ANA PAULA DE FREITAS ANDRADE MARKETING SOCIAL E AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL: OS RESULTADOS E O IMPACTO NA EMPRESA E NA SOCIEDADE. Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total. Orientador: Professor Luiz Perez Zotes, D.Sc. Niterói 2004 ANA PAULA DE FREITAS ANDRADE MARKETING SOCIAL E AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL: OS RESULTADOS E O IMPACTO NA EMPRESA E NA SOCIEDADE. Dissertação apresentada no curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total. Aprovada em: BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Professor Luiz Perez Zotes, D.Sc. - Orientador Universidade Federal Fluminense ____________________________________________ Professor Fernando Toledo Ferraz, D.Sc. Universidade Federal Fluminense ___________________________________________ Professor Teotônio Carlos do Nascimento, D.Sc. IPQN Niterói 2004 Agradecimentos Agradeço a Deus por estar ao meu lado em todas as horas, por me proteger e iluminar. Aos meus professores do curso de mestrado, por abrirem meus horizontes. Aos meus queridos e inesquecíveis amigos de turma, que me acompanharam e estimularam durante todo o curso. Agradeço ao professor Luiz Perez Zotes pela orientação e incentivo ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Aos meus pais, pelo amor, pelo carinho e principalmente pelo apoio em todos os momentos da minha vida. Agradeço em especial a todas as pessoas que conviveram comigo e que de alguma forma contribuíram, me ajudaram e incentivaram para a realização deste projeto. RESUMO No passado, no auge da filantropia tradicional, a prática de doações era uma constante no mundo das empresas de grande porte. Com a aceleração das mudanças e o agravamento dos problemas sociais, a questão da filantropia e do exercício da Responsabilidade Social ganhou novos contornos e dimensões. A consciência social dos empresários começou a despertar quando eles próprios perceberam que os problemas sociais atrapalham o desenvolvimento dos seus negócios (baixo poder aquisitivo da população, sistema educacional deficiente, violência, etc.). Através deste estudo busca-se descrever como as empresas estão lidando com esse novo paradigma institucional, abordando-se os mecanismos que estão sendo utilizados para a realização das ações sociais e de que forma está sendo avaliado o resultado. O presente trabalho contribui para a formação de conhecimento sistêmico em relação à Responsabilidade Social empresarial. Palavras-chave: Responsabilidade Social; Marketing Social; Balanço Social. ABSTRACT In the past, at the climax of the so-called ‘traditional philanthropy’, the donation was a common practice in large companies world. With changes acceleration and social problems intensification, the philanthropy subject and the Social Responsibility practice got new contours and dimensions. The social conscience of the Business community started to awaken when they, themselves realized that the social problems disturbed their business development (population’s low income, deficient educational system, violence etc.) This study describes how the companies are dealing with the new institutional paradigm, addresses the mechanisms that are being used on the social actions and how its results are being measured. This work brings as a contribution, the creation of a lager conscience about the Social Responsibility theme through companies’ investments in that matter, as well as, discusses the citizen concern in promoting a better overall quality of life in society. Key words: Social Responsibility; Social Marketing; Social Balance LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AA 1000 – Accountability 1000 ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRINQ – Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos ADCE – Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas BAT – British American Tobacco BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BS – Balanço Social BVQI – Bureau Veritas Quality Internacional CEDEJOR – Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural CEO – Chief Executive Office CEP – Council on Economic Priorities DJSGI – Dow Jones Sustainability Group Indexes ECO 92 – Conferência sobre o Meio Ambiente FIDES – Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social FIOCRUZ – Fundação Osvaldo Cruz GIFE – Grupo de Institutos e Fundações Empresariais IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Econômicas e Sociais IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas ISEA – Institute of Social and Ethical Accountability ISO – International Organization for Standadization MCS – Marketing para Causas Sociais OIT – Organização Internacional do Trabalho ONG – Organização não-Governamental ONU – Organização para as Nações Unidas OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais SA 8000 – Social Accountability SAI – Social Accountability Internacional SAM – Sustainability Group TC – Comitês Técnicos SUMÁRIO Resumo......................................................................................................................... Abstract......................................................................................................................... Lista de Abreviaturas e Siglas...................................................................................... 4 5 6 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO .............................................................................. 1.1 – CONTEXTO........................................................................................................ 1.2 – PROBLEMA ....................................................................................................... 1.3 – DELIMITAÇÃO DO ESTUDO.......................................................................... 1.4 – SUPOSIÇÕES..................................................................................................... 1.5 – RELEVÂNCIA DO PROBLEMA...................................................................... 1.6 – OBJETIVOS........................................................................................................ 1.6.1 – Objetivo Geral................................................................................................. 1.6.2 – Objetivos Específicos...................................................................................... 1.7 – ESTRUTURA DO TRABALHO........................................................................ 9 9 12 12 13 13 14 14 14 14 CAPÍTULO 2 – RESPONSABILIDADE SOCIAL E ÉTICA............................... 2.1 – RESPONSABILIDADE SOCIAL: EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL E NO MUNDO............................................................................................................. 2.2 – ÉTICA.................................................................................................................. 2.2.1 – Questão Ética em Marketing........................................................................ 16 CAPÍTULO 3 – MARKETING SOCIAL................................................................ 3.1 – CONCEITOS....................................................................................................... 3.2 – MARKETING SOCIAL NO BRASIL................................................................ 3.3 – MARKETING PARA CAUSAS SOCIAIS........................................................ 37 37 38 43 CAPÍTULO 4 – FERRAMENTAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL......................................................................................................... 4.1 – DOW JONES SUSTAINABILITIY GROUP INDEXES...................................…. 4.2 – INDICADORES ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIA............................................................................................................. 4.3 – CERTIFICAÇÃO DA FUNDAÇÃO ABRINQ.................................................. 4.4. – AA 1000 GESTÃO DA RESPONSABILIDADE CORPORATIVA................ 4.5 – NORMAS E MODELOS DE CERTIFICAÇÃO................................................ 4.5.1 – SA 8000............................................................................................................ 4.5.2 – Requisitos de Responsabilidade Social......................................................... 19 26 34 48 48 49 50 51 55 61 65 CAPÍTULO 5 – BALANÇO SOCIAL...................................................................... 5.1 – AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS AÇÕES SOCIAIS.......................... 5.2 – TERCEIRO SETOR AINDA SOFRE PARA AVALIAR AÇÕES SOCIAIS.... 74 79 82 CAPÍTULO 6 – ESTRATÉGIA DE PESQUISA..................................................... 6.1 – METODOLOGIA DE PESQUISA...................................................................... 6.2 – TIPO DE PESQUISA.......................................................................................... 6.3 – COLETA DE DADOS........................................................................................ 6.4 – DADOS GERAIS................................................................................................ 6.4.1 – Histórico da organização estudada................................................................ 84 84 84 85 85 86 6.4.2 – O Negócio......................................................................................................... 6.4.3 – A Questão da Responsabilidade Social da empresa.................................... 6.4.4 – Análise e Conclusões....................................................................................... 6.4.5 – Relatório Social Corporativo......................................................................... 6.5 – ENTREVISTA..................................................................................................... 87 88 90 91 92 CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS................................................................................................................ 7.1 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 7.2 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS............................................... 99 99 103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 104 ANEXO........................................................................................................................ 109 9 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTO As transformações sócio-econômicas dos últimos anos têm afetado profundamente o comportamento de empresas até então acostumadas à pura e exclusiva maximização do lucro. Se, por um lado, o setor privado tem cada vez mais lugar de destaque na criação de riqueza; por outro lado, sabe-se que com grande poder, vem grande responsabilidade. Em função da capacidade criativa já existente, e dos recursos financeiros e humanos já disponíveis, empresas têm uma intrínseca Responsabilidade Social. Mas, o que é Responsabilidade Social? A expressão tão em voga suscita as mais diversas interpretações. Pode ser vista como uma obrigação legal, um dever fiduciário em busca de melhores padrões de comportamento ou ainda caridade. Função, prática ou papel social. Comportamento ético ou ainda ser socialmente consciente. Para Melo Neto & Froes (2001) responsabilidade social é um estágio mais avançado no exercício da cidadania corporativa. Tudo começou, no entanto, com a prática de ações filantrópicas. Empresários, bem sucedidos em seus negócios, decidiram retribuir à sociedade parte dos ganhos que obtiveram em suas empresas. Melo Neto & Froes (1999, p. 78), apud D´Ambrósio & Mello (1998), afirmam que a responsabilidade social de uma empresa consiste na sua “decisão de participar mais diretamente das ações comunitárias na região em que está presente e minimizar possíveis danos ambientais decorrentes do tipo de atividade que exerce”. Com o surgimento de novas demandas e maior pressão por transparência nos negócios, empresas se vêem forçadas a adotar uma postura mais responsável em suas ações. Infelizmente, muitos ainda confundem o conceito com filantropia, mas as razões por trás desse paradigma não interessam somente ao bem estar social, mas também envolvem melhor desempenho nos negócios e, consequentemente, maior lucratividade. A busca da Responsabilidade Social corporativa tem as seguintes características: 10 • É plural. Empresas não devem satisfações apenas aos seus acionistas. Muito pelo contrário. O mercado deve agora prestar contas aos funcionários, à mídia, ao governo, ao setor não-governamental e ambiental e, por fim, às comunidades com que opera. Empresas só têm a ganhar na inclusão de novos parceiros sociais em seus processos decisórios. Um diálogo mais participativo não apenas representa uma mudança de comportamento da empresa, mas também significa maior legitimidade social (social license to operate); • É distributiva. A Responsabilidade Social nos negócios é um conceito que se aplica a toda a cadeia produtiva. Não somente o produto final deve ser avaliado por fatores ambientais ou sociais, mas o conceito é de interesse comum e, portanto, deve ser difundido ao longo de todo e qualquer processo produtivo. Tal e qual consumidor as empresas também são responsáveis por seus fornecedores e devem fazer valer seus códigos de ética aos produtos e serviços usados ao longo de seus processos produtivos; • É sustentável. Responsabilidade Social anda de mãos dadas com o conceito de desenvolvimento sustentável. Uma atitude responsável em relação ao ambiente e à sociedade, não só garante a não escassez de recursos, mas também amplia o conceito a uma escala mais ampla. O desenvolvimento sustentável não só se refere ao ambiente, mas por via do fortalecimento de parcerias duráveis, promove a imagem da empresa como um todo e por fim leva ao crescimento orientado. Uma postura sustentável é por natureza preventiva e possibilita a prevenção de riscos futuros, como impactos ambientais ou processos judiciais; • É transparente. A globalização traz consigo demandas por transparência. Não mais nos bastam os livros contábeis. Empresas são gradualmente obrigadas a divulgar: os desempenhos social e ambiental, os impactos de suas atividades e as medidas tomadas para prevenção ou compensação de acidentes. Nesse sentido, empresas são obrigadas a publicar relatórios anuais, onde seu desempenho é aferido nas mais diferentes modalidades possíveis. Muitas empresas já o fazem em caráter voluntário, mas muitos prevêem que relatórios sócio-ambientais serão compulsórios num futuro próximo. 11 A Responsabilidade Social não deve ser colocada apenas como um apelo às empresas; não pode ser vista principalmente como uma nova face da filantropia stricto sensu; e não pode ser ‘vendida’ somente como um bom negócio em termos de Marketing Social. Responsabilidade Social é, principalmente e antes de tudo, responsabilidade das comunidades, do cidadão e de suas organizações. O tema abordado no presente trabalho é freqüentemente encontrado em artigos nos jornais, revistas e sites da Internet. É um tema discutido entre consumidores e ocupa as reuniões de milhares de empresas. Ouve-se nas rodas de discussão e, sobretudo já consta nos relatórios a acionistas de empresas em todo o mundo. Responsabilidade Social, eis o fenômeno: simplesmente, a sociedade espera que as empresas gerem mais do que empregos e lucro ou paguem impostos. A inclusão da expressão “Responsabilidade Social” no vocabulário nacional pode ser apontada como um dos maiores avanços alcançados no país nos últimos anos. Saímos da era da filantropia para a da cidadania, tentando deixar a posição de espectadores para agentes de mudança desse cenário ainda tão injusto. Nesse processo, serão estudados os papeis dos três setores da Economia – Governo, Setor Privado e Organizações Não Governamentais (ONG´s) - sobretudo do segundo, o Setor Privado, pois coube às empresas uma posição essencial como celeiros de voluntários e também como fomentadoras de projetos sociais. Independente do enfoque, a Responsabilidade Social tem sido cada vez mais assimilada pelas empresas, instituições, ONG’s e Governo. Utilizada para romper barreiras e paradigmas obsoletos onde Governo seria o único responsável pela educação de um país. Neste processo, onde a empresa também se torna cidadã, acarreta um amadurecimento da mesma que passa a focar em interesses e contribuições de um conjunto de partes envolvidas – clientes, acionistas, fornecedores, comunidade, etc. – que buscam a excelência através da qualidade nas relações e a sustentabilidade econômica, social e a ambiental. Deve-se ter em mente que tudo isso não se dá somente por bondade, mas visando sobrevivência no mundo atual, pois as empresas que cumprem seu papel atraem mais consumidores e ajudam a criar a estrutura de uma nova concepção econômica de profissionais 12 mais qualificados e conscientes. Constata-se que as empresas engajadas neste processo contínuo são beneficiadas não apenas com lucros financeiros diretos, mas com inúmeros ganhos secundários. São todas essas facetas do fenômeno “Responsabilidade Social” que estaremos nos aprofundando nesse estudo, assim como as condições que possibilitaram esse processo de transformação. Percebe-se que diversos setores da sociedade estão revendo seus comportamentos. As empresas, adotando uma postura socialmente responsável, são poderosos atores para, em conjunto com o Estado e sociedade civil, construir melhores condições de vida. 1.2 PROBLEMA O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA – divulgou, em 2003, o resultado da maior pesquisa já feita sobre as ações sociais do empresariado brasileiro1. O resultado: o engajamento das empresas em projetos voltados para a comunidade, ultrapassou o estágio de tendência em que se encontrava no início da década de 90 para se firmar como estratégia corporativa. Cerca de 60% das companhias participam ativamente, com 2,5 bilhões de dólares de investimento anual. Mas qual o resultado alcançado com a aplicação desse capital? Portanto, considerando essas informações, surge a questão objeto deste trabalho: As empresas avaliam se os recursos dispendidos em ações sociais promovem o bem-estar da sociedade e o conseqüente retorno em imagem institucional e criação de valor para os acionistas? 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO O problema será analisado nesta dissertação sobre a ótica do marketing, visando identificar o impacto das políticas de Responsabilidade Social na imagem institucional da empresa, associadas a outras ações de marketing. 1 Fonte: Revista Exame, Edição Especial (2003). 13 A metodologia utilizada na concepção desse trabalho será através de pesquisa qualitativa, baseada em pesquisa bibliográfica, artigos de revistas e de sites. 1.4 SUPOSIÇÕES Supõe-se que: • Os programas de certificação da Responsabilidade Social Corporativa não garantem que a organização crie valor para os acionistas; • Os investimentos em ações sociais e os programas de certificação da Responsabilidade Social Corporativa não garantem a imagem institucional desejada e coerente com o posicionamento estratégico da empresa junto aos grupos de interesses na sociedade onde está inserida; 1.5 RELEVÂNCIA DO PROBLEMA A consciência de uma sociedade mais justa e uma melhor qualidade de vida torna-se cada vez mais forte no Brasil. O esgotamento do governo como provedor dessa melhoria da qualidade de vida levou ao nascimento dos movimentos do terceiro setor em todo o mundo e no Brasil. Neste cenário é importante o investimento que as empresas têm feito para melhorar a qualidade de vida da sociedade brasileira. Essas ações são cada vez mais identificadas pelo consumidor e acabam influenciando em uma imagem positiva da empresa no mercado. Apesar de, em muitos casos, ser uma estratégia para criar valor para os acionistas, essas ações acabam trazendo resultados visíveis e tangíveis para a sociedade como um todo. A relevância desse trabalho está inserida na preocupação de todo cidadão em promover a melhoria da qualidade de vida da sociedade e também no fato de que esse tema, tão abordado recentemente, tem nuances desconhecidas e de suma importância para um melhor entendimento. 14 1.6 OBJETIVOS Os objetivos de uma pesquisa estão relacionados com uma visão abrangente do tema e seu conteúdo intrínseco e, devem apresentar suas funções intermediárias e instrumentais, atingindo, dessa maneira os aspectos gerais e as situações particulares. 1.6.1 Objetivo Geral Este trabalho tem como objetivo geral abordar a questão da Responsabilidade Social de forma ampla, mostrando tanto os aspectos positivos quanto negativos das ações sociais praticadas pelas empresas, bem como avaliar se acompanham ou analisam o impacto do capital investindo em projetos sociais. 1.6.2 Objetivos Específicos • Identificar a inter-relação entre a Responsabilidade Social do Primeiro, Segundo e Terceiro Setor; • Identificar as questões éticas que estão envolvidas nas ações de Responsabilidade Social das empresas, no que tange a comunicação, produto e preço; • Descrever as estratégias utilizadas pelas empresas relacionadas ao Marketing para Causas Sociais e; • Identificar o uso de indicadores pelas empresas sobre a avaliação da Responsabilidade Social Corporativa. 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO No Capítulo 1 – INTRODUÇÃO – constitui numa síntese do trabalho e algumas idéias preliminares e foi dividido em sete itens: Contexto; Problema; Delimitação; Suposições; Relevância; Objetivo Geral; Objetivos Específicos e Estrutura do Trabalho. 15 No Capítulo 2 – RESPONSABILIDADE SOCIAL E ÉTICA – São apresentados conceitos baseados em textos de autores e pesquisadores a respeito da Responsabilidade Social, Ética e aborda questões éticas em relação a preço, produto e comunicação. No Capítulo 3 – MARKETING SOCIAL – Da mesma forma que o capítulo anterior são apresentados os conceitos sobre o Marketing Social, sua evolução no Brasil e no mundo. No Capítulo 4 – FERRAMENTAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL – À luz da revisão bibliográfica realizada são apresentadas as ferramentas para avaliação das ações de Responsabilidade Social, utilizadas por algumas empresas atualmente e também as normas e modelos de acordo com o padrão AA 1000 e a certificação SA 8000. O Capítulo 5 – BALANÇO SOCIAL – Aborda o conceito sobre Balanço Social e a relevância deste documento para as empresas atualmente. No Capítulo 6 – ESTRATÉGIA DE PESQUISA – são abordados os aspectos referentes à metodologia utilizada e, por meio de um estudo de caso numa empresa fabricante de cigarros, busca-se demonstrar como uma empresa que atua nesse setor pode vir a ser socialmente responsável. E finalmente, no Capítulo 7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISA FUTURAS – apresenta a análise dos resultados obtidos em relação aos objetivos propostos e sugestões para trabalhos futuros. 16 2 RESPONSABILIDADE SOCIAL E ÉTICA De acordo com Fernandes et al. (1993, p. 604), no Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, responsabilidade significa "qualidade do que é responsável" ou "obrigação de responder por certos atos próprios ou de outrem". A palavra social, por sua vez, é definida na mesma obra como "relativo ou pertencente à sociedade, que convém à sociedade". Segundo Neto (2000), para que uma empresa assuma uma conduta que seja de fato socialmente responsável, ela terá necessidade de reavaliar todos os seus processos e seus valores, além da sua postura ética e da forma como ela se relaciona com seus diversos públicos: funcionários, fornecedores, clientes, consumidores, acionistas, comunidade, poder público e o próprio meio ambiente. De acordo com o Instituto Ethos (2000), uma entidade criada para disseminar a prática da Responsabilidade Social Empresarial - é bastante comum, no Brasil, a restrição do conceito de cidadania empresarial a doações, sejam estas realizadas em forma de dinheiro ou de produtos. No entanto, há que se observar que o conceito de Responsabilidade Social é muito mais amplo, implicando, acima de tudo, em um modelo de gestão que vai além da lei e da simples filantropia. Segundo consultores da empresa Focus Social1, a Responsabilidade Social é a demonstração de preocupação da empresa em participar, de forma ativa, nos programas sociais voltados para o bem estar da comunidade onde está inserida e na sociedade em geral. A definição é complementada com o seguinte comentário: "a empresa socialmente responsável é aquela que consegue criar métodos, planos e incentivos para que, interna e externamente, seja identificada como uma empresa cidadã". O conceito de Responsabilidade Social, como já explicitado, compreende múltiplas dimensões, que se compõem, na verdade, dos elementos com os quais a empresa mantém alguma forma de intercâmbio. Segundo Correa (1997), esses elementos são chamados parceiros da empresa. 1 Fonte: Disponível em <www.focussocial.hpg.ig.com.br.> Acesso em Julho de 2004. 17 Joseph Mcguire é citado por Duarte & Dias apud Correa (1997) e afirma que o conceito de Responsabilidade Social pressupõe que a organização tenha não apenas obrigações legais e econômicas, mas também certas responsabilidades para com a sociedade, as quais extrapolam os limites daquelas obrigações. Esta definição introduz uma questão de suma importância: a distinção entre Responsabilidade Social e obrigação social. Uma empresa não pode considerar-se socialmente responsável somente por cumprir benefícios legais, tais como: distribuição de vale transporte, creche para os filhos dos funcionários, etc. A empresa socialmente responsável deve ir além desses limites impostos pela legislação. Ainda sobre esse ponto, podemos citar Oliveira apud Correa (2003, p. 83): A Responsabilidade Social é a capacidade da empresa colaborar com a sociedade, considerando seus valores, normas e expectativas para o alcance de seus objetivos. No entanto, o simples cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, não será considerado como comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual óbvia, aqui também denominada obrigação social. Responsabilidade Social é uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (internas e externas) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividade, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas e proprietários (MELO NETO & FROES, 2001). Para Drucker (1997) é justamente em função de a empresa ser bem sucedida no mercado que cresce a necessidade de atuação socialmente responsável, visando diminuir os problemas sociais. Assim, a Responsabilidade Social é um fator importante para que as empresas mantenham sua sustentabilidade. Além disso, segundo Drucker (1997), a Responsabilidade Social é o resultado dos questionamentos e das críticas que as empresas receberam, nas últimas décadas, no campo social, ético e econômico por adotarem uma política baseada estritamente na economia de mercado. 18 Conclui-se que Responsabilidade Social corporativa é o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de seus familiares, da comunidade local e da sociedade como um todo. Essa concepção assume a Responsabilidade Social como expressão de uma postura ética comprometida com o resgate da cidadania, assumindo uma posição de coresponsabilidade, na busca do bem-estar público, em articulação com as políticas sociais (instituto, fundações, organizações, universidades, comunidade etc.). O conceito de Responsabilidade Social está em construção, requer mudanças culturais, em que empresas e parceiros busquem um processo conjunto, sem prejuízo de uns e com resultados de outros. Segundo Andreasen (2002) pode-se responder, com maior precisão, a indagação posta, pontuando alguns aspectos a serem visualizados na prática da Responsabilidade Social, que preserva o comprometimento com a cidadania e a ética, tais como: a) Reconhecimento da empresa em relação à importância de seu investimento social na perspectivas de transformação social; b) Conhecimento da realidade social no seu entorno (regional, nacional e internacional); c) Explicitação dos princípios e valores que nortearão os caminhos das iniciativas sociais das empresas; d) Implementação de uma pedagogia social que responda aos aspectos mais significativos de seus princípios e valores; e) Reconhecimento e valorização do sistema de governança corporativa; f) Definição dos indicadores de efetividade, tornando público o Balanço Social. Todas essas sinalizações são provocadoras de análise, para responder o conceito que emerge na sociedade contemporânea dando conta das profundas desigualdades sociais em um mundo em transformação. 19 Os conceitos e os diferentes aspectos da questão se revelam através das necessidades históricas e vem sendo intensamente debatidos, por vezes aceitos e por vezes rejeitados. A reflexão sobre: “o que vem a ser” Responsabilidade Social, é uma indagação que requer análise e compreensão da sua evolução histórica. 2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL: EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL E NO MUNDO O conceito de Responsabilidade Social embora tenha estado na pauta das discussões nos Estados Unidos desde a década de 60 e na Europa e no Brasil, desde a década de 70, tomou maior vulto no Brasil no final da década de 90. Já na década de 60, Peter Drucker (1997, p.36) se mostrava preocupado com a conscientização das empresas no tocante às suas verdadeiras responsabilidades para com a sociedade, bem como com seus reflexos na estrutura organizacional e nas interações das empresas com seus funcionários e com seu público externo, ao lembrar que: A administração é igualmente responsável por garantir que as ações e decisões presentes da empresa, não criem futuras reivindicações, medidas políticas e opiniões públicas que possam ameaçar a empresa. Friedman (1985) define as empresas como sendo instituições econômicas e que deveriam se restringir à sua tarefa econômica, existindo o perigo das Responsabilidades Sociais minarem o desempenho econômico e com ele a sociedade toda e que existe o perigo ainda maior da Responsabilidade Social implicar no confisco do poder pelos administradores de empresas, quando estes passam a atuar em setores sobre os quais não possuem autoridade legítima. O autor cita a conhecida idéia de Adam Smith, no sentido de que a empresa deve buscar os lucros, na certeza de que uma “mão invisível” fará todo o resto de uma forma automática. Este resto inclui também o aspecto social, sem haver intromissão direta da empresa. Drucker (1997) examina a Responsabilidade Social como uma área onde a empresa decide qual será seu papel na sociedade, estabelece seus objetivos sociais, suas metas de 20 desempenho e de influências na sociedade onde atua. A grande função do empreendedor é perceber a essência da responsabilidade que tem nas mãos, em função da sua autoridade. Suas decisões podem envolver desde o lançamento de um simples produto até a transformação de um problema social em um excelente novo produto, uma excelente oportunidade de ganho ou de investimento para a empresa. Observa-se que é responsabilidade do empreendedor, estabelecer a meta e conhecer o ponto de chegada. Quando se fala em Responsabilidade Social, todas as ações devem ser analisadas com muita cautela. Deve-se levar em consideração o nível de envolvimento que a empresa tem com seus stakeholders2 (consumidores, fornecedores, comunidade, funcionários, governo, etc.). Não se trata de somente sair propondo práticas sociais sem um bom embasamento, principalmente porque muitas ações abordam e influenciam os aspectos econômicos, geralmente priorizados e preservados pela administração da empresa em prol da maximização dos lucros. Pode-se garantir, no entanto, que o investimento em práticas socialmente responsáveis é um dos melhores investimentos quando reconhecidos e estimulados pela alta administração da empresa. Certamente o retorno será lento, mas efetivo. Neste contexto a Responsabilidade Social vem como base para todo o resto, e a “mão invisível” do conceito de Adam Smith, não poderá funcionar se posicionamento da área administrativa da empresa se colocar de forma precária, sem um efetivo comprometimento com a causa. Outro aspecto importante a ser ressaltado é a valorização da diversidade. Como uma organização pode se posicionar com responsabilidade se não possui práticas de igualdade? Segundo o Instituto Ethos (2000), todos os segmentos de negócios sofrem, à sua maneira, os impactos das mudanças culturais e demográficas das sociedades, mudanças estas que devem ser respeitadas e adequadamente tratadas no ambiente de trabalho, dentro dos princípios da ética, definida como a “ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”. Para muitas empresas, a adoção da diversidade na força de trabalho, além de ser 2 Dentro do conceito de RS que vem sendo desenvolvido pelas empresas, no entanto, o público alvo deixa de ser apenas o consumidor e passa a englobar um número muito maior de pessoas e empresas. São os chamados stakeholders. O termo stakeholders foi criado para designar todas as pessoas ou empresas que de alguma maneira, são influenciadas pelas ações de uma organização. 21 um compromisso ético, tem se mostrado um caminho para a competitividade. Tradicionalmente, quando se tratava de diversidade, as ações estavam voltadas apenas para as questões de raça e gênero. Hoje, as empresas vêm ampliando sua definição de diversidade, passando a considerar questões como condição socioeconômica dos empregados, estilo de trabalho, idade, raça, nacionalidade, estado civil, orientação sexual, deficiência física ou mental e condições de saúde, dentre outras diferenças. Observa-se que a diversidade no ambiente de trabalho é assunto delicado e profundo, pois a promoção da diversidade pode se apresentar em cada empresa, com características distintas e específicas. A contratação espontânea de um portador de deficiência física, por exemplo, indica que a organização tem por princípio a responsabilidade de promover oportunidades iguais e o respeito à dignidade, independente da obrigatoriedade legal. A empresa que valoriza a diversidade é vista como ética e certamente terá o reconhecimento da sociedade. Mas sempre há a preocupação com ênfase na determinação do que é certo e do que é errado (ibid.) O comportamento moral do ser humano está ligado ao seu modo de viver em sociedade. A forma de se conduzir e resolver seus problemas vai depender das normas e dos padrões que aceita intimamente, desta forma sua ação, será reflexo desta aceitação. Neste contexto o ser humano estará bem consigo mesmo desde que sinta que agiu eticamente correto. Transportando esta noção para o contexto das organizações, entende-se que, uma organização que pode tornar pública suas ações, certamente não tem nada a esconder, nenhuma de suas ações são realizadas sob condições duvidosas. Por outro lado, na medida em que torna públicas suas ações, deve estar consciente de que será cobrada pelos resultados apresentados. Uma das formas usadas pelas empresas para mostrar seus investimentos financeiros em atividades sociais é a publicação do Balanço Social. O Balanço Social é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa que reúne um conjunto de informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício da Responsabilidade Social Corporativa. Esse tema será abordado, com mais detalhes, no capítulo 5. 22 A adoção de programas ou práticas de Responsabilidade Social em uma empresa dependerá fundamentalmente da sua predisposição em assumir seu papel de colaboradora e ativa participante da discussão e resolução dos problemas. Os gerentes devem disponibilizar mais horas de trabalho para discutir o tema Responsabilidade Social, pois este assunto também merece prioridade (MELO NETO & BRENNAND, 2004). Uma empresa pode ser considerada socialmente responsável se todas as suas ações forem “responsáveis”, isto é, se forem fundamentadas em valores éticos, sociais e ambientais. Fica evidenciado que a Responsabilidade Social Corporativa vai muito além da realização de ações filantrópicas isoladas. Não é fácil buscar a Responsabilidade Social Corporativa sem o auxílio de ferramentas que direcionem as atitudes da empresa. São facilidades que estão disponíveis no mercado e o empreendedor deve tomar conhecimento delas para elaborar estratégias organizacionais com este enfoque. Quando se fala em Responsabilidade Social pouco se fala nas ferramentas de apoio. É muito comum a citação das necessidades e apontamento das deficiências sem indicação das melhores ferramentas, onde buscar, como fazer, onde mudar, etc. Isto acaba dificultando a formulação de estratégias. Quando se aplicam ferramentas se consegue identificar exatamente onde provocar ações de melhoria (Ibid.). Nos países desenvolvidos e como também no Brasil, cada vez mais ganha vigor e atualidade a discussão sobre o papel das empresas como agentes sociais no processo de desenvolvimento. Torna-se fundamental que as empresas assumam não só o papel de produtoras de bens e serviços, mas também o de responsável pelo bem-estar de seus colaboradores. Afora as dificuldades governamentais decorrentes da crise do “welfare state” – estado do bem-estar social - as empresas já perceberam que em respeito ao meio ambiente, a preocupação com a valorização do homem e com a cultura estão entre os principais fatores determinantes do sucesso mercadológico. Observa-se uma preocupação crescente das empresas em vincular sua imagem à noção de Responsabilidade Social. A nova postura da empresa cidadã baseada no resgate de princípios éticos e morais passou a ter natureza estratégica. 23 Daí a importância da elaboração e divulgação do balanço social, instrumento valioso para medir como vai o exercício da Responsabilidade Social nos empreendimentos (MELO NETO & FROES, 2001). Esse conceito de Responsabilidade Social das empresas teve origem na década de 60, nos Estados Unidos, onde surgiu a preocupação por parte das empresas em prestar informações ao público sobre suas atividades no campo social. O repúdio da população à guerra do Vietnã deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de empresas que de alguma forma estavam ligadas a esse conflito armado. Várias instituições da sociedade civil, como as igrejas e fundações, passaram a denunciar o uso de armamentos sofisticados (gases paralisantes, napalm etc.) que, dizimavam civis inocentes, afetavam negativamente o meio ambiente e colocava em risco a própria sobrevivência do homem no planeta. O público, na avaliação de grupos pacifistas, não poderia ficar indiferente ao esforço letal das companhias. Visando reagir às pressões da sociedade, que exigia nova postura ética, as empresas passaram a prestar contas de suas ações justificando seu objetivo social, com o intuito de melhorar a imagem junto a consumidores e acionistas. A pressão dos cidadãos através de associações, sindicatos, clube de investidores e, consequentemente, a resposta das empresas, elaborando e divulgando relatórios com informações de caráter social, resultou no que hoje se chama de Balanço Social. Se as empresas dos EUA foram pioneiras na prestação de contas ao público, foi a França a primeira nação a tornar obrigatória a sua elaboração. A partir dos anos 70, também como resultado das pressões sociais (movimento estudantil de 1968), as empresas francesas deram início à publicação de quadros com dados relativos à gestão do pessoal, às condições sociais, juntamente com as tradicionais demonstrações financeiras (ANDREASEN, 2002). O que pode ser classificado como um marco na história dos balanços sociais, propriamente dito, aconteceu na França em 1972; ano em que a empresa Singer fez o, assim chamado, primeiro Balanço Social das histórias das empresas (Ibid.). 24 Na França, várias experiências consolidaram a necessidade de uma avaliação mais sistemática por parte das empresas até que em 1977, foi aprovada a lei n. º 77.769, de 12 de julho de 1977, que tornava a realização de Balanço Social (BS), periódicos, para todas as empresas com mais de 700 funcionários. Em 1982 este número caiu posteriormente para 300 funcionários. Em seguida vários países europeus também legislaram sobre a obrigatoriedade das empresas quanto à publicação do BS seguindo os passos pioneiros da França e hoje também exigem a elaboração do documento, entre eles, Alemanha, Holanda, Bélgica, Espanha, Inglaterra e Portugal (Ibid.) No Brasil, o início do debate pôde ser notado na Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas desde sua publicação em 1965 pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas no Brasil - ADCE. Na década de 80, a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social FIDES - chegou a elaborar um modelo. Porém, só a partir do início dos anos 90 é que algumas empresas – poucas – passaram a levar a sério esta questão e divulgar sistematicamente em balanços e relatórios sociais as ações realizadas em relação à comunidade, ao meio ambiente e ao seu próprio corpo de funcionários. Desta forma, o BS da Nitrofértil, que foi realizado em 1984, é considerado o primeiro documento brasileiro do gênero, que carrega o nome de Balanço Social. No mesmo período estava sendo realizado o BS da Telebrás, publicado em meados de 80 e do Banespa em 1992, compondo a lista de empresas precursoras do BS no Brasil. Cumpre esclarecer, que a função principal do Balanço Social é tornar público a Responsabilidade Social da empresa. Isto faz parte do processo de colocar as cartas na mesa e mostrar com transparência para o público em geral, o que a empresa está fazendo na área social. Hoje, apesar de ainda tramitar no Congresso Nacional projeto regulamentando e dispondo sobre a obrigatoriedade do Balanço Social, já é possível apostar no sucesso da campanha independentemente de sua elaboração vir a ser obrigação legal, porque o processo de construção de uma nova mentalidade empresarial está em curso. 25 Porém, foi em 1977 que o conceito da necessidade da Responsabilidade Social Empresarial, tomou maior vulto no Brasil quando o sociólogo Herbert de Souza (Betinho) conclamou os empresários e a sociedade em geral para a necessidade da Responsabilidade Social das empresas na melhoria da qualidade de vida e diminuição das injustiças sociais, através da construção de uma cidadania empresarial, propondo uma parceria entre empresas, governo e sociedade, por ser fundamental e o único caminho para reduzir a pobreza e a injustiça social, promovendo um maior progresso e desenvolvimento humano. 3 No Brasil, o reconhecimento da função social das empresas culminou com a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE) na década de 70, aliada ao enfraquecimento do Estado do Bem-Estar Social. Contudo, a concepção do conceito de Responsabilidade Social somente ganhou espaço no final da década de 80, consolidando-se nos últimos anos, de 1990 a 2003. Segundo o Instituto Brasileiro de Análises Econômicas e Sociais - IBASE, dentre os fatores influenciadores, destacam-se: a) A reorganização do capital, que muda o cenário econômico, tendo como pilar: a competitividade mundial, regional e local, exigindo um perfil para a indústria e os trabalhadores; b) Aumento das condições de pobreza e da degradação ambiental, que culminou com os movimentos impactantes da ECO 92; c) A Campanha contra a fome, de Betinho; d) O fortalecimento dos movimentos sociais; e) As profundas transformações do mundo contemporâneo, provocando a incerteza e a instabilidade como fatores ameaçadores à sobrevivência das organizações empresariais, ao mesmo tempo em que fortalecem a valorização do conhecimento e do progresso; f) A insuficiência do papel do Estado, implicando nas graves críticas às políticas públicas, marcadas pelo assistencialismo, a insuficiências dos recursos, a privatização dos serviços sociais; g) O crescimento da violência urbana, dentre outros. 3 Fonte: Disponível em < www.ibase.org.br >. Acesso em agosto de 2004. 26 Neste cenário, surgem as entidades empresariais, como: GIFE, ETHOS, PNBE, IBASE, Gazeta Mercantil, além de outras, tendo como foco, um novo pensar e agir no âmbito empresarial, dando uma conotação cidadã na arte dos negócios. Nessa perspectiva, os investimentos sociais privados ganham corpo no Brasil, cujo olhar se centraliza na alocação voluntária de recursos privados, para buscar retorno alternativo de inclusão social e influenciar nas políticas públicas, organização, universidades. Nesse contexto, O Grupo de Institutos e Fundações Empresárias - GIFE é considerado protagonista. Outro fator de destaque é a necessidade de sobrevivência das empresas frente ao mercado internacional e aos seus consumidores. 2.2 ÉTICA Cada vez mais, a Responsabilidade Social e a ética vêm mobilizando um número maior de “atores” da sociedade. De acordo com o psicanalista Rozenthal (2000), até o século XX, os conceitos de ética e moral não apresentavam diferenciação semântica. A distinção residia na origem destas palavras: enquanto moral provinha do latim moris, ética era de origem grega - ethos. Em verdade, não existia o conceito de ética tal qual se conhece atualmente, mas tão somente o de moral. Será o pensador francês Michel Foucault que trabalhará esta questão, apresentando, então, estes dois conceitos como idéias distintas. Enquanto moral é o código escrito ou tácito que rege uma determinada sociedade, ética é a forma como cada um dos indivíduos desta sociedade se relacionará com o mesmo. Do ponto de vista empresarial, o Instituto Ethos (2000) defende que o código de ética ou de compromisso social é um instrumento de realização da visão e da missão da empresa, que orienta suas ações e explicita sua postura social a todos com quem mantém relações. Segundo Semenik & Bamossy (1996, p. 781) a ética é um "conjunto de padrões e princípios morais, segundo os quais se julga o comportamento". 27 A essencialidade das organizações na vida das pessoas leva alguns “espertos” a considerarem que os tempos atuais configuram uma “época de gestão” e a sociedade hodierna conforme uma “sociedade de organizações”, cujo paradigma é a empresa. Esta concepção ganha tal força que a transformação das organizações, com a empresa desempenhando um papel de exemplo ou modelo, é vista como o caminho para a melhoria da humanidade. A empresa é compreendida como um motor para a renovação social e todas as organizações e os que nelas trabalham devem buscar aprender da ética empresarial o modo de atuação exigido a fim de que possam sobreviver crescer e superar-se, evitando os defeitos anteriores e propondo valores adequados a esta reconstituição (SEMENIK & BAMOSSY, 1996). No Brasil, registra-se uma preferência pelo uso das expressões ética nas organizações ou organizacional e ética nos negócios, provavelmente pela mencionada influência do idioma inglês que utiliza business ethics e organizational ethics. Desde suas origens na antiga Grécia a ética convida a forjar-se um bom caráter que leve a boas escolhas. O caráter que uma pessoa tem é decisivo para sua vida, pois, ainda que os fatores externos condicionem em um sentido ou outro o caráter, se a pessoa o assumir, é o centro último da decisão, pois a ética é uma prática “irrenunciavelmente” individual, intransferível e íntima (ANDREASEN, 2002). Porém, é oportuno lembrar que, as organizações com seus valores influenciam neste processo decisório, podendo facilitar as boas escolhas ou torná-las um ato heróico de quem assim queira agir, pois a ética pessoal assinala que existem situações nas quais é necessário confrontar o grupo ou a comunidade a que se pertence e atuar de maneira determinada sem importar-se com os interesses afetados. Portanto, pode-se dizer que o primeiro sentido da ética é um saber que pretende orientar as pessoas na forja do caráter (ibid.). A ética social que acompanha a experiência do pluralismo religioso, político e moral reconhecido como o ideal de sociabilidade, consistem em um denominador comum compartido pela sociedade em meio a esta diversidade. Compreende a fecundidade da convivência de concepções distintas e defende que cada qual tem direito de tentar levar a cabo seu projeto de felicidade sempre que isto não impossibilite aos demais também o concretizarem. A ética social parte da convicção de que cada membro da sociedade é um cidadão capaz de tomar decisões como um sujeito ético autônomo (Ibid.). 28 Assim, um dos primeiros valores que compõem a ética social é o da autonomia ética com seu correspondente político, a cidadania. A estes se junta à igualdade, entendida como a consecução de iguais oportunidades para todos desenvolverem suas capacidades, corrigidas as desigualdades naturais e sociais e eliminada a dominação de uns pelos outros já que todos são iguais enquanto autônomos e capacitados para a cidadania. Estes valores da ética social servem de guia para as ações, mas para que eles sejam encarnados na vida das pessoas e das instituições é necessário concretizá-los e os direitos humanos, em suas distintas gerações, podem ser considerados como tal (Ibid.). A pluralidade também exige como componentes da ética social a tolerância e o diálogo. O primeiro vai além de seu sentido passivo isto é, uma inclinação a não se imiscuir nos projetos alheios por simples comodidade, mas abraça um sentido ativo, a predisposição em respeitá-los porque podem ter um valor mesmo que não compartido por todos. O diálogo é uma atitude que considera cada um como ser autônomo igualmente capaz de dialogar sobre as questões que afetam sua vida e que se dispõe, por solidariedade, a incluir os interesses de cada um na tomada de decisões. A única maneira de cada qual se fazer compreender é nesta atitude de diálogo na qual se fala e se pergunta (ANDREASEN, 2002). De acordo com Melo Neto & Froes (2001) para o desenho de uma ética nas organizações faz-se necessário: • Determinar o fim específico da atividade organizacional que é responsável por sua legitimação social; • Averiguar os meios adequados e os valores a serem incorporados ao desempenho desta atividade específica; • Indagar pelos hábitos a serem adquiridos e ir forjando um caráter que permita deliberar e tomar decisões acertadas em relação às metas; • Discernir que relação deve ocorrer entre as atividades e as organizações; • Identificar quais são os valores éticos da sociedade na qual está inserida a organização e quais os direitos que essa sociedade reconhece às pessoas. Feitas estas breves delimitações iniciais passa-se à questão específica da ética empresarial. Os motivos para o florescimento da preocupação ou interesse com a ética nas 29 empresas e nas organizações de maneira geral iniciam esta discussão que segue com os aspectos históricos e uma conceituação. Ultimamente nota-se que, o interesse ou a preocupação com a ética empresarial e de seus dirigentes e empregados, tem crescido, sendo alvo da mídia e da literatura sobre administração. Já se encontram, nos jornais, anúncios selecionando supervisores ou consultores éticos, sinal de que a empresa está incluindo a preocupação com a ética formalmente em sua estrutura organizacional. O Gestor é, teoricamente, uma pessoa com claros objetivos que se propõe a alcançálos através do desenvolvimento de grande habilidade para imaginar e criar meios que permitam isto. De comportamento pró-ativo, criativo e com capacidade inovadora não se prende a soluções já conhecidas, mas com instinto de adaptação imagina possibilidades e estratégias novas sempre no marco da negociação menos custosa que o do conflito; para o entendimento dos processos de tomada de decisão é a cultura do individualismo, característica da modernidade, é geradora de insatisfações. Como conseqüência os indivíduos buscam se integrar a uma comunidade ou corporação para recuperar seu “eu concreto”. Os seres humanos tornam-se pessoas dentro de comunidades concretas, nas quais aprendem os valores éticos que vão seguir defendendo (MELO NETO & FROES, 2001). A empresa pode ser entendida como uma comunidade que propõe aos seus membros uma identidade, um sentido de pertença, valores a compartir, uma tarefa comum, um bem comum não distinto do bem de cada um dos seus integrantes e, até mesmo, um sentido de excelência que o “universalismo individualista” é incapaz de considerar. Esta é a cultura das organizações que, começando pela família e continuando através dos demais grupos humanos que cada contribui para a boa imagem da empresa, pois nenhuma das grandes e excelentes companhias distingue-se pela falta de princípios éticos, mas pela qualidade do produto que colocam à disposição do mercado. As empresas têm uma imagem a resguardar, patrimônio essencial para a continuidade do próprio negócio. A imagem da empresa não pode ser vilipendiada ou reduzida à simples peça publicitária uma vez que ela representa um ativo econômico sensível à credibilidade que inspira. A dimensão ética é uma parte decisiva dentro do conceito de qualidade que a empresa apresenta à sociedade (Ibid.). 30 Resta, dentre as motivações para a preocupação com a ética nas empresas, levantar a questão do modismo. A imagem da empresa não pode ser vilipendiada ou reduzida à simples peça publicitária uma vez que ela representa um ativo econômico sensível à credibilidade que inspira. A dimensão ética é uma parte decisiva dentro do conceito de qualidade que a empresa apresenta à sociedade (ANDREASEN, 2002). Assim, outra razão pela qual o tema “ética” é abordado pelas empresas, por exemplo, é a situação de insegurança e intranqüilidade em que se encontram muitos dirigentes quando necessitam tomar as decisões exigidas pela empresa, mas, sentem-se segundo sua consciência, como se estivessem agindo de maneira eticamente censurável (Ibid.). Estas últimas posições expressam as reais funções e os objetivos da introdução da preocupação com a ética no mundo dos negócios. No entanto, há um risco de que a ética nas organizações seja revestida de um caráter de modismo e perca de vista suas finalidades. No entanto, ao pertencer a uma empresa, cujo desenho e funcionamento põem os resultados econômicos no curto prazo adiante do respeito dos direitos das pessoas ou da satisfação da necessidade dos consumidores, tomar decisões eticamente corretas pode tornarse um ato heróico. Gomez (2000) coloca este ponto como uma das razões para este crescente florescimento da ética dos negócios, já Cortina apud Kotler (1998) defendem uma outra posição afirmando que a ética empresarial não consiste nem em uma moda passageira, nem em último intento de justificar relações injustificáveis, mas em uma nova forma de orientar a atividade empresarial e o desenho das organizações. Segundo Andreasen (2002), mais que um modismo, a ética nas atividades empresariais e de qualquer organização é uma necessidade mais exigente. A época do grande florescimento da ética nos negócios, nos Estados Unidos, ocorre nos anos 80, no entanto é possível encontrar marcos históricos deste assunto anteriores à década de 70. No final dos anos 60, o conceito de ética nos negócios toma impulso e isto se deve principalmente aos ataques à indústria automotiva e ao desenvolvimento de um movimento em defesa dos diretos dos consumidores. Uma onda de escândalos levando ao questionamento 31 da segurança dos produtos, da proteção do meio ambiente e do comportamento dos homens de negócios provoca intensas reações da opinião pública e a ameaça de intervenção por parte do Estado. O mundo dos negócios norte-americano descobre a necessidade de uma reflexão acerca das Responsabilidades Sociais da empresa e dos aspectos éticos do comportamento na área dos negócios. Os meios de comunicação interessam-se pelo assunto e é assim que nos anos 80 vive-se o florescimento da ética nos negócios (ANDREASEN, 2002). Duas fases dividem os anos 80. Na primeira metade desta década, a ética nas empresas é caracterizada pela preocupação com a responsabilidade institucional. Na segunda, a capacidade moral dos indivíduos ganha destaque. Os valores pessoais de um administrador tornam-se uma questão essencial para a empresa (Ibid.). O foco de atenção da ética nos negócios, nos anos 90, está centrado em como obter e manter a excelência. Dentro do contexto competitivo e das grandes mudanças, característico da maior parte dos setores da atividade empresarial do mundo empreendedor, Kotler (1998) apresenta especialmente quatro fatos: • O primeiro trata da desconfiança por parte do próprio empresariado. As questões éticas básicas devem fazer parte do cálculo para a solução dos problemas enfrentados no cotidiano gerencial de uma organização, pois quem decide faz escolhas entre os diferentes cursos de ação e deflagra suas conseqüências. Ganha evidência a idéia de que os administradores tomam decisões com implicações éticas, pois a maioria das atividades empresariais tem impacto sobre outras pessoas além daquelas diretamente envolvidas, ficando assim sujeitas a uma avaliação das conseqüências do benefício ou malefício originadas para todas as contrapartes. Apesar de sua breve trajetória, a ética no mundo dos negócios tem apresentado significativas mudanças, provavelmente em conseqüência da tentativa de acompanhar o dinamismo próprio, suscitando arraigadas predisposições, como: 1. Quem quer fazer bons negócios tem que deixar a ética na porta da empresa; 32 2. A empresa deve preocupar-se em ganhar dinheiro, deixando as questões sociais para os mecanismos do mercado e os poderes públicos. • O segundo fato refere-se ao questionamento que se faz frente aos reclames da sociedade por uma maior ética nos negócios. Está realmente aludindo a uma necessidade que a empresa sente ou simplesmente tranqüilizando a sua consciência com a aparência de que a ética é fundamental na empresa, a exemplo da política ou das informações. Quando os executivos baseiam-se demais em regras e padrões, é provável que acabem se escondendo atrás de um código de ética e acreditando que para ser ético basta não violarem as regras, assim o papel dos ideais e do julgamento profissional pode ser perdido. • O terceiro fato refere-se a um ramo da ética, divididas em três fases. Em uma primeira fase, esta vertente defende a ética empresarial como um ramo que trata de aplicar princípios aos negócios. Em uma segunda fase, passa-se ao entendimento de que as organizações têm obrigações sociais que vão além das econômicas. Quando a Responsabilidade Social das organizações passa a ser alvo de uma visão mais objetiva, que busca compreender as suas finalidades como a chave para o processo de decisão, constitui-se a terceira fase desta corrente de pensamentos. • O quarto fato diz respeito à inserção das empresas na ética das instituições. Para esta corrente, segundo Kotler (1998) destacam-se alguns elementos: 1. A empresa é, primeiramente, um sistema de valores com potencialidades que podem aflorar na cultura organizacional; 2. As empresas, como instituições, devem definir suas finalidades a partir dos valores que as identificam; 3. A ética constitui uma exigência dos sistemas abertos e desregulados, pois os seres humanos necessitam de normas de comportamento baseadas nos valores da organização; 4. O ético é rentável, pois possibilita uma identificação com a organização e consequentemente uma motivação eficiente; 33 5. A cultura própria da empresa permite a sua diferenciação frente aos competidores; 6. A clara concepção do papel do diretivo, que deve identificar-se com a organização e ter capacidade e habilidade para integrar pessoas humanas. Cabe salientar que a ética não é um valor acrescentado, mas intrínseco da atividade econômica e empresarial, pois esta atrai para si uma grande quantidade de fatores humanos e as pessoas conferem ao que realizam, inevitavelmente, uma dimensão ética. A empresa, como uma instituição capaz de tomar decisões e como conjunto de relações humanas com uma finalidade determinada, já tem desde seu início uma dimensão ética. Portanto, a ética empresarial ou organizacional pode ser entendida como o descobrimento e a aplicação dos valores e normas compartilhados pela sociedade no âmbito da empresa ou organização, especificamente, no processo de tomada de decisões a fim de aumentar sua qualidade. Sua tarefa principal consiste em elucidar o sentido e fim da atividade empresarial e propor orientações e valores éticos específicos para alcançá-los (ANDREASEN, 2002). Uma ética empresarial não consiste somente no conhecimento da ética, mas na sua prática. E este praticar concretiza-se no campo comum da atuação diária e não apenas em ocasiões principais ou excepcionais geradoras de conflitos de consciência. Ser ético não significa conduzir-se eticamente quando for conveniente, mas o tempo todo (Ibid.). Uma organização atua de forma eticamente adequada quando persegue suas metas e respeita os valores e os direitos compartidos pela sociedade na qual está inserida. Cada organização tem uma missão que define todo seu sentido. Um delineamento preciso da missão serve de constante alerta acerca da necessidade de olhar-se para fora da organização em busca de medidas de sucesso e não somente de clientes. Assim, é mais importante definir claramente a meta e a finalidade da organização estimulando seus membros a alcançá-las do que determinar um conjunto de normas e regulamentos. São os fins que conferem sentido às atividades e as regras só podem ser fixadas se eles forem levados em conta (Ibid.). Os empresários “excelentes” indicam que, hoje em dia, tem mais peso a clareza dos fins do que o cumprimento das normas e dos regulamentos. Aqueles que têm lucidez acerca 34 das finalidades e sabem, partindo delas, ordenar os objetivos intermediários estão mais capacitados a adaptar-se e/ou criar soluções inovadoras frente às mudanças que surjam. Ter consciência dos propósitos a serem perseguidos e habituar-se a escolher e agir segundo eles constitui um fator imprescindível na configuração de uma ética pessoal e das organizações. Feitas algumas considerações acerca do conceito de ética empresarial, é necessário uma abordagem conceitual sobre as questões éticas sob a ótica do marketing, abrangendo somente três P’s do composto de marketing: Produto, Preço e Promoção (Comunicação). 2.2.1 Questões Éticas em Marketing Para Churchill (2003) as questões éticas surgem ao longo de todo o processo de marketing, desde a pesquisa até o controle das estratégias. Em relação a pesquisa de marketing, é particularmente necessário que as organizações evitem situações enganosas. Táticas antiéticas incluem disfarçar tentativas de venda como pesquisas e não proteger a privacidade das pessoas que participam de um estudo. Questões éticas também podem surgir em relação a todos os elementos do composto de marketing: o produto em si, seu preço e sua promoção. Kotler (1998, p.178) ao abordar a questão da Responsabilidade Social e Ética do Marketing, ressalta que a empresa consciente deve tomar decisões tendo em vista as exigências, desejos e interesses dos clientes, porém deve também levar em conta os interesses no longo prazo da sociedade. “Negligenciar esses interesses a longo prazo é um desserviço para os clientes e a sociedade, e as que são alertas vêem os problemas sociais como oportunidades.” Nesse prisma de raciocínio deve-se buscar ações responsáveis de acordo com os seguintes P’s: a) Produto • Embalagens: Busca verificar questões diversas como, por exemplo, se as embalagens são enganosas na relação “tamanho embalagem X quantidade produto”. 35 • Obsolescência planejada: Esta pode ser obsolescência planejada de estilo (tentativa de influenciar a percepção do consumidor, quanto à aparência aceitável de uma categoria de produto - por exemplo: roupas da moda) e obsolescência planejada funcional (deixar importantes melhorias de produto fora do mercado para que não afetem a atratividade de atuais produtos de sucesso). • Produtos alimentícios ou de nutrição - Refere-se ao fato de que, muitas vezes, os rótulos dos produtos não condizem com o valor nutricional, ou com a especificidade do mesmo. b) Preço • Técnica da isca do produto barato - Bait-and-Switch - Tática de anunciar um produto a um preço convidativo e, no ponto de venda, oferecer um produto mais caro, alegando que o estoque do produto procurado já se encontra esgotado. • Fixação de preço - Este tópico faz alusão a empresas de um mesmo setor que entram em conluio para fixar seus preços em um determinado nível. • Preços desleais - Prática de preços demasiadamente baixos, com o intuito de forçar a saída de um concorrente do mercado e, após sua saída, o aumentar os preços acima do nível anterior. • Discriminação de preços - refere-se à prática de vender a clientes empresariais similares, produtos iguais a preços diferentes. c) Promoção (Comunicação) • Propaganda Enganosa - Esta questão é bastante delicada, e dá margem a múltiplas interpretações. Por exemplo: comunicar que um produto tira as manchas quando ele não as tira é considerado propaganda enganosa e está sujeito às penalidades previstas na legislação. Por outro lado, 36 falar que ele é o melhor detergente é totalmente aceitável, sendo denominado puffery (técnica de exaltar e exagerar a qualidade do produto); • Propaganda de Bebidas e Cigarros - Em muitos países, a propaganda para estes produtos é proibida, e em outros, está sujeita às múltiplas restrições. Este capítulo refletiu os aspectos pesquisados na revisão da literatura sobre a responsabilidade social empresarial e a ética organizacional. O capítulo 3 a seguir abordará, ainda itens relacionados com a fundamentação teórica necessária à compreensão do estudo de caso. 37 3 MARKETING SOCIAL Ainda, por meio de pesquisa bibliográfica, este capítulo tem como objetivo apresentar os conceitos relacionados com o tema do estudo, em especial, as questões que envolvem a responsabilidade social e o marketing social. 3.1 CONCEITOS De acordo com Vaz (1995) o Marketing Social é uma espécie de ação institucional empresarial que tem como objetivo eliminar ou atenuar problemas sociais, especialmente aqueles relacionados com as questões de higiene e saúde, educação, habitação transporte, nutrição e de trabalho. Por outro lado, Kotler & Roberto (1992, p. 25) afirmam que: O termo marketing social apareceu pela primeira em 1971, para descrever o uso de princípios e técnicas de marketing para a promoção de uma causa, idéia ou comportamento social. Desde então, passou a significar uma tecnologia de gestão da mudança social, associada ao projeto, implantação e controle de programas voltados para o aumento da disposição de aceitação de uma idéia ou prática social em um ou mais grupos de adotantes escolhidos como alvo. Os mesmos autores salientam que: Marketing social é uma estratégia de mudança de comportamento. Ele combina os melhores elementos das abordagens tradicionais da mudança social num esquema integrado de planejamento e ação, além de aproveitar os avanços na tecnologia das comunicações e na capacidade do marketing (KOTLER & ROBERTO, 1992, p. 25). Gil (1995) acrescenta que os programas baseados no marketing social são trabalhos de pesquisa que buscam estudar a raiz do problema social, identificando os focos de resistência a mudança de comportamento e, definindo a apresentação das idéias, formulando propostas e preparando a estrutura necessária para dar sustentação ao projeto. Em contrapartida, para Kozel Junior (1997, p. 56): 38 O marketing social cria e administra todo o processo, cujas ações e resultados passam a construir valores que se agregam aos produtos. O assistencialismo, mesmo se efetuado de forma sistemática, pouco agrega ao conceito da empresa, pois ela não gerencia nem detém a autoria e o controle do processo. E por fim, segundo Kotler & Armstrong (2000, p. 483): No marketing social, a empresa consciente toma decisões tendo em vista suas exigências, os desejos e interesses do cliente e os interesses em longo prazo da sociedade. A empresa está ciente de que negligenciar esses interesses em longo prazo é um desserviço para os clientes e a sociedade, e as que são alertas vêem os problemas sociais como oportunidades. De maneira sucinta, o Marketing Social pode ser compreendido como uma forma efetiva de melhorar a imagem corporativa. Diferenciando produtos e aumentando tanto as vendas quanto a fidelidade dos consumidores, alçando a marca para um patamar muito mais elevado. Significa também uma nova forma de comunicação mais engajada e que se diferencia de outras promoções de marcas concorrentes ou mesmo de serviços. Agregar valores desejáveis à marca por meio do Marketing para Causas Sociais difere completamente de simples doações ou mesmo campanhas beneficentes. O ideal é a parceria com uma entidade reconhecidamente social e que presta reais serviços à comunidade. Marketing Social é uma atividade comercial pela qual as empresas e instituições formam uma parceria para comercializar uma imagem, serviço ou produto para benefício mútuo cujo objetivo é reforçar a marca, relacionando a uma causa social justa, por meio de propaganda e outros meios de comunicação. 3.2 MARKETING SOCIAL NO BRASIL Nesses bem-vindos tempos de valorização da Responsabilidade Social, de investimento social corporativo em alta e de crescente interesse pelo Terceiro Setor é pouco provável que alguém já não tenha ouvido no Brasil a expressão Marketing Social. É do mesmo modo improvável que ao ouvir, alguém tenha compreendido o seu real significado. Ou que, mesmo compreendendo vagamente a que o termo se refere, este alguém não tenha criado uma forte rejeição, alimentado pelo compreensível sentimento de que as duas palavras - 39 Marketing e Social - parecem díspares demais, feitas para se digladiar entre si, contraditórias quando associadas numa mesma expressão. Diante do termo, duas são as reações mais comuns: ou as pessoas não entendem e não gostam, ou as pessoas entendem e também não gostam (MELO NETO & FROES, 2002). Desinformação e preconceito – todos sabem – andam normalmente lado a lado. O caso do Marketing Social apenas confirma essa regra. E não será necessário muito esforço intelectual para perceber que o "problema" está na primeira palavra, a que representa o vício, e não na segunda, o campo das virtudes. Vítima de uma tradição - que em muitos momentos lhe faz justiça - de manipulação de mentes, indução de hábitos de consumo e criação de necessidades, o Marketing é visto no Brasil como uma espécie de ciência da superfície, supremacia da aparência sobre a essência, a encarnação de tudo o que é mais dissimulado, ardiloso e conspiratório (Ibid.). Sob o trauma de experiências ruins, certamente relacionadas à compra de produtos, idéias, terrenos na praia e presidentes enganosos, os brasileiros em geral construíram uma percepção excessivamente ideologizada de que Marketing - na verdade, a propaganda, "pedaço" pelo qual se tornou mais conhecido - é um jogo escuso a serviço exclusivo do lucro, em que poucos ganham e muitos perdem. Nesses tempos de superação de diferenças, de convergências e de quebras de paradigmas, em que mesmo as empresas admitem ter o que aprender com organizações sociais, até mesmo as percepções mais renitentes precisa sofrer revisões periódicas (Ibid.). O conceito de Marketing Social nasceu no Brasil juntando-se duas palavras aparentemente antagônicas. Foi justamente este caráter, “fortuito", que o transformou numa expressão vaga e, portanto, aberta as mais diferentes versões. É comum ouvir-se referências a Marketing Social como "o marketing praticado por organizações da sociedade civil para venderem as suas causas", ou "como o marketing praticado por uma empresa ética e preocupada com a sociedade", ou ainda como o "marketing que uma empresa faz para associar sua marca a uma causa social". Não teria nenhum problema chamar a todos de Marketing Social, se não tivessem eles já outros nomes e não representassem conceitos distintos entre si (Ibid.). 40 Nesse sentido pode-se inferir que o marketing seja uma ferramenta de gestão para uma organização da sociedade civil, planejar a sua relação de troca com seus diferentes públicos de interesse, visando melhorar as suas condições de sustentabilidade. É absolutamente louvável também que as empresas adotem práticas de marketing mais éticas, não apenas preocupadas com o lucro rápido, mas com a qualidade de vida da sociedade. E é até recomendável que uma empresa utilize estratégias de marketing, especialmente de comunicação, para construir um posicionamento de marca, associando sua imagem a uma causa social. Mas essas diferentes práticas – bastante comuns em outros países – já foram estudadas, classificadas e conceitualmente definidas respectivamente como Marketing (puro e simples), Marketing Societal (KOTLER, 2000); e Marketing para Causas Sociais (PRINGLE &THOMPSON, 2003). Uma breve análise de cenários indica as razões pelas quais essas três práticas de marketing estão crescendo no Brasil. Pressionadas mais recentemente pela necessidade de obter financiamento para suas atividades, em um contexto de forte concorrência por recursos, as organizações de Terceiro Setor começam a profissionalizar sua gestão, interessadas em serem mais eficientes (gerir melhor os recursos que captam) e mais eficazes (cumprirem melhor a sua missão). O Marketing pode ser, sem dúvida, uma ferramenta útil, pois consiste em um processo gerencial que envolve análise de cenários, identificação de públicos, pesquisa de necessidades e expectativas, formatação de serviços, construção de imagem e oferta de valor e estratégias de comunicação. Há quem prefira, certamente por receio do termo, dar a este conjunto de atividades o nome de desenvolvimento institucional ou simplesmente comunicação. Isso importa muito pouco. O fato é que esses conceitos pertencem ao campo de conhecimento do Marketing. Importante reforçar aqui que se trata de Marketing, e não de Marketing Social como prega certo senso comum (mal) fundamentado na fácil idéia de juntar o meio (Marketing) com o fim (social) (ANDREASEN, 2002). Estimuladas pela valorização do conceito de Responsabilidade Social como nova mentalidade de negócio, e também por uma mudança no comportamento do consumidor que passa a exigir que as corporações façam mais pela sociedade do que pagar impostos e gerar empregos, cada vez mais empresas arriscam mudar suas práticas de Marketing, conferindo-lhe novos contornos e um sentido mais ético. Nesse campo, o bom senso recomenda sempre 41 evitar comemorações efusivas. Mas é inegável que há hoje mais empresas preocupadas, por exemplo, em não fazer propaganda enganosa, em respeitar integralmente o cliente ou em restituir ao meio ambiente os recursos que dele se utiliza, praticando algo que Kotler (2000, p. 97) definiu como Marketing Societal “um marketing não confinado à miopia do lucro a qualquer custo, mais humanizado, mais compromissado com o indivíduo e a sociedade”. Seja para valorizar o seu capital de imagem, seja para estabelecer diferencial de marca, para atrair e reter os melhores talentos, ou ainda pela consciência de que é impossível prosperar em uma sociedade decadente, mais empresas têm adotado o caminho de associarem suas marcas a causas sociais (ANDREASEN, 2002). Estrategistas de brand 1 (marca) admitem que, além das dimensões racional e emocional, as marcas também se edificam em uma dimensão ética ou espiritual: os clientes do futuro vão querer fazer negócios com empresas mais humanas, que agem como eles agem e acreditam no que eles acreditam. E é nesse contexto que ganha força o Marketing Relacionado a Causas Social, aqui bastante conhecido como Marketing Social e, às vezes, de forma equivocada é confundido com Responsabilidade Social (PRINGLE & THOMPSON, 2003). Segundo Pringle & Thompson (2003) o Marketing para Causas Sociais (MCS) nada mais é do que uma ferramenta de marketing cuja lógica é associar o investimento social na comunidade com a marca de uma empresa. MCS não é, portanto, sinônimo de Responsabilidade Social, muito menos um de seus objetivos, embora, seja utilizado com rigor e sentido ético, não deponha contra a imagem de uma empresa socialmente responsável. As experiências mostram que o desenvolvimento de estratégias de Marketing para Causas Sociais costuma ser bem-sucedida em empresas com programas de Responsabilidade Social, mais sensíveis para o relacionamento com a comunidade, acostumada a fazer parcerias com organizações da sociedade civil e mais fortemente vocacionadas para o investimento social (Ibid.). 1 Entende-se por estratégias de Brand a criação ou o aumento de visibilidade, associações de marca e/ou relacionamentos com os clientes (AAKER, 2000). 42 Mas se nenhum dos conceitos anteriores é Marketing Social, qual seria a sua definição? Segundo Andreasen (2002), Marketing Social pode ser definido como o uso das ferramentas de Marketing para gerar mudanças importantes de comportamento de indivíduos em relação a problemas como saúde pública, educação, habitação e qualidade de vida, contribuindo para o bem estar do indivíduo e da sociedade. Nos Estados Unidos, este conceito tem mais de 30 anos de história. Na década de 60, o médico Richard Manoff foi pioneiro na utilização da comunicação para fins de prevenção da saúde pública; convencido de que a mesma propaganda que vendia cigarros também poderia vender a idéia de que fumar encurta a vida. Alguns anos mais tarde, Kotler (2001) aperfeiçoou a tese. Para ele, a comunicação tem sempre limites na mudança de hábitos arraigados como o de fumar, mas o Marketing, tratado em sua maior amplitude conceitual, poderia ser mais útil. Utilizando os quatro P's do Composto de Marketing2 (Produto, Preço, Praça e Promoção), ele mostrou que haveria maiores chances de gerar a diminuição do hábito de fumar reduzindo a nicotina do produto, aumentando o preço via impostos, estabelecendo restrições de venda em pontos de distribuição e promovendo, por meio de campanhas de propaganda, a associação do cigarro à doença e à morte mais precoce. Também a tese de Kotler (2001) parece apresentar limitações, na medida em que o Marketing Social perde força – acredita-se – quando aplicado exclusivamente em campanhas isoladas de adoção de comportamentos. Para alguns ideólogos, o conceito estaria hoje entrando em sua terceira geração. O novo Marketing Social não deve apenas resgatar velhas dívidas sociais do País, mas fortalecer o capital social e o bem público, reduzindo a ênfase nos problemas, atacando as causas e não os efeitos e buscando soluções mais efetivas. Para tanto, precisa estar integrado às políticas públicas e fortemente vinculado a um movimento de transformação social mais amplo. 2 Define-se “Composto de Marketing” como o grupo de variáveis controláveis de marketing que a empresa utiliza para produzir a resposta que deseja no mercado-alvo. O Mix de Marketing, como também é chamado, consiste em todas as ações da empresa com a intenção de influenciar a demanda do seu produto. As várias possibilidades podem ser reunidas em quatro grupos de variáveis, conhecidas como quatro P´s: Produto, Preço, Praça e Promoção (KOTLER, 1998). 43 Entre as várias diferenças nos conceitos de Marketing Social, apresentadas por Andreasen (2002), Pringle & Thompson (2003) e Kotler (2001), uma em especial merece destaque. O Marketing em si pode ser usado por organizações de Terceiro Setor e o Marketing Societal e o Marketing para Causas Sociais pelas empresas privadas, o Marketing Social está a serviço de qualquer organização interessada em melhorar a vida dos indivíduos, incluindo obviamente os governos. Seu ferramental de análise de ambientes, gerenciamento de pesquisa, identificação de necessidades e expectativas, definição de estratégias de comunicação e de mensuração de resultados consiste em uma importante tecnologia a serviço da mudança social. É inegável que organizações sociais mais profissionais, empresas mais éticas e preocupadas com suas comunidades, e governos com melhor capacidade de planejamento social serão fundamentais no esforço da grande mudança que exige o País. O ano 2001 foi considerado por muitos um marco para o Marketing Social no Brasil, devido ao fato da ONU, Organização das Nações Unidas, ter instituído como o Ano Internacional do Voluntariado e por ter ocorrido o 1º Fórum Social Mundial, como resposta ao Fórum Econômico Mundial, em Porto Alegre - Brasil. Diante do exposto, conclui-se que não basta identificar e montar um projeto social, criar uma política de doações, ou um grupo de voluntários dentro da empresa. O Marketing Social está de mãos dadas com a Responsabilidade Social e esta começa “dentro de casa”, com a relação entre os seus funcionários, com a Gestão Ambiental e com a qualidade dos produtos oferecidos. 3.3 MARKETING PARA CAUSAS SOCIAIS Antes de qualquer coisa, cabe conceituar Marketing para Causas Sociais. Segundo Pringle & Thompson (2000, p. 56), “Marketing para Causas Sociais (MCS) pode ser definido como uma ferramenta estratégica de marketing e de posicionamento que associa uma empresa ou marca a uma questão ou causa social relevante, em benefício mútuo”. Para os autores o Marketing para Causas Sociais (MCS) é uma prática comum na Europa e nos EUA. No Brasil, ainda enfrenta resistência dos dois lados que poderiam se beneficiar da sua aplicação ética e estratégica. Nas organizações de Terceiro Setor, costuma 44 ser visto como uma espécie de ardil de empresas interessadas unicamente em tirar proveito promocional e, portanto, “ilegítimo”, de causas sociais. Receiam apropriar-se das causas públicas para vender produtos e assim criar, junto aos clientes, uma imagem de oportunismo e falta de escrúpulos. As dúvidas são compreensíveis considerando a novidade do tema, as inflexões ideológicas que suscita e o aparente antagonismo entre as duas lógicas (competitiva e colaborativa) sobre as quais se estrutura. O que se espera é que, por mais diferentes que sejam as posições de parte a parte, venham a ser discutidas num ambiente de maior informação e menor preconceito, estabelecendo pontes mais sólidas entre o Segundo Setor (Privado) e o Terceiro Setor (ONGs). Visto sob a perspectiva de um novo modelo de parceria, marcadamente pragmático, o MCS pode ser muito útil para a geração de receitas nas organizações sociais, a adição de valor social às marcas e a viabilização de ações sociais transformadoras para a sociedade. Ações como as da Avon e do McDonald’s, que vincularam suas imagens respectivamente à prevenção do câncer de mama e ao tratamento do câncer infantil são exemplos de bom uso da ferramenta. Não se constitui prática altruísta e muito menos filantrópica porque as empresas desejam obter retorno na forma de ganho de imagem e crescimento de venda de produtos e serviços. Para analisar o MCS, faz-se necessário compreender a forma como as marcas se edificam modernamente. Desde os anos 90, o desafio tornou-se mais complexo: antes as bases racionais e emocionais eram suficientes para estabelecer preferência. Atualmente não são mais. Segundo Pringle & Thompson (2003), o consumidor contemporâneo deseja se relacionar com marcas que oferecem mais do que atributos concretos e recompensas emocionais. Hoje em dia, parece que já não basta os consumidores saberem o que um produto ou serviço faz, ou que imagens ele transmite ao comprador: agora eles precisam saber “em que” a marca que eles compram “acredita”. Querem comprar de empresas dotadas de “espírito”, de crenças, de práticas e de valores cidadãos, de compromisso ético com a sociedade. Constata-se que ser confiável transformou-se assim, como ter qualidade em outros tempos, em fator distintivo de marca para consumidores mais cientes da força do seu poder de 45 escolha para a glória ou a ruína das corporações globalizadas. Embora não explique por completo, este contexto ajuda a entender o surgimento do conceito de Responsabilidade Social Corporativa e também a importância do MCS como ferramenta de investimento social privado. Os números reforçam que o MCS está em ascensão no mundo. Após ouvir quatro mil consumidores na Inglaterra e dois mil nos EUA, a ONG Business in the Community chegou à conclusão de que 98% consideram mais confiáveis as empresas que usam a ferramenta. De acordo com o mesmo estudo, 83% mudaram de marca por terem participado de alguma ação e 95% gostariam de ver mais empresas atuando em apoio a causas sociais e ambientais (PRINGLE & THOMPSON, 2003). No Brasil, pesquisa recente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) 3, constatou que 95% das grandes empresas realizam ações sociais. E, embora 57% tenham ouvido a expressão, apenas 30% desenvolveram alguma ação de MCS. Entre os que nunca utilizaram a ferramenta o motivo alegado é a falta de conhecimento. Quase metade (47%) teme que a associação da marca com uma causa possam trazer mais prejuízos (o risco de “parecer oportunista”) do que ganhos institucionais. Como fazer o MCS gerar resultados mútuos legítimos é, portanto, a principal dúvida a ser esclarecida para a expansão no uso da ferramenta em nosso País. Sobre isso, a experiência internacional permite identificar alguns pontos importantes. O primeiro tem a ver com a escolha da causa. Ao selecioná-la, a empresa precisa levar em conta a “vocação” ou como prefere os Norte-Americanos, o “território” da marca: quanto mais próxima estiver das conexões que sustentam a marca na percepção dos consumidores, mais adição de valor tende a proporcionar. Pringle & Thompson (2003) afirmam que a Avon escolheu a prevenção do câncer de mama porque suas consumidoras, mulheres entre 18 e 60 anos, consideravam esta uma preocupação importante, intimamente ligada com a saúde, e por tabela, com a estética e a auto-estima, questões que tangenciam o tipo de produto comercializado pela empresa. 3 Fonte: Disponível <www.idis.org.br> Acesso em julho de 2004. 46 Participar da solução do problema foi visto, pelas clientes, com enorme simpatia, o que conferiu à marca uma aura “espiritual” que ela não possuía. Em uma ação de MCS, as metas definidas pela empresa devem estar alinhadas com as da causa ou da organização social parceira, sob o risco de não gerar os benefícios mútuos esperados. Ao estabelecer como alvo a eliminação das mortes decorrentes de câncer de mama – hoje em torno de 25% dos casos diagnosticados – a Avon assumiu um compromisso de longo prazo, cujo resultado vai representar um belo gol para a sociedade (PRINGLE & THOMPSON, 2003). Ter uma boa idéia boa, capaz de provocar o desejo de envolvimento das pessoas, é importante para uma ação de MCS. Mas assegurar a legitimidade pública é fundamental. E legitimidade requer preocupações de transparência. Quando as campanhas se propõem a gerar receita para organizações ou causas, comercializando produtos e serviços, convém, por princípio, que a empresa comunique os valores arrecadados e a destinação dos mesmos. O McDonald´s e o seu “McDia Feliz” constituem exemplo digno de nota. Os R$ 7 milhões captados na última campanha (valor correspondente à doação integral do resultado da venda de sanduíches Big Mac) vão atender as necessidades orçamentárias de 64 instituições parceiras, especializadas na assistência a crianças e adolescentes em tratamento de câncer no país (Ibid.). Nem Avon nem McDonald’s parecem ser vistas como “oportunistas” por seus apoios a essas causas de evidente interesse público. Nos dois casos, o compromisso com a causa é firme, coerente e de longo prazo; não se restringe a campanhas pontuais, dispõe de orçamentos, escora-se em princípios transparentes, conta com parcerias publicamente construídas e validadas, está infiltrado na cultura organizacional e é compartilhado por cada um dos colaboradores, porta-voz apaixonado da causa e, na grande maioria, trabalhadores voluntários das mesmas. Verifica-se que a principal crítica que se faz ao MCS é que a “intenção de vender” diminui “a legitimidade do interesse pela causa”. À sombra desta idéia está uma percepção de que, neste tipo de parceria, a empresa “ganha” mais do que “oferece”, tirando proveito comercial da comoção provocada pelas causas sociais. Marcas globalizadas, fortes e 47 poderosas; é quase certo que Avon e McDonald’s continuariam vendendo mais produtos se utilizassem suas estratégias de promoção habituais. A diferença é que as de MCS beneficiam as organizações sociais, as causas de toda sociedade. Este capítulo abordou alguns tópicos relevantes para a compreensão do estudo, mormente aqueles relacionados com a responsabilidade social e o marketing social. O capítulo 4 a seguir apresenta conceitos sobre as ferramentas utilizadas pelas organizações para demonstrar as ações de responsabilidade social. 4 FERRAMENTAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL A avaliação do grau de Responsabilidade Social, ao se considerar fatores como a ética, o relacionamento com o meio ambiente e com os stakeholders, apresenta-se como um desafio para a administração, pois nenhuma organização é 0% ou 100% socialmente responsável. Entre um extremo e outro, existem diversos graus, cuja medição se torna extremamente complexa. Serão apresentados e discutidos a seguir importantes métodos de fazê-lo. Na história da Administração a avaliação do desempenho de uma empresa, em especial pelos acionistas e investidores, tem estado usualmente relacionada a indicadores econômico-financeiros. No entanto, uma vez que a Responsabilidade Social passa a estar inserida dentre os objetivos e contemplada nas estratégias, a forma de se avaliar o desempenho de uma organização deve considerar também fatores como a ética, o relacionamento com o meio ambiente e com os stakeholders. 4.1 DOW JONES SUSTAINABILITY GROUP INDEXES A Dow Jones Indexes, em parceria com a SAM Sustainability Group criou o Dow Jones Sustainability Group Index, ou somente DJSGI que é o primeiro índice global de sustentabilidade utilizado na busca das 10 melhores performances entre as empresas líderes em sustentabilidade. Este índice está totalmente integrado com os demais índices da Dow Jones Global e sua análise consideram tanto as diversidades geográficas, quanto os diferentes segmentos de negócio (MELO NETO & BRENNAND, 2004). A criação do DJSGI demonstra que as atitudes éticas praticadas pelas organizações, sejam nos ambientes internos e externos, exercem impacto positivo sobre as percepções e expectativas dos investidores, que assim avaliam a qualidade da gestão e posicionamento mercadológico da empresa (Ibid.). 49 A sustentabilidade de uma empresa está relacionada à Responsabilidade Social na medida em que se refere à abordagem dos negócios de modo a criar valor para acionistas de longo prazo, considerando os desenvolvimentos econômicos, ambientais e sociais nas decisões sobre novas oportunidades de negócio e no gerenciamento das empresas (MELO NETO & BRENNAND, 2004). A metodologia utilizada pelo DJSGI é baseada na aplicação de critérios para avaliar as oportunidades e riscos derivados das dimensões econômicas, ambientais e sociais de cada empresa. Este critério é composto por duas partes: • Os critérios gerais: aplicáveis em todas as empresas, independente de seu ramo ou segmento de atuação; • Os critérios específicos: aplicável de acordo com os negócios específicos de cada empresa. 4.2 INDICADORES ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social1 foi fundado em 1998 por um grupo de empresários com a visão de que a empresa está inserida na sociedade, tendo papel fundamental tanto para o desenvolvimento econômico quanto social da mesma. Em junho de 2000, o Instituto apresentou os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, como uma ferramenta de avaliação do estágio em que se encontram as práticas de Responsabilidade Social nas empresas. O método consiste basicamente em um questionário com diversos indicadores, a ser respondido pelas próprias empresas interessadas em compor um índice que avalia o grau de Responsabilidade Social. O questionário está dividido em sete temas: Valores e Transparência, Público Interno, Meio Ambiente, Fornecedores, Consumidores, Comunidade e Governo e Sociedade. Por considerar diversos aspectos da Responsabilidade Social, avalia seu grau dentro de uma empresa de forma bem mais abrangente. Por exemplo, a publicação do Balanço Social é um 1 Fonte: Disponível em <www.ethos.org.br >.Acesso em julho de 2004. 50 item dentro de Valores e Transparência, os certificados das normas de respeito ao trabalhador entram em Público Interno, a ISO 14000 e ISO 14001 estão englobadas em Meio Ambiente. Além de avaliar o grau de comprometimento da empresa com a sociedade, os Indicadores também fornecem uma ferramenta de auto-análise e um modelo de gestão para as empresas, por indicar os caminhos para que estas se tornem mais socialmente responsáveis. Com a consolidação dos dados coletados, ao longo do tempo, será possível a construção de parâmetros de como estão as práticas de Responsabilidade Social em diversas empresas, podendo-se, por exemplo, traçar os indicadores que possuem maior relevância dentro de determinados setores econômicos, identificar a importância de cada indicador para a sociedade como um todo e estabelecer um peso relativo para cada indicador. 4.3 CERTIFICAÇÃO DA FUNDAÇÃO ABRINQ A Fundação ABRINQ2 é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 1990, por empresários do setor de brinquedos, ligados a ABRINQ - Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos - e tem por finalidade promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania de crianças e adolescentes. Em 1995, através da criação do Programa Empresa Amiga da Criança, a Fundação ABRINQ estimulou o envolvimento do empresariado brasileiro no combate à exploração do trabalho infantil. Em linhas gerais, caso uma empresa atenda aos pré-requisitos sobre sua responsabilidade em relação aos direitos das crianças e adolescentes, recebe uma certificação de qualidade na forma do selo Empresa Amiga da Criança estampado em seus produtos. São três os pré-requisitos necessários para que a empresa possa ganhar a certificação: 1. A empresa deve assinar um compromisso de não utilização da mão-de-obra infantil; 2. Deve apoiar ou desenvolver ações sociais que melhorem as condições de vida de crianças e adolescentes; 2 Fonte: Disponível em < www.abrinq.org.br > Acesso em julho de 2004. 51 3. Deve divulgar os compromissos assumidos para sua rede de parceiros, clientes, fornecedores favorecendo o engajamento de mais atores sociais no processo. 4.4 AA1000 GESTÃO DA RESPONSABILIDADE CORPORATIVA Lançada em novembro de 1999 pelo Institute of Social and Ethical Accountability ISEA3, em versão ainda não definitiva, o padrão AA1000 tem o desafio de ser o primeiro padrão internacional de gestão da responsabilidade corporativa, com foco na contabilidade, auditoria e relato social e ético. A versão preliminar foi baseada em projetos pilotos de várias empresas que realizavam seu planejamento estratégico e gerenciamento visando uma política de responsabilidade ética e social. O Instituto de Responsabilidade Social e Ética (em inglês, ISEA - Institute of Social and Ethical Accountability) – é uma ONG sediada em Londres, Reino Unido, que tem como missão promover e dar suporte às organizações na implementação de sistemas de gestão éticos e sociais. Em sua primeira experiência neste sentido, o ISEA prestou serviços de assessoria e reuniu os vários casos organizacionais que resultaram no padrão AA1000. Atualmente, a organização possui um papel fundamental no aprimoramento e divulgação da norma: é ela quem monitora a formação de seus gestores, além de promover e regulamentar o padrão AA1000. Recentemente, o ISEA, num esforço de aperfeiçoamento contínuo, estabeleceu uma fase de consulta a partes interessadas para revisão da norma e apresentação de uma série de módulos para uma versão mais aprofundada, o padrão AA1000S. O primeiro destes novos elementos, sobre a Garantia da Qualidade e Verificação Externa, foi lançado no final de 2002. Os módulos a serem lançados em 2003 abordam os seguintes temas: Medição e Comunicação da Qualidade, Engajamento de Partes Interessadas, Integração de Processos de Responsabilidade com Sistemas de Gestão e Medição Existentes, Governança e Gerenciamento de Risco, e Gestão de Responsabilidade (Accountability) para Pequenas Organizações. AA1000 é um padrão de Responsabilidade (accountability), com foco em assegurar a Qualidade da Contabilidade, Auditoria e Relato Social e Ético. É composta por princípios e 3 Fonte: Disponível em < www.accountability.org.uk > Acesso em agosto de 2004. 52 um conjunto de padrões de processo. Os processos do padrão AA1000 associam a definição e a integração dos valores da organização com o desenvolvimento das metas de desempenho e a avaliação e comunicação do desempenho organizacional. Através deste processo, focado no engajamento da organização com partes interessadas, o padrão AA1000 vincula questões sociais e éticas à gestão estratégica e operações da organização. O padrão AA1000 tem como objetivo apoiar a aprendizagem organizacional e o desempenho geral - Social e Ético; Ambiental e Econômico - e, portanto, a contribuição da organização em direção ao caminho do desenvolvimento sustentável. Ele busca alcançar seu objetivo através da melhoria da qualidade da contabilidade, auditoria e relato social e ético. O padrão AA1000 pode apoiar a gestão estratégica e as operações de uma organização, dando a ela assistência para: a) Alinhar seus sistemas e atividades com seus valores; b) Aprender sobre os impactos de seus sistemas e atividades, incluindo as percepções de partes interessadas sobre esses impactos; c) Servir como parte de uma estrutura para controle interno para possibilitar à organização identificar, avaliar e melhor gerenciar os riscos que surgem de seus impactos sobre e as relações com suas partes interessadas; d) Atender ao legítimo interesse das partes interessadas em informações a respeito do impacto social e ético das atividades da organização e seus processos de tomada de decisão; e) Construir vantagem competitiva através da projeção de uma postura definida sobre questões sociais e éticas. O padrão AA1000 foi desenvolvido para contemplar as necessidades e requerimentos de todos os tipos de organizações adotantes. Estas incluem: a) Organizações grandes e pequenas; b) Organizações de instalação única, e organizações de instalações múltiplas e multinacionais; c) Organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos. 53 O principal benefício trazido pelo AA1000 às organizações que a adotam é o próprio estabelecimento de um sistema de gestão para possibilitar a Contabilização, Auditoria e Relato Social e Ético, o que pode gerar, entre outras conseqüências: • Prática “real” do conceito de Responsabilidade Social; • Imagem positiva e um melhor relacionamento com todos os públicos; • Capacidade de medir sucesso e benefícios por parâmetros mais abrangentes (Social, Ambiental e Econômico); • Transformação de sua abordagem de compliance (cumprimento da lei) para a de sustentabilidade; • Visão geral do que está acontecendo na organização e conseqüentemente possibilitar o gerenciamento pró-ativo de riscos potenciais; • Melhores parâmetros para tomada de decisão; • Melhoria contínua graças à contribuição do stakeholder, que identifica pontos para melhoria e estabelece metas com indicadores que possam medir desempenho e progresso. O padrão AA1000 pode ser utilizado como uma referência comum para confirmar a qualidade dos padrões de Responsabilidade Social especializados, existentes e emergentes; um sistema e processo independente e único para gerenciar e comunicar a accountability e o desempenho Social e Ético. Fazem parte do padrão AA 1000 onze princípios de qualidade que devem ser seguidos pela organização adotante, agrupados a seguir por área de referência: • Escopo e natureza do processo da organização • Completude – inclusão imparcial nos processos de contabilização, ao longo do tempo, de todas as áreas apropriadas de atividades relacionadas com o desempenho social e ético da organização. • Materialidade – inclusão de informação significativa que pode afetar um ou mais grupos de partes interessadas e sua avaliação do desempenho social e ético da organização. 54 • Regularidade e Conveniência – necessidade de ação sistemática e na hora certa do processo de contabilidade, auditoria e relato social e ético para apoiar a tomada de decisão da organização e de suas partes interessadas. • Garantia da qualidade – através de um processo de auditoria de uma organização por uma terceira parte (auditor) ou partes independentes e competentes. Acessibilidade – comunicação apropriada e efetiva para as partes interessadas da organização a respeito de seu processo de contabilidade, auditoria e relato social e ético e seu desempenho. • Comparabilidade – capacidade de comparar informação sobre o desempenho da organização com períodos anteriores, metas de desempenho, e “benchmarks” 4 externos tirados de outras organizações, regulamentação obrigatória e normas não-obrigatórias. • Confiabilidade – permite à organização e suas partes interessadas dependerem da informação providenciada pela contabilidade, auditoria e relato social e ético para estarem livres de erro ou parcialidade. • Relevância – utilidade da informação para a organização e suas partes interessadas como um meio de construção de conhecimento e formação de opiniões, e como suporte à tomada de decisão. • Entendimento – compreensão da informação pela organização e suas partes interessadas, incluindo questões de língua, estilo e formato. Gerenciamento do processo em base contínua. • Integração – ou integração de sistemas faz com que os processos de contabilização, auditoria e relato social e ético sejam partes das operações, sistemas e política da organização, e não que sejam tratados como um exercício isolado para produzir um relato social e ético. • Melhoria contínua – os passos, reconhecidos e externamente auditados, que foram dados para melhorar o desempenho em resposta aos resultados do processo de contabilização, auditoria e relato social e ético e a necessidade por desenvolvimento contínuo do próprio processo de contabilização, auditoria e relato dentro da organização. 4 Processo contínuo de comparação dos produtos, serviços e práticas empresariais entre os mais fortes concorrentes ou empresas reconhecidas como líderes. Fonte: Dicionário de Termos de Marketing, 2003. 55 4.5 NORMAS E MODELOS DE CERTIFICAÇÃO As pressões da sociedade em relação às atitudes socialmente responsáveis das empresas resultaram em iniciativas referentes à normatização dos modos de gestão relacionados ao meio ambiente, saúde e segurança dos funcionários e à Responsabilidade Social empresarial como um todo. Após a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro (ECO 92), iniciou-se uma tendência de normatização dos produtos e dos meios de produção em busca da qualidade do meio ambiente, sendo criada em 1996 a série ISO 14000, e os processos de certificação de conformidade da série ISO 14001, que focam especificações e diretrizes para o Sistema de Gestão Ambiental. No final de 1997 foi criada a certificação SA-8000 pelo Council on Economic Priorities (CEP), que aborda as questões sociais relativas às condições de trabalho dos funcionários, local de trabalho e ao controle dessas questões na cadeia de fornecedores. Esta norma foi impulsionada principalmente pela força de trabalho e sindicatos, que reivindicavam melhoria na qualidade de vida, empregabilidade, condições de trabalho, remuneração, segurança e saúde a fim de evitar lesões e doenças, perdas patrimoniais, rotatividade e absenteísmo, dentre outros. Em 1999, o ISEA (Institute of Social and Ethical Accountability) desenvolveu o AA1000, um padrão internacional com foco em assegurar a qualidade da Responsabilidade Social, cidadania, relato e auditoria, que contempla a avaliação do desempenho ético e social, o envolvimento e comprometimento dos stakeholders, os valores e administração corporativa, os impactos dos produtos e serviços e a preservação do meio ambiente. Esse padrão abrange todas as outras apresentadas até aqui e ainda contempla a importância do relacionamento com todos os stakeholders no desenvolvimento da Responsabilidade Social empresarial, estando relacionada aos âmbitos ético, social e econômico. O ambiente altamente competitivo em que estamos inseridos intensificou e ampliou consideravelmente a luta pela sobrevivência. 56 A dinâmica de mudanças nas empresas é constante, sendo assim, elas precisam proteger a si próprias de alguns efeitos adversos que fazem parte da dinâmica da mudança. Mudanças em recursos humanos, tecnologia e expectativas dos clientes compõem uma parte da base de dados sobre as quais decisões gerenciais e operacionais são tomadas. Um programa de qualidade, dentro de sua filosofia de reformulação e melhoria da estrutura empresarial a partir da reestruturação e melhoria das instalações e equipamentos e da preparação das pessoas, passa principalmente por mudanças de postura. Construindo dessa forma uma imagem positiva e de credibilidade, indispensáveis para um bom relacionamento com a comunidade. O propósito da ISO é desenvolver e promover normas e padrões mundiais que traduzam o consenso dos diferentes países do mundo de forma a facilitar o comércio internacional. A ISO tem 119 países membros. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é o representante brasileiro. A ISO trabalha com 180 comitês técnicos (TC) e centenas de sub-comitês e grupos de trabalho. A série ISO 14001 é uma norma de gerenciamento, não é uma norma de produto ou de desempenho. É um processo de gerenciamento das atividades da companhia que têm impacto no ambiente. Algumas importantes características da ISO 14001 são: • Ela é compreensiva: todos os membros da organização participam na proteção ambiental, envolvendo todos os stakeholders. São utilizados processos para identificar todos os impactos ambientais. A norma ISO 14001 pode ser utilizada por qualquer tipo de organização, industrial ou de serviço, de qualquer porte, de qualquer ramo de atividade. • Ela é pró-ativa: seu foco é na ação e no pensamento pró-ativo, em lugar de reação a comandos e políticas de controle do passado. 57 • Ela é uma norma de sistema: ela reforça o melhoramento da proteção ambiental pelo uso de um único sistema de gerenciamento permeando todas as funções da organização. O sistema de gerenciamento ambiental previsto pela norma contém os seguintes elementos: • Uma política ambiental suportada pela alta administração; • Identificação dos aspectos ambientais e dos impactos significativos; • Identificação de requisitos legais e outros requisitos; • Estabelecimento de objetivos e metas que suportem a política ambiental; • Um programa de gerenciamento ambiental; • Definição de papéis, responsabilidades e autoridade; • Treinamento e conhecimento dos procedimentos; • Processo de comunicação do sistema de gerenciamento ambiental com todas as partes interessadas; • Procedimentos de controle operacional; • Procedimentos para emergências; • Procedimentos para monitorar e medir as operações que tem um significativo impacto ambiental; • Procedimentos para corrigir não conformidade; • Procedimentos para gerenciamento dos registros; • Programa de auditorias e ação corretiva; • Procedimentos de revisão do sistema pela alta administração. A identificação de aspectos ambientais e a análise de impactos ambientais associados abrangem, portanto, não somente aqueles negativos ao meio ambiente, como também tratam de impactos reais e potenciais, tanto diretos como indiretos. Analisar impactos ambientais significa proceder aos seguintes passos: identificação dos aspectos ambientais que geram impactos ambientais; caracterização e exame dos impactos ambientais gerados; e avaliação da significância de cada impacto ambiental. 58 Um impacto adverso significante é aquele segundo o qual a combinação do risco (potencial de perigo ou gravidade versus probabilidade) de sua ocorrência e da magnitude de suas conseqüências é tal que o enquadram como significante, de acordo com uma classificação de “criticidade” predefinida; ou cuja ocorrência infringe legislação ou regulamentação, inclusive licenças, normas estatutárias, códigos subscritos e políticas internas, particularmente com relação á poluição ambiental. Já impactos benéficos significantes são aqueles que contribuem para o desenvolvimento sustentável, inclusive aqueles de melhorias de cunho sócio-econômico, através de efetivo aprimoramento, recuperação ou preservação do meio ambiente no tocante a poluição do ar, água e terra, uso de recursos naturais e consumo de fontes esgotáveis de energia, e, se importados, redução ou eliminação de agressores à higiene ocupacional e do perigo à segurança operacional. Não há dúvidas de que a conscientização do público com os aspectos ambientais fazem com que as organizações que levam ISO em conta tenham uma vantagem competitiva em relação às demais. Os produtos terão uma utilização mais segura, minimizando os desperdícios e aumentando a proteção ambiental. Considerando um comportamento ético e consciente do consumidor, espera-se que entre dois produtos com preço e qualidade similar, certamente ele dará prioridade a produtos que não afetem o meio ambiente de forma danosa. A sociedade, através dos seus legisladores, tem colocado cada vez mais restrições do ponto de vista ambiental para as empresas. As seguradoras já passam a avaliar os riscos de acidentes ambientais na estipulação de prêmios de seguros. Apesar da norma ser voluntária, vemos indicativos que apontam que o mercado passará a exigir a sua utilização. A sua implantação também proporcionará economias para as empresas, através da redução do desperdício e do uso dos recursos naturais. A ISO 14000 dá ênfase ao melhoramento contínuo, o que proporcionará economias crescentes à medida que o sistema está em funcionamento. Segundo Mattar (2001) os objetivos ambientais devem fundamentar cada princípio básico da política ambiental, sejam estes princípios relacionados com os compromissos mandatários com a melhoria contínua e com a prevenção da poluição, ou ainda com outros, 59 definidos à discrição da liderança da empresa, como, por exemplo, educação e treinamento, desenvolvimento sustentável, avaliação e melhoria do desempenho ambiental e envolvimento com partes interessadas específicas, como por exemplo, uma proximidade com comunidades indígenas. O mesmo autor salienta que como estes objetivos são as finalidades globais para o desempenho ambiental identificado na política ambiental, e como a política ambiental deve ser adequada à natureza, escala e impactos associados a aspectos ambientais do negócio da organização, torna-se crucial que o estabelecimento destes objetivos nasça da análise cruzada para consistência entre os princípios da política ambiental e os resultados informativos da identificação de aspectos ambientais e aspectos associados. Segundo Oliveira comprobatoriedade, (2003) legitimidade para e que se procure comunicabilidade com garantir os exeqüibilidade, objetivos, torna-se recomendável o estabelecimento de critérios para apoiar a decisão sobre a definição dos mesmos. Tais critérios devem incluir, dentre outros fatores, considerações sobre: o grau de atendimento às legislações e aos regulamentos aplicáveis; a viabilidade tecnológica para consecução do objetivo; os investimentos e a disponibilidade de recursos financeiros; a exeqüibilidade de controle operacional; a satisfação das demandas de partes interessadas; a compatibilização e sinergia com a estratégia global da organização; e a oportunidade para a melhoria continua e para a prevenção da poluição. Para esse autor cada objetivo deve então ser desdobrado em metas, através dos níveis da organização, de modo que o atingimento destas metas garanta o alcance dos objetivos e, por meio disto, assegure-se sobre a realização plena da política ambiental. Os principais objetivos são: • Redução de riscos com multas, indenizações, etc.; • Melhoria da imagem da empresa em relação à performance ambiental; • Melhoria da imagem da empresa quanto ao cumprimento da legislação ambiental; • Prevenção da poluição; • Redução dos custos com a disposição de efluentes através do seu tratamento; • Redução dos custos com seguro; 60 • Melhoria do sistema de gerenciamento da empresa. Deve ser estabelecido pela organização um sistema de manutenção de informações, em papel ou em meio eletrônico que descreva os elementos centrais do sistema de gestão e a inter-relação entre eles e permita direcionar a documentação relacionada. Tal sistema de manutenção de informações constitui-se na documentação que suporta o sistema de gestão ambiental adotado. O nível de detalhamento desta documentação deveria ser suficiente para descrever os elementos chave do sistema de gestão ambiental e suas inter-relações e direcionar para obtenção de informações mais detalhadas na operação de partes específicas do sistema de gestão ambiental (OLIVEIRA, 2003). É aconselhável que esta documentação seja compartilhada e integrada com a documentação de outros sistemas já implantados na organização, como por exemplo, aquela documentação que suporta um sistema de gestão de garantia da qualidade baseado no modelo normativo ISO 9000 (Ibid.). Segundo a norma ISO 14010, as auditorias de sistema de gestão ambiental são definidas como um processo de verificação sistemático e documentado para obter e avaliar, de modo objetivo, evidências que possam determinar se atividades, eventos, condições ambientais especificados, ou informações a respeito desses assuntos, estão em conformidade com critérios de auditoria adotados, bem como comunicar os resultados desse processo ao cliente. Nesta definição, deve-se entender o termo “critérios de auditoria” como sendo as políticas, as práticas, os procedimentos e/ou os requisitos que são utilizados como padrões para avaliar a documentação e as atividades definidas no escopo da auditoria. O termo cliente, por sua vez, representa o “cliente da auditoria”, ou seja, que solicita uma auditoria (Ibid.). Partindo-se desta definição, a ISO 14001 requer que a organização estabeleça e mantenha um (ou mais) programa (s) e procedimentos para realizar auditorias periódicas do sistema de gestão ambiental implementado, de modo a determinar se ele atende às definições e às premissas estabelecidas na documentação pertinente ao sistema de gestão ambiental, bem como aquelas requeridas pelos requisitos da própria ISO 14001; e está adequadamente implementado e mantido. 61 Além destes objetivos, que estão indiretamente explicitados na própria definição de auditorias ambientais, a organização deve, através dos resultados obtidos, prover informações para o gerenciamento responsável. Este requisito nada mais é do que informar o(s) responsável (eis) ou gestor (es), da área auditada, a respeito dos resultados obtidos na auditoria. O programa de auditoria, bem como qualquer cronograma ou plano de auditorias associado, deve ser fundamentado na importância ambiental da atividade auditada e nos resultados de auditorias anteriores (OLIVEIRA, 2003). O certificado tem validade de três anos. Após esse prazo ele precisa ser renovado. Além disso, a cada seis meses o sistema é auditado para verificar se ele continua a atender aos requisitos da norma. O certificado poderá não ser revalidado se a empresa deixar de cumprir os requisitos. A certificação é um processo pelo qual a empresa procura demostrar para seus clientes que tem um sistema de qualidade ambiental implantado. Para escolher a entidade certificadora, procure escolher uma empresa que seja bem conhecida nos países que compram seus produtos. A ISO publicou uma série de normas que complementam as normas básicas, orientando a sua implementação. As normas ISO 14000 são uma valiosa ferramenta gerencial, contribuindo para a redução de custos e o aumento da conscientização ambiental de seus colaboradores, clientes e toda a comunidade, promovendo os recursos necessários para controlar e reduzir os impactos ambientais resultantes das atividades empresariais. De maneira geral um sistema ISO ambiental necessita criar condições necessárias para a definição para a realização dinâmica de uma política ambiental, que deve ser adequada à natureza, escala e impactos ambientais das atividades produtos ou serviços da organização. 4.5.1 SA 8000 A SA 8000 é uma norma que visa aprimorar o bem estar e as boas condições de trabalho bem como o desenvolvimento de um sistema de verificação que garanta a contínua conformidade com os padrões estabelecidos pela norma. 62 A SAI (Social Accountability International), ONG – Organização não-governamental, sediada nos Estados Unidos é responsável pelo desenvolvimento e supervisão da norma internacional Social Accountability 8000 (SA 8000). Fundada em 1997, a SAI é uma entidade associada ao Council on Economic Priorities - CEP, pioneiro na área de Responsabilidade Social das empresas. A SA8000 é cada vez mais reconhecida no mundo como um sistema efetivo de implementação, manutenção e verificação de condições dignas de trabalho. Atualmente são mais de 160 empresas certificadas com SA-8000 em diversos países, incluindo, entre outros: Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Itália e Brasil. Várias empresas multinacionais sediadas nos Estados Unidos e na Europa estão implementando a norma SA8000 e exigindo que seus fornecedores operem dentro destes padrões. A norma SA8000 apresenta-se como um sistema de auditoria similar ao ISO 9000, que atualmente é apresentado por mais de 300.000 empresas em todo o mundo. Seus requisitos são baseados nas normas internacionais de direitos humanos e nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Desenvolvida por um conselho internacional que reúne empresários, ONGs e organizações sindicais, a SA8000 quer encorajar a participação de todos os setores da sociedade na busca de boas e dignas condições de trabalho. Esta norma especifica requisitos de Responsabilidade Social para possibilitar a uma empresa: a) Desenvolver, manter e executar políticas e procedimentos com o objetivo de gerenciar aqueles temas os quais ela possa controlar ou influenciar; b) Demonstrar para as partes interessadas que as políticas, procedimentos e práticas estão em conformidade com os requisitos desta norma; Os requisitos desta norma devem ser aplicados universalmente em relação à localização geográfica, setor da indústria e tamanho da empresa. 63 A empresa deve atender às leis nacionais e outras aplicáveis, a outros requisitos aos quais a empresa tenha se obrigado e a esta norma. Quando as leis nacionais ou outras aplicáveis, outros requisitos aos quais a empresa tenha se obrigado e esta norma tratarem do mesmo tema, a disposição que for mais rigorosa se aplica. A empresa deve também respeitar os princípios dos seguintes instrumentos internacionais: • Convenções OIT 29 e 105 (Trabalho Forçado e Trabalho Escravo); • Convenção OIT 87 (Liberdade de Associação); • Convenção OIT 98 (Direito de Negociação Coletiva); • Convenções OIT 100 e 111 (Remuneração equivalente para trabalhadores masculinos e femininos por trabalho equivalente; Discriminação); • Convenção OIT 135 (Convenção dos Representantes dos Trabalhadores); • Convenção OIT 138 & Recomendação 146 (Idade Mínima e Recomendação); • Convenção OIT 155 & Recomendação 164 (Saúde e Segurança Ocupacional); • Convenção OIT 159 (Reabilitação Vocacional & Emprego/Pessoas com Deficiência); • Convenção OIT 177 (Trabalho em Domicílio); • Convenção OIT 182 (As Piores Formas de Trabalho Infantil); • Declaração Universal dos Direitos Humanos; • Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança; • Convenção das Nações Unidas para Eliminar Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres; Para melhor esclarecimento cabe apresentar algumas definições consideradas relevantes e, segundo Oliveira (2003): 1) Empresa: constitui a totalidade de qualquer organização ou entidade de negócio responsável pela implementação dos requisitos desta norma, incluindo todos os funcionários (isto é, diretores, executivos, gerências, supervisores e demais funcionários, quer seja diretamente empregado, contratado ou de alguma outra forma representando a empresa); 64 2) Fornecedor: é uma entidade de negócio que fornece à empresa bens e/ou serviços necessários e utilizados na/para a produção de bens e/ou serviços da empresa; 3) Sub-fornecedor: constitui uma entidade de negócio na cadeia de fornecimento que, direta ou indiretamente, oferece ao fornecedor bens e/ou serviços necessários e utilizados na/para a produção de bens e/ou serviços do fornecedor e/ou da empresa; 4) Ação de reparação: é a ação tomada para fazer reparação de dano em relação a um trabalhador ou ex-empregado quanto a uma violação anterior de um direito do trabalhador, como coberto pela SA8000; 5) Ação corretiva: é a implementação de uma mudança ou solução sistêmica para assegurar uma reparação imediata e contínua de uma não conformidade; 6) Parte interessada: indivíduo ou grupo interessado em ou afetado pelo desempenho social da empresa; 7) Criança: qualquer pessoa com menos de 15 anos de idade, a menos que a lei de idade mínima local estipule uma idade maior para trabalho ou educação obrigatória, situação em que prevalece a idade maior. Se, entretanto, a lei de idade mínima local estiver estabelecida em 14 anos de idade, de acordo com as exceções de países; 8) Emergentes sob a Convenção 138 da OIT: prevalece a menor idade entre as duas condições; 9) Trabalhador jovem: qualquer trabalhador com idade acima da idade de criança conforme definido acima e abaixo de 18 anos de idade; 65 10) Trabalho infantil: qualquer trabalho realizado por uma criança com idade menor do que as idades especificadas na definição de criança acima, exceção feita ao que está previsto na Recomendação 146 da OIT; 11) Trabalho forçado: todo trabalho ou serviço que seja extraído de qualquer pessoa sob a ameaça de qualquer penalidade para a qual essa dita pessoa não tenha se oferecido voluntariamente, ou cujo trabalho ou serviço seja obrigado como meio de pagamento de débito anterior; 12) Reparação de crianças: todo o apoio e ações necessários para garantir a segurança, saúde, educação e o desenvolvimento de crianças que tenham sido submetidas a trabalho infantil, conforme definido acima e sejam demitidas; 13) Trabalhador em domicílio: uma pessoa que realize trabalho para uma empresa sob contrato direto ou indireto, em local outro que não seja a instalação da empresa, em troca de remuneração, e que resulte no fornecimento de um produto ou serviço conforme especificado pelo empregador, independentemente de quem forneça os equipamentos, materiais ou outros insumos usados. 4.5.2 Requisitos de Responsabilidade Social da SA 8000 Segundo Oliveira (2003) os requisitos específicos da norma SA 8000 são: • Trabalho Infantil: Os critérios especificados na norma são: 1. A empresa não deve se envolver com ou apoiar a utilização de trabalho infantil, conforme definido no tópico 10 do item 4.5.1; 2. A empresa deve estabelecer, documentar, manter e efetivamente comunicar aos funcionários e a outras partes interessadas, as políticas e procedimentos para reparação de crianças que forem encontradas trabalhando em situações que se enquadrem na 66 definição de trabalho infantil acima, e deve fornecer apoio adequado para possibilitar que tais crianças freqüentem e permaneçam na escola até passar a idade de criança, conforme definido no tópico 12 do item 4.5.1; 3. A empresa deve estabelecer, documentar, manter e efetivamente comunicar aos funcionários e a outras partes interessadas as políticas e procedimentos para promoção da educação para crianças cobertas pela Recomendação 146 da OIT e trabalhadores jovens que estejam sujeitos às leis obrigatórias locais de educação ou que estejam freqüentando escola, incluindo-se meios para assegurar que tal criança ou trabalhador jovem não esteja empregado durante o horário escolar e que as horas combinadas de transporte diário (de e para a escola e trabalho), período escolar e horário de trabalho não excedam a 10 horas por dia; 4. A empresa não deve expor crianças ou trabalhadores jovens a situações dentro ou fora do local de trabalho que sejam perigosas, inseguras ou insalubres. • Trabalho Forçado: os critérios especificados na norma são: 1. A empresa não deve se envolver com ou apoiar a utilização de trabalho forçado, nem se deve solicitar dos funcionários fazer ‘depósitos’ ou deixar documentos de identidade quando iniciarem o trabalho com a empresa. • Saúde e Segurança: os critérios especificados na norma são: 1. A empresa, tendo em mente o conhecimento corrente da indústria e quaisquer perigos específicos, deve proporcionar um ambiente de trabalho seguro e saudável e deve tomar as medidas adequadas para prevenir acidentes e danos à saúde que surjam do, estejam associados com ou que ocorram no curso do trabalho, minimizando, tanto quanto sejam razoavelmente 67 praticáveis, as causas de perigos inerentes ao ambiente de trabalho; 2. A empresa deve nomear um representante da alta direção responsável pela saúde e segurança de todos os funcionários e responsável pela implementação dos elementos de Saúde e Segurança desta norma; 3. A empresa deve assegurar que todos os funcionários recebam treinamento registrado sobre saúde e segurança regular e que tal treinamento seja repetido para os funcionários novos e para os funcionários designados para novas funções; 4. A empresa deve estabelecer sistemas para detectar, evitar ou reagir às ameaças à saúde e segurança de todos os funcionários; 5. A empresa deve fornecer, para uso de todos os funcionários, banheiros limpos, acesso à água potável e, se apropriado, acesso a instalações higiênicas para armazenamento de alimentos; 6. A empresa deve assegurar que, caso sejam fornecidas para os funcionários, as instalações de dormitório sejam limpas, seguras e atendam às necessidades básicas dos funcionários. • Liberdade de Associação e Direito a Negociação Coletiva: os critérios especificados na norma são: 1. A empresa deve respeitar o direito de todos os funcionários de formarem e associar-se a sindicatos de trabalhadores de sua escolha e de negociarem coletivamente; 2. A empresa deve naquelas situações em que o direito à liberdade de associação e o direito de negociação coletiva forem restringidos por lei, facilitar meios paralelos de associação livre e independente e de negociação para todos esses funcionários; 3. A empresa deve assegurar que os representantes de tais funcionários não sejam sujeitos à discriminação e que tais representantes tenham acesso aos membros de seu sindicato no local de trabalho. 68 • Discriminação: os critérios especificados na norma são: 1. A empresa não deve se envolver ou apoiar a discriminação na contratação, remuneração, acesso a treinamento, promoção, encerramento de contrato ou aposentadoria, com base em raça, classe social, nacionalidade, religião, deficiência, sexo, orientação sexual, associação a sindicato ou afiliação política, ou idade; 2. A empresa não deve interferir com o exercício dos direitos dos funcionários em observar preceitos ou práticas, ou em atender às necessidades relativas à raça, classe social, nacionalidade, religião, deficiência, sexo, orientação sexual, associação a sindicato ou afiliação política; 3. A empresa não deve permitir comportamento, inclusive gestos, linguagem e contato físico, que seja sexualmente coercitivo, ameaçador, abusivo ou exploratório. • Práticas Disciplinares: Neste item os critérios são: 1. A empresa não deve se envolver com ou apoiar a utilização de punição corporal, mental ou coerção física e abuso verbal; • Horário de Trabalho: igualmente os critérios adotados pela norma são: 1. A empresa deve cumprir com as leis aplicáveis e com os padrões da indústria sobre horário de trabalho. A semana de trabalho normal deve ser conforme definido por lei, mas não deve regularmente exceder a 48 horas. Aos empregados deve ser garantido, pelo menos, um dia de folga a cada período de sete dias. Todo trabalho extraordinário deve ser remunerado em base especial e, em nenhuma circunstância, deve exceder a 12 horas por empregado por semana; 69 2. De outra forma além do permitido o trabalho extraordinário deve ser voluntário; 3. Quando a empresa fizer parte de um acordo de negociação coletiva, livremente negociado com as organizações de trabalhadores (conforme definido pela OIT), representando uma porção significativa de sua força de trabalho, ela pode requerer trabalho em horas extras, de acordo com tal acordo, para atender demandas de curto prazo. • Remuneração: os critérios são: 1. A empresa deve assegurar que os salários pagos por uma semana padrão de trabalho devem satisfazer a pelo menos os padrões mínimos da indústria e devem ser suficientes para atender às necessidades básicas dos funcionários e proporcionar alguma renda extra; 2. A empresa deve assegurar que as deduções dos salários não sejam feitas por razões disciplinares, e deve assegurar que a composição de salários e benefícios seja detalhada clara e regularmente para os trabalhadores; a empresa deve também assegurar que os salários e benefícios sejam pagos de plena conformidade com todas as leis aplicáveis e que a remuneração seja feita ou em espécie ou na forma de cheque, de maneira que seja conveniente para os trabalhadores; 3. A empresa deve assegurar que os arranjos de contrato apenas por trabalho executado e esquemas de falso aprendizado não sejam realizados, numa tentativa de evitar o cumprimento de suas obrigações para com os funcionários sob as condições legais aplicáveis e associadas às legislações e regulamentações trabalhistas e de seguridade social. 70 • Sistemas de Gestão: Os critérios da norma são: 1. Política: A alta direção deve definir a política da empresa quanto à Responsabilidade Social e as condições para assegurar que ela: a) Inclua um comprometimento para estar em conformidade com todos os requisitos desta norma; b) Inclua um comprometimento para estar em conformidade com as leis nacionais e outras leis aplicáveis, com outros requisitos aos quais a empresa subscrever e a respeitar os instrumentos internacionais e suas interpretações; c) Inclua um comprometimento com a melhoria contínua; d) Seja efetivamente documentada, implementada, mantida, comunicada e seja acessível de forma abrangente para todos os funcionários, incluindo-se diretores, executivos, gerências, supervisores e a administração, quer seja diretamente empregado, contratado ou de alguma forma representando a empresa; e) Esteja publicamente disponível. • Análise Crítica pela Alta Direção: A alta direção periodicamente deve analisar criticamente a adequação, aplicabilidade e contínua eficácia da política da empresa, dos procedimentos e dos resultados de desempenho, em particular em relação aos requisitos desta norma e a outros requisitos aos quais a empresa subscrever. As alterações e melhorias de sistema devem ser implementadas quando apropriado. • Representantes da Empresa: A empresa deve nomear um representante da alta direção o qual, independentemente de outras responsabilidades, deve assegurar que os requisitos desta norma sejam atendidos; A empresa deve proporcionar condições para que funcionários sem função gerencial possam escolher um representante de seu próprio grupo para facilitar a comunicação com a alta direção sobre assuntos relacionados com esta norma. 71 • Planejamento e Implementação: A empresa deve assegurar que os requisitos desta norma sejam entendidos e implementados em todos os níveis da organização; os métodos devem incluir, mas não estão limitados a: 1. Clara definição de papéis, responsabilidades e autoridade; 2. Treinamento de empregados novos e/ou temporários quando da contratação; 3. Treinamento periódico e programas de conscientização para os empregados existentes; 4. Monitoração contínua das atividades e resultados para demonstrar a eficácia dos sistemas implementados, visando atender à política da empresa e aos requisitos desta norma. • Controle de Fornecedores/Sub-contratados e Sub-fornecedores: (1) A empresa deve estabelecer e manter procedimentos apropriados para avaliar e selecionar fornecedores/sub-contratados (e, quando apropriado, sub-fornecedores), com base em sua capacidade de atender os requisitos desta norma; A empresa deve manter registros apropriados do comprometimento de fornecedores/sub-contratados (e, quando apropriado, sub-fornecedores) para com a Responsabilidade Social, incluindo, mas não se limitando ao comprometimento por escrito daquelas organizações em: 1. Estar em conformidade com todos os requisitos desta norma (inclusive esta cláusula); 2. Participar das atividades de monitoração da empresa, conforme solicitado; 72 3. Prontamente implementar ação de reparação e ação corretiva para tratar quaisquer não conformidades identificadas contra os requisitos desta norma; 4. Pronta e completamente informar à empresa sobre qualquer e sobre todas as relações de negócio relevantes com outro(s) fornecedores / subcontratados e sub-fornecedores; (2) A empresa deve manter evidência razoável de que os requisitos desta norma estejam sendo atendidos pelos fornecedores e subfornecedores. Além dos requisitos acima, quando a empresa receber, manusear ou promover bens e/ou serviços de fornecedores / subcontratados ou sub-fornecedores que sejam classificados como trabalhadores em domicílio, a empresa deve tomar medidas especiais para assegurar que a tais trabalhadores em domicílio seja proporcionado um nível similar de proteção ao que seria proporcionado aos funcionários empregados diretamente, sob os requisitos desta norma. Tais medidas especiais devem incluir, mas não se limitarem a: 1. Estabelecer contratos de aquisição por escrito e com valor legal que requeiram conformidade com critérios mínimos (de acordo com os requisitos desta norma); 2. Assegurar que os requisitos do contrato de aquisição celebrados sejam entendidos e implementados pelos trabalhadores em domicílio e todas as outras partes envolvidas no contrato de aquisição; 3. Manter, nas instalações da empresa, registros abrangentes detalhando as identidades dos trabalhadores em domicílio; as quantidades de bens produzidos/serviços realizados e/ou horas trabalhadas por cada trabalhador em domicílio; 4. Atividades de monitoração programadas e não programadas para verificar a conformidade com os termos do contrato de aquisição celebrado. 73 • Tratando das Preocupações e Tomando Ação Corretiva: (1) A empresa deve investigar, tratar e responder às preocupações de empregados e outras partes interessadas, com respeito a conformidades / não conformidades frente à política da empresa e/ou frente aos requisitos desta norma; a empresa deve evitar repreender, dispensar ou de alguma outra forma discriminar contra qualquer empregado que tenha fornecido informações relativas à observância desta norma. (2) A empresa deve implementar ação de reparação e ação corretiva e alocar os recursos necessários apropriados à natureza e severidade de qualquer não conformidade identificada contra a política da empresa e/ou contra os requisitos desta norma. • Comunicação Externa: A empresa deve estabelecer e manter procedimentos para comunicar regularmente a todas as partes interessadas dados e outras informações relativas ao desempenho frente aos requisitos deste documento, incluindo, mas não se limitando a, os resultados das análises críticas pela alta direção e das atividades de monitoração. • Acesso para Verificação: Quando requerido em contrato, a empresa deve oferecer informações razoáveis e acesso às partes interessadas, as quais buscam verificar conformidade com os requisitos desta norma; quando ademais solicitado em contrato, informações similares e acesso devem também ser proporcionados pelos fornecedores e sub-contratados da empresa, através da incorporação de tal requisito aos contratos de compra da empresa. • Registros: A empresa deve manter registros apropriados para demonstrar conformidade com os requisitos desta norma. Este capítulo apresentou os principais instrumentos utilizados pelas organizações para obtenção da medição e certificação da responsabilidade social. O capítulo 5 a seguir apresenta os conceitos pertinentes a demonstração da responsabilidade social, ou seja o Balanço Social. 74 5 BALANÇO SOCIAL De acordo com Melo Neto & Froes (2001) o Balanço Social (BS) é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa reunindo um conjunto de informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício da Responsabilidade Social Corporativa. No Balanço Social a empresa mostra o que faz por seus profissionais, dependentes, colaboradores e comunidade, dando transparência às atividades que buscam melhorar a qualidade de vida para todos. Ou seja, sua função principal é tornar pública a Responsabilidade Social empresarial, construindo maiores vínculos entre a empresa, a sociedade e o meio ambiente (MELO NETO & FROES, 2001). O BS é uma ferramenta que, quando construída por múltiplos profissionais, tem a capacidade de explicitar e medir a preocupação da empresa com as pessoas e a vida no planeta. Nos anos 60, nos EUA e na Europa, o repúdio da população à guerra do Vietnã deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de algumas empresas ligadas ao conflito. A sociedade exigia uma nova postura ética e diversas empresas passaram a prestar contas de suas ações e objetivos sociais. A elaboração e divulgação anual de relatórios com informações de caráter social resultaram no que hoje se chama de Balanço Social (ibid.). No Brasil a idéia começou a ser discutida na década de 70. Contudo, apenas nos anos 80 surgiram os primeiros balanços sociais de empresas. A partir da década de 90 corporações de diferentes setores passaram a publicar Balanço Social anualmente (ibid.). Ainda, para Melo Neto & Froes (2001), a proposta só ganhou visibilidade nacional quando o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou, em junho de 1997, uma campanha pela divulgação voluntária do Balanço Social. Com o apoio e a participação de lideranças empresariais, a campanha decolou e vem suscitando uma série de debates através da mídia, 75 seminários e fóruns. Hoje é possível contabilizar o sucesso desta iniciativa e afirmar que o processo de construção de uma nova mentalidade e de novas práticas no meio empresarial está em pleno curso. À luz da bibliografia estudada, pode-se afirmar que a apresentação de um Balanço Social agrega os seguintes elementos: • Porque é ético; • Porque agrega valor. O BS traz um diferencial para a imagem da empresa que vem sendo cada vez mais valorizado por investidores e consumidores no Brasil e no mundo; • Porque pode minimizar os riscos. Em um mundo globalizado, onde informações sobre empresas circulam mercados internacionais em minutos, uma conduta ética e transparente tem que fazer parte da estratégia de qualquer organização nos dias de hoje; • Porque é um moderno instrumento de gestão. O BS é uma valiosa ferramenta para a empresa gerir, medir e divulgar o exercício da Responsabilidade Social em seus empreendimentos; • Porque é instrumento de avaliação. Os analistas de mercado, investidores e órgãos de financiamento (como BNDES e BID) já incluem o BS na lista dos documentos necessários para se conhecer e avaliar os riscos e as projeções de uma empresa; • Porque é inovador e transformador. Realizar e publicar BS anualmente é mudar a antiga visão, indiferente à satisfação e o bem-estar dos funcionários e clientes, para uma visão moderna em que os objetivos da empresa incorporam as práticas de Responsabilidade Social e Ambiental. O BS favorece a todos os stakeholders. Aos dirigentes fornece informações úteis à tomada de decisões relativas aos programas sociais que a empresa desenvolve. Seu processo de realização estimula a participação dos funcionários e funcionárias na escolha das ações e projetos sociais, gerando um grau mais elevado de comunicação interna e integração nas relações entre dirigentes e o corpo funcional (MELO NETO & FROES, 2001). 76 Aos fornecedores e investidores, informa como a empresa encara suas responsabilidades em relação aos recursos humanos e à natureza, o que é um bom indicador da forma como a empresa é administrada. Para os consumidores, dá uma idéia de qual é a postura dos dirigentes e a qualidade do produto ou serviço oferecido, demonstrando o caminho que a empresa escolheu para construir sua marca. E ao Estado, ajuda na identificação e na formulação de políticas públicas. Enfim, como dizia Betinho: "o Balanço Social não tem donos, só beneficiários". Desde 1997, o sociólogo Herbert de Souza e o Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas (IBASE) 1 vêm chamando à atenção dos empresários e toda a sociedade para a importância e a necessidade da realização do BS das empresas em um modelo único e simples. Por entender que a simplicidade é a garantia do envolvimento do maior número de corporações, o IBASE, em parceria com diversos representantes de empresas públicas e privadas, a partir de inúmeras reuniões e debates com vários setores da sociedade, desenvolveu um modelo que tem a vantagem de estimular todas as empresas a divulgar seu BS, independente do tamanho e setor. Se a forma de apresentação das informações não seguir um padrão mínimo, torna-se difícil uma avaliação adequada da função social da empresa ao longo dos anos. A predominância de dados que possam ser expressos em valores financeiros ou de forma quantitativa é fundamental para enriquecer este tipo de demonstrativo. É claro que nem sempre correlacionar fatores financeiros com fatos sociais é uma tarefa fácil, porém, os indicadores desenvolvidos do modelo IBASE ajudam às análises comparativas da própria empresa ao longo do tempo ou entre outras do mesmo setor. No modelo sugerido pelo IBASE, a sociedade e o mercado são os grandes auditores do processo e dos resultados alcançados. Em 1998, para estimular a participação de um maior número de corporações, o IBASE lançou o Selo Balanço Social IBASE/Betinho. O selo é conferido anualmente a todas as 1 Fonte: Disponível < www.ibase.org.br >. Acesso em agosto de 2004. 77 empresas que publicam o BS no modelo sugerido pelo IBASE, dentro da metodologia e dos critérios propostos. Através deste Selo as empresas podem mostrar - em seus anúncios, embalagens, BS, sites e campanhas publicitárias - que investem em educação, saúde, cultura, esportes e meio ambiente. O Selo Balanço Social IBASE/Betinho demonstra que a empresa já deu o primeiro passo para tornar-se uma verdadeira empresa-cidadã, comprometida com a qualidade de vida dos funcionários, da comunidade e do meio ambiente; apresenta publicamente seus investimentos internos e externos através da divulgação anual do seu balanço social. Cada vez mais cresce o número de empresas que realizam e publicam anualmente o BS. O BS recapitula num documento único os principais dados quantitativos permitindo apreciar a situação da empresa no domínio social, comportando informações sobre emprego, as remunerações e encargos, as condições de higiene e segurança, as outras condições de trabalho, a formação, as relações profissionais e suas famílias na medida em que estas condições dependem da empresa. O Balanço Social reúne um conjunto de informações sobre as atividades sociais desenvolvidas por uma empresa, que objetivam uma melhor gerência e planejamento dos recursos humanos, naturais e relações com seus parceiros, ou seja, informações sobre suas contribuições para a comunidade em que está inserida, o meio ambiente, os empregados e a sociedade como um todo, demonstrando as ações desenvolvidas em relação ao âmbito interno e externo e o valor gasto. Estas ações sociais são constituídas de doações, filantropia, parcerias com governo, investimento no meio ambiente, patrocínio a projetos sociais e gastos em campanhas publicitárias, dentre outros. No Balanço Social são discriminados os indicadores laborais ou despesas relativas a folha de pagamento (salários e benefícios), que afetam diretamente a melhoria da qualidade de vida dos funcionários. Depois estão registrados os gastos com impostos, contribuições, taxas e investimentos na comunidade e sociedade. Posteriormente são calculados os percentuais destas despesas em relação ao faturamento bruto da empresa. Neste contexto, o Balanço Social se constitui numa radiografia do comportamento da empresa em relação às suas responsabilidades públicas, relacionamento com seus 78 stakeholders e preservação ambiental, sendo uma forma de avaliação e planejamento de seu comportamento perante a sociedade, cuja decisão de publicação no Brasil está relacionada à vontade pública e ao grau de compromisso social de cada empresa. A idéia do Balanço Social é demonstrar quantitativamente e qualitativamente o papel desempenhado pelas empresas no plano social, tanto internamente quanto na sua atuação na comunidade. Os itens dessa verificação são vários: educação, saúde, atenção à mulher, atuação na preservação do meio ambiente, melhoria na qualidade de vida e de trabalho de seus empregados, apoio a projetos comunitários visando à erradicação da pobreza, geração de renda e de novos postos de trabalho. O campo é vasto e, várias empresas já estão trilhando esse caminho. Realizar o Balanço Social significa uma grande contribuição para consolidação de uma sociedade verdadeiramente democrática. Segundo o IBASE, as empresas listadas a seguir publicaram seus balanços sociais em 2003 no modelo sugerido pelo IBASE e receberam o direito de utilizar o Selo Balanço Social IBASE/Betinho 2002. • Acesita • Banco do Brasil • Banrisul • Belcar Caminhões e Máquinas • Caesb • Calçados Azaléia • Canguru Embalagens • Cedae • Cia. Carris Porto Alegrense • Cia. Ind Cataguases • Embratel • Gafisa • Grupo Pão de Açúcar • Inepar • Intervias • Marcopolo • Multibrás da Amazônia • Petrobras 79 • Previ • Saint-Gobain Canalização • Samarco • Sercomtel Celular • Sercomtel S.A. Telecomunicações • Sul América Seguros • Unimed Ponta Grossa • Viação Campos Gerais • Votorantim Celulose e Papel 5.1 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS AÇÕES SOCIAIS O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA2 – divulgou recentemente, o resultado da maior pesquisa já feita sobre as ações sociais do empresariado brasileiro cujos principais resultados são os seguintes: • A atuação social privada está concentrada no Sudeste: 67% das empresas da região realizam algum tipo de ação em benefício das comunidades. No Nordeste, esse percentual é de 55%, e no Sul, de 46%; • A dimensão desse atendimento, em números absolutos, corresponde a 300 mil empresas, no Sudeste; 48 mil, no Nordeste; e 75 mil, no Sul; • Crescem as empresas, cresce a participação. No Sudeste, 93% das maiores empresas realizam ações em benefício das comunidades, contra 61% das menores; • No Nordeste, a participação das grandes é de 63%, e das menores, de 55%; • No Sul, os percentuais de atendimento são mais diferenciados, passam de 41%, entre as pequenas empresas, para 91% entre as maiores; • As empresas que não executam qualquer espécie de ação social representam 16% ou 70 mil do total de empresas no Sudeste; • 2 No Nordeste, elas são 17 mil, ou 19% do total; Fonte: Revista Exame, Edição Especial (2003). 80 • No Sul, representam mais de um terço das empresas da região (34% ou 56 mil empresas), percentual quase duas vezes superior ao observado nas outras duas regiões; • O Sudeste aplica mais recursos tanto em valor quanto em percentual do Produto Interno Bruto – PIB – da região; • Em 1998, as empresas aplicaram R$ 3,5 bilhões em projetos sociais, o que corresponde a 0,6% do PIB regional do mesmo ano; • Os empresários do Nordeste aplicaram, em 1999, R$ 260 milhões ou 0,2% do PIB da região; • No mesmo ano, o montante aplicado pelo empresariado do Sul foi de R$ 320 milhões ou 0,2% do PIB regional; • Os recursos investidos no Sudeste representam, aproximadamente, 30% do gasto social federal na região, excluído os gastos com a previdência social; • No Nordeste, esse percentual eqüivale a cerca de 4%, e no Sul, a 7%; • O Nordeste é a região onde se verifica maior intenção de se expandir à ação social. Apesar de os investimentos privados na região serem comparativamente menores, 71% dos empresários declaram ter planos de aumentar os recursos e o atendimento às comunidades. Somente 7% deles descartam, de antemão, perspectivas de ampliação. Os dados revelam que esse percentual mantém-se elevado independentemente do tamanho da empresa; • No Sudeste, mais de um terço dos empresários declaram ter planos de expansão, e essa intenção aumenta de acordo com o tamanho da empresa. Esse comportamento também é observado no Sul, onde metade das empresas de maior porte informa estar planejando investir mais recursos em atividades sociais, enquanto cerca da metade está indecisa, e 20% do conjunto de empresários da região declaram ter planos de aumentar efetivamente os investimentos para o atendimento às comunidades. Ainda, de acordo com o IPEA os incentivos fiscais não estimulam as empresas a promover atividades na área social. Se, no Sudeste, os resultados apontaram que a utilização é pouco significativa (8%), no Nordeste e no Sul ela é ainda menor, não chegando a 1%. 81 Tais números apontam para a hipótese de que o envolvimento social do setor privado acontece independentemente do Estado: trata-se de um trabalho das próprias empresas, que não reconhecem influências do governo no processo decisório de sua atuação, na operacionalização das ações ou no volume de recursos aplicados. As atividades de assistência social predominam nas três regiões. No Sudeste, das 300 mil empresas que realizam ações sociais para a comunidade, 57% se voltam para ações assistenciais. No Nordeste, a metade das 48 mil empresas está envolvida em atividades nesse campo. No Sul, dois terços (66%) efetuam doações ou apoiam projetos assistenciais (IPEA, 2002). Ainda segundo a pesquisa do IPEA (2002) os resultados encontrados nas regiões Nordeste e Sul confirmam que: a educação não é o foco prioritário do investimento social privado, como se pensava até recentemente. No Nordeste como no Sudeste, a educação fica em quinto lugar, com a participação de 13% e 14%, respectivamente. Entretanto, é importante ressaltar que no Sul a atividade educacional aparece em terceiro lugar, mobilizando cerca da metade dos empresários dessa região. Enquanto no Nordeste e no Sul o atendimento é prioritariamente voltado para a comunidade em geral (80% e 70%, respectivamente), no Sudeste a atenção volta-se mais especificamente para o grupo infantil (63%). Nota-se, contudo, que as crianças são também um dos principais alvos dos empresários nordestinos e do Sul do país. A participação dos empregados nas atividades sociais promovidas pelas empresas é baixa nas três regiões, especialmente no Nordeste. No Sul e no Sudeste cerca de um terço das empresas (38% e 36%, respectivamente) afirma que seus empregados estão envolvidos em ações sociais. Já no Nordeste o percentual é de apenas 15% (Ibid.). Baseado nestes dados, nota-se que com o crescente estímulo para o desenvolvimento de ações voluntárias é possível que o engajamento dos empregados aumente em todo o País, mas para tanto é fundamental que ocorra o incentivo dos empregadores. Uma das surpresas da pesquisa foi o fato de grande parte das empresas do Nordeste (43%) declarar possuir avaliações documentadas sobre as atividades sociais realizadas. No 82 entanto, essa informação deve ser observada com cuidado, uma vez que mais de 90% das empresas não explicam a origem dessas avaliações. O mesmo resultado não é verificado no Sudeste e no Sul, onde, respectivamente, apenas 12% e 11% das empresas declaram avaliar seus resultados (IPEA, 2002). Ou seja, conclui-se que como não se dispõe de informações sistematizadas sobre o impacto dessas atividades - que, afinal, envolvem um volume significativo de recursos -, podem estar ocorrendo, eventualmente, no âmbito do Setor Privado, problemas assemelhados aos que historicamente são atribuídas as atuações do Estado no campo social: superposição e fragmentação das ações, que acarretam desperdício de recursos e a conseqüente redução na eficiência e eficácia das ações. Vê-se também que poucas empresas declaram utilizar algum meio de comunicação para trazer a público, informações sobre sua atuação social e, quando o fazem, geralmente é para dirigir-se ao público interno. No Sudeste, os percentuais dos que não divulgam é de 91%, seguido por 86% no Nordeste, e 93% no Sul (IPEA, 2002). Entre as razões apontadas, destacam-se: preferência pelo uso dos recursos disponíveis nas próprias ações; custo elevado da divulgação - especialmente para as micro-empresas - e, receio de ampliar as demandas das comunidades por mais recursos. Ajudar traz satisfação pessoal. Tal percepção é confirmada por 61% do empresariado no Sudeste, 72% no Nordeste, e 58% no Sul; e mais: melhoria nas condições de vida dos beneficiários foi um resultado percebido pela maioria dos empresários do Sudeste (60%) e Sul (54%). Já no Nordeste a maioria identifica que melhorou a relação da empresa com a comunidade (67%), assim como a imagem da empresa (53%) (IPEA, 2002). 5.2 TERCEIRO SETOR AINDA SOFRE PARA AVALIAR AÇÕES SOCIAIS Complexidade na metodologia, percepção equivocada do processo, confusão no direcionamento da avaliação e até certa imprecisão na definição de objetivo das iniciativas são os principais empecilhos para avaliar ações sociais no Brasil. Sem análises efetivas, muitas ONGs perdem financiadores e tornam-se "elefantes brancos" de qualidade duvidosa. 83 Embora sejam muitas as deficiências nesse sentido, a mais alarmante é a falta de clareza sobre a missão dos projetos. Outro ponto importante a ser levantado é a confusão que se faz entre impactos de uma ação e seus resultados, definições essencialmente diferentes. Os resultados são constatados logo após a conclusão das atividades, sobre seu público alvo. Enquanto os impactos reúnem um conjunto de fatores que mostram a consolidação das idéias propostas na intervenção e a apropriação da iniciativa pela comunidade local. As conseqüências da incompetência para aplicar a auto-avaliação são catastróficas para as Organizações não Governamentais - ONGs: perdem patrocinadores e não conseguem visibilidade. Não é difícil entender: se não possuem pesquisas para solidificar sua credibilidade em um segmento que não pára de crescer, como o Terceiro Setor, elas perdem seus apoiadores para outras entidades que os tenham. Este capítulo abordou os conceitos pesquisados na literatura disponível, relacionados com um relevante instrumento de demonstração dos indicadores de responsabilidade social, qual seja o Balanço Social. O Capítulo 6, a seguir apresenta o estudo de caso propriamente dito. 84 6 ESTRATÉGIA DE PESQUISA Este capítulo apresenta os tópicos relativos aos métodos e procedimentos técnicos utilizados na dissertação. São abordados os seguintes itens: metodologia, tipo, coleta e tratamento dos dados e análise dos resultados. 6.1 METODOLOGIA DE PESQUISA De acordo com Gil (1999) os métodos das ciências sociais têm como objetivo instrumentalizar o pesquisador para que seja garantido um mínimo de objetividade e precisão no estudo. O método utilizado visa orientar a realização da pesquisa nos aspectos referentes à obtenção e processamento dos dados coletados. A abordagem a respeito do delineamento do presente trabalho é um estudo de caso, na medida em que ele se fundamenta na idéia de que a análise de uma unidade de um universo escolhido possibilita segundo Gil (1999), a compreensão da generalidade do mesmo, ou no mínimo, o estabelecimento de bases para uma investigação posterior. Cabe esclarecer que para Yin (2001, p. 32): O estudo de caso é uma forma de se fazer pesquisa social empírica ao investigar-se um fenômeno atual dentro de seu contexto de vida real, onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidas e na situação em que múltiplas fontes de evidências são usadas. Portanto, de acordo com o objetivo proposto no início do presente trabalho será apresentado a seguir o estudo de caso sobre o tema em questão, qual seja, a avaliação de resultados e seus impactos na empresa e na sociedade das ações de Responsabilidade Social. 6.2 TIPO DE PESQUISA De acordo com Gil (1999) a presente pesquisa poder ser considerada como exploratória e descritiva. Exploratória porque visa prover o pesquisador de maior 85 conhecimento sobre o tema escolhido, esclarecendo e modificando conceitos e idéias, especialmente com vistas à formulação de problemas mais precisos e suposições pesquisáveis para estudos posteriores; e descritiva porque no presente trabalho o objetivo é levantar opiniões, atitudes e crenças dentro da unidade de pesquisa adotada. 6.3 COLETA DE DADOS A presente pesquisa de campo foi realizada pessoalmente pelo pesquisador no período de julho de 2004 a agosto de 2004, e nos aspectos referentes à tipologia e meios utilizados na coleta de dados pode-se classificar em dois grupos: dados primários e dados secundários. Segundo Mattar (2001) os dados primários são aqueles que estão de posse do pesquisado e podem ser coletados por meio da um meio de comunicação e observação. Os dados secundários são aqueles que já foram coletados, tratados e às vezes já analisados, e que estão catalogados à disposição do interessado, podendo ser obtidos em publicações, instituições representativas, Organizações não-Governamentais e outras. Para o presente estudo de caso utilizou-se ambas formas de coleta de dados, e na obtenção dos dados primários foram utilizadas entrevistas estruturadas segundo roteiro apresentado no anexo do presente trabalho. Além disso, foram realizadas entrevistas abertas com emprego de gravador junto ao Diretor de Responsabilidade Social Corporativa da empresa objeto da pesquisa de campo. 6.4 DADOS GERAIS Neste item são apresentados os dados gerais da unidade de pesquisa, que foram obtidos por meio de entrevistas semi-estruturadas e abertas com o executivo responsável, onde foram explicitados os objetivos da pesquisa, a forma de coleta dos dados, bem como dos aspectos da divulgação do nome da empresa, bem como dos resultados da pesquisa. 86 6.4.1 Histórico da organização estudada A empresa pesquisada está entre os cinco maiores grupos privados do Brasil, subsidiária do grupo British American Tobacco (BAT), o segundo maior do mundo no mercado de tabaco, com operações em cerca de 180 países. Criada pelo imigrante português Albino Souza Cruz, em 1903, a companhia atende hoje diretamente cerca de 200 mil pontos de venda e atinge 74,6% de participação no mercado brasileiro, com 77 bilhões de unidades comercializadas por ano. A empresa tem sido reconhecida publicamente pela sua atuação no mercado brasileiro. De um século ao outro, viu o mundo mudar e enfrentou muitos desafios. Iniciou seu segundo centenário aprendendo com o passado e acreditando no futuro. Na trajetória até o século que se inicia, com a velocidade da Internet conectando o mundo, a empresa aumentou sua produção, internacionalizou-se, evoluiu tecnologicamente e tornou-se líder absoluta de mercado e referência internacional em produtos de consumo de massa. No dia 25 de abril de 2003, com a inauguração da fábrica na cidade de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul, comemorou seu primeiro centenário de existência em um evento carregado de simbolismo. Colocando em operação uma das mais modernas unidades produtoras de cigarros do mundo, resultado de um investimento total superior a 500 milhões de reais, a empresa enfatizou o valor mais importante da sua origem e do grupo BAT: a visão e a crença no futuro. A British American Tobacco – BAT – é o mais internacional dos grupos do segmento de tabaco, operando em mais países do que qualquer um de seus concorrentes. Com 14,6 % de participação de mercado mundial a BAT é o segundo maior grupo da indústria de tabaco no mundo. As mais de 300 marcas do seu portfólio são a escolha de um em cada sete do total de um bilhão de fumantes adultos em todos os continentes. Sempre com expressivas participações em cada uma das regiões em que se organiza mundialmente, o grupo detém a liderança em mais de 50 dos 180 mercados em que está 87 presente. Suas 85 fábricas, em 66 países, processaram cerca de 660 mil toneladas de fumo e produziram 777 bilhões de cigarros em 2002. Todo o grupo, incluindo as empresas associadas, emprega mais de 85 mil pessoas em todo o planeta. A BAT não vem sustentando sua significativa presença no mercado mundial durante mais de 100 anos por acaso. Desde 1912, apenas uma década depois de fundada, ela já era uma das 12 maiores empresas pelo conceito de capitalização de mercado. O grupo está comprometido em construir valor para os seus acionistas e acredita que há valor agregado não apenas na forma de conduzir seus negócios, mas também, em como a companhia é estruturada; na sua habilidade de ver o mundo como ele realmente é; na sua habilidade de atrair e reter talentos; de construir relacionamentos de confiança com consumidores, fornecedores, distribuidores e parceiros, e em administrar marcas de alta qualidade. Mas, mais do que tudo, na realidade econômica de hoje, há uma força especial na habilidade em plantar negócios locais em um vasto conjunto de diferentes culturas pelo mundo. 6.4.2 O Negócio A produção e comercialização do cigarro são atividades lícitas, altamente reguladas e tributadas pelo Poder Público, e a missão da Souza Cruz é fornecer produtos de qualidade a adultos que escolheram fumar e têm conhecimento dos riscos associados ao consumo de cigarros. Por reconhecer que fabrica um tipo de produto cujo consumo envolve estes riscos, a empresa tem como prioridade o desenvolvimento de produtos aceitáveis pelos consumidores e que ofereçam menores riscos. O negócio da empresa não é, definitivamente, persuadir pessoas a fumar, mas oferecer marcas de qualidade a adultos que já decidiram livres e conscientemente, consumir este produto. A empresa apoia o direito de adultos informados de desfrutarem o prazer de fumar, pois nenhum governo pretende proibi-los de fazer tal escolha. A empresa também não vê nada de antiético em fornecer uma fonte de prazer a milhares de fumantes adultos, em todo mundo, que preferem fumar suas marcas, em detrimento das de seus concorrentes. 88 Ao concentrar seu foco de atividades na fabricação e comercialização de cigarros para o mercado brasileiro, bem como na produção e exportação de fumo em folha, provendo níveis de qualidade requeridos pelos consumidores e de acordo com a legislação e a regulamentação vigente, a empresa defende e apóia regulamentações sensatas e razoáveis sobre o uso de produtos de fumo e também acredita que é do interesse público o atendimento do mercado por empresas responsáveis, que cumprem integralmente as exigências das leis e das regulamentações. Por este motivo, tem como uma das suas diretrizes estratégicas a cooperação com as autoridades governamentais para o combate ao contrabando, à sonegação fiscal e à falsificação de produtos, que vêm criando, no Brasil, um mercado ilegal de significativa proporção, com graves riscos e prejuízos para os consumidores. 6.4.3 A Questão da responsabilidade social da empresa Antecipar-se e ir além das simples obrigações legais, atuando de forma socialmente responsável com seus funcionários, parceiros, investidores, governo e sociedade, é a maneira que a empresa vem agindo, em cem anos de prática de Responsabilidade Social. De forma pioneira, suas realizações, desde sua fundação, têm englobado todas as áreas e temas que hoje são partes do conceito mais amplo de responsabilidade social. Seja na forma de relacionar-se com os seus funcionários e parceiros, no respeito às necessidades dos seus consumidores, no relacionamento transparente com seus investidores, no contato com as entidades da administração pública e na integração autêntica com a sociedade e com as comunidades onde a empresa opera. Como evolução natural da seqüência de projetos e ações nesta área, a empresa criou, em julho de 2000, o Instituto Souza Cruz, Organização não-Governamental, sem fins lucrativos, de abrangência nacional, comprometida com a causa da Educação para o Desenvolvimento Humano Sustentável. O Instituto projeta no campo social as crenças, princípios e valores que sempre nortearam a cultura da Souza Cruz e sua criação significa a ampliação e o aprofundamento de um efetivo compromisso com o bem comum, que acompanha a empresa há mais de 100 anos. 89 Mas, para a empresa, a atitude de ser uma empresa responsável também significa ouvir os principais representantes da sociedade que afetam direta ou indiretamente seus negócios e considerar suas preocupações legítimas no desenvolvimento dos seus planos de negócios. Justamente para buscar constantemente o equilíbrio entre as demandas sociais de seus principais interlocutores e os seus negócios, mais uma vez de forma pioneira, a empresa apresenta, desde 2003, o seu Relatório Social Corporativo. Desenvolvido pela primeira vez por uma empresa brasileira, de acordo com os padrões da AA 1000, um dos mais rigorosos regulamentos que trata do desempenho social e ético das organizações, o relatório é um processo contínuo de diálogo com os diversos segmentos da sociedade, para conhecer suas demandas e expectativas legítimas. Em todas as suas iniciativas, a empresa deseja ser reconhecida como uma empresa responsável. Além disso, a companhia trabalha para obter o reconhecimento público dessa responsabilidade. Uma empresa de cigarros pode ser socialmente responsável? A direção do grupo empresarial acredita que um negócio cujos produtos estão estatisticamente associados a riscos à saúde das pessoas deve ser gerenciado com extrema responsabilidade social. E com uma ênfase muito maior do que outras empresas. Sempre comprometida com os princípios do desenvolvimento sustentável e trabalhando para apresentar padrões mundiais de desempenho em questões ambientais, segurança e saúde ocupacional, a empresa apóia milhares de agricultores na produção responsável do tabaco. A empresa atua fortemente na eliminação da exploração do trabalho infantil e desenvolve importantes ações para contribuir com as comunidades nas quais atua. Hoje em dia, a sociedade espera que as companhias usem sua força econômica para atingir objetivos sociais mais amplos e para demonstrar responsabilidade ambiental, apoiar as comunidades, praticar altos padrões de comportamento ético, satisfazendo os diversos públicos com os quais se relaciona. Como muitas empresas, a empresa reconhece que administrando os negócios de forma responsável, a companhia contribui para o desenvolvimento econômico que, por sua vez, ajuda a alcançar o desenvolvimento social e ambiental. Aceitar a responsabilidade social e 90 ambiental e contribuir para a melhoria já se tornou uma prática empresarial, mas é claro também que as empresas não podem solucionar todos os problemas isoladamente. O Governo, a sociedade e as empresas devem oferecer as melhores alternativas para assegurar a produção e a comercialização responsável dos produtos de tabaco que milhões de adultos, avaliando os prazeres e os riscos, desejam seguir consumindo com altos níveis de qualidade e preços competitivos. Alguns dos críticos da indústria do tabaco acham difícil dialogar com uma empresa de cigarros. Mas isto não altera o seu compromisso de desenvolver parcerias construtivas para aprofundar o entendimento do que é esperado da companhia e para praticar um comportamento responsável. Ela acredita que se todas as partes interessadas puderem ouvir uma as outras, existirão oportunidades reais de encontrar soluções viáveis. Para evoluir cada vez mais na sua atitude de responsabilidade social, a empresa oferece, neste diálogo, uma mente aberta, conhecimento do produto e da parte científica, apoio para uma regulamentação razoável e mais de um século de atuação no Brasil e em diversos países através da BAT. 6.4.4 Análise e conclusões Criar condições para que pessoas, grupos, organizações e comunidades possam adquirir conhecimentos, valores, atitudes e habilidades que lhes permitam se situar perante sua realidade e atuar sobre ela de maneira solidária, produtiva, criativa e transformadora. Esta é a síntese do conceito de Educação para o Desenvolvimento Humano Sustentável, base da atuação do Instituto Souza Cruz. Criado em 31 de julho de 2000, o Instituto é uma Organização não-Governamental, sem fins lucrativos, de abrangência nacional, com sede no Rio de Janeiro. Reconhecido pelo Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) em 12 de dezembro de 2001, o Instituto Souza Cruz atua lado a lado de pessoas e organizações que lutam por um País melhor, especialmente no que se refere à educação e formação do jovem do campo. 91 O principal programa é o Empreendedorismo do Jovem Rural, realizado em parceria com o Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural (CEDEJOR), no Sul do país. O objetivo é incentivar processos sustentáveis através da formação de indivíduos empreendedores, com senso de responsabilidade e capacidade de autogestão. No momento em que há no país uma crescente valorização do setor agrícola, no qual a Souza Cruz tem uma histórica e importante participação com o plantio do fumo, o trabalho do Instituto pretende dar instrumentos a este jovem para que ele exerça papel de liderança e inovação no desenvolvimento local. 6.4.5 Relatório Social Corporativo Ouvir e considerar as expectativas legítimas dos diversos segmentos que se relacionam com a companhia, incorporando-as em seus planos de negócios. Para atuar nesta busca permanente de equilíbrio entre as demandas sociais e os negócios, a companhia apresenta o seu Relatório Social Corporativo. Em 2003, mais uma vez de forma pioneira ela apresentou o seu Relatório Social Corporativo desenvolvido pela primeira vez por uma empresa brasileira, de acordo com os padrões AA 1000, um dos mais rigorosos padrões que regulam o desempenho social e ético das organizações. Esse relatório e a atitude que ele reflete, além de marcar coerência com o conjunto das ações sociais realizadas ao longo de seus mais de 100 anos de história da empresa, reforça o seu compromisso de adotar, sempre, uma postura de vanguarda na área de Responsabilidade Social. Para a direção da empresa, ser uma empresa responsável significa ouvir os principais representantes da sociedade que afetam direta ou indiretamente os seus negócios e considerar as preocupações legítimas no desenvolvimento dos seus planos. É a busca constante do equilíbrio entre as demandas sociais de principais interlocutores da empresa e os seus negócios. A maneira que encontrou para desenvolver esse processo foi o Relatório Social 92 Corporativo. Diversas questões polêmicas foram levantadas e discutidas aberta e construtivamente com os representantes de segmentos importantes da sociedade civil e da administração pública do país, com quatro objetivos principais: 1. Ouvir e compreender suas expectativas e demandas legítimas; 2. Analisar e considerar essas expectativas e demandas legítimas nos planos de negócios da empresa; 3. Responder com planos e ações concretas às preocupações legítimas desses segmentos; 4. Continuar mantendo diálogos construtivos com os segmentos representativos da sociedade brasileira. Com a divulgação do seu Relatório Social Corporativo dá um importante passo na construção permanente de uma empresa moderna e avança na posição de manter o relacionamento aberto com os mais diversos segmentos da sociedade por meio de diálogos construtivos. 6.5 ENTREVISTA Segundo o Sr. José Roberto Cosmos, Diretor de Responsabilidade Social Corporativa da companhia pesquisada, a empresa está envolvida em diversos projetos, tanto na área social quanto na área ambiental e também, principalmente em relação a um grande projeto baseado no padrão AA1000, sendo conduzido já pelo segundo ciclo, este projeto tem sido realizado desde 2001. Com relação aos projetos sociais, ela possui o Instituto Souza Cruz que realiza e desenvolve projetos sociais, principalmente com relação a investimentos na área de desenvolvimento do jovem rural em três estados do Sul. A empresa possui projetos amplos, especificamente com relação à empresa e com relação ao setor. A empresa possui projetos na área ambiental, tratamento de resíduos, afluentes (principalmente nas operações industriais), além disto, existe o Projeto de Plano Máster de Saúde, Segurança Ocupacional e Meio Ambiente (um projeto bem amplo que abrange outros diversos projetos sociais ligados a estes três temas) e alguns programas do Instituto Souza 93 Cruz, mantido pelo próprio grupo, pode-se citar não apenas o projeto de jovens rurais, que hoje é o foco mais importante do Instituto, como também o Clube da Árvore – um programa de educação ambiental que existe a mais ou menos vinte anos. A preocupação inicial deste programa era a conscientização da necessidade de reflorestamento e cuidados com o meio ambiente, principalmente junto aos jovens – o programa Hortas Escolares, programa ambiental que também visa à questão da alimentação nutritiva etc. As hortas plantadas pelos alunos nas escolas são aproveitadas para a complementação da merenda escolar. Com relação aos métodos de avaliação dos projetos, a empresa possui métodos para avaliar projetos específicos, como por exemplo, o Projeto Cuidar, realizado pelo Instituto Souza Cruz há três anos, com o intuito de sensibilizar os jovens que apresentam um comportamento de risco, para que os jovens evitem fumar, beber, terem comportamentos que podem ser prejudiciais á saúde, principalmente jovens com menos de dezoito anos. Para esse programa específico a Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ –, desenvolveu uma metodologia de avaliação para verificar se o conteúdo do projeto Cuidar estava trazendo algum resultado em termos do programa em si, não sendo esta uma avaliação de retorno dos projetos sociais do ponto de vista financeiro, e sim uma espécie de avaliação pioneira, pois muitas vezes as empresas fazem o programa e perdem praticamente a noção de avaliação de resultados. Para outros processos, como por exemplo: o programa em que a empresa transforma uma unidade industrial auto-suficiente, em termos de água ou tratamento de esgoto, também possui métodos de avaliações específicos para o programa. Caso a unidade chegue a não depender mais da rede pública em termos de abastecimento esse é o resultado esperado, o resultado final do processo de avaliação. Cosmos menciona que é muito difícil ter avaliação sobre o retorno financeiro dos projetos sociais como um todo. No projeto em que a empresa utiliza o padrão AA1000, a companhia propõe um dialogo com os seus stakeholders, no sentido de verificar as questões mais importantes que eles gostariam de discutir com a companhia, este processo passa por um crivo interno e por um processo de tomada de decisão por parte da diretoria, para atender as demandas que sejam razoáveis. Mas efetivamente não existe uma forma de avaliar isto, a não ser pela satisfação dos stakeholders, que participam destes diálogos. 94 De acordo com ele, às vezes fica muito difícil por métodos tradicionais avaliar o retorno financeiro de qualquer investimento, com relação a projetos sociais, ligados a recursos humanos, pois se trabalha com o chamado intangível. Ele exemplifica esta afirmação dando como exemplo a questão da reputação da empresa. Que é o que a empresa busca através da realização de seus projetos, procura, cada vez mais, melhorar sua reputação como empresa responsável, a mensuração financeira deste processo é difícil. A empresa possui um instrumento de avaliação, que será aplicado a partir de 2004 que é uma forma de medir a questão da reputação, que a empresa irá aplicar a cada dois ou três anos, são entrevistas feitas com uma amostra determinada da sociedade brasileira, sobre a recepção que os entrevistados têm com relação à empresa. Se a empresa melhora a percepção de seus entrevistados com relação a determinados atributos, podemos dizer que o que ela está fazendo na área social, ambiental, ética, e organizacional está tendo um retorno para a imagem da mesma, um resultado positivo. Mas segundo Cosmos, não se pode mensurar este resultado em termos quantitativos, é muito difícil. Desta forma, a empresa possui métodos de avaliação dos projetos sociais específicos, mas não existe uma forma de fazer a mensuração do retorno financeiro. Em termos de resultados destes projetos em relação à criação de valor para os acionistas, Cosmos explica que, o valor de uma ação nem sempre está sujeita a ações especificas seja na área de Responsabilidade Social ou ambiental, ou muitas vezes ela está, em função de terminados movimentos especulativos (bolsa de valores, situação econômica mundial etc.) nesse caso é muito difícil dizer quanto o projeto está rendendo para os acionistas especificamente. A empresa não apresenta relação com o índice Dow Jones. Existe um movimento em direção a criação de algo similar a este índice na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo – BOVESPA, mas ainda não se concretizou. De acordo com Cosmos, quando se tem ação de uma empresa que integra o índice Dow Jones de sustentabilidade, isso indica que a empresa obteve no mercado financeiro, o reconhecimento de que suas práticas de negócio em geral, entre elas as práticas relacionadas a meio ambiente e Responsabilidade Social e desempenho ético da empresa, estão sendo reconhecidas e valorizadas por esse segmento específico chamado acionista, aí então podemos falar em termos de criação de valores. 95 Na questão de administrar a Responsabilidade Social versus produto, o ponto básico da empresa é fazer uma distinção entre a Responsabilidade Social em termos de processo e produto. Independentemente de o produto ser polêmico, controverso, apresentar riscos sérios para a saúde dos consumidores, a empresa acredita que isto faz com ela tenha praticamente uma responsabilidade ampliada com a questão da Responsabilidade Social. Cosmos afirma que a empresa não faz Responsabilidade Social como uma forma de compensação em razão do produto que a empresa vende, mas o conceito de Responsabilidade Social para a empresa, é muito mais entendido como a maneira responsável através da qual a empresa conduz seus negócios em todas as áreas. Respeitando um código interno de marketing, de não vender produtos para menores de dezoito anos, não vender produtos perto de estabelecimentos escolares, não ter fotografia de pessoas que aparentem ter menos de vinte e cinco anos. A empresa não faz mais sampling (amostra grátis) para menores de dezoito anos. Os eventos promovidos pela empresa são fechados, com exigência de documento de identidade. A empresa acredita que com relação ao produto apresenta uma responsabilidade na condução de seus negócios, praticamente duplicada. Sendo muito importante ser uma empresa responsável. É desta maneira que a Souza Cruz vê a questão da Responsabilidade Social enquanto negócio, como parte da estratégia do grupo e como uma parte importante do dia-a-dia, seja da área de assuntos corporativos, até a com um vendedor que se depara com uma situação irregular no varejo que esteja vendendo cigarros para menores de dezoito anos. Os vendedores recebem orientação com relação a este tipo de situação, um código de ética que regula a distribuição e comercialização destes produtos. O imperativo estratégico da empresa é obter reconhecimento público de que a Souza Cruz é uma empresa responsável na condução de seus negócios, em qualquer área, seja na área financeira, marketing, industrial, departamento de fumo, Rh, assim por diante. A respeito da “geração saúde dos anos 80”, Cosmos afirma que a empresa tem respeitado a legislação existente no Brasil, uma das legislações mais restritivas com relação 96 ao consumo do cigarro, um país que por conta da Lei Serra, inclusive, assumiu a vanguarda do cenário mundial em relação à legislação sobre o fumo. Com relação ao enfrentamento desta questão, a companhia tem procurado ter cada vez mais informações claras e objetivas para os consumidores dos produtos de cigarro. Têm procurado trabalhar, no sentido de defender a posição da empresa em qualquer nível, como uma empresa que vende um produto lícito, embora apresentando riscos para a saúde do consumidor. Uma empresa legalmente estabelecida, que recolhe seus impostos, cumpridora das suas obrigações fiscais, e em qualquer que seja o terreno está disposta a defender essa posição, pois embora o produto seja controvertido, a indústria apresenta uma postura responsável para administrar este negócio. O segmento bastante tributado, pois e considerado um bem não essencial. Existe um princípio da Organização Mundial da Saúde – OMS, que defende que a única maneira de se diminuir o consumo do cigarro e a elevação dos preços desse produto, o que a empresa não acredita, pois no Brasil existe um mercado legal, hoje, que responsável por trinta por cento do comércio de cigarros no Brasil, um teço do mercado hoje, é feito por produtos contrabandeados, principalmente pelo Paraguai, produtos falsificados, pela China via Paraguai e produtos vendidos por empresas nacionais que não recolhem impostos. A competição com este tipo de comércio é muito difícil. Por conta disso, a Souza Cruz acredita que se os impostos forem elevados não irá haver uma redução de consumo, pois os consumidores vão migrar dos produtos da companhia para os produtos contrabandeados, que são mais baratos. A empresa possui pesquisas que garantem que os consumidores de produtos contrabandeados compram preço e não qualidade; se fossem comprar qualidade comprariam produtos do mercado legal. Segundo Cosmos, a empresa esta enfrentando o movimento antitabagista do Ministério da Saúde da seguinte forma: procura gerar e divulgar mais e mais informações sobre os riscos do produto, com uma experiência pioneira de colocar os ingredientes que são associados ao cigarro, os componentes da fumaça, na página da empresa na internet, para cada uma das marcas que a empresa comercializa, sendo praticamente pioneira no mundo todo de divulgação destas informações. Procurando obedecer, religiosamente, a legislação que o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária têm divulgado e 97 procurado defender a posição da empresa como de uma empresa responsável, que tem uma série de cuidados com relação ao seu produto, mesmo sabendo que ele apresenta riscos à saúde do consumidor. Cosmos acredita que a Responsabilidade Social talvez não seja o principal objetivo da empresa para aumentar a visibilidade de sua marca. Exemplifica esta afirmativa, a partir do programa da Árvore, que já existe há uns vinte e três anos, quando já havia uma propaganda massiva dos meios de comunicação. Quando a empresa realiza o rastreamento de seus projetos, pode-se verificar que a empresa sempre investiu no Meio Ambiente, independentemente, da questão da visibilidade. Segundo Cosmos, não se pode negar que quando se faz investimentos nesta área, como conseqüência há uma maior visibilidade da marca. Informa ainda que a partir do momento em que estão conduzindo todos estes processos ele tem sido convidado para fazer apresentações, palestras, participação de seminários etc. Isto é uma forma de estar, obviamente, melhorando a imagem da empresa, sendo uma conseqüência inevitável de todo este trabalho. Em termos de uma gerência específica para essa área, Cosmos nos diz que esta foi inicia da em 2001, quando ele veio da área de RH e ingressou nesta área, para implementar o Relatório Social Corporativo com base no padrão AA1000, em termos de uma gerência específica temos três anos. O Instituto Souza Cruz surgiu em 2000, podemos considerar então que de 2000 até os dias de hoje, foram criadas algumas instâncias na empresa para cuidar especificamente desta área, independentemente, de todos os projetos já existentes. A respeito da certificação da empresa com relação ao campo da Responsabilidade Social, Cosmos esclarece que o padrão AA1000 não é uma norma de certificação, não existe um selo ou um certificado, mas existe uma verificação que é realizada por uma entidade de terceira parte que é o Bureau Veritas Quality International – BVQI - que acompanha todos os passos, todas as etapas do Relatório Social Corporativo com base nesse padrão e no final do processo ele expede um termo de verificação de que a empresa cumpriu todas as etapas prescritas e previstas no padrão AA1000, e aponta eventualmente algum comentário, alguma observação para melhorias que a empresa poderia estar adotando para o próximo ciclo. 98 No ano passado a empresa recebeu da Câmara Municipal de São Paulo um selo empresa cidadã, mas não foi uma certificação, não foi precedido de uma auditoria, e sim pela leitura do relatório social, do Instituto Souza Cruz, do Balanço Social. O primeiro Balanço Social da empresa foi publicado em 1993 e os últimos têm sido publicados como relatórios de Responsabilidade Social baseado no padrão AA1000, em agosto de 2002. E em abril de 2004 foi publicado o balanço relativo ao segundo ciclo. Com relação à certificação de seus fornecedores, ainda não trabalha com a certificação, o que segundo Cosmos, acontecerá brevemente. O que existe é um contrato no qual todo fornecedor se obriga, basicamente, a cumprir não só a legislação como também ter os compromissos como: evitar o trabalho infantil, não fazer nenhum tipo de transação com empresas que tenham uma relação com o comércio ilegal de cigarros e o cumprimento da legislação trabalhista, principalmente, com relação à segurança. Todo o contrato tem basicamente três cláusulas, no que diz respeito ao trabalho infantil, relacionamento com a concorrência desleal e práticas desleais de concorrência e a questão da legislação trabalhista com ênfase na questão da segurança. Há empresa não tem um processo de visitas, ou designar uma empresa independente para verificar se seus fornecedores estão ou não cumprindo estes acordos ou se estão certificados em alguma norma de Responsabilidade Social. Seus principais fornecedores recebem periodicamente uma visita de pessoas da empresa que de alguma forma fazem uma avaliação se existe o uso do trabalho infantil, como estão sendo tratados os funcionários de nossos fornecedores. Este capítulo apresentou a metodologia de pesquisa, a estratégia utilizada no estudo de caso, os dados da empresa pesquisada, bem como analisou os resultados da coleta de dados obtidos na entrevista, e a análise dos resultados. O capítulo 7 a seguir, apresenta as conclusões do estudo e as sugestões para pesquisas futuras. 99 7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS Este capítulo apresenta a síntese das conclusões do estudo, visando atender aos seus objetivos (geral e específicos), às suposições levantadas no Capítulo 1 – Introdução (item 1.6), bem como apresentar sugestões para pesquisas futuras. 7.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme exposto, a Responsabilidade Social e o Marketing Social são temas cada vez mais discutidos no Brasil e no mundo. Muitos fatores vêm contribuindo para tal, a saber: • O contexto sócio-político-econômico mundial repleto de conflitos e de exclusão sócio-econômica; • Uma sociedade mais organizada e solidária, capaz de criar e realizar uma série de projetos para a melhoria da mesma, além de alguma forma, pressionar para que as empresas participem desta empreitada; • Consumidores mais exigentes e conscientes, muitas vezes dispostos a escolher um produto ou serviço levando em consideração os valores da empresa, e suas ações socialmente responsáveis; • Um movimento de conscientização das próprias empresas, que parecem começar a perceber que têm uma parcela representativa de responsabilidade perante a sociedade. Nota-se que a Responsabilidade Social tornou-se uma preocupação não mais do Estado, dos governos locais, mas um desafio a ser vencido pela ação conjunta do Estado, das empresas e da sociedade civil. 100 Ao longo do trabalho, à luz da pesquisa bibliográfica realizada e por meio da pesquisa de campo, foi possível identificar uma série de aspectos positivos em uma atuação socialmente responsável, como por exemplo: 1. Pode-se inferir que as empresas, ao desenvolverem algum tipo de ação social identificam ganhos com relação a imagem institucional; 2. Que os recursos dispendidos nos projetos de ações de Responsabilidade Social passam a ser um dos melhores investimentos quando reconhecidos e estimulados pela alta administração da empresa; 3. Estimuladas pela valorização do conceito de Responsabilidade Social como nova mentalidade de negócio, e também por uma mudança no comportamento do consumidor que passa a exigir que as corporações façam mais pela sociedade do que pagar impostos e gerar empregos, cada vez mais empresas arriscam mudar suas práticas de Marketing, conferindo-lhe novos contornos e um sentido mais ético; 4. Imagem positiva e um melhor relacionamento com todos os seus públicos; 5. Transformação de sua abordagem de compliance (complacência) para a de sustentabilidade. Identificou-se na pesquisa de campo, que as empresas que investem em ações sociais, podem alcançar maior valorização de sua imagem institucional, maior poder de atração e retenção de talentos, maior comprometimento de seu público interno, maior fidelidade por parte de seus consumidores, fornecedores e demais públicos externos. Com tudo isso, a empresa pode vislumbrar maiores possibilidades de sobrevivência em longo prazo. Da mesma forma constatou-se que a sociedade também se beneficia com a atuação socialmente responsável das empresas. Há que se ressaltar, no entanto, que a Responsabilidade Social Corporativa está entremeada de questões éticas de extrema importância, principalmente, no que tange à comunicação, produto e preço. 101 A empresa que atua de forma responsável deve atentar para que estas questões éticas estejam de fato presentes em toda a extensão de seus negócios, caso contrário podem correr o risco de ter sua atuação má percebida pela sociedade de um modo geral, o que poderia gerar um efeito oposto ao desejado, ou seja, uma desvalorização de sua imagem. Uma empresa que, por exemplo, desenvolve uma série de projetos sociais para a comunidade, mas não trata seus funcionários de forma adequada, ou aceita produtos de fornecedores de desempenho ético duvidoso, pode suscitar questões na sociedade, e colocar em dúvida a existência de uma verdadeira Responsabilidade Social. Este seria um aspecto negativo os quais as empresas não devem poupar esforços para evitá-lo. Outra questão delicada identificada com o estudo é a divulgação das ações socialmente responsáveis das empresas. Esta divulgação é de uma forma geral, não muito bem vista. No entanto, foram ressaltados vários aspectos positivos que poderiam prover desta divulgação, tais quais: maior comprometimento das empresas com suas ações, uma vez que estariam assumindo um compromisso em público, perante toda a sociedade; maior quantidade de empresas atuando responsavelmente, em decorrência de uma incitação da concorrência; incentivo a participação ativa de mais organizações da sociedade civil, que estariam mais informadas sobre as variadas fontes de recursos para a realização de seus projetos sociais. Ao desenvolverem suas ações sociais, inicialmente sob forma assistencialista e filantrópica, as empresas começaram a identificar ganhos de imagem. Aos poucos, foram evoluindo para um novo patamar de ações sociais. Abandonaram as práticas filantrópicas tradicionais e começaram a adotar modelos de empreendedorismo social e de filantropia de alto desempenho. Nota-se também que há um aumento do consumo consciente e da boa vontade dos consumidores em relação à causas sociais. Com isso, as empresas estão percebendo um aumento significativo nas vendas, bem como um aumento na lucratividade. O fato é que a questão social está, hoje, no centro das atenções, sendo que existe uma grande distância, no entanto, entre a importância dos programas sociais e a avaliação efetiva que as empresas fazem dos resultados obtidos. Geralmente, predomina a divulgação dos gastos e investimentos feitos. As avaliações mais importantes, porém são aquelas que buscam saber se os resultados esperados são de fato obtidos. 102 Levando em consideração a ótica do Marketing, verifica-se também a necessidade das empresas de utilizar estratégias para alavancar seus negócios. Segundo Pringle (2000), o Marketing para Causas Sociais, diz respeito a sinergias e alianças estratégicas. Todas as partes envolvidas (ONGs, empresas, sociedade) se beneficiam e é por isso que o MCS depende muito do momento e tem um potencial tão grande. Pôde ser constatado, no desenvolvimento desse estudo, que a causa social recebe muito mais publicidade do que poderia ter se tivesse de pagar por ela. Na maioria dos casos, há ainda um benefício financeiro direto, como parte dos lucros obtidos ou do preço estipulado, resultante dos acordos comercias com as parcerias. Ainda pudemos perceber que muitos pensam que o MCS é simplesmente uma exploração cínica da piedade pública para a obtenção de lucros. Sempre haverá pessoas que fazem esse tipo de julgamento dos outros. Entretanto, os consumidores sempre têm o poder da escolha e se a maioria deles achasse que era cinismo, então o MCS deixaria de existir. Fica claro que este não é o caso, mas certamente a integridade da idéia é a base do sucesso de seu desenvolvimento futuro. Com relação aos critérios de certificação das empresas junto à instituições renomadas por meio de auditorias, pôde-se identificar a importância da publicação dos Balanços Sociais corporativos e verificar como as empresas avaliam os recursos despendidos nas ações sociais promovidas e como ocorre o retorno destas ações com relação à imagem institucional e a criação de valor aos acionistas. Segundo Cano (2002), algumas avaliações têm como objetivo específico calcular os custos dos programas em relação ao impacto produzido. Assim temos a avaliação de custobenefício, que visa apurar o benefício monetário do programa para cada unidade de custo nele investida. Ainda segundo Cano (2002), existe também a avaliação de custo-efetividade, cujo objetivo é determinar o custo monetário por unidade de melhora produzida pelo programa. Tomando por base o estudo da Souza Cruz, conclui-se que nem sempre a avaliação feita dos projetos sociais e/ou ambientais, são tão objetivas assim. Conclui-se que existe certo grau de dificuldade para a avaliação monetária efetiva dos resultados obtidos, mas que existe uma percepção muito clara e positiva por parte dos gestores de que é um bom investimento. 103 Finalmente, há que se fazer uma última observação. Assim como as empresas, também os países estão em diferentes níveis de desenvolvimento, no que tange a Responsabilidade Social Corporativa - o nível de informação da população européia, por exemplo, é superior ao da brasileira. Desta forma, de uma maneira geral, as empresas brasileiras tendem a preocuparse menos em ser socialmente responsáveis e os consumidores brasileiros tendem a ser menos críticos e exigentes no que tange esta postura empresarial. Não se pode exigir de um indivíduo que mal sabe escrever e que tenha que sustentar sua família com um salário mínimo que esteja tão bem informado e escolha de forma tão consciente os produtos que comprará. No entanto, o que é importante mostrar é que já existe alguma sinalização de avanços tanto na atuação das empresas quanto no senso crítico do consumidor, e que esse processo, apesar de ainda estar em desenvolvimento em nosso país, pode significar uma excelente perspectiva para o futuro. 7.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Diante das limitações encontradas ao longo da realização do presente trabalho, e da carência de dados a respeito desse assunto, constata-se a existência de um grande potencial de pesquisa futura. Assim, são identificados abaixo alguns possíveis trabalhos de pesquisa que poderão enriquecer a literatura sobre o tema: • Identificação de novos indicadores sobre a avaliação das ações de Responsabilidade Social Corporativa; • Avaliação do impacto dessas ações no que tange a melhoria na imagem corporativa e o aumento da lucratividade dela proveniente; • Desenvolvimento de uma metodologia para a avaliação de resultados; 109 ANEXO 1 ROTEIRO DA ENTREVISTA 1) Atualmente, em que projetos sociais a Souza Cruz está envolvida? 2) Existe um método de avaliação dos projetos sociais? 3) Como a Souza Cruz avalia o resultado desses projetos em relação a: criação de valor para os acionistas, para a sociedade e para a imagem da empresa? 4) Como a Souza Cruz administra a questão de Responsabilidade Social versus “produto”? 5) A geração saúde dos anos 80, os movimentos provenientes de grupos sociais antitabagismo e a campanha do Ministério da Saúde contra o fumo, deve ter afetado a imagem da empresa e conseqüentemente seus resultados, à princípio. Como a empresa vem tratando essa questão? 6) Há algum tempo o governo brasileiro proibiu a veiculação de campanhas de cigarros nos meios de comunicação. O investimento em RS é uma forma de a empresa aumentar a visibilidade da marca? 7) Há quanto tempo existe uma gerencia específica nessa área? 8) A Souza Cruz publicou em 2003, de forma pioneira, o relatório de Responsabilidade Social Corporativa, de acordo com os padrões da norma AA1000. A empresa já conseguiu alguma certificação nesse campo? 104 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AAKER, D. A.; JOACHIMSTHALER, E.; Como construir marcas líderes. 2ª ed. São Paulo: Futura, 2000. ANDREASEN, A.R.; Ética e marketing social. São Paulo: Futura, 2002. CANO, I.; Introdução à avaliação de programas sociais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. CHURCHIL, G. A.; Marketing: Criando valor para o cliente. Rio de Janeiro: Saraiva, 2003. CORRÊA, S. C. 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