OS IMPRESSOS COMO ELO DE LIGAÇÃO ENTRE O SINDICATO E AS ESCOLAS Libânia Nacif Xavier (FE/UFRJ) [email protected] Bluma Salomão (UCAM/UNESA) [email protected] Veraci Alimandro (Alerj) [email protected] A comunicação apresenta os primeiros resultados da análise de impressos produzidos pela Diretoria do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE), durante a década de 1990. Procura dialogar com a produção acadêmica no âmbito da História e da História da Educação, priorizando os estudos sobre a história das esquerdas no Brasil (Ridenti:2007) e a história do tempo presente (Cheveau e Tétard:1999) e com os estudos sobre a circulação de impressos pedagógicos (Catani, Vicentini e Lugli:1997 e Pintassilgo et all:2006) e sobre a profissão docente, em geral. Após entrevistas com os atores envolvidos e da análise das fontes, constatamos que o conjunto desses impressos, em particular o Boletim do SEPE, é expressão de um projeto político e profissional que se insere em lutas por universalização e democratização da educação, por melhores condições de trabalho e de salários, envolvendo a disputa pela condução do debate educacional à época. Nesse sentido, definimos o tratamento dos impressos sindicais como materialização de projetos de construção identitária (Dubar:2005) e de conformação da carreira docente, em sintonia com os movimentos sociais, políticos e culturais que marcaram o contexto em questão. Considerações Iniciais Estudos e pesquisas desenvolvidos mais recentemente no Brasil e em países como Portugal, França, Bélgica e Alemanha têm demonstrado o potencial dos impressos pedagógicos na produção e difusão de conhecimentos em educação, por se constituir em espaço privilegiado de divulgação de teorias e de modelos pedagógicos, bem como pelo fato destes atuarem como veículos de conformação de identidades, de prescrição de hábitos e valores que se quer difundir e sacramentar (Fernandes:2008). A utilização desse tipo de material como fonte historiográfica no âmbito da pesquisa educacional se justifica em razão das possibilidades de observação que os impressos oferecem ao pesquisador interessado em captar os debates e ações no campo educacional, no momento mesmo em que estes se processavam e pela possibilidade que oferece ao pesquisador de perceber as diferentes vozes e projetos que se fazem representar nesses suportes (Magaldi e Xavier: 2008). Contudo, cabe destacar que, enquanto o estudo dos impressos educacionais tem recebido grande atenção dos pesquisadores, as experiências de associativismo docente se apresentam, ainda, como tema pouco explorado no âmbito da historiografia da educação. 1 Por outro lado, balanço indicativo das principais tendências teórico-metodológicas apresentadas em estudos recentes na área da história da educação brasileira apontou o crescente interesse pela investigação dos processos por meio dos quais a história da educação vem se configurando em nível local. 2 No que se refere ao recorte temporal, observou-se, ainda que tímida, a presença de estudos que tomam a história recente como tema de análise Analisando esta última tendência da produção historiográfica no contexto europeu, Cheveau e Tétard (1999) registram a consolidação dos estudos de história do tempo presente como uma reflexão epistemológica que vem se impondo desde o final da década de 70, mas que já era visível no pós-guerra, quando surge uma vasta produção editorial de cunho acadêmico, porém não necessariamente dirigido ao público universitário. Tal expansão deveu-se à grande demanda social por instrumentos capazes de esclarecer os acontecimentos econômicos, políticos e sociais daquele conturbado período. A história do tempo presente procura incorporar a exploração de novas fontes em busca de dados capazes de produzir formas renovadas de compreensão dos acontecimentos e antever possíveis estratégias de intervenção na realidade. É nessa linha que apresentamos as anotações que se seguem. Elas procuram observar o vínculo que se procurou estabelecer entre as ações sindicais em prol da democratização do ensino e da sociedade e o pensamento e a prática dos professores atuantes nas escolas do Rio de Janeiro, por meio dos impressos sindicais, durante a década de 1990. O contexto de organização do SEPE Desde a década de 1970, ainda na vigência do regime militar, que a perspectiva de formação de uma entidade sindical em nível nacional se fez presente nos movimentos de organização sindical de diversas categorias profissionais à época, estando ligada, ainda aos movimentos de oposição ao regime autoritário instaurado no Brasil em decorrência do movimento político-militar de 1964.3 Esse último aspecto guarda relação com um movimento mais geral, de contestação do controle do Estado frente a um regime 1 A esse respeito, merece destaque o trabalho pioneiro de Denice Catani (2003), que estuda o “ciclo de vida” da Revista de Ensino da Associação Beneficente do Professorado de São Paulo. Levantamento preliminar sobre a produção nessa última década, localizamos as seguintes teses de doutorado que versam sobre o associativismo docente, sob diferentes formas de abordagem, a saber, Vicentini e Lugli (2002) , Sadi e Piton (2004). Em revistas qualificadas pela CAPES no período 2000/2006, observamos um conjunto de 30 artigos que versavam sobre a profissão docente, sendo que, dentre estes, apenas um artigo abordava a questão do associativismo. Cf: Bittar e Ferreira (2006). 2 Esta tendência já havia sido identificada no balanço relativo aos trabalhos apresentados no I Congresso Brasileiro de História da Educação promovido pela Sociedade Brasileira de História da Educação (Xavier:2000), tendo sido confirmada mais recentemente, por ocasião do I Encontro de Pesquisadores do Rio de Janeiro, realizado em 2007, no qual teve lugar uma mesa redonda sobre a História da Educação e a História Regional. . 3 Sobre o assunto, consultar Coelho, Ricardo B. Marques (1988). O Sindicato dos Professores e os estabelecimentos particulares do Rio de Janeiro (1931-1950); Andrade, Teresa Ventura de. A União dos Professores do Rio de Janeiro: um capítulo à parte na história da organização docente (1948-1979). Niterói, UFF, 2001. Dissertação de mestrado; Masson, Máximo Augusto Campos (1998).Magistério e Sindicalismo: a trajetória do Centro de Professores do Rio de Janeiro e Sobreira, Henrique Garcia (1989). Educação e Hegemonia: o movimento dos professores públicos de 1º e 2 º graus - Estado do Rio de Janeiro (1977-1985). Faculdade de Educação / UFRJ (dissertação de mestrado). extremamente centralizado e autoritário e paralelo a um movimento de expansão das reivindicações sociais pela ampliação das oportunidades de escolarização. A década de 1980 assistiu o recrudescimento da oposição ao regime militar4 com a emergência de movimentos sociais, profissionais e culturais marcados pela reunião de grupos em torno de lutas comuns. A ampliação da participação popular também esteve associada ao processo de organização sindical de diversas categorias, entre estas o magistério. No Rio de Janeiro a organização do Centro Estadual dos Professores (CEP)5 orientou o movimento reivindicatório da categoria naqueles anos de exceção. A consulta aos arquivos de jornal de grande circulação à época demonstrou a centralidade alcançada pelo movimento de organização política do magistério, assim como de suas manifestações públicas.6 Ainda nesse período, a crise do endividamento, vivida pelos países da América Latina possibilitou uma maior interferência dos Organismos Internacionais na política interna desses países. Ao final da década, o Banco Mundial (BM) formulou um conjunto de reformas a serem aplicadas nos países endividados para atender às necessidades de expansão do capital internacional. Essas reformas, que ficaram conhecidas como “Consenso de Washington”, defendiam, principalmente, o equilíbrio orçamentário, mediante a redução dos gastos públicos; a abertura comercial; a liberalização financeira; a desregulamentação dos mercados internos e a privatização das empresas e dos serviços públicos. Assim, a reestruturação dos países periféricos, embasada pelas políticas impostas pelo BM e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), comprometeu ainda mais o desenvolvimento autônomo desses países, agravando a já precária estabilidade de sua estrutura interna evidenciada por altos índices de desemprego, miséria e violência ainda mais elevados do que antes. No Brasil, a ideologia neoliberal foi, paulatinamente, ganhando credibilidade junto às elites brasileiras e tornou-se hegemônica a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso, (1995-1998), quando este setor sofre uma profunda reformulação, tomando como base.... o conceito de eqüidade social. [Este,] da forma que aparece nos estudos produzidos pelos Organismos Internacionais ligados à ONU e promotores da Conferência de Jomtien, sugere a possibilidade de estender certos benefícios obtidos por alguns grupos sociais à totalidade das populações, sem, contudo, ampliar na mesma proporção as despesas públicas para esse fim. (Oliveira: 1999, 74) Baseado nesse conceito, a “Conferência de Educação para Todos”, que ocorreu em março de 1990, em Jomtien (Tailândia), estabeleceu como orientação focalizar o ensino fundamental em detrimento dos demais níveis, bem como defendeu a idéia de que a tarefa 4 O movimento político militar de março de 1964 instaurou no país um regime de exceção, marcado pelo bipartidarismo, pela supressão de eleições diretas para presidência da república e pelo cerceamento da liberdade de pensamento, expressão e agremiação. 5 O atual Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (Sepe) teve, ao longo de sua história, diversas denominações: Associação de Professores do Estado do Rio de Janeiro - APRJ (1977); Sociedade Estadual dos Professores - SEP (1977-1979), Centro Estadual de Professores - CEP (1979-1988) e Centro Estadual dos Profissionais de Ensino (CEPE), a partir do Congresso Extraordinário de junho de 1988. Sobre o assunto ver: Sobreira (1989:74). 6 Em particular o Jornal do Brasil e O Globo. de assegurar a educação é de todos os setores da sociedade, redimensionando o dever do Estado para com a educação pública de qualidade. O eixo descentralização/racionalização tem, na municipalização do ensino e na criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), a principal articulação do governo federal para ampliar o atendimento ao ensino fundamental sem aumentar os recursos destinados a ele, repassando aos municípios, muitas vezes às unidades mais pobres da Federação, a responsabilidade com esse nível de ensino. Na realidade, as mudanças na legislação nacional, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e o Fundef , entre outras, forneceram a base legal e determinados instrumentos para o referido redimensionamento do papel do Estado, forjando mecanismos por meio dos quais o governo federal pudesse repassar a responsabilidade do investimento na educação para outros setores da sociedade. Porém, tanto a formulação como o controle dessa política foi altamente centralizado e não contou com a participação da sociedade na sua elaboração. Entretanto, professores e estudantes, articulados a suas organizações associativas, demonstraram um forte poder de resistência, empreendendo lutas contra a privatização da educação e pela qualidade do ensino com mobilizações e greves prolongadas nas redes públicas de ensino fundamental e médio, que se fizeram presentes, ao longo de toda a década de 1990. Por fim, ao longo da década passada, podemos perceber variados movimentos sociais, pontuados por lutas e conflitos, mesmo que, na maioria das vezes, “a agenda desses movimentos, centrada na defesa dos direitos sociais, seja denunciado pela grande imprensa e pelo governo como corporativista” (Leher: 2001, 163-164). Essa foi, sem dúvida, uma das maneiras utilizadas para descaracterizar a resistência dos movimentos sociais, que mesmo de forma ainda tímida, vinham buscando na unificação o contraponto ao setor hegemônico. Portanto, resgatar e analisar os materiais impressos desses movimentos, especificamente no nosso caso as publicações do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE), pode significar escrever uma outra história, a história dos conflitos e da resistência dos profissionais da educação à implantação de um conjunto de medidas que configuravam uma orientação política que, embora empunhasse programas de “valorização do magistério”, pouco avançava no que tange às condições de trabalho do magistério - seja no que tange às condições materiais quanto às condições de ampliação da autonomia intelectual dos professores –, bem como à melhoria da qualidade da educação pública, de uma maneira geral. Dentre as diferentes publicações constam as Revistas de Educação, os Cadernos Acadêmicos, o Jornal Conselho de Classe, o Mural do SEPE e as Teses de Congressos, além do Boletimdo Sepe, alvo de nossa atenção nesta comunicação. Caber registrar, ainda, que optamos por iniciar a análise dos Boletins a partir do ano de 1997, ano que sucedeu a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN (Lei 9394/1996). Não é demais lembrar que processo de tramitação da LDBEN, no Congresso Nacional, se deu logo após a promulgação da nova Constituição, em outubro de 1988, apresentando-se, portanto, como um desdobramento das lutas em prol do restabelecimento da vida democrática no país. Porém, apesar deste processo ter sido encaminhado por uma Comissão Suprapartidária — formada por representantes de todos os partidos e de Comissões Técnicas — as dificuldades enfrentadas para se alcançar um consenso tornavam-se cada vez mais evidentes, colocando em lados opostos os parlamentares e representantes de entidades da sociedade civil que visavam o fortalecimento da escola pública e, de outro, os defensores da escola privada, que se colocavam contra a ingerência do Estado nos estabelecimentos particulares. Dentre os primeiros, estavam os representantes do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Comunista do Brasil (PC do B) e Partido dos Trabalhadores (PT), e entre os segundos, destacaram-se o Partido da Frente Liberal (PFL) e o Partido Democrático Social (PDS). Articuladas aos parlamentares identificados com os princípios democráticos de organização do sistema nacional de ensino, as lideranças do Fórum Nacional de Educação na Constituinte em Defesa do Ensino Público e Gratuito (Fórum)7 envidaram esforços sistemáticos para, em um primeiro momento, formular um projeto de lei que contemplasse as reivindicações oriundas das diversas entidades a ele associadas. Em linhas gerais, estas preconizavam a universalização da educação básica e a organização de um sistema nacional de ensino que, de um lado, assegurasse a articulação orgânica dos diversos níveis e modalidades de ensino nas esferas federal, estadual e municipal e, de outro, propiciasse a democratização seja de sua gestão, seja em sua inserção social. Sem entrar no mérito do longo e complicado processo de tramitação do projeto de Lei – marcado por paralisações, avanços e recuos, além de protestos públicos – finalmente, em 20 de dezembro de 1996, o texto da LDB -- que ficou conhecido como Lei Darcy Ribeiro -- foi sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (Lei nº 9.349), sendo publicada no Diário Oficial da União em 23 de dezembro do mesmo ano (seção I ). A avaliação do governo foi a de que a LDB deveria ser uma lei do possível, que pudesse ser cumprida a partir dos recursos financeiros disponíveis nos esquemas orçamentários convencionais. Além disso, deveria ter flexibilidade suficiente para se adequar às diferentes situações da educação nacional. Vista por outro ângulo, a aprovação daquele projeto foi duramente criticada, por que ele excluía o projeto anterior, discutido durante anos com entidades representativas da sociedade reunidas no Fórum e objeto de consenso entre os partidos políticos. Portanto, o ano de 1997 se tornaria um período de adaptação e experimentação dos governos no sentido de se adequarem às novas diretrizes legais para a educação. Na realidade, desejamos fazer através da análise desse impresso uma leitura da forma como o Sindicato se preparou e preparou a sua base para enfrentar esse projeto de sociedade que se define a partir da segunda metade dos anos de 1990. O Boletim do Sepe: 7 O Fórum reuniu, numa proposta única, reivindicações de cerca de 30 entidades representativas de associações profissionais da educação, entre estas se destacaram as seguintes: Associação Nacional de Educação (ANDE), Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior (ANDES), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), Associação Nacional de Profissionais de Administração da Educação (ANPAE), Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES), Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e União Nacional dos Estudantes (UNE). Criado para se constituir como um veículo de comunicação ágil, objetiva e direta com os professores, o Boletim se difere na forma e no conteúdo dos demais impressos produzidos pelo Sepe. Inclusive, se comparado ao Jornal Conselho de Classe, podemos perceber que ele possui uma periodicidade mais constante com conteúdo extremamente dinâmico, voltado para questões profissionais e algumas vezes pedagógicas de interesse específico da categoria. Como pudemos observar, esse instrumento de diálogo e informação possui formatos diferenciados de acordo com a quantidade de informações e o tempo necessário para atingir seus objetivos, freqüentemente ligados a demandas muito objetivas da luta sindical. Pode se apresentar na forma de folha de papel ofício, frente e verso, confeccionado no próprio Sindicato ou impresso em gráfica, no formato duplo ofício e papel jornal. Este jornal, que tem como objetivo informar com agilidade para denunciar e organizar as lutas da categoria é elaborado especificamente para cada rede de escolas públicas do Rio de Janeiro – estadual e municipais – já que o Sindicato possui uma base organizada que se estende por grande parte dos municípios do estado do Rio de Janeiro, com demandas e características próprias. Nesse sentido, cada um dos Núcleos municipais do Sindicato possui sua própria organização e independência no encaminhamento das lutas e na elaboração e publicação de seus impressos. Um outro fator importante que podemos destacar em relação aos Boletins é que, em função da urgência da informação, na maioria das vezes ele é distribuído pelos próprios diretores do sindicato, que ao se fazerem presentes nas escolas possibilitam o diálogo direto e uma maior aproximação do Sindicato com os professores e funcionários em seus locais de trabalho. No que tange ao conteúdo veiculado, o Boletim do SEPE se empenha em divulgar os avanços e recuos nas negociações em prol da categoria docente com diferentes instâncias políticas, além de apresentar análises e comentários críticos sobre determinadas medidas tomadas pelas Secretarias (estadual e municipal) de Educação, dentre outras. Torna-se relevante destacar a forte presença de notas, chamadas e notícias dirigidas aos funcionários atuantes na rede de escolas públicas da cidade e do estado do Rio de Janeiro. O Boletim veicula notícias que informam sobre o estágio das lutas empreendidas pelo sindicato, ao lado de informações sobre as ocorrências políticas do momento – como a denúncia de desvio de verbas da educação para outros setores e as orientações da Secretaria de Educação para a escolha de diretores de escolas, dentre outras –, articulando-as à luta maior de consolidação das conquistas democráticas, mobilizando os professores e, ao mesmo tempo, evidenciando uma longa pauta de negociações e mobilizações. Merece registro, por fim, a expectativa de aproximação do Sindicato com as práticas de sala de aula configuradas nas sugestões de atividades didáticas com que o Boletim brinda os professores. Figura nesse espaço, por exemplo, um texto do professor Chico Alencar, intitulado “Acabou a escravidão. Mesmo?” Acima do texto (e abaixo de uma foto que exibe um homem negro acorrentado ao lado do busto de Zumbi dos Palmares) se apresenta a seguinte sugestão: utilize este texto para preparar, no dia 13 de maio, uma aula sobre a abolição da escravatura. Neste dia, os profissionais da educação fazem uma paralisação em protesto contra as péssimas condições de trabalho na rede municipal (06/05/1997: página 03). Em um pequeno Box, no canto inferior da página, o boletim sugere um conjunto de referências bibliográficas sobre o tema. Nesse sentido, o impresso em questão cumpre o objetivo para o qual foi idealizado, qual a seja o de estabelecer mais um elo de ligação entre a luta sindical e os professores atuantes nas escolas da rede pública – estadual e municipais – do Rio de Janeiro. Da mesma forma, cumpre não só o papel de suporte de informações, como também de intérprete das práticas e orientações políticas do momento, denunciando seus desvios, criticando suas incoerências e fomentando ações para sua reorientação segundo os interesses e necessidades dos profissionais da educação, percebidos como grupo específico, mas também, como parte da sociedade brasileira. Referências Bibliográficas: Catani, Denice (2003). Educadores à meia luz: um estudo sobre a Revista do Ensino da Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo (1901-1918). Bragança Paulista, EDUSF. Catani, Denice e Bastos, Maria Helena C. (orgs.) (1997.). Educação em Revista: a imprensa periódica e a história da educação. São Paulo: Escrituras. Boletim do Sepe. Rio de Janeiro, 06/05/1997. Cheveau e Tétard (1999). Questões para a história do presente. Bauru, SP : EDUSC. Fernandes, Ana Lúcia Cunha (2008). 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