ANALÍSE DA POLÍTICA DE INTERCÂMBIO PARA O SUBSISTEMA NORDESTE Versão 1.0.1 – Janeiro 2003 Índice 1) Objetivo...........................................................................................................................3 2) Justificativas para a maximização do intercâmbio Sudeste-Nordeste ....................................4 3) Simulações.......................................................................................................................5 3.1) Simulação com os dados fornecidos pelo ONS .........................................................5 3.2) Simulação eliminando a restrição de intercâmbio maximizado...................................6 3.3) Simulação eliminando as restrições de intercâmbio maximizado e SE Milagres...........8 3.4) Comparação entre os casos simulados ....................................................................9 4) Probabilidades de Intercâmbio ........................................................................................ 12 5) Impactos das Usinas Termelétricas Emergenciais ............................................................. 13 5.1) Caso ONS sem termelétricas emergenciais ............................................................ 13 5.2) Caso ONS sem termelétricas emergenciais e sem imposição de intercâmbio ............ 14 6) Impacto econômico ........................................................................................................ 15 7) Impacto das Curvas de Aversão a Risco 2003/2004 .......................................................... 17 7.1) Introdução .......................................................................................................... 17 7.2) Probabilidades em relação aos níveis de armazenamento do Nordeste .................... 18 8) Conclusões..................................................................................................................... 19 2 1) Objetivo O objetivo desta nota técnica é analisar os possíveis impactos da política praticada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) que prioriza a maximização dos intercâmbios de energia elétrica do subsistema Sudeste para o subsistema Nordeste através da subestação de Imperatriz. É senso comum que tal política visa otimizar a geração de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN), evitando a utilização de recursos desnecessários e que acarretariam custos mais elevados para o atendimento das necessidades energéticas do país. Porém, esta mesma otimização poderá acarretar, para as empresas localizadas na região Sudeste, em uma situação econômico-financeira adversa. Os preços “spot” para o subsistema Nordeste, considerando o horizonte do estudo, são inferiores aos preços calculados para o subsistema Sudeste. Este fato indicaria, claramente, que o intercâmbio deveria se dar no sentido contrário ao que hoje prega o ONS, ou seja, a energia deveria ser exportada pelo subsistema Nordeste para o subsistema Sudeste e/ou subsistema Norte. O risco incorrido seria o subsistema Sudeste exportar energia para o Nordeste a preços mínimos e, futuramente, ocorrerem déficits que levariam o subsistema Nordeste a exportar sua energia excedente ao subsistema Sudeste a valores típicos de racionamento. Assim, nos tópicos seguintes, abordaremos quais são os possíveis impactos da manutenção dos níveis atuais de intercâmbio Sudeste-Nordeste nos preços e energias armazenadas em cada subsistema. 3 2) Justificativas para a maximização do intercâmbio Sudeste-Nordeste Em sua Nota Técnica n. 075/2002, o ONS utilizou os seguintes argumentos para justificar a maximização do intercâmbio Sudeste-Nordeste: a) O subsistema Nordeste está abaixo da curva guia superior, como ilustra o gráfico seguinte: 72 72 71 67 64 62 55 51 43 44 53 49 46 45 47 40 36 34 35 33 30 23 29 25 23 26 24 22 21 20 18 18 17 15 14 9 out/02 9 5 6 nov/02 dez/02 jan/03 fev/03 mar/03 Energia Armazenada (%) abr/03 mai/03 jun/03 jul/03 Curva Guia Superior ago/03 set/03 9 6 5 8 6 out/03 nov/03 dez/03 Curva Guia Inferior Gráfico 1 – Armazenamento no subsistema Sudeste b) Potenciais problemas ambientais nas margens do reservatório de Sobradinho, devido a expectativa de se atingir 11% do volume útil ao final de novembro/2002; c) O despacho das usinas térmicas emergenciais aumentaria o custo da operação do sistema; d) O Submercado Sudeste se encontra em situação energética mais favorável, com energia armazenada estimada para o final de outubro, em torno de 36%. Como se inicia o período úmido, a possibilidade de vertimentos neste submercado é maior. Seria vantajoso estocar a energia que poderia ser vertida no Sudeste no Nordeste; e) Os modelos computacionais não consideram a curva de aversão a risco. Isso provoca a subvaloração da energia gerada no Submercado Nordeste; f) O subsistema Nordeste poderá, no transcorrer de 2003, “devolver” a energia ao subsistema Sudeste. 4 3) Simulações1 Para analisar porque existe intercâmbio do subsistema Sudeste (que tem CMO mais elevado) para o subsistema Nordeste, foram realizadas algumas simulações com os modelos computacionais utilizados pelo ONS para a determinação da operação das usinas do SIN. 3.1) Simulação com os dados fornecidos pelo ONS Nesta simulação, todos os dados de entrada utilizados foram fornecidos pelo ONS, tanto para o Newave como para o Decomp. Cabe destacar que, no modelo Decomp, foi mantida a restrição elétrica que fixa o intercâmbio em 1.000 MW médios entre o subsistema Sudeste e o nó fictício de Imperatriz. 3.1.1) Intercâmbios e Custos Marginais de Operação 136,7 863,3 N NE R$ 3,23 R$ 3,76 1000,0 1000 4609,4 SE R$ 4,22 50 60 3201,1 5700,6 680,29 2499,5 S R$ 3,46 Diagrama 1 – Intercâmbios e custos marginais de operação médios Nesta simulação, percebe-se uma inconsistência: um submercado com custo marginal de operação inferior recebe energia de um submercado com preço superior. Este fato será esclarecido em seguida, quando tratarmos das restrições elétricas. 1 Nas simulações com o Newave e Decomp (ambos na versão 10.0) foram utilizados os dados de entrada elaborados pelo ONS para o Programa Mensal de Operação de outubro de 2002. As alterações nestes dados de entrada estão descritas em cada simulação realizada. 5 3.1.2) Geração Hidráulica e Energias Armazenadas Para esta simulação, a geração de energia por hidrelétricas e os armazenamentos no final de cada período simulado foram: Simulação 1 - Geração MWm Subsistema Sudeste Sul Nordeste Norte Estágio 1 22.409,18 7.240,60 4.982,70 2.603,30 Estágio 2 22.226,59 7.530,00 5.161,70 2.572,50 Estágio 3 21.962,68 7.427,30 5.196,10 2.528,10 Tabela 1 – Geração para a simulação 1 Simulação 1 - Armazenamento (%) Subsistema Sudeste Sul Nordeste Norte Estágio 1 45,30 90,80 28,20 28,30 Estágio 2 44,50 93,50 26,20 24,30 Estágio 3 44,00 95,00 24,40 21,20 Tabela 2 – Armazenamentos para a simulação 1 3.2) Simulação eliminando a restrição de intercâmbio maximizado Esta simulação foi realizada eliminando a restrição de 1.000 MW médios entre o subsistema Sudeste e o nó fictício de Imperatriz do deck de entrada do Decomp. Os demais dados não foram alterados. 3.2.1) Intercâmbios e Custos Marginais de Operação N NE 109,8 R$4,25 4,15 R$ 306,6 R$ 3,79 416,4 50 SE R$ 4,15 S R$ 3,46 4404,8 60 5700,6 680,29 3201,3 2.499,3 Diagrama 2 – Intercâmbios e custos marginais de operação médios 6 3.2.2) Geração Hidráulica e Energias Armazenadas Para esta simulação, a geração de energia por hidrelétricas e os armazenamentos no final de cada período simulado foram: Simulação 2 - Geração MWm Subsistema Sudeste Sul Nordeste Norte Estágio 1 21.822,46 7.319,20 5.538,50 2.669,20 Estágio 2 21.645,38 7.591,30 5.736,60 2.578,90 Estágio 3 21.414,99 7.551,90 5.735,40 2.536,40 Tabela 3 – Geração para a simulação 2 Simulação 2 - Armazenamento (%) Subsistema Sudeste Sul Nordeste Norte Estágio 1 45,40 90,60 27,90 28,10 Estágio 2 44,70 93,50 25,60 24,20 Estágio 3 44,20 95,00 23,60 21,20 Tabela 4 – Armazenamentos para a simulação 2 7 3.3) Simulação eliminando as restrições de intercâmbio maximizado e SE Milagres Esta simulação foi realizada eliminando a restrição de 1.000 MW médios entre o subsistema Sudeste e o nó fictício de Imperatriz, bem com a restrição de 450 MW médios entre o nó fictício de Imperatriz e o subsistema Nordeste (evitar sobrecarga na subestação de Milagres nos períodos de carga pesada e média) do deck de entrada do Decomp. Os demais dados não foram alterados. 3.3.1) Intercâmbios e Custos Marginais de Operação N NE 113,1 R$ 3,86 113,1 R$ 3,86 0,0 50 SE R$ 4,12 S R$ 3,44 4401,5 60 5700,6 680,29 3201,1 2.499,5 Diagrama 3 – Intercâmbios e custos marginais de operação médios Por esta simulação, percebe-se que inexiste intercâmbio entre o subsistema Sudeste e o nó fictício de Imperatriz. Esta situação era a esperada, pois o custo marginal do subsistema Nordeste é inferior ao custo marginal do subsistema Sudeste. 3.3.2) Geração Hidráulica e Energias Armazenadas Para esta simulação, a geração de energia por hidrelétricas e os armazenamentos no final de cada período simulado foram: Simulação 3 - Geração MWm Subsistema Sudeste Sul Nordeste Norte Estágio 1 21.466,01 7.293,5 5.918,9 2.667,1 Estágio 2 21.226,744 7.603,4 6.156,7 2.577,4 Estágio 3 20.962,4917 7.443,4 6.194,1 2.530,2 Tabela 5 – Geração para a simulação 3 8 Simulação 3 - Armazenamento (%) Subsistema Sudeste Sul Nordeste Norte Estágio 1 45,4 90,8 27,7 28,1 Estágio 2 44,7 93,5 25,2 24,3 Estágio 3 44,3 95,0 23,0 21,2 Tabela 6 – Armazenamentos para a simulação 3 3.4) Comparação entre os casos simulados Como a simulação do item 3.3 teve apenas caráter ilustrativo, demonstrando que quando um subsistema tem custo maior ele automaticamente se torna importador e como a restrição de intercâmbio ImperatrizNordeste não pode ser removida na prática, para segurança do SIN, a comparação será realizada entre os resultados das simulações dos indicadas nos tópicos 3.1 e 3.2 somente. 3.4.1) Intercâmbios e Custos Marginais de Operação 136,7 863,3 N NE R$ 3,23 R$ 4,15 109,8 306,6 416,4 1000,0 1000 R$ 3,76 R$ 3,79 4609,4 SE 50 R$ 4,22 R$ 4,15 4404,8 60 3201,1 680,29 680,29 3201,3 Com restrição 124 (1000 MW) 5700,6 5700,6 2.499,3 2499,5 S Sem restrição 124 (1000 MW) R$ 3,46 R$ 3,46 Diagrama 4 – Intercâmbios e custos marginais de operação médios Nota-se, que aliviando a restrição, não existem grandes alterações nos custos marginais de operação. Porém, o fluxo de energia entre Imperatriz e o subsistema Nordeste é reduzido em 64,49%. A não incorporação das curvas de aversão a risco nos modelos Newave e Decomp impede que tais modelos sinalizem os riscos iminentes no subsistema Nordeste. Veremos, adiante, qual é o impacto das usinas termelétricas emergenciais nos intercâmbios e custos marginais de operação. 9 3.4.2) Energia Gerada Os gráficos a seguir mostram o impacto da maximização do intercâmbio do Sudeste para o Nordeste nas energias geradas nestes subsistemas. Semana 3 Semana 4 21.415 21.963 21.645 22.227 21.822 22.409 Geração Sudeste (MWm) Semana 5 Intercâmbio Maximizado Intercâmbio Normal Gráfico 2 – Geração no subsistema Sudeste 4.983 5.735 5.162 5.196 5.539 5.737 Geração Nordeste (MWm) Semana 3 Semana 4 Intercâmbio Maximizado Semana 5 Intercâmbio Normal Gráfico 3 – Geração no subsistema Nordeste Como esperado, a geração de energia elétrica no subsistema Sudeste é menor quando a maximização do intercâmbio é eliminada. A redução na geração de energia do subsistema Sudeste é de, aproximadamente, 2,58%. Para o subsistema Nordeste, também, como esperado, ocorre um incremento de, aproximadamente, 10,89%. 10 3.4.3) Armazenamentos Os gráficos seguintes ilustram o impacto da maximização do intercâmbio do Sudeste para o Nordeste nos armazenamentos destes subsistemas. Subsistema Sudeste 46.3 EARM (%) dd 46.3 45.4 45.3 44.7 44.5 44.2 44.0 Semana 2 Semana 3 Intercâmbio Maximizado Semana 4 Semana 5 Intercâmbio Normal Gráfico 4 – Armazenamento no subsistema Sudeste Subsistema Nordeste 30.1 30.1 28.2 EARM (%) 27.9 26.2 25.6 24.4 23.6 Semana 2 Semana 3 Intercâmbio Maximizado Semana 4 Semana 5 Intercâmbio Normal Gráfico 5 – Armazenamento no subsistema Nordeste A política de maximização do intercâmbio provoca um deplecionamento de 0,2% nos reservatórios do subsistema Sudeste. Enquanto isso, os reservatórios do subsistema Nordeste armazenam 0,8% mais água em seus reservatórios. 11 4) Probabilidades de Intercâmbio Com os mesmos dados de entrada utilizados pelo ONS no Newave (caso outubro de 2002), procurou-se estimar quais seriam as probabilidades de intercâmbios de energia do subsistema Nordeste para o subsistema Sudeste, caracterizando a devolução da energia que o Nordeste recebeu durante o período com o intercâmbio maximizado. O gráfico seguinte foi construído baseando-se em 2000 séries sintéticas de vazões. Ela retrata as probabilidades de intercâmbios entre os subsistemas Sudeste e Nordeste e ainda as probabilidades de não ocorrerem intercâmbios ao longo do ano 2003. 7 15 8 7 24 15 18 17 14 38 33 32 38 35 30 3 18 89 60% 37 73 70% 37 59 35 47 80% 37 8 90% 5 Probabilidades de Intercâmbio 100% 44 jul/03 61 jun/03 46 abr/03 53 mar/03 54 45 50 46 fev/03 nov/03 dez/03 27 20% 49 41 30% 59 40% 58 78 50% 11 10% 0% out/02 nov/02 dez/02 jan/03 Sudeste para Nordeste mai/03 ago/03 Nordeste Para Sudeste set/03 out/03 Sem intercâmbio Gráfico 6 – Possibilidades de intercâmbio Pelo gráfico percebe-se que o subsistema Nordeste somente terá condições de fornecer energia a partir de março de 2003. Tal constatação coincide com o fato dos armazenamentos deste submercado estarem superando a curva guia superior de aversão a risco (simulações com o Newave). Além disso, as magnitudes dos intercâmbios calculados pelo Newave variam entre 543,18 e 1.142,52 MWm no sentido Sudeste-Nordeste e entre 310,59 e 487,04 MWm no sentido contrário. Segundo simulações com o NEWAVE, os armazenamentos nos submercados serão favoráveis para 2003, sendo que para o Submercado Sudeste o armazenamento médio para 2003 (previsto) é de 77%, enquanto que para o Submercado Nordeste, o armazenamento médio previsto é 58%; Os itens acima permitem concluir que, para as condições de crescimento de carga, afluências e crescimento do parque gerador utilizados pelo ONS, existe pouca probabilidade da energia enviada para o Nordeste “voltar” ao Sudeste em 2003. 12 5) Impactos das Usinas Termelétricas Emergenciais Uma das possíveis causas da sub-valoração do custo marginal de operação para o subsistema Nordeste é a oferta de energia termelétrica através das usinas do programa de termelétricas emergenciais. Tais usinas estariam conduzindo a uma situação relativamente confortável para o Nordeste, mesmo com o nível de armazenamento do reservatório equivalente deste subsistema tão baixo. Para analisar esta hipótese, foram realizadas simulações com o Newave e Decomp eliminando as usinas termelétricas emergenciais que entrariam do subsistema Nordeste. 5.1) Caso ONS sem termelétricas emergenciais Esta simulação foi feita utilizando os dados de entrada compilados pelo ONS para o PMO de outubro de 2002, retirando-se dos decks as usinas termelétricas emergenciais. 136,7 8 863,3 N NE 124,36 R$ 3,23 R$ 12,40 875,64 1000,0 1000,0 1000 R$ 3,76 R$ 14,47 4609,4 SE 50 R$ 4,22 R$ 7,97 4538,95 60 3201,1 680,29 680,29 3201,1 Com Térmicas Emergenciais 5700,6 5700,6 2499,3 2499,5 S Sem Térmicas Emergenciais R$ 3,46 R$ 6,08 Diagrama 5 – Intercâmbios e custos marginais de operação médios Observa-se que, com a retirada das usinas térmicas emergenciais, o custo marginal de operação do subsistema Nordeste se eleva em 284,84%. Isso comprova a influência das entradas destas usinas na sub-valoração dos custos marginais de operação do Nordeste. 13 5.2) Caso ONS sem termelétricas emergenciais e sem imposição de intercâmbio Basicamente, repetiu-se a simulação anterior, eliminando a restrição impositiva de 1.000 MWm entre subsistema Sudeste e o nó fictício de Imperatriz. Os resultados são mostrados no diagrama seguinte: 136,7 863,3 8 N NE 104,11 R$ 3,23 R$ 13,50 875,01 979,12 1000,0 1000 R$ 3,76 R$ 14,47 4609,4 SE 50 R$ 4,22 R$ 7,96 4537,03 60 3201,1 680,29 680,29 3201,1 Com Térmicas Emergenciais 5700,6 5700,6 2499,5 Sem Térmicas Emergenciais e R124 2499,5 S R$ 3,46 R$ 6,07 Diagrama 6 – Intercâmbios e custos marginais de operação médios Comparando as simulações deste tópico, podemos concluir que a retirada das usinas emergenciais afetou os custos marginais de operação (principalmente o custo no subsistema Nordeste). Além disso, se não forem consideradas as térmicas emergenciais, a imposição do intercâmbio de 1.000 MWm não se faz necessária, já que a diferença entre os custos marginais de operação conduz, naturalmente, à maximização do intercâmbio no sentido Sudeste-Nordeste. 14 6) Impacto econômico O impacto econômico ligado diretamente as políticas de intercâmbios praticadas será devido a diferença de preços entre os submercados interconectados. Essa diferença de preços e contabilizada no MAE na forma de Encargos dos Serviços do Sistema (ESS). A conta de ESS é rateada entre as distribuidoras e, conseqüentemente, os consumidores finais arcarão com o ônus desta conta em algum momento. Pelas regras atuais, quanto maior a diferença de preços entre submercados interconectados (e que trocam energia) maior será o encargo gerado. Para verificar o impacto da política de intercâmbio praticada pelo ONS a partir de outubro de 2002, foram elaboradas as tabelas 7 a 12 que mostram as correlações entre os preços do MAE (PMAE’s) e os montantes da conta de ESS. Mês Preço MAE 2002 - Sudeste (R$) Carga Carga Carga Média Pesada Média Leve Pond. (*) Mês Preço MAE 2002 - Nordeste (R$) Carga Carga Carga Média Pesada Média Leve Pond. (*) Jan 336,00 336,00 336,00 336,00 Jan 562,15 562,15 562,15 562,15 Fev Mar 71,05 9,17 71,05 9,17 71,05 9,17 71,05 9,17 Fev Mar 319,41 57,86 319,41 57,86 319,41 57,86 319,41 57,86 Abr Mai 13,58 20,60 13,58 19,82 13,58 19,10 13,58 19,70 Abr Mai 7,34 4,10 7,34 4,10 7,34 4,10 7,34 4,10 Jun Jul 13,62 17,15 13,26 17,05 13,02 16,81 13,24 16,99 Jun Jul 7,15 16,59 7,15 16,59 7,15 16,59 7,15 16,59 Ago Set 12,12 6,21 11,92 6,06 11,87 6,01 11,93 6,06 Ago Set 13,43 5,57 13,43 5,54 13,43 5,47 13,43 5,52 Out Nov 4,57 6,78 4,47 6,66 4,40 6,50 4,46 6,63 Out Nov 4,35 6,25 4,33 6,10 4,28 6,10 4,32 6,12 Dez 5,28 5,25 5,16 5,22 Dez 5,39 5,39 5,39 5,39 Mês Preço MAE 2002 - Sul (R$) Carga Carga Carga Média Pesada Média Leve Pond. (*) Mês Preço MAE 2002 - Norte (R$) Carga Carga Carga Média Pesada Média Leve Pond. (*) Jan Fev 55,12 8,43 55,12 8,43 55,12 8,43 55,12 8,43 Jan Fev 70,40 4,39 70,40 4,39 70,40 4,39 70,40 4,39 Mar Abr 8,33 14,03 8,33 14,03 8,33 14,03 8,33 14,03 Mar Abr 5,37 7,34 5,37 7,34 5,37 7,34 5,37 7,34 Mai Jun 20,58 11,96 20,28 11,65 20,05 11,25 20,25 11,57 Mai Jun 11,98 7,15 11,49 7,15 11,41 5,11 11,53 6,56 Jul Ago 17,11 13,05 17,05 13,02 16,81 11,81 16,98 12,67 Jul Ago 16,59 12,04 15,22 11,92 10,24 11,74 13,94 11,88 Set Out 6,40 4,00 6,39 4,00 5,95 4,00 6,26 4,00 Set Out 5,57 4,35 5,54 4,33 5,47 4,28 5,52 4,32 Nov 5,02 5,02 4,91 4,99 Nov 6,63 6,49 6,20 6,42 Dez 4,30 4,30 4,29 4,30 Dez 6,68 6,68 6,51 6,63 Tabelas 7 a 10 – Preços MAE verificados em 2002 * Média ponderada considerando apenas dias “tipo 1” (Carga Leve = 7 horas/dia; Carga Média = 14 horas/dia; Carga Pesada = 3 horas/dia) Percebe-se que os preços MAE verificados durante 2002 foram decrescentes após o fim do racionamento e as diferenças nos valores de PMAE entre submercados também foi decrescente ao longo do ano. A tabela 11, abaixo, ilustra a redução da variação entre os preços dos quatro submercados. 15 Desvio Padrão entre PMAE's 2002 Mês Pesada Jan Fev Média Leve 209,12 209,12 209,12 128,94 128,94 128,94 Média Pond. (*) 209,12 128,94 Mar Abr 21,80 3,24 21,80 3,24 21,80 3,24 21,80 3,24 Mai Jun 6,87 2,88 6,66 2,71 6,46 3,15 6,63 2,84 Jul Ago 0,27 0,60 0,75 0,67 2,81 0,71 1,27 0,63 Set Out 0,37 0,20 0,36 0,17 0,26 0,15 0,33 0,17 Nov 0,69 0,64 0,60 0,63 Dez 0,85 0,85 0,79 0,83 Tabelas 11 – Desvios Padrão entre PMAE’s * Média ponderada considerando apenas dias “tipo 1” (Carga Leve = 7 horas/dia; Carga Média = 14 horas/dia; Carga Pesada = 3 horas/dia) Baseando-se na tabela 11, podemos inferir que2: a) b) c) os valores dos ESS do mês de outubro sejam os menores do ano 2002; em novembro os valores esperados para os ESS devem ser próximos aos de agosto; para dezembro os valores dos ESS devam estar compreendidos entre os valores dos ESS verificados em agosto e os verificados em julho. Porém, os valores verificados (contabilização do MAE) foram: ESS - 2002 Mês ESS (Milhões de R$) Janeiro 56,08 Fevereiro 13,15 Março 25,02 Abril 19,49 Maio 16,38 Junho 10,53 Julho 6,90 Agosto 5,21 Setembro 4,81 Outubro 8,87 Novembro 8,21 Dezembro ND Tabelas 12 – Desvios Padrão entre PMAE’s Conclui-se que a necessidade de atender a restrição de intercâmbio de 1.000 MWm para o Nordeste, adotada a partir de outubro de 2002, deva ter causado o incremento significativo dos valores dos ESS para os meses posteriores. 2 Não considerando os encargos de penalidades de medição do gerador e encargos de penalidades de consumo 16 7) Impacto das Curvas de Aversão a Risco 2003/2004 7.1) Introdução O ONS apresentou uma proposta (Nota Técnica 119/2002) para revisão das Curvas de Aversão a Risco (CAR’s) para o biênio 2003/2004. Nesta proposta consta a efetiva revisão da curva guia, baseando-se nos mesmos critérios utilizados na determinação das curvas do biênio 2002/2003. Além disso, o ONS propôs a adoção da chamada Curva Superior para os Submercados Sudeste e Nordeste. A Curva Superior não considera a presença de energia térmica emergencial no SIN e deverá ser utilizada como instrumento adicional de segurança no atendimento para o despacho de intercâmbio inter-regional. Ao se atingirem níveis de armazenamento iguais ou inferiores ao da Curva Superior, para um determinado subsistema, o recebimento deverá ser maximizado sem considerar os resultados dos modelos de otimização. Ou seja, se a Curva Superior for aprovada, a operação com políticas heterodoxas de intercâmbio e os seus efeitos demonstrados nos tópicos anteriores serão repetidos periodicamente. As curvas para o subsistema Nordeste são mostradas abaixo: Curvas de Aversão 2003/2004 Subsistema Nordeste 60 50 A EAR (%) 40 B 30 20 C 10 Curva Superior (Sem Emergenciais) Cruva Guia (Com emergenciais) Gráfico 7– Curvas de Aversão a Risco / Nordeste A área indicada por “A” indicará que nenhuma medida heterodoxa de despacho será tomada. Neste caso, os resultados dos modelos otimização serão seguidos plenamente. Quando o nível de armazenamento atingir o valor limítrofe entre as áreas “A” e “B”, o recebimento de energia será maximizado para o submercado em questão. Ainda não existe um mecanismo que determine a política de despacho de usinas termelétricas quando a energia armazenada estiver abaixo da Curva de Aversão (aérea “C”) ou mesmo quando o nível se encontrar entre as duas curvas (área “B”). 17 Dez/04 Nov/04 Out/04 Set/04 Ago/04 Jul/04 Jun/04 Mai/04 Abr/04 Mar/04 Fev/04 Jan/04 Dez/03 Nov/03 Out/03 Set/03 Ago/03 Jul/03 Jun/03 Mai/03 Abr/03 Mar/03 Fev/03 Jan/03 0 7.2) Probabilidades em relação aos níveis de armazenamento do Nordeste Neste item procurou-se mostrar as probabilidades de armazenamentos para o subsistema Nordeste em relação aos níveis definidos nas curvas de aversão a risco descritas no item anterior. Para tanto, utilizou-se o modelo Newave com dados de entrada referentes ao programa mensal de operação de janeiro de 2003. Distribuição de Probabilidades para Energias Armazenadas (%) Submercado Nordeste 2003 22,2 30,2 14,4 12,6 14,2 16,4 18,9 20,9 38,4 60% 22,4 65,6 70% 29,1 80% 9,3 28,2 24,8 23,2 20,4 18,0 18,9 17,8 27,1 90% 23,0 100% Set 63,5 61,0 Ago 60,5 60,5 Jul 59,3 60,8 Jun Out Nov Dez 13,5 10% Mai 38,7 34,2 20% 53,1 30% 61,1 40% 58,8 59,5 50% 0% Jan Fev Mar Abr Acima da Superior Entre Curvas Abaixo da Inferior Gráfico 8 – Probabilidades de armazenamento no Nordeste / 2003 7,1 11,2 10,7 9,4 7,8 6,2 5,7 5,6 7,8 9,5 8,3 19,3 100% 5,9 Distribuição de Probabilidades para Energias Armazenadas (%) Submercado Nordeste 2004 12,3 80% Set Out Nov 92,9 Ago 88,9 Jul 88,7 89,7 91,8 Jun 90,0 91,9 Mai 91,4 91,8 Abr 68,4 40% 88,4 82,2 60% 20% 0% Jan Fev Mar Acima da Superior Entre Curvas Dez Abaixo da Inferior Gráfico 9 – Probabilidades de armazenamento no Nordeste / 2003 Podemos verificar que as probabilidades de ocorrerem valores acima da Curva Superior são mais expressivas, sinalizando que políticas de maximização do intercâmbio para o Nordeste poderão ser menos 18 freqüentes para o ano 2003 (barras azuis). Conseqüentemente, serão menores os efeitos nos ESS e a ocorrência de intercâmbios de subsistemas com CMO’s mais elevados para subsistemas com CMO’s menores. Para o ano 2004, as possibilidades dos armazenamentos estarem acima da curva superior são ainda maiores e indicam que a baixa necessidade de maximização de intercâmbios para o subsistema Nordeste. 8) Conclusões Os modelos de simulação atualmente em uso não incorporam as curvas de aversão a risco, impedindo que os possíveis riscos futuros sejam sensibilizados através dos custos marginais de operação. O custo marginal de operação para o subsistema Nordeste, de acordo com os modelos e considerando a presença das térmicas emergências, é inferior ao custo marginal de operação do subsistema Sudeste, porém, o intercâmbio se dá do subsistema Sudeste para o subsistema Nordeste. Esta incongruência é devida ao atendimento das restrições elétricas e a sub-valorização da energia no subsistema Nordeste. Se desconsiderarmos as térmicas emergenciais, o custo marginal de operação para o subsistema Nordeste se torna superior ao custo marginal do subsistema Sudeste. Desta forma, a sinalização de maximização do intercâmbio no sentido Sudeste-Nordeste é clara e natural. Além disso, fica evidente que os agentes de geração do subsistema Sudeste serão remunerados, de forma justa, pela energia exportada ao subsistema Nordeste que se encontra em situação energética desfavorável. O subsistema Nordeste tem tendência a ser um subsistema importador de energia. A probabilidade de ocorrer uma reversão no intercâmbio, isto é, o intercâmbio se dar no sentido Nordeste-Sudeste, para o ano 2003, é baixa. Somente após fevereiro de 2003, quando o reservatório equivalente do subsistema Nordeste estará com armazenamento acima da curva de aversão a risco superior, existirá possibilidade de exportação de energia aos demais submercados. Contudo, na prática, mesmo após fevereiro de 2003, as probabilidades de reversão do intercâmbio são baixas. Como sabemos, os modelos computacionais utilizados para a determinação das políticas de operação são probabilísticos e são alimentados por diversas premissas (previsões de carga, afluências, oferta, etc) que tornam estes modelos sensíveis a variações. Caso ocorra uma situação hidrológica adversa, não “perceptível” aos modelos computacionais, as políticas de operação aparentemente otimizadoras em curto prazo podem conduzir a situações adversas, inclusive de racionamento, no longo prazo. Os modelos utilizados têm a função de otimizar a operação, oferecendo a solução de menor custo à sociedade. Quando o ONS adota intercâmbios distintos daqueles indicados pelos modelos além de estar indo contra a política otimizada3, está, também, usando fatores de segurança e critérios um tanto quanto subjetivos e que deveriam ser mais bem discutidos com os agentes e, principalmente, com a sociedade. Como estes mesmos modelos são utilizados para a determinação dos preços do Mercado Atacadista de Energia (MAE), existirão impactos no momento da contabilização deste mercado. Em se tratando de intercâmbios, o principal impacto seriam sobre os Encargos dos Serviços do Sistema (ESS) que oneram das distribuidoras e, conseqüentemente, o consumidor final. Espera-se que, antes das incorporações das curvas de aversão a risco aos modelos, o mesmo tratamento dispensado ao subsistema Nordeste seja dado aos demais subsistemas, quando estes estiverem em piores condições energéticas, mesmo quando os modelos não sinalizarem corretamente os sentidos de intercâmbios através dos custos marginais de operação. 3 Muitas vezes os dados de entradas dos modelos computacionais utilizados não refletem a real situação do sistema e os resultados podem ser comprometidos. Aqui, parte-se do principio que os dados de entrada promoverão a operação otimizada do SIN. 19