Apoio
Publicações UMA/Worldwatch
Estado do Mundo 1999 a 2003 (Relatório do Worldwatch Institute sobre o Avanço
em Direção a uma Sociedade Sustentável)
Sinais Vitais 2000 e 2001 - Tendências Ambientais que Determinarão nosso Futuro
Lester R. Brown
Revista do World Watch - Edições Novembro/Dezembro 1999
Janeiro/Fevereiro - Março/Abril - Maio/Junho - Julho/Agosto - Setembro/Outubro
e Novembro/Dezembro 2000 e 2001 (Trabalhando para um Futuro Sustentável) e
Janeiro 2002
As publicações do Worldwatch Institute em português
poderão ser adquiridas enviando nome
e endereço completos para:
UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica
E-mail: [email protected] ou
Caixa Postal 7119, CEP 41811-970
Salvador - Bahia - Brasil
Solicite também pela internet, no site:
www.wwiuma.org.br
Relatório do Worldwatch Institute sobre
o Avanço em Direção a uma Sociedade Sustentável
Brian Halweil e Lisa Mastny
Diretores de Projetos
Erik Assadourian
Christopher Flavin
Hilary French
Gary Gardner
Danielle Nierenberg
Sandra Postel
Michael Renner
Radhika Sarin
Janet Sawin
Amy Vickers
Linda Starke, Redatora
Eduardo Athayde, Editor Associado
UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica
UMA Editora
Salvador - Bahia - Brasil
Titulo original: State of the World 2004
Tradução: Henry J. Mallett e Célia Mallet
Revisão: Fátima Maria Ferreira Soares
Editoração Eletrônica: Ricardo Baroud (Alquimia Criações Editoriais)
Patrícia Chastinet
Produção: Creusa M. Porto
Capa: Eduardo Athayde
E82
Estado do Mundo, 2004: estado do consumo e o consumo
sustentável / Worldwatch Institute ; apresentação Enrique
Iglesias ; tradução Henry Mallett e Célia Mallett. - Salvador, BA :
Uma Ed., 2004
326p. ; 23,5cm. : il.
Tradução de: State of the world 2004
Inclui bibliografia
ISBN 85-87616-09-9
1. Desenvolvimento sustentável - Aspectos ambientais. 2. Política
ambiental 3. Consumo (Economia) - Aspectos ambientais. 4. Produtividade Aspectos ambientais. I. Worldwatch Institute.
04-1853
CDD 333.7
CDU 502.33
Copyright © 2004 Worldwatch Institute
Todos os direitos desta edição reservados à UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica
Av. Frederico Pontes, 375
40460-001 - Salvador - BA
Fone/fax: (71) 312-7897 / E-mail: [email protected]
As marcas registradas STATE OF THE WORLD e WORLDWATCH INSTITUTE estão
registradas no U.S. Patent and Trademark Office.
As opiniões expressas são de exclusiva responsabilidade dos autores e não
representam, necessariamente, as do Worldwatch Institute, de seus diretores,
executivos, staff ou de seus financiadores.
Conselho de Administração do Worldwatch Institute
Øysten Dahle
Presidente
Cathy Crain
Akio Morishima
ESTADOS UNIDOS
JAPÃO
NORUEGA
James Dehlsen
Izaak van Melle
Larry Minear
Secretário
ESTADOS UNIDOS
HOLANDA
ESTADOS UNIDOS
Christopher Flavin
Wren Wirth
ESTADOS UNIDOS
ESTADOS UNIDOS
Thomas Crain
Tesoureiro
Lynne Gallagher
James Lee Witt
ESTADOS UNIDOS
ESTADOS UNIDOS
ESTADOS UNIDOS
Geeta B. Aiyer
Satu Hassi
ESTADOS UNIDOS
FINLÂNDIA
Emeritus:
Abderrahman Khene
Adam Albright
John McBride
ESTADOS UNIDOS
ESTADOS UNIDOS
ARGÉLIA
Estado do Mundo 2004
NOME DO CAPÍTULO
Staff do Worldwatch Institute
Erik Assadourian
Pesquisador
Ed Ayres
Diretor Editorial
Redator do Worldwatch
Chris Bright
Pesquisador Sênior
Lori A. Brown
Bibliotecária
Pesquisadora
Steve Conklin
Webmaster
Cyndi Cramer
Associada de
Desenvolvimento
Katherine Dirks
Secretária Executiva da
Presidência
Barbara Fallin
Diretora Financeira e
Administrativa
Susan Finkelpearl
Coordenadora de Mídia
Christopher Flavin
Presidente
6
Hilary French
Diretora do Projeto de
Governança Global
Gary Gardner
Diretor de Pesquisa
Joseph Gravely
Correspondência &
Publicações
Brian Halweil
Pesquisador Sênior
John Holman
Diretor de
Desenvolvimento
Elizabeth Nolan
Vice-Presidente de
Desenvolvimento
Comercial
Kevin Parker
Diretor de Relações com a
Fundação
Tom Prugh
Redator Sênior
Mary Redfern
Associada de
Desenvolvimento
Michael Renner
Pesquisador Sênior
Susanne Martikke
Associada de
Comunicações
Lyle Rosbotham
Diretor de Arte
Lisa Mastny
Pesquisadora Associada
Radhika Sarin
Pesquisadora
Anne Platt Mcginn
Pesquisadora Sênior
Janet Sawin
Pesquisadora Associada
Leanne Mitchell
Diretora de Comunicações
Patrick Settle
Administrador de
Sistemas TI
Danielle Nierenberg
Pesquisadora
Molly O’Meara Sheehan
Pesquisadora Sênior
Estado do Mundo 2004
NOME DO CAPÍTULO
Apresentação
Estado do consumo e o consumo sustentável
O desenvolvimento
sustentável adota
uma perspectiva de
longo prazo do
processo de desenvolvimento econômico e social que
compreende a salvaguarda e o incremento do capital
ambiental e social e a redução da iniqüidade.
Esse conceito ganhou relevância no Relatório da Comissão Brundtland de 1987 e consolidou seu lugar como âncora para as políticas de desenvolvimento durante a Cúpula da
Terra de 1992 no Rio de Janeiro.
Hoje, porém, ainda resta a questão
fundamental: como intensificar a
sustentabilidade do desenvolvimento? Um
dos resultados da Cúpula de Johanesburgo
de 2002 foi colocar o desenvolvimento
sustentável como um objetivo integral entre
as Metas de Desenvolvimento do Milênio
compartilhadas pela comunidade global.
Como enfatiza o Estado do Mundo 2004, é
imperativo melhorar a gestão e a direção
dos recursos naturais e ambientais. Isso
significa diminuir as barreiras à conservação
— entre elas políticas antiquadas,
instituições frágeis e falta de conhecimento
técnico e financiamento — e aumentar a
eficiência no uso de recursos essenciais,
como água e energia. Igualmente
importante é reconhecer que a redução da
degradação ambiental protege a saúde
humana, torna a terra mais produtiva e
melhora diversos outros elementos do
progresso econômico e social.
A proteção e a gestão aperfeiçoadas dos
recursos naturais ajustam-se a uma
abordagem totalmente integrada ao
desenvolvimento sustentável, como
determinam as Metas de Desenvolvimento
do Milênio. Essas metas vão além da
sustentabilidade ambiental e abrangem
objetivos como a erradicação da fome e a
melhoria da saúde, da educação, da eqüidade
social e da cooperação internacional. O
Banco Interamericano de Desenvolvimento
compartilha essa visão em sua estratégia
institucional, que reivindica não somente um
melhor desempenho econômico, mas a
melhoria da qualidade de vida por meio do
desenvolvimento social, do aperfeiçoamento
vii
7
Estado do Mundo 2004
APRESENTAÇÃO
da governança, da integração regional e do
avanço da gestão e proteção ambientais.
Esta edição do relatório anual do WWI –
Worldwatch Institute tem como tema
especial “A Sociedade de Consumo”. O
grande fosso entre a renda e o consumo per
capita no mais pobre dos países em
desenvolvimento e nos países desenvolvidos
está se ampliando e os desafios que as
nações em desenvolvimento enfrentam são
fundamentalmente diferentes daqueles dos
países desenvolvidos. Mesmo os países em
desenvolvimento em situação econômica um
pouco melhor padecem de uma variedade
viii
8
de males relacionados com a pobreza, entre
os quais fome, doenças endêmicas,
iniqüidade, falta de oportunidade e
degradação do meio ambiente. Este livro tem
o poder de instigar a continuação do
profundo debate necessário para manter o
conceito de desenvolvimento sustentável
como ponto focal da formulação de políticas,
tanto em cada país individualmente como
nos foros globais.
Enrique Iglesias
Presidente do BID – Banco
Interamericano de Desenvolvimento
Estado do Mundo 2004
APRESENTAÇÃO
Uma Pequena História da
Parceria WWI – UMA
no Brasil
O WWI – Worldwatch Institute comemora este ano 30 anos de fundado. Em 1974,
Lester Brown e seus pesquisadores associados adotaram o lema: “trabalhamos por
um futuro sustentável”. Hoje, precisamos
trabalhar por um dia-a-dia sustentável.
O Estado do Mundo 2004 foca a sociedade do consumo e o consumo sustentável, conversando diretamente com o consumidor, mostrando os processos insustentáveis de produção que estão por trás
dos produtos e convidando-o a optar por
produtos e processos que garantam a sua
qualidade de vida e a do planeta, cada vez
mais fragilizado e impactado pela ação insustentável do homem.
Os trabalhos do WWI no Brasil, publicados pela UMA – Universidade Livre da
Mata Atlântica –, são parte do Creds – Centro de Referência para a Educação e o Desenvolvimento Sustentável. Sediado oficialmente no município de Cairu – único
município-arquipélago do Brasil, formado
por 26 ilhas, no encontro do Rio Una com
o Oceano Atlântico, na Bahia. Foi criado
com o objetivo de ser mais um gerador de
informações para escolas, universidades,
governos, iniciativa privada e comunidade
em geral. A UMA usufrui do espaço sem
fronteiras da Internet para disseminar conhecimento através da Biblioteca Digital
WWI – UMA, <www.wwiuma.org.br>,
onde suas publicações são disponibilizadas
para download integral e gratuito. Sair das
grandes concentrações urbanas é uma das
tendências de pessoas que buscam nas pequenas localidades qualidade de vida.
O Jornal Digital UMA, aberto à inscrição gratuita no site, envia informações diretamente para os e-mails dos seus milhares de associados no Brasil e no mundo. A Internet libertou a informação da
prisão do papel.
Fazemos aqui um resumo do caminho
percorrido, o que já ousamos chamar de
pequena história:
1999 – Lester Brown, fundador do
WWI, declarado pelo jornal Washington Post
como um dos mais influentes pensadores
da atualidade, é trazido pela UMA ao Brasil
ix
9
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL
para o lançamento da primeira versão brasileira de Estado do Mundo – Edição Milenar 1999 e da Revista World Watch. É entrevistado pelo programa Roda Viva –TVE e
pelo jornal Folha de S. Paulo. Em Brasília,
reúne-se com técnicos do Ibama e o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho – o Ministério apóia oficialmente as publicações
WWI no Brasil. Faz palestra no auditório
Petrônio Portella, do Congresso Nacional,
difundida para todo o país pela TV Senado.
No Rio, reúne-se com a diretoria das Organizações Globo e grava o Globo News. O
Globo Ecologia destaca equipe para acompanhar a sua visita em todo o país, gravando palestras e encontros. É convidado pelo
governo do Estado da Bahia para palestras
em Salvador e para conhecer o potencial das
suas áreas para o ecoturismo.
2000 – A revista VEJA lança o Estado do Mundo 2000 no seu portal da Internet. O jornalista Joelmir Beting divulga-o na sua coluna e no seu site ,
www.joelmirbeting.org.br, promovendo
o conceito de desenvolvimento sustentável. Christopher Flavin, presidente executivo do WWI, é convidado pela Fundação Getúlio Vargas para o lançamento
do CIDS – Centro Internacional para o
Desenvolvimento Sustentável. A FIEB –
Federação das Indústrias do Estado da
Bahia – promove debate do prof. Flavin
com dirigentes da indústria. A convite da
UESC – Universidade de Santa Cruz –,
faz palestra em Ilhéus e é levado pela UMA
e os pesquisadores parceiros do IESB –
Instituto de Estudos Socioambientais do
Sul da Bahia – para visitar a Mata Atlântica, onde se inspira para escrever capítulo de Estado do Mundo do ano seguinte.
x
2001 – O portal da Veja, seguindo o
sucesso da audiência do ano anterior, lança
o Estado do Mundo 2001, divulgando integralmente o primeiro capítulo, assinado por
Christopher Flavin, destacando a sua visita
à exuberância da Mata Atlântica e a posição do Brasil (primeiro lugar) no “E9 –
Econológico 9”, grupo dos nove países
reconhecidos pelo WWI como potências
ambientais do planeta. O programa Roda
Viva – TVE e o jornal Gazeta Mercantil
entrevistam Flavin e destacam: “Bíblia dos
ambientalistas descobre o Brasil” (a série
Estado do Mundo foi batizada pela imprensa
internacional como bíblia do meio ambiente). A Assembléia Legislativa da Bahia recebe Flavin em sessão plenária para palestra sobre desenvolvimento sustentável. A
Veja publica entrevista de Lester Brown nas
suas páginas amarelas com o título “Poluiu, pagou”. A Embaixada Brasileira em
Washington promove evento de lançamento da edição brasileira, com palestra dos
diretores do WWI e da UMA.
O Ministério da Educação convida Flavin para palestra de lançamento do Programa “Parâmetros em Ação – Meio Ambiente
na Escola”, do MEC, com o ministro Paulo Renato, em 5 de junho, Dia do Meio
Ambiente. Convidado também pela diretoria da Petrobras, Flavin fala sobre energias
renováveis para os executivos da empresa.
A Secretaria Nacional de Recursos Hídricos traz a pesquisadora do WWI Payal
Sampat para falar sobre “O Choque da
Água” no Fórum de Recursos Hídricos, em
Foz do Iguaçu.
Chris Bright, pesquisador do WWI e
editor-chefe da revista World Watch, faz
levantamentos na Mata Atlântica. Faz pa-
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL
lestra na UFBA sobre “O Papel das Florestas Tropicais no Desenvolvimento Sustentável”. Juntamente com a pesquisadora
Ashley Matoon é entrevistado pela VEJA e
pelo portal do UOL. Apoiando as ações da
UMA, o WWI lança edição da sua revista –
World Watch – com matéria de capa sobre
o cacau e a Mata Atlântica, mostrando
como a economia do chocolate pode ajudar na sua preservação. Destacada pelo jornal Washington Post, a matéria repercute
em todo o mundo e atrai a atenção da TV
National Geographic, que envia equipe às
fazendas de cacau do sul da Bahia para filmar documentário baseado na publicação.
2002 – Veja lança o Estado do Mundo
2002, destacando a edição especial da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável – Rio+10. O presidente Fernando Henrique Cardoso alia-se à divulgação das idéias do WWI, apresentando
a versão brasileira 2002 e assinalando a
sua relevância para estimular o debate
público no Brasil. A publicação é prefaciada por Kofi Annan, Secretário-Geral da
ONU e Prêmio Nobel da Paz.
Hilary French, diretora do Projeto de
Governança Global do WWI, visita o Brasil e fala para empresários sobre a importância da governança local. A UMA amplia
as pesquisas com o WWI sobre a Mata
Atlântica para a elaboração de livro sobre
as possibilidades e vantagens da preservação da Mata Atlântica, hotspot, bioma que
registra uma das maiores taxas de biodiversidade do mundo e alto nível de devastação. A convite do fotógrafo Sebastião
Salgado e da sua esposa Lélia, Chris Bright
visita o projeto-piloto de recuperação da
Mata Atlântica na fazenda de Aymorés, em
Minas Gerais. Onde pastos secos nada
produziam, hoje brotam espécies nativas da
mata, atraindo o canto dos pássaros. Embrião de reflorestamento.
Christopher Flavin é convidado pelo
governo brasileiro para proferir palestra na
reunião preparatória da Rio+10, que reuniu
os presidentes do Brasil, da África do Sul e
ambientalistas de todo o mundo no Rio de
Janeiro. Reúne-se com o físico José Goldemberg para montar estratégias de promoção das energias renováveis em Joanesburgo. A Secretaria de Meio Ambiente do
Estado de São Paulo e CETESB dão destaque ao Estado do Mundo 2002 no seu site.
Durante a Rio+10, na África do Sul, o
WWI e a UMA relançam o relatório 2002
no stand brasileiro – ganhador do “primeiro lugar” (outorgado pelo júri oficial, formado por artistas locais) entre as exibições
de todos os países presentes em Joanesburgo. Ainda na conferência a UMA reúnese com Klaus Töpfer, secretário executivo
do PNUMA, organizando a publicação do
relatório GEO 3 Internacional no Brasil.
2003 – A senadora Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do novo governo,
distingue-nos assinando a apresentação de
Estado do Mundo 2003. Leitora do WWI
desde as primeiras versões brasileiras, refere-se às nossas publicações como fonte
destacada de informações para “a interação dos elementos sociais, econômicos,
ecológicos e culturais no foco da ação pública”. Partindo da “Senadora da Floresta”, como é carinhosamente chamada por
Ziraldo, essa afirmação tem valor especial.
A convite da UMA, Waldemar Wirzig,
representante do BID no Brasil, visita o
município de Cairu, para conhecer a área
do projeto “Cairu 2030”, apresentado pela
UMA ao BID, para realização de um diagxi
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL
nóstico socioeconômico-ecológico integrado do município, com vistas à elaboração
de um plano diretor de desenvolvimento
sustentável para os próximos trinta anos.
Em parceria com a Prefeitura Municipal, a UMA promove seminário em Cairu
sobre o projeto “Cairu 2030”, trazendo de
Brasília uma delegação de técnicos do BID,
UnB, Caixa Econômica Federal, ANA, Petrobras, Unesco e Sebrae para se reunir
com prefeitos da região do baixo sul da
Bahia, ONGs e representantes locais.
Lester Brown, fundador do WWI, vem
ao Brasil para o lançamento do livro EcoEconomia, em versão digital, numa parceria editorial com o Instituto Ethos e a Folha
de S. Paulo. Faz palestra na sede do Banco
de Boston, em São Paulo. A Folha lançou o
livro em entrevista com Brown, incluída
no seu portal e linkando com o site da Biblioteca Digital WWI – UMA, para download integral e gratuito. No dia de lançamento o livro bate recorde, com 20.876
downloads do site.
Recebido em Brasília pela ministra Marina Silva, Brown fala sobre a ecoeconomia no Ministério do Meio Ambiente. No
Ministério da Educação, a convite do ministro Cristóvão Buarque, fala para reitores de universidades reunidos em Brasília.
É recepcionado por empresários da área
de telecomunicações, liderados pelo presidente da Telemig Celular e Amazonas Celular, o empresário ambientalista João Cox.
O jornal Valor Econômico publica entrevista
de página inteira com Lester Brown.
Em Ilhéus Brown visita o projeto “Fazenda de Chocolate”, desenvolvido pela
UMA, com o apoio do WWI, para produzir o “chocolate da Mata Atlântica”, que
embute o conceito de preservação no pro-
xii
duto do cacau. Em Salvador faz palestra
na Fundação Luís Eduardo Magalhães e
reúne-se com o governador Paulo Souto.
Christopher Flavin, presidente do WWI,
participa de evento sobre energias renováveis em Brasília com o ministro de Meio
Ambiente alemão, Jürgen Trintin, e de seminários em Curitiba e em Brasília. É e recebido pelo presidente da Embrapa, Clayton
Campanhola, entrevistado pela jornal Valor
Econômico e TV Senado.
Klaus Töpfer, secretário executivo do
PNUMA – Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente –, é convidado pela
UMA. Acompanhado de Ricardo Sanchéz
e Christina Montenegro, dirigentes do
PNUMA para a América Latina, é recebido
pelo governador da Bahia, Paulo Souto, para
assinatura de protocolo para elaboração do
GEO Bahia, um diagnóstico socioeconômico-ecológico, com metodologia do
PNUMA, que colocará a Bahia na base de
dados atualizada da ONU, criando visibilidade para atração de investimentos internacionais. Recebido no Convento dos Franciscanos de Cairu, sede da UMA, Töpfer
emociona-se com a recepção das crianças
e dos grupos folclóricos da região.
Em dezembro de 2003, o livro do WWI
Econegócios na Floresta de Chocolate da
Bahia é lançado em conferência de imprensa na Embaixada Brasileira em Washington.
Acompanhado do embaixador Rubens Barbosa, o presidente do WWI, Christopher
Flavin, o autor Chris Bright, pesquisador
do WWI, e o diretor da UMA falam sobre a
importância estratégica da Floresta de Chocolate da Bahia (região cacaueira da Mata
Atlântica). A UMA surpreende a seleta platéia, formada por jornalistas dos principais
jornais do mundo, distribuindo o Chocola-
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL
te da Mata Atlântica, produzido pela Cabruca – Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia.
Chris Bright e o diretor da UMA são
convidados do jornal Washington Post para
entrevista de uma hora, on-line, sobre o
projeto Fazenda de Chocolate, aberta aos
leitores do jornal em todo o mundo.
2004 – Enrique Iglesias, presidente do
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento – aceita o convite da UMA e apresenta a versão brasileira de Estado do Mundo 2004. Grava mensagens para a Rede
Globo, afirmando: “Este livro tem o poder
de instigar a continuação do profundo debate necessário para manter o conceito de
desenvolvimento sustentável como ponto
focal da formulação de políticas, tanto em
cada país individualmente como nos foros
globais”. Do alto da sua experiência como
gestor internacional da mais alta competência, acostumado a lidar com realidades
locais e globais, Iglesias tem a nítida idéia
da importância do consumo sustentável.
Em parceria com o IBAMA, a UMA lança a versão brasileira do GEO 3 Internacional – Perspectivas do Meio Ambiente para
os próximos 30 anos. Elaborado pelo PNUMA, os atualizados relatórios GEO são traduzidos para vários idiomas em todo o
mundo. Disponível na Biblioteca Digital
para download gratuito.
Durante o Valentines Day (fevereiro),
época de pico no consumo de chocolate, o
WWI lança campanha sobre o chocolate
sustentável, convidando amantes do chocolate em todo o mundo a informarem-se
sobre a origem do chocolate consumido.
Cerca de 40% do chocolate do mundo pode
estar contaminado com o trabalho infantil
nas plantações de cacau da África. O con-
sumidor cobra explicações e as grandes
redes revendedoras de chocolate em todo
o mundo começam a exibir certificados de
origem do cacau.
O BID aprova o projeto “Cairu 2030“,
desenvolvido pela UMA em parceria com a
Prefeitura Municipal de Cairu, e, com a
autorização da ABC – Agência Brasileira de
Cooperação –, do Ministério das Relações
Exteriores, recebe recursos, a fundo perdido, do Fundo Fiduciário Português para
o início dos trabalhos no município.
O cacau está para o chocolate como a
uva para o vinho. O projeto “Fazenda de
Chocolate“, desenvolvido pela UMA com
o apoio do WWI, articula transferências de
inovações tecnológicas para agregação de
valor e renda ao agronegócio sustentável
do cacau, visando agregar valor ao produto e preservar a Floresta de Chocolate (região cacaueira da Mata Atlântica) da Bahia.
O cacau fino, manejado de forma especial, produz chocolate de alta qualidade. O
cacau refinado é vendido com um prêmio
mínimo inicial de 20%, podendo atingir
qualquer valor, a depender da qualidade do
produto. Incentivados por Rafael Lucchesi, secretário de Ciência e Tecnologia do
Estado da Bahia, e Alexandre Paupério, presidente da Fapesb – Fundação de Apoio à
Pesquisa do Estado da Bahia –, a UMA firma parceria com gourmets franceses, especialistas em chocolates finos, para transferir tecnologias e treinar cacauicultores no
manejo e fermentação do cacau de forma
especial, visando o mercado de chocolates
finos. Enquanto o quilo da amêndoa do
cacau é vendido a cerca de 4 reais nas fazendas, o quilo do chocolate chega a 80.
Num país com os desequilíbrios sociais
como o Brasil, a única forma de preservar
xiii
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL
é por meio dos econegócios, que agregam
valor, gerando ocupação e renda.
Os jornalistas Lenilson Ferreira, Tedsuji Ida e Yumi Osaki, da Kyodo News,
maior agência de notícias da Ásia, fazem
reportagem sobre o projeto “Fazenda de
Chocolate”, em Ilhéus, e são entrevistados pela TV Santa Cruz, filiada à Rede
Globo. Matéria de duas páginas sobre o
projeto é divulgada por 47 jornais asiáticos. O chocolate sustentável ganha interesse da comunidade internacional e desperta o interesse dos amantes do chocolate em todo o mundo.
Com o apoio da Rede Bahia de Televisão, filiada à Rede Globo, “pílulas” de informações de Estado do Mundo 2004 vão
ao ar, convidando o telespectador à reflexão sobre a importância do consumo sustentável. Diretores e profissionais da Rede
Bahia de Televisão – Isaac Edington, Maurício Magalhães, Marcelo Lyra, Frank Albuquerque, Carlos Henrique Medeiros, César Mazzoni, Sérgio Siqueira, Marcos Lessa e Leonardo Villanova – aliam-se na cruzada para o consumo sustentável.
O Sebrae entra no projeto “Fazenda de
Chocolate” para treinar micro e pequenos
empresários na produção do Chocolate da
Mata Atlântica, usando outros produtos da
agrofloresta. Paulo Manso Cabral, visionário diretor do Sebrae Bahia, sempre presente nas discussões dos cenários para o
empreendimento de ações sustentáveis,
estimula a UMA na introdução dos conceitos de econegócios nas micro e pequenas
empresas, batizadas por nós de MPEcos.
Relacionamento é uma forma de capital, o chamado capital social, que, como o
capital financeiro, rende juros. Laços soci-
xiv
ais criam redes de reciprocidade e informações que lubrificam a atividade econômica sustentável.
Parceria é a base para um mundo sustentável. Sem uma sólida rede de parceiros
não seria possível o nosso trabalho. Mesmo correndo o risco de omitir momentaneamente alguns, não podemos deixar de
destacar Rui Rocha, ativo presidente do
parceiro Instituto Floresta Viva; Nicholas
Carels, Fátima Cascardo e Julio Cascardo,
cientistas que prospectam bionegócios para
o banco de germoplasma da “Fazenda de
Chocolate”; deputada Sônia Fontes, que,
por intermédio do projeto de lei 8420/02,
de sua autoria, credenciou a UMA como
instituição de utilidade pública; Geraldo
Machado, presidente da Fundação Luís
Eduardo Magalhães, que sempre estimula
a difusão de novas idéias; Fausto Pinheiro
e Marc Nuscheler, produtores de cacau
orgânico e dirigentes da Cabruca – Cooperativa de Produtores Orgânicos do Sul da
Bahia –, o professor Asher Kiperstock, do
Teclim – Centro de Tecnologias Limpas –,
da Universidade Federal da Bahia, que nos
ensina tecnologias limpas; o engenheiro
holandês Jörgen Lewenstein, que nos municia com informações especializadas sobre recursos hídricos; Amyra Khalili, comandante das commodities ambientais;
Rosita e Antônio Couto, pioneiros proprietários da Pousada Farol de Morro de São
Paulo, distrito de Cairu, que investem no
desenvolvimento sustentável no seu município; Virginia Garcez e Pierre Weil, que
abrem nossos caminhos para a visão holística; Daniel Athayde de Almeida, Fernando
Torres e Caio Mario Marques, nossos consultores jurídicos; Beatriz Cerqueira Lima,
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL
arquiteta especializada em desenvolvimento urbano sustentável; Carlos Leal Villa,
presidente do Grupo Suez no Brasil, empreendedor das causas ambientais; o jornalista Washington Novaes, alerta para divulgar “furos” com as nossas notícias ainda quentes; Emanuel Mendonça e Durval
Olivieri, diretores da Semarh – Secretaria
de Meio Ambiente do Estado da Bahia –, e
Lúcia Cardoso e Teresa Muricy, diretoras
do Centro de Recursos Ambientais da
Bahia, entusiasmados apoiadores do GEO
Bahia e da série Estado do Mundo; Célia
Baldas Mallett e Henry Mallett, nossos competentes tradutores, juntos conosco desde
o primeiro livro da UMA; Ricardo Baroud,
Patrícia Chastinet e Fátima Soares, editores e revisora dos nossos textos. Aliados à
equipe WWI – UMA, garantem os resultados do nosso trabalho.
Destacamos também os editores e jornalistas da Folha de S. Paulo, O Estado de
S. Paulo, O Globo, Gazeta Mercantil, Valor
Econômico, Jornal do Brasil, Correio Brasiliense, A Tarde, Agora (de Itabuna), Jornal do Commercio, Zero Hora, Estado de
Minas e das revistas Veja, IstoÉ, Exame,
Época, Nova Escola e Superinteressante,
que, veiculando matérias com as nossas
informações, ajudam-nos a cumprir a nossa missão. São pontes com leitores, que
freqüentemente nos alimentam com seus
estímulos, balizando o nosso trabalho.
A intuição move, a razão organiza. Tudo
isso é possível pela dedicação, pelo idealismo e pela persistência da pequena e incansável equipe nuclear da UMA, por meio dos
esforços de Creusa Porto, Flávio Henrique
Cavalcante, Everaldo Santos Ribeiro, Maria de Fátima Da Rin, Isabela Cristina San-
tos e dos nossos conselheiros, Regina Coeli Oliveira, Estácio Ramos, Sergio Faria e
Carlos Francisco de Almeida Filho, que intuem e organizam o nosso dia-a-dia.
Os inestimáveis apoios recebidos da
Caixa Econômica Federal, Petrobras, Ministério do Meio Ambiente, Ministérios
Públicos Federal e Estaduais, CBEDS,
IESB – Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia –, Ceplac, Gráfica
Santa Helena, Fundação Luís Eduardo
Magalhães, Sebrae, CET – Centro de
Excelência em Turismo –, da UnB, UESC
– Universidade Estadual de Santa Cruz –,
UNEB – Universidade do Estado da
Bahia –, FIEB e CNI garantem a continuidade das nossas atividades.
Os freis franciscanos Hilton Botelho
(guardião do Convento de Santo Antônio
de Cairu, fundado em 1654) e Lucas Dolle
são também guardiões da UMA em Cairu.
A Casa Pia e Colégio dos Órfãos de São
Joaquim – mais antiga instituição voltada
ao menor carente do país, com 206 anos
de funcionamento ininterrupto e cujo provedor é o desembargador Claudionor Ramos, constante incentivador – abrigam o
escritório da UMA, em Salvador. Os seculares exemplos de fé dessas instituições
acolhem e reforçam a convicção de que este
é o caminho.
Ao completar 30 anos o WWI usa a
expertise dos seus premiados pesquisadores e o carisma da sua experiência para
estimular nas comunidades a visão do consumo sustentável. Escaneia as cadeias produtivas, revelando os processos insustentáveis de produção por trás dos produtos
que o consumidor, desinformado, ajuda a
fortalecer nas decisões de compra. Cons-
xv
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL
cientizado, o cidadão tende a optar pelo
consumo sustentável.
Nos países industrializados, o alto poder aquisitivo dos leitores permite a compra de livros e facilita o acesso às informações contidas nas publicações WWI,
referências para o desenvolvimento sustentável. A Biblioteca Digital WWI – UMA,
desenvolvida no Brasil, é uma experiência
pioneira do WWI no mundo. Versões digitais das publicações estão disponíveis
para download integral e gratuito, democratizando a informação. Propicia o livre
acesso ao rico conteúdo das publicações
para professores, alunos, pequenos empresários, cooperativas, ONGs e comunidades, ajudando a construir as bases para
o desenvolvimento sustentável. Incentiva
a eco-economia, difundindo tendências e
experiências sobre grandes e pequenos
econegócios. Além das nossas publicações, a Biblioteca Digital disponibiliza outras, consideradas referências nessa área
no Brasil e no mundo. Está entre os sites
ambientais mais visitados do Brasil, e no
topo dos resultados de pesquisas por
“worldwatch” no Google Internacional,
www.google.com, maior máquina de pesquisa da Internet no mundo. Na era da
Internet a informação não pode ficar apenas presa ao papel.
xvi
Quem fala em consumo com sustentabilidade não pode esquecer do mais perfeito
sonho de consumo que alguém pode ter: o
amor. Permitam-me parênteses para declarar uma intimidade: o amor à minha família.
Minha mulher, Luciana, companheira incansável na organização das nossas vidas, e meus
filhos, Daniel, Rogerio, Marcella, Luisa, Renata e Ricardo, carinhosos e pacientes. Compreensivos, convivem com um pai empresário, obstinado e sonhador. A família é base de
equilíbrio numa sociedade sustentável.
Neste ano de eleições, é oportuno lembrar que o voto é exercício de cidadania,
válido todos os dias – não apenas de dois
em dois anos, quando somos compulsoriamente convocados para as urnas. Enquanto o voto do consumidor, válido a cada segundo, tem o poder de empurrar a sociedade no sentido da sustentabilidade, o veto
a cadeias produtivas não-sustentáveis e
seus produtos é uma alavanca poderosa
para guindar as comunidades para o consumo sustentável.
Até agora, esta é a pequena história da
parceria WWI – UMA no Brasil.
Eduardo Athayde
Diretor da UMA – Universidade Livre
da Mata Atlântica e Editor do WWI –
Worldwatch Institute no Brasil
E-mail: [email protected]
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos
Esta vigésima primeira edição de Estado do
Mundo exigiu a dedicação e esforço de
todos os membros da talentosa equipe do
Worldwatch e contou com o apoio
generoso dos membros do Conselho,
financiadores e amigos, pesquisadores,
redatores, equipe comercial, especialistas
em comunicações, bibliotecárias,
estagiários e pessoal administrativo, todos
merecedores de nossos sinceros
agradecimentos por sua contribuição ao
relatório especial deste ano sobre a
sociedade de consumo.
Começamos expressando nosso
reconhecimento à comunidade da
fundação, cujo apoio fiel sustenta e encoraja
o trabalho do Instituto. The Overbrook
Foundation e Merck Family Fund
subvencionaram especificamente nosso
trabalho sobre o consumo. Somos também
reconhecidos a vários outros financiadores
que generosamente apóiam o Worldwatch:
a Aria Foundation, Richard & Rhoda
Goldman Fund, The William and Flora
Hewlett Foundation, The Frances Lear
Foundation, NIB Foundation, V. Kann
Rasmussen Foundation, A. Frank e
Dorothy B. Rothschild Fund, The Shared
Earth Foundation, The Shenandoah
Foundation, Turner Foundation, Inc.
Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente, Wallace Global Fund, Weeden
Foundation e The Winslow Foundation.
Somos gratos também aos doadores
individuais do Instituto, incluindo os mais
de 3.500 amigos do Worldwatch, que, com
seu entusiasmo, demonstraram forte
compromisso com o Worldwatch e seus
esforços para contribuir para um mundo
sustentável. Somos particularmente gratos
ao Conselho de Patrocinadores do
Worldwatch – Adam e Rachel Albright,
Tom e Cathy Crain, John e Laurie McBride
e Wren e Tim Wirth –, que continuamente
têm demonstrado sua confiança e apoio ao
nosso trabalho com contribuições anuais
generosas de US$ 50.000 ou mais.
Para esta edição de 2004 de Estado do
Mundo, o Instituto valeu-se dos talentos
de um número sem precedentes de autores
xvii
17
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS
externos, colocando em ação nosso
objetivo estratégico de fortalecer os laços
com pensadores renomados e experientes
na área da sustentabilidade. Sandra Postel,
Sênior Fellow do Worldwatch e diretora
do Projeto de Políticas Globais para a
Água, e Amy Vickers, autora premiada,
engenheira e especialista em conservação
da água, escreveram o capítulo sobre
produtividade hídrica. Temos a satisfação
também de incluir contribuições dos
especialistas em consumo Isabella Marras,
Solange Montillaud-Joyel e Guido
Sonemann, do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente; William
McDonough e Michael Braungart, da
McDonough Braungart Design Chemistry;
Paul McRandle e Mindy Pennybacker, do
Green Guide Institute; Juliet Schor, do
Boston College, e David Tilford, do Center
for a New American Dream.
Os autores dos capítulos também
agradecem o entusiasmo e dedicação da
equipe de estagiários de 2003 pela sua
perseverança na pesquisa de fatos pouco
visíveis, produzindo gráficos, tabelas e
quadros. Clayton Adams, com muita boa
vontade, estendeu seu tempo conosco para
localizar informações para os Capítulos 4,
6 e 7; Zöe Chafe prestou valiosa assistência
nas pesquisas para o Capítulo 7 e a
cronologia “Um Ano em Retrospecto”;
Claudia Meulenberg habilmente administrou
os infindáveis pedidos de ajuda para o
Capítulo 1; Shawn Powers recolheu com
afinco informações para os Capítulos 1, 3
e 5; e Anand Rao e Tawni Tidwell
enriqueceram o Capítulo 2 com seu
profundo conhecimento sobre as
tendências energéticas globais. Altamente
capazes e bem-dispostos, cada um foi uma
xviii
18
adição estimulante à nossa equipe durante
o último verão e outono.
A gigantesca tarefa de rastrear artigos,
revistas e livros de todo o mundo recaiu
em Lori Brown, nossa bibliotecária
pesquisadora. Além de manter os
pesquisadores atualizados sobre as mais
recentes questões em suas áreas, esta
valeu-se do seu talento notável na coleta de
informações para montar a cronologia dos
significativos eventos globais na seção “Um
Ano em Retrospecto.”
Após a conclusão da pesquisa e
elaboração iniciais, um processo de revisão
interna pelos membros da equipe do
Worldwatch ajudou a assegurar clareza e
correção às nossas conclusões. Durante
um dia inteiro de reunião, em agosto de
2003, os autores dos capítulos foram
questionados, cumprimentados e
resenhados pelos estagiários, pessoal da
revista e outros analistas. Os autores são
extremamente agradecidos pela excelente
assessoria prestada, inclusive a ajuda dos
colegas pesquisadores Chris Bright e Molly
O’Meara Sheehan, que, mesmo ocupados
com outros projetos ao longo do ano,
encontraram tempo para contribuir com
uma seção “Atrás dos Bastidores”. O staff
de Ed Ayres e Tom Prugh, da revista World
Watch, também dedicou suas capacidades
editoriais na revisão das minutas.
Resenhas de especialistas externos, que
contribuíram generosamente com seu
tempo, também foram indispensáveis para
o produto final deste ano. Por seus
comentários e sugestões abalizadas, como
também pelas informações que muitos
prestaram, nossos especiais agradecimentos
a: Abe Agulto, Mark Anielski, Michael
Appelby, Matt Bentley, William Browning,
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS
David Brubaker, William Cain, Scot Case,
Maurie Cohen, Dwight Collins, John de
Graaf, Bas de Leeuw, Ed Diener, Chad
Dobson, John Ehrenfeld, Andrea Fava, Tom
Ferguson, Bette Fishbein, David Fridley,
Bruce Friedrich, Sakiko Fukuda-Parr,
Howard Geller, Gerard Gleason, Edward
Groth III, Kirsty Hamilton, Marlene
Hendrickson, Rich Howarth, Bobby
Inocencio, Daniel Katz, Johathan Louie,
Philip Lymbery, Mia Macdonald, Michael
Marx, Jim Mason, William Moomaw, Rosa
Moreno, Nick Parrott, Enrique Peñalosa,
David Pimentel, Robert Prescott-Allen, Lynn
Price, Howard Rappaport, Richard Reynells,
John Rodwan, Hiroyuki Sato, Hans Schiere,
Lee Schipper, Robert Schubert, Paul Shapiro,
Ted Smith, Freyr Sverrisson, Joel Swisher,
Ted Trainer, Arthur Weissman, Eric Williams,
Paul Willis e David Wood. Agradecemos
também a Norman Myers, da Universidade
de Oxford, co-autor do livro a ser lançado
The New Consumers: Rich Lives or Richer
Lifestyles?, por nos ter introduzido numa
nova visão dos consumidores no mundo.
O apuro adicional de cada capítulo
ocorreu sob o olhar cuidadoso da redatora
independente Linda Starke, cujos 27 anos
de experiência com as publicações do
Worldwatch asseguraram a comunicação de
nossas mensagens da forma mais clara
possível e nosso cumprimento dos prazos.
Após a conclusão da editoração e ajustes
finais, o diretor de arte Lyle Rosbotham
cuidadosamente elaborou o desenho de cada
capítulo, da cronologia e da nova seção deste
ano “Atrás dos Bastidores”. Ritch Pope
finalizou a produção preparando o Sumário.
Escrever é apenas o começo de fazer
Estado do Mundo chegar a seus leitores. A
tarefa então passa para nosso excelente
Departamento de Comunicações, que
trabalha em múltiplas frentes para assegurar
que a mensagem de Estado do Mundo
circule amplamente, além de nossos
escritórios em Washington. A diretora de
comunicações, Leanne Mitchell, a
coordenadora de mídia, Susan Finkelpearl,
e a associada de comunicações, Susanne
Martikke, trabalharam junto aos
pesquisadores na elaboração de nossas
mensagens à imprensa, público e
legisladores em todo o mundo. O
webmaster Steve Conklin aplicou sua
especialização técnica à transmissão de
nossas informações, através do nosso novo
website, e o gerente de TI Patrick Settle
assegurou a operação ininterrupta das linhas
de comunicação tanto interna quanto
externamente.
A vice-presidente para desenvolvimento
comercial, Elizabeth Nolan, coordenou a
cooperação com nossos parceiros editoriais
globais, contribuindo com criatividade e vigor
para nossos esforços de marketing. A
assistente executiva Katherine Dirks, com
sua disposição de enfrentar qualquer desafio,
deu uma grande ajuda ao desenvolvimento
comercial e ao presidente do Worldwatch,
Christopher Flavin, garantindo o cronograma
das reuniões e viagens. A diretora financeira
e administrativa, Bárbara Fallin, administrou
eficientemente as finanças do Instituto e
manteve todo o pessoal calmo durante a
reforma do escritório neste último verão.
Joseph Gravely continuou reinando como o
Tzar do Departamento de Correio do
Worldwatch.
Lamentavelmente, tivemos que dizer
adeus a Adrianne Greenlees, vice-presidente
de desenvolvimento do Instituto, em julho,
mas tivemos a felicidade de encontrar um
xix
19
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS
excelente substituto em John Holman. Ele
e a assistente de desenvolvimento, Cyndi
Cramer, trabalham incessantemente para
divulgar a palavra do Worldwatch e dar
as boas-vindas às novas adições à
família Worldwatch. As atividades de
levantamento de recursos da fundação do
Instituto continuam sob a liderança capaz
de Kevin Parker, nosso diretor de relações
com a fundação, assistido pela associada
de desenvolvimento Mary Redfern.
Ambos vêm trabalhando com nossos
patrocinadores na fundação, cultivando
novos relacionamentos, que sustentarão
o trabalho do Instituto nos anos futuros.
Estendemos nossos agradecimentos
especiais a nossos parceiros em todo o
mundo por seus esforços extraordinários
na divulgação da mensagem do
desenvolvimento sustentável. O Estado do
Mundo é publicado regularmente em 31
idiomas e 39 edições diferentes, graças, em
grande parte, à dedicação de uma gama de
editores, organizações não-governamentais,
grupos da sociedade civil e indivíduos que
prestam serviços de consultoria, como
também de tradução, atividades de campo,
publicação e assistência para nossas
pesquisas. Gostaríamos de agradecer
particularmente a ajuda recebida de Øysten
Dahle, Magnar Norderhaug e Helen Eie, na
Noruega; Brigitte Kunze, Christoph Bals,
Klaus Milke, Bernd Rheinberg e Gerhard
Fischer, na Alemanha; Soki Oda, no Japão;
Anna Bruno Ventre e Gianfranco Bologna,
na Itália; Lluis Garcia Petit e Marisa
Mercadoi, na Espanha; Jung Yu Jin, na
Coréia, George Cheng, em Taiwan; Yesim
Erkan, na Turquia; Viktor Vovk, na Ucrânia;
Tuomas Seppa, na Finlândia; Zsuzsa
Foltanyi, na Hungria; Ioana Vasilescu, na
xx
20
Romênia; Hamid Taravaty, no Irã; Eduardo
Athayde, no Brasil, e Jonathan Sinclair
Wilson, no Reino Unido. Para uma lista
completa de nossos parceiros globais, visite
www.worldwatch.org/partners.
Gostaríamos também de expressar
nossa gratidão à nossa editora de longa data
nos Estados Unidos, W.W. Norton &
Company. Graças à dedicação de sua equipe
– especialmente Amy Cherry, Leo
Wiegman, Andrew Marasia, Julia Druskin
e Lucinda Bartley – as publicações do
Worldwatch estão disponíveis em qualquer
lugar, desde campi universitários até
pequenas livrarias locais.
Nossos agradecimentos especiais pelo
trabalho árduo e leal dos membros do
Conselho de Administração do Instituto, que
deram contribuições importantes em
planejamento estratégico, desenvolvimento
organizacional e levantamento de fundos
durante o último ano. Estamos felizes com
a entrada de três novos e eminentes
membros do Conselho: Akio Morishima,
presidente do Conselho do Instituto de
Estratégias Ambientais Globais, no Japão;
Geeta Aiyer, presidente da Boston Common
Asset Management, nos Estados Unidos, e
Satu Hassi, ex-Ministro do Meio Ambiente
da Finlândia e atual membro do Parlamento
finlandês.
Dedicamos esta edição de Estado do
Mundo a Tom e Cathy Crain, membros
do Conselho de Administração do Instituto
e do Conselho de Patrocinadores. No final
dos anos 90, os Crains tiveram uma
“epifania” quando trabalhavam na indústria
financeira, que os levou a abraçar a causa
da sustentabilidade. Hoje, Tom e Cathy são
tão bem-informados sobre a economia da
sustentabilidade e a globalização e tão
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS
dedicados à reforma do sistema
econômico global quanto qualquer
membro da nossa equipe.
Desde que se juntaram ao Conselho do
Worldwatch, em 1998, Tom e Cathy vêm
desempenhando um papel de destaque no
planejamento estratégico do Instituto,
ajudando a construir tanto a participação
quanto as operações do Conselho,
contribuindo significativamente para a base
financeira do Instituto. Tom é hoje vicepresidente e tesoureiro do Instituto, e Cathy
preside o Comitê de Designação. Nossos
agradecimentos são insuficientes para
externar nossa gratidão por seu
compromisso com um futuro sustentável.
Finalmente, gostaríamos de estender um
caloroso voto de boas-vindas à mais jovem
adição à família Worldwatch, Elizabeth Rose
McGinn, nascida em novembro de 2002,
filha da pesquisadora sênior Anne Platt
McGinn. É para Elizabeth e sua geração
que nos esforçamos incessantemente na
busca de caminhos que tornem o nosso
planeta mais habitável.
Brian Halweil e Lisa Mastny
Diretores de Projeto
xxi
21
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS
Sumário
Apresentação por Enrique Iglesias vii
Presidente do BID - Banco
Interamericano de
Desenvolvimento
Uma Pequena História da Parceria
WWI – UMA no Brasil
ix
Agradecimentos
xvii
Lista de Quadros, Tabelas e
Figuras
xxiii
Introdução
xxvii
BØrge Brende
Ministro do Meio Ambiente da
Noruega
Prefácio
xxix
Estado do Mundo:
Um Ano em Retrospecto
xxxiii
Lori Brown
1 O Estado do Consumo Hoje
Gary Gardner, Erik
Assadourian e Radhika Sarin
ATRÁS DOS BASTIDORES:
Sacos Plásticos
2 Escolhendo Melhor a Energia
Janet L. Sawin
ATRÁS DOS BASTIDORES:
Computadores
3 Incrementando a Produtividade
Hídrica
Sandra Postel e Amy Vickers
ATRÁS DOS BASTIDORES:
Antibacterianos
22
3
25
28
4 Controlando Nossa Alimentação
Brian Halweil e Danielle
Nierenberg
82
ATRÁS DOS BASTIDORES: Água Engarrafada
105
108
111
114
117
Frangos
Chocolate
Camarões
Refrigerantes
5 Rumos para uma Economia
Menos Consumista
120
Michael Renner
ATRÁS DOS BASTIDORES: Telefones Celulares
148
6 Comprando para as Pessoas e
o Planeta
Lisa Mastny
151
ATRÁS DOS BASTIDORES:
Papel
7 Articulando Globalização,
Consumo e Governança
Hilary French
ATRÁS DOS BASTIDORES:
Algodão
175
178
Camisetas de
200
52
8 Repensando a Boa Vida
203
Gary Gardner e Erik Assadourian
55
Notas
Sabonetes
79
223
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS
Lista de Quadros,
Tabelas e Figuras
Quadros
1 O Estado do Consumo Hoje
1-1 E Quanto à População?
6
2 Escolhendo Melhor a Energia
2-1 Surto da Demanda Energética na China e Índia
2-2 Só Eficiência Não Basta
2-3 Os Altos e Baixos da Tecnologia da Informação
32
36
39
3 Incrementando a Produtividade Hídrica
3-1 Dessalinização – Solução ou Sintoma?
3-2 Privatização e Vazamento: Omissão de Prestação de Contas
3-3 Programas Urbanos de Conservação Hídrica que Poupam Água e Dinheiro
3-4 Bebendo o Gramado e a Farmácia do Vizinho
3-5 Medidas que Podemos Tomar para Reduzir Nosso Impacto sobre a Água Doce
66
68
70
73
76
4 Controlando Nossa Alimentação
4-1 Varrendo os Mares
4-2 Alimentos de Luxo
4-3 Políticas Prioritárias para Repensarmos Nossa Relação com os Alimentos
85
86
104
5 Rumos Para uma Economia Menos Consumista
5-1 A Alternativa Berço-a-Berço
130-131
5-2 Consumidores Americanos, Produtos Baratos e a Exploração Global
da Mão-de-obra
144-145
6 Comprando para as Pessoas e o Planeta
6-1 Esverdeando Contratos de Compra
6-2 Compromisso da Home Depot com Produtos de Madeira Sustentável
6-3 A Abordagem de Ciclo de Vida
154
163
169
xxiii
23
Estado do Mundo 2004
LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS
7 Articulando Globalização, Consumo e Governança
7-1 O Comércio Justo e o Consumidor
7-2 Utilizando o Poder dos Jovens para Mudar o Mundo
7-3 Destaques do Plano de Ação de Joanesburgo
8 Reconsiderando a Boa Vida
8-1 A Experiência de Gaviotas: Priorizando o Bem-Estar
8-2 Medindo o Bem-Estar
8-3 Encorajando Anunciantes a Promover a Sustentabilidade
183-84
187-88
190-91
213
215
219
Tabelas
1 O Estado do Consumo Hoje
1-1 Gastos com Consumo e População, por Região, 2000
1-2 Classe de Consumidores, por Região, 2002
1-3 Dez Maiores Populações Nacionais de Classe de Consumidor, 2002
1-4 Proporção das Despesas Domésticas em Alimentação
1-5 Consumo Familiar, Países Selecionados, Cerca de 2000
1-6 Gasto Anual em Itens de Luxo Comparado com os Recursos Necessários
para o Atendimento de Necessidades Básicas Selecionadas
1-7 Tendências Globais dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente
2 Escolhendo Melhor a Energia
2-1 Consumo de Energia e Emissões de Dióxido de Carbono Anuais, Países
Selecionados
2-2 Frotas de Veículos Particulares e Comerciais, Países Selecionados e Total,
1950–99
2-3 Posse de Eletrodomésticos nos Países Industrializados e em
Desenvolvimento, Anos Selecionados
2-4 Consumo de Energia e Bem-Estar, Países Selecionados
3 Incrementando a Produtividade Hídrica
3-1 Extrações Anuais Estimadas de Água, Per Capita, Países
Selecionados, 2000
3-2 Populações sem Acesso a Água Potável e Saneamento, 2000
3-3 Uso de Gotejamento e Microirrigação, Países Selecionados, 1991 e
Cerca de 2000
3-4 Água Consumida para Suprir Proteínas e Calorias, Alimentos Selecionados
3-5 Vazamentos e Perdas em Sistemas de Abastecimento de Água, Países
Selecionados
3-6 Exemplos de Economia de Água Industrial pela Conservação
xxiv
24
7
7
8
9
10
11
19
31
34
40
50
60
61
63
65
68
75
Estado do Mundo 2004
LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS
5 Rumos para uma Economia menos Consumista
5-1 Estimativas de Subsídios e Externalidades Globais Ambientalmente
Danosas
5-2 Receita Fiscal Ambiental, União Européia, Anos Selecionados
5-3 Leis sobre o Princípio de Responsabilidade do Produtor, Setores Selecionados
5-4 Economia de Energia Obtida pela Substituição da Produção Primária por
Materiais Secundários
5-5 Novas Abordagens à Jornada de Trabalho na Europa
6 Comprando para as Pessoas e o Planeta
6-1 Exemplos de Aquisições Verdes em Empresas Selecionadas
6-2 Exemplos de Aquisições Governamentais Verdes
7 Articulando Globalização, Consumo e Governança
7-1 A Disseminação do “McMundo”
7-2 Parcerias Selecionadas de Produção e Consumo Relacionadas à Cúpula
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável
7-3 Principais Conflitos Comerciais Relacionados à Produção e Consumo
Sustentáveis
123
124
133
135
142
156
159
180
192-93
195-96
Figuras
1 O Estado do Consumo Hoje
1-1 Gastos em Publicidade nos Estados Unidos e Mundiais, 1950–2002
1-2 Mudanças na Atividade Econômica e na Saúde dos Ecossistemas,
1970–2000
16
20
3 Incrementando a Produtividade Hídrica
3-1 Produtividade Hídrica de Economias Nacionais, Países Selecionados, 2000
3-2 Produtividade Hídrica dos Estados Unidos, 1950–2000
3-3 Consumo Doméstico de Água, Cidades e Países Selecionados
58
59
71
4 Controlando Nossa Alimentação
4-1 Carne Industrial: Insumos e Produtos
4-2 Vendas Globais de Alimentos Orgânicos, Cerca de 2002
4-3 Principais Plantios Nacionais em Área Orgânica Certificada, Cerca de 2002
4-4 Ingredientes Locais Versus Importados: Grã-Bretanha
89
95
95
100
5 Rumos Para Uma Economia Menos Consumista
5-1 Necessidades Materiais Per Capita nos Estados Unidos, Alemanha e
Japão, 1996
5-2 Crédito ao Consumidor a Receber nos Estados Unidos, 1950–2003
127
139
xxv
25
Estado do Mundo 2004
LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS
5-3 Jornada Anual Trabalhadas por Pessoa Empregada nos Principais Países
Industrializados, Anos Selecionados, 1913–98
141
6 Comprando para as Pessoas e o Planeta
6-1 Gastos Governamentais como Parcela do PIB em Países Selecionados, 1998
153
7 Articulando Globalização, Consumo e Governança
7-1 Exportações Mundiais de Bens e Serviços, 1950–2002
7-2 Exportações Mundiais de Commodities Selecionadas, 1961–2001
7-3 Pegada Ecológica por Pessoa em Nações Selecionadas, 1999
181
182
182
8 Reconsiderando a Boa Vida
8-1 Renda Média e Felicidade nos Estados Unidos, 1957–2002
205
xxvi
26
Estado do Mundo 2004
INTRODUÇÃO
Introdução
Um leitor cético poderia perguntar se o
mundo ainda precisa de outro relatório detalhando a extensão e urgência dos desafios globais. Porém, Estado do Mundo 2004
é diferente. Enfoca o consumo – um dos
elementos mais centrais e também um dos
mais negligenciados na busca global por um
futuro sustentável.
O Plano de Ação que surgiu da Cúpula
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo, África do Sul, em
2002, declara: “Mudanças fundamentais na
forma de as sociedades produzirem e consumirem são indispensáveis para a conquista de um desenvolvimento sustentável global”. A manutenção desse compromisso solene é hoje parte das minhas responsabilidades desde que fui eleito, em 2004, presidente da Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS), o órgão das Nações
Unidas de acompanhamento dos acordos
do Rio e Joanesburgo.
O consumo, naturalmente, é essencial
para o bem-estar da humanidade, porém o
consumo exagerado ou o consumo errado
mina tanto nossa saúde pessoal quanto a
saúde do meio ambiente natural do qual
dependemos. A CDS oferece uma oportu-
nidade singular para uma gama diversificada de comunidades – desde povos indígenas até educadores, agricultores e executivos – compartilharem idéias sobre como
enfrentar os desafios impostos por nossa
sociedade de consumo. Nas reuniões anuais da CDS, as pessoas tomam conhecimento sobre o que está e não está funcionando em várias partes do mundo e fortalecem-se com a experiência de outros.
Governos aprendem como aplicar o princípio politicamente complexo do “poluidor
paga” e como eliminar subsídios danosos.
A 12ª reunião da CDS, que presidirei
nas Nações Unidas em abril de 2004, deslanchará o programa decenal de produção
e consumo sustentáveis exigido em Joanesburgo. Além disso, essa reunião dará um
foco importante à água, ao saneamento e
aos assentamentos humanos, todos elementos essenciais do consumo sustentável e
também chave para a conquista de outra
prioridade central das Nações Unidas – a
eliminação da pobreza em todo o mundo.
Como os qualificados especialistas do
Worldwatch Institute mostram em grande
detalhe nesta edição de Estado do Mundo,
novos padrões de consumo serão necessáxxvii
27
Estado do Mundo 2004
INTRODUÇÃO
rios para retirar bilhões de pessoas da pobreza de uma forma consistente com a sustentabilidade global. Todos nós tomamos
decisões importantes, diariamente, que afetam não apenas nossas próprias comunidades, mas também o mundo como um todo
– tanto sua população atual quanto a futura.
Como foi reconhecido em Joanesburgo, grande parte da responsabilidade de
equilibrar nossa sociedade de consumo
com o planeta recai sobre as nações mais
ricas, não apenas por serem responsáveis
pelo maior consumo global, mas porque
podem ajudar os países em desenvolvimento a “pular” algumas das escolhas insustentáveis que as nações industrializadas hoje
exportam. No final, o consumo sustentável é uma preocupação comum que requer
nossos esforços conjuntos.
Um exemplo de uma nova abordagem
do consumo, envolvendo produtores e consumidores, é o trabalho da Rainforest Alliance, organização sem fins lucrativos. Esta
assinou acordos importantes com uma
grande empresa de café, como também
com um produtor de banana e outras grandes empresas alimentícias, para monitorar
as práticas ambientais em fazendas onde
suas matérias-primas são produzidas. Consumidores ambientalmente conscientes
poderão adquirir os produtos ecorrotulados que serão os frutos desse projeto.
Precisamos de mais exemplos como
este para mostrar que dispomos de meios
– se quisermos utilizá-los – para aplicar o
conceito da produção mais limpa, dar aos
consumidores condições de fazerem escolhas informadas e exigir e fornecer informações ambientais. Também dispomos de
meios para aplicar o princípio do “poluidor
xxviii
28
paga”, eliminar subsídios danosos e criar
novos mercados. Quando utilizarmos essas ferramentas, mudaremos nossos padrões de consumo e produção, tornandoos mais sustentáveis.
Estou compromissado na realização de
uma das singulares competências da CDS no
que tange ao consumo e a outras questões:
forjar alianças entre o setor corporativo, grupos de cidadãos e outros, a fim de conseguir
mudanças positivas para o mundo. Espero
que, ao destacar as realizações dessas alianças e enfatizar soluções inovadoras, Estado
do Mundo 2004 contribua para a evolução de
uma sociedade sustentável.
Não pude ler todo o conteúdo deste livro e, assim, não poderei endossar cada idéia
que contém. Mas, com base no que li até
agora, estou convencido de que Estado do
Mundo, da mesma forma que no passado,
proporcionará uma gama significativa de
idéias inovadoras que, seguramente, serão
úteis para mim e para outros envolvidos nas
deliberações da CDS em 2004. Como assinalam os autores, o que está faltando hoje é
ação determinada. É com isso que todos nós
devemos estar comprometidos.
O desafio é gigantesco, mas a alternativa é inconcebível. Mais do que nunca, o que fica claro em Estado do Mundo 2004 é que cada de um nós desempenha diariamente um papel na mudança do
mundo. E embora isso possa parecer intimidador, poderá também ser uma fonte
de energia coletiva.
BØrge Brende
Ministro do Meio Ambiente da Noruega
Presidente da Comissão sobre
Desenvolvimento Sustentável
Estado do Mundo 2004
PREFÁCIO
Prefácio
Em seu livro An All-Consuming Century, o
professor de História Gary Cross argumenta que o “consumismo” ganhou as guerras
ideológicas do século XX. Embora a maioria das histórias dos desenvolvimentos econômicos e políticos recentes tenham sugerido que foi o capitalismo ou a democracia
que triunfou sobre o comunismo, Cross
constrói uma argumentação convincente de
que é o consumismo que define nossa era,
e é a lente por meio da qual a maioria das
pessoas vê nosso tempo.1
O alcance da sociedade de consumo
pode ser medido pelos grandes aumentos
na aquisição de automóveis, fast-food, aparelhos eletrônicos e outros símbolos do
estilo de vida moderno. Mas o argumento
de que é o consumismo que define nossa
era tem raízes mais profundas: a necessidade de comprar e consumir, atualmente,
domina o espírito de muitas pessoas, preenchendo o espaço anteriormente ocupado
pela religião, família e comunidade. O consumo tem proporcionado a centenas de
milhões de pessoas um novo sentido de
independência e tornou-se um padrão comum para medir a realização pessoal. O
tempo dedicado à igreja, agora, é menor
em comparação com o tempo passado no
“shopping” – e a relação do consumo com
objetivos econômicos mais abrangentes, tais
como emprego, é a pedra de toque dos políticos. No esteio do 11 de setembro de
2001, o Presidente Bush recomendou a seus
conterrâneos que era seu dever patriótico
irem aos shoppings e “comprar”.
Embora o livro de Gary Cross focalize
os Estados Unidos, sua análise pode ser
aplicada a uma parcela cada vez maior da
população mundial. Conforme um estudo
recente, 1,7 bilhão de pessoas – 27% da
humanidade – já entraram na sociedade de
consumo. Desse grupo, aproximadamente 270 milhões estão nos Estados Unidos
e Canadá, 350 milhões na Europa Ocidental e 120 milhões no Japão. Porém, quase
metade dos consumidores mundiais vive
agora nos países em desenvolvimento, incluindo 240 milhões na China e 120 milhões na Índia – cifras que dispararam dramaticamente nas últimas duas décadas à
medida que a globalização introduziu milhões de pessoas no mercado de bens de
consumo, fornecendo ao mesmo tempo
tecnologia e capital necessários para sua
produção e disseminação.2
xxix
29
Estado do Mundo 2004
PREFÁCIO
No trigésimo aniversário do Worldwatch
Institute, esta edição de Estado do Mundo examina como consumimos, por que
consumimos e que impacto nossas escolhas de consumo têm sobre o planeta e
nossos semelhantes. Com capítulos sobre
alimento, água, energia, governança, economia e a redefinição da boa vida, a premiada equipe de pesquisadores do
Worldwatch pergunta se uma sociedade
menos consumista é possível – e passa a
argumentar como é crucial.
Naturalmente, o consumo é necessário
para a vida e o bem-estar da humanidade, e
se a escolha é entre ser parte da sociedade
de consumo ou estar entre os 2,8 bilhões
de pessoas que mal sobrevivem com menos de US$ 2 diários, a resposta é fácil.
Aumentos maciços na ingestão de calorias, qualidade de moradia, eletrodomésticos
e muitas outras amenidades da metade do
século passado ajudaram a tirar centenas
de milhões de pessoas da pobreza.
Porém, o consumo entre as ricas elites mundiais, e cada vez mais na classe
média, tem, nas últimas décadas, ido muito além de saciar as necessidades ou mesmo de realizar sonhos, para tornar-se um
fim em si mesmo. É como se o mundo
estivesse agora seguindo a exortação do
analista de varejo, pós II Guerra Mundial,
Victor Lebow, que disse “nossa gigantesca economia produtiva... exige que façamos do consumo nosso meio de vida, que
convertamos a compra e uso de bens em
rituais, que procuremos nossa satisfação
espiritual, nossa auto-satisfação, no consumo... Precisamos que coisas sejam consumidas, queimadas, gastas, substituídas
e descartadas num ritmo cada vez mais
acelerado”. Esse modelo, embora raramenxxx
30
te descrito tão cruamente, ajudou a alimentar o crescimento sem paralelo da economia global ao longo das últimas cinco décadas, criando rendas e empregos para
centenas de milhões de pessoas.3
Entretanto, a busca desenfreada do consumo também impôs um alto custo, um
custo que cresce pelo menos tão rápido
quanto o próprio consumo. O consumo
hoje absorve grandes quantidades de recursos, muitos dos quais estão sendo consumidos agora além dos níveis de sustentabilidade. Somente nos últimos 50 anos, o uso
mundial de água doce triplicou, enquanto o
consumo de combustíveis fósseis quintuplicou. Os recursos renováveis estão particularmente sob ameaça, desde os lençóis
freáticos em queda no norte da China até
os pesqueiros exauridos do Atlântico Norte. Ao longo do tempo, melhorou a eficiência do uso humano dos recursos, e a exaustão de recursos foi substituída por outras,
mas o padrão da metade do século passado permanece claro: a poluição e degradação de recursos, conseqüência do consumo crescente, continuam a piorar, e o preço está sendo medido não só em ecossistemas prejudicados, mas em doença e miséria humanas – particularmente entre os mais
pobres. Os bilhões de toneladas de dióxido
de carbono que se acumulam na atmosfera
como resultado do aumento dos níveis de
consumo de combustíveis fósseis estão
agora levando esses problemas em nível
mundial na forma da mudança climática.4
O desafio real está adiante. A corrida
global ao consumo adquiriu um ímpeto
extraordinário que pressionará cada vez
mais a humanidade e a natureza nas décadas futuras. Esse ímpeto é, por exemplo, visível na China, saída da inexistên-
Estado do Mundo 2004
PREFÁCIO
cia virtual de carros particulares em 1980
para 5 milhões de carros em 2000 – e
que provavelmente terá 24 milhões de automóveis em 2005, deixando de fora ainda mais de 1 bilhão de compradores em
potencial.5
Não somente centenas de milhões de
pessoas no mundo em desenvolvimento
entrarão na sociedade de consumo, como
os níveis de consumo per capita daqueles
que já fazem parte dela continuarão a aumentar à medida que casas e automóveis
aumentem de tamanho e quinquilharias proliferem. E, ainda mais, conforme o consumo per capita cresce, o número absoluto
de pessoas também continua a aumentar –
quase 3 bilhões de seres humanos serão
adicionados em meados do século. O efeito conjunto de consumo e população é particularmente alarmante, mas entre os dois
o consumo é mais renitente. A maioria das
projeções mostra que a população mundial
estabilizará na segunda metade do século à
medida que as taxas de fertilidade declinem.
Mas o consumo simplesmente continuará
a aumentar.
É esta perspectiva intimidante que levou a equipe de pesquisa do Worldwatch a
focar a maior parte do seu trabalho no ano
passado no consumo, seguindo as pegadas inovadoras de nosso ex-colega Alan
Durning, que escreveu How Much is
Enough? em 1992. Durning chamou atenção para um enigma que está, atualmente,
tornando-se cada vez mais visível: a busca
obsessiva do consumo não somente solapará a qualidade de vida daqueles que vivem na sociedade de consumo, mas também diminuirá a capacidade daqueles fora
da classe consumista de satisfazerem suas
necessidades básicas.6
No desenvolvimento do tema consumo
– ao longo de Estado do Mundo deste ano
– procuramos ir além da descrição dos dilemas que este impõe, passando pela exploração dos meios que possam contê-lo e
redirecioná-lo com o fim de melhorar as
perspectivas do bem-estar e sustentabilidade humanas. Nas páginas seguintes, os
autores mostram como em tudo, desde
nosso uso da energia e água até nosso consumo de alimentos, podemos fazer escolhas que melhorarão nossa saúde, criarão
empregos e reduzirão as pressões sobre os
ecossistemas naturais do mundo.
Para alcançar esse objetivo, intercalamos nos capítulos de Estado do Mundo
2004 artigos curtos sobre uma variedade
de produtos do cotidiano – de computadores a frangos e refrigerantes –, a fim de
permitir que os leitores vejam esses bens
sob uma nova perspectiva. Também mostramos muitas circunstâncias nos quais os
consumidores estão se organizando para
adquirir bens tais como produtos de madeira cultivada sustentavelmente, cacau orgânico e café de “comércio justo”. Embora esses movimentos, em sua maioria,
sejam diminutos em comparação com a
economia maior do consumo, estão crescendo rapidamente e poderão, em breve,
tornar-se uma força poderosa em muitos
mercados.
Nosso objetivo em Estado do Mundo
2004 não é abordar uma das questões mais
importantes de nossa época somente para
informação e motivação de nossos leitores, mas trabalhar com nossos associados em todo o mundo para fornecer idéias concretas a todos aqueles que queiram
abandonar a rotina do consumo. Em parte
o consumismo é, naturalmente, um desaxxxi
31
Estado do Mundo 2004
PREFÁCIO
fio social que exigirá uso efetivo de regulamentação oficial e política fiscal para alcançar o bem comum. Porém, mais do
que na maioria das questões, mudanças
nas práticas de consumo requererão milhões de decisões individuais que podem
somente ter origem nas bases.
Como ajuda neste processo estaremos, em breve, abrindo um portal de
consumo no website do Worldwatch que
conterá material selecionado de Estado
do Mundo, links com organizações que
trabalham ativamente em campanhas sobre consumo e dicas sobre como tornarse um consumidor mais informado. Esse
portal também incluirá um guia para Estado do Mundo que terá dúzias de vinhetas sobre itens comumente usados, como
também sugestões para encontrar alternativas mais sustentáveis. Adicionalmente, o portal fornecerá informações de
contatos para muitas das organizações
parceiras em todo o mundo que ajudaram a reunir informações para este livro
e que estão trabalhando para mudar os
hábitos de consumo, incluindo o Green
xxxii
32
Guide, a Silicon Valley Toxics Coalition e
o Center for a New American Dream.
Seria ingenuidade subestimar o desafio de
conter o ímpeto consumista. Poucas forças
são tão poderosas ou disseminadas. Porém,
à proporção que os custos do consumo desenfreado tornem-se claros, acreditamos que
as idéias inovadoras descritas nestas páginas
também serão aceitas num ritmo acelerado.
No longo prazo, tornar-se-á aparente que atingir objetivos geralmente aceitos – atendimento das necessidades básicas humanas, melhoria da saúde humana e apoio a um mundo
que nos possa sustentar – exigirá que controlemos o consumo em vez de permitirmos
que o consumo nos controle.
Esperamos que você leia, analise e questione as informações e idéias desenvolvidas nestas páginas. Aguardamos suas sugestões para o fortalecimento das futuras
edições de Estado o Mundo.
Christopher Flavin
Presidente
Worldwatch Institute
Novembro de 2003
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO
Estado do Mundo:
Um Ano em Retrospecto
Em seguida à reação positiva à inovação da
seção “Estado do Mundo: Um Ano em
Retrospecto” no ano passado, continuamos
a documentar os vários eventos e desafios
ao longo do caminho para o desenvolvimento
sustentável. A edição deste ano foi compilada
pela bibliotecária pesquisadora Lori Brown,
com contribuições de toda a equipe. Zöe
Chafe, Lisa Mastny e Radhika Sarin deram
uma ajuda especial na composição da nova
cronologia.
A cronologia, este ano, cobre eventos e
relatórios significativos desde outubro de
2002 até a impressão de Estado do Mundo
2004, em outubro de 2003. Novamente, é
um misto de avanços, retrocessos e passos
em falso em todo o mundo, que afetam os
objetivos sociais e ambientais da sociedade.
Não houve ênfase em abrangência, e sim
no destaque de eventos que aumentaram a
conscientização das ligações entre pessoas
e meio ambiente. Sempre apreciamos
qualquer feedback dos nossos leitores e
esperamos continuar compilando a
cronologia, à medida que avançamos no
novo milênio.
xxxiii
33
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO
CLIMA
A ONU informa que o
setor de seguros
poderá perder até US$
150 bilhões anuais, na
próxima década,
devido a danos
relacionados à
mudança climática.
CRIANÇAS
Relatório divulga que
72 grupos, num
conflito armado na
Ásia, África, América
Latina e Europa,
utilizam crianças,
principalmente entre
14 e 17 anos, como
soldados.
ALIMENTOS
O Programa Mundial
de Alimentos alerta
que 40 milhões de
pessoas na África
estão ameaçadas de
inanição, devido a
fatores climáticos,
questões de saúde,
distúrbios civis e
políticas econômicas.
ÁGUA
Estudo revela que a extração
de mananciais para uso
doméstico, industrial e
pecuário deverá aumentar pelo
menos 50% até 2025.
POLUIÇÃO
O petroleiro Prestige, com
77.000 toneladas de petróleo,
quebra-se, contaminando o
litoral da Galícia, na Espanha,
desencadeando protestos
mundiais.
CRIANÇAS
Autoridades divulgam que pelo
menos 300.000 crianças de
até cinco anos trabalham em
minas na Colômbia,
arriscando-se a contrair
doenças respiratórias.
S AÚDE
Ministros de Saúde na UE
estendem proibição à
publicidade do fumo na TV,
rádio, jornais, Internet e
eventos esportivos na Europa.
TURISMO
Com quase um terço dos
turistas mundiais passando
férias no litoral do
Mediterrâneo, técnicos
alertam sobre graves
conseqüências ambientais.
34
xxxiv
BIODIVERSIDADE
UNESCO cria 18 novas
reservas da biosfera em 12
países, estendendo a primeira
biosfera trans-fronteira
na África.
CLIMA
Observações de
satélite do Oceano
Ártico mostram que a
área coberta de gelo é
a menor dos últimos
20 anos.
ENERGIA
Oito veículos de célula de
combustível a hidrogênio
são entregues a
autoridades japonesas e
americanas.
DIREITOS HUMANOS
Grupo de direitos humanos no
Paquistão revela que pelo
menos 461 mulheres foram
mortas no ano por membros
da família, em “defesa
da honra”.
ENERGIA
A última turbina do maior
projeto offshore de energia
eólica entra em operação em
Horns Rev, devendo gerar 2%
da energia da Dinamarca.
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO
CLIMA
Um relatório australiano
revela que a mudança
climática provocada pelo
homem é o fator
preponderante em 70 das
piores secas na história
do país.
GOVERNANÇA
Grupo ambiental americano
acusa o governo Bush de ter
realizado mais de 100
mudanças que
enfraqueceram a legislação
ambiental.
BIOTECNOLOGIA
Relatório divulga que a área
global com lavouras
transgênicas aumentou 12%
mundialmente, atingindo
58,7 milhões de hectares.
POLUIÇÃO
A ONU informa que usinas
de energia a carvão e
incineradores de lixo nos
países em desenvolvimento
são fontes da maioria das
contaminações por mercúrio.
CLIMA
O RU anuncia planos para
reduzir as emissões
domésticas de carbono em
60% até 2050, bem além do
compromisso de Kyoto.
ENERGIA
Relatório prevê que as
turbinas eólicas fotovoltaicas
expandirão, de um mercado
de US$ 9,5 bilhões hoje,
para US$ 89 bilhões
até 2012.
DIREITOS HUMANOS
A ONU informa que 30
milhões de mulheres e
crianças na Ásia e Pacífico
foram vítimas de tráfico nos
últimos 30 anos, “no maior
comércio escravo da
história”.
POPULAÇÃO
A ONU projeta que até 2050
a população mundial atingirá
8,9 bilhões, caindo da
previsão anterior de
9,3 bilhões.
SEGURANÇA
Os Estados Unidos lançam
uma campanha de
bombardeio generalizado no
Iraque, suscitando questões
de ligações petrolíferas,
oferta futura de energia e
segurança mundial.
ECONOMIA
O Banco Mundial estima que
os combatentes na guerra
civil boliviana extorquiram,
em 20 anos, US$ 1 bilhão
de corporações nacionais.
ECOSSISTEMAS
Cientistas revelam que muitas
plantas e animais aparentam
reagir à mudança climática
deslocando-se de suas áreas
ou iniciando mais cedo as
atividades primaveris.
ÁGUA
A ONU revela que 263 bacias
hidrográficas são
compartilhadas por duas ou
mais nações, criando conflitos
em potencial para cerca de
40% da população global.
xxxv
35
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO
GENÉTICA
Cientistas anunciam ter
finalmente concluído o
rastreamento do código
genético humano.
PESQUEIROS
Cientistas revelam que a
pesca industrial matou 90%
das maiores e mais
economicamente importantes
espécies de peixe.
SAÚDE
Relatório revela que mortes
causadas pela malária
continuam
“vergonhosamente altas”,
com mais de 3.000 crianças
africanas morrendo
diariamente.
ECONOMIA
O Índice de Compromisso
com o Desenvolvimento
classifica a Holanda como a
melhor amiga do
desenvolvimento entre 21
países ricos, com base em
ajuda a nações pobres.
PESQUEIROS
O governo do Canadá declara
o fim da pesca de bacalhau
em quase todo o seu mar
territorial no Atlântico,
devido ao declínio dos
estoques.
xxxvi
36
GOVERNANÇA
Os membros da Comissão
Internacional sobre a Pesca
da Baleia aprovam a
Iniciativa de Berlim, votando
a favor de uma agenda
focada em conservação e
não em consumo.
ENERGIA
Comportas da Barragem das
Três Gargantas são fechadas
e o Rio Yangtze, na China,
começa a encher o
reservatório, que terá uma
capacidade de geração de
18,2 gigawatts até 2009.
ÁGUA
Pela primeira vez na América
do Sul, 4 países cooperam
na gestão de um manancial
de água subterrânea: o
Guarani, o maior aqüífero do
continente.
SAÚDE
Os 192 membros da OMS
adotam por unanimidade o
primeiro tratado de saúde
pública destinado a reduzir
mortes e doenças
relacionadas ao fumo.
FLORESTAS
Relatório divulga que o
desmatamento na Amazônia
aumentou 40% em
comparação a 2001, e o
Brasil registra o segundo
maior aumento em 15 anos.
ALIMENTOS
A rede de fast-food
McDonald’s exige de seus
fornecedores de carne a
eliminação gradativa de
antibióticos promotores de
crescimento.
CRIME
A ONU lança a “alfândega
verde” para combater o
comércio ilegal
multibilionário de produtos
químicos, resíduos perigosos
e espécies ameaçadas.
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO
SAÚDE
A OMS anuncia que a
Síndrome Respiratória
Aguda Grave (SARS)
foi contida após
disseminar-se por 30
países, matando 812
e contaminando
8.439 pessoas.
BIOTECNOLOGIA
Irrompe uma áspera
disputa entre EUA e
UE sobre lavouras
transgênicas e os
Estados Unidos
solicitam a formação
de um painel formal
da OMC para julgar a
questão.
MINERAÇÃO
15 das maiores empresas
mundiais de mineração e
produção de metais
comprometem-se a não
explorar sítios de Patrimônio
da Humanidade.
CLIMA
A Europa adota a primeira lei
climática de comercialização
de emissões, dando ao
dióxido de carbono um valor
de mercado em toda a UE
quando iniciarem os
negócios em 2005.
ALIMENTAÇÃO
Agências de ajuda informam
que a AIDS está
incrementando a fome no sul
da África, onde 7 milhões de
agricultores morreram da
epidemia.
CLIMA
Cientistas relatam
que o hemisfério
norte da Terra ficou
mais quente a partir
de 1980 do que em
qualquer época
durante os últimos
2.000 anos.
ENERGIA
O maior apagão da história
dos Estados Unidos e
Canadá afeta 50 milhões de
pessoas em oito estados e
duas províncias.
FLORESTAS
Cientistas informam que
10% das espécies arbóreas
do planeta estão ameaçadas
de extinção, devido à
atividade madeireira,
fragmentação florestal e
plantações de espécies
alienígenas invasivas.
POVOS
INDÍGENAS
Quatro mulheres
Pehuenche terminam
um protesto de 6 anos
contra uma barragem
hidrelétrica que
inundará suas terras
ancestrais no Chile.
CAMADA DE OZÔNIO
Cientistas informam que o
buraco de ozônio sobre a
Antártica atingiu o recorde
de 26 milhões de
quilômetros quadrados, e
pode expandir-se ainda mais.
ECOSSISTEMAS
Relatório da ONU revela que
o número de áreas
protegidas ultrapassou
100.000, cobrindo uma
superfície de terra maior que
a Índia e a China juntas.
S A ÚD E
Mortes causadas por onda
de calor na França superam
14.800 após as
temperaturas terem,
repetidamente, excedido 40
graus centígrados.
GOVERNANÇA
Reunião da OMC fracassa
em meio a disputas sobre
barreiras comerciais e
subsídios agrícolas, quando
uma coalizão de países em
desenvolvimento muda o
equilíbrio de força nas
negociações.
xxxvii
37
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
2
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
CAPÍTULO 1
O Estado do
Consumo Hoje
Gary Gardner, Erik Assadourian
e Radhika Sarin
A China bem merece a reputação de ser o
país da bicicleta. Durante todo o século XX,
milhões de bicicletas, literalmente, apinhavam as ruas de suas cidades, não apenas
como meio de transporte pessoal, mas também como veículo de entrega – levando de
tudo, desde materiais de construção até
frangos a caminho do mercado. Mesmo
nos anos 80 poucos automóveis circulavam nas ruas chinesas.1
Um visitante dos anos 80 que retorne
hoje a Xangai ou outra cidade chinesa dificilmente a reconhecerá. Em 2002, havia
10 milhões de carros particulares e o número de proprietários crescia aceleradamente: a cada dia, em 2003, cerca de
11.000 mais veículos juntavam-se ao tráfego das rodovias chinesas – 4 milhões
de carros novos no ano. As vendas aumentaram 60% em 2002 e em mais de
80% no primeiro semestre de 2003. Até
As unidades de medidas mencionadas neste livro são
métricas, salvo quando o uso normal determine de
outra forma.
2015, nesse ritmo, os analistas da indústria calculam que 150 milhões de automóveis estarão congestionando as ruas chinesas – 18 milhões a mais do que circulavam nas ruas e rodovias dos Estados Unidos em 1999. A classe emergente de consumidores chineses está aderindo entusiasticamente ao aumento da mobilidade e
elevação do status social representado pelo
automóvel – milhões aguardam durante
meses e assumem dívidas substanciais
para tornarem-se membros pioneiros da
nova cultura automobilística chinesa.2
As vantagens desse caminho
desenvolvimentista são evidentes para as
autoridades governamentais, que o encorajam. Cada novo automóvel fabricado na
China representa dois novos postos de trabalho para trabalhadores chineses, e a renda
que recebem estimula, por sua vez, outros
setores da economia chinesa. Ademais, a
corrida para atender à demanda está atraindo investimentos maciços de empresas estrangeiras – a General Motors investiu US$
1,5 bilhão em uma nova montadora em Xan3
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
gai, enquanto a Volkswagen comprometeuse a aplicar US$ 7 bilhões, ao longo dos próximos 5 anos, no aumento de produção.3
A China está, naturalmente, seguindo
um caminho muito bem marcado, embora
já tenham passado-se oito décadas desde
que o uso generalizado do automóvel popularizou-se nos Estados Unidos. Entretanto, a história automotiva da China não está
ligada nem aos chineses nem ao automóvel. Dos estabelecimentos de fast-food às
câmeras descartáveis, e do México à África do Sul, grande parte do mundo está hoje
entrando na sociedade de consumo num
ritmo alucinante. Segundo uma estimativa,
a “classe consumista” possui hoje mais de
1,7 bilhão de adeptos – com quase a metade deles no mundo “em desenvolvimento”.
Uma cultura e estilo de vida que se tornaram comuns na Europa, América do Norte, Japão e em alguns outros bolsões do
planeta no século XX e que se globalizam
no século XXI.4
A sociedade de consumo tem, claramente, um forte encanto e traz consigo muitos
benefícios econômicos. Também seria injusto argumentar que as vantagens obtidas
por uma geração anterior de consumidores
não deveriam ser compartilhadas pela geração seguinte. Todavia, o aumento disparado
do consumo na última década – e as projeções alucinantes que logicamente dele derivam – indica que o mundo como um todo
se verá, em breve, frente a um grande dilema. Caso os níveis de consumo que as várias centenas dos milhões de pessoas mais
afluentes gozam hoje repliquem-se por, pelo
menos, metade dos cerca de 9 bilhões de
pessoas que deverão ser adicionadas à população mundial em 2050, o impacto em
nossa oferta de água, qualidade do ar, flo4
restas, clima, diversidade biológica e saúde
humana será extremamente grave.5
Apesar dos perigos à frente, há poucos
indícios de qualquer desaceleração da locomotiva consumista – nem mesmo em países como os Estados Unidos, onde a maioria dispõe de uma oferta ampla dos bens e
serviços necessários à condução de uma vida
digna. Em 2003 os Estados Unidos dispunham de mais carros particulares do que de
motoristas, e os utilitários esportivos,
beberrões de gasolina, estavam entre os veículos mais vendidos do país. Novas habitações aumentaram 38% em 2002, em comparação a 1975, apesar de haver um número menor de pessoas, em média, por moradia. Os próprios americanos estão maiores
também – tão maiores, na realidade, que uma
indústria multibilionária surgiu para atender
às necessidades desses cidadãos, oferecendo tamanhos maiores de roupas, mobília
mais resistente e até mesmo ataúdes mais
espaçosos. Se as aspirações consumistas da
nação mais rica do mundo não podem ser
saciadas, as perspectivas de controle do
consumo nos outros países, antes do
desnudamento e degradação por completo
do nosso planeta, são desanimadoras.6
Entretanto, nem tudo está perdido.
Defensores do consumo, economistas,
legisladores e ambientalistas vêm desenvolvendo opções criativas para atender às
necessidades das pessoas e, ao mesmo
tempo, reduzir os custos ambientais e sociais associados ao consumo em massa.
Além de ajudar as pessoas a encontrar o
equilíbrio entre muito e pouco consumo,
dão maior ênfase a bens e serviços públicos, a serviços em lugar de bens, a bens
com maior teor de reciclados e a alternativas genuínas para os consumidores.
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
Conjuntamente, essas medidas poderão
ajudar na obtenção de alta qualidade de vida
com um mínimo de agressão ambiental e
desigualdade social. A chave é aplicar um
olho crítico não apenas na “quantidade”
do consumo, mas também na
“racionalidade”. (Vide Capítulos 5 e 8.)
O consumo não é um mal. As pessoas
precisam consumir para sobreviver, e os
mais pobres precisam consumir mais para
terem vidas dignas e oportunidades. Porém
o consumo ameaça o bem-estar das pessoas e do meio ambiente quando se torna
um fim em si mesmo – quando se torna o
principal objetivo de vida de um indivíduo,
por exemplo, ou a medida máxima de sucesso da política econômica de um governo. As economias de consumo em massa
que geraram um mundo de abundância para
muitos no século XX vêem-se frente a um
desafio diferente no século XXI: enfocar
não o acúmulo indefinido de bens, e sim
uma melhor qualidade de vida para todos,
com o mínimo de dano ambiental.
Consumo em Cifras
Por qualquer medida – despesas domésticas, número de consumidores, extração de
matéria-prima – o consumo de bens e serviços tem aumentado constantemente nas
nações industrializadas durante décadas, e
cresce aceleradamente em muitos países
em desenvolvimento. As cifras contam a
história de um mundo sendo transformado
por uma revolução do consumo.
As despesas domésticas – o que se
gasta em bens e serviços em nível familiar – ultrapassaram US$ 20 trilhões em
2000, contra US$ 4,8 trilhões em 1960
(em dólares de 1995). Parte desse aumento
quádruplo deveu-se ao aumento
populacional (vide Quadro 1-1), mas o
volume maior ocorreu em função do avanço da prosperidade em vários países. Essas cifras globais mascaram gigantescas
disparidades nos gastos. Os 12% da população mundial que vivem na América do
Norte e na Europa respondem por 60%
do consumo privado global, enquanto a
terça parte da humanidade que vive no Sul
da Ásia e na África Subsaariana, representa apenas 3,2%. (Vide Tabela 1-1.)7
Em 1999, cerca de 2,8 bilhões de pessoas, duas entre cada cinco no planeta –
sobreviviam com menos de US$ 2 por dia,
o que as Nações Unidas e o Banco Mundial consideram como mínimo para atender às necessidades básicas. Aproximadamente, 1,2 bilhão de pessoas viviam sob
“extrema pobreza”, medida por uma renda diária média de menos de US$ 1. Entre
os mais pobres estão centenas de milhões
de agricultores de subsistência, que, por
definição, não têm salário e raramente envolvem-se em transações comerciais. Para
eles, e para todos os pobres do mundo,
os gastos em consumo concentram-se
quase que totalmente no atendimento às
necessidades básicas.8
Embora a maior parte dos gastos de
consumo ocorra nas regiões mais ricas do
mundo, o número de consumidores distribui-se mais eqüitativamente entre as regiões industrializadas e em desenvolvimento. Isso ficou evidente pela pesquisa realizada pelo ex-consultor do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), Matthew Bentley, que descreve a existência de uma “classe de consumidor” global. Essas pessoas têm renda
superior a US$ 7.000 anuais em termos de
5
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
paridade de poder aquisitivo (uma medida
de renda ajustada ao poder aquisitivo em
moeda local), ou seja, aproximadamente o
nível da linha oficial de pobreza da Europa
Ocidental. A própria classe de consumidor
global varia muito em termos de riqueza,
mas seus membros caracteristicamente dispõem de televisão, telefones e Internet, junto
à cultura e idéias que esses produtos transmitem. Essa classe de consumidor soma
cerca de 1,7 bilhão de pessoas – mais de
um quarto do mundo. (Vide Tabela 1-2.)9
QUADRO 1-1. E QUANTO À POPULAÇÃO?
A Divisão de População das Nações Unidas
calcula que a população mundial crescerá 41%
até 2050, atingindo 8,9 bilhões de pessoas. Da
mesma forma que a crescente aquisição de
aparelhos eletrodomésticos e automóveis pode
acabar com a economia de energia conquistada
pelas melhorias de eficiência, esse aumento nos
números humanos ameaça neutralizar qualquer
avanço na redução do volume de bens que cada
pessoa consome. Por exemplo, mesmo que o
americano comum coma 20% menos carne em
2050 do que comia em 2000, o consumo total de
carne nos Estados Unidos será aproximadamente
5 milhões de toneladas superior em 2050 devido,
unicamente, ao crescimento populacional.
Com a expectativa de 99% do crescimento
populacional ocorrer nas nações em
desenvolvimento, esses países precisarão
considerar cuidadosamente o duplo objetivo da
estabilização populacional e maior consumo
para o desenvolvimento humano. O mundo
industrializado poderá ajudar os países em
desenvolvimento a estabilizar suas populações
dando apoio ao planejamento familiar, educação
e melhoria da situação das mulheres. E poderá
reduzir o impacto de um maior consumo
ajudando na adoção de tecnologias mais limpas
e mais eficientes.
Mas seria um erro considerar o crescimento
populacional como um desafio enfrentado
apenas pelas nações pobres. Quando se
misturam crescimento populacional e altos
níveis de consumo, como ocorre nos Estados
Unidos, a importância do primeiro exacerba-se.
Por exemplo, embora a população dos Estados
Unidos aumente a um ritmo de,
6
aproximadamente, 3 milhões de pessoas ao ano,
e a Índia aumente em quase 16 milhões, esse
contingente americano adicional causa maior
impacto ambiental. Ele é responsável por 15,7
milhões de toneladas adicionais em emissões de
carbono na atmosfera, contra apenas 4,9
milhões de toneladas na Índia. Países ricos, com
populações em crescimento, precisam atentar
para o impacto tanto do seu consumo quanto
de suas políticas populacionais.
Outras tendências demográficas menos
discutidas mesclam-se também ao consumo
sob formas surpreendentes. Por exemplo, em
função do aumento da renda, urbanização e
famílias menores, o número de pessoas em um
único domicílio, entre 1970 e 2000, caiu de 5,1
para 4,4 nos países em desenvolvimento e de
3,2 para 2,5 nas nações industrializadas,
enquanto o número total de domicílios
aumentou. Cada nova residência naturalmente
requer espaço e materiais. Além disso, as
economias obtidas com um maior número de
pessoas compartilhando energia,
eletrodomésticos e mobiliário são perdidas
quando menos pessoas vivem na mesma casa.
Assim, alguém morando só nos Estados
Unidos consome 17% mais energia, per capita,
do que uma moradia com duas pessoas. Então,
mesmo em algumas nações européias e no
Japão, onde a população total não sofre um
aumento significativo, ou até mesmo nem
cresce, a dinâmica doméstica em
transformação deve ser analisada como
condutora de maior consumo.
_______________________________________
FONTE: vide nota final 7.
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
Tabela 1-1. Gastos com Consumo e
População, por Região, 2000
Região
Participação
nos Gastos
Mundiais do
Consumo
Privado
Participação
na
População
Mundial
(percentual)
Estados Unidos e
Canadá
31,5
5,2
Europa Ocidental
28,7
6,4
Leste da Ásia e
Pacífico
21,4
32,9
América Latina e
Caribe
6,7
8,5
Europa Oriental e
Ásia Central
3,3
7,9
Sul da Ásia
2,0
22,4
Nova Zelândia
1,5
0,4
Oriente Médio e
África do Norte
África Subsaariana
1,4
1,2
4,1
10,9
Austrália e
FONTE: vide nota final 7.
Quase a metade dessa classe de consumidor global vive nos países em desenvolvimento, e somente China e Índia respondem
por 20% do total mundial. (Vide Tabela 1-3.)
Na verdade, a classe conjunta de consumidores nesses dois países, com 362 milhões
de pessoas, é maior do que esta classe em
toda a Europa Ocidental (embora o consumidor chinês ou indiano comum, naturalmente,
consuma significativamente menos do que o
europeu). Entretanto, grande parte do mundo
em desenvolvimento não está representada
neste incremento de novo consumo: a classe
de consumidor da África Subsaariana, a menor de todas, é de apenas 34 milhões de pessoas. Na realidade, a região tem ficado essencialmente à margem da prosperidade vivida pela
maior parte do mundo nas últimas décadas.
Medidas em termos de gastos per capita de
consumo privado, a África Subsaariana
caiu 20% em 2000, em comparação às
duas décadas anteriores, distanciado-se
cada vez mais do mundo industrializado.10
Tabela 1-2. Classe de Consumidores, por Região, 2002
Região
Número de Pessoas
Pertencentes à Classe
de Consumidores
(milhões)
Estados Unidos e Canadá
Europa Ocidental
Leste da Ásia e Pacífico
América Latina e Caribe
Europa Oriental e Ásia Central
Sul da Ásia
Austrália e Nova Zelândia
Oriente Médio/África do Norte
África Subsaariana
Países Industrializados
Países em Desenvolvimento
Mundo
271,4
348,9
494,0
167,8
173,2
140,7
19,8
78,0
34,2
912
816
1.728
Classe de Consumidores
como Parcela da
População Regional
(percentual)
Classe de Consumidores
como Parcela da Classe
de Consumidores Globais1
(percentual)
85
89
27
32
36
10
84
25
5
80
17
16
20
29
10
10
8
1
4
2
53
47
28
100
1
A soma não confere devido a arredondamentos.
FONTE: vide nota final 9.
7
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
Tabela 1-3. Dez Maiores Populações
Nacionais de Classe de Consumidor, 2002
País
Estados Unidos
China
Índia
Japão
Alemanha
Federação Russa
Brasil
França
Itália
Reino Unido
Populaçao da Participação
Classe de
na População
Consumidores
Nacional
(milhões)
242,5
239,8
121,9
120,7
76,3
61,3
57,8
53,1
52,8
50,4
(percentual)
84
19
12
95
92
43
33
89
91
86
FONTE: vide nota final 10.
Os países em desenvolvimento não só
dispõem de grandes blocos de consumidores como também têm maior potencial para
expandir suas fileiras. Por exemplo, o grande
contingente de consumidores da China e
Índia constitui apenas 16% da população,
enquanto na Europa esta cifra atinge 89%.
Efetivamente, na maioria dos países em
desenvolvimento, a classe de consumidores representa menos da metade da população – às vezes muito menos –, havendo
bastante espaço para crescimento. Com
base apenas nas projeções populacionais, a
classe de consumidores globais está projetada, conservadoramente, para atingir pelo
menos 2 bilhões de pessoas até 2015.11
Esses números indicam que a história do
consumo no século XXI poderá referir-se
tanto a nações consumidoras emergentes
quanto a tradicionais. Em um dos seus informativos em 2003, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente observou que o incremento da posse de automó8
veis na Ásia para os níveis da média mundial adicionaria 200 milhões de veículos à frota global – uma vez e meia o número de
carros existentes, hoje, nos Estados Unidos.
Preocupações quanto ao impacto desse tipo
de desenvolvimento demonstram a urgência da busca de caminhos alternativos, sustentáveis, para a prosperidade da região. Ao
mesmo tempo, temores quanto a aumentos
potenciais do consumo asiático ficarão deslocados caso ofusquem a necessidade de
reformas nos países ricos, onde altos níveis
de consumo têm sido a regra por décadas.
Os antigos países industrializados da Europa e América do Norte, juntamente com Japão e Austrália, são responsáveis pelo maior
volume de degradação ambiental global associada ao consumo.12
As tendências do consumo abrangem
praticamente todo e qualquer bem e serviço, que podem ser categorizados sob diversas formas. De maior interesse são os itens
fundamentais, como água e alimentos; suas
tendências indicam se as necessidades básicas estão sendo satisfeitas. Outros itens de
consumo indicam como as opções de vida
estão se desenvolvendo para as pessoas e o
nível de conforto que estão tendo.
Em termos de necessidades básicas, as
tendências são mistas. A absorção diária de
calorias aumentou tanto no mundo industrializado quanto nos países em desenvolvimento, desde 1961, à medida que a oferta de alimentos ampliou-se pelo menos em nível global. Todavia, a Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura (FAO) divulga que 825 milhões de pessoas ainda estão
subnutridas e que, em 1961, uma pessoa absorvia, diariamente, 10% a mais de calorias
(2.947 calorias) no mundo industrializado do
que as pessoas consomem, hoje, no mundo
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
em desenvolvimento (2.675 calorias). A presença da fome frente à oferta recorde de alimentos reflete a realidade de seu alto custo
para a grande parcela da população pobre
mundial, que não dispõe de renda suficiente
para adquiri-los. Na Tanzânia, por exemplo,
onde os gastos per capita domésticos foram
de US$ 375 em 1998, 67% das despesas familiares destinavam-se à alimentação. No Japão, as despesas domésticas per capita foram de US$ 13.568 naquele ano, porém apenas 12% foram gastos em alimentação. (Vide
Tabela 1-4.)13
Tabela 1-4. Proporção das Despesas
Domésticas em Alimentação
País
Tanzânia
Madagáscar
Tajiquistão
Líbia
Hong Kong
Japão
Dinamarca
Estados Unidos
Despesa
Doméstica Per
Capita, 1998
Parcela Gasta
em
Alimentação
(dólares)1
375
608
660
6.135
12.468
13.568
16.385
21.515
(percentual)
67
61
48
31
10
12
16
13
1
Paridade em poder aquisitivo.
FONTE: vide nota final 13.
Os ricos do mundo não só absorvem
mais calorias do que os pobres, mas essas
calorias provêm de alimentos mais intensivos em recursos, como carne bovina e laticínios, que são produzidos por meio do
uso de grandes volumes de grãos, água
e energia. (Vide Capítulos 3 e 4.) As
pessoas nos países industrializados obtêm
856 de suas calorias diárias de produtos
animais, contra 350 nos países em desen-
volvimento. Mesmo assim, o consumo de
carne está subindo nas regiões mais prósperas do mundo em desenvolvimento, à
medida que as taxas de renda e urbanização aumentam. Metade da carne suína
mundial é consumida na China, por exemplo, enquanto o Brasil é o segundo maior
consumidor de carne bovina, em seguida
aos Estados Unidos. E a carne está sendo
cada vez mais consumida como fast-food,
freqüentemente mais intensiva em termos
de energia para produzir. De acordo com
um recente estudo de marketing, a indústria de fast-food na Índia está crescendo a
uma taxa de 40% ao ano, devendo gerar
mais de um bilhão de dólares em vendas
até 2005. Enquanto isso, um quarto da sua
população continua subnutrida – uma situação praticamente inalterada ao longo da
última década.14
Água limpa e saneamento adequado,
instrumentais para prevenir a disseminação
de doenças contagiosas, são também necessidades básicas de consumo. Da mesma forma que ocorre com a maioria dos
bens, o acesso à água e ao saneamento está
mais disponível para as populações mais
ricas, embora a situação dos mais pobres
neste particular tenha melhorado um pouco durante a última década. Em 2000, 1,1
bilhão de pessoas não tinham acesso à água
potável, definido como a disponibilidade de,
pelo menos, 20 litros por pessoa, por dia, a
uma distância de um quilômetro da moradia do consumidor. E duas em cada cinco
pessoas ainda não dispunham de instalações sanitárias adequadas, como uma ligação com sistemas de esgotos ou fossa séptica, ou até mesmo latrina de fossa. As populações rurais são as que mais sofrem.
Em 2000, apenas 40% das populações ru9
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
rais dispunham de instalações sanitárias
adequadas, em comparação com 85% dos
habitantes urbanos.15
Conforme cresce a renda, as pessoas
obtêm acesso a outros bens de consumo
que não os alimentos. O uso de papel, por
exemplo, tende a aumentar à medida que
as pessoas tornam-se mais alfabetizadas e
aumentam os elos de comunicação. Globalmente, o consumo de papel mais que
sextuplicou, entre 1950 e 1997, tendo dobrado desde meados dos anos 70; o britânico médio consumiu 16 vezes mais papel
no final do século XX do que no início.
Na realidade, a maior parte do papel mundial é produzida e consumida nos países
industrializados: só os Estados Unidos produzem e utilizam um terço do papel mundial, e os americanos consomem mais de
300 quilos anuais per capita. Em contraste, nas nações em desenvolvimento como
um todo, as pessoas consomem 18 quilos
de papel cada uma, anualmente. Na Índia,
a cifra anual é de 4 quilos, e em 20 nações
da África é de menos de 1 quilo. O
PNUMA estima que 30–40 quilos de papel
são o mínimo necessário para atender às
necessidades básicas de alfabetização e
comunicação.16
A prosperidade crescente também dá
acesso a bens que asseguram novos níveis de conforto, conveniência e entretenimento para milhões de pessoas. (Vide
Tabela 1-5.) Em 2002, 1,12 bilhão de famílias, cerca de três quartos da população mundial, possuíam pelo menos um
televisor. Assistir à TV tornou-se uma das
principais formas de lazer, com o cidadão médio do mundo industrializado passando três horas – metade do seu tempo
de lazer – na frente de um televisor, diariamente. A TV oferece aos telespectadores acesso a notícias locais e entretenimento, mas também exposição a
incontáveis produtos de consumo veiculados em comerciais e durante os programas. E a visão que emerge da tela tem
um escopo cada vez mais global. Dentre
os 1,12 bilhão de domicílios com televisores, 31% eram assinantes de TV a
cabo, expostos freqüentemente a uma
cultura global de entretenimento.17
Tabela 1-5. Consumo Familiar, Países Selecionados, Cerca de 2000
País
Gastos Familiares
em Consumo
(Dólares de 1995
per capita)
Nigéria
194
Índia
294
Ucrânia
558
Egito
1.013
Brasil
2.779
Coréia do Sul
6.907
Alemanha
18.580
Estados Unidos
21.707
FONTE: vide nota final 17.
10
Energia
Elétrica
(kWh
per capita)
81
355
2.293
976
1.878
5.607
5.963
12.331
Aparelhos de Linhas
Televisão Telefônicas
Telefones
Celulares
Computadores
Pessoais
(por mil habitantes)
68
83
456
217
349
363
586
835
6
40
212
104
223
489
650
659
4
6
44
43
167
621
682
451
7
6
18
16
75
556
435
625
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
Muitas dessas conveniências eram consideradas como luxo quando surgiram originalmente, mas são agora consideradas
necessidades. Realmente, onde infra-estruturas sociais desenvolveram-se em torno deles, alguns desses bens de consumo
tornaram-se parte integrante do dia-a-dia
moderno. Os telefones, por exemplo,
transformaram-se num instrumento essencial de comunicação – em 2002, havia
1,1 bilhão de linhas fixas e outro 1,1 bilhão de aparelhos celulares. Um percentual
significativo da população mundial, incluindo a grande maioria dos consumidores
globais, hoje dispõe no mínimo de acesso
básico a telefones. As comunicações também avançaram após a introdução da
Internet. Esta adição mais recente às comunicações modernas conecta hoje cerca
de 600 milhões de usuários.18
Uma grande parcela dos gastos em consumo está concentrada em produtos reconhecidamente desnecessários para o con-
forto ou sobrevivência, mas que tornam a
vida mais agradável. Essas compras incluem desde os pequenos prazeres diários,
como doces e refrigerantes, até grandes
aquisições, como iates oceânicos, jóias e
carros esportes. Os gastos nesses produtos não representam necessariamente conduta censurável por parte da sociedade global de consumo, uma vez que pessoas sensatas podem discordar quanto ao que constitui consumo excessivo. Mas esses gastos são uma indicação da riqueza excedente que existe em muitos países. Na realidade, os valores gastos no consumo extremo
contestam a visão de que muitas das necessidades básicas dos pobres mundiais
não-atendidas sejam muito dispendiosas
para atender. A provisão de alimentação adequada, água potável e educação básica para
os mais pobres pode ser realizada gastando-se muito menos do que se gasta anualmente em cosméticos, sorvetes e ração de
animais de estimação. (Vide Tabela 1-6.)19
Tabela 1-6. Gasto Anual em Itens de Luxo Comparado com os Recursos Necessários
para o Atendimento de Necessidades Básicas Selecionadas
Gasto
Anual
País
Cosméticos
Ração de animais de
estimação na Europa e
Estados Unidos
Perfumes
Cruzeiros marítimos
Sorvetes na Europa
Objetivo Social ou Econômico
Investimento Extra
Anual Necessário para
Atingir o Objetivo
US$ 18 bilhões
Saúde reprodutiva para todas as mulheres
US$ 12 bilhões
US$ 17 bilhões
US$ 15 bilhões
US$ 14 bilhões
US$ 11 bilhões
Erradicação da fome e má-nutrição
Alfabetização universal
Água potável para todos
Vacinação de todas as crianças
US$ 19 bilhões
US$ 5 bilhões
US$ 10 bilhões
US$ 1,3 bilhão
FONTE: vide nota final 19.
A crescente febre do consumo durante
o século XX levou a um maior uso de matérias-primas, o que complementa os gastos familiares e a quantidade de consumi-
dores como medida de consumo. Entre
1960 e 1995 o consumo mundial de minerais aumentou 2,5 vezes, metais, 2,1 vezes, produtos madeireiros 2,3 e produtos
11
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
sintéticos, como plásticos, 5,6 vezes. Esse
crescimento superou o aumento da população mundial, tendo ocorrido mesmo quando a economia global mudou para abranger mais indústrias de serviços, como telecomunicações e finanças, que não são tão
intensivas em materiais como indústria,
transportes e outros setores outrora dominantes. A duplicação do consumo de metais, por exemplo, ocorreu mesmo quando
estes se tornaram menos essenciais para a
geração de riqueza: em 2000, a economia
global consumiu 45% menos metais do que
três décadas anteriores para gerar um dólar de produto econômico.20
O consumo de combustível e materiais reflete o mesmo padrão de desigualdade global encontrado no consumo de
produtos finais. Só os Estados Unidos,
com menos de 5% da população global,
consomem aproximadamente um quarto
dos recursos mundiais de combustíveis
fósseis, queimando quase 25% do carvão, 26% do petróleo e 27% do gás natural mundial. Adicionando-se a isso o
consumo de outras nações ricas, a
dominância de apenas uns poucos países
sobre o consumo de materiais globais fazse evidente. Em termos de consumo de
metais, os Estados Unidos e Canadá, Austrália, Japão e Europa Ocidental – que detêm, entre si, 15% da população mundial
– consomem 61% do alumínio produzido a cada ano, 60% do chumbo, 59% do
cobre e 49% do aço. O consumo per
capita também é alto, especialmente em
relação ao que é verificado nas nações
mais pobres. O americano comum consome 22 quilos de alumínio por ano, enquanto o indiano consome 2 quilos e o
africano, menos de 1 quilo.21
12
Enquanto isso, o apetite mundial crescente por papel pressiona cada vez mais as
florestas globais. Reservas virgens destinadas à produção de papel, por exemplo,
representam, aproximadamente, 19% da
colheita mundial de madeira e 42% da madeira produzida para uso “industrial” (tudo
menos lenha). Em 2050, a indústria de celulose poderá representar mais da metade
da demanda industrial da madeira global.22
O consumo de matérias-primas como
metais e madeira poderá, em princípio,
separar-se do consumo de bens e serviços, uma vez que muitos produtos poderão ser remanufaturados ou fabricados de
materiais reciclados. Todavia, os materiais
na maioria das economias no século XX
não circularam mais de duas ou três vezes.
Mesmo hoje, a reciclagem fornece apenas
uma pequena parcela dos materiais utilizados nas economias mundiais. Cerca de metade do chumbo consumido atualmente
vem de fontes recicladas, como também
um terço do alumínio, aço e ouro. Apenas
13% do cobre vem de fontes recicladas,
em comparação a 20% em 1980. Enquanto isso, a reciclagem do lixo urbano continua, em geral, baixa, mesmo nas nações
que têm condições de implantar uma infraestrutura de reciclagem. As 24 nações que
compõem a Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e
fornecem esses dados, por exemplo, têm
uma taxa média de reciclagem de apenas
16% para o lixo urbano; metade deles recicla
menos de 10% do seu lixo.23
Enquanto isso, a parcela do suprimento
total de fibra de papel originária de fibra
reciclada teve um crescimento apenas modesto, de 20% em 1921 para 38% hoje.
Esse pequeno aumento, frente a aumentos
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
bem superiores no consumo de papel, significa que o volume de papel não-reciclado
é maior do que nunca. À luz das projeções
da FAO de que o consumo global de papel
aumentará em quase 30% entre 2000 e
2010, a parcela de papel a ser reciclada será
de importância crucial e terá um grande
impacto sobre a saúde das florestas mundiais nos anos futuros.24
Motivadores Díspares,
Resultados Comuns
O apetite global por bens e serviços é movido por um conjunto de influências, em grande parte, independentes, desde avanços
tecnológicos e energia barata até novas estruturas comerciais, meios poderosos de
comunicação, crescimento populacional e
até mesmo necessidades sociais dos seres
humanos. Esses motivadores díspares – alguns heranças naturais, outros acidentes da
história e outros mais inovações humanas –
interagiram para impulsionar a produção e a
demanda a níveis recordes. No processo,
criaram um sistema econômico de abundância sem precedentes e impacto ambiental e
social sem paralelo.
A história começa com o consumidor.
Economistas de renome, desde Adam
Smith, têm alegado que os consumidores
são atores “soberanos” que fazem escolhas racionais a fim de maximizar sua satisfação. Ao contrário, os consumidores
tomam decisões falhas por intermédio de
um conjunto de julgamentos baseados em
informações incompletas e tendenciosas.
Suas decisões são basicamente movidas
pela propaganda, regras culturais, influências sociais, impulsos fisiológicos e asso-
ciações psicológicas, cada um dos quais
potenciais incrementadores do consumo.25
As motivações fisiológicas desempenham um papel central no estímulo ao consumo. O desejo inato do estímulo prazeroso
e alívio do desconforto são motivações
poderosas que evoluíram durante milênios
para facilitar a sobrevivência, como quando a fome leva uma pessoa a buscar comida. Esses impulsos são reforçados pelas
experiências dos consumidores. Produtos
que nos satisfizeram no passado são lembrados como prazerosos, aumentando o
desejo de consumi-los novamente. Nas
sociedades de consumo, onde alimentos e
outros bens são abundantes, esses impulsos estão levando a níveis danosos de consumo devido, em parte, a serem mais estimulados ainda pela propaganda. De fato,
estudos psicológicos recentes constataram
que esses impulsos podem até ser incitados subconscientemente, despertando um
desejo maior, como por uma bebida após a
sensação de sede ter sido instigada.26
Hábitos de consumo, também, têm
raízes sociais. O consumo é, em parte, um
ato social através do qual as pessoas expressam suas identidades pessoais e grupais
– escolhendo o jornal de uma certa linha
política, por exemplo, ou a moda preferida
entre pares sociais. Motivadores sociais
podem ser impulsionadores insaciáveis de
consumo, contrastando com o desejo por
alimento, água ou outros bens, que está
circunscrito aos limites da capacidade. Em
1954, o cidadão britânico comum, por
exemplo, podia contar com uma base material ampla – alimentos, vestuário, abrigo
e acesso a transporte em quantidade suficiente para levar uma vida digna. Assim, o
gasto maior que acompanhou a duplicação
13
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
da riqueza em 1994 foi, provavelmente, uma
tentativa de satisfazer necessidades sociais
e psicológicas. Após o primeiro par de sapatos, por exemplo, a posse de sapatos pode
não ter nada a ver com a proteção dos pés,
e sim com conforto, estilo ou status. Tais
desejos podem ser ilimitados e, portanto,
ter o potencial de manter o consumo em
constante crescimento.27
Estoques abundantes de bens, produto
de gigantescos aumentos de eficiência produtiva desde a Revolução Industrial, estimulam ainda mais a propensão social e psicológica da humanidade de consumir. Um
operário industrial moderno produz numa
semana o que suas contrapartidas no século XVIII realizavam em quatro anos. Inovações, como a linha de montagem de
Henry Ford, reduziram drasticamente o
tempo de produção de uma carroceria, de
12,5 horas em 1912 para 1,5 hora em 1913
– e têm melhorado tremendamente desde
então. Hoje, uma montadora da Toyota no
Japão produz 300 Lexuses completos, por
dia, empregando apenas 66 operários e 310
robôs. Aumentos de eficiência como estes
reduziram dramaticamente os custos e
incrementaram as vendas. Isso é mais evidente na indústria de semicondutores, na
qual eficiências de produção ajudaram a reduzir o custo de um megabit de computação, de cerca de US$ 20.000 em 1970, para
aproximadamente US$ 0,02 em 2001. Tamanha ordem de grandeza em capacidade
de computação a custos tão reduzidos atiçou a revolução da informática.28
A globalização também baixou os preços e estimulou o consumo. A partir de 1950
rodadas sucessivas de negociações comerciais reduziram gradativamente as tarifas
de muitos produtos, com conseqüências
14
diretas nos consumidores. Os australianos,
por exemplo, já têm hoje uma economia de
2.900 dólares australianos na compra de
um automóvel, devido a reduções tarifárias
que entraram em vigor após 1998. E o
Acordo da Tecnologia de Informação da
Organização Mundial de Comércio, em
1996, eliminou por completo as tarifas sobre a maioria dos computadores e outras
tecnologias de informação, com algumas
reduções chegando a 20–30%. As oito rodadas das negociações comerciais globais
desde 1950 atiçaram a expansão econômica mundial.29
Um mundo globalizante também permitiu que grandes corporações buscassem
além-fronteiras uma mão-de-obra mais barata – chegando a pagar poucos centavos
por hora. (Vide Capítulo 5.) Zonas de
processamento de exportação (ZPEs) –
áreas industriais minimamente regulamentadas que produzem bens para o comércio
global – vêm multiplicando-se ao longo das
últimas três décadas, em resposta à demanda por mão-de-obra barata e ao desejo de
incrementar exportações. Das 79 ZPEs em
25 países em 1975, houve um aumento
para cerca de 3.000 em 116 nações em
2002, com as zonas empregando cerca de
43 milhões de trabalhadores na montagem
de tênis, brinquedos, vestuário e outros
bens por muito menos do que custariam
nos países industrializados. As zonas aumentam a disponibilidade de mercadorias
baratas para consumidores globais, porém
são freqüentemente criticadas por abusos
em direitos trabalhistas e humanos.30
Enquanto isso, inovações tecnológicas
de todos os tipos aumentaram a eficiência
industrial, elevando a capacidade das pessoas e das máquinas na extração dos re-
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
cursos. Hoje, frotas de “supertraineiras”,
por exemplo, podem processar centenas de
toneladas de peixe por dia. São responsáveis, em parte, por declínios da ordem de
80% sofridos por comunidades de peixes
oceânicos nos 15 anos desde o início da
exploração comercial. Os equipamentos de
minas também são mais musculosos: nos
Estados Unidos, as mineradoras hoje dedicam-se à “remoção de cumes”, que pode
reduzir a altura de uma montanha em dezenas de metros. Além disso, a capacidade
dos caminhões octuplicou, aumentando de
32 para 240 toneladas entre 1960 e início
dos anos 90. E a produção por mineiro
americano mais que triplicou no mesmo
período. Finalmente, serrarias de cavaco –
instalações que lascam árvores inteiras em
cavacos para papel e compensados – podem transformar mais de 100 cargas de
árvores em cavacos diariamente. Esses
avanços da capacidade humana em explorar imensas áreas de recursos naturais, e a
custo baixo, ajudam a suprir os mercados
com produtos baratos – um estímulo a
maior consumo.31
Nas sociedades de consumo,
onde os alimentos e outros bens são
abundantes, os impulsos estão
levando a níveis danosos de consumo.
A energia barata e a melhoria dos
transportes também alimentaram a produção, reduzindo custos e facilitando o
aumento da distribuição. Apesar do surto nos preços do petróleo nos anos 70,
o preço deflacionado do petróleo estava
apenas 7% maior no período 1997–2001
do que no período 1970–74. E as reduções nos custos dos transportes ajudaram a disponibilizar maior quantidade de
bens para um maior número de pessoas. As taxas de frete aéreo caíram em
quase 3% anuais na maioria das rotas
internacionais entre 1980 e 1993, o que
ajuda a explicar por que produtos perecíveis como maçãs da Nova Zelândia ou
uvas do Chile são hoje facilmente encontradas em supermercados europeus
e americanos. Os mercados em expansão também permitem às empresas aumentar a divisão da mão-de-obra utilizada na produção e entrega de bens e
serviços e conseguir maior economia de
escala, cada uma das quais reduzindo
ainda mais os custos de produção.32
O ritmo incomparável desses avanços
tecnológicos durante o século XX levou à
adoção cada vez mais acelerada de novos
produtos. Nos Estados Unidos, passaramse 38 anos até que o rádio chegasse a uma
audiência de 50 milhões de pessoas, 13 anos
para a televisão atingir igual número e apenas 4 anos para a Internet fazer o mesmo.
Isso manteve as linhas de produção em pleno funcionamento nas indústrias da informação, nas quais a Lei de Moore – a
regra empírica de que a capacidade
microprocessadora dobra a cada 18 meses
– provocou o lançamento de computadores
e outros produtos digitais cada vez mais possantes. O suprimento regular de novos produtos, por sua vez, provocou giro acelerado nas últimas duas décadas – aumentando
ainda mais o consumo.33
As forças que movem o consumo são
encontradas até nas realidades econômicas que as modernas corporações enfren15
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
tam. A maioria das empresas
Bilhões de Dólares
tem custos fixos substanciais – 500
(base=2001)
maquinaria pesada, prédios fabris e veículos de entrega ne- 400
cessários para produzir e vender seus produtos. Uma indús- 300
Mundo
tria de última geração de
semicondutores, por exemplo,
200
custa hoje algo em torno de US$
Estados Unidos
3 bilhões, um gigantesco investimento, que deve gerar retor- 100
Fonte: McCann-Erickson
no mesmo quando as vendas
0
estão fracas. Os custos fixos,
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
então, representam risco financeiro. Esse perigo pode ser re- Figura 1-1. Gastos em Publicidade nos Estados Unidos
e Mundiais, 1950–2002
duzido por meio do aumento
da produção e das vendas,
para que os custos fixos diluam-se por onde os anúncios representam cerca de
um maior volume de produtos e maior dois terços do espaço de um jornal codiversidade de mercados. Assim, a pres- mum, quase metade da correspondência
são constante para a cobertura dos cus- que os americanos recebem, e cerca de
tos fixos cria uma urgência na amplia- um quarto da programação da televisão.
ção da produção – e na busca de novos Mas a publicidade também expande-se
clientes para adquirirem a produção con- mundialmente. Gastos em publicidade
fora dos Estados Unidos aumentaram 3,5
tínua dos bens.34
A necessidade de novos clientes in- vezes ao longo de 20 anos, com os mercentiva as empresas a desenvolver uma cados emergentes mostrando um crescigama de novos instrumentos destinados mento particularmente acelerado. Na
a estimular a demanda, muitos dos quais China, os gastos em anúncios publicitáse aproveitam das necessidades fisioló- rios aumentaram 22% só em 2002.35
gicas, psicológicas e sociais das pessoA publicidade está cada vez mais dirigida
as. A propaganda tem sido, talvez, o mais e sofisticada, como se vê pelos esforços
poderoso desses instrumentos. Hoje, a de veiculação de produtos nos filmes e propublicidade permeia quase todos os as- gramas de televisão. Estudos recentes conspectos da mídia, incluindo transmissões tataram que mais da metade dos casos de
comerciais, mídia impressa e Internet. Os novos fumantes entre a juventude deveugastos globais em publicidade atingiram se à sua exposição ao fumo em filmes, por
US$ 446 bilhões em 2002 (em dólares de exemplo. E apesar de uma “proibição” vo2001), um aumento quase nove vezes luntária na veiculação de produtos por parsuperior a 1950 (Vide Figura 1-1.) Mais te da indústria, nos Estados Unidos a
da metade foi gasta nos Estados Unidos, veiculação efetiva quase duplicou, com 85%
16
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
dos 250 principais filmes realizados entre
1988 e 1997 mostrando fumantes em cena.
De fato, o fumo está mais predominante
nos filmes do que entre a população dos
Estados Unidos. Com Hollywood
auferindo talvez metade da sua receita de
vendas fora dos Estados Unidos, o fumo
nos filmes continua a formar padrões de
conduta também. E os estúdios estrangeiros prestam-se, cada vez mais, como
veículos de propaganda do tabaco. Entre
1991 e 2002, cerca de três quartos dos
filmes produzidos em Bollywood (o equivalente indiano de Hollywood) continham
cenas de fumantes.36
Práticas inovadoras de vendas também
ajudaram a incrementar a demanda. A introdução do cartão de crédito nos Estados Unidos, nos anos 40, ajudou a aumentar o total
do consumo quase onze vezes entre 1945 e
1960. Hoje, o uso maciço de cartões de crédito é incentivado vigorosamente, uma vez
que os lucros das empresas emitentes dependem da manutenção de grandes saldos
mensais por parte dos consumidores. Em
2002, 61% dos usuários de cartões de crédito nos Estados Unidos mantiveram um
saldo médio mensal em aberto de US$
12.000, a uma taxa de juros anual de 16%.
(Vide Capítulo 5.) Dessa forma, um usuário
pagaria cerca de US$ 1.900 anuais em custos financeiros – mais do que a renda média
per capita (na paridade de poder de compra) de pelo menos 35 países.37
O crédito também incentiva o gasto na
Ásia, América Latina e Europa Oriental. No
Leste Asiático, a parcela familiar dos empréstimos bancários totais aumentou de
27%, em 1997, para 40% em 2000. Em
vários países, as principais montadoras
estão ampliando sua linha de produção de-
vido a essa explosão do financiamento. Um
dos diretores da General Motors, Philip
Murtaugh, realça a importância do crédito
na China: “Assim que implantamos o tipo
de sistema financeiro abrangente da GM,
como temos nos Estados Unidos, antecipamos um grande salto nas vendas”.38
Finalmente, políticas governamentais
são, às vezes, responsáveis pelo incremento do consumo. Subsídios econômicos,
que hoje totalizam cerca de US$ 1 trilhão
anuais, mundialmente, age como uma
marola através da economia, estimulando
o consumo ao longo do seu curso. O governo dos Estados Unidos, por exemplo,
desde a II Guerra Mundial, subsidiou a
construção de residências suburbanas por
intermédio de benefícios fiscais e outros
incentivos. Lares suburbanos espaçosos
ajudaram a atiçar o consumo de uma vasta gama de bens de consumo duráveis,
incluindo refrigeradores, televisores, mobílias, lavadoras e automóveis. Estes, por
sua vez, requerem enormes quantidades
de matérias-primas, um terço do ferro e
aço, um quinto do alumínio e dois terços
do chumbo e borracha nos Estados Unidos. E a expansão dos subúrbios levou a
um maior gasto público em novas rodovias, postos de bombeiros, delegacias de
polícia e escolas. O Centro de Tecnologia
Distrital de Chicago constatou, no final dos
anos 90, que empreendimentos imobiliários de baixa intensidade são cerca de 2,5
vezes mais intensivos no uso de materiais
do que os empreendimentos de alta densidade. Assim, a decisão de subsidiar residências suburbanas teve um grande efeito
nos padrões de consumo nos Estados
Unidos na última metade do século XX.39
17
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
Problemas no Paraíso
Em Capitalismo Natural, uma análise das
economias industriais em 1999, seus autores, Paul Hawkins, Amory Lovins e Hunter
Lovins, declaram que os Estados Unidos
geram um volume gigantesco do que estes
chamaram de “desperdício” – todo gasto
para o qual nenhum valor é recebido. Esses
desembolsos pagam por uma multidão de
subprodutos indesejados do sistema econômico americano, inclusive poluição hídrica
e atmosférica, tempo perdido em engarrafamentos do trânsito, obesidade e crime,
entre muitos outros. De acordo com os cálculos dos autores, esse desperdício custou
aos Estados Unidos pelo menos US$ 2 trilhões
em meados dos anos 90 – cerca de 22% do
valor da economia. Essa estimativa, evidentemente, é uma projeção, porém a análise é
útil ao chamar a atenção de forma abrangente
à quase despercebida subestrutura das economias industriais modernas. O custo
ambiental e social das economias industriais
está cada vez mais evidente.40
Realmente, a própria existência do
desperdício, ou refugo no sentido mais
tradicional – seja de domicílios, minas,
canteiros de obras e fábricas –, demonstra que as economias industriais são falhas em seus projetos. Contrastando
com os bens e serviços produzidos pelos milhões de outras espécies do nosso
planeta, que geram subprodutos úteis e
não refugo sem valor, as economias humanas são projetadas sem muita atenção aos resíduos da produção e do consumo. O impacto dessa falha é gigantesco, a começar pelo extrativismo. Por
cada tonelada aproveitável de cobre, por
exemplo, são descartadas 110 toneladas
18
de restos rochosos e minérios. À medida que os metais rareiam, o refugo tende a aumentar: para se obter o ouro necessário para fazer uma aliança de casamento, são produzidas cerca de 3 toneladas de resíduo tóxico. 41
Quase todos os ecossistemas
mundiais estão perdendo lugar
para residências, fazendas,
shoppings e fábricas.
O refugo do consumo é igualmente
sombrio, especialmente nos países ricos.
O habitante comum de um país da OCDE
gera 560 quilos de lixo urbano por ano e,
com exceção de três, todos os 27 países
geraram mais, per capita, em 2000 do
que em 1995. Mesmo nos países considerados líderes em política ambiental,
como a Noruega, a redução dos fluxos
de lixo é um desafio constante. Em 2002,
o norueguês comum gerou 354 quilos de
lixo, 7% mais do que no ano anterior. A
proporção do lixo reciclado também
cresceu, porém estancou em menos da
metade do total gerado. Enquanto isso,
os americanos continuam sendo os campeões mundiais do lixo, produzindo, per
capita, 51% mais lixo urbano do que o
habitante comum de qualquer outro país
da OCDE. Há um vislumbre de boas notícias dos Estados Unidos: o índice per
capita aparentemente estabilizou-se nos
anos 90. Mesmo assim, somando-se os
altos níveis de lixo por cidadão americano ao crescimento contínuo da população dos Estados Unidos, chega-se a um
entulho descomunal.42
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
As tendências do uso dos recursos e
da saúde dos ecossistemas indicam que
as áreas naturais também estão sob o
estresse das pressões crescentes do consumo. (Vide Tabela 1-7.) Uma equipe internacional de ecólogos, economistas e
biólogos conservacionistas publicaram um
estudo em Science, em 2002, indicando
que quase todos os ecossistemas mundiais estão perdendo lugar para residências,
fazendas, shoppings e fábricas. Como revela o estudo, a relva marinha e leitos de
algas estão declinando 0,01–0,02% ao ano,
florestas tropicais 0,8%, pesqueiros marinhos 1,5%, ecossistemas de água doce
(pântanos, baixios, lagos e rios) 2,4% e
manguezais em assustadores 2,5%. Também mencionou grandes perdas anuais,
difíceis de quantificar, de recifes de coral, pradarias e terras cultivadas. Apenas
as florestas temperadas e boreais mostraram revitalização, aumentando 0,1% ao
ano após décadas de declínio. Verificações
constantes de declínio ambiental global
podem ser encontradas no Índice Planeta
Vivo, um instrumento desenvolvido pela
WWF International (Fundo Mundial para
a Natureza) para medir a saúde das florestas, oceanos, rios e outros sistemas
naturais. O Índice mostra um declínio de
35% na saúde ecológica do planeta desde
1970. (Vide Figura 1-2.)43
Tabela 1-7. Tendências Globais dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente
Indicador Ambiental
Tendência
Combustíveis fósseis O consumo global de carvão, petróleo e gás natural foi 4,7 vezes maior em 2002 do que em
e a atmosfera
1950. Os níveis de dióxido de carbono em 2002 foram 18% maiores do que em 1960, e estão
estimados em 31% a mais desde o início da Revolução Industrial, em 1750. Os cientistas
atribuíram a tendência de aquecimento durante o século XX ao acúmulo de dióxido de carbono
e outros gases retentores de calor.
Degradação de
Mais da metade das terras alagadas do planeta, desde pântanos costeiros a baixios interioranos,
ecossistemas
foi perdida devido, em grande parte, à drenagem ou aterro para loteamentos ou agricultura.
Cerca da metade da cobertura florestal original do mundo também já deixou de existir, enquanto
outros 30% estão degradados ou fragmentados. Em 1999, o consumo global de madeira para
combustível, madeireiras, papel e outros produtos foi mais que o dobro do consumo de 1950.
Nível do mar
O nível do mar subiu 10 – 20 centímetros no século XX, uma média de 1– 2 milímetros ao ano,
como conseqüência do degelo da massa continental polar e da expansão dos oceanos devido à
mudança climática. Pequenas ilhas-nações, embora responsáveis por menos de 1% das emissões
globais de gases de estufa, correm o risco de serem inundadas pelo aumento do nível do mar.
Solo/terras
Cerca de 10 – 20% das terras cultivadas mundiais sofrem algum tipo de degradação, enquanto
mais de 70% dos pastos globais estão degradados. Ao longo do último meio século, a degradação
do solo reduziu a produção de alimentos em cerca de 13% nas terras cultivadas e 4% nos pastos.
Pesqueiros
Em 1999, o pescado total foi 4,8 vezes o volume de 1950. Apenas nos últimos 50 anos as
frotas de traineiras pescaram pelo menos 90% de todos os grandes predadores oceânicos –
atum, marlim, peixe-espada, tubarão, bacalhau, halibut, arraia e linguado.
Água
O bombeamento excessivo da água subterrânea está causando declínio dos lençóis freáticos em
regiões agrícolas chave na Ásia, África do Norte, Oriente Médio e Estados Unidos. A qualidade
da água também está deteriorando-se devido ao escoamento de fertilizantes e pesticidas,
produtos petroquímicos que vazam de tanques de armazenagem, solventes clorados, metais
pesados despejados pelas indústrias e lixo radioativo de usinas nucleares.
FONTE: vide nota final 43.
19
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
sumo já haviam excedido a
capacidade ecológica do planeta no final dos anos 70 ou
2,5
início dos anos 80. Tamanho
superconsumo só é possível
2,0
por meio da redução dos esÍndice do Produto
Mundial Bruto
toques das reservas naturais,
1,5
como quando a água de poço
é bombeada a ponto de redu1,0
Índice Planeta Vivo
zir os níveis freáticos. 44
A busca agressiva de uma
0,5
sociedade de consumo de
Fonte: Maddison, FMI, WWF Intl, PNUMA, RP
massa também corre-laciona0,0
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000 se com um declínio dos indicadores de saúde em muitos
Figura 1-2. Mudanças na Atividade Econômica e na
países. “Doenças do consuSaúde dos Ecossistemas, 1970–2000
mo” continuam a crescer. O
fumo, por exemplo, um hábiUma medida do impacto do consu- to de consumo alimentado por dezenas
mo humano sobre os ecossistemas glo- de bilhões de dólares em publicidade,
bais é encontrada no sistema de conta- contribui para cerca de 5 milhões de
bilidade da “pegada ecológica,” que mede mortes, mundialmente, a cada ano. Em
a quantidade de terra produtiva que uma 1999, despesas médicas e perdas de proeconomia requer para produzir os recur- dutividade relacionadas ao tabaco custasos de que precisa e assimilar seus resí- ram aos Estados Unidos mais de US$ 150
duos. Cálculos realizados pelo grupo bilhões – quase uma vez e meia a receita
californiano Redefining Progress reve- das cinco maiores multinacionais de fumo
lam que a Terra possui 1,9 hectare, per naquele ano. Igualmente, o excesso de
capita, de terras produtivas para suprir peso e a obesidade, resultantes geralmente
recursos e absorver resíduos. Todavia, de uma dieta inadequada e estilo de vida
são tão grandes as demandas ambientais cada vez mais sedentário, afetam mais de
das economias mundiais que o cidadão um bilhão de pessoas, reduzindo a qualicomum hoje utiliza 2,3 hectares de terra dade de vida, custando bilhões em trataprodutiva. Esse número global oculta, mento de saúde à sociedade e contribucertamente, uma enorme variedade de indo para o aumento acelerado da diabete.
pegadas ecológicas – desde os 9,7 hec- Nos Estados Unidos, cerca de 65% dos
tares demandados pelo americano co- adultos estão com excesso de peso ou
mum, até o 0,47 hectare utilizado pelo obesos, causando uma perda anual de
moçambicano comum. A análise das pe- 300.000 vidas e pelo menos US$ 117 bigadas revela que os níveis totais de con- lhões em tratamento de saúde em 1999.45
1970=1,0
3,0
20
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
O fracasso da tese de que mais
riqueza e consumo proporcionam às
pessoas uma vida mais realizada
pode ser o argumento mais eloqüente
para uma reavaliação da nossa
abordagem do consumo.
A “saúde social” em geral também caiu
nos Estados Unidos nos últimos 30 anos,
conforme o Índice de Saúde Social da Universidade Fordham. Esse índice documenta
aumentos da pobreza, suicídio juvenil, carência de seguro-saúde e desigualdade de
renda a partir de 1970. E apesar de possuir
níveis de consumo superiores à maioria das
nações industrializadas, os Estados Unidos
têm o pior escore em inúmeros índices de
desenvolvimento: está em último lugar entre os 17 países da OCDE medidos no Índice de Pobreza Humana dos países industrializados, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que compila
indicadores de pobreza, analfabetismo funcional, longevidade e inclusão social.46
Um estudo da OCDE também documentou o desengajamento de envolvimento
cívico em alguns países industrializados,
particularmente os Estados Unidos e Austrália. Em ambos os países, o número de
associados em organizações formais tem
caído, como tem caído também a intensidade de participação em termos de presença e disposição de assumir lideranças. Enquanto isso, interações sociais informais –
jogar cartas com vizinhos, ir a piqueniques,
etc. – também declinaram sensivelmente em
ambos os países, da mesma forma que os
níveis de confiança entre pessoas e insti-
tuições. Dados de outros países prósperos
são mais encorajadores, embora já estejam
evidentes alguns sinais de desengajamento
social. A participação organizacional continua alta em muitos países europeus, mas o
nível de envolvimento e interação pessoal
está em queda em algumas nações e a participação é, freqüentemente, mais transitória do que no passado. Até na Suécia, com
fortes redes comunitárias e sociais, há sinais preocupantes: o engajamento político
é cada vez mais passivo e os níveis de confiança nas instituições estão caindo.47
Robert Putnam, professor de Políticas
Públicas da Universidade de Harvard, identificou limitações de tempo, dispersão
residencial e longa permanência frente à televisão como os três destaques da sociedade
americana que podem explicar o declínio no
engajamento cívico e, em conjunto, responsáveis por parte da situação. Todos os três
estão ligados ao alto consumo: pressões de
tempo estão freqüentemente ligadas à necessidade de trabalhar longas horas para sustentar hábitos de consumo; a dispersão é resultado da dependência do automóvel e do desejo de casas e terrenos maiores; e o longo
tempo frente à televisão ajuda a promover o
consumo através da exposição à publicidade
e programações que freqüentemente romantizam estilos consumistas de vida.48
Talvez a prova mais contundente de o
consumo contínuo estar gerando benefícios decrescentes esteja nos estudos que comparam o nível cada vez mais alto de riqueza
pessoal nos países ricos, com a parcela estagnada da população, nessas nações, que
alega estar “muito feliz”. Embora a felicidade auto-revelada entre os pobres tenda a
crescer com o aumento da renda, os estudos revelam que o elo entre felicidade e au21
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
mento de renda é quebrado logo que níveis
modestos de renda são atingidos. O fracasso da tese de que mais riqueza e consumo
proporcionam às pessoas uma vida mais
realizada pode ser o argumento mais eloqüente para uma reavaliação da nossa abordagem do consumo.49
O desapontamento pela capacidade de o
consumo produzir vidas mais realizadas está
gerando descontentamento entre acadêmicos,
legisladores e a população. Um grande número de livros publicados nos anos 90 documentou o desagrado com as sociedades organizadas em torno do consumo. Os títulos
dizem tudo: O Americano Pródigo, O Americano Estressado, Um Século Todo
Consumista, Confrontando o Consumo e O
Alto Preço do Materialismo, entre outros.
Embora as análises divirjam, todos esses autores expressam o ponto de vista de que as
sociedades focadas no consumo não são sustentáveis, por razões ambientais ou sociais.
Descontentamento com um compromisso com o alto consumo ficou patente
também em termos políticos e básicos.
Vários governos europeus já estão
implementando ou planejando reformas de
horários de trabalho e férias, por exemplo.
E algumas pessoas na Europa e nos Estados Unidos estão começando a adotar estilos de vida mais simples. De forma lenta,
mas constante, já é evidente o interesse das
pessoas em atribuir ao consumo um papel
mais coadjuvante do que principal.50
Um Novo Papel
para o Consumo
Apesar dos problemas associados à sociedade de consumo, e não obstante as medidas experimentais para redirecionar as
22
sociedades para um caminho menos danoso, a maioria das pessoas nos países industrializados ainda continua numa rota de
consumo ascendente e muitas outras, nos
países em desenvolvimento, permanecem
atoladas na pobreza. A fim de promover o
interesse experimental por um novo papel
para o consumo, qualquer visão terá que
incluir respostas a quatro quesitos-chave:
• Estará a classe de consumidor global
tendo uma qualidade de vida melhor
em função dos seus níveis crescentes de consumo?
• Poderão as sociedades perseguir o
consumo de forma equilibrada, especialmente harmonizando o consumo
ao ambiente natural?
• Poderão as sociedades reformular as
opções do consumo para uma escolha genuína?
• Poderão as sociedades priorizar o
atendimento às necessidades básicas
de todos?
De modo geral, os consumidores estarão se beneficiando da cultura global
de consumo? Indivíduos, importantes
árbitros dessa questão, podem considerar os custos pessoais associados a altos
níveis de consumo, dívida financeira,
tempo e estresse relacionado ao trabalho
para sustentar um alto consumo e ao tempo necessário para limpar, melhorar, guardar ou, de outra forma, manter as posses. E como o consumo substitui o tempo com família e amigos.
Tanto indivíduos quanto legisladores devem analisar o aparente paradoxo de que a
qualidade de vida, freqüentemente, é melhorada quando se age dentro de limites clara-
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
mente definidos sobre o consumo. As florestas, por exemplo, podem ser
disponibilizadas para todos indefinidamente
se não forem exploradas mais rapidamente
que sua taxa de renovação. Igualmente, aquele que adotar parâmetros claros de bem-estar pessoal – exercitando-se diariamente e
alimentando-se bem, por exemplo – provavelmente terá uma qualidade de vida melhor
do que outro que consuma de forma
desordenada e irrestrita. Na realidade, a premissa básica da economia do consumo em
massa – ou seja, que o consumo ilimitado é
aceitável, e até desejável – choca-se, fundamentalmente com os padrões de vida do
mundo natural e com os ensinamentos sobre moderação, comuns a filósofos e líderes religiosos em todas as culturas e através
de grande parte da história da humanidade.
A premissa básica da economia do
consumo em massa – ou seja, que
o consumo ilimitado é aceitável, e
até desejável – choca-se,
fundamentalmente, com os
padrões de vida do mundo natural.
Segundo, será que nosso consumo está
economicamente, socialmente e ambientalmente equilibrado? Nas sociedades de
consumo em massa, as leis e incentivos econômicos freqüentemente encorajam as pessoas a cruzar importantes limiares econômicos, ambientais e sociais. Bancos e agências de crédito instam os consumidores a
assumir dívidas pesadas; empresas e indivíduos exploram florestas, água subterrânea
e outros recursos renováveis além de suas
taxas de renovação; e os empregadores
freqüentemente premiam trabalhadores que
passam longas horas no trabalho. Cada um
desses excessos impõe um preço em bemestar pessoal ou social. Existem inúmeras
formas imaginativas de harmonizar as opções de consumo às necessidades sociais e
ambientais – desde legislação estabelecendo
níveis obrigatórios de teores de reciclagem,
até leis de “devolução” de produtos que responsabilizam os fabricantes pelos produtos
e resíduos que criam.
Terceiro, estarão sendo proporcionadas aos consumidores oportunidades de
escolha genuínas, que os ajudam a atender suas necessidades? Claramente, as
sociedades de consumo em massa oferecem mais produtos e serviços do que qualquer outro sistema econômico da história
da humanidade. Todavia, os consumidores nem sempre encontram o que precisam. Consideremos os transportes: o acesso seguro e conveniente a apenas cinco
alternativas – andar a pé, de bicicleta,
transportes públicos, transporte solidário
ou carro particular – poderá proporcionar
opções mais eficazes de levar as pessoas
a seus destinos do que uma escolha entre
100 modelos numa revendedora de automóveis. E onde a escolha genuína estiver
presente a opção mais desejável pode não
ser acessível, como ocorre com alimentos orgânicos em alguns países. Os governos precisam reformular incentivos e
regulamentos econômicos para facilitar às
empresas a oferta de opções acessíveis
que atendam às necessidades dos clientes. Também têm um papel na contenção
dos excessos do consumo, principalmente através da remoção de incentivos para
consumir – desde a energia subsidiada até
23
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
a promoção de empreendimentos imobiliários de baixa densidade.
Finalmente, poderão as sociedades criar uma ética de consumo que priorize o
atendimento às necessidades básicas de
todos? O bem-estar físico – incluindo acesso adequado a alimentos sadios, água potável e saneamento, educação, tratamento
de saúde e segurança pessoal – é base de
todas as realizações individuais e sociais.
Negligenciar essa base inevitavelmente limitará a capacidade de muitos realizarem
seu potencial pessoal – e sua capacidade
de fazer contribuições significativas à sociedade. Num mundo em que há mais pessoas vivendo com menos de US$ 2 por dia
do que há na classe de consumidores globais, a busca contínua por maior riqueza
pelos ricos – quando há pouca evidência
de que isso aumente a felicidade – suscita
questões éticas graves.
Além do imperativo ético, a assistência a
todos é uma razão de auto-ajuda. A falta de
atenção às necessidades dos mais pobres
pode causar maior insegurança aos mais
prósperos e maiores gastos em medidas
24
defensivas. A necessidade de gastar bilhões
de dólares em guerras, segurança de fronteiras e manutenção da paz está seguramente relacionada à negligência mundial
aos prementes problemas sociais e
ambientais. O mesmo ocorre em termos
comunitários. Gastos em educação particular, comunidades cercadas, sistemas de alarme doméstico são apenas algumas das formas em que a falta de investimentos nos
mais pobres retorna para assombrar os ricos. Atender às necessidades básicas de todos, então, tanto é certo quanto inteligente.
Tratar dessas quatro questões daria ao
consumo um papel menos central em nossas vidas e liberaria tempo para o aperfeiçoamento comunitário e o fortalecimento
das relações interpessoais – fatores que os
psicólogos dizem ser essenciais para uma
vida realizada. Ao redirecionar as prioridades sociais em direção à melhoria do bemestar das pessoas, em vez de simplesmente acumular bens, o consumo poderá agir
não como o motor que conduz a economia, e sim como um instrumento que proporciona uma qualidade melhor de vida.
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Sacos Plásticos
Sacos plásticos são o item de
consumo mais comum na face
da Terra. Sua leveza, baixo
custo e impermeabilidade os
tornam extremamente
convenientes para carregar
mantimentos, peças de
vestuário ou qualquer outra
compra do dia-a-dia, sendo
difícil imaginar a vida sem eles.
As primeiras “embalagens” plásticas
para pão, sanduíches, frutas e outras
verduras surgiram nos Estados Unidos, em
1957. Sacos plásticos de lixo já estavam
presentes nos lares e ao longo das calçadas
em todo o mundo no final dos anos 60. Mas
esses itens popularizaram-se realmente em
meados dos anos 70, quando um novo
processo de produção barata de sacos
plásticos tornou possível para os grandes
varejistas e supermercados oferecerem a
seus clientes uma alternativa para os sacos
de papel. Hoje, em cada cinco sacos usados
nos mercados, quatro são plásticos, do tipo
de duas alças, semelhantes a uma camiseta.1
Esses sacos partem do petróleo bruto,
gás natural ou outros derivados
petroquímicos, que são transformados nas
fábricas de plásticos em cadeias de
moléculas de hidrogênio e carbono,
conhecidas como polímeros ou resina de
polímero. (Resina de polietileno de alta
densidade é o padrão industrial para os
sacos plásticos.) O polietileno é
superaquecido e a resina líquida é
extraída com um tubo, semelhante ao
processo de fabricar macarrão.
Quando se obtém a forma
desejada, a resina é
resfriada e endurecida,
podendo ser achatada,
selada, reforçada,
perfurada ou impressa.2
Os sacos plásticos
típicos, que pesam apenas alguns gramas e
têm poucos milímetros de espessura,
poderiam parecer completamente inócuos
não fosse o gigantesco volume da produção
global. Fábricas em todo o mundo
produziram aproximadamente 4–5 trilhões de
sacos plásticos – desde grandes sacos de
lixo e sacolas resistentes para lojas até sacos
mais finos para supermercados – em 2002, de
acordo com estimativas do Chemical Market
Associates, uma firma de consultoria da
indústria petroquímica. A América do Norte e
Europa Ocidental são responsáveis por
quase 80% do consumo desses produtos. Os
americanos descartam, anualmente, 100
bilhões de sacos plásticos, que estão se
tornando cada vez mais comuns também nas
nações mais pobres. E hoje sacos produzidos
na Ásia representam um quarto dos sacos
usados nas nações ricas.3
25
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: SACOS PLÁSTICOS
A produção de sacos plásticos
consome cerca de 20–40% menos energia
e água do que a produção de sacos de
papel e gera menos poluição e resíduos
sólidos, conforme avaliações de ciclo de
vida por parte de grupos industriais e
não-industriais. Representantes da
indústria de plástico também observam
que sacos de papel ocupam menos
espaço num aterro e que nenhum dos
dois produtos decompõe-se sob as
condições predominantes nos aterros.
(Sob condições adequadas, o saco de
papel decompõe-se rapidamente,
enquanto o mesmo não ocorre com o
saco plástico.)4
Porém muitos sacos não encontram o
caminho dos aterros. Alguns são levados
pelo ar depois de descartados. No Quênia,
fazendeiros e conservacionistas reclamam
contra sacos presos em cercas, árvores e
mesmo nas goelas de pássaros. Em
Xangai, o governo estava gastando tanto
dinheiro na limpeza de sarjetas, esgotos e
templos antigos que lançou uma
campanha para encorajar as pessoas a
darem nós nos sacos, para impedi-los de
serem levados pelo vento. O irlandês
denomina os sacos, onipresentes, de sua
“bandeira”; os sul-africanos resolveram
apelidá-lo de “flor nacional”.5
Alguns fabricantes introduziram
recentemente no mercado sacos
plásticos biodegradáveis ou orgânicos,
fabricados com amidos, polímeros ou
ácido polilático, e não polietileno. Até
agora, estes correspondem a menos de
1% do mercado a preços proibitivos,
conforme o Biodegradable Products
Institute, uma associação que promove
o uso de materiais poliméricos
biodegradáveis. Não obstante, os
organizadores dos Jogos Olímpicos
26
2000, em Sidnei, Austrália, recolheram
76% dos restos de comida gerados nos
eventos esportivos e vila olímpica
usando utensílios e sacos plásticos
biodegradáveis, que se decompõem tão
rapidamente quanto o alimento,
eliminando a necessidade de separar o
lixo. (Na primavera seguinte, a
compostagem adubou os jardins da
cidade.) 6
Em outros países, governos e
indivíduos propõem uma solução mais
permanente, que não dependa de nova
tecnologia. A Aliança de Mulheres de
Ladack e outros grupos de cidadãos
lideraram uma campanha bem-sucedida
no início dos anos 90 para proibir sacos
plásticos naquela província da Índia,
onde o dia 1 o de maio é agora
comemorado como “Dia da Proibição do
Plástico”. Bangladesh deu início à sua
própria proibição após constatar que
sacos descartados estavam entupindo
esgotos e drenos pluviais, aumentando
as inundações e a incidência de doenças
veiculadas pela água. 7
Em janeiro de 2002, o governo da
África do Sul agiu, exigindo que a
indústria fabricasse sacos mais
resistentes e mais caros, a fim de
desencorajar o descarte – provocando
uma redução de 90% em seu uso. A
Irlanda criou um imposto de 15 centavos
por saco a partir de março de 2002, o que
levou a uma redução de 95% em seu uso.
Austrália, Canadá, Índia, Nova Zelândia,
Filipinas, Taiwan e Reino Unido também
planejam proibir ou taxar os sacos
plásticos. 8
Supermercados em todo o mundo
estão tomando a iniciativa de encorajar
seus clientes a dispensarem os sacos – ou
trazerem suas próprias sacolas –
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: SACOS PLÁSTICOS
concedendo um pequeno desconto por
saco ou cobrando uma pequena taxa por
estes. A Weaver Street Market, uma
mercearia comunitária na Carolina do
Norte, deu um passo além ao vender
sacolas de lona com desconto. As vendas
dessas alternativas duráveis
quintuplicaram, declarou o gerente James
Watts, e o uso de sacos plásticos
despencou. “É bom para os negócios e
também para o meio ambiente”,
acrescentou . Entretanto, a idéia de levar
sacolas reutilizáveis sempre que se vai às
compras é tão simples e óbvia que a
maioria das pessoas pode não perceber o
grande impacto que pode ter.9
— Brian Halweil
27
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
CAPÍTULO 2
Escolhendo Melhor
a Energia
Janet L. Sawin
Aninhadas entre as ondulantes e verdes
colinas ao sul do Estado de West Virginia,
encontram-se velhas cidades como Clear
Creek, Duncan Fork, Superior Bottom e
White Oak. As Montanhas Apalaches nessa região abrigam algumas das pessoas
mais pobres dos Estados Unidos. Durante
gerações, os habitantes dependeram da mineração do carvão para seus empregos e
sustento. Mas muitos acreditam que “as
Apalaches estão sendo assaltadas” e que a
indústria que os sustentaram por gerações
está hoje empobrecendo-os. Cumes estão
sendo explodidos para extrair o carvão que
cobriam. No processo, montanhas transformaram-se em terra agreste, florestas
nobres desapareceram, córregos entupiram-se com lodo tóxico, poços secaram e
comunidades inteiras foram expulsas.1
A quilômetros de distância desses cumes áridos, alguém chega em casa e acende a luz, querendo apenas clarear a escuridão, sem pensar no que isso envolve além
das paredes da casa. Para a grande maioria
de pessoas, a eletricidade é uma força invi28
sível que flui mágica e silenciosamente para
iluminar um cômodo, resfriar um refrigerador, aquecer um fogão ou dar vida à televisão. Entre uma conta de energia e outra,
a maioria pouco pensa a respeito.
Todavia, no momento em que alguém
aciona um interruptor de luz, ou liga um
computador, uma reação em cadeia entra
em ação. A corrente flui para o imóvel, através de linhas de transmissão que se estendem por meio de campos e vias urbanas,
trazendo eletricidade de usinas distantes. Ao
longo do caminho, grande parte dessa energia perde-se pela resistência nas linhas de
transmissão e dissipa-se como calor.
Para criar eletricidade, em grande parte
do mundo pilhas gigantescas de carvão são
conduzidas por correias transportadoras
para serem pulverizadas em um fino pó e
lançadas numa fornalha na usina. O fogo
produz vapor d’água, que move um gerador, a fim de produzir uma corrente elétrica. No processo, a usina emite poluentes
que causam chuva ácida e nevoeiro
enfumaçado, como também mercúrio e
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
dióxido de carbono (CO2), um gás de aquecimento global. No máximo, 35% da energia do carvão é convertida em eletricidade,
o que significa que quase dois terços são
perdidos sob a forma de calor de escape,
sem beneficiar ninguém e freqüentemente
prejudicando os ecossistemas vizinhos. E
todo esse carvão tem que ser transportado
para a usina, por trens ou chatas, de locais
como as Montanhas Apalaches ou sul de
West Virginia.2
Tudo o que consumimos ou utilizamos
– nossos lares, seu conteúdo, nossos carros e as vias que percorremos, as roupas
que usamos e os alimentos que comemos
– requer energia para ser produzido e embalado, distribuído às lojas ou em domicílio, operado e depois descartado. Raramente
pensamos de onde vem essa energia ou
quanto consumimos – ou de quanto realmente precisamos.
Seja na forma de gasolina para alimentar um carro, ou urânio para gerar eletricidade, a energia necessária para sustentar
nossas economias e estilos de vida proporciona grande conveniência e benefícios.
Mas também impõe altos custos à saúde
humana, aos ecossistemas e até à segurança. O consumo de energia afeta tudo, desde a dívida externa de um país (devido às
importações de combustíveis) até a estabilidade do Oriente Médio. Desde o ar que
respiramos até a água que bebemos, nosso
uso da energia afeta a saúde das gerações
atuais e futuras. O uso ineficiente e insustentável da biomassa em países pobres leva
ao desmatamento e desertificação, enquanto
o uso insustentável de combustíveis fósseis está alterando o clima global. E à medida que buscamos fontes mais remotas de
combustível, colocamos em perigo a cul-
tura e o modo de vida de povos indígenas,
da Amazônia ao Ártico.
A intensidade energética – ou seja, o
insumo de energia por dólar de produto –
da economia global está em declínio, tendo
havido melhorias contínuas de eficiência
energética nas décadas recentes. Todavia,
essas melhorias estão sendo neutralizadas
por um nível cada vez maior de consumo
em todo o mundo. Naturalmente, não é de
se estranhar que o uso de energia esteja
crescendo nos países em desenvolvimento, onde a maioria das pessoas nunca dirigiu um carro, ligou um ar-condicionado ou
cozinhou utilizando outra coisa que não lenha ou dejeto animal. À proporção que obtêm melhoria de vida, seu uso de energia
aumenta, e vice-versa.
O que é mais surpreendente é o aumento dramático do uso de energia em muitos
países industrializados. Em comparação a
apenas 10 anos atrás, por exemplo, os
americanos estão dirigindo carros maiores
e menos eficientes, comprando casas maiores e mais eletrodomésticos. Conseqüentemente, o consumo de petróleo nos Estados Unidos aumentou ao longo da década
em quase 2,7 milhões de barris/dia – mais
do que é consumido, diariamente, na Índia
e no Paquistão, que, conjuntamente, têm
mais de quatro vezes a população dos Estados Unidos. Será que essa demanda crescente é sustentável? E deverá haver uma
mudança fundamental no modo que produzimos e consumimos energia?3
O tipo e o volume de energia que as pessoas consomem são influenciados por vários fatores, incluindo renda, clima, recursos
disponíveis e políticas corporativas e governamentais. Por intermédio de impostos,
subsídios, regulamentos, normas e investi29
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
mentos em infra-estrutura, os governos influenciam como, onde, quanto e que forma
de energia utilizamos. Mas nós, como consumidores, não somos meros e impotentes
espectadores. Somos aqueles que adquirem
veículos, eletrodomésticos, roupas, casas e
outros bens e serviços, com base em
parâmetros como preço, moda e valores. No
fundo, dentro dos limites de disponibilidade
e acessibilidade, são os consumidores que
escolhem o produto a ser comprado e sua
utilização; e, assim, são os consumidores que
podem provocar mudanças.
Tendências Globais do
Uso de Energia
Entre 1850 e 1970, a população mundial mais
que triplicou e a energia consumida aumentou 12 vezes. Em 2002, nossos números já
haviam crescido mais 68% e o consumo de
combustíveis fósseis outros 73%. O uso de
energia alimentou o crescimento econômico e vice-versa, mas não estão tão estreitamente ligados, como acreditava-se outrora.
Antes da primeira crise global do petróleo,
muitos economistas pensavam que o consumo maior de energia era pré-requisito de
crescimento econômico. Mas quando os
preços do petróleo deram um salto repentino, no início dos anos 70, governos e consumidores reagiram, estabelecendo padrões
de eficiência e conservando combustível.
Entre 1970 e 1997, a intensidade global de
energia caiu 28%, enquanto a produção econômica continuou a crescer.4
Quanto mais eficientemente produzirmos
e consumirmos energia, de menos energia
necessitaremos para os mesmos serviços.
Caso os Estados Unidos consumissem, em
30
2000, a mesma energia por dólar de PIB
consumida em 1970, o consumo de energia
teria totalizado 177 quads, em vez dos 98,5
quads efetivamente consumidos. De acordo com o analista de energia Amory Lovins,
medidas de eficiência energética, promulgadas a partir de meados dos anos 70, proporcionaram uma economia de US$ 365 bilhões
para os Estados Unidos só em 2000.5
Com apenas 2% das reservas
globais e 4,5% da população total,
os Estados Unidos continuam
sendo o maior consumidor
mundial de petróleo.
O potencial para poupanças futuras nos
Estados Unidos e outros países continua
gigantesco. Ainda desperdiçamos imensas
quantidades de energia. Consideremos o
caminho percorrido da mina de carvão até
o interruptor de luz e imaginemos essas
perdas de energia através de toda a economia e em cada país. Nos Estados Unidos, por exemplo, para cada 100 unidades de energia que alimenta usinas, prédios, veículos e fábricas, apenas 37 unidades emergem como serviços úteis, tais
como calor, eletricidade e mobilidade. Globalmente, a eficiência média da conversão de energia primária em energia útil é
de 28%. E as perdas variam enormemente de um uso ou país para o próximo: por
exemplo, Lovins calcula que apenas 14%
do petróleo na boca do poço chega às rodas de um automóvel moderno.6
O consumo de energia, especialmente
de petróleo, vem crescendo constantemen-
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
te, com apenas uma pequena desaceleração,
durante as crises dos anos 70. Apenas a
Europa Oriental e os antigos estados soviéticos sofreram declínios no consumo de
energia. Os países industrializados continuam a consumir a maior parcela do petróleo global – 62%. O consumo de petróleo nos Estados Unidos duplicou a partir
de 1960. Embora sua participação no consumo global tenha caído consideravelmente desde 1960, começou a subir novamente durante os anos 90. Com apenas 2% das
reservas globais e 4,5% da população total, os Estados Unidos continuam sendo o
maior consumidor mundial de petróleo.7
Hoje, os povos mais ricos do mundo
consomem, em média, 25 vezes mais energia, per capita, do que os pobres. Na realidade, quase um terço da população mundial não dispõe de acesso à eletricidade ou
outros serviços modernos de energia, enquanto outro terço dispõe apenas de acesso limitado. Cerca de 2,5 bilhões de pessoas, a maioria na Ásia, dispõem apenas
de madeira ou outra biomassa para sua
energia. O cidadão americano comum
consome cinco vezes mais energia que o
cidadão global, 10 vezes mais que o chinês e quase 20 vezes mais que o indiano.
(Vide Tabela 2–1.) 8
Tabela 2-1. Consumo de Energia e Emissões de Dióxido de Carbono Anuais, Países Selecionados
País
Energia Comercial
Petróleo
Eletricidade
Emissões de Dióxido
de Carbono
(toneladas de
equivalência em
petróleo por pessoa)
(barris por dia por
mil habitantes)
(quilowatt-hora
por pessoa)
(toneladas por
pessoa)
Estados Unidos
Japão
Alemanha
Polônia
Brasil
China1
Índia
Etiópia
8,1
4,1
4,1
2,4
1,1
0,9
0,5
0,3
70,2
42,0
32,5
10,9
10,5
4,2
2,0
0,3
12.331
7.628
5.963
2.511
1.878
827
355
22
19,7
9,1
9,7
8,1
1,8
2,3
1,1
0,1
1
Excluindo Hong Kong.
FONTE: vide nota final 8.
Há também extremas desigualdades dentro do mundo em desenvolvimento, onde o
consumo de energia cresce mais rapidamente e onde só o uso do petróleo quadruplicou desde 1970. Por exemplo, a Índia
tem uma crescente classe de consumidor
que dispõe de automóveis e eletrodomésticos, enquanto 48% das famílias vivem sem
habitação permanente. O mesmo ocorre em
outros países, de Gana ao Vietnã.9
Mais e mais pessoas no Sul consomem, em média, tanta energia quanto no
Norte, e estudos indicam que suas rendas
estão aumentando a uma taxa mais acelerada do que qualquer outra experimentada pelo
mundo industrializado. (Vide Quadro 2-1.)
31
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
QUADRO 2-1. SURTO DA DEMANDA ENERGÉTICA NA CHINA E ÍNDIA
Embora a China e Índia abriguem mais de um
terço da população mundial, representam
hoje apenas 13% do consumo global de
energia. Mas esse consumo está crescendo
rapidamente, e essas duas nações dependem
significativamente do carvão – a China em
mais de 70% para sua energia comercial e a
Índia em mais de 50%. A Agência
Internacional de Energia projeta que a
demanda crescente na China e na Índia
representará mais de dois terços do aumento
global esperado no consumo de carvão entre
hoje e 2030. Esses gigantes populacionais
causarão, então, impactos colossais no
mercado global de energia e no meio ambiente
nas décadas futuras.
Os níveis de renda aumentaram rapidamente
em ambos os países, graças ao declínio da taxa
de crescimento populacional e aceleramento
do crescimento econômico. A economia
chinesa mais que quadruplicou desde 1980.
Durante os anos 80, a demanda de eletricidade
na China aumentou mais de 400% devido às
aquisições de eletrodomésticos. Na Índia, o
número de famílias “afluentes” – com renda
mensal de US$ 220 ou mais – sextuplicou em
apenas cinco anos, enquanto o número de
famílias de baixa renda caiu significativamente.
Essas tendências apontam para um
aceleramento, alimentando uma classe
crescente de consumidores que deseja ter
acesso às conveniências de aparelhos
A China já é o maior consumidor de carvão
do mundo e o 3º maior de petróleo, enquanto o Brasil é o sexto maior, a Índia o
oitavo e o México o décimo.10
Até hoje, o consumo de energia no Sul
tem sido limitado principalmente por questões de renda e infra-estrutura – a falta de
acesso a estradas e eletricidade restringiu
o uso de automóveis e aparelhos, por
exemplo, mesmo entre as classes média e
32
domésticos, iluminação, fogões a gás e maior
mobilidade.
A demanda por petróleo crescerá
rapidamente também à medida que mais e mais
pessoas adquiram automóveis. A produção
interna de petróleo atualmente atende a cerca
de dois terços das necessidades chinesas, mas
os consumidores irão, em breve, depender
muito mais das importações caso a demanda
dobre, até 2025, como se espera – fazendo
com que a China supere o Japão como o
segundo maior consumidor mundial depois
dos Estados Unidos. As vendas de automóveis
na China aumentaram 82% durante o primeiro
semestre de 2003 em relação ao mesmo
período do ano anterior. Às taxas projetadas
de crescimento, a frota chinesa de veículos
particulares poderá saltar dos 5 milhões em
2000 para quase 24 milhões até o final de
2005, aumentando substancialmente o
congestionamento de ruas e da poluição
atmosférica.
O crescimento nas compras dos chamados
SUVs (veículos utilitários esportivos),
pródigos no consumo de combustível, excedeu
até mesmo as expectativas dos fabricantes. Na
Índia, as vendas de SUVs representam, hoje,
10% das compras de veículos e poderão, em
breve, superá-las.
– Tawni Tidwell
________________________________________
FONTE: vide nota final 10.
alta, em expansão. No futuro, entretanto,
as pessoas no mundo em desenvolvimento estarão mais restringidas pela exaustão
de recursos e realidades ambientais. A
Terra não pode prover o suficiente para a
população global atual viver como o cidadão americano comum ou até mesmo o
europeu comum. (Vide Capítulo 1.) Por
exemplo, se o consumidor comum chinês
utilizasse a mesma quantidade de petróleo
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
de um americano comum, a China necessitaria de 90 milhões de barris/dia – 11
milhões a mais do que o planeta produziu,
diariamente, em 2001. No futuro, o crescimento populacional, mudança climática
e outros desafios ambientais poderão
estressar os sistemas naturais a seus limites, enquanto os combustíveis convencionais não poderão atender ao crescimento projetado da demanda energética. Na
realidade, muitos analistas prevêem que,
mesmo às taxas atuais de consumo, a produção mundial de petróleo atingirá seu pico
antes de 2020. Isso tem implicações gigantescas para o nosso estilo de vida e
modo de mobilidade.11
A Energia que nos Move
Durante o século XX, a humanidade tornou-se uma espécie extremamente móvel.
Nos países industrializados, hoje, é comum
alguém viajar 10.000 ou até mesmo 50.000
quilômetros em um ano. E grande parte
do que utilizamos como consumidores,
desde nosso próprio computador até o alimento que comemos, atravessa continentes e oceanos para chegar até nós. Há apenas 150 anos, movimentos eram limitados à distância que uma pessoa ou animal
pudesse percorrer a pé. Para cerca de um
terço da humanidade, certamente, isso ainda é realidade. Para os outros dois terços,
entretanto, uma maior mobilidade de pessoas e propriedade causou impactos profundos, alterando tudo, desde o trabalho
e família até a natureza e o planejamento
de nossas cidades.
Hoje, o transporte representa quase 30%
do uso global de energia e 95% do consu-
mo mundial de petróleo. Os Estados Unidos são, de longe, o maior consumidor
mundial de energia para os transportes,
devorando mais de um terço do total global. A partir de uma base reduzida, entretanto, o consumo de energia para transportes está atualmente aumentando mais
rapidamente na Ásia, Oriente Médio e África do Norte.12
Na realidade, os transportes são a forma de consumo de energia com crescimento mais acelerado em todo o mundo, provocado, em parte, pela mudança dos meios de transporte utilizados pelas pessoas e
cargas para outros mais flexíveis, porém
mais intensivos no consumo de energia.
Embora mais passageiros viajem de trem
em vez de avião, e mais cargas por navios
do que por outros meios, mesmo mudanças relativamente pequenas nas escolhas do
transporte causam impactos significativos.
Apenas 0,5% da distância total que as pessoas percorrem anualmente é realizada pelo
ar; entretanto, os aviões consomem cerca
de 5% da energia de transportes. E os caminhões requerem quatro a cinco vezes
mais energia que as ferrovias ou navios para
o mesmo peso e distância.13
Porém o fator mais determinante do
aumento progressivo do consumo de energia para transportes é a crescente dependência do carro particular. Cerca de 40,6
milhões de carros de passeio saíram das
linhas de montagem em 2002, cinco vezes
o total de 1950. A frota global hoje ultrapassa 531 milhões de unidades, aumentando em cerca de 11 milhões de veículos anualmente.14
Cerca de um quarto desses veículos
estão nas estradas americanas, onde os
33
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
automóveis e caminhões leves representam
40% do consumo nacional de petróleo e
contribuem com outro tanto para a mudança
climática, da mesma forma que toda a atividade econômica do Japão. A distância total
percorrida por americanos excede a de todas as outras nações industrializadas juntas – não só por suas dimensões territoriais,
mas também porque os americanos preferem dirigir quando outros andam a pé ou
de bicicleta. Como observou recentemente
um consultor de transportes, “o automóvel ficou parecido com os aparelhos de televisão. Há mais deles numa casa do que
olhos para vê-los”. Hoje há mais carros do
que americanos habilitados para dirigi-los,
e a maioria das famílias possui dois ou mais
veículos.15
Em bases per capita, a posse de um
automóvel na Europa Ocidental e Japão é
comparável aos níveis dos Estados Unidos
no início dos anos 70, enquanto a Europa
Oriental compara-se aos Estados Unidos nos
anos 30. Mas rendas em alta, mudanças de
estilo de vida, mulheres entrando na força
de trabalho, políticas nacionais que incentivam a mobilidade e a queda dos custos de
combustíveis provocaram um crescimento significativo. A posse de automóveis, por
pessoa, no Japão quadruplicou entre 1975
e 1990, e na Polônia aumentou 15 vezes,
desde o início dos anos 70 até 2001. Apenas cerca de 20% dos veículos mundiais
estão na Ásia e região do Pacífico, mas os
números lá estão crescendo a um ritmo de
10-15% ao ano. (Vide Tabela 2-2.)16
Tabela 2-2. Frotas de Veículos Particulares e Comerciais,
Países Selecionados e Total, 1950–99
País
1950
1960
1970
Estados Unidos
Japão
Alemanha
China
Índia
Argentina
África do Sul
Reps. Tcheca e
Eslovaca
49,2
—
—
—
—
—
0,6
73,9
1,3
5,6
—
0,5
0,9
1,2
108,4
17,3
15,5
—
1,1
2,3
2,1
0,2
0,4
Mundo
70,4
126,9
1980
1990
1999
155,8
37,1
24,6
1,7
1,9
4,3
3,4
188,8
56,5
32,2
5,8
4,2
5,9
5,1
213,5
71,7
45,8
12,8
8,2
6,6
6,6
1,0
2,6
3,7
5,1
246,4
411,0
583,0
681,8
(milhões de veículos)
FONTE: vide nota final 16.
O tamanho e peso dos veículos também
têm aumentado – uma tendência que já eliminou mais de 20 anos de melhorias de eficiência ganhas nos Estados Unidos, através
de padrões de eficiência de combustível es34
tabelecidos em lei federal. Na realidade, a
economia de combustível dos veículos americanos seria um terço maior do que é hoje
caso o peso e desempenho tivessem permanecido constantes desde 1981.
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
Ironicamente, o Modelo T da Ford
Motor Company obtinha melhor quilometragem, quase um século atrás, do que o
Ford médio de hoje (se bem que com uma
velocidade máxima de 70 quilômetros por
hora). Quase metade dos veículos que os
americanos adquirem hoje são SUVs e
caminhões leves bebedores de gasolina.
E o desejo por veículos maiores é contagioso. Caso as tendências atuais continuem, em 2030 metade dos veículos de
passeio mundiais serão SUVs ou outros
caminhões leves.17
As pessoas também viajam para mais
longe. Entre 1952 e 1992, enquanto o número de pessoas no Reino Unido aumentava 15%, a distância que estas dirigiam
triplicou. E de 1970 a 2000, os quilômetros percorridos nos países da União Européia (UE) mais que duplicaram. Nos
Estados Unidos, o número de percursos
por família aumentou 46% entre 1983 e
1995, enquanto o tempo médio de viagem
cresceu mais de 5%.18
Embora a mobilidade contribua para o
bem-estar econômico e social, há altos
custos externos associados à extensão e
natureza de nossas viagens. Mundialmente, quase um milhão de pessoas – a maioria
pedestres – são mortas em acidentes de
trânsito, anualmente, e o número de mortes causadas por poluição atmosférica veicular é maior. À medida que o uso de veículos aumenta, as vias congestionam-se,
desperdiçando horas produtivas e reduzindo a eficiência dos veículos. Os custos de
transporte rodoviário não-coberto pelos
motoristas – poluição atmosférica, ruído,
congestionamentos, acidentes e danos às
estradas – começam a 5% do PIB nos países industrializados, aumentando em algu-
mas cidades dos países em desenvolvimento. E o dinheiro que se investe em infraestrutura rodoviária significa menos investimentos em outras áreas, o que agrava as
desigualdades sociais existentes para aqueles que não podem utilizar o meio de transporte predominante. Mesmo nos Estados
Unidos, cerca de um terço da população é
pobre demais, velha demais, ou jovem demais para dirigir um carro.19
Os europeus ocidentais hoje
utilizam transportes públicos
para 10% dos seus trajetos
urbanos e os canadenses 7%,
contra apenas 2% dos americanos.
As escolhas que as pessoas fazem para
seu deslocamento são influenciadas, em grande parte, por políticas governamentais, como
impostos sobre veículos e combustíveis, regras do uso do solo e subsídios para transportes aéreos e automóveis, em detrimento
do transporte público e uso de bicicletas. Há
um século, os EUA lideravam o mundo em
transporte público. Em 1910, quase 50 vezes
mais americanos deslocavam-se para o trabalho em trens do que em carros, e uma década depois quase todas as principais cidades americanas dispunham de malhas ferroviárias. Mas, após a II Guerra Mundial, o
governo deu ênfase à construção de rodovias e auto-estradas Hoje, quem se desloca para
o trabalho de carro tem subsídios em estacionamentos, enquanto aqueles que utilizam
transportes públicos recebem consideravelmente menos, e os ciclistas nada. Assim, não
35
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
é de se estranhar que a média de passageiros
nos transportes seja menor hoje que há 50
anos, apesar da duplicação da população dos
Estados Unidos. Uma exceção para essa tendência é a cidade de Nova Iorque, onde, devido à alta densidade e proliferação de táxis e
opções de transportes urbanos, apenas 25%
dos seus habitantes têm habilitação para dirigir. E em cidades como Denver, Colorado,
onde os serviços estão melhorando ou ampliando, a utilização de transportes de massa
voltou a crescer.20
Em contraste, muitos países destinaram
recursos significativos para os transportes
públicos, desencorajando o uso de veículos
particulares por meio de políticas de trânsito
e cobrança de taxas. No Japão e Europa, grande parte dos investimentos em infra-estrutura de transportes após a II Guerra Mundial
centrou-se em trens e ônibus urbanos. Hoje,
quase 92% das pessoas que se deslocam ao
centro de Tóquio utilizam trens, com apenas
55% utilizando carros. Os europeus ocidentais, hoje, utilizam transportes públicos para
10% dos seus trajetos urbanos e os canadenses 7%, contra apenas 2% para os americanos. Isso é significativo porque, para cada
quilômetro rodado por um veículo particular,
consome-se duas a três vezes mais combustível do que por transporte público.21
As diferenças nas tendências dos transportes também explicam-se pelos preços. O
crescimento mais acelerado na propriedade
e uso de um veículo particular ocorre caracteristicamente em países com os mais
baixos preços de combustível e automóveis.
Os carros e a gasolina são mais baratos nos
Estados Unidos do que na Europa, por
exemplo, por não sofrerem tanta taxação.
Na realidade, os maiores beberrões de gasolina são subsidiados: em 2003, o Congres-
36
so dos Estados Unidos promulgou uma lei
triplicando um crédito fiscal corporativo nas
compras de SUVs, da ordem de US$ 75.000
cada, comparado com uma dedução de US$
2.000 para veículos elétricos híbridos.22
Apesar das políticas norte-americanas
e dos baixos preços de combustível, alguns
americanos preferem pagar mais, a fim de
consumir menos. Enquanto os motores
modernos de combustão interna são apenas 20% eficientes, os carros híbridos podem ir mais longe com um litro de combustível. Em janeiro de 2003, cerca de
150.000 motoristas em todo o mundo compraram um carro híbrido; muitos desses
novos proprietários estão nos Estados Unidos, onde as vendas mensais do modelo
Prius, da Toyota, foram quatro vezes mais
que no Japão. (Vide Quadro 2-2.)23
QUADRO 2-2. SÓ EFICIÊNCIA
NÃO BASTA
Inúmeros estudos constataram que, ao longo dos
próximos 10–15 anos, a economia de
combustível dos novos carros e caminhões leves
nos Estados Unidos poderá aumentar em até um
terço com as tecnologias existentes. A mais longo
prazo, o uso de materiais compostos leves,
porém resistentes, da era espacial, com base em
fibras de carbono, desenho avançado e tecnologia
híbrida ou de célula de combustível, poderá no
mínimo triplicar a economia de combustível.
Todavia, melhorias de eficiência irão apenas
começar a resolver os problemas associados às
nossas escolhas de transporte. E os avanços de
eficiência, por si só, poderão na realidade
encorajar as pessoas a utilizar mais energia,
incrementando suas viagens e compras de
veículos já que os custos de energia representam
uma parcela menor das despesas totais.
___________________________________________________________________________________________________
FONTE: vide nota final 23.
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
A crescente conscientização sobre os
problemas da poluição atmosférica, segurança e congestionamentos associados aos
automóveis motivou medidas severas para
redução do aumento do trânsito, particularmente nos países em desenvolvimento.
Em 1999, um grupo de cidadãos em Santiago, Chile, uniu-se ao grupo ambiental
Greenpeace numa campanha de um ano
para modernizar o sistema de transportes
urbanos. Como resultado, Santiago hoje
dispõe de vias exclusivas para ônibus, as
ruas mais largas estão restritas ao transporte público em dias de alta poluição e o
uso do transporte urbano aumentou consideravelmente.24
A Prefeitura de Bogotá, na Colômbia,
começou a trocar os carros por bicicletas
em algumas vias no final dos anos 80, e até
2025 planeja proibir o uso do automóvel
durante o horário de pico. O ex-prefeito
Enrique Peñalosa, o impulsionador desse
movimento, acredita que os carros são “o
instrumento mais poderoso de diferenciação e alienação social que temos na sociedade”, pois desviam recursos da educação
e outros serviços sociais. Hoje, Bogotá dispõe de um bom sistema de transportes públicos, os níveis de poluição caíram e o tempo gasto durante os horários de pico foi
reduzido à metade. Inúmeras outras cidades, desde Zurique, na Suíça, até Portland,
em Oregon, reduziram os níveis de poluição ao mesmo tempo em que aumentaram
o uso dos transportes públicos, através do
replanejamento das áreas urbanas e melhoria
de eficiência nos transportes.25
“Taxas de congestionamento” sobre
veículos que entram nos centros das cidades, juntamente com investimentos em
transporte público, também reduziram o uso
do carro e a poluição. Motoristas em Londres passavam metade de seu tempo presos no trânsito, andando na mesma velocidade que os londrinos de um século atrás.
Mas, em resposta a um pedágio promulgado no início de 2003, os níveis de trânsito
caíram 16% em média nos primeiros meses e a maioria dos motoristas começou a
utilizar os serviços públicos. Taxas de congestionamento para centros urbanos foram
implantadas anos atrás em Cingapura e
Trondheim, na Noruega, e mais recentemente em Toronto e Melbourne, com resultados semelhantes.26
Em outros países as pessoas preferiram
compartilhar frotas de veículos, em vez de
possuí-los, e em alguns casos abrir mão
deles por completo. Uma rede conjunta,
Eurocities – Comissão Européia, está no
momento promovendo uma “nova cultura
da mobilidade” por toda a UE, objetivando
melhorar a qualidade de vida e deslocar a
dependência dos carros para transportes
públicos, bicicletas e andar a pé. Zermatt,
na Suíça, faz uso do seu status de longo tempo livre de carros como apelo de vendas
para os turistas, e 280 famílias em Freiburg,
na Alemanha, foram as primeiras entre mais
de 40 comunidades alemãs a decidir viver
sem automóveis. Aparentemente, uma vez
que as pessoas dispõem de alternativas seguras, confortáveis e confiáveis, um maior
número delas prefere viver sem carros.27
A Energia Onde
Vivemos e
Trabalhamos
Mundialmente, as pessoas consomem cerca de um terço de toda a energia nos prédi37
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
os – para aquecimento, refrigeração, culinária, iluminação e uso de eletrodomésticos. A demanda de energia relacionada a
prédios está crescendo rapidamente, particularmente dentro dos nossos lares.28
Mas há grandes diferenças no uso doméstico de energia de um país para outro.
As pessoas nos Estados Unidos e Canadá
consomem 2,4 vezes mais energia em casa
do que na Europa Ocidental. Uma pessoa
comum, no mundo em desenvolvimento,
consome cerca de um nono da energia em
prédios do que a pessoa comum do mundo
industrializado, mesmo incluindo combustíveis não-comerciais. Entretanto, uma parcela bem maior da energia total nos países
em desenvolvimento é consumida em casa,
devido à ineficiência de combustíveis e
tecnologias. Na China, os domicílios consomem cerca de 40% da energia nacional;
na Índia, 50% e na maioria da África é ainda maior, em comparação aos 15–25% do
mundo industrializado.29
Embora talvez um quarto da população
mundial disponha de abrigos inadequados
ou até abrigo nenhum, para muitas outras
pessoas o tamanho de suas casas aumenta
mesmo quando o número de pessoas por
família diminui. Os Estados Unidos representam o caso extremo, onde as novas residências cresceram quase 38% entre 1975
e 2000, para 210 m2 – duas vezes o tamanho das residências típicas da Europa ou
Japão, e 26 vezes o espaço de habitação do
africano comum.30
À medida que os lares tornam-se maiores devido, em grande parte, aos baixos preços da energia, cada lar individual tem mais
espaço para aquecer, resfriar e iluminar,
como também espaço para aparelhos maio38
res e em maior número. E à medida que cai
a quantidade de pessoas por residência, devido a uma variedade de tendências sociais,
aumenta o número de casas necessárias para
uma determinada população. Cada residência adicional requer materiais de construção,
iluminação aquecimento e refrigeração, aparelhos eletrodomésticos e freqüentemente
mais carros e vias – tudo que requer energia
para produzir e operar. Entre 1973 e 1992, a
redução do tamanho das famílias, só nos
países industrializados, foi responsável por
um aumento de 20% no consumo per capita
de energia.31
Eletrodomésticos são os consumidores
de energia de crescimento mais acelerado
do mundo, responsáveis por 30% do consumo de eletricidade dos países industrializados e 12% das emissões de gases de estufa. A saturação da propriedade de grandes aparelhos nessas nações é continuamente compensada pela difusão de novos, inclusive computadores e outras formas de
tecnologia da informação (TI), enquanto os
ganhos de eficiência obtidos a partir dos
anos 70 estão sendo desperdiçados na troca por mais (e maiores) amenidades. (Vide
Quadro 2-3.) O tamanho médio de refrigeradores nas residências americanas, por
exemplo, aumentou 10% entre 1972 e
2001, e a quantidade por residência também subiu. O ar-condicionado também seguiu um caminho semelhante: em 1978,
56% dos lares americanos dispunham de
sistemas de refrigeração, a maioria dos
quais consistiam de pequenas unidades instaladas nas janelas; 20 anos depois, três
quartos dos lares dispunham de condicionadores de ar e quase a metade consistia
de sistemas centrais.32
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
QUADRO 2-3. OS ALTOS E BAIXOS DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
A era da tecnologia da informação prometia
um caminho mais claro para o
desenvolvimento sustentável e para uma
economia sem papel. Aparentemente não
cumpriu nenhum dos dois. Até hoje os
impactos da TI sobre o consumo global de
energia apresentam um quadro complexo.
Os americanos consomem 2% da sua
eletricidade apenas para operar os
computadores e a Internet, enquanto o
consumo do ciclo de vida de toda a infraestrutura da Internet na Alemanha absorve 3–
4% da energia nacional. Atribui-se grande parte
do aumento de consumo de energia a novas
indústrias (como os provedores da Internet),
aos métodos de comunicação (como aparelhos
celulares) e novas formas de gestão da
informação criadas através do uso da TI. Ao
invés de reduzir o consumo de papel, o correio
eletrônico na realidade aumentou-o em 40%,
com impactos dramáticos no uso associado de
energia – desde a operação de impressoras até o
apoio a um dos maiores setores de energia
intensiva do mundo, a indústria de papel. E
embora pedidos feitos por meio eletrônico
parecessem, à primeira vista, exigir menos
energia do que o deslocamento para lojas
diferentes, isso, de fato, não ocorreu. Um
estudo de “telecompras” revelou nenhuma
economia de transporte, enquanto outro
constatou que custou 55% mais em
combustível para entregar compras de
supermercado feitas on-line.
Conforme alguns relatos, entretanto, os
consumidores nas nações industrializadas
estão reduzindo seu consumo de energia com
TI através de mudanças em inventários de
produtos e através do teletransporte, que
Entre 2000 e 2020, o consumo de eletricidade para os aparelhos no mundo industrializado poderá aumentar 25%. A
energia stand-by – a eletricidade que é
consumida quando computadores, televisores, aparelhos de fac-símile, estéreos e
reduz o volume de energia utilizada para
construir e ocupar novos prédios. A TI tem
também sido creditada a grande parte do
crescimento econômico dramático que muitos
países obtiveram no final dos anos 90 – uma
tendência não-acompanhada por aumentos
semelhantes no consumo de energia devido à
expansão de setores menos intensivos em
energia como o banqueiro e financeiro.
Outros benefícios da TI incluem:
• Um novo chip de computador e o desenho
de equipamento podem reduzir a energia
de stand-by em até 90%.
• O mais novo veículo híbrido-elétrico da
Toyota dispõe de um sistema eletrônico e
software que continuamente otimiza a
operação de componentes-chave,
assegurando um desempenho constante de
modo mais eficiente.
• Pesquisadores do Pacific Northwest
National Laboratory estão desenvolvendo
uma “grade inteligente”, que induzirá os
consumidores a variar suas cargas
energéticas à medida que as tarifas de
eletricidade mudarem. Isso aumentará a
eficiência operacional de usinas existentes,
reduzindo a necessidade de capacidade
adicional de grade e permitindo controles e
sensores avançados para melhorias de
eficiência dos aparelhos. Também irá
proporcionar energia renovável, com
acesso mais fácil à grade e aos mercados
energéticos.
– Tawni Tidwell
________________________________________
FONTE:vide nota final 32.
muitos outros estão “desligados” mas não
desconectados – será provavelmente o
consumidor de maior crescimento. Em
2020, poderá representar 10% do consumo total de eletricidade nesses países,
exigindo quase 400 usinas adicionais de
39
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
500 megawatts, que emitirão mais de 600
milhões de toneladas de dióxido de carbono anualmente.33
Nos países em desenvolvimento, a
maior parte das necessidades energéticas
relacionadas aos prédios é para a cozinha, aquecimento de água e aquecimento
espacial – o básico – e a maior parte des-
sa energia é gerada através de combustíveis tradicionais, não-comerciais. Por
exemplo, quase três quartos da população da Índia depende da biomassa tradicional para cozinhar. Mesmo assim, a
demanda por aparelhos modernos está
crescendo também no mundo em desenvolvimento. (Vide Tabela 2-3.)34
Tabela 2-3. Posse de Eletrodomésticos nos Países Industrializados
e em Desenvolvimento, Anos Selecionados
País
Ano
Refrigerador
Condicionador
de Ar
Estados Unidos
1973
1992
1998
100
118
1151
47
69
72
Japão
1973
1992
104
117
96
99
0
0
16
131
Europa Ocidental2
1973
1992
91
111
69
89
5
24
0
1
Índia
1994
1996
1999
7
9
12
2
4
6
-
-
China rural/urbana
1981
1991
1998
0/0
2/53
9/76
0/6
12/83
23/91
-
0/0
0/0
1/20
Lavadora de
Lavadora de
Prato
Roupa
(número por 100 domicílios)
25
70
45
77
50
77
1
Outras fontes mostram aumentos contínuos até 2000. 2Reino Unido, Alemanha Ocidental, França e Itália.
FONTE: vide nota final 34.
Na realidade, grande parte do crescimento da demanda de eletricidade, desde
1990, ocorreu no mundo em desenvolvimento, onde o consumo per capita aumentou mais rapidamente que a renda e onde o
consumo de energia de prédios triplicou
entre 1971 e 1996. A posse de um televisor
quintuplicou no leste da Ásia e Pacífico
entre 1985 e 1997. Mas as taxas de penetração de eletrodomésticos ainda são relativamente baixas nos países em desenvolvimento, e assim o potencial de crescimento
40
é gigantesco. Na Índia, vendas de refrigeradores frost-free estão projetadas a crescer quase 14% ao ano. A Agência Internacional de Energia espera que, com base em
políticas vigentes, a demanda mundial de
eletricidade duplique entre 2000 e 2030,
com o maior aumento de demanda nos países em desenvolvimento e o crescimento
mais acelerado em lares residenciais.35
Todavia, as mesmas necessidades poderiam ser atendidas com muito menos
energia. Programas de eficiência demons-
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
traram alta eficácia até hoje, e as melhorias
contínuas podem nos ajudar a avançar no
atendimento a essa demanda crescente. Os
Estados Unidos implantaram padrões nacionais em 1987 após uma proliferação de
programas em âmbito estadual. Em resposta, os fabricantes obtiveram grandes
economias no consumo de energia de eletrodomésticos, quase triplicando a eficiência de novos refrigeradores entre 1972
e 1999, proporcionando, ao mesmo tempo, economia aos consumidores. Na Europa, os preços mais altos de energia, combinados com normas e selos, como o Blue
Angel (Anjo Azul) da Alemanha, influenciaram as opções dos consumidores e levaram os fabricantes a produzir produtos
mais eficientes, a fim de competir, e assim transformar mercados inteiros. (Vide
Capítulo 5.) Ainda assim, muito mais pode
ser feito. As tecnologias disponíveis hoje
podem avançar a eficiência dos eletrodomésticos em, pelo menos, mais 33% ao
longo da próxima década, e outras
melhorias no consumo de energia de secadores, televisores, iluminação e
stand-by poderão economizar mais da
metade do crescimento projetado do consumo no mundo industrializado até 2030.36
Nos países em desenvolvimento, as
pessoas poderiam economizar até 75% da
sua energia, por meio de melhorias no isolamento dos prédios, cozinha, aquecimento, iluminação e aparelhos eletrodomésticos. Infelizmente, a difusão de tecnologias
mais eficientes é extremamente lenta, devido aos altos custos iniciais, à falta de
combustíveis modernos, como gás
encanado, e às falhas nos sistemas de distribuição existentes. Entretanto, experiências na Tailândia e no Brasil mostram o que
é possível. No início dos anos 90, frente a
um aumento anual de 14% na demanda de
eletricidade, o governo da Tailândia deu início a uma parceria com fabricantes para
melhorar a eficiência dos prédios, iluminação e eletrodomésticos frios (como refrigeradores e condicionadores de ar). Em
2000, a Tailândia havia excedido suas metas de economia de energia e redução de
CO2 em pelo menos 200%. Só entre 1996
e 1998, a participação de mercado de refrigeradores eficientes disparou de 12 para
96%. E no Brasil, graças, em grande parte,
a normas voluntárias e de rotulagem, os
consumidores reduziram o consumo de
energia relacionada a refrigeradores em
15% entre 1985 e 1993.37
Melhorias no desenho e construção de
prédios também poderão gerar economias
significativas de energia. De acordo com o
analista de energia Donald Aitken, “os prédios continuam sendo o aspecto mais menosprezado da ciência econômica da energia, e a oportunidade mais inexplorada para
melhoria de eficiência”. O potencial de economia nos prédios existentes é gigantesco,
e os consumidores já começaram a realizar
melhorias. Na UE, a construção de prédios
é responsável por mais de 12% da atividade econômica, e mais da metade disso envolve reinstalação de prédios existentes.
Mas as edificações novas têm maior potencial para economia e os números não
são insignificantes – só nos Estados Unidos 1,7 milhão de casas residenciais foram
construídas em 2002.38
Uma vez que novas edificações duram
pelo menos 50–100 anos – e alguns séculos – é essencial que estejam adequadas
desde o início. Mesmo em climas frios,
as pessoas podem reduzir as necessida-
41
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
des de aquecimento das novas construções em até 90%, através de uma combinação de projeto e melhorias materiais,
embora a iluminação e outras demandas
energéticas também possam ser reduzidas.
Como a maioria das pessoas não constrói
suas próprias casas ou escritórios, a eficiência do projeto de construção e dos
materiais depende, em geral, de regulamentos governamentais. Os prédios da
Califórnia são muito mais eficientes do que
a média dos Estados Unidos, uma vez que
o código de construção do estado é atualizado regularmente, com base em
tecnologias correntes. Talvez o mais
revelador seja o fato de que, enquanto o
consumo per capita de eletricidade tenha
dobrado ao longo dos últimos 30 anos no
resto do país, permaneceu constante na
Califórnia.39
As demandas energéticas dos prédios
podem ser reduzidas dramaticamente sem
aumentar os custos de construção por meio
da aplicação de uma abordagem integrada
ao “pacote” construtivo (paredes, tetos,
fundações, etc.) e sistemas mecânicos e
elétricos. Muitos dos novos prédios na
Europa e região do Pacífico asiático foram
construídos com a incorporação dessa
abordagem, inclusive o prédio do Parlamento Europeu em Estrasburgo, na França, o
Potsdamer Platz, em Berlim, e o Aurora
Place, em Sidnei, Austrália.40
“Prédios verdes” estão surgindo em
todo o mundo, que incluem características
adicionais poupadoras de energia, como luz
diurna, refrigeração natural, janelas de alto
desempenho, isolamento superior e sistemas fotovoltaicos (PVs). Conforme o
Rocky Mountain Institute, a iluminação
consome até 34% da eletricidade dos Esta42
dos Unidos, incluindo as necessidades
energéticas para a compensação do calor
de escape. O uso pleno, apenas de
tecnologias avançadas de iluminação, poderá eliminar a necessidade de 120 usinas
de 1.000 megawatts nos Estados Unidos,
economizando dinheiro e melhorando, ao
mesmo tempo, a saúde e produtividade
humana.41
Encorajada pelo programa americano
LEED (sigla em inglês para Liderança em
Desenho Energético e Ambiental) – uma
norma voluntária para “prédios verdes” –
uma imobiliária construiu o primeiro edifício verde em Nova Iorque. Estes apartamentos em Battery Park consumirão
35% menos energia e 65% menos eletricidade do que um prédio comum durante
as horas de pico, com PVs atendendo, pelo
menos, 5% da demanda. E no Dia da Terra, em maio de 2003, a Toyota inaugurou
um novo complexo na Califórnia,
construído com aço de automóveis
reciclados, com projeto e iluminação eficientes e com um dos maiores sistemas
fotovoltaicos da América do Norte.42
Da Califórnia ao Quênia e à Alemanha,
os consumidores estão instalando sistemas
fotovoltaicos, desde diminutos até de dimensões de megawatts, nos telhados de residências e escritórios. Em 2002, mais de
40.000 residências japonesas adicionaram
140 megawatts de instalações fotovoltaicas,
graças ao apoio governamental. A geração
local de eletricidade com energia solar ou
eólica não é apenas mais limpa do que a convencional, mas também reduz ou elimina
perdas de transmissão e distribuição, que
variam de 4–7% nas nações industrializadas
até mais de 40% em algumas regiões do
mundo em desenvolvimento.43
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
Em outros países as pessoas estão pintando telhados e plantando jardins para reduzir seu consumo de energia em 10–50%.
Os alemães desenvolveram uma tecnologia
moderna de telhado verde, inspirados nos
telhados e paredes de grama da Islândia.
Substituir as superfícies escuras, absorventes de calor dos telhados com plantas, reduz a temperatura ambiente e o consumo
de energia para aquecimento e refrigeração. Exemplos de telhados verdes podem
ser vistos em todo o mundo, da Prefeitura
de Chicago ao Aeroporto Schiphol, de
Amsterdã, à Fabrica da Ford Motor
Company em Rouge River, Michigan – em
todos os seus 4,2 hectares.44
Energia em Tudo que
Adquirimos
Tudo que usamos possui insumos
energéticos associados e compostos, e a
maior parcela do consumo global de energia destina-se à produção de nossos veículos, eletrodomésticos, prédios e até nossas roupas e alimentos. Nos anos 70, a
fabricação desses produtos exigia 25–70%
de energia total (com grande variação de
país a país). Esse percentual vem caindo
constantemente em todos os países, pois
os setores de transportes e construção
cresceram com maior rapidez, mas o consumo de energia na indústria ainda está
aumentando à medida que adquirimos e
usamos mais e mais produtos.45
Muitos bens manufaturados atravessam
fronteiras e oceanos para chegar até nós,
onde a energia necessária para fabricá-los
e transportá-los é omitida das contas nacionais. Conseqüentemente, alguns técnicos
argumentam que a intensidade energética,
na realidade, está aumentando em algumas
nações, pois estas efetivamente importam
insumos energéticos do exterior. Por exemplo, segundo uma estimativa, a energia incorporada nas importações australianas
supera a das suas exportações.46
A energia investida em determinado item
durante sua vida útil chama-se a “energia
incorporada” daquele objeto. O volume de
energia incorporada contida em um item
depende em grande parte da tecnologia aplicada em sua criação, do grau de automação,
do combustível utilizado por uma determinada máquina ou usina – e sua eficiência –
e da distância percorrida pelo item desde
seu começo até sua compra. O valor difere
consideravelmente de local a local e até
mesmo de residência a residência.
Segundo algumas estimativas, as pessoas podem morar numa casa típica durante 10 anos antes que a energia consumida
nela exceda o que entrou em seus componentes – vigas de aço, fundações de cimento, vidros das janelas e esquadrias, pisos e
carpetes, paredes pré-fabricadas, revestimento de madeira ou escadas – e sua construção. E a energia incorporada na estrutura raramente é estática. Conforme velhos
materiais são removidos e novos instalados, mais um quarto ou piso, a energia incorporada na casa aumenta.47
Da mesma forma que ocorre com casas, são necessários altos volumes de energia para a montagem de nossos automóveis, construção e operação de indústrias e
fabricação dos vários insumos que compõem um carro. A maior parte do consumo de energia associado à fabricação de
um veículo está na manufatura de aço, plásticos, vidros, borrachas e outros insumos
43
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
materiais. Quanto maior o veículo, maior o
volume de energia exigida, aumentando
mais a importância da tendência em direção a carros maiores e SUVs. E assim que
colocamos um carro na estrada, suas necessidades estendem-se a toda energia necessária para construção e manutenção de
rodovias e pontes por onde viajamos, estacionamentos, revendedoras de autos e peças e os muitos postos de abastecimento
necessários para mantê-lo em movimento.
No total, o consumo de energia associado
a um automóvel pode ser 50–63% maior
do que o consumo direto de combustível
ao longo de sua vida útil, e também os impactos ambientais são gigantescos.48
Mas a maior parcela do consumo de
energia associado aos veículos é a gasolina
que os movem. Para dirigi-los, o petróleo é
extraído da terra, transportado para locais
adequados e refinado. O refino do petróleo
é uma das maiores indústrias de energia
intensiva do mundo – e a maior nos Estados Unidos. Em 1998, o refino do petróleo
representou 8% de todo o consumo
energético dos Estados Unidos.49
Em muitos países, uma parcela cada vez
maior do consumo de combustível para transporte domiciliar é na ida aos gigantescos
“hipermercados” fora de áreas urbanas, que
estão substituindo as mercearias de bairro.
Hoje, muitas pessoas utilizam quase a mesma energia para recolher alguns alimentos que
os produtores consumiram para transportálas ao mercado. E quanto mais longe o alimento viaja, maior sua energia incorporada,
não só por necessitar de mais combustível
para transporte, mas também por necessitar
de maior número de conservantes e aditivos,
refrigeração e embalagem. Em grande parte
44
do mundo, o transporte de alimentos para
lojas locais e depois para as residências está
entre as mais crescentes fontes de emissão
de gás de estufa.50
A produção de nossos alimentos também requer volumes maciços de energia.
Embora grande parte venha do sol, quase
21% da energia fóssil que consumimos
destina-se ao sistema alimentar global.
David Pimentel, da Universidade Cornell,
estima que os Estados Unidos destina cerca de 17% de seu consumo de combustíveis fósseis à produção e consumo de alimentos: 6% para a produção agropecuária,
6% para processamento e embalagem e 5%
para distribuição e cozimento.51
A questão quanto a se o consumo da
energia incorporada está subindo em alguns
países é discutível, dependendo em grande
parte da intensidade energética dos países
fabricantes dos bens consumidos. Por
exemplo, a Coréia do Sul possui a indústria
siderúrgica mais eficiente do mundo em termos de energia e o transporte por navio é
relativamente eficiente em ternos de energia. Assim, a exportação de carros coreanos
para países com siderúrgicas menos eficientes, como os Estados Unidos, poderá efetivamente reduzir a energia incorporada dos
veículos nas rodovias americanas.52
Em 1998, o refino do petróleo
representou 8% do consumo total
de energia dos Estados Unidos.
Na realidade, há diferenças extremas
na intensidade de energia da indústria
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
manufatureira de um país para outro. No
início dos anos 90, os japoneses e alemães
consumiam menos da metade da energia,
por unidade de produção em suas indústrias pesadas, que os canadenses e americanos, devido principalmente a diferenças
nos preços de energia. Japão, Coréia do
Sul e países da Europa Ocidental possuem os setores industriais mais eficientes,
enquanto os países em desenvolvimento,
o antigo bloco soviético e uns poucos países industrializados – particularmente os
Estados Unidos e Austrália – possuem o
menos eficiente. Todavia, alguns países
em desenvolvimento aproveitaram a oportunidade e deram um salto para tecnologias
modernas, rivalizando o Japão e Europa
em eficiência industrial.53
Ao dar apoio a itens e processos que
têm menos energia incorporada, como
também às empresas que os produzem,
os consumidores podem reduzir significativamente o consumo de energia da sociedade. Infelizmente, até agora, programas de rotulagem informam apenas o consumo direto de energia dos produtos, e
não sua energia plena incorporada, dificultando a comparação de um produto
com outro. Apesar disso, muitos consumidores já pouparam grandes volumes de
energia através da reciclagem e da compra de materiais reciclados, em vez de
depender de recursos virgens. A produção de alumínio de material reciclado, por
exemplo, requer 95% menos energia do
que sua fabricação da matéria-prima.54
Política e Escolha
Constantemente fazemos escolhas que
afetam nosso consumo de energia. Na re-
alidade, a quantidade e tipo de energia que
consumimos é resultado de dois tipos de
escolha: aquelas que fazemos como sociedade e aquelas que fazemos como indivíduos e famílias. As decisões da sociedade de taxar ou subsidiar atividades –
como motorização ou construção de estradas, por exemplo – encorajam as pessoas a adotar certos estilos de vida, tanto
estendendo quanto limitando suas opções.
Porém, como consumidores individuais
ainda temos escolhas importantes a fazer,
desde o quanto dirigimos até se iremos
calafetar nossas casas. Duas pessoas com
a mesma renda, vivendo na mesma sociedade e sob climas semelhantes, freqüentemente consomem quantidades muito diferentes de energia como resultado de suas
escolhas pessoais.
A fim de atender às necessidades
energéticas de bilhões de pessoas que hoje
não dispõem de serviços modernos, e ao
mesmo tempo equilibrar o consumo de
energia com o mundo natural, novas escolhas energéticas terão que ser feitas – tanto
individual quanto socialmente. Políticas governamentais são uma forma de as sociedades fazerem escolhas energéticas, e as
políticas que afetam o preço da energia estão entre as mais importantes.
À medida que as economias desenvolvem-se, fatores como clima, densidade
populacional e taxa de urbanização tornamse menos importantes, e os preços relativos
a energia convertem-se em fatores fundamentais para se determinar a intensidade energética
de um país. Países com maiores tarifas –
como Japão e Alemanha – também têm menor intensidade energética, enquanto aqueles
com tarifas menores são, em geral, muito
mais intensivos em energia, como os Esta45
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
dos Unidos, em gás e petróleo, Austrália, em
carvão, e a Escandinávia, em eletricidade.55
Quando os preços estão baixos, o
consumo de energia para os indivíduos
representa a parcela menor do custo de
explorar um negócio, fabricar um produto ou administrar um lar; conseqüentemente, investimentos em economia de
energia são baixos. A longo prazo, os preços afetam o que decidimos possuir, o
tamanho de nossas casas, quando utilizamos nossos carros e eletrodomésticos
e até os bens e tecnologias à nossa disposição. Entretanto, políticas governamentais desempenham um papel importante, às vezes sustentando ou reduzindo
os preços de energia. Por intermédio de
subsídios, impostos, normas e outras
medidas, políticas governamentais têm
um impacto direto sobre a oferta, demanda e eficiência energética de nossos lares, aparelhos, carros e fábricas.56
Impostos sobre automóveis e combustível em muitos países, juntamente com
investimentos em transportes públicos e
infra-estrutura ciclista, afetam as tendências de propriedade e distância percorrida
por automóveis e até as características da
frota veicular, podendo encorajar o uso de
ônibus, bicicletas e trens. Onde os governos ou empresas subsidiam o transporte
público, as pessoas são mais propensas a
deslocarem-se de ônibus ou metrô do que
de automóvel. Na Dinamarca, onde o imposto sobre registros de veículos ultrapassa o preço de varejo do automóvel, e onde
a infra-estrutura de ferrovias e ciclovias
estão bem desenvolvidas, mais de 30% das
famílias nem possuem carro – principalmente porque não o desejam, e não porque
não poderiam tê-lo. Taxas de congestiona46
mento, como aquelas introduzidas recentemente em Londres, também podem encorajar as pessoas a fazerem escolhas
energéticas mais eficientes.57
Até mesmo a escolha do tamanho e
localização da residência é influenciada
por impostos, políticas habitacionais e
normas. Os Estados Unidos oferecem
uma dedução fiscal plena sobre juros em
hipotecas, permitindo às pessoas adquirir residências de qualquer tamanho, mas,
ao mesmo tempo, encorajando lares maiores em comunidades estendidas. A política fiscal da Suécia também favorece a
aquisição de uma propriedade, porém,
devido à política habitacional ter se concentrado durante décadas em apartamentos, a maioria das pessoas optou por esse
tipo de moradia, resultando assim em cidades mais compactas. Os lares e seu
conteúdo são mais eficientes em locais
como Califórnia e Japão, onde os códigos de construção e normas de eletrodomésticos estão se tornando cada vez mais
rigorosos à medida que as tecnologias
aprimoram-se. 58
E os governos podem influenciar o volume de energia incorporada nos produtos
que as pessoas utilizam e o que é descartado. Pelo menos 28 países – do Brasil e Uruguai até a China, passando pela Europa –
hoje obrigam os fabricantes a receber seus
produtos de volta para reutilização e
reciclagem. Assim, as empresas interessamse mais e investem na desmontagem e
reciclagem de sua mercadoria e aumentam
a qualidade e vida útil de seus produtos,
reduzindo o volume de energia que é utilizado em sua fabricação.59
Mesmo assim, a maioria dos países
incentiva viagens de avião e automóvel em
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
detrimento de alternativas menos intensivas em energia, e tendem mais para energia convencional versus energia renovável,
e novos suprimentos versus medidas de
eficiência. Em meados dos anos 90, os
governos mundiais distribuíram US$ 250–
300 bilhões em subsídios anuais para combustíveis fósseis e energia nuclear. Desde
então, vários países em transição e desenvolvimento reduziram os subsídios
energéticos significativamente, porém subsídios globais para energia convencional
permanecem em níveis muito mais altos
do que para suas alternativas, como energias renováveis e eficiência energética. E
países em todo o mundo investem volumes gigantescos de recursos em grandes
infra-estruturas de transportes e indústrias de energia intensiva, em vez de optarem por alternativas menos intensivas e
menos danosas.60
Devido ao fato de subsídios reduzirem artificialmente o preço de energia,
podem levar ao consumo excessivo.
Políticas sul-coreanas diminuíram os
preços de eletricidade, solapando as
metas nacionais de melhoria de eficiência. No final dos anos 90, o consumo
familiar per capita nesse país ultrapassou os níveis médios da Europa. E as
subvenções freqüentemente beneficiam
mais aqueles que não precisam. Até
2003, por exemplo, o governo da Nigéria
concedia, anualmente, mais de US$ 2
bilhões em subsídios aos combustíveis,
que beneficiavam tantos os ricos quanto os pobres. Estes também encorajaram o contrabando de combustível barato para fora do país, forçando a
Nigéria a importá-lo a um custo maior.61
Pelos menos 28 países hoje
obrigam os fabricantes a receber
seus produtos de volta para
reutilização e reciclagem.
Juntamente com os bilhões de dólares
fornecidos anualmente pelo Banco Mundial e agências de crédito à exportação, para
projetos de combustível fóssil intensivo em
carbono, os subsídios nacionais também
impedem alternativas possíveis, como eficiência e tecnologias de energia renovável,
e encorajam indústrias de energia intensiva
a transferirem-se para países em desenvolvimento, sendo oportunidades perdidas para
essas nações darem um salto em direção a
novas tecnologias.62
O fracasso em internalizar os custos
plenos de energia age como um subsídio
também, pois os consumidores não pagam
diretamente pelos impactos ambientais,
sociais ou de segurança de suas escolhas
energéticas – seja a escolha da fonte de
energia ou da quantidade que decidem consumir. Durante décadas, tentativas governamentais para resolver os problemas
energéticos e desafios associados enfocaram quase que inteiramente a redução da
intensidade de produção, em vez de atacar as motivações e problemas associados ao nosso sempre crescente consumo.
Infelizmente, as melhorias em eficiência
energética obtidas na ponta de produção têm
sido mais do que neutralizadas pelos níveis
crescentes de consumo na ponta do consumidor.
Mas vários países começaram a promover o consumo sustentável através de
impostos verdes, deslocando o ônus fiscal
47
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
da mão-de-obra para a energia e outros recursos, devido freqüentemente a preocupações ambientais, como mudança climática. Como parte do seu esforço para reduzir dramaticamente as emissões de gás de
estufa, por exemplo, a Alemanha instituiu
novos impostos sobre energia convencional em 1999, concedendo incentivos financeiros para a conservação de energia e
tecnologias de energia renovável, como também redução da carga fiscal sobre folhas
de pagamento.63
Enquanto políticas governamentais
agem influenciando o consumo de energia sob várias formas, as decisões individuais dos consumidores também causam
grande impacto. Em todo o mundo, os consumidores estão fazendo a diferença, para
melhor ou pior. Se compram um novo
veículo híbrido ou “Hummer”, se viajam
de avião, trem ou bicicleta, ou se decidem
não ir a lugar algum, são, todas, escolhas
que fazem diferença. Infelizmente, mais e
mais consumidores estão escolhendo aparelhos eletrodomésticos maiores, lares
mais amplos e veículos que mais parecem
tanques para percursos individuais em
vias urbanas para shopping centers ou
hipermercados. Em contrapartida, mas
nem tanto, outros consumidores estão adquirindo carros híbridos eficientes, escolhendo produtos agrícolas cultivados localmente, instalando sistemas fotovoltaicos e comprando energia verde.
(Vide também Capítulo 6.)
Em grande parte da Alemanha e Dinamarca, as pessoas individualmente, e como
parte de cooperativas, instalaram turbinas
eólicas para fornecimento de energia local
às suas comunidades. Em outros países, as
pessoas estão explorando energia renovável
48
através de mercados de energia verde. Até o
fim de 2002, mais de 980 megawatts de
nova capacidade renovável havia sido adicionada para atender à demanda de clientes
de energia verde nos Estados Unidos, e outros 430 megawatts estavam projetados ou
em construção. E como resultado de campanhas estudantis reclamando por liderança
no manejo ambiental, os campi da Universidade da Califórnia e Los Angeles College
District comprometeram-se a reduzir o consumo de energia, adquirindo energia verde e
instalando sistemas fotovoltaicos nos prédios. Esses dois sistemas universitários, juntos, podem aumentar as instalações
fotovoltaicas conectadas à grade nos Estados Unidos em 30%.64
Alguns consumidores estão indo mais
além. Autoridades locais e representantes
municipais de toda a Europa assinaram a
Declaração de Bruxelas em prol de uma
Política Urbana de Energia Sustentável,
comprometendo-se a trabalhar pelo uso de
energia sustentável na Europa e encorajando a criação de um arcabouço legal em
apoio à iniciativa. Em 1992, as populações
de mais de 30 municípios holandeses votaram para eliminar os carros do centro de
suas cidades, enquanto por todo o país, por
exigência da população, os estacionamentos de bicicletas excedem, de longe, as áreas
para automóveis nas estações de trem. Os
alemães e suíços iniciaram o compartilhamento de carros nos anos 80 e o
conceito ampliou-se desde então para mais
de 550 comunidades em oito países europeus, com pelo menos 70.000 membros.
O compartilhamento de carros está se difundindo na América do Norte também,
com programas em mais de 40 cidades, de
Seattle a Washington, D.C.66
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
Comunidades em mais de 40 países criaram ecovilas, buscando conquistar estilos de vida sustentáveis, através de projetos e construções ecológicos, uso de energia renovável e passiva, espaços comunitários de construção e agricultura orgânica local. Mas não é preciso viver numa
ecovila para reduzir o consumo geral de
energia e o impacto sobre o meio ambiente natural. Os californianos provaram
isso quando a crise de energia de 2001
os levou, por meio de mudanças
comportamentais e tecnológicas, a consumir 7,5% menos eletricidade do que no
verão anterior. E em Londres uma nova
comunidade – ZED (sigla em inglês de
Condomínio de Emissão Zero), cujas unidades habitacionais foram totalmente vendidas antes da conclusão – foi construída
pra minimizar a poluição e consumo de
energia, através de uma combinação de
tecnologias verdes e projetos, proximidade a transportes públicos, uma frota compartilhada de veículos elétricos e medidores expostos com destaque, permitindo
aos moradores acompanhar seu consumo.
O arquiteto Bill Dunster, inspirado pelo fato
de grande parte da energia ser desperdiçada
devido a escolhas rotineiras, declara que
“pode-se obter uma melhor qualidade de
vida fazendo essas mudanças, então por
que não fazê-las?”66
É uma premissa generalizada que a qualidade de vida e o consumo de energia estão inexplicavelmente ligados. A energia
pode melhorar a vida fornecendo serviços
que atendam às necessidades básicas e livrem as pessoas de doenças, fome, frio e
pobreza. E o desejo por uma “melhor qualidade de vida” – ainda muito freqüentemente definida como um lar maior e mais
veículos, aparelhos e posses – motiva maior consumo de energia. Mas será que chegará um ponto além do qual um maior consumo proporcionará apenas pequenos benefícios marginais? De quanto realmente
precisamos para alcançar uma boa qualidade de vida?
Para responder essas perguntas, é bom
verificar a relação entre a qualidade vida
percebida em várias nações e seu consumo de energia. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado pelas Nações
Unidas para enfatizar pessoas, em vez de
apenas crescimento econômico, como foco
do desenvolvimento. Este mede conhecimento, longevidade e padrões de vida. O
analista de energia Carlos Suárez mapeou a
correlação entre IDH e consumo de energia. Para os mais pobres, mesmo pequenos aumentos no consumo de energia podem provocar melhorias dramáticas na
qualidade de suas vidas, tanto direta quanto indiretamente. Por exemplo, a luz elétrica reduz o estresse ocular e estende o tempo disponível para educação; os combustíveis modernos para cozinhar diminuem
os riscos à saúde e bombas elétricas reduzem o tempo gasto recolhendo água.
Melhorias dos serviços de energia também
podem oferecer oportunidades para aumento da renda e também para mais melhorias
na qualidade de vida. De acordo com
Suárez, o benefício adicional por unidade
de energia cai quando o consumo de energia atinge 1.000 quilos de equivalência em
petróleo (kgep) por pessoa, por ano. E entre 1.000–3.000 kgep por pessoa, os benefícios do consumo adicional de energia começam a declinar significativamente. Além
desse ponto, mesmo triplicando o consu49
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
mo per capita de energia de um país, isso
não se correlacionaria com um aumento no
IDH daquele país. Países que se aproximam de 3.000 kgep per capita incluem Itália, Grécia e África do Sul; em contrapartida,
os americanos consomem quase três vezes mais por pessoa.67
A Alemanha instituiu novos
impostos sobre energia
convencional em 1999, concedendo
incentivos financeiros para
conservação de energia e
tecnologias de energia renovável.
Numa tentativa diferente de medir a
qualidade de vida, o pesquisador Robert
Prescott-Allen desenvolveu o Índice do
Bem-estar. (Vide Capítulo 8.) Esta é uma
classificação numérica de 180 países, baseada em 87 indicadores de bem-estar
humano e de ecossistemas, incluindo saúde, educação, riqueza e direitos e liberdades individuais, como também diversidade e qualidade de ecossistemas, qualidade
do ar e da água e uso dos recursos. De
acordo com o índice, a Suécia ocupa o
primeiro lugar em bem-estar mundial, enquanto os Emirados Árabes Unidos (EAU)
figuram quase em último; todavia, o cidadão comum nos EAU consome quase o
dobro da energia do sueco. (Vide Tabela
2-4.) Os austríacos, por outro lado, consomem cerca de 61% da energia do sueco; contudo, ainda figuram próximos ao
topo em termos de bem-estar. Assim, não
há uma relação fixa entre consumo de
energia e bem-estar visível, e há potencial
para grandes avanços no front do consumo, com melhoria da qualidade de vida.68
Tabela 2-4. Consumo de Energia e Bem-Estar, Países Selecionados
País
Classe de
Bem-Estar1
Classe de Consumo
per capita2
Comparação com Consumo
per capita da Suécia
(percentual)
Suécia
Finlândia
Noruega
Áustria
Japão
Estados Unidos
Federação Russa
Kuwait
Emirados Árabes Unidos
1
2
3
5
24
27
65
119
173
10
6
8
26
19
4
17
3
2
100
112
104
61
70
140
71
162
190
1
De um total de 180 países. 2Baseado em fornecimento total de energia primária.
FONTE: Vide nota final 68.
Isso é encorajador porque o status-quo
é insustentável – social, econômica ou
ambientalmente. Está cada vez mais eviden50
te, mundialmente, que os atuais padrões de
consumo de energia estão efetivamente degradando a qualidade de vida de muitas pes-
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
soas – agravando a poluição atmosférica e
hídrica, aumentando os problemas de saúde
e elevando os custos econômicos e de segurança associados à extração e uso de combustíveis, como também enfraquecendo os
sistemas naturais dos quais dependemos para
nossa própria existência, inclusive o clima
global. Muitas nações em desenvolvimento,
com populações gigantescas em áreas densamente povoadas, estão percebendo esses
limites rapidamente e começando a
administrá-los. Por exemplo, os graves problemas de congestionamentos e poluição em
Xangai forçaram a cidade a limitar o registro de novos veículos mensalmente.69
Poderá a Terra sustentar nossas necessidades crescentes de energia no século XXI,
mesmo com uma mudança rápida e dramática para tecnologias mais eficientes e uso mais
intenso de energia renovável? Ninguém sabe
ao certo, mas com certeza não será fácil.
Aumentos populacionais e níveis crescentes
de consumo per capita – particularmente nos
países em desenvolvimento, onde 75% do
mundo vive hoje – têm o potencial de suplantar até mesmo os mais ambiciosos esforços
da tecnologia energética.70
Em 2050, a população global está projetada para aumentar mais de 40%, para 8,9
bilhões de pessoas. Se cada pessoa no mundo em desenvolvimento consumir o mesmo
volume de energia que uma pessoa comum
em países de alta renda hoje – um nível significativamente abaixo do consumo per
capita dos Estados Unidos – o consumo de
energia no mundo em desenvolvimento aumentará mais de oito vezes entre 2000 e
2050. Caso todos no planeta consumissem
nesse ritmo, o uso global de energia aumentaria cinco vezes ao longo desse período.71
Embora essa taxa de crescimento seja altamente improvável, dificilmente as fontes
convencionais de combustíveis fósseis atenderão à demanda crescente ao longo do próximo século. E cada vez mais nosso consumo de combustíveis e tecnologias convencionais ameaçará ainda mais o meio ambiente
natural, a saúde pública e a estabilidade internacional, com graves implicações em nossa
qualidade de vida. Seremos pressionados para
atender às necessidades energéticas mundiais, mesmo com energia renovável e grandes
melhorias em eficiência, caso as tendências
atuais de consumo continuem. Padrões de
consumo terão que mudar também. Precisaremos encontrar novas formas de satisfazer
as necessidades do corpo e da mente e ao
mesmo tempo reduzir o consumo de energia
para os transportes e nossos prédios enquanto
minimizamos a energia incorporada em tudo
que adquirimos.
O Secretário-Geral da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que representa as nações mais ricas do
mundo, reconheceu recentemente que em
todo o mundo “existe um consenso crescente de que os padrões de consumo de
energia precisam ser alterados radicalmente”. Governos poderão ajudar a determinar
o consumo de energia por meio de medidas
como investimentos em infra-estrutura, regulamentos, incentivos e tarifas. Vontade
política e programas eficazes e adequados
são essenciais para promover a mudança.72
Mas também cabe a nós, como indivíduos – tanto como consumidores como
membros de comunidades diversificadas –,
reconhecer os elos entre nossas escolhas
de consumo e os impactos que causamos
no mundo todo. Devemos saber lidar com
os limites que teremos à frente e mudar a
maneira que consumimos energia.
51
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Computadores
A economia da informação
pós-industrial é muitas vezes
erradamente caracterizada
como precursora de uma era
de “desmaterialização”,
porque minúsculos
semicondutores, o
ingrediente básico para os
chips de computador e
dispositivos eletrônicos, geram alto
valor e utilidade. Mas, na realidade,
semicondutores são intensivos em materiais
do que a maioria dos produtos
“tradicionais”. Um simples microchip de 32
megabites requer pelo menos 72 gramas de
produtos químicos, 700 gramas de gases
elementares, 32.000 gramas de água e 1.200
gramas de combustíveis fósseis. Outros 440
gramas de combustíveis fósseis são usados
para operar o chip durante seu ciclo de vida
– quatro anos de operação por três horas
diárias. A massa total de materiais
secundários usados para produzir um chip
de 2 gramas é 630 vezes a do produto final.
Comparativamente, os recursos necessários
para fabricação de um automóvel pesam em
torno de duas vezes o produto final.1
Os chips são fabricados em “ambientes
limpos”, livres de poeira e outras partículas
prejudiciais às delicadas membranas de
silicone. No entanto, os trabalhadores nesses
ambientes ficam expostos a uma gama de
52
produtos químicos que podem ser
associados a cânceres, abortos e
defeitos congênitos. Essas
instalações também
geram volume
exagerado de lixo
químico, que contaminou
os lençóis freáticos em
numerosos centros de alta
tecnologia. O condado de
Santa Clara, na Califórnia,
terra natal da indústria de
semicondutores, contém mais
locais de lixo tóxico do que qualquer outro
condado nos Estados Unidos.2
O número de computadores no mundo
quintuplicou de 1988 a 2002 – de 105
milhões para mais de meio bilhão. Cada um
desses aparelhos é uma armadilha tóxica.
Um monitor típico, com tubo de raio
catódico (CRT), contém de dois a quatro
quilogramas de chumbo, bem como fósforo,
bário e cromo hexavalente. Outros
ingredientes tóxicos incluem o cádmio, nos
resistores e semicondutores do chip, berílio,
nas placas-mãe e conectores e retardadores
de chama à base de bromo, nas placas de
circuito e capas plásticas.
Plásticos, incluindo cloreto de polivinil
(PVC), compõem até 6,3 quilos de um
computador comum. A combinação de
vários plásticos torna a reciclagem um
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES
desafio. PVC é particularmente difícil de
reciclar, contaminando outros plásticos
durante o processo.3
A indústria eletrônica é o maior setor
manufatureiro de crescimento mais rápido no
mundo e, devido às altas taxas de
obsolescência do produto, o lixo eletrônico (elixo) cresce rapidamente. Até 2005, um
computador irá tornar-se obsoleto para cada
novo computador colocado no mercado
americano. Muitas vezes, computadores são
descartados não porque estejam quebrados,
mas porque a rápida evolução da tecnologia
torna-os indesejáveis ou incompatíveis com
software mais novo. Os americanos
substituem seus computadores desktop
Pentium logo após dois a três anos de uso. As
grandes instituições sempre fazem um
upgrade regularmente; 50.000 empregados da
Microsoft, em todo o mundo, recebem um
novo computador a cada três anos em média.4
Pesquisadores governamentais calculam
que três quartos de todos os computadores
vendidos nos Estados Unidos estão jogados
em porões e armários de escritórios, à espera
do descarte. Aqueles que estão quebrados
muitas vezes terminam em aterros ou
incineradores. Cerca de 70% dos metais
pesados encontrados nos aterros americanos
provêm do e-lixo. Essas toxinas podem
lixiviar no solo e água subterrânea, causar
danos ao sistema nervoso central,
perturbações endócrinas, interferir no
desenvolvimento cerebral e causar danos a
órgãos caso as pessoas sejam expostas a
elas. A queima de PVC e os retardadores de
chama à base de bromo, por exemplo, liberam
dioxinas e furanos – dois dos mais letais
poluentes orgânicos persistentes.5
Velhos computadores do mundo
industrializado são enviados para o
estrangeiro, por meio da indústria de
reciclagem, que estima que 50–80% do e-lixo
coletado para reciclagem nos Estados
Unidos são enviados para a Ásia,
principalmente China, Índia e Paquistão. De
acordo com a Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos, é 10 vezes
mais barato enviar monitores de CRT para a
China do que reciclá-los internamente. Esse
custo maior, juntamente com o fraco sistema
regulatório das nações recebedoras, está
incentivando o comércio tóxico a despeito
da proibição internacional, nos termos do
tratado principal sobre resíduos perigosos,
a Convenção de Basel. (Os Estados Unidos
são o único país industrializado que não
ratificou a Convenção de Basel; a sua
exportação de materiais perigosos continua
legal e recentemente tornou-se isenta dos
regulamentos.)6
Uma investigação da Basel Action
Network e Greenpeace China, em dezembro
de 2001, constatou que a maioria dos
computadores em Guiyu, um centro de
processamento de e-lixo na China, provém
da América do Norte, e em menor proporção
do Japão, Coréia do Sul e Europa. O estudo
averiguou que nessas instalações de
“reciclagem” os computadores são
desmontados a martelo, formões, chaves de
fenda e até mesmo “na marra”. Os
trabalhadores quebram os monitores CRT
para retirar o cabeçote de cobre, enquanto o
resto do monitor é jogado ao ar livre ou nos
rios. Os residentes locais dizem que a água
agora tem gosto ruim, devido ao chumbo e
outros contaminadores.7
Sem nenhuma roupa de proteção ou
máscaras, os trabalhadores usam pincéis ou
as próprias mãos nuas para abrir cartuchos
vazios de impressoras e recolher o toner
restante em baldes. Conforme a Xerox e
Canon, o negro-de-fumo e outros
ingredientes do toner causam irritação
respiratória e pulmonar. Os trabalhadores
53
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES
também são expostos aos vapores tóxicos
da solda de chumbo e estanho quando
aquecem as placas de circuito para
recuperar o conteúdo de ouro dos chips, e
os banhos de ácidos usados para dissolver
e precipitar o ouro emitem gases de cloro e
dióxido sulfúrico. Pilhas de cabos de PVC
são queimadas ao ar livre, para recuperar a
fiação de cobre. Ironicamente a China
proibiu a importação de resíduos sólidos em
1996 e acrescentou uma proibição específica
em 2000 contra computadores usados,
monitores e CRTs, mas a implementação
dessas leis é muito fraca.8
À proporção que as nações
industrializadas adotem leis mais rigorosas
54
para regulamentar a disposição final do
e-lixo em aterros e incineradores, o fluxo
de computadores para os países em
desenvolvimento provavelmente
aumentará, a menos que outras medidas
sejam introduzidas para lidar com o lixo. Em
2002, o parlamento da União Européia
adotou duas diretivas sobre o “princípio da
responsabilidade do produtor”, exigindo
que os fabricantes de produtos eletrônicos
diminuam gradativamente o uso de
materiais prejudiciais e sejam
responsabilizados pela recuperação e
reciclagem do e-lixo.9
— Radhika Sarin
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES
CAPÍTULO 3
Incrementando a
Produtividade Hídrica
Sandra Postel e Amy Vickers
Na xícara do café desta manhã e no gole
do chá da tarde residem moléculas de água
que circularam pela atmosfera terrestre
milhares e milhares de vezes. Esse líquido
tem estado presente no planeta por pelo
menos 3 bilhões de anos, circulando entre
terra, mar e ar. Impelido pelo sol, esse ciclo cria uma ilusão de abundância – água
doce aparentemente ilimitada, pois cai do
céu, ano após ano.
Ao longo das duas últimas décadas, entretanto, essa ilusão foi desfeita pela escala
de influências humanas sobre os
ecossistemas de água doce da Terra – os
rios, lagos, terras alagadas e aqüíferos subterrâneos que armazenam, movem e limpam
a água à medida que ela circula. Lençóis
freáticos estão em queda devido à extração
predatória da água subterrânea em grandes
áreas da China, Índia, Irã, México, Oriente
Médio, África do Norte, Arábia Saudita e
Estados Unidos. Muitos córregos e rios –
inclusive os grandes, como o Amu Dar’ya,
Colorado, Ganges, Indus, Rio Grande e o
Amarelo – secam hoje durante parte do ano.
Grandes lagos interioranos, particularmente
o Mar de Aral, na Ásia Central, e o Lago
Chad, na África, estão reduzidos a meras
sombras do que foram. Mundialmente, áreas alagadas de água doce – ecossistemas
que realizam um esplêndido serviço de purificação da água – diminuíram pela metade.
Pelo menos 20% das 10.000 espécies de
peixe de água doce estão ameaçadas de
extinção ou já estão extintas.1
A escala e ritmo dos impactos humanos sobre os sistemas de água doce aceleraram ao longo do último meio século,
Sandra Postel é co-autora de Rivers for Life: Managing Water for People and Nature (Island Press, 2003) e
diretora do Projeto de Políticas Globais para a Água em Amherst, MA. Amy Vickers, autora do premiado
Handbook of Water Use and Conservation: Homes, Landscapes, Business, Industries, Farms (WaterPlow
Press, 2001), é engenheira e especialista em conservação hídrica, residente em Amherst, MA.
55
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
juntamente com o crescimento populacional e o consumo. Mundialmente, as
demandas hídricas triplicaram. O número de grandes represas (com pelo menos
15 metros de altura) saltou de 5.000 em
1950 para mais de 45.000 hoje – uma taxa
média de construção equivalente a duas
grandes represas por dia, durante 50
anos. Por algum tempo, registramos apenas os benefícios desses projetos de engenharia, dando pouca atenção aos custos sociais e ecológicos. Medimos os
hectares adicionais irrigados, os quilowatt-hora gerados e a população atendida, mas não os pesqueiros destruídos, as
espécies aquáticas ameaçadas, as pessoas desalojadas de seus lares ou a
sustentabilidade dos padrões de uso da
água criados por grandes empreendimentos hídricos.2
Uma sociedade sustentável e segura é
uma que atenda suas necessidades hídricas
sem destruir os ecossistemas dos quais
depende ou as perspectivas das gerações
futuras. A boa notícia é que é possível atingir esse objetivo.
Atualmente, a agricultura é responsável por cerca de 70% do consumo global
de água, a indústria por 22% e as cidades
e municípios por 8%. As oportunidades
para o aumento da eficiência do uso da
água nas fazendas, fábricas e em cidades
e lares têm sido minimamente exploradas.
Só melhorias de eficiência, entretanto, não
serão suficientes. Face ao crescimento
populacional e afluência crescente, as pessoas têm um papel importante a desempenhar fazendo escolhas responsáveis sobre
seus padrões de consumo – desde dietas
até compras de materiais.3
56
Um Novo Conceito para a
Gestão da Água
Diferentemente do cobre, petróleo e da
maioria das outras commodities, a água
doce não é apenas um recurso que adquire
valor apenas quando é extraído e colocado
em uso. Mais fundamentalmente, a água
doce é o sustentáculo da vida. Quando bombeamos ou desviamos água para atender
demandas humanas, exploramos um sistema vivo do qual miríades de outras espécies dependem para sua sobrevivência e que
presta serviços valiosos para a economia
humana. A função desempenhada só pelas
terras alagadas pode valer cerca de US$
20.000 por hectare, por ano.4
O fato da nossa contabilidade econômica não refletir esses serviços significa que o
custo real do nosso uso da água é sensivelmente maior do que pensamos. À medida
que mais e mais água é desviada para agricultura, indústria e cidades, o volume restante para executar o trabalho da natureza
fica cada vez menor. A uma certa altura, os
ecossistemas deixam de funcionar. As trágicas condições de saúde e econômicas em
torno do Mar de Aral, que perdeu mais de
80% do seu volume devido a desvios fluviais excessivos, são um alerta claro sobre o
fatídico destino dessa trajetória.5
Hoje os cientistas sabem que
ecossistemas sadios requerem não apenas
uma quantidade e qualidade mínimas de
água, e sim um padrão de fluxo que se assemelhe a seu regime natural de vazão. Isso
ocorre porque as espécies passaram milênios adaptando-se à variabilidade do fluxo
da natureza – o ciclo natural de altos e baixos, enchentes e secas – e suas vidas es-
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
tão harmonizadas a ele. Elas migram, geram, nidificam e alimentam-se segundo as
leis da natureza. Ao perturbar os padrões
naturais de fluxo, através da construção de
barragens, represas e projetos de desvio de
rios, a humanidade involuntariamente destrói muitas das condições de habitat e de
sustentação de vida que nossos companheiros terrenos – e os serviços ecológicos que
nos prestam – necessitam.6
O que isso implica para o consumo e
gestão da água doce? Significa que o velho
objetivo do esforço contínuo para atender
a demandas cada vez maiores é um empreendimento fadado ao fracasso. A otimização
de um equilíbrio entre o atendimento das
necessidades humanas e a proteção das
funções valiosas dos ecossistemas requer
a alocação de água suficiente durante todo
o ano para a sustentação dessas funções.
Uma vez estabelecida essa alocação, o desafio é utilizar a água remanescente para
satisfazer as demandas humanas de forma
eficiente, eqüitativa e produtiva.
Para realizar essa mudança é mais fácil
falar do que fazer. Porém, aqui e ali começa
a acontecer. Na Austrália, as extrações de
água da bacia hidrográfica do Rio MurrayDarling – o maior e mais economicamente
importante do país – foram limitadas, num
esforço para coibir a deterioração grave de
sua saúde ecológica. Esforços que já tardavam: a vazão do Murray caiu tanto em 2003
que seu estuário ficou entupido com areia.
A inovadora legislação hídrica da África do
Sul, em 1998, exigiu o atendimento às necessidades hídricas básicas tanto das pessoas quanto dos ecossistemas antes que a
água seja alocada a usos não-essenciais. Essa
“reserva” de água doce é priorizada e, se
for implementada como se pretende, asse-
gurará que as extrações permaneçam dentro dos limites ecológicos definidos por cientistas e pelas comunidades. Nos Estados
Unidos, num caso envolvendo alocação de
água na Ilha de Oahu, a Corte Suprema do
Havaí determinou, em agosto de 2000, que
cada desvio particular de água fique subordinado “a um interesse público superior nessa riqueza natural” e que o interesse público, que inclui o ecossistema, deve ser
priorizado frente a usos comerciais privados nas decisões de alocação de água.7
O estabelecimento de limites para o uso
de rios e outros ecossistemas de água doce
é a chave para o avanço econômico sustentável, pois protege os ecossistemas que
escoram a economia enquanto promovem
melhorias na produtividade hídrica – o benefício líquido derivado de cada unidade
de água extraída do meio ambiente natural.
Da mesma forma que a melhoria de
produtividade da mão-de-obra – a produção por trabalhador – ajuda uma economia, também o fazem as melhorias na produtividade hídrica – a produção por metro
cúbico de água. (Um metro cúbico equivale a 1.000 litros.)
Medida a grosso modo como o valor
de bens e serviços econômicos por metro
cúbico de água consumida, a produtividade hídrica tende a aumentar, juntamente com a renda nacional, por três razões
principais. Primeiro, porque a produção
agrícola é tão intensiva em água e os preços são tão baixos, em relação à maioria
de outros bens, que uma mudança em direção a uma economia mais industrializada aumentará a produção econômica por
metro cúbico de água. Segundo, porque
leis de controle de poluição, como as
adotadas no Japão, Estados Unidos e mui-
57
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
tos países europeus, freqüentemente tornam mais econômico para as fábricas
reciclar e reutilizar sua água de processo
em vez de despejá-la no meio ambiente. E
o terceiro motivo é que à medida que as
economias deslocam-se de indústrias de
Bangladesh
Egito
Índia
Peru
China
Indonésia
México
Federação Russa
África do Sul
Estados Unidos
Brasil
Espanha
Austrália
França
Alemanha
transformação para indústrias de serviço,
a produtividade hídrica tende a aumentar
ainda mais. A economia da Alemanha, por
exemplo, hoje gera US$ 40 de produção
por metro cúbico de água, mais de 10 vezes a da Índia. (Vide Figura 3-1.)8
Fonte: FAO, USGS, OCDE
(Dólares de 2000)
0
10
20
30
PIB por metro cúbico de consumo
40
Figura 3-1. Produtividade Hídrica de Economias Nacionais,
Países Selecionados, 2000
A produtividade hídrica nos Estados
Unidos (que destina uma parcela muito
maior de água para a agricultura irrigada
do que a Alemanha) registra cerca de US$
18 por metro cúbico. Hoje, a economia
dos Estados Unidos gera 2,6 vezes mais
valor econômico por metro cúbico extraído dos seus rios, lagos e aqüíferos do
que em 1960. (Vide Figura 3-2.) Mesmo
assim, apesar desse avanço, os Estados
58
Unidos têm todos os sinais reveladores do
uso insustentável da água – inclusive
exaustão de água subterrânea, perda de
terras alagadas, dizimação de pesqueiros
e rios secos. Por quê? Legisladores ainda
não impuseram limites ao uso humano da
água em níveis ecologicamente sustentáveis – uma barreira que promoveria efetivamente níveis muito maiores de produtividade hídrica.9
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
dial, uma vez que a distribuição de água é freqüentemente
Fonte: USGS, OCDE
desigual também dentro de
(base=2000)
15
países. A China, por exemplo,
tem 21% da população mundial, mas apenas 7% da água
10
doce do planeta – e a maior
parte encontra-se na região
5
sul do país. A Planície Norte
da China, que inclui o Rio
0
Amarelo, é uma das regiões
1950
1960
1970
1980
1990
2000
mais populosas do mundo,
Figura 3-2. Produtividade Hídrica dos Estados
com escassez hídrica. AbriUnidos, 1950–2000
gando cerca de 450 milhões
de pessoas, seu suprimento
per capita de água é de menos de 500 metros
cúbicos por ano, quase igual à Argélia. O
Riqueza Hídrica,
consumo de água na Planície Norte já suPobreza Hídrica
pera o suprimento sustentável. Quase todo
ano, o baixo Rio Amarelo seca completaO ciclo hidrológico da Terra distribui água mente antes de alcançar o mar. E por toda
de forma irregular por todo o planeta. Ape- a planície, que produz um quarto dos grãos
nas seis países – Brasil, Rússia, Canadá, da China, os lençóis freáticos estão caindo
Indonésia, China e Colômbia – representam a uma taxa de 1–1,5 metro ao ano. Como
metade do suprimento renovável total de observa o economista hídrico Jeremy
água doce, de 40.700 quilômetros cúbicos Berkoff, a escassez de água na Planície
(contando apenas o escoamento de rios e Norte da China “afetará mais aqueles com
águas subterrâneas, sem a evaporação e menor condição de suportá-la e pequenos
transpiração vegetal). O fato de uma região agricultores que cultivam grãos em locais
ser hidrologicamente rica ou pobre depen- mais isolados”.11
de, em parte, de quanto do legado global
Locais de pobreza hídrica geralmente
recebe em relação à sua população. O Cana- exercem maior pressão sobre rios e
dá, por exemplo, situa-se próximo ao topo aqüíferos do que locais de riqueza (vide
da riqueza hídrica, com mais de 92.000 Tabela 3-1) porque em climas mais secos
metros cúbicos de água por habitante. No a produção agrícola – intensiva no uso da
lado pobre do espectro estão a Jordânia, com água – requer irrigação. O consumo de
um manancial renovável anual de 138 metros água per capita do Egito é quase o dobro
cúbicos por habitante, Israel com 124 e o da Rússia, não porque os egípcios sejam
mais sedentos (embora consumam mais
Kuwait, com basicamente nada.10
Entretanto, as cifras nacionais masca- do que sua parcela justa do Nilo), e sim
ram grande parte do estresse hídrico mun- porque toda sua região agrícola necessita
PIB real por metro cúbico de extração anual de água
20
59
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
de irrigação, contra apenas 4% na Rússia.
Os Estados Unidos, todavia, emergem efetivamente como uma nação pródiga no uso
da água: possui uma das maiores taxas per
capita de consumo em todo o mundo,
mesmo irrigando apenas 11% da sua região agrícola.12
Tabela 3-1. Extrações Anuais
Estimadas de Água, Per Capita,
Países Selecionados, 2000
País
Etiópia
Nigéria
Brasil
África do Sul
Indonésia
China
Federação Russa
Alemanha
Bangladesh
Índia
França
Peru
México
Espanha
Egito
Austrália
Estados Unidos
Extrações de Água
Per Capita
(metros cúbicos por pessoa
por ano)
42
70
348
354
390
491
527
574
578
640
675
784
791
893
1.011
1.250
1.932
FONTE: vide nota final 12.
Assim, o quadro só estará completo se
considerarmos afluência e pobreza. Para
isso, basta voar até Phoenix, Arizona, no
sudoeste dos Estados Unidos, para ver uma
cidade-oásis que desafia seu legado hídrico
natural. Embora seu índice pluviométrico
seja de apenas 19 cm anuais, Phoenix possui uma paisagem exuberante de gramados
60
verdes, campos de golfe e piscinas em cada
quintal. Mas esse luxo tem um preço alto –
a exaustão de aqüíferos e importações de
água do distante Rio Colorado às custas do
contribuinte. Por outro lado, um sobrevôo
pela Etiópia, no leste da África, onde, em
2003, mais de 12 milhões de pessoas enfrentaram a fome, revela uma terra sedenta de água, mesmo com 84% da vazão do
Nilo fluindo por seu território. Devido à
influência do poder, da política e do dinheiro, a escassez natural de água não implica
privação; nem também a abundância natural implica acesso.13
Facilitar tanto o sobreconsumo quanto
o subconsumo são dois aspectos do desafio global da água. A tarefa mais urgente é
fornecer a todos os povos pelo menos um
volume mínimo de água potável e saneamento necessários para uma boa saúde.
Hoje, uma em cada cinco pessoas no mundo em desenvolvimento – 1,1 bilhão ao todo
– enfrenta riscos diários de doença e morte
por lhe faltar “acesso razoável” a água potável, definida pelas Nações Unidas como
a disponibilidade de, pelo menos, 20 litros
por pessoa por dia, de uma fonte a uma
distância não-superior a 1 quilômetro do
lar. A grande lacuna na disponibilidade tem
quase nada a ver com escassez de água. A
Indonésia, por exemplo, tem um legado
natural de água superior a 13.000 metros
cúbicos por pessoa; entretanto, um quarto
da sua população não tem acesso a água
potável. Globalmente, proporcionar acesso universal a 50 litros por pessoa, por dia,
até 2015, exigirá menos de 1% das extrações atuais em todo o mundo. Há água mais
do que suficiente, porém, até agora, faltam
vontade política e compromissos financeiros para proporcionar acesso aos pobres.14
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
Em 2000, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou, como uma das Metas
Desenvolvimentistas do Milênio para 2015,
a redução pela metade da parcela de pessoas sem condições de acesso à água potável. Dois anos depois, na Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável, em
Joanesburgo, as nações comprometeramse igualmente a reduzir à metade, até 2015,
a proporção de pessoas sem acesso a saneamento adequado. A difusão de serviços
de saneamento tem ficado bem atrás do
fornecimento de água doméstica, deixando 2,4 bilhões de pessoas, mundialmente,
sem saneamento básico. (Vide Tabela 3-2.)
A fim de atender aos novos compromissos, os serviços de água terão que alcançar
mais 100 milhões de pessoas, e o saneamento adequado outras 125 milhões de
pessoas, anualmente, entre 2000 e 2015.15
Tabela 3-2. Populações sem Acesso a Água
Potável e Saneamento, 2000
Parcela da População
Sem Acesso a
Região
Água
Potável
Saneamento
Adequado
(percentual)
África
Ásia
América Latina e
Caribe
36
19
40
53
13
22
FONTE: vide nota final 15.
Embora ambiciosas, essas metas
conquistáveis são marcos essenciais no
caminho para uma cobertura universal de
água e saneamento. De acordo com esta-
tísticas da ONU, cinco países – Bangladesh,
Camoros, Guatemala, Irã e Sri Lanka –
obtiveram sucesso em reduzir à metade a
parcela de suas populações carentes de água
potável entre 1990 e 2000. (Essas estatísticas, entretanto, não incluem a descoberta
de níveis venenosos de arsênio em poços
de água subterrânea em extensas áreas de
Bangladesh.)16
A África do Sul avançou também na
prestação de serviços de água. Quando o
Congresso Nacional Africano assumiu o
poder, em 1994, cerca de 14 milhões de
sul-africanos não tinham acesso a água
potável. A constituição pós-apartheid,
ratificada em 1996, declarou a água potável um direito universal, e a lei da água
de 1998, que estabeleceu uma reserva
hídrica em duas partes – atender às necessidades hídricas de todas as pessoas e
ecossistemas –, concedeu prioridade máxima à prestação de serviços de abastecimento de água. Entre 1994 e abril de 2003,
o Programa Comunitário de Abastecimento de Água e Saneamento do país proporcionou acesso a 8 milhões de pessoas, a
um custo médio de US$ 80 por pessoa. As
autoridades estimam que os 6 milhões de
pessoas restantes terão acesso até 2008.17
A fim de atender à população mais pobre da África do Sul e, também, conseguir
uma recuperação razoável de custos, foi
estabelecido um preço baixo de “linha de
vida” para os primeiros 25 litros diários,
aumentando a tarifa acima desse nível. Uma
vez que até a tarifa mínima onerava as famílias pobres, as autoridades começaram
a conceder gratuidade a esse volume. Nas
regiões onde o governo contratou empresas privadas para gerir os sistemas de água,
entretanto, a recuperação de custos parece
61
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
ter adquirido prioridade sobre o direito constitucional à água, provocando protestos da
população. Em Joanesburgo, por exemplo,
onde a concessionária assinou um contrato de gestão com a corporação francesa
Suez, foram instalados hidrômetros de pagamento prévio que só fornecem às famílias a quantidade paga antecipadamente.
Empresas privadas de água, preocupadas
principalmente em aumentar os lucros para
seus acionistas, pouco incentivo têm para
atender às necessidades básicas dos pobres,
a não ser quando obrigadas, pelos poderes
públicos, a fazê-lo.18
Água, Lavouras e Dietas
A agricultura consome cerca de 70% de toda
a água extraída dos rios, lagos e aqüíferos
subterrâneos da Terra, e até 90% em muitos países em desenvolvimento. Projeções
recentes indicam que, até 2025, inúmeras
bacias hidrográficas e nações enfrentarão
uma situação em que 30% ou mais de suas
necessidades de irrigação não poderão ser
atendidas, devido à escassez de água. Essas
incluem a maioria das bacias da Índia, as
bacias Hai e Amarela, na China, do Indus,
no Paquistão, e muitas bacias hidrográficas
da Ásia Central, África Subsaariana, África
do Norte, Bangladesh e México.19
Elevar a produtividade do uso da água
agrícola é crucial para o atendimento das necessidades alimentares das pessoas à medida
que o estresse hídrico aumente e se espalhe.
Esse desafio tem três partes principais: fornecer e aplicar água à agricultura com maior
eficiência, aumentar a produtividade por litro
de água consumida, tanto por lavouras
irrigadas quanto alimentadas pela chuva, e
62
mudar as dietas, a fim de satisfazer as necessidades nutricionais com menos água.
Uma grande parte da água armazenada
por trás de barragens, e desviada através de
canais de irrigação, nunca beneficia uma lavoura. Uma análise em 2000 constatou que
a eficiência de irrigação da água de superfície varia entre 25 e 40% na Índia, México,
Paquistão, Filipinas e Tailândia; entre 40 e
45% na Malásia e Marrocos e entre 50 e
60% em Israel, Japão e Taiwan. A grande
parcela de água que não atinge as raízes das
lavouras não é, necessariamente, perdida ou
desperdiçada: pode, por exemplo, escorrer
por um campo ou canal e recarregar o lençol subterrâneo, transformando-se no suprimento de outro agricultor. Todavia, parte
é perdida pela evaporação do solo ou superfícies de canais. De qualquer forma, essas
ineficiências acarretam altos custos:
indisponibilidade de água quando e onde necessária, habitats aquáticos destruídos desnecessariamente, maior área de terra tornando-se salina e maior volume de água doce
poluído por sais e pesticidas.20
A maioria das regiões obteve ganhos apenas modestos na melhoria da eficiência de
irrigação. Com a água de irrigação,
freqüentemente cobrada a menos de um
quinto do seu custo real, e com a extração
de água subterrânea praticamente não-regulamentada, os agricultores e gestores de irrigação têm pouca motivação para modernizar suas práticas. Melhorias na regulação e
confiabilidade na distribuição de água são
pré-requisitos para muitas das medidas de
eficiência que os próprios agricultores podem tomar. Produtores de alguns distritos
da Califórnia, por exemplo, gostariam de
transferir-se para sistemas mais eficientes
de irrigação, porém precisam de maior se-
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
gurança sobre a freqüência, taxa de vazão e
duração de seu fornecimento de água antes
de fazê-lo.21
Há um rico cardápio de escolhas para a
melhoria da produtividade da água de irrigação, inclusive um conjunto de medidas
técnicas, gestoras, institucionais e agronômicas. Um número cada vez maior de agricultores em todo o mundo está constatando, por exemplo, que sistemas de irrigação
por gotejamento – que fornecem água diretamente às raízes das plantas em baixo
volume, através de tubos perfurados instalados sobre ou sob o solo – podem economizar água, incrementando as colheitas ao
mesmo tempo. Comparados à irrigação
convencional por inundação ou valas, métodos de gotejamento freqüentemente reduzem o volume de água distribuída aos
campos em 30–70%, aumentando a pro-
dução em 20–90%. Essa combinação pode
significar uma duplicação ou triplicação da
produtividade hídrica.22
Mundialmente, métodos de microirrigação (inclusive gotejamento e microespargidores) são utilizados em aproximadamente 3,2 milhões de hectares ou pouco
mais de 1% das terras irrigadas. Um punhado de países carentes de água hoje depende, e muito, deles. (Vide Tabela 3-3.)
Ademais, a área sob gotejamento e outras
técnicas de microirrigação ampliou-se sensivelmente em vários países ao longo da
última década: mais do dobro no México e
África do Sul, um aumento de 3,5 vezes
na Espanha e quase nove vezes no Brasil.
Embora partindo de uma base pequena,
China e Índia também ampliaram o uso de
irrigação por gotejamento, a fim de lidar
com a crescente escassez hídrica.23
Tabela 3-3. Uso de Gotejamento e Microirrigação,
Países Selecionados, 1991 e Cerca de 20001
Área Irrigada por Gotejamento e
Outros Métodos de Microirrigação
País
1991
Cerca de 2000
(mil hectares)
Chipre
Israel
Jordânia
África do Sul
Espanha
Brasil
Estados Unidos
Chile
Egito
México
China
Índia
25,0
104,3
12,0
102,3
160,0
20,2
606,0
8,8
68,5
60,6
19,0
17,0
35,6
125,0
38,3
220,0
562,8
176,1
850,3
62,1
104,0
143,1
267,0
260,0
Parcela da Área Total Irrigada sob
Gotejamento e Microirrigação
Cerca de 2000
(percentual)
90
66
55
17
17
6
4
3
3
2
<1
<1
1
A microirrigação inclui métodos de gotejamento (tanto superficial quanto subsuperficial) e
microespargidores; o ano de divulgação varia de país a país.
FONTE: vide nota final 23.
63
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
Mudanças nos padrões de produção e
métodos de cultivo também oferecem oportunidades para se colher mais por gota. Esse
desafio é mais destacado na produção de
arroz, o alimento básico preferido de cerca
da metade da população global. Mais de 90%
do arroz mundial é cultivado na Ásia, onde
muitos rios e aqüíferos já estão excessivamente explorados e a pressão para desviar
água das fazendas para as cidades está aumentando. Ao longo do último quarto de
século, a adoção generalizada de variedades
de arroz de alta produtividade e amadurecimento precoce levou a um aumento de 2,5
a 3,5 vezes o volume de arroz colhido por
unidade de água consumida – uma conquista impressionante. Maiores ganhos serão
mais difíceis de serem obtidos. Muitos estudos demonstraram, todavia, que a prática
tradicional de inundar arrozais durante a estação de cultivo não é essencial para aumentar a produção. Aplicar um espelho d’água
mais raso, ou até mesmo deixar os arrozais
secos entre irrigações, pode, em alguns casos, reduzir o uso de água em 40–70% sem
perda significativa de produção.24
Igualmente, pesquisadores constataram
que a produção de grãos pode ser sustentada com 25% menos de água de irrigação
do que é normalmente utilizado, contanto
que as lavouras recebam água suficiente
durante seus estágios críticos de crescimento. Chamada de irrigação de déficit,
essa prática está se tornando um recurso
necessário em algumas áreas carentes de
água. Na Planície Norte da China, por exemplo, os agricultores hoje irrigam o trigo três
vezes numa safra em vez de cinco.25
Para muitos agricultores pobres, a
questão não é como irrigar com maior
eficiência, e sim como irrigar, simples-
64
mente. A maioria dos cerca de 800 milhões de pessoas famintas ou malnutridas
pertencem a famílias de agricultores da
África Subsaariana e sul da Ásia. Para
elas, os equipamentos convencionais de
irrigação são muito dispendiosos, e o
acesso à água de irrigação é sua esperança para colheitas mais estáveis e produtivas, maior segurança alimentar e melhores rendas. Aumentar o acesso dos agricultores pobres à irrigação, por meio da
disseminação de tecnologias acessíveis
para pequenas áreas, melhoraria imensamente a produtividade hídrica – gerando
melhor saúde e benefícios sociais por litro de água consumida.26
Um modelo de sucesso está em
Bangladesh, onde agricultores pobres adquiriram mais de 1,2 milhão de bombas a
pedal que lhes dão acesso a lençóis rasos e
permitem cultivos durante a estação seca,
aumentando suas rendas em US$ 100, em
média, por cada bomba de US$ 35 no primeiro ano. A International Development
Enterprises, do Colorado, está hoje desenvolvendo sua experiência em Bangladesh e
em inúmeros outros países, numa iniciativa multidoadora internacional chamada Iniciativa Mercadológica de Irrigação para
Pequenos Produtores, que objetiva facilitar o acesso de agricultores pobres à irrigação – incluindo sistemas de gotejamento
de baixo custo e bombas a pedal – com a
meta de livrar da pobreza cerca de 30 milhões de famílias rurais até 2015.27
Por grandes áreas da Índia, grupos
comunitários estão reativando o uso de
açudes tradicionais, barragens de detenção e outros equipamentos para captação
e armazenagem de água da chuva, para
irrigar suas lavouras durante a estação
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
seca e recarregar os lençóis freáticos. No
distrito de Alwar, em Rajasthan, 2.500
açudes (chamados de johads) foram
construídos em 500 vilarejos, aumentando a produção agrícola e de leito significativamente. Ao repor a água subterrânea,
os johads também elevam o lençol freático
de uma média de 60 metros abaixo da superfície para 6 metros.28
Esses exemplos mostram apenas algumas das inúmeras formas pelas quais agricultores e gestores de água podem aumentar a eficiência da irrigação, fazendo melhor uso da chuva e aumentando a produtividade agrícola por litro de água consumida.
Por intermédio de suas escolhas dietéticas,
consumidores individuais também têm um
papel importante a desempenhar – um que
se mostrará vital para dobrar a produtividade hídrica da agricultura.
Os vários alimentos que ingerimos exigem volumes de água imensamente diferentes para serem produzidos. Também
variam nos seus valores nutricionais – incluindo energia, proteína, cálcio, gordura,
vitaminas e ferro. A combinação dessas duas
características dá uma medida da produtividade nutricional da água – quanto valor
nutricional é derivado de cada unidade de
água consumida. Utilizando o consumo de
água na agricultura e a produção da
Califórnia, os pesquisadores Daniel Renault
e Wes Wallender estimaram a produtividade nutricional da água para as principais
lavouras e produtos alimentícios. Os resultados foram reveladores: é necessário cinco vezes mais água para suprir 10 gramas
de proteína da carne bovina do que do arroz, e quase 20 vezes mais água para suprir 500 calorias da carne bovina do que
do arroz. (Vide Tabela 3-4.)29
Tabela 3-4. Água Consumida para Suprir
Proteínas e Calorias, Alimentos Selecionados1
Alimento
Batatas
Amendoim
Cebola
Milho
Feijão
Trigo
Arroz
Ovo
Leite
Aves
Carne Suína
Carne Bovina
Água Consumida
para Suprir 10
Gramas de Proteína
67
90
118
130
132
135
204
244
250
303
476
1.000
Água Consumida
para Suprir
500 Calorias
(litros)
89
210
221
130
421
219
251
963
758
1.515
1.225
4.902
1
Baseado na produção agrícola e na produtividade hídrica
da Califórnia; leva em consideração apenas as exigências
hídricas das lavouras, não eficiências de irrigação ou outros
fatores.
FONTE: vide nota final 29.
Com seu alto teor de carne, a dieta comum nos Estados Unidos requer 5,4 metros
cúbicos de água por pessoa, por dia – o
dobro de uma dieta vegetariana, igualmente (ou mais) nutritiva. Mesmo uma saída
parcial de produtos animais faria uma diferença imensa. Por exemplo, a redução de
produtos animais pela metade e substituição por produtos vegetais altamente nutritivos diminuiria a intensidade hídrica da dieta americana em 37%. Realizar essa transição até 2025, quando a população dos
Estados Unidos deverá somar mais de 350
milhões de pessoas, reduziria as necessidades hídricas alimentares da nação, naquela ocasião, em 256 bilhões de metros
cúbicos por ano – uma economia equiva-
65
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
lente à vazão anual de 14 rios Colorado.
Muitos outros benefícios resultariam também – inclusive redução de doenças cardíacas, menor crueldade com os animais e
menor poluição de córregos e baías causada por currais industriais.30
Mundialmente, assegurar uma dieta
sadia para todos, face à crescente escassez hídrica, exigirá ajustes em ambas
as pontas do espectro dietético. O bilhão malnutrido de pessoas no mundo
precisa alimentar-se mais, a fim de viver com saúde. A ampliação do acesso a
níveis mínimos de água de irrigação poderá ajudar a atingir esse objetivo. Uma
participação mais eqüitativa da água incorporada nos alimentos, através do
comércio e programas de ajuda, também
será importante. E a mudança dietética
sensata descrita acima para a população
dos Estados Unidos liberaria água suficiente para proporcionar dietas sadias a
cerca de 400 milhões de pessoas, quase
um quarto do número que se antecipa
será adicionado à população do mundo
em desenvolvimento até 2025.31
Cidades e Lares
As demandas – e carências – de água em
muitas cidades por todo o mundo aumentam aceleradamente. Com quase metade da
população global hoje vivendo em áreas
urbanas, que deverá aumentar para 60%
até 2030, satisfazer os desejos cada vez
maiores dos ricos pela água e as necessidades dos pobres é um grande desafio. (Vide
Quadro 3-1.) Embora as cidades sejam responsáveis por menos de 10% das extrações mundiais de água doce, seu consumo
66
concentrado requer uma infra-estrutura
capital-intensiva complexa, que exerce
grande pressão sobre os mananciais superficiais e subterrâneos finitos.32
QUADRO 3-1. DESSALINIZAÇÃO –
SOLUÇÃO OU SINTOMA?
Um número crescente de cidades está
recorrendo à água do mar dessalinizada ou
água salobra como prevenção à futura
escassez hídrica. Existem atualmente cerca de
9.500 usinas de dessalinização em todo o
mundo, com uma capacidade instalada
estimada de 11,8 bilhões de metros cúbicos
por ano – 0,3% do atual consumo mundial.
Um processo intensivo no uso de energia, a
dessalinização está concentrada no Golfo
Árabe e Oriente Médio, ricos em petróleo,
responsáveis por cerca da metade da
capacidade global. Entretanto, tanto as
necessidades energéticas quanto os custos
vêm caindo com a melhoria das tecnologias, e
a capacidade mundial de dessalinização está
expandindo a uma taxa anual de cerca de
11%. O projeto israelense de gerar até metade
do seu abastecimento urbano de água da
dessalinização até 2008 poderá efetivamente
liberar outros mananciais para uma
distribuição eqüitativa com os palestinos.
Porém, será que para a maioria do mundo
a dessalinização é uma opção sensata ou
outra solução dispendiosa para o
abastecimento? Em termos unitários, a
maioria das medidas de conservação e
eficiência pode atender às novas
necessidades hídricas a 10–25% do custo de
produção de água dessalinizada. Não faz
muito sentido dessalinizar o mar e, no
processo, lançar mais gases de estufa na
atmosfera, quando a redução de desperdícios
e o aumento da eficiência poderão suprir
água com melhor custo/benefício e menor
dano ecológico.
________________________________________
FONTE: vide nota final 32.
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
Demandas excessivas de água têm custo. A maioria das 16 megacidades mundiais
– aquelas com 10 milhões de habitantes ou
mais – situa-se entre regiões que sofrem
estresse hídrico de fraco a agudo, uma
condição em que as extrações exaurem os
mananciais disponíveis. À medida que a demanda urbana vai aumentando, a pressão
sobre a agricultura e áreas rurais para venderem ou abrirem mão de seus direitos à
água intensifica-se.33
Uma manchete de primeira página sobre o uso da água urbana pode ser resumida em uma palavra: desperdício. “Precisamos... reduzir vazamentos, especialmente nas muitas cidades onde as perdas
de água atingem o nível assustador de
40%, ou mais, do manancial total”, declara o Secretário-Geral das Nações Unidas,
Kofi Annan. Vazamentos e outras perdas
são, em muitos casos, fontes de desperdício negligenciadas ou ocultas: muitos
gestores de sistemas de abastecimento não
dão conta de 15–40% do seu fornecimento. Em regiões dos países em desenvolvimento, como a África, é comum 50–70%
da água extraída dissipar-se através de
vazamentos, conexões ilegais e contabilidade falha. Até um terço do abastecimento de água de uma cidade típica do Golfo
Árabe pode perder-se por vazamentos em
tubulações e adutoras. Taiwan perde quase 2 milhões de metros cúbicos diariamente com vazamentos, volume equivalente a
325 milhões de descargas de sanitários.
Calcula-se que essas perdas atinjam US$
200 milhões ao ano.34
A “prestação de contas” da água é o
indicador principal da eficiência e gestão
das concessionárias; todavia, elas
comumente falham nessa tarefa básica de
manutenção. (Vide Tabela 3-5.)
Freqüentemente, são os países pobres,
cuja população carece de suprimento suficiente, que têm as maiores taxas de desperdício de água, embora a reputação do
setor privatizado nos países industrializados seja longe de exemplar. (Vide Quadro 3-2.) Vazamentos e outras perdas dos
sistemas de abastecimento – comumente
chamados “água não-contabilizada”
(ANC) ou “água não-faturada” – são o
volume retirado, mas que nunca chega
ou nunca é registrado como tendo sido
entregue a um consumidor final. Geralmente é calculado como a diferença entre a água “produzida” (conforme medição no ponto de extração ou estação de
tratamento) e a água vendida (baseada em
leituras de hidrômetros dos consumidores), embora o setor, há muito, careça de
normas consistentes para definir, medir
e informar a ANC. A maior parte da ANC
é o resultado de vazamentos em adutoras
e tubulações sem manutenção adequada;
também ocorrem roubo e defeitos em
hidrômetros, particularmente em sistemas
antigos e malcuidados. Assim, grande
parte da ANC representa água que poderia abastecer outros consumidores, e
outra parte dela resulta em perda de receita, pois a água é utilizada e não-paga.
O valor econômico da água perdida devido a falhas na leitura de hidrômetros
ou roubo freqüentemente chega a 10 vezes o custo operacional marginal associado a vazamentos.35
As cidades americanas, consideradas
como possuidoras das tecnologias e
infra-estrutura hídricas mais modernas,
têm ANCs que variam entre 10 e 30% e,
às vezes, mais. Na ausência de códigos
67
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
nacionais que definam e meçam as perdas
de água, alguns estados estabeleceram
suas próprias normas. Estas variam de 7,5
a 20%, mas não são bem aplicadas. Apenas uns poucos estados publicam os números de perda de água. Por exemplo,
Kansas, cuja região ocidental cobre o
aqüífero declinante de Ogallala, possui
uma norma ANC de 15%; entretanto, os
números mais recentes divulgados sobre
as perdas estaduais relacionam 52 fornecedores com ANCs de 30% ou mais. A
seu crédito, o Programa Hídrico de Kansas
determinou a redução de ANC como uma
das suas metas prioritárias.36
Tabela 3-5. Vazamentos e Perdas em Sistemas de
Abastecimento de Água, Países Selecionados
País
Área de Serviço
África do Sul
Joanesburgo
Tshwane (Pretória)
Nacional
Kingston, Ontario
Nacional
Copenhague
Nacional
Nacional
Bethlehem, PA
Paris
Nacional
Fukuoka
Nacional
Nairobi
Nacional
Nacional
Taipei
Albânia
Canadá
Cingapura
Dinamarca
Espanha
Estados Unidos
França
Japão
Jordânia
Quênia
República Tcheca
Taiwan
FONTE: vide nota final 35.
Estimativa das
Perdas Médias no
Suprimento Total
(percentual)
42
24
até 75
38
5
3
24–34
10–30
27
30
até 50
5
48
40
20–30
25
42
QUADRO 3-2. PRIVATIZAÇÃO E
VAZAMENTO: OMISSÃO DE
PRESTAÇÃO DE CONTAS
Apesar das promessas de maior eficiência
e sistemas de “gestão inteligente” que
supostamente viriam junto à privatização
dos sistemas de abastecimento de água,
várias empresas privadas não prestam
conta dos volumes maciços de água que
seus sistemas perdem em vazamentos e
outros usos, não-medidos ou justificados.
As metas de redução das perdas de água
, tão alardeadas pelas empresas privadas
da Grã-Bretanha, ainda estão para ser
alcançadas e a realidade é que algumas
“empresas ainda não atingiram seus níveis
econômicos de vazamento”, de acordo
com um relatório da Câmara dos Comuns.
A medição correta de vazamentos é ainda
mais complicada no Reino Unido, devido
ao fato de apenas 20% dos domicílios
possuírem hidrômetros, o que torna as
estimativas de vazamentos da empresa
“sujeitas a manipulação”, de acordo com o
relatório. Em seguida à privatização dos
sistemas de água, em 1989, os níveis de
vazamento em todo o setor hídrico do RU
atingiram o nível médio de 30% em 1995.
O Departamento de Serviços de Água, que
regula o setor de abastecimento e
saneamento da Inglaterra e País de Gales,
interveio e estabeleceu metas obrigatórias
para redução de vazamento. Várias
empresas com altos níveis de perda,
notadamente a Thames Water Utilities
LTD, atendem a áreas que enfrentam
quedas de abastecimento. Em 2003,
vazamentos e perdas de água pela Thames
Water foram responsáveis por mais de
25% do total de vazamentos na Inglaterra
e País de Gales; todavia, a empresa atende
apenas a 15% dos consumidores faturados
nessas regiões.
________________________________________
FONTE: vide nota final 35.
68
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
A recuperação da água “perdida”
por vazamentos, falha de medição ou
contabilização corrupta representa um
enorme manancial inexplorado que poderia ajudar cidades e regiões que enfrentam escassez a atender suas reais necessidades hídricas. Argumentos de que perdas por vazamentos não são significativas porque recarregam os aqüíferos ou
abastecem outros usuários ignoram o fato
de que extrações têm custo. A água
deslocada da sua “área de serviço” original
na natureza e dissipada a usuários de tubulações falhas causa secas em rios, destruição de habitats e desaparecimento de vida
silvestre. Da mesma forma que as cavidades dentárias, tubulações corroídas podem
ficar sem atenção por um tempo, mas terão que ser cuidadas; quanto mais tempo o
problema for negligenciado, mais custoso
será para reparar. Caso a infra-estrutura
existente não seja estanque, os projetos de
capital propostos, destinados a atender às
“necessidades” hídricas, são ilusórios.
Copenhague, na Dinamarca, com apenas 3% de ANC (cerca de 1,6 metro cúbico por pessoa, por ano, ou um galão por
dia), é uma exceção positiva ao controle
historicamente fraco do setor hídrico. O
Departamento de Águas de Copenhague
também tem sofrido um declínio constante no consumo per capita domiciliar diário, entre seu meio milhão de habitantes,
desde que implantou metas de conservação e iniciou uma série de campanhas
educativas e aumentos tarifários.
Talvez o incentivo mais forte para a
manutenção de sistemas ajustados na Dinamarca seja o fato de as concessionárias serem taxadas (0,7 euros ou 85 centavos de dólar por metro cúbico) caso o
índice de vazamento exceda 10%. Em
2000, apenas 8 dos 40 maiores fornecedores da Dinamarca reportaram uma perda acima de 10%. (Vide Quadro 3-3 para
uma descrição de outros programas de
eficiência urbana.) 37
A redução de vazamentos e o uso mais
eficiente da água também poupam energia, uma vez que o bombeamento, tratamento e distribuição da água requerem
energia em cada estágio. Os sistemas de
água da Califórnia são um dos maiores
consumidores de energia do estado, porque transportam a água a longas distâncias e por regiões altas. Em média, o
bombeamento de um acre-pé (1.234
metros cúbicos) de água, por meio do
Aqueduto do Rio Colorado, para o sul da
Califórnia consome cerca de 2.000 kWh
de eletricidade, enquanto o envio de um
acre-pé para o mesmo destino, através do
Projeto Estadual de Água, requer cerca de
3.000 kWh. Numa residência típica do sul
da Califórnia, a energia necessária para o
fornecimento de água potável chega a atingir o terceiro lugar em importância, após
condicionadores de ar e refrigeradores.
Uma vez que o uso mais eficiente da água
reduz o consumo de energia, também reduz a produção dos gases de estufa
alteradores do clima, que ameaçam perturbar vazões fluviais e sistemas hidrológicos
em todo o mundo.38
A conservação da água obviamente
conserva energia, mas a conservação da
energia também conserva a água. Usinas
termelétricas (a carvão, petróleo, gás natural, nuclear ou geotérmica) consomem
água pela evaporação, quando o calor excessivo é retirado dos condensadores. A
extração dos combustíveis utilizados para
69
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
operar essas usinas também consome
água. A geração de energia hidrelétrica resulta na evaporação da água de reservatórios. Em conjunto, a água necessária
para atender às demandas energéticas é
substancial – nos Estados Unidos chega
a cerca de 8,3 litros por kWh de eletrici-
dade fornecida. Assim, a família média
norte-americana, utilizando 10.000 kWh
de eletricidade por ano, está indiretamente
consumindo também mais 83 metros
cúbicos de água – um volume equivalente a quase 14.000 descargas de um vaso
sanitário eficiente.39
QUADRO 3-3. PROGRAMAS URBANOS DE CONSERVAÇÃO HÍDRICA QUE
POUPAM ÁGUAE DINHEIRO
Várias cidades e sistemas de água lançaram
programas de eficiência hídrica nos últimos
anos, e várias outras conseguiram uma
economia impressionante de custo e consumo:
• Cingapura reduziu o índice de água nãocontabilizada de 10,6 para 6,2%, entre 1989
e 1995, e economizou mais de US$ 26
milhões, evitando gastos de capital na
expansão de suas instalações, por meio de
iniciativas agressivas de detecção e reparo
de vazamentos, renovação de adutoras e
100% de leituras (incluindo o Corpo de
Bombeiros). Em 2003, a ANC caiu para
5%. Hidrômetros industriais e comerciais
são substituídos a cada quatro anos e
hidrômetros residenciais a cada sete anos,
para assegurar faturamento correto e
minimizar perdas de água não-medida. Os
gestores de água de Cingapura também
promovem educação pública, programas
escolares, auditorias hídricas e reutilização
de água não-potável pelas indústrias.
Conexões ilegais são sujeitas a multas de até
US$ 50.000 ou três anos de detenção. Em
1995, os 3 milhões de habitantes da cidade
consumiram, em média, 1,2 milhão de
metros cúbicos por dia; em 2003, a
demanda total de água havia aumentado
apenas 8%, embora a população tenha
crescido 40%, para 4,2 milhões.
• Fukuoka, no Japão, conhecida como a
Cidade com Consciência de Conservação
70
Hídrica, tem uma das menores taxas de
vazamento (cerca de 5%) do Japão, com um
consumo per capita de aproximadamente
20% menos do que outras cidades do
mesmo tamanho. Fukuoka conseguiu essas
economias através de esforços em detecção
de vazamentos e reparo, técnicas
sofisticadas de leitura, coleta de águas
pluviais, utilização de água recuperada para
sanitários, instalação de dispositivos
eficientes de torneiras em mais de 90% das
residências e promoção de programas de
conscientização pública das questões
hídricas.
• Desde o final dos anos 80, o Departamento
de Água do Estado de Massachusetts
(MWRA, na sigla em inglês), que abastece
mais de 40 cidades na área de Boston,
reduziu a demanda em toda a rede em cerca
de 25%, por intermédio da implementação
de um programa abrangente de redução de
demanda que incluía reparos de vazamentos
e instalação de equipamentos e dispositivos
eficientes na tubulação. Isso permitiu o
cancelamento de um projeto para represar
o Rio Connecticut – uma proposta
politicamente polêmica – e poupou aos
2,1 milhões de consumidores do MWRA
mais de meio bilhão de dólares só em
dispêndio de capital.
__________________________________________
FONTE: vide nota final 37.
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
O uso doméstico de água varia sensivelmente em todo o mundo e revela muito sobre as diferenças de riqueza e cultura. (Vide Figura 3-3.) Por exemplo, os
habitantes do Reino Unido consomem
apenas cerca de 70% da água consumida
pelo americano mais poupador. Estimase que o consumo interno nos lares dos
Estados Unidos é de uma média de 262
litros per capita, por dia (lpcd). As residências que instalam utensílios eficientes em termos de consumo de água (sanitários, chuveiros e torneiras) e eletro-
domésticos (lavadoras de roupa e prato),
e que reduzem vazamentos, consomem
apenas 151–170 lpcd. Desde 1997, todos os sanitários, mictórios, torneiras e
chuveiros instalados nos Estados Unidos
são obrigados a satisfazer as normas
estabelecidas pela Lei de Política
Energética (EPAct, na sigla em inglês) de
1992. Até 2020, essas normas de eficiência deverão poupar cerca de 23–34
milhões de metros cúbicos por dia, água
suficiente para abastecer de quatro a seis
cidades do tamanho de Nova Iorque.40
Quênia (domicílios conectados)
Uganda (domicílios conectados)
Tanzânia (domicílios conectados)
Copenhague, Dinamarca
Reino Unido
Cingapura
Manilha, Filipinas,
Waterloo, Canadá
Melbourne, austrália
Sidnei, Austrália
Seattle, Estados Unidos
Tampa, Estados Unidos
Phoenix, Estados Unidos
Fonte: Vide nota final 40
0
200
400
600
800
Litros per capita, por dia
1.000
Figura 3-3. Consumo Doméstico de Água, Cidade e Países Selecionados
Estudos de 16 localidades nos Estados
Unidos revelam que as reduções de água
conforme as normas da EPAct pouparão
às concessionárias US$ 166 a US$ 231
milhões ao longo dos próximos 15 anos,
como conseqüência de investimentos diferidos ou evitados em aumento de capacidade ou em novas instalações de tratamento e armazenamento de água potável.
As necessidades energéticas das instala-
71
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
ções de tratamento de água e esgoto estão
projetadas para caírem em 6 bilhões de
kWh anuais. Parte dessa poupança de
água, energia e custos, todavia, já está
ameaçada: vários grandes fabricantes de
utensílios estão promovendo agressivamente as vendas de portentosos boxes de
chuveiros com múltiplos bocais que esguicham mais de 300 litros por minuto –
mais do que a maioria da população mundial consome em um dia.41
Quando se trata do consumo de água
e dos custos pagos por ricos e pobres,
ocorre uma típica inversão de relação:
aqueles que consomem mais pagam menos, e aqueles que pouco consomem pagam mais. Populações urbanas de baixa
renda e pobres, não-conectadas à rede,
freqüentemente são forçadas a recorrer
a suprimentos alternativos e caros, como
vendedores de água, que podem cobrar
muitas vezes mais do que usuários pagam pela água encanada. Por exemplo,
os pobres em Nova Délhi pagam a vendedores informais US$ 4,50 por metro
cúbico de água, quase 500 vezes o centavo de dólar pago por metro cúbico por
quem dispõe de ligação domiciliar. Em
Manilha, vendedores cobram dos pobres
42 vezes mais do que os usuários
conectados. 42
As demandas hídricas domésticas
dos mais ricos assumem uma trajetória
ascendente dramática diante de gramados irrigados. Em volume, o maior problema de bebida nos Estados Unidos não
é o álcool, e sim a rega de gramados. A
irrigação diária dos gramados e jardins
dos Estados Unidos consome cerca de
30 bilhões de litros de água – um volume que encheria 14 bilhões de pacotes
72
de 6 latas de cerveja. O gramado irrigado médio consome cerca de 38.000 litros por verão. E o pior: um morador de
Orange County, cidade da Flórida com
carência de água, foi faturado em 15,9
milhões de litros em um ano, a maior
parte utilizada na irrigação de sua propriedade de 2,4 hectares. Esse volume
equivale, a grosso modo, ao consumo
anual de 900 quenianos. 43
Gramados bem aparados e carpetes
de grama em áreas privadas, públicas e
à beira de vias nos Estados Unidos cobrem 12 a 20 milhões de hectares, uma
área maior do que o estado de Louisiana
– mais do que é plantado em qualquer
cultura agrícola. Os Estados Unidos
também possuem cerca de 60% dos
campos de golfe mundiais; seus
700.000 hectares absorvem cerca de 15
bilhões de litros de água por dia. Gramados e campos de golfe não apenas
bebem volumes gigantescos de água,
mas também o fazem durante os meses
mais quentes do verão, quando a vazão
de muitos rios e córregos estão em seus
níveis mais baixos. 44
Entusiastas por gramados e jardins dos
Estados Unidos aplicam, anualmente, mais
de 45 milhões de quilos de fertilizantes e
produtos químicos para eliminar insetos,
ervas daninhas e fungos. Na realidade, os
moradores utilizam quase 10 vezes mais
pesticidas por hectare de grama do que
agricultores aplicam nas lavouras. Fertilizantes e produtos químicos não-absorvidos diretamente pelas gramas e plantas
freqüentemente escoam para córregos ou
infiltram-se em aqüíferos, onde podem
contaminar a água potável e eutrofizar lagos e lagoas. (Vide Quadro 3-4.)45
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
QUADRO 3-4. BEBENDO O GRAMADO E A FARMÁCIA DO VIZINHO
“É de manhã, você sabe onde estão os seus
remédios?” pergunta Christian Doughton, da
Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos, num artigo em The Lancet. “Muito
provavelmente, alguns estão a caminho de
córregos, rios e talvez até fazendas locais, na
forma de biossólidos de esgoto utilizados
como fertilizante”. Num estudo de
amostragem de 139 córregos em 30 estados, a
U.S. Geological Survey constatou que 80%
continham traços de pelo menos um produto,
seja droga, hormônio endócrino-perturbador,
inseticida ou outro produto químico – alguns
em níveis que, comprovadamente, causam
danos a peixes e outras vidas aquáticas. Isso
não deve surpreender, visto que os Estados
Unidos são os maiores usuários de pesticidas
e que mais de 3 bilhões de receitas são
fornecidas anualmente para quase metade dos
americanos que tomam, no mínimo, um
medicamento por dia. Estudos no Canadá,
Reino Unido e Alemanha também constataram
resíduos de produtos farmacêuticos e de
cuidados pessoais (PFCPs) em água doce,
Embora espargidores e sistemas mais
eficientes de irrigação possam reduzir o consumo de água em jardins, está ocorrendo
uma mudança mais fundamental na mania
americana por gramados, através de um
movimento emergente de paisagismo natural e plantas nativas. Residências e empresas estão obtendo economias duradouras e
substanciais de água com o plantio de grama nativa resistente à seca, proteção vegetal, flores silvestres e plantas que vicejam
naturalmente em seus climas locais. Projetos em Prairie Crossing, uma subdivisão na
periferia de Chicago, e na sede da Sears,
Roebuck & Company, em Hoffman Estates,
Illinois, por exemplo, integram as caracte-
inclusive protetores solares, antibióticos e
plastificantes.
Praticamente nenhuma literatura médica
documenta a extensão, riscos ou solução para o
problema das drogas como poluentes e seu
efeito à saúde humana e ao meio ambiente. No
momento, não há, a rigor, regulamentação
quanto a PFCPs contaminadores na água
potável. Pelo menos com os pesticidas,
algumas comunidades não estão assumindo
riscos. No Canadá, tanto o subúrbio de
Hudson, em Montreal, quanto o de Halifax, na
Nova Escócia, proíbem o uso cosmético
(puramente estético) de pesticidas, como nos
gramados. “Melhor errar por excesso de
segurança do que sofrer enquanto se aguarda
comprovação científica”, assinalou um líder
comunitário. Apesar de uma contestação à lei,
por parte das indústrias químicas e de
jardinagem, a Corte Suprema do Canadá
determinou que todos os municípios
canadenses têm o direito de proibir o uso de
pesticidas em propriedades públicas e privadas.
__________________________________________
FONTE: vide nota final 45.
rísticas naturais da paisagem, em vez de
eliminá-las. Igualmente, campos de golfe
como os do Prairie Dunes Country Club,
em Hutchinson, Kansas, e The Landings, em
Savannah, Geórgia, estão reduzindo o uso
da água por meio de medidas como irrigação controlada pelo tempo, rega limitada dos
tees e fairways, uso de plantas nativas, conservação das características naturais dos
terrenos acidentados e manutenção orgânica do solo e das plantas.46
A participação em organizações de
paisagismo natural, como Wild Ones e
Ecological Landscaper, está aumentando
rapidamente, demonstrando o desejo das
pessoas por um relacionamento mais sa73
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
dio com a terra. Outros conscientizam-se
quanto aos benefícios financeiros. A
CIGNA Corporation, de Bloomfield,
Connecticut, gastou cerca de US$ 63.000
ao longo de cinco anos para converter
grande parte dos 120 hectares do seu gramado corporativo num aprazível descampado com trechos de flores silvestres, lucrando várias centenas de milhares de
dólares anuais em economia no uso de
água, fertilizantes, pesticidas e equipamentos e manutenção. Como disse o paisagista da CIGNA, “o que devemos fazer, gastar 5.000 dólares em controle de pragas?”
Uso de Água Industrial
e Consumo de Bens
Materiais
As indústrias são responsáveis por cerca de
22% de todas as extrações mundiais de água
doce; no entanto, têm uma participação bem
maior nos países industrializados (59% em
média) do que nos países em desenvolvimento
(10%). As demandas industriais nas economias em desenvolvimento e emergentes estão aumentando rapidamente e competirão
pelas escassas reservas tanto nas cidades
quanto nos campos. Ademais, as indústrias
geram grandes volumes de água servida, e
nos países em desenvolvimento grande parte
desta continua sendo despejada, sem tratamento, em rios e córregos vizinhos, poluindo o pouco que resta de água potável.48
O volume total da demanda de água industrial não é bem avaliado devido ao fato
de as grandes indústrias freqüentemente
extraírem água – sem medição – diretamente de seus poços ou de rios e córregos vizinhos. Mundialmente, as maiores indústrias
74
consumidoras de água incluem termelétricas,
metalúrgicas e siderúrgicas, indústrias de
papel e celulose, químicas, petrolíferas e
fabricantes de máquinas. A maioria utiliza os
maiores volumes de água em refrigeração,
lavagem, processamento e aquecimento.49
Um número impressionante de usuários
industriais e comerciais reduziu suas demandas hídricas de 10 a 90%, aumentando, ao
mesmo tempo, sua produtividade e lucros.
(Vide Tabela 3-6.) Freqüentemente, esses
investimentos em eficiência hídrica são pagos dentro de dois anos, gerando poupança
de energia e também benefícios na prevenção da poluição. Por exemplo, em 2002, a
Unilever, multinacional produtora de alimentos e produtos para o lar e cuidados pessoais, consumiu em média 4,3 metros cúbicos de água por tonelada de produção, uma
redução de um terço dos 6,5 metros cúbicos por tonelada consumidos em 1998.50
Embora para muitas indústrias a redução
de custos seja a principal motivação para investimentos em eficiência, existem também
outros incentivos, incluindo a necessidade de
cumprir as regras de licenciamento, avanços
das tecnologias de tratamento in-loco que permitem que a água de processamento seja
reciclada e reutilizada e a disponibilidade de
água não-potável recuperada a custo baixo.
Por exemplo, todo o esgoto de Cingapura é
tratado em seis estações de recuperação de
água para reutilização pelas indústrias, ajudando a preservar a água de alta qualidade para
consumo humano e outras finalidades. Tarifas
mais altas para água e esgoto também podem
agir como um incentivo de conservação para
as indústrias; entretanto, tais estratégias
tarifárias às vezes têm efeito contrário nos fornecedores, por motivarem os consumidores a
desistir do sistema e abrir poços artesianos.51
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
Tabela 3-6. Exemplos de Economia de Água Industrial pela Conservação
Categoria Industrial
ou Produto
Empresa
Economia
Medidas de Eficiência Hídrica
Laticínios
(leite e derivados)
United Milk
Plc. Inglaterra
657.000 metros
cúbicos/ano;
US$ 405.000
por ano
Sistemas de membranas de osmose reversa (OR),
recupera e trata o condensado do leite para reutilização
pela fábrica, eliminando a necessidade de abastecimento
externo. O excesso da água recuperada é posto à venda
para outros usuários na área industrial.
Computadores
(fábricas e
laboratórios)
IBM, mundial
690.000 metros
cúbicos/ano
A economia de água em 2000 foi de 4,6% do total
utilizado; 375.000 metros cúbicos por ano poupados
com múltiplos projetos de eficiência hídrica e 315.000
metros cúbicos poupados com reciclagem e
reutilização.
Siderurgia
Columbia Steel
Casting Co.
Inc., North
Portland, OR,
EUA
1,63 milhão de
metros cúbicos/
ano US$ 588.000
ao ano
Substituição do sistema de resfriamento por fluxo
único, por torres de resfriamento recirculantes.
Instalação de sistemas de reciclagem e tanques de
armazenagem para captação de águas pluviais e
reutilização de água não-potável de lavagem.
Otimização de práticas industriais.
Farmacêuticos
(pesquisa de ciência
de vida e
biofarmacêuticos)
Millpore Corp.,
Jaffrey, NH,
EUA
31.000 metros
cúbicos/ano;
US$ 55.000
ao ano
Água servida de processamento, reciclada através de
tecnologia OR; investimento de US$61.000, retornado
em 1,2 anos em redução de custos de água, água servida
e energia.
Chocolate
Ghirardelli
Chocolate Co.,
San Leandro,
CA, EUA
78.840 metros
cúbicos/ano
Instalação de anel recirculante de resfriamento de água,
eliminando o uso de água potável para o resfriamento
do chocolate em grandes tanques.
Construção
Habitacional
Gusto Homes,
Inglaterra
50% de economia
de água nas
residências
(50 metros
cúbicos/ano)
O projeto Millenium Green envolveu a instalação de
sistema de coleta de água pluvial e armazenagem
subterrânea em 24 residências e escritório da empresa.
Instalação também de sanitários de descarga dupla,
chuveiros e sanitários aerados e aquecedores solares
de água.
Produtos Agrícolas
(frutas, legumes,
vegetais e ervas
livres de pesticidas)
Unigro, Plc.
Inglaterra
9.000–18.000
metros
cúbicos/ano;
US$ 7.400
ao ano
Instalações seladas, com controle climático, utilizam
o sistema Greengro Farming e incluem irrigação de
precisão e coleta de águas pluviais, requerendo 30%
menos água por unidade de produção do que a irrigação
convencional.
Cerveja
Anheuser-Busch 90.850 metros
Inc., nacional,
cúbicos/ano
EUA
Hidrômetros instalados em todas as instalações para
medir o consumo. Equipamentos de garrafas e latas
recalibrados.
FONTE: Vide nota final 50.
Com a expansão de empresas industriais nos países em desenvolvimento, cargas poluentes estão aumentando juntamente
com a demanda pela água industrial, ameaçando a vida aquática e a saúde humana.
As indústrias de alimentação e bebidas, celulose e papel e têxtil são responsáveis por
mais de três quartos das cargas poluentes
da água nos países em desenvolvimento.
Por exemplo, a água de enxágüe têxtil con-
75
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
tém tinturas que exaurem os níveis de oxigênio de rios e lagos quando despejada sem
tratamento. Ao captar e reciclar essas tinturas dentro do processo fabril, as indústrias podem reduzir as cargas poluentes e
economizar em custos de insumos. Em
Gana, na África Ocidental, um programapiloto, chamado de Sistema de Manejo de
Troca do Estoque de Rejeitos, objetiva aumentar a reutilização e reciclagem de rejeitos
industriais, a fim de proteger os
ecossistemas costeiros, fluviais e lacustres.
Com o slogan “lixo de um, matéria-prima
de outro”, a iniciativa tem recebido uma
resposta entusiástica das indústrias locais.52
Da mesma forma que escolhas individuais de dietas e paisagens podem fazer uma
grande diferença no impacto humano sobre
corpos d’água, também o fazem as escolhas
de consumo de bens materiais. (Vide Quadro
3-5.) Praticamente tudo que se compra – de
roupas a computadores e a automóveis –
necessita de água para ser fabricado, e este
processo pode também resultar em poluição
de córregos e lagos também. As pessoas que
dirigem veículos utilitários esportivos, ávidos
consumidores de gasolina, em vez de carros
eficientes no consumo de combustível, por
exemplo, não estão apenas gastando cerca
de três vezes mais gasolina por quilômetro
rodado, mas também estão indiretamente utilizando muito mais água, uma vez que são
necessários 18 litros de água para produzir
apenas um litro de gasolina.53
No credo ambientalista de reduzir,
reutilizar, reciclar, a redução de compras
materiais sempre tem lugar de destaque no
topo. Quando as pessoas adquirem algo,
todavia, podem diminuir seus impactos à
água e energia escolhendo produtos fabricados com materiais reciclados. Comprar
76
produtos de papel reciclado em vez de papel virgem, por exemplo, poupa não só árvores e energia, mas também a água utilizada na manufatura do papel. E produtos de
alumínio fabricados com sua sucata requerem apenas 17% da água que o mesmo produto necessita se feito de alumínio bruto.54
QUADRO 3-5. MEDIDAS QUE
PODEMOS TOMAR PARA
REDUZIR NOSSO IMPACTO
SOBRE A ÁGUA DOCE
• Adquirir menos bens materiais.
• Adotar dietas nutritivas, com menos
•
•
•
•
carne vermelha.
Selecionar plantas e gramas nativas para
jardins e paisagismo e depender apenas
das chuvas.
Instalar aparelhos e utensílios mais
eficientes em termos de água e energia.
Pressionar por normas de uso do solo
que protejam áreas alagadas, aqüíferos e
bacias hidrográficas.
Participar de comissões locais de gestão
de água, a fim de monitorar e
implementar estratégias de proteção
hídrica.
Prioridades Políticas
Não há mistério algum sobre o fato de o
enorme volume de água extraído para consumo humano ser desperdiçado e mal-administrado: as políticas que embasam decisões sobre a água, na maioria das vezes,
fomentam ineficiências e más alocações, e
não a conservação e uso sustentável. Em
vez de nos desesperarmos frente a uma nova
era de escassez hídrica, precisamos confrontar velhos erros e desperdícios.
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
Em primeiro lugar, é essencial que
governos cumpram suas obrigações e
protejam a segurança pública da água.
A maioria dos ecossistemas de água
doce não é avaliada nem valorizada pelo
mercado; todavia, sustentam nossas
economias e vidas com serviços que
valem centenas de bilhões de dólares
ao ano. Leis e regulamentos que salvaguardem essas funções são cruciais,
pois as forças de mercado apenas – inclusive a tarifação e comercialização
da água – nunca poderão proteger adequadamente valores não-cotados. A diretriz da água de 2000, da União Européia, a Lei da Água de 1998, da África do Sul, e um punhado de leis estaduais dos Estados Unidos são exemplos promissores de governos tentando assumir suas responsabilidades na
proteção da segurança pública no que
diz respeito à água. 55
Governos e autoridades comunitárias precisam instituir ou fortalecer regulamentos sobre a água subterrânea. Um
recurso coletivo clássico, a água subterrânea é vulnerável ao uso predatório,
uma vez que o impacto conjunto de cada
usuário, agindo por interesse próprio, é
a exaustão do suprimento para todos. O
uso sustentável de aqüíferos renováveis
exige que nossas retiradas não excedam
o nível de recarga. Entretanto, como
assinalam os pesquisadores do Instituto
Internacional de Gestão da Água, em Sri
Lanka, “em nenhum lugar do mundo
existe um regime tão perfeito efetivamente em ação... Pouquíssimo está sendo
feito para reduzir a demanda da água
subterrânea ou economizar o seu uso”. 56
No leste de Massachusetts, os
moradores secaram o Rio Ipswich
durante vários anos devido
à extração maciça de água
subterrânea para irrigação
de jardins.
A água subterrânea não está apenas malregulamentada, mas também seu uso é
freqüentemente subsidiado sob várias formas. No Texas, os agricultores que bombeiam água do aqüífero Ogallala, em queda, podem pleitear um abatimento de
exaustão em seu imposto de renda. Os agricultores indianos recebem energia subsidiada, no valor de US$ 4,5–5 bilhões ao ano,
para bombear 150 bilhões de metros cúbicos de água subterrânea – um incentivo
perverso para exaurir os aqüíferos nacionais. Embora sustentem a produção no
curto prazo, esses subsídios, na realidade,
aceleram o ritmo de exploração excessiva
e o dia do ajuste final. Com a água subterrânea contribuindo US$ 25–30 bilhões anuais para a economia agrícola da Ásia, urge
a adoção e implementação de políticas que
levem a seu uso sustentável.57
Uma tarifa escalonada é um instrumento econômico que pode proporcionar um
uso mais eficiente e eqüitativo da água.
Com esse método, o preço unitário da água
para um consumidor aumenta juntamente
com o volume utilizado. Isso permite que
um nível básico de água domiciliar tenha
um preço bastante baixo, enquanto um
maior uso é cobrado a uma taxa mais alta,
de modo escalonado. Um estudo em 2002
de 300 cidades indianas constatou que
apenas 13% utilizam essas estruturas
77
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
tarifárias de blocos ascendentes. Ademais,
mesmo quando elas são aplicadas, os blocos de menor preço incluem, às vezes,
muito mais água do que seria necessário
para satisfazer as exigências básicas de um
domicílio. Em Bangalore, por exemplo, os
dois primeiros blocos, conjuntamente,
abrangeram 50 metros cúbicos de água
por mês, um consumo similar ao uso domiciliar médio nos Estados Unidos.58
Particularmente nos locais ricos, só a
tarifa não desencoraja o uso pródigo da água.
Nos domicílios de renda alta com extensos
gramados, por exemplo, manter a grama
verde durante o ano todo é freqüentemente
mais importante do que a conta de água.
Nessas áreas, o próximo passo é restringir
o uso da água. No leste de Massachusetts,
os moradores secaram o Rio Ipswich durante vários anos devido à extração maciça
de água subterrânea para irrigação de jardins, que exauriu suas vazões de verão. O
grupo conservacionista American Rivers
relacionou o Rio Ipswich em 2003 como
um dos 10 rios mais ameaçados do país.
Em maio, o Departamento de Proteção
Ambiental estabeleceu restrições obrigatórias para a extração de água em cada cidade
licenciada a utilizar o Ipswich. Quando a
vazão atinge um determinado nível, essas
comunidades instituem medidas legais de
conservação hídrica. Devido a um verão
chuvoso em 2003, ainda não foi realizado
um teste real dessa política. Mas deixa evidente que o interesse do estado na proteção
78
da vazão do rio assume prioridade sobre os
interesses particulares dos moradores na
manutenção de seus gramados verdes.59
Juntamente com regulamentos rígidos
e tarifação mais efetiva, os mercados da
água podem ajudar a melhorar a eficiência
de uso e alocação. Com um teto estabelecido nas extrações da bacia hidrográfica do
Murray-Darling, na Austrália, por exemplo,
a comercialização da água entre vendedores e compradores está ajudando a realocar
o manancial disponível. A cidade de Adelaide
poderá, em breve, adquirir água dos agricultores, uma vez que já atingiu o limite de
sua extração do rio. A capacidade de negociar água encoraja os consumidores a
conservá-la, já que podem vender a que foi
poupada e faturar uma renda extra. Onde
existem títulos ou direitos claros sobre a
propriedade da água, “limitar-conservar-enegociar” pode ser uma estratégia eficaz
para a proteção de ecossistemas e incremento da produtividade hídrica.
Finalmente, consumidores individuais
têm também que fazer importantes escolhas de política pessoal. Ao optar por uma
dieta sadia e menos intensiva no uso de
água, uma paisagem atraente e adequada
ao clima e um estilo de vida com menos
bens materiais, as pessoas poderão reduzir seu impacto sobre os sistemas de
água doce da Terra, sem sacrificar sua
satisfação pessoal. Essas opções poderão transformar os consumidores de água
em gestores da água.
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Sabonetes Antibacterianos
“Livrar-se dos germes é hoje
mais divertido do que
nunca”, diz o rótulo de um
frasco de sabonete líquido
com aroma de fruta Dial, o
maior fabricante de
sabonetes antibacterianos
dos Estados Unidos. Na
realidade, o disparo na
produção e uso globais de
tais produtos apresenta alguns
riscos não tão divertidos para a
saúde e meio ambiente.
Sabonetes líquidos e gel para banho
com propriedades antibacterianas
tornaram-se cada vez mais populares nos
últimos anos. Nos Estados Unidos, 75%
dos sabonetes líquidos e aproximadamente
30% dos sabonetes em barra contêm agora
triclosan e outros compostos químicos
formulados para atacar os germes
superficiais. Embora rotulada de
antibacteriana, a maioria é na realidade
antimicrobiana, atacando tanto vírus
quanto bactérias. 1
O mercado mundial para sabonetes está
projetado pra crescer continuamente, de
US$ 5,5 bilhões em 2003 para US$ 6,1
bilhões em 2008, informa o Icon Group, uma
empresa de pesquisa mundial de mercado. O
maior crescimento deverá ocorrer na Ásia e
no Pacífico, onde a indústria de sabonetes
prevê que o crescimento econômico
incentivará a demanda dos
consumidores por sabonetes
incrementados, inclusive
antimicrobianos. Na Índia e China, onde
os sabonetes líquidos são vistos como
produtos caros de luxo, a
Procter & Gamble está
agora produzindo uma
versão antibacteriana de
seu sabonete em barra,
Safeguard.2
Todos os sabões são produzidos
por meio de uma reação química conhecida
como saponificação, na qual um sal alcalino,
como soda cáustica (hidróxido de sódio),
potassa (hidróxido de potássio) ou barrela, é
aquecido com uma gordura vegetal ou
animal (sebo) e água. No processo, a
gordura transforma-se em glicerol líquido
(glicerina – que é normalmente removida
para outros usos cosméticos ou
farmacêuticos) e sais ácidos graxos – que
formam os coalhos do sabão bruto. Esses
coalhos são fervidos em água, para remoção
de impurezas, despejados em fôrmas e
cortados em barras.3
Alguns dos mais antigos restos de
sabonetes foram encontrados em potes de
barros, datados de 2800 a.C., na Babilônia.
Antes do aparecimento das versões
germicidas, em 1948, os sabonetes
eliminavam os microorganismos, tornando a
sujeira e oleosidades superficiais
79
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: SABONETES ANTIBACTERIANOS
escorregadias o bastante para que
pudessem ser esfregadas e enxagüadas.
Desde a II Guerra Mundial, os produtos
químicos engendrados pelo homem
alteraram a receita tradicional. Entre eles,
surfactantes, que intensificam a espuma e a
solubilidade, compostos antimicrobianos,
tais como triclosan, e plastificantes,
conhecidos como ftalatos.4
Do mesmo modo que qualquer indústria,
a fabricação de sabonetes consome
matérias-primas e energia, tais como
combustíveis fósseis para aquecer caldeiras,
gerando poluição atmosférica quando
queimados. Outros subprodutos incluem
resíduos graxos sólidos e produtos
químicos que podem escoar, poluindo os
cursos d’água. Mas não precisa ser assim.
Na Tunísia, uma indústria que fabrica
sabonetes a partir de resíduos da
prensagem do óleo de oliva instalou
caldeiras eficientes e controla as emissões
de resíduos na atmosfera e na água – e a
fábrica vem economizando mais dinheiro,
anualmente, do que o custo inicial de
modernização.5
Além do efluente industrial, existe o
problema do escoamento pelo ralo, após o
banho, do sabonete usado. Um estudo do
U.S. Geological Survey, de 2002, constatou
que substâncias químicas em medicamentos
e detergentes – entre as quais triclosan e
ftalatos – estão penetrando nos cursos
d’água dos Estados Unidos em baixas
concentrações, através dos esgotos. Isso é
preocupante, já que os níveis aceitáveis não
foram estabelecidos para água potável para
a maioria dessas substâncias.6
O triclosan e outros antimicrobianos
suscitam questões preocupantes para a
saúde e o meio ambiente. A fabricação de
triclosan pode criar dioxinas altamente
80
tóxicas – compostos de cloro cancerígenos,
perturbadores hormonais, que se dispersam
facilmente no meio ambiente e são recolhidos
na cadeia alimentar. O triclosan também pode
causar náusea, vômito e diarréia se ingerido,
o que é um problema, já que os sabonetes
com “sabor de fruta” podem induzir as
crianças a experimentá-los.7
Mais urgentemente, entretanto, a
Associação Médica Americana e os Centros
de Controle e Prevenção de Doenças
(CCDs) estão advertindo contra o uso
doméstico de sabonetes antibacterianos,
uma vez que esses produtos contribuem
para o aumento de bactérias resistentes a
medicamentos. A Organização Mundial de
Saúde lançou uma campanha contra o uso
indiscriminado de antibióticos, observando
que doenças como tuberculose, pneumonia
e malária revelaram-se resistentes a vários
antibióticos comumente usados em seu
tratamento. O triclosan age destruindo as
enzimas nas paredes da célula da bactéria e
assim elas não podem se reproduzir; este
ataca a mesma enzima que o antibiótico
isoniazid, usado para o tratamento da
tuberculose.8
Ademais, estudos demonstraram que os
sabonetes antimicrobianos têm a mesma
eficácia no combate aos germes que os
sabonetes comuns. “Constatamos que os
sabonetes antimicrobianos e
antibacterianos não possuem nenhuma
qualidade superior aos sabonetes comuns”,
declara Elaine Larson, professora Associada
da Faculdade de Farmácia da Columbia
University e autora líder de um relatório do
National Institute of Health, de 1992, sobre
o assunto. Os autores recomendam lavar as
mãos com sabonete comum e água morna
após a ida ao sanitário e antes de preparar
os alimentos como o melhor modo de
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: SABONETES ANTIBACTERIANOS
prevenir resfriados e doenças transmitidas
pelos alimentos.9
Como também, apesar da obsessão
moderna pela limpeza, uma casa sem
nenhuma bactéria não é, necessariamente,
uma boa coisa. Na realidade, pode ter um
efeito oposto: um estudo recente chegou à
conclusão de que adolescentes que viveram
em fazendas e eram regularmente expostos à
poeira e germes eram menos propensos a
asma e sintomas alérgicos do que os
adolescentes criados em outros ambientes
rurais. Pesquisadores sugerem que a
exposição a bactérias, fungos e poeira pode
na verdade ajudar a fortalecer os sistemas
imunológicos das crianças.10
A solução? Os consumidores devem
parar de comprar sabonetes e outros
produtos de limpeza antimicrobianos, uma
atitude que pode eventualmente forçar a
indústria a reduzir a intensidade
promocional e produtiva em todo o mundo.
“Os sabonetes e loções antibacterianos
devem ser destinados a pacientes doentes,
não a uma família sadia”, observou Dr.
Stuart Levy, da Alliance for Prudent Use of
Antibiotics, da Universidade Tufts. Para
conter a disseminação de germes nos
hospitais, os CCDs aconselham que
profissionais de saúde usem gel com base
alcoólica para as mãos, pois não apresentam
os mesmos riscos de resistência aos
antibióticos que os antimicrobianos. O gel
pode também ser usado nos lares onde um
membro da família seja portador de AIDS ou
outro problema do sistema imunológico.
Mas como esses produtos não podem
limpar a velha sujeira comum, eles não são
substitutos para o simples e velho
sabonete.11
— Mindy Pennybacker, The Green Guide
81
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
CAPÍTULO 4
Controlando Nossa
Alimentação
Brian Halweil e Danielle Nierenberg
Em meados dos anos 80, os cafeicultores
mexicanos informaram à organização holandesa de ajuda Solidaridad que mal conseguiam manter-se. Enquanto a fartura de
café no mercado mantivera baixos os preços do produto in natura, os programas
de ajuda internacional dos países industrializados pouca utilidade tinham. Além disso, a Solidaridad soube que os produtores
e suas famílias adoeciam quando aplicavam os fungicidas e outros agrotóxicos
em voga em todo o mundo. Tudo isso
suportado em prol de cada xícara de expresso e cappuccino tomada pelos holandeses, milhares de quilômetros de distância – e não por mexicanos.1
A Solidaridad reagiu, unindo-se com
outros grupos holandeses de ajuda para
criar a Fundação Max Havelaar. (Max
Havelaar foi uma personagem escrupulosa de uma novela holandesa do século
XIX, que retratava a crueldade do tratamento colonial nas Índias Orientais Holandesas.) A Fundação desenvolveu um
82
selo de “comércio justo”, que garante aos
produtores de café um preço fixo acima
dos níveis internacionais – um preço que
cubra seus custos de produção e assegure uma vida decente – e estabelece uma
série de outras condições sociais e
ambientais, desde o direito a se organizarem em cooperativas até certos requisitos básicos de segurança. Em contraste
com o relacionamento injusto, em que o
bebedor de café aparentemente beneficiase – embora involuntariamente – do sofrimento do produtor, os compradores do
café Max Havelaar pagam um pequeno
ágio para assegurar uma vida melhor aos
produtores e comunidades no outro extremo do negócio.2
A idéia não era original. Já nos anos
50, grupos como Oxfam, no Reino Unido, Ten Thousand Villages, nos Estados
Unidos, e Stichting Ideele Import, na
Holanda, ofereciam produtos dos países
em desenvolvimento. Porém, a influência dessas “lojas do Terceiro Mundo” era
limitada e o mercado pequeno.3
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
A inovação efetiva da Max Havelaar
foi “introduzir alimentos de comércio justo ao mercado de massa e operar com
empresas comerciais”, de acordo com
Rita Oppenhuizen, que dirige as relações
públicas da Fundação. Quinze anos após
o primeiro pacote de café com o rótulo
Max Havelaar chegar ao porto de
Rotterdam, a marca pode ser encontrada
em pelo menos 90% dos supermercados
holandeses e detém uma participação de
mercado de 3%. A Câmara Baixa do Parlamento, a maioria dos ministérios e quase todos os governos provincianos servem o café Max Havelaar. Chocolate com
o rótulo Max Havelaar foi introduzido em
1993 e é utilizado por quatro dos principais chocolateiros holandeses. O mel seguiu-se em 1995. As primeiras bananas
certificadas pela Max Havelaar chegaram
em 1996 (e hoje representam 5% do mercado holandês), e o chá, em 1998. 4
Mais recentemente, a noção de que os
alimentos poderiam ser “justos” evoluiu
ainda mais. Nos Estados Unidos, a United
Fruit Workers desenvolveu uma campanha de maçãs justas, que é um programa
de colaboração entre trabalhadores rurais,
produtores de maçã e supermercados para
assegurar aos trabalhadores nos pomares – muitos dos quais são imigrantes
recém-chegados – salário, direito de organização e acesso aos benefícios sociais básicos. Agricultores e a Associação
do Solo no Reino Unido colaboram para
estender a distinção “comércio justo” a
produtos agrícolas locais, argumentando que os caprichos do mercado livre e a
consolidação do agronegócio causaram
às áreas rurais da Grã-Bretanha os mesmo danos provocados na África.5
Uma Revolução em
Cada Garfada
Naturalmente as pessoas não comem apenas por uma questão de sobrevivência,
mas também para socializarem-se, por
prazer e satisfação e definirem quem são.
Cada vez mais, as pessoas estão comendo para fazer uma declaração política e
ajudar a mudar a forma como os produtores cultivam suas lavouras. Alimento
“justo” é apenas uma entre um crescente
número de distinções que as pessoas hoje
utilizam para assegurar que seus hábitos
alimentares não destruirão o planeta ou
os produtores. “Certificação orgânica”,
para frutas e legumes, “criado a pasto”,
para carne bovina, “pescado sustentavelmente”, para frutos do mar, e “benéfico
às aves”, para café, cacau e lavouras de
florestas tropicais, são outros rótulos que
se vêem com mais freqüência hoje em
dia. Os consumidores que procuram esses produtos não estão simplesmente
buscando uma promoção ou embalagem
vistosa: são proativos e inquisitivos.
Porém, essas distinções continuam à
margem – apesar de uma cozinha de
contestação em rápido crescimento, mas
relativamente pequena – e a maioria das
pessoas não estão prontas a se verem
como comedores ativistas nem como
conhecedores das origens íntimas de sua
próxima refeição. O aumento do comércio internacional de alimentos e a proliferação de alimentos altamente processados e embalados distanciaram ainda
mais a maioria das pessoas daquilo que
comem, tanto geográfica quanto psicologicamente. 6
83
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
Mas, devido à humanidade destinar tamanha parcela da superfície do planeta para
a produção de alimentos – 25%, mais do
que a área florestal mundial –, é impossível
separar a forma como os agricultores cultivam os alimentos da saúde de rios, áreas
alagadas, florestas e nosso ambiente de
vida. De acordo com um relatório da União
de Cientistas Engajados, nossas escolhas
alimentares equiparam-se aos transportes
como a atividade humana com maior impacto sobre o meio ambiente. Um estudo
europeu constatou que o consumo de alimentos é responsável por 10 a 20% do
impacto ambiental do domicílio médio.
Quando Annika Carlson-Kanyama, da Universidade de Estocolmo, comparou o volume de emissões de gás de estufa gerado
por diferentes opções alimentares, verificou que uma refeição rica em carne, com
ingredientes importados, emite nove vezes
mais carbono que uma refeição vegetariana feita com ingredientes produzidos localmente, que não precisam ser transportados a longas distâncias.7
Não importa o que se adquira, seja a pesca marinha chilena de traineiras industriais
que varrem os peixes dos oceanos, maçãs
impregnadas de pesticidas transportadas do
outro lado do planeta ou carne criada em
fábricas gigantescas inchadas com esterco,
muitas compras de alimentos hoje sustentam formas destrutivas de agricultura. (Vide
Quadro 4-1.) Para as pessoas que vivem em
nações ricas, onde não há fome generalizada, a ubiqüidade e a modicidade mascaram
muitos desses problemas. O “charme” associado a alimentos de luxo também encorajou os ricos a fecharem os olhos ao modo
como tais itens chegam às suas mesas. (Vide
Quadro 4-2.)8
84
A alta dependência de produtos químicos, desde antibióticos e pesticidas até
fertilizantes e preservativos alimentícios,
representa a maneira “convencional” de
produzir alimentos – ou seja, a maioria
dos ministérios de agricultura, colégios e
agências de extensão agrícola promovem
campos de monocultura e um coquetel
correspondente de produtos químicos.
Os agricultores aceitam exporem-se a
agrotóxicos como um risco inevitável que
gostariam de não assumir, e os consumidores aceitam os resíduos desses tóxicos como uma realidade infeliz que gostariam de esquecer. Muitos dos riscos
suportados por agricultores, consumidores e empresas alimentícias estão envolvidos na mesma síndrome de consumo
conspícuo que permeia outros aspectos
da economia. (Vide Capítulo 1.) Por
exemplo, os defensores de lavouras
transgênicas, freqüentemente criadas para
combinar o material genético de espécies totalmente não-relacionadas que não
se reproduziriam naturalmente, sugerem
que essas lavouras são essenciais para
ajudar a alimentar a crescente população
global e baixar os preços dos alimentos.
Quaisquer riscos advindos dessa última
geração de tecnologia agrícola, eles argumentam, são superados pelos benefícios de mais alimentos, e alimentos mais
baratos. (Atualmente, essa tecnologia é
utilizada não para alimentar os famintos,
mas principalmente para cultivar milho e
soja para ração de gado e o crescente
apetite humano por carne.)9
Talvez o exemplo mais evidente de
consumo em desordem no suprimento de
alimentos seja as cinturas mais largas e o
aumento perturbador da obesidade, que
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
QUADRO 4-1. VARRENDO OS MARES
Frotas industriais já pescaram pelo menos
90% de todos os grandes predadores
oceânicos – atum, marlim, peixe-espada,
tubarões, bacalhau, halibut, arraias e linguados
– só nos últimos 50 anos, conforme um estudo
em Nature, em 2003. “Somos tão bons na
matança”, diz o pesquisador sênior da
Universidade Dalhousie, no Canadá, Ransom
Myers, “que nem sabemos quanto já
perdemos”. De acordo com oceanógrafos nãoligados ao estudo, essa pesquisa fornece a
“melhor evidência até agora de que as recentes
colheitas de peixe têm sido sustentadas e
mantidas em níveis altos apenas porque as
frotas têm buscado e explorado
agressivamente populações de peixes cada vez
mais distantes”.
O uso generalizado de traineiras possantes
(imensos barcos que raspam, literalmente, o
fundo do oceano) e outros que arrastam
linhas com anzóis com vários quilômetros de
extensão, tem sido uma receita mortal para a
maioria dos grandes peixes predadores
mundiais. Quando esses predadores
desapareceram dos oceanos, peixes menores
conseguiram incrementar suas populações,
porém só por pouco tempo, até que elas,
também, foram pescadas excessivamente. São
aqueles peixes maiores, conforme Boris
Worm, co-autor do Instituto de Ciências
Marinhas da Alemanha, que “valorizamos
mais” por seus serviços ao ecossistema e à
economia. E se os peixes desaparecerem,
está se tornando uma epidemia, não apenas nas nações mais ricas, mas nos centros urbanos de países pobres também.
Nutricionistas, psicólogos e defensores de
consumidores concordam que pelo menos
uma das causas da epidemia de obesidade
também desaparecerão os milhões de
comunidades e empresas que dependem deles
para alimento e renda.
A solução para esse problema, dizem os
técnicos, exige cooperação internacional. Em
2002, na Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável, 192 nações
assinaram um acordo voluntário para restaurar
os estoques pesqueiros à sua produção
máxima sustentável até 2015. Isso significará
reduzir a porcentagem de peixes mortos
anualmente, através da redução de cotas, corte
de subsídios, redução do bycatch (pescado
indesejado que é descartado por não ser
economicamente viável) e criação de redes de
reservas marinhas para proteção de estoques
pesqueiros.
Em âmbito local, organizações
conservacionistas marinhas estão ajudando os
consumidores a identificarem peixes
sustentáveis nos mercados e restaurantes
locais, fornecendo fichas práticas de
informação. De tamanho adequado para caber
numa carteira, essas fichas fornecem uma
relação abreviada de opções de espécies
ecologicamente amigáveis. A Seafood Choices
Alliance, uma coalizão de chefs, hoteleiros,
atacadistas, varejistas e pescadores, foi um
passo além. Está incentivando os restaurantes,
hotéis e mercados a não venderem espécies
que estão em declínio.
__________________________________________
FONTE: vide nota final 8.
é a tendência cada vez maior de as empresas de alimentos, em busca de clientes, inundarem a mídia com publicidade e
tornarem os alimentos tão ubíquos quanto possível – uma combinação que torna a
gula quase inevitável.10
85
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
QUADRO 4-2. ALIMENTOS DE LUXO
Do “foie gras” às barbatanas de tubarão e ao
caviar, os consumidores em todo o mundo
sempre almejaram alimentos raros e
exóticos, como símbolos de riqueza e
charme. Pagam caros por eles, apesar do seu
valor nutricional, às vezes, marginal: o
comércio de US$ 57 bilhões de café, cacau,
vinho e fumo vale mais do que o comércio
internacional de grãos. O crescimento das
classes consumidoras em países como a
China e Índia significa que mais pessoas em
todo o mundo têm acesso a esses alimentos.
A distinção desses itens advém, em parte,
do seu alto preço e escassez, embora isso
invariavelmente mascare as condições
brutais e ecologicamente desastrosas por
trás da produção.
Consideremos o “patê de foie gras”.
Embora os franceses consumam 90% de
todo o “foie gras”, este é considerado uma
iguaria por consumidores ricos em todo o
mundo. O nome, que significa literalmente
fígado gordo, dá pouca indicação de como é
produzido. O “foie gras” é feito forçando
patos e gansos a ingerirem grandes volumes
de alimento através de tubos. Isso faz seus
fígados crescerem de forma anormal –
chegam a pesar mais de 10 vezes o tamanho
de um fígado normal de aves – sem falar na
série de outros problemas de saúde,
incluindo hemorragia hepática, lesões na
garganta e até mesmo asfixia.
O comércio global do caviar afetou o bemestar animal de forma diferente. Caviar é a
ova não-fertilizada da fêmea do esturjão e,
mais recentemente, do salmão, da espátula e
outras espécies que se popularizaram
quando as populações do esturjão
encolheram. Pesca predatória, perda de
habitat, poluição e as lentas taxas de
reprodução desses grandes peixes
contribuíram para o declínio mais marcante
nos estados da ex-União Soviética no Mar
Cáspio, fonte de mais de 90% da ova do
esturjão. Técnicos pesqueiros especulam
que todas as espécies de esturjão estão sob
algum tipo de ameaça de extinção; o esturjão
beluga, a fonte mais famosa de caviar, talvez
86
não mais se reproduza na natureza. Só os
americanos importam mais de 40.000 quilos
de caviar por ano –
representando mais de 40% das vendas
mundiais – apesar do preço de US$ 2.000
por quilo.
Pescadores também chegam a matar 100
milhões de tubarões a cada ano para
alimentar o apetite mundial por carne de
tubarão e sopa de barbatana de tubarão –
uma iguaria na China desde 960 d.C., e hoje
venerada na cozinha chinesa em todo o
mundo. Os caçadores capturam e cortam as
barbatanas com os tubarões ainda vivos,
lançando-os de volta ao mar, onde morrem
afogados ou de hemorragia. Na Ásia, os
comerciantes podem chegar a oferecer 30–40
espécies diferentes e podem vender as
barbatanas até a US$ 400 por quilo. Mas,
do mesmo modo que o esturjão, os tubarões
reproduzem-se lentamente e a pesca
predatória está provocando uma queda
rápida em seus estoques.
Grupos de proteção aos animais,
ecólogos, biólogos marinhos, chefs e outros
grupos interessados estão envidando
esforços para proibir e estigmatizar certos
tipos de cozinha de luxo e, em termos mais
gerais, tentar fazer com que as pessoas
reflitam antes de comer. Defensores do bemestar dos animais fazem campanhas para
que os restaurantes e chefs nos Estados
Unidos e Grã-Bretanha retirem o “foie gras”
de seus cardápios. Na Holanda, os chefs
voluntariamente fizeram isso (embora os
fregueses ainda peçam), e outros países
proibiram a alimentação forçada de patos e
gansos. A Convenção sobre o Comércio
Internacional de Espécies da Fauna e Flora
Silvestre Ameaçadas de Extinção solicitou o
estabelecimento de cotas mais rígidas de
pescado e exportação, como também um
sistema universal de rotulagem de caviar.
Órgãos internacionais também empenhamse na proibição da prática destrutiva de
coleta de barbatanas de tubarões.
_________________________________________
FONTE: vide nota final 8.
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
Parte do papel evolutivo do consumidor incluirá entender que – embora possa
parecer polêmico – o alimento barato pode
nem sempre ser desejável, particularmente
quando o preço marcado não reflete os
subsídios que os governos concedem a
produtores ou o custo da limpeza dos problemas ambientais causados pela agricultura. Pesquisas recentes na Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido revelam que
as pessoas pagam bilhões de dólares, anualmente, para limpar a poluição e lidar com
os outros custos associados à agricultura
moderna: desde a remoção de pesticidas da
água potável, passando pelos reparos aos
danos da erosão do solo, até a perda de
aves e outras vidas silvestres.11
Preços artificialmente baixos também
mascaram o fato de que alimentos cultivados na vizinhança e consumidos sazonalmente podem ser, quase sempre, mais baratos e mais sadios do que os alimentos cultivados e transportados de milhares de quilômetros de distância. Por exemplo, levantamentos realizados no sudoeste da Inglaterra
revelaram que alimentos vendidos em centrais de abastecimento e através de esquemas de entregas diretas das fazendas – inclusive frutas, legumes, carne, ovos e produtos com certificação orgânica – eram, em
média, 30–40% mais baratos do que os mesmos produtos nos supermercados locais.12
Embora os executivos das empresas de
alimentação e economistas freqüentemente
apontem a demanda do consumidor por
alimentos baratos como o motivador básico da forma como cultivamos, os consumidores causaram pouco impacto direto
sobre a forma como a produção de alimentos evoluiu. Entretanto, isso não quer dizer
que os consumidores não tenham força.
Boicotes de empresas de alimentos e de
produtos, movimentos lobistas de comunidades locais contra certos pesticidas e a
seleção de vários alimentos com selo ecológico são exemplos do poder que os consumidores podem exercer para influenciar
a agricultura.
À primeira vista, forçar gigantes do
agronegócio a mudar pode parecer uma
fantasia; todavia, a McDonald’s recentemente, respondendo às preocupações de
ativistas de direitos animais e ambientalistas,
encorajou seus fornecedores a mudarem
certas práticas industriais. E Kraft, a maior
empresa de alimentos do mundo, anunciou
planos para parar com sua publicidade
dirigida às crianças, reduzir o tamanho de
suas porções e eliminar alguns dos seus
produtos mais nocivos à saúde. William
Vorley, do Instituto Internacional para o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, argumenta que o alto nível de concentração do
agronegócio, em que apenas um punhado
de grandes empresas controlam cada etapa da cadeia alimentar, pode na realidade
facilitar esse tipo de ativismo, uma vez que
os alvos são relativamente poucos e óbvios. Essa lógica ajudou a deslanchar o projeto “Corrida ao Topo”, para “direcionar as
poucas redes de supermercados que dominam o mercado nos Estados Unidos para
um sistema alimentar mais verde e justo”.
A concentração “torna os varejistas mais
sensíveis às campanhas desenvolvidas em
torno da ética, segurança ou meio ambiente”, observa Vorley, porque nenhuma rede
deseja aparecer como a menos ética perante o grande público.13
Embora estas pareçam ações isoladas de
consumidores, objetivam assumir o controle de como o alimento é produzido e afastar
87
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
o sistema global de alimentos de sua trajetória atual. As manifestações locais dessa “democracia alimentar” serão naturalmente diferentes em todo o mundo, e as motivações
nem sempre serão humanitárias, mas incluirão preocupações mais egoístas como sabor, segurança alimentar, saúde pessoal e a
preservação de espaços abertos. As ofertas
nos supermercados comuns são, obviamente, infindáveis. Mas algumas das mudanças
mais profundas que os “comedores” podem
fazer incluem repensar sua relação com a
carne vermelha, selecionar alimentos produzidos sem agrotóxicos e comprar alimentos produzidos localmente. A carne representa o segmento mais intensivo em recursos da nossa dieta; agrotóxicos mantêm os
produtores atados a uma paisagem agrícola
monótona; e os alimentos locais representam a melhor esperança de devolver o poder
tanto para as pessoas que cultivam os alimentos como àqueles que os consomem.
Da Fazenda à Fabrica – e
de Volta à Fazenda
Como a maioria dos suínos no Centro-Oeste
dos Estados Unidos, as mais de 200 porcas criadas na fazenda de Paul Willis, em
Iowa, adoram comer milho. Mas os animais de Willis têm uma dieta e estilo de vida
muito diferentes dos outros 15 milhões de
porcos criados no estado. Juntamente com
os grãos que comem diariamente, os porcos de Willis pastoreiam em campos, não
estando confinados nas fábricas de concreto que dominam a produção suína americana. Os animais de Willis não só têm a
oportunidade de exibir seus comportamentos naturais e instintivos, como fuçar por
88
comida, brincar e aninhar-se, mas a carne
que produzem é mais sadia e saborosa do
que a produzida em fazendas industriais.14
Uma vez que os porcos se dão bem sob
essas condições mais naturais, Willis pode
criá-los sem uso de antibióticos e
estimuladores de crescimento, o que reduz
seus custos. E em vez de vender a carne
para uma das grandes empresas que controlam a maior parte da produção suína dos
Estados Unidos – Smithfield ou IBP –,
Willis comercializa sua carne através do
Niman Ranch, uma empresa da Califórnia,
formada em 1982 para distribuir carne de
animais criados humanitariamente aos consumidores e restaurantes.15
Willis é parte de um movimento crescente de criadores e consumidores para
devolver os rebanhos de volta às suas
raízes. Embora a mudança possa parecer
antiquada, produtores que criam animais ao
ar livre – e consumidores que adquirem a
carne rotulada como “alimentada a pasto”
ou free-range – estão ajudando a limpar o
que se tornou o setor mais ecologicamente
destrutivo e insalubre da produção animal.
(Vide Figura 4-1.) A produção global de
carne quintuplicou desde 1950, e a fazenda industrial é o método de produção com
o crescimento mais acelerado em todo o
mundo. Sistemas industriais são responsáveis por 74% da produção mundial de aves,
50% da produção suína, 43% da bovina e
68% da produção de ovos. Os países industrializados dominam a produção, mas
as nações em desenvolvimento estão expandindo-se rapidamente e intensificando
seus sistemas produtivos. De acordo com
a Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO), a Ásia possui
o setor pecuário de maior desenvolvimento, depois da América Latina e Caribe.16
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
Ração
• Uma caloria de carne
bovina, suína ou de ave
necessita de 11– 17
calorias de ração.
• 95% da safra de soja é
consumida por animais, e
não pessoas.
• Ração contendo farelo de
carne e osso pode causar a
doença da vaca louca, que
afetou milhares de cabeças
de gado nos países
industrializados.
INSUMO
PRODUTO
Metano
• Gado com flatulência
emite 16% da produção
mundial de metano, um
poderoso gás de estufa.
Água
• A produção de 8 onças de
carne bovina requer
25.000 litros de água.
Aditivos
• Vacas, porcos e frangos
recebem 70% de todas as
drogas antimicrobianas dos
Estados Unidos.
Combustíveis Fósseis
• Uma caloria de carne
bovina consome 33% mais
energia de combustível
fóssil do que uma caloria
de energia da batata.
Esterco
• Esterco da atividade suína
intensiva armazenado em
lagoas pode infiltrar na
água subterrânea ou poluir
águas superficiais vizinhas.
Fonte: vide nota final 16.
Doença
• O consumo de produtos
animais com alto teor de
gordura saturada e
colesterol está ligado ao
câncer, doenças cardíacas e
outras doenças crônicas.
• As condições das
fazendas industriais podem
disseminar E. coli,
Salmonella e outras
patogenias veiculadas pelos
alimentos.
• A doença de CreutzfeldtJakob, variante humana da
doença da vaca louca,
matou pelo menos 100
pessoas.
Figura 4-1. Carne Industrial: Insumos e Produtos
Alguns podem argumentar que a produção moderna de carne é a única maneira
de atender ao apetite crescente por ela em
todo o mundo. Em 2020, as populações dos
países em desenvolvimento consumirão
mais de 39 quilos per capita – o dobro do
que se comia nos anos 80. Nos países industrializados, todavia, as pessoas ainda
consumirão o maior volume de carne – 100
quilos por ano em 2020, ou o equivalente à
lateral de um boi, 50 frangos e 1 porco.
Todavia, é questionável se o sistema que
fornece toda essa carne poderá persistir,
uma vez que aumentam suas deficiências e
prosperam alternativas como vegetarianismo e carne criada em pasto.17
Os problemas em cascata das fazendas
industriais começam com as condições restritas e a alimentação do confinamento. Vacas são ruminantes, o que significa que digerem gramíneas, leguminosas e resíduos
agrícolas. Mas sua ração em confinamento
89
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
consiste de um misto de milho e soja, já que
vacas e outros animais sob essa dieta podem adquirir peso rapidamente – e gado mais
gordo obtém maior preço. Embora muitos
consumidores tenham se adaptado ao sabor, textura e aparência da carne industrial
entremeada de gordura, esse gado alimentado a grãos tem vários custos ocultos. Em
primeiro lugar, as vacas tendem a sofrer de
inchaço, acidose, abscessos hepáticos, gases e outros sintomas dessa dieta rica. Segundo, a dieta padrão nas fazendas industriais tem sido ligada também à disseminação
de patogenias transmitidas por alimentos,
como Escherichia coli 0157:H7, que pode
contaminar a carne ou legumes, se o esterco bruto for utilizado como adubo. Verificou-se que a dieta de grãos também encoraja o desenvolvimento do micróbio nocivo
no estômago da vaca, enquanto uma dieta
gramínea elimina o micróbio.18
Essa é uma das razões por que os rebanhos são alimentados com níveis baixos de
antibióticos. Nos Estados Unidos, o gado
bovino consome oito vezes mais antibióticos por volume do que os seres humanos.
De acordo com a Organização Mundial de
Saúde e a FAO, o uso generalizado dessas
drogas na pecuária está ajudando a criar
micróbios resistentes a antibióticos e dificultando o combate a doenças tanto em
animais quanto em seres humanos. Porém,
as condições amontoadas e insalubres enfraquecem ainda mais os animais e
Salmonella, E. coli e outras doenças mortais podem disseminar-se rapidamente num
rebanho pouco saudável.19
Animais criados em condições de ajuntamento, diz Ian Langford, da Universidade de East Anglia, encoraja o desenvolvi90
mento e disseminação de microorganismos
na carne, uma vez que freqüentemente
chegam aos matadouros cobertos de fezes. “O problema”, de acordo com
Langford, “não está no consumidor cuidar bem do que come, e sim... no processo industrial do alimento”.20
Esses tipos de inovações e tecnologias
das fazendas industriais modernas têm o
potencial de causar desastres na segurança
alimentar. Por exemplo, a encefalopatia
espongiforme bovina (BSE, conhecida
como doença da vaca louca) é causada por
um vírus transmitido pela ração feita com
resíduos de outros ruminantes, podendo ser
disseminado para seres humanos que consumam a carne contaminada. Desde seu
surgimento no Reino Unido, em 1986, a
BSE tem sido detectada em 33 países, e
autoridades sanitárias calculam que 139
pessoas em todo o mundo sucumbiram à
doença de Creutzfeldt-Jakob, variante da
doença em seres humanos.21
Igualmente, surtos de gripe do frango
em granjas abarrotadas de galinhas em
Hong Kong, durante os últimos cinco anos,
provocaram o abate maciço de milhares de
frangos. A doença saltou a barreira das espécies pela primeira vez em 1997, matando 6 das 18 pessoas contaminadas. Em
2003, a gripe do frango disseminou-se entre seres humanos novamente, matando
duas pessoas. Dr. Gary Smith, da Faculdade de Medicina Veterinária, da Universidade da Pensilvânia, alerta que essa e outras doenças continuarão a disseminar-se,
porque “a forma moderna de criação envolve maior deslocamento de animais entre fazendas do que no passado... O problema é que a pecuária opera em âmbito
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
global, nacional e regional”. A recente epidemia de aftosa no Reino Unido é um exemplo perfeito de como umas poucas vacas
podem disseminar a doença através de uma
nação inteira.22
Além das quebras na segurança alimentar, nutricionistas constatarem que o gado
alimentado com grãos não é tão sadio quanto o alimentado com capim. Animais confinados acumulam ácidos graxos Ômega 6
(a má gordura), que estão ligados ao câncer, diabetes, obesidade e distúrbios
imunológicos. Em contraste, a carne alimentada a pasto contém ácidos graxos
Ômega 3, como aqueles encontrados em
peixes gordurosos, que ajudam a reduzir o
colesterol. Além disso, produtos alimentados a pasto têm níveis mais altos de ácido
limoléico conjugado, que pode bloquear o
desenvolvimento de tumores e reduzir o
risco de obesidade e outras doenças.23
Essas razões de saúde motivaram muitas pessoas a preferirem carnes alimentadas a pasto, sem antibióticos, hormônios
ou qualquer outro insumo utilizado em fazendas industriais. Mas as pessoas que limitaram seu consumo de carne podem também estar interessadas nas implicações ecológicas de retornar os animais ao pasto. De
acordo com o cientista canadense Vaclav
Smil, alimentar os animais com grãos é
“altamente ineficiente e um uso absurdo de
recursos”. A produção de apenas uma caloria de carne – bovina, suína ou aviária –
requer 11–17 calorias de ração, conforme
Smil, enquanto animais criados em pastos
quase não precisam de grãos. Conseqüentemente, uma dieta com alto teor de carne
alimentada a grãos poderá exigir duas a
quatro vezes mais terra do que uma dieta
vegetariana. Quando as pessoas comem
menos carne, é pouco provável que os
grãos não-utilizados cheguem a bocas famintas, mas significa efetivamente que haverá consideravelmente menor pressão sobre terras agrícolas para cultivar gigantescas monoculturas de milho e soja.24
A reversão dos problemas de saúde e
ambientais causados por nosso apetite por
carne moderna significará consumir menos produtos animais. Animais criados em
pastos não se desenvolvem com a mesma
velocidade que os animais confinados, e as
pastagens sustentarão menos animais do
que podem ser espremidos em confinamentos. Mas a demanda pela carne está
crescendo, especialmente no mundo em
desenvolvimento, onde o aumento da renda e desenvolvimento urbano estão mudando os hábitos alimentares. De acordo com
David Brubaker, ex-vice-presidente executivo e presidente do Conselho da PennAg
Industries, as pessoas nas nações em desenvolvimento não têm o luxo da escolha
entre carnes alimentadas a pasto ou orgânicas. Em vez disso, galgam a escada
protéica e seguem o mau exemplo de produzir e consumir produtos animais de baixa qualidade impostos pelos Estados Unidos e outros nações de fast-food. Coibir
esse apetite significará encorajar as nações
em desenvolvimento a preservarem os
métodos tradicionais de criação de gado,
que tanto sustentam as economias locais
como enriquecem o meio ambiente.25
Os insumos ineficientes das fazendas
industriais são espelhados nos produtos
ineficientes em termos de dejetos. Quando
dejetos do gado são utilizados para adubar
lavouras, enriquece o solo e é a parte essencial de uma fazenda sadia – uma das
razões principais de os agricultores em todo
91
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
o mundo criarem animais. Todavia, o dejeto
produzido por milhares de animais em
confinamento geralmente excede a área de
terra disponível para manejá-lo. Assim, o
esterco transforma-se de valioso recurso
agrícola para resíduo tóxico. O esterco
contém nitratos, que em altas concentrações podem causar metemoglobinemia
(síndrome do bebê azul), câncer, florescência de algas e eutrofização de águas
superficiais. As lagoas utilizadas para armazenar resíduos líquidos também são
vulneráveis a desastres naturais, como aconteceu na Carolina do Norte, quando romperam durante o Furacão Floyd, em 1999,
poluindo quilômetros de cursos d’água com
excremento e causando uma mortandade
maciça de peixes.26
Agricultores que começam a ter uma
percepção diferente do papel dos animais
freqüentemente usufruem uma série de
benefícios inesperados. Nas Filipinas,
Bobby Inocêncio mudou a forma de muitos filipinos produzirem e consumirem frango. Anteriormente um produtor industrial,
Inocêncio criou frangos brancos para Pure
Foods, uma das maiores empresas das Filipinas, seguindo o modelo padrão de espremer dezenas de milhares de aves em
galpões apinhados de gaiolas. Mas em 1997
ele decidiu revitalizar empreendimentos
avícolas locais que sustentam fazendas familiares. Começou a criar galinhas caipiras
e a ensinar a outros criadores como fazer
o mesmo. Suas aves circulam livremente
em áreas arborizadas em sua propriedade,
cercadas com redes de pesca recicladas. E
sua fazenda é lucrativa – em parte, porque
seus custos por ave são sensivelmente
menores: nenhum antibiótico, promotores
de crescimento, rações caras ou imensos
92
galpões. Também achou um nicho no mercado filipino ao oferecer aos consumidores o gosto de antes. Suas galinhas são parte
nativas e parte Sasso (uma raça francesa),
mais adaptadas ao clima das Filipinas, contrariamente às brancas, que se ressentem
do calor. As galinhas de Inocêncio não são
apenas criadas sem agressividade, mas são
nutritivas e de bom sabor. Têm apenas 5%
de gordura, em comparação a 35% das
brancas, e não contêm antibióticos.27
A criação de espaço e mercado para
esses tipos de granjas requer, às vezes,
mais do que ações dos produtores. Na
Polônia, onde quase todas as granjas criam alguns porcos alimentados a capim ou
feno, grandes corporações de carne já
começaram a instalar-se. Animex, a subsidiária polonesa da Smithfield, o maior
produtor mundial de carne suína, tem planos de transformar parte das terras produtivas mais ricas do país em áreas de
confinamento animal (ACAs), como as
que ponteiam as paisagens dos estados de
Carolina do Norte e Iowa, nos Estados
Unidos. Todavia, ativistas do Animal
Welfare Institute, dos Estados Unidos,
uniram-se a Andrzej Lepper, diretor do
Sindicado dos Fazendeiros da Polônia, em
oposição à tentativa da Smithfield de assumir a indústria suína polonesa. Ao demonstrar aos produtores poloneses como
as ACAS destruíram muitas fazendas pequenas de gado nos Estados Unidos, esperam convencê-los, e ao governo polonês, a resistir à agricultura corporativa.28
Essas coalizões estão motivando algumas corporações a mudarem seus conceitos sobre como a carne é produzida. Em
2002, cedendo à pressão de grupos de direitos animais e saúde pública, a McDonald’s
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
anunciou que não mais compraria ovos de
frangos confinados e forçados à postura de
ovos adicionais por inanição – práticas já
proibidas na Europa, mas ainda permitidas
nos Estados Unidos. Em 2004, a McDonald’s
exigirá que seus fornecedores não utilizem
antibióticos para promover o crescimento e
dará preferência a fornecedores indiretos que
não os utilizem.29
Uma vez que a McDonald’s é um dos
maiores compradores de frango dos Estados
Unidos, a decisão da empresa de mudar seus
padrões terá um efeito dominó em toda a indústria de carne. Wendy’s, Burger King e
Kentucky Fried Chicken contrataram recentemente especialistas em bem-estar animal
para pesquisarem e desenvolverem novos
padrões, a fim de assegurar melhor bem-estar animal. O Banco Mundial também mudou
seus critérios de financiamento de projetos
pecuários de porte nas nações em desenvolvimento. Em 2001, o Banco declarou que à
medida que o setor cresce “há um perigo significativo de exclusão dos mais pobres, erosão do meio ambiente e ameaça à segurança
alimentar global”. Prometeu adotar uma
“abordagem focada nas pessoas” para projetos de desenvolvimento pecuário que reduzam a pobreza, protejam a sustentabilidade
ambiental, assegurem segurança alimentar e
promovam o bem-estar animal.30
Alimentos sem Poluição
Há apenas poucos anos, beber água na
Lituânia era um risco de saúde pública. Em
algumas regiões as concentrações de nitrato, um subproduto de fertilizantes, venenoso em altas doses, estavam muito acima dos limites de segurança – seis vezes o
nível aceitável. Desde os anos 50, o Ministério de Agricultura e o Ministério de Proteção Ambiental da Lituânia vêm esforçando-se para reduzir as taxas de aplicações
de fertilizantes e pesticidas na região norte
de Karst, epicentro agrícola do país, onde
a água subterrânea tinha tornado-se altamente contaminada. E em 1993 começaram a encorajar os agricultores a abrirem
mão de produtos químicos.31
Ofereceram aulas de produção orgânica, prestaram apoio técnico no campo e remuneraram os agricultores nos primeiros
anos de conversão. O programa cresceu de
9 fazendas com certificação orgânica em
1993 para 106 em 1998, e depois para 290
em 2001, cobrindo 6.469 hectares, juntamente com 8 empresas de processamento
orgânico certificadas e 11 outras empresas
com certificação orgânica. Esse setor ainda
representa uma pequena fração da área e
mercado totais do país. Não obstante, as
taxas de contaminação da água subterrânea
nas comunidades vizinhas às fazendas convertidas caíram substancialmente, e a população local desfruta uma nova fonte de
alimentação, livre de produtos químicos.32
Outras regiões em todo o mundo também utilizam a agricultura orgânica para
evitar a poluição da água subterrânea.
Desde 1992, autoridades municipais em
Munique e Leipzig vêm oferecendo incentivos financeiros a agricultores que adotem métodos orgânicos, tendo constatado a queda dos níveis de nitrato na água
subterrânea não-tratada de mais de 40
miligramas por litro, nos anos 80, para
menos de 26 miligramas em 1996. As concessionárias nessas cidades alemãs não
apenas remuneram e prestam consultoria:
a empresa de água de Munique assessora
93
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
a comercialização de produtos orgânicos
cultivados em seu distrito e só serve produtos orgânicos locais em sua cantina. (As
autoridades calculam que o total gasto até
hoje é apenas um sétimo do que teriam
despendido em nova tecnologia de purificação e processamento da água.)33
Como esses órgãos governamentais
constataram, embora os produtos orgânicos sejam mais caros nos mercados – resultado, dizem os analistas, de distribuição e comercialização limitadas –, o cultivo orgânico pode efetivamente ser mais
barato que várias outras formas. Pesquisadores da Universidade de Essex verificaram que o custo de remover pesticidas
da água potável na Inglaterra é equivalente a um quarto do que os agricultores pagam pelos produtos químicos. Também
calcularam que a agricultura orgânica custa à sociedade um terço, em termos de
poluição por pesticidas, erosão e outras
conseqüências, do que a agricultura nãoorgânica. Um estudo nas Filipinas comprovou que os custos à saúde dos agricultores devido à aplicação de pesticidas
– dias de afastamento por doença, consultas médicas e medicação – excederam
o valor das lavouras salvas de pragas, sem
falar no custo dos próprios pesticidas.34
Uma vez que o escoamento de
agrotóxicos perturba ou simplesmente mata
os organismos benéficos que vivem no solo,
córregos, lagos e cursos d’água, não é de
surpreender que estudos em todo o mundo
tenham comprovado que as fazendas orgânicas abrigam um número e uma diversidade maiores de aves, insetos, plantas silvestres, minhocas e outras espécies do que
as fazendas não-orgânicas vizinhas. Em
outras palavras, a agricultura orgânica não
94
é apenas uma reação às fazendas industriais. É uma forma mais sadia da humanidade produzir alimentos. À medida que for
aumentando o custo da agricultura intensiva em produtos químicos, uma abordagem
mais orgânica à agricultura poderá ser a
única opção.35
O interesse público em alimentos orgânicos já elevou as vendas globais a cerca
de US$ 23 bilhões em 2002, um aumento
superior a 10% em comparação ao ano anterior, conforme a Organic Monitor, uma
empresa de consultoria que acompanha a
indústria. Agricultores, da Austrália à Argentina, cultivam lavouras orgânicas em
quase 23 milhões de hectares, e muitos
outros cultivam sem agrotóxicos, por escolha ou necessidade, mas não são certificados como orgânicos. A América do Norte e Europa ainda são responsáveis pela
maior parte das vendas, embora os mercados estejam crescendo rapidamente em todas as regiões. (Vide Figuras 4-2 e 4-3.)36
Alguns dos maiores obstáculos à disseminação contínua da agricultura orgânica
tendem a ser conceituais. Muitos produtores, pesquisadores agrícolas e pessoas que
fazem as políticas agrícolas simplesmente
acreditam que cultivar com pouco, ou nenhum, produto químico não seja viável em
larga escala. É verdade que os agricultores
que realizam a conversão para a produção
orgânica freqüentemente enfrentam queda
de produção nos primeiros anos, enquanto
a qualidade e vida do solo e populações de
insetos recuperam-se de anos de assalto
com produtos químicos. Pode levar várias
safras para refinar a nova abordagem. E,
devido à ênfase na diversidade de culturas
como meio de reduzir os problemas de pragas, as fazendas orgânicas não cultivarão
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
a mesma lavoura a cada ano, dificultando a
competição com outras fazendas na produção total de uma única cultura. Mas es-
tudos demonstraram que a agricultura orgânica pode ser igualmente produtiva e,
geralmente, mais lucrativa.37
Canadá (US$ 850 milhões)
Japão (US$ 350 milhões)
Resto do Mundo (US$ 725 milhões)
Estados Unidos
(US$ 11 bilhões)
Alemanha (US$ 2,8 bilhões)
Reino Unido (US$ 1,6 bilhão)
Outros
Europeus
(US$ 3,2 bi)
Fonte:
IFOAM
Itália (US$ 1,2 bilhão)
França (US$ 1,2 bilhão)
Figura 4-2. Vendas Globais de Alimentos Orgânicos,
Cerca de 2002
Milhões de hectares
12
Fonte: IFOAM
10
8
6
4
2
lia
Un
ido
Re
s
ino
Un
ido
Ur
ugu
ai
Al
em
anh
a
Es
pan
ha
Ca
nad
á
Fra
nça
Ch
ina
Es
ta
do
s
Itá
tin
gen
Ar
Au
str
áli
a
a
0
Figura 4-3. Principais Plantios Nacionais em Área
Orgânica Certificada, Cerca de 2002
95
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
Uma pesquisa recente, comparando produções orgânicas e não-orgânicas em estações de pesquisa agrícola nos Estados
Unidos, constatou que produções orgânicas de milho representaram 94% da produção convencional; trigo orgânico, 97%
e soja, 94%; tomates orgânicos não mostraram diferença alguma.38
Um estudo de sete anos no Distrito
Maikaal, na Índia central, envolvendo
1.000 agricultores que cultivaram 3.200
hectares, comprovou que a produção média de algodão, trigo, chili e soja foi igual
ou até 20% superior nas fazendas orgânicas do que nas convencionais vizinhas. Produtores e cientistas agrícolas atribuíram
as produção maiores nessa região seca à
ênfase em lavouras de cobertura,
compostagem, esterco e outras práticas
que aumentaram a matéria orgânica (que
ajuda a reter água) no solo.39
Um estudo em Quênia constatou que
enquanto os agricultores orgânicos em “áreas de alto potencial” (aquelas com índices
pluviométricos acima da média e alta qualidade do solo) produziam menos milho do
que os agricultores convencionais, os agricultores orgânicos em áreas de recursos
mais fracos consistentemente superavam
a produção convencional. Em ambas as
regiões, os agricultores orgânicos auferiam
maiores lucros líquidos, retorno de capital
e retorno de mão-de-obra.40
Um relatório da FAO em 2002 observou que “sistemas orgânicos podem duplicar ou triplicar a produtividade de sistemas tradicionais” nos países em desenvolvimento, mas acrescentou que comparações dão um “quadro limitado, restrito
e freqüentemente errôneo”, uma vez que
“os múltiplos benefícios ambientais da
96
agricultura orgânica, difíceis de quantificar
em termos monetários, são ingredientes
essenciais em qualquer comparação”. Nick
Parrott, da Universidade de Cardiff, que
recentemente avaliou o potencial da agricultura orgânica no mundo em desenvolvimento, encontrou inúmeros exemplos na
Ásia, África e América Latina de como a
adoção da agricultura orgânica aumentou
a produtividade em comparação a “práticas tradicionais não-melhoradas”. E observa: “Muitos casos mostram que a agricultura orgânica aumenta a segurança alimentar e receita agrícola. Isso ocorre com
sistemas certificados dirigidos basicamente
a mercados do norte e sistemas informais
dirigidos a mercados locais”. Parrot descreve vários mecanismos em operação,
inclusive o uso de esterco e compostagem
para ajudar a conservar água, protegendo
os agricultores contra a seca, e a eliminação de insumos artificiais dispendiosos,
que pode reduzir o endividamento.41
Talvez uma pergunta mais importante
do que se a agricultura orgânica é viável
seja por quanto tempo mais os agricultores
poderão continuar a depender de
agrotóxicos em altas doses. As pragas têm
demonstrado uma capacidade impressionante de se desviar, resistir e evoluir em
torno de qualquer coisa que lancemos em
sua direção, e hoje os agricultores efetivamente perdem uma parcela maior de suas
lavouras devido a pragas do que perdiam
50 anos atrás. Até mesmo lavouras
transgênicas, alardeadas como ajuda à eliminação do uso de pesticidas, são vulneráveis à rotina da resistência. Pesquisadores
da Universidade Estadual de Iowa descobriram pelo menos quatro espécies de ervas daninhas comuns que desenvolveram
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
resistência ao herbicida Roundup, produto
utilizado com plantas tolerantes a herbicidas
que têm sido cultivadas no Centro-Oeste
há menos de uma década. Estas necessitarão de maior aplicação de pesticida. Nesse
esforço inútil, os agricultores gastaram bilhões de dólares atacando pragas cada vez
mais resistentes com pesticidas cada vez
mais potentes, e a maioria desses pesticidas
acabou em nossa água, ar, solo e corpos.42
Embora os benefícios públicos da
agricultura orgânica – redução da poluição hídrica ou aumento da vida silvestre
– estejam alimentando parte do crescimento das vendas, o maior interesse veio
de consumidores com maior interesse
pessoal. Pais, por exemplo, podem preferir alimentar seus bebês com alimentos
infantis orgânicos – sabendo que pequenos corpos em desenvolvimento são mais
sensíveis a pesticidas endócrinoperturbadores, resíduos de antibióticos e
hormônios de crescimento e outros ingredientes sintéticos utilizados rotineiramente na produção de alimentos. Ou podem decidir por mudança para toda a família. A agricultura orgânica é o único
sistema de produção alimentar no qual os
consumidores têm uma idéia clara das
práticas permitidas e proibidas, e os produtores não só têm que demonstrar que
não estão aplicando poluentes conhecidos no solo, como também precisam seguir uma série de práticas que efetivamente restaurem a paisagem, desde rotação da lavoura, passando por cultivo de
cobertura, até a compostagem. Esse nível de transparência não existe na maioria da produção de alimentos, onde é permitido aos agricultores utilizar um coquetel de produtos químicos, ministrar aos
animais quantidades indiscriminadas de
antibióticos e hormônios e até mesmo
aplicar lodo de esgoto em seus campos.
Pessoas que consomem frutas e
legumes orgânicos expõem-se a um
terço dos resíduos tóxicos que se
exporiam com produtos
convencionais.
Há evidências abundantes de que os agricultores expostos regularmente a pesticidas
correm um risco maior de contrair certos
cânceres, distúrbios do sistema imunológico,
doença mental e uma variedade de outras
condições. Testes em animais demonstraram
que altas doses de produtos químicos comuns
são altamente tóxicas. Porém, a maioria dos
técnicos concorda que é mais difícil identificar os efeitos à saúde da exposição crônica a
níveis menores de pesticidas em alimentos
ou água subterrânea. Reguladores governamentais em geral consideram que o nível de
segurança para seres humanos é de 100 vezes, ou até 1.000 vezes, menos do que os
níveis que não causam efeito adverso em
estudos animais. Porém, a exposição dietética
humana pode exceder essas definições conservadoras de risco aceitável.
“A possibilidade de atingirmos um nível inseguro aumenta devido aos múltiplos
resíduos na dieta”, além da exposição à
água potável, ao ar e outras fontes, diz
Edward Groth, cientista sênior da
Consumers Union. Groth observa que 40
diferentes pesticidas com organofosfato
são aprovados para uso em lavouras só
nos Estados Unidos e, devido a todos os
97
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
organofosfatos compartilharem o mesmo
mecanismo de efeitos tóxicos, “é razoável supor que os impactos sejam aditivos
ou sinérgicos”. Pesquisadores constataram recentemente que homens com níveis
maiores de três pesticidas comuns em sua
urina tiveram contagens de esperma dramaticamente baixas e maior incidência de
esperma irregular. E toxicólogos estão hoje
constatando que uma mistura de fertilizantes químicos (nitratos) e pesticidas, os
principais insumos da agricultura industrial que freqüentemente acabam juntos na
água subterrânea, pode efetivamente agravar os efeitos adversos à saúde da exposição a cada um deles. Groth acrescenta
que a exposição de crianças situa-se provavelmente na faixa de perigo, devido a
seus pequenos corpos e maior sensibilidade. “Mas o tipo de dano que estamos
falando” – dano ao sistema nervoso, que
aparece mais tarde, por exemplo, como
uma deficiência de aprendizado – “é sutil
e difícil de ser detectado sem estudos cuidadosos em grandes populações”, diz ele.43
A exposição é claramente agravada pelo
consumo de alimentos cultivados com
pesticidas. Pesquisadores, ao analisarem
milhares de amostras de alimentos do Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos, verificaram que pessoas que consomem frutas e legumes orgânicos expõem-se a um terço dos resíduos tóxicos
a que se exporiam com produtos convencionais, que provavelmente também poderiam conter seis vezes mais resíduos
múltiplos de pesticidas. E um estudo recente comprovou que crianças que se alimentaram predominantemente com produtos e sucos orgânicos tinham apenas um
sexto dos subprodutos de pesticidas em
98
sua urina que crianças que consumiram
alimentos convencionais. 44
A maioria dos estudos sobre os impactos à saúde e ecológicos do uso de
pesticidas foi realizada no mundo industrializado. Mas algumas dessas preocupações
são mais agudas no mundo em desenvolvimento, não só porque os agricultores lá
continuam a utilizar alguns dos pesticidas
mais tóxicos – aqueles proibidos em nações mais ricas – mas também porque esses mesmos agricultores estão sentindo que
o uso mais intenso de produtos químicos
está se tornando mais caro e inadequado
para suas condições. Na Índia, de acordo
com o Ministério da Agricultura, 32 dos
180 pesticidas registrados para uso foram
proibidos em outros países devido a questões de saúde. Entre 1998 e 2001, a Índia
produziu 40.000 toneladas desses compostos anualmente. Monocrotofós, um inseticida altamente nocivo ao sistema neurológico, cujo registro foi cancelado nos Estados Unidos em 1988, é o pesticida mais
vendido na Índia.45
Embora a maioria das pessoas escolha
os alimentos orgânicos por aquilo que não
contêm, comprovou-se recentemente que
esses produtos possuem concentrações
substancialmente maiores de antioxidantes
e outros compostos benéficos à saúde do
que os alimentos produzidos com
pesticidas. Um estudo da Universidade da
Califórnia confirmou uma antiga suspeita
entre alguns nutricionistas e cientistas
agrícolas de que o uso intensivo de
pesticidas e fertilizantes químicos pode
afetar a capacidade das lavouras de sintetizarem certos fitoquímicos – compostos
que possuem propriedades antioxidantes
e são associados à redução de riscos de
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
câncer, derrame, doença cardíaca e outras enfermidades. Alguns observadores
apontaram a ironia de os produtos convencionais trazerem não só traços de produtos químicos reconhecidamente, ou
suspeitados de serem, cancerígenos como
menos compostos que ajudam nosso organismo a precaver-se do câncer.46
Coma Aqui
Um dos conceitos mais em voga na indústria alimentícia é o de “rastreamento”. A
expressão descreve a capacidade de um
restaurante, mercado ou comprador saber
a origem de um determinado alimento, quem
o produziu, que produtos químicos foram
aplicados nele e inúmeras outras características que vão além das preocupações tradicionais de sabor, preço e embalagem.
Obter essas informações depende, em grande parte, do encurtamento da distância entre agricultor e consumidor.
A motivação para consumir alimentos
locais é tão variada quanto os próprios alimentos. Donas de casa reagindo a notícias alarmantes e almejando alimentos frescos. Cidadãos rebelando-se contra uma
cadeia alimentar distante. Ambientalistas
tentando conter o alastramento urbano e
a perda de espaços verdes. Nutricionistas
pressionando por menos alimentos processados. Agricultores tentando resgatar
seus meios de vida. Políticos, em países
em desenvolvimento, esperando que alimentos cultivados internamente possam
ajudá-los a reter divisas preciosas. Chefs,
donos de restaurantes e culinaristas despertando para os prazeres da cozinha regional e de pratos artesanais.
A preservação de sabores distintos e o
“direito de degustar” são apenas parte da
missão de um novo movimento internacional chamado Slow Food (Alimento Lento).
Esse grupo, de 17 anos, com 75.000 membros em 80 países, vê as interações sociais
entre consumidores e cozinheiros, açougueiros e fazendeiros, como também refeições
compartilhadas com amigos e familiares,
como inseparáveis do prazer de comer.
Carlo Petrini, fundador e presidente, observa que o preço que as sociedades pagaram para ter acesso a qualquer tipo de alimento em qualquer época do ano é “o desenvolvimento deliberado de espécies com
características apenas funcionais para a
indústria alimentícia, e não para o prazer
do alimento, e o conseqüente sacrifício de
muitas variedades e raças no altar da produção em massa”.47
Nos Andes peruanos, a Associação para
Conservação da Natureza e Desenvolvimento Sustentável (Andes) está não apenas tentando preservar os padrões tradicionais de cultivo como forma de melhorar a renda agrícola, como também revigorar um corredor comercial de alimentos leste-oeste, iniciado pelos incas há
milhares de anos. Em Choquecancha, a
cidade central ao longo desse corredor, as
pessoas trocam alimentos planaltinos (batatas, porquinhos-da-guiné, lama, feijãode-lima, amaranto e tubérculos locais
como ulloca, oca e mashua) por outros
da planície (cacau, coca, manga, papaia e
coco). Para os peruanos que se mudaram
para áreas urbanas, onde a cozinha de fastfood e alimentos processados estão substituindo a alimentação local, esse mercado permite que compartilhem alimentos
montanheses variados, usufruídos na re-
99
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
gião por milhares de anos. Nesse caso, as
pessoas não estão apenas pagando pelo
valor nutricional, segundo Alejandro
Argumedo, da Andes, mas também “para
preservar o manejo espiritual das culturas
montanhesas, das culturas planaltinas e
das variedades indígenas que proporcionam melhor nutrição”. A Andes planeja
abrir um restaurante em Cuzco que se especializaria em alimentos regionais.48
O movimento para a preservação de
fazendas, terras agrícolas e culinária está
evoluindo numa ocasião em que os alimentos viajam mais e são controlados por um
número extremamente pequeno de entidades globais. O valor do comércio internacional de alimentos triplicou a partir de
1960, tendo seu volume quadruplicado.
Nos Estados Unidos, o item alimentar comum viaja 2.500–4.000 quilômetros, cerca de 25% mais longe do que em 1980. No
Reino Unido, os alimentos viajam 50% mais
longe do que há duas décadas. Uma refeição “tradicional” domingueira na GrãBretanha, feita com ingredientes importados, gera quase 650 vezes as emissões de
carbono relacionadas aos transportes que
a mesma refeição feita com ingredientes
produzidos localmente. (Vide Figura 4-4.)
Como resultado, as pessoas que consomem
produtos locais podem ajudar a poupar
grandes quantidades de energia, reduzir as
emissões de gás de estufa, conservar o dinheiro em suas comunidades e ganhar uma
certa paz de espírito, que vem de conhecer
seus produtores.49
Morangos
8.772 km
Fonte: Jones
CALIFÓRNIA
Brócolis
8.780 km
Batatas
2.447 km
GUATEMALA
ITÁLIA
Britânicos
48 km
Mirtilo
18.835 km
NOVA ZELÂNDIA
Vagem
9.532 km
TAILÂNDIA
Quartos de Reses
21.462 km
AUSTRÁLIA
Cenouras
9.620 km
ÁFRICA DO SUL
Figura 4-4. Ingredientes Locais Versus Importados: Grã-Bretanha
100
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
Uma boa regra empírica é que quanto
mais um alimento viaja, menor é o valor
retido pelo produtor e a comunidade rural.
O transporte, embalagem, processamento
e intermediação do alimento engole parcelas cada vez maiores do preço final. Esse
vazamento de dinheiro das comunidades –
e a capacidade dos alimentos locais de ajudar a estancá-lo – pode ser particularmente relevante onde as pessoas ainda estejam
engajadas na agricultura. Um estudo da
New Economics Foundation, em Londres,
constatou que cada £10 gastas em um estabelecimento local vale £25 para a comunidade, comparado com apenas £14 quando o mesmo valor é gasto num supermercado – ou seja, uma libra, dólar, peso ou
rúpia gasto localmente gera quase o dobro
de renda para a economia local.50
Esse multiplicador é parte da motivação por trás do movimento Navdanya
(Nove Sementes), da Índia, fundado em
1987 pela Fundação de Pesquisa para a
Ciência, Tecnologia e Ecologia, destinada a proteger variedades locais de trigo,
arroz e outras culturas contra patentes,
catalogando-as e declarando-as como
propriedade comum. “Iniciamos o movimento como precaução contra a engenharia genética e monopólios de patentes
agrícolas”, explicou o ativista e cientista
indiano Vandana Shiva, que dirige
Navdanya, “e também para incrementar
as economias locais”. Navdanya começou implantando bancos de sementes locais, lojas de suprimentos agrícolas e instalações de armazenagem, encorajando
uma mudança para agricultura orgânica,
a fim de reduzir a dependência de produtos químicos importados. “Neste momento temos mais de 3.000 vilarejos onde os
agricultores criaram basicamente o que
chamamos de ‘Zonas de Liberdade’, ou
seja, culturas livres de agrotóxicos, livres
de insumos corporativos, livres de sementes híbridas, livres no futuro de patentes e lavouras transgênicas”. Trabalhando com organizações de produtores,
grupos femininos e religiosos, Navdanya
implantou mais de 20 bancos de sementes em sete estados. Organizadores do
movimento calculam que atendem a mais
de 10.000 produtores e resgataram mais
de 1.500 variedades de arroz, centenas
de variedades de painços, leguminosas,
oleaginosas e legumes.51
Diversidades agrícolas locais podem
suprir tudo que houver para comer em
muitas das nações mais pobres, onde as
pessoas não têm condições de adquirir alimentos importados. Em Zimbábue, agricultores urbanos encontraram um mercado para legumes indígenas nos moradores das cidades que almejam um elo
gastronômico com a identidade cultural do
seu país. As famílias dependem de aproximadamente 25 legumes indígenas, incluindo quiabo, cleome, pepino e cabaça, que
proporcionam uma fonte de legumes
folhosos, altamente nutritivos, de agosto
a dezembro – época característica de escassez –, dando aos pobres tanto uma fonte de renda como de nutrição. O Instituto
de Criação de Lavouras está ajudando os
agricultores no cultivo de suas lavouras
distribuindo sementes e desenvolvendo
tecnologias de processamento e preservação. Os governos também podem encorajar economias agrícolas domésticas através de programas de aquisição que levem
produtos locais a repartições públicas,
hospitais e escolas.52
101
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
“Programas de lanches escolares, por
exemplo, podem proporcionar um estímulo significativo para a expansão dos mercados de alimentos, se o produto for cultivado localmente”, escreveu recentemente
o cientista agrícola, e Prêmio Nobel,
Norman Borlaug, no New York Times,
quando reivindicou maior auto-suficiência
alimentar na África. Em 2000, vários distritos escolares no norte da Itália promulgaram novas leis, que exigem que as escolas regionais dêem preferência a produtos locais e orgânicos em suas compras. Há atualmente mais de 300 serviços
escolares de refeições orgânicas na Itália
e centenas de outros serviços de refeições
locais. Autoridades e cidadãos pressionaram por essa mudança, em parte, para
preservar a paisagem rural e meios de vida
agrícola, e também constataram que refeições mais frescas, com menos ingredientes processados, eram mais econômicas, mais sadias e de melhor sabor.53
Maior auto-suficiência, por sua vez, significa que as nações, regiões e comunidades exercem maior controle sobre como o
alimento é produzido. “No mercado alimentício atual, existem grandes desigualdades
em relação ao poder de voto e, mais fundamentalmente, em relação a controle”, conforme a socióloga JoAnn Jaffe, da Universidade de Regina, no Canadá, uma situação
devida, em parte, à forma como o sistema
alimentício alastrou-se. Jaffe sugere uma
estratégia retaliatória de “comer menos na
cadeia mercadológica” através de compras
de alimentos o mais localmente possível, a
fim de retomar a soberania e criar um
feedback direto entre agricultor e consumidor. (Comer menos na cadeia alimentícia
será, freqüentemente, mais sadio porque a
102
compra mais direta de alimentos geralmente
significa consumir mais frutas e legumes
frescos e porque muitas das etapas adicionais entre agricultor e consumidor retiram
nutrientes e fibras e adicionam gordura, açúcar, sal e outros recheios.) Em contraste com
as decisões internas por trás de poucas portas corporativas, as centrais agrícolas de
abastecimento, agricultura apoiada pela comunidade e comércio alimentício local, todos tendem a devolver as tomadas de decisão às comunidades locais.54
Comer não é escolha, e
sim necessidade.
Porém, temos efetivamente o
direito – e a responsabilidade –
de escolher como nosso
alimento é produzido.
Em muitas comunidades esse comércio local não mais existe. O açougueiro e
padeiro da esquina, a leiteria e fábrica de
conservas locais fecharam sob ondas de
consolidação. À medida que restaurantes,
cantinas escolares, supermercados e outros empreendimentos alimentícios começarem a comprar alimentos mais localmente
– e à medida que os consumidores exigirem – a infra-estrutura esquecida poderá
ressurgir gradativamente. Navdanya abriu
recentemente um café local em Nova
Délhi, semelhante ao café Andes, em
Cuzco, ligando o campo à cidade ao promover tradições alimentares indianas e celebrações que girem em torno das colheitas sazonais. Em Hope’s Edge, Maya Jani,
do Navdanya, explica: “Navdanya deseja
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
resgatar os alimentos e bebidas indígenas da
extinção por meio do prazer – e rapidamente, antes que nosso paladar seja totalmente
dominado pela Pepsi e Coca-Cola”. Durante os escaldantes meses do verão, o festival
panna, do Navdanya, celebra bebidas refrescantes tradicionais, inclusive as fermentadas feitas com coco, manga, lechia, cevada
e rododendro. “Nossos festivais são uma
forma de ajudar as pessoas a renovarem as
crenças em suas tradições”.55
A Ascensão da Democracia
Alimentícia
Democracia alimentícia é um termo que
pode melhor descrever o número crescente de agricultores, consumidores, chefs e
empresas alimentícias que resistem à tentação de comer cegamente, em vez de conscientemente. Entretanto, repensar nossa
relação com o alimento não é simplesmente abandonar a carne vermelha ou a suposta conveniência de fazer compras numa
rede de supermercados.
Mudar nossa dieta é reaver algo em
nossas vidas que foi perdido – nossa ligação com os alimentos e com as pessoas
que o produzem. Seja agricultor, dono de
restaurante, político, banqueiro, empresário, estudante buscando carreira ou pais
preocupados, todos precisamos saber mais
sobre o alimento que compramos e consumimos. E há quantidades infinitas de acessos para nos alimentarmos mais conscientemente e reforçarmos a democracia alimentícia. Comer não é escolha, e sim necessidade. Porém, temos efetivamente o
direito – e a responsabilidade – de escolher
como nosso alimento é produzido. Das
compras numa central local de abastecimento ao preparo de refeições sem carne,
e até a compra de café e cacau de comércio justo, grupos pequenos, mas crescentes, em todo o mundo estão votando com
seus garfos e suas carteiras por um sistema alimentício mais sadio.
O consumidor típico não irá, necessariamente, tomar essas medidas sozinho. E
embora poucas pessoas tolerassem seus
governos ditarem o que deviam comer,
governos detêm poder considerável para
mudar a forma de cultivarmos alimentos
– por todos os meios, desde regulamentos sobre quais produtos químicos os agricultores podem utilizar até o tipo de pesquisa promovida em universidades agrícolas. (Vide Quadro 4-3.) Como observado anteriormente, governos compram volumes consideráveis de alimentos para lanches escolares, repartições públicas e exércitos – o governo dos Estados Unidos serve mais de 26 milhões de refeições diariamente a crianças em escolas, por exemplo – e podem utilizar essas compras para
incentivar certos mercados agrícolas.
(Vide também Capítulo 6.) A Agência de
Proteção Ambiental Sueca juntou-se recentemente à Administração de Alimentos e à
Agência de Consumo suecas numa campanha para ligar os hábitos alimentares não
apenas à nutrição, mas também ao meio
ambiente. Essa iniciativa colaborativa resultou num livro de culinária chamado Mat
Med Känsla för Miljö – Alimentos com
Consciência Ambiental –, argumentando
que os consumidores podem reduzir substancialmente o uso de energia na cadeia
alimentar por meio de escolhas alimentícias corretas.56
103
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
QUADRO 4-3. POLÍTICAS
PRIORITÁRIAS PARA
REPENSARMOS NOSSA RELAÇÃO
COM OS ALIMENTOS
• Os governos devem realocar os recursos
aplicados anualmente em subsídios
agrícolas – mais de US$ 300 bilhões –
para apoio à agricultura ecológica.
• Os governos devem considerar taxar
pesticidas, fertilizantes sintéticos,
fazendas industriais e outros insumos
poluentes ou práticas agrícolas.
• Os governos devem colaborar com
organizações agrícolas para o aumento da
parcela de suas terras com produção
orgânica para 10%, durante os próximos
10 anos, através da melhoria dos
programas de certificação orgânica,
incrementando capacitação orgânica nas
universidades agrícolas, centros de
pesquisa e agências de extensão e
concedendo subsídios ou créditos fiscais
a agricultores nos primeiros anos da
conversão.
• Os governos devem reformar acordos
internacionais de comércio, por meio da
proibição de garantia de preços internos
e tarifas em mercadorias importadas, a
fim de eliminar subsídios à exportação,
“dumping” de alimentos e outras
práticas injustas de comércio, que
restringem a capacidade das nações de
protegerem e construírem economias
agrícolas domésticas.
• Governos, em âmbito nacional e local,
devem instituir licitações para escolas,
hospitais, repartições públicas e outras
instituições, para apoiar lavouras
cultivadas ecologicamente por
agricultores locais.
________________________________________
FONTE: vide nota final 56.
104
No âmbito dos alimentos, governos e
corporações freqüentemente são lentos em
efetuar mudanças sem que haja algum clamor público, persistente e generalizado.
Historicamente, as maiores vitórias relacionadas aos alimentos, inclusive a
rotulagem obrigatória mostrando conteúdo e valor nutricional, originaram-se em
iniciativas de consumidores, apesar da
relutância de governos e da indústria alimentícia. Em retrospecto, as mudanças
sempre pareceram lógicas e bem atrasadas. A energia necessária de base, por sua
vez, freqüentemente origina-se de uma
mudança de conceitos. Mudar nosso cardápio coletivo, escreve Stuart Laidlaw em
Secret Ingredients: The Brave New World
of Industrial Food, significa produzir alimentos que “não matem peixes ou façam
crianças correrem para dentro durante o
recreio, para fugir de pesticidas... Devemos adotar esse comportamento... não
porque o alimento em nosso prato seja
melhor para nós, e sim porque será melhor para o planeta”. O potencial para recriar o cardápio coletivo é imenso – como
também a necessidade. Mas o esforço
sempre dependerá de indivíduos motivados, que busquem um meio de vida mais
seguro, uma comunidade mais forte, um
meio ambiente mais sadio ou, simplesmente, uma refeição deliciosa. 57
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Água Engarrafada
A próxima vez que você for ao
supermercado local, poderá
surpreender-se com a
variedade de escolha de água
engarrafada, desde marcas
nobres como Perrier e Evian
até as populares, engarrafadas
pelo próprio supermercado.
Mundialmente, o consumo de
água engarrafada está
crescendo a uma taxa anual de
12%, embora em mercados mais novos,
como a Índia, esteja aumentando em até
50% anualmente. Consumidores em todo o
mundo gastam hoje cerca de US$ 35 bilhões
anuais em água engarrafada.1
Embora o conteúdo possa parecer igual
por toda parte, água engarrafada é
essencialmente apresentada de três formas
diferentes: água mineral natural, água de
fonte e água purificada. De acordo com a
definição da União Européia, “água mineral
natural é considerada como sendo
bacteriologicamente pura, tendo por origem
um lençol de água ou um depósito
subterrâneo e proveniente de uma nascente,
explorada através de um ou mais pontos
naturais ou perfurados”. Na Europa, a
reputação da água mineral como benéfica à
saúde remonta ao Império Romano.
Entretanto, os benefícios reais desses
minerais são, atualmente, tidos como
mínimos. Embora as nascentes dessas
águas estejam protegidas da
poluição, pode ocorrer
incidência de bactérias
naturais, uma vez que a
água não é desinfetada.
Ainda que os
engarrafadores
precavenham-se, a
contaminação é sempre
possível, como ocorreu, em
1990, com o recall mundial da
Perrier, devido aos altos níveis de benzeno.2
Nos Estados Unidos, a Food and Drug
Administration (agência norte-americana para
o controle de drogas e alimentos) define água
mineral natural como a que contém 250 ppm
(partes por milhão) de sólidos totais
dissolvidos e é originária de uma nascente
subterrânea protegida. A água de fonte, por
outro lado, não precisa ter uma composição
invariável de minerais e é, usualmente, mais
barata. A água purificada, também chamada
de água potável, é retirada de lagos, rios ou
fontes subterrâneas e é tratada – tornando-se
quase idêntica à água da torneira. 3
A popularidade disparada da água
engarrafada decorre de várias razões. Na
Ásia e Pacífico, o crescimento populacional
e problemas com a qualidade e
abastecimento da água são as mais
importantes. (De modo geral, 1,5 bilhão de
pessoas em todo o mundo não têm acesso a
água potável, e 12 milhões de pessoas
105
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: ÁGUA ENGARRAFADA
morrem anualmente por doenças veiculadas
por água insalubre). Embalagens de grande
volume tornaram a água engarrafada mais
acessível na Índia e nos Estados Unidos e
em muitos outros países no início dos anos
90. E, motivados pela propaganda, muitos
consumidores compram água engarrafada
como uma alternativa a refrigerantes e
álcool, porque é considerada mais saudável
do que a água da torneira, e particularmente
na França, porque tem melhor sabor.4
Porém, muitos estão preocupados com
os custos ambientais da produção da água
engarrafada. Uma preocupação maior é que
a demanda crescente por água possa
estressar os recursos aqüíferos existentes.
Nos últimos anos, muitas companhias
internacionais de bebidas vêm explorando
os abundantes mananciais do Canadá como
fonte de água engarrafada. Numa medida de
prevenção, muitas províncias canadenses
proibiram, ou estão considerando proibir, a
exportação de água a granel.5
O Container Recycling Institute relata
que as vendas de resina virgem (tereftalato
de polietileno – PET), o plástico mais usado
nas garrafas de água, dispararam para 738
milhões de quilos em 1999, mais do que o
dobro do volume de 1990. A produção de 1
quilo de plástico PET requer 17,5 kg de água
e resulta em emissões atmosféricas de 40
gramas de hidrocarbonos, 25 gramas de
óxidos sulfúricos, 18 gramas de monóxido
de carbono, 20 gramas de óxido de
nitrogênio e 2,3 kg de dióxido de carbono.
Só em termos de uso de água, a quantidade
gasta na fabricação das garrafas é muitas
vezes maior do que a quantidade a ser
engarrafada.6
E no que concerne à distribuição, a
grande diferença entre a água engarrafada e
a água da torneira provém da queima de
106
combustíveis fósseis no seu transporte por
caminhão, trem ou navio, em vez de adutora.
O Fundo Mundial para a Natureza, embora
observando que 75% da água engarrafada é
produzida para consumo local, argumenta
que as companhias internacionais deveriam
investir em engarrafadoras para o mercado
local e transportar a água engarrafada em
embalagens de grande volume. Mesmo
assim, isso seria mais ineficiente do que os
sistemas públicos de água potável.7
Um dos maiores problemas
enfrentados pela água engarrafada é o
refugo plástico. Conforme o Container
Recycling Institute, cerca de 14 bilhões de
garrafas de água foram vendidos nos
Estados Unidos em 2002, 90% das quais
foram jogadas no lixo – mesmo que a
maioria delas tenha sido feita com plástico
PET reciclável. Em junho de 2003, o
Conselho de Controle da Poluição, da
Bengala Ocidental, na Índia, determinou
que os fabricantes de garrafas fossem
responsabilizados pela coleta e reciclagem
de garrafas usadas. Regulamentações
eficazes promovendo a reciclagem de
garrafa existem também na Áustria,
Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia,
Alemanha, Holanda, Noruega, Suécia,
Suíça e 11 estados dos Estados Unidos.8
Os americanos dizem que a razão
principal de eles beberem água
engarrafada é por ser mais segura do que
a água da torneira. Mas um estudo
quadrienal do Conselho de Defesa dos
Recursos Naturais testou mil garrafas
vendidas nos Estados Unidos e detectou
que um quinto continha produtos
químicos tais como tolueno, xileno ou
estireno – tidos como, ou com
possibilidade de serem, cancerígenos – e
neurotoxinas. Na Índia, testes realizados
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: ÁGUA ENGARRAFADA
em fevereiro de 2003 pelo Centro para
Ciência e Meio Ambiente encontraram
níveis altos de pesticidas em amostras de
água, resultando na retirada de
certificados oficiais de qualidade de uma
série de marcas e em advertências
dirigidas à Coca-Cola e PepsiCo.9
As Nações Unidas declararam 2003
como o Ano Internacional da Água Doce, e
estão trabalhando no sentido de melhorar a
qualidade da água doce em todo o
mundo.Um dos objetivos da Meta de
Desenvolvimento do Milênio, das Nações
Unidas, para assegurar a sustentabilidade
ambiental, é reduzir à metade, até o ano de
2015, o número de pessoas sem acesso a
água potável. Todavia, considerando os
impactos ambientais do uso e descarte da
água engarrafada, vale a pena indagar se
não existiria uma melhor forma de distribuir
esse recurso vital. Para os felizardos que
têm opção, a água da torneira (filtrada, se
necessário) é a escolha mais barata e
menos poluidora.10
— Paul McRandle, The Green Guide
107
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Frangos
A maior parte das
galinhas tem dois
destinos: são criadas
para pôr ovos
(poedeiras) ou
unicamente pela carne
(frango de corte).
Começam sua jornada ao
longo da cadeia alimentícia
industrial nas granjas de
propriedade da Tyson Foods, Perdue
Chicken, ou qualquer outra empresa de
agronegócio. Lá, os ovos são conservados
aquecidos por incubadoras cuidadosamente
controladas.Os criadores providenciam que
todos os pintos saiam do ovo quase ao
mesmo tempo, pela inseminação artificial
das matrizes. Após a saída do ovo, os
pintos destinados a poedeiras entram em
contato com seres humanos pela primeira e,
muitas vezes, única vez. Com um dia de
nascidos, os operários selecionam as
fêmeas, jogando os machos em grandes
recipientes. Esses infelizes pintos são
moídos (às vezes, ainda vivos), para uso
como fertilizantes ou ração animal.1
As fêmeas são enfileiradas numa linha
de montagem e debicadas, dolorosamente,
com lâminas quentes. Após 18–20 semanas,
são enviadas para criadores contratados
(juntamente com a ração, antibióticos e
outros insumos). As poedeiras são
abrigadas em galpões de 18 m x 110 m (como
108
são os frangos de corte) –
aproximadamente a metade
do tamanho de um campo
de futebol americano.
Cada galpão pode acomodar
mais de 90.000 frangos; uma vez
que a criação de frangos tornou-se
um negócio altamente tecnológico: um
fazendeiro pode, normalmente, administrar
um galpão inteiro com pouca mão-de-obra.
Embora muitos desses fazendeiros sejam
proprietários de terra e arquem com a maior
parte do risco financeiro, estes não são
donos dos pintos que cuidam. Do início ao
fim, os pintos são propriedade da empresa.
O galpão custa cerca de US$ 250.000, mais
outros US$ 200.000 pelos equipamentos
para seu funcionamento; juntando os
frangos, ração e outras despesas gerais, os
custos iniciais nos países industriais
chegam a US$ 1 milhão no mínimo.2
Uma vez na fazenda, cada poedeira é
colocada numa bateria de gaiolas de arame
com outras nove aves. Essas poedeiras
produzirão, cada uma, cerca de 300 ovos por
ano – mais de três vezes o que as mesmas
galinhas punham um século atrás, graças à
manipulação genética e drogas de
crescimento misturadas ao alimento. As
galinhas também são induzidas a pôr mais
ovos pela iluminação artificial contínua.
Suas gaiolas, empilhadas umas sobre as
outras e cobertas de fezes, permitem pouco
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS
movimento. Elas assustam-se facilmente,
porque raramente têm qualquer contato
humano. Geralmente, as únicas aves que os
produtores entram em contato são aquelas
que, de algum modo, escaparam da gaiola
ou morreram de estresse.3
Não é de estranhar que galinhas
criadas nessas condições sejam mais
vulneráveis e morram mais cedo do que
as galinhas criadas da maneira
tradicional. De fato, em torno de um ano,
mais ou menos, a maior parte das
galinhas está tão desgastada que sua
produção de ovos diminui. Os
produtores costumavam enviá-las para
serem processadas em alimento para cães
e gatos, nuggets e mesmo alimento
infantil. Mas em alguns lugares elas são
abatidas na fazenda ou enviadas para
mercados de animais vivos, onde a carne
de aves no fim de sua vida poedeira
ainda é valorizada pelo seu sabor.4
Os frangos de corte têm uma vida ainda
mais curta. Embora não sejam mantidos em
gaiolas individuais, são apinhados em
compartimentos com pouco espaço – cada
um tem cerca de 22 cm x 22 cm. Tais aves
não são expostas à luz natural ou ar fresco e
têm dias artificialmente longos, porque os
compartimentos, sem janelas, são
iluminados até 23 horas por dia.5
Esses frangos comem, diariamente, cerca
de 0,86 kg de ração especialmente
formulada, podendo conter antibióticos e
estimuladores do crescimento. Embora os
frangos sejam eficientes na conversão de
grãos em proteína, as condições em que são
criados os tornam vulneráveis a doenças
respiratórias. Assim, os produtores vêm, há
muito, adicionando antibióticos
semelhantes aos usados para tratar doenças
humanas. (Em 2002, um estudo averiguou
que 37% dos frangos destinados ao corte,
encontrados nos principais fornecedores,
estavam contaminados com patógenos
resistentes a antibiótico.) Freqüentemente,
esses frangos ganham peso com tanta
rapidez que não podem manter-se em pé. Os
frangos criados em fazendas industriais
muitas vezes manquejam, e muitos morrem
de ataque cardíaco, porque seus corações
não são fortes o bastante para suportar
seus corpos desproporcionais. 6
Quando estão pesando cerca de 2 kg, os
frangos de corte são arrebanhados por
operários (“pegadores”), estufados em
gaiolas e levados para fábricas de
processamento. Operários separam, cortam
e pesam os frangos para distribuição em
mercearias e restaurantes. Envoltas em
plásticos, as sobrecoxas, asas e coxas
pouco assemelham-se ao animal vivo.
Algumas embalagens trazem um aviso aos
consumidores para cozinharem bem o
frango, a fim de evitar que a carne, muitas
vezes contaminada com fezes, transmita
doenças, tais como Escherichia coli e
Salmonella, comuns em ambientes de
criação industrial.7
Porém, nem todos os fazendeiros estão
criando galinhas industrialmente. Conforme
a Organização para Alimentos e Agricultura
das Nações Unidas (FAO), galinhas de
quintal e caipiras chegam a representar
70% da produção de ovos e carne em
alguns dos países mais pobres. Essas
galinhas não somente fornecem alimento,
como são, também, fonte de segurança
econômica. Como declara Robyn Alders, da
FAO, os fazendeiros podem usá-las como
um tipo de “cartão de crédito, disponível a
cada momento, para venda ou troca em
sociedades em que o dinheiro não é
abundante”. Elas são também uma fonte
109
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS
importante de fertilizante e controle de
pragas. Projetos em Bangladesh e África
do Sul estão melhorando a saúde das aves,
propiciando renda para membros de
comunidades pobres e dando às espécies
de galinhas nativas – já adaptadas ao calor
e às condições de baixos insumos – uma
chance de sobrevivência.8
Alguns produtores de galinha e ovos em
países ricos estão atendendo à demanda de
consumidores por galinhas orgânicas,
criadas sem agressão. Nas West Wind
Farms, a única fazenda no estado do
Tennessee que produz carnes e aves
110
orgânicas certificadas, Ralph e Kimberlie
Cole criam 600 galinhas por ano em pastos e
grãos orgânicos. As galinhas ciscam em
pequenos gramados perto de galinheiros
móveis, que podem ser movidos de um
campo para o outro. Os Coles referem-se às
galinhas como parte de “sua equipe de
melhoramento do solo”, porque estas fertilizam
a terra e controlam as pragas. Criar galinhas
dessa maneira – em vez de em fazendas
industriais – pode ajudar o meio ambiente e é,
seguramente, mais gentil com as aves.9
— Danielle Nierenberg
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Chocolate
A próxima vez que você provar uma
barra de chocolate pense neste
gosto como uma referência a
algumas das florestas
mais ameaçadas do
mundo – e nos
milhões de
fazendeiros que vivem
perto delas. O chocolate
provém das sementes de uma
pequena árvore de floresta tropical, o cacau
(Theobroma cacao). O cacau é nativo do
norte da América do Sul e talvez também do
sul da América Central. Seu fruto tem o
tamanho aproximado de um melão pequeno
e é recheado com essas sementes – as
amêndoas de cacau. Elas são processadas
de vários modos para fabricação de licor de
cacau, manteiga de cacau e chocolate.1
O cacau é cultivado comercialmente em
quase 60 países, mas a produção está
concentrada em apenas alguns deles.
Costa do Marfim, o maior produtor
mundial, produziu cerca de 35% da
colheita mundial de amêndoa de cacau em
2002, abaixo de seu pico de 41%, em 1999
e 2001. Os cinco maiores produtores, em
2002 – Costa do Marfim, Gana, Indonésia,
Nigéria e Brasil – representaram 79% da
produção global. Atualmente, as
plantações de cacau cobrem mais de
70.000 km2 em todo o mundo, uma área um
pouco maior do que a Irlanda. A área de
produção aumentou
substancialmente nas
últimas décadas,
crescendo quase um
quarto desde 1990..2
Uma vez que os
cacaueiros necessitam de um
suprimento abundante e
constante de água, só pode ser
cultivado comercialmente em biomas de
floresta tropical. Esta limitação é uma
espécie de bênção econômica: seja qual for
o valor que o cacau agrega às áreas de
floresta tropical, este não pode ser reduzido
se tal fruto for cultivado em outro lugar. Isso
tem também grande importância para a
conservação porque todas as principais
áreas de cacau – no Caribe, América Central
e do Sul, arquipélago indonésio-malaio e
África Ocidental – são “hotspots de
biodiversidade”. Estas são regiões que
foram identificadas como prioritárias para a
conservação global por serem
extraordinariamente ricas em biodiversidade
e altamente ameaçadas. O cacau é uma
lavoura hotspot.3
O cacaueiro requer sombra, podendo
crescer sob a cobertura da floresta. Nas
áreas de floresta tropical, a agricultura
geralmente substitui a floresta, mas o cacau
permite que os fazendeiros ganhem dinheiro
sob as árvores – ou pelo menos sob
algumas árvores. (Colheitas razoáveis
111
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CHOCOLATE
podem ser provavelmente alcançadas
mesmo mantendo-se 50–60% da cobertura
original.) Infelizmente, a maior parte do
cacau mundial é cultivado em terras que já
perderam muito de sua cobertura original.) –
devido ao próprio cacau ou a alguma outra
atividade que o precedeu. Na Indonésia, por
exemplo, o cultivo do cacau freqüentemente
seguiu-se à derrubada da floresta primária.
Apesar da sua tolerância ao sombreamento,
o cacau tem sido muitas vezes um agente de
desmatamento, embora comumente o
resultado seja um pequeno desmatamento.
Isso porque o cacau é muitas vezes
cultivado juntamente com outras culturas
arbóreas nativas ou introduzidas. Algumas
dessas agroflorestas são bastante
complexas e sustentam uma parcela
considerável da vida silveste local. Por
outro lado, o cacau é algumas vezes
cultivado como monocultura a sol aberto,
uma alternativa que sustenta uma
diversidade bem menor.4
Numa escala global, a contribuição do
cacau para o desmatamento tropical é
ínfima– talvez um terço de 1% da área
original de floresta tropical mundial tenha
agora cultivo de cacau. Porém, numa escala
regional, o cultivo do cacau tem sido, às
vezes, uma força importante na natureza.Por
exemplo, o cacau representa mais de 13%
das terras florestais originais da Costa do
Marfim e ainda está eliminando florestas em
partes da África Ocidental e Indonésia. Mas
não precisa ser assim. Em alguns locais, o
cultivo do cacau já tornou-se um sistema de
facto de conservação. Na Bahia, Brasil, por
exemplo, e ao sul dos Camarões central, o
cacau é cultivado sob floresta nativa rala,
em áreas onde resta pouca floresta.
Inadvertidamente, as fazendas tornaram-se,
na verdade, florestas.5
112
O cacau tem também um grande
potencial social fora do Brasil e Malásia,
onde é quase totalmente cultivado em
grandes fazendas; o cacau é,geralmente,
uma cultura de pequenos proprietários.
Milhares de fazendas de cacau da África
Ocidental têm menos de 1 hectare, e o
tamanho médio de uma fazenda na Costa do
Marfim é inferior a 3 hectares. O cacau
funciona bem em pequena escala porque
tem um valor relativamente alto e porque o
cacaueiro reage a cuidados especiais.
Pequenos proprietários capacitados, cujas
roças de cacau são pequenos “jardins”,
podem alcançar níveis de produtividade
superiores às grandes fazendas, que
possuem árvores demais para serem
cuidadas individualmente. Potencialmente,
pelo menos, o cacau compensa o trabalho.6
Mas do ponto de vista dos fazendeiros
essa compensação está mal-distribuída. No
varejo, o negócio de chocolate vale $42–60
bilhões, anualmente, dependendo de como
o “produto chocolate” é definido. É difícil
determinar quanto desse dinheiro
efetivamente retorna às fazendas, porém,
uma estimativa muito generosa seria de 6 a
8% e, talvez, consideravelmente menos.
Entretanto, mesmo essa pequena parcela da
riqueza do cacau significa uma vida melhor
para milhões de fazendeiros e suas famílias.
Contudo, a economia do cacau, como sua
ecologia, tem também um lado
triste.Aparentemente, a exploração da mãode-obra predomina na zona cacaueira da
Costa do Marfim. Denúncias constantes de
que alguns fazendeiros estão escravizando
milhares de trabalhadores infantis migrantes
desencadearam críticas generalizadas da
indústria. Em 2002, a Costa do Marfim
reagiu, ratificando um tratado contra a
exploração do trabalho infantil e as grandes
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CHOCOLATE
companhias de chocolate lançaram uma
campanha com o objetivo de certificar o
chocolate da Costa do Marfim como “livre
da escravidão” até 2005. (Não se pode
calcular que efeito a guerra civil do país terá
nesse objetivo.)7
O que poderiam fazer os consumidores
em relação a isso? Da próxima vez que você
decidir deliciar-se com chocolate, procure
um rótulo que prometa três coisas.
Primeiro, uma alta concentração de cacau.
Geralmente, mais cacau significa melhor
qualidade e – pelo menos potencialmente –
mais renda para o produtor. Depois,
procure um selo de “comércio justo” ou a
marca de um produtor semelhante,
socialmente responsável. E mesmo que o
cacau não tenha um certificado de
“cultivado à sombra”, vale a pena procurar
um produto orgânico. Um dos pesticidas
de cacau mais comuns na África Ocidental,
por exemplo, é o lindano, um
organoclorado, primo do DDT. A
eliminação de tais produtos químicos seria
uma benesse tanto para trabalhadores
rurais quanto para as florestas. 8
— Chris Bright
113
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Camarões
Há muito, camarões
têm constado nos
cardápios de
populações costeiras.
Pinturas nas tumbas
do antigo Egito retratam
cenas de pescadores retirando camarões do
Nilo. E por séculos produtores do sudeste
asiático mantêm camarões nativos
confinados em lagoas litorâneas para uma
coleta fácil.1
Hoje, a multibilionária indústria de
camarão pouco assemelha-se à pesca do
camarão de outrora. Por uma razão, esse
pequeno crustáceo de muitas pernas não é
mais uma iguaria usufruída principalmente
por quem vive perto da fonte. Hoje,
quantidades imensas de camarões são
produzidas no mundo em desenvolvimento
para consumo no Japão, Estados Unidos e
Europa Ocidental. A produção de camarão
não é mais um negócio pequeno: em 2001,
mais de 4,2 milhões de toneladas de
camarões entraram no mercado mundial.2
A China produz mais camarão que
qualquer outro país: mais de 1,2 milhão de
toneladas em 2000, mais do dobro do seu
total em uma década antes e três vezes mais
do que seus concorrentes mais próximos –
Índia, Tailândia e Indonésia. Porém, o
grosso da pesca chinesa permanece no país.
A honra do primeiro lugar na exportação de
camarão fica com a Tailândia.3
114
Nos fins dos anos 90,
os Estados Unidos
ultrapassaram o
Japão como o
cliente principal
do mercado de
camarão, com as
importações
anuais alcançando 300.000 toneladas.
Na verdade, em 2001 o camarão havia
substituído o atum enlatado como a primeira
escolha em frutos do mar nos pratos
americanos. Entretanto, os japoneses
continuam encabeçando o consumo per
capita, apesar do recuo da economia, que
ajudou a diminuir o consumo anual de
camarão para menos de 3 kg por pessoa.4
Partindo de um início modesto há
poucas décadas, a indústria do camarão
tornou-se uma das mais lucrativas
atividades pesqueiras do mundo. Estados
Unidos e Japão, sozinhos, importaram um
volume equivalente a US$ 7 bilhões em
2000. No entanto, essa indústria é também
uma das mais destrutivas.
Aproximadamente, três quartos do camarão
no mercado são pescados imoderadamente
– principalmente por barcos de pesca
puxando imensas redes cônicas (arrasto)
sobre estuários, baías e plataformas
continentais. As traineiras varrem o leito do
mar de forma semelhante a uma derrubada
de mata – destruindo o habitat e escavando
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES
o que esteja no caminho das redes. Esse
método arrasa alguns dos pontos mais
biologicamente produtivos dentro do
ecossistema marinho.5
A pesca do camarão, como é praticada
atualmente, não é apenas destrutiva, mas
também incrivelmente inconseqüente.
Tartarugas, peixes e outras espécies
marinhas arrastadas nas redes são
consideradas “pesca indesejada”, nãolucrativa, e geralmente são jogados –
mortos – de volta ao mar. Em áreas
temperadas, a relação da pesca indesejada
para o camarão é de 5:1. Nos trópicos, essa
relação chega a 10:1, e é mais alta em alguns
pesqueiros. No total, a pesca do camarão é
responsável por um terço da pesca
descartada no mundo, enquanto produz
menos de 2% do pescado mundial.6
Nos anos 80, novas tecnologias
inovadoras provocaram um incremento na
aqüicultura do camarão, suplementando a
captura oceânica. Em 1989, criatórios de
camarões floresceram ao longo do litoral
tropical em todo o mundo e produziram um
quarto da safra mundial de camarões. Desde
então, a participação de mercado do
camarão cultivado estabilizou-se, com seu
crescimento prejudicado, em parte, por
surtos de doenças disseminadas em
criatórios densamente povoados.7
A aqüicultura de camarão não é mais
benigna, ecologicamente, do que a captura
natural. Uma fazenda típica de camarão
produz quantidades copiosas de lixo,
altamente tóxico. Produtos químicos e
fertilizantes utilizados nas fazendas escoam
para manguezais e estuários, enquanto
criadores jogam grande quantidade de lixo
diretamente no oceano.
Onde são instaladas fazendas de
camarão, os manguezais nativos são
extirpados. Os manguezais têm muitas
funções, servindo como local de procriação
e habitat a muitas espécies (inclusive
proporcionando criatórios para 85% das
espécies comerciais de peixes tropicais),
funcionando como filtro da água e
oferecendo proteção vital contra a erosão
do litoral e tempestades tropicais violentas.
Quase um quarto dos manguezais
remanescentes do mundo foi destruído nas
últimas duas décadas, na maior parte para
dar lugar a fazendas de camarão.8
Uma série de abusos de direitos
humanos tem acompanhado a grave
degradação ambiental da cultura do
camarão, ao tempo em que poderosos
interesses dos criadores chocam-se com os
habitantes locais prejudicados pela
atividade. Caracteristicamente, investidores
domésticos e estrangeiros, com pouco ou
nenhum laço com as comunidades locais,
entram para implantar as fazendas
destruindo, no processo, recursos vitais,
esgotando meios de vida e deixando a
população desamparada. Confisco de terra,
intimidação violenta de pescadores locais e
até assassinatos são muito comuns.9
O físico e advogado ambiental indiano
Vandana Shiva fez uma estimativa de que,
em média, uma fazenda de camarão cria
talvez 15 empregos na fazenda e 50
empregos em segurança ao redor da
fazenda, enquanto desloca 50.000 pessoas
pela perda da terra e abandono da
agricultura e pesca tradicionais. Um
pescador filipino lamentava: “O camarão
vive melhor do que nós. Eles têm
eletricidade, mas nós não. O camarão tem
água limpa, nós não. O camarão tem muita
comida, e nós passamos fome”.10
A indústria de camarão tem um longo
caminho a percorrer antes que possa ser
115
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES
considerada, remotamente, sustentável; e
muitos grupos de defesa sugerem que os
consumidores simplesmente não comam
camarão, para diminuir a carga em ambos,
ecossistemas e pessoas. Numa nota
positiva, um consórcio envolvendo o
Banco Mundial, a Organização das Nações
Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO)
e o Fundo Mundial para a Natureza está
explorando normas de certificação
ambiental para a aqüicultura. E o Sea Turtle
Restoration Project e outros estão
trabalhando com a indústria para
desenvolver e promover dispositivos que
reduzam, drasticamente, a pesca
indesejada. Enquanto isso, grupos
116
ambientais comunitários, em áreas de
fazendas, estão juntando-se a grupos nãogovernamentais internacionais para
promover uma cultura mais ecologicamente
segura do camarão. Em um caso, o Projeto
de Ação em Manguezais e a Federação de
Pequenos Pescadores do Sri Lanka
aproximam comunidades de pescadores e
outros interessados para promoverem a
conservação e trabalharem com criadores
de camarão, a fim de coibir a destruição
dos manguezais, protegendo o habitat
dos peixes.11
— Dave Tilford,
Center for a New American Dream
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Refrigerantes
Os refrigerantes, com sua
doçura decadente, provaram
ser donos de um apelo universal.
Em 2002, as pessoas beberam 185
bilhões de litros de refrigerante,
constituindo-se a terceira
bebida comercial mais popular
do mundo, depois do chá e do
leite. No entanto,
diferentemente dos dois, o
refrigerante é uma mistura
complexa de ingredientes, incluindo
água, adoçantes, dióxido de carbono, dúzias
de sabores naturais e artificiais e
freqüentemente cafeína. Toda essa mistura é
cuidadosamente acondicionada em garrafas
e latas atraentes, comercializada e
distribuída, para a delícia de consumidores
em quase todos os países do mundo.1
A água é o principal ingrediente do
refrigerante e é também vital para o
processamento de seus outros ingredientes
e materiais de embalagem. As instalações de
uma engarrafadora média produz mais de
300.000 litros de bebida diariamente – um
processo que requer até 1,5 milhão de litros
de água, o bastante para atender às
necessidades mínimas de pelo menos 20.000
pessoas. Na verdade, em algumas áreas com
estresse hídrico, engarrafadoras entraram
em conflito com comunidades locais. Em
Plachimada, na Índia, por exemplo, as
autoridades locais revogaram, em abril de
2003, a licença de funcionamento de
uma fábrica da Coca-Cola depois de
reclamações dos habitantes sobre
poços secando, piora da
qualidade da água restante
e liberação de efluentes
tóxicos. Porém, após
pressão da Coca-Cola
Company, um dos
maiores investidores
estrangeiros na economia
indiana, o governo nacional está
considerando a revogação dessa medida.
Mais recentemente surgiram novos
problemas para as companhias de
refrigerantes na Índia, quando cientistas do
grupo ambientalista Centre for Science and
the Environment detectaram pesticidas nas
principais marcas de refrigerante em todo o
país – uma descoberta mais tarde
confirmada pelo governo.2
Os refrigerantes devem muito do seu
gosto, textura e todas suas calorias à
generosa dose de adoçantes. Um lata média
de refrigerante comum, 355 mililitros, tem 38
gramas (ou 150 calorias) de adoçantes
adicionados. Ao tempo em que contribuem
para a cárie dentária, os adoçantes
substituem alimentos mais saudáveis ou,
quando consumidos conjuntamente com a
dieta costumeira, aumenta a ingestão
calórica total. Assim a adição de açúcares
pode levar à deficiência de nutrientes ou
117
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: REFRIGERANTES
obesidade. Essa é uma preocupação
especial com relação a crianças e
adolescentes, que são mais vulneráveis à
deficiência alimentar e cujos hábitos
alimentares são particularmente flexíveis.
Nos Estados Unidos, quando o consumo
anual de refrigerante dobrou para 185 litros
por pessoa, entre 1970 e 2001, o consumo de
leite caiu 30%. Ao mesmo tempo, a ingestão
total de cálcio, por adolescentes, caiu
significativamente, enquanto os índices de
excesso de peso e obesidade quase que
triplicaram, passando para 14% (enquanto
chegava a 61% nos adultos). Um estudo
recente demonstrou que crianças que
ingerem bebidas adoçadas com açúcar são,
freqüentemente, mais obesas e que esse
risco aumenta outros 60% com cada bebida
adicional consumida.3
Cafeína é um dos outros principais
ingredientes dos refrigerantes – presente em
80% do volume global nas 10 principais
bebidas carbonadas. Embora a indústria de
refrigerantes alegue que usa cafeína para
realçar o sabor, estudos demonstraram que
as pessoas não notaram diferenças
significativas em amostras cafeinadas e
descafeinadas. Mais provavelmente, a
cafeína é adicionada por suas propriedades
estimulantes, que dão ao refrigerante uma
excitação extra, bem como ajuda a fidelizar
clientes. A cafeína fisiologicamente cria
hábito com apenas 100 miligramas diários –
e com menos em crianças. Uma lata de Pepsi
contém 41 miligramas de cafeína.4
Enquanto em alguns países as
engarrafadoras ainda dependam de garrafas
de vidros reutilizáveis, usam mais comumente
recipientes plásticos ou latas de alumínio. Em
2001, engarrafadoras em todo o mundo
encheram 159 bilhões de recipientes
plásticos, 112 bilhões de latas e 72 bilhões de
118
garrafas de vidro. Uma vez empacotados, os
refrigerantes são enviados, regionalmente,
por caminhões para mercados, restaurantes,
escolas e máquinas automáticas.Para ter
certeza de que as pessoas vão comprar essas
bebidas, os fabricantes de refrigerantes
gastam bilhões em publicidade – na
televisão, outdoors e Internet, entre outros
meios. A Coca-Cola Company e PepsiCo., os
dois maiores fabricantes de refrigerantes, são
o 13o e 20o maiores anunciantes do mundo.
Conjuntamente, gastaram US$ 2,4 bilhões em
publicidade em 2001. Os fabricantes também
trabalham por trás dos bastidores para
garantir um suprimento de refrigerante para
todos que subitamente desejem algo doce.
Por exemplo, nos Estados Unidos, as
engarrafadoras freqüentemente assinam
contratos de exclusividade com a direção de
escolas, oferecendo uma parcela dos lucros
na venda de um determinado volume – uma
estratégia que está sendo replicada em todo
o mundo.5
A lata média de refrigerante, uma vez
aberta, dura talvez 20 minutos antes de ser
jogada fora. Nos Estados Unidos, quase
sempre termina no lixo. Se os americanos
tivessem reciclado os 32 bilhões de latas de
refrigerantes que jogaram fora em 2002,
teriam economizado 435 milhões de
toneladas de alumínio – o suficiente para
reconstruir toda a frota aérea comercial
mundial mais de uma vez e meia.Uma
coalizão de grupos ambientalistas nos
Estados Unidos está, atualmente,
trabalhando para criar uma nova lei, que
estabelecerá uma meta nacional de 80% de
recuperação de recipientes de bebidas e
permitirá à indústria desenvolver seu
próprio sistema para esse fim.Essa
estratégia teve grande sucesso na Suécia,
onde uma meta nacional tem mantido uma
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: REFRIGERANTES
taxa de recuperação de 86%, motivada
principalmente por um depósito de 10
centavos de dólar por garrafa, imposto pela
indústria. Michigan, o único estado dos
Estados Unidos com depósito de 10
centavos por garrafa, tem uma taxa de
recuperação de 95%.6
Enquanto os ambientalistas esperam
diminuir o volume do descarte,
nutricionistas e autoridades governamentais
procuram moderar o consumo total de
refrigerantes, principalmente para combater
a crescente obesidade epidêmica infantil. A
Califórnia, por exemplo, promulgou
legislação que eliminará gradativamente a
venda de junk food (inclusive refrigerantes)
nas suas escolas primárias públicas até o
início de 2004. Atualmente, a Califórnia taxa
junk food, o que ajuda a reduzir o consumo
total, servindo ao mesmo tempo como uma
fonte potencial de receita para educação da
saúde. Alguns países, tais como Suécia e
Polônia, chegaram a banir comerciais nos
programas infantis da televisão,
reconhecendo a vulnerabilidade da
audiência às mensagens de marketing. No
entanto, as vendas de refrigerantes
cresceram 2,1% em 2002, globalmente. Os
especialistas da indústria prevêem que o
refrigerante ultrapassará o leite como a
segunda bebida mais consumida,
mundialmente, nos próximos cinco anos.7
— Erik Assadourian
119
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
CAPÍTULO 5
Rumos para uma
Economia Menos
Consumista
Brian Halweil e Danielle Nierenberg
Em 1895, o caixeiro viajante King Camp
Gillette teve a idéia de vender lâminas de
barbear descartáveis – um produto que os
consumidores teriam que comprar constantemente. As vendas logo dispararam,
atingindo mais de 70 milhões em 1915, tendo a Gillette hoje transformado-se numa
empresa com um faturamento anual de US$
10 bilhões. O que começou como um veículo de alto lucro para um comerciante
assegurar um fluxo inesgotável de vendas
transformou-se num conceito amplamente
adotado – a obsolescência programada.1
Pulando para o presente: em meados de
2003, a Walt Disney anunciou que iria, em
breve, testar no mercado um novo DVD,
destinado a substituir os videodiscos e cassetes de locadoras e que deixam de funcionar após um tempo predeterminado. A abertura da embalagem hermeticamente fechada dispara uma contagem regressiva química que torna o disco inutilizável após
meras 48 horas. As sofisticadas tecnologias
envolvidas podem ser estritamente do século XXI, mas a filosofia subjacente vem
120
do tempo daquele conceito introduzido por
Gillette e seus contemporâneos.2
Consumo como
Meio de Vida
Os avanços tecnológicos do último século
tornaram possível “produzir mais que a demanda e oferecer mais que o necessário”,
como observou o jornalista Edward Rothstein
recentemente no New York Times. Crescimento econômico infindável, motivado pelo
consumo descontrolado, tem sido elevado
ao status de religião moderna. Isso é tanto
um objetivo de executivos corporativos,
desejosos de manter acionistas felizes, como
é uma meta de líderes políticos com um olho
na vitória nas próximas eleições.3
Deixando de lado se posse material e felicidade humana trilham o mesmo caminho
(vide Capítulo 8), alguns observadores argumentam que produção em massa, consumo em massa e sistemas de descarte em
massa são nada menos do que simples ne-
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
cessidade econômica. Em 1950, por exemplo, o analista de marketing americano Victor
Lebow escreveu que “Nossa economia altamente produtiva... exige que façamos do
consumo um meio de vida... Precisamos que
as coisas sejam consumidas, queimadas,
desgastadas, substituídas e descartadas a um
ritmo cada vez mais intenso”.4
Mas a veneração compulsiva no altar do
consumo colocou a humanidade à beira de um
abismo ambiental – exaurindo recursos, disseminando poluentes perigosos, minando
ecossistemas e ameaçando conturbar o equilíbrio climático do planeta. Afastar-se desse precipício exigirá um recuo radical das pretensões humanas sobre os recursos da Terra.
As profundas divisões de classe da humanidade dificultam essa tarefa. Mesmo quando crescem evidências de que a classe global
de consumidores, com cerca de 1,7 bilhão
de pessoas (vide Capítulo 1), precisará conter seu apetite material voraz, um número
igualmente significativo de pessoas numa
classe média global emergente busca emular
a aparente “boa vida.” E quase 3 bilhões de
pessoas – os pobres do mundo – lutam para
sobreviver com poucos dólares por dia.5
Há muito se vem repetindo que o planeta não poderá suportar o ônus de todos no
mundo em desenvolvimento possuírem tantos carros, refrigeradores e outros bens de
consumo como americanos, europeus ou
japoneses. Do ponto de vista da justiça e
igualdade global, entretanto, a solução não
pode ser um sistema de apartheid do consumo, que apóia a farra ocidental e nega
aos pobres um padrão de vida decente. Pelo
contrário, os ricos precisam conter seus
apetites materiais descomunais. Cálculos
aproximados indicam que, para acomodar
o duplo imperativo de proteção ambiental e
igualdade social, as nações ricas precisariam reduzir seu uso de materiais em até 90%
ao longo das próximas décadas.6
No momento, o mundo lança-se na direção oposta. Economias modernas são capazes de produzir imensas quantidades de bens
a um custo muito baixo. Isso leva tanto produtores quanto consumidores a considerarem mais e mais produtos como nada mais
que commodities que podem ser descartadas com relativa rapidez, e não como itens
que incorporam valiosos materiais e energia
e que devem ser bem conservados e
projetados para uma longa vida útil.
Matérias-primas baratas, muitas delas originárias de países em desenvolvimento, sustentam a fartura consumista. As quantidades
globais de matérias-primas comercializadas
internacionalmente estão aumentando significativamente, porém os preços das
commodities têm mantido-se numa trajetória
descendente desde meados dos anos 70, continuando uma queda que remete ao início do
século XX. A extração maciça de combustíveis, minerais e madeira assola ecossistemas
dos países em desenvolvimento, provoca distúrbios sociais e, em alguns casos, causa
guerras devastadoras por recursos, mesmo
quando as pessoas nas áreas em conflito
auferem pouco benefício.7
Matérias-primas baratas, muitas
delas originárias de países em
desenvolvimento, sustentam a
fartura consumista.
Embora as velhas nações industrializadas continuem sendo os principais pro121
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
dutores, volumes crescentes de mercadorias estão sendo fabricadas em países
pobres. Particularmente nas indústrias de
mão-de-obra intensiva, como no setor
têxtil e de confecções, as corporações
multinacionais estão continuamente em
busca de mão-de-obra mais barata, enquanto muitos países em desenvolvimento
tentam competir entre si mantendo os
salários baixos. A China surgiu como um
grande produtor de bens de consumo
baratos, exportados principalmente para
o mercado norte-americano. Seu superávit comercial com os Estados Unidos
disparou de pouco mais de US$ 10 bilhões em 1990 para US$ 103 bilhões em
2002. Até o México, há muito um pólo
de fábricas de baixo custo, vê-se cada
vez mais incapaz de competir, uma vez
que os salários na China são, em média,
apenas um quarto do que se paga nesse
país. De 2001 para cá, um sétimo das
indústrias de exportação mexicanas, as
maquiladoras, fecharam.8
Há grande divergência de opiniões quanto a tais estratégias de exportação e a busca de um comércio livre mais abrangente
poderem alcançar um desenvolvimento significativo. Mas, independentemente de salários baixos serem vistos como ingredientes inevitáveis de uma estratégia exportadora bem-sucedida, ou como símbolo de
exploração e impedimento a mercados internos vibrantes, o que fica evidente é que
sustentam o consumismo.
A classe global de consumidores é, obviamente, a chave para reformular a relação entre consumo e sustentabilidade – não
só porque esta reivindica o grosso dos recursos globais, mas também porque suas
ações ecoam por todo o mundo. Todavia,
122
as soluções precisam levar em consideração as formas como os países em desenvolvimento estão atados à economia global
e seu desejo de emular o modelo intensivo
em materiais que ainda são vistos como
representativos da “vida boa”. É crucial
desenvolver formas de aliviar o ônus
ambiental associado ao consumo, particularmente para que um aumento dos níveis
de consumo nos países mais pobres seja
plenamente compatível com a meta de
sustentabilidade.
A fim de seguir em direção a uma economia menos consumista, tanto consumidores quanto produtores precisarão
atentar cuidadosamente para o pleno ciclo de vida dos produtos. Isso significa
que precisarão ater-se não apenas às características do produto propriamente
dito, como quanta energia seu uso requer,
mas também aos materiais e métodos
produtivos utilizados em sua fabricação
e os tipos e qualidade de rejeitos gerados
no processo. Além disso, consumidores
e produtores precisarão considerar se os
produtos prestam os serviços e confortos desejados, quanto tempo irão durar e
o que lhes acontecerá quando atingirem
o fim de sua vida útil.
Uma variedade de ferramentas está,
potencialmente, à disposição de governos,
empresas e consumidores individuais para
que estes avancem em direção ao objetivo global de uma economia menos
consumista. Muitas não só estão em discussão, como já começam a ser
implementadas. Para fazer a diferença,
entretanto, essas iniciativas terão que ser
incrementadas significativamente, e as
barreiras políticas e estruturais à mudança terão que ser derrubadas.
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
A Caixa de Ferramentas
Governamental
Os governos podem tomar uma série de
medidas para facilitar a transição para
uma economia menos consumista. Entre
as ações necessárias, as principais são
reformular políticas fiscais e de subsídios, estabelecer regras licitatórias favoráveis ao meio ambiente e estabelecer normas adequadas para produtos e programas de rotulagem.
Inúmeros subsídios permitem que os
preços de combustível, madeira, metais e
minerais (e os produtos que os incorporam) sejam bem menor do que seriam sem
os benefícios, encorajando maior consumo. Falta de dados disponíveis impede uma
contabilidade completa dos subsídios em
atividades ambientalmente danosas, e as
metodologias e definições podem divergir
de estudo a estudo. Porém, um relatório
recente da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que os subsídios globais atinjam algo
em torno de US$ 1 trilhão por ano, com os
países membros da OCDE representando
três quartos do total.9
Um estudo realizado pelos pesquisadores Norman Myers e Jennifer Kent relaciona subsídios perversos em seis setores –
agricultura, energia, transporte rodoviário,
água, pesca e silvicultura –, somando US$
850 bilhões, ou mais, anuais. Além disso,
há cerca de US$ 1,1 trilhão de
“externalidades” ambientais quantificáveis.
(Vide Tabela 5-1.) Embora não sejam subsídios no sentido formal, representam efetivamente custos não-compensados, que
têm que ser assumidos pela sociedade e que,
como os subsídios, causam impactos
desvirtuantes e prejudiciais. Por exemplo,
os custos ambientais e da saúde associados ao do automóvel não são cobrados dos
motoristas, o que barateia uma viagem individual de automóvel em comparação a
uma viagem de trem ou por outros meios.
Subsídios e externalidades não-compensadas, em conjunto, equivalem a 5–6% da
economia global – aproximadamente o
mesmo que a economia alemã.10
Tabela 5-1. Estimativas de Subsídios e
Externalidades Globais Ambientalmente Danosas
Setor
Agricultura
Combustíveis
Fósseis, Energia
Nuclear
Transporte
Rodoviário
Água
Pesca
Silvicultura
Total
Externalidades
Quantificáveis
Subsídios
(bilhões de dólares)
250
260
Total
510
100
200
300
400
50
25
14
380
180
n.d.
78
780
230
25
92
849
1.088
1.937
FONTE: vide nota final 10.
A eliminação gradativa de subsídios
destrutivos e o deslocamento, mesmo de
uma parcela desses recursos, para energia
renovável, tecnologias de eficiência, métodos limpos de produção e transportes públicos dariam um impulso poderoso à transição para a sustentabilidade.
Uma reforma fiscal ecológica é outra
medida-chave. A intenção é fazer com que os
preços de mercado reflitam o custo ambiental
pleno das atividades econômicas de uma forma mais adequada. Tributos de carbono,
123
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
impostos sobre o uso de energia não-renovável
e materiais virgens, taxas de aterros sanitários e outros encargos sobre resíduos e poluição incentivariam os fabricantes a distanciarem-se do uso pesado de combustíveis fósseis, incrementaria a produtividade energética
e de materiais e coibiria a geração de resíduos e emissões. Em vez da simples imposição
de um novo imposto, entretanto, o conceito
mais em discussão é a realocação fiscal. Os
sistemas fiscais atuais tornam o uso de recursos naturais extremamente barato e encarecem a mão-de-obra. A receita ecofiscal seria aplicada no alívio do ônus fiscal que hoje
recai sobre o trabalho, o que incentivaria a
criação de emprego.11
Discutida teoricamente desde o final
dos anos 70, a realocação fiscal ecológica
começou a tornar-se realidade nos anos
90 num número cada vez maior de países
europeus, com maior ímpeto entre 1990 e
1994. Dinamarca, Alemanha, Itália,
Holanda, Noruega, Suécia e Reino Unido
introduziram reformas que ligam uma série de impostos verdes a reduções em contribuições sociais. A receita de impostos
ambientais na União Européia (UE), antes
do ajuste da inflação, mais que quadruplicou entre 1980 e 2001, para 238 bilhões
de euros (Vide Tabela 5-2.) O grosso dessa receita deriva de impostos sobre gasolina, diesel e veículos a motor.12
Tabela 5-2. Receita Fiscal Ambiental, União Européia, Anos Selecionados
Impostos Ambientais
1980
Receita
54,6
1990
2001
(bilhões de euros)
130,4
237,7
(percentual)
Receita como Parcela de Todos os Impostos e
Contribuições Sociais
Receita como Parcela do Produto Interno Bruto
5,8
2,2
6,2
2,5
6,5
2,7
FONTE: vide nota final 12.
Não obstante esses totais, realocações
ecofiscais, até hoje, ainda são relativamente poucas. Impostos ambientais nos
países da OCDE representam, em média, apenas 6–7% de toda a receita fiscal. Impostos sobre folhas de pagamento e contribuições sociais, por outro lado,
têm uma carga de 25%. (Na União Européia, devido a seus programas sociais
extensos, o ônus fiscal da mão-de-obra
é muito maior – entre 45 e 47% no final
dos anos 90).13
124
Isso não quer dizer que nada foi conquistado. Na Alemanha, por exemplo, um
ecoimposto sobre formas diferenciadas de
consumo de energia foi introduzido originalmente em 1999, com quatro aumentos
anuais subseqüentes. Em 2002, já havia ajudado a evitar emissões de mais de 7 milhões de toneladas de dióxido de carbono
(CO2). As receitas anuais aumentaram de
aproximadamente US$ 4 bilhões em 1999
para cerca de US$ 19 bilhões em 2003. As
reduções nas contribuições sociais,
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
viabilizadas por esses recursos, ajudaram
a criar 60.000 postos adicionais de trabalho em 2002, um número que deverá crescer para 250.000 até 2010.14
Todas as economias modernas
podem ser mais enxutas sem
que isso implique em sua
condenação.
Infelizmente, ecoimpostos são enfraquecidos freqüentemente por uma série de brechas – concessão de isenções a certas indústrias ou fontes energéticas, aplicação de
alíquotas reduzidas a empresas de energia
intensiva ou concessão de reembolsos parciais a empresas. Isso quase sempre é feito em nome da preservação da
competitividade da indústria doméstica no
mercado internacional. Esses argumentos
perderiam força se as políticas nacionais
fossem harmonizadas. (Vide Capítulo 7.)
Isso é o que a União Européia está tentando fazer com uma diretriz para taxação de
energia, que deverá entrar em vigor em
2004. Até hoje, entretanto, as deliberações
iniciadas em 1997 resultaram num texto
desapontador de concessões que enfraqueceram o projeto original.15
Na Alemanha, o carvão e combustíveis
de jatos não estão sujeitos ao ecoimposto.
Empresas dos setores mineiros e
manufatureiros, concessionárias de serviços públicos, construtoras e empreendimentos agrícolas são taxados a apenas 20% da
taxa nominal aplicada ao gás natural, óleo
para aquecimento e eletricidade. Entretanto, no início de 2003, essa taxa preferenci-
al subiu para 60%, tendo o governo declarado que a indústria, em breve, terá que
pagar a taxa plena caso não atinja uma meta
voluntária para 2010 de redução das emissões de CO2 em até 35%.16
Para chegar a ser uma ferramenta importante para a sustentabilidade, o escopo
da reforma ecofiscal precisaria ser bem
mais ampla e eliminar todas as brechas.
Isso exigirá vencer difíceis batalhas políticas contra aqueles interessados em manter
o status-quo. O desafio é ilustrado pela experiência alemã, na qual políticos oposicionistas e setores da mídia lançaram uma
intensa campanha desabonadora do
ecoimposto. Tendo alcançado rapidamente
uma ampla aceitação junto a todos os partidos políticos e o grande público nos anos
90, a reforma ecofiscal sofreu um declínio
igualmente veloz em sua popularidade logo
que foi implementada.17
Outra ferramenta importante que os
governos podem utilizar é a licitação, conforme descrito detalhadamente no Capítulo 6. Seja em âmbito federal ou municipal,
autoridades governamentais nos países industrializados gastam trilhões de dólares em
concorrências públicas todo ano. Ao adquirir produtos ambientalmente desejáveis,
poderão exercer uma forte influência sobre o modo como esses produtos são
projetados, sua eficiência e durabilidade, e
também se são manejados responsavelmente no fim de sua vida útil. Regras de aquisição bem planejadas podem provocar inovações tecnológicas e ajudar a implantar
mercados verdes.18
Os governos poderão influenciar o desenvolvimento de produtos ainda mais, através de instrumentos normativos. Normas
125
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
nacionais têm sido adotadas em um número
crescente de países para poupar energia e
água, por exemplo. Em 2000, 43 países dispunham de programas de eficiência em eletrodomésticos – sete vezes mais do que em
1980. A maioria deles na Europa e Ásia.19
Normas que forçam o mercado a exigir
que fabricantes atendam padrões mínimos
são bem complementadas por programas
de ecorrotulagem, que motivam o mercado ao oferecer aos consumidores as informações necessárias para tomarem decisões
responsáveis de compra e, conseqüentemente, encorajar os fabricantes a projetarem e comercializarem produtos mais
ecoamigáveis.20
Esquemas de rotulagem foram desenvolvidos para uma vasta gama de produtos, incluindo eletrodomésticos, eletricidade, produtos de madeira e produtos agrícolas como
café e banana. Alguns enfocam um único
produto ou classe de produto, enquanto outros avaliam uma ampla série de itens. O
primeiro e mais abrangente programa de
rotulagem – o Anjo Azul, da Alemanha – acaba
de celebrar seu 25o aniversário. O número
de produtos cobertos cresceu de cerca de
100 em 1981 para 3.800 hoje. Tanto os programas de rotulagem governamentais quanto os privados cresceram aceleradamente
nos últimos anos.21
Na realidade, há rótulos concorrentes
em algumas áreas, o que pode confundir
os consumidores e até mesmo frustrar opções ecoamigáveis de consumo. Alguns
programas, particularmente aqueles patrocinados pelas indústrias, podem fazer alegações vagas ou sem substância sobre o
teor de reciclagem de um produto, métodos de cultivo orgânico, biodegradabilidade
e outras questões. Outros podem basear126
se em padrões de desempenho relativamente baixos. Preocupado com esses problemas, um relatório recente da OCDE argumentou: “A fim de evitar uma descrença
geral nos esquemas de rotulagem, algum
tipo de instrumento normativo pode ser
necessário para sinalizar aos consumidores que certos esquemas são mais adequados para certas questões que outros”. Esse
regulamento pode tomar a forma de programas de certificação. Uma variedade de
órgãos certificadores (agências governamentais ou grupos privados especializados)
pode avaliar se um produto está em conformidade com as normas vigentes ou verificar a correção das alegações ambientais
feitas pelos fabricantes.22
Todas as ferramentas discutidas aqui
– eliminação gradativa de subsídios,
realocação fiscal, licitações verdes, normas para produtos e programas de
rotulagem – precisarão ser expandidas
dramaticamente para colocar o consumo
numa base sustentável; mas o esforço para
conseguí-lo é extremamente árduo. O fracasso da comunidade internacional em
chegar a um acordo sobre reduções de
subsídios agrícolas, durante a rodada de
negociações no México, em setembro de
2003, demonstrou claramente quão arraigados são os interesses particulares.
Enxuto e Limpo
As economias industrializadas mobilizam
gigantescas quantidades de combustíveis,
metais, minerais, materiais de construção
e matérias-primas florestais e agrícolas. Um
estudo para a União Européia constatou que
em 1997 a produção per capita de materi-
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
ais somou cerca de 80 toneladas
Toneladas
por americano, 51 toneladas por 100
Fonte: WRI
cidadão da UE e 45 toneladas por
Produção Doméstica
japonês.
Por
meio
de 80
para Consumo
metodologias diferentes, um es60
tudo do World Resources Institute
Fluxos Ocultos
chegou a números semelhantes,
embora tenha assinalado os flu- 40
xos japoneses de materiais em
20
apenas 21 toneladas por pessoa.23
Nenhuma das economias in0
dustrializadas é hoje verdadeiraEstados Unidos
Alemanha
Japão
mente sustentável. Todas as
economias modernas podem ser
Figura 5-1. Necessidades Materiais Per Capita nos
Estados Unidos, Alemanha e Japão, 1996
mais enxutas sem que isso implique em sua condenação. Sendo seus níveis de padrão de vida
relativamente equivalentes, se europeus por mineradoras para chegar ao minério),
podem viver com praticamente metade materiais de dragagem, dióxido de carda produção material que é mobilizada bono e outras emissões e poluentes, além
para os americanos (e os japoneses até de perda do solo, devido à erosão de tercom menos), há bastante espaço para ras cultivadas. A expressão “fluxos oculmelhoria nos Estados Unidos – o arqué- tos” é adequada, pois são em grande parte
tipo do consumo que grande parte do res- invisíveis para os consumidores. É o
caso, particularmente, das crescentes
to do mundo esforça-se para emular.
Na realidade, a maior parte do fluxo quantidades de resíduos associados à
de materiais nas economias industrializa- extração de recursos nos países em dedas não tem finalidade alguma e, efetiva- senvolvimento, posteriormente importa24
mente, nunca passa pelas mãos de con- dos pelas nações industrializadas.
Lidar com fluxos ocultos exige que
sumidor algum. Os chamados fluxos
algumas
das atividades mais destrutivas
ocultos representam um pouco mais de
–
mineração,
fundição e extração de ma60% do fluxo total na UE – uma parcela
deira,
particularmente
– sejam reduzidas.
que tem se mantido mais ou menos
inalterada nas últimas duas décadas. Nos Isso pode ser obtido através da melhoria
Estados Unidos, fluxos ocultos são res- da eficiência energética e material,
ponsáveis por mais de 70%; no Japão, incrementando a reciclagem e reutilização,
por um pouco menos da metade. (Vide e estendendo a vida útil dos produtos para
Figura 5-1.) Esses fluxos ocultos inclu- que haja menor necessidade de extração
em rejeitos da mineração e de outras in- de matérias-primas virgens. Mas há tamdústrias, acúmulo de terra (terra retirada bém bastante espaço para redução do
127
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
impacto ambiental dos bens e serviços
efetivamente oferecidos aos consumidores. Desmaterialização, produção limpa e
sistemas de laço fechado de resíduo zero
são alguns dos conceitos-chave por trás
de uma nova abordagem.
Uma variedade de estudos e avaliações
afirmou o potencial de uma estratégia de
“desmaterialização” – um conceito criado
pelos co-fundadores do Rocky Mountain
Institute, Amory e Hunter Lovins, o ecoempresário Paul Hawken e o pesquisador
e político alemão Ernst Ulrich von
Weizsäcker. Objetiva reduzir o volume de
matérias-primas necessárias para criação
de um produto, através, por exemplo, da
produção de papel mais fino e veículos
mais leves e redução do volume de energia necessária para operar produtos – de
lâmpadas a lavadoras e automóveis. Especificamente, os defensores da desmaterialização pugnam por políticas “Fator
10”, que buscam oferecer um dado volume de bens e serviços com um décimo de
insumo material.25
Embora o potencial tecnológico para
desmaterialização esteja longe de ser
exaurido, já está havendo um certo
desatrelamento entre crescimento econômico e produção material. Na União Européia, por exemplo, a produtividade dos
recursos (medida como produto interno
bruto por necessidades totais de materiais) melhorou 39% entre 1980 e 1997.
Porém, essa conquista não se traduziu em
menor demanda global pelos recursos: na
Europa Ocidental, América do Norte e Japão, o consumo total de recursos tem permanecido relativamente constante e em
níveis altos e insustentáveis.26
128
E por quê? Enquanto o consumo de
materiais, por unidade, declinou, as preferências e desejos do consumidor mantêm-se numa espiral ascendente: carros e
casas estão cada vez maiores e mais sofisticados, as viagens são para lugares
cada vez mais distantes, dietas estão cada
vez mais concentradas em carnes e há
sempre um fluxo constante de “novidades” e acessórios afins. E as economias
industrializadas passaram por inesperado
efeito repique: menor energia por unidade
ou menor exigência de materiais equivale
a menores custos de consumo, o que, por
sua vez, encoraja maior uso. Ganhos de
eficiência vêm sendo, repetidamente, neutralizados ou superados. Por exemplo,
maior eficiência de combustível significa
que motoristas podem viajar mais longe
pelo mesmo custo. E o número cada vez
maior de automóveis significa que a demanda de combustível e materiais como
alumínio, cobre, aço e plásticos, da indústria automotiva, continua subindo. A despeito da importância da desmaterialização,
ela, por si só, não será suficiente frente à
força irresistível do consumo.27
Os produtos tóxicos da nossa sociedade material são outro motivo de preocupação. Defensores da “produção limpa” dizem que há diversas oportunidades
para reduzir, e talvez eliminar, a dependência de materiais tóxicos na industrialização, evitando a poluição atmosférica
e hídrica e impedindo a geração de resíduos perigosos.28
Uma fábrica de papel e celulose no Rio
Androscoggin, em Jay, Maine, é um
exemplo inspirador. No início dos anos
90, a fábrica, pertencente ao gigante industrial International Paper, era grande
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
poluidora e mantinha um relacionamento
antagônico com seus operários e comunidade local. Uma reforma administrativa resultou em colaboração ativa com
interessados locais, e regulamentos
ambientais estaduais e comunitários foram fatores fundamentais de mudança.
Um foco inicial no modelo de contenção
de efluentes para posterior tratamento e
destinação, conhecido como end-of-pipe,
cedeu lugar rapidamente a medidas de
prevenção de poluição. A fábrica reduziu
dramaticamente as liberações de
poluentes orgânicos e mercúrio; eliminou
emissões de dioxina, furano e clorofórmio e reduziu as emissões de particulados
à metade. Reduziu, também, a geração
de resíduos perigosos, de 2,72 milhões
de quilos em 1990 para 136.000 quilos
em 1998, e cortou o volume de resíduos
sólidos em aterros em 91%.29
De forma mais ambiciosa, a administração da fábrica esforçou-se para se afastar da ortodoxia industrial em que, na
modalidade “berço-a-túmulo”, matériasprimas são extraídas e processadas, e
substâncias não diretamente úteis à indústria transformam-se em refugo indesejado.
Um sistema alternativo “berço-a-berço”
busca criar sistemas integrados, de laço
fechado, onde os subprodutos de uma indústria viram insumo de outra, em vez de
converterem-se em bombas-relógio
ambientais. (Vide Quadro 5-1.) Alguns
subprodutos, incluindo as cinzas da incineração de lodo e casca e dióxido de carbono de um forno de cal, estão sendo utilizados por outras indústrias locais. Na
realidade, várias empresas decidiram implantar-se próximas à fabrica para aproveitamento dos seus subprodutos.30
Na Europa Ocidental, América do
Norte e Japão, o consumo total de
recursos tem permanecido em níveis
altos e insustentáveis.
Ambientalistas em todo o mundo consideram a comunidade de Kalundborg, na Dinamarca, como desbravadora da ecologia
industrial. Uma teia cada vez mais compacta
de relações simbiônticas entre várias empresas locais foi lentamente tecida ao longo das
últimas três décadas, gerando ganhos econômicos e ambientais. Por exemplo, o gás
natural que antes queimava nas torres da
maior refinaria da Dinamarca está sendo utilizado como insumo numa fábrica de papelão; cinza em suspensão, dessulfurizada, de
uma termelétrica a carvão (também a maior
do país), é destinada a uma fábrica de cimento; e lodo contendo nitrogênio e fósforo
de uma indústria farmacêutica é utilizado
como fertilizante por agricultores vizinhos.31
Em vez de um plano diretor, a rede existente em Kalundborg evoluiu, na realidade,
lenta e espontaneamente a partir de uma série
de acordos bilaterais, todos concluídos por
serem economicamente atraentes. Essa experiência apresenta uma alternativa real e efetiva à ortodoxia industrial. Porém, a replicação
desse modelo pode não ser muito fácil. O
estabelecimento de uma simbiose industrial
de resíduo-zero leva um tempo considerável.
Talvez seja mais viável construir essas teias
recíprocas peça por peça, em vez de desenvolver projetos excessivamente ambiciosos
logo de início. Mesmo assim, a noção de produção limpa está despertando um interesse
crescente em todo o mundo. Entre outras,
algumas empresas estão se empenhando nesse objetivo na China, Fiji, Índia, Japão,
Namíbia, Filipinas, Porto Rico e Tailândia.32
129
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
QUADRO 5-1. AALTERNATIVA BERÇO-A-BERÇO
Imaginemos um mundo onde tudo que
fazemos, usamos e consumimos nutre a
natureza e a indústria – um mundo onde o
crescimento é bom e a atividade humana gera
uma pegada ecológica agradável e restauradora.
Embora isso possa parecer heresia para
muitos no mundo do desenvolvimento
sustentável, as qualidades destrutivas do
sistema industrial moderno de berço-a-túmulo
podem ser consideradas como resultado de um
problema fundamental de planejamento, e não a
conseqüência inevitável do consumo e da
atividade econômica. Efetivamente, o bom
planejamento – o planejamento ético, baseado
nas leis da natureza – pode transformar o fazer
e consumir numa força regeneradora.
Esse novo conceito de planejamento –
conhecido como berço-a-berço – vai além da
modernização de sistemas industriais para
redução dos seus efeitos danosos. Abordagens
convencionais à sustentabilidade
freqüentemente fazem do uso eficiente de
energia e materiais seu objetivo final. Embora
possa ser uma estratégia útil de transição, tende
a reduzir os impactos negativos sem
transformar a atividade danosa. A reciclagem de
carpetes, por exemplo, pode reduzir o
consumo, porém, caso o forro contenha PVC,
como a maioria dos forros de carpetes, o
produto reciclado ainda está numa viagem só
de ida para o aterro, onde se transforma em
resíduo perigoso.
O planejamento berço-a-berço, por outro
lado, oferece um arcabouço onde os ciclos
efetivos e regenerativos da natureza
proporcionam modelos para projetos
humanos totalmente positivos. Dentro dessa
estrutura podemos criar economias que
purificam o ar, terra e água; que dependem da
receita solar e não geram nenhum resíduo
tóxico; que utilizam materiais seguros e sadios,
reabastecendo o planeta e sendo eternamente
reciclados, e que geram benefícios que realçam
toda a forma de vida.
Ao longo da última década, a estrutura
berço-a-berço evoluiu constantemente da
teoria à prática. No mundo industrial, está se
criando um novo conceito de materiais e de
fluxos de materiais. Da mesma forma que
ocorre no mundo natural, onde o “resíduo” de
um organismo circula através de um
130
ecossistema, proporcionando alimento para
outras criaturas vivas, os materiais de berço-aberço circulam em ciclos de laço fechado,
fornecendo nutrientes para a natureza ou
indústria. Esse modelo reconhece dois
metabolismos, dentro dos quais os materiais
fluem como nutrientes sadios.
Primeiro, os ciclos nutrientes da natureza
constituem o metabolismo biológico.
Materiais destinados a um fluxo ótimo no
metabolismo biológico são nutrientes
biológicos. Produtos concebidos com esses
nutrientes, como embalagens biodegradáveis,
são destinados a serem utilizados e devolvidos
com segurança ao meio ambiente, para
alimentar sistemas vivos. Segundo, o
metabolismo técnico, destinado a refletir os
ciclos berço-a-berço do planeta, é um sistema
de laço fechado, em que recursos sintéticos e
minerais de alta tecnologia, e valiosos –
nutrientes técnicos – circulam num ciclo
perpétuo de produção, recuperação e
refabricação. Idealmente, todos os sistemas
humanos que compõem o metabolismo técnico
são movidos pela energia renovável do sol.
Nutrientes biológicos e técnicos já estão no
mercado. O tecido de estufaria Climatex
Lifecycle é uma mistura de lã livre de resíduos
de pesticidas e rami cultivado organicamente,
tingido e processado inteiramente com
produtos químicos não-tóxicos. Todos seus
insumos de produto e processo foram
definidos e selecionados em função da
segurança humana e ecológica, dentro do
metabolismo biológico. Resultado: os retalhos
do tecido são transformados em feltro e
utilizados por clubes de jardim como matéria
vegetal para cultivo de frutas e legumes,
devolvendo os nutrientes biológicos do tecido
ao solo.
Enquanto isso, a Honeywell está lançando
uma fibra de carpete de alta qualidade chamada
Zeftron Savant, feito da fibra de nylon 6,
perpetuamente reciclável. Zeftron Savant foi
projetada para ser recuperada e repolimerizada
– retornada a suas resinas constituintes – para
transformar-se num novo material para novos
carpetes. Na realidade, a Honeywell pode
recuperar o velho e convencional nylon 6 e
transformá-lo em Zeftron Savant, ou seja, uma
efetiva reciclagem “ascendente”, e não
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
QUADRO 5-1. (continuação)
“descendente”, de um material industrial. O
nylon é “rematerializado”, e nãodesmaterializado – um produto
verdadeiramente berço-a-berço.
Na indústria de carpetes comerciais,
sistemas de recuperação de materiais estão
proporcionando um modelo para o
desenvolvimento de metabolismos técnicos. A
Shaw Industries, por exemplo, desenvolveu
uma placa de carpete de nutriente técnico para
seus clientes comerciais. A empresa garante
que toda fibra de seus carpetes de nylon 6 será
recebida de volta e retransformada em fibra de
nylon 6 para carpete, e seu forro seguro de
poliolefina retornado a forro seguro de
poliolefina. Matéria- prima a matéria-prima.
Um ciclo de berço-a-berço.
A placa de carpete de nutriente técnico da
Shaw é concebida como um produto de serviço,
um elemento-chave da estratégia berço-a-berço.
Produtos de serviço são bens duráveis, como
carpetes e lavadoras, projetados por seu
fabricante para serem devolvidos e
reutilizados.O produto presta um serviço ao
cliente enquanto o fabricante mantém a
propriedade dos bens materiais do produto. Ao
fim de um determinado período de uso, o
fabricante retoma o produto e reutiliza seus
materiais em outro produto de alta qualidade.
Amplamente praticado, o conceito de produto
de serviço pode mudar o estilo de consumo, à
medida que os sistemas humanos movidos a
energia renovável reutilizam materiais valiosos,
através dos ciclos de vida de muitos produtos.
Em larga escala, esse conceito pode
transformar a natureza das economias. Em
Chicago, por exemplo, esses princípios são
um referencial para os esforços do Prefeito
Richard Daley de transformar a cidade na mais
verde da América, um pólo de eficiência
energética e fluxos benéficos de materiais.
Numa economia berço-a-berço, as cidades
são o lar e a fonte principais da nutrição
técnica – o local onde metais são forjados,
polímeros sintetizados e tratores,
computadores e moinhos desenhados e
fabricados. As cidades enviam esses materiais
para o mundo, recebendo-os de volta à
medida que transitam pelos ciclos de laço
fechado. Enquanto isso, o campo pode ser
considerado o lar do metabolismo
biológico.Os materiais lá gerados – alimentos,
madeiras, fibras – são criados por meio das
interações da energia solar, solo e água e são a
fonte da nutrição biológica das comunidades
rurais e cidades vizinhas. Um dos papéis
fundamentais das cidades nesse metabolismo
é devolver a nutrição biológica de forma
segura e sadia, digamos, como fertilizante
limpo, ao solo rural. Esses fluxos de
nutrientes e energia são os metabolismos
duplos da cidade viva, a força motriz das
economias vibrantes do futuro.
Mesmo nações grandes e influentes como a
China adotaram estratégias berço-a-berço.
Criado a partir de uma tradição de 4.000 anos
de agricultura sustentável, o Vice-Ministro de
Ciência e Tecnologia, Deng Nan, anunciou em
setembro de 2002 que a China dará início ao
desenvolvimento de indústrias e produtos
com base em princípios berço-a-berço,
através do Centro de Desenvolvimento
Sustentável China–Estados Unidos. A China
já está desenvolvendo uma vila berço-a-berço
como também empreendimentos de energia
solar e eólica.
A estratégia berço-a-berço revela nossos
projetos como expressões encantadoras de
criatividade, como sistemas de sustentação de
vida em harmonia com os fluxos de energia,
almas humanas e outros seres vivos. Quando
isso tornar-se o símbolo das economias
produtivas, o próprio consumo terá sido
transformado.
– William McDonough e Michael
Braungart, McDonough Braungart Design
Chemistry
______________________________________
FONTE: vide nota final 30.
131
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
Tome de Volta
É muito mais provável que o consumo de
recursos seja minimizado e a geração de
resíduos e emissões evitada se os fabricantes, desde o início, incorporarem considerações ambientais ao projeto de produtos,
desenvolvimento de tecnologias de produção e seleção de materiais. A fim de incentivar as empresas a seguirem essa direção,
um número crescente de governos promulgou leis que tratam do “princípio de responsabilidade do produtor” (PRP), obrigando as empresas a aceitarem os seus produtos de volta no final de sua vida útil. Esses
princípios proíbem disposição final em aterros e incineração da maioria dos produtos,
estabelecem requisitos mínimos de
reutilização e reciclagem, especificam se os
produtores devem ser responsabilizados
individualmente ou coletivamente pelos produtos devolvidos e estipulam se os produtores podem cobrar uma taxa quando recebem seus produtos de volta.33
A meta do PRP é induzir fabricantes a
reavaliarem os impactos totais do ciclo de
vida de seus produtos. Idealmente, eliminarão peças desnecessárias, abandonarão
embalagens dispensáveis e desenharão produtos facilmente desmontáveis, recicláveis,
remanufaturáveis ou reutilizáveis.34
Parte do desafio é desenvolver materiais que possam ser facilmente reutilizados
ou que, de outra forma, não permaneçam
em aterros durante séculos. Por exemplo,
a gigante química alemã BASF inventou um
novo material feito de fibra de nylon 6 infinitamente reciclável; pode ser retornada a
suas resinas constituintes e transformada
em novos produtos. A empresa têxtil suíça
132
Rohner e a empresa de desenho têxtil Design
Tex desenvolveram, em conjunto, um tecido de estofamento que, uma vez removido de uma cadeira ao final de sua vida útil,
decompõe-se naturalmente.35
A filosofia do PRP nasceu na Diretiva
de Embalagem da Alemanha, em 1991.
Responsabilizando os produtores pela devolução e manejo dos resíduos das embalagens, a lei provocou reduções constantes de materiais de embalagem. E o mais
importante: atribui-se a ela a motivação de
muitos governos na Europa, Ásia e América Latina abraçarem esse conceito. Desde então, a abordagem PRP disseminouse muito além das embalagens para abranger uma variedade crescente de produtos
e indústrias, incluindo aparelhos elétricos
e eletrônicos, máquinas de escritório, automóveis, pneus, mobília, produtos de
papel, baterias e materiais de construção.
(Vide Tabela 5-3.)36
A Europa continua no centro do movimento PRP. Muitos governos europeus instituíram leis sobre o PRP e a União Européia promulgou diretivas para embalagens,
produtos eletrônicos, baterias e automóveis
numa iniciativa para harmonizar esforços
nacionais às vezes divergentes.37
Motivada por preocupações sobre o
acelerado acúmulo de lixo elétrico e eletrônico de computadores, celulares e equipamentos semelhantes, a UE adotou uma
Diretiva para Equipamentos Elétricos e Eletrônicos em fevereiro de 2003. Os países
membros devem implementar legislação
nacional até agosto de 2004 (estão livres
para impor políticas mais restritivas) e os
produtores dos equipamentos terão que
implantar sistemas de devolução e manejo
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
Tabela 5-3. Leis sobre o Princípio de Responsabilidade do Produtor, Setores Selecionados1
Área de Produção
ou Setor
Países com Legislação PRP
Embalagens
Mais de 30 países, inclusive Alemanha, Brasil, Coréia do Sul, China, Holanda,
Hungria, Japão, Peru, Polônia, República Tcheca, Suécia, Taiwan e Uruguai
(apenas vasilhames de bebidas).
Equipamentos Elétricos
e Eletrônicos
Atualmente, mais de uma dúzia de países, inclusive Alemanha (voluntariamente),
Bélgica, Brasil, Coréia do Sul, China, Dinamarca, Holanda, Itália, Japão, Noruega,
Portugal, Suécia, Suíça e Taiwan.
Veículos
Alemanha, Brasil, Dinamarca, França, Holanda, Japão, Suécia e Taiwan.
Pneus
Brasil, Coréia do Sul, Finlândia, Suécia e Taiwan; Uruguai está considerando
medidas voluntárias.
Baterias
Pelo menos 15 países, inclusive Alemanha, Áustria, Brasil, Holanda, Japão,
Noruega e Taiwan; Uruguai está considerando medidas voluntárias.
1
As diretivas na União Européia foram promulgadas em todos os setores cobertos pela tabela, exceto
pneus. Além das regras nacionais adotadas individualmente por países membros da UE, essas diretivas
são obrigatórias para todos os atuais 15 membros (e serão obrigatórias para os 10 países do Leste
Europeu que estão prestes a se tornar membros).
FONTE: vide nota final 36.
do lixo elétrico e eletrônico gratuitamente
aos consumidores até agosto de 2005. Para
produtos comercializados antes de agosto
de 2005, os custos deverão ser compartilhados entre todos os produtores, conforme sua participação de mercado; para itens
vendidos posteriormente, os produtores têm
responsabilidade individual. (Embora a responsabilidade individual seja um incentivo
para adoção de mudanças de projeto
ambientalmente amigáveis que reduzam os
custos dessa responsabilidade, há também
o perigo de sistemas individuais de retorno
provocarem duplicação de esforços e possivelmente maiores custos.)38
Uma diretiva paralela sobre Restrições a
Substâncias Perigosas exige que os fabri-
cantes de equipamentos elétricos e eletrônicos não mais utilizem chumbo, mercúrio,
cádmio, cromo hexavalente e retardadores
de chama bromados PBDE e PBB em produtos vendidos após 1o de julho de 2006. Há
uma preocupação crescente em todo o mundo quanto a esses materiais perigosos; o
Japão é o líder na eliminação dessas substâncias dos produtos elétricos e eletrônicos
e a China anunciou que modelará sua política à diretiva da UE.39
Os Estados Unidos ficaram para trás
na questão da responsabilidade do produtor. A oposição da indústria bloqueou
legislação federal sobre devolução. É tentador presumir que empresas norte-americanas que operam mundialmente aca-
133
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
barão decidindo que, já que são obrigadas a atender às exigências do PRP na
Europa e em outros países, poderiam
adotar essas políticas também nos Estados Unidos. A IBM começou a implantar
programas de devolução já em 1989, na
Europa, e depois iniciou um programa
mais restrito nos Estados Unidos em
1997. Mas a IBM pode ser uma exceção;
o que se vê atualmente oferece pouca
esperança para que isso ocorra.40
Vários governos estaduais e municipais (incluindo Flórida, Maine,
Massachusetts, Minnesota, Carolina do
Sul e Wisconsin) demonstraram interesse em leis de devolução no estilo europeu. Caso surgisse um conjunto de regulamentos locais, poder-se-ia esperar
que as empresas decidissem que regras
nacionais (embora talvez ainda voluntárias) seriam preferíveis. Foi exatamente
isso que ocorreu em relação às baterias
de níquel-cádmio – tendo a indústria lançado uma iniciativa nacional de devolução e reciclagem em 1995.41
Algumas empresas estão implementando ações voluntárias de devolução,
para que se evitem programas obrigatórios. Sob crescente pressão das autoridades normativas e grupos locais para
cuidarem do lixo eletrônico, grandes fabricantes de computadores como Dell,
Hewlett Packard e IBM implantaram programas voluntários. Todavia, as taxas de
devolução tendem a ser baixas, pois cobram dos consumidores US$ 20–30 na
devolução do produto.42
Outras empresas e indústrias vêem o
PRP como uma oportunidade de reduzir
custos de produção ou angariar simpatia
de consumidores ambientalmente consci134
entes. Fabricantes de carpetes e alguns dos
seus maiores fornecedores, por exemplo,
vêem a devolução como um veículo de
vantagem competitiva, tendo iniciado uma
variedade de programas para a reutilização
e reciclagem de carpetes usados. A Kodak
deu início a um programa de devolução de
câmeras descartáveis em 1990 (porém
acredita-se que um quarto dessas câmeras
ainda acabe em lixões). A Nike implantou
um programa chamado “Reutilize-um-Sapato”, numa reciclagem “descendente” de
tênis usados. A borracha da sola e a espuma da meia-sola dos tênis usados são convertidas em material de revestimento de
pistas de corrida e outras instalações atléticas e playgrounds. O tecido da parte superior transforma-se em estofamento para
carpetes.43
Mas o progresso ainda é limitado nos
Estados Unidos. E, apesar de avanços
significativos na Europa, ainda há alguns
desafios técnicos e políticos. A reciclagem de plásticos tem mostrado-se resistente a soluções fáceis, como também certos materiais de embalagem que
consistem de um amálgama complexo de
camadas de materiais diferentes. A oposição da indústria está longe de ser derrubada. Na Alemanha, o setor de varejo
está minando uma tentativa ambiciosa de
exigir a devolução de todas as garrafas e
latas de bebida e desencorajar o uso de
descartáveis. Finalmente, o ritmo acelerado com que muitos aparelhos eletrônicos, como celulares, palm-pilots e computadores, ficam obsoletos é um desafio
tremendo: é difícil implantar sistemas eficientes de coleta quando o giro é tão acelerado e o volume de materiais acumulase tão rapidamente.44
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
Repensando Produtos e
Serviços
As economias industriais modernas são capazes de produzir imensas quantidades de
bens com tanta facilidade, e a um custo
tão baixo, que há um grande incentivo para
considerar a maioria das mercadorias como
descartável, destinada a se desfazer rapidamente, em vez de projetar e fabricar durabilidade. Muitos bens de consumo são
feitos de tal forma que desencorajam reparos e substituição de peças e, às vezes, tornam isso praticamente impossível. E mesmo quando algo pode ser reparado, o custo é freqüentemente muito alto em relação
a um produto novo. Isso se deve ao fato
de o custo de descarte dos valiosos materiais e mão-de-obra incorporados em novos produtos não estarem plenamente refletidos no preço de compra.
Durabilidade, reparabilidade e capacidade
de instalar novas versões (upgradability) são
essenciais para minorar o impacto ambiental
do consumo. Para facilitar reforma e aperfeiçoamento (para que a durabilidade não se
traduza em um beco sem saída tecnológico
que impeça a introdução de desenhos mais
eficientes), uma abordagem “modular” dá
acesso a peças e componentes individuais,
permitindo sua fácil substituição. Empresas
como Xerox (copiadoras e impressoras) e
Nortel (telecomunicações) adotaram essa filosofia. Trabalhando para estender e
incrementar a vida útil de um produto, as
empresas poderão extrair desempenhos cada
vez melhores dos recursos incorporados nos
produtos, em vez de vender a maior quantidade possível. Embora a legislação do PRP
não trate da questão da longevidade de um
produto, pode ser um incentivo para as empresas seguirem esse caminho.45
Quando produtos não se desgastam rapidamente, não precisam ser substituídos
com tanta freqüência. Uma implicação óbvia é que serão produzidos menos produtos, o que significaria que as empresas fariam menos negócios. Mas haverá maior
oportunidade e incentivo para manter, reparar, atualizar, reciclar, reutilizar e
remanufaturar produtos, e assim mais negócios e maior potencial de emprego durante a vida de um produto.
A reciclagem e remanufatura já tornaram-se indústrias de porte. A Agência de
Reciclagem Internacional, em Bruxelas, estima que em pelo menos 50 países a indústria de reciclagem processa mais de 600
milhões de toneladas anualmente. Com um
faturamento anual de US$ 160 bilhões, a indústria emprega mais de 1,5 milhão de pessoas. A reciclagem não só mantém os materiais fora de lixões e incineradores, como
proporciona uma poupança substancial de
energia ao substituir a extração de novas
matérias-primas e processamento por materiais secundários. (Vide Tabela 5-4.)46
Tabela 5-4. Economia de Energia Obtida pela
Substituição da Produção Primária por
Materiais Secundários
Material
Economia
Alumínio
Cobre
Plástico
Aço
Chumbo
Papel
(percentual)
95
85
80
74
65
64
FONTE: vide nota final 46.
135
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
A remanufatura também está transformando-se em um grande negócio, particularmente em áreas como componentes de
veículos a motor. Essa atividade em todo o
mundo poupa, no mínimo, 11 milhões de
barris de petróleo por ano – um volume de
eletricidade igual ao gerado por cinco usinas
nucleares – e um volume de matéria-prima
que encheria 155.000 vagões ferroviários
anualmente. Nos Estados Unidos, a
remanufatura é um negócio de mais de US$
50 bilhões anuais, empregando quase meio
milhão de pessoas diretamente em 73.000
empresas diferentes; isso equivale aproximadamente a toda a força de trabalho do setor
de bens de consumo duráveis nos Estados
Unidos. De acordo com Walter Stahel, do
Product-Life Institute, em Genebra, o setor
de remanufatura nos países membros da UE
representa cerca de 4% do PIB da região.47
A Xerox é uma das pioneiras desse conceito, tendo adotado uma iniciativa de Manejo de Reciclagem de Bens em 1990.
Embora a empresa já tenha feito alguma
remanufatura, esse programa levou a Xerox a projetar seus produtos desde o início
tendo a remanufatura em mente, e a fazer
cada peça reutilizável ou reciclável. Como
resultado, 70–90% dos equipamentos (medidos em peso) retornaram à Xerox no final de sua vida útil para serem refeitos. Da
mesma forma que alguns dos seus concorrentes, a Xerox também remanufatura
cartuchos usados para copiadores e impressoras; em 2001, refez ou reciclou cerca de 90% dos 7 milhões de cartuchos e
toners devolvidos por seus clientes. No total, a empresa calcula que projetos
ambientalmente amigáveis mantiveram pelo
menos meio milhão de toneladas de lixo eletrônico fora de lixões entre 1991 e 2001.48
136
O princípio da responsabilidade do produtor, a remanufatura e conceitos afins levam, logicamente, a toda uma nova maneira de pensar os produtos, como uma economia funciona e o que deve alcançar. Em
vez de simplesmente vender bens – o máximo possível, sem se interessar com o que
acontece após a venda –, os fabricantes
avançam para prestar um serviço desejado. No futuro, os consumidores poderão
arrendar ou alugar produtos, em vez de
adquiri-los. Ao manter a propriedade, os
fabricantes também mantêm-se responsáveis pela manutenção e reparos adequados,
tomam as medidas necessárias para estender a vida útil e, finalmente, recuperam os
componentes e materiais para reciclagem,
reutilização ou remanufatura. Podem trabalhar diretamente com seus clientes ou
varejistas. Mas a ênfase estaria no “varejo
de qualidade”, assessorando clientes sobre
as melhores opções de arrendamento disponíveis e sobre qualidade e manutenção
dos produtos; aconselhando-os como estender a vida útil com um mínimo de consumo de energia e materiais e diagnosticando se os aperfeiçoamentos ou outras
mudanças maximizariam a utilidade de um
determinado produto. Tal sistema seria
como construir um tipo totalmente novo
de economia de serviços, muito diferente
da economia de serviços atual.49
Consumir melhor não significa
deixar de manter a moderação
nos níveis gerais de consumo.
Várias empresas começaram a transformar esse conceito em realidade. A Xerox já
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
arrenda três quartos dos seus equipamentos. A Carrier Corp., em vez de vender equipamento de ar-condicionado, está criando
um programa de venda de serviços de refrigeração, assessorando clientes sobre medidas de eficiência energética que ajudarão
a reduzir as necessidades de ar-condicionado. A Dow Chemical e Safety-Kleen deram início ao arrendamento de solventes
orgânicos para clientes industriais e comerciais, aconselhando-os quanto ao uso adequado e recuperando esses produtos, em
vez de deixar o cliente com a responsabilidade de descartá-los. Isso é um forte incentivo para utilizarem menos solventes.50
Algumas empresas especializam-se em
“contratação de desempenho”, ajudando
clientes institucionais – empresas privadas,
órgãos governamentais, hospitais e outros
– a identificarem formas de reduzir seu
consumo de energia, matérias-primas e
água. Num contraste marcante com os interesses comerciais tradicionais, impediu o
consumo de recursos e evitou o desperdício e poluição que fazem essas empresas
prosperarem.51
Um exemplo freqüentemente citado de
uma empresa buscando reinventar-se dessa
forma é a Interface, um dos maiores fabricantes de tapetes comerciais. Após seu fundador e diretor-presidente, Ray Anderson,
experimentar uma epifania ambiental em
meados dos anos 90, a empresa empenhouse numa iniciativa para reduzir drasticamente
seu impacto ambiental, saindo de vendas
para arrendamento de carpetes. Conseguiu
reduzir substancialmente seu consumo de
água e energia e cortou sua dependência
de matérias-primas de petróleo. Em 1999,
introduziu “solenium”, um material que dura
quatro vezes mais que os carpetes tradici-
onais, utiliza 40% menos matéria- prima e
incorpora energia, podendo ser totalmente remanufaturado em novos carpetes, em
vez de ser descartado ou sofrer
“reciclagem descendente” para produtos
de menor valor.52
Talvez no seu lance mais audacioso, a
Interface introduziu o “Arrendamento Sempre Verde” em 1995, com o qual a empresa
retém a propriedade do produto e permanece responsável por mantê-lo limpo mediante uma remuneração mensal. Inspeções regulares permitiriam à empresa concentrarse apenas na substituição das placas com
maior desgaste, em vez de todo o carpete,
como no passado. Essa substituição mais
direcionada ajuda a reduzir o volume de
material necessário em cerca de 80%.53
Porém, apenas uma meia-dúzia de arrendamentos foram efetivamente realizados,
pois a maioria dos clientes optou pela compra tradicional. O programa não teve sucesso por várias razões, algumas específicas
ao negócio de carpetes. Alguns clientes acharam o contrato de arrendamento muito complexo ou muito inflexível, amarrando-os num
acerto de longo prazo que limitava suas opções futuras. Mas talvez o maior problema
tenha sido o custo – um reflexo da ênfase
da Interface em material e serviços de manutenção de alta qualidade. No final, a empresa viu-se forçada a abandonar o arrendamento “sempre-verde”.54
A história da Interface é, ao mesmo tempo, encorajadora e acauteladora. É claro
que o novo modelo comercial que a empresa estava propondo ainda enfrenta obstáculos gigantescos. Mas, da mesma forma que ocorre com todos os desafios radicais às práticas estabelecidas, uma aceitação ampla não virá facilmente.
137
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
Consumo Público e
Crédito Sustentável
Tecnologias mais eficientes e limpas são instrumentos essenciais da caixa de ferramentas da sustentabilidade. E a emergência de
um novo tipo de economia de serviços proporcionará espaço adicional de manobra na
busca de uma economia mais sustentável.
Mais cedo do que tarde, todavia, precisaremos confrontar o espectro do consumismo
insaciável. Há o perigo do dragão do consumo suplantar até mesmo métodos e
tecnologias mais sofisticados criados para
tornar o consumo mais enxuto e
supereficiente. Consumir melhor não significa deixar de manter a moderação nos níveis
gerais de consumo. Vale recordar o alerta do
economista ecológico Herman Daly: “Fazer
com maior eficiência aquilo que não deveria
nem ter sido feito não é motivo de alegria”.53
Como deveriam conduzir-se as sociedades na tarefa de desencorajar o consumo “excessivo”? Embora um imposto de
luxo, bem planejado, possa desempenhar
um papel útil, sempre haverá polêmica
sobre o que seja luxo desnecessário. Aquiescendo à “soberania do consumidor”, as
sociedades capitalistas deixam quase que
inteiramente a critério das pessoas a decisão de comprar, considerando regulamentos governamentais como uma intrusão
indesejada (enquanto convenientemente
ignoram as tentativas incessantes de manipulação dos “consumidores soberanos”
através de campanhas publicitárias). Claramente, uma abordagem “comandar-econtrolar” não é viável nem desejável. Mas
enquanto decisões específicas de fazer
compras devem ficar a critério de indiví-
138
duos e famílias, há um aspecto mais amplo e estrutural para o qual os governos
precisam atentar.
A predominância de padrões de consumo
altamente individualizados leva, inevitavelmente, à multiplicação de muitos bens e serviços
em escala grandiosa. Isso praticamente assegura a redundância e muito mais necessidades materiais do que seria necessário. Governos e comunidades podem agir para conseguir um melhor equilíbrio entre formas
públicas e privadas de consumo. Mesmo nas
sociedades mais orientadas para o mercado
há bibliotecas, piscinas e parques públicos.
Esse compartilhamento organizado de equipamentos e amenidades pode ser ampliado.
Por exemplo, o compartilhamento de automóveis está ganhando adesões rapidamente
em cidades européias e em outros países,
proporcionando uma alternativa necessária,
se bem que parcial, à propriedade de veículos e ao aluguel estritamente comercial de
automóveis. Governos podem facilitar essas
iniciativas estabelecendo regimes fiscais favoráveis. Comunidades locais também podem
implantar sistemas de compartilhamento de
ferramentas, para que ninguém precise possuir individualmente uma furadora, serra circular ou cortador de grama.56
A ação governamental também é indispensável para superar os imensos empecilhos estruturais a níveis menores de consumo e a formas mais públicas de consumo. E isso é muito mais evidente nos transportes: padrões de habitações espalhadas,
de baixa densidade, traduzem-se em grandes distâncias separando as residências,
locais de trabalho, escolas e lojas – fazendo com que andar a pé, de bicicleta ou pegar um ônibus ou metrô torne-se uma ta-
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
refa difícil ou impossível. Embora a deci- consumidor cada vez mais alto. Porém, a
são sobre que tipo de automóvel comprar capacidade de anunciantes projetarem noseja do consumidor, a necessidade de vas “necessidades” ultrapassa facilmente o
comprá-lo, ou não, freqüentemente foge de alcance do bolso do consumidor; “deseseu controle. Da mesma forma, na mora- jos” sempre parecem maiores do que os
dia, os proprietários dispõem de escolhas meios disponíveis.
sobre aquecimento e ar-condicionado. Mas
Particularmente a partir dos anos 90, a
é decisão das incorporadoras e construto- poupança na maioria dos países da OCDE
ras se uma residência terá isolamento ade- começou a cair, enquanto as dívidas famiquado e janelas eficientes em energia; esliares subiam. Jovens adultos, vulneráveis
sas decisões fundamentais ditam as necesao marketing agressivo direto de bancos e
sidades de aquecimento e refrigeração duoutros emitentes de cartões de crédito, esrante a vida de uma casa.
tão afundando cada vez mais num atoleiro
Reconhecendo essas realidades, a OCDE
tem referido-se a uma “infra-estrutura de de dívidas. O número de jovens de 20 a 24
consumo” que força as pessoas a adotar anos à beira da falência pessoal na Alemapadrões involuntários de consumo. Da mes- nha, por exemplo, aumentou um terço só
58
ma forma que é importante para os consu- entre 1999 e 2002.
O endividamento dos consumidores
midores escolher produtos mais eficientes,
só isso não pode superar essas limitações americanos cresce hoje duas vezes mais ráestruturais. Políticas governamentais avan- pido que suas rendas. O crédito ao consuçadas – melhor planejamento do uso do solo, midor a receber disparou nas últimas duas
normas e padrões focados no meio ambi- décadas, atingindo US$ 1,8 trilhão em julho
ente e a criação de uma infra-estrutura pú- de 2003. (Vide Figura 5-2.) A proporção de
blica revigorada, que permita maior provi- portadores de cartões de crédito com salsão social de certos bens e serBilhões de Dólares
viços – ajudarão a assegurar que
2.000
os consumidores não sejam
(base=2001)
compelidos a fazer “escolhas”
1.500
consumo-intensivas.57
Outra área-chave em que
uma ação governamental faz-se
1.000
necessária é o crédito ao consumidor. O rufo inexorável da
500
propaganda, insinuando que
marcas corporativas simboliFonte: Federal Reserve Board
zam estilos desejáveis de vida e
0
1950 1960
1970
1980
1990
2000
2010
que a felicidade individual está
intrinsecamente relacionada aos
Figura 5-2. Crédito ao Consumidor a Receber
produtos que possuímos, ajunos Estados Unidos, 1950–2003
da a propelir a preferência do
139
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
dos em aberto no final de cada mês aumentou para 61%, e o endividamento médio superou US$ 12.000 em 2002. No Reino Unido, a dívida do consumidor quase triplicou
(em bases atuais) entre 1991 e 2001. Na
Alemanha, o crédito ao consumidor dobrou
em 1989–99 para 216 bilhões de euros, e
em 2001 quase um quarto de todas as famílias tinham dívidas pendentes. E o número
de famílias holandesas buscando proteção
contra credores dobrou em 1992–99.59
Até meados dos anos 90, consumidores
fora da América do Norte e Europa Ocidental raramente assumiam um grande volume
de dívidas pessoais. Hoje, os gastos com
cartões de crédito estão aumentando rapidamente entre consumidores emergentes, de
classe média, na Ásia, América Latina, Europa Oriental e até em partes da África. O
volume de dinheiro gasto por sul-coreanos
por meio de cartões de crédito mais que
duplicou em 2001, mas 2,5 milhões destes
estão inadimplentes. Falências pessoais estão aumentando não apenas na Coréia do
Sul, mas também na Argentina, Brasil, Chile, China, México e Tailândia.60
Embora o crédito ao consumidor esteja
hoje atrelado à manutenção de uma economia hiperprodutiva, que encoraja as pessoas
a assumir altas dívidas pessoais, as finanças
de uma economia de consumo sustentável
terão que desenvolver formas que permitam
– e premiem – a compra de produtos eficientes, de alta qualidade, duráveis e
ambientalmente amigáveis. Estes, sem dúvida, terão maior custo inicial de aquisição, mas
ao longo do tempo serão mais economicamente vantajosos para os consumidores do
que produtos mais baratos e frágeis, que terão de ser substituídos com freqüência.
Os governos poderão ajudar os consu-
140
midores, oferecendo condições vantajosas de
financiamento para determinadas aquisições.
Os governos do Japão e Alemanha fazem isso
em apoio à instalação de telhados solares em
residências, porém muitas outras aquisições
ecoamigáveis poderiam ser incentivadas da
mesma forma. Ou governos podem oferecer
descontos direcionados. O governo do Canadá, por exemplo, anunciou em agosto de
2003 que iria destinar C$ 131,4 milhões (US$
95 milhões) para um programa que oferece
um desconto médio de C$ 1.000 por residência, a fim de motivar proprietários a fazerem melhorias em eficiência energética.61
A fim de encorajar ainda mais a fabricação e compra de produtos ambientalmente
benignos, os governos poderiam desenvolver políticas que oferecessem descontos fiscais a produtos de melhor desempenho, taxando aqueles que fiquem aquém dos padrões. Poderia ser criado um sistema graduado onde os níveis tanto de descontos
quanto de taxas seriam escalonados conforme a eficiência, durabilidade ou nível de benefício ambiental de determinado produto.
Essa combinação, conhecida como “taxadesconto”, tem sido utilizada para produtores de energia, porém o conceito ainda não
foi implementado num cenário consumidor.
Um sistema taxa-desconto poderá até ser
mais eficaz se for atrelado a outras políticas, como leis de ecorrotulagem e PRP.62
Livrando-se da Armadilha
do “Ganhar-e-Gastar”
Os países industrializados são extraordinariamente produtivos – ou seja, a mesma quantidade de produto pode ser
fabricada com cada vez menos trabalho
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
humano. Nos Estados Unidos, por exem- um papel central, a canalização de ganhos
plo, apenas cerca de 12 horas semanais de produtividade para maior tempo de lazer,
de trabalho foram necessárias para pro- em vez de aumento de salário, que poderia
duzir, em 2000, o mesmo que em 40 ho- redundar em consumo crescente, também
ras em 1950. Em princípio, isso pode ser faz sentido sob uma perspectiva ecológica
transformado em um de dois objetivos: (presumindo-se que um maior tempo de
elevação de salários (em linha com a pro- lazer não se traduza em atividades
dutividade), conservando a jornada de ambientalmente questionáveis, como viatrabalho constante, ou concessão de mai- gens aéreas longas para férias em locais
or tempo de lazer, mantendo constante a “exóticos”).64
Levou quase um século para se cherenda do trabalho. Na prática, quase sempre tem sido o primeiro. A maioria das gar à semana de 40 horas na maioria dos
pessoas tem ficado presa a um padrão países industrializados. Onde outrora hade “ganhar-e-gastar”. Maior disponibili- via uma tendência comum para jornadas
dade de renda traduz-se em maior des- menores por todo o mundo industrializapesa de consumo. E a sedução da propa- do, há hoje uma divergência cada vez
ganda, o acompanhamento de status mais maior entre Estados Unidos e Europa.
elevados e outros fatores fazem com que Numa reversão da situação antes dos anos
cada centavo ganho seja necessário para 70, os americanos hoje trabalham períocontinuar na senda batida do consumo.63 dos mais longos que a maioria dos euroDesde a ascensão da industrialização em peus (trabalhadores japoneses, entretanmassa do final do século XIX tem havido to, ainda têm, de longe, a maior jornada
um cabo-de-guerra contínuo entre patrões de trabalho). (Vide Figura 5-3.)65
e sindicatos sobre a jorHoras
nada de trabalho. Os
empregados batalham 2.800
Fonte: Hayden
pela redução das horas 2.600
Reino Unido
de trabalho, seja dire2.400
tamente, diminuindo-se
Japão
realmente a jornada, ou 2.200
maior período de férias, aposentadoria mais 2.000
Alemanha
França
cedo ou ausência re- 1.800
munerada. A motivação
Estados Unidos
básica disso foi o de- 1.600
sejo de melhoria da 1.400
qualidade de vida e cri1913
1929
1938
1950
1960
1973
1990
1998
ação de mais empreFigura 5-3. Jornada Anual de Trabalho por Pessoa Empregada
gos. Embora as quesnos Principais Países Industrializados,
tões ambientais não teAnos Selecionados, 1913–98
nham desempenhado
141
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
A maioria dos empregadores tem se mostrado relutante em concordar com maiores
reduções, e a mudança no equilíbrio patrãosindicato, com o enfraquecimento deste e o
aumento da pressão da globalização, dificultou qualquer mudança. Em linhas gerais, um
emprego em tempo integral, algo como 40
horas semanais, ainda é considerado normal
para qualquer um que deseja considerar-se
elegível para um emprego com oportunidades de avanço na carreira. Porém, a discussão deslocou-se de jornadas semanais fixas
para a introdução de maior flexibilidade,
com patrões e empregados promovendo
conceitos e interesses concorrentes. Os
patrões buscam a capacidade de ligar e
desligar a torneira da oferta de mão-de-obra
de acordo com as flutuações na demanda
de seus produtos. Os empregados pleiteiam opções mais individualistas para acomodar as necessidades pessoais e familiares e conquistar maior “soberania de tempo”. Vários modelos promissores surgiram
na Europa. (Vide Tabela 5-5.)66
Tabela 5-5. Novas Abordagens para a Jornada de Trabalho na Europa
Situação
País
Bélgica
Implantou um sistema de “crédito de tempo”, permitindo às pessoas trabalharem uma
semana de quatro dias até 5 anos e tirar férias de um ano durante a carreira, recebendo uma
remuneração do governo.
Dinamarca
Inaugurou um sistema pioneiro de férias pagas para educação, cuidado infantil e estudos
universitários que permite rotação entre empregados e desempregados. (Variações disso
foram posteriormente implementadas na Bélgica, Finlândia e Suécia).
Holanda
Em 1982, o governo, empresas e sindicatos concordaram em reduções da jornada em troca
de moderação salarial. A semana de trabalho foi reduzida de 40 para 38 horas em meados
dos anos 80 e para 36 horas no início dos anos 90. A redução parcial voluntária cresceu
dramaticamente, com trabalhadores com meio turno tendo direito ao mesmo salário/hora,
benefícios e oportunidades de promoção dos trabalhadores em tempo integral. A legislação
em 2000 estendeu o direito de redução de horas a todos os trabalhadores, enquanto
trabalhadores com meio turno podem solicitar períodos mais longos.
FONTE: vide nota final 66.
Mais do que os americanos, os europeus preferem reduções da jornada em
lugar de aumento de renda. Mesmo assim, as pesquisas revelam que quase dois
terços de todos os empregados nos Estados Unidos trabalhavam mais tempo do
que desejado no final dos anos 90, contra metade em 1992. Ao mesmo tempo,
todavia, a economista do Boston College,
142
Juliet Schor, relata que “durante a primeira metade dos anos 90, um quinto de
todos os americanos passaram por algum
tipo de redução voluntária da jornada de
trabalho, com um pouco mais da metade
desejando que fosse uma mudança permanente”. “Redução da jornada” é a retirada, ou retirada parcial, da força de trabalho, que é às vezes disparada por uma mu-
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
dança de valores e comportamentos para
fora do consumismo. (Embora algumas
pessoas reduzam suas jornadas voluntariamente, outras, entretanto, são forçadas a
aceitar trabalhar meio turno, contra sua
vontade.)67
Por outro lado, trocar renda por tempo
não é uma opção realista para muitas pessoas, em vista das tendências adversas do salário. Nos Estados Unidos, os salários médios
estagnaram entre o início dos anos 70 e meados para fins dos anos 90. Mas as médias
mascararam um alto grau de desigualdade na
distribuição de renda durante o último quarto
de século. Para 10% dos trabalhadores na
faixa baixa, os salários em 2001 não eram
superiores a 1979; na realidade, 70% da força de trabalho não se deu melhor, não tendo
praticamente ganho real de salário até 1998.68
Uma fração significativa da população
sentiu-se compelida a trabalhar períodos
adicionais, freqüentemente pegando outros
empregos apenas para se manter. No todo,
há inúmeras tendências contraditórias. Na
Europa, as tendências foram mais favoráveis, mas o crescimento salarial ficou para
trás da expansão da produtividade da mãode-obra. Para serem viáveis, então, políticas de redução de jornadas de trabalho
precisam ser acompanhadas por aumentos de salário, a fim de estreitar o diferencial de renda entre ricos e pobres.69
Nova Dinâmica e Valores
Como foi descrito por todo este capítulo, com
ajuda de uma grande variedade de ferramentas programáticas, as economias modernas
podem ser muito menos intensivas em consumo. Entretanto, o que significa consumir
menos para uma economia capitalista
estruturada para uma expansão econômica
perpétua? Afinal, a cultura consumista desempenha um papel importante: assegura que os
bens produzidos por uma economia
hiperprodutiva sejam, efetivamente, adquiridos. Isso significa que o acúmulo do capital
pode seguir adiante, o que move a inovação
tecnológica e que, por sua vez, resulta na
produtividade cada vez maior da mão-de-obra
(e que proporciona, pelo menos em princípio, rendas e poder aquisitivo crescentes,
necessários ao consumismo). Essa dinâmica
pode desmoronar caso os consumidores não
gastem bastante.70
E há outro complicador: embora a
sustentabilidade exija que apetites materiais
sejam contidos, as gigantescas sobrecapacidades que têm surgido em muitas indústrias parecem exigir que o consumo seja estimulado. O setor automotivo global, por exemplo, está trabalhando a apenas 70% de sua
capacidade. No setor de semicondutores, a
utilização da capacidade está a 65% e nos
equipamentos de telecomunicações, meros
50%. A economia mundial defronta-se com
contradições crescentes. Economias movidas por exportações em vários países em desenvolvimento estão rapidamente ampliando
sua produção. Na China, os setores siderúrgicos, químicos, de materiais de construção
e telefones celulares, por exemplo, deverão
dobrar suas capacidades de produção nos
próximos três anos, aumentando a pressão.71
Uma enorme fatia das exportações
mundiais está sendo absorvida pela
terra do consumismo par-excellence,
os Estados Unidos. Durante os anos
90, a economia americana agia mais e
mais como um grande aspirador, sugando grande parte da produção
superavitária mundial. (Vide Quadro 5-2.)
143
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
QUADRO 5-2. CONSUMIDORES AMERICANOS, PRODUTOS BARATOS E
EXPLORAÇÃO GLOBAL DA MÃO-DE-OBRA
Durante a última década, os consumidores
americanos aumentaram seus gastos anuais em
bens e serviços a uma taxa média de 3% ao
ano, ou quase tão rápido quanto nas décadas
anteriores. Se o consumo é medido por
quantidade de itens, todavia, em vez de fluxos
de dinheiro, as taxas de aquisição para uma
gama variada de produtos manufaturados são
muito maiores. O pensamento econômico
padrão vê essa tendência como simples ganho
no bem-estar dos consumidores. Mas, sob um
ponto de vista ambiental, é negativo. Novos
conceitos econômicos e evidências também
reconhecem que quando o gasto satisfaz
objetivos de status e sociais, em vez de
necessidades puramente funcionais, há muito
menos bem-estar real a ser ganho do consumo
adicional. O motivo principal das altas taxas
de aquisição de produtos é que os preços
caíram significativamente na última década.
Entretanto, isso não foi devido à maior
eficiência ou tecnologia. A estrutura e normas
que regem a economia global deprimiram os
custos da mão-de-obra e saquearam os
recursos naturais.
Consideremos o caso do vestuário, um
produto historicamente valioso. Em 1920, a
família típica americana gastava 17% de suas
despesas totais em roupas. Em 2001, essa
cifra foi de meros 4,4%, apesar de os
consumidores estarem comprando muito mais
peças. Realmente, o vestuário tornou-se tão
barato que é difícil até dar de graça. O excesso
de roupas é atribuído em grande parte à
exploração da mão-de-obra feminina nas
fábricas de confecções da Ásia e América
Central. A parcela de mão-de-obra na
produção está em níveis historicamente
baixos, e os salários caíram abaixo da linha de
subsistência. Relatos em primeira mão de
trabalhadores e observadores ocidentais nas
fábricas que produzem para Disney, Nike, Liz
Claiborne e muitas outras empresas
americanas comprovaram que as pessoas
freqüentemente trabalham mais de 100 horas
semanais. Os trabalhadores são submetidos a
144
uma autoridade supervisora arbitrária; casos
de abusos físicos, sexuais e verbais são
comuns e bem documentados; e sindicatos são
proibidos.
Os eventos da nova economia global
agravaram esses problemas. A crise financeira
da Ásia, no final dos anos 90, foi resultado
direto de reformas neoliberais impostas pelo
Tesouro dos Estados Unidos, através do Fundo
Monetário Internacional, que levaram um
número de economias asiáticas ao colapso, sob
o peso da privatização e liberalização do
capital. Os salários por toda a região
despencaram após a crise. Salários e benefícios
na indústria de confecção da Indonésia caíram
para 15 centavos de dólar por hora. Em
Bangladesh, que se tornou o quarto maior
exportador de confecções para os Estados
Unidos, os salários caíram para uma faixa de 7–
18 centavos por hora. A Wal-Mart, que
controla 15% do mercado americano de
confecções e é a maior rede varejista de
vestuário do mundo, continuamente pressiona
os custos de mão-de-obra nas fábricas chinesas
– que podem ser até de 13 centavos por hora, e
a norma é abaixo de 25 centavos. (Linhas mais
caras, como Ralph Lauren e Ellen Tracy,
também dependem da mão-de-obra barata da
China.) Os trabalhadores têm tido pouco
sucesso na resistência a essas condições, pois
as empresas transnacionais simplesmente
mudam-se caso estes façam exigências, e
porque os donos das fábricas gozam de
proteção política de seus governos. Ademais, o
deslocamento de trabalhadores rurais da terra e
dos meios de vida em conseqüência das
atividades das empresas transnacionais assegura
um fluxo constante de novos recrutas para as
fábricas urbanas.
Enquanto isso, esses fatores levaram ao
declínio dos preços nos Estados Unidos, onde o
preço de confecções caiu 10% ao longo da última
década, com uma queda especial após o débâcle
asiático. O número de peças adquiridas disparou,
aumentando em incríveis 73% entre 1996 e
2001. Os consumidores reduziram a freqüência
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
QUADRO 5-2. (continuação)
do uso de roupas novas e descartam suas
compras num ritmo recorde. Até 2001, o
consumidor americano comum adquiria 48 peças
novas de roupa por ano. As taxas de descarte do
consumidor aumentaram 10% ao ano durante os
anos 90 e as roupas tornaram-se um produto
descartável e, portanto, plenamente disponível.
Embora menos dramática, ocorreu uma
dinâmica semelhante com outros bens de
consumo. Os consumidores americanos
gastam cerca de US$ 30 bilhões ao ano em
brinquedos, 60% dos quais são feitos em
fábricas chinesas, onde salários e condições
de trabalho são semelhantes àqueles das
confecções. Desde 1994, os preços de
brinquedos caíram 33%, e as crianças
ganham, em média, 69 brinquedos por ano.
Os preços de computadores pessoais e
equipamentos periféricos caíram 81% desde
1997, como resultado de chips mais
poderosos, salários baixos e desembaraço de
custos ambientais. Em 2001, quase 23
milhões de computadores novos foram
adquiridos, com quantidades semelhantes
sendo descartadas. Estima-se que em 2005,
63 milhões de computadores pessoais serão
descartados só nos Estados Unidos. Queda
de preços e aumento de quantidades também
caracterizam eletrodomésticos, equipamentos
esportivos internos e externos, ferramentas e
ferragens. Os preços nas lojas de
departamento caíram quase um terço desde
1993, e bens duráveis caíram 57%. Isso devese em parte à pressão constante nos preços
da Wal-Mart, pois esta empresa explora mãode-obra externa e interna, obtendo vantagens
com subsídios em transportes e degradação
ambiental não-registrada.
A partir de 1995, a demanda interna nos
Estados Unidos cresceu o dobro da taxa
de outras nações industrializadas. O saldo
da balança de pagamentos dos Estados
Unidos (medindo fluxos comerciais e
transferências financeiras) saiu de um
O consumo sustentável requer preços mais
altos para bens de consumo e uma mudança
para melhor qualidade, produtos mais duráveis
feitos por trabalhadores mais bemremunerados, sob condições ambientalmente
seguras. Isso ajudará a satisfazer critérios
elementares de justiça, como o direito de
trabalhadores estrangeiros e domésticos a uma
vida decente e direito de todos compartilharem
da abundância do planeta. Mas essa é uma
questão não só de consumo, mas também
política. As políticas atuais distanciam-se
dessas condições de sustentabilidade.
Pesquisas consideráveis sobre os efeitos do
Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional revelam que estes representam
basicamente os interesses do governo dos
Estados Unidos e corporações americanas, às
custas dos trabalhadores e indústrias locais em
países pobres. À medida que aumenta a
oposição à economia global, o governo dos
Estados Unidos responde com grandes
aumentos nos gastos militares. Uma economia
global justa e sadia deverá finalmente enraizarse numa estrutura mundial de salários altos
bastante para sustentar uma forte demanda
interna, num equilíbrio mais íntimo de poder
entre capital e trabalho e maior distribuição
eqüitativa de renda e riqueza. A necessidade de
ambientalistas desenvolverem uma causa
comum com outros interessados em justiça e
paz globais torna-se, assim, uma tarefa da
maior urgência.
– Juliet Schor, professora de Sociologia,
Boston College
_______________________________________
FONTE: vide nota final 73.
valor positivo de US$ 3,7 bilhões em 1991
para um negativo de US$ 503 bilhões em
2002 – um nível recorde. Os dólares que
fluíram para fora dos Estados Unidos,
para pagar importações crescentes, estão
voltando aos Estados Unidos à medida que
145
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
investidores estrangeiros compram notas
do tesouro, títulos, ações e imóveis. Esses
fluxos de dólar criaram um imenso reservatório de liquidez global. Essa explosão de
crédito tem sido a principal força motriz da
atividade econômica mundial. Mas encorajou grandes e exagerados investimentos
em praticamente todo setor de porte. E o
bem-estar da economia global tem mostrado-se cada vez mais dependente de um
consumo em contínua expansão nos Estados Unidos. Alguns observadores, inclusive os analistas do Economic Policy
Institute, em Washington, e Stephen Roach,
economista-chefe da Morgan Stanley, pensam que esse sistema é intrinsecamente
instável, não podendo permanecer indefinidamente em expansão.72
Uma economia sustentável
necessita de uma forma diferente
de medir a atividade humana e de
sinalizar a investidores,
produtores e consumidores.
É certo então, tanto sob uma perspectiva ambiental quanto econômica, que é chegada a hora para uma alteração de curso.
Mas será que uma recalibração é viável?
Certamente, um grande e repentino declínio
no consumo provavelmente faria a economia mundial cair em parafuso. Porém é
muito mais provável que uma economia
menos consumista venha a surgir
gradativamente. Isso daria tempo para uma
reorientação de como funciona uma economia, dando às empresas uma oportunidade de ajustarem-se.73
146
Uma série de investimentos e inovações
tecnológicas para realizar a mudança em
direção à sustentabilidade suavizarão a transição. Promovendo fontes renováveis de
energia; expandindo sistemas de transportes urbanos; substituindo maquinaria, equipamentos, prédios e veículos ineficientes
por outros modelos, muito mais eficientes;
redesenhando produtos mais duráveis –
todas essas atividades representam, efetivamente, um programa de estímulo ecológico para a economia.
É essencial reformular não apenas a
economia, mas também o pensamento econômico. Já atores econômicos estão preparados para responder a sinais de crescimento quantitativo. O conceito de produto
interno bruto, onde todas as atividades econômicas são jogadas, contribuam ou não
para o bem-estar, reina supremo. (Vide
Capítulos 1 e 8.) Uma economia sustentável necessita de uma forma diferente de
medir a atividade humana e de sinalizar a
investidores, produtores e consumidores.
Precisa de uma teoria diferente, abandonando-se a premissa ultrapassada de que o
crescimento quantitativo é incondicionalmente desejável e abraçando-se, em vez
disso, a noção de crescimento qualitativo.
O mais fundamental, entretanto, é uma
mudança na percepção humana de valor
econômico. Em Capitalismo Natural, Amory
Lovins e os co-autores Hunter Lovins e Paul
Hawken defendem “uma nova percepção de
valor, uma mudança da aquisição de bens
como medida de afluência para uma economia na qual o recebimento contínuo de qualidade, utilidade e desempenho promova o
bem-estar”. Nessa economia, receitas e lucros corporativos não mais seriam associados à maximização da quantidade de coisas
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
produzidas e vendidas, mas sim à obtenção
de mais serviços e melhores desempenhos
de um produto, minimizando, assim, o consumo de energia e materiais e maximizando
a qualidade.74
Na medida em que a explosão do
“ponto-com” dos anos 90 foi uma ilusão,
mostrou efetivamente o potencial para se
perceber valores sob novas formas – menos ligadas à mobilização de recursos físicos. O futuro pode não estar na “contagem de olhos” – ou seja, quantos pares de
olhos podem ser atraídos para um website
em particular –, mas consumidores, industriais, instituições financeiras e governos
precisam desenvolver um novo conceito do
que é realmente valioso e o que, conseqüentemente, vale a pena realizar.
Sem dúvida alguma, obstáculos políticos sérios terão que ser superados. Os que
se preocupam apenas com interesses par-
ticulares, especialmente nos setores de
energia e mineração, são exímios defensores de subsídios lucrativos e opositores
de reformas fiscais significativas. Por toda
a economia, muitas empresas industriais
estão presas ao modelo comercial com o
qual estão familiarizadas e inclinadas a
manter as premissas de ontem, em vez de
aventurarem no território ainda desconhecido da devolução de produtos e conceitos afins. E os varejistas, particularmente
nos Estados Unidos, estão fortemente orientados a maximizar vendas de produtos
baratos em vez de buscar um varejo de
qualidade. O poder de resistência desses
interesses não deve ser subestimado. Uma
economia menos orientada ao consumo é
possível, mas necessitará de ação governamental, educação do consumidor e números crescentes de desbravadores
corporativos para fazê-la surgir.
147
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Telefones Celulares
Telefones celulares hoje são
onipresentes. Em 1992, menos
de 1% da população mundial
possuía um celular e somente um
terço de todas as nações tinha
uma rede de telefonia celular.
Apenas 10 anos depois, 18%
das pessoas já tinham um celular
– 1,14 bilhão, mais do que o 1,10
bilhão com linha fixa convencional
– e mais que 90% dos países
dispunham de uma rede. 1
Agora, europeus enviam e recebem
textos curtos nos seus celulares mais do
que usam a Internet de seus
computadores.Os filipinos lideram o envio
de textos via celular, mundialmente; na
realidade, “mensagens de textos” via celular
dos manifestantes para organizar
demonstrações contra o Presidente Joseph
Estrada contribuíram para sua expulsão. Na
África, os celulares ultrapassam as linhas
fixas numa média mais alta do que em
qualquer outro continente; lá, donos de
celulares que alugam seus aparelhos fazem
um benefício aos habitantes de vilarejos,
que anteriormente tinham de caminhar
quilômetros para fazer uma ligação.2
Como as pessoas usam seus celulares
principalmente para bater papo, o aparelho
atrai ondas de rádio mais perto de suas
cabeças do que a maioria de outros
aparelhos eletrônicos. Um estudo de 10
148
países, promovido pela
Organização Mundial de Saúde
para determinar se o uso de
celulares pode estar relacionado
com cânceres de cabeça e
pescoço, deve ser concluído em
2004. Sem dados de longo prazo
disponíveis, os pesquisadores
estão recomendando aos usuários
a colocação de um dispositivo em
seus celulares para manter o
aparelho mais afastado. E um estudo
de um grupo organizado pelo governo
britânico desencorajou o uso excessivo de
celulares por crianças.3
Similarmente aos computadores, os
celulares são produtos de vida curta,
representando a mais patente ameaça à
saúde humana e ao meio ambiente, quando
são criados ou destruídos, porque contêm
chips semicondutores, ricos em substâncias
tóxicas. Análises de ciclo de vida revelam a
placa de circuitos contendo o chip do
celular, o visor de cristal líquido e as
baterias como os maiores riscos, seguidos
da capa plástica, de difícil reciclagem. Nos
Estados Unidos, segundo maior mercado
mundial de celulares depois da China,
aparelhos são rejeitados depois de 18
meses, e o grupo de pesquisa INFORM
calcula que até 2005 os consumidores terão
acumulado cerca de 500 milhões de celulares
usados, que provavelmente terminarão em
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES
um aterro, onde poderão lixiviar cerca de
141.500 quilos de chumbo.4
O tamanho diminuto torna os celulares
mais fáceis de serem descartados do que
computadores, mas são também mais
facilmente reaproveitados. O prolongamento
da vida dos celulares dessa maneira diminui
seu ônus ambiental. Grupos beneficentes
associaram-se a empresas para
recondicionar aparelhos usados – alguns
são programados para discar serviços de
emergência e oferecidos a vítimas de
violência doméstica ou idosos, enquanto
outros são revendidos em países em
desenvolvimento – e empresas, como a
ReCelular, compram e vendem celulares
usados a granel.5
Normas competitivas entre redes de
celulares são uma das razões por que eles
são descartados tão rapidamente nos
Estados Unidos. Inversamente, a Europa
tem a mesma norma desde o início dos anos
80. Uma vez que as empresas que exploram
equipamentos ultrapassados teriam muito a
perder, a indústria tem obstaculizado
tentativas da International
Telecommunication Union para se chegar a
um consenso sobre um padrão único; no
entanto, alguns observadores da indústria
acreditam que tal movimento será inevitável
à medida que for aumentando o número de
usuários .6
No final, incentivos para empresas
projetarem e reciclarem celulares menos
tóxicos têm melhores perspectivas para
minimizar-se a carga ambiental. A partir de
1998, o Japão obrigou os fabricantes a
receber de volta a maioria dos aparelhos
eletrônicos; essa decisão estende-se hoje a
computadores e normas estão em estudo
para outros produtos eletrônicos. As
empresas devem pagar pela reciclagem de
seus produtos, incentivando empresas
como a Sony a investir em tecnologias que
sejam facilmente recicláveis.7
Holanda, Noruega, Suécia e Suíça
implantaram o “princípio de
responsabilidade do produtor”, incluindo
celulares, nos quais os consumidores
pagam, antecipadamente, taxas de descarte
para financiar a reciclagem. Em alguns
países, programas de certificação informam
aos consumidores quais celulares são mais
ambientalmente amigáveis: na Alemanha, o
selo Blue Angel é usado em celulares que
atendem às exigências de conteúdo tóxico e,
na Suécia, o TCO Development certifica
aparelhos conforme critérios de emissões,
ergonomia e ambientais, inclusive se são
facilmente recicláveis.8
Duas diretivas, da Comissão Européia,
entraram em vigor em 2003, com o mais forte
alerta ambiental jamais sinalizado à indústria
eletrônica. A diretiva Waste Electrical and
Electronic Equipment (Descarte de
Equipamentos Elétricos e Eletrônicos)
tornará cada empresa responsável pela
coleta e reciclagem de seus novos produtos
após 13 de agosto de 2005, enquanto todas
as empresas serão responsáveis,
coletivamente, pelos produtos eletrônicos
colocados no mercado antes dessa data.
Uma regra associada proíbe o uso de certas
toxinas em produtos eletrônicos, incluindo
chumbo, mercúrio, cádmio, cromo
hexavalente e certos retardadores de chama
brominados.9
Novas leis européias estão fomentando o
surgimento de tecnologias ecologicamente
amigáveis. Por exemplo, a Nokia tem
trabalhado com cientistas acadêmicos para
desenvolver plásticos e telefones
biodegradáveis, que se desmontam, para fácil
reciclagem, pela ação do calor.10
149
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES
A Silicon Valley Toxics Coalition, da
Califórnia, está lutando para que os
Estados Unidos revoguem a legislação de
devolução. Na falta de leis nacionais,
Minnesota introduziu legislação tornando
os produtores responsáveis por certos
materiais tóxicos, Massachusetts proibiu
o lixo eletrônico nos aterros sanitários e
criou um fundo para reciclagem de
eletrônicos, a Califórnia introduziu uma
proibição limitada e espera que os
governos locais cubram os custos da
reciclagem, Nova Iorque recentemente
obrigou os comerciantes a aceitar e
reciclar qualquer celular vendido por eles,
e outros estados estão elaborando
legislação para reduzir a quantidade do
descarte eletrônico permitido.11
150
No âmbito internacional, no fim de 2002, a
Secretaria da Convenção da Basiléia sobre o
comércio de resíduos perigosos convocou os
principais fabricantes para formar um novo
grupo de trabalho sobre telefonia celular.
Ultimamente, os perigos à saúde provenientes
do lixo eletrônico têm recebido mais atenção
da mídia, devido à comprovação, por ativistas
ambientais, da exportação de lixo eletrônico
dos Estados Unidos para a Ásia. A Secretaria
da Convenção pretende que esse novo grupo
de pesquisa sobre telefonia celular seja a
primeira de várias iniciativas que busquem
trabalhar conjuntamente com a indústria em
problemas do lixo associado a produtos
específicos.12
— Molly O‘Meara Sheehan
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES
CAPÍTULO 6
Comprando para as
Pessoas e o Planeta
Lisa Mastny
Na primavera de 2001, dois estudantes do
Connecticut College, no nordeste dos Estados Unidos, distribuíram uma petição
ambiciosa. Preocupados com as emissões
de poluentes danosos do colégio, pediram
apoio aos colegas para um aumento voluntário da taxa de atividades estudantis, a
fim de levantar recursos para inclusão da
universidade numa cooperativa local de
energia renovável. Mais de três quartos dos
estudantes assinaram a petição, que obteve apoio unânime, tanto da administração
estudantil quanto do Conselho de
Curadores. Embora a cooperativa tenha
fechado um ano depois, as sementes para
a transição haviam sido plantadas. Em janeiro de 2003, o Connecticut College já
atendia a 22% de suas necessidades através da energia eólica – a maior parcela de
energia obtida dessa forma por um colégio ou universidade americana.1
Em todo o mundo, mais e mais universidades, corporações, órgãos governamentais e outras instituições estão reavaliando
seus hábitos de compra e incorporando
questões ambientais em todas as etapas de
suas aquisições. Ao fazê-lo, ajudam a incentivar mercados para uma gama variada
de produtos ambientalmente desejáveis. As
vendas globais de lâmpadas fluorescentes
compactas, eficientes no consumo de energia (LFCs), aumentaram quase 13 vezes
desde 1990 para cerca de 606 milhões de
unidades em 2001. O uso de energia solar
e eólica avançou em mais de 30% ao ano,
ao longo dos últimos cinco anos, em países como Japão, Alemanha e Espanha. Nos
Estados Unidos, as vendas no varejo de
produtos orgânicos cresceram pelo menos
20% ao ano desde 1990 para US$ 11 bilhões por ano, enquanto as vendas de carros elétricos híbridos duplicaram em 2001.2
Uma versão mais detalhada deste capítulo foi publicada como Worldwatch Paper 166, Purchasing Power:
Harnessing Institutional Procurement for People and the Planet (Washington, DC: Worldwatch Institute,
julho 2003).
151
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Mesmo assim, os mercados verdes são
minúsculos em comparação com os convencionais. O Natural Marketing Institute, dos
Estados Unidos, estima que a demanda global por produtos de “saúde e sustentabilidade”
– desde transporte alternativo até alimentos
orgânicos – atingiu a cifra recorde de US$
546 bilhões em 2000. Mas isso ainda é apenas cerca de 1% da economia mundial total.3
Mercados verdes estão se dando melhor
em algumas regiões do que em outras. Na
Europa, por exemplo, o papel reciclado hoje
custa o mesmo preço, ou até menos, que o
papel virgem, principalmente porque sua procura vem aumentando continuamente. Compradores municipais em Dunquerque, na França, economizam aproximadamente 50 centavos de dólar por resma (cerca de 16%) ao
exigir papel reciclado. Nos Estados Unidos,
entretanto, os compradores ainda pagam um
ágio de 4–8% pelo conteúdo reciclado. Apesar de intensos esforços para incrementar a
participação do papel reciclado no mercado,
cerca de 95% do papel para impressão e de
escrever (que representa mais de um quarto
do mercado americano de papel) ainda deriva
de madeira virgem. O uso interno de papel
reciclado, na realidade, caiu nos últimos anos,
e caso a demanda não se recupere, a infraestrutura fabril poderá desaparecer.4
Esses mercados são ainda menores no
mundo em desenvolvimento, embora o interesse em energia renovável e outras áreas
esteja crescendo em muitos países. O uso
geral de recursos no mundo em desenvolvimento ainda é baixo em relação ao mundo
industrializado, porém a demanda consumista
crescente por tudo, de carros a computadores, tornará o fortalecimento de mercados
locais para tecnologias ambientalmente seguras cada vez mais importante.5
152
Esverdeando as Aquisições
Institucionais
Através dos artigos que compram, as instituições exercem grande influência sobre
o futuro do planeta. Quase todas as aquisições que uma organização realiza, seja
de uma resma de papel para copiadoras
ou um novo prédio comercial, têm custos
ocultos que oneram o meio ambiente e a
população mundial. Muitos produtos requerem imensos insumos de água, madeira, energia, metais e outros recursos, nem
sempre renováveis. E freqüentemente contêm produtos químicos tóxicos que, quando liberados no meio ambiente, ameaçam
a saúde dos seres humanos e sistemas
ecológicos dos quais dependemos. Esses
impactos podem ocorrer em qualquer etapa do ciclo de vida de um produto: na obtenção da matéria-prima, industrialização,
embalagem, transporte, uso e até mesmo
após o descarte.6
Que poder tem a aquisição institucional?
Consideremos o setor público. Nos países
industrializados, as aquisições públicas chegam a representar 25% do produto interno
bruto (PIB). (Vide Figura 6-1.) As licitações governamentais só na União Européia (UE) totalizaram mais de US$ 1
trilhão em 2001, ou cerca de 14% do
PIB. Na América do Norte, atingiu US$
2 trilhões, ou aproximadamente 18% do
PIB. Essas aquisições ocorrem em todos os âmbitos de governo: em 2002, o
governo federal americano gastou cerca de US$ 350 bilhões em bens e serviços (excluindo gastos militares), enquanto estados e municípios gastaram mais
de US$ 400 bilhões. 7
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
alimentos para lanchonete.
Nos Estados Unidos, cerFonte: OCDE
25
ca de 3.700 colégios e universidades, conjuntamente,
20
adquiriram aproximada15
mente US$ 250 bilhões em
bens e serviços em 1999 –
10
o equivalente a quase 3%
5
do PIB nacional, e mais do
que o PIB de qualquer país
0
abaixo dos 18 maiores. Instituições religiosas também
têm esse poder, administrando um imenso número
de escolas e templos em
todo o mundo. E instituiFigura 6-1. Gastos Governamentais como Parcela do PIB
ções internacionais, como
em Países Selecionados, 1998
as Nações Unidas e o BanCorporações, universidades, entidades co Mundial, adquirem grandes quantidareligiosas e outras grandes instituições des de bens e serviços para suas atividatambém têm grande poder aquisitivo. des nos países industrializados, como
Muitas empresas, por exemplo, compram também para manter seus escritórios de
não apenas miríades de produtos acaba- campo e operações no mundo em desendos, como canetas e computadores, mas volvimento – tendo assim uma oportunitambém matérias-primas, embalagem e dade singular de ajudar a construir meroutros bens como insumos para seu pro- cados sustentáveis em todo o mundo. Só
cesso fabril. Segundo uma estimativa, o as Nações Unidas compraram quase US$
gasto agregado das empresas ao longo de 4 bilhões em bens e serviços em 2000.9
Mas o enorme volume de suas aquisisuas “cadeias de suprimento” supera, em
muito, o consumo dos produtos finais. À ções é apenas uma das razões por que as
medida que a produção torna-se cada vez instituições podem ser agentes poderosos
mais global, as indústrias podem desem- de mudanças ambientais positivas. “Conpenhar um papel importante, influencian- trariamente a muitas pessoas, grandes insdo o comportamento ambiental de forne- tituições adotam uma abordagem muito
cedores em outros países, inclusive no sistêmicas em suas compras”, observa
Scot Case, do Center for a New American
mundo em desenvolvimento.8
Enquanto isso, as universidades gas- Dream, de Maryland. “Aquisições são clatam bilhões de dólares anualmente em ramente definidas em contratos detalhauma enorme diversidade de compras, dos, que especificam quase todos os asdesde prédios de campus universitário até pectos do produto ou serviço a ser adquida
os
ão
Jap
lan
Ho
Un
id
Suí
ça
os
tad
Es
Di
nam
arc
a
Ca
nad
á
Fra
nça
Al
em
anh
Re
a
ino
Un
ido
Áu
str
ia
Itá
lia
Es
pan
ha
Percentual
30
153
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
rido”. Com metodologias estruturadas já
implantadas, a inserção de considerações
ambientais nas aquisições institucionais
pode ser um processo relativamente fácil,
com vantagens significativas.10
A maioria das organizações que realizam compras de alto valor as fazem sob a
forma de concorrência pública, ou seja,
recebem propostas de vários fornecedores em potencial para adjudicarem o contrato. “Esverdear” a licitação significa que,
além de especificar os requisitos básicos
em termos de quantidade, preço, função
ou segurança, os compradores institucionais também fazem exigências
ambientais a seus fornecedores. Por
exemplo, podem exigir que os produtos
satisfaçam certas normas de eficiência
energética ou tenham um teor específico
de material reciclado, ou até mesmo que
os próprios fornecedores tenham credenciais verdes. (Vide Quadro 6-1.) (Os compradores também podem estipular certos
critérios de justiça social, embora isso não
seja muito comum. O governo da Bélgica,
por exemplo, está considerando proibir
contratos públicos com empresas cujas
condições de produção sustentem regimes
antidemocráticos ou que não respeitem
direitos humanos.)11
Em muitas compras institucionais comuns, existem hoje alternativas menos intensivas em recursos, menos poluentes e menos prejudiciais à saúde humana e ambiental
do que suas contrapartidas convencionais. Ao
adquirir papel com até mesmo uma pequena
porcentagem de conteúdo reciclado, por
exemplo, as instituições podem desviar volumes significativos de lixo dos aterros. Podem também economizar energia, madeira e
154
QUADRO 6-1. ESVERDEANDO
CONTRATOS DE COMPRA
Nos contratos com fornecedores, os
compradores poderão estipular que:
• Produtos possuam um ou mais atributos
ambientalmente positivos como
conteúdo reciclado, eficiência energética
ou hídrica, baixa toxicidade ou
biodegradabilidade.
• Produtos gerem menos resíduos,
inclusive menos embalagem, sejam
duráveis, reutilizáveis ou
remanufaturados – a cidade de Santa
Mônica, na Califórnia, exige que seus
clientes forneçam produtos de limpeza
sob forma concentrada, a fim de evitar
embalagens.
• Produtos atendam a certos critérios
ambientais durante o processo fabril ou
produtivo, como papel processado sem
cloro ou originário de madeira de floresta
de manejo sustentável.
• Fornecedores recuperem ou levem de
volta itens como baterias, equipamentos
eletrônicos ou carpetes no fim de suas
vidas úteis – algumas agências federais
nos Estados Unidos hoje utilizam
contratos de “laço fechado”, obrigando
empreiteiras a recolher produtos usados
de petróleo, pneus e cartuchos de toner
para disposição final.
• Os próprios fornecedores possuam
credenciais ambientais – algumas
aquisições governamentais na Suíça dão
preferência a empresas que implantaram,
ou estejam implantando, sistemas de
manejo ambiental.
__________________________________________
FONTE: vide nota final 11.
outros recursos: o grupo Environmental
Defense, de Nova Iorque, estima que, caso
todo o setor de catálogos dos Estados Unidos adotassem em suas publicações apenas
10% de papel reciclado, a economia só em
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
madeira seria suficiente para atravessar sete
vezes todo o território americano com uma
cerca de 1,8 metro de altura.12
A aquisição de produtos mais verdes também pode trazer benefícios à saúde de funcionários e ocupantes de prédios. Muitas compras comuns, inclusive tintas para paredes e
móveis, pesticidas para prédios e manutenção de áreas externas, como também produtos de limpeza e manutenção, contêm ingredientes tóxicos, como metais pesados e compostos orgânicos voláteis. Essas substâncias
podem poluir o ar interno e acumular-se em
tecidos vivos, ameaçando a saúde humana e
ambiental. O Projeto de Prevenção à Poluição, da Janitorial Products, divulgou que 6
em cada 100 faxineiros no estado de Washington ficaram ausentes do serviço devido
a doenças relacionadas ao uso de produtos
tóxicos de limpeza, particularmente limpadores e desengraxantes de vidros e sanitários.13
Muitas instituições têm constatado que
aquisições verdes também poupam dinheiro.
Alguns produtos verdes são mais baratos que
suas alternativas tradicionais. Por exemplo,
cartuchos reciclados de toner para impressoras e copiadoras chegam a custar até um terço
do preço do produto original. Outros itens,
como sanitários de descarga baixa ou lâmpadas fluorescentes compactas, proporcionam
economia considerável ao longo de sua vida
útil. Embora as LFCs cheguem a custar até 20
vezes mais que as lâmpadas incandescentes,
duram 10 vezes mais e consomem um quarto
da eletricidade para gerar a mesma
luminosidade. Adquirir produtos que sejam
duráveis, remanufaturados ou recicláveis pode
baixar os custos da manutenção, substituição
ou disposição final de um produto. Enquanto
isso, produtos de limpeza e outros menos tó-
xicos podem reduzir os custos de indenizações de seguro e de trabalhadores associados
a certos acidentes de trabalho.14
Talvez o mais importante, a demanda
institucional crescente poderá desempenhar
um papel preponderante na criação de mercados maiores para bens e serviços mais
verdes. Se esses consumidores buscarem
cada vez mais produtos e serviços mais benéficos ao meio ambiente, os produtores
terão mais incentivo para projetá-los e produzi-los. À medida que os mercados para
esses produtos crescerem, impulsionados
pelas forças da concorrência e da inovação,
as economias de escala resultantes acabarão por reduzir os preços, tornando as compras verdes mais acessíveis a todos.
Pioneiros da
Compra Verde
A maioria das instituições que compram
verde visam aquisições menores, como
papel e artigos de escritório, fáceis de manejar sem mudanças significativas nas práticas organizacionais. Porém, algumas outras já começaram a reestruturar fundamentalmente a forma de fazerem negócios.
Em termos corporativos, os pioneiros da
compra verde incluem empresas em praticamente todos os setores da economia, incluindo bancos, hotéis, montadoras, varejistas
de confecções e supermercados. (Vide Tabela 6-1.) Muitas dessas empresas são motivadas por um auto-interesse esclarecido: estão constatando que, ao adotarem medidas
de eficiência energética e outras mudanças
em pequena escala em suas operações internas, podem reduzir seus impactos ambientais
e também incrementar sua rentabilidade.
155
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Tabela 6-1. Exemplos de Aquisições Verdes em Empresas Selecionadas
Bank of America Incrementou compras de papel reciclado em 11% em 2001 para 54% do papel adquirido. Reutiliza e
recupera móveis de escritórios e carpetes e utiliza materiais reciclados nos utensílios e balcões de
serviço do banco. Pretende incluir exigências ambientais em todos os contratos futuros com fornecedores.
Boeing
Até 1999, modernizou mais da metade de seu espaço funcional com iluminação eficiente, reduzindo
os custos de energia em US$ 12 milhões ao ano e economizando energia suficiente para suprir
cerca de 16.000 residências.
Canon
Dá prioridade em suas aquisições globais a quase 4.600 fornecedores de artigos verdes de escritório
aprovados pela empresa. Atualmente procura esverdear suas licitações para construção de instalações
no Japão, Ásia e América do Norte. Um amplo plano de ação direcionado a fornecedores redundou
em níveis altos de cumprimento a políticas vigentes.
Federal Express
Em 2002, comprometeu-se a substituir todos os 44.000 veículos da frota com caminhões elétricos
a diesel, aumentando a eficiência de combustível pela metade e reduzindo as emissões de fumaça
e fuligem em 90%.
Hewlett-Packard
Em 1999, decidiu adquirir papel apenas de fontes florestais sustentáveis. Prioriza fornecedores
que vendem produtos verdes e mantém práticas comerciais verdes. Restringe ou proíbe o uso de
certos produtos químicos na industrialização e embalagem.
IKEA
Prioriza madeira de florestas que sejam certificadas como de manejo sustentável ou em transição
para esse padrão. Adquire madeira através de um processo de quatro etapas que encoraja os
fornecedores a buscar certificação florestal.
McDonald’s
Gastou mais de US$ 3 bilhões em compras com teor reciclado entre 1990 e 1999, inclusive
bandejas, mesas, carpetes e embalagem. Em 2001, adotou embalagens compostáveis para alimento
feitas de amido recuperado de batata e outros materiais. Instalou iluminação de eficiência energética
nos restaurantes.
Migros
Em 2002, esse supermercado suíço tornou-se o primeiro varejista europeu a deixar de comprar
suprimentos de óleo de palma de fontes não-seguras, ecologicamente, na Malásia e Indonésia.
Realiza auditorias nos fornecedores para constatar cumprimento dos critérios ambientais e rotula
produtos que “protegem florestas tropicais”.
Riu Hotels
Ao mudar para compras a granel de itens de café da manhã, essa cadeia alemã de hotéis conseguiu
reduzir o lixo em 5.100 quilogramas anuais, poupando 24 milhões de itens de embalagens individuais
e uma média de 5 milhões de sacos plásticos de lixo a cada ano.
Staples
Em 2002, comprometeu-se a incrementar o conteúdo reciclado médio em seus artigos de papel para
30% e eliminar gradativamente as compras de florestas ameaçadas. Utiliza iluminação e material de
cobertura de eficiência energética em seus prédios. Até o final de 2003 pretende adquirir apenas
produtos de papel reciclado para operações internas e aumentar suas compras de energia verde em 5%.
Starbucks
Desde novembro de 2001, ofereceu incentivos financeiros e preferência de fornecimento a produtores
de café que atendiam a determinados padrões ambientais, sociais, econômicos e de qualidade. Em
2002, 28% da fibra de papel utilizada era pós-consumo e 49% continham fibra não-branqueada.
Toyota
Em 2001, trocou 1.400 itens de artigos de escritório e 300 computadores e outros equipamentos por
alternativas verdes. Atingiu 100% de compras verdes nessas áreas em 2002. No exercício financeiro
de 2001, adquiriu 500.000 kWh de energia eólica e pretende aumentar para 2 milhões de kWh ao ano.
FONTE: vide nota final 15.
156
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Em 1992, o Business Council for
Sustainable Development endossou essa
abordagem como ecoeficiência. A
L’Oreal, o maior fabricante mundial de
cosméticos, reduziu suas emissões de gás
de estufa em 40% entre 1990 e 2000, aumentando, ao mesmo tempo, a produção
em 60%, principalmente através da instalação de iluminação eficiente em toda
sua área e a introdução de um programa
de reciclagem para reduzir a incineração
do lixo. Anheuser-Busch e IBM estão entre as várias outras empresas que vêm
economizando milhões de dólares por
meio de melhorias em eficiência
energética e hídrica.15
Mesmo nos casos em que a compra
verde não leva a economias diretas, esta
pode trazer benefícios comerciais. Num
estudo recente para o Centro de Estudos
Avançados em Aquisições, Craig Carter e
Marianne Jennings verificaram que o aumento da responsabilidade social
corporativa está geralmente correlacionado
com receitas maiores, ambientes de trabalho mais sadios e seguros e melhoria de
relacionamento com clientes e fornecedores – fatores que superam, em muito, qualquer potencial custo monetário. Compras
verdes também podem ser uma forma de
empresas ganharem pontos em relações
públicas com seus defensores e críticos
(embora alguns grupos ambientais aleguem
que isso é apenas demagogia).16
Muitas empresas também perceberam
que podem perder competitividade se continuarem adotando métodos intensivos em
recursos ou ambientalmente destrutivos. O
fabricante de produtos esportivos Nike, por
exemplo, incrementou o teor de algodão
orgânico em seus artigos devido a preocu-
pações com prejuízos à saúde e ao meio
ambiente associados aos produtos de algodão tradicional, que requerem altos insumos
de pesticidas e fertilizantes químicos. “É a
única forma inteligente de fazer negócio”,
diz Heidi McCloskey, diretora de
Sustentabilidade Global da Nike Apparel.
“Ao administrar e retirar todos os produtos danosos, a Nike não correrá o risco de
custos maiores no futuro”. Em 2001, mais
de um terço das peças de algodão que a
empresa produziu continham pelo menos
3% de algodão orgânico certificado.17
A Nike está na vanguarda das empresas
que hoje pretendem assumir um papel de
destaque na introdução de produtos verdes
no mercado. Em 2001, ajudou a lançar a
Bolsa Orgânica, uma rede de 55 empresas
que pretende ampliar substancialmente o uso
de algodão orgânico na indústria ao longo
dos próximos 10 anos. Outras empresas,
incluindo Texas Instruments, Levi Strauss
e Ford Motor Company, juntaram-se à Coalizão de Papel Reciclado, fundada em 1992,
para utilizar a força do poder aquisitivo
corporativo para incrementar a oferta e qualidade de produtos de papel reciclado (e afastar as empresas do papel virgem antes que
regulamentos o façam). Os 270 membros
da coalizão adquiriram quase 150.000 toneladas de papel reciclado em 2002, com um
teor pós-consumo médio de 29%.18
Mas equilibrar compras verdes com
motivação corporativa de lucro pode ser
um processo delicado. Uma vez que as
empresas têm, no final das contas, de se
manter fiéis a seus propósitos, acionistas e fornecedores, em alguns casos fazer a coisa certa pode ainda ser uma desvantagem competitiva. Jeffrey Hollender,
diretor-presidente da Seventh Generation,
157
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
fabricante de produtos ambientalmente
seguros, observa que sua empresa está
constantemente comparando a urgência
de incrementar o conteúdo reciclado de
seus produtos com o alto custo de fazêlo. “No fundo, é muito melhor fabricar
um produto menos benéfico ao meio
ambiente durante um certo tempo do que
se ver fora do ramo e sem condições de
fazer qualquer diferença”. Hollender diz:
“O truque é conseguir um equilíbrio entre avançar rápido demais e não avançar
rápido o bastante”.19
Ao longo da última década, as demandas por licitações públicas mais verdes
também aumentaram. Mais recentemente, os delegados presentes à Cúpula Mundial de 2002 sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, reiteraram a
necessidade de “promover políticas de licitações públicas que encorajem o desenvolvimento e difusão de bens e serviços
ambientalmente seguros”. Muitos governos também reconhecem, cada vez mais,
o valor de operações verdes como forma
de reduzir custos e alcançar objetivos mais
abrangentes de políticas ambientais, como
redução do lixo e atendimento das metas
de eficiência energética.20
Embora alguns governos já tenham
adotado medidas para esverdear suas
aquisições 20 anos atrás, a maior parte
das ações só ocorreu a partir dos anos
90. (Vide Tabela 6-2.) Vários países –
incluindo Áustria, Canadá, Dinamarca,
Alemanha, Japão e Estados Unidos –
hoje possuem leis ou políticas rigorosas
que obrigam órgãos governamentais a
comprarem verde (embora isso não signifique que sempre o façam). Na maio-
158
ria dos outros países, onde já ocorrem
compras verdes, as normas ou “recomendam” que os adquirentes considerem opções ambientalmente desejáveis
ou não há norma alguma, embora compradores tenham condições de considerar variáveis ambientais nas aquisições.
Da mesma forma que em termos industriais, grande parte da atividade governamental tem focado a compra de produtos reciclados ou eficientes em energia, apesar de o interesse em energia
renovável e outras aquisições verdes
também ter aumentado. 21
Também tem havido uma onda de
compras verdes por parte de governos
municipais, estaduais e regionais.
Christoph Erdmenger, coordenador das
atividades de ecolicitações do Conselho
Internacional para Iniciativas Ambientais
Locais (ICLEI, na sigla em inglês), observa que na maioria dos países agressivos em aquisições verdes foram as autoridades locais que se puseram na vanguarda. Na Europa, 250 líderes municipais em mais de 30 países comprometeram-se, na Declaração de Hanover de
2000, “a utilizar seu poder aquisitivo para
direcionar o desenvolvimento, visando
soluções sociais ambientalmente seguras”. Kolding, na Dinamarca, estabeleceu
uma meta ambiciosa em 1998 de incorporar considerações ambientais a 100%
de sua estrutura de aquisições até 2002.
Em maio de 2001, cerca de 70% de seus
pedidos especificavam e incorporavam
exigências ambientais, principalmente nas
áreas de alimentos, equipamentos de escritório, produtos de limpeza, informática
e artigos para tratamento de saúde.22
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Tabela 6-2. Exemplos de Aquisições Governamentais Verdes
Áustria
As atividades em âmbito municipal datam do final dos anos 80. Legislação federal de 1990
e 1993 obriga os órgãos públicos a inserirem critérios ambientais nas especificações dos
produtos. (A Lei de 1993 foi adotada por oito das nove províncias.) A partir de 1997, o
Ministério do Meio Ambiente ajudou as prefeituras e outros ministérios a comprarem
verde. Em 1998, o governo aprovou diretrizes básicas de aquisições verdes em setores como
o de equipamentos de escritório, construção, limpeza e energia.
Canadá
Existe uma forte estrutura nacional, legislativa e política para aquisições verdes. As metas
incluem atingir 20% das compras federais de energia de fontes verdes até 2005 e, onde for
viável, tanto em termos de custo quanto operacionais, operar 75% da frota de veículos
federais com combustíveis alternativos até abril de 2004. O programa Canadá Ambiental
orienta os compradores a considerarem os impactos do ciclo de vida de um produto,
utilizarem produtos ecorrotulados e adotarem critérios de eficiência energética e outros
verdes em suas aquisições.
Dinamarca
Líder mundial em aquisições verdes. Uma lei de 1994 obriga todos os órgãos públicos
federais e municipais a utilizarem produtos reciclados ou recicláveis, e também todas as
autoridades a adotarem uma política de aquisições verdes. Em 2000, 10 dos 14 condados já
haviam adotado essa política. Pelo menos metade dos municípios também declarou já
dispor de políticas implantadas ou em implantação.
Alemanha
Legislação federal sobre o lixo obriga as instituições públicas a darem preferência a produtos
verdes nas suas aquisições. Diretrizes estaduais e municipais também exigem a inclusão de
critérios ambientais nas licitações, embora critérios econômicos assumam prioridade nas
avaliações;
Japão
Outro líder mundial em aquisições verdes, a partir de atividades municipais desde o início dos
anos 90. Uma lei de 2001 obriga organizações governamentais federais e municipais a
desenvolverem políticas e compras específicas de produtos verdes. No início de 2003, 47
órgãos municipais e 12 das principais prefeituras estavam comprando verde, com quase a
metade dos 700 municípios tendo implantado essa política. O maior avanço está nos
setores de papel, artigos de escritório, informática, veículos e eletrodomésticos.
Reino Unido
Regulamentos permitem aos compradores utilizarem critérios ambientais nas aquisições,
contanto que isso não prejudique a livre concorrência. As autoridades podem escolher que
peso aplicar a critérios ambientais e outros ao adjudicarem contratos. Órgãos governamentais
são obrigados a adquirir pelo menos 5% de sua energia de fontes renováveis até março de
2003, quando deverão aumentar para 10% até 2008.
Estados Unidos Uma ampla variedade de leis e diretrizes exige que os órgãos federais adquiram itens verdes,
incluindo produtos com conteúdo reciclado e eficientes em energia, e veículos bi-combustível.
A coordenação e implementação nas agências têm sido fracas, mas estão melhorando.
Entre os estados, 47 do total de 50 possuem programas “compre reciclado” desde o final
dos anos 80. Pelo menos uma dúzia de estados ampliaram esses programas para incluir
outras compras verdes.
FONTE: Vide nota final 21.
159
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Os Estados Unidos também têm testemunhado um maior avanço no esverdeamento das aquisições públicas mais em
âmbito estadual e municipal do que federal. Em 1999, Santa Mônica, na Califórnia,
tornou-se a primeira cidade a adquirir 100%
de sua energia municipal de fontes
renováveis, inclusive energia geotérmica e
eólica. O estado de Minnesota hoje tem
cerca de 110 contratos diferentes para produtos e serviços verdes, incluindo veículos bicombustível, produtos de limpeza de
baixa toxicidade, computadores eficientes
em energia e tinta sem solventes. Outros
pioneiros locais incluem os estados de
Massachusetts, Vermont e Oregon; a cidade de Seattle, Washington e o condado de
Kalamazoo, em Michigan.23
No mundo em desenvolvimento, Taiwan
é um dos poucos países que formalizaram
aquisições públicas verdes, declarando uma
preferência por produtos verdes aprovados
num decreto presidencial de 1998. Outros
governos promulgaram leis em apoio a programas de reciclagem; todavia, as iniciativas para agilizar a promoção e compra de
produtos reciclados não têm avançado muito. Está se discutindo a inclusão de compras verdes nas políticas públicas no Brasil,
Irã, México e Tailândia, e o governo de
Mauritius movimenta-se para um uso maior
de plásticos e papéis reciclados, tendo introduzido lâmpadas mais eficientes de neon
na iluminação pública.24
Na maioria dos casos, ainda é cedo para
julgar o impacto global desses pioneiros.
Todavia, alguns sucessos de destaque apontam para a tremenda capacidade das aquisições verdes influenciarem mercados. Por
exemplo, o ICLEI atribui a ascendência do
160
papel reciclado sobre o suprimento padrão
nos escritórios de muitos países europeus
às demandas cumulativas dos poderes públicos, que têm proporcionado a esse produto uma vantagem competitiva. Uma mudança semelhante ocorreu quando o governo dos Estados Unidos aumentou para 30%
a norma de teor reciclado nas compras de
órgãos federais, em 1998. Em 1994, apenas
12% do papel de copiadoras adquirido por
agências federais tinha conteúdo reciclado,
e mesmo assim apenas 10% de material
reciclado. Em 2000, entretanto, 90% do papel
adquirido pelos dois principais compradores do governo tinha conteúdo reciclado de
30%. O aumento da demanda pública não
só incrementou o padrão global do mercado
para teor reciclado como também ajudou a
elevar o padrão do principal fornecer de papel reciclado para o governo, Great White.25
Aquisições governamentais verdes podem ser particularmente eficazes em influenciar mercados onde o setor público possui uma participação significativa da demanda global ou onde a tecnologia esteja mudando rapidamente, como no caso dos equipamentos de computadores. O governo dos
Estados Unidos, maior comprador individual de computadores, adquire mais de 1
milhão anualmente – cerca de 7% dos computadores mundiais. Em 1993, o Presidente Bill Clinton assinou uma medida provisória (executive order) exigindo que os órgãos federais só adquirissem equipamentos de computadores que atendessem às
exigências de eficiência descritas no programa Energy Star, do governo. Hoje, em
grande parte como resultado desse aumento de demanda, 95% de todos os monitores,
80% dos computadores e 99% das impres-
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
soras vendidas na América do Norte atendem às normas do Energy Star. Os analistas atribuíram um salto semelhante no desempenho ambiental dos produtos eletrônicos japoneses à predominância desse país
nas aquisições verdes desses itens.26
Pressões e Motivadores
Instituições de todos os tipos sofrem, cada
vez mais, uma ampla variedade de pressões
normativas e de consumidores para que façam compras verdes. Por exemplo, muitos
governos hoje dão rebates, isenções fiscais
e outros incentivos econômicos para encorajar empresas, escolas, indivíduos e outros
consumidores a investirem em tudo, desde
aparelhos eletrodomésticos eficientes em
energia até veículos bicombustível. Em
2002, a Arquidiocese de Los Angeles recebeu milhares de dólares de rebates municipais quando a Catedral de Nossa Senhora
dos Anjos tornou-se o primeiro prédio religioso a instalar painéis solares no telhado,
gerando energia suficiente para suprir a igreja
e mais de 60 residências.27
Os governos também estão utilizando
seu poder normativo para forçar instituições a realizarem compras mais verdes.
Novas leis ou regulamentos que obrigam
os fabricantes a satisfazerem determinados
padrões de eficiência energética ou
reciclagem influenciam a forma como muitas empresas hoje projetam e fabricam seus
produtos. Montadoras, por exemplo, tiveram que repensar tanto suas fontes quanto
seu uso de materiais, a fim de atender às
disposições de uma nova diretriz da União
Européia sobre veículos no fim de sua vida
útil, objetivando reduzir a proporção de
sucatas que acabam em aterros. Até 2007,
85% (em peso) de cada veículo novo deverá ser fabricado com componentes
recicláveis (atualmente a reciclagem de
veículos está limitada a 75% de peso metálico). A DaimlerChrysler pretende superar esse padrão e atingir 95% da capacidade de reciclagem até 2005, em
parte através do incremento do seu uso
de plásticos recuperados e outros materiais. Caso seja amplamente adotado,
esse processo de reciclagem poderá
poupar à indústria automotiva mundial
US$ 320 milhões anuais. 28
Os governos não são os únicos a forçar as instituições a comprar verde. Em
todo o mundo, consumidores individuais
estão começando a incorporar preocupações pessoais sobre sua saúde, meio ambiente e justiça social e a realizar compras
mais verdes em âmbito domiciliar. Hoje,
cerca de 63 milhões de adultos americanos, ou aproximadamente 30% das famílias, realizam alguma forma de compras
ambientais ou socialmente conscienciosas,
de acordo com uma pesquisa realizada pela
LOHAS Consumer Research. No Reino
Unido, compras éticas por indivíduos –
em setores que vão de alimentos orgânicos até energia renovável – aumentaram
19% entre 1999 e 2000, seis vezes mais
rápido do que os mercados globais nos
vários setores.29
Esses consumidores, cada vez mais,
esperam melhor desempenho ambiental
das instituições que os orientam, das empresas que apóiam e dos produtos que
compram. Os fabricantes nos Estados
Unidos divulgam um volume crescente de
pedidos de informação de consumidores
161
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
sobre seus produtos, como, por exemplo,
o teor reciclado. A Pesquisa do Milênio
sobre Responsabilidade Social Corporativa, em 1999, constatou que cerca de
60% dos consumidores em 23 países esperam que as empresas, além de realizarem lucros e gerarem empregos, resolvam
questões-chaves ambientais e sociais através dos seus negócios.30
A pressão dos consumidores foi instrumental na decisão das autoridades municipais em Ferrara, Itália, de introduzir alimentos orgânicos nos lanches escolares. Após
um grupo de pais preocupados chamar
atenção à baixa qualidade da comida servida nos jardins de infância em 1994, a Prefeitura formou uma comissão para estudar
a possibilidade de realizar mudanças nas licitações de alimentos. Dentro de quatro
anos, Ferrara havia sistematizado suas aquisições de alimentos orgânicos num edital
especial de licitação e, em 2000, 80% dos
alimentos servidos nos jardins de infância
municipais eram orgânicos.31
Números crescentes de consumidores,
acionistas e organizações não-governamentais (ONGs) também estão participando de
boicotes e outras ações diretas de pressão
a empresas para mudarem suas práticas de
compras. Nos últimos anos, grupos
ativistas, como a Rainforest Action
Network (RAN) e ForestEthics, organizaram atos públicos nos Estados Unidos e
em todo o mundo para pressionar grandes
varejistas, como a Home Depot, a parar de
adquirir produtos de madeira oriundos de
florestas virgens. (Vide Quadro 6-2.)
Michael Marx, diretor executivo da
ForestEthics, observa que um fator-chave
por trás do sucesso dessas campanhas foi
162
seu foco no setor privado: “É importante
visar as corporações, porque têm uma imagem. O objetivo é aumentar o custo de fazer negócio de forma ambientalmente danosa”. Marx acredita que boicotes e outras
ações de maculação pública podem ser
muito mais eficazes para conseguir mudanças ambientais do que, por exemplo, lobbies
por ações normativas que podem levar anos
ou até mesmo décadas.32
Hoje, cerca de 63 milhões de
adultos, ou o aproximadamente
30% das famílias nos Estados
Unidos, realizam alguma forma
de compras ambientalmente
responsáveis.
Em outros casos, as ONGs estão entrando em parcerias com as principais
corporações para ajudá-las a redirecionarem
seu grande poder aquisitivo para objetivos
ambientais. A Aliança para Inovações
Ambientais, um projeto da Environmental
Defense, uma ONG sem fins lucrativos,
está trabalhando com empresas como
Citigroup, Starbucks, Briston-Myers
Squibb e Federal Express para alterar
suas compras de papel, veículos e outros produtos. E o Programa Salvadores do Clima, uma iniciativa conjunta do
Fundo Mundial para a Natureza e Center
for Energy and Climate Solutions, da
Virginia, trabalha com empresas globais
como Johnson & Johnson, IBM, Nike e
Polaroid para incrementar sua eficiência energética e uso de energia verde.
Igualmente o World Resources Institute
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
está recrutando grandes empresas para
ajudá-lo a atingir seu objetivo de desenvolver mercados corporativos para 1.000
megawatts de nova energia verde até
2010 – capacidade suficiente para
750.000 lares americanos.33
QUADRO 6-2. COMPROMISSO DA HOME DEPOT COM PRODUTOS DE
MADEIRA SUSTENTÁVEL
Em meados dos anos 90, a Rainforest Action
Network (RAN), de São Francisco, lançou
uma campanha de destaque para pressionar a
Home Depot, maior varejista mundial de
artigos para o lar, a aprimorar suas práticas
compradoras de madeira. Essa cadeia
varejista de Atlanta vende mais de US$ 5
bilhões em produtos de madeira, portas,
compensados e outros anualmente através de
suas 1.450 lojas em todo o mundo.
RAN agiu em boicotes, demonstrações em
lojas, campanhas publicitárias e ativismo
acionário para chamar a atenção do público à
prática da Home Depot de adquirir madeira
oriunda de florestas sob grave ameaça de
extinção na Colúmbia Britânica, Sudeste
Asiático e Amazônia. Em agosto de 1999, em
resposta a essa pressão, a empresa anunciou
que iria eliminar gradativamente todas as
compras de madeira virgem até o final de
2002. Em janeiro de 2003, já havia reduzido
suas compras de lauan da Indonésia (madeira
nobre tropical utilizada em componentes de
portas) em 70%, deslocando mais de 90% de
suas compras de cedro para florestas de
segunda e terceira geração nos Estados
Unidos. Hoje, a empresa informa saber as
fontes originais de aproximadamente 8.900
produtos de madeira.
A Home Depot também comprometeu-se a
dar preferência a produtos certificados como
originários de florestas sob manejo sustentável.
(Atualmente, cerca de 1% da madeira vendida
mundialmente é certificada). Entre 1999 e 2002,
o número de seus fornecedores que vendiam
madeira aprovada pelo Forest Stewardship
Council (FSC) – Conselho de Manejo Florestal
–, um dos principais órgãos de certificação
florestal, saltou de apenas 5 para 40, e o valor
de suas compras certificadas disparou de US$
20 milhões para mais de US$ 200 milhões.
A decisão da empresa causou um efeito
marola significativo nos mercados de produtos
para o lar e de construção. Dentro de um ano
de sua mudança de política, varejistas que
representavam mais de um quinto da madeira
vendida para o mercado de reformas
residenciais nos Estados Unidos, inclusive
seus principais concorrentes, Lowe’s e
Wickes, Inc., anunciaram que eles também
iriam eliminar gradativamente produtos de
florestas ameaçadas, substituindo-os por
madeira certificada. Duas das maiores
construtoras do país também
comprometeram-se a não comprar madeira
ameaçada.
Essas mudanças de política elevaram o
padrão global da indústria madeireira. Com
muitas empresas hoje movimentando-se para
obter aprovação do FSC, em breve será um
entrave para outros produtores de madeira não
se certificarem. Michael Marx, da
ForestEthics, observa que “ uma declaração da
Home Depot fez mais para mudar as práticas
madeireiras da Colúmbia Britânica do que 10
anos de protestos ambientais”.
Porém, críticos lamentam que a Home Depot
não tenha ido longe o bastante no uso de sua
força de mercado para influenciar seus
fornecedores. Um obstáculo tem sido o custo
mais alto na compra de madeira certificada ou
na produção de alternativas sintéticas, embora a
Home Depot tenha concordado em absorver
qualquer aumento de preço. Outro desafio foi
afastar consumidores de opções
ambientalmente inseguras. De acordo com a
empresa, poucos clientes pedem,
especificamente, madeira certificada.
_______________________________________________________
FONTE: vide nota final 32.
163
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Superando Obstáculos
Nos últimos anos, a economista Júlia
Schreiner Alves vem tentando forçar seu
patrão, o governo do estado de São
Paulo, no Brasil, a esverdear suas aquisições. Com uma população de 30 milhões,
São Paulo é o primeiro entre todos os estados brasileiros em poder aquisitivo. Mas
Alves é uma das únicas pessoas em sua
repartição a pressionar por compras mais
verdes, e diz que muitos colegas, particularmente no Departamento de Compras,
são simplesmente insensíveis ao potencial de as aquisições verdes gerarem mudanças ambientais positivas.34
Em termos práticos, o sucesso de compras verdes freqüentemente é resultado do
papel do comprador profissional. O Departamento de Licitação de uma instituição
exerce um poder considerável. Nos Estados Unidos, os departamentos de compras
governamentais supervisionam 50–80% de
todas as aquisições. Quando a compra é
altamente centralizada, uma única decisão
tomada por apenas um ou um punhado de
compradores pode causar uma tremenda
marola, influenciando a comprar os produtos utilizados centenas e até milhares
de pessoas. Dessa forma, as aquisições
de compradores institucionais têm
freqüentemente maiores conseqüências
para o planeta do que as escolhas diárias
da maioria dos consumidores domésticos.35
Infelizmente, muitos compradores ainda não estão explorando seu tremendo
poder para alavancar mudanças. Em alguns casos, simplesmente não têm conhecimento da influência que poderiam exercer. Mas também enfrentam graves obs-
164
táculos legais, políticos e institucionais em
todas as etapas de seu trabalho – desde o
estabelecimento de um programa de aquisições verdes até a seleção dos produtos
verdes. Se essas barreiras não forem superadas e a lacuna entre boas intenções e
resultados práticos não for preenchida, as
atuais iniciativas pioneiras de aquisições
verdes poderão ser engolidas pela crescente maré do consumo.
Devido ao complexo arcabouço legal
em torno das licitações, a inserção de exigências verdes no processo de compra é
geralmente mais fácil de falar do que de
fazer. Regras licitatórias podem variar a
depender do volume, valor ou tipo de aquisição, criando dificuldades para o comprador determinar se considerações
ambientais são compatíveis com os procedimentos existentes. Compras verdes
podem ser particularmente desafiadoras no
mundo em desenvolvimento, em que normas ambientais ou de produtos são
freqüentemente tão fracas que compradores realizam aquisições de má qualidade
ou até perigosas. Corrupção e fiscalização fraca nas licitações dão pouco incentivo aos compradores para agirem com
maior eficiência ou comprarem produtos
ambientalmente seguros.36
Quando governos em todo o mundo
atualizam seus procedimentos licitatórios e
fecham as brechas que fomentam ineficiência, desperdício e corrupção, isso pode:
ou levar a regulamentos mais restritivos,
que dificultam comprar verde, ou oferecer
novas oportunidades. A Comissão Européia,
por exemplo, está hoje explorando as possibilidades legais de aquisições verdes nos
termos das Diretrizes de Aquisições da
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
União Européia, que historicamente nunca
fizeram referência a questões ambientais.
Um comunicado de julho de 2001 analisou
como critérios verdes poderiam ser integrados em diferentes etapas das aquisições
da UE, desde especificação de produtos até
seleção de fornecedores.37
Além das incertezas legais correntes,
as aquisições verdes enfrentam gigantescos desafios políticos À medida que crescem os mercados de produtos ambientalmente desejáveis, as indústrias que mantêm interesse na produção convencional
(como a indústria petrolífera, empresas
de fertilizantes e outros fabricantes de
produtos ambientalmente inseguros) provavelmente sairão perdendo. Esses interesses estão exercendo uma influência
significativa para pressionar decisões de
compras institucionais, a fim de impedir
que os produtos alternativos ganhem espaço. Durante anos, Tom Ferguson, da
Perdue AgriRecycle, tem comparecido a
feiras comerciais e angariado apoio de
compradores governamentais para seu
fertilizante orgânico, derivado de dejetos
reciclados de aves. Mas não está penetrando no mercado, diz este, porque os
códigos de especificações federais não
permitem que compradores adquiram
produtos alternativos como os que vende. Ferguson observa que grupos industriais poderosos, como o Fertilizer
Institute, protegerão os contratos químicos do agronegócio a qualquer custo. E
“se o produto ou serviço não estiver dentro das especificações governamentais,
então as mãos do comprador governamental – não importa quão bem-intencionado seja – estão amarradas”.38
Muitas iniciativas de aquisições
verdes falham porque as
organizações não estabelecem
metas rígidas para a atividade
e não há prestação de contas.
Mesmo quando o clima político é mais
receptivo, compradores enfrentam outros
obstáculos às compras verdes. Na maioria
das instituições, as regras os obrigam a adquirir o produto ou serviço que melhor atenda
às suas necessidades no menor preço, o que
elimina produtos mais ambientalmente desejáveis, mais caros. Luz Aída Martinez
Meléndez, do Ministério do Meio Ambiente
e Recursos Naturais do México, reclama que
encontrar produtos alternativos acessíveis
é uma das maiores barreiras a compras verdes em seu departamento.39
Mas algumas instituições estão encontrando formas inovadoras de lidar com a
questão do preço. Em 2001, a cidade de
Chicago e 48 subúrbios reuniram seus recursos jurisdicionais para adquirir um bloco maior de eletricidade a uma taxa reduzida, aplicando o valor economizado no atendimento de pelo menos 20% das necessidades energéticas do grupo de fontes
renováveis até 2006. A cidade de Kansas e
o condado de Jackson, no Missouri, concordaram em pagar um ágio de 15% para
combustíveis alternativos, produtos de limpeza e outros considerados ambientalmente
seguros. Outras instituições permitem que
compradores comparem produtos com
base no custo em função da vida útil, em
vez de simplesmente no valor de aquisição
– que freqüentemente demonstra que a
opção verde é mais barata.40
165
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Também há obstáculos institucionais
internos a aquisições verdes. Devido a
muitas organizações não possuírem um histórico de responsabilidade ambiental, fazer
com que funcionários reconheçam os benefícios da adoção de práticas mais
ambientalmente seguras pode levar tempo.
Compradores, gerentes e usuários finais
estão muito acostumados ao status-quo e
resistentes a novos métodos que possam
complicar seu trabalho. Ademais, persiste
muito ceticismo quanto à funcionalidade de
muitos produtos verdes. Por exemplo,
muitos compradores ainda evitam adquirir
papel reciclado porque acreditam que sua
qualidade seja de baixo padrão, embora esses tipos de problemas já venham sendo
superados em grande parte.
Selecionar um foco para aquisições verdes pode também ser uma tarefa desafiadora. Deveria uma instituição visar produtos menores, como produtos de limpeza,
móveis para escritórios e papel, ou itens
maiores, como prédios e transportes?
Idealmente, a iniciativa enfocaria mudanças que pudessem fazer a maior diferença
no todo em termos de benefícios
ambientais e influência de mercado. Porém
isso geralmente não ocorre. Stuttgart, na
Alemanha, por exemplo, enfoca suas aquisições verdes principalmente em papel, produtos de limpeza e equipamentos de
informática, embora 80% dos gastos municipais sejam em eletricidade, aquecimento e construção e renovação de prédios.41
No final das contas, o alvo de uma instituição poderá depender de suas prioridades
ambientais, limitações legais e financeiras e
facilidade ou probabilidade de realizar mudanças. Santa Mônica, na Califórnia, deu
166
partida às suas iniciativas de aquisições verdes em 1994, com produtos de limpeza
menos tóxicos, porque já existia um amplo
conhecimento sobre produtos alternativos.
Sem muita pesquisa adicional, os compradores podiam substituir limpadores tradicionais por opções menos tóxicas em 15 das
17 categorias de produtos, economizando
5% em custos anuais e evitando a compra
anual de 1,5 tonelada de materiais perigosos. A Rede de Aquisições Verdes, do Japão,
que encoraja os consumidores de todos os
tipos a comprarem verde, é bem-sucedida
porque enfoca principalmente artigos de escritório e produtos eletrônicos. (Alguns dos
seus membros, que incluem prefeituras,
corporações e ONGs, atingiram 100% de
aquisições verdes nesses itens.)42
Uma maneira importante de institucionalizar as aquisições verdes é estabelecer
uma política ou lei explícita, reforçando a
atividade. A estratégia de Copenhague, que
entrou em vigor em 1998, especificou que
dentro de dois anos todos os artigos de
escritório tinham que ser isentos de PVC,
todas as fotocopiadoras tinham que utilizar
100% de papel reciclado, todas as impressoras tinham que imprimir nas duas faces
do papel e todos os cartuchos de toner tinham que ser reutilizados.43
Porém, ter uma política nem sempre
garante que será aplicada. A norma avançada de licitações de madeira do Reino Unido é um exemplo. Em 2000, em resposta à
crescente preocupação mundial sobre atividades madeireiras ilegais, o governo central adotou uma política exigindo que todos os departamentos e agências “se empenhassem ativamente” na compra de produtos de madeira certificada como origi-
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
nária de florestas de manejo sustentável.
Uma investigação do Greenpeace, em abril
de 2002, todavia, revelou que as autoridades, claramente, desconsideraram essa lei
quando reformaram a Sala do Gabinete do
Governo, em Londres, com sapele da África, uma madeira ameaçada. Investigando
o incidente, a Comissão de Auditoria
Ambiental da Câmara dos Comuns confirmou que não tinha havido “qualquer evidência sistemática ou até mesmo empírica
de qualquer mudança nos padrões de aquisições de madeira”.44
Muitas leis de aquisições verdes nos Estados Unidos também deixam a desejar. Nos
termos da Lei de 1976 sobre Conservação e
Recuperação de Recursos Naturais, e suas
reedições subseqüentes, as agências federais estão obrigadas a considerar o uso de
produtos reciclados, biofundamentados e
outros ambientalmente desejáveis em suas
licitações e contratações acima de um valor
determinado. Porém, dois relatórios recentes da Agência de Proteção Ambiental (EPA)
e do Departamento Geral de Contabilidade
dos Estados Unidos comprovaram que não
apenas poucas agências federais estavam
atendendo às exigências legais, mas também
que a maioria dos compradores sequer tinha conhecimento das normas.45
Julian Keniry, diretora do programa
Ecologia no Campus, da National Wildlife
Federation, diz que muitos esforços de
aquisições verdes falham porque as organizações não estabelecem metas rígidas para a atividade e não há prestação
de contas. “Só políticas não é suficiente”, diz. “Precisam ser acompanhadas de
um processo de estabelecimento de metas. Do contrário, são apenas palavras no
papel”. Quanto mais específicas e
quantificáveis forem as metas de uma
instituição, maior a probabilidade de ocorrerem aquisições verdes.46
Em alguns casos, as instituições não
impõem sanções por não-cumprimento,
havendo pouco incentivo para os compradores seguirem os regulamentos. A pesquisa da Agência de Proteção Ambiental
em 2000, por exemplo, atribuiu o
descumprimento da legislação americana
de “comprar reciclado” à falta de aplicação da lei; mesmo quando os compradores tinham conhecimento das regras, nem
sempre as consideravam obrigatórias. A
fim de encorajar o cumprimento,
Vorarlberg, na Áustria, realiza hoje uma
competição regional para premiar a prefeitura mais ambientalmente amigável por
suas práticas de compras, enquanto, nos
Estados Unidos, Massachusetts premia os
melhores compradores verdes do estado,
município ou setor privado.47
Ao mesmo tempo, a maioria dos sistemas institucionais de contabilidade não foram planejados para rastrear aquisições de
produtos reciclados ou verdes, dificultando a monitoração da atividade. A
descentralização em andamento nas operações de compra de muitos governos, universidades e outras atividades de compras
institucionais agravam o problema contábil.
Os principais órgãos públicos do Canadá
hoje emitem cerca de 35.000 cartões de
crédito individuais, que permitem aos funcionários selecionar e debitar seus próprios suprimentos até um teto prefixado, enquanto mais da metade das compras federais nos Estados Unidos são debitadas em
cartões bancários governamentais.48
167
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Algumas instituições estão lidando
com o problema de monitoração da forma antiga: conferindo à mão os recibos
de compras verdes. Outros, porém, estão desenvolvendo sistemas mais sofisticados. Kolding, na Dinamarca, está criando uma forma eletrônica de registrar
aquisições verdes, e o governo dos Estados Unidos avançou inserindo um sistema automatizado de rastreamento de produtos verdes no sistema federal de aquisições. Outras instituições isentam-se totalmente da responsabilidade, transferindo o ônus para os fornecedores. A varejista de energia renovável americana
Green Mountain Energy, por exemplo,
exige que seu fornecedor de papel Boise
Cascade apresente relatórios sumários
sobre todas as compras de papel
reciclado da Green Mountain.49
Identificando
Produtos Verdes
Um desafio adicional nas compras verdes
é saber exatamente o que procurar. Relativamente pouco se sabe sobre as características ambientais da maioria dos produtos e serviços no mercado hoje, dificultando o trabalho de comparação eficaz dos
produtos pelos compradores. Traçar as
origens de um produto por toda a cadeia
produtiva pode ser complicado. Um comprador pode, involuntariamente, adquirir
papel originário de florestas virgens do sudeste da Ásia (onde as florestas estão rapidamente sendo desmatadas para agricultura e outros fins) porque foi reembalado e
vendido sob tantas marcas diferentes que
mesmo a maioria dos vendedores não pode
168
confirmar sua origem. Sem o tempo ou
antecedentes científicos para uma pesquisa extensa da oferta de produtos verdes,
muitos compradores simplesmente preferem que alguém lhes diga o que comprar.50
A ausência de informações ambientais
seguras deixou muitos fabricantes,
ambientalistas e outros confusos sobre o
que exatamente constitui um produto ou
serviço “verde”. Deverá um papel
“ambientalmente seguro”, por exemplo,
conter uma porcentagem máxima de conteúdo reciclado? Vir de uma floresta explorada sustentavelmente? Ser processado
sem uso de cloro? Ou uma combinação
dessas? Para muitos produtos verdes, ainda não existem padrões ou especificações
ambientais amplamente reconhecidos. Em
alguns casos, os produtos verdes são tão
inovadores que apenas um punhado de
empresas os produzem, ou são submetidos a tamanha mudança tecnológica que
padrões ou especificações simplesmente
nem foram desenvolvidos. Entretanto, sem
um acordo sobre o que seja efetivamente
“verde”, muitos fabricantes relutam em investir em tecnologias mais ambientalmente
seguras.51
Felizmente, estão sendo desenvolvidas
ferramentas sofisticadas para ajudar tanto
fabricantes quanto compradores a avaliar
o desempenho ambiental dos produtos.
Uma técnica particularmente promissora,
a avaliação de ciclo de vida, oferece uma
metodologia para identificar e quantificar
os insumos, produtos e impactos
ambientais potenciais de um determinado
produto ou serviço por toda a sua vida.
(Vide Quadro 6-3.) A Volvo, por exemplo,
hoje aplica considerações de ciclo de vida,
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
QUADRO 6-3. AABORDAGEM DE CICLO DE VIDA
Uma abordagem de ciclo de vida nos permite
verificar as conseqüências involuntárias de
nossas ações durante toda a vida dos produtos
– desde a extração da matéria-prima até a
disposição final. Oferecendo informações mais
completas sobre tudo, desde nossos sistemas
de transportes até nossas fontes energéticas,
pode nos ajudar a reorientar o consumo numa
direção mais sustentável. “Os consumidores
estão cada vez mais interessados no mundo
por trás dos produtos que adquirem”, observa
Klaus Töpfer, diretor executivo do PNUMA
(Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente). “O conceito de ciclo de vida
significa que cada um de nós, por toda a cadeia
do ciclo de vida de um produto, do berço ao
túmulo, tem responsabilidade e um papel a
desempenhar”.
Em 2001, em resposta a uma convocação de
governos por uma economia de ciclo de vida, o
PNUMA e a Sociedade de Toxicologia e
Química Ambiental iniciaram, conjuntamente,
uma Iniciativa de Ciclo de Vida. Através de
seus três programas principais – Gestão de
Ciclo de Vida, Inventário de Ciclo de Vida e
Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida –, a
a fim de prestar informações detalhadas
sobre os vários impactos ambientais que
surgem durante a fabricação e uso dos veículos. E o novo software BEES (sigla em
inglês para Construir para a Sustentabilidade
Ambiental e Econômica) do Departamento
de Comércio dos Estados Unidos utiliza
dados de ciclo de vida para assessorar compradores na comparação e classificação do
desempenho ambiental e econômico de
materiais de construção, com base nos seus
impactos relativos em áreas como aquecimento global, qualidade do ar interno,
exaustão de recursos e resíduos sólidos.52
iniciativa busca desenvolver e disseminar
ferramentas práticas para avaliar
oportunidades, riscos e compensações
associados a produtos e serviços ao longo do
seu ciclo de vida. A iniciativa é regida por um
Painel Internacional de Ciclo de Vida, que
também age como o principal fórum global
para especialistas e interessados em ciclo de
vida em todo o mundo.
A Iniciativa contribui também para um
arcabouço de programas decenais mais
amplos, que promovem as normas de
consumo e produção sustentáveis solicitadas
na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável de 2002, em Joanesburgo. O Plano
de Ação de Joanesburgo enfatizou a
necessidade de “políticas que melhorem os
produtos e serviços fornecidos, reduzindo ao
mesmo tempo impactos ambientais e à saúde e
utilizando, onde seja indicado, abordagens
científicas, como a análise de ciclo de vida.”
– Guido Sonnemann, Divisão de
Tecnologia, Indústria e Economia, PNUMA
___________________________________________
FONTE: vide nota final 52.
Acordos também estão surgindo, pelo
menos entre alguns grupos interessados,
sobre como definir certos produtos verdes, como papel e produtos de limpeza. Em
novembro de 2002, cerca de 56 grupos
ambientalistas da América do Norte adotaram um conjunto de critérios ambientais
comuns para papel ambientalmente desejável e divulgaram orientação detalhada para
assessorar compradores em suas escolhas.
Naquele mesmo ano, compradores governamentais, representantes da indústria e
grupos ambientalistas uniram-se sob uma
nova Iniciativa Norte-Americana de Aqui-
169
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
sições Verdes, a fim de desenvolverem critérios e linguagem contratual uniformes para
aquisições verdes de energia, papel e produtos de limpeza. Um grupo de trabalho
conquistou uma grande vitória ao concordar com um conjunto único de critérios para
a identificação de produtos verdes de limpeza em contratos públicos (anteriormente, os compradores chegavam a utilizar até
17 tipos diferentes de linguagem
contratual).53
Muitos compradores (e outros consumidores) também procuram orientação sobre iniciativas nacionais, regionais e globais
de ecorrotulagem. Ecorrótulos são selos de
aprovação utilizados para indicar que um
produto atende a critérios específicos de
segurança ambiental durante uma ou mais
etapas de seu ciclo de vida. Embora a variedade de produtos e serviços ecorrotulados
seja relativamente pequena, esses rótulos já
podem ser encontrados em vários itens, desde eletricidade verde até produtos de madeira. Os certificadores incluem órgãos governamentais, ONGs, grupos profissionais ou
privados e entidades de certificação internacional. (Vide também Capítulo 5.)54
Algumas instituições permitem que seus
compradores exijam especificamente itens
ecorrotulados em seus contratos. A cidade
de Ferrara, na Itália, por exemplo, procura
comprar papel com o rótulo da Nordic
Swan. Porém muitos compradores (particularmente governamentais) hesitam em
endossar produtos ecorrotulados específicos, exigindo, em vez disso, que seus fornecedores satisfaçam os critérios básicos
dos rótulos. O estado da Pensilvânia demonstrou o desejo de adquirir apenas produtos de limpeza e tintas que atendam aos
170
critérios estabelecidos pela Green Seal,
uma organização americana sem fins lucrativos que desenvolveu padrões
ambientais rigorosos em cerca de 30 categorias de produtos. Uma das grandes preocupações é que a escolha de produtos de
rotulagem específica poderá criar uma
barreira comercial injusta, nos termos da
regras da Organização Mundial do Comércio, discriminando pequenos fornecedores, que talvez não possam arcar com os
custos de qualificação às condições dos
rótulos. (Vide Capítulo 7.)55
A Rede de Aquisições Verdes,
do Japão, tem hoje cerca de
2.730 membros, incluindo Sony,
Toyota e Canon.
Tem surgido também forte oposição
à ecorrotulagem por parte da indústria,
particularmente nos Estados Unidos. O
presidente da Green Seal, Arthur
Weissman, explica que fabricantes como
Procter & Gamble, principal produtor de
artigos domésticos, utilizam várias táticas – desde argumentos legais até forte
lobby governamental – para evitar que
produtos verdes certificados entrem no
mercado americano. “Na visão deles, interrompo o relacionamento com o consumidor”, diz Weissman... “terceiros interferindo com a marca”. 56
Em alguns casos, fabricantes globais
com múltiplas linhas de produtos têm
resistido aos esforços de especificar qualquer um dos seus produtos como
ambientalmente desejável, por temerem
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
que isso possa denegrir suas ofertas convencionais. “Assim que as empresas comecem a identificar alguns dos seus produtos como ambientalmente desejáveis,
os consumidores irão querer saber o que
tem de errado com os outros produtos,
explica Scot Case, diretor de Estratégias
de Aquisição do Center for a New
American Dream. “Uma empresa poderá
sofrer ações legais caso seus clientes
venham a saber que muitos dos seus produtos de limpeza, por exemplo, são poções tóxicas de conhecidos cancerígenos
e toxinas reprodutivas”.57
Hoje, várias outras ferramentas também ajudam os compradores a identificar com mais facilidade produtos e serviços ambientalmente desejáveis. Muitas
organizações divulgam diretrizes de aquisições verdes ou listas de produtos como
referência para seus compradores ou fornecem manuais detalhados de treinamento
para orientar os compradores através do
processo. A Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos, por exemplo, dá recomendações para a aquisição
de cerca de 54 produtos diferentes com
conteúdo reciclado, incluindo cones de
trânsito, cartuchos de toner, madeira plástica, mangueiras de jardim e isolamento
predial. A cidade de Gotenburgo, na Suécia, realiza seminários de treinamento,
palestras e workshops para orientar compradores e outros interessados sobre exigências legais, ferramentas específicas e
melhores práticas para aquisições verdes.
Em 2000, 80–90% dos funcionários municipais (tanto compradores quanto usuários finais) haviam sido treinados em
aquisições verdes.58
Disseminando o Movimento
Durante muitos anos o esforço de divulgar
e promover práticas mais verdes de compras perdeu-se entre duplicação de trabalho e pouca articulação de idéias. Mas isso
está mudando. Hoje, iniciativas em âmbito
internacional, regional e local buscam não
só enfrentar os obstáculos a aquisições
verdes, mas também acelerar sua adoção.
E à medida que mais instituições reconhecem os benefícios, compartilham informações e aprendem com os sucessos e fracassos mútuos.
Várias organizações e redes, especialmente na Europa, América do Norte e Japão, publicam hoje informações sobre aquisições verdes, recolhem histórias de sucesso e divulgam tendências. Visam principalmente instituições com forte poder aquisitivo, como governos e grandes corporações, embora muitas de suas estratégias
também sejam aplicáveis em menor escala. Alguns desses grupos entram em parceria diretamente com líderes industriais e
autoridades governamentais para encorajar aquisições mais verdes. Outros congregam comunidades para boicotarem ou, de
outra forma, pressionarem fabricantes ou
outras instituições a mudar suas práticas
de compra. Muitos também aplicam seus
recursos para promover debates públicos
e gerar interesse da mídia no movimento
de aquisições verdes.
O Programa Ecoaquisições, do ICLEI,
lançado em 1996, é líder na promoção de
aquisições verdes entre governos, empresas
e outras instituições por toda a Europa. Mais
de 50 cidades e prefeituras em 20 países pertencem hoje à Rede Compre Verde, do gru-
171
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
po, que ajuda seus membros na troca de informações e experiências, na união de esforços e nas aquisições verdes conjuntas. A organização também realiza conferências anuais e edita uma revista, distribuída para mais
de 5.000 compradores na Europa. E, em um
dos seus primeiros esforços, a ICLEI está
trabalhando num projeto para quantificar a
economia ambiental associada a aquisições
verdes, a fim de determinar a melhor maneira de combinar estrategicamente o poder de
compra das cidades e divulgar aquisição verde por toda a Europa. Por exemplo, o projeto
constatou que a substituição dos 2,8 milhões
de computadores que os governos da UE
adquirem anualmente por modelos eficientes
em energia poderá reduzir as emissões européias em mais de 830.000 toneladas de dióxido
de carbono equivalente.59
Na América do Norte, o principal proponente de aquisições institucionais verdes
é o programa Aquisições Ambientalmente Desejáveis, da Agência de Proteção Ambiental
(EPA), criado em 1993 por decreto presidencial. O programa oferece apoio e informações em áreas como construção, produtos de escritório, serviços de conferências e
impressão, produtos de limpeza, aquisições
para lanchonetes e produtos eletrônicos. A
EPA também lançou vários projetos-piloto,
incluindo parcerias com o Departamento da
Defesa (para esverdear operações e instalações militares) e com o Serviço Nacional de
Parques (para ajudar os parques tanto a
esverdearem suas compras quanto educarem os visitantes sobre consumo). Através
da sua base central de dados, a EPA também atua como câmara de compensação para
mais de 600 produtos e serviços
ambientalmente desejáveis, incluindo links
172
para 130 especificações de contrato em
âmbito municipal, estadual e federal, para
523 normas de desempenho ambiental de
produtos e para 25 listas de vendedores e
produtos que atendem a essas normas.60
O Center for a New American Dream,
de Maryland, ajuda grandes compradores,
particularmente governos estaduais e municipais, a incorporarem considerações
ambientais em suas decisões de compra.
Seu Programa de Estratégias Aquisitivas foi
um motivador por trás da Iniciativa NorteAmericana de Aquisições Verdes, em 2002,
que visa gerar uma massa crítica para aquisições verdes no continente. O grupo também pretende agir como câmara de compensação para informações sobre aquisições
verdes para fabricantes, compradores e fornecedores.61
A Rede de Aquisições Verdes (RAV), do
Japão, agrega cerca de 2.730 organizações,
incluindo mais de 2.100 empresas (entre
elas Panasonic, Sony, Fuji, Xerox, Toyota,
Honda, Canon, Nissan e Mitsubishi); 360
prefeituras em locais como Tóquio, Osaka,
Yokohama, Kobe, Sapporo e Kyoto e 270
grupos de consumidores, cooperativas e
outras ONGs. A RAV realiza seminários e
exposições pelo país sobre aquisições verdes, publica diretrizes de compras e livros
de dados ambientais de diferentes produtos e serviços e distribui prêmios a organizações exemplares.62
Na área de educação superior, mais de
275 presidentes e chanceleres de universidades em mais de 40 países assinaram a
Declaração de Talloires, em 1990, um plano de ação de 10 pontos que, entre outras
coisas, encoraja as universidades a estabelecerem políticas e práticas de conserva-
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
ção de recursos, reciclagem, redução de
lixo e operações ambientalmente seguras.
No setor hoteleiro, a International Hotels
Environment Initiative, uma rede global sem
fins lucrativos de mais de 8.000 hotéis em
11 países, patrocina uma ferramenta da
Web para ajudar hotéis a melhorarem seu
desempenho ambiental (e economizarem
dinheiro) através de compras diversificadas,
desde iluminação eficiente em energia até
pisos, refrigeradores e frigobares
ambientalmente desejáveis.63
Desde 1992, DaimlerChrysler vem
explorando as florestas tropicais
brasileiras à procura de fibra de
coco e borracha natural seguras,
que utiliza hoje em assentos e
apoios de cabeça dos veículos.
Há esforços também para chamar mais
a atenção da mídia para aquisições verdes.
Em fevereiro de 2001, a Agência de Proteção Ambiental da Dinamarca lançou uma
campanha intensiva na televisão, em jornais
e folhetos para despertar interesse em produtos ecorrotulados. A Rede de Aquisições
Verdes do Japão empenhou-se promovendo
aquisições verdes na televisão, jornais e seminários governamentais e corporativos. Organizações de todos os tipos hoje também
utilizam a Internet para informar seus compradores sobre aquisições verdes, dando dicas e indicando links para produtos e serviços alternativos. O condado de King, no estado de Washington, utiliza seu website
abrangente e boletins via e-mail para disse-
minar histórias de sucesso e outros eventos
de aquisições verdes.64
Já há esforços incipientes para disseminar aquisições verdes no mundo em desenvolvimento, embora ainda reste muito
trabalho a ser feito. O programa ERNIE
(Aquisições Ecorresponsáveis em Países em
Desenvolvimento e Economias Quase Industrializadas) do ICLEI, apoiado pela Global Environment Facility, está trabalhando
com autoridades locais em várias cidades
– inclusive São Paulo, Brasil; Durban, África do Sul, e Puerto Princessa, Filipinas –
para desenvolver projetos-piloto de aquisições verdes. A iniciativa enfoca basicamente a compra de eletrodomésticos eficientes
em energia e visa superar várias barreiras
de mercado e, dentre outras, as licitações
verdes, inclusive a necessidade de capacitar fornecedores e fabricantes locais.65
Uma forma de as instituições ajudarem a
disseminar aquisições verdes no mundo em
desenvolvimento é por meio de suas próprias
licitações, fortalecendo mercados verdes locais. Por exemplo, as Nações Unidas, Banco
Mundial, agências doadoras e corporações
multinacionais operando nesses países podem
esforçar-se para adquirir uma maior parcela
de seus bens e serviços de fornecedores verdes locais, ajudando a capacitar a produção
sustentável. Desde 1992, DaimlerChrysler
vem explorando as florestas tropicais brasileiras à procura de fibra de coco e borracha
natural seguras, que hoje utiliza em assentos
e apoios de cabeça dos veículos. Com isso, a
montadora não só elimina o uso de insumos
sintéticos nessas peças, como também
incrementa mercados locais de materiais
renováveis, gerando renda e emprego para
os produtores.66
173
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Na maioria dos casos, todavia, já é um
grande desafio conseguir simplesmente que
instituições internacionais comprem dos
países em desenvolvimento, quanto mais
comprar verde. Embora algumas dessas
instituições tentem efetivamente comprar
localmente, suas aquisições geralmente favorecem empresas do mundo industrializado. (Na realidade, a maioria das agências
doadoras atrelam sua ajuda a aquisições em
seus próprios países.) Em 2000, apenas um
terço das aquisições do sistema das Nações
Unidas foi no mundo em desenvolvimento.
Ocasionalmente, essas instituições fazem
exigências socialmente responsáveis em
suas aquisições: o UNICEF, por exemplo,
busca desenvolver políticas e estratégias de
origens que apóiem metas nacionais de incremento ao bem-estar das crianças. Mas,
até agora, raramente especificam critérios
ambientais devido, em parte, ao risco de
essas especificações contratuais alienarem
pequenos fornecedores que talvez não possam atendê-las.67
Ao incrementar aquisições verdes nos
países em desenvolvimento, as instituições
internacionais podem não apenas estimular
mercados, mas também aprimorar sua imagem em função das constantes críticas
sobre os impactos ambientais de suas atividades. Há interesse crescente, por exemplo, em inserir critérios ambientais nas licitações associadas a empréstimos do Banco Mundial, como parte de esforços maiores para esverdear as operações do Banco.
O Banco está hoje trabalhando com uma
coalizão de outros bancos multilaterais de
desenvolvimento, agências da ONU e
ONGs para estimular aquisições verdes tan-
174
to dentro quanto fora das instituições membros. Esse grupo interagências espera também incorporar critérios de justiça social
às decisões licitatórias dos membros.68
Evidentemente, as instituições mundiais têm um poder significativo de realizar
mudanças sociais e ambientais por intermédio de suas aquisições. Mas não importa quão ambientalmente seguras sejam
essas aquisições: elas ainda utilizam recursos e geram resíduos. A fim de mitigar
realmente os impactos de seu consumo,
as instituições precisarão buscar meios
para atender a suas necessidades sem adquirirem novos produtos – por exemplo,
eliminando compras desnecessárias e estendendo a vida útil dos produtos existentes. Pori, na Finlância, implementou um
serviço urbano de reutilização de mercadorias que permite aos funcionários de
qualquer repartição municipal negociar ou
dar produtos que não precisem mais. E
desde 1994 o projeto SWAP (sigla em inglês de Sobras com Objetivo), da Universidade de Wisconsin-Madison, subseqüentemente ampliado para todo o estado, vem
ajudando a redirecionar produtos usados
– como mobília de escritório, computadores e outros – de aterros para outros
usuários no campus e em todo o estado.69
Aquisições verdes não são a única forma de minimizar os problemas associados ao consumo excessivo. Mas é um
passo importante no caminho para um
mundo mais sustentável. Como indivíduos, precisaremos pressionar organizações
para as quais trabalhamos e das quais dependemos para que se unam a nós na
construção deste mundo.
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Papel
Durante a maior parte de sua história, o
papel existiu como uma mercadoria
preciosa e rara. Agora cobre o
planeta. Nos tempos atuais,
dificilmente notamos a
quantidade de papel
passando por nossas vidas.
Do conteúdo de nossas
caixas de entradas às
cédulas de nossas carteiras
e até as embalagens de
nossos jantares congelados, o
papel está sempre à mão.
Mundialmente, o consumo do papel
aumentou mais de seis vezes na última
metade do século XX. Os Estados Unidos –
com 331 kg por pessoa, anualmente, e
aproximadamente 30% do uso total mundial
por ano – são o maior consumidor de papel.
Numa base per capita, os japoneses vêm a
seguir, com 250 kg por pessoa. Embora
inventado como um meio de comunicação,
cerca da metade do papel consumido pela
sociedade atualmente tem outro destino:
embalagem. De precioso a descartável – o
papel hoje é responsável por grande parte
do lixo moderno, representando 40% do lixo
sólido urbano que sobrecarrega muitos
países industrializados.1
Embora o papel seja derivado do
“papiro”, uma planta aquática colhida,
amassada e prensada para que os antigos
egípcios registrassem seus hieróglifos, o
papel fibroso como conhecemos
foi inventado na China, menos de
2.000 anos atrás. Nos dois
milênios seguintes, trapos e
cânhamo eram as matérias-primas
mais populares na fabricação do
papel. A Bíblia de Guttenberg, o
primeiro e segundo esboço da
Declaração de Independência
dos Estados Unidos e as obras
originais de Mark Twain foram
todos impressos em papéis feitos de
cânhamo. Só a partir de 1850 Friedrich
Gottlob Keller, da Alemanha, inventou um
método de fabricar papel a partir da
madeira.Foram necessárias várias décadas
para árvores tornarem-se a matéria-prima
preferida, quando outros refinaram as
técnicas de Keller e descobriram novos
métodos de produção em massa de papel,
baseados na madeira.2
No século XXI, dificilmente pensamos em
papel derivado de outra coisa que não de
papel. Realmente, 93% do papel atual vem de
árvores, e a produção de papel é responsável
pela colheita de um quinto da madeira em
todo o mundo. Atualmente, 55% do
suprimento total provém do corte de novas
árvores, 7% provêm de fontes não-arbóreas e
os 38% restantes são provenientes da
reciclagem de papel feito de madeira.3
Árvores em todo o mundo alimentam o
suprimento de papel. As florestas dos
175
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: PAPEL
Estados Unidos são responsáveis pela
maior contribuição, com 30% do total,
porém, nas últimas décadas, essa parcela
está diminuindo à medida que a China e
outros países em desenvolvimento
aumentam a produção. A produção de papel
mudou dentro dos Estados Unidos. Quando
se coibiu a exploração de madeira nas
florestas antigas do noroeste, a produção
de papel transferiu-se para as florestas
secundárias, biologicamente ricas, do
sudeste. Essas florestas agora fornecem um
quarto do papel mundial. E florestas
secundárias fornecem 54% do total de papel
derivado de madeira virgem em todo o
mundo. Plantações arbóreas (muitas vezes
plantadas em terras recém-desmatadas)
chegam quase a 30% e as antigas, na
maioria florestas boreais, são responsáveis
pelos 16% restantes.4
O processo de transformar árvores em
papel começa na serraria, onde uma série de
lâminas circulares reduz toros a pequenas
lascas. As lascas são transportadas para
moagem em usinas a milhares de
quilômetros de distância, onde são
cozinhadas com produtos químicos em
gigantescos caldeirões de pressão e
transformados em uma pasta úmida com a
consistência de um mingau. Lavada e
branqueada várias vezes, essa mistura é
finalmente prensada e secada, resultando
em rolos enormes de papel para consumo.
No final, um pedaço de papel de escrever
pode conter fibras de centenas de diferentes
árvores trazidas coletivamente de milhares
de quilômetros de distância, da floresta para
o consumidor.
Fabricar papel é uma atividade
extremamente intensiva em recursos. Uma
tonelada de papel requer duas ou três vezes
seu peso em árvores, acompanhado de uma
176
grande quantidade de água e energia. No
mundo todo, a indústria de papel e celulose
é o quinto maior consumidor industrial de
energia e usa mais água para produzir uma
tonelada do produto do que qualquer outra
indústria. As fábricas de papel podem ser
vizinhos detestáveis, emitindo odores
desagradáveis e gerando muita poluição da
água e do ar e grande quantidade de
resíduos sólidos. Embora as fábricas de
papel no mundo industrializado tenham
tomado algumas providências para
tornarem-se mais limpas, fábricas em outros
lugares continuam a despejar na atmosfera,
solo e cursos d´água quantidades
estarrecedoras de resíduos tóxicos nãotratados.5
Indivíduos e grandes instituições podem
ajudar a reduzir a carga de papel de vários
modos – desde sendo mais cuidadosos no
seu uso no escritório a sendo mais
diligentes na sua reciclagem. A reciclagem
salva mais do que árvores. O uso de
conteúdo reciclado, em vez de fibras
virgens, para produzir papel gera 74%
menos poluição atmosférica e 35% menos
poluição da água.6
Grandes instituições podem,
particularmente, desempenhar um papelchave direcionando o mercado para papéis
reciclados. Em 2002, os 270 membros da
Recycled Paper Coalition, com sede nos
Estados Unidos – uma organização de
grandes indústrias, organizações nãogovernamentais e órgãos oficiais, formada
para usar o poder da compra a granel para
apoiar o mercado de papel reciclado –
comprou quase 150.00 toneladas de papel
reciclado, com um conteúdo médio, pósconsumo, de 24%.7
A administração dos resíduos de
embalagens também pode gerar bons
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: PAPEL
dividendos. A Alemanha é pioneira nessa
área, com um decreto, em 1991, exigindo que
embaladores e distribuidores recebessem de
volta e reutilizassem, ou reciclassem,
materiais de embalagem, inclusive papel. Nos
três anos seguintes, a reciclagem de papel
descartado na Alemanha subiu para 54%,
após ficar estagnada em 45% por quase 20
anos. Em 2003, o Parlamento da União
Européia adotou uma lei exigindo que os
governos membros estabelecessem metas de
60% para reciclagem do papel até 2008.8
O papel também está voltando, em
escala limitada, a suas origens nãomadeireiras. Várias fibras alternativas estão
agora no mercado – desde o cânhamo,
sempre presente, ao kenaf (um membro
folhudo da família dos hibiscos), resíduos
agrícolas (palhas de cereais, fibras de
algodão, cascas de bananas, cascos de
coco e outros), e mesmo retalhos de jeans.
Muitas agrofibras rendem mais polpa por
hectare do que florestas ou plantações
arbóreas e necessitam menos de pesticidas
e herbicidas. Menos produtos químicos,
tempo e energia são necessários para fazer
a polpa de fibras agrícolas porque contêm
menos lignina, uma substância semelhante
à goma que ajuda plantas e árvores a
manterem-se eretas. No futuro, algumas
dessas fontes não-madeireiras poderão
outra vez tornar-se matérias-primas
significativas de papel.
— Dave Tilford,
Center for a New American Dream
177
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
CAPÍTULO 7
Articulando Globalização,
Consumo e Governança
Lisa Mastny
Em maio de 2003, uma delegação de líderes
indígenas da Amazônia Equatoriana e Peruana visitou Washington, DC, para expor o pesado ônus ambiental e social da extração de
petróleo por corporações americanas em suas
terras. Em seguida às reuniões em Washington, a delegação seguiu para Houston, Texas,
para encontros com a Burlington Resources,
uma empresa que possui duas concessões
de petróleo numa área de 400.000 hectares
dentro de seu território ancestral.1
Em nome dos 100.000 Shuar, Achuar
e Quichua que vivem em aproximadamente
1,6 milhão de hectares de florestas tropicais virgens, a delegação entregou uma
carta ao diretor-presidente da Burlington
Resources, exigindo que a empresa cessasse todas as atividades na área e deixasse o território imediatamente. Citando a
contaminação tóxica e destruição florestal deixadas pelas operações petrolíferas
anteriores em outros locais na Amazônia,
o presidente da Federação Independente
dos Povos Shuar declarou enfaticamente
que “os povos Shuar e Achuar da Amazô178
nia Equatoriana declaram que a posição de
nossas comunidades é não para a exploração do petróleo, não para diálogo e negociações, não para desmatamento, não
para contaminação e não para todas atividades ligadas ao petróleo”.2
Esses líderes indígenas trazem vividamente
à tona o dano enorme e, quase sempre, oculto que o consumo dos países mais ricos do
mundo pode causar a povos e lugares distantes. A visita dessa delegação colocou uma face
humana na tendência da economia global
moderna de isolar os consumidores dos vários impactos negativos de suas compras ao
distanciar as diferentes fases do ciclo de vida
de um produto – da extração da matériaprima ao processamento, uso e disposição
final. Quando as vendas de veículos utilitários esportivos dispararam nos Estados
Unidos durante a última década, por exemplo, será que alguns de seus novos proprietários pararam para pensar na ligação entre sua aquisição e o destino de povos indígenas cujas vidas e meios de vida foram
vilipendiadas na ânsia pelo petróleo?3
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Embora a visita da delegação da Amazônia tenha sido, de certa forma, um alerta, também oferece alguma esperança, pois
demonstrou como os desafios ambientais
e sociais que acompanham a globalização
econômica estão incentivando formas inovadoras de mobilização política através de
fronteiras internacionais. A fim de mudarmos para padrões de produção e consumo
ambientalmente sustentáveis mundialmente, precisaremos fortalecer essas alianças
em busca de novas regras básicas, necessárias para forjar uma economia global fundamentada na proteção e não na pilhagem
das riquezas naturais do planeta.
A Disseminação do
“McMundo”
Em seu livro Jihad vs. McWorld, publicado em 1995, Benjamin Barber foi incrivelmente profético ao descrever nosso mundo complicado, em que dois cenários aparentemente contraditórios desenrolam-se simultaneamente: um “onde
cultura é lançada contra cultura, pessoas
contra pessoas, tribos contra tribos” e
outro, onde “o ímpeto de forças econômicas, tecnológicas e ecológicas... exigem integração e uniformidade e... hipnotizam as pessoas em todo o planeta com
o universo fast de música, computador,
comida..., um McMundo unido pela comunicação, informação, entretenimento e
comércio”.4
A difusão global do “McMundo” está
levando rapidamente a sociedade ocidental de consumo ao resto do planeta. Logo
após a queda do Muro de Berlim, em 1989,
outdoors de cigarros e bebidas ocidentais
começaram a aparecer por toda a Europa
Oriental e antiga União Soviética, às vezes nas mesmas praças onde antes estavam os bustos dos líderes comunistas. E
visitantes a alguns dos pontos mais remotos do mundo em desenvolvimento
freqüentemente deparam-se com quiosques da Coca-Cola no fim da estrada. A
própria McDonald’s hoje opera 30.000
restaurantes em 119 países, enquanto a
empresa alemã Siemens está representada
em 190 países, onde vende telefones celulares, computadores, medicamentos,
artigos de iluminação e sistemas de transportes. (Vide Tabela 7-1.)5
A rápida globalização da economia de
consumo ao longo dos anos 90 esteve
intimamente ligada à expansão geral da
economia, provocando o crescimento
acelerado na movimentação de bens, serviços e dinheiro através de fronteiras internacionais. O valor do comércio mundial de bens aumentou quase 50% durante a década, saltando de US$ 4,22
trilhões para US$ 6,25 trilhões. Exportações de serviços comerciais bancários, de consultoria e turismo ampliaramse ainda mais rapidamente. (Vide Figura
7-1.) Investimentos estrangeiros diretos
(IED) também aumentaram dramaticamente, atingindo um pico de US$ 1,4
trilhão em 2000. A explosão de IED foi
disparada, em parte, por um frenesi de
fusões corporativas, embora essa tendência tenha revertido-se dramaticamente nos últimos anos, em resposta à
desaceleração econômica global e enfraquecimento geral da confiança empresarial após os ataques terroristas aos
Estados Unidos, em setembro de 2001.
179
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Tabela 7-1. A Disseminação do “McMundo”
Corporação
Presença Global
Hennes & Mauritz
Empresa sueca de confecções que emprega 39.000 pessoas em 17 países europeus e
Estados Unidos. Opera 893 estabelecimentos e pretende inaugurar mais 110, expandindose para o Canadá em 2003. O faturamento em 2002 foi de US$ 6,8 bilhões. H&M tem
fornecedores na Europa e Ásia.
Levi Strauss
Empresa americana que vende confecções em mais de 100 países, com marca registrada
em 160 nações. Emprega 12.400 pessoas mundialmente. Divulgou vendas totais de
US$ 4,1 bilhões em 2002 e uma receita líquida de US$ 151 milhões em 2001.
Tata Group
O Tata Group opera em sete setores industriais, incluindo transportes, energia, produtos
químicos e serviços de comunicação. Desenvolvida na Índia, hoje tem parcerias em 11
países em todo o mundo. Divulgou um faturamento de US$ 2,9 bilhões em 2001– 2002,
mais que o dobro do ano anterior.
Altria Group, Inc.
O Altria Group é a empresa controladora de Kraft Foods, segunda maior empresa de
alimentos do mundo, e da Philip Morris, a mais lucrativa empresa internacional de
cigarros. O Altria Group teve uma receita líquida de US$ 80,4 bilhões em 2002,
incluindo US$ 28,7 bilhões do mercado internacional de tabaco. Emprega 169.000
pessoas em 150 países.
Siemens
Essa empresa alemã emprega 426.000 pessoas e está representada em 190 países. Vende
telefones celulares, computadores, medicamentos, artigos de iluminação e sistemas de
transporte. Em 2002, o faturamento líquido da Siemens somou US$ 96,4 bilhões, 79%
dos quais internacionalmente. Um milhão de pessoas possuem ações da empresa.
Yum! Brands
Anteriormente parte da PepsiCo, essa empresa e suas seis subsidiárias – KFC, Pizza Hut,
Taco Bell, A&W, All-American Food Restaurants e Long John Silvers – registraram um
faturamento global superior a US$ 24 bilhões em 2002. Opera 32.500 restaurantes em
mais de 100 países e empregou 840.000 pessoas em 2002. Yum! Brands inaugurou 1.000
restaurantes fora dos Estados Unidos em 2001, quase 3 por dia. A China hoje tem 800
KFCs e 100 Pizza Huts.
McDonald’s Corp.
McDonald’s serve 46 milhões de fregueses diariamente. Opera 30.000 restaurantes em
119 países. Sua receita total em 2002 foi US$ 15,4 bilhões. No dia da inauguração na
cidade de Kuwait, a fila do drive-thru tinha 10 quilômetros de extensão.
Domino’s Pizza
Domino’s inaugurou seu 7.000o estabelecimento em 2001 e opera em 60 países. As vendas
em todos os países totalizaram US$ 4 bilhões em 2002. Seu serviço de entrega em
domicílio percorre mais de 14 milhões de quilômetros só nos Estados Unidos. Utiliza 67,7
milhões de quilos de queijo anualmente e 12,1 milhões de quilos de pepperoni.
Coca-Cola
Coca-Cola vende mais de 300 marcas de refrigerantes em mais de 200 países. Mais de 70%
da sua receita vem de fora dos Estados Unidos e, em 2002, sua receita líquida atingiu
US$ 19,6 bilhões. Coca-Cola emprega 60.000 pessoas só na África.
FONTE: vide nota final 5.
180
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
O crescimento do comércio e investimentos globais das últimas décadas contribuíram para baixar os custos de muitos bens
de consumo, como vestuário, computadores e brinquedos – um fenômeno que
está sendo saudado por economistas tradicionais e condenado por críticos da farra do consumo global. (Vide Capítulo 5.)6
cativo. Igualmente, o valor das exportações
mundiais de peixe quase triplicou entre 1976
e 2001, atingindo US$ 56 bilhões em 2001.
Ao mesmo tempo, o mundo testemunhou
uma deterioração da saúde dos pesqueiros
mundiais, com a Organização das Nações
Unidas para Alimentos e Agricultura estimando que 75% dos estoques mundiais já
foram explorados além de seus liTrilhões de Dólares
mites sustentáveis.7
9
(base=2001)
Num tipo um pouco diferente
8
de troca global, países cujas pe7
gadas ecológicas superam sua caBens e Serviços
6
pacidade ecológica disponível
5
freqüentemente importam bens de
4
países com superávit, levando a
déficits comerciais ecológicos.
3
Bens
(Vide Capítulo 1 para uma análise
2
do sistema de contabilidade da pe1
gada ecológica, que mede a área
Fonte: FMI
0
de terra produtiva que uma eco1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
nomia requer para produzir os recursos de que necessita e assimiFigura 7-1. Exportações Mundiais de Bens
lar seus resíduos.) As nações vae Serviços, 1950–2002
riam muito no volume desses
Um subcomponente da expansão geral déficits; países tão diversificados como
mais ampla do comércio mundial foi o cres- Japão, Holanda, Emirados Árabes Unidos
cimento acelerado do comércio numa sé- e os Estados Unidos são, todos, grandes
rie de commodities ambientalmente sensí- importadores de capital ecológico. (Vide
veis, como minerais, produtos florestais, Figura 7-3.) Embora haja momentos em
peixes e produtos agrícolas. (Vide Figura que esse tipo de transferência global faz
7-2.). O valor do comércio mundial de pro- sentido ecológico e econômico, ele efetidutos florestais, por exemplo, quadrupli- vamente capacita os países a viverem além
cou entre 1961 e 2001, atingindo um pico de seus meios ecológicos.8
de US$ 148 bilhões em 2000, antes de cair
A crescente globalização da economia
para US$ 132 bilhões em 2001. Ao mesmo mundial também serve para proteger contempo, a cobertura florestal global vem sumidores e produtores do lixo gerado
caindo consistentemente. O comércio, de pela fabricação, uso e descarte final da
forma alguma, é o único fator responsá- infinidade de bens e bugigangas que
vel, porém desempenhou um papel signifi- caracterizam a economia do consumo.
181
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Milhões de Toneladas
60
Fonte: FAO
50
Açúcar e Adoçantes
40
30
Arroz
Legumes e
Verduras
20
Soja
10
Carne
0
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
Figura 7-2. Exportações Mundiais de Commodities Selecionadas,
1961–2001
Hectares
25
Fonte: Redefining Progress
20
Capacidade Disponível
Pegada Ecológica
15
10
5
ési
a
Ch
ina
Bra
si
Mé l
x
ico
Co
réi
ad
oS
Áf
ul
ric
ad
oS
ul
Isr
ael
Rú
ssia
Al
em
anh
a
Jap
ão
Ho
lan
da
Gr
éci
Re
a
ino
Un
ido
Fra
nça
Au
str
á
Fin l i a
l
â
Zo
nd
ia
na
Ze
lân
dia
Ca
Es
n
adá
tad
os
Un
ido
s
E.A
.U
.
on
Ind
Índ
ia
0
Figura 7-3. Pegada Ecológica por Pessoa
em Nações Selecionadas, 1999
182
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
A conseqüente mentalidade do “longe dos
olhos, longe do coração” tem o efeito de
passar adiante esses ônus para outros,
desencorajando o esforço de lidar com
esses padrões de consumo nas suas próprias raízes (Vide Quadro 7-1.)
QUADRO 7-1. O COMÉRCIO JUSTO E O CONSUMIDOR
Como o poeta e fazendeiro Wendell Berry
observou recentemente: “Um dos resultados
principais – e uma das necessidades principais
– do industrialismo é a separação das pessoas,
locais e produtos de suas histórias”.
Praticamente cada minuto na vida do
consumidor moderno contém, ocultas,
interações com pessoas e porções do planeta
centenas de milhares de quilômetros de
distância. A rede do comércio global permite
que consumidores, em grande parte, abdiquem
da dependência do seu ambiente imediato. A
conseqüência infeliz é o isolamento dos
consumidores dos efeitos profundos que suas
escolham poderão ter nas vidas das pessoas
do outro lado da linha da produção e consumo.
Enquanto os benefícios do comércio livre
fluem para consumidores e intermediários, o
ônus flui rotineiramente para o outro lado –os
pontos finais ao longo das linhas do comércio.
Extraímos recursos e despejamos lixo em áreas
ocupadas pelos pobres e sub-representados.
Embora haja sempre alguém na outra
extremidade da linha para aceitar o trabalho
sujo de limpar o que é deixado pelos
consumidores do mundo industrializado,
aqueles freqüentemente prejudicados não
estão entre os indenizados, ou a indenização é
ofuscada pelo dano aos recursos locais vitais.
O problema crescente do lixo eletrônico é um
exemplo gritante. Os consumidores têm poucos
motivos para se deterem com o que se esconde
dentro de um computador ou telefone celular
ou sobre que fim levou um item eletrônico
descartado por um modelo mais novo. Para ver
o que acontece, teriam que viajar a locais como
a região Guiyu da Província Guangdong, na
China. Centenas de caminhões rodam por lá
diariamente, carregando computadores,
impressoras e televisores usados da América do
Norte para lixões espalhados entre os pequenos
vilarejos da região. Por um dólar ou dois ao dia,
trabalhadores migrantes desprotegidos mexem
montanhas de lixo eletrônico – queimando
plásticos, quebrando tubos de raios catódicos e
despejando ácido sobre placas de circuitos para
extrair metais preciosos e outros materiais
valiosos. A fumaça cancerígena permeia o ar em
torno dos lixões. Os mananciais da região já
ficaram tão poluídos que a água potável precisa
ser trazida por caminhões-pipa, de 30
quilômetros de distância.
Os desejos dos consumidores e o bem-estar
daqueles presos ao processo de atender a
esses anseios podem entrelaçar-se de formas
complexas. A população local pode depender
financeiramente das indústrias que produzem
os bens, mesmo sofrendo os efeitos nocivos
causados por elas. O mal é visto como um
efeito colateral infeliz, mas inevitável. Porém,
o dano aos recursos locais e as condições
adversas sob as quais as pessoas labutam são
tipicamente subprodutos dos esforços de
manter preços baixos para o consumidor final.
Para citar um exemplo, a indústria de banana
do Panamá emprega 70% da população. A fim
de incrementar a produção, as bananas são
cultivadas em gigantescas monoculturas,
altamente dosadas com pesticidas aplicados
diretamente por trabalhadores sem proteção,
ou através da pulverização aérea
indiscriminada. Os produtos químicos poluem
os mananciais e têm sido associados à maior
incidência de câncer nas comunidades
próximas às plantações. Em suma, o bem-estar
dos trabalhadores e comunidades é deixado de
fora do preço final.
Melhores práticas dependem de os
consumidores conhecerem os problemas e
apoiarem sistemas melhores. Na indústria da
banana, grupos ativistas começaram a chamar
atenção para o sofrimento dos trabalhadores,
levando algumas empresas a mudarem suas
práticas. Dole, por exemplo, está
183
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
QUADRO 7-1. (continuação)
incrementando seus esforços para cultivar
bananas orgânicas sem pesticidas. E as
plantações latino-americanas da Chiquita são
hoje 100% certificadas pelo Projeto Melhores
Bananas, da Rainforest Alliance, que
inspeciona plantações com o fim de verificar a
aplicação de práticas sustentáveis, mais sadias
para os consumidores e para o meio ambiente,
como também benéficas para os trabalhadores.
O “comércio justo” está surgindo em relação a
algumas commodities como um instrumento que
proporciona aos agricultores e produtores
independentes maior controle sobre a venda de
seus produtos e uma ligação mais íntima com
consumidores finais. Sob o sistema de comércio
justo, pequenos produtores reúnem-se e formam
cooperativas, vendendo diretamente a varejistas a
um preço mínimo garantido. Atualmente, o café é
o exemplo mais evidente. Nos últimos anos, os
preços pagos aos agricultores despencaram aos
níveis mais baixos da história, enquanto os lucros
dos grandes varejistas mantinham-se substanciais.
Na América Central, mais de meio milhão de
trabalhadores perderam seus empregos. Vilarejos
outrora prósperos transformaram-se em cidades
fantasmas, com seus antigos habitantes vivendo
amontoados em perigosas favelas nas periferias
dos centros urbanos.
Através do comércio justo, muitos
produtores podem manter-se. Membros da
Cooperativa Oromiya, na Etiópia, obtêm mais
que o dobro do que seus vizinhos recebem
vendendo café no mercado livre. O comércio
justo também traz benefícios ambientais.
A atenção do mundo despertou originalmente para o problema da exportação de lixo
de forma significativa em meados dos anos
80, quando uma série de incidentes amplamente divulgados pela mídia – como o
itinerante “batelão de lixo” da Filadélfia, um
navio carregado com cinza tóxica que foi
proibido de descarregar em três estados e
184
Produtores com mercados mais estáveis
ganham condições para adotar uma visão mais
de longo prazo. Os membros da Cooperativa
Miraflor, na Nicarágua – como muitas
cooperativas de café de comércio justo –,
cultivam café orgânico à sombra em áreas
outrora submetidas a altas doses de pesticidas.
Embora sua participação no mercado ainda seja
pequena, as vendas de café de comércio justo
cresceram 12% em 2001 em comparação com o
aumento do consumo de café, de apenas 1,5%.
Os consumidores têm o poder de tornar o
sistema global de comércio mais justo e
sustentável. A indignação às condições injustas
e a demanda de mercado por produtos mais
socialmente responsáveis poderão ajudar a
mudar a forma como as empresas fazem
negócio e criar um ambiente melhor para
aqueles nas pontas da produção e consumo.
Quando os efeitos do consumo estão ocultos,
os custos sociais e ambientais tendem a ser
deixados de fora da contabilidade e reformas
são mais difíceis de se realizar. Uma maior
conscientização por parte dos consumidores e
uma disposição de agir em função dessa
conscientização, entretanto, poderão religar os
itens de consumo a suas histórias e
contrabalançar o prejuízo que freqüentemente
acompanha o consumo inconsciente.
– Dave Tilford,
Center for a New American Dream
___________________________________________
FONTE: vide nota final 9.
cinco países num período de 16 meses –
colocou em destaque o crescente comércio internacional de resíduos nocivos e sólidos. Mais recentemente, a profusão de lixo
eletrônico criada pela era da informática
levou a um próspero comércio internacional de produtos descartáveis, como computadores, televisores, telefones, etc.9
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Com mercados de bens de consumo já
se tornando saturados nos países industrializados, as estratégias corporativas cada
vez mais se voltam para visões de crescimento acelerado nos países em desenvolvimento, levando a aumentos na compra
de qualquer tipo de mercadoria, desde carros e televisores até papel e fast food. Essa
tendência está particularmente mais pronunciada na região da Ásia e do Pacífico, que abriga hoje cerca de 684 milhões
de membros da classe global de consumidores – mais que na Europa Ocidental e
América do Norte juntas. (Vide Capítulo 1.)
Embora seja eticamente problemático sugerir que os países em desenvolvimento não
têm direito às mesmas opções de consumo
de materiais que há muito vêm sendo consideradas como naturais pelos consumidores ocidentais, a adoção global do padrão
de consumo dos países industrializados
criaria pressões insuportáveis sobre a saúde dos sistemas naturais da Terra.10
Face a esse enigma, alguns analistas do
mundo em desenvolvimento passaram a
enfatizar mais as oportunidades do que os
problemas que aguardam os países em transição para economias ambientalmente sustentáveis. O Conselho de Cooperação Internacional da China sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, por exemplo, observou
numa declaração recente que “o padrão de
consumo per capita extremamente baixo da
China é uma oportunidade para que se evitem os erros de muitos outros países, que
desenvolveram níveis muito altos de consumo de energia e materiais. O redirecionamento para padrões mais sustentáveis de
consumo poderá resultar em empreendimentos domésticos mais competitivos e maior
acesso aos mercados internacionais”. O de-
safio é desenvolver estratégias que permitam um pulo direto para uma economia na
qual produtores utilizem tecnologias verdes
de ponta de forma generalizada e consumidores adotem aquisições sustentáveis como
rotina. (Vide Capítulos 5 e 6.)11
Mais de dois anos depois dos ataques
terroristas em Nova Iorque e Washington, que colocou o Jihad e o McMundo
em rota de direta de colisão, está se tornando cada vez mais claro que nenhum
dos dois cenários trará um futuro estável
e seguro. Logo antes do primeiro aniversário do 11 de setembro, dezenas de milhares de pessoas em todo o mundo reuniram-se em Joanesburgo, África do Sul,
para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Os participantes da
conferência rejeitaram implicitamente
ambos, Jihad e McMundo, enquanto
abraçaram a causa da construção de uma
sociedade ambientalmente segura e socialmente justa. Os proponentes do desenvolvimento sustentável, em todo o mundo, enfrentam hoje o desafio de manter
tanto a atenção pública quanto a vontade política focadas na necessidade urgente de dar vida aos muitos acordos
internacionais importantes forjados em
Joanesburgo, inclusive os compromissos
para a transformação dos padrões insustentáveis de produção e consumo.
Cooperação Global para o
Consumo Sustentável
A atenção internacional concentrou-se primeiramente nas questões de produção e
consumo uma década antes da conferência de Joanesburgo, quando as Nações
185
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Unidas realizaram a Cúpula da Terra no Rio
de Janeiro, em 1992. Nessa reunião histórica, os governos reconheceram oficialmente que padrões subjacentes de produção e consumo são importantes forças
motrizes do desenvolvimento insustentável
e enfatizaram a responsabilidade das nações
pela reversão dessa situação. Desde então,
questões de produção e consumo vêm sendo tratadas como faces de uma mesma
moeda no mundo da política internacional.
Essa fusão reflete os laços inextricáveis
entre dois fenômenos: é impossível utilizar
produtos sustentáveis sem que sejam produzidos. Mas a relação também reflete a
realidade de a maioria dos governos considerarem mais politicamente palatável discutir o lado “produção” da equação do que
questões polêmicas de estilo de vida.12
A Agenda 21, o extenso plano de ação
para desenvolvimento sustentável que surgiu da conferência do Rio, acentuou a
disparidade entre as “demandas excessivas
e estilos de vida insustentáveis entre os segmentos mais ricos” e a incapacidade de
pobres atenderem suas necessidades básicas de alimentação, boa saúde, abrigo e
educação. Também exigiu que instituições
internacionais e governos nacionais empreendessem um número de iniciativas para
reverter padrões de produção e consumo
insustentáveis, como a promoção de maior
eficiência energética e de recursos,
minimização da geração de lixo,
encorajamento de decisões sensatas de
aquisição tanto por indivíduos quanto governos e mudanças em direção a sistemas
de preços que incorporem custos
ambientais ocultos. Esses compromissos
ganharam destaque especial em função dos
186
repetidos pronunciamentos das autoridades
norte-americanas de que o estilo de vida
americano não era negociável no Rio.13
A responsabilidade de supervisionar o
acompanhamento recaiu sobre a Comissão
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS), um órgão intergovernamental que se reúne anualmente para
conferir os esforços de implementação dos
acordos gerados no Rio. A CDS tem sido
um fórum útil para várias discussões sobre questões de produção e consumo entre
observadores governamentais e não-governamentais ao longo da última década. Porém, apesar de toda falação, as deliberações produziram muito pouco em termos
de ações concretas.14
Uma exceção foi o esforço bem-sucedido de revisão das Diretrizes das Nações
Unidas para Proteção ao Consumidor. Essas diretrizes não são obrigatórias, mas mesmo assim proporcionam um instrumento
para os governos utilizarem no desenvolvimento de suas próprias políticas. As diretrizes revistas, adotadas em 1998, encorajam
governos a implementarem uma variedade
de inovações de políticas para promover o
consumo sustentável, inclusive a realização
de testes ambientais imparciais de produtos,
fortalecendo mecanismos normativos para
proteção dos consumidores e incorporando
práticas sustentáveis nas operações governamentais. Infelizmente, uma pesquisa realizada em 2002 pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e
Consumers International concluiu que os
países estavam avançando muito lentamente na implementação das diretrizes, com 38%
dos que responderam revelando que nem tinham conhecimento destas.15
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Várias outras organizações internacionais estiveram ativas nas questões de
produção e consumo durante a década
após a Cúpula da Terra. A Organização
para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico, com sede em Paris, um
fórum de políticas econômicas e sociais para os principais países industrializados do mundo, patrocinou uma série
de reuniões e pesquisas visando encorajar governos a implementarem políticas inovadoras sobre produção e consumo sustentáveis, incluindo sistemas de
ecorrotulagem que ajudem os consumidores a selecionar produtos ambientalmente
seguros, legislação de “devolução”, que
obriga os fabricantes a recolher as embalagens e produtos descartados, reduções
nos subsídios governamentais a indústrias
ambientalmente danosas e impostos
ambientais para internalizar os custos
ambientais nos preços dos produtos.
(Vide Capítulo 5.)16
O PNUMA é outro ator ativo nos esforços para promover consumo sustentável em
escala global. Esse programa das Nações
Unidas, sediado em Nairobi, lançou uma Iniciativa de Ciclo de Vida em 2002, reunindo
líderes industriais, acadêmicos e legisladores,
para encorajar o desenvolvimento e disseminação de instrumentos práticos para avaliação dos impactos ambientais dos produtos
ao longo de suas vidas. O PNUMA também
coopera com outras agências das Nações
Unidas e Banco Mundial para incentivar a colaboração no esverdeamento de procedimentos licitatórios nessas instituições. Trabalha
com indústrias de porte na busca de um consumo sustentável, inclusive nos setores de
publicidade, moda, finanças e varejo, para
encorajá-los a adotar medidas que promovam
a produção e consumo sustentáveis. E procura engajar organizações não-governamentais (ONGs) na mudança para o consumo
sustentável, inclusive grupos de consumidores e de jovens.(Vide Quadro 7-2.)17
QUADRO 7-2. UTILIZANDO O PODER DOS JOVENS PARA MUDAR O MUNDO
Há mais de 1 bilhão de jovens entre as idades de
15 e 24, de acordo com o Fundo de População
das Nações Unidas, e mais de 500 milhões de
jovens entrarão na força de trabalho nos países
em desenvolvimento ao longo da próxima
década. Esses números sinalizam a imensa
influência em potencial que os jovens podem ter
na determinação de um futuro melhor, como
resultado de suas escolhas de estilo de vida e
contribuições profissionais. Porém, os poderes
de compra e tomada de decisão de 1 bilhão de
jovens hoje estão longe de uma homogeneidade.
Metade deles vive na pobreza. Na outra ponta
do espectro, jovens em sociedades afluentes
representam uma parcela crescente do consumo
total, e estão sob pressão constante para
comprar mais. Com a globalização do cinema,
televisão e publicidade, há o perigo de que a
tendência dessa mídia de glorificar estilos jovens
e materialistas de vida nos países mais afluentes
do mundo possa ter um impacto negativo nas
atitudes e padrões de consumo de outros jovens.
Em resposta a essas tendências, o Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
UNESCO realizaram uma pesquisa em 2000 –
chamada “Será que o Futuro é Seu?” – sobre
atitudes de consumo entre jovens de 18 a 25
anos. Mais de 8.000 pessoas em 24 países
responderam à pesquisa, fornecendo
informações importantes sobre as aspirações e
interesses da juventude, sua conscientização
sobre o consumo ambientalmente e eticamente
187
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
QUADRO 7-2. (continuação)
responsável e sua visão quanto a seu papel na
melhoria do mundo para o futuro. A pesquisa
constatou que os jovens têm conhecimento do
impacto de seu uso e descarte de produtos, mas
têm menos consciência do impacto de seus
hábitos de compra, particularmente alimentos e
vestuário. Comprovou também que os jovens
consideram as questões ambientais, de direitos
humanos e saúde como de grande importância
para o futuro, mas, para lidar com elas,
priorizam a ação individual sobre a coletiva.
Embora a pesquisa tenha verificado que os
jovens geralmente não relacionam seu
comportamento pessoal aos problemas
globais, há, não obstante, muitos exemplos de
jovens ativistas empenhados em pressionar
suas comunidades e governos a promoverem
consumo sustentável. Por exemplo, um
ativista peruano de 23 anos recrutou a Shell
para um projeto de instalação de painéis
solares num vilarejo remoto nas montanhas;
Os anos 90 também viram governos
avançarem em direção ao fortalecimento
de vários tratados internacionais sobre
ameaças ao meio ambiente global. Estes
são mais obrigatórios do que as atividades cooperativas descritas acima e, assim,
formam um componente-chave para esforços mais amplos de mudança dos padrões insustentáveis de produção e consumo. Por exemplo, as nações participantes do acordo de 1995 sobre a gestão cooperativa de pesqueiros internacionais
comprometeram-se a desenvolver políticas nacionais para restauração dos estoques de peixe a níveis sadios, encorajando dessa forma a pesca e consumo sustentáveis. Governos que assinaram o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança
na Convenção das Nações Unidas sobre
188
um jovem nos Camarões viaja de vilarejo a
vilarejo ensinando outros jovens como utilizar
a água com maior segurança e eficiência; jovens
“comissários de supermercados” na Suécia
iniciaram um diálogo com supermercados para
assegurar que produtos sustentáveis sejam
facilmente disponibilizados aos consumidores
e, nos Estados Unidos, jovens desenvolveram
um guia de presentes com sugestões de artigos
de comércio justo e ambientalmente amigáveis.
Em resposta aos resultados da pesquisa e de
um workshop subseqüente realizado para
discuti-los, PNUMA e UNESCO lançaram o
Projeto YouthXchange, para desenvolver
instrumentos que ajudem os jovens a agir na
promoção do consumo sustentável.
– Isabella Marras, Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente
____________________________________________
FONTE: vide nota final 17.
Biodiversidade Biológica, em 2000, concordaram em obedecer a um sistema de
consentimento prévio informado para
transportes internacionais de organismos
geneticamente modificados e produtos que
os contenham, dando aos países importadores maior controle quanto à utilização
doméstica desses produtos. Os países signatários da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes
(POPs) obrigaram-se a regulamentar a
produção e uso de 12 produtos químicos
particularmente danosos, inclusive a eliminação completa de 9 deles. E países que
concordaram com as metas de emissões
de dióxido de carbono, nos termos do Protocolo de Kyoto de 1997, na ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, deverão mudar para energia
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
menos intensiva em combustíveis fósseis,
a fim de atendê-las.18
O número de países que já ratificaram
formalmente tanto a convenção sobre peixes quanto a de biossegurança é suficiente
para pôr esses tratados em vigor, tornando
suas disposições obrigatórias para as nações signatárias. Este ainda não é o caso
da Convenção sobre os POPs ou o Protocolo de Kyoto, embora muitos países signatários já estejam ajustando suas políticas
nacionais aos termos desses acordos.19
Além das iniciativas das instituições internacionais e governos, a década, desde a
conferência do Rio, também testemunhou
o desenvolvimento de novos instrumentos
de informação, como sistemas internacionais de rotulagem e certificação, em resposta ao aumento da sensibilidade dos consumidores aos laços que os unem através
da cadeia produtiva global a povos e comunidades em terras distantes. Um exemplo é a crescente popularidade de café, banana e outros produtos agrícolas que atendem aos critérios de rotulagem orgânica ou
de comércio justo, ou ambos. (Vide Capítulo 4.) Outro exemplo é o impacto do
Forest Stewardship Council (FSC) – Conselho de Manejo Florestal –, uma entidade
independente, formada em 1993 para estabelecer normas para produção florestal sustentável, através de um processo cooperativo envolvendo madeireiras e varejistas,
como também organizações ambientais e
moradores de florestas. Uma década depois, o FSC já havia certificado mais de 39
milhões de hectares de florestas comerciais em 58 países, mais de seis vezes a área
de 1998, embora ainda apenas 1% das florestas mundiais.20
Um Marine Stewardship Council (MSC),
Conselho de Manejo Marinho, modelado no
FSC, foi criado poucos anos depois. Até
hoje, sete pesqueiros foram certificados
como estando em conformidade com as
normas do MSC em termos de manejo e
sustentabilidade, inclusive o pesqueiro de
salmão, do Alasca, o pesqueiro de hoki, da
Nova Zelândia, e o pesqueiro de lagostasdas-rochas, da Austrália Ocidental; muitos
mais estão sob avaliação. Cerca de 170 frutos do mar, certificados pelo MSC, estão
postos à venda em 14 países. Mas, da mesma forma que produtos florestais, estes ainda
representam apenas uma pequena fração da
produção total. Fazer pender a balança para
que produtos sustentáveis sejam a regra e
não a exceção exigirá novos regulamentos e
incentivos para realizar uma transformação
mais ampla no mercado global. (Vide Capítulos 5 e 6.)21
Para esse fim, desenvolveram-se várias
iniciativas importantes para encorajar
corporações globais a adotar técnicas de
produção mais sustentáveis durante a última década. Em 2000, as Nações Unidas lançaram o Global Compact, exigindo que as
empresas participantes incorporem nove
valores essenciais relacionados a direitos
humanos, normas de trabalho e proteção
ambiental às suas operações. Mais de 1.200
empresas em mais de 50 países já aderiram,
embora críticos acusem o programa de exigir pouco em termos de ações específicas e
falhar ao não proporcionar uma monitoração
eficaz das implementações ou cumprimento. Mais recentemente, 17 grandes bancos
em 10 países adotaram os Princípios do
Equador para gestão de riscos ambientais e
sociais nas operações de empréstimo. Os
189
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
bancos participantes concordaram em exigir dos clientes de grandes projetos, como
barragens e usinas elétricas, aderência às
normas ambientais e sociais do Banco Mundial, que estão rapidamente transformandose em fundamentos internacionais básicos
para investimentos públicos e privados.22
Apesar desses avanços, a dura realidade é que, desde 1992, os ganhos limitados conquistados na mudança em direção
a padrões mais sustentáveis de produção
e consumo têm sido, em grande parte,
superados pelo crescimento global contínuo da sociedade de consumo. Delegados
passaram muitas horas durante a Cúpula
Mundial em Joanesburgo debatendo sobre o que fazer para reverter essa situação. O poder de interesses particulares e
a inércia institucional traduziram-se em
relutância por parte de muitos governos
em se comprometerem a um efetivo programa de ação claro nesse sentido. Não
obstante, o Plano de Ação oficial assinado
pelos governos estipula que todos os países deverão promover padrões de produção e consumo sustentáveis e que governos, organizações internacionais, setor
privado e ONGs, entre outros, deverão
desempenhar papéis importantes para a
realização das mudanças necessárias. Entre outras coisas, o Plano de Ação exige
investimentos crescentes em produção
mais limpa e ecoeficiência, aumento da
responsabilidade ambiental e socialcorporativa e promoção da internalização
dos custos ambientais e de políticas de
aquisições públicas ambientalmente seguras. (Vide Quadro 7-3.)23
QUADRO 7-3. DESTAQUES DO PLANO DE AÇÃO DE JOANESBURGO
O Plano de Ação de Joanesburgo é um dos
dois documentos negociados na Cúpula
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável.
Encoraja países a cumprirem os
compromissos assumidos na Cúpula da Terra,
realizada em 1992 no Rio de Janeiro, através
da participação numa estrutura decenal de
programas sobre produção e consumo
sustentáveis. As expectativas e metas gerais
dessa estrutura incluem:
• Fazer com que países industrializados
assumam a liderança na promoção da
produção e consumo sustentáveis.
• Através de responsabilidades comuns,
porém diferenciadas, assegurar que todos
os países beneficiem-se do processo de
mudança em direção à produção e
consumo sustentáveis.
• Fazer da produção e consumo
sustentáveis questões entrelaçadas e
190
•
•
•
•
incluí-las nas políticas de desenvolvimento
sustentável.
Focar a juventude, especialmente nos
países industrializados. Utilizar
instrumentos de informação ao
consumidor e campanhas publicitárias
para comunicar aos jovens questões de
produção e consumo sustentáveis.
Promover implementação do princípio do
“produtor paga”, que internaliza custos
ambientais e incorpora o ônus financeiro
da poluição ao preço de um produto.
Incorporar análise de ciclo de vida às
políticas, a fim de rastrear um produto
desde sua produção até o consumo e
disposição final. Utilizar essa abordagem
para aumentar a eficiência do produto.
Apoiar políticas de licitações públicas que
encorajem o desenvolvimento de bens e
serviços ambientalmente seguros.
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
QUADRO 7-3. (continuação)
• Desenvolver fontes energéticas mais
limpas, eficientes e acessíveis, para
diversificar o oferta. Eliminar
gradativamente subsídios energéticos que
inibem o desenvolvimento sustentável.
• Encorajar iniciativas voluntárias da
indústria que promovam a responsabilidade
ambiental e social corporativa,
especialmente entre instituições financeiras.
Exemplos incluem códigos de conduta,
O Plano de Ação também endossa o
desenvolvimento de um arcabouço decenal
de programas em âmbito internacional em
apoio a iniciativas regionais e nacionais.
Essas iniciativas visam acelerar a mudança
em direção a uma produção e consumo
sustentáveis, proporcionando inclusive uma
melhor variedade de produtos e serviços
aos consumidores, prestando-lhes mais informações sobre saúde e segurança de vários produtos e implantando programas de
capacitação e transferência de tecnologia
para ajudar a compartilhar esses ganhos
com os países em desenvolvimento. Em
junho de 2003, as Nações Unidas realizaram uma reunião de técnicos em Marrocos para dar início a esse processo, como
também organizaram reuniões regionais
nesse sentido na Ásia e América Latina.24
Além do processo formal descrito acima,
a Cúpula Mundial também gerou mais de 230
acordos de parceria, nos quais vários interessados comprometeram-se a adotar ações
conjuntas para ajudar a atingir a variedade de
metas relacionadas ao desenvolvimento sustentável acordadas em Joanesburgo. Várias
dessas parcerias estavam ligadas especificamente ao desafio complexo de mudar padrões
certificação com normas de ISO e Diretrizes
da Global Reporting Initiative (Iniciativa de
Relatórios Globais).
• Recolher exemplos de custo/benefício na
produção mais limpa e promover métodos
de produção mais limpa, especialmente
nos países em desenvolvimento e entre
pequenas e médias empresas.
___________________________________________
FONTE: vide nota final 23.
insustentáveis de produção e consumo. (Vide
Tabela 7-2.) Por exemplo, um projeto de reforma de bicicletas, liderado pela ONG holandesa Velo Mondial e apoiado pelo fabricante de bicicletas Shimano, pretende recolher veículos desse tipo para conserto e distribuição na África. Os parceiros da iniciativa esperam recolher 12.500 bicicletas (um
contêiner) por semana no primeiro ano, aumentando para embarques diários até 2006,
conforme a demanda. E o Programa
Colaborativo de Normas de Rotulagem e
de Eletrodomésticos, dos Estados Unidos,
uma iniciativa envolvendo mais de 36 governos e também várias organizações internacionais e ONGs, empenhar-se-á em
reduzir o consumo residencial e comercial
de energia em 5%, através do desenvolvimento de normas de eficiência energética,
rotulagem e assistência técnica a 35 países
em desenvolvimento. Muitas dessas parcerias são muito promissoras, mas será
importante que ONGs e outros defensores
do desenvolvimento sustentável monitorem
seus esforços de implementação, para que
compromissos louváveis são sejam esquecidos quando o ímpeto gerado por
Joanesburgo começar a esmorecer.25
191
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Tabela 7-2. Parcerias Selecionadas de Produção e Consumo Ligadas à Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável
União Civil Árabe para Manejo de Resíduos
Líder: Sociedade Assistencial de Mães e Crianças (Bahrein ).
Outros: Conselho de Ministros Árabes Responsáveis pelo Meio Ambiente; Sociedade de Proteção Ambiental
do Kuwait; Rede do Golfo para ONGs Ambientais; Grupo Jovem Ajial.
Seis governos árabes estão trabalhando com as Nações Unidas e ONGs locais para criar uma estratégia regional
que facilite o envolvimento da sociedade civil em projetos comunitários de gestão de resíduos sólidos.
Envolverão ativamente mulheres e jovens e iniciarão processos relevantes de transferência de tecnologia.
Conscientização e Treinamento em Produção e Consumo Sustentáveis
Líder: Divisão de Tecnologia, Indústria e Economia do PNUMA.
Outros: governos da Holanda e Suécia; Consumers International; Centros Nacionais de Produção mais Limpa.
As Nações Unidas estão trabalhando com dois governos e várias ONGs internacionais para aumentar a
conscientização sobre produção e consumo sustentáveis entre governos e executivos de pequenas e médias
empresas em 30 países. Os grupos também empenham-se em aumentar a participação de governos de 20 para
50%, implementando as Diretrizes das Nações Unidas de Proteção ao Consumidor ao longo de três anos.
A Iniciativa de Sustentabilidade do Cimento
Líder: Conselho Mundial do Comércio para Desenvolvimento Sustentável.
Outros: governo de Portugal; Universidade UN (Japão); 12 grandes empresas de cimento; WWF International;
25 outros patrocinadores em 15 países.
Iniciada em 1999, essa parceria identifica e facilita os esforços das empresas de cimento na implementação de
práticas sustentáveis. Incorporando governos nacionais, empresas e ONGs, abre diálogo com as empresas de
cimento sobre questões como gestão da mudança climática, uso de matérias-primas, saúde funcional e processos
comerciais internos. Empresas representando um terço da capacidade mundial de cimento estão envolvidas,
com três delas já implementando um protocolo de dióxido de carbono.
Introdução a Normas Sociais na Produção
Líder: Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (Alemanha).
Outros: Agência Alemã de Cooperação Técnica; Faber Castell; Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha;
autoridades públicas da Ásia.
O governo alemão está coordenando esforços para implementar uma “carta social” nas fornecedoras indianas
da Faber Castell. O Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha desenvolveu a carta, conforme normas da
Organização Internacional do Trabalho. Foi realizado um workshop de implementação com vários parceiros
em 2002, e os parceiros empresariais submeteram-se a uma primeira inspeção.
192
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Tabela 7-2. (continuação)
Venda de Produtos Responsáveis via Grandes Redes Varejistas na Europa: Melhores Práticas e
Diálogo
Líder: Reseau de Consommateurs Responsables Asbl.
Outros: Comissão Européia; Rede Européia de Consumo Responsável; CSR Europe; Centro do Meio Ambiente,
Ética & Sociedade de Oxford; Die Verbraucher Initiative; grupos de consumidores na Itália e Dinamarca.
Várias ONGs européias de consumidores, apoiadas pela Comissão Européia e representantes de universidades,
realizaram uma conferência em junho de 2003 sobre a Distribuição de Produtos Éticos via Grandes Redes
Varejistas da UE. Também compilaram um banco de dados de 20 estudos de caso de varejo na UE e empenharamse para envolver vários interessados num diálogo sobre melhores formas de disponibilizar mais produtos
ambientalmente e socialmente responsáveis nos supermercados europeus.
Diálogo Jovem sobre Consumo, Estilos de Vida e Sustentabilidade
Líder: Federação Alemã de Organizações de Consumo.
Outros: governos da Alemanha, México e Peru; PNUMA; UNESCO; Consumers International; grupos nacionais de
consumidores e jovens; Massachusetts Institute of Technology; Media Ecology Technology Association.
Com o apoio de três governos, várias ONGs de consumidores estão aumentando a conscientização sobre questões
de consumo entre jovens, através de troca de idéias on-line e workshops. Estão criando uma rede, baseada na
Europa e México, para educar jovens consumidores sobre o impacto do consumo no desenvolvimento sustentável.
Certificação de Turismo Sustentável
Líder: Conselho de Turismo da Costa Rica.
Outros: governos de Belize, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Panamá; Comissão de Certificação
do Turismo Sustentável; Sistema de Integração da América Central.
O Conselho de Turismo da Costa Rica está trabalhando com cinco governos da América Central e associações de
turismo para transferir um programa bem-sucedido de turismo sustentável da Costa Rica para oito países da América
Central até 2006. Promoverão o uso de produtos agrícolas e artesanato local e, ao mesmo tempo, integrarão
questões econômicas, ambientais e socioculturais a modelos comerciais.
FONTE: vide nota final 25.
De Joanesburgo a
Cancun e Além
Um ano após a Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável, a atenção
mundial voltou a focar outra importante
reunião internacional, embora com feição relativamente diferente, a reunião
ministerial da Organização Mundial do
Comércio (OMC) em Cancun, no México, em setembro de 2003. A OMC tem
uma visão de mundo fundamentalmente
diferente da filosofia de desenvolvimen-
193
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
to sustentável que embasou os acordos
do Rio e Joanesburgo; entretanto, suas
disposições têm um grande impacto na
capacidade de ambos, consumidores e
governos, de promoverem práticas comerciais sustentáveis mundialmente. Porém, as negociações da OMC em Cancun
fracassaram, dando a governos e ativistas
reformistas uma oportunidade de pressionarem por negociações futuras em melhor equilíbrio com as questões de desenvolvimento sustentável.26
Quando a OMC foi criada, em 1995,
especialistas comerciais argumentaram
que os legisladores promulgavam leis maliciosas, sem razão científica, e que basicamente buscavam manter produtos estrangeiros fora de suas prateleiras. Muitos governos compartilhavam dessas preocupações sobre “protecionismo verde”,
particularmente governos de países em
desenvolvimento, temendo que o crescimento de regulamentos ambientais no
mundo industrializado impusessem uma
barreira expressiva a seus próprios produtos. Analistas ambientais, por outro lado,
não viam as leis, de forma alguma, como
barreiras comerciais disfarçadas, e sim
como medidas legítimas visando a proteção do meio ambiente e saúde humana.
Em muitos casos, foram promulgadas
apenas após obstinadas batalhas políticas
contra interesses particulares locais.27
O acordo que criou a Organização
Mundial do Comércio, todavia, incluiu
vários dispositivos que impuseram novas
restrições à capacidade de os governos
promulgarem leis de proteção à saúde
humana, animal e vegetal. As autoridades
argumentavam que as restrições visavam
194
eliminar barreiras disfarçadas, e não evitar
que os países empreendessem políticas legitimamente motivadas por questões
ambientais ou de saúde e segurança. Porém as novas restrições da OMC abriram
caminho para uma série de disputas graves
entre o comércio e as políticas ambientais,
como os conflitos sobre leis norte-americanas que restringem importações de atum
pescado de forma danosa aos golfinhos e
de camarão pescado de forma danosa às
tartarugas marinhas. (Vide Tabela 7-3.)
Embora o raciocínio jurídico que os painéis
julgadores de disputas da OMC têm utilizado em suas decisões tenha se tornado mais
sensível a preocupações ambientais nos últimos anos, continuam a existir diferenças
fundamentais entre as regras do comércio
internacional e as práticas ambientais emergentes, que poderão impedir os esforços de
promoverem-se padrões mais sustentáveis
de produção e consumo.28
Algumas dessas diferenças estão muito bem exemplificadas na longa disputa
entre União Européia (UE) e Estados Unidos em torno da venda de carne produzida com hormônios de crescimento. Uma
lei européia que os proíbem foi promulgada originalmente no final dos anos 80, em
resposta aos temores generalizados entre
consumidores de que a carne contendo
hormônios pudesse causar câncer e problemas de saúde reprodutiva. Essa legislação foi aplicada igualmente ao gado nacional e importado, passando assim pelo
crivo rígido da OMC de não-discriminação. Porém a proibição representou uma
ameaça ao setor pecuário dos Estados
Unidos obcecado pelos hormônios, pois
bloqueava milhões de dólares de exportações americanas de carne bovina.29
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Tabela 7-3. Principais Conflitos Comerciais Relacionados à Produção e Consumo
Sustentáveis
Hormônio na Carne Bovina (União Européia e Estados Unidos)
A União Européia proibiu a importação de carne bovina dos Estados Unidos após ter verificado a presença de
hormônios de crescimento, por considerá-los um risco à saúde. Os Estados Unidos ajuizaram uma ação de
contestação no Órgão de Resolução de Disputas da OMC, argumentando que a proibição representava uma
barreira comercial injusta. Em 1998, o Painel da OMC determinou que a proibição da UE contrariava as regras
da OMC. A UE recusou-se a abolir a proibição. Em 1999, em retaliação, os Estados Unidos impuseram
restrições comerciais de US$ 117 milhões anuais contra a UE. Em outubro de 2003, após a divulgação de
novos estudos que demonstravam que hormônios de crescimento representam um risco à saúde humana, a UE
emitiu uma nova diretiva, aprimorando suas proibições de vários hormônios de crescimento encontrados em
carnes. Alegando que essa nova diretiva segue as recomendações da OMC, a UE espera que os Estados Unidos
retirem suas restrições comerciais.
Atum–Golfinho (Estados Unidos e México)
Em seguida à Lei de Proteção aos Mamíferos Marinhos, os Estados Unidos impuseram um embargo ao atum
mexicano pescado por meio de técnicas polêmicas conhecidas como “enredamento de golfinhos”. O México
argumentou que esse embargo criou uma barreira comercial injusta, ajuizando uma ação nos termos da legislação
do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). Em setembro de 1991, o painel do GATT concluiu que os
Estados Unidos não podiam embargar as importações de atum mexicano, uma vez que o embargo referia-se à
forma como o atum era produzido, e não à qualidade ou conteúdo do produto.
Camarão–Tartaruga (Índia e Estados Unidos)
A Índia, juntamente com outros países asiáticos, ajuizou uma reclamação na OMC quando os Estados
Unidos proibiram importações de camarão e produtos específicos deste fruto do mar. Nos termos da Lei de
Espécies Ameaçadas de Extinção, os Estados Unidos exigiram que barcos pesqueiros de camarão utilizassem
“dispositivos excludentes de tartarugas”, a fim de evitar que tartarugas marinhas ameaçadas ficassem presas
às redes de camarão. Os Estados Unidos perderam a questão porque discriminaram os países asiáticos ao não
lhes prestar assistência técnica adequada de proteção às tartarugas. Embora o órgão de apelação da OMC
tenha decidido contra os Estados Unidos, esclareceu que um país tem o direito de impor sanções comerciais
para proteger seu ambiente doméstico.
Peixe-Espada (Chile e União Européia)
Em 1991, receando a exaustão de seus estoques de peixe-espada, o Chile deixou de permitir que barcos
espanhóis aportassem em seu país ou obtivessem novas licenças de pesca. A pesca predatória e proibições
visando a regeneração dos pesqueiros reduziram a pesca anual de peixe-espada pela metade entre 1994 e
1999. A UE alega que o veto do Chile a barcos espanhóis, prejudicando o transporte de mercadorias de
embarcações-fábrica para navios de exportação, viola acordos da OMC sobre o livre movimento de
mercadorias. O Chile argumenta que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar autoriza-lhe
a proteger seus recursos marinhos. Em novembro de 2000, a UE solicitou que o painel da OMC resolvesse
a disputa. O painel, todavia, foi suspenso, quando a UE e Chile chegaram a um acordo, em janeiro de 2001.
Esse acordo permitiu que alguns barcos da UE atracassem em portos chilenos e forneceu monitoramento
científico multilateral pra o pesqueiro em questão.
195
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Tabela 7-3. (continuação)
Amianto (França e Canadá)
O Canadá contestou uma proibição francesa ao amianto de crisotilo, um mineral cancerígeno encontrado em
muitos produtos. O Canadá alegou que uma proibição ampla violava a exigência da OMC de utilizarem-se
meios “menos restritivos ao comércio” em relação a questões de saúde. Um painel da OMC manteve a
proibição da França ao amianto. Reafirmando o fato de que amianto é cancerígeno, o painel opinou, em
fevereiro de 2001, que existem alternativas mais seguras. A sociedade civil saudou essa decisão como “a
primeira vez em seus cinco anos” que a OMC decidia a favor da saúde pública.
Organismos Geneticamente Modificados (Estados Unidos e União Européia)
A União Européia argumenta que podem existir riscos à saúde e ecologia associados a organismos
geneticamente modificados (transgênicos) e tem sido reticente na aprovação do uso ou importação
desses produtos. O governo dos Estados Unidos não considera os transgênicos perigosos à saúde e o
Canadá declarou que não há base científica para a norma da UE. Nos termos da legislação dos
transgênicos, adotada pelo Parlamento Europeu em julho de 2003 e que deverá entrar em vigor no
início de 2004, a UE estabelece que todos os produtos alimentícios e rações animais que contenham
mais de 0,9% de organismos geneticamente modificados sejam rotulados como tal e que todos os
produtos alimentícios geneticamente modificados devem ter sua origem determinada. Em agosto, os
Estados Unidos, Canadá e Argentina solicitaram à OMC a formação de um painel de arbitragem para
julgar a proibição da UE aos transgênicos.
FONTE: vide nota final 28.
O setor pecuário dos Estados Unidos
convenceu o governo a defender a causa
perante a OMC, tendo o governo argumentado que a lei não se justificava cientificamente nem se baseava numa avaliação adequada de risco. A Comissão Européia, todavia, sustentou que a lei era consistente
com o princípio da precaução, uma norma
emergente no direito internacional que preceitua que, “quando houver perigo de dano
grave ou irreversível, a falta de uma certeza absoluta não deverá ser utilizada para
postergar-se a adoção de medidas eficazes
para prevenir a degradação ambiental”. Mas
um painel de apelação da OMC decidiu, em
fevereiro de 1998, que a lei européia violava, de fato, as regras da OMC, abrindo
196
caminho para o governo dos Estados Unidos retaliar, aplicando em julho de 1999,
com autorização da OMC, tarifas de 100%
sobre US$ 117 milhões de importações européias, incluindo sucos de fruta, mostarda, carne suína, trufas e queijo Roquefort.
Quatro anos depois, a lei européia ainda
estava em vigor e as sanções também,
embora a UE esteja reclamando sua abolição, uma vez que concluiu uma avaliação
de risco que, segundo ela, valida sua lei.30
Enquanto isso, UE, Estados Unidos e
outros países estão hoje enredados em outra grande polêmica do comércio agrícola –
uma com implicações importantes tanto no
direito dos consumidores de fazerem suas
próprias escolhas quanto aos possíveis im-
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
pactos à saúde e ao meio ambiente de suas
decisões de compra. A questão agora é uma
moratória da União Européia à concessão
de aprovação para o plantio ou importação
de muitas variedades de sementes e lavouras geneticamente modificadas. Após reclamar sobre essa situação por vários anos, o
governo dos Estados Unidos uniu-se à Argentina e Canadá, em maio de 2003, e
ajuizou uma ação formal na OMC, protestando contra essa política. Alguns meses
depois, o Parlamento Europeu aprovou uma
lei que abre caminho para que alimentos
contendo organismos geneticamente modificados sejam vendidos na Europa, contanto
que estejam claramente rotulados nesse sentido e que haja um sistema implantado para
rastrear alimentos transgênicos do porto ao
supermercado. As autoridades da UE esperam que a lei de rotulagem torne inócua a
recente contestação comercial dos Estados
Unidos, porém as autoridades americanas
estão céticas, argumentando que a lei de
rotulagem poderá, por si só, representar uma
barreira injusta ao comércio.31
Negociações comerciais oferecem
oportunidades para se buscarem
reformas políticas necessárias à
promoção de produção e consumo
mais sustentáveis.
Como no caso dos hormônios da carne
bovina, o governo dos Estados Unidos sustenta que as restrições sobre transgênicos
violam as regras da OMC porque não há
comprovação científica concreta de efei-
tos adversos à saúde e à ecologia. A UE e a
maioria dos grupos de consumidores e
ambientalistas, por outro lado, vêem a iniciativa de rotulagem como uma solução
razoável para o impasse, pois permite algum comércio de produtos transgênicos e
ao mesmo tempo protege o direito dos consumidores de decidirem, por si mesmos,
com conhecimento de causa. As iniciativas de rotulagem gozam de amplo apoio
público, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, com mais de 90% dos consumidores a favor desses programas.32
Nos bastidores da atual polêmica sobre transgênicos há uma questão maior:
o que deverá ser feito quando o direito
comercial internacional entrar em rota de
colisão com os tratados ambientais internacionais necessários para encorajar
consumidores e produtores a mudar para
práticas mais ambientalmente seguras?
Embora nenhum país tenha, até agora,
ajuizado ações formais na OMC contra
as disposições de um tratado ambiental,
freqüentemente surgem argumentos sobre a coerência da OMC durante negociações. Essas tensões estiveram muito em
evidência durante as negociações do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança,
em 2000, um acordo forjado sob a égide
da Convenção das Nações Unidas sobre
Diversidade Biológica que endossa a necessidade de governos adotarem, ocasionalmente, medidas acauteladoras para se
evitar a possibilidade de dano ambiental
irreversível em face de incertezas científicas. Na disputa atual EUA–Europa sobre os transgênicos, poderia ser questionado se as regras da OMC prevaleceriam
sobre as disposições do protocolo de
197
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
biossegurança ou vice-versa. Uma coalizão internacional de ONGs lançou recentemente uma campanha solicitando signatários para uma “Objeção Cidadã”, que
conclama a OMC a arquivar a queixa
contra a UE e que a disputa seja resolvida com base nos termos do Protocolo de
Cartagena. Até agora, 184 organizações
de 48 países assinaram.33
Apesar da possibilidade de muitos choques entre o direito comercial internacional e as metas e prioridades ambientais,
as negociações comerciais também oferecem oportunidades para buscarem-se reformas políticas necessárias à promoção
de produção e consumo mais sustentáveis.
Por exemplo, as regras e negociações da
OMC poderiam ser utilizadas para encorajar os países a reduzir e reformar os
subsídios governamentais a setores
ambientalmente sensíveis, como agricultura, combustíveis fósseis, pesca e silvicultura. Ou poderiam ser utilizadas para
dar um tratamento de comércio preferencial a “bens de consumo verdes”, como
lâmpadas eficientes em energia, papel
reciclado, produtos orgânicos e produtos
pesqueiros e florestais certificados.34
Tanto o desejo de minimizar choques
entre regras comerciais e ambientais como
a possibilidade de promover sinergias levaram os governos a concordarem em
Doha, no Catar, em novembro de 2001, a
dar início a conversações sobre questões
ambientais específicas, como parte de um
Mandato de Doha para uma nova rodada
de conversações comerciais internacionais. Entre outros compromissos, os ministros comerciais decidiram entrar em
negociações acerca das implicações comerciais das exigências de rotulagem
198
ambiental sobre as relações entre as regras da OMC e medidas comerciais contidas em acordos ambientais multilaterais
e acerca do efeito de medidas ambientais
sobre acesso a mercados. Também concordaram em se empenhar no fortalecimento das restrições da OMC a subsídios
pesqueiros e discutir a redução de barreiras tarifárias e não-tarifárias ao comércio
de bens e serviços ambientais.35
Muitos outros temas agendados para
discussão nos termos do Mandato de Doha
também poderão ter implicações importantes nos esforços para promoverem-se padrões mais sustentáveis de produção e consumo. Esforços para reduzir ou redirecionar
subsídios agrícolas, por exemplo, poderão
dar forte impulso a sistemas alimentares
mais ambientalmente e socialmente seguros. As negociações sobre transparência nas
licitações governamentais, por exemplo,
seriam relevantes para iniciativas de aquisições verdes. E as conversações propostas sobre a redução de restrições em investimentos internacionais e no comércio de
serviços poderão limitar o escopo dos governos na implementação e aplicação de regulamentos ambientais.36
Todavia, o fracasso das negociações na
reunião da OMC em Cancun, em setembro
de 2003, suscitou perguntas fundamentais
sobre a direção futura da organização e de
qualquer nova rodada de conversações comerciais. Nos preparativos para a reunião,
houve pouco avanço em qualquer dos temas ambientais específicos. Mas foram as
disputas sobre questões como investimentos e licitações governamentais e
afloramento de tensões sobre subsídios
comerciais agrícolas que finalmente pararam as negociações. As reações ao impasse
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
foram mistas, mesmo entre ONGs. Alguns
acharam que o fracasso revelou falta de
vontade política no confrontamento de
questões urgentes de desenvolvimento;
outros viram Cancun como um ponto crítico fundamental em que governos de países em desenvolvimento uniram-se numa
nova e poderosa coalizão, apoiados por uma
sociedade civil fortalecida.37
Nos meses futuros, governos e organizações da sociedade civil, conjuntamente,
contemplarão as grandes lições dos eventos recentes. O caminho à frente não está
totalmente claro, com a situação complicada pela necessidade de se formar um
consenso entre uma grande diversidade de
interesses em todo o mundo. Mesmo assim, os eventos recentes sugerem que os
termos do debate estão mudando, já que
pessoas em todo o mundo perceberam que
nosso rumo insustentável atual ameaça
tanto o bem-estar da humanidade quanto
a saúde ecológica. Embora as forças poderosas do Jihad e do McMundo continuem a varrer o globo, a esperança para o
futuro vem do crescente número de pessoas que rejeitam ambos os caminhos e
apóiam o desenvolvimento de uma comunidade global baseada no respeito pelas
pessoas e pela natureza.
199
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Camisetas de Algodão
Em 1913 a Marinha dos Estados
Unidos lançou uma roupa
de baixo branca de
algodão para todo o
efetivo – primeiro
registro do aparecimento
da camiseta. Em 1938, a
grande cadeia Sears
introduziu uma linha de
camisetas para uso civil.
Mas só nos anos 50 essa
peça tornou-se realmente
popular, graças aos galãs rebeldes
Marlon Brando, James Dean e Elvis Presley.1
Atualmente, camisetas são uma maneira
relativamente barata de consumidores em
todo o mundo exibirem a logomarca de uma
grife favorita, um time ou designer. Mas,
mesmo quando feitas de algodão natural, as
camisetas representam um custo alto para
os operários e o meio ambiente.
Algodão é a fibra mais vendida no mundo
e fazendeiros, do Texas à Turquia, colhem
mais de 19 milhões de toneladas anualmente.
Todavia, o cultivo carrega no seu bojo uma
carga ambiental. Os produtores aplicam
quase US$ 2,6 bilhões de pesticidas no
algodão, anualmente, em todo o mundo –
mais de 10% do total global, de acordo com a
Pesticide Action Network North América. A
Organização Mundial de Saúde classificou
muitos dos pesticidas comumente utilizados
no algodão como “extremamente perigosos”,
200
incluindo organofosfatos
como parathion e
diazinon, que são
particularmente
nocivos ao sistema
nervoso de bebês e
crianças.2
Os pesticidas utilizados
no algodão contaminam e
também matam trabalhadores
rurais. Entre 1997 e 2000, os
campos de algodão foram os
locais dos 116 casos de
envenenamento agudo de agricultores por
pesticidas registrados na Califórnia. E em
2001 a morte de mais de 500 agricultores de
algodão no estado produtor de Andhra
Pradesh, na Índia, foi atribuída à exposição a
pesticidas. Em muitos casos, agricultores
desconhecem ou não aplicam
procedimentos de segurança adequados
quando manuseiam e utilizam produtos
químicos: em uma pesquisa no Benin, África
Ocidental, 45% dos produtores de algodão
declararam que usam recipientes de
pesticidas para carregar água, enquanto 20–
35% os utilizam para colocar leite ou sopa.
Pessoas também foram afetadas em fábricas
e comunidades onde os pesticidas do
algodão são produzidos: em1984, o
criminoso vazamento de gás tóxico nas
instalações da Union Carbide, no Bhopal,
Índia, matou 8.000 pessoas.3
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMISETAS DE ALGODÃO
Na década passada, ecólogos
registraram danos devastadores a aves,
peixes e outras vidas silvestres, causados
por produtos químicos usados no algodão.
Antes da colheita, os agricultores
freqüentemente utilizam herbicidas para
desfolhar os algodoeiros e permitir fácil
coleta das cápsulas que contêm sementes e
fibras – uma prática que pode destruir
habitats de vida silvestre.4
Os pesticidas do algodão podem
também poluir corpos d’água locais,
colocando em perigo a saúde humana e dos
ecossistemas. Aldicarb, um composto que
pode causar anormalidades no sistema
imunológico, mesmo em baixos níveis de
consumo, foi encontrado na água
subterrânea de sete estados americanos,
segundo a Cornell University Cooperative
Extension. E em 1998 a U.S.Geological
Survey denunciou contaminação da água
por herbicidas e inseticidas utilizados no
algodão, no sul. Enquanto isso, em âmbito
mundial, o desvio de água para irrigar
algodão – uma cultura sedenta – encolheu o
Mar de Aral, no Uzbequistão, a um quinto
do seu tamanho original.5
Após a colheita de um campo de
algodão, as cápsulas são descaroçadas
para separar as fibras das sementes. As
fibras são então empacotadas em fardos
de aproximadamente 225 quilos cada. (A
indústria têxtil americana utiliza cerca de
11 milhões de fardos de algodão
anualmente) Uma fiação limpa as fibras e
torce para fazer os fios, que são tecidos
em teares mecânicos. O transporte da
fazenda para a fábrica requer energia,
caracteristicamente de combustíveis
fósseis, como também a produção de fio e
tecidos, já que as fiações não são mais
movidas a tração animal.6
Depois de pronta, a camiseta é
geralmente tingida e tratada. Tinturas
químicas e, mesmo algumas tinturas
naturais, quase sempre contêm cobre, zinco
e outros metais pesados, que são tóxicos e
podem poluir a água através do escoamento
industrial. Os tratamentos do tecido, como
aqueles contra manchas e enrugados, e
água, podem conter produtos
petroquímicos, como o formaldeído, um
cancerígeno.7
Isso não quer dizer que consumidores
conscientes devam optar por tecidos
sintéticos. As fibras de poliéster são feitas
de petróleo, um recurso não-renovável cuja
extração e cujo transporte prejudicam o meio
ambiente, mais evidentemente nos
vazamentos de óleo. De acordo com uma
estimativa, se o petróleo utilizado na
produção e transporte for incluído, uma
camiseta mesclada com poliéster pode
liberar, aproximadamente, um quarto de seu
peso em poluição atmosférica e 10 vezes seu
peso em dióxido de carbono.8
A China é o maior produtor mundial de
algodão, seguida pelos Estados Unidos e
Índia. E os Estados Unidos são os
principais exportadores da fibra, exportando
mais de 10,5 milhões de fardos por ano,
principalmente para a Ásia e México.
(Outros grandes exportadores são os países
da antiga União Soviética e a Austrália.)
Países mais pobres, desejosos de vender
seu algodão no mercado mundial,
encontram-se, freqüentemente, em
desvantagem com os subsídios e barreiras
comerciais que protegem os agricultores de
algodão dos Estados Unidos.9
A China é também o principal produtor
mundial de camisetas, fornecendo cerca de
65% do total – a maioria vendida nos
Estados Unidos e Europa. (Os americanos
201
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMISETAS DE ALGODÃO
gastaram US$ 6,2 bilhões em 478 milhões
de camisetas em 2002.) Do mesmo modo
que em muitos países em desenvolvimento,
os trabalhadores da indústria de
confecções na China recebem salários
menores e trabalham mais horas. A
indústria de confecções nos países
industrializados geralmente exploram a
mão-de-obra na América Central e sudeste
da Ásia, onde a legislação trabalhista e
ambiental é muito menos rigorosa do que
nos seus países de origem.10
O que faz o usuário de camisetas? A
escolha mais ecológica, não sendo a
compra de roupa usada, é uma camiseta
feita de algodão orgânico certificado,
202
cultivado sem pesticidas e fertilizantes
sintéticos. Em um projeto agrícola egípcio,
o cultivo orgânico incrementou a
produção de algodão em mais de 30%,
sendo a fibra transformada em tecido sem
nenhum produto químico sintético. A
melhor opção, em termos de bem-estar do
trabalhador, é o produto certificado pela
Fair Trade Federation. Numa tendência
positiva, o algodão orgânico e fabricantes
de confecções de comércio justo estão se
unindo para proteger o ambiente e, ao
mesmo tempo, promover a justiça social. 11
— Mindy Pennybacker,
The Green Guide
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
CAPÍTULO 8
Repensando a
Boa Vida
Gary Gardner e Eric Assadourian
Bogotá, a capital da Colômbia, é comumente
associada com guerra civil e violência. Mas,
nos fins da década de 90, a reputação da
cidade começou a mudar, quando o Prefeito
Enrique Peñalosa liderou uma campanha
para melhorar a qualidade de vida lá. As
matrículas escolares aumentaram em
200.000 estudantes – cerca de 34% – durante o mandato de Peñalosa. Sua administração construiu ou reconstruiu totalmente
1.243 parques – alguns pequenos, outros
bastante grandes – agora usados por cerca
de 1,5 milhão de visitantes anualmente. Um
sistema de transporte rápido, eficiente, acessível a todos, foi planejado e construído. E
a taxa de assassinatos da cidade caiu dramaticamente: hoje, ocorrem menos assassinatos, per capita, em Bogotá do que em
Washington, DC.1
Seja qual for o padrão, o avanço da cidade é um sucesso de desenvolvimento. No
entanto, a transformação de Bogotá foi
alcançada de uma maneira bastante heterodoxa. Quando Peñalosa assumiu, consultores propuseram a construção de uma rodo-
via elevada ao custo de US$ 600 milhões,
uma solução de transporte padrão em muitas cidades engarrafadas por automóveis. Em
vez disso, o Prefeito criou um sistema de
transporte rápido e mais barato usando as
linhas de ônibus existentes. O sistema transporta 780.000 passageiros diariamente
– mais do que o dispendioso metrô de
Washington, DC – e é tão bom que 15%
dos usuários regulares são proprietários de
carros. Peñalosa também investiu em centenas de quilômetros de ciclovias e em calçadões. E incrementou a infra-estrutura cultural da cidade, com a construção de novas
bibliotecas e escolas, ligando-as a uma rede
de 14.000 computadores. Juntamente com
a reabilitação dos parques, as melhorias no
transporte e culturais incentivaram uma meta
estratégica para Bogotá: orientar a vida urbana em torno de pessoas e comunidades.2
Peñalosa baseia-se num parâmetro
incomum para avaliar sua estratégia de desenvolvimento. “Uma cidade é bem-sucedida não quando é rica”, diz ele, “mas quando sua população é feliz”. Essa declaração
203
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
esvazia décadas de conceituação de desenvolvimento, tanto em países pobres quanto em ricos. Resumindo: a maioria dos governos faz dos aumentos contínuos no produto interno bruto (PIB) uma prioridade
maior da política doméstica, assumindo que
estando a riqueza garantida, o bem-estar é
assegurado. No entanto, ênfase indevida na
geração de riqueza, especialmente pelo
encorajamento do alto consumo, pode estar gerando retornos decrescentes. No todo,
a qualidade de vida está se deteriorando em
alguns dos mais ricos países do globo à
medida que as pessoas vão sofrendo maior
estresse e pressão de tempo, com menos
relacionamentos sociais satisfatórios, e à
medida que o meio ambiente vai mostrando cada vez mais sinais de perigo. Enquanto isso, nos países mais pobres a qualidade
de vida é degradada pelo não-atendimento
das necessidades básicas das pessoas.3
Repensar o que significa “a boa vida” é
mais que necessário num mundo que caminha rapidamente numa trilha de males
auto-infligidos e danos planetários a florestas, oceanos, biodiversidade e outros recursos naturais. Ao redefinir prosperidade
com ênfase numa melhor qualidade de vida,
em vez de numa mera acumulação de bens,
indivíduos, comunidades e governos podem concentrar-se na conquista do que as
pessoas mais almejam.Realmente, uma
nova compreensão do que seja boa vida
pode ser construída não em torno da riqueza, e sim do bem-estar: atendimento das
necessidades básicas de sobrevivência, juntamente com liberdade, saúde, segurança e
relações sociais gratificantes. Naturalmente, o consumo ainda seria importante, mas
somente na medida em que incremente a
qualidade de vida. Realmente, uma socie-
204
dade de bem-estar deve empenhar-se em
minimizar o consumo ao necessário para
uma vida digna e gratificante.
Riqueza e Bem-estar
Riqueza e bem-estar são mais parentes distantes do que antagonistas. Na verdade, a
palavra wealth (riqueza, em inglês) deriva
da raiz weal – um sinônimo de bem-estar
que tradicionalmente tem conotação comunitária. No entanto, riqueza significa
atualmente bens materiais e posses financeiras, principalmente de indivíduos – um
significado muito mais limitado do que
suas raízes teriam. A construção de uma
sociedade de bem-estar envolve, essencialmente, resgatar o significado original e
amplo do termo riqueza.4
A idéia de bem-estar, como um objetivo
pessoal e político, é cada vez mais corriqueira, aparecendo em revistas populares
e até em publicações oficiais de organizações multinacionais, como The Well-being
of Nation, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em
2001, e Ecosystems and Human Well-being,
da Mellennium Ecosystem Assessment, de
2003. Mesmo a Câmara dos Comuns canadense aplicou o termo na legislação aprovada em junho de 2003 sob o título de Lei
de Medição do Bem-Estar do Canadá. 5
Definições do conceito variam, mas
tendem a se aglutinar em torno de vários
temas:
• Base de sobrevivência, incluindo alimento, abrigo e segurança:
• Boa saúde, em termos pessoais e de
um meio ambiente robusto;
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
• Boas relações sociais, inclusive uma
vida de coesão social e uma estrutura
de apoio social;
• Segurança, tanto em termos pessoais
quanto de posses pessoais, e
• Liberdade, o que inclui a capacidade
de atingir o potencial de desenvolvimento. 6
parado com os níveis de felicidade. Nos
Estados Unidos, por exemplo, a renda
média individual mais que dobrou entre
1957 e 2002, embora a parcela de pessoas descrevendo-se como “muito felizes”
no mesmo período tenha permanecido
estática. (Vide Figura 8-1.)7
Porcentagem de Pessoa Muito Felizes
Em suma, o termo de- 25.000 Renda Média
100
(base=1995)
nota essencialmente uma
alta qualidade de vida, na
80
qual as atividades diárias 20.000
desenvolvem-se de forma
Renda Média
mais planejada, com menos
60
15.000
estresse. Sociedades centradas no bem-estar envolPessoas Muito Felizes
vem maior interação com 10.000
40
a família, amigos e vizinhos, uma experiência
20
mais direta com a natureza 5.000
e mais dedicação à procuFonte: Myers
ra de realização e expres0
0
são criativa do que acumu1955
1965
1975
1985
1995
2005
lação de bens. Estas
enfatizam estilos de vida
Figura 8-1. Renda Média e Felicidade nos Estados Unidos,
que evitam abuso da pró1957–2002
pria saúde, do próximo ou
Não é de surpreender que a relação endo mundo natural. Ou seja, geram um sentido mais profundo de satisfação com a tre riqueza e satisfação pessoal seja difevida do que as pessoas têm atualmente.
rente nos países pobres. Nestes, renda e
O que é que promove uma vida gratifi- bem-estar estão bem ligados, provavelmente
cante? Nos últimos anos, psicólogos es- porque mais do que a renda individual é
tudando parâmetros de satisfação de vida usada para atender às necessidades básitêm, em geral, confirmado o velho adágio cas. (Vide Capítulo 1.) Constatações da
que diz que dinheiro não traz felicidade – World Values Survey, numa série de pespelos menos para pessoas já afluentes. quisas, em mais de 65 países, sobre vida
Essa desconexão entre dinheiro e felici- gratificante, realizada entre 1990 e 2000,
dade nos países ricos é possivelmente mais demonstraram que renda e felicidade tenbem ilustrada quando o crescimento da dem a caminhar juntas até mais ou menos
renda nos países industrializados é com- US$ 13.000 de renda anual por pessoa (na
205
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
paridade do poder aquisitivo de 1995). Além
desse nível, renda adicional parece gerar
apenas melhoria modesta na felicidade
autodeclarada.8.
Se os psicólogos estão certos sobre os
limites da riqueza na obtenção da felicidade,
estão igualmente certos na descrição do que
contribui para uma vida gratificante. Repetidamente, estudos sugerem que pessoas felizes tendem a ter relações solidárias fortes,
senso de controle sobre suas vidas, boa saúde e trabalho compensador. Muito rapidamente, esses fatores estão cada vez mais sob
estresse nas sociedades industrializadas, de
ritmo acelerado, nas quais as pessoas muitas
vezes tentam usar o consumo como um
substituto para as fontes genuínas de felicidade. Entretanto, há pelo menos alguns indivíduos, comunidades e governos que, insatisfeitos com a qualidade da vida, estão desenvolvendo esforços para construir vidas,
vizinhanças e sociedades de bem-estar. 9
A Potência Um
Durante o verão de 2003, cerca de 50 milhões de americanos inscreveram-se num
Cadastro Nacional Não Liguem, patrocinado pelo governo, destinado a evitar que
telemarqueteiros os telefonassem. A enxurrada de respostas a esse novo programa do
governo – na essência, uma tentativa de as
pessoas resgataram um pouco do seu tempo e privacidade das táticas de marketing
cada vez mais agressivas – indica a frustração que muitos sentem quando forças econômicas começam a dominá-los, ao invés
de servi-los. Entretanto, um número peque* Sigla para “Lifestyles of Health and Sustainability”
206
no, mas crescente, de consumidores está
questionando a forma como fazem compras,
o volume de “coisas” que se amontoam e
complicam suas vidas e o tempo que gastam no trabalho. Esses consumidores insatisfeitos ainda não criaram um movimento
consistente porque suas ações são, basicamente, privadas, ocorrendo em bolsões desconexos em muitos países. Mesmo assim,
a natureza espontânea dessas atividades pode
sinalizar um desejo profundo de muitas pessoas construírem uma vida recompensadora
para si e suas famílias.10
Talvez a expressão mais evidente de um
desejo por uma melhor qualidade de vida
esteja no número crescente de pessoas que
fazem compras de olho no bem-estar. Na
Europa, por exemplo, a demanda por alimentos orgânicos elevou as vendas para US$
10 bilhões em 2002, 8% acima do ano anterior, quando um público chocado com a
doença da vaca louca e outros sustos alimentícios buscou garantias cada vez maiores de segurança em sua alimentação. Analistas de mercado estimam que 142 milhões
de europeus são consumidores de produtos
orgânicos, embora um núcleo “fiel” de 20
milhões tenha representado 69% dos gastos
nesses produtos em 2001. E 150 milhões de
pessoas na Europa ou são vegetarianas ou
reduziram seu consumo de carne vermelha.11
Enquanto isso, o grupo de consumidores nos Estados Unidos interessado em
compras que melhorem a saúde e o meio
ambiente já é bastante grande para merecer o reconhecimento de pesquisadores de
mercado como um grupo demográfico distinto. Chamados de consumidores LOHAS*
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
– pessoas que têm estilos de vida com saúde e sustentabilidade – estes compram de
tudo, desde lâmpadas fluorescentes compactas e células solares a café e chocolate
de comércio justo (produtos que pagam
um salário justo aos produtores ou que causam impacto ambiental menor que os produtos comuns). Esse grupo hoje inclui quase um terço dos americanos adultos e, em
2000, foi responsável por cerca de US$ 230
bilhões em compras – aproximadamente
3% dos gastos totais de consumo nos Estados Unidos. Embora seja uma proporção
relativamente baixa, comparada com o número de pessoas identificadas como consumidores LOHAS, isso provavelmente
deve-se às poucas opções de consumo sadio disponíveis atualmente.12
Em muitos países, as pessoas formam
cooperativas para alavancar seu poder de
mercado por uma melhor qualidade de vida.
No Japão, por exemplo, a União de Cooperativas de Consumidores Seikatsu Club,
com 250.000 membros, estoca alimentos
livres de agrotóxicos e aditivos e
conservantes artificiais, juntamente com
produtos domésticos livres de toxinas. A
cooperativa acondiciona seus produtos em
potes reutilizáveis para reduzir o descarte
de embalagens, que representa 60% do lixo
doméstico. Contrariamente a muitos supermercados que estocam dezenas de milhares de itens individuais, as cooperativas
Seikatsu Club mantêm apenas 2.000 itens,
principalmente produtos alimentícios. Caracteristicamente, estocam apenas uma ou
duas variedades por item, mas para seus
membros que buscam uma vida mais
compensadora, a melhor qualidade, os alimentos sadios e a redução do lixo aparen-
temente compensam a menor escolha. E
os membros da Seikatsu não estão só; cerca de 50 milhões de pessoas pertencem a
cooperativas locais afiliadas à Consumer
Coop International, uma entidade internacional que facilita treinamento para cooperativas locais de consumidores.13
Em alguns casos, as pessoas voltam-se
para organizações em busca de ajuda para
tornar seu consumo mais verde. Uma coalizão de organizações em 19 países, conhecida como Plano de Ação Global, oferece
treinamento a famílias para reduzir o lixo,
aliviar o uso de energia e mudar para produtos ecoamigáveis. Na Holanda, pelo menos 10.000 famílias trabalham no
redirecionamento do seu consumo; após o
treinamento, essas pessoas reduziram seu
lixo doméstico em 28% em média. Seis a
nove meses depois, já haviam alcançado
39%. E em 2003 o governo francês lançou
uma iniciativa semelhante, la famille
durable (a família sustentável), que oferece formas práticas de as pessoas viverem
sustentavelmente no lar, na escola, no trabalho e durante as férias.14
E nos Estados Unidos, o Center for a
New American Dream insta as pessoas a
viverem uma vida com “mais diversão,
menos tralhas”. Através do seu programa
Vire a Maré, o centro encoraja as pessoas
a seguirem um plano de conservação
ambiental simples, de nove etapas, envolvendo ações como substituir torneiras por
outras de eficiência hídrica e comer menos carne. Os 14.000 membros dessa iniciativa relatam terem economizado mais de
500 milhões de litros de água e evitado que
mais de 4 milhões de quilos de dióxido de
carbono fossem liberados na atmosfera.15
207
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
Além da mudança nos hábitos de compras, muitos consumidores estão tentando simplificar seus estilos de vida de forma mais ampla – um processo chamado
às vezes de “mudança descendente”. A
analista Cecile Andrews descreve a motivação dessas pessoas: “Muitas pessoas
[estão] apressadas, nervosas e
estressadas. Não têm tempo pra seus
amigos; são ríspidas com a família; não
riem muito”. Muitas, diz ela, “buscam
uma maneira de simplificar suas vidas –
correr menos, trabalhar menos e gastar
menos. Estão começando a ‘desacelerar’
e gozar a vida novamente”.16
Estimativas sobre o número de mudanças descendentes são imprecisas, porém o
interesse na simplificação parece estar aumentando. Em sete países europeus, o número de pessoas que voluntariamente reduziram suas jornadas de trabalho aumentou a uma taxa de 5,3% ao ano durante os
últimos cinco anos. E a tendência em direção à simplicidade deverá continuar. O número de pessoas nesses mesmos países
que poderiam, pelo menos parcialmente,
adotar voluntariamente um estilo de vida
simples deverá crescer de cerca de 7 milhões em 1997 para, no mínimo, 13 milhões em 2007.17
Enquanto isso, duas pesquisas de opinião nos Estados Unidos, realizadas em
meados dos anos 90, indicaram que aproximadamente um quarto da população empenhava-se para simplificar suas vidas,
embora a extensão dos esforços variasse
muito de pessoa a pessoa. E a mídia demonstrou um interesse crescente na matéria. Artigos em jornais norte-americanos
sobre a simplificação de estilos de vida
208
quintuplicaram entre 1996 e 1998. Em
1997, o Sistema Público de Radiodifusão
transmitiu um documentário intitulado
Affluenza, que tratava o consumismo como
uma doença contagiosa e oferecia sugestões de como se vacinar contra ela. O programa foi muito popular, sendo posteriormente distribuído para 17 países.18
Todavia, iniciativas individuais são apenas parte do que é necessário para construir
uma sociedade de bem-estar. Só esforços
individuais não ajudarão, necessariamente,
a criar comunidades fortes e sadias (embora possam liberar tempo para maior
envolvimento comunitário), nem poderão lidar com os obstáculos estruturais a uma
escolha genuína de consumo – a falta de
produtos orgânicos num supermercado, por
exemplo. Alguns críticos até argumentam
que, isoladamente, iniciativas individuais
podem ser contraproducentes. Uma
“individualização da responsabilidade”, como
observa o cientista ambiental Michael Maniates, desvia a atenção do papel que instituições comerciais e governamentais desempenham na perpetuação do consumo insalubre. Ademais, uma vez que indivíduos vêem
seu poder residir basicamente em seus bolsos, poderão negligenciar seus papéis-chave como pais, educadores, membros da
comunidade e cidadãos na construção de
uma sociedade de bem-estar.19
A necessidade de indivíduos agirem coletivamente na melhoria da sua qualidade de
vida levou um grupo na Noruega a lançar,
em 2000, uma campanha intitulada 07/06/
05. Seus membros estão conclamando os
noruegueses para a contagem regressiva até
7 de junho de 2005, o centenário da independência da Noruega do domínio sueco, e
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
para declararem sua independência novamente – dessa vez, porém, da “pobreza de
tempo” que acompanhou a ascendência da
cultura do consumo.20
Nos Estados Unidos, uma aliança chamada
“Fórum da Simplicidade” busca mobilizar os
milhões de americanos às voltas com muito
a fazer e com muito pouco tempo. Instituíram 24 de outubro de 2003 como o Dia do
Resgate do Tempo, instando os americanos
a deixarem o trabalho cedo, chegarem tarde,
levarem mais tempo almoçando, ou até mesmo ausentarem-se do serviço. Milhares aderiram a eventos em casas de vizinhos, igrejas
locais, salões de conferências e universidades para discutir a carência de tempo enfrentada por todos os americanos. A data foi escolhida deliberadamente – nove semanas antes do fim do ano – para lembrar aos americanos que são um dos povos que mais trabalham no mundo industrializado, permanecendo 350 horas a mais em serviço (ou seja, nove
jornadas semanais), anualmente, do que o trabalhador europeu.21
Os organizadores esperam utilizar a
energia da iniciativa americana para iniciar um movimento popular centrado no
resgate do tempo para uma maior qualidade de vida. A campanha buscaria reformar a legislação federal de férias, jornadas de trabalho e outras medidas que
liberariam tempo para os elementos negligenciados da vida, como família, amigos e comunidade. Como explica o coordenador do Dia do Resgate do Tempo
e produtor de Affluenza, John de Graaf,
“o Movimento do Tempo significa olhar
além do PIB como medida de uma boa
sociedade e entender que o objetivo real
da nossa economia não é o crescimento
material infinito, e sim uma vida equilibrada, plena e sustentável para todos”.22
Os Laços que Unem
Humanos são seres sociais; portanto, não é
de se estranhar que boas relações sejam um
dos ingredientes mais importantes para uma
alta qualidade de vida. O professor de Políticas Públicas de Harvard, Robert Putnam,
observa que “a constatação mais comum em
meio século de pesquisa sobre os correlatos
de realização de vida... é que a felicidade é
melhor vaticinada pela extensão e profundidade das relações sociais”. Assim, os esforços individuais de construção de uma vida
feliz têm mais probabilidade de sucesso se
envolverem a família, amigos ou vizinhos.
Felizmente, esforços individuais e comunitários freqüentemente andam de mãos dadas.
A pessoa que trabalha menos horas a cada
semana tem mais tempo para a família, os
amigos e a comunidade. E os laços comunitários, reforçados, por exemplo, quando vizinhos compartilham ferramentas ou responsabilidades no cuidado de bebês, podem reduzir as despesas domésticas e ajudar as pessoas a levarem vidas mais simples.23
Pessoas que mantêm relações sociais
tendem a ser mais saudáveis – e,
freqüentemente, de forma significativa.
Mais de uma dúzia de estudos de longo
prazo no Japão, Escandinávia e Estados
Unidos revelam que as chances de morrer
num determinado ano, seja qual for a causa, são duas a cinco vezes maiores nas
pessoas isoladas do que nas socialmente
relacionadas. Por exemplo, um estudo
constatou que em 1.234 pessoas que sofreram ataques cardíacos, a taxa de outro
209
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
ataque em seis meses foi quase o dobro
para aqueles que viviam sozinhos. E um
estudo de saúde e desconfiança nos Estados Unidos, realizado pela Universidade de
Harvard, concluiu que a mudança para um
estado com alto nível de relações sociais,
vindo de um estado onde este nível é baixo, melhoraria a saúde individual quase na
mesma extensão que deixar de fumar.24
Um exemplo particularmente marcante
da relação entre relacionamento social e
saúde vem de um estudo da cidade de
Roseto, na Pensilvânia, que chamou a
atenção dos pesquisadores nos anos 60 em
função do seu índice de doenças cardíacas ser menos da metade das cidades vizinhas. As causas usuais dessa anomalia
– dieta, exercício, peso, fumo, predisposição genética, etc. – não explicavam o
fenômeno de Roseto. Na realidade, a população de Roseto era até pior em muitos
desses fatores de risco que seus vizinhos.
Assim, os pesquisadores investigaram
outras explicações possíveis e verificaram
que a cidade tinha uma estrutura social
coesa, que gerou clubes esportivos, igrejas, um jornal e um grupo de escoteiros.
Socialização informal ampla era a norma.
Posteriormente os pesquisadores atribuíram os níveis mais altos de saúde aos fortes laços sociais dos moradores – a maioria vinha do mesmo vilarejo da Itália e
trabalhou duro para manter seu senso de
comunidade nos Estados Unidos. O triste
adendo a essa história é que, a partir do
final dos anos 60, quando os laços sociais
enfraqueceram nesta cidade e por todo o
país, o índice de doenças cardíacas aumentou em Roseto, vindo a superar o da
cidade vizinha.25
210
Laços sociais fortes são
particularmente úteis na promoção
do consumo coletivo, o que
freqüentemente traz vantagens
sociais e ambientais.
Pesquisadores oferecem várias explicações para o elo entre relacionamento social
e menor risco de saúde. Alguns são extremamente práticos: gente relacionada tem
alguém a quem recorrer quando acontecem
problemas de saúde, reduzindo a probabilidade de a doença se desenvolver numa condição grave. Redes sociais podem reforçar
comportamentos sadios; estudos revelam
que as pessoas isoladas são mais propensas a fumar ou beber, por exemplo. E comunidades coesas podem ser mais eficazes no lobby por tratamento de saúde. Mas
a ligação pode ser mais profunda. O contato social pode efetivamente estimular o sistema imunológico do indivíduo a resistir a
doenças e estresse. Animais de laboratório,
por exemplo, têm mais probabilidade de
desenvolver endurecimento das artérias
quando isolados, enquanto animais e seres
humanos isolados tendem a sofrer resposta imunológica baixa e pressão alta.26
Profissionais de desenvolvimento internacional também reconhecem que laços sociais fortes são grandes incentivadores de
desenvolvimento de uma nação. O Banco
Mundial, por exemplo, vê o relacionamento
social como uma forma de capital – um bem
que rende uma torrente de benefícios úteis
para o desenvolvimento. Da mesma forma
que uma conta bancária (capital financeiro)
rende juros, os laços sociais tendem a criar
vínculo, reciprocidade ou redes de informa-
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
ção, que lubrificam as rodas da atividade
econômica. Vínculos, por exemplo, facilitam as transações financeiras ao criar um
clima de confiança nas relações contratuais
ou na segurança de investimentos. Um estudo de contatos sociais, realizado pelo Banco Mundial, entre comerciantes agrícolas de
Madagáscar comprovou que aqueles que
faziam parte de uma extensa rede de comerciantes e que podiam contar com colegas em épocas de dificuldades tinham renda
superior aos comerciantes com menos contatos. De fato, os comerciantes bem-relacionados declararam que as relações são mais
importantes para seu sucesso do que muitos fatores econômicos, inclusive o preço
de suas mercadorias ou o acesso a crédito
ou equipamentos.27
Falta de capital social também parece
estar ligado a um fraco crescimento econômico em âmbito nacional. Stephen Knack,
do Banco Mundial, alerta que níveis baixos
de confiança social podem prender nações a
uma “armadilha de pobreza”, em que o círculo vicioso da desconfiança, baixos investimentos e pobreza é difícil de romper. Knack
e seus colegas testaram a relação entre confiança e desempenho econômico em 29 países incluídos na Pesquisa de Valores Mundiais. Constataram que cada aumento de 12
pontos na medida de confiança da pesquisa
estava associado a um aumento de 1% no
crescimento da renda anual, e que cada aumento de 7 pontos na confiança correspondia
a um aumento de 1% no índice de participação de investimentos no PIB.28
O papel do “veículo” social, de facilitação de transações econômicas, é particularmente evidente nas iniciativas de
microcrédito, como as do Grameen Bank,
em Bangladesh, que realiza pequenos empréstimos a mulheres extremamente pobres,
que não dispõem de garantias para empréstimos bancários comuns. As mulheres organizam-se em grupos de cinco, e cada grupo solicita empréstimos do Banco, às vezes, inferiores a US$ 100. Elas contam com
sua confiança nas vizinhas quando as convidam para se unir ao grupo. Essa função
da informação – algo como onde bancos
comerciais gastam dinheiro quando compilam um histórico de crédito de um solicitante
– é um exemplo de como o capital social
pode reduzir os custos da atividade financeira. Laços sociais também servem como
garantia para empréstimos. Uma vez que as
mulheres são solidariamente responsáveis
pela amortização, e que uma inadimplência
pode desqualificar todas as cinco para empréstimos futuros, cada mulher está sujeita
a uma forte pressão social para pagar.29
A compensação econômica desses tipos
de relacionamentos sociais tornou o
microcrédito um sucesso em muitos países. O Grameen Bank declara que 98% de
seus empréstimos são resgatados, um registro melhor do que na maioria dos bancos
comerciais. O Grameen inspirou a disseminação do microcrédito mundialmente. Uma
iniciativa conhecida como a Campanha da
Cúpula do Microcrédito estabeleceu uma
meta de habilitar 100 milhões de pessoas em
programas de microcrédito até 2005. No final de 2002, já estavam a meio caminho,
com 68 milhões de participantes.30
Além de melhorar a saúde e facilitar a
segurança econômica, laços sociais fortes
são particularmente úteis na promoção do
consumo coletivo, o que freqüentemente
traz vantagens sociais e ambientais. Um
211
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
bom exemplo disso é a co-habitação, uma
forma moderna de vida comunitária em que
10–40 famílias vivem num conjunto
habitacional destinado a estimular interação
entre vizinhos. A privacidade é valorizada e
respeitada, porém os moradores compartilham espaços-chave, incluindo refeitório,
jardins e espaços recreativos comunitários. Iniciadas nos anos 60, mais de 200
comunidades de co-habitação estabeleceram-se na Dinamarca. O movimento disseminou-se para a Holanda, Escandinávia,
Austrália, Canadá e Estados Unidos, onde
50 novos grupos de co-habitação são implantados a cada ano (embora mais da metade destes não sobrevivam para ver uma
comunidade estabelecida, devido aos fortes desafios envolvidos, inclusive na obtenção de licenças e financiamento, como
também na construção da comunidade).31
Numa comunidade de co-habitação, as
residências freqüentemente compartilham
paredes com lares vizinhos e estão agrupadas em torno de um pátio ou passarela. Veículos estão restritos ao perímetro da comunidade. Esse desenho significa que essas comunidades consomem menos energia e menos materiais do que bairros cheios de residências particulares. Um estudo de 18 comunidades nos Estados Unidos, em meados
dos anos 90, constatou que, em comparação
ao período anterior à mudança para co-habitações, seus membros possuíam 4% menos
veículos, 25% menos lavadoras e secadoras
e 75% menos cortadores de grama. O espaço médio por domicílio nas 18 comunidades
– incluindo a parcela de área comum de cada
unidade – foi de aproximadamente 130 m2,
dois terços do domicílio médio nos Estados
Unidos em meados dos anos 90. O
212
compartilhamento de porões para serviços
mecânicos e entradas comuns reduzem o
espaço com pouco sacrifício da comodidade. E a construção de conjuntos agrupados
permite o compartilhamento de pátios sem
grande perda de privacidade. Como conseqüência dessas características, a comunidade média de co-habitação no estudo utilizou
apenas metade da área, por residência, que
um empreendimento imobiliário suburbano
convencional nos Estados Unidos.32
Mas talvez a maior contribuição das comunidades de co-habitação para uma alta
qualidade de vida seja os laços sociais que
criam. As comunidades são auto-administradas, encorajando interações e
compartilhamento. As crianças têm muitos
adultos observando seu lazer, como há também uma abundância de colegas e pessoas
para cuidar dos bebês. A maioria das comunidades oferece duas ou mais refeições comunitárias por semana, com uma média de
comparecimento de 58% das famílias. Contrastando com as refeições “rápidas” oferecidas por empresas de alimentação, que caracteristicamente servem alimentos processados e embalados, como purê de batata instantâneo ou pizza congelada, a abordagem
das co-habitações para as refeições comunitárias poupa tempo sem sacrificar a qualidade da comida. Na Comunidade CoHabitacional Nomad, no Colorado, por
exemplo, onde há duas refeições comunitárias por semana, os moradores gastam 2,5–
3 horas a cada 5 a 6 semanas ajudando na
cozinha e na limpeza. Comparado com o
preparo de uma refeição familiar por dia, esse
compartilhamento ocasional de esforço libera até 9 horas de trabalho para cada família durante seis semanas.33
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
Em muitos países em desenvolvimento,
o consumo coletivo é também mais viável
em comunidades com uma forte base social. (Vide Quadro 8-1.) Um estudo do Banco
Mundial de 64 vilarejos em Rajasthan, Índia, por exemplo, comprovou que a conservação e o desenvolvimento de bacias
hidrográficas foram mais bem-sucedidos em
vilarejos que possuíam fortes níveis de con-
fiança, redes informais e solidariedade do que
em vilarejos com índices menores desses
bens sociais. E em Bangladesh, programas
de coletas cooperativas de lixo (onde as prefeituras não os forneciam) foram realizados
com sucesso em áreas onde certas formas
de capital social – nesse caso, normas de
reciprocidade e compartilhamento – eram
bem desenvolvidas.34
QUADRO 8-1. A EXPERIÊNCIA DE GAVIOTAS: PRIORIZANDO O BEM-ESTAR
Gaviotas é um vilarejo com 200 habitantes na
zona rural da Colômbia, com uma reputação
mundial de desenvolvimento inovador. Sua
abordagem é regida por uma forte
preocupação quanto à qualidade de vida do
vilarejo e ao meio ambiente natural. Seus
habitantes asseguram atendimento às
necessidades básicas: os moradores nada
pagam pelas refeições, tratamento médico,
educação e habitação. Todos os adultos têm
emprego, ou nos vários empreendimentos
locais que fabricam coletores solares e
moinhos de vento, na agricultura orgânica e
hidropônica ou em iniciativas florestais.
As necessidades sociais também são
tratadas, através do ritmo das atividades
cotidianas. Os membros trabalham juntos nos
negócios do vilarejo e fazem suas refeições
regularmente no grande refeitório, mesmo que
cada residência tenha uma cozinha. Música e
outros eventos culturais fazem parte da vida
normal do vilarejo. Com o sustento e
necessidades sociais plenamente atendidas, a
atmosfera é de paz: a comunidade nunca teve
força policial, cadeia ou prefeitura em todos os
seus 33 anos de história. Normas comunitárias
são estabelecidas pelos membros e impostas
através de pressão social.
Gaviotas é conhecida mundialmente por
suas muitas invenções, incluindo uma bomba
d’água em que as crianças do vilarejo operam
brincando de gangorra, moinhos de vento
projetados para as brisas suaves das planícies
colombianas, um aquecedor de água solar
pressurizado e uma moenda de mandioca a
pedal. As tecnologias enfatizam a qualidade de
vida desses aldeões, como também de outras
comunidades interessadas. Como questão de
princípio – e em linha com seu interesse
principal em melhorar a qualidade de vida e não
apenas em gerar riqueza – os aldeões não
patentearam suas invenções, que são livremente
disponibilizadas. Milhares de moinhos de
vento foram instalados por técnicos de
Gaviotas por toda a Colômbia, tendo o desenho
sido copiado em toda a América Latina.
Para os aldeões, bem-estar também significa
pisar leve no meio ambiente. Gaviotas é hoje
auto-suficiente em eletricidade, fazendo um uso
amplo de energia solar e eólica e do metano
produzido do esterco do gado. Seu antigo
hospital com ar-condicionado e aquecimento
solar (hoje um centro de purificação de água) foi
considerado por uma revista de arquitetura
japonesa como um dos 40 prédios mais
importantes do mundo. Sua agricultura é
orgânica. E é o centro do maior projeto de
reflorestamento da Colômbia, tendo convertido
dezenas de milhares de hectares de caatinga em
floresta, da qual a população extrai e vende
apenas resina, mesmo sabendo que a madeira
seria mais lucrativa. Os aldeões acreditam que
uma floresta sadia que gera recursos modestos é
melhor do que uma mata exaurida, que
proporcione um benefício temporário.
_________________________________________
FONTE: vide nota final 34.
213
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
Criando Infra-Estruturas
de Bem-Estar
Quando indivíduos ou comunidades buscam incrementar sua qualidade de vida,
podem ficar presos a um conjunto de opções disponíveis a eles. Produtos orgânicos, garrafas reutilizáveis de bebida ou
transportes públicos obviamente não podem ser comprados se não estiverem à
venda. Regras e políticas que determinam
o conjunto de opções disponíveis, tais como
subsídios ao petróleo, que tornam a energia de combustíveis fósseis mais barata que
a eólica, leis de uso do solo, que encorajam
um zoneamento espaçado em loteamentos
imobiliários, ou códigos de construção, que
contestam o uso de materiais reciclados,
formam essencialmente a “infra-estrutura
do consumo”. A criação de uma melhor
qualidade de vida requer que todos nós –
indivíduos e comunidades – ajudemos a
criar novas “infra-estruturas de bem-estar”
políticas, físicas e culturais.35
Alguns governos estão começando o
exercer sua autoridade ajudando a criar um
ambiente político conducente ao bem-estar. A mais básica de suas iniciativas é avaliar adequadamente a saúde comunitária ou
social, como a cidade de Santa Mônica está
fazendo, através de um Plano Urbano Sustentável. Implantado em 1994, o plano visa
diminuir o consumo comunitário global,
especialmente o uso de materiais e recursos não-locais, não-renováveis, nãoreciclados e não-recicláveis. Busca também
desenvolver uma diversidade de opções de
transportes, a fim de minimizar o uso de
materiais perigosos ou tóxicos, para preservar espaços abertos e encorajar a parti-
214
cipação comunitária na tomada de decisões.
O plano utiliza 66 indicadores para medir
seu desenvolvimento, tais como geração de
resíduos sólidos, custo de vida, percentual
de ruas principais com ciclovias, percentual
de cobertura arbórea, comparecimento eleitoral, parcela de moradores voluntários,
emissões de gases de estufa, número de
desabrigados e índice de crimes. Muitas das
metas iniciais de Santa Mônica foram atingidas ou ultrapassadas, de acordo com a
Prefeitura, e objetivos mais ambiciosos foram estabelecidos para 2010.36
Em âmbito nacional, o instrumento padrão utilizado para medir a saúde social, o
PIB, é muito restrito para servir como
referencial de bem-estar, pois soma todas
as transações econômicas independentemente de sua contribuição à qualidade de vida.
Também ignora parcelas inteiras de atividades extramercado que contribuem para o
bem-estar individual e comunitário, como
cuidados a crianças prestados por um dos
pais que ficam em casa. Durante os anos
90, pesquisadores empenharam-se em desenvolver medidas alternativas, como a Pegada Ecológica, o Indicador do Progresso
Genuíno, o Índice de Desenvolvimento Humano e o Índice Planeta Vivo, a fim de complementar a perspectiva do PIB. (Vide também Capítulos 1 e 7.) Uma dessas iniciativas, o Índice de Bem-Estar, desenvolvido
pelo consultor de sustentabilidade Robert
Prescott-Allen, destaca-se por sua
abrangência. (Vide Quadro 8-2.)37
Além de recalibrar a medida da saúde
ecológica, os governos estão utilizando seus
extensos poderes legislativos e normativos
para determinar a forma como as pessoas
consomem e os valores que uma sociedade internaliza em relação ao consumo. A
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
eliminação de subsídios perversos e a adoção de impostos sobre poluição, por exemplo, já se mostraram úteis na criação de
um meio ambiente mais limpo e uma melhor qualidade de vida em muitos países
europeus. (Vide também Capítulo 5.)
QUADRO8-2.MEDINDOOBEM-ESTAR
O Índice de Bem-Estar utiliza 87
indicadores para medir o bem-estar
humano e ecológico – desde a expectativa
de vida e taxa de matrículas escolares até a
extensão do desmatamento e níveis de
emissões de carbono. Os 87 indicadores
podem ajudar os países a identificarem as
áreas onde sua qualidade de vida esteja
sob impacto. Os valores da variedade de
indicadores são padronizados e somados
numa pontuação única, para facilitar a
comparação em 180 países.
Os resultados são reveladores: cerca de
dois terços da população mundial vivem
em países com pontuação fraca ou baixa
para o bem-estar humano. Apenas a
Noruega, Dinamarca e Finlândia figuram
como as melhores nos cinco níveis de
classificação. Enquanto isso, países com
uma pontuação ambiental fraca ou baixa
cobrem quase a metade da superfície
terrestre. E nenhum país recebeu uma boa
classificação ambiental.
As medidas separadas de bem-estar
humano e ambiental do Índice ajudam a
cristalizar um objetivo de desenvolvimento
ideal: melhorar a vida das pessoas com menor
impacto possível ao meio ambiente.
Realmente, o Índice revela que o atendimento
às necessidades das pessoas pode ser
realizado com uma variedade de custos
ambientais. A Holanda e Suécia têm,
aproximadamente, a mesma pontuação de
bem-estar humano, porém a Holanda está
muito baixa em saúde ambiental. Isso sugere
que a forma como uma nação atinge seus
objetivos de desenvolvimento é tão
importante como se os atinge.
_________________________________________
FONTE: vide nota final 37.
E muitos governos na Europa estão ajudando os trabalhadores e suas famílias a
tirarem um tempo extra a cada semana.
Bélgica, Dinamarca, França, Holanda e
Noruega hoje têm jornadas semanais de 35
a 38 horas, que, além de liberar tempo valioso para os trabalhadores, freqüentemente
ajudam a criar novos empregos. A Holanda
tem duas abordagens criativas na redução
da jornada de trabalho. Os empregadores
concedem os mesmos benefícios e oportunidades de promoção tanto a trabalhadores em meio turno quanto àqueles em tempo integral, tornando o trabalho em meio
turno atraente para muitos. E o governo
encoraja pais com crianças pequenas a trabalharem o equivalente a 1,5 emprego para
os dois, liberando mais tempo para atender
à demanda maior de tempo no cuidado de
crianças pequenas. Além das reformas à jornada semanal de trabalho, muitos países
concedem férias familiares pagas para pais
com o primeiro filho. A Suécia, por exemplo, concede 15 meses de férias por criança, pagando até 80% do salário, comparado com as 12 semanas de férias sem remuneração que são oferecidas nos Estados Unidos.38
Intervenções governamentais como
essas criam um ambiente familiar menos
estressante. A Finlândia, por exemplo,
possui políticas muito fortes de apoio ao
emprego de mães, inclusive férias remuneradas, isenção fiscal e recursos públicos para cuidados infantis e outras medidas. (Em um estudo, a Finlândia foi a primeira entre 14 nações na concessão desses benefícios.) Um estudo em 2001 do
benefício psicológico dessas medidas para
os pais constatou que, contrariamente aos
215
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
Estados Unidos, onde a paternidade tende
a ser associada a fraco bem-estar psicológico, devido ao estresse envolvido e falta de apoio familiar, a paternidade na Finlândia correlacionou-se de forma neutra
ou positiva com o bem-estar psicológico.
Para os pais, os resultados foram fortemente positivos, mas para as mães um
pouco menos, indicando que o apoio para
elas poderia ser reforçado.39
Atingir a clareza sobre a importância da
prestação de serviços públicos é fundamental para mudar a infra-estrutura jurídica e
política do bem-estar. A grande priorização
do consumo privado em muitos países nas
últimas décadas tem freqüentemente dado
má reputação aos serviços públicos. Porém
as sociedades pagam um preço social quando o consumo privado é perseguido às custas de investimentos públicos. Um relatório
de 2003 pela Fabian Society, no Reino Unido, demonstra isso. A privatização de escolas públicas, observou o relatório, pode resultar no fato de as melhores escolas atraírem os melhores estudantes, enquanto as
piores escolas recebem uma parcela desproporcional de casos disciplinares. Transporte de ônibus privatizado pode deixar rotas
não-lucrativas sem serviço e as rotas melhores superexploradas, forçando mais pessoas a utilizarem seus automóveis, como
ocorreu no Reino Unido, quando serviços
locais foram privatizados.40
Naturalmente, decidir o que deve ser
fornecido publicamente é um delicado problema político, mas um em que o público
pode e deve estar envolvido. Um exemplo
inspirador do envolvimento público no estabelecimento de prioridades para os recursos públicos vem de Porto Alegre, no Brasil. As autoridades locais aplicaram um pro-
216
cesso de “orçamento participativo” desde
1989, envolvendo os cidadãos diretamente
nas decisões de alocação do orçamento
municipal. O processo gerou maior transparência e responsabilidade governamental, redução da parcela da receita urbana
consumida pela folha de pagamento e uma
redução no percentual de contratos adjudicados de forma paternalista. Também levou a aumentos no volume de dinheiro gasto em educação, serviços básicos e infraestrutura urbana – iniciativas que melhoraram a qualidade de vida dos seus habitantes. Além disso, o processo mobilizou mais
pessoas a cada ano, com 40.000 dos 1,3
milhão de habitantes participando do processo orçamentário de 1999. A maioria envolve-se comparecendo a reuniões de bairro, e assim o processo ajudou a aumentar
o envolvimento comunitário, permitiu o
surgimento de novos líderes e capacitou
algumas das comunidades mais pobres de
Porto Alegre. O orçamento participativo já
se espalhou para 140 comunidades – 2,5%
dos municípios brasileiros.41
Atenção para o projeto de infra-estrutura física também é crucial para a melhoria
da qualidade de vida. Residências suburbanas centradas no automóvel, por exemplo,
têm sido muito criticadas, por enfraquecerem a coesão comunitária, devido, em parte, ao tempo necessário para o deslocamento para o trabalho. O cientista social Robert
Putnam observou que cada 10 minutos
adicionais diários está associado a um
declínio de 10% no envolvimento em questões comunitárias. Com o americano adulto comum gastando hoje 72 minutos por
dia atrás do volante do carro, quase sempre sozinho, a coesão comunitária só pode
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
sofrer. Em 2003, loteamentos suburbanos
expandidos também foram criticados por
seus efeitos adversos à saúde. Um estudo
nos Estados Unidos, com mais de 200.000
pessoas em 448 condados, constatou que
aqueles que viviam em comunidades suburbanas de baixa densidade gastavam
menos tempo andando e pesavam 2,7 quilos mais, em média, do que aqueles que
residiam em áreas densamente habitadas.
Constatou-se também que os moradores
suburbanos tinham a mesma propensão à
pressão alta que os fumantes.42
Enquanto isso, projetos urbanos podem
repelir – ou atrair ciclistas. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos indicam que uma
das razões principais dada pelos americanos por não andarem de bicicleta é que
consideram o ciclismo inseguro. E é. Medido por quilômetro percorrido, o ciclismo
nos Estados Unidos é mais perigoso do que
qualquer outro meio de transporte. Todavia, a taxa de acidentes com ciclistas na
Holanda e Alemanha é apenas um quarto
da dos Estados Unidos, principalmente porque essas nações investem em ciclovias,
semáforos que priorizam ciclistas e outros
equipamentos que tornam o ciclismo seguro. A Holanda duplicou a extensão de sua
malha de ciclovias nos últimos 20 anos e a
Alemanha triplicou sua malha.43
Quando são bem planejadas, as cidades
podem ser locais atraentes para as pessoas
passarem seu tempo, encorajando maior
interação cívica. Ambos os fatores tendem
a incrementar a qualidade de vida. Ao converter ruas em calçadões, misturando habitações com lojas, criando praças e parques
e tomando outras medidas, os centros urbanos podem ser locais estimulantes. Em
Copenhague, por exemplo, cafés ao ar livre, praças públicas e atores de rua atraem
o público no verão, enquanto ringues de
patinação, bancos aquecidos e aquecedores
a gás nas esquinas tornam o inverno
aprazível. E a cidade esforçou-se para facilitar o ciclismo, não só oferecendo ciclovias,
mas também disponibilizando bicicletas mediante um depósito modesto, reembolsado
quando a bicicleta é devolvida.44
Essas inovações de planejamento
ocorrem quando uma cidade leva a sério
a priorização da qualidade de vida. Uma
demonstração dessa seriedade vem de
Austin, no Texas, que aplicou um programa de incentivo ao conhecimento
como Matriz de Critérios de Crescimento Inteligente, para controlar onde e como
o crescimento ocorre e realçar a qualidade de vida. A cidade utilizou uma série de
critérios para pontuar projetos imobiliários, com projetos de pontuação alta habilitando-se a isenções de impostos. O
analista Guy Dauncey descreve os critérios de incentivo desta forma:
Pode-se obter maior número de
pontos para um local no centro e
para um local a um quarteirão de
um ponto de ônibus, ou dois quarteirões de uma estação de metrô.
Há pontos para recuos menores,
varandas, becos, ruas estreitas e
orientação comunitária. Há pontos para uso misto residencial, comercial e varejo, para unidades
residenciais acima de pontos comerciais e pelo encorajamento do
uso da rua por pedestres. A Matriz também concede pontos por
facilitar ciclismo, redução de trân-
217
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
sito, vias verdes e habitação acessível, utilizar empreiteiras e arquitetos locais, eficiência hídrica e
energética, incorporar um mercado e outros estabelecimentos de
varejo, preservar o patrimônio
histórico e reutilizar prédios existentes. Há pontos por paisagismo,
planejamento viário, por ser consistente com projetos locais e por
participação e apoio locais.45
Algumas empresas também estão começando a reconhecer que podem tornar
sua própria infra-estrutura física mais
aprazível para o bem-estar dos funcionários. Na nova sede internacional da
Sprint, em Kansas, uma empresa de telecomunicações, os carros devem estacionar em garagens na extremidade do
campus corporativo, forçando os funcionários a andarem uma certa distância
até o trabalho. Os prédios possuem elevadores lentos, o que encoraja o uso das
escadas. E a área de alimentação no complexo está localizada fora dos escritórios, em vez de estarem convenientemente
no meio deles, para que os funcionários
gastem alguma energia para almoçarem.
Esse projeto inovador reflete um entendimento de que promoção do bem-estar
nem sempre é sinônimo de maximização
de conforto ou conveniência.46
Novas infra-estruturas políticas e físicas de consumo estão sendo complementadas por um novo e florescente
arcabouço cultural, particularmente na
promoção de uma ética de consumo para
o bem-estar. Nesse sentido, as pessoas
estão cada vez mais ativas na exigência
de um melhor padrão ético na publicida-
218
de. Na Suécia, toda a publicidade é proibida nas programações direcionadas a crianças, um grupo altamente influenciável.
E nos Estados Unidos anúncios de cigarro foram proibidos na televisão há décadas. A União Européia recentemente ampliou sua proibição de propaganda de cigarro na televisão para cobrir outra mídia,
incluindo jornais, revistas, rádio e a Internet,
até 2005, como também eventos esportivos
até 2006. O estabelecimento de limites na
publicidade é um tema sensível, em virtude
das preocupações com a liberdade de expressão, porém esses exemplos demonstram
que os países podem atingir um equilíbrio
sadio entre garantia da liberdade de expressão e saúde pública.47
Enquanto isso, a própria publicidade está
sendo utilizada como um instrumento para
combater o alto número de mensagens de
consumo que bombardeia os consumidores. O grupo canadense Adbusters patrocina “descomerciais” de televisão, que encorajam os telespectadores a reduzirem o
consumo, deixarem seus carros na garagem ou desligarem seus televisores. Alguns
governos estão colocando publicidade ou
anúncios de serviço público na televisão e
outros veículos para encorajar o consumo
mais sustentável, como fez o governo da
Tailândia, através de comerciais humorísticos na televisão pedindo aos consumidores que gastem menos energia e água. O
Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) adotou uma abordagem diferente, trabalhando com anunciantes no desenvolvimento de propaganda que
encoraje as pessoas a utilizar produtos sustentáveis. (Vide Quadro 8-3.)48
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
QUADRO8-3.ENCORAJANDOANUNCIANTESAPROMOVERASUSTENTABILIDADE
O marketing é uma ferramenta poderosa, que
está freqüentemente implicada no estímulo ao
consumo – e, portanto, em minar os esforços
de se construir um mundo sustentável. Porém
o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente está tentando transformar os
marqueteiros em aliados, recrutando-os para
promoverem a sustentabilidade. Em 1999, o
Fórum do PNUMA sobre Publicidade e
Comunicações foi estabelecido para criar uma
conscientização de “consumo sustentável” –
um consumo que melhore a qualidade de vida
ao mesmo tempo em que minimize as
desigualdades sociais e ecológicas – e
encorajar anunciantes e marqueteiros a
promoverem-na.
As principais associações empresariais
dentro da indústria da publicidade e
marketing responderam através do
desenvolvimento de publicações prósustentabilidade, em colaboração com o
PNUMA, e organizando sessões especiais
sobre desenvolvimento sustentável nos seus
congressos internacionais. Por exemplo, a
agência McCann-Ericson publicou,
juntamente com o PNUMA, um folheto
intitulado “Será que Sustentabilidade Vende?”
A educação também é importante na
reformulação cultural para uma melhor
qualidade de vida. Austrália e Canadá hoje
instituíram uma disciplina de mídia no seu
currículo escolar. Esses programas ajudam
a conscientizar os estudantes sobre como
a mídia e a publicidade determinam seus
valores e cultura. E os estudantes aprendem a diferenciar entre a realidade e a
hipérbole marqueteira – seja em comerciais ou incorporada na programação. A educação do consumo, particularmente, pode
ser um corretivo necessário às proclama-
direcionado a empresas e profissionais de
marketing, para convencê-los de que “longe
de deprimir vendas, os princípios
sustentáveis poderão ser essenciais à
proteção tanto da saúde da marca quanto da
lucratividade futura”. Em parceria com
Sustentabilidade e o PNUMA, a Associação
Européia de Agências de Comunicações
elaborou um guia para as agências de
publicidade descrevendo o mercado
internacional crescente de consumo
sustentável. E a Associação Mundial de
Profissionais de Pesquisa solicitou um
levantamento das reações do consumidor às
questões de sustentabilidade.
Ademais, o PNUMA está colaborando com
setores industriais específicos – notadamente
o automotivo, turístico e varejista – para
ajudar a desenvolver estratégias inovadoras de
marketing que avancem na promoção de
opções sustentáveis.
– Solange Montillaud-Joyel,
Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente
_____________________________________________
FONTE: vide nota final 48.
ções incessantes da publicidade sobre o
desejo de consumo. No Brasil, o grupo nãogovernamental Instituto Akatu vem trabalhando com escolas, empresas e escoteiros para educar os participantes a “consumir com consciência”. A organização utiliza uma variedade de instrumentos – desde
a Internet até panfletos, gibis e jogos – para
ensinar as conseqüências ambientais e sociais do consumo e para informar as pessoas sobre como pressionar governos por
mudanças de política que ajudarão a promover um consumo consciente.49
219
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
Conquistando a Boa Vida
Escondida por trás da crescente insatisfação com a sociedade de consumo está uma
pergunta simples: para que serve uma economia? As respostas tradicionais, incluindo prosperidade, empregos e ampliação de
oportunidades, parecem bastante lógicas –
até que se tornem disfuncionais. Quando a
prosperidade nos dá excesso de peso, o
trabalho excessivo nos deixa exaustos e um
conceito “de poder ter tudo” nos leva a
negligenciar a família e os amigos, começamos a questionar mais profundamente a
direção de nossas vidas, como também o
sistema que nos guia nessa direção. Os sinais emergentes em algumas nações industrializadas – e também em alguns países
em desenvolvimento – sugerem que muitos de nós estão querendo mais da vida do
que uma casa maior e um carro novo. As
pessoas anseiam por algo mais profundo:
vidas mais felizes, dignas e significativas –
numa palavra, bem-estar. E esperam que
suas economias sejam um instrumento para
esse fim, e não um obstáculo.
Todos precisarão tornar-se
exímios em lidar com uma
questão-chave: quanto é demais?
As sociedades com alta qualidade de
vida são centradas nas pessoas, com atenção adequada à promoção de interações
entre seres humanos. Áreas urbanas planejadas com foco em pedestres, lazer e
expressão humana, por exemplo, reuniri220
am as pessoas de forma construtiva e
prazerosa – para concertos públicos, festivais ou simplesmente interações informais
viabilizadas em mercados ao ar livre. Economias teriam um caráter local, para que
produtos, talentos e bens característicos de
uma região fossem preferidos às importações de locais distantes. Ao reforçar a teia
de relações entre agricultor e cidadão urbano, artesão e cliente, produtor e consumidor, as economias locais adquirem um
caráter de “escala humana” que economias distantes freqüentemente carecem.
Cultivar relacionamentos requer tempo
e pode envolver o confisco de muitos dos
“ladrões de tempo” da vida moderna, a
começar com o trabalho. A experiência de
vários países europeus demonstrou que a
semana de 40 horas, claramente, não é sacrossanta e, portanto, as pessoas podem
chegar em casa mais cedo ou usufruírem
fins de semana mais longos para ficar com
seus filhos ou amigos. E habitações que não
sejam isoladas em subúrbios espalhados
podem evitar as viagens diárias, que roubam muitas pessoas de quantidades impressionantes de tempo: um percurso de mais
de uma hora por dia, usual para muitos
suburbanos americanos, significa que um
trabalhador gasta o equivalente a seis semanas de trabalho no trânsito anualmente.
O foco da sociedade em instrumentos poupadores de tempo, cuja adoção só tem levado a vidas ainda mais frenéticas, precisa
ser substituído por estilos de vida poupadores de tempo, mais simples.50
Uma sociedade de bem-estar poderá
proporcionar aos consumidores uma variedade suficiente de escolhas genuínas, em
vez de uma gama de produtos praticamen-
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
te idênticos. Empresas seriam encorajadas,
através de incentivos econômicos, a fornecer o que os consumidores realmente
procuram – transporte confiável, não necessariamente um carro; ou produtos saborosos, sazonais e locais, em vez de frutas e legumes transportados de outro país;
ou relacionamentos fortes com vizinhos em
lugar de uma casa grande com extenso terreno. Escolhas seriam redefinidas, para significarem opções que melhorem a qualidade de vida, em vez de opções entre produtos ou serviços individuais.
Para os indivíduos, a escolha genuína
provavelmente incluiria a escolha de não
consumir. Todos precisarão tornar-se exímios em lidar com uma questão-chave:
quanto é demais? As respostas serão diferentes de pessoa a pessoa, porém uma diretriz que vale a pena considerar é uma do
filósofo chinês Lau Tzu: “Saber quando se
tem o suficiente é ser rico”. Consumidores
que abraçam essa sabedoria antiga dão um
grande passo em direção à fuga da tirania
da comparação social e marketing que
move grande parte do consumo moderno.51
As pessoas numa sociedade de bem-estar também desenvolveriam relacionamentos íntimos com o meio ambiente natural.
Reconheceriam as árvores em seus parques
e as flores em seus jardins com a mesma
facilidade com que identificam logomarcas
corporativas. Entenderiam os fundamentos
ambientais de sua atividade econômica: de
onde vem sua água, para onde vai seu lixo e
se a energia que sua usina usa para gerar
eletricidade é carvão, nuclear ou renovável.
Provavelmente gostariam de desenvolver
projetos em casa que os ajudassem a viver
mais intimamente com a natureza – uma cis-
terna coletora de água da chuva, por exemplo, ou um vasilhame de compostagem ou
horta. Em suma, aprenderiam a amar a natureza e a se tornar seus defensores. Como
o finado biólogo de Harvard, Stephen Jay
Gould, disse: “Precisamos desenvolver um
laço emocional e espiritual com a natureza,
pois não podemos lutar para salvar aquilo
que não amamos”.52
Finalmente, uma sociedade focada no
bem-estar asseguraria que todos nela tivessem acesso a alimentos sadios, água
limpa e saneamento, educação, tratamento de saúde e segurança física. É praticamente impossível imaginar uma sociedade de bem-estar que não propicie as necessidades básicas de uma pessoa. E, mais
do que isso, é inconcebível que uma sociedade de bem-estar satisfaça-se com seu
próprio sucesso quando outros, além dos
seus limites, sofrem em larga escala. Realmente, aquelas sociedades que pontuam
alto no Índice de Bem-Estar, especialmente
no norte da Europa, também possuem alguns dos programas de ajuda externa mais
generosos do mundo.53
Fazer a transição para uma sociedade
de bem-estar será, sem dúvida, um desafio, dado o hábito das pessoas de colocarem o consumo no ápice dos valores sociais. Porém, qualquer movimento nessa direção começa com duas grandes vantagens.
Primeiro, a família humana hoje tem uma
base de conhecimento, tecnologia e especialização que supera em muito tudo o que
qualquer geração anterior tenha conhecido. Ironicamente, essa base é o produto de
um sistema econômico orientado para altos níveis de consumo. Mas nossas escolhas desenvolvimentistas do século XX,
221
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
direcionadas para o consumo, independentemente de quão mal-orientadas sejam, podem ser resgatadas agora, assegurando que
o estoque moderno de conhecimento e
tecnologia seja investido no bem-estar, e
não na continuação do acúmulo material.
Uma segunda vantagem é simples, porém poderosa: para muitas pessoas, uma
vida de bem-estar é preferível a uma vida
de alto consumo. O ex-Primeiro-Ministro
da Holanda Ruud Lubbers captou essa realidade fundamental quando observou que,
nos seus esforços para construírem uma
alta qualidade de vida, os holandeses trabalham jornadas limitadas: “Preferimos
assim. Desnecessário dizer que há mais
espaço para todos aqueles aspectos importantes de nossas vidas que não são
parte de nossos empregos, pelos quais não
somos pagos e para os quais nunca há tempo suficiente”. O desejo de uma melhor
222
qualidade de vida pode ser mais imperfeito em outras sociedades industrializadas,
mas os sinais estão lá: trabalhadores que
desejam mais tempo livre do que aumento
de salário, compradores que escolhem alimentos orgânicos e outros produtos “éticos”, pessoas que buscam relações familiares mais fortes. Quando os componentes de uma sociedade de bem-estar são
disponibilizados, a receptividade é, quase
sempre, extraordinariamente positiva.54
Ao cultivar relacionamentos, facilitar
escolhas sadias, aprender a viver em harmonia com a natureza e atender às necessidades básicas de todos, as sociedades
podem mudar de uma ênfase no consumo
para uma ênfase no bem-estar. Isso poderá ser uma tamanha conquista no século
XXI, como os tremendos avanços em
oportunidade, conveniência e conforto foram no século XX.
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
Notas
Prefácio
1.
Gary Cross, An All-Consuming
Century. Why Commercialism Won in
Modern America (Nova York: Columbia
University Press, 2000).
2.
Matthew Bentley, Sustainable
Consumption: Ethics, National Indices and
International Relations (dissertação para
doutorado, American Graduate School of
International Relations and Diplomacy,
Paris, 2003).
3.
Citação de Lebow de Vance Packard,
The Waste Makers (Nova York: David Mckay,
1960).
4.
Água doce, de Igor A. Shiklomanov,
Assessment of Water Resources and Water
Availability in the World (St. Petersburg,
Russia: State Hydrological Institute, 1996),
Janet L. Sawin, “Fossil Fuel Use Up”, in
Worldwatch Institute, Vital Signs 2003
(Nova York: W.W. Norton & Company,
2003), pp. 34-35.
5.
Cifra atual e crescimento calculados, de
“Car Sales Booming in China”, All Things
Considered, National Public Radio, 17/09/03,
de “China’s Private Car Ownership Tops 10
Million”, People’s Daily, 14/06/03, e de Liu
Wei, “China’s Demand of Cars to Exceed 4.2
Million in 2003”, People’s Daily, 30/07/03.
6.
Alan Durning, How Much Is Enough?
(Nova York: W.W. Norton & Company, 1992).
Estado do Mundo: Um Ano em
Restrospecto
Outubro 2002. Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), Finance
Initiative Climate Change Working Group,
Climate Change and the Financial Services
Industry (Nairobi: 2002); Colin Woodard,
“Popularity Burdens World’s Favorite
Coastline”, Christian Science Monitor, 10/10/
02; International Food Policy Research
Institute (IFPRI) e International Water
Management Institute, Global Water Outlook
to 2025: Averting an Impending Crisis
(Washington, DC: IFPRI, 2002); “Pelo Menos
300 Mil Crianças Trabalham em Minas da
Colômbia”, Reuters, 31/10/02.
Novembro 2002. Coalition to Stop the Use of
Child Soldiers, Child Soldiers 1379 Report
(Londres: novembro de 2002); UNESCO,
UNESCO Adds 18 New Sites to World Network
of Biosphere Reserves”, press release (Paris:
8/11/02); “Galicia (Spain) Oil Spill, November
2002”, Earthnet, 20/11/02.
Dezembro 2002. World Food Programme,
“Hunger Crisis Set to Worsen in 2003 Despite
Fresh Donations”, press release
(Joanesburgo: 30/12/02); Gareth Harding, “EU
Bans Tobacco Ads”, UPI Wire, 2/12/02;
veículos de Chang-Ran Kim, “The Future is
Here – Japan Launches Fuel Cell Cars”,
Reuters, 3/12/02, e de Deena Beasley, “Honda,
Toyota Deliver Fuel Cell Cars in California”,
223
Estado do Mundo 2004
NOTAS, UM ANO EM RESTROSPECTO
Reuters, 3/12/02; “Wind Around the World”,
Renew On Line, novembro – dezembro de 2002,
em w w w - t e c . o p e n . a c . u k / e e r u / n a t t a /
renewonline/rol40/11.htm, visitado em 07/10/
03; Human Rights Commission of Pakistan,
“461 Honor Killings of Women Reported in
Two Provinces”, UN Wire, 12/12/02; “Warm
Artic Summer Melted Much Ice”, Science
News, 21 e 28/12/02.
Janeiro 2003. Natural Resources Defense
Council, Rewriting the Rules (Nova York: 31/
12/02); David Karoly e James Risbey, Global
Warming Contributes to Australia’s Worst
Drought (Sidney: World Wide Fund for
Nature Australia, 15/01/03); Clive James,
“Global Status of Commercialized Transgenic
Crops: 2002”, press release (Manila:
International Service for the Acquisition of
Agri-biotech Applications, 16/01/03).
Fevereiro 2003 PNUMA, “Power Stations
Threaten People and Wildlife with Mercury
Poisoning”, press release (Nairobi: 3/02/03);
Clean Edge, Inc., Clean Energy Trends 2003
(São Francisco: 20/02/03); “UNICEF Official
Cites ‘Largest Slave Trade in History’”, UN
Wire, 20/02/03; Department of Trade and
Industry, Our Energy Future – Creating a
Low Carbon Economy, Energy White Paper
(Londres: fevereiro de 2003); Divisão de
População das Nações Unidas, World
Population Prospects: The 2002 Revision
(Nova York: fevereiro de 2003).
Março de 2003. “World Bank Says
Companies Paid $1 Billion in Extortion
Money”, UN Wire, 7/03/03; Sid Perkins,
“Warmer Climates Accelerate Life Cycles of
Plants, Animals”, Science News, 8/03/03;
Global Policy Forum, “Iraq Crisis”, em
www.globalpolicy.org/ security/issues/
irqindx.htm. Visitado em 8/10/03; Nações
Unidas, Water for People, Water for Life: The
224
Nações Unidas World Water Development
Report (Paris: UNESCO Publishing and
Berghahn Books, 2003).
Abril 2003. J. Travis, “Moving On: Now The
Human Genome is Really Done”, Science
News, 19/04/03; “Sea Burial for Canada’s Cod
Fisheries”, Science News, 17/05/03;
Organização Mundial da Saúde (OMS) e
UNICEF, Africa Malaria Report (Genebra:
OMS, abril de 2003); Foreign Policy Magazine
e Center for Global Development, “New
Ranking: Netherlands is Most DevelopmentFriendly Nation”, press release (Washington,
DC: 28/04/03).
Maio 2003. Ransom Myers and Boris Worm,
“Rapid Worldwide Depletion of Predatory
Fish Communities”, Nature, 15/05/03; WHO,
“WHO Framework Convention Tobacco
Control”, em www.who.int/features/2003/08/
en, visitado em 08/10/03; Banco Mundial,
“Multilateral Initiative to Manage South
America’s Largest Groundwater Reservoir
Launched”, press release (Montevidéu,
Uruguai: 23/05/03).
Junho 2003. “Water Starts to Fill Three
Gorges Dam”, UN Wire, 2/06/03; PNUMA,
“New Initiative to Combat Growing Global
Menace of Environmental Crime”, press
release (Nairobi: 2/06/03); Otto Pohl, “World
Panel Will Now Act to Conserve the Whale
Population”, New York Times, 17/06/03;
McDonald’s Corporation, “McDonald’s Calls
for Phase-Out of Growth Promoting
Antibiotics in Meat Supply, Establishes Global
Policy on Antibiotic Use”, press release (Oak
Brook, IL: 19/06/03); “Deforestation of
Amazon is on the Rise”, UN Wire, 26/06/03.
Julho 2003. OMS, “SARS Outbreak
Contained Worldwide”, press release
(Genebra: 5/07/03); Roger Thurow, “AIDS
Fuels Famine in Africa: As Swaziland Farmers
Estado do Mundo 2004
NOTAS, UM ANO EM RESTROSPECTO E CAPÍTULO 1
Die, Their Land Goes Unplanted”, Wall Street
Journal, 9/07/03; “Europe Adopts Climate
Emissions Trading Law”, Environmental
News Service, 22/07/03.
Agosto 2003. PNUMA e World Conservation
Monitoring Centre (WCMC), “Wild Forests
‘Living Museums’of Virtually Extinct
Species”, press release (Cambridge: WCMC,
4/08/03); “EU ‘Regrets’ US Action on GM
Crops”, BBC World News, 8/08/03; Nancy
Gibbs, “Lights Out”, Time, 25 August 2003;
International Council on Mining and Metals,
“Landmark ‘No-go’ Pledge from Leading
Mining Companies”, press release (Londres:
20/08/03); Denis Hémon e Eric Jougla,
“Surmortalité liée à la Canicule d’Août 2003 –
Rapport d’étape” (Paris: National Institute for
Health and Medical Research, 25/09/03).
Setembro 2003. “Northern Hemisphere
Temperature Hits 2,000 Year High”,
Environmental News Service, 2/09/03;
PNUMA, “World’s Protected Areas Top
1.000,000, Exceed Size of India and China –
UN Report”, press release (Nairobi: 9/09/03);
Patrick Smith, “Poor Nations Keep Heat on
Trade”, Christian Science Monitor, 30/09/03;
World Meteorological Organization,
“Antarctic Ozone Hole Unusually Large”,
press release (Genebra: 16/09/03); “Chile
Indians End Protest Against Hydro-Power
Dam”, Reuters, 19/09/03.
Capítulo I.
O Estado do Consumo Hoje
1.
Wayne W. J. Xing, “Shifting Gears”, The
China Business Review, novembro –
dezembro de 1997.
2.
“China’s Private Car Ownership Tops 10
Million”, People’s Daily, 14/06/03; 11.000 por
dia é um cálculo do Worldwatch, baseado em
dados em Liu Wei, “China’s Demand of Cars to
Exceed 4.2 Million in 2003”, People’s Daily, 30/
07/03; vendas de automóveis, de “Car Sales
Booming in China”, All Things Considered,
National Public Radio, 17/09/03; “150mn
Chinese Families to Buy Cars in Next 15 Years”,
People’s Daily, 12/03/03; frota dos EUA, de
Ward’s Communications, Ward’s Motor Vehicle
Facts & Figures 2001 (Southfield, MI: 2001),
p. 38; atitudes dos chineses, de “Car Sales
Booming”, op. cit., esta nota.
3.
Julie Chao, “Pacific Currents: China
Trying to Cope With Burgeoning Car Culture”,
Seatle Post-Intelligencer, 8/09/03;
investimentos estrangeiros de Clay Chandler,
“China Goes Car Crazy: Suburbs, Drive-ins,
Car Washes – This Revolution Has Wheels”,
Fortune, 11/08/03.
4.
Matthew Bentley, Sustainable
Consumption: Ethics, National Indices and
International Relations (dissertação de
doutorado, American Graduate School of
International Relations and Diplomacy, Paris,
2003).
5.
Projeção de população, de Nações
Unidas, World Population Prospects, The
2002 Revision (Nova York: 2003).
6.
U.S. Department of Transportation,
Bureau of Transportation Statistics, National
Household Travel Survey 2001 Highlights
Report (Washington, DC: 2003); SUVs de Oak
Ridge National Laboratory, Transportation
Energy Data Book, Edition 22 (Oak Ridge, TN:
setembro de 2002), p. 7-1; tamanho das casas,
de Joint Center for Housing Studies, State of
the Nation’s Housing 2003 (Cambridge, MA:
Harvard University, 2003), p. 32; tamanho da
família de U.S. Department of Agriculture,
Economic Research Service, Race and Ethnicity
in Rural America: Marital Status and
Household Structure, em www.ers.usda.gov/
225
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1
Briefing/RaceAndEthnic/familystructure.htm,
atualizado em 24/12/02; indústria da obesidade,
de Jui Chakravorty, “Catering to Obese
Becoming Big Business”, Reuters, 4/l0/03.
7.
Gastos do consumo privado (em dólares
de 1995) são cálculos do Worldwatch, baseados
em Banco Mundial, World Development
Indicators Database, em media.worldbank.org/
secure/data/qquery.php, visitado em 2/06/03.
Quadro 1-1 dos seguintes: Nações Unidas, op.
cit., nota 5, p. 1; consumo projetado de carne dos
americanos e todos os dados populacionais, da
Divisão de População das Nações Unidas, banco
de dados on-line, em esa.un.org/unpp, visitado
em 20/09/03, e da Organização de Alimento e
Agricultura das Nações Unidas (FAO), FAOSTAT
Statistical Database, em apps.fao.org, atualizado
em 30/06/03; emissões de carbono são cálculos
do Worldwatch, baseados em dados de Molly O.
Sheehan, “Carbon Emissions and Temperature
Climb”, em Worldwatch Institute, Vital Signs 2003
(Nova York: W.W. Norton & Company, 2003), pp.
40-41; tamanho da família e consumo de energia,
de Nico Keilman, “The Threat of Small
Households”, Nature, 30/01/03, p. 489. Tabela 11 contém cálculos do Worldwatch, baseados em
dados populacionais e gastos do consumo
privado do Banco Mundial, op.cit., esta nota; os
totais somam 98 e 99%, devido à indisponibilidade
de dados para países pequenos.
8.
Números da pobreza são estimativas do
Banco Mundial, citadas em Millennium
Development Goals Web site, em
www.developmentgoals.com/ Poverty.htm.
9.
Tabela 1-2, de Bentley, op. cit., nota 4.
Parcela da classe de consumidor global é um
cálculo do Worldwatch.
10. Tabela 1-3, de Bentley, op. cit., nota 4;
gastos na África Subsaariana (em dólares de
1995), do Banco Mundial, op. cit., nota 7.
226
11.
Bentley, op. cit., nota 4.
12. Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA), “UNEP Urges AsiaPacific Towards a Cleaner, Greener
Development Path”, press release (Nairobi: 19/
05/03); frota de automóveis dos EUA, de
Ward’s Communications, op. cit., nota 2, p. 38;
Matthew Bentley, “Forging New Paths to
Sustainable Development”, UNEP Background
Paper, Asia Pacific Expert Meeting on Promoting
Sustainable Consumption and Production
Patterns, Yogyakarta, Indonésia, 21-23/05/03.
13. Calorias diárias, de FAO, op. cit., nota 7;
número de subnutridos de idem, The State of
Food Insecurity in the World, as cited in Nações
Unidas Statistical Division, Millennium
Indicators Database, em unstats.un.org/unsd/
mi/mi_series_xrxx.asp?row_id=640, visitado em
23/10/03; Tabela 1-4, de Banco Mundial, World
Development Indicators 2000 (Washington,
DC, 2000), pp. 222-24.
14. Calorias de produtos animais, de FAO,
op. cit., nota 7; consumo de carne, de Danielle
Nierenberg, “Meat Production and
Consumption Grow”, em Worldwatch Institute,
op. cit., nota 7, p. 30; fast-food na Índia, de
Saritha Rai, “Taste of India in U.S. Wrappers”,
New York Times, 29/04/03, e de Seth Mydans,
“Clustering in Cities, Asians Are Becoming
Obese”, New York Times, 13/03/03;
subnutridos na Índia, do Programa de
Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD),
Human Development Report 2003 (Nova York:
Oxford University Press, 2003), p. 199.
15. Dados sobre água limpa e saneamento,
do UNICEF, The State of the World’s Children
2003 (Nova York: 2003), p. 95; definições de
“água potável” e “saneamento adequado”, do
PNUD, op. cit., nota 14, pp. 357-58.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1
16. Janet Abramovitz e Ashley Matoon,
Paper Cuts: Recovering the Paper
Landscape, Worldwatch Paper 249
(Washington, DC: Worldwatch Institute,
dezembro de 1999), pp. 6, 11-12.
17. Tabela 1-5, do Banco Mundial, op. cit.,
nota 7; residências com televisores e número
com serviços a cabo, de International
Telecommunication Union (ITU), World
Telecommunication Development Report
2002 (Genebra: 2002); média de hábitos
televisivos, de Robert Kubey e Mihaly
Csikszentmihalyi, “Television Addiction Is No
Mere Metaphor”, Scientific American,
fevereiro de 2002, pp. 74-80.
18. Telefones de ITU, op. cit., nota 17; uso
da Internet, de idem, “Internet Indicators:
Hosts, Users and Number of PCs”, em
www.itu.int/ITU-D/ict/statistics/at_glance/
Internet02.pdf, visitado em 09/10/03.
19. Tabela 1-6 dos seguintes: cosméticos e
perfumes, de “Pots of Promise”, The
Economist, 24/05/03, pp. 69-71; ração e
sorvete, do PNUD, Human Development
Report 1998 (Nova York: Oxford University
Press, 1998), p. 37; cruzeiros marítimos, de Lisa
Mastny, “Cruise Industry Buoyant”, em
Worldwatch Institute, Sinais Vitais 2002
(Salvador: UMA Editora, 2002), p. 122;
investimentos anuais adicionais necessários,
de Michael Renner, “Military Expenditures on
the Rise”, em Worldwatch Institute, op. cit.,
nota 7, p. 119, exceto estimativa de vacinação,
de Erik Assadourian, “Consumption Patterns
Contribute to Mortality”, in Worldwatch
Institute, op. cit., nota 7, p. 108.
20. Aumentos de materiais, de Gary Gardner
e Payal Sampat, Mind Over Matter: Recasting
the Role of Materials in Our Lives,
Worldwatch Paper 144 (Washington, DC:
Worldwatch Institute, dezembro de 1998), p.
16; intensidade de metais, de Payal Sampat,
“Metals Production Climbs”, em Worldwatch
Institute, op. cit., nota 19, pp. 66-67.
21. Uso de combustíveis fósseis, de Janet
L. Sawin, “Fossil Fuel Use Up”, em
Worldwatch Institute, op. cit., nota 7, pp. 3435; metais, de Payal Sampat, “Scrapping
Mining Dependence”, em Worldwatch
Institute, Estado do Mundo 2003 (Salvador:
UMA Editora, 2003), p. 113.
22. Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota 16,
p. 20.
23. Sampat, op. cit., nota 21, p. 114;
Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), OECD
Environmental Data Compendium 2002
(Paris: 2003), p. 14.
24. Dados e projeções da FAO, de
Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota 16, pp.
20-21, 40, 52.
25. Peter Lunt, “Psychological Approaches
to Consumption: Varieties of Research – Past,
Present and Future”, em Daniel Miller, ed.,
Acknowledging Consumption (Londres:
Routledge, 1995), pp. 238-63.
26. Ibid.; John A. March, “Losing
Consciousness: Automatic Influences on
Consumer Judgment, Behavior, and
Motivation”, Journal of Consumer Research,
setembro de 2002, pp. 280-85.
27. Tim Jackson e Nic Marks,
“Consumption, Sustainable Welfare and
Human Needs”, Ecological Economics, vol.
28, no. 3 (1999), pp. 421-42.
28. J. R. McNeill, Something New Under the
Sun: An Environmental History of the 20th
Century World (Nova York: W.W. Norton &
Company, 2001), p. 315; fábrica da Toyota, de
227
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1
Thomas L. Friedman, The Lexus and the Olive
Tree (Nova York: Farrar, Strauss, Giroux, 1999),
p. 26; custos de semicondutores de “Cost per
Megabit Trends”, IC Knowledge Web site,
em www.icknowledge. com/economics/
products2.html, visitado em 2/09/03.
29. Australiano, de “Freer Trade Cuts the
Coast of Living”, no website da OMC, em
www.wto.org/ english/thewto_e/whatis_e/
10ben_e/10b04_e.htm, visitado em 17/10/03;
“Kingdom of Bahrain Joins WTO’s
Information Technology Agreement”, 18/10/
003, em www.wto.org/english/news_e/
news03_e/news_bahrain_ita_18jul03_e.htm,
visitado em 17/10/03; reduções de custo, de
Telecommunications Industry Association,
“Information Technology Agreement
Promises to Eliminate Tariffs on Most IT
Products by the Year 2000”, PulseOnline
Newsletter Archive, outubro de 1997, em
www.tiaonline.org/media/pulse/1997/
pulse1097-3.cfm, visitado em 17/10/03.
30. Organização Internacional do Trabalho,
Comitê de Emprego e Política Social,
Employment and Social Policy in Respect of
Export Processing Zones (Genebra: novembro
de 2002); Jim Lobe, “Unions Assail WTO for
Ignoring Worker Rights”, One World US, 8/
09/03; International Confederation of Free
Trade Unions, Export Processing Zones –
Symbols of Exploitation and a Development
Dead-End (Bruxelas: setembro de 2003).
31. Ransom A. Myers e Boris Worm, “Rapid
Worldwide Depletion of Predatory Fish
Communities”, Nature, 15/05/03, pp. 280-83;
mineração, de Craig B. Andrews, Mineral
Sector Technologies: Policy Implications for
Developing Countries, Industry and Energy
Division Note No. 19 (Washington, DC: Banco
Mundial, 1992), e de Craig Andrews, discussão
com Claudia Meulenberg, Worldwatch
228
Institute, 22/09/03; Dogwood Alliance, “Paper
and Chipboard Production”, em www.
dogwoodalliance.org/chipmill. sp#chipboard,
visitado em 22/10/03.
32. Preços do Petróleo da Organização dos
Países Exportadores de Petróleo, OPEC
Annual Statistics Bulletin 2001 (Viena: 2001),
p. 119; taxas de frete aéreo, de David Hummels,
“Have International Transportation Costs
Declined?”, minuta (Chicago: University of
Chicago, novembro de 1999), pp. 4-5; divisão
do trabalho, de Nathan Rosenberg,
“Technology”, em Glenn Porter, ed.,
Encyclopedia of American Economic History,
vol. 1 (Nova York: Charles Scribner’s Sons,
1980), pp. 294-308.
33. ITU, Telecommunications Indicators in
the World, 2000, em www.rtnda.org/
resources/ wiredweb/text.html; Lei de Moore
da Webopedia, em www.webopedia.com/
TERM/M/Moores_Law. html, visitado em 09/
10/03.
34. Custos de semicondutores, de Joseph
I. Lieberman, White Paper: National Security
Aspects of the Global Migration of the U.S.
Semiconductor Industry (Washington, DC:
Office of Senator Lieberman, junho de 2003);
custos fixos, de Rosenberg, op. cit., nota 32.
35. Gastos em publicidade no mundo,
Estados Unidos e China, de Bob Coen,
University McCann’s Insider’s Report on
Advertising Expenditures, junho de 2003, em
www.mccann.com/ insight/bobcoen.html,
visitado em 09/10/03; Figura 1-1 de ibid. e de
Bob Coen, Estimated World Advertising
Expenditures, em www. mccann.com/insight/
bobcoen.html, visitado em 09/10/03; jornais e
correspondência, de John de Graff, David
Wann e Thomas Naylor, Affluenza: The AllConsuming Epidemic (São Francisco, CA:
Berrett-Koehler Publishers, Inc., 2001), p. 149;
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1
“Television Clutter in Prime Time and Early
Morning Reach All Time Highs”, press release
(Nova York: American Association of
Advertising Agencies e Association of
National Advertisers, Inc., 12/04/99).
36. Fumo na juventude, de Madeline A.
Dalton et al., “Effect of Viewing Smoking in
Movies on Adolescent Smoking Initiation:
A Cohort Study”, The Lancet, 10/06/03, pp.
281-85; proibição e aumento, de Stanton A.
Glantz, “Smoking in Movies: A Major
Problem and a Real Solution”, The Lancet,
10/06/03, p. 258; 85% e receita de vendas
externas, de James D. Sargeant et al., “Brand
Appearances in Contemporary Cinema Films
and Contribution to Global Marketing of
Cigarettes”, The Lancet, 6/01/01, pp. 29-32;
três vezes mais predominante, de A.R. Hazan,
H. L. Lipton e S. A. Glantz, “Popular Films
Do Not Reflect Current Tobacco Use”,
American Journal of Public Health, vol. 84,
no. 6 (1994), pp. 998-1000; Organização
Mundial da Saúde (OMS), ‘Bollywood’:
Victim or Ally? A Who Study on the
Portrayal of Tobacco in Indian Cinema
(Genebra: fevereiro de 2003).
37. Crescimento do crédito ao consumidor,
de Lizabeth Cohen, A Consumer’s
Republic:The Politics of Mass Consumption
in Postwar America (Nova York: Alfred A.
Knopf, 2003), pp. 123-24; 61%, de Robert D.
Manning, “Perpetual Debt, Predatory Plastic:
From the Company Store to the World of Late
Fees and Overlimit Penalties”, Southern
Exposure, verão de 2003, p. 51; renda per
capita, do Banco Mundial, World
Development Indicators 2003 (Washington,
DC: 2003), pp. 14-16.
38. Crescimento do crédito e citação de
Joshua Kurlantzic, “Charging Ahead: America’s
Biggest New Export – Credit Cards – Could
Bring Down the World Economy”, Washington
Monthly, maio de 2003, pp. 28-29.
39. Subsídios econômicos, da OCDE,
Towards Sustainable Consumption: An
Economic Conceptual Framework (Paris:
Environment Directorate, junho de 2002), p. 41;
subsídios a residências suburbanas, de Cohen,
op. cit., nota 37; Scott Bernstein, Center for
Neighborhood Technology, Chicago,
discussão com Gary Gardner, 20/10/98.
40. Paul Hawken, Amory Lovins e L. Hunter
Lovins, Natural Capitalism: Creating the
Next Industrial Revolution (Boston: Little,
Brown, and Company, 1999), pp. 57-60.
41. Sampat, op. cit., nota 21, p. 117.
42. OCDE, OECD Environmental Data
2002 (Paris: 2002), p. 11; “Norway –
Household Waste Increases More Than
Ever”, Warmer Bulletin, 28/06/03.
43. Andrew Balmford et al., “Economic
Reasons for Conserving Wild Nature”, Science,
9/08/02; Índice do Planeta Vivo, da WWF
International, PNUMA, e Redefining Progress,
Living Planet Report 2002, em www.
panda.org/news_facts/ publications/general/
livingplanet/index.cfm, p. 21. Tabela 1-7 de várias
edições de Sinais Vitais, do Worldwatch
Institute, como segue: uso de combustíveis
fósseis, emissões de carbono e aumento do
nível do mar, de Sinais Vitais 2003; florestas,
consumo de madeira, terras agrícolas, pastos,
produção de alimentos e déficit hídrico, de
Sinais Vitais 2000, terras alagadas, de Sinais
Vitais 2001, água subterrânea, de Sinais Vitais
2000; além disso, grande redução de peixes
predadores, de Myers e Worm, op. cit., nota
31. Figura 1-2, de WWF International,
PNUMA, e Redefining Progress, op. cit., esta
nota, e de Angus Maddison, The World
Economy: A Millennial Perspective (Paris:
229
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1 E SACOS PLÁSTICOS
OECD, 2001), pp. 272-321, com atualizações do
Fundo Monetário Internacional World
Economic Outlook Database (Washington,
DC: dezembro de 2002).
44. WWF International, PNUMA, e
Redefining Progress, op. cit., nota 43; Mathis
Wackernagel et al., “Tracking the Ecological
Overshoot of the Human Economy”,
Proceedings of the National Academy of
Sciences, 9/07/02, p. 9268.
45. Mortes, de Majid Ezzati e Alan D.
Lopez, “Estimates of Global Mortality
Attributable to Smoking in 2000”, The
Lancet, 13/09/03, pp. 847-52; US$ 150 bilhões,
de “Annual Smoking-Attributable Mortality,
Years of Potential Life, and Economic Costs
– United States, 1995-1999”, Morbidity and
Mortality Weekly Report, 12/04/02, p. 303;
receita, de Judith Mackay e Michael Eriksen,
The Tobacco Atlas (Genebra: OMS, 2002), p.
50; excesso de peso e obesidade, da OMS e
FAO, Joint WHO/FAO Expert Consultation
on Diet, Nutrition and the Prevention of
Chronic Diseases (Genebra: 2002); National
Center for Health Statistics, Health, United
States, 2003 (Hyattsville, MD: 2003); U.S.
Department of Health and Human Services,
The Surgeon General’s Call to Action to
Prevent and Decrease Overweight and
Obesity, 2001 (Washington, DC: 2001).
49. Michael Bond, “The Pursuit of
Happiness”, New Scientist, 4/10/03, pp. 40-47.
50. Anders Hayden, “Europe’s Work-Time
Alternatives”, em John de Graaf, ed., Take
Back Your Time (São Francisco: Berrett
Koehler, 2003), p. 204.
Sacos Plásticos
1.
Film and Bag Federation, “Great
Moments in Plastic Bag History”, em
www.plasticbag.com/environmental/
history.html.
2.
Howard Rappaport, diretor de Plásticos
e Polímeros Globais, Chemical Market
Associates International, discussão com o
autor, 2/09/03; National Economic Development
and Labour Council (Nedlac), Socio-Economic
Impact of the Proposed Plastic Bag
Regulations, FRIDGE Study no. 29 (Cidade do
Cabo, África do Sul: outubro de 2001).
3.
Produção total, estimativas de 80% de
uso na América do Norte e Europa Ocidental
e quarto da Ásia, de Rappaport, op. cit., nota
2; 100 bilhões, de L.J. Williamson, “It’s Not
My Bag, Baby!” OnEarth, verão 2003, e de
Chaz Miller, “Plastic Film”, Waste Age,
novembro de 2002.
47. OCDE, The Well Being of Nations: The
Role of Human and Social Capital (Paris:
2001), pp. 99-103.
4.
Franklin Associates Inc., Resource
and Environmental Profile Analysis of
Polyethylene and Unbleached Paper
Grocery Sacks (Prairie Village, KS: 1990);
Nedlac, op. cit., nota 2; Fehily Timoney &
Company, “Consultancy Study on Plastic
Bags”, em www.fwhilytimoney.com.
48. Robert Putnam, Bowling Alone: The
Collapse and Revival of American
Community (Nova York: Simon & Schuster,
2000), pp. 189-246.
5.
Jeremia Njeru, “Managing the Problem
of Plastic Bag Waste in Nairobi, Kenya:
Demand-side and Supply-side Considerations”, apresentação na Associação de
46. The Fordham Institute for Innovation in
Social Policy, The Social Report 2003 (Nova
York: 2003); PNUD, op. cit., nota 14, pp. 248-49.
230
Estado do Mundo 2004
NOTAS, SACOS PLÁSTICOS E CAPÍTULO 2
Geógrafos Americanos, 99a Reunião Anual,
Nova Orleans, 5-8 de março de 2003; Beijing
de Xu Zhengfeng, “Putting an End to a Plastic
Plague”, Inter Press Service, 17/08/99;
“bandeira nacional”, de Shawn Pogatchnik,
“Ireland, Pioneer of the Plastic-bag Tax, Plans
Fees on Three Other Litter Sources”,
Associated Press, 16/07/03; “flor nacional”,
de “South Africa Bans Plastic Bags”, BBC
News, 9/05/03.
6.
Biodegradable Products Institute, em
www.bpiworld.org; Steve Mojo, diretor
executivo, Biodegradable Products Institute,
discussão com o autor, 15/09/03.
7.
Ladakh de Tsewang Rigzin, “Leh’s
Seccessful Plastic Ban”, Ladags Melong, 17/
06/02; Moazzem Hossain, “Bangladesh Bans
Polythene”, BBC News, 1o/01/02.
8.
África do Sul, de Toby Reynolds,
“South Africa Moves to Curb Flimsy Plastic
Bag Scourge”, Reuters, 1/10/02; Irlanda, de
Sean Federico-O’Murchu, “Irish Take Lead
with Plastic Bag Levy”, MSNBC, 4/08/03;
outras políticas nacionais, de Pogatchnik, op.
cit., nota 5, e de John Roach, “Are Plastic
Grocery Bags Sacking the Environment?”,
National Geographic, 2/09/03.
Capítulo 2.
Escolhendo Melhor a Energia
1.
“Mountaintop Mining”, Morning
Edition, National Public Radio, 25 de junho
de 2003; Environmental Media Services,
“Mountaintop Removal Strip Mining”, 7/05/
02, em Mining the Mountains Series, The
Charleston
Gazette
Online,
em
www.wvgazette.com/static/series/mining;
Penny Loeb, “The Coalfield Communities of
Southern West Virginia: Mining’s Impact on
Communities”, março de 2003, em
www.wvcoalfield.com.
2.
Eficiência das usinas a carvão, de U.S.
Department of Energy (DOE), Office of Fossil
Energy, “DOE Launches Project to Improve
Materials for Supercritical Coal Plants”, press
release (Pittsburg, PA: 16/10/01).
3.
Consumo do petróleo, calculado pelo
Worldwatch com dados de BP, Statistical
Review of World Energy 2003 (Londres: junho
de 2003), p. 38.
4.
Aumentos 1850-1970, de John Holdren,
“The Tradition to ostlier Energy”, in Lee Schipper
et al., Energy Efficiency and Hyman Activity:
Past Trends, Future Prospects (Cambridge, R.U.:
Cambridge University Press, 1992), p. 7;
população de Molly O. Sheehan, “Population
Growth Slows”, in Worldwatch Institute, Vital
Signs 2003 (Nova York: W.W. Norton &
Company), p. 67; aumento em combustíveis
fósseis até 2002, calculado pelo Worldwatch com
dados de Janet L. Sawin, “Fossil Fuel Use Up”,
in ibid, p. 35, de BP, op. cit., nota 3, p. 38; 28%, de
DOE, Energy Information Administration (EIA),
Energy in Africa (Washington, DC: Office e
Energy Markets and End Use, 1999), p. 8.
5.
Economia de energia, de Howard Geller,
Energy Revolution: Policies for a
Sustainable Future (Washington, DC: Island
Press, 2003), p. 133; Amory B. Lovins, “U.S.
Energy Security Facts (For a Typical Year,
2000)”, fact sheet (Snowmass, CO: Rocky
Mountain Institute (RMI), 18/04/03).
6.
Perdas americanas em 2000, de DOE,
EIA, “Production and – Use Data”, em Annual
Energy Review 1999 (Washington, DC: 2000)
(observar que o DOE reconhece que utiliza
premissas generosas de eficiência); Amory
Lovins, “Twenty Hydrogen Myths”, fact sheet
(Snowmass, CO: RMI, 2003), p. 11.
231
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2
7.
Europa Oriental, ex-nações soviéticas,
países industrializados e participação no
consumo de petróleo, de BP, op. cit., nota 3;
aumento nos EUA, de DOE, EIA, Annual
Energy Review 2001 (Washington, DC: 2002),
com atualizações de International Petroleum
Monthly, julho de 2002; parcela americana das
reservas de Stacy C. Davis e Susan W. Diegel,
Transportation Energy Data Book: Edition
22 (Oak Ridge, TN: Oak Ridge National
Laboratory, setembro de 2002), pp. 1-6.
8.
Relação do uso de energia e falta de
acesso das Nações Unidas, WEHAB Working
Group, A Framework for Action on Energy,
elaborado para a Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável (Nova York:
2002), p. 7; 2,5 bilhões de “Facts About
Energy”, Cúpula de Joanesburgo, 26/08-04/
09/02; média americana calculada pelo
Worldwatch, utilizando dados energéticos da
BP, op. cit., nota 3, e de International Energy
Agency (IEA), “Renewables in Global Energy
Supply”, fact sheet (Paris: novembro de 2002).
Dados energéticos incluem o uso tradicional
da biomassa. Tabela 2-1 dos seguintes:
energia total (excluindo biomassa nãocomercial) e eletricidade são dados de 2000 e
emissões de dióxido de carbono (CO2) são
dados de 1999, do Banco Mundial, World
Development Indicators 2003 (Washington,
DC: 2003), pp. 144-46, 148-50, 294-96; dados
de petróleo são de 2002, da BP, op. cit., nota 3,
e de www.nationmaster.com, exceto para
Etiópia, que foram calculados pelo
Worldwatch com dados estimados de 2001 da
U.S. Central Intelligence Agency, The World
Factbook: Ethiopia (Washington, DC: 2003).
9.
Consumo de petróleo quadruplicando,
da BP, op. cit., nota 3; crescimento da classe de
consumidores indiana, do National Council of
Applied Economic Research (NCAER), citado
em Sunil Jain e Nandini Lakshman, “The Return
232
of the Consumer”, rediff.com (Índia), 7/06/03;
famílias de desabrigados, do Office of the
Registrar General, India, “Tables on Houses,
Household Amenities and Assets: India”,
Census of India 2001, abril de 2003, e de idem,
“India at a Glance: Number of Households and
Household Types”, Census of India 1991.
10. Consumo e aumento da renda, de Manoj
Kumar, “Tryst with Developing World
Consumers: A Case Study of India”, The ICFAI
Journal of Marketing Management, novembro
de 2002; classificação do consumo de petróleo,
de estatísticas do DOE, EIA, em
www.nationmaster. com. Quadro 2-1 dos
seguintes: DOE, EIA, World Primary Energy
Consumption, 1992-2001 (Washington, DC:
2003); IEA, World Energy Outlook (Paris:
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE – , 2002), p. 27;
DOE, EIA, China Country Brief (Washington,
DC: 2003); Lester R. Brown, Plan B (Nova York:
W.W. Norton & Company, 2003), p. 11; NCAER,
op. cit., nota 9; Sylvester Research Ltd., World
Wave citado em Kumar, op. cit., esta nota; Neha
Kaushik, “Durables Ownership Set to RiseNCAER Says Mid-Income Households Will
Grow Rapidly”, The Hindu Business Line, 27/
02/03; Lee Schipper, “Energy and Life: Indicators
of the Link Between Energy, the Economy, and
Lifestyles”, p. 6, e-mail à autora, 5/08/03; Oleg
Dzioubinski e Ralph Chipman, Trends in
Consumption and Production: House-hold
Energy Consumption, Department of Economic
& Social Affairs Discussion Paper nº 6 (Nova
York: Nações Unidas, 1999), pp. 9-10; aumento
nas vendas de automóveis em 2002 de “Car Sales
Booming in China”, All Things Considered,
National Public Radio, 17/09/03; crescimento
da frota entre 2000-05 calculado com dados de
ibid., de “China’s Private Car Ownership Tops
10 Million”, People’s Daily, 14/06/03, e de Liu
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2
Wei, “China’s Demand of Cars to Exceed 4.2
Million in 2003”, People’s Daily, 30/07/03.
11. China – calculado com dados mundias
da produção de petróleo e população, do DOE,
EIA, International Energy Outlook 2003
(Washington, DC: 2003), Tables D2 e A15, e de
idem, International Energy Annual 2001
(Washington, DC: 2003), Table 1.2; “Analysts
Claim Early Peak in World Oil Demand”, Oil
&Gas Journal Online, 12/08/02.
12. Parcela dos transportes, do IEA, World
Energy Outlook 2000 (Paris: OECD, 2000), p.
25; parcela do consumo de petróleo, da União
Européia (UE), “The EU and the World Summit
on Sustainable Development: Partnerships for
Sustainable Energy”, European Union Online,
em europa.eu.int/comm./environment/wssd/
energy_en.html; Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), North
America’s Environment: Thirty Year State of
the Environment and Policy Retrospective
(Washington, DC: 2002), p. xv; aumento
acelerado, do Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática (IPCC), Climate Change
2001: Mitigation (Cambridge, R.U.: Cambridge
University Press, 2001), p. 368.
13. Mudança para meios mais intensivos,
de UE, “Transport Overview – Market
Overview and Trends: Past and Current
Trends”, ATLAS Project, European
Commission Online, em europa.eu.int/comm./
energy_transport/atlas/httml/, visitado em 16/
05/03, e de Molly O’Meara Sheehan,
“Escolhendo Melhor o Transporte”, em
Worldwatch Institute, Estado do Mundo
2001 (Salvador: UMA Editora, 2001), p.
111; passageiros de ibid., p. 106; carga e
viagens aéreas, de Jean-Paul Rodrigue,
“Transportation and Energy”, Hofstra
University, em people .hofsra.edu/geotrans/
eng/ch8en/conc8en/ch8c2en.html, visitado
em 09/05/03; caminhões, de Joseph Romm com
Arthur Rosenfeld e Susan Herrmann, The
Internet Economy and Global Warming
(Washington, DC: Center for Energy and
Climate Solutions, 1999), Capítulo V, p. 9.
14. Lee Schipper, Indicators of Energy Use
and Efficiency: Understanding the Link
Between Energy and Human Activity (Paris:
OECD/IEA, 1997), p. 18; estatísticas de
veículos de passeio, de Michael Renner,
“Vehicle Production Inches Up”, em
Worldwatch Institute, op. cit., nota 4, p. 56;
adições anuais, de Lester Brown, “Paving the
Planet: Cars and Crops Competing for Land”,
Alert 12 (Washington, DC: Earth Policy
Institute, fevereiro de 2001).
15. Parcela de automóveis nos EUA e
contribuição para o aquecimento de
Renner, op. cit., nota 14; parcela do
consumo de petróleo de Karl H. Hellman e
Robert M. Heavenrich, Light-Duty
Automotive Technology and Fuel Economy
Trends: 1965 Through 2003 (Washington,
DC: U.S. Environmental Protection Agency
(EPA), abril 2003), Executive Summary, p. 1;
distância percorrida, de Dean Anderson,
Progress Towards Energy Sustainability in
OECD Countries, Rio+5 Report (Paris: Helio
International, 1997); americanos preferindo
dirigir, de Schipper, op. cit,. nota 14, p. 103;
citação de Alan Pissarski, citada em Lisa Rein
e Robin Shulman, “The Rise of the Multi-Car
Family”, Washington Post, 19/07/03; licenças
de Jane Holtz Kay, Asphalt Nation (Nova York:
Crown Publishers, 1997), p. 271; carros por
família, de Patricia S. Hu e Jennifer R. Young,
Summary of Travel Trends: 1995
Nationwide Personal Transportation
Survey (Washington, DC: U.S. Department
of Transportation, Federal Highway
Administration, 1999), pp. 9, 28.
233
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2
16. Comparações com EUA, de Renner, op.
cit., nota 14; causas de UE, op. cit., nota 13;
Japão de Anderson, op. cit., nota 15; Polônia
de Environment Policy Committee (EPC),
Working Party on National Environmental
Policy, Sustainable Consumption: Sector
Case Study – Household Food Consumption:
Trends, Environmental Impacts and Policy
Responses (Paris: OECD, dezembro de 2001),
p. 6; Ásia e Pacífico (inclui veículos de duas e
três rodas, com motor de dois tempos) de
“Making Polluters Pay”, ABD Review, maiojunho de 2002. Tabela 2-2 dos seguintes: 195090 da American Automobile Manufacturers
Association, citado em Lynn Price et al.,
“Sectoral Trends and Driving Forces of Global
Energy Use and Greenhouse Gás Emissions”,
in Mitigation and Adaptation Strategies for
Global Change, vol. 3, no. 2/4 (1998), pp. 263319; 1999 de Ward’s Communications, Ward’s
Motor Vehicle Facts & Figures 2001
(Southfield, MI: 2001), pp. 50-53.
17. Tendências nos EUA, de Hellman e
Heavenrich, op. cit., nota 15, p. 1, e de Danny
Hakim, “Fuel Economy Hits 22-Year Low”,
New York Times, 3/05/03; Modelo T de “Sierra
Club Challenges Ford’s Fuel Economy at 100”,
Reuters, 5/06/03; velocidade máxima, da Ford
Motor Company, “Model ‘T’ Facts”, press
release (Dearborn, MI: 22/05/03); metade das
vendas nos EUA, de Hellman e Heavenrich,
op. cit., nota 15, p. 3; outras tendências, da
UE, op. cit., nota 13, de Anderson, op. cit.,
nota 15, e de Neha Kaushic, “More Car Per
Car The Hindu Business Line, 10/04/03; David
Healy, “The Number of Motor Vehicles in Use
Worldwide Will Grow from 625 Million Today
to 1 Billion”, Purchasing Magazine Online,
15/01/98.
18. Dados do RU, de Anderson, op. cit, nota
15; EU, “Performance by Mode of Transport,
234
EU15: 1970-2000”, ATLAS Project, EU Energy
and Transport in Figures, European
Commission Online, em europa.eu.int/comm./
energy_transport/ atlas/httmlu/; EUA,
calculado com dados de Davis e Diegel, op.
cit., nota 7, pp. 11-8.
19. Mortes de Sheehan, op. cit., nota 13, p.
110, e de “Study: Greenhouse Gas Cuts Could
Aid Health”, USA Today, 22/07/02; custos
externos de transporte rodoviário, de Sheehan,
“Sprawling Cities Have Global Effects”, in
Vital Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton &
Company, 2002), pp. 152-53; e desigualdades
sociais e um terço da população dos EUA, de
Kay, op. cit., nota 15, p. 33.
20. Estados Unidos lideraram em
transportes públicos, de Transportation
Research Board (TRB), National Research
Council, Making Transit Work: Insight from
Western Europe, Canada, and the United
States, Special Report 257 (Washington, DC:
National Academy Press, 2001), p. 2; trens, de
Kay, op. cit., nota 15, pp. 166, 192; tendências
pós-guerra, de ibid., pp. 224-33, e de TRB, op.
cit., esta nota, p. 4; subsídios para passageiros
de Matthew Daly, “Congressman Considers
Tax Breaks for Cyclists”, Anchorage Daily
News, 22/03/03; queda de passageiros nos
EUA, de Sheehan, op. cit., nota 13, p. 117;
Michael Powell, “Licensed to Drive? Forget
about it! Most New Yorkers Do Without
Wheels”, Washington Post, 19/08/03; Denver
de Surface Transportation Policy Project,
“Transit Grows Faster than Driving for Fifth
Year in a Row”, press release (Washington,
DC: 17 de abril de 2002).
21. Políticas de trânsito e pedágio, de TRB,
op. cit., nota 20; tendências pós-guerra, de
“Reducing the City’s Footprint”, em UN
HABITAT, The State of the World Cities
Report 2001 (Nairobi: 2001), e de Kay, op.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2
cit., nota 15, pp. 233, 318-19; Tóquio, de Un
Habitat, op. cit., esta nota; Japoneses, de Lee
Schipper, Scott Murtishaw, and Fridtjof
Unander, “International Comparisons of
Sectoral Carbon Dioxide Emissions Using a
Cross-Country Decomposition Technique,
Energy Journal, vol. 22, nº 2 (2001), p. 35-75;
parcela dos EUA e Europa Ocidental, de TRB,
op. cit., nota 20, p. 1; parcela e relação do uso
de petróleo do Canadá, de Robert J. Shapiro,
Kevin A. Hassett e Frank S. Arnold, The
Benefits of Public Transportation:
Conserving Energy and Preserving the Air
We Breathe, em www.punlictransportation
.org/pdf/preservingair. pdf.
22. Crescimento mais acelerado de IEA,
Energy Efficiency Initiative Volume I (Paris:
OECD, 1998), p. 17, e de EU, “Transport
Overview – Over-all Market Drivers”, ATLAS
Project, European, Commission Online, em
Europe,eu.int/comm./energy_transport/atlas/
htmlu/tomarpast.html, visitado em 16/05/03;
créditos fiscais de Lee Douglas, “Oregon
Moves to Claw Back Bush’s Big SUV Tax
Break”, Reuters, 27/06/03 (tecnicamente, este
é um subsídio para agricultura que dá uma
brecha para os SUVs).
23. Eficiência moderna dos motores, de
National Clean Bus Project, “Fact Sheet on
Clean Buses: Protecting Public Health, the
Environment and Providing Greater Energy
Security”, distribuído na reunião do
Environmental and Energy Study Institute,
Washington, DC, 13/05/03, p.5; Danny Hakim,
“Hybrid Cars Are Catching On”, New York
Times, 28/01/03; vendas americanas, de
“Toyota, Nissan Join Hands for Hybrid Cars”,
IndiaCar.net, 3/09/02. Quadro 2-2 dos
seguintes: potencial de economia de
combustíveis no curto prazo, de Chris
Baltimore, “US Must Cut Auto Greenhouse
Gases-Research Group”, Reuters, 2/06/03;
economia tripla, de Robert U. Ayres, “A
Energia que Desperdiçamos”, World Watch,
nº 6, 2001, p. 35; eficiência aumentando o
consumo, da UE, op. cit. nota 22, e de Horace
Herring, “Does Energy Efficiency Save
Energy? The Debate and Its Consequences”,
Applied Energy, julho de 1999, pp. 209-26.
24. Rosa Moreno, Greenpeace Chile,
discussão com a autora, 27/06/03.
25. “Bogotá Car Free Day Creates New
Model for Organising Transportation in World
Cities”, em www.challenge.stockholm.se/
feature_ right.asp? Id Nr 5; Tooker Gomberg,
“How Bogotá Beat today from ‘Car Free City”’,
Habitat Newsletter, junho de 2001; other
cities from UN HABITAT, Cities in a
Globalizing World: Global Report on Human
Settlements 2001 (Sterling, VA: Earthscan
Publications, 2001), p. 142.
26. Velocidade dos motoristas em Londres e
outras cidades, de Transport for London (TFL),
em www.tfl.gov.uk/tfl/cc_intro.shtml; 25% de
TFL Press Centre, press release (Londres: 17/
02/03 a 10/04/03), e de TFL, Central Londres
Congestion Charging Scheme: Three Months
On (Londres: Congestion Charging Division,
junho de 2003).
27. “ACCESS – EUROCITIES for a New
Mobility Culture: Introduction”, em
www.access-EUROCITIES.org; “Zermatt –
General Information: Zermatt – The Village
without Cars”, Agência de Turismo de Zermatt,
em www.zermatt.ch/e/in_general; Freiberg e
escolhendo liberdade de carros, de Sam Tracy
e Mark Peterson, “How & Why To Be AutoFree”, The Twin Cities Green Guide, em
www.thegreenguide.org; Comunidades alemãs
de “Bremen: A Car Free City”, em www.epe.be/
workbooks/tcui/example7.html.
235
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2
28. IPCC, op. cit., nota 12, p. 91; crescimento
mais acelerado, da United States Energy
Association, USEA Climate Change
Mitigation Option Hand-book, versão 1.0
(Washington, DC: junho de 1999), Capítulo 7.
29. Consumo do IEA, Cool Appliances:
Policy Strategies for Energy Efficient Homes
(Paris: OECD, abril de 2003), p. 11;
participações diferentes, de Dzioubinski e
Chipman, op. cit., nota 10, pp. 1-3, 5, 9-10.
30. Um quarto, de “Housing”, em Unhabitat,
op. cit., nota 21; Crescimento e tamanho das
residências nos EUA conforme a National
Association of Home Builders, citado em
Elizabeth Chang, “And How Do We Heat
those Starter Castles?” Washington Post, 16/
02/03; tamanho na Europa, de ENERDATA/
Odyssee, citado em European Environment
Agency, “Indicator Fact Sheet Signals 2001 –
Chapter Households” (Copenhague:
2001); Japan Information Network,
“Social Environment: Housing”, em www.
jinjapan.org/today/society; Japan Lumber
Journal, citado em U.S. Department of
Agriculture, Foreign Agricultural Service,
Forest Products Trade Policy High-lights –
junho de 2000 (Washington, DC: 2000);
Africanos baseados no espaço médio de 8
metros quadrados por pessoa nas cidades,
encontrado em “Housing”, op. cit., esta nota.
31. Maior consumo em virtude de domicílios
menores, de Schipper, op. cit., nota 10, p. 11.
32. IEA, “IEA Study Shows to Save Energy
and Reduce Harmful Emissions by Using
More Efficient Domestic Appliances”, press
release (Paris: 16/04/03); saturação de World
Energy Council (WEC), “Labeling and
Efficiency Standards”, in Energy Efficiency
Policies and Indicators (Londres: 2001);
tamanho de refrigeradores, de idem, “Annex
1 – Case Studies in Energy Efficiency Policy
236
Measures: United States of America”, in ibid,
cooling systems from DOE, EIA, “Changes in
Energy Usage in Residential Housing Units”,
em The 1997 Residential Energy Consumption
Survey – Two Decades (Washington, DC: 1997),
Quadro 2-3 dos seguintes: “Cold Water Poured
on IT’s Environmental Pluses”, Environment
Daily, 11/06/03; N. Cohen, “The Environmental
Impacts of E-Commerce”, em L.M. Hilty e P. W.
Gilgen, eds., Sustainability in the Information
Society, 15th International Symposium on
Informatics for Environmental Protection
(Marburg, Alemanha: Metropolis Verlag, 2001);
Klaus Fichter, “E-Commerce Sorting Out the
Environmental Consequences”, Journal of
Industrial Ecology, vol. 6, no. 2 (2003); John
A. Laitner, “Information Technology and U.S.
Energy Consumption: Energy Hog,
Productivity Tool, or Both?” Journal of
Industrial Ecology, vol. 6, nº 2 (2003);
“Computer Related Electricity Use
Overestimated”, Environment News Service,
5/02/01; I. Greusing e S. Zangl, “Comparing
Print and Online-Mail Order Catalogues,
Consumer Acceptance, Environmental and
Economical Analysis”, IZT-Discussion Paper
nº 44 (Berlim: Innovation Center for
Telecommunication Technology, 2000);
Dawn Anfuso, “Readers Prefer Paper to
Online”, Media Connection.com, 25/04/02;
E. Heiskanen et al, Dematerialization: The
Potential of ICT and Services (Helsinki:
Finnish Ministry of the Environment, 2001);
D. Takahashi, “Power Integrations’ Chip Cuts
Appliance Power Waste”, Down Jones
Newswires, 25/09/98; DOE, Office of Energy
Efficiency and Renewable Energy, Technology
Snapshots Featuring the Toyota Prius
(Washington, DC: 2001); Patrick Mazza, The
Smart Energy Network: Electricity’s Third
Great Revolution (Olympia, WA: Climate
Solutions, 2003).
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2
33. Projeções e parcela stand-by, de IEA, op.
cit., nota 29, p. 12; capacidade adicional
calculada pelo Worldwatch, assumindo um
fator de capacidade de 75%, 7% de perdas em
transmissão e distribuição, utilizando projeções
da demanda energética de 2020 (uso final) para
OCDE, de IEA, op. cit., nota 10, p. 414, e
assumindo que uma tonelada de petróleo
equivalente seja igual a aproximadamente 12
megawatt/horas de eletricidade, conforme
observado em BP, op. cit., nota 3; emissões de
CO2 calculadas pelo Worldwatch com dados
do IEA, op. cit., nota 10, p. 417.
34. Necessidades construtivas dos países
em desenvolvimento, de Dzioubinski e
Chipman, op. cit., nota 10, pp. 5, 9-10, e de Sujay
Basu, Report on India Energy Scene, Rio+5
Report (Paris: Helio International, 1997); três
quartos dos indianos, de Office of the Registrar
General, “Tables on Houses, Household
Amenities and Assets: India”, op. cit., nota 9, e
de idem, “India at a Glance”, op. cit., nota 9.
Tabela 2-3 dos seguintes: Schipper, op. cit., nota
14, p. 144; Scott Murtishaw e Lee Schipper,
“Disaggregated Analysis of U.S. Energy
Consumption in the 1990s: Evidence of the
Effects of the Internet and Rapid Economic
Growth”, Energy Policy 29 (2001, p. 1347; IEA,
citado em EPC, op. cit., nota 16, p. 28; National
Bureau of Statistics, China Statistical
Yearbook (Beijing: National Statistical Press,
vários anos); IEA, op. cit., nota 28, p. 35.
35. Crescimento da demanda desde 1990,
calculado pelo Worldwatch com dados do
IEA, op. cit., nota 10, pp. 410-11, 458-59;
consumo de energia relativo à renda, de
Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10, p. 4;
triplicação do consumo de energia, de Mark
Levine et al., Energy Efficiency Improvement
Utilising High Technology: An Assessment
of Energy Use in Industry and Buildings
(Londres: WEC, 1995); televisores de
Matthew Bentley, “Forging New Paths to
Sustainable Development”, Background
Paper, Asia Pacific Expert Meeting on
Promoting Sustainable Consumption and
Production Patterns, Yogyakarta, Indonésia,
21-23/05/03, p. 3; refrigerados na Índia, de Jain
e Lakshman, op. cit., nota 9; projeções do IEA,
op. cit., nota 10, p. 29.
36. Economia de energia nos EUA, do
American Council for an Energy-Efficient
Economy (ACEEE), “Energy Efficiency
Progress and Potential”, fact sheet
(Washington, DC: sem data); economia
financeira, de Stephen Meyers et al., Realized
and Prospective Impacts of U.S. Energy
Efficiency Standards for Residential
Appliances (Berkeley, CA: Lawrence Berkeley
National Laboratory, junho de 2002), pp. 2141; Europa de WEC, op. cit., nota 32; melhorias
potenciais durante a próxima década do IEA,
op. cit., nota 32; melhorias até 2030, do IEA,
op. cit., nota 29, p. 17.
37. Economia potencial e barreiras, de
Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10, p. 3;
economia na Tailândia, de Jas Singh e Carol
Mulholland, “DSM in Thailand: A Case
Study”, Parceria Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)/
Banco Mundial, Energy Sector Management
Assistance Programme, Washington, DC,
outubro de 2002, pp. 1, 8; parcela de
refrigeradores eficientes, do governo da
Indonésia e PNUMA, op. cit., nota 35, p. 17;
Brasi,l de Steven Nadel, Appliance Energy
Efficiency: Opportunities, Barriers, and
Policy Solutions (Washington, DC: ACEEE,
outubro de 1997), pp. 10-11. No Brasil, quando
metas não são atingidas, as normas tornamse obrigatórias.
38. Donald W. Aitkin, Putting it Together:
Whole Buildings and a Whole Buildings
237
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2
Policy, Research Report No. 5 (Washington,
DC: Renewable Energy Policy Project,
setembro de 1998), p. 6; EU, “Buildings
Overview – Market Overview and Trends”,
ATLAS Project, European Commission
Online, em europa.eu.int/comm./ energy_
transport/atlas/htmlu/bomarover.html,
visitado em 16/05/03; novas residências nos
EUA de U.S. Census Bureau, “New
Residential Construction in April 2003”, fact
sheet (Suitland, MD: 16/05/03).
39. Economia potencial de Ayres, op. cit.,
nota 23, p. 35; Califórnia de David
Goldstein, Natural Resources Defense
Council, São Francisco, CA, discussão com
a autora, 26/09/03.
40. Ken Gewertz, “Pushing the Envelope: The
Skin’s the Thing for Conserving a Building’s
Energy”, Harvard Gazette, 19/07/01).
41. Lee S. Windheim at al., “Case Study:
Lock-heed Building 157–An Innovative Deep
Day-lighting Design for Reducing Energy
Consumption”, citado em Aitkin, op. cit., nota
38, p. 8; 34% de iluminação e RMI de Ellen
Pfeifer, “Light: The Future is Green”, Winslow
Environmental News, julho de 2000, p. 1;
economia de dinheiro e saúde, de ibid., p. 5, e
de Windheim et. al., op. cit. esta nota, p. 8.
42. “First ‘Green’ High Rise Residential
Building in the World”, Real Estate Weekly,
2/10/02, “Governor Pataki Unveils the Solaire,
First ‘Green’ Residential Tower in U.S.”,
Silicon Valley Biz Ink, 5/09/03; “Powerlight/
Toyota Achieve Gold Building Standard”,
Solar Access.com, 23/04/03.
43. Instalações de PVs no Japão, de Paul
Maycock, PV News, maio de 2003, p. 5; perdas
do Banco Mundial, World Development Report
1997 (Nova York: Oxford University Press, 1997),
e de Indian Planning Commission, Annual
238
Report on the World of State Electricity Boards
and Electricity Departments, citado em M. S.
Bhalla, “Transmission and Distribution Losses
(Power)”, em Proceedings of the National
Conference on Regulation in Infrastructure
Services: Progress and Way Forward (New
Delhi: The Energy and Resources Institute,
novembro de 2000).
44. Economia energética, de Alexis
Karolides, “An Introduction to Green Building.
Part 3: Other Green Building Considerations”,
RMI Solutions Newsletter, verão 2003, p. 13;
Thor Magnusson, A Showease of Icelandic
Treasures (Reykjavik: Icelandic Review, 1987),
citado em “Exploring the Ecology of Organic
Greenroof Architecture: History”, em
www.greenroofs.com/history.htm; Alemanha,
de ibid.; Chicago and Amsterdam from “North
American Case Studies”, em www.
greenroofs.com/north_american_ cases.htm;
Ford Motor Company, “Ford Installs World’s
Largest Living Roof on New Truck Plant”,
press release (Dearborn, MI: 3/06/03).
45. Maior parcela de consumo global do
IEA, op. cit., nota 10, p. 28; crescimento setorial
e consumo de energia de Lee Schipper et al.,
“Energy Use in Manufacturing in Thirteen
EOCD Countries: Long Term Trends Through
1995”, Lawrence Berkeley National Laboratory,
minuta de trabalho, 13/08/98, p. 3.
46. Intensidade crescente de Stuart Baird,
“Heavy Industry”, em www.iclei.org/EFACTS/
HEAVY.HTM, e de Ted Trainer, “The
‘Dematerialisation’ Myth”, Technology in
Society, vol. 23 (2001), pp. 505-14; Austrália,
de Ted Trainer, A Critical Discussion of Future
Dilemmas (Victoria, Australia: Commonwealth
Scientific & Industrial Research Organisation,
maio de 2002).
47. Tracy Mumma, “Reducing the
Embodied Energy of Buildings”, Home Energy
Magazine Online, janeiro/fevereiro de 1995.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2
48. Energia utilizada na fabricação de
veículos, de “Household Greenhouse Gas
Emissions Questionnaire”, Alternatives
Journal, spring 2000; energia total associada
aos carros de R. A. Herendeen, Ecological
Numeracy (Nova York: John Wiley & Sons,
1998), e de M. Wackernaged and W. Rees,
Our Ecological Footprint (Gabriola Island,
BC, Canadá: New Society Publishers, 1996);
Redefining Progress, Ecological Footprint
Accounts (Oakland, CA: sem data).
49.
DOE, op. cit., nota 7, p. 49.
50. Energia para recolher alimentos, de EPC,
op. cit., nota 16, pp. 30, 37; necessidades
energéticas para viagens a longas distâncias,
de Brian Halweil, Home Grown: The Case for
Local Food in a Global Market, Worldwatch
Paper 163 (Washington, DC: Worldwatch
Institute, novembro de 2002), p. 15; fonte
crescente de emissões da Policy Commission
on the Future of Farming and Food, Food &
Farming: A Sustainable Future (Londres:
janeiro de 2002), p. 92.
51. Consumo pelo sistema alimentício
global, calculado pelo Worldwatch com dados
de David Pimentel, Cornell University, e-mail
à autora, 23/07/03, e de BP, op. cit., nota 3;
Pimentel, op. cit., esta nota.
52. William Moomaw, diretor internacional,
Programa de Políticas Ambientais e de
Recursos, Faculdade Fletcher de Direito e
Diplomacia, Universidade Tufts, discussão
com a autora, 5/08/03.
53. Diferenças nos preços de energia, de
Baird, op. cit., nota 46; eficiências de setores
industriais e salto, de IPCC, op. cit., nota
12, p. 112.
54.
Alumínio, de Baird, op. cit., nota 46.
55. Preços como fatores fundamentais, de
WEC, “Efficiency of Energy Supply and Use”,
em Energy for Tomorrow’s World – Acting
Now! (Londres: 2000), p. 3; impacto dos preços
na intensidade energética, de Schipper et al.,
op. cit., nota 45, p. 12, e de Anderson, op. cit.,
nota 15.
56. Papel dos preços, de Schipper et al., op.
cit., nota 4, pp. 205-06.
57. Impacto dos impostos, de Lee Schipper,
“Lifestyles and the Environment: The Case of
Energy”, in Technological Traectories and the
Human Environment (Washington, DC: National
Academy Press, 1997), p. 100; Dinamarca, de
Eurostar, citado em Consultores em Transportes
Inovação e Sistemas et al., “Study on Vehicle
Taxation in the Member States of the European
Union”, Relatório Final, elaborado para a
Comissão Européia, DG Taxation and Customs
Union, janeiro de 2002, p. 11.
58. Dedução fiscal nos EUA, de W. Gentry,
“Residential Energy Demand and the Taxation
of Housing,”, citada em Schipper, Murtishaw,
e Unander, op. cit., nota 21; Suécia, de
Schipper, op. cit., nota 57, pp. 100-01; “Annex
I – Case Studies on Energy Efficiency Policy
Measures: Japan”, em WEC, op. cit., nota 32.
59. Eric Lombardi, Take It Back! (Boulder,
CO: Eco-cycle, 2000).
60. Subsídios em meados dos anos 90, em
PNUD, World Energy Assessment 2000,
citado em Group of Eight (G8) Renewable
Energy Task Force, G8 Renewable Energy
Task Force Final Report 2001 (Londres:
2001), p. 34; reduções nos anos 90, de Geller,
op. cit., nota 5, p. 2; infra-estrutura e
industrialização, de Alan Durning, How Much
Is Enough? (Nova York: W.W. Norton &
Company, 1992), p. 110.
61. Consumo de energia na Coréia do Sul,
de Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10,
pp. 7-8; subsídios a quem não precisa, de Un
239
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2
Habitat, op. cit., nota 25, pp. 138, 142; Mark
Ashurst, “Nigeria Tackles Fuel Subsidies”,
BBC News, 18/07/03.
62. Daphne
Wysham,
Sustainable
Development South and North: Climate
Change Policy Coherence in Global Trade and
Financial Flows (Washington, DC: Institute for
Policy Studies, março de 2003), pp. 3-4.
63. A meta é induzir emissões 25% abaixo
dos níveis de 1990 até 2005; Embaixada da
Alemanha, Germany’s Ecological Tax Reform,
Background Paper (Washington, DC: sem data).
64. Alemanha e Dinamarca, de Janet L.
Sawin, “Charting a New Energy Future”, em
Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2003
(Nova York: W.W. Norton & Company, 2003),
p. 104; demanda de energia verde até o final
de 2002, de Lori Bird and Blair Swezey,
Estimates of Renewable Energy Developed
to Serve Green Power Markets in the United
States (Golden, CO: National Renewable
Energy Laboratory, fevereiro de 2003);
Califórnia, de “Students, Activists Win Clean
Energy Campaign”, Solar Access.com, 21 July
2003, and from “Berkeley, CA, USA:
University of California Approves CleanEnergy and Green-Building Policy”, SolarBuzz.com, 18/07/03.
65. Energie-Cités. “Brussels Declaration for a
Sustainable Energy Policy in Cities”,
e m w w w. e n e r g i e - c i t e s . o rg / P D F /
avis_bruxelles_en.pdf; municípios
holandeses, de “Groningen, The Car-Free
City for Bikes”, em www.globalideas
bank.org/sociny/SIC-100.HTML;
estacionamento de bicicletas, de “Bicycles
and Transit: Europe and Japan”, em Charles
Komanoff, ed., Bicycle Blueprint, 1999);
alemães e suíços de “Reduction of Air
Pollution”, CarSharing Co-op of Edmonton,
em www.web.net; comunidades e membros,
240
de “More Car Sharing in Europe”, Passenger
Transport (American Public Transportation
Association), 22/07/02; América do Norte, de
David Steinhart, “Car Sharing: An Idea Whose
Time Has Come?” Financial Post, 4/05/02;
cidades dos EUA e países, de Car-Sharing
Network, em www.carsharing.net/where.html.
66. Ecovilas, de gen.ecovillage.org;
Califórnia, de Charles A. Goldman, Joseph H.
Eto, e Galen L. Barbose, California Customer
Load Reductions During the Electricity Crisis:
Did They Help to Keep the Lights On?
(Berkeley, CA: Lawrence Berkeley National
Laboratory, 2002), pp. 23-25; Desenvolvimento
de Emissões Zero e citação de Greg
Rasmussen, “The Kyoto Protocol: The British
Approach”, CBC Radio, julho de 2002.
67. Relacionamento empírico, de Amulya
Reddy, “Energy Technologies and Policies for
Rural Development”, in Thomas B. Johansson
e José Goldemberg, eds., Energy for
Sustainable Development: A Policy Agenda
(Nova York: PNUMA, 2002), pp. 117-19; Carlos
Suárez, “Energy Needs for Sustainable Human
Development”, em José Goldemberg e
Thomas B. Johansson, eds., Energy as an
Instrument for Socio-Economic Development
(Nova York: PNUD, 1995) (utilizando dados
do PNUD de 1991-92 de 100 nações
industrializadas e em desenvolvimento);
níveis de consumo nacional, do Banco
Mundial, op. cit., nota 8, pp. 144-46.
68. Robert Prescott-Allen, The Wellbeing of
Nations: A Country-by-Country Index of
Quality of Life and the Environment
(Washington, DC: Island Press/IDRC, 2001),
pp. 267-68. Tabela 2-5 dos seguintes:
classificações de bem-estar, de ibid., pp. 26768; classificação e participação no consumo
de energia da Suécia: valores calculados pelo
Worldwatch com dados de 1999 do IEA,
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2 E COMPUTADORES
citados em World Resources Institute et al.,
World Resources 2002-2003 (Washington,
DC: 2003), pp. 262-63.
69. Qualidade degradada de vida do Centro
de Ciências Ecológicas, Energy Efficiency and
Sustainability: New Paradigms (Instituto
Indiano de Ciências de Nova Délhi, sem data);
registros de Xangai, de “Car Sales Booming
in Chine”, op. cit, nota 10.
70. Parcela da população nos países em
desenvolvimento, do DOE, EIA, International
Energy Outlook 2002 (Washington, DC:
2002), pp. x-xi.
71. População, de U.S. Bureau of the
Census, International Data Base, electronic
database (Suitland, MD: atualizado em 10/10/
03), e de Nações Unidas, World Population
Prospects: The 2002 Revision (Nova York:
2003), p. 1; consumo em 2050, calculado pelo
Worldwatch com dados do DOE, op. cit., nota
8, p. 146. Isso assume que a participação do
mundo em desenvolvimento na população
mundial permanece estável.
72. Donald J. Johnston, Secretário-Geral l,
OCDE, discurso proferido no Seminário
Ministerial Informal sobre Energia, em
Pamplona, Espanha, 26-28/04/02.
Computadores
1.
Eric D. Williams, Robert U. Ayres e
Miriam Heller, “The 1.7 Kilogram Microchip:
Energy and Material Use in the Production of
Semiconductor Devices”, Environmental
Science and Technology, 15/12/02, pp. 550410; Curtis Runyan, “Microchips Is Heavy”,
World Watch, março/abril de 2003, p. 8.
2.
Ann Hwang, “Semiconductors Have
Hidden Costs”, in Worldwatch Institute, Vital
Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton &
Company, 2002), pp. 110-11; Silicon Valley
Toxics Coalition, “Four Case Studies of HighTech Water Exploitation and Corporate Welfare
in the Southwest”, em svtc.igc.org/resource/
pubs/execsum. htm, visitado em 11/09/03;
“locais de lixo tóxico” refere-se a sítios da
Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos, vide Hwang, op. cit., esta nota.
3.
Dados de 1998 da International
Telecommunication Union (ITU) in World Bank,
World Development Indicators Database, em
media.world bank.org/secure/ data/qquery.php,
visitado em 12/08/03; dados de 2002 de idem,
Internet Indicators: Hosts, Users, and Numbers
of PCs, em www.itu.int/ITU-D/ict/statistics,
visitado em 15/07/03; Silicon Valley Toxics
Coalition (SVTC), “Toxics in a Computer”, fact
sheet, em www.svtc.org/cleance/pubs/
computertoxics.pdf, visitado em 03/07/03; Ian
Fried, “Recycling Not Easy for PC Makers,”
CNET News.com,22/04/03; SVTC et al., Poison
PCs and Toxic TVs: California’s Biggest
Environmental Crisis That You’re Never Heard
Of (San Jose, CA: junho de 2001), p. 13.
4.
Basel Action Network (BAN) e SVTC,
Exporting Harm: The High-Tech Trashing of
Asia (Seattle, WA, e San Jose, CA: fevereiro
de 2002), pp. 5-6; SVTC et al., op. cit., nota 3,
p. 6; National Safety Council, Electronic
Product Recovery and Recycling Baseline
Report: Recycling of Selected Electronic
Products in the United States (Washington,
DC: maio de 1999), p. 13.
5.
BAN e SVTC, op. cit., nota 4, pp. 6-7,9,
18; SVTC et al., op. cit., nota 3, p. 15.
6.
BAN e SVTC, op. cit., nota 4, pp. 2-3, 78, 12-13, 28.
7.
Ibid., pp. 16, 18-19.
8.
Ibid., pp. 17-21, 30-32.
9.
Ibid., pp. 8, 42.
241
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3
Capítulo 3. Incrementando a
Produtividade Hídrica
1.
Para uma análise da situação dos
ecossistemas de água doce e biodiversidade,
vide Sandra Postel e Brian Richter, Rivers for
Life: Managing Water for People and Nature
(Washington, DC: Island Press, 2003).
2.
Igor A. Shiklomanov, Assessment of
Water Resources and Water Availibility in the
World (São Petersburgo, Rússia: Instituto
Hidrológico Nacional, 1996); World
Commission on Dams (WCD), Dams and
Development (Londres: Earthscan, 2000).
3.
Participação setorial, do Banco Mundial,
World Development Indicators (Washington,
DC: 2001).
4.
Robert Costanza et al., “The Value of
the World’s Ecosystem Services and Natural
Capital”, Nature, 15/05/97, pp. 254-60.
5.
Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente, Afghanistan: Post-Conflict
Environmental Assessment (Nairobi: 2003),
p. 62.
6.
Postel e Richter, op. cit., nota 1.
7.
Murray-Darling from “Drying Out”. The
Economist, 12 July 2003, p. 38; Australia,
South Africa, and Hawaii examples from Postel
and Richter, op. cit., nota 1.
8.
Produtividade hídrica definida como
produto interno bruto (PIB) real em 2000,
expresso em dólares dos Estados Unidos,
dividido pelas extrações estimadas de água em
2000. Figura 3-1 dos seguintes: dados de
extração de água para todos os países, exceto
EUA, da Organização das Nações Unidas para
Alimento e Agricultura (FAO), Aquastat
database, em www.fao.org/ag/agl/aglw/
aquastat/dbase/index2.jsp; extrações dos EUA
242
extrapoladas de dados de série de tempo em U.S.
Geological Survey (USGS), Estimated Use of
Water in the United States in 1995 (Reston, VA:
1997); PIB real, de Angus Maddison, The World
Economy: A Millennial Perspective (Paris:
Organização para Cooperação Econômica e
Desenvolvimento, 2001), convertido para
dólares de 2000 através do deflator implícito de
preços do PIB dos EUA, do Bureau of Economic
Analysis, em www.bea.doc.gov/bea/dn/
nipaweb/NIPATableIndex.htm.
9.
Produtividade hídrica definida como
produto interno bruto (PIB) real em 2000,
expresso em dólares dos Estados Unidos,
dividido pelas extrações estimadas de água
em cada ano. Figura 3-2 dos seguintes: dados
de extração de água de 1950-95 de USGS, op.
cit., nota 8, convertidos em dólares de 2000
através do deflator implícido de preços do PIB
dos EUA, do Bureau of Economic Analysis,
op. cit., nota 8; a cifra de 2000 é uma
extrapolação baseada nas extrações de 1995 à
mesma taxa de mudança em extrações ocorridas
entre 1990 e 1995, combinadas com o PIB real.
10. FAO, Review of World Water Resources
by Country (Roma: 2003). A fim de evitar
contagem dupla, utilizamos a medida de
recuros hídricos renováveis internos, que
exclui água fluindo de outros países.
11. Cifras de oferta de água renovável
nacional, da FAO, op. cit., nota 10; cifras da
Planície Norte da China e citação de Jeremy
Berkoff, “China: The South-North Water
Transfer Project – Is It Justified?” Water Policy,
fevereiro de 2003, pp. 1-28; vazão do Rio
Amarelo e tendências de água subterrânea, de
Sandra Postel, Pillar of Sand (Nova York: W.W.
Norton & Company, 1999), pp. 67-69, 76.
12. Extrações de água são estimativas, e não
quantidades medidas, e sua exatidão pode
variar de um país para outro. Tabela 3-1 dos
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3
seguintes: extrações per capita de água para
todos os países, exceto os EUA, da FAO, op.
cit. nota 8; extrações per capita de água dos
EUA extrapoladas de dados de série de tempo
em USGS, op. cit., nota 8, e da estimativa
populacional em FAO, op. cit., nota 8; parcela
de terras agrícolas irrigadas, de Postel, op. cit.,
nota 11, p. 42.
13. Precipitação de Phoenix, de National
Climatic Data Center, National Oceanic and
Atmospheric Administration, U.S. Climate at
a Glance database, em www.ncdc.noaa.gov/
oa/climate/research/cag3/cag3.html, visitado
em 14/08/03; “The Ethiopian Famine”, New
York Times, 28/07/03.
14. Nações Unidas; Water for People, Water
for Life: The Nações Unidas World Water
Development Report (Paris: UNESCO
Publishing and Berghahn Books, 2003), p. 113;
abastecimento natural da Indonésia, de FAO,
op. cit., nota 10, p. 80.
15. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp. 11012; Tabela 3-2 da Organização Mundial de
Saúde, Programa Conjunto de Monitoração
da OMS/UNICEF, Global Water Supply and
Sanitation Assessment 2000 Report,
disponível em www.who.int/water_
sanitation_health/Globassessment/
GlobalTOC.htm.
16. OMS e UNICEF, op. cit., nota 15; D. Kirk
Nordstrom, “Worldwide Occurrences of
Arsenic in Ground Water”, Science, 21/06/02,
pp. 2143-45.
17. “Water Affairs and Forestry”, South
Africa
Yearbook
2002/3,
em
www.gcis.gov.za/docs/ publications/
yearbook/ch23.pdf, visitado em 11/06/03;
cifra de 6 milhões, de “South Africa: A Water
Success Story”, em www-dwaf,pww.gov.za/
Communications/Articles/Minister/2003/
South%20Africa%a%20water%20success
%20story.doc, visitado em 09/06/03.
18. Tarifas em duas faixas, de John Peet,
“Priceless: A Survey of Water”, The
Economist, 19 de julho de 2003, pp. 3-16;
exemplo de Joanesburgo, de Ginger
Thompson, “Water Tap Often Shut to South
Africa Poor”, New York Times, 29/05/03.
19. Participação da agricultura do Banco
Mundial, op. cit., nota 3; projeçõs de Mark
W. Rosegrant, Ximing Cai e Sarah A. Cline,
World Water and Food to 2025
(Washington, DC: International Food Policy
Research Institute, 2002).
20. “Irrigation Options”, WCD Thematic
Review IV.2, conforme publicado em WCD,
op. cit., nota 2, p. 46.
21. Stuart Styles, Irrigation Training and
Research Center, California Polytechnic State
University, San Luis Obispo, CA, e-mail aos
autores, 30/06/03.
22. Postel, op. cit., nota 11, pp. 172, 174.
23. Cifras de 3,2 milhões de hectares, de Hervé
Plusquellec e Walter Ochs, Water Conservation:
Irrigation, Water Resources and Environment
Technical Note F.2 (Washington, DC: Banco
Mundial, 2003), p. 20. Tabela 3-3 dos seguintes:
áreas de 1991, de Sandra Postel, Last Oasis (Nova
York: W.W. Norton & Company, 1992), p. 105,
que foram compiladas de uma variedade de
áreas, de cerca de 2000, da Comissão
Internacional sobre Irrigação e Drenagem, em
www.icid.org/index_e.html, visitado em 30/06/
03, exceto para Chipre, Brasil, Chile e México,
com cifras de 2000 da FAO, op. cit., nota 8, para
Israel, com estimativas de 2000, do Ministério
de Agricultura de Israel, de acordo com Saul
Arlosoroff, diretor, National Water CorporationMekorot, Tel Aviv, Israel, e-mail aos autores, 6/
08/03, e para os Estados Unidos, com estimativa
243
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3
de 1998, do Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos, 1998 Farm & Ranch Irrigation
Survey, Census of Agriculture, em
www.nass.usda.gov/census/census97/fris/
tb104.txt>http://www.nass.usda.gov/census/
census97/fris/tb104.txt.
24. L. C. Guerra et al., Producing More Rice
with Less Water from Irrigated Systems
(Colombo, Sri Lanka: International Water
Management Institute (IWMI), 1998), p. 11;
R. Barker, Y. H. Li, and T. P. Tuong, eds., WaterSaving Irrigation for Rice, Ata de um
Workshop Internacional em Wuhan, China,
23-25 de março de 2001 (Colombo, Sri Lanka:
IWMI, 2001).
25.
Plusquellec e Ochs, op. cit., nota 23, p. 22.
26. FAO, The State of Food Insecurity
in the World (Roma: 1999); Sandra Postel
et al., “Drip Irrigation for Small Farmers: A
New Initiative to Alleviate Hunger and
Poverty”, Water International, março de
2001, pp. 3-23.
27. P. Polak, B. Nanes e J. Sample, “Opening
Access to Affordable Micro-Plot Irrigation for
Small Farmers”, apresentado no Simpósio da
Associação de Irrigação sobre Irrigação em
Pequenas Propriedades, Orlando, FL, 1999;
International Development Enterprises (IDE),
discussão com Sandra Postel, junho de 2003;
vide também Web site da IDE em www.ideinternational.org.
28. Distrito de Alwar, de Himanshu Thakkar,
“Assessment of Irrigation in India”, 8
November 1999, Contributing Paper for
“Irrigation Options”, WCD Thematic Review
IV.2, em www.dams.org/docs/kbase; vide
também Anil Agarwal e Sunita Narain, eds.,
Dying Wisdom (New Delhi, India: Centre
for Science and Environment em
www.cseindia.org.
244
29. Tabela 3-4 baseada em dados em D.
Renault e W. W. Wallender, “Nutritional Water
Productivity and Diets”, Agricultural Water
Management, agosto de 2000, pp. 275-96.
30. Necessidades dietéticas de água de
ibid.; a variante média da projeção
populacional dos EUA para 2025 é de 358
milhões conforme as Nações Unidas, Divisão
de População, World Population Prospects:
The 2002 Revision and World Urbanization
Prospects: The 2001 Revision (Nova York:
2003 e 2002).
31. Nações Unidas, World Population
Prospects, op. cit., nota 30.
32. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp. 16061; cidades reclamando menos de 10%, do
Banco Mundial, op. cit., nota 3. Quadro 3-1 dos
seguintes: capacidade de dessalinização e taxa
de crescimento de Aqua Resources International,
Desalination Market Analysis 2003 (Evergreen,
CO: agosto de 2003); planos de Israel, do web
site de “Eshkol, Nizzana and Ashkelon
Desalination Plants, Israel”, para a Indústria
Hídrica, em www.water-technology.net/projects/
israel/, visitado em 08/09/03; queda nas
necessidades de energia e custo, de Allerd
Stikker, “Desal Technology Can Help Quench
the World’s Thirst”, Water Policy, fevereiro de
2002, pp. 47-55; 10-25%, de Amy Vickers,
apresentação ao Programa Comunitário de
Liderança Hídrica, em 2003, Florida Institute of
Government, St. Petersburg, FL, 14/03/03.
33. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp.
160-61.
34. Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU,
“Towards A Sustainable Future”, apresentado
na Palestra Ambiental Anual do Museu de
História Natural, Nova York, 14/05/02; “Water
and the Fight Against Poverty”, Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3
(PNUMA), discurso do Diretor Geral sobre
Água e o Combate contra a Pobreza – Seminário
do Dia do Meio Ambiente, Beirut, Líbano, 5/
06/03; “Leakage Control and the Reduction of
Unaccounted-for Water (UFW)”, Ata do
Simpósio Internacional sobre o Uso Eficiente
da Água em Áreas Urbanas – Formas
Inovadores de Buscar Água para as Cidades,
8-10/06/99; cidade árabe de PNUMA, “UNEP
Urges Action to Better Manage the Globe’s
Ground-waters”, press release (Nairobi: 5/06/
03); “Taiwan Leaky Pipes Losing 1.97 Million
Cubic Meters of Water Per Day”, 15/04/02, em
fpeng.peopledaily.com.cn/200204/15/
eng20020415_94050.shtml.
35. Tabela 3-5 dos seguintes: Albânia, de
Agência Ambiental Européia (EEA), “EEA
Report Highlights Measures to Promote
Sustainable Water Use”, press release
(Copenhague: 5/04/01); Canadá de Bill
Hutchins, “One-third of City’s Water Supply
Disappears, But Where?” Kingston This
Week, 10/06/03; República Tcheca, França e
Espanha, de EEA, Sustainable Water Use in
Europe, Part 2: Demand Management
(Environmental Issue Report No. 1 –
Copenhague: 2001), p. 22; Dinamarca, de
“Watersave at Loughborough”, Demand
Management Bulletin (National Water
Demand Management Centre, Environment
Agency, Birmingham, R.U.), fevereiro de 2003,
p. 3; Japão, de Nações Unidas, Programa de
Melhores Práticas e Liderança Local, “Water
Conservation Conscious Fukuoka, Japan”, em
bestpractices.org/bpbriefs/Environment.html,
visitado em setembro de 2003; Jordânia, de
“Seminar Address Water Losses Plaguing the
Country’s Scarce Resource”, Jordan Times,
6/003; Quênia, de Anna Peltola, “Simple Fixes
Could Bring Water to Millions-Experts”,
Reuters, 13/08/02; Cingapura, de Ng Han
Tong, Departamento de Serviços Públicos,
Cingapura, e-mail aos autores, 10/09/03; África
do Sul, de “Growing Concern over Cities’
Water Losses”, South African Broadcasting
Corporation, 19/05/03; Taiwan de “Water
Price Hike Necessary to Fix Old Pipes, Says
Minister”, Taiwan News, 11/03/03; Estados
Unidos, de Jon Maker e Nathalie Chagnon,
“Inspecting Systems for Leaks, Pits, and
Corrosion”, Journal of the American Water
Works Association, julho de 1999, p. 40, e de
Steve Wyatt, “The Economics of Water Loss:
What is Unaccounted for Water?” On Tap
(National Drinking Water Clearinghouse, West
Virginia University, Morgantown, WV),
outono de 2002, pp. 32-35. Quadro 3-2 de
“Office of Water Services (OFWAT): Leakage
And Water Efficiency”, Oitavo Relatório,
Comitê Especial das Contas Públicas, Câmara
dos Comuns, Londres, 4/01/02, de OFWAT,
“Ofwat Sets Leakage Targets For Londres”,
press release (Birmingham, R.U.: 26/03/03), e
de “Total Leakage Increases in Severn Trent
Water and is Still Rising in Thames Water”,
Departamento de Serviços Hídricos, 29/07/03.
36. Janice A. Beecher, “Survey of State
Water Loss Reporting Practices”, Beecher
Policy Research, Inc., Relatório Final para a
Associação de Obras Hídricas, Denver, CO,
janeiro de 2002, p. 13; Wyatt, op. cit., nota 35;
The Kansas Water Office, “Assessment of
Unaccounted for Water, Kansas 1992-2010”,
2001, em www.kwo.org/Reports/2010%
Assessments/UFW%20assessment/
ks_ufw_text.htm; idem, “The Kansas Water
Plan, Fiscal Year 2003”, Water Conservation,
julho de 2001, p. 1.
37. Copenhague, de “Watersave at
Loughborough”, op. cit., nota 35; Lis Napstjert,
Copenhagen Energy, e-mail aos autores, 17/
09/03. Quadro 3-3 dos seguintes: Ng, op. cit.,
nota 35; consumo de Cingapura em 1995 de
Alliance to Save Energy, Watergy: Taking
245
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3
Advantage of Untapped Energy and Water
Efficiency Opportunities in Municipal Water
Systems (Washington, DC: 2002), pp. 80-82;
consumo em 2003 from Ng Han Tong,
Departamento de Serviços Públicos, Cingapura,
e-mail aos autores, 16/08/03; Teruyoshi Shi
Noda, “Integrated Approaches for Efficient
Water Use in Fukuoka”, Ata do Simpósio
Internacional sobre Uso Eficiente da Água em
Áreas Urbanas – Formas Inovadoras de Buscar
Água para as Cidades, 8-10/06/99; Nações
Unidas, op. cit., nota 35; “Final Report: Water
Conservation Planning USA Case Studies
Project,”, Environment Agency, Demand
Management Centre, Birmingham, R.U.,
elaborado por Amy Vickers & Associates, Inc.,
Amherst, MA, junho de 1996.
38. Robert Wilkinson, Methodology for
Analysis of the Energy Intensity of California’s
Water Systems, and an Assessment of Multiple
Potential Benefits Through Integrated WaterEnergy Efficiency Measures (Berkeley, CA:
Ernest Orlando Lawrence Berkeley Laboratory,
California Institute for Energy Efficiency,
January 2000), p. 6; QEI, Inc., Electricity
Efficiency Through Water Efficiency, Report for
the Southern California Edison Company
(Springfield, NJ: 1992), pp. 23-24.
39. “Save Water to Save Energy”,
Environmental Building News, outubro de
2002, pp. 3-4.
40. Figura 3-3 dos seguintes: Quênia,
Uganda e Tanzânia, de John Thompson et al.,
Drawers of Water II: Thirty Years of Change
in Domestic Water Use and Environmental
Health in East Africa (Londres: International
Institute for Environment and Development,
2001; Dinamarca de “Watersave at
Loughborough”, op. cit., nota 35; Reino
Unido, de “Water Indicators 2001/02,”
Demand Management Bulletin (National
246
Water Demand Management Centre,
Environment Agency, Birmingham, R.U.),
junho de 2003, p. 7; Singapore from Ng, op.
cit. nota 37; Manilha, de Empresa de Água de
Manilha, em www.manila wateronline.com/
faq.htm, visitado en 11/08/03; Waterloo de
Steve Gombos, Regional Municipality of
Waterloo, e-mail aos autores, 7/08/03;
Melbourne e Sydney, de Water Services
Association of Australia, WSAAfacts 2001
(Melbourne: 2001); exemplos dos EUA, de
Peter W. Mayer et al., Residential End Uses
of Water (Denver, CO: AWWA Research
Foundation and American Water Works
Association, 1999), pp. 91, 114. Outros dados
de Amy Vickers, Handbook of Water Use and
Conservation: Homes, Landscapes,
Businesses, Industries, Farms (Amherst, MA:
WaterPlow Press, 2001), pp. 17-19, 20.
41. U.S. General Accounting Office, Water
Infrastructure: Water-Efficient Plumbing
Fixtures Reduce Water Consumption and
Wastewater Flows (Washington, DC: agosto
de 2000), p. 4; Amy Vickers, “Technical Issues
and Recommendations on the Implementation
of the U.S. Energy Policy Act”, relatório
elaborado por Amy Vickers & Associates, Inc.
para a Associação de Obras Hídricas,
Washington, DC, 25/10/95, p. 4.
42.
Nações Unidas, op. cit., nota 14, p. 341.
43. Cifra de 30 bilhões de litros, de Vickers,
op. cit., nota 40, p. 140; Debbie Salamone,
“Florida’s Water Crisis: Chapter 2, The Human
Thirst”, Orlando Sentinel, 7/04/02.
44. Charles Fenyvesi, “His Whole World Is
Grass: Lawn Guru Reed Funk Speaks to the
Tough Little Cultivar Inside Us All”, U.S. News
& World Report, 28/10/96, pp. 61-62; Thomas
Farragher, “For Some Neighbors, It’s a Turf
War”, Boston Globe, 5/04/98.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3
45. F. Herbert Bormann et al., Redesigning
the American Lawn: A Search for
Environmental Harmony (New Haven, CT:
Yale University Press, 1993), pp. 56, 77; U.S.
Senate, The Use and Regulation of Lawn
Care Chemicals: Hearing Before the
Subcommittee on Toxic Substances,
Environmental Oversight, Research and
Development of the Committee on
Environmental and Public Works, U.S.
Senate, March 28, 1990, Audiência no
Senado 101-685 (Washington, DC: U.S.
Government Printing Office, 1990), p. 1.
Quadro 3-4 dos seguintes: Christian G.
Daughton, “Environmental Stewardship and
Drugs As Pollutants”, The Lancet, 5/10/02,
pp. 1035-36; USGS de Dana K. Kolpin et al.,
“Pharmaceuticals, Hormones, and Other
Organic Wastewater Contaminants in
U.S. Streams, 1999-2000: A National
Reconnaissance”, Environmental Science
and Technology, 15/03/02, pp. 1202-11; D.
Donaldson, T. Kiely e A Grub, Pesticide
Industry Sales and Usage: 1998 and 1999
Market Estimates (Washington, DC: Agência
de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
–EPA –, agosto de 2002); National
Association of Chain Drug Stores, Industry
Facts and Resources, Industry Statistics,
“Total Retail Sales 2002 – Traditional Drug
Stores”, em www.nacds.org/wmspage.cfm?
parm1=507, visitado em setembro 2003;
estudos fora dos Estados Unidos, de
Kenneth Green, “When Pharmaceuticals
Arrive at the Tap”, Environmental Science
& Engineering, março de 2003; EPA, “PPCPs
as Environmental Pollutants”, em
www.epa.gov/nerlesd1/ chemistry/pharma/
teaching.htm, visitado em agosto de 2003;
Colin Nickerson, “A Grass Roots Drive for
Purity”, Boston Globe, 3/09/01.
46. Vickers, op. cit., nota 40, pp. 147-49, 180.
47. F. Herbert Bormann, Diana Balmori e
Gordon T. Geballe, Redesigning the American
Lawn, 2nd ed. (New Haven, CT: Yale University
Press, 2001), p. 129.
48. Nações Unidas, op. cit., nota 14, p. 228.
49. Principais indústrias consumidoras de
água, de webworld.unesco/org/water/ihp/
publications/waterway/webpe/pag18.html,
visitado em agosto de 2003.
50. Vickers, op. cit., nota 40, p. 239;
Unilever Co., Environmental Performance
Report 2003, p. 10, em www.unilever.com/
environmentsociety/ environmentalreporting/
environmentalreport, visitado em agosto de
2003. Tabela 3-6 dos seguintes: laticínios,
construções residenciais, e produtos agrícolas,
de Environment Agency, 2003 Water Efficiency
Awards: Inspirational Case Studies
Demonstrating Good Practice Across All
Sectors (Birmingham, R.U.: 2003), pp. 8, 15, 21;
computadores, de “Companies Who Show
How It’s Done”, Demand Management
Bulletin (National Water Demand
Management Centre, Environment Agency,
Birmingham, R.U.), agosto de 2002, p. 3;
farmacêuticos, de Steve Dark, Process Waste
Water Recycling (Jaffrey, NH: Millipore
Corporation, novembro de 2002); chocolate de
EBMUD Reports East Bay Water Issues, março
de 2001, p. 2; cerveja, de Global Environment
Management Initiative, Connecting the Drops
Toward Creative Water Strategies
(Washington, DC: junho de 2002), p. 36.
51. Departamento de Serviços Públicos,
Superintendência da Água de Cingapura, em
www.pub.gov.sg/water_reclamation.htm,
visitado em setembro de 2003.
52. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp.
227-33.
247
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3 E SABONETES ANTIBACTERIANOS
53. Patrick Smith, “The Great Water Divide”,
The Irish Times, 22/03/03; Aly Shady,
Canadian International Development Agency,
janeiro de 2002, em www.expressnews.
ualberta.ca/xpressnews/rticles/
news.cfm?p_ID=1829&s=a.
54. Jennifer Gitlitz, Trashed Cans: The
Global Environmental Impacts of Aluminum
Can Wasting in America (Arlington VA:
Container Recycling Institute, 2002).
55. Postel e Richter, op. cit., nota 1.
56. Tushaar Shah et al., “Sustaining Asia’s
Groundwater Boom: An Overview of Issues
and Evidence”, Natural Resources Forum,
maio de 2003, pp. 130-41.
57. High Plains Underground Water
Conservation District, The Cross Section,
various issues, Lubbock, TX; Shah et al., op.
cit., nota 56.
58. Estudo e exemplo de Bangalore relatado
em Dale Whittington, “Municipal Water
Pricing and Tariff Design: A Reform Agenda
for South Asia”, Water Policy, fevereiro de
2003, pp. 61-76; comparação com consumo
nos EUA é cálculo das autoras.
59. Efeito do bombeamento da água
subterrânea na vazão do Ipswich, de USGS,
Concepts for National Assessment of Water
Availability and Use, Circular 1223 (Reston,
VA: 2002); American Rivers, America’s Most
Endangered Rivers 2003 (Washington, DC:
2003); Departamento de Proteção Ambiental
de Massachusetts, State Strikes Balance with
Water Withdrawal Permits for Ipswich River
Basin Communities (Boston: 20/05/03).
Regular Soap, NIH-Funded Study Shows”,
press release (Alexandria, VA: 24 de outubro
de 2002).
2.
Philip M. Parker, The 2003-2008 World
Outlook for Bar Soap (Paris: ICON Group Ltd.,
2003), pp. 18-19; Euromonitor International,
“Asia-Pacific Bath and Shower Products:
Small Growth, Big Potential”, 25/10/02, em
www. euromonitor.com/asiabath.
3.
Karen C. Timberlake, Chemistry: An
Introduction to General, Organic, and
Biological Chemistry (Nova York: Harper
Collins, 1996), pp. 524-26.
4.
História e ingredients, de Dru Wilson,
“Antibacterial Products May Be Case of
Overkill”, The Gaston Gazette (Freedom News
Service), 2/08/02, e de Soap and Detergent
Association, “Cleaning Products Overview:
History”, at www.sdahq.org/cleaning/history/
; Diane di Constanzo, “Taking Personal Care”,
The Green Guide, janeiro/fevereiro 2003.
5.
International Network for Environmental
Management, “Pollution Prevention in a
Tunisian Oil Extraction and Soap Manufacturing
Facility, Case Studies in Environmental
Management in Small and Medium-Sized
Enterprises (Hamburg: março de 1999).
6.
U.S. Geological Survey, U.S. Department
of the Interior, “What’s in That Water?” press
release (Reston, VA 13, março de 2002).
Sabonetes Antibacterianos
7.
J. Menoutis et al., “Triclosan and Its
Impurities”, Quantex Laboratories
Technology Review (Edison, NJ: Quantex
Laboratories, Inc., 1998-2001); Kristin Ebbert,
“Anti-bacterial Soaps”, The Green Guide,
março de 1997.
1.
Infectious Diseases Society of America
(IDSA), “Antibacterial Soap No Better Than
8.
“Keeping Medicines Effective:
Resisting Resistance”, American Medical
News (American Medical Association), 15/10/
248
Estado do Mundo 2004
NOTAS, SABONETES ANTIBACTERIANOS E CAPÍTULO 4
01; Helen Phillips, “Too Much Triclosan?”
Nature, 13/08/98.
9.
Ed Susman, “Too Clean for Comfort”,
Environmental Health Perspectives, janeiro
de 2001.
10. P. Ernst e Y Cormier, “Relative Scarcity
of Asthma and Atopy Among Rural
Adolescents Raised on a Farm”, American
Journal of Respiratory and Critical Care
Medicine, maio de 2000, pp. 1563-66.
11. Susman, op. cit. nota 9; Alliance for
Prudent Use of Antibiótics, em www.tufts.edu/
med/apua: “CDC’s Advice to Doctors: Clean
Your Hands”, American Medical News
(American Medical Association), 25/11/02.
Capítulo 4. Controlando
Nossa Alimentação
1.
Rita Oppenhuizen, Public Relations,
Max Havelaar Foundation, discussão com
Brian Halweil, 11/08/03; Max Havelaar
Foundation, “Max Havelaar – A Fair Trade
Label”, background history (Amsterdã:
outubro de 1998).
2.
Max Havelaar Foundation, op. cit., nota 1.
3.
International Federation for Alternative
Trade, “A Brief History of the Alternative
Trading Movement”, em www.ifat.org/ dwr/
resource3.html, visitado em 03/08/03, A. M.
Gutiérrez, “NGOs and Fairtrade, the
Perspectives of Some Fairtrade Organisation”,
submitted to the School of Economic and
Social Studies of the University of East Anglia,
International Relations and Development
Studies, Norfolk, U. K., 2/09/96.
4.
Oppenhuizen, op. cit., nota 1; Max
Havelaar Foundation, op. cit., nota 1.
5.
Jim Hightower, “As American as Apple
Pie: Ethical Consumerism”, The Nation, 30/
09/02; United Farm Workers, “Union to Launch
‘Fair Trade Apple’ Campaign”, press release,
8/08/01; Helen Taylor, Soil Association,
Technical Services & Business Development
Director (SA Cert), discussion with Brian
Halweil, 7/06/03.
6.
Para uma dicussão sobre o aumento do
transporte dos alimentos a longa distância,
vide Brian Halweil, Home Grown: The Case
for Local Food in a Global Market,
Worldwatch Paper 163 (Washington, DC:
novembro de 2002).
7.
Área de superfície, da Organização das
Nações Unidas para Alimento e Agricultura
(FAO), FAOSTAT Statistical Database, em
apps.fao.org, atualizado em 22/08/03; Michael
Brower e Warren Leon, The Consumer’s Guide
to Effective Environmental Choices:
Practical Advice from the Union of
Concerned Scientists (Nova York: Three
Rivers Press, 1999), p. 58; Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), Working Party on National
Environmental Policy, Sustainable
Consumption: Sector Case Study Series,
Household Food Consumption: Trends,
Environmental Impacts and Policy Response
(Paris: dezembro de 2001), p. 44; Niels
Jungbluth e Rolf Frischknecht, “Indicators for
Monitoring Environmental Relevant Trends
of Food Consumption”, ESU-services,
Switzerland, em www.esu-services.ch/
download/SETAC-food consumptionindicator.pdf; Annika Carlsson-Kanyama,
“Climate Change and Dietary Choices: How
Can Emissions of Greenhouse Gases from
Food Consumption Be Reduced”, Food
Policy, fall/winter 1998, pp. 288-89. Isso,
todavia, não significa que alimentos
vegetarianos sejam sempre menos poluidores
249
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4
do que alimentos animais. Uma refeição
vegetariana feita com ingredientes de todo o
mundo, ou cultivados em estufas aquecidas,
pode ser muito mais poluente do que refeições
de carne de origem local ou conservada de
forma a minimizar emissões de gases.
8.
Quadro 4-1 dos seguintes: Ranson
Myers e Boris Worm, “Rapid Worldwide
Depletion of Predatory Fish Communities”,
Nature, 15/05/03, pp. 280-83; Andrew Revkin,
“Commercial Fleets Reduced Big Fish by 90
Percent, Study Says”, New York Times, 15/
05/03; Seaweb, “Cover Study of Nature
Provides Startling New Evidence that Only
10 Percent of All Large Fish are Left in the
Ocean”, press release (Washington, DC: 14
de maio de 2003); para organizações de
conservação marinha, vide, por exemplo,
Audubon Society (magazine.audubon.org/
seafood), The Monterey Bay Aquarium
(www.mbayaq.org), e Marine Stewardship
Council (www.msc.org); Seafood Choices
Alliance, em www.seafoodchoices.com.
Quadro 4-2 dos seguintes: Compassion in
World Farming, Foie Gras Campaign fact
sheet, em www.ciwf.co.uk/Camp/Main/Foie/
foie_ gras_campaign.htm, visitado em 23/09/
03; World Society for the Protection of
Animals, “Forced Feeding – The Facts
Behind Foie Gras Production, em
www.wspa.org.uk/index.php?page=179,
visitado em 23/09/03; tendências do caviar,
de Douglas F. Williamson, Caviar and
Conservation Status, Management, and
Trade of North American Sturgeon and
Paddlefish (Cambridge, R.U.: World Wildlife
Fund, maio de 2003), p. 148; TRAFFIC,
Sturgeons of the Caspian Sea and the
International Trade in Caviar (Cambridge,
R.U.: novembro de 1996); A International
Trade Agency informa que os Estados
Unidos importaram 39.289 quilos de caviar
250
para consumo em 2002, em www.ita.doc.gov/
td/industry/otea/ Trade-Detail/LatestDecember/Imports/ 16/160430.html; “Shark!
Danger Exaggerated, Says US Experts”,
Reuters, 17/06/02; Brian Handwerk, “Asian
Shark-Fin Trade May be Larger than
Expected”, National Geographic News, 28/
04/03; Patricia Brown, “Foie Gras Fracas:
Haute Cuisine Meets the Duck Liberators”,
New York Times, 24/09/03; Caviar Emptor
Campaign, Roe to Ruin: Executive Summary
(Washington, DC: Natural Resources
Defense Council, dezembro de 2002).
9.
Peter Pringle, Food, Inc., Mendel to
Monsanto,The Promises and Perils of the
Biotech Harvest (Nova York: Simon &
Schuster, 2003).
10. Marion Nestle, Food Politics: How the
Food Industry Influences Nutrition and
Health (Berkley, CA: University of California
Press, 2002).
11. Alemanha, Estados Unidos e Reino
Unido, de J. N. Pretty et al., “An Assessment
of the Total External Costs of UK Agriculture”,
Agricultural Systems, August 2000, pp. 11336, e de Jules Pretty et al., “Policy Challenges
and Priorities for Internalising the Externalities
of Modern Agriculture”, Journal of
Environmental Planning and Management,
março de 2001, pp. 263-83.
12. Sudoeste da Inglaterra, da Foundation
for Local Food Initiatives, Shopping Basket
Survey for South West Local Food
Partnership (Londres: 2002).
13. McDonald’s, de David Barboza com
Sherri Day, “McDonald’s Seeking Cut in
Antibiotics in Its Meat”, New York Times, 20/
06/03; Kraft de David Barboza, “Kraft Plans
to Rethink Some Products to Fight Obesity”,
New York Times, 2/07/03; Bill Vorley e Julio
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4
Berdegué, “The Chains of Agriculture”, World
Summit on Sustainable Development Opinion
(Londres: International Institute for
Environment and Development (HED), maio
de 2001); William Vorley, Agribusiness and
Power Relations in the Agri-Food Chain,
background paper for Policies That Work for
Sustainable Agriculture and Regenerating
Rural Economies (Londres: HED, junho de
2000), p. 21; projeto Corrida ao Topo, vide
www.racetothetop.org.
14. Iowa Agricultural Statistics Service,
December Hogs and Pigs, Iowa (Washington,
DC: Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA), 30/12/02); Paul
Willis, gerente, Niman Ranch Pork Company,
discussão com Danielle Nierenberg, 12/06/03.
15. Willis, op. cit. nota 14; Niman Ranch
Web site, em www.nimanranch.com, visitado
em 15/06/03.
16. Cees de Haan et al., “Livestock and the
Environment: Finding a Balance”, relatório de
estudo coordenado pela FAO, Agência de
Desenvolvimento Internacional dos Estados
Unidos, e Banco Mundial (Bruxelas: 1997), p.
53; FAO “Meat and Meat Products”, FAO
Food Outlook no. 4, outubro de 2002, p. 11.
Figura 4-1 dos seguintes: ração de Vaclav Smil,
Departamento de Geografia, Universidade de
Manitoba, discussão com Brian Halweil,
outubro de 2002, e de Erik Millstone e Tim
Lang, The Penguin Atlas of Food: Who Eats
What, Where, and Why (Londres: Penguin
Books, 2003), p. 34; água, de ibid., p. 35;
aditivos, de Margaret Mellon, Charles
Benbrook e Karen Lutz Benbrook, Hogging
It! Estimates of Antimicrobial Abuse in
Livestock (Washington, DC: Union of
Concerned Scientists, 2001); combustíveis
fósseis, de Millstone e Lang, op. cit., esta nota,
pp. 35, 62; metano, de Haan et al., op. cit., esta
nota; doenças, de Neil Barnard, Andrew
Nicholson e Jo Lil Howard, “The Medical
Costa Attributed to Meat Consumption”,
Preventive Medicine, novembro de 1995.
17. Christopher Delgado, Claude Courbois
e Mark Rosegrant, Global Food Demand and
the Contribution of Livestock As We Enter
the New Millennium, MSSD Discussion Paper
no. 21 (Washington, DC: International Food
Policy Research Institute, 1998), p. 6.
18. Jo Robinson, Why Grassfed is Best! The
Surprising Benefits of Grassfed Meat, Eggs
and Dairy Products (Vashon, WA: Vashon
Island Press, 2000), p. 8; “Hay! What a Way
to Fight E. coli”, Science News Online, 19/09/
98, em www.sciencenews.org/sn_arc98/
9_19_98/Food.htm.
19. Organização Mundial da Saúde (OMS) e
FAO, Antimicrobial Resistance, Fact Sheet nº
194 (Genebra: WHO, janeiro de 2003); Mellon,
Benbrook, and Benbrook, op. cit., nota 16.
20. Ian Langford, citado em Nick Tattersall,
“Stressed Farm Animals Contribute to Food
Poisoning: R.U. Study”, Manitoba Cooperator’s, 15/03/01.
21. Departamento de Saúde e Serviços
Humanos dos Estados Unidos, Food and
Drug Administration, Center for Food Safety
and Applied Nutrition, Consumer Questions
and Answers about BSE (Washington, DC:
maio de 2003).
22. Dr. Gary Smith, Universidade da
Pensilvânia, Faculdade de Veterinária,
discussão com Danielle Nierenberg, fevereiro
de 2003; “Transporting Animals in Europe”,
in Millstone and Lang, op. cit., nota 16, p. 64.
23. I. Koizumi et al., “Studies on the Fatty
Acid Composition of Intramuscular Lipids of
Cattle, Pigs, and Birds”, Journal of Nutritional
251
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4
Science Vitaminol (Tokyo), vol. 37. nº 6 (1991),
pp. 545-54; Robinson, op. cit., nota 18, pp. 1215; vide também Eat Wild Web site em
www.eatwild.com.
24. Smil, op. cit., nota 16.
25. Robinson, op. cit., nota 18, p. 7;
demanda pela carne, da FAO, op. cit., nota 7,
atualizado 09/01/03; idem, op. cit., nota 17, p.
11; David Brubaker, ex-diretor-presidente da
PennAg Industries, discussão com Danielle
Nierenberg, setembro de 2002.
26. Payal Sampat, “Choques Freáticos: A
Poluição dos Principais Mananciais de Água
Doce do Mundo”, World Watch, vol. 13, nº 1,
p. 10; idem, “Expondo a Poluição Freática”, em
Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2001
(Salvador: UMA Editora, 2001), p. 22; Michael
et al., “Impacts and Recovery from Multiple
Hurricanes in a Piedmont-Coastal Plain River
System”, Bioscience, novembro de 2002, p. 999.
27. Bobby Inocencio, Teresa Farms,
Philippines, discussão com Danielle
Nierenberg, agosto de 2002; Teresa Farms,
Management Guide SASSO Free-Range
Colored Chickens (Rizal, Filipinas: sem data).
28. Steve Tarter, “Megahog Opponent
Tours Poland”, Peoria Star Journal, 12/06/
01; Tom Garrett, “Polish Delegation
Investigates American Agribusiness,
Repudiates Factory Farming”, AWI Quarterly
(Animal Welfare Institute, Washington, DC),
outono/inverno de 1999-2000, p. 7.
29. Ovos e poedeiras, de Elizabeth Becker,
“Advocates for Animals Turn Attention to
Chickens,” New York Times, 4/12/02, e de
“McDonald’s USA Animal Welfare Laying
Hens Guidelines”, em www.mcdonalds.com/
countries/usa/community/welfare/
laying_hen/index.html; antibióticos, de
David Barboza com Sherri Day,
252
“McDonald’s Seeking Cut in Antibiotics in
Its Meat”, New York Times, 20/06/03, de
“Fast Food, Not Fast Antibiotics”, New
York Times, 22/06/03, e de David Barboza,
“Animal Welfare’s Unexpected Allies”, New
York Times, 25/06/03.
30. “Fast Food, Not Fast Antibiotics”, op. cit.,
nota 29; Barboza, op. cit., nota 29; Cornelius de
Haan et al., Livestock Development:
Implications for Rural Poverty, the
Environment, and Global Food Security
(Washington, DC: World Bank, 2001), pp. xii-xiii.
31. Nadia El-Hage Scialabba e Caroline
Hattam, eds., Organic Agriculture,
Environment and Food Security,
Environment and Natural Resources Series,
nº 4 (Roma: FAO, 2002), 29.
32. Ibid.; AGRIPO Agriculture and
Pollution, “Policy Options for Pollution
Control – Sustainable Farming Systems”,
course modules prepared by Lithuanian
University of Agriculture, 2001, p. 20, em
distance.ktu.It/agripo/8-sust-farming.pdf.
33. Internationale Fachmesse fur
Abwassertechnik, “Farmers as Water
Managers? Cooperation Initiatives between
Water Supply Companies and Agriculture:
One of the Themes at IFAT 2002”, minuta
apresentada na Feira Internacional de
Comércio para Tecnologia de Esgoto, no. 7,
setembro de 2001, Munique, Alemanha.
34. Universidade de Essex, de Pretty et al.,
“An Assessment of the Total External Costs”,
op. cit., nota 11; Philippines from P.L. Pingali et
al., “The Impact of Pesticides on Farmer Health:
A Medical and Economic Analysis in the
Philippines”, em P. L. Pingali e P. A. Roger, eds.,
Impact of Pesticides on Farmer Health and
the Rice Environment (Norwell, MA: Kluwer
Academic Publishers, 1995), pp. 343-60.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4
35. Fazendas orgânicas e biodiversidade,
de El-Hage Scialabba e Hattam, op. cit., nota
31, pp. 38-53.
36. “The Global Market for Organic Food
& Drink,” Organic Monitor (Londres), julho
de 2003. Uma estimativa semelhante de US$
23-25 bilhões em 2003 vem de Minou Yussefi
e Helga Willer, eds., The World of Organic
Agriculture 2003 – Statistics and Future
Prospects (Tholey-Theley, Alemanha:
International Federation of Organic
Agriculture Movements (IFOAM), 2003), p.
24; 23 milhões de hectares e Figuras 4-2 e 4-3
de ibid., p. 13.
37. Nicholas Parrott e Terry Marsden, The
Real Green Revolution (Londres: Greenpeace
Environmental Trust, 2002), p. 61; Rick Welsh,
The Economics of Organic Grain and
Soybean Production in the Midwestern
United States, Henry A. Wallace Institute for
Alternative Agriculture, Policy Studies Report
nº 13 (Greenbelt, MD: maio de 1999); P. Mader
et al., “Soil Fertility and Biodiversity in
Organic Farming”, Science, 31/05/02.
38. Bill Liebhardt, Get the Facts Straight:
Organic Agriculture Yields are Good,
Information Bulletin nº 10 (Santa Cruz, CA:
Organic Farming Research Foundation, verão
de 2001).
39. Peter Tschannen, Project Director,
Remei AG Biore, Lettenstrasse, Suíça,
discussão com Brian Halweil, 4/05/03; Tadeu
Caldas, “A Glimpse into the Largest Organic
Project in Asia”, Ecology and Farming
(IFOAM), março de 2000.
40. Jean-Marie Diop et al., On-Farm AgroEconomic Comparison of Organic and
Conventional Techniques in High and Medium
Potential Areas of Kenya, publicação conjunta
da ETC (Educational Training Consultants)
Holanda e Kenya Institute of Organic Farming
(Leusden e Nairobi: março de 1998).
41. El-Hage Scialabba e Hattam, op. cit., nota
31, pp. 8-10; Parrott e Marsden, op. cit., nota
37, p. 62; Nicholas Parrott, Faculdades das
Cidades e Planejamento Regional,
Universidade de Cardiff, R.U., discussão com
Brian Halweil, 12/09/03.
42. Brian P. Baker et al., “Pesticide Residues
in Conventional, IPM-grown and Organic
Foods: Insights from Three U.S. Data Sets”,
Food Additives and Contaminants, May 2002,
pp. 427-46; Cynthia L. Curl et al.,
“Organophosphorus Pesticide Exposure of
Urban and Suburban Preschool Children with
Organic and Conventional Diets”,
Environmental Health Perspectives, março de
2003, pp. 377-82.
43. Edward Groth, cientista sênior,
Consumers Union, discussão com Brian
Halweil, 22/09/03; National Research Council,
Pesticides in the Diets of Infants and Children
(Washington, DC: National Academy Press,
1993); Baker et al., op. cit., nota 42; Misa Kishi
e Joseph Ladou, “International Pesticide Use”,
International Journal of Occupational and
Environmental Health, outubro/dezembro de
2001; Dina M. Schreinmachers et al., “Cancer
Mortality in Agricultural Regions of
Minnesota”, Environmental Health
Perspectives, março de 1999; S. H. Swan et al.,
“Semen Quality in Relation to Biomarkers of
Pesticide Exposure”, Environmental Health
Perspectives, September 2003, pp. 1478-84; M.
F. Cavieres et al., “Developmental Toxicity of
a Commercial Herbicide Mixture in Mice: I,
Effects on Embryo Implantation and Litter
Size”, Environmental Health Perspectives,
novembro de 2002, pp. 1081-85.
44. Danny K. Asami et al., “Comparison of
the Total Phenolic and Ascorbic Acid Content
253
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4
of Freeze-Dried and Air-Dried Marionberry,
Strawberry, e Corn Grown Using Conventional,
Organic, and Sustainable Agricultural
Practices”, Journal of Agricultural and Food
Chemistry, fevereiro de 2003, pp. 1237-41.
a Brian Halweil, 18/07/03; para o movimento
Navdanya, vide www.navdanya.orf>; Francis
Moore Lappé e Anna Lappé, Hoppe’s Edge:
The Next Diet for a Small Planet (Nova York:
Tarcher/Putnam, 2002), pp. 145-50.
45. “Stranglehold, Pesticides: What’s the
Way Out?” Down to Earth, 15/06/03.
52. “The Old Ones are the Best”, New
Agriculturalist on-line, 1o/09/03, em www.newagri.co.uk/03-5/focuson/ focuson5.html.
46. Asami et. al., op. cit., nota 14.
47. Participação no Alimento Lento, de
Ilaria Morra, Departamento de Imprensa, Slow
Food, e-mail a Brian Halweil, 14/07/03; Carlo
Petrini, presidente, Slow Food, e-mail a Brian
Halweil, 17/07/02.
48. Alejandro Argumedo, Andes, Cuzco,
Peru, e-mail a Brian Halweil, 15/03/002.
49. Comércio e volume, da FAO, op. cit.,
nota 7, atualizado em 24/12/02; pesquisas nos
EUA, de Matthew Hora e Jody Tick, From
Farm to Table: Making the Connection in
the Mid-Atlantic Food System (Washington,
DC: Capital Area Food Bank, 2001), e de Rich
Pirog et al., Food, Fuel, and Freeways: An
Iowa Perspective on How Far Food Travels,
Fuel Usage, and Greenhouse Gas Emissions
(Ames, IA: Leopold Center for Sustainable
Agriculture, Iowa State University, 2001), pp.
1, 2; R.U. dados e Figura 4-4 de Andy Jones,
Eating Oil: Food Supply in a Changing
Climate Londres: Sustain, 2001).
50. New Economies Foundation, “Local
Food Better for Rural Economy that
Supermarket Shopping”, press release
(Londres: 7/08/01); Christopher Delgado et al.,
Agricultural Growth Linkages in SubSaharan Africa, Research Report 107
(Washington, DC: International Food Policy
Research Institute, dezembro de 1998).
51. Vandana Shiva, Research Foundation
for Science, Technology and Ecology, e-mail
254
53. Norman E. Borlaug, “The Next Green
Revolution”, New York Times, 11/07/03;
Sustain: The Alliance for Better Food and
Farming, “Study Visit to Italy: The Italian
School Meals System”, em www.
sustainweb.org/chain_italy_study.asp,
visitado em 1o/09/02; Anne Dolamore et al.,
Good Food on the Public Plate: A Manual
for Sustainability in Public Sector Food and
Catering (Londres: Sustain and East Anglia
Food Link, 2003).
54. JoAnn Jaffe, University of Regina, email a Brian Halweil, 26/04/02, baseado em
JoAnn Jaffe e Michael Gertler, “Victual
Vicissitudes: Consumer Deskilling and the
Transformation of Food Systems”, em M.
D. Mehta, ed., The Sociology of
Biotechnology (Toronto: University of
Toronto Press, no prelo).
55. Sumários de tendências de
consolidação estão disponíveis em William
Heffernan et al., Consolidation in the Food
and Agriculture System (Washington, DC:
National Farmers Union, fevereiro de 1999),
em Mary Hendrickson et al., Consolidation
in Food Retailing and Dairy: Implications
for Farmers and Consumers in a Global Food
System (Washington, DC: janeiro de 2001)
(disponível em www.foodcircles. issouri.edu),
e em Halweil, op. cit., nota 6; Lappé e Lappé,
op. cit., nota 51, pp. 138-64.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4 E ÁGUA ENGARRAFADA
56. Mais de 26 milhões de refeições, do
USDA, National School Lunch Program,
“FAQs”, em www.fns.usda.gov/cnd/Lunch/
boutLunch/faqs.htm, atualizado em agosto
de 2003; Agência de Consoumo Sueca, de
OCDE, op. cit., nota 7, p. 53. No Quadro 4-3,
mais de US$ 300 bilhões em subsídios, de
OCDE, Agricultural Policies in OECD
Countries: Monitoring and Evaluation
2002 (Paris: 2002).
57. Mudanças históricas na política
alimentícia, de Nestlé, op. cit., nota 10; Stuart
Laidlaw, Secret Ingredients: The Brave New
World of Industrial Farming (Toronto:
McClelland & Stewart Ltd., 2003), p. 254.
Água Engarrafada
1.
Catherine Ferrier, Bottled Water
Understanding a Social Phenomenon
(Washington, DC; World Wildlife Fund, April
2001), p. 13; taxa de crescimento do consumo,
de International Year of Freshwater, “Facts
and Figures: Bottled Water”, em
www.wateryear2003. org.Rajesh Mahapatra,
“Pesticide Findings Spur Indian Government
Crack-down on Bottled Water Companies”,
Associated Press, 21/02/03; gastos globais,
de Brian Howard, “The World’s Water Crisis”,
E Magazine, setembro/outubro de 2003, p. 28.
or Pure Hype? (Nova York: March 1999);
França de Ferrier, op. cit., nota 1, p. 16.
5.
Maude Barlow, Blue Gold: The Global
Water Crisis and the Commodification of the
World’s Water Supply, rev. ed. (Ottawa, ON,
Canadá: Council of Canadians, primavera
2001), pp. 46-47; Anthony DePalma, “Free
Trade in Fresh Water? Canada Says No and
Halts Exports”, New York Times, 8/03/99,
6.
Container Recycling Institute (CRI),
“Plastic Soda Bottle Recycling Rate Down
Again…Virgin Resin Production Outpaces
Recycling”, em www.container-recycling.org/
plasrate/ ratedown.htm; dados do ciclo de
vida de PET, da Associação das Indústrias de
Plásticos da Europa, citados em Baxter CVG,
The Economic and Ecological Implications
of a Solid Waste Reduction Program, em
www.wastereduction.org/ Baxter/Bax5.htm.
7.
Ferrier, op. cit., nota 1, p. 23.
8.
Garrafas de água nos Estados Unidos
de Patricia Franklin, “Letter from the Executive
Director”, Containers and Packaging
Recycling Update (CRI, Arlington, VA), verão/
outono de 2003, p. 2; Kalyan Moitra, “Recycle
Onus on PET Producers, Says PCB”,
Economic Times of India, 27/06/03; CRI, Bottle
Bill Resource Guide, em www.bottlebill.org.
3.
Anne Christiansen Bullers, “Bottled
Water: Better Than the Tap?” FDA Consumer
Magazine (.U.S. Food and Drug
Administration), julho – agosto de 2002.
9.
Motivos para beber água engarrafada,
de Ferrier, op. cit., nota 1, p. 16; NRDC, op. cit.
nota 4; Centre for Science and Environment,
“Pure Water or Pure Peril?” press release (New
Delhi: 4/02/03); Hansika Pal, “Debate Over
Pesticide Residue Clouds Bottled Water”,
Economic Times of India, 6/02/03.
4.
Ásia e Pacífico, de Ferrier, op. cit., nota
1, p. 13; falta de acesso, de Howard, op. cit.
nota 1, p. 3; Natural Resources Defense
Council (NRDC), Bottled Water: Pure Drink
10. Ano Internacional da Água Doce, em
www.un.org/events/water; Millennium
Development Goals em www.un.org/
millenniumgoals.
2.
Descrição da água e recall da Perrier,
de Ferrier, op. cit., nota 1, pp. 3, 6, 17.
255
Estado do Mundo 2004
NOTAS, FRANGOS E CHOCOLATE
Frangos
1.
World Society for the Protection of
Animals (WSPA), World Farmwatch, “The
Facts About Our Food Eggs”, pamphlet, em
www.wspa.org.uk; Paul Shapiro, Compassion
Over Killing, and Bruce Freidrich, People for
the Ethical Treatment of Animals, e-mails à
autora, 15/09/03.
2.
WSPA, op. cit., nota 1; Shapiro, op. cit.,
nota 1; Freidrich, op. cit., nota 1; Stuart
Laidlaw, Secret Ingredients: The Brave New
World of Industrial Farming (Toronto:
McClelland & Stewart Ltda., 2003), pp. 31-52.
3.
WSPA, op. cit., nota 1; Laidlaw, op. cit.,
nota 2, p. 33; Shapiro, op. cit., nota 1;
Compassion in World Farming, Laying Hen
Factsheet, em www.ciwf.co.uk/ Camp/Main/
Battery/battery_hen_campaign.htm, visitado
em 23/09/03.
4.
WSPA, op. cit., nota 1; Compassion in
World Farming, op. cit., nota 3; National
Animal Health Monitoring System, Part II:
Reference of 1999 Table Egg Layer
Management in the U.S. (Washington, DC:
Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos (USDA), 2000); Michael Appleby,
vice-presidente, Farm Animals and
Sustainable Agriculture, Humane Society of
the United States, e-mail à autora, 26/09/03.
5.
Anthony Browne, “Ten Weeks to Live”,
The Observer, 10/03/02; Shapiro, op. cit., nota 1.
6.
Volume de ração, de Richard Reynnells,
National Program Leader, Animal Production
Systems, USDA, e-mail à autora, 26/09/03, e
de Mack O. North, Commercial Chicken
Production Manual, 3rd ed. (Westport, CT:
AVI Publishing Company, Inc., no date), p.
374; Consumers Union, “Presence of Antimicrobial Resistant Pathogens in Retail
256
Poultry Products: A Report by CI Members in
Australia and the United States”, apresentado
pela Consumers International à Comissão do
Codex sobre Resíduos de Medicamentos
Veterinários nos Alimentos, 4-7/03/03;
Comissão Européia, “The Welfare of Chickens
Kept for Meat Production (Broilers)”, Relatório
do Comitê Científico sobre Saúde e Bem-Estar
dos Animais, 21/03/00, pp. 31-36, 42-43;
Browne, op. cit., nota 5.
7.
Browne, op. cit., nota 5; Erik Millstone e
Tim Lang, The Penguin Atlas of Food: Who
Eats What, Where, and Why (Londres: Penguin
Books, 2003), p. 38.
8.
“In Praise of Family Poultry”,
Agriculture 21 (U.N. Food and Agriculture
Organization), março de 2002.
9.
Kimberlie Cole, Westwind Farms, e-mail
a Clayton Adams, Worldwatch Institute, 14/
08/03; West Wind Farms Web site, em
www.grassorganic.com, visitado em 02/06/03.
Chocolate
1.
Allen M. Young, The Chocolate Tree:
A Natural History of Cacao (Washington, DC:
Smithsonian Institution Press, 1994), pp. 2-8;
J. C. Motamayor and C. Lanaud, “Molecular
Analysis of the Origin and Domestication of
Theobroma cacao L.”, in Johannes M. M.
Engels et al., eds., Managing Plant Genetic
Diversity (Wallingford, R.U.: CABI Publishing,
2002), pp. 77-87.
2.
Organização de Alimentos e Agricultura
dos Estados Unidos (FAO), FAOSTAT
Statistical Database, em apps.fao.org,
visitado em 03/09/03.
3.
Visão geral dos requisitos para cultivo
do cacau, disponíveis no website da
Organização Internacional do Cacau em
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CHOCOLATE E CAMARÕES
www.icco.org/questions/tree.htm, visitado em
setembro de 2003; disseminação do cacau
pelos trópicos, de Young, op. cit., nota 1, pp.
14-47; Russell A. Mittermeier, Norman Myers,
e Cristina Goettsch Mittermeier, Hotspots:
Earth’s Biologically Richest and Most
Endangered Terrestrial Ecoregions (Cidade
do México: CEMEX/ Conservation
International, 1999.
4.
Produção comercial sob 60% de
cobertura, de Norman D. Johns,
“Conservation in Brazil’s Chocolate Forest:
The Unlikely Persistence of the Traditional
Cocoa Agroecosystem”, Ambio, maio de
2000, pp. 167-73.
5.
Desmatamento global e Costa do
Marfim, de Rice e Greenberg, op. cit., nota 4,
p. 169; B. Duguma, J. Gockowski, e J. Bakala,
“Small-holder Cacao (Theobroma cacao Linn.)
Cultivation in Agroforestry Systems of West
and Central Africa: Challenges and
Opportunities”, Agroforestry Systems, vol. 51,
nº 3 (2001), pp. 177-79; perda florestal na
Indonésia, de François Ruf e Yoddang, “Cocoa
Migrants from Boom to Bust”, in François
Gérard and François Ruf, eds., Agriculture in
Crisis: People, Commodities and Natural
Resources in Indonesia, 1996-2001
(Richmond, Surrey, R.U.: Curzon Press, 2001),
pp. 106, 131-32; Brasil, de Johns, op. cit., nota
4, pp. 31-47; Camarões, de Jum Gockowski,
International Institute of Tropical Agriculture,
e-mail ao autor, 13/12/01.
Work in February 2001”, press release (Genebra:
28/11/00). As estimativas da receita da fazenda
assumem uma participação de 80% da fazenda
na receita anual das exportações; para 2002, essas
receitas foram estimadas em US$ 4,4 bilhões,
multiplicando-se a produção global (disponível
em FAO, op. cit., nota 2) pelo preço médio de
2002 (disponível no Quarterly Bulletin of Cocoa
Statistics da Organização Internacional do
Cacau), abusos da mão-de-obra, de “New
Foundation Launched to Fight Problem in Cocoa
Industry”, U.N. Wire, 2/07/02, de Sumana
Chatterjee, “Chocolate Industry to Fight Child
Slavery”, San Jose Mercury News, 2/07/02, e de
Brooke Shelby Biggs, “Slavery Free Chocolate?”
em www.alternet.org, 7/02/02.
8.
Para um relato completo do sistema de
comércio justo, vide Fairtrade Labelling
Organizations International, em www.fairtrade.net;
lindano, de René Philippe et al., “Rational
Chemical Pest Control”, em Dominique Mariau,
ed., Integrated Pest Management of Tropical
Perennial Crops (Enfield, NH: Science Publishers,
1997), pp. 25-35.
Camarões
6.
Rice e Greenberg, op. cit., nota 4, pp.
169-70 e Tabela 2.
1.
Egito, de Don Brothwell e Patricia
Brothwell, Found in Antiquity – A Survey of
the Diet of Early Peoples (Baltimore, MD;
John Hopkins University Press, 1998), pp. 5556; “A Brief History of Shrimp Farming,
“Shrimp News International, em
www.shrimpnews.com/ History.html,
atualizado em 1o/10/03.
7.
Valor global do varejo do cacau, de Trevor
Datson, “Chocoholism Reached Almost
Epidemic Proportions,” Reuters, 12 February
2003, e da Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e Desenvolvimento, “UN Cocoa
Conference Ends 10-Day Session; Will Resume
2. Globefish, citado em Foodmarket
Exchange.com, “Shrimpe Production”, em
w w w. f o o d m a r k e t e x c h a n g e . c o m /
datacenter/product/seafood/shrimp/
detail/de_pi_sf_shrimp0302_01.htm,
visitado em 28/08/03.
257
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAMARÕES E REFRIGERANTES
3.
Produção chinesa, de ibid.; principal
exportador, de Foodmarket Exchange.com,
“Shrimp Trade”, em www.foodmarketexchange.
com/datacenter/product/seafood/shrimp/
de_oi_sf_shrimp04.htm, visitado em 28/04/03.
4.
Importações nos Estados Unidos, de
Helga Josupeit, “An Overview on the World
Shrimp Market”, September 2001, em
www.globefish.org/presentations, visitado em
28/08/03; U.S. National Oceanic e Atmospheric
Administration, “Shrimp Overtakes Canned
Tuna as Top U.S. Seafood”, press release
(Washington, DC: 28/08/02); Japão, de
Globefish, “Shrimp”, Monthly Market Report,
abril de 2003, em www.globefish.org/
marketreports/Shrimp/Shrimp4.htm, e de John
M. Saulnier, “European Ban on Asian Shrimp
Imports Puts Even More Pressure on Prices”,
Global Seafood Magazine (Quick Frozen
Foods International), abril de 2002.
5.
Três quartos e US$ 7 bilhões, de
Globefish, “Shrimp”, Commodity Update, June
2002, em www.globefish.org/ publications/
commodityup date/200206/ 200206.htm; Elliot
Norse e Les Watling, “Clearcutting the Ocean
Floor”, Earth Island Journal, verão 1999.
6.
Environmental Justice Foundation,
Squandering the Seas: How Shrimp
Trawling is Threatening Ecological
Integrity and Food Security Around the
World (Londres: 2003), p. 2.
7.
Denise Johnston, Chris Soderquist e
Donella H. Meadows, The Shrimp Commodity
System: A Sustainability Institute Report
(Hartland, VT: The Sustainability Institute,
2000) p.3.
8.
Isabel de la Torre, “The Unpalatable
Prawn”, Earth Island Journal, primavera
de 2000.
258
9.
David Barnhizer, “The Trade,
Environment and Human Rights: The
Paradigm Case of Industrial Aquaculture and
the Exploitation of Traditional Communities”,
Mangrove Action Project Web site, em
www.earthisland.org/map/ trd-hmm.htm;
Environmental Justice Foundation, Smash &
Grab: Conflict, Corruption and Human
Rights Abuses in the Shrimp Farming
Industry (Londres: 2003).
10. Vandana Shiva, apresentação na Cúpula
dos Povos, St. Mary’s University, Halifax, NS,
Canadá, 17/06/95; citação mencionada em
Environmental Justice Foundation, op. cit.,
nota 6, p. 1.
11. Consórcio de Network of Aquaculture
Centres in Asia-Pacific, Shrimp Farming and
the Environment Web site, em www.enaca.org/
Shrimp/ShrimpAquacultureCertification.htm;
Told Steined, Sea Turtle Restoration Project,
Earth Island Institute, “Sea Turtles, Shrimp
Fisheries, and the Turtle Excluder Device”,
apresentação elabora para o Tribunal dos
Camarões nas Nações Unidas, 29/04/96, em
www.earthsummitwatch.org/shrimp/ positions/
pov2.html; World Rainforest Movement, “Local
Fisherfolk Protect the Mangroves in Sri Lanka”,
WRM Bulletin nº 20, 10/02/99.
Refrigerantes
1.
Beverage Marketing Corporation, Global
Carbonated Soft Drinks: A Worldview, 2003
Edition (Nova York), conforme John Rodwan,
e-mail ao autor, 29/09/03. Em 2002, 22,3% do
volume de refrigerantes nos EUA foi embalado
para ser servido em máquinas; assim, não
incluem água ou dióxido de carbono (Ibid.);
por motivo de simplicidade, o foco aqui
concentra-se na maioria dos refrigerantes,
embalados diretamente para os consumidores.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, REFRIGERANTES
2.
Paul Vallely, Jon Clarke e Liz Stuart, “Coke
Adds Life? In India, Impoverished Farmers
Are Fighting to Stop Drinks Giant
“Destroying
Livelihoods’”,
The
Independence, 25/07/03; Surendranath C.,
“Coca-Cola: Continuing the Battle in Kerala”,
Corp Watch, 10/07/03; Edward Luce, “Pepsi
and Coca-Cola Deny Pesticide Claims”,
Financial Times, 5/08/03; Centre for Science
and the Environment, “Government Confirms
Pesticides in Soft Drinks”, press release (Délhi,
Índia: 21/08/03).
3.
Cerca de 25% do volume nos Estados
Unidos consiste de refrigerantes dietéticos
(conforme o Departamento de Agricultura
(USDA), Serviço de Pesquisa Econômica, Per
Capita Food Consumption Data System:
Beverages, em www.ers.usda.gov/ Data/
FoodConsumption/Spreadsheets/
beverage.xls, visitado em 1o/08/03), que
substituem adoçantes de alta intensidade em
açúcares. Embora esses adoçantes sejam,
essencialmente, não-calóricos, não
contribuindo assim diretamente para a
obesidade, há um debate contínuo sobre sua
segurança. Dados do consumo nos EUA, de
USDA, op. cit., esta nota; absorção de cálcio,
de Claude Cavadini et al., “U.S. Adolescent
Food Intake Trends from 1965 to 1996”,
Archives of Disease in Childhood, vol. 83, no.
1 (2000), p. 19; Departamento de Saúde e
Serviços Humanos dos Estados Unidos, The
Surgeon General’s Call to Action to Prevent
and Decrease Overweight and Obesity, 2001
(Washington, DC: 2001); David S. Ludwig et
al., “Relationship Between Consumption of
Sugar-Sweetened Drinks and Childhood
Obesity: A Prospective, Observational
Analysis”, The Lancet, 17/02/01, p. 507.
4.
Componente de cafeína, de Euromonitor
International, Soft Drinks: The International
Market, 2001 Edition, conforme Trudy
Griggs, e-mail ao autor, 19/12/01; Roland R.
Griffiths e Elen M. Vernotica, “Is Caffeine a
Flavoring Agent in Cola Soft Drinks? Archives
of Family Medicine, agosto de 2000, p. 732;
Ronald R. Watson, “Caffeine: Is it Dangerous
to Health?” American Journal of Health
Promotion, primavera de 1988; Roland
Griffiths, Johns Kopkins University School of
Medicine, e-mail ao autor, 22/01/02; cafeína
em Pepsi, de “Caffeinated Kids”, Consumer
Reports, julho de 2003, p. 28.
5.
Beverage Marketing Corporation,
Global Beverage Packaging, 2002 Edition
(Nova York: 2002), conforme Rodwan, op. cit.,
nota 1; Laurel Wentz, “Global Marketers Spend
$71 Million”, Advertising Age, 11/11/02, em
w w w. a d a g e . c o m / i m a g e s / r a n d o m /
GloboMarketers2000.pdf, visitado em 26/09/03;
Steven Manning, “How Corporation Are
Buying Their Way Into America’s Classrooms”,
The Nation, 27/09/99, pp. 11-18.
6.
Jennifer Gitlitz, Trashed Cans: The
Global Environmental Impacts pf Aluminum
Can Wasting in America (Arlington, VA:
Container Recycling Institute, junho de 2002);
número de latas, de Beverage Marketing
Corporation, Beverage Packaging in the U.S.,
2003 Edition (Nova York: 2003), conforme
Rodwan, op. cit., nota 1, com cálculos
baseados em Gitlitz, op. cit., esta nota;
“Summary of the National Beverage Producer
Responsibility Act of 2002: Senate Bull 2220”,
factsheet (Athens, GA: Grassroots Recycling
Network, sem data); Suécia e Michigan, de
Gitlitz, op. cit., esta nota, pp. 27-28.
7.
Erika Hayasaki, “Schools to End Soda
Sales,” Los Angeles Times, 28/08/02; imposto
sobre junk-food, de Michael F. Jacobson e Kelly
D. Brownell, “Small Taxes on Soft Drinks and
Snack Foods to Promote Health”, American
Journal of Public Health, junho de 2000, pp.
259
Estado do Mundo 2004
NOTAS, REFRIGERANTES E CAPÍTULO 5
854-57 (atualmente os impostos são recolhidos
a um fundo geral); Suécia e Polônia, de
Euromonitor International, Marketing to
Children: A World Survey, 2001 Edition, de
Trudi Griggs, Euromonitor, e-mail ao autor, 25/
01/02, e de Ingrid Jacobsson, “Advertising Ban
and Children: Children Have the Right to Safe
Zones”, Current Sweden, junho de 2002;
vendas e projeções de Beverage Marketing
Corporation, op. cit., nota 1.
Capítulo 5. Rumos para uma
Economia Menos Consumista
1.
Richard B. Brightwell, “A Short
Biography of King Camp Gillette”, em
w w w. c r e e k s t o n e . n e t / r a z o r s /
kingcampgillette.htm, visitado em 18/09/03;
“King C. Gillette Disposable-Blade Safety
Razor,” Inventor of the Week Archive, junho
de 2000, Lemelson-MIT Program, em
web.mit.edu/invent/iow/Gillette.html.
2.
Eric A. Taub, “DVD’s Meant for Buying
but Not for Keeping”, New York Times, 21/7/03.
3.
Edward Rothstein, “A World of Buy, Buy,
Buy, from A to Z”, New York Times, 19/07/03.
4.
Citação de Leblow, de Vance Packard,
The Waste Makers (Nova York: David Mckay,
1960).
5.
Alan Durning, em How Much Is
Enough? (Nova York: W.W. Norton &
Company, 1992), argumentou que sob uma
perspectiva de impacto no consumo e na
ecologia, a humanidade está dividida em três
classes amplas de consumo: consumidores,
classe média e os pobres. Embora o número
específico de pessoas nessas categorias, e
os limiares da categoria, estejam
constantemente instáveis, a distinção
continua sendo útil para fins conceituais.
260
6.
Juliet Schor, “The Triple Imperative:
Global Ecology, Poverty and Worktime
Reduction” (Boston, MA: Boston College,
maio de 2001, inédito); 90% de redução, de
Gary Gardner e Payal Sampat, Mind Over
Matter: Recasting the Role of Materials in
Our Lives, Worldwatch Paper 144
(Washington, DC: Worldwatch Institute,
dezembro de 1998), p. 25.
7.
Tendências do comércio de matériasprimas, do Banco Mundial, “Change in
Commodity Production and Trade”, Global
Commodities Markets Online, at
www.worldbank.org/prospects/gmconline/
index.htm, abril de 2000, p. 10; preços de
commodities, do Fundo Monetário
Internacional, International Financial
Statistics Yearbook (Washington, DC:
annual), e de Michael Renner, “Commodity
Prices Weak”, em Worldwatch Institute, Vital
Signs 2001 (Nova York: W.W. Norton &
Company, 2001), p. 122; Michael Renner, The
Anatomy of Resource Wars, Worldwatch Paper
162 (Washington, DC: Worldwatch Institute,
outubro de 2002).
8.
Robert Brenner, “The Economics of
Global Turbulence: A Special Report on the
World Economy, 1950-1998”, New Left Review,
no 229 (1998), pp. 258-61; superávit comercial
China-EUA, de Joseph Kahn, “China Seen
Ready to Conciliate U.S. on Trade and Jobs”,
New York Times, 2/09/03; competição salarial
China-México, de Juan Forero, “As China
Gallops, Mexico Sees Factory Jobs Slip
Away”, New York Times, 3/09/03.
9. Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE),
Towards Sustainable Consumption: An
Economic Conceptual Framework
(Paris: Environment Directorate, junho de
2002),p. 41.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
10. Tabela 5-1 adaptada de Norman Myers
e Jennifer Kent, Perverse Subsidies. How Tax
Dollars Can Undercut the Environment and
the Economy (Washington, DC: Island Press,
2001), pp. 187-88.
11. Herman E. Daly, “Five Policy
Recommendations for a Sustainable
Economy”, em Juliet B. Schor e Betsy Taylor,
eds., Sustainable Planet: Solutions for the
21st Century (Boston: Beacon Press, 2002);
OCDE, Policies to Promote Sustainable
Consumption: An Overview (Paris:
Environment Directorate, julho de 2002), p.
17; Lorenz Jarass, “More Jobs, Less Tax
Evasion, Better Environment– Towards a
Rational European Tax Policy”, Contribuição
à Audiência no Parlamento Europeu,
Bruxelas, 17/10/96.
12. OCDE, op. cit., nota 9, p. 17; tendências
da recenta fiscal e Tabela 5-2 de Ulf Johansson
e Claudius Schmidt-Faber, “Environment Taxes
in the European Union 1980-2001”, Eurostat
Statistics in Focus, 9/2003, pp. 1, 3, 6.
13. OCDE, Making Work Pay: Taxation,
Benefits, Employment and Unemployment,
The OECD Jobs Strategy Series (Paris: 1997);
idem, “Environmentally Related Taxes
Database”, em www.oecd.org/ document/29/
0,2340,en_2649_37465_1894685_1_1_1_1_1,00.html,
visitado em 29/08/03; Johansson e SchmidtFaber, op. cit., nota 12, pp. 3.4.
14. Emissões de dióxido de carbono
evitadas em 2002 e empregos obtidos, de
Umweltbundesamt (Agência Ambiental da
Alemanha), “Hohere Mineralolsteuer Entlastet
die Umwelt und den Arbeitsmarkt”, press
release (Berlin: 3 January 2002); crescimento
da receita de BUND, “Wie Hoch Sind die
Okosteuern?” em www.oeko-steuer.de/
pages/fakt_ oekosteuer.phtml, visitado em 3/
08/03; projeção do emprego até 2010 de
Deutsches Institut fur Wirtschaftsforschung
(DIW), “Wirkungen der Okologischen
Steuerreform in Deutschland”, DIWWochenbericht, nº 14/2001.
15. Esforços de harmonização européia, de
Green Budget Germany, Green Budget News
– European Newsletter on Environmental
Fiscal Reform, 2-4/2-3, em www.eco-tax.info/
2newsmit/newseng/ GBN2.html, e da Agência
Ambiental da Europa (Bruxelas),
Environmental Fiscal Reform Campaign
Newsletter, abril – setembro de 2003.
16. Disposições alemãs, de Stefan Bach e
Michael Kohlhaas, “Nur zaghafter Einstieg in
die okologische Steuerreform”, DIWWochenbericht, no 36/1999; Reinhard Loske e
Kristin Heyne, “Okologische Steuerreform:
Die Stufen 2-5”, press release (Berlim:
German Green Party parliamentary group,
29/06/99; Umwelt-und Prognose-Institute,
“Stellungnahme des UPI-Instituts vom 23.
Januar, incl. Nachtrage vom 8.2. und 25.2.99”,
at www.upi-institut.de/ oes199.htm; aumento
para 60% de Michael Kohlhaas, Energy
Taxation and Competitiveness – Special
Provisions for Business in Germany’s
Environmental Tax Reform, DIW Discussion
Papers, no 349 (Berlim: DIW, maio de 2003);
alerta recente de “Trittin Droht Industrie mit
Hoherer Okosteuer”, Der Spiegel, 13/08/03.
17. BUND, “Eckpunkte zur Weiterentwicklung
der okologischen Steuerreform”, em
www.ocko-steuer. de/downloads/bundoekosteuer.eckpunkte. pdf, 12/05/03; Reinhard
Loske e Frank Steffe, “Okonomische Anreize
in der Umweltpolitik”, Blatter fur Deutsche
und International Politik, no 9 (2001), pp.
1082-83; Umwelt-und Prognose-Institut,
“Kampagne der CDU/CSU gegen die
Okosteuer”, atualizado em 23/02/03, em
www.upi-institut.de/cdu-kamp.htm.
261
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
18. Lisa Mastny, Purchasing PowerHarnessing Institutional Procurement for
People and the Planet, Worldwatch Paper 166
(Washington, DC: Worldwatch Institute, julho
de 2003); Anne Berlin Blackman, Jack Luskin, e
Robert Guillemin, Programs for Promoting
Sustainable Consumption in the United States
(Lowell, MA: Toxics Use Reduction Institute,
University of Massachusetts, dezembro de 1999).
19. Michael Scholand, “Appliance
Efficiency Takes Off”, em Worldwatch
Institute, Vital Signs 2002 (Nova York: W.W.
Norton & Company, 2002), p. 132.
20. Ibid.
21. Lisa Mastny, “Ecolabeling Gains
Grounds, “in Worldwatch Institute, op. cit.,
nota 19, p. 124; Anjo Azul, de “25 Jahre Blauer
Engel: Von Hohenflugen und Turbulenzen”,
Umweltbundesamt (Agência Ambiental da
Alemanha), 2/04/03, em www.umweltdaten.de/
uba-info-presse/hintergrund/blauer-engelhistorie.pdf, e de www.blauer-engel.de.
22. Mastny, op. cit., nota 21, pp. 124-25;
OCDE, op. cit., nota 9, pp. 31-32.
23. Stephan Moll, Stefan Bringezu e Helmut
Schutz, Resource Use in European Countries
(Copenhague: Centro Tópico Europeu sobre
Fluxos de Resíduos e Materiais, em
colaboração com a Diretoria do Meio Ambiente
da União Européia, março de 2003), p. 36; Emily
Matthews et al., Weight of Nations: Material
Outflows from Industrial Economies
(Washington, DC: World Resources Institute,
2000), pp. 84-85, 112-13.
24. Moll, Brinzegu e Schutz, op. cit., nota
23; Peter Bartelmus, “Dematerialization and
Capital Maintenance: Two Sides of the
Sustainability Coin”, Ecological Economics,
no, 46 (2003), p. 74; Figura 5-1 de Matthews et
al., op. cit., nota 23, pp. 84-85, 112-13.
262
25. Paul Hawken, Amory Lovins e L. Hunter
Lovins, Natural Capitalism (Boston: Little,
Brown and Company, 1999); Ernst von
Weizsacker, Amory B. Lovins e L. Hunter
Lovins, Factor Four: Doubling Wealth,
Halving Resource Use (Londres: Earthscan,
1997); Gardner e Sampat, op. cit., nota 6, p. 26.
26. Moll, Bringezu e Schutz, op. cit., nota
23, pp. 9, 30, 53; Matthews et al., op. cit., nota
23, p. XI.
27. Christer Sanne, “Willing Consumers –
of Locked in? Policies for a Sustainable
Consumption”, Ecological Economics, nº 42
(2002), p. 275; Schor, op. cit., nota 6; Gardner e
Sampat, op. cit., nota 6; eficiência de
combustível automotivo e tendências de
motorização, de Michael Renner, “Vehicle
Production Declines Slightly”, in Worldwatch
Institute, op. cit., nota 10, pp. 74-75, e de
Michael Renner, “Vehicle Production Inches
Up”, em Worldwatch Institute, Vital Signs
2003 (Nova York: W.W. Norton & Company,
2003), pp. 56-57; uso de materiais, de Ward’s
Communications, Ward’s Motor Vehicle Facts
& Figures 2002 (Southfield, MI: 2002).
28. Blackman, Luskin e Guillemin, op. cit.,
nota 18; Clean Production Action, em
www.cleanproduction.org.
29. Marquita Hill, Thomas Saviello e Stephen
Groves, “The Greening of a Pulp and Paper
Mill: International Paper’s Androscoggin Mill,
Jay, Maine”, Journal of Industrial Ecology, vol.
6, no 1 (2002), pp. 107-20.
30. William McDonough e Michael Braungart,
“The Extravagant Gesture: Nature, Design, and
the Transformation of Human Industry”, em
Schor and Taylor, op. cit., nota 11, pp. 16-18; Hill,
Saviello, and Groves, op. cit., nota 29. Quadro 51 de trabalhos realizados por McDonough
Braungart Design Chemistry e de William
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
McDonough e Michael Braungart,Cradle to
Cradle:Remaking the Way We Make Things
(Nova York: North Point Press, 2002).
31. John Ehrenfeld e Marian Chertow,
“Industrial Symbiosis: The Legacy of
Kalundborg”, em Robert Ayres e Leslie Ayres,
eds., Handbook of Industrial Ecology
(Cheltenham, U. K.: Edward Elgar, 2002).
32. Ibid.; John Ehrenfeld, diretor emérito,
MIT Technology, Business, and Environment
Program, e-mail ao autor, 3/09/03; Fiji de
Gardner e Sampat, op. cit., nota 6, pp. 37-38.
33. Clean Production Action, “What Are the
Key Elements of an Extended Producer
Responsibility Plan? em www.cleanproduction.
org, visitado em 11/09/03.
34. Blackman, Luskin e Guillemin, op. cit.
nota 18; Pat Franklin, Extended Producer
Responsibility: A Primer (Arlington, VA:
Container Recycling Institute, novembro de
1997).
35. BASF e Rohner de McDonough e
Braungart, op. cit., nota 30, pp. 19-20.
36. Alemanha, de “Extended Producer
Responsibility”, Environmental Manager,
August 1998; “Extended Product
Responsibility: Designing for the Future”,
Business for Social Responsibility Education
Fund, janeiro de 2000, em www.where-itsat.com/epr.html. Tabela 5-3 dos seguintes:
“Extended Product Responsibility:
Designing for the Future,” op. cit., esta
nota; Carola Hanisch, “Is Extended
Producer Responsibility Effective?”
Environmental Science and Technology,
abril de 2000, pp. 170A-75A; “Extended
Producer Responsibility”, op. cit., esta nota;
Clean Production Action, “Extended Producer
Responsibility”, em www.cleanproduction.
org/epr/EPR.htm; Sam Cole, “Zero Waste on
the Move Around the World”, Eco-Cycle:
Boulder Country’s Recycling Professionals, em
w w w. e c o c y c l e . o r g / Z e r o Wa s t e /
ZeroWasteonTheMove.cfm, visitado em 28/
09/03; Michele Raymond, Extended Producer
Responsibility Laws: A Global Policy
Analysis (College Park, MD: Raymond
Communications, Inc., sem data); Raymond
Communications, Inc., “Recycling & Solid
Waste in Latin America: Trends and Policies”,
em www.raymond.com/promo_Raymondlibrary/lacsum.html, visitado em 09/09/03;
Total Environment Center (Sydney, Australia),
“Toxic Product Fact Sheet”, 2/07/03, em
www.tec.nccnsw.org.au/member/tec/projects/
Waste/tpf.html; Beverley Thorpe e Iza
Kruszewska, “Strategies to Promote Clean
Production-Extended Producer Responsibility”,
janeiro de 1999, atualizado em 2/04/03, em
www.grrn.org/resources/BevEPR.html;
Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos, “Product Stewardship”, em
www.epa.gov/epaoswer/non-hw/ reduce/epr/
products/index.html, visitado em 09/09/03;
Mitsutune Yamaguchi, “Extended Producer
Responsibility in Japan”, ECP Newsletter,
fevereiro de 2002, em www.jemai.or.jp/english/
eecp/ecp_ no19/19a.pdf.
37. “Extended Product Responsibility:
Designing for the Future”, op. cit., nota 36;
Eric Lombardi, “Take It Back!” Eco-Cycle:
Boulder County’s Recycling Professionals, em
w w w. e c o c y c l e . o r g / Z e r o Wa s t e /
TakeIBack,cfm, visitado em 28/08/03.
38. INFORM, Inc., The WeeE and RoHS
Directives Highlights and Analysis (Nova York:
julho de 2003), e idem, European Union (EU)
Electrical and Electronic Products Directives
(Nova York: julho de 2003); Michele Raymond,
“U.S. Feels the Effects of European Recycling
Debate”, Waste Age, 1o/03/01; Hanisch, op. cit.,
263
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
nota 36. A diretiva cobre grandes e pequenos
eletrodomésticos, equipamentos de informação
e comunicações (como computadores e
periféricos, celulares), itens de consumo (como
televisores, rádios, estéreos) iluminação,
ferramentas elétricas e eletrônicas,
equipamentos de esporte e lazer, aparelhos
médicos, instrumentos de monitoração e
máquinas automáticas de serviços.
39. INFORM, Inc., EU Electrical and
Electronic Products Directives, op. cit, nota
38; idem, The WEEE and RoHS Directives,
op. cit., nota 38; Silicon Valley Toxics and
Clean Computer Campaign, “European Laws
on Electronic Waste and Toxics Enacted”,
press release (San Jose, CA: 19/02/03).
40. INFORM, Inc., The WEEE and RoHS
Directives, op. cit., nota 38; Lombardi, op. cit.,
nota 37; IBM de “Extended Product
Responsibility: Designing for the Future,” op.
cit., nota 36.
41. Hanisch, op. cit., nota 36; interesse
estadual e municipal e iniciativa de baterias,
de “Extended Producer Responsibility,” op.
cit., nota 36.
42. Pressão em fabricantes de computadores, de Clean Production Action, op. cit.,
nota 33.
43. “Extended Product Responsibility,” op.
cit., nota 36; Bette K. Fishbein, “Carpet TakeBack: EPR American Style”, Environmental
Quality Management, outono de 2000, pp. 2536; Kodak de Cole, op. cit., nota 36; Nike de
“Extended Product Responsibility”, op. cit.,
nota 36.
44. Hanisch, op. cit., nota 36; dificuldades
alemãs, de Michael Kroger, “Die
Selbstuberlistung des Jurgen Trittin”, Spiegel
Online, 1 o /10/03, em www.spiegel.de/
wirtschaft/0,1518,26 7986,00.html.
264
45. Xerox Corporation, Environment,
Health, and Safety Progress Report 2002
(Webster, NY: 2002), p. 12; Nortel de Blackman,
Luskin, and Guillemin, op. cit., nota 18.
46. Tonelagem, giro anual e Tabela 5-4 de
Bureau of International Recycling, “About
Recycling”, em www.bir.org/ aboutrecycling/
index.asp, visitado em 7/08/03.
47. Estatísticas globais e dos Estados
Unidos, de Remanufacturing, “Frequently
Asked Questions”, em www.remanufacturing.
org/frfaqust.htm, visitado em 28/10/99; Walter
Stahel, From Manufacturing Industry to
Service Economy, from Selling Products to
Selling the Performance of Products,
Executive Summary (Genebra: Product-Life
Institute, abril de 2000).
48. Xerox, op. cit., nota 45, pp. 12, 14;
Blackman, Luskin e Guillemin, op. cit., nota
18; Clean Production Action, “Companies
Who Have Financially Benefited from EPR
Programs”, em www.cleanproduction.org/epr/
ExistingPrograms.htm, visitado em 11/09/03.
49. Hawken, Lovins e Lovins, op. cit., nota
25; Allen L. White, Mark Stoughton e Linda
Feng, Servicizing: The Quiet Transition to
Extended Product Responsibility, relatório
elaborado para a Agência Ambiental dos
Estados Unidos, Departamento de Resíduos
Sólidos (Boston: Tellus Institute, maio de 1999).
50. Arrendamento da Xerox, de Clean
Production Action, op. cit., nota 48; outros
exemplos, de Hawken, Lovins e Lovins, op.
cit., nota 25.
51. Hawken, Lovins e Lovins, op. cit.,
nota 25.
52. Ibid.; Amory B. Lovins, L. Hunter
Lovins, and Paul Hawken, “A Road Map for
Natural Capitalism”, Harvard Business
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
Review, maio/junho de 1999, Caspar
Henderson, “Carpeting Takes on a ‘Green’
Pattern”, Financial Times, 8/02/00; Laurent
Belsic, “Seeing Green from Being Green”,
Christian Science Monitor, 7/02/00; consumo
reduzido, de Interface, “Global Metrics”, em
www.interfacesustainability.com/metrics_
mn.htm, visitado em 05/09/03.
53. Hawken, Lovins e Lovins, op. cit.,
nota 25.
54. Rogelio Olivia e James Quinn,
“Interface’s Evergreen Services Agreement,”
Harvard Business School, Case Study N9-603112 (Cambridge, MA: 12/02/03); Fishbein, op.
cit., nota 43, pp. 25-36; cancelamento do
arrendamento Sempreverde, de Ehrenfeld, op.
cit., nota 32.
55. Herman E. Daly, Steady-State
Economics (São Francisco: W.H. Freeman and
Co., 1977), p. 20.
56. Gary Gardner, “Why Share?” World
Watch, julho/agosto de 1999, pp. 10-20.
57. A expressão “infra-estrutura de
consumo” é da OCDE, op. cit., nota 9, p. 30.
58. Sanne, op. cit., nota 27, pp. 275, 279;
tendência de dívida familiar na OCDE, de
OCDE, op. cit., nota 9, p. 14; tendência da taxa
de poupança, do Banco Mundial, World
Development Indicators 2002 (Washington,
DC: 2002); dados da Alemanha, de Roman
Pletter, “Dank Bankberater in die
Schuldenfalle,” Spiegel Online, 25/08/03, em
w w w. s p i e g e l . d e / w i r t s c h a f t /
0,1518,262857,00.html.
59. Crescimento do endividamento do
consumo nos EUA, de “Flying on One
Engine”, A Survey of the World Economy,
The Economist, 20/09/03, p. 4; crédito ao
consumidor total em aberto e Figura 5-2, de
Federal Reserve Board, “Consumer Credit
Historical Data”, em www.federalreserve.gov/
releases/g19/hist/cc_hist_sa.txt, visitado em
17/09/03; dívidas de cartões de crédito do
Departamento de Comércio dos Estados
Unidos, Statistical Abstract of the United
States 2002 (Washington, DC: 2002), e de
Robert D. Manning, “Perpetual Debt,
Predatory Plastic”, Southern Exposure,
summer 2003, p. 51; R.U. tendência, do
Departamento de Estatísticas Anuais,
Annual Abstract of Statistics, Table 22-16:
Consumer Credit, em www.statistics. gov.uk/
STAT B A S E / E x p o d a t a / S p r e a d s h e e t s /
D4925.xls; Alemanha, de Gundi Knies and C.
Katharina SpieB, “Fast ein Viertel der
Privathaushalte in Deutchland mit
Konsumentenkreditverpflichtungen”, DIWWochenbericht, no. 17/2003; Holanda, de
Noam Neusner, “Credit Addiction Goes
Global”, U.S. News and World Report, 25/03/
02, pp. 35-36.
60. Joshua Kurlantzick, “Charging Ahead”,
Washington Monthly, maio de 2003, pp. 27-29;
taxas de cartões de crédito na Coréia do Sul, de
Neusner, op. cit., nota 59, pp. 35-36.Gilbert Le
Gras, “Canada Earmarks C$1 Billion in Climate
Change Funds”, Reuters, 13/08/03.
61. Gilbert Le Gras, “Canada Earmarks C$1
Billion in Climate Change Funds”, Reuters, 13/
08/03.
62. “Feebate”, Energy Dictionary, em
www.energyvortex.com/energydictionary/
feebate.html, visitado em 16/09/03;
“’Feebates’-Price Instrument Promoting
Efficiency”, European Partners for the
Environment, em www.epe.be/workbooks/
sourcebook/2.11.html, visitado em 16/09/03.
63. Tendência da produtividade nos
Estados Unidos, medindo os setores
manufatureiros e de serviços, de Eric Rauch,
265
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
“Productivity and the Workweek”,
Massachusetts Institute of Technology, em
www.swiss.ai.mit.edu/~rauch/mise/worktime/,
visitado em 09/08/03; Schor, op. cit., nota 6.
64. Sanne, op. cit., nota 27, p. 285.
65. Figura 5-3 de Anders Hayden,
“International Work-Time Trends: The
Emerging Gap in Hours”, Just Labour,
(Canada), primavera de 2003, p. 24; Schor, op.
cit., nota 6.
66. Sanne, op. cit., nota 27, p. 280; Juliet
B. Schor, “Sustainable Consumption and
Worktime Reduction”, apresentado à
Universidade de Liz por ocasião da Palestra
Anual Kurt W. Rothschild, 7/11/02; Tabela
5-5 baseada em Hayden, op. cit., nota 65,
pp. 27-28.
67. Preferências européias, de Hayden, op.
cit., nota 65, p. 25; pesquisas nos Estados
Unidos e redução de jornada, de Schor, op.
cit., nota 6, e de Juliet B. Schor, The Overspent
American (Nova York: Harper Perennial, 1998).
68. Tendências dos salários nos Estados
Unidos, de Economic Policy Institute, “Growth
of Average Hourly Wages, Benefits, and
Compensation, 1948-2000 (2001 Dollars)”, em
w w w. e p i n e t . o r g / d a t a z o n e / 0 2 / n i p a _
comp_2._2.pdf, e de idem, “Wages for all
Workers by Wage Percentile, 1973-2001.
Dollars)”, em www.epinet.org/datazone/02/
deciles_2_6r.pdf.
69. Salários ficando para trás do
crescimento da produtividade, de Brenner, op.
cit., nota 8, p. 235; necessidade de aumentos
salariais, de Schor, op. cit., nota 6, e de Kenneth
Lux, “The Failure of the Profit Motive”,
Ecological Economics, no. 44 (2003), p. 7.
70. Lux, op. cit., nota 68; Sanne, op. cit., nota
27, p. 282; Schor, op. cit., nota 67, pp. 169-71.
266
71. William Greider, “Deflation: It Threatens
the U.S. – and the World”, The Nation –30/
06/03, p. 12; indústria automotiva, de
PricewaterhouseCoopers, “Light Vehicle
Assembly by Region, Country, Category”,
2001 Q4 Vehicle Outlook Reports, em
www.autofacts.com, visitado em 16/12/01;
duplicação esperada da capacidade de
produção da China, de Keith Bradsher, “A
Heated Chinese Economy Piles up Debt”, New
York Times, 4/09/03.
72. Crescimento da demanda doméstica dos
Estados Unidos, de “Flying on One Engine”,
op. cit., nota 59, p. 3; Global Policy Forum,
“Balance on US Cirrent Account 1960-2002”,
em www.global policy.org/socecon/crisis/
2003/curracctable.htm, visitado em 23/05/03;
Larry Elliot, “American Deficit Dependency:
Kill or Cure, the Fallout’s Global”, The
Independent, 20/07/03; EPI e Roach de Joshua
Kurlantzick, “Charging Ahead”, Washington
Monthly, maio de 2003, p. 31. Quadro 5-2 dos
seguintes: para uma análise mais detalhada
sobre vestuário, vide Juliet Schor, “Cleaning
the Closet: Toward a New Ethic of Fashion”,
em Schor e Taylor, op. cit., nota 10; participação
das confecções nas despesas, de Stanley
Lebergott, Pursuing Happiness (Princeton,
NJ: Princenton University Press, 1993). P. 91,
com a parcela de 2001, de Consumer
Expenditure Survey, Bureau of Labor
Statistics, em www.bls.gov/cex/2001/share/
age.pdf; para a parcela menor da receita para
a mão-de-obra, vide Nick Robins e Liz
Humphrey, Sustaining the Rag Trade: A
Review of the Social and Environmental
Trends in the Un Clothing Retail Sector and
the Implications for Developing Country
Producers (Londres: International Institute for
Environment and Development, 2000), p. 19;
mais informações sobre a exploração, vide
Ellen Rosen, Making Sweatshops: The
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5 E TELEFONES CELULARES
Globalization of the U. S. Apparel Industry
(Berkeley: University of California Press, 2002);
cálculo de Bangladesh como o quarto maior
país exportador de confecções, por Juliet
Schor, com base em www.otexa.ita.doc.gov/
msr/ atl.html; salários e condições de trabalho
em fábricas de Bangladesh, de National Labor
Committee, Ending the Race to the Bottom,
Report on Bangladesh (Nova York: 2001), p.
iii; dados sobre salários pagos na China e
trabalho infantil, de National Labor Committee
Report, Made in China: Behind the Label
(Nova York: 1998); para um exemplo atual da
retirada da Disney após os trabalhadores
terem feito exigências modestas, vide
www.nlcnet.org; preços de confecções
durante a última década de dados detalhados
do Consumer Price Index, disponível em
www.bls.gov; taxa de aumento nas compras
de roupas, do U.S. Census Bureau, Current
Industry Reports 1997, Summary
(Washington, DC); 48 novos artigos por ano
baseados em idem, Current Industry Reports,
Apparel, 2001, Tabelas 1 e 5; doações, de
Christina Bergali, Media Relations
Department, Goodwill International, discussão
com Juliet Schor, fevereiro de 2002; brinquedos
da China e salários e condições de trabalho
em suas fábricas de brinquedo, do National
Labor Committee, Toys of Mistery (Nova York:
2002), com 60% e 69 brinquedos sendo
cálculos de Schor; outros dados de preço são
calculados do Consumer Price Index, em
www.bls.gov; Banco Mundial e Fundo
Monetário Internacional, de Joseph E. Stiglitz,
Globalization and Its Discontents (Nova York:
W.W. Norton & Company, 2002).
73. Mudança repentina versus gradativa, de
Schor, op. cit, nota 67, pp. 169-71.
74. Hawken, Lovins e Lovins, op. , nota 25,
p. 10.
Telefones Celulares
1.
International Telecommunication
Union (ITU), World Telecommunication
Development Report (Genebra: 2002), p. 13;
idem, “Cellular Subscribers”, 24/04/03, na
Home Page da Free Statistics, em www.itu.int/
ITU-D/ict/statistics, visitada em 23/06/03.
2.
“The Fight for Digital Dominance”, The
Economist, 23 de novembro de 2002; ITU,
World Telecommunication Development
Report, op. cit., nota 1, p. 10; Michael
Bociurkiw, “Revolution by Phone: Text
Messaging Thrives in the Philippines”,
Forbes, 10/09/01; Nick Wachira, “Wireless in
Kenya Takes a Village”, Wired News, 2/01/03;
ITU, “Cellular Subscribers”, op. cit., nota 1.
3.
Organização Mundial de Saúde,
Electromagnetic Fields and Public Health:
Mobile Telephones and Their Base Stations”,
fact sheet (Genebra: junho de 2000); George
Carlo e Martin Schram, Cell Phones:
Invisible Hazards in the Wireless Age (Nova
York: Carroll and Graf Publishers, 2001), pp.
250-55; Independent Expert Group on Mobile
Phones, Mobile Phones and Health (Oxon,
R.U.: National Radiological Protection Board,
2000); Gautam Malkani, “Mobile Phone
Safety Probed by 15 Studies”, Financial
Times, 26/01/02.
4.
Bette K. Fishbein, Waste in the Wireless
World: The Challenge of Cell Phones (Nova
York: INFORM, 2002), pp. 15-17; Charles W.
Schmidt, “E-Junk Explosion”, Environmental
Health Perspectives, abril de 2002; tamanho
do mercado, da ITU, “Cellular Subscribers”,
op. cit., nota 1; outros números, de Fishbein,
op. cit., esta nota, p. l.
5.
Vide, por exemplo, Collective Good
International, em www.collectivegood. com, e
Wireless Foundation’s Call to program, em
267
Estado do Mundo 2004
NOTAS, TELEFONES CELULARES E CAPÍTULO 6
www.wirelessfoundation. org, visitado em 19/
09/03; ReCellular, em www.recellular.net,
visitado em 19/09/03.
6.
Bette Fishbein, INFORM, Nova York,
discussão com a autora, 15/10/03.
7.
Fishbein, op. cit., nota 4, pp. 58-59; Ken
Belson, “Mining Cellphones, Japan Finds El
Dorado”, New York Times, 28/02/02.
8.
Fishbein, op. cit., nota 4, pp. 57-58; Blue
Angel, em www.blauer-engel.de/englisch/
navigation/body_blauer_enged.htm, visitado
em 6/08/03.
9.
“European Electroscrap Laws Enter into
Force, “Environmental News Service, 17/02/
03; R.U. Environment Agency, “NetRegs:
Waste Electrical and Electronic Equipment
(WEEE) Directive”, em environmentagency.gov.uk, visitado em 20/09/03; Comissão
Européia, “Commission Tackles Growing
Problem of Electrical and Electronic Waste”,
press release (Bruxelas: 13/06/00); R.U.
Environment Agency, “NetRegs: The
Restriction of Hazardous Substances in
Electronical and Electronic Equipment (RoHS)
Directive”, em environment-agency.gov.uk,
visitado em 20/09/03; Jeff Chappell, “Recycling
Europa”, Electronic News, 18/03/02, pp. 1-2.
10. Nokia, “Environmental Report of Nokia
Corporation 2002”, em www.nokia.com,
visitado em 23/09/03.
11. Ted Smith e Chad Raphael, “High Tech
Goes Green”, YES! A Journal of Positive
Futures, spring 2003, pp. 28-30; Alice P.
Jacobson, “Deleting E-Waste”, Waste Age, 1
June 2003, p. 6; Lynn Schenkman, “Nova York
Law Will Require Cell Phone Dealers to
Recycle Their Products”, Waste Age, 9/07/03,
Beverly Burmeier, “Happy Endings for CastOFF PCs, Christian Science Monitor, 21/04/
03, p. 20; listagem de iniciativas estaduais, de
268
Silicon Valley Toxics Coalition, em
www.svtc.org, visitado em 20/09/03.
12. Fishbein, op. cit., nota 6; Timo
Poropoudas, “Mobile Giants Sign Up in
Recycling Initiative”, em Mobile
CommerceNet, 14/12/02, em www.
mobile.commerce.net, visitado em 15/10003;
Jim Puckett e Ted Smith, eds., Exporting Harm:
The High-Tech Trashing of Asia (Seattle, WA,
e San Jose, CA: Basel Action Network e
Silicom Valley Toxics Coalition, com Toxics
Link India, Greenpeace China e SCOPE,
fevereiro de 2002).
Capítulo 6. Comprando para as
Pessoas e o Planeta
1.
Connecticut
Energy
Co-op,
“Connecticut College is Ist College to Buy
Green Power from the Co-op”, press release
(Hartford, CT: 11/05/01); Connecticut College,
“Connecticut College Sets National ‘Green
Energy’ Record; Purchases Wind Energy
Certificates for 22 Percent of Electricity Use”,
press release (New Londres, CT: 27 /01/03).
2.
Faz-se, às vezes, distinção entre compras
(de produtos e materiais para uso operacional)
e aquisições (peças e materiais como insumos
para produtos manufaturados). Neste
capítulo, entretanto, os termos são utilizados
de forma intercambiável. Michael Scholand,
“Compact Fluorescents Set Record”, em
Worldwatch Institute, Vital Signs 2002 (Nova
York: W.W. Norton & Company, 2002), pp. 4647; Janet Sawin, “Traçando um Novo Futuro
Energético”, em Worldwatch Institute, Estado
do Mundo 2003 (Salvador: UMA Editora,
2003), pp. 97-124; Minou Yussefi e Helga, eds.,
The World of Organic Agriculture 2002 –
Statistics and Future Prospects (YholeyTheley, Germany: International Federation of
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6
Organic Agriculture Movements, 2003), p. 24;
U.S. Department of Energy, Office of
Transportation Technologies, “Hybrid
Electric Vehicles in the United States”, Fact of
the Week #230, 19/08/02, em www.ott.doe.gov/
facts/archives/fotw 230.shtml.
3.
As estimativas são conservadoras,
conf. Natural Marketing, “Understanding the
LOHAS Market Report: LOHAS Market Size”,
em www.naturalbusiness.com/ market.html,
visitado em 12/12/02; dados do produto
interno bruto (PIB), de David Malin Roodman,
“Economic Growth Falters,” in Worldwatch
Institute, Vital Signs 2002, op. cit., nota 2,
pp. 58-59.
4.
Christoph Erdmenger at al., The World
Buys Green (Freiburg, Germany: International
Council for Local Environmental Initiatives
(ICLEI), 2001), p. 13; Dunquerque from ICLEI,
Green Purchasing Good Practice Guide
(Freiburg, Germany: 2000), p. 21; Gerard
Gleason, diretor associado, Conservatree, São
Francisco, discussão com Clayton Adams,
Worldwatch Institute, 7/04/03.
5.
Sawin, op. cit., nota 2.
6.
Alan Durning, How Much Is Enough?
(Nova York: W.W. Norton & Company, 1992).
7.
Até três quartos destes gastos destinamse a compras de bens de consumo e serviços,
enquanto o restante destina-se a bens de capital
e investimentos. Figura 6-1 baseada em preços
de 1991 e paridades de poder aquisitivo, da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Greener Public
Purchasing: Issues e Practical Solutions (Paris:
2000), p. 36; Commission of the European
Communities, Commission Interpretative
Communication on the Community Law
Applicable to Public Procurement and the
Possibilities for Integrating Environmental
Considerations Into Public Procurement
(Bruxelas: 4/07/01), p. 5; estimativa de 18%
baseia-se num PIB continental combinado de
US$ 11,7 trilhões, conf. Chantal Line Carpentier,
Comissão Norte-Americana para Cooperação
Ambiental, apresentação na Conferência
Americana de compras Verdes, Filadélfia, PA,
22-24/04/02; governo dos Estados Unidos, de
Scot Case, diretor de Estratégias de Aquisições,
Center for a New American Dream, e-mail à
autora, 11/04/03.
8.
K. Green, B. Morton e S. New,
Consumption, Environment, and the Social
Sciences,citado em Adam C. Faruk et al.,
“Analyzing, Mapping, and Managing
Environmental Impacts Along Supply
Chains”, Journal of Industrial Ecology,
primavera de 2001, p. 15.
9.
Cifra de US$ 250 bilhões inclui o
montante gasto em livros e artigos escolares.
Kevin Lyons, Rutgers University (instrutor),
“Driving Sustainable Markets ‘Teach-In’”,
curso on-line patrocinado pela National
Wildlife Federation’s Campus Ecology
Program e a National Association of
Educational Buyers, 2002; 3% do
Departamento de Comércio dos Estados
Unidos, Bureau of Economic Analysis,
“Current Dollar and ‘Real’ Dollar Gross
Domestic Product”, em www.bea.doc. gov/
bea/dn/gdolev.xls, visitado em 7/05/03; 18
economias, do Banco Mundial, World
Development Indicators 2001 (Washington,
DC: 11/04/01); Gary Gardner, Invoking the
Spirit: Religion and Spirituality in the Quest
for a Sustainable World, Worldwatch Paper
104 (Washington, DC: Worldwatch Institute,
dezembro de 2002); Serviços Interagências de
Aquisições das Nações Unidas (IAPSO),
Annual Statistical Report 2000 (Nova York:
julho de 2001).
269
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6
10. Case, op. cit., nota 7.
11. Em algumas compras, concorrências
públicas não são possíveis porque há apenas
um fornecedor tecnicamente qualificado para
o serviço, como no caso de muitos contratos
aeroespaciais e de defesa. Quadro 6-1 dos
seguintes: Kevin Lyons, Buying for the
Future: Contract Management and the
Environmental Challenge (Londres: Pluto
Oress, 2000); Agência de Proteção Ambiental
dos Estados Unidos (EPA), The City of Santa
Monica’s Environmental Purchasing: A Case
Study (Washington, DC: março de 1998), p. 7;
White House Task Force on Recycling,
Greening the Government: A Report to the
President on Federal Leadership and
Progress (Washington, DC: 22/04/00), p. 25;
Suíça, da OCDE, op. cit., nota 7, p. 67; AnneFrancoise Gailly, “Green Procurement and the
Belgian Presidency”, Ecoprocura (ICLEI),
setembro de 2001, p. 9.
12. TerraChoice Environmental Services,
Inc., Products and Services: The Climate
Change Connection (Ottawa: março de 2002);
U.S. Office of the Federal Environmental
Executive, “Web Based Paper Calculator”, em
www.ofee.gob/recycled/calculat.htm;
Environmental Defense, “Catalog Companies
Are Selling Nature Short This Holiday
Season”, press release (Nova York: 13 de
novembro de 2002).
13. Janitorial Products Pollution Prevention
Project, “What Injuries Happen to Your
Janitors?” em www.westp2net.org/ Janitorial/
jp4.htm, visitado em 20/02/03.
14. Lâmpadas fluorescentes compactas, de
TerraChoice Environmental Service, Inc., op.
cit., nota 12, p. 20; limpadores, de Alicia Culver
et al., Cleaning for Health: Products and
Practices for a Safer Indoor Environment
(Nova York: INFORM, Inc., 2002).
270
15. Tabela 6-1 dos seguintes: Bank of
America, Environmental Commitment 2001
Activity Highlights, em www. bankfamerica.
com/environment/index.cfmvisitado em 29/04/
03; Boeing, “EPA Names Boeing Partner of The
Year”, press release (St. Louis, MO: 14/04/99);
16.000 residências, de “Sustainability and Green
procurement”, Pollution Prevention Northwest,
Pacific Northwest Pollution Prevention
Resource Center, fall 1999, em www.pprc.org/
pprc/pubs/newslets/news1199.html; Canon,
Canon Environmental Report 2002, em
www.canon.com/ environment/eco2002e/
p22.html, visitado em 8/04/03; Federal Express,
“FedEx and the Environment”, em www.fedex.
com/us/about/news/ontherecord/
environment.html, visitado em 29/04/03;
Hewlett-Packard, “Supply Chain Social
and Environmental Responsibility”, em
www.hp.com/hpinfo/globalcitizenship/
environment/supplychain/index.html, visitado
em 29/04/03; IKEA International A/S, IKEA:
Environmental and Social Issues 2001 (Delft,
Netherlands: novembro de 2001), p. 13; John
Zurcher, IKEA U.S., discussão com Clayton
Adams, Worldwatch Institute, 8/04/03;
McDonald’s de EPA, Private Sector:
How Companies Are Incorporating
Environmentally Preferable Purchasing
(Washington, DC: junho de 1999 (pp. 20-22 e
de “McDonald’s Approves Earthshell
Container for Big Mac”, Environment News
Service, 2/04/01; William Hall, “Migros
Commits to Buying Green Palm Oil”, Financial
Times, 24/01/2002; Riu Hotels from International
Hotels Environment Initiative, “Case Studies”,
em www.ihei.org/HOTELIER/hotelier. nsf/
content/clb2.html, visitado em 9/5/03;
Staples, Inc., “How Staples Recycles”, em
www.staples.com/products/centers/recycle/
hsr.asp, visitado em 16/04/03; Staples, Inc.,
“Staples Environmental Paper Procurement
Policy” (Framingham, MA: November 2002);
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6
Staples, Inc., “Staples Joins Green Power
Market Development Group”, press release
(Framingham, MA: 13/03/03); Starbucks,
“Coffee, Tea, & Paper Sourcing”, em
www.starbucks.com/ aboutus/sourcing.asp,
visitado em 29/04/03; Toyota, “Procurement/
Production/Logistics”, em www.toyota. co.jp/
Irweb/corp_info/eco/pro.htmm, visitado em 14/
04/03. Stephan Schmidheiny com o Business
Council for Sustainable Development,
Changing Course (Cambridge, MA: The MIT
Press, 1992), pp. 9-10; L’Oreal from Amanda
Griscom, “In Good Company”, Grist Magazine,
31/07/02; Anheuser-Busch e IBM de EPA, op.
cit., esta nota, p. 22.
16. Craig R. Carter e Marianne M.
Jennings, Purchasing’s Contribution to the
Socially Responsible Management of the
Supply Chain (Tempe, AZ: CAPS Research,
2000), p. 11.
17. Steven A. Melnyk et al., ISO 14000:
Assessing Its Impact on Corporate
Effectiveness and Effectiveness and Efficiency
(Tempe, AZ: CAPS Research, 1999), p. 20; Heidi
McCloskey,Nike Apparel, discussão com Brian
Halweil, Worldwatch Institute, 18/02/03; 3% de
Nike, Inc., “Team Players”, em www.nike. com/
nikebiz/nikebiz. visitado em 28/02/03.
18. Nike, Inc., op. cit., nota 17; Recycled
Paper Coalition, “About Us”, em
www.papercoalition.org/aboutus.html,
visitado em 11/03/03.
19. Jeffrey Hollender, “Changing the Nature
of Commerce”, em Juliet B. Schor e Betsy
Taylor, eds. Sustainable Planet: Solutions for
the Twenty-first Century (Boston: Beacon
Press, 2002), p. 76.
20. Vide, por exemplo, Nações Unidas,
Agenda 21 (Nova York: abril de 1993), p. 33;
Conselho da OCDEl, “Recommendation of
the Council on Improving the Environmental
Performance of Government” (Paris: 1996);
ICLEI, “Lyon Declaration: Enhancing the
Framework, Enforcing the Action for Greening
Government Operations”, texto adotado na
Conferência EcoProcura de Lyon, França, 1718/10/2000; Nações Unidas, Report of the
World Summit on Sustainable Development
(Nova York: 2002), p. 21; OCDE, op. cit., nota
7, pp. 19 e 20.
21. Tabela 6-2 dos seguintes: OCDE, op. cit.,
nota 7, pp. 50-60; ICLEI, op. cit., nota 4;
Erdmenger et al., op. cit., nota 4; Christoph
Erdmenger, “Sustainable Purchasing – A
Concept Emerging from the Local Level”,
International Aid & Trade Review,
Conference & Exhibition 2002 Special Edition,
19-20/06/02, pp. 124-25; Diretoria Comercial da
OCDE, Trade Issues in the Greening of Public
Purchasing (Paris: 16/03/99), pp. 4-5, 28;
Canadá de Natural Resources Canada,
Government of Canada Action Plan 2000 on
Climate Change, em www.climate
change.gc.ca/english/whats_new_pdf/
gofcdaplan_eng2.pdf, e do Departamento da
Justiça, Alternative Fuels Act 1995, em
laws.justice.gc.ca/en/A-10.7/text.html;
Alemanha, de www.beschaffung-info.de;
Center for a New American Dream,
“Environmental Purchasing Factoids”, em
w w w. n e w d r e a m . o r g / p r o c u r e /
factoids.htmlvisitado em 03/03/03; Hiroyuki
Sato, Green Purchasing in Japan: Progress,
Current Status, and Future Prospects
(Tóquio: Green Purchasing Network, 2003);
Scot Case, “Moving Beyond ‘Buy Recycled,’”
ECOS, primavera de 2001, p. 1; U.S. General
Accounting Office (GAO), Federal
Procurement: Better Guidance and
Monitoring Needed to Assess Purchases of
Environmentally Friendly Products
(Washington, DC: junho de 2001), p. 4;
271
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6
Christoph Erdmenger, diretor do Programa
Europeu de Ecoaquisições e Economia
Ecoeficiente, ICLEI, “Overview and Recent
Developments of Sustainable Procurement”,
apresentação na Conferência de Ajuda e
Comércio Internacional sobre Comércio e
Desenvolvimento: Capacitação de Mercados
Sustentáveis, Nova York, 19-20/06/02.
22. Erdmenger, “Overview and Recent
Developments of Sustainable Procurement”,
op. cit., nota 21; “The Hannover Call of
European Municipal Leaders at the Turn of
the 21 st Century”, em www.iclei.org/
ecoprocura/info/Hann_ call.pdf, visitado em
24/03/04; Bente Moller Jensen e Anders
Schmidt, Green Purchasing Status Report:
Municipality of Kolding (Freiburg, Alemanha:
ICLEI, fevereiro de 2002).
23. Dean Kubani, City of Santa Monica, CA,
discussão com Clayton Adams, Worldwatch
Institute, 11/04/03; Mike Liles, Minnesota
Office of Environmental Assistance, e-mail a
Clayton Adams, Worldwatch Institute, 9/04/03;
EPA, State and Local Government Pioneers
(Washington, DC: novembro de 2000).
24. Taiwan, de Public Construction
Commission Executive Yuan, “Article 96”,
Government Procurement Law, em
w w w. p c c . g o v. t w / c 2 / c 2 b / c 2 b _ 3 /
2_b_3_10.htm, visitado em 9/05/03; Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) e Consumers International,
Tr a c k i n g P ro g re s s I m p l e m e n t i n g
Sustainable Consumption Policies (Nairobi:
maio de 2002), p. 26, 54-55; UNEP, “DRAFT
Mapping of Major Procurement Initiatives
Worldwide”, documento elaborado para
Grupo Interagência sobre Aquisições
Sustentáveis (Paris: 2003); Tailândia, de
Burton Hamner, Hamner and Associates LLC,
e-mail para o autor, 3/02/03.
272
25. ICLEI de Erdmenger et al., op. cit., nota
4, p. 13; Força-Tarefa da Casa Branca para
Reciclagem, op. cit., nota 11, p. 25; Jim
Motavalli e Josh Harkinson, “Buying Green”,
E Magazine, setembro/outubro 2002, p. 29.
26. O desafio, entretanto, é assegurar que
os consumidores ativem as características
poupadoras de energia logo que adquiram este
equipamento. Luke Brander e Xander
Olsthoorn, Three Scenarios for Green Public
Procurement (Amsterdam: Vrije Universiteit
Institute for Environmental Studies, dezembro
de 2002), p. 16; mais de 1 milhão, de Erdmenger
et al., op. cit., nota 4, p. 59; 7% de Scot Case,
diretor de Estratégias de Aquisições, Center
for a News American Dream, Takoma Park,
MD, discussão com a autora, 2/12/02; William
J. Clinton, Executive Order 12845: Requiring
Agencies to Purchase Energy Efficient
Computer Equipment (Washington, DC: 21/
04/93); Maria Vargas, Climate Protection
Partnerships Division, EPA, discussão com
Clayton Adams, Worldwatch Institute, 25/
04/03; Japão, de Erdmenger et al., op.cit.,
nota 4 p. 47.
27. Incentivos para veículos, vide Clean
Cities International Program, em www.ccities.
doe.gov; “Los Angeles Cathedral to Use Solar
Power”, Reuters, 19/08/02.
28. Comissão Européia, “Directive 2000/
53/EC of the European Parliament and of the
Council of 18 September 2000 on End-of-Life
Vehicles”, Official Journal of the European
Communities, 21/10/00; Chrysler Group, “The
Chrysler Group Demonstrates Its ‘CARE’ for
the Environment by Turning Garbage Into
Car Parts”, press release (Auburn Hills, MI:
20/03/02).
29. Dados dos Estados Unidos baseados
em pesquisa de 2.267 domicílios em
novembro de 2001, conf. LOHAS Consumer
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6
Research, “Nearly One-Third of Americans
Identified as Values-Based, Highly-Principled
Consumers, New Research Shows”, press
release (Broomfield, CO: 19/06/02); Deborah
Doane, Taking Flight: The Rapid Growth of
Ethical Consumerism, relatório para o Cooperate Bank (Londres: New Economics
Foundation, outubro de 2001), p. 2. Doane
ressalta que uma compra ética é definida
como uma decisão pessoal de compra,
alinhada com direitos humanos, bem-estar
animal ou o meio ambiente, e que dá aos
consumidores uma escolha entre um produto
e uma alternativa ética.
30. Vide Robin Broad, ed., Global
Backlash: Citizen Initiatives for a Just
World Economy (Lanham, MD: Rowman &
Littlefield, 2002); EPA, op. cit., nota 15, p. 7;
Environies International Ltd., The
Millennium Poll on Corporate Social
Responsibility: Executive Briefing (Toronto,
ON, Canadá: setembro de 1999).
31.
ICLEI, op. cit., nota 4, pp. 23-24.
32. Quadro 6-2 dos seguintes: Home Depot,
“The Journey to Sustainable Forestry”,
informations sheet (Atlanta, GA: January
2003); números de vendas, lojas, produtos e
certificações, de Dan Morse, “Home Depot Is
Expected to Deliver Report on Timber”, Wall
Street Journal, 2/01/03; 20%, de “Home Depot
Decision Cheered”, Environmental News
Network, 30/08/99; concorrentes, de Jim
Carlton, “Against the Grain: How Home Depot
and Activists Joined to Cut Logging Abuse”,
Wall Street Journal, 26/09/00; Jim Carlton,
“Home Builders Centex and Kaufman Agree
Not to Buy Endangered Wood”, Wall Street
Journal,31/03/00; corrida à certificação, de
Barrie McKenna, “U.S. Home Builders To Ban
Old-Growth Wood”, Globe and Mail, 31/03/
00; Michael Marx, ForestEthics, apresentação
na Conferência Norte-Americana de
Aquisições Verdes, Filadélfia, PA, 22-24/04/
02; crítica, de Rainforest Action Network,
“Rainforest Action Network Statement on
Home Depot’s Wood Purchasing Policy”,
press release (São Francisco: 2/01/03);
aumentos de preços, de June Preston, “Home
Depot Says It Aims to Save Ancient Forests”,
Environmental News Network, 30/08/99.
33. Alliance for Environmental Innovation,
em www.environmentaldefense.org/ alliance,
visitado em 12/05/03; Fundo Mundial para a
Natureza, “WWF Climate Change Programme:
Business Partners”, em www.panda.org/
about_wwf/what_we_ do/climate_change/
what_we_do/business_industry/
climate_savers.cfm, visitado em 7/03/03;
World Resources Institute, Green Power
Market Development Group, em www.
thegreenpowergroup.org.
34. Julia Schreiner Alves, Companhia
Estadual de Saneamento Básico e Tecnologia,
São Paulo, Brasil, e-mail à autora, 7/04/03.
35. N a t i o n a l P o l l u t i o n P r e v e n t i o n
Roundtable, Environmentally Preferable
Purchasing Discussion Group,
“Environmentally Preferable Purchasing,”
apresentação em PowerPoint, em www.
newdrean.org/procure/resources.html#ppt.
36. Problemas do mundo em desenvolvimento, de Asian Development Bank,
To Serve and To Preserve: Improving
Public Administration in a Competitive
World ((Manila: 2000), p. 334; Erdmenger,
“Sustainable Purchasing”, op. cit., nota
21, p. 124.
37. Comissão das Comunidades Européias,
op. cit., nota 7.
38. Em abril de 2003, algum progresso havia
sido conquistado nos esforços de inclur
especificações para fertilizantes “bio-
273
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6
baseados” no projeto de lei agrícola do
Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos. Tom Ferguson, Perdue AgriRecycle,
LLC, discussão com a autora, 22/04/02, e
discussão com Clayton Adams, Worldwatch
Institute, 2/04/03.
39. Luz Aída Martínez Meléndez, Programa
de Administracion Sustenable, Ministério do
Meio Ambiente e Recursos Naturais, México,
e-mail a Clayton Adams, Worldwatch
Institute, 7/04/03.
40. Gabinete do Prefeito, “City Selects
ComEd to Provide Clean Power, Leads Nation
in Building ‘Green Electricity Market”, press
release (Chicago, IL: 6/07/01); Missouri de
EPA, op. cit., nota 23, p. 13; custo de
propriedade, de Case, op. cit., nota 26.
41. Brander e Olsthoorn, op. cit., nota 26,
pp. 11-12; Peter Buhle et al., Stuttgart Green
Purchasing Status Report (Freiburg, Germany:
ICLEI, janeiro de 2002), pp. 45-46.
42. Desde então Santa Monica conseguiu
substituição em todas as 27 categorias, conf.
Kubani, op. cit., nota 23; EPA, op. cit., nota
11, pp. 1, 8; l,5 toneladas de EPA, op. cit., nota
23, p. 24; Hiroyuki Sato, Green Purchasing
Network, Tokyo, e-mail a Clayton Adams,
Worldwatch Institute, 21/04/03.
43. ICLEI, op. cit., nota 4, p. 42.
44. R.U. Department of the Environment,
Transport and the Regions, “Action To Halt
Illegal Timber Imports – Meacher”, press
release (Londres: 28/07/00); Greenpeace R.U.,
“Green-peace Catches Blair Trashing Ancient
Forests to Furnish the Cabinet Office”, press
release (Londres: 10/04/02); Comitê de
Auditoria Ambiental da Câmara dos Comuns,
“Buying Time for Forests: Timber Trade and
Public Procurement”, Sixth Report of Session
2001-02 (Londres: 24/07/02), p. 4.
274
45. “Executive Order 13101 – Greening the
Government Through Waste Prevention,
Recycling, and Federal Acquisition”, Federal
Register, 16/09/98; EPA Quantitative
Measurement of Environmentally Preferable
Purchasing (EPP) Among Federal
Employees in 2000 (Washington, DC:
fevereiro de 2001); GAO, op. cit., nota 21.
46. Julian Keniry, diretor do Programa de
Ecologia no Campus, National Wildlife
Federation, Washington, DC, discussão com
a autora, 28/03/02.
47. EPA, op. cit., nota 45; Voralburg de
ICLEI, op. cit., nota 4, p. 39; Marcia Deegler,
Operational Services Division, Commonwealth
of Massachusetts, e-mail a Clayton Adams,
Worldwatch Institute, 10/04/03.
48. GAO, op. cit., nota 21; problemas
d e descentralização, de Tapio Pento,
“Implementation of Public Green Procurement
Programmes”, in Trevor Russel. Ed., Greener
Purchasing Opportunities and Innovations
(Sheffield: Greenleaf Publishing, 1998), pp. 2330 e de OCDE, op. cit., nota 7, pp. 46, 82; Berny
Letreille, Environment Canada, discussão com
Clayton Adams, Worldwatch Institute, 14/04/
03; Tom Snyder, Arfonne National Laboratory,
U.S. Department of Energy, discussão com
Clayton Adams, Worldwatch Institute, 9/04/03.
49. Moller Jensen e Schmidt, op. cit., nota
22, p. 12; Holly Elwood, EPP Program, EPA,
Washington, DC, discussão com Clayton
Adams, Worldwatch Institute, 9/04/03;
Matthew DeLuca, Green Mountain Energy
Company, Burlington, VT, discussão com
Clayton Adams, Worldwatch Institute, 4/04/03.
50. Paul Brown, Steven Morris e John
Aglionby, “Rainforests Hit By Paper Trail to
R.U”. (Londres) Guardian, 26/06/01; EPA, op.
cit., nota 45, p. 8.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6
51. Jacqueline Ottman, Green Marketing:
Opportunity for Innovation (Nova York: NTCMcGraw-Hill, 1998); Recycled Paper Coalition,
“RPC Listening Study on Environmental
Printing and Office Papers”, em www.
papercoalition.org/ survey.html, visitado em
11/03/03; falta de normas, da Diretoria Comercial
da OCDE, op. cit., nota 21, p. 18; produtos
inovadores, de Environment Canada, Towards
Greener Government Procurement (Hull, QC,
Canada: atualizado em maio de 2000).
52. Rita Schenck, “Life Cycle Assessment:
the Environmental Performance Yardstick”,
Yardstick”, trabalho elaborado para Earthwise
Design, Conferência de Avaliação de
Realidades e Soluções de Ciclo de Vida para
Prédios Sustentáveis, Antioch University,
Seattle, WA, 19/01/02; Quadro 6-3 de Guido
Sonnemann, Divisão de Tecnologia, Indústria
e Economia, PNUMA, e-mail para a autora,
29/07/03; Volvo de EPA, op. cit., nota 15, p. 9;
U.S. Department of Commerce, National
Institute of Standards and Technology, Office
of Applied Economics, “BEES 3.0”, em
www.bfrl.nist.gov/oae/software/bees.html.
53. Center for a New American Dream et al.,
“A Common Vision for Transforming the Paper
Industry: Striving for Environmental and
Social Sustainability”, ratified at the
Environmental Paper Summit, Sonoma
C o u n t r y, C A , 2 0 / 11 / 0 2 , e m w w w.
conservatree.com/paper/choose/
commonvision.shtml, visitado em 11/03/03;
Office of the Federal Environmental Executive,
“Governments Agree on National Criteria for
‘Green’ Cleaning Products”, press release, em
www.ofee.gov/gp/greencleancriteria.htm,
visitado em 04/03/03.
54. Vide, por exemplo, Forest Stewardship
Council, “Forests Certified by FSC-Accredited
Certification Bodies”, em www.fscoax.org/
html/5-3-3.html, visitado em 06/01/03, e Greene, em www.green-e.org.
55. Michele Ferrari, “Ferrara, on Its Way
Toward Green Procurement”, Eco-Procura
(ICLEI), setembro 2001, p. 19; Pensilvânia, de
EPA, op. cit., nota 23, p. 17, e de Arthur
Weissman, Green Seal, Washington, DC,
discussão com Clayton Adams, Worldwatch
Institute, 1o/04/03; questões comerciais, da
Organização Mundial do Comércio,
“Government Procurement: The Plurilateral
Agreement”, em www.wto.org/english/
tratop_e/gproc_e/gp_gpa_e.htm, visitado em
22/04/03, e da Diretoria Comercial da OCDE,
op. cit., nota 21.
56. Montavalli e Harkinson, op. cit., nota
25, p. 29; Arthur Weissman, Green Seal,
Washington, DC, discussão com a autora,
08/04/03.
57. Case, op. cit., nota 7.
58. Foram propostos 11 produtos adicionais
para recomendação da EPA em 2001, mas ainda
não foram aprovados, inclusive produtos de
cimento e concreto, tapetes de nylon e forros
de carpetes, materiais de cobertura, móveis de
escritório, pneus e cavaletes de bicicleta; EPA,
Comprehensive Procurement Guidelines, em
www.epa.gov/cpg;ICLEI, op. cit., nota 4, p. 36.
59. ICLEI, “BIG-Net: Buy-It-Green
Network”, em www.iclei.org/europe/
ecoprocura/network/index.htm, visitado em 4/
04/03; ICLEI, “RELIEF-European Research
Project on Green Purchasing”, em www.
iclei.org/europe/ecoprocura/ relief/index.htm,
visitado em 4/04/03; ICLEI, “Eco-Procurement:
The Path to a Greener Marketplace” (Freiburg,
Alemanha: 2002).
60. EPA, Environmentally Preferable
Purchasing (EPP), em www.epa.gov/oppitintr/
epp/index.htm; White House, “Executive
275
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6 E PAPEL
Order #12873: Federal Acquisition, Recycling
and Waste Prevention”, press release
(Washington, DC: 20/10/93); EPA, EPP
Database, em www.epa.gov/oppt/epp/
database.htm, visitado em 19/02/03.
61. Center for a New American Dream, em
www.newdream.org; EPA, “Conference Helps
Further Green Purchasing”, EPP Update,
agosto de 2002, pp. 2.3.
62. Sato, op. cit., nota 21.
63. University Leaders for a Sustainable
Future, “ Programs (Talloires Declaration)”,
em www.ulsf.org/ programs_talloires.html,
visitado em 4/03/03; International Hotels
Environment Initiative, em www.ihei.
o r g ; B e n c h m a r k H o t e l , e m w w w.
benchmarkhotel.com.
64. Erdmenger et al., op. cit., nota 4, p. 33;
Green Purchasing Network, em eco.goo.ne.jp/
gpn/index.html, visitado em 9/04/03; King
Country Environmental Purchasing, em
www.metrokc.gov/ procure/green/index.htm.
65. Erdmenger, “Sustainable Purchasing”,
op. cit., nota 21, pp. 122-24.
66. Robert Goodland, Ecolabeling:
Opportunities for Progress Toward
Sustainability (Washington, DC: Consumer’s
Choice Council, abril de 2002), pp. 7-8; Miriam
Jordan, “From the Amazon to Your Armrest”,
Wall Street Journal, 1º de maio de 2001;
DaimlerChrysler, Environmental Report 2001
(Auburn Hills, MI: 30/07/01).
67. IAPSO, op. cit., nota 9, p. 5; UNICEF,
Supply Division Annual Report 2001 (Nova
York: 2002), p. 5; Goodland, op. cit., nota 66,
pp. 9-10.
68. Banco Mundial, “Putting Social and
‘Green’ Responsibility on the Corporate
Agenda World Bank Chief Says Corporate
276
Responsibility Is Key to Sustainable
Development – and Good Business”, press
release (Washington, DC: 21/06/01);
Dominique Brief, Environmentally and
Socially Responsible Procurement Initiative,
Banco Mundial, discussão com Clayton
Adams, Worldwatch Institute, 8/04/03;
Bernard Ross, “World Bank Structural
Adjustment and Investment Loans:
Approaches to Environmental Conditionality
in Procurement” (Washington, DC: maio de
2000); PNUMA, “Environmentally & Socially
Responsible Procurement”, em www.
sustainable procurement.net, visitado em 17/
03/03.ICLEI, op. cit., nota 4, p. 31; SWAP
(Surplus With a Purpose), em www.
bussvc.wisc.edu/swap.
Papel
1.
Sêxtuplo e 40%, de Janet N. Abramovitz
e Ashley T. Mattoon, Paper Cuts: Recovering
the Paper Landscape, Worldwatch Paper 149
(Washington, DC: Worldwatch Institute,
dezembro de 1999), pp, 33, 7; Japão, da
Organização das Nações Unidas pra Alimento
e Agricultura (FAO), FAOSTAT Statistical
Database, em apps.fao.org; cerca da metade,
do International Institute for Environment and
Development, Towards a Sustainable Paper
Cycle (Londres: 1996), p. 20.
2.
Paper Trading International, Inc., “The
History of Paper”, em www.papertrading. com/
prod01.htm, impressão em cânhamo, de
R e T h i n k P a p e r, “ H e m p ” , e m w w w.
rethinkpaper.org/content/hemp/cfm.
3.
Abramovitz e Mattoon, op. cit, nota 1,
p. 21.
4.
Estimativa de 30% da FAO, op. cit., nota
1; países em desenvolvimento, 54%, 30% e
16%, de Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota
Estado do Mundo 2004
NOTAS, PAPEL E CAPÍTULO 7
1, pp. 21-22; um quarto, de ForestEthics, “Nov.
12, 2002 – Office Supply Superstore Staples
Inc. Agrees to Historic Endangered Forest and
Recycling Policy”, press release (São
Francisco: 12/11/02).
5.
Consumo de energia, de Abramovitz e
Mattoon, op. cit., nota 1, pp. 26-27.
6.
California
Integrated
Waste
Management Board, “Why Use Recycled
Materials?” em www.ciwmb.ca.gov/RMDZ/
WhyUse. htm.
7.
Recycled Paper Coalition, “About Us”,
em www.papercoalition.org/aboutus.html.
8.
Alemanha, de World Resources
Institute et al., 1998-99 World Resources
(Nova York: Oxford University Press, 1998),
p. 164; “EU Parliament Passes Tough New
Recycling Law”, Recycling Today, 2/07/03.
Capítulo 7. Articulando
Globalização, Consumo e
Governança
1.
Visita de líderes indígenas ao
Worldwatch Institute; Kevin Koening,
Amazon Watch, discusssão com Zoe Chafe,
Worldwatch Institute, 17/07/03; hectares, de
Earthrights International, “Burlington: What
Part of NO Don’t You Understand?” press
release (Washington, DC: 14/05/03).
2.
Amazon Watch, “Indigenous Leaders
from Ecuador and Peru Present ‘Eviction
Notice’ to Burlington Resources of
Houston, Call on Oil Company to Leave
Amazonian Territories”, press release
(Houston, TX: 14/05/03).
3.
Agência de Proteção Ambiental dos
Estados Unidos, Light Duty Automotive
Technology and Fuel Economy Trends: 1975
Through 2003 (Washington, DC: setembro
de 2001), p. 32.
4.
Benjamin R. Barber, JIHAD vs. McWorld:
How Globalism and Tribalism are Reshaping
the World (New York: Times Books, 1995), p. 4.
5.
Propaganda de tabaco e áclool e
quiosques de Coca-Cola no mundo em
desenvolvimento, de observações da autora.
Tabela 7-1 dos seguintes: Hennes & Mauritz
de “The World of H&M” e “Short Facts”, em
www.hm.com, visitado em 23/09/03, com
faturamento convertido em dólares da coroa
sueca em 23/09/03; Levi Strauss de “About
LS&Co./Worldwide” e “2002 Annual Report/
Financial Highlights” em www. levistrauss.com,
p. 19, visitado em 04/09/03; Tata Group, de
“Business Sectors” and “International
Connections”, em www.tata.com, visitado em
23/09/03, com faturamento convertido em
dólares de rúpias em 23/09/03; Altria Group de
“Fact Book,” em www.altria.com/investors, e
de “Our Companies’ Global Presence,” em
www.altria.com/about_altria/, visitado em 23/
09/03; Siemens de “At a Glance”, em
w4.siemens.de/annualreport_2002/, e de
“About Us,” em www.siemens.com, visitado
em 24/09/03, com vendas líquidas convertidas
em dólares de euros em 24/09/03; Yum! Brands
de “Yum! Brands Annual Report 2002,” ek
www.yum.com, e de “Business Performance”,
em www.yrigfp.com, visitado em 27/08/03;
McDonald’s de “May 2003 Investor Fact
Sheet”, em www.mcdonalds.com/ corporate/
investor/, e de “The McDonald’s History”, em
www.mcdonalds.com/ corporate/info/history,
visitado em 24/09/03; Domino’s de “Pizza
Particulars”, em www.dominos.com, visitado
em 27/08/03; Coca-Cola, de “Coca-Cola Annual
Report 2002”, em www2.coca-cola.com/
ourcompany, e de “Coca-Cola Africa”, em
africa.coca-cola.com, visitado em 1o/09/03.
277
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7
6.
Figura 7-1 de David Malin Roodman,
“Trade Slows,” in Worldwatch Institute, Vital
Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton &
Company, 2002), p. 61, atualizado com dados do
Fundo Monetário Internacional, World
Economic Outlook (Washington, DC: 2003);
desdobramento setorial do Banco Mundial,
World Development Indicators 2003
(Washington, DC: 2003), deflacionado para
dólares de 2002, através do deflator implícito de
preços do PIB do Departamento de Comércio
dos Estados Unidos; investimentos externos
diretos de UNCTAD, Foreign Direct Investment,
banco de dados eletrônico, em stats.unctad.org/
fdi, visitado em 30/09/03; tendências de fusões
corporativas, de idem, World Investment Report
1998: Trends and Determinants (Nova York:
Nações Unidas, 1998), pp. xviii-xix, “Freer Trade
Cuts the Cost of Living,” em www.wto.org.
7.
Figura 7-2 da Organização das Nações
Unidas para Alimento e Agricultura (FAO),
FAOSTAT Statistical Database, em
apps.fao.org; dados de exportação de
produtos florestais, de ibid., deflacionados
para dólares de 2002 através do deflator
implícito de preços do PIB do Departamento
de Comércio dos Estados Unidos, extensão
florestal de idem, State of the World’s Forests
2003 (Roma: 2003), p. 1; dados de exportação
de peixes de idem, Fisheries Commodities
Production and Trade 1976-2000, banco de
dados eletrônico, em www.fao. rg/fi/statist/
fisoft/FISHPLUS.asp; dados de pesqueiros
sustentáveis, de idem, World Agriculture:
Towards 2015/2030 (Rome: 2003), p. 197.
8.
Mathis Wackernagel et al., Ecological
Footprint of Nations: November 2002
Update (Oakland, CA: Redefining Progress,
2002), p. 6; Figura 7-3 de ibid., pp. 9-11.
9.
Kenny Bruno, “Philly Waste Go Home”,
Multinational Monitor, fevereiro de 1998; lixo
278
eletrônico, de Basel Action Network and Silicon
Valley Toxics Coalition, Exporting Harm: The
High Tech Trashing of Asia (Seattle, WA, e
San Jose, CA: 2002), p. 15. Quadro 7-1 dos
seguintes: Wendell Berry, “Back to the Land,”
Amicus Journal, inverno de 1999, p. 37; Basel
Action Network e Silicon Valley Toxics
Coalition, op. cit. esta nota; Banana
Production, um filme de Scott Braman, Katie
Milligan, e Center for a New American Dream,
2002, disponível em www.newdream.org/
consumer/ bananas.html; exemplos de café e
dados de Oxfam International, Mugged:
poverty in Your Coffee Cup (Oxford: 2002).
10. Classe de consumidores globais, de
Matthew Bentley, Sustainable Consumption:
Ethics, National Indices and International
Relations (dissertação de doutorado,
American Graduate School of International
Relations and Diplomacy, Paris, 2003).
11. China, incluindo declaração do
Conselho de Cooperação Internacional para
o Meio Ambiente e Desenvolvimento, de
Matthew Bentley, “Forging New Paths to
Sustainable Development”, Background
Paper, Asia Pacific Expert Meeting on
Promoting Sustainable Consumption and
Production Patterns, Yogyakarta, Indonesia,
21-23/05/03, p. 4; salto, do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), “Nações Unidas Environment
Programme Opens China Office,” press release
(Nairobi: 19/09/03).
12. Jeffrey
Barber,
Production,
Consumption and the World Summit for
Sustainable Development (Rockville, MD:
Integrative Strategies Forum, 2003), pp. 2-4.
13. “Chapter 4: Changing Consumption
Patterns,” em Nações Unidas, Agenda 21,
disponível em www.un.org/esa/sustdev/
documents/agenda21; estilo de vida
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7
americano, de Mark Valentine, “Twelve Days
of UNCED”, Relatório de Acompanhamento
da Cúpula da Terra, U.S. Citizens Network
sobre a Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 2/07/
92, p. 5, e de Philip Shabecoff, A New Name
for Peace (Hanover, NH: University Press of
New England, 1996), p. 153.
14.
Barber, op. cit., nota 12.
15. Diretrizes da ONU sobre Proteção ao
Consumidor, disponível em www.uneptie. org/
pc/sustain/guidelines/htm; Consumers
International e PNUMA, Tracking Progress:
Implementing Sustainable Consumption
Policies (Nairobi e Londres: maio de 2002),
pp. 11, 19-20,
16. Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico, Grupo de
Trabalho sobre Políticas Ambientais
Nacionais, Policies to Promote Sustainable
Consumption: An Overview, Policy Case
Studies Series (Paris: julho de 2002).
17. PNUMA, “Promoting Sustainable
Consumption and Production Patterns,”
trabalho apresentado pelo diretor executivo,
XXII sessão do Conselho Diretor/Fórum
Ministerial Global do Meio Ambiente, Nairobi,
5-7/02/03, p. 4; idem, “New ‘Life-Cycle
Initiative’ Launched to Help Combat
Environmental Impact of Rising Consumption
Patterns,” press release (Nairobi: 29/04/02);
idem, “UNEP-DTIE and Sustainable
Procurement,” em www.uneptie.org/pc/
sustain/procurement/green-proc.htm;idem,
“Shopping for a Better World”, press release
(Nairobi: 2/06/03). Quadro 7-2 dos seguintes:
população jovem, de Nações Unidas, World
Population Prospects: The 2002 Revision
(Nova York: 2002); força de trabalho, de
International Labour Organization, “Facts on
Youth Employment”, fact sheet (Genebra:
21/08/02); resultados da pesquisa, de PNUMA,
Is the Future Yours? (Paris: 2001), pp.8, 10-11,
44-47; exemplos de ativismo juvenil, de
discussões de Isabella Marras com jovens,
com exemplos dos Estados Unidos de www.
sustainus.org/ giftguide.pdf. Para mais
informações sobre o Projeto do PNUMA, vide
w w w. u n e p t i e . o rg / p c / s u s t a i n / y o u t h /
youthxchange.htm.
18. Nações Unidas, Agreement for the
Implementation of the Provisions of the
Nações Unidas Convention of the Law of the
Sea of 10 December 1982 Relating to the
Conservation and Management of
Straddling Fish Stocks and Highly Migratory
Fish Stocks (Nova York: 1995), pp. 5-7;
Secretariat of the Convention on Biological
Diversity, Cartagena Protocol on Biosafety
to the Convention on Biological diversity:
Text and Annexes (Montreal: 2000), pp. 6-17;
Nações Unidas, Stockholm Convention on
Persistant Organic Pollutants (Stockholm:
2001), pp. 3-8; Stockholm Convention
o n P e r s i s t a n t O r g a n i c P o l l u t a n t s,
“Implementation”, em www.pops.int/
documents/implementation; Nações Unidas,
Kyoto Protocol to the United Nations
Framework Convention on Climate Change
(Kyoto, Japão: 1997), pp. 3-6, 19; ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre Mudança
Climática, Caring for Climate (Bonn,
Alemanha, 2003), p. 25.
19. Convenção das Nações Unidas sobre
Direito do Mar, “Status of the United Nations
Convention on the Law of the Sea, of the
Agreement Relating to the Implementation of
Part XI of the Convention and of the
Agreement for the implementation of the
provisions of the Convention Relating to the
Conservation and Management of Straddling
Fish Stocks and Highly Migratory Fish
Stocks”, em www.un.org/Depts/los/
279
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7
reference_files/status2003.pdf, modificado em
19/08/03; PNUMA/Convenção sobre
Diversidade Biológica, “Cartagena Protocol
on Biosafety Takes Effect”, press release
(Nairobi: 9/09/03); Convenção de Estocolmo
sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, “List
of Signatories and Parties to the Stockholm
Convention”, em www.pops.int/documents/
signature/signstatus.htm, visitado em 14/10/
03; Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança Climática, “Status of
Ratification”, em unfccc.int/resource/ conv/
ratlist.pdf, modificado em 17/02/03.
20. Rory Van Loo, “Coming to the Grocery
Shelf: Fair-trade Food,” Christian Science
Monitor, 29/09/03; Forest Stewardship
Council (FSC), “Forests Certified by FSC
Accredited Certification Bodies”, atualizado
em 6/10/03; dados históricos de World
Resources Institute, Earthtrends, database,
compilação de dados do Forest Stewardship
Council, 1998-2002; parcela de florestas
certificadas, baseada em FSC, op. cit., esta
nota, e em FAO, Global Forest Resources
Assessment 2000: Mai Report, Forestry Paper
nº 140 (Roma: 2001), p. 390.
21. Caroline
Woffenden,
Marine
Stewardship Council (MSC), e-mail a Zoe
Chafe, 10/10/03; Fish 4 Thought (MSC
newsletter), Abril 2003; produtos certificados,
de MSC, “Sustainable Seafood at Anuga
Exhibition”, press release (Londres: 9/10/03).
22. U.N. Global Compact de “The Nine
Principles”, em www.unglobalcompact.org,
and from “Global Compact Participants by
Country”, em www.unglobalcompact.org/
content/Companies/list_pc_040903.pdf,
atualizado em 02/09/03; “Standard Chartered
Adopts the Equator Principles”, press release
(Londres: 8/10/03); número de países, de Lynn
Swarz, Equator Principles Secretariat, e-mail a
Zoe Chafe, 14/10/03.
280
23. Quadro 7-3 e outras informações, de
Nações Unidas, Plan of Implementation of
the World Summit on Sustainable
Development (Nova York: 2003), pp. 7-14.
24. Ibid., pp. 18-19; U.N. Commission on
Sustainable Development, “Marrakech
Meeting Takes Forward Johannesburg
Summit Commitments to Sustainable
Production and Consumption”, press release
(Nova York: 12/06/03).
25. Divisão das Nações Unidas para
Desenvolvimento Sustentável, “Consolidated
List of Partnerships for Sustainable
Development as of 3 June 2003”, em
www.un.org/esa/sustdev/ partnerships/
partnerships.htm, visitado em 14/10/03;
“Bicycle Refurbishing Initiative”, de
www.velomondial.net e de Pascal J. W. van den
Noort, Velo Mondial, e-mails a Zoe Chafe,
Worldwatch Institute, 5/09 e 6/10/03; Rotulagem
Colaborativa e Programa de Normas para
Eletrodomésticos, de www.clasponline. org.
Tabela 7-2 dos seguintes, com todos os e-mails
para Zoe Chafe, Worldwatch Institute, nas datas
mencionadas: Divisão das Nações Unidas para
o Desenvolvimento Sustentável, op. cit., esta
nota; Arab Civil Union for Waste Management
em www.keps74.com (texto em árabe);
Awareness Raising and Training on Sustainable
Consumption and Production atualização de
Bas de Leeuw, PNUMA, e-mail 2/09/03;
Iniciativa de Sustentabilidade do Cimento em
www.holcim.com e em www. wbcsdcement.org;
Introdução a Normas Sociais na Produção, em
www.bmz.de/en; Venda de Produtos
Responsáveis, atualização de Vincent
Commenne, Reseau de Consommateurs
Responsables Asbl, e-mails de 14/08/03 e
6/10/03; Diálogo com Jovens sobre Consumo,
de www.yomag.net e www.youthxchange.net
e de Elke Salzmann, Federação das Organizações de Consumidores da Alemanha, e-mail
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7
de 26/10/03; Certificação do Turismo
Sustentável em www.turismo-sostenible.co.cr.
26. Fracasso de Cancun, do International
Centre for Trade and Sustainable
Development (ICTSD), “Where There’s No
Will, There’s No Way”, Bridges Daily Update,
Fifth World Trade Organization (WTO)
Ministerial Conference, 15/09/03, e da National
Wildlife Federation, “U.S. Administration’s
Weak Showing at WTO Reflects Neglect of
Sustainable Development”, press release
(Washington, DC: 14/098/03).
27. Para antecedentes do banco de dados,
vide Duncan Brack, ed., Trade and
Environment: Conflict or Compatability?
(Londres: Earthscan, 1998), pp. 78-79; sobre
preocupações dos ambientalistas, vide Lori
Wallach e Michelle Sforza, Whose Trade
Organization? (Washington, DC: Public
Citizen, 1999).
28. Disposições da OIT, de Jeffery S.
Thomas and Michael A. Meyer, The New
Rules of Global Trade: A Guide to the World
Trade Organization (Scarborough, ON,
Canada: Carswell Thomson Professional
Publishing, 1997), pp. 88-91, 185-96, e de
Wallach e Sforza, op. cit., nota 27, pp. 53-79;
evolução do raciocíno jurídico, de Howard
Mann e Stephen Porter, The State of Trade
and Environmental Law 2003: Implications
for Doha and Beyond (Winnipeg, MN,
Canadá: International Institute for Sustainable
Development, 2003), pp. v-vi. Tabela 7-3 dos
seguintes: hormônio da carne bovina, de
ICTSD, “Dispute Settlement Update”, Bridges
Weekly Trade News Digest, 26 February 2002,
e da Comissão Européia, “EU Complies with
WTO Ruling on Hormone Beef and Calls on
USA and Canada to Lift Trade Sanctions”,
press release (Bruxelas: 15/10/03); atumgolfinho, de OIT, “Mexico etc Versus U.S.:
“Tuna Dolphin”, em www.wto.org/english/
tratop_e/envir_e/edis04_e.htm; camarãotartaruga, de idem, “India etc Versus U.S.:
‘Shrimp-Turtle’”, em www,wto.org/ English/
tratop_e/envir_e/edis08_e.htm; peixe-espada
de Mark Mulligan, “Chile at Loggerheads with
EU over Swordfishing”, Financial Times, 21/
07/00, e de ICTSD, “Dispute Settlement
Update”, Bridges Weekly Trade News Digest,
30/01/01; amianto, de Laurie Kazan-Allen, “A
Breath of Fresh Air”, Multinational Monitor,
setembro de 2000, pp. 17-19, e de OIT,
“European Communities – Measures
Affecting Asbestos and AsbestosContaining Products: Report of the Appellate
Body”, Genebra, 12/03/01; organismos
geneticamente modificados, de ICTSD,
“WTO Committees Scrutinize GMO
Regulations and EU Wine Labeling”, Bridges
Weekly Trade News Digest, 2/07/02, de “EU
‘Regrets’ U.S. Action on GM Crops”, BBC
News, 8/08/03, e de ICTSD, “Coalition Seeks
WTO Dismissal of GMO Dispute”, Bridges
Weekly Trade News Digest, 25/09/03.
29. Para os antecedentes históricos do caso
do hormônio da carne bovina, vide U.S. Office
of Technology Assessment, Trade and
Environment: Conflicts and Opportunities
(Washington, DC: U. S. Government Printing
Office, maio de 1992).
30. Paul Jacobs, “U.S., Europe Lock Horns
in Beef Hormone Debate”, Los Angeles Times,
9/04/99; OIT, “EC Measures Concerning Meat
and Meat Products (Hormones)”, Relatório do
Órgão de Apelação, Genebra, 16/01/98;
princípio da precaução, da Declaração do Rio
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
disponível em www.un.org/documents/ga/
conf151/aconf15126-1annex1.htm; “ U.S.
Imposes Sanctions in Beef Fight”, New York
Times, 19/07/99; sanções, da Comissão
Européia, op. cit., nota 28.
281
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7 E CAMISETAS DE ALGODÃO
31. U. S. Trade Representative (USTR), “U.S.
and Cooperating Countries File WTO Case
Against EU Moratorium on Biotech Foods and
Crops”, press release (Washington, DC: 14/05/
03); Lizette Alvarez, “Europe Acts to Require
Labeling of Genetically Altered Food”, New
York Times, 3/07/03.
32. Perspectiva do Governo dos EUA, de
USTR, op. cit., nota 31; Visões européias e do
consumidor, de Neil King, Jr., “U.S., EU Battle
Rages Over Modified Crops”, Wall Street
Journal Online, 15/07/03, e de “EU Moves to
Ease Transatlantic Row over Biotech Foods”,
Agence France-Presse, 2/07/03, dados de
pesquisa nos EUA, de Gary Langer, “Behind
the Label: Many Skeptical of Bio-Engineered
Food”, ABC News, 19/06/03:dados europeus,
de George Gaskell, Nick Allum e Sally Stares,
“Europeans and Biotechnology in 2002:
Eurobarometer 58.0”, relatório para a Diretoria
Geral da Comissão Européia para Pesquisa
(Londres: Methodology Institute, Londres
School of Economics, março de 2003).
33. Fred Pearce, “GMO Import Ban Caught
in Crossfire”, New Scientist, 10 September
2003; Lissa Harris, “Better Biosafe than Sorry”,
Grist Magazine, 11/09/03; ICTSD, “Coalition
Seeks WTO Dismissal”, op. cit. nota 28; 181
organizações e 48 países, de www.biteback.org/index.htm, visitado em 17/10/03.
34. Declaração do Presidente da MesaRedonda de Alto Nível sobre Comércio e Meio
Ambiente, Cozumel, México, 9/09/03;
preferências por “bens de consumo verdes”
de Scott Vaughan, Trade Preferences and
Environmental Goods, Trade, Equity, and
Development Series, Issue no. 5 (Washington,
DC: Carnegie Endowment for International
Peace, fevereiro de 2003).
35. Doha WTO Ministerial 2001, Ministerial
Declaration, adotada em 14/11/01.
282
36. Ibid.; Brian Halweil, “Why No One Wins
in the Global Food Fight”, Washington Post,
21/09/03; American Lands Alliance et al.,
Collective Comments re: Doha Ministerial
Declaration (Washington, DC: 25 de outubro
de 2002), pp. 4-5, 13.
37. “Cancun Trade Summit to Sideline
Green Issues”, Environmental News Service,
5/09/03; Elizabeth Becker, “Poorer Countries
Pull Out of Talks Over World Trade”, New
York Times, 15/09/03; Oxfam International,
“Time for the WTO to Get Back on Track”,
press release (Oxford, R.U.: 17/10/03); Walden
Bello, “There is Life After Cancun”, Bangkok
Post, 21/09/03.
Camisetas de Algodão
1.
Scott Fresener et al., The T-Shirt Book
(Layton, UT; Gibbs Smith Publisher, 1995);
Nancy Clark, “A Brief History of the T-shirt”,
Wearables Business, 1/05/98.
2.
Fibra campeã de vendas, de Cotton Board,
“Cotton’s Rise Through the Years”, em
www.cottonboard.org; produção de, Organização das Nações Unidas para Alimento e
Agricultura (FAO), “Cotton Commodity Notes”,
junho de 2003, em www.fao.org/es/ESC/en/
20953/22215/index.html, e de idem, FAOSTAT
Statistics Database, em apps.fao.org, atualizado
em 10/06/03; pesticidas de Pesticide Action
Network North America (PANNA), “Problems
with Conventional Cotton Production”, in
Organic Cotton Briefing Kit, 1998, em
www.panna.org/resources/ cotton.html, e de Rob
Bryant, Agranova, e-mail a Brian Halweil,
Wordwatch Institute, 17/07/01; Organização
Mundial da Saúde, de Pesticide Action Network
United Kingdom (PAN-UK), Organic Cotton
Production in Sub-Saharan Africa; The Need
for Scaling-Up (Londres: agosto de 2002).
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAMISETAS DE ALGODÃO E CAPÍTULO 8
3.
Margareth Reeves et al., Fields of
Poison 2002: California Farmworkers and
Pesticides (São Francisco: Californians for
Pesticide Reform, 2002), p. 5; Ayanjit Sen,
“Pesticide Kills ‘500’ Indian Farmers”, BBC
News, 31/07/02; pesquisa em Benin citada em
PAN-UK, Pesticide Action Network UK
Review 2002 (Londres: 2003), p. 12; Debora
MacKenzie, “Fresh Evidence on Bhopal
Disaster,” New Scientist, 7/12/02.
4.
Dano à vida silvestre, de PANNA, op.
cit., nota 2; Philipp Thalmann e Valentin Kung,
Transgenic Cotton: Are There Benefits for
Conservation? Elaborado para a WWF
International (Gland, Suíça: março de 2000).
5.
Aldicarb de Nancy M. Trautmann et al.”,
Pesticides and Groundwater: A Guide for the
Pesticide User”, fact sheet (Ithaca, NY: Cornell
Cooperative Extension, 8/05/98); efeitos
imunológicos, de PAN-UK, “Aldicarb”, em
www.pan.uk.org/
pestnews/actives/
aldicarb.htm; E. Michael Thurman et al.,
“Occurrence of Cotton Pesticides in Surface
Water of the Mississippi Embayment”, fact
sheet (Reston, VA: U.S. Geological Survey,
Maio 1998); Mar de Aral, do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente,
Afaghanistan: Post-Conflict Environmental
Assessment (Nairobi: 2003), p. 62.
6.
Uso de 11 milhões de fardos nos EUA,
de Cotton Board, “How U.S. Cotton Finds Its
Way into the U.S. Consumer Market”, em
www.cottonboard.org.
7.
Produtos químicos e tinturas, de John C.
Ryan e Alan Thein Durning, Stuff: The Secret
Lives of Everyday Things (Seattle, WA:
Northwest Environment Watch, 1997), pp. 2324, e de Mindy Pennybacker, “The Hidden Life
of T. Shirts”, Sierra Magazine, janeiro de 1999.
8.
Ryan e Durning, op. cit, nota 7, p. 21.
9.
Produção e exportações de FAO, “Cotton
Commodity Notes”, op. cit., nota 2, e de idem,
FAOSTAT Statistics Database, op. cit. nota 2;
“The Fabric of Lubbock’s Life”, New York
Times, 19/10/03; Amadou Toumani Touré e
Blaise Compaoré, “Your Farm Subsidies Are
Strangling Us”, New York Times, 11/07/03.
10. China de Global Sources.com, “World’s
Hub of T-shirt Production”, 29/07/03, em
www.globalsources.com/am/article_id/
9000000043332/page/showarticle?
action=GetArticle. Consumidores americanos,
de Robin Merlo, diretor de Marketing e
Comunicações, Cotton Incorporated, e-mail a
Brian Halweil, Worldwatch Institute, 16/10/03;
Ellen Israel Rosen, Making Swetshops: The
Globalization of the U.S. Apparel Industry
(Berkeley: University of California Press, 2002).
11. Divisão das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Sustentável, “Application
of Biodynamic Methods in the Egyptian
Cotton Sector”, Success Stories – 2000:
Integrated Planning and Management of
Land Resources, Agriculture, and Forests,
em www.un.org/esa/sustdev/mgroups/
success/SARD-27.htm; Fair Trade
Federation, em www.fairtradefederation.org;
para uma lista de empresas, vide Web site da
International Organic Cotton Directory em
www.organiccottondirectory.net.
Capítulo 8. Repensando a
Boa Vida
1.
Escolas, de Woodrow Wilson School of
Public and International Affairs, “Former Mayor
of Bogotá to Speak on Improvement Models
for Third World Cities”, press release
(Princeton, NJ: 26/11/01), e de Enrique Peñalosa,
e-mail a Gary Gardner, 8/10/03; parques, de ibid.;
assassinatos, de Curtis Runyan, “Bogotá
283
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 8
Designs Transportation for People, Not Cars”,
WRI Features (Washington, DC: World
Resources Institute, fevereiro de 2003).
2.
Rodovia, de Susan Ives, “The Politics
of Happiness”, YES! A Journal of Positive
Futures, verão de 2003, pp. 36-37; passageiros
e proprietários de carros, de Peñalosa, op. cit.,
nota 1; metrô de Washington de Washington
Metropolitan Transit Authority, “Metrorail
Peak Ridership Continues to Grow in March”,
press release (Washington, DC: 25/04/02);
bibliotecas e escolas, de Woodrow Wilson
School, op. cit., nota 1.
3.
Peñalosa citado em Ives, op. cit., nota 2,
p. 37.
4.
Merriam Webster’s Collegiate
Dictionary, Eleventh Edition (Springfield,
MA: Merriam-Webster, 2003), p. 1416.
Agradecemos a Mark Anielski por ter
chamado nossa atenção para esta etimologia.
5.
Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), The Wellbeing of Nations: The Role of Human and Social
Capital (Paris: 2001); Millennium Ecosystem
Assessment, Ecosystems and Human Wellbeing: A Framework for Assessment
(Washington, DC: Island Press, 2003); Canadá
de Mike Nickerson, “Green Party Policy Is
Passed in the House of Commons”, Vancouver
Greens Newswire, em vangreens.bc.ca/ news/
2003/06/79.php, visitado em 20/10/03.
6.
Definição adaptada de Millennium
Ecosystem Assessment, op. cit., nota 5, p. 74.
7.
David G. Myers e Ed Diener, The
Science of Happiness (Bethesda, MD: World
Future Society, 1997); Figura 8-1 de David G.
Myers, The American Paradox: Spiritual
Hunger in an Age of Plenty (New Haven, CT:
Yale University Press, 2000), com atualizações
284
de David G. Myers, hope College, e-mail a Erik
Assadourian, 20/10/03.
8.
Ronald Inglehart e Hans-Dieter
Klingemann, “Genes, Culture, Democracy, and
Happiness”, in E. Diener and E. M. Suh, eds.,
Culture and Subjective Well-Being
(Cambridge, MA: The MIT Press, 2000), p. 171.
9.
Michael Bond, “The Pursuit of
Happiness”, New Scientist, 4/10/03, pp. 4047; Ed Diener, “Frequently Asked Questions”,
em www.psych.uiuc.edu/~ ediener/faq.html,
visitado em 23/10/03; Ed Diener, University of
Illinois, discussão com os autores, 8/07/03.
10. Caroline E. Mayer, “Trade Group to
Abide by No-Calls List”, Washington Post,
29/09/03.
11. Mercado orgânico, de “The Global
Market for Organic Food & Drink”, Organic
Monitor, julho de 2002; consumidores de
Datamonitor, “Organic, Natural, Ethical, &
Vegetarian Consumers”, report brochure
(Nova York: fevereiro de 2002).
12. Natural Marketing Institute, “Nearly
One-third of Americans Identified as Valuesbased, Highly Principled Consumers, New
Research Shows”, press release (Harleysville,
PA; 14/05/02); Amy Cortese, “They Care
About the World (and They Shop, Too)”, New
York Times, 20;07/03; parcela de despesas, do
Banco Mundial, World Development
Indicators Database, em media.orldbank.org/
secure/data/qquery.php, visitado em 10/10/03.
13. Seikatsu Club, “Outline of the Seikatsu
Club Consumers’Cooperative Union”, em
www.seikatsuclub.coop/english/top.html,
visitado em 21/10/03; Consumer Coop
International, “Action Plan 2003-2003”, em
www.coop.org/eci/activities/action_ plan.htm,
visitado em 21/10/03.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 8
14. Global Action Plan, em www.global
actionplan.com/index.html, visitado em 21/10/
03; Global Action Plan UK, Annual Report and
Accounts 2001-2001 (Londres: dezembro de
2002); Global Action Plan, “The Sustainable
L i f e s t y l e C a m p a i g n ” , e m w w w.
globalactionplan.org/Files/SLC.htm, visitado
em 20/10/03; Ministro do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável, “Week of
Sustainable Consumption”, press release
(Paris: 25/03/03); la famille durable em
www.familledurable.com, visitado em 10/10/03.
15. Center for a New American Dream, “Turn
the Tide: Nine Actions for the Planet”, em
www.newdream.org/TurntheTide/default.asp,
visitado em 10/10/03.
16. Cecile Andrews citada em Michael
Maniates, “In search of Consumptive
Resistance”, em Thomas Princen, Michael
Maniates, e Ken Conca, eds., Confronting
Consumption (Cambridge, MA: The MIT
Press, 2002), p. 200.
17. Datamonitor, “Simplicity”, report
brochure (Nova York: maio de 2003).
18. Pesquisas, de Michael Maniates, “In
Search of Consumptive Resistance”, in
Princen, Maniates, and Conca, op. cit., nota
16, pp. 200-01, de Juliet Schor, The Overspent
American: Why We Want What We Don’t Need
(Nova York: Harper-Perennial, 1998), pp. 11315, e de The Harwood Group, Yearning for
Balance: Views of Americans on
Consumption, Materialism, and the
Environment (Takoma Park, MD: Merck Family
Fund, 1995); mídia e Affluenza de Maniates,
op. cit., esta nota, p. 201.
19. Michael Maniates, “Individualization:
Plant a Tree, Buy a Bike, Save the World?”
em Princen Maniates, e Conca, op. cit., nota
16, p. 45.
20. Informação em 07/06/05 em www.07-0605.com/765/381.htm, visitado em 11/10/03.
21. John de Graaf, Take Back Your Time Day,
discussão com Erik Assadourian, 24/10/03;
Take Back Your Time Day, “Take Back Your
Time Day Campaign Launch”, press release
(Seattle, WA: 25/03/03).
22. De Graff, op. cit., nota 21.
23. Robert D. Putnam, Bowling Alone: The
Collapse and Revival of American
Community (Nova York: Simon & Schuster,
2000), p. 332.
24. Putnam, op. cit., nota 23, pp. 327-28;
David G. Myers, “Close Relationships and
Quality of Life”, em D. Kahneman, E. Diener e
N. Schwarz, eds., Well-Being: The
Foundations of Hedonic Psychology (Nova
York: Russell Sage Foundation, 1999), p. 377.
25. B. Egolf et al., “The Roseto Effect: A
50-Year Comparison of Mortality Rates”,
American Journal of Public Health, August
1992, pp. 1.089-92; Putnam, op. cit., nota 23,
p. 329.
26. Putnam, op. cit., nota 23, p. 327.
27. Banco Mundial, de Christian Grootaert
and Thierry van Bastelaer, Understanding and
Measuring Social Capital: A Synthesis of
Findings and Recommendations from the
Social Capital Initiative, Social Capital
Initiative Working Paper 24 (Washington, DC:
World Bank, abril de 2001), p. iii; benefícios, de
OCDE, op. cit., nota 5, pp. 52-61; vínculo, de
Paul J. Zak e Stephen Knack, “Trust and
Growth”, 10/09/98 minuta, em papers.ssrn.com/
sol3/papers.cfm?abstract_id=136961;
Madagáscar, de Marcel Fafchamps e Bart
Minten, Social Capital and the Firm:
Evidence from Agricultural Trade, Social
Capital Initiative Working Paper 17
285
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 8
(Washington, DC: Banco Mundial, setembro
de 1999), p. 23, e de Grootaert e van Bastelaer,
op. cit., esta nota, p. 11.
28. Citação, de Ken Grimes, “To Trust Is
Human,” New Scientist, 10/05/02, p. 37;
confiança e crescimento, de Stephen Knack,
Social Capital, Growth and Poverty: A
Survey of Cross-Country Evidence, Social
Capital Initiative Working Paper n o 7
(Washington, DC: Banco Mundial, maio de
1999), p. 17.
29. Thierry van Bastelaer, Does Social
Capital Facilitate the Poor’s Access to
Credit? A Review of the Microeconomic
Literature, Social Capital Initiative Working
Paper no 8 (Washington, DC: World Bank,
fevereiro de 2000), pp. 8-15.
30. “Grameen at a Glance”, em www.
grameen.info.org/bank/GBGlance.html,
visitado em 13/10/03; Cúpula do Microcrédito,
de Sam Daley-Harris, “State of the Microcredit
Summit Campaign Report 2003”, de Mya
Florence, Microcredit Summit Campaign,
e-mail a Gary Gardner, 27/10/03.
31. Novos grupos de interesse nos Estados
Unidos, de Rob Sandelin, “Clearly Something
Is Happening Here”, Communities Journal
of Cooperative Living, primavera de 2000.
32. Nancy Hurrelbrinck, “Energy
Conservation in Cohousing Communities”,
Home Energy, July/August 1997, pp. 37-41;
propriedade privada, de Graham Meltzer,
“Cohousing and Sustainability: Findings and
Observations”, em www.bee.qut.edu.
au/people/meltzer/articles/
Cohousing%20Journal/cohojourn.htm
33. Comparecimento médio, de Graham
Meltzer, “Cohousing: Verifying the Importance
of Community in the Application of
Environmentalism”, trabalho não-publicado,
286
cerca de 1998; tempo de cozinhar, de Zev Paiss,
discussão com Gary Gardner, março de 1999.
34. Bacias hidrográficas, de Anirudh Krishna
e Norman Uphoff, Mapping and Measuring
Social Capital, Social Capital Initiative Working
Paper no 13 (Washington, DC: Banco Mundial,
junho de 1999), p. 1; garbage collection from
Sheoli Pargal, Mainul Huq, and Daniel Gilligan,
Social Capital in Solid Waste Management:
Evidence from Dhaka, Bangladesh, Social
Capital Initiative Working Paper n o 16
(Washington, DC: Banco Mundial, setembro de
1999), p. 1. Quadro 8-1 dos seguintes:
“Gaviotas”, Social Design Notes, 9/08/03;
Moinhos de vento, de “Utopia Rises Out of the
Colombian Plains”, All Things Considered,
National Public Radio, 29/08/94, auto-suficiência,
de “Gaviotas”, op. cit., esta nota; hospital de
“Colombia’s Model City”, In Context, outono
de 1995; agricultura orgânica e reflorestamento,
de “Gaviotas”, op. cit., esta nota.
35. OCDE,
Towards
Sustainable
Consumption: An Economic Conceptual
Framework (Paris: Environment Directorate,
junho de 2002), p. 29.
36. “Santa Monica Sustainable City Plan”,
2003 update (Santa Monica, CA: 11/02/03).
37. Quadro 8-2 de Robert Prescott-Allen, The
Wellbeing of Nations: A Country-by-Country
Index of Quality of Life and the Environment
(Washington: Island Press, 2001).
38. Anders Hayden, “Europe’s Work-Time
Alternatives,” in John de Graaf, ed., Take Back
Your Time (São Francisco, CA: Berrett Koehler,
2003), pp. 202-10.
39. Jukka Savolainen et al., “Parenthood
and Psychological Well-being in Finland:
Does Public Policy Make a Difference?”
Journal of Comparative Family Studies,
winter 2001, pp. 61-74.
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 8
40. Roger Levett et al., A Better Choice of
Choice (Londres: Fabian Society, agosto de
2003).
41. Banco Mundial, “Participatory
Budgeting in Brazil”, project commissioned
by the World Bank Poverty Reduction Group,
em poverty.worldbank.org/files/14657_ParticBudg-Brazil-web.pdf.
42. Tempo de ir e vir do trabalho, de Putnam,
op. cit., nota 23, p. 212-13; Rob Stein,
“Suburbia USA: Fat of the Land? Report Links
Sprawl, Weight Gain”, Washington Post, 29/
08/03.
43. John Pucher e Lewis Dijkstra, “Making
Walking and Cycling Safer: Lessons from
Europe”, Transportation Quarterly, summer
2000, pp. 25-50.
44. “Walking in the City”, Eco News
Newsletter, outubro de 2002.
45. Cidade de Austin, Web site do Matrix
Program, em www.ci.austin.tx.us/
smartgrowth/ incentives.htm, visitado em 12/
10/03; citação de Dauncey, de “Smart
Planning, Smart Growth”, Eco News
Newsletter, dezembro de 2000.
48. “Smoke Free Movies”, em www.smoke
freemovies.ecsf.edu/, visitado em 13/10/03;
Adbusters, “Reclaim the TV Airwaves”, em
adbusters.org/campaigns/ mediacarta/
toolbox/resources/tvjam, visitado em 15/10/
03; Tailândia, do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),
D i v i s ã o d e Te c n o l o g i a , I n d ú s t r i a
e Economia, Report from UNEP
International Expert Meeting: Advertising
and Sustainable Consumption (Paris:
janeiro de 1999); Quadro 8-3 de Solange
Montillaud-Joyel, PNUMA, Nairobi.
49. Austrália e Canadá, de New Jersey
Media Literacy Project, “Plugging in to
Media Education”, Center for Media
Studies, em www.mediastudies.rutgers.edu/
cmsyme.html, visitado em 21/10/03; Instituto
Akatu, “Akatu Institute for Conscious
Consumption”, em www.akatu.net/
english.asp, visitado em 21/10/03.
50. Benjamin Hunnicutt, “When We Had
the Time,” in de Graaf, op. cit., nota 38, pp.
118-21; Jerome Segal, “A Policy Agenda for
Taking Back”, in de Graaf, op. cit., nota 38,
p. 214.
46. Kate Zernike, “Fight Against Fat Shifts
to the Workplace”, New York Times, 12/10/03.
51. Lao-Tzu, Te Tao Ching (Nova York:
Ballantine Books, 1989), p. 85.
47. Suécia, de Ingrid Jacobsson,
“Advertising Ban and Children: Children Have
the Right to Safe Zones”, Current Sweden,
junho de 2002; Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos, “Import Restrictions and
Requirements”, Tobacco Circular, 1998, em
www.fas.usda.gov/tobacco/ circular/1998/
impreqmts/us.pdf, visitado em 23/10/03; “EU
Health Ministers Ban Tobacco Ads”, U.N. Wire,
dezembro de 2002.
52. Gould citado em David Orr, “For the
Love of Life”, Conservation Biology,
dezembro de 1992, p. 486.
53. Prescott-Allen, op. cit., nota 37; OECD,
“DAC Tables from 2000 Development Cooperation Report”, em www1.oecd. org/dac/
images/ODA99per.jpg.
54. Ruub Lubbers citado em Hayden, op.
cit., nota 38, p. 202.
287
Publicações WWI - Worldwatch Institute no Brasil
UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica
Revista World Watch - bimestral
Premiada pela imprensa internacional, é
publicada há 13 anos em vários idiomas,
acompanhando os avanços econômicos,
científicos e tecnológicos e os impactos
sobre os sistemas naturais do planeta.
Sinais Vitais
Analisa o crescimento econômico e seus impactos
sobre os ecossistemas, despertando o leitor com
gráficos e dados sobre as novas tendências
ecológicas globais, que determinam o nosso futuro.
Estado do Mundo
Relatório Anual do Worldwatch, publicado há 20 anos consecutivos, em cerca
de 30 idiomas, com mais de 1 milhão de cópias vendidas. Eleito pela imprensa
internacional como a Bíblia do Desenvolvimento Sustentável.
www.wwiuma.org.br
Download

OEM2004 Capa.p65 - Biblioteca Digital da PUC