Rio de Janeiro, 5 de junho de 2008
IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Hugo Alves Coutinho Filho, nasci no dia nove de setembro de 1959, em
Salvador, na Bahia.
FORMAÇÃO
Tenho o segundo grau completo, curso técnico em contabilidade e curso técnico em
eletromecânica.
INGRESSO NA PETROBRAS
Eu entrei em 16 do 03 de 1981. Entrei na Bahia, trabalhei de 1981 à novembro de
1983 quando fui transferido pro Rio Grande do Norte, e lá eu trabalhei uns 12 anos.
Tenho de 12 à 14 anos aqui na Bacia de Campos. Eu entrei na Petrobras como
mecânico, fui promovido para contra mestre em mecânica, depois pra mestre de
mecânica e hoje estou na função de técnico em manutenção sênior. E periodicamente
eu estou tirando interinidade de supervisão também na P23.
COTIDIANO
Trabalho na área de manutenção mecânica, na área de equipamentos de perfuração.
Exclusivamente na área de perfuração. Sempre na área mecânica e manutenção de
equipamentos de perfuração.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Entrei em 1981, na Bahia, e trabalhava em perfuração na área terrestre, onde sempre
trabalhei, geralmente na área de manutenção e, além disso, dava apoio na
manutenção dos equipamentos de perfuração. Em novembro de 1983, muitas
plataformas de sonda terrestre na Bahia estavam paradas e nós fomos transferidos
para o Rio Grande do Norte, por solicitação do órgão de lá. Estavam precisando de
mais gente e o setor estava mais promissor do que a Bahia. Então uma grande
equipe, da qual eu fazia parte, foi deslocada da Bahia, para o Rio Grande do Norte e lá
também a maioria trabalhava em terra e alguns eventualmente trabalhavam nas
plataformas de mar, embarcados.
Depois trabalhamos no Rio Grande do Norte, e como aconteceu na Bahia, a demanda
de operações foi diminuindo, então foram nos transferindo pra outros setores, e assim
vim pra cá à chamado de um engenheiro de perfuração, o Serveira. Vieram também
mais dois colegas. Em seguida fui trabalhar em uma plataforma de produção, durante
uns quatro anos e depois fui transferido pra P23, onde estou até hoje trabalhando na
área de perfuração.
COTIDIANO
Eu trabalho em regime de revezamento de turno, 12 horas por 12 horas. Temos a
rotina normal, o nosso turno de trabalho é das seis às 18 ou das 18 às seis. Trabalha
12 horas, folga 12 horas e está assim é hoje.
DESAFIOS
O desafio é sempre procurar dar o melhor. Eu faço uma coisa que eu gosto, para mim
o desafio é conhecer novos equipamentos, novas tecnologias, pois quando eu entrei
não havia tanta tecnologia como tem hoje. Então o dia a dia a gente tá aprendendo,
em relação a equipamentos novos, conhecimentos e outras tecnologias. Pra mim isso
é um desafio.
Tem muitos trabalhos que o homem fazia e hoje já não faz mais porque o
equipamento e a tecnologia favoreceram. Há equipamentos novos que diminuem o
risco de acidentes e tudo tende a melhorar para a gente.
Todas as funções na área de manutenção continuam existindo. Até hoje existe
mecânico, não existe mais aquele contra mestre de mecânica, que era o supervisor
antigamente, não tem mais um mestre de mecânica, que hoje é o técnico junior, pleno
e sênior. Em relação ao serviço, ainda continua quase a mesma coisa, facilitado pelas
novas tecnologias e novas ferramentas, mas o serviço humano, braçal, ainda existe.
Graças a Deus a gente acompanha os conhecimentos e os estudos que a própria
empresa nos fornece por meio de cursos. Fica melhor para aprimorar o nosso trabalho
com os equipamentos novos que estão entrando, com os que ainda estão em
operação e com os que estão surgindo também.
DIFICULDADES
Minha maior dificuldade foi quando eu saí do Rio Grande do Norte para vir para a
Bacia. Eu trabalhava mais em sonda de terra, então foi um desafio vir trabalhar em
sonda de perfuração marítima, o que era uma vontade minha. Achei um pouco de
dificuldade no início, mas depois, com o tempo e com a ajuda dos próprios colegas,
nossos companheiros, [foi mais fácil]. É uma segunda família, pois os colegas que já
trabalham nesses locais nos ajudam, facilitam o nosso trabalho.
FAMÍLIA
Na época quando eu fui transferido para o Rio Grande do Norte, quando eu era
casado, meu filho até adoecia. Ele já sabia quando eu ia embarcar, sentia falta,
começava até a adoecer e tudo. Naqueles primeiros dias, era com febre uma dor de
cabeça e tudo mais, depois melhorava. Para mim até hoje é stressante trabalhar
embarcado assim, passar 14, 15 dias longe da família. Ninguém se acostumou ainda,
não tem um que diga que já está acostumado. Mas a gente sente a falta dos familiares
e de estar em terra com os amigos. A gente [não] acostuma, mas tem que ser. Vai
indo aos trancos e barrancos. Em terra é menos mal, estou vendo gente, vendo luzes,
em movimento. Mas quando trabalhamos no mar é totalmente diferente, só água e
água ao redor (risos). Nos primeiros sete dias a pessoa ainda fica tranqüila, mas
depois fica estressada. Muita gente começa a bater cabeça (risos), pensando no que
não deve (risos) e assim vai levando, dá para ir levando as coisas aos poucos.
RELACIONAMENTO
O contingente de baianos na plataforma que eu trabalho é de quase 30%. Apesar de
ter gente de todos os locais do Brasil, sul, norte e nordeste, quase 30, 35% do pessoal
da Petrobras, incluindo os terceirizados, é da Bahia. Sou baiano! (risos) Nos
identificamos na maneira de falar e de nos comportar. Muita gente diz que baiano é
muito folgado (risos), na maneira de trabalhar. O pessoal do nordeste em si é mais
alegre (riso). Não é querendo discriminar o pessoal do sul (risos) e sudeste, mas o
pessoal [do nordeste] é mais alegre, mais espontâneo e mais receptivo também. Não
sou eu que estou dizendo não, é o próprio pessoal do sul que fala isso em relação ao
pessoal do norte.
VIDA DE EMBARCADO
Na plataforma nós temos o nosso lazer. Temos nosso pagodezinho, um churrasco
toda sexta feira, quinta-feira fazemos academia, jogos de baralho, dominó, pingpong... Fora eventos que a gente sempre faz: uns torneiozinhos pra cortar a rotina de
trabalho. A turma é bem alegre e bem receptiva.
Nós temos um churrasco tradicional que é feito pela hotelaria, geralmente sábado. O
churrasco que fazemos é fora do refeitório, geralmente no que a gente chama de “área
do fumante”, que fica num deck principal da plataforma. Fazemos toda sexta-feira, ou
quinta, não tem dia certo, pois é para comemorar o aniversariante do mês. Fazemos
aquele evento! O churrasco é feito não pelo pessoal da hotelaria, mas sim por nós
mesmos, funcionários da empresa. Armamos lá o pagodezinho e isso nos deixa
bastante animados. É geralmente à noite. Tem música baiana, do sul, tem tudo. Tudo
que é... (risos).
Desde quando eu entrei na Petrobras até hoje ainda existe [o trote], a gente chama o
novato de "o borracha" (risos) é o "reco", famoso "reco-borracha". A gente sempre faz
algumas brincadeiras com ele. Vou dar um exemplo: “Vá lá na plataforma e procure a
toalha da mesa rotativa”, aí ele [o “reco-borracha”] vai procurar na mão de alguém a
toalha da mesa rotativa que não existe, pois mesa rotativa é uma mesa, aí o cara
pensa que tem. O pessoal às vezes diz assim: "As suas primeiras dez refeições serão
pagas, você vai ter que assinar no livro aqui pra você pagar quando você
desembarcar" e: "Vai pegar a chave pra limpar pincel", aí o cara vai procurar, "Vai
pegar a chave da plataforma na mão do Geplat” (risos) e assim por diante. Mas isso a
gente faz no intuito de que aquela pessoa nova que chegou fique descontraída, é uma
brincadeira. Às vezes a pessoa chega de algum local e se sente arcaica, se sente
inútil em alguma coisa, então a gente começa a brincar para descontrair, para ela se
envolver com o grupo da plataforma.
SER PETROLEIRO
Ser petroleiro é dar algo de si para o Brasil, trabalhando em prol do seu crescimento. A
pessoa tem de se orgulhar do que está fazendo, porque ao invés de estar trabalhando
só pra ganhar dinheiro, só para si, está trabalhando em prol de terceiros e do futuro do
país.
BACIA DE CAMPOS
Estou aqui aproximadamente há 14 anos e senti uma evolução na tecnologia dos
equipamentos, na preservação do meio ambiente, e na segurança. Esse foi um dos
fatores que mais cresceu e que a Petrobras tem dado mais ênfase. Eu estou surpreso
com o que esta acontecendo. Antigamente, quando eu cheguei aqui, vou dar um
exemplo, a gente descartava lixo no mar. Há 14 anos atrás a gente queimava o lixo e
jogava no mar de qualquer jeito, mas hoje a gente tem o trabalho de coleta seletiva.
Antigamente a gente jogava óleo no mar e não estava nem aí, [não havia] precaução.
Hoje há a sensibilidade de preservar bastante o meio ambiente. A Petrobras está
investindo muito na área de segurança. Antigamente era mais a produção, hoje em dia
é: primeiro a segurança e depois a produção. Isso foi marcante na Empresa.
ACIDENTES
Já [presenciei] uns três acidentes com colegas nossos fazendo o trabalho. Na
perfuração mesmo, houve vários acidentes e eu já presenciei uns dois: um colega que
quebrou o pé, pois havia excesso de material na área, então passando pelo local,
tropeçou e se machucou. O outro [acidente] foi com uma lixadeira. Eu estava
passando perto de uma máquina de sala de solda, com uma lixadeira que escapuliu e
deu um recolchete que chegou a cortar o punho do rapaz, mas eu presenciei isso há
uns 3 ou 4 anos. Mas [o rapaz] foi bem atendido pelo serviço médico que tem a bordo.
Eu quero mesmo é divulgar um alerta! Quero pedir para o pessoal que anda nessas
áreas de risco que tenha mais cuidado, para preservar sua vida, a sua integridade
física, pois isso é importante pra gente. Como diz o ditado: nós não só queremos estar
bem, mas nossos familiares também querem que a gente chegue como saiu de casa,
sã e salvo, voltando intacto e livre de qualquer acidente que venha a acontecer.
PROJETO MEMÓRIA
É um bom projeto, porque você vem até aqui recapitular o passado, como era a
Petrobras antes e como é a Petrobras hoje, a maneira como os funcionários
trabalhavam e como estão trabalhando hoje, [pensar] como foi mudando a tecnologia,
como era no passado, como é no presente e o que vai ser no futuro, então é um
projeto bastante interessante.
Download

Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2011