“Guideline” sobre Climatério da SBRH
César Eduardo Fernandes
Fernando Monteiro de Freitas
Marta C.F. Finotti
Jaime Kulak Jr
O climatério representa a transição da vida reprodutiva para a não
reprodutiva. Dentro deste período de tempo ocorre a menopausa, que
corresponde à última menstruação espontânea da mulher. Tomando-se a
menopausa como ponto de referência, é possível dividir-se o climatério,
didaticamente, nos períodos de pré-menopausa, de perimenopausa e de pósmenopausa.
A pré-menopausa é período que se inicia, em geral, no final da
quarta ou no curso da quinta década de vida da mulher, ainda que sofra largas
variações individuais. Sob o ponto de vista endócrino, a alteração mais evidente é
a elevação gradual dos níveis séricos de hormônio folículo estimulante (FSH).
A perimenopausa, por sua vez, é caracterizada pelas mesmas
modificações observadas na fase anterior, porém em grau mais intenso.
Compreende o período que se inicia com os primeiros sintomas indicativos da
aproximação da menopausa e que se entende vai até 12 meses depois da última
menstruação, uma vez que existe esta necessidade de um período de latência de
um ano para que a última menstruação seja considerada como a menopausa.
Um dos principais indícios do início da perimenopausa é a alteração
dos ciclos menstruais, que podem se apresentar mais curtos ou mais longos.
Nesta fase, a presença da deficiência estrogênica, pode em alguns casos,
acarretar os sintomas típicos do período, a exemplo das ondas de calor, dos
transtornos de humor e dos distúrbios do sono. A caracterização de que uma
mulher encontra-se no período da perimenopausa é eminentemente clínica e
depende basicamente da tomada de uma história apropriada, na medida em que
os marcadores hormonais desta etapa são muito flutuantes neste período,
tornando-os não muito confiáveis.
Após a ocorrência da última menstruação espontânea, segue-se o
período da pós-menopausa, que em geral, se caracteriza pela exacerbação dos
sintomas decorrentes do hipoestrogenismo. Nesta etapa os níveis de FSH estão
muito elevados e os níveis plasmáticos estrogênicos estão persistentemente
baixos.
A média de idade em que ocorre a menopausa é relativamente fixa.
Varia pouco de população para população, situando-se na faixa de 45 aos 50 anos
de idade. A figura 1 dá uma boa idéia destas etapas do climatério.
Menopausa
Climatério
Perimenopausa
Pré-menopausa
40
45
Pós-menopausa
50 51
65
Idade (anos)
Figura 1. Fases do climatério.
Os sintomas do climatério apresentam prevalência extremamente
variável, sofrendo interferência de fatores como dieta, do nível sócio-econômico,
dos aspectos culturais, do clima, e do impacto emocional causado pelas
mudanças impostas nesse período. Os sintomas mais comuns desta etapa podem
ser observados na tabela 1 abaixo.
Tabela 1 - Sintomas decorrentes do hipoestrogenismo no período do
climatério
______________________________________________________________
Sintomas vasomotores
Sintomas psicológicos
- Fogachos diurnos e noturnos
- Sudorese diurna e noturna
- Palpitações
- Insônia
- Depressão
- Ansiedade
- Irritabilidade
- Choro imotivado
- Redução da libido
- Dificuldade de concentração
- Redução da memória
- Astenia
______________________________________________________________
Diagnóstico
O diagnóstico do climatério, particularmente a identificação da
perimenopausa e do estado menopáusico, é essencialmente clínico. Os fogachos
ou ondas de calor podem aparecer neste período em cerca de 75% das pacientes.
Quando presentes identificam com facilidade a presença de estado
hipoestrogênico. Os sintomas psíquicos representados pela irritabilidade e
depressão são também bastante comuns. As pacientes frequentemente se
queixam também de insônia, mialgias, artralgias e cefaléias durante a transição
menopáusica.
São de manifestação mais tardia os sinas e sintomas urogenitais.
Entre as queixas mais comuns encontram-se a secura vaginal, a dispareunia, a
poliúria, a disúria, a urgência e incontinência urinária e os episódios de infecção
urinária.
As dosagens de FSH ou de estradiol plasmática são, no mais das
vezes, absolutamente desnecessárias. Excetuam-se os quadros de menopausa
prematura e os quadros de transtornos menstruais da perimenopausa, que, ao
lado da aferição do nível gonadotrófico, podem exigir outros exames para
elucidação diagnóstica ou etiológica. Níveis de FSH são superiores a 30 mU/ml,
indicam declínio da função ovariana.
Alterações menstruais
Os ciclos menstruais tornam-se altamente variáveis em regularidade
e características do fluxo. Essas alterações devem-se à diminuição da população
folicular e resistência dos folículos remanescentes à ação das gonadotrofinas,
especialmente do FSH. Os níveis aumentados de FSH podem acelerar a
maturação folicular, promover uma ovulação precoce e propiciar um encurtamento
da fase folicular e promovendo ciclos com intervalos menores (menos de 21 dias).
Pode, da mesma forma, ocorrer ovulação seguida de defeitos na fase lútea com
baixos níveis de progesterona. A anovulação, que ocorre em aproximadamente
40% dos ciclos nesta fase da vida. A expressão clínica destas alterações são as
irregularidades menstruais e os distúrbios da fertilidade
Pelas razões expostas, a irregularidade menstrual se constitui num
bom indício clínico para ser utilizado como marcador do período da transição da
menopausa ou da perimenopausa.
Rastreamento de doenças crônicas
As visitas médicas por ocasião do climatério oferecem uma boa
oportunidade para uma avaliação clínica mais abrangente e para a realização de
exames complementares básicos para a eventual detecção e prevenção das
doenças crônicas mais prevalentes. Entre estas, merecem uma atenção maior as
doenças cardiovasculares, o diabetes, a osteoporose e o câncer.
Como medida auxiliar na seleção de pacientes de risco para
doenças cardiovasculares pode se utilizar o escore de Framingham. Este índice
avalia o risco cardiovascular em 10 anos de doença arterial coronariana através
de parâmetros como idade, pressão arterial, presença ou não de diabetes,
tabagismo e níveis de colesterol total e fração HDL. A avaliação plasmática dos
lipídios e das lipoproteínas é de grande importância.
Após a menopausa, observa-se um aumento progressivo na
incidência de diabetes mellitus não-insulino dependente (DM tipo 2). Entre os 50 e
59 anos de idade a doença acomete 12,5% das mulheres e após os 60 anos estas
cifras situam-se entre os 17 e 18% . Uma paciente com diabetes tem o seu risco
triplicado para as doenças cardiovasculares.
As pacientes na peri e na pós-menopausa devem ser rastreadas
para o diabetes mellitus com uma glicemia de jejum. Um bom controle glicêmico
(hemoglobina glicosilada < 7%) e controle dos fatores de risco para as doenças
cardiovasculares devem ser os objetivos primários no acompanhamento das
pacientes portadoras da doença.
Igualmente, o hipotiroidismo apresenta alta incidência em mulheres
acima dos 50 anos de idade. Os sintomas do hipotiroidismo são pouco valorizados
nesta fase. A fadiga, o principal sintoma, frequentemente é atribuída à deficiência
estrogênica. Os níveis de colesterol plasmático são elevados e a mortalidade por
doenças cardiovasculares se mostra aumentada nas portadoras da doença. A
elevada incidência nesta etapa da vida justifica o rastreamento da função da
tiróide, que pode ser feito através da dosagem do TSH plasmático.
As pacientes de risco para osteoporose são identificadas pela
realização de densitometria óssea, exame que deverá ser solicitado segundo a
análise de riscos individuais, conforme se pode apreciar na tabela 2.
Tabela 2. Fatores clínicos de risco para osteoporose
Maiores
Sexo feminino
Baixa DMO
Fratura prévia
Raça asiática/caucásica
Idade avançada
História materna fratura
quadril e/ou osteoporose
Menopausa precoce
Corticoterapia
Menores
amenorréias
hipogonadismo em homens
IMC < 19 kg/m2
tabagismo
alcoolismo
sedentarismo
drogas: heparina, varfarina,
anticonvulsivantes, lítio e
metotrexate
imobilização prolongada
dieta pobre em cálcio
doenças que induzem perda
de massa óssea
No quadro 1, estão consignadas as indicações de densitometria
óssea segundo o Consenso Brasileiro de Osteoporose de 2002.
Quadro 1. Indicações de densitometria óssea
Mulheres
Acima de 65 anos
Deficiência estrogênica com menos de 45 anos
Peri e pós menopausa (1 FR MAIOR ou 2 FR MENORES)
Amenorréia > 1 ano
IMC < 19 kg/m2
Antecedente de fratura por trauma mínimo
Evidências radiográficas de fratura vertebral/osteopenia
Homens acima de 70 anos
Perda de estatura (< 2,5 cm)/hipercifose torácica
Doenças ou medicações associadas a perda óssea
Monitoramento
PINTO NETO AM et al. Consenso Brasileiro de Osteoporose
2002. Ver. Brás. Reumatol. 2002; 42 (6) : 342-54.
O rastreamento para câncer de mama, vulva, vagina, colo uterino,
endométrio, ovários, colon e pulmões é de grande importância, uma vez que a
incidência destas modalidades de câncer se mostra elevada nesta etapa da vida.
O exame clínico é fundamental para o rastreamento do câncer de
mama. Permite a detecção de nódulos com até 1,0 cm de diâmetro e de
alterações cutâneas incipientes. Uma mamografia de base é recomendada entre
os 35 e 40 anos. Após os 40 anos, a periodicidade pode ser anual ou bianual, a
depender dos fatores de risco. Ultrapassado os 50 anos de idade, recomenda-se
que seja realizada anualmente. O ultra-som não serve para rastreamento em
câncer de mama, podendo auxiliar na complementação diagnóstica em pacientes
mais jovens, nas com mamas densas e no diagnóstico diferencial entre nódulos
sólidos ou císticos.
A ultra-sonografia por via transvaginal pode auxiliar no rastreio das
doenças endometriais, especialmente em mulheres pós-menopáusicas sem
sangramento uterino. Contribui também para o rastreamento do câncer ovariano,
ainda que o seu valor quanto a esta indicação seja bastante questionado. Não só
o aumento do volume dos ovários, mas também as alterações texturais devem ser
valorizadas quanto ao prosseguimento da investigação.
A pesquisa de sangue oculto nas fezes na investigação do câncer de
colon em mulheres acima de 50 anos é , anualmente, recomendada, porquanto o
câncer colorretal é o segundo em freqüência na população feminina, com cerca de
90% dos casos ocorrendo depois dos 50 anos.
Tratamento
Quando se planeja o tratamento das mulheres no período climatérico
é compreensível que se considere como opção proeminente a denominada
terapêutica hormonal (TH). Deve-se, no entanto, lembrar, que este tratamento, em
que pese a sua importância, não encerra o elenco de medidas terapêuticas a ser
adotado neste período da vida. Uma vida saudável, com mudança dos hábitos de
vida prejudiciais à saúde, prática regular de exercícios e alimentação apropriada
devem ser considerados como objetivos primários no manejo terapêutico destas
pacientes. Ademais, quando presente alguma comorbidade, esta, deverá merecer
enfoque terapêutico específico que, pela abrangência de possibilidades, não são,
em sua maioria, completamente aqui consideradas.
Terapêutica hormonal (TH)
A TH tem sido indicada em mulheres na pós-menopausa com
múltiplos objetivos, que compreendem o alívio dos sintomas próprios desse
período e a prevenção de doenças que na sua etiopatogenia recebem influência
do hipoestrogenismo próprio desta etapa da vida feminina. Entre estes, se
destacam a conservação do trofismo urogenital, a conservação da massa óssea e
do tegumento, a melhora da sexualidade e do bem estar e a provável redução da
doença de Alzheimer.
De outra parte, existe a preocupação com os eventuais riscos da TH,
especialmente o risco aumentado para o tromboembolismo venoso quando do
início do tratamento e do câncer de mama com o tratamento prolongado.
A TH em mulheres com hipoestrogenismo deve ser feita o emprego
de formulações estrogênicas. A única razão para a administração de
progestagênios em adição aos estrogênios é a proteção das anormalidades
endometriais (hiperplasia e câncer) que se observam com a terapêutica
estrogênica isolada. Desta forma, as mulheres com útero intacto precisam da
adição de progestagênios à terapêutica estrogênica, enquanto que as pacientes
histerectomizadas devem ser dispensadas desta terapêutica combinada,
mantendo-se apenas em estrogeniterapia isolada.
Ao mesmo tempo em que se objetiva proteção endometrial, é
desejável que o progestagênio empregado não exerça interferência negativa sobre
o metabolismo e que não influencie negativamente os benefícios que se
conseguem com a terapêutica estrogênica isolada. Alinhadas como estes
objetivos, algumas novas formulações estroprogestativas têm sido disponibilizadas
para emprego clínico. Novos progestagênios, incluindo alguns de síntese mais
recente tem se mostrado mais apropriados para a terapêutica estroprogestativa
em mulheres na peri ou na pós-menopausa. Estes incluem a didrogesterona, a
trimegestona, a drospirenona, o gestodeno e o norgestimato.
Em terapêutica com fármacos deve-se procurar a menor dose que
propicie segurança e eficácia. Em atenção a este princípio, , tem se procurado,
especialmente nos últimos anos, em terapêutica hormonal (TH) no período pósmenopáusico, a redução das doses convencionadas para os hormônios
empregados.
O emprego de doses reduzidas de TH tem demonstrado alívio da
sintomatologia menopáusica e melhora da atrofia urogenital no período pósmenopausico, contrariando a idéia da necessidade de doses convencionais para a
maioria das pacientes para atender este propósito. Estas observações reforçam o
conceito de procurar as mínimas doses de hormônios que atendam os objetivos
terapêuticos considerados. Algumas mulheres podem precisar de doses maiores e,
nestes casos, a persistência dos sintomas com as baixas doses de hormônios
pode adequadamente fazer a correta seleção de pacientes.
O metabolismo ósseo é particularmente afetado pela falência
hormonal que se instala. Embora, classicamente se admita que as doses
convencionalmente empregadas de TH no período do climatério protegem contra
a perda mineral óssea em mulheres pós-menopáusicas, já se conhecia desde a
década de 80, que baixas doses destes hormônios também eram efetivas na
redução da reabsorção óssea e na redução dos marcadores bioquímicos da
remodelação óssea.
Entretanto, mesmo a metade das doses convencionais, quando
usadas isoladamente, sem a complementação opositora de progestagênios, pode
aumentar o risco das hiperplasias e do adenocarcinoma do endométrio, obrigando
desta forma, em pacientes com útero intacto sob tratamento estrogênico, uma
adição de substâncias progestacionais.
Atualmente admite-se o emprego da terapêutica de baixa dose para
todas as pacientes, tanto para iniciar como para manter a TH. Apenas em
pacientes com sintomas menopáusicos residuais em uso de baixa dose,
considera-se a utilização das doses plenas.
Os principais estrogênios e progestagênios empregados em TH na
peri e na pós-menopausa podem ser observados, respectivamente, nas tabelas 3
e 4.
Tabela 3. Estrogênios: doses e vias de administração.
Dose
Via Oral
Estrogênios conjugados eqüinos (EEC)
0,3 – 0,45 – 0,625 – 1,25 mg/dia
17 beta estradiol micronizado (E2)
1 – 2 mg/dia
Valerato de estradiol (VE)
1 – 2 mg/dia
Estriol (E3)
2 – 6 mg/dia
Via transdérmica
Estradiol transdérmico (E2)
25 -37,5 – 50 – 75 – 100
Estradiol gel (E2)
1,5 – 3,0 mg/dia
Via nasal
Estradiol intranasal (E2)
300
g/dia
Via subcutânea
Estradiol implante (E2)
25 mg cada 6 meses
Via vaginal
Estrogênios conjugados (EEC)
0,625 mg/dia
Estriol (E3)
1-2 mg/dia
Promestrieno
10 mg/dia
g/dia cada 31/2 dias
Tabela 4. Progestagênios: doses e vias de administração.
Dose
Via Oral
Acetato de medroxiprogesterona (AMP)
1,5 – 2,5 – 5,0 - 10 mg/dia
Acetato de ciproterona (AC)
1-2 mg/dia
Acetato de noretisterona (NETA)
0,35 – 0,5 – 0,7 - 1,0 mg/dia
Acetato de nomegestrol (ANG)
2,5 – 5,0 mg/dia
Didrogesterona
5,0 – 10 mg/dia
Drospierenona
2,0 mg/dia
Norgestimato
90 mcg 3 dias sim / 3 dias de pausa
Gestodeno
25 mcg/dia
Progesterona micronizada
100-200-300 mg/dia
Trimegestona
0,25 – 0,5 mg/dia
Via transdérmica
Acetato de noretisterona (NETA)
140 – 170 - 250 mcg/dia cada 31/2 dias
Via vaginal
Progesterona micronizada
50 -100 -200 -300 mg
Tibolona
A tibolona é um esteróide sintético, derivado do progestagênio
noretinodrel. Após sua absorção origina três metabólitos com funções estrogênica,
progestacional e androgênica. Em decorrência desta diversidade funcional, a
tibolona exerce diferentes ações a depender do tecido alvo. É empregada na dose
de 2,5 mg/dia.
Seu uso está indicado para alívio dos sintomas climatéricos e para
pacientes com queixa de diminuição da libido. Os efeitos de longo prazo sobre
risco cardiovascular, redução de fraturas osteoporóticas e risco de câncer de
mama ainda não estão bem estabelecidos, necessitando, para tanto, mais estudos.
Androgênios
Normalmente, a concentração de testosterona total e livre no plasma
declina com a idade. Os níveis observados em mulheres aos 40 anos de idade
costumam ser aproximadamente a metade dos encontrados em mulheres aos 20
anos de idade. Este declínio relacionado à idade explica boa parte da redução dos
níveis androgênicos observados no período da pós-menopausa. Contudo, a
ooforectomia em mulheres pós-menopáusicas está associada a uma queda
importante na concentração de testosterona plasmática, tornando praticamente
obrigatória a reposição estrogênica neste grupo de pacientes.
A decisão de prescrever a testosterona nas mulheres na pósmenopausa deve estar baseada em aspectos clínicos e/ou laboratoriais onde se
evidenciam sinais de insuficiência androgênica, excluindo-se outros fatores como
dificuldade de relacionamento, depressão, deficiência de ferro e doença da
tireóide.
Entre os principais sintomas da síndrome de insuficiência
androgênica feminina está, a sensação de piora do bem estar, a disforia, a fadiga
persistente, sem explicação e os comprometimento da sexualidade, incluindo a
redução da libido, da receptividade sexual, do prazer e da gratificação sexual.
Outros sinais potenciais de insuficiência androgênica, abrangem a perda do osso,
a força muscular diminuída, e a redução da função cognitiva.
A terapêutica só pode ser considerada em mulheres no climatério
que se encontrem com níveis estrogênicos adequados. Não existe racionalidade
para se empregar isoladamente androgênios em mulheres hipoestrogenizadas.
Em mulheres sob TH e que persistam com sintomas vasomotores pode-se indicar
a adição de androgênios.
A reposição androgênica pode ser feita sob várias formas quais
sejam: oral, injetável, implante subcutâneo e gel e adesivo transdérmica. Os tipos,
vias e doses dos androgênios mais utilizados encontram-se na tabela 5.
Tabela 5. Androgênios: tipos, vias e doses
Via de administração
Via Oral
Metil-testosterona
Undecanoato de testosterona
Dose
1,25 – 2,5 – 5 mg/dia
40 mg/dia
Via transdérmica
testosterona cristalina gel
150 a 300 mcg/dia
Terapêutica não hormonal
Antidepressivos
Quando não se pode empregar a TH, a exemplo de pacientes
operadas de câncer de mama, ou em casos mais raros, onde existem sintomas de
fogachos a despeito de se ter atingido boas doses de TH, pode-se considerar a
indicação de fármacos antidepressivos. O cloridrato de venlafaxina, um inibidor da
recaptação de serotonina e de noradrenalina, têm se mostrado eficaz no alívio dos
sintomas vasomotores em doses que podem variar de 25 a 150 mg/dia.
Igualmente, os inibidores seletivos de recaptação de serotonina, como a
paroxetina e a fluoxetina nas doses de 20 mg/dia parecem ter boa eficácia.
Fitoestrogênios
Os fitoestrogênios são substâncias encontradas nos vegetais e que
possuem atividade semelhante aos estrogênios, vez que possuem a sua estrutura
molecular semelhante à do próprio 17 β- estradiol com capacidade de se ligar ao
receptor estrogênico.
Os fitoestrogênios mais freqüentes na dieta são as isoflavonas, os
lignanos e cumestranos. Os resultados dos estudos que avaliaram os fogachos
são discrepantes, ora mostrando redução, ora mostrando que os sintomas
permanecem inalterados.
Com relação à massa óssea, os resultados dos estudos também
divergem. Até o momento não se dispõe de resultados consistentes que
demonstrem redução no risco de fraturas com uso de fitoestrogênios. Não se
dispõe também de estudos que possam atestar a sua segurança quando
empregados por longos períodos.
Moduladores seletivos de receptores de estrogênios (SERMs)
Os SERMs são substâncias não hormonais que, dependendo do
tecido no qual atuem através dos receptores estrogênicos, propiciam efeitos
agonistas ou antagonistas àqueles observados com os estrogênios naturais.
Podem, desta forma, prevenir as perdas de massa óssea, uma vez que nos ossos
têm nítido efeito estrogênico. A depender de sua estrutura molecular, não
apresentam atividade estrogênica na mama e no útero, podendo desta forma ser
destituídos de risco para indução ou promoção de neoplasias destes órgãos.
Nesta categoria de fármacos, atualmente se encontram para emprego clínico o
tamoxifeno e o raloxifeno. Vários outros SERMs estão em fase avançada de
pesquisa clínica. Entre estes, podem ser citados o basedoxifeno, o lasefoxifeno e
o arzoxifeno.
O tamoxifeno e o raloxifeno têm mostrado efeitos favoráveis sobre a
massa óssea da coluna vertebral e colo do fêmur em mulheres pós-menopáusicas.
Neste período da vida feminina, em estudo com metodologia adequada, o
raloxifeno mostrou redução significativa de fraturas vertebrais.
Bisfosfonatos
O alendronato, o risedronato e o ibandronato são os bisfofonatos que
apresentam melhores resultados no tratamento da osteoporose em estudos
prospectivos. Tem a propriedade de inibir a reabsorção óssea, reduzindo a
atividade osteoclastica, sem inibir a mineralização da matriz óssea formada,
fenômeno que pode ocorrer com outras tipos de bisfosfonatos. São eficientes na
redução de fraturas vertebrais e não vertebrais. Estão aprovados para o uso
preventivo e terapêutico da osteoporose pós-menopáusica e para o tratamento da
osteoporose induzida por corticóides.
Cálcio
Os estudos têm demonstrado que após a menopausa há um grande
aumento da perda de cálcio, que embora apresente grandes variações
individuais situa-se em média na casa dos 40mg/dia.
Por outro lado, é importante referir que a vitamina D, particularmente
a sua forma ativa, a 1,25-dihidroxi-colecalciferol, tem um papel primário na
regulação da homeostasia do cálcio, do fosfato e na mineralização do esqueleto. A
deficiência de 1,25-dihidroxi vitamina D, causada pela inadequada ingestão
alimentar, inadequada exposição ao sol, piora da ativação da vitamina D ou
resistência adquirida a vitamina D resulta em redução da absorção intestinal de
cálcio. Na ausência de vitamina D, menos de 10% da ingestão diária de cálcio
pode ser absorvida. De outra parte, a vitamina D é responsável também pela
reabsorção tubular renal de cálcio e pela mobilização de cálcio do osso. Fontes de
vitamina D, além dos suplementos e da luz solar, incluem os produtos laticínios
enriquecidos com vitamina D, óleo de fígado de bacalhau e a gordura de peixes.
Tem-se também, que a piora da absorção intestinal de cálcio exerce
importante papel na patogênese da osteoporose. Para que o organismo tenha os
seus requerimentos de cálcio atendidos é necessário que se encontre suficiente
quantidade de cálcio na luz intestinal e que a absorção se faça eficientemente.
Inadequada ingestão ou absorção de cálcio leva a mobilização de cálcio ósseo,
implicando em balanço negativo de cálcio.
As necessidades de cálcio sofrem profundas variações individuais e
com a idade das pacientes. De igual modo, o estado hormonal, os constituintes da
dieta e fármacos, além dos fatores genéticos, influenciam nos requerimentos de
cálcio, fazendo com que algumas pessoas necessitem de especial atenção com
relação à ingestão de cálcio (quadro 2).
Quadro 2. Indivíduos que necessitam especial atenção com a ingestão de cálcio
Mulheres peri e pós-menopáusicas.
Mulheres com amenorréia exercício-induzidas.
Mulheres com anorexia nervosa
Pessoas em convalescença. Pós-trauma ou grandes cirurgias.
Pessoas com certos hábitos alimentares ou estilo de vida:
Alta ingestão de proteínas
Alta ingestão de fibras
Alta ingestão de sódio
Alta ingestão de cafeína
Vegetarianos
Usuários de antiácidos com alumínio
As quantidades de cálcio recomendadas ao longo da vida podem ser
apreciadas na tabela 6, abaixo.
Tabela 6. Ingestão diária recomendada de cálcio (em mg/dia) para mulheres em
diferentes situações
Entre 25 e 50 anos
1.000
Grávidas ou lactantes
1.200-1.500
Na pós-menopausa (sob TH)
1.000
Na pós-menopausa (sem TRH)
1.500
Acima dos 65 anos*
1.500
* necessidades estimadas também para homens (futuras pesquisas são
necessárias para este grupo etário)
Modificado do “National Institutes of Health Consensus Development Conference on Optimal Calcium
Intake” JAMA 272:1942, 1994.
Como medida de base, vale ser ressaltado que o cálcio deve fazer
parte de qualquer esquema preventivo ou terapêutico que se faça para a
osteoporose. Na medida do possível o aporte dos requerimentos cálcicos deve ser
feito através da dieta e, quando necessário, suplementado através dos preparados
de sais de cálcio disponíveis. Na maioria dos indivíduos e em particular nas
mulheres pós-menopáusicas, a ingestão de cálcio pela dieta esta aquém das
quantidades diárias recomendadas.
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