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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
SUPERVISÃO ESCOLAR: DESAFIOS ATUAIS
Por: Ana Elizabeth Moreira Alves Costa
Orientador Antônio Fernando Vieira Ney
Rio de Janeiro
2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
SUPERVISÃO ESCOLAR: DESAFIOS ATUAIS
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito para obtenção
do grau de especialista em Supervisão Escolar
Por: Ana Elizabeth Moreira Alves Costa
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AGRADECIMENTOS
A Deus, o dono da minha vida,
que mesmo sem eu merecer tem
acumulado minha existência de
bênçãos. Sou grata pela família
que Ele me deu. Ela tem oferecido
muito apoio nos momentos mais difíceis.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os
profissionais da educação, que amam
o seu trabalho e compreendem que a
construção de um mundo melhor está
também em suas mãos!
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RESUMO
É inegável que o avanço da ciência e tecnologia representa um
fenômeno significativo neste século. Por este motivo é importante refletir sobre
a influência da modernidade na sociedade atual.
Contudo, na escola, onde o saber é sistematizado, que as mudanças
comportamentais são melhor observadas. Por essa razão é que educação
precisa estar à frente deste processo, no comando da modernidade. Neste
contexto, como o supervisor escolar pode ser bem sucedido ao enfrentar os
desafios da educação moderna?
A priori cabe uma investigação da identidade do supervisor escolar e
uma reflexão sobre a influência da modernidade na educação. É mister ainda
destacar que mudanças na prática pedagógica dos profissionais da educação
devem ocorrer no sentido de promover uma educação, que resulte na formação
de cidadãos autônomos e críticos capazes de atuar como sujeitos da sua
história e da sociedade.
O supervisor escolar como agente de mudanças da comunidade escolar,
precisa estar comprometido com a qualidade educativa e demonstrar
disponibilidade para enfrentar entre outros desafios, o de planejar e colocar em
prática junto com sua equipe, os projetos pedagógicos.
Dentre os compromissos que o supervisor escolar deve assumir,
destaca-se o resgate da educação baseada em valores como: solidariedade,
ética e cooperação, valores tão escassos na sociedade atual.
Finalmente, o supervisor escolar efetivamente compromissado com a
educação de qualidade, deve adotar atitude de constante pesquisa e
atualização: suporte essencial para o sucesso profissional.
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METODOLOGIA
Nesta monografia o tipo de pesquisa utilizada foi essencialmente
bibliográfica, buscando nos autores referencial necessário à construção de
argumentos. Assim, cada autor pesquisado contribuiu para a elaboração deste
trabalho.
Alguns autores auxiliaram no esclarecimento de alguns tópicos entre
eles podemos citar: Ferreira C.S. ,Naura, 1999; Silva Jr. Alves, Celestino, 1999;
Rangel, Mary,1999; Demo, Pedro, 2007.
As questões referentes à qualidade da educação, sempre foram foco da
minha atenção, uma vez que atuo nesta área há 20 anos. Pude observar ao
longo desses anos, que discussões e tentativas de equacionar problemas da
educação são constantes e diversas.
Neste sentido, achei relevante pesquisar a atuação do supervisor
escolar e a complexidade das ações deste profissional.
Além disso, entendemos ser de grande importância a investigação dos
desafios do supervisor escolar na Pós-modernidade. Percebe-se neste período
um grande avanço tecnológico e ao mesmo tempo mudanças comportamentais
na sociedade. Sendo assim, um olhar mais apurado sobre as influências deste
avanço na educação, é oportuno.
Junto com essas mudanças, novos compromissos com a educação de
qualidade tornam-se evidentes. Esses compromissos denotam preocupação
com uma educação que estimule a formação de cidadãos críticos e autônomos.
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Percebe-se que é preciso criar na escola espaços de convivência
solidária e harmônica. Estes espaços podem contribuir para a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária.
Ao final deste estudo pude compreender que apesar de vivermos em
uma sociedade competitiva e discriminatória, podemos enquanto educadores,
contribuir para mudanças efetivas de comportamento, que só a educação pode
proporcionar.
O supervisor escolar como agente desse processo têm grandes desafios
a sua frente e certamente poderá enfrenta-los com suporte na pesquisa e
constante atualização.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
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CAPÍTULO I – Surge a idéia de Supervisão Escolar
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CAPÍTULO II – Os desafios da modernidade no limiar do Século XXI
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CAPÍTULO III – Compromissos da Supervisão Escolar na modernidade 34
CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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ANEXOS
47
ÍNDICE
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
57
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INTRODUÇÃO
Inegável é o fato de que o crescente avanço tecnológico no limiar do
século XXI, tem provocado sensíveis mudanças de comportamento na
sociedade.
Diante dessas mudanças, os profissionais de educação dentre eles, o
supervisor escolar, têm buscado através de um esforço de reflexão-ação
enfrentar o desafio de “educar a modernidade” (termo citado por Demo,
2007:17), afim de que ciência e tecnologia estejam a serviço da educação.
Por muitos anos o supervisor escolar trouxe consigo o estigma de fiscal
do processo educacional. Uma vez que se entende a supervisão como a
intenção de “velar por alguma coisa ou alguém, a fim de assegurar a
regularidade de seu funcionamento”. (Fouquiê 941-452).
Atualmente, a ação do supervisor escolar visa proporcionar no ambiente
escolar: fluidez na comunicação, orientação em situações de ensinoaprendizagem e interação entre escola-comunidade.
A tentativa de solucionar questões e satisfazer necessidades pessoais
com a maior velocidade possível, é uma característica peculiar nos dias atuais.
Contudo, no campo educacional, como a evolução tecnológica está
sendo percebida? Como o supervisor escolar pode enfrentar os desafios que
tem surgido na educação moderna?
Pode-se compreender que estes desafios passam pela redução da
evasão escolar, repetência, erradicação do analfabetismo, aquisição de
equipamentos modernos e garantia de qualidade de ensino.
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Porém, deve-se ter uma vista que tais desafios vão além da mera
instrumentalização tecnológica. É de vital importância adequar o currículo à
realidade do aluno, que no seu cotidiano recebe múltiplas influências e acaba
sendo educado pela televisão, internet, cinema, música, etc.
De acordo com Silva Jr. e Garcia (1999:137): “delineia-se importante
papel para os até então chamados supervisor e orientador educacional, no
sentido de que o currículo vá sendo tecido no cotidiano e com a liberdade
indispensável à criação, para que se rompam os muros que separam a escola
do mundo e seja permitida a entrada do universo cultural dos alunos e
alunas...”.
Pretende-se também analisar neste trabalho a diversidade de funções
do supervisor escolar, entre elas a de motivar na comunidade escolar atitudes
de cooperação e harmonia na comunicação. Analisar requisitos primordiais
para o exercício da função: formação exigida no Curso de Graduação em
Pedagogia ou Pós-Graduação e constante atualização através de pesquisas
baseadas em obras de educadores de vanguarda.
Esta monografia foi dividida em três capítulos. O primeiro capítulo
apresenta a origem da supervisão escolar e como surgiu essa idéia no âmbito
educacional. Serão examinadas também a identidade do supervisor escolar e a
especificação de suas funções básicas, além dos requisitos legais para o
exercício da profissão.
O segundo capítulo contém uma reflexão acerca dos desafios da
modernidade. Evidencia a necessidade de posicionamento urgente dos
educadores frente ás mudanças de comportamento na sociedade, no que se
refere aos avanços da tecnologia.
O terceiro capítulo conduz a uma reflexão sobre os compromissos da
supervisão escolar na atualidade. Neste sentido, pondera-se sobre os
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compromissos com a aprendizagem “real” que poderá garantir aos alunos
autonomia e criatividade na solução de problemas que possam surgir no
cotidiano.Encerra este capítulo também uma análise sobre a importância de
projetos pedagógicos elaborados pela comunidade escolar.
Concluindo, cabe-nos refletir que na era das informações rápidas e
mutáveis, qualquer que seja a área de atuação dos profissionais, nunca foi tão
imprescindível a formação de homens mais humanos.
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CAPÍTULO I – Surge a idéia da Supervisão Escolar
1.1 – A Origem da Supervisão Escolar
Já na era Pré-histórica a idéia de supervisão estava presente, ainda que
de
forma
difusa
e
desorganizada.
Era
característica
marcante
das
comunidades primitivas a busca coletiva pela sobrevivência e a intervenção no
meio ambiente. Os povos primitivos retiravam da natureza os meios
necessários à satisfação de suas necessidades básicas.
Estas intervenções propiciaram momentos de interação entre as
pessoas que passavam ensinamentos de geração a geração.
Segundo Saviani (1999:15): ”No contexto dessas sociedades primitivas,
a educação coincidia com a própria vida, sendo, pois, uma ação espontânea
não diferenciada das outras formas de ação desenvolvidas pelo homem”.
Nestas comunidades os adultos exerciam a função supervisora através
de aconselhamentos, vigilância discreta e proteção às crianças de forma
espontânea.
Ao longo do tempo, os povos antes nômades, passaram a fixar-se na
terra. Este sedentarismo deu origem a propriedade privada e à divisão de
classes.
O processo educativo, antes um processo de interação entre os homens,
com a divisão de classes apresenta duas diferentes faces: a educação da
classe dominante e educação da classe dominada.
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Neste contexto surge a escola, que na análise da origem da palavra,
deriva do grego e significa lugar de ócio. Ócio e tempo livre destinado à classe
dominante que passa a organizar seu tempo livre na escola. Em contrapartida,
a classe dominada recebia educação voltada para a prática do trabalho braçal.
Assim como na Antiguidade, na Idade Média, segundo Saviani (1999: 16): “a
educação escolar destinada aos membros da classe dominante que não
precisavam viver do próprio trabalho, se contrapunha à educação da maioria da
população, determinada pelo trabalho”.
A função supervisora tanto na Idade Média, como na Antiguidade já
existia, porém diferente do que ocorria nas comunidades primitivas,
apresentava características de controle, fiscalização e até mesmo, castigos
físicos.
Na Grécia antiga, pode-se observar a função supervisora na figura do
pedagogo. Segundo Saviani (1999:16): “etimologicamente significando aquele
que conduz a criança no local de aprendizagem, o pedagogo era inicialmente,
na Grécia antiga, o escravo que tomava conta da criança e a conduzia até o
mestre do qual recebia a lição”.
Com o passar do tempo, esta figura passou a ser de educador, sendo
então o pedagogo o encarregado de ensinar, acompanhar, controlar e
“supervisionar” as ações da criança.
Na Época Moderna, algumas transformações a nível sócio-econômicas
são observáveis. Dentre elas, a subordinação do campo e agricultura à cidade
e à indústria. Assim, tradições como: a nobreza que passava de pai para filho e
a servidão foram rompidas. Uma vez que, no modo de produção capitalista, as
relações passam a ser geridas pelo direito positivo que exige contratos sob
forma de construções escritas, além disso, observa-se também a evolução da
ciência no processo produtivo por meio da indústria.
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Assim, a disseminação da escrita torna-se urgente, inclusive por conta
da Reforma Protestante que incentivava a leitura direta da Bíblia pelos fiéis.
Percebe-se inclusive que o acesso à palavra escrita, foi viabilizado pela
descoberta da imprensa.
A partir dessas transformações, surge a necessidade de sistematizar o
ensino. Afinal, a valorização da cultura intelectual se justifica pela disseminação
dos códigos formais. Sendo assim, a educação escolar surge como mola
propulsora do desenvolvimento intelectual.
De acordo com a colocação de Saviani (1999:19): “Trata-se assim, de
uma cultura que não é produzida de modo espontâneo, natural, mas de forma
sistemática e deliberada, requerendo também, para a sua aquisição, formas
deliberadas e sistemáticas, o que implicou a organização da educação na
forma institucionalizada”.
Na concepção de Saviani (1999:19), observa-se que a idéia de
supervisão já começa a ser delineada com a organização da instrução pública,
mesmo que com o intuito de propagar a fé. Os precursores das propostas de
organização do ensino nos séculos XVI e XVII foram Lutero, Calvino e
Melanchthon.
A percepção da idéia da supervisão na educação brasileira tem início
com a vinda dos primeiros jesuítas em 1549.
Analisando
historicamente,
os
jesuítas
contribuíram
de
forma
significativa para a sistematização do ensino no Brasil, pode-se comprovar esta
afirmação com a criação do Ratio Studiorim, plano adotado no Brasil em 1570,
após a morte do Padre Manuel de Nóbrega, nele percebe-se a idéia de
supervisão.
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Neste plano algumas regras referentes à organização do ensino são
relevantes dentre elas pode-se destacar (regra nº2): todos os alunos e
professores deveriam obedecer ao prefeito geral de estudos, este auxiliava os
direitos na “boa ordenação dos estudos”.
Após a expulsão dos jesuítas o alvará de 28 de junho de 1759,
estabeleceu a criação de aulas régias (C.F. Carvalho 1978:59, 99-1400). Este
alvará estabelecia a criação de alguns cargos; diretor geral de estudos e
comissários para avaliar o estado das escolas. Isso fica mais explícito de
acordo com Saviani (1999:22): “Nesse sentido, a idéia de supervisão
englobava os aspectos político-administrativos (inspeção e direção) em nível
de sistema concentrados na figura do diretor geral, e os aspectos da direção,
fiscalização, coordenação e orientação do ensino, em nível local, a cargo dos
comissários ou diretores dos estudos, os quais operavam por comissão do
diretor geral dos estudos”.
Após a Independência do Brasil, foi estabelecida com a lei de 15 de
outubro de 1827, a autonomia da instrução pública, esta institui as escolas de
primeiras letras, que atenderia a população de forma mais abrangente. Porém,
no artigo 5º dessa lei, observa-se a ministração do “Método do Ensino Mútuo”.
Neste modelo o professor assume a função docência e supervisão. Uma vez
que, ele instrui os monitores e acompanha as atividades e aprendizagem dos
alunos. O processo ocorria assim: “Durante as horas de aula para as crianças,
o papel do professor limitou-se à supervisão ativa de círculo em círculo, de
mesa em mesa, cada círculo e cada mesa tendo à sua frente um monitor, o
aluno mais avançado ficava dirigindo. Fora destas horas, os monitores
recebiam, diretamente dos professores, uma instrução mais completa, e não
era raro ver os mais inteligentes adquirirem instrução superior”. (Almeida,1969
:60) Não demorou muito, para que se percebesse a necessidade de um agente
específico para supervisionar as atividades no âmbito pedagógico.
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No final do período monárquico muitas discussões ocorreram no sentido
de organizar um sistema nacional de educação, neste, a idéia de supervisão
começaria a ser implantada.
Estas discussões supunham a organização de um sistema educacional
semelhante ao sistema educacional vigente na atualidade. Dessa forma
explicita Saviani (1999:24).
“A organização dos serviços educacionais na forma de um sistema
nacional supunha dois requisitos que impulsionavam a idéia de supervisão na
direção indicada: a) – a organização administrativa e pedagógica do sistema
como um todo, o que implicava a criação de órgãos centrais e intermediários
de formulação das diretrizes e normas pedagógicas bem como, de inspeção,
controle e coordenação, isto é, supervisão das atividades educativas; b) – a
organização das escolas na forma de grupos escolares, superando por esse
meio, a fase das cadeiras e classes isoladas, o que implicava a dosagem e
graduação dos conteúdos distribuídos por série anuais e trabalhados por um
corpo relativamente amplo de professores que se encarregavam do ensino de
grande número de alunos, emergindo, assim, a questão da coordenação
dessas atividades, isto é, de um serviço de supervisão pedagógica no âmbito
das unidades escolares”.
No início do período republicano essa questão vem à tona mais uma
vez, com a reforma implementada entre 1892 e 1896, que organiza os
Conselhos da seguinte forma: Conselho Superior da Instrução Pública, a
Diretoria Geral da Instrução Pública e os Inspetores de Distrito.
Depois disso, a Lei nº 520, criada no Estado de São Paulo, extinguiu o
Conselho Superior da Instrução Pública e as Inspetorias distritais, a direção e a
inspeção ficam sob a responsabilidade de um inspetor geral auxiliados por dez
inspetores.
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Pode-se concluir ao final dessas colocações que no decorrer desses
anos, avanços e retrocessos ocorreram na tentativa de situar a ação
supervisora entre a questão burocrática e a questão pedagógica. Ambas, de
grande relevância, mas que não deveriam ser colocadas em prática pelo
mesmo agente.
1.2 – Identidade do Supervisor Escolar
A fim de analisar melhor a identidade do supervisor escolar, buscamos o
significado da palavra identidade. Segundo Ximenes, Sérgio - Multidicionário da
Língua Portuguesa , 2000: “uma das definições da palavra identidade seria: o
conjunto de caracteres nome, idade, sexo, etc, que distinguem uma pessoa das
outras”.
Na tentativa de investigar as características desse profissional e assim
diferencia-lo dos demais profissionais que atuam na área da educação,
buscamos as raízes da supervisão escolar, mais especificamente no Brasil.
Nessa busca, observa-se o surgir da supervisão escolar com uma face
empresarial. Ou seja, com o advento do capitalismo, que tem a divisão social
do trabalho como característica marcante; a supervisão visa o atendimento dos
objetivos de racionalizar o trabalho a fim de aumentar a produtividade.
Essa questão da divisão social do trabalho fundamenta-se no
taylorismo(1), como explica Medeiros e Rosa (1985:20): “É, porém, a partir do
taylorismo que se intensificam as especificações como decorrência da divisão
social do trabalho intelectual do trabalho manual, distinguindo-se nitidamente o
cérebro (os que pensam) das mãos (os que executam). Neste sentido, a
supervisão, como uma das especializações do modo de produção capitalista,
apresenta-se como uma função meio, que garantirá a execução das decisões
tomadas no planejamento do trabalho. A ela competirá, portanto, executar
fielmente o planejado e o decidido”.
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Já na década de 50, observa-se uma aliança política entre Brasil e
Estados Unidos. Tal aliança tinha a intenção de reproduzir uma política de
desenvolvimento. Assim, a educação seria a solução para garantir as
transformações sociais almejadas.
Como conseqüência da influência dos Estados Unidos, ocorre no Brasil
em 1968, a Reforma do Ensino Universitário (Lei nº5540, de 28 de novembro),
esta implanta o curso de pedagogia e suas especializações, dentre elas: a
supervisão escolar.
As reformas educacionais coincidem com o projeto político de governo
que passou a funcionar no Brasil com o golpe militar de 1964. Segundo a
afirmação de Medeiros e Rosa (1985:23): “Esse projeto que se inicia em 64,
define-se na visão de Celso Furtado por duas fases bem nítidas: uma,
evidenciada na recuperação econômica voltada para a captação de recursos
para investimentos públicos; outra caracterizada pela retomada da expansão
mediante acentuado processo de desenvolvimento industrial”.
Pode-se entender por esse ponto de vista, que a supervisão escolar
assume características de controle e fiscalização funcionando como um serviço
técnico e politicamente neutro em razão das características empresariais que
adquiriu.
Como afirma Medeiros e Rosa (1985:24): “Nesta perspectiva, a
supervisão escolar desenvolve uma prática voltada para os aspectos
tecnoburocráticos do ensino, em que o controle é a principal estratégia que vai
assegurar seu papel reprodutor na sociedade capitalista brasileira”.
O Brasil nos anos 70 vive realidades distintas. Convive com uma
ditadura feroz e um desenvolvimento econômico significativo. Além disso, a
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censura através dos meios de comunicação esforçava-se para fixar a imagem
de um país sem conflitos, onde predominava a igualdade social e econômica.
Diante disso, observa-se o despontar da classe trabalhadora organizada
e disposta a exigir melhores condições de trabalho e maiores salários. Nestas
circunstâncias, o posicionamento da educação no sentido formal, não poderia
furtar-se a um posicionamento: entre a neutralidade e a transformação.
Medeiros e Rosa (1985:28) esclarece: “Há uma luta no interior da
educação e do sistema escolar entre a necessidade de transmissão de cultura
existente (ciências, valores, ideologias) que é a tarefa conservadora da
educação, e a necessidade de criação de uma nova cultura, que é a tarefa
revolucionária da educação”. (Gadotti, 1980:61)
Assim, supervisão escolar ainda que seja uma função técnica, é também
principalmente política, uma vez que o supervisor poderá estar a serviço da
classe dominante, porém se a prática estiver a favor do proletariado, suas
ações deverão estar bem explícitas.
Ao investigar a ação supervisora percebe-se que para designar esta
ação, nota-se a persistência de nomenclaturas. Incluídas nestas nomenclaturas
temos: supervisão, supervisão educacional, supervisão escolar, orientação
pedagógica, coordenação, coordenação de turno, coordenação de área de
disciplina. De acordo com Rangel (1999:76) as nomenclaturas ficam assim
definidas:
• Supervisão educacional – É uma ação no sentido macro, que vai além da
unidade escolar. Sua ação está diretamente ligada as instâncias intermediárias
e centrais do sistema e da política da educação.
• Supervisão escolar – Sua ação concentra-se nos aspectos administrativos e
no funcionamento geral da U. E (unidade escolar).
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• Orientação pedagógica – Designa a ação supervisora no sentido de
orientação aos docentes em relação à prática pedagógica, troca de
experiências e análise de problemas buscando soluções.
• Coordenação – refere-se à ação que visa a organização e integração entre
diversas disciplinas numa mesma série e na mesma disciplina em todas as
séries.
• Coordenação de turno – Caracteriza-se pela organização das atividades de
cada turno no sentido pedagógico e administrativo, a fim de garantir a
produtividade e funcionalidade do turno.
• Coordenador de área ou disciplina – Esta ação objetiva a integração de
conteúdos e métodos no âmbito de determinada disciplina.
Enfim, pode-se constatar que a definição da identidade do supervisor
escolar ainda é objeto de discussão. Contudo, pode-se concluir que a ação
supervisora estará sempre buscando uma visão geral sobre as questões
educativas e orientação aos docentes na busca por uma educação de
qualidade.
(1) Taylorismo – Modelo criado nas Indústrias para melhor organização das funções e produção mais
rápida na divisão social do trabalho.
1.3 – Especificações das funções do Supervisor Escolar
Definir as funções do supervisor escolar, não é tarefa fácil. De fato a
análise de suas ações é complexa. Ao refletir sobre a ação supervisora neste
século percebemos que o supervisor escolar está a todo o momento sendo
desafiado a mudar sua prática pedagógica. Estamos vivendo tempos de
crescente desenvolvimento tecnológico, a era da automação. É notório que os
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alunos mudaram e novos desafios se apresentam aos profissionais da
educação, no sentido de promover uma educação que vá além das
especificidades, uma formação geral capaz de oferecer aos alunos desafios
novos e instigantes. Segundo afirma: Saviani (1999:34): “Se assim é, a
universalização de uma escola unitária que desenvolva ao máximo as
potencialidades dos indivíduos (formação omnilateral) conduzindo-os ao
desabrochar pleno de suas faculdades espirituais e intelectuais, estaria
deixando o terreno da utopia e da mera aspiração ideológica, moral ou
romântica para se converter numa experiência (exigência) posta pelo próprio
processo produtivo”.
Diante disso, percebe-se que as qualificações intelectuais específicas
poderão dar lugar a uma qualificação geral.
Segundo Saviani (1999:37): “Pode-se, pois, concluir que o desafio
fundamental que se põe para a supervisão educacional, hoje, extrapola a
esfera especificamente pedagógica, situando-se na contradição central da
sociedade moderna que, por um lado, desenvolve numa escala sem
precedentes as forças produtivas humanas e, por outro, lança na miséria mais
objetos contingentes cada vez mais numerosos de seres humanos”.
Saviani (1999:37) esclarece que “o aguçamento dessa contradição vai
tornando cada vez mais evidente que a sociedade capitalista está pondo
continuamente, para si mesma, problemas que não é capaz de resolver. A
solução desses problemas implica, pois a transformação das relações sociais
vigentes”.
O grande desafio que se apresenta neste século está no campo da
educação, uma vez que os educadores como formadores de opinião precisam
levar os alunos à consciência de que devem interagir nos processos decisórios
de ordem política, que interferem na sociedade.
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Sob esta perspectiva, pode-se afirmar que a escola passou de detentora
do saber, a sistematizadora de conhecimentos. Sabe-se que, na era da
globalização e da interatividade, nada mais atual do que a ação integrada da
supervisão escolar, orientação educacional e gestão. Esta integração traduz a
necessidade de superação da ótica fragmentadora no âmbito escolar.
Esta ação integrada entre Supervisão Escolar, Orientação Educacional,
Gestão e Docentes, é de suma importância. Segundo Luck (1981:32): “A ação
do corpo técnico-administrativo deve ser não só integrada, mas também
integradora. Para tanto, deve pautar-se por atitudes direções e objetivos
comuns, o que estabelecerá a ocorrência interna necessária para se garantir a
unidade preconizada”.
Neste contexto, supervisão escolar assume uma face diferenciada. Ao
invés do perfil controlador que o caracterizava no passado, agora percebe uma
nova dimensão, mais dinâmica e com maior potencial de eficácia a longo
prazo: o aprimoramento do desempenho do professor, com o desenvolvimento
de habilidades e atitudes dos mesmos em relação ao processo ensinoaprendizagem.
Como o foco principal do trabalho do supervisor escolar é o trabalho do
professor, torna-se primordial estimular um clima de harmonia, confiança e
cooperação mútua.
Tendo como base observações de Alonso (1999:179), pode-se então
destacar algumas funções básicas do supervisor como:
• Acompanhar o trabalho do professor e verificar as condições de
aprendizagem dos alunos;
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• Em ação conjunta com a Direção, Orientação Educacional e toda a
Comunidade Escolar, implementar e zelar pela prática do Planejamento
Político Pedagógico;
• Sempre buscar na pesquisa uma base sólida e teórica da sua prática
pedagógica e incentivar os docentes à mesma prática;
• Subsidiar os docentes com informações atuais sobre temas complexos,
indicando sugestões para leituras ou posicionando encontros com
especialistas na área;
• Atentar para as dificuldades dos professores procurando discutir esses
problemas para a busca de possíveis soluções.
Pode-se então, concluir que ao assumir uma postura mediadora do
processo educativo, o supervisor escolar poderá estabelecer interação entre os
profissionais e oferecer subsídios ao trabalho docente a fim de alcançar a tão
sonhada meta da qualidade educativa.
1.4 – Requisitos legais: A formação básica do Profissional
A fim de analisar a formação básica do supervisor escolar, convém
refletir sobre o contexto histórico do profissional e os amparos legais que
consolidam a profissão.
Para iniciar esta análise nos reportamos à década de 20, quando
surgem os chamados “profissionais da educação”. O elemento que deu origem
a este fenômeno foi à criação da Associação Brasileira de Educação em 1924,
por iniciativa de Heitor Lira.
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No âmbito federal, surge a Reforma João Luis Alves de 1925, que
através do Decreto nº 16.782 – A, instituiu o Departamento Nacional de Ensino
e o Conselho Nacional de Ensino, em substituição ao Conselho Superior do
Ensino, que entre 1911 e 1925, era o único órgão encarregado da
Administração Escolar.
De fato, a criação destes departamentos foi o primeiro passo para
organização dos órgãos específicos de caráter técnico, para tratar de assuntos
educacionais. A criação destes órgãos foi o marco inicial, para cinco anos mais
tarde, surgir o Ministério da Educação e Saúde Pública.
Após a Revolução de 1930, com as reformas Francisco Campos, em
1931, e as reformas Capanema, de 1942 a 1946, observa-se à seqüência da
estruturação da Educação Brasileira culminando com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, promulgada em 20 de dezembro de 1961. Esta,
além de tratar da organização da burocracia estatal no âmbito da educação,
envolvia a criação e implantação do Ministério da Educação e das Secretarias
Estaduais de Educação, assim como diversos órgãos ligados à estruturação do
sistema educacional.
De acordo com Saviani (1999:28): “No âmbito das reformas Francisco
Campos, pelo Decreto nº 19.851, de 11 de abril de 1931, o Estatuto das
Universidades Brasileiras que previa a implantação de Faculdades de
Educação, Ciências e Letras. A essa faculdade coube a tarefa de formar
professores das diferentes disciplinas das escolas secundárias, criando-se, em
seu interior, o Curso de Pedagogia, com a incumbência de formar professores
das disciplinas específicas do Curso Normal bem como os técnicos de
educação”.
No final da década de 60 foi aprovado pelo Conselho Federal de
Educação o Parecer nº 252 de 1969, que reformulou os cursos de Pedagogia.
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Através desse parecer, mudanças ocorreram no sentido de esclarecer
as funções do educador, uma vez que, como “técnico de educação”, estas não
pareciam bem definidas. Foram criadas assim as habilitações. Sendo
organizado dessa forma, o curso também foi dividido em um núcleo comum
formado de disciplinas de fundamentos da educação e ainda quatro
habilitações: administração, inspeção, supervisão e orientação. Desse modo,
uma das opções acima poderia ser escolhida juntamente com as disciplinas
profissionalizantes dos cursos normais.
Sobre isso Saviani (1999:28) afirma: “É com este parecer que se dá a
tentativa mais radical de se profissionalizar a função de supervisor educacional.
Com efeito, embora desde pelo menos a década de 30 a idéia de supervisão
tenha se encaminhado em direção à especificação das atribuições do
supervisor sinalizando a sua profissionalização, permanecia, ainda, uma certa
indefinição, de modo especial em relação às funções de inspeção. Assim, é
verdade que já a reforma Francisco Campos, de 1931, se referia às tarefas de
acompanhamento pedagógico, no entanto, tais tarefas eram atribuídas ao
inspetor escolar e se reduziram, na prática, aos aspectos administrativos e de
mera
fiscalização,
não
se
colocando
a
necessidade
de
que
esse
acompanhamento do processo fosse feito por um agente específico no interior
da unidade escolar”. (Cf. Saviani ,1981:66)
Com o parecer nº252/69 o Curso de Pedagogia adquire uma nova
estrutura. Esta estrutura poderia oferecer a profissionalização da Supervisão
Educacional que poderia acontecer com a regulamentação da lei nº 5564/68.
Verifica-se a necessidade do cumprimento de dois requisitos para que uma
atividade seja considerada profissão: a necessidade social e a especificação
das características da profissão. Tais condições são atendidas naquele
momento, uma vez que há uma ampla rede de escolas para ser atendida por
esse profissional e existe também a oferta de um curso para oferecer a
formação profissional exigida.
26
Além disso, outro requisito básico para caracterizar uma atividade como
profissão é estabelecer uma identidade própria, afim de distingui-lo dos demais.
Sobre essa indefinição da função supervisora e a indecisão entre
assumir uma função técnica de política Saviani (1999:33) esclarece: “Em
termos conservadores, em termos dos interesses dominantes, em termos dos
interesses da elite que controla a sociedade, a supervisão cumpre tanto
eficazmente a sua função política quanto menos essa função é explicitada; ou
seja, quanto mais ela se apresenta sob a roupagem de procedimentos
técnicos, tanto mais ela é eficaz na defesa dos interesses socialmente
dominantes”.
Em contrapartida, se os supervisores quiserem se colocar a serviço dos
interesses dos dominados, da população, do operariado, então, nesse caso,
eles necessitam assumir o seu papel político de modo explícito.
Com esses questionamentos, surgiram reflexões sobre as habilitações
do Curso de Pedagogia. Chegou-se a conclusão de que estas não eram
específicas, assim após algumas discussões, pôde-se inferir que as
habilitações técnicas já citadas anteriormente, determinavam a chamada
“divisão de tarefas”. As discussões giraram em torno do posicionamento de que
o profissional supervisor é um profissional da educação, independente da
habilitação escolhida. Dessa forma, conclui-se que o curso de pedagogia
deveria oferecer uma base sólida em fundamentos da educação e assim
investir no profissional que saiba lidar com as múltiplas demandas requeridas
pelos sistemas de ensino e unidades escolares.
De acordo com Saviani (1999:33): “ É nesse contexto que ganhou corpo
a tese de que o curso de Pedagogia deveria, sobre a base de uma boa
fundamentação teórica centrada nos fundamentos da educação, formar o
profissional da educação capaz de exercer as diferentes atribuições escolares,
tendo em vista o seu adequado funcionamento”.
27
Pode-se então concluir que no contexto atual, de acordo com a Lei
9394/96 – A supervisão educacional está no artigo 64 - Sob o seguinte título:
Dos profissionais de apoio à educação.
Este artigo trata do assunto nos seguintes termos:
Art 64 _ “A formação dos profissionais
para administração, planejamento, supervisão
e orientação educacional para educação
básica, será feita em cursos de graduação em
pedagogia ou em nível de pós-graduação, o
critério da instituição de ensino, garantida
nesta formação, a base comum nacional”.
Do texto acima pode-se inferir que por ser um profissional de apoio a
educação básica, se faz necessário obter licenciatura no Curso de Pedagogia e
optar por uma ou mais habilitações das que citamos acima. Porém, essa
habilitação também pode ocorrer através de um Curso de Pós-graduação.
CAPÍTULO II – Os desafios da modernidade no limiar
do século XXI
2.1 – A influência da modernidade na educação
A influência da modernidade na educação Segundo Ximenes, Sérgio Minidicionário da Língua Portuguesa - Ediouro - 2001: “Moderno, significa:
atual, presente, dos tempos atuais”.
É perceptível que para as pessoas nascidas entre os anos de 50 e 70, o
crescente
avanço
tecnológico
é
fascinante,
porém
assustador.
Em
28
contrapartida, a geração dos anos 90 demonstra extrema facilidade em
dominar as novas tecnologias.
Neste tópico procura-se investigar o comportamento da educação frente
às mudanças que a tecnologia tem infundido na sociedade moderna.
Demo (2007:10) cita: “Educação é o fator que moderniza mais e melhor,
porque é capaz de conjugar o avanço com os patrimônios culturais, ou de
postar o homem como sujeito de sua própria modernidade”. (Habermas, 1990)
No entanto, especialmente no Brasil, parecemos estar aquém das
expectativas no que se refere a qualidade na educação, de acordo com os
padrões internacionais.
Para confirmar esta afirmação destacamos as informações abaixo,
contidas em Linhares (org), Silva Jr. e Rangel (2007: 65): “Segundo divulgação
do UNICEF, o Brasil é o 6º país, entre os piores do mundo, em matéria de
evasão escolar. Apenas 39% dos que ingressam na 1º série atingem a 5º série.
Os companheiros recordistas em expulsão escolar (expressão que arranca
esta realidade do eufenismo usual, que é a evasão escolar) são pequenos
países africanos, alguns com recentes processos de independência política,
muitos em guerra interna e com economia absolutamente insignificante,
portanto em nada comparáveis ao Brasil. Vale a pena reconhece-los: GuinéBissau (20%), Etiópia (31%), Moçambique e Angola (34%) e Madagascar
(38%).
Retornando a questão da relação da modernidade com a educação,
verifica-se que o futuro apresenta para as novas gerações, desafios científicos
e tecnológicos. De acordo com Demo (2007:20), algumas questões chamam
atenção, como por exemplo:
a) compreensão dos constantes mudanças tecnológicas;
29
b) entendimento de questões cruciais que envolvem sobrevivência humana
como: questões ambientais, questões de paz, doenças como AIDS,
câncer, pesquisas sobre terapia de células tronco, riscos de confrontos
nucleares fatais para todos, etc;
c) entendimento da organização da sociedade e das políticas públicas,
desenvolvimento das democracias, serviços públicos racionais e
qualitativos;
d) compreensão da necessidade de posicionamento firme diante da
modernidade, entendimento de que educação é o ponto para gestão de
sujeitos da mudança.
Ao pensar em educação como o provável caminho para a independência
financeira, intelectual e social, entendemos ser a escola o espaço onde a
educação formal é ministrada.
Na escola, sempre houve a preocupação em garantir que ano após ano
os conhecimentos adquiridos na série anterior seriam acrescentados aos anos
posteriores. Cada curso realizado vinha com a promessa de que o futuro
profissional seria promissor.
Esta mesma escola foi idealizada para privilegiar aqueles alunos que
“andassem na linha” e para excluir socialmente os que apresentassem um
comportamento considerado “anormal”.
Contudo, no presente momento, a pergunta que pode-se fazer é a
seguinte: será que ainda vale a pena estudar em uma escola que parece estar
desconectada da realidade?
30
A percepção de que algo precisa ser modificado no espaço escolar está
a cada dia mais aguçada. Esta mudança indica a necessidade de oferecer aos
alunos uma formação geral, que vise o conhecimento do mundo moderno.
A garantia desta formação supõe uma mudança estratégica na escola,
na ação efetiva de proporcionar desenvolvimento de habilidades intelectuais,
sensibilidade e abertura para o novo. Afinal, não é só na escola que se
aprende, somos educados pela internet, relações sociais, igreja, cinema,
família, etc. Intencionalmente ou não, somos bombardeados com as mais
diversas informações. Os alunos trazem um conjunto de informações para a
escola. Como esclarece: Silva Jr. e Garcia (1999:133 e 134): “A escola é,
portanto, o espaço/tempo de encontro de múltiplas redes relacionais e de
conhecimentos. Cada sujeito-aluno, aluna, professor, professora, orientador,
orientadora, servente, merendeira, diretor ou diretora vai mudando de acordo
com o contexto em que vive seus múltiplos cotidianos e com sua própria
história em confronto com outras histórias coletivas e singulares, vai
participando de um grande movimento do qual é parte, influenciando e sendo
influenciado”.
De fato, grande parte das redes de relacionamento mencionadas acima,
ocorrem através de exposição oral ou pelas imagens com forte apelo visual.
Porém, na escola, ainda predomina a linguagem escrita, “copiar do quadro” ou
“fazer o dever”. Uma formação geral poderá ser mais adequada porque poderá
aproveitar todo o potencial dos alunos. Seria também, uma oportunidade de
quebrar o antigo paradigma de que apenas os professores são detentores do
saber. Na verdade todas as pessoas trazem consigo uma gama de
conhecimentos para a escola. A questão é que muitas vezes esses saberes
não são aproveitados.
A busca por um caminho alternativo que dê um novo sentido ao ato de
aprender poderia alcançar resultados na “transversalidade”. Como esclarece
Silva Jr. e Garcia (1999:136): “É importante enfatizar que não se trata de
31
“sistemas transversais”, aos quais temos forte crítica já publicada, mas de uma
outra forma de organizar o conhecimento na escola e os conhecimentos que
seus sujeitos, todos eles, enfatizamos mais uma vez, trazem para a escola, já
que são todos e todas, como nos indica Boaventura de Souza Santos, rede de
subjetividades. Estamos, assim, propondo romper com a divisão disciplinar,
com os programas, com a seriação, com as seqüências artificialmente criadas,
com todo o esquema uniformizador e empobrecedor imposto às escolas”.
Esta forma de lidar com os saberes, conhecimentos e experiências
requer a formação de profissionais diferenciada. É importante que os docentes,
orientadores educacionais e supervisores, consigam vivenciar experiências de
processos transdisciplinares.
Parece algo difícil de acontecer na prática, mas algumas iniciativas têm
acontecido em alguns cursos porque alguns profissionais compreendem ser um
dos desafios dos tempos modernos. Em Silva Jr. e Garcia (1999:139) destacase que, mais do que a ministração de conhecimentos específicos, vão surgindo
cursos onde os conhecimentos são mais abrangentes e complexos,
demonstrando que problemas concretos da escola e da comunidade podem ser
repensados com consciência solidária e fraterna.
2.2 – A educação no comando da modernidade
Modernidade tem trazido às novas gerações inúmeros desafios, dentre
eles o comando da ciência e tecnologia.
De acordo com Demo (2007: 21): “A educação não deve perder tempo
em temer a modernidade. Deve procurar conduzi-la e ser-lhe sujeito histórico”.
De fato, modernidade coincide com necessidade de mudança social. É
notório que cada inovação tecnológica dá origem a outras inovações. Como no
caso do computador que eram máquinas imensas e de difícil acesso à
32
população. Atualmente, são microcomputadores que estão em boa parte dos
lares brasileiros e o povo tem acesso fácil seja nas escolas ou nas chamadas
lan houses. Este turbilhão de mudanças requer um olhar mais apurado no
sentido de prever de que modo o nosso futuro poderá ser afetado.
Fazer parte da marcha da modernidade implica em compreender os
processos tecnológicos. Entretanto, observa-se ainda, a resistência de alguns
(principalmente pessoas de meia idade ou idosos), que tentam esquivar-se da
tecnologia talvez pela dificuldade de adaptação. Contudo agir dessa forma, é
fugir da realidade.
Se a educação é componente crucial no comando de ciência e
tecnologia é fundamental também para promoção de desenvolvimento. O
mesmo, no entanto, carece de produção própria. Como esclarece Demo
(2007:22): “Um dos fatores mais decisivos para as oportunidades de
desenvolvimento é a produção de conhecimento próprio e sua disseminação
popular (ciência e tecnologia), o que torna a educação relevante não somente
em termos políticos (cidadania), mas também em termos econômicos
(produtividade). Assim, educação é componente crucial não só para que o
desenvolvimento seja próprio, mas também para que seja moderno”.
Demo (2007: 22 e 23) afirma que: ”A ONU tem destacado esta
discussão (Humor Development Report, 1990), definindo desenvolvimento
como oportunidade”. O alcance de desenvolvimento seja pessoal ou a nível
nacional, conjuga fatores econômicos, sociais, tecnológicos, ambientais,
políticos e institucionais. Todos esses fatores estão articulados. Assim,
oportunidade pode representar o diferencial para alcançar o almejado
desenvolvimento.
De fato, cada sociedade mesmo com todos os problemas estruturas
pode trabalhar de forma criativa na tentativa de oferecer chances de
desenvolvimento à população. Sobre isto esclarece Demo (2007:23): “O
33
horizonte de oportunidades de desenvolvimento de uma sociedade está
fortemente condicionado ao processo educativo, em todos os níveis (educação
básicas e superior)”.
Demo (2007:23) nos convida a refletir que atualmente as oportunidades
para desenvolvimento estão voltadas muito mais para conhecimentos
adquiridos nos campos científico e tecnológico, do que condições como
recursos naturais de um país, seu tamanho, mão-de-obra barata e pouco
qualificada. Esses recursos ainda têm espaço, mas o avanço tecnológico
insinua que oportunidades devem ser construídas e conquistadas.
Neste contexto, é essencial o investimento em instrumentalização
tecnológica, com intuito de aparelhar a população tanto social como
cognitivamente. Neste sentido, educação assume um papel significativo na
condução do desenvolvimento a fim de proporcionar através da qualidade
educativa, qualidade de vida.
Pode-se afirmar que, no presente momento, o mercado de trabalho
valoriza o profissional criativo, flexível, que possui iniciativa e facilidade para
liderar equipes. Nesta visão, formação básica torna-se fator determinante na
formação dos profissionais do século XXI. Demo (2007:24) esclarece essa
questão ao afirmar que: “Torna-se desafio primeiro da educação o domínio dos
códigos instrumentais da linguagem e da matemática, e dos conteúdos
científicos, essência das ditas “disciplinas básicas”, capazes de garantir
habilidades cognitivas e sociais, tais como: compreensão, pensamento
analítico e abstrato, flexibilidade de raciocínio para entender situações novas e
solucionar problemas, bem como formação de competências sociais como
liderança, iniciativa, capacidade de tomar decisões, autonomia no trabalho,
habilidade de comunicação (Melo, 1991: 8)”.
34
Cabe ainda destacar o fator cultural, que corresponde ao conjunto de
características e costumes de um povo, este conjunto deve traduzir os anseios
de avanço e identidade histórica.
Segundo Demo (2007:27): “Cultura oferece a verdadeira inspiração do
desenvolvimento, tanto no sentido da criatividade de que é capaz a respectiva
sociedade, quanto como desenho do que seria desejável como futuro”.
No entanto, tecnologia deve ser fator coadjuvante na cultura, jamais um
meio de negação. Afinal, cultura atravessa gerações e congregam a identidade
de um povo. Compreende-se então, que tecnologia sem educação pode virar
sucata, educação no comando da tecnologia pode incidir em desenvolvimento
próprio e moderno.
Demo (2007:18) cita a seguinte afirmação: “Ciência tende a agredir,
destruir e acumular privilégios às custas da maioria, porque em grande parte é
feita por uma elite intelectual a serviço de outras mais fortes (econômica e
política) (DEMO 1988)”.
Capítulo III – Compromissos da Supervisão Escolar na
Atualidade
3.1 – Compromissos com a qualidade da educação “aprender a
aprender”
Ao refletir sobre a trajetória da modernidade no século XXI, vale a pena
ressaltar que educação tem o papel fundamental de comandar o processo
científico tecnológico.
Com efeito, mesmo com todos os problemas que assolam a escola
(mais precisamente) a pública, apesar de todo o desânimo que permeia a ação
35
pedagógica cabe ao supervisor escolar injetar entusiasmo na comunidade
escolar.
É de conhecimento de muitos, os sérios problemas enfrentados pela
educação brasileira. Dos quais pode-se destacar: repetência, evasão e
analfabetismo. De acordo com estatísticas de órgãos internacionais, o Brasil
destaca-se como um exemplo que não deve ser seguido. Tomando como base
as estatísticas já citadas anteriormente.
No que se refere aos docentes, algumas estatísticas também apontam
uma situação inquietante, como relata outro trecho de Linhares (org). , Silva Jr.
e Rangel (2007:65): “No ranking internacional, o professorado de São Paulo, o
estado mais rico da Federação ocupa uma posição inferior ao de Bombain
considerada na Índia como a cidade da miséria, mas as comparações não
param aí. Confrontando com o que já foi há 30 anos, o salário do professor
sofreu redução de um quarto de seu valor (Veja, 20/11/1991) ocupando um dos
últimos lugares entre os mais baixos salários do mundo”.
Como já especificamos anteriormente educação é prioridade e
componente básico para o alcance da cidadania, cabe aqui alguns
questionamentos: Que tipo de educação estamos oferecendo e recebendo?
Que métodos ou concepções pedagógicas poderão atender aos anseios da
população na era tecnológica?
É perceptível que o mundo em que vivemos já não é mais o mesmo há
décadas, Sendo assim, educação deve priorizar a didática do “aprender a
aprender” já que esta denota uma tendência atual que pode significar mais do
que o mero aprender ou ensinar.
Através dos anos, assimilou-se que ensino-aprendizagem seria a
máxima do conhecimento formal que o aluno poderia alcançar. Na opinião de
Demo (2007:211), é bem verdade que o momento em que o professor ensina e
36
o aluno aprende, ainda tem seu lugar. Afinal em alguns momentos é importante
apenas aprender.
No entanto, o supervisor escolar atento as mudanças da atualidade
entende que a concepção de “aprender a aprender” busca a construção do
sujeito auto-suficiente. O indivíduo deve ser capaz de pensar, avaliar processos
e tomar decisões com autonomia. Como afirma Demo (2007:212): “Chama-se
formação básica o processo continuado e sempre atualizado de cultivo deste
tipo de competência, essencialmente fundamentado no saber pensar,
interpretar a realidade crítica e criativamente e nela intervir como fator de
mudança histórica”.
Aprofundando as reflexões sobre o tema “aprender a aprender”, citado
por Demo (2007: 212), vale a pena destacar que o tripé: educação, ciência e
tecnologia, vêm surgindo como fator de grande influência nas mudanças
estruturais que estão acontecendo na sociedade. Estas transformações são
fundamentadas no conhecimento, que pode ser considerado a “marca da
modernidade”. Neste contexto, conhecimento perpassa pela busca da
renovada
criatividade
que
propicia
projeto
próprio
e
moderno
de
desenvolvimento.
A atitude de pesquisa surge como uma questão central na didática de
aprender a aprender e poderá propiciar um posicionamento crítico e criativo.
Ainda sobre pesquisa Demo (2007:213) afirma: “Faz parte de todo processo
educativo emancipatório, porque fundamenta a postura crítica e criativa diante
da realidade e leva a intervir nela com base no conhecimento renovado e
renovador”.
A implementação da didática do “aprender a aprender” deve estar
voltada para o contexto globalizado do conhecimento moderno. Alguns
desafios surgem para a construção dessa didática. De acordo com Demo (2007
:215) pode-se destacar:
37
a) -a necessidade de atualização constante dos educadores, que devem
espelhar-se na base teórica de autores modernos;
b) -a construção de contribuições para a escola, de modo a trazer para a
prática a didática de aprender a aprender;
c) -a criação de laboratórios de informática e demais recursos eletrônicos
que auxiliam na disseminação de conhecimento, tornando o ambiente
escolar mais atraente e produtivo;
De acordo com Demo (2007:216) é importante destacar ainda, que três
dimensões alicerçam a didática do “aprender a aprender”: filosofia, língua e
matemática; isto porque matemática exercita o raciocínio lógico indutivo e
dedutivo, habilidades essenciais no mundo moderno. É primordial comunicarse com facilidade, daí a importância do domínio da língua culta. Quando se
obtêm conhecimentos em filosofia descobre-se que é importante humanizar o
conhecimento, buscando assim o estímulo a criatividade e o senso crítico.
Sobre esta trilogia Demo (2007:217), afirma: “Esta trilogia representativa
da formação básica aponta menos um estoque de coisas a serem sabidas e
guardadas na memória, do que um tipo de instrumentação metodológica capaz
de criar e renovar o conhecimento no sentido específico de estratégia de
“competência” ou “habilidade”. E isto compete à escola importância substancial
na sociedade e na economia, que sobrepassa de muito seu papel de
complementação do lar ou extensão da família”.
Pode-se afirmar então, que educação tem seu lugar no presente como
principal detentora do saber escolar e tem lugar também no futuro que se
apresenta. E aprender a aprender pode representar a independência na busca
de desenvolvimento próprio através do conhecimento.
38
3.2 – Prática e Projeto Pedagógicos: grandes desafios
Ao iniciarmos algumas considerações sobre projeto pedagógico, vale a
pena definir projeto.
Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa – Ediouro - 2000, a
definição de projeto seria: “empreendimento na fase de elaboração, execução,
plano interno.
Conforme o pensamento de Silva Jr. (1999:231), pode-se afirmar que
planos começam com pensamentos, com idéias interessantes e a intenção de
coloca-las em prática. Em contrapartida, projeto pedagógico, é um plano
voltado para a área da educação. Todo o projeto pedagógico precisa ser fruto
de um trabalho coletivo e é indispensável para conquista da autonomia da
escola.
Nesta perspectiva, cabe ao supervisor escolar o desafio de corresponder
as espectativas que surgem no seu espaço de atuação profissional. O
supervisor é o profissional responsável e habilitado para coordenar encontros
de trabalho, indicar leituras, propor temáticas e esclarecer conceitos. Quando
se afirma que projeto pedagógico pode conferir a escola autonomia, este não
se apresenta como sinônimo de soberania, de ausência de prestação de
contas ao sistema escolar. Autonomia na escola deve ser construída
democraticamente.
Para construí-la é mister não confundir trabalho coletivo com trabalhador
coletivo. Pode-se conferir essa definição em Silva Jr. (1999:232): “Trabalho
coletivo é um princípio democrático de ação que pressupõe a relativização das
funções e a valorização das pessoas dos trabalhadores. Já o conceito de
trabalhador coletivo continua a apresentar as conotações que o celebrizaram
negativamente sob a administração capitalista: valorizavam-se as funções e
relatizavam-se as pessoas. No clássico esquema de separação entre
39
concepção e execução, o desenho organizacional deve permanecer intocável,
enquanto
as
pessoas
podem
ser
consideradas
substituíveis
ou
desnecessárias”.
Tomando por base citações de Silva Jr. (1999:232), percebe-se a visão
do projeto pedagógico como construção coletiva deve caracterizar a escola, ser
fruto de um pensar e fazer coletivo. Cabe destacar também que este não deve
gerar um “saber oficial”, assim sempre que o grupo achar necessário, talvez a
cada dois anos este deve ser redescutido e avaliado.
A renovação constante do projeto, implica em atitude de constante
pesquisa, uma vez que conhecimento evolui sob condições de confronto e
pesquisa. Sendo o conhecimento fator de mudanças na sociedade e na
economia, todo projeto pedagógico deve estar imbuído do desafio de iluminar
as transformações.
Partindo do pressuposto de que projeto pedagógico é construído na
escola, também é nela que se consolida a capacidade de manejar e produzir
conhecimento considerado como condição primordial da oportunidade de
desenvolvimento.
Na elaboração do projeto pedagógico o supervisor escolar atento a
difusão da educação básica como oportunidade de desenvolvimento pessoal,
deve buscar a reconstrução do conhecimento em vez da simples reprodução.
De acordo com Demo (2007:244), esta questão visa dois importantes
horizontes de competência:
a) capacidade de elaboração própria, de pesquisa, de teorização das
práticas, de produção crítica e criativa;
b) orientar os alunos a serem críticos e criativos, a adquirir autonomia em
produções orais e escritas.
40
Se um desempenho específico é exigido dos alunos, exige-se mais
empenho do professor no sentido de buscar atualização constante,
produtividade intensa, enfim elaboração própria e pensamento crítico. Nesta
busca ele deve contar com o devido aparato eletrônico, apoios didáticos e
assistenciais e adequação física dos prédios.
Cabe destacar também que cada escola precisa interpretar a realidade
local e apresentar o próprio contexto. Segundo Demo (2007:246), isto implica
em:
a) Investigação das questões que impedem o desenvolvimento dos alunos
e propostas avaliativas no contexto didático atualizado;
b) É fundamental a observação do contexto sócio histórico da escola e
diálogo com a comunidade. Podendo acontecer uma inclusão curricular;
c) É essencial também inclusão de atividades paracurriculares de acordo
com as sugestões das famílias dos alunos;
d) Também é interessante destacar que gestão descentralizada com a
participação
da
comunidade
interessada
também
implica
em
responsabilidade nas decisões tomadas.
Confirmando estas implicações Demo (2007:246) afirma: “Cabe
contextuar a escola, sobretudo comunitariamente, o que vai pedir dos
professores conhecimento e pesquisa do espaço e do tempo no qual está
inserido, em particular das identidades culturais. Não se trata de “regionalizar”
conteúdos tipicamente universais, como matemática, mas de aculturar aqueles
cabíveis e que oferecem a consolidação do sujeito histórico”.
Projeto pedagógico pode oportunizar o planejamento a longo e curto
prazo. Facilita a revisão e aperfeiçoamento do currículo e aprimoramento dos
41
processos de avaliação visando sempre evolução crescente e melhoria
qualitativa.
Teoricamente, um projeto pedagógico segundo Demo (2007:250),
poderia conter:
I. Quadro teórico de referência;
II. Análise/diagnóstico da escola e seu entorno sócio histórico;
III. Proposta teórico-prática;
IV. Planejamento anual/pluvianual.
Projeto Pedagógico pode representar o futuro da escola e o desenhar do
horizonte para o qual ela encaminhará sua trajetória. Sendo ele fruto de uma
reflexão coletiva pode conferir a unidade escolar autonomia e identidade,
trazendo consigo também a responsabilidade de avaliação de resultados.
3.3 – Compromisso com a humanização na era tecnológica
Neste trabalho refletimos sobre a origem da supervisão no Brasil, sua
trajetória e seus compromissos. Refletindo sobre seus compromissos pode-se
observar uma história de responsabilidades em pensar e fazer educação de
forma séria e qualitativa. É bem verdade que ao longo do tempo muitos
equívocos podem ter sido cometidos, mas sempre no sentido de acertar.
Sabe-se que supervisão escolar deve estar comprometida com a
qualidade da educação da formação humana que ocorre basicamente nas
unidades escolares. Na era tecnológica e científica é mister refletir que a
importância da escola e da cultura no processo de humanização do homem
42
são duas faces de um mesmo processo. O homem se humaniza através das
atividades da sua convivência com a natureza e com os outros homens.
Entende-se que compromisso é uma promessa, uma obrigação. Então,
pode-se questionar: que compromissos os profissionais da educação devem
assumir hoje? Certamente existe a preocupação com formação de homens
mais humanos. Esta preocupação se deve ao avanço tecnológico que acabou
por acarretar o declínio do indivíduo, uma vez que nas relações capitalistas as
pessoas são reconhecidas pela relação: função/produtividade.
Ao que parece vivemos na era do individualismo, de pessoas e
instituições. Sobre isso, observa-se no trecho abaixo alguns questionamentos
sobre o assunto abordado por Ferreira (1999:244): “O automatismo
tecnológico, longe do negar a liberdade, administra-a atribuíndo-lhe espaços
por ele delimitados, sejam eles o espaço da ciência-estado ou o espaço da
ciência-mercado, e aí multiplicando-a potencialmente até o infinito. Desta
forma, a liberdade sem limites torna-se o agente duplamente cego de sua
própria regulação. O que será do mundo totalmente livre onde tudo vale sem
moral nem ética? O que será do hoje, do amanhã e do futuro? O que está em
causa é o futuro, um futuro em que, ao mesmo tempo que é totalmente feito
por nós, nos escapa totalmente. Incertezas, dúvidas, medos repetem a mesma
pergunta: como é possível que a modernidade esteja recriando, de forma hiper
moderna, a pré-modernidade do risco, da opacidade, da violência, da
ignorância?”
Conforme o pensamento de Ferreira (1999:250), um novo saber que se
apresenta consiste no princípio fundamentado na realidade que nos coloca no
centro de tudo, responsáveis por gerir as relações com outros seres humanos e
com a natureza. Fundamental também é a busca por uma nova ética que
despreze o individualismo e que nos responsabiliza pelas nossas ações
imediatas trazendo conseqüências sérias para o nosso futuro.
43
O teor da nova ética consiste em responsabilidade coletiva, por este
motivo somos coletivamente responsáveis pela construção do futuro. Junto
com a nova ética, surge uma nova política, que prioriza a participação gerando
conhecimento-emancipação. Este conhecimento abarca todos os espaços de
prática social e incide na conquista da cidadania.
Neste contexto, educação implica em refletir as novas contradições,
complexidades e mutações que se apresentam na modernidade. A tentativa de
buscar espaços de conscientização do ser humano como gestor do
presente/futuro.
Ao refletirmos sobre estas questões que implicam inclusive em
sobrevivência humana, supervisão escolar “pode e deve” assumir seu papel na
busca pela educação de qualidade, comprometida com a humanização do
homem. Como afirma Ferreira (1999:251): “A supervisão educacional, como
responsável pela qualidade do processo de humanização do homem através
da educação, nesse contexto moderno firma outros compromissos do espaço
escolar, sem dele descurar. Afirma-se nele, enquanto espaço de fazer o mundo
mais humano através do trabalho pedagógico de qualidade, garantindo
conteúdos emancipatórios trabalhados com toda a profundidade em toda a sua
complexidade e contraditoriedade, mas compromete-se com a administração
da educação que concretiza as direções traçadas pelas políticas educacionais
e ainda com as políticas públicas que as orientam”.
Pode-se então afirmar que, a busca pela humanização na era
tecnológica passa pela internalização de uma nova consciência pública e
política. É primordial a criação de novos sujeitos que consigam articular e
discutir uma saída para a humanidade. Entendemos que supervisão escolar
tem o compromisso de trazer à tona a conscientização de práticas que tragam
satisfação não apenas material, mas também afetiva.
44
Na modernidade alguns desafios se apresentam: a busca desenfreada
pelos bens materiais, o consumismo exacerbado, preservação do ambiente e
avanço tecnológico. Todos esses fatores têm causado mudanças nas relações
sociais. Pode-se perceber ainda que ao passo que a tecnologia avança a
humanidade torna-se mais violenta e individualista. Neste sentido, o
compromisso de buscar recursos necessários à construção de verdadeiros
cidadãos também é dos profissionais de educação e da supervisão escolar.
Refletindo sobre essas questões que nos inquietam e nos estimulam,
optei por concluir este trabalho com o texto abaixo, o qual nos remete uma
mensagem de otimismo sentimento indispensável que deve inspirar a tragetória
de qualquer profissional, principalmente o da educação.
“Como indivíduos e como cidadãos, temos perfeito direito a ver tudo na
cor característica da maior parte das formigas e de grande número de telefones
antigos, ou seja, muito preto. Enquanto educadores, porém, não nos resta
outro
remédio
senão
ser otimistas,
infelizmente.
Educar é
crer na
perfectibilidade humana, na capacidade inata de aprender e no desejo de saber
que há coisas (símbolos, técnicas, valores, memórias, fatos...) que podem ser
sabidas e que merecem sê-lo – e que nós, homens, podemos melhorar uns aos
outros por meio do conhecimento. De todas essas crenças otimistas podemos
muito bem descrer privadamente, mas se queremos educar ou entender em
que consiste a educação não há outro remédio senão aceita-las. Com
verdadeiro pessimismo pode-se escrever contra a educação, mas o otimismo é
imprescindível para estudá-la... e para exercê-la. Os pessimistas podem ser
domadores, mas não bons professores”. Trecho de “Carta a Professora”,
prólogo do livro O Valor de Educar (Ed.Martins Fontes), texto entitulado: Pelo
otimismo do espanhol Fernando Savater.
45
CONCLUSÃO
Os desafios que permeiam a prática pedagógica do supervisor escolar
na modernidade, é objeto de estudo neste trabalho.
Neste século, é perceptível o avanço da ciência e tecnologia e os
benefícios que este avanço trouxe a sociedade de modo geral. Contudo a
modernidade tem provocado mudanças de comportamento. Neste sentido,
educação traz consigo a responsabilidade de estar à frente dessas mudanças.
Assim, educação seria o foco das transformações necessárias para que
o indivíduo aprenda a lidar com os problemas da atualidade como: questões
ambientais, doenças como AIDS, câncer ou endêmicas como a dengue e
ainda, o aumento da violência generalizada.
Cientes de que estas questões não podem ser negligenciadas, uma
nova formação para os alunos é exigida. Uma formação para os alunos é
exigida. Uma formação que privilegie a didática do “aprender a aprender”, que
visa incitar no aluno a ter prazer pela pesquisa, a busca pelo conhecimento e
estímulo à produção própria.
O supervisor escolar enquanto profissional da educação e comprometido
com uma didática diferenciada deve buscar junto com a equipe pedagógica,
planejar e colocar em prática projetos pedagógicos que atendam as demandas
da comunidade escolar.
O supervisor escolar que visa o sucesso profissional e o alcance da
qualidade educativo deve buscar constante atualização. Afinal, conhecimento é
componente básico em qualquer área profissional.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
FERREIRA C. S. Naura (org.). Supervisão Escolar para uma escola de
qualidade. São Paulo: Cortez, 1999.
LUCK, Heloisa. Ação integrada: Administração, Supervisão e Orientação
Educacional. Petrópolis: Vozes, 2000.
MORIN, Edgar Cortez. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São
Paulo: Cortez, 2000.
ROSA, Solange e MEDEIROS, Luciene. Possibilidades e Limites. São Paulo:
Cortez, 1985.
SILVA JUNIOR, Celestino Alves e RANGEL, Mary (orgs.). Nove Olhares sobre
a Supervisão, Campinas: Papirus, 2007.
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ANEXOS
Índice dos Anexos
Anexo 1 Revista Nova Escola – edição nº 192 – Abril, SP, 2006.
Anexo 2 Entrevista: Revista Nova Escola – edição nº 158 – Abril, SP,2002.
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ANEXO 1
DESAFIOS DO COORDENADOR PEDAGÓGICO
Revista Nova Escola – nº 192
Desafios do Coordenador Pedagógico
Mais do que resolver problemas de emergência e explicar as dificuldades
de relacionamento ou aprendizagem dos alunos, seu papel é ajudar na
formação dos professores.
Silvana Augusto
Muito se tem falado sobre o papel do coordenador pedagógico. Afinal, por que
ele é necessário? Quem dera coordenar fosse simples como diz o dicionário:
dispor segundo certa ordem e método: organizar, arranjar, ligar.
O coordenador pedagógico, muito antes de ganhar esse status, já povoava o
imaginário da escola sob as mais estranhas caricaturas. Ás vezes, atuava
como fiscal, alguém que checava o que ocorria em sala de aula e normatizava
o que podia ou não ser feito. Pouco sabia de ensino e não conhecia os reais
problemas da sala de aula e da instituição. Obviamente, não era bem aceito na
sala dos professores como alguém confiável para compartilhar experiências.
Outra imagem recorrente desse velho coordenador é a de atendente. Sem um
campo específico de atuação, responde às emergências, apaga focos de
incêndio, apazigua os ânimos dos professores, alunos e pais. Engolido pelo
cotidiano, não consegue construir uma experiência no campo pedagógico. Em
ocasiões esporádicas, ele explica as causas da agressividade de uma criança
ou as dificuldades de aprendizagem de uma turma. Hoje o coordenador
organiza eventos, orienta os pais sobre a aprendizagem dos filhos e informa a
comunidade sobre os efeitos da escola.
Mas, isso é muito pouco. Na verdade, ele se faz cada vez mais necessário
porque professores e alunos não se bastam. Além das histórias individuais que
todos escrevemos, é preciso construir histórias institucionais. É duro constatar
a fragilidade de tantas escolas que montam um currículo e uma prática efetiva
durante anos e perdem tudo com a transferência ou a aposentadoria de
professores. Construir história nos torna humanos, e é de estranhar que,
justamente na escola, tantas vezes tudo recomece do zero. O coordenador
eficiente centraliza as conquistas do grupo de professores e assegura que as
boas idéias tenham continuidade.
Além do que se passa dentro das quatro paredes da sala de aula, há muito
mais a aprender no convívio do coletivo – no parque, no refeitório, na rua, na
comunidade. A dinâmica nesses espaços deve ser ritmada pelo coordenador. É
preciso lembrar ainda que só quem não está em classe, imerso naquela
realidade, é capaz de estranhar. E isso é ótimo! É de estranhamento que
surgem bons problemas, o que é muito mais importante do que quando as
respostas aparecem prontas. Só assim é possível que o coordenador
efetivamente forme professores (e esse é o seu papel primordial). Ampliando a
49
significação do dicionário, eu diria que no dia-a-dia de uma instituição educativa
é preciso:
• dispor segundo certa ordem e método as ações que colaboram para o
fortalecimento das relações entre a cultura e a escola;
• organizar o produto da reflexão dos professores, do planejamento, dos planos
de ensino e da avaliação da prática;
• arranjar as rotinas pedagógicas de acordo com os desejos e as necessidades
de todos; e,
• ligar e interligar pessoas, ampliando os ambientes de aprendizagem.
Esse é o sentido de ser um bom coordenador, não de uma instituição, mas de
processos de aprendizagem e de desenvolvimento tão complexos como os que
temos nas escolas. Que os que desejam se responsabilizar por essa
importante função vejam aqui um convite para criar um estilo de coordenar.
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ANEXO 2
ENTREVISTA
Revista Nova Escola – DEZ/2002 – p.61
Antropólogo, filósofo, teólogo, jornalista e escritor, Carlos Alberto Libânio
Christo, 58 anos, sempre trabalhou com educação popular, mas não deixou de
lançar seu olhar crítico sobre a formal e escreveu três livros dedicados ao
tema. Frei Betto, como é mais conhecido, autobiografa Alfabetto –
Autobiografia Escolar. No mais recente, Diálogos Criativos, lançado em outubro
nascido de um debate com o pensador italiano Domenico De Mais, ele explicita
sua visão da escola brasileira, que expõe nesta entrevista concedida a NOVA
ESCOLA.
NOVA ESCOLA – Por que o senhor classifica sua autobiografia escolar como
uma história de fracasso?
FREI BETTO – Porque, como eu conto no Alfabetto, repeti de ano duas vezes,
fui expulso... não era considerado um bom aluno.
NE – O senhor era um mau estudante?
FREI BETTO – Pois é, tenho quatro diplomas universitários e já ganhei até
prêmio de intelectual do ano neste país. Isso mostra como a coisa de fracasso
é relativa. Eu acho que a boa cabeça não é necessariamente aquela que
sempre tira o primeiro lugar. Da mesma forma, o fracasso nem sempre tem as
piores notas. Eu custei a descobrir meu talento para o autodidatismo e a
característica de ser monotemático.
NE – A escola não descobriu isso?
FREI BETTO – Não e a falha persiste até hoje. Por isso, acho que a educação
deve passar por uma mudança de métodos, de conteúdos, de filosofia. A
escola precisa repensar seu papel na sociedade em que está inserida.
NE – Que falhas o senhor vê?
FREI BETTO – Eu costumo dizer que temos uma escola barroca, como os
anjos das igrejas coloniais de Minas Gerais, que só têm forma do pescoço para
cima. Embaixo é tudo disforme. O que eu quero dizer com isso? Nosso país
teve o mais longo período de escravidão das Américas: 350 anos. Criou-se,
nesse período, a cultura de que as tarefas manuais devem ser feitas por quem
não estudou. A escola incorporou o preconceito de que o manual é inferior e
não desenvolve a unidade entre corpo e espírito.
NE – Por que é necessário trabalhar habilidades manuais?
FREI BETTO – Vou dar um bom exemplo. Eu passei 22 anos estudando, me
graduei em Jornalismo, Filosofia, Teologia e Antropologia. Saí sem saber
cozinhar ou costurar, sem entender mecânica de automóvel, incapaz de fazer
reparos elétricos e hidráulicos em casa ou plantar uma horta. A cozinheira do
convento onde moro tem uma vasta cultura culinária, só que incutiram na
cabeça dela que não é detentora do saber. Se pusermos na balança, qual dos
dois pode sobreviver sem a cultura do outro? Ela pode passar sem a minha; eu
não fico sem a dela. Precisamos acabar com essa bobagem de que o manual
não é cultura. Ele é tão importante para a vida quanto o intelectual.
NE – A escola, então, precisa formar para a vida?
51
FREI BETTO – Exatamente. E só vai conseguir isso se interagir com a
sociedade, desenvolver a relação com a comunidade vizinha e interagir os
quatro pólos que a compõe: alunos, professores, funcionários e famílias. Se ela
não assumir esse papel, a TV vai assumir por ela. Em maio deste ano, a Unicef
divulgou uma pesquisa mostrando que o estudante brasileiro passa quatro
horas em sala de aula e três horas e 55 minutos na frente da TV. Como tem
mais poder de atração, a programação das emissoras abertas está formando
nossos jovens.
NE – O senhor acha que a TV é inimiga da educação?
FREI BETTO – Ela entra em choque com os valores que a família, a escola e a
igreja ensinam. Enquanto essas três instituições querem formar cidadãos, a TV
aberta quer formar consumidores. Ela emite pouca cultura e muito
entretenimento. A cultura toca o espírito e a consciência – e cria discernimento.
Nos torna mais criteriosos em relação ao consumo. O entretenimento, ao
contrário, hipnotiza e faz com que o jovem ponha seu desejo no consumo. Ele
passa a acreditar que a felicidade está na posse de determinados objetos. Se
não tiver acesso, acaba se sentindo frustrado e derrotado.
NE – Como se contrapor a isso?
FREI BETTO – Acredito que é essencial trabalhar a questão da felicidade
centrada na subjetividade. Reforçar os valores, porque a educação de uma
pessoa está ligada ao mimetismo, aos paradigmas que ela tem. Minha geração
teve como referenciais Jesus, Maria e José. Na adolescência, Gandhi, Martin
Luther King e Che Guevara. Todos altruístas. Hoje você tem os exterminadores
do passado, do futuro e do presente, mais o Rambo. As pessoas ainda querem
que o jovem seja delicado no ônibus com a mulher grávida, que ceda lugar na
fila para o idoso... Essa é uma questão séria. É necessário disseminar valores
que elevem a auto-estima do jovem.
NE – É possível evitar que a TV exerça esse papel tão atraente para as
crianças e os adolescentes?
FREI BETTO – Os professores precisam levar a imagem para dentro da classe.
Eles continuam trabalhando o texto como se nossa sociedade ainda fosse
literária. Ela não o é mais. É imagética. Só com a TV na sala conseguimos
educar olhar crítico dos alunos. Eu, por exemplo, fui educado em cineclubes e
aprendi a diferenciar filme de arte de filme de entretenimento.
NE – Ensinar valores não é papel da família?
FREI BETTO – Não há saída. Temos de ter paradigmas e referências para
viver. Se a família não faz sua parte, acredito que o professor deve fazer. Se
ninguém educar, Xuxa fazê-lo. Não há neutralidade. A questão é transmitir
valores de uma maneira sadia, capaz de tornar os jovens sujeitos,
protagonistas. O que acontece é que todos os parâmetros são tirados e o
estudante naufraga porque não compreende o que vê à sua volta. Por isso o
shopping center é tão fascinante. Tudo lá dentro está arrumado.Não existem
mendigos, pedintes, sujeira. É o paraíso. Pelos corredores ouve-se canto
gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. O sujeito fica
ali contemplando aquelas veneráveis capelas de consumo, com belíssimas
sacerdotisas. Alguns se sentem no inferno porque não podem comprar; outros
vão parar no purgatório do cheque especial. Depois todos comungam na
eucaristia pós-moderna do Mc Donald’s.
52
NE – Existe uma maneira sadia de transmitir valores?
FREI BETTO – Um caminho é melhorar a formação humanística e espiritual
dos estudantes. A supressão de cursos de Sociologia e Fisiologia do currículo
esvaziou essa formação subjetiva. Ficamos muito centrados na formação
técnica e científica, que aprimora o Q. I., o quociente intelectual, mas não se
preocupa com o Q. E., o quociente emocional.
NE – Quando fala em desenvolver a espiritualidade, o senhor se refere ao
ensino religioso?
FREI BETTO – Não. Eu acho inconcebível que alguém saia da escola sem
nunca ter lido a Bíblia, mas por razões culturais. Da mesma forma como é
inconcebível não ler a Ilíada, Graciliano Ramos ou Jorge Amado. A educação
espiritual transcende as questões religiosas. A meditação, a liturgia, a
reverência, o exercício do silêncio... este último, inclusive, eu considero
fundamental para o bem-estar – e nós estamos perdendo esse valor. As
pessoas têm medo do silêncio. Chegam em casa, sozinhas, ligam televisão,
rádio, telefone, liquidificador, enceradeira... Morrem de medo de se escutar.
NE – O que é formação humanística?
FREI BETTO – É tratar de várias coisas que hoje são ignoradas. A formação
política, com abertura de grêmios, o incentivo à cidadania, ao debate plural...
Outra coisa fundamental, são as situações-limite da vida. Nunca se fala de dor,
morte, separação, fracasso, espiritualidade. Quando abordam sexualidade, os
professores tratam da higiene corporal, para prevenir doenças sexualmente
transmissíveis. Jamais falam de afetividade de construir uma família, de
casamento. O resultado é que formam mão-de-obra para o mercado de
trabalho, mas não pessoas responsáveis, felizes e cidadãs.
NE – Essas mudanças que o senhor sugere pressupõe transformações
profundas. Como deveria ser essa escola?
FREI BETTO – Mais interativa e com uma formação holística. Não falo só da
interdisciplinaridade nem da multidisciplinaridade, mas da transdisciplinaridade.
É preciso transcender o corpo de disciplinas para criar interação com o
contexto social, nacional e internacional em que vivemos. Além disso, tal como
está hoje, o currículo engessa o aluno dentro de um calendário que
necessariamente tem de coincidir com o gregoriano. É um absurdo. Passar de
ano serve para quê? Eu acho que não deveria ser assim. Meu sonho é um
currículo em que você faz a 8ª série em oito meses, enquanto eu faço em dois
anos. Cada um no seu ritmo, sem repetência nem concorrência entre os
alunos.
NE – O senhor fala em formar pessoas felizes e cidadãs. O nosso professor é
feliz e cidadão?
FREI BETTO – Não, o professor brasileiro é um herói. Ele ganha mal, não tem
tempo para pesquisar, é obrigado a dar mais aulas do que deveria para se
sustentar e não encontra espaço para desenvolver o protagonismo na
disciplina que leciona. Acaba ficando nessa coisa bancária, como dizia Paulo
Freire, de depositar em cima da cabeça do aluno a transmissão formal do
conhecimento. Acredito que todo professor deveria se sentir parte de um
coletivo pedagógico. Não dá para ter uma visão do tipo: “Sim, dou minha aula,
cumpro meu horário, recebo meu salário e não tenho nada a ver com o resto”.
Os educadores precisam ser reciclados, integrar-se ao grupo com uma
53
estratégia pedagógica comum. Na minha opinião, é inconcebível que, numa
mesma equipe, haja docentes com posições políticas e visões de mundo
diferentes. Isso é um problema para os alunos. As escolas deveriam formar um
corpo coletivo, não partidário, mas ideologicamente afinado do ponto de vista
dos princípios éticos.
NE – Mas o diretor, na rede pública, não tem prerrogativa de escolher os
professores da equipe?
FREI BETTO – Na prática não. Por isso, acho que algumas políticas públicas
precisam ser alteradas. Esse, na minha opinião, é um direito do diretor. Se um
professor acha que é necessário competir e o negócio é o mercado, mas a
proposta não é essa, ele que vá procurar outro lugar para lecionar. Além disso,
cabe à instituição estimular a autocrítica. Promover assembléias com
professores, alunos, famílias e funcionários. Sei que isso é meio utópico e
ideal, mas é assim que eu gostaria que fosse a escola no Brasil.
54
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
02
AGRADECIMENTO
03
DEDICATÓRIA
04
RESUMO
05
METODOLOGIA
06
SUMÁRIO
08
INTRODUÇÃO
09
CAPÍTULO I
SURGE A IDÉIA DA SUPERVISÃO ESCOLAR.
12
1.1 – Estudo da origem da Supervisão Escolar;
12
1.2 – Identidade do Supervisor Escolar;
17
1.3 – Especificação das funções do Supervisor Escolar;
20
1.4 – Requisitos legais: A formação básica do S.E.
23
CAPÍTULO II
OS DESAFIOS DA MODERNIDADE NO LIMIAR DO SÉCULO XXI.
27
2.1 – A influência da modernidade na Educação;
27
2.2 – A educação no comando da modernidade.
31
55
CAPÍTULO III
COMPROMISSOS DA SUPERVISÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE.
34
3.1 – Compromisso com a qualidade da educação “aprender a aprender”; 34
3.2 – Prática e Projeto Pedagógicos: desafios das Unidades Escolares;
38
3.3 – Compromisso com a humanização na era tecnológica.
41
CONCLUSÃO
45
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
46
ANEXOS
47
ÍNDICE
55
56
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: Supervisão Escolar: desafios atuais
Autora: Ana Elizabeth Moreira Alves Costa
Data de entrega:
Avaliado por:
Conceito:
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Ana Elizabeth Moreira Alves Costa