínico-epidemiológicos .......................................................................28 Indicadores .....................................................................................................28 Percentual de óbitos por causas evitáveis ......................................................29 Aspectos éticos e legais da pesquisa.........................................................30 5 5.1 5.2 5.3 RESULTADOS ...............................................................................................31 Perfil socioeconômico e demográfico ........................................................31 Perfil clínico-epidemiológico .......................................................................35 Indicadores do óbito materno .....................................................................40 6 DISCUSSÃO ..................................................................................................45 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................51 REFERÊNCIAS ..............................................................................................54 APÊNDICES ...................................................................................................62 ANEXOS .........................................................................................................67 13 1 INTRODUÇÃO O conhecimento do perfil clínico e epidemiológico das gestantes que vão a óbito é um dos caminhos que subsidia o planejamento de estratégias eficazes no combate á mortalidade materna, pois, de acordo com evangelista (1994), o processo do planejamento só produzirá ações resolutivas e impactantes com o conhecimento dos fatores condicionantes e determinantes destes óbitos. Apesar da longa trajetória profissional dedicada á atenção primária e da disposição de militar na causa da prevenção à mortalidade materna com afinco, deparamos, com a ocorrência de um óbito dramático de uma gestante proveniente do distrito em que nossa equipe atuava. Após muitas reflexões, fruto dos debates que se sucederam no comitê regional e local, ponderou-se sobre o caráter da evitabilidade dos óbitos ocorridos e isso concorreu para que a questão fosse eleita por todos como uma prioridade em termos de problema de saúde pública a ser combatido no município. Define-se como morte materna, àquela de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez. É causada por qualquer fator relacionado ou agravado pela gravidez ou por medidas tomadas em relação a ela. Não é considerada morte materna a que é provocada por fatores acidentais ou incidentais (BRASIL, 2002). Assim, para calcular a razão de mortalidade materna (RMM), no numerador coloca-se o número de óbitos femininos por causas maternas e no denominador os nasCIDos vivos (nv) do ano considerado, multiplicando por 100.000 nv (OPAS/OMS, 2002). A RMM é um excelente indicador a ser utilizado como parâmetro para avaliar as condições de vida da população, a qualidade dos sistemas de saúde quanto ao acesso aos serviços, educação em saúde e à qualidade da atenção básica e hospitalar (SANTOS, 2005). Para fins de classificação e comparação, a organização mundial de saúde (OMS) estabelece os seguintes valores da RMM: menor que 20 óbitos maternos/100.000 nv, é considerada baixa. Entre 20 a 49 óbitos maternos/100.000 nv a RMM é classificada como média. De 50 até 149 óbitos maternos/100.000 nv, alta e igual ou acima de 150 óbitos maternos/100.000 nv, muito alta (CEARÁ, 2011). 14 Morse (2011) enfatizam que a mortalidade materna ainda é um assunto de grande relevância em todo mundo, especialmente nos países em desenvolvimento onde se concentram 99% destes óbitos. Por si só é capaz de traduzir a realidade social de uma região e demonstrar a determinação política em ações de saúde. Para gomes (2006), a RMM é um bom indicador do nível de saúde da população feminina e pode produzir reflexos negativos em outros indicadores de saúde, como, por exemplo, o coeficiente de mortalidade infantil. Riquinho e correia (2006) citam que o Chile, Cuba, Costa Rica e Uruguai, mesmo não obtendo resultados semelhantes aos de outros países da américa mais ricos, como o Canadá e Estados Unidos, que detêm uma RMM abaixo de 10 por 100.000 nv, obtiveram taxas inferiores à 40 por 100.000 nv. Enquanto isso, Bolívia, Peru e Haiti aparecem com os piores índices, ultrapassando a marca de 200 óbitos maternos por 100.000 nv. Cecatti e Calderón (2005) chamam a atenção para o fato de que mesmo tendo sido observado avanços e melhorias no índice de morte materna, relacionado aos progressos nas práticas e manejo da gravidez, ainda permanecem elevado na maior parte dos países em desenvolvimento. Ressaltam ainda, que uma adequada estruturação do sistema de saúde, com ênfase na atenção durante o pré-natal, hierarquização desta atenção, assim como uma adequada organização dos serviços para a condução do parto e puerpério, são medidas eficazes e que impactam na razão de mortalidade materna. Para traduzir o grau de iniquidade dos óbitos maternos entre as nações, Gruskin (2008) calcularam que o risco de morte de causas relacionadas ao parto de mulheres que vivem em um país pobre é 1 em 16 enquanto que nas que vivem em países de maior poder econômico esse risco é de 1 em 48000. Ou seja, há 300 vezes mais chances de uma mulher proveniente de um país subdesenvolvido morrer de doenças relacionadas ao parto em relação a outra que viva em um país industrializado. A repercussão mundial das mortes maternas tem preocupado a Organização das Nações Unidas (ONU) há muito tempo. No ano 2000, 191 nações assumiram o compromisso de eliminar a fome, a pobreza extrema e discutiram formas de tornar o mundo mais justo, solidário e melhor de viver. Para isso, firmaram metas conhecidas como os oito objetivos do milênio em que um deles (o quinto) prevê a redução da RMM em ¾ até 2015 (MANDÚ, 2009). Em 1990 o Brasil tinha 15 uma RMM de 140 óbitos por 100.000 nv e desde então vem registrando uma queda progressiva, porém as estimativas apontam que o país não alcançará o quinto ODM, significando que não ultrapassará uma RMM de 35 óbitos por 100.000 nv até 2015 (CALDERON, 2006). Segundo Houton (2013) a melhoria no indicador de saúde materna proposto nos objetivos do milênio (ODM) é o mais difícil de ser atingido, apesar do conhecimento de suas causas e de seus determinantes e mesmo com a atenção que o tema tem recebido das nações unidas, do governo e da sociedade como um todo. Souza (2011) relata que o Brasil dispõe de recursos suficientes para intervenções preventivas e terapêuticas que visam reduzir o óbito materno. O governo tem seguido através de suas políticas e diretrizes as recomendações dos organismos internacionais. Atualmente, 99 % das gestantes realizam pelo menos uma consulta de pré-natal e 90% realizam pelo menos quatro consultas. Os partos ocorrem em hospitais em 98 % dos casos e 90 % destes são assistidos por médicos. Porém com todo este cenário, o Brasil ainda apresenta três quartos dos óbitos maternos associados a causas obstétricas diretas e evitáveis, indicando deficiência qualitativa da atenção dos serviços, colocando-a no cerne dos debates. Outro aspecto relevante e que consiste em grande desafio para a gestão no combate à mortalidade materna é o conhecimento de seus números reais, e que reflete em sua magnitude, que ora parece mascarada pelo baixo número de registros de óbitos e/ou subnotificações das causas de morte (MATIAS,2009). Apesar das subnotificações, nos últimos 20 anos o Brasil observou melhorias na qualidade dos seus registros e uma lenta queda na RMM, sendo que em 2011 alcançamos a marca de 56 óbitos de gestantes por 100.000 nv, o que representou uma redução na mortalidade materna em mais de 50 % nesse período (NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL, 2012). Segundo Victora (2011), este fato pode estar associado com a expansão na cobertura dos serviços de assistência à mulher grávida, juntamente com algumas intervenções intersetoriais, como o crescimento econômico, redução nas disparidades de renda, melhorias no saneamento, entre outros. Ficou, no entanto, evidenciado a variabilidade deste indicador nas diferentes regiões do país, sendo o norte e nordeste as que obtiveram os piores desempenhos. No Ceará entre os anos de 1997 e 2009 a RMM foi em média de 87,7 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos. Esse número corresponde a quatro 16 vezes mais o aceitável pela organização mundial de saúde, e também uma média superior ao observado no brasil. (CEARÁ, 2011; 2012) Com vistas na melhoria deste indicador, o Estado, em conjunto com os municípios que aderiram ao pacto pela saúde 2006, estabeleceu como uma das seis prioridades a redução da mortalidade materna. Em 2007 foi constituída pela portaria 1306-a/2007 a comissão técnica do comitê cearense de redução da mortalidade materna, com a finalidade de monitorar, investigar e estabelecer possíveis causas relacionadas com estas mortes em todo estado do Ceará, inclusive oferecendo suporte e estímulo para que os municípios ingressassem com seus comitês regionais e locais. Apesar de todos os esforços, em 2011, 104 mulheres cearenses morreram durante a gestação, parto ou no pós-parto, totalizando uma média de duas mulheres mortas a cada semana (Ceará, 2012). De acordo com Carvalho (2011), houve uma variação pequena no ritmo de queda da RMM em uma série histórica de 12 anos no Ceará, apesar do aumento dos óbitos maternos em algumas regiões do interior onde o indicador era tradicionalmente baixo. Em fortaleza, capital cearense, foi detectada um dos mais baixos índices de RMM, quando comparada com outras capitais nordestinas, porém não se dispõem dados atuais sobre a distribuição destes óbitos em termos de suas regionais de saúde. Diante do exposto, o presente estudo tem, como um dos seus pressupostos, subsidiar uma melhor compreensão da magnitude e transcendência da questão da mortalidade materna em Fortaleza, haja vista sua relevância no cenário da saúde pública. A presente pesquisa elegeu como objeto de estudo os óbitos maternos ocorridos nos últimos cinco anos em Fortaleza, e tentará estabelecer alguma comparação com os dados encontrados em trabalhos anteriores. Almeja, entre outras, perceber que tipo de mudanças vem ocorrendo no perfil da mortalidade materna de uma cidade com histórico de luta em favor da prevenção ao óbito materno, e se realmente as políticas públicas em prol da atenção à saúde da mulher estão resultando em melhorias concretas ou não passam de retórica. 17 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Descrever a situação da mortalidade materna em Fortaleza- Ce no período de 2008 a 2012. 2.2 Objetivos Específicos Comparar a evolução da razão de mortalidade materna no período de 2008 a 2012. Identificar as características socioeconômicas das gestantes; Identificar as causas de morte materna de acordo com a classificação de evitabilidade pelo comitê de mortalidade materna de fortaleza; Avaliar a assistência do pré-natal oferecido às gestantes que evoluíram para óbito materno utilizando índice de Kotelchuck modificado. . 18 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Breve histórico da mortalidade materna: da fatalidade a se tornar um problema de saúde pública Nos dias atuais, nos deparamos em diversos contextos em que a maternidade é exaltada como um fenômeno de transcendência maior, que renova a vida e preserva nossa humanidade. Por outro lado, na prática, a sua história de proteção social é fortemente marcada pela negligência em diversas dimensões: sanitária, psicológica, econômica e se observarmos a situação das operárias de fábricas atuais, até aspectos trabalhistas ainda são desprezados. Falar então dos óbitos maternos como uma situação intolerável está virando quase um lugar-comum nos discursos oficiais dos políticos como também já causa indignação em grande parte das pessoas, cada vez mais conscientes de seus direitos de cidadãos. Porém, nem sempre foi assim, e a sociedade outrora se comportou de maneira bem permissiva a esse respeito. Tanaka (2000) coloca a falta de percepção sobre a gravidade da morte materna como uma questão histórica relacionada à maneira que sociedade encarava esse fenômeno. Quando Martinho Lutero no século xvi afirmava que a principal razão de existência da mulher era “parir até morrer por isso”, revelava os costumes de uma época que tinha nas autoridades religiosas um parâmetro de condutas morais. Essa perspectiva de morrer ao dar à luz chegava a ser exaltada como uma morte digna, cumprindo seu papel de perpetuação da espécie, a “nobre missão da mulher no mundo” e cujos reflexos imersos em fundamentos de cunho religioso são ainda hoje percebidos quando prevalece a inversão da prioridade da vida do concepto em detrimento da vida da mulher (BONCIANI, 2006). Como fica evidenciado em documentos históricos da época industrial, por exemplo, quando o assunto convergia para a discussão de melhorias do bem-estar das mães e crianças a ênfase era dada no sentido de “reduzir o grande desperdício de vidas de crianças”, quase sempre revelando motivações não só de cunho humanitário, mas político e econômicas focadas na produção de mão-de-obra saudável (ROSEN, 1994). 19 A visão de um corpo social produtivo com políticas de saúde preocupadas em produzir crianças biologicamente saudáveis para suprir as necessidades crescentes de produtividade motivou a institucionalização do parto. Essa iniciativa foi, segundo o autor citado, mais uma maneira de controle e vigilância do desenvolvimento da população pelo estado. No entanto, acabou também por promover avanços científicos após uma melhor compreensão dos processos fisiológicos e patológicos referentes à gestante e o parto (FOUCAULT, 1984). Assim, desde o século xviii ficou demonstrado que algumas medidas higiênicas simples podiam evitar infecções puerperais nas mulheres da elite europeia que tinham partos hospitalares. Nos dois séculos seguintes, essas medidas foram sistematizadas junto com técnicas cirúrgicas para partos difíceis no que resultou em queda lenta, mas persistente, nos óbitos maternos até o ano de 1930. Nessa época, o jornal new york times publicou os primeiros artigos sobre mortalidade materna e desencadeia investigações que contribuíram para o estímulo à criação do comitê do bem estar materno para investigação desses óbitos nos estados unidos seguido por iniciativa semelhante pela inglaterra em 1950 (BONCINI, 2006; VIANA, 2011). Essas experiências com investigação de óbitos se constituíram um marco, uma vez que contribuíram significativamente com a melhoria dos indicadores ao apontarem soluções para os problemas identificados através de uma reconhecida qualidade nos dados coletados e se mantêm até hoje como “um dispositivo técnicocientífico por meio do qual é possível identificar a concepção do sistema de vigilância do óbito materno” (CARVALHO, 2006). As conclusões dos relatórios gerados falavam em mortes evitáveis com melhorias nas condições de vida e cidadania das mulheres aliado às ações voltadas à assistência na saúde das gestantes (VENTURA, 2008). Em 1952 a organização internacional do trabalho reconhece a licença maternidade para a mulher trabalhadora com duração mínima de 12 semanas e com parte a ser gozada após o parto (VIANA, 2011). De acordo ainda com Bonciani (2006), apenas na década de 1960 os estudos na américa latina sobre mortalidade materna começaram a incluir cidades brasileiras observando diferenças significativas entre os índices das regiões desenvolvidas da américa do norte em relação às subdesenvolvidas do hemisfério sul. Outra constatação é que mais de 90 % da mortalidade materna em cidades 20 como São Paulo e Ribeirão Preto, entre outras incluídas na pesquisa, poderiam ser evitadas. Em 1979 ocorreu a convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, evento importante por reconhecer a violação do princípio da igualdade de direitos e do respeito à dignidade humana quando as mulheres, por exemplo, deixam de ter acesso aos cuidados à sua saúde (REIS, 2011). Cabe neste ponto destacar que até a década de 1980 a repercussão das mortes maternas vinha sendo ofuscada pela mortalidade infantil, indicador de saúde e de desenvolvimento social mais divulgado e denunciado pelos meios de comunicação de massa (CECCATI, 1992). Uma das explicações possíveis seria a diferença quantitativa nos óbitos: enquanto 500.000 mulheres morriam por ano no mundo, estimou-se que quatro milhões de crianças faleciam até os primeiros 28 dias de vida, correspondente ao período neonatal (GRUSKIN, 2008). O fato de a grande imprensa relegar o óbito materno a um segundo plano, estimulou dois pesquisadores a publicar um artigo de repercussão internacional intitulado “onde está o m da saúde materno-infantil (SMI)?”. Nesse artigo seminal, chamam a atenção do mundo para o tema da mortalidade materna e propõem usá-la como indicador do grau de desenvolvimento de saúde de uma região (ROSENFIELD; MAINE, 1985). O declínio acentuado das mortes em gestantes observado em todo o ocidente depois de 1930 foi considerado o evento mais notável do século xx nas questões relacionadas ao parto. Apesar disso, a diferença nas taxas de mortalidade observada entre países ricos e pobres ainda incomodava e tornava-se aos olhos da comunidade científica “a mais díspar entre as estatísticas de saúde pública” (LOUDON, 1992). Concretamente, no entanto, a mortalidade materna só entra na agenda política internacional a partir da iniciativa para a maternidade sem risco proposta na conferência sobre maternidade segura em Nairóbi, Quênia, ocorrido em 1987. O tema passa a ganhar destaque nas discussões relativas à saúde pública em todo mundo, especialmente nos países subdesenvolvidos, onde meio milhão de gestantes morria a cada ano. Como resultado do encontro, uma meta de redução da mortalidade materna em 50 % do observado em 1985 é estabelecida até o ano 2000. Esse compromisso foi ratificado em outros encontros internacionais, como por 21 exemplo, na 23ª conferência sanitária pan-americana em Washington, 1990, do qual o brasil foi também signatário (CECCATI, 1992; RODRIGUES, 2003; VIANA, 2011; REIS, 2011). Suas linhas mestras tiveram o mérito de atingir o âmbito das políticas públicas, legislação, programas e serviços de saúde reprodutiva, capacitação de recursos humanos, educação da população, entre outros (RODRIGUES ; SIQUEIRA, 2003). Em 1995 ocorreu a 4ª conferência mundial sobre as mulheres em Beijing, china, que teve como principal tema a desigualdade na atenção à saúde. Ali, afirmou-se o direito da mulher desfrutar o mais alto nível de saúde e ter controle sobre a própria vida reprodutiva e sua fertilidade. O Brasil endossa a sua recomendação de redução da mortalidade materna como meta chave para o desenvolvimento (BONCIANI, 2006; REIS, 2011). Ainda na década de 90, Amartya sem, um indiano laureado com o prêmio Nobel em economia, desenvolveu uma tese que discorre sobre as desigualdades entre os países no que tange ao acesso de homens e mulheres aos serviços de saúde. Através de cálculos simples, procurou estimar o número de mulheres esperado para determinados países em desenvolvimento. Subtraiu então o que encontrou do número de mulheres fornecido pelas estatísticas oficiais e associou o resultado ao que chamou de mulheres ausentes ou insuficiência do gênero motivado pela falta de acesso igualitário a determinados serviços de saúde. Um exemplo desse fato ocorre na china, onde o aspecto da desigualdade entre mulheres e homens é gritante. O déficit de mulheres nesse país chegaria a 50 milhões, “evento esse decorrente das mortes, omissão e negligência de políticas públicas estaduais voltadas para o gênero feminino”. (GALLI, 2005). Finalmente, antecedendo a entrada no século xxi, ocorreu a assembleia do milênio promovido pela onu que lança oito grandes objetivos para com o desenvolvimento humano, em reconhecimento de que já dispomos de “tecnologia, recursos, conhecimento e experiência suficientes para enfrentar a maioria dos problemas que impede o desenvolvimento humano de todos“ (CECATTI, 2011). Entre os chamados objetivos do milênio, três dizem respeito diretamente ao setor saúde. O Brasil foi um dos países que conseguiu avançar em questões como a mortalidade infantil (4º ODM), atingindo antecipadamente e de maneira exemplar, algumas metas estipuladas. No entanto, em relação a redução da mortalidade materna (5º odm), as políticas instituídas não foram suficientes para 22 alcançar o patamar estabelecido de diminuir a RMM em 5 % ao ano até 2015, tornando esse objetivo algo ainda a ser superado (SOUZA, 2011). Antes de adentrarmos na descrição da situação atual dos nossos indicadores de saúde materna, faremos uma breve descrição nos eventos que marcaram a trajetória de combate a mortalidade materna no brasil ao longo dos anos. 3.2 Visibilidade do óbito materno no Brasil e a conquista do direito à saúde A preocupação com os óbitos maternos só ocorreu recentemente no brasil, a reboque das discussões que se davam a nível internacional. Anterior à década de 1980, o interesse no assunto só ocorria por iniciativa individual de professores e poucos pesquisadores acadêmicos (CECCATI, 1992). O autor acima destaca o i encontro nacional de mortalidade materna, promovido por um grupo de eminentes professores em 1984, em São Paulo, como o primeiro passo para difundir o debate a nível nacional. Com suas publicações posteriores, o evento continuou exercendo influência sobre profissionais da área e estimulando as pesquisas ligadas ao tema. Um pouco antes, em 1983, o governo federal criou o programa de assistência integral à saúde da mulher (PAISM) com uma proposta considerada ousada para época: atendimento à saúde reprodutiva das mulheres, no âmbito da atenção integral à saúde, e não mais a utilização de ações isoladas em planejamento familiar (OSIS, 1988). Em 1987 foi lançada a primeira iniciativa oficial de um programa de prevenção da morte materna que redundaria na criação de sete comitês de morte materna, os primeiros do Brasil, muito embora com limitações, como a sua composição restrita aos médicos e aceitando outros profissionais e especialistas somente em caráter de consultoria técnica. Essa falha permaneceu até 1995, quando o comitê integrou o sistema estadual de vigilância do óbito materno e os espaços de participação se ampliaram com a entrada dos conselhos de saúde e conselho de profissionais, entre outros. Desde então os comitês se firmaram como uma das mais bem sucedidas estratégias para se conhecer e monitorar a situação de mortalidade materna nos diversos países (RODRIGUES; SIQUEIRA, 2003). 23 No Ceará, a implantação do comitê estadual de prevenção da mortalidade materna ocorreu em 1993 e manteve foco na vigilância epidemiológica do óbito materno o que resultou em melhoria na identificação e registro dessas ocorrências. (CEARÁ, 2010). Consolidando a temática nos meios acadêmicos, em 1988 ocorre o seminário sobre intervenções para a redução da mortalidade materna no Brasil e países africanos de língua portuguesa, que trouxe como novidade a participação de representantes do movimento de mulheres e de organizações nacionais e internacionais (FAÚNDES; CECCATI, 1991). Além do mais, o fato de o governo brasileiro ter participado dos grandes eventos relacionados à saúde da mulher desde a conferência de Nairóbi para a maternidade segura, provocou mudanças positivas no sentido de garantir, por força da lei, melhores serviços de atendimento à gravidez, ao parto e puerpério (LEITE; PAES, 2009). É dentro dessa lógica, por exemplo, que surge através de portarias ministeriais, o programa de humanização no pré-natal e nascimento (PHPN) instituído três anos após a promulgação da constituição cidadã, de 1988. Seu objetivo era ampliar o acesso e a cobertura dos serviços de atenção ao pré-natal, parto e puerpério e melhorar sua qualidade. Na mesma época é publicada uma portaria que afirma a necessidade de classificação do risco gestacional e a garantia da referência para gestações complicadas (REIS, 2011). Em 1991 e 1994, respectivamente, surgem o programa agentes comunitários de saúde (PACS) e o programa de saúde da família (PSF) com a proposta de tornar universal o acesso à saúde e garantir o direito á integralidade do atendimento, integrando as várias ações estratégicas, incluindo as relativas à reprodução e sexualidade e tendo como objeto de atenção a família (NETO, 2008). Mais tarde, muda-se o nome do PSF para estratégia de saúde da família (ESF), mantendo-se o seu pressuposto de reconhecer a saúde como um direito de cidadania, expresso na melhoria das condições de vida da população. Citado como um exemplo a ser seguido, o sucesso que a ESF teve ao dar um salto de qualidade nas informações fornecidas sobre as causas de morte e o seu impacto na equidade por ter uma orientação para os mais pobres, entre outros feitos, foi reconhecido em outros trabalhos científicos como possuidor de um potencial para atuar frente à prevenção do óbito materno (MANDÚ; ANTIQUEIRA; LANZA, 2009). 24 Em 2003 torna-se obrigatório a notificação do óbito materno e sua investigação por parte do município. No ano seguinte, um passo importante no enfrentamento da mortalidade materna é dado, segundo reis (2011), com o lançamento do pacto pela redução da mortalidade materna e neonatal. Ele fixou a meta de diminuir em 15 % os indicadores de mortalidade materno-infantil até 2006, e em 75 % até 2015, apoiando financeiramente alguns municípios selecionados com baixo índice de desenvolvimento humano. Tivemos como fruto de discussões do monitoramento desse pacto, a lei que garante acompanhante para parturientes e a criação da política nacional de atenção obstétrica e neonatal. Por último, não podemos deixar de mencionar o pacto pela saúde lançado em 2006, um conjunto de reformas institucionais do SUS firmado entre as três esferas de gestão e que tem como um dos seus componentes o pacto pela vida, que é o compromisso entre os gestores do SUS em torno da melhoria de indicadores que apresentam impacto sobre a situação de saúde da população brasileira. Uma de suas prioridades era a redução da mortalidade materna através dos seguintes objetivos e metas: diminuir em 5 % a razão de mortalidade materna; garantir insumos e medicamentos para tratamento das síndromes hipertensivas no parto; e qualificar os pontos de distribuição de sangue para que atendam às necessidades das maternidades e outros locais de parto (BRASIL, 2006). Apesar do enfoque do óbito materno sob a ótica da saúde pública e coletiva ter se tornado hegemônico, deixando para o passado os resquícios de misoginia luterana, há uma tendência atual, especialmente junto aos organismos de monitoramento e supervisão dos tratados internacionais, de abordar a questão do óbito materno do ponto de vista da violação dos direitos humanos das mulheres (BARBASTEFANO; VARGENS, 2009). No Brasil, essa postura vem sendo adotada por organizações feministas de saúde que acreditam na redução das taxas de mortalidade materna somente quando os direitos humanos forem assegurados via mecanismos jurídicos e institucionais eficazes. É sob a lógica e o discurso da negação dos direitos humanos que Galli (2005) acredita chamar a atenção para a desvalorização da vida das mulheres que morrem por causas evitáveis e da falha do estado em preveni-las. Essa visão é compartilhada hoje pelos profissionais que atuam de alguma forma na assistência à mulher no seu ciclo gravídico-puerperal e que reconhecem o importante papel que têm na garantia dos direitos de cidadania da população que 25 assistem. Como enfatizado por Mendes (2012), esses mesmos profissionais deveriam questionar-se acerca das medidas mais apropriadas para reduzir o óbito materno e toma-las como um desafio no encaminhamento de seu trabalho cotidiano. Com base no que foi dito, o fenômeno da mortalidade materna além de um problema de saúde pública passa a configurar, na atualidade, uma questão de violação dos direitos humanos a ser enfrentado por toda a sociedade. 26 4 METODOLOGIA 4.1 Tipo de estudo Estudo descritivo de abordagem quantitativa e retrospectivo. De acordo com richardson (1989), este tipo de pesquisa, caracteriza-se pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento dessas através de técnicas estatísticas, desde as mais simples até as mais complexas. É do tipo descritivo populacional, pois busca expor características de determinada população ou fenômeno, nesse caso os óbitos maternos de um determinado município e a relação entre variáveis e os compara com dados de outra população ou, então, compara dados da mesma população em épocas diferentes (TOBAR E YALOUR, 2001; GIL, 2002; ROUQUAYROL, 2013). É ainda de caráter retrospectivo, abordando óbitos em gestantes ocorridos nos últimos cinco anos anterior ao início da pesquisa. 4.2 Cenário do estudo O estudo foi desenvolvido no município de fortaleza, Ceará e em 2009 contava com uma população estimada de um pouco mais de 2,5 milhões de habitantes. Em termos de cobertura da atenção básica, os dados do DATASUS informam que fortaleza é considerada a terceira cidade do brasil com maior cobertura do programa saúde da família (psf), entre os municípios com mais de 1,5 milhão de habitantes, atingindo 35% da população da capital. A cidade conta atualmente com 248 equipes completas, e fica atrás apenas de belo horizonte, com 75% da cobertura do psf, e recife, com 56%. A pesquisa teve como principal foco a documentação proveniente dos relatórios do comitê de mortalidade materna do estado. Esse comitê foi criado em 1993 e desde 2009 funciona em conjunto com os comitês regionais e municipais de prevenção à mortalidade materna como um meio de monitorar a questão dos óbitos em gestantes através de investigações rigorosas e promovendo a discussão dos casos clínicos em caráter regular e permanente. 27 4.3 Amostra do estudo A população foi composta por todas as mulheres residentes em fortaleza, que faleceram no período de 01 de janeiro de 2008 a 31 de dezembro de 2012, por causas relacionadas à gravidez, trabalho de parto, parto e puerpério, incluindo as mortes acidentais ou incidentais (de causa não obstétrica, definição em anexo 5), além das causas que na declaração de óbito (do) estejam classificadas no código internacional da doenças (CID) como óbito materno. 4.4 Instrumento e coleta dos dados Foi elaborado um instrumento de coleta de dados (apêndice 1) com perguntas fechadas sobre variáveis de interesse relacionadas ao óbito materno. Esse questionário foi preenchido a partir de dados do SIM (sistema de informação de mortes), fichas de investigação de óbito materno fornecidas pelo CMM de fortaleza e pelas declarações de óbito mantidas no núcleo de vigilância epidemiológica. Posteriormente, consolidamos as informações e as transferimos para uma planilha baseada no programa excel da microsoft corporation. A coleta dos dados foi realizada pelo próprio autor. 4.5 Análise dos dados Os dados foram coletados e posteriormente analisados através do programa estatístico IBM statistics spss versão 20.0. Utilizou-se estatística descritiva frequencial e entrecruzamentos percentual. Para categóricos, a estatística utilizou-se teste analítica, qui-quadrado especificamente ou razão de verossimilhança (quando as frequências foram inferiores a 5), considerando significância estatística < 0,05 (p-valor). 4.5.1 Dados socioeconômicos e demográficos O documento mais utilizado para coleta das variáveis socioeconômicas foi a declaração de óbito (anexo 1) pela facilidade do acesso aos dados, agrupados em 28 uma só página e acessível através do banco de dados do núcleo de vigilância epidemiológica (NUVEPI) de fortaleza. No entanto, em alguns momentos recorremos à ficha síntese do óbito materno (anexo 2) para completar alguma informação não observada na do. Utilizamos o código 99 para indicar ausência de dado nas fontes pesquisadas. 4.5.2 Dados clínico-epidemiológicos A coleta desses dados envolveu a busca em documentos com informações mais dispersas, como a ficha de investigação de óbito materno e através do cartão da gestante (cópia), quando possível. O código 99 também foi utilizado quando a informação sobre qualquer das variáveis citadas acima não foi localizada. 4.5.3 Indicadores 1- razão de mortalidade materna – RMM - é definido pela opas/oms (2002) como o número de óbitos femininos por causas maternas, por 100 mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Os valores da RMM definidos pelas organizações internacionais para sua classificação são: até 20 mortes por 100 mil nascidos vivos (nv) é considerado baixa; de 20 a 49, média; de 50 até 149, alta e a partir de 150, muito alta. 2- percentual de óbitos com atendimento hospitalar composto a partir da consolidação dos dados obtidos com o item 20 da do, no qual consta o local de ocorrência do óbito. 3- percentual de óbitos com consulta de pré-natal adequado, segundo o índice de Kotelchuck modificado (IKM) que avalia os resultados e os agrupa em quatro situações (LEAL, 2004): Grupo 1: mulheres que não fizeram o pré-natal (PN); 29 Grupo 2: classifica o PN como inadequado e inclui as mulheres que realizaram menos da metade das consultas esperadas para a idade gestacional ou que iniciaram o PN depois do 4 º mês; Grupo 3:nesse caso, o PN é dito intermediário e engloba as que o iniciaram até o 4º mês e realizaram entre 50 a 79 % das consultas esperadas; Grupo 4:classifica o PN como adequado e inclui aquele iniciado até o 4º mês e em que aconteceu entre 80 a 109 % das consultas esperadas; Grupo 5:para a gestantes que tiveram um percentual de consultas igual ou superior a 110 % do esperado para a idade gestacional e iniciaram o PN até o 4º mês. O calculo do IKM (baseado em Kotelchuck, 1994) é descrito em primeiro, descobrir com quantos meses a gestante iniciou o PN; segundo, calcular a idade gestacional (ig), em meses, no momento da última consulta do PN, usando como base a data da última menstruação (dum) ou o estimado pelo ultrassom obstétrico; terceiro, estimar o número de consultas esperadas levando em conta início do PN e a ig em meses, de acordo com a tabela da associação americana de ginecologia e obstetrícia; finalmente, é divido o número real observado de consultas do PN pelo número esperado e multiplique por 100. Assim encontramos um valor percentual que, junto com os passos anteriores, enquadrará o PN em qualquer um dos cinco grupos descritos acima, sendo considerado adequado e mais que adequado os que pertencerem aos grupos 4 e 5, respectivamente. 4.5.4 Percentual de óbitos por causas evitáveis Calculado pela divisão do número de gestantes em que o CMM avaliou a causa do óbito como evitável, dividido pelo total de óbitos e o resultado multiplicado por 100. 30 4.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa O presente projeto de pesquisa, foi submetido ao comitê de ética em pesquisa do universidade estadual do ceará e aprovado sob o número 476.496, conforme resolução 466/12 do conep/ministério da saúde obtendo aprovação sem restrições, de acordo com parecer 476496 (anexo 4). 31 5 RESULTADOS De acordo com somatório dos dados das fichas-resumo de monitoramento da mortalidade materna (anexo 3) arquivadas no CMM de fortaleza, entre 2008 e 2012 morreram 139 mulheres residentes neste município e que se encontravam no período de gravidez, parto ou puerpério. Através de uma pesquisa baseada no número da do, foram excluídos 3 casos, 1 por não se tratar de óbito de mulher no ciclo gravídico-puerperal e 2 por não residirem em fortaleza, o que reduziu o total de óbitos para 136. É de conhecimento público que uma parte das mulheres vem à capital para atendimento em hospitais de referência se estabelecem provisoriamente na casa de parentes, informando o endereço destes como se fosse da sua residência. Uma vez alimentado o sistema, que tem prazo para divulgação, muitas vezes não há tempo para correção do dado, erro que só é averiguado após a investigação no domicílio. Esse foi um dos principais motivos para a pequena diferença nos números informados no sistema de informação de mortalidade e o do presente estudo. 5.1 Perfil socioeconômico e demográfico Para caracterizar o perfil socioeconômico das gestantes que faleceram no quinquênio de estudo, foram selecionadas algumas variáveis para análise que estão agrupadas na tabela 1. Começando pela distribuição da faixa etária, observou-se que mais de um terço dos óbitos ocorreu em uma idade considerada de risco para engravidar, ou seja, na adolescência e nas com mais de 34 anos. Esse grupo representa, em termos absolutos, um número menor das mulheres que engravidam, portanto, consideramos o percentual encontrado nessa faixa etária como proporcionalmente elevado. Feito essa ressalva, percebe-se que o percentual maior de óbitos (65,4 %) foi encontrado naquela faixa etária considerada ideal para parir, ou seja, fora dos extremos que envolvem maior risco. Em relação à raça e a situação conjugal, foi encontrado que em fortaleza mais de 70 % das gestantes que foram à óbito classificadas como parda ou negra e 32 ao todo, 61 % delas encontravam-se solteiras, porém sem diferenciar quantas destas tinham união estável com o parceiro. Quanto à escolaridade, foi encontrado um percentual de 56 % de gestantes com menos de 8 anos de estudo, isto é, que não chegaram a terminar o nível médio de ensino, número que certamente foi subestimado devido à falta de registro dessa variável em 25 % dos casos. Pelo quantitativo de gestantes que exerciam profissão com exigência obrigatória do nível superior não chegando a 3 % do total (uma enfermeira uma veterinária, uma professora e uma promotora de justiça), reforça a percepção do baixo nível de escolaridade nesse grupo de estudo. Não foi possível incluir a variável socioeconômica relacionada à renda porque, na maior parte das vezes, o registro não foi encontrado nas fontes pesquisadas. Esse fato deixa uma lacuna importante para estudos de caracterização epidemiológica das gestantes que evoluem para o óbito em fortaleza, uma vez que tal dado pode indicar se a baixa renda está contribuindo de alguma forma para o desfecho desfavorável das mulheres que decidem por engravidar. Tabela 1 – distribuição dos dados acerca do perfil epidemiológico das mulheres que faleceram no período de 2008 – 2012 em fortaleza . Variável Nº % 12-19 anos 16 11,8 20-34 anos 89 65,4 ≥ 35 anos 31 22,8 Total 136 100 Estado civil Nº % Casada 30 22 Solteira 83 61 Separada 3 2 Viúva 1 1 Sem dados 19 14 Total 136 100 Raça Nº % Parda 93 68,4 Branca 31 Preta 6 4,4 Sem dados 6 4,4 Total 136 100 Escolaridade Nº % Faixa etária 22,8 33 Nenhuma 3 2,2 Fundamental incompleto 41 30 Fundamental completo 21 15,4 Médio incompleto 12 9 Médio completo 20 14,7 Superior 5 3,7 Sem dados 34 25 Total 136 100 Ocupação Nº % Não trabalha 63 46,3 Trabalha fora de casa 51 37,5 Sem dados 22 16,2 Total 136 100 Variável Nº % 12-19 anos 16 11,8 20-34 anos 89 65,4 ≥ 35 anos 31 22,8 Total 136 100 Estado civil Nº % Casada 30 22 Solteira 83 61 Separada 3 2 Viúva 1 1 Sem dados 19 14 Faixa etária Total 136 100 Raça Nº % Parda 93 68,4 Branca 31 22,8 Preta 6 4,4 Sem dados 6 4,4 Total 136 100 Escolaridade Nº % Nenhuma 3 2,2 Fundamental incompleto 41 30 Fundamental completo 21 15,4 Médio incompleto 12 9 Médio completo 20 14,7 Superior 5 3,7 Sem dados 34 25 Total 136 100 Ocupação Nº % Não trabalha 63 46,3 Trabalha fora de casa 51 37,5 34 Sem dados 22 16,2 Total 136 100 O gráfico 1 mostra que as regionais que mais registraram fatalidades, ser v e vi, somadas responderam por 52 % dos óbitos (71 de 136) no período. São duas das regionais com os menores índices de desenvolvimento humano, demonstrando que os óbitos são provenientes das regiões mais pobres da capital, o que ficou bem demonstrado pela concentração espacial dos óbitos em apenas 16 bairros, quase todos de baixa renda, e que acumularam em torno da metade das mortes no período de estudo. Gráfico 1 - distribuição dos óbitos entre 2008-2012, segundo a regional de residência Em termos de local de ocorrência do óbito materno no período de estudo, houve uma prevalência maior nos hospitais públicos onde ocorreram 2/3 dos eventos (tabela 2). O fato era esperado uma vez que a grande maioria da população depende do atendimento pelo sus, e mesmo nas usuárias de plano de saúde, devido à complexidade do caso, as vezes são direcionadas para uma unidade pública de nível terciário. Pelos motivos citados a concentração maior dos óbitos se deu em quatro hospitais públicos de grande porte: MEAC (28 casos), César Carls (17 casos), HGF (15 casos) e IJF (11 casos), juntos somando 52 % do total. Logo a seguir, aparece outro hospital público, o São José, especializado em doenças infecciosas e 35 onde faleceram 8 % dos casos, denunciando o peso que as patologias dessa natureza têm como causa de óbito nas gestantes. Os hospitais privados e conveniados foram o destino de internamento para 17,5 % das mulheres que posteriormente morreram em consequência à gravidez, parto ou puerpério. Chama a atenção a ocorrência de dez mortes no domicílio, outra em via pública e duas em outros estabelecimentos, por homicídio. Isso significa que treze gestantes morreram sem atendimento hospitalar o que demonstra a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e a violência como dois importantes fatores condicionantes ou determinantes desses óbitos. Tabela 2 - distribuição do percentual de óbitos entre 2008-2012, segundo local de ocorrência Local de ocorrência N % Hospitais públicos 98 72,6 Hospitais conveniados com o sus 13 9,6 Fora de hospitais 13 9,6 Hospitais privados 11 8,2 135* 100 Total *não foi possível identificar o local de ocorrência do óbito em somente um caso 5.2 Perfil clínico-epidemiológico Para compor tal perfil, foram utilizados dados da ficha de investigação hopitalar de óbitos, quando existente, ou da ficha síntese que consta no anexo 2, ambas arquivadas em prontuários no CMM. Através da análise da tabela 3, percebe-se que as mulheres mais expostas a riscos gestacionais, isto é, as primíparas e as grande multíparas, juntas, atingem praticamente o mesmo número das multíparas dentro dos cinco anos do estudo, excluindo-se do cálculo os casos sem qualquer registro. Já as gestante que engravidaram antes de dois anos da última gestação, excluídas as primíparas e aquelas sem a informação em prontuário, correspondeu a pouco mais de 15 % desse subtotal (6 de 39). Portanto, no nosso estudo, a maioria das gestantes que 36 faleceram não possuíam risco aumentado em relação à essas variáveis. É de relevância observar que houve perda de dados em quase 30 % dos casos no que se refere à paridade e em quase metade das vezes quando se investigou o intervalo interpartal o que dificultou a análise dos resultados. Tabela 3 - situação das gestantes que faleceram entre 2008-2012, em relação ao número de gestações e o intervalo entre a gravidez que resultou em óbito materno e a gestação anterior Paridade Primípara Nº % 32 23,5 Multípara (2-4 gestações) 49 36 Grande multípara (5 ou mais gestações) Sem dados 15 40 11 29,5 Total 136 100 Intervalo do último parto Menos de 2 anos Nº % 6 4,4 2-5 anos 20 14,7 Mais de 5 anos 13 9,6 Sem dados 65 47,8 Não se aplica (primípara) 32 23,5 Total 136 100 Falha importante no preenchimento também foi verificado no tocante a outros dados do pré-natal. No gráfico 2, oi visto que em 52 casos, ou em 38 % do total, não foi possível saber quando as mulheres iniciaram o mesmo. Do restante, isto é, quando a informação existiu, apenas 38 % iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre (32 de 84), como é preconizado pelo ministério da saúde (ms) e em 26 % das vezes (22 de 84) o pré-natal não foi realizado, o que aponta falhas graves no nível de atenção primária à saúde. 37 Gráfico 2 - distribuição dos óbito entre 2008-2012, segundo a época de início do PN Na tabela 4 resumimos outros achados relevantes em relação ao prénatal. Avaliando o número de consultas realizadasl, em 51 prontuários, ou 37,5 % do total, esse dado não foi encontrado. Do restante, aproximadamente 29 % das gestantes (25 de 85) fizeram pelo menos seis consultas, ou seja, o mínimo atualmente recomendado pelo ms. Quando excluídas as 45 gestantes em que o dado estava indisponível e outras 22 que não fizeram o pré-natal, como está exposto na tabela abaixo, observamos que em 90 % das vezes houve pelo menos um registro de alguma intercorrência durante o pré-natal. Isso mostra a importância de um profissional da atenção básica atento para intervir oportunamente evitando complicações ao binômio mãe-filho, que eventualmente possa surgir em decorrência destas intercorrências. Ainda na tabela 4, tem-se uma visão geral de como o CMM avaliou o prénatal ofertado às gestantes. Nas gestantes que chegaram a iniciar o pré-natal e que tiveram sua avaliação anotada, observa-se o predomínio da inadequação, nesse caso 31 % do total contra 21 % dos julgados como adequados. Além de termos quase metade dos casos considerados inconclusivos em decorrência de falhas nos registros por parte do nível primário ou secundário de atenção à saúde, infelizmente ainda houve um percentual alto de casos de omissão pelo próprio comitê do seu parecer, o que também prejudicou a análise da variável. 38 Tabela 4 - situação do pré-natal das gestantes que faleceram entre 2008-2012, em relação ao número de consultas, notificação de intercorrências e a adequabilidade de acordo com parecer do CMM de fortaleza N Nº de consultas do PN De 1-5 6 ou mais % º 28 38 2 18 2 16 5 38 1 100 5 Não se aplica (não fez pré-natal) 2 Sem dados 1 Total 36 N Intercorrências no PN Pelo menos uma registrada º % 6 2 46 Nenhuma registrada Não se aplica (não fez pré-natal) Sem dados Total 7 2 5 2 16 4 5 33 1 36 100 N Avaliação do PN Adequado Inadequado Inconclusivo Não se aplica (não fez pré-natal) Sem dados Total º % 1 4 10 2 1 16 3 0 22 2 3 17 4 8 35 1 36 100 Para o auxílio da análise do óbito materno em si, através de suas causas, foram encontrados 51 diagnósticos firmados pela do e selecionadas segundo um programa para correção da causa básica e em seguida agrupadas pelo capítulo do CID 10, como mostrado na tabela 5. Destaca-se que o maior número de fatalidades se deu em consequência à doença hipertensiva específica da gestação (dheg). Assim, a pré-eclâmpsia ou sua evolução para eclâmpsia respondeu por 19% das mortes no período de estudo, seguido pelas doenças do aparelho circulatório. Chama a atenção o quantitativo de causas externas colocando os homicídios e os suicídios como terceira causa mais comum de óbito. Lembramos que estas causas ditas aCIDentais e as tardias, isto é, que ocorreram após 42 dias do parto, não são consideradas morte materna, ficando de fora do cálculo da RMM. 39 Outro fato relevante foi algumas doenças infecciosas aparecem nessa lista, entre elas a dengue (2 casos), infecção das vias urinárias (5 casos), doença pelo vírus hiv (3 casos), calazar, meningite bacteriana e tuberculose com um caso cada, e curiosamente todas com tratamento disponível pelo sus, assim como o diabetes mellitus que teve dois registros. Tabela 5 - número de óbitos entre 2008-2012, segundo a classificação por capítulo do CID 10 baseado na causa base. Capítulo do CID 10 Nº % I: a00-b99_ algumas doenças infecciosas e parasitárias 15 11 Ii: c00-d48_ neoplasias 8 6 V: f00-f99_ transtornos mentais e comportamentais 1 1 Ix: i00-i99:_doenças do aparelho circulatório 19 14 X: j00-j99_ doenças do aparelho respiratório 5 4 Xi: k00-k93_ doenças do aparelho digestivo 1 1 6 4 26 19 11 8 cavidade amniótica 3 2 O60-o75: complicações do trabalho de parto e do parto 8 6 O85-o92: complicações relacionadas predominantemente com o puerpério 8 6 O95-099: outras afecções obstétricas não classificadas em outra parte 8 6 Xix e xx: s,t, v,w, x, y_ causas externas 17 12 Xv_ gravidez, parto e puerpério O00-o08: gravidez que termina em aborto O10-o16: edema, proteinúria e transtornos hipertensivos na gravidez, parto e puerpério O20-o29: outros transtornos maternos relacionados predominantemente com a gravidez O30-o48: assistência prestada à mãe por motivos ligados ao feto e à Como observado na tabela 6, o predomínio foi de óbitos por causa obstétrica direta que são aqueles com maior potencial de prevenção através de ações que em tese deveriam ter início na atenção primária, durante o acompanhamento no pré-natal. Percebe-se ainda na mesma tabela, que 15 % dos óbitos ocorreram após os 42 dias do parto, no chamado puerpério tardio, período em que já deveria ter havido um contato dessa mulher com a equipe de saúde da atenção básica, mais uma vez expondo falhas nesse nível de atenção à saúde em fortaleza. 40 Tabela 6 - distribuição dos óbitos entre 2008-2012, segundo a classificação pelo tipo de ocorrência Tipo de óbito Nº % Obstétrico direto 61 45 Obstétrico indireto 38 28 Tardio 20 15 Não obstétrico 17 12 Total 136 100 Pelo exposto na tabela 7, percebe-se que, quando excluídos os dados perdidos, 54 % dos óbitos ocorreram no período do puerpério imediato, fase em que a mulher está exposta a risco de sangramento, infecções e outras complicações. Naquelas mulheres que chegaram a parir, a cesariana foi duas vezes mais comum que o parto normal, o que está de acordo com os altos índices de parto cirúrgico no nosso meio, sendo o Brasil o segundo país recordista em cesarianas no mundo. Tabela 7- número de partos entre as gestantes que faleceram entre 2008-2012, de acordo com o momento de sua ocorrência e a via de resolução do parto Momento do óbito Nº % Puerpério imediato 69 51 Durante a gestação 38 28 Puerpério tardio 19 14 Sem dados 10 7 Total 136 100 Tipo de parto Nº % Cesariano 52 38 Não houve parto 37 27 Vaginal 26 19 Sem dados 21 16 Total 136 100 5.3 Indicadores do óbito materno Entre 2008 e 2009 foi observado uma redução significativa na RMM (tabela 8) explicado, em parte, por uma queda no número absoluto das mortes ditas maternas, uma vez que aí não entra no cálculo as mortes aCIDentais, bem como as que ocorreram após 42 dias do parto (ambas somando 6 casos em 2009). Essa diferença só não foi maior porque a quantidade de nasCIDos vivos também diminuiu 41 de um ano para o outro. No entanto, a partir de 2009, a RMM vem apresentando uma curva ascendente, assinalando uma piora progressiva desse indicador desde então. Tabela 8 – distribuição da razão de mortalidade materna em fortaleza entre 2008 e 2012 Ano 2008 2009 2010 2011 2012 22 13 18 21 25 38052 37212 36299 37051 37440 57,8 34,9 49,5 56,6 66,7 Nº absoluto de óbitos maternos* Nascidos vivos no ano * RMM em fortaleza Ano 2008 2009 2010 22 13 18 38052 37212 2011 2012 Nº absoluto de óbitos maternos* Nascidos vivos no ano * 21 36299 37051 49, RMM em fortaleza 57,8 34,9 5 25 37440 56, 6 66, 7 *fonte: secretaria de saúde de fortaleza/CMM Com respeito à proporção de óbitos com atendimento hospitalar, indicador que está relacionado com o grau de acesso ao nível secundário de atenção à saúde, pode-se observar no gráfico 3, que apenas em 2011 todos os óbitos ocorreram dentro de um hospital. O menor percentual ocorreu em 2008 e a média do quinquênio foi de 90 %. Qualquer óbito ocorrido fora de ambiente hospitalar deve trazer a reflexão sobre qual nível de atenção as grávidas estão enfrentando barreiras na busca por um atendimento médico oportuno para evitar a morte materna. 42 Gráfico 3 - distribuição dos óbitos maternos que receberam atendimento hospitalar entre 2008-2012 Para cálculo do percentual de gestantes ou puérperas que tiveram seu pré-natal avaliados como adequado, como ilustrado pelo gráfico 4, optamos pelo índice de Kotelchuck modificado (IKM), já validado e utilizado em outros trabalhos brasileiros. Por falta de dados, só foi possível o cálculo ser aplicado aos dois últimos anos da pesquisa, quando as perdas não foram tão significativas: 8 % dos casos em 2011 e 12 % em 2012, ou 10 % em média. Dos 58 pré-natais analisados, apenas um foi avaliado como mais que adequado (grupo 5), o que corresponde a menos de 2 % do total. Aqueles considerados adequados (grupo 4) foram somente cinco casos ou 8,6 %, enquanto os inadequados (grupo 2) somaram 23 casos, ou 39,6 % do todo. Do restante, 24 % estão no grupo 3 (pré-natal intermediário) e 15 % não fizeram nenhuma consulta (grupo 1). 43 Gráfico 4 - classificação da adequabilidade do PN ofertada às gestantes que foram a óbito entre 20082012, de acordo com o índice de Kotelchuck modificado Na tabela 9 fica em evidência que, dos óbitos analisados pelo CMM de fortaleza, excluídos os 35 casos sem dados, cerca de 18 % deles foram classificados como inevitáveis e, portanto, em 82 % das vezes, o óbito foi considerado evitável ou provavelmente evitável se tomadas as medidas cabíveis. Merece destaque que o comitê omitiu seu parecer em cerca de um quarto do total dos óbitos por falta de dados para embasamento do mesmo. Tabela 9 - grau de evitabilidade dos óbitos ocorridos entre 2008-2012 segundo julgamento do CMM Evitabilidade do óbito Nº % Evitável 53 39 Provavelmente evitável 30 22 Provavelmente inevitável 18 13 Sem dados 35 26 Total 136 100 Pela análise da tabela 10, é possível concluir que as únicas variáveis entre as características clínicas estudadas onde houve alguma relação com significância estatística com a evitabilidade do óbito materno, foram o início do PN, a adequabilidade do mesmo e o momento que a mulher foi à óbito (razão de 44 verossimilhança destacada em vermelho). Outras variáveis que não estão representadas na referida tabela, como as característica socioeconômicas e demográficas, além do local do falecimento, foram testadas e não demonstraram relação estatística com o julgamento do CMM em termos do óbito ser evitável. Tabela 10 - cruzamento de dados entre as características clínicas das gestantes que foram a óbito e a evitabilidade dos mesmos, segundo o julgamento do CMM de fortaleza Evitabilidade Provavelmente evitável Características clínicas Evitável Provavelmente inevitável Inevitável P-valor* F % F % F % F % 1 9 9 2 7,7% 33,3% 31,0% 100,0% 9 11 15 0 69,2% 40,7% 51,7% 0,0% 1 2 2 0 7,7% 7,4% 6,9% 0,0% 2 5 3 0 15,4% 18,5% 10,3% 0,0% 0,013 Sim Não Inconclusivo Não fez Tipo de parto Normal 2 8 12 1 15,4% 36,4% 42,9% 7,7% 5 14 11 9 38,5% 63,6% 39,3% 69,2% 1 0 1 1 7,7% 0,0% 3,6% 7,7% 5 0 4 2 38,5% 0,0% 14,3% 15,4% 0,000 8 11 9,5% 7,1% 0,0% 0 13 6 52,4% 42,9% 47,4% 2 Cesariana Não houve parto Cesariana (pós mortem) Normal domiciliar Vaginal (abortamento) 38,1% 31,0% 31,6% 0,0% 19,0% 21,1% Início do pré natal Não fez 1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre Pré-natal adequado? 1 0 0 Momento do óbito Durante a gestação 8 Puerpério imediato 18 Puerpério tardio 5 Intervalo do último parto < 2 anos 2 33,3% 0,0% 0,0% 18 9 2 1 2 66,7% 100,0% 100,0% 3 0 0 0 0 0,0% 0,0% 0,0% 8 4 0 0 0 0,0% 0,0% 0,0% 36,4% 29,5% 35,7% 10 34 4 45,5% 55,7% 28,6% 0 3 3 0,0% 4,9% 21,4% 4 6 2 18,2% 9,8% 14,3% 33,3% 3 50,0% 1 16,7% 0 0,0% 2 a 5 anos 4 22,2% 8 44,4% 2 11,1% 4 22,2% > 5 anos Não teve parto anterior 6 50,0% 6 50,0% 0 0,0% 0 0,0% 5 20,8% * razão de verossimilhança 16 66,7% 0 0,0% 3 0,061 12,5% 0,004 0,091 45 6 DISCUSSÃO Um aspecto que merece destaque diz respeito à alta prevalência das causas obstétricas diretas nos óbitos maternos de fortaleza, que no nosso estudo ficou em torno de 61 % de um total de 99 casos, excluído as mortes tardias e não obstétricas. O fato se torna relevante porque entende-se que as causas diretas são mais fáceis de serem prevenidas do que os óbitos obstétricos indiretos, onde existe uma doença pré-existente que é agravada pela condição de sobrecarga gerada pela gravidez. Em países desenvolvidos, o predomínio é das causas obstétricas indiretas (MAJHI; MONDAL; MUKHERJEE, 2001). A maior ocorrência de óbitos por causas maternas diretas aqui encontradas, portanto, depõe contra a qualidade da assistência obstétrica ofertada. Para santos (2005), a identificação da causa do óbito materno é de valia para situar em que ponto da assistência à saúde da mulher ocorreu falhas. Enquanto a doença hipertensiva específica da gravidez (DEHG), como causa de morte, denunciaria uma possível falha na condução do pré-natal e o abortamento situaria o problema em nível de planejamento familiar, as complicações hemorrágicas e infecções apontariam problemas na assistência ao parto, ao puerpério e à estrutura hospitalar. Em nosso estudo, a pré-eclâmpsia e sua vertente mais grave, a eclampsia, foi a patologia que mais levou ao óbito no ciclo gravídicopuerperal, o que não é surpresa uma vez que os últimos informes no estado (CEARÁ, 2013) indicam a mesma causa como a de maior frequência nas declarações de óbito, realidade que não muda desde a década de 80 em todo o brasil (ALVES, 2008). O cálculo da média da RMM específica no para préeclâmpsia/eclampsia nos cinco anos do estudo ficou em torno de 11 por 100 mil nv, cifra semelhante ao encontrado por soares (2009) em estado do sul. Outra constatação digna de nota foi a soma dos acidentes de trânsito, homicídios e os suicídios resultarem na terceira causa mais comum de óbito nas gestantes de fortaleza. Apesar de não entrarem no cálculo da RMM, por caracterizarem óbito não obstétrico, os valores observados são um indício objetivo de que a violência urbana e questões relacionadas à saúde mental são temas que necessitam prioridade nas ações voltadas à saúde da mulher na capital. 46 Uma situação inusitada foi a notificação de cinco casos de infecção das vias urinárias como causa básica de óbito materno na do. Os efeitos deletérios dessa patologia sobre o binômio mãe-filho já são bastantes conhecidas, mesmo quando não provocam sintomas e o seu tratamento faz parte das diretrizes e recomendações do ministério da saúde para a atenção básica (BRASIL, 2012). Constatou-se, durante a coleta de dados do estudo, que a disúria foi um evento comum durante o pré-natal, pelo menos quando foi possível ter acesso às anotações das intercorrências. Além disso, as cinco gestantes que tiveram uma infecção urinária como desencadeador da cadeia de eventos que levaram ao desfecho fatal leva a crer que houve falha na conduta de alguns desses casos. Infelizmente, uma minoria das gestantes teve uma cópia do cartão do pré-natal anexado no prontuário do CMM. Desse modo, ficou inviabilizado conhecer a magnitude real desse problema como um dos fatores condicionantes ou determinantes do óbito materno. Algumas outras patologias como o calazar, a meningite bacteriana, a tuberculose, entre outras, são doenças infecciosas que ainda fazem parte da estatística de obituário das gestantes em fortaleza, fato pouco frequente nas grandes cidades dos estados do sul e sudeste (CARRENO, 2012; MATIAS, 2009). Questiona-se a fragilidade do sistema de saúde municipal que aparenta não ter se configurado ainda como uma verdadeira rede de atenção à saúde, carecendo de uma definição do fluxo de encaminhamento frente a suspeita de tais doenças. Em contrapartida, notificou-se apenas um óbito por hemorragia no pósparto, um por placenta prévia e outro por descolamento de placenta, exemplos de condições que, em conjunto, são citadas em diversos trabalhos como comumente associadas ao óbito materno (VICTORA, 2011; TRONCON, 2013). Segundo Souza e colaboradores (2013), a mortalidade materna por hemorragia vem mantendo-se elevada no Brasil e o número encontrado na nossa pesquisa pode estar subestimado devido alguns a considerarem um sintoma ao invés de uma causa de morte. Com respeito às gestantes falecidas em decorrência do HIV, em fortaleza foram registrados três óbitos no período de estudo, o que correspondeu a 3 % do total das causas obstétricas, percentual próximo do encontrado no país em 2007, segundo dados fornecido pelo DATASUS (VICTORA, 2001). É possível que o valor também esteja subestimado, uma vez que pesquisas indicam vários fatores que induzem à sua subnotificação (BONCIANI; SPINK, 2003). 47 Em estudo conduzido por Albuquerque e colaboradores (1998), quase um terço das gestantes que foram a óbito tinham uma patologia associada e em algumas delas a possibilidade de engravidar deveria ter sido, no mínimo, bastante discutida. Acredita-se que uma parte dos óbitos em nossas gestantes relacionados às doenças cardiovasculares poderia ter sido prevenida através de estratégias voltadas para orientação no sentido de evitar a gravidez de risco. Outros dados clínico-epidemiológicos que são considerados facilitadores do óbito materno são o intervalo entre os partos menor que dois anos e o início tardio do PN, ambas objetos desta pesquisa. Apesar de lacunas na coleta dos dados ter dificultado a interpretação das informações, percebeu-se que em muitos casos houve demora na captação da gestante para início do PN. Além disso, ocorreu falha no planejamento familiar em assegurar um adequado intervalo interpartal, o que denuncia deficiências na assistência prestada em nível da atenção primária. Com relação aos riscos advindos do parto abdominal, que já são bem conhecidos, tem-se observado que o brasil detém uma das maiores taxas de cesárea do planeta, chegando a atingir uma média de 40 %, número bem acima do esperado pela oms que aceita um percentual de até 15 % como adequado (haddad e cecatti, 2011). Em nossa casuística, dois terços dos partos ocorridos, excluídas as perdas, resultaram em parto cesariano. A literatura científica concorda que o procedimento acarreta risco relativo maior para morte materna e está associada à complicações hemorrágicas, infecciosas, embolia pulmonar e acidentes anestésicos (cecatti e calderón, 2005). Assim, como afirmam haddad e cecatti (2011) em relação ao país como um todo, fortaleza necessita reduzir o número de cesarianas desnecessárias como uma das estratégias para melhorar seus indicadores maternos. De acordo com leite e colaboradores (2011), a não realização do PN e um número reduzido de consultas tem forte relação com o risco de morte. O ministério da saúde recomenda, embasado em estudos com bom nível de evidências (VILAR, 2001), pelo menos seis atendimentos. Uma dissertação que pesquisou o óbito materno em hospital terciário de fortaleza encontrou que quase 70 % das gestantes tinham um número inferior a seis consultas de PN (CARVALHO, 2006), resultado semelhante ao de recife (ALBUQUERQUE, 1998). No presente estudo, 26 % das mulheres não chegaram a iniciar o PN e das que o fizeram, 61 % não atingiram o número mínimo de consultas preconizadas, o que está de acordo com as pesquisas 48 citadas. Porém, Moura e colaboradores (2007), para a análise da qualidade do PN, um dos objetivos dessa pesquisa, precisa-se de mais elementos além do número de consultas já que quando o óbito ocorre em idade gestacional precoce esse dado, isoladamente, não diz nada. Portanto, buscou-se um índice que combinasse outros parâmetros como, por exemplo, a época de início do PN. Para uma avaliação mais abalizada dos serviços, o clássico estudo de Donabedian (1988) utiliza análise da estrutura, do processo e do resultado, sendo o segundo item aquele que melhor investiga o conteúdo da atenção prestada. Com a intenção de encontrar alguma possível relação entre o óbito e a precariedade do PN, optou-se pelo índice de Kotelchuck modificado (IKM). Dentre os vários indicadores utilizados para esse fim, como o índice de Kessner, Gindex, Apncu, entre outros (COIMBRA, 2003), o IKM foi escolhido por já ter sido validado em nosso meio, pela facilidade na sua aplicação (LEAL, 2004), e por combinar outros fatores além do número de consultas, como comentado anteriormente. Por esse parâmetro, os dois últimos anos do estudo tiveram quase 40 % dos pré-natais classificados como inadequados e apenas 34,5 % deles foram iniciados até a 14 ª semana de gestação, percentual semelhante ao de cidades tão díspares quanto Caxias do Sul-RS e Quixadá-CE (ROCHA E SILVA, 2012). Mesmo utilizando de uma metodologia própria, o CMM de fortaleza julgou inadequado, na maioria das vezes em que houve o parecer, os PN ofertados às mulheres que posteriormente faleceram durante o parto ou puerpério. Esses achados reforçam a hipótese de que para melhorar os indicadores de saúde materna precisamos investir na ampliação e qualificação da atenção básica do município. É importante reafirmar a importância dos profissionais da atenção primária estarem atentos para a investigação minuciosa dos óbitos e em parceria com o CMM minorar os sub-registros, razão de terem sido excluídos os anos de 2008 a 2010 para cálculo do IKM. Ainda com vistas a contribuir para a análise dos serviços ofertados às gestantes, buscou-se quantos dos óbitos em fortaleza foram julgados pelo CMM como evitáveis. Dos 101 casos onde houve registro desse dado, 82 % foram classificados dessa forma, valor inferior ao encontrado por Guanabara (2010) em hospital terciário da capital entre 2004 e 2008. Para Parpnelli (2000), o método de mortalidade evitável pode ser aplicado para estabelecer comparação dos cuidados de saúde entre distintos serviços, em relação a distintos períodos de tempo e entre 49 diferentes classes socioeconômicas. O mesmo autor, em concordância com Figueiredo (2006) coloca que, em pelo menos 50 % das vezes, o óbito é redutível com medidas de complexidade variada e Borges (2000) salienta que é a assistência eficaz e oportuna que faz a morte ser evitável. O valor encontrado em fortaleza pode ser considerado um indicativo de baixa efetividade do sistema municipal para a questão da prevenção do óbito materno. Seriam interessantes mais estudos para comparar se aqui se repete a situação citada por Silveira, santos e costa (2001) onde as gestantes de maior risco são as que recebem a maior proporção de prénatais classificados como inadequados, um exemplo claro da lei do cuidado inverso à saúde (Hart, 1971). Almeida e barros (2005) confirmam essa situação de desigualdade que parece ser a regra em nosso meio. Finalmente, reportando-se aos dados de cunho socioeconômico, é importante mencionar que eles foram descritos para demonstrar um padrão de vulnerabilidade para complicações na população estudada, como demonstrado no trabalho de revisão de Viana, Novaes e Calderón (2011). Os extremos da idade, por exemplo, apresentam maior risco para o óbito materno e o presente trabalho mostrou que 35 % dos casos em fortaleza estavam nas faixas extremas da fase reprodutiva, o que ficou próximo do encontrado no estado do Ceará (41 %) em estudo conduzido por igual período de tempo (Moura, 2007). Conclui-se que, em nosso meio, o planejamento familiar tem careCIDo de maior efetividade para amenizar os riscos materno-fetais relacionados à idade em que as mulheres engravidam. Encontrou-se nessa pesquisa uma elevada prevalência de mulheres não brancas, solteiras e com baixa escolaridade. Em estudo realizado na Paraíba (marinho e paz, 2010), a raça negra, a baixa renda e a condição de solteira estavam relacionadas a uma maior RMM. Os mesmos autores ainda observaram que o acesso a uma melhor assistência médica foi maior entre as mulheres com nível secundário ou superior o que influenciou na associação positiva entre baixa escolaridade e morte materna. Apesar de não ter sido possível cruzar os dados, o perfil das mulheres delineado em nossa pesquisa é mais um indicativo do caráter de iniquidade relacionado à alta RMM encontrado em fortaleza. Almeida e barros (2005) resumem outros trabalhos que analisaram os indicadores de cuidados pré-natais utilizando variáveis socioeconômicas e mostraram que quanto menor o nível de renda, mais baixo o desempenho da 50 assistência à saúde. Dessa forma, o desamparo social é um dos fatores determinantes no óbito materno. Pretendeu-se investigar se em fortaleza existia um padrão semelhante, porém devido à escassez de informação sobre a renda das gestantes nos documentos pesquisados, deCIDimos por excluir essa variável do nosso estudo. Apesar da ausência de informações relacionadas à renda, dados demográficos levantados na presente pesquisa mostraram que os óbitos em gestantes estão concentrados nos bairros mais pobres da capital. Segundo o relatório das nações unidas State of the World Cities 2010/2011: Bridging the Urban Divide, fortaleza figura-se como a quinta CIDade mais desigual no mundo. A má distribuição de renda se reflete espacialmente na ocupação dos bairros e isso deve ser levado em consideração quando se pretende organizar serviços de saúde baseado nas necessidades locais e que atenda a um dos princípios fundamentais do sus que é o da equidade. 51 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar dos acordos e convenções internacionais firmados pelo governo federal e de contarmos com marcos jurídicos para a promoção e defesa da saúde da mulher, as taxas de mortalidade materna continuam altas na maior parte do país, não sendo diferente em fortaleza. Esse é um tema que atrai inúmeras discussões e preocupações envolvendo CMM, gestores e profissionais de saúde visto que é em parte consequência da qualidade da assistência prestada nos serviços de saúde bem como da operacionalização das políticas públicas voltadas à saúde da mulher. Infelizmente, o presente estudo comprova que, pelo menos nos últimos cinco anos, fortaleza ainda não logrou êxito em melhorar de forma convincente seus indicadores do óbito materno, a despeito do destaque que o tema tem ganhado nos meios de comunicação. O que se observa é que apesar de contar com um hospital voltado especificamente para o atendimento ao gênero feminino, de possuir um CMM atuante no combate à mortalidade das gestantes, estar integrado à rede cegonha e de ter uma cobertura de equipes de atenção básica acima da média do nordeste, pouco progresso vem sendo alcançado no município no sentido de atingir a meta proposta pelo 5º objetivo do milênio. Como primeiro ponto de reflexão, destaca-se o percentual de óbitos que ocorreram fora do âmbito hospitalar, uma vez que o mesmo demarca aspectos relacionados ao acesso aos serviços de saúde. Entende-se que, toda patologia obstétrica que se agrava a ponto de evoluir para o óbito deveria, no mínimo, ter passado por uma avaliação médica, e a não procura por um atendimento ou a demora em fazê-lo pode ter origem inclusive na acessibilidade em relação aos serviços da atenção primária. Em que pese à carência de profissionais médicos, mais observada em regiões de difícil acesso e das periferias das grandes capitais, os programas do governo federal, Provab e o mais médicos, vêm melhorando a cobertura da atenção básica e tem potencial para mudar a conjuntura atual na questão do acesso ao pré-natal e sua qualificação. Como isso irá repercutir na redução do óbito materno em fortaleza é uma dúvida para futuras pesquisas. É preocupante saber que a situação atual dos óbitos maternos envolve uma inadequação de várias intervenções ligadas à saúde da mulher no ciclo 52 gravídico-puerperal, como foi indicado pelo número de pré-natais considerados deficientes e a proporção de causas evitáveis encontrada entre os óbitos do período estudado. Dentro das patologias obstétricas com alta prevalência como a hipertensão arterial, hemorragias, infecções e abortos, todas são passíveis de prevenção sem, para tal, requerer investimentos científicos ou tecnológicos de alto custo. A propósito, o detalhamento dos possíveis determinantes de cada óbito materno tem se mostrado essencial para o enfrentamento desses problemas que afetam não só as mulheres, mas a sociedade em geral. A inclusão do perfil de morbidade do tipo Near miss, evento relacionado com complicações potencialmente fatais durante o período gravídico, em trabalhos vindouros, poderia estar contribuindo para aprimorar a atenção obstétrica no município. É no intuito de conhecer a realidade para permitir uma intervenção bem embasada que as falhas encontradas no preenchimento dos dados sejam no cartão do PN, seja na do, ou mesmo nos relatórios gerados pelo CMM, devem ser evitadas a todo custo. Para citar um fato corriqueiro, a simples omissão da cor, que ocorreu em 4 % dos casos do presente estudo, encobre dados relevantes para a identificação de agravos à saúde que acometem populações em situação de vulnerabilidade, como negros e indígenas, e mascara a evolução destes agravos. Deve haver por parte da gestão municipal mais inciativas que busquem a qualificação dos profissionais em todos os níveis de atenção à saúde, com ênfase para o nível primário que é considerado o ordenador do sistema. Lembramos que ali é onde deveriam ocorrer as consultas pré-concepcionais, e onde um planejamento familiar e um pré-natal bem feito pode fazer a diferença, seja evitando uma gravidez indesejada que eventualmente redunda em tentativa de aborto, seja na prevenção de uma gravidez de risco. Outra situação abordada por esse trabalho de pesquisa diz respeito às iniquidades percebidas quanto ao perfil socioeconômico, mostrando que o óbito em gestantes e puérperas atingem preferencialmente mulheres de cor, com pouco instrução e fora do mercado de trabalho. Segundo informe do IPECE emitido em 2012, é a elevada concentração espacial de desigualdade social encontrado em fortaleza que potencializa as tensões e gera a violência que se traduz em mortes por causas não obstétricas, terceira mais comum em nossa estatística. Esforços para minorar as desigualdades na oferta de serviços de saúde no sentido de priorizar grupos de maior risco devem ser observados. Mais uma vez enfatiza-se a 53 importância da APS no uso da vigilância em saúde como um recurso para corrigir as distorções ligadas ao risco social. Apesar das limitações impostas pelo caráter descritivo da pesquisa, e mesmo não gerando verdades categóricas ou conclusões definitivas, algumas inferências podem estimular um aprofundamento maior em estudos futuros. Para isso, devemos melhorar nossas estatísticas e evitar, como já comentado, as perdas de dados por subnotificação. Temos que ter a clareza de que a diminuição da mortalidade materna requer vontade política dos governos para investir em programas de prevenção e interrupção de gravidezes de alto risco, em programas de pré-natal que permitam um acompanhamento adequado da gestante e em oferecer um parto seguro e um acompanhamento pós-parto. 54 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, r.m. et al. Fatores sócio demográficos e de assistência médica associados ao óbito materno. Rev. bras. ginecol. obstet., Botucatu. SP, v. 20, n.4, p. 181-185, 1998. 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O envolvimento com a temática em estudo se deu pelo fato de ter trabalhado como médico em município do interior do estado do ceará onde não havia registro de óbitos maternos por mais de uma década e por isso era citado como exemplo a seguir, mas que, no entanto, a partir do ano de 2009, passou a somar ocorrências de forma inusitada e sem explicação plausível. Estudo descritivo de abordagem quantitativa e retrospectivo onde serão analisados os óbitos ocorridos em gestantes residentes no município de fortaleza-ceará no período de 2008 a 2012. O lócus da investigação dessa pesquisa terá como principal foco a documentação proveniente dos relatórios do comitê de mortalidade materna do estado. A população será composta por todas as mulheres residentes em fortaleza, que foram a óbito período de 01 de janeiro de 2008 a 31 de dezembro de 2012, por causas relacionadas à gravidez, trabalho de parto, parto e 74 puerpério e que a causa de óbito na declaração de óbito (do) esteja classificada no código internacional da doenças (CID) como óbito materno. Será elaborado um questionário, contendo perguntas fechadas sobre variáveis relacionadas ao óbito materno. O questionário será alimentado através do sim (sistema de informação de mortes) ficha de investigação de óbito materno, declaração de óbito. Os dados serão coletados e posteriormente analisados através do programa de base eletrônica epiinfo. Objetivo da pesquisa: Objetivo primário: Analisar a situação da mortalidade materna em fortaleza-ce no período de 2008 a 2012. Objetivo secundário: Comparar a evolução da RMM de 2008 a 2012. Identificar as características clínicoepidemiológico e socioeconômico das gestantes que evoluíram para óbito materno; identificar as causas de morte materna de acordo com a classificação de evitabilidade; identificar a proporção de cesarianas entre os óbitos maternos; avaliar a assistência do pré-natal ofereCIDo às gestantes que evoluíram para óbito materno utilizando índice de Kotelchuck modificado. Avaliação dos riscos e benefícios: Riscos: Não haverá riscos uma vez que o estudo está baseado em análise de uma base de dados sob a anuência de um termo de fiel depositário. Benefícios: Através do conhecimento trazido ao final desse estudo procuramos identificar condicionantes e determinantes dos óbitos maternos em fortaleza para subsidiar e fortalecer medidas que visem a sua redução. Comentários e considerações sobre a pesquisa: O projeto é relevante, tem valor científico. Considerações sobre os termos de apresentação obrigatória: 75 Folha de rosto adequada. Termo de fiel depositário em anexado e com permissão. Riscos e benefícios informados. Cronograma adequada. Por problemas na avaliação do cep houve atrazo na emissão do parecer. Solicita dispensa de tcle. Recomendações: Sempre que possível rever as instruções na resolução cns 466/12 vigente. Conclusões ou pendências e lista de inadequações: O protocolo de pesquisa é relevante e atende aos preceitos éticos da pesquisa que envolve seres humanos, conforme a resolução cns 466/12. Encaminhar relatório ao término da pesquisa pela plataforma. Situação do parecer: Aprovado Necessita apreciação da conep: Não Considerações finais a critério do cep: Os termos de apresentação obrigatória foram disponibilizados adequadamente. Fortaleza, 02 de dezembro de 2013 Assinador por: Diana célia sousa nunes pinheiro (coordenador) 76 ANEXO E Conceitos básicos definidos pela oms Morte materna é a morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez. É causada por qualquer fator relacionado ou agravado pela gravidez ou por medidas tomadas em relação a ela. Não é considerada morte materna a que é provocada por fatores aCIDentais ou inCIDentais. Morte materna obstétrica Morte materna obstétrica direta é aquela que ocorre por complicações obstétricas durante gravidez, parto ou puerpério devido a intervenções, omissões, tratamento incorreto ou a uma cadeia de eventos resultantes de qualquer dessas causas. Corresponde aos óbitos codificados na CID 10 como: 000.0 a 008.9, 011 a 023.9, 024.4, 026.0 a 092.7, d39.2, e23.0, f53 e m83.0. Morte materna obstétrica indireta é aquela resultante de doenças que existiam antes da gestação ou que se desenvolveram durante esse período, não provocadas por causas obstétricas diretas, mas agravadas pelos efeitos fisiológicos da gravidez. Corresponde aos óbitos codificados na CID 10 como: 010.0 a 010.9; 024.0 a 024.3; 024.9, 025, 098.0 a 099.8, a34, b20 a b24 (estes últimos após criteriosa investigação). Os óbitos codificados como 0.95 devem ser relacionados à parte como morte obstétrica não especificada. Morte materna não obstétrica Morte materna não obstétrica é a resultante de causas inCIDentais ou aCIDentais não relacionadas à gravidez e seu manejo. Também chamada por alguns autores como morte não relacionada. Estes óbitos não são incluídos no cálculo da razão de mortalidade materna. Morte materna tardia Morte materna tardia é a morte de uma mulher, devido a causas obstétricas diretas ou indiretas, que ocorre num período superior a 42 dias e inferior a um ano após o fim da gravidez (CID 096). Morte materna deciarada A morte materna é considerada declarada quando as informações registradas na declaração de óbito (do) permitem classificar o óbito como materno. A morte materna é considerada como não declarada quando as informações registradas na do não permitem classificar o óbito como materno. Apenas com os dados obtidos na investigação é que se descobre tratar-se de morte materna. Morte materna presumível ou mascarada 77 É considerada morte materna mascarada aquela cuja causa básica, relacionada ao estado gravídico-puerperal, não consta na do por falhas no preenchimento. Ocorre quando se declara como fato ocasionador do óbito apenas a causa terminal das afecções ou a lesão que sobreveio por último na sucessão de eventos que culminou com a morte. Desta forma, oculta se a causa básica e impede-se a identificação do óbito materno. As causas de morte que ocultam o estado gestacional são chamadas de máscaras, daí a expressão morte materna mascarada. Um exemplo comum é a ocorrência de um óbito materno na uti, e o médico, por desconhecer o que se passou anteriormente com a mulher, atesta apenas a causa terminal. Morte hospitalar Morte hospitalar é aquela que ocorre a qualquer momento e em qualquer dependência de um hospital ou estabelecimento de saúde, independentemente do tempo transcorrido entre a chegada da paciente e seu falecimento. O óbito da paciente dentro da ambulância, a caminho do hospital, também é considerado hospitalar. Morte domiciliar Morte domiciliar é aquela que ocorre dentro do domicílio. Morte em via pública Morte em via pública é aquela que ocorre em local público ou em trânsito num veículo não destinado especificamente ao transporte de pacientes e sob a responsabilidade de pessoa não profissional de saúde. Razão de mortalidade materna específica é usada em relação a um amplo conjunto de variáveis relacionada às características da mulher (grupo etário, cor/raça, local de residência etc.) Ou do óbito (causa específica, local de ocorrência, entre outras). Para se calcular o risco de morte materna na faixa etária de 40 a 49 anos, por exemplo, o manual dos comitês de mortalidade materna do ministério da saúde (brasil, 2002) adota-se a seguinte fórmula: Nº de óbitos maternos na faixa de 40 a 49 anos _______________________________________ Nº de nasCIDos vivos de mães com 40 a 49 anos Para a RMM por eclampsia, usaríamos o cálculo: Nº de óbitos maternos por eclampsia ______________________________ x 100.000 x 100.000 78 Nº de nascidos vivos Abortamento É a expulsão ou extração de um produto da concepção com menos de 500 gramas e/ou estatura menor ou igual a 25cm ou menos de 20 semanas de gestação, tendo ou não evidências de vida e sendo ou não espontâneo ou induzido. O aborto é tãosomente o produto da concepção expulso no abortamento.