UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO UNIBAN CONSELHO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NORBERTO MACHADO ANGELINI FUNÇÕES: UM ESTUDO BASEADO NOS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA São Paulo 2010 2 NORBERTO MACHADO ANGELINI MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA FUNÇÕES: UM ESTUDO BASEADO NOS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA Dissertação apresentada como exigência parcial à Banca Examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo UNIBAN, para a obtenção do título de MESTRE em Educação Matemática, sob orientação da Professora Doutora Vera Helena Giusti de Souza. UNIBAN SÃO PAULO 2010 3 A591f Angelini, Norberto Machado. Funções: um estudo baseado nos Três Mundos da Matemática / Norberto Machado Angelini – São Paulo : [s.n.], 2010 219f.; il. ; 30 cm. Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo, Curso de Educação Matemática. Orientadora: Profª. Drª. Vera Helena Giusti de Souza. 1.Funções 2. Imagem de conceito 3. Definição de conceito I. Título. CDD: 515.9 4 Banca Examinadora ________________________________ ________________________________ ________________________________ 5 Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de fotocópias ou eletrônicos. Assinatura Local e data 6 Dedico este trabalho à minha esposa Clenira, às minhas filhas Caroline e Vivian, aos meus pais José e Nilza e à Professora Vera Giusti. 7 AGRADECIMENTOS À minha família, pelo apoio e compreensão, principalmente nos longos momentos de “ausência” e angústia. Clenira, Caroline, Vivian, Beatriz, José, Nilza, amo todos vocês. Faço um agradecimento especial à Clenira, pelo auxílio na aplicação do instrumento diagnóstico, pela revisão do texto e pelos diversos momentos de ajuda na interpretação das ideias e da teoria utilizada. À Professora Doutora Vera Helena Giusti de Souza pelo constante apoio e atenção, por estar sempre presente, por acreditar nas minhas ideias e, em especial, por compartilhar comigo seus conhecimentos. Às Professoras Doutoras Rosana Nogueira de Lima e Maria Cristina Bonomi Barufi, por aceitarem participarem de minha banca examinadora e por apresentarem muitas sugestões que contribuíram decisivamente para a execução deste trabalho. A todos Professores e Professoras do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da UNIBAN, e de maneira particular à Professora Doutora Siobhan Victoria (Lulu) Healy, aos Professores Doutores Alessandro Jacques Ribeiro, Ruy Cesar Pietropaulo e Vincenzo Bongiovanni, por todo apoio que me dedicaram e por me auxiliarem em muitos momentos. Aos funcionários da UNIBAN, particularmente da Secretaria e Biblioteca, pelo apoio administrativo e orientação no decorrer da pesquisa. Aos vários amigos do curso, em especial Arthur, Eder, Carlos, Josias, Rosangela, Yuri, Fábio, Paulo, pela amizade e apoio, e por todos momentos de estudos e discussões. Aos Professores e Professoras das escolas em que trabalho e da escola participante desta pesquisa, que me ajudaram de várias maneiras. Em especial agradeço à Cláudia, Niraci, Anderson, Willians, Vivian, Fernando, Elisa, Cristina, Márcias (são duas), Dina, Wanda, Virgínia, Edson. Agradeço também aos alunos participantes da pesquisa por compartilharem comigo suas ideias. Às várias outras pessoas que me ajudaram e talvez nem se lembrem mais, Wilma, Pedro (in memorian), Clélia, Reginaldo (in memorian), Sílvio, Laura, vocês estarão sempre presentes. 8 RESUMO Nosso objetivo foi identificar imagem de conceito e definição de conceito (TALL; VINNER, 1981) sobre o conceito de função e características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004), presentes em oito estudantes da 2 a série do Ensino Médio de São Paulo. Para isto, estruturamos um instrumento diagnóstico com questões que contemplam várias representações de função e que podem ser resolvidas de maneiras diferentes, permitindo o surgimento de ideias variadas, relacionadas a este importante conceito da Matemática. Para a elaboração das questões e para a análise dos protocolos, utilizamos como referencial teórico as ideias de imagem de conceito e de definição de conceito (TALL; VINNER, 1981) e os Três Mundos da Matemática de David O. Tall, um quadro teórico recente e que busca explicar o desenvolvimento cognitivo de quem aprende matemática, desde os anos iniciais até a matemática avançada. Concluímos que estes oito estudantes apresentam, em suas imagens de conceito, características que estão quase que exclusivamente relacionadas ao Mundo Corporificado, restritas à utilização de métodos numéricos e localização de pontos nos gráficos. As características referentes ao Mundo Simbólico restringem-se à utilização de uma expressão algébrica, dada, para obter pares de valores numéricos, sem sugerir conexões com o conceito de função como uma relação de dependência entre grandezas. As respostas dadas sugerem imagens de conceito pobres, não apresentam ideias que possam ser relacionadas ao Mundo Formal e as definições de conceito não podem ser consideradas próximas de uma aceita pela comunidade matemática. Concluímos que, para estes oito estudantes, não basta uma revisão de função, seja no Ensino Médio, seja no Superior. Eles precisam retomar a aprendizagem, no nosso entender, com uma abordagem que contemple as características sugeridas pelos Três Mundos da Matemática. Palavras-chave: Função. Imagem de Conceito. Definição de Conceito. Três Mundos da Matemática. 9 ABSTRACT Our goal was identify concept image and concept definition (TALL; VINNER, 1981) of function concept, and Three Worlds of Mathematics‟ characteristics (TALL, 2004) that appear in the production of eight students of a 2nd year of a Secondary School in Sao Paulo (16-17 years old). In order to achieve this, we structured an instrument with questions, involving function‟s several representations, that may be solved by different ways, allowing the appearance of various ideas related to this important concept of Mathematics. To elaborate these questions and to analyze students‟ protocols, we used theoretical framework provided by the ideas of concept definition and concept image (TALL: VINNER, 1981) and Three Worlds of Mathematics (TALL, 2004), a recent theoretical framework that seeks explanation for the cognitive development of an individual who learns Mathematics, since early years until advanced Mathematics. We conclude that these students present, in their concept images, characteristics that are almost exclusively related to Embodied World, restricted to use numerical methods and location of points in graphs. The characteristics that can be related to the Symbolic World are restricted to the use of a given algebraic expression to obtain pairs of numerical values, without suggesting connections with the concept of function as a relationship of dependence between quantities. Their answers suggested concept images that we consider poor and not related to the Formal World and the concept definitions we found distant from anyone that could be accepted by the mathematical community. We concluded that, for these eight students, it is not sufficient a retake of the concept in High School or in the University. They need to start over again in the topic about functions and we suggest an approach promoting a kind of “expedition” through each one of the Three Worlds of Mathematics. Keywords: Function. Concept Image. Concept definition. Three World of Mathematics. 10 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 OBJETIVO ......................................................................................... 12 1.1 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................12 1.2 QUESTÕES DE PESQUISA ...............................................................................21 CAPÍTULO 2 REVISÃO DE LITERATURA ..............................................................21 2.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................22 2.2 OS ARTIGOS .......................................................................................................23 CAPÍTULO 3 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS .........................................................46 3.1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................47 3.2 SOBRE A IMAGEM DE CONCEITO ...................................................................49 3.3 SOBRE A DEFINIÇÃO DE CONCEITO ...............................................................50 3.4 SOBRE OS JÁ-ENCONTRADOS ........................................................................51 3.5 SOBRE OS A-ENCONTRAR ...............................................................................53 3.6 SOBRE A RELAÇÃO ENTRE OS MUNDOS ......................................................53 3.7 SOBRE O MUNDO CORPORIFICADO ..............................................................55 3.8 SOBRE O MUNDO SIMBÓLICO .........................................................................56 3.9 SOBRE O MUNDO FORMAL ..............................................................................57 3.10 SOBRE O CONCEITO DE FUNÇÃO E OS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA .......................................................................................................58 CAPÍTULO 4 A PESQUISA .......................................................................................61 4.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................62 4.2 AS QUESTÕES ....................................................................................................63 4.3 APLICAÇÃO DAS QUESTÕES ............................................................................90 CAPÍTULO 5 ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................93 11 5.1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................93 5.2 ANÁLISE DOS PROTOCOLOS ...........................................................................94 CAPÍTULO 6 RETOMADA DAS QUESTÕES DE PESQUISA ...............................152 6.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................152 6.2 PRIMEIRA QUESTÃO ........................................................................................152 6.3 SEGUNDA QUESTÃO ........................................................................................160 6.4 TERCEIRA QUESTÃO .......................................................................................162 CAPÍTULO 7 CONCLUSÕES ..................................................................................166 CAPÍTULO 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................166 REFERÊNCIAS ........................................................................................................171 ANEXO A – ATIVIDADE DE ANGELINI (2006) .......................................................174 ANEXO B – INSTRUMENTO DIAGNÓSTICO .........................................................176 ANEXO C – OBSTÁCULOS EPISTEMOLÓGICOS – RESUMO .............................186 ANEXO D – TRANSCRIÇÃO DAS RESPOSTAS DOS ALUNOS ...........................188 12 1.OBJETIVO Nosso objetivo nesta pesquisa é identificar ideias sobre função que alunos do Ensino Médio apresentam, logo após o período de ensino deste importante tema da Matemática. 1.1. Justificativa A preocupação com este tema já vem desde o início de nossa atuação como professor de Matemática em escolas públicas da cidade de São Paulo. No contato direto com alunos, em sala de aula, pudemos perceber que muitos deles apresentam grandes dificuldades ao resolverem situações e problemas nos quais se necessita de um conhecimento consolidado de funções, em exercícios ou problemas em que a função vem apresentada na forma de gráficos, tabelas, formas algébricas, expressões em forma de texto. Como consequência dessas dificuldades, constatamos que os alunos cometem muitos erros. Nossa primeira tentativa de analisar o problema foi no curso de Especialização em Educação Matemática, com a monografia “As Concepções de Alunos do Ensino Médio sobre Funções: Uma Investigação sobre o uso de Registros de Representações Semióticas” (ANGELINI, 2006). Neste trabalho, procuramos quantificar os erros de alunos da 2a série do Ensino Médio de uma escola estadual da cidade de São Paulo ao resolverem exercícios referentes ao tema funções. Para isso, procuramos investigar erros em questões apresentadas em forma de gráfico ou de texto, e incluímos na investigação uma questão de Física que se referia ao Movimento Retilíneo e Uniforme, isto é, tratava-se de uma questão de Matemática utilizando um enunciado de Física. O apêndice A, página 174, apresenta o questionário de Angelini (2006) aplicado aos alunos, composto por três questões. A primeira dessas questões (vide página 174) apresentava quatro gráficos de funções sobre um único plano cartesiano. Em uma análise quantitativa, constatamos 13 que 40% dos alunos erraram as questões que pedem associação de uma expressão algébrica de uma função polinomial do 1 o grau ao gráfico correspondente. Este índice de erros subiu para 77% na associação da função exponencial y = 2 x ao seu respectivo gráfico. Percebemos que a quantidade de erros praticamente dobrou. Como não aplicamos outras perguntas naquela época, conjecturamos que este aumento excessivo de erros pode estar associado a algum dos obstáculos epistemológicos citados por Sierpinska (1992), como o obstáculo epistemológico 9 (idem, p. 43), que afirma que proporção é um tipo privilegiado de relação, que em nosso entendimento significa que o aluno percebe toda relação como diretamente proporcional. No próximo capítulo, em nossa Revisão de Literatura, à página 43, incluímos o nosso entendimento sobre as ideias desenvolvidas por Sierpinska quando aborda os obstáculos epistemológicos que afetam o entendimento de função. A segunda questão de Angelini (2006) foi apresentada em forma de texto (vide página 174) e 80% dos alunos errou. Tratava-se de uma questão que versava sobre uma aplicação financeira que perdia todo mês um valor fixo em dinheiro. Nesta questão, era solicitado indicar, entre os quatro gráficos construídos no plano cartesiano apresentados na primeira questão, qual mais se aproximava da representação desta situação. Conjecturamos que este índice de erros pode estar relacionado a outro obstáculo epistemológico, de número 1, que afirma que a matemática não está preocupada com problemas práticos (SIERPINSKA, 1992, p. 31). Por último, a terceira questão de Angelini (2006) apresentou índice de erro de 97,5%. Nela foi apresentado conteúdo de Matemática associado a um enunciado de Física em forma de texto (vide página 175), sobre o movimento de um veículo em uma rodovia, e solicitamos ao aluno escolher, entre seis opções, uma expressão algébrica que representasse aquele movimento. Nesta situação também conjecturamos que os erros podem ser explicados pelo obstáculo epistemológico 8 (SIERPINSKA, 1992, p. 42), que diz que as leis da Física e as funções em Matemática não apresentam nada em comum, eles pertencem a diferentes tipos de pensamento. 14 Na nossa monografia de Especialização (ANGELINI, 2006), concluímos que alunos da 2a série de Ensino Médio daquela escola estadual encontraram sérias dificuldades ao resolver problemas de funções apresentados na forma de gráfico, expressão algébrica e linguagem em forma de texto. Nossa análise naquele trabalho concluiu também que esses alunos apresentam pouca familiaridade com a mudança de registros de representação de função. Um outro exemplo que podemos citar se refere a uma questão apresentada na Avaliação do SARESP 2008 a alunos de 3 a série do Ensino Médio, na qual ocorreram 72% de respostas erradas (SÃO PAULO, 2009, p.119). Essa questão apresentava uma tabela com duas colunas onde eram informados valores de velocidade (km/h) e tempos (min) correspondentes entre si, e solicitava ao aluno escolher entre quatro alternativas de expressões algébricas aquela que representava adequadamente o movimento. Conjecturamos que, apesar de tratar-se de uma questão envolvendo conceito da Física, o índice de erros foi menor do que aquele encontrado em nossa monografia porque a apresentação em forma de tabela pode ter permitido que alunos testassem as expressões algébricas, substituindo valores e efetuando as operações. Nesta mesma Avaliação do SARESP 2008, ocorreram 48% de respostas erradas por alunos ao analisarem uma questão referente a crescimento ou decrescimento de quatro funções exponenciais (SÃO PAULO, 2009, p.117). Nessa questão apareciam expoentes positivos e negativos (duas expressões de cada) e bases maiores e menores que 1 (duas de cada). Novamente o resultado apresentou praticamente metade dos erros que constatamos em nossa monografia de Especialização, e conjecturamos que se deva à apresentação de tabela, o que poderia permitir aos alunos testarem os valores em cada uma das expressões. O conceito de função é muito importante no prosseguimento dos estudos em Matemática, pois é básico para estudos de Cálculo Diferencial e Integral, Análise, Vetores, Geometria Analítica. É importante também por ser um conceito aplicável aos estudos dos cursos de Física, Engenharia, Economia, Geografia, Administração de Empresas, entre outros. Este conceito se destaca inclusive para aqueles alunos que buscarão inserção no mercado de trabalho ao final do Ensino Médio, pois quem domina função e suas várias representações tem maior mobilidade para avaliar 15 orçamentos, contas diversas como energia elétrica e água, pagamentos de impostos como o Imposto de Renda retido na fonte e entender gráficos em jornais, etc. É um conceito muito importante também para quem pretende estudar um curso técnico. Consideramos exagerados os índices de erros que encontramos, principalmente porque, durante a escolarização, o estudante depara-se com situações cada vez mais apuradas, desde o primeiro contato com o tema funções, na 6a série do Ensino Fundamental, até um maior aprofundamento dentro do conteúdo de Matemática, da 8a série do Ensino Fundamental em diante. No Currículo anterior e também no contexto da Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008), o ensino formal de função em escolas estaduais inicia-se na 8a série do Ensino Fundamental (SÃO PAULO, 2008 p. 53) com noções básicas de funções, proporcionalidade direta, variação e construção de gráficos de 1o e 2o graus. O prosseguimento do ensino de função, na 1 a série do Ensino Médio (SÃO PAULO, 2008 p. 57), parte de uma abordagem inicial, alcançando até funções logarítmicas, num trabalho aproximado de sete meses nesta série, e tem sua continuidade na 2a série (SÃO PAULO, 2008 p. 56), ao abordar funções trigonométricas, num trabalho aproximado de dois meses nessa série. A etapa final de ensino de funções no Ensino Médio ocorre na 3 a série (SÃO PAULO, 2008 p. 58), onde o conteúdo proposto se refere à qualidade das funções, estudo de gráficos e análise de sinal, crescimento, taxa de variação. Conjecturamos que a ideia de função se reforça durante o aprendizado escolar do estudante e que a quantidade de erros deveria ser muito menor. Todas estas inquietações e dúvidas nos levaram a procurar o curso de Mestrado Acadêmico em Educação Matemática, no qual buscamos responder estes questionamentos pessoais, referentes ao aprendizado dos alunos do conceito de função. No nosso trabalho na Especialização, não foi possível identificar com clareza a resposta para uma pergunta que não sai de nosso pensamento, que é: “por que alunos das séries finais do Ensino Médio apresentam rendimento tão baixo na resolução de problemas que necessitam do seu aprendizado de função?”. Certa vez, em Agosto de 2008, em uma reunião do grupo de Atividade de Pesquisa da linha Ensino e Aprendizagem de Matemática e suas Inovações do Mestrado Acadêmico em Educação Matemática, foi comentada a informação de que 16 nos anos iniciais de Licenciatura em Matemática ocorriam sérias dificuldades em Cálculo, inclusive com alto índice de reprovação, e um dos entraves no desenvolvimento desta disciplina é o despreparo dos alunos ao trabalhar com funções. Pensamos, naquela oportunidade, que seria interessante levar esta discussão até os alunos em nossas aulas de Matemática, principalmente aqueles das séries finais do Ensino Médio, já que o fato diz respeito diretamente a eles. Em sala de aula da 3a série do Ensino Médio, apresentamos um comentário sobre as dificuldades de alunos ao trabalhar diversos conceitos da matemática, pois pretendíamos questioná-los também sobre outros itens. Dissemos que aqueles que desejassem encontrar leituras mais aprofundadas referentes ao assunto poderiam buscar em páginas de internet das diversas instituições de ensino superior e de pesquisa e apresentamos algumas delas aos alunos, com seus endereços eletrônicos, como USP, UNICAMP, UNESP, UNIBAN, etc. Naquela aula participaram 22 alunos e sugerimos que poderiam responder individualmente ou em duplas. Apresentamos algumas perguntas, como: o que é um número natural? O que é um número racional? O que é um número real? O que é função? Quantos números existem entre zero e um? Etc. Desejávamos com isto abrir um canal de discussões com eles sobre os diversos conceitos da Matemática, aproveitando para manter alguns registros escritos para futuras análises. Com relação à pergunta o que é função, 15 alunos dos 22 presentes afirmaram tratar-se de uma equação. Dois deles disseram tratar-se de uma operação e cinco deles apresentaram respostas onde apareciam os termos “ponto no gráfico” e “plano cartesiano”, aparentando lembrar-se da representação em forma de gráfico da função. Posteriormente, resolvemos buscar dados referentes à reprovação de alunos em disciplinas de conteúdo matemático nas séries iniciais do Ensino Superior. Encontramos na pesquisa de Barufi (1999, p. 170) uma tabela que apresentou quantidades e índices de aprovação e reprovação de alunos em cursos relacionados aos anos iniciais do Ensino Superior de diversas faculdades da Universidade de São Paulo – USP, no período de 1990 até 1995. O levantamento de dados efetuado pela pesquisadora buscou disciplinas e faculdades com expressiva participação de conteúdo matemático nas séries iniciais 17 do Ensino Superior. As escolhidas foram a Escola Politécnica (POLI), a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), a Faculdade de Economia e Administração (FEA), o Instituto de Biociências (IB), o Instituto de Física (IF), o Instituto de Geociências IG), o Instituto de Matemática e Estatística (IME) e o Instituto de Química (IQ). As siglas que colocamos entre parênteses são as que utilizaremos em alguns comentários. Ao observar os dados, a primeira coisa que nos chamou a atenção diz respeito aos resultados de alunos referentes à sua primeira participação em disciplinas de conteúdo matemático, logo ao iniciar o curso superior, isto é, os resultados apresentados pelos alunos ingressantes na disciplina de matemática que primeiro se depararam no curso que escolheram. A pesquisa de Barufi (1999) inclui dados referentes a repetição de cursos, mas não escrevemos sobre estes resultados porque desejávamos realçar dados relativos à primeira vez que alunos estudaram as disciplinas e quais foram estes resultados. Optamos também em não comentar as médias alcançadas pelos alunos e que constam no trabalho da pesquisadora, mas tanto os dados de resultados nas disciplinas de repetição como os resultados referentes às médias são, no nosso entendimento, muito preocupantes. Por exemplo, observamos os dados referentes à disciplina MAT 111, Cálculo Diferencial e Integral I, que é oferecida no primeiro semestre de várias faculdades, como a Poli, IF, IG, IME, FEA e IQ. No período, o índice de reprovação na Poli foi de 22,5% (BARUFI, 1999, p. 171), mas no IME foi de 68,9% (BARUFI, 1999, p. 177). Estes dados nos causaram a primeira estranheza, já que estudantes da Poli, que buscam as engenharias, devem realmente ter forte aptidão e embasamento para disciplinas de conteúdo matemático, mas e do IME? Este é o instituto em que, no nosso ponto de vista, a reprovação deveria ser a menor possível, já que para estudar matemática e estatística é necessário gostar e ter o preparo apropriado, o que parece não acontecer com os estudantes ingressantes naquele período. Pensamos que reprovações de sete alunos em cada grupo de dez não é uma situação confortável em um curso para formar matemáticos. Com relação aos IF e IG os índices de reprovação também são elevados como os do IME, ocorrendo uma pequena melhora na FEA, com cinco reprovados a cada grupo de dez alunos (BARUFI, 1999, p. 173), o que ainda assim não consideramos aceitável. No nosso 18 entendimento, somente deveriam constar na lista de não aprovados alunos que não pudessem concluir o curso por motivos não relacionados ao ensino e aprendizagem. Uma observação simples e rápida dos dados anotados mostra que o índice médio de reprovação em disciplinas de conteúdo matemático em séries iniciais de faculdades da USP está em torno de 40%. Concordamos com a pesquisadora quando ela afirma que os dados “caracterizam uma situação que, no mínimo, pode ser considerada problemática” (BARUFI, 1999, p. 3), e como se tratam de disciplinas referentes a cálculo diferencial e integral, é possível que o entendimento de função em níveis de escola básica tenha parte da culpa nestes baixos rendimentos. Desde o início dos nossos estudos no Mestrado percebemos que uma pergunta sobre o que é função não apresenta uma resposta simplificada. Percebemos que alunos das séries finais do Ensino Médio não aprenderam como utilizar com agilidade e precisão os gráficos, tabelas, formas algébricas. Conjecturamos que a pergunta a ser respondida poderia ser: “o que os alunos deixaram de entender após o aprendizado de funções?”. Este último questionamento, também muito complexo, com possibilidades da mais ampla gama de respostas, nos levou a buscar contato com outros embasamentos teóricos. Conjecturamos buscar identificar os mecanismos que facilitam (ou dificultam) ao aluno a formalização deste tema. Pretendemos identificar os processos mentais utilizados por estes alunos na resolução de problemas que envolvam o tema funções e também que ideias estes alunos apresentam com relação ao conceito de função. Entre as mais diversas teorias relacionadas com o ensino e a aprendizagem de Matemática, tomamos contato com os Três Mundos da Matemática, um quadro teórico recente e que busca explicar o desenvolvimento cognitivo no aprendizado de Matemática (TALL, 2004). Interessamo-nos de maneira especial por este quadro teórico porque nos parece que possíveis respostas aos nossos questionamentos poderiam residir no processo cognitivo de alunos na faixa etária entre os 15 e os 17 anos de idade. Conjecturamos que estudos do processo de raciocínio em matemática possam fornecer indícios da maneira como estes alunos pensam, como buscam (ou não) os conceitos necessários a cada resolução solicitada e como utilizam estes conceitos na resolução de situações variadas que se refiram ao conceito de função, e decidimos investigar o que alunos apresentam quando 19 questionados sobre função ou quando se deparam com situações envolvendo função. Em especial, no que se refere a esse quadro teórico, conjecturamos que nossa investigação deva ser direcionada na análise de imagem de conceito e definição de conceito (TALL; VINNER, 1981)1 apresentadas pelos alunos, bem como na avaliação das características que estas imagens de conceito e definições de conceito apresentam em relação aos Três Mundos da Matemática, corporificado, simbólico e formal (TALL, 2004). Adiante, na descrição do quadro teórico que consta do Capítulo 3 (página 46), apresentaremos nosso estudo deste referencial teórico e incluiremos a descrição do que seja imagem de conceito e definição de conceito, além de descrever algumas características dos Três Mundos da Matemática. A preocupação com referência ao aprendizado de função dos alunos sempre ocupou nosso pensamento, pois consideramos função um dos temas mais importantes dentro do ensino de Matemática. No Mestrado, iniciamos nossa jornada na busca de outras pesquisas e literaturas referentes ao tema, e percebemos que a importância do conceito de função está evidente em diversos trabalhos e pesquisas, em diversos artigos em publicações especializadas da área, em livros e encontros de educadores e pesquisadores. Também está presente em várias teorias relacionadas com a Matemática, o que justifica nossa pesquisa pela importância do tema. A importância do conceito de função está destacada nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, quando este documento chama a atenção para elementos do núcleo comum que devem compor os temas ou tópicos da disciplina de Matemática visando o desenvolvimento de atitudes e habilidades, sob o critério da contextualização e da interdisciplinaridade, permitindo conexões não só entre conceitos da matemática, mas inclusive fora dela. Neste sentido, chama atenção para o ensino de funções: 1 Termos adaptados dos originais concept definition e concept image (TALL; VINNER, 1981, p. 152) e para os quais adotamos as traduções de Giraldo (2004, p.8) e Lima (2007, p.86). No capítulo 3 aparecerão as definições. 20 Cabe, portanto, ao ensino da Matemática garantir que o aluno adquira certa flexibilidade para lidar com o conceito de função em situações diversas e, nesse sentido, através de uma variedade de situações problema de Matemática e de outras áreas, o aluno pode ser incentivado e buscar solução, ajustando seus conhecimentos sobre funções para construir um modelo para interpretação e investigação em Matemática. (BRASIL, 1998, p.44). Especificamente sobre o tema funções, no PCN+ orienta-se que: O estudo das funções permite ao aluno adquirir a linguagem algébrica como a linguagem das ciências, necessária para expressar a relação entre grandezas e modelar situações-problema, construindo modelos descritivos de fenômenos e permitindo várias conexões dentro e fora da Matemática. Assim, a ênfase no estudo das diferentes funções deve estar no conceito de funções e em suas propriedades em relação às operações, na interpretação de seus gráficos e nas aplicações dessas funções (BRASIL, 2002, p. 121). Em sua Proposta Curricular para o ensino de matemática: 2 o grau (SÃO PAULO, 1989, p. 14), a Secretaria da Educação considera “como conteúdos significativos ao aluno, também aqueles que realimentam a própria Matemática e os que favorecem a interdisciplinaridade”, chamando a atenção para a importância do conceito de função, que este documento considera entre os oito conteúdos importantes desta disciplina, quando afirma que tendo em vista essas questões, sugerimos que o aluno trabalhe prioritariamente com os seguintes conteúdos: Funções, Geometria, Trigonometria, Análise Combinatória, Probabilidade, Geometria Analítica, Matemática Financeira e Estatística (SÃO PAULO, 1989, p. 14). Todas estas leituras reforçam nossa crença na importância relativa ao conceito de função. Consideramos ser necessário avaliar constantemente o aprendizado deste tema, e nesta linha de pensamento, colocamos como um dos nossos objetivos nesta pesquisa identificar definição de conceito e imagem de conceito (TALL; VINNER, 1981) de função que alunos apresentam para resolver situações envolvendo este conceito. Desta maneira, pretendemos avaliar o 21 aprendizado de alunos sobre o conceito de função, tentando identificar como se comportam diante de situações do dia a dia e também diante de problemas da matemática. Conjecturamos que este estudo tenha o potencial de apresentar o raciocínio de alunos sobre o tema e, possivelmente, sugerir caminhos para atingir um melhor aprendizado. Nossas questões de pesquisa, então, refletem este pensamento. 1.2. Questões de pesquisa I – Qual imagem de conceito (TALL; VINNER, 1981) de função que alunos do Ensino Médio apresentam, após terem estudado este tema na 1a série do Ensino Médio? II – Qual definição de conceito (TALL; VINNER, 1981) de função que alunos do Ensino Médio apresentam, após seu estudo deste tema na 1 a série do Ensino Médio? III – Quais características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) surgem nas respostas de alunos ao resolver problemas relacionados ao conceito de função? 2. REVISÃO DE LITERATURA Até este ponto do nosso trabalho comentamos a importância do conceito de função no nosso entendimento, no de diversas outras pessoas e entidades, de vários autores e de diversos documentos que mostram este fato. Também apresentamos nossas questões de pesquisa, que são diretamente relacionadas à importância deste tema. Pretendemos agora apresentar resultados de algumas leituras de artigos que tratam do conceito de função. Inicialmente, acreditávamos que devêssemos buscar somente leituras que abordassem aspectos cognitivos de alunos que estejam entre 15 e 17 anos, mesma faixa de idade dos alunos que pretendemos convidar para participar desta pesquisa, mas logo percebemos que outras leituras poderiam contribuir muito para a construção do nosso projeto. Encontramos por exemplo 22 pesquisas abordando concepções de professores, de estudantes universitários, de Ensino Médio. Vale aqui ressaltar que a maioria das pesquisas que encontramos utilizaram referencial teórico diferente do que elegemos, várias delas utilizando os registros de representação semiótica de Duval. Talvez o quadro teórico dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) tenha sido utilizado muito pouco por se tratar de um quadro recente e que está em desenvolvimento. 2.1. Introdução Este capítulo trata da revisão de literatura e busca apresentar leituras referentes a trabalhos de pesquisadores que se relacionam ao conceito de função ou às suas representações. Buscamos nestas leituras comparar os trabalhos realizados por outros pesquisadores com o nosso projeto. Adiante, apresentaremos um pequeno texto referente a cada leitura que fizemos seguido de um rápido comentário nosso, tentando relacioná-lo à nossa pesquisa. Não tivemos a intenção de analisar minuciosamente cada trabalho, avaliar quadros teóricos, questionários, protocolos, uma vez que estas foram as preocupações de cada autor. Nos preocupamos em relacionar cada pesquisa à nossa, buscando a pertinência desta que estamos desenvolvendo. Buscamos identificar se nossas questões de pesquisa são apropriadas, se podem permitir uma visão do aprendizado de alunos que iniciaram recentemente seu estudo de funções, se outras pessoas buscam resultados semelhantes. Nossa busca pelas literaturas foi iniciada nos resumos de cada autor, mas logo em seguida expandiu-se de maneira diferente. Em nossas reuniões nas aulas de Tópicos Fundamentais de Análise, de Tópicos Fundamentais de Geometria, de Didática da Álgebra, de Metodologia da Pesquisa, e destacadamente nas aulas de Atividade de Pesquisa, surgiram muitas sugestões de literaturas, que buscamos sem observar uma sequência de datas, mas que apresentavam interesse semelhante ao nosso. Várias colaborações importantes no direcionamento do nosso trabalho vieram da participação em debates e apresentações, onde participaram pessoas de destaque da comunidade de Educação Matemática, não só do Brasil como de outros países. Entre essas pessoas podemos citar Ubiratan D‟Ambrósio, David Tall, Luis 23 Radford, Jeremy Kilpatrick, Antonio Domingos, Gerard Vergnaud, Raymond Duval, Peter Briant, Therezinha Nunes, incluindo também pessoas cujas apresentações e debates aconteceram por vídeo conferências, como Barbara Jaworski, Colete Laborde, entre outros. Por este motivo, resolvemos apresentar estas leituras que consideramos como um importante suporte para a nossa pesquisa, na ordem aproximada como as estudamos. 2.2. Os artigos Nossas leituras se iniciaram com Pelho (2003), que elaborou uma sequência de ensino sobre o conceito de função, aplicando-o a 12 estudantes de 2a série do Ensino Médio de uma escola particular, alunos que, segundo a pesquisadora, haviam estudado função na série anterior pelo método apostilado, utilizando a maneira tradicional. Ela chamou de método tradicional aulas expositivas, pesquisas e estudos utilizando livro e apostila, com apresentação de exemplos e exercícios de fixação e posteriormente avaliações. O objetivo declarado em sua pesquisa era o de introduzir os conhecimentos de função utilizando as variáveis dependentes e independentes e as relações entre estas variáveis. Uma parte das atividades foi realizada com auxílio do software Cabri-Géométre II e outra parte realizada em papel e lápis. As atividades realizadas com o uso do software Cabri-Géométre II enfatizavam a dependência de uma variável sobre a outra e a lei de dependência correspondente. As atividades em papel e lápis exigiam que os alunos transitassem entre as maneiras de representar o conceito de função (expressão algébrica, tabela numérica, expressão em linguagem natural, gráfico cartesiano), associando estas diferentes representações do objeto matemático função, inclusive oferecendo oportunidade aos alunos para conversões entre os registros. Parte das atividades desta sequência de ensino orientou-se em uma pesquisa de Kieran e Sfard (1999 apud PELHO, 2003) que serviu de base para as atividades dos grupos 2 e 4, e parte em Duval (1988 apud PELHO, 2003). Estas atividades privilegiaram as funções afins (atividades 1, 2 e 3) e quadráticas (atividades 4 e 5), assim escolhidas pela pesquisadora por serem familiares aos alunos. Parte das atividades são 24 apresentadas em linguagem em forma de texto, solicitando cálculos de perímetro e área de cômodos quadrados de uma casa. A fundamentação teórica escolhida foi a Teoria de Registros de Representação de Raymond Duval. Esta pesquisadora concluiu que a utilização do software Cabri-Géométre II propicia uma melhor articulação do registro gráfico para o numérico e deste para o algébrico. Percebeu também que os alunos apresentam dificuldades em questões matemáticas expressas em forma de texto, e também na construção de gráficos. Em contrapartida, após algumas intervenções, apresentaram uma melhor articulação entre o registro gráfico e o algébrico e também melhoraram a compreensão do registro em linguagem natural (texto). Em nossa pesquisa, não pretendemos aplicar atividades para as quais alunos necessitem utilizar informática; todas as questões serão apresentadas em papel e lápis, assim como parte da pesquisa de Pelho (2003), pois nossa expectativa em relação aos protocolos individuais é que apresentem ideias que possam surgir em forma de texto, operações aritméticas ou algébricas, gráficos, tabelas, e que poderiam oferecer oportunidade de identificar a imagem de conceito de função de cada participante e quais características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) estariam apresentadas nestas respostas. Da mesma maneira que Pelho (2003), nossa pesquisa apresenta várias funções afins e quadráticas, mas também resolvemos incluir outras, como função recíproca e exponencial, por exemplo, para que os alunos pudessem demonstrar como se comportam diante de funções estudadas com menor ênfase. Assim como na pesquisa de Pelho (2003), também apresentamos questões em forma de texto, duas delas referentes à análise de um orçamento e duas oferecendo aos sujeitos a oportunidade de dissertar sobre o tema função. Consideramos que nossa pesquisa se caracterizou diferentemente da pesquisa de Pelho (2003) porque, apesar de ambas investigarem alunos de 2 a série do Ensino Médio, nossa pesquisa focaliza alunos da rede pública da cidade de São Paulo, e buscamos identificar processos internos ao resolverem situações referentes ao conceito de função e suas diversas apresentações. O objetivo de Pelho (2003) foi o de investigar como os sujeitos alternavam entre os registros ou se efetuavam conversões entre os registros de representação, e nós pretendemos identificar qual 25 (ou quais) das diversas representações de função o sujeito utiliza para resolver determinada situação. Em nossas pesquisas por literaturas referentes ao tema funções, encontramos também a dissertação de mestrado de Costa (2004), que, por se tratar de uma pesquisa que utiliza ideias aproximadas à nossa porque também investigou definição de conceito e imagem de conceito, optamos por uma revisão diferenciada. Esta pesquisadora realizou um estudo de caráter diagnóstico e interventivo com o objetivo de investigar as concepções de função de um grupo de estudantes de 1 o e 2o anos de um Curso de Licenciatura em Matemática. Com exceção da questão 4 do questionário piloto, as demais questões dos dois questionários foram adaptadas à partir de questões de outras pesquisas. Para a análise dos protocolos, utilizou as idéias de definição de conceito e imagem de conceito, que fazem parte da fundamentação teórica que utilizamos para elaborar nosso instrumento diagnóstico e para analisar os protocolos. Sua pesquisa foi aplicada em fases e etapas. Na primeira fase, aplicou um questionário piloto a alunos de Cálculo I e Fundamentos da Matemática Elementar I para ser respondido por escrito, individualmente. O grupo era composto por 36 estudantes de 1o ano e 27 de 2o ano, perfazendo um total de 63 estudantes de uma universidade pública do Pará. Para os alunos do 1 o ano, a participação foi em uma de suas aulas e de maneira não voluntária, pois a pesquisadora aplicou o questionário a todos que estavam presentes naquele dia. Os alunos tiveram 50 minutos para responder, sem a intervenção do professor ou da pesquisadora. Já com os alunos do 2o ano, a participação foi voluntária e os estudantes tiveram 25 minutos para responder, também individualmente, supervisionados pela pesquisadora. Esta primeira fase permitiu que a pesquisadora reorganizasse o questionário num instrumento definitivo e selecionasse alunos para a segunda fase. A segunda fase foi dividida em duas etapas. Na etapa 1, a pesquisadora convidou 8 dos alunos de 2o ano que haviam participado da 1a fase para responderem o questionário definitivo composto de sete questões abertas. Esta etapa foi realizada fora do horário de aulas e cada aluno respondeu individualmente o questionário. Para concluir esta primeira etapa, a pesquisadora formou aleatoriamente quatro duplas, permitindo que cada dupla analisasse as suas 26 respostas individuais e inclusive alterasse (com outra cor de caneta) suas respostas caso achasse apropriado. Para a etapa 2, escolheu uma das duplas cujas respostas individuais considerou mais consistentes do ponto de vista matemático, pedindo que confrontassem a resposta dada à questão 7 (o que é função em Cálculo?) com cada resposta dada às questões de 1 até 6. A ideia da pesquisadora era de que os dois alunos verificassem se a solução adotada em cada uma destas últimas questões estava amparada pela resposta dada à sétima questão. Analisaremos o questionário definitivo de Costa (2004), composto por 7 questões, já que foi a partir deste questionário que a pesquisadora realizou suas análises e incluiremos comentários sobre o nosso instrumento de pesquisa. Na primeira questão de Costa (2004), em um pequeno texto explicativo, é solicitado ao estudante apresentar exemplos de função e de não função utilizando quatro representações (tabular, fórmula, diagrama e gráfico cartesiano). O objetivo era o de investigar elementos da imagem de conceito de função dos participantes utilizando diferentes representações, e a conclusão da pesquisadora foi de que os pesquisados apresentaram dificuldades somente na fórmula (representação algébrica), apresentando respostas corretas nas representações tabular, diagrama e gráfico cartesiano. Em nosso questionário, optamos por não apresentar uma questão semelhante. Nosso objetivo é inferir elementos da imagem de conceito individual de estudantes, e também de identificar quais características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) esses alunos apresentam em suas respostas. Na questão 2 de Costa (2004), cujo objetivo também era o de inferir elementos da imagem de conceito dos investigados, um pequeno texto explicativo apresenta a expressão x2 + y2 = 1, perguntando se esta expressão representa ou não y como função de x, e solicita apresentação dos recursos utilizados na resposta. Com a análise desta questão, a pesquisadora concluiu que sete dos oito pesquisados apresentaram definição de conceito incoerente com a definição de função, já que parte deles afirmou que a cada valor de x correspondem dois valores de y, e concluiu também que os resultados por ela encontrados diferem de Barnes 27 (1988 apud TALL, 1992 apud COSTA, 2004), que havia observado dificuldades de alunos com este tipo de expressão. Em nosso questionário, optamos por apresentar também questões que pedem ao investigado identificar, em formas algébricas apresentadas, aquela que representa ou não y como função de x. Pode ocorrer que algumas das questões que estejam no nosso instrumento também tenham aparecido em outras pesquisas, mas não as buscamos propositadamente, nos preocupamos em escolher atividades familiares aos participantes. Conjecturamos que exista a possibilidade de respostas incoerentes, assim como ocorreu com a pesquisa Costa (2004). A questão 3 de Costa (2004) apresenta também com um pequeno texto a expressão y = 2 em uma situação que poderia ocorrer em sala de aula de Matemática, pergunta se y é ou não função de x e solicita justificativa. Seu objetivo era o de inferir elementos da imagem de conceito. Esta pesquisadora, após analisar os resultados desta questão, sugeriu que os indivíduos não apresentam elementos conflitantes em relação à definição de função, já que as respostas estavam corretas. Constatou também que seus resultados diferiam muito da pesquisa de Barnes (1988 apud TALL, 1992 apud COSTA, 2004). Em nosso instrumento de pesquisa, optamos em não apresentar uma expressão algébrica relacionada à função constante. Alguns estudos apresentam que alunos encontram dificuldades em relação à função constante, como constatado por Barnes (1988 apud TALL, 1992 apud COSTA, 2004), que investigou alunos da faixa de 11 anos de idade e encontrou como resposta que o valor de y não depende de x (BARNES, 1988 apud TALL, 1992 apud COSTA, 2004), e Markovits, Eylon, Bruckheimer (1995, apud COSTA, 2004), que investigaram alunos de 9 o e 10o ano (cerca de 16 anos de idade), alunos de mesma faixa etária dos participantes de nossa pesquisa, e perceberam que bem poucos entenderam a questão (MARKOVITS; EYLON; BRUCKHEIMER, 1995 apud COSTA 2004). Acreditamos que, excluindo este tipo de expressão, estaremos oferecendo maior possibilidade de apresentação de respostas por parte dos pesquisados, pois nossa intenção é a de investigar as respostas apresentadas. A questão 4 de Costa (2004) apresenta um pequeno texto com uma situação de sala de aula de Matemática com a igualdade y = x2 se x 0 ou y = x + 1 se x 0, 28 questionando se “esta igualdade representa ou não y como função de x” (COSTA, 2004, p. 43) e solicitando justificativa para a resposta. O objetivo declarado por esta pesquisadora era o de identificar elementos da imagem de conceito dos pesquisados, e, após analisar as respostas, sugeriu que a definição de conceito constantes nas respostas de cada um dos protocolos não apresentava elementos conflitantes, pois todos responderam corretamente a essa questão, e sugeriu também que a imagem de conceito destes sujeitos não está restrita aos casos lineares. Em nosso questionário optamos em não apresentar uma expressão algébrica de uma função dada por várias regras de correspondência, referentes a partes distintas do domínio. Nossa experiência pessoal trabalhando com alunos do Ensino Médio nos leva a acreditar que, para os alunos da pesquisa de Costa (2004), que já estão cursando 2o ano da Licenciatura de Matemática, seria talvez uma questão pertinente, mas para os alunos de 2a série de Ensino Médio uma questão assim apresentada ofereceria grande dificuldade. Os resultados da pesquisa de Markovits, Eylon, Bruckeimer (1995 p. 62 apud COSTA, 2004), que aplicaram um questionário a alunos de faixa etária semelhante aos de nossa pesquisa confirmam nossa conjectura. Na questão 5 de Costa (2004) foram apresentados os três gráficos cartesianos construídos a partir das expressões algébricas das questões 2, 3 e 4. Esta questão pedia quais gráficos representavam uma função e o objetivo apresentado pela pesquisadora era o de investigar elementos da imagem do conceito de função quando representada graficamente. Após sua análise, a pesquisadora concluiu que sete dos oito investigados afirmam que o gráfico referente à expressão x2+y2=1 (item a) não é o gráfico de uma função porque a cada valor de x correspondem dois valores de y (idem p. 62). Com relação aos dois outros gráficos, todos os investigados afirmaram tratar-se de uma função, o que levou a pesquisadora a concluir que sua pesquisa encontrou resultados diferentes daqueles encontrados por Barnes (1988 apud TALL, 1992 apud COSTA, 2004) e por Markovits, Eylon, Bruckheimer (1995 apud COSTA, 2004). Em nossa pesquisa também apresentamos gráficos em duas questões: em uma delas perguntamos se são gráficos de funções (questão 3) e em outra 29 perguntamos se representam uma dependência de y em função de x (questão 8), mas optamos por apresentar a maioria dos gráficos semelhantes aos trabalhados com alunos da faixa etária aproximada de 16 anos de idade. Apresentamos gráficos de função polinomial do 1o grau, função quadrática, função cúbica, função recíproca, um gráfico construído a partir da expressão x2+y2=2 e um gráfico onde apresentamos x como função de y2, este semelhante a Barnes (1988, apud TALL 1992, apud COSTA, 2004). Destes gráficos, alunos da 2 a série do Ensino Médio (cerca de 16 anos de idade) que participarão da nossa pesquisa estudaram com mais ênfase os dois primeiros citados, motivo pelo qual os colocamos nas duas questões citadas. Conjecturamos que estas nossas questões apresentem menores dificuldades na formulação de respostas. Independentemente disto, os demais gráficos oferecem a oportunidade para que o estudante possa mostrar qual é a sua reação frente a situações menos comuns. Nossa expectativa é a de que eles não deixem itens sem resposta. Na questão 6 de Costa (2004), a pesquisadora apresenta dois planos cartesianos, um primeiro plano com dois pontos e o segundo plano com três pontos não alinhados, perguntando a quantidade de gráficos que podem ser traçados passando por estes pontos dados. Seu objetivo era o de ver se os sujeitos apresentam as mesmas concepções de Markovits, Eylon, Bruckheimer (1995 apud COSTA, 2004) e investigar se apareciam como imagens de conceito os gráficos lineares. Concluiu que, nas respostas escritas, os sujeitos apresentam como imagem de conceito a concepção de que “o gráfico de uma função deve ser linear quando solicitado traçar possíveis funções através de pontos fixos” (COSTA, 2004, p. 88) e, após as discussões, alguns alteraram a resposta para infinitos gráficos. Em nosso questionário, optamos por não incluir uma questão semelhante a esta. Conjecturamos que uma questão deste tipo, se aplicada a aluno de 2 a série de Ensino Médio, não apresentaria respostas que permitissem analisar de maneira consistente elementos da sua imagem de conceito. Costa (2004, p. 46) afirma que seu objetivo ao incluir esta sexta questão foi investigar se os sujeitos envolvidos nessa pesquisa apresentam as mesmas concepções dos indivíduos pesquisados por MARKOVITS et al. (1988 apud TALL, 1992 apud COSTA, 2004), isto é, 30 apresentam uma concepção linear de funções, conforme constatou o autor (COSTA, 2004, p. 46). Na questão 7 de Costa (2004, p.47) é perguntado o que é uma função em Cálculo. O objetivo declarado pela pesquisadora era o de observar aspectos da definição de conceito de função dos alunos. Concluiu que os investigados apresentam de forma variada a definição moderna de função, resultado que coincide com Markovits, Eylon, Bruckheimer (1995 apud COSTA, 2004). Afirmou também que os sujeitos não consultaram a definição para responder às questões propostas, e mesmo após a intervenção, pouco ou nada modificaram as respostas dadas na fase anterior. Em nosso questionário, incluímos uma questão muito semelhante. Buscamos com isto oferecer ao sujeito a possibilidade de escrever da maneira como julgar mais apropriada sua definição de função, e com isto pretendemos identificar individualmente a imagem de conceito evocada pelo sujeito quando pensa no conceito de função, observando as características dessa imagem de conceito dentro dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004). Em resumo, conjeturamos que esta nossa pesquisa se caracterizou diferentemente da pesquisa de Costa (2004), uma vez que, além dos sujeitos investigados apresentarem outro grau de maturidade e de contato com este conceito matemático, também buscamos, nas respostas dos investigados, além da imagem de conceito e da definição de conceito, elementos que caracterizem seu nível de pensamento em relação aos Três Mundos da Matemática. Nossas questões, à exceção de três itens entre os 23 apresentados, foram desenvolvidas pensando no nível de maturidade dos sujeitos e na familiaridade destes com alguns tipos de gráficos e expressões mais trabalhados na 1a série do Ensino Médio, e conjecturamos que os alunos terão poucas questões que apresentam dificuldades incompatíveis à sua idade e série. Optamos, entretanto, pela inclusão de três itens que podem apresentar-se como novidade aos pesquisados, para permitir que os sujeitos tenham oportunidade de reagir diante de situações menos comuns, talvez favorecendo o surgimento de respostas que também permitissem identificar, de maneira individual, como funciona o raciocínio de um aluno de 2a série do Ensino 31 Médio que iniciou estudo do conceito de função com maior ênfase na série anterior, sem, contudo, apresentar grandes obstáculos ao raciocínio dos estudantes. Conjecturamos também, que, o importante seja que os participantes da nossa pesquisa apresentem respostas, sejam elas certas ou erradas, pois acreditamos que estas respostas, em forma de texto, aritméticas, gráficas ou tabelas, poderão mostrar indícios da maneira como os estudantes pensam ao resolverem problemas envolvendo o conceito de função. Conjecturamos inclusive que mesmo as questões deixadas em branco poderão apresentar indícios do modo como pensam, quando associadas a outras respostas. Vale ressaltar que também vamos analisar se os alunos acertaram ou erraram as questões, mas no sentido de tentar identificar características do pensamento do sujeito ao cometer determinado acerto ou erro. Talvez também seja possível identificar como alunos que estudaram conforme orientações da Proposta Pedagógica do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008) desenvolveram imagem de conceito e definição de conceito relativos ao conceito de função. Outro pesquisador que estudou o mesmo assunto foi Lopes (2003), que também discute em sua dissertação de mestrado os aspectos relativos ao ensino e à aprendizagem do conceito de função, em particular a função afim, tendo em vista a importância da noção de função e de suas aplicações em diversas áreas do conhecimento humano. Considerou o trabalho de pesquisadores, nos quais há o consenso de que o conceito de função deve estar relacionado aos aspectos de variação e dependência e em diversas pesquisas que apontam dificuldades dos estudantes em fazer a ligação entre diferentes representações de função: fórmula, gráficos, diagramas, descrições verbais, interpretações de gráficos e manipulação de símbolos. Baseou o seu trabalho nos conceitos teóricos de Raymond Duval, que enfatiza a utilização de diferentes registros de representação e a coordenação desses registros para a compreensão dos conceitos matemáticos. Lopes (2003) realizou sua pesquisa em uma situação concreta em sala de aula. Para isso, selecionou uma classe de 8ª série do ensino fundamental, série em que a noção de função é introduzida. 32 Desenvolveu seu trabalho em um ambiente onde os alunos discutiram suas escolhas e decisões sobre suas ações, buscaram validar suas respostas em debates coletivos e tiraram suas conclusões sobre o conceito matemático envolvido. O pesquisador escolheu esse tipo de ambiente, pois sua preocupação estava voltada para as seguintes questões [...]: [...] que fenômenos didáticos ocorrem, quando o aluno faz o tratamento, dentro de um mesmo registro, ou uma conversão em diferentes registros, nas condições institucionais e de ensino em que se deu a pesquisa? Que dificuldades eles encontram e de que procedimentos se utilizam nessa tarefa? Em que medida uma proposta de ensino, voltada às atividades de conversão e tratamento de registros de representação, permite o domínio de aquisições funcionais dos diferentes sistemas de representação requeridos para a formação do conceito de função? (LOPES, 2003, p.17). A classe escolhida para o desenvolvimento da proposta pertencia a uma escola estadual da periferia da cidade de São Paulo. Na classe havia 40 alunos, não repetentes, que não haviam estudado funções, o que, segundo o autor, propiciou a execução da pesquisa, já que buscava alunos que tomariam contato com o tema pela primeira vez. Antes do desenvolvimento do trabalho com os alunos, o pesquisador freqüentou a sala com uma postura de estagiário, para observar a metodologia tradicional da professora, que já era sua conhecida, e que relatava um certo nível de desinteresse por parte dos alunos. Chamou de tradicional a utilização quase que exclusiva da lousa. Em seu trabalho, Lopes (2003) aplicou uma seqüência didática de 12 atividades, inspiradas em sua prática como docente e em livros didáticos, as quais envolviam o conceito de função e suas representações, em particular a função afim. Tais atividades foram trabalhadas em 17 aulas, nas quais o autor fazia a regência, enquanto a professora da classe mais um professor convidado, o auxiliavam no registro dos acontecimentos, fazendo um registro conjunto ao final de cada atividade. 33 Em cada atividade os alunos formavam grupos de dois a quatro componentes. O mesmo conteúdo entregue aos alunos era projetado na lousa, os alunos liam os textos, e então, eram esclarecidas possíveis dúvidas sobre sua interpretação. Durante o desenvolvimento das atividades os alunos podiam ir à lousa para explicar o seu ponto de vista para os colegas, e o pesquisador mediou a discussão sem interferência direta. Lopes (2003) fez observações e participava conversando com os alunos, a respeito de suas dificuldades, enquanto realizavam a tarefa do dia. Coletou dados tanto a partir dessas observações, quanto nas entrevistas informais com os alunos, no exame de suas produções e nas reuniões com os professores que o auxiliaram, com o intuito de compreender os fenômenos ocorridos no processo de ensino e aprendizagem da função afim. Lopes (2003) afirma que a postura de mediador nas discussões abertas e participativas entre os alunos, propiciou uma melhor avaliação das atividades propostas e a captação das concepções e dificuldades dos alunos na resolução dos problemas propostos. Baseando-se no desenvolvimento da primeira aplicação, o autor apresenta um objetivo para cada uma das atividades e uma análise preliminar, na qual prevê possíveis respostas e a colocação de algumas restrições, quando necessário, para possibilitar a busca de outros aspectos envolvidos na atividade. A seqüência didática desenvolvida por Lopes (2003), apresenta em linhas gerais os seguintes objetivos: - estabelecer relação de dependência entre variáveis; - promover a construção da representação algébrica e da representação gráfica de uma lei de formação de pares de números e fazer a conversão dessas representações, especificamente de uma função afim; - fazer a correspondência entre os valores visuais pertinentes e os valores categoriais da escrita simbólica; 34 - verificar o reconhecimento e identificação das variáveis visuais pertinentes; - verificar se os alunos relacionam situações do dia a dia, com representações matemáticas. O autor chama de valores visuais pertinentes os aspectos importantes de um gráfico como os pontos de intersecção com os eixos e a inclinação do gráfico. Valor categorial de uma escrita simbólica são coeficientes e taxas. Entendemos nesta leitura que a correspondência entre um valor visual pertinente e um valor categorial, no caso da função polinomial do 1o grau, seria quando percebemos que o valor de y onde ocorre a intersecção do gráfico corresponde ao coeficiente b da expressão y=ax+b. A conversão citada entre os seus objetivos se refere à capacidade de associar um gráfico a uma expressão algébrica e vice-versa. Especificamente em seu texto escreve: A conversão de uma representação é a transformação dessa representação de um outro registro, conservando a totalidade ou uma pequena parte somente do conteúdo da representação inicial (DUVAL, 1993, p. 42, apud LOPES, 2003, p. 22). Em sua análise sobre os resultados obtidos, Lopes (2003), ressaltou alguns aspectos que considerou importantes no desenvolvimento da pesquisa, e entre estes destacou a utilização de diferentes registros de representação nos procedimentos de resolução por parte dos alunos, com o uso ou não de registros intermediários, buscando a coordenação entre os registros específicos de cada atividade. Considerou também importante as discussões em grupo dos resultados de cada atividade, a sua postura como mediador destas discussões e o aspecto desafiador das atividades propostas. Para cada atividade aplicada, Lopes (2003) fez uma análise qualitativa dos resultados, acrescentando uma tabela com resultados quantitativos nas análises de duas atividades. Percebeu que, nas primeiras atividades os alunos manifestavam seu conhecimento cotidiano (usavam sua linguagem comum), apresentavam suas 35 justificativas com o uso de “verbos que indicavam movimento, como andar, subir descer”, idéia esta que, segundo ele, está associada ao conceito de função (KARLSON, 1962, p. 376 apud LOPES, 2003, p. 69). Na seqüência do trabalho, com o uso de tabelas de correspondência entre os valores numéricos e a partir das discussões coletivas, o autor introduziu as representações de x e y para os valores correspondentes e os alunos chegaram a descrever algebricamente as leis de formação, do tipo y = ax+b, identificando a variável dependente e a independente. Uma afirmação de Lopes (2003) foi que no decorrer do trabalho, os alunos já tinham chegado ao consenso de que a representação algébrica da função faz uma intermediação que facilita a conversão da linguagem natural para a representação gráfica (LOPES 2003, p. 77). Os alunos não haviam tido contato com as variáveis visuais pertinentes do registro gráfico e os respectivos valores categoriais do registro algébrico, então as questões foram colocadas de modo que eles analisassem a construção dos gráficos e os valores numéricos presentes na expressão algébrica. Entre os resultados obtidos o autor afirma que os alunos apresentaram algumas observações sobre estas análises relativas ao paralelismo de retas, inclinação da reta em correspondência ao valor do número que multiplica x, onde passa a reta no eixo y de acordo com o número que é somado à variável x. Contudo, tais observações se baseavam nos valores resultantes dos cálculos referentes à expressão algébrica em questão, que eram relacionados em tabelas, o que em caso de cálculos incorretos levava o aluno a questionar o comportamento da reta. Antes de iniciar a última atividade, o pesquisador fez uma institucionalização do que já haviam estudado até aquele momento. Ao final desta última atividade, foi proposto o trabalho individual dos alunos, sem interferência do professor, para verificar o relacionamento entre registro algébrico e o gráfico de uma função afim e vice-versa. Verificou-se, após análise quantitativa das respostas, que os alunos já 36 relacionavam o coeficiente b com o ponto em que a reta cruza o eixo das ordenadas e que a inclinação da reta foi relacionada com sinal do coeficiente a, porém ainda com alguns erros. Também nesta atividade, foi solicitado que os alunos relacionassem três situações do dia-a-dia, que apresentavam a expressão falada “em função de”, com representações algébricas, numéricas e gráficas. Após uma análise quantitativa inicial do número de acertos dos alunos, o pesquisador verificou que alguns erros eram decorrentes da confusão entre duas situações apresentadas e outros eram decorrentes de erros de cálculos feitos para a identificação da tabelas. Concluiu que os alunos já não apresentavam dúvidas quanto à relação do coeficiente b da equação da reta com o valor no eixo das ordenadas correspondente à intersecção do gráfico, embora ainda não houvesse o rigor da linguagem matemática. Lopes (2003) concluiu também que o diálogo e o uso de recursos favoreceram o prosseguimento do trabalho de pesquisa em sala de aula e que, partindo da primeira forma de expressão das regularidades feita pelos alunos, a verbal em linguagem natural, foi possível trabalhar a linguagem técnica, a representação analítica na forma algébrica, a geométrica na forma de gráficos e a aritmética com as tabelas de valores. E que essa diversidade de representações e a conversão entre elas, como na fundamentação teórica, foi enfatizada como elemento fundamental para a apreensão de um objeto matemático. Este pesquisador ressalta que a percepção das variáveis visuais pertinentes, no registro gráfico, tornou-se evidente quando de sua correspondência com os valores categoriais no registro algébrico. Considera que a forma de comunicação dessas regularidades é tarefa importante no estudo dos mecanismos da natureza, favorecendo que os alunos percebam a relação da posição e inclinação da reta em comparação aos coeficientes angular e linear da expressão algébrica da função do 1o grau. Destaca ainda que apesar de apresentar análise com resultados quantitativos em duas das atividades propostas, avaliou também a eficiência destes trabalhos “pela modificação da qualidade de produção”, isto é, uma melhora nas iniciativas, nos procedimentos dos alunos para efetuar os tratamentos matemáticos, no interesse na execução das atividades. Lopes (2003) conclui que a pesquisa atingiu 37 seus objetivos e contribuiu para oferecer subsídios para uma abordagem de ensino que incentive a criatividade e as produções individuais, em contrapartida com uma desenvolvida nos moldes tradicionais, com uso estrito de lousa e giz. Em nossa pesquisa, de maneira diferente da pesquisa de Lopes (2003), pretendemos verificar o aprendizado do conceito de função utilizando como fundamentação teórica as ideias de imagem de conceito, definição de conceito (TALL; VINNER, 1981) e as características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) que possam surgir nos protocolos de alunos da 2 a série do Ensino Médio. Aquele pesquisador elegeu o quadro teórico dos Registros de Representação Semiótica de Duval (2001 apud LOPES, 2003) para elaborar sequência didática para alunos de 8a série do Ensino Fundamental e para analisar os protocolos. Nossa pesquisa não prevê uma sequência didática, porque trata-se de uma avaliação diagnóstica com análise qualitativa dos dados. Seguindo nossa revisão de literatura, encontramos a tese de doutorado de Zuffi (1999) que investiga como professores do Ensino Médio se expressam e fazem uso da linguagem matemática para suas concepções e na formação das concepções dos alunos, e como utilizam as relações entre as definições formais colocadas e as obtidas por meio de exemplos. Para isso, utilizou o conceito de função, pela importância e pelas várias possibilidades de notação. Foram pesquisados sete professores que lecionam em escolas públicas, em escolas particulares ou em ambas. Para desencadear seu trabalho a pesquisadora observou as aulas de Matemática de uma professora em sua sala de 1 a série do Ensino Médio por dois meses. Em seguida, sua pesquisa foi dividida em três momentos. Primeiro momento: utilização de um questionário composto de 20 perguntas em que solicitava uma definição informal e uma formal para função, seguidas de outras dezoito questões que abordavam as representações de função, como gráficos e expressões algébricas, além de domínio e imagem. Por exemplo, a pergunta sobre o conceito de função foi feita de dois modos diferentes: “(1) Dê uma definição informal para função” e “(2) Forneça uma definição matemática de função”. O objetivo era verificar possíveis distinções entre linguagem matemática formal e utilização de termos informais. Em relação ao que definem Tall e Vinner (1981), as 38 perguntas de Zuffi (1999) têm potencial para diagnosticar a definição de conceito e, em relação aos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004), alguma característica da imagem de conceito de função. Segundo momento: usado como instrumento complementar, para melhor caracterização da realidade escolar e da formação profissional dos sete professores pesquisados e desenvolveu-se por meio de entrevistas realizadas com estes professores. Terceiro momento: observação, pela pesquisadora, das salas de aula de primeira série do Ensino Médio de três dos sete professores, por um período de nove meses, em duas escolas da cidade de São Carlos, no interior de São Paulo. A análise dos dados utilizou várias fundamentações teóricas diferentes conforme características destes dados: imagem de conceito de Vinner (1991 apud ZUFFI, 1999); as concepções de ação, de processo e de objeto, apresentados nos trabalhos de Dubinsky e Harel (1992 apud ZUFFI, 1999); as ideias de obstáculos epistemológicos apresentados por Sierpinska (1992); as ideias referentes à linguagem matemática sugeridas por Hanna (1995 apud ZUFFI, 1999), Cury (1988 apud ZUFFI, 1999), Gouvêa, Ag Almouloud (1996 apud ZUFFI, 1999); a transposição didática do ensino de funções de Oliveira (1997 apud ZUFFI, 1999); as ideias de abstrato e concreto de Meira (1993 apud ZUFFI, 1999) e as considerações sobre enfoques sintático, semântico e sócio cultural para linguagem matemática sugerida por Fonseca (1997 apud ZUFFI, 1999). A autora verificou que os professores utilizam a linguagem formal apenas para escrever a definição do conceito da forma como aparece nos livros didáticos, sem discutir coisas que considera importantes sobre o conceito, como: variação, domínio, a necessidade de imagem única e exemplos de relações que não são funções. Outro ponto foi que a representação de funções ocorre apenas no sentido do algébrico para o gráfico, excluindo uma maior integração de outras representações, necessárias para uma visão mais ampla dos conceitos. Concluindo, a autora cita que os professores do Ensino Médio utilizam uma linguagem matemática determinada pela prática pedagógica, pelos livros didáticos e pela situação cultural vivenciada nas escolas. Aspectos lógicos e formais que 39 permeiam o Ensino Superior destes professores, significados em relação ao cotidiano, parecem não serem utilizados. A linguagem matemática apresenta-se estática, acabada e sem dinamismo, sem características de uma linguagem que expresse ideias vivas e em movimento, e que inclusive são orientadas na Proposta Curricular consultada (CENP, 1991 apud ZUFFI, 1999). Em nossa pesquisa pretendemos estudar respostas de alunos, e não é nosso objetivo estudar como professores os ensinaram. Por esta razão a consideramos diferente da de Zuffi (1999). Esta pesquisa, entretanto, apresenta dados importantes e um que nos chamou a atenção vem no sentido de orientar os professores que eles podem não contribuir para as imagens de conceito dos alunos quando não oferecem uma ampla apresentação de possibilidades ao trabalhar um conceito. Tomando por exemplo o de função, quando um professor só utiliza a representação algébrica como suporte para construir uma tabela e depois o gráfico, o aluno poderia pensar que esta é a única maneira de trabalhar este conceito, ou ainda, pensar que somente uma destas representações seja a função. Flores e Moretti (2006) apresentam uma pesquisa na qual destacam que a representação gráfica é importante tanto para organização quanto para análise de dados, citando algumas pesquisas que relacionam o conhecimento matemático em relação a estas representações, como Barreto (2003 apud FLORES; MORETTI, 2006), Cordani (2003 apud FLORES; MORETTI, 2006), Lopes (2003 apud FLORES; MORETTI, 2006). Destacam a importância no tratamento das informações, na construção de tabelas e gráficos cartesianos e na interpretação destas representações. Como fundamentação teórica escolheram os Registros de Representações Semióticas para a aprendizagem matemática de Duval (1995, 1998, 1999, 2002, 2003 apud FLORES; MORETTI, 2006). Organizaram o trabalho discutindo sobre as funções cognitivas das representações semióticas, destacaram as representações gráficas, como suporte representacional de dados e informações, e empreenderam uma análise das implicações cognitivas, utilizando representações gráficas do tipo tabela. Para Duval, “ensinar matemática é antes de tudo possibilitar o desenvolvimento geral das capacidades de raciocínio, de análise e de visualização” (DUVAL, 1999 apud FLORES; MORETTI, 2006 p.27). Consideram ainda que as 40 representações semióticas assumem um papel importante, pois um mesmo objeto matemático pode ter representações diferentes, dependendo da necessidade e do uso. Duval “agrupa (as representações semióticas) em quatro grandes registros de representação: a língua natural, as escritas algébricas e formais, as figuras geométricas e as representações gráficas” (DUVAL 2003 apud FLORES; MORETTI, 2006, p. 28). Além da introdução de conceitos e de métodos estatísticos para auxiliar a coleta, a organização, a interpretação e a análise de dados, é preciso o desenvolvimento de habilidades de leitura, como o julgamento de informações semiotizadas (são as informações apresentadas com uso de algum registro de representação), pois cada tipo de organização de dados conduz a um tipo específico de representação, por exemplo, gráficos, tabelas, diagramas, e ler e interpretar uma destas representações não é uma tarefa fácil. Exige por parte do leitor certa intimidade e exige também domínio do modo de representação utilizado. Neste sentido, os pesquisadores situam o trabalho, discutindo as questões: “como compreender a complexidade da organização visual da informação e da comunicação em representações gráficas? E qual o interesse dessa compreensão para a educação matemática?” (FLORES; MORETTI, 2006, p. 27). Afirmam ainda que o interesse pelo mundo das representações não se dá apenas pela possibilidade de entendimento cognitivo para a aprendizagem matemática, mas pelas funções cognitivas que estas representações preenchem. Para Duval (1999 apud FLORES; MORETTI, 2006) são quatro as funções que as representações podem preencher: função de comunicação, função de tratamento, função de objetivação e função de identificação. A primeira é a função de transmissão de uma mensagem ou de uma informação entre indivíduos, ela requer a utilização de um código comum aos indivíduos. A segunda é a função que transforma uma representação em outra, utilizando unicamente as possibilidades de funcionamento do sistema de representação mobilizado. A terceira, é a função que permite a um sujeito tomar ciência daquilo que até então não o tinha feito. [...] Enfim, é a função de identificação que permite encontrar, ou 41 reencontrar, um dado ou uma informação dentre muitas outras. A identificação é, portanto, o trabalho cognitivo que permite a recuperação da memória, seja ela humana ou de um sistema informático [...] (DUVAL, 1999 apud FLORES; MORETTI, 2006, p. 28). A representação gráfica constitui um importante instrumento para a análise de dados e o tratamento da informação. Nos meios de comunicação, vemos constantemente o uso de quadros, tabelas e gráficos. No caso dos gráficos e das tabelas, não é suficiente que o aluno saiba lê-los, é necessário também que ele saiba organizar e operar de forma objetiva os dados contidos nestes modos de representação. Duval considera que “uma tabela é essencialmente finita, enquanto que um gráfico cartesiano não é” (DUVAL, 2002 apud FLORES; MORETTI, 2006, p. 32), o que o levou a concluir que a diferença entre a característica finita das tabelas e a característica potencialmente infinita dos gráficos cartesianos diz respeito aos objetos representados e não ao princípio sobre o qual o sistema de representação se funda. Este princípio repousa sobre uma disposição espacial bi dimensional em vista de separar e de localizar os dados (DUVAL, 2002 apud FLORES; MORETTI, 2006, p. 32). Para os pesquisadores, as tabelas podem apresentar-se com “características sinópticas, como se fossem bancos de dados” (FLORES; MORETTI, 2006, p. 33), exigindo apenas uma leitura pontual, ou seja, uma consulta rápida na busca por respostas. Por vezes elas se apresentam sob um caráter de classificação e variação, permitindo inferir relações numa leitura global da tabela, tanto no sentido vertical como no horizontal, que devem ser explorados simultaneamente. Citam que Duval (2002 apud FLORES; MORETTI, 2006) diz tratar-se de um passo de “apreensão global” (DUVAL, 2002, p. 12 apud FLORES; MORETTI, 2006, p. 33), porque “a passagem de um passo pontual a um passo de interpretação global na leitura das tabelas representa um salto do ponto de vista cognitivo" (DUVAL, 2002, p. 12 apud FLORES; MORETTI, 2006, p. 33). 42 Com isso, os autores afirmam que podemos compreender que a organização semiótica de uma tabela não se restringe a uma simples disposição de linhas e colunas. Sua organização depende da sua estrutura e “a função cognitiva mais evidente e requerida na leitura de tabelas é a de identificação” (FLORES; MORETTI, 2006, p. 34). A distribuição de informações em linhas e colunas permite separar visualmente as informações e localizá-las rapidamente. E, segundo Duval [...] o simples fato de mudar de tarefa para o mesmo tipo de tabela pode acarretar uma mudança no nível de apreensão e, portanto, nos passos da leitura (DUVAL, 2002, p. 28 apud FLORES; MORETTI, 2006, p. 34). Para os autores, compreender os processos cognitivos requeridos no uso de tabelas e gráficos, no ensino da matemática, significa entender o funcionamento representacional que gera apreensões de leitura e tratamentos específicos (FLORES; MORETTI, 2006, p. 35). Neste sentido, consideram que o ensino de Matemática deveria possibilitar outras tarefas que não só a simples leitura de tabelas e gráficos, mas também as de construir, interpretar e preencher a tabela e reunir todos os dados e informações para organizá-la. Desse modo, concluem que as representações gráficas estão longe de se constituir um meio de representação simples e evidente. No caso das tabelas, afirmam “que elas se articulam de maneira explicita, ou implícita, com representações num outro registro” (FLORES; MORETTI, 2006, p. 35), o que significa que elas “não são representações autônomas” (FLORES; MORETTI, 2006, p. 37). Esta articulação propõe que a interação entre a tabela e o enunciado verbal do problema, ou a escrita algébrica, é essencial já que será essa possibilidade que comandará a maneira de ler uma tabela. É a conversão entre os registros que possibilitará uma leitura global das representações gráficas (FLORES; MORETTI, 2006, p. 36). 43 “O simples fato de mudar de tarefa para o mesmo tipo de representação gráfica pode provocar mudanças de apreensão” (FLORES; MORETTI, 2006, p. 36) e pode alterar as etapas da leitura, permitindo o desenvolvimento cognitivo e o entendimento do registro de representação. Em nossa pesquisa, que caracterizamos como diferente da pesquisa de Flores e Moretti (2006), também buscamos aspectos cognitivos do aprendizado de alunos, mas no sentido de diagnosticar elementos com os quais cada sujeito, individualmente, responde a algumas situações envolvendo o conceito de função. Não exigimos que o aluno construa uma tabela ou um gráfico para resolver um determinado problema, mas apresentamos um questionário que o coloca diante desse problema e esperamos que ele busque a maneira que considerar mais apropriada para resolvê-lo para, aí sim, avaliarmos suas reações e seu raciocínio. Outra diferença com relação à pesquisa que estamos conduzindo é que os pesquisadores basearam-se numa fundamentação teórica diferente da que utilizamos na elaboração das questões e que utilizaremos na análise dos protocolos. Em algumas das literaturas consultadas encontramos referência ao trabalho de Sierpinska (1992). Em seu artigo “On understanding the notion of function”, que traduzimos como “Entendendo a noção de função”, a pesquisadora discorre sobre: o entendimento em matemática de um modo geral; o que considera importante para que a mente humana desenvolva a noção de função; e os obstáculos epistemológicos que ocorrem em relação a este conceito. Apresentamos no anexo C, página 184, uma tabela onde relacionamos os entendimentos e os obstáculos epistemológicos que a pesquisadora associou ao conceito de função. Optamos por este tipo de organização para simplificar a apresentação e também porque resumimos o nosso entendimento em relação ao que a pesquisadora considerou importante para que a noção de função na mente humana se torne algo que ela chamou de significativo. Na pergunta: “what do we mean by understanding functions?” e que traduzimos como “o que queremos dizer com entender funções?” (SIERSPINSKA, 1992, p. 25), pensamos que a autora sugere muitos questionamentos: Qual o entendimento de funções que se desenvolve ao estudarmos o tema? Como utilizamos o conceito? O que é necessário para 44 sabermos tudo sobre o conceito de função? Esta nossa impressão é reforçada quando a pesquisadora afirma que o entendimento de um objeto ocorre somente quando vimos exemplos e contraexemplos do objeto definido, quando podemos dizer o que este objeto é e o que ele não é, quando temos ciência de suas relações com outros conceitos, quando sabemos que suas relações são semelhantes a relações que nos são familiares, quando entendemos a posição que o objeto definido tem dentro de uma teoria e quais suas possíveis aplicações. Em resumo, o que nós podemos afirmar que entendemos sobre ele (SIERPINSKA, 1992, p. 26, nossa tradução). Esta frase mostra um entendimento aprofundado e muito bem estabelecido em relação a um conceito, que talvez poucas pessoas poderiam afirmar tê-lo em relação ao conceito de função em matemática. A autora destaca dois tipos complementares de interpretação dos saltos entre os pensamentos antigos e novos na mente humana: conhecendo o novo, contemplamos o velho e vemos o que impedia nosso entendimento (alguns destes empecilhos podem ser chamados de obstáculos epistemológicos); ou olhamos para o novo e o interpretamos como uma nova forma de pensar. De uma maneira geral, os obstáculos epistemológicos não são resultado exclusivo de um determinado modo de ensino, não são idiossincráticos, não ocorrem somente com uma ou outra pessoa. Eles são comuns a determinadas culturas, seja no presente ou no passado, e podem ser vistos objetivamente como obstáculos a novos modos de conhecimento. (SIERPINSKA, 1992, p. 27, nossa tradução). A autora identifica três níveis distintos de obstáculos epistemológicos. O primeiro refere-se às dificuldades, crenças e convicções do nosso ponto de vista. É um nível que pode ser comunicado de maneira clara para outros. A autora cita como exemplo a frase: “matemática é a linguagem da ciência” (SIERPINSKA, 1992, p. 27), o que nos sugere caracterizar-se neste nível uma frase que por vezes ouvimos durante nosso trabalho em sala de aula e que diz “matemática é difícil”. Outro, é o dos esquemas de pensamento, e que se refere às maneiras como interpretamos situações e problemas, a maioria inconscientes. Neste nível, estão coisas que 45 podem ser treinadas durante nossa socialização e nossa educação. O terceiro e último nível citado pela pesquisadora é o do conhecimento técnico, que se refere ao conhecimento em que valor e validade são declarados por critérios racionais e consistentes, tratando-se também de um conhecimento explicito, mas diferente daquele do primeiro nível, podendo ser chamado de justificação racional. Os três níveis não são independentes, pois para explicar problemas e conceitos do nível técnico podemos utilizar coisas do primeiro e do segundo níveis. Com relação aos entendimentos em um sentido geral, são citadas quatro categorias de atos de entendimento: Identificação (de um objeto entre outros); Discriminação (entre dois objetos); Generalização (extensão do domínio de aplicações) e Síntese (percepção de relações e conexões). No caso de função, a autora tenta reduzir o entendimento a uma ou várias dessas categorias. Se definirmos função pela via formal simbólica, podemos fazê-lo quase sem utilizar palavras, com o senso lógico confinado ao que a definição apresenta. Mas quando a noção é aplicada a algum contexto, matemático ou matematizado, pode ser usada linguagem informal, que pode produzir muitos entendimentos não relacionados com a lógica da definição. Quando falamos em grandezas variáveis, por exemplo, em Física, concebemos funções como relações entre estas grandezas variáveis. Se, em Matemática, pensamos em curvas sobre um sistema de coordenadas também pensamos em relações entre as coordenadas dos pontos ao longo destas curvas, nas equações implícitas nas relações entre as coordenadas. Aqui, a imagem que temos da função é estática no sentido de leis não definidas por nós (não as fizemos), mas que poderíamos descobri-las. Podemos transformar esta imagem em uma imagem dinâmica, quando construímos o gráfico de uma função usando uma estrutura algébrica, pois nós processamos a variável independente para obter a variável dependente. Se perguntarmos a nós mesmos “o que a definição do conceito de função diz?” (SIERPINSKA, 1992, p. 30, tradução nossa), então a resposta pode ser que seja uma tripla ordenada (X, Y, f), onde X e Y são dois conjuntos e f um subconjunto de XxY de modo que se (x,y) pertence a f e (x,y‟) pertence a f, então y=y‟; mas se a pergunta é “do que trata a definição?” (SIERPINSKA, 1992, p. 30, tradução nossa), a 46 resposta não é simples, pois refere-se a uma interpretação ou aplicação do conceito que, neste caso, envolve pelo menos os quatro tipos de entendimentos citados. A pesquisa de Sierpinska (1992), então, teve como objetivo apresentar obstáculos epistemológicos associados ao conceito de função e os atos mais fundamentais de entendimento de função que estão de alguma forma ligados a esses obstáculos. Como a pesquisa de Sierpinska (1992), ao nosso ver, está ligada à formação do conceito de função e a nossa é um diagnóstico que busca definição de conceito, imagem de conceito (TALL; VINNER, 1981) e características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) que surgem nas respostas de alunos da 2a série do Ensino Médio, após terem estudado o tema, julgamos as duas teorias conflitantes para nossa análise. Assim, optamos por utilizar apenas o quadro teórico dos Três Mundos da Matemática e deixar as ideias de Sierpinska (1992) talvez para uma possível continuação deste trabalho na forma de uma intervenção para alunos que vão iniciar o estudo de função. Ousamos dizer mais: com base em nossa experiência em sala de aula, acreditamos que o início do ensino de função poderia (ou até deveria) ocorrer inclusive antes do que ocorre pelo currículo atual. 3. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS Nos dois capítulos anteriores, apresentamos nossas dúvidas, nossas questões e algumas das leituras que contribuíram para estruturar nossa pesquisa. Entre estas, estão incluídas as que consideramos como parte da nossa fundamentação teórica e, portanto, serão apresentadas especificamente neste capítulo, onde procuraremos justificar porque usamos, além das ideias de imagem de conceito e de definição de conceito (TALL; VINNER, 1981), os Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) para fundamentar a elaboração do questionário e porque os utilizaremos na análise dos protocolos. 47 3.1. Introdução Conforme descrevemos no parágrafo 1.1 referente à justificativa (página 10), nosso primeiro contato com um estudo organizado foi na especialização, com a monografia que apresentamos sobre os erros de alunos ao trabalharem com função (ANGELINI, 2006). Utilizamos naquele trabalho, como base teórica, os Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval (1993 apud TRALDI JÚNIOR, 2002 apud ANGELINI, 2006) e realizamos uma análise quantitativa dos erros de alunos diante de problemas e situações envolvendo função. Naquela oportunidade, consideramos importante analisar se alunos conseguiam transitar entre um registro e outro, como por exemplo, se sabiam partir da forma algébrica para construir uma tabela e desta para a construção do gráfico correspondente. Hoje sabemos que, naquela oportunidade, não estudamos de maneira aprofundada aquele quadro teórico e a análise que fizemos, do tratamento que alunos deram ao responder as questões, poderia ter sido mais eficiente. Nos estudos no Mestrado Acadêmico em Educação Matemática, além de ter sido possível reavaliar aquele trabalho da Especialização, também foi possível identificar outros pontos importantes que devem ser considerados, quando queremos analisar concepções de alunos referentes ao conceito de função. Consideramos importante que um aluno saiba utilizar linguagem em forma de texto, identificar fórmula (expressão algébrica), construir e interpretar tabelas e gráficos e desejamos que ele perceba que são apresentações diferentes do mesmo conceito, mas percebemos que cada indivíduo aprende de uma maneira bastante peculiar. Um sujeito tem facilidade em resolver uma situação de uma determinada maneira, enquanto outro pode resolver a mesma situação de maneira diferente. Podemos pensar em dois sujeitos que se deparam com uma situação de função apresentada na linguagem em forma de texto. Após a leitura, um deles pode pensar em resolvê-la utilizando uma sequência de operações aritméticas utilizando dados e informações encontradas no texto. Um outro sujeito, entretanto, pode pensar em esboçar um gráfico. É de se supor que uma ou outra maneira de resolver pode levar ao resultado procurado, mas, dependendo do enunciado, uma delas pode ser mais apropriada que a outra no sentido de resolvê-la de modo mais rápido ou eficiente, mas 48 independentemente disso, os dois sujeitos podem encontrar a resposta utilizando modos diferentes. Um exemplo que nos ocorre é a análise de vantagem de orçamentos de empresas diferentes em que estejam envolvidos valores fixos e variáveis. Um indivíduo que resolva decidir qual orçamento seria mais vantajoso fazendo contas, poderia talvez demorar mais tempo do que um outro que esboçasse um gráfico ou que construísse uma expressão algébrica para cada empresa e as igualasse, mas ambos poderiam encontrar o resultado procurado. Ocorre que na primeira maneira, ao fazer contas, o sujeito pode gastar muito tempo para decidir enquanto o outro pode resolver em menos tempo se souber interpretar um gráfico. É claro para nós que professores devem dar ao aluno oportunidade de utilizar várias representações, mostrar maneiras de interpretar e de resolver situações para as quais é possível usá-las, mas consideramos que, quando este aluno estiver fora da nossa sala de aula, ele poderá, e com certeza irá, utilizar a maneira que julgar mais familiar ou mais segura para ele. Este aluno poderia pensar, por exemplo, que não importa se em algum momento da vida nos deparamos com uma análise de orçamento e utilizamos expressões algébricas, ou um gráfico, ou uma tabela, mas que é necessário reagir e resolver o problema de maneira eficiente. Ocorre que se ele conhecer as representações, ele com certeza decidirá pela que trouxer mais segurança. Ele será mais eficiente que outro? Talvez, mas conhecendo maior quantidade de representações, provavelmente será. Pensando assim, passamos a estudar não só a Teoria dos Registros de Representação Semiótica, mas também os Três Mundos da Matemática, a teoria dos Campos Conceituais, da Transposição Didática, entre outras, alguns estudos encaminhados nas aulas das diversas disciplinas cursadas, outros a partir de orientações e, entre essas teorias, interessamo-nos de maneira especial pelos Três Mundos da Matemática. Conjecturamos que esta teoria, que se encontra em processo de desenvolvimento, poderia oferecer subsídios para avaliarmos que tipo de mecanismo o sujeito utiliza ao resolver situações nas quais esteja envolvido o conceito de função, ou ainda permitir a identificação do que leva um sujeito a escolher uma determinada maneira de resolução diferente de outro sujeito. Por esta razão, pretendemos analisar respostas individuais de alunos ao trabalharem com função e elegemos as idéias de definição de conceito, imagem de 49 conceito (TALL; VINNER, 1981) e os Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) como fundamentação teórica para elaborar o questionário e para analisar os protocolos. Passaremos então a descrever nosso entendimento deste quadro teórico. 3.2. Sobre a imagem de conceito Imagem de conceito é uma tradução a partir de Concept Image (TALL; VINNER, 1981, p.152). Este termo passou a ter esta tradução a partir de Giraldo (2004, p. 8) e é utilizado para definir a estrutura cognitiva associada ao conceito, que inclui todas as imagens mentais, processos e propriedades associadas. Ela é construída ao longo dos anos, através de experiências de todos os tipos, mudando enquanto o indivíduo encontra novos estímulos e amadurece (GIRALDO, 2004, p. 8). É importante salientar que a imagem de conceito individual é evocada por um determinado indivíduo e pode diferir em relação a outro, uma vez que os cérebros de duas pessoas podem percorrer caminhos diferentes. Isto nos levou a considerar como um dos objetivos desta pesquisa a identificação dessas imagens de conceito que alunos do Ensino Médio possam apresentar ao trabalhar com situações que envolvem o conceito de função. Neste nosso trabalho, adotamos a tradução definida por Giraldo. No final de 2009, em sala de aula de matemática para 1 a série do Ensino Médio, desejávamos que os alunos apresentassem suas impressões referentes a gráficos cartesianos de funções de uma variável. Como desejávamos respostas escritas, perguntamos individualmente, em uma atividade, como eles fariam para explicar o gráfico verbalmente para outra pessoa e também se eles percebiam semelhanças ou diferenças entre os gráficos apresentados. Os gráficos que apresentamos foram de uma função polinomial do 1o grau crescente (que chamamos gráfico h), uma função polinomial do 1o grau decrescente (g), uma função quadrática (j) e de uma função exponencial (i). Um dos alunos respondeu 50 que eram semelhantes somente dois gráficos, h e g, com a diferença que um era “uma linha vertical subindo para direita” e outro “uma linha vertical subindo para esquerda”. Um outro aluno, referindo-se aos mesmos gráficos de funções, escreveu que “são retas que estão em diferentes ângulos”. Na imagem de conceito destes alunos estão presentes aspectos da geometria e as afirmações “subindo para esquerda”, “subindo para direita” e “estão em diferentes ângulos” parecem-nos indícios de que eles enxergam o crescimento ou o decrescimento, mas não os apresentaram em palavras de uso da matemática. As respostas destes alunos apresentam características do mundo corporificado, sobre o qual teceremos comentários adiante, ainda neste capítulo. 3.3. Sobre a definição de conceito Definição de conceito é a tradução a partir de Concept Definition (TALL; VINNER, 1981, p. 152) estabelecida por Giraldo (2004, p. 9) e faz parte da imagem de conceito do indivíduo. A definição de conceito “pode ou não utilizar sentença de palavras para especificar um dado conceito” (GIRALDO, 2004, p. 9). Ela pode ser apresentada em palavras que por vezes não seriam aquelas de uso formal em matemática, uma simples memorização ou compreensão do indivíduo, e, assim como a imagem de conceito, também muda ao longo do tempo. Apresentamos, no parágrafo 1.1, página 12, o resultado de uma atividade em sala de aula de 3a série do Ensino Médio, que realizamos em agosto de 2008 (ver página 15). Naquela oportunidade, apresentamos aos alunos a pergunta: “o que é função?”, escrita da forma que consideramos naquela oportunidade como a mais clara e objetiva possível. Constatamos que 15 dos 22 alunos responderam que função é uma equação. Analisando as respostas, percebemos que a definição de conceito apresentada por estes indivíduos não traz as idéias de relação, variação e de dependência, que são importantes no conceito de função, por serem mais amplas do que as que são possíveis em expressões caracterizadas como equações. Não estamos tentando impedir do uso da palavra equação para se referir ao conceito de função, vários autores associam esta palavra à expressão algébrica que 51 representa uma função, como por exemplo Caraça (1954, p. 58) ao mostrar como se dá a definição de função por meio da sua expressão analítica: a relação y=x2+x+1, onde x é uma variável real definida em todo o eixo, faz corresponder a todo o número real xi um número único yi=xi2+xi+1; fica assim definida, portanto, uma função y(x). Do mesmo modo, a equação 2x+3y-1=0, onde x é a mesma variável, faz corresponder a cada xi um único yi = 1 2 xi e, portanto, esta 3 equação define também uma y(x) (CARAÇA, 1954, p. 58). A dúvida que colocamos com relação à resposta dos alunos está apoiada em nossa experiência em aulas de matemática. Eles parecem pensar em função como uma expressão com uma resposta única, talvez a mesma incógnita que aparece na equação, que poderia ser calculada após algumas operações. Este tipo de pensamento não se parece em nada com a ideia de função que gostaríamos que os alunos tivessem, associada a noção de relação ou dependência. 3.4. Sobre os já-encontrados: Segundo este quadro teórico, a imagem de conceito dos indivíduos apresenta já-encontrados. Esta é a tradução que foi adotada por Lima (2007) para o termo met-before (TALL, 2004), que é definido como um construto mental que um indivíduo usa em dado momento, baseado em experiências que ele encontrou anteriormente. Eles são parte da imagem de conceito de um indivíduo (LIMA; TALL, no prelo, p. 6 apud LIMA, 2007, p. 86). Esta também é a tradução que utilizaremos para o referido termo neste trabalho. O cérebro muda em suas habilidades de pensar ao longo do tempo, reorganizando informações para criar novas estruturas, que podem oferecer 52 maneiras melhores e mais sofisticadas de entender novas situações. O cérebro não é somente um depósito de experiências vividas, ele adiciona novas informações às informações antigas, reformulando-as, alterando o pensamento e provocando o amadurecimento do indivíduo. David Tall afirma a importância referente às características presentes no pensamento do estudante quando afirma: Pessoas experientes em matemática podem ter esquecido como eles pensavam quando jovens e é apropriado refletir em como diferentes já-encontrados de estudantes afetam a maneira como eles aprendem (TALL, 2008, tradução nossa). Em nossa pesquisa pensamos que nas respostas dos alunos poderão surgir os já-encontrados relacionados ao trabalho com o conceito de função e que estes devam ser identificados e avaliados, já que fazem parte da imagem de conceito que buscamos identificar. Esses já-encontrados podem ajudar ou atrapalhar porque os já-encontrados podem influenciar o aprendizado tanto de maneira positiva quanto negativa. Por exemplo, um indivíduo pode ter visto anteriormente, em Aritmética, que 3+4=7 e, ao deparar com 3x+4x, pode concluir que a soma é 7x, usando um fato conhecido. Entretanto, um indivíduo também pode deparar-se com a expressão 3+4x e concluir, enganosamente, que ela é igual a 7x. Nesse sentido, a experiência anterior com Aritmética tornou-se um obstáculo para o aluno. (LIMA, 2007, p. 87). Aquele aluno que participou da atividade que citamos acima e respondeu que um gráfico era uma reta “subindo para esquerda” enquanto no outro a reta estava “subindo para direita” pode fazer uso deste já-encontrado de maneira a ajudar ou atrapalhar, porque cada vez que ele observar uma reta construída sobre o plano cartesiano poderá afirmar que trata-se de um gráfico de função, mas, sua resposta dependerá de como a reta foi construída sobre o plano, caso seja paralela ao eixo vertical e ela afirmar que é um gráfico de função, o já-encontrado aqui está atrapalhando. Da mesma maneira, o mesmo já-encontrado pode também atrapalhar ao estudar funções cujos gráficos não fossem uma linha reta. 53 Imaginamos como sendo ideal o tipo de pensamento referente a função que associe o conceito às suas diversas representações, caracterizando uma imagem de conceito rica em seus já-encontrados, com diversas imagens mentais, opções de procedimentos e conhecimento dos processos. Um sujeito assim provavelmente terá mais sucesso ao trabalhar com funções que outro cuja imagem de conceito possa ser considerada pobre. 3.5. Sobre os a-encontrar: O termo a-encontrar, tradução de met-after, é utilizado para designar “uma experiência que se tem no presente e que afeta a memória de conhecimentos prévios” (LIMA; TALL, no prelo, p. 7 apud LIMA, 2007, p. 88). Conjecturamos a possibilidade de surgimento de a-encontrar nos protocolos. 3.6. Sobre a relação entre os mundos Os processos construtivos sugeriram a existência de diferentes processos de desenvolvimento do pensamento matemático do indivíduo, formando uma diferença de sofisticação entre estas maneiras de pensar matematicamente. No quadro teórico dos Três Mundos da Matemática, cada mundo representa os diferentes caminhos que o cérebro percorre no seu desenvolvimento e são: O mundo conceitual-corporificado, que é baseado nas percepções e reflexões nas propriedades dos objetos, inicialmente vistos e sentidos no mundo real, mas que podem também ser imaginados na mente. Neste trabalho, por simplificação, chamaremos este mundo de mundo corporificado. 54 O mundo proceitual-simbólico, que surge do mundo corporificado e vem à tona por meio de uma ação, que por sua vez é transformada num conceito pensável por meio de um símbolo, que funciona como processo e como conceito (proceito). Chamaremos este mundo de mundo simbólico. Adiante, ainda neste capítulo apresentaremos nosso entendimento do que seja proceito. O mundo formal-axiomático, baseado em definições e demonstrações, no qual o pensamento utiliza objetos conhecidos para formalizar conceitos baseados em definições teóricas da matemática axiomática. Neste trabalho chamaremos este de mundo formal. O quadro abaixo, baseado em Tall (2008) e traduzido por Badaró (2009) apresenta a sugestão para o desenvolvimento cognitivo: Figura 1: Desenvolvimento cognitivo através dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2007 apud BADARÓ, 2009, p.9) Observando esta figura, tentamos imaginar quando um indivíduo seria mais bem sucedido em Matemática que outro. Nossa primeira suposição é que este 55 sucesso dependeria do tipo de situação que se apresentasse e da sua reação de cada um ao resolvê-la. Esta reação poderia mostrar as características da sua imagem de conceito (os já-encontrados) para aquela determinada situação e poderia sugerir como o indivíduo utiliza os já-encontrados. Então poderíamos comparar os já-encontrados dos indivíduos em relação aos Três Mundos da Matemática. Ousamos supor, também, que para identificar com maior aproximação o sucesso de um indivíduo em relação a outro, a quantidade de situações deveria ser a mais diversificada possível, para tentar identificar como e qual (ou quais) já-encontrados cada sujeito utiliza em cada uma delas. Pensamos que, se um indivíduo souber utilizar seus conhecimentos de função de modo a percorrer todo o caminho cognitivo sugerido pela figura 1, ele será bem sucedido. Ousamos denominar caminho cognitivo a possibilidade de se movimentar cognitivamente sobre os Três Mundos da Matemática, não no sentido geográfico de um lugar estático, conhecido, mapeado, mas como uma ampla possibilidade de experiências, imagens mentais, procedimentos, processos, com características as mais ricas possíveis, permitindo assim, reagir o mais próximo possível da maneira ideal diante de cada situação. 3.7. Sobre o mundo corporificado O mundo corporificado é a tradução da forma reduzida embodied world (TALL, 2004) que foi assim traduzida por Lima (2007, p. 73) e que adotamos neste trabalho. Ele refere-se às representações percebidas dos conceitos. Um exemplo do mundo corporificado é aquele obtido em nossa atividade apresentada em sala de aula para uma 3a série de Ensino Médio, em agosto de 2008. Ao perguntarmos aos alunos o que é função, um deles disse que ela pode ser “utilizada também para descobrir um ponto no gráfico”. Outro disse é aquilo “onde você pode obter uma incógnita e assim também colocá-la em um plano cartesiano”. Um gráfico, em relação aos Três Mundos da Matemática, está relacionado ao mundo corporificado, pois é possível percebê-lo em uma figura manipulável, mesmo que mentalmente. David Tall, em sua visita ao Brasil e à UNIBAN em 2008, usou uma maneira de 56 explicar a relação entre um gráfico e o mundo corporificado fazendo um gesto como se estivesse pegando o gráfico em suas mãos. Como exemplo de já-encontrados referentes ao mundo corporificado poderíamos sugerir os gráficos (construção e identificação de pontos), operações aritméticas (utilizando números inteiros, por exemplo), entre outros. 3.8. Sobre o mundo simbólico O mundo simbólico, tradução de symbolic world adotada por Lima (2007, p. 73) e que utilizaremos neste trabalho, refere-se ao uso de símbolos. Podemos pensar no exemplo de um cálculo, que utiliza conceitos pensáveis como o número, representa não só o conceito, como também os procedimentos exercidos sobre os números e o resultado destas ações. Uma combinação de símbolos, processos e conceitos, construída a partir de um processo é chamada proceito elementar. Este termo, cuja tradução estamos utilizando, foi apresentada por Lima (2007) e, inicialmente, “Proceitos” elementares são definidos como “... o amálgama de três componentes: um processo, que produz um objeto matemático, e um símbolo que é usado para representar tanto o processo quanto o objeto” (GRAY; TALL, 1994, p. 120 apud LIMA, 2007, p. 57, tradução e grifos de Lima, 2007). Podemos citar como exemplo as expressões “2x+6 e 2(x+3) que representam o mesmo proceito porque os procedimentos – „dobrar [o valor de] um número e somar 6‟ e „somar 3 a um número e dobrar o resultado‟ – são diferentes” (McGOWEN; TALL, 2010) mas têm o mesmo efeito. Então, concluímos que 2x+6 e 2(x+3) são exemplo de proceitos elementares e o resultado final representa o proceito. Vale ressaltar a maneira que estamos considerando os termos procedimento e processo conforme apresentados por Tall (2001) e traduzidos por Lima (2007), onde usamos 57 [...] a palavra procedimento no sentido de “uma sequência específica de passos desenvolvidos, um passo de cada vez. O termo processo é usado num sentido mais amplo para incluir qualquer número de procedimentos que essencialmente „tenham o mesmo efeito‟.” (TALL, et al, 2001, p. 87 apud LIMA, 2007, p.59). São exemplos de características do mundo simbólico referente a função: a expressão algébrica, como a forma genérica y=ax+b; as possíveis notações de função f(x), g(x), entre outras; a regra de três utilizada nos cálculos de proporcionalidade direta; e também o uso de símbolos para cálculos em Aritmética, para manipulações em Álgebra e Cálculo, porque este mundo não se desenvolve da mesma maneira que o desenvolvimento da geometria de van Hiele, mas a partir da expansão do contexto de contagem para novos contextos, usando frações, permitindo débitos usando números negativos, representações decimais, repetindo ou não repetindo as casas decimais, números reais, números complexos, vetores em duas, três ou n dimensões, entre outros (TALL, 2004, p. 285, tradução nossa). 3.9. Sobre o mundo formal O mundo formal, tradução adotada por Lima (2007, p. 73) para a forma reduzida formal world (TALL, 2004) e que estamos adotando neste trabalho, apresenta uma grande distinção em relação aos mundos corporificado e simbólico, já que nestes dois últimos as descrições surgem a partir de experiências com objetos cujas propriedades são descritas e usadas como se fossem definições; em matemática formal, as apresentações formais partem de um grupo de definições teóricas, axiomas e outras propriedades, deduzidas a partir de demonstrações. Esta diferença também está apresentada na Figura 1, página 52, que apresenta o desenvolvimento cognitivo através dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2008, p. 5 apud BADARÓ, 2009, p.9) 58 Um exemplo de resposta referente à função que se aproximou de uma resposta formal surgiu na pesquisa com estudantes universitários de Costa (2004), quando sujeitos responderam que função é uma terna com valores de domínio, contra-domínio e uma regra de formação. Em sala de aula do Ensino Médio encontramos de maneira mais comum respostas corporificadas e simbólicas. 3.10. Sobre o conceito de função e os Três Mundos da Matemática Para falar do conceito de função em relação aos Três Mundos da Matemática consideramos que seja interessante conjecturar sobre como os já-encontrados poderiam contribuir para que a imagem de conceito de quem aprende ofereça a possibilidade de enfrentar com sucesso diversas situações, dentro ou fora da escola. Podemos supor que um indivíduo será mais bem sucedido que outro quanto maior for sua capacidade de reação às mais diversas situações, e neste sentido, inserimos este parágrafo, que também atende sugestão apresentada pela banca no exame de qualificação. Pensamos que o conceito de função é um dos mais amplos porque apresenta características que podem se referir a cada um dos Três Mundos da Matemática. Quando pensamos em situações de função relacionadas ao mundo corporificado, pensamos nas diversas representações que o conceito apresenta: como as tabelas numéricas; as operações aritméticas, principalmente aquelas onde se utilizam números inteiros; a construção de gráficos e diagramas; os textos, principalmente aqueles encontrados nas descrições de problemas para alunos do Ensino Médio. Estas representações podem ser consideradas como pertencentes ao mundo corporificado porque os já-encontrados referentes a elas apresentam estas características. Quando um sujeito utiliza uma expressão numérica utilizando números naturais ou inteiros ele mostra características do mundo corporificado porque este tipo de número pode ser associado, à maioria das vezes, a processos de contagem, que são já-encontrados com características corporificadas. Quando um sujeito faz a construção de um gráfico, utiliza já-encontrados do mundo corporificado como a disposição dos eixos, o ângulo entre estes eixos, a 59 localização de valores nas escalas, principalmente utilizando os números inteiros e a identificação dos pontos sobre o plano cartesiano. Estas características que encontramos em alunos do Ensino Médio nas aulas de Matemática são corporificadas, porque eles podem manuseá-las tanto fisicamente quanto mentalmente. Ao ler um problema envolvendo números inteiros, comuns nas salas de aula do Ensino Médio, identificando os valores e construindo uma expressão numérica, o sujeito apresenta características do mundo corporificado. Em relação ao mundo simbólico, um sujeito que saiba utilizar uma ampla gama de representações e os processos e procedimentos relacionados a elas, apresenta uma imagem de conceito mais rica que outro que não saiba ou que apresente limitações. Podemos acrescentar que muitas situações envolvendo função podem ser estudadas e resolvidas de maneira eficiente utilizando gráficos, tabelas ou operações aritméticas. As características do mundo simbólico que associamos ao conceito de função são: a utilização de expressões algébricas baseadas nas expressões genéricas, como a da função polinomial do 1o grau y=ax+b ou outras; as expressões utilizando a notação de função como f(x), g(x) ou outras; utilização de regra de três. Um aluno que saiba utilizar a regra de três, por exemplo, apresenta já-encontrados com características simbólicas. Da mesma forma, um aluno que observa um gráfico de função em que a linha se pareça com a parábola e diga que se trata de uma função cuja expressão seja y=ax2+bx+c, mesmo que não anote os valores numéricos dos parâmetros a, b e c, também apresenta características do mundo simbólico. Como exemplo de características do mundo simbólico podemos citar um indivíduo que, para avaliar orçamentos, construa suas expressões algébricas para efetuar manipulações. Este tipo de manipulação é interessante quando desejamos encontrar um ponto de equilíbrio ao comparar dois orçamentos. Quando pensamos nas características que poderiam fazer parte do mundo formal, nossas ideias foram: a questão da relação de dependência, sabendo se uma situação se refere ou não à função; a identificação do que sejam as variáveis dependentes e independentes; domínio e imagem; saber que y é o mesmo que f(x), mas que y não é a mesma coisa que f; interpretação de um gráfico ou tabela em relação aos aspectos de percepção da relação entre as grandezas representadas. 60 Estas características fazem parte do mundo formal e, numa situação ideal, deveriam fazer parte da imagem de conceito de função de alunos do Ensino Médio ao final do seu curso. Pensando em percursos no caminho cognitivo oferecido pelos Três Mundos da Matemática, conjecturamos que alguns podem ser considerados como de alta valia para formar uma imagem de conceito que desejamos para nossos alunos, como por exemplo o percurso passando de um gráfico para a expressão algébrica. Um indivíduo que saiba entender um gráfico e, a partir dele, identificar valores para encontrar a respectiva expressão algébrica, apresenta já-encontrados que permitem supor seu sucesso num curso superior de ciências exatas, por exemplo. Poderíamos situar o pensamento deste indivíduo com características dos mundos corporificado e simbólico, caracterizando uma transição interessante das suas ideias, e se o indivíduo mostrar características de entender o comportamento das grandezas mostradas no gráfico, suas ideias se aproximam do mundo formal e talvez este sujeito esteja plenamente integrado aos Três Mundos da Matemática. A mesma coisa talvez não possa ser dita de um indivíduo que utiliza a expressão algébrica para substituir valores e construir um gráfico. Apesar de apresentar características tanto do mundo corporificado quanto do mundo simbólico, este procedimento, se utilizado de maneira única, não apresenta a mesma qualidade na transição entre os dois mundos quanto um sujeito que saiba transitar do gráfico para a expressão algébrica. Acreditamos que este caminho, passando tanto da expressão ao gráfico quanto do gráfico à expressão deve ser favorecido nas aulas de Matemática por oferecer aos alunos a possibilidade de ampliar sua imagem de conceito. Podemos também afirmar, com base em nossa experiência em sala de aula, que quando um aluno depara-se com expressões algébricas em alguns exames e precisa “testar” as alternativas, ele carece de mais elementos em sua imagem de conceito. O mesmo vale para outro que substitui valores numéricos naturais ou inteiros em expressões algébricas e constrói uma tabela. Sua imagem de conceito de função pode ser estática e talvez até pense que uma destas duas representações seja a função. Trabalhando nas aulas de Matemática com várias destas situações 61 cujas características se referem ao mundo corporificado e ao mundo simbólico, acreditamos que alunos do Ensino Médio ampliarão sua imagem de conceito. Ousamos comentar que os alunos do Ensino Médio apresentam uma imagem de conceito com limitações nas utilizações das representações de função e na transição de pensamento entre os Três Mundos da Matemática. Nos Capítulos 1 e 2, quando apresentamos a justificativa e a revisão de literatura para realização desta nossa pesquisa, respectivamente às páginas 12 e 21, comentamos resultados de alunos da faixa etária dos 15 aos 17 anos. Os resultados mostrados por avaliações institucionais, como SARESP, em sala de aula de Matemática e em pesquisas mostram alunos que apresentam sérias dificuldades ao utilizar representações de função, seja a tabela, o gráfico, a expressão algébrica, o texto. Parece que este conceito, que consideramos muito importante em Matemática, não está estruturado no pensamento dos alunos que concluem esta etapa de seus estudos. Pensando assim, estruturamos metodologicamente nossa pesquisa com questões que acreditamos ter o potencial de permitir que alunos do Ensino Médio possam expor a maneira como reagem diante de situações envolvendo o conceito de função, com o objetivo de diagnosticar imagem de conceito, definição de conceito (TALL; VINNER, 1981) e as características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) presentes nas suas respostas. O próximo capítulo trata-se, portanto, de comentar esta pesquisa. 4. A PESQUISA Até o momento, fizemos uma apresentação da importância do conceito de função em Matemática, expressa em vários documentos. Também apresentamos nossas questões de pesquisa e acrescentamos alguns estudos que realizamos em literaturas referentes ao tema. Em seguida, apresentamos uma ideia do quadro teórico que elegemos para fundamentar a elaboração do instrumento diagnóstico e a análise dos protocolos. Neste capítulo, colocaremos os comentários com relação à nossa pesquisa. 62 4.1. Introdução Nossa pretensão, como já dissemos, seria a de realizar uma pesquisa diagnóstica sobre função com análise qualitativa dos dados. Para tanto, optamos por aplicar um questionário a alunos de 2a série de Ensino Médio. As perguntas deste questionário foram elaboradas segundo a fundamentação teórica que elegemos, utilizando as representações de função que os alunos estudaram na 1 a série do Ensino Médio, como a representação tabular, a gráfica, a linguagem em forma de texto, a algébrica, e utilizadas em situações que consideramos, pela nossa prática docente, compatíveis com o nível de maturidade dos alunos da faixa etária de 15 a 17 anos. Optamos por apresentar atividades para serem resolvidas em papel e lápis porque desejamos que os participantes se sintam à vontade para escrever aquilo que considerarem como a resposta mais apropriada para cada questão, e também porque qualquer que seja a atividade escrita, desde que ela obrigue os alunos a sondar suas ideias e compreensão sobre alguma matemática em que estejam envolvidos, pode capturar evidência importante de seu pensamento matemático (POWELL, 2001, p. 78). Os sujeitos da pesquisa são alunos de uma escola pública estadual da cidade de São Paulo. O convite foi apresentado a uma sala, que em média tem 45 alunos, com a expectativa de que vários deles aceitassem participar. O grupo com alunos participantes receberiam esclarecimentos com relação aos nossos objetivos na pesquisa, sem identificar o tema central, que é o conceito de função. Pretendíamos que eles tomassem conhecimento do tema somente no momento de responder às questões. No momento da aplicação, deixaríamos o professor da sala à vontade para permanecer junto aos seus alunos ou deixá-los conosco, como achasse mais conveniente. Não pretendíamos de início colocar observador(es), nem sabíamos naquele momento se haveria necessidade de realizar entrevistas. Nossa expectativa era que as imagens de conceito, as definições de conceito (TALL; VINNER, 1981) e 63 as características dos alunos em relação aos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) apareceriam nos protocolos. Também no momento da aplicação do questionário, não pretendíamos intervir junto aos participantes. Agora, passaremos a apresentar as questões elaboradas. Procuramos justificar cada uma delas em relação à sua importância para nossa pesquisa e aproveitamos para conjecturar possíveis respostas dos alunos, com uma análise preliminar destas respostas. Vale ressaltar, que apresentamos alguns exemplos e não temos a pretensão de sugerir que apresentamos todas possíveis respostas para cada uma das questões. 4.2. As questões Neste item pretendemos apresentar cada uma das questões elaboradas para o nosso instrumento diagnóstico, acompanhadas de uma justificativa de sua importância para nossa pesquisa e da respectiva análise didática. Cada questão vem acompanhada de comentário sobre algumas das suas possíveis respostas. Análise didática da questão no 1. 1) Em Matemática, o que significa para você a palavra função? O objetivo desta questão é identificar a definição de conceito individual (TALL; VINNER, 1981) que um sujeito apresenta quando pensa no conceito de função em Matemática. Desejamos verificar se e como o sujeito sabe expressar, na forma escrita, a definição de função. Nossa expectativa é de que o sujeito exponha seus conhecimentos prévios do que seja função, adapte-os em escrita, formando uma frase ou texto que expresse a maneira como ele define função. 64 Uma questão colocada desta maneira é importante porque oferece oportunidade ao aluno de expressar a maneira como ele define o conceito de função que, em forma de texto, é de importância reconhecida em Matemática. O Caderno do Aluno da 1a série do Ensino Médio, volume 2, que os alunos receberam em 2009 quando cursaram aquela série, apresenta a seguinte definição de função escrita em forma de texto: Duas grandezas x e y podem variar de modo interdependente, de tal forma que seus valores assumam valores inter-relacionados. Quando, deixando variarem livremente os valores de uma grandeza x, notamos que os valores de outra grandeza y também variam, de tal forma que a cada valor de x corresponde um e somente um valor de y, então dizemos que y é uma função de x; dizemos ainda que x é a variável independente e y é a variável dependente (SÃO PAULO, 2009, p. 3, grifos do autor). O Caderno do Professor (SÃO PAULO, 2008), que sugere os tópicos a serem trabalhados em sala de aula segundo Proposta Curricular do Estado de São Paulo, enfatiza aos professores que busquem outros aspectos importantes da definição de função quando afirma não trataremos aqui de alguns tópicos importantes para esse conteúdo, como as definições, domínio e a imagem dessas funções, por julgar que esses são facilmente encontrados nos diversos livros didáticos” (SÃO PAULO, 2008, p.10). Pelas orientações citadas acima é de se supor que aspectos importantes de funções foram trabalhados em sala de aula. Colocamos no início da questão o termo “em Matemática”, porque desejamos evitar que possam surgir respostas como “função de vendedor”, ou “minha função é estudar”. Esperamos, com este texto, deixar claro que não se trata de uma profissão ou alguma outra coisa fora da Matemática. Também decidimos não colocar expressões como “escreva um texto”, “escreva com suas palavras”, ou algo similar, porque temos como objetivo não influenciar o aluno a pensar que só aceitaremos este tipo de resposta e acabe deixando de colocar outra coisa que tenha em sua memória, como por exemplo se pensar que função é um gráfico e desenhá-lo, ou 65 ainda que é uma fórmula e escreva uma expressão algébrica. Queremos que o sujeito não se deixe levar pelo texto da questão para dar sua resposta, e que esta resposta seja fruto exclusivamente do seu pensamento. A resposta que gostaríamos de encontrar em cada protocolo está relacionada com coisas importantes neste contexto, como relação entre duas grandezas, dependência entre duas grandezas, proporcionalidade direta ou inversa, além, é claro, da definição de função, que poderá ser aquela fornecida pelo livro didático, assim colocada: sejam A e B dois conjuntos não vazios e f uma relação de A em B. Essa relação é uma função de A em B quando a cada elemento x do conjunto A está associado um e apenas um elemento y do conjunto B (GIOVANNI; BONJORNO, 2005, p. 112). Também fazem parte de nossa expectativa respostas que estejam associadas a propriedades importantes das funções, como crescimento, decrescimento, máximos, mínimos, ou ainda que estejam relacionadas a exemplos ou aplicações. Um aluno que use como exemplo o da tarifa de táxi (SÃO PAULO, 2009b p.18) e mostre que a tarifa é a soma de uma parte fixa com outra variável, diretamente proporcional à distância percorrida, mesmo que utilize outras palavras, estará fornecendo informações importantes de sua definição de conceito. Citamos, no parágrafo 1.1, página 12, o resultado de uma atividade em sala de aula de 3a série do Ensino Médio, que realizamos em agosto de 2008 (ver p. 15), na qual para a pergunta “o que é função?” apareceu como resposta “é uma equação” para 68% dos alunos participantes. Naquela aula, não especificamos o termo “em Matemática”, porque estávamos em uma aula de Matemática, na qual discutíamos algumas dificuldades de alunos do Ensino Superior em disciplinas de conteúdo matemático. Naquela época, várias dúvidas que se relacionavam com a quantidade de erros nos ocorreram, mas repensando nos dias atuais, conjecturamos: “será que os alunos pensam que função e equação admitem um mesmo tipo de tratamento para os dois casos?”. Sabemos que não apresentam características fundamentais semelhantes, portanto, o modo de pensar em cada uma delas é diferente. Em função estamos interessados na relação entre as 66 grandezas, na questão de como uma depende da outra, isto é, como a variação destas grandezas estão relacionadas entre si. Em equação, em geral, buscamos a solução que normalmente chamamos de raiz, executando algumas manipulações com a incógnita para calcular seu valor. Novamente consideramos oportuno dizer que existem equações que representam uma função, como x+y=4, uma das questões que colocamos em nosso instrumento diagnóstico, mas a resposta destes alunos naquela atividade pode significar que eles estivessem pensando em termos de incógnitas e não em variáveis. Como não investigamos, naquela época, com este tipo de enfoque, nosso comentário está se referindo então à nossa experiência em sala de aula. Nos protocolos, podem surgir também algumas representações que os sujeitos internalizaram ao estudar função. Podem surgir algumas expressões algébricas, evidenciando uma definição de conceito com características do mundo simbólico e que o aluno poderia estar pensando que se não existir uma fórmula não é função. Podem surgir tabelas e gráficos, que mostram características do mundo corporificado ou textos, apresentando ideias que se relacionem com o conceito de função, como relação ou dependência, que têm características que podem estar associadas ao mundo formal, dependendo das palavras que forem utilizadas. Análise didática de questão 2. 2) Para consertar um refrigerador, uma oficina cobra uma taxa fixa de R$20,00 pela visita e R$ 15,00 por hora trabalhada. Qual o valor pago por um conserto se o técnico trabalhou 3,25 horas? (Deixe anotados seus cálculos, seus rascunhos e seu raciocínio). O objetivo desta questão é identificar algumas características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) que estão presentes na imagem de conceito (TALL; VINNER, 1981) do aluno, ao resolver uma situação deste tipo. 67 Uma questão assim é importante, porque pode fornecer oportunidade ao aluno de ler um texto e resolver com características do mundo corporificado, do mundo simbólico, ou ainda do mundo formal. A maneira como o sujeito apresenta a resposta pode trazer à tona aspectos que ficaram registrados em seu pensamento ao estudar função na série anterior, e mostrar como ele “percorre” os Três Mundos da Matemática (vide Figura 1, página 54). Ao elaborar esta questão, pensamos em apresentar uma situação prática, com elementos próximos ao cotidiano do estudante, mas evitando que todos os valores envolvidos fossem números inteiros, daí a decisão de utilizar o tempo representado no formato decimal. Este fato pode permitir o surgimento de jáencontrado relacionado à transformação das unidades. Também optamos em apresentar um texto, porque é uma forma familiar ao aluno e pode favorecer seu entendimento, ampliando as possibilidades de respostas e, talvez, diminuindo a quantidade de respostas em branco nos protocolos. Esperamos encontrar nos protocolos respostas que mostrem a expressão algébrica y = ax +b, seguida da expressão numérica obtida a partir dela, que poderia ser: Valor pago em R$ = R$ 15,00/h x 3,25 h + R$ 20,00; e finalizada com a sequência dos cálculos feita corretamente. A característica do mundo formal presente neste tipo de resposta é o aluno perceber pelo texto tratar-se de uma função polinomial do 1o grau, escrever a forma algébrica básica desta função (mundo simbólico) e em seguida escrever a expressão numérica e resolvê-la (neste caso também é mundo simbólico). Gostaríamos de uma resposta apresentada desta maneira porque mostraria que o estudante sabe percorrer diferentes caminhos entre os Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) para resolver esta situação, e porque apresenta um já-encontrado importante do mundo formal que é o de saber tratar-se de uma situação envolvendo função polinomial do 1o grau. Um sujeito que efetue cálculos aritméticos, iniciando com a multiplicação do valor unitário da hora trabalhada pelo tempo gasto (no formato decimal) e posteriormente somando este resultado ao valor fixo, estará apresentando imagem de conceito com características do mundo simbólico. Segundo o referencial teórico que adotamos, trabalhar com números decimais é uma característica do mundo 68 simbólico. Possível já-encontrado referente a este tipo de resposta estaria relacionado com a ordem em que as operações devam ser realizadas. Um sujeito que escreva a expressão numérica e em seguida efetue os cálculos, apresenta em sua imagem de conceito características do mundo simbólico porque o uso de números no formato decimal se refere a este mundo. Um aluno que construa uma tabela ou teste valores diferentes de tempo para localizar o valor a pagar mas que para isso use números no formato decimal estará apresentando características da intersecção entre o mundo corporificado e o mundo simbólico. Caso faça uso de números naturais, a característica predominante é de mundo corporificado. Um possível já-encontrado estaria relacionado à maneira de transformar unidades de tempo. Análise didática da questão 3. 3) Observe os gráficos A e B abaixo: A 69 B 4 y 3 2 1 x 0 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 -1 -2 -3 -4 Das relações apresentadas nos gráficos A e B: I – é função apenas aquela que aparece em A. II – é função apenas aquela que aparece em B. III – são funções aquelas que aparecem em A e também em B. IV – não são funções nem A e nem B. Justifique suas respostas. O objetivo desta questão é investigar, em casos conhecidos, como o aluno decide que os gráficos sejam ou não de uma função, quais seriam os possíveis elementos da imagem de conceito do sujeito presentes na sua justificativa de resposta e quais características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) podem surgir nos protocolos. Uma questão assim apresentada é importante, porque oferece a possibilidade de surgir já-encontrado que esteja presente no raciocínio dos alunos. Eles muito provavelmente sabem que se tratam de dois gráficos de função, porque já os encontraram no ano letivo anterior, na forma de reta e parábola, muito embora, neste caso, não esteja explícito que o gráfico B é de uma parábola, o que reforçaria a idéia do já-encontrado. De qualquer forma, os já-encontrados que podem surgir, 70 nas justificativas solicitadas, são importantes para tentar identificar características dos Três Mundos da Matemática que estão presentes no raciocínio dos alunos. Os elementos que surgirem nas respostas serão avaliados em relação ao quadro teórico que escolhemos. Gostaríamos de encontrar nos protocolos, além das respostas que os dois gráficos são gráficos de funções, justificativas como: uma reta que não seja paralela ao eixo y representa o gráfico de uma função; uma parábola com a concavidade voltada para cima é um gráfico de função do 2o grau; afirmações referentes aos coeficientes angular e linear da função polinomial do 1 o grau; afirmações referentes ao ponto de mínimo da função quadrática apresentada. Estas afirmações também poderiam ser acompanhadas pelas formas algébricas da função afim e da função quadrática e associadas aos respectivos gráficos, este outro já-encontrado importante. São diversas as possibilidades de resposta a esta questão. Um sujeito que afirme ser uma reta e portanto um gráfico de função, sugere um já-encontrado relacionado com a função polinomial do 1o grau, mas cuja resposta apresenta, como margem de interpretação, que todas as retas seriam gráficos de função, caracterizando um já-encontrado, presente na imagem de conceito, que pode ajudar ou atrapalhar o estudo atual. Alguns comentários sobre isso aparecem no parágrafo 3.2, na página 47. A mesma afirmação, acompanhada da forma algébrica y=ax+b, mostraria um já-encontrado com características do mundo simbólico, com interligação com o mundo formal, porque o sujeito sabe tratar-se de função polinomial do 1o grau. Se um aluno responder que o gráfico A ou o B (ou ambos) são gráficos de função, apresentando ou não a forma algébrica, mas afirmando que se trata de função porque traçando paralelas ao eixo vertical a intersecção com o gráfico ocorre em um único ponto, mesmo que não utilize estas palavras, estará apresentando um já-encontrado que pode se referir tanto ao mundo corporificado (porque poderia tratar-se de um procedimento memorizado), ou mundo formal (porque percebe o aspecto da definição que se refere a uma única imagem observada no gráfico). Para caracterizar de modo mais apropriado uma resposta com este teor seria necessário avaliar a resposta desta questão em relação a outras. 71 No caso do gráfico B, se a justificativa for que se trata de uma parábola, ou que representa um gráfico da função quadrática ou do 2 o grau, podemos caracterizar aí um já-encontrado importante, que pode também prejudicar ou ajudar a aprendizagem atual. Na questão não está explícito que se trata de uma função quadrática ou que se trata de uma parábola, nem que se trata de uma função. A resposta do sujeito poderia estar baseada em verificações efetuadas sobre os pares ordenados que representam os pontos do gráfico, a aí o já-encontrado ajuda, mas também poderia estar baseado em imagens mentais, e neste caso poderia atrapalhar porque o sujeito pode pensar que gráfico de função é uma só linha sobre o plano cartesiano, prejudicando o aprendizado, por exemplo, do gráfico da função recíproca. Esta questão pode mostrar também se o aluno pensa ser um dos gráficos de função e o outro não. Neste caso, se a justificativa encontrada no protocolo for que reta é um gráfico de função e o gráfico B não, trata-se de um já-encontrado importante, indicando que o sujeito ou não teve contato com as funções quadráticas ou não as aceitou como função. Neste caso, o aluno tem, na sua imagem de conceito, um já-encontrado que pode trazer problemas tanto de aprendizagem quanto em sua atuação no mundo do trabalho. Este sujeito pode não perceber que vários tipos de crescimento, como o proporcional ao quadrado ou ainda o crescimento exponencial, entre outros, são funções, podendo acarretar vários inconvenientes. Poderíamos afirmar o mesmo se ele justificar que o gráfico B é uma função enquanto o gráfico A não. Análise didática da questão 4. 4) Escolha um dos dois gráficos apresentados no exercício 3 acima e construa uma fórmula (forma algébrica) para representá-lo. (Deixe anotados os seus cálculos, raciocínios, rascunhos). O objetivo desta questão é identificar se os alunos sabem observar uma situação apresentada com características do mundo corporificado, neste caso dois gráficos, e apresentar resposta e justificativa no mundo simbólico. 72 É importante que o aluno que inicia a 2 a série do Ensino Médio saiba qual a forma algébrica associada a diversos gráficos, principalmente os que formam parte de um conteúdo bastante trabalhado na série anterior e que vão servir de base para sua sequência de aprendizado do conceito de função, quando vai se deparar com situações relacionadas a outros tipos de função, por exemplo as trigonométricas. Por este motivo, julgamos ser importante colocar esta questão no questionário. Gostaríamos de encontrar, nos protocolos, com referência ao gráfico A, a expressão y = ax + b acompanhada de uma justificativa do tipo “trata-se de uma função polinomial do 1o grau porque a reta apresenta ângulo diferente de 90 0 em relação ao eixo das abscissas”. Esta é uma resposta com características do mundo formal, porque o sujeito sabe que expressões algébricas deste tipo são da forma y = ax + b e apresenta um já-encontrado importante, de que a reta que não seja paralela ao eixo vertical é um gráfico de função, que apresenta coeficiente angular, afirmação que provavelmente estaria implícita numa afirmação assim porque o ângulo de inclinação, relativo ao eixo horizontal, é citado. Uma resposta assim é a que gostaríamos que alunos que estudaram função na 1a série do Ensino Médio apresentassem quando fossem questionados, mostrando que sabem percorrer cognitivamente os Três Mundos da Matemática, usando já-encontrados dos mundos corporificado, simbólico e formal. Se a resposta do sujeito for relativa ao gráfico B, gostaríamos de encontrar justificativas semelhantes, acrescidas de já-encontrados importantes relacionados a este gráfico, que seriam tratar-se de uma parábola com a concavidade para cima, que a expressão algébrica deste gráfico é do tipo y = ax2 + bx + c, que neste gráfico aparece um ponto de mínimo. Se o sujeito calcular os valores dos parâmetros a e b do gráfico A ou a, b e c do gráfico B e apresentar as expressões algébricas correspondentes, poderemos entender que ele já tem características dos mundos formal e simbólico. Existem diversas possíveis respostas a esta questão. Um sujeito que escolha apresentar resposta com justificativa referente ao gráfico A, pode afirmar que tratase de uma expressão algébrica do tipo y = ax + b. Esta é uma afirmação com características do mundo simbólico e do mundo formal, mas que não apresenta todos já-encontrados que gostaríamos que os alunos tivessem em seu raciocínio. Se ele acrescentar que o tipo da expressão é este porque o gráfico A é uma reta, sua 73 imagem de conceito apresenta já-encontrado importante, apesar que este sujeito poderia confundir uma reta paralela ao eixo y com uma função, caracterizando um problema para seus futuros estudos. Um sujeito que opte por responder e justificar o gráfico B poderia dizer que é uma função do tipo y = ax2 + bx + c porque é uma parábola. Como não escrevemos esta informação na questão, qualquer justificativa apresentada pelo aluno representaria suas ideias. Análise didática da questão 5. 5) Paulo precisa consertar seu aparelho de som. A oficina X cobra uma taxa fixa de R$ 30,00 mais R$ 4,00 por hora trabalhada, enquanto que a oficina Y cobra a taxa fixa de R$ 10,00 mais R$ 8,00 por hora trabalhada. (a) Em que condições é melhor utilizar a oficina X? Justifique e deixe suas contas, rascunhos e seu raciocínio. (b) Em que condições é melhor utilizar a oficina Y? Justifique e deixe suas contas, rascunhos e seu raciocínio. (c) Em que condições os preços cobrados pelas oficinas X e Y são iguais? Justifique e deixe suas contas, rascunhos e raciocínio. O objetivo desta questão é investigar se os alunos sabem construir as duas expressões algébricas, igualá-las para encontrar uma equação, manipular esta equação de tal modo que permita calcular o tempo (em horas) em que os dois orçamentos apresentem o mesmo valor, e a partir daí responder as três perguntas. Trata-se de uma questão importante, porque apresenta um texto com características do mundo corporificado (porque utiliza somente números naturais), que pode desencadear diversas maneiras de solução com características de cada um dos Três Mundos da Matemática e tem potencial para surgimento de diversos jáencontrados e características diferentes, em relação ao quadro teórico. Este é o motivo pelo qual colocamos esta questão. 74 Optamos por apresentar a situação em forma de texto, para investigar como o aluno o interpreta, na busca pelos valores que interessam e como os substitui, nas diversas maneiras possíveis de responder a questão e que são as que nos interessam. Optamos também em projetar expressões que resultem em valores de tempo expressos em números naturais porque não havia interesse aqui em reavaliar um já-encontrado relacionado à transformação de unidades de tempo, que já testamos no procedimento da questão 2. Gostaríamos de encontrar, nos protocolos, uma sequência de expressões, começando pela expressão básica para início da resposta, em que o aluno poderia escrever Preço X = Preço Y. Em seguida poderia escrever X = 4,00t + 30,00 para a oficina X, e Y = 8,00t + 10,00 para a oficina Y, igualando-as posteriormente, assim: 4,00t + 30,00 = 8,00t + 10,00. Mesmo que um sujeito pule algumas destas passagens, com exceção da última, apresentará já-encontrados importantes, com características do mundo formal. Ele percebe tratar-se de duas funções polinomiais do 1o grau, cuja forma algébrica é do tipo y = ax + b, sabe substituir os valores apresentados na situação proposta e sabe que tem que igualar as duas expressões para calcular o tempo. Se manipular corretamente a equação, aparentemente sabe distinguir função de equação, porque estará apresentando tratamento diferenciado para as duas expressões. Se a manipulação for correta, apresentará já-encontrados com relação tanto à manipulação de equações quanto à sequência de resolução de expressões numéricas. É conhecendo estes procedimentos que gostaríamos que os alunos da 1a série do Ensino Médio iniciassem a série seguinte. Conforme afirmamos, o potencial de possibilidade de surgimento de respostas para esta questão é grande. Um aluno que faça construção de tabelas para cada uma das expressões até encontrar valores iguais para os orçamentos, sugere que na sua imagem de conceito estão presentes características do mundo corporificado, porque estará utilizando somente já-encontrados relacionados à sequência de operações aritméticas e construção de tabelas usando números naturais. Um aluno que apresente as expressões algébricas relacionadas à função afim tem, na sua imagem de conceito, características da interligação entre o mundo simbólico e o formal, porque percebe tratar-se de um problema que relaciona 75 grandezas diretamente proporcionais. Se um sujeito escrever as duas expressões algébricas apropriadas, substituir seus valores, mas for testando cada valor de tempo em cada uma delas, apresenta, na imagem de conceito, interligação entre os mundos corporificado e simbólico. Análise didática da questão 6. 6) Diante de um problema de Matemática que envolva função, qual a primeira idéia que você tem para resolvê-lo? O objetivo desta questão é identificar algumas das idéias que permeiam a imagem de conceito de função, que poderiam ser as primeiras a emergir diante do questionamento. Com isto, observar as características desta imagem de conceito em relação aos Três Mundos da Matemática. Optamos por apresentar a questão em forma de texto sem pedir uma resposta escrita. Desejamos que o aluno, mais uma vez, não se deixe levar pela pergunta e se sinta à vontade para colocar na sua resposta aquilo que realmente vier do seu raciocínio, imediatamente após a leitura da questão. Também consideramos importante que esta questão esteja no instrumento diagnóstico, porque pode oferecer uma ampla possibilidade de respostas, que podem trazer importantes já-encontrados presentes no pensamento do indivíduo. Estes já-encontrados podem fornecer importantes subsídios para avaliar a imagem de conceito de um aluno que acabou de aprender função na série anterior. Gostaríamos de encontrar, nos protocolos, respostas que se aproximem do mundo formal. Um aluno que resolva um problema de função buscando na memória a definição formal deste conceito, avaliando as grandezas envolvidas e em seguida identificando qual relação existe entre elas, está apresentando uma resposta muito próxima da que desejamos encontrar. Se ele complementar dizendo que busca qual das grandezas é obtida a partir da outra, estará aperfeiçoando sua resposta com dados referentes ao domínio, à imagem e talvez até à lei de formação. 76 Existem muitas outras respostas possíveis. Se um aluno diz que tenta construir um gráfico, está apresentando características do mundo corporificado. Se afirmar ainda que um gráfico pode ajudá-lo a identificar uma fórmula, está apresentando indícios de imagem de conceito do mundo simbólico. Este mesmo aluno poderia apresentar exemplo de um gráfico linear e afirmar que se trata de uma função polinomial do 1o grau e, neste caso, apresenta já-encontrado que poderia ser importante referente à percepção do tipo de gráfico desta função mas que ao mesmo tempo poderia atrapalhar, influenciando seu pensamento a considerar toda linha reta como gráfico de uma função ou ainda que somente linhas retas representam gráficos de função. Análise didática da questão 7. 7) Avalie as expressões abaixo e, para cada uma delas, identifique se representa uma dependência de "y em função de x". Justifique suas respostas. b) y = x2 + 2 a) x + y = 4 c) x = y2 d) g(x) = x2 + 2 e) 3x - 4 = y O objetivo desta questão é identificar características da imagem de conceito do aluno ao trabalhar com expressões algébricas variadas, e identificar características de suas respostas em relação aos Três Mundos da Matemática. Este tipo de questão é importante em um instrumento diagnóstico, porque permite que o aluno apresente justificativas para vários tipos diferentes de dependência de y em relação a x. Para responder cada um dos itens da questão, o aluno precisa ler o texto, identificar a expressão, analisar a dependência apresentada e decidir se y depende ou não de x. O texto traz características do mundo simbólico porque traz expressões algébricas, pede pensamento com características do mundo formal porque exige pensar na relação apresentada e decidir se é ou não função. São várias características importantes colocadas em uma mesma questão, e que gostaríamos que os alunos as apresentassem, ao 77 iniciarem a 2a série do Ensino Médio, mostrando mobilidade ao pensar no conceito e nesta representação de função em relação aos Três Mundos da Matemática. Ao elaborar a questão, optamos por apresentar expressões colocadas de diversas maneiras, para exigir do aluno algumas manipulações e tratamentos. No item a, colocamos a expressão x + y = 4, que permitirá ao aluno perceber a dependência se isolar o y, para chegar a y=4-x, ou se simplesmente perceber que “para cada valor de x, existe um único valor que somado a ele que dê 4”. A afirmação que gostaríamos de encontrar neste item é que nele está apresentada uma função em que y depende de x. No item b, com a expressão y = x2 + 2, esperamos encontrar a afirmação que se trata de uma dependência de y em função de x, mesmo sem necessitar de manipulações e ainda que afirme tratar-se de uma função quadrática ou do 2o grau. No item c, a expressão colocada foi x = y2. Esperamos encontrar neste item a afirmação de que a dependência apresentada não é de y em função de x, mas sim de x em função de y. No item d, a expressão utiliza a notação g(x) e esperamos que o aluno afirma tratar-se da mesma dependência, porque g(x) é o mesmo que y e afirme tratar-se de função. No item e, resolvemos trocar as variáveis de posição, com o x aparecendo no primeiro termo e o y no segundo. Esperamos encontrar neste item a afirmação de que esta troca de posição não afeta a relação de dependência de y em função de x e afirme tratar-se de função. Análise didática da questão 8. 8) Avalie os gráficos abaixo e, para cada um deles, identifique se representa uma dependência de "y em função de x"? Justifique suas respostas. 78 a) b) 79 c) d) O objetivo desta questão é identificar características da imagem de conceito de alunos ao trabalharem com gráficos de função e que não representam função. Gráficos são representações com características do mundo corporificado, que podem necessitar de características do mundo formal para sua análise. Com 80 esta questão, desejamos identificar a maneira como o indivíduo decide suas respostas e dá suas justificativas. O próprio objetivo desta questão já deixa clara a sua importância, que é verificar se o aluno apresenta mobilidade em relação aos Três Mundos da Matemática, ao utilizar representações corporificadas de função e ao efetuar suas análises, quase certamente com características do mundo formal. Além disso, uma questão envolvendo gráficos é importante, porque este tipo de representação provavelmente aparecerá em muitas situações que o sujeito terá oportunidade de presenciar, não só dentro da escola como também na vida prática. Por estes motivos, optamos por colocar esta questão no instrumento diagnóstico. Gostaríamos de encontrar, nos protocolos, afirmações coesas em relação ao conceito de função, relacionadas com a ideia de que a cada valor de x corresponde um e somente um valor de y. Esta afirmação poderia inclusive vir apresentada com outras palavras que não as de uso da Matemática, entretanto, a resposta deve indicar que o aluno sabe discriminar, observando os gráficos, aqueles que representam uma função daqueles que não. Quando elaboramos a frase inicial da questão, procuramos escrever um texto que deixasse o aluno livre para escolher qual gráfico apresenta ou não dependência de y em função de x. Acreditamos que o texto proposto pode alcançar tal expectativa porque trata-se de uma pergunta direta, permitindo ao aluno escolher entre qual sim e qual não representa uma função. Também tentamos sugerir que esta questão não se caracteriza como de resposta única. Com relação aos gráficos, escolhemos quatro tipos, dois que não são gráficos de função (itens a e b da questão) e dois gráficos de função (itens c e d da questão). No item a, desenhamos a circunferência cuja equação é x2 + y2 = 2. Neste item, gostaríamos de encontrar a afirmação de que não representa uma dependência de y em função de x porque a alguns dos valores de x correspondem dois valores de y, contrariando a definição de função. Tal afirmação poderia ser complementada com o traçado de uma reta paralela ao eixo y no intervalo -√2<x<√2. Esta seria uma resposta que apresenta características do mundo formal, uma vez que contém elementos da definição de função que o aluno estudou na 1 a série (SÃO 81 PAULO, 2009, p.3) e que aparece no Caderno do Aluno que os alunos das escolas estaduais receberam para estudar. Existem diversas possíveis respostas para este item. Um aluno poderia afirmar que não é função porque o gráfico é um círculo ou circunferência, afirmação correta mas acompanhada de uma justificativa que não está fundamentada na definição de função. Neste caso, os já-encontrados presentes na imagem de conceito de função do aluno podem levar a dificuldades futuras, tanto de aprendizado quanto em sua vida prática. Um outro aluno poderia dizer que existe sim a dependência de y em função de x porque para determinados valores de x no eixo horizontal existe pelo menos um valor correspondente a y no eixo vertical. Uma possível justificativa para esta afirmação poderia vir da maneira como os alunos aprenderam a construir gráficos na 1ª série do Ensino Médio, que foi traçando paralelas ao eixo horizontal passando por um ponto y, paralelas ao eixo vertical passando por um ponto x, anotando um ponto na intersecção entre as paralelas. Através deste procedimento o aluno poderia afirmar a existência de correspondência de dois valores de y para um valor de x, considerando isto uma dependência. Este também um já-encontrado presente na imagem de conceito do indivíduo que poderia acarretar dificuldades futuras, no que se refere à continuidade dos estudos de função. No item b, desenhamos o gráfico da expressão x = y2. Neste item, gostaríamos de encontrar a resposta de que não se trata de uma dependência de y em função de x, mas de x em função de y, com uma justificativa que poderia vir explicada pelo traçado de retas paralelas aos eixos. Se a reta for paralela ao eixo y, o aluno notará que para x>0 existem duas intersecções, caracterizando não tratar-se de uma função. Se a reta for paralela ao eixo x, o aluno notará que, para x>0, esta só intersecta o gráfico uma vez. Neste item também podem ocorrer diversas respostas. Um aluno que apresente em sua imagem de conceito características que se refiram exclusivamente à função quadrática, que tenha internalizado que o gráfico é uma parábola, poderia identificar o gráfico b desta maneira, mesmo não estando escrito na questão e poderia afirmar que é função. Este já-encontrado, com características do mundo corporificado, aplicado neste item, sugere uma imagem de conceito 82 restrita. Talvez o aluno tenha guardado somente imagens mentais de retas e parábolas por terem sido mais trabalhadas ou porque não aceita outros tipos de gráficos como gráficos de função. No item c, desenhamos um gráfico de função que provavelmente não faz parte das funções que foram trabalhadas com mais frequência na 1 a série do Ensino Médio. Neste item, gostaríamos que o aluno respondesse que existe dependência de y em função de x, justificando que a cada valor de x corresponde um único valor de y, apoiado pelo uso de paralelas ao eixo y. É de se supor que se o aluno atentar para a definição da função, ele poderia responder e justificar este item independentemente de ter ou não trabalhado este gráfico na série anterior. Entre as possíveis respostas, um aluno poderia afirmar que não se trata de função porque não é uma reta nem uma parábola. Uma resposta assim sugere uma imagem de conceito do aluno com características do mundo corporificado, mas incompleta em relação à que gostaríamos que os alunos apresentassem nestas condições. No item d, construímos um gráfico de função que provavelmente também não foi trabalhado com forte ênfase na 1a série do Ensino Médio. Gostaríamos que o aluno utilizasse o mesmo procedimento que citamos na análise do item c, utilizando a definição de função para decidir e para justificar a afirmação de que se trata de um gráfico de função, porque traçando paralelas ao eixo y, estas intersectam o gráfico uma única vez. Um aluno que respondesse não ser função porque o gráfico não é uma linha contínua, indica a presença de um já-encontrado característico do mundo corporificado, que pode trazer sérias dificuldades na continuação dos seus estudos de função. Com uma resposta assim, o aluno sugere que no seu pensamento está presente um já-encontrado que faz com que pense que só é função se for uma linha contínua. Análise didática da questão 9. 83 9) Observe as representações A e B: A) -1 -3 ½ 0 2 3 • B) x 2 • • y -1 -3 ½ 0 2 3 3 Qual dos gráficos cartesianos abaixo melhor apresenta os dados das representações A e B que você observou acima? Justifique sua escolha. 84 a) b) 85 c) d) O objetivo desta questão é verificar como o aluno utiliza um enunciado com características do mundo corporificado na escolha de um gráfico que seja apropriado e que represente e justifique seu entendimento e sua escolha. Consideramos este enunciado referente ao mundo corporificado porque apresenta imagens visuais de gráficos, que são elementos com características deste referido mundo. É importante que esta questão esteja no instrumento diagnóstico, porque estão apresentadas possibilidades de representações com as quais o sujeito poderá deparar-se no futuro, tanto no prosseguimento dos estudos quanto fora da escola. A 86 escolha e a justificativa poderão apresentar, nas respostas do aluno, já-encontrados referentes aos Três Mundos da Matemática. Ao elaborarmos a questão, procuramos trazer duas representações de funções familiares aos alunos, o diagrama de Venn e a tabela de valores. Destas representações, a tabela está amplamente contemplada tanto no conteúdo da Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008) quanto no do livro didático da 1a série do Ensino Médio adotado pela escola (GIOVANNI; BONJORNO, 2005). Optamos por acrescentar o diagrama de Venn para testar a reação do aluno, pois tanto na Proposta Curricular quanto no livro esta representação não foi enfatizada. Desejamos saber se ele percebe que se trata de uma maneira diferente de representar a mesma situação. Procuramos também apresentar escalas nos gráficos para que o aluno possa utilizá-las, se julgar conveniente. Gostaríamos de encontrar nos protocolos a afirmação de que os dados apresentados no diagrama A e na tabela B são os mesmos e que, com exceção do gráfico c, os gráficos a, b e d podem representar os dados constantes tanto na tabela quanto no diagrama. Gostaríamos que o aluno afirmasse que na questão não está claro tratar-se de uma função de x em y e por este motivo o gráfico a (mostrando os pontos que representam os pares ordenados citados), o gráfico b (mostrando uma função linear que passa pelos pontos que representam os pares ordenados) e o gráfico d (mostrando outra função, esta não linear, que passa pelos pontos definidos pelos pares ordenados) representam os dados apresentados. Uma resposta assim sugere já-encontrados com características do mundo formal, porque o aluno estaria escolhendo três possíveis gráficos em que aparecem os pontos definidos pelos três pares ordenados apresentados. Uma afirmação assim sugere que ele não se deixa levar somente pela apresentação linear e pode ter percebido que por três pontos dados podem passar infinitos gráficos. Entre as diversas possibilidades de respostas para esta questão, podemos citar que se um aluno escolher o gráfico do item a, a avaliação de sua resposta vai depender de sua justificativa. O aluno pode ter percebido que existem várias funções que satisfazem os dados (respostas a, b ou d) ou avaliar que só podemos ter certeza dos três pontos definidos pelos pares ordenados dados (resposta a). É 87 possível que ele diga que pelos três pontos passam infinitos gráficos, mas pensamos que esta resposta provavelmente não aparecerá porque outra pesquisa com a mesma faixa etária (15 a 17 anos) assim o concluiu (Markovits, Eylon, Bruckheimer, 1995 apud COSTA, 2004, p. 88). Outra possível resposta assinalando o item a poderia vir acompanhada da seguinte justificativa: “somente os três pontos porque é o único tipo de gráfico que conheço”. Este já-encontrado pode trazer sérios problemas ao indivíduo tanto no prosseguimento dos estudos quanto fora da escola, talvez porque ele não aceite ou não aprendeu a construção de gráficos de variadas funções. Se um aluno afirmar que escolhe o gráfico b porque se trata de uma função do 1o grau, estará apresentando um já-encontrado que se refere ao mundo corporificado, importante, porque associou a função polinomial do 1 o grau a um gráfico linear, mas que pode conduzir a falhas no futuro, porque não permitiu que ele percebesse que os três pontos também pertencem à função desenhada no gráfico d. A justificativa apresentada pode ser decisiva na interpretação da resposta do aluno. Se um aluno afirmar que escolhe o gráfico d alegando que poderia ser uma função qualquer e, portanto, um gráfico qualquer, poderíamos supor que ele apresenta já-encontrados importantes, com características do mundo formal, que permitem que ele escolha gráficos de acordo com os pontos apresentados e não conforme sua forma (linear ou parabólico). Uma resposta assim também apresentaria elementos interessantes que gostaríamos que estivessem presentes no raciocínio dos alunos que iniciam a 2a série do Ensino Médio. Análise didática da questão 10. 10) O professor de Matemática apresentou aos alunos a seguinte tabela. x y 1 1 2 ½ -1 -1 88 E pediu aos alunos que fizessem um gráfico que satisfizesse os pontos dados. Três alunos apresentaram as seguintes respostas. a) b) c) 89 Qual dos três colegas fez o gráfico corretamente? Explique sua resposta, dizendo porque escolheu ou deixou de escolher um ou mais dos gráficos. O objetivo desta questão é avaliar elementos da imagem de conceito do aluno ao responder e justificar escolhas relativas a dados apresentados em uma tabela, que deve ser associada a um ou mais gráficos. Tentamos no pedido de justificativa sugerir ao aluno que ele deveria dar respostas a cada um dos gráficos, dizendo porque o escolheu ou deixou de escolher. Esta questão apresenta duas representações características do mundo corporificado (tabela de valores e gráficos cartesianos) e pede que o aluno faça associações entre elas. Trata-se de uma questão importante, já que associar tabelas e gráficos, entre outras representações, é uma situação que deve ser incentivada. Segundo o Caderno do Professor da Proposta Curricular do Estado de São Paulo, devem ser “enfatizadas as diferentes representações (língua materna, gráfica, tabela e algébrica) dessas funções, assim como as conversões entre essas e propriedades como crescimento e decrescimento” (SÃO PAULO, 2009b, p. 11). Outra pesquisa que está inteiramente relacionada ao assunto de associação entre as diversas representações, incluindo gráficos e tabelas, é a pesquisa de Flores e Moretti (2006), que também creditam a importância de conhecer estas representações e saber associá-las umas às outras. Como temos interesse em avaliar como o aluno faz estas associações, resolvemos incluí-la no nosso instrumento diagnóstico. Ao elaborar a tabela e os gráficos, procuramos oferecer ao aluno dados suficientes para que ele avalie cada gráfico e a conveniência de associá-lo à tabela apresentada. Gostaríamos de encontrar, nos protocolos, escolhas e justificativas embasadas na construção de gráficos a partir de tabelas, com as quais o aluno muito provavelmente teve contato na 1a série. 90 Entre as diversas possíveis respostas a esta questão, um aluno poderia dizer que nenhum dos três alunos fez o gráfico corretamente, porque não está escrito no enunciado de que função o professor estava falando, uma vez que a tabela só tem três pontos, definidos pelos pares ordenados citados. Uma resposta assim apresenta elementos referentes à construção de gráficos, como os pares ordenados que definem pontos no plano cartesiano, que se caracteriza por uma imagem de conceito do mundo corporificado. Neste caso, o aluno utilizou dados e resolveu a situação no mundo corporificado, e, apesar de não escolher nenhum gráfico, sua resposta sugere que ele sabe como fazê-lo. Um aluno que escolhesse o gráfico do item c, afirmando que se trata de uma parábola, estaria apresentando, na sua imagem de conceito, características do mundo formal, porque sabe que existe um gráfico cuja forma é uma parábola, mas que apresenta um já-encontrado que pode afetar seu aprendizado futuro, porque sugere que ele pensa que para ser um gráfico correto deve ser uma parábola. 4.3. A aplicação das questões Conforme explicamos no parágrafo 4.1 deste capítulo, à página 62, apresentamos nosso convite a uma sala de 2 a série de Ensino Médio da Cidade de São Paulo. Numa primeira etapa, conversamos com a professora de Matemática das salas de 2a série do Ensino Médio, perguntando sobre a possibilidade de utilizarmos entre duas a quatro aulas de uma das salas para aplicação de uma pesquisa. Não comunicamos o conteúdo que seria apresentado aos alunos e esclarecemos que, se toda uma sala optasse em participar, seria na própria sala de aula e aí provavelmente precisaríamos da sua ajuda para acompanhar, mas que caso a participação fosse parcial, talvez fosse necessário incluir o uso da biblioteca da escola. Como este ambiente não tem o número de cadeiras de uma sala de aula, que naquela escola tem cerca de 45 alunos, ficou estimado que o grupo maior ficaria na sala de aula e o menor na biblioteca, e a professora, neste caso, ficaria com os alunos não participantes e nós ficaríamos com aqueles que participassem da pesquisa. Neste momento foi escolhida a sala onde apresentaríamos o convite, que segundo a professora, é muito participativa. 91 A próxima etapa foi obter autorização da diretora da escola, o que transcorreu de maneira cordial, tendo a diretora colocado toda escola à nossa disposição, solicitando somente a divulgação dos resultados globais da investigação para os pais, alunos e direção. Após autorização da professora e da diretora, a próxima etapa foi conversar com os pais de alunos da sala escolhida, o que foi feito em uma reunião de pais. De posse do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, fizemos uma leitura de cada item e informamos que no dia seguinte, no horário de uma das aulas de Matemática, apresentaríamos o convite aos alunos. Aqueles que manifestassem interesse receberiam uma cópia do referido termo para que o responsável autorizasse. No dia combinado, comparecemos à sala de aula, onde estavam presentes quase todos os 45 alunos matriculados, orientamos que eles ficassem à vontade para participar ou não da pesquisa e vários deles manifestaram interesse inicial em participar. Naquele primeiro contato, não informamos qual seria o tema da Matemática que apareceria no questionário, somente informamos que se tratava de um conteúdo trabalhado em série anterior e que nosso objetivo era exclusivamente investigar como eles responderiam a algumas situações e problemas que se referissem a assuntos já estudados. Fizemos os esclarecemos que julgamos de atender ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, como: (1) objetivo da pesquisa; (2) a participação do pesquisador e da professora da sala, juntos ou separadamente dependendo da quantidade de participantes; (3) a possibilidade de gravar entrevistas; (4) a comunicação dos resultados, mesmos que parciais, até o final do ano letivo; (5) a possibilidade do aluno desistir da participação a qualquer momento; (6) a não utilização do resultado da pesquisa para influenciar as notas na escola; (7) a participação voluntária e não remunerada; (8) o sigilo em relação aos dados do aluno e da escola; (9) a divulgação dos resultados gerais em revistas, publicações especializadas, congressos; (10) a duração estimada de duas aulas; (11) a possibilidade de utilizarmos a própria sala de aula ou a biblioteca da escola, dependendo da quantidade de participantes; e (12) a autorização da professora de Matemática daquela sala, com a qual já havíamos conversado anteriormente para solicitar autorização, e que estava presente naquele momento em que conversamos com os alunos. Os itens que numeramos com (10) a (12) não fazem parte do Termo 92 de Consentimento Livre e Esclarecido, mas consideramos interessante comunicálos. Nossa conversa neste primeiro contato com os alunos levou praticamente uma aula (cerca de 50 minutos), com os alunos fazendo várias perguntas, a maioria delas para tentar saber qual o conteúdo que eles deveriam estudar e porque não passar o resultado para a professora da sala. Reforçamos que em pesquisas desta natureza, a participação é voluntária e não é associado o nome dos participantes aos resultados, e principalmente, realçamos que nossa pesquisa visa identificar qual a maneira que eles resolvem algumas situações e problemas, portanto não haveria a necessidade de indicar conteúdos para estudar antecipadamente. Dos alunos que manifestaram interesse inicial, alguns deles desistiram e o instrumento diagnóstico foi apresentado para oito alunos. No dia da atividade, os alunos que optaram em não participar ficaram na sala de aula com a professora e os oito alunos se deslocaram para a biblioteca, juntamente conosco. Antes de entregar os questionários, utilizando uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, repassamos as seguintes informações: (1) nosso objetivo é o de investigar como eles respondem a algumas situações e problemas de um conteúdo que faz parte de séries anteriores; (2) foi preciso dividir a turma em dois grupos, o maior ficando na própria sala de aula com a professora e aquele, menor, na biblioteca com o pesquisador; (3) a possibilidade de entrevistas gravadas dependendo da necessidade de esclarecer alguma resposta; (4) a comunicação dos resultados, mesmos que parciais, até o final do ano letivo; (5) que o participante poderia desistir a qualquer momento; (6) a não utilização do resultado da pesquisa para influenciar a nota em qualquer disciplina da escola; (7) a participação voluntária e não remunerada; (8) o sigilo em relação a nomes dos participantes, da escola, da professora. Aproveitamos para manifestar nosso agradecimento e dizer que eles deixassem no papel todos rascunhos, respostas, e, mesmo que tivessem dúvidas em qualquer questão, que procurassem responder com as ideias que ocorressem depois de ler a questão. A coleta de dados durou poucos instantes a menos das duas aulas, sobrando tempo somente para entregar aos participantes um texto de agradecimento pela participação, onde anotamos nosso nome, nome da UNIBAN, 93 telefones para contato e endereço eletrônico, orientando que entrassem em contato caso surgisse qualquer dúvida. De posse dos protocolos, iniciamos a respectiva análise, que aparece no próximo capítulo. 5. ANÁLISE DOS DADOS Até este momento do nosso trabalho apresentamos a importância do conceito de função em matemática, a nossa busca por literatura relativa a este conceito, o quadro teórico que elegemos e as questões que colocamos no nosso instrumento diagnóstico. Em seguida, passaremos a apresentar a análise dos dados encontrados nos protocolos após a aplicação do referido instrumento. 5.1. Introdução Pretendemos neste capítulo inserir um comentário sobre a análise das respostas que foram encontradas nos protocolos. Pretendemos verificar se os sujeitos sabem definir função, mesmo que com suas palavras, se e como utilizam as diversas representações na resolução das situações propostas, quais características surgem nas imagens de conceito individuais e talvez outras análises que os dados possam permitir. Consideramos oportuno esclarecer que no próximo parágrafo aparece nossa análise referente à resposta a cada questão e item de cada participante. Optamos por este procedimento porque, conforme pode ser observado no capítulo 3, página 44, que trata do quadro teórico, imagem de conceito e definição de conceito (TALL; VINNER, 1981) são relativas a cada indivíduo, e, portanto, consideramos que assim devam ser analisadas. Esta análise, portanto, vincula inicialmente a identificação genérica do aluno, que numeramos de A1 até A8 (Aluno 1 até Aluno 8), e traz, para cada um deles, a análise das questões de (1) até (10). Como não foi possível anexar cópia da resposta de cada aluno, efetuamos no Anexo D, página 186 a transcrição 94 destas respostas. Para descrição de algum dos procedimentos dos alunos, optamos por transcrevê-los nas próprias análises das questões, por exemplo quando algum deles assinalou algum ponto sobre um gráfico, ou tenha feito alguma marcação, etc. Outro esclarecimento que julgamos importante é que, para tentar tornar a leitura da nossa análise o mais fluente possível, não colocamos cada uma das questões da maneira como foram apresentadas aos alunos, com os vários espaços para eles anotarem respostas e cálculos que achassem necessários, já que a constante repetição (por oito vezes) de cada enunciado, cada gráfico, etc, poderia tornar a leitura menos eficiente. Caso seja necessário reler uma questão ao ler uma análise, sugerimos o anexo B, página 176, onde aparece uma apresentação “enxuta” do questionário, somente com os espaços necessários para separar cada questão. Passaremos, então, no próximo parágrafo, à nossa análise dos protocolos. 5.2. Análise dos protocolos Análise individual referente respostas do aluno A1. Questão 1) A definição de conceito do sujeito A1 que aparece na resposta é a de função como uma conexão entre duas ou mais coisas, sugerida pelo termo “junção”. Trata-se de uma característica corporificada porque o sujeito pode estar se referindo à construção de um gráfico, imaginando que o x se junta com o y, ou ainda poderia também ter pensado no diagrama de Venn, que normalmente mostra a dependência do valor de y com o valor de x pelo uso de uma flecha que talvez para ele tenha significado simplesmente uma junção. Vale ressaltar que a ideia de dependência não fica explícita pelo uso da palavra “junção”. Questão 2) A resposta final não está correta. O sujeito A1 inicialmente calculou o valor de 3 horas corretamente, em seguida somou R$ 20,00. Para calcular o valor referente à parte decimal 0,25 das horas dividiu 15 por 25 invés de 95 multiplicar, obtendo 0,60, que somou aos 65,00 para finalizar respondendo R$ 65,60. Vale ressaltar que a divisão 15 por 25 não foi feita do modo usual no papel, onde aparece 60 como quociente, invés de 0,60, mas o sujeito encontrou a resposta correta para esta conta, o que nos faz conjecturar da possibilidade de um jáencontrado deste aluno com relação à divisão onde o dividendo seja menor que o divisor. A imagem de conceito sugerida pela resposta do sujeito A1 apresenta características do mundo corporificado. Sujeito trabalha com números e operações aritméticas e apresenta dificuldade ao trabalhar com números no formato decimal. Supostamente os números que ele utilizou na divisão 15 por 25 seriam do valor da hora trabalhada (R$ 15,00) e da parte decimal do tempo de serviço (3,25 h.). Sua imagem de conceito diante de um problema em forma de texto de uma situação que está relacionada com um problema cotidiano é uma sequência de operações aritméticas. Podemos sugerir como já encontrados: separar a parte inteira da parte decimal de um mesmo número, caracterizando uma dificuldade ao trabalhar com número decimal; sabe que o orçamento é composto por uma parte fixa mais uma parte variável, calculou a parte variável parcialmente correta; sabe somar números com dois zeros após a vírgula; calculou a divisão escrevendo de uma maneira aparentemente não correta, mas colocou a resposta correta. Todos estes jáencontrados têm características do mundo corporificado. Questão 3) O sujeito A1 acertou a resposta, assinalou o item III, justificando “as duas tem um certo padrão conforme a sua conta”. As características da imagem de conceito são do mundo corporificado. Sua justificativa lembra a necessidade de efetuar cálculo porque fala de conta. No gráfico, ele traçou paralelas passando por pontos que ele escolheu em x e em y em cada um dos gráficos e depois anotou estes pontos sobre os respectivos gráficos. No gráfico A ele encontrou quatro pontos que coincidiram com a linha que representa o gráfico e apenas um não coincidiu. Já no gráfico B, três pontos ficaram sobre a linha do gráfico e um apenas próximo da linha que representa o gráfico. Na imagem de conceito de função deste sujeito aparentemente os pontos do gráfico são 96 os que têm coordenadas anotadas de modo evidente nas escalas dos eixos. As anotações sobre os gráficos talvez indiquem a busca de pares de valores para cálculos aritméticos ou para conferir as coordenadas dos pontos. Sua resposta e suas anotações sugerem já-encontrado relacionado a técnicas de localizar pontos sobre um plano cartesiano traçando paralelas e assinalando o ponto na intersecção das duas paralelas aos eixos, tratando-se de característica do mundo corporificado. Questão 4) O sujeito A1 escolheu o gráfico B e anotou os pares ordenados (y, x) em forma de tabela do tipo T. Os pares (y, x) que ele anotou foram: y x 0 0 -1 1 3 -1 3 2 Sua imagem de conceito apresenta características do mundo corporificado, como a tabela de valores numéricos usando números inteiros. Os quatro pares ordenados (y, x) (0, 0) e (-1, 1) representam pontos do gráfico B. Os outros dois pares, porém ele traçou as paralelas somente sobre valores inteiros dos eixos x e y, “ajeitando” a localização dos pontos. A imagem de conceito de função quando a atividade solicita uma expressão algébrica é a de uma tabela que relacione os pares ordenados. Talvez ele saiba que para identificar uma expressão algébrica é necessário identificar os pares ordenados ou ele tenha pensado que bastaria a tabela. Os já-encontrados são: a tabela para pares ordenados compostos por números inteiros; ele coloca y antes do x, talvez por influência da expressão 97 algébrica que geralmente começa com y=...,; estas são características do mundo corporificado. Questão 5) a) Respondeu: “É melhor utilizar a oficina x por que ela cobra menos na hora de trabalhar”. Justificou com duas expressões: X = 30 = 4/h Y = 10 = 8/h. A imagem de conceito do sujeito A1 quando a situação apresenta um texto e pede um raciocínio com características do mundo formal (dependência) para ser resolvido no mundo simbólico (usando expressões algébricas) é anotar números, esta característica é do mundo corporificado. A resposta não está incorreta, a justificativa não apresenta coerência e o sujeito não sabe percorrer os Três Mundos da Matemática usando as representações necessárias para responder. Os já-encontrados são: tentativa de construir expressão numérica; aparentemente não percebe que o tempo é a variável independente do problema e que precisa ser considerada; percebe que valor de hora trabalhada menor afeta o preço; não sabe relacionar as duas oficinas; todos estes com características do mundo corporificado. b) Respondeu: “É melhor por que a taxa fixa e menor do que a da oficina X”. Justificou: Y = 10 = 8/h X = 30 + 4 = 34 10 + 8 = 18 Imagem de conceito e já-encontrados idênticos ao item (a) 98 c) Respondeu: “É que a oficina X ela almenta a taxa fixa e abaixa a taxa por hora, ja a oficina Y fez alcontrário porisso, são iguais”. Imagem de conceito: Tenta fazer uma descrição daquilo que leu no texto da questão para pensar em uma resposta e, após aparentemente ter pensado que representava uma inversão (uma aumenta e outra diminui), deduziu que as duas fossem iguais. O sujeito A1 talvez não tenha pensado nos itens (a) e (b) da questão de maneira a perceber que a inversão ocorre em função do tempo de serviço e consequentemente existe um ponto de equilíbrio. A variável t não aparece, aparentemente ele usou 1h como valor do tempo para concluir. As características da resposta são do mundo corporificado. Questão 6) Resposta: “atraves de um calculo”. Imagem de conceito: Pensa em efetuar cálculos, consideramos como característica do mundo corporificado porque ele demonstrou dificuldades ao trabalhar uma divisão cujo quociente era um número decimal. Questão 7) A resposta para todos os cinco itens a resposta foi “Não sei”, o que não nos permite efetuar análise. Questão 8) a) Resposta: “Em dúvida”, que o sujeito colocou logo ao lado da questão e aparentemente vale para os quatro itens. Justificativa: escreveu uma tabela na qual colocou y na primeira coluna e x na segunda, formando os seguintes pares (y; x): 99 y x 0 1,5 -1 1 1,5 0 0 -1,5 Imagem de conceito: quando trabalha com gráficos o sujeito A1 pensa em buscar pares ordenados e organizá-los em tabelas, começa pelo y, colocando-o na primeira coluna, para depois encontrar o x, que coloca na segunda coluna. Na tabela só constam valores de y que aparecem na escala, reforçando a ideia sugerida pela resposta na questão 4, aparentemente um já-encontrado que passa pela tabela numérica na qual os valores são aqueles que estão (ou são colocados) nos eixos coordenados. Sujeito apresenta dificuldade na interpretação dos valores porque, por exemplo, o par ordenado (1,5; 0) que ele colocou na tabela não está correto, porque o gráfico não passa pelo valor 1,5. Ele “ajeitou” sua interpretação porque as escalas não apresentaram a precisão que ele necessita, ou porque ele não sabe estimar um valor entre 1 e 1,5 ou ainda para aparecer na tabela um valor tem que aparecer na escala do eixo. As características sugeridas pelas respostas e presentes na imagem de conceito são do mundo corporificado, além do que sugerem dificuldades ao trabalhar com escalas, números decimais e estimativas. b) Resposta: “Em dúvida”, que o sujeito colocou logo ao lado da questão e aparentemente vale para os quatro itens. Justificativa: buscou valores no gráfico e escreveu uma tabela numérica onde constavam os seguintes pares ordenados (y, x): (0, 0); (1, 1); (-1, 1); (2, 4); (-2, 4). 100 y x 0 0 1 1 2 4 -2 4 Imagem de conceito: Quando trabalha com gráficos o sujeito A1 pensa em buscar pares ordenados e organizá-los em tabelas, começa pelo y para depois encontrar o x, aparenta dificuldade na interpretação dos valores porque sua primeira providência foi buscar valores inteiros para montar sua tabela. Ele foi traçando paralelas sobre o gráfico apresentado, passando pelos dois eixos e por alguns pontos, mas depois apagou algumas, como a paralela ao eixo vertical passando por x=1,5. Aparentemente ele não conseguiu identificar qual valor corresponderia ao eixo y e desistiu de colocar este par ordenado na sua tabela. A resposta não está correta porque ele olhou o gráfico que representa a dependência de x em função de y que foi apresentada neste item da questão mas não atentou que no enunciado a pergunta era se existia a dependência de y em função de x. Sua imagem de conceito apresenta características de mundo corporificado, sugerindo dificuldades ao trabalhar com escalas, números decimais e estimativas. Os já-encontrados sugeridos pela resposta: tabela, números, inicia pelo y, números inteiros, dificuldade em localizar números racionais, não associou as imagens mentais que trabalhou em sala, uso das paralelas aos eixos para anotar os pontos, tudo referente ao mundo corporificado. c) Resposta: “Em dúvida”, que o sujeito colocou logo ao lado da questão e aparentemente vale para os quatro itens. Justificativa: buscou valores no gráfico e apresentou a seguinte tabela com pares ordenados (y, x): (0; 0,5), (0; 1), (1; 0), (2; -1) 101 y x 0 0,5 0 1 1 0 2 -1 Imagem de conceito: Quando trabalha com gráficos o sujeito A1 pensa em buscar pares ordenados e organizá-los em tabelas, começa pelo y para depois encontrar o x, apresenta dificuldade na interpretação dos valores porque, por exemplo, o par ordenado (1, 0) não faz parte do gráfico apresentado. Ao tentar anotar o par ordenado deste ponto ele “ajeitou” a medida x, sem tentar estimar uma aproximação decimal para o ponto no gráfico, que não está anotado em escala nem informado de outro modo, mas visualmente é possível perceber que passa à direita do valor 1, isto é, trata-se de um valor maior que 1 mas menor que 1,5 (que é o próximo valor de escala anotado no eixo horizontal). Já-encontrados: tabela, paralelas aos eixos para localizar pontos, dificuldades com números racionais, características de mundo corporificado. d) Para este item o sujeito A1 aparentemente considerou a resposta inicial onde disse “em duvida” e somente fez algumas anotações sobre o gráfico. Ele foi traçando paralelas ao eixo y passando onde x apresentava o valor anotado na escala mas somente no lado negativo do eixo x. O único valor de x em que ele conseguiu localizar o valor correspondente em y foi em –1, que então ele traçou uma paralela ao eixo horizontal passando pelo ponto do gráfico e encontrou y=-1. No lado positivo do eixo x ele não fez nenhuma anotação. Aparentemente ele não construiu uma tabela devido à dificuldade em observar escalas e identificar valores entre os números inteiros que anotamos no eixo y. 102 Imagem de conceito: interpretação prejudicada porque o sujeito deixou a resposta aparentemente incompleta ou não sabia interpretar o gráfico apresentado ou ainda desistiu de seguir com uma resposta já que apresenta dificuldades no uso das escalas. Já-encontrados: tabela, paralelas aos eixos para localizar pontos, dificuldades com números racionais, características de mundo corporificado. Questão 9) a) Resposta: Ao lado do item (a) que identifica o gráfico o sujeito escreveu “(B)”. b) Resposta: Ao lado da identificação (b) deste gráfico o sujeito escreveu: “(A)”. Logo abaixo dos gráficos apresentados nos itens (a) e (b) acima o sujeito A1 escreveu “da (A) e a representação de B e do (B) e a representação de A”. Pelas anotações que o sujeito fez ao lado dos dois itens ele pensa que o gráfico do item (a) corresponde à representação B (tabela) e o gráfico do item (b) corresponde à representação A (Diagrama de Venn), mas a frase escrita está confusa. A interpretação do sujeito sugere que ele conhece as representações do tipo tabela numérica e diagrama de Venn, mas apresenta alguma confusão no seu entendimento. Não aparecem anotações no protocolo indicando que ele tenha conferido os valores para saber se os pontos correspondem. Ao associar o gráfico do item (a) à tabela numérica o sujeito sugere que ele pensa somente na anotação dos pontos sobre o plano cartesiano. Imagem de conceito: quando pensa em associar tabelas, diagramas e gráficos de função o sujeito indica possuir as imagens mentais da tabela numérica e do diagrama de Venn, características do mundo corporificado. 103 Já-encontrados: tabela numérica, diagrama de Venn, lançar pontos sobre o plano cartesiano, que são características do mundo corporificado. c) Resposta: ao lado do item (c) o sujeito anotou “(B)”. Imagem de conceito: a resposta do sujeito apresenta confusão, evidenciada ao não colocar uma justificativa. Ele associou o gráfico da reta paralela ao eixo x com a tabela numérica B, aparentemente sem efetuar nenhuma tentativa de identificar coordenadas dos pontos na forma dos pares ordenados (x, y) anotados na tabela. A resposta talvez possa sugerir nas imagens mentais do sujeito, já que aparentemente ao pensar em representação de função em tabela ele imediatamente (ou logo em seguida) pensa em um gráfico, sugestão que talvez indique a sequência que ele pense ser apropriada para trabalhar com representações de função. As características do mundo corporificado. Já-encontrados: tabela, diagrama, gráfico, características do mundo corporificado. d) Resposta: ao lado do item (d) o sujeito anotou: “(A)”. Imagem de conceito: a resposta sugere imagem de conceito de que uma representação em forma de diagrama de Venn permita, talvez como se fosse uma sequência, construir um gráfico. Não aparecem indicações de que ele tenha conferido as coordenadas dos pontos. Característica do mundo corporificado. Já-encontrados: Diagrama de Venn, gráfico. Característicos do mundo corporificado. Questão 10) 104 Resposta: após os três gráficos dos itens (a), (b) e (c) o sujeito escreveu: “O colega (A) fez o gráfico corretamente porque os pontos estão corretos”. Não aparece indicação de que ele tenha conferido as coordenadas dos pontos em nenhum dos três gráficos. Imagem de conceito: A resposta sugere que o sujeito respondeu à partir de suas imagens mentais. Aparentemente, quando o sujeito A1 pensa em função, estão presentes em seu pensamento a tabela numérica e o gráfico. A resposta sugere também que entre os gráficos que estão presentes em suas imagens mentais, o gráfico da função representada no item (a) teve um apelo maior. Este gráfico não traz informação da função utilizada em sua construção nem o nome da curva, então o sujeito deve ter se deixado levar pela forma da curva que lembra o gráfico de uma função polinomial do 2o grau, e que aparentemente um já-encontrado. O sujeito não apresentou o procedimento de, por exemplo, conferir as coordenadas para tentar interpretar os gráficos porque se tivesse feito perceberia que os três gráficos contêm os pontos representados pelos pares ordenados anotados na tabela. As características são do mundo corporificado. Várias razões podem ter causado a resposta do aluno: (1a) como o gráfico do item (a) está correto, o aluno não olhou para os outros pois em geral, uma questão de Matemática tem uma resposta única e o aluno não está acostumado com uma resposta do tipo “os três estão certos”; (2a) o gráfico do item (a) é aparentemente o de uma parábola, que quase possivelmente está presente na imagem de conceito do aluno, enquanto os demais tipos de gráficos possivelmente não estejam presentes. Análise individual referente respostas do aluno A2. 1) Resposta: “É o nome que se dá ao devido a representação da conta”. Definição de conceito: A resposta sugere que o sujeito A2 define função como uma conta. Resposta com características do mundo corporificado. 105 2) Resposta: “45,75 + os 20 reais da taxa. Fiz os cálculos de multiplicação de acordo com a hora”. O sujeito cometeu algum engano nos seus cálculos porque a resposta é R$ 68,75 enquanto a resposta do sujeito foi R$ 65,75. Os cálculos não foram anotados no protocolo. Imagem de conceito: Com características só do mundo corporificado, sujeito A2 efetua cálculos aritméticos e percebe que o valor variável depende do valor da hora. Ele não apresentou o rascunho da conta, o erro pode ter acontecido por várias razões: inicialmente calculou quanto seria o valor das três horas (3 x 15 = 45) para em seguida calcular a parte decimal, mas aqui talvez ele tenha multiplicado 3 x 0,25 = 0,75, pois ele encontrou o valor de 45,75 para somar à taxa fixa; ou calculou corretamente e esqueceu de somar a parte inteira. O aluno apresentou em sua resposta um já-encontrado que se refere à separação da parte inteira da parte decimal de um mesmo número, para fazer os cálculos separadamente. Este procedimento afetou o processo, resultando em um proceito que estamos considerando um sério dificultador para o aprendizado deste aluno, da mesma maneira que afetou suas respostas nesta atividade. Já-encontrados: além das operações aritméticas elementares, um já encontrado é a iniciativa de efetuar cálculos separando-o em duas partes, uma para a parte inteira, outra para a parte decimal. 3) Resposta: o sujeito assinalou item II e justificou “creio que é a B, por ela se adaptar mais ao gráfico”. Imagem de conceito: Característica de mundo corporificado, sujeito A2 aparentemente se lembra do gráfico cuja curva que se parece com o gráfico de uma função quadrática. Também é possível que o aluno não tenha assimilado as funções polinomiais do 1o grau quando estudou, ou talvez tenha esquecido. 106 Já-encontrado: Conjecturamos que seja a forma do gráfico, apesar de que o sujeito não apresentou maiores detalhes do que ele considera como “se adaptar”. 4) Resposta: “x2 = y.-3” Imagem de conceito: Características do mundo simbólico. O sujeito A2 aparentemente se lembra da expressão algébrica referente à função quadrática, apesar da expressão que escreveu não estar correta, devido a escrita y.-3, que não é correta, e devido à própria expressão, que não representa a curva apresentada. A resposta sugere que ele associou a forma do gráfico do item (B) a uma parábola, (apesar de não ter sido evidenciado no texto que se tratava ou não de uma parábola) e associou a forma do gráfico a uma expressão onde o termo x estivesse elevado ao quadrado. A expressão algébrica apresentada pelo sujeito apresenta características do mundo simbólico, e aparentemente ele sabe associar esta expressão a um gráfico em que a curva se pareça com uma parábola, por algum motivo ele resolveu começar sua expressão pelo x. Ele não fez anotações em nenhum dos gráficos. Já-encontrados: expressão algébrica de uma função do segundo grau., característica do mundo simbólico. 5) a) Resposta: Se o cliente necessitar de 3 horas de serviço compensaria a oficina X pois sairia ganhando R$2,00. Que ficaria o preço de R$ 42,00 e sairia mais barato do que a Y”. Ao lado desta resposta, o sujeito escreveu: Oficina X 30 + 4 34 42 107 Imagem de conceito: Apresenta características do mundo corporificado porque o sujeito A2 se apoia em operações aritméticas para apresentar sua resposta. A frase que ele escreveu sugere que sua ideia inicial foi efetuar cálculos e comparar os resultados, mas sem anotar estes cálculos no papel. Parece que ele resolveu anotar somente um destes cálculos talvez por considerar suficiente para responder, porque o valor 34 que ele anotou é resultado da conta que escreveu, mas o resultado 42 não teve sua conta apresentada no protocolo. Já-encontrados: operações aritméticas elementares, utilização de números inteiros, características do mundo corporificado. b) Resposta: “Se caso o cliente necessitar de uma ou duas horas sairia ganhando com a oficina Y. 1 hora sairia por R$ 18,00. 2 horas sairia por R$ 26,00”. Ao lado da resposta o sujeito escreveu: Oficina Y 10 + 8 = 18 Imagem de conceito: A resposta do aluno sugere pensamento com características do mundo corporificado. Aparentemente ele pensou somente em efetuar cálculos para comparar os resultados. Seu raciocínio sugere que ele percebe que o valor a ser multiplicado pelo tempo é o da hora trabalhada, para somente depois somar a taxa fixa. O aluno não fez tabela para se organizar e analisar a situação, aparentemente fez mentalmente mas se atrapalhou. Já-encontrados: operações aritméticas elementares, utilização de números inteiros, características do mundo corporificado. Observação: O sujeito, logo abaixo da frase “2 horas sairia por R$ 26,00” havia escrito “3 horas sairia por R$ 34,00” mas resolveu apagar. Aparentemente ele percebeu o mesmo resultado que havia escrito na resposta ao item (a), acima, e 108 quando constatou serem os valores iguais, deve ter ficado confuso e apagou a frase. Parece ter percebido que o menor valor de x é 34, já que considerou só valores inteiros para a hora, e sua ideia talvez tenha sido de que qualquer y menor que 34 é melhor. c) Resposta: “Não teria como alguma das duas sairia em vantagem”. O aluno não consegue generalizar, dá respostas parciais corretas mas não consegue perceber o genérico. Parece não conseguir comparar os valores para o mesmo t. 6) Resposta: “Começar pela fórmula, se tiver representada”. Imagem de conceito: A resposta do sujeito sugere que, em relação ao conceito de função, sua imagem de conceito seja uma “fórmula” (expressão algébrica). Trata-se de uma resposta com característica do mundo simbólico, já que sugere que ele acredita na existência de expressões algébricas relacionadas ao conceito de função. O trecho “se tiver representada” sugere que ele tentou escrever se estiver apresentada, no sentido de aparecer escrita no problema, mas não fez menção qual sua ideia se não aparecer a expressão. Pelas respostas e encaminhamentos até este ponto da análise não nos parece que o sujeito associou a expressão algébrica como uma das possíveis representações de função, nos parece mais evidente que ele pensa que função seja uma fórmula. Esta resposta reforça a ideia de dificuldades (ou falta de familiaridade) com gráficos sugerida na questão 3. Já-encontrado: expressão algébrica, característica do mundo simbólico. Parece que tem forte crença na expressão algébrica e, se pensarmos nas questões anteriores, também na aritmética. 109 7) a) x + y = 4 Resposta: “Sim, pois se o X não estive não teria sentido a resposta 4”. A resposta sugere que ele percebeu que o valor de x depende o do valor de y mas não soube escrever claramente. Resposta com características de mundo corporificado, porque aparentemente para perceber a dependência ele precisou utilizar números. b) y = x2 + 2 Resposta: “Sim, necessita”. Esta resposta deixa dúvidas com relação ao pensamento do sujeito porque ele não escreveu justificativa. Tanto existe a possibilidade de que ele tenha percebido que na expressão está explicita a dependência de y em relação a x, e a resposta estaria apresentando características do mundo simbólico, quanto ele poderia estar novamente pensando em números e a resposta apresentaria características do mundo corporificado. c) x = y2 Resposta: “Sim, necessita. „Por exemplo se por se o x for 4 o y pode se 2 2”. A resposta sugere pensamento com características do mundo corporificado porque o sujeito precisou de números para pensar na expressão. d) g(x) = x2 + 2 Resposta: “Não sei como responder”. A resposta do sujeito não permite uma conclusão. Conjecturamos que este sujeito apresenta dificuldades com a notação g(x) como notação de função. e) 3x - 4 = y 110 Resposta: “Não lembro”. A resposta do sujeito não permite uma conclusão. OBS: O sujeito apresenta dificuldades ao trabalhar com características do mundo simbólico. Observando as cinco possibilidades de resposta conjecturamos que este sujeito necessita pensar em números e operações quando se trata de função representada por expressões algébricas. Aparentemente ele tem dificuldades com a notação g(x) ou não aceita que seja função se x e y não aparecerem, além de ter dificuldades quando o y está no segundo membro. Parece que ele acredita que x e y tem que aparecer, podem estar em um membro e a constante em outro, ou então a expressão tem que aparecer y = ... 8) Avalie os gráficos abaixo e, para cada um deles, identifique se representa uma dependência de "y em função de x". Justifique suas respostas. a) Resposta: “Não precisaria, pois está bem explicado e dividido então necessariamente não há dependência”. A resposta do sujeito A2 sugere dificuldades em relacionar o conceito de função com a palavra dependência e com a representação em forma de gráfico. Aparentemente ele pensa na palavra dependência com o sentido exclusivo fora da matemática. A frase utilizada deixa margem a muitas dúvidas, além dele não ter se preocupado com qual era a pergunta. Pode ser também que ele ache que não há dependência porque todos os pares estão evidenciados no gráfico. b) Resposta: “Não sei explicar, teria que olhar no caderno”. A reposta reforça nossa impressão de que o sujeito tem dificuldades ao trabalhar com gráficos. Poderia sugerir um já-encontrado, porque alguma vez ele pode ter visto um gráfico de x em função de y. c) Resposta: “Acho que não seria necessário ser dependente”. Esta resposta reforça a impressão de dificuldades ao trabalhar com gráficos. d) Resposta: “Aparentemente elas são independentes”. A resposta sugere que o sujeito tem dificuldades ao trabalhar com gráficos. Aparentemente ele olhou para 111 as duas linhas apresentadas no gráfico do item (d) e pensou talvez no seu formato ou outra coisa que não fosse relacionado a função, pois sua frase “aparentemente elas são independentes” sugere que ele vê duas linhas independentes. 9) a) Resposta: “E o gráfico A se representa melhor com os dados da A”. A resposta sugere que o sujeito A2 apresenta dificuldades ao trabalhar com gráficos. Sobre o plano cartesiano apresentado no item (a) o sujeito desenhou uma linha unindo os três pontos, mas depois apagou. A resposta sugere ideias com características do mundo corporificado. b) Não fez anotação. c) Não fez anotação. d) Resposta: “O gráfico d é melhor representado nos dados de representações B”. A resposta parece confirmar a dificuldade do sujeito em expressar uma situação que envolva gráfico, porque a frase apresenta alguma confusão. O sujeito parece ter utilizado a palavra “representações” porque a leu várias vezes nos enunciados das questões, mas aqui a palavra provoca dúvidas na interpretação. De qualquer modo, aparentemente ele tentou dizer que o gráfico d representa melhor os dados da tabela B, sugerindo dificuldades no uso das diversas representações visuais de função, já que o diagrama do item (A) também está representado neste gráfico. Sua resposta pode estar associada à ideia de que os pontos devem estar evidentes no gráfico. De uma maneira geral, parece que o sujeito não está acostumado a questões cuja resposta não seja única, e pensou que a tabela se associa com um gráfico e o diagrama com outro. 10) Resposta: “Creio que a que está correta é a c. Pois que se os valores mais se aproximam”. A Resposta do sujeito A2 apresenta palavras que geram dúvidas na interpretação. O gráfico do item (c) que ele escolheu é realmente uma escolha 112 correta, mas os itens (a) e (b) também, e estes ele não justificou o motivo de não terem sido escolhidos. De qualquer modo, a resposta apresenta características do mundo corporificado e sugere que ele guardou em seu pensamento a imagem de um gráfico de função periódica, como, por exemplo, da função seno, que os alunos da 2a série estavam estudando pouco tempo antes da aplicação do questionário. Vale ressaltar que ele pode não estar acostumado com questões que apresentem mais de uma resposta correta e como os pontos estão evidenciados no gráfico c, não olhou para os outros. Análise individual referente respostas do aluno A3. Questão 1) Resposta: “Eu aprendi no ano passado e admito que esqueci”, resposta que não permite identificar suas ideias sobre o conceito de função. Aparentemente ele não sabe expressar suas ideias ou sua definição de conceito é vazia. Questão 2) Resposta: “Eu não sei tentei fazer a conta basica para fazer as contas „quebradas” dos 25 minutos mais não consegui. Não consegui criar um raciocinio p/ a conta”. Ao lado da resposta o sujeito A3 escreveu: - 20,00 visita 15,00 trabalho/hora E fez a multiplicação 15 x 3 = 45 Imagem de conceito: O aluno A3 mostra características do mundo corporificado com relação às suas ideias. Iniciou listando os dados numéricos que aparecem na questão, como o valor da visita e da hora trabalhada. Para em seguida, armar a multiplicação que sugere que ele divide a conta em duas partes: uma para cálculos da parte inteira, que ele chamou de “conta basica”; outra para a 113 parte decimal, que ele chamou de “contas quebradas”; procedimentos que apresentam características do mundo corporificado. Para tentar resolver a questão o sujeito iniciou com a conta correspondente à parte inteira, mas não chega ao final por não saber calcular o preço da parte correspondente aos 0,25 h, que ainda interpreta como 25 minutos. Pode ser que um já-encontrado deste aluno seja o fato de que nunca lidou com notação decimal no contexto das horas do relógio. A parte da conta envolvendo números decimais, aparentemente foi uma tentativa frustrada, pois ele apagou o que havia escrito na tentativa de resolver. Lendo a resposta surgiu-nos uma dúvida: será que 0,25 h. nunca foi trabalhado no contexto do relógio? De qualquer modo, sua resposta sugere um jáencontrado referente ao mundo corporificado. Questão 3) Resposta: “Não me lembro o que é função”, resposta que não nos permite avaliar como o sujeito A3 resolve este tipo de problema. Questão 4) Resposta: “Eu aprendi ... PA, PG... mais não lembro”. Imagem de conceito: A resposta do sujeito A3, apesar de abrir um amplo leque de possíveis interpretações, sugere que quando ele pensa numa expressão algébrica associada a um gráfico, as ideias remetem para as fórmulas referentes ao aprendizado de sequências e progressões. Na 1a série do Ensino Médio, o currículo de Matemática (SÃO PAULO, 2008) inicia com o estudo de sequências e progressões, o aluno tem contato com ideias de identificar a relação entre cada termo e é solicitado a pensar na regularidade de um termo em relação a outro para identificar uma expressão (fórmula), o que deve ter influenciado o pensamento deste sujeito ao ler a questão. Como ele não tentou ir além na sua justificativa, não foi possível identificar características das suas ideias. Já-encontrados: expressões associadas a sequências e progressões e talvez não associadas a um gráfico. 114 Questão 5) a) Resposta: “Se o conserto for mais complexo, e mais demorado eu iria na oficina X, pelo preço eu apostaria que o serviço seria de melhor qualidade e as horas custariam menos ja que o conserto seria demorado”. b) Resposta: “Na oficina y eu iria se o conserto fosse rapido eu pagaria a taxa fixa e pagaria o pouco de horas trabalhadas (resposta de acordo com a continuação da alternativa A)”. c) Resposta: “Não há como fazer contas se não sei quanto tempo demorara o conserto de qualquer forma as ideias por conhecidência e tempo de conserto poderiam das iguais preços ou diferentes poderam ser iguais ou não”. Imagem de conceito: A resposta do sujeito A3 sugere que ele percebe ser o tempo do conserto a variável independente, apesar de não ter citado isto explicitamente. Conjecturamos que seu pensamento apresenta características do mundo formal, pois aparentemente percebe a dependência do preço em função do tempo, conforme citado nas frases “as horas custariam menos ja que o conserto seria demorado”, que ele anotou no item (a), e “se o conserto fosse rapido eu pagaria a taxa fixa e pagaria o pouco de horas trabalhadas”, que ele anotou no item (b). A resposta sugere também que ele não pensa no preço total, parecendo que ele pensa na taxa fixa e no preço em função das horas trabalhadas sem pensar em somar os valores. Nas afirmações escritas para os itens (a) e (b) aparecem estes indícios, principalmente no trecho “eu pagaria a taxa fixa e pagaria o pouco de horas trabalhadas”, que ele anotou no item (b). A resposta sugere alguma dificuldade em aritmética e entendemos que ele não sabe lidar com o mundo simbólico, pois afirma que “não há como fazer as contas se não sei quanto tempo demorara o conserto ...”. Questão 6) Resposta: “Gráfico”. 115 Imagem de conceito: O pensamento do sujeito A3 parece apresentar características do mundo corporificado. Como ele não estendeu a justificativa informando como utiliza os gráficos, podemos conjecturar o que é que este aluno entende por gráfico. O problema é proposto na forma de um texto em palavras, o fato deste aluno não ter elaborado o gráfico nos faz acreditar que não vê função naquele problema. Se o problema é proposto na forma de uma expressão algébrica, por causa das respostas dadas às questões 9 e 10 que aparecerão adiante, podemos supor que o aluno se contenta em colocar no “gráfico” alguns pontos. Questão 7) Resposta: Para os cinco itens ele respondeu uma única vez “não sei”, o que não nos permite uma análise das características do seu modo de resolver este tipo de situação. Questão 8) Para os quatro gráficos acima ele escreveu uma única vez “não sei”, o que não permite uma análise das características de como resolve questões deste tipo e ainda se contrapõe à afirmação que ele fez na questão 6, cujas palavras sugeriram que quando se depara com um problema envolvendo o conceito de função ele inicialmente pensa em gráfico. Nesta questão, em que o sujeito poderia talvez apresentar indícios de como trabalha com gráficos, ele optou em não responder. Questão 9) Resposta: “Grafico D = ele representa todos valores citados”. Imagem de conceito: A resposta do sujeito A3 sugere características do mundo corporificado. Ele aparentemente escolheu o gráfico D talvez por pensar que a resposta à questão seria única, mas independentemente disto, ele não escolheu gráficos como a reta do item (b), talvez mais trabalhado em sala de aula, para escolher o gráfico do item (d), no qual os pontos estão assinalados no plano e incluídos no gráfico. A escala favorece a identificação das coordenadas dos pontos, 116 além de ter aparência de gráfico que ele trabalhou quando estudou funções periódicas (função seno, por exemplo). Vale ressaltar que no gráfico referente ao item (a), onde estão assinalados apenas os três pontos sobre o plano cartesiano, o sujeito anotou “B” e depois apagou, talvez sugerindo que ele percebeu que os pontos da tabela B estão anotados corretamente sobre o plano. Se as escalas nos eixos vertical e horizontal aparecem claramente escritas e contendo as coordenadas dos pontos, isto sugere que há influência no entendimento do sujeito, diferentemente do gráfico do item (b), onde o plano cartesiano não apresenta escritos os valores 3 e –3 no eixo vertical e que constam tanto na tabela B quanto no diagrama A. Já-encontrados: a resposta sugere características do mundo corporificado. Questão 10) Resposta: “Grafico C = ele „apontou‟ todos os valores, formando assim o gráfico. Os outros dois se quer fizeram de acordo com os valores dados”. Imagem de conceito: A resposta do sujeito A3 sugere pensamento com características do mundo corporificado ao trabalhar com tabelas numéricas e gráficos. Parece novamente que ele acha necessário escolher somente um dos itens e que ele se deixou levar pela sugestão do gráfico, que apresentou uma escala contendo os valores da tabela e assinalando claramente os três pontos sobre o respectivo plano cartesiano, pontos que por sua vez pertencem ao gráfico. A resposta sugere que ele guardou em sua imagem de conceito talvez o procedimento que é utilizado para construir gráficos a partir de dados organizados em tabelas numéricas, em que cada ponto da tabela é inicialmente anotado sobre o plano cartesiano para depois desenhar o gráfico. Aparentemente ele utilizou este procedimento porque, na questão anterior, havia pensado em anotar uma escolha no item (a) e depois apagou, talvez por pensar que os gráficos em que os pontos estejam assinalados sejam os corretos. Ele não fez outras anotações referentes aos gráficos dos itens (a) e (b) que também contêm os pontos da tabela, apesar de escrever “os outros dois se quer fizeram de acordo com os dados”. Parece até que ele não observou com atenção 117 para escrever este trecho da resposta pois os pontos fazem parte dos dois gráficos e as respectivas coordenadas aparecem claramente nas escalas. Já-encontrado: O procedimento que para construir gráficos partindo de dados anotados em tabelas numéricas parece ser um já-encontrado deste sujeito, cuja característica é do mundo corporificado. Análise individual referente respostas do aluno A4. Questão 1) Resposta: “o jeito de resolução da conta”. Definição de conceito: A definição de conceito de função sugerida pela resposta do sujeito A4 é a de uma conta e o respectivo processo de resolução. A resposta sugere pensamento com características do mundo corporificado. A ideia de dependência não aparece nesta frase. Questão 2) A expressão numérica apresentada pelo sujeito A4 lembra a forma básica da expressão algébrica da função afim y=ax+b porque escreveu “(3,25x20)+15”. Ocorre que nesta montagem ele inverteu a colocação dos valores de hora trabalhada e taxa fixa, isto é, calculou o valor variável utilizando o tempo para multiplicar o valor da taxa fixa, somando posteriormente o valor da hora trabalhada. Além desta inversão, o sujeito cometeu engano na contagem das casas decimais após a multiplicação e consequentemente a soma dos R$ 15,00 provocaram outra diferença, porque na prática seu resultado mostra que ele somou 1,5 e não 15. Mostra conhecer o processo mas erra nos procedimentos. Sabe que tem uma vírgula e parece ter respondido com base na ordem de grandezas. Imagem de conceito: O sujeito A4 apresenta imagem de conceito com características do mundo corporificado quando trabalha com este tipo de situação, apresentada em forma de texto, porque ele resolveu com números, sua ideia foi montar uma expressão numérica para depois resolvê-la armando as contas. Já-encontrados: resolve usando aritmética, numa expressão numérica que lembra a expressão algébrica da função afim; apresenta dificuldades ao trabalhar com números no formato decimal, pois comete erros; não pensou nas unidades 118 apresentadas e coloca a vírgula no final, parece que ele sabe que tem que contar casas. São já-encontrados com características do mundo corporificado. Questão 3) Resposta: o sujeito A4 assinalou o item III e justificou “por que as curvas não faz a equação não se tornar uma função”. A resposta sugere alguma confusão ao usar as palavras, mas sugere também que ele observa um gráfico e suas ideias remetem para equação e função, talvez no sentido de que a equação se torna uma função. Não ficou claro na resposta se ele pensou em um caminho equação→gráfico→função, equação→função→gráfico, ou ainda gráfico→equação→função. Este último caminho parece mais provável quando se lê sua resposta. Conjecturamos que este sujeito talvez tenha pensado que um gráfico foi construído à partir de uma equação (talvez a expressão algébrica) que representa uma função. De qualquer modo parece que ele pensa em gráfico e tipo de curvas para associá-los posteriormente à equação e função. Imagem de conceito: Quando se depara com gráficos o sujeito pensa em equação e função. A resposta sugere características do mundo corporificado, mas com tendência em associar os gráficos com expressões algébricas (talvez aquilo que ele chamou de “equação” e “função”), que poderia significar que o sujeito caminha para a simbolização do tipo de curva que ele percebe no gráfico. Já-encontrados: talvez um já-encontrado seja o tipo de curva, característica de imagens mentais de gráficos, uma característica do mundo corporificado. Questão 4) Resposta: a resposta apresentada pelo sujeito A4 trata-se de uma tabela constando pares ordenados de pontos do gráfico que aparece no item (A). 119 x y -1 3 -0,5 2 0 1 0,5 0 1,0 -1 1,5 -2 2 -3 Ele interpretou o gráfico sugerindo certa precisão, mas ao anotar os valores ele inverteu as associações, onde o valor referente ao eixo vertical era positivo ele anotou valor negativo e onde era negativo ele colocou valor positivo. Não ficou claro na resposta se o erro é conceitual ou proveniente de distração. Ele tem a tendência de seguir a linha do gráfico, como se começasse da esquerda seguindo para a direita. Ele utilizou somente os pontos apresentados nas escalas, não fez interpolações. Parece conhecer o processo mas comete erros nos procedimentos. Imagem de conceito: quando solicitado a trabalhar com características do mundo simbólico em funções apresentadas na representação gráfica o sujeito A4 apresenta pensamento com características do mundo corporificado porque apresenta uma tabela com as coordenadas dos pontos que formam a curva do gráfico. Além disso, entre as duas opções, ele escolheu o gráfico cuja linha era uma reta e anotou somente as coordenadas que aparecem nas escalas dos eixos. Aparentemente em suas imagens mentais estão presentes gráficos de funções afim, apesar de que ele não fez menção a esta associação. A resposta sugere que ele tenha certa facilidade em observar o gráfico e as coordenadas dos pontos, mas parece não ter segurança para trabalhar com valores decimais se não aparecerem nas escalas. Não ficou claro na construção da tabela se a inversão dos valores referentes ao eixo vertical foi distração ou falha de aprendizado. A frase que ele 120 utilizou para justificar, dizendo “que seria o curso que a linha segio” (entendemos esta palavra como “seguiu”), reforça a característica de mundo corporificado e sugere que talvez ele tenha em sua imagem de conceito a ideia de seguir a linha que representa o gráfico talvez devido ao estudo de sinal ou taxa de inclinação, apesar de não estar claramente explicado na resposta. Já-encontrados: tabela de valores numéricos usando números decimais, exclusivamente que aparecem nas escalas; sabe associar as coordenadas com os pontos no gráfico; prefere o gráfico onde aparece uma reta; parte do valor de x, seguindo a orientação do eixo no sentido de crescimento do valor; inverteu os pontos do eixo vertical, onde era positivo colocou negativo e vice versa. Todas características do mundo corporificado. Questão 5) a) Resposta: “No caso se foi algo muito cuidadoso e demorado” b) Resposta: Quando é uma coisa simples. c) Resposta: São iguais quando um aparelho demorado a ser consertado para X e quando é rapido para Y”. Quando trabalha função apresentada na forma de texto o sujeito A4 apresenta respostas sugerindo que ele percebe que o tempo define os valores dos orçamentos, sugerindo características do mundo formal. As palavras “cuidadoso e demorado” parecem ter sido utilizadas para indicar tempo maior enquanto as palavras “simples e rapido” parecem indicar tempo menor. Parece que ele, nesta questão, percebeu que o valor é função do tempo de conserto e apresentou respostas diretas fazendo esta afirmação. O aluno parece não comparar as duas opções e não responde genericamente as perguntas feitas. Já-encontrados: resposta sugere ideia de dependência do valor em função do tempo, o que poderia sugerir característica do mundo formal. 121 Questão 6) Resposta: “Olhar e observar a função para melhor resolver o exercício”. A resposta sugere que o sujeito talvez pense em números quando diz “resolver o exercício”, mas o trecho “olhar e observar” sugere característica do mundo corporificado. Imagem de conceito: talvez o aluno pressupõe uma fórmula, ou talvez uma tabela, não ficou evidente na resposta como ele resolve. Questão 7) a) Resposta: “x e y são a soma de 2 numeros que dão 4 no caso o n o 2”. b) Resposta: “y que representa um numero desconhecido que estou procurando o x2 um numero elevado ao quadrado que soma com 2 no caso um Ex: 22+2=x=4+2=6 x=6” c) Resposta: “uma simplificação”. d) Resposta: “E = 9(x) = x2+2 x2=9+2 x2=11 x=11 e) Resposta: 3x-4=y x1=y yx=1 As respostas do sujeito A4 para uma atividade em que aparecem expressões algébricas indicaram alguma confusão, e aparentemente o sujeito as resolveu utilizando ideias diferentes. No item (a) quando ele afirma que “x e y são a soma de 2 numeros que dão 4 no caso o no 2” a resposta sugere que ele pensa inicialmente em números para substituir em lugar das variáveis e possibilitar um cálculo que cujo resultado aparentemente precisa ser um número, mas sugere que só serve o 2. Já no item (b), que ele começou de maneira um pouco diferente, ele inicialmente se limitou a interpretar a expressão apresentada, descrevendo-a da maneira que considerou conveniente e finalizou apresentando um exemplo, também numérico, 122 para ilustrar. Observando os dois itens iniciais poderíamos afirmar que a imagem de conceito do sujeito tem características do mundo corporificado ao trabalhar com a forma algébrica porque se apoia em números e operações para se expressar. Também o fato de que ele faz uma descrição operacional daquilo que esta descrito na expressão algébrica reforça esta interpretação das características presentes em suas ideias. Entretanto, ao apresentar a resposta ao item (c) o sujeito escreveu “uma simplificação”, frase que no momento não sugere que tipo de ideia ele teve. Talvez por existir apenas um membro em cada lado da igualdade ele tenha pensado que se tratava de uma expressão simplificada. Um procedimento diferente de resolução foi adotado nos itens (d) e (e). O sujeito decidiu resolvê-las como se fossem duas equações e aplicou manipulações que mostraram vários erros. Ao resolver o item (d) ele confundiu a notação de função g(x) com 9x, sugerindo que naquele momento ele talvez tenha pensado que a digitação da questão estivesse errada. Talvez a notação g(x) não esteja presente na sua imagem de conceito. Em seguida ele aplicou procedimentos do tipo “passar para o outro lado” como se a manipulação fosse de objetos concretos conforme havia sido sugerida por Lima (2007). O sujeito A4 cometeu vários dos erros constatados por esta pesquisadora, como mudar de lado e não trocar o sinal, mudar um coeficiente sem obedecer regras algébricas, não efetuar a mesma operação dos dois lados da igualdade. O item (e), com exceção de que não apresenta a notação g(x), foi resolvido pelo sujeito da mesma maneira e apresentando erros semelhantes. Nos ocorre uma dúvida: será que se fosse f(x) ela faria? Independentemente do que descrevemos, o sujeito não afirmou em nenhuma das suas resposta se existe ou não dependência de y em função de x, conforme solicitado na pergunta desta questão. Imagem de conceito: Quando a função é apresentada sob sua representação algébrica o sujeito tende a buscar apoio em números para substituir, efetuar operações aritméticas e encontrar como resultado um número. Nesta situação, suas respostas apresentam características do mundo corporificado. Já-encontrados: utilizar números, preferencialmente inteiros ou naturais; descrever o que está escrito na expressão com sua sequência de operações; 123 procurar um resultado numérico; manipular de modo incorreto sem observar regras algébricas, pensando tratar-se de objetos concretos, procedimento que talvez venha de frases como “multiplica em cruz” ou “passa para o outro lado e troca de sinal”; talvez não conheça a notação g(x). Todos estes indicam características do mundo corporificado, e o fato de ter dificuldades nas expressões algébricas e na notação g(x) sugere que ele talvez não tenha características tanto do mundo simbólico quanto do mundo formal. Questão 8) a) Resposta: “Sim por que sem o x não teria como ligar o y ao x e não teria o grafico”. b) Resposta: “aqui o y é menos dependente que o x por que o x já tem a altura correta que é onde o grafico representa”. c) Resposta: “Os dois x e y são dependentes por causa das muitas curvas”. d) Resposta: “Aqui o x é igualmente dependente que o y pois as duas partes dos graficos representam latitude e Amplitude”. A resposta referente ao item (a), sugere que o sujeito A4 pensou nas coordenadas dos pontos do gráfico, já que escreveu que existe a dependência de y em função de x porque, “sem o x não teria como ligar o y ao x e não teria o gráfico”. Aparentemente ele não pensou no gráfico como uma representação de função, pensou que precisa tanto do x quanto do y para construir um gráfico. Já no item (b), parece que ele se deixou levar pelo aspecto visual do gráfico, mas seus comentários não permitem uma conclusão precisa do seu pensamento, porque na afirmação “aqui o y é menos dependente que o x por que o x já tem a altura correta que é onde o grafico representa” não está explicito seu modo de pensar. Parece que ele precisa de valores (“altura”) para pensar. O mesmo tipo de influência visual está sugerida na resposta ao item (c), onde ele cita “muitas curvas”. Já na resposta ao item (d) parece que ele pensou talvez nos termos utilizados no estudo das funções periódicas ao falar de amplitude, mas cometeu alguma confusão ao utilizar palavras como “latitude”, que em conjunto com “amplitude” e “igualmente dependentes” não sugere algo inteligível. De qualquer forma, a resposta sugere que ao trabalhar com função 124 apresentada na sua representação gráfica o sujeito apresenta características do mundo corporificado que estariam presentes em suas imagens mentais. Talvez o aluno ache que as paralelas aos eixos devem sempre que se apoiar no gráfico, e de um modo geral ele não tem na imagem de conceito que para cada x deve corresponder um único y. Imagem de conceito: Ao trabalhar com o conceito de função apresentado segundo sua representação gráfica, o sujeito aparentemente se baseia em imagens mentais de gráficos, mas apresenta dificuldades ao interpretá-los e também em distinguir se um gráfico representa ou não uma função. Suas respostas sugerem que ele não apresenta uma interpretação do que está aparecendo no gráfico, em sua imagem de conceito parecem existir imagens estáticas de gráficos que talvez não tenham ligação com função. Ele parte para pensar nas características dos gráficos, talvez tentando descrevê-las, assim como fez com relação às expressões algébricas. Em alguns momentos suas frases parecem confusas e sem sentido. Já-encontrados: interpretação fortemente apoiada em imagens mentais, dificuldades para interpretar um gráfico, características do mundo corporificado. Questão 9) a) Resposta: O sujeito A4 assinalou um x sobre o item a e escreveu “pelo grafico aqui marcado que representam os planos cartezianos (aqui fez uma seta apontando para o esboço) e também por que o grafico y positivo vai até o 3 onde tem nos planos”. Para responder a pergunta, o sujeito A4 esboçou uma reta sobre o plano cartesiano do item (a), unindo os três pontos que haviam sido apresentados neste item. Esta linha que ele esboçou e chamou de “gráfico aqui marcado que representam os planos cartezianos” foi destacada com uma seta que partia da sua justificativa. A resposta sugere que o sujeito percebe um gráfico como uma linha unindo os pontos anotados sobre o plano cartesiano e também sugere que em suas imagens mentais de gráfico estejam presentes linhas retas, apesar de que ele talvez não 125 tenha percebido que o gráfico que ele esboçou ficou parecido com o gráfico do item (b). Imagem de conceito: Quando a situação referente a função vem representada na forma gráfica, o sujeito apresenta resposta que sugere imagens de retas. Ele não anotou comentário que indicasse que ele associa a reta à função polinomial do 1 o grau ou outra qualquer. Seu comentário “por que o grafico y positivo vai até o 3 onde tem nos planos” parece sugerir que todos os pontos anotados no plano precisam estar contidos no gráfico. Já-encontrados: não está justificado pelo aluno, mas parece que na imagem de conceito só tem parábolas (sugerida na questão 3) e retas e ainda, as retas representadas por segmentos. São características do mundo corporificado. Questão 10) Resposta: O sujeito assinalou o item c e escreveu “c) por que para construir o grafico presisa-se ter os mesmos numeros de y e x para ligalos”. Interpretamos a resposta como: item c porque para construir o gráfico é preciso ter os mesmos números de y e x para ligá-los. A resposta sugere que o sujeito pensa em coordenadas de pontos para anotar no plano cartesiano e construir gráficos ligando os pontos. É possível que o sujeito tenha lembrado de funções periódicas que os alunos de 2ª série do Ensino Médio estudaram recentemente, pouco antes da aplicação do intrumento diagnóstico, apesar de que ele não fez menção a isso, o que poderia sugerir uma resposta baseada em imagens mentais. Não ficou claro na resposta se o que ele chama de “mesmos numeros de y e x” se refira a mesma quantidade ou mesmos valores, ou ainda se precisa haver simetria nas escalas dos eixos, isto é, se num lado do eixo a escala for até 5, do outro lado deve ir até –5. Pensamos em uma pergunta: será que ele pensa que uma questão só pode ter uma única resposta? Imagem de conceito: quando o sujeito A4 se depara com uma tabela de valores numéricos para associar a um gráfico ele pensa nas coordenadas e cita especificamente “construir o grafico”, pensamento com características do mundo corporificado. 126 Já-encontrados: leitura de tabela, lançamento de coordenadas no plano cartesiano, que se referem ao mundo corporificado. Análise individual referente respostas do aluno A5. Questão 1) Resposta: Ao se deparar com esta pergunta o sujeito A5 escreveu “é oque faz algo específico em sua área, como a função do 2 o grau, ela têm só uma função de descobrir números por exemplo”. Esta resposta sugere que as ideias do sujeito apresentam características do mundo corporificado, porque ele pensou em números. Nossa suposição é a de que ele não tenha pensado em um número como √13, que não se enquadraria como característica do mundo corporificado porque exige um pensamento mais avançado, com características que consideramos do mundo simbólico, este o motivo pelo qual a resposta do sujeito nos sugeriu mundo corporificado. É sugerido também pela sua resposta que ele, mesmo tendo a oportunidade de escrever várias palavras indicando sua ideia, preferiu direcionar seu foco em “descobrir números”, sem citar como ele poderia fazer esta descoberta. Conjecturamos que esta descoberta poderia ser a partir de operações aritméticas, caracterizando que na imagem de conceito do sujeito existem características do mundo corporificado, ou quem sabe, características do mundo simbólico, como expressões algébricas ou fórmulas, como a Fórmula de Báskara, trabalhada na 8a série, que serve para descobrir números (as raízes da equação, por exemplo). Sugere um proceito relacionado ao conceito de equação e não de função. Outros dois trechos de sua frase e que chamam a atenção para seu sentido são “é o que faz algo específico em sua área” e “ela só tem uma função”. Estes dois trechos sugerem que o sujeito pense que o conceito matemático de função tenha algo a ver com o substantivo função dentro da língua portuguesa, indicando algum tipo de ação ou ainda serventia. Esta interpretação que tentamos evitar ao escrever na questão o trecho “Em Matemática” sugere que o sujeito pensou que função tem a finalidade de alguma coisa, que na sua frase aparenta ser 127 “descobrir números”. Talvez as outras respostas deixem mais claro o tipo de pensamento do sujeito. Questão 2) Para esta questão o sujeito efetuou vários cálculos distribuídos ao longo do espaço abaixo da questão, que nos sugeriu uma sequência iniciando pela multiplicação “20x3=60”. Aparentemente o sujeito calculou o valor de 3 horas de trabalho, mas considerou o valor da taxa fixa em lugar do preço por hora trabalhada, talvez uma desatenção na leitura do enunciado e que causou uma incorreção. Observando por outra perspectiva, este mesmo procedimento seria passível de ser considerado um erro grave, em que o sujeito pense que para calcular a parte variável ele deveria usar a taxa fixa. Ao resultado da multiplicação ele somou 25, escrevendo da primeira conta, efetuando esta soma logo em sequência. O valor “25” foi calculado à parte e o sujeito considerou no seu cálculo o número 60, que ele havia encontrado na primeira conta (e que se trata do valor incorreto a ser utilizado), montando um tipo de tabela onde escreveu 60 – 50% = 30, 60 – 60% = 24, 60 – 10% = 54. A sequência apresentada pelo sujeito indica que ele subtraiu valores calculados mentalmente porque, por exemplo, conferindo a conta 60 menos 60% (de 60) encontramos o resultado 24 que ele escreveu, alguns outros cálculos também estão corretos. O único erro relacionado ao cálculo de porcentagem deste sujeito foi ao calcular o valor referente a 58,8%, em que ele escreveu 25,00 (talvez daí saiu o valor 25,00 somado na segunda conta), porque o valor 25,00 não se refere a 6058,8% (de 60), o que daria R$ 24,72. Independentemente de ter partido de um valor incorreto e ter efetuado vários cálculos sucessivos que não colaboraram para encontrar o resultado correto da questão, calcular porcentagem corretamente é um já-encontrado importante. Como ele foi anotando números inclusive no formato decimal, a característica é de mundo simbólico. Parece que ele sente-se à vontade usando proporcionalidade direta e isto influencia seus procedimentos. 128 Questão 3) Nesta questão o sujeito A5 escolheu a alternativa III com a justificativa “as duas são funções, pois cada um desses gráficos faz algo, tem uma função; se assim não fosse, eles não existiriam”. Novamente a frase utilizada pelo sujeito lembra a finalidade de alguma coisa “pois cada um desses gráficos faz algo”, reforçando este pensamento ao afirmar que os gráficos “tem uma função” e que se não acontecesse isto “eles não existiriam”. A afirmação traz novamente a sugestão de função não no sentido matemático. Entretanto, o sujeito A5 afirmou que os dois gráficos são gráficos de função (nas suas palavras, “as duas são funções”), afirmação que poderia estar baseada em imagens mentais de gráficos que ele estudou na 1 a série e que tenham ficado registradas em sua imagem de conceito. O caderno do aluno, o livro didático e o professor podem ter sido fontes destas imagens acompanhadas das afirmações referentes a serem gráficos de função, e o sujeito fez aqui esta afirmação com base nestas imagens e lembranças, apesar de sua justificativa não ter apresentado claramente em que ele se baseou. A resposta, em se baseando realmente nas imagens mentais do sujeito, apresentaria características do mundo corporificado e as duas figuras, um gráfico cuja forma parece com uma reta e um gráfico em forma parece com uma parábola seriam os já-encontrados com características de mundo corporificado. É conveniente lembrar que as palavras reta e parábola não estão sendo utilizadas na questão, nem o aluno fez menção neste sentido. Questão 4) Para esta questão o sujeito não apresentou resposta, afirmando “Eu não me lembro de como se faz isso”. A resposta pedida de construir uma fórmula (expressão algébrica) remete a características do mundo simbólico e a resposta do aluno não permite caracterizar suas ideias. Aparentemente, na sua imagem de conceito, a expressão algébrica representa uma maneira de descobrir números, o que também havia sido sugerido por ele na questão (1), e talvez suas ideias sofram influências das imagens mentais que ele registrou. Já-encontrados: talvez o caminho que o aluno conheça seja, partindo da expressão algébrica, construir uma tabela e anotar pontos no plano cartesiano para construir gráfico. Características do mundo corporificado. 129 Questão 5) a) Ao se deparar com esta questão o sujeito A5 escreveu “A oficina X é a melhor para se fazer um concerto de longo tempo pois a taxa por hora trabalhada é menor”. O pensamento do sujeito aqui descrito com suas palavras sugere que ele percebe a influência do tempo sobre o preço do orçamento. A avaliação da situação que ele apresentou sugere tendência para um pensamento com características do mundo formal porque entender a existência da dependência e o que determina esta dependência são passos importantes no sentido de entender o conceito de função. Logo abaixo da sua afirmação, o sujeito escreveu duas contas, uma para a oficina X e outra para oficina Y, utilizando o tempo de 6 horas nos dois cálculos. As contas foram assim apresentadas: 30+6h 30+24=54reais 10+6h 10+48=58reais O sujeito atendeu a solicitação de justificar a resposta e deixar as contas, rascunhos e raciocínio, mas a maneira como ele apresentou sugere que parte das contas foram feitas mentalmente, e ele resolveu escrever somente aquela que provaria sua resposta. Aqui o sujeito utilizou um número inteiro para as horas, procedimento que indica característica de mundo corporificado, porque ele não afirmou que a partir de cinco horas ocorreria uma inversão nas vantagens de um orçamento em relação ao outro, resposta que indicaria características mais avançadas presentes na sua imagem de conceito. Ele resolveu indicar diretamente as seis horas como tempo em que a respectiva oficina passaria a ter um orçamento em melhores condições. Trabalhar com números inteiros é um já-encontrado com características do mundo corporificado, influenciado talvez pelos pensamentos relativos a contagem ou a dificuldades em trabalhar com horas. Já-encontrados: sabe que o tempo t é a variável independente, apesar de não ter explicitado na resposta; dificuldade em generalizar; usa números naturais nos cálculos. Parece que as características de sua imagem de conceito estão entre o mundo corporificado e o mundo formal. b) Aqui o sujeito A5 escreveu “já a oficina Y é melhor para se fazer reparos rápidos pois a taxa fixa não será muito alta”. Esta resposta havia sido colocada na 130 questão (a), desta mesma maneira e com as mesmas palavras. Posteriormente o sujeito apagou o referido trecho daquele espaço e anotou como resposta ao item (b), talvez depois de ter lido o enunciado deste item. Da mesma maneira como escrevemos no item (a), a afirmação do sujeito sugere uma tendência para ideias com características do mundo formal porque ele percebe a dependência do valor do orçamento em relação ao tempo de conserto. c) Neste item o sujeito escreveu “se o reparo durar 5 horas” e logo abaixo desta afirmação ele escreveu duas contas, uma para cada oficina, assim apresentadas: 30 + 5 h 10 + 5 h 30 + 20 = 50reais 10 + 40 = 50reais A maneira como o sujeito organizou as duas contas sugere que ele havia efetuado cálculos mentalmente e apresentou duas expressões numéricas que lembram a expressão geral de uma função do 1 o grau do tipo y=ax+b, sem contudo anotar nada que indicasse que ele havia pensado nisso, o que sugere ideias com características do mundo corporificado, já que a sequência de respostas que ele apresentou sugere que ele tenha como procedimento básico efetuar cálculos numéricos e aparentemente dando preferência para utilização de números inteiros. 6) O sujeito A5 escreveu “eu não aprendi direito como é a função”, resposta que de maneira isolada não indicaria o pensamento dele. Neste ponto da análise, entretanto, a frase utilizada pelo sujeito poderia sugerir que ele tem dificuldades em associar a dependência de uma grandeza em função de outra, apesar de ter afirmado algo neste sentido na questão anterior, quando disse que “a oficina X é a melhor para se fazer um concerto de longo tempo pois a taxa por hora trabalhada é menor”. Observando as respostas da questão 5 e da questão 6, parecem serem respostas de dois indivíduos diferentes, o que sugere que em uma situação o sujeito apresenta indício de ideias de função (questão 5, ao afirmar “a oficina X é a melhor para se fazer um concerto de longo tempo pois a taxa por hora trabalhada é menor”) 131 e em outra situação ele fica inseguro. Parece ter necessidade de uma situação concreta, mesmo que fictícia como a da questão 5, para resolver com cálculos, indicando características do mundo corporificado. Questão 7) a) Neste item o sujeito escreveu “o 4 é uma soma dos números x e y; então um depende do outro para que o resultado seja obtido”. A resposta apresentada sugere que ele percebe a dependência entre x e y, mas um trecho da afirmação chama a atenção, que é “dos números x e y”. Aqui novamente a resposta apresentada pelo sujeito sugere que ele necessita dos números até para apresentar a dependência. De qualquer maneira, aparecem indícios de ideias de função quando o sujeito afirma “um depende do outro”, mas sua resposta tem características do mundo corporificado. b) A resposta do sujeito A5: “é um número que é representado pela soma de outro ao quadrado mais dois”, sugere mais uma vez que ele percebe que o valor de y está associado ao resultado de uma conta, que ele descreveu literalmente (“outro ao quadrado mais dois”). Uma vez mais sua resposta sugere imagem de conceito com características de mundo corporificado porque mostra a necessidade de se apoiar em números para apresentar sua resposta. Sua resposta também sugere que ele não pensa em vários (ou infinitos) números para elevar ao quadrado, somar dois e encontrar vários (ou infinitos) resultados, aparentando estar pensando em um único número. c) Para este item, cuja resposta do sujeito A5 foi “é um número que é representado por outro número vezes ele mesmo”, surgiu uma diferença em relação às respostas aos itens (a) e (b) desta mesma questão. O sujeito talvez não tenha percebido que a questão perguntava “y em função de x” e que a expressão algébrica do item (c) apresentava “x em função de y”. De qualquer modo, a resposta sugere que o sujeito começa a leitura da expressão da esquerda para a direita independentemente do que está sendo perguntado e escreve sua resposta nesta ordem, descrevendo as operações realizadas pensando em números. d) A resposta que o sujeito A5 apresentou para este item foi “é um número vezes o outro que representa um número vezes ele mesmo mais dois”. Nesta 132 resposta, para o termo que está à direita do sinal de igual, o sujeito descreveu a operação segundo a sequência de cálculo que aparentemente ele segue ao resolver uma expressão algébrica apresentada na forma x2+2. O trecho sugere que ao se deparar com esta expressão, o sujeito pensa inicialmente em elevar ao quadrado, isto é, um número vezes ele mesmo, e depois somar dois. Aliás, esta descrição já havia sido apresentada pelo sujeito no item (b) acima, e neste item, mais uma vez, ele pensa em número. Um trecho da resposta que apresenta uma diferença em relação às respostas anteriores é que para o termo que está à esquerda da igualdade, g(x), o sujeito pensou tratar-se de uma multiplicação, porque afirma “é um número vezes o outro ...”. Talvez ele não saiba que esta representação é uma notação de função que aparece desta mesma maneira tanto no livro didático quanto no caderno do aluno que ele recebeu na 1a série, sua ideia imediata foi de uma multiplicação entre dois números. e) A resposta do sujeito A5 para este item foi “é um número vezes 3 menos 4 que representa outro”. Novamente o sujeito descreveu as operações na ordem em que ele aparentemente resolve e outra vez ele falou em números, resposta cujas características consideramos de mundo corporificado porque provavelmente ele não pensou num número diferente de um natural. De uma maneira geral, as respostas do sujeito para a sétima questão sugerem que ele apresenta características do mundo corporificado quando trabalha com expressões algébricas. Sua primeira ideia é identificar a sequência de operações aritméticas apresentadas na expressão, descrevendo-as, e em seguida relaciona com números, reforçando nossa percepção da característica corporificada. Um procedimento que chamou a atenção foi a maneira de descrever a expressão algébrica. Na expressão y=x2+2 ele afirmou “é um número que é representado pela soma de outro ao quadrado mais dois” enquanto para a expressão 3x-4=y ele afirmou “é um número vezes três menos 4 que representa outro” (grifos nossos). A maneira como ele construiu a frase sugere que ele percebe de maneira diferente a expressão algébrica se a variável y estiver no primeiro ou no segundo termo da expressão porque este procedimento se repete de maneira semelhante entre os itens (b) e (c) em comparação ao item (d). Em termos de uma 133 análise sintática da frase, as duas maneiras apresentam o mesmo sentido, mas a colocação feita pelo sujeito sugere que em um tipo de apresentação da expressão ocorre algo diferente em relação à outra apresentação. Talvez seja um jáencontrado que poderia orientar uma questão de pesquisa: “qual a influência da troca da variável independente do primeiro para o segundo termo da expressão algébrica de função?”. Questão 8) a) Após avaliar o gráfico apresentado no item (a) acima o sujeito A5 escreveu “sem o x não há como calcular se a distância da circunferencia para os quatro lados e exatamente igual”. A maneira como o sujeito escreveu a frase deixa dúvidas com relação às ideias que ocorreram. De qualquer forma, é uma frase onde destacamos alguns trechos, como “sem o x não há como calcular” que sugere que o sujeito busca, de alguma forma, efetuar cálculos a partir de algum valor para x, valor este que deve ser um número, conforme o sujeito já deixou claro em questões anteriores, tratando-se de uma característica de mundo corporificado. Outra característica de mundo corporificado está presente no trecho “a distância da circunferencia para os quatro lados e exatamente igual”. Conjeturamos que o sujeito tentou escrever que a distância da circunferência até os quatro eixos são exatamente iguais. A característica de mundo corporificado que destacamos neste trecho está presente em várias palavras. Na palavra “distância”, sugerindo que sujeito necessita de algum valor mensurável, na palavra “circunferência”, sugerindo que ele se deixou levar pelo aspecto visual do gráfico e associou a figura apresentada neste item às imagens mentais presentes na sua imagem de conceito e no trecho “quatro eixos”, que sugere que ele associou às quatro orientações possíveis ao se anotar escalas nos eixos horizontal e vertical do plano cartesiano, à partir da intersecção entre eles no ponto (0, 0). Um gráfico (ou um plano cartesiano) e um círculo (ou circunferência) são exemplos pertencentes ao mundo corporificado. Vale ressaltar duas coisas, que na questão não foi informado tratar-se de uma circunferência e que a resposta do sujeito e a tentativa de conferir as medidas partiu das ideias dele sem fazer nenhuma anotação ou rascunho sobre o gráfico. 134 Esta resposta sugere uma dificuldade ao interpretar um gráfico, com o sujeito partindo para uma descrição visual, talvez influenciado pela questão, onde foi solicitado que avaliasse os gráficos. Talvez para ele avaliar é fazer uma descrição daquilo que vê, mas, de qualquer modo, ele apresenta dificuldades ao interpretar gráficos. b) Para este item o sujeito A5 respondeu “sem a reta y não teriamos certeza e o 0 (zero) da reta x se junta com o 0 (zero) da reta y”. Novamente a frase escrita pelo sujeito deixa margens a interpretações, mas sugere novamente imagens mentais relacionadas com o mundo corporificado, como “reta y” e “reta x”. Parece que o aspecto visual do gráfico não foi associado a outras imagens mentais existentes na imagem de conceito do sujeito porque ele não fez como no item anterior, onde declarou a imagem da “circunferencia”. Aqui ele não citou os termos parábola, 2o grau, ou outro para mostrar que lembra da existência de algum gráfico parecido. Um outro trecho da sua resposta, onde escreveu “o 0 (zero) da reta x se junta com o 0 (zero) da reta y” sugere que o sujeito pensou na localização de pontos sobre o plano cartesiano. Aparentemente ele usa um método de localizar pontos em que ele parte das coordenadas dos eixos horizontal e vertical, traça retas paralelas dos dois eixos passando por estes pontos e, na intersecção entre estas duas retas, marca o ponto. Esta é uma maneira de ensinar a localização de pontos sobre o plano que pode ter aparecido na aula de Matemática e que pode ter ficado gravada na imagem de conceito do sujeito, o que reforça a sugestão de pensamento com características do mundo corporificado. Aparentemente ele não sabe como saber se é função, talvez por não aceitar ou não entender a afirmação “... a cada valor de x corresponde um e somente um valor de y,...” (SÃO PAULO, 2008, p. 3, grifos do autor) que consta no Caderno do Aluno que ele recebeu na 1 a série do Ensino Médio. Esta resposta reforça a sugestão que o sujeito apresenta dificuldades na interpretação de gráficos. c) Como resposta ao item (c) o sujeito A5 escreveu que “sem a reta y não seriam precisas as ocilações”. Novamente o sujeito apresentou uma resposta que sugere uma imagem mental referente a oscilação, talvez influenciado pelo estudo de 135 periodicidade e funções periódicas, que ocorre no 1 o bimestre da 2a série do Ensino Médio, que este sujeito estava cursando em 2010 na época em que ele respondeu ao questionário. Aparentemente o aspecto visual do gráfico, cuja linha está distribuída sobre os quatro quadrantes do plano cartesiano, tenha lembrado talvez o gráfico de uma função seno ou de uma função cosseno. Mais uma vez, a característica sugerida pela resposta é do mundo corporificado. Conjecturamos que ao usar a palavra “precisas” o sujeito pensou no sentido de indicar precisão e não no sentido de indicar necessidade, o que provocaria uma frase difícil de interpretar. A resposta também sugere que o sujeito tem dificuldade de reconhecer se um gráfico representa ou não uma função e ele tenta descrever suas interpretações visuais do gráfico. d) A resposta apresentada pelo sujeito após avaliar o gráfico do item (d) foi “sem a reta x não seriam precisas as distâncias e alturas”, tratando-se de uma resposta com características do mundo corporificado, pois sugere que ele necessita apoio em medidas, representado na frase pelo trecho “distâncias e alturas” para descrever o que pensa. Novamente ele não respondeu se o gráfico representa uma dependência de y em função de x, sugerindo não saber interpretar um gráfico. Mais uma vez ele escreveu uma frase difícil de interpretar pelo uso da palavra “precisas”. Conjecturamos novamente que a palavra “precisas” empregada na frase tenha o significado de apresentar precisão, porque assim apresentaria maior coerência em relação com as próximas palavras da frase que são “as distâncias e alturas”. Interpretando desta maneira, este trecho sugere que o sujeito talvez tenha pensado nas medidas das abscissas e das ordenadas que fazem com que, visualmente, as duas linhas aparentem ter o mesmo formato com a diferença de estarem desenhadas em lados opostos no plano cartesiano. Vale ressaltar uma vez mais que a questão não traz indicações neste sentido nem apresenta a expressão utilizada para construir o gráfico e, portanto, o que o sujeito escreveu veio de sua interpretação para o gráfico. Já-encontrados: necessidade de trabalhar com números e medidas; talvez imagens de alguns gráficos que estudou; não interpreta um gráfico de maneira global, tanta descrevê-los; todos com características de mundo corporificado. 9) 136 a) Para este item o sujeito A5 respondeu “o gráfico B pois ele diz qual número que vai em qual reta”. Esta resposta apresenta características do mundo corporificado porque sugere que ele teve ideia de abscissas e ordenadas dos pontos, chamando-os de números e chamou cada um dos dois eixos de reta. Aparentemente ele trocou a palavra “medidas” usadas em questões anteriores pela palavra números, talvez por achar que são a mesma coisa ou por ter surgido tabela e diagrama numéricos nesta questão. A frase sugere que ele esteja expressando com suas palavras as escalas dos eixos chamando-as simplesmente de números. A resposta também sugere que ele apresenta um já-encontrado relacionado ao mundo corporificado que indica certa facilidade em lançar pontos no plano cartesiano. Talvez isto explique a dificuldade do sujeito em interpretar um gráfico, conforme sugerido na questão anterior, porque lançar pontos sobre o plano pode ser considerado o início do entendimento das representações gráficas. Talvez seja um indício de que o sujeito inicia a corporificação de gráficos, o que poderia ser a base para desenvolver o entendimento da relação entre as grandezas representadas, encaminhando suas ideias para as características simbólicas e formais. b) Aqui o sujeito A5 escreveu “o A porque determina o ponto inicial e o ponto final”. Esta resposta também sugere características do mundo corporificado pois fala de ponto inicial e final, sugerindo que uma linha, talvez um segmento ou uma reta, esteja presente em sua imagem de conceito, apesar de que o sujeito não explicitou. Existe a possibilidade de que ele tenha observado o item (b) e associado a uma reta construída sobre um plano cartesiano e pensou em um ponto inicial e um final desta mesma reta, pensando estarem apresentados no respectivo gráfico. A resposta não esclarece, porém, porque ele não escolheu também a tabela B já que apresenta os mesmos pares ordenados (x,y) que estão incluídos no gráfico que ele analisou. Ele parece não apresentar dificuldade quando um número do diagrama não aparece nas escalas do gráfico. c) A resposta apresentada pelo sujeito A5 para o item (c) foi “o A pois é utilizado apenas a marca horizontal do gráfico”. O trecho “marca horizontal do gráfico” sugere que o sujeito apresenta pensamento com características do mundo corporificado devido a algum já-encontrado referente a gráficos ou à reta orientada ou reta real que estudou na 8a série e associou ao gráfico. De qualquer modo, ele 137 parece não associar os valores do diagrama e da tabela talvez devido à dificuldade na interpretação de gráficos porque, na realidade, o gráfico representado no item (c) não se refere às representações A e B. d) A resposta do sujeito para este item foi “o B pois determina qual número pertence a reta x e qual pertence a y”. Aqui novamente o sujeito apresentou ideias com características do mundo corporificado ao pensar em números e retas, que são já-encontrados que podem ser associados à representação gráfica. A resposta apresentada, associando a tabela do item B com o gráfico do item (d) está correta porque os pares ordenados apresentados na tabela fazem parte dos pontos pertencentes ao gráfico, mas a justificativa do sujeito sugere dificuldade na interpretação de gráficos porque o diagrama A também apresenta valores que poderiam sugerir pontos pertencentes ao gráfico. Após análise ocorreu uma pergunta: será que o sujeito pensa que cada gráfico está associado só ao diagrama ou à tabela e não poderia estar associado aos dois? Já-encontrados: tem ideias de reta e segmento; talvez não aceite mais de uma resposta para cada questão; características do mundo corporificado. Questão 10) A resposta que o sujeito A5 apresentou para esta questão foi “o gráfico B pois faz uma curva juntamente com os números x=2, y=1/2 e x=-1 e y=-1”. Mais uma vez o sujeito sugere dificuldades ao interpretar gráficos porque não percebeu que os pares da tabela também representam pontos pertencentes aos gráficos dos itens (a) e (c). Sua resposta, que sugere ideias com características do mundo corporificado ao citar números e curva, está apoiada em imagens mentais referentes a gráficos que ele talvez tenha visualizado em seus estudos. Aparentemente, suas ideias não remetem a alguma função em particular, como a função polinomial do 2o grau, sugerida no gráfico do item (a) e que aparece em alguns exemplos e exercícios do caderno do aluno da 1a série do Ensino Médio, ou de funções periódicas como a do seno e a do cosseno sugeridas no gráfico do item (c) e que aparecem no caderno do aluno da 2 a série, que ele está estudando este ano. 138 Já-encontrados: utilização de números; sabe partir da tabela ou diagrama para lançar pontos no plano cartesiano; que se referem ao mundo corporificado. Análise individual referente respostas do aluno A6. Questão1) Resposta: “Para mim a palavra função significa um conjunto”. Definição de conceito: A frase sugere que o sujeito A6 pensa em conjuntos e a definição de conceito apresentada pode tanto apresentar características do mundo corporificado, no sentido de conjunto de números, como também características do mundo formal, no sentido de conjunto de pares ordenados que apresentem uma relação de dependência entre eles. Só esta resposta não permite concluir e talvez outras possam reforçar uma das duas conjecturas ou até sugerir outras. É possível que a ideia de conjunto seja um já-encontrado que está na sua imagem de conceito. 2) Resposta: “O valor pago por um conserto é de R$ 67,75”. Imagem de conceito: Quando se deparou com este problema de função em forma de texto, o sujeito A6 pensou em resolvê-lo utilizando números e operações aritméticas. Ele buscou os valores corretamente, efetuou cálculos utilizando números representados na forma decimal, cometeu um erro em uma passagem da conta, quando somou seis com dois e escreveu sete, sugerindo uma distração, e consequentemente sua resposta final não está correta. De qualquer modo, ele calculou a parte variável do valor do orçamento multiplicando o tempo e o valor da hora trabalhada e para calcular o valor final somou o resultado com o valor da taxa fixa. A sequência de operações está correta. Já-encontrados: parece ter assimilado que basta multiplicar o preço por hora pelo tempo escrito em horas, um já-encontrado relacionado ao trabalho com unidades e com características do mundo simbólico. 3) Resposta: O sujeito A6 assinalou o item II e escreveu “somente o B é uma função por causa de como a sua relação está apresentada no gráfico”. 139 Imagem de conceito: A resposta sugere que a ideia do sujeito A6 ao trabalhar com gráficos apresenta características do mundo corporificado. Sua afirmação “somente o B é uma função” sugere que na sua imagem de conceito aparecem imagens de gráficos de funções quadráticas, apesar de não ter escrito isto. Ele não disse porque descartou o gráfico do item (a), que talvez possa sugerir uma pergunta: será que ele não trabalhou com gráficos de função polinomial do 1o grau? Já-encontrados: imagens mentais de gráficos semelhantes aos gráficos de função polinomial do 2o grau; aparentemente não aparece na sua imagem de conceito gráficos de função polinomial do 1o grau. Características do mundo corporificado. Questão 4) Resposta: “O sujeito A6 escreveu no protocolo “gráfico A” e logo abaixo disso escreveu “0,2<-1”, mas apagou estes escritos, deixando a questão sem resposta. Imagem de conceito: Nesta questão, que solicita ao sujeito pensar algebricamente, ele reage tentando encaixar números, sugerindo pensamento com características do mundo corporificado. Ele tentou escrever uma expressão e não foi possível identificar se ele poderia seguir escrevendo ou complementando e ao final quem sabe poderia esboçar alguma expressão algébrica. A expressão que ele escreveu assim isoladamente não apresenta coerência, talvez até por isso ele se sentiu inseguro e resolveu abandonar a questão, inclusive apagando o que havia escrito. Já-encontrados: Parece que imagens do gráfico de função polinomial do 1o grau não aparecem em sua imagem de conceito; parece ter ideia da existência das expressões algébricas, mas não consegue se expressar a não ser usando números; parece que nunca trabalhou passando do gráfico para expressão algébrica. Características do mundo corporificado. Questão 5) a) Resposta: “Ela é mais barata”. 140 b) Resposta: “nenhuma condição pois ela é mais cara”. c) Resposta: “Nenhuma condição pois os preços não são iguais”. Imagem de conceito: Quando o sujeito se depara com uma situação envolvendo o conceito de função em uma aplicação prática, próxima de uma situação que poderia realmente acontecer, ele busca valores no problema, arma as contas e realiza as operações numéricas, sugerindo pensamento com características do mundo corporificado. O sujeito A6 não acertou as respostas porque ele, depois de armar a conta que serviria para comparar o valor de uma hora trabalhada em cada oficina, talvez por distração, não fez tal comparação. O resultado que ele encontrou para uma hora na oficina X foi R$ 34,00 e na oficina Y foi R$ 18,00 e ambos estão corretos, mas em seguida ele emendou outra conta, multiplicando estes resultados por 60, encontrando respectivamente 204,000 e 108,000. Não são resultados corretos porque ele errou na contagem das casas decimais, colocando a vírgula no lugar errado, talvez outra distração, mas não ficou evidente porque ele fez esta última multiplicação. Pode ser que ele tentou fazer o cálculo para 60 horas para ter parâmetros de comparação e se perdeu na conta. Vale ressaltar que ele fez outras contas, uma multiplicando por exemplo 60 por 4 e somando 30 para encontrar 270, outra multiplicando 60 por 8 e somando com 10 para encontrar 490, ambas sugerindo que ele pensou em calcular novamente ou conferir os resultados que ele havia encontrado anteriormente. Talvez ele tenha decidido afirmar no item (b) que “nenhuma condição pois ela é mais cara” para a oficina Y sem pensar no seu cálculo inicial para uma hora em cada oficina, que estavam corretos e poderiam ter provocado um pensamento diferente. Em seguida ele talvez tenha se deixado levar pelo valor das 60 horas de Y em comparação a X e fez a afirmação dos itens (b) e (c), citadas acima. Já-encontrados: utilização de expressões numéricas, características do mundo corporificado. Questão 6) Resposta: “pensar atentamente e anotar aquilo que eu acho importante”. 141 Imagem de conceito: Aparentemente a resposta do sujeito A6 não permite identificar com clareza características das suas ideias. Questão 7) a) Resposta: “não representa”. b) Resposta: “representa”. c) Resposta: “representa”. d) Resposta: “não representa”. e) Resposta: “não representa”. Imagem de conceito: O conjunto de respostas do sujeito sugere dificuldades em perceber em expressões algébricas que representem ou não uma função. Ele afirmou que x+y=4 “não representa” uma função talvez porque as duas variáveis estejam do mesmo lado da igualdade. No item (d), onde aparece a notação g(x), sua resposta sugere dificuldade ou até desconhecimento desta notação como notação de função. Outra expressão que ele afirmou “não representa” aparece no item (e) e aqui talvez ele tenha pensado que pelo fato da variável dependente aparecer à direita da igualdade caracterizaria a expressão como não sendo uma função. No item (b), em que a expressão parece mais familiar ao sujeito, ele respondeu corretamente que “representa” uma função e estranhamente no item (c) ele afirmou que a expressão x=y2 “representa” uma dependência de y em função de x, talvez porque esteja na forma x=... Imagem de conceito: Quando o trabalha com representação algébrica, o sujeito A6 apresenta pensamento com características do mundo simbólico, mas tem muitas dificuldades com as expressões apresentadas de forma diferente da expressão y=ax+b. Parece que alterações na expressão, mudando a posição das variáveis ou do termo independente, causam confusão. Se por exemplo for utilizada a notação g(x), ele também apresenta dificuldade em responder. Já-encontrados: expressão deve aparecer y=...; não assimilou g(x) como notação de função; características do mundo simbólico. Questão 8) 142 Respostas: ao lado de cada gráfico o sujeito anotou “não me lembro”, resposta que não permite avaliar as ideias do sujeito A6 ao trabalhar com gráficos. Questão 9) Resposta: “gráfico D, melhor da-se para entender por causa dos pontos que estão ligando”. Imagem de conceito: Quando solicitado a associar dados apresentados em um diagrama ou tabela numéricos com um gráfico, o sujeito apresenta pensamento com características do mundo corporificado. Parece que sua ideia para esta questão seria a de uma única resposta e (d) foi aquela que julgou procedente. Os itens (a) e (b) também apresentam os pontos citados no diagrama e na tabela, entretanto, ele pode ter ficado confuso nestes itens porque em (b) as escalas não indicam claramente valores que constam na tabela, como os valores –3 e 3 do eixo vertical, enquanto em (a) não foi desenhada uma curva, sendo somente apresentados os pontos. Aparentemente suas ideias sejam de que no gráfico precisam aparecer claramente os pontos e ainda uma linha unindo esses pontos. Já-encontrados: parece que para ser gráfico tem que aparecer uma linha unindo os pontos. Características do mundo corporificado. Questão 10) Resposta: “gráfico C, eu escolhi porque ele foi o que mais deu para entender e ligou os pontos corretamente”. Imagem de conceito: De maneira semelhante à questão anterior, o pensamento do sujeito A6 apresenta características do mundo corporificado. O sujeito talvez tenha pensado que existiria uma única resposta e o gráfico do item (c) parece apresentar as condições que ele julga serem corretas, e inclusive ele pode nem ter testado os gráficos dos itens (a) e (b), que também contêm os pontos apresentados na tabela, apesar de não estarem destacados nos eixos. Parece que o motivo por ele ter optado pelo gráfico (c) é mesmo o fato dos pontos estarem evidenciados sobre o plano cartesiano. Apesar do gráfico do item (a) ser usualmente trabalhado em sala e aparecer várias vezes tanto no caderno do aluno quanto no 143 livro didático, os pontos não estão evidenciados, e isto associado à ideia de uma única resposta para cada questão, teria remetido a escolha para o item (c). Já-encontrados: parece que os pontos devem estar evidenciados nas escalas do gráfico, características do mundo corporificado. Análise individual referente respostas do aluno A7. Questão 1) Resposta: “Não aprendi”. Esta resposta aparentemente não permite avaliar aspectos e características do pensamento do sujeito A7. Questão 2) Resposta: “R$ 47,75+R$20,00=67,75→com o valor da visita”. Imagem de conceito: O pensamento do sujeito A7 apresenta características que estão entre as do mundo corporificado e do mundo simbólico porque depois de ler uma situação apresentada em forma de texto, ele buscou valores na descrição e efetuou cálculos aritméticos para encontrar o resultado final usando regra de três. Ocorreu uma diferença entre a resposta apresentada pelo sujeito (67,75) e a resposta correta para esta situação (R$68,75) porque numa passagem ele somou 3 com 5 e colocou como resultado 7, erro que consideramos como distração depois de analisar os procedimentos utilizados por ele. Este sujeito percebeu que o valor da hora trabalhada deve ser associado ao tempo para calcular a parte variável do valor do orçamento para em seguida somar com o valor da taxa fixa e encontrar o resultado final, mas em nenhum momento ele citou o termo variável. Foi armando as contas e resolvendo, pensou em regra de três para resolver a multiplicação. Conferiu a ordem de grandeza do resultado da multiplicação fazendo o cálculo para a parte inteira das horas (3x15=45). Como escreveu 3:25 na regra de três, sugerindo 3h e 25 min, talvez não tenha associado características simbólicas e formais no trato com horas do relógio. Já-encontrados: confere ordem de grandeza da conta, característica do mundo simbólico. 144 Questão 3) Resposta: Assinalou alternativa I e justificou “reconheço que essa matéria é de 8o série no entanto na minha 8o série, não me ensinara, a aplicar função em grafico desta maneira! No 2o ano do Ensino Medio, mechemos bastante em graficos e não me lembro de haver função no grafico semelhante ao B então minhe resposta é a I”. Imagem de conceito: As ideias do sujeito A7 apresentam características do mundo corporificado. Parece que ele corporificou de uma maneira mais destacada o gráfico de uma função polinomial do 1o grau ou a figura da linha reta e por algum motivo associou somente à 8a série do Ensino Fundamental e à 2a série do Ensino Médio. Na 8a série é apresentada a introdução ao estudo de funções, mas uma ênfase maior ocorre na 1a série do Ensino Médio em que o conceito é trabalhado durante quase todo o ano, para prosseguir na 2 a série com as funções periódicas. Não conseguimos identificar nesta resposta o motivo desta associação, parece que seus estudos na 1a série não foram incorporados em sua imagem de conceito ou talvez ele tenha esquecido. Sobre o gráfico apresentado em (B) o sujeito traçou algumas paralelas aos eixos para tentar identificar as coordenadas dos pontos, assinalando quatro pontos referentes aos pares (x,y) (2, 2); (1, -1); (0, 0) e (-1, 3), este último ele “ajeitou” a paralela de modo que passasse em x= -1 e os demais parece que ele encontrou as coordenadas com facilidade. Não ficou evidente o que ele pensou com relação a este gráfico, podemos conjecturar que descartou este gráfico porque as coordenadas que aparecem nos eixos não geram pontos sobre o gráfico, como é o caso do ponto (-1, y) com y≠3. De um modo geral, sua imagem de conceito parece ter a imagem de gráfico de função como aquele onde apareça a reta, apesar de que demonstra certa insegurança em descartar o gráfico B. Podemos dizer ainda, que escolheu o gráfico A porque eliminou o B imaginando que uma questão em Matemática só tem uma resposta correta. Já-encontrados: imagens mentais de gráficos onde apareça a reta; pensa que uma questão tem uma única resposta; características do mundo corporificado. Questão 4) Deixou em branco. 145 Questão 5) a) Resposta: “É melhor utilizar a oficina X para maior tempo. b) Resposta: “É melhor utilizar a oficina Y quando der no maximo 3:75 horas trabalhadas, pois chegara ao valor da taxa da oficina Y” c) Resposta: Deixou em branco. Imagem de conceito: A imagem de conceito de função do sujeito A7 nesta situação apresenta características do mundo simbólico. Ele montou tabelas numéricas para comparar valores de uma hora e sete horas de cada oficina para responder os itens (a) e (b), fazendo os cálculos e comparações corretamente e demonstrou ter percebido a inversão que ocorre, porque respondeu corretamente aos dois itens. Ele também montou regra de três para tentar descobrir em que ponto ocorreria a igualdade entre os valores das duas oficinas, e aqui ele talvez tenha feito alguma confusão, porque montou a regra de três usando o valor de uma hora trabalhada na oficina Y com a taxa fixa da oficina X, encontrando o resultado 3,75. A montagem da regra de três e o resultado encontrado estão corretos, a confusão ocorreu porque ele misturou hora trabalhada de uma oficina com taxa fixa da outra, o que sugere que ele tentou verificar quantas horas da oficina Y corresponderiam à taxa fixa da oficina X. Como ele havia calculado no início os valores de 1h e 7h para cada oficina e o resultado da regra de três ficou neste intervalo, ele deve ter se convencido de ter encontrado a resposta procurada. Uma dedução, entretanto, não está certa, que foi a de achar que 3,75 (resultado da regra de três) seria o mesmo que 3:75, que ele apresentou como resposta para o tempo. Parece que ele não incorporou (ou não trabalhou?) a transformação de horas e minutos do relógio para o formato decimal. Já-encontrados: Regra de três, característica do mundo corporificado. Questão 6) Resposta: “Como disse antes, não apredi muito sobre função”, resposta que não nos permite identificar características das ideias do sujeito. Questão 7) Deixou todos os itens em branco. 146 Questão 8) Deixou todos itens em branco. Questão 9) a) Resposta: sobre o plano cartesiano apresentado no item (a) ele esboçou uma linha reta unindo os três pontos, sem estendê-la fora deles, isto é, desenhou um segmento de reta. Imagem de conceito: O sujeito A7 apresentou uma resposta que sugere características do mundo corporificado, o que vem inclusive reforçar aquilo que identificamos na terceira questão, quando ele havia apresentado uma resposta associada ao gráfico em que aparece a linha reta. Parece que em sua imagem de conceito de gráficos de função estão presentes apenas gráficos de funções polinomiais do 1o grau. Sobre os outros três gráficos ele aparentemente não fez anotações. Talvez ao trabalhar com o gráfico das funções polinomiais do 1 o grau sempre se restringiu ao segmento que une o ponto mais à esquerda ao ponto mais à direita? E ainda, sempre ocorreu das coordenadas dos pontos estarem evidentes tanto na tabela quanto nas escalas dos eixos? Os pontos devem estar claramente destacados sobre o plano cartesiano? Já-encontrados: segmento de reta como gráfico; pontos devem estar evidenciados nas escalas; pontos devem estar assinalados no plano para uní-los com uma curva; características do mundo corporificado. Questão 10) Resposta: O sujeito assinalou com “x” o item (a), sem anotar justificativas. Imagem de conceito: A resposta do sujeito A7 apresenta características do mundo corporificado. Entretanto, esta resposta vem de certa maneira apresentar uma contradição à afirmação que ele havia feito na terceira questão quando escreveu “... não me lembro de haver função no grafico semelhante ao B então minhe resposta é a I”, ocasião em que ele se escolheu o gráfico de uma função polinomial do 1o grau (em A) e descartou o gráfico de uma função quadrática (em B). Nesta questão, entretanto, ele escolheu o gráfico do item (a), que se parece com uma parábola, talvez influenciado pelo fato de aparecer três vezes neste 147 questionário um gráfico semelhante (questões 3, 8 e 10), e neste caso, talvez poderia tratar-se de um a-encontrar. Outro fato que estranhamos foi ele descartar o gráfico do item (d), cuja linha se parece com um gráfico de uma função periódica, que ele vem estudando na 2a série do Ensino Médio e inclusive citou anteriormente, na terceira questão, que “no 2o ano do Ensino Medio, mechemos bastante em gráficos ...”. Já-encontrados: todo problema de Matemática deve ter uma única resposta; imagens de gráficos de função polinomial do 1 o grau; características do mundo corporificado. A-encontrar: conjecturamos a incorporação do gráfico da função polinomial do 2o grau, característica do mundo corporificado. Análise individual referente respostas do aluno A8. Questão 1) Resposta: “Significa a função de algum número, letra,...”. Imagem de conceito: A resposta sugere pelo menos duas coisas diferentes: que para o sujeito A8 função tenha sentido de serventia, do tipo “que função tem a letra?”; ou ainda que seja uma expressão algébrica onde aparecem letras e números. Suas palavras parecem indicar que número ou letra servem para alguma coisa que ele não escreveu. Talvez outras questões possam apresentar indícios de como ele pensa. Questão 2) Resposta: “O valor pago é R$ 48,75”. Imagem de conceito: Ao trabalhar com uma situação de função apresentada na forma de texto, com uma situação que poderia ser associada ao dia a dia, o sujeito A8 busca valores numéricos na descrição da situação, efetua cálculos e apresenta a resposta. Sua resposta apresenta características do mundo simbólico porque utiliza números decimais. Ocorreu uma diferença entre o valor encontrado pelo sujeito e a resposta correta para esta questão, que é R$ 68,75, porque ele não somou o valor da taxa fixa de R$ 20,00. Não ficou claro pela resolução que ele 148 apresentou se foi um caso de distração ou se ele pensou que seria uma regra de três simples, ou se acredita que o preço é R$ 15,00 por hora se o serviço for mais de R$ 20,00 (pensou em R$ 20,00 como uma taxa mínima). A multiplicação de 3,25 por 15, encontrando o valor que ele declarou na resposta, foi feita da maneira convencional, armando a conta como normalmente ensina-se nas séries iniciais. Já-encontrados: regra de três, característica do mundo simbólico. Questão 3) Resposta: assinalou a alternativa II, justificando “II pois ela está representada no grafico”. Imagem de conceito: Quando se depara com representação gráfica de função a resposta do sujeito A8 apresenta características do mundo corporificado e parece que em suas imagens mentais de gráficos está presente o gráfico de uma função cuja linha se parece com a de uma função quadrática. Parece que gráfico onde apareça uma reta não faz parte da imagem de conceito do sujeito. Questão 4) Resposta: O sujeito deixou em branco, o que não permite identificar características do seu pensamento. Questão 5) Resposta: Dos três itens, o único em que o sujeito A8 escreveu uma justificativa foi o item (c) afirmando que “em nenhuma condição”. Imagem de conceito: O sujeito A8, depois de ler a situação apresentada, identificou valores numéricos e efetuou cálculos, sugerindo um pensamento com características do mundo corporificado. Ocorre que o sujeito não associou os valores da maneira correta, porque no item (a) ele multiplicou 30,00 por 4,00 obtendo o resultado 1200,000 e no item (b) multiplicou 10,00 por 8,00 encontrando o resultado 800,000. Nas duas contas o raciocínio do sujeito sugere dificuldades em identificar os dados e como utilizá-los para resolver um problema envolvendo o conceito de função. Por algum motivo que não ficou claro, ele fez duas multiplicações, lembrando o que ocorreu na segunda questão e que, naquela análise, havíamos pensado que se tratava de distração. A resposta a esta questão sugere dificuldades 149 em identificar variável independente, variável dependente, ordem de grandeza, além de sugerir dificuldades em efetuar cálculos onde apareçam números no formato decimal. Já-encontrados: trabalha com três casas decimais; dificuldades ao operar com decimais; características do mundo corporificado. Questão 6) Resposta: “Ler o problema com bastante atenção”. Imagem de conceito: A resposta do sujeito sugere ideias com características do mundo corporificado, porque a representação em forma de texto apresenta este tipo de característica e o sujeito parece acreditar que se ler o texto com atenção identificará possíveis modos de resolução. Já-encontrado: livros texto, que antes do problema em geral colocam “leia o problema com atenção”. Questão 7) a) Resposta: “Não representa/Eu não entendi direito essa matéria quando a professora passou, mais acho que são essas”. b) Resposta: “Representa”. c) Resposta: “Representa”. d) Resposta: “Não representa”. e) Resposta: “Não representa”. Imagem de conceito: As respostas do sujeito A8 ao trabalhar com função em sua representação algébrica sugerem ideias com características do mundo simbólico. Entretanto, suas respostas indicam alguma dificuldade talvez associada à manipulação de expressões algébricas, por exemplo, no item (a), em que as duas variáveis aparecem no mesmo termo, ele afirmou que a expressão não representa uma função quando na verdade trata-se de uma representação de função. Já com a expressão (b), onde a letra y está isolada num dos membros, ele afirmou, desta vez corretamente, tratar-se de uma representação de função. 150 Ao se deparar com o item (c) ele afirmou que representa uma dependência de y em função de x, mas parece que se deixou levar pelo fato de que cada variável está em um lado da expressão e respondeu incorretamente. Os dois últimos itens da questão ele respondeu também incorretamente que não representam uma dependência de y em função de x. O item (d) talvez porque a letra y não apareça na expressão, já que a questão apresenta a notação g(x) e parece que ele tem dificuldades nesta representação, e o item (e) talvez ele tenha sentido dificuldade porque a letra y está no segundo membro da expressão. Surgiu-nos uma dúvida, caso fosse f(x) no lugar de g(x) se ele acertaria. Já-encontrados: somente é função se a letra (qualquer uma) estiver sozinha do no membro da esquerda, começando com y=..., x=...; dificuldade com notação g(x); características do mundo corporificado. Questão 8) Resposta: Abaixo de cada item o sujeito A8 escreveu “não me lembro”, o que não permite identificar como o sujeito trabalha com gráficos, o que pode indicar dificuldades ao trabalhar com gráficos de funções. Questão 9) Resposta: “O grafico D melhor por causa dos pontos ligados”. Imagem de conceito: A resposta do sujeito A8 sugere pensamento com características do mundo corporificado. Sugere também dificuldades em interpretar gráficos em que não apareçam os pontos ligados ou não evidentes nos gráficos, como o gráfico apresentado no item (a), em que os pontos não estão ligados, embora também apresenta os pontos cujas coordenadas aparecem no diagrama e na tabela. Outro gráfico que apresenta os pontos das duas representações (tabela e diagrama) é o gráfico do item (c). Ele não escolheu este gráfico talvez por estar relacionado com o fato de que os pontos não foram destacados sobre o plano cartesiano correspondente, ou pelo fato de que a escala não apresenta claramente escritos os valores de duas das ordenadas, ou ainda pelo fato de que ele pensou que a questão apresentaria somente uma alternativa, que ele escolheu como sendo a d. 151 Já-encontrados: pontos destacados no gráfico; pontos com coordenadas nas escalas dos eixos; linhas unindo os pontos; características do mundo corporificado. Questão 10) Resposta: “Gráfico c → Eu escolhi esse, porque entendi melhor” (grifo do sujeito). Imagem de conceito: A resposta do sujeito A8 sugere que quando trabalha com tabela associada a gráfico, sua resposta apresenta características do mundo corporificado, e também parece estar associada às mesmas sugestões que citamos na questão anterior, como possíveis dificuldades em interpretar gráficos onde não apareçam os pontos ligados, como os gráficos apresentados nos itens (a) e (b), que também apresentam os pontos cujas coordenadas aparecem na tabela. O fato de ele não ter escolhido um destes gráficos pode estar relacionado com o fato de que os pontos não foram destacados sobre o plano cartesiano correspondente, ou ainda pelo fato de que ele pensou que a questão apresentaria somente uma alternativa. Já-encontrados: pontos devem estar destacados no gráfico; pontos com as coordenadas nas escalas dos eixos; linhas unindo os pontos; são características do mundo corporificado. As análises efetuadas com base nos dados encontrados nos protocolos, que foram apresentadas neste capítulo, serviram de base para avaliar a imagem de conceito e a definição de conceito e as características das ideias dos alunos em relação aos Três Mundos da Matemática. O resultado desta avaliação faz parte do próximo capítulo. 6. RETOMADA DAS QUESTÕES DE PESQUISA Neste capítulo pretendemos retomar as questões de pesquisa apresentadas no capítulo 1, página19. Nosso objetivo é o de identificar a resposta a cada uma delas, lembrando que imagem de conceito e definição de conceito (TALL; VINNER, 1981) são individuais, 152 e esta retomada leva em consideração este fato. No entanto, as características em relação aos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004), que aparecem nas respostas permitem avaliar como o grupo de estudantes apresenta suas ideias em atividades relacionadas ao conceito de função, e ousamos apresentar ao final deste capítulo uma observação relativa ao grupo de estudantes da 2a série do Ensino Médio de uma escola pública da cidade de São Paulo que aceitou participar desta pesquisa. 6.1. Introdução Nos protocolos respondidos pelos alunos investigados surgiram várias ideias referentes ao conceito de função e que, acreditamos, estarão contribuindo para responder cada uma das três questões de pesquisa. 6.2. Primeira questão I – Qual imagem de conceito (TALL; VINNER, 1981) de função que alunos do Ensino Médio apresentam, após terem estudado este tema na 1a série do Ensino Médio? A imagem de conceito de função sugerida pelas respostas do sujeito A1 é a do uso de tabelas para em seguida construir um gráfico, elementos característicos de mundo corporificado. Nesta imagem de conceito aparentemente estão presentes já-encontrados característicos de mundo corporificado como: tabela numérica, onde preferencialmente utiliza números inteiros; gráficos, especificamente fazendo localização de pontos no plano cartesiano; operações aritméticas, principalmente aquelas consideradas elementares. Dois grupos de questões que ofereciam ao sujeito A1 a oportunidade de demonstrar características de mundo simbólico foram resolvidas incorretamente ou até deixadas em branco: a questão sete, deixada em branco; e a quatro, que respondeu incorretamente, e que tratavam de expressões algébricas. As respostas sugerem também que ele apresenta dificuldades em encontrar uma expressão 153 numérica ou algébrica a partir de uma situação apresentada em forma de texto ou gráfico. Parece que ele nem pensa em uma expressão algébrica geral, como a expressão y=ax+b ou outra qualquer. As questões dois e cinco, referentes à análise de orçamentos, que poderiam ser resolvidas por meio simbólico, foram resolvidas pelo sujeito por meios numéricos. Quando se trata de gráfico, o sujeito A1 sabe buscar coordenadas de pontos, contudo ele busca números inteiros e quando é exigida alguma estimativa ele tem dificuldades nas escalas. Ele, inclusive, não faz a interpretação do gráfico de uma forma generalizada levando em consideração aspectos importantes de função, como certos coeficientes, pontos notáveis, inclinação ou taxa de crescimento, domínio e imagem. Quando tenta identificar coordenadas de pontos cujos valores não estejam explicitados nas escalas ele tem dificuldades. Quando analisa problemas referentes ao conceito de função apresentados em linguagem em forma de texto, o sujeito A2 pensa em efetuar cálculos, mesmo no caso em que é necessário analisar duas situações de orçamento variável em função do tempo, que o sujeito conduziu numericamente, efetuando cálculos utilizando números naturais. Neste problema de análise de dois orçamentos, em momento algum sua resposta sugeriu que ele pensou em construir expressões algébricas ou outra representação para responder, nem para o item que pedia a situação em que os dois orçamentos apresentassem o mesmo valor, quando ele se perdeu nos cálculos e nas comparações e não conseguiu responder corretamente. Ele percebe nas situações apresentadas em forma de texto qual é o valor associado à variável independente, apesar de não ter explicitado estes termos nas respostas. Talvez ele considere a variável sempre como x. Como prefere trabalhar numericamente, ele poderia utilizar uma tabela para identificar o valor procurado de igualdade nos dois orçamentos, mas ele talvez pense que a tabela serve só para anotar os pares ordenados dos pontos que vão no gráfico, ele não utilizou esta representação para encontrar a resposta pedida na questão. Também não utilizou um gráfico, que poderia ter ajudado a resolver. Quando se trata da representação gráfica, seja de uma função ou seja um gráfico que não representa uma função, o sujeito A2 apresenta dificuldades na 154 análise para definir qual é ou não um gráfico de função. Em uma questão, entretanto, quando apresentamos uma curva que lembrava uma parábola, o sujeito afirmou que a expressão algébrica que representava aquele gráfico era “x2 = y.-3”. Apesar da confusão ao escrever a expressão, parece que o sujeito lembra que aquela forma de gráfico está associada a uma expressão que apareça o expoente dois na variável x. Em resumo, a imagem de conceito do sujeito A2 apresenta características do mundo corporificado. Ele está fortemente apoiado em números ao resolver e responder situações referentes ao conceito de função, principalmente os números naturais, e apresenta dificuldades ao trabalhar com números inteiros e decimais. Quando trabalha função apresentada sob sua representação em forma de texto utilizando palavras, o sujeito A3 pensa em identificar valores numéricos, preferencialmente números naturais, e fazer cálculos, apesar de que em uma resposta surgiu a ideia de que ele percebe dependência. Consideramos que suas ideias sugerem características do mundo corporificado. Ao trabalhar com a representação gráfica do conceito de função, o sujeito A3 sugere muitas dificuldades e limitações. Parece que todos os valores devem estar claramente indicados nas escalas e que os pontos devam estar assinalados sobre o plano, porque do contrário parece que ele não resolve corretamente. Quando ele observa uma tabela numérica ou um diagrama de Venn parece que ele pensa imediatamente em coordenadas dos pontos, que precisam ser lançados num plano cartesiano para se obter um gráfico, sugerindo procedimento com características do mundo corporificado. Em uma resposta ele sugere que função é gráfico (ou que gráfico é função), o que se contrapõe a uma resposta em que sugeriu também que função poderia ser uma sequência ou progressão, mostrando que este conceito não tem elementos importantes presentes na sua imagem de conceito. Quando se trata da representação algébrica de função o sujeito A3 parece também ter várias dificuldades, chegando ao ponto de não tentar responder, limitando-se a afirmar que não sabe. 155 Consideramos que a imagem de conceito do sujeito A3 apresenta características do mundo corporificado. Quando se depara com um problema apresentado na forma de texto o sujeito A4 pensa inicialmente em efetuar cálculos, buscando na descrição da situação os dados e operações a serem realizadas. Numa questão chegou a escrever uma expressão numérica que poderia sugerir a lembrança da forma algébrica básica da função afim y=ax+b, para em seguida, “armar” a conta e efetuar os cálculos. Seu modo de resolver aquela situação de função representada em forma de texto apresenta características do mundo corporificado. Em uma outra questão, o sujeito A4 apresentou indícios de pensamento formal porque as respostas aos três itens desta questão sugerem que ele percebeu que naquela situação, o tempo determina o valor variável do orçamento. Ele apresentou seu pensamento utilizando palavras próprias, não citou termos referentes ao conceito de função como variável independente, domínio, etc, mas suas respostas apresentam coerência em relação ao conceito de função. Ao trabalhar o conceito de função na sua representação algébrica, o sujeito A4 pensa em substituir valores numéricos inteiros para efetuar contas. Alguns dos procedimentos apresentados sugerem que o sujeito faz confusão, pensando em certos momentos tratar-se de equação, e então ele parte para manipulação, em outros ele efetua cálculos seguindo regras que parecem próprias e em outros ele parte para descrever o que está apresentado na expressão. O sujeito, quando trabalha a representação algébrica de função tenta resolver com características do mundo corporificado, porque pensa em transformar em expressões numéricas, em efetuar cálculos ou em descrever o que está apresentado na expressão. Ao trabalhar com gráficos, o modo de resolver apresentado pelo sujeito A4 sugere muitas dificuldades. Ele mostra a tendência de identificar os pares ordenados dos pontos dos gráficos, sem pensar em coisas importantes como a interpretação do gráfico de uma maneira global, analisando o comportamento da curva, o sinal e a taxa de inclinação, além dos pontos notáveis. O sujeito se deixa levar pelo formato da curva, algumas vezes descrevendo-a, sugerindo que em seu pensamento estão presentes gráficos que ele trabalhou durante seu estudo, mas tratando-se quase que 156 só de figuras mentais aparentemente sem ligação com o conceito de função. As ideias do sujeito nesta situação apresentam características do mundo corporificado. O sujeito não demonstrou saber identificar se um gráfico representa ou não uma função, nem demonstrou saber associar um gráfico à uma expressão algébrica ou ainda a um nome, como parábola, reta, etc, que em momento algum ele utilizou. Aparentemente, na sua imagem de conceito, função e gráfico são coisas separadas, pois para ele, função é o “jeito de resolução da conta”. A imagem de conceito de função do sujeito A4 apresenta características do mundo corporificado. A imagem de conceito de função sugerida pelas respostas do sujeito A5 indica a presença de expressões algébricas e gráficos para calcular ou identificar números. Como em suas respostas ele demonstrou dificuldades na interpretação destas duas representações, sua imagem de conceito de função tem características de mundo corporificado. Suas respostas sugerem que ele está iniciando o entendimento de função, como se estivesse num patamar muito próximo do entendimento, demonstrando insegurança nas situações apresentadas. Algumas características, entretanto, poderão ajudá-lo no entendimento do conceito, que poderíamos chamar de ferramentas. Ele tem certa facilidade em trabalhar com porcentagem e regra de três, que são características do mundo simbólico, e podem colaborar em várias situações de função. Ao ler um texto em palavras que apresenta uma situação envolvendo função, ele percebe o que determina a dependência de uma maneira aparentemente lógica ou intuitiva, que também podem ajudar. Ele aceita a existência de expressões algébricas, outra característica do mundo corporificado, mas aqui ele tem a tendência de descrever o que a expressão apresenta. Quanto à representação gráfica, ele também percebe a disposição dos eixos cartesianos, a distribuição de escalas, mas parece estar focado em números inteiros e apresenta dificuldades em fazer interpolações. As características da imagem de conceito de função do sujeito A5 se referem ao mundo corporificado. 157 Quando trabalha com o conceito de função apresentado sob sua representação em forma de texto o sujeito A6 pensa em identificar números para executar cálculos. Este é um pensamento com características do mundo corporificado. Ele aparentemente não apresenta dificuldades em trabalhar com números decimais, uma característica do mundo simbólico, mas demonstra certa falta de concentração porque erra alguns cálculos simples. Se o conceito de função aparece em forma de texto num problema que poderia ser considerado de aplicação prática, com a variável independente o tempo, o sujeito demonstra perceber influência desta variável dependente na variável dependente, apesar de não ter utilizado especificamente estes termos. Talvez se deixe levar pela intuição, percebe quem determina a variação, mas não consegue generalizar. Se a função aparece na representação algébrica, as respostas do sujeito A6 sugerem muitas dificuldades, porque ou ele desiste e deixa a questão em branco, ou responde coisas que parecem demonstrar pouca familiaridade com esta representação. As características do mundo simbólico que apareceram nas suas respostas sugerem que ele parece ter pensamento de quem inicia seu aprendizado de álgebra, demonstrando todas inseguranças que normalmente aparecem nos primeiros passos do aprendizado de algum conceito. No caso do conceito de função, parece que somente representa uma função a expressão algébrica que aparece nos moldes da expressão genérica y=ax+b, ainda assim surgem dificuldades. Qualquer mudança, mesmo que seja colocar o y no segundo termo, já parece gerar confusão para este sujeito, e a notação g(x) parece não ser conhecida, talvez por não ser f(x). Quando o sujeito A6 visualiza uma tabela numérica ou diagrama para associar a um gráfico, ocorre também alguma confusão e seu pensamento com características do mundo corporificado se limita a associar somente o gráfico que esteja claro e evidente para ele. Para isto, deve constar nas escalas todos valores da tabela ou diagrama, os pontos devem estar claramente sobre o plano cartesiano, e deve aparecer também claramente a curva ligando estes pontos. Qualquer coisa fora disso aparentemente traz dificuldades. Se a função vem apresentada graficamente, parece buscar, sobre o gráfico, os pontos e as coordenadas que aparecem na tabela ou no diagrama para verificar se é função, aparentemente conferindo os pontos. Parece que o sujeito A6 pensa 158 que os pontos devem estar evidentes sobre o plano cartesiano e, ao mesmo tempo, contidos na linha que representa o gráfico. Se algum ponto possui coordenadas que não aparecem nas escalas, o aluno não consegue expressar o significado que tal gráfico tem para ele. Aparentemente ele faz análise pontual e isolada do gráfico e não percebe um gráfico como instrumento que permite uma visualização geral do comportamento de duas variáveis. Quando a atividade mostra um gráfico e pede a expressão algébrica, o aluno nem tenta, mesmo no caso da reta. Ao trabalhar com o conceito de função sob sua representação em forma de texto apresentando situações que poderiam ser consideradas como associadas a fatos reais, o sujeito A7 pensa em identificar valores numéricos e realizar cálculos para encontrar um resultado, sugerindo pensamento com características do mundo corporificado. Ele utiliza bastante a regra de três simples, um já-encontrado com características do mundo simbólico e que talvez faça parte da sua imagem de conceito de função, e demonstra também saber utilizar números decimais com certa facilidade, outro já-encontrado com características do mundo simbólico. De uma maneira geral suas respostas sugerem que ele percebe qual é a variável dependente, qual é a variável independente, apesar de não ter utilizado estes termos. Suas respostas sugerem que ele apresenta facilidade em resolver problemas, e aqui não foi possível identificar se foi por lógica ou por conhecer função. Quando trabalha com o conceito de função sob a representação algébrica o sujeito A7 apresenta dificuldades que parecem sérias, porque ele simplesmente deixou as questões em branco. Em nenhum momento ele tentou esboçar uma resposta. A mesma dificuldade séria aconteceu quando trabalhou com a representação gráfica, porque ele deixou em branco a maioria dos gráficos apresentados e, quando respondeu, a resposta sugere que em sua imagem de conceito está presente somente a imagem do gráfico de função polinomial do 1 o grau, mesmo assim com algumas deficiências, porque ele parece pensar que a reta deve ter um início e um fim, caracterizando um segmento, ou ainda que as coordenadas dos pontos devem estar claramente escritas nas escalas dos eixos. Ao organizar dados para comparações ele esboçou tabelas numéricas que sugerem 159 que ele não apresenta dificuldades na sua construção, mas ele não utilizou esta representação, por exemplo, em um problema que pedia para avaliar quando dois orçamentos com tempo e preços variáveis teriam o mesmo valor. Ele poderia ter usado a tabela para estudar a situação, mas não o fez, sugerindo que ele usa esta representação somente para organizar pares ordenados para depois anotar os pontos no gráfico. Poderíamos afirmar que em relação à representação gráfica de funções seu pensamento apresenta características do mundo corporificado. Poderíamos também afirmar que, de uma maneira geral, a característica que predomina na imagem de conceito de função do sujeito A7 se refere ao mundo corporificado, mas ele mostra indícios de que tem potencial para avançar, apesar de ter afirmado que não aprendeu função. Quando trabalha com o conceito de função apresentado sob sua representação em forma de texto, o sujeito A8 busca valores numéricos nos dados apresentados e efetua cálculos, tratando-se de uma ideia com características do mundo corporificado. Ele apresenta dificuldades para identificar os dados, efetuando cálculos incorretos e não relacionados com procedimentos aceitáveis quando se trabalha com funções. Ele não identifica corretamente variável dependente e variável independente ou talvez ache que alguma destas não tem influência na situação. Ao trabalhar com o conceito de função sob sua representação em forma de expressão algébrica o sujeito A8 apresenta características do mundo simbólico, mas seu pensamento sugere muitas dificuldades porque parece que se a expressão não aparecer semelhante à forma genérica y=ax+b ele se perde e passa a pensar que a expressão não representa uma função, o que mostra deficiências nas características formais. Outra representação que parece provocar dificuldades é a gráfica. Nesta situação o sujeito A8 apresenta características do mundo corporificado, mas o gráfico aparentemente precisa mostrar claramente os pontos assinalados sobre o plano cartesiano, todos os valores das coordenadas devem aparecer claramente grafados nas escalas dos eixos e todos os pontos devem estar ligados por uma curva. 160 6.3. Segunda questão II – Qual definição de conceito (TALL; VINNER, 1981) de função que alunos do Ensino Médio apresentam, após seu estudo deste tema na 1 a série do Ensino Médio? A definição de conceito do sujeito A1 apresentada pela resposta constante no protocolo é a de “junção de duas ou mais coisas”, conforme suas próprias palavras. A palavra junção sugere conexão ou união de algo que o sujeito não explicitou em sua resposta, escrevendo apenas “coisas”. Após avaliarmos todas respostas deste sujeito, conjecturamos que as “coisas” a que ele se refere provavelmente são números e, provavelmente, aí esteja presente uma ideia inicial de função no sentido de um valor que dependa de outro. Esta nossa conjectura está baseada tanto na resposta à primeira questão, quanto à questão de número cinco, onde ele afirmou que diante de um problema que envolva função, a primeira ideia que ele tem é de resolvê-la “através de um cálculo”. Esta é uma definição de conceito com característica de mundo corporificado, em que aparentemente o sujeito busca apoio em conexões, talvez números apresentados em forma de tabela ou algum diagrama. A definição de conceito de função do sujeito A2 é a de algum tipo de conta. Em sua resposta quando perguntamos sobre o significado de função em matemática, ele disse “é o nome que se dá ao devido a representação da conta”. Apesar de um pouco confusa, a frase sugere que ele pensa em conta. A definição de conceito de função do sujeito apresenta características do mundo corporificado. Em nenhum momento o sujeito deixa perceber que entendeu a ideia de relação de dependência. Dentre as respostas apresentadas pelo sujeito A3 não foi possível identificar claramente como ele define função, mas ocorreram vagas sugestões de que ele pensa que função possa ser uma sequência ou um gráfico. Existia a possibilidade de que ele não soubesse se expressar, mas analisando em conjunto com outras questões, parece que ele apresenta apenas noções intuitivas bastante iniciais de dependência, como se estivesse começando agora a aprender função. Ele não 161 mostra indícios de ter aprendido a ideia de dependência. A sua imagem de conceito de função apresenta características do mundo corporificado. A definição de conceito de função sugerida pela resposta “o jeito de resolução da conta” apresentada pelo sujeito A4 é a de uma conta e o respectivo processo de resolução, que ele aparentemente chamou de “jeito de resolução”. Em outras questões com potencial para expor suas ideias ele apresentou indícios de que não aprendeu relação de dependência, mostrando alguns momentos que age intuitivamente. A resposta sugere pensamento com características do mundo corporificado. A definição de conceito de função sugerida nas respostas do sujeito A5 é a de utilidade ou serventia no sentido de encontrar números, que pode ser observada na afirmação que ele apresentou no protocolo como resposta à primeira questão que foi “é oque faz algo específico em sua área, como a função do 2 o grau, ela tem só uma função de descobrir números por exemplo”. Em todas questões que envolvem alguma representação de função, o aluno preocupa-se com as ideias analíticas, chegando a descrever em palavras as expressões algébricas que encontrou, deixando entrever características do mundo corporificado. A frase “Para mim a palavra função significa um conjunto” sugere que o sujeito A6 pensa em números e a definição de conceito apresentada possui características do mundo corporificado. Ao analisarmos a ideia apresentada pelo sujeito chegamos a pensar que se tratava de uma resposta que direcionava o pensamento dele para o significado da palavra conjunto, no sentido talvez de pares ordenados que representam as variáveis, mas após analisarmos as demais respostas, consideramos mais provável que ele pensa em conjuntos de números que possam ser substituídos em expressões algébricas, que possam identificar coordenadas de pontos ou que permitam cálculos a partir de dados obtidos nos problemas e situações. Quando teve a oportunidade de escrever com suas palavras o que pensa sobre o conceito de função o sujeito A7 escreveu “não aprendi”. Outras questões também não colaboraram para que pudéssemos sugerir a definição de conceito do sujeito. Entretanto, ele apresenta certa intuição com relação à noção de dependência que, associada ao fato de ter alguma facilidade em cálculos, poderia 162 ajudar a desenvolver o conceito, por exemplo utilizando a regra de três, que ele demonstrou familiaridade, incorporando os casos de proporcionalidade direta e depois ampliando as ideias para outros casos. A definição de conceito do sujeito A8 aparentemente tem a ver com a expressão algébrica. Sua resposta não deixa explicitado isso, mas a afirmação citando “letras e números” talvez indique que sabe que expressões algébricas de função apresentam números e letras. A representação gráfica não aparece na sua definição de conceito e quando trabalha com texto em palavras ele demonstra pouca familiaridade, inclusive não demonstrando intuição para a dependência. As características presentes na sua imagem de conceito se referem ao mundo corporificado. 6.4. Terceira questão III – Quais características dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) surgem nas respostas de alunos ao resolver problemas relacionados ao conceito de função? As características dos Três Mundos da Matemática que surgiram nas respostas do sujeito A1, todas do mundo corporificado, foram o uso de operações aritméticas, noção de construção de tabelas, o uso de números inteiros, a leitura de coordenadas cartesianas e a localização de pontos em um plano cartesiano, mas somente quando a escala e a coordenada do ponto favorece, apresenta dificuldade em interpolar números na escala dos eixos e demonstra conhecimentos básicos do diagrama de Venn. Nas suas respostas não surgiram características do mundo simbólico e nem do mundo formal. Algumas características de mundo corporificado surgiram nas respostas do sujeito A2. A que apareceu com mais frequência foi a de utilizar contas e expressões numéricas, utilizando quase exclusivamente números inteiros. Outra característica que chamou a atenção é a de dividir a conta em duas partes quando trabalha com número que apresenta parte decimal. O sujeito inicialmente faz a conta envolvendo a parte inteira para depois resolver a parte decimal. O sujeito acabou apresentando 163 uma resposta incorreta e, na análise do protocolo, parece que este erro ocorreu porque o procedimento de dividir a conta em duas partes é trabalhoso e pode facilitar o aparecimento de erros. Outra característica presente na imagem de conceito do sujeito A2 e que se refere ao mundo corporificado é a possível associação de gráficos, apresentados no questionário, às imagens mentais que ele tenha guardado durante seus estudos. Apesar de não escrever claramente que determinada imagem estava presente na sua memória, o modo como o sujeito respondeu sugere que na sua imagem de conceito estão presentes imagens como a do gráfico de uma função quadrática, de uma função periódica (função seno, por exemplo) e função afim. Aparentemente sua imagem de conceito não apresenta imagens de gráficos de funções diferentes destas três, porque parece que ocorreram dúvidas ao se deparam com gráficos como da função constante, gráfico da função recíproca, ou ainda o gráfico da circunferência de raio r=2. Em dois momentos o sujeito A2 apresentou indícios de pensamento com características do mundo simbólico. Ao escrever uma expressão que lembra uma expressão algébrica de função quadrática (quando escreveu “x2=y.-3”) e quando foi perguntado qual a primeira idéia diante de um problema envolvendo o conceito de função, que o sujeito escreveu “começar pela fórmula, se tiver representada”. Em outras oportunidades o sujeito não fez outras associações indicando características do mundo simbólico e também não apresentou indícios de características do mundo formal. Com relação às respostas do sujeito A3, podemos citar como características do mundo corporificado o fato de buscar em texto os dados numéricos para fazer cálculos, dividir a conta onde aparece decimal em duas partes, calculando a parte inteira e depois a decimal, não conhece correspondência de transformação de tempo em horas e minutos para número decimal, quando trabalha na associação de tabela numérica com gráficos, os pontos devem estar evidentes sobre o plano e a escala deve trazer indicadas as coordenadas dos pontos, todas características do mundo corporificado. Não surgiram características nem do mundo simbólico nem do mundo formal. 164 As respostas do sujeito A4 sugerem alguns já-encontrados característicos do mundo corporificado, como o de identificar números e efetuar cálculos aritméticos elementares, a montagem de expressões numéricas buscando dados nos problemas, a multiplicação de números no formato decimal, que o sujeito efetua incorretamente, o sujeito tende a fazer uma descrição do que observa num gráfico, a identificação de pares ordenados de pontos do gráfico, o uso de tabelas como um instrumento de organizar os números. Como característica do mundo simbólico surgiram o trabalho com números decimais e o fato de tratar expressões algébricas de função como se fossem equações. Não ocorreram respostas que sugerissem características do mundo formal. As respostas e soluções apresentadas pelo sujeito A5 referem-se ao mundo corporificado. Já-encontrados como fórmula (expressão algébrica) utilizadas para calcular números, quase que exclusivamente números inteiros, uso da proporcionalidade direta, principalmente na forma de porcentagem e também utilizando números inteiros, maneiras de construir gráficos cartesianos, algumas imagens mentais que sugerem conhecer a reta, o círculo ou circunferência, a parábola (porém sem nomeá-la), parecem estar presentes na imagem de conceito do sujeito e sugerem que ele está no processo inicial do aprendizado de função. Não desejamos localizá-lo dentro do quadro de desenvolvimento cognitivo dos Três Mundos da Matemática como se fosse uma localização geográfica, mas o sujeito apresentou respostas que sugerem que ele está no início da sua jornada quando se fala do conceito de função. Não ocorreram características do mundo simbólico nem do mundo formal, ele pensa em função não como uma relação entre grandezas, mas no sentido de utilidade ou serventia. Como consequência, conforme sugestões em suas diversas respostas, ele não percebe que expressões algébricas, gráficos, descrições em forma de texto, entre outras, são representações diferentes do mesmo conceito. Na análise do protocolo do sujeito A6 foram percebidas características do mundo corporificado, como o uso de expressões e cálculos numéricos, em gráficos ele tenta destacar os pontos se as coordenadas estiveram na escala dos eixos, apresenta dificuldades na interpolação de valores, o gráfico precisa mostrar uma curva ligando os pontos. Quando observa uma expressão algébrica ele parece 165 necessitar que esta seja do tipo y=... ou x=..., caso contrário não aceita, não apresenta características formais de função. Com relação a características do mundo simbólico ocorreu apenas o trabalho com números decimais. Nas respostas do sujeito A 7 aparecem características do mundo corporificado como ao trabalhar com gráficos, mas apresentando dificuldades. A maioria das questões envolvendo gráficos que apareceram foram deixadas em branco, e quando respondeu, demonstrou que os pontos precisam estar ligados por uma curva, as coordenadas dos pontos devem aparecer de modo evidente nas escalas dos eixos. Quando a questão pede para avaliar o gráfico, ele tenta localizar os pontos partindo de valores inteiros dos eixos. A característica do mundo simbólico que surgiu foi o uso da regra de três e não surgiram características do mundo formal. O sujeito A8 apresentou características do mundo corporificado, como utilizar operações aritméticas, apresentando dificuldades com utilização de gráficos, tabelas e diagrama de Venn. A característica do mundo simbólico que surgiu foi o uso de número na forma decimal. Não surgiram características do mundo formal. Neste momento da nossa pesquisa, percebemos que os dados constantes nos protocolos permitiram responder as três questões que elegemos para orientar nosso trabalho. O próximo capítulo trata das conclusões a que chegamos após este diagnóstico. 7. CONCLUSÕES No capítulo anterior aparecem as imagens de conceito e as definições de conceito (TALL; VINNER, 1981) de função que surgiram nos protocolos. Aparecem também várias características que surgiram depois dos alunos responderem as questões. Imagem de conceito e definição de conceito (TALL, VINNER, 1981) são individuais, mas consideramos oportuna a sugestão da banca examinadora no 166 sentido de identificarmos em um quadro quais características surgiram quando os alunos responderam ao questionário. Neste sentido, optamos em apresentar o quadro 1, à página 167. Nele, relacionamos algumas características que consideramos importantes, e que desejávamos encontrar nas respostas às questões, permitindo supor que estivessem presentes na imagem de conceito de cada aluno. Incluímos também o item relacionado à definição de conceito que cada um deles apresentou. Nesse quadro utilizamos um sistema de cores para simplificar a visualização. A cor verde significa que o aluno desenvolveu com facilidade suas ideias em relação à determinada característica, demonstrando segurança e familiaridade. A cor amarela indica que o ele apresentou alguma dificuldade, cometendo alguns erros, demonstrando ter percebido o uso daquela característica citada, porém demonstrando que necessita executar mais atividades e exercícios para que a característica se torne uma ferramenta eficiente ao trabalhar com função. A cor vermelha indica que ele apresentou muita dificuldade em relação à característica citada, cometendo muitos erros e demonstrando que necessita retomar o aprendizado referente à característica citada, inclusive demonstrando não ter associado a referida característica ao conceito de função. Quando o quadro aparece em branco, significa que suas respostas não sugeriram a presença daquela característica em suas ideias, e consideramos neste caso que também seja necessário retomar o aprendizado. 167 Alunos Características relacionadas ao conceito A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 de função Utilizar procedimento numérico Utilizar gráficos e suas escalas Organizar dados – tabela/diagrama Utilizar expressão algébrica Generalizar Utilizar imagens mentais Perceber as variáveis Perceber dependência no texto Perceber dependência na expressão algébrica Perceber dependência no gráfico Perceber dependência - tabela/diagrama Definir função Quadro 1 – Classificação das dificuldades observadas nas respostas dos alunos, em aspectos considerados importantes na resolução das questões propostas. Fonte: Acervo pessoal. Legenda: Aluno demonstra familiaridade ao trabalhar com a característica citada. Aluno apresenta alguns erros ao trabalhar com a característica citada. Aluno apresenta muitas dificuldades e erros ao trabalhar com a característica citada. Aluno não apresentou ideias relacionadas à característica citada. 168 Ao observarmos este quadro 1, que apresenta algumas das características referentes ao conceito de função que consideramos importantes na resolução das questões, concluímos que, estes oito alunos apresentam sérias dificuldades. Eles demonstraram dificuldades inclusive em operações aritméticas que deveriam ser consideradas elementares para a faixa etária de 15 a 17 anos de idade, como multiplicação e divisão utilizando números decimais; em construção e entedimento de gráficos limitando-se a identificar alguns pontos no gráfico quando as escalas eram “bem comportadas”, isto é, as coordenadas deveriam ser números inteiros, preferencialmente positivos, além de estarem bem evidentes nas escalas dos gráficos; não utilizaram tabelas e diagramas de Venn nem como um organizador de dados, nem como instrumento de avaliação da situação apresentada e demonstraram também que utilizam a expressão algébrica como instrumento para identificar pares de valores a serem lançados em um gráfico, limitando-se aos números inteiros positivos. Talvez estas deficiências tenham influenciado para eles não perceberem o que é função. Entendemos que estes oito alunos deveriam retomar o aprendizado de funções, não bastando uma simples revisão. Talvez uma abordagem que considerasse as características de função relacionadas aos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004) pudesse permitir uma alteração do resultado que encontramos. A situação que consideramos ideal, seria a de que todos quadradinhos do quadro 1 estivessem pintados na cor verde. Observando o resultado que encontramos, em que 50% dos quadradinhos estão em branco, indicando que estes alunos não demonstraram familiaridade com características importantes ao trabalhar com funções, e que mais de 36% dos quadradinhos apresentam cor vermelha, indicando sérias dificuldades e erros ao trabalhar com as características, fazemos nossas as palavras de Barufi (1999, p.3) quando afirma que dados semelhantes “caracterizam uma situação que, no mínimo, pode ser considerada problemática”. É importante frisar que escolhemos algumas características para anotar no quadro, descritas anteriormente em nossa análise didática das questões, à página 63. Um maior detalhamento destas características poderia ser utilizado como questões para outras pesquisas e talvez pudessem colaborar para indicar quais deficiências deveriam ser trabalhadas com maior ênfase na educação básica com objetivo de tentarmos alterar para melhor a imagem de conceito e a definição de 169 conceito (TALL; VINNER, 1981) de função que alunos do Ensino Médio apresentam após terem estudado funções. Em relação aos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004), a situação ideal seria uma imagem de conceito rica, sugerindo várias características, permitindo que o aluno escolha aquela que for mais adequada ao resolver cada situação. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Depois da análise dos dados constantes nos protocolos, de respondermos as três questões de pesquisa e de apresentarmos algumas ideias referentes à conclusão do trabalho, nosso objetivo é o de apresentar, de maneira global, algumas considerações referentes a este diagnóstico. A primeira delas diz respeito ao aprendizado de Matemática. Trouxemos uma dúvida quando chegamos ao Mestrado, que era: “por que alunos das séries finais do Ensino Médio apresentam rendimento tão baixo na resolução de problemas que necessitam do seu aprendizado de função?” Hoje nosso pensamento é que esta pergunta pode ser respondida por partes. O conceito de função é amplo e merece ser estudado minuciosamente, e para responder aquela pergunta inicial consideramos que seja necessário responder várias outras que parecem menores, mas só parecem, como: “de que maneira o aluno utiliza uma tabela?”; “qual a maneira de utilizar uma tabela de modo eficiente?”; “de que maneira o aluno utiliza um Diagrama de Venn?”; “como ele relaciona duas grandezas?”; “o que o aluno entende por grandeza em Matemática?”. Consideramos ainda que, várias outras questões podem surgir. As questões referentes ao uso de tabelas que acabamos de citar, surgiram durante as nossas análises dos protocolos. Alunos da Educação Básica precisam ter oportunidade, de utilizarem tabelas e diagramas de flechas, não somente como um simples organizador de dados, mas como um poderoso instrumento de decisão, nossa revisão de literatura traz uma pesquisa interessante neste sentido (FLORES; MORETTI, 2006, vide página 39). O mesmo vale para a expressão algébrica, que é uma representação fundamental em Matemática e algumas vezes é utilizada somente para calcular alguns poucos pares de valores numéricos. Não estamos 170 criticando o uso de métodos aritméticos ao resolver situações envolvendo função, que devem e podem ser usados sempre que possível, mas algumas situações referentes a este conceito podem ser resolvidas de modo mais eficiente usando outros instrumentos. Talvez se os alunos da Educação Básica perceberem o potencial destas duas representações, os problemas encontrados nos anos iniciais do Ensino Superior pudessem diminuir. Uma pesquisa interessante relativa a estas dificuldades aparece na nossa justificativa (BARUFI, 1999, vide página 16). Nós, professores, precisamos falar disso com os alunos, e se necessário, repetir outras tantas vezes quantas forem necessárias. A segunda consideração diz respeito a este diagnóstico. Esperamos que possa servir para incentivar discussões envolvendo pessoas ligadas à Matemática, tanto do lado do ensino quanto do lado da aprendizagem. Professores e demais profissionais da educação, alunos e seus responsáveis, seus comentários e críticas serão úteis e preciosos na continuidade deste trabalho, porque consideramos no momento atual, que não estão encerradas as discussões e os estudos referentes ao conceito de função. A terceira consideração diz respeito ao ato de estudar. É preciso e todos devem estudar, professores e alunos. E para aqueles que decidirem estudar Matemática, sejam bem-vindos. Para os que escolherem Educação Matemática, bem-vindos e sugerimos algumas questões de pesquisa que nos ocorreram durante nosso trabalho: “a implantação de Proposta Curricular de São Paulo melhorou o aprendizado da noção de função dos alunos da 8 a série do Ensino Fundamental?”; “O ensino das tabelas de valores numéricos no Ensino Fundamental aborda a importância deste instrumento como ferramenta de estudos de variáveis?”; “Como o livro didático do Ensino Médio aborda a transição do gráfico para a expressão algébrica no ensino de funções?”; “E do texto escrito para a expressão algébrica?”; “Que sequência didática favorece o aprendizado de como construir a expressão algébrica de uma função à partir dos gráficos de função apresentados no Ensino Médio?”; “E para construir a expressão algébrica de função à partir dos textos de apresentados no Ensino Médio?”. Para aqueles que resolverem investigar, consideramos que o conceito de função permite muitas possibilidades de pesquisas, pela importância do conceito nas diversas áreas do conhecimento, pela possibilidade de aplicações e porque não 171 dizer, pelos resultados demonstrados pelos estudantes nas diversas avaliações, sejam de pesquisas, sejam institucionais ou mesmo nas avaliações em seus cursos, que indicaram que ainda temos longo um caminho a percorrer. 172 REFERÊNCIAS ANGELINI, Norberto Machado. As concepções de alunos do Ensino Médio sobre funções: Uma investigação sobre o uso de Registros de Representação Semiótica. São Paulo: PUC/SP, 2006. 62 p. Monografia (Especialização em Educação Matemática) – Programa de Estudos de Pós-graduação em Educação Matemática, Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006. BADARÓ, Josias Nogueira. O Sinal de Igualdade: uma Jornada pelos Três Mundos da Matemática. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE ESTUDANTES DE PÓSGRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 2009, Goiânia. Anais do XIII ... Goiânia: Universidade Federal de Goiânia, 2009, p. 11. BARUFI, Maria Cristina Bonomi. A construção/negociação de significados no curso universitário inicial de Cálculo Diferencial e Integral. São Paulo: USP/SP, 1999. 195 p. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-graduação em Educação, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio – Parte III: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 1998. Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf>. Acesso: 16 out 2008. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/Semtec. 2002. COSTA, Acylena Coelho. Conhecimentos de estudantes universitários sobre o conceito de função. São Paulo: PUC/SP, 2004. 164 p. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Programa de Estudos de Pós-graduação em Educação Matemática, Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004. FLORES, C. R., MORETTI, M. T. O funcionamento cognitivo e semiótico das representações gráficas : Ponto da análise para a aprendizagem matemática. In: REREMAT, UFSC, 2006. pp. 26 – 38. GIOVANNI, José Ruy; BONJORNO, José Roberto. Matemática completa. 2. ed. Renov. São Paulo: FTD, 2005. Coleção matemática completa – 1a série – matemática – Ensino Médio, 2005. 173 GIRALDO, Victor. Descrições e Conflitos Computacionais: O caso da Derivada. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 2004. 229 p. Tese (Doutorado em Ciências) – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004. LIMA, Rosana Nogueira de. Equações algébricas no Ensino Médio: Uma Jornada por Diferentes Mundos da Matemática. São Paulo: PUC/SP, 2007. 358 p. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – Programa de Estudos de Pós-graduação em Educação Matemática, Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007. LOPES, W. S. A importância da utilização de múltiplas representações no desenvolvimento do conceito de função: Uma proposta de ensino. Dissertação de mestrado em Educação Matemática. PUC/SP, 2003. PELHO, Edelweiss Benez Brandao. Introdução ao Conceito de Função: A Importância da Compreensão das variáveis.São Paulo: PUC/SP, 2003. 146 p. 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Caderno do Aluno: matemática, ensino médio – 2a série, v2. São Paulo: SEE, 2009b. 56 p. 174 SIERPINSKA, Anna. On understanding the notion of function. In: DUBINSKY, Ed; HAREL, Guershon (eds). The concept of function: Aspects of epistemology and pedagogy. Mathematical Association of America: 1992, MAA Notes, v. 25, p. 25-58. TALL, David Orme. Thinking through three worlds of Mathematics. In: PME, 28 th, 2004, Bergen, Norway. Proceedings of the 28th Conference of Psychology of Mathematics Education. Bergen: PME, 2004. v.4 pp.281-288. TALL, David Orme; VINNER, Shlomo. Concept image and concept definition in mathematics with particular reference to limits and continuity. Educational Studies in Mathematics, Netherlands, v. 12, n. 2, 158-161, maio, 1981. ISSN: 0013-1954. TALL, David Orme. The Transition to Formal Thinking in Mathematics. University of Warwick, Coventry CV4 7AL, UK. 2008. Disponível em :< http://www.warwick.ac.uk/staff/David.Tall/pdfs/dot2008e-merj-3worlds.pdf>. Acesso em: 02 mai. 2009. ZUFFI, E. M., PACCA, J. L. A.. Sobre funções e a linguagem Matemática de professores do Ensino Médio. Revista Zetetiké – CEMPEM-FE/UNICAMP. São Paulo: n.13/14, 2000. 175 ANEXO A - Atividade diagnóstica de Angelini (2006) Nome do aluno: .............................................................................. Série: ......... Atividade de Matemática Questão 1) Os quatro gráficos anotados neste plano cartesiano estão entre as formas algébricas citadas nas alternativas abaixo. Anote ao lado das alternativas apropriadas a qual gráfico se referem. (a) y = 5 x + 8 (b) y = -2 x + 3 (c) y = x2 (d) y = - x2 (e) y = 2 x – 4 (f) y = 2x Questão 2) Um comerciante investiu um capital na aquisição de mercadorias e instalação de um ponto de vendas. Ao iniciar a operação comercial, os resultados não foram os esperados e seu negócio apresentou um prejuízo mensal fixo. Observe cada um dos gráficos acima e indique qual deles seria mais apropriado para representar esta situação, comentando ou alterando o que você julgar necessário. 176 Questão 3) Um automóvel parte da cidade A, localizada no quilômetro 40 de uma rodovia e segue viagem em direção a uma cidade B, localizada no quilômetro 600 da mesma rodovia, viajando sempre com velocidade constante de 80 km/h. A forma algébrica que apresenta a posição do automóvel em função do tempo de deslocamento neste movimento é: (a) S = -40 + 600 t (b) S = 40 + 600 t (c) S = 600 – 80 t (d) S = - 600 + 80 t (e) S = 40 + 80 t (f) S = -40 – 80 t (g) S = 600 – 40 t (h) S = 80 + 600 t 177 ANEXO B – INSTRUMENTO DIAGNÓSTICO 1) Em Matemática, o que significa para você a palavra função? 2) Para consertar um refrigerador, uma oficina cobra uma taxa fixa de R$ 20,00 pela visita e R$ 15,00 por hora trabalhada. Qual o valor pago por um conserto se o técnico trabalhou 3,25 horas? (Deixa anotados seus cálculos, seus rascunhos e seu raciocínio). 3) Observe os gráficos A e B abaixo: A 178 B 4 y 3 2 1 x 0 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 -1 -2 -3 -4 Das relações apresentadas nos gráficos A e B: I – é função apenas aquela que aparece em A. II – é função apenas aquela que aparece em B. III – são funções aquelas que aparecem em A e também em B. IV – não são funções nem em A e nem B. Justifique a resposta acima: 4) Escolha um dos dois gráficos apresentados no exercício 3 acima e construa uma fórmula (expressão algébrica) para representá-lo. (Deixe anotados seus cálculos, raciocínios, rascunhos). 179 5) Paulo precisa consertar seu aparelho de som. A oficina X cobra uma taxa fixa de R$ 30,00 mais R$ 4,00 por hora trabalhada, enquanto que a oficina Y cobra a taxa fixa de R$ 10,00 mais R$ 8,00 por hora trabalhada. a)Em que condições é melhor utilizar a oficina X? Justifique e deixe suas contas, rascunhos e seu raciocínio. b)Em que condições é melhor utilizar a oficina Y? Justifique e deixe suas contas, rascunhos e seu raciocínio. c)Em que condições os preços cobrados pelas oficinas X e Y são iguais? Justifique e deixe suas contas, rascunhos e raciocínio. 6) Diante de um problema de Matemática que envolva função, qual a primeira ideia que você tem para resolvê-lo? 7) Avalie as expressões abaixo e, para cada uma delas, identifique se representa uma dependência de "y em função de x". Justifique suas respostas. a) x + y = 4 b) y = x2 + 2 c) x = y2 d) g(x) = x2 + 2 e) 3x - 4 = y 8) Avalie os gráficos abaixo e, para cada um deles, identifique se representa uma dependência de "y em função de x". Justifique suas respostas. a) 180 b) c) 181 d) 9) Observe as representações A e B a seguir: 182 A) -1 -3 1/2 0 2 2 3 B) ½ 0 2 • Qual dos gráficos x y -1 -3 ½ 0 2 3 cartesianos abaixo melhor apresenta os dados representações A e B que você observou acima? Justifique sua resposta. a) das 183 b) c) 184 d) 10) O professor de Matemática apresentou aos alunos a seguinte tabela. 185 x y 1 1 2 ½ -1 -1 E pediu aos alunos que fizessem um gráfico que satisfizesse os pontos dados. Três alunos apresentaram as seguintes respostas. a) b) 186 c) Qual dos três colegas fez o gráfico corretamente? Explique sua resposta, dizendo porque escolheu ou deixou de escolher um ou mais dos gráficos. 187 ANEXO C – Tabela com o resumo do nosso entendimento com relação às ideias de SIERPINSKA (1992) sobre os obstáculos epistemológicos, na ordem em que aparece no artigo. Sigla E(f) – 1 E(f) – 2 OE(f) - 1 OE(f) - 2 E(f) – 3 OE(f) - 3 E(f) – 4 OE(f) - 4 E(f) – 5 OE(f) - 5 OE(f) - 6 E(f) – 6 OE(f) - 7 E(f) - 7 OE(f) - 8 E(f) - 8 OE(f) - 9 OE(f) - 10 OE(f) - 11 E(f) - 9 OE(f) - 12 E(f) - 10 E(f) - 11 E(f) - 12 OE(f) - 13 E(f) - 13 OE(f) - 14 E(f) - 14 OE(f) - 15 Descrição do item Identificar mudanças observadas no mundo que nos cerca como um problema para resolver (SIERPINSKA, 1992, p. 31). Identificar regularidades nas relações entre trocas como um modo de lidar com essas trocas (SIERPINSKA, 1992, p. 31). A matemática não está preocupada com problemas práticos (SIERPINSKA, 1992, p. 31). Técnicas computacionais usadas para produzir tabelas de relações numéricas não merecem ser consideradas objetos de estudo em matemática (SIERPINSKA, 1992, p. 32). Identificar as coisas que dependem ao estudar dependências (SIERPINSKA, 1992, p. 36). Considerar dependências como fenômenos; focar em como as coisas mudam, ignorando o que muda (SIERPINSKA, 1992, p. 36). Discriminar entre dois modos de pensamento matemático: um em termos de quantidades conhecidas e desconhecidas e o outro em termos de quantidades variáveis e constantes (SIERPINSKA, 1992, p. 37). Pensar em termos de equações e incógnitas que são extraídas a partir delas (SIERPINSKA, 1992, p. 37-38). Discriminar entre variáveis dependentes e independentes (SIERPINSKA, 1992, p. 38). Considerar a ordem das variáveis irrelevante (SIERPINSKA, 1992, p. 38). Uma concepção heterogênea de número (SIERPINSKA, 1992, p. 39). Generalização e síntese da noção de número (SIERPINSKA, 1992, p. 41). Uma filosofia pitagórica de número: tudo é número (SIERPINSKA, 1992, p. 41). Discriminar entre número e quantidade SIERPINSKA, 1992, p. 42). Leis em física e funções em matemática não têm nada em comum; eles pertencem a diferentes domínios do pensamento SIERPINSKA, 1992, p. 42). Síntese dos conceitos de lei e de função; em particular, estar ciente da possibilidade de usar funções para modelar relações entre quantidades físicas ou outras SIERPINSKA, 1992, p. 42). Proporção é um tipo privilegiado de relações SIERPINSKA, 1992, p. 43). Forte crença na superioridade das operações formais sobre expressões algébricas SIERPINSKA, 1992, p. 46). Somente relações descritas por fórmulas analíticas são merecedoras de receber o nome de funções SIERPINSKA, 1992, p. 46). Discriminar entre uma função e a ferramenta analítica usada às vezes para descrever sua lei SIERPINSKA, 1992, p. 46). Definição é uma descrição de um objeto conhecido por sentido ou por insight. A definição não determina o objeto, ao contrário, o objeto determina a definição. Uma definição não é vista com seu signo lógico SIERPINSKA, 1992, p. 47). Discriminar entre definições matemáticas e descrições de objetos SIERPINSKA, 1992, p. 47). Síntese da concepção geral de função como um objeto SIERPINSKA, 1992, p. 47). Discriminar entre os conceitos de função e de relação SIERPINSKA, 1992, p. 49). Funções são sequências SIERPINSKA, 1992, p. 49). Discriminar entre as noções de função e de sequência SIERPINSKA, 1992, p. 50). Coordenadas de um ponto são segmento de reta (não são números) SIERPINSKA, 1992, p. 51). Discriminar entre coordenadas de um ponto de uma curva e os segmentos de reta desempenhando algum papel para a curva SIERPINSKA, 1992, p. 51). O gráfico de uma função é um modelo geométrico da relação funcional. Não precisa ser fiel, pode conter pontos (x,y) tais que a função não está definida em x SIERPINSKA, 188 1992, p. 52). Discriminar entre diferentes formas de representar uma função e a própria função SIERPINSKA, 1992, p. 53). E(f) - 16 Síntese das diferentes maneiras de dar funções, representá-las e falar sobre elas SIERPINSKA, 1992, p. 54). OE(f) - 16 As mudanças de uma variável são mudanças no tempo SIERPINSKA, 1992, p. 55). E(f) - 17 Generalização da noção de variável SIERPINSKA, 1992, p. 55). E(f) - 18 Síntese do papel das noções de função e das consequências na história da ciência: estar ciente do fato que a busca por relações funcionais ou causais são ambas expressões internas da mente humana para entender e explicar mudanças no mundo SIERPINSKA, 1992, p. 56). E(f) - 19 Discriminar entre as noções de relações funcionais e relações causais SIERPINSKA, 1992, p. 56). E(f) - 15 189 ANEXO D – TRANSCRIÇÃO DAS RESPOSTAS DOS ALUNOS. Questão 1: Em Matemática, o que significa para você a palavra função? A1: Significa a junção de duas ou mais coisas. A2: É o nome que se dá ao devido a representação da conta. A3: Eu aprendi no ano passado e admito que esqueci. A4: O jeito de resolução da conta. A5: É o que faz algo específico em sua área, como a função do 2 o grau, ela têm só uma função de descobrir números por exemplo. A6: Para mim a palavra função significa um conjunto. A7: Não aprendi. A8: Significa a função de algum número, letra ... Questão 2: Para consertar um refrigerador, uma oficina cobra uma taxa fixa de R$ 20,00 pela visita e R$ 15,00 por hora trabalhada. Qual o valor pago por um conserto se o técnico trabalhou 3,25 horas? (Deixe anotados seus cálculos, seus rascunhos e seu raciocínio). A1: 20, 15 15 X3 45,00 20,00+ 190 65,00 150:25=60 O valor pago e de R$ 65,60 A2: 45,75 + os 20 reais da taxa Fiz os calculos de multiplicação de acordo com a hora A3: 20,00 visita 15,00 trabalho/hora 15 X3 45 Eu não sei tentei fazer a conta basica para fazer as contas “quebradas” dos 25 minutos mais não consegui. Não consegui criar um raciocinio p/ a conta. 191 A4: (3,25 X 20) + 15 3,25 X20 650 000 650 + 15 = 66,5 A5: 20 X3 60 25+ 85,00 60 – 50% = 30 60 – 60% = 24 → 59% = 24,60 → 58,8% = 25,00 60 – 10% = 54 58,8% = 25,20 192 0,60 X10 0,00 0,60 06,00 A6: 20,00 3,25 X15 1625 325+ 47,75 20,00+ 67,75 O valor pago por um conserto é de R$ 67,75 A7: TAXA = R$ 20,00 HT* = R$ 15,00 T = 3,25 h 193 Conta 15,00 X3,25 007500 03000+ 0500++ 477500 15 X3 45 →TEMPO DE HORA ARREDONDADO R$ 15,00 ----------1:00 X --------- 3;25 1 X = 3,25h.R$15,00 1 X = R$ 47,75 R$ 47,75 + 20,00 67,75 → COM O VALOR DA VISITA * HORA DE TRABALHO 194 A8: 3,25 x 15 1625 325+ 48,75 R: O valor pago é R$ 48,75 Questão 3: Observe os gráficos A e B abaixo: A 195 B Das relações apresentadas nos gráficos A e B, são funções aquelas que aparecem em: I – Apenas em A. II - Apenas em B. III – Em A e também em B. IV – Nem A nem B. A1: alternativa III com a justificativa “as duas tem um certo padrão conforme a sua conta”. Este aluno traçou paralelas aos eixos x e y para localizar cada ponto no plano cartesiano. A2: alternativa II com a justificativa “creio que é a B, pois ela se adaptar mais ao gráfico”. A3: em branco com a justificativa “não me lembro o que é função”. 196 A4: alternativa III com a justificativa “por que as curvas não faz a equação não se torna uma função”. A5: alternativa III com a justificativa “as duas são funções, pois cada um desses gráficos faz algo, tem uma função, se assim não fossem eles não existiriam”. A6: alternativa II com a justificativa “somente o B é uma função por causa de como a sua relação está apresentada no gráfico”. A7: alternativa I com a justificativa “reconheço que esta matéria é de 8 a série no entanto na minha 8a série, não me ensinara, a aplicar função em gráfico desta maneira! No 2o ano do ensino medio, mechemos bastante em gráficos e não me lembro de haver função no grafico semelhante ao B então minha resposta é a I”. Este aluno traçou paralelas aos eixos x e y para localizar os pontos no plano cartesiano somente do gráfico B. A8: alternativa II com a justificativa “II pois ela está representada no gráfico”. Questão 4: Escolha um dos dois gráficos apresentados no exercício 3 acima e construa uma fórmula (expressão algébrica) para representá-lo. (Deixe anotados seus cálculos, raciocínios, rascunhos). 197 A1: 3) grafico B y x 0 0 -1 1 3 -1 3 2 A2: x2 = y. –3. A3: Eu aprendi ... PA, PG ... mais não lembro A4: X Y -1 3 -0,5 2 0 1 0,5 0 1,0 -1 1,5 -2 2 -3 198 Que seria o curso que a linha segio. A5: “Eu não me lembro de como se faz isso”. A6: Em branco. A7: Em branco. A8: Em branco. Questão 5: Paulo precisa consertar seu aparelho de som. A oficina X cobra uma taxa fixa de R$ 30,00 mais R$ 4,00 por hora trabalhada, enquanto a oficina Y cobra a taxa fixa de R$ 10,00 mais R$ 8,00 por hora trabalhada. a) Em que condições é melhor utilizar a oficina X? Justifique e deixe suas contas, rascunhos e seu raciocínio. b) Em que condições é melhor utilizar a oficina Y? Justifique e deixe suas contas, rascunhos e seu raciocínio. c) Em que condições os preços cobrados pelas oficinas X e Y são iguais? Justifique e deixe suas contas, rascunhos e raciocínio. A1: a) É melhor utilizar a oficina X por que ela cobra menos na hora de trabalhar 199 X = 30 = 4/h Y = 10 = 8/h b) É melhor por que a taxa fixa e menor do que a oficina X. Y = 10 = 8/h 10 + 8 = 18 X = 30 + 4 = 34 c) É que a oficina X ela almenta a taxa fixa e abaixou a taxa por hora, ja a oficina y fez alcontrario porisso, são iguais A2: a) oficina X 30+4. 34. 42 Se o cliente necessitar de 3 horas de serviço compensaria a oficina X pois sairia ganhando R$ 2,00. Que ficaria o preço de R$ 42,00 e sairia mais barato do que a Y. b) Oficina Y 10+8=18 Se o cliente necessitar de uma ou duas horas sairia ganhando com a oficina Y. 200 1 hora sairia por R$ 18,00 2 horas sairia por R$ 26,00. c) Não teria como alguma das duas sairia em vantagem. A3: a) Se o conserto for mais complexo, e mais demorado eu iria na oficina X, pelo preço eu apostaria que o serviço seria de melhor qualidade e as horas custariam menos ja que o conserto seria demorado. b) Na oficina Y eu iria se o conserto fosse rapido eu pagaria a taxa fixa e pagaria pouco de horas trabalhadas (resposta de acordo com a continuação da alternativa A). c) Não ha como fazer contas se não sei quanto tempo demoraria o conserto de qualquer forma as duas por coincidência e tempo do conserto poderiam dar iguais preços ou diferentes poderiam ser iguais ou não A4: a) No caso se for algo muito cuidadoso e demorado b) Quando é uma coisa simples c) São iguais quando um aparelho demorado a ser consertado para X e quando é rapido para Y 201 A5: a) A oficina X é a melhor para se fazer um concerto de longo tempo pois a taxa por hora trabalhada é menor, 30 + 6h ------------------------ 10 + 6h 30 + 24 = 54 reais 10 + 48 = 58 reais b) Já a oficina Y é melhor para se fazer reparos rápidos pois a taxa fixa não será muito alta. c) Se o reparo durar 5 horas 30 + 5h -----------------------10 + 5h 30 + 20 = 50 reais 10 + 40 = 50 reais A6: a) R: Ela é mais barata. 1h --- 60 min X Y 30,00 +4,00 10,00 +8,00 34,00 18,00 X 60 X 60 0000 20400+ 204,000 0000 10800+ 108,000 202 60 X 4 240 240 + 30 270 b) nenhuma condição pois ela é mais cara Y 10,00 480 60 + 10 X8 490 480 8,00 c) Nenhuma condição pois os preços não são iguais. A7: a) OFICINA X OFICINA Y X C/ 7 HT TAXA = R$ 30,00 TAXA = R$ 10,00 4,00 HT = 4,00 HT = 8,00 x7 28,00 Y C/ 7 HT 28,00 8,00 +30,00 x 7 58,00 56,00 56,00 +10,00 66,00 É MELHOR UTILIZAR A OFICINA X PARA MAIOR TEMPO 203 b) R$ 8,00 ----- 1 8,00 X = R$ 30,00 R$30,00 ---- X X = R$ 30,00 = 3:75 R$ 8,00 É MELHOR UTILIZAR A OFICINA X QUANDO DER NO MÁXIMO 3:75 HORAS TRABALHADAS, POIS CHEGARA AO VALOR DA TAXA DA OFICINA Y c) Em branco. A8: a) 30,00 X4,00 0000 0000+ 12000++ 1200,000 b) 10,00 x 8,00 0000 0000+ 8000++ 800,000 204 c) Em nenhuma condição. Questão 6: Diante de um problema de Matemática que envolva função, qual a primeira ideia que você tem para resolvê-lo? A1: atraves de um calculo A2: começar pela formula, se tiver representada. A3: Gráfico A4: olhar e observar a função para melhor poder resolver o exercicio A5: Eu não aprendi direito como é a função. A6: pensar atentamente e anotar aquilo que eu acho importante. A7: COMO DISSE ANTES, NÃO APRENDI MUITO SOBRE FUNÇÃO A8: Ler o problema com bastante atenção. Questão 7: Avalie as expressões abaixo e, para cada uma delas, identifique se representa uma dependência de “y em função de x”. Justifique suas respostas. a) x + y = 4 b) y = x2 + 2 c) x = y2 d) g(x) = x2 + 2 e) 3x – 4 = y 205 A1: “ñ sei” A2: a) Sim, pois se o x não estive não teria sentido a resposta 4. b) Sim, necessita c) Sim, necessita. “Por exemplo se por se o x for 4 o y pode se 2 2. d) Não sei como responder e) Não lembro. A3: deixou em branco e escreveu “não sei”. A4: a) X e Y são a soma de 2 numeros que dão 4 no caso o nº 2 b) y que representa um numero desconhecido que estou procurando o x2 um número elevado ao quadrado que soma com 2 no caso um Ex: 22 + 2 = x = 4 + 2 = 6 x=6 c) uma simplificação 206 d) Ex: 9(x) = x2 + 2 x2 = 9 + 2 x2 = 11 x = 11 e) Ex: 3x – 4 = y x1 = y yx = 1 A5: a) O 4 é uma soma dos números x e y; então um depende do outro para que o resultado seja obtido. b) é um número que é representado pela soma de outro ao quadrado mais dois. c) é um número que é representado por outro número vezes ele mesmo. d) é um número vezes o outro que representa um número vezes ele mesmo mais dois. e) é um número vezes três menos 4 que representa outro. A6: a) não representa 207 b) representa c) representa d) não representa e) não representa A7: Em branco A8: a) não representa/ Eu não entendi direito essa matéria quando a professora passou, mais acho que são essas. b) representa c) representa d) não representa e) não representa Questão 8: Avalie os gráficos abaixo e, para cada um deles, identifique se representa uma dependência de “y em função de x”. Justifique suas respostas. 208 a) b) 209 c) d) A1: Em duvida. Não compriendi a pergunta. Este sujeito buscou dados em cada gráfico e, ao lado de cada um, construiu uma tabela com os valores que ele identificou. As tabelas foram: 210 a) y x 0 1,5 -1 1 1,5 0 0 -1,5 b) y x 0 0 1 1 -1 1 2 4 -2 4 c) y x 0 0,5 0 1 1 0 2 -1 d) em branco. A2: 211 a) Não precisaria, pois está bem explicado e dividido então necessariamente não há dependência. b) Não sei explicar, teria que olhar no caderno. c) Acho que não seria necessário ser dependente. d) Aparentemente elas são independentes. A3: Este sujeito escreveu não sei no gráfico da alternativa a e deixou os demais em branco. A4: a) Sim por que sem o x não teria como ligar o y ao x e não teria o gráfico. b) aqui o y é menor dependente que o x por que o x já tem a altura correta que é onde o gráfico representa. c) Os dois x e y são dependente por causa das muitas curvas. d) aqui o x é igualmente dependente que o y pois as duas partes dos gráficos representam latitude e amplitude. A5: 212 a) Sem o x não há como calcular se a distância da circunferência para os quatro lados e exatamente igual. b) Sem a reta y não teriamos certeza e o 0 (zero) da reta x se junta com o zero da reta y. c) Sem a reta y não seriam precisas as ocilações. d) Sem a reta x não seriam precisas as distâncias e alturas. A6: Escreveu “não me lembro” ao lado de cada um dos quatro gráficos. A7: Em branco A8: Escreveu “não me lembro” ao lado dos gráficos a, b e c deixando em branco o gráfico d. Questão 9: Observe as representações A e B a seguir: A) -1 -3 1/2 0 2 3 213 B) x y -1 -3 1/2 0 2 3 Qual dos gráficos cartesianos abaixo melhor apresenta os dados das representações A e B que você observou acima? Justifique sua resposta. a) 214 b) c) 215 d) A1: anotou que o gráfico a corresponde à representação B (tabela); que o gráfico b corresponde à representação A (diagrama); que o gráfico c corresponde à representação B (tabela) e que o gráfico d corresponde à representação A (diagrama). A2: anotou que “e o gráfico a representa melhor com os dados da A” e “o gráfico d é melhor representado nos dados de representações B”. A3: anotou “o gráfico D = ele representa todos os valores citados”. A4: este sujeito assinalou “X” sobre o item a, desenhou um gráfico unindo com uma reta os três pontos representados sobre o plano cartesiano, deixando-o parecido com o gráfico apresentado no item b, e escreveu ao lado desta alternativa “pelo gráfico aqui marcado que representam os planos cartesianos → É tambem por que o grafico y positivo vai até o 3 onde tem os planos”. Os demais gráficos estão em branco. 216 A5: fez anotações ao lado de cada gráfico, escrevendo ao lado do gráfico a “O gráfico B pois ele diz qual número que vai em qual reta.”; ao lado do gráfico b “O A porque determina o ponto inicial e o ponto final.”; ao lado do gráfico c “O A pois é utilizado apenas a marca horizontal do gráfico.” E ao lado do gráfico d “O B pois determina qual número pertence a reta x e qual pertence a y.”. A6: fez somente uma anotação ao lado do gráfico a, escrevendo “gráfico D, melhor da-se para entender por causa dos pontos que estão ligando.” A7: não escolheu um gráfico como resposta mas fez duas anotações, no gráfico a desenhou uma reta unindo os três pontos representados naquele plano cartesiano e no gráfico b traçou uma paralela ao eixo y passando por x=2 tentando talvez localizar o ponto (2,3) apresentado em A e B. A8: Assinalou um círculo sobre a letra d e escreveu “*Grafico D melhor por causa dos pontos ligados*”. Questão 10 O professor de Matemática apresentou aos alunos a seguinte tabela: x y 1 1 2 ½ -1 -1 E pediu aos alunos que fizessem um gráfico que satisfizesse os pontos dados. Três alunos apresentaram as seguintes respostas: 217 a) b) 218 c) y 1,5 1 0,5 x 0 -4,5 -4 -3,5 -3 -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 -0,5 -1 -1,5 Qual dos três colegas fez o gráfico corretamente? Explique sua resposta, dizendo porque escolheu ou deixou de escolher um ou mais dos gráficos. A1: item a com a justificativa “O colega A fez o gráfico corretamente porque os pontos estão corretos”. A2: item c com a justificativa “creio que a que está correta é a C pois que se os dados mais se aproximam”. A3: item c justificando “grafico C = ele „apontou‟ todos os valores, formando assim o grafico. Os outros dois sequer fizeram de acordo com os valores dados”. A4: item c justificando “por que para construir o gráfico presisa-se ter os mesmos numeros de y e x para ligalos”. 219 A5: item b justificando “O gráfico B pois faz uma curva juntamente com os números x=2, y=1/2 e x=-1 e y=-1”. A6: item c justificando “gráfico C, eu o escolhi porque ele foi o que mais deu para entender e ligou os pontos corretamente”. A7: item a sem justificativa. A8: item c justificando “Gráfico c → Eu escolhi esse, porque entendi // melhor.//”