Às voltas com vendas fracas, WalMart espreme ainda mais seus fornecedores Por Paul Ziobro e Serena NG | The Wall Street Journal O WalMart Stores Inc. está ampliando a pressão sobre os fornecedores para que reduzam preços, numa tentativa de reconquistar o título de líder dos preços baixos e impulsionar as suas fracas vendas nos Estados Unidos. O gigante americano do varejo afirma que tem pedido aos fornecedores que abandonem os investimentos em marketing que fazem em conjunto com o varejista e usem essa economia para cortar preços. Fabricantes de produtos que vão desde fraldas a iogurtes normalmente reservam uma parcela do orçamento para investir em publicidade com o WalMart, seja em displays atraentes ou anúncios online. O WalMart há muito tem uma reputação de pressionar fornecedores a cortar custos para ajudar a reduzir os preços, mas a nova liderança do varejista acolheu o conceito com uma energia renovada. A vantagem de preço do WalMart em relação à concorrência está sendo corroída e o varejista vem continuamente perdendo participação no mercado nos EUA desde que a recessão terminou. Ao mesmo tempo, rivais como Kroger Co. e Costco Wholesale Corp. ganharam mercado, de acordo com dados da consultoria Kantar Retail. Com o crescimento das lojas de descontos, o WalMart está enfrentando ainda mais concorrência nos preços, que para muitos clientes é o fator mais importante em suas decisões de compra. A nova ênfase nos preços está gerando tensão nas companhias que colocam centenas de milhares de produtos nas prateleiras do WalMart. Embora a redução de preços por meio de cortes nos orçamentos de marketing dos fornecedores possa ajudar o WalMart a atrair mais clientes, a estratégia reduz o controle dos fornecedores sobre como seus produtos são exibidos ou promovidos, limitando sua capacidade de se sobressair em relação aos produtos dos concorrentes. Isso pode ser um problema num momento em que o WalMart e outras redes promovem suas marcas próprias. A preocupação com os preços é parte de uma iniciativa do novo diretorpresidente, Doug McMillon, e do líder das operações nos EUA, Greg Foran, para recuperar as vendas do WalMart no país. No ano fiscal encerrado em 31 de janeiro, a empresa registrou uma receita de US$ 288 bilhões nos EUA, ou 60% do total. Embora as vendas americanas tenham crescido 3% em 2014, a alta foi de só de 0,5% quando se exclui a abertura de novas lojas e o lucro da divisão caiu. Realizando investimentos pesados para cumprir sua promessa de elevar os salários e na criação de uma ampla operação de comércio eletrônico, o WalMart tem poucas opções para cortar custos, o que põe os fornecedores na mira do varejista. Foran e McMillon transmitiram a mensagem sobre os preços durante reunião privada com os fornecedores em fevereiro. Eles querem que os fornecedores operem com o mesmo modelo de preços baixos todo dia que o WalMart emprega para tudo. "Eles continuam pressionando: 'Nós vamos voltar ao básico, tudo tem a ver com preço baixo'", diz um fornecedor que participou da reunião. Acordos financeiros entre fornecedores e grandes varejistas não são apenas uma questão de acertar termos sobre volumes e preços de atacado. Eles frequentemente incluem uma série de extras como taxas de alocação de produtos, fundos para descontos promocionais e pagamentos por marketing compartilhado, que é especialmente importante para fabricantes de bens de consumo de marca. "Queremos voltar ao ponto em que atuamos agressivamente em preço devido à forma em que vamos ao mercado", disse McMillon. "Nossa estratégia de preços tem um objetivo, que é o de gerar confiança." O esforço para que os fornecedores realoquem seus investimentos de marketing reforça a duradoura estratégia de negócios da empresa de manter os custos baixos, diz Deisha Barnett, portavoz do WalMart. "É um modelo de negócios comprovado e que funciona", diz. Derek Ridenoure, exfuncionário do WalMart que agora trabalha na C.F. Sauer Co., empresa que fornece temperos, misturas para saladas e outros produtos alimentícios processados, diz que uma equipe do WalMart monitora de perto os preços das commodities e pede aos fornecedores que reduzam os custos sempre que observa movimentos de queda nas cotações dos ingredientes. Neste ano, depois que os preços da soja atingiram mínimos recorde recentemente, o WalMart pediu a Ridenoure para reduzir seus preços, já que o óleo de soja é um ingrediente essencial para muitos condimentos produzidos pela C.F. Sauer. "Inicialmente, eu recusei", diz Ridenoure, que argumentou que os preços da soja poderiam subir de novo se os produtores migrassem para outras culturas. A resposta do WalMart foi que se os preços da soja voltassem a subir, os fornecedores poderiam elevar seus preços novamente. A empresa de Ridenoure acabou concordando em oferecer descontos para pedidos maiores. Recentemente, no que foi amplamente visto como uma medida para pressionar a Procter & Gamble Co. a reduzir os preços de seu popular detergente Tide, o WalMart fechou um acordo com a Henkel AG para que a empresa do setor de consumo lançasse uma nova marca de detergente "premium", o Persil, exclusivamente nos supermercados do WalMart. O varejista está vendendo o Persil pelo mesmo preço do Tide e os dois dividem as mesmas prateleiras. Barnett diz que o WalMart decidiu vender o Persil nos EUA para ampliar a variedade de seus produtos de lavanderia. Um portavoz da P&G não comentou sobre a relação da empresa com o WalMart, mas disse que ela vê com bom olhos a concorrência no setor de detergentes. Foran, que em agosto se tornou diretorpresidente e diretorsuperintendente do WalMart nos EUA, depois de comandar a divisão da Ásia, falou ontem com analistas de Wall Street para detalhar seu "plano de ataque" para a divisão americana. Ele disse que quer lojas mais limpas, arrumadas e com funcionários engajados. Disse também que as lojas locais terão mais autonomia para tomar decisões quanto a preços e promoções e que a remuneração dos gestores estará mais vinculada à satisfação dos consumidores. A divisão americana do WalMart está no estágio inicial de uma reviravolta, tendo registrado dois trimestres consecutivos de crescimento nas vendas nas lojas abertas há mais de um ano, após um longo período de queda. Os executivos do varejista atribuíram parte do desempenho à queda dos preços da gasolina, que levou alguns consumidores a gastar mais e a percorrer um trajeto maior até as lojas do supermercado. Os lucros, porém, estão fracos e Foran vem se encontrando com antigos executivos da empresa para entender qual era o diferencial do varejista durante seu auge. Foran é um discípulo de Jack Shewmaker, exexecutivo e membro do conselho do WalMart que desenvolveu a estratégia de preços baixos todo dia e morreu em 2010. Fonte: Valor Econômico