16 Segunda e terça-feira 3 e 4 de março de 2014 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política Repórter Brasília Governo agiota [email protected] A mudança dos indexadores das dívidas dos estados deve ser votada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado no dia 12 de março. A data foi marcada pelo presidente do colegiado, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e o líder do governo, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), afirmou que a matéria deve ir a plenário no dia 27 de março. A proposta era para ser votada no começo desse ano, depois de um acordo com o governo federal, mas foi adiada, porque a equipe econômica apontou que a mudança pode gerar um rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de risco internacionais. O senador gaúcho Pedro Simon (PMDB) criticou a quebra de acordo e disse que o governo “age como um agiota ao cobrar juros extorsivos dos estados”. Simon também lembrou que o episódio pode causar um grande desgaste na candidatura de Dilma Rousseff (PT), já que o defensor mais apaixonado da proposta é o governador gaúcho Tarso Genro, do mesmo partido da presidente. Desigualdade entre os grandes Um estudo da Frente Nacional dos Prefeitos constatou que, até entre as cidades com mais de 80 mil habitantes, consideradas grandes, há um abismo considerável. De acordo com a entidade, a arrecadação das 100 cidades mais pobres e com piores indicadores sociais representa apenas 27,4% do que arrecada o restante dos 257 municípios de mesmo tamanho. A renda per capita dessas cidades mais pobres também é bem menor: 49% do restante. Isso leva a uma gama de problemas sociais: nos 100 mais pobres, a taxa de assassinatos na faixa etária de 20 a 29 anos é 94,8 por 100 mil, nos demais, a taxa é 63,8 por 100 mil. Esses municípios concentram 22 milhões de pessoas, ou seja, 11,2% da população brasileira. MARCO QUINTANA/JC Quebra de lógica “Até bem pouco tempo, o conceito era que município pequeno era município pobre e município grande era município rico. Nós quebramos essa lógica, demonstrando que existem 100 grandes municípios que têm uma população enorme, mas com discrepâncias socioeconômicas extremamente aviltantes”, avaliou José Fortunati (foto, PDT), prefeito de Porto Alegre e presidente da Frente Nacional dos Prefeitos. De acordo com ele, a culpa é da falta de recursos. “Por mais que nossos prefeitos e prefeitas busquem fazer, eles não têm recursos. Eles não têm condições de dar um atendimento adequado à população e, em geral, à população carente, que normalmente é em grande número. Eles agregam uma população que vive em outros municípios, mas que precisam de assistência básica, água encanada e esgoto em seu município.” Hospitais irregulares O Tribunal de Contas da União identificou irregularidades em três hospitais gaúchos operados pelo Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Os hospitais Nossa Senhora da Conceição, Cristo Redentor e Fêmina, são sociedades anônimas de capital fechado vinculadas ao Ministério da Saúde e atendem exclusivamente a pacientes oriundos do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o TCU, o grupo realizou mais de 1 mil processos de compras, entre janeiro de 2010 e agosto de 2012, totalizando R$ 136 milhões. Muitas dessas compras foram feitas sem licitação. Entrevista Especial Ana Amélia se credencia Fernanda Bastos integrarem o nosso partido. Ela tem se destacado pela alta popularidade. JC – Mesmo que o PP integre nacionalmente o governo Dilma Rousseff (PT), no Estado parece só vislumbrar apoio a Aécio Neves ou a Eduardo Campos. Qual dos dois, na sua avaliação, poder trazer mais votos para a candidatura ao governo estadual? Jair Soares – Olha, vamos partir do pressuposto de que nossa candidata seja a senadora. Até agora não há uma definição clara em matéria de pesquisa se levarmos em conta esse aspecto. Ela se situa muito bem e acho que quem precisa do apoio dela no Estado são os candidatos à presidência da República. Não é essa visão que trago de dentro do partido, é a visão de um político que olha o quadro, vê a fotografia do momento. JC – Qualquer um teria seu palanque favorecido com ela? Jair Soares – Ela desfruta de uma posição que é altamente vantajosa. Ela tem hoje uma situação muito cômoda, porque politicamente e partidariamente é unanimidade o nome dela. E, perante a opinião pública, devido ao desempenho dela, pelas entrevistas dela, pelos posicionamentos que ela tem tido, pelas andanças pelo interior do Rio Grande do Sul, sentimos que ela está muito bem politicamente. Ela vai ser a novidade, como foi para o Senado. E também com relação às mulheres, que sempre se falou em valorizar as mulheres, mas na verdade nunca valorizaram. A mulher ainda luta para ter seu espaço. Já tivemos experiência com uma mulher, que foi a governadora Yeda (Cru- [email protected] Governador do Estado entre 1983 e 1986, Jair Soares foi o último integrante do PP a chegar ao Palácio Piratini. Desde a rápida ascensão e a posterior eleição da senadora Ana Amélia Lemos (PP) em 2010, o partido voltou a sonhar com a conquista do posto mais alto do Executivo estadual. Ele avalia que a senadora está fazendo um mandato de destaque, que a credencia a sonhar com o governo do Estado. Outro ponto forte da possível candidata seria a capacidade de mobilizar novas lideranças, como tem feito em diversos municípios em que o partido está organizado no Estado. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o ex-governador ainda avalia que a viabilidade eleitoral de Ana Amélia é tão grande que, ao invés de precisar se vincular a um palanque nacional, a candidata é que está sendo requisitada pelos presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Jair Soares, mesmo evitando fazer análises dos governadores que o sucederam, avalia que o governador Tarso Genro (PT) ainda não provou que sua gestão foi privilegiada pela relação com a presidente Dilma Rousseff (PT), como o petista prometeu durante a campanha. Para o progressista, nem a aprovação da renegociação da dívida será capaz de mostrar os benefícios do alinhamento entre os governos estadual e federal. O ex-governador faz também uma análise da situação de penúria das finanças que irá enfrentar o vencedor das eleições de outubro. Jornal do Comércio – Há uma mobilização muito forte das bases do PP pela candidatura da senadora Ana Amélia Lemos ao Palácio Piratini. Ela é unanimidade no partido? Jair Soares - A senadora Ana Amélia desempenha um papel representando o Rio Grande do Sul, no Senado, de uma forma extraordinária. É uma das melhores senadoras que já tivemos. E, para alegria nossa, ela é um dos nomes consensuais dentro do partido que pode vir a disputar a eleição neste ano, face ao grande trabalho que ela fez de arregimentação partidária, colhendo novos eleitores para MARCO QUINTANA/JC Edgar Lisboa sius, PSDB), que, no meu ponto de vista, foi muito bem de gestão. Também nós temos aquela coisa na cabeça de alternância no poder, acho que está no nosso DNA, nós gostamos de mudar para ver se melhora, então, eu ficaria por aí... JC – Mas de qualquer forma, quem pode trazer mais votos para a candidatura do PP, Aécio ou Campos? Jair Soares – Achei o discurso de Campos um pouco diferente no sentido político, uma palavra nova, mas não tenho com ele a amizade que tenho com o Aécio. E conheço também a obra do Aécio em Minas Gerais. Claro que não concordo com tudo que ele fez lá, sou muito favorável ao servidor público. Nesse aspecto o partido está meio dividido. Assim... 50% está com Aécio e 50% está com Campos. JC – E na sua avaliação, a posição que ela deve ter em relação a esse governo, deve ser de oposição ou tentar dialogar como uma terceira via, que não necessariamente parte para um enfrentamento com o governo. Como é que o senhor acha que ela deve se posicionar? Jair Soares - A senadora Ana Amélia tem um estilo próprio e ela vai usar este estilo, ou seja, ela vai traçar um programa para o Rio Grande do Sul e vai procurar fazer com que o eleitor conheça esse programa. Para poder disputar, ela não vai se preocupar em analisar um governo que ainda não terminou, porque não podemos perder de vista. Um governo só pode ser avaliado depois que ele termina, quando se esgota, aí pode dizer “não fez isso, mas fez aqui- “Quem precisa do apoio dela (Ana Amélia) são os candidatos à presidência da República”