GLOSTER METEOR
NA AMÉRICA LATINA
Roberto Portella Bertazzo, Bacharel em
História pela UFJF e Membro da Sociedade Latino
Americana de Historiadores Aeronáuticos (LAAHS)
Membro de Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino
Soares de Sousa” da UFJF.
[email protected]
Primeiro projeto de caça a jato aliado, o Gloster G.41 foi um caça de grande tamanho. O primeiro
protótipo voou em 5 de março de 1943 e o modelo Meteor 1 entrou em serviço em 12 de julho de 1944.
Por ser um avião de escassa autonomia, os primeiros Meteor ficaram baseados na Grã Bretanha e
foram utilizados para interceptar as bombas voadoras V-1 alemãs. Os Meteor também foram valiosos para a
familiarização das tripulações americanas dos bombardeiros Boeing B-17 com a nova ameaças dos caças
Messerschimitt Me 262 alemães. . No final da guerra, alguns foram enviados à Bélgica, mas nunca entraram
em combate com os jatos alemães.
A segunda versão de produção foi o Meteor FIII, com motores Rolls Royce Dewent I, de 970 Kg de
empuxo. A versão seguinte foi o Meteor IV, com motores Rolls Royce Derwent 5, de 1587 Kg de empuxo,
instalados em naceles maiores e asas recortadas nas pontas para melhorar a velocidade e a manobrabilidade.
O Gloster Meteor foi projetado como caça interceptador e era bem armado com seus quatro canhões
Hispano de 20 mm, com uma cadência de 880 tiros por minuto por arma. Porém, na função de ataque ao
solo, com bombas e foguetes, seu desempenho não era muito satisfatório, com muitas limitações no sistema de
mira nesta função.
As primeiras versões apresentaram um problema de instabilidade direcional que foi solucionado com
a adição de cargas de lastro de chumbo no bordo de ataque das naceles das turbinas. Esse problema foi
superado com o aumento do cumprimento da fuselagem nos treinadores biplace Mk-7 e os Mk-8 tiveram esse
aumento incorporado no projeto. O bordo de ataque dos MK-8 e MK-9 eram de madeira. O cumprimento da
fuselagem dos Gloster Meteor Mk I, III e IV era de 12,6 metros e nos Gloster Meteor Mk8 e 9 era de 13,59
metros.
Em vôos a altitudes superiores a 30 mil pés, o desempenho dos Gloster Meteor MK-8 era superior ao
dos caças americanos Lockheed F-80C. À baixa altitude o Meteor era muito mais rápido, mas não podia
manobrar como os F-80C.
Na Guerra da Coréia, o Gloster Meteor MK-8 foi utilizado pela 77ª Esquadrilha da Real Força Aérea
Australiana e sua inferioridade frente à nova geração de caças que surgia ficou bastante claro. Os Meteor
Australianos foram massacrados em combate aéreo pelos caças soviéticos Mig-15, utilizados pelos
comunistas, com 32 Gloster Meteor australianos perdidos contra 3 Mig 15 abatidos.
Gloster G-41. (Foto: www.military.cz)
ARGENTINA
A Fuerza aérea Argentina foi pioneira na América Latina, ao operar os primeiros caças à jato Gloster
Meteor F. Mk. IV recebidos em 1947. O Meteor Mk.IV chegava a 12 mil metros de altitude em 8 minutos,
tinha cabine pressurizada e podia levar tanques adicionais sob as asas. O primeiro Vôo de um Meteor na
argentina foi em 11 de julho de 1947, tendo o avião de matrícula I-005 decolado de uma pista improvisada na
Avenida Edison, no porto de Buenos Aires. O pavimento da “pista” era de bloquetes.
Ao todo a FAA comprou 100 aviões, mas acabou recebendo 102 porque duas aeronaves
apresentaram problemas. Os primeiro cinqüenta aviões eram de segunda mão, provenientes da RAF e os
últimos eram novos de fabrica.
Talvez o piloto mais ilustre dos Gloster Meteor argentinos tenha sido o ás alemão da Segunda Guerra
Mundial, Adolf Galland, que foi contratado pelo presidente Juan Domingo Perón como assessor da Fuerza
Aérea Argentina e teve durante este período uma aeronave destacada para seu uso pessoal.
Uma turbina de Meteor , foi utilizada para propulsar o primeiro avião a jato fabricada na América
Latina: o IAI Pulqui I, projetado pelo engenheiro francês Emile Dewoitine e que voou em 1948.
Em 1955 os Gloster Meteor argentinos entraram em combate no movimento que derrubou o
presidente Perón. Os jatos foram empregados tanto por forças rebeldes, que bombardearam a Praça de Mayo
quanto pelas forças leais ao governo, que derrubaram um North American AT-6 da Aviação Naval.
Em abril de 1963, os Gloster Meteor voltaram a combater, desta vez para atacar os membros da
Marinha que se haviam revoltado contra o governo do presidente Luis M. Guido.
Em seus vinte e quatro anos de serviço na Argentina. Os Gloster Meteor foram utilizados por várias
esquadrilhas de acrobacia. A mais famosa foi a Esquadrilla 46 , criada em 1962 para comemorar os cinqüenta
anos da Aeronáutica Nacional. O Gloster Meteor da Esquadrilha 46 foram pintados de vermelho e branco e
inclusive visitaram o Uruguai onde se encontraram com os Gloster Meteor F.Mk.VIII da Força Aérea
Brasileira.
Os Gloster Meteor argentinos deveriam ser substituídos pelo projeto nacional IAI Pulqui II, que era
um avião muito moderno na época em que foi desenvolvido. O cancelamento do programa do Pulqui II
acabou levando à aquisição de caças americanos North American F-86.F.
A operação dos Meteor argentinos chegou até o início dos anos setenta e os últimos voaram até
março de 1971.
Quando chegaram à Argentina, os Meteor adotavam um esquema em alumínio., à esquerda. À direita, bela foto em vôo de um
Meteor da Esquadrilla 46 . (Fotos: Fuerza Aérea Argentina)
No final da sua carreira, os Meteor argentinos adotaram um esquema verde e cinza. (Foto: Juan Carlos Cicalesi) e à direita
Meteor preservado, na Argentina, em perfeito estado. (Foto: Dardo Salguero)
Gloster Meteor preservado no Museu da Força Aérea Argentina . (Foto: FAA)
BRASIL
Apesar do fraco desempenho do Gloster Meteor Mk8 na Guerra da Coréia, onde foi utilizado pelos
pilotos australianos, a Força Aérea Brasileira encomendou, em 1952, sessenta aviões monoplace e dez
biplace. Esses aviões foram trocados com a Inglaterra por algodão.
Os Meteor brasileiros haviam sido construídos para a RAF e para a Força Aérea do Egito, mas nunca
foram entregues a essas forças e vieram novos para o Brasil.
O primeiro vôo de um Gloster Meteor Mk7 no Brasil foi em maio de 1953. Em outubro do mesmo
ano, os novos jatos substituíram os Republic P-47D na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.
A segunda base a ser equipada com os Meteor foi a de Porto Alegre, mais tarde denominada Base
Aérea de Canoas. Nesta base, os Meteor substituíram em setembro de 1954 os Curtiss P-40.
Os Gloster Meteor Mk7 foram designados no Brasil Meteor F-7 e seus números de série eram de
4300 a 4309. Os Gloster Meteor Mk8 foram designados Meteor F-8 e seus números de série eram 4400 a
4459.
Houve um Meteor F-8 adicional, que entrou em serviço em 1970, com a matrícula 4460. Esse avião
foi o resultado da montagem de uma célula adicional que veio da Inglaterra com peças de reposição e partes de
outros aviões desativados. O Meteor 4460 voou até abril de 1974 e está preservado no Museu Aeroespacial no
Rio de Janeiro.
Nos primeiros anos de operação dos Meteor no Brasil, os pilotos utilizavam os velhos capacetes de
couro ao estilo da segunda Guerra Mundial. Em julho de 1956, pós a fragmentação de um canopi em vôo,
que quase causou a perda do avião e do piloto, a FAB adquiriu nos Estados Unidos 75 capacetes de plástico
que acabaram por salvar a vida de um piloto em 1957 após outro acidente semelhante. Os problemas de
fragmentação dos canopis foram superados após a sua substituição por um de novo modelo, totalmente em
plexiglas.
Mesmo tendo sido projetado como caça interceptador, o Gloster Meteor foi mais utilizado no Brasil
como caça bombardeiro mesmo porque não havia no país uma rede de radares de alerta para guiarem os
caças.
O emprego dos Meteor em missões de ataque ao solo, ocasionou um desgaste muito rápido das
células dos aviões, sendo que várias aeronaves apresentaram rachaduras nas longarinas.
Esse problema resultou na desativação prematura dos Meteor no Brasil e em outubro de 1966 os
Meteor ainda voando em Canoas foram substituídos pelos Lockheed AT-33 e transferidos para santa Cruz .
Os Meteor de Santa Cruz ainda operaram até 1968 com número reduzido e substituídos também pelos
Lockheed AT-33 . Isso resultou em uma grande perda na capacidade de defesa do país até a chegada dos
primeiros Northrop F-5E Tiger II em 1975.
Existem preservados no Brasil diversos Gloster Meteor Mk8 sendo que um está no Museu
Aeroespacial no Rio de Janeiro; um no Museu Asas de um Sonho em São Carlos; dois no Museu Matarazzo
em Bebedouro, ambos no Estado de São Paulo; um na Base Aérea de Santa Cruz no Rio de Janeiro; um na
EPCAR em Barbacena, Minas Gerais; um na Base Aérea de Salvador; um em Bacacheri, Curitiba e um em
Canoas, Rio Grande do Sul. O único Gloster Meteor Mk7 preservado no Brasil está em boas condições no
Museu Aeroespacial no Rio de Janeiro.
Meteor Mk7 decolando. (Foto: Museu Aeroespacial RJ) e Rara foto colorida de dois Meteor F-8 voando sobre o Rio de Janeiro.
Foto: Coleção do autor).
Meteor 4460 preservado no Museu Aeroespacial no Rio de Janeiro, à esquerda e Meteor Mk7, à direita, preservado no Museu
Aeroespacial. ( Fotos: Autor).
Meteor 4404 preservado na Base Aérea de Salvador. (Foto: autor)
EQUADOR
O Equador comprou seus primeiros Gloster Meteor em 1954, durante o governo do presidente José
Maria Velasco Ibarra, um grande entusiasta da aviação. Juntamente com doze Gloster Meteor FR9
provenientes da RAF, foram adquiridos também seis bombardeiros Camberra Mk6.
Os Meteor do Equador chegaram no final de 1954 e o primeiro vôo no país foi em março de 1956.
Inicialmente os Meteor Equatorianos operaram em Salinas e Quito, mas a construção de uma base
mais adequada foi logo providenciada na localidade de Taura, proximo à cidade de Guayaquil.
Em Janeiro de 1957 os doze Gloster Meteor do Esquadrón Táctico nº 13 aterrizou pela primeira vez
na nova pista da Base de Taura, que até os dias atuais continua sendo a mais importante do Equador.
Apesar de serem da versão de caça e reconhecimento, os Gloster Meteor FR9 equatorianos, nunca
operaram com câmeras, executando basicamente missões de caça e ataque.
Em 1966 foi formada uma esquadrilha de acrobacias denominada “Lãs Aguilas” e os Gloster
Meteor foram utilizados com um bonito esquema de pintura nesta nova “missão”.
Na mesma época em que empregou os Gloster Meteor, a FAE recebeu também pelo Programa de
Ajuda Militar dos Estados Unidos, dezoito Lockheed F-80C e vários T-33 que vinham com um grande
estoque de peças de reposição e em condições econômicas muito vantajosas. Já as peças dos Meteor tinham
que ser compradas na Inglaterra e pagas em libras esterlinas.
Isso levou a uma utilização bem menos intensa dos Meteor e quando as últimas unidades foram
retiradas de serviço no início da década de setenta, as células sobreviventes estavam em excelente estado.
O que impediu a continuação do emprego dos Meteor no Equador foi o envelhecimento dos canopis
de plexiglas para os quais já não havia peças de reposição disponíveis.
Os Gloster Meteor foram substituídos no Equador pelos caças supersônicos Franco-Britânicos
Sepecat Jaguar que chegaram em 1977.
Existem vários Gloster Meteor preservados no Equador sendo que um está no Museo Aeronáutico y
del Espacio em Quito; um está na Base Aérea de Latacunga; um na Base Aérea de Guayaquil e um na Base
Aérea de Taura.
À esquerda, Meteor FR9 equatorianos em manutenção na Base Aérea de Taura em 1964. (Foto: FAE) e à direita Meteor equatoriano em vôo.
(Foto: Jet Age Museum).
Meteor da Esquadrilla Lãs Aguilas, à esquerda. À direita Três Meteor da Esquadrilla Lãs Aguilas taxiam enquanto um quarto
sobrevoa a baixa altura. (Fotos: FAE).
Meteor preservado no Museu da FAE em Quito. (Foto: Roberto Bertazzo)
O Gloster Meteor foi o jato pioneiro, fruto da segunda guerra mundial, e moderno para os padrões de
quando adquiridos pelos três países da América Latina, mas enquanto na Argentina foi complementado e
substituído, na década de 60, pelo North American F-86 F Sabre, muito superior, o mesmo não ocorreu no
Brasil e Equador.
No Brasil a falta de visão estratégica, estendeu em muito sua vida útil, apesar de já estar obsoleto,
culminando com a aquisição no início dos anos 70 do Mirage III e do F-5 E, incidindo no mesmo erro em
operá-los por mais de trinta anos.
Já no Equador, a falta de recursos prolongou a sua vida operacional, até que com os petrodólares a
Força Aérea conseguiu adquirir os SEPCAT Jaguar no início dos anos 70.
______________________________________
Download

GLOSTER METEOR NA AMÉRICA LATINA