FX-2
Até quando esperar?
Roberto Portella Bertazzo
Graduado en Historia na Universidade Federal de Juiz de Fora;
Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de
Sousa” da Universidade Federal de Juiz de Fora.
[email protected]
Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira – FAB estava equipada com os mais modernos modelos de aviões de caça, bombardeiros e
transportes fabricados nos Estados Unidos e que foram recebidos às centenas durante o
conflito.
No entanto, no final da guerra, apareceu um novo tipo de avião, impulsionado
por turbinas a jato e não mais por motores à explosão e hélices. Esta nova tecnologia
tornou obsoleta praticamente toda a primeira linha de caças da FAB em 1947, quando a
Argentina adquiriu da Inglaterra 100 caças a jato Gloster Meteor MK-4.
O Gloster Meteor MK-IV da Força Aérea Argentina foi o primeiro caça à jato a ser operado na
América do Sul, em 1946. (Foto: autor)
Naquele momento, os Gloster Meteor estavam entre os melhores caças
existentes no mundo. Entretanto, na Guerra da Coréia, ocorrida em 1950, estes já
estavam obsoletos, suplantados por uma segunda geração de caças, representados pelos
North American F-86A dos Estados Unidos e o MIG-15 da Rússia. Os Australianos
tentaram combater os Mig-15 com seus Gloster Meteor MK-8, mas viram que isso não
era viável, depois de inúmeras perdas, passaram a utilizar o caça britânico em missões
de ataque ao solo.
O Brasil somente entrou na era dos aviões à jato em 1953, quando a FAB
adquiriu também da Inglaterra, 61 caças Gloster Meteor MK-8 e dez biplaces de
treinamento Meteor MK-7. Apesar de representarem um grande salto com relação aos
caças à pistão Republic P-47D e Curtiss P-40 que a equipavam e serem superiores aos
Gloster Meteor MK-4 argentinos, que, ao contrário dos nossos, não tinham acentos
ejetáveis, os Gloster Meteor MK-8 em 1953 estavam totalmente superados e não
representavam a elite dos caças, como quando foram adquiridos pela Argentina em
1946.
O pior de tudo, é que os Meteor continuaram a compor a primeira linha da FAB
até o final da década de 1960, complementados por 33 Lockheed F-80C recebidos em
1959 e 58 Lockheed TF-33 adquiridos à partir de 1956, e recebidos em diversos lotes.
Os F-80 tinham em comum com os Meteor o fato de serem representantes da
primeira geração de caças à jato e estarem completamente obsoletos.
Mesmo na América do sul, na década de sessenta, a Argentina, a Venezuela e o
Peru estavam equipados com caças muito superiores como os North American F-86 e
Hawker Hunter.
Concluindo, compramos tarde um caça já superado e o utilizamos por muito
mais tempo do que seria recomendável.
Quando entramos na era supersônica, com a aquisição dos primeiros Dassault
Mirage IIIE e Mirage IIID, estes aviões já eram utilizados pelas forças aéreas do Peru,
que recebeu os Mirage 5 em 1968 .
O Mirage III era um excelente avião na década de sessenta e início da década de
setenta, como demonstra os resultados obtidos pela aviação de Israel nos conflitos com
seus vizinhos.
O Mirage IIIE foi o primeiro caça supersônico da FAB, adquirido em 1972. (Foto: autor)
O problema é que o Brasil adquiriu os Dassault Mirrage III demasiado tarde e os
utilizou por um período de tempo absurdamente longo. Os últimos foram desativados
em 2005.
O Brasil também adquiriu outro caça supersônico, em 1975. Tratava-se do
Northrop F-5A e de treinadores biplaces F-5B. Estes não representavam o que de
melhor havia no mundo nem no inventário dos Estados Unidos. Apenas cinco anos
depois, a Venezuela comprou 36 General Dinamcs F-16A, muito superiores.
A FAB modernizou os F-5 e pretende utilizar estes aviões até depois de 2020.
Em várias ocasiões no passado, o Brasil comprou tarde bons aviões, que quando
foram recebidos já não representavam o que havia de mais moderno no mundo.
Claro que o país era proporcionalmente muito mais pobre e menos importante do
que é hoje no mundo.
A preocupação é que devido aos atrasos para a decisão de qual será o próximo
avião de caça da Força Aérea Brasileira, a história se repita mais uma vez.
Enquanto esperam, os três concorrentes vão aperfeiçoando seus produtos e
oferecem novidades no que se refere aos equipamentos de bordo.
Os mísseis ar-ar, além do alcance visual, no caso do Gripen E/F poderiam ser os
Meteor. Já no caso do F-18E/F o míssil oferecido é o AIM-120C-7, já no caso do
Rafalle o míssil oferecido é o MICA. O AIM-120 tem o dobro do alcance do MICA. O
Meteor está sendo desenvolvido em parceria pela Alemanha, Espanha, França,
Inglaterra, Itália e Suécia. Seria interessante, se os franceses incluíssem o Meteor em,
sua oferta.
O míssil AIM-120C-7 já é empregado na América do Sul pela Força Aérea do
Chile que os utiliza em seus Lockheed F-16.
Quanto aos radares, o Gripen E/F utiliza o AESA Selex-Galileo ES-05 Raven,
desenvolvido pela Selex Galileo. Já o Rafalle utiliza o radar AESA RBE2 desenvolvido
pela Thales. O Boeing F-18E/F utiliza o radar Aesa AN/APG79 desenvolvido pela
Raytheon. O radar APG79 do F-18 tem o dobro do alcance do RBE2 do Rafale.
Os três finalistas do FX-2: Grippen NG, FA-18F e Rafale. (Fotos: autor)
Se a decisão pela compra do modelo escolhido que foi adiada mais uma vez em
2012 for tomada, no melhor dos casos em 2013, quando seriam recebidos os caças? Por
quanto tempo vamos a utilizar estes vetores?
A partir de 2020, as principais forças aéreas do mundo ocidental vão começar a
operar os caças de quinta geração F-35 e a Rússia estará perto de fornecer os Pak Fa a
seus aliados.
O Lockheed F-35 será o caça padrão das potências ocidentais a partir da década de vinte do
presente século. (Foto: autor)
Corremos o risco de termos um bom avião, adquirido tarde e que não
representará o que de mais moderno existe em operação no mundo.
A importância alcançada por nosso país nos últimos anos já não permite este tipo
de erros ou improvisações. A defesa nacional não pode ser relegada a um segundo plano
e as forças armadas deveriam ter um orçamento impositivo, que permita um mínimo
planejamento a médio e longo prazo.
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