UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAZÔNAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM
CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
REDE AMAZÔNICA DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E
MATEMÁTICA
a)
ROSINEIDE DE SOUSA JUCÁ
UM ESTUDO DAS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NA RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS ARITMÉTICOS ADITIVOS E MULTIPLICATIVOS COM OS
NÚMEROS DECIMAIS
Belém-PA
2014
ROSINEIDE DE SOUSA JUCA
UM ESTUDO DAS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NA RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS ARITMÉTICOS ADITIVOS E MULTIPLICATIVOS COM OS
NÚMEROS DECIMAIS
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação
da Rede Amazônica de Educação em Ciências e
Matemática. Polo da Universidade Federal do Pará.
Como exigência para obtenção do título de doutora
em Educação, em Ciências e Matemática. Área de
concentração: Educação em Ciências e Matemática.
Orientador: Prof. Dr. PEDRO FRANCO DE SÁ
Belém-PA
2014
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP).
Biblioteca do Instituto de Educação Matemática e Cientifica, IEMCI,
UFPA, Belém - PA.
Jucá, Rosineide de Sousa.
Um estudo das competências e habilidades na resolução de problemas
aritméticos aditivos e multiplicativos com os números decimais / Rosineide de
Sousa Jucá; Orientador Pedro Franco de Sá, 2014.
283f.
Tese (Doutorado em Educação, em Ciências e Matemática) –Universidade Federal do Pará, Instituto de Educação Matemática e
Cientifica, Programa de Pós-graduação da Rede Amazônica em
Educação, em Ciências e Matemática, Belém, 2014.
1.Fundamentos e Metodologias para a Educação em Ciências e em
Matemática. 2. Educação em Ciências e em Matemática I. Jucá, Rosineide
de Sousa. ll. Título.
ROSINEIDE DE SOUSA JUCA
UM ESTUDO DAS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NA RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS ARITMÉTICOS ADITIVOS E MULTIPLICATIVOS COM OS
NÚMEROS DECIMAIS
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação
da Rede Amazônica de Educação em Ciências e
Matemática. Polo da Universidade Federal do Pará.
Como exigência para obtenção do título de doutora
em Educação, em Ciências e Matemática. Área de
concentração: Educação em Ciências e Matemática.
Orientador: Prof. Dr. PEDRO FRANCO DE SÁ
Aprovada em: 19/11/2014
Banca examinadora
___________________________________________________
Prof. Dr. Pedro Franco de Sá – Orientador
Universidade do Estado do Pará
___________________________________________________
Profa. Dra. Marta Maria Pontin Darsie
Universidade Federal do Mato Grosso
___________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Hermes Santos da Silva
Universidade Federal do Pará
__________________________________________________
Prof. Dr. Fabio José da Costa Alves
Universidade do Estado do Pará
___________________________________________________
Prof. Dr. John Andrew Fossa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Deus, por toda a força que recebi nesta caminhada.
Ao meu orientador, o Prof. Dr. Pedro Franco de Sá, por ter aceitado me orientar em
uma situação tão difícil, obrigada pela confiança e contribuição.
Ao meu amigo, Prof. Carlos Alberto Miranda, pelo apoio nos momentos de angústia,
pelas longas conversas e pelas contribuições.
À professora Rosangela Salgado, por ter cedido a turma para a realização da
pesquisa.
Aos alunos da turma do 7º ano que participaram desta pesquisa, sem os quais ela
não seria possível.
À Direção da Escola, onde esta pesquisa foi realizada.
Aos colegas doutorandos da REAMEC, em especial, os colegas do Pólo Manaus
que me acolheram tão bem.
Aos professores que participaram da minha banca de qualificação pelas excelentes
contribuições.
À coordenação e aos professores da REAMEC.
Á minha família.
As minhas monitoras Sandy Dias e Thamires Mota pelo apoio.
A todas as pessoas que torceram e me deram apoio para continuar nesta
caminhada.
Com eterna saudade, aos meus pais, Áurea de Sousa Jucá e Francisco Oliveira
Jucá (In memorian), sem os quais eu não seria quem eu sou.
“Se enxerguei mais longe foi porque me apoiei sobre ombros de gigantes”
(ISAAC NEWTON)
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 -
Comparação do modelo de sentido de número e operação
82
Quadro 2 -
Modelagem dos problemas aritméticos e algébricos
propostos por Sá(2004)
115
Quadro 3 -
Etapas da coleta de dados
129
Quadro 4 -
Problemas do teste aditivo com os naturais
123
Quadro 5 –
Problemas do teste aditivo com os decimais
125
Quadro 6 -
Problemas do teste multiplicativo com os naturais
126
Quadro 7 -
Problemas do teste multiplicativo com os decimais
127
Quadro 8 -
Trajetória da pesquisa
129
Quadro 9 -
Análise dos problemas aditivos segundo à classificação de
Sá (2003) e Durval (2003)
Análise dos problemas multiplicativos segundo à
classificação de Sá (2003) e Durval (2003)
Comparativo dos resultados dos testes do campo aditivo
139
Quadro 10 Quadro 11 -
147
195
com decimais
Quadro 12 -
Desempenho dos alunos nas operações do campo
aditivo com os números naturais e decimais
199
Quadro 13 -
Comparativo do desempenho dos alunos nas operações
201
do campo aditivo com números Naturais e Decimais
Quadro 14 -
Comparativo dos resultados dos testes de decimais na
resolução de problemas do campo aditivo
Quadro 15 -
Tipos de erros no teste do campo aditivo com os
204
decimais
Quadro 16 -
Desempenho dos alunos na resolução de problemas no
213
campo aditivo com números naturais e decimais
Quadro 17 -
Comparativo dos resultados dos testes do campo
multiplicativo com decimais.
216
Quadro 18 -
Desempenho dos alunos nas operações do campo
multiplicativo com os números naturais e decimais.
221
Quadro 19 Quadro 20 Quadro 21 -
Comparativo do desempenho dos alunos nas operações do
campo multiplicativo com os números naturais e decimais.
Comparativo dos resultados dos testes de decimais na
resolução de problemas do campo multiplicativo.
Tipos de erros na resolução dos problemas multiplicativos
223
227
228
Quadro 22 -
Desempenho dos alunos na resolução dos problemas do
campo multiplicativo com números naturais e decimais
242
Quadro 23 -
Habilidades dos alunos na resolução de problemas com os
decimais
245
LISTA DE FIGURAS
Figura 1Figura 2Figura 3Figura 4Figura 5Figura 6Figura 7Figura 8Figura 9Figura 10Figura 11Figura 12Figura 13Figura 14Figura 15Figura 16Figura 17Figura 18Figura 19Figura 20Figura 21Figura 22Figura 23Figura 24Figura 25Figura 26Figura 27Figura 28Figura 29Figura 30Figura 31Figura 32Figura 33Figura 34Figura 35Figura 36Figura 37-
Agrandissement de Puzzies
Representações dos alunos
Multiplicações dos decimais
Multiplicações dos decimais
Composições de medidas
Transformação de medidas
Comparação de medidas
Transformação de transformação
Transformação de um estado
Composição de dois estados relativos
Isomorfismo de medidas para a multiplicação
Operador escalar
Operador funcional
Isomorfismo de medidas para o 1º tipo de
Quadro de representação dos decimais divisão
Transformações das frações decimais em números
decimais
Produções dos alunos da atividade transformações das
frações decimais
Produções dos alunos da atividade transformações das
frações decimais
Representações dos decimais
Etapas de desenvolvimento das atividades de ensino
1ª parte das atividades introdutórias com os decimais
2ª parte das atividades introdutórias com os decimais
Atividades de adição com os decimais
Atividades de subtração com os decimais
Atividades de multiplicação com decimais
Atividades de divisão de inteiros que resulta em decimal
Atividades de divisão de dois decimais
Atividade de transformações das frações decimais em
números decimais
Produção do grupo da atividade de transformação de
frações decimais
Produção do grupo da atividade de transformação de
frações decimais
Produção do grupo da atividade de transformação de
frações decimais
Atividade transformação de números decimais
Produções do grupo de transformação dos do Grupo
problemas aditivos
Produções do grupo 9 transformações dos números
decimais
Produções do grupo 2 transformações dos números
decimais
Material multibase
Atividade de comparações de decimais
28
30
48
48
95
95
96
96
96
97
104
105
106
106
107
107
108
108
113
135
136
137
138
139
145
146
147
157
158
159
159
160
161
161
161
162
164
Figura 38Figura 39Figura 40Figura 41Figura 42Figura 43Figura 44Figura 45Figura 46Figura 47Figura 48Figura 49Figura 50Figura 51Figura 52Figura 53Figura 54Figura 55Figura 56Figura 57Figura 58Figura 59Figura 60Figura 61Figura 62Figura 63Figura 64Figura 65Figura 66Figura 67Figura 68Figura 69Figura 70Figura 71Figura 72Figura 73Figura 74Figura 75Figura 76Figura 77Figura 78Figura 79-
Atividade de adição de decimais
Produções dos alunos da atividade de adição
Produções dos alunos da atividade de adição
Produções dos alunos da atividade de adição
Atividade de subtração de números decimais
Produções do grupo 8 da atividade 4
Produções do grupo 1 da atividade 4
Produções do grupo 9 da atividade 4
Resposta do grupo aos problemas aditivos
Resposta do grupo aos problemas aditivos
Resposta do grupo aos problemas aditivos
Respostas dos alunos para os problemas aditivos
Modelação dos problemas aditivos
Atividade de multiplicação de decimais
Respostas dos alunos para a multiplicação de decimais
Produção do grupo 5 da atividade 6
Produção do grupo 3 da atividade 6
Produção do grupo 2 da atividade 6
Produção dos alunos para a multiplicação de decimais
Produção dos alunos para a multiplicação de decimais
Produção dos alunos para a divisão de números inteiros
Atividade de divisão de decimais
Produção do grupo 4 da atividade 7
Produção do grupo 8 da atividade 7
Produção do grupo 7da atividade 7
Atividade de divisão de decimais
Produção do grupo 5 para divisão de decimais
Produção do grupo 1 para divisão de decimais Resposta
do A36
Produção do grupo 5 para divisão de decimais Resposta
do A25
Produção dos alunos para os problemas multiplicativos
dos números naturais
Produção dos alunos para os problemas de divisão dos
números naturais
Produção dos alunos para os problemas de divisão dos
números naturais
Atividade de resolução de problemas de multilicação com
decimais
Atividade de resolução de problemas de divisão como
partição
Atividade de resolução de problemas de divisão como
cotação
Modelação dos problemas pelos alunos
Conclusão dos alunos
Produção dos alunos
Resposta do A9
Resposta do A20
Resposta do A36
Resposta do A25
166
167
168
168
169
170
170
170
172
173
173
174
175
177
179
179
180
180
180
181
182
183
185
186
186
187
188
188
188
189
190
190
192
193
194
195
195
196
201
201
202
202
Figura 80Figura 81Figura 82Figura 83Figura 84Figura 85Figura 86Figura 87Figura 88Figura 89Figura 90Figura 91Figura 92Figura 93Figura 94Figura 95Figura 96Figura 97Figura 98Figura 99Figura 100Figura 101Figura 102Figura 103Figura 104Figura 105Figura 106Figura 107Figura 108Figura 109Figura 110Figura 111Figura 112Figura 113Figura 114Figura 115Figura 116Figura 117Figura 118Figura 119Figura 120Figura 121Figura 122Figura 123Figura 124Figura 125Figura 126Figura 127Figura 128Figura 129-
Resposta do A9
Resposta do A25
Resposta do A20
Resposta do A9
Resposta do A24
Produção do A7
Produção do A8
Produção do A9
Resposta do A31
Resposta do A18
Resposta do A24
Resposta do A31
Resposta do A17
Resposta do A18
Resposta do A18
Resposta do A17
Resposta do A31
Resposta do A22
Resposta do A9
Resposta do A28
Resposta do A18
Resposta do A12
Resposta do A18
Resposta do A28
Resposta do A21
Resposta do A26
Resposta do A8
Resposta do A11
Resposta do A26
Resposta do A11
Resposta do A7
Resposta do A9
Resposta do A16
Resposta do A22
Resposta do A27
Resposta do A9
Resposta do A12
Resposta do A17
Resposta do A11
Resposta do A10
Resposta do A4
Resposta do A8
Resposta do A2
Resposta do A2
Resposta do A27
Resposta do A27
Resposta do A3
Resposta do A24
Resposta do A26
Resposta do A29
202
203
203
203
203
209
210
210
211
212
212
213
213
214
215
215
216
216
217
223
223
223
224
224
224
224
225
225
225
225
226
233
233
234
2325
2335
236
237
237
238
238
239
239
240
240
241
241
242
242
243
Figura 130Figura 131Figura 132Figura 133Figura 134Figura 135-
Resposta do A24
Resposta do A26
Resposta do A29
Resposta do A33
Resposta do A33
Modelo do campo de competência para a resolução de
problemas com os decimais
244
244
244
245
245
256
RESUMO
JUCÁ, Rosineide de Sousa. Um estudo das competências e habilidades na
resolução de problemas aritméticos aditivos e multiplicativos com os números
decimais – Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática
da Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática (REAMEC), Polo
Universidade Federal do Pará / Belém: [s,n], 2014. 286f.
Esta pesquisa teve como objetivo investigar o campo de competência que os alunos
do 6º ano do ensino fundamental devem possuir para resolverem problemas
aritméticos com os números decimais, no campo aditivo e multiplicativo. Tínhamos
o interesse em responder a seguinte questão de pesquisa: Qual o campo de
competência que os alunos 6º ano do ensino fundamental devem possuir para
resolverem problemas com os números decimais. A investigação foi realizada por
meio de atividades de ensino com os números decimais com os alunos da turma
do 7º ano do ensino fundamental de uma escola pública de Belém do Pará.
Escolhemos como metodologia de pesquisa alguns aspectos da pesquisa mista,
por acreditarmos que esse método é o mais adequado ao tipo de estudo que
pretendíamos realizar. Os instrumentos de pesquisa utilizados nesta investigação
foram as atividades de ensino, testes diagnósticos, além de observação e
gravações em áudio das conversas com os alunos. Para atingirmos o objetivo desta
pesquisa, utilizamos atividades de ensino adaptadas do estudo de Jucá (2008), nas
quais os alunos pudessem construir as regras das operações com os números
decimais e resolver problemas do campo aditivo e multiplicativo, estabelecendo
relações com seus conhecimentos prévios das operações e resolução de
problemas com os números naturais, pois defendemos que os conhecimentos dos
números naturais implicam na aprendizagem dos números decimais. De tal sorte
que essa implicação se estende, além das operações, à resolução de problemas,
e, para tal, buscamos fundamentação na teoria da aprendizagem significativa de
Ausubel. Para discutirmos sobre a estrutura semântica dos problemas aritméticos,
utilizamos a teoria dos campos conceituais de Vergnaud que explora os problemas
relacionados às estruturas aditivas e multiplicativas. Os resultados nos apontaram
que os alunos que possuíam habilidades com as operações no campo dos números
naturais aprenderam de forma satisfatória as operações com os números decimais,
bem como apresentaram melhores habilidades na resolução de problemas. Em
vista disso, inferimos que para que os alunos adquiram competência com os
números decimais é necessário que tenham competência com os números
naturais. Além do que para que tenham competência em resolver problemas com
os números decimais precisam adquirir habilidades com as operações, em modelar
os problemas, em reconhecer e utilizar a operação correntemente no problema.
Palavras-chave: Educação Matemática. Ensino de Matemática. Resolução de
problemas. Números decimais.
ABSTRACT
JUCÁ, Rosineide de Sousa. Um estudo das competências e habilidades na
resolução de problemas aritméticos aditivos e multiplicativos com os números
decimais – Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática
da Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática (REAMEC), Polo
Universidade Federal do Pará / Belém: [s,n], 2014. 286f.
This research aimed to investigate the field of competence that students of the 6th
year of primary school should have to solve arithmetic problems with decimal
numbers, the additive and multiplicative field. We had the interest to answer the
following research question: What is the field of competence that students 6th grade
of elementary school should have to solve problems with decimal numbers?. The
research was conducted through educational activities with decimal numbers with
the students in the 7th grade of elementary school in a public school in Belém do
Pará. We chose as research methodology aspects of the joint research, we believe
that this method is the most appropriate for the type of study that set out to
accomplish. The research instruments used in this research were the teaching,
diagnostic tests, observation and audio recordings of conversations with students.
To achieve the objective of this research, we use appropriate education activities of
the study Jucá (2008) in which students could build the rules of operations with
decimals and solve the additive and multiplicative field problems in connecting with
their previous knowledge of operations and troubleshooting with the natural
numbers, because we argue that knowledge of the natural numbers imply the
learning of decimal numbers. So much so that this involvement extends beyond the
operations, problem solving, and to this end, we seek justification in the theory of
meaningful learning of Ausubel. To discuss about the semantic structure of
arithmetic problems, we use the theory of conceptual fields of Vergnaud exploring
problems related to additive and multiplicative structures. The results showed that
the students who had skills with operations in the field of natural numbers learned
satisfactorily operations with decimals, and showed better skills in problem solving.
In view of this, we infer that for students to acquire competence with the decimal
numbers they need to have competence with the natural numbers. In addition to that
they are competent in solving problems with decimal numbers need to acquire skills
with operations in modeling problems, to recognize and use the operation currently
in trouble.
Keywords: Mathematics Education. Teaching of math. Problem solving. Decimals
numbers.
SUMÁRIO
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
17
1.1
PROBLEMATICA
20
1.2
QUESTÃO DE PESQUISA
23
1.3
OBJETIVO DA PESQUISA
24
1.4
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
25
2
REVISÃO DA LITERATURA SOBRE OS NÚMEROS
DECIMAIS
27
2.1
OS ESTUDOS SOBRE O ENSINO E APRENDIZAGEM
DOS NÚMEROS DECIMAIS
27
2.2
ESTUDOS QUE INVESTIGARAM OS CONHECIMENTOS
E PRÁTICAS DOS PROFESSORES NO ENSINO DOS
NÚMEROS DECIMAIS
57
2.3
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
62
3
REFERENCIAL TEÓRICO
67
3.1
A TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
67
3.2
O SENTIDO DE NÚMERO E DE OPERAÇÃO
76
3.3
A ESTRUTURA
ARITMÉTICOS
88
3.3.1
Os campos conceituais aditivo e multiplicativo
92
3.3.1.1
Problemas aritméticos da estrutura aditiva
94
3.3.1.2
Problemas aritméticos da estrutura multiplicativa
104
3.4
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
116
4
METODOLOGIA DE PESQUISA
118
4.1
OBJETIVO DA PESQUISA
118
4.2
OPÇÃO METODOLÓGICA
118
4.3
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
120
SEMÂNTICA
DOS
PROBLEMAS
4.3.1
Estudos preliminares
121
4.3.2
Universo do estudo e a amostra
121
4.3.3
Procedimentos da coleta de dados
123
4.3.4
Instrumentos de pesquisa
124
4.3.4.1
Instrumentos diagnósticos
124
4.3.4.2
Testes aditivos
125
4.3.4.3
Testes multiplicativos
129
4.4
ATIVIDADES
PESQUISA
4.4.1
Descrição e análise a priori das atividades de ensino
134
4.4.1.1
Atividades de ensino da estrutura aditiva
136
4.4.1.2
Atividades de ensino da estrutura multiplicativa
144
4.5
A ANÁLISE DOS RESULTADOS
152
5
DESENVOLVIMENTO DO EXPERIMENTO
155
5.1
APLICAÇÃO DOS TESTES DIAGNÓSTICOS
NÚMEROS NATURAIS E DECIMAIS
DOS
155
5.2
APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES CONCEITUAIS DOS
NÚMEROS DECIMAIS
156
5.2.1
Atividade 1: Transformação de frações decimais em
números decimais
156
5.2.2
Atividade 2: Comparações de números decimais
163
5.3
APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DO CAMPO ADITIVO
COM OS NÚMEROS DECIMAIS
165
5.3.1
Atividade 3: Adição com os números decimais
165
5.3.2
Atividade 4: Subtração com os números decimais
168
5.3.3
Atividade 5: Resolução de problemas aditivos
170
5.4
APLICAÇÃO
DAS
ATIVIDADES
DO
CAMPO
MULTIPLICATIVO COM OS NÚMEROS DECIMAIS
176
DE
ENSINO
DESENVOLVIDAS
NA
133
5.4.1
Atividade 6: Multiplicação dos números decimais
176
5.4.2
Atividade 7: Atividade de divisão dos decimais
181
5.4.3
Atividade 8: Resolução de problemas multiplicativos
191
5.5
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
196
6
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
199
6.1
APRESENTAÇÃO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE
199
6.2
ANÁLISE DOS RESULTADOS
ESTRUTURA ADITIVA
6.2.1
Habilidades com as operações
201
6.2.2
Habilidades em modelar o problema e reconhecer a
operação para resolver os problemas
218
6.3
ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS TESTES DA
ESTRUTURA MULTIPLICATIVA
221
6.3.1
Habilidades com as operações
249
6.3.2
Habilidades em modelar o problema e reconhecer a
operação para resolver os problemas
250
6.4
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
253
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS
260
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
264
268
DOS
TESTES
DA
200
19
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O conceito de número racional está entre os mais importantes conceitos
matemáticos que os alunos aprendem nos anos iniciais do ensino fundamental.
Serve, dentre outras coisas, para dar continuidade e ampliar o sentido de número
das crianças. Behr et al. (1993) consideram os números racionais como o tópico
mais importante do currículo do ensino básico, já que promove o desenvolvimento
de estruturas cognitivas cruciais à aprendizagem da Matemática.
Em relação aos racionais na forma decimal, Behr e Post (1992, p.55)
sustentam que os decimais são ainda outra interpretação importante do número
racional e são muito úteis em uma ampla variedade de configurações, o sistema
métrico, a porcentagem e o dinheiro são as três mais importantes. Para esses
autores, os números decimais podem causar problemas especiais para crianças,
porque eles têm características semelhantes a dos números inteiros e frações. No
entanto, os decimais são diferentes de cada um desses números, tanto na forma
como são conceituados, tanto na forma como são manipulados.
Os números decimais são, por direito próprio, uma extensão importante
tanto do sistema posicional decimal, quanto de números racionais e podem ser
interpretados corretamente a partir de qualquer perspectiva. Com o aspecto de
valor posicional decimal, os decimais podem ser considerados como uma extensão
lógica do sistema de numeração de base dez, para incluir décimos (um décimo de
um todo); centésimos (um décimo de um décimo) e assim por diante; como um
caso especial da interpretação parte-todo de frações, em que o conjunto é dividido
em um certo número de partes iguais, de alguns múltiplos de dez, sendo o mais
comum 10, 100, ou 1000 (BEHR E POST,1992, p.56).
Para Behr e Post (1992, p.57), essas duas interpretações não são
inteiramente separadas, ambos os entendimentos interagem e são importantes
para a compreensão do conceito e das operações com números decimais. Em
razão disso, o ensino dos números decimais sem referência ao sistema posicional
decimal ou sem referência as frações decimais (que lhes deram origem) se
caracteriza por um ensino sem significado para o aluno. De tal forma que alguns
estudos apontam que os números naturais são obstáculos didáticos para a
aprendizagem dos decimais. Tais afirmações surgem porque as associações dos
20
decimais com o sistema posicional decimal e com as frações decimais não são
realizadas, levando os alunos a construírem ideias errôneas sobre os números
decimais. Conforme Behr e Post (1992), o que é importante nessa discussão é a
interação sutil entre o conceito de valor posicional derivado do trabalho anterior,
com números inteiros, e vários entendimentos de fração. Se feita de forma eficaz
essa interação apoia o desenvolvimento de uma nova ideia e seu sistema simbólico
associado.
Os estudos, nacionais e internacionais, desenvolvidos sobre os números
decimais têm enfatizado as dificuldades dos alunos e professores no ensino e
aprendizagem desses números. Tais estudos apontaram que os alunos estão
desenvolvendo habilidades de formas mecanizadas e que por isso não entendem
o conceito subjacente a esses números. Parece-nos que a escola está priorizando
o conhecimento processual em detrimento do conhecimento conceitual, e, como
consequência, temos alunos aplicando procedimentos (regras, algoritmos etc.) dos
quais não têm compreensão.
Para Hiebert e Lefevre (1986, p.10), isso ocorre quando os conceitos e
procedimentos não estão conectados. Os alunos podem ter uma sensação intuitiva
para a Matemática, mas não resolvem os problemas, ou podem gerar respostas,
mas não compreendem o que estão fazendo. Assim sendo, os procedimentos que
são aprendidos com significado são procedimentos que estebelecem ligações com
conhecimento conceitual, e por isso esses procedimentos se tornam mais
significatvos para os alunos. Os autores colocam uma situação que descreve a
importância de associar os conhecimentos em questão.
Suponha que é apresentado a um aluno a adição de 3,5 + 1,76. Um
procedimento que, especificamente, seria rejeitado pelas considerações
conceituais é adicionar o 5 ao 6, e 3 a 7. A ideia seria rejeitada porque
essas operações tende a combinar quantidades de denominação ou
tamnaho diferentes. Assim, além de ajudar com a seleção de um
procedimento adequado, o conhecimento conceitual atua como um agente
de triagem para rejeitar um inapropriado procedimento (HIEBERT E
LEFEVRE, 1986, p.13, tradução nossa).
A situação exposta pelos autores é comum em sala de aula, pois os
alunos que não possuem uma compreensão conceitual dos decimais adicionam ou
subtraem de forma incorreta, não levando em consideração o sistema posicional
decimal, por não entenderem o sentido dos décimos, centésimos e milésimos que
21
aparecem nesses números. As regras dessas operações não têm sentido, são
procedimentos vazios de significados e, consequentemente, são esquecidos ao
longo do tempo.
A consequência dessa dissociação entre o conhecimento conceitual e
processual também é destacada nos Parâmetros Curriculares Nacionais – (PCN).
Embora as representações fracionárias e decimais dos números racionais
sejam conteúdos desenvolvidos nos ciclos iniciais, o que se constata é
que os alunos chegam ao terceiro ciclo sem compreender os diferentes
significados associados a esse tipo de número e tampouco os
procedimentos de cálculo, em especial os que envolvem os racionais na
forma decimal (BRASIL, 1998, p. 101).
Os números decimais são estudados na escola a partir do 4º ano do
ensino fundamental e seu estudo continua particularmente até o 6º ano, depois,
esse conteúdo aparece diluído nos demais conteúdos do currículo, de tal forma
que, em nossa prática profissional temos observado que mesmo no ensino médio,
encontramos alunos com dificuldade em realizar operações com esses números ou
em usar suas diversas representações, seja na forma fracionária ou de
porcentagem.
A Matriz de Referência de Matemática do Sistema de Avaliação da Educação
Básica - Saeb traz as competências e habilidades esperadas nos 5º e 9º anos,
agrupadas em quatro eixos: números e operações; geometria; grandezas e
medidas; e tratamento da informação. Dentre esses quatro eixos, o tema números
e operações/álgebra e função tem um número significativo de descritores, catorze
no total. Em referência aos números racionais decimais, o descritor D23 e D25
apresentam as habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos.
D23 - Resolver problema utilizando a escrita decimal de cédulas e
moedas do sistema monetário brasileiro. Este descritor pretende
avaliar a habilidade de o aluno resolver problemas do seu cotidiano,
que envolvam o valor decimal de cédulas ou moedas do Sistema
Monetário Brasileiro. Essa habilidade é avaliada por meio da resolução
de problemas que se relacionam ao cotidiano, associados à
manipulação de dinheiro. Podem ser exploradas as operações de
adição e subtração com decimais que representam quantidades
monetárias e as operações de multiplicação e divisão de um decimal
que representa quantidades monetárias por um número natural.
D25 - Resolver problema com números racionais expressos na forma
decimal envolvendo diferentes significados da adição ou subtração O
descritor D25 pretende avaliar a habilidade de o aluno resolver
problemas com números decimais, utilizando-se das operações de
adição e subtração (BRASIL. PDE/ Prova Brasil, 2009, p. p.143- 146).
22
Segundo o documento PDE/Prova Brasil (BRASIL, 2009, p.18), um aluno
desenvolveu uma certa habilidade quando ele for capaz de resolver um problema
a partir da utilização/aplicação de um conceito por ele já construído. Esse mesmo
documento define competência, na perspectiva de Perrenoud, como sendo a
“capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiando-se
em conhecimentos, mas sem se limitar a eles”. E sobre habilidade, expõe que
“habilidades referem-se, especificamente, ao plano objetivo e prático do saber fazer
e decorrem, diretamente, das competências já adquiridas e que se transformam em
habilidades” (PDE/Prova Brasil, BRASIL, 2009, p.18 -19). Assim sendo, os alunos
possuem habilidades e competência para resolver problemas com números
decimais quando conseguem estabelecer relações entre os conhecimentos
processuais e conceituais que envolvem esses números.
1.1 PROBLEMÁTICA
A literatura sobre o ensino e a aprendizagem dos números decimais é
vasta, e as pesquisas têm mostrado, ao longo dos anos, as complexidades que
envolvem esses números, assim como seu ensino e aprendizagem. Esses estudos
têm evidenciado a carência dos alunos na compreensão conceitual e o que isso
pode acarretar. Tais estudos discutem que a falta de compreensão do sentido de
número decimal acarreta dificuldades na aprendizagem, principalmente na
representação, leitura, comparação e ordenação desses números, visto que essas
são situações propriamente conceituais. Acrescentemos a isso as dificuldades na
compreensão das operações e na resolução de problemas.
Os trabalhos revisados sobre ensino e aprendizagem dos decimais
podem ser classificados dentro das seguintes categorias:
 Estudos que investigaram a dificuldade conceitual e com as
operações com decimais: Brousseau (1981,1983, 1987, 2004), Perrin
Glorian (1986), Doaudy e Perrin Glorian (1986), Behr e Post (1988),
Padovan (2000), Cunha (2001), Roditi (2007), Fonseca (2005), Vieira
(2005), Silva (2006), Mendes (2012) e Şengül e Gülbağcl (2012);
23
 Estudos que apresentaram propostas de ensino: Biachinni (2001),
Jucá (2004, 2008), Mestre (2009) e Pereira (2011);
 Estudos que investigaram as dificuldades na resolução de problemas
com os decimais: Hiebert e Wearne (1988), Bell et al (1981) e Fischbein
et al (1985);
 Estudos que investigaram os saberes e práticas dos professores
sobre números decimais: Roditi (2001), Alves e Gomes (2007), Esteves
(2009), Ribeiro (2009, 2011), Miola (2011) e Miola e Pereira (2012).
De forma geral, a maior parte da literatura existente sobre o ensino dos
números decimais, no Brasil e no exterior, tem evidenciado as dificuldades,
principalmente, as relativas à compreensão conceitual. Outros estudos apontaram
as dificuldades dos alunos com as operações. Tais dificuldades têm levado os
alunos a cometerem erros significativos, principalmente, ao resolverem problemas.
Na revisão da literatura, percebemos uma escassez nos estudos que
investigaram as habilidades dos alunos na resolução de problemas com os
decimais. Os estudos de Hiebert e Wearne (1988) e Bell et al. (1981), analisaram
algumas estratégias de resolução e apontaram as dificuldades dos alunos, as quais
estão relacionadas a questões conceituais. O estudo de Fischbein et al. (1986), não
foi especificamente sobre os decimais, mas tratou sobre algumas dificuldades dos
alunos ao resolverem problemas com esses números no campo multiplicativo. O
estudo de Pereira (2011) apresenta uma proposta de ensino por meio da resolução
de problemas, todavia, a autora não apresenta uma análise detalhada das
dificuldades dos alunos.
As dificuldades relacionadas à estrutura semântica dos problemas foram
destacadas em diversos estudos referentes aos números naturais, entre eles,
Fischbein et al. (1986), Bell et al. (1981), Behr e Post (1988), Hilbert Wearne (1988),
Greer (1992), Vergnaud (1990, 2009), Sá (2003) e Damm (2003). Com efeito,
alguns desses estudos apontaram também as dificuldades com os números
decimais, e estas estão relacionadas às deficiências conceituais dos alunos, pois o
que fica claro, tanto na prática escolar exposta nas pesquisas com professores,
quanto no conteúdo dos livros didáticos, é que existe uma supervalorização dos
procedimentos em detrimento da construção conceitual dos decimais e isso tem
levado os alunos a utilizarem regras prontas que eles não compreendem e, como
24
consequência, não conseguem raciocinar sobre os resultados das operações,
apresentando respostas absurdas.
As discussões apresentadas pelos estudos revisados sobre ensino e
aprendizagem dos números decimais, juntamente com a escassez de estudos
relacionados a resolução de problemas neste campo numérico, articuladas com
nossa prática profissional, motivaram o interesse para investigar a resolução de
problemas com esses números. Pois nas Avaliações Nacionais da Educação
Básica - provinha Brasil e prova Brasil, tem se observado um índice considerado
de erros em questões que envolvem a resolução de problemas com os números
decimais, em suas várias representações. Além do que a matriz de referência do
Saeb discute sobre as competências e habilidades que os alunos devem
desenvolver em Matemática, e está estruturada sobre o foco Resolução de
Problemas. Segundo o documento PDE/Prova Brasil (BRASIL, 2009, p.106), essa
opção traz implícita a convicção de que o conhecimento matemático ganha
significado quando os alunos têm situações desafiadoras para resolver e trabalham
para desenvolver estratégias de resolução.
Em virtude de tudo isso, e levando em consideração a continuidade dos
nossos estudos (JUCÁ, 2004, 2008), novas inquietações surgiram, não somente
em relação às operações com os decimais, mas também sobre a resolução de
problemas. No desenvolvimento de nossos estudos anteriores, nos quais aplicamos
sequências didáticas para o ensino dos decimais, tínhamos como foco apenas o
ensino das operações, e, para isso, utilizamos atividades que envolviam problemas.
Porém, no desenvolvimento das atividades, nos deparamos com uma situação
inesperada, os alunos apresentavam dificuldades em resolver os problemas e as
operações com os números naturais.
Os problemas propostos nas atividades apresentavam situações
relacionadas aos sistemas de medida e monetário, contudo, os alunos tiveram
dificuldades em compreender o problema e escolher corretamente a operação que
deveria ser usada. As dificuldades em compreender o problema levaram os alunos
a fazer as tradicionais perguntas: “Qual é a conta?”, “É de mais ou de menos?”, “É
de vezes ou divisão?”. Some-se a esse fato a dificuldade em desenvolver as
atividades que exigiam que os alunos construíssem as regras das operações dos
decimais, visto que os alunos não dominavam os algoritmos das operações com os
naturais. Tal situação dificultou o desenvolvimento das atividades das sequências.
25
Em vista disso, confrontamo-nos com novas questões: se os alunos
dominassem os algoritmos das operações com os naturais, poderiam ter mais
facilidade para aprender as operações com os decimais? Se os alunos tivessem
habilidade em resolver problemas com os números naturais, obteriam maior
facilidade para resolver problemas com os decimais? Acreditamos que são
questões pertinentes e que merecem investigação. De tal sorte que, dando
continuidade aos nossos estudos anteriores, e com base nas conclusões dos
estudos revisados na área dos números decimais, como os estudos de Behr e Post
(1988) e Hiebert e Wearne (1988), que enfatizam a importância da aprendizagem
dos números inteiros positivos para a aprendizagem dos decimais, surgiu o
interesse em investigar de que forma o conhecimento dos números naturais
influencia a aprendizagem dos números decimais, principalmente na resolução de
problemas. Feitas essas considerações, defendemos que a competência para
resolver problemas com os números decimais está relacionada à
competência para resolver problemas com números naturais.
1.2 A QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO
Por todos os argumentos apresentados, nesta pesquisa,
nos
propusemos a responder às seguintes questões de investigação:
1) A habilidade de realizar as operações com números naturais
influencia no desenvolvimento da habilidade de realizar operações com
números decimais?
2) A habilidade de resolver problemas com números naturais
influencia no desenvolvimento da habilidade de resolver problemas com
números decimais?
As respostas a essas questões nos conduziram a uma questão mais
geral:
Qual o campo de competência que os alunos do 6º ano do ensino
fundamental devem possuir para resolver problema com os números
decimais?
26
1.3 OBJETIVO DA PESQUISA
Investigar o campo de competência que os alunos do 6º ano do ensino
fundamental devem possuir para resolver problemas aritméticos com os números
decimais, no campo aditivo e multiplicativo.
Como objetivos específicos destacamos:
 Verificar se os conhecimentos prévios dos alunos com os números
naturais influenciam na aprendizagem dos decimais;
 Verificar o desempenho dos alunos em problemas do campo aditivo e
multiplicativo com os decimais;
 Investigar quais habilidades os alunos apresentam na resolução de
problemas com os decimais.
Isso posto, esta pesquisa consistiu na aplicação de atividades de ensino
com os números decimais, com a interpretação e análise dessas atividades, a partir
dos conhecimentos prévios acerca de números naturais e frações decimais. Assim,
aplicamos atividades de ensino nas quais os alunos pudessem construir as regras
das operações com os números decimais, estabelecendo relações com seus
conhecimentos prévios sobre as operações com os números naturais, e de igual
forma, na resolução de problemas aditivos e multiplicativos.
Nessa vertente, esta investigação buscou suporte teórico nos estudos
de David Ausubel (2003), sobre a aprendizagem significativa; Vergnaud (1990,
2009), sobre a teoria dos campos conceituais e a estrutura semântica dos
problemas aditivos e multiplicativos; e na classificação dos problemas aritméticos e
algébricos propostos por Sá (2003).
A teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (2003) nos propiciou
justificar a utilização dos conhecimentos prévios dos naturais como subsunçores
para a aprendizagem dos decimais. Defendemos que a aprendizagem das
operações com os números decimais está diretamente associada à aprendizagem
das operações com os naturais, e que uma vez que os alunos não tenham
construído o conhecimento com os naturais de forma eficiente, terão dificuldade em
aprender as operações e a resolver problemas com os decimais.
Segundo Moreira (2006, p.17), a aprendizagem significativa é um
processo pelo qual uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante
da estrutura de conhecimento do indivíduo. Ou seja, nesse processo, a nova
27
informação interage como uma estrutura de conhecimento especifica, a qual
Ausubel define como conceito subsunçor. O conceito de subsunçores, de acordo
com Moreira (2006, p. 17), refere-se “[...] a qualquer ideia, conceito, proposição
existente na estrutura cognitiva do aprendiz [...]”, e eles servirão como
ancoradouros para os novos conhecimentos, que interagem com os conhecimentos
já construídos com a finalidade de obter a aprendizagem significativa.
Os estudos de Vergnaud (1976, 1983, 1988, 2009a,) sobre a estrutura
semântica dos problemas nos permitiram compreender os esquemas dos alunos
na resolução dos problemas e os conceitos que mobilizam na sua resolução,
principalmente nos campos conceituais aditivos e multiplicativos; e o estudo de
Sá(2003), sobre os problemas algébricos e aritméticos, nos propiciaram investigar
as dificuldades dos alunos dentro de uma certa categoria de problemas com os
decimais.
Para
desenvolvimento
desta
investigação,
escolhemos
como
metodologia de pesquisa alguns aspectos da pesquisa qualitativa e quantitativa, ou
seja, a pesquisa de métodos mistos, por acreditarmos que uma síntese de ambos
nos ajudaria a ter uma visão mais global deste estudo. Como expõem Creswell e
Clark (2013, p.21), “a pesquisa em métodos mistos é o tipo de pesquisa em que o
pesquisador combina elementos de abordagem qualitativa e quantitativa com o
propósito de ampliar e aprofundar o entendimento e a corroboração.”
1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Este trabalho está estruturado em sete capítulos.
Nas Considerações Iniciais, capítulo 1, apresentamos a motivação, a
problemática, o objetivo e a questão de pesquisa.
No capítulo 2, trazemos uma revisão dos estudos sobre o ensino dos
decimais realizados no Brasil e no exterior. Esses estudos apontaram as
dificuldades de alunos e professores no processo de ensino e aprendizagem dos
números decimais.
No capítulo 3, expomos o referencial teórico que subsidiou este trabalho,
a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel e os estudos da teoria dos
campos conceituais, a estrutura semântica dos problemas de Vergnaud (1976,
28
1983, 1988, 2009a,) e a classificação dos problemas de Sá (2003), além de outros
estudos complementares.
No capítulo 4, discorremos sobre a metodologia e os procedimentos
metodológicos da pesquisa. A colaboração dos aspectos da pesquisa qualitativa e
quantitativa nos ajudou a compreendermos os processos cognitivos que se
mostraram dentro da pesquisa. Como tínhamos interesse em investigar como os
alunos operacionalizam e como resolvem problemas com os números decimais,
consideramos um método experimental e as variáveis envolvidas. Todavia, não
somente o produto nos interessava, mas também o processo da investigação, pois
precisávamos investigar quais são as dificuldades, os erros, os procedimentos que
os alunos utilizam para resolver problemas, seus avanços e estabilizações.
No capítulo 5, descrevemos a experimentação da pesquisa. As
atividades de ensino que se referiam às operações com decimais, usadas nesta
investigação, foram adaptadas do estudo de Jucá (2008), com algumas
modificações nas atividades do campo multiplicativo. A atividade de resolução de
problema foi elaborada a partir das revisões dos estudos e do referencial teórico
sobre estrutura semântica dos problemas.
No capítulo 6, trazemos a análise e as discussões dos resultados. Na
discussão dos resultados dos testes aplicados e das atividades devolvidas,
podemos analisar de que forma os conhecimentos dos números naturais
influenciou a aprendizagem dos decimais, e se eles, em algum momento, se
tornaram obstáculos de aprendizagem. Nas análises dos resultados, percebemos
os avanços, retrocessos e dificuldades dos alunos na resolução de problemas e,
ao final das análises, apontamos as habilidades e competência para os alunos
resolverem problemas com os decimais.
No capítulo 7, apresentamos as considerações finais.
29
2 REVISÃO DA LITERATURA SOBRE OS NÚMEROS DECIMAIS
Neste capitulo, apresentamos uma revisão dos estudos referentes ao
processo de ensino e aprendizagem dos números decimais no Brasil e exterior,
com o objetivo de conhecer as dificuldades dos alunos e dos professores
relacionadas ao ensino e aprendizagem dos decimais e as propostas de ensino
desenvolvidas até os dias atuais. Dividimos os estudos em duas categorias, a
primeira apresenta os estudos que discutem sobre ensino e aprendizagem e a
segunda, os estudos que discutem sobre o conhecimento dos professores sobre os
decimais.
2.1 OS ESTUDOS SOBRE O ENSINO E APRENDIZAGEM DOS NÚMEROS
DECIMAIS
Os estudos de Brousseau (1981, 1983, 1987, 2004) sobre os números
decimais são os primeiros a abrirem as grandes discussões que envolvem o ensino
desses números. Uma das grandes questões levantadas é em relação aos
obstáculos didáticos que os estudos dos naturais podem causar na aprendizagem
dos decimais, pois, segundo Brousseau (1983, p.30), os números naturais criam
obstáculos à concepção dos decimais, por razão evidente de aproximação da
escritura e da estrutura. Uma das associações que os alunos apresentam em
relação aos números naturais é que os números naturais com maior valor são os
que apresentam maior quantidade de números, no entanto, para os decimais isso
não é válido, pois 3,157 é menor que 3,2. Esses obstáculos se manifestam sobre a
forma de várias dificuldades, que podem ser tratadas separadamente. Para
Brousseau (1983, p. 30), essas relações com os números naturais geram
obstáculos, tais como:
 Dificuldade em aceitar que podemos obter um aumento por uma
divisão e uma diminuição por uma multiplicação;
 Dificuldade para achar um número decimal entre dois outros, e para
desistir de achar um sucesso a um decimal;
 Dificuldade em aceitar a dupla escritura;
30
 Dificuldade em conceber o produto;
 Dificuldade em conceber novos tipos de divisões.
Esses obstáculos aparecem em diversos estudos sobre os decimais,
tanto na França, como em outros países, inclusive no Brasil. Para tentar amenizar
tais obstáculos algumas propostas de ensino foram desenvolvidas na França,
destacando-se as engenharias didáticas propostas por Brousseau (1987) e Doaudy
e Perrin-Glorian (1986). Nessas duas propostas, os decimais são tratados como
racionais particulares. Esses trabalhos são citados em diversas publicações
relacionadas aos decimais na França, principalmente nas orientações de ensino
para os professores.
A engenharia didática, proposta por Brousseau (1987) para o ensino dos
decimais, apresenta, primeiramente, o ensino das frações, principalmente as
frações decimais, para, depois, introduzir a noção de número decimal e realizar o
ensino das suas operações, ordenação e comparação. Nessa engenharia, ele
utiliza a resolução de problemas do cotidiano para que os alunos busquem
soluções, de tal forma que os alunos são levados a discutir e apresentar suas ideias
e soluções.
Na proposta de ensino de Brousseau (ibid.) O ensino das operações
parte sempre de uma situação-problema para que os alunos possam discutir e
buscar uma solução adequada para resolvê-la; ao final, o sentido das operações
com os decimais é apresentado por meio das operações com as frações decimais.
A operação de multiplicação, por exemplo, é introduzida por uma atividade de
ampliação de uma figura, chamada de Agrandissement de Puzzies (Figura 1). Essa
atividade se tornou clássica, pois aparece em vários trabalhos sobre decimais na
França e no Brasil.
Figura 1- Agrandissement de Puzzies
Fonte: Brousseau (1987).
31
Essa figura é fornecida aos alunos para que eles a refaçam de uma
forma ampliada. Cada grupo de alunos fica responsável pela ampliação de cada
peça do Puzzies, ao final, os grupos devem juntar suas peças para verificar se será
formada a mesma figura. Assim, para resolver essa situação, os alunos buscam
estratégias e mobilizam os conhecimentos estudados anteriormente, de tal forma
que o aluno vai trabalhando vários outros conceitos, como, por exemplo, a
proporcionalidade, para finalmente chegar às situações multiplicativas que serão
necessárias para resolver a atividade. O interessante nas atividades propostas por
Brousseau é que, ao final das atividades, as operações desenvolvidas são
justificadas pelas operações com as frações decimais, para que os alunos
compreendam o sentido das operações realizadas e, assim, também possam
compreender o sentido da vírgula que aparece nos números decimais.
Outra proposta didática analisada foi a de Doaudy e Perrin Glorian
(1986). Diferentemente de Brousseau (1987), as autoras optaram por trabalhar com
a mudança de quadros, em que as ideias geométricas (área e perímetro) são
utilizadas para dar sentido às operações com os decimais. As autoras partem do
princípio de que os novos números (os decimais) são criados parar responder
situações em que os inteiros são insuficientes. Nessa situação, utiliza-se o quadro
numérico, geométrico ou gráfico para fazer progredir os conhecimentos dos alunos
sobre esses números. Assim, os novos números são escritos na forma fracionária.
As frações decimais foram usadas para simplificar os cálculos, e a
escrita com a vírgula aparece como simplificação dessas frações. Os números
inteiros, fracionários e decimais são usados na sequência para designar os
coeficientes das funções lineares, isto é, os coeficientes de proporcionalidade, e
reduzir os cálculos de funções lineares (adição, composição, comparação) e os
cálculos sobre os números (adição, multiplicação e comparação). Elaboramos um
breve resumo das atividades da sequência, que se assemelha bastante à de
Brousseau.
A 1ª atividade da sequência envolve medida de comprimento, para que
os alunos percebam que os inteiros são insuficientes para resolver a situação.
Dessa forma, as frações são introduzidas.
Na 2ª atividade, foram utilizadas as frações para o cálculo de área. Usase folhas de papel que são dobradas ou cortadas em várias partes, cada parte é
32
uma fração da folha, que será montada como um quebra cabeça. Aqui as
operações com frações são trabalhadas.
A 3ª atividade é usada para situar uma fração entre dois inteiros, várias
propriedades dos racionais são trabalhadas, até aparecer a necessidade de
trabalhar com as frações decimais, introduzidas nessa atividade.
Na
4ª
atividade,
foram
trabalhados
problemas
envolvendo
proporcionalidade para que os números decimais possam aparecer. As autoras
utilizam a atividade proposta por Brousseau o Agrandissement de Puzzies para
forçar o aparecimento dos decimais e introduzir os novos números.
Nas atividades finais, é trabalhada a ideia de área e perímetro de um
retângulo, em que é trabalhada a multiplicação e adição das frações decimais e
consequentemente as operações com os decimais. Após isso, a regra da
multiplicação é formalizada e as técnicas apresentadas. O mesmo é feito para a
divisão.
Semelhantemente à proposta de Brousseau (1987), observamos que
todas as operações são introduzidas por meio das operações com as frações
decimais, as operações são apresentadas a partir dessas, para, em seguida,
mostrar-se a forma decimal de efetuá-las. Somente ao final das atividades, as
técnicas das operações com os decimais são apresentadas.
Em outro estudo, Perrin Glorian (1986) investigou as formas de
compreensão errôneas que os alunos franceses do CM1, CM2 e 6º ano (o que
corresponde ao Ensino Fundamental 1 no Brasil) apresentavam sobre os números
fracionários e decimais. Tanto na representação fracionária como na decimal,
esses números são vistos pelos alunos como justaposição de dois inteiros. Na
representação numérica dos desenhos de frações, os alunos apresentavam
respostas errôneas, do tipo:
Figura 2- Representação numérica errônea dos desenhos de frações
Fonte: Perrin Glorian (1986).
33
Observamos que, na representação da parte pintada das figuras, os
alunos apresentaram respostas errôneas, sendo que entenderam que o menor
número de partes fica no numerador e o maior número de partes no denominador,
como mostra o primeiro desenho. Ao invés de escrever
1
4
, o aluno utiliza 1 para o
menor número de partes, e 3 para o maior número de partes. No terceiro desenho,
na representação do decimal, ele considera a parte pintada como se fosse a parte
inteira e a outra parte, a decimal. Concluímos que os alunos enxergam as frações,
assim como os decimais, como a junção de números inteiros.
Perrin Glorian (1986, p.7) destaca outros erros, como a ordenação dos
decimais. Os alunos, ao ordenaram os números decimais entre 1,8 e 2, colocaram
números do tipo 1,11 e 1,78. Em outra situação, ao colocarem números entre 1,3
e 1,4 os alunos usavam números como: 1,04; 1,004; 1,03; 1,003. Em relação à
comparação dos decimais com a mesma parte inteira, a autora observou que os
alunos utilizaram a parte decimal para fazer a comparação, tendo como base os
números inteiros, 4,36 >4,8, e justificaram que 36 > 8.
Perrin Glorian (1986, p. 6) faz referência às regras implícitas que os
alunos mobilizavam quando se sentiam confrontados com problemas sobre ordem
e comparação dos decimais. Ela destacou três regras usadas implicitamente pelos
alunos, quais sejam:
R1: o maior número decimal é aquele que possui o maior número inteiro
após a vírgula. Ex. 12,113> 12,4 pois 113 >4;
R2: o número que tem mais casas decimais é menor. Ex. 12,325 <12,3;
R3: é uma composição das duas anteriores.
Para Perrin Glorian (1986, p. 6), essas regras são as responsáveis pelas
respostas errôneas dos alunos, mas são estratégias pessoais que eles criam para
poder ordenar e comparar os decimais. Em suas análises, ela concluiu que os
alunos enxergam os decimais como dois inteiros separados por uma vírgula, e que,
por isso, não atribuem significado a esse número.
Outro estudo analisado foi de Bell et al. (1981) que se propôs a analisar
os problemas conceituais que os alunos possuem ao resolver os problemas que
contêm números decimais. Após analisarem as pesquisas desenvolvidas sobre a
discussão de problemas aritméticos, os autores descrevem um experimento
composto de entrevistas, de
testes diagnósticos e um material de ensino
34
desenvolvido
com a utilização de
calculadora e jogos para identificar as
“misconcepções” ou equívocos que os alunos cometem ao trabalharem com as
operações de multiplicação e divisão de decimais.
A pesquisa foi desenvolvida com 20 pares de alunos dos Estados
Unidos, com idade entre 12 a 16 anos. No desenvolvimento das atividades, os
alunos eram incetivados, no caso de insucesso nas atividades, a reformularem o
problema em suas próprias palavras, a usarem diagramas para ajudar na resolução
dos problemas, diagramas propostos pelo pesquisador e números mais simples
para resolver os problemas.
Bell et al. (1981) observaram que os alunos tinham dificuldade em
perceber qual a operação correta para resolver o problema e isso estava
relacionado ao sentido intuitivo do tamanho dos números decimais. Além do que,
outros erros estavam relacionados a generalizações equivocadas das operações
de multiplicação e divisão com números inteiros. Os autores identificaram erros
relacionados ao valor posicional dos decimais e compreensão da leitura desses
números. Generalizações do tipo “multiplicação sempre aumenta” e “divisão
sempre diminui” levaram os alunos a respostas erradas, além de algumas
representações da divisão, nas quais o dividendo é sempre maior que o divisor, de
tal forma que os alunos tiveram problemas em aceitar a divisão de um número
decimal menor por um número decimal maior. Outro fator de erro foi a utilização
das palavras-chave que aparecem nos problemas, que indicam a operação a ser
utilizada. Quando essas palavras não se encontravam presentes no texto, os
alunos tinham dificuldade em resolver o problema e usavam como estratégias a
colocação dessas palavras no texto.
Nas atividades de ensino propostas pelos autores, os alunos eram
motivados a substituir os números decimais por inteiros para analisarem se
conseguiriam resolver os problemas e se isso facilitaria no raciocínio dos
problemas. Em algumas situações, isso se mostrou eficaz, entretanto, em outras
situações, os alunos, ao trabalharem com os números decimais, escolheram uma
operação, e quando raciocinavam com os números inteiros, escolhiam outra
operação. Os autores colocaram que os alunos assumiram que a mudança dos
números no problema mudava a situação, e chamam a atenção para a necessidade
de o ensino estabelecer que os conceitos de divisão e outras operações residem
nas relações da situação.
35
Também Fischbein et al. (1985) desenvolveram um estudo junto a 623
alunos de escolas italianas (5, 7, e 9 graus), aos quais foi solicitado que
escolhessem a operação necessária para resolver 26 problemas de multiplicação
e divisão que envolviam números inteiros e decimais. O objetivo do estudo era
investigar quais os modelos intuitivos que os alunos costumam utilizar quando
resolvem problemas com essas operações. Os autores partiram da hipótese de
que, para a multiplicação, o modelo intuitivo era a adição repetida e para a divisão,
o modelo de partilha.
Segundo Fischbein et al. (1985, p.3), cada operação fundamental da
aritmética, geralmente, permanece ligada a um modelo implícito, esse modelo é
intuitivo, inconsciente e primitivo. A Identificação da operação necessária para
resolver um problema com os dados numéricos não ocorre diretamente, mas sim
mediada pelo modelo. O modelo impõe suas próprias restrições no processo de
resolução.
Para os autores, a restrição do modelo escolhido pode levar à escolha
inadequada da operação e isso ocorre porque o caminho está bloqueado pela
incongruência entre os dados numéricos fornecidos no problema e os
condicionamentos específicos do modelo tácito subjacente. Os autores expõem
uma consequência da utilização desses modelos implícitos, como, por exemplo, a
suposição de que o conceito de multiplicação é intuitivamente ligado a um modelo
de adição repetida, de modo que 3 vezes 5 significa 5 + 5 + 5.
Em tal interpretação, o operador de multiplicação só pode ser um número
inteiro. A multiplicação em que o operador é de 0,22 ou 5/3 não tem nenhum
significado intuitivo. Todavia, dizer que a multiplicação por 0,22 ou 5/3 não tem
nenhum significado intuitivo não implica dizer que não tem significado matemático.
As crianças podem saber muito bem que 1,20 x 0,22 e 9 x 5/3 são expressões
matemáticas legítimas, mas quando expressas em um problema, podem não ser
capazes de penetrar no problema e compreender a operação necessária. O
caminho está bloqueado pela incongruência entre os dados numéricos fornecidos
e os condicionamentos específicos do modelo tácito subjacente (FISCHBEIN ET
AL ,1985, p.4).
Os autores descreveram vários fatores que se presume serem criação
das dificuldades que as crianças têm em resolver problemas aritméticos. A falta de
familiaridade com o contexto e o tipo de quantidades envolvidas podem colaborar
36
com a dificuldade do problema, como podem, também, contribuir o tamanho e tipo
de números usados. O problema pode ser mais difícil se ele contém números
inteiros na ordem das centenas ou acima, ou decimais. Outro fator é a relação entre
a situação prevista e a adequada operação, pois as situações multiplicativas,
envolvendo um produto cartesiano, eram mais difíceis de interpretar do que
situações redutíveis à adição repetida.
Os resultados do estudo de Fischbein et al. (1985, p.11) apontaram as
dificuldades dos alunos em problemas que envolvem números decimais, tanto na
multiplicação e divisão. Com relação aos problemas nos quais os alunos tinham
que multiplicar e dividir com números inteiros, houve uma grande quantidade de
acertos. As multiplicações que envolviam números inteiros e decimais
apresentaram uma quantidade de acertos interessantes, observou-se que quando
o decimal era o multiplicador, o número de acerto foi maior do que quando o decimal
era o multiplicando. Nessa última situação, o número de acerto caiu quase pela
metade. Outra questão a ser destacada é que o número de erros na escolha da
operação com os decimais foi muito maior se comparado ao número de erros na
escolha da operação com os inteiros.
Em relação à operação de divisão, observou-se um grande número de
acertos nos problemas que envolviam somente números inteiros, no entanto,
quando a divisão envolvia números “grandes” (na ordem da centena, ou milhar), o
número de acertos diminuía consideravelmente. Nos problemas que envolviam
números inteiros e decimais, o número de acerto caiu quase pela metade. Se o
divisor era um número decimal, o número de acerto foi bem menor do que quando
esse assumia o papel de dividendo. O número de erros na escolha da operação
também foi bem considerável. Para os autores, a maior parte dos erros consistiu
na intervenção da ordem dos termos, produzindo, assim, uma operação intuitiva
aceitável. Na divisão de 3,25 por 5, os alunos inverteram a ordem e dividiram 5 por
3,25, confirmando os modelos implícitos nos quais a divisão é sempre de um
número maior pelo menor.
A partir dos resultados dos testes, os autores confirmaram a hipótese
inicial de que a adição repetida é o modelo implícito primitivo da multiplicação,
porém, em relação à divisão, os autores fizeram uma correção em suas hipóteses
iniciais, qual seja, a divisão como partição é o modelo implícito primitivo, mas a
divisão como cotação é um modelo que se adquire com a instrução. Isso porque,
37
com os alunos das séries menores, esse modelo não foi explorado nem utilizado,
mas com os alunos de séries mais avançadas, foi observado o domínio desse
modelo. Além do que, na interpretação partitiva de divisão, o divisor deverá ser um
número inteiro, e tanto divisor e quociente devem ser menores do que o dividendo.
Na interpretação cotativa da divisão, há apenas uma restrição, o divisor deve ser
menor do que o dividendo. Em ambos, a multiplicação e a divisão, se a parte
decimal é significativamente maior do que a parte fracionada, o conjunto pode
intuitivamente "absorver" o componente fracionário, e, portanto, os decimais
psicologicamente são tratados como um número inteiro.
O estudo de Hiebert e Wearne (1988) tinha por objetivo investigar as
habilidades dos alunos em manipular números decimais, a compreensão dos
conceitos subjacentes, bem como as conexões entre símbolos e conceitos. Foram
desenvolvidos três estudos, o primeiro envolveu 700 alunos dos Estados Unidos.
Todos os alunos receberam provas escritas, e cerca de 150 alunos foram
individualmente entrevistados duas ou três vezes durante o ano.
As provas escritas, que os alunos responderam, tinham por base os
conteúdos do currículo de matemática, como computação, tradução e ordenação
de decimais. Nas correções destas provas, os autores observaram que os
estudantes não possuíam bom desempenho nas operações. A computação dos
alunos era regida por uma regra que apresentava a aplicação de um modelo pronto
que utilizava apenas regras sintáticas e características superficiais dos problemas.
Sendo assim, os alunos não manifestaram nenhum conhecimento conceitual
essencial, mas apenas memorização de regras processuais que aplicam de forma
inadequada
Para os autores, uma explicação para o mau desempenho dos alunos é
o fato de eles serem levados a memorizar um grande número de regras de
manipulação de símbolos que têm pouco conteúdo conceitual para eles. Uma outra
consequência de memorizar as regras, de manipular símbolos que não são
compreendidos é que a habilidade processual supera a competência conceitual. Os
alunos são capazes de executar tarefas em um nível simbólico que eles não podem
pensar em um nível conceitual. Assim muitas dificuldades podem ser atribuídas a
um incompleto ou inexistente conhecimento do significado do símbolo escrito.
Os autores, apoiados nessas conclusões, desenvolveram uma teoria de
como os alunos se tornam competentes no trabalho com símbolos matemáticos
38
escritos, ou seja, com o número decimal. A teoria especifica uma sucessão de
processos cognitivos que cumulam para um campo de competência com símbolos
decimais, os autores apresentam cinco principais tipos de processos e, segundo
eles, a competência plena se desenvolve quando os alunos atingem cada um dos
tipos do processo.
Para Hiebert e Wearne (1988), os cinco principais processos que levam
à competência do símbolo são: (1) o processo de conexão, em que símbolos
individuais são ligados a referentes; (2) o processo de desenvolvimento, em que as
regras de manipulação de símbolos são desenvolvidas a partir de ações sobre o
referente; (3) o processo de elaboração, em que as regras são estendidas para
problemas semelhantes, mais complexos; (4) o processo de rotinização, em que as
regras são memorizadas e automatizadas; e (5) o processo de construção, em que
os símbolos e as regras são usadas como referências para a construção de
sistemas de símbolos mais abstratos.
O primeiro tipo de processo cognitivo, no desenvolvimento da
competência simbólica, é o processo de ligação ou conexão. Esse processo
envolve a construção de ligações entre os símbolos individuais e as referências
conhecidas. É o processo das construções de pontes, que, ao serem atravessadas
mentalmente, dá sentido aos símbolos escritos (o referente para os decimais é o
sistema monetário e o de medidas ou materiais, concebidos para ensinar os
decimais). Notemos que, nesse caso, a conexão não informa ao aluno como
manipular os símbolos para gerar uma resposta, em vez disso, a conexão
estabelece as bases ou ligações para a compreensão do significado da solução
quando um algoritmo é adquirido e executado. Por meio das conexões
estabelecidas com os referentes é que o o aluno poderá compreender o sentido do
algoritmo efetuado.
O segundo processo é o processo de revelação. Os procedimentos
desenvolvidos como ações sobre os referenciais são estendidos e refletidos sobre
os símbolos, por exemplo, a adição de números decimais, representados por blocos
de Dienes, uma combinação de
blocos do mesmo tamanho. Essa ação é
espelhada com símbolos através da combinação de dígitos, com o mesmo valor de
posição, isto é, na mesma posição em relação ao ponto decimal. Esse, por sua vez,
pode levar à regra “alinhar os pontos decimais” quando somar e subtrair.
39
Para os autores, os dois primeiros tipos de processos dependem de
análises semânticas. Os alunos que utilizam esses processos se envolvem ao
percorrerem mentalmente as conexões entre os símbolos e os referentes e entre
os procedimentos de símbolos e as ações nos referentes. Ou seja, as tarefas são
resolvidas por refletirem as expressões símbólicas dos problemas no mundo de
referência e selecionarem estratégias com base nos significados ou semântica
associados com as expressões.
Hiebert e Wearne (1988) colocam que os três últimos processos são
mais sintáticos do que semânticos. O processo de elaboração é um processo de
ampliação de procedimentos sintáticos para outros contextos apropriados. Por
exemplo, o problema 0,8 x 0,3 pode ser resolvido aplicando-se, primeiramente, as
regras de multiplicação de números inteiros e, em seguida, uma nova regra para
decimais que envolve contar os dígitos à direita do ponto decimal.
O processo de rotinização envolve memorização e prática dos
procedimentos sintáticos até que eles sejam automáticos e possam ser executados
com pouco esforço cognitivo. Os processos de elaboração e de rotinização revelam
o notável poder da matemática, uma vez que ambos permitem manipular ideias
complexas e exigentes cognitivamente, apenas movendo símbolos em papel.
Nesse ponto, os símbolos se destacam de seus referentes. A distinção entre os
dois primeiros processos, que dependem de análises semânticas, e o terceiro e
quarto, aqui descritos, ressalta uma característica importante de aprendizagem da
matemática e do pensamento. Símbolos e regras entram em seu significado a partir
de referências do mundo real, mas atingem o seu poder separando-se dessas
referências.
O processo de construção, o quinto processo cognitivo, continua a
separação usando símbolos e regras de números decimais como referências na
construção de sistemas mais abstratos. Por exemplo, os números decimais podem
ser considerados como uma instância de um campo ordenado. O sistema sintático
satisfaz todas as propriedades necessárias para os campos solicitados, portanto,
decimais podem servir como uma referência para um sistema desse tipo. Aqui, os
argumentos dos processos cognitivos são os símbolos e as próprias regras.
Os autores concluem que as competências completas com símbolos e
número decimal são definidas como o conjunto cumulativo dos cinco tipos de
processos
descritos.
E
supõem
que
as
condições
favoráveis
para
o
40
desenvolvimento de competências são a aquisição sequencial e uso dos
processos, com cada um sendo mantido, quando o processo anterior é adquirido.
Os autores citam mais dois estudos desenvolvidos para comprovar
esses processos, um deles teve como amostra alunos de séries/ano diferentes,
com desempenhos diferentes em matemática (de baixo a alto desempenho), e com
alunos que haviam estudado e com aqueles que não haviam estudado números
decimais. Os autores aplicaram atividades de ensino para levar os alunos a
compreenderem o sentido dos números decimais.
Nove atividades compunham a unidade de ensino. As cinco primeiras
atividades eram de conexões explícitas desenvolvidas entre blocos e símbolos
escritos e as últimas quatro atividades voltadas para o desenvolvimento do
processo. O processo envolveu o desenvolvimento de procedimentos de
manipulação de símbolos no contexto de adição e subtração. O objetivo nas últimas
quatro atividades era o de auxiliar os alunos na utilização das referências dos
blocos para decidirem como combinar os símbolos em problemas de adição e
subtração.
Em suas conclusões, os autores inferiram que os alunos não só podem
adquirir processos semânticos, mas também utilizá-los de forma adequada para
resolver as tarefas com símbolos escritos. Além disso, é evidente que os
estudantes podem utilizar os processos para resolver novos problemas. E,
finalmente, a evidência sugere que o conhecimento prévio afeta o desenvolvimento
de processos semânticos, ou seja, os alunos que já haviam estudado os decimais
tiveram dificuldade em compreender os significados dos símbolos e suas
operações, pois procuraram utilizar as regras mecanizadas que conheciam, mas
cujo significado desconheciam. Em suma, pode ser dificil que informações
semânticas penetrem em regras que são rotineiras, pois foi observado, em relação
a alguns alunos que já haviam estudado os decimais, que os procedimentos
rotineiros impediram esses alunos de assimilar novas informações ou de construir
novas abordagens para resolver problemas.
Estes autores colocam que o ensino dos decimais é dado por
memorização de procedimentos algoritmos que não estabelecem relação
conceitual, de tal forma que os alunos, algumas vezes, sabem efetuar as
operações, mas não entendem o seu sentido. Os autores defendem que os alunos
têm conhecimentos prévios significativos que podem contribuir para a
41
aprendizagem de números decimais. Para os autores, para se tornar competente
com números decimais, é preciso tornar-se competente com um novo sistema de
símbolos, no contexto de outros sistemas que possam apoiar o desenvolvimento
de tal competência.
O estudo de Padovan (2000) investigou os erros apresentados pelos
alunos em situação de identificação, representação e operações com os números
decimais. A pesquisa se desenvolveu junto aos alunos da 5ª série de uma escola
particular de São Paulo.
Em relação à compreensão conceitual de números decimais, a autora
observou que os alunos conceituaram os decimais como algo muito pequeno ou
como números menores que zero. De forma geral, entenderam os números
decimais como “números quebrados” e os relacionaram com a vírgula. Isso ocorreu
porque não compreenderam o verdadeiro significado desses números, além de não
terem conseguido relacioná-los com as frações decimais.
Sobre a escrita e a ordem dos decimais, a autora percebeu que os alunos
colocaram muitas vírgulas no número e justificaram que quanto mais vírgula o
número tiver, menor será o seu valor – relacionaram a quantidade de vírgula ao
valor do número, mostrando que não entenderam o significado do zero que aparece
no número. Na comparação dos números decimais do tipo 0,3 e 0,30, os alunos
raciocinaram como se fosse um número natural e justificaram que o zero não
possuía valor. Em relação à leitura dos números decimais, ela observou que os
alunos escreveram a vírgula por extenso, mostrando total desconhecimento do
valor posicional do sistema decimal, às vezes, ignorando a função da vírgula e
tratando o número como se fosse natural.
Em relação às operações com decimais, Padovan (2000) observou que
as operações com maior índice de erros foram a multiplicação, subtração e divisão,
respectivamente. Na adição, as dificuldades relacionaram-se ao valor posicional
dos algarismos, cujo posicionamento inadequado fez com que alguns dos alunos
(20%) somassem os décimos da primeira parcela com os centésimos da segunda;
na subtração, o mesmo erro apareceu, sendo que alguns alunos (20%)
apresentaram problemas em relação ao valor posicional, como foi feito na adição,
enquanto outros (20%) não preencheram a ordem dos centésimos do minuendo
com zero, acabando por simplesmente registrar os centésimos do subtraendo no
resultado, sem subtraí-los dos décimos do minuendo; na multiplicação de dois
42
decimais, a maioria dos alunos (92,5%) apresentou erros, principalmente
relacionados ao valor posicional das ordens decimais e colocação da vírgula.
Convém-nos ressaltar que entre os erros relativos à colocação da vírgula, há
aqueles que colocaram vírgula embaixo de vírgula, obtendo apenas duas casas
decimais no produto, e outros que simplesmente suprimiram a vírgula; na divisão,
um pouco mais da metade dos alunos (55%) apresentou algum tipo de erro, sendo
os mais comuns relacionados à colocação da vírgula ou à parte decimal do
quociente.
Em síntese, na subtração, os alunos apresentaram erros comuns, tais
como esquecer de completar o número com zero, ou de fazer empréstimos de uma
cada para outra quando era necessário. Na multiplicação, a autora observou que
os alunos desconheciam o funcionamento do algoritmo dessa operação, pois
efetuaram a multiplicação como se fosse uma adição, colocando vírgula sob
vírgula, e, consequentemente, sentiram dificuldade na colocação da vírgula no
resultado. Na divisão, inverteram os números da divisão, dando como resposta
errada, sem refletir sobre a situação, além de erros de posicionamento da vírgula.
Para a autora, esses erros dos os alunos estão relacionados à não apropriação do
conceito de número decimal.
O estudo de Biachinni (2001) investigou se uma proposta didática
utilizando a abordagem de sistemas de medidas facilitaria na compreensão do
conceito dos números decimais. Ela realizou seu estudo com 35 alunos da 3ª série
do ensino fundamental, de uma escola da rede pública de Ensino de São Paulo.
A autora utilizou a abordagem do sistema de medidas para introduzir o
conceito de número decimal e, para isso, propôs uma sequência de ensino. Utilizou
dois conjuntos de atividades, a primeira para construir a ideia de que os números
naturais são insuficientes para a construção da concepção de medidas e a segunda
para a construção da noção de número decimal.
As aulas da sequência
compreendiam atividades destinadas à verificação dos conhecimentos prévios e à
construção do conceito de número decimal. Nas atividades para verificação do
conhecimento prévio sobre medidas, os alunos trabalharam sozinhos; nas
atividades da sequência de ensino, os alunos trabalharam em duplas.
No desenvolvimento das atividades, Bianchini (2001) trabalhou com a o
número racional explorando as representações figural, fracionária e decimal.
Observou que os alunos cometeram erros relacionados à representação gráfica e
43
à leitura dos números decimais, fizeram confusão com o traço de fração e a vírgula,
não entendendo o seu significado nesses números. Para a autora, isso ocorreu
porque, para o aluno, não ficou clara a ideia do que seja o número decimal. Na
representação dos números decimais, os alunos mostraram dificuldade em
representar o número decimal, tanto na forma com a vírgula como na fracionária,
de tal forma que apresentaram maiores problemas nas mudanças de registro do
decimal para o fracionário, do que do fracionário para o decimal.
O estudo de Cunha (2002) investigou quais conhecimentos os alunos
possuíam sobre números decimais e verificou se o uso do sistema monetário
ajudaria na aprendizagem do conceito dos decimais.
Ela realizou um estudo
diagnóstico com alunos da 2ª à 5ª série de uma escola da rede pública de São
Paulo. O instrumento de pesquisa foi um questionário que constou de 21 questões
e tinha como objetivo avaliar os conhecimentos dos alunos com relação ao número
decimal, tanto no que se refere a seu entendimento quanto a sua representação.
As questões estavam relacionadas a situações do cotidiano dentro e fora da escola
e envolviam os conceitos de número decimal em diferentes contextos.
No desenvolvimento das atividades para a compreensão conceitual dos
decimais, Cunha (2002) observou que os alunos conseguiram entender a quebra
da unidade, e entenderam os valores menores que a unidade, porém, não
conseguiram fazer sua representação escrita, embora tenham conseguido
expressar oralmente. Entretanto, a autora coloca que essa compreensão da quebra
da unidade muda em relação ao contexto.
A autora avaliou o desempenho dos alunos em relação a três contextos:
sistema monetário, sistema de medidas e sem contextualização. Concluiu que os
alunos das 2ª, 3ª e 4ª séries se saíram melhor nas atividades que envolviam o
sistema de medidas, apresentando bons resultados na representação oral, mais do
que na escrita. Os alunos da 5ª série se apropriaram melhor do conceito de decimal
nas atividades que envolviam o sistema monetário, conseguindo exteriorizar
oralmente, porém, com grande dificuldade na escrita. Esses alunos relacionaram a
vírgula ao uso desse sistema, mas não compreenderam os centavos como uma
fração do real, não dando significado a esses números, ou seja, os alunos não
relacionaram os dígitos após a vírgula a uma fração da unidade.
Segundo Cunha (2002), nas atividades sem contextualização, em que
não foram utilizados os sistemas de medida ou monetário, os alunos de todas as
44
séries apresentaram baixo
desempenho.
Ela
ressaltou
também
que o
conhecimento prévio que os alunos têm é que contribuiu para a resolução das
questões com os números decimais. Dessa forma, para ela, a escola não está
favorecendo o desenvolvimento do conceito científico dos decimais.
O estudo de Vieira (2005) buscou conhecer as dificuldades conceituais
que os alunos têm sobre os números decimais. O estudo foi realizado junto a
alunos da 5ª e da 8ª série de uma escola pública do Rio Grande do Sul.
Foram aplicados instrumentos com atividades envolvendo conceito,
operação e aplicação de números decimais. A autora constatou que, em relação ao
conceito de número decimal, parte dos alunos tem ideia do que seja número
decimal, mas não demonstra apropriação do significado do conceito. A maioria dos
alunos encontra dificuldades para lidar com o
número decimal, suas
representações e com o valor posicional.
Assim Vieira (2005) inferiu que a forma como o número decimal vem
sendo abordado na escola oferece ao aluno uma compreensão restrita desse
conceito, pois faz-se necessário contextualizar o número decimal utilizando as suas
diferentes formas de representação. O fato de parte dos alunos apresentar
dificuldades na representação decimal, não a associando com a fracionária e a
gráfica, denota que, no meio escolar, a aprendizagem desse conceito se
desenvolve de forma estática, ou seja, estuda-se tudo sobre fração, e só ao final
deste trabalho inicia-se o estudo com os decimais.
Para a autora, esse tipo de prática escolar propicia um ensino sem
significado, pois os alunos veem os números decimais apenas como números com
vírgulas, mas a maioria não tem clareza do que seja um número decimal. Nas
atividades, os alunos não conseguiram identificar a parte inteira e a parte decimal,
não entenderam o significado da vírgula no número, e não conseguiram comparálos.
Em relação às operações com números decimais, Vieira (2005)
observou que os alunos da 8ª série apresentaram bons resultados, os erros
cometidos foram em relação à distração, tabuada e à colocação da vírgula,
mostrando, assim, que os alunos não refletiram sobre os resultados das operações.
A divisão e a subtração apareceram como as operações mais difíceis. Na divisão,
os alunos não converteram os números decimais em números inteiros, e ela atribuiu
45
isso à falta de compreensão do valor posicional. Na subtração, esqueceram de
fazer empréstimos das unidades quando era necessário.
De forma geral, ela concluiu que as operações são realizadas utilizando
mecanismos sem compreensão e com a utilização de regras simplificadas, em que
os alunos não possuem compreensão da operação que realizam e isso ocorre
porque o ensino privilegia a memorização em vez da utilização da lógica, com isso,
os alunos não compreendem o significado do que estão fazendo, chegando, às
vezes, a respostas absurdas. Ela relaciona essas dificuldades de operacionalizar
com os decimais ao aspecto conceitual desses números, visto que os alunos
também apresentam dificuldade na explicitação do processo que utilizam na
realização das operações.
Em relação à resolução de problemas, foi observado que grande parte
dos alunos escolhe a operação adequada para resolver o problema, chegando ao
resultado correto, porém, demonstram que os procedimentos utilizados são
mecânicos, de tal forma que os mecanismos utilizados para a compreensão dos
números decimais e respectivas operações, muitas vezes, acabam dificultando a
aprendizagem.
O estudo de Fonseca (2005) investigou a compreensão dos alunos sobre
divisão dos racionais na forma decimal. A pesquisa se desenvolveu junto aos
alunos da 6ª série de uma escola da rede pública de São Paulo. Na investigação,
o autor utilizou como instrumento de pesquisa uma entrevista e um teste contendo
questões contextualizadas e algorítmicas, com o objetivo de investigar os
procedimentos utilizados pelos alunos na divisão e na resolução de problemas.
Em suas análises, Fonseca (2005) observou que alguns alunos
mostraram desconhecimento do procedimento da divisão, uma vez que
apresentaram respostas sem sentido. Outros, ao efetuarem o algoritmo da divisão
de um decimal por um inteiro, não iniciaram igualando as casas decimais,
mostrando assim não ter compreensão do significado da vírgula no divisor e do
zero no quociente. Na divisão de um inteiro por um decimal, as dificuldades
apresentadas foram as mesmas, erros de algoritmo, respostas sem sentido,
dúvidas em relação à posição da vírgula. De forma geral, os alunos apresentaram
dificuldade quanto à interpretação da vírgula dos decimais.
O autor observou que na divisão de dois decimais houve um alto índice
de erros e questões em branco, denotando que os alunos não têm compreensão
46
do que seja um decimal, pois apresentam diversas estratégias de solução, como:
adição sucessivas, multiplicação no campo dos inteiros, que, ao final, eles
interpretam como se fossem os decimais, e retiram as vírgulas. Além de erros
relativos à multiplicação e tabuada. Na divisão de dois inteiros resultando em um
decimal os alunos apresentaram as mesmas dificuldades das operações anteriores.
Segundo Fonseca (2005), alguns alunos conseguiram identificar os
termos décimos, centésimos e milésimos, mas não lhes atribuíram significados
quando inseridos na divisão; outros demonstraram conhecer a técnica da divisão,
porém, não refletiram sobre a sua utilização, pois apresentaram dificuldades em
continuar a divisão até o final.
O autor destaca que menos da metade dos alunos dominavam a técnica
da divisão, e que muitos dos erros cometidos estavam relacionados à colocação da
vírgula ou a sua ausência no quociente obtido. O autor coloca que isso ocorreu pela
razão de a maioria dos alunos trabalhar com os divisores como se fossem inteiros,
isto é, ignoram a vírgula dos números decimais.
Fonseca (2005) ainda destaca que, em relação à resolução de
problemas, ocorreram muitos erros, muitos desses relacionados à interpretação do
problema, já que os alunos escolheram a operação errada; além de erros
relacionados à operação de divisão de decimais. Em alguns casos, os alunos
utilizaram a adição de sucessivas de parcelas ou da multiplicação para tentar
resolver a divisão. Os problemas utilizados foram do tipo partitivo e de quotas,
sendo que os que tiveram maior número de acertos foram os que envolveram
divisão por partição.
Silva (2006) realizou um estudo experimental junto a 32 alunos da 4ª
série e da 6ª série, e 32 alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em uma
escola municipal da cidade do Recife. Seu objetivo foi o de investigar o que sabem
os adultos e crianças, antes e depois do ensino formal, e examinar em que os
saberes dos adultos se diferenciam dos saberes das crianças.
O instrumento de pesquisa utilizado foi um teste com questões sobre
números decimais e uma entrevista para que os alunos apresentassem e
explicassem suas estratégias de solução. Foi utilizado tanto para adultos quanto
para crianças o mesmo instrumento, objetivando identificar a natureza das
dificuldades apresentadas por eles na construção do conceito de número decimal.
47
A autora procurou abordar diferentes significados para os números
decimais, quais sejam: representações simbólicas (como fração e resultado de uma
divisão), propriedades e contextos dos números decimais dentro do sistema de
medidas e monetário. Para essa autora, o trabalho com o conceito de número
decimal em contextos variados possibilita ao aluno uma reflexão consciente sobre
os significados desses conceitos, suas propriedades e a forma de representação.
Silva (2006) observou que na representação oral ou escrita dos
decimais, os adultos se saíram melhor do que as crianças. Mesmo os adultos que
não haviam estudado números decimais apresentaram melhor desempenho do que
as crianças que já haviam estudado esse tópico. Para os adultos, o significado do
número decimal como fração se torna mais fácil do que a compreensão como uma
divisão; já para as crianças, as dificuldades são as mesmas nos dois significados.
Em relação à leitura dos números decimais, os adultos também se saíram melhor,
visto associarem os números apresentados a alguma medida. As crianças
referiram-se quase que exclusivamente às situações de dinheiro, mesmo assim
cometeram erros, pois, ao interpretarem 49,3, elas liam como 49 reais e 3 centavos,
e não como 30 centavos.
Em relação às operações com decimais, os adultos mais uma vez
apresentaram melhor desempenho, pois raciocinaram sobre suas respostas,
utilizando suas experiências fora da escola, evitando assim respostas absurdas.
Por sua vez, as crianças sentiram dificuldade em utilizar os procedimentos
escolares que aprenderam para resolver as operações. Nas questões que
envolviam divisão de números decimais, as crianças não apresentaram domínio
desse algoritmo, e nas divisões que apresentavam resto, não conseguiram
prosseguir na operação.
Silva (2006) analisou as respostas das crianças que não haviam
estudado e as daquelas que já haviam estudado os números decimais, e não
observou muita diferença no desempenho, visto que os dois grupos apresentaram
dificuldades na resolução de problemas. Contudo, observou que, de certa forma,
as crianças se saíram melhor na resolução dos problemas que envolviam o sistema
monetário em relação ao de medidas. Em relação ao grupo de adultos, observou
que tanto os que haviam estudado quanto os que não haviam estudado os números
decimais na escola apresentaram bom desempenho nos dois contextos (de medida
e monetário), sendo que os adultos que não haviam estudado se saíram melhor no
48
contexto de medidas, utilizando sua experiência de vida para raciocinar sobre suas
respostas.
Para Silva (2006), a instrução escolar não influenciou nas respostas dos
alunos da EJA na resolução dos problemas, pois, eles levaram em consideração
suas experiências de vida, o que não ocorreu com as crianças da 6ª série. As
crianças que estudaram o tópico de decimais, assim como as que não estudaram,
apresentaram respostas absurdas, pois não conseguiram raciocinar sobre suas
respostas, além de demonstrarem, às vezes, a falta de compreensão dos
problemas que foram propostos. Para a autora, o fato de o aluno não compreender
o conceito dos números decimais pode se tornar um obstáculo na aprendizagem
das representações, da comparação e das operações, uma vez que não terá como
raciocinar sobre seus resultados, chegando a respostas incorretas.
O estudo de Roditi (2007) analisou os estudos realizados sobre os
decimais na França, e procurou identificar as dificuldades em fazer comparações e
em realizar outras tarefas com esses números. O autor observou que as pesquisas
francesas, desenvolvidas sobre os conceitos e procedimentos dos alunos relativos
aos números decimais, estabeleceram que, para alguns alunos, tudo se passa
como se eles lidassem com os números decimais como pares de dois inteiros
separados por uma vírgula, observando, por exemplo, que as crianças escrevem
1,38 < 1,275.
As pesquisas anteriores mostraram que o ensino promove a ideia de que
o decimal consiste de uma parte inteira e uma parte fraccionada que pode ser
tratada como inteiro. Para Roditi (2007), saber um número é conhecer não só o seu
valor com as suas diferentes representações (oral, icônico, numeral e digital), mas
também como ele se compara com os outros, incluindo as situações em que o
número é uma medida.
Algumas das conclusões de Roditi (2007) mostraram que os alunos
utilizam regras implícitas para a comparação de números decimais, tais como: o
número menor é aquele cuja parte decimal é menor; o menor número é aquele cuja
parte decimal tem o maior número de casas; se a parte decimal do número tem o
primeiro dígito 0, é o menor. Além do que, os alunos, como um todo, cometeram
mais erros de comparação em situações com contexto do que fora de um contexto.
Em outro estudo, Roditi (2001) investigou o ensino da multiplicação dos
números decimais em turmas do 6ª ano na França. O autor fez uma análise de
49
diversos programas curriculares, das avaliações nacionais, dos livros didáticos do
6º ano e dos materiais de ensino para professores utilizados na França, e
acompanhou e observou quatro professores em suas práticas em sala de aula,
tendo como base as recomendações da nova proposta do programa curricular de
1995. Os professores foram observados durante os anos de 1997 e 1998, que
foram os primeiros anos da nova proposta curricular.
Apenas como informação, os novos programas curriculares propõem
que os alunos do 6º ano estudem as técnicas operatórias da multiplicação e a
resolução de problemas com origem em situações multiplicativas. Esse ensino,
antes, era feito no CM2 (último ano das séries elementares). O novo programa
propõe três funções para o ensino da multiplicação dos números decimais: reforçar
a aprendizagem da numeração, estudar as situações que dão sentido a operação
e resolver problemas onde o cálculo da solução necessite de uma multiplicação.
Roditi (2001), ao observar as práticas dos professores participantes da pesquisa,
concluiu que, das três funções colocadas no programa, somente duas foram
levadas em consideração pelos professores. Eles abandonaram o estudo das
situações multiplicativas e integraram as outras duas funções em suas sequências
de ensino de forma variável.
O estudo de Roditi (2001) destacou que a multiplicação dos naturais,
assim como a de um decimal por um inteiro, durante muito tempo foi relacionada a
uma adição sucessiva de parcelas em diversos programas curriculares franceses,
e que esse método de ensino trouxe consequências negativas para o ensino da
multiplicação de dois decimais. Ao analisar as questões relativas à multiplicação
dos decimais nas avaliações nacionais (EVA), ele constatou algumas situações.
Em relação às operações de adição e subtração de decimais, observou
que os alunos aplicavam a regra convencional relacionada às operações com
inteiros. Na multiplicação de dois decimais, os alunos efetuavam o cálculo sem
levar em conta a vírgula, mas, ao colocarem a vírgula no produto, conforme
observou o autor, algumas situações de erros aconteceram: alguns alunos
esqueciam de colocar a vírgula, outros não sabiam onde deviam colocá-la, outros
colocavam no lugar errado, pois contavam as casas decimais da esquerda para a
direita, e outros usavam o método da adição, posicionavam os fatores e as vírgulas
uma sobre a outra.
50
Figura 3- Colocação da vírgula
Fonte: Roditi (2001).
Outro erro observado foi em relação ao zero, quando o número decimal
apresentava zero, os alunos tinham dificuldade em multiplicar. E quando os
decimais apresentavam quantidade de casas decimais diferentes, os alunos
completavam com zero (como na adição), e calculavam com o zero. Entretanto,
não o levavam em consideração no momento de colocar a vírgula no resultado,
como podemos ver na multiplicação de 3,5 x 4,25.
Figura 4- Multiplicação dos decimais
Fonte: Roditi (2001).
Em relação à resolução de problemas multiplicativos, destacaram-se
com mais frequência os problemas de isomorfismo de grandezas, medidas e área
de um retângulo. No primeiro tipo de problemas, foi observada uma tendência em
utilizar a adição reiterada. Nessas avaliações, não foram observadas outras
situações multiplicativas, e isso se justifica, segundo o autor, devido ao fato de, na
instituição escolar, se privilegiar, no ensino, a situação de isomorfismo de
grandezas e cálculo de área de um retângulo. No segundo tipo de problema, as
avaliações apontaram para o fato de que mais da metade dos alunos erraram os
problemas porque confundiram área com perímetro ou suas fórmulas respectivas.
Outro ponto interessante colocado por Roditi (2001) é o de que, nas
situações multiplicativas, a dependência entre o reconhecimento do modelo e o
51
domínio das técnicas operatórias aparecem de forma bastante frágil, visto que não
ter o domínio das técnicas incapacita o aluno para achar a solução do problema. O
autor expõe os resultados das avaliações da APMEP (Associação dos Professores
de Matemática das Escolas Públicas), segundo o que o domínio das operações é
uma condição para o aluno dominar as situações problemas. Segundo Roditi
(2001, p. 133.),
[..] o domínio das técnicas operatórias clássicas é uma condição
necessária aos domínios das situações de problemas do domínio
numérico. Em efeito todas os estudos de dependências e de correlação
conduzem a afirmar fortemente esta ideia. (Tradução nossa)
O autor também apresenta o resultado de outras pesquisas realizadas
na França, sobre a mesma questão, e os resultados são parecidos, pois as
pesquisas indicam que para melhorar a resolução de problemas, às vezes, é
necessário que se melhore as habilidades operatórias, e afirma que isso depende
da estrutura dos problemas – aditivos ou multiplicativos – e da complexidade dos
problemas e do tipo de resolução.
Jucá (2004), em seu estudo, apresentou um conjunto de atividades para
o ensino dos números decimais. A pesquisa se desenvolveu junto a três turmas da
5ª série do ensino fundamental, de uma escola pública de Belém do Pará. A
sequência de ensino proposta constou de um conjunto de atividades utilizando a
calculadora e atividades que envolviam o sistema monetário. A calculadora foi
usada para introduzir as transformações de frações decimais em números
decimais, para trabalhar os valores dos decimais e fazer sua comparação, assim
como, as regras das operações de adição, subtração e multiplicação. A estratégia
de dinheiro fictício foi utilizada para introduzir a ideia de divisão dos números
decimais, como também para ajudar os alunos na resolução de problemas
monetários.
Sobre o desempenho dos alunos nas operações, Jucá (2004) observou
que, na operação de adição, eles não apresentaram dificuldade, mas, na subtração,
cometeram erros como diminuir um número grande de outro pequeno, sem fazer
“empréstimos” de uma unidade ou de completar com zeros quando necessário;
erros relacionados à falta de domínio com os números naturais. Além disso, a
deficiência no conhecimento da tabuada foi um obstáculo para a aprendizagem do
algoritmo da multiplicação e da divisão.
52
Para Jucá (2004), os resultados foram positivos nas operações de
adição, subtração e multiplicação. Entretanto, na operação de divisão, os alunos
mostraram dificuldades com a elaboração das regras, apesar de terem conseguido
aplicar corretamente em questões contextualizadas no sistema monetário. A autora
concluiu que os alunos não apresentaram melhor desempenho em relação à
divisão porque não conseguiram aplicar as regras da divisão. De forma geral, a
utilização da calculadora e do sistema monetário ajudou os alunos a desenvolver
as regras das operações de adição e subtração com números decimais, além do
que lhes proporcionou o desenvolvimento do raciocínio lógico, evitando que
chegassem a respostas absurdas.
Em continuidade, Jucá (2008) buscou melhorar os resultados da primeira
proposta de ensino e desenvolveu uma sequência de atividades para o ensino das
operações com os decimais. Como instrumento de pesquisa utilizou-se um conjunto
de atividades de ensino, nas quais os alunos deveriam construir as regras das
operações. A segunda sequência de ensino apresentou, como diferencial da
primeira, a utilização de jogos para a fixação das regras das operações.
Os alunos trabalharam em grupos e após a realização das atividades,
com a utilização da calculadora, de operações de adição, subtração, multiplicação
e divisão de decimais, deveriam escrever as regras para essas operações. Ao final
de cada atividade, a professora fez a formalização da regra da operação e foi
proposto um jogo para que os alunos fixassem as regras aprendidas.
A autora observou que, nas atividades que envolviam as operações de
adição e subtração, os resultados foram satisfatórios, à semelhança do que ocorreu
na primeira sequência, confirmando que os alunos conseguiam construir as regras
das operações com a calculadora, mas, nas atividades de multiplicação e divisão,
os resultados não foram satisfatórios, já que os alunos tiveram dificuldades para
compreender o algoritmo da multiplicação com dois decimais, assim como
desenvolver a divisão com decimais.
Alguns dos erros observados nas operações de multiplicação estavam
relacionados à falta de domínio da tabuada, utilização incorreta do algoritmo e à
colocação incorreta da vírgula no produto, mostrando que, para o aluno, esse
procedimento não tinha ficado claro. Em relação à divisão, podemos dizer que os
erros foram os mesmos. Entretanto, destacou que a falta de domínio do algoritmo
da multiplicação e da divisão com os naturais dificultou o desenvolvimento das
53
atividades de multiplicação e divisão com os decimais. Essa deficiência dos alunos
gerou dificuldades na compreensão dessas operações no campo dos decimais.
Em relação à resolução de problemas, observamos as dificuldades dos
alunos na compreensão dos problemas, pois não sabiam identificar a operação que
resolvia o problema, Os problemas propostos envolviam situações do cotidiano, do
sistema monetário e de medida, mesmo assim os alunos não conseguiram
raciocinar sobre essas situações de forma correta na escolha das operações,
chegando a respostas absurdas.
Mestre (2009) investigou se o estudo da introdução dos decimais,
utilizando o sistema monetário apresentaria bons resultados. A pesquisa se
desenvolveu junto a uma turma do 3º ano do distrito de Setúbal em Portugal. A
turma era constituída por 19 alunos, com idades compreendidas entre 8 a 12 anos
de idade e diversas etnias. Das aulas observadas, foram definidas sete tarefas “Divisão de 1€ em partes iguais”, “A compra de chocolates”, “A compra de
brinquedos”, “Trocar 5€ em oito moedas”, “Calcular mentalmente com números
decimais”, “Números inteiros que se situam antes e depois dos números decimais”
e “Localizar e posicionar números decimais na reta numérica”.
Mestre (2009) fez referência que a complexidade na aprendizagem dos
números racionais deve-se, em parte, ao fato de esses assumirem diferentes
significados ou constructos - relação parte-todo, medida, razão, quociente e
operador. Indicou também a dificuldade na concepção da unidade e o ensino
precoce e descontextualizado dos símbolos e algoritmos como fatores agravantes
das dificuldades que os estudantes manifestam. A autora destaca que a
aprendizagem dos aspectos formais do estudo de frações e decimais provêm do
ensino nomeadamente dos algoritmos, das operações e das regras, de modo geral,
a ênfase é bastante mais acentuada nos procedimentos dos conceitos e raramente
se estabelecem “pontes” entre uns e outros.
Nas análises dos resultados, Mestre (2009) observou que, em relação
às atividades que envolviam o sistema monetário, ocorreram certas limitações para
que o sistema monetário apresentasse resultados satisfatórios na aprendizagem
dos decimais, pois alguns alunos desconheciam as moedas e, portanto, não sabiam
utilizá-las. A utilização de uma linguagem pouco imprecisa para leitura dos números
decimais (como, por exemplo: “zero vírgula dez”,) e o pouco cuidado na
representação dos números decimais (quer através dos valores monetários, quer
54
sem referência ao euro) podem ter suscitado algumas das dificuldades dos alunos
que aparecem refletidas na exploração desta tarefa. A autora concluiu que essa
forma de leitura e as representações usadas não parecem muito adequadas para
a introdução de um conteúdo que se reveste de tanta complexidade.
Em relação à segunda tarefa apresentada aos alunos - “A compra de
chocolates” - apenas trabalhamos o cálculo com números decimais. A prevalência
da exploração de procedimentos em vez da compreensão dos conceitos conduziu
também à criação de dificuldades por parte dos alunos, tendo em conta as
perspectivas que defendem que os alunos precisam de tempo para construir os
conceitos e descobrir as relações antes da introdução das regras e procedimentos.
Portanto, a opção de introduzir os números decimais a partir da abordagem ao
sistema monetário parece não ter possibilitado a construção de um conhecimento
conceitual acerca dos números decimais, especialmente, por termos dado mais
ênfase aos procedimentos do que aos conceitos e a relação entre uns e outros não
ter sido estabelecida. Por fim, a autora destacou que as tarefas apresentavam
potencialidades que, possivelmente, não foram exploradas da forma mais
adequada. Esse aspecto prende-se à utilização pedagógico-didática, que se
centrou fundamentalmente na aplicação de técnicas e procedimentos rotineiros, em
detrimento do desenvolvimento da compreensão dos conceitos.
Concordamos com Mestre (2009) na utilização do sistema monetário,
para que os alunos possam compreender os números decimais, acreditamos que
essa opção didática possa trazer resultados satisfatórios se forem feitas relações
pertinentes com os conceitos e propriedades relacionados aos decimais, e não
apenas como simples estratégias de mecanização das regras de operações e
representações.
Pereira (2011) investigou se a resolução de problemas contribuiria para
a aprendizagem das operações com os números decimais. A pesquisa se
desenvolveu com alunos do 6º ano do ensino fundamental no Rio Grande do Sul.
Inicialmente, foi aplicado um teste diagnóstico aos alunos para verificar seus
conhecimentos sobre números decimais. Após a coleta das informações, novos
problemas foram aplicados aos alunos que trabalharam em dupla na resolução
desses.
Após a resolução, as duplas tinham que ir ao quadro expor suas
soluções e um momento de discussão foi realizado em sala para que todos
55
conhecessem as soluções propostas pelos alunos assim como suas dificuldades.
A autora analisou a resolução de problemas e os pensamentos que os alunos
mobilizaram para resolvê-los. Uma das dificuldades apontadas foi a dificuldade dos
alunos na compreensão dos problemas e na escolha das operações.
Em suas conclusões, a autora, em relação à aplicação do método de
resolução de problemas, afirma a validade dessa aplicação, pois permitiu aos
alunos mais autonomia na construção do conceito de números decimais no
momento em que eles tiveram a oportunidade de desenvolver o raciocínio lógico
sem a ajuda da professora, fazendo uso de conhecimentos prévios, como, por
exemplo, as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão de Números
Naturais. A autora também detectou que os alunos apresentaram dificuldades na
compreensão dos problemas propostos e nas operações de multiplicação e
subtração, assim como na divisão de decimais. Observando a respostas dos
alunos, percebemos que os alunos tinham dificuldades em compreender o
posicionamento da vírgula no resultado, mostrando que o significado das
operações com decimais não tinha sido compreendido por eles.
Mendes (2012) investigou como a compreensão dos alunos evolui na
aprendizagem da multiplicação, com números naturais e racionais,
na
representação decimal. Seu estudo foi desenvolvido junto a alunos do 3º ano de
uma escola em Portugal. A autora, especificamente, caracteriza os procedimentos
usados pelos alunos quando da resolução de tarefas de multiplicação, a sua
evolução, as dificuldades manifestadas e os aspetos do sentido de número
revelados. Analisou, ainda, o contributo das tarefas e sequências de tarefas na
aprendizagem.
As conclusões sobre os procedimentos usados pelos alunos quando
resolvem tarefas de multiplicação evidenciam que: de modo geral, eles utilizam uma
grande diversidade de procedimentos; há alunos que usam vários procedimentos
para realizar um mesmo cálculo; há procedimentos mais frequentes que outros; e
há alunos que têm preferência pelo uso de determinados procedimentos. Os
resultados mostram, ainda, que a evolução dos procedimentos parece ser
suportada pelas características das tarefas propostas (contextos, números e sua
articulação e sequenciação) e pelo ambiente da aula. Ainda assim, essa evolução
não é linear, nem se processa do mesmo modo para todos os alunos – alguns
persistem em certos procedimentos e outros voltam a usar procedimentos menos
56
potentes, no tocante a tarefas com características particulares. A evolução dos
procedimentos dos alunos evidencia, também, o desenvolvimento do seu sentido
de número.
Apesar da maior parte da sua investigação se concentrar no campo dos
números naturais, a autora apresentou algumas conclusões importantes no campo
dos números decimais, quais sejam: dificuldade dos alunos com números na forma
da representação decimal, em quase todas as tarefas os alunos, por um lado,
parecem não se sentir, ainda, à vontade no cálculo mental com números na
representação decimal, por outro, não parecem dispor de destreza suficiente no
cálculo em coluna ou mesmo no algorítmico; e que as operações foram entendidas
como uma ampliação das operações com os números naturais, principalmente a
de multiplicação.
O estudo de Şengül e Gülbağcl (2012) teve por objetivo analisar o
sentido numérico dos alunos sobre números decimais. Eles desenvolveram uma
pesquisa junto a 573 alunos das 6ª, 7ª e 8ª séries em diferentes regiões da Turquia.
Foram selecionados três alunos de cada nível,
no total,
nove deles
foram
selecionados. Com esse estudo, eles pretendiam ter uma ideia das formas de
resolução dos estudantes sobre os números decimais. Foram realizadas
entrevistas semiestruturadas com o fim de analisar como os alunos resolveriam as
questões do teste que tinha dezesseis questões e composto por quatro perguntas
diferentes a partir de quatro componentes diferentes, sendo catorze questões de
múltipla escolha, cada qual com quatro opções de respostas diferentes e duas
questões abertas.
Para o desenvolvimento da pesquisa, os autores destacaram quatro
componentes de sentido de número com base na revisão de literatura realizada.
Essas componentes nortearam a pesquisa: (i) Compreender o significado básico
de números - isso implica entender o sistema de base 10 (números inteiros, frações
e decimais); (ii) Reconhecer o tamanho do número relativo - esse componente
determina a compreensão da relatividade dos números e suas magnitudes
absolutas; (iii) Ser capaz de utilizar uma referência de forma adequada - isso implica
que uma pessoa pode usar os pontos de referência para resolver os problemas de
forma flexível e adequada; e (iv) Ser capaz de avaliar o raciocínio de um resultado
computacional.
57
Nas análises dos dados, os autores destacaram que nas questões que
se referiam ao sentido de número os resultados são muito interessantes. A
pontuação para os alunos de 6ª série foi 5,19; para os da 7ª séire foi 6,43; e para
os da 8 ª série, 7,12. As notas dos alunos têm um fator positivo. Embora o melhor
resultado tenha sido obtido com os alunos da 8 ª série, a pontuação dos alunos
mostrou que eles não usam o sentido de números decimais suficientemente.
Segundo Şengül e Gülbağcl (2012), quando todas as quatro
componentes de sentidos de número foram levadas em conta, em todas as séries,
os alunos tiveram os piores resultados na componente "ser capaz de avaliar o
raciocínio de um resultado computacional que inclui os números decimais", na qual
a percentagem de sucesso foi de 26,4%. As componentes em que os alunos foram
bem sucedidos foram "a compreensão do significado dos números decimais" e
"reconhecer tamanho relativo dos números decimais". Todos os alunos obtiveram
o maior sucesso na componente "ser capaz de usar referência de forma adequada",
com 49,3%.
Outra questão destacada pelos autores diz respeito ao reconhecimento
de que há sempre um número decimal entre dois números decimais diferentes. Os
alunos tiveram dificuldade para reconhecer isso, as respostas foram inesperados.
O maior sucesso obtido foi com os alunos da 8 ª série, com 20%. A maioria dos
alunos selecionados disse não existirem números entre dois decimais. Um dos
alunos justificou sua resposta afirmando que “já que não há número inteiro entre 52
e 53, não deve haver qualquer número entre dois números decimais”; “se 0,52 é
um número decimal, não existe um número até 0,53”; "Uma vez que eles são
números consecutivos, não existe nenhum número entre eles”. Observamos que
os alunos pensam como se fossem números inteiros.
De forma geral, os autores concluiram que os resultados do estudo
mostraram que 32,2% dos alunos de 6 ª série, 40,0% dos alunos da 7 º série e
44,4% dos alunos da 8 ª série usaram seu senso numérico sobre os números
decimais. Além do mais, as estratégias que resultaram das entrevistas realizadas
com os alunos revelaram que os alunos usaram as regras que eles memorizaram
em vez de perceberem os números e os significados reais dos processos e
aplicarem essa flexibilidade. Os autores justificam que as razões que levaram os
estudantes da Turquia a usar estratégias baseadas em regras é liderada por
exames nacionais realizados anualmente nas escolas. Os centros de formação,
58
que preparam os alunos para estes exames, privilegiam a utilização de regras e a
memorização das mesmas. Como consequência dessa formação, os alunos são
levados a usar formas curtas de solução que eles memorizaram, em vez de usar
formas de pensamento alternativas.
Em suma, para os autores, os professores preparam os alunos para
esses exames nacionais e priorizam a memorização das regras em detrimento de
um conhecimento conceitual dos processos de solução. Como os métodos
algorítmicos escritos são baseados em regras que são aprendidas ou
memorizadas, os alunos internalizam tais regras e essa situação reduz o uso de
estratégias baseadas no sentido de número.
Além dos estudos que destacam as dificuldades dos alunos,
entendemos que é importante apresentar alguns estudos que apresentassem as
práticas e conhecimentos dos professores em relação aos decimais, pois
acreditamos que muitas das dificuldades dos alunos estão interligadas às
limitações dos professores em relação ao conteúdo ou às suas escolhas didáticas.
2.2 ESTUDOS QUE INVESTIGARAM OS CONHECIMENTOS E PRÁTICAS DOS
PROFESSORES NO ENSINO DOS NÚMEROS DECIMAIS
Alves e Gomes (2007) realizaram uma pesquisa com oitenta e nove
professores do 1º ciclo CEB, na cidade de Braga em Portugal. Elas observaram
que metade dos professores consideraram que, na multiplicação, o produto é
sempre maior que um dos fatores, e, na divisão, o quociente é sempre menor que
o dividendo, o que sugere que, na multiplicação, os professores estão dependentes
do modelo multiplicativo de adição sucessivas de parcelas iguais e do modelo de
divisão baseado na partilha. Além do que, as operações são entendidas com uma
visão redutora, como simples aplicação de algoritmos com regras mecanizadas.
Em suas conclusões, as autoras fizeram referência às deficiências dos professores
com relação ao conteúdo dos números decimais, desde a ideia do que seja um
número decimal até as operações.
As autoras concluíram que os trabalhos sobre as práticas dos
professores apontam que esses apresentam pouco conhecimento do que seja um
59
número decimal, e que algumas concepções errôneas dos alunos, apresentadas
em alguns estudos, são sustentadas pelos professores. E que os resultados
apontaram algumas dificuldades dos professores, tais como: não reconhecem as
propriedades das operações de divisão e multiplicação quando se operacionaliza
com os decimais.
O estudo de Ribeiro (2009) baseou-se nas discussões e reflexões
ocorridas num grupo de formação inserido no âmbito de um Programa de Formação
Contínua em Matemática para Professores do 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico, da
região de Algarve em Portugal. Um dos objetivos dessa formação é o de aprofundar
o conhecimento matemático, didático e curricular dos professores, em particular os
do 1.º ciclo, que se encontram em exercício.
O autor colocou que uma das lacunas identificadas, em termos de
conhecimentos dos conteúdos, nos professores investigados, tem a ver com o
conhecimento dos números e suas propriedades, bem como das quatro operações
fundamentais. Relativamente aos números, os professores identificaram como
maiores dificuldades os números racionais/decimais e, com esses, os algoritmos
da divisão e multiplicação, limitando-se, muitas vezes, ao conhecimento dos
algoritmos tradicionais e às regras, acerca das quais não possuem clareza dos
processos e nem compreensão.
Ribeiro (2009) observou que as professoras que participaram da
pesquisa, ao verbalizarem o seu processo “tradicional” de lecionar esse conteúdo
específico, afirmaram recorrer a essa forma de ensinar, pois nunca tiveram a
oportunidade de tomar contato com as justificações e processos matemáticos que
lhes permitissem criar uma compreensão e ideia própria do processo matemático
utilizado, ensinando, portanto, como foram ensinadas. O autor destacou a
importância do conhecimento específico/especializado para o ensino, que permita
ao professor conhecer distintas formas de efetuar e representar a operação
solicitada. Essas professoras desconheciam modelos da multiplicação bem como
os procedimentos “escondidos” no algoritmo que transmitiam aos seus alunos.
Outro estudo de Ribeiro (2011), desenvolvido ao longo dos últimos anos
com professores do 1º ciclo do ensino básico (alunos com idade entre seis e nove
anos), teve como ponto de partida as discussões ocorridas, as reflexões
subjacentes e as maiores dificuldades sentidas tanto pelos alunos, como pelos
próprios professores.
60
O autor pretendia promover algumas reflexões que contribuiriam para
uma mais profícua discussão sobre o conhecimento matemático para ensinar as
operações envolvendo números decimais (em particular, a multiplicação), a
importância do recurso a diferentes representações e a uma eficaz navegação entre
essas. Para conseguir atingir esses objetivos, foram realizadas sessões de
formação conjunta (com periodicidade aproximadamente quinzenal), das quais
participaram entre oito e dez professores das escolas e sessões de
acompanhamento individual em sala de aula e, ao final do ano letivo, foi realizado
um seminário.
Um dos tópicos discutidos nas sessões relacionou-se aos números
decimais e fracionários, e, posteriormente, às operações. Esse é um dos temas
fundamentais do ensino, principalmente nos primeiros anos, pois um claro
entendimento a seu respeito proporciona o desenvolvimento de estruturas mentais
importantes para futuras aprendizagens e, em particular, para o raciocínio
multiplicativo durante o qual os formandos são convidados a apresentarem
exemplos de boas práticas.
O autor destacou que foram também discutidas diferentes interpretações
que podem ser atribuídas aos decimais e fraccionários e às quatro operações que
os envolvem. Essa discussão não se limitou apenas às operações em si (alguns
dos diferentes algoritmos possíveis de serem utilizados e uma análise de erros dos
alunos), mas também tratou de possíveis distintas representações de uma mesma
operação e da importância de uma perfeita navegação entre essas diferentes
representações.
Para o autor, no que se refere especificamente aos números inteiros e
fracionários e às quatro operações, é desejável, nesse nível de ensino (1º ciclo),
que os alunos adquiram a competência matemática que lhes permita uma clara
compreensão do sistema de numeração de posição e do modo como esse se
relaciona com os algoritmos das quatro operações.
Em suas análises, o autor constatou que algumas das dificuldades dos
alunos em relação aos números decimais advêm das próprias dificuldades dos
professores.
Apesar de saberem para si próprios, não possuem um conhecimento de e
sobre a matemática que lhes permita conhecer um conjunto distinto de
propriedades relativas ao conteúdo específico que pretendem ensinar,
assim como formas distintas de fazê-lo – conhecimento especializado do
conteúdo. (RIBEIRO, 2011, p.418)
61
Essa sua constatação é proveniente dos estudos que realizou em
Ribeiro (2009) e expõe as dificuldades dos professores em trabalhar com os
números decimais, seja no sentido da não compreensão conceitual, seja no sentido
das operações, principalmente no que se refere à justificação dessas operações.
Ele destaca principalmente as dificuldades dos professores em relação à operação
de multiplicação de decimais. O autor explica que os professores sabem realizar as
operações de multiplicação com dois decimais, mas esperava-se que eles tivessem
um conhecimento mais especializado especifico do ensino que lhes permitisse
utilizar distintas formas para representar e efetuar as operações.
Esteves (2009) desenvolveu uma pesquisa junto aos professores no
Mato Grosso do Sul, com o objetivo de investigar os conhecimentos de um grupo
de professores do 5º ano do Ensino Fundamental sobre números decimais e a
relação com sua prática pedagógica.
A autora constatou em sua investigação que, no conhecimento do
conteúdo específico desses professores, havia lacunas relativas ao conceito de
números decimais, ao estabelecimento de relações entre os números decimais e o
sistema de numeração decimal, pois os professores conseguiram identificar as
ordens da parte decimal, os décimos, centésimos e milésimos, mas desconheciam
as regularidades que existem entre elas e a ordem dos inteiros, além da
compreensão dos algoritmos que envolvem esses números, principalmente no caso
da multiplicação e da divisão. Faltava-lhes aprofundamento das principais ideias e
conceitos que envolvem esse tópico de ensino, suas estruturas substantivas, e
também apresentaram lacunas em suas estruturas sintáticas, acarretando uma
visão fragmentada do que é a Matemática.
Para
Esteves
(2009),
os
professores
investigados
têm
uma
compreensão errônea dos decimais ou uma incompreensão conceitual, pois
demonstraram percebê-los como naturais separados por uma vírgula (tal como os
alunos), e isso ficou claro nas formas como fizeram a leitura dos decimais, não
fazendo referência aos décimos, centésimos e milésimos, e sim à vírgula. Essa
forma de leitura dos decimais interfere nos critérios de ordenação e comparação
desses números, dificultando assim a aprendizagem.
Sobre as operações, Esteves (2009) explicou que os professores
conseguiram fazer as multiplicações e divisões por 10, 100, 1000, mas não
62
souberam justificar as regras utilizadas, apenas disseram “foi assim que eu
aprendi”. Em relação às atividades que envolviam divisão, os professores ficaram
surpresos quando realizavam os cálculos na calculadora e viam que os resultados
aumentavam, para eles isso não podia acontecer, pois, segundo eles, na
multiplicação, só ocorre aumento (ficou claro que os professores pensavam nos
decimais como os naturais); além do que efetuavam as operações de forma
mecânica, sem levar em consideração seu sentido, pois não sabiam justificá-las.
Outro ponto interessante foi que os professores acharam difícil trabalhar
com frações e decimais ao mesmo tempo. Percebemos que os professores
pareceram desconhecer as relações existentes entre essas duas formas de
representação dos racionais. Em suas análises, a autora identificou que os
professores apresentavam dificuldade nas comparações, ordenação dos decimais,
representação dos racionais na forma decimal e fracionária, problemas em
relacionar o número decimal ao sistema decimal posicional, utilizavam-se das
propriedades dos naturais para operar com os decimais, não compreendiam as
operações de multiplicação e divisão dos decimais. Para Esteves (2009, p.89),
essas lacunas existentes no conhecimento específico do conteúdo dos professores
comprometem a compreensão acerca dos decimais, e tornam os conhecimentos
dos professores muito próximos aos dos alunos. E essa proximidade limita as
práticas dos professores, trazendo implicações importantes de o que e como os
professores ensinam esse conteúdo
O estudo Miola (2011) tinha por objetivo analisar as práticas docentes e
os conhecimentos mobilizados por um grupo de professores que atuavam no 6º
ano do ensino fundamental. O estudo aconteceu durante seis encontros com seis
professores da rede pública municipal de Campo Grande - MS.
Para o desenvolvimento da pesquisa Miola (2011) propôs quatro
atividades ao grupo para que os professores explicitassem suas dúvidas,
experiências e o conhecimento que possuíam a respeito dos números decimais,
pediu ainda uma dissertação sobre uma experiência vivida por eles em sala de
aula em que os números decimais fossem trabalhados com a utilização de algum
material manipulável e a criação de uma sequência de atividades para ensinar os
números decimais. As atividades apresentavam questões sobre o conceito de
número decimal, de divisões entre inteiros em que o resultado é em decimal,
63
divisão em que o quociente é maior que o dividendo e de multiplicação quando o
resultado é menor que os fatores utilizados.
Em suas conclusões a autora pôde constatar que os professores
participantes da pesquisa apresentavam uma lacuna em suas estruturas
substantivas e sintáticas, apresentando dificuldades no que concerne ao
conhecimento conceitual de números decimais, ocasionando dificuldades no que
diz respeito a definição, comparação dos números decimais, representação
decimal, a escrita e leitura de um número decimal e ainda na compreensão dos
algoritmos que envolvem os mesmos, principalmente nos casos de multiplicação
e divisão.
Além do que a autora também detectou pouco domínio no que se refere
ao conhecimento pedagógico do conteúdo: na utilização de técnicas algorítmicas
para realizar as operações; na opção, por parte do grupo, em elaborar o
planejamento partindo das frações para chegar aos números decimais; na
prioridade ao trabalho com as frações do que com os números decimais; e na
maneira que trataram as dificuldades apresentadas pelos alunos durante o
desenvolvimento das atividades do planejamento.
O estudo de Miola e Pereira (2012) também investigaram os saberes de
um grupo de professores no Mato Grosso do Sul. O objetivo dos encontros foi de
conhecer os professores, suas crenças, concepções, dentre outros, acerca do
ensino de números decimais, de criar um ambiente de discussão, de troca de
experiências e de respeito e interesse, a partir de suas experiências e
conhecimentos.
As autoras, ao analisarem os dados, consideraram os conhecimentos
conceituais, as operações envolvendo números decimais, as relações entre a
representação fracionária e decimal e o material manipulável elaborado pelo grupo
para o ensino de números decimais. Em relação ao conhecimento conceitual, essa
categoria abarca os conhecimentos específicos de números decimais, como a
definição, a comparação, a escrita e a leitura desse conteúdo.
Em suas conclusões, as autoras apontaram que foi possível observar
indícios de que não havia muita clareza para os professores sobre a definição de
números decimais. Outro aspecto importante a ser ressaltado, ao fazermos
64
referência às operações envolvendo números decimais, são as falsas
generalizações de propriedades dos números naturais para os números decimais,
principalmente quando realizamos operações de multiplicação e divisão.
Nesse sentido, Miola e Pereira (2012) observaram que o conhecimento
dos professores investigados em relação às operações com decimais refere-se
unicamente às técnicas algorítmicas, ou seja, sabem fazer, mas não conseguem
explicar por que acontece dessa maneira. Para as autoras, a compreensão das
operações com números decimais está diretamente relacionada à maneira como o
professor ensina aos seus alunos.
Levando em conta o que foi colocado na revisão dos estudos sobre os
conhecimentos dos professores, percebemos que eles não têm uma compreensão
do que seja um número decimal e fazem relação desse com os inteiros positivos.
Os professores ensinam as representações fracionárias e decimais dos racionais
separadamente, não estabelecendo relações e dando mais ênfase ao trabalho com
as frações comuns. E isso talvez justifique porque os decimais são mais
relacionados aos naturais do que as frações. Em relação às operações, o ensino
dos professores resume-se unicamente às técnicas algorítmicas, todavia,
percebemos que eles manifestaram desconhecer a justificação das regras das
operações. Nas operações de divisão e multiplicação, os professores investigados
apresentaram muitas dificuldades de compreensão dessas operações, de forma
que não sabiam justificá-las, explicar a razão de ser das regras que são
mecanicamente ensinadas aos alunos.
Assim sendo, percebemos que os conhecimentos dos professores sobre
os decimais são parecidos com os dos alunos, conhecimentos frágeis na sua
maioria, de tal forma que as dificuldades apontadas nos estudos desenvolvidos
junto aos alunos são as mesmas apresentadas nos estudos realizados com os
professores. Essa fragilidade no conhecimento dos professores pode nos dar pistas
para compreendermos as dificuldades dos alunos, pois essa limitação dos
conhecimentos dos professores acarreta uma aprendizagem deficiente para os
alunos. Parece-nos que essas dificuldades podem estar relacionadas à forma como
os livros didáticos, utilizados por esses professores (pelo menos no Brasil),
abordam os números decimais, e/ou talvez os cursos de formação inicial não
estejam dando um tratamento adequado ao estudo desses números.
65
2.3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Após a revisão e análise dos resultados de todos os estudos correlatos,
traçamos algumas considerações sobre a compreensão conceitual, habilidade com
as operações e na resolução de problemas com os decimais.
Sobre a compreensão conceitual, os estudos de Brousseau (1980, 1981,
1987, 1998), Perrin Glorian (1986), Padovan (2000), Biachinni (2001), Cunha
(2002), e Vieira(2005), Fonseca (2005), Silva (2006), Roditi (2007), Mestre (2009),
Mendes (2012), Şengül e Gülbağcl (2012) evidenciaram uma dificuldade, por parte
dos alunos, em compreender o sentido de números decimais, pois apresentaram
problemas em representações e ordenações com esses números, além de
estabelecerem comparação com os números naturais, não conseguindo diferenciálos conceitualmente. Tal dificuldade também foi enfocada nos estudos com os
professores, pois manifestaram perceber os decimais como naturais separados por
uma vírgula, essa dificuldade gera outra, que também é apontada nos estudos
supracitados, e se refere às representações dos números racionais na forma
fracionária ou com a vírgula.
Essa relação dos números naturais com os decimais é ressaltada por
D’Amore (2007, p.8) “o conhecimento dos números naturais é indispensável para
adquirir o conhecimento dos racionais, mas, ao mesmo tempo, é um obstáculo para
essa aquisição.” Esse fenômeno gera obstáculos importantes e invisíveis, que se
escondem no interior de um saber que funciona, mas que é “local” e que não pode
ser generalizado para o objeto matemático que deveria ser aprendido.
Um número natural como 4 tem um sucessor; o seu produto por outro
número natural será maior que esse número. Algumas dessas
propriedades falham quando 4 é encarado como um número racional: por
exemplo, não tem mais sucessor. Mas o estudante não se dá conta dessa
passagem e continua “forçando” as propriedades de N também em Q; por
esse motivo encontram-se estudantes que afirmam, em Q, que 2,33 é o
sucessor de 2,32, ajudados nisso até por alguns livros textos. E, além
disso, por exemplo, 0,7 × 0,8 = 0,56 é menor do que cada um dos fatores,
novidade desconcertante que leva a criticar o conhecimento
precedentemente adquirido. (D’AMORE, 2007, p.8)
Acreditamos que esses obstáculos, colocados por Brousseau (1981) e
D’Amore (2007), e tão evidenciados em diversos estudos sobre o tema, estão
66
relacionados à forma como os decimais são trabalhos na escola. Tanto na prática
escolar como nos livros didáticos, os números decimais são introduzidos sempre
com um forte apelo ao sistema de medidas e monetário. Os problemas relacionados
a esses contextos não possibilitam a discussão de características importantes do
conjunto dos números racionais, a que o número decimal pertence.
No conjunto dos naturais, podemos falar em sucessor e antecessor, no
conjunto dos racionais isso não é possível, uma vez que esse conjunto é denso. É
importante que os alunos compreendam que entre 0,5 e 0,6 existe uma infinidade
de números e que, por isso, a ideia de sucesso não pode ser usada nesse tipo de
número. Em relação à questão de que as multiplicações por números menores que
1 sempre diminuem, contrariando a regra da multiplicação dos naturais, na qual a
multiplicação sempre aumenta, se os professores a trabalharem de forma
adequada, levando os alunos a explorarem e compararem as diversas
propriedades dos números naturais e decimais, não somente os obstáculos de
aprendizagem seriam amenizados, mas também haveria uma ampliação dos
conhecimentos dos alunos, que seriam levados à exploração das propriedades das
operações que são válidas em um conjunto, mas que não são válidas em outro,
provocando assim uma melhor compreensão do conceito dos números decimais.
Alguns desses estudos apontaram a dificuldade em operacionalizar com
os decimais em situações descontextualizadas. Segundo Silva (2006), quando o
decimal não se refere a dinheiro, a diferença escrita estabelecida pela vírgula não
é para os alunos um indicador suficiente para saber que se trata de um número
decimal. Acreditamos que essa descaracterização dos decimais gerará dificuldades
para os alunos compreenderem as operações, principalmente as operações que
envolvem inteiros e decimais.
Os trabalhos que apresentaram propostas de ensino baseadas no
sistema monetário e de medidas, nos quais os decimais foram ensinados sempre
relacionados ou diluídos dentro desses contextos, os resultados foram favoráveis
nas situações contextualizadas, entretanto, fora de um contexto, os alunos tiveram
dificuldade de compreender o significado dos decimais, assim como de
operacionalizá-los. Porém, no estudo de Jucá (2008), observamos que o contexto
monetário não ajudou os alunos a resolverem corretamente os problemas.
O que percebemos foi que os estudos que trabalharam com o sistema
de medida e monetário para introduzir o conceito de decimal ou para o ensino das
67
operações não levaram em conta que era necessária uma formalização desse
conhecimento para que os alunos pudessem aplicá-lo em diversas situações, além
de uma justificativa para o sentido das operações, pois a maior parte das
dificuldades apontadas tem a ver com o fato de os alunos não conseguirem colocar
a vírgula no resultado das operações, e isso talvez tenha ocorrido porque as
operações costumam ser ensinadas por meio de regras que os alunos devem
memorizar, e não são justificadas. Percebemos nesse tipo de ensino uma
predominância do conhecimento processual sobre o conceitual.
Nas propostas didáticas desenvolvidas por Brousseau (1987), de
Doaudy e Perrin Glorian (1986), Biachinni (2001), percebemos que a introdução
dos decimais, assim como das operações, é feita por meio das frações decimais, e
a partir daí os alunos vão sendo conduzidos à ampliação das ideias para a
construção dos decimais. A grande preocupação, principalmente no ensino das
operações, é que essas não percam o sentido para os alunos, e que esses possam
compreender os procedimentos realizados e não apenas memoriza-los.
Sobre o domínio das operações com os decimais, os estudos de
Padovan (2000), Vieira (2005), Fonseca (2005), Roditi (2001), Jucá (2004, 2008),
Silva (2006), Mestre (2009), Pereira (2011), Mendes (2012) apontaram dificuldades
dos alunos em relação às operações com decimais, principalmente em relação às
operações de subtração, multiplicação e divisão. Apesar de a operação de adição
não ter apresentado tantas dificuldades para os alunos, vale ressaltarmos que, em
algumas situações, os alunos tiveram dificuldades em realizar a operação de adição
e cometeram erros persistentes. Como destaca Silva (2006, p. 67), as operações
de adição e subtração com decimais possuem um nível de dificuldade diferente
quando todos os termos envolvidos são decimais, diferentemente de quando são
combinados na operação números inteiros e decimais.
Muitos
dos
erros
observados
nas
operações
referem-se
ao
posicionamento da vírgula no resultado, confirmando assim a falta de compreensão
do significado de número decimal. Outros erros estão relacionados ao
desenvolvimento do algoritmo da subtração, multiplicação e divisão, mostrando que
os alunos não dominam tais operações no campo dos naturais e isso pode ser visto
nos trabalhos de Pereira (2011), Jucá (2004, 2008) e Roditi (2001).
Os estudos de Roditi (2001), Alves e Gomes (2007), Esteves (2009),
Ribeiro (2009, 2011), Miola (2011) e Miola e Pereira (2012) apontaram as
68
dificuldades conceituais e nas operações com decimais dos professores, essas
dificuldades são muito parecidas com as dos alunos, e nos ajudaram a
compreender a deficiência dos alunos em relação a este conteúdo, assim como as
limitações da formação inicial destes professores.
A respeito da resolução de problema com números decimais, os estudos
de Hilbert e Wearne (1988), Bell et al. (1981), Fischbein et al. (1985), Fonseca
(2005), Jucá (2004, 2008) e Pereira (2011) evidenciaram as dificuldades dos alunos
na compreensão do enunciado do problema, pois eles não conseguiram escolher
corretamente a operação a ser utilizada, assim como não dominavam o algoritmo
de algumas operações, além de não conseguirem construir o sentido no
desenvolvimento das operações na resolução dos problemas. Roditi (2001)
levantou questões sobre os problemas multiplicativos, principalmente relacionadas
ao domínio das técnicas operatórias, tais como: os alunos identificam as estruturas
multiplicativas mesmo se não sabem efetuar a multiplicação? A competência
técnica contribui ou não para o reconhecimento da situação multiplicativa?
Em síntese, as dificuldades expostas pelos estudos correlatos estão
relacionadas à conceitualização, operacionalização e à estrutura semântica dos
problemas, pois os alunos em algumas situações se sentem paralisados para
escolher qual a operação adequada para resolver o problema, e, em outros casos,
ao escolherem a operação correta, não conseguem desenvolvê-la. Nos problemas
ditos “diretos”, as dificuldades tendem a diminuir, pois no enunciado os alunos terão
alguma “pista” da operação a ser utilizada, no entanto, se os problemas exigirem a
utilização de operações inversas, os problemas tendem a ser mais complicados
para os alunos.
No próximo capítulo, procedemos à exposição de alguns estudos
relacionados ao sentido de número e das operações, principalmente no que se
refere ao conhecimento conceitual e processual, assim como sobre a estrutura
semântica dos problemas aritméticos. Além da teoria da aprendizagem significativa
que justifica os números naturais como um conhecimento necessário para a
aprendizagem dos decimais. Tais estudos subsidiaram o desenvolvimento desta
pesquisa.
69
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo, apresentamos às discussões teóricas que sustentaram o
desenvolvimento
deste
trabalho,
inicialmente,
as
discussões
sobre
o
desenvolvimento do processo de aprendizagem expostos pela teoria da
aprendizagem significativa de Ausubel (2003).
Em outra parte do capítulo, trazemos as discussões referentes ao
sentido de números e operações dos estudos de McIntosh (1992) e Slavit (1999) e
sobre a estrutura semântica dos problemas, nos estudos de Vergnaud (1976, 1983,
1988, 2009), Greer (1992), Sá (2003), dentre outros.
3.1 A TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
David Ausubel em 1963 apresentou a teoria da aprendizagem
significativa em oposição a uma aprendizagem verbal por memorização, o autor se
baseou na proposição de que a aquisição e a retenção do conhecimento são um
produto do processo ativo, integrador e interativo entre o material de instrução
(matérias) e as ideias relevantes da estrutura cognitiva do aprendiz, com as quais
as ideias estão relacionadas de formas particulares.
Para Ausubel (2003, p.1), a aprendizagem significativa envolve,
principalmente, a aquisição de novos significados a partir do material de
aprendizagem apresentado. Exige tanto um mecanismo de aprendizagem
significativa, quanto a apresentação de um material potencialmente significativo
para o aprendiz. Por sua vez, essa última condição pressupõe que:
 O próprio material de aprendizagem possa estar relacionado de forma
não arbitrária (plausível, sensível, e não aleatória) e não literal com
qualquer estrutura cognitiva apropriada e relevante (isto é, que possui
significado lógico);
 A estrutura cognitiva particular do aprendiz contenha ideias ancoradas
relevantes, com as quais se possa relacionar o novo material.
70
O conceito mais importante da teoria de Ausubel é o de aprendizagem
significativa, pois, para esse autor, a aprendizagem significativa é um processo pelo
qual uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de
conhecimento do indivíduo. Nesse aspecto, o fator isolado que influencia essa
aprendizagem é o que o indivíduo já sabe, e o que Ausubel (2003) chamou de
conhecimentos prévios ou subsunçores já existentes na estrutura cognitiva do
sujeito, isto é, conhecimentos preexistentes e relevantes nos quais o novo
conhecimento se apoia e assim adquire significado.
São duas as condições para a aprendizagem significativa:
 O material de aprendizagem deve ser potencialmente significativo;
 O aprendiz deve apresentar uma predisposição para aprender.
No primeiro caso, o material de aprendizagem (livros, atividades,
aplicativos etc.) deve ter significado lógico (seja relacionável de maneira não
arbitrária e não literal a uma estrutura cognitiva apropriada e relevante); no segundo
caso, o aprendiz precisa ter em sua estrutura cognitiva ideias âncoras relevantes
com as quais o material de aprendizagem possa ser relacionado (MOREIRA, 2011,
p.25). Este caso também tem a ver com os conhecimentos prévios, pois quanto
mais o sujeito domina um certo campo de conhecimento, mais se dispõe a novas
aprendizagens nesse campo ou campos afins.
Sendo assim, o núcleo da
aprendizagem significativa é a interação cognitiva entre os novos conhecimentos e
os conhecimentos prévios. Por se tratar de um processo interativo, ambos os
conhecimentos, novos e prévios, se modificam, os conhecimentos prévios tomam
novo significado e os conhecimentos novos ficam mais elaborados, mais ricos em
significado, mais estáveis cognitivamente e capazes de facilitar a aprendizagem
significativa de outros conhecimentos.
A aprendizagem significativa constitui apenas a primeira fase de um
processo de assimilação mais vasto e inclusivo, que também consiste na própria
fase sequencial natural e inevitável da retenção e do esquecimento. A teoria da
assimilação explica a forma como se relacionam de modo seletivo, na fase de
aprendizagem, novas ideias potencialmente significativas do material de instrução
com ideias relevantes, e também mais gerais e estáveis, existentes na estrutura
cognitiva (AUSUBEL, 2003, p.8). Em suma, as ideias novas interagem com as
ideias relevantes na estrutura cognitiva, e o produto principal dessa interação torna
71
o significado das novas ideias (que se deseja introduzir) mais significativo para o
aluno.
Para Ausubel (2003, p.8), o processo de assimilação na fase da
aprendizagem significativa inclui:
 Ancoragem seletiva do material de aprendizagem às ideias relevantes
existentes na estrutura cognitiva;
 Interação entre as ideias recém introduzidas e as ideias relevantes
existentes (ancoradas), sendo que o significado da primeira surge como
o produto dessa interação;
 Ligação de novos significados emergentes com as ideias ancoradas
correspondentes no intervalo de memória (retenção).
Ausubel (2003, p.1) apresenta três tipos de aprendizagem significativa:
aprendizagens representacional, conceitual e proposicional.
O primeiro tipo é a aprendizagem representacional, que se aproxima da
aprendizagem por memorização. Ocorre sempre que o significado dos símbolos
arbitrários se equipara aos referentes (objetos, acontecimentos, conceitos) e tem
para o aprendiz o significado, seja ele qual for, que os referentes possuem. A
aprendizagem representacional é significativa, porque tais proposições de
equivalência representacional podem relacionar-se de forma não arbitrária, como,
por exemplo, a uma generalização existente na estrutura cognitiva de quase toda
as pessoas desde o primeiro dia de vida, de que tudo tem um nome, e que esse
significa aquilo que o próprio referente significa para determinado aprendiz.
O segundo tipo é a aprendizagem conceitual, na qual Ausubel (2003,
p.2) define “os conceitos como objetos, acontecimentos, situações ou propriedades
que possuem atributos específicos comuns e são designados pelo mesmo signo ou
símbolo.” Existem dois métodos gerais de aprendizagem conceitual:
(1) Formação conceitual, que ocorre principalmente nas crianças e
jovens. Na formação conceitual, os atributos específicos do conceito são
adquiridos através de experiências diretas, isto é, através de fases
sucessivas de formulação de hipóteses, testes e generalizações.
(2) Assimilação conceitual, que é a forma dominante de aprendizagem
conceitual em idade escolar e nos adultos.
Os conceitos constituem um aspecto importante da teoria da
assimilação, pois a compreensão e a resolução significativas de problemas
72
dependem amplamente da disponibilidade quer de conceitos subordinantes (na
aquisição conceitual por subsunção), quer de conceitos subordinados (na aquisição
conceitual subordinante) na estrutura cognitiva do aprendiz.
O terceiro tipo é a aprendizagem significativa proposicional, é
semelhante à aprendizagem representacional, na medida em que (dado um
mecanismo de aprendizagem significativa do aprendiz) os significados surgem,
depois de se relacionar e colocar em interação uma tarefa de aprendizagem
potencialmente significativa com ideias relevantes da estrutura cognitiva, numa
base não literal e não arbitrária. A aprendizagem proposicional pode ser:
subordinada (de subsunção), subordinante ou combinatória (AUSUBEL, 2003. p.
93).
 A aprendizagem de subsunção ocorre quando uma proporção
logicamente significativa de uma determinada disciplina se relaciona de
forma significativa com proposições subordinantes específicas na
estrutura cognitiva do aluno. Tal aprendizagem pode denominar-se
derivativa, caso o material de aprendizagem apenas exemplifique ou
apoie uma ideia já existente na estrutura cognitiva;
 A aprendizagem proposicional subordinante ocorre quando uma nova
proposição pode se relacionar ou com ideias subordinadas específicas
da estrutura cognitiva existente ou com um vasto conjunto de ideias
antecedentes geralmente relevantes da estrutura cognitiva, que podem
ser subsumidas de igual modo;
 A aprendizagem proposicional combinatória refere-se a situações em
que uma proposição potencialmente significativa não pode se relacionar
com ideias específicas subordinantes ou subordinadas da estrutura
cognitiva do aprendiz, mas pode relaciona-se a uma combinação de
conteúdos geralmente relevantes, bem como a outros menos relevantes,
em tal estrutura. A maioria das aprendizagens do tipo proposicional é,
obviamente, de subsunção ou combinatória (AUSUBEL, 2003, p.3).
É importante ressaltarmos que a aprendizagem significativa não implica
que as novas informações formem um tipo de ligação simples com os elementos
preexistentes na estrutura cognitiva. Pelo contrário, somente na aprendizagem por
memorização ocorre uma ligação simples, arbitrária e não integradora com a
estrutura cognitiva preexistente. Na aprendizagem significativa, o mesmo processo
73
de aquisição de informações resulta numa alteração quer das informações
recentemente adquiridas, quer do aspecto especificamente relevante da estrutura
cognitiva, à qual estão ligadas as novas informações.
Na maioria dos casos, as novas informações estão ligadas a um conceito
ou proposição específicos e relevantes – entendemos por conceitos ou proposições
ideias relevantes da estrutura cognitiva –, de forma a indicar que a aprendizagem
significativa envolve uma interação seletiva entre o novo material de aprendizagem
e as ideias preexistentes na estrutura cognitiva. O termo ancoragem é empregado
para sugerir a ligação com as ideias preexistentes ao longo do tempo. No processo
de subsunção, as ideias subordinantes preexistentes fornecem ancoragem à
aprendizagem significativa de novas informações (AUSUBEL, 2003, p. 3).
Em contraposição, em se tratando da aprendizagem significativa,
Ausubel (2003, p.4) aborda a questão da aprendizagem por memorização ou
mecânica como sendo aquela em que novas informações são aprendidas
praticamente sem interagirem com conceitos relevantes existentes na estrutura
cognitiva, sem se ligarem a ideias ancoradas (subsunção). A nova informação é
armazenada de maneira arbitrária e literal, não interagindo com aquela já existente
na estrutura cognitiva e pouco ou nada contribuindo para sua elaboração e
diferenciação.
O autor salienta que a capacidade arbitrária e literal de relacionar tarefas
de aprendizagem por memorização com a estrutura cognitiva tem determinadas
consequências significativas para a aprendizagem. Ele destaca dois pontos. O
primeiro é que, uma vez que o equipamento cognitivo não consegue lidar de modo
eficaz com as informações relacionadas com ele mesmo numa base arbitrária e
literal, ele apenas consegue interiorizar tarefas de aprendizagem relativamente
simples e essas somente ficam retidas por curtos espaços de tempo, a não ser que
tenham sido bem apreendidas.
Em segundo lugar, a capacidade de relação arbitrária e literal para com
a estrutura cognitiva torna as tarefas de aprendizagem por memorização altamente
vulneráveis a interferências de materiais semelhantes anteriormente apreendidos e
descobertos de forma simultânea ou retroativa. O autor completa que é esse tipo
de capacidade de relação (arbitrária e literal versus não arbitrária e não literal) que
justifica a diferença fundamental entre os processos de aprendizagem por
memorização e significativa. No entanto, para Ausubel (2003, p.5), apesar de
74
existirem diferenças marcantes entre as duas aprendizagens, a aprendizagem
significativa e por memorização não são, dicotômicas em muitas situações de
aprendizagem prática, e podem
coloca-se facilmente em um contínuo
memorização-significativo.
Outro tipo de aprendizagem destacada por Ausubel (2003) é a
aprendizagem por recepção e por descoberta. Na primeira, o aluno recebe a
informação, o conhecimento a ser aprendido na sua forma final, no entanto, esse
tipo de aprendizagem pode não ser passiva. Na segunda, a aprendizagem por
descoberta implica que o aluno deve descobrir o conhecimento que vai aprender.
Nessa situação, o conhecimento não é dado em sua forma final. Ausubel (2003,
p.1) deixa claro que não existe uma dicotomia entre os dois tipos de aprendizagem,
e que o fato de ser uma aprendizagem por recepção ou por descoberta não constitui
uma aprendizagem significativa, isso só vai ocorrer se o novo conhecimento tiver
ancoragem nos conhecimentos prévios.
Convém-nos evidenciar nessa discussão que
a
aprendizagem
significativa não é aquela que o aluno nunca esquece, o esquecimento é um
processo natural, Ausubel (2003, p.17) chama isso de assimilação obliteradora, ou
seja, a perda progressiva da dissociabilidade dos novos conhecimentos em relação
aos conhecimentos que deram significados, que serviram de ancoradouro
cognitivo. Diferente da aprendizagem mecânica, na qual o esquecimento é rápido
e praticamente total, na aprendizagem significativa, o esquecimento é residual.
Esse esquecimento rápido da aprendizagem mecânica pode se justificar por
memorização de procedimentos que ao longo do tempo são facilmente esquecidos
se não tiverem um uso constante.
Neste contexto, os conhecimentos conceituais e processuais estão
relacionados à aprendizagem significativa, no sentido de que esta se baseia na
apreensão dos conceitos, e são estes que dão sentido aos procedimentos. E, por
seu turno, os procedimentos que são aprendidos com significado são aqueles que
estão ligados ao conhecimento conceitual, e logo estão relacionados à
aprendizagem significativa. Diferentemente, os procedimentos que não se
relacionam
ao
conhecimento
conceitual
são
procedimentos
decorados,
relacionados à aprendizagem mecânica.
Embora, se possa ter procedimentos sem relação com o conhecimento
conceitual, é dificil pensar no contrário, pois o procedimento transforma o conceito
75
em algo observável. Para Hiebert e Lefevre (1987, p.4), o conhecimento conceitual
se caracteriza mais claramente como o conhecimento que é rico em relações. Ele
pode ser pensado como uma teia ligada de conhecimento, uma rede em que as
relações de ligação são tão proeminentes como as peças discretas de informação.
O conhecimento processual, por sua vez, é composto de duas partes distintas. Uma
parte é composta pela linguagem formal, ou sistema de representação simbólica
da matemática. A outra parte é constituída de algoritmos, regras para a conclusão
de tarefas matemáticas.
A primeira parte é às vezes chamada de “forma” da matemática. Ele
inclui uma familiaridade com os símbolos usados para presentar idéias
matemáticas e uma consciência das regras sintáticas para a escrita
dos símbolos em uma forma aceitável. A segunda parte do
conhecimento de procedimento consiste em regras, os algoritmos, ou
procedimentos utilizados para resolver tarefas matemáticas. Eles são
as instruções passo-a-passo que prescrever conclusão das tarefas.
(HIEBERT E LEFEVRE, 1987, p. 4, tradução nossa)
Como os conhecimentos processuais são instruções que são seguidas
passo a passo, uma característica fundamental desses é que eles se apresentam
em uma sequência linear predeterminda. Hiebert e Lefevre (1987, p.5) consideram
que os procedimentos se encontram tão bem estruturados que alguns estão
embutidos em outros e atuam como subprocedimentos. Como exemplo, temos a
multiplicação dos decimais, 3,82 x 0,43, em que normalmente se aplica três
subprocedimentos: um para escrever o problema na forma vertical adequada (o
algoritmo), um segundo, para calcular a parte numérica da resposta, e um terceiro,
para colocar o ponto decimal na resposta.
Em suma, o conhecimento matemático, em seu sentido mais amplo,
inclui significativas e fundamentais relações entre conhecimento conceitual e
processual. Os estudantes não são plenamente competentes em matemática se
qualquer um dos dois tipo de conhecimento é deficiente ou se ambos foram
adquiridos, mas permanecem como entidades separadas. Sendo assim, ao
estabelecermos relações entre conhecimento conceitual e processual, não só
evitamos falhas no desenvolvimento cognitivo, mas ambém contribuímos de muitas
outras formas para o desenvolvimento de uma sólida base de conhecimentos.
Hiebert e Lefevre (1987, p.9) destacam duas situações favoráveis para
a relação dos conhecimentos conceituais e processuais. Em primeiro lugar, se os
76
procedimentos estão relacionados com os conceitos, eles tornam-se armazenados
como parte de uma rede de informação, colados juntamente com as relações
semânticas. Tal rede é menos provável que se deteriore do que uma parte isolada
de informações, porque a memória é especialmente boa para relações que são
significativas. Em segundo lugar, a recuperação é reforçada porque a estrutura do
conhecimento ou da rede, de que o procedimento é uma parte, vem equipada com
vários links que permitem acesso para o procedimento. Os links "conceituais"
aumentam as chances de que o procedimento seja acessado sempre que
necessário, porque servem como acesso alternativo para a recordação.
No caso da aprendizagem dos números decimais, defendemos que os
números naturais e as frações decimais são subsunçores, isso se evidencia, pois
se os alunos tiverem construções sólidas dos procedimentos das operações com
naturais e das frações decimais, provavelmente compreenderão as operações com
os decimais de forma mais significativa. Os conhecimentos dessas operações estão
armazenados e os alunos podem acessar ou mobilizar os conceitos e
procedimentos necessários para realizar as operações com os decimais. Mas, se
ao contrário, esses conhecimentos não estiverem sidos corretamente construídos,
o aluno terá dificuldade em estabelecer as relações como outros modelos para a
construção de um novo conhecimento – os decimais.
Essa ponte entre os dois tipos de conhecimento também ajudaria os
alunos na resolução de problemas, visto que, segundo Hiebert e Lefevre (1987,
p.9), se o conhecimento conceitual estiver ligado aos procedimentos, pode: (a)
melhorar as representações dos problemas e simplificar as exigências processuais;
(b) melhorar o processo de monitoração, seleção e execução; e (c) promover a
transferência e reduzir o número de procedimentos necessários.
Assim sendo, se os alunos tiverem construído relações entre os
conhecimentos conceituais e processuais, eles terão facilidade para lidar com as
representações dos problemas, e a vantagem de representar conceitualmente o
problema é que ela lhes permite raciocinar diretamente sobre as quantidades
envolvidas, em vez de raciocinarem sobre os símbolos, e assim poderão escolher
adequadamente a operação que resolve o problema, ou ainda, escolher
procedimentos adequados que os levem à solução do problema. Outro ponto
favorável dessa interligação entre os conhecimentos conceituais e procedimentos
é que os primeiros funcionariam como críticos observadores da validação de um
77
processo, pois eles permitiriam antecipar as consequências de possíveis ações,
evitando a utilização de procedimentos inadequados.
Acerca do tema em apreço, aprendizagem significativa, buscamos
estabelecer uma relação entre os conhecimentos prévios dos números naturais
para a construção do conhecimento dos números decimais. Apesar das
propriedades operatórias do campo numérico dos naturais serem diferentes dos
números racionais decimais, acreditamos que, em relação ao sentido das
operações, podemos estabelecer relações entre as operações entre os dois
campos numéricos. De tal forma que os algoritmos das operações dos naturais
favoreçam a aprendizagem das operações com os decimais, nesse caso, os
conhecimentos dos números naturais funcionariam como subsunções (âncora)
para a aprendizagem das operações e para a resolução de problemas com os
números decimais.
Acreditamos que esses conhecimentos prévios dos alunos (os números
naturais) são indispensáveis para a aprendizagem dos números decimais. E temos
como base para essa afirmação os estudos de Jucá (2004, 2008), os quais
apresentaram as dificuldades dos alunos em compreender as operações com os
números decimais, e uma das causas dessas dificuldades consistia no fato de o
aluno não saber operacionalizar no campo dos naturais. Essas dificuldades dos
alunos talvez estejam relacionadas, entre outras coisas, à incompreensão do
sentido de número e do sentido da operação, assim como do domínio do
desenvolvimento dos algoritmos das operações. Percebemos aí um rompimento
entre os conhecimentos conceituais e processuais, visto que tanto os conceitos
podem dar sentido aos procedimentos, como os procedimentos podem dar vida aos
conceitos. Hiebert e Lefevre (1987, p.13) colocam que, em certas ocasiões, o
conhecimento processual assume a liderança e estimula o desenvolvimento de
novos conceitos.
O conhecimento processual fornece uma sequência linguística formal e
de ação que eleva o nível e aplicabilidade do conhecimento conceitual. De modo
que ser competente em matemática envolve saber conceitos, utilizar símbolos e
procedimentos, e saber como eles estão relacionados. Essas discussões sobre
conhecimentos conceituais e processuais perpassam pela aprendizagem do
sentido de número e das operações, assim como da compreensão da estrutura
semantica dos problemas.
78
3.2 O SENTIDO DE NÚMERO E DE OPERAÇÃO
As pesquisas que investigaram a compreensão dos alunos sobre o
sentido de números e operações, no campo dos números naturais e no campo dos
decimais, têm mostrado que, quando os números se referem a objetos em uma
dada situação, eles apresentam mais sentido do que quando não se referem a coisa
alguma. Nunes e Bryant (1997) observaram que crianças das séries iniciais
apresentaram dificuldade para entender a adição e a subtração simples com os
naturais quando os números são apresentados sem se referirem a situações que
poderiam torná-los significativos.
Esses autores destacam que o sentido dos números muda quando se
muda seu referencial, porque, no raciocínio aditivo, o sentido de número está
diretamente relacionado ao tamanho de conjunto e às ações de unir e separar
objetos e conjuntos. O sentido de número como medida de conjuntos envolve
colocar objetos em um conjunto no qual o ponto de partida é zero. Para Nunes e
Bryant (1997, p.123), o número como uma medida de transformações relaciona-se
ao conjunto que é unido ou separado de outro conjunto; e o número como medida
de uma relação estática relaciona-se ao conjunto que teria que ser unido ou
separado de outro a fim de formar dois conjuntos iguais
De igual modo, no caso dos números decimais, os estudos que
investigaram a compreensão conceitual dos decimais mostraram que esses
números passam a ter melhor significado para os alunos quando se apresentam
dentro de um contexto ou de uma dada situação, e que sozinhos os alunos sentem
dificuldade de compreender o real sentido do número decimal. Assim sendo, o
sentido de número e de operações pode assumir diferentes significados em
situações diversas. Esses significados podem, em certas situações, ser mais fáceis
para o aluno, e, em outras, assumir um aspecto mais complexo e de difícil
compreensão.
McIntosh et al. (1992, p.3) apresentam o sentido de número como a
compreensão genérica que uma pessoa tem dos números e operações, juntamente
com a capacidade para usar essa compreensão de forma flexível, para fazer juízos
matemáticos e desenvolver estratégias úteis e eficientes no trabalho com números
e operações. Os autores compreendem que uma pessoa com bom sentido de
79
número pensa e reflete sobre os números, operações e resultados que são
produzidos, pois o sentido do número implica a compreensão dos sistemas
numéricos, a forma como estão organizados, e as suas diferentes representações.
McIntosh et al. (1992, p.3) apresentam, então, um modelo do sentido de
número, identificando três componentes chave:
 Conhecimento e facilidade com os números;
 Conhecimento e facilidade com as operações;
 Aplicação do conhecimento e da facilidade com os números e
operações a situações de cálculos.
Em relação à primeira componente, conhecimento e facilidade com os
números, os autores entendem que, para que os alunos adquiram tal habilidade,
precisam compreender:
 O sentido da regularidade dos números;
 Reconhecer múltiplas representações dos números;
 Compreender o sentido da grandeza relativa e absoluta dos números;
 Reconhecer sistemas de referência.
Para os autores, a compreensão do sentido da regularidade dos
números implica compreender a organização do sistema hindu-arábico, do sistema
decimal de posição, incluindo a sua aplicação aos diversos campos numéricos,
como números naturais, decimais, números racionais e da compreensão das suas
representações. Destacam a importância da compreensão do sistema de
numeração no desenvolvimento matemático dos alunos, uma vez que os ajuda na
organização mental, comparação e ordenação de números.
O reconhecimento de múltiplas representações dos números envolve a
capacidade
de
compreendê-los
em
diferentes
contextos
e
diferentes
representações, manipulando-os de diferentes maneiras, tendo em vista
determinado propósito. Segundo os autores, o conhecimento de que os números
podem ser representados de diferentes formas está em conformidade com o
reconhecimento de que algumas representações são melhores do que outras em
certas situações de resolução de problemas. Como no caso dos números racionais,
a representação decimal em algumas situações é mais favorável para o aluno
trabalhar do que a representação fracionária (MCINTOSH et al., 1992, p. 5).
A compreensão do sentido da grandeza relativa e absoluta dos números
requer o reconhecimento do valor relativo de um número, bem como da sua
80
grandeza. Por conseguinte, os autores alertam para que se dê aos alunos a
oportunidade de refletirem sobre números grandes em contextos pessoais
(MCINTOSH et al., 1992, p.5).
E, por último, os sistemas de referência são considerados por McIntosh
et al. (1992, p.6) como fontes de referências mentais essenciais para pensar sobre
os números. Apresentam como exemplo o reconhecimento de que a soma de dois
números de dois dígitos é inferior a 200, de que 0,98 está perto de 1 ou que 4⁄9 é
ligeiramente inferior a 1⁄2.
A segunda componente do modelo de McIntosh et al. (1992, p. 6),
conhecimento e destreza com as operações, apresenta três competências
necessárias que os alunos precisam adquirir:
 Compreensão dos efeitos das operações;
 Compreensão das propriedades matemáticas;
 Compreensão das relações entre as operações.
Na compreensão dos efeitos das operações, é preciso compreendê-las
em diferentes contextos que envolvam vários tipos de números (como inteiros e
racionais) e modelos. Os autores fazem referência à utilização de certos modelos
para auxiliar os alunos na compreensão das operações, como no caso da
modelação da multiplicação como uma adição repetida, que fornece uma forma
concreta de ajudar os alunos a pensarem a multiplicação e a realizá-la. Entretanto,
chamam a atenção para o fato de sejam explorados outros modelos junto com os
alunos para evitar certas generalizações, do tipo a multiplicação sempre gera um
número maior. Por isso, salientam a importância de serem explorados diferentes
modelos da multiplicação, para que os alunos possam confrontar potencialidades e
limitações de cada um (MCINTOSH ET AL, 1992, p. 6).
Na compreensão das propriedades matemáticas, os autores colocam a
importância de os alunos compreenderem tais propriedades, pois consideram que
o recurso às múltiplas estratégias torna evidente o sentido de número, por isso,
enfatiza a ligação das aplicações práticas ao desenvolvimento e compreensão das
propriedades matemáticas fundamentais (MCINTOSH ET AL, 1992, p. 6).
Na compreensão das relações entre as operações, os autores destacam
que tal compreensão permite obter mais formas de pensar e resolver problemas.
Enfatizam a relação entre uma operação e a sua inversa, uma vez que essa relação
81
permite pensar de outra forma no problema. Os autores citam que, por exemplo, o
quociente de 480 ÷ 8 pode ser entendido como 8 x ? = 480, e não apenas como um
problema de divisão. Consideram que, para compreender as relações entre
operações, é essencial que se compreenda primeiro cada uma das operações.
Para os autores, essas relações entre as operações aumentam a medida que se
passa das operações com números inteiros para os números racionais
(MCINTOSH ET AL, 1992, p. 6).
A terceira componente colocada por McIntosh et al. (1992, p. 6), se
refere a aplicar o conhecimento e destreza com números e operações em situações
de cálculo, e exige que os alunos adquiram competências como:
 Compreender a relação entre o contexto do problema e o cálculo
necessário;
 Reconhecer a existência de múltiplas estratégias;
 Reconhecer uma representação e/ou método eficiente;
 Rever os dados e o resultado.
Para os autores, compreender a relação entre o contexto do problema e
o cálculo necessário requer a identificação da operação apropriada para a
resolução de um problema a partir da análise do seu contexto, dos números a
serem utilizados na operação, bem como da solução mais conveniente, aproximada
ou exata.
O reconhecimento da existência de múltiplas estratégias implica o
reconhecimento de que existem diferentes estratégias para a resolução de um dado
problema e quando uma estratégia inicial parece ser improdutiva, a formulação e
aplicação de uma estratégia alternativa é uma atitude apropriada. Essa tendência
para resolver um problema, explorando-o de diferentes maneiras, muitas vezes,
permite comparações de diferentes métodos e diferentes estratégias (MCINTOSH
et al., 1992, p. 8) .
O reconhecimento de uma representação e/ou um método eficiente, para
os autores, requer a conscientização de que, por vezes, algumas estratégias e/ou
ferramentas de cálculo são mais eficientes do que outras. Salientam que, por
exemplo, um aluno, quando solicitado a adicionar 8 + 7, não deve usar a estratégia
de contar 1 a 1, mas antes mudar a representação e pensar em 7+7+1, baseado
no conhecimento de que 7+7 =14, ou pensar em 8 + 2 + 5, usando o conhecimento
de que 8+2 = 10 (MCINTOSH et al., 1992, p. 8).
82
A revisão dos dados e do resultado, para McIntosh et al. (1992, p.8), se
relaciona com a capacidade de analisar a solução obtida e refletir sobre a resposta
encontrada, em função do enunciado do problema, e determinar uma resposta com
sentido. Salientam que essa reflexão é geralmente rápida e natural, tornando-se
uma parte integrante do processo de resolução de problemas. Por exemplo, gastou
R$ 2,88 com as maçãs, R$ 2,38 com as bananas e R$ 3,76 com as laranjas. Muitas
perguntas diferentes poderiam ser levantadas a respeito da situação, e como esses
números são tratados depende de como a pergunta é feita. Por exemplo, se a
questão é "Quanto ele gastou com as frutas? ", os preços precisam ser totalizados
para produzir uma resposta exata, e qualquer estratégia poderia ser usada.
Outro estudo que traz discussões sobre o sentido das operações é o de
Slavit (1999, p.3), que define sentido de operação como a capacidade de usar a
operação em, pelo menos, um conjunto de objetos matemáticos. Destaca que o
sentido da operação envolve vários tipos de concepções flexíveis que podem ser
inter-relacionadas pelo aluno. Essas concepções envolvem a estrutura da operação
subjacente, uso de relações com outras operações e com estruturas matemáticas,
e potenciais generalizações. Tais caracterizações incluem estabelecimento de
propriedades que a operação possui, as várias formas e contextos em que a
operação pode existir e como a operação se relaciona com outras operações.
O autor considera fundamental para o desenvolvimento do sentido da
operação algumas competências, as quais apresentamos de forma sucinta.
 A conceitualização dos componentes básicos do processo: que
envolve a capacidade de decompor a operação nas suas componetes
bases;
 A familiaridade com as propriedades da operação, que exige
conhecimento e compreensão das propriedades das operações, como a
propriedade comutativa, associativa, elemento neutro, e destaca
principalmente o conhecimento da operação inversa, pois essa pode
ajudar o aluno na expansão do conhecimento de uma operação, atuando
sobre diferentes objetos matemáticos, além de conduzir a formas do
pensamento algébrico; permite, por exemplo, ao aluno compreender
uma situação da forma ? x b = c que equivale a b x ? = c;
 A relação com outras operações, que compreende a compreensão da
operação inversa ou de uma operação complementar, como a
83
compreensão da multiplicação como adições sucessivas ou da divisão
como subtração sucessivas, salienta que o conhecimento dessas
relações entre operações pode levar a uma melhor compreensão das
características de uma operação;
 A facilidade com os vários sistemas de símbolos associados com a
operação, que enfatiza a construção e a natureza das relações entre
símbolos e os objetos mentais, que considera essencial para a
construção do sentido de operação;
 A familiaridade com o contexto das operações;
 A familiaridade com os fatores da operação, capacidade de usar a
operação sem referências concretas ou situacionais;
 A capacidade de usar a operação com quantidades desconhecidas ou
arbitrárias;
 A capacidade de relacionar o uso da operação em diferentes objetos
matemáticos. Para isso, requer um elevado nível do sentido de
operação, pois o aluno deve expeirmentar a operação em diferentes
objetos matemáticos, como números inteiros, decimais e fracionários,
visto poder criar diferentes esquemas de ação que envolvem a mesma
operação;
 A compreensão dos vários componentes. O autor enfatiza que o
domínio de um componete favorece o desenvolvimento de outros, além
do que o domínio da operação está relacionado à capacidade do aluno
em dominar todos os componentes anteriormente expostos (SLAVIT,
1999, p. 8).
Assim, para Slavit (1999, p.8), a discussão anterior de sentido da
operação é uma ampla tentativa de isolar características contextuais, simbólicas e
específicas das operações matemáticas que podem apoiar o desenvolvimento
cognitivo e sentido de uma determinada operação. O entendimento dessas
características permite uma capacidade de movimentação através dessa rede
conceitual. Slavit (1999, p.8) salienta que compreender as operações implica a
capacidade de raciocinar sobre os efeitos das operações nos números. Entende
que o sentido das operações interage com o sentido de número, permitindo aos
alunos refletirem sobre os resultados.
84
Quadro 1 - Comparação do modelo do sentido de número e operação
McIntosh (1992)
 Conhecimento e facilidade com
os números.
 O sentido da regularidade dos
números.
 Reconhecer múltiplas
representações dos números.
 Compreender o sentido da
grandeza relativa e absoluta dos
números.
 Reconhecer sistemas de
referência.
 Conhecimento e facilidade com
as operações.
 Compreensão dos efeitos das
operações.
 Compreensão das propriedades
matemáticas.
 Compreensão das relações
entre as operações.
Slavit (1999)





 Aplicação do conhecimento e da
facilidade com os números e 
operações a situações de

cálculos.

A
conceituação
dos
componentes
básicos
do
processo.
A
familiaridade
com
as
propriedades que a operação
possui.
Relação com outras operações.
Facilidade com os vários
sistemas
de
símbolos
associados com a operação.
Familiaridade com o contexto
das operações.
Familiaridade com os fatores da
operação.
Capacidade de usar a operação
sem referências concretas ou
situacionais.
Capacidade de usar a operação
com
quantidades
desconhecidas ou arbitrárias.
Fonte: Material preparado por nós para esta pesquisa.
McIntosh (1992) e Slavitt (1999), de certo modo, salientam os mesmos
componentes para o desenvolvimento do sentido de operação. Percebemos,
porém, que o modelo de McIntosh (1992) apresenta-se mais completo, pois os
componentes para o sentido de número são apresentados como necessários para
o desenvolvimento do sentido de operação. Em síntese, a capacidade do aluno
para relacionar o uso da operação entre diferentes objetos matemáticos requer dele
um elevado nível do sentido de número e operação, já que pode criar vários
85
esquemas de ação objeto, envolvendo a mesma operação, por exemplo, a adição
de números inteiros, de frações e números decimais.
Em relação aos números decimais, os estudos correlatos têm
apresentado inferências comuns e enfatizado a deficiência dos alunos em relação
à compreensão do conceito de número decimal, assim como, em relação à
utilização das operações. Esses estudos apontaram que o fato de os alunos
apresentarem erros ou dificuldades em operacionalizar com os decimais está
diretamente relacionado à não apreensão do conceitual. McIntosh et al. (1992)
fazem referência à componente conhecimento e habilidade com os números, na
qual destacam o conhecimento do sistema posicional decimal, uma vez que esse
componente é essencial para a compreensão do sentido de número decimal.
Principalmente, para que os alunos possam ordenar e comparar os decimais de
forma coerente, e, posteriormente, compreender as operações com esses
números. O que temos observado é que muitos erros de escrita e leitura dos
decimais estão relacionados à falta de compreensão do sistema posicional decimal,
que deve ser apresentado para o aluno a partir da diferenciação das
representações dos números naturais e decimais nesse sistema.
Outro ponto levantado por McIntosh et al. (1992) é a necessidade de
reconhecer as múltiplas representações dos números, pois esse reconhecimento
leva à compreensão do sentido do número. Por desconhecerem as diferentes
representações dos números racionais, os alunos não entendem o sentido da
vírgula nos decimais, e, consequentemente, tem dificuldade em compreender sua
representação como fração decimal ou como porcentagem. Essa incompreensão
do sentido de número decimal leva os alunos a enxergarem os decimais como
números naturais com uma vírgula, e esse tipo de pensamento, por seu turno, os
leva a cometer erros tais como 4,36 >4,8, a justificar que 36 > 8, pois raciocinam
como se fossem naturais. O que temos observado de forma geral é que os alunos
não percebem os decimais como números racionais e não estabelecem relações
desses números com a porcentagem, ou com as frações decimais, e talvez isso
ocorra pela forma “empacotada” como os conteúdos são trabalhados na escola,
não se dando o estabelecimento das relações entre esses números.
Também Behr e Post (1988, p.57) defendem a construção de uma forte
compreensão dos conceitos de decimais antes de proceder ao cálculo e aplicação
de problemas e sugere duas abordagens: a habilidade dos alunos com números
86
inteiros, e o estabelecimento da compreensão de frações relacionada à de casas
decimais. Para conseguir isso, os alunos precisam de uma sólida compreensão do
sistema de valor posicional e como utilizar com os decimais, e uma boa base com
frações decimais, o que pode ajudar na compreensão do sentido dos décimos,
centésimos e milésimos.
Nesse sentido, a falta de compreensão do significado de número vai
interferir na forma como o sujeito lida com esses números e, consequentemente,
na forma como desenvolve as operações, não refletindo acerca delas e
apresentando resultados absurdos. Essa incompreensão do sentido de número
decimal foi evidenciada nos estudos correlatos, ao destacarem o desempenho dos
alunos nas operações com esses números, confirmando a posição de McIntosh et
al. (1992) e Slavit (1999), para quem, o sentido de número interage com o sentido
de operação, permitindo uma reflexão dos resultados.
Sobre a compreensão dos efeitos das operações, os estudos correlatos
de decimais, principalmente, os estudos franceses, apresentaram críticas ao ensino
da multiplicação de dois inteiros como adição reiterada, pois isso levava os alunos
a entenderem que a multiplicação poderia ser realizada como uma soma de
parcelas iguais, apresentando sempre um resultado maior. Esse tipo de
generalização arbitrária gerou obstáculos para o ensino da multiplicação dos
decimais, e essa ideia, no campo dos decimais, não fazia sentido, pois o aluno
cometia certos erros. Por exemplo, numa situação de 2,3 x 2 = 2,3 + 2,3, a adição
reiterada faz sentido; mas ao multiplicar 2,3 x 2,3 o aluno não conseguia aplicar a
mesma regra da adição, com isso chegava a resultados errôneos do tipo 2,3 x 2,3
= 4,9.
A exploração abusiva desse modelo de multiplicação dos naturais
continua a causar dificuldades para os alunos com os decimais. Roditi (2001)
mostra que, em algumas situações, como na multiplicação de dois naturais, ou de
um decimal por um natural, o método funciona. Porém, na multiplicação de dois
decimais, os alunos não conseguem aplicá-lo ou o aplicam de forma errada.
Também Brousseau (1981, p. 171) comenta esse tipo de situação, na operação do
tipo 3,25m x 4, o aluno busca apoio nos conhecimentos prévios que tem dos
naturais, mas, na situação contrária, 4m x 3,25, o produto não pode ser utilizado
com base na ideia do produto dos naturais. Para Brousseau (1981), são essas
situações que vão provocar os obstáculos de aprendizagem relacionados aos
87
números naturais. Nos estudos de Bell et al. (1981), Hiebert e Wearne (1988), esse
tipo de dificuldades é tratado como “misconception” dos alunos.
Para Mcintosh et al. (1992), a utilização de certos modelos não pode ser
generalizada e que modelos diferentes devem ser explorados para que o aluno
possa ter habilidades com eles e possa escolher o modelo que mais se adapta a
uma situação em particular. A generalização de certos modelos induz ao erro, além
de provocar obstáculos de aprendizagem.
Sobre a
compreensão
dos componentes e
das propriedades
matemáticas, entendemos a necessidade de os alunos conhecerem não somente
as propriedades das operações, mas também a justificação das regras dessas
operações. Em virtude disso, os estudos sobre decimais apontaram muita
dificuldade dos alunos no desenvolvimento das operações com os decimais,
principalmente no posicionamento da vírgula, e que esse tipo de erro está
intimamente ligado à falta de compreensão do sentido do número decimal, o que
também mostra a incompreensão das justificativas para as regras das operações
com decimais, pois entendemos que se tais justificativas fossem compreendidas
pelos alunos esses erros seriam amenizados ou evitados.
Essa exploração das propriedades como forma de compreender as
operações é apresentada no estudo de Mendes (2012), e serviu para facilitar a
aprendizagem das operações e suas diferenças, principalmente em relação aos
números decimais. A autora defende a importância de se explorar as diversas
estratégias de resolução tanto das operações, como da resolução de problemas,
apresentadas pelos alunos no campo dos racionais.
Para Ribeiro (2009, p.18), uma das grandes dificuldades dos alunos é a
de perceberem por que motivo, ao multiplicarem duas determinadas quantidades
de décimos, obterão determinada quantidade de centésimos, ou seja, por que
motivo, ao multiplicarem décimos por décimos, utilizando o algoritmo, têm de
considerar duas e não apenas uma casa decimal (similarmente adição e a
subtração). Tal dificuldade só pode ser amenizada com a justificação da regra por
meio das operações com as frações decimais, no entanto, dificilmente os livros
didáticos e os professores apresentam a justificação dessas regras. De tal forma
que essas regras aparecem como num “passe de mágica”, em que os alunos
precisam apenas memorizá-las sem compreendê-las e, consequentemente,
surgem os obstáculos didáticos. Assim, tal como Slavit (1999), entendemos que a
88
compreensão de uma operação implica a capacidade de raciocinar sobre os efeitos
da operação nos números.
De todas as operações aritméticas, a multiplicação e divisão são as que
mais apresentam dificuldades para os alunos, seja no campo dos naturais ou dos
decimais. Essas dificuldades em multiplicar e dividir foram investigadas em diversos
estudos, dentre eles, os estudos de Vergnaud (2009a, p.190), segundo o qual a
divisão é uma operação complexa. Há para isso várias razões, algumas de ordem
conceitual, outras ligadas à complexidade das regras operatórias implicadas pela
divisão. Para o autor, no plano das regras operatórias propriamente ditas, a divisão
evidentemente é a mais complexa das quatro operações porque implica, ao mesmo
tempo, a subtração, a multiplicação e a busca por tateio ou enquadramento dos
algarismos do quociente. O autor ressalva que não é surpreendente que inúmeras
crianças não a dominem ao final do ensino elementar.
Com relação à multiplicação e à divisão dos decimais, essa dificuldade
não é diferente, pelo contrário, se mostra mais complexa. Vergnaud (2009a, p.190)
coloca que a divisão com números com vírgula parece fora do alcance da maioria
das crianças de 10 a 11 anos e que, na multiplicação, se a vírgula estiver no
multiplicando, não existe problemas; entretanto, se a vírgula estiver no
multiplicador, as dificuldades aparecem por duas razões fundamentais:
 Multiplicar um número com vírgula, um número de vezes que não seja
inteiro, supõe um problema bem complexo para uma criança;
 A regra operatória da multiplicação por um número com vírgula supõe
um encadeamento de transformações multiplicativas que não são
necessariamente bem compreendidas pela criança, mesmo ao final do
ensino elementar.
Behr e Post (1988, p.61), destacam a importância de se utilizar as
frações decimais para o ensino dos decimais, pois ao adicionarmos os decimais,
geralmente, não interpretamos cada decimal como uma fração. É importante
fazermos isso inicialmente, para comunicarmos às crianças que os decimais não
são um conceito totalmente novo, mas sim uma extensão de ideias já encontradas.
Para estes autores, o que é importante nessa discussão é a interação sutil entre o
conceito de valor posicional derivado do trabalho com números inteiros e vários
entendimentos de fração. Se feita de forma eficaz, essa interação apoia o
desenvolvimento de uma nova ideia e seu sistema simbólico associado.
89
Behr e Post (1988, p.61), colocam que o ensino de adição e multiplicação
ensinado por meio das frações decimais pode ajudar na compreensão dessas
operações e, posteriormente, na generalização das regras. Para os autores, ao
utilizarmos as frações decimais para o ensino da multiplicação, os alunos
aprenderiam a desenvolver o algoritmo da multiplicação, em vez de simplesmente
memorizar um procedimento que eles não entendem.
Sobre a operação de divisão, Behr e Post (1988, p.65) colocam que a
divisão por casas decimais tem sido uma área de dificuldade para os alunos. Sendo
assim, é importante que a compreensão dos significados de divisão e de divisão
por um número decimal seja desenvolvida antes de qualquer algoritmo introduzido.
Os autores referem-se aos dois tipos de divisão que devem ser levados em
consideração no momento de ensinar aos alunos a divisão como partição e a
divisão como cotação.
Ao dividir o número inteiro por um decimal, a interpretação partitiva tende
a ser um pouco mais complicada. Usando o exemplo 3/0.5, a interpretação partitiva
implicaria 0,5 de um grupo ou sugeriria que 3 é 0,5 de um grupo. Esse é um conceito
bastante difícil, especialmente, se o divisor fosse um número mais complicado do
que 0,5. O outro tipo de divisão, a medição ou interpretação cotativa, é mais útil
porque, no exemplo 3/0,5, nos é pedido para fazermos grupos de tamanho 0,5. Isso
pode ser feito usando uma variedade de materiais manipuláveis, inclusive de base
dez, como blocos e peças de fração ou de varetas Cuisenaire. (BEHR e POST,
1988, p. 66).
A respeito disso, McIntosh et al. (1992, p.8) aduzem que a compreensão
de uma operação aumenta principalmente quando passamos das operações com
números inteiros para os racionais. Então, podemos inferir que o domínio das
operações em um certo campo numérico resultará na compreensão ou até mesmo
na ampliação do sentido das operações em outro campo numérico. Os estudos
sobre decimais apontaram que os alunos cometiam erros ao operacionalizarem
com os decimais, ao analisarmos tais erros, vimos que se relacionavam às
operações dos naturais, ou seja, os alunos erravam ao desenvolverem o algoritmo
das operações com naturais.
90
3.3 A ESTRUTURA SEMÂNTICA DOS PROBLEMAS ARITMÉTICOS
Existe um grande número de pesquisas desenvolvidas que discutem
sobre a estrutura semântica de problemas aritméticos, tais como as de Nunes e
Bryant (1997), Vergnaud (2009), Nunes et al. (2005), Sá (2003), Damm (2003),
Valentin e Sam (2004), Greer (1992), e sobre as dificuldades dos alunos na
compreensão desses problemas, seja no campo aditivo ou multiplicativo. Essas
pesquisas promovem discussões acerca da estrutura linguística dos problemas
aritméticos e as diferenças entre os diversos tipos de problemas, que necessitam
de diferentes estratégias para sua resolução, além de apontarem as dificuldades
que cada categoria de problema pode apresentar.
Entretanto, o que temos observado ao longo dos anos é que essas
diferenças entre os problemas não são levadas em consideração na prática escolar,
pois o ensino da resolução de problema é desenvolvido com ênfase na utilização
de palavras-chave, que funcionam como “pistas” ou “dicas” que os alunos devem
levar em conta para resolverem os problemas. Tal prática tem o inconveniente de
priorizar automatismos e não contribuir para o desenvolvimento do raciocino lógico
necessário para a resolução dos problemas, pois o aluno, ao se deparar com outro
tipo de problema em que essas “pistas” ou “dicas” não aparecem claramente ou
que não indicam a operação correta, é conduzido ao erro. Essa opção de ensino,
além de não propiciar a compreensão do problema, não leva em consideração que
existem vários tipos problemas e que o raciocínio lógico, que serve para resolver
um problema, pode não servir para resolver outro tipo de problema.
Ao se iniciar o trabalho com a resolução de problemas aritméticos
aditivos, principalmente nas séries iniciais, são apresentadas às crianças as ideias
de juntar, ganhar etc., para se construir o conceito de adição; e as ideias de retirar,
perder, dar etc., para se construir o conceito de subtração. A partir da construção
de tais ideias, essas palavras, ganhar, juntar, perder, retirar, etc., são usadas para
indicar uma adição ou uma subtração, respectivamente, e servem de “pistas” para
que as crianças possam identificar a operação a ser utilizada na resolução dos
problemas. No caso dos problemas multiplicativos, as palavras ou expressões
quantas vezes, repartir, distribuir, são usadas nos problemas que envolvem
multiplicação e divisão respectivamente. Algumas vezes, essas palavras
91
indicadoras da operação a ser usada acabam por levar o aluno ao erro na escolha
da operação, pois outras questões são deixadas de lado ou passam despercebidas
pelo professor na escolha dos problemas. Logo, a palavra-chave pode ter um papel
fundamental na tradução de um problema, contudo, ela só pode funcionar
corretamente se a compreensão do enunciado do problema se realiza de forma
global e não local.
Valentin e Sam (2004, p.2), ao se referirem às dificuldades dos alunos
em resolver problemas aritméticos, colocam duas questões que implicam essa
dificuldade: o conhecimento linguístico e a estrutura semântica. Os autores colocam
que a estrutura semântica do problema influencia nos processos de solução, pois
os alunos interagem de forma diferente ante problemas de diferentes estruturas
semânticas. Os autores destacam que, na resolução de problemas, o resolvedor
usa dois caminhos distintos para compreender um texto; um aluno que usa a
abordagem de tradução direta baseia sua solução em palavras-chave; enquanto
aquele que usa um modelo de abordagem do problema tem uma rica representação
em que baseia o plano de solução. Independentemente de qual caminho é
escolhido, a tarefa de compreender o problema é a mais crítica e representa o limiar
de soluções de sucesso. Para Valetin e Sam (2004), a representação mental dos
problemas é formada a partir de compreenção das diferentes relações de
quantidades postas no problema, o que é a base da escolha da operação.
Valentin e Sam (2004, p. 10), ao analisarem as respostas dos alunos,
nos problemas aritméticos aditivos e multiplicativos, observaram que os alunos
apresentaram mais facilidade nos probelmas aditivos do que nos multiplicativos. Os
autores também perceberam uma forte tendência dos alunos para selecionar a
operação de adição quando não conseguiam identificar a operação correta.
Também identificaram que as respostas corretas mostraram três modelos intuitivos
emergindo de problemas de multiplicação (contagem direta, adição repetida,
operação multiplicativa) e quatro, dos problemas de divisão (contagem direta,
adição repetida, subtração repetida, a operação multiplicativa). Sendo que os
problemas de divisão do tipo partição foram os mais conhecidos entre os alunos, e
os problemas do tipo cotação estavam entre os menos populares.
Nos estudos que discutem sobre resolução de problemas, seus autores
defendem que a compreensão da estrutura semântica dos problemas, assim como
a modelagem da situação que os representa, possibilita aos alunos uma melhor
92
habilidade para resolver problema aritméticos. Desse modo, compreender as
diferenças entre os vários tipos de problema é fundamental para o sucesso em sua
resolução, visto que a dificuldade de um problema é determinada não apenas pela
situação, mas também pelas operações de pensamento que são realizadas para a
sua resolução. Como exemplo, os problemas abaixo:
Paulo tinha 7 bolinhas de gude antes de jogar. Ganhou 4 bolinhas no
jogo. Quantas bolinhas tem agora?
Paulo tinha 7 bolinhas de gude antes de jogar. Perdeu 4 bolinhas no
jogo. Quantas bolinhas tem agora?
Tais problemas são apontados por alguns dos estudos supracitados
como sendo fáceis para as crianças e que não apresentam dificuldade em sua
resolução, por serem problemas diretos, nos quais as operações necessárias para
resolvê-los aparecem expressas de forma clara no enunciado. Contudo, ao se
depararem com problemas que exigem outro tipo de raciocínio e com palavras
como ganhou ou perdeu que não representam necessariamente uma adição ou
uma subtração, os alunos são levados ao erro. Nesse tipo de problema é exigida a
utilização da operação inversa para sua resolução. Tomemos como exemplo o
problema a seguir.
Paulo tinha algumas bolinhas de gude. Ganhou 4 bolinhas no jogo e
agora possui 10 bolinhas. Quantas bolinhas tinha antes do jogo?
Nesse tipo de problema, os alunos tendem a pensar que devem fazer
uma adição, por causa da palavra “ganhou”, entretanto, o problema exige na sua
solução uma subtração. Problemas como esse apresentam dificuldades para os
alunos compreenderem o enunciado e seu significado. No enunciado a quantidade
inicial não é indicada, porém, na interpretação desse tipo de problema, os alunos,
em geral, compreendem que o que se pede é o total, e dessa forma adicionam os
dados do problema, não percebendo que é preciso trabalhar com a ideia da
operação inversa. Problemas como esses, nos quais as palavras não indicam a
operação a ser utilizada, e é necessário utilizar a operação inversa para resolvêlos, foram classificados por Nunes et al. (2005) em problemas inversos porque a
situação descrita envolve um esquema de ação, mas a solução exige a aplicação
de um esquema inverso.
Outro tipo de problema que foi apontado como difícil para os alunos são
os que apresentam a ideia de comparação entre duas medidas estáticas.
93
Paulo tem 8 bolinhas de gude. Tiago tem 4 bolinhas. Quantas bolinhas
Paulo tem a mais que Tiago?
Os estudos de Nunes e Bryant (1997), Vergnaud (2009a), Nunes et al.
(2005), Valentin e Sam (2004) apontaram esses problemas como de difícil
resolução para os alunos. Estão entre aqueles que podem levar o aluno à
compreensão de que se trata de um problema de adição, por causa do indicativo
“a mais”, porém, a solução do problema exige uma subtração. Nesse tipo de
problema, o aluno tende a apresentar dificuldade em quantificar uma comparação.
Acredita-se que essa dificuldade seja explicada pelas concepções que os alunos
possam ter de adição e de subtração, visto que indicam mudança de quantidade.
Como os problemas que apresentam uma comparação não indicam tais mudanças,
os alunos sentem dificuldade em raciocinar sobre eles.
De forma geral, não percebemos nos livros didáticos um cuidado
especial em mostrar diferentes categorias de problemas nem em apresentar
diferentes soluções. Os problemas nos livros didáticos aparecem como se todos
eles fossem homogêneos e sua resolução fosse a mesma. Entretanto, percebemos
que os alunos apresentam dificuldade em resolver certos problemas, mais do que
outros. Segundo Vasconcelos (1998, p. 55), os livros didáticos e as práticas
escolares tendem a classificar os problemas aditivos naqueles que envolvem
adição e naqueles que envolvem subtração, não distinguindo classes ou categorias
de problemas segundo uma estrutura semântica, lógica ou sintática. O mesmo se
observa para os do tipo multiplicativo. Desse ponto de vista, os problemas passam
a ser homogêneos, como se todos pudessem ser resolvidos da mesma forma e
com a utilização do mesmo raciocínio lógico matemático.
3.3.1 Os campos conceituais aditivo e multiplicativo
Vergnaud (1990), ao desenvolver a teoria dos campos conceituais,
destaca a necessidade de considerar o desenvolvimento, a longo prazo, das
concepções e competências dos alunos, caracterizado por continuidades e
descontinuidades; assim como as emergências a curto prazo (por descoberta,
invenção ou aprendizagem) de novas concepções e competências quando
94
confrontados por novas situações. Segundo Vergnaud (1990, p.7), campo
conceitual é um conjunto de problemas e situações cujo tratamento requer
conceitos, procedimentos e representações de tipos diferentes, mas intimamente
relacionados. Assim sendo, o conhecimento está constituído de campos
conceituais cujo domínio por parte do sujeito ocorre ao longo do período de tempo,
através de experiência, maturidade e aprendizagem. A teoria dos campos
conceituais fornece um quadro para compreender o desenvolvimento progressivo
de saberes e saber-fazer no interior de um vasto conjunto de situações de
diferentes níveis e competências. Para Levain e Vergnaud (1995, p. 57) a teoria
dos campos conceituais permite categorizar as diferentes situações, analisar os
procedimentos utilizados pelos alunos e compreender erros, assim como estuda as
principais representações simbólicas utilizadas pelos alunos.
Vergnaud (1990), nos estudos referentes à teoria dos campos
conceituais, se concentra em trabalhar em especial com dois campos conceituais:
o das estruturas aditivas e o das estruturas multiplicativas. Apesar de as estruturas
aditivas terem alguma relação com as estruturas multiplicativas, Vergnaud (1990,
p. 7) destaca uma organização intrínseca própria das estruturas multiplicativas, não
redutível aos aspectos aditivos. Assim, considera as especificidades nos problemas
cognitivos levantados pelas estruturas aditivas, bem como nos levantados pelas
estruturas multiplicativas, permitindo o estudo separado desses dois campos
conceituais. A partir das especificidades próprias de cada estrutura, ele apresenta
uma classificação para vários problemas segundo sua estrutura semântica. Essa
classificação mostra as diferenças entre os diversos tipos de problemas e a
complexidade que eles apresentam, assim como as estratégias necessárias para a
sua solução.
Para Vergnaud (1990, p.8), o campo conceitual das estruturas aditivas é
o conjunto das situações cujo tratamento implica uma ou várias adições, ou
subtrações, e o conjunto de conceitos e teoremas que permite analisar essas
situações como tarefas matemáticas. Desse modo, são elementos constitutivos das
estruturas aditivas: o conceito de cardinal e de medidas, de transformação temporal
por aumento ou diminuição, de relação de comparação quantificada, de
composição binária de operação unitária, de inversão, de número natural, de
número relativo, e de abscissa.
95
O autor coloca que o campo conceitual das estruturas multiplicativas
consiste de todas as situações cujo tratamento implica uma ou várias multiplicações
ou divisões, e o conjunto de conceitos e teoremas que permitem analisar essas
situações: proporção simples e múltipla, função linear e não linear razão escalar
direta e inversa, quociente e produto de dimensões combinação linear e aplicação
linear, fração, razão, número racional, múltiplos e divisores (VERGNAUD, 1990,
p.9).
Também Nunes et al. (2005) trazem discussões sobre as diferenças
entre as estruturas aditivas e multiplicativas. Esses autores destacam que o
raciocínio aditivo baseia-se na coordenação de três esquemas de ação: juntar,
separar e colocar em correspondência um a um. Dessa forma, o raciocínio aditivo
refere-se a situações que podem ser analisadas a partir de um axioma básico: o
todo é igual à soma das partes. Se queremos saber o valor do todo, somamos as
partes; se queremos saber o valor de uma parte, subtraímos a outra parte do todo;
se queremos comparar duas quantidades, analisamos que parte da maior
quantidade sobra se retiramos dela uma certa quantidade determinada. Por essa
razão, diz-se que o invariante conceitual do raciocínio aditivo é a relação parte-todo.
Por conseguinte, os autores destacam que o conceito primitivo de
multiplicação baseia-se na ideia de adição repetida de parcelas iguais. Entretanto,
do ponto de vista conceitual, existe uma diferença significativa entre adição e
multiplicação. O invariante conceitual do raciocínio multiplicativo é a existência de
uma relação fixa entre duas variáveis (ou duas grandezas ou quantidades). Nos
problemas de raciocínio multiplicativo, busca-se um valor, uma variável que
corresponda a um valor dado na outra variável. A relação constante entre as duas
variáveis é que possibilita a dedução na resolução de problema de raciocínio
multiplicativo. Nos problemas de raciocínio multiplicativo, aparecem dois esquemas
de ação: a correspondência um a muitos e a distribuição equitativa. (NUNES et al.,
2005, p.85).
96
3.3.1.1
Problemas aritméticos das estruturas aditivas
Vergnaud (2009a, p. 200) classifica os problemas envolvidos na
estrutura aditiva em seis grandes categorias. Essas categorias mostram que
existem vários tipos de adições e subtrações e que essas diferenças não são feitas
no ensino básico. As relações aditivas são relações ternárias que podem ser
encadeadas de diversas maneiras e resultar em uma grande variedade de
estruturas aditivas.
Utilizamos para exemplificar cada categoria alguns problemas propostos
por Vergnaud (2009a, p.202).
1ª categoria – Composição de medidas: duas medidas de mesma
natureza se compõem para resultar em uma medida. Essa categoria envolve
situações que envolvem parte e todo. Como exemplo, temos: Paulo tem 6 bolinhas
de gude de vidro e 6 bolinhas de gude de metal. Quantas bolinhas ele tem? A
sentença que modela o problema é a + b = ? (onde c é total procurado).
Figura 5- Composições de medidas
Fonte: Vergnaud (1976).
2ª categoria - Uma transformação de medidas: uma transformação se
opera sobre uma medida para resultar em outra medida. Nessa categoria de
problemas, a ideia temporal está sempre envolvida, isto é, no estado inicial, há uma
quantidade que se transforma (com perda/ganho, acréscimo/decréscimo etc.),
chegando ao estado final com outra quantidade. Como exemplo, temos: Paulo tinha
algumas bolinhas de gude antes de jogar. Ganhou 4 bolinhas. Ele agora tem 11. A
sentença que modela o problema é ? + b = c (a é parte procurada).
97
Figura 6- Transformações de medidas
Fonte: Vergnaud (1976).
3ª categoria – Comparação: uma relação (quantificada) liga duas
medidas: esse tipo de problema apresenta uma reciprocidade das relações
quantificadas “n mais que” e “n menos que”. Como exemplo: Paulo tem 8 bolinhas
de gude. Tiago tem 5 menos que Paulo. Quantas bolinhas tem Tiago?
Figura 7- Comparação de medidas
Fonte: Vergnaud (1990).
4ª categoria – Transformação de transformação: duas transformações
se compõem para resultar em uma outra transformação. Como exemplo: Paulo
ganho ontem 6 bolinhas de gude e hoje perdeu 9 bolinhas. Quantas bolinhas ele
perdeu?
Figura 8- Transformações de transformação
Fonte: Vergnaud (1976).
5ª categoria - Uma transformação opera sobre um estado relativo para
resultar em um estado relativo. Como exemplo: Paulo devia 6 bolinhas de gude
para Henrique. Ele devolveu 4. Quantas bolinhas ele deve agora?
98
Figura 9- Transformações de um estado
Fonte: Vergnaud (1976).
6ª categoria - Dois estados relativos se compõem para resultar em um
estado relativo. Como exemplo, temos: Paulo deve 6 bolinhas de gude a Henrique,
mas Henrique lhe deve 4. Quantas bolinhas Paulo deve a Henrique?
Figura 10- Composições de dois estados relativos
Fonte: Vergnaud (1976).
Vergnaud (2009a), ao realizar a diferenciação das classes dos
problemas, define a complexidade e dificuldade de cada classe de problemas e
destaca as dificuldades encontradas pelos alunos ao resolverem problemas das
duas últimas categorias, entretanto, aponta que a quarta categoria se mostra como
a que apresenta maior dificuldade para os alunos.
Também Nunes e Bryant (1997) apontam as diferentes concepções que
o conceito das operações de adição e subtração podem assumir para cada tipo
problema aditivo. Os autores destacam que nas situações de transformação (em
que coisas são somadas ou retiradas), parte todo e comparação, essas operações
assumem conceitos diferentes, e que algumas se mostram mais difíceis que outras.
Em situações de parte todo, os números se referem a conjuntos de objetos, não há
transformação para qualquer quantidade. Diferentemente dos problemas de
transformações, em que a quantidade inicial sofre uma modificação. Como mostra
os problemas a seguir:
(1)
Joe tinha cinco bolinhas de gude. Tom lhe deu algumas
bolinhas de gude. Agora Joe possui 8 bolinhas. Quantas bolinhas Tom
deu para Joe?
99
(2)
Joe tinha algumas bolinhas de gude. Tom lhe deu mais 5
bolinhas. Agora Joe tem 8 bolinhas. Quantas bolinhas Joe tinha no
começo?
Os
problemas
de
transformação
em que
o
transformador
é
desconhecido, problema (1) ou que o início do problema é desconhecido, problema
(2) requerem operações de pensamento diferentes antes que a operação aritmética
possa ser determinada. Uma das estratégias de resolução para esses problemas
está relacionada com a capacidade das operações de pensamento desenvolvida
pelas crianças. No problema (1), a compreensão de uma invariável da
adição/subtração, a relação de inverso; no problema (2), uma invariável da adição,
a comutatividade. Para os autores, a análise das invariáveis permite prever que
problemas de transformação são mais difíceis do que problemas de transformação,
nos quais a abordagem direta da situação conduz à solução correta, mesmo
quando a soma que as crianças precisam fazer é basicamente a mesma. Em vista
disso, os autores inferem que a necessidade de efetuar uma operação de
pensamento com base na propriedade inversa da adição e subtração aumentou
significantemente a dificuldade dos problemas.
Outro tipo de problemas que os autores discutem são os de comparação,
uma situação de comparação envolve dois conjuntos e uma relação estática. Um
problema de comparação pode, portanto, ter uma relação estática ou quaisquer dos
conjuntos como a incógnita. Nas situações de comparação, os problemas são muito
diferentes dependendo de qual dos subconjuntos é o desconhecido. Em uma
situação de comparação, um dos conjuntos funciona como referente da
comparação, quando esse referente é o desconhecido, o problema tende a ser mais
difícil. Nunes e Bryant (1997) apontam dois tipos diferentes de problemas de
comparação. No problema (3), temos uma situação de comparação no qual o
referente é desconhecido e no problema (4), temos uma situação de comparação,
no qual o referente é conhecido.
(3)
Joe tem 8 bolinhas de gude. Ele tem 5 a mais que Tom. Quantas
bolinhas tem Tom?
(4)
Joe tem 3 bolinhas de gude. Tom tem 5 bolinhas de gude a mais
que Joe. Quantas bolinhas tem Tom?
As situações de comparação, de uma forma geral, são mais difíceis
porque nada é somado ou retirado da situação. As conexões entre a situação e a
100
operação sobre objetos simbólicos que conduzem à resolução do problema não
são tão evidentes. Para Nunes e Bryant (1997, p. 133), os erros e as dificuldades
dos alunos nos problemas de comparação estão relacionados aos conceitos de
adição e subtração que as crianças desenvolvem no início da escolarização. Esses
conceitos estão relacionados a unir ou separar os elementos de um conjunto, o que
não é facilmente conectado ao sentido de número como medida de uma relação
estática. Tanto nos estudos de Nunes e Bryant (1997) como nos de Nunes et al.
(2005), está posto que os problemas de comparação de medidas estáticas podem
ser transformados em problemas de transformação, em que a criança é levada a
pensar em uma transformação que conecta duas medidas estáticas, de tal forma
que o problema passa a ter mais significado para criança.
Outro estudo que discute os problemas aditivos, é de Slavit (1999), que
discute a transição do pensamento aritmético para o algébrico. O autor apresenta
uma ideia do sentido da operação com base na análise da compreensão da
aritmética, em conexão com o desenvolvimento da compreensão algébrica. Nesse
sentido, ele utiliza o sentido de operação para discutir a compreensão algébrica, e
alega que isso é necessário para a discussão de operações matemáticas em geral;
para explorar os entendimentos de adição; para a compreensão de como as
competências iniciais das crianças em aritmética podem ser vistas como raízes
para as formas do pensamento algébrico.
Para Slavit (1999, p.10), a exploração das propriedades e a relação com
outras operações são importantes para a resolução de problemas. O autor destaca,
por exemplo, a comutatividade que pode ser usada para alterar uma tarefa aditiva
de termo desconhecido (_+ b = c) para uma tarefa mais fácil (b+_= c). A
reversibilidade, ou inversa, pode permitir que a mesma tarefa seja transformada em
uma tarefa de subtração (c - b =_). Para o autor, não só essas ações levam a
comportamentos de resolução de problemas avançados, mas, a partir da
perspectiva do sentido da operação, essas ações mostram raízes do pensamento
algébrico em duas dimensões. Em primeiro lugar, a compreensão das propriedades
da adição é usada para obter um sentido mais geral da operação, como um objeto
que possui várias propriedades, levando a uma visão mais generalizada da
computação. Em segundo lugar, esses comportamentos de resolução de
problemas, eventualmente, envolvem atos de computação que são independentes
101
de valores de entrada específicos. Essas duas dimensões ilustram que crianças
pequenas conseguem dominar situações algébricas nas tarefas aritméticas.
Também Damm (2003, p. 35) aponta discussões sobre os problemas
aditivos, pois esses descrevem nos enunciados, em geral, uma situação social ou
econômica muito simples (jogo de bola, compra, deslocamento) e a resolução pede
somente a utilização das operações de adição e subtração. A autora distingue dois
planos para os problemas aditivos:
 A existência de uma ou duas operações de adição e subtração sobre
os números dados no enunciado. Sempre que propomos um problema
aditivo, acreditamos que os alunos sabem adicionar e subtrair os
números propostos;
 O plano da representação da redação do texto. O enunciado indica
uma situação na qual os números dados assumem um valor informativo
de ganho, perda, diferença, preço etc.
Levando em consideração esses dois planos, a autora apresenta dois
fenômenos que devem ser levados em consideração nas tarefas de resolução de
problemas. O primeiro, se refere à operação realizada que pode se referir a
diferentes enunciados de problemas, e que pode ser evocada no texto por diversas
situações extra matemáticas (jogo, compra, venda etc.); o segundo, se refere à
conversão entre dois registros de representação que o enunciado do problema
pode exigir, isto é, que o aluno seja capaz de passar do texto à escrita da operação
aditiva a ser efetuada.
Para efetuar uma conversão é necessário:
 Selecionar, no enunciado, os dados pertinentes para a resolução: os
números indicados;
 Organizar esses dados de tal forma que a operação matemática a ser
efetuada se torne evidente.
Sobre as dificuldades na resolução dos problemas aditivos, Damm
(2003) coloca que:
As dificuldades não são referentes aos aspectos numéricos e
pragmáticos, mas se encontram na compreensão da ordem temporal,
indicadas no enunciado e no sentido dos verbos portadores de
informações numéricas e sobre os quais se encontram prioritariamente as
dificuldades. (DAMM, 2003, p. 37)
102
Na conversão do enunciado do problema para a escrita do tratamento
aritmético, devem ser analisados os dados que servirão para fazer a conversão de
registro. Nos dois registros de representação dos problemas aditivos, é importante
distinguir o tratamento aditivo e a organização redacional.
O tratamento aditivo é constituído por um conjunto de números, e cada
um deles pode ser encontrado por meio de uma operação de adição ou subtração.
A organização redacional do enunciado do problema aditivo, segundo Damm (2003,
p.40), comporta três tipos de dados:
 Os dados referentes à situação extra matemática descrita;
 Os dados que determinam o valor operatório dos números e que dão
a esses números um valor de estado ou de transformação. Esses
valores operatórios são atribuídos pelos verbos, que, no enunciado,
são portadores de informações numéricas;
 Os dados concernentes às relações entre os dados operatórios.
Para a autora, esses dados são importantes para extrair os critérios aos
quais a representação deve corresponder, para permitir a seleção e a organização
dos dados pertinentes. A partir da extração e análise desses dados o problema
poderá ser representado ou modelado de forma aritmética. Damm (2003, p.41)
ressalta que o ponto importante nesse tratamento aditivo do enunciado do problema
é a escolha da operação de “+” ou “–“, e que a dificuldade dessa escolha vai
depender do caráter congruente ou não congruente do problema.
Damm (2003, p.41), com base nos estudos de representação semiótica
de Durval (2003), aponta três fatores determinantes para que os problemas sejam
congruentes ou não congruentes:
 A necessidade ou não de se efetuar uma inversão em relação ao dado
final;
 A polarização dos verbos que possuem um valor operatório de
transformação. Existe uma correspondência direta entre o sentido do
verbo e a operação (ganhar é “+”, perder é “–“ );
 Presença ou ausência de verbos antônimos no enunciado
(ganhar/perder) o que reforça a não congruência.
Nesse sentido, a autora define que um problema aditivo é estritamente
congruente, quando, de um lado, existe a correspondência e, do outro, não exige a
103
inversão e não exige a presença de verbos antônimos no enunciado. Nas atividades
de conversão de registro, na resolução de problemas, nos quais é realizada a
passagem da língua natural para uma representação numérica, podem aparecer as
variações de congruência e de não congruência.
As variações de congruência e não congruência são expostas por Durval
(2003, 2009), ao tratar das conversões de representações e mudanças de registro.
Conforme Durval (2009, p. 58), “converter é transformar a representação de um
objeto, de uma situação ou de uma informação dada num registro em uma
representação desse mesmo objeto, dessa mesma situação ou da mesma
informação num outro registro.” Para o autor, o que se designa pelos termos de
tradução, ilustração, transposição, Interpretação, codificação etc. são operações de
uma representação de registro que corresponde a outra representação em outro
registro. A conversão é uma transformação externa em relação ao registro da
representação de partida. Durval (2009, p. 59) chama atenção para a importância
de se perceber a diferença entre o conteúdo da representação e aquilo que ele
representa, pois, sem essa percepção, a atividade de conversão torna-se
impossível ou incompreensível.
No caso da adição de decimais e das frações decimais, por mais que os
alunos saibam calculá-la, costumam fracassar ao tentarem converter a escritura
decimal na fracionária (e vice-versa) quando isso se torna necessário no cálculo,
afinal, a representação decimal, fracionária ou a escrita com expoente constituem
três registros diferentes de representação numérica. Na escritura de um número, é
importante distinguir a significação operatória fixada no significante e o número
representado. Assim, a significação operatória 0,25; ¼ e 25.10-2 não é a mesma
porque os procedimentos de tratamento não são os mesmos para efetuar as
adições. Cada um desses significantes tem uma situação operatória diferente,
apesar de representarem o mesmo número.
0,25 + 0,25 = 0,5; ¼ + ¼ = ½ ; 25.10-2 + 25.10-2 = 50.10-2
Segundo esse preceito, para verificar se existe congruência ou não
congruência, basta analisarmos a atividade de conversão, ou seja, comparar a
representação do registro de partida com a representação final do registro de
chegada. Nesse caso, segundo Durval (2003, p.19), duas situações podem ocorrer,
ou a representação terminal transparece na representação de saída e a conversão
está próxima de uma situação de simples codificação, nesse caso, dizemos que há
104
congruência. Ou ela não transparece absolutamente, nesse caso, dizemos que
não há congruência.
Levando em conta o que foi exposto, a dificuldade na resolução de
problemas aritméticos, de forma geral, pode ser explicada pelo caráter congruente
ou não da conversão de um enunciado em um modelo que permita resolver o
problema. Isso porque as resoluções de problemas aditivos constituem um exemplo
de tarefa de conversão, pois trata-se de passar de um enunciado à escritura da
equação aritmética que modela o problema e dá a solução. De acordo com Durval
(2009), a ordem dessas dificuldades, regularmente observada entre as diferentes
categorias de problemas, corresponde muito exatamente ao que permite prever de
uma análise de congruência e não congruência. O autor aponta três fatores que
comandam a dificuldade de conversão do enunciado à escritura da equação
aritmética, e que dizem respeito à operação escolhida que será feita entre os dois
números do enunciado:
 Há
identidade,
ou
não
identidade,
entre
a
operação
semanticamente sugerida pelos verbos portadores de informação
numérica no enunciado e a operação aritmética a ser feita: ganha 3 = +
3, perde 3 = - 3;
 Os verbos do enunciado são portadores de informação numérica,
não são verbos antônimos, ou, ao contrário, trata-se desse tipo de verbo
(ganhar/perder, subir/descer). Nesse caso, não há univocidade
semântica terminal. (Perde) 3 + (ganha) 6 = ?;
 A ordem de apresentação dos dados numéricos no enunciado pode
ser conservada, ou, ao contrário, é preciso invertê-la partindo do dado
final. (Ganha) 8 ? (Ganha) 3 = ?.
Durval (2009, p.71) assinala que quando não há inversão, a ordem de
arrumação e de representação das unidades significantes pertinentes é a mesma
no enunciado e na equação aritmética, dando imediatamente a solução. Ele conclui
que quando há congruência, os problemas são mais rapidamente resolvidos pelos
alunos, todavia, quando a taxa de não congruência é máxima, os alunos têm muita
dificuldade em resolver os problemas. Em suma, as relações de congruência ou
não congruência influenciam na compreensão e representação dos problemas
aritméticos, de tal forma que os congruentes, por serem problemas diretos na sua
representação, tornam-se mais fácies para os alunos, ao contrário dos não
105
congruentes, cujas representações não são tão simples e exigem a utilização da
operação inversa para a sua solução.
3.3.1.2
Os problemas da estrutura multiplicativa
Para Levain e Vergnaud (1995, p.57), a complexidade e a diversidade
em relação ao domínio das relações multiplicativas podem ser representadas por
um conjunto de problemas complexos, sendo assim, a relação de multiplicação não
constitui uma relação binária, mas quaternária, que conduz a três classes de
estruturas diferentes no conjunto de situações das estruturas multiplicativas:
isomorfismo de medidas, produto de medidas e proporção múltipla.
Essa
classificação se apoia sobre a análise da estrutura matemática do problema, isto é,
das relações que envolve as questões e os diferentes dados do enunciado.
Conforme aduz Vergnaud (2009a, p.239), o isomorfismo de medidas
envolve uma relação quaternária, isto é, uma proporção simples entre duas
grandezas M1 e M2. Esses tipos de problemas também descrevem um grande
número de situações corriqueiras da vida, bem como de ordem técnica. Levain e
Vergnaud (1995, p.59) definem três grandes tipos de problemas em função do lugar
ocupado pelo valor desconhecido.
 Multiplicação: achar f(x);
 Divisão do tipo partição: achar f (1);
 Divisão do tipo cotação: achar x.
Essas classes de problemas elementares são representadas pelo
esquema da Figura 11.
Figura 11- problemas de Isomorfismos de medidas
Fonte: Levain e Vergnaud (1995).
106
Levain (1992), Levain e Vergnaud (1995) e Vergnaud (2009a), colocam
que estes problemas apresentam dificuldades muito distintas segundo os valores
numéricos. Para os autores, os alunos possuem menos dificuldade com este tipo
de problema quando os dados envolvem números inteiros do que com os números
decimais. Observa-se um maior grau de dificuldade com os números decimais,
dificuldades na multiplicação e na divisão por um decimal, sobretudo por um
decimal menor que 1. Em efeito, em relação aos números decimais, apesar da
comutatividade da multiplicação, o número decimal ao assumir o papel de
multiplicador ou de multiplicando oferecem dificuldades diferentes. Pois segundo
Levain (1992, p. 142) os alunos têm menos dificuldade em resolver um problema
de multiplicação onde é preciso multiplicar “0,6F por 18 lápis” (0,6 × 18), do que
quando se trata de multiplicar “43F por 0,7kg” (43 × 0,7).
Os problemas de multiplicação, como isomorfismo de medidas,
consistem numa relação quaternária na qual os alunos têm de extrair uma relação
terciária. Esse tipo de problema é exemplificado a seguir: Tenho três pacotes de
iogurte. Há 4 iogurtes em cada pacote. Quanto iogurte eu tenho? (VERGNAUD,
2009a p. 239). Em que a = 4 e b = 3, M1 = número de pacotes e M2 = número de
iogurtes.
Figura 12- Isomorfismo de medida para a multiplicação
Fonte: Vergnaud, 1988.
Para a resolução desse tipo de situação, Vergnaud (1988) considera a
existência de dois processos com caráter multiplicativo.
 No primeiro processo, o produto a × b, em que a e b são números e
não grandezas;
107
 No segundo processo, o produto a × b, em que a e b são grandezas.
Nesse último caso, temos dois procedimentos diferentes: o operador
escalar e o operador funcional.
Operador escalar: para Vergnaud (1988, p145.), os alunos recorrem ao
operador escalar quando aplicam um operador vertical (× b) dentro do mesmo
espaço de medidas (a × b = x). Nesse caso, trata-se de uma razão entre valores da
mesma grandeza e não possui dimensão.
Figura 13 - Operador escalar
Fonte: Vergnaud (1983).
Operador funcional: o autor considera que os alunos recorrem ao
operador funcional quando aplicam um operador horizontal (× a) entre diferentes
espaços de medida (b × a = x). Trata-se do coeficiente da função linear de M1 a M2,
cuja dimensão é o quociente de outras duas dimensões.
Figura 14 - Operador funcional
Fonte: Vergnaud (1983).
No caso da divisão, como isomorfismo de medida, temos dois casos:
divisão como partição e divisão como cotação.
O 1º tipo é a divisão como partição, cujo objetivo é encontrar o valor
unitário f(1), ou seja, o mesmo objetivo da divisão como partilha. Nesse tipo de
problema, precisamos encontrar o valor unitário, conhecendo o elo de
108
correspondência entre duas grandezas de naturezas diferentes. O problema a
seguir exemplifica a situação: Paguei R$12,00 por 3 garrafas de vinho. Quanto
custa cada garrafa? A sentença que modela este tipo de problema é a × ? = c (b é
a unidade desconhecida).
Figura 15 - Isomorfismo de medida para o 1º tipo de divisão
Fonte: Vergnaud (1983).
Segundo Vergnaud (2009b), esse tipo de situação pode ser resolvido por
aplicação da inversão de um operador escalar, ou seja, b = c ÷ a. Sendo assim, o
problema proposto pode ser resolvido por aplicação da inversão de um operador
escalar (÷ 3), que reproduz na coluna da direita o que se passa na esquerda. O
operador (÷ 3) é o inverso do operador (×3), que faz passar de uma garrafa para
três garrafas. O autor salienta o fato de alguns alunos optarem pelo procedimento
do fator em falta, ou seja, por tentativa e erro, tentam encontrar o fator cujo produto
por b é c, por terem dificuldades na compreensão da inversão do operador escalar.
Figura 16 - Inversão do operador escalar
Fonte: Vergnaud (1983).
O 2º tipo é a divisão como cotação, cujo objetivo é encontrar x,
conhecendo f(x) e f(1), ou seja, o mesmo objetivo da divisão como medida. Nesse
tipo de problema, o valor unitário é dado e é preciso encontrar o número de
unidades da primeira espécie correspondente a uma grandeza dada de outra
109
espécie. O problema a seguir exemplifica a situação: Pedro tem R$12,00. Ele quer
comprar pacotes de bala que custam R$4,00 o pacote. Quantos pacotes poderá
comprar? A modelação do problema é ? × b = x. (a é o número de unidades).
Figura 17 - Isomorfismo de medidas para o 2º tipo de divisão
Fonte: Vergnaud (1983).
Segundo o autor, essa situação é geralmente resolvida por inversão do
operador funcional, ou seja, c ÷ b. Salienta a dificuldade desse procedimento, não
só por implicar a inversão do operador funcional, mas também o raciocínio em
termos de quocientes inversos das grandezas. Justifica, assim, o fato de os alunos
preferirem descobrir “quantas vezes b cabe em c”, aplicando o operador escalar em
M1, procedimento que ocorre, principalmente, em situações que envolvem números
inteiros grandes. Na resolução desse tipo de situação também surgem
procedimentos aditivos, quando os alunos adicionam b até chegarem a c, seguindose a contagem do número de vezes que adicionaram b.
Figura 18 - Inversão do operador funcional
Fonte: Vergnaud (1983).
A outra classe de problemas é o produto de medidas, que envolve uma
relação ternária entre três quantidades, isto é, a composição de dois espaços de
medidas em relação a uma terceira medida, tanto no plano numérico como no plano
dimensional. Para Levain e Vergnaud (1995, p.60), essa estrutura envolve a
110
composição cartesiana de dois espaços de M1 e M2 e uma terceira medida M3 (área,
volume, combinatória, produto cartesiano). É importante destacarmos que o
isomorfismo de medidas e o produto de medidas incluem diferentes tipos de
multiplicação e divisão, os quais diferem em grau de complexidade. Para o produto
de medidas somente existe dois tipos de problemas.
 Multiplicação: são dadas duas medidas elementares e se pede o
produto dessas medidas. Ou seja achar f (x1, x2) conhecendo-se x1 e x2.
Exemplo deste tipo de problema de Multiplicação: Qual é a área de um
quarto retangular que tem 6,5 m de comprimento e 4 m de largura?
 Divisão: encontrar as medidas elementares, conhecendo-se uma
delas e a medida produto. Ou seja, achar x1, conhecendo-se x2 e f (x1,
x 2). Exemplo deste tipo de problema de Divisão: Um retângulo tem uma
superfície de 18,66m2 e uma largura de 3,23m. Qual é seu comprimento?
Segundo Vergnaud (1995, p. 60) como por definição f (1,1) = 1 (1m x 1m
= 1m2) não existe a divisão do tipo 1 do isomorfismo de medida.
A terceira classe de problemas é o da proporção múltipla, no qual se
destacam os problemas de produto cartesiano. O autor refere que, nas situações
de multiplicação como proporção múltipla, todos os procedimentos são
multiplicativos. O autor apresenta três subclasses de situações para a proporção
múltipla: multiplicação e dois tipos de divisão.
Exemplo de problema de Multiplicação: Uma família de 4 pessoas quer
passar 15 dias de férias num hotel de turismo. A despesa diária, por pessoa é de
91 €. Quanto pagará a família pela estadia?
1.º Tipo de divisão. As situações desse tipo de divisão como proporção
múltipla consideradas pelo autor requerem que se determine o valor unitário f (1,1).
Por exemplo: Um agricultor quer calcular a produção média de leite das suas vacas
nos 180 melhores dias do ano. Dezessete vacas produziram 70.340 litros de leite
durante esse período. Qual foi a produção média de leite por vaca, em cada um
daqueles dias?
2.º Tipo de divisão. Esse tipo de divisão como proporção múltipla requer
que se determine x sabendo que f (x, a) = b e f (1, 1). Como exemplo: Um
acampamento de escoteiros tem 500 kg de cereal para distribuir 0,6 kg por pessoa,
111
em cada semana. Há 236 pessoas por quem vai ser distribuído o cereal. Para
quanto tempo dará o cereal?
Para Vergnaud (2009a, p. 265) o estudo das relações multiplicativas
mostra que há diferentes tipos de multiplicação e divisão, ou melhor que existem
várias classes de problemas cuja a solução pede uma multiplicação ou divisão. O
autor também chama a atenção para a identificação de outras subclasses conforme
as propriedades dos números empregados (inteiros, decimais, números grandes,
números inferiores a 1), e aos conceitos que eles remetem.
Também o estudo de Greer (1992) analisa as complexidades semânticas
para os problemas que envolvem multiplicação e divisão. Em seu estudo, o autor
destaca quatro classes de situações para os problemas: grupos equivalente,
comparação multiplicativa, área retangular e produto cartesiano. A partir dessa
classificação, o autor, distingue dois tipos de multiplicação. As multiplicações
assimétricas e as simétricas. A cada um desses tipos semânticos são associados
os correspondentes para a operação de divisão.
Segundo Greer (1992), as multiplicações assimétricas vão acontecer nos
problemas que pertencem às classes de grupos equivalentes e comparação
multiplicativa. Para este tipo de multiplicação, o multiplicador e o multiplicando
assumem papeis distintos e consequentemente são distinguidos dois tipos de
situações para a divisão. Por outro lado, na multiplicação simétrica, não é possível
distinguir entre multiplicador e multiplicando. Por isso, esta situação de
multiplicação só admite um tipo de situação de divisão. Este tipo de multiplicação
acontece na classe de problemas que pertence à área retangular e produto
cartesiano.
O autor explica que em uma situação assimétrica de multiplicação, existe
um certo número de grupos de objetos, com o mesmo número de objetos em cada
grupo, como, por exemplo: 3 crianças têm 4 biscoitos cada. Quantos biscoitos elas
têm ao todo?. Dentro dessa concepção, os dois números assumem papéis
diferentes, o número de crianças é o multiplicador que opera sobre o número de
biscoitos – o multiplicando, para produzir a resposta. Segundo Greer (1992, p.276),
a consequência para essa assimetria é que dois tipos de divisão podem ser
distinguidos. Divisão de partição, na qual dividimos o total pelo número de grupos
para obtermos o número em cada grupo. E a divisão cotação, na qual dividimos o
total pelo número em cada grupo para sabermos o número de grupo.
112
Em síntese, levando em consideração os diferentes papéis que a
incógnita assume no modelo a x b = c, nas situações assimétricas de multiplicação,
o multiplicador e o multiplicando podem ser diferenciados, ou seja, o multiplicador
a opera em termos conceituais sobre o multiplicando b, para obter o produto c (a x
b = ?), esse tipo de multiplicação gera dois tipos distintos de divisão, a divisão pelo
multiplicador a – divisão partitiva ( a x ? = c); e a divisão pelo multiplicando b –
divisão cotativa (? x b = c).
As situações multiplicativas, assimétricas e simétricas, descritas por
Greer (1992), nos permitem distinguir estas situações para as classes de problemas
classificados pelo autor. Nas situações multiplicativas assimétricas, temos os
problemas que pertencem aos grupos equivalentes e comparação multiplicativa; e
nas situações multiplicativas simétricas, temos as situações para os problemas
produto cartesiano e área retangular.
Na classe de problemas, Grupos Equivalentes, os problemas em geral,
têm o número de cada grupo multiplicado pelo número de grupos para encontrar o
número total. Como o problema seguinte:
 A multiplicação: 3 crianças têm cada uma 4 laranjas. Quantas laranjas
têm ao todo?
Observa-se que no problema de multiplicação, está implícita, nessa
concepção, uma relação invariável que liga número de crianças e número de
laranjas; a situação descrita no exemplo é a instanciação particular dessa relação
quando o número de crianças é 3.
Observa-se que este tipo de problema gera dois outros problemas com
a operação de divisão:
 Divisão como partição (multiplicador): Foram distribuídas igualmente
12 laranjas por 3 crianças. Quantas laranjas recebeu cada uma?
 Divisão como cotação (multiplicando): Se tivermos 12 laranjas, a
quantas crianças podemos dar 4 laranjas?
Na classe de problemas, Comparação multiplicativa, os problemas têm
um tipo diferente de aplicação, que é verbalmente expressa por "n vezes tantos
como". Aqui o fator multiplicativo pode ser concebido como o multiplicador. No
entanto, também é possível ver a situação em termos de uma relação de
correspondência muitos a um. Também nessa situação existem dois tipos de
divisão.
113
 Multiplicação: O ferro é 0,88 vezes mais pesado que o cobre. Se uma
peça de cobre pesa 4,2 kg, quanto pesará uma peça de ferro do mesmo
tamanho?
 Divisão como partição (multiplicador): O ferro é 0,88 vezes mais
pesado que o cobre. Se uma peça de ferro pesa 3,7 kg, quanto pesa
uma peça de cobre do mesmo tamanho?
 Divisão como cotação (multiplicando): Se duas peças do mesmo
tamanho de ferro e cobre pesam, respectivamente, 3,7 kg e 4,2 kg, qual
e o peso do ferro em relação ao do cobre?
A classe de problemas, Produto cartesiano, tem um contexto bem
diferente daquele da multiplicação de números naturais. Essa classe de situações
corresponde à definição formal de mxn, em termos de diferentes números de pares
ordenados que podem ser formados quando o primeiro membro de cada par
pertence a um conjunto de elementos de m e a segunda a um conjunto de n
elementos. Essa forma sofisticada de definir a multiplicação de números inteiros foi
formalizada relativamente há pouco tempo em termos históricos. Observamos que
existe uma simetria entre os números, e, portanto, somente um tipo de divisão.
 Multiplicação: Existem três caminhos de A para B, e quatro caminhos
de B para C, de quantas maneiras diferentes podemos ir de A para C?
 Divisão: Existem três diferentes caminhos de A para C via B e três
caminhos de A para B, quantos caminhos tem de B para C?
A classe de problemas, Área retangular, é a situação final a ser
considerada em que os lados do retângulo são inteiros, se diz 4 cm por 3 cm. Nesse
caso, o retângulo pode ser dividido em pequenos quadrados de lado medindo 1cm,
para que a área possa ser encontrada por contagem dos pequenos quadrados, que
será literalmente 12 cm2 . Tal como acontece com produto cartesiano, os dois
números multiplicados desempenham papéis equivalentes, para que eles não
sejam distinguíveis como multiplicando e multiplicador e, consequentemente, não
haja dois tipos distintos de problemas de divisão.
 Multiplicação: Qual é área de um retângulo com 3,3 metros de
comprimento por 4,2 metro de largura?
 Divisão: Se a área de um retângulo é de 13,9m2 e a altura mede 3,3
m. Qual é a base?
114
Greer (1992, p.278) amplia sua classificação para além do conjunto
numérico dos números naturais, para o conjunto dos racionais positivos, e além dos
modelos de situações expostos anteriormente, são identificados mais seis tipos:
situações de medidas equivalente, situação de razão, situação de conversão de
medidas, situação parte/todo, situação mudança multiplicativa e situação de
produto de medidas. Para uma grande variedade de contextos, podem ser descritos
problemas que envolvem os números decimais.
Para Greer (1992), as situações em que se pode utilizar um
procedimento aditivo são generalizadas como situações de grupos equivalentes e
medidas equivalentes, pois o multiplicador é um número inteiro. As demais
situações, como a situação parte todo, conversão de medidas, alteração
multiplicativa, são generalizados aos procedimentos promovidos pela comparação
multiplicativa, pois o multiplicador é um número racional na forma de fração ou
decimal, e para esse tipo de multiplicador, o procedimento de adições repetidas não
pode ser utilizado.
O autor destaca que as situações em que o procedimento aditivo não
pode ser utilizado são as mais difíceis para os alunos, e isso aliado ao fato de
desenvolverem concepções equivocadas sobre a multiplicação, de que essa
sempre aumenta, e sobre a divisão, de que essa sempre diminui e que isso provém
do fato de trabalharmos apenas a ideia de multiplicação como grupos equivalentes
e da divisão como partilha. Para a justificação desses procedimentos
predominantes, recorremos aos modelos implícitos e intuitivos apontados por
Fischbein et al. (1985), que defendem que o modelo intuitivo primitivo para a
multiplicação é a adição repetida e para a divisão é a partilha, sendo o modelo de
divisão como cotação, um modelo adquirido pela instrução.
Outro estudo analisado foi o de Roditi (2001) que apresenta um quadro
comparativo das situações multiplicativas com base no estudo de Vergnaud e as
relaciona com as diversas representações dos números racionais e dos decimais,
a fim de analisar as possíveis situações que podem ser mobilizadas em uma
situação multiplicativa. Ele mostra algumas maneiras de pensar os números
decimais: decimal medida, decimal abscissa e decimal sistema métrico.
115
Figura 19: Representações dos decimais
Fonte: Roditi (2001)
Roditi (2001) apresenta que os problemas com decimais que envolvem
as situações do cotidiano são do tipo isomorfismo de medidas. No entanto, o autor
não realizou um estudo empírico para investigar as dificuldades dos alunos em
relação a esses modelos. Os resultados apontados estão baseados nos sistemas
de avaliações da aprendizagem francesa.
Por conseguinte, o quadro permite-nos visualizar as representações dos
decimais que podemos mobilizar seguindo cada situação multiplicativa.
Estabelecendo uma comparação com a classificação dos problemas apresentados
por Greer (1992) e Vergnaud (2009), temos que os problemas de grupos
equivalentes são problemas do tipo isomorfismo de medidas; problemas de área
retangular e produto cartesiano são problemas do tipo produto de medidas. Os
problemas de multiplicação comparativa de Greer (1992) não foram classificados
por Vergnaud.
Assim, com base no quadro apresentado por Roditi (2001), temos
decimal como medida e decimal sistema métrico, que se encontram na categoria
isomorfismo de medida e produto de medida proposto por Vergnaud (2009). Na
classificação de Greer (1992), temos o decimal como medida, pertencente a
medidas equivalentes; o decimal abcissa, que faz parte da classe de produto
cartesiano; e o decimal como sistema métrico pertence à classe da área retangular.
Em relação às questões pertinentes aos problemas aditivos e
multiplicativos, Sá (2003) realizou um estudo sobre a dificuldade dos alunos em
reconhecer as operações nos problemas aritméticos, tanto no campo aditivo como
116
no multiplicativo. Com base nos estudos que já haviam sido realizados e na análise
dos resultados desses estudos, Sá (2003) percebeu que a dificuldade dos alunos
estava relacionada à estrutura semântica dos problemas, e nos tipos de problemas
que lhes eram apresentados. Assim como Slavit (1999), Sá (2003) levou em
consideração o desenvolvimento do pensamento algébrico na estrutura semântica
dos problemas.
Ao analisar problemas com números naturais e fracionários, Sá (ibid.)
observou que alguns problemas pareciam ser mais difíceis que outros, e que essa
dificuldade estava implícita na estrutura semântica dos problemas. Ele observou
que em alguns problemas a modelação era direta, ou seja, o enunciado do
problema indicava a operação a ser usada. No entanto, em outros, havia a
necessidade de utilizar um pensamento algébrico para analisar a modelação
sugerida pelos problemas, de tal forma que nesses problemas os alunos
precisariam utilizar as operações inversas para resolvê-los. Assim, Sá (2003)
apresenta os problemas que envolvem uma operação em dois grupos, os quais ele
classificou como problemas aritméticos e os algébricos:
Os problemas Aritméticos são aqueles problemas que, em sua resolução
operacional, não são usadas de maneira implícita ou explicita as
propriedades aditivas ou multiplicativas da igualdade. Os problemas
algébricos são aqueles problemas em que, na sua resolução operacional,
são usadas de maneira explícita ou implícita as propriedades aditivas ou
multiplicativas da igualdade. (SÁ, 2003, p. 82-83)
Na apresentação do autor, nos problemas aritméticos, a pergunta a ser
respondida (ou o termo desconhecido) se encontra isolada em um dos membros
da igualdade. Nesses problemas, normalmente, a igualdade é utilizada para indicar
o resultado da operação realizada, ou seja, a igualdade é usada para representar
transformações, as operações são realizadas com base na conotação semântica
da operação. E a modelação do problema sempre resulta numa expressão em que
o valor desconhecido fica isolado no segundo membro da igualdade.
Diferentemente, nos problemas algébricos, a pergunta (ou termo
desconhecido) não está isolada em uns dos membros da igualdade, após sua
modelagem. Nesses problemas, a igualdade é utilizada para indicar a relação de
equilíbrio exigida entre os dados, ou seja, a igualdade é utilizada para indicar
equilíbrio, a modelação resulta numa expressão no qual a incógnita não fica
117
isolada. O quadro 2 apresenta a modelagem ou sentença dos problemas
aritméticos e algébricos propostos por Sá (2003).
Quadro 2 - Modelagem dos problemas aritméticos e algébricos propostos
por Sá (2003)
Problemas aritméticos
Problemas algébricos
c + b =?
? + c=b
c b =?
c+ ?=b
c b =?
?– c=b
c b =?
c ?=b
-
c ?=b
-
c ?=b
-
? c=b
Fonte: Sá (2003, p.82-83).
Nos problemas algébricos, ao contrário do que acontece com os
aritméticos, a escolha da operação é feita com base na propriedade da operação
inversa, sendo que esse tipo de problema é mais difícil para os alunos, pois na
resolução dos problemas do 1º tipo as propriedades aditivas e multiplicativas da
igualdade não são usadas, enquanto, que nos problemas do 2º tipo essas
propriedades são utilizadas. Para o autor, os problemas aditivos podem ser
chamados de diretos e são mais fáceis para os alunos, em contrapartida, nos
algébricos, os alunos apresentam mais dificuldade na modelação e resolução.
Estabelecendo uma relação entre a classificação proposta por Sá(2003),
de problemas aritméticos e algébricos, e de Durval(2003), de problemas
congruentes e não congruentes, podemos concluir que os problemas aritméticos
são problemas congruentes, pois no seu enunciado não é exigida uma inversão de
operação, ou seja, as operações que aparecem nas sentenças serão as utilizadas;
e os problemas algébricos são problemas não congruentes, pois o enunciado do
problemas exige que se faça uma inversão de operação.
118
3.4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A contribuição dos estudos de Ausubel (2003) para este trabalho foi a
discussão sobre a importância da utilização dos conhecimentos prévios para a
construção de um novo conhecimento. Concordamos que os conhecimentos
anteriores ou prévios dos alunos podem influenciar de forma significativa para a
aprendizagem de novos conhecimentos. Porém, vale ressaltarmos que esses
conhecimentos prévios, se não forem construídos adequadamente, podem se
tornar obstáculos de aprendizagem, evitando que o novo conhecimento se
estabeleça, daí a importância de avaliarmos quais conhecimentos são úteis e
servem de subsunçores para o novo conhecimento. No caso dos decimais,
defendemos que o conhecimento dos números naturais, assim como das frações
decimais, são subsunçores necessários para a construção dos decimais.
Outros estudos, como o sentido de número e operação, de McIntosh
(1992) e Slavit (1999), trouxeram contribuições importantes para traçar o caminhar
desta investigação. Na exposição dos estudos sobre as dificuldades dos alunos em
resolver problemas, percebemos que algumas competências são necessárias, tais
como o conhecimento conceitual e processual expostos por Hiebert e Lefevre
(1987), pois o conhecimento conceitual está relacionado ao sentido de número e
operação, assim como o conhecimento processual, que se refere à habilidade em
desenvolver o algoritmo das operações.
Os estudos sobre a estrutura semântica dos problemas nos deram
contribuições para reconhecermos que existem vários tipos de problemas e,
consequentemente, diferentes formas de pensá-los e irmos em busca de sua
solução e que cada tipo de problema apresenta uma dificuldade própria, visto que
não serem homogêneos. Com esse olhar e com base nos estudos de Vergnaud
(1983, 1988, 2009a) e Sá (2003), elaboramos os problemas que foram utilizados
nesta pesquisa. Assim, seguindo as categorias de Vergnaud (1976, 1983,1988,
2009a) para o campo aditivo, utilizamos os problemas das 2ª e 3ª classes,
transformação de duas medidas e comparação de medidas. Do campo
multiplicativo, os problemas foram do tipo isomorfismo de medida. A justificativa
para não usarmos problemas do tipo produto de medidas é que os alunos não
tinham estudado alguns conteúdos matemáticos que seriam necessários para a
resolução de problemas com essa classe de problemas.
119
4 METODOLOGIA DE PESQUISA
O presente capítulo abordará a metodologia de pesquisa e a forma como
conduzimos este estudo. Fazemos a descrição do desenho metodológico, do
universo da pesquisa e da amostra, dos instrumentos utilizados para a coleta de
dados, assim como mostramos como foi realizado o tratamento dos dados
coletados e a análise dos resultados.
4.1 OBJETIVO DA PESQUISA
Investigar o campo de competência que os alunos do 6º ano do ensino
fundamental devem possuir para resolver problemas aritméticos com os números
decimais, no campo aditivo e multiplicativo.
Como objetivos específicos destacamos:
 Verificar se os conhecimentos prévios dos alunos com os números
naturais influência na aprendizagem dos decimais;
 Verificar o desempenho dos alunos em problemas do campo aditivo e
multiplicativo com os decimais;
 Investigar quais habilidades os alunos apresentam na resolução de
problemas com os decimais.
Desse modo, objetivamos com este estudo estabelecer relações do
ensino e aprendizagem dos números decimais com a aprendizagem dos números
naturais, a fim de oferecermos um modelo que contemple uma abordagem
pedagógica, na perspectiva da teoria da aprendizagem significativa e de uma
metodologia com atividades de ensino.
4.2 OPÇÕES METODOLÓGICAS
Esta pesquisa apresenta tanto alguns aspectos de uma abordagem
qualitativa como de uma quantitativa. Essas abordagens se caracterizam por duas
visões centrais que alicerçam as definições metodológicas da pesquisa em ciências
120
humanas.
São
elas:
a
visão
realista/objetiva
(quantitativa)
e
a
visão
idealista/subjetiva (qualitativa). Apesar das duas correntes apresentarem aspectos
diferentes, elas não são excludentes, pelo contrário, elas se complementam, pois,
segundo Santos Filho (2001), os pesquisadores têm reconhecido que a
complementaridade entre os métodos qualitativos e quantitativos existe e é
fundamental, tendo em vista os vários e distintos objetivos da pesquisa em ciências
humanas, cujos propósitos não podem ser alcançados por uma única abordagem
metodológica.
Assim sendo, podemos inferir que os métodos quantitativos e
qualitativos, na verdade, se complementam, e a escolha de uma ou outra
abordagem está associada diretamente aos objetivos e finalidades de cada
pesquisa. Para Günther (2006, p. 207),
Enquanto participante do processo de construção de conhecimento,
idealmente, o pesquisador não deveria escolher entre um método ou
outro, mas utilizar as várias abordagens, qualitativas e quantitativas que
se adequam à sua questão de pesquisa. Do ponto de vista prático existem
razões de ordens diversas que podem induzir um pesquisador a escolher
uma abordagem, ou outra.
Também Morais e Neves (2007, p. 77) descrevem como é que a
abordagem quantitativa permite identificar sujeitos para um estudo qualitativo;
como entrevistas qualitativas podem fornecer elementos adicionais a processos
identificados através de análise quantitativa; como a análise qualitativa pode gerar
hipóteses para estudos quantitativos; e como se pode recolher simultaneamente
dados quantitativos e qualitativos. Assim sendo, as autoras complementam que as
duas formas de inquérito não são incompatíveis e que, por isso, podem ser usadas
sequencialmente ou simultaneamente, em função da natureza das questões de
investigação que se pretende levantar e dos dados que se pretende obter.
Para Creswell e Clark (2013, p.21), a pesquisa de métodos mistos
apresenta pontos fortes que compensam os pontos fracos da pesquisa qualitativa
ou quantitativa, pois ajuda a responder perguntas que não podem ser respondidas
apenas pelas abordagens quantitativas ou qualitativas. Questões como “os
resultados
das
entrevistas
convergem
ou
divergem
dos
instrumentos
padronizados?” ou “de que maneira as entrevistas qualitativas explicam os
resultados quantitativos?” somente podem ser respondidas pela utilização do
121
método misto. Além do que, a pesquisa com métodos mistos proporciona mais
evidências para o estudo de um problema do que os métodos em questão
separados, pois o pesquisador fica capacitado a usar todas as ferramentas de
coletas de dados disponíveis em vez de ficar restringido aos tipos de coletas de
dados
normalmente
associados
à
pesquisa
qualitativa
ou
quantitativa.
(CRESWELL E CLARK, 2013, p. 28).
Como termos necessidade de descrever os processos realizados pelos
sujeitos da pesquisa, transcrever entrevistas, apresentar as produções dos sujeitos,
entendemos que a pesquisa qualitativa nos daria o suporte necessário para relatar
esses fatos. Ludke e André (1986, p. 12-13) descrevem algumas características de
uma pesquisa qualitativa, a saber, tem o ambiente natural como sua fonte direta de
dados e o pesquisador como seu principal instrumento; nessa abordagem, o
pesquisador tem contato direto e prolongado com o ambiente e com a situação que
está sendo investigada; os dados coletados são predominantemente descritivos,
como transcrição de entrevistas, fotos e desenhos. Além disso, a preocupação com
o processo é muito maior do que com o produto, pois o interesse do pesquisador
ao estudar um certo problema é verificar como ele se manifesta nas atividades e
nos procedimentos, e a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.
Diante do exposto, nesta pesquisa, utilizamos alguns aspectos da
pesquisa qualitativa, como a observação e a entrevista; e da quantitativa, a saber,
testes individuais e atividades. Essa escolha metodológica pode ser vista como
uma metodologia mista que se expressa não no sentido de integrar as duas formas
de investigação, mas no sentido de utilizar características associadas a cada uma
delas.
4.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A coleta de dados ocorreu durante os meses de março a junho de 2014.
O desenvolvimento desta pesquisa teve como elementos norteadores a elaboração
e a aplicação de atividades de ensino voltadas para o ensino dos números
decimais. E de tal maneira que, por meio dessas atividades de ensino, poderíamos
investigar como os alunos mobilizariam seus conhecimentos prévios de números
122
naturais para desenvolverem o novo conhecimento que estava sendo proposto, os
números decimais.
4.3.1 Estudos preliminares
Inicialmente, realizamos uma revisão dos estudos desenvolvidos no
Brasil e no exterior sobre o ensino dos números decimais, com o intuito de
conhecermos a problemática dos números decimais. Além disso, buscamos
suporte teórico nos estudos de Ausubel (2003) sobre aprendizagem significativa;
de McIntosh et al. (1992) e de Slavit (1999) sobre o sentido de número e operação;
os estudos de Vergnaud (1976, 1983, 1988, 2009) e de Sá (2003) sobre a estrutura
semântica dos problemas.
4.3.2 Universos do estudo e a amostra
O universo de estudo foi uma escola pública do ensino fundamental
situada em um bairro classe média da cidade de Belém do Pará. Apesar de ter
uma grande área livre, o prédio da escola é pequeno, há 8 salas de ensino
Fundamental I e 6 salas de ensino Fundamental II, o funcionamento ocorre nos
períodos da manhã e da tarde. As instalações físicas são precárias, as salas são
quentes e os alunos ficam expostos ao sol durante uma parte da manhã, pois as
salas não são totalmente fechadas, e isso gera outro problema, os barulhos
externos que perturbam as aulas.
A amostra escolhida foi a turma 701, com 36 alunos, sendo 17 homens
e 19 mulheres, na faixa etária de 11 a 13 anos. A escolha da escola e da turma se
justifica por terem feito parte de uma pesquisa anterior, cujo objetivo foi o de
desenvolver a habilidade com resolução de problemas com os números naturais,
em que tivemos a oportunidade de acompanhar algumas das suas atividades, ver
o desempenho da turma e analisar o material que fora produzido neste período. E
isso de tal forma que o trabalho desenvolvido anteriormente favoreceu os objetivos
123
desta pesquisa, além do que conhecíamos a professora que trabalha nessa escola
e que, gentilmente, concordou em ceder a turma para participar da pesquisa.
A turma escolhida se encontra no 7º ano, entretanto, por causa da greve
dos professores do estado no ano de 2013, os alunos não conseguiram estudar os
números decimais no 6º ano, de tal forma que acordamos com a professora da
turma que iniciaríamos o ano letivo de 2014 estudando esse conteúdo.
A turma apresentou um comportamento muito agitado, sendo inquieta e
barulhenta. Tivemos muita dificuldade para desenvolver as atividades, pois os
alunos conversavam intensamente e não prestavam atenção nas explicações. A
organização dos grupos de trabalho se deu sempre em meio à confusão e
discussão. No desenvolvimento das atividades, enquanto orientávamos um grupo,
alguns alunos costumavam circular pela sala, perturbando outros colegas que
vinham se queixar. Apesar desse cenário, alguns alunos conseguiram trabalhar
bem, mesmo que de forma pouco organizada, e tinham interesse em realizar as
atividades, outros, porém, se mostravam desinteressados e apresentavam
dificuldades para realizar as atividades.
Outro ponto a destacarmos é que fazê-los trabalhar em grupo foi muito
difícil, pois não estavam acostumados a esse tipo de atividades, entregávamos os
roteiros e eles procuravam trabalhar sozinhos, de tal forma que tínhamos sempre
que lembrá-los que o trabalho era em grupo e que eles precisavam discutir a
resolução das questões. No decorrer do tempo, alguns grupos melhoraram sua
participação e passaram a discutir as questões, outros ficavam apenas
conversando, e tínhamos que intervir a cada instante para que fizessem as
questões.
Por essa razão, a turma apresentou um descompasso em relação ao
desenvolvimento das atividades, visto que alguns grupos finalizavam suas
atividades rapidamente, enquanto outros eram mais lentos. Observamos que esse
descompasso era provocado mais pelo desinteresse dos alunos do que por
dificuldades em realizar a atividade, o que, em algumas situações, comprometeu o
andamento das atividades.
124
4.3.3 Procedimentos da coleta de dados
Com a amostra definida, passamos para a fase seguinte, a coleta de dados.
Para descrevermos as etapas que foram seguidas, usamos como base o modelo
de Creswell e Clark (2013, p.115) para coleta de dados de métodos mistos.
Quadro 3 - Etapas da coleta de dados
Fase
Coleta dos dados
quantitativos
Análise dos dados
quantitativos
Coleta dos dados
qualitativos
Análise dos dados
qualitativos
Integração dos dados
qualitativos e quantitativos
Procedimento
Testes diagnósticos
Produto
Dados numéricos
Tabulação
Resultados numéricos
Aplicação da atividade,
entrevista individual / grupo,
observação do grupo/ fotos
Codificação dos dados
Dados de texto, dados
de imagem
Interpretação e explanação
dos resultados
Discussão, Implicações,
relatório final
Categorias de análise
4.3.4 Instrumentos de pesquisa
Os instrumentos de pesquisa utilizados foram testes escritos, entrevista
e observação, além das atividades de ensino. Durante o desenvolvimento das
atividades, as conversas entre a pesquisadora e os alunos foram gravadas em
áudio, de forma que não fossem perdidas informações relevantes para a pesquisa
e também para que pudéssemos ter uma visão geral do trabalho realizado durante
o dia. Ao final de cada dia, foram feitas as transcrições para que pudéssemos
analisar e avaliar os resultados da atividade realizada, de tal forma que serviriam
para repensar as atividades seguintes.
Os testes diagnósticos tinham dois objetivos, primeiramente (pré-teste),
investigar os conhecimentos prévios dos alunos sobre os números Naturais e
decimais; e num segundo momento (pós teste), avaliar a aprendizagem dos alunos
dos decimais após aplicação das atividades de ensino. As atividades de ensino
tinham por objetivo promover a aprendizagem dos números decimais. As
125
observações
e
conversas
informais
(gravadas)
foram
feitas
durante
o
desenvolvimento das atividades e a entrevista individual foi feita somente com
alguns alunos, após a aplicação do pós-teste.
4.3.4.1 Instrumentos diagnósticos
Elaboramos quatro testes (dois sobre números naturais e dois sobre os
números decimais) com o objetivo de investigarmos os conhecimentos prévios dos
alunos sobre os números naturais e decimais. Os problemas propostos foram
escolhidos com base nos estudos das estruturas aditivas e multiplicativas de
Vergnaud (1983, 1988, 2009) e na classificação de problemas algébricos e
aritmética proposta por Sá (2003).
Os testes aplicados se compuseram de duas partes: a primeira
envolvendo apenas algoritmos com números naturais/decimais, e a segunda, com
situações problemas. O objetivo dessa separação foi verificar onde os alunos
apresentavam maior dificuldade, se no desenvolvimento dos algoritmos ou na
resolução de problemas. Após as atividades de ensino, aplicamos o pós-teste para
averiguar os avanços, retrocessos e dificuldades dos alunos em relação aos
decimais. Assim como, de que forma os números naturais contribuem para a
aprendizagem dos decimais.
4.3.4.2 Testes do campo aditivo
Objetivo era diagnosticar como os alunos resolvem as operações e
problemas com os números naturais e decimais do campo aditivo
Teste com os naturais: o teste diagnóstico com naturais é composto por
cinco operações envolvendo adição e subtração e seis situações-problema da
estrutura aditiva.
126
Questões com as operações:
A) 56 + 24
B) 102 + 23
C) 76 – 43
D) 125 – 87
E) 80 – 23
Quadro 4 - Problemas aditivos com os números naturais
Situações-Problemas com os números
Sentença
naturais
1) Paulo tem 6 bolinhas de gude azuis e
14 bolinhas verdes. Quantas bolinhas
6 + 14 = ?
Paulo têm?
2) Tiago tem 12 bolinhas de gude. Lucas
tem 5 a menos que Tiago. Quantas
12 – 5 = ?
bolinhas tem Lucas?
3) João tem 40 bombons. Ele deu 18
para sua irmã. Com quantos ele ficou?
40 - 18 = ?
4) Luiza tinha alguns brincos. Ela ganhou
5 de sua prima e agora possui 12. ? + 5 = 12
Quantos brincos tinha Luiza antes?
5) Um comerciante possuía 200 metros
de arame. Após vender alguns metros,
sobraram 78 metros. Quantos metros de ? + 78 = 200
arame ele vendeu?
6) Meu pai tinha certa quantia em seu
cofre. Depois de guardar R$ 27,00 ? + 27= 146
passou a ter R$ 146,00. Quanto ele tinha
no início?
Classificação
segundo
Sá (2004)
Problema
Aritmético
Problema
Aritmético
Problema
Aritmético
Problema
Algébrico
Problema
Algébrico
Problema
Algébrico
Fonte: produção nossa
O teste com os números decimais: o teste aditivo apresenta seis
operações envolvendo adição e subtração e dez situações-problema que envolvem
as estruturas aditivas.
Nessa primeira parte, tínhamos por objetivo investigar como os alunos
resolvem as operações de adição e subtração com os números decimais.
Esperávamos que nas operações de adição de decimais os alunos não
apresentassem dificuldades, porém os erros esperados foram em relação ao
posicionamento da vírgula no resultado e na adição de inteiro por decimal, pois os
alunos poderiam esquecer de completar com zeros. Nas operações de subtração,
os erros esperados foram em relação aos empréstimos de uma casa para outra, a
127
complementação das casas decimais com zeros, e a subtração de um inteiro por
um decimal.
Questões com as operações:
A) 1,23 + 3,55
B) 3,7 + 0,34
D) 7,9 – 2,5
E) 8,3 – 2, 07
C) 8 + 3,5
F) 6 – 1,26
Na segunda parte, tínhamos por objetivo investigar como os alunos
resolveriam os problemas que envolvem os números decimais. Esperávamos que
os alunos tivessem pouca dificuldade para resolver os problemas do tipo aditivo,
pois são mais simples na sua estrutura. Esperamos mais dificuldades dos alunos
nos problemas do tipo algébrico do que nos aritméticos, já que nesses a estrutura
dos problemas é mais simples, enquanto naqueles os alunos deveriam utilizar a
operação inversa para resolver os problemas. O quadro 4 mostra as questões do
teste aditivo, sua sentença e classificação.
128
Quadro 5 - problemas aditivos com os números decimais
Sentença do
Situação - Problema
problema
01) Lucia possuía 80,50 m de fitas e
gastou 40,30m das fitas em um vestido. 80,50 - 40,30 =?
Quanto de fita Lucia possui agora?
02) Maria tinha R$ 17,50. Achou R$
8,00 na rua. Quanto ela possui agora? 17,50 + 8,00 =?
03) Pedro tem algum dinheiro. Raul
tem R$ 3,45 a mais que Pedro.
Sabendo que Raul tem 22,65. Quanto
possui Pedro?
04) Fui ao shopping com certa quantia
em dinheiro. Após gastar R$ 40,50
percebi que ainda tinha R$ 12, 25 reais.
Quanto eu tinha antes?
05) Pedro e Marcus tem juntos R$ 28,
60 reais. Pedro tem R$ 16,30. Quantos
reais tem Marcus?
06) Carlos tinha 18,75 em seu cofrinho.
Hoje ele colocou R$ 5,60. Quanto ele
tem agora?
07) Henrique achou R$ 7,50 na rua. Ele
tem agora R$ 12,90. Quanto ele tinha
antes de encontrar o dinheiro?
08) Luciana tinha 45,7 metros de fitas.
Ela cortou 23,6 metros e deu para Julia.
Quantos metros de fita tem Luciana
agora?
09) Sofia tem 1,60 metros de altura e
sua irmã Júlia tem 1,06 metros de
altura. Qual a diferença de altura entre
as duas?
10) Carlos possui alguns metros de fio
elétrico. Vai usar na instalação de sua
casa 21,34 m e ainda sobrará 12,5m.
Quantos metros de fio Carlos possui?
Fonte: produção nossa
Classificação
segundo Sá (2004)
Problema aritmético
Problema aritmético
22,65 + 3,45 =?
Problema algébrico
? - 40,50= 12,25.
Problema algébrico
? + 16,30 = 28,60
Problema algébrico
18,75 + 5,60 =?
Problema aritmético
? + 7,50 = 12,90
Problema algébrico
45,7 – 23,6 = ?
Problema aritmético
1,60 – 1,06 =?
Problema aritmético
? - 21,34 = 12,5
Problema algébrico
129
4.3.5.3 Testes do campo multiplicativo
Objetivo era diagnosticar como os alunos resolvem as operações e
problemas com os números naturais e decimais do campo multiplicativo.
Teste com os naturais: o teste diagnóstico com naturais é composto por
quatro operações envolvendo multiplicação e divisão e seis situações-problema da
estrutura multiplicativa.
Questões das operações:
A) 74 x 23
B) 126 x 32
E) 648 ÷ 6
F) 672 ÷ 12
Quadro 6 - Problemas multiplicativos com os números naturais
Situações Problemas com os
números naturais
1) Carlos tem 96 quilogramas farinha
que será distribuída igualmente entre
6 famílias. Quanto receberá cada
família?
2) Comprei uma bolsa e vou pagá-la
em 5 prestações iguais de R$ 18,00.
Quanto custou essa bolsa?
3) Doze canetas custam R$ 24,00.
Quanto custa uma caneta?
4) Tenho 12 pacotes de bombons. Em
cada pacote há 25 bombons. Quantos
bombons eu tenho?
5) Pedro tem R$12,00. Ele quer
comprar algumas canetas que custam
R$ 4,00 cada uma. Quantas canetas
ele pode comprar?
6) Paguei R$ 78,00 por 26 garrafas de
refrigerantes. Quanto custa uma
garrafa de refrigerante?
Sentença
? x 6 = 96
18 x 5 = ?
12 x ? = 24
12 x 25=?
Classificação
segundo Sá
(2004)
Problema
Algébrico
Problema
aritmético
Problema
Algébrico
Problema
aritmético
? x 4 = 12
Problema
Algébrico
26 x ? = 78
Problema
Algébrico
Fonte: produção nossa
O teste com os decimais: O teste multiplicativo dos decimais apresenta
seis operações envolvendo multiplicação e divisão e dez situações-problema que
envolve estruturas multiplicativas.
130
Na 1ª parte, tínhamos por objetivo investigar como os alunos resolvem
as operações de multiplicação e divisão com os números decimais.
Nessas
operações, os erros esperados teriam relação com o desenvolvimento do algoritmo
da multiplicação e a colocação da vírgula no produto, além de possíveis erros de
tabuada. Na divisão, as dificuldades esperadas seriam em relação ao
desenvolvimento do algoritmo da divisão e ao posicionamento da vírgula no
quociente.
Questões com as operações:
A) 1,2 x 5
B) 3,7 x 1,2
C) 0,8 x 0,5
D) 7 ÷ 5
E) 1, 2 ÷ 0,6
F) 0,24 ÷ 0,6
Na 2ª parte, tínhamos por objetivo investigar como os alunos resolvem
os problemas multiplicativos com os decimais. Acreditamos que as dificuldades dos
alunos, nesses problemas seriam maiores, pois as questões envolvem
multiplicações e divisões, operações apontadas nos estudos supracitados como
sendo as mais difíceis para os alunos. O quadro 5 mostra os problemas utilizados
nos testes com os decimais, sua modelação e classificação como algébricos e
aritméticos.
131
Quadro 7 - Problemas multiplicativos com os decimais
Situação – problema
Sentença do
Classificação
problema
segundo Sá (2004)
01 - Carla precisa comprar 6,5 metros
de tecido para fazer uniformes para
6,5 x 4,25 = ?
seus filhos. O metro do tecido custa R$
4,25. Quanto Carla irá gastar?
02 - Débora encheu 8 garrafas de leite.
Cada garrafa tinha a capacidade de 1,5
8 x 1,5 = ?
litro. Quantos litros de leite foram
usados?
03 – Laura fez 3,5 kg de doce de leite.
Ela pretende vender o quilo por R$
8,5 x 3,75 = ?
2,25. Quanto Laura conseguirá apurar
se vender todo o doce de leite?
04 – Temos 2,8 litros de óleo. O óleo
será colocado em latas iguais com
? x 0,7 = 2,8.
capacidade para 0,7 litro. Quantas latas
vão ser usadas?
05 – tenho 7,5 metros de tecido para
fazer uniformes. Vou gastar 1,25 ? x 1,25 = 7,5.
metros em cada uniforme. Quantos
uniformes poderei fazer?
06 – José tem 2,5 litros de coca cola
para colocar em copos de 0,5 litros.
? x 0,5 = 2,5.
Quantos copos serão usados?
07 – Foram distribuídos igualmente 9
quilos de arroz para 4 famílias.
4x?=9
Quantos quilogramas receberá cada
família?
08 – Tenho 4,5 metros de tecido.
Preciso cortar em 9 pedaços do mesmo
9 x ? = 4,5.
tamanho. Quantos metros terá cada
pedaço?
09 – Carlos vendeu 25 bombons de
cupuaçu e no final apurou R$ 12,50. 25 x ? = 12,50.
Quanto custa um bombom?
10 - Paulo comprou 5,5 quilogramas
de carne e pagou R$ 31,24. Quanto
5,5 x ? = 31,24.
custa um quilo de carne?
Fonte: produção nossa
Problema aritmético
Problema aritmético
Problema aritmético
Problema algébrico
Problema algébrico
Problema algébrico
Problema algébrico
Problema algébrico
Problema algébrico
Problema algébrico
132
4.4 ATIVIDADES DE ENSINO DESENVOLVIDAS NA PESQUISA
Para atingirmos os objetivos específicos da pesquisa, seguimos a
trajetória apresentada no Quadro 8.
Quadro 8 - Trajetória da pesquisa realizada na turma
Tópicos trabalhados
Estrutura aditiva com números
naturais
Estruturas multiplicativas com os
números naturais
Estrutura aditiva com os decimais
Estrutura
multiplicativa
com
decimais
Introdução aos números decimais
Adição de números decimais
Subtração de números decimais
Multiplicação
de
números
decimais
Divisão de números inteiros que
resulta em decimais
Divisão de dois números decimais
Resolução de problemas aditivos
Resolução de problemas
multiplicativos
Estrutura aditiva com números
decimais
Estrutura
multiplicativa
com
números decimais
Estrutura aditiva/ multiplicativa
com números decimais
Tarefas
Teste
Metodologia
Individual
Tempo
90’
Teste
Individual
90’
Pré-teste
Pré-teste
Individual
Individual
90’
90’
Atividade 1
Atividade 2
Atividade 3
Atividade 4
Grupo
Grupo
Grupo
Grupo
90’
90’
90’
90’
Atividade 5
Grupo
90’
Atividade 6
Atividade 7
Atividade 8
Grupo
Grupo
Grupo
90’
90’
90’
Pós-teste
Individual
90’
Pós-teste
Individual
90’
Entrevista
durante as
atividades
Individual/grupo
90’
Fonte: produção nossa
4.4.1. Descrição e análise a priori das atividades de ensino
Alguns dos modelos das atividades de ensino utilizadas nesta
investigação são do trabalho de Jucá (2008), com exceção das atividades de
multiplicação e divisão de números decimais, que foram modificadas, optamos em
utilizar atividades com as frações decimais, para que os alunos pudessem
133
compreender as regras dessas operações. Além das atividades de resolução de
problemas.
Dividimos as atividades de ensino em dois grupos, atividades da
estrutura aditiva e atividades da estrutura multiplicativa. A escolha por essa divisão
se justifica porque essas duas estruturas apresentam características distintas e
suas análises merecem uma atenção especial.
No desenvolvimento das atividades de ensino, pensamos em um modelo
ou em uma trajetória de ensino. Assim, os desenvolvimentos das atividades de
ensino para aprendizagem dos decimais seguiram as seguintes etapas do modelo.
Figura 20 - Etapas de desenvolvimento das atividades de ensino
Proposta da atividade
pela pesquisadora
Resolução da atividade
em pequenos grupos
Mobilização dos conhecimentos
prévios dos números naturais
Discussões das atividades
nos grupos
Mediações da
pesquisadora
Os grupos expõem suas
conclusões
Os alunos escrevem suas
conclusões das atividades
A pesquisadora formaliza as
conclusões dos alunos
Fonte: Produção nossa.
Auxílio da pesquisadora
na produção escrita
134
Pensamos que essa forma de organização do desenvolvimento das
atividades poderia propiciar aos alunos uma aprendizagem mais eficaz, pois eles
poderiam desenvolver seus conhecimentos sobre números decimais, tendo as
necessárias mediações da pesquisadora quando se fizesse necessário.
4.4.1.1 Atividades de ensino da estrutura aditiva
Cada atividade foi apresentada aos alunos, esses receberam
orientações de como deveriam resolver e, ao final, deveriam apresentar a
conclusão a que chegaram no tocante à atividade.
 Atividade 1 – Introdução dos decimais
Iniciamos a atividade relembrando as frações decimais. Após falarmos
acerca das frações decimais, os alunos realizaram a Atividade 1. O objetivo da
atividade era levá-los perceber a relação entre as frações decimais e os números
decimais.
Figura 21- 1ª parte das atividades introdutórias com os decimais
1ª parte: Transforme as frações decimais em números decimais usando a
calculadora
𝟏)
𝟒
𝟏𝟎
𝟑)
𝟐𝟑
𝟓)
𝟐)
=
𝟏𝟎
𝟕𝟔
𝟗
=
𝟗
𝟕) 𝟏𝟎𝟎𝟎 =
𝟗)
=
𝟒) 𝟏𝟎𝟎 =
=
𝟏𝟎𝟎
𝟖
𝟏𝟎
𝟐𝟑𝟒
=
𝟏𝟎𝟎𝟎
𝟔𝟒𝟖
𝟔) 𝟏𝟎𝟎 =
𝟖)
𝟖𝟕
𝟏𝟎𝟎𝟎
=
𝟒𝟓𝟏
𝟏𝟎) 𝟏𝟎𝟎𝟎
Escreva de que maneira podemos transformar as frações decimais em
números decimais sem a calculadora.
Fonte: Produção nossa.
135
Figura 22 - 2ª parte das atividades introdutórias com os decimais
2ª parte: Faça as transformações números decimais em frações decimais
1) 0,6 =
2) 0,8 =
3) 2, 5 =
4) 0,09 =
5) 3,45 =
6) 2,08 =
7) 0,546 =
8)1,349 =
9) 0,008 =
10) 98,987 =
Escreva de que maneira podemos transformar os números decimais em
frações decimais.
Fonte: Produção nossa.
 Atividade 2 – comparação dos decimais
O objetivo dessa atividade é levar o aluno a compreender a comparação
dos decimais.
1. Observe os números decimais, digite os números na calculadora e aperte a tecla ‘=”.
a) 0,50 =
b) 0,500 =
c) 0,5000 =
d) 0,60 =
e) 0,600 =
f) 0,60000 =
O que acontece?
2. Observe os números decimais e escreva a palavra maior ou menor.
a) 0, 8 .................................... 0, 7
b) 0, 9..................................... 0,5
c) 0,42 ................................... 0,23
d) 0,50 ................................... 0,49
e) 0,50 ................................... 0,05
Estes números têm partes inteiras iguais ou diferentes?
Como faço para saber quando um número decimal é maior que outro decimal?
Conclusão:
136
3. Observe os números decimais e escreva a palavra maior ou menor.
a) 1, 23 ................................ 1, 023
b) 1, 345 .............................. 1,344
c) 1, 081 .............................. 1,708
d) 1,023 .............................. 1,23
e) 1,45 ................................. 1,657
Estes números têm partes inteiras iguais ou diferentes?
Como faço para saber quando um número decimal é maior que outro decimal?
Conclusão:
4. Compare os números decimais, escreva a palavra maior ou menor.
a) 1, 8 .................................. 0,7
b) 2, 9................................... 1,5
c) 1,42 .................................0,238
d) 2,50 ................................. 0,50
e) 1,50 ................................. 2,05
f) 2,45 ................................. 1,234
Estes números têm partes inteiras iguais ou diferentes?
Como faço para saber quando um número decimal é maior do que outro decimal?
 Atividade 3 – Adição com os decimais
O objetivo dessa atividade é levar o aluno a perceber como realizar a
operação de adição com os decimais.
Figura 23- Atividades de adição com os decimais
Efetue as operações:
1) 0,4 + 0, 5
2) 1,25 + 3,54
3) 23,45 + 45,34
4) 19,98 + 14,36
5) 7,60 + 8,08
6) 13,4 + 12,67
7) 5,67 + 8,981
8) 8,345 + 54,56
9) 8,09 + 4,3
10) 6 + 3,34
Como podemos fazer a adição dos decimais?
Fonte: Produção nossa
137
 Atividade 4 – Subtração com números decimais
O objetivo dessa atividade é levar o aluno a perceber como realizar a
operação de subtração com os decimais.
Figura 24- Atividades de subtração com os decimais
Efetue as operações:
1) 0,9 - 0,3
2) 2,59 – 1,34
3) 4,58 – 2,28
4)
6) 89,405 – 34,56
5) 24, 794 – 12,563
8) 9 – 3,2
9) 18 – 12,34
10) 15,604 – 6,34
7) 7,08 – 4,6
11) 9,67 – 5,09
Escreva como podemos fazer a subtração dos decimais
Fonte: Produção nossa.
 Atividade 5: Resolver problemas aditivos com números decimais
O objetivo dessa atividade é investigar as dificuldades dos alunos na
resolução de problemas aditivos. Para a resolução dos problemas multiplicativos,
esperamos que os alunos mobilizassem seus conhecimentos prévios com os
números naturais.
Os problemas propostos aos alunos foram elaborados com base na
classificação de Vergnaud (2009), isomorfismo de medida, e divididos em três
grupos de problemas, seguindo a classificação de Sá (2003) e Durval (2003).
O 1º grupo de problemas (questão de 1 a 4) refere-se a problemas que
envolvem uma adição ou uma subtração, cuja modelação ou sentença é: a + b = ?
ou a – b = ?
O 2º grupo de problemas (questão de 5 a 8) diz respeito a problemas
que envolvem uma adição ou uma subtração, cuja modelação ou sentença é: a +
? = c ou a – ? = c.
138
O 3º grupo de problemas (questão 9 a 12) relaciona-se a problemas que
envolvem uma adição ou uma subtração, cuja modelação ou sentença é: ? + b = c
ou ? – b = c.
O 1º grupo de problemas é do tipo aritmético, trata-se de problemas
diretos e que, segundo Vergnaud (2009) e Sá (2003), são problemas fáceis para os
alunos. Assim, esperamos que os alunos não apresentassem dificuldades ao
resolvê-los, os erros esperados teriam a ver com o desenvolvimento da subtração.
Todavia, os 2º e 3º grupos apresentam problemas em que é necessária
a utilização das operações inversas, que, de acordo com Vergnaud (2009) e Sá
(2003), são problemas mais difíceis de serem resolvidos pelos alunos.
Para resolverem os problemas das atividades de ensino, os alunos foram
levados a responder vários questionamentos relacionados ao problema, o intuito
era leva-los a perceber os dados dos problemas e não pular as etapas que os
ajudariam a compreender o enunciado dos problemas, de tal forma que pudessem
fazer a modelação e escolher a operação correta a ser usada.
1. Uma empresa transportou 23,47 toneladas de carga pela manhã e 21,51
toneladas à tarde. Quantas toneladas foram transportadas no total?
a) Quanto foi transportado pela manhã?
b) Quanto foi transportado pela tarde?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Qual a quantidade de toneladas foi transportada?
2. Paulo carregou uma caixa com laranjas que pesava 8,20kg. Uma caixa com
mangas que pesava 6,19kg. Qual o peso total que Paulo carregou?
a) Quanto pesava a caixa com as laranjas?
b) Quanto pesava a caixa com as mangas?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f) Qual o peso carregado por Paulo?
139
3. Uma costureira possuía 6,5 metros de tecido. Ela gastou 2,8 metros.
Quantos metros ela possui agora?
a) Quantos metros a costureira tinha?
b) Quantos metros ela gastou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Quantos metros ela tem agora?
4. João tem R$ 12,60 e deu R$ 5,80 para sua irmãzinha. Quanto tem João
agora?
a) Quanto João tem?
b) Quanto ele deu para usa irmã?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Quanto João tem agora?
5. Paulo tinha R$ 13,70. Ele ganhou algumas moedas de sua mãe. Agora ele
possui R$28,00. Quanto ele ganhou?
a) Quanto Paulo tinha?
b) Quanto ele possui agora?
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Quanto ele ganhou?
140
6. Um atleta correu 123,85 quilômetros no primeiro dia. No segundo dia, ele
correu alguns quilômetros. No total, ele correu nos dois dias 321,29
quilômetros. Quantos quilômetros ele correu no segundo dia?
a) Quantos quilômetros o atleta correu no primeiro dia?
b) Quantos quilômetros ele correu no total?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Quantos quilômetros ele correu no segundo dia?
7. Um caminhão possuía uma carga de 5,5 toneladas. Foi descarregada uma
certa quantidade da carga. Agora, a carga do caminhão é de 3,27 toneladas.
Qual a carga que foi descarregada?
a) Quantas toneladas tinha a carga do caminhão?
b) Qual a carga que ele possui agora?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Quanto pesa a carga que foi descarregada?
8. Dona Juju é costureira e possuía 9,2 metros de tecido. Ela gastou alguns
metros para fazer uma colcha. Agora ela tem 3,75 metros de tecido. Quantos
metros ela usou para fazer a colcha?
a) Quantos metros Dona Juju tinha?
b) Quantos metros ela tem agora?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Quantos metros ela usou?
9. Eu tinha certa quantia em dinheiro. Recebi R$ 20,50 de meu irmão. Agora
possuo R$ 35,60. Quanto eu tinha antes?
a) Quanto eu recebi?
b) Com quanto fiquei?
141
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f) Qual o valor que eu tinha antes?
10. Paulo tinha certa quantidade de arroz em seu mercadinho. Ele comprou
6,89 quilogramas. Agora ele tem 48,9 quilogramas. Quantos quilos de arroz
ele tinha antes?
a) Quantos quilograma ele comprou?
b) Quanto ele tem agora?
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f) Quantos quilograma de arroz ele tinha antes?
11. Fui ao Mercado com certa quantia em dinheiro. Após gastar R$ 50,50
percebi que ainda tinha R$ 15,60. Quanto eu tinha antes?
a) Quanto eu gastei?
b) Com quanto fiquei?
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f) Qual o valor que eu tinha antes?
12. Paulo comprou certa quantidade de arroz para seu mercadinho. Vendeu 6,8
quilogramas no primeiro dia. Agora ele possui 18,9 quilogramas. Quantos
quilos de arroz ele comprou?
a) Quanto quilogramas de arroz ele vendeu?
b) Com quanto quilograma de arroz ele ficou?
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f) Qual a quantidade de arroz que ele comprou?
142
Quadro 9 - Análise dos problemas aditivos segundo a classificação de Sá (2003) e
Durval (2003)
1ª
Sentença do
problema
23,47 + 21,51=?
Operação
realizada
Adição
Tipo de
problema
(Sá, 2003)
Aritmético
2ª
8,20 + 6,19 = ?
Adição
Aritmético
Congruente
3ª
6,5 – 2,8 = ?
Subtração
Aritmético
Congruente
4ª
12,60 – 5,80 = ?
Subtração
Aritmético
Congruente
5ª
13,70 + ? = 28
Subtração
Algébrico
6ª
Subtração
Algébrico
7ª
123,85 + ? =
321,29
5,5 - ? = 3,27
Adição
Algébrico
8ª
9,2 - ? = 3,75
Adição
Algébrico
9ª
? + 20,50 = 35,60
Subtração
Algébrico
10ª
? + 6,89 = 48,9
Subtração
Algébrico
11ª
? – 50,50 = 15,60
Adição
Algébrico
12ª
? – 6,8 = 18,9
Adição
Algébrico
Questão
Tipo de
problema
(Durval, 2003)
Congruente
Não
congruente
Não
congruente
Não
congruente
Não
congruente
Não
congruente
Não
congruente
Não
congruente
Não
congruente
Fonte: Produção nossa.
4.4.1.2 Atividades de ensino da estrutura multiplicativa
 Atividade 6 - Multiplicação com números decimais
O objetivo dessa atividade é levar o aluno a perceber como realizar a
operação de multiplicação com os decimais.
143
Figura 25 - Atividades de multiplicação com decimais
Efetue as operações:
1) 0,2 x 0,4
2) 0,3 X 0,3
3) 0,8 x 0,3
4) 0,9 x 0,4
5) 2,3, x 1,5
6) 0,4 x 1,24
7) 0,25 x 2,3
8) 2,14 x 3,2
9) 2,45 x 3,4
10) 1,56 x 2,5
Escreva como podemos fazer a multiplicação dos decimais
Fonte: Produção nossa.
Essa atividade foi realizada em de duas etapas. Na primeira etapa, cada
grupo recebeu um roteiro para efetuar as multiplicações de decimais e perceber a
regra. Foi apresentado um modelo de multiplicação de decimais com as frações
decimais como sugestão para que o aluno pudesse perceber o posicionamento da
vírgula na multiplicação. Na segunda etapa, solicitamos aos alunos que
resolvessem as multiplicações no caderno. Esperamos que os alunos mobilizassem
os conhecimentos prévios com a multiplicação com os naturais para resolverem as
questões. A atividade da 1ª etapa serviria para ajudar na justificação do
posicionamento da vírgula no produto das multiplicações.
 Atividade 7: Divisão de inteiros que resulta em decimal
O objetivo dessa atividade é levar o aluno a perceber como realizar a
operação de divisão que resulta em decimais.
144
Figura 26 - Atividades de divisão de inteiros que resulta em decimal
Efetue as operações:
1) 5 ÷ 2
2) 7 ÷ 4
3) 9 ÷ 5
4) 52 ÷ 8
5) 54 ÷ 5
6) 26 ÷ 7
7) 72 ÷ 11
8) 4 ÷ 5
9) 2 ÷ 4
10) 5 ÷ 8
Fonte: Produção nossa.
Nessa atividade, os alunos receberam uma lista com questões de divisão
de dois inteiros resultando em decimais. Inicialmente, solicitamos que eles
resolvessem as divisões com seus conhecimentos prévios acerca dos números
naturais. Esperamos que os alunos fizessem a divisão até encontrarem um resto.
Em seguida, mostramos aos alunos que esse tipo de divisão tem continuidade e
como realizar a operação.
 Atividade 8: Divisão de dois decimais
O objetivo dessa atividade é levar o aluno a perceber como realizar a
operação de divisão de dois decimais.
Essa atividade foi dividida em duas partes. A primeira, com a divisão de
decimais com quantidades de casas decimais iguais e a segunda, com a divisão de
decimais com quantidades de casas decimais diferentes.
145
Figura 27- Atividades de divisão de dois decimais
1ª parte: divisão com decimais com quantidades de casas decimais iguais
1)
1,2 ÷ 0,6
2)
4,8 ÷ 0,8
3)
1,4 ÷ 2,8
4)
3,6 ÷ 1,2
5)
0,24 ÷ 0,06
6)
0,64 ÷ 0,08
7)
1,25 ÷ 0,25
8)
0,016 ÷ 0,004
9)
0,028 ÷ 0,014
10)
0,045 ÷ 0,005
Escreva uma maneira de dividir os números decimais
2ª parte: divisão com decimais com quantidades de casas decimais diferentes
1) 1,2 ÷ 0,06
2) 6,4 ÷ 0,08
3) 0,24 ÷ 0,004
4) 0,32 ÷ 0,016
5) 2,48 ÷ 0,004
6) 7,2 ÷ 0,08
7) 0,63 ÷ 0,9
8) 0,25 ÷ 2,5
9) 0, 28 ÷ 0,014
10) 21, 4 ÷ 2,14
Escreva uma maneira de dividir os números decimais
Fonte: Produção nossa.
Nessas atividades, os alunos receberam uma lista com questões de
divisão de dois decimais. Foi apresentado um modelo de divisão de decimais,
utilizando as frações decimais, como sugestão para que o aluno pudesse realizar a
146
operação. Essa 1ª parte se justifica para que o aluno possa perceber o
posicionamento da vírgula no quociente.
 Atividade 9: Resolução de problemas multiplicativos
O objetivo dessa atividade foi investigar as dificuldades dos alunos na
resolução de problemas multiplicativos. Para a resolução dos problemas
multiplicativos, esperamos que os alunos mobilizassem seus conhecimentos
prévios com os números naturais.
Os problemas foram divididos em três grupos, de acordo com a
classificação de Vergnaud (2009), Sá (2003) e Durval (2003):
O 1º grupo (questão de 1 a 3) é constituído de problemas cuja sentença
ou modelação é a x b = ?,
exige, portanto, uma multiplicação. Trata-se de
problemas diretos, sendo, assim, mais fáceis de os alunos resolverem, pois
precisariam utilizar a operação de multiplicação. Esperamos que os alunos não
tivessem dificuldades na escolha da operação, mas sabíamos que poderiam
apresentar erros no desenvolvimento do algoritmo. Na classificação de Sá (2003),
esses são problemas aritméticos e na de Durval (2003), são problemas
congruentes.
O 2º grupo (questão de 4 a 6) é formado por problemas cuja sentença
ou modelação é a x ? = c, utiliza, dessa feita, a divisão. Esse tipo de problemas
exige o uso da operação inversa para sua resolução. Segundo a classificação de
Vergnaud (2009) e Greer (1992), são problemas de divisão como partição, nos
quais deseja-se encontrar o valor da unidade. Esperamos algumas dificuldades,
tanto para escolher a operação quanto para efetuar o algoritmo da divisão,
principalmente na divisão com decimais. Na classificação de Sá (2003), são
problemas algébricos e na de Durval (2003), são problemas não congruentes.
Considerados mais difíceis para os alunos compreenderem e modelarem a
situação.
O 3º grupo (questão de 7 a 9) apresenta problemas cuja sentença ou
modelação é ? x b = a, também utilizam a divisão. Exigem, de igual modo, a
aplicação da operação inversa para a sua resolução. Segundo a classificação de
Vergnaud (2009) e Greer (1992), são problemas de divisão como cotação, nos
quais deseja-se encontrar a quantidade de unidades. Na classificação de Sá
147
(2003), são problemas algébricos e na de Durval (2003), são problemas não
congruentes. São considerados mais difíceis para os alunos compreenderem e
modelarem a situação, assim, esperamos que os alunos tivessem dificuldade em
resolvê-los.
No desenvolvimento da atividade, os alunos receberam uma lista de
problemas aritméticos envolvendo a multiplicação ou a divisão de decimais. Os
grupos resolveram os problemas e, ao final, cada grupo apresentou no quadro a
resposta para dois problemas, sendo um aritmético e outro algébrico, que foram
analisados pela pesquisadora junto com a turma. Assim como nos problemas do
campo aditivo, os problemas do campo multiplicativo também apresentaram
questionamentos para que os alunos percebessem os dados e pudessem fazer a
modelação e encontrar a operação capaz de resolvê-los.
1. O litro da gasolina custa R$ 2,95. Antônio colocou 18,5 litros de gasolina no
seu carro. Quanto ele irá pagar?
a) Quanto custa o litro de gasolina?
b) Quantos litros de gasolina Antônio colocou no carro?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor a ser pago?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule o valor a ser pago.
2. No supermercado, um quilograma de arroz custa R$ 2,50. Tereza comprou
4,5 quilogramas. Quanto ela pagou?
a) Quanto custa 1quilograma de arroz?
b) Quantos quilograma Tereza comprou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor a ser pago?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule o quanto Tereza pagou no total.
3. Em um supermercado, o preço do quilograma do queijo é R$ 5,25. Paulo
comprou 2,5 quilogramas de queijo. Quanto ele pagou?
a) Quanto custa o quilograma do queijo?
148
b) Quantos quilogramas de queijo ele comprou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor a ser pago?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quanto Paulo pagou no total.
4. Paguei R$ 15,40 por 3,5 quilogramas de carne. Quanto custa um quilograma
de carne?
a) Quanto paguei por 3,5 quilograma de carne?
b) Que quantidade de carne eu comprei?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor de 1 quilograma de carne?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quanto custa um quilograma de carne.
5. Paulo comprou 3,5 quilogramas de maniçoba e pagou R$ 19,25. Quanto
custa um quilograma de maniçoba?
a) Quantos quilogramas de maniçoba Paulo comprou?
b) Quanto ele pagou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor de 1 quilograma de maniçoba?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quanto custa um quilograma de maniçoba.
6. Um marceneiro comprou 2,4 quilos de pregos. Ele pagou R$ 3,60. Quanto
custa o quilograma de pregos?
a) Quantos quilogramas de pregos ele comprou?
b) Quanto ele pagou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor de o quilograma de prego?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quanto custa o quilograma de pregos.
149
7. Carlos tinha uma certa quantidade de picolé para vender. Cada picolé
custava R$ 2,75. Ao final do dia, ele apurou R$ 33,25. Quantos picolés ele
vendeu?
a) Quanto custava um picolé?
b) Quanto ele apurou ao final do dia?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a quantidade de picolé vendidos?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quantos picolés ele vendeu no total.
8. Lucas gastou R$ 15,50 comprando álbuns de figurinhas. Cada álbum custou
R$ 3,50. Quantos álbuns Lucas comprou?
a) Quanto Lucas gastou nos álbuns?
b) Quanto custou casa álbum?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a quantidade de álbuns ele comprou?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quantos álbuns ele comprou.
9. Tenho 18,9 metros de tecido. Vou cortá-lo em pedaços iguais de 0,9
metros. Quantos pedaços vou obter?
a) Quantos metros de tecido tenho?
b) Qual o tamanho de cada pedaço?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule o número de pedaços que vou obter.
150
Quadro 10 - Análise dos problemas multiplicativos segundo a classificação de Sá
(2003) e Durval (2003)
Questão
Sentença
Operação
Tipo de
Tipo de
problema
problema
(Sá,2003)
(Durval, 2003)
1ª
18,5 x 2,95 = ?
Multiplicação
Aritmético
Congruente
2ª
4,5 x 2,50 = ?
Multiplicação
Aritmético
Congruente
3ª
2,5 x 5,25 = ?
Multiplicação
Aritmético
Congruente
4ª
3,5 x ? = 15,40
Divisão
Algébrico
5ª
3,5 x ? = 19,25
Divisão
Algébrico
Não congruente
6ª
2,4 x ? = 3,60
Divisão
Algébrico
Não congruente
7ª
? x 2,75 = 33,25
Divisão
Algébrico
Não congruente
8ª
? x 3,30 = 15,50
Divisão
Algébrico
Não congruente
9ª
? x 0,85 = 4,93
Divisão
Algébrico
Não congruente
Não congruente
Esperamos que ao final os alunos conseguissem perceber a relação
entre ‘quantidade de unidades x unidade = valor total’, que serve para resolver esse
tipo de problema.
4.5 A ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para as análises dos dados, seguimos alguns princípios da pesquisa
mista, com a organização dos dados qualitativos e dos dados quantitativos, sendo
que cada um recebeu o tratamento adequado a cada método.
Para Ludke e André (1986, p. 45), analisar os dados qualitativos significa
trabalhar todo o material obtido durante a pesquisa, a saber, os relatos das
observações, transcrições de entrevistas, análise de documentos e as demais
informações disponíveis. As autoras colocam que a tarefa de uma análise implica,
num primeiro momento, a organização do todo material, dividindo-o em partes e
relacionando essas partes. Além disso, a construção de um conjunto de categorias
descritivas é necessária.
151
De posse dessas recomendações, organizamos todo o trabalho de modo
que o primeiro momento de análise dos dados ocorresse durante o desenrolar da
pesquisa de campo. Uma análise dos dados quantitativos se fez necessária no
primeiro momento da pesquisa de campo, para o desenrolar da coleta de dados
qualitativos.
Na análise qualitativa, foram observados os conhecimentos prévios
utilizados pelos alunos na resolução das atividades de ensino; o modo como a
aprendizagem com os decimais se desenvolvia; a evolução das produções escritas
dos alunos, que é um processo de transformação gradual que se opera ao longo
de determinado período de tempo; as dificuldades manifestadas; e as
potencialidades das atividades de ensino. Todas essas observações foram sendo
registradas no diário de bordo ou nas gravações diárias de sala de aula, nas
entrevistas com os grupos ou nas entrevistas individuais. Na realização dessas
observações e anotações, procuramos sempre manter o foco na questão de
investigação e na literatura revisada, fossem as referentes aos decimais ou aos
números naturais.
Na análise quantitativa, realizamos a tabulação dos dados dos testes
aplicados, utilizamos os resultados globais dessa análise para o cotejamento com
os dados referentes à análise qualitativa, com o fim de procedermos posteriormente
à validação.
Após a finalização da recolha do material empírico, iniciamos a parte que
consideramos a mais difícil, a análise geral do material. Assim, em um primeiro
momento, procuramos selecionar o material que seria relevante para a análise dos
dados e poderiam responder à questão da pesquisa. Em um segundo momento,
selecionamos o material, dividindo-o em grupos, o que ajudaria nas análises. Em
relação aos alunos, esses foram divididos em dois grupos para análise, os alunos
que dominavam as operações aritméticas, assim como os que apresentavam bom
desempenho na resolução de problemas no campo dos naturais e os que não
dominavam as operações e não apresentavam bom rendimento na resolução de
problemas.
No momento seguinte, procuramos, com base na revisão dos estudos
correlatos de decimais e dos estudos que serviriam como aporte teórico, criar as
categorias de análise. As categorias de análise seriam estabelecidas em relação
ao sentido de número e operação de decimal, assim como e em relação à
152
habilidade em resolver problemas com decimais. Tais categorias serviriam para, de
acordo com as características gerais das atividades propostas, analisar não só as
transformações no sentido da progressão dos alunos, mas, também, as
transformações que corresponderiam a regressões ou a estabilizações dos alunos
referentes ao campo aditivo, como também do campo multiplicativo, tanto em
relação às operações, como à resolução de problemas.
Com a finalização dessa etapa de seleção os dados receberam uma
análise qualitativa e quantitativa e os resultados serão apresentados no capítulo
seguinte.
153
5 DESENVOLVIMENTO DO EXPERIMENTO
Neste capítulo, apresentamos o desenvolvimento da investigação
realizada junto aos alunos do 7º ano. A pesquisa de campo se constituiu em quatro
momentos: no primeiro, procedemos à aplicação dos testes diagnósticos; no
segundo, à aplicação das atividades que se referiam às questões conceituais dos
decimais; o terceiro momento foi o da aplicação das atividades do campo aditivo; e
o quarto momento, o da aplicação das atividades do campo multiplicativo.
Para manter a identidade dos alunos, optamos por identificá-los nos
diálogos por A, referindo-nos à fala de um aluno; G, ao grupo de alunos; e P, à
pesquisadora.
5.1 APLICAÇÃO DOS TESTES DIAGNÓSTICOS DOS NÚMEROS NATURAIS E
DECIMAIS
No dia 24/03/2014, ocorreu o primeiro encontro. Nesse dia, aplicamos
aos trinta e seis alunos presentes um teste que continha quatro operações e seis
problemas com adição e subtração de números naturais, para verificarmos os
conhecimentos prévios dos alunos em relação a esse assunto.
No dia 25/03/2014, ocorreu o segundo encontro, e, nesse dia, aplicamos
aos trinta e seis alunos presentes um teste que continha quatro questões de
operações e seis problemas no campo multiplicativo com os números naturais.
No dia 26/03/2014 ocorreu o terceiro encontro, quando realizamos a
aplicação do pré-teste aditivo com os decimais. Nesse dia, aplicamos aos trinta e
seis alunos presentes um pré-teste contendo seis operações e dez problemas
envolvendo adição e subtração de números decimais. O objetivo era verificar o
conhecimento prévio dos alunos sobre os números decimais no campo aditivo.
Em 31/03/2014 ocorreu o quarto encontro, quando aplicamos o pré-teste
multiplicativo aos trinta e seis alunos presentes. O pré-teste continha seis
operações de multiplicação e divisão com números decimais e dez problemas com
multiplicação e divisão de números decimais. O objetivo era verificar o
154
conhecimento prévio dos alunos sobre os números decimais no campo
multiplicativo.
5.2 APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES CONCEITUAIS DOS NÚMEROS DECIMAIS
Nesta subseção, apresentamos as atividades levadas a termo com os
alunos, sujeitos desta pesquisa, referentes aos aspectos conceituais dos números
decimais.
5.2.1 Atividade 1: Transformação de frações decimais em números decimais
No dia 01/04/2014, ocorreu o quinto encontro, quando realizamos a
Atividade 1: transformação de frações decimais em números decimais. Nesse dia,
compareceram os trinta e seis alunos, que foram divididos em nove grupos. Cada
aluno do grupo recebeu um roteiro da atividade e uma calculadora. O objetivo da
atividade era fazer com que o aluno a percebesse a representação da fração
decimal em número decimal.
Iniciamos fazendo uma apresentação das frações decimais, na qual
mostramos o significado dos décimos, centésimos e milésimos com a utilização do
material multibase. Em seguida, os alunos formaram os grupos e receberam o
roteiro para realizar a atividade. A atividade exigia que o aluno realizasse a divisão
das frações decimais com a calculadora, para obter um número decimal.
155
Figura 28- Atividade de transformações das frações decimais em números
decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Durante a realização das atividades, orientamos os grupos quanto à
realização da atividade e procuramos sanar as possíveis dúvidas. Quando os
grupos terminaram a atividade, solicitamos que observassem os resultados obtidos
e escrevessem uma conclusão de como poderíamos transformar uma fração
decimal em número decimais, sem a calculadora. Inicialmente, os alunos
apresentaram dificuldade para explicitar e escrever suas ideias, de tal forma que
tivemos que ajudá-los a organizar seu pensamento para poderem escrever a
conclusão. Apresentamos o diálogo que ocorreu em um dos grupos (o mesmo
ocorreu nos demais grupos).
P: Vocês fizeram as divisões?
G: Sim.
P: Quando dividimos por 10, quantos números aparecem depois vírgula?
G: Um.
P: Quando dividimos por 100, quantos números aparecem depois
vírgula?
156
G: Dois.
P: Quando dividimos por 1000, quantos números aparecem depois
vírgula?
G: Três.
P: Então, o que temos que observar para saber se fica um número após
a vírgula, dois números após a vírgula ou três números após a vírgula?
Os alunos pensaram e um deles respondeu.
A: A quantidade de zeros.
P: Muito bem!
P: Agora, tentem escrever a conclusão do grupo.
Nessa atividade, os alunos tiveram dificuldade em perceber a relação
entre o denominador das frações e as casas decimais após a vírgula. Tivemos que
fazê-los prestar atenção ao número de zeros no denominador para que pudessem
perceber a relação.
Após todos os grupos terem finalizado a atividade, recolhemos os
protocolos dos grupos e colocamos no quadro suas respostas para fazermos uma
análise. Inicialmente, pensamos em deixar que os alunos colocassem suas
respostas no quadro, mas isso gerou certa confusão entre eles, além do que, o
espaço do quadro se mostrou pequeno, uma vez que os alunos não conseguiam
escrever no topo do quadro, por isso, optamos por colocar a resposta deles no
quadro, facilitando o desenvolvimento das atividades. Apresentamos algumas das
produções dos grupos referentes à primeira parte da atividade 1.
Figura 29- Produção do grupo da atividade de transformação de frações decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
157
Figura 30- Produção do grupo da atividade de transformação de frações decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 31- Produção do grupo da atividade de transformação de frações
decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Após analisarmos com a turma as respostas que estavam no quadro
branco, fizemos a formalização da regra. Após essa etapa, apresentamos os
números decimais, mostramos aos alunos que são constituídos por uma parte
inteira e outra decimal e que fazem parte do conjunto dos números racionais
(frações) e não do conjunto dos naturais. Como o tempo de aula acabou, deixamos
para finalizar a atividade no encontro seguinte.
No dia 02/04/2014, ocorreu o sexto encontro; realizamos a segunda
parte da Atividade 1: transformação de números decimais em frações decimais.
Nosso intuito foi de que os alunos percebessem as diversas representações dos
decimais, a forma fracionária e decimal. Nesse dia compareceram os trinta e seis
alunos que formaram os mesmos grupos do dia anterior.
Inicialmente, fizemos uma breve revisão do conteúdo do encontro
anterior e, após entregarmos os roteiros aos grupos, explicamos como seria a
atividade: transformar os decimais em frações decimais. Alguns grupos
conseguiram perceber imediatamente como deveria ser feita a transformação de
158
número decimal para fração decimal, outros precisaram de ajuda para poderem
compreender a atividade.
Figura 32- Atividade transformação de números decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Após os alunos terem finalizado a atividade, solicitamos que os grupos
escrevessem como fazer a representação dos números decimais em frações
decimais. Alguns grupos escreveram respostas sem sentido, não conseguindo
expressar o que estavam pensando, apesar de conseguirem fazê-lo oralmente. As
figuras 33,34,35 apresentam algumas das respostas dos grupos.
Figura 33- Produções do grupo de transformação dos números decimais
Fonte: Protocolo do grupo
159
Figura 34- Produções do grupo 9 transformações dos números decimais
Fonte: Protocolo do grupo
Figura 35- Produções do grupo 2 transformações dos números decimais
Fonte: Protocolo do grupo
Após os grupos terem finalizado a atividade, recolhemos os protocolos,
e colocamos as respostas dos grupos no quadro branco para fazermos uma análise
geral das respostas e a formalização das conclusões.
Alguns alunos tiveram dificuldade para entender que os milésimos são
menores que os décimos, pois fizeram comparação entre o milhar, dezenas e
centenas dos números naturais. Recorremos ao material multibase para
explicarmos a ideia de décimos, centésimos e milésimos.
160
Figura 36- Material multibase
Fonte: Acervo pessoal.
P: Imaginem que este cubo é um chocolate inteiro, agora eu vou dividilo em 10 partes iguais e tirar uma parte do chocolate (mostramos a
placa). Este pedaço (a placa) é um pedaço dos 10, certo?
A: Sim.
P: Ele representa a décima parte do chocolate?
A: Sim.
P: Agora vou dividir a placa (um pedaço) em 10 barrinhas iguais. Se eu
tenho 10 placas iguais a essa, eu terei quantas barrinhas?
Os alunos pensam e dão algumas respostas:
A: 20.
A: 30.
A: 100?
P: Muito bem! Será 100. Isso significa que eu preciso de 100 barrinhas
para ter o chocolate inteiro.
P: Imaginem eu colocando as 100 barrinhas aqui dentro do cubo, então
uma barrinha é a centésima parte do chocolate, entenderam?
A: Sim!
P: Agora, se eu dividir essa barrinha em 10 pedacinhos (o cubinho) e for
montar o chocolate, eu preciso de 1000 cubinhos para ter o chocolate
inteiro. Então o cubinho é a milésima parte. Entenderam?
A: Sim!
Então, se esse cubo fosse um chocolate de verdade, qual pedaço vocês
escolheriam?
A: A placa.
161
P: Por quê?
A: Porque é maior.
P: O que ela representa do cubo?
A: O décimo.
P: Quem é a milésima parte do cubo?
A: O cubinho.
P: E a barra o que ela representa do cubo?
A: O centésimo.
P: Entenderam o que representa um décimo, um centésimo, um
milésimo?
A: Sim!
P: Então vamos continuar!
Aproveitamos também para falar do sistema decimal posicional e
mostramos a diferença entre a posição dos números naturais e dos decimais, a
comparação entre os números decimais. Em seguida, os alunos fizeram a Atividade
2, comparações de decimais.
5.2.2 Atividade 2: Comparações de decimais
Nessa atividade, tínhamos por interesse que os alunos conseguissem
comparar números decimais, e compreendessem a ordem dos décimos,
centésimos e milésimos. Alguns grupos deram respostas incompletas, ou
responderam “temos que olhar para o número decimal” ao se referirem a parte
decimal, o que demonstrou que o sentido de número decimal não ficou claro para
eles. Outros cometeram erros como acharem que 1,45 é menor que 1,657, como
na Figura 37, no entanto, acertaram ao comparar 1,23 como sendo maior que
1,023.
162
Figura 37- Atividades de comparações de decimais
Fonte: Protocolo do grupo
5.3 APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DO CAMPO ADITIVO COM OS DECIMAIS
Nesta subseção, apresentamos as atividades do campo aditivo que
foram aplicadas aos alunos, sujeitos da pesquisa.
163
5.3.1 Atividade 3: Adição com os números decimais
No dia 07/04/2014, ocorreu o sétimo encontro e realizamos a Atividade
3: adição de números decimais. Nesse dia, compareceram trinta seis alunos, que
foram divididos nos mesmos grupos da atividade anterior. Cada aluno recebeu o
roteiro de atividade e uma calculadora. O objetivo da atividade era fazer os alunos
construírem a regra para a adição dos decimais.
Iniciamos com uma breve revisão dos decimais e sua representação com
a vírgula e retomamos a ideia dos décimos, centésimos e milésimos. Em seguida,
os alunos receberam os roteiros para realizarem atividade de adição dos decimais.
Inicialmente, solicitamos que tentassem resolver as operações utilizando seu
conhecimento prévio de adição com os números naturais, depois, receberam a
calculadora para efetuar as operações e verificar os resultados.
Figura 38- Atividades de adição de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
164
Após os alunos terem corrigido os resultados e posicionado
corretamente a vírgula, solicitamos que observassem os cálculos que tinham feito
e que escrevessem como poderíamos realizar a adição de decimais sem utilizar a
calculadora.
Observamos que alguns grupos tiveram dificuldade para escrever suas
conclusões e fizemos as mediações necessárias, pois, apesar de conseguirem
executar a atividade, não conseguiam explicitar oralmente o que fizeram. Fizemos
diversas mediações para que os alunos conseguissem organizar seu pensamento.
Ao final, eles conseguiram expressar oralmente, mas ainda tinham dificuldade em
escrever.
P: Vocês fizeram as adições?
A: Sim.
P: Corrigiram com a calculadora?
A: Sim.
P: Então, como vocês fizeram para adicionar os números decimais?
A: Colocamos um sobre o outro e somamos.
P: Como vocês somaram?
Algumas repostas dadas pelos alunos:
A1: Temos que fazer igual como a gente faz com os números sem a
vírgula.
A2: Coloco vírgula embaixo de vírgula.
A4: Números inteiros antes da vírgula.
A5: Somar décimos com décimos, centésimos com centésimos,
milésimos com milésimos.
P: E as unidades?
A5: Somar unidade com unidade.
A6: Somar inteiro com inteiro e decimal com decimal.
A7: Separar a parte inteira dos centésimos.
Após verificarmos que todos os grupos tinham escrito suas respostas,
colocamos as respostas no quadro branco e as analisamos junto com os alunos
para escolhermos a resposta mais completa. A turma fez sua escolha e juntos
fizemos a formalização da regra para adicionar os decimais. Após a formalização,
165
fizemos a justificação da regra, utilizando as frações decimais, para que os alunos
compreendessem o porquê da vírgula naquela posição.
Figura 39- Produções dos alunos da atividade adição
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 40- Produções dos alunos da atividade adição
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 41- Produções dos alunos da atividade adição
Fonte: Protocolo do grupo.
166
5.3.2 Atividade 4: Subtração com os números decimais
No dia 08/04/2014 ocorreu o oitavo encontro, realizou-se a atividade 4:
subtração de números decimais. Nesse dia, compareceram trinta seis alunos que
formaram os mesmos grupos. Os alunos receberam o roteiro da atividade e uma
calculadora. O objetivo da atividade era que os alunos percebessem a regra da
subtração dos números decimais.
Os
grupos
receberam
os
roteiros e
as orientações para
o
desenvolvimento da atividade e, como tinham realizado a atividade da adição,
entenderam que era igual, realizaram-na sem problemas iniciais. As dificuldades
surgiram quando tiveram que subtrair de zero ou subtrair um número menor de um
maior, fomos, então, ao quadro e relembramos essas regras da subtração,
utilizando o sistema posicional decimal. Os alunos compreenderam e voltaram a
fazer a atividade sem problemas. Após fazerem as subtrações, receberam a
calculadora para conferir e corrigir os resultados das operações.
Figura 42- Atividade de subtração de números decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
167
Ao final da atividade, perguntamos aos alunos como poderíamos fazer
para subtrair número decimais. Após verificarmos que todos os grupos tinham
escrito suas respostas, as colocamos no quadro branco e fomos verificar junto com
a turma a resposta mais completa. A turma escolheu uma resposta e, ao final,
fizemos a formalização e a justificação da regra com as frações decimais. Algumas
respostas dos grupos estão nas figuras 43,44 e 45.
Figura 43- Produções do grupo 8 da atividade 4
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 44- Produções do grupo 1 da atividade 4
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 45- Produções do grupo 9 da atividade 4
Fonte: Protocolo do grupo.
168
5.3.3 Resolução de problemas aditivos
No dia 09/04/2014, ocorreu o nono encontro com a resolução da
Atividade 5 resolução de problemas com adição e subtração de decimais. Nesse
dia, compareceram trinta e seis alunos que formaram os mesmos grupos. O
objetivo da atividade era desenvolver habilidades nos alunos para resolver
problemas.
Inicialmente, os alunos receberam uma lista com doze problemas
aditivos para resolver. Os alunos tinham que responder as várias perguntas
relacionadas a cada problema, o objetivo das perguntas era ajudá-los a organizar
suas ideias para que pudessem modelar o problema e escolher a operação
adequada que o resolvesse.
Decidimos fazer juntos com os alunos o primeiro problema, pois alguns
achavam que era para marcar e não para responder. Íamos fazendo as perguntas
e os alunos respondiam, mostramos como podiam fazer a modelação do problema
e como perceber a operação correta para resolvê-lo. Após as explicações, os
alunos conseguiram resolver os demais problemas. Importante ressaltarmos que
os alunos discutiam em seus grupos a solução para os problemas e nos chamavam
quando o grupo não conseguia chegar a uma conclusão, nessa hora, fazíamos as
devidas mediações para que pudessem chegar às suas conclusões sozinhos.
As dúvidas foram surgindo no decorrer da atividade, principalmente na
escolha da operação para resolver os problemas. Em um primeiro momento, os
alunos procuraram “palavras-chave” no enunciado para resolver o problema e em
alguns escolhiam a operação errada. Tivemos que fazer algumas mediações para
ajudá-los a pensar na sentença dos problemas e escolher a operação. Como o
tempo da aula finalizou, tivemos que recolher as atividades e dar prosseguimento
no encontro seguinte.
No dia 14.04.2014, ocorreu o décimo encontro, continuação da Atividade
5. Os alunos receberam a lista de problemas para dar continuação à atividade
anterior. Fizemos as devidas mediações nos grupos que apresentavam dificuldade
para compreender as questões. Alguns problemas ofereceram maior dificuldade do
que outros (isso era esperado). Observamos que nos problemas diretos (que não
utilizam a operação inversa), os alunos não tiveram dificuldade para perceber a
169
operação a ser usada e resolvê-los, entretanto, nos problemas que necessitavam
da operação inversa para serem resolvidos, os alunos sentiram dificuldade na
compreensão do enunciado e na escolha da operação.
Ao observarmos as estratégias de resolução e as dificuldades expostas
pelos alunos, sugerimos que fizessem a sentença dos problemas, fomos, então, ao
quadro e mostramos como poderia ser feito. Nossa proposta era que os alunos
pudessem utilizar o modelo a + b = c ou a – b = c e pudessem perceber a operação
a ser usada a partir da modelação do problema. Depois de um certo tempo, os
alunos começaram a escrever as sentenças e as dificuldades com a escolha da
operação foram sendo reduzidas.
Apresentamos alguns dos problemas que foram trabalhados e a
resposta dada por um dos grupos. Os problemas 1,2,3,4 eram problemas diretos
do tipo aritmético, e sua modelação ou sentença é a + b = ? ou a – b = ?, como no
problema 2.
Figura 46- Resposta do grupo aos problemas aditivos
Fonte: Protocolo do grupo.
Observamos que o grupo modelou e resolveu corretamente o problema.
Os demais grupos não tiveram dificuldade com esse tipo de problema.
Os problemas de 5 a 12 eram algébricos, exigiam a utilização da
operação inversa. A modelação dos problemas de 5 a 8 era do tipo a + ? = c ou a ? = c, como é o caso do problema 5.
170
Figura 47- Resposta do grupo aos problemas aditivos
Fonte: Protocolo do grupo.
Os problemas de 9 a 12 apresentavam a sentença do tipo ? + b = c ou ? –
b = c. Como é o caso do problema 9.
Figura 48- Resposta do grupo aos problemas aditivos
Fonte: Protocolo do grupo.
Ao final da atividade, os alunos colocaram no quadro a resposta dos
problemas, que haviam sido sorteados anteriormente, como mostra a Figura 49.
171
Figura 49- Respostas dos alunos para os problemas aditivos
Fonte: Protocolo do grupo.
Alguns erros observados foram em relação à realização da subtração,
os alunos continuavam a colocar o subtraendo embaixo do minuendo ou se
equivocavam quanto aos empréstimos de uma casa para outra. Ao final da
atividade, fizemos juntamente com os alunos um quadro que apresentava a
sentença e a operação de cada problema, cada grupo deu a sentença e a operação
do problema que foi sorteado, os demais problemas foram feitos em conjunto com
a turma.
Figura 50- Modelação dos problemas aditivos
Fonte: Protocolo do grupo.
172
Nessa atividade, percebemos os avanços dos alunos, tanto na
compreensão do problema, quanto no desenvolvimento das operações de adição
e subtração com os decimais. Além disso, os alunos apresentaram um
desenvolvimento em relação aos trabalhos em grupo, uma vez que passaram a
discutir e comparar seus resultados.
No dia 15.04.2014, fizemos uma revisão com os alunos do conteúdo
trabalhado.
No dia 16.04.2014, ocorreu o décimo primeiro encontro, no qual
aplicamos o pós-teste aditivo.
Tivemos que interromper a pesquisa por algumas semanas por causa
do calendário das avaliações, paralisações dos professores, e atividade
pedagógicas da escola, retomamos no dia 12.05.2014.
5.4 APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE ENSINO DO CAMPO MULTIPLICATIVO
Nesta subseção, apresentamos as atividades do campo multiplicativo
com os decimais que foram aplicadas aos alunos, sujeitos da pesquisa.
5.4.1 Multiplicação dos números decimais
No dia 13.05.2014 ocorreu o décimo-segundo encontro, no qual
realizamos a Atividade 6: multiplicação de números decimais. Compareceram
nesse dia trinta e três alunos que trabalharam em grupos. O objetivo da atividade
era fazer o aluno perceber a regra da multiplicação dos decimais. Todos os alunos
receberam uma cópia da tabuada de multiplicação que podiam usar durante as
atividades.
Para o desenvolvimento dessa atividade, os alunos precisariam dos
conhecimentos prévios de multiplicação de frações, transformação de decimal em
fração e vice-versa, e multiplicação com os números naturais, por isso, inicialmente,
fizemos uma revisão da multiplicação de frações e das transformações dos
173
números decimais em frações. Em seguida, o roteiro da atividade foi entregue aos
grupos e explicado como seria a atividade. Os alunos deveriam fazer primeiramente
as transformações de número decimal em frações decimais, efetuar a operação de
multiplicação com as frações e, ao final, transformar o resultado em número
decimal.
Figura 51- Atividade multiplicação de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
No decorrer da atividade, foram surgindo algumas dificuldades e dúvidas
que foram sendo superadas com as mediações que fazíamos nos grupos. Ao final
da atividade, pedimos aos alunos que escrevessem de que forma poderíamos
multiplicar os decimais sem usar as frações. Iniciamos o diálogo nos grupos.
P: Como posso fazer para multiplicar 0,2 por 0,4 sem usar as frações?
A: Multiplica e dá 0,08.
P: Olhem para a multiplicação (apontei a multiplicação 0,2 x 0,4).
Quantas casas decimais tem neste número 0,2?
A: Uma.
P: Quantas casas decimais tem neste número 0,4?
174
A: Uma.
P: No resultado apareceram quantas casas decimais?
A: Duas.
P: Então, como apareceram as duas casas decimais?
(Os alunos pensam, mas não respondem nada)
P: Vamos olhar outra multiplicação. Quantas casas decimais tem neste
número 0,4?
A: Uma.
P: Quantas casas decimais tem neste número 1,24?
A: Duas.
P: O resultado tem quantas casas decimais?
A: Três.
P: Então, como fazemos para multiplicar os números decimais?
A: Eu multiplico e vejo quantas vírgulas (a aluna se referia às casas
decimais) tem aqui (apontava para as casas decimais) e ponho no
resultado.
P: Ok, mais não é vírgula. São casas decimais.
Outras respostas que surgiram nos outros grupos para as mesmas
questões:
G4: Primeiro multiplica depois observa as casas depois da vírgula.
G5: Multiplica e vê quantas casas tem após as vírgulas.
Observamos que as respostas dos alunos foram incompletas, como
mostra a Figura 52. Percebemos uma grande dificuldade dos alunos em escrever
como efetuar uma multiplicação. As respostas eram curtas e algumas vezes sem
sentido. Foram necessárias várias mediações nos grupos para que os alunos
pudessem perceber a regra. Após a finalização da atividade, recolhemos os
protocolos e colocamos as respostas no quadro branco.
175
Figura 52- Respostas dos alunos para a multiplicação de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Ao final, analisamos as respostas junto com a turma para verificarmos
quais estavam mais completas, em seguida, procedemos à sua formalização. O
objetivo de trabalhar inicialmente com as frações decimais foi que os alunos
pudessem compreender o posicionamento da vírgula no resultado.
Figura 53- Produção do grupo 5 para a atividade 6
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 54- Produção do grupo 3 para a atividade 6
Fonte: Protocolo do grupo.
176
Figura 55- Produção do grupo 2 para atividade 6
Fonte: Protocolo do grupo.
Após essa etapa, pedimos que os alunos resolvessem as mesmas
questões utilizando o algoritmo da multiplicação. As orientações foram para que
eles multiplicassem normalmente como se fossem os números inteiros naturais, e
somente colocassem a vírgula no resultado. As Figuras 56 e 57 apresentam
algumas repostas dos alunos.
Figura 56- Produção dos alunos para multiplicação de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 57- Produção dos alunos para multiplicação de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
177
Percebemos que alguns alunos sentiram dificuldade, pois não sabiam o
algoritmo da multiplicação com os naturais, logo, tivemos que fazer algumas
mediações e ajudá-los. Os alunos que sabiam utilizar o algoritmo da multiplicação
não tiveram problemas em resolver as multiplicações com os decimais. As questões
e dúvidas surgiram no posicionamento da vírgula, pedimos, então, que olhassem a
atividade com as frações e observassem como havia ficado a posição da vírgula no
resultado. Após isso, os alunos conseguiram posicionar a vírgula sem problemas.
5.4.2 Atividade de divisão dos decimais
No dia 19.05.2014, ocorreu o décimo terceiro encontro com a Atividade
7: divisão de dois inteiros resultando em decimais. Nesse dia, compareceram trinta
e três alunos que trabalharam em grupos. O objetivo era desenvolver a habilidade
dos alunos em dividir dois inteiros resultando em um decimal.
Entregamos o roteiro com as questões aos alunos e solicitamos que
resolvessem as divisões. Eles mobilizaram seus conhecimentos com a divisão de
números naturais, mas, em certo momento, esse conhecimento mostrou-se
insuficiente, pois os alunos paravam a divisão quando aparecia o resto.
Nesse momento, fomos ao quadro, fizemos alguns exemplos e
mostramos que eles podiam continuar a divisão, em seguida, pedimos que
retomassem a atividade e continuassem as divisões, eles resolveram as questões
sem problemas. Observamos que os alunos que não sabiam realizar a operação
de divisão com naturais apresentaram dificuldades e tivemos que fazer as
mediações para ajudá-los.
178
Figura 58 - Produção dos alunos para divisão de inteiros
Fonte: Protocolo do grupo.
No dia 21.05.2014, ocorreu o décimo quarto encontro com a Atividade 8,
divisão de dois números decimais. Nesse dia, compareceram trinta e seis alunos
que trabalharam em grupos. O objetivo da atividade era fazê-los perceber a regra
da divisão com dois decimais. Essa atividade foi dividida em duas partes, a 1ª parte
era a divisão de dois decimais com a mesma quantidade de casas decimais; a 2ª
parte, com quantidade de casas decimais diferentes. Nessa atividade, inicialmente,
os alunos usariam os conhecimentos prévios de divisão de frações decimais e
transformações de frações, o objetivo de trabalhar com as frações decimais era
para justificar o posicionamento da vírgula no resultado, assim, fizemos uma
revisão antes da atividade. Em um segundo momento, precisariam do
conhecimento de divisão com os naturais.
179
Figura 59 - Atividade de divisão de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Entregamos o roteiro de atividade para os alunos e explicamos como os
alunos deveriam realizar as divisões. Algumas dúvidas e dificuldades foram
surgindo no decorrer da atividade e fomos realizando as mediações para saná-las.
Os alunos conseguiram desenvolver a atividade sem problemas, a
dificuldade maior foi para escrever suas observações ao final. Nas produções dos
grupos, percebemos que seus pensamentos não eram lineares, pois quando
perguntávamos a eles como realizar as divisões de decimais, sem ter que usar as
frações, vinham respostas diversas.
P: Como posso fazer para dividir os dois decimais 1,2 ÷ 0,6 sem precisar
fazer todo esse cálculo com as frações? Alguma sugestão?
A: Vai juntar o 1 com 2 e fica 12 e junta 0 com 6 fica 6, aí divide 12 por
6 e o resultado é 2.
P: Ok, mas não é juntar.
180
(Eles pensam mais um pouco, peço para eles olharem para o número
1,2 que agora é 12, e pergunto o que aconteceu com ele).
A: Tirou a vírgula e dividiu.
P: Ok, ele perdeu a vírgula, mas, para eliminar a vírgula, é preciso
observar algo antes.
P: Vamos olhar as frações, você tinha 1,2 ficou 12/10, aqui é 0,6 ficou
6/10, estes dois números são décimos?
A: São.
P: Aqui temos 0,24 ficou 24/100 e 0,06 ficou 6 /100, os dois números são
centésimos?
A: Sim.
P: Este outro 0,028 ficou 28/1000 e 0,014 ficou 14/1000, os dois números
são milésimos?
A: Sim.
P: Então, para dividir dois decimais, o que eu preciso observar primeiro?
A: Se os dois números têm décimos, centésimos e milésimos.
P: Certo, então como faço para dividir dois decimais?
A: Tem que observar se os dois números têm décimos, centésimos ou
milésimos, depois tira a vírgula e faz a divisão.
P: Observem, quantas casas decimais tem este número 0,028?
A: Três.
P: E este 0,014?
A: Três.
P: Tem a mesma quantidade de casas decimais?
A: Tem.
P: O que eu devo fazer então?
A: Tira a vírgula e divide (um dos alunos responde).
P: Muito bem! Entenderam o que deve ser feito?
A: Sim.
P: Ok, então escrevam a conclusão de vocês.
Algumas respostas iniciais dos outros grupos foram:
Tirar a vírgula e faz a conta;
Eliminar a vírgula e dividir;
Tem que eliminar a vírgula.
181
Apesar de os alunos conseguirem perceber uma forma mais simples de
fazer as divisões, tivemos que chamar a atenção para o fato de que antes de tirar
a vírgula era preciso observar se os números possuíam a mesma quantidade de
casas decimais. Para isso, tomamos como base o cálculo com frações que eles
tinham feito, fomos mostrando como os números decimais tinham sua
representação nas frações, como décimos, centésimos e milésimos e que por isso
eles possuíam a mesma quantidade de casas decimais, após isso, eles refizeram
suas observações e passaram a dar respostas mais completas. Como o horário
terminou, ficamos de continuar no próximo encontro. As figuras 60, 61 e 62
apresentam algumas conclusões dos grupos:
Figura 60- Produção do grupo 4 para atividade 7
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 61- Produção do grupo 8 para a atividade 7
Fonte: Protocolo do grupo.
182
Figura 62- Produção do grupo 7 para a atividade 7
Fonte: Protocolo do grupo.
No dia 26.05.2014, ocorreu o décimo quinto encontro, finalizamos a 1ª
etapa da atividade de divisão da aula anterior, fizemos a formalização da regra e
mostramos que se os números decimais tivessem a mesma quantidade de casas
decimais, bastava tirar a vírgula e dividir normalmente. Em seguida, pedimos aos
alunos que fizessem as divisões sem utilizar as frações decimais, a atividade foi
realizada sem problemas. Observamos que mesmo os alunos que tinham sentido
dificuldade com a 1ª atividade de divisão tiveram um desempenho bem melhor
nessa última atividade. Um fator importante foi que os números eram fáceis para
dividir, então, os alunos não apresentaram problemas para resolver as divisões.
27.05.2014 e 28.05.2014, não houve aula, devido à paralisação dos
professores e atividades pedagógicas na escola, respectivamente.
No dia 02.06.2014, ocorreu o décimo sexto encontro, quando realizamos
a 2ª parte da atividade de divisão de dois decimais. A atividade era para dividir
decimais com a quantidade de casas decimais diferentes. Participaram dessa
atividade trinta e cinco alunos que trabalharam em grupos.
Inicialmente, relembramos a regra da divisão de decimais com a mesma
quantidade de casas decimais, logo em seguida, entregamos o roteiro de atividade
e explicamos como essa seria, utilizamos, para isso, dois exemplos no quadro que
tinham frações decimais.
183
Figura 63- Atividade de divisão de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Após algumas explicações e orientações nos grupos, os alunos iniciaram
a atividade e percebemos que, dessa vez, eles apresentaram menos dificuldades
para realizar a atividade com as frações decimais e conseguiram fazê-la em menos
tempo do que a atividade anterior. A atividade agora parecia estar fazendo sentido
para os alunos.
A produção escrita foi a parte mais difícil para os alunos, mas com as
devidas mediações conseguiram expor suas ideias de forma mais rápida do que
das outras vezes. Colocamos as respostas no quadro e fizemos a formalização da
regra da divisão de dois decimais.
184
Figura 64- Produção do grupo 5 para divisão de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 65- Produção do grupo 1 para divisão de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 66- Produção do grupo 5 para divisão de decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Terminada essa etapa, pedimos que eles resolvessem as questões
utilizando o algoritmo da divisão, sem usar as frações. Os alunos não apresentaram
dificuldade em compreender como deveriam fazer as divisões, acreditamos que
isso ocorreu pelo desenvolvimento da 1ª etapa da atividade e também porque os
números eram fáceis para dividir.
185
Em 03.06.2014, não houve aula.
No dia 04.06.2014, ocorreu o décimo sétimo encontro, no qual
realizamos uma revisão da resolução de problemas multiplicativos com os números
naturais, e aproveitamos para enfatizar os algoritmos e esclarecer dúvidas. Os
alunos receberam uma lista de problemas multiplicativos com os números naturais,
fomos verificando suas dificuldades e ajudando a superá-las. As figuras 67, 66 e
68 apresentam alguns dos problemas propostos.
Figura 67- Produção dos alunos para os problemas multiplicativos dos
números naturais
Fonte: Protocolo do grupo.
186
Figura 68 - Produção dos alunos para os problemas de divisão dos
números naturais
Fonte: Protocolo do grupo.
Figura 69- Produção dos alunos para os problemas de divisão dos números
naturais
Fonte: Protocolo do grupo.
187
Durante a realização dos problemas, não observamos dificuldade dos
alunos em resolver os problemas, conseguiram identificar a operação e realizar as
operações.
No dia 09.06.2014, ocorreu o décimo oitavo encontro, fizemos uma
revisão dos algoritmos da multiplicação e divisão de números decimais.
No dia 10.06.2014, ocorreu o décimo nono encontro, trabalhamos a
Atividade 8: resolução de problemas multiplicativos com os decimais. Os alunos
trabalharam em grupos na realização dessa atividade.
Os alunos receberam uma lista com nove problemas do campo
multiplicativo com decimais, sendo três problemas de multiplicação, três problemas
de divisão como partilha e três problemas de divisão como cotação. Durante a
realização da atividade, algumas dúvidas ainda persistiam, principalmente na
escolha da operação, então, sugerimos que os alunos tentassem fazer as
sentenças dos problemas, como havíamos feito nos problemas para adição e
subtração. O problema apresentava algumas perguntas que o aluno tinha que
responder até chegar a solução, o objetivo era ajudar os alunos a organizarem suas
ideias e compreenderem melhor o enunciando do problema, chegando à sua
modelação e solução correta.
Mostramos que a sentença agora seria a x b = c, resolvemos um
problema modelo para que eles pudessem entender. Em seguida, os alunos
passaram a escrever as sentenças e fomos aos grupos fazendo as mediações
necessárias, visto que algumas dificuldades persistiam na representação da
sentença e na realização das as operações. Aos poucos observamos que as
dificuldades em relação à compreensão dos problemas foram sendo amenizadas e
que já não eram tão comuns. Algumas dúvidas surgiram em relação ao
desenvolvimento dos algoritmos, foram necessárias algumas mediações para
sanar essas dúvidas, alguns alunos conseguiram superar as dificuldades e resolver
corretamente as questões. Como o tempo de aula encerrou, recolhemos as
atividades para continuarmos no próximo encontro. Os problemas de 1 a 3 eram de
multiplicação, como apresentamos na Figura 70.
188
Figura 70- Atividade da resolução de problema de multiplicação com
decimais
Fonte: Protocolo do grupo.
Nos problemas de multiplicação, os alunos não encontraram dificuldades
para realizarem a modelação e perceberem a operação, no entanto, ainda
ocorreram alguns erros na realização do algoritmo da multiplicação e
posicionamento da vírgula.
Os problemas de 4 a 6 eram de divisão como partição, como
apresentamos na Figura 71.
189
Figura 71- Atividades de resolução de problemas de divisão como partição
Fonte: Protocolo do grupo.
Os problemas de 7 a 9 eram de divisão como cotação como
apresentamos na Figura 72.
Figura 72- Atividade de resolução de problemas de divisão como cotação
Fonte: Protocolo do grupo.
190
Na resolução dos problemas de divisão, os alunos conseguiram
perceber a operação e resolver as divisões. Não percebemos dificuldade dos
alunos em relação ao tipo de problema, por ser uma divisão como partição ou como
cotação. Porém, alguns erros ainda foram observados no desenvolvimento do
algoritmo da divisão e na escolha da operação.
No dia 11.06.2014, ocorreu o vigésimo encontro, quando retomamos a
atividade anterior para que os alunos a finalizassem. Ao final, pedimos que cada
grupo desse a resposta para os problemas, assim, um aluno do grupo dizia a
sentença e a operação escolhida pelo grupo, e nós íamos colocando no quadro.
Cada grupo ficou responsável para dar a resposta do problema que correspondia
ao número do seu grupo. A Figura 73 mostra a resposta dos alunos para os
problemas.
Figura 73- Modelação dos problemas pelos alunos
Fonte: Protocolo do grupo.
Ao final dessa etapa, perguntamos como poderíamos escrever a
sentença em palavras e o que cada termo da sentença representava. Fizemos a
leitura dos problemas e fomos fazendo a análise de cada termo. Nossa intenção
era que os alunos pudessem perceber a relação implícita da sentença, que a
quantidade de unidades x a unidade = total. Um dos alunos pediu para ir ao quadro
escrever a resposta que seu grupo pensou. Como mostra a figura 74.
191
Figura 74 - Produção dos alunos
Fonte: Protocolo do grupo.
O grupo apresentou como resultado que a sentença dos problemas
representa a quantidade x uma parte = total, esse foi o esquema de raciocínio de
um grupo. O grupo que apresentou esse resultado era um dos mais envolvidos nas
atividades, eles fizeram questão de apresentar a sua conclusão para a
representação da sentença. Ao final, fizemos as correções dos cálculos dos
problemas no quadro.
No dia 13.06.2014, ocorreu o vigésimo primeiro encontro com a
aplicação do pós-teste aos trinta e seis alunos presentes.
5.5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
No desenvolvimento das atividades, fomos percebendo algumas
situações sobre o processo de aprendizagem dos alunos, que se mostrou lento nos
primeiros dias, pois os alunos sentiam dificuldade em produzir as conclusões das
atividades. Acreditamos que isso ocorreu pelo excessivo uso do método tradicional
de ensino, em que eles se tornam dependentes do professor e apenas reproduzem
suas respostas, sem ter que pensar e escrever suas conclusões. Como
consequência, os alunos apresentaram dificuldade em expressar por escrito suas
conclusões, apesar de algumas vezes terem expressado oralmente o novo
conhecimento construído.
Observamos que as produções escritas dos alunos eram incompletas e
seus pensamentos não apresentavam uma linearidade, e sim muitas rupturas. Isso
é explicado por Vergnaud (1990), ao afirmar que os alunos têm dificuldade em
192
explicar ou expressar os conhecimentos implícitos, mas isso não significa que tal
conhecimento não possa ser explicitado. Esses conhecimentos implícitos são os
teoremas em ação e conceitos em ação mobilizados pelos alunos. Essa quebra de
pensamento, nas produções dos alunos, repercutiu nas conclusões incompletas e
sem sentido, e isso, segundo Moreira (2004, p.15), se explica porque a construção
do conhecimento pelo aprendiz não é um processo linear, facilmente identificável.
Ao contrário, é complexo, tortuoso, demorado, com avanços e retrocessos,
continuidades e rupturas. Continuidades e rupturas não são, no entanto,
excludentes, são indicativos da construção do conhecimento e fazem parte do
processo de aprendizagem.
Além disso, observamos que alguns alunos avançaram mais que outros
no desenvolvimento das atividades, claro que não podemos descartar o fator
interesse por parte deles. No entanto, mesmo os alunos que mostraram interesse
em realizar as atividades de ensino caminhavam mais lento que outros,
acreditamos, portanto, que esse descompasso entre o desenvolvimento da
aprendizagem dos alunos se justifica pelos conhecimentos prévios que eles
possuem, pois, segundo Vergnaud (1990, p.40), o conhecimento está organizado
em campos conceituais, cujo domínio, por parte do aprendiz, ocorre ao longo de
um largo período de tempo, através de experiência, maturidade e aprendizagem. E
isso foi observado no desenrolar das atividades, pois percebemos uma melhora na
escrita e formalização dos alunos, suas respostas começaram a ficar mais
completas.
Retomamos a definição de campo conceitual, como sendo, em primeiro
lugar, um conjunto de situações cujo domínio requer, por sua vez, o domínio de
vários conceitos, procedimentos e representações de naturezas distintas
(VERGNAUD, 1990, p. 146). Nesse sentido, podemos considerar os números
naturais e as frações decimais como campos conceituais. Partindo desse
pressuposto, os campos conceituais, segundo Vergnaud (1990), ou conhecimentos
prévios, segundo Ausubel (2003), influenciaram de forma positiva na construção do
novo conhecimento, visto que os alunos que tinham o domínio das operações no
campo dos números naturais desenvolveram as atividades mais rapidamente e
apresentaram uma melhor compreensão das regras das operações com os
decimais e se saíram melhor na resolução dos problemas.
193
Para Ausubel (2003), na aprendizagem significativa entre os dois
conhecimentos (antigo – novo) estabelece-se uma troca, já que além de se obter
um novo conhecimento significativo, o conhecimento antigo adquire uma nova
dimensão, se modifica e adquire um novo significado para o aluno. Provavelmente
os números naturais adquiriram novos significados, no momento em que os alunos
se apropriaram do conhecimento de números decimais. E isso pôde ser verificado
no domínio que os alunos foram adquirindo das operações com os naturais.
Algumas variáveis influenciaram nos resultados da pesquisa, uma delas
foi a faixa etária enquanto um fator relevante no desenvolvimento das atividades,
pois os alunos mais jovens, na faixa dos 10 – 12 anos, se mostravam mais
interessados no desenvolvimento das atividades, do que os alunos mais velhos, 13
anos. De tal forma que os resultados das atividades e dos testes dos alunos mais
jovens foram bem melhores que os dos alunos mais velhos. Outra variável
relaciona-se ao fato de que, à época da aplicação das atividades do campo
multiplicativo, tiveram início os jogos da copa do mundo, e percebemos que os
alunos, muito envolvidos com os jogos, já não demonstravam interesse na
realização das atividades, além do que as atividades da escola, como avaliações e
festa junina e os jogos da copa, provocaram uma alteração no calendário escolar e
a aplicação das atividades do campo multiplicativo foi comprometida em vista do
pouco tempo que tivemos para finalizar a pesquisa. Assim, acreditamos que se
tivéssemos trabalhado com o tempo planejado os resultados do teste do campo
multiplicativo teriam sido melhores.
194
6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O objetivo deste capítulo é apresentar as análises e a discussão dos
resultados dos testes com os números naturais e decimais no campo aditivo e
multiplicativo, assim como os resultados observados durante a realização das
atividades propostas. Para isso, desenvolvemos três categorias de análise que
subsidiarão as análises do desempenho dos 36 alunos.
6.1 APRESENTAÇÃO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE
Com base nos estudos revisados sobre sentido de número e operação
e a estrutura semântica dos problemas, desenvolvemos três categorias de análise
que norteiam a discussão dos resultados.
 Habilidades com as operações;
 Habilidade para modelar a situação do problema;
 Habilidade para reconhecer a operação utilizada no problema.
Para o componente habilidades com as operações, esperamos que os
alunos tenham conhecimento conceitual e processual das operações e habilidade
com os números envolvidos nas operações, desenvolvam o algoritmo formal das
operações ou outra estratégia para resolver as operações e consigam raciocinar
sobre os resultados.
Para a componente habilidade para modelar a situação do problema,
esperamos que o aluno tenha a habilidade para modelar a situação que representa
o problema por meio de uma sentença a + b = c ou a x b = c.
Para o componente reconhecer a operação que resolve o problema,
esperamos que o aluno consiga reconhecer e utilizar corretamente a operação que
resolve o problema e analisar os resultados obtidos, evitando respostas
inadequadas.
As análises dos resultados, do campo aditivo e multiplicativo, utilizando
tais categorias, serão feitas separadamente.
195
6.2 ANÁLISES DOS RESULTADOS DOS TESTES DA ESTRUTURA ADITIVA
Apresentaremos os resultados do desempenho dos alunos nos testes do
campo aditivo, com os números naturais e decimais, analisando dentro das
categorias de análise estabelecidas.
6.2.1. Habilidade com as operações
Em relação a esta categoria, analisamos o desempenho dos alunos nos
testes com os naturais e decimais. O Quadro 11 apresenta a tabulação dos
resultados* do desempenho dos alunos nas operações com os decimais do campo
aditivo no pré- e pós-teste. Usamos as siglas (QCDI) para especificar quantidades
de casas decimais iguais, e (QCDF) para quantidades de casas decimais diferentes
nas operações.
Quadro 11 - Comparativo dos resultados dos testes do campo aditivo com
decimais
Acerto %
Erro %
Não fez %
Questão
Operação
Pré- Pós- Pré- Pós- PréPósteste teste teste teste teste Teste
A
Adição com
55
100
19
00
26
00
decimais(QCDI)
B
Adição com
22
94
53
06
25
00
decimais(QCDF)
C
Adição de
inteiro com
19
83
53
17
28
00
decimal
D
Subtração com
36
97
36
03
28
00
decimais (QCDI)
E
Subtração de
8
92
56
08
36
00
decimais (QCDI)
Subtração de
F
inteiro com
00
67
58
33
42
00
decimal
Fonte: Pré- e pós-teste dos alunos.
196
Na correção das questões, consideramos que o acerto seria o
desenvolvimento correto do algoritmo e o posicionamento correto da vírgula no
resultado, e o erro seria o desenvolvimento errado do algoritmo e posicionamento
incorreto da vírgula.
A questão A: 1,23 + 3,55 é uma adição de decimais. No pré-teste, o
número de acerto foi 55%. Apesar de não terem estudado os decimais nos anos
anteriores, os alunos apresentaram uma porcentagem de acerto razoável. No pósteste, tivemos 100% de acertos nessa questão. Percebemos que as questões de
adição de decimais com QCDI são relativamente fáceis para os alunos.
A questão B: 3,7 + 0,34 é uma adição de decimais com QCDF, que exigiu
do aluno que ele completasse as casas decimais antes de efetuar a operação. No
pós-teste, o índice de acertos foi de 94%, e os erros detectados foram de cálculo
ou em relação ao posicionamento da vírgula no resultado, erros esses que
acreditamos estarem relacionados a esquecimento ou distração.
Figura 76- Resposta do A9
Fonte: Protocolo dos alunos.
Figura 77- Resposta do A20
Fonte: Protocolo dos alunos.
A questão C: 8 + 3,5 é uma adição de inteiro e decimal, as previsões
eram de que os alunos cometeriam erros nessa questão ao esquecerem de
completar as casas decimais. No pós-teste, o índice de acertos foi de 83% e o de
erros, 17%. Essa questão foi considerada difícil para os alunos por se tratar de
operações com números de campos numéricos diferentes, em que os alunos
costumam adicionar os décimos com o inteiro, como mostra a resposta da aluna
A36. Nesse tipo de erro, percebemos que o conceito de número decimal não foi
apreendido pelo aluno.
197
Figura 78 - Resposta do A36
Fonte: Protocolo dos alunos.
A questão D: 7,9 – 2,5 é uma subtração de números decimais com QCDI,
previmos que os alunos não teriam dificuldades nessa questão. No pós-teste, o
índice de acertos foi de 97% e o percentual de erros foi pequeno. Os erros
detectados foram em relação ao posicionamento da vírgula no resultado, talvez por
esquecimento.
A questão E: 8,34 – 2,07 é uma subtração de números decimais QCDI e
as previsões foram no sentido de que os alunos teriam dificuldade, pois, além de
precisarem igualar as casas decimais antes de efetuar a operação, eles
necessitavam realizar os empréstimos de uma casa para outra. Tais erros também
foram detectados nas operações com os números naturais. No pós-teste, o índice
de acertos foi relativamente alto 92%. Os erros detectados foram de cálculo,
esquecimento de empréstimos de uma casa decimal para a outra, ou de
posicionamento da vírgula no resultado. Nas respostas dos alunos A25 e A9, temos
alguns erros de cálculo que mostram a dificuldade dos alunos em relação à
operação de subtração. Tais dificuldades também foram observadas no campo dos
números naturais.
Figura 79- Resposta do A25
Fonte: Protocolo dos alunos
Figura 80- Resposta do A9
Fonte: protocolo dos alunos
198
A questão F: 6 – 1,26 é uma subtração de um número inteiro e um
decimal, esperávamos um número de erros relativamente alto nessa questão, pelo
fato de ela envolver um inteiro e um decimal. Os alunos precisavam inicialmente
igualar as casas decimais e depois efetuar a operação. No pós-teste, o índice de
acertos foi de 67% e o de erros foi de 33%. Observamos nessa questão vários tipos
de erros, tanto de ordem conceitual quanto processual. Os alunos A9 e A24
cometeram erros conceituais, pois subtraíram o inteiro do centésimo e do décimo,
respectivamente. Os alunos A25 e A20 conseguiram fazer o procedimento de
completar as casas decimais com zeros antes da subtração, mas não conseguiram
efetuar as subtrações corretamente, cometendo erros do tipo processual. Outros
erros observados foram o esquecimento da vírgula no resultado.
Figura 81- Resposta do A25
Fonte: Protocolo dos alunos
Figura 83- Resposta do A9
Fonte: Protocolo dos alunos
Figura 82- Resposta do A20
Fonte: Protocolo dos alunos
Figura 84- Resposta do A24
Fonte: Protocolo dos alunos
Realizamos um comparativo do desempenho individual dos trinta e seis
alunos nas operações com números naturais e decimais, os resultados das
questões com naturais são do teste diagnóstico e o resultados das questões com
decimais são do pós-teste. Os resultados são apontados no Quadro 12.
199
Quadro 12 - Desempenho individual dos alunos nas operações do campo
aditivo com os números naturais e decimais
Adição com
Subtração
Adição com
Subtração com
os números
com números números
números
naturais
decimais
decimais
Aluno naturais
A) 56 + 24
C)76 – 43
A)1,23+3,55
D) 7,9 – 2,5
B) 102 + 23
D) 125 – 87
B) 3,7+0,34
E) 8,3 – 2,07
E) 80 – 23
C) 8 + 3,5
F) 6 – 1,26
A1
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A2
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A3
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A4
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A5
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A6
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A7
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A8
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A9
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
A10
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A11
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A12
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A13
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A14
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A15
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A16
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A17
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A18
Acertou
Não fez
Acertou
Acertou
A19
Acertou
Não fez
Acertou
Acertou
A20
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
200
A21
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
A22
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A23
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A24
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
A25
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A26
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A27
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A28
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A29
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A30
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A31
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
A32
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A33
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A34
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A35
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A36
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
Fonte: Testes dos alunos.
No Quadro 12, temos uma análise individual de todos os alunos que
participaram da pesquisa, o que nos permite observar que, de uma forma geral, os
alunos tiveram um bom desempenho nas operações com os naturais e,
consequentemente, apresentaram bons resultados nas operações com os números
decimais no pós-teste.
O aluno A36 mostrou domínio parcial das operações, teve erros de falta
de atenção nas operações de adição, pois, em vez de somar, ele multiplicou. Na
subtração, erros de empréstimos de uma casa para outra foram muito comuns entre
os alunos, os alunos A3, A7, A11, A21, A14, A18, A19, A25 apresentaram esses
201
erros. Subtrações de um número por zero, geralmente, levaram os alunos ao erro,
como no caso da questão 6 – 1,26, na qual os alunos precisavam completar com
zero para efetuar as subtrações. Nesse tipo de questão, os alunos, geralmente, ou
esquecem de completar ou de fazer os devidos “empréstimos” para efetuar as
subtrações. Os alunos A20, A28, A31 mostraram um bom domino das operações
de adição e subtração, todavia, na adição e subtração de decimal por inteiro, eles
mostraram dificuldade em efetuar essas operações.
Durante o desenvolvimento das atividades, observamos que os alunos
apresentavam dúvidas em relação à subtração, como nos empréstimos de uma
casa para outra, ou na subtração por zeros. Procuramos sanar essas dúvidas
durante as atividades, mas, no pós-teste, elas ainda persistiram. Erros desses tipos
parecem estar enraizados nos alunos e é necessário tempo para que esses
obstáculos sejam superados, pois são erros persistentes, e segundo Brousseau
(2004, p. 121), tais erros não são necessariamente explicáveis. O que acontece é
que não desaparecem de uma vez, eles resistem, persistem e, então, reaparecem.
Quadro 13 - Comparativo do desempenho dos alunos nas operações do campo
aditivo com números Naturais e Decimais
Questões
%
%
% em
Questões
%
%
% em
com os
Acerto
Erro
com os
Acerto Erro branco
branco
naturais
decimais
A) 56 + 27
97
03
00
A) 1,23+3,55
100
00
00
B) 102+23
97
03
00
B) 3,7+0,34
94
06
00
-
-
-
C) 8 + 3,5
83
17
00
C) 76 - 43
94
03
03
D) 7,9 – 2,5
97
03
00
D) 125 - 87
78
19
03
E) 8,3 – 2,07
92
08
00
E) 80 - 23
84
08
08
F) 6 – 1,26
67
33
00
-
Fonte: testes dos alunos.
O quadro 13 apresenta a comparação do percentual do desempenho
dos alunos em relação as operações com números naturais e decimais,
observamos que os alunos tiveram um excelente desempenho com as operações
202
com os naturais e decimais. Percebe-se que na operação de subtração com os
números naturais o índice de erro é maior, pois os alunos apresentam dificuldade
em efetuar subtrações com reserva. Todas as dificuldades observadas durante a
realização das atividades de ensino foram apontadas nos estudos
Em relação à categoria habilidade com as operações, observamos que
os alunos, de forma geral, têm uma compreensão mais processual do que
conceitual dos números decimais, visto terem mostrado uma compreensão parcial
do sentido de número decimal que precisa ser melhorada. Todavia, nas operações
da estrutura aditiva, apresentaram um domínio processual das operações, tanto no
campo dos números naturais quanto no campo dos números decimais. Entretanto,
observamos que os alunos que tinham domínio das operações de adição e
subtração no campo dos naturais apresentaram um desempenho melhor na
realização das atividades da pesquisa, pois mobilizaram esses conhecimentos para
poderem construir as regras dessas operações com os decimais. Alguns alunos,
ao resolverem a operação, aplicavam a operação inversa (prova real) para verificar
se seus cálculos estavam corretos.
Observamos também que, na operação de subtração, os alunos que
tinham dificuldade ou dúvidas para realizar os empréstimos de uma casa para outra
quando se fazia necessário, no campo nos naturais também, apresentaram a
mesma dificuldade no campo dos decimais. Essas dificuldades apareceram
também no pós-teste. Apesar de termos trabalhado e esclarecido essas dúvidas
durante as atividades, percebemos que esse conhecimento ainda não tinha se
estabelecido na estrutura cognitiva dos alunos.
6.2.2 Habilidades em modelar o problema e reconhecer a operação
para resolver o problema
Em relação a estas categorias, o quadro 14, mostra os resultados
comparativos do pré-teste e pós-teste da resolução de problemas com os decimais
e, na sequência, uma análise dos problemas e dificuldades observadas.
203
Quadro 14 – Comparativo dos resultados dos testes de decimais na resolução de
problemas do campo aditivo
ACERTOS %
ERROS %
Problema
Tipo de
Operação
problema
utilizada
Pré-teste
Pós-teste
Pré-teste
Pós-teste
01
Aritmético
Subtração
83
97
08
03
02
Aritmético
Adição
78
94
14
06
03
Algébrico
Subtração
39
92
33
08
04
Algébrico
Adição
64
83
22
17
05
Algébrico
Subtração
53
92
17
08
06
Aritmético
Adição
75
83
14
17
07
Algébrico
Subtração
47
92
28
08
08
Aritmético
Subtração
64
94
17
06
09
Aritmético
Subtração
14
86
47
14
10
Algébrico
Adição
44
81
28
19
Fonte: Pré- e pós-teste dos alunos.
Optamos em contabilizar somente os acertos e erros e desprezamos os
resultados dos testes que foram deixados em branco. Observamos que, no préteste, os alunos apresentaram um bom desempenho dos problemas aditivos,
mesmo sem terem estudado problemas com decimais. Acreditamos que isso se
explique pelo conhecimento dos alunos na resolução de problemas no campo dos
naturais, já que a maior parte da turma havia participado de um trabalho anterior
com resolução de problemas com os números naturais. No entanto, mesmo os
alunos que não participaram desse estudo tiveram um bom desempenho. Nessa
análise, não levamos em consideração as questões deixadas em branco no préteste, vale ressaltarmos que no pós-teste não houve questões em branco.
204
Quadro 15 - Tipos de erros no teste do campo aditivo com os decimais
Erros na escolha da
operação
Erros de cálculo
Tipo de
problema
Operação
utilizada
Pré-teste
Pós-teste
01
Aritmético
Subtração
02
01
01
00
02
Aritmético
Adição
00
00
04
02
03
Algébrico
Subtração
09
01
04
02
04
Algébrico
Adição
05
05
01
01
05
Algébrico
Subtração
03
02
02
01
06
Aritmético
Adição
00
03
02
05
07
Algébrico
Subtração
02
00
08
04
08
Aritmético
Subtração
02
02
02
01
09
Aritmético
Subtração
10
02
08
04
10
Algébrico
Adição
05
05
06
03
Pré-teste Pós-teste
Fonte: Pré- e pós-teste dos alunos.
Os dados do quadro 15 estão em valores absolutos, pois contamos o
mesmo aluno quando esse cometia os dois tipos de erros. Observamos que muitos
erros no pré-teste se referiam à escolha da operação, já no pós-teste, percebemos
que esses erros diminuíram razoavelmente. Os erros de cálculo também se
apresentaram maiores no pré-teste, havendo no pós-teste uma melhora
significativa. Assim, apresentamos uma análise por problemas das dificuldades dos
alunos, seus avanços e estabilizações.
Questão 01- Lúcia possuía 80,50 m de fitas e gastou 40,30m das fitas
em um vestido. Quanto de fita Lúcia possui agora?
Esse é um problema aritmético, a sentença do problema é 80,50 - 40,30
= ? e exigia uma subtração sem reserva, de tal forma que esperávamos que os
alunos não tivessem dificuldade em resolvê-lo. Esse tipo de problema é
considerado fácil para o aluno, por ser do tipo direto, ou seja, não precisa usar a
operação inversa para resolvê-lo. O índice de acertos, no pós-teste foi 97%,
205
considerado muito bom. Os erros, no pós-teste, foram de cálculo e referentes à
escolha da operação, como no caso do aluno A7 que escolheu a operação errada.
Figura 85- Produção do A7
Fonte: Protocolo dos alunos.
Questão 02 - Maria tinha R$ 17,50. Achou R$ 8,00 na rua. Quanto ela
possui agora?
Esse é um problema aritmético, a sentença do problema é 17,50 + 8,00
= ? e exigia a operação de adição. No pós-teste, o índice de acerto foi de 92%, um
resultado excelente. Não houve erros na escolha da operação, somente erros de
cálculo, como mostra a resposta do aluno A8. Percebemos que o aluno teve
dificuldade em armar a operação, ao adicionar unidades com as dezenas, e que
errou este tipo de cálculo nos demais problemas. Ele não conseguiu perceber que
deveria adicionar 17 a 8, e não somente o 1. Este tipo de erro está relacionado a
questão conceitual de número decimal, pois o aluno parece desconhecer o sistema
posicional decimal, e embora o problema apresentasse uma situação rotineira que
envolve o sistema monetário, o aluno não conseguiu ter um bom desempenho, não
conseguiu refletir sobre os valores dados e no resultado apresentado.
Figura 86- Produção do A8
Fonte: Protocolo dos alunos.
206
Questão 03- Pedro tem algum dinheiro. Raul tem R$ 3,45 a mais que
Pedro. Sabendo que Raul tem 22,65. Quanto possui Pedro?
Esse é um problema do tipo relacional, considerado por Vergnaud
(2009), Nunes e Bryant (1997), Nunes et al. (2005), Greer (1992), como sendo difícil
para os alunos resolverem. A sentença do problema é 22,65 - 3,45 = ? O índice de
acerto no pós-teste foi de 92%. Mesmo sendo um problema considerado difícil,
observamos que o índice de acerto no pós-teste foi muito bom. Os erros observados
foram de cálculos, como no caso do aluno A9, pois tentou subtrair um número
menor de um maior, o aluno buscou utilizar os dados do problema na ordem em
que aparecem, o que parece indicar que ele desconhece as regras para efetuar
uma subtração, e também não refletiu sobre a situação dada no problema.
Figura 87- Produção do A9
Fonte: Protocolo dos alunos.
Questão 04 – Fui ao shopping com certa quantia em dinheiro. Após
gastar R$ 40,50 percebi que ainda tinha R$ 12, 25 reais. Quanto eu tinha antes?
Esse problema é do tipo algébrico, cuja sentença é ? - 40,50 = 12,25, e
é um tipo de problema considerado difícil por Vergnaud (2009), Nunes e Bryant
(1997), Nunes et al. (2005), Greer (1992), Sá (2003), Durval (2003), Damm (2003),
pois exige a utilização da operação inversa. A operação a ser utilizada é uma
adição. O índice de acerto no pós-teste, foi de 83%. Os erros observados foram
relativos à escolha da operação. Essa questão nos trouxe algumas respostas e
estratégias interessantes dos alunos.
207
Figura 88 - Resposta do A31
Fonte: Protocolo dos alunos.
O aluno A31 acertou a questão. Ele apresentou uma sentença diferente
do problema e utilizou a estratégia da prova real para verificar se o resultado estava
correto. Importante ressaltarmos que essa forma de modelação do problema, não
foi ensinada durante as atividades, acreditamos que o aluno mobilizou seus
conhecimentos prévios para resolver problemas com os números naturais.
Figura 89 - Resposta do A18
Fonte: Protocolo dos alunos.
O aluno A18 acertou o problema, observa-se que o aluno conseguiu
modelar a situação e resolver corretamente o problema.
Questão 05 - Pedro e Marcus tem juntos R$ 28,60 reais. Pedro tem R$
16,30. Quantos reais tem Marcus?
Esse problema é do tipo algébrico e sua sentença é: ? + 16,30 = 28,60,
e apresenta um certo grau de dificuldade para os alunos. O índice de acerto no pós-
208
teste foi de 83%, considerado bom. Os erros observados foram na escolha da
operação e erros de cálculo.
Figura 90 - Resposta do A24
Fonte: Protocolo dos alunos
O Aluno A24 escreveu incorretamente a sentença do problema e, no
cálculo fez uma adição, apesar de ter usado a prova real, não conseguiu perceber
a incoerência com o resultado obtido 25,30, efetuou a subtração de forma incorreta.
Figura 91- Resposta do A31
.
Fonte: Protocolo dos alunos
O aluno A31 escolheu a operação errada, tentou tirar a prova real e
apresentou um resultado incoerente, visto que deu como resposta um valor maior,
44,90, que é, na realidade, a soma dos dois valores.
Questão 06 – Carlos tinha 18,75 em seu cofrinho. Hoje ele colocou R$
5,60. Quanto ele tem agora?
Trata-se de um problema aritmético, sua sentença é 18,75 + 5,60 =? Um
problema considerado fácil para os alunos, pois não exige a utilização da operação
209
inversa. O índice de acerto no pós-teste, foi de 78%, considerado bom. Os erros
que foram observados referem-se à escolha da operação e ao desenvolvimento do
cálculo.
Figura 92- Resposta do A17
Fonte: Protocolo dos alunos
O aluno A17 não conseguiu efetuar corretamente a operação de
subtração, observamos que ele não compreendeu que o número a ser adicionado
era 18 e não apenas 1. Percebe-se que o aluno não apreendeu o conceito de
número decimal, pois desconhece o sistema posicional decimal, não reconhece os
décimos, centésimos e milésimos no número.
Figura 93- Resposta do A18
Fonte: Protocolo dos alunos
O aluno A18 escreveu a sentença corretamente, escolheu a operação
correta, mas, ao efetuar o cálculo, o fez de forma incorreta, pois subtraiu os
números.
Questão 07 – Henrique achou R$ 7,50 na rua. Ele tem agora R$ 12,90.
Quanto ele tinha antes de encontrar o dinheiro?
Esse é um problema algébrico, sua sentença é ? + 7,50 = 12,90. A
operação usada para resolvê-lo é a subtração. Foi apontado pelos estudos
210
revisados de Vergnaud (2009), Nunes e Bryant (1997), Nunes et al. (2005), Greer
(1992), Sá (2003), Durval (2003), Damm (2003), como difícil para os alunos, pois
faz-se necessário utilizar a operação inversa. O índice de acerto no pós-teste, foi
de 89%, considerado bom. No pós-teste, não houve erros na escolha da operação,
apenas erros de cálculo.
Figura 94 - Resposta do A18
Fonte: Protocolo dos alunos.
O aluno A18 apresentou erros de cálculo na resolução do problema,
apesar de ter indicado que faria uma subtração, o aluno adicionou os dados do
problema. Nos parece que foi apenas falta de atenção.
Figura 95 - Resposta do A17
Fonte: Protocolo dos alunos
O aluno A17 apresentou problemas conceituais com os decimais, pois
considerou que deveria subtrair apenas o número 1, adicionando o 2, do 12 inteiro,
aos 5 décimos.
Questão 08 - Luciana tinha 45,8 metros de fitas. Ela cortou 23,6 metros
e deu para Julia. Quantos metros de fita tem Luciana agora?
211
Trata-se de um problema aritmético, sua sentença é 45,7 – 23,6 = ?, o
problema exigia a operação de subtração. O índice de acerto no pós-teste, foi de
81%, considerado bom. Os erros observados no pós-teste foram na escolha da
operação e cálculo.
Figura 96 - Resposta do A31
Fonte: Protocolo dos alunos
O aluno A31 escreveu o número 45,7 como 45,08, e 23,6 como 23,06.
Não conseguimos entender o motivo de ele ter acrescentado zeros, no entanto,
ficou claro que o aluno não tem domínio conceitual.
Questão 09 - Sofia tem 1,60 metros de altura e sua irmã Júlia tem 1,06
metros de altura. Qual a diferença de altura entre as duas?
Esse é um problema aritmético, a sentença esperada é: 1,60 – 1,06 =?
a operação exigida era uma subtração. O índice de acerto no pós-teste, foi de 81%.
Os erros observados foram em relação à escolha da operação e de cálculo. O
aluno A22 errou tanto ao efetuar a subtração quanto a adição de decimais.
Observou-se a dificuldade dos alunos em subtrair com estes valores, pois além de
aparecer o zero, era uma subtração com reserva.
212
Figura 97- Resposta do A22
Fonte: Protocolo dos alunos
Questão 10 - Carlos possui alguns metros de fio elétrico. Vai usar na
instalação de sua casa 21,34 m e ainda sobrará 12,5m. Quantos metros de fio
Carlos possui?
É um problema algébrico, a sentença esperada é: ? - 21,34 = 12,5, a
operação que resolve o problema é uma adição. Apesar de ser considerado como
um problema difícil para os alunos resolverem, observamos que o índice de acerto
no pós-teste, foi de 75%, considerado bom. Os erros observados no pós-teste
foram em relação à escolha da operação e de cálculo, como no caso do aluno A9,
em que observamos que o aluno subtraiu milésimos dos décimos, apresentando
um erro de ordem conceitual.
Figura 98 - Resposta do A9
Fonte: Protocolo dos alunos
O Quadro 16 apresenta uma análise individual comparando o
desempenho dos alunos, tanto na resolução de problemas do campo dos números
naturais como dos decimais. No teste diagnóstico com os números naturais,
apresentamos seis problemas e, dez problemas com os decimais.
213
Quadro 16 - Desempenho dos alunos na resolução de problemas no campo
aditivo com números naturais e decimais
Alunos
Problemas aditivos com
números naturais
Problemas aditivos com números
decimais
A1
A2
A3
A4
A5
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
Erros na escolha da operação no 10
Acertou
A6
Acertou
A8
Erros no cálculo da subtração
no problema 6
Acertou apenas os problemas 1
e 2. Erros na escolha das
operações.
Acertou
A9
Acertou
A10
Acertou
A11
A12
A13
A14
Acertou
Acertou
Acertou
Erros na escolha da operação
do 2 e 6.
Acertou
Acertou
Erros de cálculo na subtração
dos problemas 5 e 6.
A7
A15
A16
A17
A18
A19
A20
A21
A22
A23
A24
A25
Erros na escolha da operação
do 6. Não fez o 4 e 5
Não fez o problema 6
Acertou
Erros na escolha da operação
no problema 5
Erros na escolha da operação
no problema 6
Acertou
Erros de cálculo no problema 5.
Erros na escolha da operação
do 6
Acertou
Erros na escolha da operação no
problema 1, 4, 6.
Erros na escolha da operação no
problema 10
Erros de cálculo nos problemas 2,6 e
7.
Erros na escolha da operação no
problema 9. Erros de cálculo nos
problemas 4, 6, 7, 10
Errou na escolha da operação no
problema 4
Acertou
Acertou
Acertou
Erros na escolha da operação no 5 e
6
Acertou
Erros no cálculo de subtração no 9.
Erros na escolha da operação nos
problemas 3 e 6.
Erros de cálculo de subtração no 7.
Erros de cálculo de subtração no 3.
Erros na escolha da operação do
problema 3
Acertou
Acertou
Erros na escolha da operação no
problema 4 e 9.
Acertou
Erros na escolha da operação e de
cálculo do problema 5
Acertou
214
A26
Erros de cálculo no 5 e 6
A27
A28
Acertou
Erros de cálculo nos problemas
2 e 4, e na escolha da operação
do 5
Acertou
Acertou
Erros no cálculo dos problemas
5e6
Acertou
Acertou
Erros na escolha da operação
do problema 5
Acertou
Erros na escolha da operação
do problema 2 e 6.
A29
A30
A31
A32
A33
A34
A35
A36
Erros na escolha da operação no
problema 4 e 8.
Acertou
Erros de cálculo nos problemas 2 e 9.
Acertou
Acertou
Erros na escolha da operação no 5
Erros na escolha da operação no 10
Acertou
Acertou
Acertou
Erros na escolha da operação no 10
Fonte: Protocolo dos alunos.
Alguns erros dos alunos são fruto da distração, como é o caso do A18,
que, no problema 3, escolheu corretamente a adição, mas executou uma subtração,
e errou seu cálculo. O A24, no problema 10, escolheu a operação e a executou de
forma correta, mas utilizou a prova real para verificar o resultado e, ao final,
apresentou como resposta um dos dados do problema. Ficou, assim, a dúvida se o
aluno não refletiu sobre o resultado encontrado, ou se não compreendeu a razão
da prova real, ou, ainda, se foi distração.
De uma forma geral, observamos que, nos problemas com os números
naturais, os alunos tiveram alguns erros persistentes de cálculo nas subtrações, já
com os problemas que envolviam adição, não percebemos problemas. A maior
parte dos alunos acertou na escolha da operação dos problemas, mesmo nos
algébricos que são considerados mais difíceis, pois exigem o uso da operação
inversa, não obstante, eles apresentaram bom desempenho. Tal desempenho por
parte dos alunos influenciou de forma substancial na resolução de problema com
os decimais, pois observamos que aqueles que acertaram os problemas com os
números naturais também acertaram com os decimais, e alguns erros que foram
cometidos nos problemas com os naturais também foram cometidos nos problemas
com os decimais.
Em relação a categoria, habilidade para modelar a situação do
problema, vimos que, nos problemas aditivos com os decimais, os alunos tiveram
215
um desempenho satisfatório para modelar as situações problema, e isso, de certa
forma, os ajudou a compreender melhor os problemas, pois já não faziam mais as
tradicionais perguntas sobre qual seria a operação a ser usada. Essa facilidade em
modelar as operações no campo dos decimais foi privilegiada pelos conhecimentos
prévios dos alunos no campo dos naturais, uma vez que os alunos que dominavam
essa habilidade no campo dos naturais não tiveram dificuldade em compreender a
organização das sentenças no campo dos decimais.
Em relação a categoria, habilidade para reconhecer a operação e usála corretamente nos problemas, percebemos pelo Quadro 7 que os índices de
erros na escolha da operação foram pequenos nos problemas. Mesmo nos
problemas que são considerados mais difíceis para os alunos, como os algébricos,
observamos que os alunos apresentaram um bom desempenho ao escolherem as
operações. Também percebemos que os alunos apresentaram poucos erros
relacionados aos cálculos das operações, na comparação do pré- e pós-teste, os
erros foram poucos. Acreditamos que esses erros estão mais relacionados à
distração do que à falta de compreensão das operações com os decimais.
Ressaltamos que o domínio da resolução de problemas no campo dos naturais foi
importante para que os alunos tivessem um bom desempenho no campo dos
decimais.
6.3 ANÁLISES DOS
MULTIPLICATIVA
RESULTADOS
DOS
TESTES
DA
ESTRUTURA
Apresentaremos os resultados do desempenho dos alunos nos testes do
campo multiplicativo, com os números naturais e decimais, analisando dentro das
categorias de análise estabelecidas.
6.3.1. Habilidades com as operações
Em relação a esta categoria, analisamos o desempenho dos alunos nos
testes com os naturais e decimais. O quadro 17 apresenta o comparativo dos
216
resultados do pré- e pós-testes com decimais nas operações do campo
multiplicativo. Destacamos que foi considerado como acerto o desenvolvimento
correto do algoritmo, o acerto de cálculo e a colocação da vírgula do resultado.
Durante a realização do teste, os alunos utilizaram a tabuada, a qual poderiam
consultar sempre que fosse necessário, visto não estarmos avaliando esse
conhecimento.
Quadro 17 - Comparativo dos resultados dos testes do campo multiplicativo
com decimais
ACERTOS
ERROS
NÃO FEZ
QUESTÃO
OPERAÇÃO
PRÉ PÓS PRÉ PÓS PRÉ PÓS
Multiplicação de
inteiro com
decimal
Multiplicação de
decimais > 1
Multiplicação de
decimais < 1
Divisão de
inteiros
Divisão de
decimais(QCDI)
Divisão de
decimais(QCDF)
A
B
C
D
E
F
%
41
%
76
%
50
%
24
%
9
%
00
9
53
82
41
9
00
00
56
91
35
9
00
00
59
59
6
38
6
32
91
24
6
44
3
3
32
38
65
59
3
Fonte: Teste dos alunos
A questão A: 1,2 x 5 é uma multiplicação de um decimal por um inteiro,
esperávamos que os alunos não tivessem problema em resolver essa operação. O
índice de acerto no pré-teste foi de 41%. No pós-teste, o índice de acerto foi de
76%, considerado, portanto, bom. Os erros observados no pós-teste foram erros
de cálculo ou de posicionamento da vírgula. Nessa questão, muitos alunos
posicionaram a vírgula de forma errada, mas efetuaram corretamente a
multiplicação.
A questão B: 3,7 x 1,2 é uma multiplicação de dois decimais maiores
que 1, o índice de acerto no pós-teste, de 53%. Muitos erros no pós- teste foram de
cálculo e posicionamento da vírgula . Alguns alunos apresentaram dificuldade em
realizar a multiplicação, como é possível perceber pelas respostas dos alunos A28
e A12, que não souberam utilizar corretamente o algoritmo, e isso foi observado
217
nas demais multiplicações realizadas por esses alunos. O aluno A18 colocou a
vírgula no lugar errado.
Figura 99- Resposta do A28
Figura 100- Resposta do A18
Figura 101- Resposta do A12
Fonte: Teste dos alunos.
A questão C: 0,8 x 0,5 é uma multiplicação de decimais menores que 1,
o índice de acertos no pós-teste foi de 56%. Esperávamos que os alunos tivessem
dificuldade nessa questão por causa da multiplicação com os zeros. Os erros
detectados no pós-teste foram nos cálculos com o zero, em que observamos que
os alunos tiveram dificuldade para compreender esta multiplicação, outro erro
recorrente foi no posicionamento da vírgula no resultado.
Os estudos revisados Fischbein et al. (1986), Behr e Post (1992), Bell e
Greer (1989) apontaram esse tipo de multiplicação como sendo difícil para os
alunos. Os autores colocam que, ao estudarem a multiplicação dos números
inteiros, os alunos criam misconceptions ou falsas generalizações, como a que
multiplicar sempre implica aumentar, o que pode gerar algumas dificuldades para
os alunos compreenderem que a multiplicação de dois decimais produz como
resultado um número menor. Observamos ainda uma estratégia usada pelo aluno
218
A28 para resolver a multiplicação, e essa foi a adição repetida, o que parece
demonstrar sua falta de domínio do algoritmo. Já o aluno A18 errou posicionamento
da vírgula.
Figura 102- Resposta do A18
Fonte: Teste dos alunos
Figura 103- Resposta do A28
Fonte: Teste dos alunos
A questão D: 7 ÷ 5 é uma divisão de inteiros que resulta em um decimal,
no pós-teste, o índice de acerto foi razoável, 59%. Observamos que a maior parte
dos erros ocorreram pois os alunos iniciavam a divisão mas não conseguiam
finalizar, ou quando esqueciam de colocar a vírgula no quociente. Percebemos aqui
uma dificuldade dos alunos em dividir com os números naturais, pois em alguns
casos não conseguiram prosseguir com a divisão.
Figura 104- Resposta do A21
Fonte: teste dos alunos
Figura 105- Resposta do A26
Fonte: Teste dos alunos
A questão E: 1,2 ÷ 0,6 é uma divisão de dois decimais com a mesma
quantidade de casas decimais, no pós-teste, o índice de acerto foi de 91% e o índice
de erro foi bem pequeno, alguns erros detectados foram na aplicação da regra para
dividir decimais, como nas respostas dos alunos A8 e A11. O aluno A8 apesar de
219
retirar as virgulas não conseguiu realizar a divisão corretamente, e o A11 mostrou
que desconhece totalmente a regra da divisão e dois decimais.
Figura 106- Resposta do A8
Fonte: Teste dos alunos
Figura 107- Resposta do A11
Fonte: Teste dos alunos
A questão F: 0,24 ÷ 0,6 é uma divisão de dois decimais com a quantidade
de casas decimais diferentes, assim, esperávamos que os alunos tivessem
dificuldade nessa divisão, o que foi confirmado pelo resultado do pós-teste, 32% de
acerto. Os erros cometidos estão relacionados ao esquecimento dos alunos de,
inicialmente, igualarem as casas decimais para, depois, efetuarem a divisão.
Segundo Bell et al. (1981), nesse tipo de divisão, os alunos tendem a fazer
“evaporação das vírgulas”, sem prestarem atenção para o processo de igualar as
casas decimais. Pareceu-nos que nem o processo conceitual dos números
decimais nem o processual ficaram claros para os alunos, e podemos perceber isso
pelas respostas dos alunos A26, A11 e A7.
Figura 108- Resposta do A26
Fonte: Teste dos alunos
O A26 igual as casas decimais, mas parece não perceber que ficou
com a divisão de um número menor por outro maior. Parece que este tipo de
divisão não faz sentido para os alunos.
220
Figura 109- Resposta do A11
Fonte: Teste dos alunos
O A11 corta apenas um zero e faz uma divisão sem sentido. Mostrando
total desconhecimento da operação e das regras para dividir decimais.
Figura 110- Resposta do A7
Fonte: Teste dos alunos
O A7 ignora a diferença entre as quantidades de casas decimais e realiza a
divisão como se fosse uma divisão de decimais com quantidades de casas iguais.
Em síntese, com essas análises, percebemos as dificuldades dos alunos
com a multiplicação e a divisão. O processo dessas operações parece não ter sido
construído no campo dos naturais, pois as respostas mostraram que os alunos não
souberam realizar as operações, o que nos leva a concluir que uma das dificuldades
desses alunos nas operações de multiplicação e divisão com os decimais está
relacionada à fragilidade desse conhecimento no campo dos números naturais. O
Quadro 18 mostra uma análise individual do desempenho dos alunos nessas
operações nos dois campos numéricos.
221
Quadro 18: Desempenho dos alunos nas operações do campo
os números naturais e decimais
Multiplicação
Multiplicação
Divisão com
com os
com os
números
Alunos números
Decimais
naturais
Naturais
(A) 1,2 x 5
(E) 648 ÷ 6
(A) 74 x 23
(B) 3,7 x 1,2
(F) 672 ÷ 12
(B) 126 x 32
(C) 0,8 x 0,5
A1
A2
Acertou
Acertou
A3
A6
Errou as
operações
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
A7
Acertou
A8
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
Acertou
multiplicativo com
Divisão com os
decimais
(D) 7 ÷ 5
(E) 1, 2 ÷ 0,6
(F) 0,24 ÷ 0,6
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
Acertou
Errou as
operações
Não fez
Não fez
Acertou
Não fez
Não fez
Acertou
parcialmente
Não fez
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Domínio parcial
Acertou
Acertou
parcialmente
A12
Acertou
parcialmente
Errou as
operações
Acertou
parcialmente
Acertou
A13
Acertou
Acertou
Acertou
Acertou
A14
Acertou
A15
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
A16
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Não fez
A17
A18
Acertou
parcialmente
Acertou
A19
Acertou
A20
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Não fez
A21
Acertou
A4
A5
A9
A10
A11
Acertou
parcialmente
Errou as
operações
Não fez
Acertou
Errou as
operações
Errou as
operações
Não fez
Não fez
Acertou
parcialmente
Não fez
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Domínio parcial
Acertou
Errou as
operações
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
parcialmente,
222
A22
Acertou
A23
A24
Acertou
Errou
A25
A26
A27
A28
Errou
Acertou
Acertou
Acertou
A29
A30
A31
A33
Acertou
Acertou
Domínio
parcial
Acertou
parcialmente
Acertou
A34
A35
A36
A32
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
parcialmente
Errou
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Não fez
Errou
Errou
Acertou
Não fez
Acertou
Acertou
Não fez
Não fez
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Domínio parcial
Errou
Errou
Acertou
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
Acertou
parcialmente
Domínio parcial
Acertou
parcialmente
Acertou
parcialmente
Acertou
Acertou
parcialmente
Fonte: Teste dos alunos.
O aluno A3 errou as multiplicações e divisões, mas, nos problemas,
acertou estas operações, acreditamos, portanto, que os erros estão relacionados
ao tamanho dos números. O aluno A5, apesar de ter errado uma das multiplicações,
conseguiu resolvê-las nos problemas propostos, mostrando ter domínio. Na divisão,
não nos foi possível analisar o desempenho do aluno, uma vez que deixou as
questões algorítmicas e os problemas que envolviam divisão em branco.
O aluno A7 não apresentou domínios das operações no campo dos
naturais, pois errou estas operações também nos problemas. A aluna A12, apesar
de ter errado as questões de divisão, conseguiu resolver as divisões nos
problemas. A aluna A18, apesar de não ter feito as questões de divisão nos sete
problemas que envolviam essa operação, conseguiu acertar três dos problemas. O
aluno A4 não resolveu as divisões com os naturais (648 ÷ 6 e 672÷12), mas
resolveu as divisões com os decimais, acreditamos que isso ocorreu justamente
porque os números decimais possuíam valores menores.
223
Quadro 19 - Comparativo do desempenho dos alunos nas operações do campo
multiplicativo com números naturais e decimais
Questões
com os
números
naturais
74 x 23
%
Acerto
%
Erros
% em
%
Acerto
%
Erros
06
Questões
com os
números
decimais
1,2 x 5
Branco
58
36
126 x 32
64
-
% em
76
24
00
25
11
3,7 x 1,2
53
41
00
-
-
-
0,8 x 0,5
56
35
00
648 ÷ 6
19
50
31
7÷5
59
06
06
672 ÷ 12
31
28
41
1, 2 ÷ 0,6
91
06
03
-
-
-
-
0,24 ÷ 0,6
32
65
03
Branco
Fonte: Teste dos alunos.
O quadro 19 nos apresenta o percentual de acertos das operações de
multiplicação e divisão com os números naturais e decimais, no qual podemos
constatar que em relação à multiplicação dos números naturais, observamos alguns
erros recorrentes, cuja explicação nos parece ter mais a ver com distração do que
com falta de conhecimento, pois os alunos esquecem de que, ao multiplicar o
número que está na casa das dezenas, o resultado deve ficar na casa das dezenas.
O desempenho dos alunos na multiplicação com os números decimais
foi bom, mas observamos alguns erros relacionados a colocação da vírgula no
resultado, alguns alunos a esqueceram e outros a posicionaram de forma errada,
este tipo de erro é do tipo conceitual, pois o conceito de número decimal não ficou
claro para o aluno. No desenvolvimento do algoritmo, os alunos apresentaram
menos erros, mas aqueles que erraram na multiplicação dos naturais também
erraram o algoritmo na multiplicação dos decimais.
Na divisão dos números naturais, alguns alunos deixaram as questões
em branco, outros apresentaram erros de tabuada, e outros iniciaram as divisões
mas não conseguiram continuar. Acreditamos que isso ocorreu porque os números
eram da ordem das centenas e isso parece ser difícil para os alunos, como afirma
o estudo de Fischbein et al. (1986). A questão F, divisão que apresentava dois
números no divisor, também foi outra dificuldade para os alunos. Percebemos que,
224
nos problemas que envolviam divisão, como os números eram “menores”, eles se
mostraram mais fáceis para os alunos dividirem.
A divisão dos números decimais apresentou erros na aplicação da regra,
principalmente na questão F. Alguns alunos completavam as casas corretamente,
mas erravam ao prosseguir na divisão, ao completarem as casas decimais, o
dividendo ficava menor que o divisor, então, eles esqueciam o procedimento que
deveriam usar ou não atentavam para isso. Esse tipo de divisão foi considerado
difícil nos estudos revisados. De forma geral, entretanto, os alunos que acertaram
as divisões com os naturais conseguiram ter um desempenho melhor na divisão
com os decimais, visto que muitos erros ocorreram na aplicação das regras para a
divisão dos decimais. Porém, quando os alunos aplicavam corretamente as regras
conseguiam realizar a divisão.
Observamos também que os alunos, nas divisões com os decimais, se
saíram melhor. E isso se justifica porque os números apresentavam valores
“pequenos” e eram mais fáceis, de tal forma que isso facilitou a divisão para os
alunos. No problema 10, no entanto, que envolvia uma divisão com decimais com
números de maior valor, os alunos tiveram mais dificuldade em realizar.
Em suma, em relação a categoria, Habilidades com as operações,
observamos muitas dificuldades dos alunos no posicionamento da vírgula no
resultado da multiplicação, como também na realização das operações, de tal forma
que nos pareceu que o sentido de número decimal não ficou claro para os alunos
nessas operações. A multiplicação, dois decimais maiores que 1, ofereceu menor
dificuldades para os alunos, do que a multiplicação de dois decimais menores que
1. Isso se dá porque os alunos tiveram dificuldade em entender os zeros que
aparecem na parte inteira, o que os levou a respostas erradas. Percebemos uma
quase paralisação do aluno quando se deparava com o zero, visto não saber o que
fazer.
Outro ponto de dificuldade observado, foi no desenvolvimento do
algoritmo da multiplicação, todavia, percebemos que aqueles que dominavam o
algoritmo da multiplicação com os naturais tiveram mais facilidade para aprender a
multiplicação com os decimais. O uso das frações decimais para ensinar a
multiplicação de dois decimais ajudou na justificação das regras, mas não
favoreceu uma aprendizagem significativa para a operação de multiplicação dos
decimais, talvez pelo pouco tempo que os alunos tiveram para desenvolver a
225
aprendizagem desse conhecimento. Estas dificuldades com o posicionamento da
virgula no resultado também foi apontado no estudo de Roditi (2001), pois nas
situações multiplicativas, os domínios das técnicas operatórias aparecem de forma
bastante frágil, visto que não ter o domínio das técnicas incapacita o aluno para
resolver a operação.
Na divisão, tivemos resultados variados. Na divisão de dois inteiros
resultando em um decimal, as dificuldades observadas foram no desenvolvimento
da divisão, pois os alunos iniciavam, mas não conseguiam prosseguir a operação.
Na divisão de dois decimais com quantidades de casas decimais iguais,
observamos que os alunos não tiveram dificuldades, uma vez que mobilizaram seus
conhecimentos dos números naturais e como os números eram de fácil
manipulação os alunos não tiveram dificuldade para dividi-los.
Na divisão de dois decimais com quantidades de casas decimais
diferentes, os alunos esqueceram de igualar as casas decimais antes de efetuar a
divisão. Durante a entrevista com alguns dos alunos que erraram esse tipo de
divisão, percebemos que o erro do aluno tinha sido por distração, pois quando
perguntamos o que estava errado na questão, após um tempo pensando, o aluno
conseguiu corrigir a questão, outros porém, não sabiam o que deviam fazer,
evidenciando, assim, que esse procedimento não tinha ficado claro ou que
precisavam de mais tempo para aprendê-lo.
Na divisão de inteiro por decimal ou de decimal por inteiro, as
dificuldades foram maiores, mas, podemos salientar que os alunos que dominavam
a operação de divisão com os números naturais tiveram mais facilidade para
compreender esse tipo de divisão, além do que esse é um dos casos mais
complexos para os alunos, o que foi apontado por alguns dos estudos revisados.
Ressaltamos que, na divisão, muitos alunos utilizaram como estratégia
a adição repetida, outros utilizaram a multiplicação para achar o número do
quociente, além das subtrações sucessivas. Percebemos que os alunos que não
tinham nenhuma estratégia para resolver as operações de divisão com os naturais
não conseguiram efetuar as divisões com os decimais. Durante as atividades, os
alunos que não tinham nenhuma estratégia de solução para a divisão foram
ensinados a resolver as divisões com os naturais, esses alunos apresentaram no
pós-teste um resultado um pouco melhor, pois tentaram resolver as questões, mas
226
tiveram alguns erros, mostrando que o domínio das operações no campo dos
naturais era insuficiente.
Uma das dificuldades observadas na operação de divisão, seja com os
números naturais, seja como os decimais, se refere ao “tamanho” dos números, e
isso foi apontado nos estudos de Fischbein et al. (1986) e Mendes (2012), ou seja,
a dificuldade dos alunos em dividir com números na ordem das centenas e milhar.
Pois os alunos conseguem iniciar a divisão, mas muitos deles sentem dificuldade
em prosseguir com a mesma.
De forma geral, percebemos que o conhecimento dos números naturais
facilitou a aprendizagem das operações no campo dos decimais, visto que os
alunos que dominavam a multiplicação e divisão dos números naturais tiveram
melhor desempenho na multiplicação e divisão no campo dos decimais. E isso
ocorre, segundo Ausubel (2003), porque no processo de assimilação da
aprendizagem significativa existe a ancoragem seletiva do material de
aprendizagem às ideias relevantes existentes na estrutura cognitiva do aluno.
Esses resultados também mostraram que os alunos apresentavam um frágil
conhecimento conceitual de número decimal, pois cometeram erros relacionados
ao posicionamento da vírgula. E esta falta do conhecimento conceitual de certa
forma interfere no desenvolvimento correto dos algoritmos das operações, pois
segundo Hiebert e Lefevre (1987, p.8), ligações críticas entre conhecimento
conceitual e processual não só evita esses casos de déficit de desenvolvimento,
mas ambém contribui de muitas outras formas para o desenvolvimento de uma
sólida base de conhecimentos.
6.3. Habilidades em modelar e reconhecer a operação no problema
Em relação as categorias relacionadas a resolução de problemas:
habilidades para modelar as situações problemas e habilidade para reconhecer a
operação utilizada no problema, o quadro 20 apresenta os resultados do
desempenho geral dos alunos nos problemas.
Consideramos como acerto a
escolha correta da operação e o desenvolvimento correto dos cálculos nas
operações.
227
Quadro 20 - Comparativo dos resultados dos testes de decimais na resolução de
problemas do campo multiplicativo
ACERTOS %
Problema
Tipo de
problema
Operação
utilizada
01
Aritmético
02
ERROS %
Multiplicação
Préteste
00
Pósteste
64
Préteste
88
Pósteste
36
Aritmético
Multiplicação
06
44
71
56
03
Aritmético
Multiplicação
00
62
68
38
04
Algébrico
Divisão
12
82
76
18
05
Algébrico
Divisão
03
47
76
53
06
Algébrico
Divisão
15
82
59
18
07
Algébrico
Divisão
00
44
68
56
08
Algébrico
Divisão
03
14
62
80
09
Algébrico
Divisão
03
15
47
76
10
Algébrico
Divisão
00
26
41
65
Fonte: Teste dos alunos.
No pré-teste, os alunos apresentaram muitos erros na escolha da
operação e principalmente nos cálculos. Observamos que, no pré-teste, os alunos
tiveram dificuldade em realizar a operação de multiplicação, pois não sabiam como
desenvolver o algoritmo. No pós-teste, houve poucos erros na escolha da operação
e percebemos uma melhora razoável em relação às operações; alguns erros foram
no posicionamento da vírgula no resultado. O quadro 21 mostra os erros que foram
detectados tanto no pré- quanto no pós-teste.
228
Quadro 21 – Tipos de erros na resolução dos problemas multiplicativos
Erros na
escolha da
operação
%
PréPósteste teste
Erros de
cálculo
%
Erros de
colocação
da vírgula
%
PósPósTeste
Teste
Tipo de
problema
Operação
Utilizada
01
Aritmético
Multiplicação
38
09
74
24
06
02
Aritmético
Multiplicação
44
06
59
06
38
03
Aritmético
Multiplicação
47
06
50
15
21
04
Algébrico
Divisão
71
09
38
15
-
05
Algébrico
Divisão
59
29
38
32
03
06
Algébrico
Divisão
41
15
32
12
03
07
Algébrico
Divisão
26
09
47
41
06
08
Algébrico
Divisão
35
18
44
74
03
09
Algébrico
Divisão
41
18
29
68
-
10
Algébrico
Divisão
32
24
29
41
-
Préteste
Fonte: Protocolo dos alunos.
É importante salientarmos que, no pré-teste, quase todos os alunos que
erraram na escolha da operação também erraram no cálculo da operação
escolhida. No pré-teste, houve muitos erros de posicionamento de vírgula, assim,
eles foram contabilizados junto com os erros de cálculo. Escolhemos mostrar o
índice de erros de posicionamento da vírgula, separado dos erros de cálculo,
somente no pós-teste, pois nesse, os alunos já haviam estudado a multiplicação
dos decimais e poderíamos analisar os erros de forma mais detalhada.
Observamos que os problemas que envolviam a multiplicação de dois
decimais foram os que mais apresentaram erros de posicionamento da vírgula. Em
relação aos erros de cálculos, os problemas 8 e 9 foram os mais difíceis para os
alunos, pois envolviam a divisão de inteiro por decimal e decimal por inteiro, e esse
tipo de divisão, além de ser considerada mais difícil para os alunos, foi pouco
explorada nas atividades. Outro fator que podemos considerar como influenciador
nos erros dos alunos é que esses problemas envolvem uma divisão como cotação,
e foram considerados por Vergnaud (2009), Greer (1992), Fischbein et al, (1986)
229
como sendo problemas difíceis para os alunos por não fazerem parte da prática
escolar.
De forma geral, os alunos tiveram um bom desempenho na escolha das
operações no pós-teste, pois o número de erros foi pequeno. Somente a questão 5
apresentou um alto número de erros. Todavia, mesmo escolhendo a operação
correta, o número de erros dos alunos nos cálculos foi elevado. Esses erros se
relacionavam ao desenvolvimento do algoritmo da multiplicação ou ao
posicionamento da vírgula. Apresentamos, então, uma análise dos problemas e sua
resolução pelos alunos.
Questão 01 - Carla precisa comprar 6,5 metros de tecido para fazer
uniformes para seus filhos. O metro do tecido custa R$ 4,25. Quanto Carla irá
gastar?
Esse é um problema aritmético, a sentença que o modela é: 6,5 x 4,25
= ? Esperávamos que os alunos tivessem dificuldade para desenvolver a operação
de multiplicação de dois decimais, o que se confirmou. Tais dificuldades foram
observadas durante as atividades e nas pesquisas anteriormente desenvolvidas
por Jucá (2004, 2008).
No pós-teste, os alunos tiveram um índice de acerto de 68%,
considerado razoável para esse problema. Os erros detectados foram relacionados
ao cálculo da operação, principalmente, no desenvolvimento do algoritmo da
multiplicação. Entre os erros detectados, destacamos os dos alunos A9 e A16.
Figura 111- Resposta do A9
Fonte: Teste dos alunos
Tanto o A9 como o A16, tentaram organizar a adição dos resultados das
multiplicações aplicando a regra da adição dos decimais, cometendo o erro no
resultado final.
230
Figura 112- Resposta do A16
Fonte: Teste dos alunos.
Percebemos que esses alunos não tinham o conhecimento da operação
de multiplicação, pois além de não conseguirem desenvolver o algoritmo de forma
correta, também não compreenderam o sentido dos décimos e centésimos nos
números, posicionando a virgula no resultado de forma incorreta.
Questão 02 - Debora encheu 8 garrafas de leite. Cada garrafa tinha a
capacidade de 1,5 litros. Quantos litros de leite foram usados?
Esse é um problema aritmético, a sentença que o modela é: 8 x 1,5 = ?.
A operação que resolve o problema é uma multiplicação. No pós-teste, o
desempenho dos alunos foi razoável, 44% de acerto, o índice de erro na escolha
da operação foi pequeno. Tivemos muitos erros relacionados ao cálculo da
multiplicação, à colocação inadequada e esquecimento da vírgula no resultado,
como na resposta dos alunos A22 e A27. Percebemos que os alunos escreveram
corretamente a sentença do problema, mas erraram a operação de multiplicação.
Figura 113- Resposta do A22
Fonte: Teste dos alunos.
231
O aluno A27, apesar de ter acertado uma operação desse tipo na 1ª
parte do pós-teste, efetuou a multiplicação de forma errada. Ele multiplicou
corretamente 5 x 8 e levou o zero ao invés do 4, o que nos fez concluir tratar-se de
um erro por distração.
Figura 114- Resposta do A27
Fonte: Teste dos alunos.
Questão 03 – Laura fez 3,5 kg de doce de leite. Ela pretende vender o
quilo por R$ 2,25. Quanto Laura conseguirá apurar se vender todo o doce de leite?
Esse é um problema aritmético, a sentença que o modela é: 8,5 x 3,75
= ?. Trata-se de um problema que envolve uma multiplicação. O índice de acerto
no pós-teste foi de 62%, considerado razoável. Ocorreram poucos erros na escolha
correta da operação a ser utilizada no problema, mas observamos muitos erros no
desenvolvimento correto da operação, como mostram as respostas dos alunos A9
e A12.
Figura 115- Resposta do A9
Fonte: Teste dos alunos.
232
Figura 116- Resposta do A12
Fonte: Teste dos alunos.
Os problemas de 04 a 06, a seguir, são problemas de divisão como
partição, problemas considerados fáceis por Vergnaud (2009) e Greer (1992)
porque são utilizados com mais frequência na prática escolar.
Questão 04 – Temos 2,8 litros de óleo. O óleo será colocado em latas
iguais com capacidade para 0,7 litro. Quantas latas vão ser usadas?
Esse é um problema algébrico, a sentença que o modela é ? x 0,7 = 2,8.
Esse é um tipo de problema no qual se utiliza a operação inversa na sua resolução,
nesse caso, a divisão de 2,8 por 0,7. Na classificação de Durval (2003), é um
problema não congruente. Problemas assim foram considerados difíceis por alguns
autores, como Sá (2003), Durval (2003), Nunes et al. (2007). No entanto, o índice
de erros na escolha da operação no pós-teste foi baixo, somente nove alunos
erraram.
Observamos que o índice de acertos no pós-teste foi de 82%,
considerado muito bom para a complexidade do problema. Tivemos poucos erros
de cálculo, por se tratar da divisão de dois decimais com a mesma quantidade de
casas decimais. Acreditamos que por ser um problema do tipo de divisão partição,
mais comum para os alunos, o desempenho deles foi melhor. No entanto,
verificamos alguns erros, como trocar de posição do dividendo e do divisor, sendo
esse o caso do aluno A17, e erros no cálculo da divisão, como a resposta do aluno
A11.
233
Figura 117- Resposta do A17
Fonte: Teste dos alunos
O A17 trocou a posição do dividendo e divisor não compreendendo o
significado do problema.
Figura 118- Resposta do A11
Fonte: Teste dos alunos.
Questão 05 – Tenho 7,5 metros de tecido para fazer uniformes. Vou
gastar 1,25 metros em cada uniforme. Quantos uniformes poderei fazer?
Esse é um problema algébrico, a sentença que o modela é: ? x 1,25 =
7,5. Este tipo de problema é considerado difícil para os alunos, pois se utiliza a
operação inversa na sua resolução, neste caso a divisão. Os alunos deveriam
dividir 7,5 por 1,25. O índice de acertos no pós-teste, foi razoável, 47%, contudo, o
índice de erros ainda foi elevado 53%. Tivemos que 29% dos alunos erraram a
escolha da operação. Em relação ao desenvolvimento da operação, é um tipo de
divisão considerada difícil para os alunos, pois é a divisão de decimais com
quantidades de casas decimais diferentes. Os alunos tinham que, inicialmente,
igualar as casas decimais para, depois, efetuarem a divisão, mas acreditamos que
muitos alunos esqueceram de assim proceder. Os erros foram relacionados ao
desenvolvimento da operação de divisão ou na inversão do dividendo pelo divisor,
234
como no caso do aluno A4, que dividiu 1,25 por 7,5; outros conseguiram igualar as
casas decimais, mas fizeram a divisão de forma incorreta, como o aluno A10.
Figura 119- Resposta do A10
Fonte: Teste dos alunos.
Figura 120- Resposta do A4
Fonte: Teste dos alunos.
Questão 06 – José tem 2,5 litros de coca cola para colocar em copos de
0,5 litros. Quantos copos serão usados?
Esse é um problema algébrico, a sentença que o modela é: ? x 0,5 =
2,5, exige a utilização da operação inversa, o aluno deveria fazer a divisão de 2,5
por 0,5. Esse também é um problema de divisão como partição, pois pede o valor
da quantidade (conjunto de unidades). No pós-teste, o índice de acerto foi muito
bom 82%. Acreditamos que esse problema foi relativamente fácil para os alunos,
por se tratar de um problema de divisão como partição, comum na prática escolar,
e também por ser uma divisão de decimais com quantidades de casas decimais
iguais. Os erros na escolha da operação foram de 15%, no entanto, houve erros de
cálculos como nas repostas dos alunos A8 e A2.
O aluno A8, mesmo entendendo que bastava retirar a vírgula para dividir,
não conseguiu fazer a divisão.
235
Figura 121- Resposta do A8
Fonte: Teste dos alunos.
O aluno A2 inverteu dividendo e divisor, apesar de ter feito corretamente
a sentença do problema.
Figura 122- Resposta do A2
Fonte: teste dos alunos
Os problemas de 07 a 10 são problemas que envolvem a divisão como
cotação, considerados por Vergnaud (2009) e Greer (1992) um tipo de divisão difícil
para os alunos. Esses problemas foram os que apontaram o maior índice de erros.
Questão 07 – Foram distribuídos igualmente 9 quilos de arroz para 4
famílias. Quanto receberá cada família?
Esse é um problema algébrico, a sentença que o modela é 4 x ? = 9.
Exigia a utilização da operação inversa, uma divisão de dois inteiros, 9 por 4, que
resultava em um decimal. Não houve acertos no pré-teste. O número de acertos
no pós-teste foi razoável, 44%, tivemos apenas 9% de erros na escolha da
operação. Em relação ao desenvolvimento correto da operação, a questão D, que
exigia o mesmo tipo de divisão, os alunos mostraram um desempenho médio.
Pareceu-nos que esse tipo de divisão não ficou claro para os alunos, observamos
236
um índice elevado de erros nos cálculos desse tipo de divisão. As respostas dos
alunos A2 e A27 mostram que os alunos escolheram corretamente a operação,
todavia, não dominaram o algoritmo da divisão para dar prosseguimento a
operação.
Figura 123 - Resposta do A2
Fonte: Protocolo dos alunos
Figura 124 - Resposta do A27
Fonte: Protocolo dos alunos
Questão 08 – Tenho 4,5 metros de tecido. Preciso cortar em 9 pedaços
do mesmo tamanho. Quantos metros terá cada pedaço?
Esse é um problema algébrico, a sentença que o modela é 9 x ? = 4,5.
Exigia a utilização da operação inversa, a divisão de 4,5 por 9. No pós-teste, o
índice de acerto foi de 12%, muito baixo. Os erros na escolha da operação foram
somente de 18%.
A maior parte dos erros 74% se relacionaram ao
desenvolvimento da operação, e talvez isso se justifique por ser uma divisão difícil
para os alunos, pois deveriam dividir um decimal por um inteiro. Alguns alunos
fizeram a “evaporação da vírgula”, ao dividir 45 por 9 e não 4,5, esquecendo assim
237
de completar as casas decimais. Talvez o alto índice de erros se justifique porque
esse tipo de divisão foi pouco explorado nas atividades da pesquisa. As respostas
do aluno A27 mostra que ele esqueceu de igualar as casas decimais.
Figura 125 - Resposta do A27
Fonte: Protocolo dos alunos.
O aluno A3 resolveu o problema e apresentou primeiramente a resposta
3,5. Durante a entrevista individual com esse aluno, mostramos o teste e
perguntamos se ele sabia o que estava errado na questão, ele não soube responder
por que havia respondido daquele jeito. Então, pedimos que ele resolvesse
novamente, e ele nos apresentou o resultado correto, que está ao lado esquerdo.
Parece que o erro do aluno foi por distração e não por falta de conhecimento.
Figura 126 - Resposta do A3
Fonte: Protocolo dos alunos
Questão 09 – Carlos vendeu 25 bombons de cupuaçu e no final apurou
R$ 12,50. Quanto custa um bombom?
Esse problema é parecido com o problema 8. É um problema algébrico,
a sentença que modela esse problema é 25 x ? = 12,50. E que exige a utilização
238
da operação inversa, neste caso a divisão de 12,50 por 25. O índice de acerto no
pós-teste, foi de apenas 15%, ou seja, muito baixo. O índice de erros na escolha
da operação foi apenas de 18%, mostrando que o maior índice de erros, 68% foi
no desenvolvimento da operação. As mesmas dificuldades que apareceram no
problema 8, apareceram nesse, pois os alunos tinham que dividir um decimal por
um número inteiro, além do que era uma divisão com dois números no divisor (na
ordem das dezenas), o que, no campo dos naturais, é uma divisão considerada
difícil para os alunos. Talvez esse alto índice de erros se justifique pelo fato de os
alunos terem feito poucas atividades com esse tipo de divisão.
O Aluno A24 percebeu que precisaria igualar as casas decimais, mas
não conseguiu prosseguir na divisão.
Figura 127- Resposta do A24
Fonte: Protocolo dos alunos
O aluno A26, simplesmente, ignorou as vírgulas e dividiu como se fosse
uma operação com número naturais, mostrando que não compreendeu a regra da
divisão de decimais.
Figura 128- Resposta do A26
Fonte: Teste dos alunos
239
O aluno A29, durante a realização do pós-teste, errou a questão, pois
esqueceu de igualar as casas decimais. Quando da entrevista individual,
mostramos seus cálculos e perguntamos se ele sabia o que tinha feito de errado,
após algum tempo pensando, respondeu que precisava completar com zeros.
Pedimos que ele resolvesse novamente a questão, e ele fez o cálculo correto que
está à direita. Sua estratégia de solução foi a adição repetida.
Figura 129- Resposta do A29
Fonte: Teste dos alunos
Questão 10 - Paulo comprou 5,5 quilogramas de carne e pagou R$
31,24. Quanto custa um quilo de carne?
Esse é um problema algébrico, a sentença que modela esse problema é
5,5 x ? = 31,24. O problema exigia a utilização da operação inversa, neste caso a
divisão de 31, 24 por 5,5. No pós-teste, o índice de acerto foi de 26%, considerado
baixo. Os erros na escolha da operação foram de 24%, considerado pequeno, o
maior índice de erros está no desenvolvimento da operação, pois trata-se de uma
operação difícil para os alunos, pois eles precisavam dominar o algoritmo da divisão
no campo dos naturais para poder resolvê-lo. Observamos que os alunos iniciaram
a operação aplicando corretamente as regras da divisão dos decimais, igualaram
as casas decimais, retiraram as virgulas, mas não conseguiram prosseguir na
divisão, por ser uma divisão na ordem das centenas. Como é o caso do aluno A24
que iniciou a divisão, mas não conseguiu prosseguir.
240
Figura 130- Resposta do A24
Fonte: Teste dos alunos.
O aluno A26 conseguiu modelar o problema e escolher corretamente a
operação, mas não conseguiu utiliza-la corretamente para resolver o problema.
Figura 131- Resposta do A26
Fonte: Teste dos alunos.
Observamos que o aluno A29 trocou o dividendo pelo divisor, de tal
forma que concluímos que o aluno demonstrou não possuir a compreensão do
problema, pois na sentença ele inverteu os valores.
Figura 132 - Resposta do A29
Fonte: Teste dos alunos.
241
O aluno A33, durante o pós-teste apresentou a resposta 5,0 para o
problema e, no decurso da entrevista individual, mostramos seus cálculos e
perguntamos se saberia resolver a divisão. O aluno disse que sim, e apresentou o
cálculo que está à direita, com a resposta 5,68, que é a correta. Observamos como
ele resolvia a questão e as estratégias de cálculo que utilizava, vimos que usou a
adição repetida e subtrações sucessivas para poder realizar a divisão. Isso
comprova que os alunos que têm algum tipo de estratégia para a divisão com os
naturais conseguem ter um desempenho melhor com os decimais.
Figura 133 - Resposta do A33
Fonte: Teste dos alunos.
Figura 134 - Estratégia do A33
Fonte: Teste dos alunos.
Apresentamos no quadro 22 um comparativo do desempenho dos 36
alunos na resolução de problemas com os números naturais e decimais,
destacando seus erros.
242
Quadro 22 – Desempenho dos alunos na resolução dos problemas do campo
multiplicativo com números naturais e decimais
Alunos
Problemas com números
naturais
Erros na escolha da operação
nos problemas 3,4,5,6.
Não conseguiu resolver a divisão
dos problemas 8, 9, 10.
A2
Erros no cálculo de divisão no
problema 1 e 6.
Erros nos cálculos dos problemas
de 6 a 10.
A3
Erros na escolha da operação
no problema 3, e cálculo de
divisão no problema 6.
Erros na divisão do problema 1
e 3. Não fez 2, 5, 6.
Acertou
A1
A4
A5
Só fez os problemas 2 e 4
A6
A7
Não fez.
Erros na escolha das operações
e cálculo em todos os
problemas.
Somente acertou o problema 1.
Erros na escolha da operação e
cálculo de todos os problemas.
Erros na escolha da operação e
cálculo nos problemas 1 e 3.
Não fez 4,5,6.
Erros na escolha da operação
no problema 2, não conseguiu
fazer a divisão do 6, não fez o 4.
Erros na escolha da operação e
nos cálculos dos problemas 1, 3,
4,5,6.
A8
A9
A10
A11
A12
Acertou
A13
Acertou
A14
Erros na escolha da operação e
no cálculo de todos os
problemas.
A15
A16
A17
Acertou
Erros na escolha da operação e
cálculo no problema 2.
Erros na escolha de operação
no 4,5,6.
Problemas com números decimais
Errou na escolha da operação e
cálculo no problema 1.
Nos problemas 5,7, 8, 9,10 não
conseguiu efetuar as divisões.
Erros na divisão no problema 7.
Erros nas divisões do 5,8,9,10.
Erros na escolha da operação no
problema 1, 5, 9,10.
Erros de cálculo de divisão no 7 e 8.
Erros na escolha de operação nos
problemas 2,5,9,10.
Erros na divisão no 4 e 6.
Erros de cálculo nos problemas
1,2,3,7 mas errou os cálculos. Não
fez o 10.
Erros escolha de operação nos
problemas 5,8,9.
Erros de cálculo no 5, 8, 9.
Erros na escolha da operação e nos
cálculos dos problemas 2,3,5,6, 8,
9,10.
Erros de cálculo de multiplicação
nos problemas 1,2 e divisão no
8,9,10.
Erros no cálculo das divisões dos
problemas 8 e 9.
Erros na escolha da operação e
cálculo no 3 e 10.Errou a divisão no
7. Não fez 8 e 9
Erros de cálculo das divisões no 8 e
9.
Erros na escolha de operação no 5,
7, 9 e 10. Errou divisão no 8.
Erros de cálculo no 4 e 10.
243
Erros nos cálculos do 1,2 e 3.
A18
Erros na escolha da operação
do 6. Não fez o 3 e 5.
A19
Não fez o 3, 5 e 6.
A20
Erros de cálculo no problema 8.
não fez os cálculos dos problemas 9
e 10.
Erros de escolha da operação nos
problemas 5 e 8. Erros de cálculo
no 7, não fez o 10.
Erros cálculo no 8 e 9
A22
Erros na escolha da operação
nos problemas 3, 5,6.
Erros de cálculo no 1.
Erros na escolha da operação
dos problemas 1,5,6.
Erros de cálculo no 2 e 5
A23
Acertou
A24
Erros na escolha da operação e
cálculo no 3,4, 5,6. Não fez o 1.
Erros nas divisões do 5,8, 9, 10.
A25
Erros na escolha da operação e
no cálculo dos problemas.
Erros na escolha da operação
em todos os problemas.
Erros o cálculo e na escolha das
operações dos problemas 3,5,6.
Erros na escolha da operação e
no cálculo do 4,5,6. Erros de
cálculo no 1
Acertou
Erros na escolha da operação como
os cálculos de todos os problemas.
Erros na escolha da operação e nos
cálculos nos problemas 1, 5, 6, 7, 8.
Erros o cálculo da divisão do
problema 7 e 8.
Erros na escolha da operação e
cálculo de todos os problemas de 4
a 10. Erros de cálculo no 1 e 3.
Acertou
Acertou
Erros na escolha da operação e
nos cálculos dos problemas
1,3,4,5,6.
Erros na escolha da operação
no 1 e 4. Não fez a divisão no 6.
Acertou
Erros de cálculo nos 1, 2, 3, 7, 8,
10.
A33
A34
A35
Não fez os problemas 2,4,5,6.
Acertou
Acertou
Erros na divisão do 8, 9, 10.
Erros na divisão do 8 e 9.
Acertou
A36
Não fez.
Erros na divisão do 5, 8 e 9.
A21
A26
A27
A28
A29
A30
A31
A32
Somente não fez o problema 10.
Erros de cálculos nos problemas 1,
2, 3, 5, 7, 8, 9, 10.
Acertou
Erros na divisão do 7, 8, 9,10.
Fonte: Teste dos alunos.
Em relação a categoria, habilidade para modelar a situação do
problema, os alunos que optaram por fazer a modelação dos problemas
apresentaram um melhor desempenho, uma vez que conseguiram refletir sobre a
operação que deveriam utilizar, os que não fizeram a sentença ou não conseguiram
244
fazer apresentaram mais erros na escolha da operação. Sendo assim, a atividade
da resolução de problemas, por meio da modelação do problema, apresentou bons
resultados.
Em relação a categoria, habilidade para reconhecer a operação que
resolve o problema e utilizá-la corretamente, observou-se que o índice de erros
na escolha da operação foi pequeno. Percebemos que no pré-teste os alunos
apresentaram um maior índice de erros na escolha da operação, e que no pós-teste
houve uma melhora significativa.
Nos problemas que envolviam multiplicação, o índice de acerto foi
razoável, detectando-se poucos erros na escolha da operação que resolvia os
problemas, e mais erros na utilização correta da operação, pois houve alguns erros
de cálculo e principalmente de posicionamento de vírgula no resultado.
Nos problemas que envolviam uma divisão, o índice de acertos foi
razoável, os erros na escolha da operação não foram muito acentuados,
destacando-se mais o índice de erros no desenvolvimento das operações,
percebeu-se que o maior índice de erros foi na divisão de decimal e inteiro e de
dois decimais com quantidades de casas decimais diferentes.
Em algumas situações, acreditamos que o erro tenha acontecido devido
ao esquecimento, pois, na entrevista realizada com alguns alunos após o pós-teste,
observamos que eles perceberam o erro e demonstraram saber como efetuar o
algoritmo. Percebemos que os alunos que dominavam o algoritmo da divisão com
naturais conseguiram resolver o problema 10, considerado o mais difícil, por exigir
divisões sucessivas. Outros alunos iniciaram a divisão, encontraram o primeiro
valor, mas não conseguiram prosseguir por desconhecerem como fazê-lo,
conforme relataram durante a entrevista. De forma geral, acreditamos que os
alunos tiveram um desempenho razoável na utilização da operação no problema,
mas poucos alunos se preocuparam em revisar seus cálculos e confirmar seus
resultados.
Em síntese, podemos notar que na resolução de problemas
multiplicativos no campo dos números naturais os alunos apresentaram dificuldade
na escolha da operação e em efetuar as operações de multiplicação e
principalmente de divisão. No campo dos decimais, os resultados na escolha da
operação tiveram uma melhora significativa, e isso se justifica porque, antes de
trabalharmos problemas com os decimais, trabalhamos a resolução de problemas
245
com os números naturais, de tal forma que os alunos puderam tirar dúvidas e
avançar um pouco mais nesse conhecimento.
Realizamos uma análise geral dos alunos dentro das categorias
estabelecidas, levando em consideração as análises do campo aditivo (C.A) e
multiplicativo (C.M).
Quadro 23 - Habilidades dos alunos na resolução de problemas com os decimais
Alunos
A1
A2
A3
A4
A5
A6
A7
A8
A9
A10
A11
A12
A13
A14
A15
A16
A17
A18
A19
A20
A21
A22
A23
A24
A25
A26
A27
A28
A29
A30
A31
A32
A33
A34
A35
A36
Habilidade com
as operações
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Parcial no C. M
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Parcial no C. M
Sim
Parcial no C.M
Não
Parcial no C. M
Sim
Parcial no C.M
Não no C.M
Sim
Parcial no C.M
Não
Parcial no C. M
Sim
Não no C. M
Sim
Sim
Parcial no C. M
Parcial no C.M
Parcial no C.M
Sim
Sim
Parcial no C.M
Fonte: Teste dos alunos
Habilidade reconhecer
Habilidade para
a operação utilizada
modelar o problema
no problema
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Parcial
Parcial
Parcial
Parcial
Sim
Sim
Sim no C.A.
Sim no C.A.
Sim
Sim
Sim
Sim
Parcial
Parcial
Sim
Sim
Parcial no C. M
Parcial no C. M
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Sim
Sim
Não no C.M
Não no C.M
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
246
Os resultados do Quadro 23 mostram que os alunos que conseguiram
ter um bom desempenho nas operações, na modelação do problema e na escolha
da operação, também tiveram sucesso com o desenvolvimento da operação dentro
do problema; não obstante, os alunos que tiveram desempenho parcial nas
operações, mesmo que tenham acertado a escolha operação, tiveram resultado
parcial na utilização da operação dentro do problema.
Esses resultados parecem confirmar o que foi apontado no estudo de Hiebert
e Wearne (1988), sobre os conhecimentos conceituais e processuais dos alunos.
Segundo esses autores, uma explicação para o mau desempenho dos alunos seria
que eles são levados a memorizar um grande número de regras de manipulação
de símbolos que têm pouco conteúdo conceitual para eles. Sem significado
conceitual para apoiar as regras, elas são frequentemente esquecidas ou
distorcidas e rigidamente aplicadas. Nesse caso, os alunos podem verificar uma
resposta apenas por reexecutar uma regra, mas não por avaliar a razoabilidade da
solução.
Concordamos com Hiebert e Lefevre (1986, p. 21), segundo o qual,
embora as habilidades processuais rotineiras sejam essenciais para a resolução de
problemas, o conhecimento conceitual é necessário para se obter a estabilidade e
eficácia de procedimentos. Nas análises das respostas, os alunos tiveram erros
processuais nas operações, de tal forma que nos pareceu que os conhecimentos
conceituais de números decimais não foram apreendidos pelos alunos, mostrando
com isso que as atividades utilizadas para esse fim não foram potencialmente
adequadas, e que o tempo não foi sufiente para que essa aprendizagem se
estabilizasse.
247
6.5 DISCUSSÕES GERAIS DOS RESULTADOS
De forma geral, foi-nos possível inferir que as atividades de resolução de
problemas, tanto do campo aditivo como do campo multiplicativo, tiveram
resultados satisfatórios, pois a maior parte dos alunos conseguiu representar por
uma sentença a situação apresentada no problema e identificar a operação que
deveria ser utilizada.
No pré-teste, não percebemos nenhuma estratégia diferente dos alunos
para resolver os problemas. Mesmo que as questões estivessem relacionadas a
fatos do cotidiano, não houve estratégias diferentes dos formais algoritmos que
aprenderam na escola. Apenas uma aluna apresentou uma sentença diferente da
que foi trabalhada nas atividades de resolução de problemas.
No pós-teste, entretanto, observamos que, em alguns momentos, os
alunos mobilizaram as estratégias que haviam visto nas atividades para tentarem
responder as questões, uma vez que procuraram escrever as sentenças dos
problemas da forma como haviam feito nas atividades de resolução de problemas.
O desempenho dos alunos com as operações do campo aditivo foi
melhor. Porém, o desempenho no campo multiplicativo continuou a mostrar-se
difíceis para os alunos desenvolverem. Diferentemente dos trabalhos anteriores de
Jucá (2004, 2008), pareceu-nos que o fato de termos optado em trabalhar com as
frações decimais nas atividades não ajudou na compreensão das regras das
operações de multiplicação e divisão, pois houve muitos erros de posicionamento
da vírgula na multiplicação e no desenvolvimento da divisão no teste. Pelo visto, os
alunos não conseguiram perceber a relação entre multiplicação e divisão dos
decimais com a multiplicação e divisão das frações decimais, talvez o pouco tempo
dado à atividade possa ter influenciado no processo de aprendizagem. Sendo
assim, inferimos que as dificuldades nestas operações foram relacionadas mais à
falta de compreensão conceitual dos decimais do que à questão processual.
Outra situação observada, foi que nos problemas que envolvia uma
multiplicação, alguns alunos utilizaram a adição repetida para resolver as questões,
assim como nas questões que envolviam uma divisão, mas, em alguns casos, essa
estratégia era abandonada porque os alunos perceberam que não levava a uma
resposta satisfatória. Por não saber realizar o algoritmo da multiplicação e divisão
248
os alunos optaram pela modelo da adição repetidas citado por Fischbein et al (1986)
como sendo o modelo implícito da multiplicação.
Isso posto, observamos que a fragilidade conceitual sobre decimais pode
ter levado os alunos às dificuldades com as operações. Pois os estudos de
Brousseau (1980, 1981, 1987, 1998), Perrin Glorian (1986), Padovan (2000),
Biachinni (2001), Cunha (2002), e Vieira(2005), Fonseca (2005), Silva (2006), Roditi
(2007), Mestre (2009), Mendes (2012), Şengül e Gülbağcl (2012) apontaram que a
deficiência conceitual de número decimal pode levar as dificuldades com as
operações, e sugerem uma forte construção conceitual dos decimais antes de
trabalhar as operações e a resolução de problemas. Para Hiebert e Wearne (1988),
o conhecimento conceitual é essencial e, sem ele, os alunos são levados a
memorizar as regras processuais que aplicam de forma inadequada e isso ocorre
porque os alunos não possuem significado conceitual para apoiar as regras que
utilizam. E isso corrobora os resultados obtidos neste e em outros trabalhos.
Assim, conforme Hiebert e Wearne (1988, p.3), se tornar competente
com números decimais é se tornar competente com um novo sistema de símbolos,
no contexto de outros sistemas que possam apoiar o desenvolvimento de tais
competências. A ausência de relações entre conceitos e procedimentos é tão
extensa e profunda que os dois tipos de conhecimentos poderiam ser
caracterizados como constituindo dois mundos mentais distintos.
Diante desse quadro e das análise dos resultados, podemos concluir que
para que os alunos possam ter competências para resolver problemas com os
números decimais, é necessário desenvolver habilidades com as operações,
habilidades para modelar a situação do problema e habilidade para reconhecer e
utilizar a operação na resolução do problema, visto que os alunos, desta pesquisa,
que apresentaram tais habilidades tiveram um desempenho melhor na resolução
dos problemas.
Em vista disso, defendemos que, para que os alunos possam apresentar
competência para resolver problemas aritméticos, eles devem possuir certos
conhecimentos e habilidades. E que tanto os conhecimentos conceituais e
processuais são necessários para o desenvolvimento dessas habilidades.
Apoiados nos estudos de Ausubel (2003) e Vergnaud (1990, 2009b) sobre a
importância do conhecimento conceitual para uma aprendizagem efetiva,
defendemos que o conhecimento conceitual dos decimais estabelece relações com
249
as competências dos números naturais e das frações decimais, além do
conhecimento processual,
visto
conter as habilidades necessárias para
desenvolver competência com as operações e na resolução de problemas.
Como a estrutura curricular da Educação básica e a Matriz de Referência
de Matemática do Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb é pautada em
competências e habilidades, fomos buscar um significado para cada uma delas.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacional – INEP.
Competências são as modalidades estruturais da inteligência, ou melhor,
ações e operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre
objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer. As
habilidades decorrem das competências adquiridas e referem-se ao plano
imediato do ‘saber fazer’. Por meio das ações e operações, as habilidades
aperfeiçoam-se e articulam-se, possibilitando nova reorganização das
competências (INEP, 1999, p.7).
Sendo assim, competências são aqui entendidas como um conjunto de
habilidades para alcançar um objetivo. Partindo desse pressuposto, e a partir das
análises dos resultados, vislumbramos um modelo que cumula para um campo de
competência para resolver problemas com os decimais. A competência plena se
desenvolve quando os alunos atingem cada uma das habilidades necessárias.
O modelo apresentado está pautado no conhecimento conceitual e
processual, que vai gerar habilidades, tais como: (1) habilidade com as operações;
(2) habilidade para modelar as sentenças que representam a situação do problema;
(3) habilidade para reconhecer a operação que resolve o problema; (4) habilidade
para utilizar a operação no problema. De tal sorte que o modelo que segue mostra
as relações que são estabelecidas entre essas habilidades para o desenvolvimento
do campo de competência desejada.
250
Figura 135 - Modelo do campo de competência para a resolução de problemas
com os decimais
Situação com os decimais
Conhecimento Processual
Conhecimento Conceitual
Competência
com os números
Naturais
Competência
com Frações
decimais
Competência com os
números decimais
Habilidade
com as
operações
Habilidade
em Modelar
o problema
Habilidade em
reconhecer a
operação
Competência em resolver problema
Fonte: Modelo nosso.
Consideramos o conceito de situação apresentada neste modelo, como
sendo o de tarefa, abordado por Vergnaud (1990, p.23), ou seja, uma situação
complexa pode ser analisada como uma combinação de tarefas “[...] cuja natureza
e dificuldades específicas devem ser bem conhecidas”. A partir de uma situação
(uma tarefa) com os decimais, dois conhecimentos são mobilizados, o conceitual e
o processual.
O conhecimento conceitual é o nível 1 e o conhecimento processual é e
o nível 2. A partir de uma dada situação, os conhecimentos conceituais e
processuais estabelecem uma relação de complementariedade, de tal forma que
251
ambos os conhecimentos são necessários para o desenvolvimento de uma
aprendizagem efetiva com os decimais. O modelo apresenta um caráter sequencial,
pois, para atingir os objetivos inerentes a um determinado subnível, é necessário
que o aluno já tenha se apropriado das estratégias dos subníveis anteriores.
No nível 1, temos o conhecimento conceitual que envolve dois subníveis,
a que chamamos de subnível A, conhecimento de números naturais; e subnível B,
conhecimento das frações decimais. A composição do conhecimento conceitual
tem como base as ideias expostas por Hiebert e Levefre (1987) e a compreensão
de sentido de número defendido por McIntosh (1992).
O subnível A, compreende competência com os números naturais,
corresponde ao conhecimento do sistema de posição decimal, ao conhecimento e
habilidade com as operações, habilidade com os algoritmos formais, e a resolução
de problemas.
O subnível B, compreende competência com as frações decimais,
corresponde à compreensão da fração decimal e sua representação decimal,
compreensão do sentido das operações, habilidade em realizar as operações com
as frações decimais. Este conhecimento com as frações decimais também é
defendido por Hiebert e Wearne (1988) e Behr e Post (1992), que sustentam que
as frações decimais são necessários para a aprendizagem dos números decimais.
Além disso, as frações decimais estão relacionadas a questões históricas e
epistemológicas dos decimais, de tal forma que seu conhecimento é importante
para a aprendizagem dos decimais.
Em suma, a compreensão das operações com os números naturais
facilita a compreensão das operações e dos algoritmos das operações no campo
dos decimais, uma vez que essa ampliação das operações com os números
naturais aos números decimais evitaria ao aluno a criação de equívocos conceituais
relacionados à multiplicação e divisão, os quais já foram apontados anteriormente
nos estudos revisados, assim como a compreensão das operações com as frações
decimais leva à compreensão das regras utilizadas nas operações com os números
decimais (décimos adicionados a décimos, décimos multiplicados por décimos
resulta em centésimos etc.). Essa competência com os números decimais envolve
tanto o conhecimento conceitual desses números como a habilidades nas
operações.
252
No nível 2, temos o conhecimento processual. Esse nível envolve três
subníveis: subnível A, habilidades com as operações; subnível B, habilidades em
modelar o problema; e subnível C, habilidade em reconhecer e utilizar corretamente
a operação no problema. Para composição deste conhecimento utilizamos as ideias
de conhecimento processual exposto por Hiebert e Levefre (1987), e o sentido de
operação defendido por MacIntosh (1992) e Slavit (1999).
O subnível A, habilidades com as operações, está implicitamente
relacionado ao conhecimento conceitual e corresponde à habilidade dos alunos em
terem domínio dos procedimentos das operações com os números decimais,
aplicarem corretamente as regras das operações e terem compreensão dessas.
No subnível B, habilidades em modelar o problema, os alunos precisam
desenvolver habilidades para lidar com os problemas aritméticos e algébricos,
classificados por Sá (2003), pois é nesse nível que está a maior dificuldade dos
alunos, porque, dependendo da estrutura semântica dos problemas, esses podem
exigir ou não a utilização da operação inversa. Convém-nos evidenciar que os
alunos, uma vez que tenham desenvolvido a habilidade do subnível B, podem, ao
longo do tempo, ultrapassar esse nível e ir direto para o nível C, já que conseguirão
escolher a operação sem precisar fazer a modelação do problema. Nesse caso, o
aluno terá conseguido construir uma estrutura cognitiva para avançar no processo.
O subnível C, neste subnível agrupamos duas habilidades, quais sejam,
habilidades em reconhecer o problema e habilidade em utilizar corretamente a
operação para resolver o problema, visto que a habilidade com as operações, não
necessariamente conduz o aluno a utilizá-la correntemente para resolver um
problema. A habilidade para reconhecer a operação, compreende a capacidade de
reconhecer a operação que deve ser usada no problema e raciocinar sobre o efeito
da operação no problema; corresponde ao momento do conhecimento processual
no qual o aluno já possui estrutura cognitiva para compreender se os resultados
obtidos são eficazes para a resolução do problema. E para isso pode utilizar
estratégias para verificação dos resultados, evitando assim resultados absurdos.
No entanto, isso somente ocorrerá se o aluno tiver compreensão dos
conhecimentos processual e conceitual.
Para concluir, o desenvolvimento dessas habilidades levaria o aluno a
desenvolver um campo de competência em resolver problemas com os decimais.
Pois entendemos que essas habilidades estão relacionadas entre si e se
253
complementam. De tal forma que somente o domínio de uma dessas habilidade
não garante a resolução do problema. As análises dos resultados confirmaram tal
afirmação, pois os alunos que dominavam as operações, mas que não tinham as
demais habilidades, não conseguiram resolver os problemas. Assim como os
alunos que conseguiram escolher corretamente a operação, mas que não tinham
domínio das operações, também não tiveram sucesso nos problemas. Os alunos
que dominavam as operações e acertaram a escolha da operação no problema não
conseguiram usar corretamente a operação no problema, pois não raciocinaram
sobre seus resultados e deram uma resposta absurda
254
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o presente trabalho, tivemos o objetivo de Investigar o campo de
competência que os alunos do 6º ano do ensino fundamental devem possuir para
resolver problemas aritméticos com os números decimais, no campo aditivo e
multiplicativo, e queríamos responder à seguinte questão de pesquisa: Qual o
campo de competência que os alunos do 6º ano do ensino fundamental devem
possuir para resolver problemas com os números decimais?
Dessa forma, com a presente investigação, buscamos defender que os
alunos precisam adquirir competência para resolver problemas com números
decimais e que essas competências estão relacionadas aos conhecimentos com
os números naturais, visto que defendermos que tais conhecimentos são
subsunçores para a aprendizagem dos decimais. Segundo Ausubel (2003, p.3), a
aprendizagem potencialmente significativa se relaciona e interage com ideias
relevantes existentes na estrutura cognitiva. De tal sorte que se os alunos tiverem
conhecimento suficiente das operações no campo dos naturais, tais conhecimentos
poderão ser estendidos para a aprendizagem das operações com os decimais, e
nessa nova aprendizagem podem ser mostradas as diferenças existentes entre o
campo dos números naturais e decimais, explorando propriedades que se aplicam
a um campo numérico, mas que não se aplicam a outro, e isso possibilitaria uma
ampliação das ideias do campo numérico dos naturais e dos decimais.
Segundo Moreira (2011, p. 26), a clareza, a estabilidade e a organização
do conhecimento prévio em um dado corpo de conhecimentos é o que mais
influencia a aquisição de um novo conhecimento. Trata-se de um processo
interativo, no qual o novo conhecimento ganha significados, se integra e se
diferencia em relação ao já existente, que, por sua vez, adquire novos significados,
fica mais estável, mais diferenciado e mais rico. Esse tipo de interação entre o
antigo e novo conhecimento evitaria os obstáculos didáticos que os números
naturais impõem aos números decimais e que foram expostos em alguns dos
estudos revisados, entre eles, o de Brousseau (1981, 2004).
Observamos, no currículo escolar, a existência de uma espécie de
“empacotamento” dos conteúdos que não permite que os conhecimentos
anteriormente trabalhados sejam relacionados ao novo conhecimento a ser
255
aprendido. Porém, é importante ressaltarmos que esse “empacotamento” dos
conteúdos não acontece na estrutura cognitiva dos alunos, porque eles tendem a
transferir os conhecimentos previamente adquiridos para o novo conhecimento, e,
dessa forma, sem um esclarecimento necessário das devidas diferenças e
limitações
dos
conhecimentos
em
questão,
surgem
os
obstáculos
de
aprendizagem.
As realizações das atividades das operações proporcionaram aos alunos
a oportunidade de construírem o seu conhecimento com os decimais na
aprendizagem das operações formais e dos procedimentos. E as atividades de
resolução de problema, permitiram aos alunos compreender a modelação de um
problema e desempenharam funções importantes de apoio ao raciocínio da escolha
correta da operação. Apesar das atividades desenvolvidas terem potencial de
ensino, precisamos pensar em atividades que trabalhem melhor o aspecto
conceitual dos decimais, pois percebemos muitos erros relacionados a esse
aspecto. Outro ponto a destacar relaciona-se ao fato de que seria necessário um
tempo maior para que as atividades da multiplicação e divisão de decimais fossem
melhor desenvolvidas, pois, durante as atividades, percebemos um bom resultado
dos alunos, todavia, não houve um tempo hábil para que o conhecimento novo
fosse bem assimilado. Nesse caso, o pouco tempo foi um dos fatores que
influenciaram no resultado do desempenho dos alunos em relação às atividades do
campo multiplicativo, principalmente na resolução dos problemas.
Em relação às operações com os decimais, observamos que, durante o
desenvolvimento das atividades para construir as regras das operações com os
decimais, os conhecimentos e habilidades dos alunos com as operações com os
números naturais favoreceu a aprendizagem das operações com os números
decimais, visto que os alunos que não possuíam tais habilidades com as operações
com os naturais tiveram dificuldade para construir e compreender as regras das
operações com os decimais, o que veio confirmar as observações do estudo Jucá
(2008).
Sobre as atividades de resolução de problemas, observamos que, no
desenvolvimento das atividades, os alunos conseguiram ter um bom desempenho
na resolução dos problemas aditivos com os decimais, porque tinham um bom
desempenho com os problemas com os naturais. Entretanto, nos problemas
multiplicativos, o desempenho dos alunos em resolver os problemas com os
256
decimais não foi tão bom, visto que os alunos também apresentaram dificuldade
em resolver problemas com os números naturais, e, nesse caso, a dificuldade
estava na falta de habilidade com as operações com os naturais.
Assim sendo, nesta pesquisa, percebemos que o conhecimento dos
números naturais influenciou de forma significativa a aprendizagem dos números
decimais, pois os alunos que tinham habilidade nas operações e na resolução de
problemas com os naturais não apresentaram dificuldade em aprender as
operações e resolver problemas com os decimais. De posse de tais resultados,
inferimos que a competência para resolver problemas com os decimais é que os
alunos inicialmente tenham competência com os números naturais, e isso envolve
habilidades com as operações e com a resolução de problemas.
Destacamos aqui, que outras competências são necessárias para
resolver problemas com os decimais, como as competências do conhecimento
conceitual e processual. Percebemos que essas duas competências estão
interligadas de tal forma que ambas se completam, o conhecimento conceitual é
necessário para que os alunos possam compreender o porquê das regras e
procedimentos que utilizam, assim como o conhecimento processual é necessário
para que os alunos possam entender os conceitos envolvidos nos processos de
resolução. Conforme dispõe Ausubel (2003), os conceitos constituem um aspecto
importante da teoria da assimilação, pois a compreensão e a resolução
significativas de problemas dependem amplamente da disponibilidade de conceitos
subordinantes e de conceitos subordinados.
Em vista dos resultados obtidos, desenvolvemos um modelo que
representa um campo de competência para que os alunos possam resolver
problemas com os números decimais, quais sejam: (1) habilidade com as
operações; (2) habilidade para modelar o problema; (3) habilidade para reconhecer
e utilizar a operação corretamente no problema. Sendo assim, se os alunos
adquirirem tais habilidades terão competência para resolver os problemas com os
decimais, seja no campo aditivo como no multiplicativo.
É oportuno ressaltarmos que os problemas trabalhados nesta
investigação pertencem à classificação de Vergnaud (2009): transformação de
medida e comparação de duas medidas, no campo aditivo; e isomorfismo de
medida no campo multiplicativo. Sendo assim, deste estudo, emerge um conjunto
de sugestões relativas a outras pesquisas que podem ser desenvolvidas no campo
257
dos números decimais, como investigar o desempenho dos alunos em problemas
com decimais nas demais categorias propostas por Vergnaud ou investigar a
potencialidade do trabalho das frações decimais no ensino dos números decimais,
principalmente no que se refere às operações.
258
REFERÊNCIAS
ALVES, B. & GOMES, A. Operações com números decimais: o conhecimento
dos professores do 1º ano do C.E.B. 2007. Disponível em
www.apm.pt/files/_co_Alves_Gomes_4871295e5f03d.pd. Acesso em dezembro
de 2013.
AUSUBEL, D. P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva
cognitiva. Lisboa: Paralelo Editora, 2003.
BELL, A.; SWAN, M.; TAYLOR, G. Choice of operation in verbal problems with
decimal numbers. IN: Education studies in mathematics. V. 12, 399-420p.
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263
APÊNDICES
264
APÊNDICE A- Teste (pré- e pós-) aditivo com os números decimais
1ª parte: arme e resolva as operações:
A)1,23 + 3,55
B)3,7 + 0,34
C) 8 + 3,5
D) 7,9 – 2,5
E) 8,34 – 2, 07
F) 6 – 1,26
2ª parte: resolva os problemas
Questão 01- Lucia possuía 80,50 m de fitas e gastou 40,30m das fitas em
um vestido. Quanto de fita Lucia possui agora?
Questão 02 - Maria comprou um caderno por R$ 7,50 e ficou com R$ 18
reais. Quanto ela possuía antes?
Questão 03- Pedro tem algum dinheiro e Raul tem R$ 3,45 a mais que Pedro.
Sabendo que Raul tem 22,65. Quanto possui Pedro?
Questão 04 – Fui ao shopping com certa quantia em dinheiro. Após gastar
R$ 40,50 percebi que ainda tinha R$ 12, 25 reais. Quanto eu tinha antes?
Questão 05 - Pedro e Marcus tem juntos R$ 28,60 reais. Pedro tem R$ 16,30
reais. Quantos reais tem Marcus?
Questão 06 – Carlos tinha 18,75 em seu cofrinho. Hoje ele colocou R$ 5,60.
Quanto ele tem agora?
Questão 07 – Henrique achou R$ 7,50 na rua. Ele tem agora R$ 12,90.
Quanto ele tinha antes?
Questão 08 - Luciana tinha 45 metros de fitas. Ela cortou 23,6 metros e deu
para Julia. Quantos metros de fita tem Luciana agora?
Questão 09 - Sofia tem 1, 60 metros de altura e sua irmã Júlia tem 1,06
metros de altura. Qual a diferença de altura entre as duas?
Questão 10 - Carlos possui alguns metros de fio elétrico. Vai usar na
instalação de sua casa 21,34 m e ainda sobrará 12, 5m. Quantos metros de
fio Carlos possui?
265
APÊNDICE B- Teste (pré- e pós-) multiplicativo com os números decimais
1ª parte: arme e resolva as operações abaixo:
A) 1,2 x 5
B) 3,7 x 1,2
C) 0,8 x 0,5
D) 7 ÷ 5
E) 1, 2 ÷ 0,6
F) 0,24 ÷ 0,6
2a parte: resolva os problemas
Questão 01 - Carla precisa comprar 6,3 metros de tecido para fazer uniformes
para seus filhos. O metro do tecido custa R$ 4,25. Quanto Carla irá gastar?
Questão 02 - Debora encheu 8 garrafas de leite. Cada garrafa tinha a capacidade
de 1,5 litros. Quantos litros de leite foram usados?
Questão 03 – Laura fez 3,5 kg de doce de leite. Ela pretende vender o quilo por
R$ 2,25. Quanto Laura conseguirá apurar se vender todo o doce de leite?
Questão 04 – Temos 2,8 litros de óleo. O óleo será distribuído em latas iguais
com capacidade para 0,7 litro. Quantas latas vão ser usadas?
Questão 05 - Tenho 18,75 quilogramas de farinha. Vou colocar em sacos que
cabem 0,75 kg. Quantos sacos vou usar?
Questão 06 – Lucas gastou R$ 15,50 com álbuns de figurinhas. Cada álbum
custou R$ 3,50. Quantos álbuns Lucas comprou?
Questão 07 – Foram distribuídos igualmente 9 quilos de arroz para 4 famílias.
Quanto receberá cada família?
Questão 08 – Tenho 4,5 metros de tecido. Preciso cortar em 9 pedaços do
mesmo tamanho. Quantos metros terá cada pedaço?
Questão 09 – Carlos vendeu 25 bombons de cupuaçu. Ele apurou no total R$
12,50. Quanto custa um bombom?
Questão 10 - Paulo comprou 5,5 quilogramas de carne e pagou R$ 31,24.
Quanto custa um quilo de carne?
266
APÊNDICE C- Teste aditivo com os números naturais
I. Efetue as operações:
A) 56 + 24
B) 102 + 23
D) 125 – 87
E) 80 – 23
C) 76 – 43
II. Resolva os problemas:
1) Paulo tem 6 bolinhas de gude azuis e 14 bolinhas verdes. Quantas
bolinhas Paulo tem?
2) Tiago tem 12 bolinhas de gude. Lucas tem 5 a menos que Tiago.
Quantas bolinhas tem Lucas?
3) João tem 40 bombons. Ele deu 18 para sua irmã. Com quantos ele ficou?
4) Luiza tinha alguns brincos. Ela ganhou 5 de sua prima e agora possui
12. Quantos brincos tinha Luiza antes?
5) Um comerciante possuía 200 metros de arame. Após vender alguns
metros, sobraram 78 metros. Quantos metros de arame ele vendeu?
6) Meu pai tinha certa quantia em seu cofre. Depois de guardar R$ 27,00
passou a ter R$ 146,00. Quanto ele tinha no início?
267
APÊNDICE D- Teste multiplicativo com os números naturais
I. Efetue as operações:
A) 74 x 23
B) 126 x 32
E) 648 ÷ 6
F) 672 ÷ 12
II. Resolva os problemas:
1) Carlos tem 96 quilogramas farinha que será distribuída igualmente
entre 6 pessoas. Quanto receberá cada família?
2) Comprei uma bolsa e vou pagá-la em 5 prestações iguais de R$ 18,00.
Quanto custou essa bolsa?
3) Doze canetas custam R$ 24,00. Quanto custa uma caneta?
4) Tenho 12 pacotes de bombons. Em cada pacote há 25 bombons.
Quantos bombons eu tenho?
5) Pedro tem R$12,00. Ele quer comprar algumas canetas que custam
R$ 4,00 cada uma. Quantas canetas ele pode comprar?
6) Paguei R$ 78,00 por 26 garrafas de refrigerantes. Quanto custa uma
garrafa de refrigerante?
268
APÊNDICE E- Atividades ensino com os números decimais
Atividade 1: 1ª parte: Transformar as frações decimais em
números decimais
Usando a calculadora faça a divisão
𝟏)
𝟒
=
𝟏𝟎
𝟐𝟑
𝟑)
𝟏𝟎
𝟓)
𝟕)
𝟗)
𝟐)
=
𝟕𝟔
𝟏𝟎𝟎
𝟗
𝟏𝟎𝟎𝟎
𝟐𝟑𝟒
𝟏𝟎𝟎𝟎
𝟒)
𝟖
𝟏𝟎
=
𝟗
𝟏𝟎𝟎
𝟔𝟒𝟖
=
𝟔)
=
𝟖)
=
𝟏𝟎)
𝟏𝟎𝟎
=
=
𝟖𝟕
𝟏𝟎𝟎𝟎
=
𝟒𝟓𝟏
𝟏𝟎𝟎𝟎
Escreva como podemos transformar as frações decimais em números
decimais sem usar a calculadora.
269
Atividade 1: 2ª parte Transformar os números decimais em
frações decimais
Faça as transformações números decimais em frações decimais
1) 0,6=
2) 0,8 =
3) 2, 5 =
4) 0,09 =
5) 3,45 =
10) 2,08 =
11) 0,546 =
12) 1,349 =
13) 0,008 =
10) 98,987 =
Escreva como podemos transforma os números decimais em frações
decimais sem usar a calculadora.
270
Atividade 2: comparação dos decimais
Objetivo: fazer o aluno compreender a relação de comparação dos
decimais
1. Observe os números decimais, digite os números na calculadora e aperte
a tecla ‘=”.
g) 0,50 =
h) 0,500 =
i) 0,5000 =
j) 0,60 =
k) 0,600 =
l) 0,60000 =
O que acontece?
2.
f)
g)
h)
i)
j)
Observe os números decimais e escreva a palavra maior ou menor.
0, 8 .................................... 0, 7
0, 9..................................... 0,5
0,42 ................................... 0,23
0,50 ................................... 0,49
0,50 ................................... 0,05
Estes números têm partes inteiras iguais ou diferentes?
Como faço para saber quando um número decimal é maior que outro
decimal?
Conclusão:
3.
f)
g)
h)
i)
j)
Observe os números decimais e escreva a palavra maior ou menor.
1, 23 ................................ 1, 023
1, 345 .............................. 1,344
1, 081 .............................. 1,708
1,023 .............................. 1,23
1,45 ................................. 1,657
Estes números têm partes inteiras iguais ou diferentes?
Como faço para saber quando um número decimal é maior que outro
decimal?
Conclusão:
4.
g)
h)
i)
j)
k)
l)
Compare os números decimais, escreva a palavra maior ou menor.
1, 8 .................................. 0,7
2, 9................................... 1,5
1,42 .................................0,238
2,50 ................................. 0,50
1,50 ................................. 2,05
2,45 ................................. 1,234
Estes números têm partes inteiras iguais ou diferentes?
271
Atividade 3: adição de números decimais
Objetivo: construir a regra da adição de decimais
Efetue as operações:
1) 0,4 + 0, 5
2) 1,25 + 3,54
3) 23,45 + 45,34
4) 19,98 + 14,36
5) 7,60 + 8,08
6) 13,4 + 12,67
7) 5,67 + 8,981
8) 8,345 + 54,56
9) 8,09 + 4,3
10) 6 + 3,34
Escreva uma maneira de adicionar números decimais.
272
Atividade 4: subtração de números decimais
Objetivo: construir a regra da subtração de decimais
Efetue as operações:
1) 0,9 - 0,3
2) 59 – 1,34
3) 4,58 – 2,28
4) 24, 794 – 12,563
5) 89,405 – 34,56
6) 7,08 – 4,6
7) 9 – 3,2
8) 18 – 12,34
9) 15,604 – 6,34
10) 9,67 – 5,09
Escreva uma maneira de subtrair números decimais.
273
Atividade 5: resolução de problemas aditivos com os decimais
Objetivo: desenvolver habilidade na resolução de problemas aditivos
1. Uma empresa transportou 23,47 toneladas de carga pela manhã e
21,51 toneladas à tarde. Quantas toneladas foram transportadas no
total?
a) Quanto foi transportado pela manhã?
b) Quanto foi transportado a tarde?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Qual a quantidade de toneladas transportada?
2. Paulo carregou uma caixa com laranjas que pesava 8,20kg e uma
caixa com mangas que pesava 6,19kg. Qual o peso total que Paulo
carregou?
a) Quanto pesava a caixa com as laranjas?
b) Quanto pesava a caixa com as mangas?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f)
Qual o peso carregado por Paulo?
3. Uma costureira possuía 6,5 metros de tecido. Ela gastou 2,8 metros.
Quantos metros ela possui agora?
a) Quantos metros a costureira tinha?
b) Quantos metros ela gastou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Quantos metros ela tem agora?
274
4. João tem R$ 12,60 e deu R$ 5,80 para sua irmãzinha. Quanto tem
João agora?
a) Quanto João tem?
b) Quanto ele deu para usa irmã?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Quanto João tem agora?
5. Paulo tinha R$ 13,70. Ele ganhou algumas moedas de sua mãe. Agora
ele possui R$28,00. Quanto ele ganhou?
a) Quanto Paulo tinha?
b) Quanto ele possui agora?
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Quanto ele ganhou?
6. Um atleta correu 123,85 quilômetros no primeiro dia. No segundo dia,
ele correu alguns quilômetros. No total, ele correu nos dois dias 321,29
quilômetros. Quantos quilômetros ele correu no segundo dia?
a) Quantos quilômetros o atleta correu no primeiro dia?
b) Quantos quilômetros ele correu no total?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Quantos quilômetros ele correu no segundo dia?
275
7. Um caminhão possuía uma carga de 5,5 toneladas. Foi descarregada
uma certa quantidade da carga. Agora, a carga do caminhão é de 3,27
toneladas. Qual a carga que foi descarregada?
a) Quantas toneladas tinha a carga do caminhão?
b) Qual a carga agora?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Quanto pesa a carga que foi descarregada?
8. Dona Juju é costureira e possuía 9,2 metros de tecido. Ela gastou
alguns metros para fazer uma colcha. Agora ela tem 3,75 metros de tecido.
Quantos metros ela usou para fazer a colcha?
a) Quantos metros Dona Juju tinha?
b) Quantos metros ela tem agora?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Quantos metros ela usou?
9. Eu tinha certa quantia em dinheiro. Recebi R$ 20,50 de meu irmão.
Agora possuo R$ 35,60. Quanto eu tinha antes?
a) Quanto eu recebi?
b) Com quanto fiquei?
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f) Qual o valor que eu tinha antes?
276
10. Paulo tinha certa quantidade de arroz em seu mercadinho.
comprou
Ele
6,89 quilogramas. Agora ele tem 48,9 quilogramas. Quantos
quilos de arroz ele tinha antes?
a) Quantos quilograma ele comprou?
b) Quanto ele tem agora?
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f)
Quantos quilograma de arroz ele tinha antes?
11. Fui ao Mercado com certa quantia em dinheiro. Após gastar R$ 50,50
percebi que ainda tinha R$ 15,60. Quanto eu tinha antes?
a) Quanto eu gastei?
b) Com quanto fiquei?
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f)
Qual o valor que eu tinha antes?
12. Paulo comprou certa quantidade de arroz para seu mercadinho.
Vendeu 6,8 quilogramas no primeiro dia. Agora ele possui 18,9
quilogramas. Quantos quilos de arroz ele comprou?
a) Quanto ele vendeu?
b) Com quanto ele ficou?
c) O que a questão pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver a questão?
f)
Qual a quantidade de arroz que ele comprou?
277
Atividade 6: multiplicação com os decimais
Objetivo: construir a regra da multiplicação dos decimais
Efetue as operações:
1)
0,2 x 0,4
2) 0,3 X 0,3
3)
0,8 x 0,3
4) 0,9 x 0,4
5)
2,3, x 1,5
6) 0,4 x 1,24
7)
0,25 x 2,3
8) 2,14 x 3,2
9)
2,45 x 3,4
10) 1,56 x 2,5
Escreva uma maneira de multiplicar os números decimais.
278
Atividade 7: divisão de inteiros
Objetivo: desenvolver habilidade na divisão de inteiros resultando
em decimal
Efetue as operações:
1) 5 ÷ 2
2) 7 ÷ 4
3) 9 ÷ 5
4) 52 ÷ 8
5) 54 ÷ 5
6) 26 ÷ 7
7) 72 ÷ 11
8) 4 ÷ 5
9) 2 ÷ 4
10) 5 ÷ 8
279
Atividade 8: divisão de números decimais
Objetivo: construir as regras da divisão dos decimais
1ª parte: divisão com decimais com quantidades de casas decimais
iguais
1) 1,2 ÷ 0,6
2) 4,8 ÷ 0,8
3) 1,4 ÷ 2,8
4) 3,6 ÷ 1,2
5) 0,24 ÷ 0,06
6) 0,64 ÷ 0,08
7) 1,25 ÷ 0,25
8) 0,016 ÷ 0,004
9) 0,028 ÷ 0,014
10) 0,045 ÷ 0,005
Escreva uma maneira de dividir os números decimais
2ª parte: divisão com decimais com quantidades de casas decimais
diferentes
1)
1,2 ÷ 0,06
2)
6,4 ÷ 0,08
3)
0,24 ÷ 0,004
4)
0,32 ÷ 0,016
5)
2,48 ÷ 0,004
6)
7,2 ÷ 0,08
7)
0,63 ÷ 0,9
8)
0,25 ÷ 2,5
9)
0, 28 ÷ 0,014
10)
21, 4 ÷ 2,14
Escreva uma maneira de dividir os números decimais
280
Atividade 9: resolução de problemas multiplicativos com os decimais
Objetivo: desenvolver
multiplicativos
habilidade
para
resolver
problemas
1. O litro da gasolina custa R$ 2,95. Antônio colocou 18,5 litros de
gasolina no seu carro. Quanto ele irá pagar?
a) Quanto custa o litro de gasolina?
b) Quantos litros de gasolina Antônio colocou no carro?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor a ser pago?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Calcule o valor a ser pago.
2. No supermercado, um quilograma de arroz custa R$ 2,50. Tereza
comprou 4,5 quilogramas. Quanto ela pagou?
a) Quanto custa 1quilograma de arroz?
b) Quantos quilograma Tereza comprou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor a ser pago?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Calcule o quanto Tereza pagou no total.
3. Em um supermercado, o preço do quilograma do queijo é R$ 5,25.
Paulo comprou 2,5 quilogramas de queijo. Quanto ele pagou?
a) Quanto custa o quilograma do queijo?
b) Quantos quilogramas de queijo ele comprou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor a ser pago?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Calcule quanto Paulo pagou no total.
281
4. Paguei R$ 15,40 por 3,5 quilogramas de carne. Quanto custa um
quilograma de carne?
a) Quanto paguei por 3,5 quilograma de carne?
b) Que quantidade de carne eu comprei?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor de 1 quilograma de carne?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quanto custa um quilograma de carne.
5. Paulo comprou 3,5 quilogramas de maniçoba e pagou R$ 19,25.
Quanto custa um quilograma de maniçoba?
a) Quantos quilogramas de maniçoba Paulo comprou?
b) Quanto ele pagou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor de 1 quilograma de
maniçoba?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quanto custa um quilograma de maniçoba.
6. Um marceneiro comprou 2,4 quilos de pregos. Ele pagou R$ 3,60.
Quanto custa o quilograma de pregos?
a) Quantos quilogramas de pregos ele comprou?
b) Quanto ele pagou?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa o valor de o quilograma de prego?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f)
Calcule quanto custa o quilograma de pregos.
282
7. Carlos tinha uma certa quantidade de picolé para vender. Cada picolé
custava R$ 2,75. Ao final do dia, ele apurou R$ 33,25. Quantos picolés
ele vendeu?
a) Quanto custava um picolé?
b) Quanto ele apurou ao final do dia?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a quantidade de picolé vendidos?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quantos picolés ele vendeu no total.
8. Lucas gastou R$ 15,50 comprando álbuns de figurinhas. Cada álbum
custou R$ 3,50. Quantos álbuns Lucas comprou?
a) Quanto Lucas gastou nos álbuns?
b) Quanto custou casa álbum?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a quantidade de álbuns ele
comprou?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule quantos álbuns ele comprou.
9. Tenho 18,9 metros de tecido. Vou cortá-lo em pedaços iguais de 0,9
metros. Quantos pedaços vou obter?
a) Quantos metros de tecido tenho?
b) Qual o tamanho de cada pedaço?
c) O que o problema pede?
d) Qual é a sentença que representa a situação?
e) Qual é a operação usada para resolver o problema?
f) Calcule o número de pedaços que vou obter.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO