Terça-feira 24 de março de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre 19 Política Operação Lava Jato Ana Amélia pode deixar o PP ANTONIO PAZ/JC Senadora gaúcha recebeu convites do PSDB, do PRB e do Solidariedade Ao liderar a lista de políticos suspeitos de participação no esquema de corrupção da Petrobras, o Partido Progressista (PP) sofre as consequências do escândalo mesmo fora do âmbito da operação Lava Jato. A senadora gaúcha Ana Amélia Lemos, que não consta no grupo de 30 nomes da legenda que serão alvo de investigação, admite que o prejuízo para o PP é grande e vai avaliar a possibilidade de deixar a sigla. Em entrevista, ela revelou ter recebido convites do PSDB, do PRB e do Solidariedade. “Que o partido sai enfraquecido não há dúvida”, disse Ana Amélia. Ela lembrou o exemplo do PP do Rio Grande do Sul, que teve cinco de seus seis deputados federais incluídos na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “O desgaste político da simples inclusão desses cinco nomes é irreparável. Mesmo que sejam inocentados, o desgaste político existe”, afirmou. O único representante da bancada gaúcha do PP na Câmara dos Deputados que ficou de fora é Covatti Filho, cujo pai, o ex-deputado Vilson Covatti, também teria recebido propina, de acordo com o depoimento do doleiro Alberto Youssef. Segundo Ana Amélia, é preciso prudência para não cometer injustiça com os colegas que estão sendo investigados pelo Ministério Público, mas ainda não foram denunciados. No entanto, ela ressalta que prudência não significa “tolerância com a impunidade”, e defende que os políticos que forem denunciados sejam expulsos do PP. “O partido não pode ser complacente com nenhum delito, nenhum crime, nenhum ato de corrupção”, avaliou. Ana Amélia argumenta que o governo federal tinha conhecimento de que o PP estaria no centro das investigações da Lava Jato e, por isso, tirou do partido o Ministério das Cidades no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), antes de a lista de Janot vir a público. Segundo a senadora, esta é uma evidência de que a legenda, nacionalmente, perdeu a expressão que tinha. “Foi uma demonstração de que o governo já sabia que o partido seria atingido profundamente e se antecipou a este processo”, disse. A parlamentar gaúcha admite que será necessário examinar as alternativas para um futuro de médio e longo prazo no PP. “Teremos condições de depurar o partido, de limpar o partido, de expurgar os que cometem o delito? Não teremos? Então, poderemos ir para o plano B. Qual é o plano B? É sair do partido”, revelou. Antes de uma eventual mudança, Ana Amélia disse que consultará a base do PP no Rio Grande do Sul e tomará uma decisão coletivamente. “Muitas pessoas eu chamei para serem vereadores, para se filiarem ao partido, e fizeram isso por meu convite. Então, não posso deixá-las, preciso discutir com elas qual será nosso destino”, justificou, ressaltando que a estrutura política do PP gaúcho — com cerca de 230 mil filiados e um número expressivo de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores — pesará na avaliação. A senadora, que se define como independente, está mais alinhada com as forças de oposição ao governo Dilma, na contramão do diretório nacional do PP, que integra a base governista. Nas últimas semanas, foi procurada por três partidos. No início de fevereiro, recebeu o convite dos senadores tucanos Aécio Neves, que disputou a eleição presidencial, e Aloysio Nunes Ferreira, que concorreu como vice na mesma chapa. Ana Amélia fez campanha para eles no Estado. “Me convidaram para ir para o PSDB para o partido ter um protagonismo maior no Rio Grande do Sul”, disse. Depois, veio o convite do senador Marcelo Crivella, do PRB, que faz parte da base do governo. Nos dois casos, os contatos ocorreram antes da divulgação dos nomes que seriam investigados por envolvimento nos Ana Amélia Lemos aponta desgaste da sigla com escândalos casos de corrupção da Petrobras. Mais recentemente, foi chamada também pelo deputado federal Paulinho da Força para integrar o Solidariedade. Essas três siglas apoiaram sua candidatura ao governo gaúcho no ano passado. Segundo Ana Amélia, a possibilidade de mudar de partido “está no horizonte”, mas uma definição só deve ocorrer mais para frente. Justiça abre ação contra Vaccari e Duque e mais 25 pessoas Réus serão transferidos para presídio A Justiça Federal no Paraná abriu ação penal contra o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, por corrupção e lavagem de dinheiro. A decisão acata denúncia do Ministério Público Federal que envolve, além de Vaccari e Duque, outros 25 investigados. É o primeiro processo criminal aberto contra o tesoureiro do PT e o ex-diretor, suposto elo do partido no esquema de corrupção e propinas na estatal petrolífera. A denúncia da força-tarefa da Operação Lava Jato foi apresentada em 16 de março. “Temos evidências de que João Vaccari tinha consciência de que esses pagamentos eram feitos a título de propinas”, afirmou o procurador da República Deltan Dallagnol, que integra o núcleo do Ministério Público Federal responsável pela Operação Lava Jato. A força-tarefa constatou que Vaccari se encontrava com regularidade com Renato Duque “para acertar os valores devidos”. O relato do empresário Eduardo Leite, vice-presidente da construtora Camargo Corrêa, EVARISTO SA/AFP/JC Procurador destaca evidências foi decisivo para o oferecimento da denúncia contra o tesoureiro do PT. “Ele revelou que se encontrou com Vaccari e que este pediu doações oficiais eleitorais a título de propinas.” Também tiveram peso na acusação contra Vaccari os depoimentos de quatro delatores da Lava Jato: Augusto Mendonça, Pedro Barusco (ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços da Petrobras), Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da estatal) e o doleiro Alberto Youssef. Na semana passada, quando a Procuradoria denunciou Vaccari, seu advogado, o criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso, em nota, rechaçou as suspeitas contra o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores “O senhor Vaccari repudia as referências feitas por delatores a seu respeito, pois as mesmas não correspondem à verdade. Torna-se importante reiterar que o senhor Vaccari não participou de nenhum esquema para recebimento de propina ou de recursos de origem ilegal destinados ao PT. Ressaltamos que causa estranheza o fato de que o senhor Vaccari não ocupava o cargo de tesoureiro do PT no período citado pelos procuradores, durante entrevista no dia de hoje, uma vez que ele assumiu essa posição apenas em fevereiro de 2010”, diz a nota. Duque, por meio de seu advogado, Alexandre Lopes, também nega enfaticamente envolvimento com o esquema de propinas na estatal. Duque está preso na PF em Curitiba e será transferido para um presídio do Estado. A Justiça Federal no Paraná determinou a transferência de 12 presos da Operação Lava Jato da Custódia da Polícia Federal em Curitiba para o Complexo Médico-Penal de Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense. Entre os transferidos, estão o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque — elo do PT na estatal — e o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, operador do PMDB na Diretoria de Internacional da Petrobras. A decisão é do juiz Sérgio Moro, que conduz todas as ações da Lava Jato. Também entre os transferidos estão o engenheiro Adir Assad e os empresários Léo Pinheiro, da OAS, e Erton Fonseca, da Galvão Engenharia, e o lobista Mário Góes.