VISÃO ESPACIAL: COMO O INDIVÍDUO APROPRIA-SE DESTE CONCEITO?1 Ana Gabriela de Souza Lima – UFPE – [email protected] Ana Catarina S. P. Cabral – UFPE Andréa Patrocínio de O. Lira – UFPE Juliana Maria Lima Coelho – UFPE A partir de pesquisas sobre o ensino de Geometria nas séries iniciais, mais particularmente sobre a Visão Espacial da Geometria descritiva, nos propusemos a investigar tal aspecto através de diagnoses aplicadas a alunos que integram o ensino fundamental das séries iniciais, incluindo a EJA. Partindo do pressuposto de que o indivíduo é o construtor de seus conhecimentos e que conta com influências externas e internas para esta construção, começamos esta refletindo um pouco sobre representações espaciais, o que são, como é tratado este conceito e seu ensino nas séries iniciais. Em seguida, analisaremos os desenhos dos ambientes realizados por crianças e adultos em fase escolar tentando entender tais representações. Posteriormente refletiremos sobre algumas atividades que podem contribuir para o desenvolvimento desta capacidade geométrica. Acreditamos que com isto estaremos contribuindo para uma melhoria da qualidade do ensino de Geometria, muitas vezes deixado às margens da Educação matemática nas séries iniciais, e colaborando para o aperfeiçoamento do profissional da educação, fazendo com que este reflita sobre suas práticas e, através de pesquisas que cunho científico, possa modificar e melhorar a qualidade das aulas elaboradas, proporcionando a seus alunos momentos de construção dos conhecimentos. 1 Esta pesquisa foi desenvolvida na disciplina de Metodologia do Ensino de Matemática 2, do curso de Pedagogia da UFPE, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Gilda Lisboa Guimarães. Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 2 Geometria e Visão Espacial Analisando as últimas décadas, percebemos que o ensino da Geometria foi mantido, nas escolas e nos livros didáticos, em segundo plano, ou seja, apresentavam “uma visão muito estreita da geometria (...) daí muita gente concluiu que a geometria é estéril e chata”.(MONTENEGRO, 1991: p.5) Isso se deve ao fato de se pensar na matemática apenas preocupando-se com as noções numéricas, assim uma pequena parte do conteúdo escolar é dedicada à geometria. E quando esta é vista, a sua abordagem está ligada ao reconhecimento das figuras geométricas. Não se levando em conta que a criança está inserida no espaço e que este deve ser percebido e concebido pela criança quotidianamente. Segundo SMOLE (1996), As crianças estão naturalmente envolvidas em tarefas de exploração do espaço e se beneficiam matemática e psicologicamente de atividades de manipular objetos desse espaço no qual vivem, pois enquanto se movem sobre ele e interagem com objetos nele contidos, adquirem muitas noções intuitivas que constituirão as bases da sua competência espacial.(p.106) Tentar descrever um ambiente de sua casa, da escola, ou explicar a uma pessoa o melhor para chegar a um determinado endereço, para muitos alunos, não é nada fácil. Tentar demonstrar esses lugares em um papel, então, torna-se mais complexo. Isso acontece quando não se desenvolve a linguagem gráfica. Na escola, os desenhos são atualmente valorizados apenas nas aulas de Artes, como forma de expressão. Porém, muitas vezes, são nessas atividades que as crianças deixam claras as primeiras noções de localização e representam o seu modo de pensar o espaço, que não são consideradas por outras disciplinas, por exemplo, no ensino da geometria na matemática. Para isso, a criança tem que sentir-se parte desse espaço, já que este é um fator que constituem um dos pontos de partida da Geometria. É necessário, então, desenvolver algumas habilidades visuais e táteis. Tais como: desenhar, construir, copiar, ampliar, combinar ou modificar objetos. “(...) a geometria a ser desenvolvida na Educação Infantil não pode ser a geometria estática do lápis e papel apenas, nem ao menos estar restrita à identificação de nomes de figuras. É necessário pensar uma proposta que contemple, simultaneamente, três aspectos para seu pleno desenvolvimento: a organização do esquema corporal, a orientação e percepção espacial e o desenvolvimento de noções geométricas propriamente ditas”.(SMOLE, 1996: p.106). Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 3 Na pesquisa “Ensino de Geometria descritiva: Inovando na metodologia” de KOOPKE (2001), com base na observação durante anos de magistério superior, na área de desenho, percebeu as dificuldades encontradas por seus alunos no aprendizado de desenho em geral, principalmente naquelas atividades que envolviam conceitos geométricos. A geometria ainda é um tema pouco explorado em classe. Quando trabalhado de forma criativa, ela desperta nos alunos o gosto pela disciplina e a descoberta de novas possibilidades de desenvolver a visão espacial. Segundo Almeida (2002), o desenho de uma criança não é só cópia de objetos, mas a interpretação do real. Ao proceder dessa maneira, o aluno busca um acordo que não é preestabelecido, mas sim construído a partir de uma dinâmica entre a sua individualidade e os variados elementos do mundo externo. Em seu trabalho KOOPKE (2001), busca mostrar para os alunos que a Geometria não é difícil, “mas apenas diferente do que estudaram até então”. Para desenvolver um modelo construtivista de ensino-aprendizagem, é necessário construir situações de aprendizagem, configurar fontes de informação para resolvê-los. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), as atividades de Geometria nos primeiros ciclos devem estimular nos alunos a capacidade de estabelecer pontos de referência ao seu redor, situar-se no espaço, deslocar-se nele, produzir e analisar representações do espaço. Por isso, é preciso que o professor crie o hábito de observar a representação espacial produzida pelos alunos. Por outro lado, pensar como ensinar geometria, o que os alunos sabem sobre geometria, como eles se vêem no espaço, como introduzir a geometria nas séries iniciais, são perguntas que aparecem constantemente no cotidiano escolar. De acordo com PIAGET e INHELDER, os primeiros conceitos geométricos das crianças são topológicos (defende que a aquisição das noções espaciais no indivíduo dáse em ordem inversa à da evolução histórica), dando lugar gradativamente aos projetivos e euclidianos (quadrados, elipses, triângulos, círculos e curvas fechadas). Sendo assim, quando ensinada de um ponto de vista menos abstrato, explorando a interação do aluno com objetos e situações cotidianas, a geometria favorece a integração com outros conteúdos de matemática ou/e de outras disciplinas. Um outro fator que irá colaborar no ensino-aprendizagem e no desenvolvimento da visão espacial é o trabalho com seqüências didáticas a serem exploradas pelos professores. Por exemplo, nas atividades aplicadas com as crianças (ver anexos), onde Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 4 buscamos perceber as construções iniciais deles a partir da representação no papel de um ambiente que possui três dimensões (altura, largura e profundidade). A atividade de verificação dos conhecimentos prévios antes da elaboração da seqüência didática a ser trabalhada é de fundamental importância para que o professor primeiramente analise como o espaço foi representado2 pelos alunos para, a partir de então, trabalhar com os conhecimentos já construídos e desafiá-los em busca de aperfeiçoamentos. Assim, no ensino da geometria, para o trabalho com a representação espacial, quanto mais os professores levarem para sala de aula, exemplos concretos permitindo aos alunos trabalhar o todo e as partes, percebendo as aplicações e conceituação no mundo que o cerca, mais facilmente eles irão aprender a raciocinar espacialmente. Em outros termos, como nos mostra KOPKE (2001), é de fundamental importância partir do princípio de que hoje em dia é cada vez mais importante estimular o desenvolvimento da visão espacial. Principalmente no que diz respeito à compreensão de gráficos e tabelas no âmbito da formação escolar. Já que é muito freqüente a veiculação de informações pela mídia se fazerem acompanhar de resumos, quadros e anexos neste formato. Um aspecto fundamental para a compreensão de gráficos referese ao conhecimento sobre “Coordenadas Espaciais” em um plano ortogonal ou cartesiano. Se a criança não for capaz de entender que cada ponto em um gráfico representa uma intersecção de informações oriundas dos eixos horizontal e vertical, ela terá dificuldade em interpretar e construir qualquer gráfico. Nesta, investigaremos a visão espacial dos participantes da pesquisa, procurando analisar suas representações do espaço em que estavam inseridos e refletir sobre elas. Refletindo, também, sobre quais atividades ajudariam os alunos a desenvolverem este conceito. Representação Espacial dos Indivíduos: o que acontece? Propomos, aos indivíduos, que representassem, em desenho, o ambiente onde se encontravam, alertando-os para os detalhes e objetos inseridos neste. Realizamos a atividade com alunos da educação infantil (3), das séries iniciais do ensino fundamental (8) e EJA (6). Num total de 17 participantes∗. 2 Maiores informações ver Guimarães, Oliveira e Ribeiro. Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 5 Aplicação das Atividades Ambiente: sala de aula com 17 bancas, 18 cadeiras, 1 bureau para o professor, 1 quadro branco, 3 prateleiras com caixas de materiais, 1 pia, 1 filtro, 1 armário com 4 portas, 1 janela, cartazes, 2 ventiladores, 3 lâmpadas, 1 lixeiro e combogós. Fernando Gabriel 7 anos, 1º Série, Escola: Particular. Representação do Espaço A criança representou esta sala com várias cadeiras, um armário com quatro portas e um quadro. Percebemos que em seu desenho, o sujeito começa a armar uma planta baixa da sala (linhas representando as paredes), porém acaba elegendo alguns elementos que integram a sala para desenhar e o faz de forma aleatória. Paulo Roberto 6 anos, Alfabetização, Particular Representação do Espaço O sujeito representou esta sala, com várias cadeiras, 2 ventiladores de tetos e com fitas que estavam coladas no teto da sala. Observa-se a partir do desenho que esta criança levou em consideração os planos; teto e chão. Não desenhou, portanto, todos os objetos contidos na sala, como Paulo de Tarso tentou fazer. Porém, ao desenhar as cadeiras colocou-as enfileiradas de frente para a parede, desenhando apenas cinco que considerou suficiente para a representação desse espaço. Paulo de Tarso 7 anos, 1º Série, Particular Representação do Espaço Verifica-se que o aprendiz representou o espaço com várias cadeiras, janelas, portas, quadro, armário com quatro portas, dois ventiladores, três lâmpadas, prateleiras e caixas de materiais. Observa-se a partir do desenho que a criança faz um corte vertical tentando representar o que tinha na sala a partir do que observava nas quatro paredes, porém acaba desenhando o que tem no teto e no chão. O sujeito considerou a ordenação dos objetos, representando o que estava em cada parede e colocando-os um ao lado do outro. Assim acaba desenhando quase tudo que há na sala. Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 6 Aplicação das Atividades Ambiente: quarto com cama, criado-mudo, guarda-roupas, uma escrivaninha, uma estante. Leonardo 9 anos, 1º série, Escola Pública Representação do Espaço Assim como Paulo de Tarso, Leonardo desenhou os objetos que integravam o quarto de forma seqüenciada. Ou seja, desenha os objetos um ao lado do outro. Porém, ele representou os móveis e objetos de acordo com a ordem estabelecida pela das paredes. José 52 anos, EJA, Escola Pública Representação do Espaço José conseguiu desenhar com precisão quase todo os objetos contidos no ambiente. Porém, organizou alguns móveis de maneira diferente da que estava posta. Acredita-se que isso possa ter acontecido pelo fato de José ter desenhado os móveis num tamanho que impossibilitou a representação espacial dos mesmos, ou seja, por terem sido desenhados num tamanho considerável restou pouco espaço para a reprodução dos outros objetos, o que pôde ter motivado a adaptação do desenho ao espaço, na folha de papel, para desenhar os demais objetos. Augusto Luís 12 anos, 4.ª série, Escola Pública Representação do Espaço O participante não estabelece critérios de representação, isto é, ele não tenta dar cortes, horizontal e vertical, o que dificulta o entendimento do ambiente representado no desenho. Augusto Luiz levou em consideração a disposição dos objetos no quarto, visto que, o ele representou os móveis de forma ordenada, não na mesma seqüência de Leonardo (que ordena os móveis de acordo com a ordenação estabelecida com as paredes) mas de forma que todos os objetos pudessem ser representados. Representa alguns móveis com vista lateral, enquanto desenha outros com vista frontal e parece seguir os limites da folha como se fossem as paredes do quarto. Por isso coloca a cadeira na frente do guarda roupa e entre este e a cama, posição em que realmente estava situada no quarto. Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 7 Aplicação das Atividades Ambiente: sala com uma mesa com seis cadeiras e um vaso com flores em cima, uma árvore de Natal em cima de uma mesinha lateral, dois sofás, um centro com um vaso de flores, uma estante, uma porta, uma janela e duas luminárias. Hallana Patrocínio 10 anos, 4º série, Escola Particular Representação do Espaço Ela desenhou, todos os elementos que estavam no chão considerando a posição de cada um, mas não representou a porta, a janela, nem as luminárias. Tais representações não puderam ser possíveis porque a criança não estabelece cortes para representar as várias faces da sala. Expressa, em seu desenho, várias visões do espaço. Representa a mesa de cima, mas coloca sua base. Coloca as cadeiras sempre viradas para a mesa e procura desenhar estas em suas diversas dimensões (frente, trás, esquerda direita). Aplicação das Atividades Ambiente: sala de aula com quatro mesas com quatro cadeiras cada uma, um armário, um filtro, um birô com uma cadeira, duas prateleiras e um ventilador e demais elementos que estavam na parede como o quadro e cartazes. Ana Crislainy 7 anos, alfabetização (ciclo 1 ano 1), Escola Pública Representação do Espaço Ana Crislainy tentou representar a sala de aula em que estuda, verifica-se que ela desenhou o quadro, uma cadeira, uma mesa com um caderno e uma criança. Percebe-se que a criança ainda delimita o espaço da sala (talvez do chão já que coloca o quadro fora dos limites estabelecidos). Ela representou apenas um objeto de cada que encontrava-se na sala, quando questionada pela examinadora, ela falou: “só precisa ser um”. No desenho ela não considerou a posição dos objetos apenas representando-os aleatoriamente. Aplicação das Atividades Ambiente: sala de aula onde havia um ventilador de teto e um de parede acima do quadro negro, quatro lâmpadas fluorescentes, um armário embutido, uma entre-sala onde estava a porta da sala e produtos de limpeza atrás desta, um bebedouro, vinte e cinco bancas escolares e uma mesa de rodinhas com uma televisão acima desta. Na parede ao lado do quadro havia duas Janelas e um relógio de parede, na de trás da sala Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 8 havia também duas janelas e na parede do quadro, ao seu lado, ainda tinham alguns cartazes. Josinaldo 28 anos, EJA, Escola Pública Representação do Espaço A partir das linhas, representando as paredes limites da sala, vemos uma tentativa de elaboração de planta baixa por Josinaldo. Porém, como ocorreu com outros indivíduos, este acaba por desenhar os elementos que estão no centro da sala. Mas ainda assim acaba priorizando os objetos pertinentes (ou que encontram-se nela) e aqueles encostados às paredes, muito mais que os demais objetos que encontram-se no centro da sala. Embora Josinaldo considere a ordenação geral da sala, parece não conseguir incluir em sua ordem alguns produtos constantes nela como a localização da porta e a posição do relógio. Outro ponto a destacar é que o aluno representa os elementos frontalmente (com exceção das bancas) todos os elementos das laterais. Josenilda 33 anos, EJA, Escola Pública Representação do Espaço A aluna tenta representar todos os objetos que estão dentro do seu campo de visão. Escolhe a parede da frente para representar e os objetos que estão dispostos ao seu lado direito e algumas cadeiras à sua frente. Ainda tenta ordenar os objetos que vê, considerando a ordem em que estão, mas peca por desenhar o quadro inicialmente e só depois lembrar do ventilador e ter que desenhá-lo ao lado do quadro. Da mesma forma que o bebedouro que estava ao seu lado e ela desenha-o de frente. Gilvam 35 anos, EJA, Escola Pública. Representação do Espaço Gilvam acaba por representar o chão, a parede e o teto ao mesmo tempo. Por eleger estas três instâncias de visão, tenta colocar alguns elementos que estão na sala, como a porta numa abertura das paredes, janelas, a professora, uma cadeira no chão da sala e a televisão que estava em cima de uma mesa. Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 9 Gilvam não procura considerar a ordem dos objetos no espaço, elege como prioridade alguns elementos e representa-os em seu desenho. Como foi o caso da televisão que representa no chão. Edson 26 anos, EJA, Escola Pública. Representação do Espaço Edson, assim como Gilvam, procura representar tanto a parede quanto o teto. Mas, diferente do colega, ele inclui os elementos do teto neste (luz, viga, ventilador de teto), assim como os da parede (relógio, janela, porta), e os elementos que encontram-se ao chão (cadeira, bebedouro, professora). Como Ana Crislainy. Edson e Gilvam, dentre muitas cadeiras, desenham apenas uma como simbolização dos elementos dispostos na sala. Maria José 33 anos, EJA, Escola Pública. Representação do Espaço Maria consegue expressar muito precisamente suas preocupações na representação que reconhece não estar perfeita. Reconhece a ordem dos objetos da sala, coloca o quadro à frente da sala e atrás da professora, a cadeira voltada para o quadro, o relógio no canto esquerdo da sala e o armário (que chama de guarda-roupa), este representando sua maior preocupação. Maria diz que deveria ter representado o guarda-roupa mais para baixo da folha, o quadro mais para o canto esquerdo e no canto direito a porta. Aplicação das atividades Ambiente: sala de estar onde havia dois sofás, sendo um com duas almofadas e outro com três almofadas, mesa de centro com vários objetos de decoração, do lado esquerdo do sofá de dois lugares ficavam a porta de entrada da casa com detalhes de vidro na lateral, ao lado da porta um móvel com prateleiras e espelho, do lado direito do sofá de dois lugares uma árvore de natal e na frente desta um tapete médio e retangular. Filipe 11 anos, 4º série, Escola Particular. Representação do Espaço Felipe desenhou a sala de sua casa, mas em vez de desenhar o quadro no local que estava realmente, ou seja, na parede que o sofá de dois lugares está encostado, ele desenhou noutra parede. Perguntei o por que. Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 10 F: porque eu esqueci de desenhar e desenhei o sofá, aí se eu desenhasse agora ia parecer que tinha outra parede do lado, não ia caber nessa parede. Isso demonstra que a criança, mesmo impossibilitada de desenhar da forma exata os objetos ordenados na sala, preocupa-se com a localização destes. Filipe ainda representa a mesa da sala em transparência, pois aproxima-se bastante da representação de uma planta baixa. André 10 anos, 4º série, Escola Particular. Representação do Espaço André, da mesma forma que Filipe, representa seu desenho como uma planta baixa da sala em que se encontravam, representa o sofá visto de cima para baixo, a mesa, a televisão e um móvel, porém não consegue fazer a sobreposição que Filipe faz dos pés da mesa e não visualiza nem a árvore de Natal nem o som de baixo para cima. Aplicação das atividades Ambiente: quarto com duas camas, um armário e um guarda-roupa. Nathalya 6 anos, Alfabetização, Escola Particular. Representação do Espaço A criança busca representar os objetos existentes e os seus detalhes, contudo mostra todos em um único lado do quarto. E só representa o que estava no chão (não colocou os objetos da parede e do teto). Na verdade ela preocupa-se mais em dar à sua representação um corte horizontal elaborando quase uma planta baixa, pois tenta representar as camas vistas de cima, embora desenhe seus espelhos de frente assim como o armário. Nathaly 9 anos, Série: 3º Série, Escola Pública. Representação do Espaço Nathaly apenas representa os objetos maiores que se encontravam no chão. Mesmo assim tenta estabelecer uma visão de cima para baixo em seu desenho, mas verifica que deve representa o armário e a porta, dando a estes visões frontais. Enfim, de uma forma geral podemos considerar que grande parte dos alunos pesquisados preocupam-se com a disposição dos objetos no ambiente e quando não Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 11 representam-na é por não possuírem elementos necessários à configuração mais concreta de sua visão espacial∗∗. Quando não se estabelece critérios de representação, ou se elege planos para representar (ou seja, um plano de cada vez), a representação fica mais difícil, como expresso por Maria e representado por Josinaldo, José, Nathaly entre outros. Já no caso de Josenilda e de Filipe e André, como os cortes são mais delimitados é possível entender o ambiente, pois as representações são coerentes com a visão escolhida e situada. Outro fator observado é que existem tentativas de representar os ambientes utilizando os cortes verticais (visão lateral ou frontal de uma sala) e horizontais (planta baixa), embora não se tenha os conhecimentos prévios suficientes para representar coerentemente a partir destes recursos. Como dissemos, há fortes aproximações para indivíduos que tiveram pouco ou nenhum contato com materiais que lidam com estas representações, tendo em vista que não havia nenhum parente, ou próximos que lidassem com tais conceitos. Sugestões de Atividades Para o desenvolvimento da visão espacial dos alunos, dentro desta perspectiva, podemos sugerir, como atividades de desenvolvimento deste conceito e apropriação do mesmo, a exploração de materiais que utilizem plantas baixas, como revistas de arquitetura e paisagismos, e os cortes verticais. Outras atividades que podem ser feitas é a tentativa de desenhar elementos simples de diversas formas, como uma caixa de sapatos, ou exercícios de percepção dos diferentes campos de visão. Da mesma forma que a tentativa de representação da posição que um colega ocupa na sala pode ser muito importante e a realização de um mapa indicando como se pode chegar a um determinado local ou ir de um mercadinho até a padaria, etc. Conclusões Verificamos, nesta pesquisa, o grande esforço dos indivíduos para se expressar através de uma representação de um ambiente. Mas, nestas representações pudemos perceber as poucas possibilidades que estes se propunham justo por não possuir conhecimentos prévios suficientes que ajudassem nos seus desenhos. Tal fator nos remete aos poucos momentos disponibilizados em sala para atividades como as sugeridas anteriormente, o que reflete as produções aqui abordadas e analisadas. Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 12 É importante frisar que é preciso fornecer elementos aos alunos para que estes possam se tornar seres autônomos em suas representações, seja ela qual for, no nosso caso, serem autônomos para representar sua visão espacial de forma coerente com o real. Enfim, para que esta autonomia ocorra é preciso que os professores proporcionem atividades de reflexão sobre as representações espaciais dos alunos, que reservem um tempo necessário ao aprendizado deste conceito e que aprofunde seus conhecimentos teóricos acerca do tema, apropriando-se do campo conceitual que irá permear as discussões. Só assim haverá uma qualificação das aulas proporcionadas aos alunos do ensino fundamental, um profissional consciente de sua prática e um aluno construtor de seu próprio conhecimento. Geometria – Visão Espacial – Representações Espaciais. Bibliografia ALMEIDA, Rosângela Doin de. Do desenho ao mapa: indicação cartográfica na escola. São Paulo: editora contexto, 2002. GUIMARÃES, Gilda Lisbôa & BORBA, Rute. A Geometria Redescoberta. Departamento de Métodos e Técnicas da UFPE, Laboratório de Ensino, no prelo. GUIMARÃES, Gilda Lisbôa, OLIVEIRA, Izabella & RIBEIRO, Fátima. Uma breve discussão sobre seqüência didática, no prelo. GUIMARÃES, Gilda Lisbôa. Formação Continuada de Professores: organizando o ensino-aprendizagem a partir de seqüências didáticas. Projeto de pesquisa e extensão da PROEXT, no prelo. KOPKE, Regina Coeli Moraes. Ensino de Geometria Descritiva: inovando na metodologia. Revista Escola de Minas, vol. 54. Ouro Preto, Jan/ Mar. 2001. SELVA, Ana Coelho Vieira & FALCÃO, Jorge Tarcísio da Rocha. A compreensão das coordenadas espaciais pelas crianças. Estudos de Psicologia, 2002. ∗ Anais do VIII ENEM – Pôster GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 13 P e rc e n tu a l d e In d iv íd u o s A lfa b e tiza çã o 1 7 ,8 3 4 ,8 1 ª S é rie 2 ª S é rie 3 ª S é rie 1 7 ,8 1 7 ,8 4 ª S é rie 5 ,9 5 ,9 E JA ∗∗ 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 100 100 66 33 EJ A Porcentagem dos alunos Consideraram a disposição dos objetos no ambiente Série