PNUMA economia VERDE Relatório Síntese Visão geral Tornar a economia verde trata-se, essencialmente, de melhorar o bem-estar humano, reduzindo significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica. Portanto, a saúde é fundamental para atingir o desenvolvimento sustentável. Os investimentos para esverdear os principais setores da economia e para adotar políticas e estratégias relacionadas podem conduzir a uma população mais saudável. O afastamento do caminho de desenvolvimento convencional de “crescer primeiro, limpar depois” para um caminho de desenvolvimento “verde”pode resultar em uma sociedade mais saudável, socialmente inclusiva, produtiva, equitativa e mais resiliente. Em todo o mundo, cerca de um quarto da carga total de doenças é causada por riscos ambientais e até 13 milhões de mortes podem ser evitadas todos os anos se tornarmos o nosso ambiente mais saudável. Os investimentos em agricultura, edificações e construções verdes, sistemas de transporte eficientes, gestão da terra e urbanização têm o potencial de reduzir significativamente a incidência de desnutrição, doenças cardiovasculares e doenças respiratórias crônicas, câncer, doenças transmitidas por vetores e doenças infecciosas transmitidas pela água, além de doenças relacionadas ao estilo de vida, como a obesidade e o diabetes, e melhoram a saúde e o bem-estar geral. A agricultura verde, o transporte mais inteligente e os investimentos e políticas relativos ao uso da terra não são apenas meios eficientes e de baixo custo para a prevenção de doenças, como também condições sine qua non para uma economia verde, uma vez que melhoram a produtividade, aliviam a incidência de doenças e reduzem a mortalidade. Os riscos e perigos à saúde transmissíveis e não transmissíveis provavelmente se agravarão ao Saúde longo do tempo. A população urbana mundial irá dobrar em 2050, de cerca de 3,3 bilhões de pessoas em 2007 para aproximadamente 6,4 bilhões. A maior parte deste crescimento urbano ocorrerá em cidades de baixa e média renda. Se negligenciadas, essas condições causarão mais danos ambientais, e poderão conduzir a assentamentos informais e à expansão de favelas, resultando em uma população mais vulnerável. Interligações entre a saúde e a economia verde no ambiente construído No caminho de transição rumo a uma economia verde, a saúde é uma ferramenta poderosa e um requisito fundamental para aproveitar o desenvolvimento econômico sustentável, como também para erradicar a pobreza e garantir uma sociedade economicamente equitativa e socialmente inclusiva. Existem diversos mecanismos por meio dos quais uma melhora na saúde pode ajudar a alcançar estas metas. Populações saudáveis e pobreza. Os indivíduos mais saudáveis geralmente têm a capacidade e o incentivo para economizar mais, devido à expectativa de vida mais longa e por terem menos despesas médicas. De acordo com Bloom and Canning (2000), as melhorias no setor de saúde tirariam 30 milhões de pessoas da pobreza absoluta até 2015. Além disso, a Organização Mundial da Saúde estima que mais de 63% da mortalidade global deve-se a doenças não transmissíveis. Grande parte disso é atribuído aos riscos ambientais e de estilo de vida. Isto inclui falta de atividade física e condições relacionadas à obesidade, além de doenças cardiovasculares causadas pela poluição do ar urbano relacionada aos transportes, doenças pulmonares e cânceres causados pelo uso de energia doméstica provenientes de biomassa e carvão, e asma causada pela poluição interna. O PNUMA define a economia verde como aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e igualdade social, e, ao mesmo tempo, reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica. As estratégias de economia verde no ambiente construído, o melhor planejamento das cidades e a utilização de combustíveis limpos e de tecnologias de energia renovável podem ajudar a aliviar estas condições. Outras doenças que também estão relacionadas com a pobreza incluem a tuberculose (resultante da superlotação e ausência de ventilação), dengue e diarreia (devido à água imprópria para o consumo, saneamento inadequado e práticas de gestão de resíduos prejudiciais). As estratégias de economia verde podem ajudar a reduzir a carga de doenças e a promover espaços mais limpos e saudáveis com um impacto mais do que proporcional no bemestar dos pobres e, consequentemente, na sua produtividade. Saúde e maior produtividade do trabalho. A produtividade do trabalho é essencial para uma transição verde inclusiva. Isso afeta não só a eficiência produtiva, como também a possibilidade de obter melhores salários e de alcançar um padrão de vida melhor. A esse respeito, Arcand (2003) observa que os problemas de saúde devido à desnutrição pode reduzir o crescimento anual per capita do PIB de 0,23% a 4,7% em todo o mundo. A saúde também está relacionada a uma melhor experiência educacional, maior produtividade e, consequentemente, salários mais altos na terceira idade. As crianças saudáveis são capazes de aprender melhor e atingir níveis mais elevados, uma vez que são menos afetadas pelo absenteísmo escolar e pelo abandono precoce. Estima-se que a perda de renda devido à deficiência de ferro varia de 2% do PIB em Honduras a 7,9% em Bangladesh.1 Uma população saudável torna um país mais atraente para os investimentos verdes. Tanto as fontes domésticas como as estrangeiras na forma de investimento direto estrangeiro (IDE) são fundamentais para catalisar investimentos na transição para uma economia verde. Os indicadores de boa saúde aumentam os retornos de capital e reduzem o risco. Por exemplo, Alisa et al. (2006) estima que aumentando a expectativa de vida em um ano, o influxo de IDE cresce cerca de 9% em países de renda baixa e média. Horton, S. and J. Ross, 2003. The economics of iron deficiency. Food Policy, 28(1), pp. 51-75. 1 O papel da saúde no comércio internacional. O comércio deve desempenhar um papel importante na transição para uma economia verde, para reduzir a pobreza e incentivar o desenvolvimento econômico através do estímulo ao crescimento econômico, criar empregos, reduzir preços, aumentar a variedade de produtos para os consumidores e ajudar os países a adquirirem novas tecnologias. A falta de saúde pode dificultar as atividades comerciais e os rendimentos relacionados ao comércio. Por exemplo, no Peru em 1991, houve 366.000 casos de cólera, dos quais 400 pessoas morreram. Isto resultou em uma proibição, quase que imediata, da importação dos principais produtos agrícolas peruanos, inicialmente estimados em cerca de 13 milhões de dólares. Porém, durante aquele período, a cólera também afetou o turismo com grande intensidade, o que custou, aproximadamente 84 milhões de dólares. Oportunidades As políticas e estratégias de economia verde podem contribuir para atenuar as mudanças climáticas, criar estruturas eficientes em termos de energia e estruturas domésticas de baixo carbono e gerar padrões de transporte eficientes em recursos e cidades inteligentes. Elas apresentam um potencial para aliviar os riscos ambientais e gerar benefícios na saúde. • As ondas de calor urbano causadas pela mudança dos padrões climáticos, os riscos de doenças transmitidas por vetores relacionados às mudanças nos padrões das chuvas, as secas e a escassez de água, a maior vulnerabilidade dos lares e bairros residenciais a tornados, furacões, deslizamentos de terra e inundações, e o aumento gradual do nível do mar são eventos que aumentam a vulnerabilidade e o risco. Tudo isso pode ser reduzido através de políticas de transição para uma economia verde. • As estimativas globais mostram que a mudança climática foi responsável por 3% das mortes por diarreia, 3% por malária e 3,8% por dengue em 2004 (OMS, 2009). Os aumentos dos preços dos combustíveis relacionados com as mudanças climáticas, o desmatamento e blecautes ou faltas de energia elétrica também causam o O PNUMA lançou sua Iniciativa Economia Verde em 2008 e, atualmente, oferece apoio a mais de 20 países em todo o mundo em sua transição rumo a uma economia verde. aumento das doenças relacionadas ao estresse de calor e frio. • Os ambientes urbanos verdes e seguros reduzem os riscos de saúde de seus habitantes. As favelas urbanas são áreas residenciais que carecem de necessidades básicas, como saneamento, água potável e moradia duradoura. Estima-se que estes riscos para a saúde irão aumentar com o crescimento das favelas no mundo. De acordo com o Programa das Nações Unidas/OMS para os Assentamentos Humanos, quase um bilhão de pessoas vive em favelas e bairros pobres.2 Cerca de 38% do crescimento da população urbana ocorre em favelas. Até 2020, estima-se que o número de moradores de favelas irá aumentar para 1,4 bilhão.3 Os planos para as cidades verdes podem reduzir a incidência destes riscos à saúde. A ligação fundamental entre as políticas de economia verde e as estratégias de saúde não pode ser ignorada. A saúde é um capital importante, que também está incluído no Índice de Desenvolvimento Humano. É o determinante próximo das capacidades e oportunidades que podem ser aproveitadas por todos, e é essencial sobretudo para que os pobres se libertem do ciclo vicioso da pobreza. Uma transição para uma economia verde deve, portanto, focar no desenvolvimento deste quarto capital fundamental antes e acima dos capitais financeiro, social e ambiental. As recomendações das políticas incluem o fornecimento de mais informações sobre a morbidez e os custos de mortalidade da inércia e o exame da eficácia de instrumentos como as licenças negociáveis de poluição, a redução dos subsídios de entrada prejudiciais e o planejamento para ligações intersetoriais nos setores da economia verde. No ambiente construído, as políticas e estratégias a seguir podem contribuir para o aproveitamento destas sinergias: Centro para o Desenvolvimento da Saúde da Organização Mundial da Saúde/OMS & Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, 2010. Hidden cities: unmasking and overcoming health inequities in urban settings. Kobe. 3 ONU-HABITAT, 2009. Relatório global sobre assentamentos 2 humanos 2009: Planning Sustainable Cities: Policy Directions, Londres, Earthscan. • As medidas de boa governança, incluindo ações em nível nacional focadas na segurança social, na água potável e na capacitação das cidades verdes; • Sistemas de planejamento para cidades melhores, incluindo estratégias intersetoriais e estratégias para cidades mais densas, o desenvolvimento de infraestrutura linear e políticas eficazes para as favelas; • Ferramentas regulatórias como os padrões ambientais, regulamentação do uso da terra, proteção do abastecimento de água doce; • Incentivos (por ex., impostos, pagamentos por serviços ecossitêmicos, serviços públicos, taxas de utilização de rodovias) e financiamento (por ex., microfinanciamento, consórcios, créditos de carbono, impostos, recuperação de custos); • Mais informações, conscientização e envolvimento cívico (por ex., a criação do índice de biodiversidade de cidades, rotulagem, medidores inteligentes, projetos de demonstração). O que o PNUMA está fazendo As seguintes atividades estão em andamento: • Atualmente, o PNUMA está colaborando com a OMS em uma publicação conjunta que destaca as ações, políticas e estratégias que podem traduzir as estratégias de transição para uma economia verde e as medidas incluídas nas mesmas para reduzir a morbidez e a mortalidade. O PNUMA também se apresentou em vários fóruns relevantes como o Fórum da Saúde e o Fórum de Promoção da Saúde para enfatizar as sinergias entre as economias mais verdes e a saúde. • O PNUMA, em colaboração com a OMS, tem apoiado a implementação da Declaração de Libreville sobre Saúde e Ambiente na África e o Compromisso de Luanda associado. Neste contexto, foram desenvolvidos dois sistemas programáticos sobre a mudança climática e a gestão de produtos químicos para apoiar o esverdeamento de economias na África. • Da mesma forma, o PNUMA também está colaborando com o OIT para examinar os impactos dos empregos decentes na saúde, e O Relatório sobre Economia Verde, publicado pelo PNUMA em 2011, consiste em um convincente estudo econômico e social para o investimento de 2% do PIB global para tornar verde os 10 principais setores da economia. com FIDA e o PMA para analisar os impactos da agricultura verde na nutrição. Além disso, o PNUMA está envolvido nas ações a seguir: Copyright © Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 2012 • O PNUMA está distribuindo fogões como parte da Aliança Global por Fogões Limpos. Os fogões são uma medida eficaz em termos de custo, superior a muitos programas de saúde pública ao redor do mundo. Em países de renda média e baixa, espera-se que até 2015, os fogões eficientes estarão disponíveis para metade das pessoas que em 2005 ainda estavam queimando combustível de biomassa e carvão nos fogões tradicionais. Isto provavelmente resultará em um custo negativo de intervenção de 34 bilhões de dólares por ano e gerará um retorno de 105 bilhões de dólares por ano (Hutton et al. 2006). • Em nível nacional, o PNUMA tem apoiado um programa de aquecedores de água solares em Barbados. Em 2002, Barbados economizou 15.000 toneladas métricas de emissões de carbono e mais de 100 milhões de dólares em energia com os 35.000 sistemas de aquecimento de água solar que foram instalados na época. Até 2008, aproximadamente 40.000 aquecedores de água solares estavam em funcionamento em Barbados, sendo a maioria deles instalações domésticas. • Em 2007, o PNUMA realizou um estudo em um lixão de 30 acres no Quênia chamado Dandora e descobriu que cerca de 50% das crianças e adolescentes examinados que viviam próximo aos lixões tinham doenças respiratórias e teores de chumbo no sangue que excediam o limite internacional. Confirmou-se que outros 30% tinham alta exposição a envenenamento por metais pesados, detectado por anormalidades nos glóbulos vermelhos. O planejamento de melhores cidades e áreas verdes, bem como a provisão de serviços públicos básicos, são elementos fundamentais para a transição para uma economia verde e serão considerados para ajudar a alcançar os ODMs em muitas partes do mundo. • Em 2012, um estudo realizado pelo PNUMA sobre o custo da inércia com relação ao uso de pesticidas na África Subsaariana descobriu que os custos com a saúde relacionados aos pesticidas foram de 4,4 bilhões de dólares em 2005. A falta de gestão de produtos químicos e de atenção às consequências do escoamento e do uso de pesticidas atualmente não têm preço no mercado, porém, conforme apontou o estudo, têm custos enormes para a sociedade, principalmente para os pobres. Para obter informações: UNEP-DTIE Divisão de Comércio e Economia do PNUMA 11-13, chemin des Anémones 1219 Châtelaine / Genebra Suíça T: +41 (0)22 917 82 43 F:+41 (0)22 917 80 76 E: [email protected] www.unep.org/greeneconomy