Apoio Publicações UMA/Worldwatch Estado do Mundo 1999 a 2003 (Relatório do Worldwatch Institute sobre o Avanço em Direção a uma Sociedade Sustentável) Sinais Vitais 2000 e 2001 - Tendências Ambientais que Determinarão nosso Futuro Lester R. Brown Revista do World Watch - Edições Novembro/Dezembro 1999 Janeiro/Fevereiro - Março/Abril - Maio/Junho - Julho/Agosto - Setembro/Outubro e Novembro/Dezembro 2000 e 2001 (Trabalhando para um Futuro Sustentável) e Janeiro 2002 As publicações do Worldwatch Institute em português poderão ser adquiridas enviando nome e endereço completos para: UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica E-mail: [email protected] ou Caixa Postal 7119, CEP 41811-970 Salvador - Bahia - Brasil Solicite também pela internet, no site: www.wwiuma.org.br Relatório do Worldwatch Institute sobre o Avanço em Direção a uma Sociedade Sustentável Brian Halweil e Lisa Mastny Diretores de Projetos Erik Assadourian Christopher Flavin Hilary French Gary Gardner Danielle Nierenberg Sandra Postel Michael Renner Radhika Sarin Janet Sawin Amy Vickers Linda Starke, Redatora Eduardo Athayde, Editor Associado UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica UMA Editora Salvador - Bahia - Brasil Titulo original: State of the World 2004 Tradução: Henry J. Mallett e Célia Mallet Revisão: Fátima Maria Ferreira Soares Editoração Eletrônica: Ricardo Baroud (Alquimia Criações Editoriais) Patrícia Chastinet Produção: Creusa M. Porto Capa: Eduardo Athayde E82 Estado do Mundo, 2004: estado do consumo e o consumo sustentável / Worldwatch Institute ; apresentação Enrique Iglesias ; tradução Henry Mallett e Célia Mallett. - Salvador, BA : Uma Ed., 2004 326p. ; 23,5cm. : il. Tradução de: State of the world 2004 Inclui bibliografia ISBN 85-87616-09-9 1. Desenvolvimento sustentável - Aspectos ambientais. 2. Política ambiental 3. Consumo (Economia) - Aspectos ambientais. 4. Produtividade Aspectos ambientais. I. Worldwatch Institute. 04-1853 CDD 333.7 CDU 502.33 Copyright © 2004 Worldwatch Institute Todos os direitos desta edição reservados à UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica Av. Frederico Pontes, 375 40460-001 - Salvador - BA Fone/fax: (71) 312-7897 / E-mail: [email protected] As marcas registradas STATE OF THE WORLD e WORLDWATCH INSTITUTE estão registradas no U.S. Patent and Trademark Office. As opiniões expressas são de exclusiva responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as do Worldwatch Institute, de seus diretores, executivos, staff ou de seus financiadores. Conselho de Administração do Worldwatch Institute Øysten Dahle Presidente Cathy Crain Akio Morishima ESTADOS UNIDOS JAPÃO NORUEGA James Dehlsen Izaak van Melle Larry Minear Secretário ESTADOS UNIDOS HOLANDA ESTADOS UNIDOS Christopher Flavin Wren Wirth ESTADOS UNIDOS ESTADOS UNIDOS Thomas Crain Tesoureiro Lynne Gallagher James Lee Witt ESTADOS UNIDOS ESTADOS UNIDOS ESTADOS UNIDOS Geeta B. Aiyer Satu Hassi ESTADOS UNIDOS FINLÂNDIA Emeritus: Abderrahman Khene Adam Albright John McBride ESTADOS UNIDOS ESTADOS UNIDOS ARGÉLIA Estado do Mundo 2004 NOME DO CAPÍTULO Staff do Worldwatch Institute Erik Assadourian Pesquisador Ed Ayres Diretor Editorial Redator do Worldwatch Chris Bright Pesquisador Sênior Lori A. Brown Bibliotecária Pesquisadora Steve Conklin Webmaster Cyndi Cramer Associada de Desenvolvimento Katherine Dirks Secretária Executiva da Presidência Barbara Fallin Diretora Financeira e Administrativa Susan Finkelpearl Coordenadora de Mídia Christopher Flavin Presidente 6 Hilary French Diretora do Projeto de Governança Global Gary Gardner Diretor de Pesquisa Joseph Gravely Correspondência & Publicações Brian Halweil Pesquisador Sênior John Holman Diretor de Desenvolvimento Elizabeth Nolan Vice-Presidente de Desenvolvimento Comercial Kevin Parker Diretor de Relações com a Fundação Tom Prugh Redator Sênior Mary Redfern Associada de Desenvolvimento Michael Renner Pesquisador Sênior Susanne Martikke Associada de Comunicações Lyle Rosbotham Diretor de Arte Lisa Mastny Pesquisadora Associada Radhika Sarin Pesquisadora Anne Platt Mcginn Pesquisadora Sênior Janet Sawin Pesquisadora Associada Leanne Mitchell Diretora de Comunicações Patrick Settle Administrador de Sistemas TI Danielle Nierenberg Pesquisadora Molly O’Meara Sheehan Pesquisadora Sênior Estado do Mundo 2004 NOME DO CAPÍTULO Apresentação Estado do consumo e o consumo sustentável O desenvolvimento sustentável adota uma perspectiva de longo prazo do processo de desenvolvimento econômico e social que compreende a salvaguarda e o incremento do capital ambiental e social e a redução da iniqüidade. Esse conceito ganhou relevância no Relatório da Comissão Brundtland de 1987 e consolidou seu lugar como âncora para as políticas de desenvolvimento durante a Cúpula da Terra de 1992 no Rio de Janeiro. Hoje, porém, ainda resta a questão fundamental: como intensificar a sustentabilidade do desenvolvimento? Um dos resultados da Cúpula de Johanesburgo de 2002 foi colocar o desenvolvimento sustentável como um objetivo integral entre as Metas de Desenvolvimento do Milênio compartilhadas pela comunidade global. Como enfatiza o Estado do Mundo 2004, é imperativo melhorar a gestão e a direção dos recursos naturais e ambientais. Isso significa diminuir as barreiras à conservação — entre elas políticas antiquadas, instituições frágeis e falta de conhecimento técnico e financiamento — e aumentar a eficiência no uso de recursos essenciais, como água e energia. Igualmente importante é reconhecer que a redução da degradação ambiental protege a saúde humana, torna a terra mais produtiva e melhora diversos outros elementos do progresso econômico e social. A proteção e a gestão aperfeiçoadas dos recursos naturais ajustam-se a uma abordagem totalmente integrada ao desenvolvimento sustentável, como determinam as Metas de Desenvolvimento do Milênio. Essas metas vão além da sustentabilidade ambiental e abrangem objetivos como a erradicação da fome e a melhoria da saúde, da educação, da eqüidade social e da cooperação internacional. O Banco Interamericano de Desenvolvimento compartilha essa visão em sua estratégia institucional, que reivindica não somente um melhor desempenho econômico, mas a melhoria da qualidade de vida por meio do desenvolvimento social, do aperfeiçoamento vii 7 Estado do Mundo 2004 APRESENTAÇÃO da governança, da integração regional e do avanço da gestão e proteção ambientais. Esta edição do relatório anual do WWI – Worldwatch Institute tem como tema especial “A Sociedade de Consumo”. O grande fosso entre a renda e o consumo per capita no mais pobre dos países em desenvolvimento e nos países desenvolvidos está se ampliando e os desafios que as nações em desenvolvimento enfrentam são fundamentalmente diferentes daqueles dos países desenvolvidos. Mesmo os países em desenvolvimento em situação econômica um pouco melhor padecem de uma variedade viii 8 de males relacionados com a pobreza, entre os quais fome, doenças endêmicas, iniqüidade, falta de oportunidade e degradação do meio ambiente. Este livro tem o poder de instigar a continuação do profundo debate necessário para manter o conceito de desenvolvimento sustentável como ponto focal da formulação de políticas, tanto em cada país individualmente como nos foros globais. Enrique Iglesias Presidente do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento Estado do Mundo 2004 APRESENTAÇÃO Uma Pequena História da Parceria WWI – UMA no Brasil O WWI – Worldwatch Institute comemora este ano 30 anos de fundado. Em 1974, Lester Brown e seus pesquisadores associados adotaram o lema: “trabalhamos por um futuro sustentável”. Hoje, precisamos trabalhar por um dia-a-dia sustentável. O Estado do Mundo 2004 foca a sociedade do consumo e o consumo sustentável, conversando diretamente com o consumidor, mostrando os processos insustentáveis de produção que estão por trás dos produtos e convidando-o a optar por produtos e processos que garantam a sua qualidade de vida e a do planeta, cada vez mais fragilizado e impactado pela ação insustentável do homem. Os trabalhos do WWI no Brasil, publicados pela UMA – Universidade Livre da Mata Atlântica –, são parte do Creds – Centro de Referência para a Educação e o Desenvolvimento Sustentável. Sediado oficialmente no município de Cairu – único município-arquipélago do Brasil, formado por 26 ilhas, no encontro do Rio Una com o Oceano Atlântico, na Bahia. Foi criado com o objetivo de ser mais um gerador de informações para escolas, universidades, governos, iniciativa privada e comunidade em geral. A UMA usufrui do espaço sem fronteiras da Internet para disseminar conhecimento através da Biblioteca Digital WWI – UMA, <www.wwiuma.org.br>, onde suas publicações são disponibilizadas para download integral e gratuito. Sair das grandes concentrações urbanas é uma das tendências de pessoas que buscam nas pequenas localidades qualidade de vida. O Jornal Digital UMA, aberto à inscrição gratuita no site, envia informações diretamente para os e-mails dos seus milhares de associados no Brasil e no mundo. A Internet libertou a informação da prisão do papel. Fazemos aqui um resumo do caminho percorrido, o que já ousamos chamar de pequena história: 1999 – Lester Brown, fundador do WWI, declarado pelo jornal Washington Post como um dos mais influentes pensadores da atualidade, é trazido pela UMA ao Brasil ix 9 Estado do Mundo 2004 UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL para o lançamento da primeira versão brasileira de Estado do Mundo – Edição Milenar 1999 e da Revista World Watch. É entrevistado pelo programa Roda Viva –TVE e pelo jornal Folha de S. Paulo. Em Brasília, reúne-se com técnicos do Ibama e o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho – o Ministério apóia oficialmente as publicações WWI no Brasil. Faz palestra no auditório Petrônio Portella, do Congresso Nacional, difundida para todo o país pela TV Senado. No Rio, reúne-se com a diretoria das Organizações Globo e grava o Globo News. O Globo Ecologia destaca equipe para acompanhar a sua visita em todo o país, gravando palestras e encontros. É convidado pelo governo do Estado da Bahia para palestras em Salvador e para conhecer o potencial das suas áreas para o ecoturismo. 2000 – A revista VEJA lança o Estado do Mundo 2000 no seu portal da Internet. O jornalista Joelmir Beting divulga-o na sua coluna e no seu site , www.joelmirbeting.org.br, promovendo o conceito de desenvolvimento sustentável. Christopher Flavin, presidente executivo do WWI, é convidado pela Fundação Getúlio Vargas para o lançamento do CIDS – Centro Internacional para o Desenvolvimento Sustentável. A FIEB – Federação das Indústrias do Estado da Bahia – promove debate do prof. Flavin com dirigentes da indústria. A convite da UESC – Universidade de Santa Cruz –, faz palestra em Ilhéus e é levado pela UMA e os pesquisadores parceiros do IESB – Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia – para visitar a Mata Atlântica, onde se inspira para escrever capítulo de Estado do Mundo do ano seguinte. x 2001 – O portal da Veja, seguindo o sucesso da audiência do ano anterior, lança o Estado do Mundo 2001, divulgando integralmente o primeiro capítulo, assinado por Christopher Flavin, destacando a sua visita à exuberância da Mata Atlântica e a posição do Brasil (primeiro lugar) no “E9 – Econológico 9”, grupo dos nove países reconhecidos pelo WWI como potências ambientais do planeta. O programa Roda Viva – TVE e o jornal Gazeta Mercantil entrevistam Flavin e destacam: “Bíblia dos ambientalistas descobre o Brasil” (a série Estado do Mundo foi batizada pela imprensa internacional como bíblia do meio ambiente). A Assembléia Legislativa da Bahia recebe Flavin em sessão plenária para palestra sobre desenvolvimento sustentável. A Veja publica entrevista de Lester Brown nas suas páginas amarelas com o título “Poluiu, pagou”. A Embaixada Brasileira em Washington promove evento de lançamento da edição brasileira, com palestra dos diretores do WWI e da UMA. O Ministério da Educação convida Flavin para palestra de lançamento do Programa “Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola”, do MEC, com o ministro Paulo Renato, em 5 de junho, Dia do Meio Ambiente. Convidado também pela diretoria da Petrobras, Flavin fala sobre energias renováveis para os executivos da empresa. A Secretaria Nacional de Recursos Hídricos traz a pesquisadora do WWI Payal Sampat para falar sobre “O Choque da Água” no Fórum de Recursos Hídricos, em Foz do Iguaçu. Chris Bright, pesquisador do WWI e editor-chefe da revista World Watch, faz levantamentos na Mata Atlântica. Faz pa- Estado do Mundo 2004 UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL lestra na UFBA sobre “O Papel das Florestas Tropicais no Desenvolvimento Sustentável”. Juntamente com a pesquisadora Ashley Matoon é entrevistado pela VEJA e pelo portal do UOL. Apoiando as ações da UMA, o WWI lança edição da sua revista – World Watch – com matéria de capa sobre o cacau e a Mata Atlântica, mostrando como a economia do chocolate pode ajudar na sua preservação. Destacada pelo jornal Washington Post, a matéria repercute em todo o mundo e atrai a atenção da TV National Geographic, que envia equipe às fazendas de cacau do sul da Bahia para filmar documentário baseado na publicação. 2002 – Veja lança o Estado do Mundo 2002, destacando a edição especial da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável – Rio+10. O presidente Fernando Henrique Cardoso alia-se à divulgação das idéias do WWI, apresentando a versão brasileira 2002 e assinalando a sua relevância para estimular o debate público no Brasil. A publicação é prefaciada por Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU e Prêmio Nobel da Paz. Hilary French, diretora do Projeto de Governança Global do WWI, visita o Brasil e fala para empresários sobre a importância da governança local. A UMA amplia as pesquisas com o WWI sobre a Mata Atlântica para a elaboração de livro sobre as possibilidades e vantagens da preservação da Mata Atlântica, hotspot, bioma que registra uma das maiores taxas de biodiversidade do mundo e alto nível de devastação. A convite do fotógrafo Sebastião Salgado e da sua esposa Lélia, Chris Bright visita o projeto-piloto de recuperação da Mata Atlântica na fazenda de Aymorés, em Minas Gerais. Onde pastos secos nada produziam, hoje brotam espécies nativas da mata, atraindo o canto dos pássaros. Embrião de reflorestamento. Christopher Flavin é convidado pelo governo brasileiro para proferir palestra na reunião preparatória da Rio+10, que reuniu os presidentes do Brasil, da África do Sul e ambientalistas de todo o mundo no Rio de Janeiro. Reúne-se com o físico José Goldemberg para montar estratégias de promoção das energias renováveis em Joanesburgo. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e CETESB dão destaque ao Estado do Mundo 2002 no seu site. Durante a Rio+10, na África do Sul, o WWI e a UMA relançam o relatório 2002 no stand brasileiro – ganhador do “primeiro lugar” (outorgado pelo júri oficial, formado por artistas locais) entre as exibições de todos os países presentes em Joanesburgo. Ainda na conferência a UMA reúnese com Klaus Töpfer, secretário executivo do PNUMA, organizando a publicação do relatório GEO 3 Internacional no Brasil. 2003 – A senadora Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do novo governo, distingue-nos assinando a apresentação de Estado do Mundo 2003. Leitora do WWI desde as primeiras versões brasileiras, refere-se às nossas publicações como fonte destacada de informações para “a interação dos elementos sociais, econômicos, ecológicos e culturais no foco da ação pública”. Partindo da “Senadora da Floresta”, como é carinhosamente chamada por Ziraldo, essa afirmação tem valor especial. A convite da UMA, Waldemar Wirzig, representante do BID no Brasil, visita o município de Cairu, para conhecer a área do projeto “Cairu 2030”, apresentado pela UMA ao BID, para realização de um diagxi Estado do Mundo 2004 UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL nóstico socioeconômico-ecológico integrado do município, com vistas à elaboração de um plano diretor de desenvolvimento sustentável para os próximos trinta anos. Em parceria com a Prefeitura Municipal, a UMA promove seminário em Cairu sobre o projeto “Cairu 2030”, trazendo de Brasília uma delegação de técnicos do BID, UnB, Caixa Econômica Federal, ANA, Petrobras, Unesco e Sebrae para se reunir com prefeitos da região do baixo sul da Bahia, ONGs e representantes locais. Lester Brown, fundador do WWI, vem ao Brasil para o lançamento do livro EcoEconomia, em versão digital, numa parceria editorial com o Instituto Ethos e a Folha de S. Paulo. Faz palestra na sede do Banco de Boston, em São Paulo. A Folha lançou o livro em entrevista com Brown, incluída no seu portal e linkando com o site da Biblioteca Digital WWI – UMA, para download integral e gratuito. No dia de lançamento o livro bate recorde, com 20.876 downloads do site. Recebido em Brasília pela ministra Marina Silva, Brown fala sobre a ecoeconomia no Ministério do Meio Ambiente. No Ministério da Educação, a convite do ministro Cristóvão Buarque, fala para reitores de universidades reunidos em Brasília. É recepcionado por empresários da área de telecomunicações, liderados pelo presidente da Telemig Celular e Amazonas Celular, o empresário ambientalista João Cox. O jornal Valor Econômico publica entrevista de página inteira com Lester Brown. Em Ilhéus Brown visita o projeto “Fazenda de Chocolate”, desenvolvido pela UMA, com o apoio do WWI, para produzir o “chocolate da Mata Atlântica”, que embute o conceito de preservação no pro- xii duto do cacau. Em Salvador faz palestra na Fundação Luís Eduardo Magalhães e reúne-se com o governador Paulo Souto. Christopher Flavin, presidente do WWI, participa de evento sobre energias renováveis em Brasília com o ministro de Meio Ambiente alemão, Jürgen Trintin, e de seminários em Curitiba e em Brasília. É e recebido pelo presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, entrevistado pela jornal Valor Econômico e TV Senado. Klaus Töpfer, secretário executivo do PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente –, é convidado pela UMA. Acompanhado de Ricardo Sanchéz e Christina Montenegro, dirigentes do PNUMA para a América Latina, é recebido pelo governador da Bahia, Paulo Souto, para assinatura de protocolo para elaboração do GEO Bahia, um diagnóstico socioeconômico-ecológico, com metodologia do PNUMA, que colocará a Bahia na base de dados atualizada da ONU, criando visibilidade para atração de investimentos internacionais. Recebido no Convento dos Franciscanos de Cairu, sede da UMA, Töpfer emociona-se com a recepção das crianças e dos grupos folclóricos da região. Em dezembro de 2003, o livro do WWI Econegócios na Floresta de Chocolate da Bahia é lançado em conferência de imprensa na Embaixada Brasileira em Washington. Acompanhado do embaixador Rubens Barbosa, o presidente do WWI, Christopher Flavin, o autor Chris Bright, pesquisador do WWI, e o diretor da UMA falam sobre a importância estratégica da Floresta de Chocolate da Bahia (região cacaueira da Mata Atlântica). A UMA surpreende a seleta platéia, formada por jornalistas dos principais jornais do mundo, distribuindo o Chocola- Estado do Mundo 2004 UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL te da Mata Atlântica, produzido pela Cabruca – Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia. Chris Bright e o diretor da UMA são convidados do jornal Washington Post para entrevista de uma hora, on-line, sobre o projeto Fazenda de Chocolate, aberta aos leitores do jornal em todo o mundo. 2004 – Enrique Iglesias, presidente do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento – aceita o convite da UMA e apresenta a versão brasileira de Estado do Mundo 2004. Grava mensagens para a Rede Globo, afirmando: “Este livro tem o poder de instigar a continuação do profundo debate necessário para manter o conceito de desenvolvimento sustentável como ponto focal da formulação de políticas, tanto em cada país individualmente como nos foros globais”. Do alto da sua experiência como gestor internacional da mais alta competência, acostumado a lidar com realidades locais e globais, Iglesias tem a nítida idéia da importância do consumo sustentável. Em parceria com o IBAMA, a UMA lança a versão brasileira do GEO 3 Internacional – Perspectivas do Meio Ambiente para os próximos 30 anos. Elaborado pelo PNUMA, os atualizados relatórios GEO são traduzidos para vários idiomas em todo o mundo. Disponível na Biblioteca Digital para download gratuito. Durante o Valentines Day (fevereiro), época de pico no consumo de chocolate, o WWI lança campanha sobre o chocolate sustentável, convidando amantes do chocolate em todo o mundo a informarem-se sobre a origem do chocolate consumido. Cerca de 40% do chocolate do mundo pode estar contaminado com o trabalho infantil nas plantações de cacau da África. O con- sumidor cobra explicações e as grandes redes revendedoras de chocolate em todo o mundo começam a exibir certificados de origem do cacau. O BID aprova o projeto “Cairu 2030“, desenvolvido pela UMA em parceria com a Prefeitura Municipal de Cairu, e, com a autorização da ABC – Agência Brasileira de Cooperação –, do Ministério das Relações Exteriores, recebe recursos, a fundo perdido, do Fundo Fiduciário Português para o início dos trabalhos no município. O cacau está para o chocolate como a uva para o vinho. O projeto “Fazenda de Chocolate“, desenvolvido pela UMA com o apoio do WWI, articula transferências de inovações tecnológicas para agregação de valor e renda ao agronegócio sustentável do cacau, visando agregar valor ao produto e preservar a Floresta de Chocolate (região cacaueira da Mata Atlântica) da Bahia. O cacau fino, manejado de forma especial, produz chocolate de alta qualidade. O cacau refinado é vendido com um prêmio mínimo inicial de 20%, podendo atingir qualquer valor, a depender da qualidade do produto. Incentivados por Rafael Lucchesi, secretário de Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia, e Alexandre Paupério, presidente da Fapesb – Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Bahia –, a UMA firma parceria com gourmets franceses, especialistas em chocolates finos, para transferir tecnologias e treinar cacauicultores no manejo e fermentação do cacau de forma especial, visando o mercado de chocolates finos. Enquanto o quilo da amêndoa do cacau é vendido a cerca de 4 reais nas fazendas, o quilo do chocolate chega a 80. Num país com os desequilíbrios sociais como o Brasil, a única forma de preservar xiii Estado do Mundo 2004 UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL é por meio dos econegócios, que agregam valor, gerando ocupação e renda. Os jornalistas Lenilson Ferreira, Tedsuji Ida e Yumi Osaki, da Kyodo News, maior agência de notícias da Ásia, fazem reportagem sobre o projeto “Fazenda de Chocolate”, em Ilhéus, e são entrevistados pela TV Santa Cruz, filiada à Rede Globo. Matéria de duas páginas sobre o projeto é divulgada por 47 jornais asiáticos. O chocolate sustentável ganha interesse da comunidade internacional e desperta o interesse dos amantes do chocolate em todo o mundo. Com o apoio da Rede Bahia de Televisão, filiada à Rede Globo, “pílulas” de informações de Estado do Mundo 2004 vão ao ar, convidando o telespectador à reflexão sobre a importância do consumo sustentável. Diretores e profissionais da Rede Bahia de Televisão – Isaac Edington, Maurício Magalhães, Marcelo Lyra, Frank Albuquerque, Carlos Henrique Medeiros, César Mazzoni, Sérgio Siqueira, Marcos Lessa e Leonardo Villanova – aliam-se na cruzada para o consumo sustentável. O Sebrae entra no projeto “Fazenda de Chocolate” para treinar micro e pequenos empresários na produção do Chocolate da Mata Atlântica, usando outros produtos da agrofloresta. Paulo Manso Cabral, visionário diretor do Sebrae Bahia, sempre presente nas discussões dos cenários para o empreendimento de ações sustentáveis, estimula a UMA na introdução dos conceitos de econegócios nas micro e pequenas empresas, batizadas por nós de MPEcos. Relacionamento é uma forma de capital, o chamado capital social, que, como o capital financeiro, rende juros. Laços soci- xiv ais criam redes de reciprocidade e informações que lubrificam a atividade econômica sustentável. Parceria é a base para um mundo sustentável. Sem uma sólida rede de parceiros não seria possível o nosso trabalho. Mesmo correndo o risco de omitir momentaneamente alguns, não podemos deixar de destacar Rui Rocha, ativo presidente do parceiro Instituto Floresta Viva; Nicholas Carels, Fátima Cascardo e Julio Cascardo, cientistas que prospectam bionegócios para o banco de germoplasma da “Fazenda de Chocolate”; deputada Sônia Fontes, que, por intermédio do projeto de lei 8420/02, de sua autoria, credenciou a UMA como instituição de utilidade pública; Geraldo Machado, presidente da Fundação Luís Eduardo Magalhães, que sempre estimula a difusão de novas idéias; Fausto Pinheiro e Marc Nuscheler, produtores de cacau orgânico e dirigentes da Cabruca – Cooperativa de Produtores Orgânicos do Sul da Bahia –, o professor Asher Kiperstock, do Teclim – Centro de Tecnologias Limpas –, da Universidade Federal da Bahia, que nos ensina tecnologias limpas; o engenheiro holandês Jörgen Lewenstein, que nos municia com informações especializadas sobre recursos hídricos; Amyra Khalili, comandante das commodities ambientais; Rosita e Antônio Couto, pioneiros proprietários da Pousada Farol de Morro de São Paulo, distrito de Cairu, que investem no desenvolvimento sustentável no seu município; Virginia Garcez e Pierre Weil, que abrem nossos caminhos para a visão holística; Daniel Athayde de Almeida, Fernando Torres e Caio Mario Marques, nossos consultores jurídicos; Beatriz Cerqueira Lima, Estado do Mundo 2004 UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL arquiteta especializada em desenvolvimento urbano sustentável; Carlos Leal Villa, presidente do Grupo Suez no Brasil, empreendedor das causas ambientais; o jornalista Washington Novaes, alerta para divulgar “furos” com as nossas notícias ainda quentes; Emanuel Mendonça e Durval Olivieri, diretores da Semarh – Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia –, e Lúcia Cardoso e Teresa Muricy, diretoras do Centro de Recursos Ambientais da Bahia, entusiasmados apoiadores do GEO Bahia e da série Estado do Mundo; Célia Baldas Mallett e Henry Mallett, nossos competentes tradutores, juntos conosco desde o primeiro livro da UMA; Ricardo Baroud, Patrícia Chastinet e Fátima Soares, editores e revisora dos nossos textos. Aliados à equipe WWI – UMA, garantem os resultados do nosso trabalho. Destacamos também os editores e jornalistas da Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, Gazeta Mercantil, Valor Econômico, Jornal do Brasil, Correio Brasiliense, A Tarde, Agora (de Itabuna), Jornal do Commercio, Zero Hora, Estado de Minas e das revistas Veja, IstoÉ, Exame, Época, Nova Escola e Superinteressante, que, veiculando matérias com as nossas informações, ajudam-nos a cumprir a nossa missão. São pontes com leitores, que freqüentemente nos alimentam com seus estímulos, balizando o nosso trabalho. A intuição move, a razão organiza. Tudo isso é possível pela dedicação, pelo idealismo e pela persistência da pequena e incansável equipe nuclear da UMA, por meio dos esforços de Creusa Porto, Flávio Henrique Cavalcante, Everaldo Santos Ribeiro, Maria de Fátima Da Rin, Isabela Cristina San- tos e dos nossos conselheiros, Regina Coeli Oliveira, Estácio Ramos, Sergio Faria e Carlos Francisco de Almeida Filho, que intuem e organizam o nosso dia-a-dia. Os inestimáveis apoios recebidos da Caixa Econômica Federal, Petrobras, Ministério do Meio Ambiente, Ministérios Públicos Federal e Estaduais, CBEDS, IESB – Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia –, Ceplac, Gráfica Santa Helena, Fundação Luís Eduardo Magalhães, Sebrae, CET – Centro de Excelência em Turismo –, da UnB, UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz –, UNEB – Universidade do Estado da Bahia –, FIEB e CNI garantem a continuidade das nossas atividades. Os freis franciscanos Hilton Botelho (guardião do Convento de Santo Antônio de Cairu, fundado em 1654) e Lucas Dolle são também guardiões da UMA em Cairu. A Casa Pia e Colégio dos Órfãos de São Joaquim – mais antiga instituição voltada ao menor carente do país, com 206 anos de funcionamento ininterrupto e cujo provedor é o desembargador Claudionor Ramos, constante incentivador – abrigam o escritório da UMA, em Salvador. Os seculares exemplos de fé dessas instituições acolhem e reforçam a convicção de que este é o caminho. Ao completar 30 anos o WWI usa a expertise dos seus premiados pesquisadores e o carisma da sua experiência para estimular nas comunidades a visão do consumo sustentável. Escaneia as cadeias produtivas, revelando os processos insustentáveis de produção por trás dos produtos que o consumidor, desinformado, ajuda a fortalecer nas decisões de compra. Cons- xv Estado do Mundo 2004 UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL cientizado, o cidadão tende a optar pelo consumo sustentável. Nos países industrializados, o alto poder aquisitivo dos leitores permite a compra de livros e facilita o acesso às informações contidas nas publicações WWI, referências para o desenvolvimento sustentável. A Biblioteca Digital WWI – UMA, desenvolvida no Brasil, é uma experiência pioneira do WWI no mundo. Versões digitais das publicações estão disponíveis para download integral e gratuito, democratizando a informação. Propicia o livre acesso ao rico conteúdo das publicações para professores, alunos, pequenos empresários, cooperativas, ONGs e comunidades, ajudando a construir as bases para o desenvolvimento sustentável. Incentiva a eco-economia, difundindo tendências e experiências sobre grandes e pequenos econegócios. Além das nossas publicações, a Biblioteca Digital disponibiliza outras, consideradas referências nessa área no Brasil e no mundo. Está entre os sites ambientais mais visitados do Brasil, e no topo dos resultados de pesquisas por “worldwatch” no Google Internacional, www.google.com, maior máquina de pesquisa da Internet no mundo. Na era da Internet a informação não pode ficar apenas presa ao papel. xvi Quem fala em consumo com sustentabilidade não pode esquecer do mais perfeito sonho de consumo que alguém pode ter: o amor. Permitam-me parênteses para declarar uma intimidade: o amor à minha família. Minha mulher, Luciana, companheira incansável na organização das nossas vidas, e meus filhos, Daniel, Rogerio, Marcella, Luisa, Renata e Ricardo, carinhosos e pacientes. Compreensivos, convivem com um pai empresário, obstinado e sonhador. A família é base de equilíbrio numa sociedade sustentável. Neste ano de eleições, é oportuno lembrar que o voto é exercício de cidadania, válido todos os dias – não apenas de dois em dois anos, quando somos compulsoriamente convocados para as urnas. Enquanto o voto do consumidor, válido a cada segundo, tem o poder de empurrar a sociedade no sentido da sustentabilidade, o veto a cadeias produtivas não-sustentáveis e seus produtos é uma alavanca poderosa para guindar as comunidades para o consumo sustentável. Até agora, esta é a pequena história da parceria WWI – UMA no Brasil. Eduardo Athayde Diretor da UMA – Universidade Livre da Mata Atlântica e Editor do WWI – Worldwatch Institute no Brasil E-mail: [email protected] Estado do Mundo 2004 AGRADECIMENTOS Agradecimentos Esta vigésima primeira edição de Estado do Mundo exigiu a dedicação e esforço de todos os membros da talentosa equipe do Worldwatch e contou com o apoio generoso dos membros do Conselho, financiadores e amigos, pesquisadores, redatores, equipe comercial, especialistas em comunicações, bibliotecárias, estagiários e pessoal administrativo, todos merecedores de nossos sinceros agradecimentos por sua contribuição ao relatório especial deste ano sobre a sociedade de consumo. Começamos expressando nosso reconhecimento à comunidade da fundação, cujo apoio fiel sustenta e encoraja o trabalho do Instituto. The Overbrook Foundation e Merck Family Fund subvencionaram especificamente nosso trabalho sobre o consumo. Somos também reconhecidos a vários outros financiadores que generosamente apóiam o Worldwatch: a Aria Foundation, Richard & Rhoda Goldman Fund, The William and Flora Hewlett Foundation, The Frances Lear Foundation, NIB Foundation, V. Kann Rasmussen Foundation, A. Frank e Dorothy B. Rothschild Fund, The Shared Earth Foundation, The Shenandoah Foundation, Turner Foundation, Inc. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Wallace Global Fund, Weeden Foundation e The Winslow Foundation. Somos gratos também aos doadores individuais do Instituto, incluindo os mais de 3.500 amigos do Worldwatch, que, com seu entusiasmo, demonstraram forte compromisso com o Worldwatch e seus esforços para contribuir para um mundo sustentável. Somos particularmente gratos ao Conselho de Patrocinadores do Worldwatch – Adam e Rachel Albright, Tom e Cathy Crain, John e Laurie McBride e Wren e Tim Wirth –, que continuamente têm demonstrado sua confiança e apoio ao nosso trabalho com contribuições anuais generosas de US$ 50.000 ou mais. Para esta edição de 2004 de Estado do Mundo, o Instituto valeu-se dos talentos de um número sem precedentes de autores xvii 17 Estado do Mundo 2004 AGRADECIMENTOS externos, colocando em ação nosso objetivo estratégico de fortalecer os laços com pensadores renomados e experientes na área da sustentabilidade. Sandra Postel, Sênior Fellow do Worldwatch e diretora do Projeto de Políticas Globais para a Água, e Amy Vickers, autora premiada, engenheira e especialista em conservação da água, escreveram o capítulo sobre produtividade hídrica. Temos a satisfação também de incluir contribuições dos especialistas em consumo Isabella Marras, Solange Montillaud-Joyel e Guido Sonemann, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente; William McDonough e Michael Braungart, da McDonough Braungart Design Chemistry; Paul McRandle e Mindy Pennybacker, do Green Guide Institute; Juliet Schor, do Boston College, e David Tilford, do Center for a New American Dream. Os autores dos capítulos também agradecem o entusiasmo e dedicação da equipe de estagiários de 2003 pela sua perseverança na pesquisa de fatos pouco visíveis, produzindo gráficos, tabelas e quadros. Clayton Adams, com muita boa vontade, estendeu seu tempo conosco para localizar informações para os Capítulos 4, 6 e 7; Zöe Chafe prestou valiosa assistência nas pesquisas para o Capítulo 7 e a cronologia “Um Ano em Retrospecto”; Claudia Meulenberg habilmente administrou os infindáveis pedidos de ajuda para o Capítulo 1; Shawn Powers recolheu com afinco informações para os Capítulos 1, 3 e 5; e Anand Rao e Tawni Tidwell enriqueceram o Capítulo 2 com seu profundo conhecimento sobre as tendências energéticas globais. Altamente capazes e bem-dispostos, cada um foi uma xviii 18 adição estimulante à nossa equipe durante o último verão e outono. A gigantesca tarefa de rastrear artigos, revistas e livros de todo o mundo recaiu em Lori Brown, nossa bibliotecária pesquisadora. Além de manter os pesquisadores atualizados sobre as mais recentes questões em suas áreas, esta valeu-se do seu talento notável na coleta de informações para montar a cronologia dos significativos eventos globais na seção “Um Ano em Retrospecto.” Após a conclusão da pesquisa e elaboração iniciais, um processo de revisão interna pelos membros da equipe do Worldwatch ajudou a assegurar clareza e correção às nossas conclusões. Durante um dia inteiro de reunião, em agosto de 2003, os autores dos capítulos foram questionados, cumprimentados e resenhados pelos estagiários, pessoal da revista e outros analistas. Os autores são extremamente agradecidos pela excelente assessoria prestada, inclusive a ajuda dos colegas pesquisadores Chris Bright e Molly O’Meara Sheehan, que, mesmo ocupados com outros projetos ao longo do ano, encontraram tempo para contribuir com uma seção “Atrás dos Bastidores”. O staff de Ed Ayres e Tom Prugh, da revista World Watch, também dedicou suas capacidades editoriais na revisão das minutas. Resenhas de especialistas externos, que contribuíram generosamente com seu tempo, também foram indispensáveis para o produto final deste ano. Por seus comentários e sugestões abalizadas, como também pelas informações que muitos prestaram, nossos especiais agradecimentos a: Abe Agulto, Mark Anielski, Michael Appelby, Matt Bentley, William Browning, Estado do Mundo 2004 AGRADECIMENTOS David Brubaker, William Cain, Scot Case, Maurie Cohen, Dwight Collins, John de Graaf, Bas de Leeuw, Ed Diener, Chad Dobson, John Ehrenfeld, Andrea Fava, Tom Ferguson, Bette Fishbein, David Fridley, Bruce Friedrich, Sakiko Fukuda-Parr, Howard Geller, Gerard Gleason, Edward Groth III, Kirsty Hamilton, Marlene Hendrickson, Rich Howarth, Bobby Inocencio, Daniel Katz, Johathan Louie, Philip Lymbery, Mia Macdonald, Michael Marx, Jim Mason, William Moomaw, Rosa Moreno, Nick Parrott, Enrique Peñalosa, David Pimentel, Robert Prescott-Allen, Lynn Price, Howard Rappaport, Richard Reynells, John Rodwan, Hiroyuki Sato, Hans Schiere, Lee Schipper, Robert Schubert, Paul Shapiro, Ted Smith, Freyr Sverrisson, Joel Swisher, Ted Trainer, Arthur Weissman, Eric Williams, Paul Willis e David Wood. Agradecemos também a Norman Myers, da Universidade de Oxford, co-autor do livro a ser lançado The New Consumers: Rich Lives or Richer Lifestyles?, por nos ter introduzido numa nova visão dos consumidores no mundo. O apuro adicional de cada capítulo ocorreu sob o olhar cuidadoso da redatora independente Linda Starke, cujos 27 anos de experiência com as publicações do Worldwatch asseguraram a comunicação de nossas mensagens da forma mais clara possível e nosso cumprimento dos prazos. Após a conclusão da editoração e ajustes finais, o diretor de arte Lyle Rosbotham cuidadosamente elaborou o desenho de cada capítulo, da cronologia e da nova seção deste ano “Atrás dos Bastidores”. Ritch Pope finalizou a produção preparando o Sumário. Escrever é apenas o começo de fazer Estado do Mundo chegar a seus leitores. A tarefa então passa para nosso excelente Departamento de Comunicações, que trabalha em múltiplas frentes para assegurar que a mensagem de Estado do Mundo circule amplamente, além de nossos escritórios em Washington. A diretora de comunicações, Leanne Mitchell, a coordenadora de mídia, Susan Finkelpearl, e a associada de comunicações, Susanne Martikke, trabalharam junto aos pesquisadores na elaboração de nossas mensagens à imprensa, público e legisladores em todo o mundo. O webmaster Steve Conklin aplicou sua especialização técnica à transmissão de nossas informações, através do nosso novo website, e o gerente de TI Patrick Settle assegurou a operação ininterrupta das linhas de comunicação tanto interna quanto externamente. A vice-presidente para desenvolvimento comercial, Elizabeth Nolan, coordenou a cooperação com nossos parceiros editoriais globais, contribuindo com criatividade e vigor para nossos esforços de marketing. A assistente executiva Katherine Dirks, com sua disposição de enfrentar qualquer desafio, deu uma grande ajuda ao desenvolvimento comercial e ao presidente do Worldwatch, Christopher Flavin, garantindo o cronograma das reuniões e viagens. A diretora financeira e administrativa, Bárbara Fallin, administrou eficientemente as finanças do Instituto e manteve todo o pessoal calmo durante a reforma do escritório neste último verão. Joseph Gravely continuou reinando como o Tzar do Departamento de Correio do Worldwatch. Lamentavelmente, tivemos que dizer adeus a Adrianne Greenlees, vice-presidente de desenvolvimento do Instituto, em julho, mas tivemos a felicidade de encontrar um xix 19 Estado do Mundo 2004 AGRADECIMENTOS excelente substituto em John Holman. Ele e a assistente de desenvolvimento, Cyndi Cramer, trabalham incessantemente para divulgar a palavra do Worldwatch e dar as boas-vindas às novas adições à família Worldwatch. As atividades de levantamento de recursos da fundação do Instituto continuam sob a liderança capaz de Kevin Parker, nosso diretor de relações com a fundação, assistido pela associada de desenvolvimento Mary Redfern. Ambos vêm trabalhando com nossos patrocinadores na fundação, cultivando novos relacionamentos, que sustentarão o trabalho do Instituto nos anos futuros. Estendemos nossos agradecimentos especiais a nossos parceiros em todo o mundo por seus esforços extraordinários na divulgação da mensagem do desenvolvimento sustentável. O Estado do Mundo é publicado regularmente em 31 idiomas e 39 edições diferentes, graças, em grande parte, à dedicação de uma gama de editores, organizações não-governamentais, grupos da sociedade civil e indivíduos que prestam serviços de consultoria, como também de tradução, atividades de campo, publicação e assistência para nossas pesquisas. Gostaríamos de agradecer particularmente a ajuda recebida de Øysten Dahle, Magnar Norderhaug e Helen Eie, na Noruega; Brigitte Kunze, Christoph Bals, Klaus Milke, Bernd Rheinberg e Gerhard Fischer, na Alemanha; Soki Oda, no Japão; Anna Bruno Ventre e Gianfranco Bologna, na Itália; Lluis Garcia Petit e Marisa Mercadoi, na Espanha; Jung Yu Jin, na Coréia, George Cheng, em Taiwan; Yesim Erkan, na Turquia; Viktor Vovk, na Ucrânia; Tuomas Seppa, na Finlândia; Zsuzsa Foltanyi, na Hungria; Ioana Vasilescu, na xx 20 Romênia; Hamid Taravaty, no Irã; Eduardo Athayde, no Brasil, e Jonathan Sinclair Wilson, no Reino Unido. Para uma lista completa de nossos parceiros globais, visite www.worldwatch.org/partners. Gostaríamos também de expressar nossa gratidão à nossa editora de longa data nos Estados Unidos, W.W. Norton & Company. Graças à dedicação de sua equipe – especialmente Amy Cherry, Leo Wiegman, Andrew Marasia, Julia Druskin e Lucinda Bartley – as publicações do Worldwatch estão disponíveis em qualquer lugar, desde campi universitários até pequenas livrarias locais. Nossos agradecimentos especiais pelo trabalho árduo e leal dos membros do Conselho de Administração do Instituto, que deram contribuições importantes em planejamento estratégico, desenvolvimento organizacional e levantamento de fundos durante o último ano. Estamos felizes com a entrada de três novos e eminentes membros do Conselho: Akio Morishima, presidente do Conselho do Instituto de Estratégias Ambientais Globais, no Japão; Geeta Aiyer, presidente da Boston Common Asset Management, nos Estados Unidos, e Satu Hassi, ex-Ministro do Meio Ambiente da Finlândia e atual membro do Parlamento finlandês. Dedicamos esta edição de Estado do Mundo a Tom e Cathy Crain, membros do Conselho de Administração do Instituto e do Conselho de Patrocinadores. No final dos anos 90, os Crains tiveram uma “epifania” quando trabalhavam na indústria financeira, que os levou a abraçar a causa da sustentabilidade. Hoje, Tom e Cathy são tão bem-informados sobre a economia da sustentabilidade e a globalização e tão Estado do Mundo 2004 AGRADECIMENTOS dedicados à reforma do sistema econômico global quanto qualquer membro da nossa equipe. Desde que se juntaram ao Conselho do Worldwatch, em 1998, Tom e Cathy vêm desempenhando um papel de destaque no planejamento estratégico do Instituto, ajudando a construir tanto a participação quanto as operações do Conselho, contribuindo significativamente para a base financeira do Instituto. Tom é hoje vicepresidente e tesoureiro do Instituto, e Cathy preside o Comitê de Designação. Nossos agradecimentos são insuficientes para externar nossa gratidão por seu compromisso com um futuro sustentável. Finalmente, gostaríamos de estender um caloroso voto de boas-vindas à mais jovem adição à família Worldwatch, Elizabeth Rose McGinn, nascida em novembro de 2002, filha da pesquisadora sênior Anne Platt McGinn. É para Elizabeth e sua geração que nos esforçamos incessantemente na busca de caminhos que tornem o nosso planeta mais habitável. Brian Halweil e Lisa Mastny Diretores de Projeto xxi 21 Estado do Mundo 2004 AGRADECIMENTOS Sumário Apresentação por Enrique Iglesias vii Presidente do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento Uma Pequena História da Parceria WWI – UMA no Brasil ix Agradecimentos xvii Lista de Quadros, Tabelas e Figuras xxiii Introdução xxvii BØrge Brende Ministro do Meio Ambiente da Noruega Prefácio xxix Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto xxxiii Lori Brown 1 O Estado do Consumo Hoje Gary Gardner, Erik Assadourian e Radhika Sarin ATRÁS DOS BASTIDORES: Sacos Plásticos 2 Escolhendo Melhor a Energia Janet L. Sawin ATRÁS DOS BASTIDORES: Computadores 3 Incrementando a Produtividade Hídrica Sandra Postel e Amy Vickers ATRÁS DOS BASTIDORES: Antibacterianos 22 3 25 28 4 Controlando Nossa Alimentação Brian Halweil e Danielle Nierenberg 82 ATRÁS DOS BASTIDORES: Água Engarrafada 105 108 111 114 117 Frangos Chocolate Camarões Refrigerantes 5 Rumos para uma Economia Menos Consumista 120 Michael Renner ATRÁS DOS BASTIDORES: Telefones Celulares 148 6 Comprando para as Pessoas e o Planeta Lisa Mastny 151 ATRÁS DOS BASTIDORES: Papel 7 Articulando Globalização, Consumo e Governança Hilary French ATRÁS DOS BASTIDORES: Algodão 175 178 Camisetas de 200 52 8 Repensando a Boa Vida 203 Gary Gardner e Erik Assadourian 55 Notas Sabonetes 79 223 Estado do Mundo 2004 AGRADECIMENTOS Lista de Quadros, Tabelas e Figuras Quadros 1 O Estado do Consumo Hoje 1-1 E Quanto à População? 6 2 Escolhendo Melhor a Energia 2-1 Surto da Demanda Energética na China e Índia 2-2 Só Eficiência Não Basta 2-3 Os Altos e Baixos da Tecnologia da Informação 32 36 39 3 Incrementando a Produtividade Hídrica 3-1 Dessalinização – Solução ou Sintoma? 3-2 Privatização e Vazamento: Omissão de Prestação de Contas 3-3 Programas Urbanos de Conservação Hídrica que Poupam Água e Dinheiro 3-4 Bebendo o Gramado e a Farmácia do Vizinho 3-5 Medidas que Podemos Tomar para Reduzir Nosso Impacto sobre a Água Doce 66 68 70 73 76 4 Controlando Nossa Alimentação 4-1 Varrendo os Mares 4-2 Alimentos de Luxo 4-3 Políticas Prioritárias para Repensarmos Nossa Relação com os Alimentos 85 86 104 5 Rumos Para uma Economia Menos Consumista 5-1 A Alternativa Berço-a-Berço 130-131 5-2 Consumidores Americanos, Produtos Baratos e a Exploração Global da Mão-de-obra 144-145 6 Comprando para as Pessoas e o Planeta 6-1 Esverdeando Contratos de Compra 6-2 Compromisso da Home Depot com Produtos de Madeira Sustentável 6-3 A Abordagem de Ciclo de Vida 154 163 169 xxiii 23 Estado do Mundo 2004 LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS 7 Articulando Globalização, Consumo e Governança 7-1 O Comércio Justo e o Consumidor 7-2 Utilizando o Poder dos Jovens para Mudar o Mundo 7-3 Destaques do Plano de Ação de Joanesburgo 8 Reconsiderando a Boa Vida 8-1 A Experiência de Gaviotas: Priorizando o Bem-Estar 8-2 Medindo o Bem-Estar 8-3 Encorajando Anunciantes a Promover a Sustentabilidade 183-84 187-88 190-91 213 215 219 Tabelas 1 O Estado do Consumo Hoje 1-1 Gastos com Consumo e População, por Região, 2000 1-2 Classe de Consumidores, por Região, 2002 1-3 Dez Maiores Populações Nacionais de Classe de Consumidor, 2002 1-4 Proporção das Despesas Domésticas em Alimentação 1-5 Consumo Familiar, Países Selecionados, Cerca de 2000 1-6 Gasto Anual em Itens de Luxo Comparado com os Recursos Necessários para o Atendimento de Necessidades Básicas Selecionadas 1-7 Tendências Globais dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente 2 Escolhendo Melhor a Energia 2-1 Consumo de Energia e Emissões de Dióxido de Carbono Anuais, Países Selecionados 2-2 Frotas de Veículos Particulares e Comerciais, Países Selecionados e Total, 1950–99 2-3 Posse de Eletrodomésticos nos Países Industrializados e em Desenvolvimento, Anos Selecionados 2-4 Consumo de Energia e Bem-Estar, Países Selecionados 3 Incrementando a Produtividade Hídrica 3-1 Extrações Anuais Estimadas de Água, Per Capita, Países Selecionados, 2000 3-2 Populações sem Acesso a Água Potável e Saneamento, 2000 3-3 Uso de Gotejamento e Microirrigação, Países Selecionados, 1991 e Cerca de 2000 3-4 Água Consumida para Suprir Proteínas e Calorias, Alimentos Selecionados 3-5 Vazamentos e Perdas em Sistemas de Abastecimento de Água, Países Selecionados 3-6 Exemplos de Economia de Água Industrial pela Conservação xxiv 24 7 7 8 9 10 11 19 31 34 40 50 60 61 63 65 68 75 Estado do Mundo 2004 LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS 5 Rumos para uma Economia menos Consumista 5-1 Estimativas de Subsídios e Externalidades Globais Ambientalmente Danosas 5-2 Receita Fiscal Ambiental, União Européia, Anos Selecionados 5-3 Leis sobre o Princípio de Responsabilidade do Produtor, Setores Selecionados 5-4 Economia de Energia Obtida pela Substituição da Produção Primária por Materiais Secundários 5-5 Novas Abordagens à Jornada de Trabalho na Europa 6 Comprando para as Pessoas e o Planeta 6-1 Exemplos de Aquisições Verdes em Empresas Selecionadas 6-2 Exemplos de Aquisições Governamentais Verdes 7 Articulando Globalização, Consumo e Governança 7-1 A Disseminação do “McMundo” 7-2 Parcerias Selecionadas de Produção e Consumo Relacionadas à Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável 7-3 Principais Conflitos Comerciais Relacionados à Produção e Consumo Sustentáveis 123 124 133 135 142 156 159 180 192-93 195-96 Figuras 1 O Estado do Consumo Hoje 1-1 Gastos em Publicidade nos Estados Unidos e Mundiais, 1950–2002 1-2 Mudanças na Atividade Econômica e na Saúde dos Ecossistemas, 1970–2000 16 20 3 Incrementando a Produtividade Hídrica 3-1 Produtividade Hídrica de Economias Nacionais, Países Selecionados, 2000 3-2 Produtividade Hídrica dos Estados Unidos, 1950–2000 3-3 Consumo Doméstico de Água, Cidades e Países Selecionados 58 59 71 4 Controlando Nossa Alimentação 4-1 Carne Industrial: Insumos e Produtos 4-2 Vendas Globais de Alimentos Orgânicos, Cerca de 2002 4-3 Principais Plantios Nacionais em Área Orgânica Certificada, Cerca de 2002 4-4 Ingredientes Locais Versus Importados: Grã-Bretanha 89 95 95 100 5 Rumos Para Uma Economia Menos Consumista 5-1 Necessidades Materiais Per Capita nos Estados Unidos, Alemanha e Japão, 1996 5-2 Crédito ao Consumidor a Receber nos Estados Unidos, 1950–2003 127 139 xxv 25 Estado do Mundo 2004 LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS 5-3 Jornada Anual Trabalhadas por Pessoa Empregada nos Principais Países Industrializados, Anos Selecionados, 1913–98 141 6 Comprando para as Pessoas e o Planeta 6-1 Gastos Governamentais como Parcela do PIB em Países Selecionados, 1998 153 7 Articulando Globalização, Consumo e Governança 7-1 Exportações Mundiais de Bens e Serviços, 1950–2002 7-2 Exportações Mundiais de Commodities Selecionadas, 1961–2001 7-3 Pegada Ecológica por Pessoa em Nações Selecionadas, 1999 181 182 182 8 Reconsiderando a Boa Vida 8-1 Renda Média e Felicidade nos Estados Unidos, 1957–2002 205 xxvi 26 Estado do Mundo 2004 INTRODUÇÃO Introdução Um leitor cético poderia perguntar se o mundo ainda precisa de outro relatório detalhando a extensão e urgência dos desafios globais. Porém, Estado do Mundo 2004 é diferente. Enfoca o consumo – um dos elementos mais centrais e também um dos mais negligenciados na busca global por um futuro sustentável. O Plano de Ação que surgiu da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo, África do Sul, em 2002, declara: “Mudanças fundamentais na forma de as sociedades produzirem e consumirem são indispensáveis para a conquista de um desenvolvimento sustentável global”. A manutenção desse compromisso solene é hoje parte das minhas responsabilidades desde que fui eleito, em 2004, presidente da Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS), o órgão das Nações Unidas de acompanhamento dos acordos do Rio e Joanesburgo. O consumo, naturalmente, é essencial para o bem-estar da humanidade, porém o consumo exagerado ou o consumo errado mina tanto nossa saúde pessoal quanto a saúde do meio ambiente natural do qual dependemos. A CDS oferece uma oportu- nidade singular para uma gama diversificada de comunidades – desde povos indígenas até educadores, agricultores e executivos – compartilharem idéias sobre como enfrentar os desafios impostos por nossa sociedade de consumo. Nas reuniões anuais da CDS, as pessoas tomam conhecimento sobre o que está e não está funcionando em várias partes do mundo e fortalecem-se com a experiência de outros. Governos aprendem como aplicar o princípio politicamente complexo do “poluidor paga” e como eliminar subsídios danosos. A 12ª reunião da CDS, que presidirei nas Nações Unidas em abril de 2004, deslanchará o programa decenal de produção e consumo sustentáveis exigido em Joanesburgo. Além disso, essa reunião dará um foco importante à água, ao saneamento e aos assentamentos humanos, todos elementos essenciais do consumo sustentável e também chave para a conquista de outra prioridade central das Nações Unidas – a eliminação da pobreza em todo o mundo. Como os qualificados especialistas do Worldwatch Institute mostram em grande detalhe nesta edição de Estado do Mundo, novos padrões de consumo serão necessáxxvii 27 Estado do Mundo 2004 INTRODUÇÃO rios para retirar bilhões de pessoas da pobreza de uma forma consistente com a sustentabilidade global. Todos nós tomamos decisões importantes, diariamente, que afetam não apenas nossas próprias comunidades, mas também o mundo como um todo – tanto sua população atual quanto a futura. Como foi reconhecido em Joanesburgo, grande parte da responsabilidade de equilibrar nossa sociedade de consumo com o planeta recai sobre as nações mais ricas, não apenas por serem responsáveis pelo maior consumo global, mas porque podem ajudar os países em desenvolvimento a “pular” algumas das escolhas insustentáveis que as nações industrializadas hoje exportam. No final, o consumo sustentável é uma preocupação comum que requer nossos esforços conjuntos. Um exemplo de uma nova abordagem do consumo, envolvendo produtores e consumidores, é o trabalho da Rainforest Alliance, organização sem fins lucrativos. Esta assinou acordos importantes com uma grande empresa de café, como também com um produtor de banana e outras grandes empresas alimentícias, para monitorar as práticas ambientais em fazendas onde suas matérias-primas são produzidas. Consumidores ambientalmente conscientes poderão adquirir os produtos ecorrotulados que serão os frutos desse projeto. Precisamos de mais exemplos como este para mostrar que dispomos de meios – se quisermos utilizá-los – para aplicar o conceito da produção mais limpa, dar aos consumidores condições de fazerem escolhas informadas e exigir e fornecer informações ambientais. Também dispomos de meios para aplicar o princípio do “poluidor xxviii 28 paga”, eliminar subsídios danosos e criar novos mercados. Quando utilizarmos essas ferramentas, mudaremos nossos padrões de consumo e produção, tornandoos mais sustentáveis. Estou compromissado na realização de uma das singulares competências da CDS no que tange ao consumo e a outras questões: forjar alianças entre o setor corporativo, grupos de cidadãos e outros, a fim de conseguir mudanças positivas para o mundo. Espero que, ao destacar as realizações dessas alianças e enfatizar soluções inovadoras, Estado do Mundo 2004 contribua para a evolução de uma sociedade sustentável. Não pude ler todo o conteúdo deste livro e, assim, não poderei endossar cada idéia que contém. Mas, com base no que li até agora, estou convencido de que Estado do Mundo, da mesma forma que no passado, proporcionará uma gama significativa de idéias inovadoras que, seguramente, serão úteis para mim e para outros envolvidos nas deliberações da CDS em 2004. Como assinalam os autores, o que está faltando hoje é ação determinada. É com isso que todos nós devemos estar comprometidos. O desafio é gigantesco, mas a alternativa é inconcebível. Mais do que nunca, o que fica claro em Estado do Mundo 2004 é que cada de um nós desempenha diariamente um papel na mudança do mundo. E embora isso possa parecer intimidador, poderá também ser uma fonte de energia coletiva. BØrge Brende Ministro do Meio Ambiente da Noruega Presidente da Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável Estado do Mundo 2004 PREFÁCIO Prefácio Em seu livro An All-Consuming Century, o professor de História Gary Cross argumenta que o “consumismo” ganhou as guerras ideológicas do século XX. Embora a maioria das histórias dos desenvolvimentos econômicos e políticos recentes tenham sugerido que foi o capitalismo ou a democracia que triunfou sobre o comunismo, Cross constrói uma argumentação convincente de que é o consumismo que define nossa era, e é a lente por meio da qual a maioria das pessoas vê nosso tempo.1 O alcance da sociedade de consumo pode ser medido pelos grandes aumentos na aquisição de automóveis, fast-food, aparelhos eletrônicos e outros símbolos do estilo de vida moderno. Mas o argumento de que é o consumismo que define nossa era tem raízes mais profundas: a necessidade de comprar e consumir, atualmente, domina o espírito de muitas pessoas, preenchendo o espaço anteriormente ocupado pela religião, família e comunidade. O consumo tem proporcionado a centenas de milhões de pessoas um novo sentido de independência e tornou-se um padrão comum para medir a realização pessoal. O tempo dedicado à igreja, agora, é menor em comparação com o tempo passado no “shopping” – e a relação do consumo com objetivos econômicos mais abrangentes, tais como emprego, é a pedra de toque dos políticos. No esteio do 11 de setembro de 2001, o Presidente Bush recomendou a seus conterrâneos que era seu dever patriótico irem aos shoppings e “comprar”. Embora o livro de Gary Cross focalize os Estados Unidos, sua análise pode ser aplicada a uma parcela cada vez maior da população mundial. Conforme um estudo recente, 1,7 bilhão de pessoas – 27% da humanidade – já entraram na sociedade de consumo. Desse grupo, aproximadamente 270 milhões estão nos Estados Unidos e Canadá, 350 milhões na Europa Ocidental e 120 milhões no Japão. Porém, quase metade dos consumidores mundiais vive agora nos países em desenvolvimento, incluindo 240 milhões na China e 120 milhões na Índia – cifras que dispararam dramaticamente nas últimas duas décadas à medida que a globalização introduziu milhões de pessoas no mercado de bens de consumo, fornecendo ao mesmo tempo tecnologia e capital necessários para sua produção e disseminação.2 xxix 29 Estado do Mundo 2004 PREFÁCIO No trigésimo aniversário do Worldwatch Institute, esta edição de Estado do Mundo examina como consumimos, por que consumimos e que impacto nossas escolhas de consumo têm sobre o planeta e nossos semelhantes. Com capítulos sobre alimento, água, energia, governança, economia e a redefinição da boa vida, a premiada equipe de pesquisadores do Worldwatch pergunta se uma sociedade menos consumista é possível – e passa a argumentar como é crucial. Naturalmente, o consumo é necessário para a vida e o bem-estar da humanidade, e se a escolha é entre ser parte da sociedade de consumo ou estar entre os 2,8 bilhões de pessoas que mal sobrevivem com menos de US$ 2 diários, a resposta é fácil. Aumentos maciços na ingestão de calorias, qualidade de moradia, eletrodomésticos e muitas outras amenidades da metade do século passado ajudaram a tirar centenas de milhões de pessoas da pobreza. Porém, o consumo entre as ricas elites mundiais, e cada vez mais na classe média, tem, nas últimas décadas, ido muito além de saciar as necessidades ou mesmo de realizar sonhos, para tornar-se um fim em si mesmo. É como se o mundo estivesse agora seguindo a exortação do analista de varejo, pós II Guerra Mundial, Victor Lebow, que disse “nossa gigantesca economia produtiva... exige que façamos do consumo nosso meio de vida, que convertamos a compra e uso de bens em rituais, que procuremos nossa satisfação espiritual, nossa auto-satisfação, no consumo... Precisamos que coisas sejam consumidas, queimadas, gastas, substituídas e descartadas num ritmo cada vez mais acelerado”. Esse modelo, embora raramenxxx 30 te descrito tão cruamente, ajudou a alimentar o crescimento sem paralelo da economia global ao longo das últimas cinco décadas, criando rendas e empregos para centenas de milhões de pessoas.3 Entretanto, a busca desenfreada do consumo também impôs um alto custo, um custo que cresce pelo menos tão rápido quanto o próprio consumo. O consumo hoje absorve grandes quantidades de recursos, muitos dos quais estão sendo consumidos agora além dos níveis de sustentabilidade. Somente nos últimos 50 anos, o uso mundial de água doce triplicou, enquanto o consumo de combustíveis fósseis quintuplicou. Os recursos renováveis estão particularmente sob ameaça, desde os lençóis freáticos em queda no norte da China até os pesqueiros exauridos do Atlântico Norte. Ao longo do tempo, melhorou a eficiência do uso humano dos recursos, e a exaustão de recursos foi substituída por outras, mas o padrão da metade do século passado permanece claro: a poluição e degradação de recursos, conseqüência do consumo crescente, continuam a piorar, e o preço está sendo medido não só em ecossistemas prejudicados, mas em doença e miséria humanas – particularmente entre os mais pobres. Os bilhões de toneladas de dióxido de carbono que se acumulam na atmosfera como resultado do aumento dos níveis de consumo de combustíveis fósseis estão agora levando esses problemas em nível mundial na forma da mudança climática.4 O desafio real está adiante. A corrida global ao consumo adquiriu um ímpeto extraordinário que pressionará cada vez mais a humanidade e a natureza nas décadas futuras. Esse ímpeto é, por exemplo, visível na China, saída da inexistên- Estado do Mundo 2004 PREFÁCIO cia virtual de carros particulares em 1980 para 5 milhões de carros em 2000 – e que provavelmente terá 24 milhões de automóveis em 2005, deixando de fora ainda mais de 1 bilhão de compradores em potencial.5 Não somente centenas de milhões de pessoas no mundo em desenvolvimento entrarão na sociedade de consumo, como os níveis de consumo per capita daqueles que já fazem parte dela continuarão a aumentar à medida que casas e automóveis aumentem de tamanho e quinquilharias proliferem. E, ainda mais, conforme o consumo per capita cresce, o número absoluto de pessoas também continua a aumentar – quase 3 bilhões de seres humanos serão adicionados em meados do século. O efeito conjunto de consumo e população é particularmente alarmante, mas entre os dois o consumo é mais renitente. A maioria das projeções mostra que a população mundial estabilizará na segunda metade do século à medida que as taxas de fertilidade declinem. Mas o consumo simplesmente continuará a aumentar. É esta perspectiva intimidante que levou a equipe de pesquisa do Worldwatch a focar a maior parte do seu trabalho no ano passado no consumo, seguindo as pegadas inovadoras de nosso ex-colega Alan Durning, que escreveu How Much is Enough? em 1992. Durning chamou atenção para um enigma que está, atualmente, tornando-se cada vez mais visível: a busca obsessiva do consumo não somente solapará a qualidade de vida daqueles que vivem na sociedade de consumo, mas também diminuirá a capacidade daqueles fora da classe consumista de satisfazerem suas necessidades básicas.6 No desenvolvimento do tema consumo – ao longo de Estado do Mundo deste ano – procuramos ir além da descrição dos dilemas que este impõe, passando pela exploração dos meios que possam contê-lo e redirecioná-lo com o fim de melhorar as perspectivas do bem-estar e sustentabilidade humanas. Nas páginas seguintes, os autores mostram como em tudo, desde nosso uso da energia e água até nosso consumo de alimentos, podemos fazer escolhas que melhorarão nossa saúde, criarão empregos e reduzirão as pressões sobre os ecossistemas naturais do mundo. Para alcançar esse objetivo, intercalamos nos capítulos de Estado do Mundo 2004 artigos curtos sobre uma variedade de produtos do cotidiano – de computadores a frangos e refrigerantes –, a fim de permitir que os leitores vejam esses bens sob uma nova perspectiva. Também mostramos muitas circunstâncias nos quais os consumidores estão se organizando para adquirir bens tais como produtos de madeira cultivada sustentavelmente, cacau orgânico e café de “comércio justo”. Embora esses movimentos, em sua maioria, sejam diminutos em comparação com a economia maior do consumo, estão crescendo rapidamente e poderão, em breve, tornar-se uma força poderosa em muitos mercados. Nosso objetivo em Estado do Mundo 2004 não é abordar uma das questões mais importantes de nossa época somente para informação e motivação de nossos leitores, mas trabalhar com nossos associados em todo o mundo para fornecer idéias concretas a todos aqueles que queiram abandonar a rotina do consumo. Em parte o consumismo é, naturalmente, um desaxxxi 31 Estado do Mundo 2004 PREFÁCIO fio social que exigirá uso efetivo de regulamentação oficial e política fiscal para alcançar o bem comum. Porém, mais do que na maioria das questões, mudanças nas práticas de consumo requererão milhões de decisões individuais que podem somente ter origem nas bases. Como ajuda neste processo estaremos, em breve, abrindo um portal de consumo no website do Worldwatch que conterá material selecionado de Estado do Mundo, links com organizações que trabalham ativamente em campanhas sobre consumo e dicas sobre como tornarse um consumidor mais informado. Esse portal também incluirá um guia para Estado do Mundo que terá dúzias de vinhetas sobre itens comumente usados, como também sugestões para encontrar alternativas mais sustentáveis. Adicionalmente, o portal fornecerá informações de contatos para muitas das organizações parceiras em todo o mundo que ajudaram a reunir informações para este livro e que estão trabalhando para mudar os hábitos de consumo, incluindo o Green xxxii 32 Guide, a Silicon Valley Toxics Coalition e o Center for a New American Dream. Seria ingenuidade subestimar o desafio de conter o ímpeto consumista. Poucas forças são tão poderosas ou disseminadas. Porém, à proporção que os custos do consumo desenfreado tornem-se claros, acreditamos que as idéias inovadoras descritas nestas páginas também serão aceitas num ritmo acelerado. No longo prazo, tornar-se-á aparente que atingir objetivos geralmente aceitos – atendimento das necessidades básicas humanas, melhoria da saúde humana e apoio a um mundo que nos possa sustentar – exigirá que controlemos o consumo em vez de permitirmos que o consumo nos controle. Esperamos que você leia, analise e questione as informações e idéias desenvolvidas nestas páginas. Aguardamos suas sugestões para o fortalecimento das futuras edições de Estado o Mundo. Christopher Flavin Presidente Worldwatch Institute Novembro de 2003 Estado do Mundo 2004 ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto Em seguida à reação positiva à inovação da seção “Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto” no ano passado, continuamos a documentar os vários eventos e desafios ao longo do caminho para o desenvolvimento sustentável. A edição deste ano foi compilada pela bibliotecária pesquisadora Lori Brown, com contribuições de toda a equipe. Zöe Chafe, Lisa Mastny e Radhika Sarin deram uma ajuda especial na composição da nova cronologia. A cronologia, este ano, cobre eventos e relatórios significativos desde outubro de 2002 até a impressão de Estado do Mundo 2004, em outubro de 2003. Novamente, é um misto de avanços, retrocessos e passos em falso em todo o mundo, que afetam os objetivos sociais e ambientais da sociedade. Não houve ênfase em abrangência, e sim no destaque de eventos que aumentaram a conscientização das ligações entre pessoas e meio ambiente. Sempre apreciamos qualquer feedback dos nossos leitores e esperamos continuar compilando a cronologia, à medida que avançamos no novo milênio. xxxiii 33 Estado do Mundo 2004 ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO CLIMA A ONU informa que o setor de seguros poderá perder até US$ 150 bilhões anuais, na próxima década, devido a danos relacionados à mudança climática. CRIANÇAS Relatório divulga que 72 grupos, num conflito armado na Ásia, África, América Latina e Europa, utilizam crianças, principalmente entre 14 e 17 anos, como soldados. ALIMENTOS O Programa Mundial de Alimentos alerta que 40 milhões de pessoas na África estão ameaçadas de inanição, devido a fatores climáticos, questões de saúde, distúrbios civis e políticas econômicas. ÁGUA Estudo revela que a extração de mananciais para uso doméstico, industrial e pecuário deverá aumentar pelo menos 50% até 2025. POLUIÇÃO O petroleiro Prestige, com 77.000 toneladas de petróleo, quebra-se, contaminando o litoral da Galícia, na Espanha, desencadeando protestos mundiais. CRIANÇAS Autoridades divulgam que pelo menos 300.000 crianças de até cinco anos trabalham em minas na Colômbia, arriscando-se a contrair doenças respiratórias. S AÚDE Ministros de Saúde na UE estendem proibição à publicidade do fumo na TV, rádio, jornais, Internet e eventos esportivos na Europa. TURISMO Com quase um terço dos turistas mundiais passando férias no litoral do Mediterrâneo, técnicos alertam sobre graves conseqüências ambientais. 34 xxxiv BIODIVERSIDADE UNESCO cria 18 novas reservas da biosfera em 12 países, estendendo a primeira biosfera trans-fronteira na África. CLIMA Observações de satélite do Oceano Ártico mostram que a área coberta de gelo é a menor dos últimos 20 anos. ENERGIA Oito veículos de célula de combustível a hidrogênio são entregues a autoridades japonesas e americanas. DIREITOS HUMANOS Grupo de direitos humanos no Paquistão revela que pelo menos 461 mulheres foram mortas no ano por membros da família, em “defesa da honra”. ENERGIA A última turbina do maior projeto offshore de energia eólica entra em operação em Horns Rev, devendo gerar 2% da energia da Dinamarca. Estado do Mundo 2004 ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO CLIMA Um relatório australiano revela que a mudança climática provocada pelo homem é o fator preponderante em 70 das piores secas na história do país. GOVERNANÇA Grupo ambiental americano acusa o governo Bush de ter realizado mais de 100 mudanças que enfraqueceram a legislação ambiental. BIOTECNOLOGIA Relatório divulga que a área global com lavouras transgênicas aumentou 12% mundialmente, atingindo 58,7 milhões de hectares. POLUIÇÃO A ONU informa que usinas de energia a carvão e incineradores de lixo nos países em desenvolvimento são fontes da maioria das contaminações por mercúrio. CLIMA O RU anuncia planos para reduzir as emissões domésticas de carbono em 60% até 2050, bem além do compromisso de Kyoto. ENERGIA Relatório prevê que as turbinas eólicas fotovoltaicas expandirão, de um mercado de US$ 9,5 bilhões hoje, para US$ 89 bilhões até 2012. DIREITOS HUMANOS A ONU informa que 30 milhões de mulheres e crianças na Ásia e Pacífico foram vítimas de tráfico nos últimos 30 anos, “no maior comércio escravo da história”. POPULAÇÃO A ONU projeta que até 2050 a população mundial atingirá 8,9 bilhões, caindo da previsão anterior de 9,3 bilhões. SEGURANÇA Os Estados Unidos lançam uma campanha de bombardeio generalizado no Iraque, suscitando questões de ligações petrolíferas, oferta futura de energia e segurança mundial. ECONOMIA O Banco Mundial estima que os combatentes na guerra civil boliviana extorquiram, em 20 anos, US$ 1 bilhão de corporações nacionais. ECOSSISTEMAS Cientistas revelam que muitas plantas e animais aparentam reagir à mudança climática deslocando-se de suas áreas ou iniciando mais cedo as atividades primaveris. ÁGUA A ONU revela que 263 bacias hidrográficas são compartilhadas por duas ou mais nações, criando conflitos em potencial para cerca de 40% da população global. xxxv 35 Estado do Mundo 2004 ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO GENÉTICA Cientistas anunciam ter finalmente concluído o rastreamento do código genético humano. PESQUEIROS Cientistas revelam que a pesca industrial matou 90% das maiores e mais economicamente importantes espécies de peixe. SAÚDE Relatório revela que mortes causadas pela malária continuam “vergonhosamente altas”, com mais de 3.000 crianças africanas morrendo diariamente. ECONOMIA O Índice de Compromisso com o Desenvolvimento classifica a Holanda como a melhor amiga do desenvolvimento entre 21 países ricos, com base em ajuda a nações pobres. PESQUEIROS O governo do Canadá declara o fim da pesca de bacalhau em quase todo o seu mar territorial no Atlântico, devido ao declínio dos estoques. xxxvi 36 GOVERNANÇA Os membros da Comissão Internacional sobre a Pesca da Baleia aprovam a Iniciativa de Berlim, votando a favor de uma agenda focada em conservação e não em consumo. ENERGIA Comportas da Barragem das Três Gargantas são fechadas e o Rio Yangtze, na China, começa a encher o reservatório, que terá uma capacidade de geração de 18,2 gigawatts até 2009. ÁGUA Pela primeira vez na América do Sul, 4 países cooperam na gestão de um manancial de água subterrânea: o Guarani, o maior aqüífero do continente. SAÚDE Os 192 membros da OMS adotam por unanimidade o primeiro tratado de saúde pública destinado a reduzir mortes e doenças relacionadas ao fumo. FLORESTAS Relatório divulga que o desmatamento na Amazônia aumentou 40% em comparação a 2001, e o Brasil registra o segundo maior aumento em 15 anos. ALIMENTOS A rede de fast-food McDonald’s exige de seus fornecedores de carne a eliminação gradativa de antibióticos promotores de crescimento. CRIME A ONU lança a “alfândega verde” para combater o comércio ilegal multibilionário de produtos químicos, resíduos perigosos e espécies ameaçadas. Estado do Mundo 2004 ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO SAÚDE A OMS anuncia que a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) foi contida após disseminar-se por 30 países, matando 812 e contaminando 8.439 pessoas. BIOTECNOLOGIA Irrompe uma áspera disputa entre EUA e UE sobre lavouras transgênicas e os Estados Unidos solicitam a formação de um painel formal da OMC para julgar a questão. MINERAÇÃO 15 das maiores empresas mundiais de mineração e produção de metais comprometem-se a não explorar sítios de Patrimônio da Humanidade. CLIMA A Europa adota a primeira lei climática de comercialização de emissões, dando ao dióxido de carbono um valor de mercado em toda a UE quando iniciarem os negócios em 2005. ALIMENTAÇÃO Agências de ajuda informam que a AIDS está incrementando a fome no sul da África, onde 7 milhões de agricultores morreram da epidemia. CLIMA Cientistas relatam que o hemisfério norte da Terra ficou mais quente a partir de 1980 do que em qualquer época durante os últimos 2.000 anos. ENERGIA O maior apagão da história dos Estados Unidos e Canadá afeta 50 milhões de pessoas em oito estados e duas províncias. FLORESTAS Cientistas informam que 10% das espécies arbóreas do planeta estão ameaçadas de extinção, devido à atividade madeireira, fragmentação florestal e plantações de espécies alienígenas invasivas. POVOS INDÍGENAS Quatro mulheres Pehuenche terminam um protesto de 6 anos contra uma barragem hidrelétrica que inundará suas terras ancestrais no Chile. CAMADA DE OZÔNIO Cientistas informam que o buraco de ozônio sobre a Antártica atingiu o recorde de 26 milhões de quilômetros quadrados, e pode expandir-se ainda mais. ECOSSISTEMAS Relatório da ONU revela que o número de áreas protegidas ultrapassou 100.000, cobrindo uma superfície de terra maior que a Índia e a China juntas. S A ÚD E Mortes causadas por onda de calor na França superam 14.800 após as temperaturas terem, repetidamente, excedido 40 graus centígrados. GOVERNANÇA Reunião da OMC fracassa em meio a disputas sobre barreiras comerciais e subsídios agrícolas, quando uma coalizão de países em desenvolvimento muda o equilíbrio de força nas negociações. xxxvii 37 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE 2 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE CAPÍTULO 1 O Estado do Consumo Hoje Gary Gardner, Erik Assadourian e Radhika Sarin A China bem merece a reputação de ser o país da bicicleta. Durante todo o século XX, milhões de bicicletas, literalmente, apinhavam as ruas de suas cidades, não apenas como meio de transporte pessoal, mas também como veículo de entrega – levando de tudo, desde materiais de construção até frangos a caminho do mercado. Mesmo nos anos 80 poucos automóveis circulavam nas ruas chinesas.1 Um visitante dos anos 80 que retorne hoje a Xangai ou outra cidade chinesa dificilmente a reconhecerá. Em 2002, havia 10 milhões de carros particulares e o número de proprietários crescia aceleradamente: a cada dia, em 2003, cerca de 11.000 mais veículos juntavam-se ao tráfego das rodovias chinesas – 4 milhões de carros novos no ano. As vendas aumentaram 60% em 2002 e em mais de 80% no primeiro semestre de 2003. Até As unidades de medidas mencionadas neste livro são métricas, salvo quando o uso normal determine de outra forma. 2015, nesse ritmo, os analistas da indústria calculam que 150 milhões de automóveis estarão congestionando as ruas chinesas – 18 milhões a mais do que circulavam nas ruas e rodovias dos Estados Unidos em 1999. A classe emergente de consumidores chineses está aderindo entusiasticamente ao aumento da mobilidade e elevação do status social representado pelo automóvel – milhões aguardam durante meses e assumem dívidas substanciais para tornarem-se membros pioneiros da nova cultura automobilística chinesa.2 As vantagens desse caminho desenvolvimentista são evidentes para as autoridades governamentais, que o encorajam. Cada novo automóvel fabricado na China representa dois novos postos de trabalho para trabalhadores chineses, e a renda que recebem estimula, por sua vez, outros setores da economia chinesa. Ademais, a corrida para atender à demanda está atraindo investimentos maciços de empresas estrangeiras – a General Motors investiu US$ 1,5 bilhão em uma nova montadora em Xan3 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE gai, enquanto a Volkswagen comprometeuse a aplicar US$ 7 bilhões, ao longo dos próximos 5 anos, no aumento de produção.3 A China está, naturalmente, seguindo um caminho muito bem marcado, embora já tenham passado-se oito décadas desde que o uso generalizado do automóvel popularizou-se nos Estados Unidos. Entretanto, a história automotiva da China não está ligada nem aos chineses nem ao automóvel. Dos estabelecimentos de fast-food às câmeras descartáveis, e do México à África do Sul, grande parte do mundo está hoje entrando na sociedade de consumo num ritmo alucinante. Segundo uma estimativa, a “classe consumista” possui hoje mais de 1,7 bilhão de adeptos – com quase a metade deles no mundo “em desenvolvimento”. Uma cultura e estilo de vida que se tornaram comuns na Europa, América do Norte, Japão e em alguns outros bolsões do planeta no século XX e que se globalizam no século XXI.4 A sociedade de consumo tem, claramente, um forte encanto e traz consigo muitos benefícios econômicos. Também seria injusto argumentar que as vantagens obtidas por uma geração anterior de consumidores não deveriam ser compartilhadas pela geração seguinte. Todavia, o aumento disparado do consumo na última década – e as projeções alucinantes que logicamente dele derivam – indica que o mundo como um todo se verá, em breve, frente a um grande dilema. Caso os níveis de consumo que as várias centenas dos milhões de pessoas mais afluentes gozam hoje repliquem-se por, pelo menos, metade dos cerca de 9 bilhões de pessoas que deverão ser adicionadas à população mundial em 2050, o impacto em nossa oferta de água, qualidade do ar, flo4 restas, clima, diversidade biológica e saúde humana será extremamente grave.5 Apesar dos perigos à frente, há poucos indícios de qualquer desaceleração da locomotiva consumista – nem mesmo em países como os Estados Unidos, onde a maioria dispõe de uma oferta ampla dos bens e serviços necessários à condução de uma vida digna. Em 2003 os Estados Unidos dispunham de mais carros particulares do que de motoristas, e os utilitários esportivos, beberrões de gasolina, estavam entre os veículos mais vendidos do país. Novas habitações aumentaram 38% em 2002, em comparação a 1975, apesar de haver um número menor de pessoas, em média, por moradia. Os próprios americanos estão maiores também – tão maiores, na realidade, que uma indústria multibilionária surgiu para atender às necessidades desses cidadãos, oferecendo tamanhos maiores de roupas, mobília mais resistente e até mesmo ataúdes mais espaçosos. Se as aspirações consumistas da nação mais rica do mundo não podem ser saciadas, as perspectivas de controle do consumo nos outros países, antes do desnudamento e degradação por completo do nosso planeta, são desanimadoras.6 Entretanto, nem tudo está perdido. Defensores do consumo, economistas, legisladores e ambientalistas vêm desenvolvendo opções criativas para atender às necessidades das pessoas e, ao mesmo tempo, reduzir os custos ambientais e sociais associados ao consumo em massa. Além de ajudar as pessoas a encontrar o equilíbrio entre muito e pouco consumo, dão maior ênfase a bens e serviços públicos, a serviços em lugar de bens, a bens com maior teor de reciclados e a alternativas genuínas para os consumidores. Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE Conjuntamente, essas medidas poderão ajudar na obtenção de alta qualidade de vida com um mínimo de agressão ambiental e desigualdade social. A chave é aplicar um olho crítico não apenas na “quantidade” do consumo, mas também na “racionalidade”. (Vide Capítulos 5 e 8.) O consumo não é um mal. As pessoas precisam consumir para sobreviver, e os mais pobres precisam consumir mais para terem vidas dignas e oportunidades. Porém o consumo ameaça o bem-estar das pessoas e do meio ambiente quando se torna um fim em si mesmo – quando se torna o principal objetivo de vida de um indivíduo, por exemplo, ou a medida máxima de sucesso da política econômica de um governo. As economias de consumo em massa que geraram um mundo de abundância para muitos no século XX vêem-se frente a um desafio diferente no século XXI: enfocar não o acúmulo indefinido de bens, e sim uma melhor qualidade de vida para todos, com o mínimo de dano ambiental. Consumo em Cifras Por qualquer medida – despesas domésticas, número de consumidores, extração de matéria-prima – o consumo de bens e serviços tem aumentado constantemente nas nações industrializadas durante décadas, e cresce aceleradamente em muitos países em desenvolvimento. As cifras contam a história de um mundo sendo transformado por uma revolução do consumo. As despesas domésticas – o que se gasta em bens e serviços em nível familiar – ultrapassaram US$ 20 trilhões em 2000, contra US$ 4,8 trilhões em 1960 (em dólares de 1995). Parte desse aumento quádruplo deveu-se ao aumento populacional (vide Quadro 1-1), mas o volume maior ocorreu em função do avanço da prosperidade em vários países. Essas cifras globais mascaram gigantescas disparidades nos gastos. Os 12% da população mundial que vivem na América do Norte e na Europa respondem por 60% do consumo privado global, enquanto a terça parte da humanidade que vive no Sul da Ásia e na África Subsaariana, representa apenas 3,2%. (Vide Tabela 1-1.)7 Em 1999, cerca de 2,8 bilhões de pessoas, duas entre cada cinco no planeta – sobreviviam com menos de US$ 2 por dia, o que as Nações Unidas e o Banco Mundial consideram como mínimo para atender às necessidades básicas. Aproximadamente, 1,2 bilhão de pessoas viviam sob “extrema pobreza”, medida por uma renda diária média de menos de US$ 1. Entre os mais pobres estão centenas de milhões de agricultores de subsistência, que, por definição, não têm salário e raramente envolvem-se em transações comerciais. Para eles, e para todos os pobres do mundo, os gastos em consumo concentram-se quase que totalmente no atendimento às necessidades básicas.8 Embora a maior parte dos gastos de consumo ocorra nas regiões mais ricas do mundo, o número de consumidores distribui-se mais eqüitativamente entre as regiões industrializadas e em desenvolvimento. Isso ficou evidente pela pesquisa realizada pelo ex-consultor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Matthew Bentley, que descreve a existência de uma “classe de consumidor” global. Essas pessoas têm renda superior a US$ 7.000 anuais em termos de 5 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE paridade de poder aquisitivo (uma medida de renda ajustada ao poder aquisitivo em moeda local), ou seja, aproximadamente o nível da linha oficial de pobreza da Europa Ocidental. A própria classe de consumidor global varia muito em termos de riqueza, mas seus membros caracteristicamente dispõem de televisão, telefones e Internet, junto à cultura e idéias que esses produtos transmitem. Essa classe de consumidor soma cerca de 1,7 bilhão de pessoas – mais de um quarto do mundo. (Vide Tabela 1-2.)9 QUADRO 1-1. E QUANTO À POPULAÇÃO? A Divisão de População das Nações Unidas calcula que a população mundial crescerá 41% até 2050, atingindo 8,9 bilhões de pessoas. Da mesma forma que a crescente aquisição de aparelhos eletrodomésticos e automóveis pode acabar com a economia de energia conquistada pelas melhorias de eficiência, esse aumento nos números humanos ameaça neutralizar qualquer avanço na redução do volume de bens que cada pessoa consome. Por exemplo, mesmo que o americano comum coma 20% menos carne em 2050 do que comia em 2000, o consumo total de carne nos Estados Unidos será aproximadamente 5 milhões de toneladas superior em 2050 devido, unicamente, ao crescimento populacional. Com a expectativa de 99% do crescimento populacional ocorrer nas nações em desenvolvimento, esses países precisarão considerar cuidadosamente o duplo objetivo da estabilização populacional e maior consumo para o desenvolvimento humano. O mundo industrializado poderá ajudar os países em desenvolvimento a estabilizar suas populações dando apoio ao planejamento familiar, educação e melhoria da situação das mulheres. E poderá reduzir o impacto de um maior consumo ajudando na adoção de tecnologias mais limpas e mais eficientes. Mas seria um erro considerar o crescimento populacional como um desafio enfrentado apenas pelas nações pobres. Quando se misturam crescimento populacional e altos níveis de consumo, como ocorre nos Estados Unidos, a importância do primeiro exacerba-se. Por exemplo, embora a população dos Estados Unidos aumente a um ritmo de, 6 aproximadamente, 3 milhões de pessoas ao ano, e a Índia aumente em quase 16 milhões, esse contingente americano adicional causa maior impacto ambiental. Ele é responsável por 15,7 milhões de toneladas adicionais em emissões de carbono na atmosfera, contra apenas 4,9 milhões de toneladas na Índia. Países ricos, com populações em crescimento, precisam atentar para o impacto tanto do seu consumo quanto de suas políticas populacionais. Outras tendências demográficas menos discutidas mesclam-se também ao consumo sob formas surpreendentes. Por exemplo, em função do aumento da renda, urbanização e famílias menores, o número de pessoas em um único domicílio, entre 1970 e 2000, caiu de 5,1 para 4,4 nos países em desenvolvimento e de 3,2 para 2,5 nas nações industrializadas, enquanto o número total de domicílios aumentou. Cada nova residência naturalmente requer espaço e materiais. Além disso, as economias obtidas com um maior número de pessoas compartilhando energia, eletrodomésticos e mobiliário são perdidas quando menos pessoas vivem na mesma casa. Assim, alguém morando só nos Estados Unidos consome 17% mais energia, per capita, do que uma moradia com duas pessoas. Então, mesmo em algumas nações européias e no Japão, onde a população total não sofre um aumento significativo, ou até mesmo nem cresce, a dinâmica doméstica em transformação deve ser analisada como condutora de maior consumo. _______________________________________ FONTE: vide nota final 7. Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE Tabela 1-1. Gastos com Consumo e População, por Região, 2000 Região Participação nos Gastos Mundiais do Consumo Privado Participação na População Mundial (percentual) Estados Unidos e Canadá 31,5 5,2 Europa Ocidental 28,7 6,4 Leste da Ásia e Pacífico 21,4 32,9 América Latina e Caribe 6,7 8,5 Europa Oriental e Ásia Central 3,3 7,9 Sul da Ásia 2,0 22,4 Nova Zelândia 1,5 0,4 Oriente Médio e África do Norte África Subsaariana 1,4 1,2 4,1 10,9 Austrália e FONTE: vide nota final 7. Quase a metade dessa classe de consumidor global vive nos países em desenvolvimento, e somente China e Índia respondem por 20% do total mundial. (Vide Tabela 1-3.) Na verdade, a classe conjunta de consumidores nesses dois países, com 362 milhões de pessoas, é maior do que esta classe em toda a Europa Ocidental (embora o consumidor chinês ou indiano comum, naturalmente, consuma significativamente menos do que o europeu). Entretanto, grande parte do mundo em desenvolvimento não está representada neste incremento de novo consumo: a classe de consumidor da África Subsaariana, a menor de todas, é de apenas 34 milhões de pessoas. Na realidade, a região tem ficado essencialmente à margem da prosperidade vivida pela maior parte do mundo nas últimas décadas. Medidas em termos de gastos per capita de consumo privado, a África Subsaariana caiu 20% em 2000, em comparação às duas décadas anteriores, distanciado-se cada vez mais do mundo industrializado.10 Tabela 1-2. Classe de Consumidores, por Região, 2002 Região Número de Pessoas Pertencentes à Classe de Consumidores (milhões) Estados Unidos e Canadá Europa Ocidental Leste da Ásia e Pacífico América Latina e Caribe Europa Oriental e Ásia Central Sul da Ásia Austrália e Nova Zelândia Oriente Médio/África do Norte África Subsaariana Países Industrializados Países em Desenvolvimento Mundo 271,4 348,9 494,0 167,8 173,2 140,7 19,8 78,0 34,2 912 816 1.728 Classe de Consumidores como Parcela da População Regional (percentual) Classe de Consumidores como Parcela da Classe de Consumidores Globais1 (percentual) 85 89 27 32 36 10 84 25 5 80 17 16 20 29 10 10 8 1 4 2 53 47 28 100 1 A soma não confere devido a arredondamentos. FONTE: vide nota final 9. 7 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE Tabela 1-3. Dez Maiores Populações Nacionais de Classe de Consumidor, 2002 País Estados Unidos China Índia Japão Alemanha Federação Russa Brasil França Itália Reino Unido Populaçao da Participação Classe de na População Consumidores Nacional (milhões) 242,5 239,8 121,9 120,7 76,3 61,3 57,8 53,1 52,8 50,4 (percentual) 84 19 12 95 92 43 33 89 91 86 FONTE: vide nota final 10. Os países em desenvolvimento não só dispõem de grandes blocos de consumidores como também têm maior potencial para expandir suas fileiras. Por exemplo, o grande contingente de consumidores da China e Índia constitui apenas 16% da população, enquanto na Europa esta cifra atinge 89%. Efetivamente, na maioria dos países em desenvolvimento, a classe de consumidores representa menos da metade da população – às vezes muito menos –, havendo bastante espaço para crescimento. Com base apenas nas projeções populacionais, a classe de consumidores globais está projetada, conservadoramente, para atingir pelo menos 2 bilhões de pessoas até 2015.11 Esses números indicam que a história do consumo no século XXI poderá referir-se tanto a nações consumidoras emergentes quanto a tradicionais. Em um dos seus informativos em 2003, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente observou que o incremento da posse de automó8 veis na Ásia para os níveis da média mundial adicionaria 200 milhões de veículos à frota global – uma vez e meia o número de carros existentes, hoje, nos Estados Unidos. Preocupações quanto ao impacto desse tipo de desenvolvimento demonstram a urgência da busca de caminhos alternativos, sustentáveis, para a prosperidade da região. Ao mesmo tempo, temores quanto a aumentos potenciais do consumo asiático ficarão deslocados caso ofusquem a necessidade de reformas nos países ricos, onde altos níveis de consumo têm sido a regra por décadas. Os antigos países industrializados da Europa e América do Norte, juntamente com Japão e Austrália, são responsáveis pelo maior volume de degradação ambiental global associada ao consumo.12 As tendências do consumo abrangem praticamente todo e qualquer bem e serviço, que podem ser categorizados sob diversas formas. De maior interesse são os itens fundamentais, como água e alimentos; suas tendências indicam se as necessidades básicas estão sendo satisfeitas. Outros itens de consumo indicam como as opções de vida estão se desenvolvendo para as pessoas e o nível de conforto que estão tendo. Em termos de necessidades básicas, as tendências são mistas. A absorção diária de calorias aumentou tanto no mundo industrializado quanto nos países em desenvolvimento, desde 1961, à medida que a oferta de alimentos ampliou-se pelo menos em nível global. Todavia, a Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura (FAO) divulga que 825 milhões de pessoas ainda estão subnutridas e que, em 1961, uma pessoa absorvia, diariamente, 10% a mais de calorias (2.947 calorias) no mundo industrializado do que as pessoas consomem, hoje, no mundo Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE em desenvolvimento (2.675 calorias). A presença da fome frente à oferta recorde de alimentos reflete a realidade de seu alto custo para a grande parcela da população pobre mundial, que não dispõe de renda suficiente para adquiri-los. Na Tanzânia, por exemplo, onde os gastos per capita domésticos foram de US$ 375 em 1998, 67% das despesas familiares destinavam-se à alimentação. No Japão, as despesas domésticas per capita foram de US$ 13.568 naquele ano, porém apenas 12% foram gastos em alimentação. (Vide Tabela 1-4.)13 Tabela 1-4. Proporção das Despesas Domésticas em Alimentação País Tanzânia Madagáscar Tajiquistão Líbia Hong Kong Japão Dinamarca Estados Unidos Despesa Doméstica Per Capita, 1998 Parcela Gasta em Alimentação (dólares)1 375 608 660 6.135 12.468 13.568 16.385 21.515 (percentual) 67 61 48 31 10 12 16 13 1 Paridade em poder aquisitivo. FONTE: vide nota final 13. Os ricos do mundo não só absorvem mais calorias do que os pobres, mas essas calorias provêm de alimentos mais intensivos em recursos, como carne bovina e laticínios, que são produzidos por meio do uso de grandes volumes de grãos, água e energia. (Vide Capítulos 3 e 4.) As pessoas nos países industrializados obtêm 856 de suas calorias diárias de produtos animais, contra 350 nos países em desen- volvimento. Mesmo assim, o consumo de carne está subindo nas regiões mais prósperas do mundo em desenvolvimento, à medida que as taxas de renda e urbanização aumentam. Metade da carne suína mundial é consumida na China, por exemplo, enquanto o Brasil é o segundo maior consumidor de carne bovina, em seguida aos Estados Unidos. E a carne está sendo cada vez mais consumida como fast-food, freqüentemente mais intensiva em termos de energia para produzir. De acordo com um recente estudo de marketing, a indústria de fast-food na Índia está crescendo a uma taxa de 40% ao ano, devendo gerar mais de um bilhão de dólares em vendas até 2005. Enquanto isso, um quarto da sua população continua subnutrida – uma situação praticamente inalterada ao longo da última década.14 Água limpa e saneamento adequado, instrumentais para prevenir a disseminação de doenças contagiosas, são também necessidades básicas de consumo. Da mesma forma que ocorre com a maioria dos bens, o acesso à água e ao saneamento está mais disponível para as populações mais ricas, embora a situação dos mais pobres neste particular tenha melhorado um pouco durante a última década. Em 2000, 1,1 bilhão de pessoas não tinham acesso à água potável, definido como a disponibilidade de, pelo menos, 20 litros por pessoa, por dia, a uma distância de um quilômetro da moradia do consumidor. E duas em cada cinco pessoas ainda não dispunham de instalações sanitárias adequadas, como uma ligação com sistemas de esgotos ou fossa séptica, ou até mesmo latrina de fossa. As populações rurais são as que mais sofrem. Em 2000, apenas 40% das populações ru9 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE rais dispunham de instalações sanitárias adequadas, em comparação com 85% dos habitantes urbanos.15 Conforme cresce a renda, as pessoas obtêm acesso a outros bens de consumo que não os alimentos. O uso de papel, por exemplo, tende a aumentar à medida que as pessoas tornam-se mais alfabetizadas e aumentam os elos de comunicação. Globalmente, o consumo de papel mais que sextuplicou, entre 1950 e 1997, tendo dobrado desde meados dos anos 70; o britânico médio consumiu 16 vezes mais papel no final do século XX do que no início. Na realidade, a maior parte do papel mundial é produzida e consumida nos países industrializados: só os Estados Unidos produzem e utilizam um terço do papel mundial, e os americanos consomem mais de 300 quilos anuais per capita. Em contraste, nas nações em desenvolvimento como um todo, as pessoas consomem 18 quilos de papel cada uma, anualmente. Na Índia, a cifra anual é de 4 quilos, e em 20 nações da África é de menos de 1 quilo. O PNUMA estima que 30–40 quilos de papel são o mínimo necessário para atender às necessidades básicas de alfabetização e comunicação.16 A prosperidade crescente também dá acesso a bens que asseguram novos níveis de conforto, conveniência e entretenimento para milhões de pessoas. (Vide Tabela 1-5.) Em 2002, 1,12 bilhão de famílias, cerca de três quartos da população mundial, possuíam pelo menos um televisor. Assistir à TV tornou-se uma das principais formas de lazer, com o cidadão médio do mundo industrializado passando três horas – metade do seu tempo de lazer – na frente de um televisor, diariamente. A TV oferece aos telespectadores acesso a notícias locais e entretenimento, mas também exposição a incontáveis produtos de consumo veiculados em comerciais e durante os programas. E a visão que emerge da tela tem um escopo cada vez mais global. Dentre os 1,12 bilhão de domicílios com televisores, 31% eram assinantes de TV a cabo, expostos freqüentemente a uma cultura global de entretenimento.17 Tabela 1-5. Consumo Familiar, Países Selecionados, Cerca de 2000 País Gastos Familiares em Consumo (Dólares de 1995 per capita) Nigéria 194 Índia 294 Ucrânia 558 Egito 1.013 Brasil 2.779 Coréia do Sul 6.907 Alemanha 18.580 Estados Unidos 21.707 FONTE: vide nota final 17. 10 Energia Elétrica (kWh per capita) 81 355 2.293 976 1.878 5.607 5.963 12.331 Aparelhos de Linhas Televisão Telefônicas Telefones Celulares Computadores Pessoais (por mil habitantes) 68 83 456 217 349 363 586 835 6 40 212 104 223 489 650 659 4 6 44 43 167 621 682 451 7 6 18 16 75 556 435 625 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE Muitas dessas conveniências eram consideradas como luxo quando surgiram originalmente, mas são agora consideradas necessidades. Realmente, onde infra-estruturas sociais desenvolveram-se em torno deles, alguns desses bens de consumo tornaram-se parte integrante do dia-a-dia moderno. Os telefones, por exemplo, transformaram-se num instrumento essencial de comunicação – em 2002, havia 1,1 bilhão de linhas fixas e outro 1,1 bilhão de aparelhos celulares. Um percentual significativo da população mundial, incluindo a grande maioria dos consumidores globais, hoje dispõe no mínimo de acesso básico a telefones. As comunicações também avançaram após a introdução da Internet. Esta adição mais recente às comunicações modernas conecta hoje cerca de 600 milhões de usuários.18 Uma grande parcela dos gastos em consumo está concentrada em produtos reconhecidamente desnecessários para o con- forto ou sobrevivência, mas que tornam a vida mais agradável. Essas compras incluem desde os pequenos prazeres diários, como doces e refrigerantes, até grandes aquisições, como iates oceânicos, jóias e carros esportes. Os gastos nesses produtos não representam necessariamente conduta censurável por parte da sociedade global de consumo, uma vez que pessoas sensatas podem discordar quanto ao que constitui consumo excessivo. Mas esses gastos são uma indicação da riqueza excedente que existe em muitos países. Na realidade, os valores gastos no consumo extremo contestam a visão de que muitas das necessidades básicas dos pobres mundiais não-atendidas sejam muito dispendiosas para atender. A provisão de alimentação adequada, água potável e educação básica para os mais pobres pode ser realizada gastando-se muito menos do que se gasta anualmente em cosméticos, sorvetes e ração de animais de estimação. (Vide Tabela 1-6.)19 Tabela 1-6. Gasto Anual em Itens de Luxo Comparado com os Recursos Necessários para o Atendimento de Necessidades Básicas Selecionadas Gasto Anual País Cosméticos Ração de animais de estimação na Europa e Estados Unidos Perfumes Cruzeiros marítimos Sorvetes na Europa Objetivo Social ou Econômico Investimento Extra Anual Necessário para Atingir o Objetivo US$ 18 bilhões Saúde reprodutiva para todas as mulheres US$ 12 bilhões US$ 17 bilhões US$ 15 bilhões US$ 14 bilhões US$ 11 bilhões Erradicação da fome e má-nutrição Alfabetização universal Água potável para todos Vacinação de todas as crianças US$ 19 bilhões US$ 5 bilhões US$ 10 bilhões US$ 1,3 bilhão FONTE: vide nota final 19. A crescente febre do consumo durante o século XX levou a um maior uso de matérias-primas, o que complementa os gastos familiares e a quantidade de consumi- dores como medida de consumo. Entre 1960 e 1995 o consumo mundial de minerais aumentou 2,5 vezes, metais, 2,1 vezes, produtos madeireiros 2,3 e produtos 11 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE sintéticos, como plásticos, 5,6 vezes. Esse crescimento superou o aumento da população mundial, tendo ocorrido mesmo quando a economia global mudou para abranger mais indústrias de serviços, como telecomunicações e finanças, que não são tão intensivas em materiais como indústria, transportes e outros setores outrora dominantes. A duplicação do consumo de metais, por exemplo, ocorreu mesmo quando estes se tornaram menos essenciais para a geração de riqueza: em 2000, a economia global consumiu 45% menos metais do que três décadas anteriores para gerar um dólar de produto econômico.20 O consumo de combustível e materiais reflete o mesmo padrão de desigualdade global encontrado no consumo de produtos finais. Só os Estados Unidos, com menos de 5% da população global, consomem aproximadamente um quarto dos recursos mundiais de combustíveis fósseis, queimando quase 25% do carvão, 26% do petróleo e 27% do gás natural mundial. Adicionando-se a isso o consumo de outras nações ricas, a dominância de apenas uns poucos países sobre o consumo de materiais globais fazse evidente. Em termos de consumo de metais, os Estados Unidos e Canadá, Austrália, Japão e Europa Ocidental – que detêm, entre si, 15% da população mundial – consomem 61% do alumínio produzido a cada ano, 60% do chumbo, 59% do cobre e 49% do aço. O consumo per capita também é alto, especialmente em relação ao que é verificado nas nações mais pobres. O americano comum consome 22 quilos de alumínio por ano, enquanto o indiano consome 2 quilos e o africano, menos de 1 quilo.21 12 Enquanto isso, o apetite mundial crescente por papel pressiona cada vez mais as florestas globais. Reservas virgens destinadas à produção de papel, por exemplo, representam, aproximadamente, 19% da colheita mundial de madeira e 42% da madeira produzida para uso “industrial” (tudo menos lenha). Em 2050, a indústria de celulose poderá representar mais da metade da demanda industrial da madeira global.22 O consumo de matérias-primas como metais e madeira poderá, em princípio, separar-se do consumo de bens e serviços, uma vez que muitos produtos poderão ser remanufaturados ou fabricados de materiais reciclados. Todavia, os materiais na maioria das economias no século XX não circularam mais de duas ou três vezes. Mesmo hoje, a reciclagem fornece apenas uma pequena parcela dos materiais utilizados nas economias mundiais. Cerca de metade do chumbo consumido atualmente vem de fontes recicladas, como também um terço do alumínio, aço e ouro. Apenas 13% do cobre vem de fontes recicladas, em comparação a 20% em 1980. Enquanto isso, a reciclagem do lixo urbano continua, em geral, baixa, mesmo nas nações que têm condições de implantar uma infraestrutura de reciclagem. As 24 nações que compõem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e fornecem esses dados, por exemplo, têm uma taxa média de reciclagem de apenas 16% para o lixo urbano; metade deles recicla menos de 10% do seu lixo.23 Enquanto isso, a parcela do suprimento total de fibra de papel originária de fibra reciclada teve um crescimento apenas modesto, de 20% em 1921 para 38% hoje. Esse pequeno aumento, frente a aumentos Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE bem superiores no consumo de papel, significa que o volume de papel não-reciclado é maior do que nunca. À luz das projeções da FAO de que o consumo global de papel aumentará em quase 30% entre 2000 e 2010, a parcela de papel a ser reciclada será de importância crucial e terá um grande impacto sobre a saúde das florestas mundiais nos anos futuros.24 Motivadores Díspares, Resultados Comuns O apetite global por bens e serviços é movido por um conjunto de influências, em grande parte, independentes, desde avanços tecnológicos e energia barata até novas estruturas comerciais, meios poderosos de comunicação, crescimento populacional e até mesmo necessidades sociais dos seres humanos. Esses motivadores díspares – alguns heranças naturais, outros acidentes da história e outros mais inovações humanas – interagiram para impulsionar a produção e a demanda a níveis recordes. No processo, criaram um sistema econômico de abundância sem precedentes e impacto ambiental e social sem paralelo. A história começa com o consumidor. Economistas de renome, desde Adam Smith, têm alegado que os consumidores são atores “soberanos” que fazem escolhas racionais a fim de maximizar sua satisfação. Ao contrário, os consumidores tomam decisões falhas por intermédio de um conjunto de julgamentos baseados em informações incompletas e tendenciosas. Suas decisões são basicamente movidas pela propaganda, regras culturais, influências sociais, impulsos fisiológicos e asso- ciações psicológicas, cada um dos quais potenciais incrementadores do consumo.25 As motivações fisiológicas desempenham um papel central no estímulo ao consumo. O desejo inato do estímulo prazeroso e alívio do desconforto são motivações poderosas que evoluíram durante milênios para facilitar a sobrevivência, como quando a fome leva uma pessoa a buscar comida. Esses impulsos são reforçados pelas experiências dos consumidores. Produtos que nos satisfizeram no passado são lembrados como prazerosos, aumentando o desejo de consumi-los novamente. Nas sociedades de consumo, onde alimentos e outros bens são abundantes, esses impulsos estão levando a níveis danosos de consumo devido, em parte, a serem mais estimulados ainda pela propaganda. De fato, estudos psicológicos recentes constataram que esses impulsos podem até ser incitados subconscientemente, despertando um desejo maior, como por uma bebida após a sensação de sede ter sido instigada.26 Hábitos de consumo, também, têm raízes sociais. O consumo é, em parte, um ato social através do qual as pessoas expressam suas identidades pessoais e grupais – escolhendo o jornal de uma certa linha política, por exemplo, ou a moda preferida entre pares sociais. Motivadores sociais podem ser impulsionadores insaciáveis de consumo, contrastando com o desejo por alimento, água ou outros bens, que está circunscrito aos limites da capacidade. Em 1954, o cidadão britânico comum, por exemplo, podia contar com uma base material ampla – alimentos, vestuário, abrigo e acesso a transporte em quantidade suficiente para levar uma vida digna. Assim, o gasto maior que acompanhou a duplicação 13 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE da riqueza em 1994 foi, provavelmente, uma tentativa de satisfazer necessidades sociais e psicológicas. Após o primeiro par de sapatos, por exemplo, a posse de sapatos pode não ter nada a ver com a proteção dos pés, e sim com conforto, estilo ou status. Tais desejos podem ser ilimitados e, portanto, ter o potencial de manter o consumo em constante crescimento.27 Estoques abundantes de bens, produto de gigantescos aumentos de eficiência produtiva desde a Revolução Industrial, estimulam ainda mais a propensão social e psicológica da humanidade de consumir. Um operário industrial moderno produz numa semana o que suas contrapartidas no século XVIII realizavam em quatro anos. Inovações, como a linha de montagem de Henry Ford, reduziram drasticamente o tempo de produção de uma carroceria, de 12,5 horas em 1912 para 1,5 hora em 1913 – e têm melhorado tremendamente desde então. Hoje, uma montadora da Toyota no Japão produz 300 Lexuses completos, por dia, empregando apenas 66 operários e 310 robôs. Aumentos de eficiência como estes reduziram dramaticamente os custos e incrementaram as vendas. Isso é mais evidente na indústria de semicondutores, na qual eficiências de produção ajudaram a reduzir o custo de um megabit de computação, de cerca de US$ 20.000 em 1970, para aproximadamente US$ 0,02 em 2001. Tamanha ordem de grandeza em capacidade de computação a custos tão reduzidos atiçou a revolução da informática.28 A globalização também baixou os preços e estimulou o consumo. A partir de 1950 rodadas sucessivas de negociações comerciais reduziram gradativamente as tarifas de muitos produtos, com conseqüências 14 diretas nos consumidores. Os australianos, por exemplo, já têm hoje uma economia de 2.900 dólares australianos na compra de um automóvel, devido a reduções tarifárias que entraram em vigor após 1998. E o Acordo da Tecnologia de Informação da Organização Mundial de Comércio, em 1996, eliminou por completo as tarifas sobre a maioria dos computadores e outras tecnologias de informação, com algumas reduções chegando a 20–30%. As oito rodadas das negociações comerciais globais desde 1950 atiçaram a expansão econômica mundial.29 Um mundo globalizante também permitiu que grandes corporações buscassem além-fronteiras uma mão-de-obra mais barata – chegando a pagar poucos centavos por hora. (Vide Capítulo 5.) Zonas de processamento de exportação (ZPEs) – áreas industriais minimamente regulamentadas que produzem bens para o comércio global – vêm multiplicando-se ao longo das últimas três décadas, em resposta à demanda por mão-de-obra barata e ao desejo de incrementar exportações. Das 79 ZPEs em 25 países em 1975, houve um aumento para cerca de 3.000 em 116 nações em 2002, com as zonas empregando cerca de 43 milhões de trabalhadores na montagem de tênis, brinquedos, vestuário e outros bens por muito menos do que custariam nos países industrializados. As zonas aumentam a disponibilidade de mercadorias baratas para consumidores globais, porém são freqüentemente criticadas por abusos em direitos trabalhistas e humanos.30 Enquanto isso, inovações tecnológicas de todos os tipos aumentaram a eficiência industrial, elevando a capacidade das pessoas e das máquinas na extração dos re- Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE cursos. Hoje, frotas de “supertraineiras”, por exemplo, podem processar centenas de toneladas de peixe por dia. São responsáveis, em parte, por declínios da ordem de 80% sofridos por comunidades de peixes oceânicos nos 15 anos desde o início da exploração comercial. Os equipamentos de minas também são mais musculosos: nos Estados Unidos, as mineradoras hoje dedicam-se à “remoção de cumes”, que pode reduzir a altura de uma montanha em dezenas de metros. Além disso, a capacidade dos caminhões octuplicou, aumentando de 32 para 240 toneladas entre 1960 e início dos anos 90. E a produção por mineiro americano mais que triplicou no mesmo período. Finalmente, serrarias de cavaco – instalações que lascam árvores inteiras em cavacos para papel e compensados – podem transformar mais de 100 cargas de árvores em cavacos diariamente. Esses avanços da capacidade humana em explorar imensas áreas de recursos naturais, e a custo baixo, ajudam a suprir os mercados com produtos baratos – um estímulo a maior consumo.31 Nas sociedades de consumo, onde os alimentos e outros bens são abundantes, os impulsos estão levando a níveis danosos de consumo. A energia barata e a melhoria dos transportes também alimentaram a produção, reduzindo custos e facilitando o aumento da distribuição. Apesar do surto nos preços do petróleo nos anos 70, o preço deflacionado do petróleo estava apenas 7% maior no período 1997–2001 do que no período 1970–74. E as reduções nos custos dos transportes ajudaram a disponibilizar maior quantidade de bens para um maior número de pessoas. As taxas de frete aéreo caíram em quase 3% anuais na maioria das rotas internacionais entre 1980 e 1993, o que ajuda a explicar por que produtos perecíveis como maçãs da Nova Zelândia ou uvas do Chile são hoje facilmente encontradas em supermercados europeus e americanos. Os mercados em expansão também permitem às empresas aumentar a divisão da mão-de-obra utilizada na produção e entrega de bens e serviços e conseguir maior economia de escala, cada uma das quais reduzindo ainda mais os custos de produção.32 O ritmo incomparável desses avanços tecnológicos durante o século XX levou à adoção cada vez mais acelerada de novos produtos. Nos Estados Unidos, passaramse 38 anos até que o rádio chegasse a uma audiência de 50 milhões de pessoas, 13 anos para a televisão atingir igual número e apenas 4 anos para a Internet fazer o mesmo. Isso manteve as linhas de produção em pleno funcionamento nas indústrias da informação, nas quais a Lei de Moore – a regra empírica de que a capacidade microprocessadora dobra a cada 18 meses – provocou o lançamento de computadores e outros produtos digitais cada vez mais possantes. O suprimento regular de novos produtos, por sua vez, provocou giro acelerado nas últimas duas décadas – aumentando ainda mais o consumo.33 As forças que movem o consumo são encontradas até nas realidades econômicas que as modernas corporações enfren15 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE tam. A maioria das empresas Bilhões de Dólares tem custos fixos substanciais – 500 (base=2001) maquinaria pesada, prédios fabris e veículos de entrega ne- 400 cessários para produzir e vender seus produtos. Uma indús- 300 Mundo tria de última geração de semicondutores, por exemplo, 200 custa hoje algo em torno de US$ Estados Unidos 3 bilhões, um gigantesco investimento, que deve gerar retor- 100 Fonte: McCann-Erickson no mesmo quando as vendas 0 estão fracas. Os custos fixos, 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 então, representam risco financeiro. Esse perigo pode ser re- Figura 1-1. Gastos em Publicidade nos Estados Unidos e Mundiais, 1950–2002 duzido por meio do aumento da produção e das vendas, para que os custos fixos diluam-se por onde os anúncios representam cerca de um maior volume de produtos e maior dois terços do espaço de um jornal codiversidade de mercados. Assim, a pres- mum, quase metade da correspondência são constante para a cobertura dos cus- que os americanos recebem, e cerca de tos fixos cria uma urgência na amplia- um quarto da programação da televisão. ção da produção – e na busca de novos Mas a publicidade também expande-se clientes para adquirirem a produção con- mundialmente. Gastos em publicidade fora dos Estados Unidos aumentaram 3,5 tínua dos bens.34 A necessidade de novos clientes in- vezes ao longo de 20 anos, com os mercentiva as empresas a desenvolver uma cados emergentes mostrando um crescigama de novos instrumentos destinados mento particularmente acelerado. Na a estimular a demanda, muitos dos quais China, os gastos em anúncios publicitáse aproveitam das necessidades fisioló- rios aumentaram 22% só em 2002.35 gicas, psicológicas e sociais das pessoA publicidade está cada vez mais dirigida as. A propaganda tem sido, talvez, o mais e sofisticada, como se vê pelos esforços poderoso desses instrumentos. Hoje, a de veiculação de produtos nos filmes e propublicidade permeia quase todos os as- gramas de televisão. Estudos recentes conspectos da mídia, incluindo transmissões tataram que mais da metade dos casos de comerciais, mídia impressa e Internet. Os novos fumantes entre a juventude deveugastos globais em publicidade atingiram se à sua exposição ao fumo em filmes, por US$ 446 bilhões em 2002 (em dólares de exemplo. E apesar de uma “proibição” vo2001), um aumento quase nove vezes luntária na veiculação de produtos por parsuperior a 1950 (Vide Figura 1-1.) Mais te da indústria, nos Estados Unidos a da metade foi gasta nos Estados Unidos, veiculação efetiva quase duplicou, com 85% 16 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE dos 250 principais filmes realizados entre 1988 e 1997 mostrando fumantes em cena. De fato, o fumo está mais predominante nos filmes do que entre a população dos Estados Unidos. Com Hollywood auferindo talvez metade da sua receita de vendas fora dos Estados Unidos, o fumo nos filmes continua a formar padrões de conduta também. E os estúdios estrangeiros prestam-se, cada vez mais, como veículos de propaganda do tabaco. Entre 1991 e 2002, cerca de três quartos dos filmes produzidos em Bollywood (o equivalente indiano de Hollywood) continham cenas de fumantes.36 Práticas inovadoras de vendas também ajudaram a incrementar a demanda. A introdução do cartão de crédito nos Estados Unidos, nos anos 40, ajudou a aumentar o total do consumo quase onze vezes entre 1945 e 1960. Hoje, o uso maciço de cartões de crédito é incentivado vigorosamente, uma vez que os lucros das empresas emitentes dependem da manutenção de grandes saldos mensais por parte dos consumidores. Em 2002, 61% dos usuários de cartões de crédito nos Estados Unidos mantiveram um saldo médio mensal em aberto de US$ 12.000, a uma taxa de juros anual de 16%. (Vide Capítulo 5.) Dessa forma, um usuário pagaria cerca de US$ 1.900 anuais em custos financeiros – mais do que a renda média per capita (na paridade de poder de compra) de pelo menos 35 países.37 O crédito também incentiva o gasto na Ásia, América Latina e Europa Oriental. No Leste Asiático, a parcela familiar dos empréstimos bancários totais aumentou de 27%, em 1997, para 40% em 2000. Em vários países, as principais montadoras estão ampliando sua linha de produção de- vido a essa explosão do financiamento. Um dos diretores da General Motors, Philip Murtaugh, realça a importância do crédito na China: “Assim que implantamos o tipo de sistema financeiro abrangente da GM, como temos nos Estados Unidos, antecipamos um grande salto nas vendas”.38 Finalmente, políticas governamentais são, às vezes, responsáveis pelo incremento do consumo. Subsídios econômicos, que hoje totalizam cerca de US$ 1 trilhão anuais, mundialmente, age como uma marola através da economia, estimulando o consumo ao longo do seu curso. O governo dos Estados Unidos, por exemplo, desde a II Guerra Mundial, subsidiou a construção de residências suburbanas por intermédio de benefícios fiscais e outros incentivos. Lares suburbanos espaçosos ajudaram a atiçar o consumo de uma vasta gama de bens de consumo duráveis, incluindo refrigeradores, televisores, mobílias, lavadoras e automóveis. Estes, por sua vez, requerem enormes quantidades de matérias-primas, um terço do ferro e aço, um quinto do alumínio e dois terços do chumbo e borracha nos Estados Unidos. E a expansão dos subúrbios levou a um maior gasto público em novas rodovias, postos de bombeiros, delegacias de polícia e escolas. O Centro de Tecnologia Distrital de Chicago constatou, no final dos anos 90, que empreendimentos imobiliários de baixa intensidade são cerca de 2,5 vezes mais intensivos no uso de materiais do que os empreendimentos de alta densidade. Assim, a decisão de subsidiar residências suburbanas teve um grande efeito nos padrões de consumo nos Estados Unidos na última metade do século XX.39 17 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE Problemas no Paraíso Em Capitalismo Natural, uma análise das economias industriais em 1999, seus autores, Paul Hawkins, Amory Lovins e Hunter Lovins, declaram que os Estados Unidos geram um volume gigantesco do que estes chamaram de “desperdício” – todo gasto para o qual nenhum valor é recebido. Esses desembolsos pagam por uma multidão de subprodutos indesejados do sistema econômico americano, inclusive poluição hídrica e atmosférica, tempo perdido em engarrafamentos do trânsito, obesidade e crime, entre muitos outros. De acordo com os cálculos dos autores, esse desperdício custou aos Estados Unidos pelo menos US$ 2 trilhões em meados dos anos 90 – cerca de 22% do valor da economia. Essa estimativa, evidentemente, é uma projeção, porém a análise é útil ao chamar a atenção de forma abrangente à quase despercebida subestrutura das economias industriais modernas. O custo ambiental e social das economias industriais está cada vez mais evidente.40 Realmente, a própria existência do desperdício, ou refugo no sentido mais tradicional – seja de domicílios, minas, canteiros de obras e fábricas –, demonstra que as economias industriais são falhas em seus projetos. Contrastando com os bens e serviços produzidos pelos milhões de outras espécies do nosso planeta, que geram subprodutos úteis e não refugo sem valor, as economias humanas são projetadas sem muita atenção aos resíduos da produção e do consumo. O impacto dessa falha é gigantesco, a começar pelo extrativismo. Por cada tonelada aproveitável de cobre, por exemplo, são descartadas 110 toneladas 18 de restos rochosos e minérios. À medida que os metais rareiam, o refugo tende a aumentar: para se obter o ouro necessário para fazer uma aliança de casamento, são produzidas cerca de 3 toneladas de resíduo tóxico. 41 Quase todos os ecossistemas mundiais estão perdendo lugar para residências, fazendas, shoppings e fábricas. O refugo do consumo é igualmente sombrio, especialmente nos países ricos. O habitante comum de um país da OCDE gera 560 quilos de lixo urbano por ano e, com exceção de três, todos os 27 países geraram mais, per capita, em 2000 do que em 1995. Mesmo nos países considerados líderes em política ambiental, como a Noruega, a redução dos fluxos de lixo é um desafio constante. Em 2002, o norueguês comum gerou 354 quilos de lixo, 7% mais do que no ano anterior. A proporção do lixo reciclado também cresceu, porém estancou em menos da metade do total gerado. Enquanto isso, os americanos continuam sendo os campeões mundiais do lixo, produzindo, per capita, 51% mais lixo urbano do que o habitante comum de qualquer outro país da OCDE. Há um vislumbre de boas notícias dos Estados Unidos: o índice per capita aparentemente estabilizou-se nos anos 90. Mesmo assim, somando-se os altos níveis de lixo por cidadão americano ao crescimento contínuo da população dos Estados Unidos, chega-se a um entulho descomunal.42 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE As tendências do uso dos recursos e da saúde dos ecossistemas indicam que as áreas naturais também estão sob o estresse das pressões crescentes do consumo. (Vide Tabela 1-7.) Uma equipe internacional de ecólogos, economistas e biólogos conservacionistas publicaram um estudo em Science, em 2002, indicando que quase todos os ecossistemas mundiais estão perdendo lugar para residências, fazendas, shoppings e fábricas. Como revela o estudo, a relva marinha e leitos de algas estão declinando 0,01–0,02% ao ano, florestas tropicais 0,8%, pesqueiros marinhos 1,5%, ecossistemas de água doce (pântanos, baixios, lagos e rios) 2,4% e manguezais em assustadores 2,5%. Também mencionou grandes perdas anuais, difíceis de quantificar, de recifes de coral, pradarias e terras cultivadas. Apenas as florestas temperadas e boreais mostraram revitalização, aumentando 0,1% ao ano após décadas de declínio. Verificações constantes de declínio ambiental global podem ser encontradas no Índice Planeta Vivo, um instrumento desenvolvido pela WWF International (Fundo Mundial para a Natureza) para medir a saúde das florestas, oceanos, rios e outros sistemas naturais. O Índice mostra um declínio de 35% na saúde ecológica do planeta desde 1970. (Vide Figura 1-2.)43 Tabela 1-7. Tendências Globais dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente Indicador Ambiental Tendência Combustíveis fósseis O consumo global de carvão, petróleo e gás natural foi 4,7 vezes maior em 2002 do que em e a atmosfera 1950. Os níveis de dióxido de carbono em 2002 foram 18% maiores do que em 1960, e estão estimados em 31% a mais desde o início da Revolução Industrial, em 1750. Os cientistas atribuíram a tendência de aquecimento durante o século XX ao acúmulo de dióxido de carbono e outros gases retentores de calor. Degradação de Mais da metade das terras alagadas do planeta, desde pântanos costeiros a baixios interioranos, ecossistemas foi perdida devido, em grande parte, à drenagem ou aterro para loteamentos ou agricultura. Cerca da metade da cobertura florestal original do mundo também já deixou de existir, enquanto outros 30% estão degradados ou fragmentados. Em 1999, o consumo global de madeira para combustível, madeireiras, papel e outros produtos foi mais que o dobro do consumo de 1950. Nível do mar O nível do mar subiu 10 – 20 centímetros no século XX, uma média de 1– 2 milímetros ao ano, como conseqüência do degelo da massa continental polar e da expansão dos oceanos devido à mudança climática. Pequenas ilhas-nações, embora responsáveis por menos de 1% das emissões globais de gases de estufa, correm o risco de serem inundadas pelo aumento do nível do mar. Solo/terras Cerca de 10 – 20% das terras cultivadas mundiais sofrem algum tipo de degradação, enquanto mais de 70% dos pastos globais estão degradados. Ao longo do último meio século, a degradação do solo reduziu a produção de alimentos em cerca de 13% nas terras cultivadas e 4% nos pastos. Pesqueiros Em 1999, o pescado total foi 4,8 vezes o volume de 1950. Apenas nos últimos 50 anos as frotas de traineiras pescaram pelo menos 90% de todos os grandes predadores oceânicos – atum, marlim, peixe-espada, tubarão, bacalhau, halibut, arraia e linguado. Água O bombeamento excessivo da água subterrânea está causando declínio dos lençóis freáticos em regiões agrícolas chave na Ásia, África do Norte, Oriente Médio e Estados Unidos. A qualidade da água também está deteriorando-se devido ao escoamento de fertilizantes e pesticidas, produtos petroquímicos que vazam de tanques de armazenagem, solventes clorados, metais pesados despejados pelas indústrias e lixo radioativo de usinas nucleares. FONTE: vide nota final 43. 19 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE sumo já haviam excedido a capacidade ecológica do planeta no final dos anos 70 ou 2,5 início dos anos 80. Tamanho superconsumo só é possível 2,0 por meio da redução dos esÍndice do Produto Mundial Bruto toques das reservas naturais, 1,5 como quando a água de poço é bombeada a ponto de redu1,0 Índice Planeta Vivo zir os níveis freáticos. 44 A busca agressiva de uma 0,5 sociedade de consumo de Fonte: Maddison, FMI, WWF Intl, PNUMA, RP massa também corre-laciona0,0 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 se com um declínio dos indicadores de saúde em muitos Figura 1-2. Mudanças na Atividade Econômica e na países. “Doenças do consuSaúde dos Ecossistemas, 1970–2000 mo” continuam a crescer. O fumo, por exemplo, um hábiUma medida do impacto do consu- to de consumo alimentado por dezenas mo humano sobre os ecossistemas glo- de bilhões de dólares em publicidade, bais é encontrada no sistema de conta- contribui para cerca de 5 milhões de bilidade da “pegada ecológica,” que mede mortes, mundialmente, a cada ano. Em a quantidade de terra produtiva que uma 1999, despesas médicas e perdas de proeconomia requer para produzir os recur- dutividade relacionadas ao tabaco custasos de que precisa e assimilar seus resí- ram aos Estados Unidos mais de US$ 150 duos. Cálculos realizados pelo grupo bilhões – quase uma vez e meia a receita californiano Redefining Progress reve- das cinco maiores multinacionais de fumo lam que a Terra possui 1,9 hectare, per naquele ano. Igualmente, o excesso de capita, de terras produtivas para suprir peso e a obesidade, resultantes geralmente recursos e absorver resíduos. Todavia, de uma dieta inadequada e estilo de vida são tão grandes as demandas ambientais cada vez mais sedentário, afetam mais de das economias mundiais que o cidadão um bilhão de pessoas, reduzindo a qualicomum hoje utiliza 2,3 hectares de terra dade de vida, custando bilhões em trataprodutiva. Esse número global oculta, mento de saúde à sociedade e contribucertamente, uma enorme variedade de indo para o aumento acelerado da diabete. pegadas ecológicas – desde os 9,7 hec- Nos Estados Unidos, cerca de 65% dos tares demandados pelo americano co- adultos estão com excesso de peso ou mum, até o 0,47 hectare utilizado pelo obesos, causando uma perda anual de moçambicano comum. A análise das pe- 300.000 vidas e pelo menos US$ 117 bigadas revela que os níveis totais de con- lhões em tratamento de saúde em 1999.45 1970=1,0 3,0 20 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE O fracasso da tese de que mais riqueza e consumo proporcionam às pessoas uma vida mais realizada pode ser o argumento mais eloqüente para uma reavaliação da nossa abordagem do consumo. A “saúde social” em geral também caiu nos Estados Unidos nos últimos 30 anos, conforme o Índice de Saúde Social da Universidade Fordham. Esse índice documenta aumentos da pobreza, suicídio juvenil, carência de seguro-saúde e desigualdade de renda a partir de 1970. E apesar de possuir níveis de consumo superiores à maioria das nações industrializadas, os Estados Unidos têm o pior escore em inúmeros índices de desenvolvimento: está em último lugar entre os 17 países da OCDE medidos no Índice de Pobreza Humana dos países industrializados, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que compila indicadores de pobreza, analfabetismo funcional, longevidade e inclusão social.46 Um estudo da OCDE também documentou o desengajamento de envolvimento cívico em alguns países industrializados, particularmente os Estados Unidos e Austrália. Em ambos os países, o número de associados em organizações formais tem caído, como tem caído também a intensidade de participação em termos de presença e disposição de assumir lideranças. Enquanto isso, interações sociais informais – jogar cartas com vizinhos, ir a piqueniques, etc. – também declinaram sensivelmente em ambos os países, da mesma forma que os níveis de confiança entre pessoas e insti- tuições. Dados de outros países prósperos são mais encorajadores, embora já estejam evidentes alguns sinais de desengajamento social. A participação organizacional continua alta em muitos países europeus, mas o nível de envolvimento e interação pessoal está em queda em algumas nações e a participação é, freqüentemente, mais transitória do que no passado. Até na Suécia, com fortes redes comunitárias e sociais, há sinais preocupantes: o engajamento político é cada vez mais passivo e os níveis de confiança nas instituições estão caindo.47 Robert Putnam, professor de Políticas Públicas da Universidade de Harvard, identificou limitações de tempo, dispersão residencial e longa permanência frente à televisão como os três destaques da sociedade americana que podem explicar o declínio no engajamento cívico e, em conjunto, responsáveis por parte da situação. Todos os três estão ligados ao alto consumo: pressões de tempo estão freqüentemente ligadas à necessidade de trabalhar longas horas para sustentar hábitos de consumo; a dispersão é resultado da dependência do automóvel e do desejo de casas e terrenos maiores; e o longo tempo frente à televisão ajuda a promover o consumo através da exposição à publicidade e programações que freqüentemente romantizam estilos consumistas de vida.48 Talvez a prova mais contundente de o consumo contínuo estar gerando benefícios decrescentes esteja nos estudos que comparam o nível cada vez mais alto de riqueza pessoal nos países ricos, com a parcela estagnada da população, nessas nações, que alega estar “muito feliz”. Embora a felicidade auto-revelada entre os pobres tenda a crescer com o aumento da renda, os estudos revelam que o elo entre felicidade e au21 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE mento de renda é quebrado logo que níveis modestos de renda são atingidos. O fracasso da tese de que mais riqueza e consumo proporcionam às pessoas uma vida mais realizada pode ser o argumento mais eloqüente para uma reavaliação da nossa abordagem do consumo.49 O desapontamento pela capacidade de o consumo produzir vidas mais realizadas está gerando descontentamento entre acadêmicos, legisladores e a população. Um grande número de livros publicados nos anos 90 documentou o desagrado com as sociedades organizadas em torno do consumo. Os títulos dizem tudo: O Americano Pródigo, O Americano Estressado, Um Século Todo Consumista, Confrontando o Consumo e O Alto Preço do Materialismo, entre outros. Embora as análises divirjam, todos esses autores expressam o ponto de vista de que as sociedades focadas no consumo não são sustentáveis, por razões ambientais ou sociais. Descontentamento com um compromisso com o alto consumo ficou patente também em termos políticos e básicos. Vários governos europeus já estão implementando ou planejando reformas de horários de trabalho e férias, por exemplo. E algumas pessoas na Europa e nos Estados Unidos estão começando a adotar estilos de vida mais simples. De forma lenta, mas constante, já é evidente o interesse das pessoas em atribuir ao consumo um papel mais coadjuvante do que principal.50 Um Novo Papel para o Consumo Apesar dos problemas associados à sociedade de consumo, e não obstante as medidas experimentais para redirecionar as 22 sociedades para um caminho menos danoso, a maioria das pessoas nos países industrializados ainda continua numa rota de consumo ascendente e muitas outras, nos países em desenvolvimento, permanecem atoladas na pobreza. A fim de promover o interesse experimental por um novo papel para o consumo, qualquer visão terá que incluir respostas a quatro quesitos-chave: • Estará a classe de consumidor global tendo uma qualidade de vida melhor em função dos seus níveis crescentes de consumo? • Poderão as sociedades perseguir o consumo de forma equilibrada, especialmente harmonizando o consumo ao ambiente natural? • Poderão as sociedades reformular as opções do consumo para uma escolha genuína? • Poderão as sociedades priorizar o atendimento às necessidades básicas de todos? De modo geral, os consumidores estarão se beneficiando da cultura global de consumo? Indivíduos, importantes árbitros dessa questão, podem considerar os custos pessoais associados a altos níveis de consumo, dívida financeira, tempo e estresse relacionado ao trabalho para sustentar um alto consumo e ao tempo necessário para limpar, melhorar, guardar ou, de outra forma, manter as posses. E como o consumo substitui o tempo com família e amigos. Tanto indivíduos quanto legisladores devem analisar o aparente paradoxo de que a qualidade de vida, freqüentemente, é melhorada quando se age dentro de limites clara- Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE mente definidos sobre o consumo. As florestas, por exemplo, podem ser disponibilizadas para todos indefinidamente se não forem exploradas mais rapidamente que sua taxa de renovação. Igualmente, aquele que adotar parâmetros claros de bem-estar pessoal – exercitando-se diariamente e alimentando-se bem, por exemplo – provavelmente terá uma qualidade de vida melhor do que outro que consuma de forma desordenada e irrestrita. Na realidade, a premissa básica da economia do consumo em massa – ou seja, que o consumo ilimitado é aceitável, e até desejável – choca-se, fundamentalmente com os padrões de vida do mundo natural e com os ensinamentos sobre moderação, comuns a filósofos e líderes religiosos em todas as culturas e através de grande parte da história da humanidade. A premissa básica da economia do consumo em massa – ou seja, que o consumo ilimitado é aceitável, e até desejável – choca-se, fundamentalmente, com os padrões de vida do mundo natural. Segundo, será que nosso consumo está economicamente, socialmente e ambientalmente equilibrado? Nas sociedades de consumo em massa, as leis e incentivos econômicos freqüentemente encorajam as pessoas a cruzar importantes limiares econômicos, ambientais e sociais. Bancos e agências de crédito instam os consumidores a assumir dívidas pesadas; empresas e indivíduos exploram florestas, água subterrânea e outros recursos renováveis além de suas taxas de renovação; e os empregadores freqüentemente premiam trabalhadores que passam longas horas no trabalho. Cada um desses excessos impõe um preço em bemestar pessoal ou social. Existem inúmeras formas imaginativas de harmonizar as opções de consumo às necessidades sociais e ambientais – desde legislação estabelecendo níveis obrigatórios de teores de reciclagem, até leis de “devolução” de produtos que responsabilizam os fabricantes pelos produtos e resíduos que criam. Terceiro, estarão sendo proporcionadas aos consumidores oportunidades de escolha genuínas, que os ajudam a atender suas necessidades? Claramente, as sociedades de consumo em massa oferecem mais produtos e serviços do que qualquer outro sistema econômico da história da humanidade. Todavia, os consumidores nem sempre encontram o que precisam. Consideremos os transportes: o acesso seguro e conveniente a apenas cinco alternativas – andar a pé, de bicicleta, transportes públicos, transporte solidário ou carro particular – poderá proporcionar opções mais eficazes de levar as pessoas a seus destinos do que uma escolha entre 100 modelos numa revendedora de automóveis. E onde a escolha genuína estiver presente a opção mais desejável pode não ser acessível, como ocorre com alimentos orgânicos em alguns países. Os governos precisam reformular incentivos e regulamentos econômicos para facilitar às empresas a oferta de opções acessíveis que atendam às necessidades dos clientes. Também têm um papel na contenção dos excessos do consumo, principalmente através da remoção de incentivos para consumir – desde a energia subsidiada até 23 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE a promoção de empreendimentos imobiliários de baixa densidade. Finalmente, poderão as sociedades criar uma ética de consumo que priorize o atendimento às necessidades básicas de todos? O bem-estar físico – incluindo acesso adequado a alimentos sadios, água potável e saneamento, educação, tratamento de saúde e segurança pessoal – é base de todas as realizações individuais e sociais. Negligenciar essa base inevitavelmente limitará a capacidade de muitos realizarem seu potencial pessoal – e sua capacidade de fazer contribuições significativas à sociedade. Num mundo em que há mais pessoas vivendo com menos de US$ 2 por dia do que há na classe de consumidores globais, a busca contínua por maior riqueza pelos ricos – quando há pouca evidência de que isso aumente a felicidade – suscita questões éticas graves. Além do imperativo ético, a assistência a todos é uma razão de auto-ajuda. A falta de atenção às necessidades dos mais pobres pode causar maior insegurança aos mais prósperos e maiores gastos em medidas 24 defensivas. A necessidade de gastar bilhões de dólares em guerras, segurança de fronteiras e manutenção da paz está seguramente relacionada à negligência mundial aos prementes problemas sociais e ambientais. O mesmo ocorre em termos comunitários. Gastos em educação particular, comunidades cercadas, sistemas de alarme doméstico são apenas algumas das formas em que a falta de investimentos nos mais pobres retorna para assombrar os ricos. Atender às necessidades básicas de todos, então, tanto é certo quanto inteligente. Tratar dessas quatro questões daria ao consumo um papel menos central em nossas vidas e liberaria tempo para o aperfeiçoamento comunitário e o fortalecimento das relações interpessoais – fatores que os psicólogos dizem ser essenciais para uma vida realizada. Ao redirecionar as prioridades sociais em direção à melhoria do bemestar das pessoas, em vez de simplesmente acumular bens, o consumo poderá agir não como o motor que conduz a economia, e sim como um instrumento que proporciona uma qualidade melhor de vida. Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Sacos Plásticos Sacos plásticos são o item de consumo mais comum na face da Terra. Sua leveza, baixo custo e impermeabilidade os tornam extremamente convenientes para carregar mantimentos, peças de vestuário ou qualquer outra compra do dia-a-dia, sendo difícil imaginar a vida sem eles. As primeiras “embalagens” plásticas para pão, sanduíches, frutas e outras verduras surgiram nos Estados Unidos, em 1957. Sacos plásticos de lixo já estavam presentes nos lares e ao longo das calçadas em todo o mundo no final dos anos 60. Mas esses itens popularizaram-se realmente em meados dos anos 70, quando um novo processo de produção barata de sacos plásticos tornou possível para os grandes varejistas e supermercados oferecerem a seus clientes uma alternativa para os sacos de papel. Hoje, em cada cinco sacos usados nos mercados, quatro são plásticos, do tipo de duas alças, semelhantes a uma camiseta.1 Esses sacos partem do petróleo bruto, gás natural ou outros derivados petroquímicos, que são transformados nas fábricas de plásticos em cadeias de moléculas de hidrogênio e carbono, conhecidas como polímeros ou resina de polímero. (Resina de polietileno de alta densidade é o padrão industrial para os sacos plásticos.) O polietileno é superaquecido e a resina líquida é extraída com um tubo, semelhante ao processo de fabricar macarrão. Quando se obtém a forma desejada, a resina é resfriada e endurecida, podendo ser achatada, selada, reforçada, perfurada ou impressa.2 Os sacos plásticos típicos, que pesam apenas alguns gramas e têm poucos milímetros de espessura, poderiam parecer completamente inócuos não fosse o gigantesco volume da produção global. Fábricas em todo o mundo produziram aproximadamente 4–5 trilhões de sacos plásticos – desde grandes sacos de lixo e sacolas resistentes para lojas até sacos mais finos para supermercados – em 2002, de acordo com estimativas do Chemical Market Associates, uma firma de consultoria da indústria petroquímica. A América do Norte e Europa Ocidental são responsáveis por quase 80% do consumo desses produtos. Os americanos descartam, anualmente, 100 bilhões de sacos plásticos, que estão se tornando cada vez mais comuns também nas nações mais pobres. E hoje sacos produzidos na Ásia representam um quarto dos sacos usados nas nações ricas.3 25 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: SACOS PLÁSTICOS A produção de sacos plásticos consome cerca de 20–40% menos energia e água do que a produção de sacos de papel e gera menos poluição e resíduos sólidos, conforme avaliações de ciclo de vida por parte de grupos industriais e não-industriais. Representantes da indústria de plástico também observam que sacos de papel ocupam menos espaço num aterro e que nenhum dos dois produtos decompõe-se sob as condições predominantes nos aterros. (Sob condições adequadas, o saco de papel decompõe-se rapidamente, enquanto o mesmo não ocorre com o saco plástico.)4 Porém muitos sacos não encontram o caminho dos aterros. Alguns são levados pelo ar depois de descartados. No Quênia, fazendeiros e conservacionistas reclamam contra sacos presos em cercas, árvores e mesmo nas goelas de pássaros. Em Xangai, o governo estava gastando tanto dinheiro na limpeza de sarjetas, esgotos e templos antigos que lançou uma campanha para encorajar as pessoas a darem nós nos sacos, para impedi-los de serem levados pelo vento. O irlandês denomina os sacos, onipresentes, de sua “bandeira”; os sul-africanos resolveram apelidá-lo de “flor nacional”.5 Alguns fabricantes introduziram recentemente no mercado sacos plásticos biodegradáveis ou orgânicos, fabricados com amidos, polímeros ou ácido polilático, e não polietileno. Até agora, estes correspondem a menos de 1% do mercado a preços proibitivos, conforme o Biodegradable Products Institute, uma associação que promove o uso de materiais poliméricos biodegradáveis. Não obstante, os organizadores dos Jogos Olímpicos 26 2000, em Sidnei, Austrália, recolheram 76% dos restos de comida gerados nos eventos esportivos e vila olímpica usando utensílios e sacos plásticos biodegradáveis, que se decompõem tão rapidamente quanto o alimento, eliminando a necessidade de separar o lixo. (Na primavera seguinte, a compostagem adubou os jardins da cidade.) 6 Em outros países, governos e indivíduos propõem uma solução mais permanente, que não dependa de nova tecnologia. A Aliança de Mulheres de Ladack e outros grupos de cidadãos lideraram uma campanha bem-sucedida no início dos anos 90 para proibir sacos plásticos naquela província da Índia, onde o dia 1 o de maio é agora comemorado como “Dia da Proibição do Plástico”. Bangladesh deu início à sua própria proibição após constatar que sacos descartados estavam entupindo esgotos e drenos pluviais, aumentando as inundações e a incidência de doenças veiculadas pela água. 7 Em janeiro de 2002, o governo da África do Sul agiu, exigindo que a indústria fabricasse sacos mais resistentes e mais caros, a fim de desencorajar o descarte – provocando uma redução de 90% em seu uso. A Irlanda criou um imposto de 15 centavos por saco a partir de março de 2002, o que levou a uma redução de 95% em seu uso. Austrália, Canadá, Índia, Nova Zelândia, Filipinas, Taiwan e Reino Unido também planejam proibir ou taxar os sacos plásticos. 8 Supermercados em todo o mundo estão tomando a iniciativa de encorajar seus clientes a dispensarem os sacos – ou trazerem suas próprias sacolas – Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: SACOS PLÁSTICOS concedendo um pequeno desconto por saco ou cobrando uma pequena taxa por estes. A Weaver Street Market, uma mercearia comunitária na Carolina do Norte, deu um passo além ao vender sacolas de lona com desconto. As vendas dessas alternativas duráveis quintuplicaram, declarou o gerente James Watts, e o uso de sacos plásticos despencou. “É bom para os negócios e também para o meio ambiente”, acrescentou . Entretanto, a idéia de levar sacolas reutilizáveis sempre que se vai às compras é tão simples e óbvia que a maioria das pessoas pode não perceber o grande impacto que pode ter.9 — Brian Halweil 27 Estado do Mundo 2004 O ESTADO DO CONSUMO HOJE CAPÍTULO 2 Escolhendo Melhor a Energia Janet L. Sawin Aninhadas entre as ondulantes e verdes colinas ao sul do Estado de West Virginia, encontram-se velhas cidades como Clear Creek, Duncan Fork, Superior Bottom e White Oak. As Montanhas Apalaches nessa região abrigam algumas das pessoas mais pobres dos Estados Unidos. Durante gerações, os habitantes dependeram da mineração do carvão para seus empregos e sustento. Mas muitos acreditam que “as Apalaches estão sendo assaltadas” e que a indústria que os sustentaram por gerações está hoje empobrecendo-os. Cumes estão sendo explodidos para extrair o carvão que cobriam. No processo, montanhas transformaram-se em terra agreste, florestas nobres desapareceram, córregos entupiram-se com lodo tóxico, poços secaram e comunidades inteiras foram expulsas.1 A quilômetros de distância desses cumes áridos, alguém chega em casa e acende a luz, querendo apenas clarear a escuridão, sem pensar no que isso envolve além das paredes da casa. Para a grande maioria de pessoas, a eletricidade é uma força invi28 sível que flui mágica e silenciosamente para iluminar um cômodo, resfriar um refrigerador, aquecer um fogão ou dar vida à televisão. Entre uma conta de energia e outra, a maioria pouco pensa a respeito. Todavia, no momento em que alguém aciona um interruptor de luz, ou liga um computador, uma reação em cadeia entra em ação. A corrente flui para o imóvel, através de linhas de transmissão que se estendem por meio de campos e vias urbanas, trazendo eletricidade de usinas distantes. Ao longo do caminho, grande parte dessa energia perde-se pela resistência nas linhas de transmissão e dissipa-se como calor. Para criar eletricidade, em grande parte do mundo pilhas gigantescas de carvão são conduzidas por correias transportadoras para serem pulverizadas em um fino pó e lançadas numa fornalha na usina. O fogo produz vapor d’água, que move um gerador, a fim de produzir uma corrente elétrica. No processo, a usina emite poluentes que causam chuva ácida e nevoeiro enfumaçado, como também mercúrio e Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA dióxido de carbono (CO2), um gás de aquecimento global. No máximo, 35% da energia do carvão é convertida em eletricidade, o que significa que quase dois terços são perdidos sob a forma de calor de escape, sem beneficiar ninguém e freqüentemente prejudicando os ecossistemas vizinhos. E todo esse carvão tem que ser transportado para a usina, por trens ou chatas, de locais como as Montanhas Apalaches ou sul de West Virginia.2 Tudo o que consumimos ou utilizamos – nossos lares, seu conteúdo, nossos carros e as vias que percorremos, as roupas que usamos e os alimentos que comemos – requer energia para ser produzido e embalado, distribuído às lojas ou em domicílio, operado e depois descartado. Raramente pensamos de onde vem essa energia ou quanto consumimos – ou de quanto realmente precisamos. Seja na forma de gasolina para alimentar um carro, ou urânio para gerar eletricidade, a energia necessária para sustentar nossas economias e estilos de vida proporciona grande conveniência e benefícios. Mas também impõe altos custos à saúde humana, aos ecossistemas e até à segurança. O consumo de energia afeta tudo, desde a dívida externa de um país (devido às importações de combustíveis) até a estabilidade do Oriente Médio. Desde o ar que respiramos até a água que bebemos, nosso uso da energia afeta a saúde das gerações atuais e futuras. O uso ineficiente e insustentável da biomassa em países pobres leva ao desmatamento e desertificação, enquanto o uso insustentável de combustíveis fósseis está alterando o clima global. E à medida que buscamos fontes mais remotas de combustível, colocamos em perigo a cul- tura e o modo de vida de povos indígenas, da Amazônia ao Ártico. A intensidade energética – ou seja, o insumo de energia por dólar de produto – da economia global está em declínio, tendo havido melhorias contínuas de eficiência energética nas décadas recentes. Todavia, essas melhorias estão sendo neutralizadas por um nível cada vez maior de consumo em todo o mundo. Naturalmente, não é de se estranhar que o uso de energia esteja crescendo nos países em desenvolvimento, onde a maioria das pessoas nunca dirigiu um carro, ligou um ar-condicionado ou cozinhou utilizando outra coisa que não lenha ou dejeto animal. À proporção que obtêm melhoria de vida, seu uso de energia aumenta, e vice-versa. O que é mais surpreendente é o aumento dramático do uso de energia em muitos países industrializados. Em comparação a apenas 10 anos atrás, por exemplo, os americanos estão dirigindo carros maiores e menos eficientes, comprando casas maiores e mais eletrodomésticos. Conseqüentemente, o consumo de petróleo nos Estados Unidos aumentou ao longo da década em quase 2,7 milhões de barris/dia – mais do que é consumido, diariamente, na Índia e no Paquistão, que, conjuntamente, têm mais de quatro vezes a população dos Estados Unidos. Será que essa demanda crescente é sustentável? E deverá haver uma mudança fundamental no modo que produzimos e consumimos energia?3 O tipo e o volume de energia que as pessoas consomem são influenciados por vários fatores, incluindo renda, clima, recursos disponíveis e políticas corporativas e governamentais. Por intermédio de impostos, subsídios, regulamentos, normas e investi29 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA mentos em infra-estrutura, os governos influenciam como, onde, quanto e que forma de energia utilizamos. Mas nós, como consumidores, não somos meros e impotentes espectadores. Somos aqueles que adquirem veículos, eletrodomésticos, roupas, casas e outros bens e serviços, com base em parâmetros como preço, moda e valores. No fundo, dentro dos limites de disponibilidade e acessibilidade, são os consumidores que escolhem o produto a ser comprado e sua utilização; e, assim, são os consumidores que podem provocar mudanças. Tendências Globais do Uso de Energia Entre 1850 e 1970, a população mundial mais que triplicou e a energia consumida aumentou 12 vezes. Em 2002, nossos números já haviam crescido mais 68% e o consumo de combustíveis fósseis outros 73%. O uso de energia alimentou o crescimento econômico e vice-versa, mas não estão tão estreitamente ligados, como acreditava-se outrora. Antes da primeira crise global do petróleo, muitos economistas pensavam que o consumo maior de energia era pré-requisito de crescimento econômico. Mas quando os preços do petróleo deram um salto repentino, no início dos anos 70, governos e consumidores reagiram, estabelecendo padrões de eficiência e conservando combustível. Entre 1970 e 1997, a intensidade global de energia caiu 28%, enquanto a produção econômica continuou a crescer.4 Quanto mais eficientemente produzirmos e consumirmos energia, de menos energia necessitaremos para os mesmos serviços. Caso os Estados Unidos consumissem, em 30 2000, a mesma energia por dólar de PIB consumida em 1970, o consumo de energia teria totalizado 177 quads, em vez dos 98,5 quads efetivamente consumidos. De acordo com o analista de energia Amory Lovins, medidas de eficiência energética, promulgadas a partir de meados dos anos 70, proporcionaram uma economia de US$ 365 bilhões para os Estados Unidos só em 2000.5 Com apenas 2% das reservas globais e 4,5% da população total, os Estados Unidos continuam sendo o maior consumidor mundial de petróleo. O potencial para poupanças futuras nos Estados Unidos e outros países continua gigantesco. Ainda desperdiçamos imensas quantidades de energia. Consideremos o caminho percorrido da mina de carvão até o interruptor de luz e imaginemos essas perdas de energia através de toda a economia e em cada país. Nos Estados Unidos, por exemplo, para cada 100 unidades de energia que alimenta usinas, prédios, veículos e fábricas, apenas 37 unidades emergem como serviços úteis, tais como calor, eletricidade e mobilidade. Globalmente, a eficiência média da conversão de energia primária em energia útil é de 28%. E as perdas variam enormemente de um uso ou país para o próximo: por exemplo, Lovins calcula que apenas 14% do petróleo na boca do poço chega às rodas de um automóvel moderno.6 O consumo de energia, especialmente de petróleo, vem crescendo constantemen- Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA te, com apenas uma pequena desaceleração, durante as crises dos anos 70. Apenas a Europa Oriental e os antigos estados soviéticos sofreram declínios no consumo de energia. Os países industrializados continuam a consumir a maior parcela do petróleo global – 62%. O consumo de petróleo nos Estados Unidos duplicou a partir de 1960. Embora sua participação no consumo global tenha caído consideravelmente desde 1960, começou a subir novamente durante os anos 90. Com apenas 2% das reservas globais e 4,5% da população total, os Estados Unidos continuam sendo o maior consumidor mundial de petróleo.7 Hoje, os povos mais ricos do mundo consomem, em média, 25 vezes mais energia, per capita, do que os pobres. Na realidade, quase um terço da população mundial não dispõe de acesso à eletricidade ou outros serviços modernos de energia, enquanto outro terço dispõe apenas de acesso limitado. Cerca de 2,5 bilhões de pessoas, a maioria na Ásia, dispõem apenas de madeira ou outra biomassa para sua energia. O cidadão americano comum consome cinco vezes mais energia que o cidadão global, 10 vezes mais que o chinês e quase 20 vezes mais que o indiano. (Vide Tabela 2–1.) 8 Tabela 2-1. Consumo de Energia e Emissões de Dióxido de Carbono Anuais, Países Selecionados País Energia Comercial Petróleo Eletricidade Emissões de Dióxido de Carbono (toneladas de equivalência em petróleo por pessoa) (barris por dia por mil habitantes) (quilowatt-hora por pessoa) (toneladas por pessoa) Estados Unidos Japão Alemanha Polônia Brasil China1 Índia Etiópia 8,1 4,1 4,1 2,4 1,1 0,9 0,5 0,3 70,2 42,0 32,5 10,9 10,5 4,2 2,0 0,3 12.331 7.628 5.963 2.511 1.878 827 355 22 19,7 9,1 9,7 8,1 1,8 2,3 1,1 0,1 1 Excluindo Hong Kong. FONTE: vide nota final 8. Há também extremas desigualdades dentro do mundo em desenvolvimento, onde o consumo de energia cresce mais rapidamente e onde só o uso do petróleo quadruplicou desde 1970. Por exemplo, a Índia tem uma crescente classe de consumidor que dispõe de automóveis e eletrodomésticos, enquanto 48% das famílias vivem sem habitação permanente. O mesmo ocorre em outros países, de Gana ao Vietnã.9 Mais e mais pessoas no Sul consomem, em média, tanta energia quanto no Norte, e estudos indicam que suas rendas estão aumentando a uma taxa mais acelerada do que qualquer outra experimentada pelo mundo industrializado. (Vide Quadro 2-1.) 31 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA QUADRO 2-1. SURTO DA DEMANDA ENERGÉTICA NA CHINA E ÍNDIA Embora a China e Índia abriguem mais de um terço da população mundial, representam hoje apenas 13% do consumo global de energia. Mas esse consumo está crescendo rapidamente, e essas duas nações dependem significativamente do carvão – a China em mais de 70% para sua energia comercial e a Índia em mais de 50%. A Agência Internacional de Energia projeta que a demanda crescente na China e na Índia representará mais de dois terços do aumento global esperado no consumo de carvão entre hoje e 2030. Esses gigantes populacionais causarão, então, impactos colossais no mercado global de energia e no meio ambiente nas décadas futuras. Os níveis de renda aumentaram rapidamente em ambos os países, graças ao declínio da taxa de crescimento populacional e aceleramento do crescimento econômico. A economia chinesa mais que quadruplicou desde 1980. Durante os anos 80, a demanda de eletricidade na China aumentou mais de 400% devido às aquisições de eletrodomésticos. Na Índia, o número de famílias “afluentes” – com renda mensal de US$ 220 ou mais – sextuplicou em apenas cinco anos, enquanto o número de famílias de baixa renda caiu significativamente. Essas tendências apontam para um aceleramento, alimentando uma classe crescente de consumidores que deseja ter acesso às conveniências de aparelhos A China já é o maior consumidor de carvão do mundo e o 3º maior de petróleo, enquanto o Brasil é o sexto maior, a Índia o oitavo e o México o décimo.10 Até hoje, o consumo de energia no Sul tem sido limitado principalmente por questões de renda e infra-estrutura – a falta de acesso a estradas e eletricidade restringiu o uso de automóveis e aparelhos, por exemplo, mesmo entre as classes média e 32 domésticos, iluminação, fogões a gás e maior mobilidade. A demanda por petróleo crescerá rapidamente também à medida que mais e mais pessoas adquiram automóveis. A produção interna de petróleo atualmente atende a cerca de dois terços das necessidades chinesas, mas os consumidores irão, em breve, depender muito mais das importações caso a demanda dobre, até 2025, como se espera – fazendo com que a China supere o Japão como o segundo maior consumidor mundial depois dos Estados Unidos. As vendas de automóveis na China aumentaram 82% durante o primeiro semestre de 2003 em relação ao mesmo período do ano anterior. Às taxas projetadas de crescimento, a frota chinesa de veículos particulares poderá saltar dos 5 milhões em 2000 para quase 24 milhões até o final de 2005, aumentando substancialmente o congestionamento de ruas e da poluição atmosférica. O crescimento nas compras dos chamados SUVs (veículos utilitários esportivos), pródigos no consumo de combustível, excedeu até mesmo as expectativas dos fabricantes. Na Índia, as vendas de SUVs representam, hoje, 10% das compras de veículos e poderão, em breve, superá-las. – Tawni Tidwell ________________________________________ FONTE: vide nota final 10. alta, em expansão. No futuro, entretanto, as pessoas no mundo em desenvolvimento estarão mais restringidas pela exaustão de recursos e realidades ambientais. A Terra não pode prover o suficiente para a população global atual viver como o cidadão americano comum ou até mesmo o europeu comum. (Vide Capítulo 1.) Por exemplo, se o consumidor comum chinês utilizasse a mesma quantidade de petróleo Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA de um americano comum, a China necessitaria de 90 milhões de barris/dia – 11 milhões a mais do que o planeta produziu, diariamente, em 2001. No futuro, o crescimento populacional, mudança climática e outros desafios ambientais poderão estressar os sistemas naturais a seus limites, enquanto os combustíveis convencionais não poderão atender ao crescimento projetado da demanda energética. Na realidade, muitos analistas prevêem que, mesmo às taxas atuais de consumo, a produção mundial de petróleo atingirá seu pico antes de 2020. Isso tem implicações gigantescas para o nosso estilo de vida e modo de mobilidade.11 A Energia que nos Move Durante o século XX, a humanidade tornou-se uma espécie extremamente móvel. Nos países industrializados, hoje, é comum alguém viajar 10.000 ou até mesmo 50.000 quilômetros em um ano. E grande parte do que utilizamos como consumidores, desde nosso próprio computador até o alimento que comemos, atravessa continentes e oceanos para chegar até nós. Há apenas 150 anos, movimentos eram limitados à distância que uma pessoa ou animal pudesse percorrer a pé. Para cerca de um terço da humanidade, certamente, isso ainda é realidade. Para os outros dois terços, entretanto, uma maior mobilidade de pessoas e propriedade causou impactos profundos, alterando tudo, desde o trabalho e família até a natureza e o planejamento de nossas cidades. Hoje, o transporte representa quase 30% do uso global de energia e 95% do consu- mo mundial de petróleo. Os Estados Unidos são, de longe, o maior consumidor mundial de energia para os transportes, devorando mais de um terço do total global. A partir de uma base reduzida, entretanto, o consumo de energia para transportes está atualmente aumentando mais rapidamente na Ásia, Oriente Médio e África do Norte.12 Na realidade, os transportes são a forma de consumo de energia com crescimento mais acelerado em todo o mundo, provocado, em parte, pela mudança dos meios de transporte utilizados pelas pessoas e cargas para outros mais flexíveis, porém mais intensivos no consumo de energia. Embora mais passageiros viajem de trem em vez de avião, e mais cargas por navios do que por outros meios, mesmo mudanças relativamente pequenas nas escolhas do transporte causam impactos significativos. Apenas 0,5% da distância total que as pessoas percorrem anualmente é realizada pelo ar; entretanto, os aviões consomem cerca de 5% da energia de transportes. E os caminhões requerem quatro a cinco vezes mais energia que as ferrovias ou navios para o mesmo peso e distância.13 Porém o fator mais determinante do aumento progressivo do consumo de energia para transportes é a crescente dependência do carro particular. Cerca de 40,6 milhões de carros de passeio saíram das linhas de montagem em 2002, cinco vezes o total de 1950. A frota global hoje ultrapassa 531 milhões de unidades, aumentando em cerca de 11 milhões de veículos anualmente.14 Cerca de um quarto desses veículos estão nas estradas americanas, onde os 33 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA automóveis e caminhões leves representam 40% do consumo nacional de petróleo e contribuem com outro tanto para a mudança climática, da mesma forma que toda a atividade econômica do Japão. A distância total percorrida por americanos excede a de todas as outras nações industrializadas juntas – não só por suas dimensões territoriais, mas também porque os americanos preferem dirigir quando outros andam a pé ou de bicicleta. Como observou recentemente um consultor de transportes, “o automóvel ficou parecido com os aparelhos de televisão. Há mais deles numa casa do que olhos para vê-los”. Hoje há mais carros do que americanos habilitados para dirigi-los, e a maioria das famílias possui dois ou mais veículos.15 Em bases per capita, a posse de um automóvel na Europa Ocidental e Japão é comparável aos níveis dos Estados Unidos no início dos anos 70, enquanto a Europa Oriental compara-se aos Estados Unidos nos anos 30. Mas rendas em alta, mudanças de estilo de vida, mulheres entrando na força de trabalho, políticas nacionais que incentivam a mobilidade e a queda dos custos de combustíveis provocaram um crescimento significativo. A posse de automóveis, por pessoa, no Japão quadruplicou entre 1975 e 1990, e na Polônia aumentou 15 vezes, desde o início dos anos 70 até 2001. Apenas cerca de 20% dos veículos mundiais estão na Ásia e região do Pacífico, mas os números lá estão crescendo a um ritmo de 10-15% ao ano. (Vide Tabela 2-2.)16 Tabela 2-2. Frotas de Veículos Particulares e Comerciais, Países Selecionados e Total, 1950–99 País 1950 1960 1970 Estados Unidos Japão Alemanha China Índia Argentina África do Sul Reps. Tcheca e Eslovaca 49,2 — — — — — 0,6 73,9 1,3 5,6 — 0,5 0,9 1,2 108,4 17,3 15,5 — 1,1 2,3 2,1 0,2 0,4 Mundo 70,4 126,9 1980 1990 1999 155,8 37,1 24,6 1,7 1,9 4,3 3,4 188,8 56,5 32,2 5,8 4,2 5,9 5,1 213,5 71,7 45,8 12,8 8,2 6,6 6,6 1,0 2,6 3,7 5,1 246,4 411,0 583,0 681,8 (milhões de veículos) FONTE: vide nota final 16. O tamanho e peso dos veículos também têm aumentado – uma tendência que já eliminou mais de 20 anos de melhorias de eficiência ganhas nos Estados Unidos, através de padrões de eficiência de combustível es34 tabelecidos em lei federal. Na realidade, a economia de combustível dos veículos americanos seria um terço maior do que é hoje caso o peso e desempenho tivessem permanecido constantes desde 1981. Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA Ironicamente, o Modelo T da Ford Motor Company obtinha melhor quilometragem, quase um século atrás, do que o Ford médio de hoje (se bem que com uma velocidade máxima de 70 quilômetros por hora). Quase metade dos veículos que os americanos adquirem hoje são SUVs e caminhões leves bebedores de gasolina. E o desejo por veículos maiores é contagioso. Caso as tendências atuais continuem, em 2030 metade dos veículos de passeio mundiais serão SUVs ou outros caminhões leves.17 As pessoas também viajam para mais longe. Entre 1952 e 1992, enquanto o número de pessoas no Reino Unido aumentava 15%, a distância que estas dirigiam triplicou. E de 1970 a 2000, os quilômetros percorridos nos países da União Européia (UE) mais que duplicaram. Nos Estados Unidos, o número de percursos por família aumentou 46% entre 1983 e 1995, enquanto o tempo médio de viagem cresceu mais de 5%.18 Embora a mobilidade contribua para o bem-estar econômico e social, há altos custos externos associados à extensão e natureza de nossas viagens. Mundialmente, quase um milhão de pessoas – a maioria pedestres – são mortas em acidentes de trânsito, anualmente, e o número de mortes causadas por poluição atmosférica veicular é maior. À medida que o uso de veículos aumenta, as vias congestionam-se, desperdiçando horas produtivas e reduzindo a eficiência dos veículos. Os custos de transporte rodoviário não-coberto pelos motoristas – poluição atmosférica, ruído, congestionamentos, acidentes e danos às estradas – começam a 5% do PIB nos países industrializados, aumentando em algu- mas cidades dos países em desenvolvimento. E o dinheiro que se investe em infraestrutura rodoviária significa menos investimentos em outras áreas, o que agrava as desigualdades sociais existentes para aqueles que não podem utilizar o meio de transporte predominante. Mesmo nos Estados Unidos, cerca de um terço da população é pobre demais, velha demais, ou jovem demais para dirigir um carro.19 Os europeus ocidentais hoje utilizam transportes públicos para 10% dos seus trajetos urbanos e os canadenses 7%, contra apenas 2% dos americanos. As escolhas que as pessoas fazem para seu deslocamento são influenciadas, em grande parte, por políticas governamentais, como impostos sobre veículos e combustíveis, regras do uso do solo e subsídios para transportes aéreos e automóveis, em detrimento do transporte público e uso de bicicletas. Há um século, os EUA lideravam o mundo em transporte público. Em 1910, quase 50 vezes mais americanos deslocavam-se para o trabalho em trens do que em carros, e uma década depois quase todas as principais cidades americanas dispunham de malhas ferroviárias. Mas, após a II Guerra Mundial, o governo deu ênfase à construção de rodovias e auto-estradas Hoje, quem se desloca para o trabalho de carro tem subsídios em estacionamentos, enquanto aqueles que utilizam transportes públicos recebem consideravelmente menos, e os ciclistas nada. Assim, não 35 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA é de se estranhar que a média de passageiros nos transportes seja menor hoje que há 50 anos, apesar da duplicação da população dos Estados Unidos. Uma exceção para essa tendência é a cidade de Nova Iorque, onde, devido à alta densidade e proliferação de táxis e opções de transportes urbanos, apenas 25% dos seus habitantes têm habilitação para dirigir. E em cidades como Denver, Colorado, onde os serviços estão melhorando ou ampliando, a utilização de transportes de massa voltou a crescer.20 Em contraste, muitos países destinaram recursos significativos para os transportes públicos, desencorajando o uso de veículos particulares por meio de políticas de trânsito e cobrança de taxas. No Japão e Europa, grande parte dos investimentos em infra-estrutura de transportes após a II Guerra Mundial centrou-se em trens e ônibus urbanos. Hoje, quase 92% das pessoas que se deslocam ao centro de Tóquio utilizam trens, com apenas 55% utilizando carros. Os europeus ocidentais, hoje, utilizam transportes públicos para 10% dos seus trajetos urbanos e os canadenses 7%, contra apenas 2% para os americanos. Isso é significativo porque, para cada quilômetro rodado por um veículo particular, consome-se duas a três vezes mais combustível do que por transporte público.21 As diferenças nas tendências dos transportes também explicam-se pelos preços. O crescimento mais acelerado na propriedade e uso de um veículo particular ocorre caracteristicamente em países com os mais baixos preços de combustível e automóveis. Os carros e a gasolina são mais baratos nos Estados Unidos do que na Europa, por exemplo, por não sofrerem tanta taxação. Na realidade, os maiores beberrões de gasolina são subsidiados: em 2003, o Congres- 36 so dos Estados Unidos promulgou uma lei triplicando um crédito fiscal corporativo nas compras de SUVs, da ordem de US$ 75.000 cada, comparado com uma dedução de US$ 2.000 para veículos elétricos híbridos.22 Apesar das políticas norte-americanas e dos baixos preços de combustível, alguns americanos preferem pagar mais, a fim de consumir menos. Enquanto os motores modernos de combustão interna são apenas 20% eficientes, os carros híbridos podem ir mais longe com um litro de combustível. Em janeiro de 2003, cerca de 150.000 motoristas em todo o mundo compraram um carro híbrido; muitos desses novos proprietários estão nos Estados Unidos, onde as vendas mensais do modelo Prius, da Toyota, foram quatro vezes mais que no Japão. (Vide Quadro 2-2.)23 QUADRO 2-2. SÓ EFICIÊNCIA NÃO BASTA Inúmeros estudos constataram que, ao longo dos próximos 10–15 anos, a economia de combustível dos novos carros e caminhões leves nos Estados Unidos poderá aumentar em até um terço com as tecnologias existentes. A mais longo prazo, o uso de materiais compostos leves, porém resistentes, da era espacial, com base em fibras de carbono, desenho avançado e tecnologia híbrida ou de célula de combustível, poderá no mínimo triplicar a economia de combustível. Todavia, melhorias de eficiência irão apenas começar a resolver os problemas associados às nossas escolhas de transporte. E os avanços de eficiência, por si só, poderão na realidade encorajar as pessoas a utilizar mais energia, incrementando suas viagens e compras de veículos já que os custos de energia representam uma parcela menor das despesas totais. ___________________________________________________________________________________________________ FONTE: vide nota final 23. Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA A crescente conscientização sobre os problemas da poluição atmosférica, segurança e congestionamentos associados aos automóveis motivou medidas severas para redução do aumento do trânsito, particularmente nos países em desenvolvimento. Em 1999, um grupo de cidadãos em Santiago, Chile, uniu-se ao grupo ambiental Greenpeace numa campanha de um ano para modernizar o sistema de transportes urbanos. Como resultado, Santiago hoje dispõe de vias exclusivas para ônibus, as ruas mais largas estão restritas ao transporte público em dias de alta poluição e o uso do transporte urbano aumentou consideravelmente.24 A Prefeitura de Bogotá, na Colômbia, começou a trocar os carros por bicicletas em algumas vias no final dos anos 80, e até 2025 planeja proibir o uso do automóvel durante o horário de pico. O ex-prefeito Enrique Peñalosa, o impulsionador desse movimento, acredita que os carros são “o instrumento mais poderoso de diferenciação e alienação social que temos na sociedade”, pois desviam recursos da educação e outros serviços sociais. Hoje, Bogotá dispõe de um bom sistema de transportes públicos, os níveis de poluição caíram e o tempo gasto durante os horários de pico foi reduzido à metade. Inúmeras outras cidades, desde Zurique, na Suíça, até Portland, em Oregon, reduziram os níveis de poluição ao mesmo tempo em que aumentaram o uso dos transportes públicos, através do replanejamento das áreas urbanas e melhoria de eficiência nos transportes.25 “Taxas de congestionamento” sobre veículos que entram nos centros das cidades, juntamente com investimentos em transporte público, também reduziram o uso do carro e a poluição. Motoristas em Londres passavam metade de seu tempo presos no trânsito, andando na mesma velocidade que os londrinos de um século atrás. Mas, em resposta a um pedágio promulgado no início de 2003, os níveis de trânsito caíram 16% em média nos primeiros meses e a maioria dos motoristas começou a utilizar os serviços públicos. Taxas de congestionamento para centros urbanos foram implantadas anos atrás em Cingapura e Trondheim, na Noruega, e mais recentemente em Toronto e Melbourne, com resultados semelhantes.26 Em outros países as pessoas preferiram compartilhar frotas de veículos, em vez de possuí-los, e em alguns casos abrir mão deles por completo. Uma rede conjunta, Eurocities – Comissão Européia, está no momento promovendo uma “nova cultura da mobilidade” por toda a UE, objetivando melhorar a qualidade de vida e deslocar a dependência dos carros para transportes públicos, bicicletas e andar a pé. Zermatt, na Suíça, faz uso do seu status de longo tempo livre de carros como apelo de vendas para os turistas, e 280 famílias em Freiburg, na Alemanha, foram as primeiras entre mais de 40 comunidades alemãs a decidir viver sem automóveis. Aparentemente, uma vez que as pessoas dispõem de alternativas seguras, confortáveis e confiáveis, um maior número delas prefere viver sem carros.27 A Energia Onde Vivemos e Trabalhamos Mundialmente, as pessoas consomem cerca de um terço de toda a energia nos prédi37 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA os – para aquecimento, refrigeração, culinária, iluminação e uso de eletrodomésticos. A demanda de energia relacionada a prédios está crescendo rapidamente, particularmente dentro dos nossos lares.28 Mas há grandes diferenças no uso doméstico de energia de um país para outro. As pessoas nos Estados Unidos e Canadá consomem 2,4 vezes mais energia em casa do que na Europa Ocidental. Uma pessoa comum, no mundo em desenvolvimento, consome cerca de um nono da energia em prédios do que a pessoa comum do mundo industrializado, mesmo incluindo combustíveis não-comerciais. Entretanto, uma parcela bem maior da energia total nos países em desenvolvimento é consumida em casa, devido à ineficiência de combustíveis e tecnologias. Na China, os domicílios consomem cerca de 40% da energia nacional; na Índia, 50% e na maioria da África é ainda maior, em comparação aos 15–25% do mundo industrializado.29 Embora talvez um quarto da população mundial disponha de abrigos inadequados ou até abrigo nenhum, para muitas outras pessoas o tamanho de suas casas aumenta mesmo quando o número de pessoas por família diminui. Os Estados Unidos representam o caso extremo, onde as novas residências cresceram quase 38% entre 1975 e 2000, para 210 m2 – duas vezes o tamanho das residências típicas da Europa ou Japão, e 26 vezes o espaço de habitação do africano comum.30 À medida que os lares tornam-se maiores devido, em grande parte, aos baixos preços da energia, cada lar individual tem mais espaço para aquecer, resfriar e iluminar, como também espaço para aparelhos maio38 res e em maior número. E à medida que cai a quantidade de pessoas por residência, devido a uma variedade de tendências sociais, aumenta o número de casas necessárias para uma determinada população. Cada residência adicional requer materiais de construção, iluminação aquecimento e refrigeração, aparelhos eletrodomésticos e freqüentemente mais carros e vias – tudo que requer energia para produzir e operar. Entre 1973 e 1992, a redução do tamanho das famílias, só nos países industrializados, foi responsável por um aumento de 20% no consumo per capita de energia.31 Eletrodomésticos são os consumidores de energia de crescimento mais acelerado do mundo, responsáveis por 30% do consumo de eletricidade dos países industrializados e 12% das emissões de gases de estufa. A saturação da propriedade de grandes aparelhos nessas nações é continuamente compensada pela difusão de novos, inclusive computadores e outras formas de tecnologia da informação (TI), enquanto os ganhos de eficiência obtidos a partir dos anos 70 estão sendo desperdiçados na troca por mais (e maiores) amenidades. (Vide Quadro 2-3.) O tamanho médio de refrigeradores nas residências americanas, por exemplo, aumentou 10% entre 1972 e 2001, e a quantidade por residência também subiu. O ar-condicionado também seguiu um caminho semelhante: em 1978, 56% dos lares americanos dispunham de sistemas de refrigeração, a maioria dos quais consistiam de pequenas unidades instaladas nas janelas; 20 anos depois, três quartos dos lares dispunham de condicionadores de ar e quase a metade consistia de sistemas centrais.32 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA QUADRO 2-3. OS ALTOS E BAIXOS DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO A era da tecnologia da informação prometia um caminho mais claro para o desenvolvimento sustentável e para uma economia sem papel. Aparentemente não cumpriu nenhum dos dois. Até hoje os impactos da TI sobre o consumo global de energia apresentam um quadro complexo. Os americanos consomem 2% da sua eletricidade apenas para operar os computadores e a Internet, enquanto o consumo do ciclo de vida de toda a infraestrutura da Internet na Alemanha absorve 3– 4% da energia nacional. Atribui-se grande parte do aumento de consumo de energia a novas indústrias (como os provedores da Internet), aos métodos de comunicação (como aparelhos celulares) e novas formas de gestão da informação criadas através do uso da TI. Ao invés de reduzir o consumo de papel, o correio eletrônico na realidade aumentou-o em 40%, com impactos dramáticos no uso associado de energia – desde a operação de impressoras até o apoio a um dos maiores setores de energia intensiva do mundo, a indústria de papel. E embora pedidos feitos por meio eletrônico parecessem, à primeira vista, exigir menos energia do que o deslocamento para lojas diferentes, isso, de fato, não ocorreu. Um estudo de “telecompras” revelou nenhuma economia de transporte, enquanto outro constatou que custou 55% mais em combustível para entregar compras de supermercado feitas on-line. Conforme alguns relatos, entretanto, os consumidores nas nações industrializadas estão reduzindo seu consumo de energia com TI através de mudanças em inventários de produtos e através do teletransporte, que Entre 2000 e 2020, o consumo de eletricidade para os aparelhos no mundo industrializado poderá aumentar 25%. A energia stand-by – a eletricidade que é consumida quando computadores, televisores, aparelhos de fac-símile, estéreos e reduz o volume de energia utilizada para construir e ocupar novos prédios. A TI tem também sido creditada a grande parte do crescimento econômico dramático que muitos países obtiveram no final dos anos 90 – uma tendência não-acompanhada por aumentos semelhantes no consumo de energia devido à expansão de setores menos intensivos em energia como o banqueiro e financeiro. Outros benefícios da TI incluem: • Um novo chip de computador e o desenho de equipamento podem reduzir a energia de stand-by em até 90%. • O mais novo veículo híbrido-elétrico da Toyota dispõe de um sistema eletrônico e software que continuamente otimiza a operação de componentes-chave, assegurando um desempenho constante de modo mais eficiente. • Pesquisadores do Pacific Northwest National Laboratory estão desenvolvendo uma “grade inteligente”, que induzirá os consumidores a variar suas cargas energéticas à medida que as tarifas de eletricidade mudarem. Isso aumentará a eficiência operacional de usinas existentes, reduzindo a necessidade de capacidade adicional de grade e permitindo controles e sensores avançados para melhorias de eficiência dos aparelhos. Também irá proporcionar energia renovável, com acesso mais fácil à grade e aos mercados energéticos. – Tawni Tidwell ________________________________________ FONTE:vide nota final 32. muitos outros estão “desligados” mas não desconectados – será provavelmente o consumidor de maior crescimento. Em 2020, poderá representar 10% do consumo total de eletricidade nesses países, exigindo quase 400 usinas adicionais de 39 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA 500 megawatts, que emitirão mais de 600 milhões de toneladas de dióxido de carbono anualmente.33 Nos países em desenvolvimento, a maior parte das necessidades energéticas relacionadas aos prédios é para a cozinha, aquecimento de água e aquecimento espacial – o básico – e a maior parte des- sa energia é gerada através de combustíveis tradicionais, não-comerciais. Por exemplo, quase três quartos da população da Índia depende da biomassa tradicional para cozinhar. Mesmo assim, a demanda por aparelhos modernos está crescendo também no mundo em desenvolvimento. (Vide Tabela 2-3.)34 Tabela 2-3. Posse de Eletrodomésticos nos Países Industrializados e em Desenvolvimento, Anos Selecionados País Ano Refrigerador Condicionador de Ar Estados Unidos 1973 1992 1998 100 118 1151 47 69 72 Japão 1973 1992 104 117 96 99 0 0 16 131 Europa Ocidental2 1973 1992 91 111 69 89 5 24 0 1 Índia 1994 1996 1999 7 9 12 2 4 6 - - China rural/urbana 1981 1991 1998 0/0 2/53 9/76 0/6 12/83 23/91 - 0/0 0/0 1/20 Lavadora de Lavadora de Prato Roupa (número por 100 domicílios) 25 70 45 77 50 77 1 Outras fontes mostram aumentos contínuos até 2000. 2Reino Unido, Alemanha Ocidental, França e Itália. FONTE: vide nota final 34. Na realidade, grande parte do crescimento da demanda de eletricidade, desde 1990, ocorreu no mundo em desenvolvimento, onde o consumo per capita aumentou mais rapidamente que a renda e onde o consumo de energia de prédios triplicou entre 1971 e 1996. A posse de um televisor quintuplicou no leste da Ásia e Pacífico entre 1985 e 1997. Mas as taxas de penetração de eletrodomésticos ainda são relativamente baixas nos países em desenvolvimento, e assim o potencial de crescimento 40 é gigantesco. Na Índia, vendas de refrigeradores frost-free estão projetadas a crescer quase 14% ao ano. A Agência Internacional de Energia espera que, com base em políticas vigentes, a demanda mundial de eletricidade duplique entre 2000 e 2030, com o maior aumento de demanda nos países em desenvolvimento e o crescimento mais acelerado em lares residenciais.35 Todavia, as mesmas necessidades poderiam ser atendidas com muito menos energia. Programas de eficiência demons- Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA traram alta eficácia até hoje, e as melhorias contínuas podem nos ajudar a avançar no atendimento a essa demanda crescente. Os Estados Unidos implantaram padrões nacionais em 1987 após uma proliferação de programas em âmbito estadual. Em resposta, os fabricantes obtiveram grandes economias no consumo de energia de eletrodomésticos, quase triplicando a eficiência de novos refrigeradores entre 1972 e 1999, proporcionando, ao mesmo tempo, economia aos consumidores. Na Europa, os preços mais altos de energia, combinados com normas e selos, como o Blue Angel (Anjo Azul) da Alemanha, influenciaram as opções dos consumidores e levaram os fabricantes a produzir produtos mais eficientes, a fim de competir, e assim transformar mercados inteiros. (Vide Capítulo 5.) Ainda assim, muito mais pode ser feito. As tecnologias disponíveis hoje podem avançar a eficiência dos eletrodomésticos em, pelo menos, mais 33% ao longo da próxima década, e outras melhorias no consumo de energia de secadores, televisores, iluminação e stand-by poderão economizar mais da metade do crescimento projetado do consumo no mundo industrializado até 2030.36 Nos países em desenvolvimento, as pessoas poderiam economizar até 75% da sua energia, por meio de melhorias no isolamento dos prédios, cozinha, aquecimento, iluminação e aparelhos eletrodomésticos. Infelizmente, a difusão de tecnologias mais eficientes é extremamente lenta, devido aos altos custos iniciais, à falta de combustíveis modernos, como gás encanado, e às falhas nos sistemas de distribuição existentes. Entretanto, experiências na Tailândia e no Brasil mostram o que é possível. No início dos anos 90, frente a um aumento anual de 14% na demanda de eletricidade, o governo da Tailândia deu início a uma parceria com fabricantes para melhorar a eficiência dos prédios, iluminação e eletrodomésticos frios (como refrigeradores e condicionadores de ar). Em 2000, a Tailândia havia excedido suas metas de economia de energia e redução de CO2 em pelo menos 200%. Só entre 1996 e 1998, a participação de mercado de refrigeradores eficientes disparou de 12 para 96%. E no Brasil, graças, em grande parte, a normas voluntárias e de rotulagem, os consumidores reduziram o consumo de energia relacionada a refrigeradores em 15% entre 1985 e 1993.37 Melhorias no desenho e construção de prédios também poderão gerar economias significativas de energia. De acordo com o analista de energia Donald Aitken, “os prédios continuam sendo o aspecto mais menosprezado da ciência econômica da energia, e a oportunidade mais inexplorada para melhoria de eficiência”. O potencial de economia nos prédios existentes é gigantesco, e os consumidores já começaram a realizar melhorias. Na UE, a construção de prédios é responsável por mais de 12% da atividade econômica, e mais da metade disso envolve reinstalação de prédios existentes. Mas as edificações novas têm maior potencial para economia e os números não são insignificantes – só nos Estados Unidos 1,7 milhão de casas residenciais foram construídas em 2002.38 Uma vez que novas edificações duram pelo menos 50–100 anos – e alguns séculos – é essencial que estejam adequadas desde o início. Mesmo em climas frios, as pessoas podem reduzir as necessida- 41 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA des de aquecimento das novas construções em até 90%, através de uma combinação de projeto e melhorias materiais, embora a iluminação e outras demandas energéticas também possam ser reduzidas. Como a maioria das pessoas não constrói suas próprias casas ou escritórios, a eficiência do projeto de construção e dos materiais depende, em geral, de regulamentos governamentais. Os prédios da Califórnia são muito mais eficientes do que a média dos Estados Unidos, uma vez que o código de construção do estado é atualizado regularmente, com base em tecnologias correntes. Talvez o mais revelador seja o fato de que, enquanto o consumo per capita de eletricidade tenha dobrado ao longo dos últimos 30 anos no resto do país, permaneceu constante na Califórnia.39 As demandas energéticas dos prédios podem ser reduzidas dramaticamente sem aumentar os custos de construção por meio da aplicação de uma abordagem integrada ao “pacote” construtivo (paredes, tetos, fundações, etc.) e sistemas mecânicos e elétricos. Muitos dos novos prédios na Europa e região do Pacífico asiático foram construídos com a incorporação dessa abordagem, inclusive o prédio do Parlamento Europeu em Estrasburgo, na França, o Potsdamer Platz, em Berlim, e o Aurora Place, em Sidnei, Austrália.40 “Prédios verdes” estão surgindo em todo o mundo, que incluem características adicionais poupadoras de energia, como luz diurna, refrigeração natural, janelas de alto desempenho, isolamento superior e sistemas fotovoltaicos (PVs). Conforme o Rocky Mountain Institute, a iluminação consome até 34% da eletricidade dos Esta42 dos Unidos, incluindo as necessidades energéticas para a compensação do calor de escape. O uso pleno, apenas de tecnologias avançadas de iluminação, poderá eliminar a necessidade de 120 usinas de 1.000 megawatts nos Estados Unidos, economizando dinheiro e melhorando, ao mesmo tempo, a saúde e produtividade humana.41 Encorajada pelo programa americano LEED (sigla em inglês para Liderança em Desenho Energético e Ambiental) – uma norma voluntária para “prédios verdes” – uma imobiliária construiu o primeiro edifício verde em Nova Iorque. Estes apartamentos em Battery Park consumirão 35% menos energia e 65% menos eletricidade do que um prédio comum durante as horas de pico, com PVs atendendo, pelo menos, 5% da demanda. E no Dia da Terra, em maio de 2003, a Toyota inaugurou um novo complexo na Califórnia, construído com aço de automóveis reciclados, com projeto e iluminação eficientes e com um dos maiores sistemas fotovoltaicos da América do Norte.42 Da Califórnia ao Quênia e à Alemanha, os consumidores estão instalando sistemas fotovoltaicos, desde diminutos até de dimensões de megawatts, nos telhados de residências e escritórios. Em 2002, mais de 40.000 residências japonesas adicionaram 140 megawatts de instalações fotovoltaicas, graças ao apoio governamental. A geração local de eletricidade com energia solar ou eólica não é apenas mais limpa do que a convencional, mas também reduz ou elimina perdas de transmissão e distribuição, que variam de 4–7% nas nações industrializadas até mais de 40% em algumas regiões do mundo em desenvolvimento.43 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA Em outros países as pessoas estão pintando telhados e plantando jardins para reduzir seu consumo de energia em 10–50%. Os alemães desenvolveram uma tecnologia moderna de telhado verde, inspirados nos telhados e paredes de grama da Islândia. Substituir as superfícies escuras, absorventes de calor dos telhados com plantas, reduz a temperatura ambiente e o consumo de energia para aquecimento e refrigeração. Exemplos de telhados verdes podem ser vistos em todo o mundo, da Prefeitura de Chicago ao Aeroporto Schiphol, de Amsterdã, à Fabrica da Ford Motor Company em Rouge River, Michigan – em todos os seus 4,2 hectares.44 Energia em Tudo que Adquirimos Tudo que usamos possui insumos energéticos associados e compostos, e a maior parcela do consumo global de energia destina-se à produção de nossos veículos, eletrodomésticos, prédios e até nossas roupas e alimentos. Nos anos 70, a fabricação desses produtos exigia 25–70% de energia total (com grande variação de país a país). Esse percentual vem caindo constantemente em todos os países, pois os setores de transportes e construção cresceram com maior rapidez, mas o consumo de energia na indústria ainda está aumentando à medida que adquirimos e usamos mais e mais produtos.45 Muitos bens manufaturados atravessam fronteiras e oceanos para chegar até nós, onde a energia necessária para fabricá-los e transportá-los é omitida das contas nacionais. Conseqüentemente, alguns técnicos argumentam que a intensidade energética, na realidade, está aumentando em algumas nações, pois estas efetivamente importam insumos energéticos do exterior. Por exemplo, segundo uma estimativa, a energia incorporada nas importações australianas supera a das suas exportações.46 A energia investida em determinado item durante sua vida útil chama-se a “energia incorporada” daquele objeto. O volume de energia incorporada contida em um item depende em grande parte da tecnologia aplicada em sua criação, do grau de automação, do combustível utilizado por uma determinada máquina ou usina – e sua eficiência – e da distância percorrida pelo item desde seu começo até sua compra. O valor difere consideravelmente de local a local e até mesmo de residência a residência. Segundo algumas estimativas, as pessoas podem morar numa casa típica durante 10 anos antes que a energia consumida nela exceda o que entrou em seus componentes – vigas de aço, fundações de cimento, vidros das janelas e esquadrias, pisos e carpetes, paredes pré-fabricadas, revestimento de madeira ou escadas – e sua construção. E a energia incorporada na estrutura raramente é estática. Conforme velhos materiais são removidos e novos instalados, mais um quarto ou piso, a energia incorporada na casa aumenta.47 Da mesma forma que ocorre com casas, são necessários altos volumes de energia para a montagem de nossos automóveis, construção e operação de indústrias e fabricação dos vários insumos que compõem um carro. A maior parte do consumo de energia associado à fabricação de um veículo está na manufatura de aço, plásticos, vidros, borrachas e outros insumos 43 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA materiais. Quanto maior o veículo, maior o volume de energia exigida, aumentando mais a importância da tendência em direção a carros maiores e SUVs. E assim que colocamos um carro na estrada, suas necessidades estendem-se a toda energia necessária para construção e manutenção de rodovias e pontes por onde viajamos, estacionamentos, revendedoras de autos e peças e os muitos postos de abastecimento necessários para mantê-lo em movimento. No total, o consumo de energia associado a um automóvel pode ser 50–63% maior do que o consumo direto de combustível ao longo de sua vida útil, e também os impactos ambientais são gigantescos.48 Mas a maior parcela do consumo de energia associado aos veículos é a gasolina que os movem. Para dirigi-los, o petróleo é extraído da terra, transportado para locais adequados e refinado. O refino do petróleo é uma das maiores indústrias de energia intensiva do mundo – e a maior nos Estados Unidos. Em 1998, o refino do petróleo representou 8% de todo o consumo energético dos Estados Unidos.49 Em muitos países, uma parcela cada vez maior do consumo de combustível para transporte domiciliar é na ida aos gigantescos “hipermercados” fora de áreas urbanas, que estão substituindo as mercearias de bairro. Hoje, muitas pessoas utilizam quase a mesma energia para recolher alguns alimentos que os produtores consumiram para transportálas ao mercado. E quanto mais longe o alimento viaja, maior sua energia incorporada, não só por necessitar de mais combustível para transporte, mas também por necessitar de maior número de conservantes e aditivos, refrigeração e embalagem. Em grande parte 44 do mundo, o transporte de alimentos para lojas locais e depois para as residências está entre as mais crescentes fontes de emissão de gás de estufa.50 A produção de nossos alimentos também requer volumes maciços de energia. Embora grande parte venha do sol, quase 21% da energia fóssil que consumimos destina-se ao sistema alimentar global. David Pimentel, da Universidade Cornell, estima que os Estados Unidos destina cerca de 17% de seu consumo de combustíveis fósseis à produção e consumo de alimentos: 6% para a produção agropecuária, 6% para processamento e embalagem e 5% para distribuição e cozimento.51 A questão quanto a se o consumo da energia incorporada está subindo em alguns países é discutível, dependendo em grande parte da intensidade energética dos países fabricantes dos bens consumidos. Por exemplo, a Coréia do Sul possui a indústria siderúrgica mais eficiente do mundo em termos de energia e o transporte por navio é relativamente eficiente em ternos de energia. Assim, a exportação de carros coreanos para países com siderúrgicas menos eficientes, como os Estados Unidos, poderá efetivamente reduzir a energia incorporada dos veículos nas rodovias americanas.52 Em 1998, o refino do petróleo representou 8% do consumo total de energia dos Estados Unidos. Na realidade, há diferenças extremas na intensidade de energia da indústria Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA manufatureira de um país para outro. No início dos anos 90, os japoneses e alemães consumiam menos da metade da energia, por unidade de produção em suas indústrias pesadas, que os canadenses e americanos, devido principalmente a diferenças nos preços de energia. Japão, Coréia do Sul e países da Europa Ocidental possuem os setores industriais mais eficientes, enquanto os países em desenvolvimento, o antigo bloco soviético e uns poucos países industrializados – particularmente os Estados Unidos e Austrália – possuem o menos eficiente. Todavia, alguns países em desenvolvimento aproveitaram a oportunidade e deram um salto para tecnologias modernas, rivalizando o Japão e Europa em eficiência industrial.53 Ao dar apoio a itens e processos que têm menos energia incorporada, como também às empresas que os produzem, os consumidores podem reduzir significativamente o consumo de energia da sociedade. Infelizmente, até agora, programas de rotulagem informam apenas o consumo direto de energia dos produtos, e não sua energia plena incorporada, dificultando a comparação de um produto com outro. Apesar disso, muitos consumidores já pouparam grandes volumes de energia através da reciclagem e da compra de materiais reciclados, em vez de depender de recursos virgens. A produção de alumínio de material reciclado, por exemplo, requer 95% menos energia do que sua fabricação da matéria-prima.54 Política e Escolha Constantemente fazemos escolhas que afetam nosso consumo de energia. Na re- alidade, a quantidade e tipo de energia que consumimos é resultado de dois tipos de escolha: aquelas que fazemos como sociedade e aquelas que fazemos como indivíduos e famílias. As decisões da sociedade de taxar ou subsidiar atividades – como motorização ou construção de estradas, por exemplo – encorajam as pessoas a adotar certos estilos de vida, tanto estendendo quanto limitando suas opções. Porém, como consumidores individuais ainda temos escolhas importantes a fazer, desde o quanto dirigimos até se iremos calafetar nossas casas. Duas pessoas com a mesma renda, vivendo na mesma sociedade e sob climas semelhantes, freqüentemente consomem quantidades muito diferentes de energia como resultado de suas escolhas pessoais. A fim de atender às necessidades energéticas de bilhões de pessoas que hoje não dispõem de serviços modernos, e ao mesmo tempo equilibrar o consumo de energia com o mundo natural, novas escolhas energéticas terão que ser feitas – tanto individual quanto socialmente. Políticas governamentais são uma forma de as sociedades fazerem escolhas energéticas, e as políticas que afetam o preço da energia estão entre as mais importantes. À medida que as economias desenvolvem-se, fatores como clima, densidade populacional e taxa de urbanização tornamse menos importantes, e os preços relativos a energia convertem-se em fatores fundamentais para se determinar a intensidade energética de um país. Países com maiores tarifas – como Japão e Alemanha – também têm menor intensidade energética, enquanto aqueles com tarifas menores são, em geral, muito mais intensivos em energia, como os Esta45 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA dos Unidos, em gás e petróleo, Austrália, em carvão, e a Escandinávia, em eletricidade.55 Quando os preços estão baixos, o consumo de energia para os indivíduos representa a parcela menor do custo de explorar um negócio, fabricar um produto ou administrar um lar; conseqüentemente, investimentos em economia de energia são baixos. A longo prazo, os preços afetam o que decidimos possuir, o tamanho de nossas casas, quando utilizamos nossos carros e eletrodomésticos e até os bens e tecnologias à nossa disposição. Entretanto, políticas governamentais desempenham um papel importante, às vezes sustentando ou reduzindo os preços de energia. Por intermédio de subsídios, impostos, normas e outras medidas, políticas governamentais têm um impacto direto sobre a oferta, demanda e eficiência energética de nossos lares, aparelhos, carros e fábricas.56 Impostos sobre automóveis e combustível em muitos países, juntamente com investimentos em transportes públicos e infra-estrutura ciclista, afetam as tendências de propriedade e distância percorrida por automóveis e até as características da frota veicular, podendo encorajar o uso de ônibus, bicicletas e trens. Onde os governos ou empresas subsidiam o transporte público, as pessoas são mais propensas a deslocarem-se de ônibus ou metrô do que de automóvel. Na Dinamarca, onde o imposto sobre registros de veículos ultrapassa o preço de varejo do automóvel, e onde a infra-estrutura de ferrovias e ciclovias estão bem desenvolvidas, mais de 30% das famílias nem possuem carro – principalmente porque não o desejam, e não porque não poderiam tê-lo. Taxas de congestiona46 mento, como aquelas introduzidas recentemente em Londres, também podem encorajar as pessoas a fazerem escolhas energéticas mais eficientes.57 Até mesmo a escolha do tamanho e localização da residência é influenciada por impostos, políticas habitacionais e normas. Os Estados Unidos oferecem uma dedução fiscal plena sobre juros em hipotecas, permitindo às pessoas adquirir residências de qualquer tamanho, mas, ao mesmo tempo, encorajando lares maiores em comunidades estendidas. A política fiscal da Suécia também favorece a aquisição de uma propriedade, porém, devido à política habitacional ter se concentrado durante décadas em apartamentos, a maioria das pessoas optou por esse tipo de moradia, resultando assim em cidades mais compactas. Os lares e seu conteúdo são mais eficientes em locais como Califórnia e Japão, onde os códigos de construção e normas de eletrodomésticos estão se tornando cada vez mais rigorosos à medida que as tecnologias aprimoram-se. 58 E os governos podem influenciar o volume de energia incorporada nos produtos que as pessoas utilizam e o que é descartado. Pelo menos 28 países – do Brasil e Uruguai até a China, passando pela Europa – hoje obrigam os fabricantes a receber seus produtos de volta para reutilização e reciclagem. Assim, as empresas interessamse mais e investem na desmontagem e reciclagem de sua mercadoria e aumentam a qualidade e vida útil de seus produtos, reduzindo o volume de energia que é utilizado em sua fabricação.59 Mesmo assim, a maioria dos países incentiva viagens de avião e automóvel em Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA detrimento de alternativas menos intensivas em energia, e tendem mais para energia convencional versus energia renovável, e novos suprimentos versus medidas de eficiência. Em meados dos anos 90, os governos mundiais distribuíram US$ 250– 300 bilhões em subsídios anuais para combustíveis fósseis e energia nuclear. Desde então, vários países em transição e desenvolvimento reduziram os subsídios energéticos significativamente, porém subsídios globais para energia convencional permanecem em níveis muito mais altos do que para suas alternativas, como energias renováveis e eficiência energética. E países em todo o mundo investem volumes gigantescos de recursos em grandes infra-estruturas de transportes e indústrias de energia intensiva, em vez de optarem por alternativas menos intensivas e menos danosas.60 Devido ao fato de subsídios reduzirem artificialmente o preço de energia, podem levar ao consumo excessivo. Políticas sul-coreanas diminuíram os preços de eletricidade, solapando as metas nacionais de melhoria de eficiência. No final dos anos 90, o consumo familiar per capita nesse país ultrapassou os níveis médios da Europa. E as subvenções freqüentemente beneficiam mais aqueles que não precisam. Até 2003, por exemplo, o governo da Nigéria concedia, anualmente, mais de US$ 2 bilhões em subsídios aos combustíveis, que beneficiavam tantos os ricos quanto os pobres. Estes também encorajaram o contrabando de combustível barato para fora do país, forçando a Nigéria a importá-lo a um custo maior.61 Pelos menos 28 países hoje obrigam os fabricantes a receber seus produtos de volta para reutilização e reciclagem. Juntamente com os bilhões de dólares fornecidos anualmente pelo Banco Mundial e agências de crédito à exportação, para projetos de combustível fóssil intensivo em carbono, os subsídios nacionais também impedem alternativas possíveis, como eficiência e tecnologias de energia renovável, e encorajam indústrias de energia intensiva a transferirem-se para países em desenvolvimento, sendo oportunidades perdidas para essas nações darem um salto em direção a novas tecnologias.62 O fracasso em internalizar os custos plenos de energia age como um subsídio também, pois os consumidores não pagam diretamente pelos impactos ambientais, sociais ou de segurança de suas escolhas energéticas – seja a escolha da fonte de energia ou da quantidade que decidem consumir. Durante décadas, tentativas governamentais para resolver os problemas energéticos e desafios associados enfocaram quase que inteiramente a redução da intensidade de produção, em vez de atacar as motivações e problemas associados ao nosso sempre crescente consumo. Infelizmente, as melhorias em eficiência energética obtidas na ponta de produção têm sido mais do que neutralizadas pelos níveis crescentes de consumo na ponta do consumidor. Mas vários países começaram a promover o consumo sustentável através de impostos verdes, deslocando o ônus fiscal 47 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA da mão-de-obra para a energia e outros recursos, devido freqüentemente a preocupações ambientais, como mudança climática. Como parte do seu esforço para reduzir dramaticamente as emissões de gás de estufa, por exemplo, a Alemanha instituiu novos impostos sobre energia convencional em 1999, concedendo incentivos financeiros para a conservação de energia e tecnologias de energia renovável, como também redução da carga fiscal sobre folhas de pagamento.63 Enquanto políticas governamentais agem influenciando o consumo de energia sob várias formas, as decisões individuais dos consumidores também causam grande impacto. Em todo o mundo, os consumidores estão fazendo a diferença, para melhor ou pior. Se compram um novo veículo híbrido ou “Hummer”, se viajam de avião, trem ou bicicleta, ou se decidem não ir a lugar algum, são, todas, escolhas que fazem diferença. Infelizmente, mais e mais consumidores estão escolhendo aparelhos eletrodomésticos maiores, lares mais amplos e veículos que mais parecem tanques para percursos individuais em vias urbanas para shopping centers ou hipermercados. Em contrapartida, mas nem tanto, outros consumidores estão adquirindo carros híbridos eficientes, escolhendo produtos agrícolas cultivados localmente, instalando sistemas fotovoltaicos e comprando energia verde. (Vide também Capítulo 6.) Em grande parte da Alemanha e Dinamarca, as pessoas individualmente, e como parte de cooperativas, instalaram turbinas eólicas para fornecimento de energia local às suas comunidades. Em outros países, as pessoas estão explorando energia renovável 48 através de mercados de energia verde. Até o fim de 2002, mais de 980 megawatts de nova capacidade renovável havia sido adicionada para atender à demanda de clientes de energia verde nos Estados Unidos, e outros 430 megawatts estavam projetados ou em construção. E como resultado de campanhas estudantis reclamando por liderança no manejo ambiental, os campi da Universidade da Califórnia e Los Angeles College District comprometeram-se a reduzir o consumo de energia, adquirindo energia verde e instalando sistemas fotovoltaicos nos prédios. Esses dois sistemas universitários, juntos, podem aumentar as instalações fotovoltaicas conectadas à grade nos Estados Unidos em 30%.64 Alguns consumidores estão indo mais além. Autoridades locais e representantes municipais de toda a Europa assinaram a Declaração de Bruxelas em prol de uma Política Urbana de Energia Sustentável, comprometendo-se a trabalhar pelo uso de energia sustentável na Europa e encorajando a criação de um arcabouço legal em apoio à iniciativa. Em 1992, as populações de mais de 30 municípios holandeses votaram para eliminar os carros do centro de suas cidades, enquanto por todo o país, por exigência da população, os estacionamentos de bicicletas excedem, de longe, as áreas para automóveis nas estações de trem. Os alemães e suíços iniciaram o compartilhamento de carros nos anos 80 e o conceito ampliou-se desde então para mais de 550 comunidades em oito países europeus, com pelo menos 70.000 membros. O compartilhamento de carros está se difundindo na América do Norte também, com programas em mais de 40 cidades, de Seattle a Washington, D.C.66 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA Comunidades em mais de 40 países criaram ecovilas, buscando conquistar estilos de vida sustentáveis, através de projetos e construções ecológicos, uso de energia renovável e passiva, espaços comunitários de construção e agricultura orgânica local. Mas não é preciso viver numa ecovila para reduzir o consumo geral de energia e o impacto sobre o meio ambiente natural. Os californianos provaram isso quando a crise de energia de 2001 os levou, por meio de mudanças comportamentais e tecnológicas, a consumir 7,5% menos eletricidade do que no verão anterior. E em Londres uma nova comunidade – ZED (sigla em inglês de Condomínio de Emissão Zero), cujas unidades habitacionais foram totalmente vendidas antes da conclusão – foi construída pra minimizar a poluição e consumo de energia, através de uma combinação de tecnologias verdes e projetos, proximidade a transportes públicos, uma frota compartilhada de veículos elétricos e medidores expostos com destaque, permitindo aos moradores acompanhar seu consumo. O arquiteto Bill Dunster, inspirado pelo fato de grande parte da energia ser desperdiçada devido a escolhas rotineiras, declara que “pode-se obter uma melhor qualidade de vida fazendo essas mudanças, então por que não fazê-las?”66 É uma premissa generalizada que a qualidade de vida e o consumo de energia estão inexplicavelmente ligados. A energia pode melhorar a vida fornecendo serviços que atendam às necessidades básicas e livrem as pessoas de doenças, fome, frio e pobreza. E o desejo por uma “melhor qualidade de vida” – ainda muito freqüentemente definida como um lar maior e mais veículos, aparelhos e posses – motiva maior consumo de energia. Mas será que chegará um ponto além do qual um maior consumo proporcionará apenas pequenos benefícios marginais? De quanto realmente precisamos para alcançar uma boa qualidade de vida? Para responder essas perguntas, é bom verificar a relação entre a qualidade vida percebida em várias nações e seu consumo de energia. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado pelas Nações Unidas para enfatizar pessoas, em vez de apenas crescimento econômico, como foco do desenvolvimento. Este mede conhecimento, longevidade e padrões de vida. O analista de energia Carlos Suárez mapeou a correlação entre IDH e consumo de energia. Para os mais pobres, mesmo pequenos aumentos no consumo de energia podem provocar melhorias dramáticas na qualidade de suas vidas, tanto direta quanto indiretamente. Por exemplo, a luz elétrica reduz o estresse ocular e estende o tempo disponível para educação; os combustíveis modernos para cozinhar diminuem os riscos à saúde e bombas elétricas reduzem o tempo gasto recolhendo água. Melhorias dos serviços de energia também podem oferecer oportunidades para aumento da renda e também para mais melhorias na qualidade de vida. De acordo com Suárez, o benefício adicional por unidade de energia cai quando o consumo de energia atinge 1.000 quilos de equivalência em petróleo (kgep) por pessoa, por ano. E entre 1.000–3.000 kgep por pessoa, os benefícios do consumo adicional de energia começam a declinar significativamente. Além desse ponto, mesmo triplicando o consu49 Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA mo per capita de energia de um país, isso não se correlacionaria com um aumento no IDH daquele país. Países que se aproximam de 3.000 kgep per capita incluem Itália, Grécia e África do Sul; em contrapartida, os americanos consomem quase três vezes mais por pessoa.67 A Alemanha instituiu novos impostos sobre energia convencional em 1999, concedendo incentivos financeiros para conservação de energia e tecnologias de energia renovável. Numa tentativa diferente de medir a qualidade de vida, o pesquisador Robert Prescott-Allen desenvolveu o Índice do Bem-estar. (Vide Capítulo 8.) Esta é uma classificação numérica de 180 países, baseada em 87 indicadores de bem-estar humano e de ecossistemas, incluindo saúde, educação, riqueza e direitos e liberdades individuais, como também diversidade e qualidade de ecossistemas, qualidade do ar e da água e uso dos recursos. De acordo com o índice, a Suécia ocupa o primeiro lugar em bem-estar mundial, enquanto os Emirados Árabes Unidos (EAU) figuram quase em último; todavia, o cidadão comum nos EAU consome quase o dobro da energia do sueco. (Vide Tabela 2-4.) Os austríacos, por outro lado, consomem cerca de 61% da energia do sueco; contudo, ainda figuram próximos ao topo em termos de bem-estar. Assim, não há uma relação fixa entre consumo de energia e bem-estar visível, e há potencial para grandes avanços no front do consumo, com melhoria da qualidade de vida.68 Tabela 2-4. Consumo de Energia e Bem-Estar, Países Selecionados País Classe de Bem-Estar1 Classe de Consumo per capita2 Comparação com Consumo per capita da Suécia (percentual) Suécia Finlândia Noruega Áustria Japão Estados Unidos Federação Russa Kuwait Emirados Árabes Unidos 1 2 3 5 24 27 65 119 173 10 6 8 26 19 4 17 3 2 100 112 104 61 70 140 71 162 190 1 De um total de 180 países. 2Baseado em fornecimento total de energia primária. FONTE: Vide nota final 68. Isso é encorajador porque o status-quo é insustentável – social, econômica ou ambientalmente. Está cada vez mais eviden50 te, mundialmente, que os atuais padrões de consumo de energia estão efetivamente degradando a qualidade de vida de muitas pes- Estado do Mundo 2004 ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA soas – agravando a poluição atmosférica e hídrica, aumentando os problemas de saúde e elevando os custos econômicos e de segurança associados à extração e uso de combustíveis, como também enfraquecendo os sistemas naturais dos quais dependemos para nossa própria existência, inclusive o clima global. Muitas nações em desenvolvimento, com populações gigantescas em áreas densamente povoadas, estão percebendo esses limites rapidamente e começando a administrá-los. Por exemplo, os graves problemas de congestionamentos e poluição em Xangai forçaram a cidade a limitar o registro de novos veículos mensalmente.69 Poderá a Terra sustentar nossas necessidades crescentes de energia no século XXI, mesmo com uma mudança rápida e dramática para tecnologias mais eficientes e uso mais intenso de energia renovável? Ninguém sabe ao certo, mas com certeza não será fácil. Aumentos populacionais e níveis crescentes de consumo per capita – particularmente nos países em desenvolvimento, onde 75% do mundo vive hoje – têm o potencial de suplantar até mesmo os mais ambiciosos esforços da tecnologia energética.70 Em 2050, a população global está projetada para aumentar mais de 40%, para 8,9 bilhões de pessoas. Se cada pessoa no mundo em desenvolvimento consumir o mesmo volume de energia que uma pessoa comum em países de alta renda hoje – um nível significativamente abaixo do consumo per capita dos Estados Unidos – o consumo de energia no mundo em desenvolvimento aumentará mais de oito vezes entre 2000 e 2050. Caso todos no planeta consumissem nesse ritmo, o uso global de energia aumentaria cinco vezes ao longo desse período.71 Embora essa taxa de crescimento seja altamente improvável, dificilmente as fontes convencionais de combustíveis fósseis atenderão à demanda crescente ao longo do próximo século. E cada vez mais nosso consumo de combustíveis e tecnologias convencionais ameaçará ainda mais o meio ambiente natural, a saúde pública e a estabilidade internacional, com graves implicações em nossa qualidade de vida. Seremos pressionados para atender às necessidades energéticas mundiais, mesmo com energia renovável e grandes melhorias em eficiência, caso as tendências atuais de consumo continuem. Padrões de consumo terão que mudar também. Precisaremos encontrar novas formas de satisfazer as necessidades do corpo e da mente e ao mesmo tempo reduzir o consumo de energia para os transportes e nossos prédios enquanto minimizamos a energia incorporada em tudo que adquirimos. O Secretário-Geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que representa as nações mais ricas do mundo, reconheceu recentemente que em todo o mundo “existe um consenso crescente de que os padrões de consumo de energia precisam ser alterados radicalmente”. Governos poderão ajudar a determinar o consumo de energia por meio de medidas como investimentos em infra-estrutura, regulamentos, incentivos e tarifas. Vontade política e programas eficazes e adequados são essenciais para promover a mudança.72 Mas também cabe a nós, como indivíduos – tanto como consumidores como membros de comunidades diversificadas –, reconhecer os elos entre nossas escolhas de consumo e os impactos que causamos no mundo todo. Devemos saber lidar com os limites que teremos à frente e mudar a maneira que consumimos energia. 51 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Computadores A economia da informação pós-industrial é muitas vezes erradamente caracterizada como precursora de uma era de “desmaterialização”, porque minúsculos semicondutores, o ingrediente básico para os chips de computador e dispositivos eletrônicos, geram alto valor e utilidade. Mas, na realidade, semicondutores são intensivos em materiais do que a maioria dos produtos “tradicionais”. Um simples microchip de 32 megabites requer pelo menos 72 gramas de produtos químicos, 700 gramas de gases elementares, 32.000 gramas de água e 1.200 gramas de combustíveis fósseis. Outros 440 gramas de combustíveis fósseis são usados para operar o chip durante seu ciclo de vida – quatro anos de operação por três horas diárias. A massa total de materiais secundários usados para produzir um chip de 2 gramas é 630 vezes a do produto final. Comparativamente, os recursos necessários para fabricação de um automóvel pesam em torno de duas vezes o produto final.1 Os chips são fabricados em “ambientes limpos”, livres de poeira e outras partículas prejudiciais às delicadas membranas de silicone. No entanto, os trabalhadores nesses ambientes ficam expostos a uma gama de 52 produtos químicos que podem ser associados a cânceres, abortos e defeitos congênitos. Essas instalações também geram volume exagerado de lixo químico, que contaminou os lençóis freáticos em numerosos centros de alta tecnologia. O condado de Santa Clara, na Califórnia, terra natal da indústria de semicondutores, contém mais locais de lixo tóxico do que qualquer outro condado nos Estados Unidos.2 O número de computadores no mundo quintuplicou de 1988 a 2002 – de 105 milhões para mais de meio bilhão. Cada um desses aparelhos é uma armadilha tóxica. Um monitor típico, com tubo de raio catódico (CRT), contém de dois a quatro quilogramas de chumbo, bem como fósforo, bário e cromo hexavalente. Outros ingredientes tóxicos incluem o cádmio, nos resistores e semicondutores do chip, berílio, nas placas-mãe e conectores e retardadores de chama à base de bromo, nas placas de circuito e capas plásticas. Plásticos, incluindo cloreto de polivinil (PVC), compõem até 6,3 quilos de um computador comum. A combinação de vários plásticos torna a reciclagem um Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES desafio. PVC é particularmente difícil de reciclar, contaminando outros plásticos durante o processo.3 A indústria eletrônica é o maior setor manufatureiro de crescimento mais rápido no mundo e, devido às altas taxas de obsolescência do produto, o lixo eletrônico (elixo) cresce rapidamente. Até 2005, um computador irá tornar-se obsoleto para cada novo computador colocado no mercado americano. Muitas vezes, computadores são descartados não porque estejam quebrados, mas porque a rápida evolução da tecnologia torna-os indesejáveis ou incompatíveis com software mais novo. Os americanos substituem seus computadores desktop Pentium logo após dois a três anos de uso. As grandes instituições sempre fazem um upgrade regularmente; 50.000 empregados da Microsoft, em todo o mundo, recebem um novo computador a cada três anos em média.4 Pesquisadores governamentais calculam que três quartos de todos os computadores vendidos nos Estados Unidos estão jogados em porões e armários de escritórios, à espera do descarte. Aqueles que estão quebrados muitas vezes terminam em aterros ou incineradores. Cerca de 70% dos metais pesados encontrados nos aterros americanos provêm do e-lixo. Essas toxinas podem lixiviar no solo e água subterrânea, causar danos ao sistema nervoso central, perturbações endócrinas, interferir no desenvolvimento cerebral e causar danos a órgãos caso as pessoas sejam expostas a elas. A queima de PVC e os retardadores de chama à base de bromo, por exemplo, liberam dioxinas e furanos – dois dos mais letais poluentes orgânicos persistentes.5 Velhos computadores do mundo industrializado são enviados para o estrangeiro, por meio da indústria de reciclagem, que estima que 50–80% do e-lixo coletado para reciclagem nos Estados Unidos são enviados para a Ásia, principalmente China, Índia e Paquistão. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, é 10 vezes mais barato enviar monitores de CRT para a China do que reciclá-los internamente. Esse custo maior, juntamente com o fraco sistema regulatório das nações recebedoras, está incentivando o comércio tóxico a despeito da proibição internacional, nos termos do tratado principal sobre resíduos perigosos, a Convenção de Basel. (Os Estados Unidos são o único país industrializado que não ratificou a Convenção de Basel; a sua exportação de materiais perigosos continua legal e recentemente tornou-se isenta dos regulamentos.)6 Uma investigação da Basel Action Network e Greenpeace China, em dezembro de 2001, constatou que a maioria dos computadores em Guiyu, um centro de processamento de e-lixo na China, provém da América do Norte, e em menor proporção do Japão, Coréia do Sul e Europa. O estudo averiguou que nessas instalações de “reciclagem” os computadores são desmontados a martelo, formões, chaves de fenda e até mesmo “na marra”. Os trabalhadores quebram os monitores CRT para retirar o cabeçote de cobre, enquanto o resto do monitor é jogado ao ar livre ou nos rios. Os residentes locais dizem que a água agora tem gosto ruim, devido ao chumbo e outros contaminadores.7 Sem nenhuma roupa de proteção ou máscaras, os trabalhadores usam pincéis ou as próprias mãos nuas para abrir cartuchos vazios de impressoras e recolher o toner restante em baldes. Conforme a Xerox e Canon, o negro-de-fumo e outros ingredientes do toner causam irritação respiratória e pulmonar. Os trabalhadores 53 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES também são expostos aos vapores tóxicos da solda de chumbo e estanho quando aquecem as placas de circuito para recuperar o conteúdo de ouro dos chips, e os banhos de ácidos usados para dissolver e precipitar o ouro emitem gases de cloro e dióxido sulfúrico. Pilhas de cabos de PVC são queimadas ao ar livre, para recuperar a fiação de cobre. Ironicamente a China proibiu a importação de resíduos sólidos em 1996 e acrescentou uma proibição específica em 2000 contra computadores usados, monitores e CRTs, mas a implementação dessas leis é muito fraca.8 À proporção que as nações industrializadas adotem leis mais rigorosas 54 para regulamentar a disposição final do e-lixo em aterros e incineradores, o fluxo de computadores para os países em desenvolvimento provavelmente aumentará, a menos que outras medidas sejam introduzidas para lidar com o lixo. Em 2002, o parlamento da União Européia adotou duas diretivas sobre o “princípio da responsabilidade do produtor”, exigindo que os fabricantes de produtos eletrônicos diminuam gradativamente o uso de materiais prejudiciais e sejam responsabilizados pela recuperação e reciclagem do e-lixo.9 — Radhika Sarin Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES CAPÍTULO 3 Incrementando a Produtividade Hídrica Sandra Postel e Amy Vickers Na xícara do café desta manhã e no gole do chá da tarde residem moléculas de água que circularam pela atmosfera terrestre milhares e milhares de vezes. Esse líquido tem estado presente no planeta por pelo menos 3 bilhões de anos, circulando entre terra, mar e ar. Impelido pelo sol, esse ciclo cria uma ilusão de abundância – água doce aparentemente ilimitada, pois cai do céu, ano após ano. Ao longo das duas últimas décadas, entretanto, essa ilusão foi desfeita pela escala de influências humanas sobre os ecossistemas de água doce da Terra – os rios, lagos, terras alagadas e aqüíferos subterrâneos que armazenam, movem e limpam a água à medida que ela circula. Lençóis freáticos estão em queda devido à extração predatória da água subterrânea em grandes áreas da China, Índia, Irã, México, Oriente Médio, África do Norte, Arábia Saudita e Estados Unidos. Muitos córregos e rios – inclusive os grandes, como o Amu Dar’ya, Colorado, Ganges, Indus, Rio Grande e o Amarelo – secam hoje durante parte do ano. Grandes lagos interioranos, particularmente o Mar de Aral, na Ásia Central, e o Lago Chad, na África, estão reduzidos a meras sombras do que foram. Mundialmente, áreas alagadas de água doce – ecossistemas que realizam um esplêndido serviço de purificação da água – diminuíram pela metade. Pelo menos 20% das 10.000 espécies de peixe de água doce estão ameaçadas de extinção ou já estão extintas.1 A escala e ritmo dos impactos humanos sobre os sistemas de água doce aceleraram ao longo do último meio século, Sandra Postel é co-autora de Rivers for Life: Managing Water for People and Nature (Island Press, 2003) e diretora do Projeto de Políticas Globais para a Água em Amherst, MA. Amy Vickers, autora do premiado Handbook of Water Use and Conservation: Homes, Landscapes, Business, Industries, Farms (WaterPlow Press, 2001), é engenheira e especialista em conservação hídrica, residente em Amherst, MA. 55 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA juntamente com o crescimento populacional e o consumo. Mundialmente, as demandas hídricas triplicaram. O número de grandes represas (com pelo menos 15 metros de altura) saltou de 5.000 em 1950 para mais de 45.000 hoje – uma taxa média de construção equivalente a duas grandes represas por dia, durante 50 anos. Por algum tempo, registramos apenas os benefícios desses projetos de engenharia, dando pouca atenção aos custos sociais e ecológicos. Medimos os hectares adicionais irrigados, os quilowatt-hora gerados e a população atendida, mas não os pesqueiros destruídos, as espécies aquáticas ameaçadas, as pessoas desalojadas de seus lares ou a sustentabilidade dos padrões de uso da água criados por grandes empreendimentos hídricos.2 Uma sociedade sustentável e segura é uma que atenda suas necessidades hídricas sem destruir os ecossistemas dos quais depende ou as perspectivas das gerações futuras. A boa notícia é que é possível atingir esse objetivo. Atualmente, a agricultura é responsável por cerca de 70% do consumo global de água, a indústria por 22% e as cidades e municípios por 8%. As oportunidades para o aumento da eficiência do uso da água nas fazendas, fábricas e em cidades e lares têm sido minimamente exploradas. Só melhorias de eficiência, entretanto, não serão suficientes. Face ao crescimento populacional e afluência crescente, as pessoas têm um papel importante a desempenhar fazendo escolhas responsáveis sobre seus padrões de consumo – desde dietas até compras de materiais.3 56 Um Novo Conceito para a Gestão da Água Diferentemente do cobre, petróleo e da maioria das outras commodities, a água doce não é apenas um recurso que adquire valor apenas quando é extraído e colocado em uso. Mais fundamentalmente, a água doce é o sustentáculo da vida. Quando bombeamos ou desviamos água para atender demandas humanas, exploramos um sistema vivo do qual miríades de outras espécies dependem para sua sobrevivência e que presta serviços valiosos para a economia humana. A função desempenhada só pelas terras alagadas pode valer cerca de US$ 20.000 por hectare, por ano.4 O fato da nossa contabilidade econômica não refletir esses serviços significa que o custo real do nosso uso da água é sensivelmente maior do que pensamos. À medida que mais e mais água é desviada para agricultura, indústria e cidades, o volume restante para executar o trabalho da natureza fica cada vez menor. A uma certa altura, os ecossistemas deixam de funcionar. As trágicas condições de saúde e econômicas em torno do Mar de Aral, que perdeu mais de 80% do seu volume devido a desvios fluviais excessivos, são um alerta claro sobre o fatídico destino dessa trajetória.5 Hoje os cientistas sabem que ecossistemas sadios requerem não apenas uma quantidade e qualidade mínimas de água, e sim um padrão de fluxo que se assemelhe a seu regime natural de vazão. Isso ocorre porque as espécies passaram milênios adaptando-se à variabilidade do fluxo da natureza – o ciclo natural de altos e baixos, enchentes e secas – e suas vidas es- Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA tão harmonizadas a ele. Elas migram, geram, nidificam e alimentam-se segundo as leis da natureza. Ao perturbar os padrões naturais de fluxo, através da construção de barragens, represas e projetos de desvio de rios, a humanidade involuntariamente destrói muitas das condições de habitat e de sustentação de vida que nossos companheiros terrenos – e os serviços ecológicos que nos prestam – necessitam.6 O que isso implica para o consumo e gestão da água doce? Significa que o velho objetivo do esforço contínuo para atender a demandas cada vez maiores é um empreendimento fadado ao fracasso. A otimização de um equilíbrio entre o atendimento das necessidades humanas e a proteção das funções valiosas dos ecossistemas requer a alocação de água suficiente durante todo o ano para a sustentação dessas funções. Uma vez estabelecida essa alocação, o desafio é utilizar a água remanescente para satisfazer as demandas humanas de forma eficiente, eqüitativa e produtiva. Para realizar essa mudança é mais fácil falar do que fazer. Porém, aqui e ali começa a acontecer. Na Austrália, as extrações de água da bacia hidrográfica do Rio MurrayDarling – o maior e mais economicamente importante do país – foram limitadas, num esforço para coibir a deterioração grave de sua saúde ecológica. Esforços que já tardavam: a vazão do Murray caiu tanto em 2003 que seu estuário ficou entupido com areia. A inovadora legislação hídrica da África do Sul, em 1998, exigiu o atendimento às necessidades hídricas básicas tanto das pessoas quanto dos ecossistemas antes que a água seja alocada a usos não-essenciais. Essa “reserva” de água doce é priorizada e, se for implementada como se pretende, asse- gurará que as extrações permaneçam dentro dos limites ecológicos definidos por cientistas e pelas comunidades. Nos Estados Unidos, num caso envolvendo alocação de água na Ilha de Oahu, a Corte Suprema do Havaí determinou, em agosto de 2000, que cada desvio particular de água fique subordinado “a um interesse público superior nessa riqueza natural” e que o interesse público, que inclui o ecossistema, deve ser priorizado frente a usos comerciais privados nas decisões de alocação de água.7 O estabelecimento de limites para o uso de rios e outros ecossistemas de água doce é a chave para o avanço econômico sustentável, pois protege os ecossistemas que escoram a economia enquanto promovem melhorias na produtividade hídrica – o benefício líquido derivado de cada unidade de água extraída do meio ambiente natural. Da mesma forma que a melhoria de produtividade da mão-de-obra – a produção por trabalhador – ajuda uma economia, também o fazem as melhorias na produtividade hídrica – a produção por metro cúbico de água. (Um metro cúbico equivale a 1.000 litros.) Medida a grosso modo como o valor de bens e serviços econômicos por metro cúbico de água consumida, a produtividade hídrica tende a aumentar, juntamente com a renda nacional, por três razões principais. Primeiro, porque a produção agrícola é tão intensiva em água e os preços são tão baixos, em relação à maioria de outros bens, que uma mudança em direção a uma economia mais industrializada aumentará a produção econômica por metro cúbico de água. Segundo, porque leis de controle de poluição, como as adotadas no Japão, Estados Unidos e mui- 57 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA tos países europeus, freqüentemente tornam mais econômico para as fábricas reciclar e reutilizar sua água de processo em vez de despejá-la no meio ambiente. E o terceiro motivo é que à medida que as economias deslocam-se de indústrias de Bangladesh Egito Índia Peru China Indonésia México Federação Russa África do Sul Estados Unidos Brasil Espanha Austrália França Alemanha transformação para indústrias de serviço, a produtividade hídrica tende a aumentar ainda mais. A economia da Alemanha, por exemplo, hoje gera US$ 40 de produção por metro cúbico de água, mais de 10 vezes a da Índia. (Vide Figura 3-1.)8 Fonte: FAO, USGS, OCDE (Dólares de 2000) 0 10 20 30 PIB por metro cúbico de consumo 40 Figura 3-1. Produtividade Hídrica de Economias Nacionais, Países Selecionados, 2000 A produtividade hídrica nos Estados Unidos (que destina uma parcela muito maior de água para a agricultura irrigada do que a Alemanha) registra cerca de US$ 18 por metro cúbico. Hoje, a economia dos Estados Unidos gera 2,6 vezes mais valor econômico por metro cúbico extraído dos seus rios, lagos e aqüíferos do que em 1960. (Vide Figura 3-2.) Mesmo assim, apesar desse avanço, os Estados 58 Unidos têm todos os sinais reveladores do uso insustentável da água – inclusive exaustão de água subterrânea, perda de terras alagadas, dizimação de pesqueiros e rios secos. Por quê? Legisladores ainda não impuseram limites ao uso humano da água em níveis ecologicamente sustentáveis – uma barreira que promoveria efetivamente níveis muito maiores de produtividade hídrica.9 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA dial, uma vez que a distribuição de água é freqüentemente Fonte: USGS, OCDE desigual também dentro de (base=2000) 15 países. A China, por exemplo, tem 21% da população mundial, mas apenas 7% da água 10 doce do planeta – e a maior parte encontra-se na região 5 sul do país. A Planície Norte da China, que inclui o Rio 0 Amarelo, é uma das regiões 1950 1960 1970 1980 1990 2000 mais populosas do mundo, Figura 3-2. Produtividade Hídrica dos Estados com escassez hídrica. AbriUnidos, 1950–2000 gando cerca de 450 milhões de pessoas, seu suprimento per capita de água é de menos de 500 metros cúbicos por ano, quase igual à Argélia. O Riqueza Hídrica, consumo de água na Planície Norte já suPobreza Hídrica pera o suprimento sustentável. Quase todo ano, o baixo Rio Amarelo seca completaO ciclo hidrológico da Terra distribui água mente antes de alcançar o mar. E por toda de forma irregular por todo o planeta. Ape- a planície, que produz um quarto dos grãos nas seis países – Brasil, Rússia, Canadá, da China, os lençóis freáticos estão caindo Indonésia, China e Colômbia – representam a uma taxa de 1–1,5 metro ao ano. Como metade do suprimento renovável total de observa o economista hídrico Jeremy água doce, de 40.700 quilômetros cúbicos Berkoff, a escassez de água na Planície (contando apenas o escoamento de rios e Norte da China “afetará mais aqueles com águas subterrâneas, sem a evaporação e menor condição de suportá-la e pequenos transpiração vegetal). O fato de uma região agricultores que cultivam grãos em locais ser hidrologicamente rica ou pobre depen- mais isolados”.11 de, em parte, de quanto do legado global Locais de pobreza hídrica geralmente recebe em relação à sua população. O Cana- exercem maior pressão sobre rios e dá, por exemplo, situa-se próximo ao topo aqüíferos do que locais de riqueza (vide da riqueza hídrica, com mais de 92.000 Tabela 3-1) porque em climas mais secos metros cúbicos de água por habitante. No a produção agrícola – intensiva no uso da lado pobre do espectro estão a Jordânia, com água – requer irrigação. O consumo de um manancial renovável anual de 138 metros água per capita do Egito é quase o dobro cúbicos por habitante, Israel com 124 e o da Rússia, não porque os egípcios sejam mais sedentos (embora consumam mais Kuwait, com basicamente nada.10 Entretanto, as cifras nacionais masca- do que sua parcela justa do Nilo), e sim ram grande parte do estresse hídrico mun- porque toda sua região agrícola necessita PIB real por metro cúbico de extração anual de água 20 59 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA de irrigação, contra apenas 4% na Rússia. Os Estados Unidos, todavia, emergem efetivamente como uma nação pródiga no uso da água: possui uma das maiores taxas per capita de consumo em todo o mundo, mesmo irrigando apenas 11% da sua região agrícola.12 Tabela 3-1. Extrações Anuais Estimadas de Água, Per Capita, Países Selecionados, 2000 País Etiópia Nigéria Brasil África do Sul Indonésia China Federação Russa Alemanha Bangladesh Índia França Peru México Espanha Egito Austrália Estados Unidos Extrações de Água Per Capita (metros cúbicos por pessoa por ano) 42 70 348 354 390 491 527 574 578 640 675 784 791 893 1.011 1.250 1.932 FONTE: vide nota final 12. Assim, o quadro só estará completo se considerarmos afluência e pobreza. Para isso, basta voar até Phoenix, Arizona, no sudoeste dos Estados Unidos, para ver uma cidade-oásis que desafia seu legado hídrico natural. Embora seu índice pluviométrico seja de apenas 19 cm anuais, Phoenix possui uma paisagem exuberante de gramados 60 verdes, campos de golfe e piscinas em cada quintal. Mas esse luxo tem um preço alto – a exaustão de aqüíferos e importações de água do distante Rio Colorado às custas do contribuinte. Por outro lado, um sobrevôo pela Etiópia, no leste da África, onde, em 2003, mais de 12 milhões de pessoas enfrentaram a fome, revela uma terra sedenta de água, mesmo com 84% da vazão do Nilo fluindo por seu território. Devido à influência do poder, da política e do dinheiro, a escassez natural de água não implica privação; nem também a abundância natural implica acesso.13 Facilitar tanto o sobreconsumo quanto o subconsumo são dois aspectos do desafio global da água. A tarefa mais urgente é fornecer a todos os povos pelo menos um volume mínimo de água potável e saneamento necessários para uma boa saúde. Hoje, uma em cada cinco pessoas no mundo em desenvolvimento – 1,1 bilhão ao todo – enfrenta riscos diários de doença e morte por lhe faltar “acesso razoável” a água potável, definida pelas Nações Unidas como a disponibilidade de, pelo menos, 20 litros por pessoa por dia, de uma fonte a uma distância não-superior a 1 quilômetro do lar. A grande lacuna na disponibilidade tem quase nada a ver com escassez de água. A Indonésia, por exemplo, tem um legado natural de água superior a 13.000 metros cúbicos por pessoa; entretanto, um quarto da sua população não tem acesso a água potável. Globalmente, proporcionar acesso universal a 50 litros por pessoa, por dia, até 2015, exigirá menos de 1% das extrações atuais em todo o mundo. Há água mais do que suficiente, porém, até agora, faltam vontade política e compromissos financeiros para proporcionar acesso aos pobres.14 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA Em 2000, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou, como uma das Metas Desenvolvimentistas do Milênio para 2015, a redução pela metade da parcela de pessoas sem condições de acesso à água potável. Dois anos depois, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, as nações comprometeramse igualmente a reduzir à metade, até 2015, a proporção de pessoas sem acesso a saneamento adequado. A difusão de serviços de saneamento tem ficado bem atrás do fornecimento de água doméstica, deixando 2,4 bilhões de pessoas, mundialmente, sem saneamento básico. (Vide Tabela 3-2.) A fim de atender aos novos compromissos, os serviços de água terão que alcançar mais 100 milhões de pessoas, e o saneamento adequado outras 125 milhões de pessoas, anualmente, entre 2000 e 2015.15 Tabela 3-2. Populações sem Acesso a Água Potável e Saneamento, 2000 Parcela da População Sem Acesso a Região Água Potável Saneamento Adequado (percentual) África Ásia América Latina e Caribe 36 19 40 53 13 22 FONTE: vide nota final 15. Embora ambiciosas, essas metas conquistáveis são marcos essenciais no caminho para uma cobertura universal de água e saneamento. De acordo com esta- tísticas da ONU, cinco países – Bangladesh, Camoros, Guatemala, Irã e Sri Lanka – obtiveram sucesso em reduzir à metade a parcela de suas populações carentes de água potável entre 1990 e 2000. (Essas estatísticas, entretanto, não incluem a descoberta de níveis venenosos de arsênio em poços de água subterrânea em extensas áreas de Bangladesh.)16 A África do Sul avançou também na prestação de serviços de água. Quando o Congresso Nacional Africano assumiu o poder, em 1994, cerca de 14 milhões de sul-africanos não tinham acesso a água potável. A constituição pós-apartheid, ratificada em 1996, declarou a água potável um direito universal, e a lei da água de 1998, que estabeleceu uma reserva hídrica em duas partes – atender às necessidades hídricas de todas as pessoas e ecossistemas –, concedeu prioridade máxima à prestação de serviços de abastecimento de água. Entre 1994 e abril de 2003, o Programa Comunitário de Abastecimento de Água e Saneamento do país proporcionou acesso a 8 milhões de pessoas, a um custo médio de US$ 80 por pessoa. As autoridades estimam que os 6 milhões de pessoas restantes terão acesso até 2008.17 A fim de atender à população mais pobre da África do Sul e, também, conseguir uma recuperação razoável de custos, foi estabelecido um preço baixo de “linha de vida” para os primeiros 25 litros diários, aumentando a tarifa acima desse nível. Uma vez que até a tarifa mínima onerava as famílias pobres, as autoridades começaram a conceder gratuidade a esse volume. Nas regiões onde o governo contratou empresas privadas para gerir os sistemas de água, entretanto, a recuperação de custos parece 61 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA ter adquirido prioridade sobre o direito constitucional à água, provocando protestos da população. Em Joanesburgo, por exemplo, onde a concessionária assinou um contrato de gestão com a corporação francesa Suez, foram instalados hidrômetros de pagamento prévio que só fornecem às famílias a quantidade paga antecipadamente. Empresas privadas de água, preocupadas principalmente em aumentar os lucros para seus acionistas, pouco incentivo têm para atender às necessidades básicas dos pobres, a não ser quando obrigadas, pelos poderes públicos, a fazê-lo.18 Água, Lavouras e Dietas A agricultura consome cerca de 70% de toda a água extraída dos rios, lagos e aqüíferos subterrâneos da Terra, e até 90% em muitos países em desenvolvimento. Projeções recentes indicam que, até 2025, inúmeras bacias hidrográficas e nações enfrentarão uma situação em que 30% ou mais de suas necessidades de irrigação não poderão ser atendidas, devido à escassez de água. Essas incluem a maioria das bacias da Índia, as bacias Hai e Amarela, na China, do Indus, no Paquistão, e muitas bacias hidrográficas da Ásia Central, África Subsaariana, África do Norte, Bangladesh e México.19 Elevar a produtividade do uso da água agrícola é crucial para o atendimento das necessidades alimentares das pessoas à medida que o estresse hídrico aumente e se espalhe. Esse desafio tem três partes principais: fornecer e aplicar água à agricultura com maior eficiência, aumentar a produtividade por litro de água consumida, tanto por lavouras irrigadas quanto alimentadas pela chuva, e 62 mudar as dietas, a fim de satisfazer as necessidades nutricionais com menos água. Uma grande parte da água armazenada por trás de barragens, e desviada através de canais de irrigação, nunca beneficia uma lavoura. Uma análise em 2000 constatou que a eficiência de irrigação da água de superfície varia entre 25 e 40% na Índia, México, Paquistão, Filipinas e Tailândia; entre 40 e 45% na Malásia e Marrocos e entre 50 e 60% em Israel, Japão e Taiwan. A grande parcela de água que não atinge as raízes das lavouras não é, necessariamente, perdida ou desperdiçada: pode, por exemplo, escorrer por um campo ou canal e recarregar o lençol subterrâneo, transformando-se no suprimento de outro agricultor. Todavia, parte é perdida pela evaporação do solo ou superfícies de canais. De qualquer forma, essas ineficiências acarretam altos custos: indisponibilidade de água quando e onde necessária, habitats aquáticos destruídos desnecessariamente, maior área de terra tornando-se salina e maior volume de água doce poluído por sais e pesticidas.20 A maioria das regiões obteve ganhos apenas modestos na melhoria da eficiência de irrigação. Com a água de irrigação, freqüentemente cobrada a menos de um quinto do seu custo real, e com a extração de água subterrânea praticamente não-regulamentada, os agricultores e gestores de irrigação têm pouca motivação para modernizar suas práticas. Melhorias na regulação e confiabilidade na distribuição de água são pré-requisitos para muitas das medidas de eficiência que os próprios agricultores podem tomar. Produtores de alguns distritos da Califórnia, por exemplo, gostariam de transferir-se para sistemas mais eficientes de irrigação, porém precisam de maior se- Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA gurança sobre a freqüência, taxa de vazão e duração de seu fornecimento de água antes de fazê-lo.21 Há um rico cardápio de escolhas para a melhoria da produtividade da água de irrigação, inclusive um conjunto de medidas técnicas, gestoras, institucionais e agronômicas. Um número cada vez maior de agricultores em todo o mundo está constatando, por exemplo, que sistemas de irrigação por gotejamento – que fornecem água diretamente às raízes das plantas em baixo volume, através de tubos perfurados instalados sobre ou sob o solo – podem economizar água, incrementando as colheitas ao mesmo tempo. Comparados à irrigação convencional por inundação ou valas, métodos de gotejamento freqüentemente reduzem o volume de água distribuída aos campos em 30–70%, aumentando a pro- dução em 20–90%. Essa combinação pode significar uma duplicação ou triplicação da produtividade hídrica.22 Mundialmente, métodos de microirrigação (inclusive gotejamento e microespargidores) são utilizados em aproximadamente 3,2 milhões de hectares ou pouco mais de 1% das terras irrigadas. Um punhado de países carentes de água hoje depende, e muito, deles. (Vide Tabela 3-3.) Ademais, a área sob gotejamento e outras técnicas de microirrigação ampliou-se sensivelmente em vários países ao longo da última década: mais do dobro no México e África do Sul, um aumento de 3,5 vezes na Espanha e quase nove vezes no Brasil. Embora partindo de uma base pequena, China e Índia também ampliaram o uso de irrigação por gotejamento, a fim de lidar com a crescente escassez hídrica.23 Tabela 3-3. Uso de Gotejamento e Microirrigação, Países Selecionados, 1991 e Cerca de 20001 Área Irrigada por Gotejamento e Outros Métodos de Microirrigação País 1991 Cerca de 2000 (mil hectares) Chipre Israel Jordânia África do Sul Espanha Brasil Estados Unidos Chile Egito México China Índia 25,0 104,3 12,0 102,3 160,0 20,2 606,0 8,8 68,5 60,6 19,0 17,0 35,6 125,0 38,3 220,0 562,8 176,1 850,3 62,1 104,0 143,1 267,0 260,0 Parcela da Área Total Irrigada sob Gotejamento e Microirrigação Cerca de 2000 (percentual) 90 66 55 17 17 6 4 3 3 2 <1 <1 1 A microirrigação inclui métodos de gotejamento (tanto superficial quanto subsuperficial) e microespargidores; o ano de divulgação varia de país a país. FONTE: vide nota final 23. 63 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA Mudanças nos padrões de produção e métodos de cultivo também oferecem oportunidades para se colher mais por gota. Esse desafio é mais destacado na produção de arroz, o alimento básico preferido de cerca da metade da população global. Mais de 90% do arroz mundial é cultivado na Ásia, onde muitos rios e aqüíferos já estão excessivamente explorados e a pressão para desviar água das fazendas para as cidades está aumentando. Ao longo do último quarto de século, a adoção generalizada de variedades de arroz de alta produtividade e amadurecimento precoce levou a um aumento de 2,5 a 3,5 vezes o volume de arroz colhido por unidade de água consumida – uma conquista impressionante. Maiores ganhos serão mais difíceis de serem obtidos. Muitos estudos demonstraram, todavia, que a prática tradicional de inundar arrozais durante a estação de cultivo não é essencial para aumentar a produção. Aplicar um espelho d’água mais raso, ou até mesmo deixar os arrozais secos entre irrigações, pode, em alguns casos, reduzir o uso de água em 40–70% sem perda significativa de produção.24 Igualmente, pesquisadores constataram que a produção de grãos pode ser sustentada com 25% menos de água de irrigação do que é normalmente utilizado, contanto que as lavouras recebam água suficiente durante seus estágios críticos de crescimento. Chamada de irrigação de déficit, essa prática está se tornando um recurso necessário em algumas áreas carentes de água. Na Planície Norte da China, por exemplo, os agricultores hoje irrigam o trigo três vezes numa safra em vez de cinco.25 Para muitos agricultores pobres, a questão não é como irrigar com maior eficiência, e sim como irrigar, simples- 64 mente. A maioria dos cerca de 800 milhões de pessoas famintas ou malnutridas pertencem a famílias de agricultores da África Subsaariana e sul da Ásia. Para elas, os equipamentos convencionais de irrigação são muito dispendiosos, e o acesso à água de irrigação é sua esperança para colheitas mais estáveis e produtivas, maior segurança alimentar e melhores rendas. Aumentar o acesso dos agricultores pobres à irrigação, por meio da disseminação de tecnologias acessíveis para pequenas áreas, melhoraria imensamente a produtividade hídrica – gerando melhor saúde e benefícios sociais por litro de água consumida.26 Um modelo de sucesso está em Bangladesh, onde agricultores pobres adquiriram mais de 1,2 milhão de bombas a pedal que lhes dão acesso a lençóis rasos e permitem cultivos durante a estação seca, aumentando suas rendas em US$ 100, em média, por cada bomba de US$ 35 no primeiro ano. A International Development Enterprises, do Colorado, está hoje desenvolvendo sua experiência em Bangladesh e em inúmeros outros países, numa iniciativa multidoadora internacional chamada Iniciativa Mercadológica de Irrigação para Pequenos Produtores, que objetiva facilitar o acesso de agricultores pobres à irrigação – incluindo sistemas de gotejamento de baixo custo e bombas a pedal – com a meta de livrar da pobreza cerca de 30 milhões de famílias rurais até 2015.27 Por grandes áreas da Índia, grupos comunitários estão reativando o uso de açudes tradicionais, barragens de detenção e outros equipamentos para captação e armazenagem de água da chuva, para irrigar suas lavouras durante a estação Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA seca e recarregar os lençóis freáticos. No distrito de Alwar, em Rajasthan, 2.500 açudes (chamados de johads) foram construídos em 500 vilarejos, aumentando a produção agrícola e de leito significativamente. Ao repor a água subterrânea, os johads também elevam o lençol freático de uma média de 60 metros abaixo da superfície para 6 metros.28 Esses exemplos mostram apenas algumas das inúmeras formas pelas quais agricultores e gestores de água podem aumentar a eficiência da irrigação, fazendo melhor uso da chuva e aumentando a produtividade agrícola por litro de água consumida. Por intermédio de suas escolhas dietéticas, consumidores individuais também têm um papel importante a desempenhar – um que se mostrará vital para dobrar a produtividade hídrica da agricultura. Os vários alimentos que ingerimos exigem volumes de água imensamente diferentes para serem produzidos. Também variam nos seus valores nutricionais – incluindo energia, proteína, cálcio, gordura, vitaminas e ferro. A combinação dessas duas características dá uma medida da produtividade nutricional da água – quanto valor nutricional é derivado de cada unidade de água consumida. Utilizando o consumo de água na agricultura e a produção da Califórnia, os pesquisadores Daniel Renault e Wes Wallender estimaram a produtividade nutricional da água para as principais lavouras e produtos alimentícios. Os resultados foram reveladores: é necessário cinco vezes mais água para suprir 10 gramas de proteína da carne bovina do que do arroz, e quase 20 vezes mais água para suprir 500 calorias da carne bovina do que do arroz. (Vide Tabela 3-4.)29 Tabela 3-4. Água Consumida para Suprir Proteínas e Calorias, Alimentos Selecionados1 Alimento Batatas Amendoim Cebola Milho Feijão Trigo Arroz Ovo Leite Aves Carne Suína Carne Bovina Água Consumida para Suprir 10 Gramas de Proteína 67 90 118 130 132 135 204 244 250 303 476 1.000 Água Consumida para Suprir 500 Calorias (litros) 89 210 221 130 421 219 251 963 758 1.515 1.225 4.902 1 Baseado na produção agrícola e na produtividade hídrica da Califórnia; leva em consideração apenas as exigências hídricas das lavouras, não eficiências de irrigação ou outros fatores. FONTE: vide nota final 29. Com seu alto teor de carne, a dieta comum nos Estados Unidos requer 5,4 metros cúbicos de água por pessoa, por dia – o dobro de uma dieta vegetariana, igualmente (ou mais) nutritiva. Mesmo uma saída parcial de produtos animais faria uma diferença imensa. Por exemplo, a redução de produtos animais pela metade e substituição por produtos vegetais altamente nutritivos diminuiria a intensidade hídrica da dieta americana em 37%. Realizar essa transição até 2025, quando a população dos Estados Unidos deverá somar mais de 350 milhões de pessoas, reduziria as necessidades hídricas alimentares da nação, naquela ocasião, em 256 bilhões de metros cúbicos por ano – uma economia equiva- 65 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA lente à vazão anual de 14 rios Colorado. Muitos outros benefícios resultariam também – inclusive redução de doenças cardíacas, menor crueldade com os animais e menor poluição de córregos e baías causada por currais industriais.30 Mundialmente, assegurar uma dieta sadia para todos, face à crescente escassez hídrica, exigirá ajustes em ambas as pontas do espectro dietético. O bilhão malnutrido de pessoas no mundo precisa alimentar-se mais, a fim de viver com saúde. A ampliação do acesso a níveis mínimos de água de irrigação poderá ajudar a atingir esse objetivo. Uma participação mais eqüitativa da água incorporada nos alimentos, através do comércio e programas de ajuda, também será importante. E a mudança dietética sensata descrita acima para a população dos Estados Unidos liberaria água suficiente para proporcionar dietas sadias a cerca de 400 milhões de pessoas, quase um quarto do número que se antecipa será adicionado à população do mundo em desenvolvimento até 2025.31 Cidades e Lares As demandas – e carências – de água em muitas cidades por todo o mundo aumentam aceleradamente. Com quase metade da população global hoje vivendo em áreas urbanas, que deverá aumentar para 60% até 2030, satisfazer os desejos cada vez maiores dos ricos pela água e as necessidades dos pobres é um grande desafio. (Vide Quadro 3-1.) Embora as cidades sejam responsáveis por menos de 10% das extrações mundiais de água doce, seu consumo 66 concentrado requer uma infra-estrutura capital-intensiva complexa, que exerce grande pressão sobre os mananciais superficiais e subterrâneos finitos.32 QUADRO 3-1. DESSALINIZAÇÃO – SOLUÇÃO OU SINTOMA? Um número crescente de cidades está recorrendo à água do mar dessalinizada ou água salobra como prevenção à futura escassez hídrica. Existem atualmente cerca de 9.500 usinas de dessalinização em todo o mundo, com uma capacidade instalada estimada de 11,8 bilhões de metros cúbicos por ano – 0,3% do atual consumo mundial. Um processo intensivo no uso de energia, a dessalinização está concentrada no Golfo Árabe e Oriente Médio, ricos em petróleo, responsáveis por cerca da metade da capacidade global. Entretanto, tanto as necessidades energéticas quanto os custos vêm caindo com a melhoria das tecnologias, e a capacidade mundial de dessalinização está expandindo a uma taxa anual de cerca de 11%. O projeto israelense de gerar até metade do seu abastecimento urbano de água da dessalinização até 2008 poderá efetivamente liberar outros mananciais para uma distribuição eqüitativa com os palestinos. Porém, será que para a maioria do mundo a dessalinização é uma opção sensata ou outra solução dispendiosa para o abastecimento? Em termos unitários, a maioria das medidas de conservação e eficiência pode atender às novas necessidades hídricas a 10–25% do custo de produção de água dessalinizada. Não faz muito sentido dessalinizar o mar e, no processo, lançar mais gases de estufa na atmosfera, quando a redução de desperdícios e o aumento da eficiência poderão suprir água com melhor custo/benefício e menor dano ecológico. ________________________________________ FONTE: vide nota final 32. Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA Demandas excessivas de água têm custo. A maioria das 16 megacidades mundiais – aquelas com 10 milhões de habitantes ou mais – situa-se entre regiões que sofrem estresse hídrico de fraco a agudo, uma condição em que as extrações exaurem os mananciais disponíveis. À medida que a demanda urbana vai aumentando, a pressão sobre a agricultura e áreas rurais para venderem ou abrirem mão de seus direitos à água intensifica-se.33 Uma manchete de primeira página sobre o uso da água urbana pode ser resumida em uma palavra: desperdício. “Precisamos... reduzir vazamentos, especialmente nas muitas cidades onde as perdas de água atingem o nível assustador de 40%, ou mais, do manancial total”, declara o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. Vazamentos e outras perdas são, em muitos casos, fontes de desperdício negligenciadas ou ocultas: muitos gestores de sistemas de abastecimento não dão conta de 15–40% do seu fornecimento. Em regiões dos países em desenvolvimento, como a África, é comum 50–70% da água extraída dissipar-se através de vazamentos, conexões ilegais e contabilidade falha. Até um terço do abastecimento de água de uma cidade típica do Golfo Árabe pode perder-se por vazamentos em tubulações e adutoras. Taiwan perde quase 2 milhões de metros cúbicos diariamente com vazamentos, volume equivalente a 325 milhões de descargas de sanitários. Calcula-se que essas perdas atinjam US$ 200 milhões ao ano.34 A “prestação de contas” da água é o indicador principal da eficiência e gestão das concessionárias; todavia, elas comumente falham nessa tarefa básica de manutenção. (Vide Tabela 3-5.) Freqüentemente, são os países pobres, cuja população carece de suprimento suficiente, que têm as maiores taxas de desperdício de água, embora a reputação do setor privatizado nos países industrializados seja longe de exemplar. (Vide Quadro 3-2.) Vazamentos e outras perdas dos sistemas de abastecimento – comumente chamados “água não-contabilizada” (ANC) ou “água não-faturada” – são o volume retirado, mas que nunca chega ou nunca é registrado como tendo sido entregue a um consumidor final. Geralmente é calculado como a diferença entre a água “produzida” (conforme medição no ponto de extração ou estação de tratamento) e a água vendida (baseada em leituras de hidrômetros dos consumidores), embora o setor, há muito, careça de normas consistentes para definir, medir e informar a ANC. A maior parte da ANC é o resultado de vazamentos em adutoras e tubulações sem manutenção adequada; também ocorrem roubo e defeitos em hidrômetros, particularmente em sistemas antigos e malcuidados. Assim, grande parte da ANC representa água que poderia abastecer outros consumidores, e outra parte dela resulta em perda de receita, pois a água é utilizada e não-paga. O valor econômico da água perdida devido a falhas na leitura de hidrômetros ou roubo freqüentemente chega a 10 vezes o custo operacional marginal associado a vazamentos.35 As cidades americanas, consideradas como possuidoras das tecnologias e infra-estrutura hídricas mais modernas, têm ANCs que variam entre 10 e 30% e, às vezes, mais. Na ausência de códigos 67 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA nacionais que definam e meçam as perdas de água, alguns estados estabeleceram suas próprias normas. Estas variam de 7,5 a 20%, mas não são bem aplicadas. Apenas uns poucos estados publicam os números de perda de água. Por exemplo, Kansas, cuja região ocidental cobre o aqüífero declinante de Ogallala, possui uma norma ANC de 15%; entretanto, os números mais recentes divulgados sobre as perdas estaduais relacionam 52 fornecedores com ANCs de 30% ou mais. A seu crédito, o Programa Hídrico de Kansas determinou a redução de ANC como uma das suas metas prioritárias.36 Tabela 3-5. Vazamentos e Perdas em Sistemas de Abastecimento de Água, Países Selecionados País Área de Serviço África do Sul Joanesburgo Tshwane (Pretória) Nacional Kingston, Ontario Nacional Copenhague Nacional Nacional Bethlehem, PA Paris Nacional Fukuoka Nacional Nairobi Nacional Nacional Taipei Albânia Canadá Cingapura Dinamarca Espanha Estados Unidos França Japão Jordânia Quênia República Tcheca Taiwan FONTE: vide nota final 35. Estimativa das Perdas Médias no Suprimento Total (percentual) 42 24 até 75 38 5 3 24–34 10–30 27 30 até 50 5 48 40 20–30 25 42 QUADRO 3-2. PRIVATIZAÇÃO E VAZAMENTO: OMISSÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS Apesar das promessas de maior eficiência e sistemas de “gestão inteligente” que supostamente viriam junto à privatização dos sistemas de abastecimento de água, várias empresas privadas não prestam conta dos volumes maciços de água que seus sistemas perdem em vazamentos e outros usos, não-medidos ou justificados. As metas de redução das perdas de água , tão alardeadas pelas empresas privadas da Grã-Bretanha, ainda estão para ser alcançadas e a realidade é que algumas “empresas ainda não atingiram seus níveis econômicos de vazamento”, de acordo com um relatório da Câmara dos Comuns. A medição correta de vazamentos é ainda mais complicada no Reino Unido, devido ao fato de apenas 20% dos domicílios possuírem hidrômetros, o que torna as estimativas de vazamentos da empresa “sujeitas a manipulação”, de acordo com o relatório. Em seguida à privatização dos sistemas de água, em 1989, os níveis de vazamento em todo o setor hídrico do RU atingiram o nível médio de 30% em 1995. O Departamento de Serviços de Água, que regula o setor de abastecimento e saneamento da Inglaterra e País de Gales, interveio e estabeleceu metas obrigatórias para redução de vazamento. Várias empresas com altos níveis de perda, notadamente a Thames Water Utilities LTD, atendem a áreas que enfrentam quedas de abastecimento. Em 2003, vazamentos e perdas de água pela Thames Water foram responsáveis por mais de 25% do total de vazamentos na Inglaterra e País de Gales; todavia, a empresa atende apenas a 15% dos consumidores faturados nessas regiões. ________________________________________ FONTE: vide nota final 35. 68 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA A recuperação da água “perdida” por vazamentos, falha de medição ou contabilização corrupta representa um enorme manancial inexplorado que poderia ajudar cidades e regiões que enfrentam escassez a atender suas reais necessidades hídricas. Argumentos de que perdas por vazamentos não são significativas porque recarregam os aqüíferos ou abastecem outros usuários ignoram o fato de que extrações têm custo. A água deslocada da sua “área de serviço” original na natureza e dissipada a usuários de tubulações falhas causa secas em rios, destruição de habitats e desaparecimento de vida silvestre. Da mesma forma que as cavidades dentárias, tubulações corroídas podem ficar sem atenção por um tempo, mas terão que ser cuidadas; quanto mais tempo o problema for negligenciado, mais custoso será para reparar. Caso a infra-estrutura existente não seja estanque, os projetos de capital propostos, destinados a atender às “necessidades” hídricas, são ilusórios. Copenhague, na Dinamarca, com apenas 3% de ANC (cerca de 1,6 metro cúbico por pessoa, por ano, ou um galão por dia), é uma exceção positiva ao controle historicamente fraco do setor hídrico. O Departamento de Águas de Copenhague também tem sofrido um declínio constante no consumo per capita domiciliar diário, entre seu meio milhão de habitantes, desde que implantou metas de conservação e iniciou uma série de campanhas educativas e aumentos tarifários. Talvez o incentivo mais forte para a manutenção de sistemas ajustados na Dinamarca seja o fato de as concessionárias serem taxadas (0,7 euros ou 85 centavos de dólar por metro cúbico) caso o índice de vazamento exceda 10%. Em 2000, apenas 8 dos 40 maiores fornecedores da Dinamarca reportaram uma perda acima de 10%. (Vide Quadro 3-3 para uma descrição de outros programas de eficiência urbana.) 37 A redução de vazamentos e o uso mais eficiente da água também poupam energia, uma vez que o bombeamento, tratamento e distribuição da água requerem energia em cada estágio. Os sistemas de água da Califórnia são um dos maiores consumidores de energia do estado, porque transportam a água a longas distâncias e por regiões altas. Em média, o bombeamento de um acre-pé (1.234 metros cúbicos) de água, por meio do Aqueduto do Rio Colorado, para o sul da Califórnia consome cerca de 2.000 kWh de eletricidade, enquanto o envio de um acre-pé para o mesmo destino, através do Projeto Estadual de Água, requer cerca de 3.000 kWh. Numa residência típica do sul da Califórnia, a energia necessária para o fornecimento de água potável chega a atingir o terceiro lugar em importância, após condicionadores de ar e refrigeradores. Uma vez que o uso mais eficiente da água reduz o consumo de energia, também reduz a produção dos gases de estufa alteradores do clima, que ameaçam perturbar vazões fluviais e sistemas hidrológicos em todo o mundo.38 A conservação da água obviamente conserva energia, mas a conservação da energia também conserva a água. Usinas termelétricas (a carvão, petróleo, gás natural, nuclear ou geotérmica) consomem água pela evaporação, quando o calor excessivo é retirado dos condensadores. A extração dos combustíveis utilizados para 69 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA operar essas usinas também consome água. A geração de energia hidrelétrica resulta na evaporação da água de reservatórios. Em conjunto, a água necessária para atender às demandas energéticas é substancial – nos Estados Unidos chega a cerca de 8,3 litros por kWh de eletrici- dade fornecida. Assim, a família média norte-americana, utilizando 10.000 kWh de eletricidade por ano, está indiretamente consumindo também mais 83 metros cúbicos de água – um volume equivalente a quase 14.000 descargas de um vaso sanitário eficiente.39 QUADRO 3-3. PROGRAMAS URBANOS DE CONSERVAÇÃO HÍDRICA QUE POUPAM ÁGUAE DINHEIRO Várias cidades e sistemas de água lançaram programas de eficiência hídrica nos últimos anos, e várias outras conseguiram uma economia impressionante de custo e consumo: • Cingapura reduziu o índice de água nãocontabilizada de 10,6 para 6,2%, entre 1989 e 1995, e economizou mais de US$ 26 milhões, evitando gastos de capital na expansão de suas instalações, por meio de iniciativas agressivas de detecção e reparo de vazamentos, renovação de adutoras e 100% de leituras (incluindo o Corpo de Bombeiros). Em 2003, a ANC caiu para 5%. Hidrômetros industriais e comerciais são substituídos a cada quatro anos e hidrômetros residenciais a cada sete anos, para assegurar faturamento correto e minimizar perdas de água não-medida. Os gestores de água de Cingapura também promovem educação pública, programas escolares, auditorias hídricas e reutilização de água não-potável pelas indústrias. Conexões ilegais são sujeitas a multas de até US$ 50.000 ou três anos de detenção. Em 1995, os 3 milhões de habitantes da cidade consumiram, em média, 1,2 milhão de metros cúbicos por dia; em 2003, a demanda total de água havia aumentado apenas 8%, embora a população tenha crescido 40%, para 4,2 milhões. • Fukuoka, no Japão, conhecida como a Cidade com Consciência de Conservação 70 Hídrica, tem uma das menores taxas de vazamento (cerca de 5%) do Japão, com um consumo per capita de aproximadamente 20% menos do que outras cidades do mesmo tamanho. Fukuoka conseguiu essas economias através de esforços em detecção de vazamentos e reparo, técnicas sofisticadas de leitura, coleta de águas pluviais, utilização de água recuperada para sanitários, instalação de dispositivos eficientes de torneiras em mais de 90% das residências e promoção de programas de conscientização pública das questões hídricas. • Desde o final dos anos 80, o Departamento de Água do Estado de Massachusetts (MWRA, na sigla em inglês), que abastece mais de 40 cidades na área de Boston, reduziu a demanda em toda a rede em cerca de 25%, por intermédio da implementação de um programa abrangente de redução de demanda que incluía reparos de vazamentos e instalação de equipamentos e dispositivos eficientes na tubulação. Isso permitiu o cancelamento de um projeto para represar o Rio Connecticut – uma proposta politicamente polêmica – e poupou aos 2,1 milhões de consumidores do MWRA mais de meio bilhão de dólares só em dispêndio de capital. __________________________________________ FONTE: vide nota final 37. Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA O uso doméstico de água varia sensivelmente em todo o mundo e revela muito sobre as diferenças de riqueza e cultura. (Vide Figura 3-3.) Por exemplo, os habitantes do Reino Unido consomem apenas cerca de 70% da água consumida pelo americano mais poupador. Estimase que o consumo interno nos lares dos Estados Unidos é de uma média de 262 litros per capita, por dia (lpcd). As residências que instalam utensílios eficientes em termos de consumo de água (sanitários, chuveiros e torneiras) e eletro- domésticos (lavadoras de roupa e prato), e que reduzem vazamentos, consomem apenas 151–170 lpcd. Desde 1997, todos os sanitários, mictórios, torneiras e chuveiros instalados nos Estados Unidos são obrigados a satisfazer as normas estabelecidas pela Lei de Política Energética (EPAct, na sigla em inglês) de 1992. Até 2020, essas normas de eficiência deverão poupar cerca de 23–34 milhões de metros cúbicos por dia, água suficiente para abastecer de quatro a seis cidades do tamanho de Nova Iorque.40 Quênia (domicílios conectados) Uganda (domicílios conectados) Tanzânia (domicílios conectados) Copenhague, Dinamarca Reino Unido Cingapura Manilha, Filipinas, Waterloo, Canadá Melbourne, austrália Sidnei, Austrália Seattle, Estados Unidos Tampa, Estados Unidos Phoenix, Estados Unidos Fonte: Vide nota final 40 0 200 400 600 800 Litros per capita, por dia 1.000 Figura 3-3. Consumo Doméstico de Água, Cidade e Países Selecionados Estudos de 16 localidades nos Estados Unidos revelam que as reduções de água conforme as normas da EPAct pouparão às concessionárias US$ 166 a US$ 231 milhões ao longo dos próximos 15 anos, como conseqüência de investimentos diferidos ou evitados em aumento de capacidade ou em novas instalações de tratamento e armazenamento de água potável. As necessidades energéticas das instala- 71 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA ções de tratamento de água e esgoto estão projetadas para caírem em 6 bilhões de kWh anuais. Parte dessa poupança de água, energia e custos, todavia, já está ameaçada: vários grandes fabricantes de utensílios estão promovendo agressivamente as vendas de portentosos boxes de chuveiros com múltiplos bocais que esguicham mais de 300 litros por minuto – mais do que a maioria da população mundial consome em um dia.41 Quando se trata do consumo de água e dos custos pagos por ricos e pobres, ocorre uma típica inversão de relação: aqueles que consomem mais pagam menos, e aqueles que pouco consomem pagam mais. Populações urbanas de baixa renda e pobres, não-conectadas à rede, freqüentemente são forçadas a recorrer a suprimentos alternativos e caros, como vendedores de água, que podem cobrar muitas vezes mais do que usuários pagam pela água encanada. Por exemplo, os pobres em Nova Délhi pagam a vendedores informais US$ 4,50 por metro cúbico de água, quase 500 vezes o centavo de dólar pago por metro cúbico por quem dispõe de ligação domiciliar. Em Manilha, vendedores cobram dos pobres 42 vezes mais do que os usuários conectados. 42 As demandas hídricas domésticas dos mais ricos assumem uma trajetória ascendente dramática diante de gramados irrigados. Em volume, o maior problema de bebida nos Estados Unidos não é o álcool, e sim a rega de gramados. A irrigação diária dos gramados e jardins dos Estados Unidos consome cerca de 30 bilhões de litros de água – um volume que encheria 14 bilhões de pacotes 72 de 6 latas de cerveja. O gramado irrigado médio consome cerca de 38.000 litros por verão. E o pior: um morador de Orange County, cidade da Flórida com carência de água, foi faturado em 15,9 milhões de litros em um ano, a maior parte utilizada na irrigação de sua propriedade de 2,4 hectares. Esse volume equivale, a grosso modo, ao consumo anual de 900 quenianos. 43 Gramados bem aparados e carpetes de grama em áreas privadas, públicas e à beira de vias nos Estados Unidos cobrem 12 a 20 milhões de hectares, uma área maior do que o estado de Louisiana – mais do que é plantado em qualquer cultura agrícola. Os Estados Unidos também possuem cerca de 60% dos campos de golfe mundiais; seus 700.000 hectares absorvem cerca de 15 bilhões de litros de água por dia. Gramados e campos de golfe não apenas bebem volumes gigantescos de água, mas também o fazem durante os meses mais quentes do verão, quando a vazão de muitos rios e córregos estão em seus níveis mais baixos. 44 Entusiastas por gramados e jardins dos Estados Unidos aplicam, anualmente, mais de 45 milhões de quilos de fertilizantes e produtos químicos para eliminar insetos, ervas daninhas e fungos. Na realidade, os moradores utilizam quase 10 vezes mais pesticidas por hectare de grama do que agricultores aplicam nas lavouras. Fertilizantes e produtos químicos não-absorvidos diretamente pelas gramas e plantas freqüentemente escoam para córregos ou infiltram-se em aqüíferos, onde podem contaminar a água potável e eutrofizar lagos e lagoas. (Vide Quadro 3-4.)45 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA QUADRO 3-4. BEBENDO O GRAMADO E A FARMÁCIA DO VIZINHO “É de manhã, você sabe onde estão os seus remédios?” pergunta Christian Doughton, da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, num artigo em The Lancet. “Muito provavelmente, alguns estão a caminho de córregos, rios e talvez até fazendas locais, na forma de biossólidos de esgoto utilizados como fertilizante”. Num estudo de amostragem de 139 córregos em 30 estados, a U.S. Geological Survey constatou que 80% continham traços de pelo menos um produto, seja droga, hormônio endócrino-perturbador, inseticida ou outro produto químico – alguns em níveis que, comprovadamente, causam danos a peixes e outras vidas aquáticas. Isso não deve surpreender, visto que os Estados Unidos são os maiores usuários de pesticidas e que mais de 3 bilhões de receitas são fornecidas anualmente para quase metade dos americanos que tomam, no mínimo, um medicamento por dia. Estudos no Canadá, Reino Unido e Alemanha também constataram resíduos de produtos farmacêuticos e de cuidados pessoais (PFCPs) em água doce, Embora espargidores e sistemas mais eficientes de irrigação possam reduzir o consumo de água em jardins, está ocorrendo uma mudança mais fundamental na mania americana por gramados, através de um movimento emergente de paisagismo natural e plantas nativas. Residências e empresas estão obtendo economias duradouras e substanciais de água com o plantio de grama nativa resistente à seca, proteção vegetal, flores silvestres e plantas que vicejam naturalmente em seus climas locais. Projetos em Prairie Crossing, uma subdivisão na periferia de Chicago, e na sede da Sears, Roebuck & Company, em Hoffman Estates, Illinois, por exemplo, integram as caracte- inclusive protetores solares, antibióticos e plastificantes. Praticamente nenhuma literatura médica documenta a extensão, riscos ou solução para o problema das drogas como poluentes e seu efeito à saúde humana e ao meio ambiente. No momento, não há, a rigor, regulamentação quanto a PFCPs contaminadores na água potável. Pelo menos com os pesticidas, algumas comunidades não estão assumindo riscos. No Canadá, tanto o subúrbio de Hudson, em Montreal, quanto o de Halifax, na Nova Escócia, proíbem o uso cosmético (puramente estético) de pesticidas, como nos gramados. “Melhor errar por excesso de segurança do que sofrer enquanto se aguarda comprovação científica”, assinalou um líder comunitário. Apesar de uma contestação à lei, por parte das indústrias químicas e de jardinagem, a Corte Suprema do Canadá determinou que todos os municípios canadenses têm o direito de proibir o uso de pesticidas em propriedades públicas e privadas. __________________________________________ FONTE: vide nota final 45. rísticas naturais da paisagem, em vez de eliminá-las. Igualmente, campos de golfe como os do Prairie Dunes Country Club, em Hutchinson, Kansas, e The Landings, em Savannah, Geórgia, estão reduzindo o uso da água por meio de medidas como irrigação controlada pelo tempo, rega limitada dos tees e fairways, uso de plantas nativas, conservação das características naturais dos terrenos acidentados e manutenção orgânica do solo e das plantas.46 A participação em organizações de paisagismo natural, como Wild Ones e Ecological Landscaper, está aumentando rapidamente, demonstrando o desejo das pessoas por um relacionamento mais sa73 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA dio com a terra. Outros conscientizam-se quanto aos benefícios financeiros. A CIGNA Corporation, de Bloomfield, Connecticut, gastou cerca de US$ 63.000 ao longo de cinco anos para converter grande parte dos 120 hectares do seu gramado corporativo num aprazível descampado com trechos de flores silvestres, lucrando várias centenas de milhares de dólares anuais em economia no uso de água, fertilizantes, pesticidas e equipamentos e manutenção. Como disse o paisagista da CIGNA, “o que devemos fazer, gastar 5.000 dólares em controle de pragas?” Uso de Água Industrial e Consumo de Bens Materiais As indústrias são responsáveis por cerca de 22% de todas as extrações mundiais de água doce; no entanto, têm uma participação bem maior nos países industrializados (59% em média) do que nos países em desenvolvimento (10%). As demandas industriais nas economias em desenvolvimento e emergentes estão aumentando rapidamente e competirão pelas escassas reservas tanto nas cidades quanto nos campos. Ademais, as indústrias geram grandes volumes de água servida, e nos países em desenvolvimento grande parte desta continua sendo despejada, sem tratamento, em rios e córregos vizinhos, poluindo o pouco que resta de água potável.48 O volume total da demanda de água industrial não é bem avaliado devido ao fato de as grandes indústrias freqüentemente extraírem água – sem medição – diretamente de seus poços ou de rios e córregos vizinhos. Mundialmente, as maiores indústrias 74 consumidoras de água incluem termelétricas, metalúrgicas e siderúrgicas, indústrias de papel e celulose, químicas, petrolíferas e fabricantes de máquinas. A maioria utiliza os maiores volumes de água em refrigeração, lavagem, processamento e aquecimento.49 Um número impressionante de usuários industriais e comerciais reduziu suas demandas hídricas de 10 a 90%, aumentando, ao mesmo tempo, sua produtividade e lucros. (Vide Tabela 3-6.) Freqüentemente, esses investimentos em eficiência hídrica são pagos dentro de dois anos, gerando poupança de energia e também benefícios na prevenção da poluição. Por exemplo, em 2002, a Unilever, multinacional produtora de alimentos e produtos para o lar e cuidados pessoais, consumiu em média 4,3 metros cúbicos de água por tonelada de produção, uma redução de um terço dos 6,5 metros cúbicos por tonelada consumidos em 1998.50 Embora para muitas indústrias a redução de custos seja a principal motivação para investimentos em eficiência, existem também outros incentivos, incluindo a necessidade de cumprir as regras de licenciamento, avanços das tecnologias de tratamento in-loco que permitem que a água de processamento seja reciclada e reutilizada e a disponibilidade de água não-potável recuperada a custo baixo. Por exemplo, todo o esgoto de Cingapura é tratado em seis estações de recuperação de água para reutilização pelas indústrias, ajudando a preservar a água de alta qualidade para consumo humano e outras finalidades. Tarifas mais altas para água e esgoto também podem agir como um incentivo de conservação para as indústrias; entretanto, tais estratégias tarifárias às vezes têm efeito contrário nos fornecedores, por motivarem os consumidores a desistir do sistema e abrir poços artesianos.51 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA Tabela 3-6. Exemplos de Economia de Água Industrial pela Conservação Categoria Industrial ou Produto Empresa Economia Medidas de Eficiência Hídrica Laticínios (leite e derivados) United Milk Plc. Inglaterra 657.000 metros cúbicos/ano; US$ 405.000 por ano Sistemas de membranas de osmose reversa (OR), recupera e trata o condensado do leite para reutilização pela fábrica, eliminando a necessidade de abastecimento externo. O excesso da água recuperada é posto à venda para outros usuários na área industrial. Computadores (fábricas e laboratórios) IBM, mundial 690.000 metros cúbicos/ano A economia de água em 2000 foi de 4,6% do total utilizado; 375.000 metros cúbicos por ano poupados com múltiplos projetos de eficiência hídrica e 315.000 metros cúbicos poupados com reciclagem e reutilização. Siderurgia Columbia Steel Casting Co. Inc., North Portland, OR, EUA 1,63 milhão de metros cúbicos/ ano US$ 588.000 ao ano Substituição do sistema de resfriamento por fluxo único, por torres de resfriamento recirculantes. Instalação de sistemas de reciclagem e tanques de armazenagem para captação de águas pluviais e reutilização de água não-potável de lavagem. Otimização de práticas industriais. Farmacêuticos (pesquisa de ciência de vida e biofarmacêuticos) Millpore Corp., Jaffrey, NH, EUA 31.000 metros cúbicos/ano; US$ 55.000 ao ano Água servida de processamento, reciclada através de tecnologia OR; investimento de US$61.000, retornado em 1,2 anos em redução de custos de água, água servida e energia. Chocolate Ghirardelli Chocolate Co., San Leandro, CA, EUA 78.840 metros cúbicos/ano Instalação de anel recirculante de resfriamento de água, eliminando o uso de água potável para o resfriamento do chocolate em grandes tanques. Construção Habitacional Gusto Homes, Inglaterra 50% de economia de água nas residências (50 metros cúbicos/ano) O projeto Millenium Green envolveu a instalação de sistema de coleta de água pluvial e armazenagem subterrânea em 24 residências e escritório da empresa. Instalação também de sanitários de descarga dupla, chuveiros e sanitários aerados e aquecedores solares de água. Produtos Agrícolas (frutas, legumes, vegetais e ervas livres de pesticidas) Unigro, Plc. Inglaterra 9.000–18.000 metros cúbicos/ano; US$ 7.400 ao ano Instalações seladas, com controle climático, utilizam o sistema Greengro Farming e incluem irrigação de precisão e coleta de águas pluviais, requerendo 30% menos água por unidade de produção do que a irrigação convencional. Cerveja Anheuser-Busch 90.850 metros Inc., nacional, cúbicos/ano EUA Hidrômetros instalados em todas as instalações para medir o consumo. Equipamentos de garrafas e latas recalibrados. FONTE: Vide nota final 50. Com a expansão de empresas industriais nos países em desenvolvimento, cargas poluentes estão aumentando juntamente com a demanda pela água industrial, ameaçando a vida aquática e a saúde humana. As indústrias de alimentação e bebidas, celulose e papel e têxtil são responsáveis por mais de três quartos das cargas poluentes da água nos países em desenvolvimento. Por exemplo, a água de enxágüe têxtil con- 75 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA tém tinturas que exaurem os níveis de oxigênio de rios e lagos quando despejada sem tratamento. Ao captar e reciclar essas tinturas dentro do processo fabril, as indústrias podem reduzir as cargas poluentes e economizar em custos de insumos. Em Gana, na África Ocidental, um programapiloto, chamado de Sistema de Manejo de Troca do Estoque de Rejeitos, objetiva aumentar a reutilização e reciclagem de rejeitos industriais, a fim de proteger os ecossistemas costeiros, fluviais e lacustres. Com o slogan “lixo de um, matéria-prima de outro”, a iniciativa tem recebido uma resposta entusiástica das indústrias locais.52 Da mesma forma que escolhas individuais de dietas e paisagens podem fazer uma grande diferença no impacto humano sobre corpos d’água, também o fazem as escolhas de consumo de bens materiais. (Vide Quadro 3-5.) Praticamente tudo que se compra – de roupas a computadores e a automóveis – necessita de água para ser fabricado, e este processo pode também resultar em poluição de córregos e lagos também. As pessoas que dirigem veículos utilitários esportivos, ávidos consumidores de gasolina, em vez de carros eficientes no consumo de combustível, por exemplo, não estão apenas gastando cerca de três vezes mais gasolina por quilômetro rodado, mas também estão indiretamente utilizando muito mais água, uma vez que são necessários 18 litros de água para produzir apenas um litro de gasolina.53 No credo ambientalista de reduzir, reutilizar, reciclar, a redução de compras materiais sempre tem lugar de destaque no topo. Quando as pessoas adquirem algo, todavia, podem diminuir seus impactos à água e energia escolhendo produtos fabricados com materiais reciclados. Comprar 76 produtos de papel reciclado em vez de papel virgem, por exemplo, poupa não só árvores e energia, mas também a água utilizada na manufatura do papel. E produtos de alumínio fabricados com sua sucata requerem apenas 17% da água que o mesmo produto necessita se feito de alumínio bruto.54 QUADRO 3-5. MEDIDAS QUE PODEMOS TOMAR PARA REDUZIR NOSSO IMPACTO SOBRE A ÁGUA DOCE • Adquirir menos bens materiais. • Adotar dietas nutritivas, com menos • • • • carne vermelha. Selecionar plantas e gramas nativas para jardins e paisagismo e depender apenas das chuvas. Instalar aparelhos e utensílios mais eficientes em termos de água e energia. Pressionar por normas de uso do solo que protejam áreas alagadas, aqüíferos e bacias hidrográficas. Participar de comissões locais de gestão de água, a fim de monitorar e implementar estratégias de proteção hídrica. Prioridades Políticas Não há mistério algum sobre o fato de o enorme volume de água extraído para consumo humano ser desperdiçado e mal-administrado: as políticas que embasam decisões sobre a água, na maioria das vezes, fomentam ineficiências e más alocações, e não a conservação e uso sustentável. Em vez de nos desesperarmos frente a uma nova era de escassez hídrica, precisamos confrontar velhos erros e desperdícios. Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA Em primeiro lugar, é essencial que governos cumpram suas obrigações e protejam a segurança pública da água. A maioria dos ecossistemas de água doce não é avaliada nem valorizada pelo mercado; todavia, sustentam nossas economias e vidas com serviços que valem centenas de bilhões de dólares ao ano. Leis e regulamentos que salvaguardem essas funções são cruciais, pois as forças de mercado apenas – inclusive a tarifação e comercialização da água – nunca poderão proteger adequadamente valores não-cotados. A diretriz da água de 2000, da União Européia, a Lei da Água de 1998, da África do Sul, e um punhado de leis estaduais dos Estados Unidos são exemplos promissores de governos tentando assumir suas responsabilidades na proteção da segurança pública no que diz respeito à água. 55 Governos e autoridades comunitárias precisam instituir ou fortalecer regulamentos sobre a água subterrânea. Um recurso coletivo clássico, a água subterrânea é vulnerável ao uso predatório, uma vez que o impacto conjunto de cada usuário, agindo por interesse próprio, é a exaustão do suprimento para todos. O uso sustentável de aqüíferos renováveis exige que nossas retiradas não excedam o nível de recarga. Entretanto, como assinalam os pesquisadores do Instituto Internacional de Gestão da Água, em Sri Lanka, “em nenhum lugar do mundo existe um regime tão perfeito efetivamente em ação... Pouquíssimo está sendo feito para reduzir a demanda da água subterrânea ou economizar o seu uso”. 56 No leste de Massachusetts, os moradores secaram o Rio Ipswich durante vários anos devido à extração maciça de água subterrânea para irrigação de jardins. A água subterrânea não está apenas malregulamentada, mas também seu uso é freqüentemente subsidiado sob várias formas. No Texas, os agricultores que bombeiam água do aqüífero Ogallala, em queda, podem pleitear um abatimento de exaustão em seu imposto de renda. Os agricultores indianos recebem energia subsidiada, no valor de US$ 4,5–5 bilhões ao ano, para bombear 150 bilhões de metros cúbicos de água subterrânea – um incentivo perverso para exaurir os aqüíferos nacionais. Embora sustentem a produção no curto prazo, esses subsídios, na realidade, aceleram o ritmo de exploração excessiva e o dia do ajuste final. Com a água subterrânea contribuindo US$ 25–30 bilhões anuais para a economia agrícola da Ásia, urge a adoção e implementação de políticas que levem a seu uso sustentável.57 Uma tarifa escalonada é um instrumento econômico que pode proporcionar um uso mais eficiente e eqüitativo da água. Com esse método, o preço unitário da água para um consumidor aumenta juntamente com o volume utilizado. Isso permite que um nível básico de água domiciliar tenha um preço bastante baixo, enquanto um maior uso é cobrado a uma taxa mais alta, de modo escalonado. Um estudo em 2002 de 300 cidades indianas constatou que apenas 13% utilizam essas estruturas 77 Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA tarifárias de blocos ascendentes. Ademais, mesmo quando elas são aplicadas, os blocos de menor preço incluem, às vezes, muito mais água do que seria necessário para satisfazer as exigências básicas de um domicílio. Em Bangalore, por exemplo, os dois primeiros blocos, conjuntamente, abrangeram 50 metros cúbicos de água por mês, um consumo similar ao uso domiciliar médio nos Estados Unidos.58 Particularmente nos locais ricos, só a tarifa não desencoraja o uso pródigo da água. Nos domicílios de renda alta com extensos gramados, por exemplo, manter a grama verde durante o ano todo é freqüentemente mais importante do que a conta de água. Nessas áreas, o próximo passo é restringir o uso da água. No leste de Massachusetts, os moradores secaram o Rio Ipswich durante vários anos devido à extração maciça de água subterrânea para irrigação de jardins, que exauriu suas vazões de verão. O grupo conservacionista American Rivers relacionou o Rio Ipswich em 2003 como um dos 10 rios mais ameaçados do país. Em maio, o Departamento de Proteção Ambiental estabeleceu restrições obrigatórias para a extração de água em cada cidade licenciada a utilizar o Ipswich. Quando a vazão atinge um determinado nível, essas comunidades instituem medidas legais de conservação hídrica. Devido a um verão chuvoso em 2003, ainda não foi realizado um teste real dessa política. Mas deixa evidente que o interesse do estado na proteção 78 da vazão do rio assume prioridade sobre os interesses particulares dos moradores na manutenção de seus gramados verdes.59 Juntamente com regulamentos rígidos e tarifação mais efetiva, os mercados da água podem ajudar a melhorar a eficiência de uso e alocação. Com um teto estabelecido nas extrações da bacia hidrográfica do Murray-Darling, na Austrália, por exemplo, a comercialização da água entre vendedores e compradores está ajudando a realocar o manancial disponível. A cidade de Adelaide poderá, em breve, adquirir água dos agricultores, uma vez que já atingiu o limite de sua extração do rio. A capacidade de negociar água encoraja os consumidores a conservá-la, já que podem vender a que foi poupada e faturar uma renda extra. Onde existem títulos ou direitos claros sobre a propriedade da água, “limitar-conservar-enegociar” pode ser uma estratégia eficaz para a proteção de ecossistemas e incremento da produtividade hídrica. Finalmente, consumidores individuais têm também que fazer importantes escolhas de política pessoal. Ao optar por uma dieta sadia e menos intensiva no uso de água, uma paisagem atraente e adequada ao clima e um estilo de vida com menos bens materiais, as pessoas poderão reduzir seu impacto sobre os sistemas de água doce da Terra, sem sacrificar sua satisfação pessoal. Essas opções poderão transformar os consumidores de água em gestores da água. Estado do Mundo 2004 INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Sabonetes Antibacterianos “Livrar-se dos germes é hoje mais divertido do que nunca”, diz o rótulo de um frasco de sabonete líquido com aroma de fruta Dial, o maior fabricante de sabonetes antibacterianos dos Estados Unidos. Na realidade, o disparo na produção e uso globais de tais produtos apresenta alguns riscos não tão divertidos para a saúde e meio ambiente. Sabonetes líquidos e gel para banho com propriedades antibacterianas tornaram-se cada vez mais populares nos últimos anos. Nos Estados Unidos, 75% dos sabonetes líquidos e aproximadamente 30% dos sabonetes em barra contêm agora triclosan e outros compostos químicos formulados para atacar os germes superficiais. Embora rotulada de antibacteriana, a maioria é na realidade antimicrobiana, atacando tanto vírus quanto bactérias. 1 O mercado mundial para sabonetes está projetado pra crescer continuamente, de US$ 5,5 bilhões em 2003 para US$ 6,1 bilhões em 2008, informa o Icon Group, uma empresa de pesquisa mundial de mercado. O maior crescimento deverá ocorrer na Ásia e no Pacífico, onde a indústria de sabonetes prevê que o crescimento econômico incentivará a demanda dos consumidores por sabonetes incrementados, inclusive antimicrobianos. Na Índia e China, onde os sabonetes líquidos são vistos como produtos caros de luxo, a Procter & Gamble está agora produzindo uma versão antibacteriana de seu sabonete em barra, Safeguard.2 Todos os sabões são produzidos por meio de uma reação química conhecida como saponificação, na qual um sal alcalino, como soda cáustica (hidróxido de sódio), potassa (hidróxido de potássio) ou barrela, é aquecido com uma gordura vegetal ou animal (sebo) e água. No processo, a gordura transforma-se em glicerol líquido (glicerina – que é normalmente removida para outros usos cosméticos ou farmacêuticos) e sais ácidos graxos – que formam os coalhos do sabão bruto. Esses coalhos são fervidos em água, para remoção de impurezas, despejados em fôrmas e cortados em barras.3 Alguns dos mais antigos restos de sabonetes foram encontrados em potes de barros, datados de 2800 a.C., na Babilônia. Antes do aparecimento das versões germicidas, em 1948, os sabonetes eliminavam os microorganismos, tornando a sujeira e oleosidades superficiais 79 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: SABONETES ANTIBACTERIANOS escorregadias o bastante para que pudessem ser esfregadas e enxagüadas. Desde a II Guerra Mundial, os produtos químicos engendrados pelo homem alteraram a receita tradicional. Entre eles, surfactantes, que intensificam a espuma e a solubilidade, compostos antimicrobianos, tais como triclosan, e plastificantes, conhecidos como ftalatos.4 Do mesmo modo que qualquer indústria, a fabricação de sabonetes consome matérias-primas e energia, tais como combustíveis fósseis para aquecer caldeiras, gerando poluição atmosférica quando queimados. Outros subprodutos incluem resíduos graxos sólidos e produtos químicos que podem escoar, poluindo os cursos d’água. Mas não precisa ser assim. Na Tunísia, uma indústria que fabrica sabonetes a partir de resíduos da prensagem do óleo de oliva instalou caldeiras eficientes e controla as emissões de resíduos na atmosfera e na água – e a fábrica vem economizando mais dinheiro, anualmente, do que o custo inicial de modernização.5 Além do efluente industrial, existe o problema do escoamento pelo ralo, após o banho, do sabonete usado. Um estudo do U.S. Geological Survey, de 2002, constatou que substâncias químicas em medicamentos e detergentes – entre as quais triclosan e ftalatos – estão penetrando nos cursos d’água dos Estados Unidos em baixas concentrações, através dos esgotos. Isso é preocupante, já que os níveis aceitáveis não foram estabelecidos para água potável para a maioria dessas substâncias.6 O triclosan e outros antimicrobianos suscitam questões preocupantes para a saúde e o meio ambiente. A fabricação de triclosan pode criar dioxinas altamente 80 tóxicas – compostos de cloro cancerígenos, perturbadores hormonais, que se dispersam facilmente no meio ambiente e são recolhidos na cadeia alimentar. O triclosan também pode causar náusea, vômito e diarréia se ingerido, o que é um problema, já que os sabonetes com “sabor de fruta” podem induzir as crianças a experimentá-los.7 Mais urgentemente, entretanto, a Associação Médica Americana e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CCDs) estão advertindo contra o uso doméstico de sabonetes antibacterianos, uma vez que esses produtos contribuem para o aumento de bactérias resistentes a medicamentos. A Organização Mundial de Saúde lançou uma campanha contra o uso indiscriminado de antibióticos, observando que doenças como tuberculose, pneumonia e malária revelaram-se resistentes a vários antibióticos comumente usados em seu tratamento. O triclosan age destruindo as enzimas nas paredes da célula da bactéria e assim elas não podem se reproduzir; este ataca a mesma enzima que o antibiótico isoniazid, usado para o tratamento da tuberculose.8 Ademais, estudos demonstraram que os sabonetes antimicrobianos têm a mesma eficácia no combate aos germes que os sabonetes comuns. “Constatamos que os sabonetes antimicrobianos e antibacterianos não possuem nenhuma qualidade superior aos sabonetes comuns”, declara Elaine Larson, professora Associada da Faculdade de Farmácia da Columbia University e autora líder de um relatório do National Institute of Health, de 1992, sobre o assunto. Os autores recomendam lavar as mãos com sabonete comum e água morna após a ida ao sanitário e antes de preparar os alimentos como o melhor modo de Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: SABONETES ANTIBACTERIANOS prevenir resfriados e doenças transmitidas pelos alimentos.9 Como também, apesar da obsessão moderna pela limpeza, uma casa sem nenhuma bactéria não é, necessariamente, uma boa coisa. Na realidade, pode ter um efeito oposto: um estudo recente chegou à conclusão de que adolescentes que viveram em fazendas e eram regularmente expostos à poeira e germes eram menos propensos a asma e sintomas alérgicos do que os adolescentes criados em outros ambientes rurais. Pesquisadores sugerem que a exposição a bactérias, fungos e poeira pode na verdade ajudar a fortalecer os sistemas imunológicos das crianças.10 A solução? Os consumidores devem parar de comprar sabonetes e outros produtos de limpeza antimicrobianos, uma atitude que pode eventualmente forçar a indústria a reduzir a intensidade promocional e produtiva em todo o mundo. “Os sabonetes e loções antibacterianos devem ser destinados a pacientes doentes, não a uma família sadia”, observou Dr. Stuart Levy, da Alliance for Prudent Use of Antibiotics, da Universidade Tufts. Para conter a disseminação de germes nos hospitais, os CCDs aconselham que profissionais de saúde usem gel com base alcoólica para as mãos, pois não apresentam os mesmos riscos de resistência aos antibióticos que os antimicrobianos. O gel pode também ser usado nos lares onde um membro da família seja portador de AIDS ou outro problema do sistema imunológico. Mas como esses produtos não podem limpar a velha sujeira comum, eles não são substitutos para o simples e velho sabonete.11 — Mindy Pennybacker, The Green Guide 81 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO CAPÍTULO 4 Controlando Nossa Alimentação Brian Halweil e Danielle Nierenberg Em meados dos anos 80, os cafeicultores mexicanos informaram à organização holandesa de ajuda Solidaridad que mal conseguiam manter-se. Enquanto a fartura de café no mercado mantivera baixos os preços do produto in natura, os programas de ajuda internacional dos países industrializados pouca utilidade tinham. Além disso, a Solidaridad soube que os produtores e suas famílias adoeciam quando aplicavam os fungicidas e outros agrotóxicos em voga em todo o mundo. Tudo isso suportado em prol de cada xícara de expresso e cappuccino tomada pelos holandeses, milhares de quilômetros de distância – e não por mexicanos.1 A Solidaridad reagiu, unindo-se com outros grupos holandeses de ajuda para criar a Fundação Max Havelaar. (Max Havelaar foi uma personagem escrupulosa de uma novela holandesa do século XIX, que retratava a crueldade do tratamento colonial nas Índias Orientais Holandesas.) A Fundação desenvolveu um 82 selo de “comércio justo”, que garante aos produtores de café um preço fixo acima dos níveis internacionais – um preço que cubra seus custos de produção e assegure uma vida decente – e estabelece uma série de outras condições sociais e ambientais, desde o direito a se organizarem em cooperativas até certos requisitos básicos de segurança. Em contraste com o relacionamento injusto, em que o bebedor de café aparentemente beneficiase – embora involuntariamente – do sofrimento do produtor, os compradores do café Max Havelaar pagam um pequeno ágio para assegurar uma vida melhor aos produtores e comunidades no outro extremo do negócio.2 A idéia não era original. Já nos anos 50, grupos como Oxfam, no Reino Unido, Ten Thousand Villages, nos Estados Unidos, e Stichting Ideele Import, na Holanda, ofereciam produtos dos países em desenvolvimento. Porém, a influência dessas “lojas do Terceiro Mundo” era limitada e o mercado pequeno.3 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO A inovação efetiva da Max Havelaar foi “introduzir alimentos de comércio justo ao mercado de massa e operar com empresas comerciais”, de acordo com Rita Oppenhuizen, que dirige as relações públicas da Fundação. Quinze anos após o primeiro pacote de café com o rótulo Max Havelaar chegar ao porto de Rotterdam, a marca pode ser encontrada em pelo menos 90% dos supermercados holandeses e detém uma participação de mercado de 3%. A Câmara Baixa do Parlamento, a maioria dos ministérios e quase todos os governos provincianos servem o café Max Havelaar. Chocolate com o rótulo Max Havelaar foi introduzido em 1993 e é utilizado por quatro dos principais chocolateiros holandeses. O mel seguiu-se em 1995. As primeiras bananas certificadas pela Max Havelaar chegaram em 1996 (e hoje representam 5% do mercado holandês), e o chá, em 1998. 4 Mais recentemente, a noção de que os alimentos poderiam ser “justos” evoluiu ainda mais. Nos Estados Unidos, a United Fruit Workers desenvolveu uma campanha de maçãs justas, que é um programa de colaboração entre trabalhadores rurais, produtores de maçã e supermercados para assegurar aos trabalhadores nos pomares – muitos dos quais são imigrantes recém-chegados – salário, direito de organização e acesso aos benefícios sociais básicos. Agricultores e a Associação do Solo no Reino Unido colaboram para estender a distinção “comércio justo” a produtos agrícolas locais, argumentando que os caprichos do mercado livre e a consolidação do agronegócio causaram às áreas rurais da Grã-Bretanha os mesmo danos provocados na África.5 Uma Revolução em Cada Garfada Naturalmente as pessoas não comem apenas por uma questão de sobrevivência, mas também para socializarem-se, por prazer e satisfação e definirem quem são. Cada vez mais, as pessoas estão comendo para fazer uma declaração política e ajudar a mudar a forma como os produtores cultivam suas lavouras. Alimento “justo” é apenas uma entre um crescente número de distinções que as pessoas hoje utilizam para assegurar que seus hábitos alimentares não destruirão o planeta ou os produtores. “Certificação orgânica”, para frutas e legumes, “criado a pasto”, para carne bovina, “pescado sustentavelmente”, para frutos do mar, e “benéfico às aves”, para café, cacau e lavouras de florestas tropicais, são outros rótulos que se vêem com mais freqüência hoje em dia. Os consumidores que procuram esses produtos não estão simplesmente buscando uma promoção ou embalagem vistosa: são proativos e inquisitivos. Porém, essas distinções continuam à margem – apesar de uma cozinha de contestação em rápido crescimento, mas relativamente pequena – e a maioria das pessoas não estão prontas a se verem como comedores ativistas nem como conhecedores das origens íntimas de sua próxima refeição. O aumento do comércio internacional de alimentos e a proliferação de alimentos altamente processados e embalados distanciaram ainda mais a maioria das pessoas daquilo que comem, tanto geográfica quanto psicologicamente. 6 83 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO Mas, devido à humanidade destinar tamanha parcela da superfície do planeta para a produção de alimentos – 25%, mais do que a área florestal mundial –, é impossível separar a forma como os agricultores cultivam os alimentos da saúde de rios, áreas alagadas, florestas e nosso ambiente de vida. De acordo com um relatório da União de Cientistas Engajados, nossas escolhas alimentares equiparam-se aos transportes como a atividade humana com maior impacto sobre o meio ambiente. Um estudo europeu constatou que o consumo de alimentos é responsável por 10 a 20% do impacto ambiental do domicílio médio. Quando Annika Carlson-Kanyama, da Universidade de Estocolmo, comparou o volume de emissões de gás de estufa gerado por diferentes opções alimentares, verificou que uma refeição rica em carne, com ingredientes importados, emite nove vezes mais carbono que uma refeição vegetariana feita com ingredientes produzidos localmente, que não precisam ser transportados a longas distâncias.7 Não importa o que se adquira, seja a pesca marinha chilena de traineiras industriais que varrem os peixes dos oceanos, maçãs impregnadas de pesticidas transportadas do outro lado do planeta ou carne criada em fábricas gigantescas inchadas com esterco, muitas compras de alimentos hoje sustentam formas destrutivas de agricultura. (Vide Quadro 4-1.) Para as pessoas que vivem em nações ricas, onde não há fome generalizada, a ubiqüidade e a modicidade mascaram muitos desses problemas. O “charme” associado a alimentos de luxo também encorajou os ricos a fecharem os olhos ao modo como tais itens chegam às suas mesas. (Vide Quadro 4-2.)8 84 A alta dependência de produtos químicos, desde antibióticos e pesticidas até fertilizantes e preservativos alimentícios, representa a maneira “convencional” de produzir alimentos – ou seja, a maioria dos ministérios de agricultura, colégios e agências de extensão agrícola promovem campos de monocultura e um coquetel correspondente de produtos químicos. Os agricultores aceitam exporem-se a agrotóxicos como um risco inevitável que gostariam de não assumir, e os consumidores aceitam os resíduos desses tóxicos como uma realidade infeliz que gostariam de esquecer. Muitos dos riscos suportados por agricultores, consumidores e empresas alimentícias estão envolvidos na mesma síndrome de consumo conspícuo que permeia outros aspectos da economia. (Vide Capítulo 1.) Por exemplo, os defensores de lavouras transgênicas, freqüentemente criadas para combinar o material genético de espécies totalmente não-relacionadas que não se reproduziriam naturalmente, sugerem que essas lavouras são essenciais para ajudar a alimentar a crescente população global e baixar os preços dos alimentos. Quaisquer riscos advindos dessa última geração de tecnologia agrícola, eles argumentam, são superados pelos benefícios de mais alimentos, e alimentos mais baratos. (Atualmente, essa tecnologia é utilizada não para alimentar os famintos, mas principalmente para cultivar milho e soja para ração de gado e o crescente apetite humano por carne.)9 Talvez o exemplo mais evidente de consumo em desordem no suprimento de alimentos seja as cinturas mais largas e o aumento perturbador da obesidade, que Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO QUADRO 4-1. VARRENDO OS MARES Frotas industriais já pescaram pelo menos 90% de todos os grandes predadores oceânicos – atum, marlim, peixe-espada, tubarões, bacalhau, halibut, arraias e linguados – só nos últimos 50 anos, conforme um estudo em Nature, em 2003. “Somos tão bons na matança”, diz o pesquisador sênior da Universidade Dalhousie, no Canadá, Ransom Myers, “que nem sabemos quanto já perdemos”. De acordo com oceanógrafos nãoligados ao estudo, essa pesquisa fornece a “melhor evidência até agora de que as recentes colheitas de peixe têm sido sustentadas e mantidas em níveis altos apenas porque as frotas têm buscado e explorado agressivamente populações de peixes cada vez mais distantes”. O uso generalizado de traineiras possantes (imensos barcos que raspam, literalmente, o fundo do oceano) e outros que arrastam linhas com anzóis com vários quilômetros de extensão, tem sido uma receita mortal para a maioria dos grandes peixes predadores mundiais. Quando esses predadores desapareceram dos oceanos, peixes menores conseguiram incrementar suas populações, porém só por pouco tempo, até que elas, também, foram pescadas excessivamente. São aqueles peixes maiores, conforme Boris Worm, co-autor do Instituto de Ciências Marinhas da Alemanha, que “valorizamos mais” por seus serviços ao ecossistema e à economia. E se os peixes desaparecerem, está se tornando uma epidemia, não apenas nas nações mais ricas, mas nos centros urbanos de países pobres também. Nutricionistas, psicólogos e defensores de consumidores concordam que pelo menos uma das causas da epidemia de obesidade também desaparecerão os milhões de comunidades e empresas que dependem deles para alimento e renda. A solução para esse problema, dizem os técnicos, exige cooperação internacional. Em 2002, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, 192 nações assinaram um acordo voluntário para restaurar os estoques pesqueiros à sua produção máxima sustentável até 2015. Isso significará reduzir a porcentagem de peixes mortos anualmente, através da redução de cotas, corte de subsídios, redução do bycatch (pescado indesejado que é descartado por não ser economicamente viável) e criação de redes de reservas marinhas para proteção de estoques pesqueiros. Em âmbito local, organizações conservacionistas marinhas estão ajudando os consumidores a identificarem peixes sustentáveis nos mercados e restaurantes locais, fornecendo fichas práticas de informação. De tamanho adequado para caber numa carteira, essas fichas fornecem uma relação abreviada de opções de espécies ecologicamente amigáveis. A Seafood Choices Alliance, uma coalizão de chefs, hoteleiros, atacadistas, varejistas e pescadores, foi um passo além. Está incentivando os restaurantes, hotéis e mercados a não venderem espécies que estão em declínio. __________________________________________ FONTE: vide nota final 8. é a tendência cada vez maior de as empresas de alimentos, em busca de clientes, inundarem a mídia com publicidade e tornarem os alimentos tão ubíquos quanto possível – uma combinação que torna a gula quase inevitável.10 85 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO QUADRO 4-2. ALIMENTOS DE LUXO Do “foie gras” às barbatanas de tubarão e ao caviar, os consumidores em todo o mundo sempre almejaram alimentos raros e exóticos, como símbolos de riqueza e charme. Pagam caros por eles, apesar do seu valor nutricional, às vezes, marginal: o comércio de US$ 57 bilhões de café, cacau, vinho e fumo vale mais do que o comércio internacional de grãos. O crescimento das classes consumidoras em países como a China e Índia significa que mais pessoas em todo o mundo têm acesso a esses alimentos. A distinção desses itens advém, em parte, do seu alto preço e escassez, embora isso invariavelmente mascare as condições brutais e ecologicamente desastrosas por trás da produção. Consideremos o “patê de foie gras”. Embora os franceses consumam 90% de todo o “foie gras”, este é considerado uma iguaria por consumidores ricos em todo o mundo. O nome, que significa literalmente fígado gordo, dá pouca indicação de como é produzido. O “foie gras” é feito forçando patos e gansos a ingerirem grandes volumes de alimento através de tubos. Isso faz seus fígados crescerem de forma anormal – chegam a pesar mais de 10 vezes o tamanho de um fígado normal de aves – sem falar na série de outros problemas de saúde, incluindo hemorragia hepática, lesões na garganta e até mesmo asfixia. O comércio global do caviar afetou o bemestar animal de forma diferente. Caviar é a ova não-fertilizada da fêmea do esturjão e, mais recentemente, do salmão, da espátula e outras espécies que se popularizaram quando as populações do esturjão encolheram. Pesca predatória, perda de habitat, poluição e as lentas taxas de reprodução desses grandes peixes contribuíram para o declínio mais marcante nos estados da ex-União Soviética no Mar Cáspio, fonte de mais de 90% da ova do esturjão. Técnicos pesqueiros especulam que todas as espécies de esturjão estão sob algum tipo de ameaça de extinção; o esturjão beluga, a fonte mais famosa de caviar, talvez 86 não mais se reproduza na natureza. Só os americanos importam mais de 40.000 quilos de caviar por ano – representando mais de 40% das vendas mundiais – apesar do preço de US$ 2.000 por quilo. Pescadores também chegam a matar 100 milhões de tubarões a cada ano para alimentar o apetite mundial por carne de tubarão e sopa de barbatana de tubarão – uma iguaria na China desde 960 d.C., e hoje venerada na cozinha chinesa em todo o mundo. Os caçadores capturam e cortam as barbatanas com os tubarões ainda vivos, lançando-os de volta ao mar, onde morrem afogados ou de hemorragia. Na Ásia, os comerciantes podem chegar a oferecer 30–40 espécies diferentes e podem vender as barbatanas até a US$ 400 por quilo. Mas, do mesmo modo que o esturjão, os tubarões reproduzem-se lentamente e a pesca predatória está provocando uma queda rápida em seus estoques. Grupos de proteção aos animais, ecólogos, biólogos marinhos, chefs e outros grupos interessados estão envidando esforços para proibir e estigmatizar certos tipos de cozinha de luxo e, em termos mais gerais, tentar fazer com que as pessoas reflitam antes de comer. Defensores do bemestar dos animais fazem campanhas para que os restaurantes e chefs nos Estados Unidos e Grã-Bretanha retirem o “foie gras” de seus cardápios. Na Holanda, os chefs voluntariamente fizeram isso (embora os fregueses ainda peçam), e outros países proibiram a alimentação forçada de patos e gansos. A Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Silvestre Ameaçadas de Extinção solicitou o estabelecimento de cotas mais rígidas de pescado e exportação, como também um sistema universal de rotulagem de caviar. Órgãos internacionais também empenhamse na proibição da prática destrutiva de coleta de barbatanas de tubarões. _________________________________________ FONTE: vide nota final 8. Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO Parte do papel evolutivo do consumidor incluirá entender que – embora possa parecer polêmico – o alimento barato pode nem sempre ser desejável, particularmente quando o preço marcado não reflete os subsídios que os governos concedem a produtores ou o custo da limpeza dos problemas ambientais causados pela agricultura. Pesquisas recentes na Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido revelam que as pessoas pagam bilhões de dólares, anualmente, para limpar a poluição e lidar com os outros custos associados à agricultura moderna: desde a remoção de pesticidas da água potável, passando pelos reparos aos danos da erosão do solo, até a perda de aves e outras vidas silvestres.11 Preços artificialmente baixos também mascaram o fato de que alimentos cultivados na vizinhança e consumidos sazonalmente podem ser, quase sempre, mais baratos e mais sadios do que os alimentos cultivados e transportados de milhares de quilômetros de distância. Por exemplo, levantamentos realizados no sudoeste da Inglaterra revelaram que alimentos vendidos em centrais de abastecimento e através de esquemas de entregas diretas das fazendas – inclusive frutas, legumes, carne, ovos e produtos com certificação orgânica – eram, em média, 30–40% mais baratos do que os mesmos produtos nos supermercados locais.12 Embora os executivos das empresas de alimentação e economistas freqüentemente apontem a demanda do consumidor por alimentos baratos como o motivador básico da forma como cultivamos, os consumidores causaram pouco impacto direto sobre a forma como a produção de alimentos evoluiu. Entretanto, isso não quer dizer que os consumidores não tenham força. Boicotes de empresas de alimentos e de produtos, movimentos lobistas de comunidades locais contra certos pesticidas e a seleção de vários alimentos com selo ecológico são exemplos do poder que os consumidores podem exercer para influenciar a agricultura. À primeira vista, forçar gigantes do agronegócio a mudar pode parecer uma fantasia; todavia, a McDonald’s recentemente, respondendo às preocupações de ativistas de direitos animais e ambientalistas, encorajou seus fornecedores a mudarem certas práticas industriais. E Kraft, a maior empresa de alimentos do mundo, anunciou planos para parar com sua publicidade dirigida às crianças, reduzir o tamanho de suas porções e eliminar alguns dos seus produtos mais nocivos à saúde. William Vorley, do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, argumenta que o alto nível de concentração do agronegócio, em que apenas um punhado de grandes empresas controlam cada etapa da cadeia alimentar, pode na realidade facilitar esse tipo de ativismo, uma vez que os alvos são relativamente poucos e óbvios. Essa lógica ajudou a deslanchar o projeto “Corrida ao Topo”, para “direcionar as poucas redes de supermercados que dominam o mercado nos Estados Unidos para um sistema alimentar mais verde e justo”. A concentração “torna os varejistas mais sensíveis às campanhas desenvolvidas em torno da ética, segurança ou meio ambiente”, observa Vorley, porque nenhuma rede deseja aparecer como a menos ética perante o grande público.13 Embora estas pareçam ações isoladas de consumidores, objetivam assumir o controle de como o alimento é produzido e afastar 87 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO o sistema global de alimentos de sua trajetória atual. As manifestações locais dessa “democracia alimentar” serão naturalmente diferentes em todo o mundo, e as motivações nem sempre serão humanitárias, mas incluirão preocupações mais egoístas como sabor, segurança alimentar, saúde pessoal e a preservação de espaços abertos. As ofertas nos supermercados comuns são, obviamente, infindáveis. Mas algumas das mudanças mais profundas que os “comedores” podem fazer incluem repensar sua relação com a carne vermelha, selecionar alimentos produzidos sem agrotóxicos e comprar alimentos produzidos localmente. A carne representa o segmento mais intensivo em recursos da nossa dieta; agrotóxicos mantêm os produtores atados a uma paisagem agrícola monótona; e os alimentos locais representam a melhor esperança de devolver o poder tanto para as pessoas que cultivam os alimentos como àqueles que os consomem. Da Fazenda à Fabrica – e de Volta à Fazenda Como a maioria dos suínos no Centro-Oeste dos Estados Unidos, as mais de 200 porcas criadas na fazenda de Paul Willis, em Iowa, adoram comer milho. Mas os animais de Willis têm uma dieta e estilo de vida muito diferentes dos outros 15 milhões de porcos criados no estado. Juntamente com os grãos que comem diariamente, os porcos de Willis pastoreiam em campos, não estando confinados nas fábricas de concreto que dominam a produção suína americana. Os animais de Willis não só têm a oportunidade de exibir seus comportamentos naturais e instintivos, como fuçar por 88 comida, brincar e aninhar-se, mas a carne que produzem é mais sadia e saborosa do que a produzida em fazendas industriais.14 Uma vez que os porcos se dão bem sob essas condições mais naturais, Willis pode criá-los sem uso de antibióticos e estimuladores de crescimento, o que reduz seus custos. E em vez de vender a carne para uma das grandes empresas que controlam a maior parte da produção suína dos Estados Unidos – Smithfield ou IBP –, Willis comercializa sua carne através do Niman Ranch, uma empresa da Califórnia, formada em 1982 para distribuir carne de animais criados humanitariamente aos consumidores e restaurantes.15 Willis é parte de um movimento crescente de criadores e consumidores para devolver os rebanhos de volta às suas raízes. Embora a mudança possa parecer antiquada, produtores que criam animais ao ar livre – e consumidores que adquirem a carne rotulada como “alimentada a pasto” ou free-range – estão ajudando a limpar o que se tornou o setor mais ecologicamente destrutivo e insalubre da produção animal. (Vide Figura 4-1.) A produção global de carne quintuplicou desde 1950, e a fazenda industrial é o método de produção com o crescimento mais acelerado em todo o mundo. Sistemas industriais são responsáveis por 74% da produção mundial de aves, 50% da produção suína, 43% da bovina e 68% da produção de ovos. Os países industrializados dominam a produção, mas as nações em desenvolvimento estão expandindo-se rapidamente e intensificando seus sistemas produtivos. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO), a Ásia possui o setor pecuário de maior desenvolvimento, depois da América Latina e Caribe.16 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO Ração • Uma caloria de carne bovina, suína ou de ave necessita de 11– 17 calorias de ração. • 95% da safra de soja é consumida por animais, e não pessoas. • Ração contendo farelo de carne e osso pode causar a doença da vaca louca, que afetou milhares de cabeças de gado nos países industrializados. INSUMO PRODUTO Metano • Gado com flatulência emite 16% da produção mundial de metano, um poderoso gás de estufa. Água • A produção de 8 onças de carne bovina requer 25.000 litros de água. Aditivos • Vacas, porcos e frangos recebem 70% de todas as drogas antimicrobianas dos Estados Unidos. Combustíveis Fósseis • Uma caloria de carne bovina consome 33% mais energia de combustível fóssil do que uma caloria de energia da batata. Esterco • Esterco da atividade suína intensiva armazenado em lagoas pode infiltrar na água subterrânea ou poluir águas superficiais vizinhas. Fonte: vide nota final 16. Doença • O consumo de produtos animais com alto teor de gordura saturada e colesterol está ligado ao câncer, doenças cardíacas e outras doenças crônicas. • As condições das fazendas industriais podem disseminar E. coli, Salmonella e outras patogenias veiculadas pelos alimentos. • A doença de CreutzfeldtJakob, variante humana da doença da vaca louca, matou pelo menos 100 pessoas. Figura 4-1. Carne Industrial: Insumos e Produtos Alguns podem argumentar que a produção moderna de carne é a única maneira de atender ao apetite crescente por ela em todo o mundo. Em 2020, as populações dos países em desenvolvimento consumirão mais de 39 quilos per capita – o dobro do que se comia nos anos 80. Nos países industrializados, todavia, as pessoas ainda consumirão o maior volume de carne – 100 quilos por ano em 2020, ou o equivalente à lateral de um boi, 50 frangos e 1 porco. Todavia, é questionável se o sistema que fornece toda essa carne poderá persistir, uma vez que aumentam suas deficiências e prosperam alternativas como vegetarianismo e carne criada em pasto.17 Os problemas em cascata das fazendas industriais começam com as condições restritas e a alimentação do confinamento. Vacas são ruminantes, o que significa que digerem gramíneas, leguminosas e resíduos agrícolas. Mas sua ração em confinamento 89 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO consiste de um misto de milho e soja, já que vacas e outros animais sob essa dieta podem adquirir peso rapidamente – e gado mais gordo obtém maior preço. Embora muitos consumidores tenham se adaptado ao sabor, textura e aparência da carne industrial entremeada de gordura, esse gado alimentado a grãos tem vários custos ocultos. Em primeiro lugar, as vacas tendem a sofrer de inchaço, acidose, abscessos hepáticos, gases e outros sintomas dessa dieta rica. Segundo, a dieta padrão nas fazendas industriais tem sido ligada também à disseminação de patogenias transmitidas por alimentos, como Escherichia coli 0157:H7, que pode contaminar a carne ou legumes, se o esterco bruto for utilizado como adubo. Verificou-se que a dieta de grãos também encoraja o desenvolvimento do micróbio nocivo no estômago da vaca, enquanto uma dieta gramínea elimina o micróbio.18 Essa é uma das razões por que os rebanhos são alimentados com níveis baixos de antibióticos. Nos Estados Unidos, o gado bovino consome oito vezes mais antibióticos por volume do que os seres humanos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde e a FAO, o uso generalizado dessas drogas na pecuária está ajudando a criar micróbios resistentes a antibióticos e dificultando o combate a doenças tanto em animais quanto em seres humanos. Porém, as condições amontoadas e insalubres enfraquecem ainda mais os animais e Salmonella, E. coli e outras doenças mortais podem disseminar-se rapidamente num rebanho pouco saudável.19 Animais criados em condições de ajuntamento, diz Ian Langford, da Universidade de East Anglia, encoraja o desenvolvi90 mento e disseminação de microorganismos na carne, uma vez que freqüentemente chegam aos matadouros cobertos de fezes. “O problema”, de acordo com Langford, “não está no consumidor cuidar bem do que come, e sim... no processo industrial do alimento”.20 Esses tipos de inovações e tecnologias das fazendas industriais modernas têm o potencial de causar desastres na segurança alimentar. Por exemplo, a encefalopatia espongiforme bovina (BSE, conhecida como doença da vaca louca) é causada por um vírus transmitido pela ração feita com resíduos de outros ruminantes, podendo ser disseminado para seres humanos que consumam a carne contaminada. Desde seu surgimento no Reino Unido, em 1986, a BSE tem sido detectada em 33 países, e autoridades sanitárias calculam que 139 pessoas em todo o mundo sucumbiram à doença de Creutzfeldt-Jakob, variante da doença em seres humanos.21 Igualmente, surtos de gripe do frango em granjas abarrotadas de galinhas em Hong Kong, durante os últimos cinco anos, provocaram o abate maciço de milhares de frangos. A doença saltou a barreira das espécies pela primeira vez em 1997, matando 6 das 18 pessoas contaminadas. Em 2003, a gripe do frango disseminou-se entre seres humanos novamente, matando duas pessoas. Dr. Gary Smith, da Faculdade de Medicina Veterinária, da Universidade da Pensilvânia, alerta que essa e outras doenças continuarão a disseminar-se, porque “a forma moderna de criação envolve maior deslocamento de animais entre fazendas do que no passado... O problema é que a pecuária opera em âmbito Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO global, nacional e regional”. A recente epidemia de aftosa no Reino Unido é um exemplo perfeito de como umas poucas vacas podem disseminar a doença através de uma nação inteira.22 Além das quebras na segurança alimentar, nutricionistas constatarem que o gado alimentado com grãos não é tão sadio quanto o alimentado com capim. Animais confinados acumulam ácidos graxos Ômega 6 (a má gordura), que estão ligados ao câncer, diabetes, obesidade e distúrbios imunológicos. Em contraste, a carne alimentada a pasto contém ácidos graxos Ômega 3, como aqueles encontrados em peixes gordurosos, que ajudam a reduzir o colesterol. Além disso, produtos alimentados a pasto têm níveis mais altos de ácido limoléico conjugado, que pode bloquear o desenvolvimento de tumores e reduzir o risco de obesidade e outras doenças.23 Essas razões de saúde motivaram muitas pessoas a preferirem carnes alimentadas a pasto, sem antibióticos, hormônios ou qualquer outro insumo utilizado em fazendas industriais. Mas as pessoas que limitaram seu consumo de carne podem também estar interessadas nas implicações ecológicas de retornar os animais ao pasto. De acordo com o cientista canadense Vaclav Smil, alimentar os animais com grãos é “altamente ineficiente e um uso absurdo de recursos”. A produção de apenas uma caloria de carne – bovina, suína ou aviária – requer 11–17 calorias de ração, conforme Smil, enquanto animais criados em pastos quase não precisam de grãos. Conseqüentemente, uma dieta com alto teor de carne alimentada a grãos poderá exigir duas a quatro vezes mais terra do que uma dieta vegetariana. Quando as pessoas comem menos carne, é pouco provável que os grãos não-utilizados cheguem a bocas famintas, mas significa efetivamente que haverá consideravelmente menor pressão sobre terras agrícolas para cultivar gigantescas monoculturas de milho e soja.24 A reversão dos problemas de saúde e ambientais causados por nosso apetite por carne moderna significará consumir menos produtos animais. Animais criados em pastos não se desenvolvem com a mesma velocidade que os animais confinados, e as pastagens sustentarão menos animais do que podem ser espremidos em confinamentos. Mas a demanda pela carne está crescendo, especialmente no mundo em desenvolvimento, onde o aumento da renda e desenvolvimento urbano estão mudando os hábitos alimentares. De acordo com David Brubaker, ex-vice-presidente executivo e presidente do Conselho da PennAg Industries, as pessoas nas nações em desenvolvimento não têm o luxo da escolha entre carnes alimentadas a pasto ou orgânicas. Em vez disso, galgam a escada protéica e seguem o mau exemplo de produzir e consumir produtos animais de baixa qualidade impostos pelos Estados Unidos e outros nações de fast-food. Coibir esse apetite significará encorajar as nações em desenvolvimento a preservarem os métodos tradicionais de criação de gado, que tanto sustentam as economias locais como enriquecem o meio ambiente.25 Os insumos ineficientes das fazendas industriais são espelhados nos produtos ineficientes em termos de dejetos. Quando dejetos do gado são utilizados para adubar lavouras, enriquece o solo e é a parte essencial de uma fazenda sadia – uma das razões principais de os agricultores em todo 91 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO o mundo criarem animais. Todavia, o dejeto produzido por milhares de animais em confinamento geralmente excede a área de terra disponível para manejá-lo. Assim, o esterco transforma-se de valioso recurso agrícola para resíduo tóxico. O esterco contém nitratos, que em altas concentrações podem causar metemoglobinemia (síndrome do bebê azul), câncer, florescência de algas e eutrofização de águas superficiais. As lagoas utilizadas para armazenar resíduos líquidos também são vulneráveis a desastres naturais, como aconteceu na Carolina do Norte, quando romperam durante o Furacão Floyd, em 1999, poluindo quilômetros de cursos d’água com excremento e causando uma mortandade maciça de peixes.26 Agricultores que começam a ter uma percepção diferente do papel dos animais freqüentemente usufruem uma série de benefícios inesperados. Nas Filipinas, Bobby Inocêncio mudou a forma de muitos filipinos produzirem e consumirem frango. Anteriormente um produtor industrial, Inocêncio criou frangos brancos para Pure Foods, uma das maiores empresas das Filipinas, seguindo o modelo padrão de espremer dezenas de milhares de aves em galpões apinhados de gaiolas. Mas em 1997 ele decidiu revitalizar empreendimentos avícolas locais que sustentam fazendas familiares. Começou a criar galinhas caipiras e a ensinar a outros criadores como fazer o mesmo. Suas aves circulam livremente em áreas arborizadas em sua propriedade, cercadas com redes de pesca recicladas. E sua fazenda é lucrativa – em parte, porque seus custos por ave são sensivelmente menores: nenhum antibiótico, promotores de crescimento, rações caras ou imensos 92 galpões. Também achou um nicho no mercado filipino ao oferecer aos consumidores o gosto de antes. Suas galinhas são parte nativas e parte Sasso (uma raça francesa), mais adaptadas ao clima das Filipinas, contrariamente às brancas, que se ressentem do calor. As galinhas de Inocêncio não são apenas criadas sem agressividade, mas são nutritivas e de bom sabor. Têm apenas 5% de gordura, em comparação a 35% das brancas, e não contêm antibióticos.27 A criação de espaço e mercado para esses tipos de granjas requer, às vezes, mais do que ações dos produtores. Na Polônia, onde quase todas as granjas criam alguns porcos alimentados a capim ou feno, grandes corporações de carne já começaram a instalar-se. Animex, a subsidiária polonesa da Smithfield, o maior produtor mundial de carne suína, tem planos de transformar parte das terras produtivas mais ricas do país em áreas de confinamento animal (ACAs), como as que ponteiam as paisagens dos estados de Carolina do Norte e Iowa, nos Estados Unidos. Todavia, ativistas do Animal Welfare Institute, dos Estados Unidos, uniram-se a Andrzej Lepper, diretor do Sindicado dos Fazendeiros da Polônia, em oposição à tentativa da Smithfield de assumir a indústria suína polonesa. Ao demonstrar aos produtores poloneses como as ACAS destruíram muitas fazendas pequenas de gado nos Estados Unidos, esperam convencê-los, e ao governo polonês, a resistir à agricultura corporativa.28 Essas coalizões estão motivando algumas corporações a mudarem seus conceitos sobre como a carne é produzida. Em 2002, cedendo à pressão de grupos de direitos animais e saúde pública, a McDonald’s Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO anunciou que não mais compraria ovos de frangos confinados e forçados à postura de ovos adicionais por inanição – práticas já proibidas na Europa, mas ainda permitidas nos Estados Unidos. Em 2004, a McDonald’s exigirá que seus fornecedores não utilizem antibióticos para promover o crescimento e dará preferência a fornecedores indiretos que não os utilizem.29 Uma vez que a McDonald’s é um dos maiores compradores de frango dos Estados Unidos, a decisão da empresa de mudar seus padrões terá um efeito dominó em toda a indústria de carne. Wendy’s, Burger King e Kentucky Fried Chicken contrataram recentemente especialistas em bem-estar animal para pesquisarem e desenvolverem novos padrões, a fim de assegurar melhor bem-estar animal. O Banco Mundial também mudou seus critérios de financiamento de projetos pecuários de porte nas nações em desenvolvimento. Em 2001, o Banco declarou que à medida que o setor cresce “há um perigo significativo de exclusão dos mais pobres, erosão do meio ambiente e ameaça à segurança alimentar global”. Prometeu adotar uma “abordagem focada nas pessoas” para projetos de desenvolvimento pecuário que reduzam a pobreza, protejam a sustentabilidade ambiental, assegurem segurança alimentar e promovam o bem-estar animal.30 Alimentos sem Poluição Há apenas poucos anos, beber água na Lituânia era um risco de saúde pública. Em algumas regiões as concentrações de nitrato, um subproduto de fertilizantes, venenoso em altas doses, estavam muito acima dos limites de segurança – seis vezes o nível aceitável. Desde os anos 50, o Ministério de Agricultura e o Ministério de Proteção Ambiental da Lituânia vêm esforçando-se para reduzir as taxas de aplicações de fertilizantes e pesticidas na região norte de Karst, epicentro agrícola do país, onde a água subterrânea tinha tornado-se altamente contaminada. E em 1993 começaram a encorajar os agricultores a abrirem mão de produtos químicos.31 Ofereceram aulas de produção orgânica, prestaram apoio técnico no campo e remuneraram os agricultores nos primeiros anos de conversão. O programa cresceu de 9 fazendas com certificação orgânica em 1993 para 106 em 1998, e depois para 290 em 2001, cobrindo 6.469 hectares, juntamente com 8 empresas de processamento orgânico certificadas e 11 outras empresas com certificação orgânica. Esse setor ainda representa uma pequena fração da área e mercado totais do país. Não obstante, as taxas de contaminação da água subterrânea nas comunidades vizinhas às fazendas convertidas caíram substancialmente, e a população local desfruta uma nova fonte de alimentação, livre de produtos químicos.32 Outras regiões em todo o mundo também utilizam a agricultura orgânica para evitar a poluição da água subterrânea. Desde 1992, autoridades municipais em Munique e Leipzig vêm oferecendo incentivos financeiros a agricultores que adotem métodos orgânicos, tendo constatado a queda dos níveis de nitrato na água subterrânea não-tratada de mais de 40 miligramas por litro, nos anos 80, para menos de 26 miligramas em 1996. As concessionárias nessas cidades alemãs não apenas remuneram e prestam consultoria: a empresa de água de Munique assessora 93 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO a comercialização de produtos orgânicos cultivados em seu distrito e só serve produtos orgânicos locais em sua cantina. (As autoridades calculam que o total gasto até hoje é apenas um sétimo do que teriam despendido em nova tecnologia de purificação e processamento da água.)33 Como esses órgãos governamentais constataram, embora os produtos orgânicos sejam mais caros nos mercados – resultado, dizem os analistas, de distribuição e comercialização limitadas –, o cultivo orgânico pode efetivamente ser mais barato que várias outras formas. Pesquisadores da Universidade de Essex verificaram que o custo de remover pesticidas da água potável na Inglaterra é equivalente a um quarto do que os agricultores pagam pelos produtos químicos. Também calcularam que a agricultura orgânica custa à sociedade um terço, em termos de poluição por pesticidas, erosão e outras conseqüências, do que a agricultura nãoorgânica. Um estudo nas Filipinas comprovou que os custos à saúde dos agricultores devido à aplicação de pesticidas – dias de afastamento por doença, consultas médicas e medicação – excederam o valor das lavouras salvas de pragas, sem falar no custo dos próprios pesticidas.34 Uma vez que o escoamento de agrotóxicos perturba ou simplesmente mata os organismos benéficos que vivem no solo, córregos, lagos e cursos d’água, não é de surpreender que estudos em todo o mundo tenham comprovado que as fazendas orgânicas abrigam um número e uma diversidade maiores de aves, insetos, plantas silvestres, minhocas e outras espécies do que as fazendas não-orgânicas vizinhas. Em outras palavras, a agricultura orgânica não 94 é apenas uma reação às fazendas industriais. É uma forma mais sadia da humanidade produzir alimentos. À medida que for aumentando o custo da agricultura intensiva em produtos químicos, uma abordagem mais orgânica à agricultura poderá ser a única opção.35 O interesse público em alimentos orgânicos já elevou as vendas globais a cerca de US$ 23 bilhões em 2002, um aumento superior a 10% em comparação ao ano anterior, conforme a Organic Monitor, uma empresa de consultoria que acompanha a indústria. Agricultores, da Austrália à Argentina, cultivam lavouras orgânicas em quase 23 milhões de hectares, e muitos outros cultivam sem agrotóxicos, por escolha ou necessidade, mas não são certificados como orgânicos. A América do Norte e Europa ainda são responsáveis pela maior parte das vendas, embora os mercados estejam crescendo rapidamente em todas as regiões. (Vide Figuras 4-2 e 4-3.)36 Alguns dos maiores obstáculos à disseminação contínua da agricultura orgânica tendem a ser conceituais. Muitos produtores, pesquisadores agrícolas e pessoas que fazem as políticas agrícolas simplesmente acreditam que cultivar com pouco, ou nenhum, produto químico não seja viável em larga escala. É verdade que os agricultores que realizam a conversão para a produção orgânica freqüentemente enfrentam queda de produção nos primeiros anos, enquanto a qualidade e vida do solo e populações de insetos recuperam-se de anos de assalto com produtos químicos. Pode levar várias safras para refinar a nova abordagem. E, devido à ênfase na diversidade de culturas como meio de reduzir os problemas de pragas, as fazendas orgânicas não cultivarão Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO a mesma lavoura a cada ano, dificultando a competição com outras fazendas na produção total de uma única cultura. Mas es- tudos demonstraram que a agricultura orgânica pode ser igualmente produtiva e, geralmente, mais lucrativa.37 Canadá (US$ 850 milhões) Japão (US$ 350 milhões) Resto do Mundo (US$ 725 milhões) Estados Unidos (US$ 11 bilhões) Alemanha (US$ 2,8 bilhões) Reino Unido (US$ 1,6 bilhão) Outros Europeus (US$ 3,2 bi) Fonte: IFOAM Itália (US$ 1,2 bilhão) França (US$ 1,2 bilhão) Figura 4-2. Vendas Globais de Alimentos Orgânicos, Cerca de 2002 Milhões de hectares 12 Fonte: IFOAM 10 8 6 4 2 lia Un ido Re s ino Un ido Ur ugu ai Al em anh a Es pan ha Ca nad á Fra nça Ch ina Es ta do s Itá tin gen Ar Au str áli a a 0 Figura 4-3. Principais Plantios Nacionais em Área Orgânica Certificada, Cerca de 2002 95 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO Uma pesquisa recente, comparando produções orgânicas e não-orgânicas em estações de pesquisa agrícola nos Estados Unidos, constatou que produções orgânicas de milho representaram 94% da produção convencional; trigo orgânico, 97% e soja, 94%; tomates orgânicos não mostraram diferença alguma.38 Um estudo de sete anos no Distrito Maikaal, na Índia central, envolvendo 1.000 agricultores que cultivaram 3.200 hectares, comprovou que a produção média de algodão, trigo, chili e soja foi igual ou até 20% superior nas fazendas orgânicas do que nas convencionais vizinhas. Produtores e cientistas agrícolas atribuíram as produção maiores nessa região seca à ênfase em lavouras de cobertura, compostagem, esterco e outras práticas que aumentaram a matéria orgânica (que ajuda a reter água) no solo.39 Um estudo em Quênia constatou que enquanto os agricultores orgânicos em “áreas de alto potencial” (aquelas com índices pluviométricos acima da média e alta qualidade do solo) produziam menos milho do que os agricultores convencionais, os agricultores orgânicos em áreas de recursos mais fracos consistentemente superavam a produção convencional. Em ambas as regiões, os agricultores orgânicos auferiam maiores lucros líquidos, retorno de capital e retorno de mão-de-obra.40 Um relatório da FAO em 2002 observou que “sistemas orgânicos podem duplicar ou triplicar a produtividade de sistemas tradicionais” nos países em desenvolvimento, mas acrescentou que comparações dão um “quadro limitado, restrito e freqüentemente errôneo”, uma vez que “os múltiplos benefícios ambientais da 96 agricultura orgânica, difíceis de quantificar em termos monetários, são ingredientes essenciais em qualquer comparação”. Nick Parrott, da Universidade de Cardiff, que recentemente avaliou o potencial da agricultura orgânica no mundo em desenvolvimento, encontrou inúmeros exemplos na Ásia, África e América Latina de como a adoção da agricultura orgânica aumentou a produtividade em comparação a “práticas tradicionais não-melhoradas”. E observa: “Muitos casos mostram que a agricultura orgânica aumenta a segurança alimentar e receita agrícola. Isso ocorre com sistemas certificados dirigidos basicamente a mercados do norte e sistemas informais dirigidos a mercados locais”. Parrot descreve vários mecanismos em operação, inclusive o uso de esterco e compostagem para ajudar a conservar água, protegendo os agricultores contra a seca, e a eliminação de insumos artificiais dispendiosos, que pode reduzir o endividamento.41 Talvez uma pergunta mais importante do que se a agricultura orgânica é viável seja por quanto tempo mais os agricultores poderão continuar a depender de agrotóxicos em altas doses. As pragas têm demonstrado uma capacidade impressionante de se desviar, resistir e evoluir em torno de qualquer coisa que lancemos em sua direção, e hoje os agricultores efetivamente perdem uma parcela maior de suas lavouras devido a pragas do que perdiam 50 anos atrás. Até mesmo lavouras transgênicas, alardeadas como ajuda à eliminação do uso de pesticidas, são vulneráveis à rotina da resistência. Pesquisadores da Universidade Estadual de Iowa descobriram pelo menos quatro espécies de ervas daninhas comuns que desenvolveram Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO resistência ao herbicida Roundup, produto utilizado com plantas tolerantes a herbicidas que têm sido cultivadas no Centro-Oeste há menos de uma década. Estas necessitarão de maior aplicação de pesticida. Nesse esforço inútil, os agricultores gastaram bilhões de dólares atacando pragas cada vez mais resistentes com pesticidas cada vez mais potentes, e a maioria desses pesticidas acabou em nossa água, ar, solo e corpos.42 Embora os benefícios públicos da agricultura orgânica – redução da poluição hídrica ou aumento da vida silvestre – estejam alimentando parte do crescimento das vendas, o maior interesse veio de consumidores com maior interesse pessoal. Pais, por exemplo, podem preferir alimentar seus bebês com alimentos infantis orgânicos – sabendo que pequenos corpos em desenvolvimento são mais sensíveis a pesticidas endócrinoperturbadores, resíduos de antibióticos e hormônios de crescimento e outros ingredientes sintéticos utilizados rotineiramente na produção de alimentos. Ou podem decidir por mudança para toda a família. A agricultura orgânica é o único sistema de produção alimentar no qual os consumidores têm uma idéia clara das práticas permitidas e proibidas, e os produtores não só têm que demonstrar que não estão aplicando poluentes conhecidos no solo, como também precisam seguir uma série de práticas que efetivamente restaurem a paisagem, desde rotação da lavoura, passando por cultivo de cobertura, até a compostagem. Esse nível de transparência não existe na maioria da produção de alimentos, onde é permitido aos agricultores utilizar um coquetel de produtos químicos, ministrar aos animais quantidades indiscriminadas de antibióticos e hormônios e até mesmo aplicar lodo de esgoto em seus campos. Pessoas que consomem frutas e legumes orgânicos expõem-se a um terço dos resíduos tóxicos que se exporiam com produtos convencionais. Há evidências abundantes de que os agricultores expostos regularmente a pesticidas correm um risco maior de contrair certos cânceres, distúrbios do sistema imunológico, doença mental e uma variedade de outras condições. Testes em animais demonstraram que altas doses de produtos químicos comuns são altamente tóxicas. Porém, a maioria dos técnicos concorda que é mais difícil identificar os efeitos à saúde da exposição crônica a níveis menores de pesticidas em alimentos ou água subterrânea. Reguladores governamentais em geral consideram que o nível de segurança para seres humanos é de 100 vezes, ou até 1.000 vezes, menos do que os níveis que não causam efeito adverso em estudos animais. Porém, a exposição dietética humana pode exceder essas definições conservadoras de risco aceitável. “A possibilidade de atingirmos um nível inseguro aumenta devido aos múltiplos resíduos na dieta”, além da exposição à água potável, ao ar e outras fontes, diz Edward Groth, cientista sênior da Consumers Union. Groth observa que 40 diferentes pesticidas com organofosfato são aprovados para uso em lavouras só nos Estados Unidos e, devido a todos os 97 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO organofosfatos compartilharem o mesmo mecanismo de efeitos tóxicos, “é razoável supor que os impactos sejam aditivos ou sinérgicos”. Pesquisadores constataram recentemente que homens com níveis maiores de três pesticidas comuns em sua urina tiveram contagens de esperma dramaticamente baixas e maior incidência de esperma irregular. E toxicólogos estão hoje constatando que uma mistura de fertilizantes químicos (nitratos) e pesticidas, os principais insumos da agricultura industrial que freqüentemente acabam juntos na água subterrânea, pode efetivamente agravar os efeitos adversos à saúde da exposição a cada um deles. Groth acrescenta que a exposição de crianças situa-se provavelmente na faixa de perigo, devido a seus pequenos corpos e maior sensibilidade. “Mas o tipo de dano que estamos falando” – dano ao sistema nervoso, que aparece mais tarde, por exemplo, como uma deficiência de aprendizado – “é sutil e difícil de ser detectado sem estudos cuidadosos em grandes populações”, diz ele.43 A exposição é claramente agravada pelo consumo de alimentos cultivados com pesticidas. Pesquisadores, ao analisarem milhares de amostras de alimentos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, verificaram que pessoas que consomem frutas e legumes orgânicos expõem-se a um terço dos resíduos tóxicos a que se exporiam com produtos convencionais, que provavelmente também poderiam conter seis vezes mais resíduos múltiplos de pesticidas. E um estudo recente comprovou que crianças que se alimentaram predominantemente com produtos e sucos orgânicos tinham apenas um sexto dos subprodutos de pesticidas em 98 sua urina que crianças que consumiram alimentos convencionais. 44 A maioria dos estudos sobre os impactos à saúde e ecológicos do uso de pesticidas foi realizada no mundo industrializado. Mas algumas dessas preocupações são mais agudas no mundo em desenvolvimento, não só porque os agricultores lá continuam a utilizar alguns dos pesticidas mais tóxicos – aqueles proibidos em nações mais ricas – mas também porque esses mesmos agricultores estão sentindo que o uso mais intenso de produtos químicos está se tornando mais caro e inadequado para suas condições. Na Índia, de acordo com o Ministério da Agricultura, 32 dos 180 pesticidas registrados para uso foram proibidos em outros países devido a questões de saúde. Entre 1998 e 2001, a Índia produziu 40.000 toneladas desses compostos anualmente. Monocrotofós, um inseticida altamente nocivo ao sistema neurológico, cujo registro foi cancelado nos Estados Unidos em 1988, é o pesticida mais vendido na Índia.45 Embora a maioria das pessoas escolha os alimentos orgânicos por aquilo que não contêm, comprovou-se recentemente que esses produtos possuem concentrações substancialmente maiores de antioxidantes e outros compostos benéficos à saúde do que os alimentos produzidos com pesticidas. Um estudo da Universidade da Califórnia confirmou uma antiga suspeita entre alguns nutricionistas e cientistas agrícolas de que o uso intensivo de pesticidas e fertilizantes químicos pode afetar a capacidade das lavouras de sintetizarem certos fitoquímicos – compostos que possuem propriedades antioxidantes e são associados à redução de riscos de Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO câncer, derrame, doença cardíaca e outras enfermidades. Alguns observadores apontaram a ironia de os produtos convencionais trazerem não só traços de produtos químicos reconhecidamente, ou suspeitados de serem, cancerígenos como menos compostos que ajudam nosso organismo a precaver-se do câncer.46 Coma Aqui Um dos conceitos mais em voga na indústria alimentícia é o de “rastreamento”. A expressão descreve a capacidade de um restaurante, mercado ou comprador saber a origem de um determinado alimento, quem o produziu, que produtos químicos foram aplicados nele e inúmeras outras características que vão além das preocupações tradicionais de sabor, preço e embalagem. Obter essas informações depende, em grande parte, do encurtamento da distância entre agricultor e consumidor. A motivação para consumir alimentos locais é tão variada quanto os próprios alimentos. Donas de casa reagindo a notícias alarmantes e almejando alimentos frescos. Cidadãos rebelando-se contra uma cadeia alimentar distante. Ambientalistas tentando conter o alastramento urbano e a perda de espaços verdes. Nutricionistas pressionando por menos alimentos processados. Agricultores tentando resgatar seus meios de vida. Políticos, em países em desenvolvimento, esperando que alimentos cultivados internamente possam ajudá-los a reter divisas preciosas. Chefs, donos de restaurantes e culinaristas despertando para os prazeres da cozinha regional e de pratos artesanais. A preservação de sabores distintos e o “direito de degustar” são apenas parte da missão de um novo movimento internacional chamado Slow Food (Alimento Lento). Esse grupo, de 17 anos, com 75.000 membros em 80 países, vê as interações sociais entre consumidores e cozinheiros, açougueiros e fazendeiros, como também refeições compartilhadas com amigos e familiares, como inseparáveis do prazer de comer. Carlo Petrini, fundador e presidente, observa que o preço que as sociedades pagaram para ter acesso a qualquer tipo de alimento em qualquer época do ano é “o desenvolvimento deliberado de espécies com características apenas funcionais para a indústria alimentícia, e não para o prazer do alimento, e o conseqüente sacrifício de muitas variedades e raças no altar da produção em massa”.47 Nos Andes peruanos, a Associação para Conservação da Natureza e Desenvolvimento Sustentável (Andes) está não apenas tentando preservar os padrões tradicionais de cultivo como forma de melhorar a renda agrícola, como também revigorar um corredor comercial de alimentos leste-oeste, iniciado pelos incas há milhares de anos. Em Choquecancha, a cidade central ao longo desse corredor, as pessoas trocam alimentos planaltinos (batatas, porquinhos-da-guiné, lama, feijãode-lima, amaranto e tubérculos locais como ulloca, oca e mashua) por outros da planície (cacau, coca, manga, papaia e coco). Para os peruanos que se mudaram para áreas urbanas, onde a cozinha de fastfood e alimentos processados estão substituindo a alimentação local, esse mercado permite que compartilhem alimentos montanheses variados, usufruídos na re- 99 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO gião por milhares de anos. Nesse caso, as pessoas não estão apenas pagando pelo valor nutricional, segundo Alejandro Argumedo, da Andes, mas também “para preservar o manejo espiritual das culturas montanhesas, das culturas planaltinas e das variedades indígenas que proporcionam melhor nutrição”. A Andes planeja abrir um restaurante em Cuzco que se especializaria em alimentos regionais.48 O movimento para a preservação de fazendas, terras agrícolas e culinária está evoluindo numa ocasião em que os alimentos viajam mais e são controlados por um número extremamente pequeno de entidades globais. O valor do comércio internacional de alimentos triplicou a partir de 1960, tendo seu volume quadruplicado. Nos Estados Unidos, o item alimentar comum viaja 2.500–4.000 quilômetros, cerca de 25% mais longe do que em 1980. No Reino Unido, os alimentos viajam 50% mais longe do que há duas décadas. Uma refeição “tradicional” domingueira na GrãBretanha, feita com ingredientes importados, gera quase 650 vezes as emissões de carbono relacionadas aos transportes que a mesma refeição feita com ingredientes produzidos localmente. (Vide Figura 4-4.) Como resultado, as pessoas que consomem produtos locais podem ajudar a poupar grandes quantidades de energia, reduzir as emissões de gás de estufa, conservar o dinheiro em suas comunidades e ganhar uma certa paz de espírito, que vem de conhecer seus produtores.49 Morangos 8.772 km Fonte: Jones CALIFÓRNIA Brócolis 8.780 km Batatas 2.447 km GUATEMALA ITÁLIA Britânicos 48 km Mirtilo 18.835 km NOVA ZELÂNDIA Vagem 9.532 km TAILÂNDIA Quartos de Reses 21.462 km AUSTRÁLIA Cenouras 9.620 km ÁFRICA DO SUL Figura 4-4. Ingredientes Locais Versus Importados: Grã-Bretanha 100 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO Uma boa regra empírica é que quanto mais um alimento viaja, menor é o valor retido pelo produtor e a comunidade rural. O transporte, embalagem, processamento e intermediação do alimento engole parcelas cada vez maiores do preço final. Esse vazamento de dinheiro das comunidades – e a capacidade dos alimentos locais de ajudar a estancá-lo – pode ser particularmente relevante onde as pessoas ainda estejam engajadas na agricultura. Um estudo da New Economics Foundation, em Londres, constatou que cada £10 gastas em um estabelecimento local vale £25 para a comunidade, comparado com apenas £14 quando o mesmo valor é gasto num supermercado – ou seja, uma libra, dólar, peso ou rúpia gasto localmente gera quase o dobro de renda para a economia local.50 Esse multiplicador é parte da motivação por trás do movimento Navdanya (Nove Sementes), da Índia, fundado em 1987 pela Fundação de Pesquisa para a Ciência, Tecnologia e Ecologia, destinada a proteger variedades locais de trigo, arroz e outras culturas contra patentes, catalogando-as e declarando-as como propriedade comum. “Iniciamos o movimento como precaução contra a engenharia genética e monopólios de patentes agrícolas”, explicou o ativista e cientista indiano Vandana Shiva, que dirige Navdanya, “e também para incrementar as economias locais”. Navdanya começou implantando bancos de sementes locais, lojas de suprimentos agrícolas e instalações de armazenagem, encorajando uma mudança para agricultura orgânica, a fim de reduzir a dependência de produtos químicos importados. “Neste momento temos mais de 3.000 vilarejos onde os agricultores criaram basicamente o que chamamos de ‘Zonas de Liberdade’, ou seja, culturas livres de agrotóxicos, livres de insumos corporativos, livres de sementes híbridas, livres no futuro de patentes e lavouras transgênicas”. Trabalhando com organizações de produtores, grupos femininos e religiosos, Navdanya implantou mais de 20 bancos de sementes em sete estados. Organizadores do movimento calculam que atendem a mais de 10.000 produtores e resgataram mais de 1.500 variedades de arroz, centenas de variedades de painços, leguminosas, oleaginosas e legumes.51 Diversidades agrícolas locais podem suprir tudo que houver para comer em muitas das nações mais pobres, onde as pessoas não têm condições de adquirir alimentos importados. Em Zimbábue, agricultores urbanos encontraram um mercado para legumes indígenas nos moradores das cidades que almejam um elo gastronômico com a identidade cultural do seu país. As famílias dependem de aproximadamente 25 legumes indígenas, incluindo quiabo, cleome, pepino e cabaça, que proporcionam uma fonte de legumes folhosos, altamente nutritivos, de agosto a dezembro – época característica de escassez –, dando aos pobres tanto uma fonte de renda como de nutrição. O Instituto de Criação de Lavouras está ajudando os agricultores no cultivo de suas lavouras distribuindo sementes e desenvolvendo tecnologias de processamento e preservação. Os governos também podem encorajar economias agrícolas domésticas através de programas de aquisição que levem produtos locais a repartições públicas, hospitais e escolas.52 101 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO “Programas de lanches escolares, por exemplo, podem proporcionar um estímulo significativo para a expansão dos mercados de alimentos, se o produto for cultivado localmente”, escreveu recentemente o cientista agrícola, e Prêmio Nobel, Norman Borlaug, no New York Times, quando reivindicou maior auto-suficiência alimentar na África. Em 2000, vários distritos escolares no norte da Itália promulgaram novas leis, que exigem que as escolas regionais dêem preferência a produtos locais e orgânicos em suas compras. Há atualmente mais de 300 serviços escolares de refeições orgânicas na Itália e centenas de outros serviços de refeições locais. Autoridades e cidadãos pressionaram por essa mudança, em parte, para preservar a paisagem rural e meios de vida agrícola, e também constataram que refeições mais frescas, com menos ingredientes processados, eram mais econômicas, mais sadias e de melhor sabor.53 Maior auto-suficiência, por sua vez, significa que as nações, regiões e comunidades exercem maior controle sobre como o alimento é produzido. “No mercado alimentício atual, existem grandes desigualdades em relação ao poder de voto e, mais fundamentalmente, em relação a controle”, conforme a socióloga JoAnn Jaffe, da Universidade de Regina, no Canadá, uma situação devida, em parte, à forma como o sistema alimentício alastrou-se. Jaffe sugere uma estratégia retaliatória de “comer menos na cadeia mercadológica” através de compras de alimentos o mais localmente possível, a fim de retomar a soberania e criar um feedback direto entre agricultor e consumidor. (Comer menos na cadeia alimentícia será, freqüentemente, mais sadio porque a 102 compra mais direta de alimentos geralmente significa consumir mais frutas e legumes frescos e porque muitas das etapas adicionais entre agricultor e consumidor retiram nutrientes e fibras e adicionam gordura, açúcar, sal e outros recheios.) Em contraste com as decisões internas por trás de poucas portas corporativas, as centrais agrícolas de abastecimento, agricultura apoiada pela comunidade e comércio alimentício local, todos tendem a devolver as tomadas de decisão às comunidades locais.54 Comer não é escolha, e sim necessidade. Porém, temos efetivamente o direito – e a responsabilidade – de escolher como nosso alimento é produzido. Em muitas comunidades esse comércio local não mais existe. O açougueiro e padeiro da esquina, a leiteria e fábrica de conservas locais fecharam sob ondas de consolidação. À medida que restaurantes, cantinas escolares, supermercados e outros empreendimentos alimentícios começarem a comprar alimentos mais localmente – e à medida que os consumidores exigirem – a infra-estrutura esquecida poderá ressurgir gradativamente. Navdanya abriu recentemente um café local em Nova Délhi, semelhante ao café Andes, em Cuzco, ligando o campo à cidade ao promover tradições alimentares indianas e celebrações que girem em torno das colheitas sazonais. Em Hope’s Edge, Maya Jani, do Navdanya, explica: “Navdanya deseja Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO resgatar os alimentos e bebidas indígenas da extinção por meio do prazer – e rapidamente, antes que nosso paladar seja totalmente dominado pela Pepsi e Coca-Cola”. Durante os escaldantes meses do verão, o festival panna, do Navdanya, celebra bebidas refrescantes tradicionais, inclusive as fermentadas feitas com coco, manga, lechia, cevada e rododendro. “Nossos festivais são uma forma de ajudar as pessoas a renovarem as crenças em suas tradições”.55 A Ascensão da Democracia Alimentícia Democracia alimentícia é um termo que pode melhor descrever o número crescente de agricultores, consumidores, chefs e empresas alimentícias que resistem à tentação de comer cegamente, em vez de conscientemente. Entretanto, repensar nossa relação com o alimento não é simplesmente abandonar a carne vermelha ou a suposta conveniência de fazer compras numa rede de supermercados. Mudar nossa dieta é reaver algo em nossas vidas que foi perdido – nossa ligação com os alimentos e com as pessoas que o produzem. Seja agricultor, dono de restaurante, político, banqueiro, empresário, estudante buscando carreira ou pais preocupados, todos precisamos saber mais sobre o alimento que compramos e consumimos. E há quantidades infinitas de acessos para nos alimentarmos mais conscientemente e reforçarmos a democracia alimentícia. Comer não é escolha, e sim necessidade. Porém, temos efetivamente o direito – e a responsabilidade – de escolher como nosso alimento é produzido. Das compras numa central local de abastecimento ao preparo de refeições sem carne, e até a compra de café e cacau de comércio justo, grupos pequenos, mas crescentes, em todo o mundo estão votando com seus garfos e suas carteiras por um sistema alimentício mais sadio. O consumidor típico não irá, necessariamente, tomar essas medidas sozinho. E embora poucas pessoas tolerassem seus governos ditarem o que deviam comer, governos detêm poder considerável para mudar a forma de cultivarmos alimentos – por todos os meios, desde regulamentos sobre quais produtos químicos os agricultores podem utilizar até o tipo de pesquisa promovida em universidades agrícolas. (Vide Quadro 4-3.) Como observado anteriormente, governos compram volumes consideráveis de alimentos para lanches escolares, repartições públicas e exércitos – o governo dos Estados Unidos serve mais de 26 milhões de refeições diariamente a crianças em escolas, por exemplo – e podem utilizar essas compras para incentivar certos mercados agrícolas. (Vide também Capítulo 6.) A Agência de Proteção Ambiental Sueca juntou-se recentemente à Administração de Alimentos e à Agência de Consumo suecas numa campanha para ligar os hábitos alimentares não apenas à nutrição, mas também ao meio ambiente. Essa iniciativa colaborativa resultou num livro de culinária chamado Mat Med Känsla för Miljö – Alimentos com Consciência Ambiental –, argumentando que os consumidores podem reduzir substancialmente o uso de energia na cadeia alimentar por meio de escolhas alimentícias corretas.56 103 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO QUADRO 4-3. POLÍTICAS PRIORITÁRIAS PARA REPENSARMOS NOSSA RELAÇÃO COM OS ALIMENTOS • Os governos devem realocar os recursos aplicados anualmente em subsídios agrícolas – mais de US$ 300 bilhões – para apoio à agricultura ecológica. • Os governos devem considerar taxar pesticidas, fertilizantes sintéticos, fazendas industriais e outros insumos poluentes ou práticas agrícolas. • Os governos devem colaborar com organizações agrícolas para o aumento da parcela de suas terras com produção orgânica para 10%, durante os próximos 10 anos, através da melhoria dos programas de certificação orgânica, incrementando capacitação orgânica nas universidades agrícolas, centros de pesquisa e agências de extensão e concedendo subsídios ou créditos fiscais a agricultores nos primeiros anos da conversão. • Os governos devem reformar acordos internacionais de comércio, por meio da proibição de garantia de preços internos e tarifas em mercadorias importadas, a fim de eliminar subsídios à exportação, “dumping” de alimentos e outras práticas injustas de comércio, que restringem a capacidade das nações de protegerem e construírem economias agrícolas domésticas. • Governos, em âmbito nacional e local, devem instituir licitações para escolas, hospitais, repartições públicas e outras instituições, para apoiar lavouras cultivadas ecologicamente por agricultores locais. ________________________________________ FONTE: vide nota final 56. 104 No âmbito dos alimentos, governos e corporações freqüentemente são lentos em efetuar mudanças sem que haja algum clamor público, persistente e generalizado. Historicamente, as maiores vitórias relacionadas aos alimentos, inclusive a rotulagem obrigatória mostrando conteúdo e valor nutricional, originaram-se em iniciativas de consumidores, apesar da relutância de governos e da indústria alimentícia. Em retrospecto, as mudanças sempre pareceram lógicas e bem atrasadas. A energia necessária de base, por sua vez, freqüentemente origina-se de uma mudança de conceitos. Mudar nosso cardápio coletivo, escreve Stuart Laidlaw em Secret Ingredients: The Brave New World of Industrial Food, significa produzir alimentos que “não matem peixes ou façam crianças correrem para dentro durante o recreio, para fugir de pesticidas... Devemos adotar esse comportamento... não porque o alimento em nosso prato seja melhor para nós, e sim porque será melhor para o planeta”. O potencial para recriar o cardápio coletivo é imenso – como também a necessidade. Mas o esforço sempre dependerá de indivíduos motivados, que busquem um meio de vida mais seguro, uma comunidade mais forte, um meio ambiente mais sadio ou, simplesmente, uma refeição deliciosa. 57 Estado do Mundo 2004 CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Água Engarrafada A próxima vez que você for ao supermercado local, poderá surpreender-se com a variedade de escolha de água engarrafada, desde marcas nobres como Perrier e Evian até as populares, engarrafadas pelo próprio supermercado. Mundialmente, o consumo de água engarrafada está crescendo a uma taxa anual de 12%, embora em mercados mais novos, como a Índia, esteja aumentando em até 50% anualmente. Consumidores em todo o mundo gastam hoje cerca de US$ 35 bilhões anuais em água engarrafada.1 Embora o conteúdo possa parecer igual por toda parte, água engarrafada é essencialmente apresentada de três formas diferentes: água mineral natural, água de fonte e água purificada. De acordo com a definição da União Européia, “água mineral natural é considerada como sendo bacteriologicamente pura, tendo por origem um lençol de água ou um depósito subterrâneo e proveniente de uma nascente, explorada através de um ou mais pontos naturais ou perfurados”. Na Europa, a reputação da água mineral como benéfica à saúde remonta ao Império Romano. Entretanto, os benefícios reais desses minerais são, atualmente, tidos como mínimos. Embora as nascentes dessas águas estejam protegidas da poluição, pode ocorrer incidência de bactérias naturais, uma vez que a água não é desinfetada. Ainda que os engarrafadores precavenham-se, a contaminação é sempre possível, como ocorreu, em 1990, com o recall mundial da Perrier, devido aos altos níveis de benzeno.2 Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (agência norte-americana para o controle de drogas e alimentos) define água mineral natural como a que contém 250 ppm (partes por milhão) de sólidos totais dissolvidos e é originária de uma nascente subterrânea protegida. A água de fonte, por outro lado, não precisa ter uma composição invariável de minerais e é, usualmente, mais barata. A água purificada, também chamada de água potável, é retirada de lagos, rios ou fontes subterrâneas e é tratada – tornando-se quase idêntica à água da torneira. 3 A popularidade disparada da água engarrafada decorre de várias razões. Na Ásia e Pacífico, o crescimento populacional e problemas com a qualidade e abastecimento da água são as mais importantes. (De modo geral, 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável, e 12 milhões de pessoas 105 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: ÁGUA ENGARRAFADA morrem anualmente por doenças veiculadas por água insalubre). Embalagens de grande volume tornaram a água engarrafada mais acessível na Índia e nos Estados Unidos e em muitos outros países no início dos anos 90. E, motivados pela propaganda, muitos consumidores compram água engarrafada como uma alternativa a refrigerantes e álcool, porque é considerada mais saudável do que a água da torneira, e particularmente na França, porque tem melhor sabor.4 Porém, muitos estão preocupados com os custos ambientais da produção da água engarrafada. Uma preocupação maior é que a demanda crescente por água possa estressar os recursos aqüíferos existentes. Nos últimos anos, muitas companhias internacionais de bebidas vêm explorando os abundantes mananciais do Canadá como fonte de água engarrafada. Numa medida de prevenção, muitas províncias canadenses proibiram, ou estão considerando proibir, a exportação de água a granel.5 O Container Recycling Institute relata que as vendas de resina virgem (tereftalato de polietileno – PET), o plástico mais usado nas garrafas de água, dispararam para 738 milhões de quilos em 1999, mais do que o dobro do volume de 1990. A produção de 1 quilo de plástico PET requer 17,5 kg de água e resulta em emissões atmosféricas de 40 gramas de hidrocarbonos, 25 gramas de óxidos sulfúricos, 18 gramas de monóxido de carbono, 20 gramas de óxido de nitrogênio e 2,3 kg de dióxido de carbono. Só em termos de uso de água, a quantidade gasta na fabricação das garrafas é muitas vezes maior do que a quantidade a ser engarrafada.6 E no que concerne à distribuição, a grande diferença entre a água engarrafada e a água da torneira provém da queima de 106 combustíveis fósseis no seu transporte por caminhão, trem ou navio, em vez de adutora. O Fundo Mundial para a Natureza, embora observando que 75% da água engarrafada é produzida para consumo local, argumenta que as companhias internacionais deveriam investir em engarrafadoras para o mercado local e transportar a água engarrafada em embalagens de grande volume. Mesmo assim, isso seria mais ineficiente do que os sistemas públicos de água potável.7 Um dos maiores problemas enfrentados pela água engarrafada é o refugo plástico. Conforme o Container Recycling Institute, cerca de 14 bilhões de garrafas de água foram vendidos nos Estados Unidos em 2002, 90% das quais foram jogadas no lixo – mesmo que a maioria delas tenha sido feita com plástico PET reciclável. Em junho de 2003, o Conselho de Controle da Poluição, da Bengala Ocidental, na Índia, determinou que os fabricantes de garrafas fossem responsabilizados pela coleta e reciclagem de garrafas usadas. Regulamentações eficazes promovendo a reciclagem de garrafa existem também na Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Holanda, Noruega, Suécia, Suíça e 11 estados dos Estados Unidos.8 Os americanos dizem que a razão principal de eles beberem água engarrafada é por ser mais segura do que a água da torneira. Mas um estudo quadrienal do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais testou mil garrafas vendidas nos Estados Unidos e detectou que um quinto continha produtos químicos tais como tolueno, xileno ou estireno – tidos como, ou com possibilidade de serem, cancerígenos – e neurotoxinas. Na Índia, testes realizados Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: ÁGUA ENGARRAFADA em fevereiro de 2003 pelo Centro para Ciência e Meio Ambiente encontraram níveis altos de pesticidas em amostras de água, resultando na retirada de certificados oficiais de qualidade de uma série de marcas e em advertências dirigidas à Coca-Cola e PepsiCo.9 As Nações Unidas declararam 2003 como o Ano Internacional da Água Doce, e estão trabalhando no sentido de melhorar a qualidade da água doce em todo o mundo.Um dos objetivos da Meta de Desenvolvimento do Milênio, das Nações Unidas, para assegurar a sustentabilidade ambiental, é reduzir à metade, até o ano de 2015, o número de pessoas sem acesso a água potável. Todavia, considerando os impactos ambientais do uso e descarte da água engarrafada, vale a pena indagar se não existiria uma melhor forma de distribuir esse recurso vital. Para os felizardos que têm opção, a água da torneira (filtrada, se necessário) é a escolha mais barata e menos poluidora.10 — Paul McRandle, The Green Guide 107 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Frangos A maior parte das galinhas tem dois destinos: são criadas para pôr ovos (poedeiras) ou unicamente pela carne (frango de corte). Começam sua jornada ao longo da cadeia alimentícia industrial nas granjas de propriedade da Tyson Foods, Perdue Chicken, ou qualquer outra empresa de agronegócio. Lá, os ovos são conservados aquecidos por incubadoras cuidadosamente controladas.Os criadores providenciam que todos os pintos saiam do ovo quase ao mesmo tempo, pela inseminação artificial das matrizes. Após a saída do ovo, os pintos destinados a poedeiras entram em contato com seres humanos pela primeira e, muitas vezes, única vez. Com um dia de nascidos, os operários selecionam as fêmeas, jogando os machos em grandes recipientes. Esses infelizes pintos são moídos (às vezes, ainda vivos), para uso como fertilizantes ou ração animal.1 As fêmeas são enfileiradas numa linha de montagem e debicadas, dolorosamente, com lâminas quentes. Após 18–20 semanas, são enviadas para criadores contratados (juntamente com a ração, antibióticos e outros insumos). As poedeiras são abrigadas em galpões de 18 m x 110 m (como 108 são os frangos de corte) – aproximadamente a metade do tamanho de um campo de futebol americano. Cada galpão pode acomodar mais de 90.000 frangos; uma vez que a criação de frangos tornou-se um negócio altamente tecnológico: um fazendeiro pode, normalmente, administrar um galpão inteiro com pouca mão-de-obra. Embora muitos desses fazendeiros sejam proprietários de terra e arquem com a maior parte do risco financeiro, estes não são donos dos pintos que cuidam. Do início ao fim, os pintos são propriedade da empresa. O galpão custa cerca de US$ 250.000, mais outros US$ 200.000 pelos equipamentos para seu funcionamento; juntando os frangos, ração e outras despesas gerais, os custos iniciais nos países industriais chegam a US$ 1 milhão no mínimo.2 Uma vez na fazenda, cada poedeira é colocada numa bateria de gaiolas de arame com outras nove aves. Essas poedeiras produzirão, cada uma, cerca de 300 ovos por ano – mais de três vezes o que as mesmas galinhas punham um século atrás, graças à manipulação genética e drogas de crescimento misturadas ao alimento. As galinhas também são induzidas a pôr mais ovos pela iluminação artificial contínua. Suas gaiolas, empilhadas umas sobre as outras e cobertas de fezes, permitem pouco Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS movimento. Elas assustam-se facilmente, porque raramente têm qualquer contato humano. Geralmente, as únicas aves que os produtores entram em contato são aquelas que, de algum modo, escaparam da gaiola ou morreram de estresse.3 Não é de estranhar que galinhas criadas nessas condições sejam mais vulneráveis e morram mais cedo do que as galinhas criadas da maneira tradicional. De fato, em torno de um ano, mais ou menos, a maior parte das galinhas está tão desgastada que sua produção de ovos diminui. Os produtores costumavam enviá-las para serem processadas em alimento para cães e gatos, nuggets e mesmo alimento infantil. Mas em alguns lugares elas são abatidas na fazenda ou enviadas para mercados de animais vivos, onde a carne de aves no fim de sua vida poedeira ainda é valorizada pelo seu sabor.4 Os frangos de corte têm uma vida ainda mais curta. Embora não sejam mantidos em gaiolas individuais, são apinhados em compartimentos com pouco espaço – cada um tem cerca de 22 cm x 22 cm. Tais aves não são expostas à luz natural ou ar fresco e têm dias artificialmente longos, porque os compartimentos, sem janelas, são iluminados até 23 horas por dia.5 Esses frangos comem, diariamente, cerca de 0,86 kg de ração especialmente formulada, podendo conter antibióticos e estimuladores do crescimento. Embora os frangos sejam eficientes na conversão de grãos em proteína, as condições em que são criados os tornam vulneráveis a doenças respiratórias. Assim, os produtores vêm, há muito, adicionando antibióticos semelhantes aos usados para tratar doenças humanas. (Em 2002, um estudo averiguou que 37% dos frangos destinados ao corte, encontrados nos principais fornecedores, estavam contaminados com patógenos resistentes a antibiótico.) Freqüentemente, esses frangos ganham peso com tanta rapidez que não podem manter-se em pé. Os frangos criados em fazendas industriais muitas vezes manquejam, e muitos morrem de ataque cardíaco, porque seus corações não são fortes o bastante para suportar seus corpos desproporcionais. 6 Quando estão pesando cerca de 2 kg, os frangos de corte são arrebanhados por operários (“pegadores”), estufados em gaiolas e levados para fábricas de processamento. Operários separam, cortam e pesam os frangos para distribuição em mercearias e restaurantes. Envoltas em plásticos, as sobrecoxas, asas e coxas pouco assemelham-se ao animal vivo. Algumas embalagens trazem um aviso aos consumidores para cozinharem bem o frango, a fim de evitar que a carne, muitas vezes contaminada com fezes, transmita doenças, tais como Escherichia coli e Salmonella, comuns em ambientes de criação industrial.7 Porém, nem todos os fazendeiros estão criando galinhas industrialmente. Conforme a Organização para Alimentos e Agricultura das Nações Unidas (FAO), galinhas de quintal e caipiras chegam a representar 70% da produção de ovos e carne em alguns dos países mais pobres. Essas galinhas não somente fornecem alimento, como são, também, fonte de segurança econômica. Como declara Robyn Alders, da FAO, os fazendeiros podem usá-las como um tipo de “cartão de crédito, disponível a cada momento, para venda ou troca em sociedades em que o dinheiro não é abundante”. Elas são também uma fonte 109 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS importante de fertilizante e controle de pragas. Projetos em Bangladesh e África do Sul estão melhorando a saúde das aves, propiciando renda para membros de comunidades pobres e dando às espécies de galinhas nativas – já adaptadas ao calor e às condições de baixos insumos – uma chance de sobrevivência.8 Alguns produtores de galinha e ovos em países ricos estão atendendo à demanda de consumidores por galinhas orgânicas, criadas sem agressão. Nas West Wind Farms, a única fazenda no estado do Tennessee que produz carnes e aves 110 orgânicas certificadas, Ralph e Kimberlie Cole criam 600 galinhas por ano em pastos e grãos orgânicos. As galinhas ciscam em pequenos gramados perto de galinheiros móveis, que podem ser movidos de um campo para o outro. Os Coles referem-se às galinhas como parte de “sua equipe de melhoramento do solo”, porque estas fertilizam a terra e controlam as pragas. Criar galinhas dessa maneira – em vez de em fazendas industriais – pode ajudar o meio ambiente e é, seguramente, mais gentil com as aves.9 — Danielle Nierenberg Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Chocolate A próxima vez que você provar uma barra de chocolate pense neste gosto como uma referência a algumas das florestas mais ameaçadas do mundo – e nos milhões de fazendeiros que vivem perto delas. O chocolate provém das sementes de uma pequena árvore de floresta tropical, o cacau (Theobroma cacao). O cacau é nativo do norte da América do Sul e talvez também do sul da América Central. Seu fruto tem o tamanho aproximado de um melão pequeno e é recheado com essas sementes – as amêndoas de cacau. Elas são processadas de vários modos para fabricação de licor de cacau, manteiga de cacau e chocolate.1 O cacau é cultivado comercialmente em quase 60 países, mas a produção está concentrada em apenas alguns deles. Costa do Marfim, o maior produtor mundial, produziu cerca de 35% da colheita mundial de amêndoa de cacau em 2002, abaixo de seu pico de 41%, em 1999 e 2001. Os cinco maiores produtores, em 2002 – Costa do Marfim, Gana, Indonésia, Nigéria e Brasil – representaram 79% da produção global. Atualmente, as plantações de cacau cobrem mais de 70.000 km2 em todo o mundo, uma área um pouco maior do que a Irlanda. A área de produção aumentou substancialmente nas últimas décadas, crescendo quase um quarto desde 1990..2 Uma vez que os cacaueiros necessitam de um suprimento abundante e constante de água, só pode ser cultivado comercialmente em biomas de floresta tropical. Esta limitação é uma espécie de bênção econômica: seja qual for o valor que o cacau agrega às áreas de floresta tropical, este não pode ser reduzido se tal fruto for cultivado em outro lugar. Isso tem também grande importância para a conservação porque todas as principais áreas de cacau – no Caribe, América Central e do Sul, arquipélago indonésio-malaio e África Ocidental – são “hotspots de biodiversidade”. Estas são regiões que foram identificadas como prioritárias para a conservação global por serem extraordinariamente ricas em biodiversidade e altamente ameaçadas. O cacau é uma lavoura hotspot.3 O cacaueiro requer sombra, podendo crescer sob a cobertura da floresta. Nas áreas de floresta tropical, a agricultura geralmente substitui a floresta, mas o cacau permite que os fazendeiros ganhem dinheiro sob as árvores – ou pelo menos sob algumas árvores. (Colheitas razoáveis 111 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: CHOCOLATE podem ser provavelmente alcançadas mesmo mantendo-se 50–60% da cobertura original.) Infelizmente, a maior parte do cacau mundial é cultivado em terras que já perderam muito de sua cobertura original.) – devido ao próprio cacau ou a alguma outra atividade que o precedeu. Na Indonésia, por exemplo, o cultivo do cacau freqüentemente seguiu-se à derrubada da floresta primária. Apesar da sua tolerância ao sombreamento, o cacau tem sido muitas vezes um agente de desmatamento, embora comumente o resultado seja um pequeno desmatamento. Isso porque o cacau é muitas vezes cultivado juntamente com outras culturas arbóreas nativas ou introduzidas. Algumas dessas agroflorestas são bastante complexas e sustentam uma parcela considerável da vida silveste local. Por outro lado, o cacau é algumas vezes cultivado como monocultura a sol aberto, uma alternativa que sustenta uma diversidade bem menor.4 Numa escala global, a contribuição do cacau para o desmatamento tropical é ínfima– talvez um terço de 1% da área original de floresta tropical mundial tenha agora cultivo de cacau. Porém, numa escala regional, o cultivo do cacau tem sido, às vezes, uma força importante na natureza.Por exemplo, o cacau representa mais de 13% das terras florestais originais da Costa do Marfim e ainda está eliminando florestas em partes da África Ocidental e Indonésia. Mas não precisa ser assim. Em alguns locais, o cultivo do cacau já tornou-se um sistema de facto de conservação. Na Bahia, Brasil, por exemplo, e ao sul dos Camarões central, o cacau é cultivado sob floresta nativa rala, em áreas onde resta pouca floresta. Inadvertidamente, as fazendas tornaram-se, na verdade, florestas.5 112 O cacau tem também um grande potencial social fora do Brasil e Malásia, onde é quase totalmente cultivado em grandes fazendas; o cacau é,geralmente, uma cultura de pequenos proprietários. Milhares de fazendas de cacau da África Ocidental têm menos de 1 hectare, e o tamanho médio de uma fazenda na Costa do Marfim é inferior a 3 hectares. O cacau funciona bem em pequena escala porque tem um valor relativamente alto e porque o cacaueiro reage a cuidados especiais. Pequenos proprietários capacitados, cujas roças de cacau são pequenos “jardins”, podem alcançar níveis de produtividade superiores às grandes fazendas, que possuem árvores demais para serem cuidadas individualmente. Potencialmente, pelo menos, o cacau compensa o trabalho.6 Mas do ponto de vista dos fazendeiros essa compensação está mal-distribuída. No varejo, o negócio de chocolate vale $42–60 bilhões, anualmente, dependendo de como o “produto chocolate” é definido. É difícil determinar quanto desse dinheiro efetivamente retorna às fazendas, porém, uma estimativa muito generosa seria de 6 a 8% e, talvez, consideravelmente menos. Entretanto, mesmo essa pequena parcela da riqueza do cacau significa uma vida melhor para milhões de fazendeiros e suas famílias. Contudo, a economia do cacau, como sua ecologia, tem também um lado triste.Aparentemente, a exploração da mãode-obra predomina na zona cacaueira da Costa do Marfim. Denúncias constantes de que alguns fazendeiros estão escravizando milhares de trabalhadores infantis migrantes desencadearam críticas generalizadas da indústria. Em 2002, a Costa do Marfim reagiu, ratificando um tratado contra a exploração do trabalho infantil e as grandes Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: CHOCOLATE companhias de chocolate lançaram uma campanha com o objetivo de certificar o chocolate da Costa do Marfim como “livre da escravidão” até 2005. (Não se pode calcular que efeito a guerra civil do país terá nesse objetivo.)7 O que poderiam fazer os consumidores em relação a isso? Da próxima vez que você decidir deliciar-se com chocolate, procure um rótulo que prometa três coisas. Primeiro, uma alta concentração de cacau. Geralmente, mais cacau significa melhor qualidade e – pelo menos potencialmente – mais renda para o produtor. Depois, procure um selo de “comércio justo” ou a marca de um produtor semelhante, socialmente responsável. E mesmo que o cacau não tenha um certificado de “cultivado à sombra”, vale a pena procurar um produto orgânico. Um dos pesticidas de cacau mais comuns na África Ocidental, por exemplo, é o lindano, um organoclorado, primo do DDT. A eliminação de tais produtos químicos seria uma benesse tanto para trabalhadores rurais quanto para as florestas. 8 — Chris Bright 113 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Camarões Há muito, camarões têm constado nos cardápios de populações costeiras. Pinturas nas tumbas do antigo Egito retratam cenas de pescadores retirando camarões do Nilo. E por séculos produtores do sudeste asiático mantêm camarões nativos confinados em lagoas litorâneas para uma coleta fácil.1 Hoje, a multibilionária indústria de camarão pouco assemelha-se à pesca do camarão de outrora. Por uma razão, esse pequeno crustáceo de muitas pernas não é mais uma iguaria usufruída principalmente por quem vive perto da fonte. Hoje, quantidades imensas de camarões são produzidas no mundo em desenvolvimento para consumo no Japão, Estados Unidos e Europa Ocidental. A produção de camarão não é mais um negócio pequeno: em 2001, mais de 4,2 milhões de toneladas de camarões entraram no mercado mundial.2 A China produz mais camarão que qualquer outro país: mais de 1,2 milhão de toneladas em 2000, mais do dobro do seu total em uma década antes e três vezes mais do que seus concorrentes mais próximos – Índia, Tailândia e Indonésia. Porém, o grosso da pesca chinesa permanece no país. A honra do primeiro lugar na exportação de camarão fica com a Tailândia.3 114 Nos fins dos anos 90, os Estados Unidos ultrapassaram o Japão como o cliente principal do mercado de camarão, com as importações anuais alcançando 300.000 toneladas. Na verdade, em 2001 o camarão havia substituído o atum enlatado como a primeira escolha em frutos do mar nos pratos americanos. Entretanto, os japoneses continuam encabeçando o consumo per capita, apesar do recuo da economia, que ajudou a diminuir o consumo anual de camarão para menos de 3 kg por pessoa.4 Partindo de um início modesto há poucas décadas, a indústria do camarão tornou-se uma das mais lucrativas atividades pesqueiras do mundo. Estados Unidos e Japão, sozinhos, importaram um volume equivalente a US$ 7 bilhões em 2000. No entanto, essa indústria é também uma das mais destrutivas. Aproximadamente, três quartos do camarão no mercado são pescados imoderadamente – principalmente por barcos de pesca puxando imensas redes cônicas (arrasto) sobre estuários, baías e plataformas continentais. As traineiras varrem o leito do mar de forma semelhante a uma derrubada de mata – destruindo o habitat e escavando Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES o que esteja no caminho das redes. Esse método arrasa alguns dos pontos mais biologicamente produtivos dentro do ecossistema marinho.5 A pesca do camarão, como é praticada atualmente, não é apenas destrutiva, mas também incrivelmente inconseqüente. Tartarugas, peixes e outras espécies marinhas arrastadas nas redes são consideradas “pesca indesejada”, nãolucrativa, e geralmente são jogados – mortos – de volta ao mar. Em áreas temperadas, a relação da pesca indesejada para o camarão é de 5:1. Nos trópicos, essa relação chega a 10:1, e é mais alta em alguns pesqueiros. No total, a pesca do camarão é responsável por um terço da pesca descartada no mundo, enquanto produz menos de 2% do pescado mundial.6 Nos anos 80, novas tecnologias inovadoras provocaram um incremento na aqüicultura do camarão, suplementando a captura oceânica. Em 1989, criatórios de camarões floresceram ao longo do litoral tropical em todo o mundo e produziram um quarto da safra mundial de camarões. Desde então, a participação de mercado do camarão cultivado estabilizou-se, com seu crescimento prejudicado, em parte, por surtos de doenças disseminadas em criatórios densamente povoados.7 A aqüicultura de camarão não é mais benigna, ecologicamente, do que a captura natural. Uma fazenda típica de camarão produz quantidades copiosas de lixo, altamente tóxico. Produtos químicos e fertilizantes utilizados nas fazendas escoam para manguezais e estuários, enquanto criadores jogam grande quantidade de lixo diretamente no oceano. Onde são instaladas fazendas de camarão, os manguezais nativos são extirpados. Os manguezais têm muitas funções, servindo como local de procriação e habitat a muitas espécies (inclusive proporcionando criatórios para 85% das espécies comerciais de peixes tropicais), funcionando como filtro da água e oferecendo proteção vital contra a erosão do litoral e tempestades tropicais violentas. Quase um quarto dos manguezais remanescentes do mundo foi destruído nas últimas duas décadas, na maior parte para dar lugar a fazendas de camarão.8 Uma série de abusos de direitos humanos tem acompanhado a grave degradação ambiental da cultura do camarão, ao tempo em que poderosos interesses dos criadores chocam-se com os habitantes locais prejudicados pela atividade. Caracteristicamente, investidores domésticos e estrangeiros, com pouco ou nenhum laço com as comunidades locais, entram para implantar as fazendas destruindo, no processo, recursos vitais, esgotando meios de vida e deixando a população desamparada. Confisco de terra, intimidação violenta de pescadores locais e até assassinatos são muito comuns.9 O físico e advogado ambiental indiano Vandana Shiva fez uma estimativa de que, em média, uma fazenda de camarão cria talvez 15 empregos na fazenda e 50 empregos em segurança ao redor da fazenda, enquanto desloca 50.000 pessoas pela perda da terra e abandono da agricultura e pesca tradicionais. Um pescador filipino lamentava: “O camarão vive melhor do que nós. Eles têm eletricidade, mas nós não. O camarão tem água limpa, nós não. O camarão tem muita comida, e nós passamos fome”.10 A indústria de camarão tem um longo caminho a percorrer antes que possa ser 115 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES considerada, remotamente, sustentável; e muitos grupos de defesa sugerem que os consumidores simplesmente não comam camarão, para diminuir a carga em ambos, ecossistemas e pessoas. Numa nota positiva, um consórcio envolvendo o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO) e o Fundo Mundial para a Natureza está explorando normas de certificação ambiental para a aqüicultura. E o Sea Turtle Restoration Project e outros estão trabalhando com a indústria para desenvolver e promover dispositivos que reduzam, drasticamente, a pesca indesejada. Enquanto isso, grupos 116 ambientais comunitários, em áreas de fazendas, estão juntando-se a grupos nãogovernamentais internacionais para promover uma cultura mais ecologicamente segura do camarão. Em um caso, o Projeto de Ação em Manguezais e a Federação de Pequenos Pescadores do Sri Lanka aproximam comunidades de pescadores e outros interessados para promoverem a conservação e trabalharem com criadores de camarão, a fim de coibir a destruição dos manguezais, protegendo o habitat dos peixes.11 — Dave Tilford, Center for a New American Dream Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Refrigerantes Os refrigerantes, com sua doçura decadente, provaram ser donos de um apelo universal. Em 2002, as pessoas beberam 185 bilhões de litros de refrigerante, constituindo-se a terceira bebida comercial mais popular do mundo, depois do chá e do leite. No entanto, diferentemente dos dois, o refrigerante é uma mistura complexa de ingredientes, incluindo água, adoçantes, dióxido de carbono, dúzias de sabores naturais e artificiais e freqüentemente cafeína. Toda essa mistura é cuidadosamente acondicionada em garrafas e latas atraentes, comercializada e distribuída, para a delícia de consumidores em quase todos os países do mundo.1 A água é o principal ingrediente do refrigerante e é também vital para o processamento de seus outros ingredientes e materiais de embalagem. As instalações de uma engarrafadora média produz mais de 300.000 litros de bebida diariamente – um processo que requer até 1,5 milhão de litros de água, o bastante para atender às necessidades mínimas de pelo menos 20.000 pessoas. Na verdade, em algumas áreas com estresse hídrico, engarrafadoras entraram em conflito com comunidades locais. Em Plachimada, na Índia, por exemplo, as autoridades locais revogaram, em abril de 2003, a licença de funcionamento de uma fábrica da Coca-Cola depois de reclamações dos habitantes sobre poços secando, piora da qualidade da água restante e liberação de efluentes tóxicos. Porém, após pressão da Coca-Cola Company, um dos maiores investidores estrangeiros na economia indiana, o governo nacional está considerando a revogação dessa medida. Mais recentemente surgiram novos problemas para as companhias de refrigerantes na Índia, quando cientistas do grupo ambientalista Centre for Science and the Environment detectaram pesticidas nas principais marcas de refrigerante em todo o país – uma descoberta mais tarde confirmada pelo governo.2 Os refrigerantes devem muito do seu gosto, textura e todas suas calorias à generosa dose de adoçantes. Um lata média de refrigerante comum, 355 mililitros, tem 38 gramas (ou 150 calorias) de adoçantes adicionados. Ao tempo em que contribuem para a cárie dentária, os adoçantes substituem alimentos mais saudáveis ou, quando consumidos conjuntamente com a dieta costumeira, aumenta a ingestão calórica total. Assim a adição de açúcares pode levar à deficiência de nutrientes ou 117 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: REFRIGERANTES obesidade. Essa é uma preocupação especial com relação a crianças e adolescentes, que são mais vulneráveis à deficiência alimentar e cujos hábitos alimentares são particularmente flexíveis. Nos Estados Unidos, quando o consumo anual de refrigerante dobrou para 185 litros por pessoa, entre 1970 e 2001, o consumo de leite caiu 30%. Ao mesmo tempo, a ingestão total de cálcio, por adolescentes, caiu significativamente, enquanto os índices de excesso de peso e obesidade quase que triplicaram, passando para 14% (enquanto chegava a 61% nos adultos). Um estudo recente demonstrou que crianças que ingerem bebidas adoçadas com açúcar são, freqüentemente, mais obesas e que esse risco aumenta outros 60% com cada bebida adicional consumida.3 Cafeína é um dos outros principais ingredientes dos refrigerantes – presente em 80% do volume global nas 10 principais bebidas carbonadas. Embora a indústria de refrigerantes alegue que usa cafeína para realçar o sabor, estudos demonstraram que as pessoas não notaram diferenças significativas em amostras cafeinadas e descafeinadas. Mais provavelmente, a cafeína é adicionada por suas propriedades estimulantes, que dão ao refrigerante uma excitação extra, bem como ajuda a fidelizar clientes. A cafeína fisiologicamente cria hábito com apenas 100 miligramas diários – e com menos em crianças. Uma lata de Pepsi contém 41 miligramas de cafeína.4 Enquanto em alguns países as engarrafadoras ainda dependam de garrafas de vidros reutilizáveis, usam mais comumente recipientes plásticos ou latas de alumínio. Em 2001, engarrafadoras em todo o mundo encheram 159 bilhões de recipientes plásticos, 112 bilhões de latas e 72 bilhões de 118 garrafas de vidro. Uma vez empacotados, os refrigerantes são enviados, regionalmente, por caminhões para mercados, restaurantes, escolas e máquinas automáticas.Para ter certeza de que as pessoas vão comprar essas bebidas, os fabricantes de refrigerantes gastam bilhões em publicidade – na televisão, outdoors e Internet, entre outros meios. A Coca-Cola Company e PepsiCo., os dois maiores fabricantes de refrigerantes, são o 13o e 20o maiores anunciantes do mundo. Conjuntamente, gastaram US$ 2,4 bilhões em publicidade em 2001. Os fabricantes também trabalham por trás dos bastidores para garantir um suprimento de refrigerante para todos que subitamente desejem algo doce. Por exemplo, nos Estados Unidos, as engarrafadoras freqüentemente assinam contratos de exclusividade com a direção de escolas, oferecendo uma parcela dos lucros na venda de um determinado volume – uma estratégia que está sendo replicada em todo o mundo.5 A lata média de refrigerante, uma vez aberta, dura talvez 20 minutos antes de ser jogada fora. Nos Estados Unidos, quase sempre termina no lixo. Se os americanos tivessem reciclado os 32 bilhões de latas de refrigerantes que jogaram fora em 2002, teriam economizado 435 milhões de toneladas de alumínio – o suficiente para reconstruir toda a frota aérea comercial mundial mais de uma vez e meia.Uma coalizão de grupos ambientalistas nos Estados Unidos está, atualmente, trabalhando para criar uma nova lei, que estabelecerá uma meta nacional de 80% de recuperação de recipientes de bebidas e permitirá à indústria desenvolver seu próprio sistema para esse fim.Essa estratégia teve grande sucesso na Suécia, onde uma meta nacional tem mantido uma Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: REFRIGERANTES taxa de recuperação de 86%, motivada principalmente por um depósito de 10 centavos de dólar por garrafa, imposto pela indústria. Michigan, o único estado dos Estados Unidos com depósito de 10 centavos por garrafa, tem uma taxa de recuperação de 95%.6 Enquanto os ambientalistas esperam diminuir o volume do descarte, nutricionistas e autoridades governamentais procuram moderar o consumo total de refrigerantes, principalmente para combater a crescente obesidade epidêmica infantil. A Califórnia, por exemplo, promulgou legislação que eliminará gradativamente a venda de junk food (inclusive refrigerantes) nas suas escolas primárias públicas até o início de 2004. Atualmente, a Califórnia taxa junk food, o que ajuda a reduzir o consumo total, servindo ao mesmo tempo como uma fonte potencial de receita para educação da saúde. Alguns países, tais como Suécia e Polônia, chegaram a banir comerciais nos programas infantis da televisão, reconhecendo a vulnerabilidade da audiência às mensagens de marketing. No entanto, as vendas de refrigerantes cresceram 2,1% em 2002, globalmente. Os especialistas da indústria prevêem que o refrigerante ultrapassará o leite como a segunda bebida mais consumida, mundialmente, nos próximos cinco anos.7 — Erik Assadourian 119 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA CAPÍTULO 5 Rumos para uma Economia Menos Consumista Brian Halweil e Danielle Nierenberg Em 1895, o caixeiro viajante King Camp Gillette teve a idéia de vender lâminas de barbear descartáveis – um produto que os consumidores teriam que comprar constantemente. As vendas logo dispararam, atingindo mais de 70 milhões em 1915, tendo a Gillette hoje transformado-se numa empresa com um faturamento anual de US$ 10 bilhões. O que começou como um veículo de alto lucro para um comerciante assegurar um fluxo inesgotável de vendas transformou-se num conceito amplamente adotado – a obsolescência programada.1 Pulando para o presente: em meados de 2003, a Walt Disney anunciou que iria, em breve, testar no mercado um novo DVD, destinado a substituir os videodiscos e cassetes de locadoras e que deixam de funcionar após um tempo predeterminado. A abertura da embalagem hermeticamente fechada dispara uma contagem regressiva química que torna o disco inutilizável após meras 48 horas. As sofisticadas tecnologias envolvidas podem ser estritamente do século XXI, mas a filosofia subjacente vem 120 do tempo daquele conceito introduzido por Gillette e seus contemporâneos.2 Consumo como Meio de Vida Os avanços tecnológicos do último século tornaram possível “produzir mais que a demanda e oferecer mais que o necessário”, como observou o jornalista Edward Rothstein recentemente no New York Times. Crescimento econômico infindável, motivado pelo consumo descontrolado, tem sido elevado ao status de religião moderna. Isso é tanto um objetivo de executivos corporativos, desejosos de manter acionistas felizes, como é uma meta de líderes políticos com um olho na vitória nas próximas eleições.3 Deixando de lado se posse material e felicidade humana trilham o mesmo caminho (vide Capítulo 8), alguns observadores argumentam que produção em massa, consumo em massa e sistemas de descarte em massa são nada menos do que simples ne- Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA cessidade econômica. Em 1950, por exemplo, o analista de marketing americano Victor Lebow escreveu que “Nossa economia altamente produtiva... exige que façamos do consumo um meio de vida... Precisamos que as coisas sejam consumidas, queimadas, desgastadas, substituídas e descartadas a um ritmo cada vez mais intenso”.4 Mas a veneração compulsiva no altar do consumo colocou a humanidade à beira de um abismo ambiental – exaurindo recursos, disseminando poluentes perigosos, minando ecossistemas e ameaçando conturbar o equilíbrio climático do planeta. Afastar-se desse precipício exigirá um recuo radical das pretensões humanas sobre os recursos da Terra. As profundas divisões de classe da humanidade dificultam essa tarefa. Mesmo quando crescem evidências de que a classe global de consumidores, com cerca de 1,7 bilhão de pessoas (vide Capítulo 1), precisará conter seu apetite material voraz, um número igualmente significativo de pessoas numa classe média global emergente busca emular a aparente “boa vida.” E quase 3 bilhões de pessoas – os pobres do mundo – lutam para sobreviver com poucos dólares por dia.5 Há muito se vem repetindo que o planeta não poderá suportar o ônus de todos no mundo em desenvolvimento possuírem tantos carros, refrigeradores e outros bens de consumo como americanos, europeus ou japoneses. Do ponto de vista da justiça e igualdade global, entretanto, a solução não pode ser um sistema de apartheid do consumo, que apóia a farra ocidental e nega aos pobres um padrão de vida decente. Pelo contrário, os ricos precisam conter seus apetites materiais descomunais. Cálculos aproximados indicam que, para acomodar o duplo imperativo de proteção ambiental e igualdade social, as nações ricas precisariam reduzir seu uso de materiais em até 90% ao longo das próximas décadas.6 No momento, o mundo lança-se na direção oposta. Economias modernas são capazes de produzir imensas quantidades de bens a um custo muito baixo. Isso leva tanto produtores quanto consumidores a considerarem mais e mais produtos como nada mais que commodities que podem ser descartadas com relativa rapidez, e não como itens que incorporam valiosos materiais e energia e que devem ser bem conservados e projetados para uma longa vida útil. Matérias-primas baratas, muitas delas originárias de países em desenvolvimento, sustentam a fartura consumista. As quantidades globais de matérias-primas comercializadas internacionalmente estão aumentando significativamente, porém os preços das commodities têm mantido-se numa trajetória descendente desde meados dos anos 70, continuando uma queda que remete ao início do século XX. A extração maciça de combustíveis, minerais e madeira assola ecossistemas dos países em desenvolvimento, provoca distúrbios sociais e, em alguns casos, causa guerras devastadoras por recursos, mesmo quando as pessoas nas áreas em conflito auferem pouco benefício.7 Matérias-primas baratas, muitas delas originárias de países em desenvolvimento, sustentam a fartura consumista. Embora as velhas nações industrializadas continuem sendo os principais pro121 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA dutores, volumes crescentes de mercadorias estão sendo fabricadas em países pobres. Particularmente nas indústrias de mão-de-obra intensiva, como no setor têxtil e de confecções, as corporações multinacionais estão continuamente em busca de mão-de-obra mais barata, enquanto muitos países em desenvolvimento tentam competir entre si mantendo os salários baixos. A China surgiu como um grande produtor de bens de consumo baratos, exportados principalmente para o mercado norte-americano. Seu superávit comercial com os Estados Unidos disparou de pouco mais de US$ 10 bilhões em 1990 para US$ 103 bilhões em 2002. Até o México, há muito um pólo de fábricas de baixo custo, vê-se cada vez mais incapaz de competir, uma vez que os salários na China são, em média, apenas um quarto do que se paga nesse país. De 2001 para cá, um sétimo das indústrias de exportação mexicanas, as maquiladoras, fecharam.8 Há grande divergência de opiniões quanto a tais estratégias de exportação e a busca de um comércio livre mais abrangente poderem alcançar um desenvolvimento significativo. Mas, independentemente de salários baixos serem vistos como ingredientes inevitáveis de uma estratégia exportadora bem-sucedida, ou como símbolo de exploração e impedimento a mercados internos vibrantes, o que fica evidente é que sustentam o consumismo. A classe global de consumidores é, obviamente, a chave para reformular a relação entre consumo e sustentabilidade – não só porque esta reivindica o grosso dos recursos globais, mas também porque suas ações ecoam por todo o mundo. Todavia, 122 as soluções precisam levar em consideração as formas como os países em desenvolvimento estão atados à economia global e seu desejo de emular o modelo intensivo em materiais que ainda são vistos como representativos da “vida boa”. É crucial desenvolver formas de aliviar o ônus ambiental associado ao consumo, particularmente para que um aumento dos níveis de consumo nos países mais pobres seja plenamente compatível com a meta de sustentabilidade. A fim de seguir em direção a uma economia menos consumista, tanto consumidores quanto produtores precisarão atentar cuidadosamente para o pleno ciclo de vida dos produtos. Isso significa que precisarão ater-se não apenas às características do produto propriamente dito, como quanta energia seu uso requer, mas também aos materiais e métodos produtivos utilizados em sua fabricação e os tipos e qualidade de rejeitos gerados no processo. Além disso, consumidores e produtores precisarão considerar se os produtos prestam os serviços e confortos desejados, quanto tempo irão durar e o que lhes acontecerá quando atingirem o fim de sua vida útil. Uma variedade de ferramentas está, potencialmente, à disposição de governos, empresas e consumidores individuais para que estes avancem em direção ao objetivo global de uma economia menos consumista. Muitas não só estão em discussão, como já começam a ser implementadas. Para fazer a diferença, entretanto, essas iniciativas terão que ser incrementadas significativamente, e as barreiras políticas e estruturais à mudança terão que ser derrubadas. Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA A Caixa de Ferramentas Governamental Os governos podem tomar uma série de medidas para facilitar a transição para uma economia menos consumista. Entre as ações necessárias, as principais são reformular políticas fiscais e de subsídios, estabelecer regras licitatórias favoráveis ao meio ambiente e estabelecer normas adequadas para produtos e programas de rotulagem. Inúmeros subsídios permitem que os preços de combustível, madeira, metais e minerais (e os produtos que os incorporam) sejam bem menor do que seriam sem os benefícios, encorajando maior consumo. Falta de dados disponíveis impede uma contabilidade completa dos subsídios em atividades ambientalmente danosas, e as metodologias e definições podem divergir de estudo a estudo. Porém, um relatório recente da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que os subsídios globais atinjam algo em torno de US$ 1 trilhão por ano, com os países membros da OCDE representando três quartos do total.9 Um estudo realizado pelos pesquisadores Norman Myers e Jennifer Kent relaciona subsídios perversos em seis setores – agricultura, energia, transporte rodoviário, água, pesca e silvicultura –, somando US$ 850 bilhões, ou mais, anuais. Além disso, há cerca de US$ 1,1 trilhão de “externalidades” ambientais quantificáveis. (Vide Tabela 5-1.) Embora não sejam subsídios no sentido formal, representam efetivamente custos não-compensados, que têm que ser assumidos pela sociedade e que, como os subsídios, causam impactos desvirtuantes e prejudiciais. Por exemplo, os custos ambientais e da saúde associados ao do automóvel não são cobrados dos motoristas, o que barateia uma viagem individual de automóvel em comparação a uma viagem de trem ou por outros meios. Subsídios e externalidades não-compensadas, em conjunto, equivalem a 5–6% da economia global – aproximadamente o mesmo que a economia alemã.10 Tabela 5-1. Estimativas de Subsídios e Externalidades Globais Ambientalmente Danosas Setor Agricultura Combustíveis Fósseis, Energia Nuclear Transporte Rodoviário Água Pesca Silvicultura Total Externalidades Quantificáveis Subsídios (bilhões de dólares) 250 260 Total 510 100 200 300 400 50 25 14 380 180 n.d. 78 780 230 25 92 849 1.088 1.937 FONTE: vide nota final 10. A eliminação gradativa de subsídios destrutivos e o deslocamento, mesmo de uma parcela desses recursos, para energia renovável, tecnologias de eficiência, métodos limpos de produção e transportes públicos dariam um impulso poderoso à transição para a sustentabilidade. Uma reforma fiscal ecológica é outra medida-chave. A intenção é fazer com que os preços de mercado reflitam o custo ambiental pleno das atividades econômicas de uma forma mais adequada. Tributos de carbono, 123 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA impostos sobre o uso de energia não-renovável e materiais virgens, taxas de aterros sanitários e outros encargos sobre resíduos e poluição incentivariam os fabricantes a distanciarem-se do uso pesado de combustíveis fósseis, incrementaria a produtividade energética e de materiais e coibiria a geração de resíduos e emissões. Em vez da simples imposição de um novo imposto, entretanto, o conceito mais em discussão é a realocação fiscal. Os sistemas fiscais atuais tornam o uso de recursos naturais extremamente barato e encarecem a mão-de-obra. A receita ecofiscal seria aplicada no alívio do ônus fiscal que hoje recai sobre o trabalho, o que incentivaria a criação de emprego.11 Discutida teoricamente desde o final dos anos 70, a realocação fiscal ecológica começou a tornar-se realidade nos anos 90 num número cada vez maior de países europeus, com maior ímpeto entre 1990 e 1994. Dinamarca, Alemanha, Itália, Holanda, Noruega, Suécia e Reino Unido introduziram reformas que ligam uma série de impostos verdes a reduções em contribuições sociais. A receita de impostos ambientais na União Européia (UE), antes do ajuste da inflação, mais que quadruplicou entre 1980 e 2001, para 238 bilhões de euros (Vide Tabela 5-2.) O grosso dessa receita deriva de impostos sobre gasolina, diesel e veículos a motor.12 Tabela 5-2. Receita Fiscal Ambiental, União Européia, Anos Selecionados Impostos Ambientais 1980 Receita 54,6 1990 2001 (bilhões de euros) 130,4 237,7 (percentual) Receita como Parcela de Todos os Impostos e Contribuições Sociais Receita como Parcela do Produto Interno Bruto 5,8 2,2 6,2 2,5 6,5 2,7 FONTE: vide nota final 12. Não obstante esses totais, realocações ecofiscais, até hoje, ainda são relativamente poucas. Impostos ambientais nos países da OCDE representam, em média, apenas 6–7% de toda a receita fiscal. Impostos sobre folhas de pagamento e contribuições sociais, por outro lado, têm uma carga de 25%. (Na União Européia, devido a seus programas sociais extensos, o ônus fiscal da mão-de-obra é muito maior – entre 45 e 47% no final dos anos 90).13 124 Isso não quer dizer que nada foi conquistado. Na Alemanha, por exemplo, um ecoimposto sobre formas diferenciadas de consumo de energia foi introduzido originalmente em 1999, com quatro aumentos anuais subseqüentes. Em 2002, já havia ajudado a evitar emissões de mais de 7 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). As receitas anuais aumentaram de aproximadamente US$ 4 bilhões em 1999 para cerca de US$ 19 bilhões em 2003. As reduções nas contribuições sociais, Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA viabilizadas por esses recursos, ajudaram a criar 60.000 postos adicionais de trabalho em 2002, um número que deverá crescer para 250.000 até 2010.14 Todas as economias modernas podem ser mais enxutas sem que isso implique em sua condenação. Infelizmente, ecoimpostos são enfraquecidos freqüentemente por uma série de brechas – concessão de isenções a certas indústrias ou fontes energéticas, aplicação de alíquotas reduzidas a empresas de energia intensiva ou concessão de reembolsos parciais a empresas. Isso quase sempre é feito em nome da preservação da competitividade da indústria doméstica no mercado internacional. Esses argumentos perderiam força se as políticas nacionais fossem harmonizadas. (Vide Capítulo 7.) Isso é o que a União Européia está tentando fazer com uma diretriz para taxação de energia, que deverá entrar em vigor em 2004. Até hoje, entretanto, as deliberações iniciadas em 1997 resultaram num texto desapontador de concessões que enfraqueceram o projeto original.15 Na Alemanha, o carvão e combustíveis de jatos não estão sujeitos ao ecoimposto. Empresas dos setores mineiros e manufatureiros, concessionárias de serviços públicos, construtoras e empreendimentos agrícolas são taxados a apenas 20% da taxa nominal aplicada ao gás natural, óleo para aquecimento e eletricidade. Entretanto, no início de 2003, essa taxa preferenci- al subiu para 60%, tendo o governo declarado que a indústria, em breve, terá que pagar a taxa plena caso não atinja uma meta voluntária para 2010 de redução das emissões de CO2 em até 35%.16 Para chegar a ser uma ferramenta importante para a sustentabilidade, o escopo da reforma ecofiscal precisaria ser bem mais ampla e eliminar todas as brechas. Isso exigirá vencer difíceis batalhas políticas contra aqueles interessados em manter o status-quo. O desafio é ilustrado pela experiência alemã, na qual políticos oposicionistas e setores da mídia lançaram uma intensa campanha desabonadora do ecoimposto. Tendo alcançado rapidamente uma ampla aceitação junto a todos os partidos políticos e o grande público nos anos 90, a reforma ecofiscal sofreu um declínio igualmente veloz em sua popularidade logo que foi implementada.17 Outra ferramenta importante que os governos podem utilizar é a licitação, conforme descrito detalhadamente no Capítulo 6. Seja em âmbito federal ou municipal, autoridades governamentais nos países industrializados gastam trilhões de dólares em concorrências públicas todo ano. Ao adquirir produtos ambientalmente desejáveis, poderão exercer uma forte influência sobre o modo como esses produtos são projetados, sua eficiência e durabilidade, e também se são manejados responsavelmente no fim de sua vida útil. Regras de aquisição bem planejadas podem provocar inovações tecnológicas e ajudar a implantar mercados verdes.18 Os governos poderão influenciar o desenvolvimento de produtos ainda mais, através de instrumentos normativos. Normas 125 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA nacionais têm sido adotadas em um número crescente de países para poupar energia e água, por exemplo. Em 2000, 43 países dispunham de programas de eficiência em eletrodomésticos – sete vezes mais do que em 1980. A maioria deles na Europa e Ásia.19 Normas que forçam o mercado a exigir que fabricantes atendam padrões mínimos são bem complementadas por programas de ecorrotulagem, que motivam o mercado ao oferecer aos consumidores as informações necessárias para tomarem decisões responsáveis de compra e, conseqüentemente, encorajar os fabricantes a projetarem e comercializarem produtos mais ecoamigáveis.20 Esquemas de rotulagem foram desenvolvidos para uma vasta gama de produtos, incluindo eletrodomésticos, eletricidade, produtos de madeira e produtos agrícolas como café e banana. Alguns enfocam um único produto ou classe de produto, enquanto outros avaliam uma ampla série de itens. O primeiro e mais abrangente programa de rotulagem – o Anjo Azul, da Alemanha – acaba de celebrar seu 25o aniversário. O número de produtos cobertos cresceu de cerca de 100 em 1981 para 3.800 hoje. Tanto os programas de rotulagem governamentais quanto os privados cresceram aceleradamente nos últimos anos.21 Na realidade, há rótulos concorrentes em algumas áreas, o que pode confundir os consumidores e até mesmo frustrar opções ecoamigáveis de consumo. Alguns programas, particularmente aqueles patrocinados pelas indústrias, podem fazer alegações vagas ou sem substância sobre o teor de reciclagem de um produto, métodos de cultivo orgânico, biodegradabilidade e outras questões. Outros podem basear126 se em padrões de desempenho relativamente baixos. Preocupado com esses problemas, um relatório recente da OCDE argumentou: “A fim de evitar uma descrença geral nos esquemas de rotulagem, algum tipo de instrumento normativo pode ser necessário para sinalizar aos consumidores que certos esquemas são mais adequados para certas questões que outros”. Esse regulamento pode tomar a forma de programas de certificação. Uma variedade de órgãos certificadores (agências governamentais ou grupos privados especializados) pode avaliar se um produto está em conformidade com as normas vigentes ou verificar a correção das alegações ambientais feitas pelos fabricantes.22 Todas as ferramentas discutidas aqui – eliminação gradativa de subsídios, realocação fiscal, licitações verdes, normas para produtos e programas de rotulagem – precisarão ser expandidas dramaticamente para colocar o consumo numa base sustentável; mas o esforço para conseguí-lo é extremamente árduo. O fracasso da comunidade internacional em chegar a um acordo sobre reduções de subsídios agrícolas, durante a rodada de negociações no México, em setembro de 2003, demonstrou claramente quão arraigados são os interesses particulares. Enxuto e Limpo As economias industrializadas mobilizam gigantescas quantidades de combustíveis, metais, minerais, materiais de construção e matérias-primas florestais e agrícolas. Um estudo para a União Européia constatou que em 1997 a produção per capita de materi- Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA ais somou cerca de 80 toneladas Toneladas por americano, 51 toneladas por 100 Fonte: WRI cidadão da UE e 45 toneladas por Produção Doméstica japonês. Por meio de 80 para Consumo metodologias diferentes, um es60 tudo do World Resources Institute Fluxos Ocultos chegou a números semelhantes, embora tenha assinalado os flu- 40 xos japoneses de materiais em 20 apenas 21 toneladas por pessoa.23 Nenhuma das economias in0 dustrializadas é hoje verdadeiraEstados Unidos Alemanha Japão mente sustentável. Todas as economias modernas podem ser Figura 5-1. Necessidades Materiais Per Capita nos Estados Unidos, Alemanha e Japão, 1996 mais enxutas sem que isso implique em sua condenação. Sendo seus níveis de padrão de vida relativamente equivalentes, se europeus por mineradoras para chegar ao minério), podem viver com praticamente metade materiais de dragagem, dióxido de carda produção material que é mobilizada bono e outras emissões e poluentes, além para os americanos (e os japoneses até de perda do solo, devido à erosão de tercom menos), há bastante espaço para ras cultivadas. A expressão “fluxos oculmelhoria nos Estados Unidos – o arqué- tos” é adequada, pois são em grande parte tipo do consumo que grande parte do res- invisíveis para os consumidores. É o caso, particularmente, das crescentes to do mundo esforça-se para emular. Na realidade, a maior parte do fluxo quantidades de resíduos associados à de materiais nas economias industrializa- extração de recursos nos países em dedas não tem finalidade alguma e, efetiva- senvolvimento, posteriormente importa24 mente, nunca passa pelas mãos de con- dos pelas nações industrializadas. Lidar com fluxos ocultos exige que sumidor algum. Os chamados fluxos algumas das atividades mais destrutivas ocultos representam um pouco mais de – mineração, fundição e extração de ma60% do fluxo total na UE – uma parcela deira, particularmente – sejam reduzidas. que tem se mantido mais ou menos inalterada nas últimas duas décadas. Nos Isso pode ser obtido através da melhoria Estados Unidos, fluxos ocultos são res- da eficiência energética e material, ponsáveis por mais de 70%; no Japão, incrementando a reciclagem e reutilização, por um pouco menos da metade. (Vide e estendendo a vida útil dos produtos para Figura 5-1.) Esses fluxos ocultos inclu- que haja menor necessidade de extração em rejeitos da mineração e de outras in- de matérias-primas virgens. Mas há tamdústrias, acúmulo de terra (terra retirada bém bastante espaço para redução do 127 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA impacto ambiental dos bens e serviços efetivamente oferecidos aos consumidores. Desmaterialização, produção limpa e sistemas de laço fechado de resíduo zero são alguns dos conceitos-chave por trás de uma nova abordagem. Uma variedade de estudos e avaliações afirmou o potencial de uma estratégia de “desmaterialização” – um conceito criado pelos co-fundadores do Rocky Mountain Institute, Amory e Hunter Lovins, o ecoempresário Paul Hawken e o pesquisador e político alemão Ernst Ulrich von Weizsäcker. Objetiva reduzir o volume de matérias-primas necessárias para criação de um produto, através, por exemplo, da produção de papel mais fino e veículos mais leves e redução do volume de energia necessária para operar produtos – de lâmpadas a lavadoras e automóveis. Especificamente, os defensores da desmaterialização pugnam por políticas “Fator 10”, que buscam oferecer um dado volume de bens e serviços com um décimo de insumo material.25 Embora o potencial tecnológico para desmaterialização esteja longe de ser exaurido, já está havendo um certo desatrelamento entre crescimento econômico e produção material. Na União Européia, por exemplo, a produtividade dos recursos (medida como produto interno bruto por necessidades totais de materiais) melhorou 39% entre 1980 e 1997. Porém, essa conquista não se traduziu em menor demanda global pelos recursos: na Europa Ocidental, América do Norte e Japão, o consumo total de recursos tem permanecido relativamente constante e em níveis altos e insustentáveis.26 128 E por quê? Enquanto o consumo de materiais, por unidade, declinou, as preferências e desejos do consumidor mantêm-se numa espiral ascendente: carros e casas estão cada vez maiores e mais sofisticados, as viagens são para lugares cada vez mais distantes, dietas estão cada vez mais concentradas em carnes e há sempre um fluxo constante de “novidades” e acessórios afins. E as economias industrializadas passaram por inesperado efeito repique: menor energia por unidade ou menor exigência de materiais equivale a menores custos de consumo, o que, por sua vez, encoraja maior uso. Ganhos de eficiência vêm sendo, repetidamente, neutralizados ou superados. Por exemplo, maior eficiência de combustível significa que motoristas podem viajar mais longe pelo mesmo custo. E o número cada vez maior de automóveis significa que a demanda de combustível e materiais como alumínio, cobre, aço e plásticos, da indústria automotiva, continua subindo. A despeito da importância da desmaterialização, ela, por si só, não será suficiente frente à força irresistível do consumo.27 Os produtos tóxicos da nossa sociedade material são outro motivo de preocupação. Defensores da “produção limpa” dizem que há diversas oportunidades para reduzir, e talvez eliminar, a dependência de materiais tóxicos na industrialização, evitando a poluição atmosférica e hídrica e impedindo a geração de resíduos perigosos.28 Uma fábrica de papel e celulose no Rio Androscoggin, em Jay, Maine, é um exemplo inspirador. No início dos anos 90, a fábrica, pertencente ao gigante industrial International Paper, era grande Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA poluidora e mantinha um relacionamento antagônico com seus operários e comunidade local. Uma reforma administrativa resultou em colaboração ativa com interessados locais, e regulamentos ambientais estaduais e comunitários foram fatores fundamentais de mudança. Um foco inicial no modelo de contenção de efluentes para posterior tratamento e destinação, conhecido como end-of-pipe, cedeu lugar rapidamente a medidas de prevenção de poluição. A fábrica reduziu dramaticamente as liberações de poluentes orgânicos e mercúrio; eliminou emissões de dioxina, furano e clorofórmio e reduziu as emissões de particulados à metade. Reduziu, também, a geração de resíduos perigosos, de 2,72 milhões de quilos em 1990 para 136.000 quilos em 1998, e cortou o volume de resíduos sólidos em aterros em 91%.29 De forma mais ambiciosa, a administração da fábrica esforçou-se para se afastar da ortodoxia industrial em que, na modalidade “berço-a-túmulo”, matériasprimas são extraídas e processadas, e substâncias não diretamente úteis à indústria transformam-se em refugo indesejado. Um sistema alternativo “berço-a-berço” busca criar sistemas integrados, de laço fechado, onde os subprodutos de uma indústria viram insumo de outra, em vez de converterem-se em bombas-relógio ambientais. (Vide Quadro 5-1.) Alguns subprodutos, incluindo as cinzas da incineração de lodo e casca e dióxido de carbono de um forno de cal, estão sendo utilizados por outras indústrias locais. Na realidade, várias empresas decidiram implantar-se próximas à fabrica para aproveitamento dos seus subprodutos.30 Na Europa Ocidental, América do Norte e Japão, o consumo total de recursos tem permanecido em níveis altos e insustentáveis. Ambientalistas em todo o mundo consideram a comunidade de Kalundborg, na Dinamarca, como desbravadora da ecologia industrial. Uma teia cada vez mais compacta de relações simbiônticas entre várias empresas locais foi lentamente tecida ao longo das últimas três décadas, gerando ganhos econômicos e ambientais. Por exemplo, o gás natural que antes queimava nas torres da maior refinaria da Dinamarca está sendo utilizado como insumo numa fábrica de papelão; cinza em suspensão, dessulfurizada, de uma termelétrica a carvão (também a maior do país), é destinada a uma fábrica de cimento; e lodo contendo nitrogênio e fósforo de uma indústria farmacêutica é utilizado como fertilizante por agricultores vizinhos.31 Em vez de um plano diretor, a rede existente em Kalundborg evoluiu, na realidade, lenta e espontaneamente a partir de uma série de acordos bilaterais, todos concluídos por serem economicamente atraentes. Essa experiência apresenta uma alternativa real e efetiva à ortodoxia industrial. Porém, a replicação desse modelo pode não ser muito fácil. O estabelecimento de uma simbiose industrial de resíduo-zero leva um tempo considerável. Talvez seja mais viável construir essas teias recíprocas peça por peça, em vez de desenvolver projetos excessivamente ambiciosos logo de início. Mesmo assim, a noção de produção limpa está despertando um interesse crescente em todo o mundo. Entre outras, algumas empresas estão se empenhando nesse objetivo na China, Fiji, Índia, Japão, Namíbia, Filipinas, Porto Rico e Tailândia.32 129 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA QUADRO 5-1. AALTERNATIVA BERÇO-A-BERÇO Imaginemos um mundo onde tudo que fazemos, usamos e consumimos nutre a natureza e a indústria – um mundo onde o crescimento é bom e a atividade humana gera uma pegada ecológica agradável e restauradora. Embora isso possa parecer heresia para muitos no mundo do desenvolvimento sustentável, as qualidades destrutivas do sistema industrial moderno de berço-a-túmulo podem ser consideradas como resultado de um problema fundamental de planejamento, e não a conseqüência inevitável do consumo e da atividade econômica. Efetivamente, o bom planejamento – o planejamento ético, baseado nas leis da natureza – pode transformar o fazer e consumir numa força regeneradora. Esse novo conceito de planejamento – conhecido como berço-a-berço – vai além da modernização de sistemas industriais para redução dos seus efeitos danosos. Abordagens convencionais à sustentabilidade freqüentemente fazem do uso eficiente de energia e materiais seu objetivo final. Embora possa ser uma estratégia útil de transição, tende a reduzir os impactos negativos sem transformar a atividade danosa. A reciclagem de carpetes, por exemplo, pode reduzir o consumo, porém, caso o forro contenha PVC, como a maioria dos forros de carpetes, o produto reciclado ainda está numa viagem só de ida para o aterro, onde se transforma em resíduo perigoso. O planejamento berço-a-berço, por outro lado, oferece um arcabouço onde os ciclos efetivos e regenerativos da natureza proporcionam modelos para projetos humanos totalmente positivos. Dentro dessa estrutura podemos criar economias que purificam o ar, terra e água; que dependem da receita solar e não geram nenhum resíduo tóxico; que utilizam materiais seguros e sadios, reabastecendo o planeta e sendo eternamente reciclados, e que geram benefícios que realçam toda a forma de vida. Ao longo da última década, a estrutura berço-a-berço evoluiu constantemente da teoria à prática. No mundo industrial, está se criando um novo conceito de materiais e de fluxos de materiais. Da mesma forma que ocorre no mundo natural, onde o “resíduo” de um organismo circula através de um 130 ecossistema, proporcionando alimento para outras criaturas vivas, os materiais de berço-aberço circulam em ciclos de laço fechado, fornecendo nutrientes para a natureza ou indústria. Esse modelo reconhece dois metabolismos, dentro dos quais os materiais fluem como nutrientes sadios. Primeiro, os ciclos nutrientes da natureza constituem o metabolismo biológico. Materiais destinados a um fluxo ótimo no metabolismo biológico são nutrientes biológicos. Produtos concebidos com esses nutrientes, como embalagens biodegradáveis, são destinados a serem utilizados e devolvidos com segurança ao meio ambiente, para alimentar sistemas vivos. Segundo, o metabolismo técnico, destinado a refletir os ciclos berço-a-berço do planeta, é um sistema de laço fechado, em que recursos sintéticos e minerais de alta tecnologia, e valiosos – nutrientes técnicos – circulam num ciclo perpétuo de produção, recuperação e refabricação. Idealmente, todos os sistemas humanos que compõem o metabolismo técnico são movidos pela energia renovável do sol. Nutrientes biológicos e técnicos já estão no mercado. O tecido de estufaria Climatex Lifecycle é uma mistura de lã livre de resíduos de pesticidas e rami cultivado organicamente, tingido e processado inteiramente com produtos químicos não-tóxicos. Todos seus insumos de produto e processo foram definidos e selecionados em função da segurança humana e ecológica, dentro do metabolismo biológico. Resultado: os retalhos do tecido são transformados em feltro e utilizados por clubes de jardim como matéria vegetal para cultivo de frutas e legumes, devolvendo os nutrientes biológicos do tecido ao solo. Enquanto isso, a Honeywell está lançando uma fibra de carpete de alta qualidade chamada Zeftron Savant, feito da fibra de nylon 6, perpetuamente reciclável. Zeftron Savant foi projetada para ser recuperada e repolimerizada – retornada a suas resinas constituintes – para transformar-se num novo material para novos carpetes. Na realidade, a Honeywell pode recuperar o velho e convencional nylon 6 e transformá-lo em Zeftron Savant, ou seja, uma efetiva reciclagem “ascendente”, e não Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA QUADRO 5-1. (continuação) “descendente”, de um material industrial. O nylon é “rematerializado”, e nãodesmaterializado – um produto verdadeiramente berço-a-berço. Na indústria de carpetes comerciais, sistemas de recuperação de materiais estão proporcionando um modelo para o desenvolvimento de metabolismos técnicos. A Shaw Industries, por exemplo, desenvolveu uma placa de carpete de nutriente técnico para seus clientes comerciais. A empresa garante que toda fibra de seus carpetes de nylon 6 será recebida de volta e retransformada em fibra de nylon 6 para carpete, e seu forro seguro de poliolefina retornado a forro seguro de poliolefina. Matéria- prima a matéria-prima. Um ciclo de berço-a-berço. A placa de carpete de nutriente técnico da Shaw é concebida como um produto de serviço, um elemento-chave da estratégia berço-a-berço. Produtos de serviço são bens duráveis, como carpetes e lavadoras, projetados por seu fabricante para serem devolvidos e reutilizados.O produto presta um serviço ao cliente enquanto o fabricante mantém a propriedade dos bens materiais do produto. Ao fim de um determinado período de uso, o fabricante retoma o produto e reutiliza seus materiais em outro produto de alta qualidade. Amplamente praticado, o conceito de produto de serviço pode mudar o estilo de consumo, à medida que os sistemas humanos movidos a energia renovável reutilizam materiais valiosos, através dos ciclos de vida de muitos produtos. Em larga escala, esse conceito pode transformar a natureza das economias. Em Chicago, por exemplo, esses princípios são um referencial para os esforços do Prefeito Richard Daley de transformar a cidade na mais verde da América, um pólo de eficiência energética e fluxos benéficos de materiais. Numa economia berço-a-berço, as cidades são o lar e a fonte principais da nutrição técnica – o local onde metais são forjados, polímeros sintetizados e tratores, computadores e moinhos desenhados e fabricados. As cidades enviam esses materiais para o mundo, recebendo-os de volta à medida que transitam pelos ciclos de laço fechado. Enquanto isso, o campo pode ser considerado o lar do metabolismo biológico.Os materiais lá gerados – alimentos, madeiras, fibras – são criados por meio das interações da energia solar, solo e água e são a fonte da nutrição biológica das comunidades rurais e cidades vizinhas. Um dos papéis fundamentais das cidades nesse metabolismo é devolver a nutrição biológica de forma segura e sadia, digamos, como fertilizante limpo, ao solo rural. Esses fluxos de nutrientes e energia são os metabolismos duplos da cidade viva, a força motriz das economias vibrantes do futuro. Mesmo nações grandes e influentes como a China adotaram estratégias berço-a-berço. Criado a partir de uma tradição de 4.000 anos de agricultura sustentável, o Vice-Ministro de Ciência e Tecnologia, Deng Nan, anunciou em setembro de 2002 que a China dará início ao desenvolvimento de indústrias e produtos com base em princípios berço-a-berço, através do Centro de Desenvolvimento Sustentável China–Estados Unidos. A China já está desenvolvendo uma vila berço-a-berço como também empreendimentos de energia solar e eólica. A estratégia berço-a-berço revela nossos projetos como expressões encantadoras de criatividade, como sistemas de sustentação de vida em harmonia com os fluxos de energia, almas humanas e outros seres vivos. Quando isso tornar-se o símbolo das economias produtivas, o próprio consumo terá sido transformado. – William McDonough e Michael Braungart, McDonough Braungart Design Chemistry ______________________________________ FONTE: vide nota final 30. 131 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA Tome de Volta É muito mais provável que o consumo de recursos seja minimizado e a geração de resíduos e emissões evitada se os fabricantes, desde o início, incorporarem considerações ambientais ao projeto de produtos, desenvolvimento de tecnologias de produção e seleção de materiais. A fim de incentivar as empresas a seguirem essa direção, um número crescente de governos promulgou leis que tratam do “princípio de responsabilidade do produtor” (PRP), obrigando as empresas a aceitarem os seus produtos de volta no final de sua vida útil. Esses princípios proíbem disposição final em aterros e incineração da maioria dos produtos, estabelecem requisitos mínimos de reutilização e reciclagem, especificam se os produtores devem ser responsabilizados individualmente ou coletivamente pelos produtos devolvidos e estipulam se os produtores podem cobrar uma taxa quando recebem seus produtos de volta.33 A meta do PRP é induzir fabricantes a reavaliarem os impactos totais do ciclo de vida de seus produtos. Idealmente, eliminarão peças desnecessárias, abandonarão embalagens dispensáveis e desenharão produtos facilmente desmontáveis, recicláveis, remanufaturáveis ou reutilizáveis.34 Parte do desafio é desenvolver materiais que possam ser facilmente reutilizados ou que, de outra forma, não permaneçam em aterros durante séculos. Por exemplo, a gigante química alemã BASF inventou um novo material feito de fibra de nylon 6 infinitamente reciclável; pode ser retornada a suas resinas constituintes e transformada em novos produtos. A empresa têxtil suíça 132 Rohner e a empresa de desenho têxtil Design Tex desenvolveram, em conjunto, um tecido de estofamento que, uma vez removido de uma cadeira ao final de sua vida útil, decompõe-se naturalmente.35 A filosofia do PRP nasceu na Diretiva de Embalagem da Alemanha, em 1991. Responsabilizando os produtores pela devolução e manejo dos resíduos das embalagens, a lei provocou reduções constantes de materiais de embalagem. E o mais importante: atribui-se a ela a motivação de muitos governos na Europa, Ásia e América Latina abraçarem esse conceito. Desde então, a abordagem PRP disseminouse muito além das embalagens para abranger uma variedade crescente de produtos e indústrias, incluindo aparelhos elétricos e eletrônicos, máquinas de escritório, automóveis, pneus, mobília, produtos de papel, baterias e materiais de construção. (Vide Tabela 5-3.)36 A Europa continua no centro do movimento PRP. Muitos governos europeus instituíram leis sobre o PRP e a União Européia promulgou diretivas para embalagens, produtos eletrônicos, baterias e automóveis numa iniciativa para harmonizar esforços nacionais às vezes divergentes.37 Motivada por preocupações sobre o acelerado acúmulo de lixo elétrico e eletrônico de computadores, celulares e equipamentos semelhantes, a UE adotou uma Diretiva para Equipamentos Elétricos e Eletrônicos em fevereiro de 2003. Os países membros devem implementar legislação nacional até agosto de 2004 (estão livres para impor políticas mais restritivas) e os produtores dos equipamentos terão que implantar sistemas de devolução e manejo Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA Tabela 5-3. Leis sobre o Princípio de Responsabilidade do Produtor, Setores Selecionados1 Área de Produção ou Setor Países com Legislação PRP Embalagens Mais de 30 países, inclusive Alemanha, Brasil, Coréia do Sul, China, Holanda, Hungria, Japão, Peru, Polônia, República Tcheca, Suécia, Taiwan e Uruguai (apenas vasilhames de bebidas). Equipamentos Elétricos e Eletrônicos Atualmente, mais de uma dúzia de países, inclusive Alemanha (voluntariamente), Bélgica, Brasil, Coréia do Sul, China, Dinamarca, Holanda, Itália, Japão, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça e Taiwan. Veículos Alemanha, Brasil, Dinamarca, França, Holanda, Japão, Suécia e Taiwan. Pneus Brasil, Coréia do Sul, Finlândia, Suécia e Taiwan; Uruguai está considerando medidas voluntárias. Baterias Pelo menos 15 países, inclusive Alemanha, Áustria, Brasil, Holanda, Japão, Noruega e Taiwan; Uruguai está considerando medidas voluntárias. 1 As diretivas na União Européia foram promulgadas em todos os setores cobertos pela tabela, exceto pneus. Além das regras nacionais adotadas individualmente por países membros da UE, essas diretivas são obrigatórias para todos os atuais 15 membros (e serão obrigatórias para os 10 países do Leste Europeu que estão prestes a se tornar membros). FONTE: vide nota final 36. do lixo elétrico e eletrônico gratuitamente aos consumidores até agosto de 2005. Para produtos comercializados antes de agosto de 2005, os custos deverão ser compartilhados entre todos os produtores, conforme sua participação de mercado; para itens vendidos posteriormente, os produtores têm responsabilidade individual. (Embora a responsabilidade individual seja um incentivo para adoção de mudanças de projeto ambientalmente amigáveis que reduzam os custos dessa responsabilidade, há também o perigo de sistemas individuais de retorno provocarem duplicação de esforços e possivelmente maiores custos.)38 Uma diretiva paralela sobre Restrições a Substâncias Perigosas exige que os fabri- cantes de equipamentos elétricos e eletrônicos não mais utilizem chumbo, mercúrio, cádmio, cromo hexavalente e retardadores de chama bromados PBDE e PBB em produtos vendidos após 1o de julho de 2006. Há uma preocupação crescente em todo o mundo quanto a esses materiais perigosos; o Japão é o líder na eliminação dessas substâncias dos produtos elétricos e eletrônicos e a China anunciou que modelará sua política à diretiva da UE.39 Os Estados Unidos ficaram para trás na questão da responsabilidade do produtor. A oposição da indústria bloqueou legislação federal sobre devolução. É tentador presumir que empresas norte-americanas que operam mundialmente aca- 133 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA barão decidindo que, já que são obrigadas a atender às exigências do PRP na Europa e em outros países, poderiam adotar essas políticas também nos Estados Unidos. A IBM começou a implantar programas de devolução já em 1989, na Europa, e depois iniciou um programa mais restrito nos Estados Unidos em 1997. Mas a IBM pode ser uma exceção; o que se vê atualmente oferece pouca esperança para que isso ocorra.40 Vários governos estaduais e municipais (incluindo Flórida, Maine, Massachusetts, Minnesota, Carolina do Sul e Wisconsin) demonstraram interesse em leis de devolução no estilo europeu. Caso surgisse um conjunto de regulamentos locais, poder-se-ia esperar que as empresas decidissem que regras nacionais (embora talvez ainda voluntárias) seriam preferíveis. Foi exatamente isso que ocorreu em relação às baterias de níquel-cádmio – tendo a indústria lançado uma iniciativa nacional de devolução e reciclagem em 1995.41 Algumas empresas estão implementando ações voluntárias de devolução, para que se evitem programas obrigatórios. Sob crescente pressão das autoridades normativas e grupos locais para cuidarem do lixo eletrônico, grandes fabricantes de computadores como Dell, Hewlett Packard e IBM implantaram programas voluntários. Todavia, as taxas de devolução tendem a ser baixas, pois cobram dos consumidores US$ 20–30 na devolução do produto.42 Outras empresas e indústrias vêem o PRP como uma oportunidade de reduzir custos de produção ou angariar simpatia de consumidores ambientalmente consci134 entes. Fabricantes de carpetes e alguns dos seus maiores fornecedores, por exemplo, vêem a devolução como um veículo de vantagem competitiva, tendo iniciado uma variedade de programas para a reutilização e reciclagem de carpetes usados. A Kodak deu início a um programa de devolução de câmeras descartáveis em 1990 (porém acredita-se que um quarto dessas câmeras ainda acabe em lixões). A Nike implantou um programa chamado “Reutilize-um-Sapato”, numa reciclagem “descendente” de tênis usados. A borracha da sola e a espuma da meia-sola dos tênis usados são convertidas em material de revestimento de pistas de corrida e outras instalações atléticas e playgrounds. O tecido da parte superior transforma-se em estofamento para carpetes.43 Mas o progresso ainda é limitado nos Estados Unidos. E, apesar de avanços significativos na Europa, ainda há alguns desafios técnicos e políticos. A reciclagem de plásticos tem mostrado-se resistente a soluções fáceis, como também certos materiais de embalagem que consistem de um amálgama complexo de camadas de materiais diferentes. A oposição da indústria está longe de ser derrubada. Na Alemanha, o setor de varejo está minando uma tentativa ambiciosa de exigir a devolução de todas as garrafas e latas de bebida e desencorajar o uso de descartáveis. Finalmente, o ritmo acelerado com que muitos aparelhos eletrônicos, como celulares, palm-pilots e computadores, ficam obsoletos é um desafio tremendo: é difícil implantar sistemas eficientes de coleta quando o giro é tão acelerado e o volume de materiais acumulase tão rapidamente.44 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA Repensando Produtos e Serviços As economias industriais modernas são capazes de produzir imensas quantidades de bens com tanta facilidade, e a um custo tão baixo, que há um grande incentivo para considerar a maioria das mercadorias como descartável, destinada a se desfazer rapidamente, em vez de projetar e fabricar durabilidade. Muitos bens de consumo são feitos de tal forma que desencorajam reparos e substituição de peças e, às vezes, tornam isso praticamente impossível. E mesmo quando algo pode ser reparado, o custo é freqüentemente muito alto em relação a um produto novo. Isso se deve ao fato de o custo de descarte dos valiosos materiais e mão-de-obra incorporados em novos produtos não estarem plenamente refletidos no preço de compra. Durabilidade, reparabilidade e capacidade de instalar novas versões (upgradability) são essenciais para minorar o impacto ambiental do consumo. Para facilitar reforma e aperfeiçoamento (para que a durabilidade não se traduza em um beco sem saída tecnológico que impeça a introdução de desenhos mais eficientes), uma abordagem “modular” dá acesso a peças e componentes individuais, permitindo sua fácil substituição. Empresas como Xerox (copiadoras e impressoras) e Nortel (telecomunicações) adotaram essa filosofia. Trabalhando para estender e incrementar a vida útil de um produto, as empresas poderão extrair desempenhos cada vez melhores dos recursos incorporados nos produtos, em vez de vender a maior quantidade possível. Embora a legislação do PRP não trate da questão da longevidade de um produto, pode ser um incentivo para as empresas seguirem esse caminho.45 Quando produtos não se desgastam rapidamente, não precisam ser substituídos com tanta freqüência. Uma implicação óbvia é que serão produzidos menos produtos, o que significaria que as empresas fariam menos negócios. Mas haverá maior oportunidade e incentivo para manter, reparar, atualizar, reciclar, reutilizar e remanufaturar produtos, e assim mais negócios e maior potencial de emprego durante a vida de um produto. A reciclagem e remanufatura já tornaram-se indústrias de porte. A Agência de Reciclagem Internacional, em Bruxelas, estima que em pelo menos 50 países a indústria de reciclagem processa mais de 600 milhões de toneladas anualmente. Com um faturamento anual de US$ 160 bilhões, a indústria emprega mais de 1,5 milhão de pessoas. A reciclagem não só mantém os materiais fora de lixões e incineradores, como proporciona uma poupança substancial de energia ao substituir a extração de novas matérias-primas e processamento por materiais secundários. (Vide Tabela 5-4.)46 Tabela 5-4. Economia de Energia Obtida pela Substituição da Produção Primária por Materiais Secundários Material Economia Alumínio Cobre Plástico Aço Chumbo Papel (percentual) 95 85 80 74 65 64 FONTE: vide nota final 46. 135 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA A remanufatura também está transformando-se em um grande negócio, particularmente em áreas como componentes de veículos a motor. Essa atividade em todo o mundo poupa, no mínimo, 11 milhões de barris de petróleo por ano – um volume de eletricidade igual ao gerado por cinco usinas nucleares – e um volume de matéria-prima que encheria 155.000 vagões ferroviários anualmente. Nos Estados Unidos, a remanufatura é um negócio de mais de US$ 50 bilhões anuais, empregando quase meio milhão de pessoas diretamente em 73.000 empresas diferentes; isso equivale aproximadamente a toda a força de trabalho do setor de bens de consumo duráveis nos Estados Unidos. De acordo com Walter Stahel, do Product-Life Institute, em Genebra, o setor de remanufatura nos países membros da UE representa cerca de 4% do PIB da região.47 A Xerox é uma das pioneiras desse conceito, tendo adotado uma iniciativa de Manejo de Reciclagem de Bens em 1990. Embora a empresa já tenha feito alguma remanufatura, esse programa levou a Xerox a projetar seus produtos desde o início tendo a remanufatura em mente, e a fazer cada peça reutilizável ou reciclável. Como resultado, 70–90% dos equipamentos (medidos em peso) retornaram à Xerox no final de sua vida útil para serem refeitos. Da mesma forma que alguns dos seus concorrentes, a Xerox também remanufatura cartuchos usados para copiadores e impressoras; em 2001, refez ou reciclou cerca de 90% dos 7 milhões de cartuchos e toners devolvidos por seus clientes. No total, a empresa calcula que projetos ambientalmente amigáveis mantiveram pelo menos meio milhão de toneladas de lixo eletrônico fora de lixões entre 1991 e 2001.48 136 O princípio da responsabilidade do produtor, a remanufatura e conceitos afins levam, logicamente, a toda uma nova maneira de pensar os produtos, como uma economia funciona e o que deve alcançar. Em vez de simplesmente vender bens – o máximo possível, sem se interessar com o que acontece após a venda –, os fabricantes avançam para prestar um serviço desejado. No futuro, os consumidores poderão arrendar ou alugar produtos, em vez de adquiri-los. Ao manter a propriedade, os fabricantes também mantêm-se responsáveis pela manutenção e reparos adequados, tomam as medidas necessárias para estender a vida útil e, finalmente, recuperam os componentes e materiais para reciclagem, reutilização ou remanufatura. Podem trabalhar diretamente com seus clientes ou varejistas. Mas a ênfase estaria no “varejo de qualidade”, assessorando clientes sobre as melhores opções de arrendamento disponíveis e sobre qualidade e manutenção dos produtos; aconselhando-os como estender a vida útil com um mínimo de consumo de energia e materiais e diagnosticando se os aperfeiçoamentos ou outras mudanças maximizariam a utilidade de um determinado produto. Tal sistema seria como construir um tipo totalmente novo de economia de serviços, muito diferente da economia de serviços atual.49 Consumir melhor não significa deixar de manter a moderação nos níveis gerais de consumo. Várias empresas começaram a transformar esse conceito em realidade. A Xerox já Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA arrenda três quartos dos seus equipamentos. A Carrier Corp., em vez de vender equipamento de ar-condicionado, está criando um programa de venda de serviços de refrigeração, assessorando clientes sobre medidas de eficiência energética que ajudarão a reduzir as necessidades de ar-condicionado. A Dow Chemical e Safety-Kleen deram início ao arrendamento de solventes orgânicos para clientes industriais e comerciais, aconselhando-os quanto ao uso adequado e recuperando esses produtos, em vez de deixar o cliente com a responsabilidade de descartá-los. Isso é um forte incentivo para utilizarem menos solventes.50 Algumas empresas especializam-se em “contratação de desempenho”, ajudando clientes institucionais – empresas privadas, órgãos governamentais, hospitais e outros – a identificarem formas de reduzir seu consumo de energia, matérias-primas e água. Num contraste marcante com os interesses comerciais tradicionais, impediu o consumo de recursos e evitou o desperdício e poluição que fazem essas empresas prosperarem.51 Um exemplo freqüentemente citado de uma empresa buscando reinventar-se dessa forma é a Interface, um dos maiores fabricantes de tapetes comerciais. Após seu fundador e diretor-presidente, Ray Anderson, experimentar uma epifania ambiental em meados dos anos 90, a empresa empenhouse numa iniciativa para reduzir drasticamente seu impacto ambiental, saindo de vendas para arrendamento de carpetes. Conseguiu reduzir substancialmente seu consumo de água e energia e cortou sua dependência de matérias-primas de petróleo. Em 1999, introduziu “solenium”, um material que dura quatro vezes mais que os carpetes tradici- onais, utiliza 40% menos matéria- prima e incorpora energia, podendo ser totalmente remanufaturado em novos carpetes, em vez de ser descartado ou sofrer “reciclagem descendente” para produtos de menor valor.52 Talvez no seu lance mais audacioso, a Interface introduziu o “Arrendamento Sempre Verde” em 1995, com o qual a empresa retém a propriedade do produto e permanece responsável por mantê-lo limpo mediante uma remuneração mensal. Inspeções regulares permitiriam à empresa concentrarse apenas na substituição das placas com maior desgaste, em vez de todo o carpete, como no passado. Essa substituição mais direcionada ajuda a reduzir o volume de material necessário em cerca de 80%.53 Porém, apenas uma meia-dúzia de arrendamentos foram efetivamente realizados, pois a maioria dos clientes optou pela compra tradicional. O programa não teve sucesso por várias razões, algumas específicas ao negócio de carpetes. Alguns clientes acharam o contrato de arrendamento muito complexo ou muito inflexível, amarrando-os num acerto de longo prazo que limitava suas opções futuras. Mas talvez o maior problema tenha sido o custo – um reflexo da ênfase da Interface em material e serviços de manutenção de alta qualidade. No final, a empresa viu-se forçada a abandonar o arrendamento “sempre-verde”.54 A história da Interface é, ao mesmo tempo, encorajadora e acauteladora. É claro que o novo modelo comercial que a empresa estava propondo ainda enfrenta obstáculos gigantescos. Mas, da mesma forma que ocorre com todos os desafios radicais às práticas estabelecidas, uma aceitação ampla não virá facilmente. 137 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA Consumo Público e Crédito Sustentável Tecnologias mais eficientes e limpas são instrumentos essenciais da caixa de ferramentas da sustentabilidade. E a emergência de um novo tipo de economia de serviços proporcionará espaço adicional de manobra na busca de uma economia mais sustentável. Mais cedo do que tarde, todavia, precisaremos confrontar o espectro do consumismo insaciável. Há o perigo do dragão do consumo suplantar até mesmo métodos e tecnologias mais sofisticados criados para tornar o consumo mais enxuto e supereficiente. Consumir melhor não significa deixar de manter a moderação nos níveis gerais de consumo. Vale recordar o alerta do economista ecológico Herman Daly: “Fazer com maior eficiência aquilo que não deveria nem ter sido feito não é motivo de alegria”.53 Como deveriam conduzir-se as sociedades na tarefa de desencorajar o consumo “excessivo”? Embora um imposto de luxo, bem planejado, possa desempenhar um papel útil, sempre haverá polêmica sobre o que seja luxo desnecessário. Aquiescendo à “soberania do consumidor”, as sociedades capitalistas deixam quase que inteiramente a critério das pessoas a decisão de comprar, considerando regulamentos governamentais como uma intrusão indesejada (enquanto convenientemente ignoram as tentativas incessantes de manipulação dos “consumidores soberanos” através de campanhas publicitárias). Claramente, uma abordagem “comandar-econtrolar” não é viável nem desejável. Mas enquanto decisões específicas de fazer compras devem ficar a critério de indiví- 138 duos e famílias, há um aspecto mais amplo e estrutural para o qual os governos precisam atentar. A predominância de padrões de consumo altamente individualizados leva, inevitavelmente, à multiplicação de muitos bens e serviços em escala grandiosa. Isso praticamente assegura a redundância e muito mais necessidades materiais do que seria necessário. Governos e comunidades podem agir para conseguir um melhor equilíbrio entre formas públicas e privadas de consumo. Mesmo nas sociedades mais orientadas para o mercado há bibliotecas, piscinas e parques públicos. Esse compartilhamento organizado de equipamentos e amenidades pode ser ampliado. Por exemplo, o compartilhamento de automóveis está ganhando adesões rapidamente em cidades européias e em outros países, proporcionando uma alternativa necessária, se bem que parcial, à propriedade de veículos e ao aluguel estritamente comercial de automóveis. Governos podem facilitar essas iniciativas estabelecendo regimes fiscais favoráveis. Comunidades locais também podem implantar sistemas de compartilhamento de ferramentas, para que ninguém precise possuir individualmente uma furadora, serra circular ou cortador de grama.56 A ação governamental também é indispensável para superar os imensos empecilhos estruturais a níveis menores de consumo e a formas mais públicas de consumo. E isso é muito mais evidente nos transportes: padrões de habitações espalhadas, de baixa densidade, traduzem-se em grandes distâncias separando as residências, locais de trabalho, escolas e lojas – fazendo com que andar a pé, de bicicleta ou pegar um ônibus ou metrô torne-se uma ta- Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA refa difícil ou impossível. Embora a deci- consumidor cada vez mais alto. Porém, a são sobre que tipo de automóvel comprar capacidade de anunciantes projetarem noseja do consumidor, a necessidade de vas “necessidades” ultrapassa facilmente o comprá-lo, ou não, freqüentemente foge de alcance do bolso do consumidor; “deseseu controle. Da mesma forma, na mora- jos” sempre parecem maiores do que os dia, os proprietários dispõem de escolhas meios disponíveis. sobre aquecimento e ar-condicionado. Mas Particularmente a partir dos anos 90, a é decisão das incorporadoras e construto- poupança na maioria dos países da OCDE ras se uma residência terá isolamento ade- começou a cair, enquanto as dívidas famiquado e janelas eficientes em energia; esliares subiam. Jovens adultos, vulneráveis sas decisões fundamentais ditam as necesao marketing agressivo direto de bancos e sidades de aquecimento e refrigeração duoutros emitentes de cartões de crédito, esrante a vida de uma casa. tão afundando cada vez mais num atoleiro Reconhecendo essas realidades, a OCDE tem referido-se a uma “infra-estrutura de de dívidas. O número de jovens de 20 a 24 consumo” que força as pessoas a adotar anos à beira da falência pessoal na Alemapadrões involuntários de consumo. Da mes- nha, por exemplo, aumentou um terço só 58 ma forma que é importante para os consu- entre 1999 e 2002. O endividamento dos consumidores midores escolher produtos mais eficientes, só isso não pode superar essas limitações americanos cresce hoje duas vezes mais ráestruturais. Políticas governamentais avan- pido que suas rendas. O crédito ao consuçadas – melhor planejamento do uso do solo, midor a receber disparou nas últimas duas normas e padrões focados no meio ambi- décadas, atingindo US$ 1,8 trilhão em julho ente e a criação de uma infra-estrutura pú- de 2003. (Vide Figura 5-2.) A proporção de blica revigorada, que permita maior provi- portadores de cartões de crédito com salsão social de certos bens e serBilhões de Dólares viços – ajudarão a assegurar que 2.000 os consumidores não sejam (base=2001) compelidos a fazer “escolhas” 1.500 consumo-intensivas.57 Outra área-chave em que uma ação governamental faz-se 1.000 necessária é o crédito ao consumidor. O rufo inexorável da 500 propaganda, insinuando que marcas corporativas simboliFonte: Federal Reserve Board zam estilos desejáveis de vida e 0 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 que a felicidade individual está intrinsecamente relacionada aos Figura 5-2. Crédito ao Consumidor a Receber produtos que possuímos, ajunos Estados Unidos, 1950–2003 da a propelir a preferência do 139 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA dos em aberto no final de cada mês aumentou para 61%, e o endividamento médio superou US$ 12.000 em 2002. No Reino Unido, a dívida do consumidor quase triplicou (em bases atuais) entre 1991 e 2001. Na Alemanha, o crédito ao consumidor dobrou em 1989–99 para 216 bilhões de euros, e em 2001 quase um quarto de todas as famílias tinham dívidas pendentes. E o número de famílias holandesas buscando proteção contra credores dobrou em 1992–99.59 Até meados dos anos 90, consumidores fora da América do Norte e Europa Ocidental raramente assumiam um grande volume de dívidas pessoais. Hoje, os gastos com cartões de crédito estão aumentando rapidamente entre consumidores emergentes, de classe média, na Ásia, América Latina, Europa Oriental e até em partes da África. O volume de dinheiro gasto por sul-coreanos por meio de cartões de crédito mais que duplicou em 2001, mas 2,5 milhões destes estão inadimplentes. Falências pessoais estão aumentando não apenas na Coréia do Sul, mas também na Argentina, Brasil, Chile, China, México e Tailândia.60 Embora o crédito ao consumidor esteja hoje atrelado à manutenção de uma economia hiperprodutiva, que encoraja as pessoas a assumir altas dívidas pessoais, as finanças de uma economia de consumo sustentável terão que desenvolver formas que permitam – e premiem – a compra de produtos eficientes, de alta qualidade, duráveis e ambientalmente amigáveis. Estes, sem dúvida, terão maior custo inicial de aquisição, mas ao longo do tempo serão mais economicamente vantajosos para os consumidores do que produtos mais baratos e frágeis, que terão de ser substituídos com freqüência. Os governos poderão ajudar os consu- 140 midores, oferecendo condições vantajosas de financiamento para determinadas aquisições. Os governos do Japão e Alemanha fazem isso em apoio à instalação de telhados solares em residências, porém muitas outras aquisições ecoamigáveis poderiam ser incentivadas da mesma forma. Ou governos podem oferecer descontos direcionados. O governo do Canadá, por exemplo, anunciou em agosto de 2003 que iria destinar C$ 131,4 milhões (US$ 95 milhões) para um programa que oferece um desconto médio de C$ 1.000 por residência, a fim de motivar proprietários a fazerem melhorias em eficiência energética.61 A fim de encorajar ainda mais a fabricação e compra de produtos ambientalmente benignos, os governos poderiam desenvolver políticas que oferecessem descontos fiscais a produtos de melhor desempenho, taxando aqueles que fiquem aquém dos padrões. Poderia ser criado um sistema graduado onde os níveis tanto de descontos quanto de taxas seriam escalonados conforme a eficiência, durabilidade ou nível de benefício ambiental de determinado produto. Essa combinação, conhecida como “taxadesconto”, tem sido utilizada para produtores de energia, porém o conceito ainda não foi implementado num cenário consumidor. Um sistema taxa-desconto poderá até ser mais eficaz se for atrelado a outras políticas, como leis de ecorrotulagem e PRP.62 Livrando-se da Armadilha do “Ganhar-e-Gastar” Os países industrializados são extraordinariamente produtivos – ou seja, a mesma quantidade de produto pode ser fabricada com cada vez menos trabalho Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA humano. Nos Estados Unidos, por exem- um papel central, a canalização de ganhos plo, apenas cerca de 12 horas semanais de produtividade para maior tempo de lazer, de trabalho foram necessárias para pro- em vez de aumento de salário, que poderia duzir, em 2000, o mesmo que em 40 ho- redundar em consumo crescente, também ras em 1950. Em princípio, isso pode ser faz sentido sob uma perspectiva ecológica transformado em um de dois objetivos: (presumindo-se que um maior tempo de elevação de salários (em linha com a pro- lazer não se traduza em atividades dutividade), conservando a jornada de ambientalmente questionáveis, como viatrabalho constante, ou concessão de mai- gens aéreas longas para férias em locais or tempo de lazer, mantendo constante a “exóticos”).64 Levou quase um século para se cherenda do trabalho. Na prática, quase sempre tem sido o primeiro. A maioria das gar à semana de 40 horas na maioria dos pessoas tem ficado presa a um padrão países industrializados. Onde outrora hade “ganhar-e-gastar”. Maior disponibili- via uma tendência comum para jornadas dade de renda traduz-se em maior des- menores por todo o mundo industrializapesa de consumo. E a sedução da propa- do, há hoje uma divergência cada vez ganda, o acompanhamento de status mais maior entre Estados Unidos e Europa. elevados e outros fatores fazem com que Numa reversão da situação antes dos anos cada centavo ganho seja necessário para 70, os americanos hoje trabalham períocontinuar na senda batida do consumo.63 dos mais longos que a maioria dos euroDesde a ascensão da industrialização em peus (trabalhadores japoneses, entretanmassa do final do século XIX tem havido to, ainda têm, de longe, a maior jornada um cabo-de-guerra contínuo entre patrões de trabalho). (Vide Figura 5-3.)65 e sindicatos sobre a jorHoras nada de trabalho. Os empregados batalham 2.800 Fonte: Hayden pela redução das horas 2.600 Reino Unido de trabalho, seja dire2.400 tamente, diminuindo-se Japão realmente a jornada, ou 2.200 maior período de férias, aposentadoria mais 2.000 Alemanha França cedo ou ausência re- 1.800 munerada. A motivação Estados Unidos básica disso foi o de- 1.600 sejo de melhoria da 1.400 qualidade de vida e cri1913 1929 1938 1950 1960 1973 1990 1998 ação de mais empreFigura 5-3. Jornada Anual de Trabalho por Pessoa Empregada gos. Embora as quesnos Principais Países Industrializados, tões ambientais não teAnos Selecionados, 1913–98 nham desempenhado 141 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA A maioria dos empregadores tem se mostrado relutante em concordar com maiores reduções, e a mudança no equilíbrio patrãosindicato, com o enfraquecimento deste e o aumento da pressão da globalização, dificultou qualquer mudança. Em linhas gerais, um emprego em tempo integral, algo como 40 horas semanais, ainda é considerado normal para qualquer um que deseja considerar-se elegível para um emprego com oportunidades de avanço na carreira. Porém, a discussão deslocou-se de jornadas semanais fixas para a introdução de maior flexibilidade, com patrões e empregados promovendo conceitos e interesses concorrentes. Os patrões buscam a capacidade de ligar e desligar a torneira da oferta de mão-de-obra de acordo com as flutuações na demanda de seus produtos. Os empregados pleiteiam opções mais individualistas para acomodar as necessidades pessoais e familiares e conquistar maior “soberania de tempo”. Vários modelos promissores surgiram na Europa. (Vide Tabela 5-5.)66 Tabela 5-5. Novas Abordagens para a Jornada de Trabalho na Europa Situação País Bélgica Implantou um sistema de “crédito de tempo”, permitindo às pessoas trabalharem uma semana de quatro dias até 5 anos e tirar férias de um ano durante a carreira, recebendo uma remuneração do governo. Dinamarca Inaugurou um sistema pioneiro de férias pagas para educação, cuidado infantil e estudos universitários que permite rotação entre empregados e desempregados. (Variações disso foram posteriormente implementadas na Bélgica, Finlândia e Suécia). Holanda Em 1982, o governo, empresas e sindicatos concordaram em reduções da jornada em troca de moderação salarial. A semana de trabalho foi reduzida de 40 para 38 horas em meados dos anos 80 e para 36 horas no início dos anos 90. A redução parcial voluntária cresceu dramaticamente, com trabalhadores com meio turno tendo direito ao mesmo salário/hora, benefícios e oportunidades de promoção dos trabalhadores em tempo integral. A legislação em 2000 estendeu o direito de redução de horas a todos os trabalhadores, enquanto trabalhadores com meio turno podem solicitar períodos mais longos. FONTE: vide nota final 66. Mais do que os americanos, os europeus preferem reduções da jornada em lugar de aumento de renda. Mesmo assim, as pesquisas revelam que quase dois terços de todos os empregados nos Estados Unidos trabalhavam mais tempo do que desejado no final dos anos 90, contra metade em 1992. Ao mesmo tempo, todavia, a economista do Boston College, 142 Juliet Schor, relata que “durante a primeira metade dos anos 90, um quinto de todos os americanos passaram por algum tipo de redução voluntária da jornada de trabalho, com um pouco mais da metade desejando que fosse uma mudança permanente”. “Redução da jornada” é a retirada, ou retirada parcial, da força de trabalho, que é às vezes disparada por uma mu- Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA dança de valores e comportamentos para fora do consumismo. (Embora algumas pessoas reduzam suas jornadas voluntariamente, outras, entretanto, são forçadas a aceitar trabalhar meio turno, contra sua vontade.)67 Por outro lado, trocar renda por tempo não é uma opção realista para muitas pessoas, em vista das tendências adversas do salário. Nos Estados Unidos, os salários médios estagnaram entre o início dos anos 70 e meados para fins dos anos 90. Mas as médias mascararam um alto grau de desigualdade na distribuição de renda durante o último quarto de século. Para 10% dos trabalhadores na faixa baixa, os salários em 2001 não eram superiores a 1979; na realidade, 70% da força de trabalho não se deu melhor, não tendo praticamente ganho real de salário até 1998.68 Uma fração significativa da população sentiu-se compelida a trabalhar períodos adicionais, freqüentemente pegando outros empregos apenas para se manter. No todo, há inúmeras tendências contraditórias. Na Europa, as tendências foram mais favoráveis, mas o crescimento salarial ficou para trás da expansão da produtividade da mãode-obra. Para serem viáveis, então, políticas de redução de jornadas de trabalho precisam ser acompanhadas por aumentos de salário, a fim de estreitar o diferencial de renda entre ricos e pobres.69 Nova Dinâmica e Valores Como foi descrito por todo este capítulo, com ajuda de uma grande variedade de ferramentas programáticas, as economias modernas podem ser muito menos intensivas em consumo. Entretanto, o que significa consumir menos para uma economia capitalista estruturada para uma expansão econômica perpétua? Afinal, a cultura consumista desempenha um papel importante: assegura que os bens produzidos por uma economia hiperprodutiva sejam, efetivamente, adquiridos. Isso significa que o acúmulo do capital pode seguir adiante, o que move a inovação tecnológica e que, por sua vez, resulta na produtividade cada vez maior da mão-de-obra (e que proporciona, pelo menos em princípio, rendas e poder aquisitivo crescentes, necessários ao consumismo). Essa dinâmica pode desmoronar caso os consumidores não gastem bastante.70 E há outro complicador: embora a sustentabilidade exija que apetites materiais sejam contidos, as gigantescas sobrecapacidades que têm surgido em muitas indústrias parecem exigir que o consumo seja estimulado. O setor automotivo global, por exemplo, está trabalhando a apenas 70% de sua capacidade. No setor de semicondutores, a utilização da capacidade está a 65% e nos equipamentos de telecomunicações, meros 50%. A economia mundial defronta-se com contradições crescentes. Economias movidas por exportações em vários países em desenvolvimento estão rapidamente ampliando sua produção. Na China, os setores siderúrgicos, químicos, de materiais de construção e telefones celulares, por exemplo, deverão dobrar suas capacidades de produção nos próximos três anos, aumentando a pressão.71 Uma enorme fatia das exportações mundiais está sendo absorvida pela terra do consumismo par-excellence, os Estados Unidos. Durante os anos 90, a economia americana agia mais e mais como um grande aspirador, sugando grande parte da produção superavitária mundial. (Vide Quadro 5-2.) 143 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA QUADRO 5-2. CONSUMIDORES AMERICANOS, PRODUTOS BARATOS E EXPLORAÇÃO GLOBAL DA MÃO-DE-OBRA Durante a última década, os consumidores americanos aumentaram seus gastos anuais em bens e serviços a uma taxa média de 3% ao ano, ou quase tão rápido quanto nas décadas anteriores. Se o consumo é medido por quantidade de itens, todavia, em vez de fluxos de dinheiro, as taxas de aquisição para uma gama variada de produtos manufaturados são muito maiores. O pensamento econômico padrão vê essa tendência como simples ganho no bem-estar dos consumidores. Mas, sob um ponto de vista ambiental, é negativo. Novos conceitos econômicos e evidências também reconhecem que quando o gasto satisfaz objetivos de status e sociais, em vez de necessidades puramente funcionais, há muito menos bem-estar real a ser ganho do consumo adicional. O motivo principal das altas taxas de aquisição de produtos é que os preços caíram significativamente na última década. Entretanto, isso não foi devido à maior eficiência ou tecnologia. A estrutura e normas que regem a economia global deprimiram os custos da mão-de-obra e saquearam os recursos naturais. Consideremos o caso do vestuário, um produto historicamente valioso. Em 1920, a família típica americana gastava 17% de suas despesas totais em roupas. Em 2001, essa cifra foi de meros 4,4%, apesar de os consumidores estarem comprando muito mais peças. Realmente, o vestuário tornou-se tão barato que é difícil até dar de graça. O excesso de roupas é atribuído em grande parte à exploração da mão-de-obra feminina nas fábricas de confecções da Ásia e América Central. A parcela de mão-de-obra na produção está em níveis historicamente baixos, e os salários caíram abaixo da linha de subsistência. Relatos em primeira mão de trabalhadores e observadores ocidentais nas fábricas que produzem para Disney, Nike, Liz Claiborne e muitas outras empresas americanas comprovaram que as pessoas freqüentemente trabalham mais de 100 horas semanais. Os trabalhadores são submetidos a 144 uma autoridade supervisora arbitrária; casos de abusos físicos, sexuais e verbais são comuns e bem documentados; e sindicatos são proibidos. Os eventos da nova economia global agravaram esses problemas. A crise financeira da Ásia, no final dos anos 90, foi resultado direto de reformas neoliberais impostas pelo Tesouro dos Estados Unidos, através do Fundo Monetário Internacional, que levaram um número de economias asiáticas ao colapso, sob o peso da privatização e liberalização do capital. Os salários por toda a região despencaram após a crise. Salários e benefícios na indústria de confecção da Indonésia caíram para 15 centavos de dólar por hora. Em Bangladesh, que se tornou o quarto maior exportador de confecções para os Estados Unidos, os salários caíram para uma faixa de 7– 18 centavos por hora. A Wal-Mart, que controla 15% do mercado americano de confecções e é a maior rede varejista de vestuário do mundo, continuamente pressiona os custos de mão-de-obra nas fábricas chinesas – que podem ser até de 13 centavos por hora, e a norma é abaixo de 25 centavos. (Linhas mais caras, como Ralph Lauren e Ellen Tracy, também dependem da mão-de-obra barata da China.) Os trabalhadores têm tido pouco sucesso na resistência a essas condições, pois as empresas transnacionais simplesmente mudam-se caso estes façam exigências, e porque os donos das fábricas gozam de proteção política de seus governos. Ademais, o deslocamento de trabalhadores rurais da terra e dos meios de vida em conseqüência das atividades das empresas transnacionais assegura um fluxo constante de novos recrutas para as fábricas urbanas. Enquanto isso, esses fatores levaram ao declínio dos preços nos Estados Unidos, onde o preço de confecções caiu 10% ao longo da última década, com uma queda especial após o débâcle asiático. O número de peças adquiridas disparou, aumentando em incríveis 73% entre 1996 e 2001. Os consumidores reduziram a freqüência Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA QUADRO 5-2. (continuação) do uso de roupas novas e descartam suas compras num ritmo recorde. Até 2001, o consumidor americano comum adquiria 48 peças novas de roupa por ano. As taxas de descarte do consumidor aumentaram 10% ao ano durante os anos 90 e as roupas tornaram-se um produto descartável e, portanto, plenamente disponível. Embora menos dramática, ocorreu uma dinâmica semelhante com outros bens de consumo. Os consumidores americanos gastam cerca de US$ 30 bilhões ao ano em brinquedos, 60% dos quais são feitos em fábricas chinesas, onde salários e condições de trabalho são semelhantes àqueles das confecções. Desde 1994, os preços de brinquedos caíram 33%, e as crianças ganham, em média, 69 brinquedos por ano. Os preços de computadores pessoais e equipamentos periféricos caíram 81% desde 1997, como resultado de chips mais poderosos, salários baixos e desembaraço de custos ambientais. Em 2001, quase 23 milhões de computadores novos foram adquiridos, com quantidades semelhantes sendo descartadas. Estima-se que em 2005, 63 milhões de computadores pessoais serão descartados só nos Estados Unidos. Queda de preços e aumento de quantidades também caracterizam eletrodomésticos, equipamentos esportivos internos e externos, ferramentas e ferragens. Os preços nas lojas de departamento caíram quase um terço desde 1993, e bens duráveis caíram 57%. Isso devese em parte à pressão constante nos preços da Wal-Mart, pois esta empresa explora mãode-obra externa e interna, obtendo vantagens com subsídios em transportes e degradação ambiental não-registrada. A partir de 1995, a demanda interna nos Estados Unidos cresceu o dobro da taxa de outras nações industrializadas. O saldo da balança de pagamentos dos Estados Unidos (medindo fluxos comerciais e transferências financeiras) saiu de um O consumo sustentável requer preços mais altos para bens de consumo e uma mudança para melhor qualidade, produtos mais duráveis feitos por trabalhadores mais bemremunerados, sob condições ambientalmente seguras. Isso ajudará a satisfazer critérios elementares de justiça, como o direito de trabalhadores estrangeiros e domésticos a uma vida decente e direito de todos compartilharem da abundância do planeta. Mas essa é uma questão não só de consumo, mas também política. As políticas atuais distanciam-se dessas condições de sustentabilidade. Pesquisas consideráveis sobre os efeitos do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional revelam que estes representam basicamente os interesses do governo dos Estados Unidos e corporações americanas, às custas dos trabalhadores e indústrias locais em países pobres. À medida que aumenta a oposição à economia global, o governo dos Estados Unidos responde com grandes aumentos nos gastos militares. Uma economia global justa e sadia deverá finalmente enraizarse numa estrutura mundial de salários altos bastante para sustentar uma forte demanda interna, num equilíbrio mais íntimo de poder entre capital e trabalho e maior distribuição eqüitativa de renda e riqueza. A necessidade de ambientalistas desenvolverem uma causa comum com outros interessados em justiça e paz globais torna-se, assim, uma tarefa da maior urgência. – Juliet Schor, professora de Sociologia, Boston College _______________________________________ FONTE: vide nota final 73. valor positivo de US$ 3,7 bilhões em 1991 para um negativo de US$ 503 bilhões em 2002 – um nível recorde. Os dólares que fluíram para fora dos Estados Unidos, para pagar importações crescentes, estão voltando aos Estados Unidos à medida que 145 Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA investidores estrangeiros compram notas do tesouro, títulos, ações e imóveis. Esses fluxos de dólar criaram um imenso reservatório de liquidez global. Essa explosão de crédito tem sido a principal força motriz da atividade econômica mundial. Mas encorajou grandes e exagerados investimentos em praticamente todo setor de porte. E o bem-estar da economia global tem mostrado-se cada vez mais dependente de um consumo em contínua expansão nos Estados Unidos. Alguns observadores, inclusive os analistas do Economic Policy Institute, em Washington, e Stephen Roach, economista-chefe da Morgan Stanley, pensam que esse sistema é intrinsecamente instável, não podendo permanecer indefinidamente em expansão.72 Uma economia sustentável necessita de uma forma diferente de medir a atividade humana e de sinalizar a investidores, produtores e consumidores. É certo então, tanto sob uma perspectiva ambiental quanto econômica, que é chegada a hora para uma alteração de curso. Mas será que uma recalibração é viável? Certamente, um grande e repentino declínio no consumo provavelmente faria a economia mundial cair em parafuso. Porém é muito mais provável que uma economia menos consumista venha a surgir gradativamente. Isso daria tempo para uma reorientação de como funciona uma economia, dando às empresas uma oportunidade de ajustarem-se.73 146 Uma série de investimentos e inovações tecnológicas para realizar a mudança em direção à sustentabilidade suavizarão a transição. Promovendo fontes renováveis de energia; expandindo sistemas de transportes urbanos; substituindo maquinaria, equipamentos, prédios e veículos ineficientes por outros modelos, muito mais eficientes; redesenhando produtos mais duráveis – todas essas atividades representam, efetivamente, um programa de estímulo ecológico para a economia. É essencial reformular não apenas a economia, mas também o pensamento econômico. Já atores econômicos estão preparados para responder a sinais de crescimento quantitativo. O conceito de produto interno bruto, onde todas as atividades econômicas são jogadas, contribuam ou não para o bem-estar, reina supremo. (Vide Capítulos 1 e 8.) Uma economia sustentável necessita de uma forma diferente de medir a atividade humana e de sinalizar a investidores, produtores e consumidores. Precisa de uma teoria diferente, abandonando-se a premissa ultrapassada de que o crescimento quantitativo é incondicionalmente desejável e abraçando-se, em vez disso, a noção de crescimento qualitativo. O mais fundamental, entretanto, é uma mudança na percepção humana de valor econômico. Em Capitalismo Natural, Amory Lovins e os co-autores Hunter Lovins e Paul Hawken defendem “uma nova percepção de valor, uma mudança da aquisição de bens como medida de afluência para uma economia na qual o recebimento contínuo de qualidade, utilidade e desempenho promova o bem-estar”. Nessa economia, receitas e lucros corporativos não mais seriam associados à maximização da quantidade de coisas Estado do Mundo 2004 RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA produzidas e vendidas, mas sim à obtenção de mais serviços e melhores desempenhos de um produto, minimizando, assim, o consumo de energia e materiais e maximizando a qualidade.74 Na medida em que a explosão do “ponto-com” dos anos 90 foi uma ilusão, mostrou efetivamente o potencial para se perceber valores sob novas formas – menos ligadas à mobilização de recursos físicos. O futuro pode não estar na “contagem de olhos” – ou seja, quantos pares de olhos podem ser atraídos para um website em particular –, mas consumidores, industriais, instituições financeiras e governos precisam desenvolver um novo conceito do que é realmente valioso e o que, conseqüentemente, vale a pena realizar. Sem dúvida alguma, obstáculos políticos sérios terão que ser superados. Os que se preocupam apenas com interesses par- ticulares, especialmente nos setores de energia e mineração, são exímios defensores de subsídios lucrativos e opositores de reformas fiscais significativas. Por toda a economia, muitas empresas industriais estão presas ao modelo comercial com o qual estão familiarizadas e inclinadas a manter as premissas de ontem, em vez de aventurarem no território ainda desconhecido da devolução de produtos e conceitos afins. E os varejistas, particularmente nos Estados Unidos, estão fortemente orientados a maximizar vendas de produtos baratos em vez de buscar um varejo de qualidade. O poder de resistência desses interesses não deve ser subestimado. Uma economia menos orientada ao consumo é possível, mas necessitará de ação governamental, educação do consumidor e números crescentes de desbravadores corporativos para fazê-la surgir. 147 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Telefones Celulares Telefones celulares hoje são onipresentes. Em 1992, menos de 1% da população mundial possuía um celular e somente um terço de todas as nações tinha uma rede de telefonia celular. Apenas 10 anos depois, 18% das pessoas já tinham um celular – 1,14 bilhão, mais do que o 1,10 bilhão com linha fixa convencional – e mais que 90% dos países dispunham de uma rede. 1 Agora, europeus enviam e recebem textos curtos nos seus celulares mais do que usam a Internet de seus computadores.Os filipinos lideram o envio de textos via celular, mundialmente; na realidade, “mensagens de textos” via celular dos manifestantes para organizar demonstrações contra o Presidente Joseph Estrada contribuíram para sua expulsão. Na África, os celulares ultrapassam as linhas fixas numa média mais alta do que em qualquer outro continente; lá, donos de celulares que alugam seus aparelhos fazem um benefício aos habitantes de vilarejos, que anteriormente tinham de caminhar quilômetros para fazer uma ligação.2 Como as pessoas usam seus celulares principalmente para bater papo, o aparelho atrai ondas de rádio mais perto de suas cabeças do que a maioria de outros aparelhos eletrônicos. Um estudo de 10 148 países, promovido pela Organização Mundial de Saúde para determinar se o uso de celulares pode estar relacionado com cânceres de cabeça e pescoço, deve ser concluído em 2004. Sem dados de longo prazo disponíveis, os pesquisadores estão recomendando aos usuários a colocação de um dispositivo em seus celulares para manter o aparelho mais afastado. E um estudo de um grupo organizado pelo governo britânico desencorajou o uso excessivo de celulares por crianças.3 Similarmente aos computadores, os celulares são produtos de vida curta, representando a mais patente ameaça à saúde humana e ao meio ambiente, quando são criados ou destruídos, porque contêm chips semicondutores, ricos em substâncias tóxicas. Análises de ciclo de vida revelam a placa de circuitos contendo o chip do celular, o visor de cristal líquido e as baterias como os maiores riscos, seguidos da capa plástica, de difícil reciclagem. Nos Estados Unidos, segundo maior mercado mundial de celulares depois da China, aparelhos são rejeitados depois de 18 meses, e o grupo de pesquisa INFORM calcula que até 2005 os consumidores terão acumulado cerca de 500 milhões de celulares usados, que provavelmente terminarão em Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES um aterro, onde poderão lixiviar cerca de 141.500 quilos de chumbo.4 O tamanho diminuto torna os celulares mais fáceis de serem descartados do que computadores, mas são também mais facilmente reaproveitados. O prolongamento da vida dos celulares dessa maneira diminui seu ônus ambiental. Grupos beneficentes associaram-se a empresas para recondicionar aparelhos usados – alguns são programados para discar serviços de emergência e oferecidos a vítimas de violência doméstica ou idosos, enquanto outros são revendidos em países em desenvolvimento – e empresas, como a ReCelular, compram e vendem celulares usados a granel.5 Normas competitivas entre redes de celulares são uma das razões por que eles são descartados tão rapidamente nos Estados Unidos. Inversamente, a Europa tem a mesma norma desde o início dos anos 80. Uma vez que as empresas que exploram equipamentos ultrapassados teriam muito a perder, a indústria tem obstaculizado tentativas da International Telecommunication Union para se chegar a um consenso sobre um padrão único; no entanto, alguns observadores da indústria acreditam que tal movimento será inevitável à medida que for aumentando o número de usuários .6 No final, incentivos para empresas projetarem e reciclarem celulares menos tóxicos têm melhores perspectivas para minimizar-se a carga ambiental. A partir de 1998, o Japão obrigou os fabricantes a receber de volta a maioria dos aparelhos eletrônicos; essa decisão estende-se hoje a computadores e normas estão em estudo para outros produtos eletrônicos. As empresas devem pagar pela reciclagem de seus produtos, incentivando empresas como a Sony a investir em tecnologias que sejam facilmente recicláveis.7 Holanda, Noruega, Suécia e Suíça implantaram o “princípio de responsabilidade do produtor”, incluindo celulares, nos quais os consumidores pagam, antecipadamente, taxas de descarte para financiar a reciclagem. Em alguns países, programas de certificação informam aos consumidores quais celulares são mais ambientalmente amigáveis: na Alemanha, o selo Blue Angel é usado em celulares que atendem às exigências de conteúdo tóxico e, na Suécia, o TCO Development certifica aparelhos conforme critérios de emissões, ergonomia e ambientais, inclusive se são facilmente recicláveis.8 Duas diretivas, da Comissão Européia, entraram em vigor em 2003, com o mais forte alerta ambiental jamais sinalizado à indústria eletrônica. A diretiva Waste Electrical and Electronic Equipment (Descarte de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos) tornará cada empresa responsável pela coleta e reciclagem de seus novos produtos após 13 de agosto de 2005, enquanto todas as empresas serão responsáveis, coletivamente, pelos produtos eletrônicos colocados no mercado antes dessa data. Uma regra associada proíbe o uso de certas toxinas em produtos eletrônicos, incluindo chumbo, mercúrio, cádmio, cromo hexavalente e certos retardadores de chama brominados.9 Novas leis européias estão fomentando o surgimento de tecnologias ecologicamente amigáveis. Por exemplo, a Nokia tem trabalhado com cientistas acadêmicos para desenvolver plásticos e telefones biodegradáveis, que se desmontam, para fácil reciclagem, pela ação do calor.10 149 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES A Silicon Valley Toxics Coalition, da Califórnia, está lutando para que os Estados Unidos revoguem a legislação de devolução. Na falta de leis nacionais, Minnesota introduziu legislação tornando os produtores responsáveis por certos materiais tóxicos, Massachusetts proibiu o lixo eletrônico nos aterros sanitários e criou um fundo para reciclagem de eletrônicos, a Califórnia introduziu uma proibição limitada e espera que os governos locais cubram os custos da reciclagem, Nova Iorque recentemente obrigou os comerciantes a aceitar e reciclar qualquer celular vendido por eles, e outros estados estão elaborando legislação para reduzir a quantidade do descarte eletrônico permitido.11 150 No âmbito internacional, no fim de 2002, a Secretaria da Convenção da Basiléia sobre o comércio de resíduos perigosos convocou os principais fabricantes para formar um novo grupo de trabalho sobre telefonia celular. Ultimamente, os perigos à saúde provenientes do lixo eletrônico têm recebido mais atenção da mídia, devido à comprovação, por ativistas ambientais, da exportação de lixo eletrônico dos Estados Unidos para a Ásia. A Secretaria da Convenção pretende que esse novo grupo de pesquisa sobre telefonia celular seja a primeira de várias iniciativas que busquem trabalhar conjuntamente com a indústria em problemas do lixo associado a produtos específicos.12 — Molly O‘Meara Sheehan Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES CAPÍTULO 6 Comprando para as Pessoas e o Planeta Lisa Mastny Na primavera de 2001, dois estudantes do Connecticut College, no nordeste dos Estados Unidos, distribuíram uma petição ambiciosa. Preocupados com as emissões de poluentes danosos do colégio, pediram apoio aos colegas para um aumento voluntário da taxa de atividades estudantis, a fim de levantar recursos para inclusão da universidade numa cooperativa local de energia renovável. Mais de três quartos dos estudantes assinaram a petição, que obteve apoio unânime, tanto da administração estudantil quanto do Conselho de Curadores. Embora a cooperativa tenha fechado um ano depois, as sementes para a transição haviam sido plantadas. Em janeiro de 2003, o Connecticut College já atendia a 22% de suas necessidades através da energia eólica – a maior parcela de energia obtida dessa forma por um colégio ou universidade americana.1 Em todo o mundo, mais e mais universidades, corporações, órgãos governamentais e outras instituições estão reavaliando seus hábitos de compra e incorporando questões ambientais em todas as etapas de suas aquisições. Ao fazê-lo, ajudam a incentivar mercados para uma gama variada de produtos ambientalmente desejáveis. As vendas globais de lâmpadas fluorescentes compactas, eficientes no consumo de energia (LFCs), aumentaram quase 13 vezes desde 1990 para cerca de 606 milhões de unidades em 2001. O uso de energia solar e eólica avançou em mais de 30% ao ano, ao longo dos últimos cinco anos, em países como Japão, Alemanha e Espanha. Nos Estados Unidos, as vendas no varejo de produtos orgânicos cresceram pelo menos 20% ao ano desde 1990 para US$ 11 bilhões por ano, enquanto as vendas de carros elétricos híbridos duplicaram em 2001.2 Uma versão mais detalhada deste capítulo foi publicada como Worldwatch Paper 166, Purchasing Power: Harnessing Institutional Procurement for People and the Planet (Washington, DC: Worldwatch Institute, julho 2003). 151 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA Mesmo assim, os mercados verdes são minúsculos em comparação com os convencionais. O Natural Marketing Institute, dos Estados Unidos, estima que a demanda global por produtos de “saúde e sustentabilidade” – desde transporte alternativo até alimentos orgânicos – atingiu a cifra recorde de US$ 546 bilhões em 2000. Mas isso ainda é apenas cerca de 1% da economia mundial total.3 Mercados verdes estão se dando melhor em algumas regiões do que em outras. Na Europa, por exemplo, o papel reciclado hoje custa o mesmo preço, ou até menos, que o papel virgem, principalmente porque sua procura vem aumentando continuamente. Compradores municipais em Dunquerque, na França, economizam aproximadamente 50 centavos de dólar por resma (cerca de 16%) ao exigir papel reciclado. Nos Estados Unidos, entretanto, os compradores ainda pagam um ágio de 4–8% pelo conteúdo reciclado. Apesar de intensos esforços para incrementar a participação do papel reciclado no mercado, cerca de 95% do papel para impressão e de escrever (que representa mais de um quarto do mercado americano de papel) ainda deriva de madeira virgem. O uso interno de papel reciclado, na realidade, caiu nos últimos anos, e caso a demanda não se recupere, a infraestrutura fabril poderá desaparecer.4 Esses mercados são ainda menores no mundo em desenvolvimento, embora o interesse em energia renovável e outras áreas esteja crescendo em muitos países. O uso geral de recursos no mundo em desenvolvimento ainda é baixo em relação ao mundo industrializado, porém a demanda consumista crescente por tudo, de carros a computadores, tornará o fortalecimento de mercados locais para tecnologias ambientalmente seguras cada vez mais importante.5 152 Esverdeando as Aquisições Institucionais Através dos artigos que compram, as instituições exercem grande influência sobre o futuro do planeta. Quase todas as aquisições que uma organização realiza, seja de uma resma de papel para copiadoras ou um novo prédio comercial, têm custos ocultos que oneram o meio ambiente e a população mundial. Muitos produtos requerem imensos insumos de água, madeira, energia, metais e outros recursos, nem sempre renováveis. E freqüentemente contêm produtos químicos tóxicos que, quando liberados no meio ambiente, ameaçam a saúde dos seres humanos e sistemas ecológicos dos quais dependemos. Esses impactos podem ocorrer em qualquer etapa do ciclo de vida de um produto: na obtenção da matéria-prima, industrialização, embalagem, transporte, uso e até mesmo após o descarte.6 Que poder tem a aquisição institucional? Consideremos o setor público. Nos países industrializados, as aquisições públicas chegam a representar 25% do produto interno bruto (PIB). (Vide Figura 6-1.) As licitações governamentais só na União Européia (UE) totalizaram mais de US$ 1 trilhão em 2001, ou cerca de 14% do PIB. Na América do Norte, atingiu US$ 2 trilhões, ou aproximadamente 18% do PIB. Essas aquisições ocorrem em todos os âmbitos de governo: em 2002, o governo federal americano gastou cerca de US$ 350 bilhões em bens e serviços (excluindo gastos militares), enquanto estados e municípios gastaram mais de US$ 400 bilhões. 7 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA alimentos para lanchonete. Nos Estados Unidos, cerFonte: OCDE 25 ca de 3.700 colégios e universidades, conjuntamente, 20 adquiriram aproximada15 mente US$ 250 bilhões em bens e serviços em 1999 – 10 o equivalente a quase 3% 5 do PIB nacional, e mais do que o PIB de qualquer país 0 abaixo dos 18 maiores. Instituições religiosas também têm esse poder, administrando um imenso número de escolas e templos em todo o mundo. E instituiFigura 6-1. Gastos Governamentais como Parcela do PIB ções internacionais, como em Países Selecionados, 1998 as Nações Unidas e o BanCorporações, universidades, entidades co Mundial, adquirem grandes quantidareligiosas e outras grandes instituições des de bens e serviços para suas atividatambém têm grande poder aquisitivo. des nos países industrializados, como Muitas empresas, por exemplo, compram também para manter seus escritórios de não apenas miríades de produtos acaba- campo e operações no mundo em desendos, como canetas e computadores, mas volvimento – tendo assim uma oportunitambém matérias-primas, embalagem e dade singular de ajudar a construir meroutros bens como insumos para seu pro- cados sustentáveis em todo o mundo. Só cesso fabril. Segundo uma estimativa, o as Nações Unidas compraram quase US$ gasto agregado das empresas ao longo de 4 bilhões em bens e serviços em 2000.9 Mas o enorme volume de suas aquisisuas “cadeias de suprimento” supera, em muito, o consumo dos produtos finais. À ções é apenas uma das razões por que as medida que a produção torna-se cada vez instituições podem ser agentes poderosos mais global, as indústrias podem desem- de mudanças ambientais positivas. “Conpenhar um papel importante, influencian- trariamente a muitas pessoas, grandes insdo o comportamento ambiental de forne- tituições adotam uma abordagem muito cedores em outros países, inclusive no sistêmicas em suas compras”, observa Scot Case, do Center for a New American mundo em desenvolvimento.8 Enquanto isso, as universidades gas- Dream, de Maryland. “Aquisições são clatam bilhões de dólares anualmente em ramente definidas em contratos detalhauma enorme diversidade de compras, dos, que especificam quase todos os asdesde prédios de campus universitário até pectos do produto ou serviço a ser adquida os ão Jap lan Ho Un id Suí ça os tad Es Di nam arc a Ca nad á Fra nça Al em anh Re a ino Un ido Áu str ia Itá lia Es pan ha Percentual 30 153 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA rido”. Com metodologias estruturadas já implantadas, a inserção de considerações ambientais nas aquisições institucionais pode ser um processo relativamente fácil, com vantagens significativas.10 A maioria das organizações que realizam compras de alto valor as fazem sob a forma de concorrência pública, ou seja, recebem propostas de vários fornecedores em potencial para adjudicarem o contrato. “Esverdear” a licitação significa que, além de especificar os requisitos básicos em termos de quantidade, preço, função ou segurança, os compradores institucionais também fazem exigências ambientais a seus fornecedores. Por exemplo, podem exigir que os produtos satisfaçam certas normas de eficiência energética ou tenham um teor específico de material reciclado, ou até mesmo que os próprios fornecedores tenham credenciais verdes. (Vide Quadro 6-1.) (Os compradores também podem estipular certos critérios de justiça social, embora isso não seja muito comum. O governo da Bélgica, por exemplo, está considerando proibir contratos públicos com empresas cujas condições de produção sustentem regimes antidemocráticos ou que não respeitem direitos humanos.)11 Em muitas compras institucionais comuns, existem hoje alternativas menos intensivas em recursos, menos poluentes e menos prejudiciais à saúde humana e ambiental do que suas contrapartidas convencionais. Ao adquirir papel com até mesmo uma pequena porcentagem de conteúdo reciclado, por exemplo, as instituições podem desviar volumes significativos de lixo dos aterros. Podem também economizar energia, madeira e 154 QUADRO 6-1. ESVERDEANDO CONTRATOS DE COMPRA Nos contratos com fornecedores, os compradores poderão estipular que: • Produtos possuam um ou mais atributos ambientalmente positivos como conteúdo reciclado, eficiência energética ou hídrica, baixa toxicidade ou biodegradabilidade. • Produtos gerem menos resíduos, inclusive menos embalagem, sejam duráveis, reutilizáveis ou remanufaturados – a cidade de Santa Mônica, na Califórnia, exige que seus clientes forneçam produtos de limpeza sob forma concentrada, a fim de evitar embalagens. • Produtos atendam a certos critérios ambientais durante o processo fabril ou produtivo, como papel processado sem cloro ou originário de madeira de floresta de manejo sustentável. • Fornecedores recuperem ou levem de volta itens como baterias, equipamentos eletrônicos ou carpetes no fim de suas vidas úteis – algumas agências federais nos Estados Unidos hoje utilizam contratos de “laço fechado”, obrigando empreiteiras a recolher produtos usados de petróleo, pneus e cartuchos de toner para disposição final. • Os próprios fornecedores possuam credenciais ambientais – algumas aquisições governamentais na Suíça dão preferência a empresas que implantaram, ou estejam implantando, sistemas de manejo ambiental. __________________________________________ FONTE: vide nota final 11. outros recursos: o grupo Environmental Defense, de Nova Iorque, estima que, caso todo o setor de catálogos dos Estados Unidos adotassem em suas publicações apenas 10% de papel reciclado, a economia só em Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA madeira seria suficiente para atravessar sete vezes todo o território americano com uma cerca de 1,8 metro de altura.12 A aquisição de produtos mais verdes também pode trazer benefícios à saúde de funcionários e ocupantes de prédios. Muitas compras comuns, inclusive tintas para paredes e móveis, pesticidas para prédios e manutenção de áreas externas, como também produtos de limpeza e manutenção, contêm ingredientes tóxicos, como metais pesados e compostos orgânicos voláteis. Essas substâncias podem poluir o ar interno e acumular-se em tecidos vivos, ameaçando a saúde humana e ambiental. O Projeto de Prevenção à Poluição, da Janitorial Products, divulgou que 6 em cada 100 faxineiros no estado de Washington ficaram ausentes do serviço devido a doenças relacionadas ao uso de produtos tóxicos de limpeza, particularmente limpadores e desengraxantes de vidros e sanitários.13 Muitas instituições têm constatado que aquisições verdes também poupam dinheiro. Alguns produtos verdes são mais baratos que suas alternativas tradicionais. Por exemplo, cartuchos reciclados de toner para impressoras e copiadoras chegam a custar até um terço do preço do produto original. Outros itens, como sanitários de descarga baixa ou lâmpadas fluorescentes compactas, proporcionam economia considerável ao longo de sua vida útil. Embora as LFCs cheguem a custar até 20 vezes mais que as lâmpadas incandescentes, duram 10 vezes mais e consomem um quarto da eletricidade para gerar a mesma luminosidade. Adquirir produtos que sejam duráveis, remanufaturados ou recicláveis pode baixar os custos da manutenção, substituição ou disposição final de um produto. Enquanto isso, produtos de limpeza e outros menos tó- xicos podem reduzir os custos de indenizações de seguro e de trabalhadores associados a certos acidentes de trabalho.14 Talvez o mais importante, a demanda institucional crescente poderá desempenhar um papel preponderante na criação de mercados maiores para bens e serviços mais verdes. Se esses consumidores buscarem cada vez mais produtos e serviços mais benéficos ao meio ambiente, os produtores terão mais incentivo para projetá-los e produzi-los. À medida que os mercados para esses produtos crescerem, impulsionados pelas forças da concorrência e da inovação, as economias de escala resultantes acabarão por reduzir os preços, tornando as compras verdes mais acessíveis a todos. Pioneiros da Compra Verde A maioria das instituições que compram verde visam aquisições menores, como papel e artigos de escritório, fáceis de manejar sem mudanças significativas nas práticas organizacionais. Porém, algumas outras já começaram a reestruturar fundamentalmente a forma de fazerem negócios. Em termos corporativos, os pioneiros da compra verde incluem empresas em praticamente todos os setores da economia, incluindo bancos, hotéis, montadoras, varejistas de confecções e supermercados. (Vide Tabela 6-1.) Muitas dessas empresas são motivadas por um auto-interesse esclarecido: estão constatando que, ao adotarem medidas de eficiência energética e outras mudanças em pequena escala em suas operações internas, podem reduzir seus impactos ambientais e também incrementar sua rentabilidade. 155 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA Tabela 6-1. Exemplos de Aquisições Verdes em Empresas Selecionadas Bank of America Incrementou compras de papel reciclado em 11% em 2001 para 54% do papel adquirido. Reutiliza e recupera móveis de escritórios e carpetes e utiliza materiais reciclados nos utensílios e balcões de serviço do banco. Pretende incluir exigências ambientais em todos os contratos futuros com fornecedores. Boeing Até 1999, modernizou mais da metade de seu espaço funcional com iluminação eficiente, reduzindo os custos de energia em US$ 12 milhões ao ano e economizando energia suficiente para suprir cerca de 16.000 residências. Canon Dá prioridade em suas aquisições globais a quase 4.600 fornecedores de artigos verdes de escritório aprovados pela empresa. Atualmente procura esverdear suas licitações para construção de instalações no Japão, Ásia e América do Norte. Um amplo plano de ação direcionado a fornecedores redundou em níveis altos de cumprimento a políticas vigentes. Federal Express Em 2002, comprometeu-se a substituir todos os 44.000 veículos da frota com caminhões elétricos a diesel, aumentando a eficiência de combustível pela metade e reduzindo as emissões de fumaça e fuligem em 90%. Hewlett-Packard Em 1999, decidiu adquirir papel apenas de fontes florestais sustentáveis. Prioriza fornecedores que vendem produtos verdes e mantém práticas comerciais verdes. Restringe ou proíbe o uso de certos produtos químicos na industrialização e embalagem. IKEA Prioriza madeira de florestas que sejam certificadas como de manejo sustentável ou em transição para esse padrão. Adquire madeira através de um processo de quatro etapas que encoraja os fornecedores a buscar certificação florestal. McDonald’s Gastou mais de US$ 3 bilhões em compras com teor reciclado entre 1990 e 1999, inclusive bandejas, mesas, carpetes e embalagem. Em 2001, adotou embalagens compostáveis para alimento feitas de amido recuperado de batata e outros materiais. Instalou iluminação de eficiência energética nos restaurantes. Migros Em 2002, esse supermercado suíço tornou-se o primeiro varejista europeu a deixar de comprar suprimentos de óleo de palma de fontes não-seguras, ecologicamente, na Malásia e Indonésia. Realiza auditorias nos fornecedores para constatar cumprimento dos critérios ambientais e rotula produtos que “protegem florestas tropicais”. Riu Hotels Ao mudar para compras a granel de itens de café da manhã, essa cadeia alemã de hotéis conseguiu reduzir o lixo em 5.100 quilogramas anuais, poupando 24 milhões de itens de embalagens individuais e uma média de 5 milhões de sacos plásticos de lixo a cada ano. Staples Em 2002, comprometeu-se a incrementar o conteúdo reciclado médio em seus artigos de papel para 30% e eliminar gradativamente as compras de florestas ameaçadas. Utiliza iluminação e material de cobertura de eficiência energética em seus prédios. Até o final de 2003 pretende adquirir apenas produtos de papel reciclado para operações internas e aumentar suas compras de energia verde em 5%. Starbucks Desde novembro de 2001, ofereceu incentivos financeiros e preferência de fornecimento a produtores de café que atendiam a determinados padrões ambientais, sociais, econômicos e de qualidade. Em 2002, 28% da fibra de papel utilizada era pós-consumo e 49% continham fibra não-branqueada. Toyota Em 2001, trocou 1.400 itens de artigos de escritório e 300 computadores e outros equipamentos por alternativas verdes. Atingiu 100% de compras verdes nessas áreas em 2002. No exercício financeiro de 2001, adquiriu 500.000 kWh de energia eólica e pretende aumentar para 2 milhões de kWh ao ano. FONTE: vide nota final 15. 156 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA Em 1992, o Business Council for Sustainable Development endossou essa abordagem como ecoeficiência. A L’Oreal, o maior fabricante mundial de cosméticos, reduziu suas emissões de gás de estufa em 40% entre 1990 e 2000, aumentando, ao mesmo tempo, a produção em 60%, principalmente através da instalação de iluminação eficiente em toda sua área e a introdução de um programa de reciclagem para reduzir a incineração do lixo. Anheuser-Busch e IBM estão entre as várias outras empresas que vêm economizando milhões de dólares por meio de melhorias em eficiência energética e hídrica.15 Mesmo nos casos em que a compra verde não leva a economias diretas, esta pode trazer benefícios comerciais. Num estudo recente para o Centro de Estudos Avançados em Aquisições, Craig Carter e Marianne Jennings verificaram que o aumento da responsabilidade social corporativa está geralmente correlacionado com receitas maiores, ambientes de trabalho mais sadios e seguros e melhoria de relacionamento com clientes e fornecedores – fatores que superam, em muito, qualquer potencial custo monetário. Compras verdes também podem ser uma forma de empresas ganharem pontos em relações públicas com seus defensores e críticos (embora alguns grupos ambientais aleguem que isso é apenas demagogia).16 Muitas empresas também perceberam que podem perder competitividade se continuarem adotando métodos intensivos em recursos ou ambientalmente destrutivos. O fabricante de produtos esportivos Nike, por exemplo, incrementou o teor de algodão orgânico em seus artigos devido a preocu- pações com prejuízos à saúde e ao meio ambiente associados aos produtos de algodão tradicional, que requerem altos insumos de pesticidas e fertilizantes químicos. “É a única forma inteligente de fazer negócio”, diz Heidi McCloskey, diretora de Sustentabilidade Global da Nike Apparel. “Ao administrar e retirar todos os produtos danosos, a Nike não correrá o risco de custos maiores no futuro”. Em 2001, mais de um terço das peças de algodão que a empresa produziu continham pelo menos 3% de algodão orgânico certificado.17 A Nike está na vanguarda das empresas que hoje pretendem assumir um papel de destaque na introdução de produtos verdes no mercado. Em 2001, ajudou a lançar a Bolsa Orgânica, uma rede de 55 empresas que pretende ampliar substancialmente o uso de algodão orgânico na indústria ao longo dos próximos 10 anos. Outras empresas, incluindo Texas Instruments, Levi Strauss e Ford Motor Company, juntaram-se à Coalizão de Papel Reciclado, fundada em 1992, para utilizar a força do poder aquisitivo corporativo para incrementar a oferta e qualidade de produtos de papel reciclado (e afastar as empresas do papel virgem antes que regulamentos o façam). Os 270 membros da coalizão adquiriram quase 150.000 toneladas de papel reciclado em 2002, com um teor pós-consumo médio de 29%.18 Mas equilibrar compras verdes com motivação corporativa de lucro pode ser um processo delicado. Uma vez que as empresas têm, no final das contas, de se manter fiéis a seus propósitos, acionistas e fornecedores, em alguns casos fazer a coisa certa pode ainda ser uma desvantagem competitiva. Jeffrey Hollender, diretor-presidente da Seventh Generation, 157 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA fabricante de produtos ambientalmente seguros, observa que sua empresa está constantemente comparando a urgência de incrementar o conteúdo reciclado de seus produtos com o alto custo de fazêlo. “No fundo, é muito melhor fabricar um produto menos benéfico ao meio ambiente durante um certo tempo do que se ver fora do ramo e sem condições de fazer qualquer diferença”. Hollender diz: “O truque é conseguir um equilíbrio entre avançar rápido demais e não avançar rápido o bastante”.19 Ao longo da última década, as demandas por licitações públicas mais verdes também aumentaram. Mais recentemente, os delegados presentes à Cúpula Mundial de 2002 sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, reiteraram a necessidade de “promover políticas de licitações públicas que encorajem o desenvolvimento e difusão de bens e serviços ambientalmente seguros”. Muitos governos também reconhecem, cada vez mais, o valor de operações verdes como forma de reduzir custos e alcançar objetivos mais abrangentes de políticas ambientais, como redução do lixo e atendimento das metas de eficiência energética.20 Embora alguns governos já tenham adotado medidas para esverdear suas aquisições 20 anos atrás, a maior parte das ações só ocorreu a partir dos anos 90. (Vide Tabela 6-2.) Vários países – incluindo Áustria, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Japão e Estados Unidos – hoje possuem leis ou políticas rigorosas que obrigam órgãos governamentais a comprarem verde (embora isso não signifique que sempre o façam). Na maio- 158 ria dos outros países, onde já ocorrem compras verdes, as normas ou “recomendam” que os adquirentes considerem opções ambientalmente desejáveis ou não há norma alguma, embora compradores tenham condições de considerar variáveis ambientais nas aquisições. Da mesma forma que em termos industriais, grande parte da atividade governamental tem focado a compra de produtos reciclados ou eficientes em energia, apesar de o interesse em energia renovável e outras aquisições verdes também ter aumentado. 21 Também tem havido uma onda de compras verdes por parte de governos municipais, estaduais e regionais. Christoph Erdmenger, coordenador das atividades de ecolicitações do Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais (ICLEI, na sigla em inglês), observa que na maioria dos países agressivos em aquisições verdes foram as autoridades locais que se puseram na vanguarda. Na Europa, 250 líderes municipais em mais de 30 países comprometeram-se, na Declaração de Hanover de 2000, “a utilizar seu poder aquisitivo para direcionar o desenvolvimento, visando soluções sociais ambientalmente seguras”. Kolding, na Dinamarca, estabeleceu uma meta ambiciosa em 1998 de incorporar considerações ambientais a 100% de sua estrutura de aquisições até 2002. Em maio de 2001, cerca de 70% de seus pedidos especificavam e incorporavam exigências ambientais, principalmente nas áreas de alimentos, equipamentos de escritório, produtos de limpeza, informática e artigos para tratamento de saúde.22 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA Tabela 6-2. Exemplos de Aquisições Governamentais Verdes Áustria As atividades em âmbito municipal datam do final dos anos 80. Legislação federal de 1990 e 1993 obriga os órgãos públicos a inserirem critérios ambientais nas especificações dos produtos. (A Lei de 1993 foi adotada por oito das nove províncias.) A partir de 1997, o Ministério do Meio Ambiente ajudou as prefeituras e outros ministérios a comprarem verde. Em 1998, o governo aprovou diretrizes básicas de aquisições verdes em setores como o de equipamentos de escritório, construção, limpeza e energia. Canadá Existe uma forte estrutura nacional, legislativa e política para aquisições verdes. As metas incluem atingir 20% das compras federais de energia de fontes verdes até 2005 e, onde for viável, tanto em termos de custo quanto operacionais, operar 75% da frota de veículos federais com combustíveis alternativos até abril de 2004. O programa Canadá Ambiental orienta os compradores a considerarem os impactos do ciclo de vida de um produto, utilizarem produtos ecorrotulados e adotarem critérios de eficiência energética e outros verdes em suas aquisições. Dinamarca Líder mundial em aquisições verdes. Uma lei de 1994 obriga todos os órgãos públicos federais e municipais a utilizarem produtos reciclados ou recicláveis, e também todas as autoridades a adotarem uma política de aquisições verdes. Em 2000, 10 dos 14 condados já haviam adotado essa política. Pelo menos metade dos municípios também declarou já dispor de políticas implantadas ou em implantação. Alemanha Legislação federal sobre o lixo obriga as instituições públicas a darem preferência a produtos verdes nas suas aquisições. Diretrizes estaduais e municipais também exigem a inclusão de critérios ambientais nas licitações, embora critérios econômicos assumam prioridade nas avaliações; Japão Outro líder mundial em aquisições verdes, a partir de atividades municipais desde o início dos anos 90. Uma lei de 2001 obriga organizações governamentais federais e municipais a desenvolverem políticas e compras específicas de produtos verdes. No início de 2003, 47 órgãos municipais e 12 das principais prefeituras estavam comprando verde, com quase a metade dos 700 municípios tendo implantado essa política. O maior avanço está nos setores de papel, artigos de escritório, informática, veículos e eletrodomésticos. Reino Unido Regulamentos permitem aos compradores utilizarem critérios ambientais nas aquisições, contanto que isso não prejudique a livre concorrência. As autoridades podem escolher que peso aplicar a critérios ambientais e outros ao adjudicarem contratos. Órgãos governamentais são obrigados a adquirir pelo menos 5% de sua energia de fontes renováveis até março de 2003, quando deverão aumentar para 10% até 2008. Estados Unidos Uma ampla variedade de leis e diretrizes exige que os órgãos federais adquiram itens verdes, incluindo produtos com conteúdo reciclado e eficientes em energia, e veículos bi-combustível. A coordenação e implementação nas agências têm sido fracas, mas estão melhorando. Entre os estados, 47 do total de 50 possuem programas “compre reciclado” desde o final dos anos 80. Pelo menos uma dúzia de estados ampliaram esses programas para incluir outras compras verdes. FONTE: Vide nota final 21. 159 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA Os Estados Unidos também têm testemunhado um maior avanço no esverdeamento das aquisições públicas mais em âmbito estadual e municipal do que federal. Em 1999, Santa Mônica, na Califórnia, tornou-se a primeira cidade a adquirir 100% de sua energia municipal de fontes renováveis, inclusive energia geotérmica e eólica. O estado de Minnesota hoje tem cerca de 110 contratos diferentes para produtos e serviços verdes, incluindo veículos bicombustível, produtos de limpeza de baixa toxicidade, computadores eficientes em energia e tinta sem solventes. Outros pioneiros locais incluem os estados de Massachusetts, Vermont e Oregon; a cidade de Seattle, Washington e o condado de Kalamazoo, em Michigan.23 No mundo em desenvolvimento, Taiwan é um dos poucos países que formalizaram aquisições públicas verdes, declarando uma preferência por produtos verdes aprovados num decreto presidencial de 1998. Outros governos promulgaram leis em apoio a programas de reciclagem; todavia, as iniciativas para agilizar a promoção e compra de produtos reciclados não têm avançado muito. Está se discutindo a inclusão de compras verdes nas políticas públicas no Brasil, Irã, México e Tailândia, e o governo de Mauritius movimenta-se para um uso maior de plásticos e papéis reciclados, tendo introduzido lâmpadas mais eficientes de neon na iluminação pública.24 Na maioria dos casos, ainda é cedo para julgar o impacto global desses pioneiros. Todavia, alguns sucessos de destaque apontam para a tremenda capacidade das aquisições verdes influenciarem mercados. Por exemplo, o ICLEI atribui a ascendência do 160 papel reciclado sobre o suprimento padrão nos escritórios de muitos países europeus às demandas cumulativas dos poderes públicos, que têm proporcionado a esse produto uma vantagem competitiva. Uma mudança semelhante ocorreu quando o governo dos Estados Unidos aumentou para 30% a norma de teor reciclado nas compras de órgãos federais, em 1998. Em 1994, apenas 12% do papel de copiadoras adquirido por agências federais tinha conteúdo reciclado, e mesmo assim apenas 10% de material reciclado. Em 2000, entretanto, 90% do papel adquirido pelos dois principais compradores do governo tinha conteúdo reciclado de 30%. O aumento da demanda pública não só incrementou o padrão global do mercado para teor reciclado como também ajudou a elevar o padrão do principal fornecer de papel reciclado para o governo, Great White.25 Aquisições governamentais verdes podem ser particularmente eficazes em influenciar mercados onde o setor público possui uma participação significativa da demanda global ou onde a tecnologia esteja mudando rapidamente, como no caso dos equipamentos de computadores. O governo dos Estados Unidos, maior comprador individual de computadores, adquire mais de 1 milhão anualmente – cerca de 7% dos computadores mundiais. Em 1993, o Presidente Bill Clinton assinou uma medida provisória (executive order) exigindo que os órgãos federais só adquirissem equipamentos de computadores que atendessem às exigências de eficiência descritas no programa Energy Star, do governo. Hoje, em grande parte como resultado desse aumento de demanda, 95% de todos os monitores, 80% dos computadores e 99% das impres- Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA soras vendidas na América do Norte atendem às normas do Energy Star. Os analistas atribuíram um salto semelhante no desempenho ambiental dos produtos eletrônicos japoneses à predominância desse país nas aquisições verdes desses itens.26 Pressões e Motivadores Instituições de todos os tipos sofrem, cada vez mais, uma ampla variedade de pressões normativas e de consumidores para que façam compras verdes. Por exemplo, muitos governos hoje dão rebates, isenções fiscais e outros incentivos econômicos para encorajar empresas, escolas, indivíduos e outros consumidores a investirem em tudo, desde aparelhos eletrodomésticos eficientes em energia até veículos bicombustível. Em 2002, a Arquidiocese de Los Angeles recebeu milhares de dólares de rebates municipais quando a Catedral de Nossa Senhora dos Anjos tornou-se o primeiro prédio religioso a instalar painéis solares no telhado, gerando energia suficiente para suprir a igreja e mais de 60 residências.27 Os governos também estão utilizando seu poder normativo para forçar instituições a realizarem compras mais verdes. Novas leis ou regulamentos que obrigam os fabricantes a satisfazerem determinados padrões de eficiência energética ou reciclagem influenciam a forma como muitas empresas hoje projetam e fabricam seus produtos. Montadoras, por exemplo, tiveram que repensar tanto suas fontes quanto seu uso de materiais, a fim de atender às disposições de uma nova diretriz da União Européia sobre veículos no fim de sua vida útil, objetivando reduzir a proporção de sucatas que acabam em aterros. Até 2007, 85% (em peso) de cada veículo novo deverá ser fabricado com componentes recicláveis (atualmente a reciclagem de veículos está limitada a 75% de peso metálico). A DaimlerChrysler pretende superar esse padrão e atingir 95% da capacidade de reciclagem até 2005, em parte através do incremento do seu uso de plásticos recuperados e outros materiais. Caso seja amplamente adotado, esse processo de reciclagem poderá poupar à indústria automotiva mundial US$ 320 milhões anuais. 28 Os governos não são os únicos a forçar as instituições a comprar verde. Em todo o mundo, consumidores individuais estão começando a incorporar preocupações pessoais sobre sua saúde, meio ambiente e justiça social e a realizar compras mais verdes em âmbito domiciliar. Hoje, cerca de 63 milhões de adultos americanos, ou aproximadamente 30% das famílias, realizam alguma forma de compras ambientais ou socialmente conscienciosas, de acordo com uma pesquisa realizada pela LOHAS Consumer Research. No Reino Unido, compras éticas por indivíduos – em setores que vão de alimentos orgânicos até energia renovável – aumentaram 19% entre 1999 e 2000, seis vezes mais rápido do que os mercados globais nos vários setores.29 Esses consumidores, cada vez mais, esperam melhor desempenho ambiental das instituições que os orientam, das empresas que apóiam e dos produtos que compram. Os fabricantes nos Estados Unidos divulgam um volume crescente de pedidos de informação de consumidores 161 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA sobre seus produtos, como, por exemplo, o teor reciclado. A Pesquisa do Milênio sobre Responsabilidade Social Corporativa, em 1999, constatou que cerca de 60% dos consumidores em 23 países esperam que as empresas, além de realizarem lucros e gerarem empregos, resolvam questões-chaves ambientais e sociais através dos seus negócios.30 A pressão dos consumidores foi instrumental na decisão das autoridades municipais em Ferrara, Itália, de introduzir alimentos orgânicos nos lanches escolares. Após um grupo de pais preocupados chamar atenção à baixa qualidade da comida servida nos jardins de infância em 1994, a Prefeitura formou uma comissão para estudar a possibilidade de realizar mudanças nas licitações de alimentos. Dentro de quatro anos, Ferrara havia sistematizado suas aquisições de alimentos orgânicos num edital especial de licitação e, em 2000, 80% dos alimentos servidos nos jardins de infância municipais eram orgânicos.31 Números crescentes de consumidores, acionistas e organizações não-governamentais (ONGs) também estão participando de boicotes e outras ações diretas de pressão a empresas para mudarem suas práticas de compras. Nos últimos anos, grupos ativistas, como a Rainforest Action Network (RAN) e ForestEthics, organizaram atos públicos nos Estados Unidos e em todo o mundo para pressionar grandes varejistas, como a Home Depot, a parar de adquirir produtos de madeira oriundos de florestas virgens. (Vide Quadro 6-2.) Michael Marx, diretor executivo da ForestEthics, observa que um fator-chave por trás do sucesso dessas campanhas foi 162 seu foco no setor privado: “É importante visar as corporações, porque têm uma imagem. O objetivo é aumentar o custo de fazer negócio de forma ambientalmente danosa”. Marx acredita que boicotes e outras ações de maculação pública podem ser muito mais eficazes para conseguir mudanças ambientais do que, por exemplo, lobbies por ações normativas que podem levar anos ou até mesmo décadas.32 Hoje, cerca de 63 milhões de adultos, ou o aproximadamente 30% das famílias nos Estados Unidos, realizam alguma forma de compras ambientalmente responsáveis. Em outros casos, as ONGs estão entrando em parcerias com as principais corporações para ajudá-las a redirecionarem seu grande poder aquisitivo para objetivos ambientais. A Aliança para Inovações Ambientais, um projeto da Environmental Defense, uma ONG sem fins lucrativos, está trabalhando com empresas como Citigroup, Starbucks, Briston-Myers Squibb e Federal Express para alterar suas compras de papel, veículos e outros produtos. E o Programa Salvadores do Clima, uma iniciativa conjunta do Fundo Mundial para a Natureza e Center for Energy and Climate Solutions, da Virginia, trabalha com empresas globais como Johnson & Johnson, IBM, Nike e Polaroid para incrementar sua eficiência energética e uso de energia verde. Igualmente o World Resources Institute Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA está recrutando grandes empresas para ajudá-lo a atingir seu objetivo de desenvolver mercados corporativos para 1.000 megawatts de nova energia verde até 2010 – capacidade suficiente para 750.000 lares americanos.33 QUADRO 6-2. COMPROMISSO DA HOME DEPOT COM PRODUTOS DE MADEIRA SUSTENTÁVEL Em meados dos anos 90, a Rainforest Action Network (RAN), de São Francisco, lançou uma campanha de destaque para pressionar a Home Depot, maior varejista mundial de artigos para o lar, a aprimorar suas práticas compradoras de madeira. Essa cadeia varejista de Atlanta vende mais de US$ 5 bilhões em produtos de madeira, portas, compensados e outros anualmente através de suas 1.450 lojas em todo o mundo. RAN agiu em boicotes, demonstrações em lojas, campanhas publicitárias e ativismo acionário para chamar a atenção do público à prática da Home Depot de adquirir madeira oriunda de florestas sob grave ameaça de extinção na Colúmbia Britânica, Sudeste Asiático e Amazônia. Em agosto de 1999, em resposta a essa pressão, a empresa anunciou que iria eliminar gradativamente todas as compras de madeira virgem até o final de 2002. Em janeiro de 2003, já havia reduzido suas compras de lauan da Indonésia (madeira nobre tropical utilizada em componentes de portas) em 70%, deslocando mais de 90% de suas compras de cedro para florestas de segunda e terceira geração nos Estados Unidos. Hoje, a empresa informa saber as fontes originais de aproximadamente 8.900 produtos de madeira. A Home Depot também comprometeu-se a dar preferência a produtos certificados como originários de florestas sob manejo sustentável. (Atualmente, cerca de 1% da madeira vendida mundialmente é certificada). Entre 1999 e 2002, o número de seus fornecedores que vendiam madeira aprovada pelo Forest Stewardship Council (FSC) – Conselho de Manejo Florestal –, um dos principais órgãos de certificação florestal, saltou de apenas 5 para 40, e o valor de suas compras certificadas disparou de US$ 20 milhões para mais de US$ 200 milhões. A decisão da empresa causou um efeito marola significativo nos mercados de produtos para o lar e de construção. Dentro de um ano de sua mudança de política, varejistas que representavam mais de um quinto da madeira vendida para o mercado de reformas residenciais nos Estados Unidos, inclusive seus principais concorrentes, Lowe’s e Wickes, Inc., anunciaram que eles também iriam eliminar gradativamente produtos de florestas ameaçadas, substituindo-os por madeira certificada. Duas das maiores construtoras do país também comprometeram-se a não comprar madeira ameaçada. Essas mudanças de política elevaram o padrão global da indústria madeireira. Com muitas empresas hoje movimentando-se para obter aprovação do FSC, em breve será um entrave para outros produtores de madeira não se certificarem. Michael Marx, da ForestEthics, observa que “ uma declaração da Home Depot fez mais para mudar as práticas madeireiras da Colúmbia Britânica do que 10 anos de protestos ambientais”. Porém, críticos lamentam que a Home Depot não tenha ido longe o bastante no uso de sua força de mercado para influenciar seus fornecedores. Um obstáculo tem sido o custo mais alto na compra de madeira certificada ou na produção de alternativas sintéticas, embora a Home Depot tenha concordado em absorver qualquer aumento de preço. Outro desafio foi afastar consumidores de opções ambientalmente inseguras. De acordo com a empresa, poucos clientes pedem, especificamente, madeira certificada. _______________________________________________________ FONTE: vide nota final 32. 163 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA Superando Obstáculos Nos últimos anos, a economista Júlia Schreiner Alves vem tentando forçar seu patrão, o governo do estado de São Paulo, no Brasil, a esverdear suas aquisições. Com uma população de 30 milhões, São Paulo é o primeiro entre todos os estados brasileiros em poder aquisitivo. Mas Alves é uma das únicas pessoas em sua repartição a pressionar por compras mais verdes, e diz que muitos colegas, particularmente no Departamento de Compras, são simplesmente insensíveis ao potencial de as aquisições verdes gerarem mudanças ambientais positivas.34 Em termos práticos, o sucesso de compras verdes freqüentemente é resultado do papel do comprador profissional. O Departamento de Licitação de uma instituição exerce um poder considerável. Nos Estados Unidos, os departamentos de compras governamentais supervisionam 50–80% de todas as aquisições. Quando a compra é altamente centralizada, uma única decisão tomada por apenas um ou um punhado de compradores pode causar uma tremenda marola, influenciando a comprar os produtos utilizados centenas e até milhares de pessoas. Dessa forma, as aquisições de compradores institucionais têm freqüentemente maiores conseqüências para o planeta do que as escolhas diárias da maioria dos consumidores domésticos.35 Infelizmente, muitos compradores ainda não estão explorando seu tremendo poder para alavancar mudanças. Em alguns casos, simplesmente não têm conhecimento da influência que poderiam exercer. Mas também enfrentam graves obs- 164 táculos legais, políticos e institucionais em todas as etapas de seu trabalho – desde o estabelecimento de um programa de aquisições verdes até a seleção dos produtos verdes. Se essas barreiras não forem superadas e a lacuna entre boas intenções e resultados práticos não for preenchida, as atuais iniciativas pioneiras de aquisições verdes poderão ser engolidas pela crescente maré do consumo. Devido ao complexo arcabouço legal em torno das licitações, a inserção de exigências verdes no processo de compra é geralmente mais fácil de falar do que de fazer. Regras licitatórias podem variar a depender do volume, valor ou tipo de aquisição, criando dificuldades para o comprador determinar se considerações ambientais são compatíveis com os procedimentos existentes. Compras verdes podem ser particularmente desafiadoras no mundo em desenvolvimento, em que normas ambientais ou de produtos são freqüentemente tão fracas que compradores realizam aquisições de má qualidade ou até perigosas. Corrupção e fiscalização fraca nas licitações dão pouco incentivo aos compradores para agirem com maior eficiência ou comprarem produtos ambientalmente seguros.36 Quando governos em todo o mundo atualizam seus procedimentos licitatórios e fecham as brechas que fomentam ineficiência, desperdício e corrupção, isso pode: ou levar a regulamentos mais restritivos, que dificultam comprar verde, ou oferecer novas oportunidades. A Comissão Européia, por exemplo, está hoje explorando as possibilidades legais de aquisições verdes nos termos das Diretrizes de Aquisições da Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA União Européia, que historicamente nunca fizeram referência a questões ambientais. Um comunicado de julho de 2001 analisou como critérios verdes poderiam ser integrados em diferentes etapas das aquisições da UE, desde especificação de produtos até seleção de fornecedores.37 Além das incertezas legais correntes, as aquisições verdes enfrentam gigantescos desafios políticos À medida que crescem os mercados de produtos ambientalmente desejáveis, as indústrias que mantêm interesse na produção convencional (como a indústria petrolífera, empresas de fertilizantes e outros fabricantes de produtos ambientalmente inseguros) provavelmente sairão perdendo. Esses interesses estão exercendo uma influência significativa para pressionar decisões de compras institucionais, a fim de impedir que os produtos alternativos ganhem espaço. Durante anos, Tom Ferguson, da Perdue AgriRecycle, tem comparecido a feiras comerciais e angariado apoio de compradores governamentais para seu fertilizante orgânico, derivado de dejetos reciclados de aves. Mas não está penetrando no mercado, diz este, porque os códigos de especificações federais não permitem que compradores adquiram produtos alternativos como os que vende. Ferguson observa que grupos industriais poderosos, como o Fertilizer Institute, protegerão os contratos químicos do agronegócio a qualquer custo. E “se o produto ou serviço não estiver dentro das especificações governamentais, então as mãos do comprador governamental – não importa quão bem-intencionado seja – estão amarradas”.38 Muitas iniciativas de aquisições verdes falham porque as organizações não estabelecem metas rígidas para a atividade e não há prestação de contas. Mesmo quando o clima político é mais receptivo, compradores enfrentam outros obstáculos às compras verdes. Na maioria das instituições, as regras os obrigam a adquirir o produto ou serviço que melhor atenda às suas necessidades no menor preço, o que elimina produtos mais ambientalmente desejáveis, mais caros. Luz Aída Martinez Meléndez, do Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais do México, reclama que encontrar produtos alternativos acessíveis é uma das maiores barreiras a compras verdes em seu departamento.39 Mas algumas instituições estão encontrando formas inovadoras de lidar com a questão do preço. Em 2001, a cidade de Chicago e 48 subúrbios reuniram seus recursos jurisdicionais para adquirir um bloco maior de eletricidade a uma taxa reduzida, aplicando o valor economizado no atendimento de pelo menos 20% das necessidades energéticas do grupo de fontes renováveis até 2006. A cidade de Kansas e o condado de Jackson, no Missouri, concordaram em pagar um ágio de 15% para combustíveis alternativos, produtos de limpeza e outros considerados ambientalmente seguros. Outras instituições permitem que compradores comparem produtos com base no custo em função da vida útil, em vez de simplesmente no valor de aquisição – que freqüentemente demonstra que a opção verde é mais barata.40 165 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA Também há obstáculos institucionais internos a aquisições verdes. Devido a muitas organizações não possuírem um histórico de responsabilidade ambiental, fazer com que funcionários reconheçam os benefícios da adoção de práticas mais ambientalmente seguras pode levar tempo. Compradores, gerentes e usuários finais estão muito acostumados ao status-quo e resistentes a novos métodos que possam complicar seu trabalho. Ademais, persiste muito ceticismo quanto à funcionalidade de muitos produtos verdes. Por exemplo, muitos compradores ainda evitam adquirir papel reciclado porque acreditam que sua qualidade seja de baixo padrão, embora esses tipos de problemas já venham sendo superados em grande parte. Selecionar um foco para aquisições verdes pode também ser uma tarefa desafiadora. Deveria uma instituição visar produtos menores, como produtos de limpeza, móveis para escritórios e papel, ou itens maiores, como prédios e transportes? Idealmente, a iniciativa enfocaria mudanças que pudessem fazer a maior diferença no todo em termos de benefícios ambientais e influência de mercado. Porém isso geralmente não ocorre. Stuttgart, na Alemanha, por exemplo, enfoca suas aquisições verdes principalmente em papel, produtos de limpeza e equipamentos de informática, embora 80% dos gastos municipais sejam em eletricidade, aquecimento e construção e renovação de prédios.41 No final das contas, o alvo de uma instituição poderá depender de suas prioridades ambientais, limitações legais e financeiras e facilidade ou probabilidade de realizar mudanças. Santa Mônica, na Califórnia, deu 166 partida às suas iniciativas de aquisições verdes em 1994, com produtos de limpeza menos tóxicos, porque já existia um amplo conhecimento sobre produtos alternativos. Sem muita pesquisa adicional, os compradores podiam substituir limpadores tradicionais por opções menos tóxicas em 15 das 17 categorias de produtos, economizando 5% em custos anuais e evitando a compra anual de 1,5 tonelada de materiais perigosos. A Rede de Aquisições Verdes, do Japão, que encoraja os consumidores de todos os tipos a comprarem verde, é bem-sucedida porque enfoca principalmente artigos de escritório e produtos eletrônicos. (Alguns dos seus membros, que incluem prefeituras, corporações e ONGs, atingiram 100% de aquisições verdes nesses itens.)42 Uma maneira importante de institucionalizar as aquisições verdes é estabelecer uma política ou lei explícita, reforçando a atividade. A estratégia de Copenhague, que entrou em vigor em 1998, especificou que dentro de dois anos todos os artigos de escritório tinham que ser isentos de PVC, todas as fotocopiadoras tinham que utilizar 100% de papel reciclado, todas as impressoras tinham que imprimir nas duas faces do papel e todos os cartuchos de toner tinham que ser reutilizados.43 Porém, ter uma política nem sempre garante que será aplicada. A norma avançada de licitações de madeira do Reino Unido é um exemplo. Em 2000, em resposta à crescente preocupação mundial sobre atividades madeireiras ilegais, o governo central adotou uma política exigindo que todos os departamentos e agências “se empenhassem ativamente” na compra de produtos de madeira certificada como origi- Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA nária de florestas de manejo sustentável. Uma investigação do Greenpeace, em abril de 2002, todavia, revelou que as autoridades, claramente, desconsideraram essa lei quando reformaram a Sala do Gabinete do Governo, em Londres, com sapele da África, uma madeira ameaçada. Investigando o incidente, a Comissão de Auditoria Ambiental da Câmara dos Comuns confirmou que não tinha havido “qualquer evidência sistemática ou até mesmo empírica de qualquer mudança nos padrões de aquisições de madeira”.44 Muitas leis de aquisições verdes nos Estados Unidos também deixam a desejar. Nos termos da Lei de 1976 sobre Conservação e Recuperação de Recursos Naturais, e suas reedições subseqüentes, as agências federais estão obrigadas a considerar o uso de produtos reciclados, biofundamentados e outros ambientalmente desejáveis em suas licitações e contratações acima de um valor determinado. Porém, dois relatórios recentes da Agência de Proteção Ambiental (EPA) e do Departamento Geral de Contabilidade dos Estados Unidos comprovaram que não apenas poucas agências federais estavam atendendo às exigências legais, mas também que a maioria dos compradores sequer tinha conhecimento das normas.45 Julian Keniry, diretora do programa Ecologia no Campus, da National Wildlife Federation, diz que muitos esforços de aquisições verdes falham porque as organizações não estabelecem metas rígidas para a atividade e não há prestação de contas. “Só políticas não é suficiente”, diz. “Precisam ser acompanhadas de um processo de estabelecimento de metas. Do contrário, são apenas palavras no papel”. Quanto mais específicas e quantificáveis forem as metas de uma instituição, maior a probabilidade de ocorrerem aquisições verdes.46 Em alguns casos, as instituições não impõem sanções por não-cumprimento, havendo pouco incentivo para os compradores seguirem os regulamentos. A pesquisa da Agência de Proteção Ambiental em 2000, por exemplo, atribuiu o descumprimento da legislação americana de “comprar reciclado” à falta de aplicação da lei; mesmo quando os compradores tinham conhecimento das regras, nem sempre as consideravam obrigatórias. A fim de encorajar o cumprimento, Vorarlberg, na Áustria, realiza hoje uma competição regional para premiar a prefeitura mais ambientalmente amigável por suas práticas de compras, enquanto, nos Estados Unidos, Massachusetts premia os melhores compradores verdes do estado, município ou setor privado.47 Ao mesmo tempo, a maioria dos sistemas institucionais de contabilidade não foram planejados para rastrear aquisições de produtos reciclados ou verdes, dificultando a monitoração da atividade. A descentralização em andamento nas operações de compra de muitos governos, universidades e outras atividades de compras institucionais agravam o problema contábil. Os principais órgãos públicos do Canadá hoje emitem cerca de 35.000 cartões de crédito individuais, que permitem aos funcionários selecionar e debitar seus próprios suprimentos até um teto prefixado, enquanto mais da metade das compras federais nos Estados Unidos são debitadas em cartões bancários governamentais.48 167 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA Algumas instituições estão lidando com o problema de monitoração da forma antiga: conferindo à mão os recibos de compras verdes. Outros, porém, estão desenvolvendo sistemas mais sofisticados. Kolding, na Dinamarca, está criando uma forma eletrônica de registrar aquisições verdes, e o governo dos Estados Unidos avançou inserindo um sistema automatizado de rastreamento de produtos verdes no sistema federal de aquisições. Outras instituições isentam-se totalmente da responsabilidade, transferindo o ônus para os fornecedores. A varejista de energia renovável americana Green Mountain Energy, por exemplo, exige que seu fornecedor de papel Boise Cascade apresente relatórios sumários sobre todas as compras de papel reciclado da Green Mountain.49 Identificando Produtos Verdes Um desafio adicional nas compras verdes é saber exatamente o que procurar. Relativamente pouco se sabe sobre as características ambientais da maioria dos produtos e serviços no mercado hoje, dificultando o trabalho de comparação eficaz dos produtos pelos compradores. Traçar as origens de um produto por toda a cadeia produtiva pode ser complicado. Um comprador pode, involuntariamente, adquirir papel originário de florestas virgens do sudeste da Ásia (onde as florestas estão rapidamente sendo desmatadas para agricultura e outros fins) porque foi reembalado e vendido sob tantas marcas diferentes que mesmo a maioria dos vendedores não pode 168 confirmar sua origem. Sem o tempo ou antecedentes científicos para uma pesquisa extensa da oferta de produtos verdes, muitos compradores simplesmente preferem que alguém lhes diga o que comprar.50 A ausência de informações ambientais seguras deixou muitos fabricantes, ambientalistas e outros confusos sobre o que exatamente constitui um produto ou serviço “verde”. Deverá um papel “ambientalmente seguro”, por exemplo, conter uma porcentagem máxima de conteúdo reciclado? Vir de uma floresta explorada sustentavelmente? Ser processado sem uso de cloro? Ou uma combinação dessas? Para muitos produtos verdes, ainda não existem padrões ou especificações ambientais amplamente reconhecidos. Em alguns casos, os produtos verdes são tão inovadores que apenas um punhado de empresas os produzem, ou são submetidos a tamanha mudança tecnológica que padrões ou especificações simplesmente nem foram desenvolvidos. Entretanto, sem um acordo sobre o que seja efetivamente “verde”, muitos fabricantes relutam em investir em tecnologias mais ambientalmente seguras.51 Felizmente, estão sendo desenvolvidas ferramentas sofisticadas para ajudar tanto fabricantes quanto compradores a avaliar o desempenho ambiental dos produtos. Uma técnica particularmente promissora, a avaliação de ciclo de vida, oferece uma metodologia para identificar e quantificar os insumos, produtos e impactos ambientais potenciais de um determinado produto ou serviço por toda a sua vida. (Vide Quadro 6-3.) A Volvo, por exemplo, hoje aplica considerações de ciclo de vida, Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA QUADRO 6-3. AABORDAGEM DE CICLO DE VIDA Uma abordagem de ciclo de vida nos permite verificar as conseqüências involuntárias de nossas ações durante toda a vida dos produtos – desde a extração da matéria-prima até a disposição final. Oferecendo informações mais completas sobre tudo, desde nossos sistemas de transportes até nossas fontes energéticas, pode nos ajudar a reorientar o consumo numa direção mais sustentável. “Os consumidores estão cada vez mais interessados no mundo por trás dos produtos que adquirem”, observa Klaus Töpfer, diretor executivo do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). “O conceito de ciclo de vida significa que cada um de nós, por toda a cadeia do ciclo de vida de um produto, do berço ao túmulo, tem responsabilidade e um papel a desempenhar”. Em 2001, em resposta a uma convocação de governos por uma economia de ciclo de vida, o PNUMA e a Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental iniciaram, conjuntamente, uma Iniciativa de Ciclo de Vida. Através de seus três programas principais – Gestão de Ciclo de Vida, Inventário de Ciclo de Vida e Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida –, a a fim de prestar informações detalhadas sobre os vários impactos ambientais que surgem durante a fabricação e uso dos veículos. E o novo software BEES (sigla em inglês para Construir para a Sustentabilidade Ambiental e Econômica) do Departamento de Comércio dos Estados Unidos utiliza dados de ciclo de vida para assessorar compradores na comparação e classificação do desempenho ambiental e econômico de materiais de construção, com base nos seus impactos relativos em áreas como aquecimento global, qualidade do ar interno, exaustão de recursos e resíduos sólidos.52 iniciativa busca desenvolver e disseminar ferramentas práticas para avaliar oportunidades, riscos e compensações associados a produtos e serviços ao longo do seu ciclo de vida. A iniciativa é regida por um Painel Internacional de Ciclo de Vida, que também age como o principal fórum global para especialistas e interessados em ciclo de vida em todo o mundo. A Iniciativa contribui também para um arcabouço de programas decenais mais amplos, que promovem as normas de consumo e produção sustentáveis solicitadas na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de 2002, em Joanesburgo. O Plano de Ação de Joanesburgo enfatizou a necessidade de “políticas que melhorem os produtos e serviços fornecidos, reduzindo ao mesmo tempo impactos ambientais e à saúde e utilizando, onde seja indicado, abordagens científicas, como a análise de ciclo de vida.” – Guido Sonnemann, Divisão de Tecnologia, Indústria e Economia, PNUMA ___________________________________________ FONTE: vide nota final 52. Acordos também estão surgindo, pelo menos entre alguns grupos interessados, sobre como definir certos produtos verdes, como papel e produtos de limpeza. Em novembro de 2002, cerca de 56 grupos ambientalistas da América do Norte adotaram um conjunto de critérios ambientais comuns para papel ambientalmente desejável e divulgaram orientação detalhada para assessorar compradores em suas escolhas. Naquele mesmo ano, compradores governamentais, representantes da indústria e grupos ambientalistas uniram-se sob uma nova Iniciativa Norte-Americana de Aqui- 169 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA sições Verdes, a fim de desenvolverem critérios e linguagem contratual uniformes para aquisições verdes de energia, papel e produtos de limpeza. Um grupo de trabalho conquistou uma grande vitória ao concordar com um conjunto único de critérios para a identificação de produtos verdes de limpeza em contratos públicos (anteriormente, os compradores chegavam a utilizar até 17 tipos diferentes de linguagem contratual).53 Muitos compradores (e outros consumidores) também procuram orientação sobre iniciativas nacionais, regionais e globais de ecorrotulagem. Ecorrótulos são selos de aprovação utilizados para indicar que um produto atende a critérios específicos de segurança ambiental durante uma ou mais etapas de seu ciclo de vida. Embora a variedade de produtos e serviços ecorrotulados seja relativamente pequena, esses rótulos já podem ser encontrados em vários itens, desde eletricidade verde até produtos de madeira. Os certificadores incluem órgãos governamentais, ONGs, grupos profissionais ou privados e entidades de certificação internacional. (Vide também Capítulo 5.)54 Algumas instituições permitem que seus compradores exijam especificamente itens ecorrotulados em seus contratos. A cidade de Ferrara, na Itália, por exemplo, procura comprar papel com o rótulo da Nordic Swan. Porém muitos compradores (particularmente governamentais) hesitam em endossar produtos ecorrotulados específicos, exigindo, em vez disso, que seus fornecedores satisfaçam os critérios básicos dos rótulos. O estado da Pensilvânia demonstrou o desejo de adquirir apenas produtos de limpeza e tintas que atendam aos 170 critérios estabelecidos pela Green Seal, uma organização americana sem fins lucrativos que desenvolveu padrões ambientais rigorosos em cerca de 30 categorias de produtos. Uma das grandes preocupações é que a escolha de produtos de rotulagem específica poderá criar uma barreira comercial injusta, nos termos da regras da Organização Mundial do Comércio, discriminando pequenos fornecedores, que talvez não possam arcar com os custos de qualificação às condições dos rótulos. (Vide Capítulo 7.)55 A Rede de Aquisições Verdes, do Japão, tem hoje cerca de 2.730 membros, incluindo Sony, Toyota e Canon. Tem surgido também forte oposição à ecorrotulagem por parte da indústria, particularmente nos Estados Unidos. O presidente da Green Seal, Arthur Weissman, explica que fabricantes como Procter & Gamble, principal produtor de artigos domésticos, utilizam várias táticas – desde argumentos legais até forte lobby governamental – para evitar que produtos verdes certificados entrem no mercado americano. “Na visão deles, interrompo o relacionamento com o consumidor”, diz Weissman... “terceiros interferindo com a marca”. 56 Em alguns casos, fabricantes globais com múltiplas linhas de produtos têm resistido aos esforços de especificar qualquer um dos seus produtos como ambientalmente desejável, por temerem Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA que isso possa denegrir suas ofertas convencionais. “Assim que as empresas comecem a identificar alguns dos seus produtos como ambientalmente desejáveis, os consumidores irão querer saber o que tem de errado com os outros produtos, explica Scot Case, diretor de Estratégias de Aquisição do Center for a New American Dream. “Uma empresa poderá sofrer ações legais caso seus clientes venham a saber que muitos dos seus produtos de limpeza, por exemplo, são poções tóxicas de conhecidos cancerígenos e toxinas reprodutivas”.57 Hoje, várias outras ferramentas também ajudam os compradores a identificar com mais facilidade produtos e serviços ambientalmente desejáveis. Muitas organizações divulgam diretrizes de aquisições verdes ou listas de produtos como referência para seus compradores ou fornecem manuais detalhados de treinamento para orientar os compradores através do processo. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, por exemplo, dá recomendações para a aquisição de cerca de 54 produtos diferentes com conteúdo reciclado, incluindo cones de trânsito, cartuchos de toner, madeira plástica, mangueiras de jardim e isolamento predial. A cidade de Gotenburgo, na Suécia, realiza seminários de treinamento, palestras e workshops para orientar compradores e outros interessados sobre exigências legais, ferramentas específicas e melhores práticas para aquisições verdes. Em 2000, 80–90% dos funcionários municipais (tanto compradores quanto usuários finais) haviam sido treinados em aquisições verdes.58 Disseminando o Movimento Durante muitos anos o esforço de divulgar e promover práticas mais verdes de compras perdeu-se entre duplicação de trabalho e pouca articulação de idéias. Mas isso está mudando. Hoje, iniciativas em âmbito internacional, regional e local buscam não só enfrentar os obstáculos a aquisições verdes, mas também acelerar sua adoção. E à medida que mais instituições reconhecem os benefícios, compartilham informações e aprendem com os sucessos e fracassos mútuos. Várias organizações e redes, especialmente na Europa, América do Norte e Japão, publicam hoje informações sobre aquisições verdes, recolhem histórias de sucesso e divulgam tendências. Visam principalmente instituições com forte poder aquisitivo, como governos e grandes corporações, embora muitas de suas estratégias também sejam aplicáveis em menor escala. Alguns desses grupos entram em parceria diretamente com líderes industriais e autoridades governamentais para encorajar aquisições mais verdes. Outros congregam comunidades para boicotarem ou, de outra forma, pressionarem fabricantes ou outras instituições a mudar suas práticas de compra. Muitos também aplicam seus recursos para promover debates públicos e gerar interesse da mídia no movimento de aquisições verdes. O Programa Ecoaquisições, do ICLEI, lançado em 1996, é líder na promoção de aquisições verdes entre governos, empresas e outras instituições por toda a Europa. Mais de 50 cidades e prefeituras em 20 países pertencem hoje à Rede Compre Verde, do gru- 171 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA po, que ajuda seus membros na troca de informações e experiências, na união de esforços e nas aquisições verdes conjuntas. A organização também realiza conferências anuais e edita uma revista, distribuída para mais de 5.000 compradores na Europa. E, em um dos seus primeiros esforços, a ICLEI está trabalhando num projeto para quantificar a economia ambiental associada a aquisições verdes, a fim de determinar a melhor maneira de combinar estrategicamente o poder de compra das cidades e divulgar aquisição verde por toda a Europa. Por exemplo, o projeto constatou que a substituição dos 2,8 milhões de computadores que os governos da UE adquirem anualmente por modelos eficientes em energia poderá reduzir as emissões européias em mais de 830.000 toneladas de dióxido de carbono equivalente.59 Na América do Norte, o principal proponente de aquisições institucionais verdes é o programa Aquisições Ambientalmente Desejáveis, da Agência de Proteção Ambiental (EPA), criado em 1993 por decreto presidencial. O programa oferece apoio e informações em áreas como construção, produtos de escritório, serviços de conferências e impressão, produtos de limpeza, aquisições para lanchonetes e produtos eletrônicos. A EPA também lançou vários projetos-piloto, incluindo parcerias com o Departamento da Defesa (para esverdear operações e instalações militares) e com o Serviço Nacional de Parques (para ajudar os parques tanto a esverdearem suas compras quanto educarem os visitantes sobre consumo). Através da sua base central de dados, a EPA também atua como câmara de compensação para mais de 600 produtos e serviços ambientalmente desejáveis, incluindo links 172 para 130 especificações de contrato em âmbito municipal, estadual e federal, para 523 normas de desempenho ambiental de produtos e para 25 listas de vendedores e produtos que atendem a essas normas.60 O Center for a New American Dream, de Maryland, ajuda grandes compradores, particularmente governos estaduais e municipais, a incorporarem considerações ambientais em suas decisões de compra. Seu Programa de Estratégias Aquisitivas foi um motivador por trás da Iniciativa NorteAmericana de Aquisições Verdes, em 2002, que visa gerar uma massa crítica para aquisições verdes no continente. O grupo também pretende agir como câmara de compensação para informações sobre aquisições verdes para fabricantes, compradores e fornecedores.61 A Rede de Aquisições Verdes (RAV), do Japão, agrega cerca de 2.730 organizações, incluindo mais de 2.100 empresas (entre elas Panasonic, Sony, Fuji, Xerox, Toyota, Honda, Canon, Nissan e Mitsubishi); 360 prefeituras em locais como Tóquio, Osaka, Yokohama, Kobe, Sapporo e Kyoto e 270 grupos de consumidores, cooperativas e outras ONGs. A RAV realiza seminários e exposições pelo país sobre aquisições verdes, publica diretrizes de compras e livros de dados ambientais de diferentes produtos e serviços e distribui prêmios a organizações exemplares.62 Na área de educação superior, mais de 275 presidentes e chanceleres de universidades em mais de 40 países assinaram a Declaração de Talloires, em 1990, um plano de ação de 10 pontos que, entre outras coisas, encoraja as universidades a estabelecerem políticas e práticas de conserva- Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA ção de recursos, reciclagem, redução de lixo e operações ambientalmente seguras. No setor hoteleiro, a International Hotels Environment Initiative, uma rede global sem fins lucrativos de mais de 8.000 hotéis em 11 países, patrocina uma ferramenta da Web para ajudar hotéis a melhorarem seu desempenho ambiental (e economizarem dinheiro) através de compras diversificadas, desde iluminação eficiente em energia até pisos, refrigeradores e frigobares ambientalmente desejáveis.63 Desde 1992, DaimlerChrysler vem explorando as florestas tropicais brasileiras à procura de fibra de coco e borracha natural seguras, que utiliza hoje em assentos e apoios de cabeça dos veículos. Há esforços também para chamar mais a atenção da mídia para aquisições verdes. Em fevereiro de 2001, a Agência de Proteção Ambiental da Dinamarca lançou uma campanha intensiva na televisão, em jornais e folhetos para despertar interesse em produtos ecorrotulados. A Rede de Aquisições Verdes do Japão empenhou-se promovendo aquisições verdes na televisão, jornais e seminários governamentais e corporativos. Organizações de todos os tipos hoje também utilizam a Internet para informar seus compradores sobre aquisições verdes, dando dicas e indicando links para produtos e serviços alternativos. O condado de King, no estado de Washington, utiliza seu website abrangente e boletins via e-mail para disse- minar histórias de sucesso e outros eventos de aquisições verdes.64 Já há esforços incipientes para disseminar aquisições verdes no mundo em desenvolvimento, embora ainda reste muito trabalho a ser feito. O programa ERNIE (Aquisições Ecorresponsáveis em Países em Desenvolvimento e Economias Quase Industrializadas) do ICLEI, apoiado pela Global Environment Facility, está trabalhando com autoridades locais em várias cidades – inclusive São Paulo, Brasil; Durban, África do Sul, e Puerto Princessa, Filipinas – para desenvolver projetos-piloto de aquisições verdes. A iniciativa enfoca basicamente a compra de eletrodomésticos eficientes em energia e visa superar várias barreiras de mercado e, dentre outras, as licitações verdes, inclusive a necessidade de capacitar fornecedores e fabricantes locais.65 Uma forma de as instituições ajudarem a disseminar aquisições verdes no mundo em desenvolvimento é por meio de suas próprias licitações, fortalecendo mercados verdes locais. Por exemplo, as Nações Unidas, Banco Mundial, agências doadoras e corporações multinacionais operando nesses países podem esforçar-se para adquirir uma maior parcela de seus bens e serviços de fornecedores verdes locais, ajudando a capacitar a produção sustentável. Desde 1992, DaimlerChrysler vem explorando as florestas tropicais brasileiras à procura de fibra de coco e borracha natural seguras, que hoje utiliza em assentos e apoios de cabeça dos veículos. Com isso, a montadora não só elimina o uso de insumos sintéticos nessas peças, como também incrementa mercados locais de materiais renováveis, gerando renda e emprego para os produtores.66 173 Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA Na maioria dos casos, todavia, já é um grande desafio conseguir simplesmente que instituições internacionais comprem dos países em desenvolvimento, quanto mais comprar verde. Embora algumas dessas instituições tentem efetivamente comprar localmente, suas aquisições geralmente favorecem empresas do mundo industrializado. (Na realidade, a maioria das agências doadoras atrelam sua ajuda a aquisições em seus próprios países.) Em 2000, apenas um terço das aquisições do sistema das Nações Unidas foi no mundo em desenvolvimento. Ocasionalmente, essas instituições fazem exigências socialmente responsáveis em suas aquisições: o UNICEF, por exemplo, busca desenvolver políticas e estratégias de origens que apóiem metas nacionais de incremento ao bem-estar das crianças. Mas, até agora, raramente especificam critérios ambientais devido, em parte, ao risco de essas especificações contratuais alienarem pequenos fornecedores que talvez não possam atendê-las.67 Ao incrementar aquisições verdes nos países em desenvolvimento, as instituições internacionais podem não apenas estimular mercados, mas também aprimorar sua imagem em função das constantes críticas sobre os impactos ambientais de suas atividades. Há interesse crescente, por exemplo, em inserir critérios ambientais nas licitações associadas a empréstimos do Banco Mundial, como parte de esforços maiores para esverdear as operações do Banco. O Banco está hoje trabalhando com uma coalizão de outros bancos multilaterais de desenvolvimento, agências da ONU e ONGs para estimular aquisições verdes tan- 174 to dentro quanto fora das instituições membros. Esse grupo interagências espera também incorporar critérios de justiça social às decisões licitatórias dos membros.68 Evidentemente, as instituições mundiais têm um poder significativo de realizar mudanças sociais e ambientais por intermédio de suas aquisições. Mas não importa quão ambientalmente seguras sejam essas aquisições: elas ainda utilizam recursos e geram resíduos. A fim de mitigar realmente os impactos de seu consumo, as instituições precisarão buscar meios para atender a suas necessidades sem adquirirem novos produtos – por exemplo, eliminando compras desnecessárias e estendendo a vida útil dos produtos existentes. Pori, na Finlância, implementou um serviço urbano de reutilização de mercadorias que permite aos funcionários de qualquer repartição municipal negociar ou dar produtos que não precisem mais. E desde 1994 o projeto SWAP (sigla em inglês de Sobras com Objetivo), da Universidade de Wisconsin-Madison, subseqüentemente ampliado para todo o estado, vem ajudando a redirecionar produtos usados – como mobília de escritório, computadores e outros – de aterros para outros usuários no campus e em todo o estado.69 Aquisições verdes não são a única forma de minimizar os problemas associados ao consumo excessivo. Mas é um passo importante no caminho para um mundo mais sustentável. Como indivíduos, precisaremos pressionar organizações para as quais trabalhamos e das quais dependemos para que se unam a nós na construção deste mundo. Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Papel Durante a maior parte de sua história, o papel existiu como uma mercadoria preciosa e rara. Agora cobre o planeta. Nos tempos atuais, dificilmente notamos a quantidade de papel passando por nossas vidas. Do conteúdo de nossas caixas de entradas às cédulas de nossas carteiras e até as embalagens de nossos jantares congelados, o papel está sempre à mão. Mundialmente, o consumo do papel aumentou mais de seis vezes na última metade do século XX. Os Estados Unidos – com 331 kg por pessoa, anualmente, e aproximadamente 30% do uso total mundial por ano – são o maior consumidor de papel. Numa base per capita, os japoneses vêm a seguir, com 250 kg por pessoa. Embora inventado como um meio de comunicação, cerca da metade do papel consumido pela sociedade atualmente tem outro destino: embalagem. De precioso a descartável – o papel hoje é responsável por grande parte do lixo moderno, representando 40% do lixo sólido urbano que sobrecarrega muitos países industrializados.1 Embora o papel seja derivado do “papiro”, uma planta aquática colhida, amassada e prensada para que os antigos egípcios registrassem seus hieróglifos, o papel fibroso como conhecemos foi inventado na China, menos de 2.000 anos atrás. Nos dois milênios seguintes, trapos e cânhamo eram as matérias-primas mais populares na fabricação do papel. A Bíblia de Guttenberg, o primeiro e segundo esboço da Declaração de Independência dos Estados Unidos e as obras originais de Mark Twain foram todos impressos em papéis feitos de cânhamo. Só a partir de 1850 Friedrich Gottlob Keller, da Alemanha, inventou um método de fabricar papel a partir da madeira.Foram necessárias várias décadas para árvores tornarem-se a matéria-prima preferida, quando outros refinaram as técnicas de Keller e descobriram novos métodos de produção em massa de papel, baseados na madeira.2 No século XXI, dificilmente pensamos em papel derivado de outra coisa que não de papel. Realmente, 93% do papel atual vem de árvores, e a produção de papel é responsável pela colheita de um quinto da madeira em todo o mundo. Atualmente, 55% do suprimento total provém do corte de novas árvores, 7% provêm de fontes não-arbóreas e os 38% restantes são provenientes da reciclagem de papel feito de madeira.3 Árvores em todo o mundo alimentam o suprimento de papel. As florestas dos 175 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: PAPEL Estados Unidos são responsáveis pela maior contribuição, com 30% do total, porém, nas últimas décadas, essa parcela está diminuindo à medida que a China e outros países em desenvolvimento aumentam a produção. A produção de papel mudou dentro dos Estados Unidos. Quando se coibiu a exploração de madeira nas florestas antigas do noroeste, a produção de papel transferiu-se para as florestas secundárias, biologicamente ricas, do sudeste. Essas florestas agora fornecem um quarto do papel mundial. E florestas secundárias fornecem 54% do total de papel derivado de madeira virgem em todo o mundo. Plantações arbóreas (muitas vezes plantadas em terras recém-desmatadas) chegam quase a 30% e as antigas, na maioria florestas boreais, são responsáveis pelos 16% restantes.4 O processo de transformar árvores em papel começa na serraria, onde uma série de lâminas circulares reduz toros a pequenas lascas. As lascas são transportadas para moagem em usinas a milhares de quilômetros de distância, onde são cozinhadas com produtos químicos em gigantescos caldeirões de pressão e transformados em uma pasta úmida com a consistência de um mingau. Lavada e branqueada várias vezes, essa mistura é finalmente prensada e secada, resultando em rolos enormes de papel para consumo. No final, um pedaço de papel de escrever pode conter fibras de centenas de diferentes árvores trazidas coletivamente de milhares de quilômetros de distância, da floresta para o consumidor. Fabricar papel é uma atividade extremamente intensiva em recursos. Uma tonelada de papel requer duas ou três vezes seu peso em árvores, acompanhado de uma 176 grande quantidade de água e energia. No mundo todo, a indústria de papel e celulose é o quinto maior consumidor industrial de energia e usa mais água para produzir uma tonelada do produto do que qualquer outra indústria. As fábricas de papel podem ser vizinhos detestáveis, emitindo odores desagradáveis e gerando muita poluição da água e do ar e grande quantidade de resíduos sólidos. Embora as fábricas de papel no mundo industrializado tenham tomado algumas providências para tornarem-se mais limpas, fábricas em outros lugares continuam a despejar na atmosfera, solo e cursos d´água quantidades estarrecedoras de resíduos tóxicos nãotratados.5 Indivíduos e grandes instituições podem ajudar a reduzir a carga de papel de vários modos – desde sendo mais cuidadosos no seu uso no escritório a sendo mais diligentes na sua reciclagem. A reciclagem salva mais do que árvores. O uso de conteúdo reciclado, em vez de fibras virgens, para produzir papel gera 74% menos poluição atmosférica e 35% menos poluição da água.6 Grandes instituições podem, particularmente, desempenhar um papelchave direcionando o mercado para papéis reciclados. Em 2002, os 270 membros da Recycled Paper Coalition, com sede nos Estados Unidos – uma organização de grandes indústrias, organizações nãogovernamentais e órgãos oficiais, formada para usar o poder da compra a granel para apoiar o mercado de papel reciclado – comprou quase 150.00 toneladas de papel reciclado, com um conteúdo médio, pósconsumo, de 24%.7 A administração dos resíduos de embalagens também pode gerar bons Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: PAPEL dividendos. A Alemanha é pioneira nessa área, com um decreto, em 1991, exigindo que embaladores e distribuidores recebessem de volta e reutilizassem, ou reciclassem, materiais de embalagem, inclusive papel. Nos três anos seguintes, a reciclagem de papel descartado na Alemanha subiu para 54%, após ficar estagnada em 45% por quase 20 anos. Em 2003, o Parlamento da União Européia adotou uma lei exigindo que os governos membros estabelecessem metas de 60% para reciclagem do papel até 2008.8 O papel também está voltando, em escala limitada, a suas origens nãomadeireiras. Várias fibras alternativas estão agora no mercado – desde o cânhamo, sempre presente, ao kenaf (um membro folhudo da família dos hibiscos), resíduos agrícolas (palhas de cereais, fibras de algodão, cascas de bananas, cascos de coco e outros), e mesmo retalhos de jeans. Muitas agrofibras rendem mais polpa por hectare do que florestas ou plantações arbóreas e necessitam menos de pesticidas e herbicidas. Menos produtos químicos, tempo e energia são necessários para fazer a polpa de fibras agrícolas porque contêm menos lignina, uma substância semelhante à goma que ajuda plantas e árvores a manterem-se eretas. No futuro, algumas dessas fontes não-madeireiras poderão outra vez tornar-se matérias-primas significativas de papel. — Dave Tilford, Center for a New American Dream 177 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA CAPÍTULO 7 Articulando Globalização, Consumo e Governança Lisa Mastny Em maio de 2003, uma delegação de líderes indígenas da Amazônia Equatoriana e Peruana visitou Washington, DC, para expor o pesado ônus ambiental e social da extração de petróleo por corporações americanas em suas terras. Em seguida às reuniões em Washington, a delegação seguiu para Houston, Texas, para encontros com a Burlington Resources, uma empresa que possui duas concessões de petróleo numa área de 400.000 hectares dentro de seu território ancestral.1 Em nome dos 100.000 Shuar, Achuar e Quichua que vivem em aproximadamente 1,6 milhão de hectares de florestas tropicais virgens, a delegação entregou uma carta ao diretor-presidente da Burlington Resources, exigindo que a empresa cessasse todas as atividades na área e deixasse o território imediatamente. Citando a contaminação tóxica e destruição florestal deixadas pelas operações petrolíferas anteriores em outros locais na Amazônia, o presidente da Federação Independente dos Povos Shuar declarou enfaticamente que “os povos Shuar e Achuar da Amazô178 nia Equatoriana declaram que a posição de nossas comunidades é não para a exploração do petróleo, não para diálogo e negociações, não para desmatamento, não para contaminação e não para todas atividades ligadas ao petróleo”.2 Esses líderes indígenas trazem vividamente à tona o dano enorme e, quase sempre, oculto que o consumo dos países mais ricos do mundo pode causar a povos e lugares distantes. A visita dessa delegação colocou uma face humana na tendência da economia global moderna de isolar os consumidores dos vários impactos negativos de suas compras ao distanciar as diferentes fases do ciclo de vida de um produto – da extração da matériaprima ao processamento, uso e disposição final. Quando as vendas de veículos utilitários esportivos dispararam nos Estados Unidos durante a última década, por exemplo, será que alguns de seus novos proprietários pararam para pensar na ligação entre sua aquisição e o destino de povos indígenas cujas vidas e meios de vida foram vilipendiadas na ânsia pelo petróleo?3 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Embora a visita da delegação da Amazônia tenha sido, de certa forma, um alerta, também oferece alguma esperança, pois demonstrou como os desafios ambientais e sociais que acompanham a globalização econômica estão incentivando formas inovadoras de mobilização política através de fronteiras internacionais. A fim de mudarmos para padrões de produção e consumo ambientalmente sustentáveis mundialmente, precisaremos fortalecer essas alianças em busca de novas regras básicas, necessárias para forjar uma economia global fundamentada na proteção e não na pilhagem das riquezas naturais do planeta. A Disseminação do “McMundo” Em seu livro Jihad vs. McWorld, publicado em 1995, Benjamin Barber foi incrivelmente profético ao descrever nosso mundo complicado, em que dois cenários aparentemente contraditórios desenrolam-se simultaneamente: um “onde cultura é lançada contra cultura, pessoas contra pessoas, tribos contra tribos” e outro, onde “o ímpeto de forças econômicas, tecnológicas e ecológicas... exigem integração e uniformidade e... hipnotizam as pessoas em todo o planeta com o universo fast de música, computador, comida..., um McMundo unido pela comunicação, informação, entretenimento e comércio”.4 A difusão global do “McMundo” está levando rapidamente a sociedade ocidental de consumo ao resto do planeta. Logo após a queda do Muro de Berlim, em 1989, outdoors de cigarros e bebidas ocidentais começaram a aparecer por toda a Europa Oriental e antiga União Soviética, às vezes nas mesmas praças onde antes estavam os bustos dos líderes comunistas. E visitantes a alguns dos pontos mais remotos do mundo em desenvolvimento freqüentemente deparam-se com quiosques da Coca-Cola no fim da estrada. A própria McDonald’s hoje opera 30.000 restaurantes em 119 países, enquanto a empresa alemã Siemens está representada em 190 países, onde vende telefones celulares, computadores, medicamentos, artigos de iluminação e sistemas de transportes. (Vide Tabela 7-1.)5 A rápida globalização da economia de consumo ao longo dos anos 90 esteve intimamente ligada à expansão geral da economia, provocando o crescimento acelerado na movimentação de bens, serviços e dinheiro através de fronteiras internacionais. O valor do comércio mundial de bens aumentou quase 50% durante a década, saltando de US$ 4,22 trilhões para US$ 6,25 trilhões. Exportações de serviços comerciais bancários, de consultoria e turismo ampliaramse ainda mais rapidamente. (Vide Figura 7-1.) Investimentos estrangeiros diretos (IED) também aumentaram dramaticamente, atingindo um pico de US$ 1,4 trilhão em 2000. A explosão de IED foi disparada, em parte, por um frenesi de fusões corporativas, embora essa tendência tenha revertido-se dramaticamente nos últimos anos, em resposta à desaceleração econômica global e enfraquecimento geral da confiança empresarial após os ataques terroristas aos Estados Unidos, em setembro de 2001. 179 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Tabela 7-1. A Disseminação do “McMundo” Corporação Presença Global Hennes & Mauritz Empresa sueca de confecções que emprega 39.000 pessoas em 17 países europeus e Estados Unidos. Opera 893 estabelecimentos e pretende inaugurar mais 110, expandindose para o Canadá em 2003. O faturamento em 2002 foi de US$ 6,8 bilhões. H&M tem fornecedores na Europa e Ásia. Levi Strauss Empresa americana que vende confecções em mais de 100 países, com marca registrada em 160 nações. Emprega 12.400 pessoas mundialmente. Divulgou vendas totais de US$ 4,1 bilhões em 2002 e uma receita líquida de US$ 151 milhões em 2001. Tata Group O Tata Group opera em sete setores industriais, incluindo transportes, energia, produtos químicos e serviços de comunicação. Desenvolvida na Índia, hoje tem parcerias em 11 países em todo o mundo. Divulgou um faturamento de US$ 2,9 bilhões em 2001– 2002, mais que o dobro do ano anterior. Altria Group, Inc. O Altria Group é a empresa controladora de Kraft Foods, segunda maior empresa de alimentos do mundo, e da Philip Morris, a mais lucrativa empresa internacional de cigarros. O Altria Group teve uma receita líquida de US$ 80,4 bilhões em 2002, incluindo US$ 28,7 bilhões do mercado internacional de tabaco. Emprega 169.000 pessoas em 150 países. Siemens Essa empresa alemã emprega 426.000 pessoas e está representada em 190 países. Vende telefones celulares, computadores, medicamentos, artigos de iluminação e sistemas de transporte. Em 2002, o faturamento líquido da Siemens somou US$ 96,4 bilhões, 79% dos quais internacionalmente. Um milhão de pessoas possuem ações da empresa. Yum! Brands Anteriormente parte da PepsiCo, essa empresa e suas seis subsidiárias – KFC, Pizza Hut, Taco Bell, A&W, All-American Food Restaurants e Long John Silvers – registraram um faturamento global superior a US$ 24 bilhões em 2002. Opera 32.500 restaurantes em mais de 100 países e empregou 840.000 pessoas em 2002. Yum! Brands inaugurou 1.000 restaurantes fora dos Estados Unidos em 2001, quase 3 por dia. A China hoje tem 800 KFCs e 100 Pizza Huts. McDonald’s Corp. McDonald’s serve 46 milhões de fregueses diariamente. Opera 30.000 restaurantes em 119 países. Sua receita total em 2002 foi US$ 15,4 bilhões. No dia da inauguração na cidade de Kuwait, a fila do drive-thru tinha 10 quilômetros de extensão. Domino’s Pizza Domino’s inaugurou seu 7.000o estabelecimento em 2001 e opera em 60 países. As vendas em todos os países totalizaram US$ 4 bilhões em 2002. Seu serviço de entrega em domicílio percorre mais de 14 milhões de quilômetros só nos Estados Unidos. Utiliza 67,7 milhões de quilos de queijo anualmente e 12,1 milhões de quilos de pepperoni. Coca-Cola Coca-Cola vende mais de 300 marcas de refrigerantes em mais de 200 países. Mais de 70% da sua receita vem de fora dos Estados Unidos e, em 2002, sua receita líquida atingiu US$ 19,6 bilhões. Coca-Cola emprega 60.000 pessoas só na África. FONTE: vide nota final 5. 180 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA O crescimento do comércio e investimentos globais das últimas décadas contribuíram para baixar os custos de muitos bens de consumo, como vestuário, computadores e brinquedos – um fenômeno que está sendo saudado por economistas tradicionais e condenado por críticos da farra do consumo global. (Vide Capítulo 5.)6 cativo. Igualmente, o valor das exportações mundiais de peixe quase triplicou entre 1976 e 2001, atingindo US$ 56 bilhões em 2001. Ao mesmo tempo, o mundo testemunhou uma deterioração da saúde dos pesqueiros mundiais, com a Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura estimando que 75% dos estoques mundiais já foram explorados além de seus liTrilhões de Dólares mites sustentáveis.7 9 (base=2001) Num tipo um pouco diferente 8 de troca global, países cujas pe7 gadas ecológicas superam sua caBens e Serviços 6 pacidade ecológica disponível 5 freqüentemente importam bens de 4 países com superávit, levando a déficits comerciais ecológicos. 3 Bens (Vide Capítulo 1 para uma análise 2 do sistema de contabilidade da pe1 gada ecológica, que mede a área Fonte: FMI 0 de terra produtiva que uma eco1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 nomia requer para produzir os recursos de que necessita e assimiFigura 7-1. Exportações Mundiais de Bens lar seus resíduos.) As nações vae Serviços, 1950–2002 riam muito no volume desses Um subcomponente da expansão geral déficits; países tão diversificados como mais ampla do comércio mundial foi o cres- Japão, Holanda, Emirados Árabes Unidos cimento acelerado do comércio numa sé- e os Estados Unidos são, todos, grandes rie de commodities ambientalmente sensí- importadores de capital ecológico. (Vide veis, como minerais, produtos florestais, Figura 7-3.) Embora haja momentos em peixes e produtos agrícolas. (Vide Figura que esse tipo de transferência global faz 7-2.). O valor do comércio mundial de pro- sentido ecológico e econômico, ele efetidutos florestais, por exemplo, quadrupli- vamente capacita os países a viverem além cou entre 1961 e 2001, atingindo um pico de seus meios ecológicos.8 de US$ 148 bilhões em 2000, antes de cair A crescente globalização da economia para US$ 132 bilhões em 2001. Ao mesmo mundial também serve para proteger contempo, a cobertura florestal global vem sumidores e produtores do lixo gerado caindo consistentemente. O comércio, de pela fabricação, uso e descarte final da forma alguma, é o único fator responsá- infinidade de bens e bugigangas que vel, porém desempenhou um papel signifi- caracterizam a economia do consumo. 181 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Milhões de Toneladas 60 Fonte: FAO 50 Açúcar e Adoçantes 40 30 Arroz Legumes e Verduras 20 Soja 10 Carne 0 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Figura 7-2. Exportações Mundiais de Commodities Selecionadas, 1961–2001 Hectares 25 Fonte: Redefining Progress 20 Capacidade Disponível Pegada Ecológica 15 10 5 ési a Ch ina Bra si Mé l x ico Co réi ad oS Áf ul ric ad oS ul Isr ael Rú ssia Al em anh a Jap ão Ho lan da Gr éci Re a ino Un ido Fra nça Au str á Fin l i a l â Zo nd ia na Ze lân dia Ca Es n adá tad os Un ido s E.A .U . on Ind Índ ia 0 Figura 7-3. Pegada Ecológica por Pessoa em Nações Selecionadas, 1999 182 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA A conseqüente mentalidade do “longe dos olhos, longe do coração” tem o efeito de passar adiante esses ônus para outros, desencorajando o esforço de lidar com esses padrões de consumo nas suas próprias raízes (Vide Quadro 7-1.) QUADRO 7-1. O COMÉRCIO JUSTO E O CONSUMIDOR Como o poeta e fazendeiro Wendell Berry observou recentemente: “Um dos resultados principais – e uma das necessidades principais – do industrialismo é a separação das pessoas, locais e produtos de suas histórias”. Praticamente cada minuto na vida do consumidor moderno contém, ocultas, interações com pessoas e porções do planeta centenas de milhares de quilômetros de distância. A rede do comércio global permite que consumidores, em grande parte, abdiquem da dependência do seu ambiente imediato. A conseqüência infeliz é o isolamento dos consumidores dos efeitos profundos que suas escolham poderão ter nas vidas das pessoas do outro lado da linha da produção e consumo. Enquanto os benefícios do comércio livre fluem para consumidores e intermediários, o ônus flui rotineiramente para o outro lado –os pontos finais ao longo das linhas do comércio. Extraímos recursos e despejamos lixo em áreas ocupadas pelos pobres e sub-representados. Embora haja sempre alguém na outra extremidade da linha para aceitar o trabalho sujo de limpar o que é deixado pelos consumidores do mundo industrializado, aqueles freqüentemente prejudicados não estão entre os indenizados, ou a indenização é ofuscada pelo dano aos recursos locais vitais. O problema crescente do lixo eletrônico é um exemplo gritante. Os consumidores têm poucos motivos para se deterem com o que se esconde dentro de um computador ou telefone celular ou sobre que fim levou um item eletrônico descartado por um modelo mais novo. Para ver o que acontece, teriam que viajar a locais como a região Guiyu da Província Guangdong, na China. Centenas de caminhões rodam por lá diariamente, carregando computadores, impressoras e televisores usados da América do Norte para lixões espalhados entre os pequenos vilarejos da região. Por um dólar ou dois ao dia, trabalhadores migrantes desprotegidos mexem montanhas de lixo eletrônico – queimando plásticos, quebrando tubos de raios catódicos e despejando ácido sobre placas de circuitos para extrair metais preciosos e outros materiais valiosos. A fumaça cancerígena permeia o ar em torno dos lixões. Os mananciais da região já ficaram tão poluídos que a água potável precisa ser trazida por caminhões-pipa, de 30 quilômetros de distância. Os desejos dos consumidores e o bem-estar daqueles presos ao processo de atender a esses anseios podem entrelaçar-se de formas complexas. A população local pode depender financeiramente das indústrias que produzem os bens, mesmo sofrendo os efeitos nocivos causados por elas. O mal é visto como um efeito colateral infeliz, mas inevitável. Porém, o dano aos recursos locais e as condições adversas sob as quais as pessoas labutam são tipicamente subprodutos dos esforços de manter preços baixos para o consumidor final. Para citar um exemplo, a indústria de banana do Panamá emprega 70% da população. A fim de incrementar a produção, as bananas são cultivadas em gigantescas monoculturas, altamente dosadas com pesticidas aplicados diretamente por trabalhadores sem proteção, ou através da pulverização aérea indiscriminada. Os produtos químicos poluem os mananciais e têm sido associados à maior incidência de câncer nas comunidades próximas às plantações. Em suma, o bem-estar dos trabalhadores e comunidades é deixado de fora do preço final. Melhores práticas dependem de os consumidores conhecerem os problemas e apoiarem sistemas melhores. Na indústria da banana, grupos ativistas começaram a chamar atenção para o sofrimento dos trabalhadores, levando algumas empresas a mudarem suas práticas. Dole, por exemplo, está 183 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA QUADRO 7-1. (continuação) incrementando seus esforços para cultivar bananas orgânicas sem pesticidas. E as plantações latino-americanas da Chiquita são hoje 100% certificadas pelo Projeto Melhores Bananas, da Rainforest Alliance, que inspeciona plantações com o fim de verificar a aplicação de práticas sustentáveis, mais sadias para os consumidores e para o meio ambiente, como também benéficas para os trabalhadores. O “comércio justo” está surgindo em relação a algumas commodities como um instrumento que proporciona aos agricultores e produtores independentes maior controle sobre a venda de seus produtos e uma ligação mais íntima com consumidores finais. Sob o sistema de comércio justo, pequenos produtores reúnem-se e formam cooperativas, vendendo diretamente a varejistas a um preço mínimo garantido. Atualmente, o café é o exemplo mais evidente. Nos últimos anos, os preços pagos aos agricultores despencaram aos níveis mais baixos da história, enquanto os lucros dos grandes varejistas mantinham-se substanciais. Na América Central, mais de meio milhão de trabalhadores perderam seus empregos. Vilarejos outrora prósperos transformaram-se em cidades fantasmas, com seus antigos habitantes vivendo amontoados em perigosas favelas nas periferias dos centros urbanos. Através do comércio justo, muitos produtores podem manter-se. Membros da Cooperativa Oromiya, na Etiópia, obtêm mais que o dobro do que seus vizinhos recebem vendendo café no mercado livre. O comércio justo também traz benefícios ambientais. A atenção do mundo despertou originalmente para o problema da exportação de lixo de forma significativa em meados dos anos 80, quando uma série de incidentes amplamente divulgados pela mídia – como o itinerante “batelão de lixo” da Filadélfia, um navio carregado com cinza tóxica que foi proibido de descarregar em três estados e 184 Produtores com mercados mais estáveis ganham condições para adotar uma visão mais de longo prazo. Os membros da Cooperativa Miraflor, na Nicarágua – como muitas cooperativas de café de comércio justo –, cultivam café orgânico à sombra em áreas outrora submetidas a altas doses de pesticidas. Embora sua participação no mercado ainda seja pequena, as vendas de café de comércio justo cresceram 12% em 2001 em comparação com o aumento do consumo de café, de apenas 1,5%. Os consumidores têm o poder de tornar o sistema global de comércio mais justo e sustentável. A indignação às condições injustas e a demanda de mercado por produtos mais socialmente responsáveis poderão ajudar a mudar a forma como as empresas fazem negócio e criar um ambiente melhor para aqueles nas pontas da produção e consumo. Quando os efeitos do consumo estão ocultos, os custos sociais e ambientais tendem a ser deixados de fora da contabilidade e reformas são mais difíceis de se realizar. Uma maior conscientização por parte dos consumidores e uma disposição de agir em função dessa conscientização, entretanto, poderão religar os itens de consumo a suas histórias e contrabalançar o prejuízo que freqüentemente acompanha o consumo inconsciente. – Dave Tilford, Center for a New American Dream ___________________________________________ FONTE: vide nota final 9. cinco países num período de 16 meses – colocou em destaque o crescente comércio internacional de resíduos nocivos e sólidos. Mais recentemente, a profusão de lixo eletrônico criada pela era da informática levou a um próspero comércio internacional de produtos descartáveis, como computadores, televisores, telefones, etc.9 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Com mercados de bens de consumo já se tornando saturados nos países industrializados, as estratégias corporativas cada vez mais se voltam para visões de crescimento acelerado nos países em desenvolvimento, levando a aumentos na compra de qualquer tipo de mercadoria, desde carros e televisores até papel e fast food. Essa tendência está particularmente mais pronunciada na região da Ásia e do Pacífico, que abriga hoje cerca de 684 milhões de membros da classe global de consumidores – mais que na Europa Ocidental e América do Norte juntas. (Vide Capítulo 1.) Embora seja eticamente problemático sugerir que os países em desenvolvimento não têm direito às mesmas opções de consumo de materiais que há muito vêm sendo consideradas como naturais pelos consumidores ocidentais, a adoção global do padrão de consumo dos países industrializados criaria pressões insuportáveis sobre a saúde dos sistemas naturais da Terra.10 Face a esse enigma, alguns analistas do mundo em desenvolvimento passaram a enfatizar mais as oportunidades do que os problemas que aguardam os países em transição para economias ambientalmente sustentáveis. O Conselho de Cooperação Internacional da China sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, por exemplo, observou numa declaração recente que “o padrão de consumo per capita extremamente baixo da China é uma oportunidade para que se evitem os erros de muitos outros países, que desenvolveram níveis muito altos de consumo de energia e materiais. O redirecionamento para padrões mais sustentáveis de consumo poderá resultar em empreendimentos domésticos mais competitivos e maior acesso aos mercados internacionais”. O de- safio é desenvolver estratégias que permitam um pulo direto para uma economia na qual produtores utilizem tecnologias verdes de ponta de forma generalizada e consumidores adotem aquisições sustentáveis como rotina. (Vide Capítulos 5 e 6.)11 Mais de dois anos depois dos ataques terroristas em Nova Iorque e Washington, que colocou o Jihad e o McMundo em rota de direta de colisão, está se tornando cada vez mais claro que nenhum dos dois cenários trará um futuro estável e seguro. Logo antes do primeiro aniversário do 11 de setembro, dezenas de milhares de pessoas em todo o mundo reuniram-se em Joanesburgo, África do Sul, para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Os participantes da conferência rejeitaram implicitamente ambos, Jihad e McMundo, enquanto abraçaram a causa da construção de uma sociedade ambientalmente segura e socialmente justa. Os proponentes do desenvolvimento sustentável, em todo o mundo, enfrentam hoje o desafio de manter tanto a atenção pública quanto a vontade política focadas na necessidade urgente de dar vida aos muitos acordos internacionais importantes forjados em Joanesburgo, inclusive os compromissos para a transformação dos padrões insustentáveis de produção e consumo. Cooperação Global para o Consumo Sustentável A atenção internacional concentrou-se primeiramente nas questões de produção e consumo uma década antes da conferência de Joanesburgo, quando as Nações 185 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Unidas realizaram a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, em 1992. Nessa reunião histórica, os governos reconheceram oficialmente que padrões subjacentes de produção e consumo são importantes forças motrizes do desenvolvimento insustentável e enfatizaram a responsabilidade das nações pela reversão dessa situação. Desde então, questões de produção e consumo vêm sendo tratadas como faces de uma mesma moeda no mundo da política internacional. Essa fusão reflete os laços inextricáveis entre dois fenômenos: é impossível utilizar produtos sustentáveis sem que sejam produzidos. Mas a relação também reflete a realidade de a maioria dos governos considerarem mais politicamente palatável discutir o lado “produção” da equação do que questões polêmicas de estilo de vida.12 A Agenda 21, o extenso plano de ação para desenvolvimento sustentável que surgiu da conferência do Rio, acentuou a disparidade entre as “demandas excessivas e estilos de vida insustentáveis entre os segmentos mais ricos” e a incapacidade de pobres atenderem suas necessidades básicas de alimentação, boa saúde, abrigo e educação. Também exigiu que instituições internacionais e governos nacionais empreendessem um número de iniciativas para reverter padrões de produção e consumo insustentáveis, como a promoção de maior eficiência energética e de recursos, minimização da geração de lixo, encorajamento de decisões sensatas de aquisição tanto por indivíduos quanto governos e mudanças em direção a sistemas de preços que incorporem custos ambientais ocultos. Esses compromissos ganharam destaque especial em função dos 186 repetidos pronunciamentos das autoridades norte-americanas de que o estilo de vida americano não era negociável no Rio.13 A responsabilidade de supervisionar o acompanhamento recaiu sobre a Comissão das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS), um órgão intergovernamental que se reúne anualmente para conferir os esforços de implementação dos acordos gerados no Rio. A CDS tem sido um fórum útil para várias discussões sobre questões de produção e consumo entre observadores governamentais e não-governamentais ao longo da última década. Porém, apesar de toda falação, as deliberações produziram muito pouco em termos de ações concretas.14 Uma exceção foi o esforço bem-sucedido de revisão das Diretrizes das Nações Unidas para Proteção ao Consumidor. Essas diretrizes não são obrigatórias, mas mesmo assim proporcionam um instrumento para os governos utilizarem no desenvolvimento de suas próprias políticas. As diretrizes revistas, adotadas em 1998, encorajam governos a implementarem uma variedade de inovações de políticas para promover o consumo sustentável, inclusive a realização de testes ambientais imparciais de produtos, fortalecendo mecanismos normativos para proteção dos consumidores e incorporando práticas sustentáveis nas operações governamentais. Infelizmente, uma pesquisa realizada em 2002 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e Consumers International concluiu que os países estavam avançando muito lentamente na implementação das diretrizes, com 38% dos que responderam revelando que nem tinham conhecimento destas.15 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Várias outras organizações internacionais estiveram ativas nas questões de produção e consumo durante a década após a Cúpula da Terra. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, com sede em Paris, um fórum de políticas econômicas e sociais para os principais países industrializados do mundo, patrocinou uma série de reuniões e pesquisas visando encorajar governos a implementarem políticas inovadoras sobre produção e consumo sustentáveis, incluindo sistemas de ecorrotulagem que ajudem os consumidores a selecionar produtos ambientalmente seguros, legislação de “devolução”, que obriga os fabricantes a recolher as embalagens e produtos descartados, reduções nos subsídios governamentais a indústrias ambientalmente danosas e impostos ambientais para internalizar os custos ambientais nos preços dos produtos. (Vide Capítulo 5.)16 O PNUMA é outro ator ativo nos esforços para promover consumo sustentável em escala global. Esse programa das Nações Unidas, sediado em Nairobi, lançou uma Iniciativa de Ciclo de Vida em 2002, reunindo líderes industriais, acadêmicos e legisladores, para encorajar o desenvolvimento e disseminação de instrumentos práticos para avaliação dos impactos ambientais dos produtos ao longo de suas vidas. O PNUMA também coopera com outras agências das Nações Unidas e Banco Mundial para incentivar a colaboração no esverdeamento de procedimentos licitatórios nessas instituições. Trabalha com indústrias de porte na busca de um consumo sustentável, inclusive nos setores de publicidade, moda, finanças e varejo, para encorajá-los a adotar medidas que promovam a produção e consumo sustentáveis. E procura engajar organizações não-governamentais (ONGs) na mudança para o consumo sustentável, inclusive grupos de consumidores e de jovens.(Vide Quadro 7-2.)17 QUADRO 7-2. UTILIZANDO O PODER DOS JOVENS PARA MUDAR O MUNDO Há mais de 1 bilhão de jovens entre as idades de 15 e 24, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas, e mais de 500 milhões de jovens entrarão na força de trabalho nos países em desenvolvimento ao longo da próxima década. Esses números sinalizam a imensa influência em potencial que os jovens podem ter na determinação de um futuro melhor, como resultado de suas escolhas de estilo de vida e contribuições profissionais. Porém, os poderes de compra e tomada de decisão de 1 bilhão de jovens hoje estão longe de uma homogeneidade. Metade deles vive na pobreza. Na outra ponta do espectro, jovens em sociedades afluentes representam uma parcela crescente do consumo total, e estão sob pressão constante para comprar mais. Com a globalização do cinema, televisão e publicidade, há o perigo de que a tendência dessa mídia de glorificar estilos jovens e materialistas de vida nos países mais afluentes do mundo possa ter um impacto negativo nas atitudes e padrões de consumo de outros jovens. Em resposta a essas tendências, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e UNESCO realizaram uma pesquisa em 2000 – chamada “Será que o Futuro é Seu?” – sobre atitudes de consumo entre jovens de 18 a 25 anos. Mais de 8.000 pessoas em 24 países responderam à pesquisa, fornecendo informações importantes sobre as aspirações e interesses da juventude, sua conscientização sobre o consumo ambientalmente e eticamente 187 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA QUADRO 7-2. (continuação) responsável e sua visão quanto a seu papel na melhoria do mundo para o futuro. A pesquisa constatou que os jovens têm conhecimento do impacto de seu uso e descarte de produtos, mas têm menos consciência do impacto de seus hábitos de compra, particularmente alimentos e vestuário. Comprovou também que os jovens consideram as questões ambientais, de direitos humanos e saúde como de grande importância para o futuro, mas, para lidar com elas, priorizam a ação individual sobre a coletiva. Embora a pesquisa tenha verificado que os jovens geralmente não relacionam seu comportamento pessoal aos problemas globais, há, não obstante, muitos exemplos de jovens ativistas empenhados em pressionar suas comunidades e governos a promoverem consumo sustentável. Por exemplo, um ativista peruano de 23 anos recrutou a Shell para um projeto de instalação de painéis solares num vilarejo remoto nas montanhas; Os anos 90 também viram governos avançarem em direção ao fortalecimento de vários tratados internacionais sobre ameaças ao meio ambiente global. Estes são mais obrigatórios do que as atividades cooperativas descritas acima e, assim, formam um componente-chave para esforços mais amplos de mudança dos padrões insustentáveis de produção e consumo. Por exemplo, as nações participantes do acordo de 1995 sobre a gestão cooperativa de pesqueiros internacionais comprometeram-se a desenvolver políticas nacionais para restauração dos estoques de peixe a níveis sadios, encorajando dessa forma a pesca e consumo sustentáveis. Governos que assinaram o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança na Convenção das Nações Unidas sobre 188 um jovem nos Camarões viaja de vilarejo a vilarejo ensinando outros jovens como utilizar a água com maior segurança e eficiência; jovens “comissários de supermercados” na Suécia iniciaram um diálogo com supermercados para assegurar que produtos sustentáveis sejam facilmente disponibilizados aos consumidores e, nos Estados Unidos, jovens desenvolveram um guia de presentes com sugestões de artigos de comércio justo e ambientalmente amigáveis. Em resposta aos resultados da pesquisa e de um workshop subseqüente realizado para discuti-los, PNUMA e UNESCO lançaram o Projeto YouthXchange, para desenvolver instrumentos que ajudem os jovens a agir na promoção do consumo sustentável. – Isabella Marras, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ____________________________________________ FONTE: vide nota final 17. Biodiversidade Biológica, em 2000, concordaram em obedecer a um sistema de consentimento prévio informado para transportes internacionais de organismos geneticamente modificados e produtos que os contenham, dando aos países importadores maior controle quanto à utilização doméstica desses produtos. Os países signatários da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) obrigaram-se a regulamentar a produção e uso de 12 produtos químicos particularmente danosos, inclusive a eliminação completa de 9 deles. E países que concordaram com as metas de emissões de dióxido de carbono, nos termos do Protocolo de Kyoto de 1997, na ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, deverão mudar para energia Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA menos intensiva em combustíveis fósseis, a fim de atendê-las.18 O número de países que já ratificaram formalmente tanto a convenção sobre peixes quanto a de biossegurança é suficiente para pôr esses tratados em vigor, tornando suas disposições obrigatórias para as nações signatárias. Este ainda não é o caso da Convenção sobre os POPs ou o Protocolo de Kyoto, embora muitos países signatários já estejam ajustando suas políticas nacionais aos termos desses acordos.19 Além das iniciativas das instituições internacionais e governos, a década, desde a conferência do Rio, também testemunhou o desenvolvimento de novos instrumentos de informação, como sistemas internacionais de rotulagem e certificação, em resposta ao aumento da sensibilidade dos consumidores aos laços que os unem através da cadeia produtiva global a povos e comunidades em terras distantes. Um exemplo é a crescente popularidade de café, banana e outros produtos agrícolas que atendem aos critérios de rotulagem orgânica ou de comércio justo, ou ambos. (Vide Capítulo 4.) Outro exemplo é o impacto do Forest Stewardship Council (FSC) – Conselho de Manejo Florestal –, uma entidade independente, formada em 1993 para estabelecer normas para produção florestal sustentável, através de um processo cooperativo envolvendo madeireiras e varejistas, como também organizações ambientais e moradores de florestas. Uma década depois, o FSC já havia certificado mais de 39 milhões de hectares de florestas comerciais em 58 países, mais de seis vezes a área de 1998, embora ainda apenas 1% das florestas mundiais.20 Um Marine Stewardship Council (MSC), Conselho de Manejo Marinho, modelado no FSC, foi criado poucos anos depois. Até hoje, sete pesqueiros foram certificados como estando em conformidade com as normas do MSC em termos de manejo e sustentabilidade, inclusive o pesqueiro de salmão, do Alasca, o pesqueiro de hoki, da Nova Zelândia, e o pesqueiro de lagostasdas-rochas, da Austrália Ocidental; muitos mais estão sob avaliação. Cerca de 170 frutos do mar, certificados pelo MSC, estão postos à venda em 14 países. Mas, da mesma forma que produtos florestais, estes ainda representam apenas uma pequena fração da produção total. Fazer pender a balança para que produtos sustentáveis sejam a regra e não a exceção exigirá novos regulamentos e incentivos para realizar uma transformação mais ampla no mercado global. (Vide Capítulos 5 e 6.)21 Para esse fim, desenvolveram-se várias iniciativas importantes para encorajar corporações globais a adotar técnicas de produção mais sustentáveis durante a última década. Em 2000, as Nações Unidas lançaram o Global Compact, exigindo que as empresas participantes incorporem nove valores essenciais relacionados a direitos humanos, normas de trabalho e proteção ambiental às suas operações. Mais de 1.200 empresas em mais de 50 países já aderiram, embora críticos acusem o programa de exigir pouco em termos de ações específicas e falhar ao não proporcionar uma monitoração eficaz das implementações ou cumprimento. Mais recentemente, 17 grandes bancos em 10 países adotaram os Princípios do Equador para gestão de riscos ambientais e sociais nas operações de empréstimo. Os 189 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA bancos participantes concordaram em exigir dos clientes de grandes projetos, como barragens e usinas elétricas, aderência às normas ambientais e sociais do Banco Mundial, que estão rapidamente transformandose em fundamentos internacionais básicos para investimentos públicos e privados.22 Apesar desses avanços, a dura realidade é que, desde 1992, os ganhos limitados conquistados na mudança em direção a padrões mais sustentáveis de produção e consumo têm sido, em grande parte, superados pelo crescimento global contínuo da sociedade de consumo. Delegados passaram muitas horas durante a Cúpula Mundial em Joanesburgo debatendo sobre o que fazer para reverter essa situação. O poder de interesses particulares e a inércia institucional traduziram-se em relutância por parte de muitos governos em se comprometerem a um efetivo programa de ação claro nesse sentido. Não obstante, o Plano de Ação oficial assinado pelos governos estipula que todos os países deverão promover padrões de produção e consumo sustentáveis e que governos, organizações internacionais, setor privado e ONGs, entre outros, deverão desempenhar papéis importantes para a realização das mudanças necessárias. Entre outras coisas, o Plano de Ação exige investimentos crescentes em produção mais limpa e ecoeficiência, aumento da responsabilidade ambiental e socialcorporativa e promoção da internalização dos custos ambientais e de políticas de aquisições públicas ambientalmente seguras. (Vide Quadro 7-3.)23 QUADRO 7-3. DESTAQUES DO PLANO DE AÇÃO DE JOANESBURGO O Plano de Ação de Joanesburgo é um dos dois documentos negociados na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Encoraja países a cumprirem os compromissos assumidos na Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, através da participação numa estrutura decenal de programas sobre produção e consumo sustentáveis. As expectativas e metas gerais dessa estrutura incluem: • Fazer com que países industrializados assumam a liderança na promoção da produção e consumo sustentáveis. • Através de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, assegurar que todos os países beneficiem-se do processo de mudança em direção à produção e consumo sustentáveis. • Fazer da produção e consumo sustentáveis questões entrelaçadas e 190 • • • • incluí-las nas políticas de desenvolvimento sustentável. Focar a juventude, especialmente nos países industrializados. Utilizar instrumentos de informação ao consumidor e campanhas publicitárias para comunicar aos jovens questões de produção e consumo sustentáveis. Promover implementação do princípio do “produtor paga”, que internaliza custos ambientais e incorpora o ônus financeiro da poluição ao preço de um produto. Incorporar análise de ciclo de vida às políticas, a fim de rastrear um produto desde sua produção até o consumo e disposição final. Utilizar essa abordagem para aumentar a eficiência do produto. Apoiar políticas de licitações públicas que encorajem o desenvolvimento de bens e serviços ambientalmente seguros. Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA QUADRO 7-3. (continuação) • Desenvolver fontes energéticas mais limpas, eficientes e acessíveis, para diversificar o oferta. Eliminar gradativamente subsídios energéticos que inibem o desenvolvimento sustentável. • Encorajar iniciativas voluntárias da indústria que promovam a responsabilidade ambiental e social corporativa, especialmente entre instituições financeiras. Exemplos incluem códigos de conduta, O Plano de Ação também endossa o desenvolvimento de um arcabouço decenal de programas em âmbito internacional em apoio a iniciativas regionais e nacionais. Essas iniciativas visam acelerar a mudança em direção a uma produção e consumo sustentáveis, proporcionando inclusive uma melhor variedade de produtos e serviços aos consumidores, prestando-lhes mais informações sobre saúde e segurança de vários produtos e implantando programas de capacitação e transferência de tecnologia para ajudar a compartilhar esses ganhos com os países em desenvolvimento. Em junho de 2003, as Nações Unidas realizaram uma reunião de técnicos em Marrocos para dar início a esse processo, como também organizaram reuniões regionais nesse sentido na Ásia e América Latina.24 Além do processo formal descrito acima, a Cúpula Mundial também gerou mais de 230 acordos de parceria, nos quais vários interessados comprometeram-se a adotar ações conjuntas para ajudar a atingir a variedade de metas relacionadas ao desenvolvimento sustentável acordadas em Joanesburgo. Várias dessas parcerias estavam ligadas especificamente ao desafio complexo de mudar padrões certificação com normas de ISO e Diretrizes da Global Reporting Initiative (Iniciativa de Relatórios Globais). • Recolher exemplos de custo/benefício na produção mais limpa e promover métodos de produção mais limpa, especialmente nos países em desenvolvimento e entre pequenas e médias empresas. ___________________________________________ FONTE: vide nota final 23. insustentáveis de produção e consumo. (Vide Tabela 7-2.) Por exemplo, um projeto de reforma de bicicletas, liderado pela ONG holandesa Velo Mondial e apoiado pelo fabricante de bicicletas Shimano, pretende recolher veículos desse tipo para conserto e distribuição na África. Os parceiros da iniciativa esperam recolher 12.500 bicicletas (um contêiner) por semana no primeiro ano, aumentando para embarques diários até 2006, conforme a demanda. E o Programa Colaborativo de Normas de Rotulagem e de Eletrodomésticos, dos Estados Unidos, uma iniciativa envolvendo mais de 36 governos e também várias organizações internacionais e ONGs, empenhar-se-á em reduzir o consumo residencial e comercial de energia em 5%, através do desenvolvimento de normas de eficiência energética, rotulagem e assistência técnica a 35 países em desenvolvimento. Muitas dessas parcerias são muito promissoras, mas será importante que ONGs e outros defensores do desenvolvimento sustentável monitorem seus esforços de implementação, para que compromissos louváveis são sejam esquecidos quando o ímpeto gerado por Joanesburgo começar a esmorecer.25 191 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Tabela 7-2. Parcerias Selecionadas de Produção e Consumo Ligadas à Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável União Civil Árabe para Manejo de Resíduos Líder: Sociedade Assistencial de Mães e Crianças (Bahrein ). Outros: Conselho de Ministros Árabes Responsáveis pelo Meio Ambiente; Sociedade de Proteção Ambiental do Kuwait; Rede do Golfo para ONGs Ambientais; Grupo Jovem Ajial. Seis governos árabes estão trabalhando com as Nações Unidas e ONGs locais para criar uma estratégia regional que facilite o envolvimento da sociedade civil em projetos comunitários de gestão de resíduos sólidos. Envolverão ativamente mulheres e jovens e iniciarão processos relevantes de transferência de tecnologia. Conscientização e Treinamento em Produção e Consumo Sustentáveis Líder: Divisão de Tecnologia, Indústria e Economia do PNUMA. Outros: governos da Holanda e Suécia; Consumers International; Centros Nacionais de Produção mais Limpa. As Nações Unidas estão trabalhando com dois governos e várias ONGs internacionais para aumentar a conscientização sobre produção e consumo sustentáveis entre governos e executivos de pequenas e médias empresas em 30 países. Os grupos também empenham-se em aumentar a participação de governos de 20 para 50%, implementando as Diretrizes das Nações Unidas de Proteção ao Consumidor ao longo de três anos. A Iniciativa de Sustentabilidade do Cimento Líder: Conselho Mundial do Comércio para Desenvolvimento Sustentável. Outros: governo de Portugal; Universidade UN (Japão); 12 grandes empresas de cimento; WWF International; 25 outros patrocinadores em 15 países. Iniciada em 1999, essa parceria identifica e facilita os esforços das empresas de cimento na implementação de práticas sustentáveis. Incorporando governos nacionais, empresas e ONGs, abre diálogo com as empresas de cimento sobre questões como gestão da mudança climática, uso de matérias-primas, saúde funcional e processos comerciais internos. Empresas representando um terço da capacidade mundial de cimento estão envolvidas, com três delas já implementando um protocolo de dióxido de carbono. Introdução a Normas Sociais na Produção Líder: Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (Alemanha). Outros: Agência Alemã de Cooperação Técnica; Faber Castell; Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha; autoridades públicas da Ásia. O governo alemão está coordenando esforços para implementar uma “carta social” nas fornecedoras indianas da Faber Castell. O Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha desenvolveu a carta, conforme normas da Organização Internacional do Trabalho. Foi realizado um workshop de implementação com vários parceiros em 2002, e os parceiros empresariais submeteram-se a uma primeira inspeção. 192 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Tabela 7-2. (continuação) Venda de Produtos Responsáveis via Grandes Redes Varejistas na Europa: Melhores Práticas e Diálogo Líder: Reseau de Consommateurs Responsables Asbl. Outros: Comissão Européia; Rede Européia de Consumo Responsável; CSR Europe; Centro do Meio Ambiente, Ética & Sociedade de Oxford; Die Verbraucher Initiative; grupos de consumidores na Itália e Dinamarca. Várias ONGs européias de consumidores, apoiadas pela Comissão Européia e representantes de universidades, realizaram uma conferência em junho de 2003 sobre a Distribuição de Produtos Éticos via Grandes Redes Varejistas da UE. Também compilaram um banco de dados de 20 estudos de caso de varejo na UE e empenharamse para envolver vários interessados num diálogo sobre melhores formas de disponibilizar mais produtos ambientalmente e socialmente responsáveis nos supermercados europeus. Diálogo Jovem sobre Consumo, Estilos de Vida e Sustentabilidade Líder: Federação Alemã de Organizações de Consumo. Outros: governos da Alemanha, México e Peru; PNUMA; UNESCO; Consumers International; grupos nacionais de consumidores e jovens; Massachusetts Institute of Technology; Media Ecology Technology Association. Com o apoio de três governos, várias ONGs de consumidores estão aumentando a conscientização sobre questões de consumo entre jovens, através de troca de idéias on-line e workshops. Estão criando uma rede, baseada na Europa e México, para educar jovens consumidores sobre o impacto do consumo no desenvolvimento sustentável. Certificação de Turismo Sustentável Líder: Conselho de Turismo da Costa Rica. Outros: governos de Belize, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Panamá; Comissão de Certificação do Turismo Sustentável; Sistema de Integração da América Central. O Conselho de Turismo da Costa Rica está trabalhando com cinco governos da América Central e associações de turismo para transferir um programa bem-sucedido de turismo sustentável da Costa Rica para oito países da América Central até 2006. Promoverão o uso de produtos agrícolas e artesanato local e, ao mesmo tempo, integrarão questões econômicas, ambientais e socioculturais a modelos comerciais. FONTE: vide nota final 25. De Joanesburgo a Cancun e Além Um ano após a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a atenção mundial voltou a focar outra importante reunião internacional, embora com feição relativamente diferente, a reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Cancun, no México, em setembro de 2003. A OMC tem uma visão de mundo fundamentalmente diferente da filosofia de desenvolvimen- 193 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA to sustentável que embasou os acordos do Rio e Joanesburgo; entretanto, suas disposições têm um grande impacto na capacidade de ambos, consumidores e governos, de promoverem práticas comerciais sustentáveis mundialmente. Porém, as negociações da OMC em Cancun fracassaram, dando a governos e ativistas reformistas uma oportunidade de pressionarem por negociações futuras em melhor equilíbrio com as questões de desenvolvimento sustentável.26 Quando a OMC foi criada, em 1995, especialistas comerciais argumentaram que os legisladores promulgavam leis maliciosas, sem razão científica, e que basicamente buscavam manter produtos estrangeiros fora de suas prateleiras. Muitos governos compartilhavam dessas preocupações sobre “protecionismo verde”, particularmente governos de países em desenvolvimento, temendo que o crescimento de regulamentos ambientais no mundo industrializado impusessem uma barreira expressiva a seus próprios produtos. Analistas ambientais, por outro lado, não viam as leis, de forma alguma, como barreiras comerciais disfarçadas, e sim como medidas legítimas visando a proteção do meio ambiente e saúde humana. Em muitos casos, foram promulgadas apenas após obstinadas batalhas políticas contra interesses particulares locais.27 O acordo que criou a Organização Mundial do Comércio, todavia, incluiu vários dispositivos que impuseram novas restrições à capacidade de os governos promulgarem leis de proteção à saúde humana, animal e vegetal. As autoridades argumentavam que as restrições visavam 194 eliminar barreiras disfarçadas, e não evitar que os países empreendessem políticas legitimamente motivadas por questões ambientais ou de saúde e segurança. Porém as novas restrições da OMC abriram caminho para uma série de disputas graves entre o comércio e as políticas ambientais, como os conflitos sobre leis norte-americanas que restringem importações de atum pescado de forma danosa aos golfinhos e de camarão pescado de forma danosa às tartarugas marinhas. (Vide Tabela 7-3.) Embora o raciocínio jurídico que os painéis julgadores de disputas da OMC têm utilizado em suas decisões tenha se tornado mais sensível a preocupações ambientais nos últimos anos, continuam a existir diferenças fundamentais entre as regras do comércio internacional e as práticas ambientais emergentes, que poderão impedir os esforços de promoverem-se padrões mais sustentáveis de produção e consumo.28 Algumas dessas diferenças estão muito bem exemplificadas na longa disputa entre União Européia (UE) e Estados Unidos em torno da venda de carne produzida com hormônios de crescimento. Uma lei européia que os proíbem foi promulgada originalmente no final dos anos 80, em resposta aos temores generalizados entre consumidores de que a carne contendo hormônios pudesse causar câncer e problemas de saúde reprodutiva. Essa legislação foi aplicada igualmente ao gado nacional e importado, passando assim pelo crivo rígido da OMC de não-discriminação. Porém a proibição representou uma ameaça ao setor pecuário dos Estados Unidos obcecado pelos hormônios, pois bloqueava milhões de dólares de exportações americanas de carne bovina.29 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Tabela 7-3. Principais Conflitos Comerciais Relacionados à Produção e Consumo Sustentáveis Hormônio na Carne Bovina (União Européia e Estados Unidos) A União Européia proibiu a importação de carne bovina dos Estados Unidos após ter verificado a presença de hormônios de crescimento, por considerá-los um risco à saúde. Os Estados Unidos ajuizaram uma ação de contestação no Órgão de Resolução de Disputas da OMC, argumentando que a proibição representava uma barreira comercial injusta. Em 1998, o Painel da OMC determinou que a proibição da UE contrariava as regras da OMC. A UE recusou-se a abolir a proibição. Em 1999, em retaliação, os Estados Unidos impuseram restrições comerciais de US$ 117 milhões anuais contra a UE. Em outubro de 2003, após a divulgação de novos estudos que demonstravam que hormônios de crescimento representam um risco à saúde humana, a UE emitiu uma nova diretiva, aprimorando suas proibições de vários hormônios de crescimento encontrados em carnes. Alegando que essa nova diretiva segue as recomendações da OMC, a UE espera que os Estados Unidos retirem suas restrições comerciais. Atum–Golfinho (Estados Unidos e México) Em seguida à Lei de Proteção aos Mamíferos Marinhos, os Estados Unidos impuseram um embargo ao atum mexicano pescado por meio de técnicas polêmicas conhecidas como “enredamento de golfinhos”. O México argumentou que esse embargo criou uma barreira comercial injusta, ajuizando uma ação nos termos da legislação do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). Em setembro de 1991, o painel do GATT concluiu que os Estados Unidos não podiam embargar as importações de atum mexicano, uma vez que o embargo referia-se à forma como o atum era produzido, e não à qualidade ou conteúdo do produto. Camarão–Tartaruga (Índia e Estados Unidos) A Índia, juntamente com outros países asiáticos, ajuizou uma reclamação na OMC quando os Estados Unidos proibiram importações de camarão e produtos específicos deste fruto do mar. Nos termos da Lei de Espécies Ameaçadas de Extinção, os Estados Unidos exigiram que barcos pesqueiros de camarão utilizassem “dispositivos excludentes de tartarugas”, a fim de evitar que tartarugas marinhas ameaçadas ficassem presas às redes de camarão. Os Estados Unidos perderam a questão porque discriminaram os países asiáticos ao não lhes prestar assistência técnica adequada de proteção às tartarugas. Embora o órgão de apelação da OMC tenha decidido contra os Estados Unidos, esclareceu que um país tem o direito de impor sanções comerciais para proteger seu ambiente doméstico. Peixe-Espada (Chile e União Européia) Em 1991, receando a exaustão de seus estoques de peixe-espada, o Chile deixou de permitir que barcos espanhóis aportassem em seu país ou obtivessem novas licenças de pesca. A pesca predatória e proibições visando a regeneração dos pesqueiros reduziram a pesca anual de peixe-espada pela metade entre 1994 e 1999. A UE alega que o veto do Chile a barcos espanhóis, prejudicando o transporte de mercadorias de embarcações-fábrica para navios de exportação, viola acordos da OMC sobre o livre movimento de mercadorias. O Chile argumenta que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar autoriza-lhe a proteger seus recursos marinhos. Em novembro de 2000, a UE solicitou que o painel da OMC resolvesse a disputa. O painel, todavia, foi suspenso, quando a UE e Chile chegaram a um acordo, em janeiro de 2001. Esse acordo permitiu que alguns barcos da UE atracassem em portos chilenos e forneceu monitoramento científico multilateral pra o pesqueiro em questão. 195 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA Tabela 7-3. (continuação) Amianto (França e Canadá) O Canadá contestou uma proibição francesa ao amianto de crisotilo, um mineral cancerígeno encontrado em muitos produtos. O Canadá alegou que uma proibição ampla violava a exigência da OMC de utilizarem-se meios “menos restritivos ao comércio” em relação a questões de saúde. Um painel da OMC manteve a proibição da França ao amianto. Reafirmando o fato de que amianto é cancerígeno, o painel opinou, em fevereiro de 2001, que existem alternativas mais seguras. A sociedade civil saudou essa decisão como “a primeira vez em seus cinco anos” que a OMC decidia a favor da saúde pública. Organismos Geneticamente Modificados (Estados Unidos e União Européia) A União Européia argumenta que podem existir riscos à saúde e ecologia associados a organismos geneticamente modificados (transgênicos) e tem sido reticente na aprovação do uso ou importação desses produtos. O governo dos Estados Unidos não considera os transgênicos perigosos à saúde e o Canadá declarou que não há base científica para a norma da UE. Nos termos da legislação dos transgênicos, adotada pelo Parlamento Europeu em julho de 2003 e que deverá entrar em vigor no início de 2004, a UE estabelece que todos os produtos alimentícios e rações animais que contenham mais de 0,9% de organismos geneticamente modificados sejam rotulados como tal e que todos os produtos alimentícios geneticamente modificados devem ter sua origem determinada. Em agosto, os Estados Unidos, Canadá e Argentina solicitaram à OMC a formação de um painel de arbitragem para julgar a proibição da UE aos transgênicos. FONTE: vide nota final 28. O setor pecuário dos Estados Unidos convenceu o governo a defender a causa perante a OMC, tendo o governo argumentado que a lei não se justificava cientificamente nem se baseava numa avaliação adequada de risco. A Comissão Européia, todavia, sustentou que a lei era consistente com o princípio da precaução, uma norma emergente no direito internacional que preceitua que, “quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a falta de uma certeza absoluta não deverá ser utilizada para postergar-se a adoção de medidas eficazes para prevenir a degradação ambiental”. Mas um painel de apelação da OMC decidiu, em fevereiro de 1998, que a lei européia violava, de fato, as regras da OMC, abrindo 196 caminho para o governo dos Estados Unidos retaliar, aplicando em julho de 1999, com autorização da OMC, tarifas de 100% sobre US$ 117 milhões de importações européias, incluindo sucos de fruta, mostarda, carne suína, trufas e queijo Roquefort. Quatro anos depois, a lei européia ainda estava em vigor e as sanções também, embora a UE esteja reclamando sua abolição, uma vez que concluiu uma avaliação de risco que, segundo ela, valida sua lei.30 Enquanto isso, UE, Estados Unidos e outros países estão hoje enredados em outra grande polêmica do comércio agrícola – uma com implicações importantes tanto no direito dos consumidores de fazerem suas próprias escolhas quanto aos possíveis im- Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA pactos à saúde e ao meio ambiente de suas decisões de compra. A questão agora é uma moratória da União Européia à concessão de aprovação para o plantio ou importação de muitas variedades de sementes e lavouras geneticamente modificadas. Após reclamar sobre essa situação por vários anos, o governo dos Estados Unidos uniu-se à Argentina e Canadá, em maio de 2003, e ajuizou uma ação formal na OMC, protestando contra essa política. Alguns meses depois, o Parlamento Europeu aprovou uma lei que abre caminho para que alimentos contendo organismos geneticamente modificados sejam vendidos na Europa, contanto que estejam claramente rotulados nesse sentido e que haja um sistema implantado para rastrear alimentos transgênicos do porto ao supermercado. As autoridades da UE esperam que a lei de rotulagem torne inócua a recente contestação comercial dos Estados Unidos, porém as autoridades americanas estão céticas, argumentando que a lei de rotulagem poderá, por si só, representar uma barreira injusta ao comércio.31 Negociações comerciais oferecem oportunidades para se buscarem reformas políticas necessárias à promoção de produção e consumo mais sustentáveis. Como no caso dos hormônios da carne bovina, o governo dos Estados Unidos sustenta que as restrições sobre transgênicos violam as regras da OMC porque não há comprovação científica concreta de efei- tos adversos à saúde e à ecologia. A UE e a maioria dos grupos de consumidores e ambientalistas, por outro lado, vêem a iniciativa de rotulagem como uma solução razoável para o impasse, pois permite algum comércio de produtos transgênicos e ao mesmo tempo protege o direito dos consumidores de decidirem, por si mesmos, com conhecimento de causa. As iniciativas de rotulagem gozam de amplo apoio público, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, com mais de 90% dos consumidores a favor desses programas.32 Nos bastidores da atual polêmica sobre transgênicos há uma questão maior: o que deverá ser feito quando o direito comercial internacional entrar em rota de colisão com os tratados ambientais internacionais necessários para encorajar consumidores e produtores a mudar para práticas mais ambientalmente seguras? Embora nenhum país tenha, até agora, ajuizado ações formais na OMC contra as disposições de um tratado ambiental, freqüentemente surgem argumentos sobre a coerência da OMC durante negociações. Essas tensões estiveram muito em evidência durante as negociações do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, em 2000, um acordo forjado sob a égide da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica que endossa a necessidade de governos adotarem, ocasionalmente, medidas acauteladoras para se evitar a possibilidade de dano ambiental irreversível em face de incertezas científicas. Na disputa atual EUA–Europa sobre os transgênicos, poderia ser questionado se as regras da OMC prevaleceriam sobre as disposições do protocolo de 197 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA biossegurança ou vice-versa. Uma coalizão internacional de ONGs lançou recentemente uma campanha solicitando signatários para uma “Objeção Cidadã”, que conclama a OMC a arquivar a queixa contra a UE e que a disputa seja resolvida com base nos termos do Protocolo de Cartagena. Até agora, 184 organizações de 48 países assinaram.33 Apesar da possibilidade de muitos choques entre o direito comercial internacional e as metas e prioridades ambientais, as negociações comerciais também oferecem oportunidades para buscarem-se reformas políticas necessárias à promoção de produção e consumo mais sustentáveis. Por exemplo, as regras e negociações da OMC poderiam ser utilizadas para encorajar os países a reduzir e reformar os subsídios governamentais a setores ambientalmente sensíveis, como agricultura, combustíveis fósseis, pesca e silvicultura. Ou poderiam ser utilizadas para dar um tratamento de comércio preferencial a “bens de consumo verdes”, como lâmpadas eficientes em energia, papel reciclado, produtos orgânicos e produtos pesqueiros e florestais certificados.34 Tanto o desejo de minimizar choques entre regras comerciais e ambientais como a possibilidade de promover sinergias levaram os governos a concordarem em Doha, no Catar, em novembro de 2001, a dar início a conversações sobre questões ambientais específicas, como parte de um Mandato de Doha para uma nova rodada de conversações comerciais internacionais. Entre outros compromissos, os ministros comerciais decidiram entrar em negociações acerca das implicações comerciais das exigências de rotulagem 198 ambiental sobre as relações entre as regras da OMC e medidas comerciais contidas em acordos ambientais multilaterais e acerca do efeito de medidas ambientais sobre acesso a mercados. Também concordaram em se empenhar no fortalecimento das restrições da OMC a subsídios pesqueiros e discutir a redução de barreiras tarifárias e não-tarifárias ao comércio de bens e serviços ambientais.35 Muitos outros temas agendados para discussão nos termos do Mandato de Doha também poderão ter implicações importantes nos esforços para promoverem-se padrões mais sustentáveis de produção e consumo. Esforços para reduzir ou redirecionar subsídios agrícolas, por exemplo, poderão dar forte impulso a sistemas alimentares mais ambientalmente e socialmente seguros. As negociações sobre transparência nas licitações governamentais, por exemplo, seriam relevantes para iniciativas de aquisições verdes. E as conversações propostas sobre a redução de restrições em investimentos internacionais e no comércio de serviços poderão limitar o escopo dos governos na implementação e aplicação de regulamentos ambientais.36 Todavia, o fracasso das negociações na reunião da OMC em Cancun, em setembro de 2003, suscitou perguntas fundamentais sobre a direção futura da organização e de qualquer nova rodada de conversações comerciais. Nos preparativos para a reunião, houve pouco avanço em qualquer dos temas ambientais específicos. Mas foram as disputas sobre questões como investimentos e licitações governamentais e afloramento de tensões sobre subsídios comerciais agrícolas que finalmente pararam as negociações. As reações ao impasse Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA foram mistas, mesmo entre ONGs. Alguns acharam que o fracasso revelou falta de vontade política no confrontamento de questões urgentes de desenvolvimento; outros viram Cancun como um ponto crítico fundamental em que governos de países em desenvolvimento uniram-se numa nova e poderosa coalizão, apoiados por uma sociedade civil fortalecida.37 Nos meses futuros, governos e organizações da sociedade civil, conjuntamente, contemplarão as grandes lições dos eventos recentes. O caminho à frente não está totalmente claro, com a situação complicada pela necessidade de se formar um consenso entre uma grande diversidade de interesses em todo o mundo. Mesmo assim, os eventos recentes sugerem que os termos do debate estão mudando, já que pessoas em todo o mundo perceberam que nosso rumo insustentável atual ameaça tanto o bem-estar da humanidade quanto a saúde ecológica. Embora as forças poderosas do Jihad e do McMundo continuem a varrer o globo, a esperança para o futuro vem do crescente número de pessoas que rejeitam ambos os caminhos e apóiam o desenvolvimento de uma comunidade global baseada no respeito pelas pessoas e pela natureza. 199 Estado do Mundo 2004 ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA AT R Á S D O S B A S T I D O R E S Camisetas de Algodão Em 1913 a Marinha dos Estados Unidos lançou uma roupa de baixo branca de algodão para todo o efetivo – primeiro registro do aparecimento da camiseta. Em 1938, a grande cadeia Sears introduziu uma linha de camisetas para uso civil. Mas só nos anos 50 essa peça tornou-se realmente popular, graças aos galãs rebeldes Marlon Brando, James Dean e Elvis Presley.1 Atualmente, camisetas são uma maneira relativamente barata de consumidores em todo o mundo exibirem a logomarca de uma grife favorita, um time ou designer. Mas, mesmo quando feitas de algodão natural, as camisetas representam um custo alto para os operários e o meio ambiente. Algodão é a fibra mais vendida no mundo e fazendeiros, do Texas à Turquia, colhem mais de 19 milhões de toneladas anualmente. Todavia, o cultivo carrega no seu bojo uma carga ambiental. Os produtores aplicam quase US$ 2,6 bilhões de pesticidas no algodão, anualmente, em todo o mundo – mais de 10% do total global, de acordo com a Pesticide Action Network North América. A Organização Mundial de Saúde classificou muitos dos pesticidas comumente utilizados no algodão como “extremamente perigosos”, 200 incluindo organofosfatos como parathion e diazinon, que são particularmente nocivos ao sistema nervoso de bebês e crianças.2 Os pesticidas utilizados no algodão contaminam e também matam trabalhadores rurais. Entre 1997 e 2000, os campos de algodão foram os locais dos 116 casos de envenenamento agudo de agricultores por pesticidas registrados na Califórnia. E em 2001 a morte de mais de 500 agricultores de algodão no estado produtor de Andhra Pradesh, na Índia, foi atribuída à exposição a pesticidas. Em muitos casos, agricultores desconhecem ou não aplicam procedimentos de segurança adequados quando manuseiam e utilizam produtos químicos: em uma pesquisa no Benin, África Ocidental, 45% dos produtores de algodão declararam que usam recipientes de pesticidas para carregar água, enquanto 20– 35% os utilizam para colocar leite ou sopa. Pessoas também foram afetadas em fábricas e comunidades onde os pesticidas do algodão são produzidos: em1984, o criminoso vazamento de gás tóxico nas instalações da Union Carbide, no Bhopal, Índia, matou 8.000 pessoas.3 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMISETAS DE ALGODÃO Na década passada, ecólogos registraram danos devastadores a aves, peixes e outras vidas silvestres, causados por produtos químicos usados no algodão. Antes da colheita, os agricultores freqüentemente utilizam herbicidas para desfolhar os algodoeiros e permitir fácil coleta das cápsulas que contêm sementes e fibras – uma prática que pode destruir habitats de vida silvestre.4 Os pesticidas do algodão podem também poluir corpos d’água locais, colocando em perigo a saúde humana e dos ecossistemas. Aldicarb, um composto que pode causar anormalidades no sistema imunológico, mesmo em baixos níveis de consumo, foi encontrado na água subterrânea de sete estados americanos, segundo a Cornell University Cooperative Extension. E em 1998 a U.S.Geological Survey denunciou contaminação da água por herbicidas e inseticidas utilizados no algodão, no sul. Enquanto isso, em âmbito mundial, o desvio de água para irrigar algodão – uma cultura sedenta – encolheu o Mar de Aral, no Uzbequistão, a um quinto do seu tamanho original.5 Após a colheita de um campo de algodão, as cápsulas são descaroçadas para separar as fibras das sementes. As fibras são então empacotadas em fardos de aproximadamente 225 quilos cada. (A indústria têxtil americana utiliza cerca de 11 milhões de fardos de algodão anualmente) Uma fiação limpa as fibras e torce para fazer os fios, que são tecidos em teares mecânicos. O transporte da fazenda para a fábrica requer energia, caracteristicamente de combustíveis fósseis, como também a produção de fio e tecidos, já que as fiações não são mais movidas a tração animal.6 Depois de pronta, a camiseta é geralmente tingida e tratada. Tinturas químicas e, mesmo algumas tinturas naturais, quase sempre contêm cobre, zinco e outros metais pesados, que são tóxicos e podem poluir a água através do escoamento industrial. Os tratamentos do tecido, como aqueles contra manchas e enrugados, e água, podem conter produtos petroquímicos, como o formaldeído, um cancerígeno.7 Isso não quer dizer que consumidores conscientes devam optar por tecidos sintéticos. As fibras de poliéster são feitas de petróleo, um recurso não-renovável cuja extração e cujo transporte prejudicam o meio ambiente, mais evidentemente nos vazamentos de óleo. De acordo com uma estimativa, se o petróleo utilizado na produção e transporte for incluído, uma camiseta mesclada com poliéster pode liberar, aproximadamente, um quarto de seu peso em poluição atmosférica e 10 vezes seu peso em dióxido de carbono.8 A China é o maior produtor mundial de algodão, seguida pelos Estados Unidos e Índia. E os Estados Unidos são os principais exportadores da fibra, exportando mais de 10,5 milhões de fardos por ano, principalmente para a Ásia e México. (Outros grandes exportadores são os países da antiga União Soviética e a Austrália.) Países mais pobres, desejosos de vender seu algodão no mercado mundial, encontram-se, freqüentemente, em desvantagem com os subsídios e barreiras comerciais que protegem os agricultores de algodão dos Estados Unidos.9 A China é também o principal produtor mundial de camisetas, fornecendo cerca de 65% do total – a maioria vendida nos Estados Unidos e Europa. (Os americanos 201 Estado do Mundo 2004 ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMISETAS DE ALGODÃO gastaram US$ 6,2 bilhões em 478 milhões de camisetas em 2002.) Do mesmo modo que em muitos países em desenvolvimento, os trabalhadores da indústria de confecções na China recebem salários menores e trabalham mais horas. A indústria de confecções nos países industrializados geralmente exploram a mão-de-obra na América Central e sudeste da Ásia, onde a legislação trabalhista e ambiental é muito menos rigorosa do que nos seus países de origem.10 O que faz o usuário de camisetas? A escolha mais ecológica, não sendo a compra de roupa usada, é uma camiseta feita de algodão orgânico certificado, 202 cultivado sem pesticidas e fertilizantes sintéticos. Em um projeto agrícola egípcio, o cultivo orgânico incrementou a produção de algodão em mais de 30%, sendo a fibra transformada em tecido sem nenhum produto químico sintético. A melhor opção, em termos de bem-estar do trabalhador, é o produto certificado pela Fair Trade Federation. Numa tendência positiva, o algodão orgânico e fabricantes de confecções de comércio justo estão se unindo para proteger o ambiente e, ao mesmo tempo, promover a justiça social. 11 — Mindy Pennybacker, The Green Guide Estado do Mundo 2004 COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA CAPÍTULO 8 Repensando a Boa Vida Gary Gardner e Eric Assadourian Bogotá, a capital da Colômbia, é comumente associada com guerra civil e violência. Mas, nos fins da década de 90, a reputação da cidade começou a mudar, quando o Prefeito Enrique Peñalosa liderou uma campanha para melhorar a qualidade de vida lá. As matrículas escolares aumentaram em 200.000 estudantes – cerca de 34% – durante o mandato de Peñalosa. Sua administração construiu ou reconstruiu totalmente 1.243 parques – alguns pequenos, outros bastante grandes – agora usados por cerca de 1,5 milhão de visitantes anualmente. Um sistema de transporte rápido, eficiente, acessível a todos, foi planejado e construído. E a taxa de assassinatos da cidade caiu dramaticamente: hoje, ocorrem menos assassinatos, per capita, em Bogotá do que em Washington, DC.1 Seja qual for o padrão, o avanço da cidade é um sucesso de desenvolvimento. No entanto, a transformação de Bogotá foi alcançada de uma maneira bastante heterodoxa. Quando Peñalosa assumiu, consultores propuseram a construção de uma rodo- via elevada ao custo de US$ 600 milhões, uma solução de transporte padrão em muitas cidades engarrafadas por automóveis. Em vez disso, o Prefeito criou um sistema de transporte rápido e mais barato usando as linhas de ônibus existentes. O sistema transporta 780.000 passageiros diariamente – mais do que o dispendioso metrô de Washington, DC – e é tão bom que 15% dos usuários regulares são proprietários de carros. Peñalosa também investiu em centenas de quilômetros de ciclovias e em calçadões. E incrementou a infra-estrutura cultural da cidade, com a construção de novas bibliotecas e escolas, ligando-as a uma rede de 14.000 computadores. Juntamente com a reabilitação dos parques, as melhorias no transporte e culturais incentivaram uma meta estratégica para Bogotá: orientar a vida urbana em torno de pessoas e comunidades.2 Peñalosa baseia-se num parâmetro incomum para avaliar sua estratégia de desenvolvimento. “Uma cidade é bem-sucedida não quando é rica”, diz ele, “mas quando sua população é feliz”. Essa declaração 203 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA esvazia décadas de conceituação de desenvolvimento, tanto em países pobres quanto em ricos. Resumindo: a maioria dos governos faz dos aumentos contínuos no produto interno bruto (PIB) uma prioridade maior da política doméstica, assumindo que estando a riqueza garantida, o bem-estar é assegurado. No entanto, ênfase indevida na geração de riqueza, especialmente pelo encorajamento do alto consumo, pode estar gerando retornos decrescentes. No todo, a qualidade de vida está se deteriorando em alguns dos mais ricos países do globo à medida que as pessoas vão sofrendo maior estresse e pressão de tempo, com menos relacionamentos sociais satisfatórios, e à medida que o meio ambiente vai mostrando cada vez mais sinais de perigo. Enquanto isso, nos países mais pobres a qualidade de vida é degradada pelo não-atendimento das necessidades básicas das pessoas.3 Repensar o que significa “a boa vida” é mais que necessário num mundo que caminha rapidamente numa trilha de males auto-infligidos e danos planetários a florestas, oceanos, biodiversidade e outros recursos naturais. Ao redefinir prosperidade com ênfase numa melhor qualidade de vida, em vez de numa mera acumulação de bens, indivíduos, comunidades e governos podem concentrar-se na conquista do que as pessoas mais almejam.Realmente, uma nova compreensão do que seja boa vida pode ser construída não em torno da riqueza, e sim do bem-estar: atendimento das necessidades básicas de sobrevivência, juntamente com liberdade, saúde, segurança e relações sociais gratificantes. Naturalmente, o consumo ainda seria importante, mas somente na medida em que incremente a qualidade de vida. Realmente, uma socie- 204 dade de bem-estar deve empenhar-se em minimizar o consumo ao necessário para uma vida digna e gratificante. Riqueza e Bem-estar Riqueza e bem-estar são mais parentes distantes do que antagonistas. Na verdade, a palavra wealth (riqueza, em inglês) deriva da raiz weal – um sinônimo de bem-estar que tradicionalmente tem conotação comunitária. No entanto, riqueza significa atualmente bens materiais e posses financeiras, principalmente de indivíduos – um significado muito mais limitado do que suas raízes teriam. A construção de uma sociedade de bem-estar envolve, essencialmente, resgatar o significado original e amplo do termo riqueza.4 A idéia de bem-estar, como um objetivo pessoal e político, é cada vez mais corriqueira, aparecendo em revistas populares e até em publicações oficiais de organizações multinacionais, como The Well-being of Nation, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em 2001, e Ecosystems and Human Well-being, da Mellennium Ecosystem Assessment, de 2003. Mesmo a Câmara dos Comuns canadense aplicou o termo na legislação aprovada em junho de 2003 sob o título de Lei de Medição do Bem-Estar do Canadá. 5 Definições do conceito variam, mas tendem a se aglutinar em torno de vários temas: • Base de sobrevivência, incluindo alimento, abrigo e segurança: • Boa saúde, em termos pessoais e de um meio ambiente robusto; Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA • Boas relações sociais, inclusive uma vida de coesão social e uma estrutura de apoio social; • Segurança, tanto em termos pessoais quanto de posses pessoais, e • Liberdade, o que inclui a capacidade de atingir o potencial de desenvolvimento. 6 parado com os níveis de felicidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, a renda média individual mais que dobrou entre 1957 e 2002, embora a parcela de pessoas descrevendo-se como “muito felizes” no mesmo período tenha permanecido estática. (Vide Figura 8-1.)7 Porcentagem de Pessoa Muito Felizes Em suma, o termo de- 25.000 Renda Média 100 (base=1995) nota essencialmente uma alta qualidade de vida, na 80 qual as atividades diárias 20.000 desenvolvem-se de forma Renda Média mais planejada, com menos 60 15.000 estresse. Sociedades centradas no bem-estar envolPessoas Muito Felizes vem maior interação com 10.000 40 a família, amigos e vizinhos, uma experiência 20 mais direta com a natureza 5.000 e mais dedicação à procuFonte: Myers ra de realização e expres0 0 são criativa do que acumu1955 1965 1975 1985 1995 2005 lação de bens. Estas enfatizam estilos de vida Figura 8-1. Renda Média e Felicidade nos Estados Unidos, que evitam abuso da pró1957–2002 pria saúde, do próximo ou Não é de surpreender que a relação endo mundo natural. Ou seja, geram um sentido mais profundo de satisfação com a tre riqueza e satisfação pessoal seja difevida do que as pessoas têm atualmente. rente nos países pobres. Nestes, renda e O que é que promove uma vida gratifi- bem-estar estão bem ligados, provavelmente cante? Nos últimos anos, psicólogos es- porque mais do que a renda individual é tudando parâmetros de satisfação de vida usada para atender às necessidades básitêm, em geral, confirmado o velho adágio cas. (Vide Capítulo 1.) Constatações da que diz que dinheiro não traz felicidade – World Values Survey, numa série de pespelos menos para pessoas já afluentes. quisas, em mais de 65 países, sobre vida Essa desconexão entre dinheiro e felici- gratificante, realizada entre 1990 e 2000, dade nos países ricos é possivelmente mais demonstraram que renda e felicidade tenbem ilustrada quando o crescimento da dem a caminhar juntas até mais ou menos renda nos países industrializados é com- US$ 13.000 de renda anual por pessoa (na 205 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA paridade do poder aquisitivo de 1995). Além desse nível, renda adicional parece gerar apenas melhoria modesta na felicidade autodeclarada.8. Se os psicólogos estão certos sobre os limites da riqueza na obtenção da felicidade, estão igualmente certos na descrição do que contribui para uma vida gratificante. Repetidamente, estudos sugerem que pessoas felizes tendem a ter relações solidárias fortes, senso de controle sobre suas vidas, boa saúde e trabalho compensador. Muito rapidamente, esses fatores estão cada vez mais sob estresse nas sociedades industrializadas, de ritmo acelerado, nas quais as pessoas muitas vezes tentam usar o consumo como um substituto para as fontes genuínas de felicidade. Entretanto, há pelo menos alguns indivíduos, comunidades e governos que, insatisfeitos com a qualidade da vida, estão desenvolvendo esforços para construir vidas, vizinhanças e sociedades de bem-estar. 9 A Potência Um Durante o verão de 2003, cerca de 50 milhões de americanos inscreveram-se num Cadastro Nacional Não Liguem, patrocinado pelo governo, destinado a evitar que telemarqueteiros os telefonassem. A enxurrada de respostas a esse novo programa do governo – na essência, uma tentativa de as pessoas resgataram um pouco do seu tempo e privacidade das táticas de marketing cada vez mais agressivas – indica a frustração que muitos sentem quando forças econômicas começam a dominá-los, ao invés de servi-los. Entretanto, um número peque* Sigla para “Lifestyles of Health and Sustainability” 206 no, mas crescente, de consumidores está questionando a forma como fazem compras, o volume de “coisas” que se amontoam e complicam suas vidas e o tempo que gastam no trabalho. Esses consumidores insatisfeitos ainda não criaram um movimento consistente porque suas ações são, basicamente, privadas, ocorrendo em bolsões desconexos em muitos países. Mesmo assim, a natureza espontânea dessas atividades pode sinalizar um desejo profundo de muitas pessoas construírem uma vida recompensadora para si e suas famílias.10 Talvez a expressão mais evidente de um desejo por uma melhor qualidade de vida esteja no número crescente de pessoas que fazem compras de olho no bem-estar. Na Europa, por exemplo, a demanda por alimentos orgânicos elevou as vendas para US$ 10 bilhões em 2002, 8% acima do ano anterior, quando um público chocado com a doença da vaca louca e outros sustos alimentícios buscou garantias cada vez maiores de segurança em sua alimentação. Analistas de mercado estimam que 142 milhões de europeus são consumidores de produtos orgânicos, embora um núcleo “fiel” de 20 milhões tenha representado 69% dos gastos nesses produtos em 2001. E 150 milhões de pessoas na Europa ou são vegetarianas ou reduziram seu consumo de carne vermelha.11 Enquanto isso, o grupo de consumidores nos Estados Unidos interessado em compras que melhorem a saúde e o meio ambiente já é bastante grande para merecer o reconhecimento de pesquisadores de mercado como um grupo demográfico distinto. Chamados de consumidores LOHAS* Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA – pessoas que têm estilos de vida com saúde e sustentabilidade – estes compram de tudo, desde lâmpadas fluorescentes compactas e células solares a café e chocolate de comércio justo (produtos que pagam um salário justo aos produtores ou que causam impacto ambiental menor que os produtos comuns). Esse grupo hoje inclui quase um terço dos americanos adultos e, em 2000, foi responsável por cerca de US$ 230 bilhões em compras – aproximadamente 3% dos gastos totais de consumo nos Estados Unidos. Embora seja uma proporção relativamente baixa, comparada com o número de pessoas identificadas como consumidores LOHAS, isso provavelmente deve-se às poucas opções de consumo sadio disponíveis atualmente.12 Em muitos países, as pessoas formam cooperativas para alavancar seu poder de mercado por uma melhor qualidade de vida. No Japão, por exemplo, a União de Cooperativas de Consumidores Seikatsu Club, com 250.000 membros, estoca alimentos livres de agrotóxicos e aditivos e conservantes artificiais, juntamente com produtos domésticos livres de toxinas. A cooperativa acondiciona seus produtos em potes reutilizáveis para reduzir o descarte de embalagens, que representa 60% do lixo doméstico. Contrariamente a muitos supermercados que estocam dezenas de milhares de itens individuais, as cooperativas Seikatsu Club mantêm apenas 2.000 itens, principalmente produtos alimentícios. Caracteristicamente, estocam apenas uma ou duas variedades por item, mas para seus membros que buscam uma vida mais compensadora, a melhor qualidade, os alimentos sadios e a redução do lixo aparen- temente compensam a menor escolha. E os membros da Seikatsu não estão só; cerca de 50 milhões de pessoas pertencem a cooperativas locais afiliadas à Consumer Coop International, uma entidade internacional que facilita treinamento para cooperativas locais de consumidores.13 Em alguns casos, as pessoas voltam-se para organizações em busca de ajuda para tornar seu consumo mais verde. Uma coalizão de organizações em 19 países, conhecida como Plano de Ação Global, oferece treinamento a famílias para reduzir o lixo, aliviar o uso de energia e mudar para produtos ecoamigáveis. Na Holanda, pelo menos 10.000 famílias trabalham no redirecionamento do seu consumo; após o treinamento, essas pessoas reduziram seu lixo doméstico em 28% em média. Seis a nove meses depois, já haviam alcançado 39%. E em 2003 o governo francês lançou uma iniciativa semelhante, la famille durable (a família sustentável), que oferece formas práticas de as pessoas viverem sustentavelmente no lar, na escola, no trabalho e durante as férias.14 E nos Estados Unidos, o Center for a New American Dream insta as pessoas a viverem uma vida com “mais diversão, menos tralhas”. Através do seu programa Vire a Maré, o centro encoraja as pessoas a seguirem um plano de conservação ambiental simples, de nove etapas, envolvendo ações como substituir torneiras por outras de eficiência hídrica e comer menos carne. Os 14.000 membros dessa iniciativa relatam terem economizado mais de 500 milhões de litros de água e evitado que mais de 4 milhões de quilos de dióxido de carbono fossem liberados na atmosfera.15 207 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA Além da mudança nos hábitos de compras, muitos consumidores estão tentando simplificar seus estilos de vida de forma mais ampla – um processo chamado às vezes de “mudança descendente”. A analista Cecile Andrews descreve a motivação dessas pessoas: “Muitas pessoas [estão] apressadas, nervosas e estressadas. Não têm tempo pra seus amigos; são ríspidas com a família; não riem muito”. Muitas, diz ela, “buscam uma maneira de simplificar suas vidas – correr menos, trabalhar menos e gastar menos. Estão começando a ‘desacelerar’ e gozar a vida novamente”.16 Estimativas sobre o número de mudanças descendentes são imprecisas, porém o interesse na simplificação parece estar aumentando. Em sete países europeus, o número de pessoas que voluntariamente reduziram suas jornadas de trabalho aumentou a uma taxa de 5,3% ao ano durante os últimos cinco anos. E a tendência em direção à simplicidade deverá continuar. O número de pessoas nesses mesmos países que poderiam, pelo menos parcialmente, adotar voluntariamente um estilo de vida simples deverá crescer de cerca de 7 milhões em 1997 para, no mínimo, 13 milhões em 2007.17 Enquanto isso, duas pesquisas de opinião nos Estados Unidos, realizadas em meados dos anos 90, indicaram que aproximadamente um quarto da população empenhava-se para simplificar suas vidas, embora a extensão dos esforços variasse muito de pessoa a pessoa. E a mídia demonstrou um interesse crescente na matéria. Artigos em jornais norte-americanos sobre a simplificação de estilos de vida 208 quintuplicaram entre 1996 e 1998. Em 1997, o Sistema Público de Radiodifusão transmitiu um documentário intitulado Affluenza, que tratava o consumismo como uma doença contagiosa e oferecia sugestões de como se vacinar contra ela. O programa foi muito popular, sendo posteriormente distribuído para 17 países.18 Todavia, iniciativas individuais são apenas parte do que é necessário para construir uma sociedade de bem-estar. Só esforços individuais não ajudarão, necessariamente, a criar comunidades fortes e sadias (embora possam liberar tempo para maior envolvimento comunitário), nem poderão lidar com os obstáculos estruturais a uma escolha genuína de consumo – a falta de produtos orgânicos num supermercado, por exemplo. Alguns críticos até argumentam que, isoladamente, iniciativas individuais podem ser contraproducentes. Uma “individualização da responsabilidade”, como observa o cientista ambiental Michael Maniates, desvia a atenção do papel que instituições comerciais e governamentais desempenham na perpetuação do consumo insalubre. Ademais, uma vez que indivíduos vêem seu poder residir basicamente em seus bolsos, poderão negligenciar seus papéis-chave como pais, educadores, membros da comunidade e cidadãos na construção de uma sociedade de bem-estar.19 A necessidade de indivíduos agirem coletivamente na melhoria da sua qualidade de vida levou um grupo na Noruega a lançar, em 2000, uma campanha intitulada 07/06/ 05. Seus membros estão conclamando os noruegueses para a contagem regressiva até 7 de junho de 2005, o centenário da independência da Noruega do domínio sueco, e Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA para declararem sua independência novamente – dessa vez, porém, da “pobreza de tempo” que acompanhou a ascendência da cultura do consumo.20 Nos Estados Unidos, uma aliança chamada “Fórum da Simplicidade” busca mobilizar os milhões de americanos às voltas com muito a fazer e com muito pouco tempo. Instituíram 24 de outubro de 2003 como o Dia do Resgate do Tempo, instando os americanos a deixarem o trabalho cedo, chegarem tarde, levarem mais tempo almoçando, ou até mesmo ausentarem-se do serviço. Milhares aderiram a eventos em casas de vizinhos, igrejas locais, salões de conferências e universidades para discutir a carência de tempo enfrentada por todos os americanos. A data foi escolhida deliberadamente – nove semanas antes do fim do ano – para lembrar aos americanos que são um dos povos que mais trabalham no mundo industrializado, permanecendo 350 horas a mais em serviço (ou seja, nove jornadas semanais), anualmente, do que o trabalhador europeu.21 Os organizadores esperam utilizar a energia da iniciativa americana para iniciar um movimento popular centrado no resgate do tempo para uma maior qualidade de vida. A campanha buscaria reformar a legislação federal de férias, jornadas de trabalho e outras medidas que liberariam tempo para os elementos negligenciados da vida, como família, amigos e comunidade. Como explica o coordenador do Dia do Resgate do Tempo e produtor de Affluenza, John de Graaf, “o Movimento do Tempo significa olhar além do PIB como medida de uma boa sociedade e entender que o objetivo real da nossa economia não é o crescimento material infinito, e sim uma vida equilibrada, plena e sustentável para todos”.22 Os Laços que Unem Humanos são seres sociais; portanto, não é de se estranhar que boas relações sejam um dos ingredientes mais importantes para uma alta qualidade de vida. O professor de Políticas Públicas de Harvard, Robert Putnam, observa que “a constatação mais comum em meio século de pesquisa sobre os correlatos de realização de vida... é que a felicidade é melhor vaticinada pela extensão e profundidade das relações sociais”. Assim, os esforços individuais de construção de uma vida feliz têm mais probabilidade de sucesso se envolverem a família, amigos ou vizinhos. Felizmente, esforços individuais e comunitários freqüentemente andam de mãos dadas. A pessoa que trabalha menos horas a cada semana tem mais tempo para a família, os amigos e a comunidade. E os laços comunitários, reforçados, por exemplo, quando vizinhos compartilham ferramentas ou responsabilidades no cuidado de bebês, podem reduzir as despesas domésticas e ajudar as pessoas a levarem vidas mais simples.23 Pessoas que mantêm relações sociais tendem a ser mais saudáveis – e, freqüentemente, de forma significativa. Mais de uma dúzia de estudos de longo prazo no Japão, Escandinávia e Estados Unidos revelam que as chances de morrer num determinado ano, seja qual for a causa, são duas a cinco vezes maiores nas pessoas isoladas do que nas socialmente relacionadas. Por exemplo, um estudo constatou que em 1.234 pessoas que sofreram ataques cardíacos, a taxa de outro 209 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA ataque em seis meses foi quase o dobro para aqueles que viviam sozinhos. E um estudo de saúde e desconfiança nos Estados Unidos, realizado pela Universidade de Harvard, concluiu que a mudança para um estado com alto nível de relações sociais, vindo de um estado onde este nível é baixo, melhoraria a saúde individual quase na mesma extensão que deixar de fumar.24 Um exemplo particularmente marcante da relação entre relacionamento social e saúde vem de um estudo da cidade de Roseto, na Pensilvânia, que chamou a atenção dos pesquisadores nos anos 60 em função do seu índice de doenças cardíacas ser menos da metade das cidades vizinhas. As causas usuais dessa anomalia – dieta, exercício, peso, fumo, predisposição genética, etc. – não explicavam o fenômeno de Roseto. Na realidade, a população de Roseto era até pior em muitos desses fatores de risco que seus vizinhos. Assim, os pesquisadores investigaram outras explicações possíveis e verificaram que a cidade tinha uma estrutura social coesa, que gerou clubes esportivos, igrejas, um jornal e um grupo de escoteiros. Socialização informal ampla era a norma. Posteriormente os pesquisadores atribuíram os níveis mais altos de saúde aos fortes laços sociais dos moradores – a maioria vinha do mesmo vilarejo da Itália e trabalhou duro para manter seu senso de comunidade nos Estados Unidos. O triste adendo a essa história é que, a partir do final dos anos 60, quando os laços sociais enfraqueceram nesta cidade e por todo o país, o índice de doenças cardíacas aumentou em Roseto, vindo a superar o da cidade vizinha.25 210 Laços sociais fortes são particularmente úteis na promoção do consumo coletivo, o que freqüentemente traz vantagens sociais e ambientais. Pesquisadores oferecem várias explicações para o elo entre relacionamento social e menor risco de saúde. Alguns são extremamente práticos: gente relacionada tem alguém a quem recorrer quando acontecem problemas de saúde, reduzindo a probabilidade de a doença se desenvolver numa condição grave. Redes sociais podem reforçar comportamentos sadios; estudos revelam que as pessoas isoladas são mais propensas a fumar ou beber, por exemplo. E comunidades coesas podem ser mais eficazes no lobby por tratamento de saúde. Mas a ligação pode ser mais profunda. O contato social pode efetivamente estimular o sistema imunológico do indivíduo a resistir a doenças e estresse. Animais de laboratório, por exemplo, têm mais probabilidade de desenvolver endurecimento das artérias quando isolados, enquanto animais e seres humanos isolados tendem a sofrer resposta imunológica baixa e pressão alta.26 Profissionais de desenvolvimento internacional também reconhecem que laços sociais fortes são grandes incentivadores de desenvolvimento de uma nação. O Banco Mundial, por exemplo, vê o relacionamento social como uma forma de capital – um bem que rende uma torrente de benefícios úteis para o desenvolvimento. Da mesma forma que uma conta bancária (capital financeiro) rende juros, os laços sociais tendem a criar vínculo, reciprocidade ou redes de informa- Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA ção, que lubrificam as rodas da atividade econômica. Vínculos, por exemplo, facilitam as transações financeiras ao criar um clima de confiança nas relações contratuais ou na segurança de investimentos. Um estudo de contatos sociais, realizado pelo Banco Mundial, entre comerciantes agrícolas de Madagáscar comprovou que aqueles que faziam parte de uma extensa rede de comerciantes e que podiam contar com colegas em épocas de dificuldades tinham renda superior aos comerciantes com menos contatos. De fato, os comerciantes bem-relacionados declararam que as relações são mais importantes para seu sucesso do que muitos fatores econômicos, inclusive o preço de suas mercadorias ou o acesso a crédito ou equipamentos.27 Falta de capital social também parece estar ligado a um fraco crescimento econômico em âmbito nacional. Stephen Knack, do Banco Mundial, alerta que níveis baixos de confiança social podem prender nações a uma “armadilha de pobreza”, em que o círculo vicioso da desconfiança, baixos investimentos e pobreza é difícil de romper. Knack e seus colegas testaram a relação entre confiança e desempenho econômico em 29 países incluídos na Pesquisa de Valores Mundiais. Constataram que cada aumento de 12 pontos na medida de confiança da pesquisa estava associado a um aumento de 1% no crescimento da renda anual, e que cada aumento de 7 pontos na confiança correspondia a um aumento de 1% no índice de participação de investimentos no PIB.28 O papel do “veículo” social, de facilitação de transações econômicas, é particularmente evidente nas iniciativas de microcrédito, como as do Grameen Bank, em Bangladesh, que realiza pequenos empréstimos a mulheres extremamente pobres, que não dispõem de garantias para empréstimos bancários comuns. As mulheres organizam-se em grupos de cinco, e cada grupo solicita empréstimos do Banco, às vezes, inferiores a US$ 100. Elas contam com sua confiança nas vizinhas quando as convidam para se unir ao grupo. Essa função da informação – algo como onde bancos comerciais gastam dinheiro quando compilam um histórico de crédito de um solicitante – é um exemplo de como o capital social pode reduzir os custos da atividade financeira. Laços sociais também servem como garantia para empréstimos. Uma vez que as mulheres são solidariamente responsáveis pela amortização, e que uma inadimplência pode desqualificar todas as cinco para empréstimos futuros, cada mulher está sujeita a uma forte pressão social para pagar.29 A compensação econômica desses tipos de relacionamentos sociais tornou o microcrédito um sucesso em muitos países. O Grameen Bank declara que 98% de seus empréstimos são resgatados, um registro melhor do que na maioria dos bancos comerciais. O Grameen inspirou a disseminação do microcrédito mundialmente. Uma iniciativa conhecida como a Campanha da Cúpula do Microcrédito estabeleceu uma meta de habilitar 100 milhões de pessoas em programas de microcrédito até 2005. No final de 2002, já estavam a meio caminho, com 68 milhões de participantes.30 Além de melhorar a saúde e facilitar a segurança econômica, laços sociais fortes são particularmente úteis na promoção do consumo coletivo, o que freqüentemente traz vantagens sociais e ambientais. Um 211 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA bom exemplo disso é a co-habitação, uma forma moderna de vida comunitária em que 10–40 famílias vivem num conjunto habitacional destinado a estimular interação entre vizinhos. A privacidade é valorizada e respeitada, porém os moradores compartilham espaços-chave, incluindo refeitório, jardins e espaços recreativos comunitários. Iniciadas nos anos 60, mais de 200 comunidades de co-habitação estabeleceram-se na Dinamarca. O movimento disseminou-se para a Holanda, Escandinávia, Austrália, Canadá e Estados Unidos, onde 50 novos grupos de co-habitação são implantados a cada ano (embora mais da metade destes não sobrevivam para ver uma comunidade estabelecida, devido aos fortes desafios envolvidos, inclusive na obtenção de licenças e financiamento, como também na construção da comunidade).31 Numa comunidade de co-habitação, as residências freqüentemente compartilham paredes com lares vizinhos e estão agrupadas em torno de um pátio ou passarela. Veículos estão restritos ao perímetro da comunidade. Esse desenho significa que essas comunidades consomem menos energia e menos materiais do que bairros cheios de residências particulares. Um estudo de 18 comunidades nos Estados Unidos, em meados dos anos 90, constatou que, em comparação ao período anterior à mudança para co-habitações, seus membros possuíam 4% menos veículos, 25% menos lavadoras e secadoras e 75% menos cortadores de grama. O espaço médio por domicílio nas 18 comunidades – incluindo a parcela de área comum de cada unidade – foi de aproximadamente 130 m2, dois terços do domicílio médio nos Estados Unidos em meados dos anos 90. O 212 compartilhamento de porões para serviços mecânicos e entradas comuns reduzem o espaço com pouco sacrifício da comodidade. E a construção de conjuntos agrupados permite o compartilhamento de pátios sem grande perda de privacidade. Como conseqüência dessas características, a comunidade média de co-habitação no estudo utilizou apenas metade da área, por residência, que um empreendimento imobiliário suburbano convencional nos Estados Unidos.32 Mas talvez a maior contribuição das comunidades de co-habitação para uma alta qualidade de vida seja os laços sociais que criam. As comunidades são auto-administradas, encorajando interações e compartilhamento. As crianças têm muitos adultos observando seu lazer, como há também uma abundância de colegas e pessoas para cuidar dos bebês. A maioria das comunidades oferece duas ou mais refeições comunitárias por semana, com uma média de comparecimento de 58% das famílias. Contrastando com as refeições “rápidas” oferecidas por empresas de alimentação, que caracteristicamente servem alimentos processados e embalados, como purê de batata instantâneo ou pizza congelada, a abordagem das co-habitações para as refeições comunitárias poupa tempo sem sacrificar a qualidade da comida. Na Comunidade CoHabitacional Nomad, no Colorado, por exemplo, onde há duas refeições comunitárias por semana, os moradores gastam 2,5– 3 horas a cada 5 a 6 semanas ajudando na cozinha e na limpeza. Comparado com o preparo de uma refeição familiar por dia, esse compartilhamento ocasional de esforço libera até 9 horas de trabalho para cada família durante seis semanas.33 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA Em muitos países em desenvolvimento, o consumo coletivo é também mais viável em comunidades com uma forte base social. (Vide Quadro 8-1.) Um estudo do Banco Mundial de 64 vilarejos em Rajasthan, Índia, por exemplo, comprovou que a conservação e o desenvolvimento de bacias hidrográficas foram mais bem-sucedidos em vilarejos que possuíam fortes níveis de con- fiança, redes informais e solidariedade do que em vilarejos com índices menores desses bens sociais. E em Bangladesh, programas de coletas cooperativas de lixo (onde as prefeituras não os forneciam) foram realizados com sucesso em áreas onde certas formas de capital social – nesse caso, normas de reciprocidade e compartilhamento – eram bem desenvolvidas.34 QUADRO 8-1. A EXPERIÊNCIA DE GAVIOTAS: PRIORIZANDO O BEM-ESTAR Gaviotas é um vilarejo com 200 habitantes na zona rural da Colômbia, com uma reputação mundial de desenvolvimento inovador. Sua abordagem é regida por uma forte preocupação quanto à qualidade de vida do vilarejo e ao meio ambiente natural. Seus habitantes asseguram atendimento às necessidades básicas: os moradores nada pagam pelas refeições, tratamento médico, educação e habitação. Todos os adultos têm emprego, ou nos vários empreendimentos locais que fabricam coletores solares e moinhos de vento, na agricultura orgânica e hidropônica ou em iniciativas florestais. As necessidades sociais também são tratadas, através do ritmo das atividades cotidianas. Os membros trabalham juntos nos negócios do vilarejo e fazem suas refeições regularmente no grande refeitório, mesmo que cada residência tenha uma cozinha. Música e outros eventos culturais fazem parte da vida normal do vilarejo. Com o sustento e necessidades sociais plenamente atendidas, a atmosfera é de paz: a comunidade nunca teve força policial, cadeia ou prefeitura em todos os seus 33 anos de história. Normas comunitárias são estabelecidas pelos membros e impostas através de pressão social. Gaviotas é conhecida mundialmente por suas muitas invenções, incluindo uma bomba d’água em que as crianças do vilarejo operam brincando de gangorra, moinhos de vento projetados para as brisas suaves das planícies colombianas, um aquecedor de água solar pressurizado e uma moenda de mandioca a pedal. As tecnologias enfatizam a qualidade de vida desses aldeões, como também de outras comunidades interessadas. Como questão de princípio – e em linha com seu interesse principal em melhorar a qualidade de vida e não apenas em gerar riqueza – os aldeões não patentearam suas invenções, que são livremente disponibilizadas. Milhares de moinhos de vento foram instalados por técnicos de Gaviotas por toda a Colômbia, tendo o desenho sido copiado em toda a América Latina. Para os aldeões, bem-estar também significa pisar leve no meio ambiente. Gaviotas é hoje auto-suficiente em eletricidade, fazendo um uso amplo de energia solar e eólica e do metano produzido do esterco do gado. Seu antigo hospital com ar-condicionado e aquecimento solar (hoje um centro de purificação de água) foi considerado por uma revista de arquitetura japonesa como um dos 40 prédios mais importantes do mundo. Sua agricultura é orgânica. E é o centro do maior projeto de reflorestamento da Colômbia, tendo convertido dezenas de milhares de hectares de caatinga em floresta, da qual a população extrai e vende apenas resina, mesmo sabendo que a madeira seria mais lucrativa. Os aldeões acreditam que uma floresta sadia que gera recursos modestos é melhor do que uma mata exaurida, que proporcione um benefício temporário. _________________________________________ FONTE: vide nota final 34. 213 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA Criando Infra-Estruturas de Bem-Estar Quando indivíduos ou comunidades buscam incrementar sua qualidade de vida, podem ficar presos a um conjunto de opções disponíveis a eles. Produtos orgânicos, garrafas reutilizáveis de bebida ou transportes públicos obviamente não podem ser comprados se não estiverem à venda. Regras e políticas que determinam o conjunto de opções disponíveis, tais como subsídios ao petróleo, que tornam a energia de combustíveis fósseis mais barata que a eólica, leis de uso do solo, que encorajam um zoneamento espaçado em loteamentos imobiliários, ou códigos de construção, que contestam o uso de materiais reciclados, formam essencialmente a “infra-estrutura do consumo”. A criação de uma melhor qualidade de vida requer que todos nós – indivíduos e comunidades – ajudemos a criar novas “infra-estruturas de bem-estar” políticas, físicas e culturais.35 Alguns governos estão começando o exercer sua autoridade ajudando a criar um ambiente político conducente ao bem-estar. A mais básica de suas iniciativas é avaliar adequadamente a saúde comunitária ou social, como a cidade de Santa Mônica está fazendo, através de um Plano Urbano Sustentável. Implantado em 1994, o plano visa diminuir o consumo comunitário global, especialmente o uso de materiais e recursos não-locais, não-renováveis, nãoreciclados e não-recicláveis. Busca também desenvolver uma diversidade de opções de transportes, a fim de minimizar o uso de materiais perigosos ou tóxicos, para preservar espaços abertos e encorajar a parti- 214 cipação comunitária na tomada de decisões. O plano utiliza 66 indicadores para medir seu desenvolvimento, tais como geração de resíduos sólidos, custo de vida, percentual de ruas principais com ciclovias, percentual de cobertura arbórea, comparecimento eleitoral, parcela de moradores voluntários, emissões de gases de estufa, número de desabrigados e índice de crimes. Muitas das metas iniciais de Santa Mônica foram atingidas ou ultrapassadas, de acordo com a Prefeitura, e objetivos mais ambiciosos foram estabelecidos para 2010.36 Em âmbito nacional, o instrumento padrão utilizado para medir a saúde social, o PIB, é muito restrito para servir como referencial de bem-estar, pois soma todas as transações econômicas independentemente de sua contribuição à qualidade de vida. Também ignora parcelas inteiras de atividades extramercado que contribuem para o bem-estar individual e comunitário, como cuidados a crianças prestados por um dos pais que ficam em casa. Durante os anos 90, pesquisadores empenharam-se em desenvolver medidas alternativas, como a Pegada Ecológica, o Indicador do Progresso Genuíno, o Índice de Desenvolvimento Humano e o Índice Planeta Vivo, a fim de complementar a perspectiva do PIB. (Vide também Capítulos 1 e 7.) Uma dessas iniciativas, o Índice de Bem-Estar, desenvolvido pelo consultor de sustentabilidade Robert Prescott-Allen, destaca-se por sua abrangência. (Vide Quadro 8-2.)37 Além de recalibrar a medida da saúde ecológica, os governos estão utilizando seus extensos poderes legislativos e normativos para determinar a forma como as pessoas consomem e os valores que uma sociedade internaliza em relação ao consumo. A Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA eliminação de subsídios perversos e a adoção de impostos sobre poluição, por exemplo, já se mostraram úteis na criação de um meio ambiente mais limpo e uma melhor qualidade de vida em muitos países europeus. (Vide também Capítulo 5.) QUADRO8-2.MEDINDOOBEM-ESTAR O Índice de Bem-Estar utiliza 87 indicadores para medir o bem-estar humano e ecológico – desde a expectativa de vida e taxa de matrículas escolares até a extensão do desmatamento e níveis de emissões de carbono. Os 87 indicadores podem ajudar os países a identificarem as áreas onde sua qualidade de vida esteja sob impacto. Os valores da variedade de indicadores são padronizados e somados numa pontuação única, para facilitar a comparação em 180 países. Os resultados são reveladores: cerca de dois terços da população mundial vivem em países com pontuação fraca ou baixa para o bem-estar humano. Apenas a Noruega, Dinamarca e Finlândia figuram como as melhores nos cinco níveis de classificação. Enquanto isso, países com uma pontuação ambiental fraca ou baixa cobrem quase a metade da superfície terrestre. E nenhum país recebeu uma boa classificação ambiental. As medidas separadas de bem-estar humano e ambiental do Índice ajudam a cristalizar um objetivo de desenvolvimento ideal: melhorar a vida das pessoas com menor impacto possível ao meio ambiente. Realmente, o Índice revela que o atendimento às necessidades das pessoas pode ser realizado com uma variedade de custos ambientais. A Holanda e Suécia têm, aproximadamente, a mesma pontuação de bem-estar humano, porém a Holanda está muito baixa em saúde ambiental. Isso sugere que a forma como uma nação atinge seus objetivos de desenvolvimento é tão importante como se os atinge. _________________________________________ FONTE: vide nota final 37. E muitos governos na Europa estão ajudando os trabalhadores e suas famílias a tirarem um tempo extra a cada semana. Bélgica, Dinamarca, França, Holanda e Noruega hoje têm jornadas semanais de 35 a 38 horas, que, além de liberar tempo valioso para os trabalhadores, freqüentemente ajudam a criar novos empregos. A Holanda tem duas abordagens criativas na redução da jornada de trabalho. Os empregadores concedem os mesmos benefícios e oportunidades de promoção tanto a trabalhadores em meio turno quanto àqueles em tempo integral, tornando o trabalho em meio turno atraente para muitos. E o governo encoraja pais com crianças pequenas a trabalharem o equivalente a 1,5 emprego para os dois, liberando mais tempo para atender à demanda maior de tempo no cuidado de crianças pequenas. Além das reformas à jornada semanal de trabalho, muitos países concedem férias familiares pagas para pais com o primeiro filho. A Suécia, por exemplo, concede 15 meses de férias por criança, pagando até 80% do salário, comparado com as 12 semanas de férias sem remuneração que são oferecidas nos Estados Unidos.38 Intervenções governamentais como essas criam um ambiente familiar menos estressante. A Finlândia, por exemplo, possui políticas muito fortes de apoio ao emprego de mães, inclusive férias remuneradas, isenção fiscal e recursos públicos para cuidados infantis e outras medidas. (Em um estudo, a Finlândia foi a primeira entre 14 nações na concessão desses benefícios.) Um estudo em 2001 do benefício psicológico dessas medidas para os pais constatou que, contrariamente aos 215 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA Estados Unidos, onde a paternidade tende a ser associada a fraco bem-estar psicológico, devido ao estresse envolvido e falta de apoio familiar, a paternidade na Finlândia correlacionou-se de forma neutra ou positiva com o bem-estar psicológico. Para os pais, os resultados foram fortemente positivos, mas para as mães um pouco menos, indicando que o apoio para elas poderia ser reforçado.39 Atingir a clareza sobre a importância da prestação de serviços públicos é fundamental para mudar a infra-estrutura jurídica e política do bem-estar. A grande priorização do consumo privado em muitos países nas últimas décadas tem freqüentemente dado má reputação aos serviços públicos. Porém as sociedades pagam um preço social quando o consumo privado é perseguido às custas de investimentos públicos. Um relatório de 2003 pela Fabian Society, no Reino Unido, demonstra isso. A privatização de escolas públicas, observou o relatório, pode resultar no fato de as melhores escolas atraírem os melhores estudantes, enquanto as piores escolas recebem uma parcela desproporcional de casos disciplinares. Transporte de ônibus privatizado pode deixar rotas não-lucrativas sem serviço e as rotas melhores superexploradas, forçando mais pessoas a utilizarem seus automóveis, como ocorreu no Reino Unido, quando serviços locais foram privatizados.40 Naturalmente, decidir o que deve ser fornecido publicamente é um delicado problema político, mas um em que o público pode e deve estar envolvido. Um exemplo inspirador do envolvimento público no estabelecimento de prioridades para os recursos públicos vem de Porto Alegre, no Brasil. As autoridades locais aplicaram um pro- 216 cesso de “orçamento participativo” desde 1989, envolvendo os cidadãos diretamente nas decisões de alocação do orçamento municipal. O processo gerou maior transparência e responsabilidade governamental, redução da parcela da receita urbana consumida pela folha de pagamento e uma redução no percentual de contratos adjudicados de forma paternalista. Também levou a aumentos no volume de dinheiro gasto em educação, serviços básicos e infraestrutura urbana – iniciativas que melhoraram a qualidade de vida dos seus habitantes. Além disso, o processo mobilizou mais pessoas a cada ano, com 40.000 dos 1,3 milhão de habitantes participando do processo orçamentário de 1999. A maioria envolve-se comparecendo a reuniões de bairro, e assim o processo ajudou a aumentar o envolvimento comunitário, permitiu o surgimento de novos líderes e capacitou algumas das comunidades mais pobres de Porto Alegre. O orçamento participativo já se espalhou para 140 comunidades – 2,5% dos municípios brasileiros.41 Atenção para o projeto de infra-estrutura física também é crucial para a melhoria da qualidade de vida. Residências suburbanas centradas no automóvel, por exemplo, têm sido muito criticadas, por enfraquecerem a coesão comunitária, devido, em parte, ao tempo necessário para o deslocamento para o trabalho. O cientista social Robert Putnam observou que cada 10 minutos adicionais diários está associado a um declínio de 10% no envolvimento em questões comunitárias. Com o americano adulto comum gastando hoje 72 minutos por dia atrás do volante do carro, quase sempre sozinho, a coesão comunitária só pode Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA sofrer. Em 2003, loteamentos suburbanos expandidos também foram criticados por seus efeitos adversos à saúde. Um estudo nos Estados Unidos, com mais de 200.000 pessoas em 448 condados, constatou que aqueles que viviam em comunidades suburbanas de baixa densidade gastavam menos tempo andando e pesavam 2,7 quilos mais, em média, do que aqueles que residiam em áreas densamente habitadas. Constatou-se também que os moradores suburbanos tinham a mesma propensão à pressão alta que os fumantes.42 Enquanto isso, projetos urbanos podem repelir – ou atrair ciclistas. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos indicam que uma das razões principais dada pelos americanos por não andarem de bicicleta é que consideram o ciclismo inseguro. E é. Medido por quilômetro percorrido, o ciclismo nos Estados Unidos é mais perigoso do que qualquer outro meio de transporte. Todavia, a taxa de acidentes com ciclistas na Holanda e Alemanha é apenas um quarto da dos Estados Unidos, principalmente porque essas nações investem em ciclovias, semáforos que priorizam ciclistas e outros equipamentos que tornam o ciclismo seguro. A Holanda duplicou a extensão de sua malha de ciclovias nos últimos 20 anos e a Alemanha triplicou sua malha.43 Quando são bem planejadas, as cidades podem ser locais atraentes para as pessoas passarem seu tempo, encorajando maior interação cívica. Ambos os fatores tendem a incrementar a qualidade de vida. Ao converter ruas em calçadões, misturando habitações com lojas, criando praças e parques e tomando outras medidas, os centros urbanos podem ser locais estimulantes. Em Copenhague, por exemplo, cafés ao ar livre, praças públicas e atores de rua atraem o público no verão, enquanto ringues de patinação, bancos aquecidos e aquecedores a gás nas esquinas tornam o inverno aprazível. E a cidade esforçou-se para facilitar o ciclismo, não só oferecendo ciclovias, mas também disponibilizando bicicletas mediante um depósito modesto, reembolsado quando a bicicleta é devolvida.44 Essas inovações de planejamento ocorrem quando uma cidade leva a sério a priorização da qualidade de vida. Uma demonstração dessa seriedade vem de Austin, no Texas, que aplicou um programa de incentivo ao conhecimento como Matriz de Critérios de Crescimento Inteligente, para controlar onde e como o crescimento ocorre e realçar a qualidade de vida. A cidade utilizou uma série de critérios para pontuar projetos imobiliários, com projetos de pontuação alta habilitando-se a isenções de impostos. O analista Guy Dauncey descreve os critérios de incentivo desta forma: Pode-se obter maior número de pontos para um local no centro e para um local a um quarteirão de um ponto de ônibus, ou dois quarteirões de uma estação de metrô. Há pontos para recuos menores, varandas, becos, ruas estreitas e orientação comunitária. Há pontos para uso misto residencial, comercial e varejo, para unidades residenciais acima de pontos comerciais e pelo encorajamento do uso da rua por pedestres. A Matriz também concede pontos por facilitar ciclismo, redução de trân- 217 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA sito, vias verdes e habitação acessível, utilizar empreiteiras e arquitetos locais, eficiência hídrica e energética, incorporar um mercado e outros estabelecimentos de varejo, preservar o patrimônio histórico e reutilizar prédios existentes. Há pontos por paisagismo, planejamento viário, por ser consistente com projetos locais e por participação e apoio locais.45 Algumas empresas também estão começando a reconhecer que podem tornar sua própria infra-estrutura física mais aprazível para o bem-estar dos funcionários. Na nova sede internacional da Sprint, em Kansas, uma empresa de telecomunicações, os carros devem estacionar em garagens na extremidade do campus corporativo, forçando os funcionários a andarem uma certa distância até o trabalho. Os prédios possuem elevadores lentos, o que encoraja o uso das escadas. E a área de alimentação no complexo está localizada fora dos escritórios, em vez de estarem convenientemente no meio deles, para que os funcionários gastem alguma energia para almoçarem. Esse projeto inovador reflete um entendimento de que promoção do bem-estar nem sempre é sinônimo de maximização de conforto ou conveniência.46 Novas infra-estruturas políticas e físicas de consumo estão sendo complementadas por um novo e florescente arcabouço cultural, particularmente na promoção de uma ética de consumo para o bem-estar. Nesse sentido, as pessoas estão cada vez mais ativas na exigência de um melhor padrão ético na publicida- 218 de. Na Suécia, toda a publicidade é proibida nas programações direcionadas a crianças, um grupo altamente influenciável. E nos Estados Unidos anúncios de cigarro foram proibidos na televisão há décadas. A União Européia recentemente ampliou sua proibição de propaganda de cigarro na televisão para cobrir outra mídia, incluindo jornais, revistas, rádio e a Internet, até 2005, como também eventos esportivos até 2006. O estabelecimento de limites na publicidade é um tema sensível, em virtude das preocupações com a liberdade de expressão, porém esses exemplos demonstram que os países podem atingir um equilíbrio sadio entre garantia da liberdade de expressão e saúde pública.47 Enquanto isso, a própria publicidade está sendo utilizada como um instrumento para combater o alto número de mensagens de consumo que bombardeia os consumidores. O grupo canadense Adbusters patrocina “descomerciais” de televisão, que encorajam os telespectadores a reduzirem o consumo, deixarem seus carros na garagem ou desligarem seus televisores. Alguns governos estão colocando publicidade ou anúncios de serviço público na televisão e outros veículos para encorajar o consumo mais sustentável, como fez o governo da Tailândia, através de comerciais humorísticos na televisão pedindo aos consumidores que gastem menos energia e água. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) adotou uma abordagem diferente, trabalhando com anunciantes no desenvolvimento de propaganda que encoraje as pessoas a utilizar produtos sustentáveis. (Vide Quadro 8-3.)48 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA QUADRO8-3.ENCORAJANDOANUNCIANTESAPROMOVERASUSTENTABILIDADE O marketing é uma ferramenta poderosa, que está freqüentemente implicada no estímulo ao consumo – e, portanto, em minar os esforços de se construir um mundo sustentável. Porém o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente está tentando transformar os marqueteiros em aliados, recrutando-os para promoverem a sustentabilidade. Em 1999, o Fórum do PNUMA sobre Publicidade e Comunicações foi estabelecido para criar uma conscientização de “consumo sustentável” – um consumo que melhore a qualidade de vida ao mesmo tempo em que minimize as desigualdades sociais e ecológicas – e encorajar anunciantes e marqueteiros a promoverem-na. As principais associações empresariais dentro da indústria da publicidade e marketing responderam através do desenvolvimento de publicações prósustentabilidade, em colaboração com o PNUMA, e organizando sessões especiais sobre desenvolvimento sustentável nos seus congressos internacionais. Por exemplo, a agência McCann-Ericson publicou, juntamente com o PNUMA, um folheto intitulado “Será que Sustentabilidade Vende?” A educação também é importante na reformulação cultural para uma melhor qualidade de vida. Austrália e Canadá hoje instituíram uma disciplina de mídia no seu currículo escolar. Esses programas ajudam a conscientizar os estudantes sobre como a mídia e a publicidade determinam seus valores e cultura. E os estudantes aprendem a diferenciar entre a realidade e a hipérbole marqueteira – seja em comerciais ou incorporada na programação. A educação do consumo, particularmente, pode ser um corretivo necessário às proclama- direcionado a empresas e profissionais de marketing, para convencê-los de que “longe de deprimir vendas, os princípios sustentáveis poderão ser essenciais à proteção tanto da saúde da marca quanto da lucratividade futura”. Em parceria com Sustentabilidade e o PNUMA, a Associação Européia de Agências de Comunicações elaborou um guia para as agências de publicidade descrevendo o mercado internacional crescente de consumo sustentável. E a Associação Mundial de Profissionais de Pesquisa solicitou um levantamento das reações do consumidor às questões de sustentabilidade. Ademais, o PNUMA está colaborando com setores industriais específicos – notadamente o automotivo, turístico e varejista – para ajudar a desenvolver estratégias inovadoras de marketing que avancem na promoção de opções sustentáveis. – Solange Montillaud-Joyel, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente _____________________________________________ FONTE: vide nota final 48. ções incessantes da publicidade sobre o desejo de consumo. No Brasil, o grupo nãogovernamental Instituto Akatu vem trabalhando com escolas, empresas e escoteiros para educar os participantes a “consumir com consciência”. A organização utiliza uma variedade de instrumentos – desde a Internet até panfletos, gibis e jogos – para ensinar as conseqüências ambientais e sociais do consumo e para informar as pessoas sobre como pressionar governos por mudanças de política que ajudarão a promover um consumo consciente.49 219 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA Conquistando a Boa Vida Escondida por trás da crescente insatisfação com a sociedade de consumo está uma pergunta simples: para que serve uma economia? As respostas tradicionais, incluindo prosperidade, empregos e ampliação de oportunidades, parecem bastante lógicas – até que se tornem disfuncionais. Quando a prosperidade nos dá excesso de peso, o trabalho excessivo nos deixa exaustos e um conceito “de poder ter tudo” nos leva a negligenciar a família e os amigos, começamos a questionar mais profundamente a direção de nossas vidas, como também o sistema que nos guia nessa direção. Os sinais emergentes em algumas nações industrializadas – e também em alguns países em desenvolvimento – sugerem que muitos de nós estão querendo mais da vida do que uma casa maior e um carro novo. As pessoas anseiam por algo mais profundo: vidas mais felizes, dignas e significativas – numa palavra, bem-estar. E esperam que suas economias sejam um instrumento para esse fim, e não um obstáculo. Todos precisarão tornar-se exímios em lidar com uma questão-chave: quanto é demais? As sociedades com alta qualidade de vida são centradas nas pessoas, com atenção adequada à promoção de interações entre seres humanos. Áreas urbanas planejadas com foco em pedestres, lazer e expressão humana, por exemplo, reuniri220 am as pessoas de forma construtiva e prazerosa – para concertos públicos, festivais ou simplesmente interações informais viabilizadas em mercados ao ar livre. Economias teriam um caráter local, para que produtos, talentos e bens característicos de uma região fossem preferidos às importações de locais distantes. Ao reforçar a teia de relações entre agricultor e cidadão urbano, artesão e cliente, produtor e consumidor, as economias locais adquirem um caráter de “escala humana” que economias distantes freqüentemente carecem. Cultivar relacionamentos requer tempo e pode envolver o confisco de muitos dos “ladrões de tempo” da vida moderna, a começar com o trabalho. A experiência de vários países europeus demonstrou que a semana de 40 horas, claramente, não é sacrossanta e, portanto, as pessoas podem chegar em casa mais cedo ou usufruírem fins de semana mais longos para ficar com seus filhos ou amigos. E habitações que não sejam isoladas em subúrbios espalhados podem evitar as viagens diárias, que roubam muitas pessoas de quantidades impressionantes de tempo: um percurso de mais de uma hora por dia, usual para muitos suburbanos americanos, significa que um trabalhador gasta o equivalente a seis semanas de trabalho no trânsito anualmente. O foco da sociedade em instrumentos poupadores de tempo, cuja adoção só tem levado a vidas ainda mais frenéticas, precisa ser substituído por estilos de vida poupadores de tempo, mais simples.50 Uma sociedade de bem-estar poderá proporcionar aos consumidores uma variedade suficiente de escolhas genuínas, em vez de uma gama de produtos praticamen- Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA te idênticos. Empresas seriam encorajadas, através de incentivos econômicos, a fornecer o que os consumidores realmente procuram – transporte confiável, não necessariamente um carro; ou produtos saborosos, sazonais e locais, em vez de frutas e legumes transportados de outro país; ou relacionamentos fortes com vizinhos em lugar de uma casa grande com extenso terreno. Escolhas seriam redefinidas, para significarem opções que melhorem a qualidade de vida, em vez de opções entre produtos ou serviços individuais. Para os indivíduos, a escolha genuína provavelmente incluiria a escolha de não consumir. Todos precisarão tornar-se exímios em lidar com uma questão-chave: quanto é demais? As respostas serão diferentes de pessoa a pessoa, porém uma diretriz que vale a pena considerar é uma do filósofo chinês Lau Tzu: “Saber quando se tem o suficiente é ser rico”. Consumidores que abraçam essa sabedoria antiga dão um grande passo em direção à fuga da tirania da comparação social e marketing que move grande parte do consumo moderno.51 As pessoas numa sociedade de bem-estar também desenvolveriam relacionamentos íntimos com o meio ambiente natural. Reconheceriam as árvores em seus parques e as flores em seus jardins com a mesma facilidade com que identificam logomarcas corporativas. Entenderiam os fundamentos ambientais de sua atividade econômica: de onde vem sua água, para onde vai seu lixo e se a energia que sua usina usa para gerar eletricidade é carvão, nuclear ou renovável. Provavelmente gostariam de desenvolver projetos em casa que os ajudassem a viver mais intimamente com a natureza – uma cis- terna coletora de água da chuva, por exemplo, ou um vasilhame de compostagem ou horta. Em suma, aprenderiam a amar a natureza e a se tornar seus defensores. Como o finado biólogo de Harvard, Stephen Jay Gould, disse: “Precisamos desenvolver um laço emocional e espiritual com a natureza, pois não podemos lutar para salvar aquilo que não amamos”.52 Finalmente, uma sociedade focada no bem-estar asseguraria que todos nela tivessem acesso a alimentos sadios, água limpa e saneamento, educação, tratamento de saúde e segurança física. É praticamente impossível imaginar uma sociedade de bem-estar que não propicie as necessidades básicas de uma pessoa. E, mais do que isso, é inconcebível que uma sociedade de bem-estar satisfaça-se com seu próprio sucesso quando outros, além dos seus limites, sofrem em larga escala. Realmente, aquelas sociedades que pontuam alto no Índice de Bem-Estar, especialmente no norte da Europa, também possuem alguns dos programas de ajuda externa mais generosos do mundo.53 Fazer a transição para uma sociedade de bem-estar será, sem dúvida, um desafio, dado o hábito das pessoas de colocarem o consumo no ápice dos valores sociais. Porém, qualquer movimento nessa direção começa com duas grandes vantagens. Primeiro, a família humana hoje tem uma base de conhecimento, tecnologia e especialização que supera em muito tudo o que qualquer geração anterior tenha conhecido. Ironicamente, essa base é o produto de um sistema econômico orientado para altos níveis de consumo. Mas nossas escolhas desenvolvimentistas do século XX, 221 Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA direcionadas para o consumo, independentemente de quão mal-orientadas sejam, podem ser resgatadas agora, assegurando que o estoque moderno de conhecimento e tecnologia seja investido no bem-estar, e não na continuação do acúmulo material. Uma segunda vantagem é simples, porém poderosa: para muitas pessoas, uma vida de bem-estar é preferível a uma vida de alto consumo. O ex-Primeiro-Ministro da Holanda Ruud Lubbers captou essa realidade fundamental quando observou que, nos seus esforços para construírem uma alta qualidade de vida, os holandeses trabalham jornadas limitadas: “Preferimos assim. Desnecessário dizer que há mais espaço para todos aqueles aspectos importantes de nossas vidas que não são parte de nossos empregos, pelos quais não somos pagos e para os quais nunca há tempo suficiente”. O desejo de uma melhor 222 qualidade de vida pode ser mais imperfeito em outras sociedades industrializadas, mas os sinais estão lá: trabalhadores que desejam mais tempo livre do que aumento de salário, compradores que escolhem alimentos orgânicos e outros produtos “éticos”, pessoas que buscam relações familiares mais fortes. Quando os componentes de uma sociedade de bem-estar são disponibilizados, a receptividade é, quase sempre, extraordinariamente positiva.54 Ao cultivar relacionamentos, facilitar escolhas sadias, aprender a viver em harmonia com a natureza e atender às necessidades básicas de todos, as sociedades podem mudar de uma ênfase no consumo para uma ênfase no bem-estar. Isso poderá ser uma tamanha conquista no século XXI, como os tremendos avanços em oportunidade, conveniência e conforto foram no século XX. Estado do Mundo 2004 REPENSANDO A BOA VIDA Notas Prefácio 1. Gary Cross, An All-Consuming Century. 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Xing, “Shifting Gears”, The China Business Review, novembro – dezembro de 1997. 2. “China’s Private Car Ownership Tops 10 Million”, People’s Daily, 14/06/03; 11.000 por dia é um cálculo do Worldwatch, baseado em dados em Liu Wei, “China’s Demand of Cars to Exceed 4.2 Million in 2003”, People’s Daily, 30/ 07/03; vendas de automóveis, de “Car Sales Booming in China”, All Things Considered, National Public Radio, 17/09/03; “150mn Chinese Families to Buy Cars in Next 15 Years”, People’s Daily, 12/03/03; frota dos EUA, de Ward’s Communications, Ward’s Motor Vehicle Facts & Figures 2001 (Southfield, MI: 2001), p. 38; atitudes dos chineses, de “Car Sales Booming”, op. cit., esta nota. 3. Julie Chao, “Pacific Currents: China Trying to Cope With Burgeoning Car Culture”, Seatle Post-Intelligencer, 8/09/03; investimentos estrangeiros de Clay Chandler, “China Goes Car Crazy: Suburbs, Drive-ins, Car Washes – This Revolution Has Wheels”, Fortune, 11/08/03. 4. Matthew Bentley, Sustainable Consumption: Ethics, National Indices and International Relations (dissertação de doutorado, American Graduate School of International Relations and Diplomacy, Paris, 2003). 5. Projeção de população, de Nações Unidas, World Population Prospects, The 2002 Revision (Nova York: 2003). 6. U.S. Department of Transportation, Bureau of Transportation Statistics, National Household Travel Survey 2001 Highlights Report (Washington, DC: 2003); SUVs de Oak Ridge National Laboratory, Transportation Energy Data Book, Edition 22 (Oak Ridge, TN: setembro de 2002), p. 7-1; tamanho das casas, de Joint Center for Housing Studies, State of the Nation’s Housing 2003 (Cambridge, MA: Harvard University, 2003), p. 32; tamanho da família de U.S. Department of Agriculture, Economic Research Service, Race and Ethnicity in Rural America: Marital Status and Household Structure, em www.ers.usda.gov/ 225 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 1 Briefing/RaceAndEthnic/familystructure.htm, atualizado em 24/12/02; indústria da obesidade, de Jui Chakravorty, “Catering to Obese Becoming Big Business”, Reuters, 4/l0/03. 7. Gastos do consumo privado (em dólares de 1995) são cálculos do Worldwatch, baseados em Banco Mundial, World Development Indicators Database, em media.worldbank.org/ secure/data/qquery.php, visitado em 2/06/03. Quadro 1-1 dos seguintes: Nações Unidas, op. cit., nota 5, p. 1; consumo projetado de carne dos americanos e todos os dados populacionais, da Divisão de População das Nações Unidas, banco de dados on-line, em esa.un.org/unpp, visitado em 20/09/03, e da Organização de Alimento e Agricultura das Nações Unidas (FAO), FAOSTAT Statistical Database, em apps.fao.org, atualizado em 30/06/03; emissões de carbono são cálculos do Worldwatch, baseados em dados de Molly O. Sheehan, “Carbon Emissions and Temperature Climb”, em Worldwatch Institute, Vital Signs 2003 (Nova York: W.W. Norton & Company, 2003), pp. 40-41; tamanho da família e consumo de energia, de Nico Keilman, “The Threat of Small Households”, Nature, 30/01/03, p. 489. Tabela 11 contém cálculos do Worldwatch, baseados em dados populacionais e gastos do consumo privado do Banco Mundial, op.cit., esta nota; os totais somam 98 e 99%, devido à indisponibilidade de dados para países pequenos. 8. Números da pobreza são estimativas do Banco Mundial, citadas em Millennium Development Goals Web site, em www.developmentgoals.com/ Poverty.htm. 9. Tabela 1-2, de Bentley, op. cit., nota 4. Parcela da classe de consumidor global é um cálculo do Worldwatch. 10. Tabela 1-3, de Bentley, op. cit., nota 4; gastos na África Subsaariana (em dólares de 1995), do Banco Mundial, op. cit., nota 7. 226 11. Bentley, op. cit., nota 4. 12. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), “UNEP Urges AsiaPacific Towards a Cleaner, Greener Development Path”, press release (Nairobi: 19/ 05/03); frota de automóveis dos EUA, de Ward’s Communications, op. cit., nota 2, p. 38; Matthew Bentley, “Forging New Paths to Sustainable Development”, UNEP Background Paper, Asia Pacific Expert Meeting on Promoting Sustainable Consumption and Production Patterns, Yogyakarta, Indonésia, 21-23/05/03. 13. Calorias diárias, de FAO, op. cit., nota 7; número de subnutridos de idem, The State of Food Insecurity in the World, as cited in Nações Unidas Statistical Division, Millennium Indicators Database, em unstats.un.org/unsd/ mi/mi_series_xrxx.asp?row_id=640, visitado em 23/10/03; Tabela 1-4, de Banco Mundial, World Development Indicators 2000 (Washington, DC, 2000), pp. 222-24. 14. Calorias de produtos animais, de FAO, op. cit., nota 7; consumo de carne, de Danielle Nierenberg, “Meat Production and Consumption Grow”, em Worldwatch Institute, op. cit., nota 7, p. 30; fast-food na Índia, de Saritha Rai, “Taste of India in U.S. Wrappers”, New York Times, 29/04/03, e de Seth Mydans, “Clustering in Cities, Asians Are Becoming Obese”, New York Times, 13/03/03; subnutridos na Índia, do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), Human Development Report 2003 (Nova York: Oxford University Press, 2003), p. 199. 15. Dados sobre água limpa e saneamento, do UNICEF, The State of the World’s Children 2003 (Nova York: 2003), p. 95; definições de “água potável” e “saneamento adequado”, do PNUD, op. cit., nota 14, pp. 357-58. Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 1 16. Janet Abramovitz e Ashley Matoon, Paper Cuts: Recovering the Paper Landscape, Worldwatch Paper 249 (Washington, DC: Worldwatch Institute, dezembro de 1999), pp. 6, 11-12. 17. Tabela 1-5, do Banco Mundial, op. cit., nota 7; residências com televisores e número com serviços a cabo, de International Telecommunication Union (ITU), World Telecommunication Development Report 2002 (Genebra: 2002); média de hábitos televisivos, de Robert Kubey e Mihaly Csikszentmihalyi, “Television Addiction Is No Mere Metaphor”, Scientific American, fevereiro de 2002, pp. 74-80. 18. Telefones de ITU, op. cit., nota 17; uso da Internet, de idem, “Internet Indicators: Hosts, Users and Number of PCs”, em www.itu.int/ITU-D/ict/statistics/at_glance/ Internet02.pdf, visitado em 09/10/03. 19. Tabela 1-6 dos seguintes: cosméticos e perfumes, de “Pots of Promise”, The Economist, 24/05/03, pp. 69-71; ração e sorvete, do PNUD, Human Development Report 1998 (Nova York: Oxford University Press, 1998), p. 37; cruzeiros marítimos, de Lisa Mastny, “Cruise Industry Buoyant”, em Worldwatch Institute, Sinais Vitais 2002 (Salvador: UMA Editora, 2002), p. 122; investimentos anuais adicionais necessários, de Michael Renner, “Military Expenditures on the Rise”, em Worldwatch Institute, op. cit., nota 7, p. 119, exceto estimativa de vacinação, de Erik Assadourian, “Consumption Patterns Contribute to Mortality”, in Worldwatch Institute, op. cit., nota 7, p. 108. 20. Aumentos de materiais, de Gary Gardner e Payal Sampat, Mind Over Matter: Recasting the Role of Materials in Our Lives, Worldwatch Paper 144 (Washington, DC: Worldwatch Institute, dezembro de 1998), p. 16; intensidade de metais, de Payal Sampat, “Metals Production Climbs”, em Worldwatch Institute, op. cit., nota 19, pp. 66-67. 21. Uso de combustíveis fósseis, de Janet L. Sawin, “Fossil Fuel Use Up”, em Worldwatch Institute, op. cit., nota 7, pp. 3435; metais, de Payal Sampat, “Scrapping Mining Dependence”, em Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2003 (Salvador: UMA Editora, 2003), p. 113. 22. Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota 16, p. 20. 23. Sampat, op. cit., nota 21, p. 114; Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), OECD Environmental Data Compendium 2002 (Paris: 2003), p. 14. 24. Dados e projeções da FAO, de Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota 16, pp. 20-21, 40, 52. 25. 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Figura 1-2, de WWF International, PNUMA, e Redefining Progress, op. cit., esta nota, e de Angus Maddison, The World Economy: A Millennial Perspective (Paris: 229 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 1 E SACOS PLÁSTICOS OECD, 2001), pp. 272-321, com atualizações do Fundo Monetário Internacional World Economic Outlook Database (Washington, DC: dezembro de 2002). 44. WWF International, PNUMA, e Redefining Progress, op. cit., nota 43; Mathis Wackernagel et al., “Tracking the Ecological Overshoot of the Human Economy”, Proceedings of the National Academy of Sciences, 9/07/02, p. 9268. 45. Mortes, de Majid Ezzati e Alan D. 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Franklin Associates Inc., Resource and Environmental Profile Analysis of Polyethylene and Unbleached Paper Grocery Sacks (Prairie Village, KS: 1990); Nedlac, op. cit., nota 2; Fehily Timoney & Company, “Consultancy Study on Plastic Bags”, em www.fwhilytimoney.com. 48. Robert Putnam, Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community (Nova York: Simon & Schuster, 2000), pp. 189-246. 5. Jeremia Njeru, “Managing the Problem of Plastic Bag Waste in Nairobi, Kenya: Demand-side and Supply-side Considerations”, apresentação na Associação de 46. The Fordham Institute for Innovation in Social Policy, The Social Report 2003 (Nova York: 2003); PNUD, op. cit., nota 14, pp. 248-49. 230 Estado do Mundo 2004 NOTAS, SACOS PLÁSTICOS E CAPÍTULO 2 Geógrafos Americanos, 99a Reunião Anual, Nova Orleans, 5-8 de março de 2003; Beijing de Xu Zhengfeng, “Putting an End to a Plastic Plague”, Inter Press Service, 17/08/99; “bandeira nacional”, de Shawn Pogatchnik, “Ireland, Pioneer of the Plastic-bag Tax, Plans Fees on Three Other Litter Sources”, Associated Press, 16/07/03; “flor nacional”, de “South Africa Bans Plastic Bags”, BBC News, 9/05/03. 6. Biodegradable Products Institute, em www.bpiworld.org; Steve Mojo, diretor executivo, Biodegradable Products Institute, discussão com o autor, 15/09/03. 7. Ladakh de Tsewang Rigzin, “Leh’s Seccessful Plastic Ban”, Ladags Melong, 17/ 06/02; Moazzem Hossain, “Bangladesh Bans Polythene”, BBC News, 1o/01/02. 8. África do Sul, de Toby Reynolds, “South Africa Moves to Curb Flimsy Plastic Bag Scourge”, Reuters, 1/10/02; Irlanda, de Sean Federico-O’Murchu, “Irish Take Lead with Plastic Bag Levy”, MSNBC, 4/08/03; outras políticas nacionais, de Pogatchnik, op. cit., nota 5, e de John Roach, “Are Plastic Grocery Bags Sacking the Environment?”, National Geographic, 2/09/03. Capítulo 2. Escolhendo Melhor a Energia 1. “Mountaintop Mining”, Morning Edition, National Public Radio, 25 de junho de 2003; Environmental Media Services, “Mountaintop Removal Strip Mining”, 7/05/ 02, em Mining the Mountains Series, The Charleston Gazette Online, em www.wvgazette.com/static/series/mining; Penny Loeb, “The Coalfield Communities of Southern West Virginia: Mining’s Impact on Communities”, março de 2003, em www.wvcoalfield.com. 2. Eficiência das usinas a carvão, de U.S. Department of Energy (DOE), Office of Fossil Energy, “DOE Launches Project to Improve Materials for Supercritical Coal Plants”, press release (Pittsburg, PA: 16/10/01). 3. Consumo do petróleo, calculado pelo Worldwatch com dados de BP, Statistical Review of World Energy 2003 (Londres: junho de 2003), p. 38. 4. Aumentos 1850-1970, de John Holdren, “The Tradition to ostlier Energy”, in Lee Schipper et al., Energy Efficiency and Hyman Activity: Past Trends, Future Prospects (Cambridge, R.U.: Cambridge University Press, 1992), p. 7; população de Molly O. Sheehan, “Population Growth Slows”, in Worldwatch Institute, Vital Signs 2003 (Nova York: W.W. Norton & Company), p. 67; aumento em combustíveis fósseis até 2002, calculado pelo Worldwatch com dados de Janet L. Sawin, “Fossil Fuel Use Up”, in ibid, p. 35, de BP, op. cit., nota 3, p. 38; 28%, de DOE, Energy Information Administration (EIA), Energy in Africa (Washington, DC: Office e Energy Markets and End Use, 1999), p. 8. 5. Economia de energia, de Howard Geller, Energy Revolution: Policies for a Sustainable Future (Washington, DC: Island Press, 2003), p. 133; Amory B. Lovins, “U.S. Energy Security Facts (For a Typical Year, 2000)”, fact sheet (Snowmass, CO: Rocky Mountain Institute (RMI), 18/04/03). 6. Perdas americanas em 2000, de DOE, EIA, “Production and – Use Data”, em Annual Energy Review 1999 (Washington, DC: 2000) (observar que o DOE reconhece que utiliza premissas generosas de eficiência); Amory Lovins, “Twenty Hydrogen Myths”, fact sheet (Snowmass, CO: RMI, 2003), p. 11. 231 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 7. Europa Oriental, ex-nações soviéticas, países industrializados e participação no consumo de petróleo, de BP, op. cit., nota 3; aumento nos EUA, de DOE, EIA, Annual Energy Review 2001 (Washington, DC: 2002), com atualizações de International Petroleum Monthly, julho de 2002; parcela americana das reservas de Stacy C. Davis e Susan W. Diegel, Transportation Energy Data Book: Edition 22 (Oak Ridge, TN: Oak Ridge National Laboratory, setembro de 2002), pp. 1-6. 8. Relação do uso de energia e falta de acesso das Nações Unidas, WEHAB Working Group, A Framework for Action on Energy, elaborado para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Nova York: 2002), p. 7; 2,5 bilhões de “Facts About Energy”, Cúpula de Joanesburgo, 26/08-04/ 09/02; média americana calculada pelo Worldwatch, utilizando dados energéticos da BP, op. cit., nota 3, e de International Energy Agency (IEA), “Renewables in Global Energy Supply”, fact sheet (Paris: novembro de 2002). Dados energéticos incluem o uso tradicional da biomassa. Tabela 2-1 dos seguintes: energia total (excluindo biomassa nãocomercial) e eletricidade são dados de 2000 e emissões de dióxido de carbono (CO2) são dados de 1999, do Banco Mundial, World Development Indicators 2003 (Washington, DC: 2003), pp. 144-46, 148-50, 294-96; dados de petróleo são de 2002, da BP, op. cit., nota 3, e de www.nationmaster.com, exceto para Etiópia, que foram calculados pelo Worldwatch com dados estimados de 2001 da U.S. Central Intelligence Agency, The World Factbook: Ethiopia (Washington, DC: 2003). 9. Consumo de petróleo quadruplicando, da BP, op. cit., nota 3; crescimento da classe de consumidores indiana, do National Council of Applied Economic Research (NCAER), citado em Sunil Jain e Nandini Lakshman, “The Return 232 of the Consumer”, rediff.com (Índia), 7/06/03; famílias de desabrigados, do Office of the Registrar General, India, “Tables on Houses, Household Amenities and Assets: India”, Census of India 2001, abril de 2003, e de idem, “India at a Glance: Number of Households and Household Types”, Census of India 1991. 10. Consumo e aumento da renda, de Manoj Kumar, “Tryst with Developing World Consumers: A Case Study of India”, The ICFAI Journal of Marketing Management, novembro de 2002; classificação do consumo de petróleo, de estatísticas do DOE, EIA, em www.nationmaster. com. Quadro 2-1 dos seguintes: DOE, EIA, World Primary Energy Consumption, 1992-2001 (Washington, DC: 2003); IEA, World Energy Outlook (Paris: Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE – , 2002), p. 27; DOE, EIA, China Country Brief (Washington, DC: 2003); Lester R. Brown, Plan B (Nova York: W.W. Norton & Company, 2003), p. 11; NCAER, op. cit., nota 9; Sylvester Research Ltd., World Wave citado em Kumar, op. cit., esta nota; Neha Kaushik, “Durables Ownership Set to RiseNCAER Says Mid-Income Households Will Grow Rapidly”, The Hindu Business Line, 27/ 02/03; Lee Schipper, “Energy and Life: Indicators of the Link Between Energy, the Economy, and Lifestyles”, p. 6, e-mail à autora, 5/08/03; Oleg Dzioubinski e Ralph Chipman, Trends in Consumption and Production: House-hold Energy Consumption, Department of Economic & Social Affairs Discussion Paper nº 6 (Nova York: Nações Unidas, 1999), pp. 9-10; aumento nas vendas de automóveis em 2002 de “Car Sales Booming in China”, All Things Considered, National Public Radio, 17/09/03; crescimento da frota entre 2000-05 calculado com dados de ibid., de “China’s Private Car Ownership Tops 10 Million”, People’s Daily, 14/06/03, e de Liu Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 Wei, “China’s Demand of Cars to Exceed 4.2 Million in 2003”, People’s Daily, 30/07/03. 11. China – calculado com dados mundias da produção de petróleo e população, do DOE, EIA, International Energy Outlook 2003 (Washington, DC: 2003), Tables D2 e A15, e de idem, International Energy Annual 2001 (Washington, DC: 2003), Table 1.2; “Analysts Claim Early Peak in World Oil Demand”, Oil &Gas Journal Online, 12/08/02. 12. Parcela dos transportes, do IEA, World Energy Outlook 2000 (Paris: OECD, 2000), p. 25; parcela do consumo de petróleo, da União Européia (UE), “The EU and the World Summit on Sustainable Development: Partnerships for Sustainable Energy”, European Union Online, em europa.eu.int/comm./environment/wssd/ energy_en.html; Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), North America’s Environment: Thirty Year State of the Environment and Policy Retrospective (Washington, DC: 2002), p. xv; aumento acelerado, do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), Climate Change 2001: Mitigation (Cambridge, R.U.: Cambridge University Press, 2001), p. 368. 13. Mudança para meios mais intensivos, de UE, “Transport Overview – Market Overview and Trends: Past and Current Trends”, ATLAS Project, European Commission Online, em europa.eu.int/comm./ energy_transport/atlas/httml/, visitado em 16/ 05/03, e de Molly O’Meara Sheehan, “Escolhendo Melhor o Transporte”, em Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2001 (Salvador: UMA Editora, 2001), p. 111; passageiros de ibid., p. 106; carga e viagens aéreas, de Jean-Paul Rodrigue, “Transportation and Energy”, Hofstra University, em people .hofsra.edu/geotrans/ eng/ch8en/conc8en/ch8c2en.html, visitado em 09/05/03; caminhões, de Joseph Romm com Arthur Rosenfeld e Susan Herrmann, The Internet Economy and Global Warming (Washington, DC: Center for Energy and Climate Solutions, 1999), Capítulo V, p. 9. 14. Lee Schipper, Indicators of Energy Use and Efficiency: Understanding the Link Between Energy and Human Activity (Paris: OECD/IEA, 1997), p. 18; estatísticas de veículos de passeio, de Michael Renner, “Vehicle Production Inches Up”, em Worldwatch Institute, op. cit., nota 4, p. 56; adições anuais, de Lester Brown, “Paving the Planet: Cars and Crops Competing for Land”, Alert 12 (Washington, DC: Earth Policy Institute, fevereiro de 2001). 15. Parcela de automóveis nos EUA e contribuição para o aquecimento de Renner, op. cit., nota 14; parcela do consumo de petróleo de Karl H. Hellman e Robert M. Heavenrich, Light-Duty Automotive Technology and Fuel Economy Trends: 1965 Through 2003 (Washington, DC: U.S. Environmental Protection Agency (EPA), abril 2003), Executive Summary, p. 1; distância percorrida, de Dean Anderson, Progress Towards Energy Sustainability in OECD Countries, Rio+5 Report (Paris: Helio International, 1997); americanos preferindo dirigir, de Schipper, op. cit,. nota 14, p. 103; citação de Alan Pissarski, citada em Lisa Rein e Robin Shulman, “The Rise of the Multi-Car Family”, Washington Post, 19/07/03; licenças de Jane Holtz Kay, Asphalt Nation (Nova York: Crown Publishers, 1997), p. 271; carros por família, de Patricia S. Hu e Jennifer R. Young, Summary of Travel Trends: 1995 Nationwide Personal Transportation Survey (Washington, DC: U.S. Department of Transportation, Federal Highway Administration, 1999), pp. 9, 28. 233 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 16. Comparações com EUA, de Renner, op. cit., nota 14; causas de UE, op. cit., nota 13; Japão de Anderson, op. cit., nota 15; Polônia de Environment Policy Committee (EPC), Working Party on National Environmental Policy, Sustainable Consumption: Sector Case Study – Household Food Consumption: Trends, Environmental Impacts and Policy Responses (Paris: OECD, dezembro de 2001), p. 6; Ásia e Pacífico (inclui veículos de duas e três rodas, com motor de dois tempos) de “Making Polluters Pay”, ABD Review, maiojunho de 2002. Tabela 2-2 dos seguintes: 195090 da American Automobile Manufacturers Association, citado em Lynn Price et al., “Sectoral Trends and Driving Forces of Global Energy Use and Greenhouse Gás Emissions”, in Mitigation and Adaptation Strategies for Global Change, vol. 3, no. 2/4 (1998), pp. 263319; 1999 de Ward’s Communications, Ward’s Motor Vehicle Facts & Figures 2001 (Southfield, MI: 2001), pp. 50-53. 17. Tendências nos EUA, de Hellman e Heavenrich, op. cit., nota 15, p. 1, e de Danny Hakim, “Fuel Economy Hits 22-Year Low”, New York Times, 3/05/03; Modelo T de “Sierra Club Challenges Ford’s Fuel Economy at 100”, Reuters, 5/06/03; velocidade máxima, da Ford Motor Company, “Model ‘T’ Facts”, press release (Dearborn, MI: 22/05/03); metade das vendas nos EUA, de Hellman e Heavenrich, op. cit., nota 15, p. 3; outras tendências, da UE, op. cit., nota 13, de Anderson, op. cit., nota 15, e de Neha Kaushic, “More Car Per Car The Hindu Business Line, 10/04/03; David Healy, “The Number of Motor Vehicles in Use Worldwide Will Grow from 625 Million Today to 1 Billion”, Purchasing Magazine Online, 15/01/98. 18. Dados do RU, de Anderson, op. cit, nota 15; EU, “Performance by Mode of Transport, 234 EU15: 1970-2000”, ATLAS Project, EU Energy and Transport in Figures, European Commission Online, em europa.eu.int/comm./ energy_transport/ atlas/httmlu/; EUA, calculado com dados de Davis e Diegel, op. cit., nota 7, pp. 11-8. 19. Mortes de Sheehan, op. cit., nota 13, p. 110, e de “Study: Greenhouse Gas Cuts Could Aid Health”, USA Today, 22/07/02; custos externos de transporte rodoviário, de Sheehan, “Sprawling Cities Have Global Effects”, in Vital Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton & Company, 2002), pp. 152-53; e desigualdades sociais e um terço da população dos EUA, de Kay, op. cit., nota 15, p. 33. 20. Estados Unidos lideraram em transportes públicos, de Transportation Research Board (TRB), National Research Council, Making Transit Work: Insight from Western Europe, Canada, and the United States, Special Report 257 (Washington, DC: National Academy Press, 2001), p. 2; trens, de Kay, op. cit., nota 15, pp. 166, 192; tendências pós-guerra, de ibid., pp. 224-33, e de TRB, op. cit., esta nota, p. 4; subsídios para passageiros de Matthew Daly, “Congressman Considers Tax Breaks for Cyclists”, Anchorage Daily News, 22/03/03; queda de passageiros nos EUA, de Sheehan, op. cit., nota 13, p. 117; Michael Powell, “Licensed to Drive? Forget about it! Most New Yorkers Do Without Wheels”, Washington Post, 19/08/03; Denver de Surface Transportation Policy Project, “Transit Grows Faster than Driving for Fifth Year in a Row”, press release (Washington, DC: 17 de abril de 2002). 21. Políticas de trânsito e pedágio, de TRB, op. cit., nota 20; tendências pós-guerra, de “Reducing the City’s Footprint”, em UN HABITAT, The State of the World Cities Report 2001 (Nairobi: 2001), e de Kay, op. Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 cit., nota 15, pp. 233, 318-19; Tóquio, de Un Habitat, op. cit., esta nota; Japoneses, de Lee Schipper, Scott Murtishaw, and Fridtjof Unander, “International Comparisons of Sectoral Carbon Dioxide Emissions Using a Cross-Country Decomposition Technique, Energy Journal, vol. 22, nº 2 (2001), p. 35-75; parcela dos EUA e Europa Ocidental, de TRB, op. cit., nota 20, p. 1; parcela e relação do uso de petróleo do Canadá, de Robert J. Shapiro, Kevin A. Hassett e Frank S. Arnold, The Benefits of Public Transportation: Conserving Energy and Preserving the Air We Breathe, em www.punlictransportation .org/pdf/preservingair. pdf. 22. Crescimento mais acelerado de IEA, Energy Efficiency Initiative Volume I (Paris: OECD, 1998), p. 17, e de EU, “Transport Overview – Over-all Market Drivers”, ATLAS Project, European, Commission Online, em Europe,eu.int/comm./energy_transport/atlas/ htmlu/tomarpast.html, visitado em 16/05/03; créditos fiscais de Lee Douglas, “Oregon Moves to Claw Back Bush’s Big SUV Tax Break”, Reuters, 27/06/03 (tecnicamente, este é um subsídio para agricultura que dá uma brecha para os SUVs). 23. Eficiência moderna dos motores, de National Clean Bus Project, “Fact Sheet on Clean Buses: Protecting Public Health, the Environment and Providing Greater Energy Security”, distribuído na reunião do Environmental and Energy Study Institute, Washington, DC, 13/05/03, p.5; Danny Hakim, “Hybrid Cars Are Catching On”, New York Times, 28/01/03; vendas americanas, de “Toyota, Nissan Join Hands for Hybrid Cars”, IndiaCar.net, 3/09/02. Quadro 2-2 dos seguintes: potencial de economia de combustíveis no curto prazo, de Chris Baltimore, “US Must Cut Auto Greenhouse Gases-Research Group”, Reuters, 2/06/03; economia tripla, de Robert U. Ayres, “A Energia que Desperdiçamos”, World Watch, nº 6, 2001, p. 35; eficiência aumentando o consumo, da UE, op. cit. nota 22, e de Horace Herring, “Does Energy Efficiency Save Energy? The Debate and Its Consequences”, Applied Energy, julho de 1999, pp. 209-26. 24. Rosa Moreno, Greenpeace Chile, discussão com a autora, 27/06/03. 25. “Bogotá Car Free Day Creates New Model for Organising Transportation in World Cities”, em www.challenge.stockholm.se/ feature_ right.asp? Id Nr 5; Tooker Gomberg, “How Bogotá Beat today from ‘Car Free City”’, Habitat Newsletter, junho de 2001; other cities from UN HABITAT, Cities in a Globalizing World: Global Report on Human Settlements 2001 (Sterling, VA: Earthscan Publications, 2001), p. 142. 26. Velocidade dos motoristas em Londres e outras cidades, de Transport for London (TFL), em www.tfl.gov.uk/tfl/cc_intro.shtml; 25% de TFL Press Centre, press release (Londres: 17/ 02/03 a 10/04/03), e de TFL, Central Londres Congestion Charging Scheme: Three Months On (Londres: Congestion Charging Division, junho de 2003). 27. “ACCESS – EUROCITIES for a New Mobility Culture: Introduction”, em www.access-EUROCITIES.org; “Zermatt – General Information: Zermatt – The Village without Cars”, Agência de Turismo de Zermatt, em www.zermatt.ch/e/in_general; Freiberg e escolhendo liberdade de carros, de Sam Tracy e Mark Peterson, “How & Why To Be AutoFree”, The Twin Cities Green Guide, em www.thegreenguide.org; Comunidades alemãs de “Bremen: A Car Free City”, em www.epe.be/ workbooks/tcui/example7.html. 235 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 28. IPCC, op. cit., nota 12, p. 91; crescimento mais acelerado, da United States Energy Association, USEA Climate Change Mitigation Option Hand-book, versão 1.0 (Washington, DC: junho de 1999), Capítulo 7. 29. Consumo do IEA, Cool Appliances: Policy Strategies for Energy Efficient Homes (Paris: OECD, abril de 2003), p. 11; participações diferentes, de Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10, pp. 1-3, 5, 9-10. 30. Um quarto, de “Housing”, em Unhabitat, op. cit., nota 21; Crescimento e tamanho das residências nos EUA conforme a National Association of Home Builders, citado em Elizabeth Chang, “And How Do We Heat those Starter Castles?” Washington Post, 16/ 02/03; tamanho na Europa, de ENERDATA/ Odyssee, citado em European Environment Agency, “Indicator Fact Sheet Signals 2001 – Chapter Households” (Copenhague: 2001); Japan Information Network, “Social Environment: Housing”, em www. jinjapan.org/today/society; Japan Lumber Journal, citado em U.S. Department of Agriculture, Foreign Agricultural Service, Forest Products Trade Policy High-lights – junho de 2000 (Washington, DC: 2000); Africanos baseados no espaço médio de 8 metros quadrados por pessoa nas cidades, encontrado em “Housing”, op. cit., esta nota. 31. Maior consumo em virtude de domicílios menores, de Schipper, op. cit., nota 10, p. 11. 32. IEA, “IEA Study Shows to Save Energy and Reduce Harmful Emissions by Using More Efficient Domestic Appliances”, press release (Paris: 16/04/03); saturação de World Energy Council (WEC), “Labeling and Efficiency Standards”, in Energy Efficiency Policies and Indicators (Londres: 2001); tamanho de refrigeradores, de idem, “Annex 1 – Case Studies in Energy Efficiency Policy 236 Measures: United States of America”, in ibid, cooling systems from DOE, EIA, “Changes in Energy Usage in Residential Housing Units”, em The 1997 Residential Energy Consumption Survey – Two Decades (Washington, DC: 1997), Quadro 2-3 dos seguintes: “Cold Water Poured on IT’s Environmental Pluses”, Environment Daily, 11/06/03; N. Cohen, “The Environmental Impacts of E-Commerce”, em L.M. Hilty e P. W. Gilgen, eds., Sustainability in the Information Society, 15th International Symposium on Informatics for Environmental Protection (Marburg, Alemanha: Metropolis Verlag, 2001); Klaus Fichter, “E-Commerce Sorting Out the Environmental Consequences”, Journal of Industrial Ecology, vol. 6, no. 2 (2003); John A. Laitner, “Information Technology and U.S. Energy Consumption: Energy Hog, Productivity Tool, or Both?” Journal of Industrial Ecology, vol. 6, nº 2 (2003); “Computer Related Electricity Use Overestimated”, Environment News Service, 5/02/01; I. Greusing e S. Zangl, “Comparing Print and Online-Mail Order Catalogues, Consumer Acceptance, Environmental and Economical Analysis”, IZT-Discussion Paper nº 44 (Berlim: Innovation Center for Telecommunication Technology, 2000); Dawn Anfuso, “Readers Prefer Paper to Online”, Media Connection.com, 25/04/02; E. Heiskanen et al, Dematerialization: The Potential of ICT and Services (Helsinki: Finnish Ministry of the Environment, 2001); D. Takahashi, “Power Integrations’ Chip Cuts Appliance Power Waste”, Down Jones Newswires, 25/09/98; DOE, Office of Energy Efficiency and Renewable Energy, Technology Snapshots Featuring the Toyota Prius (Washington, DC: 2001); Patrick Mazza, The Smart Energy Network: Electricity’s Third Great Revolution (Olympia, WA: Climate Solutions, 2003). Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 33. Projeções e parcela stand-by, de IEA, op. cit., nota 29, p. 12; capacidade adicional calculada pelo Worldwatch, assumindo um fator de capacidade de 75%, 7% de perdas em transmissão e distribuição, utilizando projeções da demanda energética de 2020 (uso final) para OCDE, de IEA, op. cit., nota 10, p. 414, e assumindo que uma tonelada de petróleo equivalente seja igual a aproximadamente 12 megawatt/horas de eletricidade, conforme observado em BP, op. cit., nota 3; emissões de CO2 calculadas pelo Worldwatch com dados do IEA, op. cit., nota 10, p. 417. 34. Necessidades construtivas dos países em desenvolvimento, de Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10, pp. 5, 9-10, e de Sujay Basu, Report on India Energy Scene, Rio+5 Report (Paris: Helio International, 1997); três quartos dos indianos, de Office of the Registrar General, “Tables on Houses, Household Amenities and Assets: India”, op. cit., nota 9, e de idem, “India at a Glance”, op. cit., nota 9. Tabela 2-3 dos seguintes: Schipper, op. cit., nota 14, p. 144; Scott Murtishaw e Lee Schipper, “Disaggregated Analysis of U.S. Energy Consumption in the 1990s: Evidence of the Effects of the Internet and Rapid Economic Growth”, Energy Policy 29 (2001, p. 1347; IEA, citado em EPC, op. cit., nota 16, p. 28; National Bureau of Statistics, China Statistical Yearbook (Beijing: National Statistical Press, vários anos); IEA, op. cit., nota 28, p. 35. 35. Crescimento da demanda desde 1990, calculado pelo Worldwatch com dados do IEA, op. cit., nota 10, pp. 410-11, 458-59; consumo de energia relativo à renda, de Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10, p. 4; triplicação do consumo de energia, de Mark Levine et al., Energy Efficiency Improvement Utilising High Technology: An Assessment of Energy Use in Industry and Buildings (Londres: WEC, 1995); televisores de Matthew Bentley, “Forging New Paths to Sustainable Development”, Background Paper, Asia Pacific Expert Meeting on Promoting Sustainable Consumption and Production Patterns, Yogyakarta, Indonésia, 21-23/05/03, p. 3; refrigerados na Índia, de Jain e Lakshman, op. cit., nota 9; projeções do IEA, op. cit., nota 10, p. 29. 36. Economia de energia nos EUA, do American Council for an Energy-Efficient Economy (ACEEE), “Energy Efficiency Progress and Potential”, fact sheet (Washington, DC: sem data); economia financeira, de Stephen Meyers et al., Realized and Prospective Impacts of U.S. Energy Efficiency Standards for Residential Appliances (Berkeley, CA: Lawrence Berkeley National Laboratory, junho de 2002), pp. 2141; Europa de WEC, op. cit., nota 32; melhorias potenciais durante a próxima década do IEA, op. cit., nota 32; melhorias até 2030, do IEA, op. cit., nota 29, p. 17. 37. Economia potencial e barreiras, de Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10, p. 3; economia na Tailândia, de Jas Singh e Carol Mulholland, “DSM in Thailand: A Case Study”, Parceria Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)/ Banco Mundial, Energy Sector Management Assistance Programme, Washington, DC, outubro de 2002, pp. 1, 8; parcela de refrigeradores eficientes, do governo da Indonésia e PNUMA, op. cit., nota 35, p. 17; Brasi,l de Steven Nadel, Appliance Energy Efficiency: Opportunities, Barriers, and Policy Solutions (Washington, DC: ACEEE, outubro de 1997), pp. 10-11. No Brasil, quando metas não são atingidas, as normas tornamse obrigatórias. 38. Donald W. Aitkin, Putting it Together: Whole Buildings and a Whole Buildings 237 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 Policy, Research Report No. 5 (Washington, DC: Renewable Energy Policy Project, setembro de 1998), p. 6; EU, “Buildings Overview – Market Overview and Trends”, ATLAS Project, European Commission Online, em europa.eu.int/comm./ energy_ transport/atlas/htmlu/bomarover.html, visitado em 16/05/03; novas residências nos EUA de U.S. Census Bureau, “New Residential Construction in April 2003”, fact sheet (Suitland, MD: 16/05/03). 39. Economia potencial de Ayres, op. cit., nota 23, p. 35; Califórnia de David Goldstein, Natural Resources Defense Council, São Francisco, CA, discussão com a autora, 26/09/03. 40. Ken Gewertz, “Pushing the Envelope: The Skin’s the Thing for Conserving a Building’s Energy”, Harvard Gazette, 19/07/01). 41. Lee S. Windheim at al., “Case Study: Lock-heed Building 157–An Innovative Deep Day-lighting Design for Reducing Energy Consumption”, citado em Aitkin, op. cit., nota 38, p. 8; 34% de iluminação e RMI de Ellen Pfeifer, “Light: The Future is Green”, Winslow Environmental News, julho de 2000, p. 1; economia de dinheiro e saúde, de ibid., p. 5, e de Windheim et. al., op. cit. esta nota, p. 8. 42. “First ‘Green’ High Rise Residential Building in the World”, Real Estate Weekly, 2/10/02, “Governor Pataki Unveils the Solaire, First ‘Green’ Residential Tower in U.S.”, Silicon Valley Biz Ink, 5/09/03; “Powerlight/ Toyota Achieve Gold Building Standard”, Solar Access.com, 23/04/03. 43. Instalações de PVs no Japão, de Paul Maycock, PV News, maio de 2003, p. 5; perdas do Banco Mundial, World Development Report 1997 (Nova York: Oxford University Press, 1997), e de Indian Planning Commission, Annual 238 Report on the World of State Electricity Boards and Electricity Departments, citado em M. S. Bhalla, “Transmission and Distribution Losses (Power)”, em Proceedings of the National Conference on Regulation in Infrastructure Services: Progress and Way Forward (New Delhi: The Energy and Resources Institute, novembro de 2000). 44. Economia energética, de Alexis Karolides, “An Introduction to Green Building. Part 3: Other Green Building Considerations”, RMI Solutions Newsletter, verão 2003, p. 13; Thor Magnusson, A Showease of Icelandic Treasures (Reykjavik: Icelandic Review, 1987), citado em “Exploring the Ecology of Organic Greenroof Architecture: History”, em www.greenroofs.com/history.htm; Alemanha, de ibid.; Chicago and Amsterdam from “North American Case Studies”, em www. greenroofs.com/north_american_ cases.htm; Ford Motor Company, “Ford Installs World’s Largest Living Roof on New Truck Plant”, press release (Dearborn, MI: 3/06/03). 45. Maior parcela de consumo global do IEA, op. cit., nota 10, p. 28; crescimento setorial e consumo de energia de Lee Schipper et al., “Energy Use in Manufacturing in Thirteen EOCD Countries: Long Term Trends Through 1995”, Lawrence Berkeley National Laboratory, minuta de trabalho, 13/08/98, p. 3. 46. Intensidade crescente de Stuart Baird, “Heavy Industry”, em www.iclei.org/EFACTS/ HEAVY.HTM, e de Ted Trainer, “The ‘Dematerialisation’ Myth”, Technology in Society, vol. 23 (2001), pp. 505-14; Austrália, de Ted Trainer, A Critical Discussion of Future Dilemmas (Victoria, Australia: Commonwealth Scientific & Industrial Research Organisation, maio de 2002). 47. Tracy Mumma, “Reducing the Embodied Energy of Buildings”, Home Energy Magazine Online, janeiro/fevereiro de 1995. Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 48. Energia utilizada na fabricação de veículos, de “Household Greenhouse Gas Emissions Questionnaire”, Alternatives Journal, spring 2000; energia total associada aos carros de R. A. Herendeen, Ecological Numeracy (Nova York: John Wiley & Sons, 1998), e de M. Wackernaged and W. Rees, Our Ecological Footprint (Gabriola Island, BC, Canadá: New Society Publishers, 1996); Redefining Progress, Ecological Footprint Accounts (Oakland, CA: sem data). 49. DOE, op. cit., nota 7, p. 49. 50. Energia para recolher alimentos, de EPC, op. cit., nota 16, pp. 30, 37; necessidades energéticas para viagens a longas distâncias, de Brian Halweil, Home Grown: The Case for Local Food in a Global Market, Worldwatch Paper 163 (Washington, DC: Worldwatch Institute, novembro de 2002), p. 15; fonte crescente de emissões da Policy Commission on the Future of Farming and Food, Food & Farming: A Sustainable Future (Londres: janeiro de 2002), p. 92. 51. Consumo pelo sistema alimentício global, calculado pelo Worldwatch com dados de David Pimentel, Cornell University, e-mail à autora, 23/07/03, e de BP, op. cit., nota 3; Pimentel, op. cit., esta nota. 52. William Moomaw, diretor internacional, Programa de Políticas Ambientais e de Recursos, Faculdade Fletcher de Direito e Diplomacia, Universidade Tufts, discussão com a autora, 5/08/03. 53. Diferenças nos preços de energia, de Baird, op. cit., nota 46; eficiências de setores industriais e salto, de IPCC, op. cit., nota 12, p. 112. 54. Alumínio, de Baird, op. cit., nota 46. 55. Preços como fatores fundamentais, de WEC, “Efficiency of Energy Supply and Use”, em Energy for Tomorrow’s World – Acting Now! (Londres: 2000), p. 3; impacto dos preços na intensidade energética, de Schipper et al., op. cit., nota 45, p. 12, e de Anderson, op. cit., nota 15. 56. Papel dos preços, de Schipper et al., op. cit., nota 4, pp. 205-06. 57. Impacto dos impostos, de Lee Schipper, “Lifestyles and the Environment: The Case of Energy”, in Technological Traectories and the Human Environment (Washington, DC: National Academy Press, 1997), p. 100; Dinamarca, de Eurostar, citado em Consultores em Transportes Inovação e Sistemas et al., “Study on Vehicle Taxation in the Member States of the European Union”, Relatório Final, elaborado para a Comissão Européia, DG Taxation and Customs Union, janeiro de 2002, p. 11. 58. Dedução fiscal nos EUA, de W. Gentry, “Residential Energy Demand and the Taxation of Housing,”, citada em Schipper, Murtishaw, e Unander, op. cit., nota 21; Suécia, de Schipper, op. cit., nota 57, pp. 100-01; “Annex I – Case Studies on Energy Efficiency Policy Measures: Japan”, em WEC, op. cit., nota 32. 59. Eric Lombardi, Take It Back! (Boulder, CO: Eco-cycle, 2000). 60. Subsídios em meados dos anos 90, em PNUD, World Energy Assessment 2000, citado em Group of Eight (G8) Renewable Energy Task Force, G8 Renewable Energy Task Force Final Report 2001 (Londres: 2001), p. 34; reduções nos anos 90, de Geller, op. cit., nota 5, p. 2; infra-estrutura e industrialização, de Alan Durning, How Much Is Enough? (Nova York: W.W. Norton & Company, 1992), p. 110. 61. Consumo de energia na Coréia do Sul, de Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10, pp. 7-8; subsídios a quem não precisa, de Un 239 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 Habitat, op. cit., nota 25, pp. 138, 142; Mark Ashurst, “Nigeria Tackles Fuel Subsidies”, BBC News, 18/07/03. 62. Daphne Wysham, Sustainable Development South and North: Climate Change Policy Coherence in Global Trade and Financial Flows (Washington, DC: Institute for Policy Studies, março de 2003), pp. 3-4. 63. A meta é induzir emissões 25% abaixo dos níveis de 1990 até 2005; Embaixada da Alemanha, Germany’s Ecological Tax Reform, Background Paper (Washington, DC: sem data). 64. Alemanha e Dinamarca, de Janet L. Sawin, “Charting a New Energy Future”, em Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2003 (Nova York: W.W. Norton & Company, 2003), p. 104; demanda de energia verde até o final de 2002, de Lori Bird and Blair Swezey, Estimates of Renewable Energy Developed to Serve Green Power Markets in the United States (Golden, CO: National Renewable Energy Laboratory, fevereiro de 2003); Califórnia, de “Students, Activists Win Clean Energy Campaign”, Solar Access.com, 21 July 2003, and from “Berkeley, CA, USA: University of California Approves CleanEnergy and Green-Building Policy”, SolarBuzz.com, 18/07/03. 65. Energie-Cités. “Brussels Declaration for a Sustainable Energy Policy in Cities”, e m w w w. e n e r g i e - c i t e s . o rg / P D F / avis_bruxelles_en.pdf; municípios holandeses, de “Groningen, The Car-Free City for Bikes”, em www.globalideas bank.org/sociny/SIC-100.HTML; estacionamento de bicicletas, de “Bicycles and Transit: Europe and Japan”, em Charles Komanoff, ed., Bicycle Blueprint, 1999); alemães e suíços de “Reduction of Air Pollution”, CarSharing Co-op of Edmonton, em www.web.net; comunidades e membros, 240 de “More Car Sharing in Europe”, Passenger Transport (American Public Transportation Association), 22/07/02; América do Norte, de David Steinhart, “Car Sharing: An Idea Whose Time Has Come?” Financial Post, 4/05/02; cidades dos EUA e países, de Car-Sharing Network, em www.carsharing.net/where.html. 66. Ecovilas, de gen.ecovillage.org; Califórnia, de Charles A. Goldman, Joseph H. Eto, e Galen L. Barbose, California Customer Load Reductions During the Electricity Crisis: Did They Help to Keep the Lights On? (Berkeley, CA: Lawrence Berkeley National Laboratory, 2002), pp. 23-25; Desenvolvimento de Emissões Zero e citação de Greg Rasmussen, “The Kyoto Protocol: The British Approach”, CBC Radio, julho de 2002. 67. Relacionamento empírico, de Amulya Reddy, “Energy Technologies and Policies for Rural Development”, in Thomas B. Johansson e José Goldemberg, eds., Energy for Sustainable Development: A Policy Agenda (Nova York: PNUMA, 2002), pp. 117-19; Carlos Suárez, “Energy Needs for Sustainable Human Development”, em José Goldemberg e Thomas B. Johansson, eds., Energy as an Instrument for Socio-Economic Development (Nova York: PNUD, 1995) (utilizando dados do PNUD de 1991-92 de 100 nações industrializadas e em desenvolvimento); níveis de consumo nacional, do Banco Mundial, op. cit., nota 8, pp. 144-46. 68. Robert Prescott-Allen, The Wellbeing of Nations: A Country-by-Country Index of Quality of Life and the Environment (Washington, DC: Island Press/IDRC, 2001), pp. 267-68. Tabela 2-5 dos seguintes: classificações de bem-estar, de ibid., pp. 26768; classificação e participação no consumo de energia da Suécia: valores calculados pelo Worldwatch com dados de 1999 do IEA, Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 2 E COMPUTADORES citados em World Resources Institute et al., World Resources 2002-2003 (Washington, DC: 2003), pp. 262-63. 69. Qualidade degradada de vida do Centro de Ciências Ecológicas, Energy Efficiency and Sustainability: New Paradigms (Instituto Indiano de Ciências de Nova Délhi, sem data); registros de Xangai, de “Car Sales Booming in Chine”, op. cit, nota 10. 70. Parcela da população nos países em desenvolvimento, do DOE, EIA, International Energy Outlook 2002 (Washington, DC: 2002), pp. x-xi. 71. População, de U.S. Bureau of the Census, International Data Base, electronic database (Suitland, MD: atualizado em 10/10/ 03), e de Nações Unidas, World Population Prospects: The 2002 Revision (Nova York: 2003), p. 1; consumo em 2050, calculado pelo Worldwatch com dados do DOE, op. cit., nota 8, p. 146. Isso assume que a participação do mundo em desenvolvimento na população mundial permanece estável. 72. Donald J. Johnston, Secretário-Geral l, OCDE, discurso proferido no Seminário Ministerial Informal sobre Energia, em Pamplona, Espanha, 26-28/04/02. Computadores 1. Eric D. Williams, Robert U. Ayres e Miriam Heller, “The 1.7 Kilogram Microchip: Energy and Material Use in the Production of Semiconductor Devices”, Environmental Science and Technology, 15/12/02, pp. 550410; Curtis Runyan, “Microchips Is Heavy”, World Watch, março/abril de 2003, p. 8. 2. Ann Hwang, “Semiconductors Have Hidden Costs”, in Worldwatch Institute, Vital Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton & Company, 2002), pp. 110-11; Silicon Valley Toxics Coalition, “Four Case Studies of HighTech Water Exploitation and Corporate Welfare in the Southwest”, em svtc.igc.org/resource/ pubs/execsum. htm, visitado em 11/09/03; “locais de lixo tóxico” refere-se a sítios da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, vide Hwang, op. cit., esta nota. 3. Dados de 1998 da International Telecommunication Union (ITU) in World Bank, World Development Indicators Database, em media.world bank.org/secure/ data/qquery.php, visitado em 12/08/03; dados de 2002 de idem, Internet Indicators: Hosts, Users, and Numbers of PCs, em www.itu.int/ITU-D/ict/statistics, visitado em 15/07/03; Silicon Valley Toxics Coalition (SVTC), “Toxics in a Computer”, fact sheet, em www.svtc.org/cleance/pubs/ computertoxics.pdf, visitado em 03/07/03; Ian Fried, “Recycling Not Easy for PC Makers,” CNET News.com,22/04/03; SVTC et al., Poison PCs and Toxic TVs: California’s Biggest Environmental Crisis That You’re Never Heard Of (San Jose, CA: junho de 2001), p. 13. 4. Basel Action Network (BAN) e SVTC, Exporting Harm: The High-Tech Trashing of Asia (Seattle, WA, e San Jose, CA: fevereiro de 2002), pp. 5-6; SVTC et al., op. cit., nota 3, p. 6; National Safety Council, Electronic Product Recovery and Recycling Baseline Report: Recycling of Selected Electronic Products in the United States (Washington, DC: maio de 1999), p. 13. 5. BAN e SVTC, op. cit., nota 4, pp. 6-7,9, 18; SVTC et al., op. cit., nota 3, p. 15. 6. BAN e SVTC, op. cit., nota 4, pp. 2-3, 78, 12-13, 28. 7. Ibid., pp. 16, 18-19. 8. Ibid., pp. 17-21, 30-32. 9. Ibid., pp. 8, 42. 241 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 3 Capítulo 3. Incrementando a Produtividade Hídrica 1. Para uma análise da situação dos ecossistemas de água doce e biodiversidade, vide Sandra Postel e Brian Richter, Rivers for Life: Managing Water for People and Nature (Washington, DC: Island Press, 2003). 2. Igor A. Shiklomanov, Assessment of Water Resources and Water Availibility in the World (São Petersburgo, Rússia: Instituto Hidrológico Nacional, 1996); World Commission on Dams (WCD), Dams and Development (Londres: Earthscan, 2000). 3. Participação setorial, do Banco Mundial, World Development Indicators (Washington, DC: 2001). 4. Robert Costanza et al., “The Value of the World’s Ecosystem Services and Natural Capital”, Nature, 15/05/97, pp. 254-60. 5. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Afghanistan: Post-Conflict Environmental Assessment (Nairobi: 2003), p. 62. 6. Postel e Richter, op. cit., nota 1. 7. Murray-Darling from “Drying Out”. The Economist, 12 July 2003, p. 38; Australia, South Africa, and Hawaii examples from Postel and Richter, op. cit., nota 1. 8. Produtividade hídrica definida como produto interno bruto (PIB) real em 2000, expresso em dólares dos Estados Unidos, dividido pelas extrações estimadas de água em 2000. Figura 3-1 dos seguintes: dados de extração de água para todos os países, exceto EUA, da Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura (FAO), Aquastat database, em www.fao.org/ag/agl/aglw/ aquastat/dbase/index2.jsp; extrações dos EUA 242 extrapoladas de dados de série de tempo em U.S. Geological Survey (USGS), Estimated Use of Water in the United States in 1995 (Reston, VA: 1997); PIB real, de Angus Maddison, The World Economy: A Millennial Perspective (Paris: Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, 2001), convertido para dólares de 2000 através do deflator implícito de preços do PIB dos EUA, do Bureau of Economic Analysis, em www.bea.doc.gov/bea/dn/ nipaweb/NIPATableIndex.htm. 9. Produtividade hídrica definida como produto interno bruto (PIB) real em 2000, expresso em dólares dos Estados Unidos, dividido pelas extrações estimadas de água em cada ano. Figura 3-2 dos seguintes: dados de extração de água de 1950-95 de USGS, op. cit., nota 8, convertidos em dólares de 2000 através do deflator implícido de preços do PIB dos EUA, do Bureau of Economic Analysis, op. cit., nota 8; a cifra de 2000 é uma extrapolação baseada nas extrações de 1995 à mesma taxa de mudança em extrações ocorridas entre 1990 e 1995, combinadas com o PIB real. 10. FAO, Review of World Water Resources by Country (Roma: 2003). A fim de evitar contagem dupla, utilizamos a medida de recuros hídricos renováveis internos, que exclui água fluindo de outros países. 11. Cifras de oferta de água renovável nacional, da FAO, op. cit., nota 10; cifras da Planície Norte da China e citação de Jeremy Berkoff, “China: The South-North Water Transfer Project – Is It Justified?” Water Policy, fevereiro de 2003, pp. 1-28; vazão do Rio Amarelo e tendências de água subterrânea, de Sandra Postel, Pillar of Sand (Nova York: W.W. Norton & Company, 1999), pp. 67-69, 76. 12. Extrações de água são estimativas, e não quantidades medidas, e sua exatidão pode variar de um país para outro. Tabela 3-1 dos Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 3 seguintes: extrações per capita de água para todos os países, exceto os EUA, da FAO, op. cit. nota 8; extrações per capita de água dos EUA extrapoladas de dados de série de tempo em USGS, op. cit., nota 8, e da estimativa populacional em FAO, op. cit., nota 8; parcela de terras agrícolas irrigadas, de Postel, op. cit., nota 11, p. 42. 13. Precipitação de Phoenix, de National Climatic Data Center, National Oceanic and Atmospheric Administration, U.S. Climate at a Glance database, em www.ncdc.noaa.gov/ oa/climate/research/cag3/cag3.html, visitado em 14/08/03; “The Ethiopian Famine”, New York Times, 28/07/03. 14. Nações Unidas; Water for People, Water for Life: The Nações Unidas World Water Development Report (Paris: UNESCO Publishing and Berghahn Books, 2003), p. 113; abastecimento natural da Indonésia, de FAO, op. cit., nota 10, p. 80. 15. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp. 11012; Tabela 3-2 da Organização Mundial de Saúde, Programa Conjunto de Monitoração da OMS/UNICEF, Global Water Supply and Sanitation Assessment 2000 Report, disponível em www.who.int/water_ sanitation_health/Globassessment/ GlobalTOC.htm. 16. OMS e UNICEF, op. cit., nota 15; D. Kirk Nordstrom, “Worldwide Occurrences of Arsenic in Ground Water”, Science, 21/06/02, pp. 2143-45. 17. “Water Affairs and Forestry”, South Africa Yearbook 2002/3, em www.gcis.gov.za/docs/ publications/ yearbook/ch23.pdf, visitado em 11/06/03; cifra de 6 milhões, de “South Africa: A Water Success Story”, em www-dwaf,pww.gov.za/ Communications/Articles/Minister/2003/ South%20Africa%a%20water%20success %20story.doc, visitado em 09/06/03. 18. Tarifas em duas faixas, de John Peet, “Priceless: A Survey of Water”, The Economist, 19 de julho de 2003, pp. 3-16; exemplo de Joanesburgo, de Ginger Thompson, “Water Tap Often Shut to South Africa Poor”, New York Times, 29/05/03. 19. Participação da agricultura do Banco Mundial, op. cit., nota 3; projeçõs de Mark W. Rosegrant, Ximing Cai e Sarah A. Cline, World Water and Food to 2025 (Washington, DC: International Food Policy Research Institute, 2002). 20. “Irrigation Options”, WCD Thematic Review IV.2, conforme publicado em WCD, op. cit., nota 2, p. 46. 21. Stuart Styles, Irrigation Training and Research Center, California Polytechnic State University, San Luis Obispo, CA, e-mail aos autores, 30/06/03. 22. Postel, op. cit., nota 11, pp. 172, 174. 23. Cifras de 3,2 milhões de hectares, de Hervé Plusquellec e Walter Ochs, Water Conservation: Irrigation, Water Resources and Environment Technical Note F.2 (Washington, DC: Banco Mundial, 2003), p. 20. Tabela 3-3 dos seguintes: áreas de 1991, de Sandra Postel, Last Oasis (Nova York: W.W. Norton & Company, 1992), p. 105, que foram compiladas de uma variedade de áreas, de cerca de 2000, da Comissão Internacional sobre Irrigação e Drenagem, em www.icid.org/index_e.html, visitado em 30/06/ 03, exceto para Chipre, Brasil, Chile e México, com cifras de 2000 da FAO, op. cit., nota 8, para Israel, com estimativas de 2000, do Ministério de Agricultura de Israel, de acordo com Saul Arlosoroff, diretor, National Water CorporationMekorot, Tel Aviv, Israel, e-mail aos autores, 6/ 08/03, e para os Estados Unidos, com estimativa 243 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 3 de 1998, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, 1998 Farm & Ranch Irrigation Survey, Census of Agriculture, em www.nass.usda.gov/census/census97/fris/ tb104.txt>http://www.nass.usda.gov/census/ census97/fris/tb104.txt. 24. L. C. Guerra et al., Producing More Rice with Less Water from Irrigated Systems (Colombo, Sri Lanka: International Water Management Institute (IWMI), 1998), p. 11; R. Barker, Y. H. Li, and T. P. Tuong, eds., WaterSaving Irrigation for Rice, Ata de um Workshop Internacional em Wuhan, China, 23-25 de março de 2001 (Colombo, Sri Lanka: IWMI, 2001). 25. Plusquellec e Ochs, op. cit., nota 23, p. 22. 26. FAO, The State of Food Insecurity in the World (Roma: 1999); Sandra Postel et al., “Drip Irrigation for Small Farmers: A New Initiative to Alleviate Hunger and Poverty”, Water International, março de 2001, pp. 3-23. 27. P. Polak, B. Nanes e J. Sample, “Opening Access to Affordable Micro-Plot Irrigation for Small Farmers”, apresentado no Simpósio da Associação de Irrigação sobre Irrigação em Pequenas Propriedades, Orlando, FL, 1999; International Development Enterprises (IDE), discussão com Sandra Postel, junho de 2003; vide também Web site da IDE em www.ideinternational.org. 28. Distrito de Alwar, de Himanshu Thakkar, “Assessment of Irrigation in India”, 8 November 1999, Contributing Paper for “Irrigation Options”, WCD Thematic Review IV.2, em www.dams.org/docs/kbase; vide também Anil Agarwal e Sunita Narain, eds., Dying Wisdom (New Delhi, India: Centre for Science and Environment em www.cseindia.org. 244 29. Tabela 3-4 baseada em dados em D. Renault e W. W. Wallender, “Nutritional Water Productivity and Diets”, Agricultural Water Management, agosto de 2000, pp. 275-96. 30. Necessidades dietéticas de água de ibid.; a variante média da projeção populacional dos EUA para 2025 é de 358 milhões conforme as Nações Unidas, Divisão de População, World Population Prospects: The 2002 Revision and World Urbanization Prospects: The 2001 Revision (Nova York: 2003 e 2002). 31. Nações Unidas, World Population Prospects, op. cit., nota 30. 32. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp. 16061; cidades reclamando menos de 10%, do Banco Mundial, op. cit., nota 3. Quadro 3-1 dos seguintes: capacidade de dessalinização e taxa de crescimento de Aqua Resources International, Desalination Market Analysis 2003 (Evergreen, CO: agosto de 2003); planos de Israel, do web site de “Eshkol, Nizzana and Ashkelon Desalination Plants, Israel”, para a Indústria Hídrica, em www.water-technology.net/projects/ israel/, visitado em 08/09/03; queda nas necessidades de energia e custo, de Allerd Stikker, “Desal Technology Can Help Quench the World’s Thirst”, Water Policy, fevereiro de 2002, pp. 47-55; 10-25%, de Amy Vickers, apresentação ao Programa Comunitário de Liderança Hídrica, em 2003, Florida Institute of Government, St. Petersburg, FL, 14/03/03. 33. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp. 160-61. 34. Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU, “Towards A Sustainable Future”, apresentado na Palestra Ambiental Anual do Museu de História Natural, Nova York, 14/05/02; “Water and the Fight Against Poverty”, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 3 (PNUMA), discurso do Diretor Geral sobre Água e o Combate contra a Pobreza – Seminário do Dia do Meio Ambiente, Beirut, Líbano, 5/ 06/03; “Leakage Control and the Reduction of Unaccounted-for Water (UFW)”, Ata do Simpósio Internacional sobre o Uso Eficiente da Água em Áreas Urbanas – Formas Inovadores de Buscar Água para as Cidades, 8-10/06/99; cidade árabe de PNUMA, “UNEP Urges Action to Better Manage the Globe’s Ground-waters”, press release (Nairobi: 5/06/ 03); “Taiwan Leaky Pipes Losing 1.97 Million Cubic Meters of Water Per Day”, 15/04/02, em fpeng.peopledaily.com.cn/200204/15/ eng20020415_94050.shtml. 35. Tabela 3-5 dos seguintes: Albânia, de Agência Ambiental Européia (EEA), “EEA Report Highlights Measures to Promote Sustainable Water Use”, press release (Copenhague: 5/04/01); Canadá de Bill Hutchins, “One-third of City’s Water Supply Disappears, But Where?” Kingston This Week, 10/06/03; República Tcheca, França e Espanha, de EEA, Sustainable Water Use in Europe, Part 2: Demand Management (Environmental Issue Report No. 1 – Copenhague: 2001), p. 22; Dinamarca, de “Watersave at Loughborough”, Demand Management Bulletin (National Water Demand Management Centre, Environment Agency, Birmingham, R.U.), fevereiro de 2003, p. 3; Japão, de Nações Unidas, Programa de Melhores Práticas e Liderança Local, “Water Conservation Conscious Fukuoka, Japan”, em bestpractices.org/bpbriefs/Environment.html, visitado em setembro de 2003; Jordânia, de “Seminar Address Water Losses Plaguing the Country’s Scarce Resource”, Jordan Times, 6/003; Quênia, de Anna Peltola, “Simple Fixes Could Bring Water to Millions-Experts”, Reuters, 13/08/02; Cingapura, de Ng Han Tong, Departamento de Serviços Públicos, Cingapura, e-mail aos autores, 10/09/03; África do Sul, de “Growing Concern over Cities’ Water Losses”, South African Broadcasting Corporation, 19/05/03; Taiwan de “Water Price Hike Necessary to Fix Old Pipes, Says Minister”, Taiwan News, 11/03/03; Estados Unidos, de Jon Maker e Nathalie Chagnon, “Inspecting Systems for Leaks, Pits, and Corrosion”, Journal of the American Water Works Association, julho de 1999, p. 40, e de Steve Wyatt, “The Economics of Water Loss: What is Unaccounted for Water?” On Tap (National Drinking Water Clearinghouse, West Virginia University, Morgantown, WV), outono de 2002, pp. 32-35. Quadro 3-2 de “Office of Water Services (OFWAT): Leakage And Water Efficiency”, Oitavo Relatório, Comitê Especial das Contas Públicas, Câmara dos Comuns, Londres, 4/01/02, de OFWAT, “Ofwat Sets Leakage Targets For Londres”, press release (Birmingham, R.U.: 26/03/03), e de “Total Leakage Increases in Severn Trent Water and is Still Rising in Thames Water”, Departamento de Serviços Hídricos, 29/07/03. 36. Janice A. Beecher, “Survey of State Water Loss Reporting Practices”, Beecher Policy Research, Inc., Relatório Final para a Associação de Obras Hídricas, Denver, CO, janeiro de 2002, p. 13; Wyatt, op. cit., nota 35; The Kansas Water Office, “Assessment of Unaccounted for Water, Kansas 1992-2010”, 2001, em www.kwo.org/Reports/2010% Assessments/UFW%20assessment/ ks_ufw_text.htm; idem, “The Kansas Water Plan, Fiscal Year 2003”, Water Conservation, julho de 2001, p. 1. 37. Copenhague, de “Watersave at Loughborough”, op. cit., nota 35; Lis Napstjert, Copenhagen Energy, e-mail aos autores, 17/ 09/03. Quadro 3-3 dos seguintes: Ng, op. cit., nota 35; consumo de Cingapura em 1995 de Alliance to Save Energy, Watergy: Taking 245 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 3 Advantage of Untapped Energy and Water Efficiency Opportunities in Municipal Water Systems (Washington, DC: 2002), pp. 80-82; consumo em 2003 from Ng Han Tong, Departamento de Serviços Públicos, Cingapura, e-mail aos autores, 16/08/03; Teruyoshi Shi Noda, “Integrated Approaches for Efficient Water Use in Fukuoka”, Ata do Simpósio Internacional sobre Uso Eficiente da Água em Áreas Urbanas – Formas Inovadoras de Buscar Água para as Cidades, 8-10/06/99; Nações Unidas, op. cit., nota 35; “Final Report: Water Conservation Planning USA Case Studies Project,”, Environment Agency, Demand Management Centre, Birmingham, R.U., elaborado por Amy Vickers & Associates, Inc., Amherst, MA, junho de 1996. 38. 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Figura 3-3 dos seguintes: Quênia, Uganda e Tanzânia, de John Thompson et al., Drawers of Water II: Thirty Years of Change in Domestic Water Use and Environmental Health in East Africa (Londres: International Institute for Environment and Development, 2001; Dinamarca de “Watersave at Loughborough”, op. cit., nota 35; Reino Unido, de “Water Indicators 2001/02,” Demand Management Bulletin (National 246 Water Demand Management Centre, Environment Agency, Birmingham, R.U.), junho de 2003, p. 7; Singapore from Ng, op. cit. nota 37; Manilha, de Empresa de Água de Manilha, em www.manila wateronline.com/ faq.htm, visitado en 11/08/03; Waterloo de Steve Gombos, Regional Municipality of Waterloo, e-mail aos autores, 7/08/03; Melbourne e Sydney, de Water Services Association of Australia, WSAAfacts 2001 (Melbourne: 2001); exemplos dos EUA, de Peter W. Mayer et al., Residential End Uses of Water (Denver, CO: AWWA Research Foundation and American Water Works Association, 1999), pp. 91, 114. Outros dados de Amy Vickers, Handbook of Water Use and Conservation: Homes, Landscapes, Businesses, Industries, Farms (Amherst, MA: WaterPlow Press, 2001), pp. 17-19, 20. 41. U.S. General Accounting Office, Water Infrastructure: Water-Efficient Plumbing Fixtures Reduce Water Consumption and Wastewater Flows (Washington, DC: agosto de 2000), p. 4; Amy Vickers, “Technical Issues and Recommendations on the Implementation of the U.S. Energy Policy Act”, relatório elaborado por Amy Vickers & Associates, Inc. para a Associação de Obras Hídricas, Washington, DC, 25/10/95, p. 4. 42. Nações Unidas, op. cit., nota 14, p. 341. 43. Cifra de 30 bilhões de litros, de Vickers, op. cit., nota 40, p. 140; Debbie Salamone, “Florida’s Water Crisis: Chapter 2, The Human Thirst”, Orlando Sentinel, 7/04/02. 44. Charles Fenyvesi, “His Whole World Is Grass: Lawn Guru Reed Funk Speaks to the Tough Little Cultivar Inside Us All”, U.S. News & World Report, 28/10/96, pp. 61-62; Thomas Farragher, “For Some Neighbors, It’s a Turf War”, Boston Globe, 5/04/98. Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 3 45. F. Herbert Bormann et al., Redesigning the American Lawn: A Search for Environmental Harmony (New Haven, CT: Yale University Press, 1993), pp. 56, 77; U.S. Senate, The Use and Regulation of Lawn Care Chemicals: Hearing Before the Subcommittee on Toxic Substances, Environmental Oversight, Research and Development of the Committee on Environmental and Public Works, U.S. Senate, March 28, 1990, Audiência no Senado 101-685 (Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 1990), p. 1. Quadro 3-4 dos seguintes: Christian G. Daughton, “Environmental Stewardship and Drugs As Pollutants”, The Lancet, 5/10/02, pp. 1035-36; USGS de Dana K. Kolpin et al., “Pharmaceuticals, Hormones, and Other Organic Wastewater Contaminants in U.S. Streams, 1999-2000: A National Reconnaissance”, Environmental Science and Technology, 15/03/02, pp. 1202-11; D. Donaldson, T. Kiely e A Grub, Pesticide Industry Sales and Usage: 1998 and 1999 Market Estimates (Washington, DC: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos –EPA –, agosto de 2002); National Association of Chain Drug Stores, Industry Facts and Resources, Industry Statistics, “Total Retail Sales 2002 – Traditional Drug Stores”, em www.nacds.org/wmspage.cfm? parm1=507, visitado em setembro 2003; estudos fora dos Estados Unidos, de Kenneth Green, “When Pharmaceuticals Arrive at the Tap”, Environmental Science & Engineering, março de 2003; EPA, “PPCPs as Environmental Pollutants”, em www.epa.gov/nerlesd1/ chemistry/pharma/ teaching.htm, visitado em agosto de 2003; Colin Nickerson, “A Grass Roots Drive for Purity”, Boston Globe, 3/09/01. 46. Vickers, op. cit., nota 40, pp. 147-49, 180. 47. F. Herbert Bormann, Diana Balmori e Gordon T. Geballe, Redesigning the American Lawn, 2nd ed. (New Haven, CT: Yale University Press, 2001), p. 129. 48. Nações Unidas, op. cit., nota 14, p. 228. 49. Principais indústrias consumidoras de água, de webworld.unesco/org/water/ihp/ publications/waterway/webpe/pag18.html, visitado em agosto de 2003. 50. Vickers, op. cit., nota 40, p. 239; Unilever Co., Environmental Performance Report 2003, p. 10, em www.unilever.com/ environmentsociety/ environmentalreporting/ environmentalreport, visitado em agosto de 2003. Tabela 3-6 dos seguintes: laticínios, construções residenciais, e produtos agrícolas, de Environment Agency, 2003 Water Efficiency Awards: Inspirational Case Studies Demonstrating Good Practice Across All Sectors (Birmingham, R.U.: 2003), pp. 8, 15, 21; computadores, de “Companies Who Show How It’s Done”, Demand Management Bulletin (National Water Demand Management Centre, Environment Agency, Birmingham, R.U.), agosto de 2002, p. 3; farmacêuticos, de Steve Dark, Process Waste Water Recycling (Jaffrey, NH: Millipore Corporation, novembro de 2002); chocolate de EBMUD Reports East Bay Water Issues, março de 2001, p. 2; cerveja, de Global Environment Management Initiative, Connecting the Drops Toward Creative Water Strategies (Washington, DC: junho de 2002), p. 36. 51. Departamento de Serviços Públicos, Superintendência da Água de Cingapura, em www.pub.gov.sg/water_reclamation.htm, visitado em setembro de 2003. 52. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp. 227-33. 247 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 3 E SABONETES ANTIBACTERIANOS 53. Patrick Smith, “The Great Water Divide”, The Irish Times, 22/03/03; Aly Shady, Canadian International Development Agency, janeiro de 2002, em www.expressnews. ualberta.ca/xpressnews/rticles/ news.cfm?p_ID=1829&s=a. 54. Jennifer Gitlitz, Trashed Cans: The Global Environmental Impacts of Aluminum Can Wasting in America (Arlington VA: Container Recycling Institute, 2002). 55. Postel e Richter, op. cit., nota 1. 56. Tushaar Shah et al., “Sustaining Asia’s Groundwater Boom: An Overview of Issues and Evidence”, Natural Resources Forum, maio de 2003, pp. 130-41. 57. High Plains Underground Water Conservation District, The Cross Section, various issues, Lubbock, TX; Shah et al., op. cit., nota 56. 58. Estudo e exemplo de Bangalore relatado em Dale Whittington, “Municipal Water Pricing and Tariff Design: A Reform Agenda for South Asia”, Water Policy, fevereiro de 2003, pp. 61-76; comparação com consumo nos EUA é cálculo das autoras. 59. Efeito do bombeamento da água subterrânea na vazão do Ipswich, de USGS, Concepts for National Assessment of Water Availability and Use, Circular 1223 (Reston, VA: 2002); American Rivers, America’s Most Endangered Rivers 2003 (Washington, DC: 2003); Departamento de Proteção Ambiental de Massachusetts, State Strikes Balance with Water Withdrawal Permits for Ipswich River Basin Communities (Boston: 20/05/03). Regular Soap, NIH-Funded Study Shows”, press release (Alexandria, VA: 24 de outubro de 2002). 2. Philip M. Parker, The 2003-2008 World Outlook for Bar Soap (Paris: ICON Group Ltd., 2003), pp. 18-19; Euromonitor International, “Asia-Pacific Bath and Shower Products: Small Growth, Big Potential”, 25/10/02, em www. euromonitor.com/asiabath. 3. Karen C. Timberlake, Chemistry: An Introduction to General, Organic, and Biological Chemistry (Nova York: Harper Collins, 1996), pp. 524-26. 4. História e ingredients, de Dru Wilson, “Antibacterial Products May Be Case of Overkill”, The Gaston Gazette (Freedom News Service), 2/08/02, e de Soap and Detergent Association, “Cleaning Products Overview: History”, at www.sdahq.org/cleaning/history/ ; Diane di Constanzo, “Taking Personal Care”, The Green Guide, janeiro/fevereiro 2003. 5. International Network for Environmental Management, “Pollution Prevention in a Tunisian Oil Extraction and Soap Manufacturing Facility, Case Studies in Environmental Management in Small and Medium-Sized Enterprises (Hamburg: março de 1999). 6. U.S. Geological Survey, U.S. Department of the Interior, “What’s in That Water?” press release (Reston, VA 13, março de 2002). Sabonetes Antibacterianos 7. J. Menoutis et al., “Triclosan and Its Impurities”, Quantex Laboratories Technology Review (Edison, NJ: Quantex Laboratories, Inc., 1998-2001); Kristin Ebbert, “Anti-bacterial Soaps”, The Green Guide, março de 1997. 1. Infectious Diseases Society of America (IDSA), “Antibacterial Soap No Better Than 8. “Keeping Medicines Effective: Resisting Resistance”, American Medical News (American Medical Association), 15/10/ 248 Estado do Mundo 2004 NOTAS, SABONETES ANTIBACTERIANOS E CAPÍTULO 4 01; Helen Phillips, “Too Much Triclosan?” Nature, 13/08/98. 9. Ed Susman, “Too Clean for Comfort”, Environmental Health Perspectives, janeiro de 2001. 10. P. Ernst e Y Cormier, “Relative Scarcity of Asthma and Atopy Among Rural Adolescents Raised on a Farm”, American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, maio de 2000, pp. 1563-66. 11. Susman, op. cit. nota 9; Alliance for Prudent Use of Antibiótics, em www.tufts.edu/ med/apua: “CDC’s Advice to Doctors: Clean Your Hands”, American Medical News (American Medical Association), 25/11/02. Capítulo 4. Controlando Nossa Alimentação 1. Rita Oppenhuizen, Public Relations, Max Havelaar Foundation, discussão com Brian Halweil, 11/08/03; Max Havelaar Foundation, “Max Havelaar – A Fair Trade Label”, background history (Amsterdã: outubro de 1998). 2. Max Havelaar Foundation, op. cit., nota 1. 3. International Federation for Alternative Trade, “A Brief History of the Alternative Trading Movement”, em www.ifat.org/ dwr/ resource3.html, visitado em 03/08/03, A. M. Gutiérrez, “NGOs and Fairtrade, the Perspectives of Some Fairtrade Organisation”, submitted to the School of Economic and Social Studies of the University of East Anglia, International Relations and Development Studies, Norfolk, U. K., 2/09/96. 4. Oppenhuizen, op. cit., nota 1; Max Havelaar Foundation, op. cit., nota 1. 5. Jim Hightower, “As American as Apple Pie: Ethical Consumerism”, The Nation, 30/ 09/02; United Farm Workers, “Union to Launch ‘Fair Trade Apple’ Campaign”, press release, 8/08/01; Helen Taylor, Soil Association, Technical Services & Business Development Director (SA Cert), discussion with Brian Halweil, 7/06/03. 6. Para uma dicussão sobre o aumento do transporte dos alimentos a longa distância, vide Brian Halweil, Home Grown: The Case for Local Food in a Global Market, Worldwatch Paper 163 (Washington, DC: novembro de 2002). 7. Área de superfície, da Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura (FAO), FAOSTAT Statistical Database, em apps.fao.org, atualizado em 22/08/03; Michael Brower e Warren Leon, The Consumer’s Guide to Effective Environmental Choices: Practical Advice from the Union of Concerned Scientists (Nova York: Three Rivers Press, 1999), p. 58; Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Working Party on National Environmental Policy, Sustainable Consumption: Sector Case Study Series, Household Food Consumption: Trends, Environmental Impacts and Policy Response (Paris: dezembro de 2001), p. 44; Niels Jungbluth e Rolf Frischknecht, “Indicators for Monitoring Environmental Relevant Trends of Food Consumption”, ESU-services, Switzerland, em www.esu-services.ch/ download/SETAC-food consumptionindicator.pdf; Annika Carlsson-Kanyama, “Climate Change and Dietary Choices: How Can Emissions of Greenhouse Gases from Food Consumption Be Reduced”, Food Policy, fall/winter 1998, pp. 288-89. Isso, todavia, não significa que alimentos vegetarianos sejam sempre menos poluidores 249 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 4 do que alimentos animais. Uma refeição vegetariana feita com ingredientes de todo o mundo, ou cultivados em estufas aquecidas, pode ser muito mais poluente do que refeições de carne de origem local ou conservada de forma a minimizar emissões de gases. 8. Quadro 4-1 dos seguintes: Ranson Myers e Boris Worm, “Rapid Worldwide Depletion of Predatory Fish Communities”, Nature, 15/05/03, pp. 280-83; Andrew Revkin, “Commercial Fleets Reduced Big Fish by 90 Percent, Study Says”, New York Times, 15/ 05/03; Seaweb, “Cover Study of Nature Provides Startling New Evidence that Only 10 Percent of All Large Fish are Left in the Ocean”, press release (Washington, DC: 14 de maio de 2003); para organizações de conservação marinha, vide, por exemplo, Audubon Society (magazine.audubon.org/ seafood), The Monterey Bay Aquarium (www.mbayaq.org), e Marine Stewardship Council (www.msc.org); Seafood Choices Alliance, em www.seafoodchoices.com. Quadro 4-2 dos seguintes: Compassion in World Farming, Foie Gras Campaign fact sheet, em www.ciwf.co.uk/Camp/Main/Foie/ foie_ gras_campaign.htm, visitado em 23/09/ 03; World Society for the Protection of Animals, “Forced Feeding – The Facts Behind Foie Gras Production, em www.wspa.org.uk/index.php?page=179, visitado em 23/09/03; tendências do caviar, de Douglas F. Williamson, Caviar and Conservation Status, Management, and Trade of North American Sturgeon and Paddlefish (Cambridge, R.U.: World Wildlife Fund, maio de 2003), p. 148; TRAFFIC, Sturgeons of the Caspian Sea and the International Trade in Caviar (Cambridge, R.U.: novembro de 1996); A International Trade Agency informa que os Estados Unidos importaram 39.289 quilos de caviar 250 para consumo em 2002, em www.ita.doc.gov/ td/industry/otea/ Trade-Detail/LatestDecember/Imports/ 16/160430.html; “Shark! Danger Exaggerated, Says US Experts”, Reuters, 17/06/02; Brian Handwerk, “Asian Shark-Fin Trade May be Larger than Expected”, National Geographic News, 28/ 04/03; Patricia Brown, “Foie Gras Fracas: Haute Cuisine Meets the Duck Liberators”, New York Times, 24/09/03; Caviar Emptor Campaign, Roe to Ruin: Executive Summary (Washington, DC: Natural Resources Defense Council, dezembro de 2002). 9. Peter Pringle, Food, Inc., Mendel to Monsanto,The Promises and Perils of the Biotech Harvest (Nova York: Simon & Schuster, 2003). 10. Marion Nestle, Food Politics: How the Food Industry Influences Nutrition and Health (Berkley, CA: University of California Press, 2002). 11. Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, de J. N. Pretty et al., “An Assessment of the Total External Costs of UK Agriculture”, Agricultural Systems, August 2000, pp. 11336, e de Jules Pretty et al., “Policy Challenges and Priorities for Internalising the Externalities of Modern Agriculture”, Journal of Environmental Planning and Management, março de 2001, pp. 263-83. 12. Sudoeste da Inglaterra, da Foundation for Local Food Initiatives, Shopping Basket Survey for South West Local Food Partnership (Londres: 2002). 13. McDonald’s, de David Barboza com Sherri Day, “McDonald’s Seeking Cut in Antibiotics in Its Meat”, New York Times, 20/ 06/03; Kraft de David Barboza, “Kraft Plans to Rethink Some Products to Fight Obesity”, New York Times, 2/07/03; Bill Vorley e Julio Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 4 Berdegué, “The Chains of Agriculture”, World Summit on Sustainable Development Opinion (Londres: International Institute for Environment and Development (HED), maio de 2001); William Vorley, Agribusiness and Power Relations in the Agri-Food Chain, background paper for Policies That Work for Sustainable Agriculture and Regenerating Rural Economies (Londres: HED, junho de 2000), p. 21; projeto Corrida ao Topo, vide www.racetothetop.org. 14. Iowa Agricultural Statistics Service, December Hogs and Pigs, Iowa (Washington, DC: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), 30/12/02); Paul Willis, gerente, Niman Ranch Pork Company, discussão com Danielle Nierenberg, 12/06/03. 15. Willis, op. cit. nota 14; Niman Ranch Web site, em www.nimanranch.com, visitado em 15/06/03. 16. Cees de Haan et al., “Livestock and the Environment: Finding a Balance”, relatório de estudo coordenado pela FAO, Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos, e Banco Mundial (Bruxelas: 1997), p. 53; FAO “Meat and Meat Products”, FAO Food Outlook no. 4, outubro de 2002, p. 11. Figura 4-1 dos seguintes: ração de Vaclav Smil, Departamento de Geografia, Universidade de Manitoba, discussão com Brian Halweil, outubro de 2002, e de Erik Millstone e Tim Lang, The Penguin Atlas of Food: Who Eats What, Where, and Why (Londres: Penguin Books, 2003), p. 34; água, de ibid., p. 35; aditivos, de Margaret Mellon, Charles Benbrook e Karen Lutz Benbrook, Hogging It! Estimates of Antimicrobial Abuse in Livestock (Washington, DC: Union of Concerned Scientists, 2001); combustíveis fósseis, de Millstone e Lang, op. cit., esta nota, pp. 35, 62; metano, de Haan et al., op. cit., esta nota; doenças, de Neil Barnard, Andrew Nicholson e Jo Lil Howard, “The Medical Costa Attributed to Meat Consumption”, Preventive Medicine, novembro de 1995. 17. Christopher Delgado, Claude Courbois e Mark Rosegrant, Global Food Demand and the Contribution of Livestock As We Enter the New Millennium, MSSD Discussion Paper no. 21 (Washington, DC: International Food Policy Research Institute, 1998), p. 6. 18. Jo Robinson, Why Grassfed is Best! The Surprising Benefits of Grassfed Meat, Eggs and Dairy Products (Vashon, WA: Vashon Island Press, 2000), p. 8; “Hay! What a Way to Fight E. coli”, Science News Online, 19/09/ 98, em www.sciencenews.org/sn_arc98/ 9_19_98/Food.htm. 19. Organização Mundial da Saúde (OMS) e FAO, Antimicrobial Resistance, Fact Sheet nº 194 (Genebra: WHO, janeiro de 2003); Mellon, Benbrook, and Benbrook, op. cit., nota 16. 20. Ian Langford, citado em Nick Tattersall, “Stressed Farm Animals Contribute to Food Poisoning: R.U. Study”, Manitoba Cooperator’s, 15/03/01. 21. Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Food and Drug Administration, Center for Food Safety and Applied Nutrition, Consumer Questions and Answers about BSE (Washington, DC: maio de 2003). 22. Dr. Gary Smith, Universidade da Pensilvânia, Faculdade de Veterinária, discussão com Danielle Nierenberg, fevereiro de 2003; “Transporting Animals in Europe”, in Millstone and Lang, op. cit., nota 16, p. 64. 23. I. Koizumi et al., “Studies on the Fatty Acid Composition of Intramuscular Lipids of Cattle, Pigs, and Birds”, Journal of Nutritional 251 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 4 Science Vitaminol (Tokyo), vol. 37. nº 6 (1991), pp. 545-54; Robinson, op. cit., nota 18, pp. 1215; vide também Eat Wild Web site em www.eatwild.com. 24. Smil, op. cit., nota 16. 25. Robinson, op. cit., nota 18, p. 7; demanda pela carne, da FAO, op. cit., nota 7, atualizado 09/01/03; idem, op. cit., nota 17, p. 11; David Brubaker, ex-diretor-presidente da PennAg Industries, discussão com Danielle Nierenberg, setembro de 2002. 26. Payal Sampat, “Choques Freáticos: A Poluição dos Principais Mananciais de Água Doce do Mundo”, World Watch, vol. 13, nº 1, p. 10; idem, “Expondo a Poluição Freática”, em Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2001 (Salvador: UMA Editora, 2001), p. 22; Michael et al., “Impacts and Recovery from Multiple Hurricanes in a Piedmont-Coastal Plain River System”, Bioscience, novembro de 2002, p. 999. 27. Bobby Inocencio, Teresa Farms, Philippines, discussão com Danielle Nierenberg, agosto de 2002; Teresa Farms, Management Guide SASSO Free-Range Colored Chickens (Rizal, Filipinas: sem data). 28. Steve Tarter, “Megahog Opponent Tours Poland”, Peoria Star Journal, 12/06/ 01; Tom Garrett, “Polish Delegation Investigates American Agribusiness, Repudiates Factory Farming”, AWI Quarterly (Animal Welfare Institute, Washington, DC), outono/inverno de 1999-2000, p. 7. 29. 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Fazendas orgânicas e biodiversidade, de El-Hage Scialabba e Hattam, op. cit., nota 31, pp. 38-53. 36. “The Global Market for Organic Food & Drink,” Organic Monitor (Londres), julho de 2003. Uma estimativa semelhante de US$ 23-25 bilhões em 2003 vem de Minou Yussefi e Helga Willer, eds., The World of Organic Agriculture 2003 – Statistics and Future Prospects (Tholey-Theley, Alemanha: International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM), 2003), p. 24; 23 milhões de hectares e Figuras 4-2 e 4-3 de ibid., p. 13. 37. Nicholas Parrott e Terry Marsden, The Real Green Revolution (Londres: Greenpeace Environmental Trust, 2002), p. 61; Rick Welsh, The Economics of Organic Grain and Soybean Production in the Midwestern United States, Henry A. Wallace Institute for Alternative Agriculture, Policy Studies Report nº 13 (Greenbelt, MD: maio de 1999); P. Mader et al., “Soil Fertility and Biodiversity in Organic Farming”, Science, 31/05/02. 38. Bill Liebhardt, Get the Facts Straight: Organic Agriculture Yields are Good, Information Bulletin nº 10 (Santa Cruz, CA: Organic Farming Research Foundation, verão de 2001). 39. Peter Tschannen, Project Director, Remei AG Biore, Lettenstrasse, Suíça, discussão com Brian Halweil, 4/05/03; Tadeu Caldas, “A Glimpse into the Largest Organic Project in Asia”, Ecology and Farming (IFOAM), março de 2000. 40. Jean-Marie Diop et al., On-Farm AgroEconomic Comparison of Organic and Conventional Techniques in High and Medium Potential Areas of Kenya, publicação conjunta da ETC (Educational Training Consultants) Holanda e Kenya Institute of Organic Farming (Leusden e Nairobi: março de 1998). 41. El-Hage Scialabba e Hattam, op. cit., nota 31, pp. 8-10; Parrott e Marsden, op. cit., nota 37, p. 62; Nicholas Parrott, Faculdades das Cidades e Planejamento Regional, Universidade de Cardiff, R.U., discussão com Brian Halweil, 12/09/03. 42. Brian P. 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Asami et al., “Comparison of the Total Phenolic and Ascorbic Acid Content 253 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 4 of Freeze-Dried and Air-Dried Marionberry, Strawberry, e Corn Grown Using Conventional, Organic, and Sustainable Agricultural Practices”, Journal of Agricultural and Food Chemistry, fevereiro de 2003, pp. 1237-41. a Brian Halweil, 18/07/03; para o movimento Navdanya, vide www.navdanya.orf>; Francis Moore Lappé e Anna Lappé, Hoppe’s Edge: The Next Diet for a Small Planet (Nova York: Tarcher/Putnam, 2002), pp. 145-50. 45. “Stranglehold, Pesticides: What’s the Way Out?” Down to Earth, 15/06/03. 52. “The Old Ones are the Best”, New Agriculturalist on-line, 1o/09/03, em www.newagri.co.uk/03-5/focuson/ focuson5.html. 46. Asami et. al., op. cit., nota 14. 47. Participação no Alimento Lento, de Ilaria Morra, Departamento de Imprensa, Slow Food, e-mail a Brian Halweil, 14/07/03; Carlo Petrini, presidente, Slow Food, e-mail a Brian Halweil, 17/07/02. 48. Alejandro Argumedo, Andes, Cuzco, Peru, e-mail a Brian Halweil, 15/03/002. 49. Comércio e volume, da FAO, op. cit., nota 7, atualizado em 24/12/02; pesquisas nos EUA, de Matthew Hora e Jody Tick, From Farm to Table: Making the Connection in the Mid-Atlantic Food System (Washington, DC: Capital Area Food Bank, 2001), e de Rich Pirog et al., Food, Fuel, and Freeways: An Iowa Perspective on How Far Food Travels, Fuel Usage, and Greenhouse Gas Emissions (Ames, IA: Leopold Center for Sustainable Agriculture, Iowa State University, 2001), pp. 1, 2; R.U. dados e Figura 4-4 de Andy Jones, Eating Oil: Food Supply in a Changing Climate Londres: Sustain, 2001). 50. New Economies Foundation, “Local Food Better for Rural Economy that Supermarket Shopping”, press release (Londres: 7/08/01); Christopher Delgado et al., Agricultural Growth Linkages in SubSaharan Africa, Research Report 107 (Washington, DC: International Food Policy Research Institute, dezembro de 1998). 51. Vandana Shiva, Research Foundation for Science, Technology and Ecology, e-mail 254 53. Norman E. Borlaug, “The Next Green Revolution”, New York Times, 11/07/03; Sustain: The Alliance for Better Food and Farming, “Study Visit to Italy: The Italian School Meals System”, em www. sustainweb.org/chain_italy_study.asp, visitado em 1o/09/02; Anne Dolamore et al., Good Food on the Public Plate: A Manual for Sustainability in Public Sector Food and Catering (Londres: Sustain and East Anglia Food Link, 2003). 54. JoAnn Jaffe, University of Regina, email a Brian Halweil, 26/04/02, baseado em JoAnn Jaffe e Michael Gertler, “Victual Vicissitudes: Consumer Deskilling and the Transformation of Food Systems”, em M. D. Mehta, ed., The Sociology of Biotechnology (Toronto: University of Toronto Press, no prelo). 55. Sumários de tendências de consolidação estão disponíveis em William Heffernan et al., Consolidation in the Food and Agriculture System (Washington, DC: National Farmers Union, fevereiro de 1999), em Mary Hendrickson et al., Consolidation in Food Retailing and Dairy: Implications for Farmers and Consumers in a Global Food System (Washington, DC: janeiro de 2001) (disponível em www.foodcircles. issouri.edu), e em Halweil, op. cit., nota 6; Lappé e Lappé, op. cit., nota 51, pp. 138-64. Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 4 E ÁGUA ENGARRAFADA 56. Mais de 26 milhões de refeições, do USDA, National School Lunch Program, “FAQs”, em www.fns.usda.gov/cnd/Lunch/ boutLunch/faqs.htm, atualizado em agosto de 2003; Agência de Consoumo Sueca, de OCDE, op. cit., nota 7, p. 53. No Quadro 4-3, mais de US$ 300 bilhões em subsídios, de OCDE, Agricultural Policies in OECD Countries: Monitoring and Evaluation 2002 (Paris: 2002). 57. Mudanças históricas na política alimentícia, de Nestlé, op. cit., nota 10; Stuart Laidlaw, Secret Ingredients: The Brave New World of Industrial Farming (Toronto: McClelland & Stewart Ltd., 2003), p. 254. Água Engarrafada 1. Catherine Ferrier, Bottled Water Understanding a Social Phenomenon (Washington, DC; World Wildlife Fund, April 2001), p. 13; taxa de crescimento do consumo, de International Year of Freshwater, “Facts and Figures: Bottled Water”, em www.wateryear2003. org.Rajesh Mahapatra, “Pesticide Findings Spur Indian Government Crack-down on Bottled Water Companies”, Associated Press, 21/02/03; gastos globais, de Brian Howard, “The World’s Water Crisis”, E Magazine, setembro/outubro de 2003, p. 28. or Pure Hype? (Nova York: March 1999); França de Ferrier, op. cit., nota 1, p. 16. 5. Maude Barlow, Blue Gold: The Global Water Crisis and the Commodification of the World’s Water Supply, rev. ed. (Ottawa, ON, Canadá: Council of Canadians, primavera 2001), pp. 46-47; Anthony DePalma, “Free Trade in Fresh Water? Canada Says No and Halts Exports”, New York Times, 8/03/99, 6. Container Recycling Institute (CRI), “Plastic Soda Bottle Recycling Rate Down Again…Virgin Resin Production Outpaces Recycling”, em www.container-recycling.org/ plasrate/ ratedown.htm; dados do ciclo de vida de PET, da Associação das Indústrias de Plásticos da Europa, citados em Baxter CVG, The Economic and Ecological Implications of a Solid Waste Reduction Program, em www.wastereduction.org/ Baxter/Bax5.htm. 7. Ferrier, op. cit., nota 1, p. 23. 8. Garrafas de água nos Estados Unidos de Patricia Franklin, “Letter from the Executive Director”, Containers and Packaging Recycling Update (CRI, Arlington, VA), verão/ outono de 2003, p. 2; Kalyan Moitra, “Recycle Onus on PET Producers, Says PCB”, Economic Times of India, 27/06/03; CRI, Bottle Bill Resource Guide, em www.bottlebill.org. 3. Anne Christiansen Bullers, “Bottled Water: Better Than the Tap?” FDA Consumer Magazine (.U.S. Food and Drug Administration), julho – agosto de 2002. 9. Motivos para beber água engarrafada, de Ferrier, op. cit., nota 1, p. 16; NRDC, op. cit. nota 4; Centre for Science and Environment, “Pure Water or Pure Peril?” press release (New Delhi: 4/02/03); Hansika Pal, “Debate Over Pesticide Residue Clouds Bottled Water”, Economic Times of India, 6/02/03. 4. Ásia e Pacífico, de Ferrier, op. cit., nota 1, p. 13; falta de acesso, de Howard, op. cit. nota 1, p. 3; Natural Resources Defense Council (NRDC), Bottled Water: Pure Drink 10. Ano Internacional da Água Doce, em www.un.org/events/water; Millennium Development Goals em www.un.org/ millenniumgoals. 2. Descrição da água e recall da Perrier, de Ferrier, op. cit., nota 1, pp. 3, 6, 17. 255 Estado do Mundo 2004 NOTAS, FRANGOS E CHOCOLATE Frangos 1. World Society for the Protection of Animals (WSPA), World Farmwatch, “The Facts About Our Food Eggs”, pamphlet, em www.wspa.org.uk; Paul Shapiro, Compassion Over Killing, and Bruce Freidrich, People for the Ethical Treatment of Animals, e-mails à autora, 15/09/03. 2. WSPA, op. cit., nota 1; Shapiro, op. cit., nota 1; Freidrich, op. cit., nota 1; Stuart Laidlaw, Secret Ingredients: The Brave New World of Industrial Farming (Toronto: McClelland & Stewart Ltda., 2003), pp. 31-52. 3. WSPA, op. cit., nota 1; Laidlaw, op. cit., nota 2, p. 33; Shapiro, op. cit., nota 1; Compassion in World Farming, Laying Hen Factsheet, em www.ciwf.co.uk/ Camp/Main/ Battery/battery_hen_campaign.htm, visitado em 23/09/03. 4. WSPA, op. cit., nota 1; Compassion in World Farming, op. cit., nota 3; National Animal Health Monitoring System, Part II: Reference of 1999 Table Egg Layer Management in the U.S. (Washington, DC: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), 2000); Michael Appleby, vice-presidente, Farm Animals and Sustainable Agriculture, Humane Society of the United States, e-mail à autora, 26/09/03. 5. Anthony Browne, “Ten Weeks to Live”, The Observer, 10/03/02; Shapiro, op. cit., nota 1. 6. Volume de ração, de Richard Reynnells, National Program Leader, Animal Production Systems, USDA, e-mail à autora, 26/09/03, e de Mack O. North, Commercial Chicken Production Manual, 3rd ed. (Westport, CT: AVI Publishing Company, Inc., no date), p. 374; Consumers Union, “Presence of Antimicrobial Resistant Pathogens in Retail 256 Poultry Products: A Report by CI Members in Australia and the United States”, apresentado pela Consumers International à Comissão do Codex sobre Resíduos de Medicamentos Veterinários nos Alimentos, 4-7/03/03; Comissão Européia, “The Welfare of Chickens Kept for Meat Production (Broilers)”, Relatório do Comitê Científico sobre Saúde e Bem-Estar dos Animais, 21/03/00, pp. 31-36, 42-43; Browne, op. cit., nota 5. 7. Browne, op. cit., nota 5; Erik Millstone e Tim Lang, The Penguin Atlas of Food: Who Eats What, Where, and Why (Londres: Penguin Books, 2003), p. 38. 8. “In Praise of Family Poultry”, Agriculture 21 (U.N. Food and Agriculture Organization), março de 2002. 9. Kimberlie Cole, Westwind Farms, e-mail a Clayton Adams, Worldwatch Institute, 14/ 08/03; West Wind Farms Web site, em www.grassorganic.com, visitado em 02/06/03. Chocolate 1. Allen M. 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Mittermeier, Norman Myers, e Cristina Goettsch Mittermeier, Hotspots: Earth’s Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial Ecoregions (Cidade do México: CEMEX/ Conservation International, 1999. 4. Produção comercial sob 60% de cobertura, de Norman D. Johns, “Conservation in Brazil’s Chocolate Forest: The Unlikely Persistence of the Traditional Cocoa Agroecosystem”, Ambio, maio de 2000, pp. 167-73. 5. Desmatamento global e Costa do Marfim, de Rice e Greenberg, op. cit., nota 4, p. 169; B. Duguma, J. Gockowski, e J. Bakala, “Small-holder Cacao (Theobroma cacao Linn.) 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As estimativas da receita da fazenda assumem uma participação de 80% da fazenda na receita anual das exportações; para 2002, essas receitas foram estimadas em US$ 4,4 bilhões, multiplicando-se a produção global (disponível em FAO, op. cit., nota 2) pelo preço médio de 2002 (disponível no Quarterly Bulletin of Cocoa Statistics da Organização Internacional do Cacau), abusos da mão-de-obra, de “New Foundation Launched to Fight Problem in Cocoa Industry”, U.N. Wire, 2/07/02, de Sumana Chatterjee, “Chocolate Industry to Fight Child Slavery”, San Jose Mercury News, 2/07/02, e de Brooke Shelby Biggs, “Slavery Free Chocolate?” em www.alternet.org, 7/02/02. 8. Para um relato completo do sistema de comércio justo, vide Fairtrade Labelling Organizations International, em www.fairtrade.net; lindano, de René Philippe et al., “Rational Chemical Pest Control”, em Dominique Mariau, ed., Integrated Pest Management of Tropical Perennial Crops (Enfield, NH: Science Publishers, 1997), pp. 25-35. Camarões 6. Rice e Greenberg, op. cit., nota 4, pp. 169-70 e Tabela 2. 1. Egito, de Don Brothwell e Patricia Brothwell, Found in Antiquity – A Survey of the Diet of Early Peoples (Baltimore, MD; John Hopkins University Press, 1998), pp. 5556; “A Brief History of Shrimp Farming, “Shrimp News International, em www.shrimpnews.com/ History.html, atualizado em 1o/10/03. 7. Valor global do varejo do cacau, de Trevor Datson, “Chocoholism Reached Almost Epidemic Proportions,” Reuters, 12 February 2003, e da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, “UN Cocoa Conference Ends 10-Day Session; Will Resume 2. Globefish, citado em Foodmarket Exchange.com, “Shrimpe Production”, em w w w. f o o d m a r k e t e x c h a n g e . c o m / datacenter/product/seafood/shrimp/ detail/de_pi_sf_shrimp0302_01.htm, visitado em 28/08/03. 257 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAMARÕES E REFRIGERANTES 3. Produção chinesa, de ibid.; principal exportador, de Foodmarket Exchange.com, “Shrimp Trade”, em www.foodmarketexchange. com/datacenter/product/seafood/shrimp/ de_oi_sf_shrimp04.htm, visitado em 28/04/03. 4. Importações nos Estados Unidos, de Helga Josupeit, “An Overview on the World Shrimp Market”, September 2001, em www.globefish.org/presentations, visitado em 28/08/03; U.S. National Oceanic e Atmospheric Administration, “Shrimp Overtakes Canned Tuna as Top U.S. Seafood”, press release (Washington, DC: 28/08/02); Japão, de Globefish, “Shrimp”, Monthly Market Report, abril de 2003, em www.globefish.org/ marketreports/Shrimp/Shrimp4.htm, e de John M. Saulnier, “European Ban on Asian Shrimp Imports Puts Even More Pressure on Prices”, Global Seafood Magazine (Quick Frozen Foods International), abril de 2002. 5. 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David Barnhizer, “The Trade, Environment and Human Rights: The Paradigm Case of Industrial Aquaculture and the Exploitation of Traditional Communities”, Mangrove Action Project Web site, em www.earthisland.org/map/ trd-hmm.htm; Environmental Justice Foundation, Smash & Grab: Conflict, Corruption and Human Rights Abuses in the Shrimp Farming Industry (Londres: 2003). 10. Vandana Shiva, apresentação na Cúpula dos Povos, St. Mary’s University, Halifax, NS, Canadá, 17/06/95; citação mencionada em Environmental Justice Foundation, op. cit., nota 6, p. 1. 11. Consórcio de Network of Aquaculture Centres in Asia-Pacific, Shrimp Farming and the Environment Web site, em www.enaca.org/ Shrimp/ShrimpAquacultureCertification.htm; Told Steined, Sea Turtle Restoration Project, Earth Island Institute, “Sea Turtles, Shrimp Fisheries, and the Turtle Excluder Device”, apresentação elabora para o Tribunal dos Camarões nas Nações Unidas, 29/04/96, em www.earthsummitwatch.org/shrimp/ positions/ pov2.html; World Rainforest Movement, “Local Fisherfolk Protect the Mangroves in Sri Lanka”, WRM Bulletin nº 20, 10/02/99. Refrigerantes 1. Beverage Marketing Corporation, Global Carbonated Soft Drinks: A Worldview, 2003 Edition (Nova York), conforme John Rodwan, e-mail ao autor, 29/09/03. Em 2002, 22,3% do volume de refrigerantes nos EUA foi embalado para ser servido em máquinas; assim, não incluem água ou dióxido de carbono (Ibid.); por motivo de simplicidade, o foco aqui concentra-se na maioria dos refrigerantes, embalados diretamente para os consumidores. Estado do Mundo 2004 NOTAS, REFRIGERANTES 2. Paul Vallely, Jon Clarke e Liz Stuart, “Coke Adds Life? In India, Impoverished Farmers Are Fighting to Stop Drinks Giant “Destroying Livelihoods’”, The Independence, 25/07/03; Surendranath C., “Coca-Cola: Continuing the Battle in Kerala”, Corp Watch, 10/07/03; Edward Luce, “Pepsi and Coca-Cola Deny Pesticide Claims”, Financial Times, 5/08/03; Centre for Science and the Environment, “Government Confirms Pesticides in Soft Drinks”, press release (Délhi, Índia: 21/08/03). 3. Cerca de 25% do volume nos Estados Unidos consiste de refrigerantes dietéticos (conforme o Departamento de Agricultura (USDA), Serviço de Pesquisa Econômica, Per Capita Food Consumption Data System: Beverages, em www.ers.usda.gov/ Data/ FoodConsumption/Spreadsheets/ beverage.xls, visitado em 1o/08/03), que substituem adoçantes de alta intensidade em açúcares. Embora esses adoçantes sejam, essencialmente, não-calóricos, não contribuindo assim diretamente para a obesidade, há um debate contínuo sobre sua segurança. Dados do consumo nos EUA, de USDA, op. cit., esta nota; absorção de cálcio, de Claude Cavadini et al., “U.S. Adolescent Food Intake Trends from 1965 to 1996”, Archives of Disease in Childhood, vol. 83, no. 1 (2000), p. 19; Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, The Surgeon General’s Call to Action to Prevent and Decrease Overweight and Obesity, 2001 (Washington, DC: 2001); David S. Ludwig et al., “Relationship Between Consumption of Sugar-Sweetened Drinks and Childhood Obesity: A Prospective, Observational Analysis”, The Lancet, 17/02/01, p. 507. 4. Componente de cafeína, de Euromonitor International, Soft Drinks: The International Market, 2001 Edition, conforme Trudy Griggs, e-mail ao autor, 19/12/01; Roland R. Griffiths e Elen M. Vernotica, “Is Caffeine a Flavoring Agent in Cola Soft Drinks? 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Brownell, “Small Taxes on Soft Drinks and Snack Foods to Promote Health”, American Journal of Public Health, junho de 2000, pp. 259 Estado do Mundo 2004 NOTAS, REFRIGERANTES E CAPÍTULO 5 854-57 (atualmente os impostos são recolhidos a um fundo geral); Suécia e Polônia, de Euromonitor International, Marketing to Children: A World Survey, 2001 Edition, de Trudi Griggs, Euromonitor, e-mail ao autor, 25/ 01/02, e de Ingrid Jacobsson, “Advertising Ban and Children: Children Have the Right to Safe Zones”, Current Sweden, junho de 2002; vendas e projeções de Beverage Marketing Corporation, op. cit., nota 1. Capítulo 5. Rumos para uma Economia Menos Consumista 1. Richard B. Brightwell, “A Short Biography of King Camp Gillette”, em w w w. c r e e k s t o n e . n e t / r a z o r s / kingcampgillette.htm, visitado em 18/09/03; “King C. Gillette Disposable-Blade Safety Razor,” Inventor of the Week Archive, junho de 2000, Lemelson-MIT Program, em web.mit.edu/invent/iow/Gillette.html. 2. Eric A. Taub, “DVD’s Meant for Buying but Not for Keeping”, New York Times, 21/7/03. 3. Edward Rothstein, “A World of Buy, Buy, Buy, from A to Z”, New York Times, 19/07/03. 4. Citação de Leblow, de Vance Packard, The Waste Makers (Nova York: David Mckay, 1960). 5. Alan Durning, em How Much Is Enough? (Nova York: W.W. Norton & Company, 1992), argumentou que sob uma perspectiva de impacto no consumo e na ecologia, a humanidade está dividida em três classes amplas de consumo: consumidores, classe média e os pobres. Embora o número específico de pessoas nessas categorias, e os limiares da categoria, estejam constantemente instáveis, a distinção continua sendo útil para fins conceituais. 260 6. Juliet Schor, “The Triple Imperative: Global Ecology, Poverty and Worktime Reduction” (Boston, MA: Boston College, maio de 2001, inédito); 90% de redução, de Gary Gardner e Payal Sampat, Mind Over Matter: Recasting the Role of Materials in Our Lives, Worldwatch Paper 144 (Washington, DC: Worldwatch Institute, dezembro de 1998), p. 25. 7. Tendências do comércio de matériasprimas, do Banco Mundial, “Change in Commodity Production and Trade”, Global Commodities Markets Online, at www.worldbank.org/prospects/gmconline/ index.htm, abril de 2000, p. 10; preços de commodities, do Fundo Monetário Internacional, International Financial Statistics Yearbook (Washington, DC: annual), e de Michael Renner, “Commodity Prices Weak”, em Worldwatch Institute, Vital Signs 2001 (Nova York: W.W. Norton & Company, 2001), p. 122; Michael Renner, The Anatomy of Resource Wars, Worldwatch Paper 162 (Washington, DC: Worldwatch Institute, outubro de 2002). 8. 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Norton & Company, 2002), p. 132. 20. Ibid. 21. Lisa Mastny, “Ecolabeling Gains Grounds, “in Worldwatch Institute, op. cit., nota 19, p. 124; Anjo Azul, de “25 Jahre Blauer Engel: Von Hohenflugen und Turbulenzen”, Umweltbundesamt (Agência Ambiental da Alemanha), 2/04/03, em www.umweltdaten.de/ uba-info-presse/hintergrund/blauer-engelhistorie.pdf, e de www.blauer-engel.de. 22. Mastny, op. cit., nota 21, pp. 124-25; OCDE, op. cit., nota 9, pp. 31-32. 23. Stephan Moll, Stefan Bringezu e Helmut Schutz, Resource Use in European Countries (Copenhague: Centro Tópico Europeu sobre Fluxos de Resíduos e Materiais, em colaboração com a Diretoria do Meio Ambiente da União Européia, março de 2003), p. 36; Emily Matthews et al., Weight of Nations: Material Outflows from Industrial Economies (Washington, DC: World Resources Institute, 2000), pp. 84-85, 112-13. 24. Moll, Brinzegu e Schutz, op. cit., nota 23; Peter Bartelmus, “Dematerialization and Capital Maintenance: Two Sides of the Sustainability Coin”, Ecological Economics, no, 46 (2003), p. 74; Figura 5-1 de Matthews et al., op. cit., nota 23, pp. 84-85, 112-13. 262 25. Paul Hawken, Amory Lovins e L. Hunter Lovins, Natural Capitalism (Boston: Little, Brown and Company, 1999); Ernst von Weizsacker, Amory B. Lovins e L. Hunter Lovins, Factor Four: Doubling Wealth, Halving Resource Use (Londres: Earthscan, 1997); Gardner e Sampat, op. cit., nota 6, p. 26. 26. Moll, Bringezu e Schutz, op. cit., nota 23, pp. 9, 30, 53; Matthews et al., op. cit., nota 23, p. XI. 27. Christer Sanne, “Willing Consumers – of Locked in? Policies for a Sustainable Consumption”, Ecological Economics, nº 42 (2002), p. 275; Schor, op. cit., nota 6; Gardner e Sampat, op. cit., nota 6; eficiência de combustível automotivo e tendências de motorização, de Michael Renner, “Vehicle Production Declines Slightly”, in Worldwatch Institute, op. cit., nota 10, pp. 74-75, e de Michael Renner, “Vehicle Production Inches Up”, em Worldwatch Institute, Vital Signs 2003 (Nova York: W.W. Norton & Company, 2003), pp. 56-57; uso de materiais, de Ward’s Communications, Ward’s Motor Vehicle Facts & Figures 2002 (Southfield, MI: 2002). 28. Blackman, Luskin e Guillemin, op. cit., nota 18; Clean Production Action, em www.cleanproduction.org. 29. Marquita Hill, Thomas Saviello e Stephen Groves, “The Greening of a Pulp and Paper Mill: International Paper’s Androscoggin Mill, Jay, Maine”, Journal of Industrial Ecology, vol. 6, no 1 (2002), pp. 107-20. 30. William McDonough e Michael Braungart, “The Extravagant Gesture: Nature, Design, and the Transformation of Human Industry”, em Schor and Taylor, op. cit., nota 11, pp. 16-18; Hill, Saviello, and Groves, op. cit., nota 29. Quadro 51 de trabalhos realizados por McDonough Braungart Design Chemistry e de William Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 5 McDonough e Michael Braungart,Cradle to Cradle:Remaking the Way We Make Things (Nova York: North Point Press, 2002). 31. John Ehrenfeld e Marian Chertow, “Industrial Symbiosis: The Legacy of Kalundborg”, em Robert Ayres e Leslie Ayres, eds., Handbook of Industrial Ecology (Cheltenham, U. K.: Edward Elgar, 2002). 32. Ibid.; John Ehrenfeld, diretor emérito, MIT Technology, Business, and Environment Program, e-mail ao autor, 3/09/03; Fiji de Gardner e Sampat, op. cit., nota 6, pp. 37-38. 33. Clean Production Action, “What Are the Key Elements of an Extended Producer Responsibility Plan? em www.cleanproduction. org, visitado em 11/09/03. 34. Blackman, Luskin e Guillemin, op. cit. nota 18; Pat Franklin, Extended Producer Responsibility: A Primer (Arlington, VA: Container Recycling Institute, novembro de 1997). 35. BASF e Rohner de McDonough e Braungart, op. cit., nota 30, pp. 19-20. 36. Alemanha, de “Extended Producer Responsibility”, Environmental Manager, August 1998; “Extended Product Responsibility: Designing for the Future”, Business for Social Responsibility Education Fund, janeiro de 2000, em www.where-itsat.com/epr.html. Tabela 5-3 dos seguintes: “Extended Product Responsibility: Designing for the Future,” op. cit., esta nota; Carola Hanisch, “Is Extended Producer Responsibility Effective?” Environmental Science and Technology, abril de 2000, pp. 170A-75A; “Extended Producer Responsibility”, op. cit., esta nota; Clean Production Action, “Extended Producer Responsibility”, em www.cleanproduction. org/epr/EPR.htm; Sam Cole, “Zero Waste on the Move Around the World”, Eco-Cycle: Boulder Country’s Recycling Professionals, em w w w. e c o c y c l e . o r g / Z e r o Wa s t e / ZeroWasteonTheMove.cfm, visitado em 28/ 09/03; Michele Raymond, Extended Producer Responsibility Laws: A Global Policy Analysis (College Park, MD: Raymond Communications, Inc., sem data); Raymond Communications, Inc., “Recycling & Solid Waste in Latin America: Trends and Policies”, em www.raymond.com/promo_Raymondlibrary/lacsum.html, visitado em 09/09/03; Total Environment Center (Sydney, Australia), “Toxic Product Fact Sheet”, 2/07/03, em www.tec.nccnsw.org.au/member/tec/projects/ Waste/tpf.html; Beverley Thorpe e Iza Kruszewska, “Strategies to Promote Clean Production-Extended Producer Responsibility”, janeiro de 1999, atualizado em 2/04/03, em www.grrn.org/resources/BevEPR.html; Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, “Product Stewardship”, em www.epa.gov/epaoswer/non-hw/ reduce/epr/ products/index.html, visitado em 09/09/03; Mitsutune Yamaguchi, “Extended Producer Responsibility in Japan”, ECP Newsletter, fevereiro de 2002, em www.jemai.or.jp/english/ eecp/ecp_ no19/19a.pdf. 37. “Extended Product Responsibility: Designing for the Future”, op. cit., nota 36; Eric Lombardi, “Take It Back!” Eco-Cycle: Boulder County’s Recycling Professionals, em w w w. e c o c y c l e . o r g / Z e r o Wa s t e / TakeIBack,cfm, visitado em 28/08/03. 38. INFORM, Inc., The WeeE and RoHS Directives Highlights and Analysis (Nova York: julho de 2003), e idem, European Union (EU) Electrical and Electronic Products Directives (Nova York: julho de 2003); Michele Raymond, “U.S. Feels the Effects of European Recycling Debate”, Waste Age, 1o/03/01; Hanisch, op. cit., 263 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 5 nota 36. A diretiva cobre grandes e pequenos eletrodomésticos, equipamentos de informação e comunicações (como computadores e periféricos, celulares), itens de consumo (como televisores, rádios, estéreos) iluminação, ferramentas elétricas e eletrônicas, equipamentos de esporte e lazer, aparelhos médicos, instrumentos de monitoração e máquinas automáticas de serviços. 39. INFORM, Inc., EU Electrical and Electronic Products Directives, op. cit, nota 38; idem, The WEEE and RoHS Directives, op. cit., nota 38; Silicon Valley Toxics and Clean Computer Campaign, “European Laws on Electronic Waste and Toxics Enacted”, press release (San Jose, CA: 19/02/03). 40. INFORM, Inc., The WEEE and RoHS Directives, op. cit., nota 38; Lombardi, op. cit., nota 37; IBM de “Extended Product Responsibility: Designing for the Future,” op. cit., nota 36. 41. Hanisch, op. cit., nota 36; interesse estadual e municipal e iniciativa de baterias, de “Extended Producer Responsibility,” op. cit., nota 36. 42. Pressão em fabricantes de computadores, de Clean Production Action, op. cit., nota 33. 43. “Extended Product Responsibility,” op. cit., nota 36; Bette K. Fishbein, “Carpet TakeBack: EPR American Style”, Environmental Quality Management, outono de 2000, pp. 2536; Kodak de Cole, op. cit., nota 36; Nike de “Extended Product Responsibility”, op. cit., nota 36. 44. Hanisch, op. cit., nota 36; dificuldades alemãs, de Michael Kroger, “Die Selbstuberlistung des Jurgen Trittin”, Spiegel Online, 1 o /10/03, em www.spiegel.de/ wirtschaft/0,1518,26 7986,00.html. 264 45. Xerox Corporation, Environment, Health, and Safety Progress Report 2002 (Webster, NY: 2002), p. 12; Nortel de Blackman, Luskin, and Guillemin, op. cit., nota 18. 46. Tonelagem, giro anual e Tabela 5-4 de Bureau of International Recycling, “About Recycling”, em www.bir.org/ aboutrecycling/ index.asp, visitado em 7/08/03. 47. Estatísticas globais e dos Estados Unidos, de Remanufacturing, “Frequently Asked Questions”, em www.remanufacturing. org/frfaqust.htm, visitado em 28/10/99; Walter Stahel, From Manufacturing Industry to Service Economy, from Selling Products to Selling the Performance of Products, Executive Summary (Genebra: Product-Life Institute, abril de 2000). 48. Xerox, op. cit., nota 45, pp. 12, 14; Blackman, Luskin e Guillemin, op. cit., nota 18; Clean Production Action, “Companies Who Have Financially Benefited from EPR Programs”, em www.cleanproduction.org/epr/ ExistingPrograms.htm, visitado em 11/09/03. 49. Hawken, Lovins e Lovins, op. cit., nota 25; Allen L. White, Mark Stoughton e Linda Feng, Servicizing: The Quiet Transition to Extended Product Responsibility, relatório elaborado para a Agência Ambiental dos Estados Unidos, Departamento de Resíduos Sólidos (Boston: Tellus Institute, maio de 1999). 50. Arrendamento da Xerox, de Clean Production Action, op. cit., nota 48; outros exemplos, de Hawken, Lovins e Lovins, op. cit., nota 25. 51. Hawken, Lovins e Lovins, op. cit., nota 25. 52. Ibid.; Amory B. Lovins, L. 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A expressão “infra-estrutura de consumo” é da OCDE, op. cit., nota 9, p. 30. 58. Sanne, op. cit., nota 27, pp. 275, 279; tendência de dívida familiar na OCDE, de OCDE, op. cit., nota 9, p. 14; tendência da taxa de poupança, do Banco Mundial, World Development Indicators 2002 (Washington, DC: 2002); dados da Alemanha, de Roman Pletter, “Dank Bankberater in die Schuldenfalle,” Spiegel Online, 25/08/03, em w w w. s p i e g e l . d e / w i r t s c h a f t / 0,1518,262857,00.html. 59. Crescimento do endividamento do consumo nos EUA, de “Flying on One Engine”, A Survey of the World Economy, The Economist, 20/09/03, p. 4; crédito ao consumidor total em aberto e Figura 5-2, de Federal Reserve Board, “Consumer Credit Historical Data”, em www.federalreserve.gov/ releases/g19/hist/cc_hist_sa.txt, visitado em 17/09/03; dívidas de cartões de crédito do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, Statistical Abstract of the United States 2002 (Washington, DC: 2002), e de Robert D. Manning, “Perpetual Debt, Predatory Plastic”, Southern Exposure, summer 2003, p. 51; R.U. tendência, do Departamento de Estatísticas Anuais, Annual Abstract of Statistics, Table 22-16: Consumer Credit, em www.statistics. gov.uk/ STAT B A S E / E x p o d a t a / S p r e a d s h e e t s / D4925.xls; Alemanha, de Gundi Knies and C. Katharina SpieB, “Fast ein Viertel der Privathaushalte in Deutchland mit Konsumentenkreditverpflichtungen”, DIWWochenbericht, no. 17/2003; Holanda, de Noam Neusner, “Credit Addiction Goes Global”, U.S. News and World Report, 25/03/ 02, pp. 35-36. 60. Joshua Kurlantzick, “Charging Ahead”, Washington Monthly, maio de 2003, pp. 27-29; taxas de cartões de crédito na Coréia do Sul, de Neusner, op. cit., nota 59, pp. 35-36.Gilbert Le Gras, “Canada Earmarks C$1 Billion in Climate Change Funds”, Reuters, 13/08/03. 61. Gilbert Le Gras, “Canada Earmarks C$1 Billion in Climate Change Funds”, Reuters, 13/ 08/03. 62. “Feebate”, Energy Dictionary, em www.energyvortex.com/energydictionary/ feebate.html, visitado em 16/09/03; “’Feebates’-Price Instrument Promoting Efficiency”, European Partners for the Environment, em www.epe.be/workbooks/ sourcebook/2.11.html, visitado em 16/09/03. 63. Tendência da produtividade nos Estados Unidos, medindo os setores manufatureiros e de serviços, de Eric Rauch, 265 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 5 “Productivity and the Workweek”, Massachusetts Institute of Technology, em www.swiss.ai.mit.edu/~rauch/mise/worktime/, visitado em 09/08/03; Schor, op. cit., nota 6. 64. Sanne, op. cit., nota 27, p. 285. 65. Figura 5-3 de Anders Hayden, “International Work-Time Trends: The Emerging Gap in Hours”, Just Labour, (Canada), primavera de 2003, p. 24; Schor, op. cit., nota 6. 66. Sanne, op. cit., nota 27, p. 280; Juliet B. Schor, “Sustainable Consumption and Worktime Reduction”, apresentado à Universidade de Liz por ocasião da Palestra Anual Kurt W. Rothschild, 7/11/02; Tabela 5-5 baseada em Hayden, op. cit., nota 65, pp. 27-28. 67. Preferências européias, de Hayden, op. cit., nota 65, p. 25; pesquisas nos Estados Unidos e redução de jornada, de Schor, op. cit., nota 6, e de Juliet B. Schor, The Overspent American (Nova York: Harper Perennial, 1998). 68. Tendências dos salários nos Estados Unidos, de Economic Policy Institute, “Growth of Average Hourly Wages, Benefits, and Compensation, 1948-2000 (2001 Dollars)”, em w w w. e p i n e t . o r g / d a t a z o n e / 0 2 / n i p a _ comp_2._2.pdf, e de idem, “Wages for all Workers by Wage Percentile, 1973-2001. Dollars)”, em www.epinet.org/datazone/02/ deciles_2_6r.pdf. 69. Salários ficando para trás do crescimento da produtividade, de Brenner, op. cit., nota 8, p. 235; necessidade de aumentos salariais, de Schor, op. cit., nota 6, e de Kenneth Lux, “The Failure of the Profit Motive”, Ecological Economics, no. 44 (2003), p. 7. 70. Lux, op. cit., nota 68; Sanne, op. cit., nota 27, p. 282; Schor, op. cit., nota 67, pp. 169-71. 266 71. William Greider, “Deflation: It Threatens the U.S. – and the World”, The Nation –30/ 06/03, p. 12; indústria automotiva, de PricewaterhouseCoopers, “Light Vehicle Assembly by Region, Country, Category”, 2001 Q4 Vehicle Outlook Reports, em www.autofacts.com, visitado em 16/12/01; duplicação esperada da capacidade de produção da China, de Keith Bradsher, “A Heated Chinese Economy Piles up Debt”, New York Times, 4/09/03. 72. Crescimento da demanda doméstica dos Estados Unidos, de “Flying on One Engine”, op. cit., nota 59, p. 3; Global Policy Forum, “Balance on US Cirrent Account 1960-2002”, em www.global policy.org/socecon/crisis/ 2003/curracctable.htm, visitado em 23/05/03; Larry Elliot, “American Deficit Dependency: Kill or Cure, the Fallout’s Global”, The Independent, 20/07/03; EPI e Roach de Joshua Kurlantzick, “Charging Ahead”, Washington Monthly, maio de 2003, p. 31. Quadro 5-2 dos seguintes: para uma análise mais detalhada sobre vestuário, vide Juliet Schor, “Cleaning the Closet: Toward a New Ethic of Fashion”, em Schor e Taylor, op. cit., nota 10; participação das confecções nas despesas, de Stanley Lebergott, Pursuing Happiness (Princeton, NJ: Princenton University Press, 1993). P. 91, com a parcela de 2001, de Consumer Expenditure Survey, Bureau of Labor Statistics, em www.bls.gov/cex/2001/share/ age.pdf; para a parcela menor da receita para a mão-de-obra, vide Nick Robins e Liz Humphrey, Sustaining the Rag Trade: A Review of the Social and Environmental Trends in the Un Clothing Retail Sector and the Implications for Developing Country Producers (Londres: International Institute for Environment and Development, 2000), p. 19; mais informações sobre a exploração, vide Ellen Rosen, Making Sweatshops: The Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 5 E TELEFONES CELULARES Globalization of the U. S. Apparel Industry (Berkeley: University of California Press, 2002); cálculo de Bangladesh como o quarto maior país exportador de confecções, por Juliet Schor, com base em www.otexa.ita.doc.gov/ msr/ atl.html; salários e condições de trabalho em fábricas de Bangladesh, de National Labor Committee, Ending the Race to the Bottom, Report on Bangladesh (Nova York: 2001), p. iii; dados sobre salários pagos na China e trabalho infantil, de National Labor Committee Report, Made in China: Behind the Label (Nova York: 1998); para um exemplo atual da retirada da Disney após os trabalhadores terem feito exigências modestas, vide www.nlcnet.org; preços de confecções durante a última década de dados detalhados do Consumer Price Index, disponível em www.bls.gov; taxa de aumento nas compras de roupas, do U.S. Census Bureau, Current Industry Reports 1997, Summary (Washington, DC); 48 novos artigos por ano baseados em idem, Current Industry Reports, Apparel, 2001, Tabelas 1 e 5; doações, de Christina Bergali, Media Relations Department, Goodwill International, discussão com Juliet Schor, fevereiro de 2002; brinquedos da China e salários e condições de trabalho em suas fábricas de brinquedo, do National Labor Committee, Toys of Mistery (Nova York: 2002), com 60% e 69 brinquedos sendo cálculos de Schor; outros dados de preço são calculados do Consumer Price Index, em www.bls.gov; Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, de Joseph E. Stiglitz, Globalization and Its Discontents (Nova York: W.W. Norton & Company, 2002). 73. Mudança repentina versus gradativa, de Schor, op. cit, nota 67, pp. 169-71. 74. Hawken, Lovins e Lovins, op. , nota 25, p. 10. Telefones Celulares 1. International Telecommunication Union (ITU), World Telecommunication Development Report (Genebra: 2002), p. 13; idem, “Cellular Subscribers”, 24/04/03, na Home Page da Free Statistics, em www.itu.int/ ITU-D/ict/statistics, visitada em 23/06/03. 2. “The Fight for Digital Dominance”, The Economist, 23 de novembro de 2002; ITU, World Telecommunication Development Report, op. cit., nota 1, p. 10; Michael Bociurkiw, “Revolution by Phone: Text Messaging Thrives in the Philippines”, Forbes, 10/09/01; Nick Wachira, “Wireless in Kenya Takes a Village”, Wired News, 2/01/03; ITU, “Cellular Subscribers”, op. cit., nota 1. 3. 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Vide, por exemplo, Collective Good International, em www.collectivegood. com, e Wireless Foundation’s Call to program, em 267 Estado do Mundo 2004 NOTAS, TELEFONES CELULARES E CAPÍTULO 6 www.wirelessfoundation. org, visitado em 19/ 09/03; ReCellular, em www.recellular.net, visitado em 19/09/03. 6. Bette Fishbein, INFORM, Nova York, discussão com a autora, 15/10/03. 7. Fishbein, op. cit., nota 4, pp. 58-59; Ken Belson, “Mining Cellphones, Japan Finds El Dorado”, New York Times, 28/02/02. 8. Fishbein, op. cit., nota 4, pp. 57-58; Blue Angel, em www.blauer-engel.de/englisch/ navigation/body_blauer_enged.htm, visitado em 6/08/03. 9. “European Electroscrap Laws Enter into Force, “Environmental News Service, 17/02/ 03; R.U. Environment Agency, “NetRegs: Waste Electrical and Electronic Equipment (WEEE) Directive”, em environmentagency.gov.uk, visitado em 20/09/03; Comissão Européia, “Commission Tackles Growing Problem of Electrical and Electronic Waste”, press release (Bruxelas: 13/06/00); R.U. Environment Agency, “NetRegs: The Restriction of Hazardous Substances in Electronical and Electronic Equipment (RoHS) Directive”, em environment-agency.gov.uk, visitado em 20/09/03; Jeff Chappell, “Recycling Europa”, Electronic News, 18/03/02, pp. 1-2. 10. Nokia, “Environmental Report of Nokia Corporation 2002”, em www.nokia.com, visitado em 23/09/03. 11. Ted Smith e Chad Raphael, “High Tech Goes Green”, YES! A Journal of Positive Futures, spring 2003, pp. 28-30; Alice P. Jacobson, “Deleting E-Waste”, Waste Age, 1 June 2003, p. 6; Lynn Schenkman, “Nova York Law Will Require Cell Phone Dealers to Recycle Their Products”, Waste Age, 9/07/03, Beverly Burmeier, “Happy Endings for CastOFF PCs, Christian Science Monitor, 21/04/ 03, p. 20; listagem de iniciativas estaduais, de 268 Silicon Valley Toxics Coalition, em www.svtc.org, visitado em 20/09/03. 12. Fishbein, op. cit., nota 6; Timo Poropoudas, “Mobile Giants Sign Up in Recycling Initiative”, em Mobile CommerceNet, 14/12/02, em www. mobile.commerce.net, visitado em 15/10003; Jim Puckett e Ted Smith, eds., Exporting Harm: The High-Tech Trashing of Asia (Seattle, WA, e San Jose, CA: Basel Action Network e Silicom Valley Toxics Coalition, com Toxics Link India, Greenpeace China e SCOPE, fevereiro de 2002). Capítulo 6. Comprando para as Pessoas e o Planeta 1. Connecticut Energy Co-op, “Connecticut College is Ist College to Buy Green Power from the Co-op”, press release (Hartford, CT: 11/05/01); Connecticut College, “Connecticut College Sets National ‘Green Energy’ Record; Purchases Wind Energy Certificates for 22 Percent of Electricity Use”, press release (New Londres, CT: 27 /01/03). 2. Faz-se, às vezes, distinção entre compras (de produtos e materiais para uso operacional) e aquisições (peças e materiais como insumos para produtos manufaturados). Neste capítulo, entretanto, os termos são utilizados de forma intercambiável. Michael Scholand, “Compact Fluorescents Set Record”, em Worldwatch Institute, Vital Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton & Company, 2002), pp. 4647; Janet Sawin, “Traçando um Novo Futuro Energético”, em Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2003 (Salvador: UMA Editora, 2003), pp. 97-124; Minou Yussefi e Helga, eds., The World of Organic Agriculture 2002 – Statistics and Future Prospects (YholeyTheley, Germany: International Federation of Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 6 Organic Agriculture Movements, 2003), p. 24; U.S. Department of Energy, Office of Transportation Technologies, “Hybrid Electric Vehicles in the United States”, Fact of the Week #230, 19/08/02, em www.ott.doe.gov/ facts/archives/fotw 230.shtml. 3. As estimativas são conservadoras, conf. Natural Marketing, “Understanding the LOHAS Market Report: LOHAS Market Size”, em www.naturalbusiness.com/ market.html, visitado em 12/12/02; dados do produto interno bruto (PIB), de David Malin Roodman, “Economic Growth Falters,” in Worldwatch Institute, Vital Signs 2002, op. cit., nota 2, pp. 58-59. 4. Christoph Erdmenger at al., The World Buys Green (Freiburg, Germany: International Council for Local Environmental Initiatives (ICLEI), 2001), p. 13; Dunquerque from ICLEI, Green Purchasing Good Practice Guide (Freiburg, Germany: 2000), p. 21; Gerard Gleason, diretor associado, Conservatree, São Francisco, discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 7/04/03. 5. Sawin, op. cit., nota 2. 6. Alan Durning, How Much Is Enough? (Nova York: W.W. Norton & Company, 1992). 7. Até três quartos destes gastos destinamse a compras de bens de consumo e serviços, enquanto o restante destina-se a bens de capital e investimentos. Figura 6-1 baseada em preços de 1991 e paridades de poder aquisitivo, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Greener Public Purchasing: Issues e Practical Solutions (Paris: 2000), p. 36; Commission of the European Communities, Commission Interpretative Communication on the Community Law Applicable to Public Procurement and the Possibilities for Integrating Environmental Considerations Into Public Procurement (Bruxelas: 4/07/01), p. 5; estimativa de 18% baseia-se num PIB continental combinado de US$ 11,7 trilhões, conf. Chantal Line Carpentier, Comissão Norte-Americana para Cooperação Ambiental, apresentação na Conferência Americana de compras Verdes, Filadélfia, PA, 22-24/04/02; governo dos Estados Unidos, de Scot Case, diretor de Estratégias de Aquisições, Center for a New American Dream, e-mail à autora, 11/04/03. 8. K. Green, B. Morton e S. New, Consumption, Environment, and the Social Sciences,citado em Adam C. Faruk et al., “Analyzing, Mapping, and Managing Environmental Impacts Along Supply Chains”, Journal of Industrial Ecology, primavera de 2001, p. 15. 9. Cifra de US$ 250 bilhões inclui o montante gasto em livros e artigos escolares. Kevin Lyons, Rutgers University (instrutor), “Driving Sustainable Markets ‘Teach-In’”, curso on-line patrocinado pela National Wildlife Federation’s Campus Ecology Program e a National Association of Educational Buyers, 2002; 3% do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, Bureau of Economic Analysis, “Current Dollar and ‘Real’ Dollar Gross Domestic Product”, em www.bea.doc. gov/ bea/dn/gdolev.xls, visitado em 7/05/03; 18 economias, do Banco Mundial, World Development Indicators 2001 (Washington, DC: 11/04/01); Gary Gardner, Invoking the Spirit: Religion and Spirituality in the Quest for a Sustainable World, Worldwatch Paper 104 (Washington, DC: Worldwatch Institute, dezembro de 2002); Serviços Interagências de Aquisições das Nações Unidas (IAPSO), Annual Statistical Report 2000 (Nova York: julho de 2001). 269 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 6 10. Case, op. cit., nota 7. 11. Em algumas compras, concorrências públicas não são possíveis porque há apenas um fornecedor tecnicamente qualificado para o serviço, como no caso de muitos contratos aeroespaciais e de defesa. Quadro 6-1 dos seguintes: Kevin Lyons, Buying for the Future: Contract Management and the Environmental Challenge (Londres: Pluto Oress, 2000); Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), The City of Santa Monica’s Environmental Purchasing: A Case Study (Washington, DC: março de 1998), p. 7; White House Task Force on Recycling, Greening the Government: A Report to the President on Federal Leadership and Progress (Washington, DC: 22/04/00), p. 25; Suíça, da OCDE, op. cit., nota 7, p. 67; AnneFrancoise Gailly, “Green Procurement and the Belgian Presidency”, Ecoprocura (ICLEI), setembro de 2001, p. 9. 12. TerraChoice Environmental Services, Inc., Products and Services: The Climate Change Connection (Ottawa: março de 2002); U.S. Office of the Federal Environmental Executive, “Web Based Paper Calculator”, em www.ofee.gob/recycled/calculat.htm; Environmental Defense, “Catalog Companies Are Selling Nature Short This Holiday Season”, press release (Nova York: 13 de novembro de 2002). 13. Janitorial Products Pollution Prevention Project, “What Injuries Happen to Your Janitors?” em www.westp2net.org/ Janitorial/ jp4.htm, visitado em 20/02/03. 14. Lâmpadas fluorescentes compactas, de TerraChoice Environmental Service, Inc., op. cit., nota 12, p. 20; limpadores, de Alicia Culver et al., Cleaning for Health: Products and Practices for a Safer Indoor Environment (Nova York: INFORM, Inc., 2002). 270 15. Tabela 6-1 dos seguintes: Bank of America, Environmental Commitment 2001 Activity Highlights, em www. bankfamerica. com/environment/index.cfmvisitado em 29/04/ 03; Boeing, “EPA Names Boeing Partner of The Year”, press release (St. Louis, MO: 14/04/99); 16.000 residências, de “Sustainability and Green procurement”, Pollution Prevention Northwest, Pacific Northwest Pollution Prevention Resource Center, fall 1999, em www.pprc.org/ pprc/pubs/newslets/news1199.html; Canon, Canon Environmental Report 2002, em www.canon.com/ environment/eco2002e/ p22.html, visitado em 8/04/03; Federal Express, “FedEx and the Environment”, em www.fedex. com/us/about/news/ontherecord/ environment.html, visitado em 29/04/03; Hewlett-Packard, “Supply Chain Social and Environmental Responsibility”, em www.hp.com/hpinfo/globalcitizenship/ environment/supplychain/index.html, visitado em 29/04/03; IKEA International A/S, IKEA: Environmental and Social Issues 2001 (Delft, Netherlands: novembro de 2001), p. 13; John Zurcher, IKEA U.S., discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 8/04/03; McDonald’s de EPA, Private Sector: How Companies Are Incorporating Environmentally Preferable Purchasing (Washington, DC: junho de 1999 (pp. 20-22 e de “McDonald’s Approves Earthshell Container for Big Mac”, Environment News Service, 2/04/01; William Hall, “Migros Commits to Buying Green Palm Oil”, Financial Times, 24/01/2002; Riu Hotels from International Hotels Environment Initiative, “Case Studies”, em www.ihei.org/HOTELIER/hotelier. nsf/ content/clb2.html, visitado em 9/5/03; Staples, Inc., “How Staples Recycles”, em www.staples.com/products/centers/recycle/ hsr.asp, visitado em 16/04/03; Staples, Inc., “Staples Environmental Paper Procurement Policy” (Framingham, MA: November 2002); Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 6 Staples, Inc., “Staples Joins Green Power Market Development Group”, press release (Framingham, MA: 13/03/03); Starbucks, “Coffee, Tea, & Paper Sourcing”, em www.starbucks.com/ aboutus/sourcing.asp, visitado em 29/04/03; Toyota, “Procurement/ Production/Logistics”, em www.toyota. co.jp/ Irweb/corp_info/eco/pro.htmm, visitado em 14/ 04/03. Stephan Schmidheiny com o Business Council for Sustainable Development, Changing Course (Cambridge, MA: The MIT Press, 1992), pp. 9-10; L’Oreal from Amanda Griscom, “In Good Company”, Grist Magazine, 31/07/02; Anheuser-Busch e IBM de EPA, op. cit., esta nota, p. 22. 16. Craig R. Carter e Marianne M. Jennings, Purchasing’s Contribution to the Socially Responsible Management of the Supply Chain (Tempe, AZ: CAPS Research, 2000), p. 11. 17. Steven A. Melnyk et al., ISO 14000: Assessing Its Impact on Corporate Effectiveness and Effectiveness and Efficiency (Tempe, AZ: CAPS Research, 1999), p. 20; Heidi McCloskey,Nike Apparel, discussão com Brian Halweil, Worldwatch Institute, 18/02/03; 3% de Nike, Inc., “Team Players”, em www.nike. com/ nikebiz/nikebiz. visitado em 28/02/03. 18. Nike, Inc., op. cit., nota 17; Recycled Paper Coalition, “About Us”, em www.papercoalition.org/aboutus.html, visitado em 11/03/03. 19. Jeffrey Hollender, “Changing the Nature of Commerce”, em Juliet B. Schor e Betsy Taylor, eds. Sustainable Planet: Solutions for the Twenty-first Century (Boston: Beacon Press, 2002), p. 76. 20. Vide, por exemplo, Nações Unidas, Agenda 21 (Nova York: abril de 1993), p. 33; Conselho da OCDEl, “Recommendation of the Council on Improving the Environmental Performance of Government” (Paris: 1996); ICLEI, “Lyon Declaration: Enhancing the Framework, Enforcing the Action for Greening Government Operations”, texto adotado na Conferência EcoProcura de Lyon, França, 1718/10/2000; Nações Unidas, Report of the World Summit on Sustainable Development (Nova York: 2002), p. 21; OCDE, op. cit., nota 7, pp. 19 e 20. 21. Tabela 6-2 dos seguintes: OCDE, op. cit., nota 7, pp. 50-60; ICLEI, op. cit., nota 4; Erdmenger et al., op. cit., nota 4; Christoph Erdmenger, “Sustainable Purchasing – A Concept Emerging from the Local Level”, International Aid & Trade Review, Conference & Exhibition 2002 Special Edition, 19-20/06/02, pp. 124-25; Diretoria Comercial da OCDE, Trade Issues in the Greening of Public Purchasing (Paris: 16/03/99), pp. 4-5, 28; Canadá de Natural Resources Canada, Government of Canada Action Plan 2000 on Climate Change, em www.climate change.gc.ca/english/whats_new_pdf/ gofcdaplan_eng2.pdf, e do Departamento da Justiça, Alternative Fuels Act 1995, em laws.justice.gc.ca/en/A-10.7/text.html; Alemanha, de www.beschaffung-info.de; Center for a New American Dream, “Environmental Purchasing Factoids”, em w w w. n e w d r e a m . o r g / p r o c u r e / factoids.htmlvisitado em 03/03/03; Hiroyuki Sato, Green Purchasing in Japan: Progress, Current Status, and Future Prospects (Tóquio: Green Purchasing Network, 2003); Scot Case, “Moving Beyond ‘Buy Recycled,’” ECOS, primavera de 2001, p. 1; U.S. General Accounting Office (GAO), Federal Procurement: Better Guidance and Monitoring Needed to Assess Purchases of Environmentally Friendly Products (Washington, DC: junho de 2001), p. 4; 271 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 6 Christoph Erdmenger, diretor do Programa Europeu de Ecoaquisições e Economia Ecoeficiente, ICLEI, “Overview and Recent Developments of Sustainable Procurement”, apresentação na Conferência de Ajuda e Comércio Internacional sobre Comércio e Desenvolvimento: Capacitação de Mercados Sustentáveis, Nova York, 19-20/06/02. 22. Erdmenger, “Overview and Recent Developments of Sustainable Procurement”, op. cit., nota 21; “The Hannover Call of European Municipal Leaders at the Turn of the 21 st Century”, em www.iclei.org/ ecoprocura/info/Hann_ call.pdf, visitado em 24/03/04; Bente Moller Jensen e Anders Schmidt, Green Purchasing Status Report: Municipality of Kolding (Freiburg, Alemanha: ICLEI, fevereiro de 2002). 23. Dean Kubani, City of Santa Monica, CA, discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 11/04/03; Mike Liles, Minnesota Office of Environmental Assistance, e-mail a Clayton Adams, Worldwatch Institute, 9/04/03; EPA, State and Local Government Pioneers (Washington, DC: novembro de 2000). 24. Taiwan, de Public Construction Commission Executive Yuan, “Article 96”, Government Procurement Law, em w w w. p c c . g o v. t w / c 2 / c 2 b / c 2 b _ 3 / 2_b_3_10.htm, visitado em 9/05/03; Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e Consumers International, Tr a c k i n g P ro g re s s I m p l e m e n t i n g Sustainable Consumption Policies (Nairobi: maio de 2002), p. 26, 54-55; UNEP, “DRAFT Mapping of Major Procurement Initiatives Worldwide”, documento elaborado para Grupo Interagência sobre Aquisições Sustentáveis (Paris: 2003); Tailândia, de Burton Hamner, Hamner and Associates LLC, e-mail para o autor, 3/02/03. 272 25. ICLEI de Erdmenger et al., op. cit., nota 4, p. 13; Força-Tarefa da Casa Branca para Reciclagem, op. cit., nota 11, p. 25; Jim Motavalli e Josh Harkinson, “Buying Green”, E Magazine, setembro/outubro 2002, p. 29. 26. O desafio, entretanto, é assegurar que os consumidores ativem as características poupadoras de energia logo que adquiram este equipamento. Luke Brander e Xander Olsthoorn, Three Scenarios for Green Public Procurement (Amsterdam: Vrije Universiteit Institute for Environmental Studies, dezembro de 2002), p. 16; mais de 1 milhão, de Erdmenger et al., op. cit., nota 4, p. 59; 7% de Scot Case, diretor de Estratégias de Aquisições, Center for a News American Dream, Takoma Park, MD, discussão com a autora, 2/12/02; William J. Clinton, Executive Order 12845: Requiring Agencies to Purchase Energy Efficient Computer Equipment (Washington, DC: 21/ 04/93); Maria Vargas, Climate Protection Partnerships Division, EPA, discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 25/ 04/03; Japão, de Erdmenger et al., op.cit., nota 4 p. 47. 27. Incentivos para veículos, vide Clean Cities International Program, em www.ccities. doe.gov; “Los Angeles Cathedral to Use Solar Power”, Reuters, 19/08/02. 28. Comissão Européia, “Directive 2000/ 53/EC of the European Parliament and of the Council of 18 September 2000 on End-of-Life Vehicles”, Official Journal of the European Communities, 21/10/00; Chrysler Group, “The Chrysler Group Demonstrates Its ‘CARE’ for the Environment by Turning Garbage Into Car Parts”, press release (Auburn Hills, MI: 20/03/02). 29. Dados dos Estados Unidos baseados em pesquisa de 2.267 domicílios em novembro de 2001, conf. LOHAS Consumer Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 6 Research, “Nearly One-Third of Americans Identified as Values-Based, Highly-Principled Consumers, New Research Shows”, press release (Broomfield, CO: 19/06/02); Deborah Doane, Taking Flight: The Rapid Growth of Ethical Consumerism, relatório para o Cooperate Bank (Londres: New Economics Foundation, outubro de 2001), p. 2. Doane ressalta que uma compra ética é definida como uma decisão pessoal de compra, alinhada com direitos humanos, bem-estar animal ou o meio ambiente, e que dá aos consumidores uma escolha entre um produto e uma alternativa ética. 30. Vide Robin Broad, ed., Global Backlash: Citizen Initiatives for a Just World Economy (Lanham, MD: Rowman & Littlefield, 2002); EPA, op. cit., nota 15, p. 7; Environies International Ltd., The Millennium Poll on Corporate Social Responsibility: Executive Briefing (Toronto, ON, Canadá: setembro de 1999). 31. ICLEI, op. cit., nota 4, pp. 23-24. 32. Quadro 6-2 dos seguintes: Home Depot, “The Journey to Sustainable Forestry”, informations sheet (Atlanta, GA: January 2003); números de vendas, lojas, produtos e certificações, de Dan Morse, “Home Depot Is Expected to Deliver Report on Timber”, Wall Street Journal, 2/01/03; 20%, de “Home Depot Decision Cheered”, Environmental News Network, 30/08/99; concorrentes, de Jim Carlton, “Against the Grain: How Home Depot and Activists Joined to Cut Logging Abuse”, Wall Street Journal, 26/09/00; Jim Carlton, “Home Builders Centex and Kaufman Agree Not to Buy Endangered Wood”, Wall Street Journal,31/03/00; corrida à certificação, de Barrie McKenna, “U.S. Home Builders To Ban Old-Growth Wood”, Globe and Mail, 31/03/ 00; Michael Marx, ForestEthics, apresentação na Conferência Norte-Americana de Aquisições Verdes, Filadélfia, PA, 22-24/04/ 02; crítica, de Rainforest Action Network, “Rainforest Action Network Statement on Home Depot’s Wood Purchasing Policy”, press release (São Francisco: 2/01/03); aumentos de preços, de June Preston, “Home Depot Says It Aims to Save Ancient Forests”, Environmental News Network, 30/08/99. 33. Alliance for Environmental Innovation, em www.environmentaldefense.org/ alliance, visitado em 12/05/03; Fundo Mundial para a Natureza, “WWF Climate Change Programme: Business Partners”, em www.panda.org/ about_wwf/what_we_ do/climate_change/ what_we_do/business_industry/ climate_savers.cfm, visitado em 7/03/03; World Resources Institute, Green Power Market Development Group, em www. thegreenpowergroup.org. 34. Julia Schreiner Alves, Companhia Estadual de Saneamento Básico e Tecnologia, São Paulo, Brasil, e-mail à autora, 7/04/03. 35. N a t i o n a l P o l l u t i o n P r e v e n t i o n Roundtable, Environmentally Preferable Purchasing Discussion Group, “Environmentally Preferable Purchasing,” apresentação em PowerPoint, em www. newdrean.org/procure/resources.html#ppt. 36. Problemas do mundo em desenvolvimento, de Asian Development Bank, To Serve and To Preserve: Improving Public Administration in a Competitive World ((Manila: 2000), p. 334; Erdmenger, “Sustainable Purchasing”, op. cit., nota 21, p. 124. 37. Comissão das Comunidades Européias, op. cit., nota 7. 38. Em abril de 2003, algum progresso havia sido conquistado nos esforços de inclur especificações para fertilizantes “bio- 273 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 6 baseados” no projeto de lei agrícola do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Tom Ferguson, Perdue AgriRecycle, LLC, discussão com a autora, 22/04/02, e discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 2/04/03. 39. Luz Aída Martínez Meléndez, Programa de Administracion Sustenable, Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais, México, e-mail a Clayton Adams, Worldwatch Institute, 7/04/03. 40. Gabinete do Prefeito, “City Selects ComEd to Provide Clean Power, Leads Nation in Building ‘Green Electricity Market”, press release (Chicago, IL: 6/07/01); Missouri de EPA, op. cit., nota 23, p. 13; custo de propriedade, de Case, op. cit., nota 26. 41. Brander e Olsthoorn, op. cit., nota 26, pp. 11-12; Peter Buhle et al., Stuttgart Green Purchasing Status Report (Freiburg, Germany: ICLEI, janeiro de 2002), pp. 45-46. 42. Desde então Santa Monica conseguiu substituição em todas as 27 categorias, conf. Kubani, op. cit., nota 23; EPA, op. cit., nota 11, pp. 1, 8; l,5 toneladas de EPA, op. cit., nota 23, p. 24; Hiroyuki Sato, Green Purchasing Network, Tokyo, e-mail a Clayton Adams, Worldwatch Institute, 21/04/03. 43. ICLEI, op. cit., nota 4, p. 42. 44. R.U. Department of the Environment, Transport and the Regions, “Action To Halt Illegal Timber Imports – Meacher”, press release (Londres: 28/07/00); Greenpeace R.U., “Green-peace Catches Blair Trashing Ancient Forests to Furnish the Cabinet Office”, press release (Londres: 10/04/02); Comitê de Auditoria Ambiental da Câmara dos Comuns, “Buying Time for Forests: Timber Trade and Public Procurement”, Sixth Report of Session 2001-02 (Londres: 24/07/02), p. 4. 274 45. “Executive Order 13101 – Greening the Government Through Waste Prevention, Recycling, and Federal Acquisition”, Federal Register, 16/09/98; EPA Quantitative Measurement of Environmentally Preferable Purchasing (EPP) Among Federal Employees in 2000 (Washington, DC: fevereiro de 2001); GAO, op. cit., nota 21. 46. Julian Keniry, diretor do Programa de Ecologia no Campus, National Wildlife Federation, Washington, DC, discussão com a autora, 28/03/02. 47. EPA, op. cit., nota 45; Voralburg de ICLEI, op. cit., nota 4, p. 39; Marcia Deegler, Operational Services Division, Commonwealth of Massachusetts, e-mail a Clayton Adams, Worldwatch Institute, 10/04/03. 48. GAO, op. cit., nota 21; problemas d e descentralização, de Tapio Pento, “Implementation of Public Green Procurement Programmes”, in Trevor Russel. Ed., Greener Purchasing Opportunities and Innovations (Sheffield: Greenleaf Publishing, 1998), pp. 2330 e de OCDE, op. cit., nota 7, pp. 46, 82; Berny Letreille, Environment Canada, discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 14/04/ 03; Tom Snyder, Arfonne National Laboratory, U.S. Department of Energy, discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 9/04/03. 49. Moller Jensen e Schmidt, op. cit., nota 22, p. 12; Holly Elwood, EPP Program, EPA, Washington, DC, discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 9/04/03; Matthew DeLuca, Green Mountain Energy Company, Burlington, VT, discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 4/04/03. 50. Paul Brown, Steven Morris e John Aglionby, “Rainforests Hit By Paper Trail to R.U”. (Londres) Guardian, 26/06/01; EPA, op. cit., nota 45, p. 8. Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 6 51. Jacqueline Ottman, Green Marketing: Opportunity for Innovation (Nova York: NTCMcGraw-Hill, 1998); Recycled Paper Coalition, “RPC Listening Study on Environmental Printing and Office Papers”, em www. papercoalition.org/ survey.html, visitado em 11/03/03; falta de normas, da Diretoria Comercial da OCDE, op. cit., nota 21, p. 18; produtos inovadores, de Environment Canada, Towards Greener Government Procurement (Hull, QC, Canada: atualizado em maio de 2000). 52. Rita Schenck, “Life Cycle Assessment: the Environmental Performance Yardstick”, Yardstick”, trabalho elaborado para Earthwise Design, Conferência de Avaliação de Realidades e Soluções de Ciclo de Vida para Prédios Sustentáveis, Antioch University, Seattle, WA, 19/01/02; Quadro 6-3 de Guido Sonnemann, Divisão de Tecnologia, Indústria e Economia, PNUMA, e-mail para a autora, 29/07/03; Volvo de EPA, op. cit., nota 15, p. 9; U.S. Department of Commerce, National Institute of Standards and Technology, Office of Applied Economics, “BEES 3.0”, em www.bfrl.nist.gov/oae/software/bees.html. 53. Center for a New American Dream et al., “A Common Vision for Transforming the Paper Industry: Striving for Environmental and Social Sustainability”, ratified at the Environmental Paper Summit, Sonoma C o u n t r y, C A , 2 0 / 11 / 0 2 , e m w w w. conservatree.com/paper/choose/ commonvision.shtml, visitado em 11/03/03; Office of the Federal Environmental Executive, “Governments Agree on National Criteria for ‘Green’ Cleaning Products”, press release, em www.ofee.gov/gp/greencleancriteria.htm, visitado em 04/03/03. 54. Vide, por exemplo, Forest Stewardship Council, “Forests Certified by FSC-Accredited Certification Bodies”, em www.fscoax.org/ html/5-3-3.html, visitado em 06/01/03, e Greene, em www.green-e.org. 55. Michele Ferrari, “Ferrara, on Its Way Toward Green Procurement”, Eco-Procura (ICLEI), setembro 2001, p. 19; Pensilvânia, de EPA, op. cit., nota 23, p. 17, e de Arthur Weissman, Green Seal, Washington, DC, discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 1o/04/03; questões comerciais, da Organização Mundial do Comércio, “Government Procurement: The Plurilateral Agreement”, em www.wto.org/english/ tratop_e/gproc_e/gp_gpa_e.htm, visitado em 22/04/03, e da Diretoria Comercial da OCDE, op. cit., nota 21. 56. Montavalli e Harkinson, op. cit., nota 25, p. 29; Arthur Weissman, Green Seal, Washington, DC, discussão com a autora, 08/04/03. 57. Case, op. cit., nota 7. 58. Foram propostos 11 produtos adicionais para recomendação da EPA em 2001, mas ainda não foram aprovados, inclusive produtos de cimento e concreto, tapetes de nylon e forros de carpetes, materiais de cobertura, móveis de escritório, pneus e cavaletes de bicicleta; EPA, Comprehensive Procurement Guidelines, em www.epa.gov/cpg;ICLEI, op. cit., nota 4, p. 36. 59. ICLEI, “BIG-Net: Buy-It-Green Network”, em www.iclei.org/europe/ ecoprocura/network/index.htm, visitado em 4/ 04/03; ICLEI, “RELIEF-European Research Project on Green Purchasing”, em www. iclei.org/europe/ecoprocura/ relief/index.htm, visitado em 4/04/03; ICLEI, “Eco-Procurement: The Path to a Greener Marketplace” (Freiburg, Alemanha: 2002). 60. EPA, Environmentally Preferable Purchasing (EPP), em www.epa.gov/oppitintr/ epp/index.htm; White House, “Executive 275 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 6 E PAPEL Order #12873: Federal Acquisition, Recycling and Waste Prevention”, press release (Washington, DC: 20/10/93); EPA, EPP Database, em www.epa.gov/oppt/epp/ database.htm, visitado em 19/02/03. 61. Center for a New American Dream, em www.newdream.org; EPA, “Conference Helps Further Green Purchasing”, EPP Update, agosto de 2002, pp. 2.3. 62. Sato, op. cit., nota 21. 63. University Leaders for a Sustainable Future, “ Programs (Talloires Declaration)”, em www.ulsf.org/ programs_talloires.html, visitado em 4/03/03; International Hotels Environment Initiative, em www.ihei. o r g ; B e n c h m a r k H o t e l , e m w w w. benchmarkhotel.com. 64. Erdmenger et al., op. cit., nota 4, p. 33; Green Purchasing Network, em eco.goo.ne.jp/ gpn/index.html, visitado em 9/04/03; King Country Environmental Purchasing, em www.metrokc.gov/ procure/green/index.htm. 65. Erdmenger, “Sustainable Purchasing”, op. cit., nota 21, pp. 122-24. 66. Robert Goodland, Ecolabeling: Opportunities for Progress Toward Sustainability (Washington, DC: Consumer’s Choice Council, abril de 2002), pp. 7-8; Miriam Jordan, “From the Amazon to Your Armrest”, Wall Street Journal, 1º de maio de 2001; DaimlerChrysler, Environmental Report 2001 (Auburn Hills, MI: 30/07/01). 67. IAPSO, op. cit., nota 9, p. 5; UNICEF, Supply Division Annual Report 2001 (Nova York: 2002), p. 5; Goodland, op. cit., nota 66, pp. 9-10. 68. Banco Mundial, “Putting Social and ‘Green’ Responsibility on the Corporate Agenda World Bank Chief Says Corporate 276 Responsibility Is Key to Sustainable Development – and Good Business”, press release (Washington, DC: 21/06/01); Dominique Brief, Environmentally and Socially Responsible Procurement Initiative, Banco Mundial, discussão com Clayton Adams, Worldwatch Institute, 8/04/03; Bernard Ross, “World Bank Structural Adjustment and Investment Loans: Approaches to Environmental Conditionality in Procurement” (Washington, DC: maio de 2000); PNUMA, “Environmentally & Socially Responsible Procurement”, em www. sustainable procurement.net, visitado em 17/ 03/03.ICLEI, op. cit., nota 4, p. 31; SWAP (Surplus With a Purpose), em www. bussvc.wisc.edu/swap. Papel 1. Sêxtuplo e 40%, de Janet N. Abramovitz e Ashley T. Mattoon, Paper Cuts: Recovering the Paper Landscape, Worldwatch Paper 149 (Washington, DC: Worldwatch Institute, dezembro de 1999), pp, 33, 7; Japão, da Organização das Nações Unidas pra Alimento e Agricultura (FAO), FAOSTAT Statistical Database, em apps.fao.org; cerca da metade, do International Institute for Environment and Development, Towards a Sustainable Paper Cycle (Londres: 1996), p. 20. 2. Paper Trading International, Inc., “The History of Paper”, em www.papertrading. com/ prod01.htm, impressão em cânhamo, de R e T h i n k P a p e r, “ H e m p ” , e m w w w. rethinkpaper.org/content/hemp/cfm. 3. Abramovitz e Mattoon, op. cit, nota 1, p. 21. 4. Estimativa de 30% da FAO, op. cit., nota 1; países em desenvolvimento, 54%, 30% e 16%, de Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota Estado do Mundo 2004 NOTAS, PAPEL E CAPÍTULO 7 1, pp. 21-22; um quarto, de ForestEthics, “Nov. 12, 2002 – Office Supply Superstore Staples Inc. Agrees to Historic Endangered Forest and Recycling Policy”, press release (São Francisco: 12/11/02). 5. Consumo de energia, de Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota 1, pp. 26-27. 6. California Integrated Waste Management Board, “Why Use Recycled Materials?” em www.ciwmb.ca.gov/RMDZ/ WhyUse. htm. 7. Recycled Paper Coalition, “About Us”, em www.papercoalition.org/aboutus.html. 8. Alemanha, de World Resources Institute et al., 1998-99 World Resources (Nova York: Oxford University Press, 1998), p. 164; “EU Parliament Passes Tough New Recycling Law”, Recycling Today, 2/07/03. Capítulo 7. Articulando Globalização, Consumo e Governança 1. Visita de líderes indígenas ao Worldwatch Institute; Kevin Koening, Amazon Watch, discusssão com Zoe Chafe, Worldwatch Institute, 17/07/03; hectares, de Earthrights International, “Burlington: What Part of NO Don’t You Understand?” press release (Washington, DC: 14/05/03). 2. Amazon Watch, “Indigenous Leaders from Ecuador and Peru Present ‘Eviction Notice’ to Burlington Resources of Houston, Call on Oil Company to Leave Amazonian Territories”, press release (Houston, TX: 14/05/03). 3. Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, Light Duty Automotive Technology and Fuel Economy Trends: 1975 Through 2003 (Washington, DC: setembro de 2001), p. 32. 4. Benjamin R. Barber, JIHAD vs. McWorld: How Globalism and Tribalism are Reshaping the World (New York: Times Books, 1995), p. 4. 5. Propaganda de tabaco e áclool e quiosques de Coca-Cola no mundo em desenvolvimento, de observações da autora. Tabela 7-1 dos seguintes: Hennes & Mauritz de “The World of H&M” e “Short Facts”, em www.hm.com, visitado em 23/09/03, com faturamento convertido em dólares da coroa sueca em 23/09/03; Levi Strauss de “About LS&Co./Worldwide” e “2002 Annual Report/ Financial Highlights” em www. levistrauss.com, p. 19, visitado em 04/09/03; Tata Group, de “Business Sectors” and “International Connections”, em www.tata.com, visitado em 23/09/03, com faturamento convertido em dólares de rúpias em 23/09/03; Altria Group de “Fact Book,” em www.altria.com/investors, e de “Our Companies’ Global Presence,” em www.altria.com/about_altria/, visitado em 23/ 09/03; Siemens de “At a Glance”, em w4.siemens.de/annualreport_2002/, e de “About Us,” em www.siemens.com, visitado em 24/09/03, com vendas líquidas convertidas em dólares de euros em 24/09/03; Yum! Brands de “Yum! Brands Annual Report 2002,” ek www.yum.com, e de “Business Performance”, em www.yrigfp.com, visitado em 27/08/03; McDonald’s de “May 2003 Investor Fact Sheet”, em www.mcdonalds.com/ corporate/ investor/, e de “The McDonald’s History”, em www.mcdonalds.com/ corporate/info/history, visitado em 24/09/03; Domino’s de “Pizza Particulars”, em www.dominos.com, visitado em 27/08/03; Coca-Cola, de “Coca-Cola Annual Report 2002”, em www2.coca-cola.com/ ourcompany, e de “Coca-Cola Africa”, em africa.coca-cola.com, visitado em 1o/09/03. 277 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 7 6. Figura 7-1 de David Malin Roodman, “Trade Slows,” in Worldwatch Institute, Vital Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton & Company, 2002), p. 61, atualizado com dados do Fundo Monetário Internacional, World Economic Outlook (Washington, DC: 2003); desdobramento setorial do Banco Mundial, World Development Indicators 2003 (Washington, DC: 2003), deflacionado para dólares de 2002, através do deflator implícito de preços do PIB do Departamento de Comércio dos Estados Unidos; investimentos externos diretos de UNCTAD, Foreign Direct Investment, banco de dados eletrônico, em stats.unctad.org/ fdi, visitado em 30/09/03; tendências de fusões corporativas, de idem, World Investment Report 1998: Trends and Determinants (Nova York: Nações Unidas, 1998), pp. xviii-xix, “Freer Trade Cuts the Cost of Living,” em www.wto.org. 7. Figura 7-2 da Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura (FAO), FAOSTAT Statistical Database, em apps.fao.org; dados de exportação de produtos florestais, de ibid., deflacionados para dólares de 2002 através do deflator implícito de preços do PIB do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, extensão florestal de idem, State of the World’s Forests 2003 (Roma: 2003), p. 1; dados de exportação de peixes de idem, Fisheries Commodities Production and Trade 1976-2000, banco de dados eletrônico, em www.fao. rg/fi/statist/ fisoft/FISHPLUS.asp; dados de pesqueiros sustentáveis, de idem, World Agriculture: Towards 2015/2030 (Rome: 2003), p. 197. 8. Mathis Wackernagel et al., Ecological Footprint of Nations: November 2002 Update (Oakland, CA: Redefining Progress, 2002), p. 6; Figura 7-3 de ibid., pp. 9-11. 9. Kenny Bruno, “Philly Waste Go Home”, Multinational Monitor, fevereiro de 1998; lixo 278 eletrônico, de Basel Action Network and Silicon Valley Toxics Coalition, Exporting Harm: The High Tech Trashing of Asia (Seattle, WA, e San Jose, CA: 2002), p. 15. Quadro 7-1 dos seguintes: Wendell Berry, “Back to the Land,” Amicus Journal, inverno de 1999, p. 37; Basel Action Network e Silicon Valley Toxics Coalition, op. cit. esta nota; Banana Production, um filme de Scott Braman, Katie Milligan, e Center for a New American Dream, 2002, disponível em www.newdream.org/ consumer/ bananas.html; exemplos de café e dados de Oxfam International, Mugged: poverty in Your Coffee Cup (Oxford: 2002). 10. Classe de consumidores globais, de Matthew Bentley, Sustainable Consumption: Ethics, National Indices and International Relations (dissertação de doutorado, American Graduate School of International Relations and Diplomacy, Paris, 2003). 11. China, incluindo declaração do Conselho de Cooperação Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, de Matthew Bentley, “Forging New Paths to Sustainable Development”, Background Paper, Asia Pacific Expert Meeting on Promoting Sustainable Consumption and Production Patterns, Yogyakarta, Indonesia, 21-23/05/03, p. 4; salto, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), “Nações Unidas Environment Programme Opens China Office,” press release (Nairobi: 19/09/03). 12. Jeffrey Barber, Production, Consumption and the World Summit for Sustainable Development (Rockville, MD: Integrative Strategies Forum, 2003), pp. 2-4. 13. “Chapter 4: Changing Consumption Patterns,” em Nações Unidas, Agenda 21, disponível em www.un.org/esa/sustdev/ documents/agenda21; estilo de vida Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 7 americano, de Mark Valentine, “Twelve Days of UNCED”, Relatório de Acompanhamento da Cúpula da Terra, U.S. Citizens Network sobre a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 2/07/ 92, p. 5, e de Philip Shabecoff, A New Name for Peace (Hanover, NH: University Press of New England, 1996), p. 153. 14. Barber, op. cit., nota 12. 15. Diretrizes da ONU sobre Proteção ao Consumidor, disponível em www.uneptie. org/ pc/sustain/guidelines/htm; Consumers International e PNUMA, Tracking Progress: Implementing Sustainable Consumption Policies (Nairobi e Londres: maio de 2002), pp. 11, 19-20, 16. Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Grupo de Trabalho sobre Políticas Ambientais Nacionais, Policies to Promote Sustainable Consumption: An Overview, Policy Case Studies Series (Paris: julho de 2002). 17. PNUMA, “Promoting Sustainable Consumption and Production Patterns,” trabalho apresentado pelo diretor executivo, XXII sessão do Conselho Diretor/Fórum Ministerial Global do Meio Ambiente, Nairobi, 5-7/02/03, p. 4; idem, “New ‘Life-Cycle Initiative’ Launched to Help Combat Environmental Impact of Rising Consumption Patterns,” press release (Nairobi: 29/04/02); idem, “UNEP-DTIE and Sustainable Procurement,” em www.uneptie.org/pc/ sustain/procurement/green-proc.htm;idem, “Shopping for a Better World”, press release (Nairobi: 2/06/03). Quadro 7-2 dos seguintes: população jovem, de Nações Unidas, World Population Prospects: The 2002 Revision (Nova York: 2002); força de trabalho, de International Labour Organization, “Facts on Youth Employment”, fact sheet (Genebra: 21/08/02); resultados da pesquisa, de PNUMA, Is the Future Yours? (Paris: 2001), pp.8, 10-11, 44-47; exemplos de ativismo juvenil, de discussões de Isabella Marras com jovens, com exemplos dos Estados Unidos de www. sustainus.org/ giftguide.pdf. Para mais informações sobre o Projeto do PNUMA, vide w w w. u n e p t i e . o rg / p c / s u s t a i n / y o u t h / youthxchange.htm. 18. 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Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, “Status of the United Nations Convention on the Law of the Sea, of the Agreement Relating to the Implementation of Part XI of the Convention and of the Agreement for the implementation of the provisions of the Convention Relating to the Conservation and Management of Straddling Fish Stocks and Highly Migratory Fish Stocks”, em www.un.org/Depts/los/ 279 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 7 reference_files/status2003.pdf, modificado em 19/08/03; PNUMA/Convenção sobre Diversidade Biológica, “Cartagena Protocol on Biosafety Takes Effect”, press release (Nairobi: 9/09/03); Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, “List of Signatories and Parties to the Stockholm Convention”, em www.pops.int/documents/ signature/signstatus.htm, visitado em 14/10/ 03; Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, “Status of Ratification”, em unfccc.int/resource/ conv/ ratlist.pdf, modificado em 17/02/03. 20. Rory Van Loo, “Coming to the Grocery Shelf: Fair-trade Food,” Christian Science Monitor, 29/09/03; Forest Stewardship Council (FSC), “Forests Certified by FSC Accredited Certification Bodies”, atualizado em 6/10/03; dados históricos de World Resources Institute, Earthtrends, database, compilação de dados do Forest Stewardship Council, 1998-2002; parcela de florestas certificadas, baseada em FSC, op. cit., esta nota, e em FAO, Global Forest Resources Assessment 2000: Mai Report, Forestry Paper nº 140 (Roma: 2001), p. 390. 21. Caroline Woffenden, Marine Stewardship Council (MSC), e-mail a Zoe Chafe, 10/10/03; Fish 4 Thought (MSC newsletter), Abril 2003; produtos certificados, de MSC, “Sustainable Seafood at Anuga Exhibition”, press release (Londres: 9/10/03). 22. U.N. Global Compact de “The Nine Principles”, em www.unglobalcompact.org, and from “Global Compact Participants by Country”, em www.unglobalcompact.org/ content/Companies/list_pc_040903.pdf, atualizado em 02/09/03; “Standard Chartered Adopts the Equator Principles”, press release (Londres: 8/10/03); número de países, de Lynn Swarz, Equator Principles Secretariat, e-mail a Zoe Chafe, 14/10/03. 280 23. Quadro 7-3 e outras informações, de Nações Unidas, Plan of Implementation of the World Summit on Sustainable Development (Nova York: 2003), pp. 7-14. 24. Ibid., pp. 18-19; U.N. Commission on Sustainable Development, “Marrakech Meeting Takes Forward Johannesburg Summit Commitments to Sustainable Production and Consumption”, press release (Nova York: 12/06/03). 25. Divisão das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável, “Consolidated List of Partnerships for Sustainable Development as of 3 June 2003”, em www.un.org/esa/sustdev/ partnerships/ partnerships.htm, visitado em 14/10/03; “Bicycle Refurbishing Initiative”, de www.velomondial.net e de Pascal J. W. van den Noort, Velo Mondial, e-mails a Zoe Chafe, Worldwatch Institute, 5/09 e 6/10/03; Rotulagem Colaborativa e Programa de Normas para Eletrodomésticos, de www.clasponline. org. Tabela 7-2 dos seguintes, com todos os e-mails para Zoe Chafe, Worldwatch Institute, nas datas mencionadas: Divisão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, op. cit., esta nota; Arab Civil Union for Waste Management em www.keps74.com (texto em árabe); Awareness Raising and Training on Sustainable Consumption and Production atualização de Bas de Leeuw, PNUMA, e-mail 2/09/03; Iniciativa de Sustentabilidade do Cimento em www.holcim.com e em www. wbcsdcement.org; Introdução a Normas Sociais na Produção, em www.bmz.de/en; Venda de Produtos Responsáveis, atualização de Vincent Commenne, Reseau de Consommateurs Responsables Asbl, e-mails de 14/08/03 e 6/10/03; Diálogo com Jovens sobre Consumo, de www.yomag.net e www.youthxchange.net e de Elke Salzmann, Federação das Organizações de Consumidores da Alemanha, e-mail Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 7 de 26/10/03; Certificação do Turismo Sustentável em www.turismo-sostenible.co.cr. 26. Fracasso de Cancun, do International Centre for Trade and Sustainable Development (ICTSD), “Where There’s No Will, There’s No Way”, Bridges Daily Update, Fifth World Trade Organization (WTO) Ministerial Conference, 15/09/03, e da National Wildlife Federation, “U.S. Administration’s Weak Showing at WTO Reflects Neglect of Sustainable Development”, press release (Washington, DC: 14/098/03). 27. Para antecedentes do banco de dados, vide Duncan Brack, ed., Trade and Environment: Conflict or Compatability? (Londres: Earthscan, 1998), pp. 78-79; sobre preocupações dos ambientalistas, vide Lori Wallach e Michelle Sforza, Whose Trade Organization? (Washington, DC: Public Citizen, 1999). 28. Disposições da OIT, de Jeffery S. Thomas and Michael A. Meyer, The New Rules of Global Trade: A Guide to the World Trade Organization (Scarborough, ON, Canada: Carswell Thomson Professional Publishing, 1997), pp. 88-91, 185-96, e de Wallach e Sforza, op. cit., nota 27, pp. 53-79; evolução do raciocíno jurídico, de Howard Mann e Stephen Porter, The State of Trade and Environmental Law 2003: Implications for Doha and Beyond (Winnipeg, MN, Canadá: International Institute for Sustainable Development, 2003), pp. v-vi. Tabela 7-3 dos seguintes: hormônio da carne bovina, de ICTSD, “Dispute Settlement Update”, Bridges Weekly Trade News Digest, 26 February 2002, e da Comissão Européia, “EU Complies with WTO Ruling on Hormone Beef and Calls on USA and Canada to Lift Trade Sanctions”, press release (Bruxelas: 15/10/03); atumgolfinho, de OIT, “Mexico etc Versus U.S.: “Tuna Dolphin”, em www.wto.org/english/ tratop_e/envir_e/edis04_e.htm; camarãotartaruga, de idem, “India etc Versus U.S.: ‘Shrimp-Turtle’”, em www,wto.org/ English/ tratop_e/envir_e/edis08_e.htm; peixe-espada de Mark Mulligan, “Chile at Loggerheads with EU over Swordfishing”, Financial Times, 21/ 07/00, e de ICTSD, “Dispute Settlement Update”, Bridges Weekly Trade News Digest, 30/01/01; amianto, de Laurie Kazan-Allen, “A Breath of Fresh Air”, Multinational Monitor, setembro de 2000, pp. 17-19, e de OIT, “European Communities – Measures Affecting Asbestos and AsbestosContaining Products: Report of the Appellate Body”, Genebra, 12/03/01; organismos geneticamente modificados, de ICTSD, “WTO Committees Scrutinize GMO Regulations and EU Wine Labeling”, Bridges Weekly Trade News Digest, 2/07/02, de “EU ‘Regrets’ U.S. Action on GM Crops”, BBC News, 8/08/03, e de ICTSD, “Coalition Seeks WTO Dismissal of GMO Dispute”, Bridges Weekly Trade News Digest, 25/09/03. 29. Para os antecedentes históricos do caso do hormônio da carne bovina, vide U.S. Office of Technology Assessment, Trade and Environment: Conflicts and Opportunities (Washington, DC: U. S. Government Printing Office, maio de 1992). 30. Paul Jacobs, “U.S., Europe Lock Horns in Beef Hormone Debate”, Los Angeles Times, 9/04/99; OIT, “EC Measures Concerning Meat and Meat Products (Hormones)”, Relatório do Órgão de Apelação, Genebra, 16/01/98; princípio da precaução, da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, disponível em www.un.org/documents/ga/ conf151/aconf15126-1annex1.htm; “ U.S. Imposes Sanctions in Beef Fight”, New York Times, 19/07/99; sanções, da Comissão Européia, op. cit., nota 28. 281 Estado do Mundo 2004 NOTAS, CAPÍTULO 7 E CAMISETAS DE ALGODÃO 31. U. S. Trade Representative (USTR), “U.S. and Cooperating Countries File WTO Case Against EU Moratorium on Biotech Foods and Crops”, press release (Washington, DC: 14/05/ 03); Lizette Alvarez, “Europe Acts to Require Labeling of Genetically Altered Food”, New York Times, 3/07/03. 32. Perspectiva do Governo dos EUA, de USTR, op. cit., nota 31; Visões européias e do consumidor, de Neil King, Jr., “U.S., EU Battle Rages Over Modified Crops”, Wall Street Journal Online, 15/07/03, e de “EU Moves to Ease Transatlantic Row over Biotech Foods”, Agence France-Presse, 2/07/03, dados de pesquisa nos EUA, de Gary Langer, “Behind the Label: Many Skeptical of Bio-Engineered Food”, ABC News, 19/06/03:dados europeus, de George Gaskell, Nick Allum e Sally Stares, “Europeans and Biotechnology in 2002: Eurobarometer 58.0”, relatório para a Diretoria Geral da Comissão Européia para Pesquisa (Londres: Methodology Institute, Londres School of Economics, março de 2003). 33. 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Ruub Lubbers citado em Hayden, op. cit., nota 38, p. 202. 287 Publicações WWI - Worldwatch Institute no Brasil UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica Revista World Watch - bimestral Premiada pela imprensa internacional, é publicada há 13 anos em vários idiomas, acompanhando os avanços econômicos, científicos e tecnológicos e os impactos sobre os sistemas naturais do planeta. Sinais Vitais Analisa o crescimento econômico e seus impactos sobre os ecossistemas, despertando o leitor com gráficos e dados sobre as novas tendências ecológicas globais, que determinam o nosso futuro. Estado do Mundo Relatório Anual do Worldwatch, publicado há 20 anos consecutivos, em cerca de 30 idiomas, com mais de 1 milhão de cópias vendidas. Eleito pela imprensa internacional como a Bíblia do Desenvolvimento Sustentável. www.wwiuma.org.br