Rita Mishaan © Shutterstock Coordenadora da Guatemala e América Central Rio +20 (2010-2011) Boa governação! A Conferência Rio + 20 pretende assegurar a renovação do compromisso político para o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso e as lacunas de implementação no cumprimento dos compromissos anteriormente assumidos, e abordar os novos desafios emergentes. Através do processo preparatório foram identificadas duas questões importantes para as negociações em curso: uma economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, e o Quadro Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (QIDS). 22 PNUMA OUR PLANET 40 anos do DMA Os debates sobre o QIDS abordaram a questão principal da governação aos níveis internacional, regional e nacional. Os Estados-Membros levaram questões sobre como os quadros institucionais podem apoiar e promover o desenvolvimento sustentável, a nível nacional e regional, e sobre o que pode ser feito para os fortalecer. Também se questionaram sobre que ações são necessárias para desenvolver ligações mais fortes entre os três pilares do desenvolvimento sustentável – económico, social e ambiental – e que mudanças e ajustes são necessários para fortalecer a arquitetura institucional global. O Plano de Implementação para a Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável 2002, realizada em Joanesburgo no décimo aniversário da primeira Cimeira da Terra, no Rio, afirmou: que é fundamental um quadro institucional eficaz para o desenvolvimento sustentável a todos os níveis para a implementação plena da Agenda 21, que deve ser feito o acompanhamento dos resultados da Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável e que é necessário resolver os desafios emergentes do desenvolvimento sustentável. As medidas que têm por objetivo fortalecer este quadro devem ser desenvolvidas com base nas disposições da Agenda 21, assim como no Programa para a Prossecução da Implementação da Agenda 21 de 1997, e os princípios da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, e devem promover a concretização dos objetivos de desenvolvimento acordados a nível internacional, incluindo aqueles que fazem parte da Declaração do Milénio, tendo em consideração o Consenso de Monterrey e os resultados relevantes de outras conferências importantes das Nações Unidas e acordos internacionais desde 1992. Devem dar resposta às necessidades de todos os países, considerando as necessidades específicas dos países em vias de desenvolvimento, incluindo os meios de implementação. Devem conduzir ao fortalecimento dos organismos e organizações internacionais que lidam com o desenvolvimento sustentável, respeitando os seus atuais mandatos, assim como fortalecendo as instituições regionais, nacionais e locais relevantes. Assim, o que aconteceu desde então? Por que razão não concretizamos todos os acordos estabelecidos até hoje? Temos receio de dar início ao quadro ideal para o desenvolvimento sustentável aos níveis mundial, regional e nacional? Ou existe um acordo politico comum, feito em silêncio, entre os líderes políticos do mundo com poder e força cujos interesses económicos e industriais têm a última palavra? Como podemos progredir para resolver o desafio da produção e consumo excessivos que usa 80% dos recursos naturais do planeta em benefício de somente 20% da sua população? Não é necessário dizer que, com a atual taxa de crescimento populacional, precisaremos de três planetas e meio, ou quatro, até 2050 para alimentar a humanidade. Assim, existe alguma solução possível para alcançarmos um verdadeiro e desejável “desenvolvimento sustentável”? Estamos dispostos a chegar a um acordo sobre uma força unida e coesa para alcançar a governação internacional? E aos níveis regional e nacional? Estas são algumas das perguntas que ainda não têm resposta. Mas, compete-nos a nós, Estados-Membros, regiões e grupos de trabalho, apresentar algumas soluções. Durante o processo de consulta na América Central, concluímos que durante os últimos 20 anos, o sistema das Nações Unidas nunca capacitou uma agência ambiental para que pudesse ter um “mandato de alto nível” que implementasse totalmente os princípios da Agenda 21, ou que tivesse o potencial para coordenar os vários organismos internacionais ou gerar uma força política coesa para garantir que os três pilares estavam alinhados na mesma direção. A principal lição aprendida, mais uma vez, é a ausência de coerência política abrangente entre as instituições internacionais, regionais e nacionais “responsáveis” pelo desenvolvimento sustentável. No mínimo, está muito longe da vontade política expressa há 20 anos. no sistema das Nações Unidas e servir como um fórum para o debate de todas as questões relacionadas com a integração das três dimensões do desenvolvimento sustentável. No que toca à melhoria da coordenação entre as instituições existentes, é importante “O fortalecimento destacar a situação gerada durante as do PNUMA como deliberações do painel intergovernamental um programa deve ser sobre a gestão ambiental elevado para internacional do PNUMA, que um nível superior. apoiava o conceito da agregação Deve ter o poder para programática dos acordos ambientais mobilizar mais recursos multilaterais. financeiros O fortalecimento do PNUMA como Se queremos um programa deve implementar projetos aos ser elevado para abordar o desenvolvimento um nível superior. níveis nacionais sustentável, Deve ter o poder temos de gerar para mobilizar mais e regional.” “boa governação”. recursos financeiros e Isto, por sua vez, implementar projetos é essencial para aos níveis nacionais e termos políticas económicas fortes e regional. Esta nova arquitetura para o instituições democráticas sólidas que PNUMA deve, por sua vez, fortalecer deem resposta às necessidades das os seus gabinetes regionais e incluir pessoas e melhorem a infraestrutura representantes nacionais para que possa ser a base do crescimento acompanhar a implementação e a económico sustentado, da monitorização das ações no terreno. erradicação da pobreza e da criação de emprego. Por último, a criação e o fortalecimento de um novo quadro Por isso, durante os nossos debates de instituições internacionais para nacionais e regionais a este respeito, o desenvolvimento sustentável é, concluímos que os desafios a como sempre, da responsabilidade considerar são: mudar o formato das dos decisores que estão dispostos a instituições existentes e melhorar a fazer a diferença. O que é certo aqui coordenação entre elas. – duas décadas depois da Cimeira da Terra no Rio, e quatro décadas A Comissão sobre o Desenvolvimento desde que as nações se reuniram em Sustentável deve levar a cabo uma Estocolmo para a maior conferência mudança da arquitetura que lhe política internacional especificamente proporcione mais influência ao nível dedicada ao ambiente - é que não mais elevado, transformando-a num temos mais 20 ou 40 anos para “Conselho para o Desenvolvimento decidir o futuro do planeta ou a Sustentável” para lidar com o assunto sobrevivência das futuras gerações. e PNUMA OUR PLANET 40 anos do DMA 23