VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 “DOVE CREAM OIL SHOWER”: ESTRANGEIRISMOS NA PUBLICIDADE Ana Clara Souza Cunha (PG – UENP / Jac) [email protected] Karla Regina da Silva (PG – UENP/ Jac) [email protected] Vera Maria Ramos Pinto (Orientadora- UENP/ Jac) Com o mundo globalizado, nota-se a invasão de estrangeirismos no cenário nacional. Percebemos , então, a importância de estudá-los melhor. Neste artigo, apresentamos um recorte de um estudo maior acerca dos estrangeirismos, mais especificamente dos xenismos, que circulam nos anúncios publicitários das principais revistas femininas brasileiras a exemplo de Cláudia, Marie Claire, Nova, Estilo,Boa Forma, Caras, entre outras. Analisaremos anúncios retirados da revista Cláudia, de junho de 2009, com o intuito de mostrar quais os motivos do seu emprego para esse tipo de público. Formação do léxico do português do Brasil A história da Língua Portuguesa mostra-nos que o enriquecimento vocabular de nossa língua por meio de empréstimos lingüísticos ocorrem desde as épocas mais antigas. No século XX, o Brasil recebeu grande influência americana através do mercado globalizado. Assim, tornou-se comum, em nosso cotidiano, encontrarmos expressões inglesas como e-mail, game, folder, bacon, internet, marketing, airbag, fast-food, web, show, spray, flat, scanner, workshop, fitness, piercing, book, etc. VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 No entanto, há algumas palavras que já foram adaptadas, ou seja, aportuguesadas como chute, iate, tênis, sanduíche, estresse, modelo, entre outras. Dessa forma, muitos “empréstimos sofrem adaptações, podendo haver substituição de fonemas, alterações ortográficas, desvios etimológicos, (...) independente da língua que foi adotado (STEINBERG, 2003, p.11)”. Assim, todo termo proveniente de outro país que começa a fazer parte de uma outra língua denominam-se estrangeirismo. No caso do estrangeirismo oriundo dos Estados Unidos da América, receberá o nome de anglicismo que é, segundo Houaiss & Villar (2008, p.44), “toda palavra ou expressão inglesa usada em outra língua”. Atualmente, o inglês é a principal fonte de empréstimos em nossa língua. E, a maioria das palavras inglesas foi introduzida no português devido à industrialização, à moda, aos esportes e à informática. Tais palavras podem conservar ou não a grafia e/ou sonoridade: chips, deit, chat, e-mail, rock, rave, jeans, fashion, kit, gay, lanchonete, caubói, xampu, etc. Paiva (2005, p.06) menciona que a “língua inglesa circula entre nós como uma mercadoria de alta cotação no mercado”. Fiorin (2001, p.120) acrescenta que ela transmite “modernidade, aventura, juventude”. Por isso, vemos, em grande escala, o uso de anglicismos em nomes comerciais, anúncios publicitários, revistas, nomes de produtos. Empréstimos linguísticos e estrangeirismos Notamos muitos estudiosos mencionarem empréstimos lingüísticos e estrangeirismo para referirem às palavras de outros idiomas. Entretanto, esses dois termos são sinônimos? Para Garces e Zilles (2001, p.15) não há distinção entre os dois termos: “ Estrangeirismos é o emprego, na língua de uma VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 comunidade, de elementos oriundos de outras línguas. No caso brasileiro, posto simplesmente, seria o uso de palavras e expressões estrangeiras no português. Trata-se de fenômeno constante entre as comunidades lingüísticas também chamada de empréstimos”. Ao contrário dos autores acima, Nelly Carvalho (1984, p.56) diferencia as denominações. Para a autora, um termo oriundo de outra língua é um estrangeirismo. Caso essa nova palavra seja aceita pela comunidade que esta sendo inserida, poderá ser classificada em: a) Empréstimos: se houver adaptação de qualquer tipo (fonética, gráfica, morfológica) na língua receptora. Exemplos: stress = estresse, kermesse = quermesse e knockout = nocaute. b) Xenismo: se não houver nenhum tipo de adaptação, assim o termo é aceito sem restrição pela língua receptora. Exemplos: show, laser, freezer, gay, diet, air bag, etc. Como Carvalho, Alves (1990, P.72) também diferencia estrangeirismo de empréstimos lingüístico, para ela, estrangeirismo são palavras de um idioma que ainda não fazem parte do acervo lexical de outro. E, empréstimos ocorrem quando o estrangeirismo é aceito pela comunidade e passa a não ser notado por sofrer alterações fonética, morfológica, gráfica. Exemplos: batom (batôn) panquecas (pancake). Desse modo, xenismo são “as palavras que permanecem na forma original, apesar da grande freqüência de uso.” (CARVALHO, 2009, p.58) Alguns exemplos: skate, shopping, George, airbag, diet, designer, rave, laser, show, e-mail, gay, ligent, etc. Ainda, Carvalho menciona que a “tradução é evitada para dar mais força ao texto jornalístico ou literário”. Anúncios publicitários Ao procurar definir o que é um texto publicitário, encontramos diversidades de definições. Diante disso, utilizaremos, com VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 embasamento para este artigo, as fundamentações teóricas de Sandmann (2001), que diferencia os termos publicidade e propaganda. Conforme o dicionários Houaiss (2009), publicidade significa: 1. qualidade do que é publico; 2. atividade que torna publico um produto ou serviço com o intuito de persuadir as pessoas a compra-lo. No entender de Sandmann (2001, p.10), o termo publicidade é “usado para a venda de produtos ou serviços”. Já, propaganda é mais abrangente e o que pode ser usado em todos os sentidos”. O referido autor, a respeito da linguagem da publicidade, diz que ela é o “reflexo e expressão da ideologia dominante, dos valores em que se acredita, ela manifestou a maneira de ver o mundo de uma sociedade em certo espaço da historia” (SANDMANN, 2001, p.10). Por isso, a escolha da linguagem é de grande importância para ser favorável a que está sendo anunciado. Para atingir seu objetivo, nos textos publicitários há duas funções que mais se ressaltam: apelativa e referencial. A função referencial tem como objetivo de informar. Ela é muito comum na linguagem jornalística e cientifica. Já, a função apelativa tenta convencer o receptor a praticar determinada ação. Nota-se, na maioria dos textos publicitários, a função apelativa que tem como controlar o comportamento do consumidor fazendo com que fixe as idéias divulgadas ou consuma o produto. E, a referencial, esta presente ao informar o receptor sobre o produto. Devido à globalização, usar um léxico estrangeiro em um anúncio publicitário denota a intenção de produzir efeitos de sentido em seu alvo. Por meio de termos ingleses, o anúncio oferecerá qualidades como modernidade, sofisticação, status, alta tecnologia ao produto. Por meio das considerações supracitadas, apresentamos análise de três propagandas retiradas da revista Cláudia de 2009. VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 Análises dos anúncios publicitários Em nosso país, as revistas femininas são veículos de comunicação que possuem muita tiragem, principalmente, pelo público feminino preocupado com seu bem-estar, em busca de informações para se manterem informadas. Como a publicidade desperta necessidades inerentes ao homem, como aceitação, reconhecimento social e profissional, o uso de palavras da língua inglesa é uma forma de se auto-afirmar e, ainda, ser superior aos que continuam a usar o português. Assim, devido à globalização, há uma vasta admiração ao modo de vida americano e usar palavras ou expressões em inglês produz efeitos de sentido como modernidade, sofisticação, alta tecnologia, status, etc. A maioria dos textos publicitários presentes nessas revistas possuem muitos termos estrangeiros, principalmente em inglês, que foram fonte para este artigo. Dessa forma, para entendermos melhor os motivos do uso de tais palavras importadas, em seguida, faremos análise de três anúncios publicitários retirados da revista Cláudia n. 06, jun. 2009. Análise do texto publicitário da Neston: VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 (revista Cláudia n. 06, jun. 2009) Neste anúncio, há a compleição da promoção oferecida pela Neston, contudo, para que a mesma tivesse sentido, nota-se a tentativa de convencer o receptor em estar participando deste evento. Mostrando que se ele participar, poderá receber milhares de prêmios, como celulares, iPods, mochilas, DVDs, câmeras digitais e ainda, R$ 50 mil em dinheiro. E, para isso, é preciso enviar o código das embalagens pelo celular. Percebemos que para auxiliar na persuasão, há o uso de dois verbos no imperativo: “Participe” e “Envie”. Ainda, a escolha lexical auxilia o texto e dá confiança, credibilidade ao produto. Em todo o texto, encontramos três termos estrangeiros: iPods, DVDs e Show. O primeiro termo é classificado como um estrangeirismo. Muitas pessoas desconhecem o seu significado que faz referência ao nome de uma marca registrada da Apple Inc. de uma série de tocadores de áudio digital. Já os termos DVDs e Show são denominados xenismos, pois já estão presentes em nosso acervo lexical. DVD é a abreviação de Digital Video Disc, em português, Disco Digital de Vídeo. Nele contém informações digitais, tendo uma maior capacidade de armazenamento que o CD (Disco Compactado), devido a uma tecnologia óptica superior, além VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 de padrões melhorados de compressão de dados. Esses xenismos circulam normalmente em nosso país. E, a palavra show, segundo o dicionário Houaiss (2008), espetáculo de entretenimento, em teatro, televisão, rádio, casas noturnas ou ao ar livre, apresentado para uma platéia. No texto publicitário, “Vai ser um show”, poderia ser trocado por “Vai ser um espetáculo...”, no entanto, utilizou-se de tal palavra para dar mais efeito de sentido na mensagem, fazendo com que, chame a atenção do leitor. Análise do texto publicitário da Peugeot: (revista Cláudia n. 06, jun. 2009) Este anúncio publicitário é dirigido a um público seletivo, de alto poder aquisitivo e tem como objetivo vender um carro moderno e de alto padrão tecnológico. Dois motivos para que se faça o uso de palavras estrangeiras neste tipo de texto é, primeiramente, a globalização e, também, a grande quantidade de tecnologia moderna. VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 A publicidade detalha algumas funções e características deste carro: “Automátivo Seqüencial Tiptronic System Porsche, freios ABS, air bag duplo e ainda o maior porta-malas da categoria.” Dentre os termos citados, a sigla em língua inglesa ABS significa Anti-lock Breaking System, ou seja, sistema de frenagem que evita que a roda bloqueie e entrem derrapagem. E, o “Automático Sequencial Tiptronic System Porsche” é um câmbio que proporciona maior comodidade e conforto. Ele se adapta perfeitamente à sua maneira de dirigir, efetua a troca de marchas em rotação mais elevada, para uma direção mais esportiva, e se você preferir a emoção de trocar as marchas manualmente, basta um simples toque na alavanca no modo Tiptronic. Ainda, podemos observar o xenismo airbag que também é conhecido por bolsa de ar ou almofada de ar. Ele é um componente de segurança dos carros que funciona de forma simples: quando o carro sofre um grande impacto, vários sensores dispostos em partes estratégicas do veículo são acionados emitindo sinais para uma unidade de controle que por sua vez checa qual sensor foi atingido e assim aciona o airbag mais adequado. Ao visitarmos o site da Peugeot <http://brasil.peugeot.com.br> descobrimos mais um significado do termo inglês Bi-Zone: novo ar-condicionado com mostrador digital e regulagem automática de temperatura, o motorista e passageiro agora podem escolher temperaturas independentes para terem o máximo de conforto. Esse texto não teria o mesmo efeito se estivesse escrito apenas em português. O inglês trouxe ao texto mais status, prestígio, alta-tecnologia, o que faz com que o produto seja bem aceito pelo seu público- alvo. VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 Análise do texto publicitário da Dove (revista Cláudia n. 06, jun. 2009) Este anúncio publicitário traz uma novidade da marca Dove, o sabonete “Dove Cream Oil Shower”. Vale ressaltar que o nome é composto por apenas palavras de origem inglesa e apenas aqueles que possuem conhecimento da língua poderão ter o entendimento do significado. Traduzindo, podemos obter: Dove banho de creme e óleo. Contudo, auxiliando o texto, há a ilustração e o texto explicativo: “Dove inovou mais uma vez, trazendo o único sabonete em creme com óleos naturais e 10 vezes mais hidratadas. Experimente. Para uma pele macia, hidratada e linda. Desta forma, este texto é destinado a mulheres que estão preocupadas com seu bem-estar, sua beleza e higiene. O texto não teria o mesmo efeito se estivesse escrito apenas na língua materna. O uso dos termos em inglês trouxe ao mesmo, modernidade, eficácia, prestígio. Neste anúncio, não há xenismos, apenas, estrangeirismos. VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216 Considerações finais Com esse estudo, foi-nos possível constatar que a publicidade é uma das grandes forças da atualidade que impulsiona o desenvolvimento industrial e o crescimento da promoção da venda de diversos produtos e serviços. E, ainda, constatamos que a ocorrência dos termos ingleses já incorporados em nossa língua, com a mesma grafia e sonoridade, funcionam como elementos de indução nos textos publicitários, edificando-se como símbolos e valores sociais, conferindo o tom de confiabilidade, juventude, modernidade, sofisticação, alta- tecnologia, status e atualidade. Referências ALVES, Ieda M. Neologismo. Criação Lexical. São Paulo: Ática, 1990. BAGNO, Marcos. Cassandra, Fênix e outros mitos. In: FARACO, C. A. Estrangeirismos: guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola Editorial, 2001. p.49-83. CARVALHO, Nelly. O que é neologismo. 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