CURSO EDUCAÇÃO ESPECIAL DISCIPLINA APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PROFESSOR CEZAR AFONSO BORGES FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA É importante analisarmos a trajetória que o processo educacional tomou através dos tempos, para que possamos entender o curso que a educação e o ensino escolar traçam nos tempos atuais, como fator dinâmico, que tanto resulta de um processo de construção cultural quanto de um processo em mudança permanente, que dialeticamente influencia os moldes sociais de formação do cidadão e é influenciado por paradigmas construídos socialmente e que representam um ideário que tece a trama das políticas geradas e retro-alimentadas no cenário polêmico da educação mundial e nacional. Ao estudarmos a História da Educação percebemos que, em linhas gerais, a educação primitiva não se pautava pelo modelo escolar, como acontece atualmente. O surgimento da escola, entretanto, não significa que todos terão acesso a ela, processo que só será efetivado, na Europa, nos séculos XVIII e XIX. No Brasil, este acesso só será implantado na segunda metade do século XX. Há também mudanças significativas quanto ao espaço da educação, como algo que pode transcender ao ambiente formal de ensino, extrapolando para modelos e modalidades de ensino que acontecem no dia-a-dia da sociedade, sendo o ensino escolar apenas uma fonte formal de ensino, paralelamente administrada ao ensino informal e não-formal, em perspectivas atuais. 1. A educação primitiva e o surgimento de um modelo escolar A educação primitiva baseava-se na transmissão oral dos costumes, hábitos e tradições, através de um método de ensino natural, que acontecia em meio às atividades cotidianas, com o envolvimento de toda a comunidade. Era uma educação pragmática, voltada para o aprendizado de atividades, habilidades e comportamentos necessários à sobrevivência da criança e do jovem, sendo única e igual para todos. A escola era a aldeia, tal quais certas tribos indígenas brasileiras que ainda hoje, conservam o método de educação primitiva, muitas ainda, na condição de ágrafas. Para Brandão (2007, p. 18-19), baseado na citação de 1 Durkheim , o modelo de educação tribal é baseado numa educação difusa, sendo administrada por todos os elementos do clã, de tal forma que: “Todos os agentes desta educação de aldeia criam de parte a parte as situações que, direta ou indiretamente, forçam iniciativas de 1 DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. 4.ed. Tradução de Lourenço Filho. São Paulo: Melhoramentos, 1955. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 2 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA aprendizagem e treinamento. Elas existem misturadas com a vida em momentos de trabalho, de lazer, de camaradagem ou de amor.” Segundo Aranha (2006, p. 34): “De maneira geral as sociedades tribais são predominantemente míticas e de tradição oral”. Conforme a autora as primeiras comunidades que desenvolveram sistemas de educação, se basearam, inicialmente, na tradição, perpetuando valores e comportamentos através das gerações, principalmente nas sociedades ágrafas, marcando um processo de transmissão oral. Maria Lúcia Aranha (2006, p. 35), comenta que em tais sociedades primitivas: “Os mitos e os ritos são transmitidos oralmente, e a tradição se impõe por meio da crença, permitindo a coesão do grupo e a repetição dos comportamentos considerados desejáveis”. Nas sociedades primitivas, a educação compunha um tradicionalismo pedagógico, através de diferentes tendências religiosas. A educação primitiva era integrada a vida cotidiana, através de um ensino prático e informal, praticado por toda a comunidade. Tais características me lembram a educação indígena, nas tribos brasileiras. Há uma comunidade em Itatiba, onde realizei as orientações do mestrado. Nela há quem estude formalmente, na universidade, porém muitos permanecem num sistema primitivo, liderado pelos anciões da tribo. O modelo escolar baseado numa educação sistematizada surgiu no momento em que a educação primitiva foi perdendo progressivamente seu caráter unitário e integral entre a formação e a vida, o ensino e a comunidade. A escola não é mais a aldeia e a vida, funcionando num lugar especializado onde uns aprendem e outros ensinam. Conforme Aranha (2006, p. 45): “Quando as sociedades se tornaram mais complexas, vimos que a divisão se instalou no seio delas: as mulheres, confinadas no lar, passaram a ser dependentes dos homens, os segmentos sociais se especializaram entre governantes sacerdotes, mercadores, produtores e escravos, criando-se uma hierarquia de riqueza e poder. Essas mudanças exigiram uma revolução na educação, que deixou de ser igualitária e difusa, portanto acessível a todos, como nas tribos. Enquanto alguns eram privilegiados, o restante da população não tinha direitos políticos, nem acesso ao saber da classe dominante.” Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 3 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA A educação institucional propriamente dita, isto é, realizada em instituições de ensino ocorreu conforme houve a exigência social de educação formal. Já no Egito antigo, existiam Casas de Instrução, lembrando que por muito tempo, só a nobreza tinha acesso a tal educação. Apesar da institucionalização, nesse sistema, segundo Aranha (2006), não existiam prédios específicos para essa função, mas funcionavam em templos e algumas casas. A educação era fundamentalmente baseada na tradição e na memorização, num sistema mnemônico que se identificava como uma autoridade inquestionável e avessa a qualquer inovação, fazendo parte integrante o “rigor” e o “castigo”. Já a educação hebraica, baseava-se num idealismo religioso, ‘conteudista’ e bíblico, através da valorização dos antepassados. Os hebreus, diferentemente dos demais povos que estavam voltados para os valores da coletividade, desenvolveram uma nova ética voltada para os valores individuais: os mandamentos são uma evocação ao ser humano interior. A educação grega tem por característica importante a estratificação social, sociedade que tem caráter escravista. Só os homens livres tinham “direito” a educação institucional. Para Brandão (2007, p. 37), “De tudo o que pode ser feito e transformado, nada é para o grego uma obra de arte tão perfeita quanto o homem educado.” Sobre a educação grega, Brandão (2007, p. 37-38) aponta: “A primeira educação que houve em Atenas e Esparta foi praticada entre todos, nos exercícios coletivos da vida, em todos os cantos onde as pessoas conviviam na comunidade. Quando a riqueza da polis grega criou na sociedade estruturas de oposição entre livres e escravos, entre nobres e plebeus, aos meninos nobres da elite guerreira e, mais tarde, da elite togada é que a educação foi dirigida.” 2 O sistema de educação se baseava na paidéia , exprimindo um ideal de formação constante e formação integral –corpo e espírito, sendo inicialmente praticada fora da escola, em acampamentos ou ao redor de velhos mestres. Mais tarde, conforme as solicitações do Estado, a educação começa a ser ministrada em locais como a Efebia, em Esparta, “que educava o jovem nobre guerreiro” (BRANDÃO, 2007, p. 39). Em Atenas surgem as escolar primárias, por volta de 600 A.C., as “lojas de ensinar”, escolas abertas acessíveis ao meninos livres nobres e plebeus, sendo porém a única etapa para o menino livre e plebeu; para o nobre era uma etapa rápida e apenas necessária para alcançar rapidamente outras esferas de educação para formação do ideal grego: o “adulto educado” (BRANDÃO, 2007). Apesar das possíveis críticas que podemos tecer a respeito do sistema, há uma relevante iniciativa para organizar o ensino em etapas ou graus, tal qual a divisão proposta por 2 Apud Aranha (2006, p. 62): “De início significava apenas educação de meninos (pais, paidós, ‘criança’). Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 4 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Platão, em escola primária, secundária e ensino superior, com funções muito semelhantes às atuais. Platão também propunha a educação pública, porém voltada só para os homens livres e de uma casta abastada. Acreditavam no “inatismo”, isto é, nas diferenças de aptidão resultantes do nascimento, justificando as diferenças de classe. Notamos uma dicotomia entre as cidades-estado da antiga Grécia: de um lado Atenas, humanista e voltada para os ideais sociais e políticos da república, com formação mais intelectual que funcional, e de outro lado, a educação espartana, baseada em práticas militares altamente rígidas, voltadas para a educação física. Para quem assistiu ao filme 300, pode traçar um paralelo entre o texto e a ficção exposta e verificar o extremismo militar daquele povo. A educação romana se baseia num ensino intelectualizado, composto por três graus clássicos. A cultura romana se baseava na humanitas – no sentido literal de humanidade-, equivalente a paidéia grega. Que segundo Aranha (2006, p. 89): “Distingue-se desta, no entanto, por se tratar de uma cultura predominantemente humanística e, sobretudo, cosmopolita e universal, buscando aquilo que caracteriza o ser humano em todos os tempos e lugares”. No sistema de educação cosmopolita romano, os mestres ou magisters eram simples e mal pagos. Para desempenhar o ofício, ajeitavam-se em qualquer espaço: uma tenda, a entrada de um templo ou de um edifício público. Conforme Aranha (2006, p. 90): “As crianças escreviam com estiletes em tabuinhas enceradas, aprendendo tudo de cor, muitas vezes ameaçadas por castigo”. A produção material ficava ao encargo dos escravos, que eram numerosos e tratados como objetos. Também era utilitária e militarista, organizada sob formas de poder rígidas que permitiram a manutenção do império por longo tempo. Tal fusão idealista grego-romana influenciou pesadamente a civilização ocidental, através de ideais humanistas como a filosofia dos sofistas como Platão e Aristóteles. Na verdade é a base do pensamento ocidental. Aranha (2006, p. 96) nos aponta que: “No Brasil perdurou por muito tempo a educação inspirada na tradição greco-romana das humanidades, adaptada pelos cristãos medievais e divulgada pelos jesuítas que exerceram prolongada influência no renascimento e na Idade Moderna, inclusive no Brasil Colônia [...].” Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 5 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Durante esse processo que levou centenas de anos, a educação tornou-se um processo institucional, na busca pela organização de um ensino público. A educação medieval era escolástica e livresca, baseada num formalismo teocêntrico. Após a decadência do império romano, instituiu-se a educação cristã, através da pregação apostólica, numa fusão da fé cristã com a tendência greco-romana. O que é interessante ressaltar é que, a serviço do cristianismo, pela primeira vez, a escola se torna o aparelho ideológico do Estado, difundindo os valores cristãos de subserviência e fé dogmática. É fato que desde essa época, a escola era objeto ideológico das classes dominantes, com a função de reproduzir os ideais de dada classe que deseja se manter no poder a qualquer custo! 3 Sabemos que, longe de ser um período histórico de “trevas”, o período medieval trouxe contribuições decisivas para a educação, em termos de organização de ensino. A produção feudal baseava-se no feudo, latifúndio agrícola, com produção artesanal de bens e serviços. Era fundada na divisão de classes, entre nobres e servos. Para Tomás de Aquino, a educação podia desabrochar as potencialidades do educando, porém sob rígida disciplina e autoridade. Algumas noções caracterizam a sua obra, 4 conforme as autoras Rubano e Moroz (1996, p. 156), como a relação que estabelece entre a razão e a fé, as concepções de finalidade, de casualidade e de potência-ato, existindo, nesse sentido, uma delimitação entre o referente à razão e o referente à fé, ambas capazes de conduzir o homem ao conhecimento. A educação se dividia em educação para a nobreza e educação para as classes trabalhadoras. Esta última oral e baseada em rudimentos, e a outra mais intelectual. Na Baixa Idade Média, houve o desaparecimento das escolas enquanto instituições, sendo que no feudalismo a herança greco-romana foi resguardada aos mosteiros, onde os monges eram os únicos letrados, porque os nobres e muito menos os servos sabiam ler. (ARANHA, 2006). Fala-se em escolas monacais leigas e pagãs em algumas cidades, após a queda do Império, anteriores ao século V, porém não há documentos que comprovem a existência das mesmas. No séc. IX, Carlos Magno já propunha a divisão no sistema de ensino, em educação elementar, secundária e superior, transferindo a responsabilidade da educação das camadas jovens à escola, num sistema hierarquizado. 3 Idade Média: de 476 (queda do Império Romano do Ocidente) a 1453 (tomada de Constantinopla pelos turcos). Apud Aranha (2006, p. 102). 4 RUBANO, Denise R.; MOROZ, Melania. Razão como apoio a verdades de fé: Santo Tomás de Aquino. In: ANDERY, Maria Amália et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 6.ed. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, São Paulo: EDUC, 1996. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 6 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Quando lemos livros de ficção que têm como pano de fundo obras do Renascimento, vemos como a mulher foi apagada do poder. Já na era medieval, era vista como inferior e pecadora, encontrando no ensino religioso dos conventos, quando de classe abastada, alguma educação pragmática com certeza. Sob tais aspectos pensar não era coisa de mulher! Na Idade Média as mulheres não tinham acesso à educação formal, sendo depositárias dos valores da vida doméstica, com fins atrelados ao casamento e à maternidade. Enquanto pobre, a mulher trabalhava duramente ao lado do marido, permanecendo analfabeta e quando nobre, recebiam aulas no seu próprio castelo, atendo-se, porém, ao aprendizado da música e de trabalhos manuais, entre outros aprendizados de cunho doméstico. No Renascimento, encontramos a revalorização dos valores clássicos, greco-romanos, e um crescente antropocentrismo. Foi uma época de grande rumor, principalmente em Florença, capital da cultura na Europa. Descobertas como a bússola, a pólvora e a imprensa, impulsionaram o individualismo, o pioneirismo e a aventura. A teoria heliocêntrica de Copérnico traduz a busca do pensamento científico, através da experimentação e comprovação, porém só se pode falar em ciência de fato, a partir do século XVIII. Apesar do clima de liberdade e cultura, ainda era recorrente na educação, sistemas díspares divididos em educação para o burguês e educação para as massas populares, através de um sistema baseado no elitismo, na aristocracia e no individualismo. Enquanto que os mais ricos continuavam a ser educados por preceptores em seus próprios castelos, a pequena nobreza e a burguesia ascendente também queriam educar seus filhos, buscando escola para tal. Quanto à educação popular, atinha-se ao aprendizado dos ofícios nos locais de trabalho (ARANHA, 2006, p. 125-126). O aparecimento dos colégios se deu por volta do século XVI, correspondendo a uma nova imagem de infância e família, agora exigindo cuidados específicos, buscando protege-las das “más influências”. Tal especificidade se debruçava sobre a infância, se diferindo do pensamento medieval que não diferenciava o adulto da criança, nem os locais para os mesmos. Cabe citar também a educação jesuíta, já que foi grande a sua influência no Brasil colônia. A educação jesuíta tinha como base catequizar as populações ignorantes, no intuito de “civilizá-las”, doutrinando-as através da fé cristã e da servidão, já que os jesuítas acreditavam na divisão de classes por obra meritória de Deus! O ensino escolar passa a formar seus alunos para desempenharem atividades específicas na sociedade, sendo que o ensino especializado corresponde a uma demanda da Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 7 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA sociedade, resultante da divisão social do trabalho, baseada na hierarquização e na desigualdade econômica. Esse sistema de ensino escolarizado começa a se expandir à medida que a sociedade e as camadas populares (séc. XVII), passam a reivindicar o acesso a escola. Motivadas pelos ideais iluministas e por novas ordens religiosas, a classe trabalhadora tinha no acesso a formação escolar, condição para elaborar sua própria cultura de resistência. Os ideais iluministas, quanto à educação, propunham uma educação laica e gratuita. Para tanto, se deu à unificação do ensino público em todos os graus, mas conservando ainda o elitismo no que tange ao acesso e, principalmente, a permanência no sistema, pois só obtinham êxito nos estudos os que tinham as “habilidades” solicitadas pela escola, pautadas numa educação erudita que tem por referência a camada dominante. Tal educação se baseava nas novas ciências da filosofia cartesiana, encorajando seus estudantes para a curiosidade científica sob um regime disciplinar brando. O homem burguês deveria se formar para comandar as massas e para tanto, a educação jesuíta previa uma formação embasada na ciência do governo e na escolástica, fundada no estudo do latim e da retórica. A educação na era moderna teve como fator decisivo a mudança no sistema de produção do artesanal para a manufatura, com produção coletiva. Bacon foi o precursor do método científico e Descartes, do método hoje identificado como cartesiano. Sua obra mais relevante é o Discurso sobre o Método. Tal postulado baseava-se no racionalismo e no empirismo, priorizando a razão. Da-se um conflito entre o racionalismo e o humanismo cristão. Há uma crescente evolução no sentido de organizar os métodos de ensino como na obra “Didática Magna” de 5 Comênio , defensor de um sistema e ensino unificado, com escolas articuladas em graus. A educação se torna cada vez mais pragmática e baseada no conhecimento científico. , tendo como valor norteador o preparo para a vida. Mais uma vez está presente a dicotomia recorrente na educação, resultante da divisão social: trabalho intelectual (classe dominante) e trabalho manual (classe popular). De um lado a educação nobre e de outro, das camadas trabalhadoras. 5 João Amós Comênio (1592-1670), o maior educador e pedagogo do século XVII, conhecido como o “Pai da Didática Moderna”, tendo como ponto de partida uma aprendizagem eficaz e atraente, que ida do simples ao complexo, segundo gradações das dificuldades, adequadas à capacidade de assimilação dos alunos (ARANHA, 2006, p. 157). Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 8 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA O modelo protestante de educação propunha as escolas dominicais, baseadas na educação religiosa para as crianças. Com a Revolução Francesa (1789), houve a mudança de poder das mãos do clero e da nobreza, para uma burguesia ascendente. O ideal iluminista propunha a racionalidade e a liberdade em oposição à igreja e a prepotência da monarquia. Algumas teorias como as de Rousseau, influenciaram a educação que desenvolvemos hoje. Ele percebeu que a criança não é um adulto em miniatura e merece uma educação adaptada às suas necessidades. Vê também a estreita ligação entre a educação e a política. No séc. XVIII, as camadas populares começam a se mobilizar em função de uma educação pública, porém ainda o universo da educação pública era elitista, excluindo os “menos” capazes. Só os alunos mais capazes poderiam prosseguir até a universidade. Atualmente e em cotejo, temos índices de estrangulamento relevantes como: para 100 escolas de ensino fundamental, temos 10 de ensino médio. Se for pensar em termos de ensino superior, a taxa fica gritante! Quanto ao grau de escolaridade do trabalhador brasileiro, segundo Costa (1999, p.72): Até a 4ª série: 45%; Primeiro grau completo: 16%; Segundo Grau completo: 13% ; Ensino Superior: 03%. É o funil recorrente da educação universal! Continuando, além de Rousseau, temos inúmeros educadores visionários como: Froelbel, com os jardins de infância e a educação espontânea. Na educação positivista, séc. XIX, influenciada pelo marxismo de Karl Marx e pelo Positivismo de Comte, baseado no pensamento racional pragmático. A educação socialista, tal qual o regime, propunha uma educação democrática, baseada na ideologia socialista: escola pública e única para todos, que fosse politizada e alheia ao ideal capitalista-burguês. A educação sofreu, com as teorias, fortes mudanças, buscando a adaptação dos métodos à idade dos educandos e identificando a educação como um processo de transformação social. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 9 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA A educação da Escola Nova baseava-se na espontaneidade da criança que aprende através da experiência, como preconizava Dewey, educador norte-americano que influenciou fortemente o movimento escolanovista, do início do séc. XX. Para tanto, a educação passou a ser vista como um processo e não um produto. Enquanto um processo de reconstrução da experiência. Aluno= paidocentrismo. Kilpatrick (projetos manuais), Decroly (Centros de Interesse) e Montessori (educação sensorial e individualizada), contribuíram com diferentes propostas e abordagens acerca do ensino e da aprendizagem. 2. A educação brasileira A educação brasileira foi fortemente influenciada pelos movimentos europeus e as revoluções que marcaram o período (séc.XVIII e XIX). 2.1 Brasil Colônia Os jesuítas, apesar do modelo elitista de educação, trouxeram para o Brasil não só costumes e religiosidade européia, mas também um modelo de organização pedagógica que por 210 anos, significaram o sistema de educação brasileira. Porém o ensino jesuíta manteve a escola conservadora, indiferente a perspectiva cartesiana européia, pautada na revolução intelectual e no racionalismo e aprendizado de cunho científico, sendo extremamente dogmática e voltada para a formação de uma classe dirigente. A maioria dos estudantes ricos que buscavam uma educação mais científica, dirigia-se para a Universidade de Coimbra ou demais universidades européias. Após a expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas, em 1759, pelo Marquês de Pombal, instaurou-se um verdadeiro caos. O sistema jesuítico foi desmantelado. A educação brasileira vivenciou uma grande ruptura histórica no modelo já implantado. 2.2 Brasil Império Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 10 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Com a chegada da família real ao Brasil (1808), houve um processo de conexão entre as atividades comerciais do Brasil com Portugal, a abertura dos portos, favorecendo a dinamização da sociedade colonial. Em 1824 é outorgada a primeira constituição brasileira, que pregava a instrução primária e gratuita para todos os cidadãos, constituindo um importante passo em relação às reformas educacionais posteriores. Em 1834, delega autonomia às províncias para a administração do ensino primário e secundário. Em 1835, surge a primeira escola normal do país, em Niterói. Por todo o Império, pouco se fez pela educação brasileira e muitos reclamavam de sua qualidade ruim. Segundo os pareceres de Rui Barbosa, “A reforma sugerida por ele, inspirava-se nos sistemas educacionais da Inglaterra, da Alemanha e dos Estados Unidos”. Porém, tal reforma não aconteceu como previsto, gerando estagnação e um atraso educacional, em relação aos países que serviram de inspiração para o modelo educacional proposto. Com a Proclamação da República (1889), houve a tentativa de empreender diversas reformas que pudessem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira não sofreu um processo de evolução que pudesse ser considerado marcante ou significativo em termos de modelo, nesse período. Acredito que as inovações se restringiram mais às tentativas de estruturação do ensino, aos decretos e leis sobre a administração do ensino e ao surgimento de novas escolas. 2.3 Brasil República A República proclamada em 1889 adota o modelo político americano baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar percebe-se influência da filosofia positivista. A década de 1920, marcada pelo confronto de idéias entre correntes divergentes, influenciadas pelos movimentos europeus, culminou com a crise econômica mundial de 1929. A Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada do Brasil no mundo capitalista de produção. A nova realidade brasileira passou a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era preciso investir na educação. Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores da época. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 11 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma nova Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova Constituição, na área da Educação, determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, prevalecendo as reivindicações da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares. Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as propostas eram "comunizantes e subversivas". Depois do golpe militar de 1964 muito educadores passaram a ser perseguidos em função de posicionamentos ideológicos. Muito foram calados para sempre, alguns outros se exilaram, outros se recolheram a vida privada e outros, demitidos, trocaram de função. Segundo Freitas (2002, p.17), o Regime Militar espelhou na educação o caráter antidemocrático de sua proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas; estudantes foram presos, feridos, nos confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores; o Ministro da Justiça declarou que "estudantes tem que estudar" e "não podem fazer baderna". Esta era a prática do Regime. Neste período deu-se a grande expansão das universidades no Brasil. E, para acabar com os "excedentes" (aqueles que tiravam notas suficientes para, mas não conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular classificatório. Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização MOBRAL, que tentava ter em sua didática, o Método Paulo Freire tão a priore, visto como subversivo, o MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil. E entre denúncias de corrupção, foi extinto. É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a Lei 5692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante. Dentro do espírito dos "slogans" propostos pelo governo, como "Brasil grande", "ame-o ou deixe-o", "milagre econômico", etc., planejava-se fazer com que a educação contribuísse, de forma decisiva, para o aumento da produção brasileira. Os militares desenvolveram um método de ensino centrado em formar pessoas não para a vida social, mas para o mercado de trabalho. Influenciados pelos moldes de educação norte-americana, pregavam um sistema educacional tecnicista, excludente e sem nenhuma atenção à educação básica pública. Não visava desenvolver o senso crítico dos educandos e menos ainda um entendimento real do seu quadro social, que são metas básicas da LDB/96. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 12 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as propostas subversivas. Depois do golpe militar de 1964 muito educadores passaram a ser perseguidos em função de posicionamentos ideológicos. No início dos anos 70 foi promulgada a Lei nº 5.692/71, que revogou os artigos da Lei 4024/61 que tratavam da educação básica (pré-escolar, primário, ginásio e colégio), unificando o primário com o ginásio e tornando o 1º grau um curso único - coisa que na prática até hoje nunca se concretizou, devido à natureza e organização dos dois cursos; o ensino primário com uma única professora e o ginásio já apresentando o professor especialista, um para cada matéria, forçando os alunos a um salto enorme de organização da 4ª para a 5ª série. A ditadura militar se desfez por si só. Tamanha era a pressão popular, de vários setores da sociedade, que o processo de abertura política tornou-se inevitável. Mesmo assim, os militares deixaram o governo através de uma eleição indireta, mesmo que concorressem somente dois civis (Paulo Maluf e Tancredo Neves). Deu-se então a participação mais ativa de pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de educação num sentido mais amplo do que as questões pertinentes a escola, a sala de aula, a didática e a dinâmica escolar em si mesma. Com o fim do Regime Militar, a eleição indireta de Tancredo Neves, seu falecimento e a posse de José Sarney, pensou-se que poderíamos novamente discutir questões sobre educação de uma forma democrática e aberta. A discussão sobre as questões educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e assumido um caráter político. Para isso contribuiu a participação mais ativa de pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de educação num sentido mais amplo do que as questões pertinentes à escola, a sala de aula, a didática e a dinâmica escolar em si mesma. Impedidos de atuarem em suas funções, por questões políticas durante o Regime Militar, profissionais da área de sociologia, filosofia, antropologia, história, psicologia, entre outras, passaram a assumir postos na área da educação e a concretizar discursos em nome da educação. Refletindo sobre o período, penso que seria difícil englobar tantos eventos históricos marcantes sem correr o risco de ser reducionista. Então, tentarei ressaltar os aspectos que, pessoalmente, acho marcantes, tais como: • A República proclamada adota o modelo político americano baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar percebe-se influência da filosofia positivista. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 13 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA • A Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada do Brasil no mundo capitalista de produção. A nova realidade brasileira passou a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era preciso investir na educação. • Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores da época. • 1937- Getúlio Vargas - institui o Estado Novo/ Fim em 1945. • O fim do Estado Novo resultou na adoção de uma nova Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova Constituição, na área da Educação, determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961. • Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as propostas subversivas. • Lei 5692/71- A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante; planejava-se fazer com que a educação contribuísse, de forma decisiva, para o aumento da produção brasileira. • 1985 - A ditadura militar se desfez por si só. Tamanha era a pressão popular, de vários setores da sociedade, que o processo de abertura política tornou-se inevitável. Deu-se então a participação mais ativa de pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de educação num sentido mais amplo do que as questões pertinentes à escola. No século XX, muitas transformações ocorreram no cenário da educação como a formação do Ministério de Educação e Saúde Pública (1930), tendo como ministro Gustavo Capanema e em 1931, o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes. O Golpe de Estado (1937-45) engendrado pelo governo de Getúlio Vargas. Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores da época, revelando a grande preocupação que se tinha na época, em desenvolver a educação como direito de todos, através de premissas como: a laicidade, a gratuidade, a obrigatoriedade e a co-educação (Manifesto, 1932 apud XAVIER,2002, p. 95). Tais premissas consubstanciaram as reformas e leis educacionais, encontrando efetivamente ressonância na segunda metade do século XX, onde temos três leis educacionais sancionadas: Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 14 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA • LDB 4.024/61: na qual prevalecia as reivindicações da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de ensino, no confronto com os que defendiam o monopólio estatal para a oferta da educação aos brasileiros; • LDB 5692/71: a característica mais marcante desta Lei, além de ter sido promulgada em plena ditadura militar, era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante. Dentro do espírito dos "slogans" propostos pelo governo militar, como "Brasil grande", "ame-o ou deixe-o", "milagre econômico", etc., planejava-se fazer com que a educação contribuísse, de forma decisiva, para o aumento da produção brasileira. Esta lei também reorganizou a educação básica em Pré-escolar, 1º Grau e 2º Grau; • LDB 9394/96: trouxe melhorias ao sistema educacional, principalmente no que se refere às políticas de inclusão social e projetos inéditos como os Parâmetros Curriculares (PCN’s). O Projeto de Lei da nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado Octávio Elisio em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge Hage envia a Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que acaba por ser aprovado em dezembro de 1996, oito anos após o encaminhamento do Deputado Octávio Elisio. A LDB 9394/96 trouxe melhorias ao sistema educacional, principalmente no que se refere às políticas de inclusão social e projetos inéditos como os Parâmetros Curriculares (PCN’s). Com a atual LDB, se dá um processo de participação e representatividade no congresso de grupos reivindicatórios, através da discussão das necessidades educacionais brasileiras, resultantes de pesquisas censitárias e avaliações, que trouxeram a ”realidade” das escolas brasileiras, mesmo que parcialmente, para o debate. O momento atual é de grande discussão acerca das demais iniciativas do governo para melhorar a instrução pública brasileira, já que ainda não foram suficientes para se ter um observável rendimento na realidade vivida por toda a população nacional, no que se refere a real elevação da qualidade de ensino e ao desenvolvimento dos objetivos educacionais traçados por essas diretrizes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Fazendo uma análise do período, penso que a organização escolar, desde a República, recebe influência de modelos externos, como a filosofia positivista, no período citado. Também as reformas no sistema ocorrem de cima para baixo, isto é, é o governo Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 15 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA sancionando leis e decretos a serviço das elites dominantes. No movimento escolanovista, tivemos a influência de Dewey, entre outros, relacionados ao modelo norte americano de educação. Mesmo o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, foi redigido por educadores que compunham os "intelectuais da educação", os quais, em sua maioria, realizaram seus estudos no exterior, como é o caso de Anísio Teixeira, que estudou na universidade de Colúmbia, nos EUA, e foi aluno de Dewey. Também foi marcante a influência americana tanto no Golpe Militar de 64, quanto no modelo de educação proposto pelo governo militar e que resultou na LDB 5692/71, em plena ditadura militar. Fica claro que com a abertura política (1985) ocorrida com o fim da ditadura militar, é que o Brasil começa a voltar-se para as questões internas relativas aos processos e sistemas pedagógicos. Estudos como os Círculos de Cultura de Paulo Freire, voltam a ser estudados, apesar se referirem, em boa parte, a 1962-64, quando Freire atuava alfabetizando e politizando. Cotejando a atuação do docente hoje com a atuação em plena ditadura militar, percebo o professor atual mais politizado e sem medo de questionar certos aspectos do sistema. À medida que a censura recuou e se deu a liberação das idéias pedagógicas, através do incentivo à pesquisa, assim como do desenvolvimento de um fenômeno que chamo de “olhar para dentro” em relação à realidade dos estudantes brasileiros, distante de determinados modelos importados, utilizados pelo governo militar, se deu um processo dinâmico, alimentado por novos projetos e iniciativas políticas. Ainda a educação brasileira caminha com dificuldades, entre os problemas encontrados pelos professores como baixos salários, falta de incentivo, exploração, sistema pedagógico ineficiente e burocrático, sobrecarga de trabalho, sucateamento de unidades escolares públicas, violência nas escolas, educandos desmotivados e uma sofrível meta de qualidade na educação. Apesar desses problemas, vejo que muitos professores trabalham arduamente por uma educação de qualidade em todos os sentidos, com foco na formação de indivíduos capazes de atuar criticamente na sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 16 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA ANDERY, Maria Amália et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 6.ed. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, São Paulo: EDUC, 1996. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3.ed.São Paulo: Moderna,2006. ______ . História da educação e da pedagogia – Geral e Brasil. 3.ed.São Paulo: Moderna,2006. BRANDÃO, Carlos Rodrigues O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2007. BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei 4.024/61 publicada em 20 de dezembro de 1.961 _______, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei 5.692/71 publicada em 11 de agosto de 1.971 _______, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei 9394/96 publicada em 20 de dezembro de 1.996 COSTA, Paulo Moreira da. Administração e globalização. São Paulo: Plêiade, 1999. FREITAS, Marcos Cezar. Memória intelectual da educação brasileira. 2.ed. Bragança Paulista: EDUSF, 2002. QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Ligia de O.; OLIVEIRA, Márcia G. de. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2.ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. SÃO PAULO, Secretaria de Educação, Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Diretrizes e Bases da Educação Nacional: legislação para sua implantação. São Paulo: SE/CEMP, 1998. XAVIER, Libânia Nacif. Para além do campo educacional: um estudo sobre o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932). Bragança Paulista: EDUSF, 2002. Behaviorismo Behaviorismo O behaviorismo (behavior = comportamento) surgiu como uma reação à psicologia introspectiva (mentalista) que estava em alta no início do século XX. Seu fundador foi o norteamericano John B. Watson (1878 - 1958) que em 1913 escreveu o artigo O comportamentismo, que ficou conhecido como Manifesto behaviorista. Opcionalmente, leia o artigo. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 17 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA O Objetivo principal do behaviorismo de Watson era estabelecer as leis que regem o comportamento, relacionando as respostas com os estímulos que as precedem. Você pode perceber que ele se preocupava com o que podia ser observado no comportamento. Watson propôs que o termo consciência deveria ser abandonado por todo e qualquer estudioso do comportamento. Apresentaremos algumas das idéias formuladas por Watson com o objetivo de constituir sua teoria behaviorista (segundo Schultz e Schultz, 2005, p.228): Watson sofreu a influência da tradição filosófica objetivista e mecanicista que tem entre seus expoentes o filósofo Descartes. As explicações de cunho mecanicista sobre o funcionamento do corpo humano constituíram uma das primeiras iniciativas rumo a uma ciência objetiva, diferente da que era desenvolvida na época. De Auguste Comte (1798 – 1857), o fundador do positivismo, Watson incorporou a compreensão do "movimento com ênfase no conhecimento positivo", baseado em fatos. O conhecimento daí resultante "constituiria uma verdade inquestionável. De acordo com Comte, o único conhecimento válido é o de natureza social e observável de forma objetiva. Esses critérios eliminavam a introspecção, já que ela depende da consciência individual particular e não é passível de estudo objetivo" (p.228). Psicologia Animal Watson era especialista em psicologia animal e foi influenciado pelos estudos sobre o comportamento dos animais no período que abrangeu os 10 primeiros anos do século XX. Esses estudos eram decorrentes da teoria evolucionista, que tinha por objetivo comprovar a presença da mente nos organismos inferiores e a relação entre a mente dos animais e a dos seres humanos. Um dos estudiosos do comportamento animal foi Edward L. Thorndike (1879 – 1949). Ele acreditava que a ênfase do trabalho dos psicólogos deveria ser o estudo do comportamento manifesto. Estudava a conexão entre a experiência vivida pelos sujeitos e a resposta dada por eles: o conexionismo. Ivan Petrovitch Pavlov (1849 – 1936) foi outro pesquisador do comportamento animal que influenciou o pensamento de Watson, principalmente fornecendo uma metodologia de trabalho na busca pelo controle e modificação do comportamento. Pavlov teve reconhecimento sobre suas pesquisas sobre o reflexo condicionado. Para entender o comportamento reflexo, pense em um cão ou em um gato que é alimentado cotidianamente por uma pessoa. Pense no momento em que ele recebe um pedaço de carne. Provavelmente ele salivará. Isso ocorre de forma involuntária. Condicionamento Trabalhamos o comportamento reflexo. Agora, abordaremos o condicionamento reflexo, por meio de um experimento de condicionamento da resposta de salivação em um cão, realizado por Pavlov. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 18 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Um dos conceitos importantes para o entendimento do experimento é o de estímulo. O que vem a ser um estímulo? Algo ou alguma coisa que provoca uma resposta. Outro conceito importante é o estímulo incondicionado. O que vem a ser o estímulo incondicionado? É um estímulo que gera uma resposta, independentemente de qualquer aprendizado. O que seria então um estímulo condicionado? É aquele que por si só não gera uma resposta, mas pode vir a gerar se for associado a um outro estímulo, por meio do condicionamento. Experimento de Pavlov: 1º) Ele apresentou a um cão um estímulo sonoro, neutro para a salivação (por exemplo, uma campainha ou cigarra). 2º) Uma pequena fração de tempo após (um segundo) ele apresentou o estímulo incondicionado carne. 3º) Apresentou os dois estímulos sucessivas vezes, produzindo uma associação entre os dois. “Após certo número de pareamentos do estímulo sonoro e do alimento, o animal passava a salivar com a simples emissão do som. Nesse caso, formava-se uma associação ou uma ligação entre o som e o alimento, e o animal era condicionado a responder mediante a apresentação do estímulo condicionado. Esse condicionamento ou aprendizagem não ocorre, a menos que o som seja seguido de apresentação de comida um número de vezes suficiente" (Schultz e Schultz, 2005, p. 245). Reflexo condicionado Agora pense no caso dos seres humanos. Podemos provocar o mesmo condicionamento com algum tipo de comida? Sim, mas não podemos esquecer que determinado alimento pode fazer com que uma pessoa salive e outra não. Por quê? Vamos tomar como exemplo o chocolate. Uma pessoa pode gostar de chocolate e outra não. Então, o que é um estímulo para uma pode não ser para a outra. Para aqueles que gostam, a visão do chocolate somente produziu salivação após a associação entre o sabor e a visão. Preste atenção no seu comportamento. Você está ou não salivando agora? Então você salivou mesmo sem querer? Lembrou do chocolate ou de alguma outra coisa de que gosta? Psicologia funcional Uma terceira influência que Watson sofreu foi da psicologia funcional. A psicologia funcional tinha interesse na pesquisa das funções mentais. Os psicólogos funcionalistas focavam seus estudos no processo de adaptação do homem ao meio ambiente no qual estava inserido. Um exemplo é o de James Cattel (1860-1944) que não é o fundador do funcionalismo, mas utilizou seus princípios e elaborou testes mentais, aplicando-os em grandes amostras, Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 19 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA buscando dar um caráter científico à Psicologia. Ele também era contra a introspecção como metodologia de estudo. Cattel e outros funcionalistas desejavam a objetividade na análise dos comportamentos. Acima apresentamos as influências que culminaram com a construção da teoria do behaviorismo ou comportamentalismo. Com o estudo desses conceitos, você conseguiu elaborar uma crítica ao behaviorismo de Watson? Será que ele tem alguma contribuição para a construção da psicologia como ciência? Vejamos o que os estudos apontam: uma das principais críticas ao behaviorismo de Watson era que ele não estudava a percepção e os componentes sensoriais do comportamento humano; por outro lado, ele contribuiu para tornar mais claros os conceitos básicos e métodos de estudo da psicologia, influenciando, conseqüentemente, o futuro da psicologia como ciência e suas implicações em outras áreas, como a educação. Skinner Burrhus Frederic Skinner (1904–1990) é considerado o principal expoente do behaviorismo ou neo-behaviorismo, como alguns o denominam, tendo sido uma pessoa bastante conhecida em diversos segmentos da sociedade. Skinner sofreu influências de Watson e de Pavlov. Elaborou um projeto com o intuito de controlar o comportamento social, com técnicas que facilitassem a supressão ou a aquisição de comportamentos. Ele criou um mecanismo para que um berço fosse embalado, com o intuito de ajudar no trabalho de criação de bebês. Será que ele realmente acreditava que a máquina substituiria a interação entre a criança e seu cuidador? Um processo mecânico poderia suprir a relação? Pense e tire suas próprias conclusões. Skinner não se preocupava com os sentimentos, com o que acontece na mente humana. Ele acreditava que tudo podia ser controlado a partir do comportamento manifesto e que os materiais obtidos através da observação dos fatos eram a melhor forma de fazer ciência. A base dessa maneira de pensar é o empirismo, doutrina filosófica que refere que a totalidade da aprendizagem humana é decorrente das experiências realizadas pelo homem no contato com o meio (Japiassú e Marcondes, 1996). Condicionamento Operante B. F. Skinner preocupou-se com o chamado comportamento operante. Pavlov tratava do comportamento reflexo ou respondente, que tem como característica ser involuntário. O comportamento operante caracteriza-se por ser um comportamento voluntário. Exemplos: andar, correr, pular, escrever, etc. Ele não é produto de um estímulo que o antecede, mas é seguido de conseqüências. Se a conseqüência for recompensadora ou agradável, aumenta a probabilidade do comportamento se repetir em ocasiões futuras. E esse evento é chamado de reforçamento. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 20 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Exemplos: o aluno recebe um ponto na média quando realiza as tarefas solicitadas; a criança ganha a guloseima que deseja ao fazer escândalo no supermercado; o trabalhador recebe o pagamento após realizar a tarefa; etc. Condicionamento Operante - O Reforço Existem dois tipos de reforço: o positivo e o negativo. O positivo, consiste na apresentação de um estímulo agradável ou recompensador após a ocorrência da resposta. O negativo, consiste em retirar um estímulo aversivo ou desagradável após a ocorrência da resposta. Por exemplo, o comportamento de estudar poderá ser mantido com grande probabilidade de ocorrência se o aluno obtiver boas notas. As boas notas servem como reforço positivo para o comportamento de estudar. Um exemplo de reforço negativo é quando a pessoa está numa siuação desagradável, como uma pedra no sapato. O comportamento de retirar a pedra elimina o estímulo evasivo, e esse comportamento tenderá a se repetir sempre que esse incômodo se apresentar. Mais um exemplo: numa sala de aula, um aluno apresenta um comportamento considerado inadequado pela professora, que o encaminha para a sala de orientação educacional. Como a orientadora estava ocupada em entrevistas com pais, permitiu que o aluno utilizasse o computador. Ele brincou com jogos eletrônicos enquanto aguardava. Seu comportamento inadequado em sala de aula foi reforçado positivamente. Ou seja, ele poderá repetir o comportamento para voltar a brincar no computador. Por outro lado, o comportamento da professora de encaminhar a criança para o SOE foi reforçado negativamente na medida em que eliminou uma situação desagradável para ela. Das próximas vezes em que comportamentos inadequados ocorrerem, é provável que ela encaminhe os alunos para o SOE. Um elogio também pode funcionar como reforço positivo. Procure lembrar situações corriqueiras em que você tenha recebido um elogio. Provavelmente, o comportamento elogiado passou a ocorrer com maior freqüência. Extinção operante Quando queremos aumentar a probabilidade de ocorrência de uma resposta, utilizamos o reforço. Quando queremos eliminar uma resposta, utilizamos o mecanismo de extinção. A extinção de um comportamento ocorre mediante a supressão do reforço. Na medida em que uma resposta não é mais reforçada, ela tende a deixar de ocorrer. Num primeiro momento após a retirada do reforço, pode ocorrer um aumento de freqüência da resposta que se quer eliminar. Esse aumento tende a ser passageiro. Punição Outra forma de eliminar uma resposta é a punição. A punição consiste na apresentação de um estímulo aversivo após a ocorrência de um comportamento que se quer eliminar. Estudos experimentais indicam que a punição não é a melhor forma de extinguir um comportamento. Melhores resultados são obtidos quando reforçamos um comportamento Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 21 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA incompatível com aquele que desejamos extinguir. Por exemplo, ao invés de punir um aluno quando ele se comporta de maneira inadequada, podemos reforçá-lo quando ele se comporta de maneira adequada. Não há garantias de que um comportamento seja extinto permanentemente se apenas utilizarmos a punição. Além disso, há uma tendência do indivíduo de adaptação à punição e seria necessário aumentar a sua intesidade para a obtenção dos mesmos efeitos. Modelagem O reforço pode ser utilizado quando desejamos condicionar um comportamente já existente. A técnica da modelagem permite condicionar comportamentos que ainda não fazem parte do repertório comportamental do indivíduo. A modelagem consiste em reforçar respostas parecidas com a desejada, aumentando gradativamente a exigência quanto à semelhança em relação à resposta que se quer condicionar. Caixa de Skinner Skinner criou um equipamento para realizar experimentos com animais. Antes de ser submetido ao experimento, o animal é privado de alimento ou água. Na caixa há um dispositivo que libera o reforço, na forma de alimento ou água, quando o animal apresenta o comportamento que desejamos. Outro instrumento criado por Skinner é a Máquina de Ensinar. O pressuposto é de que os meios mecânicos auxiliam no processo de aquisição de comportamentos, traduzidos, nesse caso, por respostas corretas sobre o conteúdo desenvolvido pelo professor ou especialista. No início do estudo sobre o behaviorismo você fez uma atividade em uma máquina de ensinar. Essa ferramenta está baseada em outra idéia de Skinner, a instrução programada. A instrução programada é uma forma de ensino na qual o conteúdo é dividido, pelo programador ou especialista, em diferentes etapas de acordo com o que ele acredita ser um grau de complexidade crescente. Sempre que o sujeito atinge o esperado, ele é reforçado com o próprio acerto da atividade ou com a permissão para seguir adiante no exercício que está realizando. Cada nova etapa pressupõe as aprendizagens anteriores e por isso a seqüência deve ser obedecida. APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO: O PAPEL DA MEDIAÇÃO SFORNI, Marta Sueli de Faria Nas últimas décadas o conceito de mediação tornou-se bastante presente no discurso pedagógico em razão da forte influência da abordagem Histórico-Cultural nos cursos de formação de professores. Observa-se, porém, que, muitas vezes, o termo mediação tem sido utilizado de uma maneira restrita, apenas como sinônimo de ajuda do professor aos alunos na realização de atividades escolares. Diante disso, o objetivo do presente texto é analisar o significado que o termo mediação assume na produção de autores da Teoria Histórico-Cultural, Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 22 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA procurando identificar as implicações desse conceito para a organização do ensino. Conclui-se que ao se compreender os conteúdos escolares como mediadores culturais a atenção volta-se não apenas para a relação professor-aluno, mas, sobretudo, para a relação entre professorconhecimento-aluno. Como o desenvolvimento humano ocorre pela apropriação da atividade mental presente nos mediadores culturais, a mediação do professor pode ser promotora de desenvolvimento dos estudantes quando os conceitos científicos – mediadores culturais - estão presentes nessa interação. O homem e os mediadores culturais Muitos animais vivem em bando e interagem entre si, seus filhotes são acompanhados pelos progenitores por um determinado tempo até adquirirem condições de sobreviverem com autonomia. Essa relação, porém, está longe de ser um processo educativo. É por isso e não por acaso que apesar de a interação da criança com seus pares e com os adultos ser um aspecto importante no desenvolvimento ontogenético, não é tratada pela abordagem HistóricoCultural como determinante desse processo. Um dos aspectos que Leontiev destaca ao falar do desenvolvimento humano é que a diferença entre esse desenvolvimento e o dos demais animais está no fato de que na criança ocorre: "o processo de apropriação da experiência acumulada pela humanidade ao longo da sua história social" (LEONTIEV, 1978, p. 319). No texto "O homem e a cultura", Leontiev esclarece que a experiência acumulada pela humanidade não está apenas nos museus, nos livros ou nas escolas; está nos objetos físicos e na linguagem, quer dizer, na cultura material e intelectual presente nos espaços sociais. Os homens, diferentemente dos animais, têm uma atividade criadora e produtiva – o trabalho. Ao criarem os objetos que satisfazem às necessidades humanas, eles criam também o conhecimento sobre essa criação, assim, ao mesmo tempo em que produzem bens materiais, desenvolvem os saberes sobre o mundo circundante, ou seja, desenvolvem ciência, tecnologia e arte. Como afirma Leontiev (1978, p. 265), as aptidões, os conhecimentos e a técnica desenvolvidos na produção da vida material cristalizam-se nos produtos materiais, intelectuais e ideais. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 23 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA [ ... ] no decurso da actividade dos homens, as suas aptidões, os seus conhecimentos e o seu saber-fazer cristalizaram-se de certa maneira nos seus produtos (materiais, intelectuais, ideais). Razão por que todo o progresso no aperfeiçoamento, por exemplo, dos instrumentos de trabalho pode considera-se, deste ponto de vista, como marcando um novo grau de desenvolvimento histórico nas aptidões motoras do homem; também a complexificacao da fonética das línguas encarna os progressos realizados na articulação dos sons e do ouvido verbal, os progressos das obras de arte, um desenvolvimento estético, etc. Por isso, mesmo ao findar a existência de uma geração aquilo que foi produzido por ela continua passando o "testemunho" do desenvolvimento da humanidade (LEONTIEV, 1978, p. 267). As novas gerações começam sua vida "nos ombros das anteriores", interagindo com o mundo a partir das objetivações já produzidas. O homem não se relaciona diretamente com o mundo, sua relação é mediada pelo conhecimento objetivado pelas gerações precedentes, pelos instrumentos físicos ou simbólicos que se interpõem entre o homem e os objetos e fenômenos. Do mesmo modo que os instrumentos físicos potencializam a ação material dos homens, os instrumentos simbólicos (signos) potencializam sua ação mental. Ferramentas psicológicas são formações artificiais. Por sua natureza elas são sociais, não orgânicas ou individuais. Elas são dirigidas para o domínio ou controle dos processos comportamentais – dos outros e de si próprio - como os meios técnicos são dirigidos para o controle dos processos da natureza. Podem servir como exemplo de ferramentas psicológicas e seus complexos sistemas: linguagem; vários sistemas de contagem; técnicas mnemônicas; sistemas de símbolos algébricos; obras de arte; escrita, esquemas, diagramas, mapas, e desenhos mecânicos; todo tipo de sinais convencionais; etc. (VYGOTSKY, 1981, p. 137) No caso das ações mentais, mediante o processo de internalização, os conhecimentos adquiridos transformam-se em instrumentos internos de mediação. Ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo passa a utilizar signos que substituem os objetos do mundo real. São desenvolvidos sistemas simbólicos que organizam tais signos em estruturas complexas e articuladas. As ferramentas psicológicas estão na gênese e na estrutura das atividades mentais e, portanto, no desenvolvimento de conteúdos e formas de pensamento. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 24 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA O conhecimento proveniente da atividade humana passa a ser sistematizado em vários campos do saber. Como afirma Leontiev (1978, p. 273): "Quanto mais progride a humanidade, mais rica é a prática sócio-histórica acumulada por ela [...]”. Conforme foram dominando a natureza, os homens foram produzindo conhecimentos geográficos, químicos, físicos, biológicos, sociais, artísticos e formas de registro desses conhecimentos. Apesar de a ação com instrumentos e signos propiciar mediações diferentes entre sujeito e objeto, é um sistema imbricado, já que a criação, utilização e transmissão de instrumentos são carregadas de signos e somente se efetivam por meio deles. Quanto maior a complexidade da mediação com instrumentos mais complexos serão os sistemas de mediação simbólica (SFORNI, 2004, p. 35). Para melhor explicar a relação entre a criação de instrumentos físicos e a produção de signos tomemos como exemplo a criação de um instrumento que teve grande impacto na produção de conhecimento – o microscópio. A necessidade de intervir em fenômenos desencadeados por um "pequeno mundo" que escapava da ação humana há muito mobiliza a humanidade. A produção de lentes que ampliam a visão humana representava já um alto nível de conhecimento dos efeitos físicos e das propriedades dos materiais. Mediante o uso desse instrumento, um outro universo, inatingível a olho nu, tornou-se acessível ao homem que, aos poucos, foi dando significado ao que via e ao que experimentava. Novas unidades de medida foram sistematizadas para representar novas grandezas físicas, exigindo uma notação científica diferenciada; objetos antes desconhecidos foram denominados em sua aparência, função e relações. Desse modo, conhecimentos são produzidos e "codificados" em palavras, fórmulas, equações, dentre outras formas de registro. Holzman (2002, p. 101) considera que Vygotsky não usou o conceito de ferramenta psicológica simplesmente como uma analogia útil, mas como um elemento que evidencia a natureza histórica e social do psiquismo humano, ou seja, o conceito de ferramenta ou instrumento psicológico põe “[...] a nu o determinismo sócio-histórico do desenvolvimento psicológico". Assim, a forma e o conteúdo do pensamento possível ao homem não está em cada sujeito particular, mas nos instrumentos produzidos e disponíveis ao homem ao longo da história. O sistema de signos, como uma linguagem no plano externo, torna possível a transição do interpsicológico para o intrapsicológico, pois constitui-se em forma de pensamento para quem dele se apropria, processo este que reitera o caráter social do desenvolvimento humano. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 25 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Na apropriação dos mediadores culturais está a essência do processo de desenvolvimento psíquico. Isto porque, as atividades mentais e formas de pensamento se objetivam em forma de conhecimentos sistematizados – “linguagem; vários sistemas de contagem; técnicas mnemônicas; sistemas de símbolos algébricos; obras de arte; escrita, esquemas, diagramas, mapas, e desenhos mecânicos; todo tipo de sinais convencionais” (VYGOTSKY, 1981, p. 137) –, ao se apropriar desses conhecimentos cada ser humano incorpora o desenvolvimento intelectual e ideal neles presentes. Assim, dizer que o desenvolvimento de cada sujeito ocorre à medida que ele se apropria da experiência acumulada pela humanidade significa afirmar que o essencial nesse processo é a apropriação dos produtos materiais e intelectuais. Se, no contexto escolar, esse aspecto não for considerado, corre-se o risco de privilegiar a mediação – que para a Teoria Histórico-Cultural é um meio de se chegar à apropriação dos mediadores culturais – como o fim da atividade educativa. A mediação docente sobre os mediadores culturais Qual o significado de mediação docente na abordagem Histórico-Cultural? Em primeiro lugar é importante destacar que apesar de cada geração deixar seu legado material e simbólico para os novos membros da espécie, esta cultura produzida está fora do sujeito, nos objetos e no conhecimento sistematizado. Para ser apropriada pelo sujeito, Leontiev (1978, p. 320) afirma ser necessário a "[ ... ] reprodução pelo indivíduo de caracteres, faculdades e modos de comportamento humano formados historicamente [ ... ]". O autor, ainda, complementa: "Para se apropriar de um objeto ou fenômeno, há que se efetuar a atividade correspondente à que é concretizada no objeto ou fenômeno considerado" (LEONTIEV, 1978, p. 321). Nesse sentido, quando se afirma que um instrumento físico ou simbólico foi apreendido pelo sujeito, significa que nele já se formaram as ações e operações motoras e mentais necessárias ao uso desse instrumento. Podemos, então, dizer que esse instrumento deixa de ser externo e se transforma em "parte do corpo" do sujeito, mediando sua atividade física ou mental. Leontiev (1978, p. 321) pergunta: "Poderão formar-se estas ações e operações na criança sob a influência do próprio objeto?" Sua resposta é enfática: Não! Isso porque, "[...] objetivamente, as ações e operações são concretizadas, 'dadas' no objeto, mas subjetivamente elas são apenas 'propostas' à criança". É nesse contexto que podemos entender a importância e a finalidade da interação social no processo de desenvolvimento humano. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 26 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são simplesmente 'dadas' aos homens nos fenômenos objectivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas são ai apenas 1 postas'. Para se apropriar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, 'os órgãos da sua individualidade', a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante através doutros homens, isto e, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança 'aprende' a atividade adequada. Pela sua função, este processo e, portanto, um processo de 'educação' (LEONTIEV, 1978, p. 272). As ações e operações requeridas, bem como a formação das faculdades e funções necessárias à sua realização apenas são desenvolvidas na criança porque a relação que ela estabelece com os objetos é mediatizada por outros seres que já se apropriaram desses objetos. Podemos então ampliar o conceito de mediação, incluindo a mediação social, como ação compartilhada entre pessoas com os elementos mediadores. A criança entra em comunicação prática e verbal com outros sujeitos que já dominam as ações e operações com os mediadores culturais. Leontiev (1978) ilustra esse processo utilizando o exemplo da apropriação de um instrumento físico pela criança – a colher. Considerando-se uma criança que não teve nenhum contato com esse objeto, é possível imaginar como seria sua reação se fosse colocada diante de uma colher. Possivelmente ela a manipularia, a usaria para bater em outro objeto, poderia levá-la à boca; enfim, poderia realizar várias ações, sem utilizá-la do modo elaborado socialmente. Apesar de as características desse objeto – tamanho, forma e espessura – serem adequadas às operações necessárias ao alcance da sua finalidade, como afirma Leontiev, as ações e operações estão apenas postas no objeto que, por si, não se dá a conhecer ao sujeito. Mas a criança não está sozinha no mundo com os objetos e fenômenos, e por isso, possivelmente, mesmo antes de ter condições de utilizar a colher para se alimentar, já interagiu com outros sujeitos que dela fazem uso. A criança não precisará "construir” um significado para esse objeto, pois esse já foi construído historicamente, está presente nas ações humanas, na cultura da qual ela faz parte. Nesse exemplo, configura-se uma mediação do tipo não intencional, não dirigida. Há uma comunicação prática entre a criança e as demais pessoas. Todavia, a mediação nem sempre é espontânea, e justamente por não ser, em poucos anos, a criança incorpora a experiência de várias gerações que a precederam. Seguindo o exemplo citado, a mãe ou outra pessoa que alimenta a criança fazendo uso da colher, coloca-a na mão da criança e intervém dirigindo seus movimentos que, inicialmente, são aleatórios; Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 27 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA acompanhando essa ação, o objeto é nomeado, explica-se à criança como usá-lo, tudo isto muito antes de ela entender toda a linguagem verbal presente na situação. Nessa ação compartilhada – prática e verbal – a criança se apropria dos modos humanos de ação com esse objeto, ou seja, ela aprende a usar a colher como objeto humano, como instrumento que se interpõe entre ela e o alimento. Aos poucos, o uso desse objeto passa a ser tão "natural" à criança que lhe parece um prolongamento das mãos, como se fosse parte do seu corpo. Poderia a criança chegar a esse conhecimento sem a intervenção do adulto, ou ainda se a intervenção do adulto não lhe fosse suficientemente acessível? "Pode-se esperar-se um resultado, mas após quanto tempo, e qual será o seu atraso em relação a uma criança mais feliz a quem 'inteligentemente se guiou a mão'!..." (LEONTIEV, 1978, p. 322) "Guiar a mão", eis aí a função mediadora do adulto em interação com a criança. A relação entre pessoas estava dirigida para o ensino do uso de um instrumento que medeia a ação das pessoas no ato de se alimentar, ou seja, tratava-se de uma mediação sobre um elemento mediador das ações humanas. Leontiev destaca que esse exemplo evidencia a formação das operações motoras, e esse mesmo processo ocorre com a formação das ações mentais, como a leitura, a escrita, o cálculo, enfim, com a apropriação de todos os conceitos científicos. Na escola a criança é inserida em novas formas de interação e prática social. No processo de ensino, a interação entre pessoas assume uma característica bem definida: a intencionalidade. A interação tem uma finalidade específica e isso é evidente para todas as pessoas envolvidas nessa atividade. Leontiev (1978, p. 302) exemplifica: O professor pergunta: quantas janelas há nesta sala? E ele próprio olha para as janelas. Devemos, no entanto responder-lhe: há três janelas. Devemos dizer-lhe que vemos uma floresta num desenho, se bem que o professor e toda a classe vejam bem que é uma floresta. 'E que o professor não faz estas perguntas apenas para falar', diz um dos alunos [...]. A interação e o diálogo entre professor e aluno e entre alunos na sala de aula é diferenciada, pois o motivo dessa atividade é, em primeiro plano, o estudo. Diferentemente da aprendizagem de uma ação motora, na qual a comunicação prática pode ser suficiente para a sua reprodução pela criança, a aprendizagem da leitura, da escrita e do cálculo envolve convenções que não são dadas ao conhecimento somente pela observação do uso que as demais pessoas fazem desses signos. Mesmo estando em um ambiente letrado, o que implica interação constante com letras, palavras, textos, numerais e demais representações gráficas, a comunicação prática com outras pessoas usuárias dessa forma de Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 28 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA linguagem não é suficiente para que a criança se aproprie desses elementos mediadores. Nesse caso, para que a apropriação ocorra, a comunicação verbal e prática devem ser intencionalmente dirigidas para a reprodução das ações adequadas com o objeto em pauta, de modo que sejam apropriadas pela criança como instrumentos simbólicos que permitem a ação mental com o mundo circundante. Com o processo de internalização, as marcas externas – os signos – são transformadas em processos internos de mediação do sujeito com o mundo. Tomando-se como exemplo a aprendizagem da escrita, podemos afirmar que inserir os estudantes em ambientes alfabetizadores para que eles "construam" o seu próprio conhecimento, sem a intervenção direta e intencional do professor, assemelha-se a oferecer a colher à criança sem a "mão" que intervem em suas ações. Ela poderá alcançar algum resultado, no entanto quanto tempo levará para se apropriar da escrita padrão que circula socialmente? Qual será o atraso dessa criança em relação a outra "mais feliz" a quem "inteligentemente se guiaram" suas ações de leitura e escrita? Não é preciso e muito esforço para reconhecermos o grande atraso gerado na aprendizagem da linguagem escrita quando se compreendeu que essa aprendizagem deveria ser um processo de construção da própria criança em contato com o objeto da aprendizagem; quando se deixou de orientá-la; quando se considerou que ensinar era algo contrário à apropriação ativa do conhecimento; quando se considerou que a mediação em sala de aula era sinônimo de ajuda aleatória durante a produção de textos pela criança. E o que significa "guiar" o estudante, neste caso específico? Assim, como na aprendizagem de uma atividade física, guia-se a ação motora, na aprendizagem de uma atividade mental o foco da ação do mediador são as funções mentais envolvidas no processo de apropriação de um determinado conhecimento. É necessário, inicialmente, dirigir a percepção dos alunos para a diferença entre a escrita alfabética e outras formas gráficas e orientação e alinhamento da escrita; dirigir a atenção dos alunos para os diferentes sinais gráficos e para a relação grafema-fonema; promover o raciocínio que permita compreender situações de regularidades e irregularidades ortográficas; promover a imaginação de diferentes situações e interlocutores para a produção escrita dentre tantas outras ações. Enfim, deve-se "inteligentemente" guiar a percepção, a atenção, a memória, a imaginação e o raciocínio do aluno que interage com a linguagem escrita. Isso exige a organização do ensino de modo a tornar acessível à criança o sistema que as gerações precedentes já produziram para representar a fala, conhecimento que precisa se tornar objeto da ação dos estudantes. Os saberes sobre a escrita não podem ser construídos ou descobertos pelo aluno, trata-se da apropriação de um conhecimento já elaborado socialmente. Isso não significa, porém, um papel passivo do aluno; pelo contrário, a atividade mental do estudante é condição para essa aprendizagem, pois na e pela apropriação dos conteúdos da linguagem escrita, as funções psíquicas superiores são mobilizadas e, por isso, desenvolvidas. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 29 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Referindo-se à aprendizagem de leitura, Daniels (2003, p, 49) destaca: "Uma atividade social de leitura é criada com o objetivo de transferir o controle da atividade do adulto para a criança". Ou seja, ensinar implica “transferir” aos estudantes os mediadores culturais que o professor já possui e que regulam sua atividade. Dessa forma, podemos falar que no contexto escolar há uma dupla mediação, uma que se refere à relação entre professor e estudantes, outra vinculada à relação entre os estudantes e o conteúdo escolar. Do ponto de vista do desenvolvimento psíquico, a primeira somente se realiza quando a ação docente envolve a disponibilização dos conteúdos escolares como elementos mediadores da ação dos estudantes, isto é, de modo que eles sejam capazes de realizar conscientemente as ações mentais objetivadas nos conhecimentos historicamente produzidos. Se a compreensão de mediação permanece vinculada apenas à apoio ou ajuda do professor sem ser explicitada a direção dessa ajuda e qual o objeto central dessa interação, pode-se considerar que quando o aluno consulta o professor acerca da grafia de uma determinada palavra e ele o orienta a registrá-la "do seu jeito" ou, ainda, quando o professor escreve a palavra de forma correta para que aluno apenas a copie, podemos afirmar que há interação professor-aluno, todavia sem o elemento fundamental presente no conceito de mediação da abordagem Histórico-Cultural: o conhecimento como mediador da atividade psíquica compartilhado na comunicação prática e verbal entre as pessoas. Para Daniels (2003, p. 32) as diferenças na interpretação de alguns conceitos da escola de Vygotsky deriva de "[ ... ] diferenças ideológicas entre o Ocidente e Oriente". Na Rússia, a tentativa de desenvolver o trabalho de Vygotsky "puseram em primeiro plano a análise da transmissão social em cenários de atividade", isso podemos constatar, principalmente, nas obras de Davydov (1982, 1988) e Galperin (1987), autores soviéticos que buscaram nessa Teoria suporte teórico para a organização do ensino. Ao analisar essa situação, Davydov (apud DANIELS, 2003, p. 32) esclarece que inversamente ao que ocorreu na Rússia “[...] a ênfase na interpretação e na interação interpessoais como um cenário para a facilitação de processos mediacionais retirou a invectiva instrucional de muitas pedagogias ocidentais ‘vygotskianas’”. Nesse sentido, é em defesa da instrução voltada para a socialização da ciência, das artes e de toda forma de objetivação do conhecimento humano é que reiteramos a necessidade de se compreender a mediação docente para além de relação interpessoal. Ao se reconhecer que a mediação não se restringe à presença corpórea do professor junto ao estudante, que não se trata de ajuda aleatória ou de relações democráticas em sala de aula, e que o fundamental dessa relação entre pessoas é a ação sobre e com objetos específicos – os Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 30 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA elementos mediadores, o foco da atenção volta-se para o conteúdo a ser ensinado e o modo de torná-lo próprio ao aluno. Isso implica reconhecer que a mediação docente começa muito antes da aula propriamente dita. Seu início ocorre já na organização da atividade de ensino, quando se planejam situações de comunicação prática e verbal entre professor e estudantes, entre estudantes e estudantes em torno das ações com o objeto da aprendizagem. Podemos, ainda, reconhecer que a afirmação do papel mediador do professor no processo de aprendizagem do estudante não é uma afirmação política de valorização do professor, mas basicamente de valorização do conhecimento sistematizado: [ ... ] esse processo deve 'sempre' ocorrer sem o que a transmissão dos resultados do desenvolvimento sócio-histórico da humanidade nas gerações seguintes seria impossível, e impossível, conseqüentemente, a continuidade do progresso histórico (LEONTIEV, 1978, p. 272). A valorização do conhecimento sistematizado estende-se, por decorrência, à valorização do professor como aquele que domina o saber e os meios de torná-lo acessível ao estudante. Ao evidenciar o domínio dos conhecimentos na atividade de ensino, ou seja, no efetivo exercício desse tipo de mediação é que se justifica a valorização profissional do professor. Construtivismo e Educação Quando começou a falar em construtivismo pensava-se que era apenas mais uma teoria de educação que estavam inventando, com o passar dos anos foi ficando claro a proposta do construtivismo como uma nova forma de pensar e re-estrutura a educação. A partir deste momento começou a pensar a criança de outra forma, não mais como um papel, onde podem escrever um monte de informação, sem que este questione o que esta recebendo, mesmo porque nossas crianças de hoje não aceitam mais nada que venha sob imposição. Os meios de comunicação e a própria sociedade moderna contribui para esta mudança, bom ou ruim não se sabe, mas ajudou. A qualidade do ensino de uma instituição não é garantida pela adoção de uma determinada teoria pedagógica. Podem existir escolas que em seu discurso demonstrem estar afinadas com as mais modernas propostas pedagógicas e que, na prática, deixem a desejar na formação de seus alunos. Ao mesmo tempo, estabelecimentos tradicionais, que utilizam uma metodologia mais conservadora, podem ter êxito em seus objetivos. Entre as teorias de aprendizagem, o construtivismo é a que goza de maior aceitação no momento. Pode-se dizer até que nove entre dez escolas se apresentam como construtivistas. Baseado em estudos do suíço Jean Piaget sobre o desenvolvimento do processo de aprendizagem das crianças, o construtivismo proposto pela psicóloga Argentina Emilia Ferreiro. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 31 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Neste trabalho será descrito o que se pensa sobre Construtivismo e Educação sendo mostrado a posição de alguns estudiosos sobre o assunto, de modo geral. Construtivismo encontra as suas bases nas pesquisas de Jean Piaget sobre a construção do conhecimento (Epistemologia genética), afirmando que este é o resultado da construção do próprio indivíduo. Essas conclusões são derivadas das suas pesquisas sobre "a origem e evolução da inteligência" que também se constrói na interação do sujeito com o mundo, considerando os fatores biológicos (maturação do sistema nervoso), experiências físicas, a troca social, e os processos de equilíbrio e desequilíbrio nessa construção. Nesse processo, o indivíduo é o motor ativo e coordenador do seu próprio desenvolvimento. Quando se fala em construtivismo dentro da educação, muitas pessoas pensam que é uma teoria educacional, no entanto, nada mais é que uma teoria sobre o conhecimento, este assunto é bem visto por uns, mal vistos por outros, e ainda existem aqueles que não sabem o que isto significa. Fazendo uma análise sobre os anos que se passa dentro das escolas, talvez não se tenha boa recordação do passado, tanto quanto aos conteúdos estudados, quanto a nossa formação como indivíduos realizados intelectualmente. Continuando análise, pensa-se agora no ensino que as escolas estão fornecendo atualmente. Que tipo de cidadão a escola visa formar?As escolas realmente tem tido esta preocupação com o tipo de cidadão que pretendem formar ou apenas preocupam-se em manter o sistema já pré-estabelecido? São estas e outras perguntas que nos deixam cada vez mais intrigados sobre o nosso futuro, futuro destas crianças que poderão tornar-se até mesmo governantes de nossa cidade, nosso estado ou país. Será que essas crianças estarão preparadas psicologicamente para encararem o futuro? Será que conseguirão introduzir em suas vidas os conteúdos programados que as escolas introduziram em seus anos escolares? Ou os mesmos não servirão para nada? A maioria dos educadores visa formar indivíduos críticos, autônomos, confiantes de si mesmos, etc. Porém, na prática escolar o que proporcionam para desenvolverem estas habilidades em seus alunos? O Construtivismo (vale a pena lembrar que não é um método), de certa forma "surge" como uma forma de re-estruturar a educação, baseado na teoria de Jean Piaget, acredita-se que o conhecimento do indivíduo é construído por si mesmo e não transmitido por alguém. Trata-se principalmente, de desenvolver a mente, pois isso contribuirá para que aprenda com menos dificuldade. Além disso, um bom desenvolvimento intelectual, contribui para que compreenda melhor o mundo em que vive e se torne mais livre. Compreendendo essa situação e sabendo qual seu papel no mundo, o indivíduo poderá fazer suas próprias escolhas. A educação nos permite contribuir para o desenvolvimento da mente dos indivíduos, mas para isso, precisamos saber como se produz esse conhecimento, e suas leis, e contribuir para estimulá-lo colocando as pessoas em situações que o favoreçam. É importante que estejamos cientes que a inteligência não se desenvolve através de fórmulas ou técnicas transmitidas, a inteligência somente é desenvolvida exercitando-a e não ensinando a ser inteligente. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 32 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Um dos fatores que dificultam o progresso de muitos indivíduos na escola é o fato de não entenderem qual é a natureza do conhecimento e o que estão aprendendo na escola. De certa forma, este fato contribui para a indisciplina que cresce gradualmente dentro das escolas, sabemos que a criança tem muito a oferecer, sabem sobre os mais diversos assuntos, entretanto, o planejamento escolar já foi programado e seus conhecimentos talvez não poderão ser expressados em determinados momentos. A aprendizagem deve começar pelos acontecimentos em que os alunos estão envolvidos (suas "crenças" prévias) e cujo significado procuram construir. Para se poder ensinar bem é necessário conhecer os modelos mentais que os alunos utilizam na compreensão do mundo que os rodeia, e os pressupostos que suportam esses modelos. Aprender é construir o seu próprio significado e não encontrar as "respostas certas" dadas por alguém. Além de Piaget, outros estudiosos importantes para a educação, como o russo Lev Semynovitch Vygostky (1896-1934) e o francês Henry Wallon (1879-1962), também são construtivistas. Temos ao nível de Rio Grande do Sul, o GEEMPA, que é um grupo de pessoas que estudam o construtivismo e divulgam-no com a ajuda da Esther Pillar Grossi e outros colaboradores. Temos também a Argentina Emilia Ferreiro como outra estudiosa do Construtivismo. Outro pensador que influencia a prática das escolas é o psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934), que preconizava que o sujeito não nasce pronto nem é resultado exclusivo da ação do ambiente externo. Para ele, o desenvolvimento do indivíduo era resultado de uma interação permanente entre os processos internos e as influências do mundo exterior. Seu pensamento ficou sendo conhecido como sociointeracionismo. Piaget A aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar que nunca parte do zero. Toda aprendizagem da criança na escola tem uma pré-história. Atividade criadora é uma manifestação exclusiva do ser humano, pois só este tem a capacidade de criar algo novo a partir do que já existe. Através da memória, o homem pode imaginar situações futuras e formar outras imagens. Sendo assim, a ação criadora reside no fato da não-adaptação do ser, isto é, de não estar acomodado e conformado com uma situação, buscando através do imaginário e da fantasia, um equilíbrio, bem como a construção de algo novo. O papel da escola, para este autor é de fazer a criança progredir em sua compreensão do mundo a partir de seu desenvolvimento já construído e tendo como fim etapas posteriores ainda não obtidas. Cabe ao professor interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos a fim de que esse se sinta intrigado a procurar saber cada vez mais, fato esse não acontece ao aluno se não for provocado. É mister salientar que esta interferência pode acontecer entre pares, ou seja, uma criança que já sabe as regras de um jogo ajudar aos colegas que não sabem a entende-las, também, mesmo porque as crianças têm uma linguagem comum, pois se compreendem muito bem. Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 33 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Como confirma Palangana (2001,160) ao escrever: "É nesse ambiente social e historicamente organizado que o sujeito se insere e se constitui enquanto tal". Emilia Ferreiro, também, prega que o aluno precisa construir o próprio conhecimento. O pressuposto básico é que o processo de aprendizagem concretiza-se em situações de interação entre aluno, colegas e educadores, assegurando a construção de significados a partir de relações entre o que eles já conhecem e o que estão aprendendo de novo. Ao contrário do que acontece na escola tradicional, em que o professor ensina e o aluno escuta, o construtivismo pressupõe uma parceria e uma troca de informações entre as duas partes envolvidas. Como mediador, o professor precisa conhecer de perto os alunos para elaborar hipóteses que os ajudem a se desenvolver. Os materiais didáticos são produzidos segundo as necessidades da turma. Como as aulas não se repetem de um ano para o outro, é preciso haver uma colaboração estreita entre os mestres e a coordenação. Sem o investimento em muitas horas de reunião, é difícil ser fiel ao ideal construtivista. A autora Emilia Ferreiro ainda vai mais longe afirmando que temos que alfabetizar para dar ao homem do povo sua palavra, para que ele possa escrevê-la, para ajudá-lo a não destruir seu discurso em troca de um discurso escolar estereotipado. Concorda-se com a mesma, quando diz que a criança deve ser ajudada a escrever, não apenas, necessariamente, de maneira correta, mas que esta ortografia não limite, não destrua, nem mate a língua escrita que ela pode produzir através de sua construção própria e livre de estereótipos escolares. E ainda tivemos a colaboração de Henri Wallon para ele o fator importante na compreensão do desenvolvimento é entender os processos interativos existentes na relação do homem com seu meio físico e social. O homem e o meio estão vinculados como processos contínuos e interdependentes, e o elemento que estabelece este vínculo é a emoção. Através da emoção, a criança adquire seqüências de ações diferenciadas e instrumentos fundamental para distinguir, classificar e se sobrepor à realidade, num lance de conhecimentos dela própria, dos outros sociais e dos objetos de seu mundo. Segundo o autor é baseada nas emoções e interesse que a criança construirá melhor seu conhecimento e o tipo de relação que terá com o meio social. Portanto, conclui-se que o professor só poderá ter seus alunos em aula, para aprenderem se seus anseios aí estiverem. Desta forma conforme o construtivismo, provoca-se esta falta, mediante um problema que toque realmente cada aluno. No entanto, o professor não conseguirá ensinar por exposições ou explicações dos conteúdos logicamente já estruturados para depois se propor aplicações destes problemas, ao contrário o professor deve ensinar pela proposição inicial de resolução de problemas, pois eles são os únicos a provocar uma falta para a inteligência. Sendo assim, como o desejo é algo inteiramente pessoal, provavelmente um só problema não atingira todos os alunos de uma sala de aula, portanto as propostas didáticas, só serão efetivadas se contemplarem um espaço de problemas. No momento em que o aluno resolver um problema é que vai organizar os elementos teóricos que entram nesta tarefa e dar-se –á conta de novas necessidades, cabendo Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 34 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA ai ao professor encaminhar o modo de atendê-las, não pela doação de matéria, como tradicionalmente se fala, mas exatamente proporcionando que os alunos construam as originalmente suas soluções. Após analise destes autores observa-se à preocupação que o professor deve ter no momento de planejar o seu trabalho, o qual deverá levar em conta a bagagem cultural e emocional trazida pela criança, pois só assim terá condições de realizar um trabalho baseado no Construtivismo, porque dentro desta proposta o professor é visto como um mediador e não como quem determina previamente o que será trabalhado pelos alunos. Desta forma só com muito conhecimento da realidade em que ir atuar é que o professor pode aplicar esta proposta de trabalho pedagógico. Talvez esteja na hora de pensarmos sobre os indivíduos que realmente desejamos formar, pensar em nossa forma de agir perante estas crianças que conosco estão hoje. O Construtivismo vem ao encontro das nossas necessidades, a única forma de desenvolvermos a autonomia moral e intelectual em nossos alunos é fazendo com que os mesmos se sintam seguros para tomarem decisões em suas vidas (nem sempre serão as mais acertadas), é nesta parte que nós, pais e educadores devem estar bem atentos; as crianças somente serão responsáveis por decisões tomadas por ela mesma, pois, enquanto as decisões forem tomadas por outras pessoas, ela poderá somente obedecer, perdendo desta forma a oportunidade de se tornar responsável, confiante e autônoma. Ao trabalhar-se com o Construtivismo podemos formar sujeitos conscientes de sua função social, moral e intelectual, não meras pessoas que sejam manipuladas e ludibriadas diariamente, sem darem-se por conta do que estão passando, continuão a submeter-se a decisões de pessoas que não as conhecem, as quais o fazem a respeito das decisões sobre como deve ser a educação no país. Portanto, cabe a nós professores, estudar sempre e optar por uma educação onde os nossos alunos possam ter um futuro melhor, utilizando uma proposta de trabalho onde possamos oferecer esta oportunidade a eles desde seu início na vida escolar. Dentro do construtivismo o professor deve ter uma mentalidade aberta, atitude investigativa, desprendimento intelectual, senso crítico, sensibilidade às mudanças do mundo combinado com iniciativa para torná-las significativas aos olhos dos alunos e flexibilidade para aceitar a si mesma em processo de mudança contínua.Ela precisa dar mais de si e precisa estar o tempo todo se renovando, para sustentar uma relação com os alunos que não se baseia na autoridade, mas na qualidade. A professora precisa de uma orientadora pedagógica para servir de interlocutora com quem ela possa refletir sobre sua prática. A vantagem do construtivismo sobre outras linhas de ensino é procurar formar pessoas de espírito inquisitivo, participativo e cooperativo, com mais desembaraço na elaboração do próprio conhecimento.Além disso, o construtivismo cria condições para um contato mais intenso e prazeroso com o universo da leitura e da escrita. Mesmo, muitos reclamando do Av. Gabriel Muller, 1065– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 35 FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA construtivismo por não oferecer à professora instrumentos tão seguros e precisos com respeito ao seu trabalho diário. Porém, em nível de conhecimento o construtivismo pode formar bem melhor o aluno quanto à qualidade do conhecimento, pois desperta no aluno um senso de autonomia e participação que não é comum em outras linhas pedagógicas. Uma das linhas mestras do construtivismo repousa justamente nos cooperação entre seus pares, investindo no desafio pessoal, como motivação para a criança ir sempre avante nas trilhas do conhecimento. Outro fator importante a ser levado em consideração é o construtivismo ser uma teoria do conhecimento baseada numa filosofia materialista-histórica, o que vai de encontro com o atual sistema que mantém a maioria das escolas (públicas) brasileiras, imagina-se existir ai, mais uma dificuldade, para bom emprego desta nova forma de pensar a educação, porque será colocar água dentro de um copo de azeite, "desculpa o pequeno devaneio". Referências: DANIELS, Harry. Vygotsky e a pedagogia. São Paulo: Edições Loyola, 2003. DAVYDOV, V. V. 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