Coluna: Metalurgia do Pó
Fernando Iervolino | [email protected]
Posso Utilizar Cavaco de Usinagem para
Fabricar Peças?
E
sta é uma pergunta que frequentemente ouço em
palestras ou chegam até mim por email. Confesso
que a minha primeira reação era a de dar pouca
credibilidade à pergunta e dizer que isto não seria
possível, porém um dia destes um importante fabricante de cadeados me procurou com esta mesma pergunta.
Vendo esta uma oportunidade para encontrar aplicações para
peças sinterizadas, aceitei receber uma amostra de cavaco de latão
que era obtido durante a fabricação dos cadeados. Para minha
surpresa, vi que se tratava de um pó com uma granulometria adequada para compactação de peças porém infelizmente com uma
escoabilidade muito ruim, o que não permitiria o preenchimento
adequado do ferramental durante a compactação.
A partir deste evento, passei a interpretar esta pergunta
com mais cuidado e a tentar entender qual a aplicação desejada.
Como já comentamos diversas vezes nesta coluna, o processo de
Metalurgia do Pó é empregado em centenas de produtos e aplicações, indo desde peças automobilísticas de aço com alta precisão
dimensional até eletrodos de solda, passando pela área alimentícia,
de ligas metálicas, filtros, imãs, tratamento de água, etc. Minha
resposta era geralmente negativa a esta pergunta, porém, depois
da experiência relatada, passei a ver que o cavaco obtido pela usinagem era mais uma maneira de se obter pó metálico.
Falando em processo de fabricação, o mais utilizado para o
ferro, aço, latão, estanho e bronze é o de atomização, onde o material fundido vaza por um orifício e é agredido por um jato de água
ou gás, que acaba formando a partícula do pó. Pode-se também
fabricar estes e outros pós através de eletrólise, moagem, redução
de minério, redução de carepa, carbonila, eletrodo rotativo e...
usinagem! Qual o melhor? Depende... Qual é a sua aplicação? O pó
deve ser irregular ou esférico? Qual a distribuição granulométrica
e a densidade aparente? Qual o grau de pureza exigido? Qual será
a densidade do compactado?
As respostas a estas e outras perguntas definirão qual o tipo
de pó mais adequado e consequentemente qual o processo de
fabricação para sua obtenção. Vejamos o caso de fabricação de
peças de aço: As prensas fabricam de 10 a 30 peças por minuto,
com tolerância dimensional centesimal e uma variação de peso
abaixo de 1%, em um lote que geralmente supera 30.000 peças
por setup.
Para que o processo seja estável e capaz, a homogeneidade do
pó é muito importante, assim como a sua escoabilidade deverá
ser “rápida” para que a prensa possa trabalhar em alta velocidade.
Neste caso a atomização é o processo com melhor relação custo-benefício para este tipo de pó.
Por outro lado, pós metálicos podem ser utilizados para fabricação de, por exemplo, pigmentos para tintas, onde a escoabili-
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Metal Fundido
Jato de água
ou gás a alta
pressão
Fig. 1. Fabricação de pó metálico através da atomização
dade deixa de ser um fator importante. Neste caso o pó de latão
obtido por usinagem poderia ser aplicado sem problema.
Talvez também pudesse ser utilizado como reagente químico
ou outra aplicação que ainda não foi estudada. Independente do
caso, a pureza do material é muito importante e a presença de
contaminantes tais como óleo de corte devem ser observadas e,
caso necessário, corrigidas.
Concluindo, acredito que o pó de latão obtido por atomização é o mais adequado para fabricação de componentes de latão
sinterizados. Por outro lado, com certeza o cavaco de latão poderá
encontrar uma aplicação viável em alguma das centenas de aplicações onde a Metalurgia do Pó está presente.
Quer saber mais sobre esta técnica? Convido a visitar a página
www.metalurgiadopo.com.br. IH
Fernando Iervolino
Engenheiro mecânico com MBA em Gestão de
Empresas pela FGV. Powder Metallurgy Technologist
pela MPIF (USA), coordenador e co-autor da obra “A
Metalurgia do Pó” (2009), atuando com Metalurgia
do Pó desde 1990 nas empresas Qualisinter, Metalpó,
Grupo Setorial de Metalurgia do Pó e Höganäs, nas
áreas de P&D, projeto, automação e marketing.
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2013 - Revista Industrial Heating - Pós Metálicos