ANA CAROLINA OLIVEIRA DE ANDRADE PINTO ANÁLISE DO USO DO CAPITAL SOCIAL – UM ESTUDO DE CASOS EM UMA INCUBADORA DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO 2008 ii ANÁLISE DO USO DO CAPITAL SOCIAL – um estudo de casos em uma incubadora do Rio de Janeiro Ana Carolina Oliveira de Andrade Pinto Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ Dissertação de Mestrado Orientadora: Profª Ursula Wetzel, PhD Rio de Janeiro 2008 iii ANÁLISE DO USO DO CAPITAL SOCIAL – Um estudo de casos em uma incubadora do Rio de Janeiro Ana Carolina Oliveira de Andrade Pinto Dissertação de Mestrado submetida ao corpo docente do Programa de Pós-graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre. Aprovada por: _________________________________________________________ Prof.ª Ursula Wetzel, PhD – Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ ________________________________________________________ Prof ª Adriana Hilal – Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ. ________________________________________________________ Prof. Antônio Botelho – PUC-Rio Rio de Janeiro 2008 iv FICHA CATALOGRÁFICA Pinto, Ana Carolina Oliveira de Andrade Análise do uso do capital social – um estudo de casos em uma incubadora do Rio de Janeiro / Ana Carolina Oliveira de Andrade Pinto. Rio de Janeiro: UFRJ/ COPPEAD, 2008. xi, 162p. ; Il. (Dissertação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD, 2008. Orientadora: Ursula Wetzel 1. Capital social. 2. Incubação de empresas. 3. Empreendedorismo. 4. Tese (Mestr. – UFRJ/ COOPEAD). 5. Orientadora. I. Título. v AGRADECIMENTOS Aos meus pais e meus irmãos, por tudo, sempre. Ao Fabiano, pelo amor, carinho, paciência e apoio. Ao meu querido sogro Person, por, com toda a coragem e bravura, ter feito esta dissertação acontecer. À minha orientadora Ursula, pela competência e pelo apoio imprescindível que tornou tudo possível. Aos meus amigos do COPPEAD, por terem feito desta trajetória algo muito mais prazeroso. Aos amigos, pela torcida. Ao Instituto COPPEAD, por me ensinar que nada é impossível. vi RESUMO Pinto, Ana Carolina Oliveira de Andrade. Análise do uso do capital social – um estudo de casos em uma incubadora do Rio de Janeiro. Orientadora: Ursula Wetzel. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação (Mestrado em Administração) Parte da vida das pessoas é dedicada à construção de grupos sociais, com seus vizinhos, parentes e amigos. Forma-se assim uma rede em torno de cada indivíduo que pode ser utilizada em momentos diversos. Assim como acontece no âmbito pessoal dos indivíduos, muitos estudos já discutem a importância do capital social também para o bom desenvolvimento de negócios, mas é ainda pequena a parcela destes estudos que trata de empreendimentos nascentes. Novos negócios são importantes para a economia por serem importantes fontes de inovação. No entanto, a taxa de sobrevivência destes negócios é ainda muito baixa, principalmente devido a dificuldades de gestão e de aquisição de capital de risco. A incubação de empresas tem se mostrado uma opção viável para aumentar a sobrevivência de novos negócios. Neste trabalho buscamos compreender como as empresas incubadas mobilizam e utilizam o capital social para o atendimento de suas necessidades. Para isso, foram realizadas entrevistas com oito empresas incubadas na Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis da PUC-Rio. Os resultados das entrevistas mostraram que o capital social tem um papel importante no desenvolvimento de empresas incubadas, sendo utilizado para alavancar diversos tipos de recursos, como informação, apoio, tecnologia e capital. Palavras-chave: capital social; incubação de empresas; empreendedorismo; recursos. vii ABSTRACT Pinto, Ana Carolina Oliveira de Andrade. Análise do uso do capital social – um estudo de casos em uma incubadora do Rio de Janeiro. Orientadora: Ursula Wetzel. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação (Mestrado em Administração) Great part of people’s lives is dedicated to the construction of social groups, with neighbors, relatives and friends. In doing so, a network is formed around each individual and it can be mobilized at any moment. As it happens in the personal sphere of someone’s life, many studies nowadays discuss the importance of social capital to efficient business development, but the share of studies dealing with newly founded business is still small. New firms are important to the economy, as they are important sources of innovation. Nevertheless, the survival rate of these businesses is still very low, mainly due to management and risk capital acquisition impairments. Business incubation has shown to be a viable option to increase the survival rate of newly founded firms. In this work, we tried to undertand how incubated enterprises mobilize and use social capital to fulfill their needs. For that, we conducted interviews with eight firms incubated at the Technology Incubator of Instituto Gênesis (PUC-Rio). The results of the interviews showed that social capital has a major role on the development of incubated firms, being used to mobilize different kinds of resources, such as information, support, technology and financial capital. Keywords: social capital; firm incubation; entrepreneurship; resources. viii LISTA DE FIGURAS Figura 1: Modelando uma teoria de capital social ................................... 25 Figura 2 : A tríade proibida ...................................................................... 27 Figura 3: Relação entre pontes e governança ..........................................30 Figura 4: Dimensões do capital social ......................................................31 Figura 5: Modelo do processo empreendedor ..........................................43 Figura 6: Empreendendo por redes ..........................................................46 Figura 7: O processo dinâmico de incubação, empreendedorismo e redes de anjos ............................................................................................. .... 55 Figura 8: O contínuo da incubação de empresas .....................................60 Figura 9: Modelo conceitual ......................................................................69 Figura 10: Modelo conceitual aplicado a B-mobile ...................................87 Figura 11: Modelo conceitual aplicado a Córtex Intelligence ...................90 Figura 12: Modelo conceitual aplicado a Dínamo DM ..............................94 Figura 13: Modelo conceitual aplicado a E-create .................................. 97 Figura 14: Modelo conceitual aplicado a Prime Up ................................. 100 Figura 15: Modelo conceitual aplicado a PV Inova ...................................104 Figura 16: Modelo conceitual aplicado a Silicon Strategy ....................... 107 Figura 17: Modelo conceitual aplicado a Superwaba .............................. 110 ix SUMÁRIO 1. Introdução .............................................................................................. 1 1.1 – O problema ........................................................................................ 2 1.2 – Objetivos final e intermediários ......................................................... 6 1.3 – Suposições ....................................................................................... 7 1.4 – Delimitação do estudo ...................................................................... 8 1.5 – Relevância do estudo ........................................................................ 9 2. Revisão de literatura .............................................................................. 11 2.1 – Capital social .................................................................................... 12 2.1.1 – Diferentes abordagens disciplinares ............................................. 13 2.1.2 – Confiança, valores e normas de reciprocidade .............................. 21 2.1.3 – Modelos ......................................................................................... 24 2.1.4 – Medição do capital social ............................................................... 34 2.1.5 – Cyber networks .............................................................................. 37 2.1.6 – O lado negativo do capital social ................................................... 39 2.2 – Capital social e empreendedorismo .................................................. 42 2.3 – Incubadoras ........................................................................................51 2.3.1 – Incubadoras no Brasil ......................................................................57 2.3.2 – Tipos de incubadoras ..................................................................... 59 2.3.3 – Incubadoras e capital social ........................................................... 64 2.4 – Modelo conceitual ...............................................................................67 x 3. Metodologia ............................................................................................. 71 3.1 – A pesquisa qualitativa ......................................................................... 72 3.2 – Unidade de investigação ................................................................... 75 3.3 – Coleta e análise de dados ................................................................. 76 3.4 – Limitações da pesquisa qualitativa ..................................................... 78 3.5 – Limitações da metodologia ................................................................. 79 4. Resultados e discussão ........................................................................... 80 4.1 – Empresas do estudo ........................................................................... 81 4.1.1 – Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis – PUC-Rio ............... 81 4.1.2 – B-mobile .......................................................................................... 85 4.1.3 – Córtex Intelligence ........................................................................... 88 4.1.4 – Dínamo DM ..................................................................................... 92 4.1.5 – E-create …………………………………………………………………..95 4.1.6 – Prime Up ………………………………………………………………….98 4.1.7 – PV Inova ………………………………………………………………….101 4.1.8 – Silicon Strategy ................................................................................ 105 4.1.9 – Superwaba ....................................................................................... 108 4.2 – Análise e discussão ..............................................................................111 4.2.1 – Intenção .............................................................................................111 4.2.2 – Busca e descoberta de oportunidades ..............................................115 4.2.3 – Decisão de explorar ..........................................................................118 4.2.4 – Atividades de exploração ................................................................ 121 xi 4.2.5 – Atividades empresariais genéricas ................................................. 124 4.2.6 – Vendas Iniciais ................................................................................ 130 4.2.7 – Desenvolvimento do produto .......................................................... 134 4.2.8 – Continuidade do negócio ................................................................ 137 5. Conclusões e sugestões para futuras pesquisas ................................... 141 6. Referências Bibliográficas ...................................................................... 149 7. Anexos .................................................................................................... 161 7.1 – Roteiro de entrevista para empresas incubadas ............................... 162 1. INTRODUÇÃO 2 1.1 – O problema O tema capital social é conhecido por muitos e sempre esteve inserido no cotidiano, intuitivamente. Grande parte da vida das pessoas é dedicada à construção de uma rede social, isto é, à manutenção de vínculos com seus vizinhos, parentes e amigos. Forma-se assim uma rede em torno de cada indivíduo, que pode ter diferentes expressões e distintos significados. Esta rede pode ser acionada em momentos de conflito e/ou crise, aproveitada em momento de lazer e/ou usada para alavancar oportunidades. A ausência de certos contatos importantes em sua rede é também um fator de extrema importância, pois pode ocasionar perdas em determinadas situações, como ser deixado de fora de decisões importantes, ou ainda não receber a esperada promoção no emprego por falta dos contatos certos (WOOLCOCK, 2001). Deve-se ter em mente, no entanto, que o capital social também tem seus pontos contraproducentes, na forma de conexões negativas ou de uma rede fechada, que não permite a entrada de novos participantes. Tome-se como exemplo o caso dos pais que estão sempre preocupados com os amigos de seus filhos, com medo de que sejam “más companhias”. Em nível institucional, um bom exemplo do lado negativo do capital social seria o nepotismo, prática ainda difundida no Brasil, que mostra que conexões pessoais podem ser usadas para o favorecimento de poucos (WOOLCOCK, 2001). 3 A conclusão acerca dos efeitos positivos do capital social vem de diversos estudos em diferentes áreas de conhecimento, tais como a de saúde pública e a de organizações (GITTELL & VIDAL, 1998; KAWACHI, KENNEDY & GLASS, 1999; BURT, 2000; FERNANDEZ, CASTILLA & MOORE, 2000) e consiste na idéia de que pessoas com boas conexões sociais têm maior propensão a ter um padrão de vida mais elevado, incluindo emprego, casa, acesso a saúde, felicidade e a outros bens (direitos sociais, econômicos e culturais). Os estudos indicam, após o isolamento de outras variáveis, que estas pessoas têm mais chance de ingressarem no mercado de trabalho, de serem promovidas, de receberem maiores salários, de terem melhores avaliações por parte de seus colegas, de faltarem menos ao trabalho e até de viverem mais. No campo da Administração, uma atenção maior tem sido dada ao capital físico e ao capital humano, como se investimento e mão-de-obra especializada fossem suficientes para o sucesso de qualquer empreendimento. No entanto o capital social é também um importante recurso administrativo. Tome-se, como exemplo, a importância das alianças estratégicas, principalmente em áreas de alta inovação tecnológica, como a biotecnologia e o desenvolvimento de softwares, que são baseadas em capital social (WENGER & SNYDER, 2000). Além disso, é mais fácil e agradável fazer negócios em um ambiente de cooperação e comprometimento mútuo. Quanto maiores os níveis de capital humano, maior a presença também do capital social (WOOLCOCK, 2001). 4 Muitos estudos já discutem a importância do capital social para o bom desenvolvimento de negócios (WOOLCOCK, 2001; BARON & MARKMAN, 2003), mas é ainda pequena a parcela destes estudos que trata de empreendimentos nascentes. Novos negócios são importantes para a economia mundial por serem importantes fontes de inovação. No entanto, a taxa de sobrevivência destes negócios é baixa, principalmente devido a dificuldades de gestão e de aquisição de capital de risco (ALLEN & RAHMAN, 1985; SMILOR & GILL, 1986). A incubadora de empresas é justamente uma tentativa de contornar estes obstáculos iniciais e aumentar em muito a chance destes novos negócios crescerem (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005). O número de incubadoras de empresas no Brasil ainda é bastante reduzido, principalmente quando comparamos com países mais desenvolvidos. A proposta usada em outros países de instalar incubadoras para promover o desenvolvimento industrial de regiões pouco desenvolvidas parece ser interessante para o caso brasileiro, que tem um pólo industrial muito concentrado. Estudar e entender a dinâmica do desenvolvimento de empresas nascentes em incubadoras no Brasil adquire, assim, relevância, na medida em que a literatura internacional descreve modelos de incubação diferentes dos observados aqui. Dado que os mecanismos de incubação têm falhas e, por isso, podem na suprir todas as necessidades das empresas incubadas e o entendimento de 5 como funciona o capital social é importante para novos negócios é proposta deste trabalho responder à seguinte pergunta: como as empresas incubadas mobilizam e utilizam o capital social para o atendimento de suas necessidades? 6 1.2 – Objetivos final e intermediários O objetivo principal deste estudo foi determinar de que forma as necessidades de empresas incubadas foram supridas a partir do uso do capital social durante o seu desenvolvimento. Para alcançar tal objetivo, foi necessário atingir os seguintes objetivos intermediários: - Entender as fases pelas quais as empresas passaram e como ocorreu o processo de incubação; - Identificar os recursos básicos necessários ao desenvolvimento das empresas incubadas; - Identificar como o capital social auxiliou na aquisição destes recursos básicos; - Caracterizar o laço presente nas relações sociais observadas como facilitadoras da aquisição de recursos básicos; 7 1.3 – Suposições Supomos que as empresas incubadas, mesmo estando localizadas dentro de um ambiente mais seguro em relação à aquisição de seus recursos básicos, ainda façam bastante uso de seu capital social. Isso porque certas necessidades podem não estar sendo supridas pela incubadora, tanto por não estarem dentro do escopo de ajuda que a incubadora provê, quanto por ser uma necessidade particular da empresa. Acreditamos também que as incubadoras, já tendo percebido a importância das redes de relacionamento, possam realizar algum esforço no sentido de alavancar capital social para as empresas incubadas. 8 1.4 – Delimitações do estudo A nossa pesquisa será realizada em empresas residentes em uma incubadora e, por isso, é válido esclarecer que não estaremos avaliando o processo de incubação desenvolvido por esta incubadora especificamente. Todas as empresas pesquisadas têm base tecnológica, o que aproxima bastante o seu perfil. É possível que empresas incubadas com bases diferentes possam não dividir as mesmas características no uso do capital social. Além disso, o trabalho estará concentrado no estudo do uso do capital social dentro das empresas incubadas, sem levar em conta os índices de sucesso dos empreendimentos ou os produtos por eles comercializados. 9 1.5 – Relevância do estudo O capital social no processo empreendedor vem recentemente sendo objeto de estudo de muitos pesquisadores. (JENSSEN & KOENIG, 2002; LARSON & STARR, 1993) A sua relevância torna-se cada vez maior frente ao mundo industrializado e globalizado de hoje, onde a rede de relacionamento de cada indivíduo passa a ser um ativo de grande valor. Ao mesmo tempo, a incubação de empresas torna-se uma idéia cada vez mais atraente para ajudar a garantir o sucesso de novos empreendimentos, muito importantes para países em desenvolvimento como o Brasil, principalmente no que diz respeito ao fomento do desenvolvimento de certas regiões. (ALLEN & MCCLUSKEY,1990; SMILOR & GILL, 1986). Esta pesquisa une estes dois assuntos, buscando entender o papel do capital social nas empresas incubadas e assim preencher uma lacuna presente no estudo destes dois temas no Brasil. Assim, este trabalho pode auxiliar o entendimento do papel do capital social no processo de desenvolvimento de negócios nascentes por empreendedores incubados e gestores de incubadoras. Os resultados podem mostrar a atuais e futuros empreendedores a importância de se construir uma sólida e diversificada rede social, além de apontar às incubadoras que uma base de capital social pode permitir às 10 empresas residentes acesso a recursos básicos e a um desenvolvimento mais eficiente. 11 2. REVISÃO DE LITERATURA 12 2.1 - Capital social O capital social e suas propriedades têm sido amplamente discutidos na literatura proveniente da área de Economia, Sociologia e Ciências Políticas, tendo o interesse por este assunto crescido cada vez mais. De acordo com Pope (2003), a popularidade da idéia de capital social, advém de duas fontes. Primeiramente, o conceito trata principalmente dos aspectos positivos das relações humanas, deixando de lado os aspectos negativos destas interações. Em segundo lugar, ao falar de capital social, há um foco muito maior na idéia não-monetária de capital, havendo, mesmo assim, um aspecto de poder e influência embutido no conceito. Por isso, essa segunda fonte é interessante no mundo dos negócios, já que permite a busca de soluções para questões diversas, com custos menores. Há grande questionamento no uso da palavra “capital” na expressão “capital social”, dado que alguns estudiosos não acreditam que se possa quantificar, tangibilizar ou até mesmo unificar um conceito que está baseado em diversas correntes de pensamento diferentes e em interações sociais diversas (PAWAR, 2006). 13 2.1.1 - Diferentes abordagens disciplinares Apesar de o capital social já ser discutido há algum tempo - acredita-se que desde 1890 (GROOTAERT & BASTELAER, 2001) – foi nas décadas de 80 e 90 que a publicação de três autores sobre capital social, com visões e definições diferentes, gerou a disseminação do assunto. Estes trabalhos têm sido encarados desde então como diferentes escolas de pensamento sobre capital social (BAUM & ZIERSCH, 2003). A primeira escola é fundamentada nos trabalhos de Robert Putnam (1993 e 1995), que tem como base o estudo de relações sociais e engajamento civil e seus resultados. Putnam (1995) define o capital social como “características de uma organização social como as redes, as normas e a confiança social que facilitam a coordenação e a cooperação para benefício mútuo” (p. 67). Além disso, neste trabalho, ele postulava que o capital social era um recurso a ser usado em nível de comunidade. Em um outro trabalho, de 2001, Putnam diz que a idéia central do capital social é o valor gerado pelas normas e reciprocidades das redes sociais, além das externalidades que este processo gera e, portanto, o valor gerado pelo capital social é tanto público quanto individual. Além disso, o autor faz menção às diferentes dimensões do capital social, que devem ser sempre levadas em conta, já que este não é homogêneo. 14 A segunda escola baseia-se no trabalho de Bourdieu (1986), que define capital social como “um agregado de fontes potenciais e atuais que estão ligadas à possessão de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de conhecimento e reconhecimento mútuo” (p. 248). Esta visão é referente ao que cada indivíduo pode obter de suas conexões sociais. Para Bourdieu, o lado econômico do capital social é importante e deve ser sempre observado, mas não se pode reduzí-lo a somente esta dimensão. Portes (1998) acredita que a definição de Bourdieu referente ao capital social é a mais teoricamente acertada dentre os autores que discutem a temática. A terceira escola é balizada nos trabalhos de Coleman (1988) que trabalha com foco maior na área de Educação. Desde a década de 70, Coleman começou a desenvolver as Fundações da Teoria Social (COLEMAN, 1990), segundo a qual os atores do processo e os recursos estão ligados por interesses, que governam as ações e relações de controle. O capital social surge, então, como característica de uma estrutura social que facilita as ações, podendo ser classificado como confiança e obrigação, informação disseminada através de redes, sistemas regidos por normas, estruturas autoritárias, etc. Ou seja, Coleman enxerga o capital social como uma forma de organização social, mais do que como uma variável. Outros autores de disciplinas distintas também participam desta discussão sobre o conceito do capital social, o que traz ênfases diferentes atribuídas a tradições disciplinares diversas. 15 Uphoff (2000) separa o capital social em dois tipos principais: estrutural e cognitivo. O capital social estrutural facilita o fluxo de informações e as ações coletivas através de redes sociais com papéis definidos e regras claras. O capital social cognitivo refere-se à confiança, atitudes, normas e valores divididos entre um grupo de pessoas, tendo, portanto, caráter mais subjetivo. Paul Collier indica em seu trabalho de 1998 que “o capital social é chamado de ‘social’ porque envolve pessoas sendo sociáveis” (p. 14). Aplicando uma análise mais econômica, o autor discute que o fator social advém da interação não-comercial de agentes, e que esta interação tem também efeitos econômicos. No entanto, como estas conexões não entram nos cálculos financeiros das empresas, são consideradas externalidades. Para Collier, o capital social é definido por três parâmetros: Primeiro, a iniciação da interação social sempre envolve uma externalidade [...]. Em segundo lugar, a interação social tem um efeito econômico que não é mediado pelo mercado. Em terceiro lugar, normalmente, este efeito econômico não é o propósito inicial da interação social, mas sim incidental ou até não-pretendido. (Collier, 1998, p. 14) Para que o capital social tenha importância econômica, devemos levar em conta também que os efeitos econômicos gerados devem persistir. Esta persistência pode ocorrer de duas formas: por meio da composição da 16 interação social ou por sua estrutura. Em suma, o capital social é um subconjunto das externalidades geradas pelas interações sociais duráveis e das interações sociais que, mesmo menos extensas em tempo, têm efeitos duráveis (COLLIER, 1998). Collier foi capaz de reconhecer a importância do capital social para a economia. No entanto, as teorias econômicas sempre tenderam a ser bastante míopes em relação à importância das relações sociais. A esse respeito, Granovetter introduziu em 1985 o conceito de “embeddedness”, ao qual nós vamos nos referir aqui como “inserção”. O autor discute a impressão que muitos estudiosos de diversas áreas tinham de que as sociedades pré-mercantilistas estavam profundamente inseridas em interações sociais e que, com a modernização, elas se tornaram mais autônomas. Outros autores, como Adam Smith (apud GRANOVETTER, 1985), acreditavam ainda que a inserção observada em sociedades pré-mercantilistas não era tão maior do que a notada hoje em dia. Granovetter afirma que grande parte do comportamento humano está inserida fortemente em relações sociais. Os economistas consideram que relações sociais, quando existentes, entre participantes de uma negociação, têm o papel único de causar rupturas e atritos nas sociedades modernas. Mas Granovetter descarta essa idéia de que os processos mercantis não podem ser abordados pela lente sociológica. Análises de estudos econômicos, que têm como foco principal o indivíduo e suas metas, quando analisados sob o 17 conceito de inserção, revelam que características sociais têm efeitos centrais, e não periféricos. O trabalho de Lin (1999) traz uma grande revisão do tema do capital social, analisando muitos dos autores que já tinham comentado o capital social até o momento, e propõe então a elaboração de uma Teoria de Rede. Lin afirma que a noção de capital social é “o investimento em relações sociais com expectativa de retorno” (p. 3), e esta noção é consistente com o discurso dos muitos autores analisados. A justificativa de porque o capital social é capaz de melhorar ações futuras vem de três fatores específicos: • Facilitação do fluxo de informações: devido às imperfeições do mercado, laços sociais em posições específicas podem render informações úteis sobre oportunidades únicas; • Influência dos laços sociais sobre os agentes: conhecer pessoas em posições estratégicas pode gerar valorização de recursos através do exercício de poder; • Credenciais sociais: refletem a acessibilidade do indivíduo a recursos através de seus laços sociais, ou seja, é o capital social que cada um tem a adicionar. A abordagem de Lin é uma abordagem individual do capital social. Na perspectiva do capital social como um ativo coletivo, há discussão entre diversos autores. Para Bourdieu (1980), o capital social é mais uma forma de 18 manter e reproduzir as classes dominantes, fazendo com que os indivíduos mais privilegiados de uma sociedade possam se conhecer e se reconhecer mutuamente, reforçando sempre o seu status de classe dominante pela reprodução dos diferentes tipos de capital. Coleman (1990) tem uma visão diferente. Como a sua definição de capital social é mais ampla, como foi visto anteriormente, o autor considera-o um bem público. Sendo assim, a disponibilidade de capital social é para todos os membros do grupo, independentemente de quem de fato sustenta e contribui com os recursos. Por isso, os esforços em relação ao capital social dependem da boa vontade dos membros e também de normas, sanções, autoridade e confiança. Os dois autores mencionados acima, no entanto, concordam que o fechamento de grupos e redes é importante para o capital social, mas por motivos diferentes. Bourdieu observa que o fechamento facilita o reconhecimento dos indivíduos de uma mesma classe, enquanto Coleman argumenta que o fechamento auxilia o ganho de confiança e autoridade entre os membros de um mesmo grupo. Lin (1999) discorda dos dois autores, afirmando que o fluxo e a disseminação de informações se beneficiam da abertura das redes sociais. Além disso, o fechamento pode ser importante para a manutenção de recursos 19 existentes, mas a procura e busca por novos recursos, neste caso, seria prejudicada. Diversos autores citados anteriormente, como Coleman, Bourdieu, Putnam, Granovetter e Lin, deram contribuições fundamentais para a elaboração de definições do capital social na literatura. No entanto, até hoje ainda é difícil unificar um conceito sobre o assunto, dado que cada autor segue a linha de pensamento de sua área de trabalho (PAWAR, 2006). Em suma, o capital social assume, principalmente, as conseqüências positivas da sociabilidade, colocando-as em uma discussão mais abrangente sobre capital, e então chama atenção para como isto pode ser importante para acessar recursos. A chance de usar diferentes tipos de capital reduz a distância entre as perspectivas sociológicas e econômicas, o que possibilita a busca por soluções de custo reduzido. Enquanto o capital econômico está baseado no dinheiro e o capital humano no conhecimento, o capital social depende do relacionamento de cada indivíduo. Ou seja, diferente dos outros tipos de capital, o capital social não tem como fonte de recursos o próprio indivíduo, e sim a estrutura em forma de uma rede de relacionamentos de que cada indivíduo inserido em um contexto social dispõe. Portanto, esta rede vai possibilitar o acesso a recursos e, como veremos a seguir, existem características importantes nesta relação entre indivíduos que podem assumir o papel de fontes ou de receptores de recursos, como por exemplo, as normas de reciprocidade e a confiança (PORTES, 1998). 20 Para facilitar o entendimento deste estudo, assumiremos como definição do capital social o conceito levantado por Lin (1999), que diz que capital social é “o investimento em relações sociais com expectativa de retorno” (LIN, 1999, p. 3), já que esta definição é a que melhor se alinha ao objetivo deste trabalho. 21 2.1.2 – Confiança, valores e normas de reciprocidade Desde a década de 60, os economistas começaram a introduzir a noção de capital humano, argumentando que trabalhadores educados e saudáveis poderiam influenciar os fatores de produtividade (SCHULTZ; BECKER apud WOOLCOCK, 1998). No entanto, podemos imaginar que idéias inovadoras, combinadas a indivíduos bem treinados, não têm tanta valia se estes indivíduos não tiverem acesso a outros que possam prover informações adicionais e assistência. Isso porque qualquer empreendedor tem chance maior de sucesso se seu relacionamento com fornecedores, colaboradores e clientes tem uma base de confiança, cooperação e comprometimento (WOOLCOCK, 1998). Como já foi visto na seção anterior, diversos autores mencionam em suas definições de capital social os conceitos de confiança, valores e normas. Esses conceitos contêm diferentes tipos de motivação que um indivíduo tem para disponibilizar recursos para outros com quem ele mantém relações sociais (COLEMAN, 1990; PUTNAM, 1995). Inicialmente, existem as normas internalizadas, que fazem parte dos valores de cada indivíduo e da comunidade em que ele está inserido. Como exemplo, é prática comum na sociedade em geral as pessoas honrarem suas dívidas e, por isso, outras pessoas podem conceder empréstimos sem tanta 22 dúvida. Assim, a consciência destas normas internalizadas torna-se uma fonte de recurso para outros indivíduos (COLEMAN, 1988). Já as normas de reciprocidade são um tipo de troca não-econômica, um acúmulo de obrigações. Neste caso, um doador provê acesso a recursos na expectativa de receber uma recompensa no futuro. Este tipo de transação não se assemelha a transações econômicas por dois motivos: a “moeda” para recompensa não será obrigatoriamente a mesma do recurso provido e o tempo para pagamento da recompensa não é previamente especificado (SIMMEL, 1964; BLAU, 1964; COLEMAN, 1994). A confiança é comum nas relações interpessoais e, neste caso, existe uma garantia de retorno do favor. No caso de indivíduos inseridos em comunidade, as relações entre o grupo garantem a recompensa, não sendo admissível o não-pagamento. Ou ainda indivíduos podem usar a doação de recursos para ganhar aprovação e confiança do grupo em que estão inseridos (DURKHEIN, 1984; PORTES, 1998). Existe ainda a solidariedade, que se manifesta entre indivíduos que possuem situações de vida comuns. Por exemplo, operários de fábricas, que estão ligados por uma comunidade, e que podem até mesmo participar de greves para apoiar seus companheiros (COLEMAN, 1990; PORTES & SENSENBRENNER, 1993). 23 Performances institucionais dependem, para facilitar o seu desenvolvimento, de confiança, normas de reciprocidade e cooperação, que são desenvolvidos a partir de relações sociais. Alguns autores consideram estes aspectos das relações sociais a definição de capital social, atendo-se mais ao conteúdo das relações sociais do que à sua estrutura de rede. Rothstein e Stolle (2002) definem o capital social, em linhas gerais, como a confiança generalizada. Já outros autores discutem que, se o capital social é o levantamento de recursos através das redes relacionais de um determinado indivíduo, então se deve conhecer a fundo o conteúdo dessas redes para entender porque normas, confiança e valores não servem a qualquer indivíduo da mesma forma (GABBAY & ZUCKERMAN, 1998). 24 2.1.3 - Modelos Diversos autores tentam postular modelos para o capital social. A exploração destes modelos pode nos ajudar a entender melhor o conceito de capital social. Lin (1999) propõe três processos para serem levados em conta na preparação de um modelo: o investimento em capital social, o acesso e a mobilização de capital social e o retorno do capital social. Além disso, o autor considera que as conseqüências serão obtidas através de ação instrumental ou ação expressiva. O primeiro tipo de ação trata de recursos a serem adicionados e pode significar retorno político, social ou econômico, sendo sempre gerada adição de recursos. O retorno econômico seria bem explícito. Como exemplo de retorno político, podemos apontar o ganho de posições em uma hierarquia. Já o retorno social, é mais difícil de ser identificado, mas pode ser visto principalmente na formação de boa ou má reputação. Já a ação expressiva funciona como meio de consolidar e manter recursos já existentes. Esse tipo de ação ocorre através da mobilização de outros que possuem os mesmos interesses, para que os recursos possam ser divididos e, assim, mantidos. 25 Figura 1: Modelando uma teoria do capital social (LIN, 1999) O autor coloca como primeiro bloco da teoria a desigualdade, que é gerada pela distribuição diferenciada de recursos sociais. Esta desigualdade é determinada também pelas diferenças estruturais, como níveis culturais, educacionais, industriais ou de tecnologia, e pelas diferenças posicionais, como as diferentes posições que as pessoas assumem dentro da estrutura, seja ela política, econômica ou social. No segundo bloco, o de capitalização, estão caracterizados o acesso ao capital social e o uso do capital social, ambos representando a mobilização. O modelo então, levando em conta a distribuição desigual, entende que um indivíduo qualquer é capaz de mobilizar capital para seu próprio uso. 26 O terceiro bloco é o resultado da mobilização destes recursos, representa o efeito obtido a partir do processo. A pergunta que mais intriga os estudiosos é por que algumas pessoas conseguem gerar melhores resultados que outras a partir da mobilização de um mesmo recurso. Lin (1999) argumenta que algumas pessoas podem estar mais bem posicionadas dentro da rede. Granovetter (1973) também desenvolve esta idéia, como veremos a seguir. Granovetter, autor citado de forma recorrente na literatura sobre capital social, desenvolveu a idéia de que a força dos laços, definidos como as relações interpessoais que cada pessoa tem, é muito importante na dinâmica do fluxo de informações e influências em uma sociedade. Os laços podem ser fortes ou fracos, e esta força é proporcional à combinação da quantidade de tempo, intensidade emocional, intimidade e dos serviços recíprocos que compõem o laço. Entende-se que estas características estão correlacionadas, mas que não é necessário dar a elas pesos diferentes na avaliação da intensidade do laço, já que a definição de laços fortes, fracos ou ausentes é bastante intuitiva (GRANOVETTER, 1973). O autor propõe que, se uma pessoa A tem um laço, independentemente de sua força, com uma pessoa B e também com uma pessoa C, há chance dessas duas pessoas B e C formarem também um laço entre elas depois de se conhecerem. Essa chance é proporcional à força do laço A-B e A-C. O autor explica até mesmo que, se estes laços (A-B e A-C) forem fortes, é quase impossível que B e C não formem um laço, mesmo que fraco. Portanto, a tríade abaixo seria proibida. 27 Figura 2: A tríade proibida (Granovetter, 1973) O argumento faz sentido já que uma das características de um laço forte é o tempo que as partes passam juntas. Por isso, a chance de B e C se encontrarem diversas vezes por intermédio de A é grande. Além disso, se B e C mantêm um laço forte com A, há grandes chances de eles serem semelhantes em vários sentidos e, por isso, terem afinidades. Para entender a importância dos laços fracos, deve-se ter em mente a definição de “ponte”, que é caracterizada por “uma linha em uma rede que fornece o único caminho entre dois pontos” (HARARY, NORMAN & CARTWRIGHT, 1965, p.198). Dado isto, supondo uma ponte A-B, e considerando que tanto A quanto B têm diversos contatos, podemos dizer que esta ponte é o único caminho por onde qualquer informação pode fluir entre os contatos de A e os contatos de B. O modelo de ponte será discutido mais à frente novamente. 28 Observando a figura 2, pode-se concluir que uma ponte será quase sempre um laço fraco. Isso devido à improbabilidade da existência da tríade mostrada na figura, já que se um laço A-B é forte, este laço só pode ser uma ponte se A não tiver nenhum outro laço forte, o que só pode ocorrer em pequenos grupos. Após a aplicação de algumas análises, Granovetter aponta que o fluxo de informações, influências ou qualquer outra coisa é diretamente proporcional ao número de caminhos positivos que conectam estas duas pessoas e inversamente proporcional ao tamanho do caminho percorrido, já que a extensão demasiada de um caminho pode ocasionar perda de qualidade da transmissão. Unindo as informações acima, temos que os laços fracos que formam pontes criam um número maior de caminhos, sendo estes ainda mais curtos. Por isso, pode-se fazer a informação fluir mais através de uma distância maior usando laços fracos do que usando laços fortes. Sendo assim, Granovetter conclui que a perda de um laço fraco e a conseqüente remoção de um caminho entre pontos arbitrários ocasiona mais perdas do que a perda de um laço forte. Em suma, Granovetter estabelece um paradoxo: os laços fracos, que normalmente são vistos como marginalizantes, são essenciais para buscas de oportunidades e integração social, enquanto que os laços fortes podem ser 29 elementos fragmentadores, dado o seu forte poder de coesão de pequenos grupos. Burt (2003) estabelece uma nova visão para as pontes. O autor considera que as idéias e os comportamentos dentro de grupos formados são mais homogêneos e, por isso, pessoas que conseguem conectar-se através de grupos podem formar linhas de raciocínio diferenciadas e, assim, ter vantagem na formação de boas idéias. Burt considera separações entre os grupos como “buracos estruturais” e as pessoas que ficam à beira destes “buracos”, que ele chama de “corretores”, são capazes de conectar grupos diferentes que podem passar a ter uma visão diferente, antes inexistente. O autor acredita que o capital social tem seu verdadeiro valor na capacidade de tirar vantagem de uma posição social, e sua pesquisa mostra que as grandes empresas precisam dos buracos estruturais para manter sua criatividade. Além disso, os “corretores” têm um maior reconhecimento dentro da organização por terem uma maior chance de expressar suas idéias (BURT, 2003). É importante lembrar que muitas das estruturas vistas no mundo de hoje podem ser observadas sob as lentes do capital social. Por isso, instituições como o Banco Mundial formam centros de pesquisa sobre o efeito que este tópico tem em assuntos como a pobreza e a saúde. Narayan (1999) 30 desenvolveu um modelo para análise do capital social em duas dimensões: as pontes e o funcionamento do Estado, que podem representar também uma região ou comunidade. Figura 3: Relação entre pontes e governança (NARAYAN, 1999) A visão geral deste modelo nos dá a idéia de que associações baseadas em relações sociais induzem o bem da coletividade, enquanto que redes formadas por minorias líderes trazem vantagem somente aos indivíduos pertencentes a estas minorias. O quadrante um representa a harmonia, com uma sociedade fluida e um Estado forte, que levam a progressos na área social e econômica. Já o quadrante dois mostra a exclusão de grupos sociais não-dominantes, o que acaba por gerar uma latência de conflitos, já que os grupos dominantes 31 influenciam o governo forte formado. No quadrante três, podemos ver uma situação de conflito, onde os grupos dominantes tomam o lugar do estado disfuncional, formando um governo informal de mafiosos ou guerrilheiros que usam a força de seu poder armamentista para controlar a população minoritária. Onde existem muitas pontes e um governo fraco (quadrante quatro – cooperação), as redes informais acabam por tomar o lugar do Estado ineficiente e a estrutura deste é caracterizada por organizações informais e pelo auto-emprego. Grootaert & Bastelaer (2001) desenvolveram também um modelo de dois eixos para mostrar as dimensões do capital social. Figura 4: Dimensões do capital social (GROOTAERT & BASTELAER, 2001); 32 Este trabalho baseia-se nos trabalhos de Putnam (1993), que como já foi visto, observava o capital social em nível micro, considerando somente o indivíduo e as externalidades do capital social na comunidade em que ele está inserido. Na definição de Coleman (1990), os grupos também são levados em conta, definindo assim o nível meso, que inclui associações verticais e horizontais, como empresas e suas relações hierárquicas. Por último então, foi inserido o nível macro, que leva em conta o ambiente político e social, ou seja, relações formalizadas entre instituições, como o regime político e o sistema judiciário. O importante nesta classificação é o grau de complementaridade (instituições formais ajudando no desenvolvimento de associações locais) e até substituição (perda de laços sociais localmente para possibilitar reforços para confiança e reputação de empresas) que os indivíduos ou instituições nos diferentes níveis possuem. O outro eixo trata da classificação do capital social em estrutural ou cognitivo, como veremos em detalhes a seguir, que independe do nível da interação ser micro, meso ou macro, o que permite a construção da matriz acima (figura 4). A idéia subjacente a esta matriz é guiar o pensamento em capital social, tratando o como um ativo que requer investimento para que possa ser acumulado e pode gerar com isso uma série de benefícios (GROOTAERT & BASTELAER, 2001). 33 A classificação criada por Uphoff (2000) diferencia o capital social em duas categorias: a estrutural e a cognitiva. A categoria estrutural de capital social é identificada por várias formas de organização social, como papéis, regras, precedentes e procedimentos, assim como redes que contribuem para ações benéficas mútuas e coletivas, que são o resultado mais importante do capital social. Esta categoria de capital social pode reduzir custos transacionais através de padrões já bem estabelecidos e, por isso, facilitar as ações benéficas mútuas. A categoria cognitiva consiste nos processos mentais e ideacionais, influenciados pela cultura e pela ideologia, como normas, valores e atitudes que também induzem comportamento cooperativo e benéfico mútuo. Esta categoria torna os participantes da rede predispostos à cooperação, já que estes dividem os valores e as crenças e podem, assim, racionalizar este comportamento. Apesar de poder existir capital social compreendendo somente uma das duas categorias citadas acima, o autor discute que é bastante improvável que se sustente por muito tempo, já que os dois domínios estão intrinsecamente conectados. Isto porque estes dois âmbitos do capital social estão ligados, na prática, ao fenômeno subjetivo das expectativas. 34 2.1.4 - Medição do capital social O capital social tem influência em diversos aspectos econômicos, tanto da vida de indivíduos como de comunidades inteiras. Assim, deve-se levar em conta que até a simples troca de presentes afeta o relacionamento interpessoal de indivíduos, o que altera significativamente o valor destes objetos. Um conceito similar a este é o “endowment effect” descrito por Kahneman, Knetsch e Thaler (1990), que tem grandes efeitos sobre as teorias de tomada de decisão. Assim, pode-se ver que a simples venda de uma propriedade pode ter seu preço alterado dependendo do comprador, ou seja, qualquer negociação está sujeita a variações se o comprador em questão faz parte ou não da rede de relacionamento do vendedor. Robison & Flora (2003) propõem que medições indiretas da influência do capital social sejam feitas a partir da diferença entre preços praticados e preços tabelados. Há tentativas de diversos autores de buscar medir o capital social total disponível para uma pessoa ou para uma comunidade, geralmente usando um tipo de medida ou um item para representar todo o capital social. No entanto, sabe-se que este tipo de capital é multidimensional e usar uma medição unidimensional é incorreto e induz ao erro (STONE & HUGHES, 2002). 35 Outros estudos tentam criar um índice de capital social, que leve em conta toda a extensão do assunto, e por isso tem menos perda de informação do que o uso de um item só. Contudo, perde-se a informação de como as diferentes dimensões medidas interagem (STONE & HUGHES, 2002). Assim como o capital humano, o capital social também é muito difícil de ser medido diretamente. No entanto, para medir o capital humano, usam-se indicadores como anos de educação e anos de experiência de trabalho, que são capazes de oferecer algum valor para os estudos sobre este assunto. Grootaert & Bastelaer (2001) acreditam que pode haver indicadores para a medição de capital social também, sendo esta uma das grandes buscas da Iniciativa do Capital Social do Banco Mundial. Esta iniciativa concluiu, no entanto, que um indicador válido provavelmente deveria variar de acordo com o setor e a localidade geográfica em questão, já que, por exemplo, em alguns países, como a Indonésia, a adesão a associações é importante, enquanto que em outros, como a Índia e a Rússia, as redes informais estão muito mais difundidas (GROOTAERT & BASTELAER, 2001). Através dos diversos estudos de caso realizados pela Iniciativa do Capital Social do Banco Mundial, os autores puderam constatar que é possível medir o capital social. No entanto, esta é uma tarefa difícil já que, como observado nos estudos de caso, este capital tem um impacto muito grande em diferentes áreas da vida e do desenvolvimento humano, afetando serviços prestados em áreas urbanas e rurais, transformando o desenvolvimento 36 agrário, influenciando a expansão de empresas privadas, melhorando o gerenciamento de recursos, ajudando na educação, prevenindo conflitos, e compensando estados deficitários. Os estudos sugerem o uso de três tipos de indicadores como medida para o capital social: • Adesão a associações ou redes locais: esta medida funciona através da contagem do número de associações locais e análise destas associações (como análise da democracia na tomada de decisão) e de seus membros (características do grupo, tais como heterogeneidade); • Indicadores de confiança e aderência a normas: esta medida requer que os respondentes demonstrem suas expectativas e experiências passadas em relação a situações que necessitaram de confiança. • Indicador de ação coletiva: esta medida é baseada no fato de que a execução de alguns serviços requer ação coletiva, e o número de ações coletivas desenvolvidas em uma comunidade é indicativo de coesão social, estes três tipos de indicadores medem o capital social de diferentes ângulos, e são relevantes, principalmente nos níveis micro e meso, mas podem ser usados em nível macro também. O mais importante na realização da análise é saber adequar o indicador correto para a conjuntura social, econômica e cultural do objeto de estudo. 37 2.1.5 - Cyber networks O trabalho de Lin (1999) levanta o conceito de cyber networks. Ele menciona que a venda anual de PCs já ultrapassava, em 1999, a venda de aparelhos de televisão em alguns países e comenta também o enorme crescimento do volume de e-commerce, aliado ao crescimento da Internet. Estes dados são relevantes porque se sabe que no espaço virtual são criados diariamente um número inestimável de comunidades, fóruns, sites de relacionamento, grupos de discussão, blogs, etc. A pergunta que o autor faz é: quais são as implicações destes tipos de interações para o estudo do capital social? Putnam, no seu trabalho de 1995, demonstrou que os EUA têm o seu nível de capital social em declínio nas últimas três ou quatro décadas. Ele argumenta que a sociedade americana tornou-se extremamente individualista, e que isto pode ser averiguado através da observação de um fenômeno, entre vários outros: apesar de o número de pessoas que jogam boliche ter aumentado nas últimas décadas, o número de ligas de boliche diminui drasticamente. No entanto, se as redes sociais que se formam a cada dia no cyber espaço forem de fato válidas para a geração de recursos de capital social, então o capital social não está em declínio, e sim, em franca ascensão, através 38 da formação de cyber networks. Lin (1999) argumenta até que a Internet pode trazer uma revolução para o capital social. 39 2.1.6 - O lado negativo do capital social Apesar de todos os benefícios que pode trazer, o capital social também tem seus pontos negativos. Os mesmos laços que são capazes de conectar pessoas dentro de uma mesma rede ou em redes diferentes têm também o poder de excluí-las. Redes detentoras de grande poder podem restringir o acesso a oportunidades, sendo o melhor exemplo disto o sistema de castas na Índia. O capital social é capaz de restringir a liberdade individual, levar membros bem sucedidos de um grupo a abusarem de seu poder e também induzir membros bem-sucedidos a quebrar laços com seu grupo étnico (STONE & HUGHES, 2002). Por exemplo, em uma pesquisa de Fletcher (apud STONE & HUGHES, 2002) foi descoberto que a razão do desempenho acadêmico diferente entre brancos e negros era que o maior empenho de estudantes negros na escola era visto pelos colegas como uma “tentativa de se tornar branco”, e por isso estes estudantes eram ridicularizados. Os impactos negativos do capital social podem ser vistos em grupos de poder muito fechados, que não permitem a participação do público geral, assim como na prática da corrupção e do nepotismo. Portes & Landolt (2000) comentam o fato de que usar a mesma definição de capital social de um indivíduo e de toda uma nação é errado e tem levado a diversos erros de significado do termo. Os autores acreditam que a 40 definição individual de capital social, quando expandida para o nível coletivo, como comunidades ou nações, acaba tornando-se um atributo das redes sociais, transformando-se em justificativa para explicar o bom funcionamento, tanto econômico quanto político, de cidades inteiras, virando sinônimo de tudo o que é positivo. Com isso, Portes & Landolt (2000) não querem dizer que o capital social não pode fornecer aspectos positivos a redes sociais extensas, mas sim que nem sempre este é o caso. Como exemplo, podemos citar que as conexões certas podem levar ao ganho de acesso a contratos públicos ou ao não-cumprimento de obrigações e regras, algo que nos é muito familiar no Brasil. Neste caso, o capital social individual está justamente se apoiando na habilidade de enfraquecer o capital social coletivo. Podemos citar os laços formados entre gangues, ou no interior de famílias mafiosas, que provêm benefícios aos participantes destas redes, às custas da ordem pública. O grande problema do capital social é que ele é formado, principalmente, através de confiança, cooperação e participação em grupos, características aparentemente positivas, e que podem levar à crença de que quanto mais estes constituintes do capital social são acumulados, mais benefícios se conseguem. Por exemplo: comunidades de uma nacionalidade vivem, constantemente, fechadas dentro de outro país. Os mais antigos são capazes de fornecer condições aos recém-chegados para a abertura, por exemplo, de um novo negócio. Assim, o capital social tende a suprir a 41 necessidade de capital físico e humano. No entanto, o crescimento de uma comunidade tão apartada da totalidade da sociedade e fechada em si mesmo pode fazer com que, no futuro, haja uma grande necessidade de esta formar pontes com outras redes sociais para a sua própria sobrevivência, e esta tarefa pode ser muito dificultada pela quantidade de obrigações existentes no interior desta comunidade fechada. Em suma, a idéia é de que os recursos de capital social devem ser otimizados e não maximizados (WOOLCOCK, 1998). 42 2.2 - Capital social e Empreendedorismo O estudo do empreendedorismo deve, primeiramente, encontrar a definição do termo empreendedorismo. Muitos autores já definiram empreendedorismo como o sujeito empreendedor e suas atividades, mas a idéia hoje é a de que o empreendedorismo depende de dois fatores: da presença de oportunidades rentáveis e da presença de indivíduos que possuam um perfil empreendedor (VENKATARAMAN, 1997). O trabalho de 2000 de Shane e Venkataraman traz a idéia de que diversos fatores estão envolvidos no estudo do empreendedorismo, e são eles: a fonte das oportunidades, o processo de descoberta, a avaliação e a vantagem da oportunidade, e o indivíduo ou grupo de indivíduos que descobre, avalia e explora estas oportunidades. A partir destas características, um modelo foi criado pelos autores, explicitando as diversas etapas do processo de abertura de um novo empreendimento. 43 Figura 5: Modelo do VENKATARAMAN, 2000). processo empreendedor (adaptado de SHANE & A intenção de abrir um novo empreendimento está ligada aos atributos sócio-culturais do empreendedor (SHANE & VENKATARAMAN, 2000). Os atributos citados nas teorias psicológicas são, entre outros, necessidade de realização, disposição de suportar risco, auto-confiança, ilusão de controle e tolerância a ambigüidade, e fazem com que certos indivíduos e não outros optem pelo empreendedorismo (SHANE, 2000). Drucker (apud SHANE & VENKATARAMAN, 2000) descreve três possibilidades para o surgimento de oportunidades, sendo elas: a criação de informação nova como, por exemplo, o aparecimento de novas tecnologias, a exploração, devido à assimetria de informações, de ineficiências de mercado e 44 a reação a mudanças em custos relativos e a benefícios do uso alternativo de recursos devido a transformações de cenário. Após a fase de descoberta, surge o momento de decidir explorar ou não esta nova oportunidade. Shane e Venkataraman (2000) sugerem que a decisão de explorar um novo empreendimento depende da natureza da organização, como formas de captação de capital, vantagem competitiva, barreiras de entrada, de oportunidade e de possibilidades proprietárias, como patentes. Ulhoi (2005), no entanto, critica esta visão pelo fato de só abranger atributos quantitativos, deixando de lado os atributos sócio-culturais e os contextos dos quais os empreendedores fazem parte, que são também muito importantes. As redes sociais são constituídas por laços fortes e fracos e as pessoas são os nós de diversas redes, de modo que as redes interconectamse (SCOTT apud ULHOI, 2005). Logo, dependendo da posição sócio-cultural e/ou político-econômica de uma determinada pessoa, esta pode ter acesso a um número maior de redes. Ulhoi (2005) propõe, alinhado ao pensamento de Granovetter (1985) que as atividades econômicas estão inseridas em um contexto relacional, ou seja, que a rede social pessoal de um indivíduo e a sua rede social profissional, 45 assim como o ambiente social em que o empreendedor está inserido, estão intimamente ligados ao processo empreendedor. O mix de laços fortes e fracos é fundamental para empresas nos seus primeiros estágios de desenvolvimento. Os laços fortes estão associados à obtenção de informações importantes, além de conhecimento tácito e captação de recursos. Por estar ligando pessoas similares, este tipo de laço contribui para economias de tempo, dada a proximidade do empreendedor às fontes de conhecimento e recurso úteis (ELFRING & HULSINK, 2003). É importante ressaltar que existe o problema de lock-in, que pode impedir a percepção de novas informações e conhecimentos por parte das pessoas acessadas através de laços fortes, por estas estarem demasiadamente comprometidas com o projeto (JOHANNISSON, 2000). Já os laços fracos estão relacionados ao acesso a um número mais diversificado de fontes de informações por não envolverem emoção (ELFRING & HULSINK, 2003). Logo, a troca de conselhos ou informações e o acesso a recursos estão então sob influência de normas e regras sociais, da estrutura social e do poder individual; todos os fatores ligados à posição relativa do indivíduo nas suas redes sociais. De acordo com Cooper, Folta & Woo (1995), as redes sociais podem afetar seriamente a atividade empreendedora, principalmente na aquisição de informação, que é muito importante na identificação de oportunidades, e na aquisição dos recursos necessários, central no lançamento de um novo negócio. 46 Para a abertura de um novo empreendimento são necessários, pelo menos, capital, habilidades e trabalho. O capital social pode ter um papel significativo de ajuda na obtenção de cada um destes fatores. Pesquisas sugerem que a posição relativa do empreendedor e as características de suas redes sociais podem determinar o sucesso do empreendimento (BURT, 1992). A partir disso, Gattiker & Ulhoi (2001) inferem que o capital social pode ser traduzido como o número exato e a qualidade dos laços sociais e o grau de centralidade do indivíduo em questão. Há também autores que acreditam que, principalmente entre pequenas empresas, o relacionamento interorganizacional se deve a relações de amizade e/ou sentimento de obrigações pessoais, como contratos sociais entre indivíduos (POWELL, 1990). Figura 6: Empreendendo por redes (Elfring & Hulsink, 2003). 47 O tipo de produto a ser lançado pelo novo empreendimento altera o tipo de capital social a ser alavancado pelo empreendedor (figura 6). Inovações radicais requerem mais laços fortes para analisar e julgar de forma confiável a natureza da oportunidade insurgente e ainda assegurar recursos, tanto financeiros quanto humanos. O mais importante para novas empresas de alto risco é a mobilização destes recursos com a garantia de custos mínimos, que se faz possível utilizando ativos sociais como amizade, confiança e obrigação. Estas observações, no entanto, não são válidas para a variável de obtenção de legitimidade, também importante para empreendimentos nascentes. Laços fracos ajudam empresas baseadas em inovações radicais a receberem apoio de indivíduos do meio externo, o que é muito importante para estas empresas já que normalmente inovações radicais estão associadas a um risco maior. O acesso a parceiros ajuda a disseminar o entendimento dos conceitos no novo empreendimento (ELFRING & HULSINK, 2003). Já nas inovações incrementais os laços fracos parecem mais importantes para a descoberta de oportunidades e garantia de recursos, e empreendedores representando inovações incrementais dependem mais de laços fortes para ganhar legitimidade, como associações com centros de excelência no assunto em questão que atestem credibilidade (ELFRING & HULSINK, 2003). Rowley, Behrens & Krackhardt (2000) corroboram em parte estes achados, justificando que, em ambientes mais dinâmicos, é necessário um 48 número maior de laços fracos, enquanto que em ambientes mais estáveis a presença de mais laços fortes traz mais benefícios ao empreendimento. Davidsson & Honig (2003) estudaram o papel do capital social, referente às estruturas sociais e redes relacionais, e do capital humano, que se refere ao conhecimento individual, entre empreendimentos nascentes, utilizando uma amostra significativa de empresas suecas. Foi analisada a influência de capital humano tácito (experiência) e explícito (educação formal), assim como a influência do capital social em forma de laços fortes e fracos. Esta pesquisa demonstrou que altos níveis de capital humano levam a uma maior probabilidade de descoberta de oportunidades empreendedoras, de acordo com o modelo de Shane & Venkataraman (2000). É sugerido neste trabalho que o mecanismo responsável por esta probabilidade maior pode ser objetivamente a descoberta de oportunidades melhores e em maior número, devido à maior quantidade de conhecimento do indivíduo. Existe ainda a possibilidade de que o aumento da probabilidade se dê por maior autoconfiança do empreendedor, e também por uma percepção de que os riscos são menores, o que leva a uma decisão de explorar mais determinada. O estudo também indicou que o conhecimento tácito é de valia, porém, os capitais humanos, tanto tácitos quanto explícitos, mostraram ter menor importância na fase nascente do empreendimento, ou ainda no período de busca de rentabilidade do negócio (DAVIDSSON & HONIG, 2003). 49 Os resultados em relação ao capital social revelaram um nível de importância maior deste fator na fase nascente das empresas. A descoberta de oportunidade mostrou ser altamente influenciada pela presença de parentes ou amigos próximos em alguma atividade de negócio. O capital social pode estar diretamente associado à previsão de sucesso da fase de exploração. Os laços fracos também parecem ter grande influência na aceleração da formação da empresa e também no tempo de desenvolvimento subseqüente. Assim, a importância dos laços fracos aumenta à medida que o negócio se desenvolve, se comparado aos laços fortes, mais fundamentais no início do negócio. Hite e Hesterly (2001) reforçam esta idéia, pois acreditam que os laços fortes são mais importantes no início do empreendimento, enquanto no decorrer do processo de desenvolvimento, os laços são substituídos por contratos formais. Anderson & Miller (2003) discutem a importância dos laços familiares para a saúde financeira do empreendimento, sendo a família a principal fonte de recursos adicionais. Os resultados demonstram, também, que o nível de conhecimento (capital humano) de um indivíduo faz com que ele se relacione com pessoas que possuam o mesmo nível de conhecimento. Por isso, empreendedores com alto capital humano mantêm laços que favorecem o encontro com indivíduos que possam colaborar para o sucesso do empreendimento. Além disso, este tipo de relacionamento favorece a percepção e descoberta de oportunidades, como já havia sido demonstrado por Davidsson & Honig (2003). 50 As redes sociais pessoais e as de negócios, assim como o ambiente em que o empreendedor está inserido, são importantes no desenvolvimento do processo empreendedor. Deve-se sempre levar em conta que toda e qualquer atividade econômica está inserida em um contexto social e, por isso, as relações sociais têm uma influência direta sobre o estabelecimento de negócios. Pelo fato de as relações de negócios terem, muitas vezes, um caráter pessoal, o contexto emocional também é muito importante no processo empreendedor. 51 2.3 - Incubadoras Em tempos antigos, acreditava-se que para ter um sonho visionário, era necessário ir a um templo greco-romano e deitar-se sobre a pele de animais recentemente sacrificados. Este ritual era chamado incubatio e imaginava-se que ele ajudava a obter visões de como combater doenças. Com o tempo, uma incubadora tornou-se um lugar para cuidar de crianças prematuras que precisavam de cuidados sob condições controladas (AERNOUDT, 2004). A incubação de negócios, segundo a Associação Nacional Americana de Incubadoras de Negócios (www.nbia.org) é “uma ferramenta de desenvolvimento econômico designada para acelerar o crescimento e o sucesso de empresas por um arranjo de serviços e recursos de apoio a negócios”. As incubadoras surgem a partir da observação de que pequenas e novas empresas não conseguem sobreviver devido à falta de habilidades gerenciais de seus empreendedores - já que na maioria das vezes estes indivíduos possuem somente o conhecimento especializado do negócio – ou, ainda, à falta de acesso a capital de risco, especialmente no caso de empresas de alta tecnologia, que necessitam de um grande aporte financeiro. Os principais problemas enfrentados por empresas recém-formadas, que tornam 52 muito difícil a sobrevivência nos primeiros anos, são: falta de acesso a apoio administrativo e altos custos operacionais iniciais, como aluguel e outras taxas de serviços (LYONS, 2000). As incubadoras de empresas são instituições capazes de dar o suporte necessário para que as empresas incubadas possam superar estes obstáculos. Ela torna-se então um meio para que as chances de uma nova empresa sobreviver sejam aumentadas (SMILOR & GILL, 1986). As incubadoras se definem como qualquer tipo de infra-estrutura para apoiar e suprir pequenas e médias empresas, sendo que esta infra-estrutura pode ter diferentes características. No entanto, incubadoras devem oferecer mais do que acomodação física aos empreendimentos nascentes, como ajuda no gerenciamento, acesso a financiamento (através de fundos de investimento ou investidores-anjos), assessoria jurídica, acesso a novos mercados e conhecimento operacional (AERNOUDT, 2004). Lee, Kin e Chun (1999) indicam que as necessidades básicas de uma empresa incubada se dividem em quatro funções principais: estratégia de operações, recursos físicos e humanos, serviços da incubadora e programas de rede. Estas funções estão, por sua vez, separadas em necessidades básicas menores: • Estratégia de operações Transparência e alcance de objetivos Realização do planejamento de operações 53 • Recursos físicos e humanos Acesso facilitado a equipamentos e estrutura Acesso comum a equipamentos de escritório e espaço Apoio de uma rede de empreendedores Suporte de experts • Serviços de incubadora Transferência de tecnologia e Pesquisa e Desenvolvimento Consultoria jurídica e de negócios Apoio financeiro Programa educacional de empreendedores • Programas de rede Rede de contatos dentro da incubadora Contato com empreendedores externos Rede de contatos com consultorias de financiamento e estratégia Apoio governamental e da comunidade local Pode-se dizer que as incubadoras dão apoio em algum grau às pequenas e médias empresas, através de infra-estrutura para compensar as falhas e imperfeições do mecanismo de mercado (BOLLINGTOFT & ULHOI, 54 2005). Isso porque as incubadoras fornecem às empresas incubadas os recursos, serviços e assistência que novos negócios normalmente não possuem e não têm condições de financiar. Logo, as incubadoras estão suprindo falhas do mercado, como custos de informações e falta de assistência e financiamento. As incubadoras, no entanto, limitam o tempo que as empresas podem permanecer incubadas, que varia normalmente de dois a cinco anos, e são restritas a novos negócios somente (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005). De acordo com Sherman & Chappell (1998), os serviços de apoio incluem assistência no desenvolvimento de planos de negócio e de marketing, criação de equipes gerenciais e obtenção de capital e auxílio no acesso a diversos outros tipos de serviços profissionais especializados. Além disso, as incubadoras também provêem espaço, equipamentos compartilhados e serviços administrativos. No entanto, Aernoudt (2004) indica que 60% de todas as incubadoras no mundo nunca ajudaram suas empresas incubadas a obter fundos. O autor acredita que isso se deve, entre outras coisas, à pobre interação entre redes de investidores-anjos e gerentes de incubadoras e à visão míope da sociedade, que não enxerga o empreendedorismo como uma característica positiva. Na opinião do autor, deveria criar-se um ciclo virtuoso, como o mostrado na Figura 7, que prevê que o desenvolvimento das incubadoras e das empresas incubadas a partir do uso de fundos de investimento ou da ação de 55 investidores-anjos, pode ajudar a tornar mais positiva a imagem do empreendedorismo. Figura 7: O processo dinâmico de incubação, empreendedorismo e redes de anjos (Aernoudt, 2004) Um aspecto interessante das incubadoras é o potencial para criação e exploração de sinergias. Imagina-se que a combinação de diversos recursos, serviços e habilidades crie algum tipo de sinergia e, consequentemente, vantagem para as empresas incubadas. Ou seja, a partir dessa interação, a incubadora deixa de ser somente uma estrutura física onde algumas empresas recém-formadas dividem localização geográfica e podem minimizar custos iniciais (ALLEN & RAHMAN,1985). Além disso, o contato entre os empreendedores de uma mesma incubadora e também com os empreendedores de empresas já graduadas é muito importante, já que pode ser usado para troca de experiências e cooperação (AERNOUDT, 2004). 56 O objetivo principal das incubadoras é alavancar o talento empreendedor. Isso significa que o problema na formação de novos negócios não se resume apenas à disponibilidade de fundos de investimento de risco ou a taxa de avanço tecnológico, mas engloba os agentes empreendedores. O verdadeiro desafio das incubadoras de empresas é prover a estes agentes os serviços e o suporte necessários para complementarem seu talento e seus recursos e, assim, expandir seu potencial. Ou seja, as incubadoras de empresas podem ser vistas como meios de transformar o talento do empreendedor em bens comercializáveis (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005). Já foi identificado que, além da existência de um fluxo de informações, para absorver conhecimento externo, as empresas devem possuir capacidade de absorção para capturar e se apropriar do conhecimento disponível (COCKBURN & HENDERSON, 1998). Cohen & Levinthal (1989) já falavam sobre capacidade de absorção, que é entendida como a habilidade de uma firma de reconhecer, avaliar e assimilar informações novas de fontes externas. 57 2.3.1 - Incubadoras no Brasil O surgimento de incubadoras no Brasil se deu a partir da década de 80, com a falência do regime ditatorial. Dado o momento de reestruturação da sociedade civil, a falta de uma política central para a atividade de incubadoras, houve grande flexibilidade na implantação das mesmas, possibilitando atingir diferentes objetivos em um modelo de desenvolvimento de custos reduzidos. Para isso, foram unidas iniciativas de universidades e governos municipais, além de associações regionais, indústrias e o governo federal (ALMEIDA, 2005). Dados de 2003 mostram as fontes de recursos financeiros para investimento em incubadoras brasileiras divididas entre universidade, 33%; indústria, 48%; governo, 18%; instituições híbridas, 0.95%; instituições sociais, 0.05% (ALMEIDA, 2004). A universidade tem papel fundamental no modelo de incubação brasileiro, pois grupos de pesquisa acadêmicos foram tornando-se “pré-firmas”, compostos por cientistas que combinavam recursos diversos e agiam como empreendedores (LAW, 1989). O conceito de incubação passou de uma simples estrutura de apoio ao empreendedor a uma forma de transformar pesquisa avançada em um negócio rentável, e ainda chegar a ser aplicada, mais recentemente, como solução para problemas industriais e sociais (CERVANTES, 2002). 58 Redes foram criadas entre as esferas industrial, governamental e universitária para expandir e consolidar um modelo de incubação novo e altamente criativo no Brasil. Normalmente, universidades estão associadas a incubadoras focadas em alta tecnologia, dada a grande geração de conhecimento; a indústria tem um foco mais tradicional no desenvolvimento de capacidades organizacionais; o governo, através de incubadoras sociais, tem como principal objetivo a geração de empregos. No entanto, cada uma das esferas também pode exercer uma função no domínio da outra, mesmo que em menor ordem. Como exemplo, a indústria pode financiar uma incubadora de alta tecnologia enquanto a universidade treina pessoal qualificado para incubadoras industriais e sociais (ALMEIDA, 2005). Lalkala (2003) acredita que para empresas incubadas em países em desenvolvimento como o Brasil serem bem sucedidas são necessárias: políticas públicas que estimulem e forneçam infra-estrutura a novos empreendimentos, parcerias com o setor privado para ajuda em forma de conselho, formação de uma base de conhecimento de aprendizado e pesquisa, formalização de redes de contato profissionais nacional e globalmente e envolvimento da comunidade para o desenvolvimento do empreendedorismo e de mudanças culturais. 59 2.3.2 - Tipos de incubadoras As incubadoras devem ser vistas e classificadas pelas fontes de valor que proporcionam aos empreendedores e às atividades empreendedoras, além das características organizacionais e as práticas, recursos e serviços utilizados para fomentar o surgimento e crescimento de pequenas empresas (SMILOR & GILL, 1986). Elas podem ter também propósitos bastante diferentes, e por isso apresentar nomes bastante diferentes. Algumas são estabelecidas para ajudar a capitalizar oportunidades de investimento, enquanto outras buscam meios de comercializar pesquisa acadêmica, tipicamente pela aproximação de pequenas empresas de alta tecnologia dos campi de universidades com estudos avançados (AERNOUDT, 2004). Incubadoras de empresas começaram a surgir na década de 80, em dois tipos de estratégia diferentes. Uma das estratégias era a de renovar prédios vazios antigos e fazer leasing do espaço a preços baixos. Ou seja, o foco maior desta estratégia era de disponibilizar espaço para novas empresas e não de ajudar a formar novos negócios. O sucesso deste modelo de incubadora era medido pela habilidade dos incubados de pagar suas despesas mensalmente (SMILOR & GILL apud BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005). 60 A segunda estratégia consistia em uma tentativa mais consciente de ajudar na formação de novos negócios ou no crescimento de firmas recémformadas. Prover espaço para as novas empresas era importante, mas o foco desta estratégia era o de desenvolver empresas e, por isso, o sucesso era medido através da expansão e habilidade das empresas incubadas de se manterem sozinhas (SMILOR & GILL apud BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005). Figura 8: O contínuo da incubação de empresas (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005, adaptada de ALLEN & MCCLUSKEY, 1990) As duas estratégias podem ser ligadas por um contínuo, mostrado na Figura 5. Este contínuo, desenvolvido por Allen & McCluskey (1990), consiste 61 em quatro tipos organizacionais ideais de incubadoras, cada um representando um foco de desenvolvimento diferente. Bollingtoft & Ulhoi (2005) adicionaram ainda um quinto tipo (figura 5). Incubadoras diferentes dos arquétipos estabelecidos são chamadas híbridas. O contínuo está baseado sempre no valor econômico. Em um dos lados do contínuo está a incubadora focada no desenvolvimento da estrutura física, enquanto que, no outro extremo, temos as focadas em programas de desenvolvimento de empresas. No entanto, pode haver adição de valor na forma de colaboração e de atividades de relacionamento internas. As oportunidades geradas por cada tipo de incubadora estão ligadas à missão e objetivo globais destas. Por exemplo, incubadoras de capital investidor com fins lucrativos têm o objetivo de capitalizar oportunidades de investimento e, por isso, vão ajudar as empresas incubadas com seus problemas financeiros. As incubadoras acadêmicas, também chamadas de parques de tecnologia, ciência ou pesquisa, estão diretamente relacionadas às universidades e seu principal objetivo é transformar a pesquisa acadêmica e o desenvolvimento de novos achados em produtos ou tecnologias novos. Neste tipo de incubadora, o desenvolvimento em si é mais importante que o 62 desenvolvimento do talento do empreendedor ou da empresa, ou, ainda, que a obtenção de lucros. No Brasil, muitas das incubadoras existentes são formadas próximas às universidades. O conhecimento gerado em universidades é estudado por diversos autores, na tentativa de observar o impacto que causa na indústria, dado que se trata de ativo de altíssima qualidade. No entanto, sabe-se pouco sobre o fluxo de informações entre a universidade e as empresas, e os efeitos que dele decorrem, devido à dificuldade de rastrear conhecimento de domínio público e também pela dificuldade de encarar empresas como unidade de análise neste setor (ROTHAERMEL & THURSBY, 2005). As incubadoras colaboradoras com fins lucrativos, também chamadas incubadoras de rede, são baseadas no reconhecimento mútuo do valor da colaboração como uma das características mais importantes. As incubadoras de desenvolvimento sem fins lucrativos podem ser patrocinadas por recursos públicos e seu principal objetivo normalmente é a criação de empregos (ALLEN & MCCLUSKEY,1990). A partir do mundo globalizado atual e da era da Internet, outro tipo de incubadora surge: a incubadora virtual. A tecnologia da Informação permite e fomenta a adoção de novas práticas, novas estruturas organizacionais e novos estilos gerenciais. A incubadora virtual pode facilitar o sucesso e o crescimento 63 de empresas pequenas e o avanço nas tecnologias de comunicação permite que as empresas estejam conectadas e se relacionem diretamente com seus parceiros, fornecedores e consumidores ao redor do mundo ao mesmo tempo (NOWAK & GRANTHAM, 2000). Diversos estudos sugerem que as incubadoras de empresas são ferramentas de desenvolvimento de negócios eficazes, que requerem investimentos modestos e proporcionam um excelente retorno para as economias regionais (SHERMAN & CHAPPELL, 1998). O interesse nas incubadoras de empresas como ferramentas de desenvolvimento data do final dos anos 70, quando a economia de diversos países no mundo evoluía de uma base de grandes empresas manufatureiras para uma base de pequenas e médias empresas, intensivas em tecnologia e orientadas para serviço, que se tornaram importantes fatores de criação de novos empregos (CAMPBELL, 1989). Apesar de tudo, o valor das incubadoras de empresas tem sido seriamente questionado e sua eficiência continua indeterminada, já que a presença em uma incubadora não é garantia de sucesso (LUMPKIN & IRELAND apud BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005). 64 2.3.3 - Incubadoras e capital social Na idéia da importância do capital social, surgem as incubadoras inseridas em redes sociais (networked incubators) (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005). O conceito tradicional de incubadora diz que a incubação de novas empresas serve, principalmente, para oferecer auxílio na busca de recursos financeiros, humanos e sociais, como, por exemplo, ajuda administrativa e/ou jurídica (MIAN apud BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005). No entanto, os autores acreditam que o papel das incubadoras deveria ser estendido, no sentido de cobrir três principais necessidades das empresas nascentes: dar suporte administrativo, dar legitimidade e ajudar no reconhecimento no mercado, bem como estar em uma comunidade de empreendimentos nascentes. O acesso a redes sociais coletivas, como no caso de uma networked incubator, pode gerar diversas oportunidades econômicas e sociais. Com um olhar mais direto sobre as incubadoras tecnológicas, o trabalho de Rothaermel & Thursby (2005) explicita o valor do fluxo de informações da universidade para a incubadora, sendo este bastante dependente de fortes laços desenvolvidos entre as duas entidades. As chamadas incubadoras tecnológicas são ainda mais dependentes destes laços com a universidade, dada a alta taxa de inovação das empresas nascentes destas incubadoras. Os resultados do trabalho indicam que um maior fluxo de conhecimento da universidade para a incubadora aumenta o desempenho das empresas incubadas. 65 Hansen et al (2000) explicitam mais detalhadamente os benefícios de uma networked incubator. Este novo tipo de incubadora, mais comumente observada para novos negócios que utilizam a Internet, tem mecanismos para alimentar parcerias entre novas equipes empreendedoras e também com outras firmas do mesmo ramo, facilitando o fluxo de conhecimento, talento e tecnologia. Além disso, as redes ainda podem ajudar na obtenção de recursos. Incubadoras podem, com isso, diminuir o tempo e o custo do estabelecimento de estruturas básicas para o negócio, pois as incubadas têm acesso preferencial a uma rede de renomados executivos na forma de experts, clientes, recrutadores ou parceiros. Assim, a tomada de decisões se torna mais rápida e de melhor qualidade. As networked incubators combinam benefícios de grandes corporações com o de incubadoras suportadas por capital de risco, e ainda garante o acesso a parcerias-chave (HANSEN et al, 2000). Para estimular o contínuo desenvolvimento de redes de contato, as networked incubators tornam-se donas de pequenas parcelas das ações de suas empresas incubadas, tornando mais interessante a alavancagem de capital social para o desenvolvimento dos negócios (HANSEN et al, 2000). É importante ressaltar que este modelo atrai também grandes empresas, como a Ford Motors Co., que buscam acelerar seus processos de 66 criação de produtos e desenvolvimento de operações que têm pouca afinidade com o negócio nuclear da empresa. A grande vantagem é que as empresas incubadas podem contar com aportes de capital e a rede de contatos da grande empresa associada (HANSEN et al, 2000). Mas para dar certo, a rede de contatos destas incubadoras deve, primeiramente, pertencer à própria incubadora, e não a um grupo de pessoas. Em segundo lugar, a atividade de networking deve ser institucionalizada. Ou seja, deve haver mecanismos que estimulem a criação de uma rede, como reuniões periódicas com conselheiros e parcerias com empresas líderes no setor (HANSEN et al, 2000). 67 2.4 – Modelo Conceitual Criou-se um modelo conceitual para auxiliar a análise dos dados (figura 9). Este modelo tem a forma de uma linha do tempo, e contém atividades importantes observadas desde o início do processo empreendedor até os primeiros momentos do período de incubação. Como atividades do processo empreendedor, temos: Intenção – não é uma atividade propriamente dita, mas participa do processo na medida em que antecede as atividades empreendedoras; Busca e descoberta de oportunidades – dado que diferentes indivíduos possuem valores assimétricos e a sociedade atual é baseada em especialização da informação, temos que nem todos perceberão uma mesma oportunidade ao mesmo tempo (HAYEK, 1945). Por isso, esta atividade é baseada principalmente em informação anteriores que um indivíduo possui e também em suas propriedades cognitivas, que influenciam a forma de ver e valorizar diferentes situações e contextos (SHANE & VENKATARAMAN, 2000); Decisão de explorar – nem todas as oportunidades descobertas são levadas à frente e transformam-se em empreendimentos. A decisão de explorar uma oportunidade é fruto de uma relação 68 entre a natureza da oportunidade e as características do indivíduo e do contexto onde ele está inserido (VENKATARAMAN, 1997). Atividades de exploração – é a busca por recursos necessários para iniciar um novo negócio, sendo o principal deles a informação. O otimismo, a maior tolerância a incertezas e a necessidade de alcançar objetivos, por exemplo, fazem com que as quantidades de informação necessárias variem entre diferentes indivíduos empreendedores. Como atividades após o momento de entrada na incubadora, temos: Atividades empresariais genéricas – todas as atividades comuns empresariais, como contratação e demissão de pessoal, busca de aporte financeiro, compra de material, entre outras, exceto vendas e desenvolvimento de produto, que foram tratadas separadamente; Vendas iniciais – as primeiras vendas da empresa, que demonstram que o produto é rentável e viável; Desenvolvimento de produto – a viabilização de uma tecnologia nova, ou ainda a transformação de tecnologias existentes, em novos produtos e/ou serviços inovadores e interessantes para algum mercado consumidor. 69 70 Apesar da existência de modelos dinâmicos descritos na literatura, o modelo conceitual criado baseou-se no trabalho de Shane e Venkataraman (2000), que tem grande aceitação no estudo do empreendedorismo, e nas atividades descritas por empreendedores como sendo importantes nos momentos iniciais de desenvolvimento de uma empresa. A razão da separação das atividades de vendas e desenvolvimento de produto decorre do fato de se ter percebido - através de entrevistas prévias realizadas por telefone - que estas eram as atividades de maior importância e, portanto, de maior gasto de tempo e recursos no período inicial de desenvolvimento dos novos empreendimentos. Vale lembrar que, apesar de o modelo mostrar a fase anterior à entrada na incubadora, o foco do trabalho é estudar a as fases posteriores do processo, a incubação das empresas. 71 3. METODOLOGIA 72 3.1 – A pesquisa qualitativa A pesquisa quantitativa sempre teve destaque na elaboração de teorias científicas. No entanto, iniciando-se no âmbito da Antropologia e da Sociologia, a pesquisa qualitativa ganhou espaço e expandiu-se para as áreas de Educação, Psicologia e Administração de Empresas. Ao contrário da pesquisa quantitativa, que se baseia em hipóteses formuladas previamente relacionadas a um objetivo específico, a pesquisa qualitativa não foca na enumeração e medição de eventos e, portanto, não utiliza métodos estatísticos. Alguns traços essenciais, enumeradas por Godoy (1995), ajudam a caracterizar a pesquisa qualitativa. São eles: A influência do meio como fonte de informações e a do pesquisador como instrumento de análise; A importância da descrição para a coleta de dados; O entendimento de valores, sentimentos e crenças como parte fundamental da pesquisa; A indução. Todos estes fatores têm como objetivo principal traduzir os fenômenos observados no mundo social, estreitando assim a relação entre o mundo real e a ciência (MAANEN, 1979). 73 Segundo Godoy, (1995) a pesquisa qualitativa pode se apresentar em, pelo menos, três formas distintas: a etnografia, o estudo de caso e a pesquisa documental. O método etnográfico revela-se um dos mais importantes, principalmente no âmbito da Antropologia, tendo sido praticado desde os tempos da Grécia Antiga. O método exige que o pesquisador se insira na comunidade em estudo e passe a observar, entrar em contato e participar de atividades (GODOY, 1995). O estudo de caso está ligado a uma análise mais profunda de uma unidade de estudo, que pode vir a ser uma pessoa, um ambiente ou uma situação. Este método, que se tornou bastante popular no estudo da Administração, é amplamente utilizado quando se quer entender por que e como certos fenômenos acontecem, especialmente em situações em que a influência do contexto é de extrema relevância (YIN, 2001). A pesquisa documental envolve o exame e o reexame de materiais sob uma perspectiva nova ou complementar. Assim como no estudo de caso, a análise e a criatividade do pesquisador têm grande influência no enfoque do estudo, especialmente porque os documentos pesquisados são uma fonte ausente de reações. A pesquisa documental possibilita o estudo de pessoas a que não temos mais acesso físico (GODOY, 1995). 74 Por suas características, este estudo adotará o estudo de caso como estratégia de pesquisa. Segundo Yin (2001), o estudo de caso é adequado quando se quer investigar como ocorrem certos eventos e fenômenos. No caso do presente estudo, queremos investigar como ocorre o uso de capital social em empresas. No mais, o fato de por tratar de fenômenos bastante atuais também contribui para tornar o estudo de caso a ferramenta mais adequada para a investigação. 75 3.2 – Unidade de investigação Como unidade de investigação, foi selecionada uma das mais importantes incubadoras tecnológicas da cidade do Rio de Janeiro: a incubadora tecnológica do Instituto Gênesis da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. As empresas incubadas, por sua vez, foram selecionadas pelo critério de acessibilidade, mas mantendo em mente buscar empresas atuantes em diferentes ramos de negócios, para que as características do campo de atuação das empresas não tivessem também uma influência nos resultados da pesquisa. Para cada uma das oito empresas incubadas, um sócio-fundador foi entrevistado. Foi também realizada uma entrevista com um dos coordenadores da incubadora. 76 3.3 – Coleta e análise dos dados Inicialmente foram realizadas entrevistas telefônicas como forma de adquirir um entendimento prévio das questões. O segundo passo foi realizar entrevistas, todas feitas no Instituto Gênesis da PUC-RJ, no escritório de cada uma das empresas pesquisadas. O tempo médio de duração das entrevistas foi de 40 minutos. Posteriormente todas as entrevistas foram transcritas para documento Word, gerando em média 14 páginas de texto cada uma. O roteiro elaborado para as entrevistas buscou captar todo o processo empreendedor, apesar de o estudo estar mais focado na fase posterior à entrada na incubadora. Isso se deu porque a intenção foi de compreender como a empresa se formou, de forma a entender o desenvolvimento do negócio. Para a análise de dados, foi utilizado o software Atlas/ti v5. O uso do software possibilitou que as entrevistas transcritas fossem codificadas segundo categorias existentes da literatura. No entanto, algumas categorias emergiram diretamente da análise das entrevistas. Para cada uma das empresas entrevistadas, uma linha do tempo foi traçada com base no modelo apresentado no capítulo anterior. Esta linha do 77 tempo retrata as atividades e fases da empresa antes e durante o processo de incubação e serviu como ferramenta auxiliar de análise dos dados. Para cada uma das atividades, buscou-se observar quais recursos entre informação, recursos financeiros, tecnologia e recursos humanos foram levantados pelo uso de capital social. 78 3.4 – Limitações da pesquisa qualitativa Manning (1979) aponta como uma das maiores limitações da pesquisa qualitativa o fato dela basear-se na interpretação que deve ser feita da linguagem dos textos ou entrevistas em estudo. Isto porque o contexto, o estilo e o simbolismo, que são muito importantes na formação de argumentos, podem não ser captados pelo pesquisador. Para tentar diminuir este problema, o texto de estudo deve ser objeto de análise detalhada. Outra aparente dificuldade enfrentada por pesquisadores no âmbito qualitativo é a dificuldade na coleta e análise de dados. Normalmente, a quantidade de material coletado é extensa, o que dificulta a análise. Além disso, não existem convenções para os métodos de análise na pesquisa qualitativa tão bem estabelecidas quanto às observadas na pesquisa quantitativa. No entanto, deve-se ter em mente que qualquer tipo de pesquisa envolve dificuldades na interpretação e avaliação de dados (DOWNEY & IRELAND, 1979). Outra dificuldade enfrentada na análise dos dados é estabelecer a ordem temporal dos acontecimentos, porque é raro que o entrevistado relate os fatos na ordem em que eles realmente aconteceram. A seqüência de eventos muitas vezes tem que ser deduzida por frases e por fatos narrados de forma fragmentada. 79 3.5 – Limitações da metodologia Não se pode ignorar que a literatura utilizada neste trabalho sobre capital social tem um viés cultural, principalmente porque o tema envolve relacionamento entre diferentes indivíduos. Por isso, é válido ressaltar que afirmações encontradas no texto podem não ser verdadeiras em outras sociedades. As entrevistas realizadas buscaram informações e esclarecimentos sobre o passado das empresas pesquisadas, e eventualmente os dados exatos deste passado não podem ser completamente recuperados ou podem ainda sofrer influência de fatos mais recentes. 80 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 81 4.1 – Empresas do estudo 4.1.1 - Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis – PUC-Rio A Incubadora Tecnológica funciona dentro do Instituto Gênesis, formado a partir da inauguração pela PUC-Rio, em 1997, do Prédio Gênesis, com o apoio do Citibank, do Sebrae, da FINEP e da FAPERJ. Este prédio foi construído com o objetivo de sediar todo o processo de incubação. Ainda em 1997, foi formada uma pré-incubadora de informática, a Infogene, com o oferecimento de três disciplinas da área de empreendedorismo, com foco em comportamento, finanças e planejamento. A pré-incubadora de informática transformou-se na Incubadora Tecnológica Gênesis, com capacidade para 20 empresas residentes, e criou-se o Programa de Formação de Empreendedores da PUC-Rio, o PFE, que tem hoje 17 disciplinas. O Projeto Gênesis transformou-se em Instituto Gênesis (IG), sendo o responsável pela coordenação de incubação e também do PFE. A missão da Incubadora Tecnológica é: “Transferir conhecimento da Universidade para a sociedade, contribuindo para a inclusão social, a preservação da cultura nacional e a melhoria da qualidade de vida da região através da formação de 82 empreendedores e da geração de empreendimentos inovadores auto – sustentáveis.” (www.genesis.puc-rio.br – acesso em 25/10/2007) O Prédio Gênesis possui 895,14 m² de área construída, distribuídos em 25 módulos e mais um Auditório para 30 pessoas. A infra-estrutura física do Instituto Gênesis compreende o Prédio Gênesis, os Laboratórios de Criatividade e o Núcleo de Estudos e Pesquisas. As empresas podem permanecer no sistema de pré-incubação de seis meses a um ano e no processo de incubação de dois a três anos. A incubadora busca nos projetos candidatos produtos ou processos inovadores e a possibilidade de formação de parcerias com outras empresas incubadas. Além disso, a interação com os centros de pesquisa da PUC-Rio e com a própria universidade são fundamentais no processo seletivo. A Incubadora acredita que a busca dos candidatos pela incubação deve-se, fundamentalmente, à credibilidade e à visibilidade que a marca PUC-Rio oferece, além da possibilidade de estabelecer um vínculo com centros de pesquisa renomados. A Incubadora Tecnológica presta hoje, como assessoria para as empresas incubadas, os seguintes serviços: Gestão de Pessoas: recrutamento questionamentos, carterinha PUC – Rio; e seleção, dúvidas e 83 Jurídico: análise e elaboração de documentos jurídicos e dúvidas e questionamentos; Comercial: análise e aprimoramento do processo comercial e disponibilização do banco de dados de contatos do Instituto Gênesis; Comunicação: criação, assessoria de imprensa e redação de textos; Relações Internacionais: contatos internacionais, busca de convênios com universidades, auxílio na participação em concursos internacionais; Tecnologia e Informação: designação de técnicos para apoio em apresentações, palestras; criação de IP; instalação de software e hardware; manutenção de computadores; Predial: serviços de recepção e limpeza, serviços de contínuo, serviços de manutenção, suporte no xérox, segurança diurno/noturno; Incubadora: consultoria e apoio para a captação de recursos e acompanhamento. Além disso, a Incubadora Tecnológica dispõe de pessoal e recursos de análise para acompanhar o processo de incubação de cada empresa, tentando sempre aperfeiçoar o desenvolvimento do negócio. A incubadora vê que os maiores desafios das empresas incubadas são ganhar legitimidade frente ao mercado e buscar expertise na área de gestão. A associação da empresa ao Instituto Gênesis traz maior confiança para os 84 clientes destas, que percebem que os empreendimentos, apesar de novos, passaram por um processo rigoroso de seleção. Além disso, a assessoria comercial, que foi uma demanda dos sócios das empresas incubadas, pode ajudar na busca de mercado para os produtos fornecidos por estas empresas, tanto por busca ativa de clientes como pela utilização do banco de contatos do Instituto Gênesis. O contato dos empreendedores com a PUC-Rio para formação de parcerias de pesquisa e ensino também é estimulado pelo IG. È muito importante, para que isso aconteça, que algum dos sócios já tenha sido aluno da PUC-Rio, pois isso facilita a formação de uma rede de contatos dentro da universidade. A incubadora tecnológica também se preocupa com a interação entre os sócios das empresas incubadas, pois entende que a troca de experiências e informações é um diferencial do ambiente de incubação a ser valorizado. Além disso, a incubadora tenta promover encontros entre os empreendedores para que estes possam perceber sinergias entre seus empreendimentos e isso possa estimular parcerias. 85 4.1.2 - B-Mobile A sócia-executiva, que se formou pela PUC em engenharia de produção, trabalhava aqui no Brasil em uma empresa que desenvolve conteúdo para celular, a Ntime, que também já foi incubada pelo Instituto Gênesis. Ela então tirou uma licença para fazer uma pós-graduação no exterior. Lá, durante um trabalho temporário na empresa GraceNote, entrou em contato com um produto de identificação de música pelo celular comercializado pela empresa. A empresa tinha a intenção de entrar no mercado brasileiro e precisava do seu trabalho para fazer contato com empresas de telecomunicações e gravadoras brasileiras. A primeira idéia era construir um subproduto para a tecnologia de identificação de música pelo celular, que ela chamou de FANet. O objetivo era promover a interatividade entre os fãs de um artista por meio do telefone celular, usando mensagens de texto, participando de debates ou recebendo informações sobre seus ídolos. A partir do momento que um usuário pede a identificação de uma música de determinado artista, ele tem a opção de entrar para o fã-clube desse artista e usufruir as opções de entretenimento do FANet. Voltando ao Brasil com o plano de negócios já preparado, chamou um amigo que trabalhava junto com ela na Ntime, e que também tinha vontade de abrir um empreendimento para a sociedade, com a função de desenvolver a 86 programação do produto. Só que no momento em que ela pediu demissão da Ntime para abrir o novo empreendimento, o seu amigo não a acompanhou e ela teve que contratar, com muita dificuldade, duas pessoas para fazer a programação do produto. A empresa foi fundada em 2005 e funcionou durante seis meses em Copacabana, em uma sala alugada, antes de passar em primeiro lugar no processo de seleção do Instituto Gênesis, em 2006. A empresa possui uma sócia-executiva e um sócio-investidor, que é o pai da sócia-executiva. A busca pela incubadora se deu para garantir credibilidade e visibilidade para a empresa e facilitar suas negociações, já que a empresa está inserida em uma cadeia de negócios em que estão presentes grandes empresas do ramo das telecomunicações e da música. Neste momento de entrada na incubadora, a empresa começou a desenvolver um novo produto, o Booklog, que trata da publicação de textos completos ou da criação de textos em comunidade na Internet. A idéia de mudar para a plataforma web era a de justamente não depender mais de outros participantes da cadeia de negócio, que até hoje ainda impossibilitam o lançamento do FANet. O Booklog tem interface para usuários comuns e também uma interface para escolas, que pode ajudar professores a acompanhar o trabalho de seus alunos. 87 88 4.1.3 - Córtex Intelligence Em 2002, um dos atuais sócios da Cortez Intelligence estava finalizando o seu doutorado em Inteligência Artificial na PUC, trabalhando com métodos qualitativos de análise, mais especificamente o tratamento automático de textos. Na intenção de transformar esta tecnologia em produtos e serviços, mais três pessoas foram convidadas a participar do empreendimento: uma fazia na época Mestrado em Informática na PUC, e as outras duas eram da área de gestão de negócios. O grupo se uniu para escrever um projeto para captação de recursos a fundo perdido da FINEP, dedicando-se nas horas vagas ao projeto. A empresa entrou na incubadora na condição de pré-incubada, e os sócios desenvolveram diversas aplicações diferentes para a tecnologia e estudaram seus respectivos mercados, até concluírem que a melhor opção seria investir em inteligência competitiva, principalmente pela experiência prévia de dois sócios em consultoria. A Incubadora Tecnológica foi vista como um bom ambiente para o desenvolvimento da idéia do negócio, ainda sem uma definição clara. Em setembro de 2004, a empresa lançou a Plataforma Córtex Competitiva® em uma feira de Informática e ganhou, logo em seguida, o primeiro Prêmio de Inovação em Inteligência Competitiva promovido pela 89 Associação Brasileira de Inteligência Competitiva, como o primeiro sistema integrado nacional de suporte ao processo de Inteligência Competitiva. Isso trouxe para a empresa visibilidade e o primeiro projeto com um grande cliente, o Grupo Votorantim, além da possibilidade de continuar o desenvolvimento do produto e da empresa. A plataforma, em 2006, foi primeiro lugar em todas as categorias no HAREM, competição mundial de tecnologias de tratamento automático de textos para língua portuguesa, promovida pela Linguateca. A partir de 2006, com a empresa já melhor desenvolvida, todos os sócios saíram de seus empregos e passaram a se dedicar em tempo integral ao empreendimento. A empresa recebeu mais uma vez financiamento a fundo perdido na FINEP, porém, neste período, a empresa começou a enfrentar momentos difíceis, quando um dos seus maiores clientes não honrou o pagamento dos serviços. No entanto, logo depois a empresa se recuperou, a partir do fechamento de um contrato com as Lojas Americanas S.A. e, posteriormente, com a Companhia Vale do Rio Doce e o Banco Bradesco S/A. Na sua trajetória, a empresa desligou um dos sócios e, no ano de 2007, passou por reestruturações para estabelecer controles internos e um processo comercial bem definido. A Córtex Intelligence investe ainda em estudos sobre Inteligência Competitiva e já publicou benchmarkings de empresas competidoras no assunto. artigos sobre 90 91 A empresa tem planos de criar produtos e serviços para a área de Inteligência Competitiva com base na Internet, demonstrando a necessidade de embarcar em um novo ramo de negócio. 92 4.1.4 - Dínamo DM A Dínamo DM originou-se de outra empresa, a Delta T Consultoria, criada em 1999 por dois empreendedores, que desenvolvia produtos e serviços para marketing de relacionamento. A idéia veio de um dos sócios, que trabalhava em uma empresa no Rio de Janeiro, e percebeu que o mercado de marketing de relacionamento estava sendo sub-atendido. A partir do ano de 2000, a empresa começou a operar com o nome de Dínamo Data Management. Ao final do seu primeiro ano de vida, a empresa já contava com quase 100 funcionários e tinha como clientes empresas como Jornal o Dia, Telemar, Banco Real e Vésper. No ano de 2002, a empresa enfrentou um momento muito difícil, com a morte de um dos sócios. A área técnica ficou completamente desestruturada e a empresa falhou em honrar com os compromissos com seus clientes. Por isso, em 2003, buscando facilitar sua reestruturação, a empresa entrou no processo seletivo da Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis. A empresa ainda enfrentou desafios na sua reestruturação, com a entrada de dois novos sócios, que dificultaram muito a retomada dos contratos com os antigos clientes e o estabelecimento de parcerias com outras empresas ou ainda com a universidade e a incubadora. Só com a saída desses sócios e a 93 entrada de mais um sócio é que a empresa consolidou sua estrutura societária e começou a retomar o seu crescimento. Entre os principais produtos da empresa estão: o Data Quality, produto focado em reduzir desperdícios e aumentar o foco em ações de Marketing de Relacionamento; o Database Marketing (DBM), que permite obter conhecimento e trabalhar na captação de prospects, além de analisar novos mercados; e o Customer Relationship Management, que possibilita o conhecimento de diversas informações dos clientes. A empresa hoje atua nas regiões Sul, Sudeste e no Distrito Federal, e já é considerada a maior no setor de Data Quality no Rio de Janeiro. Os principais clientes atualmente são: Embratel, Ponto Frio, Losango, Sul América, Banco Real, entre outros. 94 95 4.1.5 - E-create A E-create é a realização de um desejo antigo de empreender de seu sócio-fundador. Desde a escola, ele já se envolvia em projetos que tornassem a aula mais divertida e interessante. A partir de experiências de trabalho no IAG da PUC e da percepção da carência do mercado na área de Educação à Distância, ele decidiu formar a E-create, que tem como foco o desenvolvimento de soluções em forma de produtos, serviços e conteúdo para cursos de Ensino à Distância. O principal produto oferecido chama-se Universidade Virtual, e se caracteriza por ser um espaço inovador de ensino e de aprendizagem e pela capacidade de gerenciamento de cursos de e-learning. Um dos serviços oferecidos pela empresa é o desenvolvimento de conteúdos interativos para cursos de Ensino à Distância nos formatos Web, CD, DVD e TV. A empresa oferece ainda serviços especializados para o ambiente Moodle, contando com a parceria da Moodle Partner Brasil. A entrada na incubadora se deu logo após a criação da empresa, e o que motivou esta entrada foram os recursos que a incubadora oferece exclusivamente para seus incubados e a proximidade com a universidade, além da credibilidade e visibilidade que a associação à PUC oferece. 96 O sócio-fundador nunca conseguiu encontrar uma pessoa que se comprometesse de fato com o empreendimento para convidar para a sociedade, e por isso até hoje ainda não encontrou um sócio. Ele afirma que a maior dificuldade de uma empresa nascente é a abertura para a entrada no mercado, e para superar isso conta com a ajuda da nova assessoria comercial da incubadora e de outra empresa de e-learning que está funcionando como representante de vendas. Os clientes mais importantes da empresa hoje são PUC-Rio, Grupo de Tecnologia em Engenharia de Petróleo (GTEP), Gavea Sensors, entre outros. 97 98 4.1.6 - Prime Up A Prime Up é formada por cinco sócios-executivos. Três deles se conheceram na graduação, e sempre tiveram a intenção de possuir um empreendimento próprio, tendo até mesmo já vivido a experiência de incubação, por terem trabalhado em uma empresa incubada no Instituto Gênesis. Os outros dois sócios, que faziam doutorado na época, entraram em contato com os outros três fazendo Mestrado na PUC-Rio, já que todos se encontravam constantemente no Laboratório de Engenharia de Software - LES. Os sócios atendiam na época a demandas comerciais que chegavam para o laboratório. A partir de 2007, observando a crescente demando por seus serviços, entraram na Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis, a fim de buscar profissionalização, mas permanecendo ainda conectados à universidade e próximos de um centro de excelência em tecnologia. O objetivo da empresa é ajudar seus clientes na implantação e manutenção de qualidade na produção de software. Os principais produtos e serviços da empresa – o Módulo Risk Manager, Prime|til e PEP (Perspectivas do Engenheiro de Processo) – envolvem o diagnóstico do desenvolvimento de software do cliente, capacitação profissional das equipes de desenvolvimento, elaboração e implantação de um plano de ação segundo propostas de solução e apoio da gestão de Tecnologia da Informação. 99 A empresa participou do evento RioInfo 2007 e ganhou o Prêmio Solução RioInfo, o que trouxe uma boa visibilidade para a empresa, que ainda tem como um de seus maiores desafios a busca por clientes. A empresa mantém parcerias com a Fundação Padre Leonel Franca, com o Instituto Gênesis e com a Módulo. 100 101 4.1.7 - PV Inova A PV Inova surgiu da constatação dos sócios de que, atualmente, as pessoas passam muito tempo de suas vidas em meios de transporte coletivos. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a média do tempo de viagem em um ônibus urbano é de 63 minutos, e este tempo pode ser visto como tempo livre. Por isso, a empresa atua no desenvolvimento de produtos e serviços de telecomunicações adaptados para veículos de transporte. O primeiro produto da empresa baseia-se no fato de que, apesar de a grande maioria das pessoas já possuir um aparelho de telefonia celular, mais de 80% destes aparelhos está registrado em planos pré-pagos, que possuem preços elevados para o minuto de ligação. Por isso, estes telefones são mais comumente utilizados para receber chamadas. Para originá-las, as pessoas continuam utilizando telefones públicos. Daí a idéia de criar o Telefone Público Veicular – o TÉLO – para tornar mais prazeroso e produtivo o tempo despendido em transportes coletivos. Com este mesmo objetivo, a empresa está também desenvolvendo o seu segundo produto, a Televisão Digital Pública Veicular. A oportunidade de desenvolver o negócio foi identificada por um dos sócios-executivos durante o seu Mestrado em Engenharia na PUC. O outro sócio-executivo, que na época fazia Mestrado em Administração no Canadá, foi convidado a participar da empresa e, os dois, já no Brasil, começaram a explorar a oportunidade, a partir do desenvolvimento de um plano de negócios e a criação do primeiro produto, o TÉLO. 102 Os sócios-executivos, em 2005, após três meses de exploração da oportunidade, buscaram a Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis da PUC-Rio em busca de legitimidade e da possibilidade de trabalhar em parceria com centros de excelência em pesquisa. Atualmente, outra empresa incubada do Instituto Gênesis, a Minds at Work, é responsável pela Pesquisa e Desenvolvimento na área de software e o Centro de Estudos em Telecomunicações da PUC-Rio – CETUC – desenvolve a parte de pesquisa em telecomunicações. O TÉLO, no Brasil, precisa da parceria de uma operadora de telefonia para funcionar nos veículos de transporte. Ele foi testado pela primeira vez em Porto Alegre, em parceria com a Brasil Telecom. O segundo teste foi feito no Rio de Janeiro, durante os XV Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro por dois meses, em parceria com o Metrô: os ônibus de integração da linha Siqueira Campos – Alvorada disponibilizaram o produto gratuitamente para o usuário, através de uma autorização recebida pela Anatel e financiada pela própria PV Inova. Ambos os testes foram bem-sucedidos e agora a empresa busca uma operadora de telefonia celular para ser sua parceira no lançamento definitivo do produto, que está previsto para janeiro de 2008. Hoje a empresa possui três sócios-executivos, sete sócios-investidores que formaram um pool de investimento e um investidor-anjo. Além disso, a empresa foi uma das vencedoras do Programa de Subvenção Econômica a Empresas da FINEP, recebeu uma linha de financiamento do BNDES 103 (FINAME) e foi uma das dez empresas selecionadas para o 15º Fórum FINEP de Venture Capital. A PV Inova é uma empresa de inovação radical e tem parcerias estabelecidas com empresas de renome como Brasil Telecom, Icatel, Índio da Costa Design e Victum Design Técnico. 104 105 4.1.8 - Silicon Strategy A idéia inicial para a formação da Silicon Strategy surgiu enquanto um dos sócios trabalhava na Alcatel Telecomunicações S.A., e pode perceber a que existia uma demanda não-atendida por aplicações de automação de processos de gerência. Em 2004, após a rápida saída do outro sócio, ele entrou em contato com outros dois amigos de faculdade que tinham montado uma empresa de desenvolvimento de software, e foi então decidido unir as duas empresas, com o convite de mais uma pessoa para a sociedade. No ano de 2005, a Silicon Strategy começou a procurar uma incubadora, com a objetivo de obter auxílio na sua gestão, e foi aprovada no processo seletivo da Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis. A empresa hoje é a primeira brasileira a trabalhar no desenvolvimento de aplicações que auxiliam o processo de automação de redes de transmissão de dados. Seus serviços estão relacionados ao desenvolvimento de sistemas de software voltados à operação, manutenção e gerência de redes de telecomunicações. Outro produto da empresa é o STW (Silicon Telemanagement Workflow), que é capaz de definir e executar processos de diagnóstico e resolução de falhas em redes de telecomunicações. 106 A Silicon Strategy trabalha com empresas que operam redes de telecomunicações, como a Alcatel Telecomunicações S.A. e a Oi, mas vêm os fabricantes de equipamentos de telecomunicações como bons canais de venda para seus produtos, além de possuírem também prospecção comercial através de representantes de vendas. A empresa, a partir de 2006, começou a investir em pesquisa na área de TV Digital e IPTV, e está com um crescimento acelerado. Os planos dos sócios incluem uma expansão nacional da empresa até o ano de 2010, com expansão para a América Latina depois. 107 108 4.1.9 - Superwaba A empresa surgiu a partir do desenvolvimento da tecnologia por um dos sócios. O outro sócio foi convidado para cuidar da parte administrativa da empresa. A tecnologia desenvolvida é o SuperWaba, uma plataforma para desenvolvimento de aplicações para PDAs (Personal Digital Assistants) e SmartPhones. A busca por uma incubadora de empresas resultou na entrada na Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis, em 2005, onde os sócios procuravam apoio de importantes centros de pesquisa e uma rede de contatos que pudesse ajudá-los a gerar negócios, além de uma economia nos custos de manutenção da empresa e consultoria na área de negócios. Desde então, a empresa vem comercializando seus produtos na Internet, o que lhes dá imensa vantagem, pois possibilita atingir o mercado mundial, e hoje já são feitos downloads nos EUA e na Europa. A plataforma atualmente é oferecida em dois pacotes distintos: o Comunitário e o Profissional. O pacote Comunitário é gratuito, mas não possui tantos recursos quanto o Profissional. 109 O grande diferencial da empresa Superwaba é que ela atua na construção de uma máquina virtual Java de alta desempenho capaz de funcionar na maioria dos palmtops de mercado e, além disso, oferece baixos custos de manutenção e melhor performance nas aplicações. Empresas desenvolvedoras criam seus programas utilizando a máquina virtual SuperWaba, e estas parcerias já renderam produtos que são utilizados por empresas como Shell, Net, Batavo, COPEL, CEMIG, entre outras. A empresa enfrenta alguns problemas de ordem legal por basear o desenvolvimento de sua plataforma em um software livre, o que impede a comercialização no formato que os sócios gostariam. Por isso, a empresa está desenvolvendo novos produtos e mudando o seu modelo de negócios, na tentativa de facilitar a comercialização de seus produtos e possibilitar o crescimento do empreendimento. 110 111 4.2 – Análise e Discussão 4.2.1 – Intenção Não se pode definir um padrão de intenção de empreender entre os entrevistados. Em geral, os empreendedores disseram possuir vontade de ter um empreendimento próprio, às vezes até como forma de saída do meio corporativo. Salvo o observado na Silicon Strategy, na E-create e na B-Mobile, os empreendedores demonstraram precisar de bastante tempo entre o momento da descoberta de uma oportunidade até a decisão de explorá-la. Na Córtex Intelligence, por exemplo, passaram-se dois anos até que o produto fosse lançado, porque, até então, nenhum dos sócios tinha abandonado suas atividades para se dedicar ao desenvolvimento do produto. E a gente começou a conversar nas horas vagas e, legal, escrevemos o projeto e o projeto era exatamente isso, né? Transformar essa pesquisa em algum produto, em alguma coisa que pudesse ser economicamente aproveitada. O projeto FINEP, ganhamos, aportou 100 mil, fundo perdido, então nem o principal precisava ser pago de volta. E começamos meio que part-time, eu lá na Accenture viajando pra SP e Salvador, o Daniel aqui terminando a faculdade, o Christian terminando o doutorado, o Daniel Marreco terminando o mestrado [...]. 112 Isso pode ser atribuído a uma intenção ainda fraca de fundar um empreendimento e parece estar associado à necessidade de um período de maturação da oportunidade e do empreendedor. Segundo Krueger Jr, Reilly & Carsrud (2000), a intenção está sempre presente em sócios de negócios nascentes, o que varia é o tempo de lançamento deste novo empreendimento. A literatura descreve que existem fatores cognitivos comuns a pessoas com perfil empreendedor, como processos mentais diferenciados que fazem com que as formas de obter, armazenar e transformar informações sejam favoráveis à realização de tarefas relacionadas ao empreendedorismo. Como outras características têm-se também: tendência otimista, ilusão de controle e planejamento, necessidade de auto-realização, auto-confiança e um alerta empreendedor, capaz de perceber mudanças e desequilíbrios de mercado (BARON, 2000). Estas características fazem com que empreendedores busquem ativamente uma oportunidade para explorar. Era comum que essas pessoas, ao saírem da graduação, já buscassem oportunidades a serem exploradas. A intenção de empreender parece se fortalecer quando o empreendedor entende que pode minimizar os riscos de um novo negócio instalando-se em uma incubadora. 113 A influência do histórico familiar e da universidade onde o empreendedor estudou parecem ser fatores a serem considerados na intenção de empreender (SCHERER, BRODZINSKI & WIEBE, 1991; ANDERSON & MILLER, 2003). No Brasil, o empreendedorismo tem crescido nos últimos anos, com o envolvimento empreendedorismo, com de a universidades criação de provendo o incubadoras de ensino empresas do - principalmente as de foco tecnológico, despontando como pólos de inovação (DORNELAS & TIFFIN, 2002). Um dos sócios da Dínamo DM, por exemplo, tem entre seus familiares pessoas que possuem negócios próprios e, por isso, ele acredita que teve uma criação voltada para o empreendedorismo. Os meus pais têm empresa desde que eu tenho seis anos. Meu pai é fisioterapeuta, minha mãe é professora de artes. Eles tiveram uma confecção, uma loteria, um albergue. Eu acho que é exemplo, como eu fui criado. Eu não fui criado, eu não sei, não é que eu não saiba, eu trabalho bem, mas eu sou absolutamente insubordinado. A universidade em que os empreendedores se formam também pode ter uma participação no despertar da intenção de empreender. Foi assim com um dos sócios da Silicon Strategy, que teve a influência da família e também do Instituto Militar de Engenharia (IME). O empreendedor, ele talvez tenha algumas pessoas tenham isso no sangue de gostarem da coisa e tudo o mais, mas eu acho que é muito 114 importante a influência pessoal ao longo do seu processo de formação. Nós em particular, os três que são de computação, [...] nós sofremos um processo de influência razoável dentro da nossa formação no próprio IME. Eu já tive isso antes, até de família mesmo, meu pai sempre teve comércio, minha mãe sempre foi vendedora, isso de alguma forma não duvido nada que tenha me influenciado, mas no IME em particular, [...] pra mim foi um processo que consolidou eu montar isso. 115 4.2.2 – Busca e descoberta de oportunidades Nesta fase do processo, grande parte dos empreendedores estava trabalhando em empresas, geralmente em áreas relacionadas àquela em que a futura empresa incubada iria atuar. Alguns empreendedores puderam perceber falhas de mercado trabalhando nessas empresas e, depois da abertura do empreendimento, passaram a prestar serviços iniciais para as empresas onde trabalharam anteriormente. Foi o caso da Dínamo DM: Ele tinha, o Fábio hoje teria uns 39, 40 anos e ele já trabalhava com isso, então ele trabalhava em outra empresa com isso e ele viu que tinha uma deficiência, esse mercado tinha deficiências muito graves e que ninguém estava cobrindo. E começaram a conversar os dois com mais outras duas pessoas e se juntaram num grupo de quatro pra atender esse mercado [...] Um dos sócios da Silicon Strategy trabalhava na Alcatel Telecomunicações e percebeu que poderia abrir uma empresa para desempenhar o trabalho que ele estava realizando e continuar prestando serviço para a Alcatel e ainda para outras empresas interessadas. Outra parte dos empreendedores, nesta fase, estava realizando pesquisas, trabalhando em laboratórios e, a partir dessas pesquisas, puderam criar produtos e serviços inovadores com valor comercial. Esse foi o caso da Córtex Intelligence, em que um dos sócios desenvolveu, durante o doutorado, a 116 tecnologia de text mining, que passou a ser comercializada pela empresa na forma de consultoria de Inteligência Competitiva. A Superwaba também é produto do desenvolvimento, por um dos sócios, de uma plataforma para PDAs. A criação do empreendimento se dá como alternativa para a exploração comercial da tecnologia gerada. Nestas empresas, era mais comum que o início do empreendimento ocorresse próximo ou simultâneo à incubação da empresa. Isso porque empreendedores ligados à parte técnica do desenvolvimento da oportunidade, em geral, tinham mais receio em desenvolver o negócio, e já procuravam inicialmente a incubadora. A proximidade entre a incubadora e a universidade também pode ter contribuído para esta observação. Um melhor posicionamento dentro da rede pode render a um indivíduo informações sobre uma oportunidade única, por causa das imperfeições do mercado na distribuição de informações. A busca e descoberta de oportunidades encaixam-se no modelo de Lin (1999), que mostra que a desigualdade gerada por diferentes níveis culturais, educacionais, industriais e de tecnologia, além de posições diferentes na rede, gera acesso e uso do capital social de forma também diferenciada. A mobilização de recursos através desta capitalização resulta em um efeito (LIN, 1999) que, nesta fase do processo empreendedor, foi o levantamento de informação privilegiada e, com isso, a geração de uma oportunidade para a abertura de uma nova empresa. 117 Durante as entrevistas, foram percebidas duas situações distintas envolvendo a descoberta de oportunidades, todas envolvendo, em maior ou menor extensão, o uso do capital social. 1- Sócio, em geral, apresenta perfil empreendedor e busca, durante a sua trajetória de desenvolvimento profissional, encontrar uma falha de mercado como oportunidade para empreender. O acesso se deu, portanto, por contatos da rede profissional do empreendedor. 2- Sócio, em geral, não apresenta um perfil empreendedor, mas como pesquisador, desenvolve uma tecnologia ou trabalha em laboratório com uma tecnologia com potencial comercial. O acesso se deu, também, por contatos da rede profissional do empreendedor. 118 4.2.3 – Decisão de explorar A fase relativa à decisão de explorar revelou-se difícil e importante para grande parte dos empreendedores. E ela muitas vezes perdurou além da abertura do empreendimento. Isso porque quando se trata da decisão de explorar um novo empreendimento, deve-se ter em mente dois fatores que irão influenciar essa decisão: a natureza da oportunidade e as características do empreendedor. A natureza da oportunidade é identificada pelo valor esperado de retorno menos os custos, que envolvem até mesmo o custo do tempo do indivíduo. As características do empreendedor envolvem a percepção do custo de oportunidade (o indivíduo compara a oportunidade com outra situação alternativa), o custo de aprendizado e o custo dos recursos (SHANE & VENKATARAMAN, 2000). O empreendedor que possui laços fortes com provedores de recursos, podendo com isso acessar com mais facilidade estes recursos, terá uma probabilidade maior de explorar uma oportunidade (ALDRICH & ZIMMER apud SHANE & VENKATARAMAN, 2000), assim como a transferência de informações de experiências anteriores também aumenta essa probabilidade, pois diminui os custos de aprendizado (COOPER, WOO, & DUNKELBERG apud SHANE & VENKATARAMAN, 2000) Por isso, sócios sem histórico ou perfil empreendedor demoraram muito mais para tomar a decisão de explorar o empreendimento, precisando de mais tempo para amadurecer como empreendedores e de mais informações para tornar os custos da exploração da oportunidade menores. Isso pode ser 119 visto pela dificuldade de alguns sócios de sair de seus antigos empregos para se dedicar integralmente às atividades do novo empreendimento, como foi o caso da Superwaba. Os dois sócios trabalhavam juntos e um deles pediu demissão para trabalhar no desenvolvimento da tecnologia, enquanto o outro explorava a parte gerencial do empreendimento, mas ainda mantendo o seu emprego. Normalmente, a decisão de explorar dos empreendedores esteve associada à busca de um sócio, que pudesse suprir necessidades técnicas do novo empreendimento. Alguns empreendedores com formação na área tecnológica buscavam sócios capazes de gerir a empresa. Da mesma forma, outros empreendedores com formação na área de gestão procuravam sócios com domínio da tecnologia. Ou seja, os sócios procuraram, em geral, convidar para a sociedade indivíduos com competências complementares às suas. Outros empreendedores estabeleceram sociedade com indivíduos da mesma área técnica, pessoas de estreito convívio particular, na tentativa de obter apoio para o desenvolvimento do empreendimento. Esta relação normalmente envolvia também confiança, característica que se revelou extremamente importante nas relações de sociedade de um empreendimento. A sociedade se dava, portanto, com indivíduos da rede particular dos empreendedores, basicamente amigos antigos, que muitas vezes 120 passaram a ser também colegas de trabalho em empresas ou em laboratórios da universidade. Portanto, os recursos acessados nesta fase do processo empreendedor usando capital social foram apoio para o desenvolvimento do negócio, informação e conhecimento. 121 4.2.4 – Atividades de exploração Nesta fase, as atividades realizadas pelos empreendedores são as mais diversas, como procura por uma sede comercial ou por uma incubadora, contratação de colaboradores, busca por informações sobre a área em que a empresa poderia atuar ou sobre demandas do mercado, elaboração do plano de negócios, entre outras. Um dos esforços mais importantes relatados nas entrevistas foi o desenvolvimento do plano de negócios do novo empreendimento. Todas as empresas elaboraram um plano de negócios, por fazer parte do processo seletivo para a entrada no Instituto Gênesis. Para isso, os empreendedores tinham que levantar quantidades muito grandes de informações diversas, como pesquisas de mercado, viabilidade do negócio, contato com outros participantes da cadeia de negócio, entre outros. Vale lembrar que, em algumas empresas, esta tarefa tornava-se mais árdua pela falta de conhecimento dos sócios na área de negócios, aumentando ainda mais a necessidade de informações para a construção deste plano. Havia ainda a necessidade de viabilizar o produto que, em alguns casos, era ainda uma tecnologia sem aplicação específica que precisava ser aproveitada por algum ramo de negócio. Esta atividade requeria mais informações ainda, para descobrir qual seria a melhor e mais rentável 122 aplicação daquela tecnologia, dentre as opções. Foi o caso da Córtex Intelligence, já que a tecnologia de text mining poderia gerar vários aplicativos diferentes, como um filtro anti-spam, uma ferramenta de web-filtering pra controlar a navegação de sites em uma empresa, um software de gestão de documentos ou um software de inteligência competitiva. A realização de atividades de exploração foi, em alguns casos como o da Superwaba, bastante lenta, pela falta de comprometimento integral dos empreendedores, que receavam muito em sair de seus empregos para buscar a abertura do empreendimento. Os recursos mais importante nessa fase do processo empreendedor foram, nos casos analisados, a informação e o apoio emocional. E o capital social mostrou-se uma importante forma de acesso à informação nas empresas em estudo, pois ele facilita o fluxo de informações (LIN, 1999, UPHOFF, 2000). Além disso, o apoio emocional também já foi descrito na literatura como determinante nas primeiras fases do desenvolvimento de um negócio (KRACKHARDT apud GREVE & SALAFF, 2003) Na empresa PV Inova, por exemplo, a rede de contatos pessoais dos empreendedores foi importante para o desenvolvimento do plano de negócios da empresa, além de também terem sido primordiais para o design do produto. Na verdade, não só a rede de contatos pessoais dos empreendedores, mas 123 também a rede pessoal de contatos de seus familiares, principalmente os pais e os primos, e de outros amigos. Nesta fase, a rede particular do empreendedor revelou ser não somente fonte de acesso à informação, mas também uma forma de previsão de sucesso do empreendimento. Os empreendedores da PV Inova revelaram que o capital social que eles possuem foi vital para a exploração do negócio, pois eles possuem parentes muito bem relacionados que puderam gerar contatos importantes para aconselhá-los quanto a melhor forma de explorar o negócio. Eles comentaram sobre a falta de cultura empreendedora no Brasil, ou seja, a falta de costume de empreender ou de estímulo e procura pelo empreendedorismo, também comentada por Lalkala (2003), que acredita que para reverter este quadro é necessário envolver a comunidade no desenvolvimento do empreendedorismo e de transformações culturais. Enquanto isso, as redes de relacionamento pessoais dos sócios continuam sendo determinantes para o sucesso de um empreendimento nascente, pois a falta de apoio do governo e do setor privado é suplantada pelos recursos acessados via rede pessoal de contatos dos empreendedores. 124 4.2.5 – Atividades genéricas empresariais Estão compreendidas nesta fase atividades empresariais comuns após a entrada na incubadora, que pode coincidir com o início do empreendimento. Em geral, as empresas buscam recursos diversos neste momento. Porém, mais freqüentemente, recursos humanos e financeiros. Pela proximidade com a universidade, utiliza-se muito a contratação de estagiários ou alunos de pósgraduação, o que facilita, em muitos casos, a busca por mão-de-obra. No caso dos recursos financeiros, os editais públicos buscados em conjunto com a universidade representam um tipo de recurso financeiro a mais para as empresas incubadas. As empresas estabelecem também acordos neste período para o desenvolvimento de pesquisa. Isso acontece sob a forma de parcerias com diferentes departamentos da universidade ou sob a forma de orientação de alunos de pós-graduação, que desenvolvem seus trabalhos de conclusão na linha de atuação da empresa incubada. No Brasil, mais de 12% dos funcionários de incubadoras são financiados por agência de fomento (LALKAKA & ABETTI, 1999). A proximidade da faculdade possibilita ainda que muitos dos sócios das empresas incubadas continuem seu desenvolvimento profissional buscando cursos de pós-graduação, muitas vezes para ajudar as atividades de pesquisa da empresa, e sem comprometer a sua dedicação ao negócio. Em suma, a proximidade da universidade possibilita que estas empresas tenham uma parcela de mão-de-obra qualificada sem custos e ainda 125 que os sócios aumentem seus níveis de capital humano. A continuidade do relacionamento com a universidade ainda possibilita a manutenção de laços formados anteriormente e a formação de novos laços, aumentando as redes de contato dos empreendedores, o que é importante principalmente para o desenvolvimento de pesquisa. Os serviços de assessoria oferecidos pela incubadora mostraram ser de valia para os novos empreendimentos, pois ajudam no crescimento e desenvolvimento do negócio e os empreendedores afirmam pagar menos do que pagariam fora da incubadora pelo mesmo serviço, Além disso, eles recebem orientação quanto a que tipo de serviço pode ajudar em cada momento. No entanto, os sócios das empresas estudadas comentaram que a incubadora tem dificuldade em assessorar as empresas na obtenção de apoio financeiro, como mais de 60% das incubadoras no mundo (AERNOUDT, 2004). Os empreendedores têm acesso a vários tipos de assessoria pela própria incubadora. As empresas B-Mobile e Dínamo DM citaram como sendo fundamental a assessoria jurídica. Já a E-create destacou o trabalho da assessoria de recursos humanos e, mais recentemente, da assessoria comercial. No entanto, é válido ressaltar que os sócios da Silicon Strategy e da Prime Up chamam atenção para o fato de que a incubadora não cuida da empresa sozinha; o planejamento para a utilização dos serviços prestados pela incubadora deve ser feito pelos próprios sócios. 126 A proximidade da universidade traz uma grande vantagem para as empresas incubadas, como a E-create, a Córtex Intelligence e a B-mobile, que usam a assessoria de recursos humanos da incubadora ou ainda seu contato com professores da universidade, para atrair alunos da universidade para trabalhar nestas empresas. Muitas vezes estes alunos estão envolvidos em projetos de pesquisa que funcionam com recursos financeiros de editais públicos. Desta forma, as empresas podem contar com pessoas de capacitação elevada, algo que não é comum em empreendimentos nascentes, devido à falta de recursos. Esta constatação está de acordo com o trabalho de Rothaermel e Thursby (2005), que prevê a utilização de incubadoras para facilitar o fluxo de informações e capital humano da universidade para a incubadoras, melhorando o desempenho de empresas incubadas. No entanto, nem todas as empresas desfrutam desta facilidade no acesso à mão-de-obra especializada. Nas empresas Superwaba e Silicon Strategy, em que os sócios não eram alunos da PUC até a entrada na incubadora tecnológica, os sócios têm bastante dificuldade em recrutar alunos da PUC. Eles atribuem esta dificuldade ao fato de não terem muito contato com os professores da instituição e de também não desenvolverem esforços de pesquisa em parceria com a PUC, estando assim mais distantes dos alunos. O fechamento em grupos e comunidades impede o acesso de pessoas de fora do grupo (BOURDIEU, 1980) e prejudica o fluxo de informações e a busca e obtenção de novos recursos (LIN, 1999). Mas facilita o relacionamento das pessoas que estão dentro do grupo, melhorando a relação de confiança entre 127 elas (COLEMAN, 1990), e ainda ajuda a manter os recursos existentes dentro do grupo (LIN, 1999). O aporte de recursos financeiros é muito importante nesta fase do empreendimento, e o relacionamento com a universidade, mais uma vez, dá às empresas incubadas a possibilidade de participar de editais públicos, o que significa uma importante fonte de recursos para estas empresas, principalmente no que tange a pesquisa e o desenvolvimento de produtos. No entanto, as empresas Superwaba e Silicon Strategy, mais uma vez, não conseguem desfrutar de parcerias nestes tipos de editais com a universidade, por não terem contato com professores que possam endossar estes projetos, Os sócios acabam recorrendo para as suas universidades de origem para conseguir participar dos editais. Outros tipos de acesso também são utilizados no aporte de recursos financeiros, como as redes de contatos pessoais. A PV Inova conseguiu os primeiros aportes de recursos financeiros através de um investidor-anjo, inicialmente, e depois com a formação de um pool de investidores, onde os participantes eram familiares e amigos próximos dos sócios. Esta forma de investimento é apontada por Aernoudt (2004) como uma solução para o problema de financiamento de empresas nascentes, mas a iniciativa de formar uma base de investidores-anjo e pools de investidores deve ser da incubadora, para que todas as empresas residentes possam desfrutar desta fonte de recursos. 128 A própria incubadora pode ser considerada uma fonte de recursos financeiros já que, se as empresas estiverem enfrentando momentos difíceis financeiramente, a incubadora pode reavaliar a forma de cobrança da mensalidade, mostrando uma flexibilidade para pagamentos que possivelmente não se veria em espaços fora do ambiente de incubação. Outra importante contribuição do capital social nesta fase do empreendimento é o acesso a informações, buscado nas outras empresas incubadas. O ambiente de incubação permite que as empresas troquem histórias e discutam conhecimento referente ao processo de incubação, à participação em editais públicos e à experiência de empreender. Neste momento também as empresas podem contar com os outros empreendimentos incubados para criar e explorar sinergias, minimizando seus custos iniciais através da combinação de recursos, serviços e habilidades (ALLEN & RAHMAN, 1985). Bollingtoft e Ulhoi (2005) acreditam que a incubadora é responsável por compensar as falhas e imperfeições do mercado, diminuindo o custo de informação e suprindo a falta de assistência e financiamento. No entanto, mesmo com todo o apoio em forma de assessorias da incubadora, o capital social ainda é importante para ajudar na compensação destas falhas de mercado. 129 A confiança é importante nos relacionamentos estabelecidos entre os sócios. Os sócios da Prime Up acreditam que a confiança entre eles é absolutamente essencial para o sucesso do negócio, e o sócio da E-create nunca conseguiu achar uma pessoa que pudesse fazer parte da sociedade da empresa com ele. Isso porque ele acredita que esta decisão é crucial e requer o comprometimento máximo da pessoa a ser convidada com o empreendimento. E os contatos gerados pelo capital social do empreendedor também podem ter um lado negativo. Dois novos sócios, amigos pessoais do sócio mais antigo, foram chamados para a Dínamo DM para ajudar a empresa a se reestruturar em um momento bastante difícil. Eles, no entanto, foram responsáveis pela perda de contratos e pelo término de parcerias importantes, além de terem prejudicado bastante o relacionamento da empresa com a incubadora. 130 4.2.6 – Vendas Iniciais Esta é uma atividade bastante complicada para as empresas nascentes. Neste momento, elas começam a fazer um mapeamento do seu mercado e precisam contar com todo tipo de ajuda possível para começar a comercializar seus produtos. Além disso, a partir do momento em que as vendas começam a ser realizadas, as empresas podem adequar a capacidade produtiva à demanda, que normalmente cresce com rapidez. Nesta fase do empreendimento, a principal participação do capital social se dá na forma de acesso ao mercado. Isso acontece porque os empreendedores utilizam suas redes de contatos pessoais e profissionais para gerar negócio, conseguindo contato com seus clientes usando indicações dessas redes. Além disso, outras formas de contato também se revelaram importantes. A Superwaba, que é uma empresa de desenvolvimento de plataformas para PDAs (Personal Digital Assistant), faz grande parte de suas vendas hoje pela Internet. Essa estratégia mostrou-se de extrema importância para esta empresa, já que o sócio alega não ter muitos contatos nesta área, o que torna mais difícil a busca por clientes. 131 Em algumas empresas, os sócios afirmam que a inserção no mercado é uma das tarefas mais difíceis em um novo empreendimento. Na Silicon Strategy, por exemplo, os empreendedores garantem que a dificuldade de estruturar uma rede de relacionamento se deve principalmente a pouca idade deles. Logo, apesar de terem altos níveis de capital humano, os empreendedores necessitam de mais tempo para encontrar uma posição vantajosa na rede. Além da idade, outros fatores podem atrapalhar a confecção de uma boa rede social para as vendas iniciais da empresa, como a área de formação do sócio e suas características relacionais. Enquanto isso, tanto eles quanto os sócios de outras empresas, como a Córtex Intelligence e a E-create, estão fazendo uso de representantes de vendas para conseguir contatos dentro de potenciais clientes, já que a rede de relacionamentos pessoal dos sócios não é adequada para as vendas iniciais. O uso da rede de contatos de representantes de vendas profissionais pode ainda conferir legitimidade ao negócio, pela experiência que têm no ramo. Uma das funções das incubadoras, segundo Bollingtoft e Ulhoi (2005) é prover legitimidade e ajudar no reconhecimento da empresa no mercado. A Incubadora Tecnológica é procurada pelas empresas principalmente pela legitimidade que o nome da universidade dá, mas a inserção no mercado ainda é mais difícil. Além disso, as próprias empresas incubadas também são fonte de acesso a futuros clientes. Empresas como a B-Mobile e a Prime Up já 132 utilizaram a ajuda de outras incubadas para conseguir contatos comerciais. Logo, além da assessoria comercial, onde a incubadora disponibiliza a sua rede de contatos e mais a rede de ex-alunos da universidade e a rede de contatos profissional de seus consultores, ainda há a possibilidade de conseguir contatos comerciais com as outras empresas incubadas. Esse tipo de cooperação e troca de experiências é muito importante para ajudar o desenvolvimento inicial das empresas incubadas, mas é necessário que a incubadora sempre estimule a interação de suas empresas residentes (AERNOUDT, 2004). Outra forma que as empresas incubadas usam para chegar mais perto de seus clientes é a participação em eventos e congressos. Algumas dessas participações já renderam prêmios para a Córtex Intelligence e para a Prime Up. A Córtex Intelligence ainda utiliza outra opção na sua estratégia comercial, que envolve a publicação de artigos sobre inteligência competitiva, o que acaba chamando atenção de clientes potenciais para o trabalho que desenvolvem. Somente duas empresas incubadas, a Prime Up e a E-create mencionaram a incubadora como fonte de acesso a contatos comerciais, provavelmente porque a iniciativa de assessoria comercial ainda é muito nova no Instituto Gênesis. A maioria das empresas incubadas acredita que a rede de contatos comerciais gerada pela incubadora não é satisfatória. Nesse momento de acesso ao mercado, muito importante para a viabilização do negócio, o 133 capital social fica sendo então o maior responsável pelo estabelecimento de contatos comerciais. 134 4.2.7 – Desenvolvimento de produtos O desenvolvimento de produtos normalmente é iniciado antes da formalização do empreendimento ou da entrada na incubadora e, por isso, muitos empreendedores ainda mantêm seus empregos, não se dedicando integralmente à exploração da oportunidade. Muitos dos produtos comercializados hoje pelas empresas incubadas passaram por uma fase de desenvolvimento dentro da própria empresa, em que os próprios sócios desenvolveram a tecnologia; somente a PV Inova terceirizou o desenvolvimento de seu produto. O modelo de negócios da empresa fica mais bem definido a partir do desenvolvimento de produtos, quando variáveis como preço e público-alvo vão sendo definidas e o plano de negócios da empresa torna-se mais sólido. Por isso, essa fase é crucial para que a empresa desenvolva-se de forma planejada. Na fase de desenvolvimento de produto, o recurso mais importante é a tecnologia. No entanto, como os empreendedores passam por uma avaliação de seus planos de negócios antes de serem admitidos na incubadora tecnológica do Instituto Gênesis, eles normalmente já possuem um produto pronto, ou em andamento, resultado da aplicação de uma tecnologia inovadora e de acordo com o que a incubadora procura entre os candidatos. A única 135 exceção é a Superwaba, que ainda está ainda em fase de desenvolvimento de seu produto inicial, por estar enfrentando questões legais quanto à comercialização deste, uma plataforma baseada em um software livre. Esses produtos e/ou serviços ainda sofrem aprimoramentos nas empresas incubadas, e para tal o recurso principal a ser utilizado é a tecnologia e as fontes de acesso são variadas. A B-Mobile pôde contar com a ajuda das próprias companheiras de incubação para obter informações sobre falhas em seu produto. Os sócios da PV Inova contaram com contatos de pessoas influentes na Brasil Telecom para ajudá-los a fazer o primeiro teste do Télo na cidade de Porto Alegre e o sócio da E-create conseguiu uma base sólida de conhecimento em e-learning através de professores e projetos desenvolvidos na PUC. Neste momento do desenvolvimento da empresa, nota-se que os laços fracos vão ganhando mais importância e, como a empresa já está formalizada, relações que se iniciaram baseadas em laços fortes necessitam agora de formalização através de contratos (HITE & HESTERLY, 2001). A incubadora é um contato importante nesta fase, pois facilita o fluxo de informações e capital humano da universidade para as empresas, gerando assim um diferencial competitivo (ROTHAERMEL & THURSBY, 2005). As incubadoras universitárias têm como objetivo transformar a tecnologia gerada na universidade em produtos e serviços para a sociedade (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005), como foi confirmado pela coordenadora da Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis. No entanto, o capital social continua tendo 136 um papel importante no acesso destas empresas ao estabelecimento de parcerias. 137 4.2.8 – Continuidade do negócio Para a fase de continuidade do negócio foram consideradas as atividades normais da empresa, não mais relacionadas ao início do desenvolvimento do empreendimento após a entrada na incubadora. Apesar de tratarem muitas vezes de questões semelhantes, nesta fase a empresa já possui um maior nível de amadurecimento e normalmente já tem produtos rentáveis no mercado. A atividade mais comum nessa fase é a busca por novos produtos, que se dá através de esforços na área de Pesquisa e Desenvolvimento, facilitados pela proximidade com a universidade. Além disso, o investimento em P&D gera a contínua renovação dos produtos já existentes. Existe também uma busca intensiva por novos investimentos que possam sustentar o crescimento da empresa, já que muitas nessa fase já estão começando a se preparar para deixar a incubadora. Apesar disso, muitas empresas ainda buscam parcerias com outras empresas incubadas, mais uma forma de alavancar o crescimento da empresa. Para acompanhar o crescimento, a busca por recursos humanos é contínua. 138 Uma das maiores preocupações, no entanto, é a estruturação da área de vendas da empresa. Passada a dificuldade inicial de entrada no mercado, nesta fase os empreendedores começam a focar em ações comerciais bem definidas após a formulação de metas e diretrizes para a área. Algumas empresas até mesmo já possuem representação de vendas no mercado. Os recursos necessários nestas atividades são ainda bem semelhantes aos das atividades anteriores do modelo, e o capital social continua sendo uma importante forma de acesso a estes recursos. A tecnologia, por exemplo, é acessada principalmente através da ligação com a universidade, e os projetos de Pesquisa e Desenvolvimento se tornam mais freqüentes, tanto na busca por novos produtos e serviços, quanto no aprimoramento contínuo de produtos e serviços existentes, como é o caso da PV Inova, com sua parceria com o CETUC-PUC, e da Prime Up, com sua parceria com o Laboratório de Engenharia de Software da PUC. Vale lembrar que estas parcerias estão sempre acompanhadas da possibilidade de participar de editais públicos de pesquisa, o que significa aporte de recursos financeiros para estas empresas. Parcerias que passam a ser muito importante são as formadas entre as empresas incubadas. A Minds at Work, empresa também incubada no Instituto Gênesis é quem desenvolve a pesquisa na área de informática para a PV Inova. A Dínamo DM formou parceria para geração de tecnologia com a Córtex Intelligence, e ainda tem projetos em vista com outras empresas incubadas, como a Ideais, a Milestone e a Superwaba. 139 Ainda existem outras formas de acesso na busca por tecnologia, como ocorre com a PV Inova e com a Superwaba. A PV Inova contratou como um de seus diretores uma pessoa com vasta rede de relacionamento na mídia, o que gera para eles bons contatos para o desenvolvimento de seu segundo produto, a televisão para ônibus. A Superwaba conseguiu fechar uma parceria para desenvolvimento de tecnologia com uma empresa americana, e o contato entre essas empresas foi todo feito a partir da Internet. Além do recurso tecnologia, o recurso humano continua sendo bastante importante nesta fase do empreendimento e nas empresas incubadas, como a Dínamo DM e a Prime Up, a maior parte dos funcionários presentes na empresa foi contratado através de contato com a PUC. O acesso a contatos com clientes potenciais continua sendo importante para as empresas, e ainda são acessados principalmente pelas redes de relacionamento pessoais e profissionais dos sócios. O amadurecimento da empresa associado à incubação traz legitimidade, e empresas como a Córtex Intelligence e a Dínamo DM já gozam de um nome reconhecido no mercado, o que facilita muito o desenvolvimento de acordos comerciais. Além disso, as empresas já começam a ser indicadas por seus próprios clientes ou ainda conseguem vendas recorrentes. 140 Outro importante recurso, também necessário em outras fases de desenvolvimento da empresa, é a informação. Os empreendedores começam a necessitar muito de informação para desenvolver o planejamento do futuro da empresa, e continuam recorrendo a suas redes de relacionamento pessoais e profissionais. O estreitamento de laços da empresa com a universidade possibilita ainda a utilização dos professores como fonte de informações e os consultores da incubadora também são ainda muito importantes no desenvolvimento do negócio. 141 5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS 142 A partir dos resultados obtidos, pode-se retornar aos objetivos iniciais do trabalho e concluir sobre o uso do capital social em empresas incubadas. Cada uma das empresas estudadas mostrou um perfil diferente na aplicação do modelo conceitual, o que está de acordo com um modelo mais dinâmico do processo empreendedor e de criação / incubação de empresas. Pode-se perceber que as fases do modelo não acontecem na mesma ordem nos diferentes empreendimentos, e a razão disso são as diferenças entre os empreendedores e as necessidades específicas de seus negócios. Alguns empreendedores já tinham a empresa legalizada antes da incubação, o que significa que a empresa procurou a incubadora para uma reestruturação ou ainda que o empreendedor buscou a incubação quando decidiu de fato explorar a oportunidade e iniciar o desenvolvimento do negócio. Este trabalho propôs identificar as necessidades básicas apontadas pelas empresas estudadas como sendo de grande importância para o seu desenvolvimento, e estas foram: recursos financeiros, recursos humanos, tecnologia, informação, apoio emocional e capital social. Dentre estas necessidades apresentadas, pode-se ver que o capital social teve participação no levantamento de grande parte destes recursos. Foi proposto também entender o uso do capital social nas empresas estudadas e caracterizar os laços utilizados pelos empreendedores para suprir 143 suas necessidades. O capital social teve papel fundamental tanto nas atividades do processo empreendedor como nas de pós-incubação. A descoberta de oportunidades esteve associada a dois fatores: a descoberta de demandas de mercado não-atendidas, em que o capital social desempenhou um papel importante por gerar um fluxo de informações para o empreendedor reconhecer a oportunidade, e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras. Quando se trata de gerar um fluxo de informações, o laço estabelecido nas redes de contato pode ser forte ou fraco. O mais observado é o laço forte permitindo acesso a outros laços fracos e gerando uma rede maior por onde a informação vai transitar. O capital social também tem importância na decisão de explorar do indivíduo pois, quanto mais o empreendedor tiver laços fortes com provedores de recursos, menor será para ele o risco percebido de exploração do negócio. A proximidade da incubadora, que facilita o acesso a recursos, revelou ser importante para despertar uma maior segurança nos empreendedores. Os empreendedores procuram, para estabelecer sociedade, pessoas capazes de complementar suas competências no desenvolvimento do negócio, ou ainda pessoas de estreito contato pessoal, que podem prover apoio. De qualquer forma, para que a sociedade se estabeleça de forma eficiente, é necessário que os sócios possam confiar um no outro e, por isso, os empreendedores normalmente recorrem a pessoas pertencentes à sua rede de contatos pessoais. 144 Nas atividades de exploração, pode-se observar que o recurso mais acessado é a informação, tanto para a criação do plano de negócios quanto para a viabilização do produto, que também necessita de acesso à tecnologia. O apoio emocional, buscado nos laços mais fortes dos empreendedores, mostrou ser crucial durante todo o processo empreendedor, período de muitas dúvidas e incertezas quanto ao sucesso do negócio nascente. A falta de cultura empreendedora no Brasil foi um fator citado como estimulador da necessidade de capital social para a abertura de um empreendimento. A falta de apoio governamental e privado para a atividade empreendedora faz com que as redes de contato dos empreendedores assumam um papel importante no levantamento de recursos. Após a incubação, o uso do capital social continua sendo importante, mas é preciso entender que as necessidades das empresas vão se transformando. As empresas continuaram mobilizando capital social para estabelecer parcerias em pesquisa e desenvolvimento, ou na busca por financiamento e pessoal. Estes contatos se deram principalmente através de laços estabelecidos com professores da universidade, que foi fonte de tecnologia, recursos financeiros através de editais públicos e recursos humanos representados por alunos da universidade. Um bom relacionamento 145 com professores da instituição mostrou-se essencial para o desenvolvimento destas parcerias e, por isso, empreendedores que não eram ex-alunos da faculdade tiveram dificuldade em mobilizar estes recursos. A incubadora é capaz de reduzir a necessidade de capital social no desenvolvimento da empresa, mas não elimina esta necessidade. No acesso a outras fontes de financiamento por exemplo, a rede de contatos pessoais, principalmente os laços fortes, mostraram-se fundamentais. O ambiente de incubação é também uma fonte de capital social, pois os empreendedores têm a oportunidade de formar novos laços com os empreendedores das outras empresas incubadas. Estes contatos são importantes para a troca de experiências e de conhecimento tecnológico, além de ser capaz de gerar negócio para as empresas com produtos e/ou serviços complementares ou similares. A fase em que o capital social mostrou ser absolutamente vital para o sucesso de um empreendimento, mesmo que incubado, foi no acesso ao mercado. A geração de negócios iniciais das empresas depende da rede de contatos dos sócios, e o acesso a clientes foi feito principalmente a partir da indicação de indivíduos com quem o empreendedor mantinha laços fortes ou fracos. Deve-se lembrar que nesta fase ainda há uma dificuldade de estabelecer credibilidade no mercado. Isso torna mais difícil a busca por 146 clientes no caso de empreendedores que têm a empresa atual trabalhando em setores diferentes daquele de seu histórico anterior, ou ainda daqueles que são muito novos e ainda têm uma rede de contatos pequena. A solução encontrada foi contratar representantes de vendas do setor, que já têm redes de contatos bem desenvolvidas. Os resultados observados neste trabalho sugerem que as empresas incubadas devem investir no desenvolvimento de sua rede de contatos, para ter um melhor desempenho no mercado. Futuras pesquisas podem tratar de como este investimento pode se dar, e ainda se é possível adicionar pessoas à rede de contatos estabelecendo relações monetárias. O capital social foi ainda importante no desenvolvimento de produto, para acessar parceiros para desenvolver a tecnologia ou para efetuar testes do produto. O desenvolvimento de parcerias para tecnologia normalmente envolveu um relacionamento forte prévio dos empreendedores, que já tinham trabalhado ou feito pós-graduação em laboratórios da universidade. Este acesso para o desenvolvimento de pesquisa continuou sendo importante para a continuidade do negócio, e a proximidade com a universidade e com outras empresas incubadas focadas em tecnologia facilita a constante renovação dos produtos e serviços. Além disso, o contato com professores ajuda o desenvolvimento do negócio de maneira estruturada, na medida em que estes professores atuam informalmente como consultores. Dada a importância que o capital social demonstrou ter nas empresas incubadas através destes resultados, sugere-se que as incubadoras formem 147 uma rede de contatos que possa fornecer o acesso a provedores de recurso, no caso da impossibilidade da incubadora de prover o recurso em questão. Pode-se aludir ainda que a maior carência das empresas incubadas esteja na obtenção de contatos com clientes e, por isso, o foco maior da incubadora deve estar na incorporação deste tipo de contato. Como já foi explicitado por Lumpkin e Ireland (apud BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005), o valor das incubadoras de empresa é ainda hoje bastante questionado, já que a presença em uma incubadora não garante o sucesso do empreendimento. O presente trabalho demonstrou que uma série de carências das empresas incubadas não é atendida pela incubadora. Por isso, pode-se perguntar: será que as incubadoras não estão atendendo ao que delas se espera ou será que o modelo de incubação merece revisão? A incubadora pode ainda aproximar-se de investidores-anjo ou tentar formar fundos de investimento para ajudar as empresas a obter financiamentos. Pode-se sugerir ainda que o ensino do empreendedorismo na universidade deve ressaltar a importância da formação e manutenção de redes sociais por parte dos empreendedores. A incubadora pode envolver-se também na promoção de iniciativas que busquem combater a falta de cultura empreendedora no país, para promover um aumento da atividade empreendedora. Uma maior divulgação do trabalho da própria incubadora pode estimular outros empreendedores a perseguir oportunidades antes percebidas como de risco alto. A incubadora deve também tentar facilitar o acesso dos 148 empreendedores que não têm uma rede de contatos com a universidade estabelecida a estreitarem seus laços com professores e alunos para terem acesso facilitado aos diversos recursos que a universidade provê. O Brasil ainda tem dificuldades de financiar a atividade empreendedora Isso ocorre também pela falta de investimento em divulgação sobre a existência e o funcionamento tanto de fundos públicos quanto de fundos privados. Futuros estudos podem explorar a idéia das networked incubators, incubadoras baseadas em redes de contato capazes de suprir as demandas de empresas nascentes, pode ser uma alternativa para o desenvolvimento de empreendimentos com aplicação mínima de investimentos. Outros estudos podem tentar verificar qual é a melhor forma de estabelecer estas redes de relacionamento para cada tipo de incubadora, por exemplo, utilizando as redes da universidade somadas as redes de todas as empresas que passam pelo processo de incubação, e ainda de outras empresas parceiras. É necessário que incubadoras com focos diferentes tenham acesso a redes diferentes, umas mais abrangentes e ramificadas, outras com laços mais fortes e de fácil acesso, dependendo do setor de atuação das empresas incubadas. Desta forma, pode-se ampliar a gama de necessidades supridas pelo capital social, principalmente no que tange demandas específicas de algumas empresas que podem mostrar mais dificuldade para serem atendidas. 149 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 150 AERNOUDT, R. 2004. Incubators: Tool for Entrepreneurship? Small Business Economics 23: 127–135, 2004. ALLEN, D.N., MCCLUSKEY, R., 1990. Structure, policy, services and performance in the business incubator industry. Entrep. Theory Pract. 15 (2), 61–77. ALLEN, D.N., RAHMAN, S., 1985. Small business incubators: a positive environment for entrepreneurship. J. Small Bus. Manage., 12–24 (July). ALMEIDA, M.C. 2004. The evolution of the incubator movement in Brazil. Tese de doutorado, COPPE, UFRJ. ANDERSON, A.R., MILLER, C.J. “Class matters”: human and social capital in the entrepreneurial process. Journal of Socio-Economics, n. 32, p. 17–36, 2003. BARON, R.A., MARKMAN, G.D. 2003. 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E com as outras empresas incubadas? - Como é a relação da empresa com a universidade e a pesquisa? Como isso ajuda o futuro da empresa? - Quais são as maiores necessidades/dificuldades hoje? - Como você vê o futuro (direção da empresa / antecipação dos recursos necessários)? - Você sempre quis ter uma empresa?